direitos reais 1-120

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    2. CATEGORIAS DE DIREITOS REAIS

    O Direito Civil direito privado e o Direito das Coisas faz parte do direito privado

    comum ou geral.

    Numa primeira anlise ao Livro III do Cdigo Civil, face aos restantes livros da parte especial do C.C., detectamos a ausncia de uma parte geral relativa a estacategoria de direitos (nem o Cdigo fornece qualquer noo desta categoria dedireitos subjectivos).J o mesmo no se verifica relativamente aos restantes trs livros relativos sdemais modalidades de relaes jurdicas civis. Assim, no que respeita a este ramodo direito, estamos perante uma dificuldade acrescida na elaborao doutrinal deuma Teoria Geral dos Direitos Reais.

    Numa anlise mais aprofundada e, deixando de lado a matria da posse, pela suanatureza jurdica ser controvertida e, o direito de propriedade, como direito real por

    excelncia, facilmente se apura haver de comum entre as demais figuras reais acompreendidas, a atribuio ao respectivo titular de poderes de uso ou de fruiosobre uma coisa.

    No Livro III do C.C., encontramos a chamada categoria de direitos reais de gozo.Mas, os direitos reais no se esgotam nesta categoria. O a. 1539. faz mesmocontraposio entre direitos reais de gozo e de garantia, sendo esta categoria pacificamente admitida pela doutrina. Nos direitos reais de garantia mantm-se (como no Cdigo de Seabra de 1867) asistematizao, que se justifica pela ligao especial com os direitos de crdito.Assim, encontramos esta matria regulada no Livro II do C.C. dedicado ao Direitodas Obrigaes (Cfr. aa. 656. a 761.).

    uso consiste no poder de utilizar a prpria coisa para a satisfao das necessidades.Fruio: este termo implica uma ideia de aproveitamento de bens, ou seja, no poder de retirar da coisa utilidadesque periodicamente se desprendem (Ex: frutos naturais ou civis).

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    requisio. O prprio legislador civil sentiu a necessidade de lhes fazer refernciaespecfica (cfr. aa. 1308. e 1310.). Tambm no podemos esquecer das limitaesao contedo dos direitos reais decorrentes de razes de interesse pblico (ex: ocaso da requisio de origem militar que permite a utilizao temporria de bens ouservios, ou produz uma forma de extino de direitos sobre mveis, sempremediante indemnizao).

    O direito das coisas tem marcada natureza patrimonial e constituem mesmo, ao ladodos direitos de crdito, uma das mais importantes categorias de direitos patrimoniais.

    4. ASSENTO LEGAL DE MATRIA. FONTES DO DIREITO DAS COISAS

    O Cdigo Civil, e nele, o seu Livro III, constituem a sede fundamental do regimedos direitos reais. Porm, nem o C.C. nem o Livro III, constituem as nicas fontesdo direito das coisas, nem contm todo o regime dos direitos reais.Em primeiro lugar, de mencionar a Constituio da Repblica Portuguesa

    enquanto base de todo o sistema jurdico e que contm a mxima proteco propriedade privada, encontrando-se vigentes normas que respeitam matria dosdireitos reais, como o caso do n. 2 do a.100., preceito que determina a abolioda enfiteuse e da colnia.A enfiteuse, era o contrato pelo qual o senhorio de um prdio concedia a outro odomnio til dele, com reserva do domnio directo. Era o desmembramento do prdio rstico ou urbano em dois domnios, designados directo e til. Aotitular do primeiro, d-se o nome de senhorio; ao titular do segundo, d-se o nomede foreiro ou enfiteuta (cfr. a. 1491.). Enfiteuta ou foreiro , aquele que tem odomnio til de um prdio, pagando foro ao senhorio directo. A enfiteuse foi abolidaem 1976 pelo DL 195-A e 233/76.Em 1981 foi introduzido no sistema jurdico portugus um novo tipo de direito real:direito de habitao peridica, que actualmente se encontra regulado pelo DL 275/

    de 5 de Agosto e alterado pelo DL 180/99 de 22 de Maio.

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    Refira-se ainda, para alm da Constituio e do Cdigo Civil, as leis especiais comoo Cdigo de Registo Predial, o Cdigo de Propriedade Industrial, etc., tambm sofontes do Direito das Coisas.

    Como j se referiu, o Cdigo Civil no esgota actualmente, ficando longe disso, aregulamentao das relaes jurdicas reais.Por exemplo, em matria de direito de propriedade o C.C. apenas se ocupa do quetem por objecto coisas corpreas (cfr. a. 1302.).O regime dos direitos que recaem sobre coisas incorpreas, que o C.C. identifica

    sob a designao comum depropriedade intelectual (Direitos de Autor/Propriedade Industrial), encontra-se regulado em importantes diplomas avulsoscomo o Cdigo dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos (DL 63/85 de 14/3 jvrias vezes alterado e, Cdigo Propriedade Industrial ( DL 16/95 de 24 de Janeiro ) 2.

    Para alm dos aspectos j referidos, h a salientar vrios diplomas complementares

    ao C.C. que integram o regime de vrias divises deste ramo de direito. No que diz respeito ao Direito das Coisas, o diploma mais importante de todos sem dvida, o Cdigo de Registo Predial, aprovado pelo DL 224/84 de 6 de Julho,tendo sofrido sucessivas e mltiplas alteraes.O Registo Predial refere-se aos factos relativos aos direitos reais que incidem sobrecoisas imveis, em particular sobre os prdios rsticos e urbanos. No que dizrespeito s coisas mveis sujeitas a registo, o regime do seu registo encontra-se,disperso em diversos diplomas que, regem para cada uma das modalidades de coisasque integram esta categoria. Com o fim de ultrapassar esta situao foi publicado oCdigo do Registo de Bens Mveis, aprovado pelo DL 277/95 de 25 de Outubro.

    2 No que respeita ao objecto do direito de propriedade o C.C., s rege sobre as guas particulares existindo largalegislao avulsa.

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    Porm a sua entrada em vigor est dependente (como resulta do diploma preambular), da publicao de normas complementares, que ainda no foi feito.

    Para alm do Cdigo de Registo Predial e, como diploma complementar, refira-se oCdigo de Notariado (aprovado pelo DL 207/95, de 14 de Agosto, e tambm,objecto de vrias alteraes), que tem um papel importante no regime dos direitosreais, uma vez que frequente nos negcios relativos a estes direitos, ocumprimento de formalidades solenes, em que se exige a interveno notarial.

    5. CONFRONTO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OS DIREITOS DE CRDITO

    importante, desde j, demarcar os direitos reais da categoria dos direitossubjectivos creditrios, com que mantm relevantes relaes.Desde logo, os direitos reais so direitos sobre uma coisa, enquanto que os direitosde crdito traduzem-se no direito prestao a efectuar pelo devedor, a qual podeconsistir numdare , facere e non facere .

    Caracterstica dos direitos reais a sua eficcia absoluta (cfr. aa. 413., 421.,1305.), ou seja, os direitos reais so oponveis a toda e qualquer pessoa que, possainterferir ou entrar em relao com a coisa. O mesmo no se verifica nos direitos decrdito, que habitualmente so integrados na categoria de direitos relativos, porcontraposio queles.

    Os direitos reais so absolutos e de excluso, na medida em que, o respectivo titular pode op-los s restantes pessoas, impedindo-as de interferir na coisa sobre queversam. Corresponde-lhes a chamada obrigao passiva universal, que se traduz nodever que recai sobre as restantes pessoas de no perturbarem o exerccio dostitulares dos direitos absolutos.Ao invs, os direitos de crdito so relativos, produzindo efeitos apenasinter partes

    (cfr. a. 406. n.2).

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    Como corolrio da eficcia absoluta, tem o titular do direito real, o direito desequela, ou seja, o direito de perseguir a coisa onde quer que ela se encontre e fazervaler o seu direito, reivindicando-a.Porm, existem excepes a este princpio, desde logo, decorrentes do registo e dosaa. 243. e 291..

    Ainda como consequncia da eficcia absoluta dos direitos reais, refira-se o direitode prevalncia ou preferncia:

    do primeiro adquirente de um direito real (quando se adquire mediante contrato

    cfr. a. 408. n.1). Exemplo: A, vende a sua casa a B e, algum tempo depois, vende aC. De quem a propriedade?

    De acordo com este princpio a propriedade de B, uma vez que foi ele queadquiriu em primeiro lugar o direito real de gozo, mediante contrato (cfr. a. 408.n.1).

    do credor com garantia real, tendo este direito a ser pago com preferncia, no ssobre os credores comuns (a. 604. n.2), como ainda, sobre qualquer outro credor

    que, sobre a mesma coisa tenha obtido, em momento posterior, um novo direito realde garantia, p. ex., a hipoteca. Exemplo: A para adquirir casa celebra um contrato deemprstimo com o Banco X constituindo-se uma hipoteca sobre a mesma. Se A. pretender contrair outro emprstimo noutro Banco Y, este poder constituir outrahipoteca para garantia de pagamento desta outra dvida de A. Caso A no cumpra o pagamento das dvidas, qualquer dos Bancos pode exigir o pagamento das mesmas, custa da venda da casa hipotecada. Porm, o Banco X tem prevalncia para ser pago em primeiro lugar, dado o seu direito real de garantia ser anterior,independentemente de o dinheiro chegar ou no para pagar ao Banco Y.Conclui-se que o direito real, quer de gozo quer de garantia, que primeiro se tenhaconstitudo prevalece sobre o posterior, que seja incompatvel.O princpio em anlise admite excepes que a seguir se indicam: se a lei fizerdepender de registo a eficcia do direito real em relao a terceiro, o direito que

    prevalece o primeiramente registado e no o primeiramente constitudo. Est ideiano se aplicaria ao caso da hipoteca, uma vez que, juridicamente esta s existe

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    depois de registada, pois neste caso, o registo tem eficcia constitutiva entre as prprias partes e, ao mesmo tempo, eficcia em relao a terceiros.

    Mas apontemos mais traos distintivos entre os direitos reais e os direitos decrdito: os direitos reais como direitos absolutos que so, podem ser ofendidos porqualquer pessoa. J quanto aos direitos de crditos, os mesmos s podem serofendidos pelo devedor ou devedores.

    Os direitos reais de gozo podem constituir-se por usucapio e, habitualmente,

    constituem relaes duradouras ou, at de carcter perptuo. Os direitos de crditoconstituem relaes transitrias ou, de curta durao. Em princpio, a obrigaonasce para se extinguir no mais curto espao de tempo.

    As obrigaes extinguem-se com o seu exerccio, diferentemente, o uso no petermo aos direitos reais, antes os vivificam.

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    TTULO IDOS DIREITOS REAIS EM GERAL

    1. NOO DE DIREITO REAL1.1. Teoria clssica e Teoria moderna ou personalista

    O debate sobre a noo de direito real uma questo dogmtica que ocupa adoutrina h longo perodo de tempo. Assim, iremos estudar as orientaes maisimportantes, nomeadamente as assumidas pela doutrina portuguesa quanto noo

    de Direito Real.

    Segundo uma concepo que se pode designar por clssica, o direito real entendido como um poder directo e imediato sobre uma coisa (certa e determinada).Esta teoria ou concepo desprezava o conceito de relao jurdica tal como hoje acaracterizamos com todos os seus elementos - (sujeito, objecto facto e garantia). Aodizer-se poder directo est implcita a ideia de domnio ou de senhorio sobre certacoisa. J poder imediato significa a faculdade, atribuda ao titular do direito, deaproveitar das utilidades da coisa sem ser necessria a colaborao de outros, comose verifica nos direitos de crdito, em que ao credor assiste o direito de exigir dodevedor a realizao da prestao (cfr. a. 397.).Esta concepo reala a posio da coisa como objecto do direito, deixandotransparecer, a ideia da existncia de relao entre o titular do direito e a coisa.

    Refira-se porm que, os direitos reais, como no que respeita a todos os direitossubjectivos, envolvem uma relao entre pessoas e no com coisas ou com umacoisa certa e determinada.

    concepo clssica contrape-se outra, dita moderna ou personalista, que constria noo de direitos reais, partindo da ideia de relao jurdica. Esta teoria tambm designada por obrigacionista e define o direito real como o poder que tem o seu

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    titular de excluir todas as pessoas de qualquer ingerncia na coisa, incompatvelcom o seu direito.De acordo com esta teoria, existe um vnculo pessoal entre o titular do direito real etodas as pessoas (sujeito passivo) que tm a obrigao de se abster de violar ou perturbar o titular do direito (obrigao negativa). Recordemos, que nos direitos decrdito, o dever de prestar recai sobre um sujeito certo e determinado oudeterminveis.

    Os crticos de ambas as doutrinas consideram que nenhuma destas teorias est

    errada e que as mesmas no so entre si incompatveis, porm ambas soinsuficientes. Por este motivo, as vrias doutrinas eclcticas procuram construir umateoria do direito real que concilie a doutrina clssica com a personalista. Emboraexistam autores a entenderem que as duas concepes se completam, e a aceitarema existncia de uma teoria mista, que concebe o direito real como o poder directo eimediato sobre uma coisa certa e determinada com eficciaerga omnes , isto ,oponvel a toda e qualquer pessoa que possa interferir com a coisa. Iremos referir

    sucintamente, a posio das doutrinas eclcticas para melhor compreenso destamatria.

    1.2. Doutrinas eclcticas

    Escola de Lisboa (Prof. Oliveira Ascenso e Menezes Cordeiro):

    O direito real um direito absoluto inerente a uma coisa e funcionalmente dirigida afectao dessa coisa aos fins do sujeito.

    Escola de Coimbra (Prof. Mota Pinto): No direito real existe um lado interno e um lado externo. O lado externo aobrigao intersubjectiva o poder de exigir dos outros a obrigao passiva

    universal. No direito real a intersubjectividade estabelecida entre o titular dodireito e todos os outros, enquanto que, nas obrigaes, ela se estabelece apenas

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    entre o credor e o devedor. O lado interno constitudo pelos poderes que o titularest legitimado a exercer sobre a coisa, objecto do direito.

    2. PRINCPIOS CARACTERSTICOS DOS DIREITOS REAIS

    2.1. Princpio da actualidade e Princpio da determinao ou individualizao2.2. Princpio da totalidade2.3. Princpio da permanncia2.4. Princpio da compatibilidade2.5. Princpio da elasticidade2.6. Princpio da tipicidade enumerus clausus2.7. Princpio da consensualidade ou consentimento2.8. Princpio da inerncia do direito real2.9. Princpio da publicidade

    2.1. Princpio da actualidade e Princpio da determinao ou individualizao

    O objecto do direito real tem que ser uma coisa certa e determinada, e como tal,existente, ou seja, tem de existir, ser certo e determinado no momento daconstituio ou da aquisio do direito.Por contraposio, nos direitos de crdito a prestao pode respeitar a coisas

    genricas, ou seja, individualizadas apenas pelo seu tipo ou gnero e quantidade, sse tornando necessrio a sua determinao no momento do cumprimento.Em suma, para se poder exercer um poder directo e imediato sobre uma coisa, estatem de existir materialmente, no sendo suficiente que a coisa seja eventual oufutura, ao contrrio do que acontece nos direitos de credito (cfr. a. 408. n.2).A existncia deste princpio tem como consequncia no se poder exercer um poderdirecto e imediato sobre uma coisa que ainda no existe e consequentemente, se a

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    coisa sobre a qual incide um direito real se destruir ou perecer, extinguem-se deimediato os direitos reais a ela inerentes (cfr. a. 1476., n. 1 al. d), entre outros).

    Os direitos reais e os negcios com eficcia real tm de incidir sobre uma coisacerta e determinada (individualizada). Exemplo: A quer adquirir uma casa x na Ruay em Lisboa descrita sob o n. tal. Deste princpio se conclui e, como anteriormente j foi referido, que no podem ser constitudos direitos reais sobre coisas genricas,ao contrrio do que sucede nos direitos de crdito (cfr. a. 539.). Este princpioresulta do a. 408. n.2, que estabelece que at determinao da coisa, os contratos

    tm eficcia meramente obrigacional e no real.

    2.2. Princpio da totalidade

    Duvidosa esta caracterstica, segundo a qual, o direito real afecta a totalidade dacoisa que tem por objecto.

    Os autores que defendem a existncia deste princpio, consideram que os direitosreais, como exclusivos que so, ho-de incidir sobre a totalidade do objecto.Porm, o direito do condmino, refere-se na propriedade horizontal, sua fraco e,no necessariamente, a todas as partes comuns do edifcio (cfr. a. 1421., n.3) sem,que isto ponha em causa, o carcter real do direito.Estamos assim, perante uma caracterstica tendencial e, no essencial, dos direitosreais, a qual explica que, em regra, eles se estendem s coisas que no seu objecto seincorporem ou, a ela sejam unidas.Por outro lado, refira-se que, nada impede a constituio de direitos reais sob partesde uma coisa. Por exemplo: hipoteca (cfr. a. 688.), propriedade horizontal (cfr. a.1414.), direito de superfcie (cfr. a. 1524.) e direito de uso e habitao (cfr. a.1489.).

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    O direito de propriedade o direito real por excelncia, o direito real pleno. E osvrios direitos reais foram como que recortados do direito de propriedade. Ora,quando sobre a mesma coisa que propriedade de algum, constitudo a favor deoutrm, um direito real menor, aquele fica esvaziado de parte do seu contedo,limitando o direito de propriedade.

    O direito real menor aquele que tem um contedo diferente do direito de propriedade, mas com ele compatvel. o caso, de ser constitudo a favor dealgum, um direito de usufruto sobre uma coisa, tendo este, o poder de usar e fruir,

    sendo que estes poderes foram retirados ao, agora, nu proprietrio. Mas, mal seextinga o direito real menor que constitui factor de compresso, o contedo dodireito de propriedade retoma a sua forma inicial.

    2.6. Princpio da tipicidade ounumerus clausus

    Um dos instrumentos de que o direito se socorre na regulamentao da vidaeconmica-social o da fixao de certas categorias jurdicas, que ele prpriodelimita, de modo directo ou indirecto. Por exemplo, a compra e venda, otestamento, o direito de propriedade, etc.

    No direito das obrigaes a fixao das categorias jurdicas no assume carctertaxativo ou exclusivo, por isso, podem os particulares criar outras que melhorentendam assegurar os seus interesses (cfr. a. 405.).

    Existem outras reas ou ramos em que a regulamentao jurdica de certas matriasse faz mediante o recurso a categorias exclusivas. Quando assim acontece, apenasas realidades que neles se enquadram so juridicamente atendveis.

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    No sistema jurdico portugus, encontramos este modelo no direito criminal, quantoaos factos que so considerados crimes, e no direito das coisas, quanto s situaesreais.Significa isto, que o direito s aplica o regime das situaes jurdicas reais s que seenquadram em alguma categoria que ele caracteriza.

    De acordo com o princpio da tipicidade, s so admissveis os direitosexpressamente previstos na lei e, pela forma nela regulada, ou seja, quanto aocontedo do direito real legalmente previsto, no podem as partes fixar-lhe outro

    contedo, no tm como nas obrigaes, liberdade negocial. Exemplo: o direito de propriedade confere o poder de usar, fruir e dispor. Caso A, venda a B uma casa,no pode estipular, ainda que de comum acordo, que o poder de fruir no transmitido com o direito de propriedade. Mas, caso exista uma clusula nessesentido, a mesma teria eficcia meramente obrigacional, por fora do a. 1306., isto, B ficaria vinculado perante A, a cumprir a obrigao a que se vinculou denon

    facere . Porm, caso B no cumpra essa promessa por ter arrendado a C, A teria

    incumprido uma obrigao e, em consequncia, poderia ficar obrigado a indemnizarB, pelo incumprimento.Em concluso, as partes tm de limitar-se aos direitos reais identificados na lei e talqual ela os define, no alterando nem o nome nem o contedo (cfr. a. 1305.).

    Refira-se ainda que, tipicidade significa que os direitos reais tm por fonte exclusivaa lei, no vigorando o disposto no a. 405..Por numerus clausus entenda-se, que o nmero de tipos de direitos reais, so saqueles que se encontram definidos na lei. Onumerus clausus , pois, umaconsequncia do princpio da tipicidade.

    2.7. Princpio do consensualismo ou consentimento

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    Este princpio encontra-se ligado fundamentalmente transmisso convencional dosdireitos reais. Estabelecido no direito francs, esta tese foi acolhida pelo nossoCdigo Civil no a. 408., disposio que se aplica exclusivamente aquisioderivada, seja ela constitutiva ou translativa. Decorre do a. 408. n. 1 que, para seconstituir ou transferir um direito real, basta o acordo entre as partesconsagrando-se o chamado sistema do ttulo (justa causa).Assim, se atravs do contrato de compra e venda ou de doao se transmite a propriedade (de forma imediata e instantnea), aquele contrato o ttulo deaquisio do direito real, ou seja, a razo ou fundamento jurdico da aquisio,

    sendo suficiente esse ttulo para produzir o efeito real.Os contratos acima referidos, no constituem os nicos ttulos (justa causa) possveis. A constituio de usufruto ou o direito de uso tambm so exemplos.Daqui resulta, que no necessrio qualquer acto de entrega ou outra formalidade(como por ex: o registo), para se adquirir o direito real.

    Este princpio est intimamente ligado com o princpio de causalidade, uma vez

    que, se verdade que suficiente a existncia do ttulo para que o direito real setransmita ou, se constitua, tambm verdade que o ttulo tem que ser justo, isto , acausa de aquisio tem de ser vlida. Por isso, se o contrato nulo ou anulvel,verifica-se a no produo do efeito real ( cfr. aa. 875., 220., entre outros). Se ocontrato nulo, no se transmitiu a propriedade do transmitente para o adquirente.

    2.8. Princpio da inerncia do direito real

    Para o Prof. Penha Gonalves, o que de mais caracterstico existe no direito real, ainerncia entre o direito e o seu objecto.

    Como conceito, esta inerncia tem consagrao legal na alnea d) do n.1 do a.

    204.. Exemplo: A e B possuem dois prdios contguos, sendo o prdio de A, um

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    prdio encravado e, necessitando este de atravessar o prdio de B para atingir aestrada que a passa. Para obter tal passagem A, pode fazer uma de duas coisas: celebra com B, um contrato de passagem pelo qual este lhe concede o direito deatravessar o seu prdio. A, fica assim, com um direito contratual de passagem.Imaginemos agora, que B vende o seu prdio a C. Neste caso, C no fica obrigado perante A, a cumprir o contrato de passagem que este havia celebrado com B, o quesignifica que A perde o seu direito contratual de passagem. ou constitui um direito real de passagem a chamada servido de passagem,adquirindo o direito de passagem. Neste caso, se B vender o seu prdio a C, o

    direito de passagem de A manter-se- sempre, porque o direito real um direitoinerente coisa.O direito real de passagem pode, assim, ser sempre imposto, independentemente dasrelaes jurdicas sobre o prdio, ou seja, o prdio pode ser vendido, arrendado, queainda assim, o direito de passagem persistir.

    A inerncia um nexo de intima ligao entre o direito e a coisa, podendo mesmo

    afirmar-se que o direito se torna inseparvel da coisa que seu objecto. Na verdade,o seu titular pode opor o seu direito a todos, perseguindo a coisa consistindonisto a chamada sequela, e ainda, devido inerncia, o direito sofre todas asvicissitudes de coisa.

    So corolrios da inerncia:

    a inseparabilidade do direito em relao coisa; oponibilidadeerga omnes ; repercusso, no direito, das vicissitudes da coisa (sequela).

    A inseparabilidade do direito em relao coisa significa que o direito no sedesanexa do objecto. O direito nasce, vive e extingue-se com o objecto a que seencontra ligado. Exemplo: A, proprietrio da quinta X, concede o seu usufruto a B,

    em termos vitalcios. Entretanto, A prope a B que passe a ter o usufruto da quinta

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    2.9. Princpio da Publicidade

    Com j foi referido, o direito real um direito com eficcia absoluta e, por isso

    necessrio que os terceiros saibam da sua existncia para no direito nointerferirem, cumprindo deste modo dever de absteno.Para que seja possvel a todos os sujeitos de obrigao passiva universalconhecerem a existncia dos direitos reais e igualmente para segurana do comrcio jurdico (em que se tutela a posio destes terceiros), necessrio dar publicidade existncia desses direitos. Repara-se que o desconhecimento da real situao dascoisas pode afectar terceiros, no que respeita s consequncias dos negcios que,em relao a elas se venham a praticar, contribuindo a publicidade dos actos paraestes mesmos terceiros respeitarem esta situao.Mas, esta publicidade no constitui requisito de validade do direito real, que foivalidamente constitudo, por mero efeito do contrato, apenas vlidointer partes .Porm, este requisito condio de eficcia relativamente a terceiros. A publicidade conseguida atravs do registo das coisas imveis (Registo Predial) e das coisas

    mveis de considervel valor (como os avies, helicptero, automveis, quotas desociedade). Por exemplo: se A e B celebrarem contrato de compra e venda(mediante escritura), B comprador torna-se proprietrio do bem. Porm, estenegcio apenas tem eficcia entre A e B (cfr. aa. 406. e 408. n.1). Embora, paraque B se torne proprietrio, no seja necessrio proceder ao registo, dever faz-lo,sob pena de colocar em risco o prprio direito.A relevncia econmica, social e jurdica da publicidade, neste sector, como emoutros, levou o Estado a intervir e, a organizar servios pblicos, especialmenteencarregados de a promover e organizar sistematicamente.Em Portugal, a publicidade est h muito confiada s Conservatrias, que soservios pblicos com competncia especializada em funo das matrias e dascategorias de coisas a que a publicidade respeita.Quanto nossa cadeira, interferem a Conservatria do Registo Predial e as

    Conservatrias do Registo de Bens Mveis, ainda pendente de regulamentao.

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    Podemos encontrar duas modalidades de publicidade: a provocada e a expontnea.

    Na realidade, h uma srie de comportamentos humanos que pela suarepetitividade e tipicidade social, implicam, por si mesmos, a revelao e publicitao de certas realidades sociais e jurdicas. Da que, a adopo de certoscomportamentos possam envolver, a produo de certas consequncias no mundodo direito. Por exemplo, as relaes estabelecidas entre pessoas que vivemmaritalmente ou, a relao entre pais e filhos, assumem uma certa feio ou,maneira de ser tipicidade social.

    Ora, se algum adopta em relao pessoa do sexo oposto com quem vive ou,em relao a um menor, com regularidade certos comportamentos, que integrama chamada posse de estado, natural que da se retirem consequncias quanto existncia, entre essas pessoas, de uma relao matrimonial ou de filiao. No plano dos direitos reais, algo de semelhante se passa. Em regra, o proprietrio dos bens quem adopta em relao a eles os comportamentos,correspondentes ao seu uso e fruio, fazendo-o, em regra, vista de todos, sem

    reservas ou reparos de qualquer outra pessoa. Compreende-se por isso que seveja naquele comportamento, o sinal exterior de propriedade e que, a partir da,se lhe d relevncia na atribuio ou reconhecimento da titularidade docorrespondente direito. De facto, resulta desses comportamentos a publicidadeque se designa por expontnea.

    Contrape-se a esta publicidade, outra, designada por provocada, que deriva deuma actuao intencionalmente dirigida a dar a conhecer a terceiros uma certasituao jurdica. Actualmente, essa publicidade faz-se mediante inscrio noregisto de certos factos em livros ou registo prprios que so guardados ouconservados, por um servio publico.

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    2.9.1. Publicidade RegistalNoes gerais

    Nos termos do a. 1. do C.R.Predial, a funo essencial do registo predial a de:dar publicidade situao jurdica dos prdios . Atravs desta funo, realiza-se ofim a que o registo predial est votado: a segurana do comrcio imobilirio .

    A lei do registo s se refere a prdios, compreendendo os rsticos e urbanos, e no atodas as coisas mveis, abrangidas na enumerao do a. 204.. Porm, refira-se, quea partir dos actos de registo relativos a prdios, se consegue saber e estabelecer asituao jurdica das demais coisas imveis, uma vez que estas mantm sempre umaligao com um prdio, seja rstico ou urbano.

    A publicidade da situao jurdica das coisas, organizado pelo Estado, relativamente recente, datando do segundo quartel do sc. XIX. O primeiro Cdigode Registo Predial verdadeiramente merecedor deste nome, surgiu com a publicao

    do D/L n. 42545 de 8 de Outubro de 1959, revogado em 1967, sendo publicadooutro Cdigo, aprovado pelo D/L n. 47611 de 28 de Maro de 1967.

    O actual Cdigo, foi j objecto de alteraes, algumas importantes introduzidas pelos seguintes diplomas : D/L n. 355/85 de 2 de Setembro; D/L n. 60/90 de 14 deFevereiro; D/L n. 80/92 de 7 de Maio; D/L n. 30/93 de 12 de Fevereiro; D/L n.255/93 de 15 de Julho; D/L n. 227/94 de 8 de Setembro; D/L n. 267/94 de 25 de

    Outubro; D/L n. 67/96 de 31 de Maio; D/L n. 375-A/99 de 20 de Setembro; D/Ln. 533/99 de 11 de Dezembro e D/L n. 273/2001 de 13 de Outubro.

    2.9.2. Caractersticas Gerais do Sistema de Registo Predial Portugus

    O sistema de registo predial portugus tem como caractersticas, entre outras, serum sistema de natureza pblico e real.

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    O carcter pblico revela-se, desde logo, na circunstncia de o Registo Predial estara cargo de servios pblicos Conservatria do Registo Predial. Estas dependem, por sua vez, de um servio central comum, a Direco Geral de Registos e Notariado, integrado na orgnica do Ministrio da Justia.

    E o carcter real e no pessoal, verifica-se na circunstncia de assentar num acto deregisto que respeita a prdios em si mesmos e, no s pessoas que sejam titulares dedireitos que os tenham por objecto.

    Os registos que assumem grande relevncia na nossa ordem jurdica so: o registo predial; o registo comercial; o registo de propriedade automvel; o registo de propriedade intelectual e, o registo de propriedade industrialO registo predial assume uma particular relevncia, dado que as suas normas

    aplicam-se subsidiariamente aos diplomas reguladores de cada um dos restantesregistos.

    2.9.3. Princpios do Registo Predial

    a) Princpio da Instncia

    Este princpio encontra-se previsto no a. 41. do C.R.Predial e significa que, salvonos casos previstos na lei, o registo deve ser pedido pelos interessados.Decorre deste princpio que os servios esto disposio dos interessados, mas aestes cabe a iniciativa de requerer os registos que lhes convenham, vigorando assimum princpio equivalente ao que rege em direito processual civil.

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    Cabe, em suma, o impulso inicial de registo s partes, o que se faz mediante o preenchimento e apresentao de um impresso de modelo aprovado (requisio),acompanhada dos suportes documentais necessrios a cada acto de registo.

    O Cdigo de Registo Predial Portugus no estabelece, em caso algum, aobrigatoriedade do registo, sendo neste domnio elucidativo que, o facto de a suafalta no configurar qualquer transgresso, nem se estabelecer para ele qualquersano podendo, no entanto, afirmar-se uma obrigatoriedade indirecta.Assim, no ser adequado falar-se de dever de registar mas apenas em nus, sendo

    que, a no observncia do nus de registo, acarreta consequncias indesejveis parao interessado no registo, ou a ele desfavorveis.Sem prejuzo do princpio da instncia, a lei prev vrios casos particulares deregisto oficioso, isto , por iniciativa do Conservador (cfr. aa. 92. n.5, 97., 98.n.3 e 100. n.3).

    b) Princpio da legalidade

    Este princpio decorre, desde logo, do carcter pblico do registo, numa das suasmanifestaes. Na verdade, tanto o Conservador como os demais servidores dasConservatrias, funcionrios pblicos, todos eles esto nessa qualidadesubordinados lei que devem respeitar. Por esta simples razo, j aqui domina umaideia de legalidade. Contudo, o princpio em anlise, tem alcance mais vasto e quedecorre do a. 68. do C.R.P.

    A este princpio pode ser-lhe atribudo um contedo formal ou substancial. No primeiro caso, significa que cabe aos funcionrios do registo verificarem aregularidade formal dos actos apresentados a registo e a legitimidade dosrespectivos requerentes. No segundo caso, vai-se mais longe, impondo tambm aoConservador a obrigao de se pronunciar sobre a viabilidade do pedido de registo,

    tomando em conta a sua validade substancial dos actos a registar, assemelhando-sea sua funo do juiz.

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    A actividade fiscalizadora do Conservador implica a apreciao dos seguintesaspectos:

    identidade entre o prdio a que se refere o acto a registar e a correspondentedescrio;

    legitimidade dos interessados; regularidade formal dos ttulos referentes aos actos a registar e a validade substancial dos mesmos actos.

    Relativamente ao ltimo ponto, exige-se uma observao complementar.

    entendimento corrente na doutrina que o poder do conservador restringe-se nestamatria, aos casos de nulidade, sendo vrias as razes que impedem que a suaapreciao se alargue aos actos anulveis. Desde logo, porque os actos anulveis produzem os seus efeitos enquanto no sejam invalidados (cfr. a. 287. n.1).Assim, no seria razovel atribuir ao conservador um poder que iria colocar emcausa a eficcia do acto, num campo que deixado disponibilidade de certas pessoas.

    Por outro lado, uma vez que este tipo de invalidade no do conhecimento oficiosodo tribunal, permitir-se a interferncia do conservador nesta matria, seria atribuir-lhe poderes mais amplos do que os reconhecidos ao poder judicial. No entanto, quando a anulabilidade resulte de falta de consentimento de outrem ou,de consentimento do tribunal, impe o a. 92. al. e) do C.R.Predial, a realizao doregisto como provisrio por natureza. O mesmo regime vale para os actos praticados pelo gestor ou representante sem poderes enquanto no forem ratificados(cfr. al. f) do a. supra citado). Em qualquer outro caso no pode o conservadorrecusar o registo.

    O princpio da legalidade devia conduzir, sempre que o registo se mostrasseinvivel, sua recusa. Mas, dado que este regime poderia acarretar gravesinconvenientes para os interessados, em alternativa figura da recusa do registo,

    surge a do registo provisrio por dvidas. S nos casos mais graves e enumeradosno a. 69. do C.R.Predial, o registo deve ser recusado.

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    d) Princpio do trato sucessivo

    O princpio do trato sucessivo, previsto no a. 34. do C.R.P., tem como objectivoreconstituir ou estabelecer uma cadeia ininterrupta dos sucessivos titulares dodireito. Estabelecendo-se esta cadeia, fcil conhecer toda a histria jurdica de umimvel, consultando os registos.Quando, ao longo da cadeia dos sucessivos actos de transmisso, existe algum queno regista, d-se aquilo a que se chama dequebra do registo:

    1912--------B regista1942--------C no regista1968--------D no regista1989--------E pretende registar.

    Deslocando-se Conservatria para registar a sua aquisio, E, constata haver um

    hiato no registo, ou seja, o ltimo registo de que h conhecimento data de 1912 eencontra-se em nome de B. Neste caso, o Conservador vai exigir a E a justificaodas sucessivas alienaes que culminaram no contrato pelo qual B adquiriu de A.Existem duas formas de reatar o trato sucessivo: atravs de justificao notarial,tentando obter junto dos notrios as sucessivas escrituras de compra e venda,habilitao de herdeiros, partilha etc. ou, atravs de justificao judicial pedindo aotribunal que faa a respectiva reconstituio.

    Com efeito, o a. 9. vem permitir dar soluo aos problemas colocados pelo princpio do trato sucessivo, no que diz respeito aos imveis que vo sendoalienados aps a entrada em vigor do Cdigo de Registo Predial.

    e) Princpio da legitimao

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    De acordo com o a. 9. do C.R.P., o titular de um imvel no pode alien-lo nemconstituir encargos sobre ele, mediante escritura pblica se esse imvel no estiverdevidamente registado.

    Note-se que, o a. 9. do C.R.P., no se dirige ao titular dos imveis, mas sim aosnotrios, pois a estes que compete cumprir o preceito, ou seja, no realizar aescritura se no for apresentada Certido do Registo. O notrio que o fizer serobjecto de sano disciplinar, sendo que as partes no sofrem qualquer sano.

    Este princpio traduz um outro, o princpio de obrigatoriedade indirecta, segundo oqual ningum obrigado a registar um imvel, mas se quiser alien-lo ou constituirencargos sobre ele, ter forosamente que o registar. No h, portanto, qualquersano para quem no registar, mas uma forte limitao.

    2.9.4. Actos do Registo, trmites processuais e prova de registo

    So trs as modalidades de actos de registo, propriamente ditos, atendendo ao seucontedo e sua funo: a descrio, a inscrio e os averbamentos.

    A descrio o acto de registo dirigido identificao fsica, econmica e fiscal decada prdio (cfr. a. 79. n.1 do C.R.P.). As descries so dependentes, em geral,de uma inscrio ou de um averbamento cfr. a. 80. n.1 do C.R.P.Os averbamentos s descries (acto complementar), servem para alterar, completarou rectificar os elementos delas constantes, ampliar ou inutilizar, em virtude decircunstncias supervenientes. Os averbamentos tm um nmero privativo e devemter tambm o nmero e data da apresentao quando dela depender (cfr. aa. 88. n.1e 89. do C.R.P.).Diversa a finalidade da inscrio. Esta o acto de registo que vai revelar a

    situao jurdica dos prdios descritos, consistindo num extracto dos factos jurdicosrelativos a cada prdio. A identificao da inscrio faz-se mediante uma letra,

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    seguida do nmero de ordem correspondente e o nmero e data da apresentao,elementos que devem constar do correspondente extracto. semelhana do que passa com as descries, os averbamentos s inscriesservem para completar, restringir ou actualizar uma inscrio j existente, devendoser lanados na inscrio a que respeitam (cfr. a. 100. n.1 e n. 4 do C.R.P.).

    A existncia do registo prova-se por meio de ttulos de registo, certides, fotocpiase notas de registo. Uma vez efectuado o registo, dos factos legalmente sujeitos a ele,os mesmos sero oponveis a terceiros, depois da data do respectivo registo (cfr. a.

    6. do C.R.P.).

    O a. 7. do C.R.P., estabelece duas presunes: a de que o direito existe tal como oregisto o revela e a de que o direito pertence a quem est inscrito como seu titular.Estas presunes, so presunes legais, ilidveis.

    3. CLASSIFICAO DOS DIREITOS REAIS

    3.1. Direito Real Pleno e Direitos Reais Limitados

    O critrio de distino entre direitos reais plenos e direitos reais limitados oumenores, a extenso dos poderes que os direitos reais atribuem ao seu titular, ouseja, existem direitos reais que atribuem aos seus titulares mais poderes do que

    outros.Exemplo: o direito de propriedade atribui poderes mais amplos, que o direito deusufruto.

    Considera-se que para alm da propriedade, tambm a posse um direito real pleno,significando que, por meio desta classificao, a situao possessria colocada aonvel do direito de propriedade.

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    Estes direitos reais so acessrios de uma relao creditria e por isso encontram-seregulados no Livro II, tendo a funo de assegurar eficazmente ao credor, o pagamento preferencial do seu crdito pelo valor da coisa sobre que recaiem.Os direitos reais de garantia caracterizam-se pelo facto de incidirem sobre o valorou os rendimentos de bens certos e determinados, do prprio devedor ou de umterceiro.O C.C. admite os seguintes direitos reais de garantia:1. Consignao de rendimentos2. Penhor

    3. Hipoteca4. Privilgios creditrios5. Direito de reteno

    1. Consignao de rendimentosA consignao de rendimentos consiste na aplicao dos rendimentos de certos bensimveis ou mveis sujeitos a registo garantia do cumprimento de uma obrigao

    (que pode ser condicional ou futura), e do pagamento dos respectivos juros, sedevidos, ou to s do cumprimento da obrigao ou do pagamento dos juros.

    Dispe o a. 657. n.1, que:S tem legitimidade para constituir a consignaoquem puder dispor dos rendiment os consignados . o caso do usufruturio.A consignao de rendimentos pode ser: voluntria, que aquela que instituda pelo devedor ou por um terceiro, mediante negcio entre vivos ou testamento, ou judicial, que resulta de uma deciso do tribunal (cfr. a. 658.). No que diz respeito consignao voluntria, exige-se escritura pblica outestamento, desde que verse sobre coisas imveis, mas bastante, documento particular, quando estejam em causa bens mveis (cfr. a. 660. n.1).

    A consignao de rendimentos encontra-se sujeita a registo, salvo se tiver por

    objecto os rendimentos de ttulos nominativos, como por exemplo, aces de

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    sociedades, devendo neste caso ser mencionado nos ttulos e averbada, segundo arespectiva legislao (cfr. a. 660. n.2).

    A consignao confere ao credor o direito de preferncia em relao aos outroscredores, apenas sobre os rendimentos consignados e no sobre os bens que os produzem. A consignao extingue-se nos termos do a.664..

    2. PenhorO penhor constitui um direito real de garantia, que consiste em o devedor outerceiro se desapossarem voluntariamente de certa coisa mobiliria, para que fiqueespecialmente afecta segurana de determinado crdito, e que, por ele responde preferencialmente, no caso de no cumprimento da obrigao por parte do devedor.

    Em princpio, o objecto empenhado tem que sair das mos do devedor ou deterceiro (a. 667.) e entregue ao credor, ou a terceiro fiel depositrio deste (a. 669.).

    Quanto ao objecto, a lei permite que sejam dadas em penhor, coisas mveis como

    crditos ou outros direitos no hipotecveis.Admitem-se, assim, duas modalidades fundamentais de penhor: o penhor de coisas(a. 669. e ss.) e o penhor de direitos (a. 679. e ss.)Regra geral, todas as coisas mveis podem constituir objecto do penhor sejam elasfungveis ou no, consumveis ou no. Exige-se apenas, que a coisa possa seralienada, porquanto o credor pignoratcio tem o direito de promover a sua venda para se pagar (cfr. a.675.).

    Nos termos do a. 669, impe-se que o autor do penhor no tenha a disposio doobjecto empenhado. A existncia do penhor pressupem a publicidade constitutivaque se traduz na posse ou composse, decorrente do a. 669.Alm da publicidade, torna-se necessrio, data de entrega do objecto empenhado,acordo das partes, sobre a constituio da garantia.

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    Nos termos do a.734. esta garantia, abrange os juros de crdito respeitantes aosltimos dois anos, se forem vencidos.

    Os privilgios creditrios podem ser privilgios mobilirios, o que pode abranger

    o valor de bens mveis, de todos se, o privilgio geral ou, de determinados se,

    o privilgio especial do devedor, existentes data da penhora ou de actoequivalente (cfr. aa. 736. e 738.) e privilgios imobilirios, aqueles que podemabranger apenas o valor de determinados bens imveis (cfr. a.743. e ss.). De acordocom a actual redaco do a. 735 n 3, introduzida pelo DL n 38/2003 de 8 de

    Maro, os privilgios imobilirios estabelecidos neste Cdigo so sempre especiais.

    5. Direito de retenoO direito de reteno um verdadeiro direito de garantia e, consiste na faculdadeque tem o detentor de uma coisa, de a no entregar a quem lha pode exigir,enquanto esta, no cumprir uma obrigao a que est adstrito para com aquele (cfr.a.754.).

    Este direito resulta directamente da lei e no de um negcio jurdico e a sua publicidade encontra-se assegurada pelo prprio texto legal. Esta garantia nocarece de ser registada.O direito de reteno tem como requisitos os seguintes:- a deteno lcita de uma coisa que deve ser entregue a outrem;- que o detentor se apresente, por sua vez, credor da pessoa com direito entrega;

    - que entre os dois crditos exista o nexo apontado tratar-se das despesas feitas por causa dessa coisa ou de danos por ele causados.

    O a. 755. no seu n.1, estabelece casos especiais de direito de reteno jconhecidos, como o caso da alneas b), d) e f) da mesma disposio legal.

    Direitos reais de aquisioOs direitos reais de aquisio, constituem a categoria de direitos reais mais recente,em que o interesse do titular satisfeito atravs da aquisio de um outro direito

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    real, isto , a partir do momento em que se exerce o direito real de aquisio, o seutitular imediatamente transposto para outro direito real de gozo.Por exemplo: o direito que tem cada um dos comproprietrios a ter preferncia, navenda ou doao, das quotas dos outros; o caso do contrato-promessa e do pacto de preferncia quando se tenha atribudo eficcia real. Tambm a situao jurdica do possuidor que adquire o direito de propriedade por usucapio, cfr. a. 1287. e; ocaso de apropriao de coisa alheia, cfr. aa. 1321. e 1323., etc.

    4. VICISSITUDES DOS DIREITOS REAIS

    As vicissitudes dos direitos reais tm a ver com a aquisio, com a modificao ecom a perda dos direitos reais.

    4.1. Aquisio dos direitos reais

    A aquisio de um direito real, marca o momento em que esse direito (subjectivo) passa a fazer parte de uma esfera jurdica.A aquisio pode ser originria ou derivada e, esta ltima, ainda pode ser,constitutiva e translativa.

    Na aquisio originria, o direito adquirido surge na ordem jurdica, no exactomomento em que se adquire, isto , o fenmeno de aquisio e constituio dodireito simultneo e por sua vez no est dependente de nenhum outro direito. Na aquisio derivada o direito adquirido est sempre dependente de outro direito.E essa dependncia exprime-se de duas formas:

    na aquisio derivada translativa: a aquisio depende do direito anterior que

    fundamentalmente o mesmo;

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    na aquisio derivada constitutiva: o direito que se adquire um direito novo,muito embora, a sua constituio, se processe custa de um direito pr-existente,que fica assim limitado pela constituio desse direito.

    Com efeito, os direitos reais menores surgem por aquisio derivada constitutiva elimitam o direito de propriedade. Se eles forem transmissveis, pode tambm existiraquisio derivada translativa e, por regra, todos os direitos reais de gozo sotransmissveis. J quanto ao direito de propriedade, s pode ser adquirido ou, poraquisio originria ou, por aquisio derivada translativa.

    Quanto aos modos de aquisio, so eles os seguintes:a) Contrato: mediante contrato, transmitem-se para outro titular, direitos reais jexistentes, na titularidade do transmitente e, podem ser constitudos (aquisiooriginria) novos direitos reais (cfr. a. 408. n.1); b) Usucapio: a posse, mais o tempo, conduz usucapio e, um modo deaquisio de direitos reais de gozo;

    c) Lei e deciso Judicial: a constituio em si mesma, de direitos reais, muitas vezesdecorre automaticamente da lei, ou seja, sem necessidade de interveno das partese independentemente da sua vontade.Exemplos: servides legais (cfr. a. 1550.), hipoteca legal (cfr. a. 704.), os privilgios creditrios (cfr. a. 733.), o direito de reteno (cfr. a. 754.) e as preferncias legais.

    4.2. Modificao dos direitos reais

    A modificao dos direitos reais pode ser objectiva e subjectiva. Sempre que seopera uma aquisio derivada translativa existe uma modificao subjectiva.Exemplo: A vende a B um automvel.

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    Quanto modificao objectiva, esta verifica-se sempre que, nos encontramos perante aquisies derivadas constitutivas. Exemplo: A constitui a favor de B umdireito de usufruto.

    4.3. Perda dos direitos reais

    Os direitos reais extinguem-se pelas seguintes causas:

    Expropriao por utilidade pblica: (cfr. a. 62. da Constituio da RepblicaPortuguesa; a. 1308. e a. 1536., n. 1, al. f) consiste numa declarao feita peloEstado, em que este declara a necessidade de utilizar determinado bem para um fimespecfico de utilidade pblica, que faz extinguir o direito real constitudo sobre tal bem e, determina a sua transferncia para o patrimnio da pessoa a cujo cargo est a prossecuo desse fim (direito novo independentemente do anterior).

    Renncia: (cfr. aa. 731., 664., 677., 752., 761., 1267., 1476., 1490.) osdireitos reais so renunciveis, por manifestao de vontade, nesse sentido, dorespectivo titular (Princpio da renunciabilidade).O titular do direito de propriedade de um bem mvel pode simplesmenteabandon-lo, desligando-se da sua posse (causal), passando a coisa a serconsiderada umares nullius (coisa de ningum) e, fica susceptvel de seradquirida por ocupao (cfr. a. 1318.).O proprietrio de um imvel tambm pode renunciar ao seu direito, embora hajaopinio diversa. Por efeito da renncia (que deve ser feita por escritura pblica esujeita a registo) o imvel integra-seex vi lege no patrimnio do Estado, nosendo susceptvel de ocupao.

    Confuso: esta figura aparece-nos como causa extintiva dos direitos reais

    limitados (cfr. aa. 1476. n.1, al. b); 1536. n.1, al. d), 1569. n.1, al. c).Quando o titular de um direito real menor, passa a titular de um direito real

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    maior, d-se a confuso. Exemplo: A. usufruturio adquire a propriedade a B (nu proprietrio).

    Extino de um direito real pelo decurso do prazo, quando o mesmo tenha sidoconstitudo a termo.

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    TTULO IIDOS DIREITOS REAIS EM ESPECIAL

    1. DA POSSE (aa. 1251. a 1301. do Cdigo Civil)

    1.1. Noes Gerais

    A ideia de posse sugere imediatamente uma situao de poder sobre uma coisa e, por outro lado, sugere tambm a existncia de uma relao material entre uma

    pessoa e uma coisa.Imaginemos as seguintes situaes:A, utiliza um automvel em virtude de o ter roubado ou, em virtude de o ter alugadoou, ainda, em virtude de o ter comprado, sendo o seu proprietrio. Do ponto de vistafactual, no h qualquer diferena entre estas trs situaes.Para compreenso da noo de posse, foroso uma abordagem da distino que, adoutrina estabelece entre posse causal, posse formal e, posse precria ou deteno.

    1.2. Posse causal, posse formal e posse precria

    A posse diz-se causal porque existe uma causa que a justifica, isto , no caso do proprietrio ele titular de um direito real em cujo contedo se integram os poderesque justificam o uso da coisa.Ora, a posse o poder de uso e, neste caso, causal, porque tem como causa atitularidade de um direito real, cujo contedo integra um poder de uso.

    A posse causal no tem autonomia, inerente titularidade de um direito real e no mais do que a manifestao exterior da titularidade do direito real.O proprietrio e o possuidor embora actuem do mesmo modo perante todas as

    outras pessoas, no tm o mesmo direito, dado que um proprietrio e, tais actos

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    No entanto, leia-se o que estabelece o a. 1251.: actua por forma correspondenteao exerccio do direito de propriedade ou de outro direito real, onde o animusreleva claramente. Ainda, em justificao da tese subjectivista, o a. 1252. pode serinvocado no sentido de que, o detentor tem a apreenso material da coisa e podemanifestar a vontade de manter essa apreenso, mas no considerado possuidor.

    Para que exista uma situao possessria, no se exige que o possuidor pratiquedirectamente actos materiais sobre a coisa possuda, dado que a mesma pode serexercida por intermedirio de outrem, nos termos do a. 1252., isto , algum pode

    possuir a coisa em nome do possuidor ou, actuando como seu representante. Esta a chamada situao de deteno identificadas nas al. a), b) e c) do a. 1253..Exemplos: a empregada domstica que se serve do aspirador de casa onde trabalha,como instrumento de trabalho, detentora nos termos da al. a) do a. 1253., porm,se utilizar o secador de cabelo pertencente dona da casa, j ser consideradadetentora nos termos da al. b) do a. 1253.; O lavrador que vai a casa de um vizinho pedir uma charrua emprestada, mas como o mesmo no se encontra em casa, leva a

    charrua porque sabe que aquele no se importa cfr. al. b) do a. 1253.; O motoristaque conduz o camio pertencente firma X detentor, nos termos da al. c) do a.1253.;

    1.4. Natureza Jurdica da Posse

    Existem vrios entendimentos, mas de um modo geral, e sem pretenso deaprofundar esta questo, entender-se- a posse como um direito real subjectivo.

    No nosso Cdigo Civil, a posse opera e releva ora, como mero facto jurdico cfr.

    aa. 1252., n2, 1254., 1257., n1, 1260., 1287. ora, como situao jurdica

    subjectiva, fonte de importantes efeitos jurdicos para o possuidor cfr. aa. 1263.,1266., 1267., 1268. n.1, 1270. e 1273..

    1.5. Fundamento da Proteco Possessria

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    Composse: uma situao de comunho do direito que a posse. Cada um doscompossuidores exerce a posse correspondente parte que lhe caiba na possecomum, semelhana da figura da compropriedade, cujas regras lhe soextensveis com as necessria adaptaes. (cfr. a. 1404.).Caso as posses, que incidem sobre a mesma coisa, sejam de natureza diferente(Ex: A actua como se fosse proprietrio e, B como usufruturio) no hcomposse, mas sim convergncia de posses que no so incompatveis entre si.

    1.8. Modos de Aquisio da Posse

    a) Pela prtica reiterada, com publicidade dos actos materiais correspondentes aoexerccio do direito ( o chamado apossamento - cfr. a. 1263., al. a)

    Por prtica reiterada entende-se a prtica continuada. Esta expresso suscita aquesto de se saber, quantos actos materiais tero de ser praticados para seconsiderar que h prtica reiterada. Parece que no se exige a prtica de muitos

    actos, a prtica de apenas um s acto pode dar lugar investidura da posse, desdeque esse acto tenha intensidade suficiente para demonstrar que o sujeito tem ainteno de passar a comportar-se como possuidor nos termos do a. 1251..

    (...) com publicidade (...), significa que a prtica reiterada tem que ser realizada

    de modo a poder tornar-se conhecida dos interessados.O apossamento consiste na apropriao de uma coisa, mediante a prtica sobre ela,

    de actos materiais correspondentes ao exerccio de certo direito real. Ora, nestemomento adquire-se ocorpus. Porm, a posse s surge, quando pela prticareiterada (intensa e no necessariamente continuada) de actos materiais, se d publicidade semelhante aos praticados pelo titular do direito real animus.Assim, se A furtar o relgio vizinha e passar a us-lo como se fosse proprietria, por exemplo, colocando o relgio de forma visvel no pulso, diremos que A, tem o

    corpus quando furta, mas ao us-lo publicamente como se fosse seu adquire oanimus. Porm, se A, aps furtar o relgio, o guardar em casa ou, o esconder at o

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    poder vender, adquire apenas ocorpus , isto , tem apenas a deteno, noadquirindo a posse por falta do elemento psicolgico.

    O legislador ao referir-se a (...) actos materiais (...), pretendeu afastar a possibilidade de se tratarem de actos jurdicos.Exemplo: Se A v um determinado terreno em boa localizao e, coloca umanncio no jornal anunciando a venda de lotes desse terreno e, se na sequncia desta publicao, celebrar com diversas pessoas, contratos-promessa, A no adquire a

    posse do referido prdio, porque apenas praticou actos jurdicos e no actosmateriais.

    b) Pela tradio material ou simblica da coisa efectuada pelo seu anterior possuidor(cfr. a. 1263., al. b)

    Neste caso, sucede que algum que j era possuidor (anterior possuidor), cede a

    sua posse a outrem, atravs da entrega material ou simblica da coisa.Este modo de aquisio, um modo de aquisio derivada, ou seja, a posse aquiadquirida atravs de um acto de transmisso da posse (causal ou formal),anteriormente constituda.

    A posse a que alude esta alnea, corresponde entrega da coisa quando o possuidor pretende que ela saa do seu poder e, que esta passe definitivamente para outrem.A posse de algum adquirida por tradio, material ou simblica da coisa, temcomo consequncia a perda da posse, caso esta seja formal, por parte dotransmitente.c) Constituto possessrio (cfr. aa. 1263. al. c) e 1264.) Na fase de aquisio da posse, a apreenso material extremamente importante,

    nomeadamente no que respeita ao constituto possessrio.

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    A aquisio da posse por constituto possessrio, verifica-se quando o possuidor emnome prprio de certa coisa, deixar de o ser, por a ter alienado, convertendo-se poracordo com o adquirente, em mero detentor. Por outras palavras, algum adquire a posse atravs de negcio translativo de outrem que tinha a posse, mas que noentanto, mantm o poder de facto sobre a coisa por consentimento ou meratolerncia do novo possuidor.Exemplos:A habita a casa X que vende a B, embora continue l a habitar por acordo entreambos. Neste caso, a posse transferiu-se para B, embora A continue a ter o poder de

    facto sobre a coisa (cfr. n.1 do a. 1264.);A vende a B um carro e combinam que, A continua a utiliz-lo. A era o possuidorformal e ao celebrar o negcio translativo, transmite a posse para B. Assim, B titular de uma posse sem poder de facto, porque no h entrega da coisa,continuando esta a ser utilizada por A.A proprietrio da casa Y (possuidor causal) vende a casa a B, verbalmente ou, pordocumento escrito, tendo sido convencionado entre ambos que o bem apenas seria

    entregue passado um ano a contar da celebrao deste contrato. B, adquire apenas a posse formal, embora sem deter a coisa, dado que o contrato de compra e venda invlido e portanto, no pode haver a aquisio da posse causal.

    O constituto possessrio uma modalidade de aquisio de posse e no umamodalidade de perda da posse, por isso actua sempre do lado do adquirente e no dotransmitente. Pelo constituto possessrio, o adquirente torna-se possuidor e otransmitente torna-se detentor.

    O a. 1264. n. 2 estabelece uma outra situao, em que a coisa detida por terceiroem nome do titular, que aliena a mesma. Ora, a posse que tem, transfere-se para oadquirente, ainda que a situao de deteno existente deva continuar, quer porfora da lei, quer por acordo entre os interessados.

    Exemplo: Se o senhorio do prdio locado a B, o vende a C, este ltimo no deixa deadquirir a posse, mas B continua a ser locatrio (detentor).

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    Compreende-se, pois, a razo de muitos autores afirmarem, ser o constituto possessrio um afloramento do princpio do consensualismo no domnio da posse.A posse causal no tem autonomia, inerente titularidade de um direito real, ouseja, a posse causal, no mais do que a manifestao exterior da titularidade dodireito real. Em consequncia, entende-se no ser de aplicar o constituto possessriono domnio da posse causal, quando o negcio translativo do direito real for umnegcio vlido capaz de transmitir o direito real.

    Em concluso, o adquirente do direito real em causa, no passando a ter o poder de

    facto sobre a coisa, tido como seu possuidor. Se a posse anterior existia noalienante, este passa a mero detentor em nome do adquirente. Se a deteno existiaem terceiro, este mantm a deteno, mas passa a exerc-la em nome do adquirente.

    De acordo com o a. 1264. n.1 indiferente a causa que justifica a manuteno da posse ou a deteno do alienante ou de terceiro. Pode ser qualquer causa, mas temde existir uma causa.

    d) Inverso do ttulo da posse (cfr. aa. 1263. al. d) e 1265.)A inverso do ttulo da posse traduz-se numa mudana da atitude do detentor. Ainverso do ttulo da posse vem previsto na al. d) do a. 1263. complementada peloregime contido no a. 1265.. Nesta forma de aquisio da posse, d-se a transformao de uma situao de meradeteno em posse formal, isto , o ttulo por que se exerciam certos poderes sobre acoisa muda.O que justifica a apreenso material (o corpus ) na qual se baseia a deteno, residena existncia de uma outra pessoa, que possuidor.Assim, se B detentor, possui em nome de outrem, em nome do possuidor. , pois,este o ttulo da deteno ou posse precria de B.

    Ora, o detentor pode inverter o ttulo da posse mediante duas formas:1. por oposio do detentor do direito contra aquele em cujo nome possua;

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    2. e por acto de terceiro capaz de transferir a posse.

    Relativamente primeira situao, suponhamos o seguinte:B, era detentor, possua em nome de A. Num dado momento passa a possuir emnome prprio, opondo o seu direito a A., mediante declarao receptcia.

    A oposio traduz-se numa modificao doanimus do detentor, revelada pelaexteriorizao de actos positivos que inequivocamente expressam a sua vontade deopor uma posse prpria pessoa em cujo nome ou, no interesse de quem vinha

    actuando como detentor.

    Note-se que, para que B possa inverter o ttulo da posse, tem que ter uma pretensolgica, invocar argumentos credveis, dado que A tem meios ao seu alcance paradefender a sua posse.Por outro lado, necessrio que o detentor emita uma declarao receptcia, isto ,que leve ao conhecimento do possuidor a sua mudana de atitude em relao

    coisa. a partir deste momento (momento em que chega ao conhecimento de A, possuidor), que se d a inverso do ttulo da posse.

    A exigncia de uma declarao receptcia proporciona ao possuidor A, a possibilidade de reagir e defender a sua posse.A oposio pode ser operada por via extrajudicial ou judicial e, releva quando poressas vias for levada ao conhecimento do possuidor ou, se os actos que traduzem aoposio, forem praticados na presena do possuidor ou, na de quem o represente.Conhecida a oposio, a deteno transforma-se em posse, configurando umasituao de esbulho de quem, at aquele momento, foi possuidor. Exemplo: se olocatrio de um prdio rstico se recusar a pagar a renda, arrogando-se titular dodireito ao prdio, alterar o seu sistema, cortando por exemplo, um pinhal neleexistente para passar a fazer culturas de milho.

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    Relativamente segunda situao, a inverso do ttulo da posse resulta de acto deterceiro capaz de transferir a posse.Repara-se que este acto de terceiro tem de sofrer de algum vcio impeditivo daqueleefeito translativo.

    Assim, h inverso do ttulo da posse, por esta via, quando algum, semlegitimidade, vende ao detentor, por exemplo ao locatrio, o prdio que lhe estavaarrendado. A inverso produz-se por efeito de um novo ttulo compra e venda apto (em abstracto) a transferir a posse.

    Da mesma forma, h inverso do ttulo da posse se A, proprietrio de uma canetadeposita-a a B, sendo que, posteriormente C, terceiro de boa f, doa essa caneta a B.Ora, o detentor B, torna-se possuidor por inverso do ttulo da posse.

    A---------------------B----------------------C (Possuidor) (detentor) (intitula-se perante B como sendo o possuidor)

    Afirmando-se possuidor, C apresenta-se como um terceiro na relao entre A e Bcapaz de transferir a posse.

    1.9. Sucesso na Posse

    Na sucesso na posse verifica-se um fenmeno de aquisiomortis causa. O legislador ao afirmar, no a. 1255., que a possecontinua nos sucessores do possuidor do falecido, pretende frisar a ideia de que se verifica, um fenmenoespecial de transmisso que, em razo dos seus traos particulares, se designa porsucesso na posse. De acordo com esta disposio, os sucessores ocupam, por fora da lei, a posio do possuidor falecido e, recebem a sua posse tal qual ele a tinha.

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    A sucesso no considerada de entre os modos de aquisio da posse, porquequando algum sucede na posse em virtude da morte do anterior possuidor, no setrata de uma nova posse, cujos caracteres tenham que ser determinados, comoacontece nos outros casos, de aquisio da posse. Neste caso, a transferncia da posse verifica-se por mero efeito da lei e, com a abertura da herana no se iniciauma nova posse, dado ela ser a mesma. A posse do sucessor forma um todo com ado de cujus , havendo apenas uma modificao subjectiva. A posse adquirida pormorte a mesma que j existia, no sentido de que, o seu ttulo no a sucesso pormorte, mas sim o ttulo do prpriode cujus.

    Assim, se se tratava de posse de m f, continua a ser posse de m f, se se tratavade posse no titulada, continua a ser no titulada. Existe apenas uma excepo aoque foi referido e que reside no carcter da posse violenta.A posse violenta pode purificar-se transformando-se em posse pacfica. Exemplo: Aadquiriu a posse mediante coaco moral (posse violenta). Porm, se a ameaacessar, a posse purifica-se. Mas, embora a posse deixe se ser violenta, no deixa deser considerada posse de m f. (cfr. a. 1260. n. 3 presuno inilidvel).

    No caso da sucesso, se a posse era violenta mas, com a morte do anterior possuidor, a violncia cessou, a posse transforma-se em pacfica, continuando, noentanto, a ser de m f.

    1.10. Acesso na Posse

    No caso do disposto no a. 1256., houve uma transmisso da posseinter vivos (ex.compra e venda).A acesso da posse significa que aquele que adquirir de forma derivada, pode juntar sua posse, a posse do antecessor.

    Exemplo:

    A---------------------------------B---------------------------------------C (Possuidor) (Possuidor) (Possuidor)

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    (5 anos) (5 anos) (10 anos)

    No exemplo acima descrito, desde que C tenha adquirido a posse por uma

    modalidade de aquisio derivada (por tradio da coisa pelo anterior possuidor ou por constituto possessrio), pode somar ao seu tempo, o tempo da posse de B, ouseja 5 anos. E, poder tambm juntar o tempo de posse de A, porque se consideraque a lei ao falar de antecessor, no a. 1256. se quer referir a antecessores.

    Requisitos da acesso:

    aquisio derivada das posses, ou seja, as posses s podem ser somadas se aaquisio tiver sido derivada.

    os tempos de posses tm que ser referentes a posses contguas. No exemplo acima referido, C no pode ir buscar os anos de posse de A, sem ir buscar primeiro os anos de posse de B. dado que a soma dos tempos possessrios relevante para a aquisio do direito por usucapio e para o registo da mera posse, as posses a somar tm que ser

    pblicas (cfr. a. 1262.) e pacficas (cfr. a. 1261.).

    Exemplo:

    A ------------------------------------B--------------------------------C (Possuidor) (possuidor) (possuidor)

    (em termos de propriedade) (em termos de usufruturio) (em termos de propriedade)(5 anos) (5 anos) (10 anos)

    Nos termos do a. 1256. n. 2, possvel somar duas ou mais posses heterogneas,embora nestes casos, a acesso d-se dentro dos limites daquela que tem menormbito, isto , da posse menos valiosa. Neste caso, como o contedo do direito de propriedade mais amplo do que ocontedo do direito de usufruto, a posse de B ser de 15 anos.

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    Exemplo:A-------------------------------B------------------------------------C

    (Possuidor) (possuidor) (possuidor)

    (de boa f) (de m f) (de boa f)(5 anos) (5 anos) (10 anos)

    O a. 1256. no resolve este problema de se saber se a posse de C ou no de boaf. Assim, a doutrina resolve a questo de duas formas:

    1, por analogia aplicando-se o critrio do mbito (cfr. a. 1256. n.2), sendo queneste caso se C fizesse a acesso ficaria com 20 anos de posse de m f e isto porque, a posse de m f tem menor mbito do que a posse de boa f.

    2, por analogia com as regras do a. 1299. estabelecidas para a usucapio de mveisno sujeitas a registo. Assim, como esta disposio atribui posse de boa f o dobrodo valor da posse de m f (seis anos), esta vale metade da posse de boa f (trsanos).Partindo desta regra, antes da acesso ser feita, h que converter a posse de m fem posse de boa f. Como a posse de m f s vale metade da posse de boa f, Bno teria a posse por cinco anos, mas apenas por dois anos e meio.Aps a acesso, resultaria que C teria a posse de boa f por dezassete anos e meio.

    1.11. Caracteres da Posse

    De acordo com o disposto no a. 1258., a posse pode ser titulada ou no titulada, de boa f ou de m f, violenta ou pacfica, pacfica ou oculta.

    a) Posse Titulada e No Titulada

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    O carcter da posse titulada s relevante se a modalidade da aquisio da posse forderivada, isto , para estarmos perante uma posse titulada, esta tem que ter sidoadquirida atravs de um negcio jurdico translativo ou constitutivo.De acordo com o a. 1259. n.1 diz-se titulada a posse fundada em qualquer

    modo legtimo de adquirir

    Entende-se pormodo legtimo de adquirir, qualquer negcio jurdico translativoque, em concreto, no o transmitiu ou, porque o transmitente no tem legitimidade para o transmitir ou, porque o negcio jurdico est ferido de uma invalidade

    substantiva que impede a transmisso.

    Exemplos:- A, vende a B um anel pertencente a C.Ora, neste caso, o direito de propriedade no se transmitiu porque no existia natitularidade de A. Porm, como a compra e venda um negcio jurdico translativocapaz de transmitir o direito de propriedade, a posse formal de B titulada.

    - A vendeu um anel a B mediante coaco fsica.O negcio celebrado nulo, pois trata-se de uma invalidade substantiva, no produzindo quaisquer efeitos jurdicos. Portanto, o direito de propriedade no setransmite.Porm, esta posse titulada porque foi adquirida por meio de negcio jurdicoidneo para transmitir o direito de propriedade e, s o no transmitiu porque ocontrato era substancialmente invlido. Assim, B limitou-se a adquirir a posseformal.

    - A proprietrio de um terreno que vende a B verbalmente ou por documento particular. No se verifica, pois, a transmisso do direito de propriedade porque o negcio

    jurdico formalmente invlido. B apenas adquiriu a posse formal.

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    Esta posse no titulada porque se trata de uma invalidade formal e, neste caso, onegcio jurdico translativo no se considera um modo legtimo de adquirir o direitode propriedade.

    - A. proprietrio celebra com B contrato promessa de compra e venda de certo bem, tendo havido a tradio da coisa. Se o promitente comprador admitir que possui a coisa por um acto de tolerncia do promitente vendedor, ele detentor.Se, pelo contrrio, ele se assume como dono, possuidor formal, mas esta posse, em si mesma, uma posse no titulada, porque no existe um modo legtimo de

    adquirir o direito, dado o contrato promessa no ser um negcio jurdicotranslativo ou constitutivo.

    Conclui-se que, sempre que o negcio jurdico translativo seja formalmente invlidoa posse no titulada. Pelo contrrio, sempre que haja um vcio que impediu atransmisso do direito por invalidade substantiva, a posse titulada.

    Existem, porm, excepes, ou seja, existem casos em que, embora o negcio jurdico seja idneo para a transmisso do direito ferido de invalidade substantiva,no d lugar posse titulada. o caso do negcio jurdico celebrado com coaco fsica, quando se considere quea consequncia a inexistncia jurdica.Ora, se o negcio inexistente, o ttulo meramente putativo, e de acordo com o a.1259. exclui a possibilidade de se admitir a existncia deste ttulo (ttulo putativo aquele que apenas existe na convico do possuidor). Se a ordem jurdicadesconhece o ttulo, no estamos perante um modo legtimo de adquirir o direito.

    b) Posse de Boa F ou de M F

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    O critrio que preside distino entre posse de boa ou m f, o do conhecimentoou desconhecimento que o adquirente tenha ou no de estar a lesar direitos deoutrem (cfr. a. 1260.).A boa f a que alude o a. 1260., reporta-se ao momento da aquisio da posse.Mas, a posse de boa f pode convolar-se em posse de m f, a partir do momentoem que o possuidor tome conscincia de que est a lesar o direito de outrem (cfr. a.1270. n. 1 e 2).

    Nos termos do a. 1260. o legislador entendeu conveniente fixar presunes quanto

    qualificao destas modalidades de posse.Assim, a existncia ou falta de ttulo leva a presumir que a posse , respectivamentede boa ou de m f (cfr. n.2 do a. 1260.). No entanto, e por fora do n.3, ainda que a posse seja titulada, mas se tiver sidoadquirida com violncia, presume-se sempre de m f.Estabelece-se no n.3 uma presuno inilidvel ao contrrio do que se verifica no n.2 em que a presuno ilidvel

    Compreende-se a diferena de regimes estabelecida, uma vez que a falta de ttulo justo no significa que se esteja em presena de um acto ilcito, como sucede naviolncia. Assim, no ser necessrio punir civilmente quem adquiriu a posse semttulo.Em concluso, o possuidor sem ttulo no est impedido de invocar e fazer prova dasua boa f, no momento de aquisio da posse. Se o no fizer, a posse considera-sede m f.c) Posse Pacfica ou Posse Violenta (cfr. a. 1260.)

    A posse pacfica se foi adquirida sem violncia. H violncia, de acordo com on.2 do a.1261., quando a posse obtida com coaco fsica ou moral No pode deixar de se fazer um reparo, tcnica infeliz e inadequada utilizada nesteartigo, dado que a expresso coaco fsica a propsito do negcio jurdico no se

    aplica neste mbito.

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    Pretendeu o legislador referir que a violncia tanto pode ser sobre as pessoas comosobre as coisas. S assim se compreende que o legislador apenas remeta para anoo de coaco moral constante do a. 255. e, no para o a. 246..

    Refira-se que a posse violenta no serve para adquirir, isto , no serve para ausucapio, enquanto no se tornar pacfica (cfr. a. 1297.)A posse violenta violenta enquanto se mantiver a coaco, mas passa a pacficaquando ela cessa com relevantes consequncias, nomeadamente quanto contagemdo prazo de usucapio. Porm, a posse considerar-se- sempre de m f por fora do

    a. 1260. n.3.

    d) Posse Pblica ou Posse Oculta

    Tanto a posse oculta como a posse violenta no tem qualquer relevncia, sendo

    necessrio que ela seja pblica.O a. 1262. atende ao modo por que a posse exercida.Pode, porm, a posse constituir-se ocultamente, como decorre de regime do esbulho(cfr. aa. 1282. a 1297.) com relevantes consequncias no seu regime,nomeadamente, quanto contagem do tempo de posse, para efeito de registo demera posse (cfr. a. 1295.) e de usucapio (cfr. a. 1297. e 1300. n.1). No significa isto, que a posse oculta no seja posse, existindo apenas

    inconvenientes, conforme acima indicado.Os efeitos negativos do carcter oculto da posse so prximos dos da posseviolenta, sendo nomeadamente fixados os mesmos artigos. Repita-se, que a posseoculta no se presume de m f.Para que a posse seja pblica necessrio que ela seja exercida de modo a poder serconhecida dos interessados. No necessrio o conhecimento efectivo do exerccioda posse, por aqueles a quem possa interessar, bastando a possibilidade, de dele seaperceberem, aqueles a quem a posse afectar.

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    Na posse mediata existe uma dissociao no plano subjectivo entre oanimus e ocorpus. O animus encontra-se no possuidor mediato enquanto que ocorpusencontra-se no possuidor imediato. Este possuidor no mais do que o possuidor precrio.Esta uma situao simultnea de uma posse imediata e outra mediata sobre amesma coisa (cfr. a. 1252.). Nestes casos, concebe-se uma posse sem apreensomaterial, recorrendo-se ao conceito de espiritualizao docorpus , ou seja, o possuidor mediato tem ocorpus , mas este, encontra-se espiritualizado, ou ento,entender-se-, que ocorpus se encontra representado pelo ttulo que justifica a

    deteno do possuidor imediato.

    Esta situao de posse, por intermdio de outrem, pode dar origem a conflitos,sobretudo quando o possuidor mediato no conseguir provar a sua posse e justificara deteno do possuidor imediato. Neste caso no estamos perante uma situao de inverso do ttulo da posse, masantes perante uma situao, em que o detentor, nega perante o possuidor mediato ter

    sido alguma vez detentor, alegando que foi sempre possuidor.

    Nestes casos de conflito, quando o possuidor no consegue provar a sua posseaplica-se o n.2 do a. 1252..A posse conserva-se pelo seu exerccio, no sendo necessrio que a mesma sejaexercida atravs de uma actuao contnua.A partir do momento, em que se adquire a posse, esta conserva-se, ainda que, ocorpus no se manifeste claramente (cfr. a. 1257. n.1), se bem que seja necessrio,que persista a possibilidade de continuar a actuao correspondente ao exerccio dodireito. Nestes termos, o possuidor s ter que provar ter tido incio a sua posse, presumindo-se que, uma vez adquirida, a posse persistiu at ao momento actual (cfr.aa. 1257. n.2 e 1254. n.1).

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    A razo de ser desta situao, fica a dever-se, ao facto de, caso A perdesseautomaticamente a posse com a aquisio de B, ficaria sem qualquer possibilidadede defesa, o que no faria sentido.A tem um ano, para lanar mo, dos meios de defesa da posse que estudaremosadiante.

    Qual a importncia da chamada posse de um ano e um dia?Em primeiro lugar, a consolidao da situao possessria de um determinado possuidor face a anteriores possuidores. Decorrido um ano sobre a aquisio da

    nova posse, extingue-se o direito de intentar a aco possessria.Esta consolidao da nova posse tem como consequncia a extino das possesanteriores.

    Em segundo lugar, a posse de ano e um dia releva, quando necessrio encontrarentre vrias situaes possessrias, qual a melhor posse (cfr. a. 1278. n.1 e 2).

    Exemplo:

    A __________ esbulho ______B _____ esbulho ______________C (Possuidor) (Possuidor) (Possuidor h menos de 1 ano)

    B para todos os efeitos possuidor e, como tal, pode defender-se do esbulho mas,como B no tem a posse de um ano e um dia, de acordo com as regras dos n.s 2 e 3

    do a. 1278., C pode ficar em vantagem, se tiver melhor posse.

    1.14. Efeitos da posse. Contedo da posse

    A posse, enquanto direito real, atribui ao seu titular um conjunto de faculdades queconstitui o seu contedo. O Cdigo Civil ocupa-se desta matria nos aa. 1268. a1275. sob a epgrafe efeitos da posse.

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    Efeitos da posse:

    a) Presuno da titularidade do direito (a. 1268.) b) Direitos aos frutos (cfr. a. 1270., n1 e 213., n.1 e 2) e direito a indemnizao por benfeitorias (cfr. aa. 1273. a 1275. e 216.)c) Usucapio (a. 1287.).d) Direito s aces possessrias

    a) Presuno da titularidade do direito

    Estes efeitos referem-se ao lado activo, dado que no lado passivo, existe a obrigaode responder pela perda da coisa e de suportar os seus encargos.De acordo com o a. 1268., o possuidor goza de presuno de titularidade do direito.

    Mas titularidade de que direito?Quem possui, possui sempre pela referncia ao contedo de um determinado direitoreal. Assim, se o possuidor actuar por forma correspondente ao exerccio de certodireito, considera-se que ele o titular desse direito, isto , se o possuidor agir como proprietrio, presume-se ser ele o titular do direito de propriedade.

    Se A, possuidor, age como proprietrio e, anos mais tarde, B vem dizer que a coisalhe pertence, diremos que A tem a apreenso material da coisa e actua como sefosse o proprietrio e no tem que provar a titularidade do direito (cfr. a. 1268.,n.1). B se quiser, que prove o contrrio, ilidindo a presuno do a. 1268., n.1.Porm, se B tiver a certido de registo do facto aquisitivo do direito de propriedadegozar igualmente do direito por fora do a. 7. do Cdigo de Registo Predial.Existem assim duas presunes ilidveis, uma fundada na posse e outra, fundada no

    registo.

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    Direito aos frutos quando a posse de boa-f

    A lei reconhece ao possuidor a faculdade de fruir a coisa. Nesta matria, s releva a

    modalidade de posse, quanto boa-f. Se a posse foi adquirida de boa-f, mas se o possuidor vier, mais tarde, a ter conhecimento de estar a lesar direito alheio, a partirdesse momento est de m-f quanto ao direito de fruio.

    O direito de fruio no reconhecido ao possuidor de m-f (a. 1271.). Se a possefor de boa-f, domina como princpio geral, o direito de o possuidor adquirir osfrutos da coisa, sejam elas naturais ou civis (a. 1270., n.1).

    Quanto aos frutos naturais, h a distinguir os frutos colhidos e os frutos pendentes e, por outro lado, o ter havido ou no, alienao de frutos, ainda pendentes.Assim, se os frutos esto j produzidos, mas no colhidos e, caso o possuidor nestaaltura, saiba que lesa o direito de outrem, cessa a sua boa-f. O direito aos frutos pertence ao titular do direito, tendo o possuidor direito a ser indemnizado, pelo

    titular do direito, a todas as despesas feitas pela sua produo (a. 1270., n.2).

    Caso o possuidor de boa-f, antes da colheita, tiver alienado os frutos como coisafutura, para alm dos interesses deste e do titular do direito, h que analisar os

    interesses do terceiro adquirente. Ver o a. 1270., n3 ao adquirente interessa-lheque a alienao subsista e, esta a soluo na lei.Assim, o titular do direito no pode fazer seus os frutos em si mesmos, a titulosucedneo, -lhe atribudo o direito ao produto de alienao.Quanto ao possuidor reconhecido o mesmo direito que lhe cabe quanto aos frutos pendentes no alienados, isto , indemnizao das despesas de produo com oslimites referidos (a. 1270, n2).

    Os frutos podem denominar-se pendentes, que so aqueles em que ainda no se fez

    a sua separao da coisa (a. 215., n.2 do C. C.); percebidos, aqueles que j sesepararam da coisa (aa. 213., n.1 e 215., n. 1 do C. C.); maduros, aqueles que,

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    preveno (a. 1276.);

    manuteno (a. 1278., n. 1);

    restituio da posse (a. 1278., n. 1) e,

    embargos de terceiro (a. 1285.)

    restituio provisria da posse (a. 1285.)

    As aces de preveno, manuteno e restituio da posse so actualmente acesdeclarativas de condenao, que seguem o processo comum, contendo algumas

    especialidades. Manteve-se no Cdigo Civil, que no foi totalmente alterado, osartigos 1276., 1278., 1281. e 1282., a designao tradicional destas aces.Foi eliminada da grande reforma processual de 1995, a posse ou entrega judicialavulsa, antes regulada nos artigos 1044 a 1055, agora revogados.

    A defesa judicial da posse, pode ser ainda exercida atravs de meios cautelares.Assim, quando haja esbulho violento, pode o esbulhado intentar um procedimentocautelar especificado: a restituio provisria da posse (a. 395. do C.P.C.). Nohavendo violncia, o esbulhado poder socorrer-se do procedimento cautelarcomum (a. 395. do C.P.C.). Esta via processual est aberta aos casos de mera perturbao da posse.

    a) Aco de preveno

    Esta aco tem pouca relevncia prtica, porque a posse ainda no foi atingida e, porque um meio pouco eficaz. Atravs desta aco, no fica assegurada a efectivaabsteno de terceiro uma vez que, de acordo com o a. 1276, a procedncia deste pedido gera apenas a aplicao de uma multa e indemnizao pelos prejuzoscausados, no sendo por conseguinte dissuasor de terceiros que pretenda levar a

    efeito o seu contento.

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    O pedido na aco de manuteno o da condenao do perturbador, noreconhecimento da posse do autor e, na cessao dos actos que a perturbem. Nos termos do a.1281., n.1, tm legitimidade para intentar a aco, o possuidor perturbado e os seus herdeiros. Quanto legitimidade passiva, a lei limita-a ao prprio perturbador, no estendendo aos seus herdeiros, que porm, respondem coma herana, pela indemnizao, a que o possuidor perturbado tenha direito (a. 1281.,n1.).

    A aco de indemnizao no pode ser intentada a todo o tempo, pois caduca no

    prazo de um ano, a contar do acto de perturbao, se esta for pblica.Se tiver sido praticada de forma oculta, o prazo s comea a contar, quando o perturbado dela tenha conhecimento (a. 1282.). O tempo