direitos reais - aulas teóricas

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    Maria Lusa Lobo 2011/2012 Pgina 1

    Aulas Tericas Prof. Henrique AntunesAula 1 15 de Setembro

    Introduo

    1. Fixao da terminologia: acepes subjectiva e objectiva da expresso direitos reaisA expresso direitos reais usada na linguagem jurdica em mais de uma acepo:

    Sentido Subjectivo: identifica uma categoria de direitos subjectivos Sentido Objectivo: designa um ramo do Direito (objectivo), como diviso do Direito

    Civil. Nesta acepo, usa-se tambm dizer, em sinonmia, Direito das Coisas.

    Nota: enquanto que na acepo objectiva a expresso usa-se sempre no plural; j emsentido subjectivo ela comporta tambm a forma singular. Exemplo: o direito real de

    habitao como uma modalidade dos direitos reais, enquanto categoria de direitossubjectivos.

    Comportando a expresso direitos reais dupla significao, colocam-se duas questes:

    Apurar, em cada momento, o sentido em que est a ser usada Tomar partido quando sua utilizao mais adequada e, correlativamente, quanto

    terminologia a adoptar para identificar os direitos reais, como direitos

    subjectivos, e os direitos reais, enquanto ramo do Direito.

    Argumentos a Favor da expresso Direito das Coisas em sentido Objectivo:

    A expresso Direito das Coisas pode apresentar-se sugestiva na identificao deum ramo de Direito, estabelecendo o regime de direitos que se referem, de ummodo particular, a coisas. Deste modo, seria aconselhvel reserv-la paraidentificar esse ramo de Direito, se ela no se apresentasse ajustada a designar, depreferncia, o conjunto de normas jurdicas que estabelecem o regime das coisasem si mesmas consideradas, independentemente da natureza dos direitossubjectivos que as tm por objecto. Tais normas fixando o estatuto jurdico dascoisas contm-se fundamentalmente nos art. 202 e ss e constituem precisamenteo Direito das Coisas.

    Na origem da palavra reais est o vocbulo latino res, que significa coisa.Argumentos Contra a expresso Direito das Coisas em sentido Objectivo:

    A frmula menos adequada quando aplicada a uma diviso do Direito Objectivo,pela sua assimetria em relao s que tradicionalmente designam as outrasdivises do Direito Civil: Direito das Obrigaes (e no obrigacional), Direito daFamlia (e no familiar), Direito das Sucesses (e no sucessrio). Deste modo,afastar-se-ia, da nomenclatura corrente da chamada classificao germnica doDireito Civil.

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    A doutrina portuguesa, antiga e moderna, faz uso da expresso Direitos Reais nos doissentidos.

    Nenhuma das frmulas Direito das Coisas e Direitos Reais, esta na suas duas

    acepes muito rigorosa, tendo ambas um sentido meramente convencional,

    sedimentado por um uso corrente.

    Oliveira Ascenso

    Deste modo, ir-se- reservar a locuo Direito das Coisas para identificar o ramo de Direitoque se ocupa dos direitos reais (subjectivos)

    2. A categoria direito realO Cdigo Civil, seguindo a sistematizao germnica das relaes jurdicas, contm umlivro dedicado ao Direito das Coisas.

    Ausncia no Livro III (Direito das Coisas) de uma parte geral relativa a estacategoria de direitos, do que resulta uma dificuldade acrescida na elaboraodoutrinal de uma teoria geral dos direitos reais

    Dificuldade em verificar o tipo de direitos reais cujo regime neles estatudo.Deixando de lado a matria da posse, por a sua natureza ser convertida, e o direito depropriedadeenquanto direito real mximo, verifica-se que estamos perante direitos reaisde gozo:a atribuio ao respectivo titular de poderes de uso ou de fruio sobre uma coisa.Contudo, conhecido que os direitos reais no se esgotam nesta categoria: o legisladorcontrape os direitos reais de gozo aos direitos reais de garantia (art. 1539/1 porexemplo), sendo esta categoria pacificamente admitida pela doutrina.

    fcil delimitar o grupo dos direitos reais de garantia, que se caracterizam por atribuir aoseu titular uma situao de preferncia na realizao de um crdito custa do valor dacoisa:

    O regime dos Direitos Reais de Garantia contm-se no Livro II do CC, dedicado aoDireito das Obrigaes (art. 656 a 761).

    Encontram-se ainda dispersas pelo CC e por legislao avulsa, certas figurarcaracterizadas genericamente por terem eficcia real e atriburem ao respectivo titular opoder (potestativo) de, mediante o seu exerccio, adquirem certo direito real sobredeterminada coisa: Direitos Reais de Aquisio(exemplo: direitos emergentes do contrato-promessa real e de pacto de preferncia real (art. 413 e 421, respectivamente) emltiplos direitos de preferncia legal (art. 1409 e 1535), que tambm tm eficciareal).

    Coloca-se a questo de saber se faz sentido falar de uma categoria unitria direito real. Aresposta afirmativa: todos os direitos reais incidem sobre coisas, envolvendo uma

    particular afectao das suas utilidades realizao de interesses de pessoas determinas.

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    Por outro lado, todos se apresentam dotados de uma eficcia particular em relao aterceiros, genericamente identificada por eficcia real.

    A categoria genrica direito real encontra algumas referncias, embora espordicas, no CC,podendo alinhar-se alguns preceitos que se referem, em geral e indistintamente, a direitosreais, por vezes mesmo em oposio a outras modalidades de direitos, em embora comeles mantenham alguma afinidade correspondem a categorias distintas:direitos pessoaisde gozo(art. 407, 574/1 e 1682-A/1 al. a). ainda de salientar, relativo ao regime dos contratos com eficcia real, o art. 408/1referir-se genericamente a direitos reais sobre coisa determinada, sem estabelecerdistino entre as modalidades de tais direitos.

    Em suma, existem trs categorias de Direitos Reais (tm em comum o facto de terem comoobjecto uma coisa corprea e de serem direitos reais):

    Direitos Reais de Gozo: atribuem ao seu titular poderes de uso e/ou fruio sobreuma coisa determinada. Exemplo:

    Direito de Propriedade: direito exclusivo de poder fazer o quiser com acoisa (exemplo: pintar, emprestar ou usar a sua pasta)

    Direito de Uso: embora j no exista a plenitude de poderes que existem noDireito de Propriedade (exemplo: poder de usar e fruir a coisa, mas apenasna medida das necessidades do titular e da sua famlia

    Direito de Superfcie (art. 1524): direito de construir no solo que proprietrio, mas por tempo limitado (exemplo: X constri um parque deestacionamento em regime de superfcie. X proprietrio da construoque faz mas no da superfcie em que o faz).

    Direitos Reais de Garantia: atribuem ao seu titular uma situao de preferncia nasatisfao de um crdito pelo valor de certa coisa. Exemplo:

    X, proprietrio de um prdio, contrai uma dvida face a Y (Banco credor).Sendo que Y pede uma garantia, X coloca como tal a coisa (prdio) atravsdo seu valor. Sendo o valor da coisa inferior ao valor da primeira avaliao,esta dada em hipoteca.

    Hipoteca: ocorrendo um incumprimento, a coisa ser vendida e o credorque tem uma hipoteca possui relativamente aos demais credores comunsum direito superior: direito de crdito assistido de garantia. Restando algo,aps o credor da hipoteca ser pago, tal ser distribudo pelos demaiscredores comuns.

    Tal encontra-se prevista no Livro II do CC uma vez que se relaciona com osdireitos de crdito.

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    Direitos Reais de Aquisio: atribui ao seu titular um poder potestativo mediante oseu exerccio adquirir um certo direito real sobre uma coisa (contrato promessacom eficcia real, pacto de preferncia com eficcia real e direito de preferncia

    legal). Exemplo:

    X, titular de um direito de preferncia legal, pode ir a tribunal e atravs deuma aco de preferncia reaver a coisa.

    Encontra-se no Livro III do CC com a finalidade de garantir que certa venhaa adquirir um direito real sobre certa coisa, sendo em certa parte umdireito real de gozo.

    Direito Real de Aquisio de Excelncia aco de preferncia (art. 1410),enquanto exemplo clssico de direitos reais de aquisio: direito real deaquisio de mos dadas com os direitos reais de gozo. Encontra -seainda no Livro II, na matria das sucesses e em legislao avulsa.

    Princpio da Tipicidade ou do Numerus Clausus (art. 1306): refere-se constituio desituaes jurdicas com caracter real

    Exemplo: as servides prediais enquanto direito real.

    Servido:encargo imposto num prdio em proveito de outro prdio, no deoutra pessoa, na medida em que s se pode estabelecer encargos a favor de

    um prdio, no de pessoas.

    art. 1251: ao fixar a noo de posse (ideia de controlo material de uma coisa), menciona,ao lado do direito de propriedade, outros direitos reais. Embora seja discutvel oalargamento da posse a outros direitos reais que no sejam de gozo, no deixa de teralgum interesse a frmula genrica adoptada.

    art. 413 e 421: figuras com eficcia real.

    art. 574: contrape a categoria de direito real de direito pessoal.

    Os direitos reais possuem um regime especial que os permitem desmarcar de outrascategorias de direitos subjectivos:

    Encontram-se sempre em presena direitos subjectivos referidos a coisas,envolvendo a sua atribuio (rectius, em geral, das suas utilidades) a uma ou maispessoas determinada, para custa delas realizarem certos interesses.

    Esses direitos subjectivos aparecem dotados de uma eficcia prpria a eficciareal e constituem um numerus clausus.

    Exemplo: sobre as coisas podem existir direitos da mais diversa natureza se X emprestar

    a sua pasta a Y, este contrato gera um efeito obrigacional. Estamos perante um direito de

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    crdito em que existe o dever de prestar, contudo no ocorreu um direito real, mas sim umdireito obrigacional.

    3. A funo e a estrutura dos direitos reaisOs direitos reais asseguram ao seu titular, a realizao de interesses prprios mediante oaproveitamento de utilidades de coisas determinadas. Esta finalidade envolve a fixao decritrios que presidam sua atribuio ou de algumas das suas utilidades a certaspessoas. contudo de salientar que no , em absoluto, necessrio que essa atribuio sejafeita a ttulo exclusivo: essas utilidades podem ser repartidas por vrias pessoas, quermediante a atribuio a cada uma, de direitos qualitativamente iguais sobre a mesmacoisa, quer pela admisso do concurso, sobre ela, de direitos de diversa natureza,ordenados segundo vrios critrios que a seu tempo sero estudados.

    Contudo, no por esse aspecto funcional, embora relevante, que os direitos reais sedesmarcam de outros direitos subjectivos, nomeadamente dos de natureza creditcia: oaproveitamento de utilidades das coisas pode atingir-se atravs de direitos de crdito, ouseja mediante, por via da colaborao de outrem (prestao).

    Nos direitos pessoais de gozo, o uso e fruio de certa coisa faz-se atravs da actividade deoutra pessoa, que os proporciona ao titular do titular. Do ponto de vista funcional, aquitambm se atinge a vantagem de satisfazer certo interesse pelo aproveitamento das

    utilidades da coisa.

    Ao contrrio do que acontece nos direitos pessoais, nos direitos reais a funo que lhesest adstrita no depende da mediao de outrem, uma vez que assegurada pelaactuao directa do respectivo titular sobre a coisa: daqui resulta a diferena estrutural.

    Tendo em considerao tal, entende-se que a doutrina moderna no deixe de reconhecerque no direito real h uma actuao directa (hoc sensu, um poder directo ou imediato)sobre uma coisa, enquanto nos direitos creditcios esse poder mediato.

    Conjugado com a particular eficcia dos direitos reais, poder-se- afirmar que o direito

    real, incidindo sobre uma coisa, exclui, no aproveitamento, pelo menos, de algumas dassuas utilidades, a interveno de terceiros. Ou seja, o direito real absoluto.

    Direito Real enquanto direito subjectivo absoluto, mediante o qual uma pessoa

    determinada pode afectar certa cisa realizao de interesses particulares tutelados pelo

    Direito, pelo aproveitamento de todas ou de algumas das suas utilidades.

    Concluso da Aula: os direitos reais podem ser definidos em trs categorias gozo,garantia e aquisio distinguindo-se em virtude da sua prpria funo.

    Sendo direitos reais, em comum possuem o facto de terem por objecto uma coisa

    determina/corprea.

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    Contudo, existem mais caractersticas que permitem que exista uma unidade destadisciplina dos direitos reais: permite elencar um conjunto de atributos que so aquelesque partem de duas ideias essenciais, ou seja de dois conceitos bsicos que acompanham anoo de direitos reais para l da comunho da coisa como seu objecto.

    Deste modo, podemos identificar como caractersticas dos direitos reais:

    Tm por objecto uma coisa determina/corprea. Poder directo e imediato sobre a coisa Caracter Absoluto

    Aula 2 16 de Setembro

    Noo de Direito Real

    1. Colocao do problemaOs direitos reais so direitos subjectivos (expresso em sentido amplo), e participamcomo tais, das caractersticas desta categoria jurdica.

    Direito Subjectivo:

    Prof. Menezes Cordeiro: permisso normativa especifica de aproveitamento de umbem, sendo sempre tcnico mas tambm significativo-ideolgico.

    Prof. Carvalho Fernandes: poder jurdico de realizao de um fim de determinadapessoa, mediante a afectao jurdica de um bem.

    Direitos Subjectivos Absolutos: caracterizam-se pela sua eficcia erga omnes, por ocorrespondente poder ser oponveis contra todos.

    Direitos Subjectivos Relativos: projectados contras sujeitos determinveis e provem de umvinculo que se cria entre o sujeito activo e o sujeito passivo correspondente relaojurdica.

    Direitos Stricto Sensu (direitos subjectivos comuns/direito a conduta de outrem): o

    direito subjectivo envolve um poder de algum modo dirigido a um comportamento deoutrem, sobre quem recai a necessidade jurdica de o adaptar, em vista da satisfao dointeresse protegido.

    O debate doutrinal sobre a noo de direito real uma questo dogmtica que ocupa adoutrina h largo perodo de tempo.

    2. O debate doutrinalConcepo Clssica

    Direito Real enquanto um poder directo e imediato sobre uma coisa.

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    Esse poder umas vezes entendido com um poder material e outras como um poderjurdico.

    Sentido de poder directo: ideia de domnio ou senhorio sobre certa coisa, sendo aquintida a influncia desta ideia na concepo de propriedade perfilhada no art. 544.

    Sendo de poder imediato: faculdade, atribuda ao titular do direito, de aproveitamento

    das utilidades da coisa, sem necessidade de colaborao de outrem.

    Nesta concepo reala-se a particular posio da coisa como objecto do direito chegandopor vezes este ponto a ser formulado em termos que sugerem uma relao entre o titulardo direito e a coisa.

    Sendo ainda frequente na doutrina civilstica do Sc. XX, a teoria clssica foi perdendoaceitao, embora aparea ainda a influencia autores modernos, como o Prof. HenriqueMesquita: configura as relaes reais de domnio ou soberania estabelecidas directamenteentre pessoas e as coisas.

    Observaes Crticas Concepo Clssica:

    Menezes Cordeiro: coloca em causa a ideia de poder na definio de direitosubjectivo: sendo esta uma crtica comprometida com certo entendimento dedireito subjectivo (permisso normativa especifica de aproveitamento de um bem,sendo sempre tcnico mas tambm significativo-ideolgico), que no o adoptado,tem de se reconhecer que se impe, pelo menos, o esclarecimento do sentido quese lhe atribui, j que mais no seja, com o propsito de afastar a construo do

    poder de vontade, adoptada pela teoria clssica na noo de direito subjectivo.

    Em termos mais significativos, havia ainda que tomar posio sobre o problema desaber se se trata de um poder material ou de um poder jurdico, uma vez que osdireitos reais nem sempre implicam poderes materiais sobre coisas (exemplo:hipoteca ou nua-propriedade).

    A noo sugere a existncia de uma relao entre certa pessoa e uma coisa, queno se ajusta ideia corrente de relao jurdica: o mais que se poderia pretender,como faz alguma doutrina, seria conceber o direito real fora de qualquer relao

    intersubjectiva, absoluto, hoc sensu os direitos reais, como todos os direitossubjectivos, envolvem uma relao entre pessoas, no com uma coisa.

    Concepo Moderna ou Personalista

    Esta forma de construir o direito real produto da pandectstica, e parte da ideia darelao jurdica.

    A relao jurdica real caracteriza-se por nela existir um poder absoluto, que a todos

    vincula, e a que corresponde, do lado passivo, o chamado dever geral de respeito.

    Os defensores da Teoria Personalista consideram que se deve apenas atender s pessoasque se encontrem em posio de interferir com o exerccio do direito por parte do titular,

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    chegando-se deste modo a uma ideia de oponibilidade erga omnes, segundo o qual odireito absoluto se caracteriza pela possibilidade de o fazer valer contra quem ameaceinterferir, ou de facto interfira, no seu exerccio.

    Teorias Mistas

    Alguns autores apontam a necessidade de distinguir no direito real dois elementos oumomentos, um interno, outro externo. Identifica-se ento um lado interno e um ladoexterno do direito.

    C. Mota Pinto: Concebia o direito real como o poder de exigir de todos os outros umaatitude de respectivo pela utilizao da coisa em certos termos por parte do titular activo.

    Esta ideia impe a necessidade de delimitar a esfera de aco a respeitar, ou seja, quais ospoderes cujo exerccio no pode ser perturbado. Esses poderes variam de direito real paradireito real e constituem o contedo de cada um. A eles tem tambm de se atender para adefinio de direito real.

    Deste modo, h no direito real

    Um lado externo: ligao intersubjectiva correspondente ao poder de exigir dosoutros uma conduta conforme obrigao passiva universalrelao absoluta

    Um lado interno: constitudo pelos poderes exercitveis sobre a coisa:contedodo direito real, que caracteriza, por certo, cada direito real, sendo que por estarazo ele varia, mas no se v como pode caracterizar o direito real, enquanto

    categoria jurdica. No fundo, este lado interno da relao real corresponderia a umpoder sem relao.

    Em suma, nas Teorias Mistas o direito real caracteriza-se pela circunstncia de ter comoobjecto uma coisa, ser um poder imediato e muitas vezes directo (direito real de gozo) epela natureza absoluta destes direitos.

    Nota: o poder imediato e directo no so requisitos cumulativos.

    A inerncia(relao ntima entre o direito e a coisa) resulta do poder directo. A sequela (possibilidade de ir buscar a coisa onde ela esteja) resulta do poder

    imediato.

    Outras Concepes

    Prof. Manuel Duarte Gomes da Silva: o direito subjectivo caracteriza-se como a afectaojurdica de um bem aos fins de pessoas individualmente consideradas, ou seja fazer atransposio deste conceito para o direito real, sendo que neste o bem afectado umacoisa.

    Crtica pelo Prof. Oliveira Ascenso: a facilidade com que se opera estatransposio revelaria como seria possvel cair na tentao de distinguir entre os

    vrios tipos de direitos subjectivos pelo seu objecto, quando o elemento decisivopara o efeito o seu contedo.

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    Crtica pelo Prof. Carvalho Fernandes crtica de Oliveira Ascenso: a tese do Prof.Gomes da Silva admite perfeitamente uma leitura que permite ultrapassar a crticarealizada pelo Prof. Oliveira Ascenso. A sua nota bsica reside na afectao

    jurdica de um bem e esta no tem de assumir sempre a mesma feio. Asdiferentes modalidades de afectao traduzem o contedo do direito subjectivo epodem, assim, servir de base delimitao das suas vrias manifestaes.

    Prof. Oliveira Ascenso: os direitos reais so absolutos, inerentes a uma coisa efuncionalmente dirigidos afectao desta aos interesses do sujeito.

    Oliveira Ascenso admite a possibilidade de conceber a existncia de direitos subjectivosindependentemente de uma relao intersubjectiva. A partir daqui, constri a figura dodireito subjectivo absoluto, concebendo-o como direito oponvel erga omnes. Esta notafalta nos direitos de crdito, pois estes assentam numa relao estabelecida entre o

    devedor e o credor. Nem sequer a chamada eficcia externa da obrigao equivale eficcia erga omnes, tal como ela se apresenta nos direitos reais. Deste modo, resulta que odireito real configura-se como direito absoluto, por poder triunfar de todas as oposies.Contudo, esta qualificao no decisiva por existirem outros direitos que tambmparticipal da caracterstica da absolutidade e no so direitos reais. Daqui surge anecessidade de recorrer a outros elementos de caracterizao do direito real: a inerncia ea afectao funcional da coisa.

    Inerncia: respeita posio da coisa no direito real e significa um tal grau deafectao da mesma que dele no pode ser desvinculada. Deste modo, o direito real

    segue a coisa onde ela se encontrar e prevalece sobre os direitos de crditorelativos mesma coisa. Contudo, de salientar que existem direitos ditosinerentes, que no so reais: nestes casos, a inerncia envolve uma tcnica dedeterminao da pessoa vinculada a certa obrigao a partir da titularidade decerto direito real.

    Afectao Funcional da Coisa: o direito real, sendo absoluto e inerente, sobretudofuncionalmente dirigido afectao de uma coisa, em termos reais. Deste modo,faz-se o titular do direito real participar no aproveitamento da coisa pararealizao de interesse dele.

    No deixa de ser curioso verificar que a noo de direito real apresentada pelo Prof.Oliveira Ascenso assenta em trs elementos, dos quais nenhum seria exclusivo da figura.O prprio autor o reconhece explicitamente quanto absolutidade e inerncia, mas nodeixa de o aceitar quanto ao aspecto funcional: este verifica-se tambm nos direitospessoais de gozo.

    Prof. Carvalho Fernandes: certo que em favor desta noo se pode assinar acircunstncia de a especificidade dos direitos reais residir na conjuno daquelastrs notas e de a afectao do bem se fazer em termos gerais, segundo a

    terminologia do Prof. Oliveira Ascenso. No merece porem aceitao o realce

    atribudo ao elemento funcional; deve antes entender-se que no estademonstrado em que consiste a afectao funcional do bem em termos reais.

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    Prof. Menezes Cordeiro: parte da crtica pro ele dirigida tese do Prof. Oliveira Ascenso eassenta na sua concepo de direito subjectivo.

    Crtica tese do Prof. Oliveira Ascenso: existem outros direitos absolutos almdos direitos reais. Importa aqui distinguir-se se est a falar de direito absoluto, nosentido de oponvel erga omnes, ou e direito absoluto como espao jurdico que

    todos tm de respeitar nesta segunda acepo, para o Prof. Menezes Cordeiro,todos os direitos so absolutos. A caracterizao do direito real pela funo ideiade afectao funcional de coisas no decisiva na medida em que existemdireitos obrigacionais em que se identifica igual forma de afectao. O Prof.Menezes Cordeiro refere-se no, especificamente, categoria dos direitos pessoaisde gozo, mas a prestaes de coisas e a prestaes de servios, pois nelas tambmse visa o aproveitamento de uma coisa: nos direitos reais a afectao teria de serde certo tipo.

    Concepo de direito subjectivo: define direito real como permisso normativaespecfica do aproveitamento de uma coisa corprea.

    Prof. Carvalho Fernandes: a noo do Prof. Menezes Cordeiro assenta na particularmodalidade dos bens afectados realizao dos interesses dos seus titulares. Se seconfrontar a noo de direito subjectivo com a especfica de direito real, fcil verificarque nelas s muda a referencia a bens para a referncia a coisas (corpreas)

    3. Posio Adoptada (Prof. Carvalho Fernandes)A posio defendida quanto ao conceito de direito real filia-se no entendimento perfilhadosobre a noo de direito subjectivo: poder jurdico, ou seja, como uma disponibilidade demeios jurdicos atribudos a pessoa determinada para a realizao e um fim ou finsjurdico-privados, mediante a afectao jurdica de certo bem.

    A afectao do bem pode assumir modalidades muito diversas, tal como diversificados soos meios de actuao jurdica postos disposio do titular do direito. A conjugao destesdois aspectos delimita o contedo de cada direito subjectivo e acaba por interferir com otratamento jurdico do prprio bem afectado, enquanto objecto do direito.

    Nos direitos reais o bem afectado uma coisa corprea, sendo que o contedo do direito

    real caracteriza-se como o conjunto de meios que asseguram a realizao de interessesdeterminados mediante o aproveitamento de todas ou e parte das utilidades de uma coisa.Esse aproveitamento imediato, no sentido de no pressupor a interveno (mediao)de outra pessoa, alm do seu titular.

    Da presente exposio, resultam duas notas sobre os direitos reais:

    Excluso de terceiros, em relao aos quais o direito oponvel. Comoconsequncia de tal, resulta uma potencialidade de defesa contra agresses ouameaas de agresses alheias, que no existe em direitos subjectivos que noparticipam desta caracterstica, mas ainda a oposio, em concreto, do direito

    contra quem impedir ou perturbar o seu exerccio: os direitos reais so absolutos.

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    Os direitos reais mantm com a coisa uma ligao muito particular, implicando aefectiva afectao das suas utilidades realizao dos interesses do respectivotitular: inerncia.

    Quanto absolutidade necessrio apreciar a pretensa verificao desta caracterstica nosdireitos de crdito, sustentada por alguma doutrina, e na portuguesa, pelo Prof. MenezesCordeiro.

    Nos direitos relativos, o seu prprio reconhecimento implica, para terceiros, a necessidadede se absterem de interferir no desenvolvimento harmnico da relao estabelecida entreo titular do direito e a pessoa adstrita vinculao. A evoluo jurdica, nesta matria, deu-se precisamente no sentido de limitar o alcance do velho princpio da relatividade dasrelaes obrigacionais e do reconhecimento da eficcia externa das obrigaes.

    Contudo, necessrio no esquecer, que estamos a lidar com realidades diversas, no

    podendo de modo algum confundir-se o carcter absoluto dos direitos reais com arelevncia externa dos direitos de crdito.

    Carcter Absoluto dos Direitos Reais: eficcia realExemplo violao do pacto de preferncia, sendo este dotado de eficcia real, semelhana do que acontece nos direitos legais de preferncia (exemplo: compropriedade,art. 1409 e 1410): Se A, sem respeitar o direito de preferncia de B, alienar a C a coisa, Btem o direito de haver para si, desde que o requeira no prazo legal e deposite o prelodevido, tudo como se dispe no art. 1410/1, aplicvel ex vido art. 421/2. Em suma, nos o efeito aquisitivo do contrato celebrado entre A e C no pode ser oposto a B, como este

    tem o direito de invocar e fazer valer contra C o seu direito real de preferncia e, isto,entenda-se, sem prejuzo da indemnizao que por ele seja, eventualmente, devida. Odireito de C cede perante a preferncia real de B.

    Relevncia Externa dos Direitos de Crditos: eficcia obrigacionalExemplo: se um terceiro (C), havendo um pacto de preferncia obrigacional celebradoentre A e B, acertar com o dados da preferncia (A) a aquisio da coisa a que ela respeita,violando assim a correspondente obrigao de dar preferncia, o contrato de compra evenda celebrado ente A e C no deixa de ser vlido e a venda de subsistir. O mais que se

    poder verificar a obrigao, imposta a A, e eventualmente a C, como terceiro cmplice,de ressarcir os danos causados a B.

    Em comum, em ambos os casos, h a necessidade de C respeitar a situao jurdica de B edai a necessidade em que C se pode ver colocado, de indemnizar os danos sofridos porefeito do no cumprimento da obrigao de dar preferncia. Ate aqui, esta em causa areserva de espao jurdico que todos tm de respeitar, existente, na verdade, na

    generalidade dos direitos subjectivos e de que fala Menezes Leito.

    Absolutidade (oponibilidade erga omnes): nos direitos reais existe a faculdade de fazervaler o seu direito sobre a aquisio da coisa por terceiro, titular de um direito com aquele

    incompatvel.

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    A inerncia consiste tambm numa marca identificadora dos direitos reais, sendo quedireitos ditos inerentes, mas no reais, so-no em sentido diferente.

    Nesses outros direitos a inerncia representa apenas a mera determinao do sujeito

    passivo de uma obrigao, em termos mediatos, ou seja, atribuindo essa qualidade a

    quem quer que seja o titular de um direito real.

    Oliveira Ascenso

    Deste modo, nestes casos, a inerncia no traduz certa maneira de ser da afectao dacoisa ao titular do direito, que faz este participar no aproveitamento das suas utilidadespara satisfazer necessidades prprias. Daqui resulta, que o entendimento correcto o des em sentido imprprio certos direitos de crdito se podem dizer inerentes.

    Por fim, a afectao funcional de uma coisa, tomada isoladamente, no permite qualificarum direito como real, pois ela existe nos direitos pessoais de gozo.

    Contudo, essa afectao ganha outro sentido quando acompanhada dos demais elementosacima referidos, pois os direitos pessoas de gozo, mesmo participando dessa afectao,no revestem as caractersticas da absolutidade e da inerncia.

    Direito Real enquanto um direito absoluto e inerente a uma coisa corprea, afectada

    realizao de interesses jurdico-privados de uma pessoa determinada.

    Contudo, identificado o direito como poder jurdico, no sentido de um conjunto de meiosde actuao jurdica, e atendendo as modalidades de afectao das coisas prpria do dieitoreais mais adequado definir

    Direito Real como o poder jurdico absoluto, atribudo a uma pessoa determinada para a

    realizao de interesses jurdico-privados, mediante o aproveitamento imediato de

    utilidades de uma coisa corprea.

    Carvalho Fernandes

    4. Distino entre os direitos reais e os direitos de crditoTeoria Clssica:radicando nas concepes do direito real e de crdito por ela perfilhadas,tinha o seu acento tnico na diferente modalidade do bem sobre que recaa cada uma das

    correspondentes situaes jurdicas: coisas, num caso, prestaes, no outro.

    Doutrina Moderna ou Personalista: v os direitos reais como absolutos, segundo o seuprprio entendimento, enquanto os direitos de crdito so relativos. Assim, a distinoestabelecia-se a partir da diferente estrutura das correspondentes relaes jurdicas,atendendo em particular ao seu lado passivo. Ao direito real correspondia o dever geral derespeito, enquanto ao direito de crdito se contrapunha um dever especfico, imposto apessoas determinadas ou determinveis.

    Teorias Mistas:a particularidade dos direitos reais reside na existncia de um lado internoe de um lado externo, realidade no verificada nos direitos de crdito, pois nestes no faria

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    sentido falar em lado externo, segundo o velho Princpio da Relatividade da relaoobrigacional.

    Todas estas teorias participam do aspecto comum de assentarem na existncia de direitosde crdito e de direitos reais como realidades distintas. A sua incapacidade paraexplicarem a distino em termos adequados levou alguma doutrina a desistir dessa via ea afirmar a identidade das duas categorias jurdicas: Teorias Monistas.

    Teorias Monistas:nem sempre os autores assenta essa identidade nos mesmos elementos,mas podem distinguir-se duas linhas fundamentais de argumentao, uma redor daabsolutidade e outra da inerncia dos direitos reais.

    Salientam-se as teses de dois juristas franceses de renome Demogues e Gaudemet queperfilham estas orientaes.

    Teoria Monista de Demogues: desenvolve a teoria personalista do direito real, ecomo tal ligada sua nota de absolutidade. Ao contrrio do que se pretendia fazercrer naquela orientao, os direitos reais no tem exclusividade dessacaracterstica; tambm no direito de crdito se pode identificar uma obrigaopassiva universal que se traduz para terceiros na necessidade de respeitar odireito de crdito. Deste modo, fica posta em causa, neste entendimento, arelatividade das relaes obrigacionais, empolando-se, em contrapartida, a suaeficcia externa.

    Teoria Monista de Gaudemet/ Teoria Realista: procura a identidade entre osdireitos reais e os direitos de crdito no plano do objecto. Ao contrario do que adoutrina corrente faz crer, sustenta-se nesta concepo que tambm os direitos decredito recaem sobre bens, embora com algumas particularidades. Na verdade,enquanto os direitos reais incidem sobre coisas determinadas, os direitos decrdito tm por objecto o patrimnio do devedor, no seu todo. Ainda que a tese deGaudemet fosse correcta, sempre se poderia dizer que a diferena assinalada no de pequeno relevo. O simples facto de os direitos de crdito incidirem sobre opatrimnio como um todo e no sobre coisas determinadas explica o facto deno fazerem sentido quanto a eles as caractersticas da prevalncia e da sequela.No desenvolvimento deste reparo no deixa de ser curioso assinar que a doutrinaportuguesa dominante pe em causa a natureza dos privilgios creditriosmobilirios gerais como direitos reais, precisamente por eles no incidirem sobrecoisas determinadas, como acontece nos privilgios especiais, mas sobre ageneralidade dos bens do devedor. Contudo, a tese de Gaudemet em si mesmo nomerece aceitao: no se pode dizer que o direito dos credores, em geral, recaia nopatrimnio do devedor, no seu todo. O patrimnio do devedor funciona apenascomo garantia da realizao dos direitos patrimoniais de natureza obrigacional deque ele sujeito passivo; o patrimnio no esta, porm afectado a esses direitos nosentido de custa dele se satisfazer directamente o interesse dos credores. Oalcance da chamada funo externa do patrimnio outro, para alm de a funode garantia no ser a exclusiva, nem a primria das funes do patrimnio. Porvezes, pretende encontrar-se fundamento para a teoria realista no regime da

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    impugnao pauliana, invocando-se o seu efeito de restituio fictcia do bemalienado ao patrimnio do devedor, para sobre ele ser exercido o direito do credor.

    Prof. Menezes Cordeiro: chama colao o regime deste instituto (impugnao

    pauliana), em matria que interessa distino entre direitos reais e direitos decrdito, importando se ele pode pr em causa a tese dualista, em particular nosistema jurdico portugus.

    Os efeitos da impugnao pauliana parecem ajustar-se ao entendimentoem anlise. Verificados os requisitos da impugnao e julgada estaprocedente, o prof. Salienta que ela destri a transmisso, abrindo-se assima possibilidade de o crdito ser actuado directamente contra o terceiroadquirente; dai a semelhana do direito real, o direito de crdito seguiria acoisa alienada. Funda-se tanto no art. 616/1 e 4, sendo que este ltimo

    limita os efeitos da impugnao ao credor que a tenha requerido.

    O regime da impugnao pauliana afasta-se em aspectos muitosignificativos do que seria prprio de um direito real: requisitos relativosaos pressupostos do instituto e aos seus efeitos, que no fazem qualquersentido em matria de direitos reais.

    O titular de um direito real, ao pretender invoca-lo em juzo,nomeadamente contra quem tenha em seu poder, indevidamente, a coisaque dele objecto, tem apenas de demonstrar a titularidade do seu direito,

    no carecendo de discutir com o seu possuidor ou detentor os ttulosatravs dos quais ele obteve a posse ou deteno.

    Muito diferente a posio do credor, a quem no basta demonstrar atitularidade do seu crdito para executar, no patrimnio do adquirente,uma coisa alienada pelo devedor. Tem primariamente de atacar aalienao, e a isso se destina justamente a impugnao. Contudo, esta porseu turno depende de mltiplos requisitos, entre os quais relevam anatureza do negcio de alienao e a boa ou m f das partes, no acto dealienao. Em relao a este aspecto importa ainda salientar o requisito

    que faz depender a impugnao de ter havido diminuio da garantia, quedetermine a impossibilidade de o credor obter a satisfao integral do seu

    crdito, ou agravamento dessa impossibilidade (art. 610 al. b)). Este

    aspecto particularmente significativo, pois nele se revelou ser a funo degarantia que aqui esta em causa, como atras se assinalou.

    No plano dos efeitos da impugnao: a possibilidade de a execuo recairsobre a coisa alienada nem se sempre se d por fora do art. 616/3,estando o adquirente de boa f, ele s responde na medida do seuenriquecimento. Verificada tal hiptese, o credor pode encontrar-se em

    situao de nem sequer poder realizar o seu credito pelo valor da coisaalienada, quanto mais sobre ela.

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    relevante o facto e ser imprescritvel a faculdade de reivindicar a coisaobjecto do direito real (art. 1313), enquanto o direito de impugnao temum prazo de caducidade, bem curto de 5 anos (art. 618). E este nem

    sequer se conta do conhecimento do acto pelo credor impugnante, mas dadata da sua celebrao.

    Daqui resulta, que excessivo afirmar, tal como afirma o Prof. Menezes Cordeiro, queverificadas certas circunstncias, o titular do direito de crdito pode exigir a qualquerpessoa a restituio, ao devedor, dos meios que o habilitem a executar a prestao devida,e ainda que atravs da impugnao pauliana, o direito pessoal pode ser actuadodirectamente contra terceiros, semelhana do direito real.

    Em suma, os direitos reais gozam da possibilidade de oposio a terceiros que no existenos direitos pessoais. Por certo, essa possibilidade de oposio , por vezes, paralisada,

    pela necessidade de tutela da posio jurdica de alguns terceiros. So todavia casosexcepcionais uma vez que a grande regra a da oponibilidade.

    Pelo contrrio, nos direitos e crdito, a grande regra a da impossibilidade de o credorseguir os bens do devedor para a realizao do seu crdito. E mesmo quando, a ttuloexcepcional, isso admitido, tal faculdade depende de requisitos muito severos elimitativos.

    5. Posio AdoptadaA doutrina portuguesa, exceptuando a posio do Prof. Menezes Cordeiros, mantm, em

    geral, a distino entre os direitos reais e os direitos de crdito.

    Prof. Oliveira Ascenso: a verdadeira nota caracterstica dos direitos reais reside nasequela. Os direitos reais gozam de sequela e s em relao a eles se pode falar destacaracterstica. Contudo, o prof. atende tambm prevalncia.

    Prof. C. Mota Pinto: a distino estabelece-se pelo recuso a vrios elementos quequalificam os direitos reais e faltam nos direitos de crdito: a absolutidade, a sequela e ainerncia, sendo esta um sintoma da sequela e da inerncia.

    Prof. Antunes Varela: o trao relevante da distino entre direitos reais e direitos de

    crdito reside na natureza absoluta dos primeiros, da derivarem as caractersticas daprevalncia e da sequela. Para alem disso, salientava ainda eu os direitos reais secaracterizam, no seu lado interno, como um poder de soberania sobre a coisa e estosubordinados ao Princpio da Tipicidade (numerus clausus).

    Prof. Almeida Costa: para alm de outras diferenas menores, v como traosdelimitadores dos direitos reais, o seu caracter absoluto e de excluso. Daqui deriva, comoconsequncias, que eles podem ser ofendidos por quaisquer pessoas, so dotados dosatributos do direito de preferncia e do direito de sequela e dominados pelos princpios donumerus clausus e da tipicidade.

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    Prof. Carvalho Fernandes: entende que a distino entre direitos de crdito e direitos reaisse deve fazer em elementos de vria ordem.

    A sua permanncia ao longo da histria revela uma daquelas distines entreinstitutos jurdicos que contribuem para a melhor descrio e compreenso darealidade jurdica. Essa constncia na doutrina no pode ser destituda de valor, sdevendo ser eliminada perante argumentos decisivos.

    Substancialmente, os direitos reais e os direitos de crdito, para alem decorresponder, na vida econmica, a duas diversas modalidades de circulao debens, tm do ponto de vista jurdico natureza diferente.

    O problema reside na dificuldade de fixao dos elementos significativos dadistino.

    Daqui resulta que:

    Absolutidade: os direitos reais tm natureza absoluta, no sentido de as faculdadesconferidas ao seu titular serem oponveis erga omnes. certo que a absolutidadeno privativa dos direitos reais pois outros como os da personalidade, participamdela; contudo, esta caracterstica acaba por assumir nos direitos reais uma notaparticular por razoes ligadas ao seu prprio objecto. Sendo esta uma coisa certa edeterminada, o caracter absoluto dos direitos reais projecta-se na inerncia, que,por seu turno, se desenvolve em outras notas a sequela e a prevalncia.

    O poder atribudo ao titular do direito real assume uma feio muito prpria,traduzida na modalidade de que se reveste a afectao da coisa ao seu titular. Odireito poe disposio do titular do direito real meios de actuao jurdica quelhe asseguram a possibilidade de realizao dos seus interesses, mediante oaproveitamento imediato de utilidades da coisa. Nos direitos de crdito mesmonos pessoais de gozo no acontece assim, havendo sempre com maior ou menorrelevncia, a mediao do devedor. J que mais no seja, a este cabe a obrigao deentrega da coisa e a de assegurar o gozo dela.

    Dessa forma particular de afectao da coisa, nos direitos reais, resulta que elesacompanham as coisas nas suas vicissitudes sequela e excluem direitosincompatveis constitudos sobre a mesma coisa prevalncia.

    A Publicidade

    1. Noo de PublicidadeNoo: quando referida a realidades jurdicas, a publicidade respeita a factos que pela suaimportncia ou relevncia importa dar a conhecer para alm do crculo das pessoas aquem directamente respeitam, tornando-os patentes ou pblicos. No fundo, a publicidade

    acompanha realidades jurdicas muito diversas, em relao s quais se verifica essa

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    necessidade de as tornar pblicas, ou, pelo menos, de possibilitar ou facilitar o seuconhecimento por terceiros.

    Vantagem em tornar fcil e certo o conhecimento de algumas situaes jurdicas:

    Estado Pessoal: nomeadamente pelo que respeita sua projeco na capacidadejurdica das pessoas, facultando a quem com elas pretende entrar em relao apossibilidade de avaliar previamente a validade e eficcia dos actos jurdicos emque elas se propem intervir. Semelhante aspecto se passa com a situao jurdicadas coisas, pois o seu conhecimento faculta aos que pratiquem actos a elasinerentes a possibilidade de se certificarem da sai situao jurdica e, atravs dela,nomeadamente, da aptido desses actos para lhes atriburem os poderes jurdicosque sobre elas visam adquirir.

    Em suma, a Publicidade resulta do caracter absoluto dos direitos reais: ideia de proteco

    de terceiros. A publicidade, e em termos gerais, explica se pelo facto do facto de algum sertitular de direitos oponveis a terceiros, e desta forma os dever dar a conhecer a essesmesmos terceiros: possibilidade de os terceiros conhecerem esses direitos reais decaracter absoluto.

    2. Modalidades da PublicidadeH certos comportamentos humanos que pela sua repetitividade e tipicidade socialimplicam, por si mesmos, na sua materialidade, a revelao e a publicitao de certasrealidades sociais e jurdicas. Na normalidade das coisas, certos comportamentos sociaisacompanham a existncia de determinadas situaes jurdicas.

    Exemplo:

    As relaes estabelecidas entre pessoas que vivam maritalmente ou entre pais efilhes assumem uma certa feio, ou maneira de ser tipicidade social.

    Se algum adopta, em relao a uma pessoa de sexo oposto, com quem vive, ou emrelao a um menor, com regularidade repetitividade certos comportamentos,que integram a chamada posse de estado, natural que da se tirem consequnciasquanto existncia, entre essas pessoas de uma relao matrimonial ou de filiao

    posse de estado de casado ou de filho (art. 1653 e art. 1816/2 al. a) e art.1871/1 al. a))

    Modalidades de Publicidade:

    Espontnea: a materialidade de certos comportamento encontra-se ligada publicidade das situaes jurdicas de que eles so um sinal exterior adequado enormal; sendo que esta modalidade de publicidade resulta da simples realidadedas coisas.

    Exemplo: o proprietrio de bens que adopta em relao a eles os comportamentos

    correspondentes ao seu uso e fruio, fazendo-o, em regra, vista de todos semreservas ou reparos de qualquer outra pessoa. Compreende-se que se veja neste

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    comportamento posse o sinal exterior da propriedade e que, a partir da, se lheligue a relevncia jurdica na atribuio ou no reconhecimento da titularidade docorrespondente direito. Em suma, a publicidade espontnea, fundada na posse,respeita tato a coisas mveis como imveis, mas funciona como meio exclusivo de

    publicidade de direitos reais que tm por objecto as coisas mveis, em geral.

    Provocada: actuao intencionalmente dirigida a dar a conhecer a terceiros macerta situao jurdica; sendo que esta modalidade de publicidade, nos temposmodernos, faz-se mediante a inscrio de certos factos em livros de registosprprios, que so guardados, ou conservados ou um servio prprio. Em suma, apublicidade provocada/organizada assenta no regime do registo (predial ououtro), por razes decorrentes da natureza das coisas, privativa dos imveis e decertos tipos de coisas mveis, que permitem uma fcil individualizao eidentificao: coisas mveis registveis.

    3. A Publicidade como caracterstica dos direitos reaisO comportamento social indiciador da titularidade de certo direito respeita sempre a umacoisa corprea existente, certa e determinada. Deste modo, o seu exerccio normalmenteacompanhado de actos materiais sobre a coisa que, em regra, pressupem a sua deteno.Daqui resulta, que a publicidade espontnea, ligada tipicidade social e repetitividade detais comportamentos, assuma neste domnio uma projeco e um significado que no temquanto a outros direitos subjectivos.

    A actuao material sobre a coisa facilita o conhecimento por terceiros.

    Exemplo: se algum actua regularmente em relao a certa coisa como o faria, porexemplo, o seu proprietrio posse (de proprietrio) natural que se repute o possuidorcomo proprietrioesta ideia valida independentemente da coisa ser mvel ou imvel.

    Aula 3 22 de Setembro

    Situaes jurdicas de Qualificao duvidosa: situaes de direitos que esto relacionadoscom uma coisa e que tero algumas particularidades de regime que nos farao pensar naexistncia de um direito real, mas que por razoes varias, no o so.

    A situao mais importante de tal a situao do locatrio: contrato de locao nos art.1022 e sse

    Na locao, algum recebe uma coisa para usar/para dar uso tendo em conta a finalidadeque pretende e relativamente a essa coisa ele no precisara da colaborao de ningum mal entra na casa com as chaves comea a usa-lahiptese de direito real embora venhano livro das obrigaes? Embora no livro das obrigaes encontremos os direitos reais degarantia e alguns direitos reais de aquisio e tenha uma coisa como objecto e o poderdirecto e imediato sobre ela (caractersticas do direito real), falta a natureza: o direito temde ser absoluto. A locao (tal como o comodato) poderamos ter dois exemplos de

    direitos reais de gozo (principio da tipicidade so direito real aquilo que a lei preveja),contudo se eu considerar a locao como um direito real ento se A decide entrar numa

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    casa e depositar na conta de B (dono da casa) uma certa quantia, ele adquire porusucapio a coisa (andar) o direito de locatrio? Daqui resulta a questo de saber se alocatria um direito de credito ou direito real, uma vez que a usucapio so se refere aaquisio de direitos reais de gozo.

    Coisa Poder imediato e directo Natureza absoluta? Ou ele se entegRa no livro dos direitos reais (panopila de

    normas que permite deduzir que os direitos reais so absolutos ver 1311 e ss1315) ou encontra no seu regime alguns traos que permitam deduzir a suanatureza absoluta neste caso, no livro das obrigaes teria de estar numa normaa consagrao da natureza absoluta da locao

    Elementos que permitem caracterizar a locao como direito de crdito:

    art. 1682 A: direito pessoal de gozo art. 1022 noo no induz a pensar que se trate de um negocio jurdico real

    quoad constitucionem

    Ainda que de natureza formal, elemento assenta no facto de a locao estar nolivro das obrigaes

    Estes 3 elementos so fracos.

    Elementos invocados para ser direito real

    Art. 1057:A (contrato de locao) B;

    A vende a C

    Em suma, C substitui A, e deste modo tem de respeitar o contrato de locao com B.

    Se eu estivesse a falar de um direito de crdito, no h a regra de que o direito queconstitui em primeiro lugar prevalece sobre o que se constitui depois

    Se em vez de locao, tivesse um contrato promessa com entrega da coisa, B utiliza a coisa(traditio antecipada) e ate houve a entrega de um sinal que feita todos os meses, ou sejativesse um direito de credito fundado numa entrega da coisa C no teria de respeitar acoisa. B teria de sair da casa e pedir uma indemnizao (fundada nos termos do sinal) a A.B fica prejudicado porque tem um direito real adquirido depois face ao seu direito decredito

    Na locao, o art. 1057, por razoes de interesse social, o B no tem de sair da casalgicaigual dois direitos reais (semelhante sequela).

    Ausncia de art. 1057 semelhante para o comodato no se trata de uma situaojuridicamente duvidosa: no existe a situao da sequela

    (esta existe tanto na locao como no comodato): 1037: meios facultados =

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    Exemplo: A compra um relgio de ouro e depois deita fora o recibo e utiliza orelgio posse, A comporta-se como proprietrio da coisa na posse no mepreocupem saber se a pessoa titular ao poder de controlo que faz sobre a coisa. Brouba o relgio a C, esbulha-o (roubo e furta). A esbulhado, e B esbulhador. B

    passa a ser possuidor sem ser proprietrio a posse em primeiro lugar funda-sena aparncia. Posse causal (titularidade do direito) e posse formal (semtitularidade do direito). Posse um direito autnomo no precisa da titularidade.Meios de defesa da posse: permite a algum que seja possuidor, que faa prova daprova, reagir contra terceiro. Deste modo, o locatrio pode por uma aco demanuteno/restituio da posse contra um terceiro directamente

    Locao: direito real ou no?

    H ainda uma via intermdia: Henrique mesquita direito de natureza pessoal emboracom elementos de natureza real.

    - art. 1057: pensar numa lgica creditcia. Exemplo anterior B ope se a c, sequela!

    Cesso da posio contratual transmisso dos direitos e das obrigaes de uma partepara outra com o acordo da outra parte. 424 e ss

    -recurso ao meio de defesa da posse: art. 1037/2 no faz sentido estar la esse artigo se odireito do locatrio fosse um direito real o art. visa dizer que o direito no real, mas olegislador em razo do interesse social vem reconhecer o direito locatrio de proteger oseu direito, de o poder opor, sozinho.

    1037+ 1057: ajudar o locatrio no exerccio de um direito que no real.

    Henrique mesquita: entre outros aspectos, o mais fundamental (para o prof. HenriqueAntunes), na locao, ate por fora da sua natureza, o contrato de locao, deveria ter feitonos termos em que faz nascer o direito real de gozar a coisa direito que estaacompanhado de deveres de prestar, mas o acto constitutivo de direito esgotou se nopprprio contrato. Contudo, o locatrio estar sempre na dependncia do locador dependncia do contrato com o locador (subarrendamento so pode fazer comautorizao do senhorio). O contrato faz nascer um direito que esta sempre dependentedesse contrato, da relao que existe. A relao de locao um direito subjectivocreditcio relacional, e no um direito real.

    Estou dependente da relao que nasce do contrato e nos termos deste tal comoacontece nos direitos de crditoTema de Oral

    Segunda situao jurdica de caracterizao duvidosa: obrigaes reais

    Obrigaes Reais: obrigaes, deveres de prestar, reais, relacionados com coisas.

    Exemplo: proprietrio, na compropriedade, tem de pagar a sua contribuio para asdespesas comuns.

    Temos de olhar para o direito, para poder ficar nesta situao.

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    O direito correspondente obrigao de prestar, em primeiro lugar um direito decredito. Contudo, este credito pode:

    estar associado titularidade de um direito real

    ou ser so um creditoA (credor) do senhor B( devedor porque titular de um direito real comproprietrio)

    Mas B vende a C tendo um mero direito de credito, o terceiro no pode ser vinculado pruma divida anterior nada tem a ver com a relao entre A-B!

    B tem de prestar a A. Contudo, sendo uma divida associada a um direito real. A doutrinaentende que quando se trate de dividas ou deveres de prestar com reflexo na prpriacoisa, quem compra esta vinculado com a divida anterior obrigaes reais ambulatriasa transmisso da coisa acompanha a dvida anterior

    Obrigalies reais ambultarioi: deveres de prestar que acompanham a transmisso da coisa

    Situao diferente dos meros direitos de prestao, mas tambm diferente das dos direitosreais.

    C dividias no valor de 1250 em relao a vrios credores. Tem 500 de crditos. E tem Aenquanto credor de 250 euros. E tem mais cinco credores de 2000

    5credores de 200 1000

    1 credor de 250

    500 euros divididos pelos 6credors igualitariamente obrigao real caso

    A recebe menos de 250 porque temos 500:6-.

    No nus real, temos o elemento de garantia que refora a posio do credor: a coisa que transmitida responde perante esse credor, atribuindo a esse credor A uma posio depreferncia A com preferncia relativamente aos demais credores satisfazer a suaposio.

    Os 250 que restam a C so divididos pelos restantes cinco credores.

    Aula 4 23 de Setembro

    Categorias de Caractersticas

    Tendenciais: so: afectao total da coisa: o objecto do direito real uma coisa no seu todo,

    no seu conjunto (art. 1327 - acesso enquanto modo de aquisio dodireito propriedade) VS propriedade horizontal: o direito que oproprietrio que uma fraco tem um direito que se esgota na

    propriedade da sua fraco e nas zonas comuns aos proprietrios

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    permanncia: no sentido de perpetuidade ou no sentido de ideia de que osdireitos reais no se extinguem no seu exerccio. No primeiro sentido,enquanto direitos reais no terem um limite temporal vivendoperpetuamente exemplo: direito de propriedade (art. 1307/2) para

    ser uma caracterstica essencial essa perpetuidade teria de estar presenteem todos os direitos reais o que no acontece (direito de superfcie(temporrio ou perptuo) e usufruto, uso e habitao 1439 e 1443 (paraas pessoas colectivas) - 1490). No segundo sentido, nos direitos reais degozo (de aquisio e garantia semelhante ao direito de credito extingue-se pelo seu exerccio)

    posse e usucapio: entendida no sentido de controlo material de coisa,porque que posse uma caracterstica tendencial? S diz respeito aosdireitos reais de gozo (art. 1251: direitos reais de gozo equiparao

    enquanto o que ocorre no direito de propriedade: possibilidade decontrolar materialmente a coisa, direito real em que essa possibilidadeexista, ou seja direito real de gozo). Direitos reais de gozo por exemplo osfrutos que se encontram associados ao poder de usar e fruir uma coisa.

    Quanto usucapio, esta pressupe a posse: se esta no existe em todos osdireitos, a usucapio tambm no. Alem disso, a usucapio no esta associada atodos os direitos reais de gozo art. 1293.

    a) No aparente significa que no se revela por sinais visveis e aparentes.b) Direitos de uso e habitao: directamente associados a necessidades do titulare da sua famlia

    Essenciais: traduz-se no facto de estarem presentes em todos os direitos reais,contudo existem situaes fcticas que podem impedir a verificao de uma dascaractersticas no direito real

    existncia e determinao da coisa que o objecto do direito real:determinado no momento da constituio ou da aquisio do direito

    inerncia: traduz a realidade que existe entre a intima ligao do direito coisa, e consequentemente o interesse do titular do direito satisfeito peloaproveitamento imediato das utilidades dessa coisa, no dependendo deum terceiro.

    sequela: existindo inerncia, esta ligao intima entre a pessoa e a coisa,significa que onde estiver a coisa tambm estar o seu titular: direito realpode ser exercido onde quer que a coisa esteja. Direito real acompanha asvicissitudes da coisa. A sequela tem expresses diferentes consoante osdireitos reais em causa:

    direito real de gozo: aco de reivindicao (1311)

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    direito real de aquisio e de garantia: garantia venda ou sejaquando eu tenho uma garantia sobre determinada coisa eu vouexercer essa garantia atravs da venda dessa coisa acabando por

    satisfazer a garantia do meu credito; aquisio aco depreferncia e execuo especifica

    A cv B (NO REGISTA)

    A VENDE A C (R, TO, BF)

    B tem direito porque o registo no tem efeito constitutivo so consolidativo!

    Existem situaes fcticas que impedem o exerccio da sequela, uma vez que existe umaproteco de C!

    C doa a D (R, TG, MF): B no perdeu o seu direito mas no pode ir atrs da coisa enquantoC estiver numa situao de proteco. Contudo, B pode ir atrs da coisa depois de C doar aD.

    Oliveira Ascenso: facto resolutivo destruio do direito de propriedade

    Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro: facto condicionante da eficcia do direito depropriedade, ou seja o direito de propriedade no pode ser exercido mas no morreu

    Para certas situaes deve se aceitar que o direito esteja l algum

    art. 5 + 17/2 + 291 do CRPredial

    A (regista):

    C adquiriu de B (AMBOS REGISTAM)

    17/2: so se aplica quando A no regista

    B simula que A lhe vendeu e transmite a C (no uma relao triangular, no a situaodo 5/4)

    A no regista no pode opor o seu direito a C

    Poderia ainda existir outra categoria de impedimento sequela:

    Em Portugal, no vigora o princpio da posse vale titulo: posse (coisa controlada) valetitulo (vale direito) controlo material da coisa = titular de direito algum tem umacoisa mvel que esbulhada, sendo que essa vai parar por venda a um comerciante quevende coisas semelhantes. Chega um comprador e compra a coisa (boa fe no acontecena feira da ladra porque sabemos que roubado) posse = proprietrio

    Em Portugal existe uma certa tutela do terceiro adquirente (1301): a pessoa que foi

    esbulhada e que propem uma aco contra um terceiro que comprou de boa f a coisa,esse obrigado a restituir o preo (terceiro entrega a coisa que adquiriu) e eu terei de

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    pagar o preo ao terceiro terceiro recebe o preo que pagou. Posso exigir direito deregresso ao esbulhador

    Limitao da Sequela: tenho de pagar ao terceiro + meios que numa situao de esbulhode que se pode fazer valer o esbulhado para reaver a coisa: aco de reinvindicaao dacoisa e aco de restituio da posse (proposta contra o esbulhador e contra terceiros dema fe). Terceiro de boa fe? Aco de restituio da posse no!

    Em suma, 3 direito ao preo que pagou e so pode ser demandado numa aco dereinvindio.

    Prevalncia

    Classicamente, na medida em que o direito real era um poder directo e imediato sobreuma coisa, o direito real era tido como prevalente: o direito real que primeiro se constitui-se prevalecia sobre os demais prioridade temporal do direito que se constitusse emprimeiro lugar face aos seguintes.

    Este entendimento clssico exige alguma reflexo: quando se fala em prevalncia no sem relao prioridade temporal, mas tambm o facto de um direito real prevalecer sobrequalquer direito de crdito.

    Contudo, tal no totalmente satisfatrio:

    Eu no posso dizer que um direito real prevalece numa logica temporal nem emprevalncia face a qualquer direito de crdito, se tais no forem incompatveis: necessrio existir conflito entre os dois direitos.

    Exemplo: Dupla Alienao: A vende a B e C.- B regista e C no: o direito pertence a B, e C tem um no direito no hincompatibilidade; B no regista e C regista (titulo oneroso e boa f): novamenteno h incompatibilidade

    Nos direitos reais de garantia existe uma espcie de prevalncia quanto capacidade de exerccio.

    Em suma, numa lgica intuitiva os direitos reais ao terem a caracterstica da prevalnciamas tem de serem incompatveis. Nos direitos reais de garantia h capacidade deexerccio, nos direitos reais de gozo h uma capacidade de existncia.

    Tipicidade

    art. 1306: o legislador aproveitou o direito de propriedade (direito real de gozo mximo)para inserir uma parte geral.

    Interpretao Literal: restries e figuras parcelares so coisas diferentes

    Exemplo: X, tem um terreno, que da em usufruto a Y TERRENO RESTRINGINDO (NUA-PROPRIEDADE com o meu consentimento retiraram-me poderes) restrio.

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    Direito do usufruturio comprime o direito de propriedade, mas no o mesmo: ousufruturio pode usar o relgio de X mas no o pode destruir. So X, proprietrio, o podefazer

    Direito de superfcie: relativamente coisa que constri proprietrio (primeiro constri,depois de construda estamos perante um direito de propriedade).

    Ate h algum tempo no era possvel constituir um direito de superfcie sob o solo.

    art. 1306 deve ser interpretado rigorosamente: parcelar no precisa da colaborao daoutra parte

    Sempre que exista a atribuio a algum de poderes mais restritos do que a propriedade,esse algum estar sempre dependente daquele que o proprietrio/..

    O princpio da Tipicidade visa tutelar terceiros, uma vez que este s pode vir a ser afectado

    por uma situao jurdica anterior se esta constar de lei.

    Matria clssica de exame: caractersticas dos direitos reais

    Aula 5 29 de Setembro & Aula 6 30 de Setembro

    Ensaio de uma parte geral do direito real

    Vicissitudes dos direitos reaisConstituio:

    1. Constituio negocial: fontes de surgimento do direito real art. 1316, 1440,1528, 1417 forma mais comum (contraposio usucapio) por contrato outestamento, s no sendo admitida em certos direitos reais com fonte exclusiva nalei (ex. direitos creditcios)

    2. Usucapio: embora sendo uma forma geral, um dos modos de aquisio dosdireitos reais de gozo (mas no esta presente nos direito reais de aquisio e degarantia). No interior dos direitos reais de gozo h dois que no so susceptveisde aquisio por usucapio os casos do 1293

    art. 1287 - noo de usucapio.certo lapso de tempo 1293 e ss: natureza do bem a que respeita a posse e peloestado subjectivo do prprio agenteBoa fe: aquisio por usucapio prazo mais curto, ma fe prazo mais longo

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    1294, 1295 e 1296: usucapio de imveis natureza dos bens, distinguemconsoante exista boa ou ma f cada uma das normas com prazos diferentes preciso outra circunstancia1294: prazo mais curto, 10 anos (al. a) boa f

    1295: no h registo do titulo de aquisio mas apenas registo da mera posse1296 falta de registo

    1293 casos em que no pode haver usucapio + casos dos artigos seguintes(1297 1300)

    Posse Violenta ou Oculta: 1258 e ss

    Matria de classificao de posse: fundamentalssima!

    h posse? que tipo de posse? depende a possibilidade de aquisio por usucapio ou dos

    termos dessa aquisio. Olhando para as classificaes (legais) de posse no podeser adquirida por usucapio nos casos de posse violenta ou oculta. Posse de boa ouma f. Posse titulada ou no.

    art. 1259: posse titulada validade formal requisitoindependentemente ..

    Situao que cabe no 1251

    A coagido moralmente por B a vender sendo que B vende a C

    NEGOCIO A B

    InvalidoC (to, registo, boa f): 1291 tutela

    E se B doou a C? SO TEM A VIA POSSUSSORIA

    - h posse ou no?

    - como se classifica caso haja? Posse titulada (mas b no tem do ponto de vista substantivolegitimidade para vender? Invalidade do negocio a b afectaria negocio b-c) possetitulada (1259)

    art. 1260: posse de boa fe

    E se ele passado um ms saber que estava a lesar os direitos de outrem? Boa f passa a serma f ? ao contrario do que se passa no usufruto em que fala da relevncia de boa para maf, nada nos diz a posse

    Posse titulada presuno ilidvel (350/2)

    art. 1261 posse pacifica

    Caractersticas da posse demos todos os artigos

    lapso de tempo regime da usucapio remete para os caracteres da posse

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    1267: 1 AL D) E 2

    1282: no fala na posse violenta articular com o 1267 pergunta ORAL: efeitos daposse violenta

    suspende o prazo 1267 suspende o prazo de aco de restituio 1282 no permite a aquisio por usucapio enq a violncia no cessar

    -posse violenta aquela que se usa a coaco fsica presume se inilidivelmente uma possede ma fe

    art. 1287: noo aproximativa

    Efeitos do usucapio:

    retroactivos 1288 no preciso capacidade exerccio 1289/2 1292 303 prescrio tem de ser invocada 305 ideia que a usucapio pode ter interesse se houver um devedor - irrelevante

    As Vicissitudes dos direitos reais respeitam vida do direito real, no se esgotando naaquisio.

    perda modo de extino

    impossibilidade de exerccio: impossibilidade definitivaart. 1571

    Desafio: 1536 ver 298/3

    Carvalho Fernandes uso carpis (art. 1574): questo da caducidade e prescrio:aplicam-se as regras da usucapio e consequentemente da prescrio. Ao no usoaplicava-se a caducidade. O no uso no se encontra previsto no art. 1536 - superficirioque no utilizasse por 20anos vi-a o seu direito extinguir-sepergunta de oral

    No uso enquanto tal uma forma de extino?Aula 7 6 de Outubro

    Extino dos Direitos Reais

    art. 298/3: no uso enquanto forma de extino dos direitos reais

    art. 1536: no uso enquanto forma de extino do direito de superfcie?

    art. 1476/1 al. c): usufruto extingue-se pelo no uso. Coloca-se a questo de saber em quedifere do direito de superfcie que embora o art. 298/3 consagre que se pode extinguir

    pelo no uso, a lei no art. 1536 quando consagra as causas de extino do direito desuperfcie no se refere ao no uso como causa dessa mesma extino?

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    O que justifica que o no uso seja uma causa de extino dos direitos reais?

    Enquanto que no se pode exercer um direito de crdito ad eternum uma vez que eleprescreve, extingue-se, a mesma logica se encontra nos direitos reais: se estes no foremexercidos durante um certo perodo temporal extinguem-se. Direito Real enquantoexpresso individual mas tambm colectiva: usucapio uma pessoa que no exerce odireito durante um certo perodo temporal pode justificar a aquisio desse mesmo direitopor outra pessoa.

    Sendo que a superfcie no segundo momento concede ao usufruturio os poderes dodireito de propriedade o no uso enquanto no forma de extino do direito desuperfcie restringe o direito de propriedade violao do Princpio da Tipicidade. O art.1536/1 al. c) consagra que no estando a obra concluda durante um certo perodo detempo o direito extingue-se.

    Em suma, direito de superfcie extingue-se pelo no uso (art. 298/3) Num segundomomento, ou seja quando a obra estiver concluda, os direitos de superficirios passam aser os do direito de propriedade do solo Direito de propriedade pode-se extinguir pelono uso Princpio da tipicidade Amplia-se o direito de propriedade devido ao regimeaberto do Princpio da Tipicidade (art. 298/3 direito de propriedade pode-se extinguirpelo no uso).

    O direito de propriedade, no segundo momento do direito de superfcie no exclusivo namedida em que est dependente do solo.

    art. 1397: no uso enquanto extino do direito real em funo do fim, e no em funo

    do prazo.

    Abandono e Renncia

    Abandono: pressupe um acto material do titular do direito propriedade, acto esseatravs do qual ele se desliga do direito que tem sobre a coisa. Exemplo: deitar acaneta para o lixo cessar o direito de propriedade atravs do abandono. Oabandono refere-se a coisas mveis, sendo um negcio no recipiendo (no necessrio publicitar o acto de abandono). O seu objecto o direito de propriedade(exclusivo vive sem ser na dependncia de outro direito, quando existe a suacesso esta no tem de ser levada ao conhecimento de ningum).

    Ocupao enquanto outro lado do abandono: coisas que nunca tiveramdono so susceptveis de serem adquiridas por qualquer pessoa.Exemplo: recolher conchas na praia, passando quem as ocupa a ser o

    titular de tais se algum as furtar esta a violar o direito depropriedade de quem as ocupou.

    Renncia: Renncia abdicativa: refere-se generalidade dos direitos reais

    menores Existe um acto intencional, s que trata-se de um acto

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    receptcio: tratando-se de um direito real menor, necessrio que otitular do direito real maior conhea a extino do direito real menor.Contudo, no necessita de aceitao (exemplo: o usufruturio nonecessita da aceitao do proprietrio). Refere-se a coisas mveis e

    imveis e um negcio gratuito. Conduz sempre extino do direito.Encontra consagrao legal nas seguintes normas:

    art. 1476/1 al. e) e n2 art. 1569/1 al. d) e n5 Renncia liberatria: tem o intuito de fazer cessar o direito de prestardevedor extingue a sua obrigao/ dever de prestar (no extingue oseu direito) atravs de comunicao ao seu credor (titular de umdireito real ou no), sendo um negcio recipiendo que se refere a coisas

    mveis ou imveis) dizendo que se ele quiser receber o seu direitopode o fazer uma vez que ele no vai cumprir mais as suas obrigao:transmisso do direito (exemplo: para um terceiro), manuteno dodireito (exemplo: faz extinguir a obrigao mas no extingue o direito)ou extino do direito (exemplo: usufruturio renuncia ao seu direito afavor do proprietrio para no cumprir mais as obrigaes depagamento a que estava adstrito). Trata-se de um negcio oneroso.Encontra consagrao legal nas seguintes normas:

    art. 1411/1: o fim no extinguir o direito, mas sim de extinguir aobrigao.

    art. 1411/2: necessrio que os consrcios aceitem esta renncia art. 1567/4: (traduo clara da renncia liberatria)

    Coloca-se a questode saber se ou no legtimo no nosso ordenamento jurdico, a algumque titular do direito de propriedade sobre um imvel atravs de uma rennciaabdicativa/ abandono fazer extinguir o seu direito de propriedade?Tema de Exameart. 1345: coisas imveis sem donopassa a fazer parte do patrimnio do Estadoatravsdo abandono/ renncia pode-se fazer extinguir o direito de propriedade?

    Colectividade no seu todo pode estar a suportar os custos de algo que no temvalor: Estado no consegue vender imvel, mas mesmo assim tem de suportar oscustos de limpeza e manuteno com ele.

    Sendo o direito de propriedade o direito real mximo, que contempla a possibilidade dedisposio tambm deveria contemplar a possibilidade de extino.

    Funo Social da Propriedade: onde que comea e onde que acaba? grandeexpresso no instituto do abuso de direito.

    art. 1318: no contempla a possibilidade de ocupao de coisas imveis.

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    Prof. Henrique Antunes: a renncia do direito de propriedade, a admitir-se, estariadependente de uma prova de que o titular no possui meios para continuar a suportar oscustos inerentes que resultam de tal.

    Caducidade

    Existem direitos reais /necessariamente) temporrios. Exemplo: usufruto, uso e habitaoquando se esgotar o prazo pelo qual nasceram caducam.

    Caducidade pode ser definida por:

    Lei: art. 1536/1 al. a) Conveno entre as partes:

    No Uso: j foi referido.

    Confuso:

    Quando na mesma pessoa se renem a qualidade de direito real maior e direito real menor(exemplo: usufruto entra na esfera jurdica do proprietrio e extingue-se pela confuso)

    Perda da Posse:

    Quando esbulhado algo perde-se a posse no prazo de um ano (se no for uma posseviolenta), contudo o direito de propriedade continua l at que o esbulhador o adquira porusucapio. A no ser nos casos em que a lei exija a entrega da coisa (constituio dodireito) mas tambm a permanncia da posse (manuteno do direito ), ou seja no caso do

    penhor e no direito de reteno (direito real de garantia), a perda de posse uma formade extino de direito.

    Aula 8 7 de Outubro

    Transmisso dos Direitos Reais: direitos reais so transmissveis quer entre vivos quermortis causaplena transmissibilidade.

    Excepes (nos direitos reais de gozo):

    Usufruto: no transmissvel mortis causa temporrio na medida em que nopode exceder a vida do usurio;

    Direitos de Uso e Habitao: alem de no serem transmissveis mortis causa, sotambm intransmissveis entre vivos.

    Direito de reteno: ir acompanhar a transmisso do crdito que garantetransmissibilidade do direito de reteno dependente da transmissibilidade do

    crdito que garante.

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    Teoria Geral dos Direitos Reais

    Vicissitudes

    Contedo

    Limitaes impostas por interesse geral Funo Social da Propriedade (expresso importante no abuso de

    direito)

    Figuras especficas Expropriao

    Limitaes impostas por interesse particular: quando se estabeleceobstculos ao exerccio de um direito real tendo em vista a protecode um interesse particular, na maioria dos casos, de outro titular queexerce tambm um direito real.

    Relaes de Vizinhana: direitos exercidos sobre coisas diferentes,mas direitos que podem interferir entre si no respectivo exerccio.

    Limitaes/ Obstculos ao exerccio de um direito real impostospor relaes de vizinhana:

    Limitaes que impe um dever de absteno: uma pessoa,embora titular de um direito real, em pro das relaes devizinha, nada pode fazer, ou seja deve abster-se.

    1. Exemplo: art. 1346: norma no mbito do direito de propriedade (direito real

    mximo)

    quem produz ruido um usufruturio: sujeito aplicao desta norma, uma vez que se perturbar oexerccio do direito de habitar do vizinho pode ter seabster de tal comportamento sob pena de oprejudicado reagir e obriga-lo a absterem-se.

    invocada regularmente no mbito da propriedadehorizontal

    proveniente de prdio vizinho: embora algumadoutrina considere que se trata de prdios que se

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    encontrem ligados (lado a lado), nada impede que numcaso de existirem 4terrenos se o da ponta esquerdacomear a emitir fumo e tal prejudicar os animais doterreno da ponta direita, tal tambm se trate de um

    prdio vizinho.

    Parte final: aplicao depende de um prejuzosubstancial para o uso do imvel ou ento existe umautilizao anormal do prdio a utilizao anormal noimplica sempre um prejuzo (exemplo: discoteca queexiste no primeiro andar de um prdio mas que noimplica perigo nenhum para os habitantes)

    Interpretao da norma: no se tratam de requisitoscumulativos, mas sim de requisitos alternativos(prejuzo substancial OU utilizao anormal)

    2. Exemplo: art. 1360, art. 1361, 1362 e 1365: visa evitaro devassamento do prdio do vizinho art. 1365/2consagra o dever de absteno.

    Limitao derivada do suporte de uma actuao alheia1. Exemplo: art. 1367 - o proprietrio da rvore de fruta pode

    entrar no terreno do vizinho, sendo que o titular do terrenoter que suportar uma actuao alheia.

    2. Exemplo: art. 13493. Exemplo: art. 1322

    Limitaes que impem especiais deveres de diligncia1. Exemplo: art. 1348/2

    Limitaes que impem um dever de colaborao1. Exemplo: art. 1375

    Relaes de Sobreposio de Direitos sobre o mesmo bem:situaes de compropriedade, ou mais genericamentecompropriedade de direitos necessrio estabelecer uma sriade regras para permitir o exerccio de direitos que incidem sobre amesma coisa.

    Limitaes:

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    Exemplo: A (proprietrio) constitui um usufruto a favor de B (usufruturio), sendo queeste constituiu uma servido em favor de C e um direito de uso em favor de D. EntretantoA falece e a coisa que era objecto da sua propriedade transitou em propriedade para E e F,passando estes (herdeiros) a serem titulares do direito de propriedade.

    Relaes de Comunho:1. Exemplo: E e F dois direitos qualificativamente iguais

    sobre a mesma coisa. Ver art. 1404

    Relaes de Hierarquia: direitos de espcie diferentes mas queso exercidos simultaneamente.

    1. Exemplo: relao entre A e B propriedade e usufruto;relao entre o proprietrio, o usufruturio e o servente.

    Relaes de Prevalncia: direitos que no so exercidossimultaneamente, o que significa que havendo prevalnciaexiste um direito que exercido em primeiro lugar (preferente)e outro em segundo lugar (residual).

    1. Exemplo: relao entre o uso e o usufruto prevalncia namedida em que o direito prevalente o direito de uso ourelao entre o proprietrio e o usurio direito preferente o de propriedade e direito residual o direito de uso; duashipotecas sobre a mesma casa (enquanto a primeirahipoteca for exercida a segunda no se exerce)

    Aula 9 13 de Outubro

    Posse (art. 1251 e ss)

    Pode ser considerado um direito real argumentos:

    Sistematizao no Livro III do CC (Direitos Reais) argumento de natureza maisformal: reserva-se um ttulo para cada direito real de gozo.

    art. 46/1 do CC argumento de natureza formal: equipara-se o regime da posseao dos direitos reais

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    Existem contudo elementos autnomos:

    O possuidor tem o uso da coisa; estando de boa f usa e frui a coisa. Havendo uma violao da posse, o possuidor pode recorrer aos meios de defesa

    possessrios.

    Havendo leso do direito do possuidor, pode este exigir uma indemnizao pelosdanos que houver sofrido.

    Posse Causal: possuidor tem um direito de propriedade sobre a coisa.

    Posse Formal: algum age de forma correspondente ao direito de propriedade, mas

    efectivamente no o tem, sendo apenas possuidor em sentido formal. Ex: esbulhador.

    Doutrina (Oliveira Ascenso): existe um regime que contraria o argumento da posse ser

    um direito real

    art. 1281/2 s contra o terceiro de m f; direitos reais caracterizam-se pelasequela pode-se ir atras da coisa neste caso no estamos perante um direito

    absoluto, na medida em que no oponvel erga omnes. Prof. Henrique Antunes:argumento pouco convincente, na medida em que os direitos reais no so

    absolutamente direitos absolutos (art. 291 CC; art. 17/2 CRPredial e art. 5 do

    Cdigo do Registo Predial situaes em que o direito do terceiro (de boa f)

    oponvel ao titular do direito substantivo)

    Situaes de Posse (complicado): embora seja um tema clssico e muita doutrina tenha

    escrito sobre ele um tema muito pouco claro:

    Concepo Objectivista: existe posse sempre que algum controla materialmenteuma coisaolha apenas para a situao de facto (corpus).

    Concepo Subjectivista: o corpus apenas um dos elementos da posse no bastaexistir o controlo material da coisa, necessrio que alm do corpus exista

    tambm o animus,ou seja a inteno de agir como titular do direito. Inteno de

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    agir como titular do direito apresenta dvidas: mas que direito? Direito de posse

    ou o direito a que corresponde o exerccio resultante da posse (direito de

    propriedade, direito de usufruto, direito de superfcie, etc.)?

    art. 1251: no existe nenhum elemento indique uma concepo subjectivista ( algum

    actua por formacorpus).

    art. 1253/1 al. a): posse e deteno no so compatveis:

    Posse: susceptibilidade de adquirir por usucapio Deteno: embora existe um controlo material no se aplica o regime da posse,

    nomeadamente a possibilidade de adquirir por usucapio exerccio enquanto

    detentor.

    aqueles que no tem inteno de agir como beneficirios do direitono h animus,

    indicando uma concepo subjectivista

    Consagrao Legal:

    Posse: art. 1251 concepo objectivista (mas no pura) s tenho de provar ocorpus, nascendo com a prova deste uma presuno de animus(presuno nada

    no art. 1251 indica que eu tenho de provar o animus, pelo que s ser uma

    presuno). Havendo alguma forma de destruir a presuno de animus, ento

    estaremos perante um caso de deteno (art. 1253 - manifestao exteriorizada

    de que no possuidor (al. a); poderamos estar perante um direito de servido,

    mas como existe tolerncia do titular do direito estamos apenas perante uma

    deteno (al. b); no exemplo do locatrio que todos os meses paga uma renda do

    locador, se a locao fosse um direito real poderamos encarar a perspectiva do

    locatrio estar sob a posse, contudo temos de encarar de outra perspectiva:algum coloca todos os meses um valor na conta de algum que renda

    apartamento e utilizada um dos apartamentos mas sem consentimento do lesado

    ao fim de 25anos adquire-se por usucapio? Embora o seu corpus seja o de um

    proprietrio (utiliza o aparamento, remodelou a casa, conhece os vizinhos),

    contudo ele ao depositar a renda todos os meses face ao direito de propriedade ele

    no esta a usar em seu prprio beneficio (entrega a renda todos os meses) possui

    a propriedade em nome do proprietrio; no contrato promessa com traditio ele

    no possuidor na medida em que anteriormente entregou um sinal (al. c))

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    Corpus: significa que sem havendo controlo material da coisa no h corpus, e

    consequentemente posse? necessrio um controlo permanente? O corpus pressupe ou

    o controlo material da coisa ou o possibilidade de controlo 1267/1 al. d) - esbulho; art.

    1255para efeitos do usucapio o estado subjectivo (boa ou m f) do possuidor passapara o sucessor interessa o momento em que o de cujus adquire a posse por esbulho e

    no o momento em que o sucessor adquire a posse.

    Classificaes (doutrinrias) de posse caractersticas legais j foram referidas noutra

    aula, pelo que se remete para l:

    Posse Efectiva e Posse No Efectiva

    Posse Efectiva: posse em que existe efectivamente o controlomaterial da coisa. Consequncia: existe publicidade espontnea,

    logo poder existir a aquisio por usucapio efeito enunciativo.

    Posse No Efectiva: posse em que no existe o controlo material dacoisa. Consequncia: no existe publicidade espontnea, logo no

    poder existir a aquisio por usucapio.

    Posse Formal e Posse Causal Posse Formal: possuidor actua de forma correspondente ao exerccio de

    um certo direito real, no tendo efectivamente a titularidade desse direito

    real.

    Posse Causal: possuidor actua de forma correspondente ao exerccio de umcerto direito real, sendo que o possuidor tem efectivamente a titularidade

    desse direito real.

    Posse Civil e Posse Interdital

    Posse Civil: produz todos os efeitos possessrios, permitindo a aquisiopor usucapio. Exemplo: posse pacfica e posse pblica.

    Posse Interdital: no produz todos os efeitos possessrios, em especial noproduz o efeito da aquisio por usucapio. Exemplo: posse no efectiva;posse violenta; posse oculta.

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    Maria Lusa Lobo 2011/2012 Pgina 37

    Menezes Cordeiro: enquadram-se na posse interdital, os direitos decrdito (deteno). Ou seja, em vrias situaes de deteno para que

    no se desproteja integralmente a pessoa que no tem o direito real,

    mas sim tem um mero direito de crdito, no sendo possuidor mas sim

    detentor, o recurso noo de posse interdital auxilia no caso da

    locao, esta ir buscar posse os meios de defesa possessrios posse

    interdital; comodato sendo um direito de crdito e de deteno mas

    como a lei lhe reconhece os meios de defesa possessrios trata-se de

    uma posse interdital. Em termos rigorosos deve-se sempre dizer que se

    trata de uma deteno, mas com o intuito de explicar que h regimes

    que prev o recurso aos meios possessrios ento referimos a posseinterdital.

    Aula 1014 de Outubro

    Vicissitudes da Posse Aquisio e Perda da Posse

    Aquisio da Posse (art. 1263)

    Aquisio Originriaart. 1263 al- a) apossamento: quando ocorre a prtica reiterada com publicidade dos

    actos materiais correspondentes ao exerccio do direito. prtica reiterada enquanto

    intensidade significado naquele controlo, no sendo apenas, por exemplo, X que pega na

    caneta de Y, e comea a brincar com ela X no quer exercer o controlo material sobre a

    caneta e levar uma situao de posse (ao contrario do esbulho).

    art. 1266: todos os que tem uso da razo todas as pessoas que so imputveis,

    embora no tenham a capacidade natural de entender que leva capacidade de exerccio.

    art. 1265: a inverso do titulo da posse pode dar-se por:

    oposio do detentor do direito contra aquele em cujo nome possua (relaciona-secom o art. 1263 al. a): casos em que algum titular de um direito de crdito ou

    direito real acaba por ter um comportamento que se traduz na demonstrao da

    sua vontade em adquirir o direito que tem. oposio enquanto mais que um

    incumprimento de um mero dever contratual. Exemplo: o locatrio que no paga a

    renda no esta a dizer que o locador no proprietrio, contudo se o locatriodirigir-se assembleia de condomnio e dizer que proprietrio daquele andar