controle de constitucionalidade

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Luiz Alberto Nunes Moreira [1] Trabalho apresentado para avaliação na disciplina de Direito Constitucional, do curso de Direito, do Instituto Matonense Municipal de Ensino Superior - IMMES, ministrado pelo professor Maurício José Ércole.

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Page 1: Controle de Constitucionalidade

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADELuiz Alberto Nunes Moreira[1]

      

                                                                                                                                                                                                                                                          

  

Trabalho apresentado para avaliação na disciplina de Direito Constitucional, do curso de Direito, do Instituto Matonense Municipal de Ensino Superior - IMMES, ministrado pelo professor Maurício José Ércole.

 

Page 2: Controle de Constitucionalidade

 

Sumário: 1.Introdução; 2. Inconstitucionalidades e sua

classificação; 3. Conceito e características do  sistema de

Controle de Constitucionalidade; 4. Sistema Brasileiro de

Controle de Constitucionalidade; 4.1. Ação Direta de

Inconstitucionalidade; .4.2 Inconstitucionalidade por omissão;

4.3. Ação Declaratória de Constitucionalidade; 4.4. Argüição de

descumprimento de preceito fundamental; 5. Controle de

Constitucionalidade em Nível Estadual e Municipal; 6.

Conclusões; 7. Referências.

 

1. Introdução:

 

Trata-se de tema cujo aprendizado é constante, visto que a matéria

não se esgota com uma simples leitura de um ou dois livros. Sua importância é

cada vez mais suscitada, tendo em vista a edição de um número cada vez

maior de leis cujos dispositivos vão de encontro á Constituição Federal, ou

seja, são inconstitucionais.

O presente trabalho é uma compilação de conceitos doutrinários, que

objetiva analisar o conceito e alguns aspectos do sistema de controle de

constitucionalidade de nosso país, à partir da Constituição da República

Federativa do Brasil, cuja promulgação deu-se em 5 de outubro de 1988.

Logo após este breve comentário penetraremos no assunto principal,

tema deste trabalho: conceito, características e funcionamento do sistema de

controle de constitucionalidade .

Tentaremos abordar todos os tópicos importantes sobre a matéria,

não de forma a esgotar o assunto, pois como dissemos acima, estamos

tratando de assunto complexo e de muita importância para o direito.

 

2. Inconstitucionalidades e sua classificação:

 

Podemos definir inconstitucionalidade como a desconformidade do

ato normativo com algum preceito ou princípio constitucional.

Page 3: Controle de Constitucionalidade

Qualquer norma ou ato que afronte os princípios, preceitos e normas

constitucionais padecerá do supremo vício da inconstitucionalidade.[2]

 

Inconstitucionalidade formal e material

 

Quanto aos tipos de inconstitucionalidade, podemos classificá-los

em:

- Inconstitucionalidade material: O conteúdo do ato normativo não é

compatível com as imposições da Constituição.

A inconstitucionalidade material pode ser parcial quando apenas uma

parte do ato é incompatível com a Constituição, ou total quando contamina todo

o ato, ou seja, todas as suas disposições estão viciadas pela

inconstitucionalidade.

A inconstitucionalidade material é:

- Direta: quando afronta norma constitucional expressa.

- Indireta: quando afronta a preceito ou princípio implícito na

Constituição.

- Inconstitucionalidade formal: Diz-se que uma lei é formalmente

inconstitucional quando foi elaborada seguindo um procedimento diverso

daquele fixado pela Constituição, como o órgão competente (neste caso, isto é,

quando o órgão que elaborou a lei era incompetente para fazê-lo, fala-se em

inconstitucionalidade orgânica), o tipo legislativo adequado, o quórum exigido,

a tramitação regular, as formalidades essenciais à sua validade, etc. [3]

 

Inconstitucionalidade antecedente e conseqüente

 

Por este aspecto analisa-se o momento de ocorrência da

inconstitucionalidade.

-Inconstitucionalidade antecedente ou imediata. Decorre de violação

direta e imediata de princípio ou determinação constitucional.

-Inconstitucionalidade conseqüente ou derivada. Ocorre sobre norma

dependente de outra, pertencentes ambas ao mesmo diploma legislativo.

Page 4: Controle de Constitucionalidade

Quando aquela é declarada inconstitucional, por relação de dependência, o

vício atinge também esta, de maneira conseqüente ou derivada.

 

Inconstitucionalidade originária e superveniente

- Inconstitucionalidade originária: É a que aparece durante a vigência

da norma constitucional agredida.

- Inconstitucionalidade superveniente: A norma não afrontava,

quando foi formulada, nenhum dispositivo da Constituição. Apareceu, porém,

em decorrência de uma reforma constitucional que mudou o texto da Lei

Magna e essa alteração tornou a norma antiga inconstitucional.

 

3. Conceito e características do controle de constitucionalidade:

 

Uma vez criada a Constituição de um país, deve-se zelar pela sua

coerência interna no desenvolver do tempo. As mudanças que ocorrem nas

constituições, as quais nos reportamos quando da classificação em rígidas,

flexíveis e semi-rígidas, não podem trazer contradições para com o texto já

escrito. As emendas e demais leis do ordenamento jurídico devem sempre

estar em consonância com o já estatuído na lei máxima.

E justamente por ser a lei máxima de nosso ordenamento jurídico,

todas as demais leis, constitucionais ou infra-constitucionais, devem estar de

acordo com as normas e princípios insculpidos na Carta Magna.

Para manter esta coerência do sistema, foram criados os sistemas

de controle de constitucionalidade. O próprio nome já explica o instituto. São

mecanismos que visam expurgar do sistema as normas que não são

constitucionais, ou seja, que conflitam com o Texto Maior.  Segundo Michel

Temer, numa conceituação bastante simples e objetiva, “controlar a

constitucionalidade de ato normativo significa impedir a subsistência da

eficácia de norma contrária à Constituição”.[4]

No mesmo sentido, versando sobre a inexistência de leis ou atos

contrários à constituição, nos esclarece Celso Ribeiro Bastos: “a

inconstitucionalidade de uma lei, de um ato executivo ou jurisdicional, é

um caso particular de invalidade dos atos jurídicos em geral.

Page 5: Controle de Constitucionalidade

Particulariza-se por ocorrer na espécie um conflito com a própria norma

constitucional”.

Segundo Ferreira Filho, devem ser analisados, para a verificação de

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, tanto os requisitos formais

(subjetivos e objetivos), tais como a competência do órgão que a editou, forma,

prazo, rito, quanto os substanciais, que dizem respeito aos direitos e garantias

consagrados na Constituição.

 Temos que este mecanismo de controle de constitucionalidade teve

origem nos Estados Unidos da América no caso Marbury vs Madison, em que o

juiz fez alusão à impossibilidade de se aplicar uma lei que fira diretamente a

constituição. Segundo o magistrado americano, a ato normativo que vai de

encontro à Constituição não precisa ser respeitado pelo particulares, por não

ser direito. No caso em tela, o magistrado também se posicionou no sentido de

ser o Poder Judiciário responsável por este controle de constitucionalidade.

Disse ele que é o juiz, na aplicação contenciosa do direito, quem deve analisar

qual das leis deve ser aplicada, se em conflito entre si. Ainda, no caso de lei

ferir a constituição, é lógica a idéia de que não poderá ser aquela vencedora

sobre a Lei Maior.

O ordenamento pátrio traz duas formas de controle, a saber:

preventivo e repressivo. Aquele inicia-se antes de promulgada a lei. Este

opera-se a posteriori. O controle preventivo é feito, em nosso país, pelo

Presidente da República, que o exercita através do poder de veto. O art. 66,

§1º da CF autoriza o Presidente a vetar projeto de lei que lhe pareça

inconstitucional. Porém, tal veto pode ser superado pelo Congresso Nacional,

se parecer e este que tal projeto não ofende a Constituição. Pode haver ainda,

o controle pelo judiciário desta deliberação do Congresso Nacional.

Todo o controle repressivo é confiado ao Poder Judiciário, que

dispõe de órgãos competentes para tal, a saber, o Supremo Tribunal Federal,

supremo guardião da Constituição, fazendo-o através da via de exceção e da

via de ação.

A via de exceção ou de defesa, ou ainda, controle difuso de

constitucionalidade, é feito pelos juizes singulares, quando da aplicação do

direito ao caso concreto. As partes do litígio podem suscitar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, sendo apto o juiz a decretar tal

inconstitucionalidade. Porém, este julgamento surtirá efeitos apenas entre as

partes do litígio.[5]

Page 6: Controle de Constitucionalidade

Já na via de ação, não há que se falar em caso concreto. Não há a

análise da inconstitucionalidade quando da aplicação da lei ao caso concreto.

Na via de ação, busca-se declarar a inconstitucionalidade da lei em tese,

abrangendo por isso todas as pessoas. O seu efeito é diverso da via de

exceção. Enquanto o efeito desta é inter partes, o efeito daquele é erga omnes.

Segundo os ensinamentos de Michel Temer, “(...) objetiva-se obter

a invalidação da lei, em tese. No debate posto na ação direta de

declaração de inconstitucionalidade não há caso concreto a ser

solucionado. Almeja-se expurgar o sistema de ato normativo que o

contrarie, independentemente de interesses pessoais ou materiais”.[6]

 

4. Sistema Brasileiro de Controle de Constitucionalidade:

 

Para que se entenda as ações constitucionais que visam manter a

supremacia da Constituição quanto lei maior de um povo, é preciso, ainda, que

de forma breve se trace, alguns questionamentos quanto ao controle de

constitucionalidade, bem como sobre a própria doutrina que ensejou o

entendimento de que a Constituição é a lei maior de um povo.

 

Para isso necessário se faz relembrar noções atemporais de Kelsen,

e sua teoria do ordenamento jurídico.

 

O princípio hierárquico do ordenamento jurídico, defendido por Hans

Kelsen, ensina que:

 

"Se começarmos levando em conta apenas a ordem jurídica

estadual, a Constituição representa o escalão de direito positivo mais

elevado. A Constituição é aqui entendida num sentido material, quer

dizer: com esta palavra significa-se a norma positiva ou as normas

positivas através das quais é regulada a produção das normas jurídicas

gerais."

 

É esse entendimento repetido inumeras vezes conforme

demonstrado pelos ensinamentos proferidos por Goffredo da Silva Telles

Júnior:

 

Page 7: Controle de Constitucionalidade

"desde as simples normas contratuais, estabelecida entre

particulares, até a Constituição Nacional, forma-se, desta maneira, uma

autêntica pirâmide jurídica, na qual a juridicidade de cada norma é

haurida da juridicidade da norma que a suspende."

 

Tem-se pois que as leis inferiores têm de estar em consonância com

as que lhe precedem, sendo que qualquer divergência acabará por torná-la

inválida, ou como diz Kelsen:

 

 "A afirmação de que uma lei válida é "contrária a Constituição"

(anticonstitucional) é uma contradictio inadjecto; pois uma lei somente

pode ser válida com fundamento na Constituição"

 

Não se pode admitir uma lei inferior conflitante com os preceitos de

uma lei maior. Ou nos dizeres de J.J Gomes Canotilho:

 

"...A Constituição é, nesta perspectiva, a alavanca de

Arquimedes do sujeito projectante (homens, povo, nação).

 

A lógica é a lógica da pirâmide geométrica. A ordem jurídica

estrutura-se em termos verticais, de forma escalonada, situando-se a

constituição no vértice da pirâmide. Em virtude desta posição hierárquica

ela actua como fonte de outras normas.... "

 

Diante da inquestionável supremacia Constitucional, necessário se

faz distinguir as formas como esse controle será exercido. Na doutrina se

distingue dois tipos de órgãos que podem exercer o controle constitucional, que

são:

 

            - Por órgão político;

 

            - Por órgão jurisdicional.

 

O sistema do controle por órgão político é denominado também de

"sistema francês", isso porque apareceu pela na Constituição Francesa do ano

VIII, por sugestão de Sieyès, sendo posteriormente reformulada, mais

eficazmente, na Constituição Federal Francesa de 1958.

 

Page 8: Controle de Constitucionalidade

Cretella Júnior  ensina que o controle por órgão político:

 

"É o controle de constitucionalidade confiado a órgão de

avaliação, mas, na prática, esse tipo de controle tem sido desvirtuado,

porque sua integrantes passam a examinar as leis, que lhes são

submetidas a controle, pelo prisma da conveniência e de oportunidade,

esquecendo-se do enfoque do texto sob a luz da adequação à

Constituição."

 

Esse sistema se apresentará também no direito inglês, aparecendo

no direito português na Constituição Republicana 1911.

 

Quanto ao sistema de controle jurisdicional poderá se dar pelo

sistema difuso ou concentrado. Naquele se permite que qualquer juiz faça a

aplicação da declaração da inconstitucionalidade da lei ao caso concreto. Já

neste se atribui a um único órgão o direito de decidir a inconstitucionalidade,

sendo que nessa hipótese se exclui a lei definitivamente do ordenamento

jurídico.

 

"Na verdade, no sistema de controle "concentrado", a

inconstitucionalidade e conseqüente invalidade e, portanto

inaplicabilidade da lei não pode ser acertada e declarada por qualquer

juiz, como mera manifestação de seu poder e dever de interpretação e

aplicação do direito "válido" nos casos concretos submetidos a sua

competência jurisdicional. Ao contrário, os juizes comuns – civis, penais,

administrativos – são incompetentes para conhecer, mesmo incidenter

tantum e, portanto, com eficácia limitada ao caso concreto, da validade

das leis", é o que preconiza Mauro Cappelletti.

 

4.1.           Ação Direta de Inconstitucionalidade:

 

Uma das formas de se declarar a inconstitucionalidade de ato

normativo ou lei é através de chamada Ação Direta de Inconstitucionalidade

( Adin ), presente em nosso ordenamento jurídico desde 1946. É uma das

formas de controle concentrado exercido pelo Supremo Tribunal Federal. Tal

medida visa declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo federal ou

estadual. Pode ser intentada pelo Procurador Geral da República, Presidente

Page 9: Controle de Constitucionalidade

da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados,

Mesa da Assembléia Legislativa, Governadores de Estado, Conselho Federal

da OAB, Partido Político e por confederação sindical ou entidade de classe de

âmbito nacional, conforme disposto no art. 103 da CF, abaixo transcrito:

 

Art. 103 - Podem propor a ação de inconstitucionalidade:

I - o Presidente da República;

II - a Mesa do Senado Federal;

III - a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV - a Mesa da Assembléia Legislativa;

V - o Governador do Estado;

VI - o Procurador Geral da República;

VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;

IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional

 

Esta ação não passa pelas instâncias inferiores. Conforme art. 102,I

deve dar entrada diretamente no Supremo Tribunal Federal.

 

CF art. 102, I, a)

Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da

Constituição, cabendo-lhe processar e julgar, originariamente a ação direta de

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

 

Inicialmente era utilizada apenas contra leis e atos normativos

estaduais. Contudo, com a emenda 16 de 1965, foi estendida aos atos

federais, sendo mantido até hoje.

                  A ação direta de inconstitucionalidade compreende três

modalidades: a interventiva, a genérica e a supridora de omissão.

 

                A Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva pode ser federal

ou estadual. A federal só pode ser proposta pelo Procurador-Geral da

Page 10: Controle de Constitucionalidade

República e é de competência do Supremo Tribunal Federal. A estadual

competente ao Procurador de Justiça do Estado.

 

São denominadas interventivas porque consistem na intervenção

federal em algum Estado, ou Estado em Município, caso haja descumprimento

das exigências do art. 34, III, alíneas "a" a "e", da CF.

 

No tocante à ação direta de inconstitucionalidade genérica, caberá

sua propositura quando houver mister de se declarar a inconstitucionalidade de

lei ou ato normativo federal, estadual ou distrital, "no exercício de competência

equivalente a dos Estados-membros, editados posteriormente à Constituição

Federal e que ainda estejam em vigor".

 

A referida ação possui um caráter dicotômico, híbrido, uma vez que

se trata de uma ação judicial objetiva, mas com possíveis conseqüências

legislativas, no que tange aos casos em que o Supremo Tribunal Federal,

julgando procedente o pedido do autor, expurga do ordenamento jurídico

nacional o ato normativo que foi, total ou parcialmente, entendido

inconstitucional, agindo como verdadeiro legislador negativo.

 

A ação direta de inconstitucionalidade pode ser de competência do

Supremo Tribunal Federal, visando exclusivamente a defesa do princípio da

supremacia constitucional, quando destinada a obter a decretação de

inconstitucionalidade, em tese, de lei ou ato normativo, federal ou estadual,

sem outro objetivo senão o de expurgar da ordem jurídica a incompatibilidade

vertical.

 

Os Tribunais de Justiça de cada Estado também são competentes

para declarar a inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou

municipais em face da Constituição Estadual, dependendo da previsão desta.

 

De forma concisa, cabe ressaltar alguns aspectos procedimentais e

os respectivos efeitos da Ação Direta de Inconstitucionalidade, como segue:

 

Os legitimados ativos para a propositura da Ação Direta de

Inconstitucionalidade podem propô-la, independentemente de interesse jurídico

específico que estejam a defender, uma vez que, como já delineado, trata-se

de um processo objetivo, no qual há partes meramente formais.

Page 11: Controle de Constitucionalidade

 

Como salienta Gilmar Ferreira Mendes "o Supremo Tribunal Federal

ressaltou a objetividade desse processo, que não conhece parte e outorga ao

Tribunal um instrumento político de controle de normas". A Constituição

Federal  de 1988 ampliou significativamente o número de legitimados para

exercerem o controle concentrado de constitucionalidade. Mendes chega a

ressaltar que o constituinte quase criou uma ação popular de

inconstitucionalidade.

 

O Procurador-Geral da República na qualidade de Chefe do

Ministério Público Federal atua na defesa da ordem constitucional.  Sendo

defensor da ordem jurídica, passa a ser o verdadeiro fiscal da Constituição. A

partir da Emenda Constitucional n16/65, o Procurador-Geral da República

passou a ser autoridade legítima para encaminhar a representação contra

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual.

 

A doutrina constitucional pátria travou um sério debate acerca de ser

facultativo ou obrigatório ao Procurador-Geral da República propor a

Representação quando encaminhada a ele por terceiro. Atualmente, como

foram ampliados os legitimados ativos esta discussão perdeu o sentido.

 

O Presidente da República tem legitimidade “ad causam” para propor

ação direta de inconstitucionalidade.  Inclusive, poderá sancionar    projeto de

lei e, posteriormente, convencido do vício que inquina o ato, postular em sede

de controle abstrato, a declaração da inconstitucionalidade daquela lei.

 

Ressalta-se que quanto ao Presidente da República, a jurisprudência

da Suprema Corte não exige a chamada relação de pertinência do pedido

formulado.

 

A Constituição Federal conferiu às Confederações Sindicais e às

Entidades de Classe de âmbito nacional legitimidade processual ativa para

postularem Representação de Inconstitucionalidade.

 

A jurisprudência da Excelsa Corte exige que as Entidades de Classe

possuam associados ou membros em pelo menos nove Estados da Federação,

consistindo, assim, em aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos

Políticos.  Na verdade, trata-se de fixação de um coeficiente de medida dessa

Page 12: Controle de Constitucionalidade

representatividade nacional.  A Excelsa Corte definiu que : “...Não é entidade

de classe de âmbito nacional, para os efeitos do inc. IX do art. 103 da CF, a

que só reúne empresas sediadas no mesmo Estado, nem a que congrega

outras de apenas quatro Estados da Federação.”

 

A Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é bastante rigorosa

quanto à definição do conceito de Entidade de Classe e Confederação

Sindical .

 

Segundo o Supremo Tribunal Federal há de se exigir que o objeto da

ação de inconstitucionalidade guarde relação de pertinência com a atividade de

representação da Confederação ou da entidade de classe de âmbito nacional.

Esta imposição visa restringir o direito de propositura da ação direta de

inconstitucionalidade.

 

A Constituição também atribuiu ao Governador do Estado

legitimidade processual para argüir, em tese, a inconstitucionalidade de lei ou

ato normativo federal ou estadual. Todavia, a Jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal mantém entendimento de que para um Governador de um

Estado-Membro impugnar a inconstitucionalidade de norma jurídica de outro

Estado-Membro ou lei federal, far-se-á necessário demonstrar a relevância,

denominada relação de pertinência da pretensão deduzida.

 

Deverá demonstrar objetivamente que àquela norma jurídica

repercute negativamente na unidade federada impugnante. Aplica-se aqui o

mesmo critério produzido para as Confederações Sindicais e Entidades de

Classe de âmbito nacional.

 

Segundo a doutrina constitucional, a exigência de que o Partido

Político esteja representado no Congresso Nacional não constitui qualquer

restrição, uma vez que suficiente afigura-se a presença de uma representação

singular para que se satisfaça a exigência constitucional .  As minorias podem

efetivar a sua defesa no âmbito da jurisdição constitucional, aperfeiçoando o

Estado Democrático de Direito, ampliando as discussões de questões

relevantes no plano da jurisdição constitucional e construindo mecanismos de

oposição às decisões legislativas que aprovam leis inconstitucionais.

 

Page 13: Controle de Constitucionalidade

A Lei Maior definiu que a Advocacia-Geral da União, é a instituição

que representa a União, judicial e extrajudicialmente, devendo ainda prestar a

assessoria e consultoria jurídica ao Poder Executivo(art. 131).

 

Todavia, o Advogado-Geral da União, em sede de controle abstrato,

exercido pela Excelsa Corte, será citado para a defesa da  lei atacada.

 

É entendimento pacífico na Excelsa Corte que o Advogado-Geral da

União é obrigado a realizar a defesa do ato impugnado, independentemente,

de entender que a norma impugnada, em tese, é inconstitucional.   Sendo

assim, a doutrina constitucional pátria o tem considerado como o  advogado da

inconstitucionalidade.

 

O controle abstrato se restringe a normas, revestidas de caráter de

abstração, generalidade  e normatividade.  Atos normativos de efeito concreto

estão excluídos do controle abstrato.

 

O exercício do controle abstrato pelos legitimados processualmente

pressupõe a existência formal da lei ou do ato normativo, após a conclusão

definitiva do processo legislativo.  A lei não precisa estar em vigor, suficiente é

a sua publicação.  Portanto, é vedado o controle preventivo de normas

jurídicas.

 

Dada a amplitude do sistema normativo, cabe ressaltar as principais

normas sujeitas ao controle em tela:

 

O Tratado Internacional inicialmente depende da aprovação pelo

Congresso Nacional que, posteriormente, através de Decreto Legislativo

autoriza o Presidente da República a promulgá-lo.  Feito isto, é regularmente

incorporado  ao direito pátrio, assumindo a mesma hierarquia das leis

ordinárias federais.  É admitida Ação Direta de Inconstitucionalidade para aferir

a constitucionalidade do Decreto Legislativo.

 

As Emendas Constitucionais estão sujeitas ao controle de

constitucionalidade.  A Constituição poderá ser emendada, porém, devem ser

atendidas as exigências estabelecidas no art. 60, da CF/88, sob pena de

manifesta inconstitucionalidade.

 

Page 14: Controle de Constitucionalidade

É evidente que o direito federal não pode ser invocado como

parâmetro do controle abstrato de normas.  O único caso que o direito federal

poderá ser apontado para aferir a inconstitucionalidade de norma estadual será

quando o Estado-Membro, embora haja lei federal sobre a matéria elencada no

art. 24, inc. I a XVI, utilizar a competência plena que lhe é assegurada em caso

de "vácuo legislativo."  Nesse caso a inconstitucionalidade será constatada em

função da existência da lei federal que, assim, obsta o exercício da

competência plena deferida aos Estados Federativos.  Portanto, a

inconstitucionalidade verificar-se-á pela ofensa ao art. 24, §3° da

CF/88;  jamais pela contrariedade à Lei Federal.

 

O Supremo Tribunal  Federal não admite o exame da

constitucionalidade dos atos regulamentares editados para execução das

leis.  A tese consagrada na Suprema Corte é que a colisão entre leis e

regulamentos é questão de ilegalidade, consistindo em inconstitucionalidade

indireta ou reflexa.  Na seguinte passagem do voto o Ministro Moreira Alves

ficou explícito este entendimento:  “...É firme o entendimento dessa Corte de

que, em se tratando de norma regulamentadora, não cabe ação direta de

inconstitucionalidade para a verificação da ocorrência, ou não, de

extravasamento da esfera regulamentar, por se entender que se este se der

configurará ilegalidade, e não inconstitucionalidade.”

 

A doutrina não é pacífica quanto esse entendimento e tem críticas a

essa postura.  É que, com efeito, o regulamento pode ofender a Constituição,

não apenas na hipótese de edição de normativa autônoma, mas também

quando o exercente da atribuição regulamentar atue inobservando os princípios

da reserva legal, da supremacia da lei e, mesmo, o da separação dos poderes.

Postulam a criação de mecanismo objetivo de fiscalização dessa legitimidade

certos que a inexistência de um sistema de controle judicial que permita a

aferição da legitimidade da atividade regulamentar pode levar a uma

desvalorização dos postulados da supremacia da Constituição, da própria

supremacia da lei e da reserva legal.

 

Quanto a norma revogada, se a norma impugnada foi revogada

anteriormente à propositura da ação direta de inconstitucionalidade, é

jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal a impossibilidade

manifesta de ser apreciada, no juízo abstrato, a constitucionalidade ou

Page 15: Controle de Constitucionalidade

inconstitucionalidade de lei revogada.  Isso dá-se em razão da ação direta de

inconstitucionalidade ficar sem objeto.

 

Todavia, se entre a propositura da ação e a decisão proferida em

sede de controle abstrato, houver a revogação da norma jurídica impugnada,

não afeta a pronúncia de inconstitucionalidade, uma vez que esta lei

possivelmente provocou repercussão enquanto esteve vigente.

 

O Supremo Tribunal Federal tem decidido que o processo de

controle de constitucionalidade “in abstrato” de normas destina-se,

fundamentalmente, à aferição da constitucionalidade de normas pós-

constitucionais.  Na Suprema Corte o conflito estabelecido entre a norma

ordinária pré-constitucional e a norma pós-constitucional é resolvido através do

direito intertemporal (lex posterior derogat priori).  Portanto, não é admitida

ação direta de inconstitucionalidade contra lei ou ato normativo anterior à

Constituição vigente, por tratar-se de hipótese de revogação.

 

O Supremo Tribunal Federal não aceita a tese de

inconstitucionalidade superveniente, isto é, ato que é constitucional quando da

sua edição, porém, deixa de sê-lo em função da nova constituição.  Entende a

Corte Constitucional que a Constituição sobrevinda não torna inconstitucional

leis com ela conflitantes, apenas revoga-as.

 

Todavia, duas posições conflitantes se manifestaram no Supremo

Tribunal Federal,  a majoritária, que dá pelo direito intertemporal;  e a

minoritária, que argumenta no sentido da possibilidade de se fazer o controle

de constitucionalidade do direito pré-constitucional.

 

A lei ou ato normativo declarado inconstitucional pelo Supremo

Tribunal Federal é considerada, independente de qualquer outro ato, nula “ipso

jure” e "ex tunc".  A decisão em sede de controle abstrato produz coisa julgada

material e formal, com efeitos “erga omnes” - para além das partes.  A decisão

no controle concentrado como no difuso é declaratória, isto é, apenas constata

ou declara  um estado de inconstitucionalidade preexistente.

 

A decisão transitada em julgado que considera lei inconstitucional

tem eficácia plena, independente de manifestação do Senado Federal, como

bem asseverou o Ministro Moreira Alves que "se referente à declaração de

Page 16: Controle de Constitucionalidade

inconstitucionalidade em tese, não há que se falar em suspensão, pois,

passado em julgado o acórdão (...), tem ele eficácia "erga omnes" e não há que

se suspender lei ou ato normativo nulo com relação a todos".

 

Desde meados de 1977, o Supremo Tribunal Federal assentou que a

pronúncia de inconstitucionalidade no processo de controle abstrato de normas

era dotado de eficácia "erga omnes".

 

A declaração de inconstitucionalidade em tese encerra um juízo de

exclusão, que, fundado numa competência de rejeição deferida ao Supremo

Tribunal Federal, consiste em remover do ordenamento positivo a manifestação

estatal inválida e desconforme o modelo plasmado na Carta Política, com todas

as conseqüências daí decorrentes, inclusive a plena restauração de eficácia

das leis e das normas afetadas pelo ato  declarado inconstitucional.  Esse

poder excepcional - que extrai a sua autoridade da própria Carta Política -

converte o Supremo Tribunal Federal em verdadeiro legislador negativo.”

 

A possibilidade de medida cautelar em sede de ação direta de

inconstitucionalidade encontra-se prevista no art. 170, parágrafo primeiro do

RISTF.  Todavia, a jurisprudência do Supremo Tribubunal Federal tem exigido

a concorrência de alguns requisitos: plausibilidade jurídica da tese exposta

(fumus boni iuris); possibilidade de prejuízo decorrente do retardamento da

decisão postulada (periculum in mora);  irreparabilidade ou insuportabilidade

dos casos emergentes dos próprios atos impugnados;  necessidade de garantir

a ulterior eficácia da decisão.

 

O Supremo Tribunal Federal pacificou entendimento pelo qual a

eficácia da liminar em sede de ação direta de inconstitucionalidade é tão-

somente ex nunc

 

 

4.2.           Inconstitucionalidade por omissão:

 

A grande novidade trazida pela Constituição de 1988 em matéria de

decretação de constitucionalidade é o Controle da Inconstitucionalidade por

Omissão.

Page 17: Controle de Constitucionalidade

“Art. 103, §2º: Declarada a

inconstitucionalidade por omissão de medida

para tornar efetiva norma constitucional, será

dada ciência ao Poder competente para a

adoção das providências necessárias e, em se

tratando de órgão administrativo, para faze-lo

em trinta dias”.

 

Desta forma, não só a ação, ou seja, a criação de ato normativo ou

lei será alvo do controle de constitucionalidade. Também a omissão será alvo

deste controle. Quando uma norma constitucional determinar a realização de

algum programa e este não for cumprido, será declarada a

inconstitucionalidade por omissão. Nas palavras de Ferreira Filho: “(...) ou

quando se deixa de dar execução a um programa ( a uma norma

programática ) por ela traçado. Esta última hipótese é a da

inconstitucionalidade por omissão, por parte do legislador e (ou)

administrador que deve implementar o programa”.

O principal motivo da criação deste controle é fazer com que todas

as vontades do constituinte sejam alcançadas, de forma a garantir todos os

direitos criados pelo Constituinte.[7]

Para se admitir a existência da inconstitucionalidade por omissão é

necessário reportar-se à distinção entre as espécies de normas: normas de

eficácia imediata, normas de eficácia contida e de eficácia limitada. 

As normas preceptivas ou de eficácia imediata, de acordo com

Michel Temer "são aquelas de aplicabilidade imediata, direta, integral,

independendo de legislação posterior para sua inteira operatividade". São

portanto, normas que não causam qualquer dúvida quanto a sua eficácia, pois

já estão plenamente positivadas no documento constitucional. Não precisam

elas de um ato legislativo futuro, porque já regulam diretamente as relações

entre os cidadãos e o próprio Estado.

 

As normas de eficácia contida são aquelas em que o legislador

constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada

matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência

discricionária do poder público, nos termos de conceitos gerais nelas

enunciados.

Page 18: Controle de Constitucionalidade

 

As normas de eficácia limitada se subdividem em: normas de eficácia

limitada quanto aos princípios institutivos e normas de eficácia limitada quanto

aos princípios programáticos.

 

Normas de eficácia limitada quanto aos princípios institutivos são

aquelas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de

estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o

legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei.

 

Segundo Paulo Bonavides, programáticas "são as normas jurídicas

com que o legislador, ao invés de regular imediatamente um certo objeto,

preestabelece a si mesmo um programa de ação, com respeito ao próprio

objeto, obrigando-se a dele não se afastar sem um justificado motivo".

 

Diante do exposto, a inconstitucionalidade por omissão não pode ser

suscitada nem em relação às normas de eficácia contida, nem em relação às

preceptivas, já que estas estão, por assim dizer, perfeitamente acabadas, diga-

se, não necessitam de legislação posterior, estando aptas para gerar de pronto

todos os seus jurídicos e legais efeitos, aplicando-se tão somente em relação

às normas constitucionais de eficácia limitada quanto aos princípios institutivos,

uma vez que a Constituição impõe ao Legislativo e, excepcionalmente ao

Executivo, a obrigação de expedir atos regulamentadores do texto

constitucional.

 

O problema estará centrado nas normas programáticas, desde que

estejam vinculadas ao princípio da legalidade, pois por dependerem de atuação

normativa ulterior para garantir sua aplicabilidade são suscetíveis de ação

direta de inconstitucionalidade por omissão.

 

Então, de acordo com o art. 103, § 2º, da CF, declarada a

inconstitucionalidade por omissão, será dada ciência ao órgão administrativo

responsável para, no prazo de trinta dias, providenciar a norma legal para

tornar efetiva a norma constitucional. Neste caso, não há maiores problemas,

pois decisão do Supremo Tribunal Federal sempre terá força de lei perante

órgãos administrativos, não tendo estes por que desrespeitar aquela decisão,

sob pena de sujeitar o agente público responsável pela prática do ato às

sanções legais.

Page 19: Controle de Constitucionalidade

 

O grande problema está no caso de a norma omissa ser de

competência do Poder Legislativo, pois nesta hipótese não há prazo para o

legislador tomar as medidas necessárias, além do que, não há como se obrigar

o Poder Legislativo a legislar. Daí, entende parte da doutrina que a decisão

declaratória de inconstitucionalidade por omissão deveria ter força de lei, caso

o legislador, dentro de um determinado prazo, não agisse nesse sentido.

 

No tocante à competência para processar e julgar, originariamente, a

ação direta de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual,

cabe ao Supremo Tribunal Federal fazê-lo, mediante pedido do autor da ação,

que visa a obter a invalidação da lei, a fim de garantir-se a segurança das

relações jurídicas, que não podem ser baseadas em normas inconstitucionais.

 

Caberá a propositura da ação direta de inconstitucionalidade

genérica quando houver mister de se declarar a inconstitucionalidade de lei ou

ato normativo federal, estadual ou distrital, no exercício de competência

equivalente à dos Estados-membros, editados posteriormente à Constituição

Federal e que ainda estejam em vigor.

 

Pontes de Miranda salienta que a expressão ato deve ser tomada em

sentido amplo, uma vez que nem sempre se trata de lei, ato de Poder

Legislativo, simples decreto, portaria, ou aviso. "Pode ser ato do Poder

executivo ou de Poder Judiciário ou, ainda, ato não normativo do Poder

Legislativo que importa inobservância de algum dos princípios do art. 7°,

VII. Por exemplo: ato do Governador do Estado que atinge a autoridade

municipal ou que fere garantia do poder Judiciário (ordem de prisão de

desembargadores durante o estado de sítio), ato do Poder Legislativo,

negocial, dispensando as contas da administração durante o ano; ato do

Poder Judiciário julgando por crime de responsabilidade o governador.".

 

Como referido, apenas as normas constitucionais de eficácia

limitada,  relativamente aos princípios institutivos, podem ser objeto de ação

por omissão, uma vez que a Constituição impõe ao Legislativo, e,

excepcionalmente, ao Executivo, a obrigação de expedir atos

regulamentadores do texto constitucional.

 

Page 20: Controle de Constitucionalidade

As normas programáticas podem ser objeto de ação de

inconstitucionalidade por omissão, desde que estejam vinculadas ao princípio

da legalidade, por dependerem de atuação normativa ulterior, para garantir sua

aplicabilidade.

 

Quanto à legitimidade para propor ação de inconstitucionalidade, no

tocante ao controle difuso, cabe a qualquer pessoa que esteja em litígio, quer

seja o autor, quer seja o réu.

 

Quanto ao controle concentrado, as constituições de 1946 e 1967

estabeleciam que a legitimidade pertencia ao Procurador Geral da República.

Com o advento da Constituição de 1988, houve uma expansão do rol das

pessoas legitimadas para propositura da Ação Declararia de

Inconstitucionalidade, neste não se incluindo, como desejável, o cidadão.

 

Vale ressaltar que, mesmo ampliado este rol, é pacífico nas decisões

Pretorianas, que quando se tratar de Mesa da assembléia Legislativa,

Governador de Estado e Confederação sindical ou entidade de classe de

âmbito nacional, há a necessidade de se provar o interesse específico na

questão, a chamada "pertinência legal", para que se possa exercer o direito de

propor a referida ação.

 

Conclui-se que o atual sistema de controle de constitucionalidade,

em conjunto com a rigidez constitucional, é o mais perfeito que até agora se

idealizou para assegurar a limitação jurídica do poder dos governantes, embora

não tenhamos atingido a amplitude do controle abstrato de países como a

Alemanha, por exemplo, onde até mesmo o cidadão comum pode provocar a

Corte Constitucional.

 

No âmbito da constituição, estão legitimados para a propositura da

ação de inconstitucionalidade por omissão todos aqueles legitimados para,

igualmente, propor ação direta de inconstitucionalidade, ou seja, os

relacionados no artigo 103, I a IX.

 

A principal característica do controle difuso ou de via de exceção

seria o fato de que a inconstitucionalidade é levantada em um processo em

andamento, gerando um procedimento incedenter tantum, produzindo efeitos

"inter partes" e "ex tunc". Vale ressaltar que, tal situação é provisória, uma vez

Page 21: Controle de Constitucionalidade

que a norma ou ato continua produzindo efeitos a terceiros, até que o Senado,

por meio de resolução, suspenda sua executoriedade(CF-88, art. 52,X), com

efeitos "erga omnes" e " ex nunc".

 

A suspensão da norma pelo Senado Federal só se concretiza se

houver decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. Assim, a ação

incidental deve chegar até este órgão através de recurso ordinário ou

extraordinário das partes. Se a ação que na qual se argüiu, incidentalmente a

inconstitucionalidade, não chega ao Supremo, a matéria decidida só terá

efeitos entre as partes, como já foi dito.

 

Ainda com relação ao controle difuso, no caso de remessa do

Supremo ao Senado para suspensão de executoriedade de lei, este não estaria

vinculado a fazê-lo. O entendimento é fácil. Basta verificar que a Constituição

não estipula prazo para tal. Desta forma, o Senado poderia procrastinar o ato

pelo tempo que entendesse necessário, dependendo do interesse ou não na

suspensão da lei, tornando uma decisão que parecia obrigatória em decisão

meramente política.

 

O controle concentrado, no que se refere à ação declaratória de

inconstitucionalidade, visa a atacar o vício da lei, em tese, estadual ou federal.

O órgão de cúpula competente para julgá-la é o Supremo Tribunal Federal,

incumbido da guarda de nossa Constituição. Esta decisão judicial faz coisa

julgada "erga omnes", com efeito "ex tunc", uma vez que os atos

inconstitucionais são nulos e portanto, destituídos de qualquer eficácia jurídica.

 

A Constituição Federal não é explícita acerca dessa discussão. No

entanto, defende-se a corrente que afirma ter as decisões do Supremo efeito

erga omnes, sem a necessidade de manifestação do Senado Federal, que só

ocorreria nos casos de controle difuso.

 

Em sendo o Supremo Tribunal Federal legitimado

constitucionalmente como o guardião da Constituição, não haveria qualquer

necessidade de manifestação de outro órgão para que as suas decisões

tenham efeito vinculante contra todos, porquanto as decisões dos feitos

originários no próprio Supremo, referentes à inconstitucionalidade de lei em

tese, têm força vinculante própria.

 

Page 22: Controle de Constitucionalidade

Sujeitar essas decisões à manifestação daquela casa legislativa é

inclusive atentar contra a separação dos poderes, porquanto competente para

dirimir questões puramente de direito é o Poder Judiciário.

 

Não se quer aqui negar o sistema de pesos e contrapesos: checks

and balances. De certo que os poderes têm um estrito relacionamento entre si,

o que justifica muitas vezes a atuação de um na esfera do outro para limitar a

atividade daquele que estiver ultrapassando a sua competência, desde que

esta limitação não prejudique a independência e harmonia de cada um deles

(art. 2º, CF), célebre princípio desenvolvido por Montesquieu, adotado por

todos os Estados Constitucionais.

 

Sujeitar as decisões definitivas do Supremo à manifestação do

Senado é atentar contra a independência dos Poderes. Além do que, o Senado

Federal maculado por questões políticas de interesses particulares poderia

opor grave empecilho ao livre exercício da função jurisdicional do Supremo.

Muito arriscado seria, portanto, sujeitar as sentenças declaratórias de

inconstitucionalidade à manifestação do Senado para retirar a vigência da lei

em tese.

 

No que se refere à ação de inconstitucionalidade por omissão, os

efeitos são erga omnes, aproveitando a todos os que dela puderam fazer uso.

No entanto, acentuadamente em relação à ação supridora de omissão

administrativa, existe mais que uma declaração de efeito contra todos, há uma

determinação, uma declaração com efeito ulterior de caráter mandamental, no

sentido de exigir do poder competente a adoção das medidas necessárias ao

suprimento da omissão, no prazo de trinta dias.

 

Quanto ao alcance dos seus efeitos da declaração de

inconstitucionalidade por omissão de norma de conteúdo legislativo,

esbarramos novamente no princípio da independência e harmonia dos

poderes, uma vez que, seguindo a anteriormente referida linha de pensamento,

não pode o Poder Judiciário obrigar o Legislativo a produzir lei em sentido

formal, como não é deferido ao Supremo funcionar como legislador atípico

positivo.

 

Page 23: Controle de Constitucionalidade

No entanto, declarada a inconstitucionalidade e dada ciência ao

Legislativo, fixa-se judicialmente a ocorrência da omissão, com efeitos

retroativos 

Segundo José Afonso da Silva, embora o sentido mandamental seja

mais acentuado em relação ao órgão administrativo, ele existe também em

relação ao Poder Legislativo, pois se este "não responder ao mandamento

judicial, incidirá em omissão ainda mais grave". Assim, propõe o referido

autor, que a decisão judicial nestes casos tivesse cunho normativo, valendo

como lei se após certo prazo o legislador não suprisse a omissão.

 

4.3.           Ação Declaratória de Constitucionalidade:

 

Outra faceta do controle de constitucionalidade por via de ação é a

denominada Ação Direta de Constitucionalidade. Esta foi introduzida em nosso

ordenamento jurídico pela emenda nº3 de 93. A vantagem é que o STF pode

decretar de pronto a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal.

A criação da Ação Direta de Constitucionalidade teve em vista a

demora dos juizes e tribunais inferiores no julgamento final de argüição de

inconstitucionalidade de leis e atos normativos. Agora o STF pode declarar tal

constitucionalidade, pondo fim às dúvidas existentes antes do referido

julgamento pelos tribunais e juizes inferiores. Vale a pena ressalvar que tal

ação somente é aplicável aos atos e lei federais, e não estaduai, como ocorre

com a Adin.

A Ação Direta de Constitucionalidade pode ser proposta pelo

Presidente da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos

Deputados ou pelo Procurador da República. Vimos que os órgãos

competentes para a proposição são em número inferior aos da ADIn. Esta ação

possui efeitos erga omnes, obrigando a todos os juizes e tribunais a

considerarem os atos e lei constitucionais. O caso mais recente e notório foi o

julgamento da constitucionalidade das medidas tomadas para a concretização

do Plano de Racionamento de Energia do Governo Federal.

Vejamos os textos constitucionais que tratam da matéria:

 

"Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a

guarda da Constituição, cabendo-lhe:

 

Page 24: Controle de Constitucionalidade

I - processar e julgar, originariamente:

 

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato

normativo federal; (...)

 

§ 2.º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo

Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato

normativo federal, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,

relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo."

 

"Art. 103. (omissis)

 

§ 4.º Ação declaratória de constitucionalidade poderá ser proposta

pelo Presidente da República, pela Mesa do Senado Federal, pela Mesa da

Câmara dos Deputados ou pelo Procurador-Geral da República."

 

OBSERVAÇÃO DO PROFESSOR RAUL: esse parágrafo 4º foi revogado

pela EC 45/04. Hoje, os legitimados ativos para a ADC são os mesmos

legitimados a propor ADIn genérica (vide art. 103, caput).

 

A Ação Declaratória de Constitucionalidade tem por finalidade aferir

se uma lei ou um ato normativo federal está de acordo com a Constituição

Federal.

 

Como visto acima, a competência para processar e julgar a ação sob

foco é do Supremo Tribunal Federal.

 

A Lei nº 9.869, de 10 de novembro de 1999, veio regulamentaar o

processo e o julgamento da ADIn e da ADC perante o Supremo Tribunal

Federal.

 

O processo da ADC é de cunho eminentemente objetivo, tanto que o

artigo 16 da Lei nº 9.868/99 dispõe que "proposta a ação declaratória, não se

admitirá desistência." E o artigo 18 veda a intervenção de terceiros. Donde se

conclui que o interesse neste tipo de ação é de toda a sociedade e não de

pessoas ou grupo de pessoas específicas.

 

Page 25: Controle de Constitucionalidade

Dispõe o artigo 14, inciso III da referida lei:

 

"Art. 14. A petição inicial indicará:

(omissis)

 

III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação

da disposição objeto da ação declaratória."

 

O legislador não deixou ao livre arbítrio dos legitimados a decisão

sobre a oportunidade e conveniência de propor a ADC. A lei exige que haja

uma controvérsia judicial e que essa controvérsia seja relevante para que se

possa interpor uma ADC.

 

A prova de que existe controvérsia sobre a constitucionalidade do ato

normativo questionado deve ser documental e deve acompanhar a petição

inicial, sob pena de indeferimento liminar da mesma (art. 15 de Lei nº

9.868/99).

 

Em sede de ADC, por expressa disposição legal, o Supremo Tribunal

Federal pode deferir pedido de medida cautelar a qual consiste na

determinação aos Juízes e Tribunais para suspenderem o julgamento dos

processos relacionados com a aplicação da lei ou ato normativo objeto da ADC

até seu julgamento definitivo.

 

Uma vez concedida a cautelar, o STF terá um prazo de 180 dias para

julgar a ação, sob pena de perda da sua eficácia.

 

A decisão do STF que declara a constitucionalidade da lei ou do ato

normativo em sede de ADC é irrecorrível, ressalvada a interposição de

embargos declaratórios e não pode se objeto de ação rescisória.

 

A declaração de constitucionalidade tem eficácia contra todos e

efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração

Pública Federal, Estadual e Municipal.

 

Um aspecto interessante que merece ser destacado é o fato de uma

decisão do STF que declara a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo

federal ter um caráter de imutabilidade.

Page 26: Controle de Constitucionalidade

 

Esclarecendo melhor, uma vez declarada a constitucionalidade em

sede de ADC, aquela lei ou ato normativo objeto da ação deverão ser tidos por

constitucionais para sempre ou até que impere uma nova ordem constitucional.

 

Há críticas nesse sentido, uma vez que uma decisão do STF no

sentido de declarar a constitucionalidade de lei ou ato normativo não deve

permanecer inalterada ad perpetuam, sob pena de aquela lei ou ato normativo

estar sob o pálio da coisa julgada, sem a menor oportunidade de o STF rever

sua posição, enquanto a sociedade está em constante mutação.

 

4.4.           Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental:

 

As Leis nº 9868/99 e 9882/99, introduziram um conjunto expressivo

de inovações no sistema de controle de constitucionalidade adotado pela

Constituição Federal de 1988. Trata-se de documentos legislativos dispondo,

respectivamente, sobre o processo e julgamento da ação direta de

inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o

Supremo Tribunal Federal (Lei nº 9.868/99), e do processo e julgamento da

argüição de descumprimento de preceito fundamental (Lei nº 9.882/99),

diploma este que veio a regulamentar o art. 102, § 1º, da Constituição Federal

de 1988, transcorridos mais de 11 anos de sua entrada em vigor.

A argüição surgiu como uma nova forma de controle concentrado de

constitucionalidade, situado na esfera da competência constitucional do STF e

assumindo, pelo menos aparentemente, uma dupla feição, ora apresentando

caráter processual autônomo, funcionando como verdadeira ação sumária

(argüição autônoma) tendo por objeto "evitar ou reparar lesão a preceito

fundamental, resultante de ato do Poder Público" (caput do art. 1º da Lei n.º

9.882/99), ora equivalendo a um incidente processual de inconstitucionalidade

(argüição incidental), manejável "quando for relevante o fundamento da

controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou

municipal, incluídos os anteriores à Constituição" (art. 1º, § único, inciso I, da

Lei n.º 9.882/99).

De acordo com o art. 1o da Lei n.º 9.882/99, será possível manejar a

ADPF em três hipóteses bem distintas, quais sejam:

Page 27: Controle de Constitucionalidade

            1.Evitar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do

poder público (argüição preventiva);

            2.Reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do

poder público (argüição repressiva);

            3.Quando for relevante o fundamento da controvérsia

constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal,

incluídos os anteriores à Constituição.

Devido a essa regulamentação e extensa ampliação das atribuições

do STF, muitos doutrinadores já salientam que nossa Corte passará a ocupar a

verdadeira posição de guardiã da Constituição pois, além de exercer as

diversas funções que já lhe são cabíveis, passará a proteger, digamos assim,

também todos os preceitos constitucionais fundamentais decorrentes da

Constituição Federal que, para estes estudiosos, ainda não estavam

protegidos.

A legitimação ativa para a propositura da argüição de

descumprimento de preceito fundamental, considerando, ou não, as suas

modalidades, para aqueles que defendem essa possibilidade, foi conferida aos

mesmos legitimados para a deflagração da ação direta de

inconstitucionalidade.

Como se pode perceber, o legislador constituinte quis atribuir ao STF

a deferência de guardião constitucional, o que incontestavelmente lhe teria

ambicionado tornar-se uma Corte Constitucional, nos termos das Cortes

constitucionais alemãs.

 

Entretanto o mesmo não ocorreu. Tanto que a previsão criada em

1988, foi regulamentada pela lei extravagante, que especificou ainda, as regras

para o ajuizamento da ação de argüição, legitimidade e processamento.

 

É importante especificar que essa lei sofreu vetos presidenciais

importantes, quais sejam:

 

 - Inciso II, do art. 1º (§ 4º do art. 5º e art. 9º do Projeto 17/99 )– que

permitiam o ajuizamento da ação da ADPF em face de interpretação ou

aplicação de regimentos internos das Casa, ou comum do Congresso Nacional,

quando da elaboração de normas previstas no art. 59 da CF;

 

Page 28: Controle de Constitucionalidade

 - o inciso II do art. 2º - que concedia legitimidade a qualquer pessoa

lesada ou ameaçada pelo Poder Público foi vetado. Segundo Nelson e Rosa

Nery esse veto "é irrelevante e inconstitucional por omissão (falta de

regulamentação).".

 

- § 4º art. 5º - Veto ao quorum

 

A natureza jurídica suscita controvérsia dependendo de como se

analisa o próprio instituto.

 

Assim a argüição de descumprimento fundamental será uma ação

autônoma, se entender-se o instituto como uma ação constitucional.

 

Nesse sentido Celso Ribeiro Bastos  determina que:

 

"A argüição de descumprimento é medida de cunho judicial, que

promove o controle concentrado da constitucionalidade das leis e atos

normativos e não normativos, desde que emanados do Poder Público"

 

André Ramos Tavares acrescenta a essa natureza de ação judicial

autônoma, a possibilidade da propositura incidental.

 

"Não existe dúvidas sobre ser a argüição de descumprimento de

preceito fundamental um remédio constitucional destinado ao controle da

constitucionalidade das leis e dos atos normativos".

 

Há de se considerar que segundo alguns autores que vêem na ação

de argüição uma semelhança com a Verfassungsbeschwerde que inserta na

Constituição Alemã, tem o condão de "recurso constitucional".

 

Parece, porém, que a ação de argüição de descumprimento de

preceito fundamental é uma ação que em regra possui o caráter autônomo,

sem todavia deixar de considerar a possibilidade de seu ajuizamento de forma

incidental.

 

Page 29: Controle de Constitucionalidade

A ação de argüição de preceito fundamental da forma como foi

inserida no direito brasileiro não possui qualquer identidade com o direito

comparado, de forma que, indiscutivelmente, um instituto totalmente inovador.

 

Deve-se, porém, esclarecer que possui ela algumas semelhanças

com institutos existentes no direito alemão e no direito espanhol.

 

Não há como se discutir o fato da ADPF, ter-se inspirado na

Vesfassungsbeschewerde, que é um recurso constitucional que pode ser

ajuizado por qualquer do povo com o objetivo de fazer cumprir preceitos

fundamentais pelo Poder Público.

 

Assim conforme disposto no artigo 93-A da Constituição Federal

Alemã, qualquer do povo poderá interpor o "agravo constitucional" sempre que

necessitar proteger os preceitos constitucionais contra atos do Poder Público.

 

O “derecho de amparo” é semelhante a ação de argüição de

descumprimento de preceito fundamental, porém não é sua fonte, até porque o

recurso do amparo visa a proteção, por qualquer pessoa, a falta de outro meio,

de fazer cumprir os dispositivos constitucionais. Ademais esse instituto é

apreciado por qualquer juiz, não trazendo a colação da idéia da Corte

Constitucional, como guardiã da Constituição.

 

A ação de argüição do descumprimento de preceito fundamental será

uma ação constitucional sumária, cuja competência para apreciação é do

Supremo Tribunal Federal (art. 102, § 1º), devendo ser interposta pelos mesmo

legitimados para ajuizar a ação direita de inconstitucionalidade (art. 103  da

CF).

 

Foi vetada a possibilidade do ajuizamento de referida ação pelo

particular ou nos termos do inciso vetada "por qualquer pessoa lesada ou

ameaçada por ato do Poder Público".

 

Os artigos 3º e 4º trazem questões procedimentais, de forma que

inserem-se no bojo da lei os requisitos da petição inicial, bem como a

determinação que a petição será indeferida se deixar de cumprir quaisquer dos

requisitos da lei.

 

Page 30: Controle de Constitucionalidade

Cabe aqui um parênteses para determinar que a lei prevê, para a

hipótese de indeferimento da inicial o recurso de agravo, no prazo de 05 (cinco)

dias. Esse recurso cuja natureza é interna é interposto nos próprios autos, tem

como condão levar o indeferimento da petição inicial ao colegiado para que o

mesmo se pronuncie sobre a matéria.

 

Por todo o que foi demonstrado pode-se concluir que a ação de

argüição de preceito fundamental, resta, ainda, como um instituto sem

efetividade jurídica.

 

Assim o que deveria ser a maior inovação dentro do ordenamento

jurídico brasileiro, que tinha como fulcro o controle constitucional concentrado,

acaba por ser um modelo que inexeqüível, principalmente do ponto de vista da

própria garantia aos preceitos fundamentais e seu próprio conceito.

 

Desta forma a ação que deveria ser ampla e de importância

inigualável, acabou por se tornar, face a própria ação direta de

inconstitucionalidade (Adin 2231, de 27/06/2000), levantada contra a Lei,

inaplicável  e de difícil acesso.

 

Quanto ao difícil acesso deveu-se, pois a Lei que limitou os

legitimados, de forma que a mesma provou uma dificuldade para o próprio

ajuizamento da ação, pois a mesma se argüida como forma de defesa, resta de

difícil apreciação pois a competência da ação, originalmente, será do Supremo

Tribunal Federal, portanto como poderá o juiz a quo manifestar-se sobre tal

matéria.

 

Ademais a dificuldade da ação dá-se também pelo fato de tal

controle de constitucionalidade ter de ser apreciado por uma Corte

Constitucional, sendo, pois uma contradição do ordenamento pátrio, que adota

uma procedimento disforme das condições jurisdicionais do direito nacional que

possui apenas um Tribunal Superior, com função constitucional, porém não

uma Corte nitidamente Constitucional.

 

 

 

Page 31: Controle de Constitucionalidade

5. Controle de Constitucionalidade em nível Estadual e Municipal:

 

O processamento das ações visando o controle de

constitucionalidade de leis ou atos estaduais e municipais será definido pela

Constituição de cada Estado.

Nem mesmo a legitimidade para propor a ação direta de

inconstitucionalidade é traçada pela Constituição Federal, que em seu artigo

125 § 2 determina apenas que cada Estado institua sua forma de

representação

Art .125 § 2. - Cabe aos Estados a instituição de representação de

inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em

face da Constituição Estadual, vedada a atribuição de legitimação para agir a

um único órgão.

Fica vedada, no entanto, a legitimação de um único órgão. Em outras

palavras, diversas autoridades ou entidades, pelo menos duas, deverão ter

reconhecida a sua capacidade para serem autoras dessa representação de

inconstitucionalidade estadual.

Quem processa e julga as ações diretas de inconstitucionalidade e

as ações declaratórias de constitucionalidade no nível estadual e municipal é o

Tribunal de Justiça do respectivo Estado.

Em seu art. 35 a Constituição define as hipóteses em que o Estado

pode intervir em seus Municípios (inclui também o caso hipotético da União

intervir em Municípios localizados em Território Federal). Apenas o inciso IV

trata de inconstitucionalidade:

CF art. 35, IV

O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos

Municípios localizados em Território Federal, exceto quando o Tribunal de

Justiça der provimento a representação para assegurar a observância dos

princípios indicados na Constituição Estadual.

 

6. Conclusões:

 

Podemos perceber que o sistema de controle de constitucionalidade

é aquele que visa anular e expulsar do ordenamento jurídico as leis e demais

Page 32: Controle de Constitucionalidade

atos normativos que vão de encontro às normas descritas na Constituição

Federal, uma vez que a Carta Magna encontra-se no topo da pirâmide de leis,

que demonstra a importância de uma lei no ordenamento jurídico.

Por estar no cume da pirâmide, esta é o fundamento de validade de

todas as outras. Se as demais estiverem de acordo com a Constituição,

possuem validade e espalharam seus efeitos. Caso contrário, serão declaradas

inconstitucionais e expulsas do sistema.

Várias são as formas de se declarar a inconstitucionalidade de uma

lei. Dentre estas temos a ação direta de inconstitucionalidade, ação

declaratória de constitucionalidade, argüição de descumprimento de preceito

fundamental e a inconstitucionalidade por omissão, que estudamos nos tópicos

supra. Este tem por função precípua expulsar do sistema as normas federais e

estaduais que vão de encontro á Constituição Federal, sendo o STF a órgão

julgador destas ações, que são regidas pelo princípio da indisponibilidade.

Este é o macro-sistema de controle de inconstitucionalidade. O

micro-sistema, assim denominado pelos doutrinadores, é aquele que trata da

declaração de inconstitucionalidade de leis e atos normativos municipais,

quando estas estão em desconformidade com a Constituição estadual. Não

pode ser argüida esta inconstitucionalidade perante o STF, pois esta é relativa

á Constituição estadual e este órgão é competente para julgar o ferimento à

Constituição Federal, e não Estadual.

Pelo exposto, o Estado Democrático de Direito pugna por um efetivo

controle da constitucionalidade das leis. Assim, cada vez mais os princípios de

interpretação das leis devem pautar as decisões pretorianas, sob pena de se

instaurar a ausência de limitação do poder decisório do Tribunal em detrimento

do embasamento e fundamentação que devem prevalentemente conter as

decisões concernentes ao controle abstrato das normas, em última instância, o

interesse público com vistas à defesa e o cumprimento da Constituição

Federal.