aula 07 - controle de constitucionalidade

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CURSO ONLINE – DIREITO CONSTITUCIONAL MPU PROFESSOR: FREDERICO DIAS 1 www.pontodosconcursos.com.br Aula 7 – Controle de Constitucionalidade Bom dia! Finalmente chegamos à nossa última aula! Foi bom para você? ...rs... Confesso que, para mim, foi muito bom poder ministrar esse curso. Num curso de exercícios comentados (que é o mais comum de fazermos no Ponto) as questões conduzem a aula. Mas, num curso de teoria como esse, o professor é bem mais exigido. E fiquei feliz ao observar que, de certa forma, fui capaz de ajudar na preparação de tantas pessoas. Se você tiver gostado do meu trabalho, quero mencionar que nos próximos meses lançarei um livro de “Questões discursivas de Direito Constitucional comentadas”, pela editora Método (Grupo Gen, dentro do Selo Vicente e Marcelo). Espero que aprecie. E você, está animada(o) para sua prova? Ela se aproxima. E agora é hora de dar aquele último retoque nos estudos finais. Fique tranqüila (ou tranquilo), reserve alguns dias para a revisão dos principais pontos e separe os últimos momentos para descansar. Costumo dizer aos alunos que a prova exige não apenas conhecimento (esse você já tem), mas rapidez de raciocínio, autocontrole e muita garra. Assim, é importante que você esteja bem descansado. Outra coisa: confie em si mesmo! Não desanime se está chegando a prova e você já está com aquela sensação de que não vai conseguir estudar tudo o que queria. Para passar em concurso não é necessário saber tudo. Portanto, motive-se nessa reta final e tente elevar a sua autoconfiança, pois ela será determinante agora. Hoje, vamos estudar o assunto mais interessante do direito constitucional: controle de constitucionalidade das leis. Posso dizer que o controle de constitucionalidade agrupa o conhecimento de toda a matéria já estudada neste curso. Outro aspecto, é que esse assunto exige uma maior capacidade de compreensão do candidato, privilegiando o raciocínio em detrimento da mera capacidade de memorização. E isso é muito bom! E o que é o controle de constitucionalidade? Posso nesta introdução ser bem simplista e afirmar que se trata de um mecanismo de fiscalização da validade de todas as normas do ordenamento jurídico frente às regras estabelecidas pela Constituição. Digamos que ao final da aula, você deve ser capaz de responder: quais são os sistemas, modelos e momento do controle? Quem pode provocar

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Aula 7 – Controle de Constitucionalidade Bom dia! Finalmente chegamos à nossa última aula! Foi bom para você? ...rs... Confesso que, para mim, foi muito bom poder ministrar esse curso. Num curso de exercícios comentados (que é o mais comum de fazermos no Ponto) as questões conduzem a aula. Mas, num curso de teoria como esse, o professor é bem mais exigido. E fiquei feliz ao observar que, de certa forma, fui capaz de ajudar na preparação de tantas pessoas. Se você tiver gostado do meu trabalho, quero mencionar que nos próximos meses lançarei um livro de “Questões discursivas de Direito Constitucional comentadas”, pela editora Método (Grupo Gen, dentro do Selo Vicente e Marcelo). Espero que aprecie. E você, está animada(o) para sua prova? Ela se aproxima. E agora é hora de dar aquele último retoque nos estudos finais. Fique tranqüila (ou tranquilo), reserve alguns dias para a revisão dos principais pontos e separe os últimos momentos para descansar. Costumo dizer aos alunos que a prova exige não apenas conhecimento (esse você já tem), mas rapidez de raciocínio, autocontrole e muita garra. Assim, é importante que você esteja bem descansado. Outra coisa: confie em si mesmo! Não desanime se está chegando a prova e você já está com aquela sensação de que não vai conseguir estudar tudo o que queria. Para passar em concurso não é necessário saber tudo. Portanto, motive-se nessa reta final e tente elevar a sua autoconfiança, pois ela será determinante agora. Hoje, vamos estudar o assunto mais interessante do direito constitucional: controle de constitucionalidade das leis. Posso dizer que o controle de constitucionalidade agrupa o conhecimento de toda a matéria já estudada neste curso. Outro aspecto, é que esse assunto exige uma maior capacidade de compreensão do candidato, privilegiando o raciocínio em detrimento da mera capacidade de memorização. E isso é muito bom! E o que é o controle de constitucionalidade? Posso nesta introdução ser bem simplista e afirmar que se trata de um mecanismo de fiscalização da validade de todas as normas do ordenamento jurídico frente às regras estabelecidas pela Constituição. Digamos que ao final da aula, você deve ser capaz de responder: quais são os sistemas, modelos e momento do controle? Quem pode provocar

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o controle de constitucionalidade? Quem tem competência para julgar a constitucionalidade de leis e atos normativos? Quais os efeitos da declaração de inconstitucionalidade? E por aí vai... Veja o conteúdo da Aula de hoje 1 – Noções de Controle de Constitucionalidade

1.1 – Supremacia da Constituição e controle de constitucionalidade 1.2 – Espécies de inconstitucionalidade 1.3 – Sistemas, momentos, modelos e vias de controle 1.4 – Breve histórico evolutivo do controle de constitucionalidade brasileiro 1.5 – Teoria da nulidade e mitigação do princípio da nulidade

2 – Controle difuso 2.1 – Efeitos da decisão 2.2 – Atuação do Senado Federal

3 – Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.1 – Objeto 3.2 – Procedimentos 3.3 – Participação do PGR e do AGU 3.4 – Amicus curiae 3.5 – Efeitos da Decisão 3.6 – Medida Cautelar em ADI

4 – Ação Declaratória de Constitucionalidade 4.1 – Requisitos e objeto 4.2 – Atuação do Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da União 4.3 – Medida Cautelar

5 – Ação direta de inconstitucionalidade por omissão 5.1 – Objeto 5.2 – Medida Cautelar 5.3 – Efeitos da Decisão 5.4 – Atuação do Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da União

6 – Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental 7 – Exercícios de Fixação

Boa aula!

1 - Noções de Controle de Constitucionalidade O controle de constitucionalidade relaciona-se com a fiscalização da conformidade das leis e atos normativos frente à Constituição. Assim, o objetivo do controle de constitucionalidade é exatamente verificar a observância das normas constitucionais por parte das demais leis. Trata-se de verificar a compatibilidade das demais normas frente à Constituição.

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Assim, a princípio, todas as leis são válidas. É dizer: as leis e atos normativos estatais são considerados válidos, constitucionais, até que venham a ser formalmente declarados inconstitucionais. Essa noção relaciona-se com o denominado princípio da presunção de constitucionalidade das leis. Bem, mas por que a lei deve respeito à Constituição? Você já se perguntou por que um conflito entre a Constituição e uma norma qualquer se resolve sempre em detrimento desta última, prevalecendo sempre a primeira? Isso pode parecer óbvio, mas não é. As leis devem respeitar a Constituição exatamente pelo fato de que ela dispõe de superioridade hierárquica sobre todo o ordenamento jurídico. Significa que ela está acima das demais normas, funcionando como fundamento de validade de todas elas. Em suma, podemos dizer: I) a princípio, até que se diga o contrário, toda lei deve ser seguida e respeitada, devido à presunção de legitimidade das leis; II) entretanto, para ser válida de fato, a lei deve estar de acordo com a norma superior (Constituição), sob pena de nulidade.

1.1 - Supremacia da Constituição e controle de constitucionalidade Para o estudo do controle de constitucionalidade, partimos da premissa de que a nossa Constituição é do tipo rígida, o que faz nascer o princípio da supremacia formal da Constituição. Recordar é viver! Se a nossa Constituição é rígida, ela exige um procedimento especial para sua alteração, mais dificultoso do que o das demais normas. Pois se o procedimento de alteração da Constituição for o mesmo das demais leis, uma simples lei poderia alterar a Constituição. Afinal, imagine um sistema de Constituição flexível, em que tanto as normas constitucionais quanto as demais normas exigem apenas maioria simples de votos para sua produção... Nessa hipótese, qualquer lei aprovada após a Constituição que esteja em conflito com ela poderá revogar seus dispositivos. Isso porque nos sistemas de Constituição flexível, não há superioridade formal entre as normas constitucionais e as demais leis. Assim sendo, estas não precisam respeitar aquelas. Objetivamente: a rigidez é que posiciona a nossa Constituição Federal no vértice, no topo do ordenamento jurídico.

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É nos ordenamentos de Constituição rígida que vigora o princípio da supremacia formal da Constituição. E, por conseqüência, todos os atos e manifestações jurídicas, para permanecerem no ordenamento jurídico, devem estar de acordo com a Lei Maior, a Constituição. Daí a necessidade da existência de controle de constitucionalidade, para verificar a compatibilidade desses atos e manifestações com as regras e princípios da Constituição Federal. Lembre-se: supremacia material e supremacia formal não se confundem! Essa superioridade que posiciona a Constituição em um plano superior e exige conformidade das demais normas com seus princípios e suas regras consiste na supremacia formal (supremacia decorrente das formalidades especiais exigidas para a alteração das normas constitucionais). Observe que essa força das normas constitucionais não existe devido ao seu conteúdo. Não é a dignidade do tema tratado que faz nascer essa superioridade. Ela decorre do simples fato de a norma estar dentro da Constituição rígida. É que também existe a supremacia material, aí sim, decorrente da matéria, do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma norma tratar de matéria relevante, substancialmente constitucional. Não há qualquer relação com o processo de elaboração da norma ou com o fato de ela estar dentro ou fora de um documento único. Objetivamente: I) o estabelecimento de um procedimento mais dificultoso para a alteração das normas constitucionais (rigidez) propicia o surgimento de uma supremacia formal da Constituição; II) assim, a Constituição passa a se situar num plano hierárquico superior a todo o ordenamento jurídico, funcionando como fundamento de validade das normas inferiores; III) portanto, só serão válidas as leis que respeitarem a Constituição (tanto no que diz respeito ao conteúdo da lei quanto no que se refere ao seu processo de formação); IV) o instrumento para verificação dessa compatibilidade denomina-se controle de constitucionalidade. Portanto, o que quero que você compreenda é que só faz sentido falar-se em controle de constitucionalidade se a Constituição estiver acima das leis (onde haja supremacia formal constitucional, decorrente da rigidez). Pois, nesse caso, a lei sempre sucumbirá frente à Constituição, seja por incompatibilidade formal ou material. Muito bonito tudo isso, não?

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Bem, antes de continuar, convido-o a resolver esta questão. 1) (CESPE/TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR/SUPORTE ÀS

ATIVIDADES NA ÁREA DE DIREITO/PS/MS/2008) A manutenção da supremacia da CF é o objetivo das ações de fiscalização abstrata de constitucionalidade das leis e deve nortear a interpretação destas.

O objetivo do controle de constitucionalidade é exatamente verificar a observância da Constituição por parte das demais normas. Assim, as ações de fiscalização da constitucionalidade verificam a compatibilidade das demais normas frente à Constituição. Tudo isso decorre da situação de superioridade da Constituição sobre todo o ordenamento jurídico, funcionando como fundamento de validade das normas inferiores. É dizer: todo o ordenamento jurídico deverá estar de acordo com a norma superior (Constituição), sob pena de nulidade. Item certo.

1.2 - Espécies de inconstitucionalidade Podemos considerar que é inconstitucional toda ação ou omissão que ofenda, mesmo que parcialmente, a Constituição. Entretanto, saiba que não poderão ser declaradas inconstitucionais: I) normas constitucionais produzidas pelo poder constituinte originário; II) normas pré-constitucionais (até se admite o controle de constitucionalidade de normas anteriores à Constituição; todavia, esse confronto se resolve pela recepção/revogação da norma, e não pela constitucionalidade/inconstitucionalidade). Terminamos o item anterior mencionando a incompatibilidade formal e a incompatibilidade material. Está clara para você a diferença entre as duas? Bem, a inconstitucionalidade pode originar-se do conteúdo da lei ou do seu processo de formação. A inconstitucionalidade material ocorre quando o conteúdo da lei desrespeita a Constituição (por exemplo, uma lei que permitisse a contratação de servidores sem concurso para cargos efetivos estaria contrariando o art. 37, II). A inconstitucionalidade formal ocorre quando o processo de elaboração da norma contraria as regras estabelecidas pela Constituição. A título meramente exemplificativo, podemos citar as seguintes situações:

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a) uma lei municipal trata de assunto de competência privativa da União – trata-se da inconstitucionalidade formal orgânica; b) uma lei ordinária trata de assunto reservado à lei complementar – trata-se de vício formal objetivo; c) uma lei resultante de iniciativa parlamentar trata de assunto cuja iniciativa privativa compete ao presidente da República – trata-se de vício formal subjetivo, ligado à pessoa. Deixe-me usar uma questão recente para falar um pouco mais esse assunto. 2) (CESPE / ANALISTA ADMINISTRATIVO / DPU / 2010) A

inconstitucionalidade formal se verifica quando a lei ou ato normativo apresenta algum vício em seu processo de formação. O desrespeito a uma regra de iniciativa exclusiva para o desencadeamento do processo legislativo constitui exemplo de vício formal objetivo.

Segundo a doutrina, a inconstitucionalidade formal pode decorrer de: (i) aspectos orgânicos (se for violada a competência legislativa de um ente); (ii) vícios formais propriamente ditos (que podem ser subjetivos – de iniciativa - e objetivos); e (iii) violação a pressupostos objetivos do ato normativo. Quanto a esta última forma (pressupostos objetivos do ato normativo), segundo o prof. Pedro Lenza, ocorre quando não são cumpridos certos pressupostos para a adequada formulação do ato (por exemplo, uma medida provisória que não respeite os pressupostos de relevância e urgência). A questão está errada, pois o vício de iniciativa é vício formal subjetivo (e não objetivo). Item errado.

A inconstitucionalidade pode se dar tanto por ação quanto por omissão. A primeira quando decorre de uma conduta comissiva, positiva. A última quando o Poder Público deixa de atuar em situações em que a Constituição obriga determinada medida (por exemplo, quando o Congresso deixa de elaborar uma lei, cuja edição era determinada pela Constituição). A inconstitucionalidade por conduta omissiva geralmente ocorre diante de uma norma constitucional de eficácia limitada, e apenas nos casos em que a Constituição exige (não se trata de mera faculdade) a produção de uma lei para tornar efetivo determinado direito. E qual instrumento (já estudado no início desse curso) funcionaria como mecanismo hábil para o controle da inconstitucionalidade por omissão, diante de casos concretos?

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Se você tiver dúvida e quiser conferir, responda lá no fórum, para que eu comente... A inconstitucionalidade pode ser ainda originária ou superveniente. A inconstitucionalidade originária ocorre quando a norma nasce inconstitucional, frente à Constituição de sua época. Já a inconstitucionalidade superveniente ocorre quando uma norma é válida frente à Constituição de sua época. Entretanto, revogada a Constituição antiga é promulgada uma nova Constituição tratando aquele assunto de forma diferente. Assim, essa norma passa a desrespeitar o novo regramento constitucional daquele tema. Assim, imagine que uma Constituição admita a tortura e o Congresso edite a lei “A” regulamentando esse assunto. Essa lei, a princípio, é válida. Entretanto, se uma nova Constituição é promulgada suprimindo a possibilidade de tortura, aquela lei “A” estaria incompatível com a nova Constituição, por fator superveniente (a mudança se deu após a edição da norma). Mas, no Brasil, não se admite a inconstitucionalidade superveniente. Assim, não faça confusão: nesse exemplo, a lei “A” seria revogada pela nova Constituição. Porque a incompatibilidade entre uma lei e a Constituição superveniente se resolve pela revogação daquela, e não pela declaração de inconstitucionalidade. Objetivamente: não há inconstitucionalidade superveniente no Brasil.

1.3 – Sistemas, momentos, modelos e vias de controle Apresentarei neste item as diversas classificações existentes para o controle de constitucionalidade. Assim, veremos os sistemas, momentos, modelos e vias de controle. Vimos que o controle de constitucionalidade origina-se na fiscalização da conformidade das leis e atos normativos com a Constituição. Logo de início, você tem de ter em mente que esse controle de constitucionalidade nem sempre é atribuído ao Poder Judiciário (chamado sistema jurisdicional). Na verdade, há ainda os chamados sistemas de controle político e misto. Trata-se de diferentes sistemas de controle. O mais óbvio é o controle jurisdicional, em que a Constituição outorga competência ao Judiciário para realizar o controle de constitucionalidade das leis. Segundo a doutrina, atualmente, a maioria das Constituições adota esse modelo, incluindo a brasileira. Já o sistema de controle político ocorre quando essa competência é atribuída a órgão externo ao Judiciário, de natureza política (por

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exemplo, quando, na Europa do século passado, o controle era função do próprio Poder Legislativo). Ocorre o controle misto quando a Constituição submete determinadas categorias de leis ao controle político e outras ao controle jurisdicional. Bem, apesar de, em regra, no Brasil, o controle de constitucionalidade ser função do Judiciário (sistema jurisdicional), você deve ter em mente que convivemos com exemplos de controle não-jurisdicional, em que, de forma excepcional, os poderes Executivo e Legislativo exercem controle de constitucionalidade. No que se refere ao Poder Legislativo, o controle de constitucionalidade é exercido: a) na apreciação preventiva da Comissão de Constituição e Justiça – CCJ das proposições legislativas; b) na sustação dos atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa (art. 49, V); e c) na apreciação das medidas provisórias. O Poder Executivo também realiza controle de constitucionalidade ao: a) vetar projetos de lei inconstitucionais (veto jurídico, nos termos do §1° do art. 66 da CF/88); b) determinar aos órgãos a ele subordinados que deixem de aplicar determinada lei por considerá-la inconstitucional; e c) determinar a intervenção a fim de restabelecer a obediência à Constituição Federal. Sintetizando:

Outro aspecto importante que você já deve ter observado: o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro inclui manifestações não só repressivas, mas também preventivas (como o veto jurídico do Presidente da República e a atuação da Comissão de Constituição e Justiça das Casas Legislativas).

exercido por órgãos externos ao Poder Judiciário Controle não-jurisdicional

Legislativo

Executivo Veto do Poder Executivo (art. 66, §1°)

Inaplicação da lei pelo chefe do executivo

Processo de intervenção

CCJ

Veto legislativo (art. 49, V)

Apreciação de medidas provisórias

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Assim, enquanto o controle repressivo tem por finalidade afastar a aplicação de uma lei ou retirá-la do ordenamento jurídico, o controle preventivo visa a impedir a entrada em vigor de uma norma inconstitucional. Um exemplo de controle preventivo: se um projeto de lei inconstitucional estiver tramitando no Congresso, pode um parlamentar impetrar mandado de segurança para assegurar seu direito líquido e certo de não participar da elaboração de uma norma inconstitucional. Nesse caso, poderá o STF sustar a tramitação daquele projeto de lei (repare que se trata de um controle preventivo exercido pelo Poder Judiciário). Quanto ao modelo, o controle de constitucionalidade pode se dar: (i) de forma difusa ou (ii) de forma concentrada. De forma difusa, o controle é atribuição de todos os membros do judiciário. Esse modelo, também conhecido como “aberto”, é baseado no controle de constitucionalidade dos Estados Unidos da América. De forma concentrada, a atribuição de fiscalizar a constitucionalidade é restrita ao órgão de cúpula do Poder Judiciário. O modelo concentrado, ou reservado, originou-se na Áustria, sob a influência do jurista Hans Kelsen. No Brasil, esses modelos são combinados, no sentido de que há controle de constitucionalidade difuso, mas também controle de constitucionalidade em sua forma concentrada, ações, desde o princípio, de competência do órgão de cúpula do Judiciário. Uma classificação importante para entender o controle de constitucionalidade diz respeito às via de controle. Uma lei pode ser impugnada perante o Poder Judiciário em concreto (diante de ofensa a direito, em determinado caso concreto submetido à apreciação do Poder Judiciário), ou em abstrato (quando a lei é impugnada “em tese”, sem vinculação a um caso concreto). E qual a diferença? No controle concreto (via incidental ou de exceção), qualquer pessoa prejudicada por uma lei pode requerer, em qualquer processo judicial concreto submetido à apreciação do Poder Judiciário, perante qualquer juiz ou tribunal, a declaração da inconstitucionalidade dessa lei a fim de afastar a sua aplicação (com efeitos restritos a esse caso concreto - eficácia inter partes).

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Controle concreto (via incidental ou de exceção) I) Qualquer prejudicado é legitimado ativo II) Qualquer juiz ou tribunal está apto a deixar de aplicar a lei naquele caso concreto III) Não há ação específica, pois ocorre em qualquer processo submetido à apreciação do Judiciário IV) eficácia inter partes

No controle abstrato (via principal ou de ação direta), só é dado a determinados legitimados argüir o órgão de cúpula do Judiciário, a respeito da constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei. Nesse caso, a análise se dá em tese, independentemente de um problema concreto, com o fim de proteger a harmonia do ordenamento jurídico. Esse julgamento ocorre mediante uma ação especial, que trará efeitos para todos (eficácia geral ou erga omnes).

Controle abstrato (via principal ou de ação direta) I) Os legitimados ativos se restringem aos indicados na CF/88 (art. 103) II) Somente os órgãos de cúpula do Judiciário julgam essas ações III) Há ações específicas: ADI, ADC, ADO e ADPF IV) eficácia geral ou erga omnes

Repare que o nome via principal (via de ação ou controle abstrato) decorre exatamente do fato de que nessa ação não há lide: o pedido principal é precisamente a declaração de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade da lei. Ao contrário, na via incidental o pedido principal é a satisfação de um direito do impetrante, e a questão de inconstitucionalidade surge apenas incidentalmente no julgamento do caso. São vários os aspectos, mas o esquema abaixo pode te auxiliar a memorizar esses detalhes. Sintetizando:

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Vamos ver algumas questões. 3) (CESPE/AUDITOR INTERNO/AUGE/MG/2008) No controle

incidental, os juízes e tribunais só podem se manifestar sobre a inconstitucionalidade de uma lei, deixando de aplicá-la a casos concretos, se, antes, tiverem sido provocados por uma das partes.

Na verdade, o controle abstrato se inicia a partir de provocação de um dos legitimados da Constituição Federal (CF, art. 103). No caso do controle incidental, o próprio magistrado ou tribunal poderá, de ofício, sem provocação, afastar a aplicação de uma lei por considerá-la inconstitucional. Item errado. 4) (CESPE/AUDITOR INTERNO/AUGE/MG/2008) No Brasil, o controle

exercido pelo Poder Judiciário sobre a constitucionalidade das leis e dos atos normativos, ocorre tanto pela via difusa quanto pela via concentrada.

O controle de constitucionalidade pode se dar de forma difusa ou concentrada. No Brasil, esses modelos são combinados, no sentido de que há controle de constitucionalidade difuso, mas também controle de constitucionalidade em sua forma concentrada (ações, desde o princípio, de competência do órgão de cúpula do Judiciário). Item certo. 5) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2008) É admissível o

controle de constitucionalidade de emenda constitucional antes mesmo de ela ser votada, no caso de a proposta atentar contra cláusula pétrea, sendo o referido controle feito por meio de mandado de segurança, que deve ser impetrado exclusivamente por parlamentar federal.

De fato é admissível o controle de constitucionalidade de emenda constitucional, mesmo enquanto ela ainda é um projeto (PEC). Trata-se

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de controle concreto, a ser feito por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar no STF. Item certo.

O aluno que conhece o controle de constitucionalidade já percebeu que muitas vezes os termos controle abstrato e concentrado são tratados como sinônimos (até mesmo pelas bancas examinadoras). O mesmo ocorre com as expressões controle difuso e incidental. Repare que não se trata exatamente da mesma coisa. É que, de fato, regra geral, o controle incidental é realizado no modelo difuso, enquanto a fiscalização abstrata é exercida de forma concentrada. Entretanto, existem hipóteses em que o controle é concentrado no STF, mas ele se dá diante de um problema concreto. Exemplo: mandado de segurança impetrado por parlamentar contra projeto de lei flagrantemente inconstitucional. Trata-se de um caso concreto (direito subjetivo do parlamentar) exercido de forma concentrada no STF. Bem, antes de fazermos algumas questões relacionadas com esse assunto, vale a pena chamar sua atenção para o fato de que você tem de separar muito bem o controle incidental, diante de casos concretos, do controle abstrato, em que se discute a lei em tese, como pedido principal da ação. Ou seja, no controle abstrato, o impetrante não tem um interesse próprio na causa, ele aciona o órgão de cúpula do Poder Judiciário para dizer se determinada lei é ou não válida perante o ordenamento jurídico. Por fim, lembre-se de que o controle abstrato ocorre em duas vertentes. A primeira visa a analisar a compatibilidade da norma frente à Constituição Federal, em que o controle ocorre exclusivamente perante o STF (nenhum outro órgão realiza controle abstrato frente à Constituição Federal). Em outra vertente, há o controle em âmbito estadual, em que se analisa a compatibilidade da norma frente à Constituição Estadual. Nesse caso, o controle abstrato ocorre exclusivamente perante o Tribunal de Justiça local, uma vez que é ele o guardião, quem diz a última palavra sobre a Constituição Estadual. Tendo esses aspectos bem compartimentados na sua cabeça, você já terá dado um grande passo para entender todo o controle de constitucionalidade. E o mais importante: um grande passo para acertar as questões sobre esse assunto. Falando nisso, posso te dizer que ao acertar uma única questão mediana de controle de constitucionalidade você passa na frente de milhares de candidatos que não conseguem compreender muito bem esse assunto. Uma questão tornará mais clara essa distinção.

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6) (CESPE/AUDITOR INTERNO/AUGE/MG/2008) Compete ao tribunal de justiça de cada estado-membro exercer o controle concentrado da constitucionalidade das leis e dos atos normativos estaduais e municipais perante a CF.

Em âmbito federal (tendo a CF/88 por parâmetro), a jurisdição constitucional concentrada se dá apenas no Supremo Tribunal Federal. Na verdade, temos o controle concentrado no Tribunal de Justiça apenas na esfera estadual (tendo a Constituição Estadual como parâmetro). Portanto, fique atento! São dois tipos distintos de controle abstrato no Brasil: um perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e outro perante os Tribunais de Justiça (TJ). O primeiro protegendo a supremacia da CF/88, este último garantindo a supremacia da Constituição Estadual. E é relevante que você cuide de separá-los bem ao estudar esse assunto (e na prova também). Objetivamente: I) STF → controle abstrato em face da Constituição Federal II) TJ → controle abstrato em face da Constituição Estadual Item errado.

Uma última pergunta, para dar um nó geral na sua cabeça... podemos concluir que o TJ não realiza controle de constitucionalidade tendo a Constituição Federal como parâmetro? Não, não podemos. Por quê? Porque, incidentalmente, no controle difuso, poderá o TJ desempenhar o controle concreto das leis em face diretamente da Constituição Federal. Vamos fazer mais algumas questões? 7) (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2009) O ordenamento jurídico

nacional admite o controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas produzidas tanto pelo poder constituinte originário, quanto pelo derivado.

Como vimos, as normas constitucionais originárias são elaboradas pelo poder constituinte originário, que tem como característica ser ilimitado (não se sujeita a limites estabelecidos pelo ordenamento anterior) e incondicionado (não deve respeito a uma forma pré-estabelecida). Ora, se todas as normas constitucionais originárias foram elaboradas pelo poder constituinte originário, não há hierarquia entre elas, com o que não há que se falar em controle de constitucionalidade de umas em face de outras. Assim, normas constitucionais originárias não são passíveis de controle de constitucionalidade, em hipótese alguma.

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Por outro lado, as normas constitucionais derivadas, resultantes de emendas à Constituição, podem ser objeto de controle de constitucionalidade. É que, para serem válidas, as emendas à Constituição devem respeitar as regras e limitações – circunstanciais, processuais e materiais - do art. 60 da Constituição Federal. Item errado. 8) (CESPE/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/NATAL/2008) No Brasil,

o controle de constitucionalidade é feito apenas de modo repressivo. Como comentado, no Brasil há também o controle preventivo. Esse controle tem por finalidade evitar a produção de uma lei inconstitucional. Item errado. 9) (CESPE/ANALISTA DE GESTÃO CORPORATIVA:

ADVOGADO/HEMOBRÁS/2008) O controle de constitucionalidade preventivo pode ser exercido pelas Comissões de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e pelo veto do presidente da República.

E aí, exercício do controle de constitucionalidade é função exclusiva do Poder Judiciário? Claro que não. De fato, ele pode ser exercido pela CCJ (ao se rejeitar normas inconstitucionais) e pelo Presidente da República (ao vetar projetos de lei inconstitucionais). Item certo. 10) (CESPE/PROCURADOR/AGU/2010) De acordo com entendimento

do STF, o controle jurisdicional prévio ou preventivo de constitucionalidade sobre projeto de lei ainda em trâmite somente pode ocorrer de modo incidental, na via de exceção ou defesa.

De fato, o controle preventivo só é exercido de forma incidental. Pois as leis devem estar prontas, acabadas, para que possam ser questionadas em sede de controle abstrato. Item certo. 11) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) O STF admite o controle

preventivo de constitucionalidade sobre projeto de emenda constitucional em trâmite perante o Poder Legislativo federal, mediante o ajuizamento de ADI ao STF.

Para serem aprovadas, as emendas à Constituição devem estar de acordo com o art. 60 da CF/88. Em especial, de acordo com as cláusulas pétreas previstas no art. 60, § 4°. Pois bem, poderia uma proposta de emenda constitucional (PEC) ser questionada quanto à sua constitucionalidade, caso tendesse a abolir um direito individual (suprimindo a garantia do hábeas corpus, por exemplo)?

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Sim, poderia, desde que no âmbito do controle incidental de constitucionalidade por meio de mandado de segurança interposto no Supremo Tribunal Federal, por congressista da Casa Legislativa em que a PEC estiver tramitando. O que não se admite é a impetração de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) tendo por objeto uma mera proposta de emenda. Logo, errada a questão. E se essa PEC não fosse impugnada, fosse aprovada e passasse a integrar a Constituição; poderia a norma resultante ser questionada no Supremo? Sim, poderia. Tanto incidentalmente, quanto por meio de ADI. Guarde essas diferenças. Item errado. 12) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2009) No controle de

constitucionalidade político, a atividade de controle é desempenhada por um órgão integrante da estrutura do Poder Judiciário, no entanto a fundamentação das decisões tem por conteúdo uma solução ao caso concreto, mesmo sem uma fundamentação jurídica.

O controle de constitucionalidade do tipo político ocorre quando essa competência é atribuída a órgão externo ao Judiciário, de natureza política. É jurisdicional o controle de constitucionalidade em que se outorga competência ao Judiciário para a fiscalização das leis frente à Constituição. Item errado. 13) (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2009) É possível a declaração de

inconstitucionalidade de norma editada antes da atual Constituição e que tenha desrespeitado, sob o ponto de vista formal, a Constituição em vigor na época de sua edição, ainda que referida lei seja materialmente compatível com a vigente CF.

Algumas questões desse assunto devem ser resolvidas observando a divisão temporal dos eventos. Vejamos essa assertiva do Cespe com um exemplo. A situação que ela apresenta é como se estivéssemos hoje, em 2010, analisando a compatibilidade formal de uma lei editada em 1970 com a Constituição de sua época (Constituição de 1969). O controle de constitucionalidade é muito rico! Há vários aspectos a serem considerados apenas com esse pequeno exemplo. Vou mencionálos como forma de revisão... Vamos lá? I) Como vimos, a inconstitucionalidade pode ser material ou formal. No caso da questão o vício na norma decorre do desrespeito à forma (por exemplo, uma lei ordinária que disponha sobre assunto reservado à lei complementar, segundo a regra da Constituição de sua época).

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II) No Brasil, não há a chamada inconstitucionalidade superveniente. É dizer, a inconstitucionalidade de uma lei só pode ser verificada frente à Constituição de sua época. Alguns alunos podem pensar: “mas eu aprendi que a ADPF serve também para verificar a compatibilidade de uma norma anterior à CF/88 frente à própria Constituição de 1988”... Se você pensou isso, você está certo! É isso mesmo! Mas esse confronto se resolve pela recepção (se a lei antiga for compatível com a CF/88) ou revogação (se a lei antiga for incompatível com a CF/88), e não pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade. III) De qualquer forma, é possível analisar hoje se uma lei é compatível com a Constituição de sua época, a fim de se verificar se naquele tempo ela tinha um vício de inconstitucionalidade. Entretanto, essa análise se dará apenas no âmbito do controle concreto, incidentalmente. IV) Observe, por fim, que para se analisar a compatibilidade de uma lei frente à Constituição de sua época, tanto os aspectos materiais quanto os formais são analisados. Ao contrário, na análise de compatibilidade entre uma lei pré-constitucional e a Constituição atual, só interessam os aspectos materiais. Assim, é cabível a avaliação da compatibilidade do direito pré-constitucional tanto em confronto com a Constituição de sua época, como também em confronto com a Constituição atual. No nosso exemplo, a lei de 1970 poderia ser examinada pelo Poder Judiciário, hoje, tanto em confronto com a Constituição de sua época (CF/1969), quanto em confronto com a Constituição vigente hoje (CF/1988). No confronto com a Constituição de 1969, o Poder Judiciário examinará as compatibilidades material e formal, decidindo pela constitucionalidade ou pela inconstitucionalidade da lei. Como comentado, esse controle poderia se dar apenas no controle incidental, diante de casos concretos. No confronto com a Constituição de 1988, o Poder Judiciário examinará somente a compatibilidade material, decidindo pela recepção ou revogação. Esse controle pode se dar não só em sede de controle concreto, mas também por meio de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Em suma, independentemente da compatibilidade material com a Constituição atual, aquela norma pré-constitucional poderá sim ser declarada inconstitucional hoje frente à Constituição de sua época, desde que no controle concreto. Item certo.

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1.4 – Breve histórico evolutivo do controle de constitucionalidade brasileiro Muitos alunos não gostam de estudar controle de constitucionalidade, devido aos inúmeros detalhes envolvidos. É importante mencionar que a Constituição de 1988 é, em parte, culpada disso, tendo em vista que enriqueceu significativamente o controle de constitucionalidade brasileiro. Mas, vejamos, de forma esquemática, como se deu a evolução do controle no Brasil, desde a sua criação.

14) (CESPE/ANALISTA ADMINISTRATIVO/DPU/2010) O sistema jurisdicional instituído com a Constituição Federal de 1891, influenciado pelo constitucionalismo norteamericano, acolheu o critério de controle de constitucionalidade difuso, ou seja, por via de exceção, que permanece até a Constituição vigente. No entanto, nas constituições posteriores à de 1891, foram introduzidos novos elementos e, aos poucos, o sistema se afastou do puro critério difuso, com a adoção do método concentrado.

De fato, o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro inicia-se com o controle difuso, inspirado do sistema norteamericano. Posteriormente, cresce a participação do controle concentrado no nosso ordenamento, especial com a Constituição de 1988, que o fortalece de forma significativa. Item certo.

1967/1969

1891

1934

1937

1946

1988

criou o controle difuso

criou (i)a representação interventiva; (ii) a reserva de plenário; e (iii) a competência do Senado Federal para suspender a execução da lei definitivamente declarada inconstitucional pelo STF no controle difuso

criou a possibilidade de o Presidente da República submeter ao Parlamento a decisão do Judiciário que havia declarado a inconstitucionalidade da lei

(i) criou a ADI de leis federais e estaduais; e (ii) estabeleceu a possibilidade de controle concentrado nos Estados-membros

(i) suprimiu o controle concentrado nos estados; e (ii) criou a representação interventiva estadual, para fins de intervenção do Estado em Município.

(i) ampliou a legitimação ativa do controle abstrato; (ii) criou o Mandado de Injunção e a a ADO ; (iii) criou a ADPF; (iv) criou a ADC (EC nº 3/1993 ); e (v) criou a súmula vinculante (EC nº 45/2004)

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1.5 – Teoria da nulidade e mitigação do princípio da nulidade Tendo em vista o princípio da supremacia da Constituição, a regra é a aplicação do princípio da nulidade da lei declarada inconstitucional. Isso significa que, dada a superioridade da Constituição, uma lei que contrarie a Carta Maior é nula desde a sua edição, não podendo produzir efeitos (ou seja, a declaração de inconstitucionalidade de uma lei produziria efeitos retroativos, ex tunc, como se atestasse que aquela norma nunca fez parte do ordenamento jurídico). Entretanto, como comentado, essa é a regra. Na realidade, haverá situações concretas em que essa declaração de nulidade causará transtornos imensos. Imagine que uma lei criasse um órgão público, mas sofresse vícios de iniciativa que resultam na sua inconstitucionalidade. Agora, imagine que a declaração de inconstitucionalidade ocorresse apenas anos após a criação desse órgão. Nessa situação hipotética, se a lei fosse declarada nula desde a sua origem, resolveríamos o problema jurídico, mas estaríamos diante de um problema real: todos os atos praticados pelo órgão seriam nulos. Nessa situação hipotética extrema, se aquele órgão tivesse firmado contratos, emitido certidões, contratado servidores, nada disso teria validade. Os contratos, por exemplo, seriam desfeitos. E os servidores estariam na rua... Assim, em homenagem aos princípios da segurança jurídica, do interesse social e da boa fé, tem-se admitido a modulação dos efeitos temporais da decisão de inconstitucionalidade. Ou seja, o Supremo admite que a lei produza efeitos, estabelecendo uma data a partir da qual aquela lei passa a ser inválida. Isso permite uma adequação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade à realidade fática. Com isso, podemos considerar que a jurisprudência desenvolveu uma flexibilização da rigidez da teoria da nulidade. Esse entendimento já está positivado pelo art. 27 da Lei 9.868/99: “Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.” Em suma, por razões de segurança jurídica ou diante de relevante interesse social, poderá o STF, ao proclamar a inconstitucionalidade, desde que por deliberação de dois terços dos seus membros:

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I) restringir os efeitos da sua decisão → isso significa que poderia o Supremo afastar determinados efeitos da sua declaração a determinados atos ou situações; II) outorgar efeitos ex nunc (dali pra frente) à sua decisão → isso significa afastar a retroatividade de sua manifestação, preservando atos já praticados com base naquela norma; por conseqüência a declaração surtiria efeitos apenas dali pra frente; III) determinar outro momento para o início da eficácia → isso significa que poderá o STF entender que o melhor momento para o início da eficácia da sua decisão não é a data da publicação da lei (ex tunc) nem a data da declaração da inconstitucionalidade (ex nunc); assim fixaria um outro momento para o início da produção de efeitos daquela declaração de inconstitucionalidade. Um clássico exemplo da aplicação dessa flexibilização no âmbito do controle difuso foi o caso do município de Mira Estrela (SP), em que se considerou contrária à Constituição Federal a lei orgânica municipal, que previa 11 vereadores em um município de apenas 2.651 habitantes (entendeu-se que o correto seria a previsão do mínimo de 9 vereadores). Na época do julgamento, vários atos já haviam sido realizados com a composição de 11 vereadores. A aplicação pura e simples da teoria de nulidade nesse caso acarretaria a nulidade de todos os atos produzidos pelo legislativo municipal desde então. Imagine o caos! Considerando o princípio da segurança jurídica, admitiu-se que se tratava de situação excepcional, em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevaleceria então o interesse público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro (ex nunc) à declaração incidental de inconstitucionalidade (RE 197.917/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento 06/06/02). Chega de bla bla bla... O que você tem de saber então é: I) a regra é a declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex tunc; II) entretanto, o Supremo poderá, excepcionalmente, dar a ela efeitos ex nunc, ou mesmo estabelecer um outro momento para o início da produção de efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Daí se dizer que é válida (em caráter excepcional) a declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia de nulidade da lei.

2 - Controle difuso Nesse item passamos a analisar o funcionamento do controle difuso de constitucionalidade realizado de forma incidental, diante de casos concretos.

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Como vimos, o controle difuso é atribuição de todos os membros do judiciário. Esse modelo, também conhecido como “aberto”, é baseado no controle de constitucionalidade dos Estados Unidos da América. Ou seja, o que o caracteriza é o fato de que qualquer componente do Poder Judiciário, juiz ou tribunal, poderá declarar a inconstitucionalidade de uma norma, diante de um caso concreto. E ele nem precisa ser provocado a isso. É dizer, diante de um caso concreto, mesmo que não seja questionada a inconstitucionalidade da lei pelas partes, poderá o magistrado agir de ofício, afastando a aplicação da lei naquele caso concreto. De qualquer forma, você deve saber que essas decisões proferidas por esses juízes e tribunais do Poder Judiciário não serão capazes de extinguir a norma do ordenamento jurídico, pois elas valem apenas naquele caso que eles estão decidindo. Ademais, no controle difuso, as decisões dos órgãos inferiores do Judiciário não serão definitivas, pois poderão ser levadas ao Supremo Tribunal Federal por meio de recurso extraordinário, como veremos mais à frente. Agora me diga: quais são as ações do controle difuso? Quem entende muito de controle de constitucionalidade já sacou: não há ação específica para o controle difuso. O controle incidental poderá ocorrer em meio a qualquer processo judicial, independentemente da sua natureza ou espécie. Assim, mandados de segurança, habeas corpus, ação civil pública etc. todas essas ações poderão ser utilizadas para o exercício do controle de constitucionalidade na via incidental, diante de casos concretos. Agora, veja como o controle de constitucionalidade é cheio de detalhes interessantes. Vimos que qualquer juiz que esteja decidindo um caso concreto poderá, monocraticamente, deixar de aplicar a lei por entendê-la inconstitucional. Não há necessidade de submissão da questão ao tribunal a que se vincula (observe que se trata da via difusa). Entretanto, no caso dos tribunais, há uma restrição às decisões do controle de constitucionalidade. É que eles se submetem à chamada reserva de plenário, regra segundo a qual somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público (CF, art. 97). Essa regra vincula qualquer tribunal (incluindo o STF). Sobre isso, já há até uma Súmula Vinculante:

“Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a

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inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.” (Súmula Vinculante n° 10)

Mas guarde os seguintes detalhes sobre a reserva de plenário: I) se já houver decisão do plenário, do órgão especial ou mesmo do STF sobre a inconstitucionalidade da lei cria-se, digamos, um precedente; e não precisará mais o tribunal respeitar a reserva de plenário, sendo possível que seja apenas seguida aquela decisão anterior (é dizer, a reserva de plenário é aplicável apenas à primeira análise sobre a inconstitucionalidade de uma norma); II) a reserva de plenário é regra aplicável à declaração de inconstitucionalidade, ou seja, não obriga as decisões sobre a recepção ou revogação do direito pré-constitucional. Por fim, vale comentar que, segundo o STF, os Tribunais de Contas, no exercício de suas atribuições, podem apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público diante de casos concretos. Ressalte-se que a cláusula de reserva de plenário também se aplica às cortes de contas, que só poderão declarar a inconstitucionalidade de uma norma pelo voto da maioria absoluta de seus membros.

2.1 – Efeitos da decisão No controle incidental, o que se busca é o afastamento da lei no caso concreto em questão. Ou seja, a argüição de inconstitucionalidade é um mero incidente, uma questão à parte do pedido principal do autor da ação. Afinal, o que ele deseja é a satisfação de um determinado pleito, e não a inconstitucionalidade da norma em si. Assim, a decisão tem efeitos restritos às partes daquele processo (eficácia inter partes). Portanto, a lei não deixa de existir, ela continua válida e regulando as demais situações que se enquadrem em seus comandos. Isso significa que todas as pessoas que desejem afastar a aplicação da lei inconstitucional diante do seu caso concreto deverão acionar o Judiciário, a fim de garantir sua pretensão. Por outro lado, quanto ao aspecto temporal, o controle difuso, como regra, apresenta efeitos ex tunc. Ou seja, a decisão retroage. De qualquer forma, mesmo no controle difuso, admite-se a chamada modulação dos efeitos temporais, em que se atribui à decisão efeitos ex nunc (prospectivos ou pro futuro). Nesse sentido, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por dois terços de seus membros, decidir que aquela declaração só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

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Vamos resolver algumas questões sobre esse e outros aspectos... 15) (CESPE/JUIZ/TRF 5.a Região/2009) No controle difuso, a atribuição

de efeitos prospectivos à declaração de inconstitucionalidade é proibida pelo STF.

No controle difuso, os efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade são inter partes e ex tunc. Todavia, mesmo no controle difuso é cabível a chamada modulação dos efeitos temporais, em que se atribui à decisão efeitos ex nunc (prospectivos ou pro futuro). Portanto, errada a questão. Item errado. 16) (CESPE/AUDITOR INTERNO/AUGE/MG/2008) Os tribunais

somente podem declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público pelo voto unânime de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial.

Qualquer juiz pode declarar a inconstitucionalidade das leis de forma incidental, afastando a sua aplicação ao caso concreto. Já os tribunais submetem-se à chamada reserva de plenário, pois somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público (CF, art. 97). A questão está errada, pois não é necessária unanimidade, apen-as maioria absoluta dos membros ou dos membros do órgão especial. Item errado. 17) (CESPE/ANALISTA DE GESTÃO CORPORATIVA:

ADVOGADO/HEMOBRÁS/2008) No ordenamento jurídico brasileiro, existe a possibilidade do Poder Legislativo editar lei para declarar a inconstitucionalidade de lei anterior.

De acordo com o STF, o Poder Legislativo não dispõe de competência para utilizar uma lei a fim de declarar a inconstitucionalidade de outra norma pretérita de sua autoria. Havendo uma lei nesse sentido, ela terá por efeito a mera revogação da lei pretérita. Veja que a diferença é que, enquanto a declaração de inconstitucionalidade tem efeitos retroativos (ex tunc), a revogação tem efeitos prospectivos ou pro futuro, dali em diante (ex nunc). Item errado. 18) (CESPE/AUDITOR FISCAL DA RECEITA

ESTADUAL/SEFAZ/ES/2008) Segundo o entendimento do STF, o Tribunal de Contas da União, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público.

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De fato, de acordo com a Súmula 347 do STF, o TCU pode, no exercício de suas atribuições, apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público. Essa competência se estende também aos demais tribunais de contas. Item certo. 19) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2009) Segundo entendimento do

STF, excepcionalmente, é possível a modulação dos efeitos das decisões proferidas em sede de controle difuso de constitucionalidade, o que representa uma flexibilização do princípio da nulidade no controle de constitucionalidade.

Ótima assertiva! É isso mesmo. Tendo em vista o princípio da supremacia da Constituição, a regra é a aplicação do princípio da nulidade da lei declarada inconstitucional (ou seja, a declaração de inconstitucionalidade produziria efeitos retroativos, ex tunc). Entretanto, em homenagem aos princípios da segurança jurídica, do interesse social e da boa fé, tem-se admitido a modulação dos efeitos temporais da decisão, o que permite uma adequação dos seus efeitos à realidade fática. Com isso, podemos considerar que a jurisprudência desenvolveu uma flexibilização da rigidez da teoria da nulidade (entendimento positivado pelo art. 27 da Lei 9.868/99, já apresentado aqui). E, como comentando, essa flexibilização poderá ser realizada pelo STF tanto no controle abstrato, quanto no controle incidental. Item certo.

Agora, eu gostaria de mencionar dois aspectos relevantes (e avançados!) do controle de constitucionalidade difuso. Um se refere ao recurso extraordinário (já apresentado na aula sobre o Poder Judiciário) e o outro trata da simultaneidade de ações de representação de inconstitucionalidade em âmbito estadual e em âmbito federal. Como eu comentei em aula anterior, o recurso extraordinário é o meio hábil a conduzir ao STF controvérsia judicial que esteja sendo suscitada em instâncias inferiores. Entretanto, o que você precisa saber também é que, na hipótese de ajuizamento de ADI perante o TJ local com a alegação de ofensa a dispositivo da Constituição Estadual que reproduz norma da Constituição Federal de observância obrigatória pelos estados, contra a decisão do TJ é cabível recurso extraordinário para o STF. Não entendeu nada? Vejamos um exemplo então.

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Uma lei municipal está sendo questionada em sede de ADI perante o TJ local por ofensa ao art. Y da Constituição Estadual. Ocorre que esse art. Y é uma norma de reprodução obrigatória de dispositivo da Constituição Federal (vários dispositivos da CF são de reprodução obrigatória pela Constituição do Estado). Nessa hipótese, o TJ apreciará a ADI, firmando sua posição sobre a validade (ou não) da lei. Então, contra essa decisão, será cabível a interposição de recurso extraordinário perante o STF. Vale destacar que a decisão do STF nesse recurso extraordinário contra decisão do TJ em ADI terá eficácia geral (erga omnes), por se tratar de controle abstrato. Em suma, admite-se recurso extraordinário para o STF contra decisão do TJ no controle abstrato sempre que a norma da Constituição Estadual eleita como parâmetro para a declaração da inconstitucionalidade da norma estadual ou municipal impugnada for de reprodução obrigatória da Constituição Federal. A decisão do STF nesse recurso extraordinário é dotada de eficácia erga omnes. Veja como esta questão cobrou o assunto. (CESPE/PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO/TCU/2004) Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do Supremo Tribunal Federal, por seu Tribunal Pleno, na conformidade da ata de julgamento, por maioria de votos, em conhecer do recurso extraordinário e lhe dar provimento para declarar a inconstitucionalidade do art. 25 da Lei n.º XYZ, do município de São Paulo. 20) (CESPE/PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO/TCU/2004)

Sempre que o parâmetro de controle utilizado em julgamento de representação em tese de inconstitucionalidade de lei municipal for norma constitucional estadual de absorção obrigatória do modelo constitucional federal, haverá possibilidade de recurso ao STF, como na hipótese descrita.

É isso mesmo. Admite-se recurso extraordinário para o STF contra decisão do TJ no controle abstrato sempre que a norma da Constituição Estadual eleita como parâmetro para a declaração da inconstitucionalidade da norma estadual ou municipal impugnada for de reprodução obrigatória da Constituição Federal. A decisão do STF nesse recurso extraordinário é dotada de eficácia erga omnes. Item certo. 21) (CESPE / PROCURADOR / MP / ES / 2010) Segundo jurisprudência

majoritária do STF, a decisão proferida em sede de recurso extraordinário interposto contra decisão de mérito proferida em controle abstrato de norma estadual de reprodução obrigatória da CF possui eficácia erga omnes.

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Exato! Como comentado, dispõe de eficácia erga omnes a decisão do STF em um recurso extraordinário interposto contra decisão de mérito em controle abstrato estadual cujo parâmetro escolhido seja norma estadual de reprodução obrigatória de norma da CF/88. Item certo.

Já que estamos falando de situações hipotéticas o que acontece se forem propostas duas ADIs simultaneamente, contra a mesma norma estadual, uma perante o STF e outra perante o TJ? Suponha que a lei A (norma estadual) seja impugnada em sede de ADI no TJ (frente à Constituição estadual) e que, simultaneamente, essa mesma norma venha a ser impugnada em sede de ADI no STF (frente à Constituição Federal). Veja que interessante! Nesse caso, o TJ suspenderá o julgamento da ação até que o STF se posicione. Se o STF declarar inconstitucional a lei, ela estará fora do mundo jurídico, não havendo mais o que analisar o TJ, estando, portanto, prejudicada a ação em âmbito estadual. Por outro lado, caso o STF a declare constitucional, o TJ dará continuidade à ação, podendo posicionar-se pela constitucionalidade ou pela inconstitucionalidade, tendo como parâmetro dispositivo específico (autônomo) da Constituição Estadual. Isso porque a lei pode não desrespeitar a Constituição Federal (daí o STF ter decidido pela sua constitucionalidade), mas contrariar Constituição Estadual. Situação na qual caberá ao TJ a declaração de sua inconstitucionalidade. 22) (CESPE/PROCURADOR/MP/ES/2010) Segundo jurisprudência

pacífica do STF, na hipótese de propositura simultânea de ação direta de inconstitucionalidade contra lei estadual perante o STF e o TJ, o processo no âmbito do STF deverá ser suspenso até a deliberação final do TJ estadual.

Como vimos, quem suspende o julgamento é o TJ, e não o STF. Item errado.

2.2 – Atuação do Senado Federal Vimos que os efeitos da decisão do STF no âmbito do controle difuso afetam apenas as partes do processo. Mas nosso controle de constitucionalidade prevê dois instrumentos capazes de fazer a decisão do Supremo no controle concreto atingir a terceiros que não sejam parte da ação. Um desses instrumentos é a súmula vinculante, já abordado na aula sobre Poder Judiciário. A outra forma de ampliação dos efeitos da

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declaração incidental de inconstitucionalidade é por meio da atuação do Senado Federal. Nos termos do art. 52, X da CF/88, compete ao Senado Federal suspender a execução de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. Assim, declarada a inconstitucionalidade pelo STF de determinada lei, no âmbito do controle difuso, a decisão é comunicada ao Senado, a quem caberá a faculdade de suspender a execução da lei, conferindo eficácia erga omnes à decisão do Supremo. Assim, a decisão definitiva em recurso extraordinário comunicada ao Senado Federal gera para essa Casa legislativa a faculdade de suspender a execução de lei declarada inconstitucional pela maioria absoluta dos membros do Supremo Tribunal Federal no julgamento daquele recurso. Se o Senado suspender a lei (ato discricionário), a declaração de inconstitucionalidade alcançará outros (e não só as partes), adquirindo eficácia geral (erga omnes). Mas o Senado não poderá alterar a decisão do Supremo. Sua competência é exclusivamente dar efeitos erga omnes àquela decisão proferida no controle incidental. Assim, se o Supremo só declarou inconstitucional um dos incisos (ou parte dele), o Senado deverá seguir estritamente aquela decisão, não podendo interpretá-la ou ampliá-la, por exemplo, declarando inconstitucional toda lei, ou outros artigos não impugnados pelo STF. Enfim, a suspensão pelo Senado Federal poderá se dar em relação a leis federais, estaduais, distritais ou municipais, desde que tenham sido declaradas inconstitucionais pelo STF, de modo incidental. Vejamos alguns detalhes concernentes a essa competência do Senado: I) o exercício dessa competência é facultativo; ou seja, o Senado não está obrigado a suspender a execução da lei; II) não há prazo para que o Senado possa suspender a execução da lei; mas, suspensa a lei, o Senado não poderá voltar atrás (a decisão é irretratável); III) a espécie normativa utilizada é a resolução; e ela também está sujeita a controle de constitucionalidade normalmente. 23) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) No controle posterior ou

repressivo de constitucionalidade, os TCs têm competência para declarar a inconstitucionalidade das leis ou dos atos normativos em abstrato.

A partir de agora passarei a abordar o chamado controle abstrato. No caso dessa questão, saiba que, frente à Constituição Federal, ele é realizado exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal. Já o controle

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abstrato frente à Constituição Estadual é de competência exclusiva do respectivo Tribunal de Justiça. De qualquer forma, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os tribunais de contas, no exercício de suas atribuições, podem apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público (Súmula 347). Evidentemente, essa apreciação da constitucionalidade pode ocorrer apenas na via de exceção, como questão incidental num processo que o referido órgão esteja julgando. Item errado.

Passemos a enfocar o controle abstrato, exercido por meio de ADI, ADO, ADC e ADPF. Como vimos, no controle abstrato a constitucionalidade da lei é verificada em tese independentemente de um caso concreto. O controle abstrato origina-se na Europa, na Constituição da Áustria de 1920. O importante é você entender que a finalidade do controle abstrato não é a solução de uma lide, a resolução de um conflito. Esse controle tem a nobre missão de defender o ordenamento jurídico. Ou seja, quando uma ADI é impetrada no STF, seu autor não alega lesão a direito próprio, mas lesão ao ordenamento, à Constituição, tendo por fim o interesse público. Daí ser importante, você ter em mente que o controle abstrato tem natureza de processo objetivo, em que não há partes, pois se cuida do ordenamento jurídico e não de interesse próprio ou alheio. Daí a diferença entre os efeitos no controle incidental e no controle abstrato: I) no controle incidental, a lei considerada inconstitucional deixa de ser aplicada àquele caso em particular; II) no controle abstrato, a lei considerada inconstitucional deixa de existir, é considerada nula.

3 - Ação Direta de Inconstitucionalidade A ADI é ação típica do controle abstrato, de competência do Supremo Tribunal Federal. A finalidade dessa ação é o reconhecimento da invalidade de uma lei ou ato normativo. Ou seja, ao perceber que determinada lei ou ato normativo está desrespeitando a Constituição, o autor provoca o Supremo Tribunal Federal. Confirmada a incompatibilidade da lei, a Suprema Corte declarará sua nulidade, retirando-a do ordenamento jurídico. E quem são as autoridades competentes para provocar esse controle de constitucionalidade?

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A lista dos legitimados à interposição de ADI está expressa no art. 103 da CF/88: “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.” Já de início, chamo sua atenção para o seguinte: o Advogado-Geral da União não dispõe de competência para a proposição de ADI. Muita gente confunde isso... Continuando nossa análise, você precisa lembrar que isso não significa que qualquer legitimado possa propor ADI sobre qualquer norma. Com efeito, a jurisprudência estabeleceu diferenciações: há os legitimados universais e os legitimados especiais. Os legitimados universais não sofrem restrição quanto à interposição de ADI no Supremo. É dizer: podem propor a ação independentemente do assunto sobre o qual trate a norma, desde que ela esteja entre os objetos da ADI. Em suma, se uma lei pode ser impugnada por ADI, ela pode ser proposta pelos legitimados universais, independentemente do tema de que trate a norma. Os legitimados universais são: o Presidente da República; as Mesa do Senado e da Câmara; o Procurador-Geral da República; o Conselho Federal da OAB; os partido político com representação no Congresso Nacional; e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional. Diversamente, os legitimados especiais devem cumprir o requisito da pertinência temática, ou demonstração do interesse de agir. Ou seja, para ser cabível a ação, a norma impugnada deve ter alguma relação de pertinência com a função desempenhada pelo órgão ou entidade. Nesse caso, pode ocorrer de ser cabível a ADI de determinada norma, mas não estar o legitimado especial apto a propor essa ação, por não apresentar a referida pertinência temática.

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E quais são esses legitimados especiais? Os governadores, as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional e as Mesas de Assembléia Legislativa (ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal). Ou seja, esses legitimados especiais só podem impugnar em ADI uma norma que esteja relacionada com a sua função. Assim, por exemplo, o governador de Estado só poderá impugnar uma norma que afete os interesses daquele estado-membro (mesmo que essa norma seja editada por outro estado-membro). Vale ressaltar que a ampliação da legitimação ativa em ADI foi uma inovação da CF/88. Na Constituição anterior, a interposição dessa ação era de competência única e exclusiva do Procurador Geral da República. A seguir, três entendimentos jurisprudenciais relevantes sobre o assunto. I) Os legitimados possuem capacidade processual plena e capacidade postulatória no âmbito da ADI, podendo praticar quaisquer atos privativos de advogado. Essa regra não se aplica apenas: (i) aos partidos políticos e (ii) às confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional. II) Para fazer jus à legitimidade ativa em ADI, os partidos políticos precisam demonstrar pelo menos um único representante em uma das Casas Legislativas. Ademais, esse requisito deve ser verificado no momento da propositura da ADI. Significa dizer que a perda superveniente de representação não prejudica a ação direta iniciada. III) O STF firmou entendimento de que é cabível a instauração do controle abstrato por iniciativa das “associações de associações” (trata-se das associações que congregam exclusivamente pessoas jurídicas). Quanto às ações de inconstitucionalidade no âmbito dos estados-membros (tendo a Constituição Estadual como parâmetro), segundo o § 2º do art. 125 da CF, compete aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municípios em face da Constituição estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. Assim, os Estados-membros podem instituir a representação de inconstitucionalidade. E não precisa ser respeitada simetria ao modelo Federal no que tange à legitimidade ativa da ação. Entretanto, a Constituição veda a atribuição de legitimação para agir a um único órgão. Vamos resolver algumas questões para vermos se você entendeu. 24) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) Não se exige, para fins de

ajuizamento e conhecimento da ADI, a prova da pertinência temática

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por parte das Mesas do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, das assembléias legislativas dos estados ou da Câmara Legislativa do DF.

A exigência de pertinência temática recai apenas sobre: I) a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; II) o Governador de Estado ou do Distrito Federal; III) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. Assim, para impetrarem ADI, esses legitimados deverão demonstrar o seu interesse de agir, materializado na relação existente entre o ato impugnado e as funções exercidas. Item errado. 25) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) Para que um

partido político tenha representação no Congresso Nacional, é suficiente que o partido tenha um só parlamentar em qualquer uma das Casas do Congresso.

Para ter legitimidade para propor as ações do controle abstrato, os partidos políticos necessitam de representação no Congresso Nacional. A questão está correta, tendo em vista que qualquer número de representantes no Congresso já é suficiente para fazer jus à legitimação (basta um representante em qualquer uma das Casas). Não se esqueça daquele detalhe já comentado: entende o Supremo que esse requisito deve ser aferido exclusivamente no momento da propositura da ação. É dizer que a superveniente perda de representação no Congresso Nacional não retira do partido político a legitimidade ativa sobre as ações por ele anteriormente propostas. Item certo. 26) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 5ª

REGIÃO/2008) As confederações sindicais de âmbito nacional não prescindem de demonstrar a pertinência temática entre seu objeto social e os dispositivos legais que pretendem impugnar.

As confederações sindicais de âmbito nacional são um dos legitimados especiais. Assim, precisam (ou “não prescindem”) demonstrar a pertinência temática entre o seu objeto social e os dispositivos impugnados. Item certo. 27) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MS/2008) O ministro da

Saúde, desde que autorizado por lei de iniciativa do presidente da República, pode ajuizar ação direta de inconstitucionalidade contra lei autorizativa de aborto.

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O ministro da Saúde não se encontra entre os legitimados para impetração de ADI, expressos no art. 103 da CF/88. Item errado.

3.1 - Objeto Que tipos de norma podem ser impugnados por meio de ADI? Bem, antes de responder a essa questão, vale comentar que o controle abstrato ocorre não só em âmbito federal (perante o STF), mas também em âmbito estadual (perante do TJ). I) STF → controle abstrato em face da Constituição Federal II) TJ → controle abstrato em face da Constituição Estadual Assim, a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada perante o Supremo Tribunal Federal tem por objeto as leis ou atos normativos federais e estaduais. Em segundo plano, a ADI impetrada perante os tribunais de justiça tem por objeto as leis estaduais e municipais. Assim, as normas municipais (inclusive a Lei Orgânica do Município) não podem ser impugnadas em sede de ADI perante o STF. O direito municipal somente poderá ser declarado inconstitucional pelo Supremo em sede de controle difuso, quando determinada contenda é remetida ao tribunal mediante recurso extraordinário, ou, por meio de argüição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF, nos casos previstos em lei. Bem, você já aprendeu que o DF acumula as competências estaduais e municipais. Pois bem, sendo assim, será cabível ADI de leis ou atos normativos distritais apenas no exercício da sua competência estadual. Vamos a um exemplo. Imagine que a Câmara Legislativa do DF aprove duas leis. A Lei “A” modifica as regras relativas ao IPTU (imposto de competência municipal). A Lei “B” trata de ICMS (imposto de competência estadual). A pergunta é: qual delas poderia ser questionada perante o STF, em sede de ADI? Apenas a Lei “B”, pois ICMS é tributo de competência estadual. A Lei “A” trata de assunto de competência municipal (IPTU) e, por isso, não pode ser objeto de ADI no Supremo. Agora, para tirar nota dez com louvor: podemos dizer que não seria possível então o controle abstrato da Lei “A”, por tratar de assunto de competência municipal? Não, não podemos. Em primeiro lugar, em sede de ADPF (que será estudada logo à frente), poderão ser impugnadas as leis municipais ou distritais no exercício da competência municipal. Ademais, frente à

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LODF, poderá essa lei ser questionada no controle abstrato perante o Tribunal de Justiça. Em suma, só constituem objeto de ADI perante o STF leis e atos normativos federais, estaduais ou distritais (neste último caso, desde que editados no âmbito de sua competência legislativa estadual). Entretanto, não são todas as leis e atos normativos federais e estaduais, que poderão ser objeto de ADI perante o Supremo, conforme a jurisprudência daquela Corte. Para que uma norma possa ser objeto de ADI, deverá ela atender às seguintes exigências: a) ter sido editada na vigência da CF/88; b) ser dotada de abstração, generalidade e impessoalidade; c) possuir natureza autônoma (não regulamentar); e d) estar em vigor. Assim, somente podem ser objeto de ADI normas que tenham sido editadas sob a vigência da Constituição Federal de 1988, e que estejam em vigor. A impugnação, em abstrato, do direito anterior à atual Carta (direito pré-constitucional) só ocorrerá em sede de argüição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF (em ADI não). O direito pré-constitucional pode ainda ter sua validade aferida frente à Constituição de 1988 no âmbito do controle difuso, para o fim de reconhecimento de sua recepção ou revogação, diante de casos concretos. Vale comentar ainda que só podem ser impugnados mediante ADI, perante o Supremo, atos que possuam normatividade (generalidade e abstração). Ou seja, aqueles que se aplicam a número indefinido de pessoas e de casos (todos que se enquadrem na situação hipotética abstratamente descrita no ato normativo). Diante disso, os atos de efeitos concretos, desprovidos de generalidade, impessoalidade e abstração, não se prestam ao controle abstrato de normas. No entender da Suprema Corte, a Constituição adotou como objetos desse processo somente os atos tipicamente normativos, dotados de um mínimo de generalidade e abstração. Interessante observar que essa restrição não se aplica aos atos de efeitos concretos aprovados sob a forma de lei em sentido estrito (lei formal), isto é, aos atos aprovados pelo Poder Legislativo e sancionados pelo Chefe do Poder Executivo. Nesse sentido, o Supremo reviu sua posição ao admitir Ação Direta de Inconstitucionalidade tendo por objeto Lei de Diretrizes Orçamentárias, uma vez que se trata de lei formal (ADIMC 4.048/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.04.2008).

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Assim, mesmo sendo desprovidas de generalidade e abstração (sendo lei de efeitos concretos), as leis formais, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, podem ser objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade. De se destacar que somente podem ser impugnados em ADI os atos normativos que disponham de caráter autônomo, ou seja, desrespeitem diretamente a Constituição (não sejam meramente regulamentares). Assim, decretos do Presidente da República e do Governador de Estado podem ser objeto de ADI, desde que sejam autônomos e não apenas regulamentares. Assim, é cabível ADI contra normas que ofendam diretamente à Constituição. Mas não seria cabível essa mesma ação contra um decreto que, editado para regulamentar uma lei, desrespeite essa norma (pois, nesse caso, há ofensa à lei e não à Constituição). Por fim, cabe comentar que não se discute em sede de ADI a validade de normas revogadas, ainda que flagrantemente contrárias à Constituição. E como o objetivo da ADI é justamente a retirada da norma inconstitucional do ordenamento, a revogação da norma torna a ação sem objeto. Desse modo, se a ADI for proposta após a revogação da lei, a ação não será conhecida pelo STF (por ausência de objeto); se a revogação ocorrer após a propositura da ação, a ação perde seu objeto na data em que a lei foi revogada. De qualquer forma, vale destacar que, se a revogação da norma ocorrer quando já em pauta a ADI (ou seja, já na pauta de julgamento do STF), excepcionalmente não haverá prejuízo à ação direta, que será julgada regularmente. Objetivamente, podem ser objeto de ADI: - emendas constitucionais (normas originárias da Constituição não); - Constituições estaduais; - tratados e convenções internacionais; - normas primárias federais e estaduais (medidas provisórias, decretos autônomos, decretos legislativos, regimentos internos de tribunais); Podem ainda ser objeto de ADI resoluções e decisões administrativas dos tribunais do Poder Judiciário; atos normativos de pessoa de direito público (emanados de autarquias e fundações, por exemplo); pareceres normativos do Poder Executivo. Entretanto, não se admite ADI contra súmulas do Poder Judiciário, contra sentenças normativas da Justiça do Trabalho e nem contra convenções e acordos do trabalho. Vejamos mais um aspecto relevante.

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28) (CESPE/ANALISTA DE COMÉRCIO EXTERIOR/MDIC/2008) De acordo com a jurisprudência do STF, não é cabível ação direta de inconstitucionalidade contra medida provisória, sob o fundamento de ausência dos requisitos de urgência e relevância, por se tratar de ato que recai no âmbito da discricionariedade do presidente da República.

Segundo o STF, a ocorrência dos pressupostos de relevância e urgência para a edição de medidas provisórias não está de todo imune ao controle jurisdicional. Assim, excepcionalmente, admite-se o controle de constitucionalidade desses pressupostos, apenas em casos de abuso manifesto. Essa restrição se deve ao caráter discricionário do juízo político que envolve essa análise, confiado ao Poder Executivo, sob censura do Congresso Nacional (ADI 525-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 12-6-91). Item errado.

3.2 – Procedimentos A lei estabelece quórum mínimo para a instalação da sessão de julgamento (oito ministros) e um número mínimo de votos para que seja proferida a decisão de mérito (seis ministros, que representam a maioria absoluta). Como vimos, o controle abstrato tem natureza objetiva. Assim, uma vez proposta a ação direta, não poderá o autor dela desistir. Afinal, no controle em abstrato, o legitimado pela Constituição Federal não atua na defesa de interesse próprio, mas sim na defesa da Constituição. Portanto, não poderá dispor sobre a ação, desistindo dela, inclusive quanto ao pedido de medida cautelar formulado. Outro aspecto relevante diz respeito à alegação de impedimento ou suspeição. Segundo o STF, não cabe arguição de suspeição de Ministro nos processo de controle abstrato, dado o caráter objetivo da ação. Entretanto, é possível a alegação de impedimento de Ministro, nos casos em que o Ministro do STF tenha atuado anteriormente no processo na condição de Procurador-Geral da República, Advogado-Geral da União, requerente ou requerido. Vale comentar ainda que a propositura de ADI não se sujeita a prazo prescricional ou decadencial e a qualquer tempo poderá ser ajuizada a ação direta, pois a inconstitucionalidade não se convalida com o tempo. Outro aspecto cobrado em concursos diz respeito à distinção entre pedido e causa de pedir no âmbito do controle abstrato.

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Guarde o seguinte bordão: em ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal vincula-se ao pedido, mas não à causa de pedir, pois esta é aberta. I) Vinculado ao pedido → isso significa que o Supremo está condicionado à análise daqueles artigos que estão sendo impugnados pelo autor. Ou seja, a atuação do STF restringe-se àqueles dispositivos questionados pelo autor; não pode a Corte declarar a inconstitucionalidade de outros artigos não impugnados na inicial. II) Causa de pedir aberta → isso significa que o STF não se vincula à causa de pedir, ao parâmetro. Nesse sentido, pode o Supremo declarar a inconstitucionalidade de um artigo de uma lei, mas por motivo totalmente diverso daquele manifestado pelo autor na inicial. Em primeiro lugar, o autor (legitimado) fundamentará juridicamente a alegação de inconstitucionalidade. Entretanto a análise do Supremo será sobre a compatibilidade daquele dispositivo impugnado com toda a Constituição, podendo até mesmo declará-lo inconstitucional, mas por motivo diverso daquele alegado inicialmente. Às vezes, cobra-se em concurso a natureza ambivalente da ação direta de inconstitucionalidade. O que é isso? É que ao analisar a ADI, a decisão do Supremo pela sua procedência indica a invalidade da norma, uma vez que ela foi declarada em desconformidade com a Constituição. De outro lado, a decisão pela improcedência indica a validade da norma. Ou seja, pelo fato de a causa de pedir ser aberta, ao analisar determinada lei (ou um dispositivo em particular) o Supremo a estará confrontando com todo o ordenamento constitucional. E se a ADI foi improcedente, isso quer dizer que não há ofensa a nenhuma norma ou princípio constitucional, o que significa a constitucionalidade da norma. Em suma, I) se a ação direta é julgada procedente, estará sendo declarada a inconstitucionalidade da norma impugnada; II) se a ação direta é julgada improcedente, estará sendo declarada a constitucionalidade da norma impugnada. Daí a ideia de caráter dúplice ou ambivalente da ADI. Ela surte efeitos num e noutro sentido (tanto na procedência, quanto na improcedência). 29) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) O ajuizamento da ADI

sujeita-se à observância do prazo decadencial de dez anos. Não há prazo decadencial para a impetração de ADI, tendo em vista que a nulidade não se convalida. Assim, enquanto estiver em vigor, poderá a lei ser impugnada em sede de ADI.

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Lembrando que não se admite a impugnação em ADI de leis anteriores à Constituição de 1988. Item errado. 30) (CESPE/OFICIAL DE JUSTIÇA/TJ/CE/2008) Como a causa de pedir

é aberta, o STF pode julgar ação direta de inconstitucionalidade por outros fundamentos que não os alegados na petição inicial.

Exato. Em ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal vincula-se ao pedido, mas não à causa de pedir, pois esta é aberta. Assim, o STF pode declarar a inconstitucionalidade de um artigo de uma lei, mas por motivo totalmente diverso daquele manifestado pelo autor na inicial. Item certo.

3.3 – Participação do PGR e do AGU Tanto o Procurador-Geral da República quanto o Advogado-Geral da União desempenham papéis fundamentais no controle de constitucionalidade em sede de ADI. No caso do PGR, além de ser um dos legitimados universais para propor ADI (e demais ações), ele deve ser previamente ouvido em todas as ações do controle em abstrato perante o STF. Nesse caso, sua manifestação deverá ser imparcial, podendo opinar tanto pela constitucionalidade, como pela inconstitucionalidade da norma. Seu parecer é opinativo, e não vincula os Ministros do STF. Poderá o PGR opinar até mesmo nas ações diretas por ele propostas (inclusive poderá propor ADI requerendo a declaração da inconstitucionalidade e, no parecer, pronunciar-se pela improcedência da ação). Não poderá, entretanto, desistir da ação direta por ele proposta (como já visto). Já o Advogado-Geral da União deve ser citado para defender o ato ou texto impugnado, conforme o art. 103, § 3º da CF/88, cabendo a ele defendê-lo. Aliás, a jurisprudência tradicional do STF era a de que não caberia ao AGU opinar pela inconstitucionalidade da norma impugnada, sob pena de desrespeito à sua missão constitucionalmente indicada (CF, art. 103, § 3º). Assim, por mais evidente que fosse a inconstitucionalidade da norma, não era dado ao Advogado-Geral da União deixar de defender a norma questionada. Entretanto, recentemente, o STF alterou o seu entendimento sobre essa matéria, passando a flexibilizar essa regra. Assim, segundo o STF, não é necessariamente obrigatória a defesa da norma pelo AGU.

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Com efeito, o STF decidiu que o AGU tem autonomia para agir, podendo haver casos que justifiquem sua opção pela inconstitucionalidade da lei, conforme sua livre convicção jurídica sobre a matéria (ADI 3.916, rel. Min. Eros Grau, julgamento em 07/10/2009). Por exemplo, quando a lei contrariar os interesses da União (que devem ser defendidos pelo AGU) e quando inconstitucionalidade for extremamente flagrante. Já adiantando dois aspectos que serão vistos mais à frente. Segundo o STF, o Advogado-Geral da União não atuará nos processos de ação declaratória de constitucionalidade (ADC), afinal, nessa ação não há norma impugnada (o autor requer a constitucionalidade da norma, como veremos). Quanto à participação do AGU na ADI por omissão, a tradicional jurisprudência do STF era a de que a função do Advogado-Geral da União como defensor da norma impugnada não ocorreria em ADI por omissão (ADO). Entretanto, recentemente, foi editada a nova lei da ADO (Lei nº 12.063/2009), que estabelece que o relator poderá solicitar manifestação do AGU, a ser encaminhada no prazo de 15 dias.

3.4 – Amicus curiae Segundo o parágrafo 2° do art. 7° da Lei n.° 9.868/99, o relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades. Esse é o chamado amicus curiae (amigo da corte), entidades ou órgãos cuja manifestação possa contribuir com a qualidade da decisão do Supremo sobre determinado assunto, notadamente quando se tratar de tema técnico, complexo ou altamente controverso. Observe que, a rigor, não é caso de intervenção de terceiros. Aliás, o próprio art. 7° da Lei n.° 9.868/99 não admite intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade (a intervenção de terceiros é figura existente no direito processual civil, mas que visa a assegurar o direito de terceiros interessados na causa ingressarem na lide). Interessante observar que não há direito subjetivo de associações e entidades interessadas em participar como amicus curiae de determinado processo. Essa decisão compete ao relator do processo levando em conta a representatividade da entidade e a relevância da matéria. Segundo o Supremo Tribunal Federal, a admissão da figura do amicus curiae não lhe assegura o direito de interpor recursos no âmbito do processo. Afinal, ele não é parte.

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Cabe registrar que o STF já admitiu sustentação oral por parte do amicus curiae; ou seja, admite-se que sua participação ocorra na fase de julgamento e não necessariamente por escrito. Ademais, hoje se admite a participação de amicus curiae no exame da repercussão geral, no âmbito do recurso extraordinário, bem como no procedimento de aprovação de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal (por expressa disposição legal). 31) (CESPE/PROCURADOR/AGU/2010) No processo objetivo de

controle de constitucionalidade, o amicus curiae tem legitimidade para interpor recurso nas mesmas hipóteses facultadas ao titular da ação.

Segundo o Supremo Tribunal Federal, a admissão da figura do amicus curiae não lhe assegura o direito de interpor recursos no âmbito do processo. Item errado.

3.5 – Efeitos da Decisão Podemos considerar que as decisões de mérito em ADI serão dotadas dos seguintes efeitos: I) eficácia contra todos ou erga omnes (na medida em que alcança a todos, não apenas as partes de um determinado processo); II) efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal (pois nenhum outro órgão do Poder Judiciário ou da Administração Pública poderá desrespeitar a decisão); III) efeitos retroativos ou ex tunc (uma vez que alcança a lei desde a sua edição); IV) efeitos repristinatórios (pois retoma a validade da legis-lação anteriormente revogada). Quanto ao efeito vinculante, se o STF declarou a inconstitucionalidade, não poderão os demais órgãos do Poder Judiciário ou a Administração Pública dar aplicação à lei. Se a manifestação foi pela constitucionalidade, eles não poderão negar aplicação à lei. Observe que o efeito vinculante dessas decisões do STF não alcança: o próprio STF, nem o Poder Legislativo, no tocante à função legislativa. Ou seja, em tese, o próprio STF poderá posteriormente rever o seu entendimento sobre a respectiva matéria. Ademais, a declaração da inconstitucionalidade de uma lei pelo STF nas ações do controle abstrato não impede que o Poder Legislativo edite posteriormente nova norma de igual conteúdo.

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E se não for respeitado esse efeito vinculante? Bem, caso haja desrespeito à decisão proferida em sede de ADI, o prejudicado poderá valer-se do instrumento processual denominado reclamação, proposta diretamente perante o STF, para que este garanta a autoridade de sua decisão, determinando a anulação do ato da administração ou a cassação da decisão judicial reclamada. No que se refere à retroatividade da decisão, já vimos que a Lei nº 9.868/1999 possibilitou a modulação dos efeitos temporais da decisão de inconstitucionalidade. Nesse sentido, presentes os pressupostos exigidos pela lei (razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público), poderá o STF por dois terços de seus membros conferir à decisão efeitos ex nunc (não retroativos) ou mesmo fixar outro momento para o início da eficácia da sua decisão. Vimos, inclusive, a possibilidade dessa modulação dos efeitos no âmbito do controle incidental. Por outro lado, na análise do direito pré-constitucional frente à Constituição vigente, não se admite a modulação temporal dos efeitos. Nesse caso, a revogação da lei antiga pela nova Constituição não poderá ter seus efeitos diferidos após pronunciamento definitivo do STF. Por fim, vale destacar o caráter de definitividade da decisão do Supremo no âmbito do controle abstrato. Nesse sentido, a decisão é irrecorrível. Não cabe nem mesmo a interposição de ação rescisória a fim de desconstituí-la (a decisão do STF nesse caso transita em julgado). São admitidos, entretanto, embargos de declaração a fim de suprir eventual omissão, obscuridade ou contradição contida no acórdão. 32) (CESPE/AUDITOR INTERNO/AUGE/MG/2008) Em regra, a

declaração definitiva de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo pelo STF tem efeito ex nunc, só tendo eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado pelo STF.

Como regra, a declaração de mérito pela inconstitucionalidade no âmbito do controle de constitucionalidade tem efeitos retroativos (ex tunc), seja no âmbito do controle abstrato, seja no controle concreto. Item errado. 33) (CESPE/OFICIAL DE JUSTIÇA/TJ/CE/2008) A reclamação é

instrumento processual adequado para se exigir de autoridade o cumprimento de decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade.

A fim de garantir a autoridade da decisão proferida pelo STF no âmbito do controle abstrato (ADI, ADC e ADPF), admite-se o uso da reclamação (prevista no art. 102, I, “I” da CF/88).

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A reclamação visa à preservação da competência do STF e à garantia da autoridade de suas decisões. Assim, sempre que descumpridas as decisões do STF em sede de ADI, ADC ou ADPF ou sempre que descumprido o enunciado de uma Súmula Vinculante será cabível a impetração dessa ação. Quanto ao uso da reclamação, vale destacar que razões de segurança jurídica impedem a utilização da ação reclamatória para desconstituir decisão que transitou em julgado: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal. (Súmula 734)” Guarde isso! Item certo.

3.6 – Medida Cautelar em ADI Estabelece a CF/88, em seu art. 102, I, "p", que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar o pedido de medida cautelar nas ações diretas de inconstitucionalidade. A medida cautelar (concedida mediante liminar) é aquela concedida antes da apreciação do mérito do pedido principal e consiste no provimento judicial imediato, visando garantir a utilidade da futura decisão definitiva. Assim, aplica-se a situações em que o transcorrer do tempo entre o pedido e a decisão definitiva poderá acarretar a ineficácia da prestação jurisdicional. Nesse caso, intenta-se sustar, desde logo e até o exame do mérito da ação, a eficácia da norma impugnada. Comprovada a fumaça do bom direito (fumus boni iuris) e a existência de perigo da demora (periculum in mora) é cabível a medida cautelar que dê provimento imediato e provisório ao pedido do autor, enquanto se aguarda o julgamento definitivo. Pois bem, a medida cautelar ou liminar será concedida mediante voto da maioria absoluta dos ministros do Supremo, havendo necessidade da presença de pelo menos oito ministros na seção. Outros aspectos da cautelar: I) a regra de concessão da cautelar por maioria absoluta não se aplica nos casos de urgência e no período de recesso do STF, em que será concedida monocraticamente (decisão sujeita à confirmação do Plenário); II) ao contrário da decisão de mérito, a medida cautelar terá, em regra, efeitos ex nunc ou prospectivos (dali pra frente); mas caberá a

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modulação dos efeitos temporais (outorgando-se a ela eficácia retroativa), como na decisão de mérito; III) a medida cautelar também é dotada de alcance geral (erga omnes) e efeito vinculante. É interessante observar que, concedida a medida cautelar, suspende-se a eficácia da norma até o julgamento do mérito da ação direta, e esta decisão vincula os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública direta e indireta. Por outro lado, se for negada a medida cautelar, a norma permanece em plena eficácia até o julgamento de mérito da ação direta, mas essa decisão não vincula os demais órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública direta e indireta. A medida cautelar tem efeitos repristinatórios e torna provisoriamente aplicável a legislação anterior acaso existente que tenha sido revogada pela norma impugnada, salvo manifestação em contrário do STF. Dessa forma, a concessão da medida cautelar em ADIN tem efeito repristinatório em relação ao direito anterior, que havia sido revogado pela norma impugnada na ação direta. Com o afastamento da eficácia da lei impugnada até o julgamento do mérito da ação direta, a lei original, que havia sido revogada pela lei impugnada, torna-se automática e provisoriamente aplicável nesse período, salvo manifestação em contrário do Supremo. Antes de passar à análise de outras ações do controle abstrato, vejamos um esquema que apresente os principais aspectos da ADI. Logo a seguir, vamos resolver algumas questões sobre esse assunto. Sintetizando:

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34) (CESPE/TITULARIDADE DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO/TJDFT/2008) Os efeitos da medida liminar na ação direta de inconstitucionalidade, em regra, serão ex tunc, de modo a desconstituir as relações jurídicas decorrentes do direito considerado constitucional.

Ao contrário da decisão de mérito, os efeitos da medida cautelar ou liminar em ADI são ex nunc ou prospectivos. De qualquer forma, o STF poderá modular temporalmente esses efeitos, outorgando, por exemplo, efeitos retroativos (ex tunc) a essa decisão liminar, que passará a alcançar relações passadas. Item errado. 35) (CESPE/PROCURADOR/AGU/2010) Para o STF, o indeferimento

da medida cautelar na ADI não significa confirmação da constitucionalidade da lei com efeito vinculante.

Exatamente! Show de bola essa assertiva. Tentemos explicar essa situação de forma mais detalhada... Imagine que um dos legitimados (CF, art. 103) tenha entrado com ADI no STF a fim de declarar inconstitucional determinada norma. Se essa ação inicial

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contiver pedido de medida cautelar, o STF avaliará o preenchimento dos pressupostos para a sua concessão. Negada a medida cautelar, isso não significa que o STF se posicionou pela constitucionalidade da norma. Significa apenas que os pressupostos da medida cautelar não foram preenchidos. Então a Suprema Corte continuará analisando a ação regularmente, sem os efeitos da medida cautelar, podendo vir a considerá-la constitucional ou inconstitucional posteriormente. Nesse sentido, podemos dizer que a medida cautelar, quando concedida, tem efeito vinculante. Todavia, o mesmo não pode ser afirmado quanto ao seu indeferimento, que não dispõe desse mesmo efeito. Assim, os demais juízes poderão continuar a declarar a inconstitucionalidade de tal norma nos seus processos. Item certo. 36) (CESPE/TITULARIDADE DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE

REGISTRO/TJDFT/2008) Não cabe o controle de constitucionalidade quando o ato regulamentar extravasa os limites a que está materialmente adstrito, pois se trata de insubordinação executiva aos comandos da lei.

Observe que só cabe controle de constitucionalidade se houver desvio frente à Constituição. Um decreto regulamentar que extrapolar os limites da lei possui vício de legalidade e não de constitucionalidade. De qualquer forma, não são só as leis em sentido estrito (aprovadas pelo Legislativo e sancionadas pelo chefe do Executivo) que podem ser objeto de controle de constitucionalidade. Os atos normativos em geral também podem ser objeto de controle de constitucionalidade, desde que disponham de caráter autônomo, ou seja, desrespeitem diretamente a Constituição (não sejam meramente regulamentares). Assim, decretos do Presidente da República e do Governador de Estado podem ser objeto de ADI, desde que sejam autônomos e não apenas regulamentares. Item certo. 37) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 5ª

REGIÃO/2008) As convenções coletivas de trabalho, por veicularem verdadeiras normas jurídicas, ensejam seu controle por meio de ação direta de inconstitucionalidade.

As convenções coletivas de trabalho não poderão ser objeto de ADI, uma vez que carecem de generalidade e abstração. Segundo a doutrina, podem ser objeto de controle de constitucionalidade, por terem natureza de atos normativos, por exemplo, a resolução

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administrativa dos Tribunais de Justiça, bem como deliberações administrativas de outros órgãos do Poder Judiciário, inclusive dos Tribunais Regionais do Trabalho, salvo as convenções coletivas de trabalho. Item errado. 38) (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2009) Segundo posicionamento

atual do STF, não se revela viável o controle de constitucionalidade de normas orçamentárias, por serem estas normas de efeitos concretos.

É certo que os atos de efeito concreto não se submetem a controle de constitucionalidade por meio de ADI. Entretanto, recentemente o Supremo reviu sua posição ao admitir Ação Direta de Inconstitucionalidade tendo por objeto Lei de Diretrizes Orçamentárias, uma vez que se trata de lei formal (ADIMC 4.048/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.04.2008). Nesse sentido, as leis formais, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, podem ser objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade, mesmo que não disponham de abstração e sejam leis de efeitos concretos. Item errado. 39) (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE

EXTERNO/DIREITO/TCE/AC/2009) Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o STF, por maioria absoluta de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Como vimos, por razões de segurança jurídica ou diante de relevante interesse social, poderá o STF, ao proclamar a inconstitucionalidade, desde que por deliberação de dois terços dos seus membros: I) restringir os efeitos da sua decisão; II) outorgar efeitos ex nunc (dali pra frente) à sua decisão; III) determinar um outro momento para o início da eficácia da sua decisão; A assertiva está errada, pois o quorum exigido é de dois terços e não maioria absoluta. Item errado. 40) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) Consoante jurisprudência

firmada no âmbito do STF, a declaração final de inconstitucionalidade, quando proferida em sede de fiscalização normativa abstrata, importa restauração das normas anteriormente

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revogadas pelo diploma normativo objeto do juízo de inconstitucionalidade, considerado o efeito repristinatório que lhe é inerente.

Você entendeu a pergunta? Vamos exemplificar essa situação. Inicialmente, estava vigente a Lei 1. Posteriormente, foi editada a Lei 2, que revogava a Lei 1. Caso a Lei 2 seja posteriormente declarada inconstitucional em sede de controle abstrato, isso significa que a Lei 2 deixa de existir. Por conseqüência não existe mais a lei que revogava a Lei 1 e ela (Lei 1) retoma sua eficácia normalmente. A esse fenômeno, a gente dá o nome de repristinação. Bem, é aquela história: se a Lei 2 é nula, ela não pode ter tido eficácia, e ela não pode ter produzido efeitos. Se ela não produziu efeitos não revogou a Lei 1. Assim, a Lei 1 teria sido apenas “supostamente revogada” e, portanto, retoma sua eficácia automaticamente. Ou seja: a declaração da inconstitucionalidade de uma lei pelo STF tem efeito repristinatório tácito em relação à legislação anterior, que havia sido revogada por essa lei que agora é declarada inconstitucional. Re-explicando... Suponha que uma lei (Lei A) preveja multa para quem for flagrado andando embriagado pela rua (ou seja, se você for pego após um chope, deve pagar uma quantia para o Estado). Pois bem, suponha que amanhã venha uma nova lei (Lei B) revogando a anterior (Lei A) e estabelecendo a pena de reclusão para o mesmo comportamento (andar embriagado pela rua). A partir de então, você poderá ser preso se flagrado andando por aí após aquele chope de sexta-feira (afinal, está valendo a Lei B). Caso, posteriormente, essa nova lei (Lei B) seja declarada inconstitucional em sede de controle abstrato, o que acontece? Você não poderá mais ser preso, afinal aquela lei é nula (a Lei B é nula). Entretanto, se for pego bêbado por aí, pagará aquela multa anteriormente prevista na Lei A, afinal, a lei anterior (Lei A) retoma automaticamente sua eficácia. E como se denomina esse efeito? Repristinação da Lei A! Item certo. 41) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA: EXECUÇÃO

DE MANDADOS/TRT 17ª REGIÃO/2009) A concessão da medida cautelar, na ação direta de inconstitucionalidade, torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Mesmo em sede de medida cautelar, a declaração da inconstitucionalidade de uma lei pelo STF tem efeito repristinatório tácito em relação à legislação anterior, que havia sido revogada por essa lei que agora é declarada inconstitucional.

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Veja o teor do art. 11, § 2° da Lei 9.868/99: “a concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.” Item certo. 42) (CESPE/TITULARIDADE DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE

REGISTRO/TJDFT/2008) O entendimento atual do STF é de que a perda superveniente da representação do partido político em uma das casas legislativas leva à extinção da ação direta de inconstitucionalidade sem julgamento de mérito, pois essa condição deve estar presente durante todo o curso da ação.

Segundo o Supremo, esse requisito de legitimação dos partidos políticos deve ser aferido exclusivamente no momento da propositura da ação. É dizer: a superveniente perda de representação no Congresso Nacional não retira do partido político a legitimidade ativa sobre as ações por ele anteriormente propostas. Item errado. 43) (CESPE/OFICIAL DE JUSTIÇA/TJ/CE/2008) O autor de uma ação

direta de inconstitucionalidade pode dela desistir até a intimação dos requeridos no processo.

Devido à natureza objetiva das ações do controle abstrato de constitucionalidade, não se admitir a desistência no âmbito de ADI (nem de outras ações do controle abstrato). Trata-se do chamado “princípio da indisponibilidade”, ao qual se submetem todas as ações do controle abstrato perante o STF. Item errado. 44) (CESPE/DELEGADO DE POLÍCIA/POLÍCIA CIVIL/PB/2008) Para

análise da repercussão geral para fins de admissibilidade do recurso extraordinário, o relator poderá admitir a manifestação do amicus curiae.

Segundo a Lei 11.418/06, na análise da repercussão geral (no âmbito do recurso extraordinário), o relator poderá admitir a manifestação de terceiros (que não sejam parte da ação) na qualidade de amicus curiae. Item certo. 45) (CESPE/JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO TRF 5ª REGIÃO/2009) Não

se submete ao controle concentrado de constitucionalidade, conforme entendimento do STF, o decreto que, dando execução a lei inconstitucional, cria cargos públicos remunerados e estabelece as respectivas denominações, competências, atribuições e remunerações.

Em decisão no âmbito da ADI 3232/TO, julgada em 14/0/2008, o STF definiu que é sim admissível o controle concentrado de

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constitucionalidade de decreto que, dando execução a lei inconstitucional, crie cargos públicos remunerados e estabeleça as respectivas denominações, competências, atribuições e remunerações. Tal decisão referiu-se a lei do Estado de Tocantins, que criava cargos e funções, fixando atribuições e remuneração de servidores, com aumento de despesa, o que é inadmissível, pois a Constituição exige lei em sentido formal, de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo, de acordo com os arts. 61, § 1°, inc. II, "a", e 84, inc. VI, "a", da CF/88. Em suma, tal decreto ofende diretamente a Constituição, na medida em que esta exige lei formal para o tratamento dessa matéria. Item errado.

4 – Ação Declaratória de Constitucionalidade Irmã da ADI, a Constituição prevê também a ação declaratória de constitucionalidade – ADC, criada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993 para o reconhecimento da constitucionalidade de uma norma federal (estadual não). Trata-se de ação de mesma natureza da ADI, uma vez que: I) também é ação do controle abstrato (de natureza objetiva e de competência do STF); II) tem os mesmos legitimados da ADI; III) seus efeitos têm o mesmo alcance dos efeitos da ADI (erga omnes, ex tunc, efeito vinculante e repristinatório). É também cabível a manipulação desses efeitos pelo STF, caso a ação resulte na inconstitucionalidade da lei. O que as diferencia essencialmente é que na ADC o que se pede é a pronúncia de constitucionalidade da norma (e não de inconstitucionalidade). Interessante observar que, por isso, a ADC é considerada a ADI de sinal trocado. Ou seja, no caso da ADC: - se a ADC é julgada procedente, estará sendo declarada a constitucionalidade da norma impugnada; - se a ADC é julgada improcedente, estará sendo declarada a inconstitucionalidade da norma impugnada. Daí seu caráter dúplice ou ambivalente (como o da ADI), uma vez que surte efeitos num e noutro sentido (tanto na procedência, quanto na improcedência). A ADC tem cabimento em situações nas quais esteja ocorrendo controvérsia judicial sobre a validade de determinadas normas, resultando em decisões antagônicas. Nesse caso, um dos legitimados pela Constituição poderá propor uma ação declaratória de

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constitucionalidade perante o STF, para que o Tribunal decida sobre a constitucionalidade da norma, terminando, definitivamente, com a controvérsia entre os juízos inferiores. De se destacar que, devido à semelhança entre as ações, quase tudo que foi mencionado em relação à ADI aplica-se à ADC. Tratarei dos aspectos em que elas se diferenciam. Assim, no que se refere a decadência, amicus curiae, desistência e ação rescisória, são plenamente aplicáveis à ADC as regras estudadas em relação à ADI. 4.1 – Requisitos e objeto Para a propositura da ação declaratória de constitucionalidade é imprescindível que o autor comprove a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação, conforme previsto na Lei nº 9.868/99, art. 14, III. Isso significa que só será legítima a propositura da ADC se o autor comprovar esse requisito. Assim, se o STF entender que o autor não comprovou a existência de controvérsia judicial relevante, a ação não será conhecida. Observe que se trata de controvérsia judicial relevante. Segundo o STF a mera divergência doutrinária não é suficiente para autorizar a propositura de ADC. No que tange ao objeto, é interessante observar que as mesmas considerações feitas para a ADI aplicam-se aqui. Mas há uma diferença substancial entre o objeto dessas ações. Alíás, trata-se de assunto bastante cobrado em concursos. Veja como é fácil... Em ADI, o STF aprecia leis e atos normativos federais e estaduais. Já a ADC não admite lei ou ato normativo estadual como seu objeto, mas somente leis ou atos normativos federais (CF, art. 102, I, a). Assim, de acordo com o art. 102, I, “a”: I – é cabível ADI para leis e atos normativos federais ou estaduais; e II – é cabível ADC apenas para leis ou atos normativos federais. Então vai uma pergunta sobre o DF, continuando aquele exemplo lá de trás, em que a Câmara Legislativa do DF aprove duas leis: uma sobre IPTU (imposto de competência municipal) e outra sobre ICMS (imposto de competência estadual). Qual dessas leis poderia ser impugnada no Supremo em sede de ADC? Você acertou se respondeu: “nenhuma das duas”, tendo em vista que o STF só julga ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos federais.

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4.2 – Atuação do Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da União A manifestação do Procurador-Geral da República é obrigatória, pois a Constituição Federal determina que ele será ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do STF (CF, art. 103, § 1º). Entretanto, o STF afastou a obrigatoriedade de citação do Advogado-Geral da União no processo de ADC, pois o seu papel, no controle em abstrato, é defender a norma impugnada, e nessa ação não há norma legal impugnada a ser defendida. Você deve lembrar que nessa ação o autor requer a declaração de constitucionalidade da norma.

4.3 – Medida Cautelar O STF poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, da mesma forma que na ADI, por decisão da maioria absoluta de seus membros. Como você sabe, os pedidos em ADI e ADC são distintos. Enquanto na primeira objetiva-se a declaração de inconstitucionalidade da lei, na segunda visa-se à confirmação de sua constitucionalidade. O mesmo raciocínio deve ser utilizado para se distinguir os efeitos da cautelar em ADI e ADC. Em sede de ADI, a concessão de cautelar acarreta: (i) a suspensão da eficácia da norma; (ii) a suspensão do julgamento de processos envolvendo sua aplicação; e (iii) a repristinação (ou o retorno da eficácia) da legislação anterior, que tinha sido revogada. Por outro lado, se na ADC o pedido é pelo reconhecimento da validade da norma, não faz sentido que a cautelar resulte na suspensão de sua eficácia. Assim, o efeito da cautelar em ADC será o de suspensão dos processos judiciais e julgamentos que envolvam a aplicação da lei ou ato normativo objeto da ação. Concedida a medida cautelar, deverá o STF proceder ao julgamento da ação no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, sob pena de perda de sua eficácia. Assim como na ação direta, a concessão da medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade produzirá eficácia erga omnes e efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública Federal, nas esferas federal, estadual e municipal. Ademais, como na ação direta, a medida cautelar em ação declaratória produzirá efeitos ex nunc, mas o STF poderá conceder-lhe efeitos retroativos (ex tunc), desde que o faça expressamente.

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Vamos dar uma olhada em alguns exercícios. 46) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA CIVIL SUBSTITUTO/PCRN/2008)

As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF, nas ações declaratórias de constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário, Poder Legislativo e à administração pública direta e indireta, em todas as esferas.

De acordo com o art. 102, § 2º da CF/88, as decisões de mérito do STF na Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC produzirão: I) eficácia contra todos ou erga omnes (na medida em que alcança a todos, não apenas as partes de um determinado processo); e II) efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal (pois nenhum outro órgão do Poder Judiciário ou da Administração Pública poderá desrespeitar a decisão). O mesmo ocorre com as decisões em ADI e ADPF proferidas pelo STF. Item errado. 47) (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE

EXTERNO/DIREITO/TCE/AC/2009) Podem propor ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade, entre outros legitimados, o presidente da República, o procurador-geral da República e o advogado-geral da União.

A lista dos legitimados à interposição de ADI está expressa no art. 103 da CF/88: “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.” De se observar que o Advogado Geral da União não dispõe de competência para a proposição de ADI. Daí o erro da questão.

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Item errado. 48) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) Segundo entendimento do

STF, no controle abstrato de constitucionalidade de lei ou ato normativo, a eficácia vinculante da ação declaratória de constitucionalidade se distingue, em sua essência, dos efeitos das decisões de mérito proferidas nas ADIs.

As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (CF, art. 102, § 2º). Segundo o STF, a eficácia vinculante da ação declaratória de constitucionalidade, fixada pelo § 2º do artigo 102 da Carta da República, não se distingue, em essência, dos efeitos das decisões de mérito proferidas nas ações diretas de inconstitucionalidade (Rcl 1880, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 07/11/02). Aliás, observe que, enquanto a ADI é proposta a fim de se declarar a inconstitucionalidade da lei, a ADC tem por finalidade a declaração de constitucionalidade da lei. Apesar de várias semelhanças entre as duas ações, vale relembrarmos algumas distinções entre elas. I – Só podem ser objeto de ADC leis e atos normativos federais (no caso da ADI, podem ser federais ou estaduais). II – Constitui pressuposto para a impetração da ADC a demonstração inicial de relevante controvérsia judicial. III – Os efeitos da concessão de medida cautelar em ADC restringem-se à suspensão dos julgamentos que envolvam a aplicação da lei ou ato em discussão. IV – Não há atuação do AGU em sede de ADC, pois a própria ação já objetiva a defesa da lei. V - É de se destacar ainda que em sede de ADI, o relator pedirá informações aos órgãos e entidades dos quais emanou a lei ou ato questionado. Como na ADC não há ato ou lei sendo atacado, não se faz necessário esse pedido de informações. Item errado.

5 – Ação direta de inconstitucionalidade por omissão A ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) tem aplicação nas omissões inconstitucionais (situações nas quais não se cumpre o

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dever de elaboração de norma que regulamente determinado dispositivo constitucional) Ou seja, é medida que visa a tornar efetiva norma constitucional, por meio do reconhecimento da inconstitucionalidade da inércia do legislador infraconstitucional quanto ao dever de regulamentar a norma. Assim, em situações de omissão do legislador (ou de um órgão administrativo) em editar norma tratando de determinado assunto, poderá um dos legitimados pela Constituição Federal (CF, art. 103, I ao IX) propor ADI por omissão perante o STF, para que seja reconhecida a inconstitucionalidade da mora. Diversos detalhes já apresentados para a ADI são aplicáveis à ADO, uma vez que esta é apenas uma variante daquela. De se destacar que, recentemente, foi editada a nova lei da ADO (Lei nº 12.063/2009), que estabelece toda a disciplina processual dessa ação.

5.1 – Objeto A omissão inconstitucional que pode acarretar a impetração de ADO é aquela que efetivamente desrespeita a Constituição: ou seja, situações nas quais havia a obrigação (e não a mera faculdade) de ser regulamentado determinado dispositivo constitucional. Em suma, as hipóteses de ajuizamento desta ação não decorrem de toda e qualquer espécie de omissão do Poder Público, mas sim daquelas omissões relacionadas com as normas constitucionais de eficácia limitada de caráter obrigatório. Considerando a classificação do prof. José Afonso da só dará ensejo à propositura da ação direta de inconstitucionalidade por omissão a falta de norma regulamentadora: I) de normas constitucionais de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos (normas programáticas propriamente ditas); ou II) de normas constitucionais de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos ou organizativos de natureza impositiva. É dizer que as normas de princípio institutivo ou organizativo que sejam meramente facultativas não darão ensejo à omissão inconstitucional (trata-se de simples faculdade, não de obrigação).

5.2 – Medida Cautelar Inicialmente, a jurisprudência do STF firmou-se no sentido de que não cabe concessão de medida cautelar em ADI por omissão. Entretanto, esse entendimento foi superado pela edição da Lei nº 12.063/09, que recentemente regulamentou o processo de ADI por omissão perante o

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STF. Essa norma passou a prever expressamente a concessão de medida cautelar em ADO. Assim, em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. A medida cautelar poderá consistir na: (i) suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omissão parcial; bem como (ii) na suspensão de processos judiciais ou de procedimentos administrativos; ou ainda (iii) em outra providência a ser fixada pelo Tribunal. Portanto, atenção! A legislação atual prevê a possibilidade de concessão de medida cautelar em sede de ADI por omissão.

5.3 – Efeitos da Decisão Declarada a inconstitucionalidade por omissão, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido. Observe como o efeito da ADO é distinto para Poderes ou para órgãos administrativos: I) omissão de um dos Poderes → será dada mera ciência; II) omissão de órgãos → será fixado prazo de 30 dias para a edição dos atos necessários ao saneamento da omissão.

5.4 – Atuação do Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da União Segundo a tradicional jurisprudência do STF, a função do Advogado-Geral da União como defensor da norma impugnada não ocorreria em ADI por omissão (ADO). Entretanto, a nova lei da ADO (Lei nº 12.063/2009) estabelece que o relator poderá solicitar manifestação do AGU, a ser encaminhada no prazo de 15 dias. Já a manifestação do Procurador-Geral da República continua sendo obrigatória, pois a Constituição Federal determina que ele será ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do STF (CF, art. 103, § 1º).

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Veja como o Cespe não deixa nada pra trás... 49) (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPU/2010) A legislação em vigor

não admite a concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

Questão recentíssima! E já cobrando essa alteração na nossa matéria. A jurisprudência do STF foi superada pela edição da Lei nº 12.063/09, que passou a prever expressamente a concessão de medida cautelar em ADO. Assim, em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias. Item errado. 50) (CESPE/AUDITOR FISCAL DA RECEITA

ESTADUAL/SEFAZ/ES/2008) Segundo o entendimento do STF, o advogado-geral da União deve, obrigatoriamente, ser citado no processo de ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

Segundo a tradicional jurisprudência do STF, a função do Advogado-Geral da União como defensor da norma impugnada não ocorreria em ADI por omissão (ADO). Portanto, a questão foi considerada errada à época. Hoje, com a edição da nova lei da ADO (Lei nº 12.063/2009), o relator poderá solicitar manifestação do AGU, a ser encaminhada no prazo de 15 dias. Então, entendo que, apesar da nova regulamentação sobre o tema, a assertiva permanece incorreta, concorda? Afinal, compete ao relator a decisão de ouvi-lo ou não (não existindo a obrigatoriedade mencionada na assertiva). Item errado.

6 – Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) decorrente da Constituição será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, § 1º). A Lei nº 9.882/99, regulamentando esse dispositivo, estabeleceu o processo e o julgamento dessa ação. Aliás, cabe destacar que o STF tinha se posicionado no sentido de que o art. 102, § 1º da CF/88 era norma constitucional de eficácia limitada, portanto dependente de regulamentação.

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A ADPF tem por objeto evitar (preventiva) ou reparar (repressiva) lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público, e quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição. Ou seja, após a criação da ADPF tanto as normas municipais quanto as pré-constitucionais passaram a ser objeto do controle abstrato perante o STF. Os legitimados são os mesmos legitimados para propositura de ADI (CF, art. 103, I ao IX). Observe, assim, que será cabível a arguição de descumprimento de preceito fundamental: I) para evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público; e II) diante de relevante controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo. Nesta última situação, o autor da ação tem o ônus de comprovar a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado. Quanto ao conceito de preceito fundamental, não está estabelecido o que seria isso propriamente. Para a doutrina, tudo o que diga respeito às questões vitais do Estado enquadrar-se-iam nesse conceito (direitos individuais, forma federativa de Estado, fundamentos da República etc.). Segundo o STF, compete a ele próprio o juízo acerca do que se há de compreender como preceito fundamental. Cabe comentar sobre a subsidiariedade da ADPF. Com efeito, é incabível a argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade. Isso significa que não se admite a ADPF se for cabível alguma das demais ações do controle abstrato de constitucionalidade que tenham finalidade semelhante (ADI e ADC). De se registrar que essa natureza susidiária permite que uma ADPF impetrada no STF venha a ser conhecida como outra ação do controle abstrato (ADI, por exemplo), caso seja admitida esta ação. Assim, de acordo com a Suprema Corte, é possível a conversão da ADPF em ADI diante da perfeita satisfação dos requisitos exigidos à propositura desta (legitimidade ativa, objeto, fundamentação e pedido) e em observância ao princípio da fungibilidade. Quanto à possibilidade de medida cautelar, o STF, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida liminar na argüição de descumprimento de preceito fundamental. Em

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caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno. A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada. A força da decisão definitiva de mérito do STF proferida em ADPF é a mesma estudada para a decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade A decisão sobre a argüição de descumprimento de preceito fundamental somente será tomada se presentes na sessão pelo menos dois terços dos Ministros (oito Ministros). Se houver necessidade de declaração da inconstitucionalidade do ato do Poder Público que tenha lesionado preceito fundamental, a decisão deverá ser tomada por maioria absoluta (CF/88, art. 97). Em razão da força vinculante desta ação, caberá reclamação contra o descumprimento da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em ADPF. A lei estabelece que a decisão proferida em ADPF terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público (Lei nº 9.882/1999, art. 10, § 3º). 51) (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE

EXTERNO/DIREITO/TCE/AC/2009) Quem não tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade não a tem para ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), razão pela qual prefeito municipal é parte ilegítima para propor ADPF.

Isso mesmo! O rol de legitimados da ADI é o mesmo do rol de legitimados da ADPF. Não há legitimidade ativa em ADI para o prefeito municipal. Item certo. 52) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) De acordo com o

entendimento do STF, a arguição de descumprimento de preceito fundamental não pode ser conhecida como ADI, em face de sua especificidade, ainda que o objeto do pedido principal da arguição seja a declaração de inconstitucionalidade de preceito autônomo por ofensa a dispositivos constitucionais, e que estejam presentes os demais requisitos da ADI.

Essa questão trata da chamada fungibilidade entre as ações do controle abstrato de constitucionalidade. Para o Supremo Tribunal Federal, as ações do controle de constitucionalidade (ADI, ADC e ADPF)

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são fungíveis: ou seja, uma pode ser substituída pela outra, sem prejuízo ao pedido e à apreciação da ação. Assim, nos termos da jurisprudência da Corte, é possível a conversão da argüição de descumprimento de preceito fundamental em ação direta de inconstitucionalidade, diante da perfeita satisfação dos requisitos exigidos à propositura desta (legitimidade ativa, objeto, fundamentação e pedido) e em observância ao princípio da fungibilidade. Nesse sentido, com base no princípio da fungibilidade, conheceu-se de argüição proposta como ação direta de inconstitucionalidade, ante a perfeita satisfação dos requisitos exigidos à sua propositura - legitimidade ativa, objeto, fundamentação e pedido (ADI 4.180/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 10/03/2010). Item errado. 53) (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2009) O STF reconhece a prefeito

municipal legitimidade ativa para o ajuizamento de arguição de descumprimento de preceito fundamental, não obstante a ausência de sua legitimação para a ação direta de inconstitucionalidade.

A assertiva está errada porque a argüição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF só pode ser proposta por um dos legitimados pela Constituição para a ADI. Todas as ações do controle abstrato perante o STF têm os mesmos legitimados, que são os apontados no art. 103, I a IX, da Constituição. Item errado. 54) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) Compete originariamente

ao STF julgar a ADI ajuizada em face de lei ou ato normativo do DF, praticado no exercício de sua competência estadual ou municipal.

Assunto bastante cobrado em concursos. Veja como é fácil... Em ADI, o STF aprecia leis e atos normativos federais e estaduais. Já a ADC não admite lei ou ato normativo estadual como seu objeto, mas somente leis ou atos normativos federais (CF, art. 102, I, a). O DF acumula as competências estaduais e municipais. Pois bem, sendo assim, será cabível ADI de leis ou atos normativos distritais apenas no exercício da sua competência estadual. Item errado. 55) (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE

EXTERNO/DIREITO/TCE/AC/2009) O STF, por decisão de dois terços de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

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A medida cautelar ou liminar será concedida mediante voto da maioria absoluta dos ministros do Supremo, havendo necessidade da presença de pelo menos oito ministros na seção. Pois é, a questão foi considerada errada pelo Cespe, já que menciona quorum de dois terços quando a lei exige maioria absoluta. O estranho é que se é possível conceder-se cautelar com voto da maioria absoluta, é também possível que essa medida seja concedida com quorum de dois terços, que é superior, você não acha? Item errado. 56) (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO/TCE/AC/2008)

Acerca do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta. a) O advogado-geral da União não pode atuar na ação direta de inconstitucionalidade. b) A decisão que declarar a inconstitucionalidade de uma lei estadual, no controle concentrado, não vincula a assembléia legislativa que a aprovou, que pode, por isso, editar nova lei com idêntico teor. c) A decisão de declaração de inconstitucionalidade no controle concentrado vincula, inclusive, o STF. d) Os efeitos da decisão de declaração de inconstitucionalidade, no controle concentrado, em geral, não retroagem. e) A decisão de declaração de inconstitucionalidade, no controle concentrado, não vincula o estado-membro, que pode continuar a aplicar a lei.

A alternativa “a” está errada, pois o Advogado-Geral da União atua sim na ADI, segundo sua função de defensor da norma impugnada, em nome do princípio de presunção da constitucionalidade das leis. Ao contrário do procedimento em sede de ADI, essa manifestação do Advogado-Geral da União não ocorre na ADC, uma vez que, nessa ação, o autor busca a declaração de constitucionalidade, não havendo necessidade de defesa da norma em questão. A alternativa “b” está correta, pois o efeito vinculante da decisão em controle concentrado não se estende ao poder legislativo, que poderá editar nova lei com o mesmo teor daquela declarada inconstitucional pelo Judiciário. A alternativa “c” está errada, pois o efeito vinculante também não alcança o STF. A alternativa “d” está errada, pois, em regra, as decisões de mérito no âmbito do controle de constitucionalidade retroagem (ex tunc), alcançando fatos passados.

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A alternativa “e” está errada, pois a decisão de declaração de inconstitucionalidade no controle concentrado vincula também o es-tadomembro, que não pode continuar aplicando a lei. Gabarito: “b” 57) (CESPE/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/NATAL/2008) Segundo

a jurisprudência do STF, é cabível, em ação direta de constitucionalidade, o controle judicial preventivo de constitucionalidade.

Na realidade, é admitida a fiscalização preventiva de constitucionalidade. Entretanto, esse controle deve se dar na via incidental. Isso porque não se admite ADI de projetos de lei ou de projetos de emenda. Para ser cabível a ADI, a lei deve estar vigente. Item errado. 58) (CESPE/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/NATAL/2008) O STF

admite o controle de constitucionalidade preventivo em sede de controle incidental.

O controle preventivo visa a evitar a edição de normas inconstitucionais. De fato, esse controle prévio não ocorre em sede de ADI, mas apenas no controle incidental. Item certo. 59) (CESPE/DELEGADO DE POLÍCIA/POLÍCIA CIVIL/PB/2008) As

decisões definitivas de mérito, proferidas nas ações diretas de inconstitucionalidade e na ação declaratória de constitucionalidade, produzem eficácia erga omnes e efeitos vinculantes aos três poderes.

Questão batida... A decisão não vincula nem o STF nem o poder legislativo em suas funções típicas. Item errado. 60) (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO DA UNIÃO/DPU/2007) Decisão que

declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de norma pode ser atacada por embargos de declaração, mas não poderá ser desconstituída em ação rescisória.

A decisão de mérito que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade em sede de ADI é irrecorrível mediante a interposição de ação rescisória. A única exceção feita é a referente à interposição de embargos declaratórios, visando sanar omissões, obscuridade ou contradição contida no acórdão. Assim, são admitidos embargos de declaração, mas não ação rescisória contra acórdão proferido em ação direta de inconstitucionalidade no STF. Item certo.

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61) (CESPE/PROCURADOR/BACEN/2009) A decisão que concede medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade não se reveste da mesma eficácia contra todos nem de efeito vinculante que a decisão de mérito.

Expressamente, a Constituição só outorga efeito vinculante às decisões definitivas de mérito em ADI e ADC (“As sentenças definitivas de mérito” - art. 102, § 2º, da CF/88). Todavia, o STF firmou entendimento de que também a decisão que concede medida cautelar nas ações do controle abstrato é dotada de efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Guarde o seguinte: ao contrário das decisões de mérito, as medidas cautelares têm efeito ex nunc; entretanto, assim como as decisões de mérito, as cautelares têm efeito vinculante e eficácia erga omnes. Item errado. 62) (CESPE/JUIZ/TRF 5.a REGIÃO/2009) Os tribunais de justiça dos

estados, por decisão da maioria relativa de seus membros, podem deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade consistente na determinação de que os juízes e os tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

A medida cautelar será concedida mediante voto da maioria absoluta dos membros do tribunal. Item errado. 63) (CESPE/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/MP/RN/2009) A

arguição de descumprimento de preceito fundamental tem precedência sobre qualquer outro meio de controle de constitucionalidade cabível e apto a sanar a lesão a preceito fundamental.

Pelo contrário. Dada sua característica de ação subsidiária, só será cabível a ADPF se não houver outro meio de controle de constitucionalidade objetivo cabível e apto a sanar a lesão a preceito fundamental. Essa é a regra do art. 4°, § 1° da Lei 9.882/99: “Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.” Item errado. 64) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MS/2008) O autor de ação

direta de constitucionalidade deve demonstrar a existência de controvérsia, quanto à constitucionalidade da norma, entre os

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órgãos competentes para a sua aplicação ou entre os julgadores de sua validade no ordenamento jurídico.

Para que uma ADC seja conhecida pelo STF é imprescindível que o seu autor demonstre na inicial a existência de relevante controvérsia judicial sobre a validade da lei. Ora, se a lei foi publicada e não há nenhuma controvérsia sobre a sua validade, prevalece o princípio da presunção de constitucionalidade das leis. Para quê então provocar o STF (a mais alta Corte) do país a fim de fazê-lo declarar o óbvio, isto é, que a lei é constitucional? Daí é que vem a necessidade de demonstração dessa relevante controvérsia judicial sobre a validade da lei. Ou seja, demonstrar que há decisões divergentes entre juízes e tribunais pelo país. Atenção! A controvérsia para legitimar a propositura da ADC deve ser judicial (perante os órgãos do Poder Judiciário, em casos concretos, na via difusa). A comprovação da existência de controvérsia doutrinária sobre a validade da lei não é suficiente. Item certo. 65) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2009) A intervenção de terceiros

é admitida no controle concentrado de constitucionalidade, por meio do instituto do amicus curiae.

Como vimos, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, o relator poderá admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades. Essa figura é denominada de amicus curiae. Atenção! Não é caso de intervenção de terceiros. Portanto, errada a questão. Aliás, o próprio art. 7° da Lei n.° 9.868/99 não admite intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade. Item errado. 66) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MS/2008) O governador do

DF não detém pertinência temática para propor ação direta de inconstitucionalidade contra lei estadual paulista que conceda isenção de imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) a empresa instalada no DF.

Primeiramente, cabe comentar que o Governador do DF é um dos legitimados para a propositura das ações do controle abstrato perante o STF (CF, art. 103, V). Todavia, os governadores classificam-se como legitimados especiais: aqueles que devem cumprir o requisito da pertinência temática para o cabimento da ação.

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É dizer: para o Governador do DF ter interesse de agir nessa ação, ele deve demonstrar que a lei afeta de algum modo os interesses do Distrito Federal. Assim, pode ser até uma lei editada em São Paulo, desde que a referida lei esteja afetando os interesses do DF. No caso da questão, está bem clara essa hipótese, tendo em vista que a lei afeta comerciantes instalados no DF. Item errado. 67) (CESPE/DEFENSOR PÚBLICO/DPU/2010) Considere que o art.Y

da Constituição do estado X estabeleça a legitimidade de deputado estadual para propor ação de inconstitucionalidade de lei municipal ou estadual em face da Constituição estadual. Nesse caso, conforme entendimento do STF, o referido art. Y poderá ser considerado constitucional.

De acordo com o art. 125, § 2º da CF/88, cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. Ou seja, está claro que, ao estabelecer os legitimados para a impetração de ADI perante o TJ, não poderá o estado-membro atribuir a legitimação para agir a apenas um único órgão. A questão está correta, portanto, pois é cabível a atribuição de competência para o deputado estadual. A dúvida que fica é se a Constituição Estadual deveria seguir simetricamente a legitimação estabelecida no art. 103 da CF/88. Poderia o estado-membro ampliar aquele rol? Poderia reduzi-lo? O STF já se posicionou no sentido de que a ampliação daquele rol seria possível. Assim, considerou válida a legitimação ativa de deputado estadual para propor ação direta de inconstitucionalidade de normas locais em face da Constituição do Estado, à vista do art. 125, § 2º, da Constituição Federal (RE 261.677, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 6-4-06). Portanto, item correto. Quanto à redução, ainda não temos um entendimento pacífico (e não há decisão do STF firmando entendimento); entretanto a doutrina considera que deveria o estado-membro seguir a regra do art. 103 para a legitimação ativa em sede de ADI perante o TJ local. Item certo. 68) (CESPE/ANALISTA ADMINISTRATIVO/DPU/2010) O controle de

constitucionalidade preventivo é realizado durante a etapa de formação do ato normativo, com o objetivo de resguardar o processo legislativo hígido. Caso haja proposta de emenda constitucional tendente a abolir direito fundamental, qualquer dos legitimados

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poderá ajuizar, ainda durante o processo legislativo, ação direta de inconstitucionalidade para impedir o trâmite dessa emenda.

Não cabe ADI de proposta de emenda constitucional. Como comentado, esse controle preventivo só pode ser realizado por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar, no âmbito do controle incidental. Item errado. 69) (CESPE/JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO/TRF 1ª REGIÃO/2010) Se

determinado legitimado constitucional ajuizar, perante o STF, ação direta de inconstitucionalidade, tendo por objeto emenda constitucional pendente de publicação oficial, então, nesse caso, de acordo com entendimento do STF, mesmo que a publicação venha a ocorrer antes do julgamento da ação, a hipótese será de não conhecimento da ação direta de inconstitucionalidade, uma vez ausente o interesse processual.

Segundo jurisprudência do STF, não configura carência da ação o fato de uma emenda ter sido questionada por ADI antes de sua publicação, desde que esta (a publicação da emenda constitucional atacada) tenha ocorrido antes do julgamento da causa (ADI 3.367/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 13/04/2005). Assim, se as condições da ação coexistirem à data da sentença, considera-se presente o interesse processual em ADI de emenda constitucional publicada, oficialmente, no curso do processo, mas antes da sentença. Item errado. 70) (CESPE/JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO/TRF 1ª REGIÃO/2010)

Sabe-se que o STF tem reconhecido, excepcionalmente, a possibilidade de modulação ou limitação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, mesmo quando proferida em sede de controle difuso. Nesse sentido, revela-se aplicável, segundo entendimento da Suprema Corte, a mesma teoria da limitação temporal dos efeitos, se e quando o colegiado, ao julgar determinada causa, nela formular juízo negativo de recepção, por entender que certa lei pré-constitucional se mostra materialmente incompatível com normas constitucionais a ela supervenientes.

Como comentado, não é cabível a modulação temporal dos efeitos em juízo de recepção/revogação do direito pré-constitucional pela Constituição vigente. Segundo o STF, a não-recepção de ato estatal pré-constitucional, por não implicar a declaração de sua inconstitucionalidade – mas o reconhecimento de sua pura e simples revogação –, descaracteriza um dos pressupostos indispensáveis à utilização da técnica da modulação temporal: a necessária existência de um juízo de inconstitucionalidade

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(RE 353508 AgR/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15/05/2007). Item errado. 71) (CESPE/JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO/TRF 1ª REGIÃO/2010) A

decisão que concede medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade é investida da mesma eficácia contra todos e efeito vinculante presentes na decisão de mérito, razão pela qual é cabível o ajuizamento de reclamação em face de decisão judicial que, após a concessão da cautelar, contrarie o entendimento firmado pelo STF, desde que a decisão tenha sido exarada em processo sem trânsito em julgado, ou seja, com recurso pendente. A reclamação, segundo entendimento da Suprema Corte, tem natureza de remédio processual de função corregedora.

De fato, devido ao efeito vinculante, é cabível reclamação contra decisão judicial que contrarie medida cautelar concedida em ADC (lembrando que a decisão do STF indeferindo a cautelar não dispõe de efeito vinculante). Entretanto, como comentado em questão anterior, a reclamação não é cabível contra decisão que transitou em julgado. Assim, guarde isso: o STF somente admite a reclamação nos casos de processos sem trânsito em julgado, ou seja, com recurso ainda pendente. Item certo.

Nosso curso fica por aqui. Agradeço a confiança e desejo toda a sorte do mundo nessa prova. Se possível, envie um e-mail depois do resultado me contando de sua vitória. Um grande abraço e sucesso! Fred Dias

7 – Exercícios de Fixação 72) (CESPE/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/NATAL/2008) O STF

admite o controle de constitucionalidade preventivo em sede de controle incidental.

73) (CESPE/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/NATAL/2008) Segundo a jurisprudência do STF, é viável o controle de constitucionalidade de norma constitucional originária em face de outra norma constitucional originária de hierarquia inferior.

74) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) O STF admite a teoria da inconstitucionalidade superveniente de ato normativo produzido

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antes da nova constituição e perante o novo dispositivo paradigma, nela inserido.

75) (CESPE/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/MP/RN/2009) O CNJ poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e às administrações públicas direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder a sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

76) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2008) A declaração de inconstitucionalidade de uma norma pelo STF acarreta a repristinação da norma anterior que por ela havia sido revogada, efeito que pode ser afastado, total ou parcialmente, por decisão da maioria de 2/3 dos membros desse tribunal, em decorrência de razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social.

77) (CESPE/ANALISTA DE COMÉRCIO EXTERIOR/MDIC/2008) Na qualidade de guardião da CF, compete exclusivamente ao STF exercer o controle de constitucionalidade de atos normativos em face da CF.

78) (CESPE/ANALISTA DE COMÉRCIO EXTERIOR/MDIC/2008) O STF pode apreciar caso que envolva a declaração de inconstitucionalidade de tratado internacional.

79) (CESPE/PROCURADOR/PGE-PE/2009) Na hipótese de uma lei municipal contrariar uma norma prevista na CF, e obrigatoriamente repetida na constituição estadual, o tribunal de justiça estadual não poderá apreciar a alegação de inconstitucionalidade dessa lei, em face da constituição estadual, sob pena de usurpar a competência do STF.

80) (CESPE/EXAME DE ORDEM 135/OAB/SP/2008) A súmula do STF com efeito vinculante pode ser aprovada mediante decisão da maioria absoluta dos seus membros.

81) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 5ª REGIÃO/2008) As decisões em ação declaratória de constitucionalidade têm eficácia erga omnes e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

82) (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) O STF admite a teoria da inconstitucionalidade superveniente de ato normativo produzido antes da nova constituição e perante o novo dispositivo paradigma, nela inserido.

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83) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2008) De acordo com entendimento do STF, a decisão declaratória de inconstitucionalidade de determinada lei ou ato normativo não produzirá efeito vinculante em relação ao Poder Legislativo, sob pena de afronta à relação de equilíbrio entre o tribunal constitucional e o legislador.

84) (CESPE/ADVOGADO DA UNIÃO/AGU/2008) A decisão de mérito proferida pelo STF no âmbito de ação declaratória de constitucionalidade produz, em regra, efeitos ex nunc e vinculantes para todos os órgãos do Poder Executivo e demais órgãos do Poder Judiciário.

85) (CESPE/ANALISTA DE COMÉRCIO EXTERIOR/MDIC/2008) Os legitimados para propor ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade são os mesmos.

86) (CESPE/ANALISTA DE COMÉRCIO EXTERIOR/MDIC/2008) A argüição de descumprimento de preceito fundamental em face da CF é apreciada pelo STF.

87) (CESPE/CONSULTOR/SEFAZ/ES/2010) Tanto o Poder Legislativo quanto o Poder Judiciário exercem controle de constitucionalidade de leis.

88) (CESPE/PROCURADOR/MP/ES/2010) De acordo com a CF, o monopólio do exercício do controle abstrato de normas estaduais e municipais perante as cortes estaduais é do chefe do MP estadual.

89) (CESPE/ANALISTA ADMINISTRATIVO/DPU/2010) A inobservância da competência constitucional de um ente federativo para a elaboração de determinada lei enseja a declaração da inconstitucionalidade material do ato normativo.

90) (CESPE/ANALISTA ADMINISTRATIVO/DPU/2010) A CF mantém regra segundo a qual somente pelo voto de dois terços de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial podem os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público. Essa norma se refere à reserva de plenário.

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GABARITOS OFICIAIS 72) C 73) E 74) E 75) E 76) C

77) E 78) C 79) E 80) E 81) C

82) E 83) C 84) E 85) C 86) C

87) C 88) E 89) E 90) E

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Constitucional, 2009. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 2009. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional, 2009. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 2007. MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 2010. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo , 2010.

http://www.stf.jus.br

http://www.mp.mg.gov.br

http://www.cespe.unb.br