controle de constitucionalidade – parte 2

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CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL PROFESSORES VICENTE PAULO E FREDERICO DIAS Profs. Vicente Paulo e Frederico Dias www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 15: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – PARTE 2 Puxa vida! E esta já é a última aula do nosso curso on-line! De minha parte (Vicente Paulo), foi uma imensa satisfação toda essa troca de conhecimento sobre Direito Constitucional. É certo, também, que muito aprendi ao longo de nossas aulas - com vocês, alunos, e também com o amigo Fred. Como dito na aula de apresentação deste curso, a única diferença entre mim e vocês é que eu estou (bem) mais velho e, com isso, provavelmente tenha estudado um pouco mais essa específica disciplina! Afinal, na década de 90, quando eu publiquei o meu primeiro livro de Direito (“controle de constitucionalidade”, ainda pela editora Vestcon), muitos de vocês ainda cheiravam à frauda, e nem imaginavam o que era concurso público... Pois bem, você não faz ideia do quanto fico feliz em saber que, hoje, mais de quinze anos depois, eu ainda tenho a oportunidade e o privilégio de “falar” com alunos de todo o país, de norte a sul, como aconteceu agora, neste curso on- line, em que tivemos alunos do interior do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio Grande do Norte, do Rio de Janeiro, do Amazonas etc. Sem demagogia, é absolutamente impossível, para mim, encerrar um curso on-line como este sem refletir sobre tudo isso e sentir as lágrimas vindas aos olhos, com a emoção da tal pergunta (sem resposta): “o que eu, Vicente Paulo, fiz para merecer tudo isso, tanta satisfação?”. Lembro-me, também, de algumas conversas que tive com uma ex-namorada, nas quais eu dizia a ela que, quando casássemos e tivéssemos filhos, deixaria de dar aula, de vez. Em reposta, em todas as conversas, eu sempre ouvia dela, meio brava, a mesma resposta: “eu já lhe falei; não gosto quando você promete o que não cumprirá; tá na cara que você não parará de dar aula coisa alguma; você poderá diminuir a quantidade de aulas dadas, mas parar, nunca, basta olhar para a sua cara de alegria depois de uma aula dada para se ter certeza disso”. Pois é, hoje, depois de alguns anos, vejo claramente que ela estava certa... Para mim (Fred Dias) também foi uma experiência fantástica. Primeiro, por novamente dividir um curso com o prof. Vicente, cujos livros e aulas (sim cheguei a assistir, como aluno, um curso do Vicente em BH, ainda em 2007!) contribuíram tanto para as minhas aprovações, no início do ano de 2008. Em segundo lugar, pela quantidade de conhecimento que um curso como este nos proporciona (especialmente por meio da troca de idéias entre professores e também com os alunos). E, principalmente, por poder contribuir um pouco com a (futura) aprovação de tantos candidatos, em todo país. Diante disso, receba nosso agradecimento! Agora, antes de continuar nossos estudos do controle de constitucionalidade, vamos voltar a um assunto lá da aula 5: inelegibilidade reflexa. Voltando a estudar o assunto, percebemos que fizemos uma pequena confusão com base numa decisão do Supremo Tribunal Federal. Mas duas perguntas do fórum da Turma 1 deste curso nos obrigaram a estudar o assunto de novo e rever a explicação daquela aula. Portanto, atenção.

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  • CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL PROFESSORES VICENTE PAULO E FREDERICO DIAS

    Profs. Vicente Paulo e Frederico Dias www.pontodosconcursos.com.br 1

    AULA 15: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE PARTE 2

    Puxa vida! E esta j a ltima aula do nosso curso on-line! De minha parte (Vicente Paulo), foi uma imensa satisfao toda essa troca de conhecimento sobre Direito Constitucional. certo, tambm, que muito aprendi ao longo de nossas aulas - com vocs, alunos, e tambm com o amigo Fred. Como dito na aula de apresentao deste curso, a nica diferena entre mim e vocs que eu estou (bem) mais velho e, com isso, provavelmente tenha estudado um pouco mais essa especfica disciplina! Afinal, na dcada de 90, quando eu publiquei o meu primeiro livro de Direito (controle de constitucionalidade, ainda pela editora Vestcon), muitos de vocs ainda cheiravam frauda, e nem imaginavam o que era concurso pblico...

    Pois bem, voc no faz ideia do quanto fico feliz em saber que, hoje, mais de quinze anos depois, eu ainda tenho a oportunidade e o privilgio de falar com alunos de todo o pas, de norte a sul, como aconteceu agora, neste curso on-line, em que tivemos alunos do interior do Rio Grande do Sul, de So Paulo, do Rio Grande do Norte, do Rio de Janeiro, do Amazonas etc. Sem demagogia, absolutamente impossvel, para mim, encerrar um curso on-line como este sem refletir sobre tudo isso e sentir as lgrimas vindas aos olhos, com a emoo da tal pergunta (sem resposta): o que eu, Vicente Paulo, fiz para merecer tudo isso, tanta satisfao?.

    Lembro-me, tambm, de algumas conversas que tive com uma ex-namorada, nas quais eu dizia a ela que, quando casssemos e tivssemos filhos, deixaria de dar aula, de vez. Em reposta, em todas as conversas, eu sempre ouvia dela, meio brava, a mesma resposta: eu j lhe falei; no gosto quando voc promete o que no cumprir; t na cara que voc no parar de dar aula coisa alguma; voc poder diminuir a quantidade de aulas dadas, mas parar, nunca, basta olhar para a sua cara de alegria depois de uma aula dada para se ter certeza disso. Pois , hoje, depois de alguns anos, vejo claramente que ela estava certa...

    Para mim (Fred Dias) tambm foi uma experincia fantstica. Primeiro, por novamente dividir um curso com o prof. Vicente, cujos livros e aulas (sim cheguei a assistir, como aluno, um curso do Vicente em BH, ainda em 2007!) contriburam tanto para as minhas aprovaes, no incio do ano de 2008. Em segundo lugar, pela quantidade de conhecimento que um curso como este nos proporciona (especialmente por meio da troca de idias entre professores e tambm com os alunos). E, principalmente, por poder contribuir um pouco com a (futura) aprovao de tantos candidatos, em todo pas.

    Diante disso, receba nosso agradecimento!

    Agora, antes de continuar nossos estudos do controle de constitucionalidade, vamos voltar a um assunto l da aula 5: inelegibilidade reflexa.

    Voltando a estudar o assunto, percebemos que fizemos uma pequena confuso com base numa deciso do Supremo Tribunal Federal. Mas duas perguntas do frum da Turma 1 deste curso nos obrigaram a estudar o assunto de novo e rever a explicao daquela aula. Portanto, ateno.

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    Na aula 5, ao tratar da inelegibilidade reflexa (CF, art. 14, 7), vimos que so inelegveis, no territrio de jurisdio do titular, o cnjuge e os parentes consangneos ou afins, at o segundo grau ou por adoo, do Presidente da Repblica, de Governador de Estado ou Territrio, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substitudo dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se j titular de mandato eletivo e candidato reeleio.

    Ento, dissemos que no caso de o titular (chefe do Poder Executivo) renunciar seis meses antes da eleio, seus cnjuges e parentes ou afins at segundo grau podero candidatar-se a todos os cargos eletivos na circunscrio, desde que ele pudesse concorrer sua prpria reeleio (pg. 30 da aula 5).

    Na verdade, essa explicao no ficou muito adequada. O ideal seria separarmos essa explicao de acordo com o cargo que o parente est pleiteando.

    Em suma, a regra :

    a) o parente do prefeito pode se eleger para cargo de prefeito desde que ele (o titular) renuncie at seis meses antes do pleito e ele esteja no primeiro mandato (ou seja, desde que ele pudesse se candidatar reeleio);

    Por exemplo, a esposa do prefeito poderia se candidatar ao cargo de prefeito desde houvesse a renncia do marido (atual prefeito) at seis meses antes do pleito e desde que ele pudesse ser candidato reeleio, por estar no primeiro mandato.

    b) o parente do prefeito pode se eleger para cargo diverso desde que ele (o titular) renuncie at seis meses antes do pleito.

    Nesse caso, fica afastada a inelegibilidade reflexa com a renncia do prefeito at seis meses antes do pleito.

    Com isso, conclui-se que, se o titular estiver no seu segundo mandato, sua renncia at seis meses antes do pleito afasta a inelegibilidade reflexa apenas para os outros cargos.

    Objetivamente: nos dois casos (mesmo cargo do titular ou cargo diverso) exige-se a renncia em at seis meses. Mas, no segundo caso (cargo diverso), no se exige que o titular esteja no primeiro mandato.

    Essa regra vale tambm para governadores e Presidente da Repblica.

    Visto isso, vamos ao assunto de hoje.

    Na aula passada, estudamos os aspectos gerais sobre controle de constitucionalidade e, tambm, o modelo difuso/incidental de controle adotado no Brasil.

    Hoje, concluiremos este nosso curso on-line com o estudo do controle concentrado/abstrato de constitucionalidade que, c entre ns, tem um nmero bem maior de conhecimento a lhe ser repassado, e que sempre est presente em qualquer prova de concurso que cobre esse instigante assunto!

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    Vamos, ento, partir para o desafio, devagarzinho, devagarzinho, sem pressa, a fim de que voc, aos poucos, v sendo contagiado (e no bombardeado!) pelo conhecimento de tal apaixonante assunto...

    1) Noo

    Conforme visto na aula pretrita, o controle abstrato aquele que objetiva a preservao da supremacia (formal) da Constituio Federal, decorrente da rigidez constitucional. Ocorre quando um dos legitimados pela Constituio Federal (art. 103) prope perante o tribunal de cpula do Judicirio (na esfera federal, exclusivamente no STF) uma ao com o fim especfico de obter desse tribunal a pronncia sobre a constitucionalidade (ou no) de uma lei.

    Importante: no se est diante de caso concreto algum, a ao j proposta com o exclusivo fim de discutir a constitucionalidade da lei; por isso, no se trata de deciso incidental, mas sim de deciso principal; o legitimado no est defendendo interesse subjetivo seu, mas sim atuando em defesa da supremacia da Constituio; por isso se diz que o controle em tese, sem vinculao alguma a caso concreto, e que os legitimados do art. 103 da Constituio atuam como verdadeiros advogados da Constituio (Gilmar Mendes).

    O controle abstrato poder ser instaurado pelos legitimados do art. 103 por meio da propositura das seguintes aes:

    a) ao direta de inconstitucionalidade (ADI);

    b) ao direta de inconstitucionalidade por omisso (ADO);

    c) ao declaratria de constitucionalidade (ADC); e

    d) arguio de descumprimento de preceito fundamental.

    H, ainda, outra ao do controle concentrado perante o STF que - embora tenha finalidade distinta e especfica (fiscalizar o processo de interveno federal em estados e no Distrito Federal no caso de ofensa aos princpios constitucionais sensveis) e legitimao restrita (exclusiva do Procurador-Geral da Repblica) ser por ns aqui brevemente abordada: a ao direta de inconstitucionalidade interventiva.

    2) Metodologia do nosso estudo

    Considerando que, exceo da ao direta de inconstitucionalidade interventiva, todas as aes abstratas tm muito aspectos em comum, o nosso estudo observar seguinte metodologia: primeiro, estudaremos todos os aspectos relevantes sobre a ADI, um a um, detalhe a detalhe; depois, em vez de repetirmos todos esses mesmos aspectos no estudo das demais aes (ADO, ADC e ADPF), veremos apenas as peculiaridades destas aes, isto , as suas diferenas em relao a ADI (desse modo, evitaremos repeties desnecessrias e voc fixar com maior facilidade os aspectos que diferenciam tais aes, pois isso o que mais lhe interessar para a sua prova!).

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    3) Estudo da ADI (genrica)

    Como temos trs aes diretas de inconstitucionalidade (ao direta de inconstitucionalidade, ao direta de inconstitucionalidade por omisso e ao direta de inconstitucionalidade interventiva), a doutrina costuma denominar a ao direta de inconstitucionalidade (ADI) de genrica, com o fim de distingui-la da ADI por omisso e da ADI interventiva.

    Entretanto, cuidado! Dificilmente, na sua prova, aparecer a denominao ao direta de inconstitucionalidade genrica. Aparecer, simplesmente, ao direta de inconstitucionalidade. Mas, agora, voc j sabe: sempre que o examinador s se referir ADI, ele estar se referindo ADI genrica; se ele quiser se referir s demais ADI, ele ter, obrigatoriamente, que qualificar, trazendo as expresses por omisso ou para fins interventivos ou interventiva.

    Superada essa questo de ordem, passemos ao estudo da ao direta de inconstitucionalidade (assim como o examinador far na prova do seu concurso, no ficaremos, nesta aula, usando, o tempo todo, o qualificativo genrica, pois voc j aprendeu a regra acima explicada!).

    3.1) Legitimao

    Ao contrrio do controle incidental em que, no curso de qualquer processo judicial, qualquer pessoa interessada ou mesmo o juiz, de ofcio, pode dar incio ao controle -, no controle abstrato somente os legitimados pela Constituio Federal podero instaur-lo.

    De acordo com o art. 103 da Constituio Federal, podem propor a ao direta de inconstitucionalidade perante o STF:

    I - o Presidente da Repblica;

    II - a Mesa do Senado Federal;

    III - a Mesa da Cmara dos Deputados;

    IV - a Mesa de Assemblia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal;

    V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

    VI - o Procurador-Geral da Repblica;

    VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

    VIII - partido poltico com representao no Congresso Nacional;

    IX - confederao sindical ou entidade de classe de mbito nacional.

    Conforme j dissemos antes, essa legitimao foi estabelecida com novidade na Constituio Federal de 1988, haja vista que, at ento, somente o Procurador-Geral da Repblica podia propor ADI perante o STF.

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    Passemos, a seguir, ao exame de alguns aspectos importantes acerca dessa ampla legitimao em ADI.

    Assistncia advocatcia

    Nem todos os legitimados precisam de advogado para a propositura da ADI perante o STF. Somente os legitimados previstos nos incisos VIII e IX, acima, necessitam de assistncia advocatcia para a propositura de ADI. Os demais podero faz-lo diretamente, sem necessidade de advogado.

    Ademais, estes legitimados que no precisam de advogado (incisos I a VII) podero no s propor a ADI, mas tambm praticar todos os atos processuais no curso do processo, sem a necessidade de advogado (podero at mesmo, opor recursos, como se advogados fossem).

    Para a propositura de ADI, o advogado dever ter procurao especfica outorgada pelo legitimado para cada ao/dispositivo impugnado. Assim, para cada ADI proposta, ser necessria nova procurao, que indicar especificamente os dispositivos a serem impugnados (por exemplo: procurao para impugnar, em ADI, os artigos 2 e 3 da Lei X; procurao para impugnar, em ADI, o artigo 18 da Lei Y e assim por diante).

    Pertinncia temtica

    Embora a Constituio Federal no tenha estabelecida qualquer distino, a jurisprudncia do STF dividiu os legitimados do art. 103 em dois grupos: legitimados universais e legitimados especiais.

    Os legitimados universais podem impugnar qualquer matria em ADI, sem necessidade de comprovar interesse do rgo que representa (isto , sem necessidade de comprovao de pertinncia temtica). So legitimados universais: o Presidente da Repblica, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Cmara dos Deputados, o Procurador-Geral da Repblica, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e partido poltico com representao no Congresso Nacional.

    Os legitimados especiais s podem impugnar matrias em relao s quais comprovem interesse (isso , devem comprovar a existncia de pertinncia temtica). So legitimados especiais: a Mesa de Assemblia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do Distrito Federal e confederao sindical ou entidade de classe de mbito nacional.

    Desse modo, o Presidente da Repblica (legitimado universal) pode impugnar em ADI lei de qualquer estado da federao, sem necessidade de comprovar interesse na matria. J um Governador de Estado (legitimado especial) s pode impugnar em ADI lei federal ou de outro Estado na hiptese de comprovar interesse na matria (isto , dever ele comprovar que a lei federal, ou do outro Estado, est prejudicando interesse do Estado que ele representa). Igualmente, as associaes de classe de mbito nacional (legitimado especial) s podem impugnar em ADI leis que digam respeito a interesse de seus associados.

    Partido poltico com representao no Congresso Nacional

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    No qualquer poltico que dispe de legitimao para propor ADI. Somente o partido poltico com representao no Congresso Nacional poder propor ADI perante o STF. Para caracterizar a representao no Congresso Nacional, basta o partido poltico possuir um representante em qualquer das Casas Legislativas (na Cmara dos Deputados ou no Senado Federal).

    Ademais, a legitimao s exigida na data da propositura da ADI. Ainda que posteriormente o partido poltico perca completamente a sua representao no Congresso Nacional (cassao, renncia ou morte do congressista, por exemplo), tal fato no prejudicar em nada a ADI por ele anteriormente proposta. Enfim, a perda superveniente da representao no Congresso Nacional no prejudica as aes anteriormente propostas.

    Confederaes sindicais e entidades de classe

    Inicialmente, na organizao sindical brasileira tnhamos somente trs entidades sindicais previstas em lei: sindicato (entidade local), federao (entidade regional) e confederao (entidade nacional). Mais recentemente, foram tambm reconhecidas formalmente pelo legislador as centrais sindicais, entidades de maior grau (embora existentes, de fato, h muitos anos).

    Pois bem, segundo a jurisprudncia do STF, na estrutura sindical brasileira, s as confederaes sindicais dispem de legitimao para a propositura de ADI. Portanto, sindicatos e federaes, ainda que supostamente de mbito nacional, no podem propor ADI perante o STF. Nem mesmo as centrais sindicais, entidades de maior grau, podem propor ADI perante o STF.

    Outra questo discutida no STF foi a legitimao, ou no, das chamadas associaes de associaes, assim entendidas aquelas associaes que renem como membros exclusivamente pessoas jurdicas. Inicialmente, o STF firmou entendimento de que tais associaes no eram legitimadas propositura de ADI. Entretanto, o tribunal mudou de posio e passou a entender que as associaes de associaes podem propor ADI.

    (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) No se exige, para fins de ajuizamento e conhecimento da ADI, a prova da pertinncia temtica por parte das Mesas do Senado Federal, da Cmara dos Deputados, das assemblias legislativas dos estados ou da Cmara Legislativa do DF.

    A exigncia de pertinncia temtica recai sobre: (i) a Mesa de Assemblia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal; (ii) o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (iii) confederao sindical ou entidade de classe de mbito nacional. Para impetrarem ADI, esses legitimados devero demonstrar o seu interesse de agir, materializado na relao existente entre o ato impugnado e as funes exercidas. Portanto, incorreto o item.

    3.2) Objeto

    Podem ser objeto de ADI perante o STF leis e atos normativos federais e estaduais (CF, art. 102, I, a).

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    Leis municipais no podem ser objeto de ADI perante o STF, em hiptese alguma.

    No caso do Distrito Federal, como esse ente federado exerce competncias estaduais e municipais, temos que diferenciar: as leis editadas pelo no desempenho de atribuio estadual podem ser impugnadas em ADI perante o STF (porque se equiparam s leis estaduais); j as leis editadas pelo DF no exerccio de competncia municipal no podem ser objeto de ADI perante o STF (porque, afinal, se equiparam s leis municipais).

    Em sntese: podem ser objeto de ADI perante o STF as leis federais e estaduais e, ainda, as distritais editadas no exerccio de competncia estadual; no podem ser objeto de ADI perante o STF as leis municipais e as distritais editadas no exerccio de competncia prpria dos municpios.

    Requisitos especiais

    certo que para uma lei ser impugnada em ADI perante o STF dever ser ela federal, estadual ou editada pelo DF no exerccio de atribuio prpria dos estados-membros.

    Entretanto, no qualquer dessas leis que poder ser objeto de ADI perante o STF. Ser federal, estadual ou do DF no exerccio de atribuio estadual , apenas, o primeiro passo. Alm disso, a lei dever cumprir os seguintes requisitos:

    a) ser ps-constitucional (isto , ter sido editada na vigncia da Constituio Federal de 1988);

    Significa dizer que o chamado direito pr-constitucional, editado na vigncia de Constituies pretritas, no pode ser objeto de ADI perante o STF.

    b) possuir carter autnomo (isto , no pode ser norma meramente regulamentar);

    J estudamos na aula pretrita que o conflito entre ato regulamentar e lei regulamentada constitui mera ilegalidade, que no se sujeita ao controle de constitucionalidade. Assim, se um decreto regulamentar federal contrariar a lei federal por ele regulamentada, tal conflito constituir mera ilegalidade, no afervel em ADI.

    Ok. Agora, observe esta questo do concurso de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil, aplicada pela Esaf em 2005.

    No h possibilidade de ser conhecida pelo Supremo Tribunal Federal uma ao direta de inconstitucionalidade na qual se discute a constitucionalidade de um decreto.

    Quando pensamos em decreto regulamentar, a questo parece correta. Todavia, como voc sabe, h os decretos autnomos (haurido diretamente da Constituio). Nesse caso, um decreto de natureza autnoma poder desrespeitar diretamente a Constituio. E, nesse caso, ser possvel a ADI. Portanto, a questo est incorreta.

    Por outro lado, um decreto de natureza meramente regulamentar no poderia ser impugnado em ADI.

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    c) ser dotada de generalidade, abstrao ou generalidade;

    A norma tpica impugnvel em ADI aquela que tem destinatrios incertos, no determinados, em razo da abstrao de que se reveste. Se o ato tem destinatrio certo, determinado, no pode ser objeto de ADI perante o STF por constituir, na verdade, contedo meramente administrativo (um decreto do Presidente da Repblica que nomeie, exonere ou demita um agente pblico, por exemplo).

    Entretanto, muito cuidado! Recentemente, o STF firmou o entendimento de que esse requisito no se aplica aos atos editados sob a forma de lei (em sentido estrito, aprovada pelo processo legislativo constitucional). Com base nesse novo entendimento, o STF conheceu de ADI proposta contra lei oramentria (ao at ento nunca admitida, por entender o tribunal que as leis oramentrias no passavam de meros atos administrativos, fixadores da receita e da despesa pblicas).

    d) estar em vigor (isto , no cabe ADI contra direito revogado).

    No cabe ADI contra direito revogado. Afinal, o objetivo dessa ao retirar do ordenamento jurdico leis inconstitucionais, na defesa da supremacia da Constituio. Ora, se a lei j foi retirada do ordenamento jurdico pela revogao, a ADI no tem mais objeto.

    Nesse ponto, comum ouvirmos em sala de aula: mas, professor, e se eu fui prejudicado por essa lei, enquanto ela esteve em vigor, no se pode mais fazer nada?

    Nossa resposta: pode sim, sem dvida; entretanto, caro aluno, voc um caso concreto, e a ADI no tem por objeto resolver casos concretos; para isso que existe o controle incidental, na via difusa; v, ento, discutir o seu caso concreto na via difusa - e, l, voc poder normalmente pleitear, incidentalmente, a declarao da inconstitucionalidade da lei j revogada, com o fim de afastar a sua aplicao ao seu caso concreto.

    Ainda sobre esse ponto, temos que responder seguinte pergunta: e se for proposta uma ADI contra lei em vigor que, supervenientemente, antes do julgamento pelo STF, vem a ser revogada?

    Bem, em sntese, temos o seguinte:

    a) ADI contra lei j revogada: ADI no conhecida pelo STF, por ausncia de objeto;

    b) ADI contra lei em vigor, mas posteriormente revogada: ADI conhecida, mas supervenientemente prejudicada, por perda de objeto, salvo se a revogao da lei ocorrer aps a incluso da ADI na pauta de julgamento.

    Vejamos uma questo da FCC sobre os objetos de uma ADI.

    (FCC/PROCURADOR/TCE-AL/2008) De acordo com a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, pode ser objeto da ao direta de inconstitucionalidade perante aquele Tribunal norma

    a) constitucional federal fruto do Poder Constituinte originrio, caso viole as limitaes materiais ao poder reformador.

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    b) municipal que viole a Constituio da Repblica.

    c) municipal que viole a Constituio do respectivo Estado-membro.

    d) federal editada anteriormente Constituio da Repblica vigente quando da propositura da ao direta.

    e) editada pelo Distrito Federal, quando decorrente do exerccio de competncia estadual.

    A alternativa a est errada, pois normas constitucionais originrias no podem ser objeto de controle de constitucionalidade.

    As alternativas b e c esto erradas, pois normas municipais no podem ser objeto de ADI; apenas normas estaduais e federais que desrespeitem a Constituio Federal.

    A alternativa d est errada, pois o direito pr-constitucional no pode ser objeto de ADI.

    A alternativa e est correta, pois as normas distritais editadas no exerccio da competncia estadual podem ser objeto de ADI.

    3.3) Causa de pedir aberta

    bastante cobrada em concursos a distino entre pedido e causa de pedir no mbito do controle abstrato.

    Podemos dizer que, em sede de ADI, o STF vincula-se ao pedido, mas no causa de pedir, pois esta aberta.

    Dizer que o STF vinculado ao pedido significa que o Supremo est condicionado anlise daqueles artigos que esto sendo impugnados pelo autor. Ou seja, a atuao do STF restringe-se queles dispositivos questionados pelo autor; no pode a Corte declarar a inconstitucionalidade de outros artigos no impugnados na inicial.

    Por sua vez, dizer que o STF no est vinculado causa de pedir (causa de pedir aberta) significa que o STF no se vincula ao parmetro indicado pelo autor da ao. Quer dizer que pode o Supremo declarar a inconstitucionalidade da lei impugnada, mas por motivo totalmente diverso daquele manifestado pelo autor na inicial.

    Ou seja, o autor pode alegar que uma lei desrespeita o art. 5 e o STF entender que aquela mesma lei , de fato, inconstitucional, mas por ofensa ao art. 21 da CF/88. Vejamos esta questo da FCC.

    (FCC/ANALISTA- REA: DIREITO/MPE/SE/2010) O Supremo Tribunal Federal fica vinculado aos fundamentos apresentados pelo proponente, por ser a causa de pedir restrita ou fechada, vedando-se que a deciso seja assentada em qualquer parmetro constitucional.

    No, no. A causa de pedir aberta, no vinculando o STF. O STF est vinculado ao pedido, ao dispositivo impugnado na inicial.

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    Ou seja, obrigatrio que a anlise da constitucionalidade tenha por objeto aquela norma ou dispositivo que est sendo questionado; todavia, no h bice a que ele seja declarado inconstitucional por fundamentos no apresentados pelo autor. Portanto, incorreto o item.

    Ok, j sabemos que, em controle de constitucionalidade abstrato, o STF vinculado ao pedido, devendo se ater anlise daqueles dispositivos impugnados, sem a possibilidade de declarar inconstitucionais outros dispositivos.

    Exemplo: Os arts. 3 e 9 da Lei A esto sendo impugnados em sede de ADI. Como o STF est vinculado ao pedido, no pode decidir declarar inconstitucional toda a Lei A, mesmo que haja outras inconstitucionalidades flagrantes nos dispositivos no impugnados.

    Por qu? Ora, porque o STF est vinculado ao pedido do autor.

    Ok. Est tudo muito bom, est tudo muito bem. Todavia, h uma hiptese excepcional em que se admite certa flexibilizao dessa regra geral. Isso ocorre quando a declarao de inconstitucionalidade estende-se a outros dispositivos pelo fato de haver uma estreita relao entre eles e a norma impugnada.

    Significa que, se dois dispositivos legais mantm, entre si, um vnculo de dependncia jurdica que resulta na impossibilidade de que uma norma permanea no ordenamento jurdico sem a outra, poderemos ter a chamada inconstitucionalidade por arrastamento (ou por atrao). Ou seja, a declarao de inconstitucionalidade alcanaria no apenas a norma legal impugnada (se estenderia aos outros dispositivos com ela relacionados), uma vez que as normas remanescentes perderiam todo o sentido com a declarao de invalidade da primeira.

    Vejamos um exemplo.

    Suponhamos que a Lei B crie uma nova licena para os servidores de um ente da Federao.

    (...)

    Art. 4. O servidor poder se afastar das suas atividades por trinta dias ao ano, sem prejuzo da remunerao, para usufruir de licena...

    Art. 5. A licena prevista no artigo anterior poder ser parcelada em at duas vezes.

    Agora, digamos que o art. 4 da Lei B seja impugnado em ADI perante o STF e a tal licena seja declarada inconstitucional. Faz algum sentido manter vlido o art. 5 daquela lei?

    No, no faz. Diante disso, mesmo no tendo sido impugnado especificamente o art. 5, o STF declara a inconstitucionalidade do art. 4 da Lei B e, por arrastamento, a do art. 5.

    Resolva, agora, esta questo da FCC.

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    (FCC/ANALISTA - REA: DIREITO/MPE/SE/2010) O Supremo Tribunal Federal aprecia a validade dos dispositivos legais indicados no pedido formulado pelo autor da ao, porm admite a inconstitucionalidade por arrastamento ou por atrao.

    isso mesmo! O STF vincula-se ao pedido do autor, mas isso no o impede de adotar, na deciso sobre a inconstitucionalidade da lei, a tcnica da declarao de inconstitucionalidade por arrastamento, alcanando outros dispositivos estreitamente vinculados ao que foi impugnado pelo autor. Correta a questo.

    3.4) Participao do PGR e AGU

    O Procurador-Geral da Repblica e o Advogado-Geral da Unio tm participao ativa no processo de ADI perante o STF.

    Participao do Procurador-Geral da Repblica

    O Procurador-Geral da Repblica desempenha duplo papel: legitimado para a propositura de ADI (CF, art. 103, VI) e tambm dever ser previamente ouvido em todas as ADI propostas perante o STF (CF, art. 103, 1).

    Ao propor uma ADI, o Procurador-Geral da Repblica atua como legitimado universal, podendo impugnar qualquer matria, independentemente da comprovao de interesse (pertinncia temtica).

    J ao se manifestar sobre as ADI propostas pelos demais legitimados do art. 103, o Procurador-Geral da Repblica atua como fiscal da lei, zelando pela regular aplicao das leis e da Constituio. Logo, poder ele opinar pela procedncia ou pela improcedncia das aes propostas.

    Cuidado! importante destacar que esse direito de manifestao imparcial do Procurador-Geral da Repblica assegurado, inclusive, nas aes por ele propostas. Isto mesmo: ele poder, hoje, propor uma ADI impugnando certa lei e, posteriormente, ao ser chamado a se manifestar, opinar pela improcedncia desta mesma ADI (anteriormente por ele proposta!).

    Participao do Advogado-Geral da Unio

    Estabelece a Constituio Federal que quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citar, previamente, o Advogado-Geral da Unio, que defender o ato ou texto impugnado (art. 103, 3).

    Como se v, o papel do Advogado-Geral da Unio bem distinto: cabe a ele defender o ato ou texto impugnando em ADI perante o STF.

    Embora integrante da estrutura do Poder Executivo federal (CF, art. 131), caber ao Advogado-Geral da Unio defender a constitucionalidade no s das normas federais impugnadas em ADI, mas tambm das estaduais (ou do DF, no exerccio de atribuio estadual).

    Muito se discutiu no STF sobre a natureza dessa atuao do Advogado-Geral da Unio. Estaria o Advogado-Geral da Unio obrigado a defender, sempre, a

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    constitucionalidade da norma impugnada em ADI, em qualquer circunstncia? Ou ser que poderia ele, excepcionalmente, opinar pela inconstitucionalidade da norma?

    Pois bem, inicialmente, o STF firmou entendimento de que o Advogado-Geral da Unio obrigado a defender, sempre, a constitucionalidade da norma impugnada em ADI, seja ela federal ou estadual. No poderia ele, portanto, opinar pela inconstitucionalidade da norma, em hiptese alguma.

    Recentemente, porm, o tribunal tem abrandado esse seu tradicional entendimento, passando a admitir que o Advogado-Geral da Unio deixe de defender a constitucionalidade da norma impugnada em ADI, reconhecendo a ele a autonomia para agir, escolhendo como se manifestar, pela constitucionalidade, ou no da norma impugnada (ADI 3.916, rel. Min. Eros Grau, 07.10.2009).

    Portanto, este ltimo entendimento do STF dever ser o adotado em eventual questo de prova daqui por diante: o Advogado-Geral da Unio no est obrigado a defender, sempre, a constitucionalidade da norma impugnada em ADI.

    (A nosso ver, porm, essa questo ainda no se encontra pacificada no mbito do STF, havendo Ministros naquela Corte que insistem em se manifestar no sentido de que o Advogado-Geral da Unio est obrigado, sempre, a defender o ato ou texto impugnado em ADI).

    3.5) Interveno de terceiros e amicus curiae

    O Cdigo de Processo Civil (CPC) disciplina o instituto processual denominado interveno de terceiros.

    Cuida-se de situaes nas quais um terceiro (at ento no integrante da lide) poder ingressar no processo, em razo da pertinncia de seu interesse jurdico com o direito que est sendo discutido pelas partes do processo.

    So cinco as hipteses de interveno de terceiros admitidas no CPC:

    a) assistncia;

    b) oposio;

    c) chamamento ao processo;

    d) denunciao lide;

    e) nomeao autoria.

    Em Direito Constitucional, voc no precisa conhecer com profundidade todos esses institutos do CPC. Mas, s para voc ter uma noo mnima, imagine as seguintes situaes:

    Situao 1: Joo e Maria so partes em determinado processo judicial, em que discutem a titularidade do direito Y; de repente, surge Antnio, um terceiro que tem interesse convergente com o de Maria (isto , Antnio tem interesse jurdico na vitria de Maria nesse processo); nessa situao, Antnio poder

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    comprovar ao juiz do processo o seu interesse jurdico e requerer a ele o seu ingresso no processo, na condio de assistente (assistncia);

    Situao 2: Joo e Maria so partes em determinado processo judicial, em que discutem a titularidade do direito Y; de repente, surge um terceiro, Bruno, que entende que o direito Y no pertence a Joo, tampouco Maria, mas sim a ele, Bruno; nessa situao, Bruno poder ingressar no processo como opoente (oposio).

    Pronto, acho que agora voc est voando um pouco menos, no?

    Pois bem, o que nos interessa, aqui no controle abstrato, saber o seguinte: em ADI, no se admite nenhuma dessas formas de interveno de terceiros disciplinadas no CPC; enfim, em ADI no possvel a interveno de terceiros na qualidade de assistncia, oposio, chamamento ao processo, denunciao lide ou nomeao autoria.

    Desse modo, h muito, nenhum terceiro no legitimado pelo art. 103 da Constituio Federal podia ingressar no processo de ADI perante o STF. A partir de 1999, porm, passou a ser permitido o ingresso de terceiro no legitimado pelo art. 103 da Constituio Federal no processo de ADI, desde que na condio de amicus curiae (amigo da Corte).

    Com efeito, a Lei 9.868/1999 trouxe a possibilidade de ingresso de amicus curiae no processo de ADI, nestes termos (art. 7, 2):

    O relator, considerando a relevncia da matria e a representatividade dos postulantes, poder, por despacho irrecorrvel, admitir, observado o prazo fixado no pargrafo anterior, a manifestao de outros rgos ou entidades.

    O amicus curiae constitui um terceiro (rgo, entidade) conhecedor da matria em debate em ADI, e que queira colaborar com o tribunal na soluo da controvrsia.

    E como se d o ingresso de terceiro, na qualidade de amicus curiae? Uma vez distribuda a ADI ao Ministro relator, poder ele, at o final da fase de instruo, admitir, em despacho irrecorrvel, o ingresso de rgos ou entidades interessados, na qualidade de amicus curiae.

    Uma vez admitido o ingresso do amicus curiae, qual ser a sua participao no processo de ADI? A colaborao do amicus curiae poder ser mediante a entrega de documentos, pareceres, memoriais e at mesmo por meio de manifestao oral durante a sesso de julgamento da ADI.

    Mas, cuidado! Segundo o STF, o amicus curiae admitido em ADI no poder interpor recursos.

    isso. Agora, tenha bem claro na sua cabea que a participao de amicus curiae no hiptese de interveno de terceiros, ok? Quanto a isso, o caput do art. 7 da Lei 9.868/99 (Lei da ADI) bastante convincente:

    No se admitir interveno de terceiros no processo de ao direta de inconstitucionalidade.

    Veja esta questo do Cespe na prova de Procurador do Estado de Pernambuco (2009):

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    A interveno de terceiros admitida no controle concentrado de constitucionalidade, por meio do instituto do amicus curiae.

    Como vimos, considerando a relevncia da matria e a representatividade dos postulantes, o relator poder admitir a manifestao de outros rgos ou entidades (amicus curiae). Todavia, ateno! Isso no hiptese de interveno de terceiros. Portanto, errada a questo.

    3.6) Pedido de informaes

    Quando conhecida a ao direta de inconstitucionalidade, o relator pedir informaes aos rgos ou s autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado, devendo tais informaes ser prestadas no prazo de trinta dias contado do recebimento do pedido do STF.

    Desse modo, se a norma impugnada em ADI uma lei federal, o STF pedir informaes ao Congresso Nacional e Presidncia da Repblica, que tero, ento, o prazo de trinta dias para se manifestarem a respeito da validade da norma (por eles elaborada).

    Em caso de necessidade de esclarecimento de matria ou circunstncia de fato ou de notria insuficincia das informaes existentes nos autos, o relator poder tambm requisitar informaes adicionais, designar perito ou comisso de peritos para que emita parecer sobre a questo, ou fixar data para, em audincia pblica, ouvir depoimentos de pessoas com experincia e autoridade na matria. Poder, ainda, solicitar informaes aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicao da norma impugnada no mbito de sua jurisdio.

    3.7) Imprescritibilidade

    A propositura de ADI no se sujeita a nenhum prazo prescricional ou decadencial.

    Logo, uma lei poder ser impugnada em ADI cinco, dez ou vinte anos aps a sua publicao.

    (CESPE/PROCURADOR/TCE-ES/2009) O ajuizamento da ADI sujeita-se observncia do prazo decadencial de dez anos.

    No h prazo decadencial para a impetrao de ADI, tendo em vista que a nulidade no se convalida. Assim, enquanto estiver em vigor, poder a lei ser impugnada em sede de ADI. Portanto, incorreto o item.

    3.8) Indisponibilidade

    A ao direta de inconstitucionalidade uma ao indisponvel, isto , uma vez proposta no se admite que o autor dela desista. Enfim, nenhum dos legitimados do art. 103 da Constituio Federal poder desistir de ADI proposta.

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    Do mesmo modo, o princpio da indisponibilidade impede, tambm, que o autor desista do pedido de medida cautelar j formulado em ADI.

    3.9) Suspeio e impedimento de Ministro

    O Cdigo de Processo Civil permite a arguio de suspeio de juiz quando, por exemplo, o magistrado for amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes ou alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral at o terceiro grau (CPC, art. 135).

    Segundo a jurisprudncia do STF, em ADI, no se admite a arguio de suspeio de Ministro do STF (haja vista que no processo de ADI no se discute direito subjetivo de ningum; trata-se de processo objetivo, que tem por fim resguardar a supremacia da Constituio).

    Entretanto, admissvel a alegao de impedimento de Ministro, quando este tenha atuado anteriormente no processo na condio de Procurador-Geral da Repblica, Advogado-Geral da Unio, requerente (autor da ao) ou requerido.

    3.10) Medida cautelar em ADI

    A medida cautelar constitui um provimento liminar do STF que tem por fim garantir a utilidade da futura deciso de mrito daquele tribunal, evitando-se o risco de a demora na prestao jurisdicional vir a causar um dano irreparvel ou de incerta reparao.

    Desse modo, ao propor uma ADI perante o STF, o autor poder pleitear a concesso de medida cautelar, desde que comprove os requisitos para tal: a fumaa do bom direito (fumus boni juris) e o perigo na demora (periculum in mora).

    Considerando que no so poucos, vejamos, objetivamente, os aspectos relevantes que voc precisa memorizar para a sua prova - acerca da concesso de medida cautelar em ADI:

    Fora da medida

    A concesso de medida cautelar:

    a) suspende a eficcia da norma impugnada at o julgamento de mrito;

    Significa dizer que a aplicao da norma impugnada ficar suspensa at que o STF julgue o mrito da ADI.

    b) suspende o julgamento de todos os processos que envolvam a norma impugnada at o julgamento de mrito;

    Significa dizer que todos os processos judiciais ou administrativos que discutam a validade da norma impugnada ficaro suspensos at que o STF julgue o mrito da ADI.

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    c) torna aplicvel a legislao anterior acaso existente, salvo manifestao em contrrio do STF (efeito repristinatrio).

    Temos, aqui, a figura jurdica denominada efeito repristinatrio em relao legislao anterior. Nome complicado, mas muito fcil de compreender! Imagine a seguinte situao: temos em vigor a Lei A; posteriormente, essa Lei A revogada pela Lei B; essa Lei B impugnada em ADI perante o STF, na qual concedida medida cautelar suspendendo a sua eficcia; nessa situao, ao suspender a eficcia da Lei B, a medida cautelar tornar automaticamente aplicvel a Lei A, salvo manifestao expressa do STF em sentido contrrio; esse tornar aplicvel automaticamente a Lei A o denominado efeito repristinatrio.

    Cuidado! Veja que a regra o imediato/automtico efeito repristinatrio. Logo, se o STF conceder a medida cautelar e nada disser a respeito, entende-se que a legislao anterior (se houver) estar automaticamente revigorada. Ou seja, para que seja afastado o chamado efeito repristinatrio indesejado, necessrio que o STF se manifeste expressamente (o silncio do STF implica, portanto, tornar aplicvel a legislao anterior).

    Na verdade, para que seja afastado o efeito repristinatrio indesejado, so necessrios dois requisitos:

    i) pedido do autor (o autor da ao ter que cumular o pedido, isto , pedir tanto a declarao da inconstitucionalidade da Lei B como da Lei A, para que esta no volte a viger);

    ii) manifestao expressa do STF (afastando o efeito repristinatrio em relao Lei A).

    d) efeito vinculante.

    A deciso do STF concedendo a medida cautelar (com os efeitos acima comentados) tem efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio e Administrao Pblica direta e indireta nas esferas federal, estadual, distrital e municipal.

    Significa, em simples palavras, que nenhum juzo ou tribunal inferior, nenhum rgo ou entidade da Administrao Pblica poder desrespeitar a deciso do STF proferida na concesso da medida cautelar.

    Cuidado! Nem todo mundo alcanado pelo efeito vinculante! O Poder Legislativo e o prprio STF no so alcanados pela fora vinculante das decises proferidas pelo STF.

    Assim, a concesso de medida cautelar pelo STF suspendendo a eficcia da Lei A no impede que o Legislativo edite outra norma de igual teor, nem que o prprio STF reveja posteriormente este seu entendimento.

    E se no for respeitado esse efeito vinculante por parte da Administrao Pblica, por exemplo? Bem, caso haja desrespeito deciso proferida em sede de cautelar em ADI (ou qualquer outra que tenha efeito vinculante), o prejudicado poder valer-se do instrumento processual denominado reclamao, proposto diretamente perante o STF, para que este garanta a

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    autoridade de sua deciso, determinando a anulao do ato da administrao ou a cassao da deciso judicial reclamada.

    S no caber reclamao quando a deciso reclamada j tiver transitado em julgado. Segundo o STF:

    No cabe reclamao quando j houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado deciso do Supremo Tribunal Federal. (Smula 734)

    Efeitos temporais da medida

    A concesso de medida cautelar produz, em regra, efeitos prospectivos (ex nunc).

    Excepcionalmente, porm, poder o STF conceder efeitos retroativos (ex tunc), desde que o faa expressamente.

    Entenda-se: o silncio do STF implica efeitos ex nunc; para que os efeitos sejam ex tunc necessria a pronncia expressa do STF nesse sentido.

    Deliberao para a concesso

    A medida cautelar em ADI concedida por deciso de maioria absoluta dos membros do STF (voto de seis Ministros), salvo no perodo de recesso.

    No perodo de recesso, a medida cautelar poder ser concedida monocraticamente (pelo Ministro plantonista), ficando, porm, sujeita a referendo (confirmao) de maioria absoluta do Plenrio (isto , quando terminar o perodo de recesso, a medida cautelar ter que ser confirmada, referendada por maioria absoluta do Plenrio).

    Incio da eficcia

    A medida cautelar comea a produzir efeitos na data da publicao da ata da sesso de julgamento, salvo se outro momento for fixado pelo STF.

    3.11) Deciso de mrito em ADI

    Apreciado o pedido de medida cautelar, concedida ou no esta medida, posteriormente o STF apreciar o mrito da ADI, a fim de firmar, em definitivo, a sua posio sobre a controvrsia.

    Novamente, como o nosso interesse neste curso on-line concurso pblico, vamos examinar, objetivamente, os principais aspectos acerca da deciso de mrito em ADI.

    Qurum para deciso

    Para que o STF julgue o mrito de uma ADI, necessria a presena de, pelo menos, oito Ministros (qurum mnimo, de dois teros). Presentes os oito Ministros (ou mais), a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade s ser proferida se houver manifestao, num ou noutro sentido, de pelo menos seis Ministros (maioria absoluta).

    Cuidado! Voc ter que se lembrar destes dois nmeros: oito Ministros (para que haja julgamento) e seis Ministros (para que haja deciso).

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    Natureza dplice ou ambivalente

    A ADI ao de natureza dplice ou ambivalente, pois a deciso nela proferida reconhecer a inconstitucionalidade (no caso de procedncia) ou a constitucionalidade (no caso de improcedncia) da norma impugnada.

    Muito simples, no? Como o pedido na ADI a declarao da inconstitucionalidade da norma, se a ao for julgada procedente, o STF estar declarando a norma inconstitucional; ao contrrio, se a ao for julgada improcedente, o STF estar declarando a norma constitucional.

    Fora da medida (em regra)

    Em regra, a deciso de mrito em ADI produz os seguintes efeitos:

    a) eficcia erga omnes;

    b) efeitos ex tunc;

    c) efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio e Administrao direta e indireta, nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;

    d) efeito repristinatrio.

    Esses so os efeitos ordinrios da deciso de mrito em ADI, que poder ser proferida por deciso de maioria absoluta dos membros do STF (no os explicaremos novamente, a fim de evitarmos repetio, pois o significado de cada um desses efeitos j foi estudado no subitem anterior).

    Portanto, se o tribunal julgar o mrito da ADI e nada esclarecer a respeito dos seus efeitos, tais efeitos sero esses, por constiturem a regra.

    Entretanto, conforme veremos no subitem seguinte, o STF poder modular (manipular, flexibilizar) os efeitos temporais de sua deciso, desde que presentes certos requisitos e haja deciso de dois teros dos seus membros.

    Modulao dos efeitos temporais da declarao de inconstitucionalidade

    O art. 27 da Lei 9.868/1999 outorgou ao STF a possibilidade de modular os efeitos temporais de sua deciso, nestes termos:

    Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois teros de seus membros, restringir os efeitos daquela declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

    So dois os requisitos para que o STF adote a modulao dos efeitos temporais de sua deciso que declara a inconstitucionalidade em ADI:

    i) razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social;

    ii) deciso de dois teros dos seus membros.

    Presentes esses requisitos, poder o STF:

    i) restringir os efeitos da declarao da inconstitucionalidade;

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    ii) decidir que a deciso s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado (ex nunc);

    iii) fixar outro momento para o incio da eficcia da deciso (este momento poder ser anterior data da deciso, ou futuro, posterior deciso).

    Vamos clarear um pouco mais essa situao, com uma situao hipottica. Suponha que, em novembro/2011, deciso de mrito proferida pelo STF em ADI declare a inconstitucionalidade de uma lei publicada em 2004. Nessa situao, teremos o seguinte:

    a) se o tribunal nada disser expressamente a respeito dos efeitos temporais, tal declarao de inconstitucionalidade produzir efeitos ex tunc (isto , a lei estar sendo declarada inconstitucional desde o seu nascimento, em 2004) pois, afinal, essa a regra no Brasil (nulidade da lei), e tal deciso poder ser proferida por maioria absoluta de votos;

    b) entretanto, se o tribunal entender que se est diante de razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder, desde que por dois teros (e no mais por maioria absoluta!) de seus membros:

    b.1) outorgar efeitos ex nunc sua deciso, isto , decidir que tal deciso s produz eficcia a partir da data da deciso (novembro/2011);

    b.2) fixar um outro momento anterior (janeiro de 2010, por exemplo) ou posterior (janeiro de 2012, por exemplo) para o incio da eficcia de sua deciso.

    Observe que, nos casos da letra b, acima, no estar sendo declarada a nulidade da lei, mas sim a sua anulabilidade (j que, nesses casos, a lei, mesmo inconstitucional, teria produzido efeitos vlidos). Por representar situao excepcional, exige-se deciso de dois teros dos membros do STF.

    Vejamos uma questo sobre o assunto.

    (CESPE/ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO/DIREITO/TCE/AC/2009) Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder o STF, por maioria absoluta de seus membros, restringir os efeitos daquela declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

    A assertiva est errada, pois o quorum exigido de dois teros e no maioria absoluta. Questo simples.

    Mas voc j se perguntou o porqu dessa possibilidade de modulao de efeitos? Afinal, quando uma lei declarada inconstitucional, seu vcio no existe desde a sua criao?

    Por exemplo, sabemos que se exige maioria absoluta dos votos para a aprovao de uma lei complementar. Se essa lei for aprovada por maioria simples, ela produzir efeitos at a declarao de inconstitucionalidade, embora a lei seja invlida. Logo, constatada a inconstitucionalidade da lei no mbito de uma ao prpria (ADI, por exemplo), a pronncia sobre a

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    invalidade da lei retroage, atingindo tambm o perodo entre a sua edio e essa declarao.

    Assim, como regra, a declarao de sua inconstitucionalidade por parte do STF em sede de ADI, por exemplo, opera efeitos desde a criao da lei (efeitos retroativos ou ex tunc).

    Essa a lgica de se dizer que ela inconstitucional desde a origem. E da decorrem os efeitos retroativos (ex tunc) da declarao de inconstitucionalidade, tanto no controle abstrato, quanto no concreto.

    que, tendo em vista o princpio da supremacia da Constituio, a regra a aplicao do princpio da nulidade da lei declarada inconstitucional; ou seja, a lei que contrarie a Carta Maior nula desde a sua edio, no podendo produzir efeitos.

    Entretanto, essa a regra geral. Na realidade, haver situaes concretas em que essa declarao de nulidade causar transtornos imensos.

    Imagine uma lei que criasse um rgo pblico, mas sofresse vcios de iniciativa que resultam na sua inconstitucionalidade. Agora, imagine que a declarao de inconstitucionalidade ocorresse apenas anos aps a criao desse rgo.

    Nesse caso, se a lei fosse declarada nula desde a sua origem, resolveramos o problema jurdico, mas estaramos diante de um problema real: todos os atos praticados pelo rgo poderiam ser impugnados por nulidade.

    Nessa situao hipottica extrema, se aquele rgo tivesse firmado contratos, emitido certides, contratado servidores, nada disso teria validade. Os contratos, por exemplo, poderiam ser desfeitos. E os servidores poderiam ir para a rua...

    Assim, em homenagem aos princpios da segurana jurdica, do interesse social e da boa f, que se tem admitido a modulao dos efeitos temporais da deciso de inconstitucionalidade. Ou seja, o Supremo admite que a lei produza efeitos, estabelecendo uma data a partir da qual aquela lei passa a ser invlida. Isso permite uma adequao dos efeitos da declarao de inconstitucionalidade realidade ftica.

    Por fim, para encerrar o assunto modulao dos efeitos temporais, importante mencionar dois entendimentos do Supremo Tribunal Federal:

    a) apesar de previsto legalmente apenas no mbito das aes do controle abstrato, perfeitamente cabvel a modulao dos efeitos temporais no mbito do controle difuso/incidental;

    b) no cabvel a modulao temporal dos efeitos em juzo de recepo/revogao do direito pr-constitucional pela Constituio vigente.

    Irrecorribilidade da deciso de mrito

    A deciso de mrito em ADI irrecorrvel, ressalvada a interposio de embargos declaratrios, no podendo, igualmente, ser objeto de ao rescisria.

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    Firmada a deciso de mrito pelo STF, contra ela s cabero embargos declaratrios (os embargos de declarao constituem recurso com o fim de sanar eventual obscuridade, omisso ou contradio existente na deciso).

    Interpostos os embargos de declarao (sejam julgados procedentes ou improcedentes), ou esgotado o prazo para a sua interposio, a deciso transitar em julgado, e contra ela no caber mais nenhum outro recurso, nem mesmo ao rescisria (a ao rescisria uma ao que visa ao desfazimento de uma deciso transitada em julgado).

    Enfim, contra a deciso de mrito do STF em ADI s cabe um nico recurso: embargos declaratrios; e contra tal deciso no cabe ao rescisria.

    Pronto, encerramos aqui o estudo dos aspectos mais importantes acerca da ao direta de inconstitucionalidade (genrica).

    Daqui por diante, estudaremos os aspectos importantes das demais aes abstratas perante o STF, lembrando que, para evitarmos repeties, indicaremos em cada nova ao somente aqueles aspectos distintos, isto , as diferenas de tais aes em relao a ADI genrica.

    Em 2010, a FCC cobrou o seguinte enunciado na prova de Analista Jurdico do MPE/SE.

    A deciso que declara a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em ao direta recorrvel, cabendo tambm a interposio de embargos declaratrios e de ao rescisria.

    A questo est errada, uma vez que a deciso em ADI irrecorrvel, salvo a interposio de embargos de declarao, no sendo cabvel nem mesmo ao rescisria.

    4) Estudo da ADO

    A ao direta de inconstitucionalidade por omisso (ADO) novidade trazida pela Constituio Federal de 1988, haja vista que, antes, no tnhamos no Brasil a figura da inconstitucionalidade por omisso.

    Ao lado do mandado de injuno, veio para conferir maior efetividade ao texto constitucional, naquelas situaes em que, por inrcia do legislador infraconstitucional, o exerccio do direito constitucional permanece impedido, por falta de norma regulamentadora.

    A principal distino entre o mandado de injuno e a ADO que aquele tem como legitimado o titular do direito constitucional carente de regulamentao, em um caso concreto, enquanto esta tem como legitimados os autorizados no art. 103 da Constituio, e trata da impugnao em tese da omisso (sem vinculao a caso concreto).

    Enfim, o mandado de injuno ao do controle incidental, a ser utilizada pelo titular do direito constitucional impedido pela falta de norma regulamentadora, diante de um caso concreto; por outro lado, a ADO ao do controle abstrato, a ser proposta pelos legitimados do art. 103 da Constituio para impugnar, em tese, a omisso inconstitucional.

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    Passemos, ento, ao exame dos aspectos relevantes acerca da ADO.

    4.1) Legitimao

    Embora os legitimados em ADO sejam exatamente os mesmos legitimados em ADI, indicados no art. 103 da Constituio, no tocante propositura de ADO h uma peculiaridade: que o legitimado do art. 103 da Constituio no pode impugnar em ADO omisso que ele tenha dado causa (isto , em que ele seja o rgo omisso).

    Trata-se, portanto, de uma diferena significativa entre a ADI e a ADO, seno vejamos: o Presidente da Repblica pode impugnar em ADI perante o STF uma lei que ele tenha sancionado (o projeto de lei) e promulgado; entretanto, no poder impugnar em ADO uma omisso inconstitucional que ele prprio tenha dado causa (no envio ao Congresso Nacional do projeto de lei ordinria especfica para regulamentar o direito de greve dos servidores pblicos, nos termos do art. 37, VII, da Constituio - por exemplo).

    4.2) Objeto

    Enquanto na ADI so impugnveis leis e atos normativos federais e estaduais (e do DF, no uso de atribuio estadual), na ADO so impugnveis as omisses de rgos federais e autoridades federais, estaduais (e do DF, no tocante ao exerccio de atribuio estadual).

    Enfim, aqui no muda nada, exceto que na ADI so impugnveis normas jurdicas, enquanto na ADO so impugnveis omisses.

    As omisses de rgos municipais (e do DF, no tocante ao exerccio de atribuio municipal) no podem ser impugnadas em ADO perante o STF.

    4.3) Participao do Advogado-Geral da Unio

    Em ADI, o Advogado-Geral da Unio dever ser ouvido, para defender o ato ou texto impugnado, ou seja, sua oitiva obrigatria.

    J na ADO, o relator poder solicitar a manifestao do Advogado-Geral da Unio, ou seja, a sua oitiva fica a critrio do relator (no obrigatria, portanto).

    4.4) Medida cautelar em ADO

    Em ADO, diante de excepcional urgncia e relevncia da matria, o Tribunal, por deciso da maioria absoluta de seus membros, poder conceder medida cautelar.

    A medida cautelar poder consistir na suspenso da aplicao da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omisso parcial, bem como na suspenso de processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providncia a ser fixada pelo Tribunal.

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    Cuidado! Veja que a fora da medida cautelar em ADO bem distinta, podendo consistir:

    a) em se tratando de omisso parcial, na suspenso da aplicao da lei ou do ato normativo questionado;

    b) na suspenso de processos judiciais ou de procedimentos administrativos;

    c) em outra providncia a ser fixada pelo Tribunal.

    Esse aspecto foi cobrado em prova recente do Cespe.

    (CESPE/JUIZ/TRF-5REGIO/2011) No se admite a concesso de medida cautelar em ao direta de inconstitucionalidade por omisso, em razo da natureza e da finalidade desse tipo de ao.

    Esse assunto importante, uma vez que, inicialmente, a jurisprudncia do STF entendia que no caberia concesso de medida cautelar em ADI por omisso. Esse entendimento foi superado pela edio da Lei 12.063/09, que passou a prever expressamente a concesso de medida cautelar em ADO.

    Diante disso, o STF poder conceder medida cautelar consubstanciada: (i) na suspenso da aplicao da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omisso parcial; (ii) na suspenso de processos judiciais ou de procedimentos administrativos; ou (iii) em outra providncia a ser fixada pelo Tribunal. Portanto, incorreto o item.

    4.5) Deciso de mrito

    Declarada a inconstitucionalidade por omisso, ser dada cincia ao Poder competente para a adoo das providncias necessrias.

    Em caso de omisso imputvel a rgo administrativo, as providncias devero ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razovel a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstncias especficas do caso e o interesse pblico envolvido.

    Observe que a fora da deciso distinta, conforme o rgo omisso:

    a) se a omisso for de um Poder ser dada cincia a esse Poder, para a adoo das providncias necessrias;

    b) se a omisso for de um rgo administrativo - as providncias devero ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razovel a ser estipulado excepcionalmente pelo Tribunal.

    A FCC cobrou esse aspecto numa prova de juiz aplicada este ano.

    (FCC/JUIZ/TJ/PE/2011) Considerada a disciplina constitucional e a respectiva regulamentao legal da ao direta de inconstitucionalidade por omisso, em caso de omisso imputvel a rgo administrativo , as providncias devero ser adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razovel a ser estipulado excepcionalmente pelo Supremo Tribunal Federal, tendo em vista as circunstncias especficas do caso e o interesse pblico envolvido.

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    De fato, no caso de omisso atribuda a rgo administrativo, as providncias devero ser adotadas em trinta dias; ou em prazo fixado pelo STF considerando as circunstncias especficas do caso e o interesse pblico envolvido. Portanto, o item est certo.

    5) Estudo da ADC

    A primeira e relevante informao que voc precisa ter sobre a ADC que essa ao foi criada pelo poder constituinte derivado, por meio da EC 3/1993.

    O objetivo visado pelo legislador foi criar uma ao para que, diante de grande controvrsia sobre a constitucionalidade, ou no, de certa lei federal, o STF pudesse ser chamado, diretamente, a se manifestar sobre a questo, pondo fim incerteza, que certamente gera insegurana jurdica.

    Passemos, ento, ao estudo dos aspectos relevantes sobre a ADC.

    5.1) Pedido

    Enquanto na ADI o pedido a declarao da inconstitucionalidade da norma, em ADC o pedido pela constitucionalidade da norma.

    No toa que alguns ministros do STF j afirmaram que a ADC constitui, em verdade, uma ADI de sinal trocado.

    5.2) Legitimao

    Inicialmente, a ADC teve legitimao restrita a somente quatro legitimados: Procurador-Geral da Repblica, Presidente da Repblica, Mesa da Cmara dos Deputados e Mesa do Senado Federal.

    Posteriormente, a EC 45/2004 ampliou essa legitimao, igualando-a legitimao em ADI.

    5.3) Objeto

    Ao contrrio da ADI (que pode ter por objeto leis federais, estaduais e do DF, quando expedidas no exerccio de atribuio prpria de Estado), a ADC s pode ter por objeto leis e atos normativos federais.

    5.4) Comprovao da existncia de controvrsia judicial relevante

    Para que uma ADC seja conhecida pelo STF, indispensvel que o autor da ao comprove a existncia de controvrsia judicial relevante sobre a aplicao da disposio objeto da ao declaratria.

    A exigncia desse requisito faz todo o sentido, seno vejamos: se foi publicada certa lei federal e no h nenhuma controvrsia relevante sobre a sua validade, no faz sentido provocar o STF para que o tribunal declare que tal lei constitucional; afinal, se a lei federal foi publicada e ningum est

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    questionando a sua validade, presume-se que ela seja constitucional (princpio da presuno da constitucionalidade das leis).

    Portanto, para que seja proposta uma ADC perante o STF, indispensvel que o autor comprove a existncia de controvrsia judicial relevante sobre a sua validade; caso contrrio, a ADC sequer ser conhecida, por ausncia de um dos seus pressupostos.

    Essa exigncia no existe em se tratando de ADI. Nada impede que uma lei seja publicada hoje e, hoje mesmo, seja ela objeto de ADI perante o STF. Porm, repita-se, isso jamais acontecer em ADC (pela ausncia da existncia de tal controvrsia judicial relevante).

    Cuidado! A controvrsia tem que ser judicial (isto , em processos instaurados perante o Poder Judicirio). No vale controvrsia doutrinria (divergncia entre os estudiosos do Direito).

    5.5) Ausncia do pedido de informaes

    Vimos que, na ADI, o relator pedir informaes aos rgos ou s autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado, devendo tais informaes ser prestadas no prazo de trinta dias contado do recebimento do pedido do STF.

    Em ADC, no h pedido de informaes a tais rgos (novamente, porque no se est alegando a inconstitucionalidade da lei, mas sim a sua constitucionalidade).

    Por outro lado, em ADC permanece a possibilidade de que o relator requisite informaes adicionais, designe perito ou comisso de peritos para que emita parecer sobre a questo ou fixe data para, em audincia pblica, ouvir depoimentos de pessoas com experincia e autoridade na matria. Isso ocorrer caso haja necessidade de esclarecimento de matria ou circunstncia de fato ou de notria insuficincia das informaes existentes nos autos.

    Adicionalmente, poder o relator, ainda, solicitar informaes aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicao da norma questionada no mbito de sua jurisdio.

    5.6) No participao do Advogado-Geral da Unio

    Em ADC, no h participao do Advogado-Geral da Unio (segundo o STF, porque no h norma a ser defendida, j que o autor da ao requer a declarao da constitucionalidade).

    5.7) Medida cautelar em ADC

    Em ADC, o STF, por deciso da maioria absoluta de seus membros, poder deferir pedido de medida cautelar na ao declaratria de constitucionalidade, consistente na determinao de que os juzes e os Tribunais suspendam o

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    julgamento dos processos que envolvam a aplicao da lei ou do ato normativo objeto da ao at seu julgamento definitivo.

    Veja que, em ADC, a fora da concesso da medida cautelar bem distinta: ser uma determinao de que os juzes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicao da lei ou do ato normativo objeto da ao at seu julgamento definitivo.

    Muito cuidado com isso! Na medida cautelar em ADC, no h que se falar na suspenso da eficcia da norma (como ocorre na ADI), haja vista que, em ADC, o autor no pede a inconstitucionalidade da norma!

    Tentemos resolver duas questes. Primeiro, verifique se esto certas ou erradas as assertivas a seguir, aplicadas pela FCC na prova de Procurador do TCE/AL, em 2008.

    A respeito da ao declaratria de constitucionalidade, considere as seguintes afirmaes:

    I. Um dos pressupostos para o cabimento da ao a comprovao da controvrsia judicial relevante sobre a aplicao da disposio que se pretende levar a julgamento.

    II. No admissvel a desistncia da ao j proposta.

    III. A interveno de terceiros admitida no processo.

    IV. vedada a designao de perito para que emita parecer sobre a questo levada a juzo.

    V. A deciso que declara a constitucionalidade do ato normativo irrecorrvel, ressalvada a interposio de embargos declaratrios.

    A assertiva I est correta, pois o princpio da presuno da constitucionalidade das leis faz com que somente seja cabvel ADC contra uma norma se houver controvrsia judicial relevante sobre sua constitucionalidade.

    A assertiva II tambm est correta, pois, assim como ocorre na ADI, no se admite desistncia de ADC. Segundo o STF, como se trata de processo objetivo, o legitimado pela Constituio Federal no atua na defesa de interesse prprio, mas sim na defesa da Constituio. Portanto, no poder dispor sobre a ao, desistindo dela - isso inclui o pedido de medida cautelar eventualmente formulado.

    A assertiva III est errada, pois, assim como ocorre em ADI, na ADC no se admite interveno de terceiros. Cabe lembrar que admitida a participao de entidades por meio da figura do amicus curiae.

    A assertiva IV est errada e cobra aspecto no muito comum em concursos. A lei 9.868/99 admite a participao de peritos na ADI e na ADC em caso de necessidade de esclarecimento de matria ou circunstncia de fato ou de notria insuficincia das informaes existentes nos autos. Nesses casos, poder o relator requisitar informaes adicionais ou designar perito ou comisso de peritos para que emita parecer sobre a questo, ou fixar data para, em audincia pblica, ouvir depoimentos de pessoas com experincia e autoridade na matria.

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    A assertiva V est correta, uma vez que a deciso que declara a constitucionalidade do ato normativo irrecorrvel, ressalvada a interposio de embargos declaratrios.

    (CESPE/ANALISTA/JUDICIRIO/TRE/ES/2011) Segundo o STF, na ao direta de inconstitucionalidade genrica, cabvel a concesso de medida cautelar que suspenda a vigncia da lei ou do ato normativo arguido como inconstitucional, assim como vivel a concesso de medida liminar na ao declaratria de constitucionalidade; em ambas as aes, tal concesso tem efeito vinculante.

    De fato, a medida cautelar concedida pelo STF no mbito das aes do controle abstrato, como a ADI e a ADC, dotada de eficcia erga omnes e efeito vinculante. Logo, a assertiva est correta.

    Em sede de ADI, a concesso de cautelar acarreta: (i) a suspenso da eficcia da norma; (ii) a suspenso do julgamento de processos envolvendo sua aplicao; e (iii) o efeito repristinatrio (ou o retorno da eficcia) sobre a legislao anterior que havia sido revogada.

    Por outro lado, se na ADC o pedido pelo reconhecimento da validade da norma, no faz sentido que a cautelar resulte na suspenso de sua eficcia. Assim, o efeito da cautelar em ADC ser o de suspenso dos processos judiciais e julgamentos que envolvam a aplicao da lei ou ato normativo objeto da ao.

    6) Estudo da ADPF

    A Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) decorrente da Constituio ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, 1).

    Prevista no texto constitucional desde a promulgao da Constituio Federal (art. 102, 1), a arguio de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) s foi regulamentada em 1999 (Lei 9.882/1999).

    Como se tratava de norma de eficcia limitada, a ADPF s veio a ter aplicabilidade aps a edio de tal lei, que a regulamentou, nos termos a seguir examinados.

    6.1) Legitimao

    Os legitimados para a impetrao de ADPF so os mesmos legitimados para propositura de ADI (CF, art. 103, I ao IX).

    O texto aprovado no projeto de lei previa a legitimao de qualquer cidado, mas esse dispositivo foi vetado pelo Presidente da Repblica.

    6.2) Objeto

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    A ADPF tem por objeto evitar (preventiva) ou reparar (repressiva) leso a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Pblico, e quando for relevante o fundamento da controvrsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, includos os anteriores Constituio.

    Ou seja, aps a criao da ADPF, tanto as normas municipais quanto as pr-constitucionais passaram a ser objeto do controle abstrato perante o STF. Antes da criao dessa ao, esses tipos de norma no poderiam ser impugnados em sede de controle abstrato. Por qu? Ora, simplesmente porque nem as normas municipais nem as normas pr-constitucionais podem ser impugnadas por meio de ADI ou ADC.

    A partir de sua definio legal, apresentada acima, a doutrina considera que a ADPF pode ser de duas modalidades distintas: (i) arguio autnoma, com natureza de ao; e (ii) argio incidental, que pressupe a existncia de uma ao original.

    A primeira tem a finalidade de evitar ou reparar leso a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Pblico. A segunda ser cabvel quando for relevante o fundamento da controvrsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, includos os anteriores Constituio (ou seja, esta ltima pressupe a existncia prvia de controvrsia constitucional relevante).

    muito importante que voc tenha bem claro na sua cabea a distino entre os objetos de ADI, ADC e ADPF. Vejamos um exemplo.

    Imagine que a Cmara Legislativa do DF aprove, hoje, duas leis. A Lei A modifica as regras relativas ao IPTU (imposto de competncia municipal). A Lei B trata de ICMS (imposto de competncia estadual).

    A pergunta : qual delas poderia ser questionada perante o STF, em sede de ADI?

    A Lei A? No, apenas a Lei B, pois ICMS tributo de competncia estadual. A Lei A trata de assunto de competncia municipal (IPTU) e, por isso, no pode ser objeto de ADI no Supremo.

    Qual delas poderia ser objeto de ADC perante o STF?

    Nenhuma das duas, afinal a ADC s admite como objeto normas federais.

    Agora, para tirar nota dez com louvor, responda: podemos dizer que no seria possvel ento o controle concentrado exercido pelo STF sobre a Lei A, por tratar de assunto de competncia municipal?

    No, no podemos. Ora, em sede de ADPF podero ser impugnadas as leis municipais ou distritais no exerccio da competncia municipal.

    6.3) Hipteses de cabimento

    Ser cabvel a arguio de descumprimento de preceito fundamental:

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    I) para evitar ou reparar leso a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Pblico; e

    II) diante de relevante controvrsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual, distrital ou municipal, inclusive anteriores Constituio Federal de 1988.

    Nesta ltima situao, o autor da ao tem o nus de comprovar a existncia de controvrsia judicial relevante sobre a aplicao do preceito fundamental que se considera violado.

    Quanto ao conceito de preceito fundamental, no est estabelecido na lei o que seria isso propriamente. Para a doutrina, tudo o que diga respeito s questes vitais do Estado enquadrar-se-iam nesse conceito (direitos individuais, forma federativa de Estado, fundamentos da Repblica, clusulas ptreas, princpios sensveis etc.).

    Segundo o STF, compete a ele prprio o juzo acerca do que se h de compreender como preceito fundamental.

    6.4) Natureza subsidiria

    incabvel a argio de descumprimento de preceito fundamental quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade.

    Isso significa que no se admite a ADPF se for cabvel alguma das demais aes do controle abstrato de constitucionalidade que tenham finalidade semelhante (ADI, ADO e ADC).

    De se registrar que, tendo em vista essa natureza subsidiria, admite-se que uma ADPF impetrada no STF venha a ser conhecida pela Suprema Corte como outra ao do controle abstrato (ADI, por exemplo), caso seja admitida esta ao.

    Assim, de acordo com o STF, possvel a converso da ADPF em ADI, desde que haja a satisfao dos requisitos exigidos propositura desta (legitimidade ativa, objeto, fundamentao e pedido) e em observncia ao princpio da fungibilidade.

    6.5) Medida cautelar em ADPF

    O STF, por deciso da maioria absoluta de seus membros, poder deferir pedido de medida liminar na argio de descumprimento de preceito fundamental. Em caso de extrema urgncia ou perigo de leso grave, ou ainda, em perodo de recesso, poder o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno.

    A liminar poder consistir na determinao de que juzes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decises judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relao com a matria objeto da argio de descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.

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    A fora da deciso definitiva de mrito do STF proferida em ADPF a mesma estudada para a deciso proferida em ao direta de inconstitucionalidade

    6.6) Deciso de mrito

    A deciso sobre a argio de descumprimento de preceito fundamental ser tomada por voto de maioria absoluta, se presentes na sesso pelo menos dois teros dos membros (oito Ministros).

    A deciso proferida em ADPF ter eficcia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais rgos do Poder Pblico (Lei n 9.882/1999, art. 10, 3).

    Em razo da fora vinculante desta ao, caber reclamao contra o descumprimento da deciso proferida pelo Supremo Tribunal Federal em ADPF.

    (FCC/PROCURADOR MUNICIPAL/PGM/TERESINA/PI/2010) A arguio de descumprimento de preceito fundamental um instrumento que tem como caracterstica

    a) possuir carter subsidirio, sendo admitida a propositura quando for relevante o fundamento da controvrsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, includos os anteriores Constituio.

    b) ter como objeto exclusivo a proteo dos direitos fundamentais previstos na Constituio Federal.

    c) conferir legitimidade ativa a qualquer cidado, ao lado dos legitimados para propor a ao direta de inconstitucionalidade.

    d) gerar efeito vinculante para os demais rgos judiciais e da administrao, quando a deciso for tomada pela maioria simples dos membros do Supremo Tribunal Federal.

    e) validar deciso somente para o julgamento do caso concreto.

    A alternativa a apresenta corretamente as principais caractersticas da ADPF. Trata-se de ao: (i) de natureza subsidiria, uma vez que somente cabvel se no houver outra ao do controle abstrato passvel de ser utilizada para sanar a lesividade; e (ii) admitida quando for relevante o fundamento da controvrsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, includos os anteriores Constituio.

    A alternativa b est errada, pois a ADPF tem como objeto a proteo dos preceitos fundamentais previstos na Constituio Federal, o que extrapola os direitos fundamentais.

    A alternativa c est errada, pois os legitimados impetrao de ADPF so os mesmos da ADI, previstos no art. 103 da CF/88.

    A alternativa d est errada, pois a deciso em ADPF tomada pela maioria absoluta dos membros do STF.

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    A alternativa e est errada, pois a ADPF ao do controle abstrato, que julga a constitucionalidade da lei em tese, e no diante de caso concreto.

    Logo, o gabarito letra a.

    7) Estudo da ADI interventiva

    A ADI interventiva tem objeto bastante especfico: fiscalizar o processo de interveno na hiptese de ofensa aos princpios constitucionais sensveis, indicados no art. 34, VII, da Constituio Federal.

    No se trata, propriamente, de uma ao abstrata, haja vista que se prende a um processo de interveno concreto, especfico. Entretanto, como se trata de ao ajuizada diretamente perante o STF, por legitimado especfico, cuida-se de ao do controle concentrado.

    7.1) Legitimao

    A legitimao em ADI interventiva perante o STF exclusiva do Procurador-Geral da Repblica.

    7.2) Objeto: ofensa aos princpios sensveis

    J vimos, ao estudar a Organizao do Estado, que na hiptese de ofensa aos princpios constitucionais sensveis, poder haver interveno federal dependente de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representao interventiva do Procurador-Geral da Repblica.

    Voc deve se lembrar quais so os princpios sensveis, enumerados no art. 34, VII, da Constituio Federal:

    a) forma republicana, sistema representativo e regime democrtico;

    b) direitos da pessoa humana;

    c) autonomia municipal;

    d) prestao de contas da administrao pblica, direta e indireta;

    e) aplicao do mnimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferncias, na manuteno e desenvolvimento do ensino e nas aes e servios pblicos de sade.

    Ento isso. Caso haja ofensa a qualquer um desses princpios por parte de um estado-membro ou do Distrito Federal, o Procurador-Geral da Repblica poder ingressar com representao interventiva perante o STF.

    Para a doutrina, essa hiptese de interveno configura autntica ao direta, motivo pelo qual, conhecida como ao direta de inconstitucionalidade interventiva ADI Interventiva.

    7.3) Deciso do STF

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    No o STF que decreta a interveno. A deciso do STF limitar-se- a dar provimento representao interventiva ou a neg-lo.

    Caso o STF negue provimento representao interventiva, teremos o arquivamento e a sustao do procedimento de interveno.

    Por outro lado, se o STF der provimento representao interventiva, o Presidente da Repblica ser comunicado para editar decreto de interveno, salvo se a normalidade puder ser restabelecida pela simples suspenso da execuo do ato impugnado (CF, art. 36, 3).

    Cabe destacar, por fim, que, nessa hiptese de interveno, o decreto interventivo do Presidente da Repblica no ser submetido a controle poltico do Congresso Nacional (CF, art. 36, 3).

    7.4) ADI interventiva estadual

    No mbito do estado-membro, a legitimao para propor a ao direta interventiva pertence exclusivamente ao Procurador-Geral de Justia, Chefe do Ministrio Pblico do Estado.

    A ADI interventiva ser proposta perante o Tribunal de Justia para assegurar a observncia de princpios indicados na Constituio Estadual (CF, art. 35, IV).

    8) Controle abstrato nos estados-membros

    Vimos at agora todas as regras relativas ao sistema de controle de constitucionalidade face Constituio Federal. Vimos ainda que o STF tem a funo de proteger a Carta Maior.

    Ok. Mas, como isso funciona em mbito estadual?

    Bem, em mbito estadual, temos tambm um sistema de controle de constitucionalidade abstrato estruturado com vistas proteo da Constituio Estadual, que tem por guardio o Tribunal de Justia estadual.

    Diante disso, a Constituio Federal autoriza cada estado-membro a instituir a representao de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituio Estadual, vedada a atribuio da legitimao para agir a um nico rgo (CF, art. 125, 2).

    Vejamos, em linhas gerais, as regras que devem ser seguidas pelos Estados.

    8.1) Legitimao

    Ao estruturar o controle abstrato de constitucionalidade local, cada estado poder estabelecer seus prprios legitimados, aqueles que podero provocar o TJ para que exera a fiscalizao da constitucionalidade das leis em sede de ADI.

    A nica regra que a Constituio Federal estabelece a de que fica vedada a atribuio da legitimao para agir a um nico rgo. Ou seja, est claro que,

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    ao estabelecer os legitimados para a impetrao de ADI perante o TJ, no poder o estado-membro atribuir a legitimao para agir a apenas um nico rgo (vedao ao monoplio).

    A dvida que fica se a Constituio Estadual deveria seguir simetricamente a legitimao estabelecida no art. 103 da CF/88. Poderia o estado-membro ampliar aquele rol? Poderia reduzi-lo?

    O STF j se posicionou no sentido de que a ampliao daquele rol seria possvel. Assim, considerou vlida a legitimao ativa de deputado estadual para propor ao direta de inconstitucionalidade de normas locais em face da Constituio do Estado, vista do art. 125, 2, da Constituio Federal.

    Quanto reduo, ainda no temos um entendimento pacfico (e no h deciso do STF numa determinada direo).

    8.2) Competncia

    O controle abstrato em face da Constituio Estadual de competncia exclusiva do Tribunal de Justia do estado-membro.

    8.3) Parmetro de controle

    Esse aspecto bastante interessante e confunde muita gente boa.

    Em mbito federal (tendo a CF/88 por parmetro), a jurisdio constitucional abstrata se d apenas no Supremo Tribunal Federal. Afinal, o STF o guardio da Constituio Federal.

    Ento, o que exatamente o controle abstrato em mbito estadual, exercido pelo Tribunal de Justia?

    O controle abstrato no Tribunal de Justia, na esfera estadual, tem a Constituio Estadual como parmetro; ou seja, pretende proteger no a CF/88, mas a Constituio Estadual.

    Vamos a um exemplo. O Procurador-Geral da Repblica poder ingressar com uma ADI alegando que a lei cearense X ofende a Constituio Federal. A quem compete esse julgamento? Ao STF, pois s a Suprema Corte que exerce o controle abstrato tendo a Constituio Federal como parmetro.

    De outra forma, essa mesma lei cearense X poder estar contrariando, no a Constituio Federal, mas dispositivo previsto na Constituio cearense. Diante disso, caber ADI contra essa norma alegando ofensa Constituio Estadual. E, nessa hiptese, o julgamento ser de competncia do Tribunal de Justia do estado do Cear.

    Portanto, fique atento! So dois tipos distintos de controle abstrato no Brasil: um perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e outro perante os Tribunais de Justia (TJ). O primeiro protegendo a supremacia da CF/88, este ltimo garantindo o respeito Constituio Estadual. E relevante que voc cuide de separ-los bem ao estudar esse assunto (e na prova tambm).

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    Objetivamente:

    I) STF controle abstrato em face da Constituio Federal II) TJ controle abstrato em face da Constituio Estadual Olha como a Esaf j cobrou isso (EPPGG/MPOG/2005).

    Os tribunais de justia nos Estados podem desempenhar o controle abstrato de leis estaduais e municipais em face diretamente da Constituio Federal.

    No tem jeito de errar, tem? Em mbito federal (tendo a CF/88 por parmetro), a jurisdio constitucional abstrata se d apenas no Supremo Tribunal Federal. O controle abstrato no Tribunal de Justia apenas na esfera estadual (tendo a Constituio Estadual como parmetro). Incorreto o item.

    Bem, agora que isso est bem compartimentado na sua cabea, precisamos comentar dois aspectos importantes e bastante avanados do controle de constitucionalidade, nos quais muita gente boa derrapa: recurso extraordinrio contra deciso do TJ e simultaneidade de ADIs em mbito estadual e em mbito federal.

    8.4) Recurso extraordinrio contra deciso do TJ

    Em regra, a deciso do TJ no mbito do controle abstrato de constitucionalidade no passvel de recurso, nem mesmo para o STF (afinal, do TJ, e no do STF, a ltima palavra sobre a Constituio Estadual). Todavia, h uma hiptese excepcional em que da deciso do TJ caber recurso extraordinrio para o STF.

    Voc j est cansado de saber que o recurso extraordinrio o meio hbil a conduzir ao STF, no controle incidental de constitucionalidade, controvrsia judicial que esteja sendo suscitada em instncias inferiores.

    O que voc precisa aprender agora que, na hiptese de ajuizamento de ADI perante o TJ local com a alegao de ofensa a dispositivo da Constituio Estadual que reproduz norma da Constituio Federal de observncia obrigatria pelos estados, contra a deciso do TJ ser cabvel recurso extraordinrio para o STF.

    Nossa, Vicente e Fred, no entendi nada!

    Calma. Vejamos um