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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA Pós-Graduação em Poder Legislativo O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DAS LEIS E DOS ATOS NORMATIVOS ATRAVÉS DE MANDADO DE SEGURANÇA E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Almir Fernandes Belo Horizonte 2006

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

Pós-Graduação em Poder Legislativo

O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DAS LEIS E DOS ATOS NORMATIVOS ATRAVÉS DE MANDADO DE

SEGURANÇA E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Almir Fernandes

Belo Horizonte2006

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Almir Fernandes

O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DAS LEIS E DOS ATOS NORMATIVOS ATRAVÉS DE MANDADO DE

SEGURANÇA E AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Instituto de Educação Continuada como um dos requisitos para obter o título de especialista em Poder Legislativo.

Orientador: Renato Neves Tonini

Belo Horizonte2006

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LISTA DE SIGLAS

ALMG - Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais

BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais

CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

DER-MG – Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais

SOMMA – Programa de Saneamento Ambiental e Modernização dos Municípios

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TJMG – Tribunal de Justiça de Estado de Minas Gerais

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADIn. – Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADC – Ação Direta de Constitucionalidade

Art. – Artigo

CF – Constituição Federal

Cls. – Conclusão

DJ – Diário de Justiça

Int. – Intimação

LOM – Lei Orgânica Municipal

Min. – Ministro

Nº - Número

P. – Página

PRI – Publique-se, Registre-se, Intime-se

Rel. – Relator

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SUMARIO

1 – INTRODUÇÃO - 6

2 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE FORMAL - 7

2.1 – Controle de Constitucionalidade Formal por Ação Direta de

Inconstitucionalidade e Ação Declaratória de Constitucionalidade - 9

2.2 - Controle de Constitucionalidade Formal por Mandado de Segurança - 11

2.2.1 – Mandado de Segurança no Curso do Processo Legislativo - 13

2.2.2 – Mandado de Segurança e Lei de Efeito Concreto - 15

3 – O PROJETO DE LEI PEREGRINO - 17

3.1 – O Primeiro Mandado de Segurança - 18

3.2 – O Segundo Mandado de Segurança - 28

3.3 – O Terceiro Mandado de Segurança - 42

3.4 – A Ação Direta de Inconstitucionalidade - 57

4 – CONCLUSÃO - 70

5 – REFERÊNCIAS - 71

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1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo, demonstrar a viabilidade de se controlar, através

do Poder Judiciário, a legalidade e a regularidade do processo de formação das leis e

atos normativos.

Estamos numa sociedade regida juridicamente de maneira formal. Devemos

obediência em primeiro lugar à Constituição da República, e, ainda, às várias espécies

normativas previstas na Constituição, como leis complementares, leis ordinárias,

decretos legislativos, resoluções e até emendas para alterar a Constituição. Todas estas

espécies normativas demandam um processo legislativo para sua regular formação. Este

processo de formação, nos âmbitos federal, estadual e municipal, está previsto na

Constituição Federal e Estadual, nas Leis Orgânicas Municipais e nos Regimentos

Internos das Casas Legislativas e estipulam todo o procedimento de discussão e votação

dos atos legislativos, como quorun para aprovação, direito do parlamentar oferecer

emendas, prazos, comissões pelas quais tramita a proposição, etc.

Ainda, segundo a Constituição (BRASIL, 1988, art. 5º, II), “ninguém é obrigado

a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”, então devemos

interpretar essa expressão, face ao também previsto princípio da legalidade, que

ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei

editada pelo órgão competente, segundo o procedimento constitucional adequado.

Como nenhuma lesão a direito pode ser subtraída à apreciação do Poder

Judiciário, nasce o estudo de ações judiciais para controle da constitucionalidade

formal, ou seja, da observância do processo legislativo.

No entanto, este trabalho não visa esgotar a questão do controle formal da

constitucionalidade. Visa apenas estudar um embasamento teórico para sustentar ações

judiciais que questionem a validade de um ato normativo, em função de vício ou erro no

procedimento de formação. E, após esta introdução, apresentar e comentar um caso

prático de quatro ações ajuizadas com o fim de interromper a votação ou declarar a

nulidade de uma lei municipal, em virtude de erros no procedimento de sua formação.

2 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE FORMAL

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Segundo nosso ordenamento jurídico, a Constituição exerce uma supremacia

sobre as demais normas existentes. Esta supremacia sobre as normas

infraconstitucionais, previstas na própria Constituição, é passível de controle pelo Poder

Judiciário. Outro fundamento desta supremacia, é a rigidez constitucional, ou seja, a

Constituição somente pode ser alterada por procedimento diferenciado, cujo quorun

para aprovação seja superior ao quorun para aprovação das leis ordinárias e outros atos

legislativos que tramitem pelas Casas do Congresso Nacional.

O controle de constitucionalidade, por sua vez, pode ser formal ou material. É

formal, quando o Poder Judiciário verifica a adequação da norma questionada com a

Constituição Federal, quanto ao procedimento de formação da lei ou do ato normativo.

Por sua vez, a uma norma pode ser inconstitucional, no aspecto material, ou seja, a regra

estipulada choca-se com regra ou princípio constitucional.

A matéria é melhor explicada em Silva (2006, p. 345/346):

“Interessa aqui apenas o primeiro princípio e somente nos limites de sua relação com a Constituição, porque é esta que fundamenta a validade de todas as normas da ordem jurídica nacional, de tal sorte que norma inferior incompatível se caracteriza como norma inconstitucional, que pode verificar-se sob dois aspectos: (a) materialmente, quando a inconpatibilidade se verifica no caso de o conteúdo da norma infraconstitucional não se ajustar a princípio ou preceito constitucional; (b) formalmente, quando a forma segundo a qual foi criada a norma inferior não atendeu ao que determina as regras do processo constitucional para a sua regular formação, ou seja, quando não formada por autoridades criadas de acordo com a Constituição, dentro da esfera de competência e conforme procedimento por ela estabelecido. Enfim, quando formada por error in procedendo.”.

Também sobre os requisitos de constitucionalidade das espécies normativas,

dividindo-as entre formais e materiais, estes, com relação à adequação do objeto do ato

normativo com Constituição Federal, aqueles, como explica Moraes (2006, p. 637):

“O art. 5º, II, da Constituição Federal, consagra o princípio da legalidade ao determinar que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Como garantia de respeito a este princípio básico em um Estado Democrático de Direito, a própria Constituição prevê normas básicas na feitura das espécies normativas. Assim, o processo legislativo é verdadeiro corolário da princípio da legalidade, como analisado no capítulo sobre direitos fundamentais, que deve ser entendido como ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de espécie normativa devidamente elaborada de acordo com as regras de processo legislativo constitucional (arts. 59 a 69, da Constituição Federal).Assim sendo, a inobservância das normas constitucionais de processo legislativo tem como conseqüência a inconstitucionalidade formal de lei ou ato normativo produzido,

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possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado.”.

Portanto, a inconstitucionalidade formal, é declarada em função de falhas ou

omissões no curso do processo legislativo. Explicando o que vem a ser processo

legislativo, socorremo-nos na doutrina de Silva (2003, p. 521-522)

“Por processo legislativo, entende-se o conjunto de atos (iniciativa, emenda, votação, sanção, veto) realizados pelos órgãos legislativos visando a formação das leis constitucionais, complementares, ordinárias, resoluções e decretos legislativos. Tem, pois, por objeto, nos termos do art. 59, a elaboração de emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções.”.

O controle dos requisitos formais de formação das leis tem respaldo também em

Filho (2002, p. 252):

“Questão que não pode ser posta de lado é a relativa ao controle jurisdicional da observância do processo legislativo.Em primeiro lugar – lembre-se – cabe a propósito dele o controle de constitucionalidade. A violação de preceito constitucional, mesmo de caráter estritamente formal, importa em inconstitucionalidade, e, portanto, segundo a doutrina clássica, em nulidade do ato violador.Por outro lado, no Direito Pátrio, nenhuma lesão de direito individual pode ser subtraída à apreciação do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, da Constituição). Apreciando eventual lesão, pode evidentemente chegar o Judiciário a apreciar a validade do ato normativo, e esta depende da observância dos preceitos constitucionais referentes à sua elaboração.”.

Moraes (2006, p. 578), entusiasta do controle da constitucionalidade formal,

reforça o entendimento:

“O respeito ao devido processo legislativo na elaboração das espécies normativas é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, consagrado constitucionalmente, uma vez que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de espécie normativo devidamente elaborada pelo Poder competente, segundo as normas do processo legislativo constitucional, determinando, desta forma, a Carta Magna, quais os órgãos e quais os procedimentos de criação das normas gerais que determinam, como ressalvado por Kelsen ‘não só os órgãos judiciais e administrativos, mas também os conteúdos das normas individuais, as decisões judiciais e os atos administrativos que devem emanar dos órgãos aplicadores do direito`. O desrespeito às normas do processo legislativo constitucionalmente previstas acarretará a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado.”.

Assim sendo, segundo nosso ordenamento, há possibilidade do controle judicial

do processo de formação das leis e demais atos normativos. Passaremos agora, a estudar

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cada uma das formas do controle da constitucionalidade. Pode ser concentrado, quando

a ação judicial visa retirar do ordenamento jurídico o ato normativo impugnado, seja

material ou formalmente. Por outro lado, o controle de constitucionalidade é difuso,

quando a decisão judicial vale apenas para um caso concreto, um juiz específico julga a

constitucionalidade de uma norma, para efeito de julgamento apenas num processo

entre partes.

2.1 – Controle de Constitucionalidade Formal por Ação Direta de

Inconstitucionalidade e Ação Declaratória de Constitucionalidade

Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988), artigos 102 e 103:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;

[...]

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:

I - o Presidente da República;

II - a Mesa do Senado Federal;

III - a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

VI - o Procurador-Geral da República;

VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;

IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

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Portanto, o controle concentrado de constitucionalidade é exercido pelo

Supremo Tribunal Federal. Este controle ocorre apenas por iniciativa dos legitimados

estabelecidos no citado artigo 103 da Constituição, e ocorre após a entrada em vigor da

lei ou do ato normativo eivado de inconstitucionalidade. Tal controle é dito concentrado

porque objetiva retirar a norma inconstitucional do ordenamento jurídico. No aspecto

formal, o STF, segundo reiterada jurisprudência, vem decidindo que a

inconstitucionalidade formal somente pode ser declarada se não forem respeitadas as

regras do procedimento estabelecido na Constituição. No caso de vício formal

decorrente da não observância das regras dos regimentos internos das Casas

Legislativas, O STF não admite o controle pelo método concentrado, ao argumento de

que se trata de matéria interna corporis. Neste sentido, a lição de Silva (2006, p. 359):

“Haverá inconstitucionalidade ´in procedendo` no referente à discussão e votação de projeto de lei, que afete a validade da lei? Não me ocorre uma tal possibilidade, a não ser no referente ao quorum de aprovação, questão que já foi examinada, ou no que tange às relações bicamerais, que também já foi objeto de consideração. Nesse particular, há apenas um aspecto que ainda merece reflexão, qual seja o defeito em relação `Casa iniciadora, porque é questão constitucional constante do art. 64 da CF”.[...]“No mais, a disciplina das discussões e votações é matéria regimental, que, mesmo que seja desrespeitada, não reflete a validade da lei conseqüente. Se houver defeito nesse procedimento, tratar-se-á de vício regimental, que pode ser corrigido por qualquer parlamentar. Não se trata de questão puramente interna corporis, porque certas irregularidades nas votações, especialmente, podem possibilitar recurso ao Judiciário. A questão fica restrita a saber quem pode recorrer ao Judiciário na busca de correção. Tem-se que os Parlamentares, assim como os partidos políticos representados nas Casas Legislativas, têm direito subjetivo a um procedimento correto, de acordo com o regimento interno de sua Casa. Assim, se o procedimento desrespeitar normas regimentais, qualquer Parlamentar ou partido político pode reclamar sua correção em juízo.”.

Sobre o que seja matéria interna corporis, ficou conhecida e reconhecida a lição

de Meireles (2003, p. 35):

“Atos interna corporis são aquelas deliberações do Plenário, das Comissões ou da Mesa que entendem direta e exclusivamente com as atribuições e prerrogativas da Corporação. Daí não se conclua, entretanto, que todo e qualquer ato desses órgãos constitua interna corporis vadado à apreciação judicial. Não é assim, pois atos e deliberações do Legislativo existem regrados pela Constituição, pela lei e pelo Regimento, e nestes casos, pode – e deve – o Judiciário decidir sobre sua legitimidade”

O entendimento de que atos interna corporis não são passíveis de controle

concentrado é reforçado com decisão do STF citada em Moraes (2003, p. 1083):

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“Controle Jurisdicional das Regras do Devido Processo Legislativo e Matéria Interna Corporis: STF – ‘O Tribunal, por maioria, não conheceu de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores – PT contra a Lei 7.483/99, do Estado da Bahia, que autoriza o Poder Executivo a promover a desestatização da empresa baiana de águas e saneamento S/A – EMBRAPA e dá outras providências. Considerou-se que o fundamento do autor da ação, qual seja, inconstitucionalidade formal da lei atacada por ofensa ao processo legislativo – em que se sustentava não ter sido observada norma do Regimento Interno da Assembléia Legislativa estadual, segundo a qual, seria obrigatório o encaminhamento do projeto de lei à Comissão de Saúde – é assunto interna corporis não sujeito a apreciação pelo Poder Judiciário. Vencido o Min. Marco Aurélio, relator, que conhecia da ação e concedia medida liminar para suspender, até decisão final, a eficácia da Lei impugnada por aparente ofensa ao devido processo legislativo’ (STF – Pleno ADIn nº 2.038/BA – Rel. p/ Acórdão Min. Nelson Jobim, decisão: 18.8.1999. Informativo STF, nº 158).”.

No entanto, este entendimento do STF encontra críticas de parte da doutrina, por

limitar o texto da Constituição. Como exemplo, Cattoni (2000, p. 21):

“No que se refere, especificamente, à problemática acerca do controle judicial de constitucionalidade e de regularidade do processo legislativo, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal brasileiro, há pelo menos vinte anos, tem oscilado entre um formalismo jurídico e uma desjuridicização das questões de regularidade regimental do processo legislativo. O formalismo jurídico se revela no modo de apreciação da validade jurídica dos atos processuais legislativos (uma questão tida como meramente formal), isolando-os e separando-os da cadeia procedimental a que pertencem. A desjuridicização das questões acerca da regularidade regimental do processo legislativo é realizada com base num sistemático alargamento por parte do Supremo Tribunal do que se deve compreender como matéria interna corporis ao Legislativo: as questões acerca da regularidade regimental não seriam passíveis, em sua maioria, de verificação por parte do Judiciário, porque a interpretação e a aplicação do Regimento Interno das Casas Parlamentares fariam parte da reserva de competência exclusiva delas.”.

2.2 - Controle de Constitucionalidade Formal por Mandado de Segurança

Conforme dito, o controle concentrado de constitucionalidade se faz por meio de

Ações Diretas de Constitucionalidade ou Inconstitucionalidade, junto ao STF, visando a

retirada do ordenamento jurídico da lei ou do ato normativo federal ou estadual eivado

de inconstitucionalidade.

Já o controle difuso, via de regra, se dá quando uma parte litigante em qualquer

processo judicial requer ao juiz ou tribunal competente para apreciação daquela causa,

como questão prejudicial, a declaração da inconstitucionalidade de lei ou ato normativo,

visando a não aplicação no caso determinado. Esta decisão, seja pela

constitucionalidade ou não, somente tem efeito entre as partes. Este tipo de controle não

é objeto do presente estudo. Por outro lado, também é chamado de controle difuso de

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constitucionalidade formal, as ações ajuizadas por parlamentares, no curso do processo

legislativo, e, em alguns casos, até após a formação da lei, visando o controle da

constitucionalidade formal, inclusive por desrespeito às normas de Regimento Interno

das Casas Legislativas, ao argumento que tais regimentos, geram direito subjetivo ao

parlamentar, e, assim sendo, somente este tem legitimidade para propor estas ações.

Neste sentido ao ensinamento de Negri (2003, p. 102-103):

“Mas o que se quer registrar é que a posição majoritária do Supremo Tribunal Federal brasileiro, quanto ao controle jurisdicional de normas constitucionais de procedimento legislativo e normas regimentais das Casas parlamentares, é no sentido de admitir um controle preventivo de constitucionalidade jurisdicional somente no caso de tratar de Emenda à Constituição que afronte o § 4º do art. 60 da Constituição Republicana e se houver violação das normas constitucionais de procedimento legislativo (arts. 59 a 69).Caso haja desobediência tão somente às normas regimentais, não é segundo o Supremo Tribunal, cabível o controle jurisdicional, haja vista tratar-se de assunto interna corporis, insuscetível, portanto, de análise judiciária. Assim, a interpretação e a aplicação do Regimento Interno far-se-iam, privativamente, nas próprias Casas Parlamentares.Quanto ao que se rotula de competência interna corporis, para àqueles casos de desobediência às normas regimentais, já não pode ser um tema tratado atualmente em órbita exclusiva do Congresso Nacional, porque a desobediência a um regimento interno (Câmara ou Senado, que esteja em harmonia com o Processo Constitucional, o qual orienta todo e qualquer procedimento, inclusive o regimental, como qualidade da democracia, não deve ser uma questão a se resolver privativamente, por afastar o debate aberto, tal qual assegurado nas Constituições democráticas (ampla defesa e contraditório).Se a lei deve ser produzida por meio do Devido Processo Legislativo, que, por sua vez, é caracterizador da existência de um Estado de Direito Democrático, deve, na tramitação de um projeto, haver rigorosa vinculação às regras regimentais, que são modelos de procedimento legislativo cuja validade sé se configura pela harmonização com o devido processo constitucional. A prática dos atos legislativos pelo Parlamentar no exercício de sua função legislativa ou por quem tenha capacidade postulatória, só terá validade quando observados os requisitos da lei. Se um ato parlamentar inicial é pressuposto do ato seguinte e este, por sua vez, é considerado extensão do ato antecedente, isso significa que os atos legislativos, quando se desviam do regimento (procedimento), encaminham-se para definir a existência de vícios (não observância do devido processo legislativo)..A inobservância de normas regimentais, seja da Câmara ou do Senado, é desvio procedimental contrário aos princípios institutivos e informativos do processo, portanto, passível de controle difuso de constitucionalidade, pois em consonância com o conceito paradigmático atual, nenhum ato poderá ficar imune à fiscalidade irrestrita de sua constitucionalidade e legitimidade pelo devido processo legal.”.

Passamos a estudar os casos de controle judicial do procedimento legislativo via

mandado de segurança, ajuizado por parlamentares, no curso ou após o término do

procedimento de formação das leis. Admito que é possível outras ações judiciais para

obter este controle, como ação popular, ação civil pública e mesmo ações ordinárias,

mas não serão objetos deste estudo.

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2.2.1 – Mandado de Segurança no Curso do Processo Legislativo

Primeiramente, quanto às emendas à Constituição, é possível ao parlamentar

controlar sua constitucionalidade, mesmo antes de serem promulgadas. Assim defende

Moraes (2003, p. 1082);

“Legitimidade dos parlamentares para ajuizamento de mandado de segurança para fiel observância das normas do devido processo legislativo: STF –´Cabimento de mandado de segurança em hipóteses em que a vedação constitucional se dirige ao próprio processamento da lei ou da emenda, vedando a sua apresentação (como é o caso previsto no parágrafo único do artigo 57) ou a sua deliberação (como na espécie). Nesses casos, a inconstitucionalidade diz respeito ao próprio andamento do processo legislativo, e isso porque a Constituição não quer – em face da gravidade dessas deliberações, se consumadas – que sequer se chegue a deliberação, proibindo-a taxativamente. A inconstitucionalidade, se ocorrente, já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformar em lei ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já desrespeita, frontalmente, à Constituição’. (RTJ 99/1031). No mesmo sentido: STF – Pleno – MS nº 22.449/DF.”.

O mesmo autor (2003, p. 1078), tem entendimento pela possibilidade de controle

do procedimento interno da Casa Legislativa, via mandado de segurança:

“O desrespeito às normas de processo legislativo constitucionalmente previstas acarretará a inconstitucionalidade formal da lei ou ato normativo produzido, possibilitando pleno controle repressivo de constitucionalidade por parte do Poder Judiciário, tanto pelo método difuso quanto pelo método concentrado. Saliente-se ainda, que, mesmo durante o processo legislativo, os parlamentares têm direito público subjetivo à fiel observância de todas as regras previstas constitucionalmente para a elaboração de cada espécie normativa, podendo, pois, socorrerem-se ao Poder Judiciário, via mandado de segurança.As regras básicas de processo legislativo previstas na Constituição Federal como modelos obrigatórios às Constituições Estaduais, declarando que o modelo estruturador do processo legislativo, tal como delineado em seus aspectos fundamentais pela Carta da República, impõe-se, enquanto padrão normativo, de compulsório atendimento, à observância incondicional dos Estados-membros.”.

Ainda, sobre a mesma matéria (2006, p.655);

“Igualmente, o flagrante desrespeito às normas regimentais, durante o processo legislativo, caracteriza clara ilegalidade, uma vez que os regimentos internos das casas legislativas – Regimento Interno do Congresso Nacional, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados – são resoluções, ou seja,espécies normativas primárias previstas diretamente na Constituição Federal (art. 59, VII). Entendemos que essa ilegalidade será também passível de controle jurisdicional, com base no art. 5º, XXXV, da Carta Magna, pois a apreciação de lesão ou ameaça a direito jamais poderá ser afastada do Poder Judiciário. Dessa forma, os parlamentares são possuidores de legítimo interesse para o ajuizamento de mandado de segurança em defesa do direito líquido e certo de somente participarem de um processo legislativo constitucional e legal, em conformidade com as normas da Constituição Federal e das resoluções, instrumentos formais que trazem os regimentos internos, não sendo, portanto, obrigados a participação e votação de um

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processo legislativo viciado, quer pela inconstitucionalidade, quer pela flagrante ilegalidade.”.

Há por outro lado, entendimentos doutrinários pela ampliação da legitimidade

para que qualquer cidadão possa ajuizar ações controlando o processo legislativo.

Entendimento que não tem respaldo do Supremo Tribunal Federal, mas que não pode

deixar de ser estudado, como por exemplo Cattoni (2000, p.131);

“Nessa perspectiva, a Jurisdição Constitucional deve garantir, de forma constitucionalmente adequada, a participação, nos processos constitucionais de controle jurisdicional de constitucionalidade da lei e do processo legislativo, dos possíveis afetados por cada decisão, em matéria constitucional, através de uma interpretação construtiva que compreenda o próprio Processo Constitucional como garantia das condições para o exercício da autonomia jurídica aos cidadãos. Ao possibilitar a garantia dos direitos fundamentais processuais jurisdicionais, nos próprios processos constitucionais de controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo legislativo, a Jurisdição Constitucional também garantirá as condições para o exercício da autonomia jurídica dos cidadãos, pela aplicação reflexiva do princípio do devido processo legal, compreendido, aqui, como ´modelo Constitucional do Processo` (ANDOLINA-VIGNERA, 1990) a si mesma.”.

Segundo o STF, apenas os parlamentares têm tal legitimidade, como doutrina de

Moraes (2006, p. 654-655) e decisão do STF citada pelo mesmo autor (2003, p. 1080):

“As normas de processo legislativo constitucional, previstas nos arts. 59 a 69 da Constituição Federal, possuem eficácia plena e imediata, vinculando a atividade do legislador na elaboração das diversas espécies normativas em respeito ao devido processo legislativo. [...]Assim, o controle jurisdicional sobre a elaboração legiferante, inclusive sobre propostas de emendas constitucionais, sempre se dará de forma difusa, por meio de ajuizamento de mandado de segurança por parte de parlamentares que se sentirem prejudicados durante o processo legislativo. Reitere-se que os únicos legitimados a propositura de mandado de segurança para defesa do direito líquido e certo de somente participarem de um processo legislativo conforme as normas constitucionais e legais são os próprios parlamentares.”.

“Mandado de segurança como meio hábil para o exercício do controle incidental de constitucionalidade durante o processo legislativo, Legitimidade exclusiva dos parlamentares: STF - ´O processo de formação das leis ou de elaboração de emendas à Constituição revela-se suscetível de controle incidental ou difuso pelo Poder Judiciário, sempre que, havendo possibilidade de lesão à ordem jurídico-constitucional, a impugnação vier suscitada por membro do próprio Congresso Nacional, pois, nesse domínio, somente ao parlamentar – que dispõe do direito público subjetivo à correta observância das cláusulas que compõem o devido processo legislativo – assiste legitimidade ativa ad causam para provocar a fiscalização jurisdicional. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de recusar, a terceiros que não ostentem a condição de parlamentar, qualquer legitimidade que lhes atribua a prerrogativa de questionar, incidenter tantum, em sede mandamental, a validade jurídico-constitucional de proposta de emenda a Constituição, ainda em tramitação no Congresso Nacional. Precedentes. Terceiros, ainda que invocando a sua potencial condição de destinatários da futura lei ou emenda à Constituição, não dispõem do direito público subjetivo de

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supervisionar a elaboração dos atos legislativos, sob pena de indevida transformação, de controle preventivo de constitucionalidade em abstrato – inexistente no sistema constitucional brasileiro (RTJ 136/25-26, Rel. Min. Celso de Mello) -, do processo de mandado de segurança, que, instaurado por mero particular, converter-se-ia um inadmissível secedânio de ação direta de inconstitucionalidade” (STF – Pleno – MS nº 23.565-9/DF – Medida liminar – Rel. Min. Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 17 nv. 1999, p. 33)”.

2.2.2 – Mandado de Segurança e Lei de Efeito Concreto

Segundo a interpretação constitucional, não cabe mandado de segurança para

questionar a constitucionalidade, formal ou material, de lei já promulgada, uma vez que

existem as ações de constitucionalidade e inconstitucionalidade para este fim. No

entanto, tal entendimento vem sendo abrandado pelos intérpretes da lei, no caso de leis

de efeito concreto. As leis, de maneira geral, são amplas e genéricas, abrangendo

direitos e obrigações para todos os cidadãos ou parcela deles, como o funcionalismo

público, aposentados, etc. No entanto, algumas leis o são apenas pela forma, não trazem

normas genéricas mas sim normas concretas. São lei apenas pela forma, pois pelo

conteúdo, são atos administrativos. Assim sendo, são passíveis de controle pela via

difusa. Neste sentido lição de Meireles (2003, p. 39-40):

“ A lei em tese, como norma abstrata de conduta, não é atacável por mandado de segurança (STF súmula 266), pela óbvia razão de que não lesa, por si só, qualquer direito individual. Necessária se torna a conversão da norma abstrata em ato concreto para expor-se à impetração, mas nado impede que, na sua execução, venha a ser declarada inconstitucional pela via do mandamus. Somente as leis e decretos de efeito concreto tornam-se passíveis de mandado de segurança, desde sua publicação, por equivalentes a atos administrativos nos seus resultados imediatos.”.[...]“Por deliberações legislativas atacáveis por mandado de segurança entendem-se as decisões do Plenário ou da Mesa ofensivas de direito individual ou coletivo de terceiros, dos membros da Corporação, das Comissões, ou da própria Mesa, no uso de suas atribuições e prerrogativas institucionais. As Câmaras Legislativas não estão dispensadas da observância da Constituição, da lei em geral e do Regimento Interno em especial. A tramitação e a forma dos atos do Legislativo são sempre vinculadas às normas legais que os regem;”.

No mesmo sentido, Di Pietro (2003, p. 642):

“para corrigir lesão decorrente de lei em tese, pela Súmula nº 266, do STF, ´não cabe mandado de segurança contra lei em tese’. O entendimento decorre do fato de que o mandado de segurança só é meio idôneo para impugnar atos da Administração que causem efeitos concretos; por meio dele, objetiva-se afastar a aplicação lei no caso

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específico do impetrante; e, como a decisão produz efeitos apenas entre as partes, a lei continuará a ser aplicada às demais pessoas a que se dirige. Não se pode, por meio de mandado de segurança ou mesmo por ações ordinárias, pleitear a anulação de uma lei pelo Poder Judiciário; a única via possível á a ação direta de argüição de inconstitucionalidade, com base nos artigos 102, I e 103, da Constituição.No entanto, o rigor desse entendimento foi aos poucos abrandado pela jurisprudência, que passou a admitir o mandado de segurança em duas hipóteses: na lei de efeito concreto e na auto-executória, o que se aplica também aos decretos de efeito concreto e auto-executórios. Lei de efeito concreto é a emanada do Poder Legislativo, segundo o processo de elaboração das leis, mas sem o caráter de generalidade e abstração próprio dos atos normativos. Ela é lei em sentido formal, mas é ato administrativo, em sentido material (quanto ao conteúdo), já que atinge pessoas determinadas. Por exemplo, uma lei que desaproprie determinado imóvel ou que defina uma área como sendo sujeita a restrições para proteção do meio ambiente. Leis dessa natureza produzem efeitos no caso concreto, independentemente de edição de ato administrativo; na falta deste, o mandado deve ser impetrado diretamente contra a lei.”.

Comentando a interpretação do STF no sentido de não admissão de Ação de

Inconstitucionalidade para controlar a constitucionalidade de leis de efeito concreto, ver

Martins e Mendes (2005, p. 177):

“Controle de Constitucionalidade e ato de efeito concreto. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem considerado inadmissível a propositura de ação direta de inconstitucionalidade das normas jurídicas in abstracto, não se prestando ela ´ao controle de atos administrativos que têm objeto determinado e destinatários certos, ainda que esses atos sejam editados sob a forma de lei, mas seu conteúdo não encerra normas que disciplinam relações em abstrato` (ADIn 647, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 27 mar. 1992, p. 3801). Na mesma linha de orientação, afirma-se que ‘atos estatais de efeitos concretos, ainda que veiculados em texto de lei formal, não se expõem, em sede de ação direta, à jurisdição constitucional abstrata do Supremo Tribunal Federal`. (...) porquanto ‘a ausência de densidade normativa do conteúdo do preceito legal impugnado desqualifica-o – enquanto objeto juridicamente inidôneo – para o controle normativo abstrato.”.

Neste sentido, decisão do STF colhida em Moraes (2003, p. 2329):

“Não Cabimento de ação direta de inconstitucionalidade tendo por objeto atos de natureza e efeitos político-administrativos concretos: STF - ´Direito Constitucional e Tributário. Contribuição provisória sobre movimentação financeira – CPMF. Ação direta de inconstitucionalidade da utilização de recursos da CPMF. Ação direta de inconstitucionalidade da utilização de recursos da CPMF como previsto na Lei nº 9.438/97. Lei Orçamentária: Ato político-administrativo e não norrmativo. Impossibilidade jurídica do pedido. Art. 102, I, a, da CF. I. Não há na presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, a impugnação de um ato normativo. Não se pretende a suspensão nem a declaração final de inconstitucionalidade, a impugnação de um ato normativo. Não se pretende a suspensão nem a declaração de inconstitucionalidade de uma norma, e sim de uma destinação de recursos, prevista em lei formal, mas de natureza e efeitos político-administrativos concretos, hipótese em que, na conformidade dos precedentes da Corte, descabe o controle concentrado de constitucionalidade como previsto no art. 102, I, a, da Constituição Federal. II. Isso não impede que eventuais prejudicados se valham das vias adequadas de controle difuso de constitucionalidade, sustentando a inconstitucionalidade da destinação de recursos, como prevista na Lei em questão` (STF – Pleno – ADIn nº 1.640-7/UF – Questão de Ordem – Rel. Min. Sydney Sanches, Diário da Justiça, Sessão I, 3 abr. 1998, capa).”.

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Desta forma, concluímos que as leis de efeitos concretos, são passíveis de

controle constitucional pela via do mandado de segurança.

3 – O PROJETO DE LEI PEREGRINO

O caso que passo a narrar aconteceu no Município de Itajubá, Minas Gerais, no

ano 2003, em que o Prefeito apresentou ao Legislativo um projeto de lei autorizando o

Município a contrair empréstimo com o Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas

Gerais – BDMG, nos termos do Programa Novo SOMMA – Novo Programa de

Saneamento Ambiental e Modernização dos Municípios. Tal projeto foi rejeitado não

tendo alcançado o ‘quorun’ de 2/3 (dois terços) estabelecido nos artigos 47 e 68, inciso

XXV da Lei Orgânica Municipal (ITAJUBÁ, 1990). A Câmara Municipal era

composta, na época, de 15 (quinze) vereadores, e tal projeto necessitava de votos

favoráveis de 10 (dez) membros, o que não aconteceu, pois somente obteve 9 (nove)

votos favoráveis. Assim sendo, por previsão do Regimento Interno (ITAJUBÁ, 1999),

Lei Orgânica Municipal (ITAJUBÁ, 1990) e da própria Constituição da República

(BRASIL, 1988), tal projeto não poderia ser reapresentado na mesma sessão legislativa.

Acontece, que um dos vereadores que havia votado pela rejeição do projeto mudou de

idéia e, a partir disso, passou a ter uma batalha judicial em torno do projeto, uma vez

que, mesmo não havendo possibilidade jurídica de reapresentação naquela sessão

legislativa, ou seja, naquele ano, o Prefeito e demais vereadores tentavam burlar as

regras legais para aprovar a lei autorizativa e conseguir o empréstimo.

A razão pela qual os quatro vereadores chamados na época vereadores de

oposição não queriam que o Município contraísse o empréstimo era simples: Já havia

um empréstimo anterior que fora objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na

Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais – ALMG, e os pontos apontados

como irregulares pela Comissão se repetiam neste novo empréstimo, conforme

transcrição do Relatório (BELO HORIZONTE, 2001):

“2 - Qualidade das obrasAs licitações para contratação das obras relativas aos contratos BDMG 103.973 e 104.006 foram baseadas em um projeto executivo que não foi precedido de um projeto geotécnico.

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Assim, os dimensionamentos contidos no projeto executivo foram feitos de modo aleatório, sem que houvesse uma justificativa para os quantitativos nele previstos.Questionada a respeito de sua capacidade para fiscalização das execução das obras, os representantes da Prefeitura informaram que o DER-MG cooperou tecnicamente por meio do engenheiro responsável pela Residência na região.Causou estranheza à Comissão a previsão contida no item 01.03 - base de solo com brita graduada com adição de 2,5% de cimento, por ser de elevado valor financeiro e de difícil aplicabilidade, o que determina a necessidade de conhecimento técnico especializado, que a Prefeitura reconhecidamente não tem.Em seguida, por meio do responsável pela obra da Construtora Aterpa Ltda., engenheiro Eber Maurício de Resende Machado, na presença do Secretário Municipal de Planejamento, engenheiro Rogério Pinto Pinheiro, a Comissão foi informada que houve substituição da base especificada, no item sob comento, por cascalho de boa qualidade, pois ele conhecia uma jazida, a Cascalheira da Viúva, que já era utilizada pelo DER-MG; contudo, esse engenheiro auxiliou a Prefeitura na elaboração da planilha de quantitativos.Em 6/4/2000, a Prefeitura solicitou autorização ao BDMG para substituir a base do pavimento, com a redução de R$46,00/m³ para R$27,61/m³, o que foi atendido por meio de despacho no próprio documento.Há que se ressalvar que a solicitação visou ao remanejamento de recursos contratuais, acarretando uma significativa redução no valor final da obra, o que possibilitaria a aplicação de revestimento em outras vias do município.Ainda por meio do termo aditivo 8/99 e comunicação ao BDMG, as planilhas originais foram refeitas, visando a substituir a pavimentação com CBUQ por blocos sextavados de concreto, sob a alegação de que a presença de rampas acentuadas em algumas ruas impossibilitava a execução de compactação das camadas do pavimento, aliada à presença de lençol freático muito próximo à cota final de pavimentação.Nada disso aconteceria se o município não se tivesse eximido de executar com eficácia a fiscalização da execução das obras, pois esta foi deixada a cargo da própria empreiteira.Percebe-se a má qualidade do pavimento na maioria das ruas, o qual está rompido em vários locais, bem como a ausência de sistema de drenagem. Onde o pavimento está deteriorado, nota-se que a base é imprópria para receber um revestimento asfáltico de boa qualidade. Na tentativa de se eximir de responsabilidade, a municipalidade alegou que não foi possível o aprofundamento da execução de caixa para receber o asfalto porque há rede de água e esgoto. Mas esse fato deveria ser conhecido antes da elaboração do projeto.Foi confirmada a denúncia de que a municipalidade exigiu dos moradores de casas edificadas ao longo das vias pavimentadas, a título de parceria, a doação de oito sacos de cimento para cada 10m² de via pavimentada, o que resultou em dois sacos do material por residência.”.

Ora, em meio a tantas irregularidades apontadas pela Comissão Parlamentar de

Inquérito da ALMG, fica fácil compreender porque os oposicionistas não queriam a

repetição daquele empréstimo, havia, portanto, razões legais e políticas para que os

vereadores votassem contrário ao projeto e, como foi apresentado para votação fora das

normas legais e regimentais, o caminho foi recorrer a Justiça para impedir a tramitação

do projeto, o que acabou numa longa disputa judicial, como passo a narrar.

3.1 – O Primeiro Mandado de Segurança

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Conforme narrado, o projeto de lei que autorizava o Município a contrair

empréstimo junto ao BDMG, tramitado na Câmara Municipal de Itajubá sob o título

Projeto de Lei 3.120/2003 foi rejeitado com 9 (nove) votos favoráveis e 5 (cinco)

contrários. Acontece que foi reapresentado por 10 (dez) vereadores, os nove que

votaram favorável mais um vereador que mudou de idéia (Vereador João Dimas

Ribeiro), buscando uma brecha na lei, o que não era juridicamente possível, uma vez

que tal projeto era de iniciativa exclusiva do Chefe do Executivo. Mesmo assim, o

Presidente da Câmara na época, Vereador João Vitor da Costa, designou reuniões

extraordinárias para discussão e votação do projeto, agora designado Projeto de Lei

3.162/2003, o que ensejou a impetração do mandado de segurança nº 032403009520-61,

em face do Presidente da Câmara, em que os autores (Vereadores Ulysses Gomes de

Oliveira Neto, Oscar Navarro Santos, José Luiz Augusto e Jorge Rennó Mouallem)

narraram o seguinte:

“No dia 13 de março de 2003 foi protocolada, na secretaria da Casa Legislativa local, o Projeto de Lei nº 3.162 de 13 de março de 2003 (doc. 01) de autoria dos Vereadores: Alberis Rodrigues Fernades; Cleber David; Geraldo José Canha; João Aparecido Filho; João Dimas Ribeiro; José Humberto do Santos; José Roberto Floriano; Klecius Albert Neves Balbino; Nestor de Oliveira; e Raimundo Correia Pereira. A autoridade coatora, num ato ilegal e inconstitucional, recebeu dito projeto e convocou quatro reuniões extraordinárias, para discussão e votação do mesmo conforme convocação em anexo (doc. 02).Trata o projeto de lei de autorização ao Chefe do Executivo para contrair empréstimo perante o Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais – BDMG, nos termos do Programa NOVO SOMMA. Foi ele, como afirmado acima, apresentado pelos Vereadores: Alberis Rodrigues Fernades; Cleber David; Geraldo José Canha; João Aparecido Filho; João Dimas Ribeiro; José Humberto do Santos; José Roberto Floriano; Klecius Albert Neves Balbino; Nestor de Oliveira; e Raimundo Correia Pereira. Este Projeto de Lei é cópia Fiel do substitutivo ao Projeto de Lei nº 3.120, de autoria do Prefeito, que fora rejeitado anteriormente pela Câmara.”.

E como fundamentação, são usados os seguintes argumentos:

“DOS IMPETRANTES: Os requerentes são todos Vereadores eleitos nas últimas eleições, o que, por si só lhes dá a condição de legitimados ativos para a propositura do presente Mandado de Segurança, já que têm o direito líquido e certo de ver tramitar, participar na discução e votação de projetos de lei que obedeçam, na sua tramitação, o processo legislativo estabelecido na Lei Orgânica Municipal, o que não ocorre no presente caso, como adiante restará sobejamente demonstrado. DO CABIMENTO DO MANDAMUS:Têm os impetrantes, conforme já se disse, têm direito a ver tramitar; discutir e votar projetos de lei que sejam postos de forma legal e constitucional, tanto no aspecto formal quanto material. Como o demonstra Alexandre de morais:

1 Comarca de Itajubá, Minas Gerais, 1ª Vara Cível, Mandado de Segurança.

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“Os parlamentares, portanto, poderão propiciar ao Poder Judiciário a análise difusa de eventuais inconstitucionalidades ou ilegalidades que estiverem ocorrendo durante o trâmite

de projetos ou proposições por meio de ajuizamento de mandados de segurança contra atos concretos da autoridade coatora (Presidente ou Mesa da Casa Legislativa, por exemplo), de maneira a impedir o flagrante desrespeito às normas regimentais ao ordenamento jurídico e coação aos próprios parlamentares, consistente na obrigatoriedade de participação e votação em um procedimento inconstitucional ou ilegal.

Não raro o Poder Judiciário deverá analisar a constitucionalidade, ou não, de determinada seqüência de atos durante certo processo legislativo tendente à elaboração de uma das espécies normativas, uma vez que é a própria Constituição Federal que, com riqueza de detalhes, prevê as normas básicas e obrigatórias de devido processo legislativo (CF, ARTS. 59 A 69). Quando assim atuar, o Judiciário estará realizando controle difuso de constitucionalidade, para poder – no mérito – garantir aos parlamentares o exercício de seu direito líquido e certo a somente participarem da atividade legiferante realizada de acordo com as normas constitucionais.” (Direito Constitucional, 11ª Edição, 2002, p. 597).E é lógico que assim o seja pois, caso contrário, estaria concretizado o império da arbitrariedade. O vereador foi eleito como representante da sociedade no intuito votar as leis que são o anseio desta mesma sociedade. Em não havendo um remédio jurisdicional para impedir que ele seja obrigado a participar de um processo legislativo viciado, a coação, na realidade, estará afetando a própria sociedade que ele representa.

Também o Tribunal de Justiça de Minas entende pelo cabimento do Writ para atos legislativos:“O vereador tem direito líquido e certo de votar projeto de lei devidamente submetido à tramitação regimentalmente prevista. Hipótese em que flagrantes são as ilegalidades do processo legislativo. Lei de efeito concreto é impugnável pela via estreita do Mandado de Segurança. Ordem concedida para anular a aprovação do projeto de lei e a sanção da respectiva lei.” (TJMG – AC 000.195.305-8/00 – 1ª C. Cív. – Rel Des. Páris Peixoto Pena)“Ainda que, a rigor, se deva considerar como impetrada a autoridade coatora, e não a pessoa jurídica de direito público à qual aquela pertence, não se deve indeferir a inicial do mandamus, quando impetrado em face da Câmara Municipal e não de seu presidente, sobretudo se se considerar que o Presidente praticou o ato hostilizado na qualidade de Chefe do Poder e que será o Legislativo, a final, o destinatário dos efeitos jurídicos da sentença. Não se afigura razoável fomentar injustificável e exagerado apego ao formalismo, em prejuízo do objetivo último do processo, que não é fim em si mesmo, mas instrumento para realização da justiça. É ilegal o ato de eleição da Mesa da Câmara Municipal que não observa as disposições legais e regimentais pertinentes. O Vereador tem direito subjetivo de ver respeitados os dispositivos legais e regimentais, quando das atividades da Câmara que integra” (TJMG – AC. 154.390/9.00 – 3ª C. Cív. – Rel. José Antônio Baía Borges)DA ILEGALIDADE/ INSCONSTITUCIONALIDADE:A ilegalidade/inconstitucionalidade do ato está no fato de que tal assunto é daqueles cuja iniciativa do projeto de lei cabe exclusivamente ao Chefe do Executivo. A Lei Orgânica do Município de Itajubá (doc. 03) estabelece, com riqueza de detalhes, o processo legislativo municipal, que em seu art. 48, inciso IV prevê:“Art. 48. São de iniciativa exclusiva do Prefeito as leis que disponham sobre:[...]IV – matérias orçamentárias e as que autorizem abertura de créditos ou concedam auxílios e subvenções.” (grifamos)O parágrafo único desse mesmo artigo, por seu turno, reforça a impossibilidade de tramitar esse projeto por iniciativa de integrantes da Câmara de Vereadores, ainda que a apresentação tenha sido feita por dez vereadores como é o caso:

“Paragrafo único. Não será admitido aumento de despesa nos projetos de iniciativa exclusiva do Prefeito, ressalvado no Art. 133, § 2º desta Lei Orgânica.”O citado artigo está na seção da Lei Orgânica denominada ORÇAMENTO.

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Veja, Excelência, ainda que não houvesse essa previsão na Lei Orgânica local, ainda assim, não seria possível tramitar tal projeto de lei já que o impediria o art. 61, § 1º e 63, inc. I da Constituição da República.

Até por amor a lógica, Excelência, independente da proibição legal e constitucional da tramitação do projeto ora atacado, não há como um projeto desse tipo ser apresentado pelos Vereadores, senão vejamos: trata-se de projeto de lei autorizativa, ou seja, autoriza o Prefeito

a praticar determinado ato, no nosso caso, contratar operações de crédito com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG. Ora, se para tanto há a necessidade de autorização legislativa, só quem pode pedi-la é o Prefeito. Como é que o órgão autorizador é o mesmo que pede tal autorização. Não pode uma pessoa pedir autorização pra si mesma, é absurdo. É como contratar consigo mesmo. Mais a mais o artigo 68, no seu inciso XXV, da Lei orgânica estabelece:

“Compete ao Prefeito, entre outras atribuições:[...]

XXV- contrair empréstimos e realizar operações de crédito, mediante prévia autorização da Câmara;”se é competência do Prefeito realizar operações de crédito, e se para tanto necessário se faz a autorização da Câmara, só quem pode pedir tal autorização é ele. Concluir de maneira diferente, além de contrariar a lei e a Constituição, contraria também o bom senso. Nesse sentido o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul como se depreende dos julgados abaixo:

“Ação Direta de Inconstitucionalidade de lei complementar municipal. Tribunal Pleno. a lei impugnada foi proposta por Vereador e versa sobre política tarifaria municipal, cuja iniciativa é de competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo por expressa disposição da Constituição Federal, Estadual e da LOM. Caracterizado o vício de origem. ação procedente. (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 595096082, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, relator: Des. João Aymoré Barros Costa, julgado em 06/11/95)

“Inconstitucionalidade. Afronta a Constituição Estadual Lei Complementar Municipal, que impõe reajuste de remuneração dos servidores, fixando data de pagamento, eis que iniciado o processo legislativo por vereador quando a matéria versada por sua natureza, é de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo. (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 590006102, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, relator: Des. Sérgio Pilla da Silva, julgado em 07/05/90).É de se registrar Excelência que tal vício de iniciativa é tão grave que nem a posterior sanção do Chefe do Executivo tem o condão de convalidar o ato viciado na sua origem, como é o entendimento pacificado na doutrina. Veja-se a propósito o ensinamento do saudoso mestre Hely Lopes Meirelles:

“Leis de iniciativa exclusiva do Prefeito são aquelas em que só a ele cabe o envio do projeto à Câmara.[...]

Se a Câmara desatendendo à privatividade do Executivo para esses projetos, votar e aprovar leis sobre tais matérias, caberá ao Prefeito vetá-las, por inconstitucionais. Sancionadas e promulgadas que sejam, nem por isso se nos afigura que convalesçam do vício inicial, porque o Executivo não pode renunciar prerrogativas institucionais, inerentes às suas funções, ocorre não pode delegá-las ou aquiescer em que o Legislativo as exerça.” (Direito Municipal Brasileiro, 6ª Edição, 1993, p. 541/542).Também o Professor Alexandre de Morais, ex integrante do Ministério Público do Estado de São Paulo ensina:

“Outra questão importante referente aos projetos de lei de iniciativa exclusiva do Presidente da República, é saber se a sanção presidencial supre o vício de iniciativa na apresentação do projeto. Assim supondo que um projeto de lei de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo tenha sido apresentado por um parlamentar, discutido e aprovado pelo Congresso Nacional, quando remetido à deliberação executiva, a eventual aquiescência do Presidente da república, por meio da sanção, estaria suprindo o inicial vício formal de constitucionalidade?

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Acreditamos não ser possível suprir o vício de iniciativa com a sanção, pois tal vício macula de nulidade toda a formação da lei, não podendo ser convalidado pela futura sanção presidencial. (...) pois como advertia Marcelo Caetano, ‘um projeto resultante de iniciativa inconstitucional sofre de um pecado original, que a sanção não tem a virtude de apagar, até porque, a par das razões jurídicas, militam os fortes motivos políticos que determinassem a exclusividade da iniciativa presidencial, cujo afastamento poderia conduzir a situações de intolerável pressão sobre o Executivo.’” (Direito Constitucional, 11ª Edição, 2002, p. 531/532).

Nesse sentido inaplicável é in casu o art. 67 da Constituição Federal e art. 54 da Lei Orgânica. Ainda que o Projeto de Lei seja apresentado pela maioria da Casa Leigislativa, ainda, também, que o Prefeito venha a sancionar tal Lei no futuro, ainda assim permanece o entendimento que este projeto é de iniciativa EXCLUSIVA do Prefeito. DA URGÊNCIA:Demonstrado que está, e sobejamente, o fumus boni iuris, o periculum in mora se dá no fato de que a primeira reunião extraordinária está marcada para as 19:00 horas do dia 17/03/2003. Tal urgência é reforçada pela cirrcunstância de o Projeto de Lei em questão ser daqueles de efeito concreto, que se exaurem num único ato, qual seja, a contratação da operação de crédito. Vale dizer, se se deixa ocorrer tais reuniões (duas delas estão marcadas para o dia de hoje) impossível será no futuro a reparação do direito líquido e certo lesionado.

Face a presença dos pressupostos autorizativos, há possibilidade de concessão de liminar. E é o que se requer.”.

Foi ao final, apresentado o seguinte requerimento:

“DOPEDIDO:Face a todo o acima exposto requer:1- seja concedida, inaudita altera pars, LIMINAR para que a autoridade apontada como

coatora se abstenha de realizar as reuniões extraordinárias convocadas para a apreciação e votação do Projeto de Lei ilegal e inconstitucional, ou que, caso aconteçam tais reuniões nelas não seja apreciado o Projeto de Lei nº 3.162;

2- seja intimada a Autoridade apontada como coatora para prestar as informações no prazo legal e, querendo, juntar documentos, sob pena de revelia;

3- seja, em decisão final, julgada procedente a presente ação, com a concessão definitiva do writ, para impedir a tramitação desse Projeto de Lei comprovadamente ilegal e inconstitucional, já que padecente de vício insanável de iniciativa, ou a invalidação da lei dele decorrente, caso V. Exa. Entenda de não conceder a liminar requerida no item 1 acima, e a conseqüente condenação às custa processuais e honorários advocatícios;

4- seja ouvido o DD. Órgão do Ministério Público.”.

Em vista dos requerimentos apresentados, o Juiz José Sérgio Palmieri, após

relatar todo o processo, despachou concedendo a liminar nos seguintes termos:

“Examino a pretensão liminar.Para a concessão da liminar devem concorrer os dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na decisãode mérito -fumus boniiuris e periculumin mora."A medida liminar não é concedida como 1\antecipação dos efeitos da sentença final; é procedimento acautelador do ! possivel direito do impetrante, justificado pela iminência de dano rreversivel de ordem

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patrimonial, funcional ou moral, se mantido o ato coator até a apreciação definitiva da causa. Por isso mesmo, não importa, em prejulgamento; não afirma direitos; nem nega poderes à',Administração. Preserva, apenas, o impetrante de lesão irreparável,sustando provisoriamente os efeitos do ato impugnado" ( Mandado de Segurança, 138ed., Ed. Rev. dos Tribunais, pág. 51 ).Podem, é claro, os Senhores Edis apresentar, pela maioria absoluta de seus membros, projeto de lei rejeitado, na mesma sessão legislativa, desde, é claro, se não dispuserem sobre as matérias de inciativa exclusiva do Prefeito, conforme está escrito no art. 48, incisos I a IV, e seu parágrafo único, da Lei Orgânica do Município de Itajubá.Ora, pelos documentos de fIs. 17/19, coroborado pelo de fis. 20, ficou evidente que os nobres Vereadores, em verdade, quiseram realmente substituir o Chefe do Poder Executivo em projeto de sua exclusiva iniciativa, pois que se trata de abertura de crédito, o quelhes é defeso, daí o fummus boni júris da impetração. Lado outro, também se faz presente o periculum in mora, vez que a autoridade-impetrada, segundo denunciado na peça vestibular, o que é confirmado pelo documento de fis. 21, jádesignou sessões extraordinárias para a discussão e votação do PL n° 3.162/03, daí porque se justifica a concess'ão da liminar suplicada.“Pois bem! Em face disso, é obvio que surge cristalino direito líquido e certo dos impetrantes, no sentido da regularidade e a legalidade/constitucionalidade na tramitação de projetos perante a Augusta Câmara Municipal de Itajubá, onde ocupam cargo de vereador, razão pela qual, repita-se, autoriza-se, desde logo, a concessão de liminar obstativa à tramitação do PL nº 3.162/03, o que se decide.Defiro, pois, a liminar para OBSTAR a tramitação do Projeto de Lei 3;162/03, na Câmara Municipal de Itajubá, até decisão final do mandamus.”.

No mesmo despacho que concedeu a liminar, o Juiz mandou oficiar a autoridade

coatora, o Presidente da Câmara Municipal para intimá-la da liminar deferida, bem

como para requisitar-lhe informações no prazo de dez dias, após, deu vista por cinco

dias ao Ministério Público e a seguir, mandou que os autos lhe fossem conclusos para

decisão final.

A autoridade coatora, Vereador João Vitor da Costa, Presidente da Câmara

Municipal de Itajubá, respondeu em síntese, que:

“Cuida-se de Mandado de Segurançacontra a tramitação do e contra o próprio projeto de lei 3.162/03, que goza de mera expectativa de ser aprovado, incapaz de produzir efeitos nessa fase. A tramitação de projeto de lei é um ato interna corporis do Legislativo, insuscetível de apreciação pelo Judiciário. No Mandado de Segurançan° 20.257-2, de 1980, impetrado contra a Mesa Diretora do Congresso Nacional, para impedir a tramitação das propostas de emendasconstitucionais nº 51 e 52/80, podemos extrair do voto do Relator, Ministro Décio Miranda : " O que postulam os ilustres autores da impetração é que o Colendo Supremo Tribunal Federal intervenha no processo legislativo, a impedir a prática de atos de ofício, sem poderes para tanto, qual salientou o eminente Ministro Soares Muõoz, ao repelir a liminar requerida pelos impetrantes, verbis : " Penso, porém, que a pretendida intervenção do Supremo Tribunal Federal no processo legislativo, de forma a impedir que o Congresso Nacional pratique ato de ofício, que lhe é privativo, vale dizer, discuta, aprove ou não e promulgue emenda constitucional, exorbita do controle que a Constituição Federal atribui ao Poder Judiciário." Theotônio Negrão, em notas de rodapé, entende que não se pode, através de mandado de segurança, declarar em abstrato a invalidade de determinada lei ou decreto-lei, por vício de inconstitucionalidade. O projeto de lei 3.162/03 constitui-se em uma mera expectativa

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que, para gerar efeitos concretos teria, não só de se transformar em lei, mas ser submetido à Secretaria do Tesouro Nacional que, em última análise, é quem autoriza ou não acelebração do contrato de empréstimo, conforme se vê na Resolução n° 43 do Senado Federal. Trata-se de matéria autorizativa e, en passant, pode-se citar, aqui, considerações do parecer do Senador Josaphat Marinho, aprovado por unanimidade na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Esse parecer considera constitucionais os projetos de lei autorizativa, entendendo que as leis autorizativas, orçamentárias e tributárias têm apoio doutrinário,jurídico e legal. Observou aquele parlamentar que o projeto de lei autorizativa é um projeto de lei como outro qualquer, passível de sanção presidencial e que a lei autorizativa não é passível de argüição de inconstitucionalidade, por vício de iniciativa. (Não é o presente caso). Ao que se vê, a via eleita é inadequada, faltando o interesse para agir. Adentrando-nos no mérito, trata-se de Mandado de Segurança, em que o fulcro da matéria se prende à questão da iniciativa, para reapresentação, na mesma sessão legislativa, de projeto de lei, de iniciativa do Executivo e que foi rejeitado, quando de sua votação. O projeto rejeitado contém matéria de iniciativa do Executivo e, como tal, foi proposto originalmente e, posto em votação, foi rejeitado, com nove votos favoráveis e cinco contra. Entendendo, agora, a maioria absoluta dos membros do Legislativo devesse o projeto ser mais bem examinado, buscaram seus subscritores subsídios no artigo 67 da Constituição Federal e no artigo 54 da Lei Orgânica Municipal. O artigo 67 da Constituição da República não traz ressalva alguma, que possa impedir que projeto de lei rejeitado seja reapresentado, na mesma sessão legislativa, desde que proposto pela maioria absoluta dos membros do Legislativo. A redação do artigo 67 da C.F. não deixa a menor dúvida sobre a possibilidade da reapresentação de qualquer projeto de lei rejeitado, desde que o seja pela maioria absoluta dos membros do Legislativo. Não se trata de usurpação da iniciativa original do Executivo, mas de uma exceção, que respeita a iniciativa do Prefeito, extemada sua vontade, quando daapresentação do projeto' de lei, que fora rejeitado. A vontade do Executivo se acha preservada. Se confrontarmos o que dispunha o § 3° do artigo 58 da Emenda Constitucional 1/69 com o artigo 67 da atual Constituição Federal, a questão se toma clara, numa demonstração inequívoca de que a norma constitucional não excetua nenhum projeto de lei da possibilidade de reapresentação, na mesma sessão legislativa, pela maioria dos membros do Legislativo. A emenda constitucional 1/69, em seu parágrafo terceiro do artigo 58 dispunha: "A matéria constante de projeto de lei rejeitado ou não sancionado, assim como a constante de proposta de emenda à Constituição, rejeitada ou havida por prejudicada, somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Câmaras, RESSALVADAS AS PROPOSIÇÕES DE INICIATIVA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA." (O grifo é nosso). Aí, havia a ressalva, impunha-se a exceção. Ao que se vê, porém, do artigo 67 da Constituição Federal de 1988, eliminou-se essa ressalva. Litteris: "A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional." Por sua vez, o artigo 54 da Lei Orgânica Municipal preceitua: "A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara." As ementas jurisprudenciais, invocadas pelos impetrantes não trazem similitude com o que aqui se discute. Nenhuma delas diz respeito a reapresentação, por maioria absoluta, de projeto de lei rejeitado. Referem-se a outro tipo de procedimento legislativo. A doutrina pátria vem ao encontro do procedimento do Legislativo itajubense. O grande jurista pátrio, Ives Gandra Martins, comentando o artigo 67 da Constituição Federal, na obra" Comentários à Constituição do Brasil", editora Saraiva, 2a edição atualizada, à página 587, enfatiza que "é de se notar que a Constituição exige maioria absoluta de uma das Casas, na subscrição de projeto de lei, sem o que, não mais pode ser reapresentado, não prevalecendo, nesta hipótese, o disposto no artigo 61, que cuida da iniciativa das leis." Veja-se, esse festejado jurista fala em subscrição do projeto de lei pela maioria absoluta de uma das Casas do Congresso e deixa claro que, nesse caso, não prevalece o disposto no artigo 61 da Constituição Federal. O artigo 61 da Constituição Federal é o que preceitua sobre a iniciativa das leis e, em seu parágrafo primeiro, esclarece quais as leis que são de iniciativa do Presidente da República, entre as quais as que disponham sobre

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organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, entre outras ( alínea" b" , § 1°). Os impetrantes alinhavam, ainda, argumentos de que existe a impossibilidade da apresentação do novo projeto pela maioria absoluta, por se tratar de matéria financeira e orçamentária. A Constituição Federal, porém, não faz a distinção de qual tipo de projeto de lei rejeitado pode ser reapresentado pela maioria absoluta dos membros do Legislativo.Onde a lei não distingue, não é dado ao intérprete fazê-Io. E não se pode deixar de considerar que se trata do mesmo objeto, da mesma matéria, sem nenhuma modificação, o que implica em dizer que a iniciativa original do Executivo se acha resguardada. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em "Comentários à Constituição Brasileira de 1988", editora Saraiva, página 119, preleciona: "A renovação, na mesma sessão legislativa, de projeto que não se transformou em lei, seja por haver sido rejeitado, na deliberação parlamentar, seja por haver sido vetado, é um ato coletivo. Exige o apoio da maioria absoluta dos membros de uma das Casas do Congresso Nacional." Continuando a colher subsídios nos ensinamentos do mesmo autor, ao comentar sobre a iniciativa no processo legislativo, em sua obra "Do Processo Legislativo", editora Saraiva, 43 edição, página 206, encontramos: "Em verdade, juridicamente, a iniciativa é o ato por que se propõe a adoção de direito novo. Tal ato é uma declaração de vontade, que deve ser formulada por escrito e articulada." E continua: "É, em nosso direito, um ato simples, em regra geral. Como exceção, tem a estrutura de ato coletivo, quando serve para apresentar projeto que reitera disposições constantes de outro que, na mesma sessão legislativa, ou foi rejeitado em deliberação ou foi vetado (obviamente tendo sido mantido o veto). Nessa hipótese, exige o artigo 67 da Constituição que a proposta seja SUBSCRITA (grifo nosso) pela maioria absoluta dos membros de qualquer das Câmaras. Desta forma, a iniciativa resulta, aí, da soma, sem fusão, de vontades de conteúdo e finalidade iguais, que continuam autônomas, pertencentes a titulares de iniciativa individual." Proposto, na redação do artigo 67 da Constituição Federal, há de significar subscrito. Se o legislador constituinte pretendesse que o novo projeto de lei deve ser reapresentado pelo Prefeito, por certo teria se utilizado da expressão "por indicação da maioria absoluta." Respondendo a uma consulta se matéria de iniciativa do Prefeito, em projeto rejeitado, pode se constituir em objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, por proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara Municipal e se seria o Prefeito ou essa maioria absoluta de vereadores que subscreveria o novo projeto, colhemos do parecer da JN&C, escritório do professor José Nilo de Castro: " Neste caso, infere-se que a matéria constante de projeto de lei rejeitado, somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara.Com efeito, destarte mencionar que o reexame da mesma matéria, constituindo novo projeto, só poderá ocorrer mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara, sem qualquer alteração daquele rejeitado, isto é, o texto submetido a reexame deverá estar em consonância com o texto original, o qual fora redigido e apresentado pelo Prefeito Municipal, que detém a iniciativa da matéria em questão.Isto posto, conclui-se que o novo projeto de lei, contendo a mesma matéria rejeitada, diga-se, inalterada, deverá ser apresentado e subscrito pelos vereadores, em sua maioria absoluta, para que assim seja novamente submetido à apreciação do Plenário."Ao que se vê, a melhor doutrina mostra que o procedimento adotado, para a reapresentação do projeto de lei, rejeitado, é o correto, e tem o respaldo da Lei Maior.Finalmente, ainda que isso não venha a ter influência alguma, na decisão de mérito, não há nenhuma incongruência, como enxergam os impetrantes, em vereador propor projeto de lei autorizativo. O vereador propõe, para ser submetido à deliberação do Plenário, o que é de todo legal, mesmo em seu aspecto formaLE, diga-se também que, em Mandado de Segurança, não há condenação em honorários de sucumbência, conforme pedido pelos impetrantes. Ante o exposto, deve a liminar ser revogada e, no mérito, deverá a ordem ser negada. Se a liminar for revogada, não há que se falar em julgamento pela invalidação da Lei que, por ventura, vier a ser aprovada, pela via escolhida pelos impetrantes, que, inclusive, pretendem, com isso,julgamento sobre o inexistente. No caso, a via a ser perseguida seria a de uma ADIN. Essas, MM. Juiz, as informações que nos compete prestar, esperando pela improcedência do presente

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Mandado de Segurança, condenando-se os impetrantes nas custas processuais. Receba V.Exa. essas informações, determinando sua juntada aos autos do processo.”.

Após a manifestação do Presidente da Câmara o processo foi remetido ao

membro do Ministério Público, que assim opinou:

“Autos n° 9520-6Parecer FinalMandado de Segurança1ª Secretaria CívelUlisses Gomes de Oliveira Neto e outros, através de advogado, impetraram o presente Mandado de Segurança em face de ato do senhor Presidente na Câmara de Vereadores de Itajubá, alegando que no dia 13 de março de 2003 foi protocolada na secretaria da Casa acima citada o projeto de lei n° 3.162/2003, de autoria de Alberis Rodrigues Fernandes e outros. O presidente recebeu o projeto e convocou reunião extraordinária, para a discussão e votação do mesmo.Continuando em sua explanação, tal projeto é a repetição do de n° 3120, que já fora objeto de análise e rejeitado, motivopelo qual o chefe do Poder Executivo não poderia reapresentá-Io e assim os vereadores o teriam feito, mas desta vez houveumaafronta aos preceitos legais eis que tal projeto tinha por objetivo autorizar o Poder Executivo a abertura de créditos, o que implicaria em aumento de despesas e assim iria ferir os artigos 63, § 1° da CF e artigos 48, inc,IV e 54 da lei Orgânica Municipal. Entendendo Ter sido ferido em seu direito líquido e certo, requereu a concessão da liminar e após pela notificação da autoridade coatora para prestar informações e finalmente pela procedência do pedido, com a concessão da segurança para que fosse suspendido a tramitação do projeto acima citado. O MM. Juiz de 10 Instância, em r. decisão de fls. 46/49, concedeu a liminar nos termos do requerido; a autoridade coatora foi notificada e apresentou as informações e Foi aberto vista ao Representante do Ministério Público. É o relatório.Fundamentação. Versam os autos sobre Mandado de Segurança. No nosso entender as partes são legítimas, devidamente representadas e há interesse no julgamento da causa por este juízo, sendo certo que os vereadores, na condição de fiscalizadores dos assuntos municipais, têm a legimitidade para a propositura tal" wirt", eis que supostamente tiveram os seus direitos líquidos e certos feridos. Preliminarmente, não deve ser aplicada a súmula 206 do STF, na qual não aplica o mandado de segurança contra lei em tese, pois o que se discute é se o edis da Câmara dos Vereadores de Itajubá tem legitimidade para apresentarem o projeto descrito na peça inicial e não sobre o conteúdo da norma em si. Quanto ao mérito, em que pese o artigo 68 da CF rezar que o projeto de lei, rejeitado, poderá ser proposto novamente, na mesma legislatura, desde que seja feito pela maioria absoluta dos seus componentes, tenho que, em abstração com o artigo 54 da lei municipal.O grande mestre e professor de Direito Constitucional, o saudoso Dr. Wilson Acioli em sua majestosa obra Instituições de Direito Constitucional, ed.1981, pgs. 317, nos relata que" Diversas são as atribuições do Congresso Nacional. Há matérias que lhe pertencem, mas com a sanção do presidente da República;outras, ao contrário, incumbem lhe de maneira exclusiva. No caso da competência, com o assentimento do Presidente da República, as matérias arroladas na Constituição só se transformarão em lei depois que o projeto, adotado numadas Câmaras, for submetido a outra e ne:sta aprovado, e o Presidente da República adotando, sancioná-lo e promulgá-lo. Ao Congresso Nacional caberá, nessa modalidade de atribuição, dispor sobre todas as matérias de competência da União de forma genérica ( art. 49)". Já às pgs. 329, o nobre doutrinador nos informa que" Mas, não obstante ser natural conseqüência da atribuição legislativa da Assembléia Geral, conforme salienta Rodrigues de Souza, Análise e Comentário da Constituição Política do Império do Brasil, Maranhão, 1867, v. I, pgs. 246, também o Poder Executivo podia Ter por intermédio de qualquer dos seus ministros de Estado, a iniciativa de formação das leis. Nesse sentido, dispunha o artigo 53, da Constituição do Império: " O Poder Executivo exerce por qualquer dos ministros a proposição, que lhe compete na formação das leis; e só depois de examinada por uma Comissão da Câmara dos Deputados, onde deve Ter princípio, poderá ser convertida em projeto de lei". Por sua vez, preleciona o grande

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doutrinador Manoel Gonçalves Ferreira Filho em sua obra Curso de Direito Constitucional, ed.1990, pgs. 164, nOs 9 e 10: A iniciativa não é propriamente uma fase do processo legislativo,mas sim o ato que se desencadeia. Emverdade, juridicamente, a iniciativa é o ato porque se propõe a adoção de umdireito novo.Tal ato é a declaração de vontade, que deve ser formulada por escrito e articulada: ato que se manifesta pelo depósito de um instrumento, do projeto, em mãos da autoridade competente. É em nosso Direito, um ato simples, uma regra geral. Como exceção, tem a estrutura de ato coletivo, quando serve para apresentar projeto que reitera disposições constantes de outro que, na mesma sessão legislativa, ou foi rejeitado em deliberação, ou foi vetado ( obviamente sendo sido mantido o veto). Nessa hipótese, exige o artigo 67 da Constituição que a proposta seja subscrita pela maioria absoluta dos membros de qualquer das Câmaras. Dessa forma, a iniciativa resulta aí da soma, sem fusão, de vontades de conteúdo e finalidades iguais, que continuam autônomas, pertencentes a titulares de iniciativa individual. Em face da Constituição de 1988, importa distinguir, quanto ao poder de iniciativa, o que é geral do que é reservado. A iniciativa geral - regra de que a iniciativa reservada é a exceção - compete concorrentemente ao Presidente da República, a qualquer deputado ou senador, a comissão de qualquer das Casas do Congresso, ao Supremo Tribunal Federal, aos tribunais superiores, ao procurador-geral da República e aos cidadãos ( artigo 61), anterior. Nota-se, nesse passo, umaampliaçãocomreferência ao Direito. Reserva, todavia a Constituição a iniciativa de certas matérias, excluindo-as, pois, da regra geral acima. Assim, o artigo 61, § 1°, da Constituição reserva ao Presidente da República a iniciativa das leis que criem cargos, funções ou empregos públicos ou aumentem a sua remuneração, fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas, disponham sobre organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios, organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e as normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, sobre os servidores da União, regime jurídico, provimentos de cargos públicos, ete". O aspecto fundamental da iniciativa reservada está em resguardar a seu titular a decisão de propor direito novo em matérias confiadas à sua espécie atenção, ou seu interesse preponderante. Cogitação oposta inspira à vinculação ou iniciativa. A iniciativa é dita vinculada quando longe de Ter caráter facultativo e apresentação de projeto de lei sobre dada questão é imposta pela Constituição". Tratando-se de norma imperativa, não há como os edis desta localidade apresentar ou reapresentar o projeto, por eles mesmos rejeitados e de competência e iniciativa privativa do chefe do poder executivo local. É importante também lembrar a lição de Sylvio Motta e Willian Douglas no livro Direito Constitucional, 8QEdição, pgs. 364: " Iniciativa das Leis - Preliminarmente, convém estabelecer, que não obstante a estrutura bicameral do Poder Legislativo da União,nem todas as espécies normativas têm tramitação nas duas Casas. Apenas os projetos de emenda à Constituição, de leis complementares e de leis ordinárias tramitam primeiro em uma Casa, denominada Iniciadora e, se aprovado, passará à outra, que recebe, por edis o nome ,de Casa Revlsora ... “. A doutrina não chegou a um acordo sobre a natureza jurídica da iniciativa. Para Michel Temer, não é ato de processo legislativo mas, apenas, seu deflagramento. O fato é que a partir da iniciativa começa a tramitação do projeto de lei apresentado. A Constituição admite a iniciativa privativa e a iniciativa concorrente. Na primeira, que é a regra geral, permite-se a qualquer pessoa ou órgão o início dos projetos de lei sobre as demais matérias ( art. 61, caput), inclusive o povo na chamada iniciativa popular, conforme dispõe o artigo 61 § 2°, que é dispositivo auto-aplicável. Na segunda, apenas um órgão ou uma única pessoa pode apresentar a CasaIniciadora o projeto de lei que trate de determinada matéria. São exemplos da iniciativa reservada os artigos 61, § 1°, I e 11 e o 93, caput. A não observância desses dispositivos constitucionais implicaria inconstitucionalidade formal subjetiva, ou seja, vício de iniciativa ou de competência, levando, necessariamente, à inconstitucionalidade toda lei, caso fosse promulgada dessa maneira.A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que o vício da iniciativa do projeto da lei, cuja matéria é de iniciativa privada do Chefe do Executivo não é sanada por simples sanção ( os grifos são do autor). O pedido inicial, portanto, deve proceder, eis que ferido o direito líquido e certo dos requerentes. O grande mestre Hely Lopes Meirelles, em sua obra Mandado de Segurança, 14ª Edição, pgs. 25, nos relata o seguinte: Há Direito líquido e certo é que se apresenta manifesto na sua existência,

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delimitado em sua - extensão e apto a ser exercido no momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma legal e trazer em si .todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante: se sua existência for duvidosa: se sua extensão ainda não tiver sido delimitada: se o seu exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não pode dar ensejo à segurança, embora possa ser confundido com outros meios judiciais". Também preleciona Celso Agrícola Barbi em seu majestoso livro" Do Mandado de Segurança, 9QEdição, n° 76, pgs. 53: " Conceito de liquidez - A substituição do adjetivo" incontestável", pela expressão li líquido" mostra ainda a influência da linguagem jurisprudencial da teoria brasileira do habeas corpus, a que nos referimos no n° 68 deste Capítulo. Mas tem a vantagem de não se prestar a divergências de conceituação, como acontecia com o adjetivo substituído. Após demonstrar que o sentido de li liquidez" no Mandado de Segurança nada tem a haver com a significação que lhe emprestou o Código Civil, em matéria de obrigações, conclui acertadamente Castro Nunes: Líquido está no texto como reforço de expressão, mais na acepção vulgar de escoimado de dúvidas, o que equivale a 'certo', do que no sentido correlato da obrigação correspondente". Suprimido assim mais um elemento da discussão, resta sozinha a expressão li direito certo ", para ser definida. E, a nosso ver, ninguém lhe deu melhor demonstração do que Costa Manso, no trecho citado, n° 72. Daí a conclusão que, desde que sejam incontestáveis os fatos, resolverá o juiz a questão de direito, por mais intricada que se apresente. E, se concluir que a regra jurídica, incidindo sobre aqueles fatos configura um direito da parte, haverá li direito líquido e certo ", Como se vê, o conceito de direito líquido e certo é tipicamente processual, pois atende ao modo de ser um direito subjetivo no processo: a circunstância de um determinado direito subjetivo no processo realmente existir não lhe dá a caracterização de liquidez e certeza; esta só lhe é atribuída se os fatos em que se fundar puderem ser provados de forma incontestável, certa, no processo. E isto normalmente se dá quando a prova for documental, pois ,esta é adequada de uma demonstração imediata e segura dos fatos".Como derradeiro, na obra acima citada, pgs. 169, foi descrito o seguinte: li A prova assume no processo de mandado de segurança excepcional relevo, pois comovimosno capítulo VII, a base de definição do que seja direito líquido e certo, o projeto, portanto, não deve ser apresentado nem pelos vereadores nem pelo chefe de poder executivo, só o podendo fazer na próxima legislatura, pelas razões acima expostas. Conclusão. Diante do exposto, o RMP opina por confirmar a liminar de fls", e no mérito pela Procedência do pedido, com a concessão da segurança a fim de que o projeto de n° 3162 /03 não seja objeto de iniciativa e tramitação pelos vereadores locais e nem pelo chefe do poder executivo.”.

Após o parecer ministerial acima, o Presidente da Câmara peticionou nos autos

informando que os vereadores autores do projeto 3.162/03, baseados em previsão

regimental, retiraram o referido projeto e requereu a extinção do processo sem

julgamento de mérito. Assim sendo o Juiz da causa deu novas vistas aos autores e ao

Ministério Público que manifestaram pelo julgamento da causa com apreciação do seu

mérito.

Mesmo assim, o Meritíssimo Juiz prolatou a seguinte Sentença:

“Proc. n° 9520-6/03Vistos etc...Tendo em vista que o Projeto de Lei n° 3.162/03, da Câmara Municipal de Itajubá, foi retirado pelos seus apresentantes, confonne petição de fls. 65, tem-se que este processo perdeu seu objeto, não restando ao Juízo outra alternativa senão decretar sua extinção.Do exposto, e do mais que dos autos consta, julgo EXTINTO o processo, sem apreciação de

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seu mérito, a teor do que prevê o art. 267, VI, do mesmo códex. Custas, já pagas. Sem honorários ( Súmula n°105 do STJ). P. R. I.”.

Assim sendo estava ganha a primeira batalha pelos vereadores oposicionistas

que não queriam a tramitação do Projeto de Lei 3.162/2003.

3.2 – O Segundo Mandado de Segurança

Passados alguns dias do julgamento acima narrado, o Prefeito Municipal,

burlando disposições da Lei Orgânica Municipal (ITAJUBÁ, 1990) e da própria

Constituição da República (BRASÌLIA, 1988) que impedem a reapresentação de

projetos de lei na mesma sessão legislativa, reapresentou o projeto de lei que autorizava

o Município a contrair empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento do Estado de

Minas Gerais, desta vez o projeto foi recebido na Câmara Municipal sob o argumento:

Projeto de Lei nº 3.166/2003, que era repetição dos Projetos de Lei 3.120/2003

(rejeitado) e 3.162/2003 (impedido de tramitar pelo Poder Judiciário). Imediatamente

após o recebimento do projeto na Secretaria da Câmara, o Presidente da Câmara

designou sessões extraordinárias para apresentação, discussão e votação do Projeto de

Lei 3.166/2003, o que obrigou os quatro vereadores oposicionistas a impetrarem novo

mandado de segurança, desta vez distribuído sob o nº 032403010427-12 cuja inicial

narrava o seguinte:

“DOS FATOS.No dia 13 de março de 2003 foi protocolada, na secretaria da Casa Legislativa local, o Projeto de Lei nº 3.162 de 13 de março de 2003 (doc. 01) de autoria dos Vereadores: Alberis Rodrigues Fernades; Cleber David; Geraldo José Canha; João Aparecido Filho; João Dimas Ribeiro; José Humberto do Santos; José Roberto Floriano; Klecius Albert Neves Balbino; Nestor de Oliveira; e Raimundo Correia Pereira. A autoridade coatora, num ato ilegal e inconstitucional, recebeu dito projeto e convocou quatro reuniões extraordinárias, para discussão e votação do mesmo conforme convocação em anexo (doc. 02).Tratava o projeto de lei de autorização ao Chefe do Executivo para contrair empréstimo perante o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG, nos termos do Programa NOVO SOMMA. Este Projeto de Lei era cópia fiel do substitutivo ao Projeto de Lei nº 3.120, de autoria do Prefeito, que fora rejeitado anteriormente pela Câmara.Fulcrados na inconstitucionalidade/ilegalidade da proposição os autores impetraram a competente ação mandamental com vistas a impedir a consumação de tal ato. O culto

2 Mandado de Segurança. Comarca de Itajubá, Minas Gerais, distribuído à 2ª Vara Cível, mas tramitado na 1ª Vara Cível por conexão nos termos do Código de Processo Civil.

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Magistrado da Primeira Vara Cível concedeu a liminar (doc. 03) impeditiva da tramitação do projeto de lei. Após as explicações prestadas (doc. 04) o Representante do Ministério Público deu parecer no sentido de ser inconstitucional/ilegal a apreciação do projeto de lei em questão, ou seja, pela concessão da segurança.Na última reunião ordinária, ocorrida no dia 27 de março de 2003, os dez Vereadores apresentantes solicitaram a retirada do Projeto de Lei (doc. 05), o que foi deferido pela autoridade coatora. Esta, por sua vez, requereu a juntada da solicitação nos autos do processo no sentido de se considerar que a ação perdera o objeto (doc. 06), ao que o MM Juiz abriu vista aos impetrantes para que se manifestassem no prazo de dez dias. No dia seguinte a autoridade coatora, sem aguardar a manifestação dos impetrantes no processo, bem como a decisão do Magistrado, convocou quatro reuniões extraordinárias (doc. 07) todas para apresentação discussão e votação do Projeto de Lei nº 3166 de 26 de março de 2003 (doc. 08). Ocorre que tal projeto, cuja ementa é:

“Autoriza o Município de Itajubá a contratar com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A – BDMG – operações de crédito com outorga de garantia e dá outras providências” vem a ser exatamente o mesmo Projeto de Lei 3162 questionado no Mandado de Segurança já citado, com a única diferença de que agora por Iniciativa do Chefe do Executivo. Vale dizer, está o Prefeito do Município REAPRESENTANDO um projeto de lei que já fora rejeitado pela Câmara nesta mesma seção legislativa contrariando o art. 67 da CF/88 e art. 54 da Lei Orgânica Municipal (doc. 09) além de ferir de morte o art. 118 do Regimento Interno da Câmara Municipal (doc. 10), norma que deveria ser o livro de cabeceira da autoridade coatora, já que é presidente daquela casa de leis.DOS IMPETRANTES: Os requerentes são todos Vereadores eleitos nas últimas eleições, o que, por si só lhes dá a condição de legitimados ativos para a propositura do presente Mandado de Segurança, já que têm o direito líquido e certo de participar na discussão e votação de projetos de lei que obedeçam, na sua tramitação, o processo legislativo estabelecido na Lei Orgânica Municipal, o que não ocorre no presente caso, como adiante restará sobejamente demonstrado. DO CABIMENTO DO MANDAMUS:Têm os impetrantes, conforme já se disse, direito a ver tramitar; discutir e votar projetos de lei que sejam postos de forma legal e constitucional, tanto no aspecto formal quanto material. Como o demonstra Alexandre de morais:

“Os parlamentares, portanto, poderão propiciar ao Poder Judiciário a análise difusa de eventuais inconstitucionalidades ou ilegalidades que estiverem ocorrendo durante o trâmite de projetos ou proposições por meio de ajuizamento de mandados de segurança contra atos concretos da autoridade coatora (Presidente ou Mesa da Casa Legislativa, por exemplo), de maneira a impedir o flagrante desrespeito às normas regimentais ao ordenamento jurídico e coação aos próprios parlamentares, consistente na obrigatoriedade de participação e votação em um procedimento inconstitucional ou ilegal.

Não raro o Poder Judiciário deverá analisar a constitucionalidade, ou não, de determinada seqüência de atos durante certo processo legislativo tendente à elaboração de uma das espécies normativas, uma vez que é a própria Constituição Federal que, com riqueza de detalhes, prevê as normas básicas e obrigatórias de devido processo legislativo (CF, ARTS. 59 A 69). Quando assim atuar, o Judiciário estará realizando controle difuso de constitucionalidade, para poder – no mérito – garantir aos parlamentares o exercício de seu direito líquido e certo a somente participarem da atividade legiferante realizada de acordo com as normas constitucionais.” (Direito Constitucional, 11ª Edição, 2002, p. 597).E é lógico que assim o seja, pois, caso contrário, estaríamos sob o império da arbitrariedade. O vereador foi eleito como representante da sociedade no intuito votar as leis que são o anseio desta mesma sociedade. Em não havendo um remédio jurisdicional para impedir que ele seja obrigado a participar de um processo legislativo viciado, a coação, na realidade, estará afetando a própria sociedade que ele representa.

Também o Tribunal de Justiça de Minas entende pelo cabimento do Writ para atos legislativos:

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“O vereador tem direito líquido e certo de votar projeto de lei devidamente submetido à tramitação regimentalmente prevista. Hipótese em que flagrantes são as ilegalidades do processo legislativo. Lei de efeito concreto é impugnável pela via estreita do Mandado de Segurança. Ordem concedida para anular a aprovação do projeto de lei e a sanção da respectiva lei.” (TJMG – AC 000.195.305-8/00 – 1ª C. Cív. – Rel Des. Páris Peixoto Pena)

“Ainda que, a rigor, se deva considerar como impetrada a autoridade coatora, e não a pessoa jurídica de direito público à qual aquela pertence, não se deve indeferir a inicial do mandamus, quando impetrado em face da Câmara Municipal e não de seu presidente, sobretudo se se considerar que o Presidente praticou o ato hostilizado na qualidade de Chefe do Poder e que será o Legislativo, a final, o destinatário dos efeitos jurídicos da sentença. Não se afigura razoável fomentar injustificável e exagerado apego ao formalismo, em prejuízo do objetivo último do processo, que não é fim em si mesmo, mas instrumento para realização da justiça. É ilegal o ato de eleição da Mesa da Câmara Municipal que não observa as disposições legais e regimentais pertinentes. O Vereador tem direito subjetivo de ver respeitados os dispositivos legais e regimentais, quando das atividades da Câmara que integra” (TJMG – AC. 154.390/9.00 – 3ª C. Cív. – Rel. José Antônio Baía Borges)DA CONDUTA DA AUTORIDADE COATORAAntes de adentrarmos na questão da ilegalidade/inconstitucionalidade da proposição, é interessante que se faça uma digressão para falarmos sobre a maneira desrespeitosa com que a autoridade coatora trata o próprio Poder que preside. Veja, Excelência, recebeu a Câmara, na pessoa dela – a autoridade coatora, o projeto original (doc. 11) apresentado pelo Prefeito Municipal. Tal projeto foi REJEITADO pela Câmara (doc. 12). Posteriormente o mesmo projeto foi REAPRESENTADO por dez Vereadores, com flagrante vício de iniciativa. A tramitação foi então impedida por liminar em Mandado de Segurança (doc. 03) consubstanciado no processo nº 324 03 009520-6. Quando tal ação está aguardando sentença, autoriza ele a retirada do processo na tentativa de caracterizar a perda de objeto da ação. Parasse por aí, nenhum mal haveria já que os mesmos apresentantes foram os que solicitaram a retirada. Mas não, recebeu ele – tanto que marcou quatro reuniões extraordinárias para apreciação e votação – uma terceira vez o mesmo projeto de lei, agora apresentado, de novo, pelo Prefeito do Município numa afronta insuportável aos arts. 67 da CF/88; 54 da LOM; e 118 do Regimento Interno.Entendem os impetrantes, todos Vereadores da Câmara Municipal de Itajubá, preocupados com o respeito que merecem os poderes constituídos, que com tais atitudes está a autoridade coatora, Presidente do Poder Legislativo Municipal, desrespeitando não só o próprio Legislativo local, senão, também, e principalmente, o Poder Judiciário ao qual tenta engabelar usando de subterfúgios de maneira a fugir ao seu controle, num flagrante desrespeito ao princípio de separação e harmonia dos poderes, insculpido no art. 2º da CF/88.O processo legislativo é coisa séria. Não deve ser utilizado para experimentações. As proposições devem ser apresentadas de maneira correta tanto na forma quanto no conteúdo. Não deve o Poder legislativo se prestar a “tentativas” inconseqüentes, na busca de alternativas, em gritante desvio de finalidade. DA ILEGALIDADE/INSCONSTITUCIONALIDADE: A ilegalidade/inconstitucionalidade do ato está no fato de que tal projeto de lei, já tendo sido rejeitado pelo Poder Legislativo, não poderia ser reapresentado, pelo Prefeito, na mesma sessão legislativa já que essa reapresentação fere a Constituição federal em seu art. 67, verbis:

“Art. 67. a matéria constante de projeto de lei rejeitado, somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional.”;a Lei Orgânica Municipal em seu art. 54:

“Art 54. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara.”;e finalmente o Regimento Interno da Câmara, no seu art. 118 que estatui:

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“Art. 118. A matéria constate de projeto de lei ou de resolução, quando rejeitados, só poderão ser renovados (sic) em outra sessão legislativa, salvo se reapresentados, no mínimo, pela maioria absoluta dos Vereadores.”A seção legislativa, a propósito está muito bem definida pelo Regimento Interno da Câmara, no seu art. 3º, parágrafo primeiro, verbis:

“Art. 3º. Para efeitos regimentais, a legislatura é dividida em quatro sessões legislativas.

Parágrafo primeiro. Cada sessão legislativa será contada de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1º agosto a 15 de dezembro.” Registre-se, por relevante, que o fato de o Prefeito afirmar, em sua justificativa, que apresenta o projeto “atendendo proposta da maioria absoluta dos membros da casa” não significa que o projeto esteja sendo apresentado pela maioria absoluta dos membros da Câmara. Se assim fosse o vício seria de iniciativa, como sobejamente demonstrado no M.S. nº 324 03 009520-6O que torna mais flagrante a ilegalidade do ato ora praticado é que essa mesma autoridade coatora, nas explicações prestadas (doc. 04), no Mandado de Segurança supra mencionado, calcado em autores de nomeada, deixou patente que, segundo seu entendimento, só a proposição pela maioria absoluta dos Vereadores possibilitaria a tramitação do projeto sem ofensa à Constituição transcreva-se, a propósito parte dessa peça:

“Proposto, na redação do artigo 67 da Constituição Federal, há de significar subscrito. Se o legislador constituinte pretendesse que o novo projeto de lei devesse ser representado pelo Prefeito, por certo teria se utilizado da expressão ‘por indicação da maioria absoluta.’” (grifamos)uma pergunta é indispensável, Excelência: o que mudou, para agora ele praticar um ato em sentido contrário ao que afirmara, e receber o Projeto de Lei 3166, mote do presente Mandado de Segurança, apresentado pelo Prefeito? E não para por aí, o absurdo continua e se amplia. Mais adiante, nas mesmas explicações, ele citando parecer específico do grande municipalista José Nilo de Castro, conclui, sem titubeio, pela impossibilidade da reapresentação de tal projeto pelo Prefeito. Vejamos o que diz o mestre mineiro:

“Neste caso, infere-se que a matéria constante de projeto de lei rejeitado, somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara . Com efeito, destarte mencionar que o reexame da mesma matéria, constituindo novo projeto, só poderá ocorrer mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara, sem qualquer alteração daquele rejeitado, isto é, o texto submetido a reexame deverá estar em consonância com o texto original, o qual fora redigido e apresentado pelo Prefeito Municipal, que detém a iniciativa da matéria em questão.Isto posto, conclui-se que o novo projeto de lei, contendo a mesma matéria rejeitada, diga-se inalterada, deverá ser apresentado e subscrito, pelos Vereadores, em sua maioria absoluta, para que assim seja novamente submetido à apreciação do Plenário.” (grifamos) De novo a pergunta: o que mudou?O Ministério Público, na pessoa do seu representante que atua na Primeira Vara, no parecer exarado no mandamus já citado (doc.13), conclui com a precisão que lhe é peculiar:

“O projeto, portanto, não deve ser apresentado nem pelos Vereadores nem pelo Chefe do Poder Executivo, só o podendo fazer na próxima legislatura, pelas razões acima expostas”Nesse sentido não há conclusão outra a se tirar a não ser pela impossibilidade da tramitação do Projeto de Lei nº 3166, de iniciativa do Chefe do Executivo, tendo em vista ser ele reprodução de outro já rejeitado pela Câmara nesta mesma sessão legislativa.Em resumo:A TRAMITAÇÃO DESSE PROJETO DE LEI, DE INICIATIVA DO PREFEITO FERE O DIREITO LÍQUIDO E CERTO DOS VEREADORES IMPETRANTES. DA URGÊNCIA:Demonstrado que está, e sobejamente, o fumus boni iuris, o periculum in mora se dá no fato de que a primeira reunião extraordinária está marcada para as 21:30 horas do dia 31/03/2003. Tal urgência é reforçada pela circunstância de o Projeto de Lei em questão

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ser daqueles de efeito concreto, que se exaurem num único ato, qual seja, a contratação da operação de crédito. Vale dizer, se se deixa ocorrer tais reuniões (uma delas está marcada para o dia de hoje) impossível será no futuro a reparação do direito líquido e certo lesionado.

Face a presença dos pressupostos autorizativos, há possibilidade de concessão de liminar. E é o que se requer.DOPEDIDO:

Face a todo o acima exposto requer:1 - seja concedida, inaudita altera pars, LIMINAR para que a autoridade apontada como coatora se abstenha de realizar as reuniões extraordinárias convocadas para a apreciação e votação do Projeto de Lei ilegal e inconstitucional, ou que, caso aconteçam tais reuniões nelas não seja apreciado o Projeto de Lei nº 3.166;2 - seja intimada a Autoridade apontada como coatora para prestar as informações no prazo legal e, querendo, juntar documentos, sob pena de revelia;3 - seja, em decisão final, julgada procedente a presente ação, com a concessão

definitiva do writ, para impedir a tramitação desse Projeto de Lei comprovadamente ilegal e inconstitucional, já que é a reprodução de outro projeto já apreciado e rejeitado nessa mesma seção legislativa, ou, caso V. Exa. Entenda de não conceder a liminar requerida no item 1 acima, a invalidação da lei dele decorrente, com a conseqüente condenação às custas processuais e honorários advocatícios;

4 - seja ouvido o DD. Órgão do Ministério Público.”.

Face a esta inicial distribuída por sorteio à 2ª Vara Cível da Comarca de Itajubá,

o Juiz daquela Vara, Dr. Salustio Campista, declinou da competência alegando conexão

com o mandado de segurança nº 032403009520-6, na forma abaixo:

“PROCESSO Nº 32403 010427-1Vistos, etc.ULISSES GOMES DE OLIVEIRA NETO, OSCAR NAVARRO SANTOS, JOSÉ LUIZ AUGUSTO E JORGE RENÓ MOUALLEM impetraram mandado de segurança contra ato do Sr Presidente da Câmara Municipal de Itajubá, Vereador João Vitor da Costa, objetivando liminar para que a autoridade apontada coatora se abstenha de realizar as reuniões extraordinárias convocadas para apreciação e votação do projeto de Lei n° 3.166. Ocorre que ação idêntica, proposta pelos impetrantes contra o mesmo impetrado, encontra-se em andamento perante a 1a Vara Cível desta Comarca com deferimento de liminar para suspender a tramitação de projeto idêntico, denominado Projeto Somma, constando da certidão de fls. que o processoencontra-se com vista para os impetrantes, portanto, sem decisão de mérito. Tratando-se das mesmas partesa ser apreciada pelo Judiciário, da conexão prevista no artigo Processo Civil. e da mesma matéria presente a figura 103 do Código de o Colendo Superior Tribunal de Justiça tem posição firmada no sentido de que "as ações'conexas devem ser processadas e julgadas no mesmo Juízo" considerados os fatos e visando a evitar decisões contraditórias" (STJ-la Seção, CC 1.227-ES, É o relatório. DECIDO. Ministro Vicente Cernicchiaro, j. 05/06/90, DJU de 25/06/90, p. 6.021). Destarte, com suporte no art. 105, do mesmo Código, declino da minha competência para o Juízo da 1a Vara Cível desta Comarca e determino a remessa dos autos a Distribuidora para a devida transferência, observadas as anotações de praxe. Intime-se. Itajubá, 31 de março de 2003.”.

Assim sendo, o Juiz da 1ª Vara Cível, Dr. José Sérgio Palmieri, despachou no

processo concedendo a liminar pleiteada, suspendendo novamente a tramitação da

proposição, na seguinte forma:

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“Vistos etc..ULISSES GOMES DE OLIVEIRA NETO e outros. por seu Advogados, vêm de impetrar MANDADO DE SEGURANÇA face do Sr. Presidente da Câmara de Vereadores do município de ITAJUBÁ-MG., alegando, em resumo, que "no dia 13 de març'o de 2 003 .foi protocolada na secretaria da Casa legislativa lacaI o Projeto del,ei n° 3162, de 13 de março de 2 003 (..) de autoria dos vereadores Alberis Rodrigues e outros. A autoridade coatora, num ato ilegal e inconstitucional, recebeu dito projeto e convocou quatro reuniões extraordinárias, para discussão e votação do mesmo, conforme anexo (..) ", em substituiçào a anterior, sobre a mesma matéria, que fora rejeitado pelo Plenário.Ocorre que, a respeito de tal irregularidade, fora interposto o competente remédio heróico ( Proc, n° 9520-603 ) para sanar a inconstitucionalidade/lilegalidade, de modo que após a concessão de liminar obstativa ao trâmite do referido projeto, a autoridade-impetrada, após a Última reunião ordinária, ocorrida no dia 27/03/2003, retirou de discussão o Projeto de Lei n° 3.162/03, requerendo, a posteriori, a extinção do mondamus, por desfalque de objeto, pensando-se assim ter-se colocado uma pá-de-cal no a.tfàire. Informam, ainda, que o prefeito municipal, no entanto, fez nova reapresentação desse projeto, em 26/03/2 002, repetindo aquele de n° 3.120/02, que fora rejeitado anteriormente pela Câmara, o que não poderia fàzê-lo, na mesma sessão legislativa, vez que a referida proposta tem por fim autorizar o Poder Executivo à abertura de créditos, infringindo, pois, o art. 67, da Carta Excelsa, e o artigo 54, da Lei Orgânica do Município de Itajubá. Esclarecem que "no dia seguinte, sem aguardar a manifestação dos impetrantes no processo.hem como a decisão do Magistrado, convocou quatro reunir)es extraordinárias (...) lodos para apresentaçljo, discussào e votaçào do Prqjeto de Lei n° 3.166 de 26 de março de 2003 ".Vislumbram que este novel P,L., em pauta de votação, "vem a ser exatamente o mesmo Projeto de Lei n° 3.162 questionado no Mandado de Segurança já citado, com a Única diferença de que agora a iniciativa de Chefe do Executivo REAPRESENTANDO um projeto de lei que já fora rejeitado pela Câmara nesta mesma sessão legislativa, contrariando o art. 67 da (Constituiçào Federal88, e art. 54 da LOMI (...) além de ferir de morte o art. 118.do Regimento interno da Câmara Municipal... ".Entendendo que têm direito líquido e certo em ver a tramitação regular de projeto de lei, na Câmara local, onde são vereadores, pedem a segurança mediata, e, imediatamente, a liminar, a fim de que se suspenda o andamento legislativo do P.L. n° 3. I66/03, até a decisão final do mandamus.Juntam documentos. Examino a pretensão liminar. Preambularmente, entendo que é possível ajuizamento de mandado de segurança, durante o processo legislativo, para garantir o respeito às normas constitucionais, de cumprimento obrigatório pelos Estados-membros e municípios, conforme entendimento consagrado do S.T.F., e repisadas na legislação local. Segundo o magistério de ALEXANDRE DE MORAES, "o respeito ao devido procsso legislativo, na elaboração das diversas espécies normatvas, é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, pelo que sua ohservância deve, se necessário for, ser garantida.lurlsdicionalmente. Dessa forma, indiscutível a realização de controle de constitucionalidade difuso ou concentrado em relação a normas elaboradas em desrespeito ao devido processo legislativo, por .flagrante inconstitucionalidade formal. Importante, porém, analisar-se a possibilidade de o controle jurisdicional incidir sobre o processo legislativo em trâmite, uma vez que ainda não existiria lei ou ato for passível de controle concentrado de constitucionalidade. Assim, o controle jurisdicional sobre a elaboração legiferante, inclusive sobre propostas de emenda constitucional, sempre será feito de forma difusa por meio do ajuizamento de mandado de segurança por parte de parlamentares que se sentirem prejudicados durante o processo legislativo.Reitere-se que os únicos legitimados à propositura de mandado de segurança para defesa do direito liquido e certo de somente participarem de um processo legislativo conforme as normas constitucionais e legais são os próprios parlamentares. Os parlamentares, portanto, poderão propiciar ao PoderJudiciário a análise difusa de eventuais inconstitucionalidades ou ilegalidades que estiverem ocorrendo durante o trâmite de projetos ou proposições por meio de ajuizamento de mandados de segurança contra atos concretos da autoridade coatora ( Presidente ou Mesa da Casa Legislativa, por exemplo ), de maneira a impedir o flagrante desrespeito às normas regimentais ao

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ordenamento jurídico e coação aos próprios parlamentares, consistente na obrigatoriedade de participação e votação em um procedimentoinconstitucional ou ilegal" ( in, Direito Constitucional Administrativo, Editora Atlas, Edição 2002 - págs, 274/275), Esse mesmo autor, na obra em referência, disseca a matéria sobre essa faculdade, transcrevendo as várias decisões do Supremo Tribunal Federal que acabaram por proclamar da possibilidade do ajuizamento do mandamus, por parlamentares, à vista de seu direito público subjetivo de se oporem à reapresentação de proposta rejeitada, à luz do art. 60, §5°, da Constituição Federal, ou seja, "para que não sejam obrigados a participar de processo legislativo vedado pela Constituição,.. " ( págs,276/282),A própria Excelsa Corte no M.S. n° 22.503!DF, pela relataria, para o acórdào, do Ministro MAURÍCIO CORRÊA, aliás referido pelo doutrinador citado, acabou por entender do cabimento da ação mandamental, verbis: "entretanto, ainda que a inicial não se refira ao §5º do art. 60 Constituição, ela menciona dispositivo regimental com a mesma regra: assim interpretada. chega-se à conclusão que nela há ínsita uma questão constitucional, esta, sim, sujeita ao controle jurisdicional. Mandado de Segurança conhecido quanto à alegação de impossibilidade de matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa "'( DJ 06106/1997, pág. 24872 ). Outrossim. "para a concessão da liminar devem concorrer dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante. se vier a ser reconhecido na decisão de mérito - jumus boni iuris e periculum in mora."A medida liminar não é concedida comoantecipação dos efeitos da sentença .final: é procedimento acautelador do possível direito do impetrante,justificado pela iminência de dano irreversível de ordem patrimonial, funcional ou moral, se mantido o ato coator até a apreciação definitiva da causa. Por isso mesmo, não importa em prejulgamento: nem afirma direitos, nem nega poderes à Administração. Preserva, apenas, o impetrante de lesão irreparável, sustando provisoriamente os efeitos do ato impugnado" ( HEL Y LOPES MEIRELLES, Mandado de Segurança, IY ed., Ed. Rev. dos Tribunais, pág. 5 I ).Sobre a impetração, entende-se que a norma inserta no art. 67, da C.F., tem por fim evitar infindáveis reapresentações de projetos de lei rejeitados. Para tanto, a regra veda que matéria constante de projeto de lei rejeitado possa ser reapresentada na mesma sessão legislativa. A exceção ficará por conta da exigência de quorum diferenciado para a reapresentação -maioria absoluta-, que indicará a possibilidade de aprovação daquele projeto na respectiva casa legislativa, desde, é claro, que não se trate de matéria nua iniciativa seja privativa do Poder Executivo. É o que se conhece por princípio da irrepetibilidade de projetos, no dizer de Pontes de Mlranda.No caso em questão o reapresentador do projeto foi o próprio prefeito municipal, que procurou contornar a proibição do art. 67, da C.F., com a indicação dos senhores Edis, nada obstante infringindo a regra, posto que o advérbio somente, integrante de sua redação. quer dizer que a única exceção é aquela atribuída ao poder legislativo, mesmo assim se não se tratar de matéria cuja exclusividade de iniciação pertença ao Executivo. É prescindível que haja vedação expressa de reapresentação de projetos rejeitados pelo Executivo, exatamente ante a redação dos arts. 67, da Carta Maior, que se utilizou, para esse fim, do advérbio somente. Em outras palavras: nunca o prefeito municipal pode reapresentar projeto que fora rejeitado pela Câmara Municipal, na mesma sessão legislativa. A fortiori,é o que vem, igualmente, previsto no art.60, §5°, da Carta Federal, proclamando o mesmo princípio!!! Presente o postulado da irrepetibilidade de projetos rejeitados na mesma sessão legislativa, tem-se que, por igual, o fummus boni júris, que se consagra como um dos requisitos da providência liminar. Aliás, só para registro, tratando-se de mesma matéria, na dicção Constitucional. deveria a Casa de Leis de Itajubá aguardar a decisão no primitivo mandado de segurança impetrado, pouco importando quem seja o apresentante. Ao que parece, está-se procurando, inclusive, tangenciar a decisão judicial primeva, atitude intolerável num Estado democrático de direito!!!Lado outro, também se faz presente o periculun in mora, vez que a autoridade-impetrada, segundo denunciado na peça vestibular, o que é confirmado pelo documento de fls. 33, já designou sessões extraordinárias para a discussão e votação do PL n° 3.166/03, daí porque se justifica a concessão da liminar suplicada. Pois bem! Em face disso, é obvio que surge, ao menos por ora, cristalino direito líquido e certo dos Impetrantes, no sentido da regularidade e da legalidade/constitucionalidade na

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tramitação de projetos perante a Augusta Câmara Municipal de Itajubá, onde ocupam o cargo de Vereador, razão pela qual, repita-se, autoriza-se, desde logo, a concessão de liminar obstativa à tramitação do PL n° 3.166/03, o que se decideDefiro, pois, a liminar para OBSTAR a tramitação do Projeto de Lei nU3.166/03, na Câmara Municipal de Itajubá, até a decisão final deste mandamus.Apensar estes autos aos do Proc. na 9520-6/03,envolvendo as mesmas partes e idêntica matéria. Oficie-se à autoridade-impetrada requisitando-se-lhe informações, no prazo de dez ( 10 ) dias, e intimando-se-a da liminar deferida, para imediato cumprimento.Se, com a resposta, novos documentos forem oferecidos, intimem-se os Impetrantes para se manifestarem sobre eles, em cinco ( 05 ) dias. A seguir, ao M.P., também por CINCO ( 05 ) dias.Cls., ao final. Intime-se. Itajubá, 1º de abril de 2003.”.

A Câmara Municipal de Itajubá, na defesa do ato impugnado e suspenso por

medida liminar, respondeu requerendo a denegação da segurança em julgamento final e

protocolizou junto ao TJMG, agravo de instrumento, nos termos abaixo, cujos

argumentos são, basicamente, os mesmos apresentados ao Juízo de 1ª Instância:

“Eminentes DesembargadoresDOS FATOS1 - Cuida-se, originariamente, de Mandado de Segurança, impetrado pelo Sr. Ulisses Gomes de OliveiraNeto, Sr. Oscar Navarro Santos, Sr. José Luiz Augusto e Sr. Jorge Renó Mouallem,Vereadores da Câmara Municipal de ltajubá, contra ato do Presidenteda Câmara Municipal,Vereador João Vitor da Costa, objetivando a concessão de liminar para que a Autoridade apontada como coatora se abstenha de realizar as reuniões extraordinárias convocadas para apreciação e votação do Projeto de Lei n° 3.166.1.1 - Nesse sentido, alegam, equivocadamente,que o indigitado Projeto de Lei constitui cópia do anterior Projeto de Lei n° 3.162, agora de iniciativado Prefeito Municipal, o qual estaria reapresentando projeto de lei anteriormente rejeitado pelos edis. Entendem, assim, estar configuradaviolação aos arts. 67, da CF/88, 54 da Lei Orgânica Municipal de 118 do Regimento Interno da Câmara.1.2 - Ao final, pleiteiam a concessão definitiva da segurança, impedindo-se,em caráter definitivo,a trarnitaçãodo Projeto de Lei n° 3.166, por entendê-lo ilegal e inconstitucional.2 - Referido Mandado de Segurança,após ser distribuído para a 2ª Vara Cível da Comarca de Itajubá, fora remetido e transferido para a 18Vara Cível, sob a alegação de conexão então verificada.2.1 - Baseou o MM Juiz, para tanto, em ação mandamental anteriormente proposta pelos ora Agravados contra o Presidente da Edilidade, cujo objeto consiste na suspensão da tramitação do Projeto de Lei n° 3.162, contendo matéria idêntica ao Projeto n° 3.166, porém, de iniciativa da maioria absoluta dos Vereadores locais. Naquela oportunidade, fora concedida requerida liminar, porém o Projeto de Lei em tela (nº 3.162) apresentava flagrante vício de iniciativa,o que, incontroversamente,não ocorre no presente caso.3 - Posteriormente,o MM Juiz a quo, ao apreciar o pedido liminar constante deste segundo Mandado de Segurança, de n° 324.03.010.427-1, apesar da completa ausência de fumus boni juris e periculum in mora, houve por deferi-la, determinando a suspensão das reuniões extraordinárias da Câmara Municipal, nas quais seria votado o indigitado Projeto de Lei n° 3.166.2.1 - Mencionada decisão viera escorada nos argumentos tecidos na inicial da ação em questão, precipuamente na impossibilidadede se reapresentar, na mesma sessão legislativa,matéria idêntica a projeto de lei anteriormente rejeitado,segundo art. 67, da CF/88.3 - Todavia, não concordando, data venia, com a decisão que houve por deferir a liminar pleiteada no Mandado de Segurança em comento, vez que o citado artigo constitucional 67 não se aplica à espécie, é que a Câmara Municipal de Itajubá vem interpor o presente Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo, demonstrando que à. referida

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decisão falece base legal, merecendo, portanto, ser inicialmente suspensa e, ao final, anulada, dando-se provimento ao presente Agravo. Senão, veja-se:DOS PEDIDOS1 - Isto posto, primeiramente, requer seja o presente Agravo de Instrumento recebido e ao mesmo conferido efeito suspensivo, eis que presentes os requisitos necessários, quais sejam, o periculum in mora e o fummus boni juris, para fins de se sustarem os efeitos da liminar alhures deferida, no Mandado de Segurança,processo nº 324.03.010.427-1.Parta tanto, a fumaça do bom direito encontra-se evidente no bojo do recurso em comento, que está a evidenciara ausência de alicerce fático e legal para a manutenção da liminar hostilizada, deferida no presente Mandamus, em trâmite perante o Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Itajubá/M G.Já o perigo na demora da decisão poderá ensejar a ineficácia quando sobrevier a decisão de mérito do presente apelo, eis que existem formalidades e trâmites burocráticos para a contrataçãode operações, tais quais as objeto do mencionado Projeto, podendo causar sérios e irreparáveis prejuízos, caso o BDMG se recuse a, posteriormente, contratar com a Municipalidade. É inquestionável, destarte, que a falta destes recursos será fatal para o Município de Itajubá, o qual, como a maioria dos Municípios brasileiros, encontra-se carente de recursos, sendo estes indispensáveis à sobrevivência orçamentária.Aliás, dúvidas não pairam sobre a importância de contratos como , os constantementefirmados pelos Municípios mineiros com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG, os quais se sabem salutares e essenciais para minimizarem a escassez de recursos frnanceiros municipais. Somente com o auxílio de instituições financeiras, projetos e programas importantes são concretizados nos Municípios,tais como os relacionados ao Programa Novo Somma, de interesse de toda a coletividade.Isto posto, não se admite que a obtenção de tais recursos seja obstacularizada pela suspensão ilegal (por inexistir fundamentos jurídicos para tal) da tramitação do respectivo Projeto de Lei, necessário para que sejam as contratações com o BDMG autorizadas.Somente por inexistir,até o presente momento, lei autorizativa para a contratação de operações de créditos pretendidas, não são os recursos liberados pelo BDMG, o qual exige, o mais rápido possível, a publicação de mencionada lei para assinar o contrato.Pede-se, portanto, que o Projeto de Lei n° 3.166, agora de iniciativacorreta do Prefeito Municipal, tenha regularizada a sua tramitação normal nesta Câmara Municipal, podendo ser o mesmo votado e, caso aprovado, sejam liberados os recursos almejados.Assim,presente se encontra também este requisito, estando o efeito suspensivo a merecer o deferimento, para fins de suspender o efeito da liminar alhures deferida e por ora guerreada saciamente, responsável por suspendera tramitação do Projeto de Lei n° 3.166.2 - No mérito, requer seja confirmado o efeito suspensivo e dado provimento ao presente Agravo de Instrumento aviado pela Câmara Municipal, cassando-se a decisão aqui hostilizada.3 - Requer, por fim, sejam os Agravados notificados para tomarem conhecimento do presente feito, assim como, requer seja notificado o MM Juiz a quo, na hipótese de deferimento da liminar, pela via mais rápida, para que se cumpra a mesma decisão.”.

Após parecer favorável do Ministério Público à concessão da segurança, O Juiz

proferiu a seguinte Sentença:

“Vistos etc. .ULISSES GOMES DE OLIVEIRA NETO e outros, por seus Advogados, vêm de impetrar MANDADO DE SEGURANÇA em face do Sr. Presidente da Câmara de Vereadores do município de ITAJUBÁ-MG., alegando, em resumo, que "no dia 13 de março de 2 003 foi protocolada na secretaria da Casa legislativa local o Projeto de Lei n° 3162, de 13 de março de 2 003 ( ...) de autoria dos Vereadores: Alberis Rodrigues Fernandes, Cleber David, Geraldo José Canha, João Aparecido Filho, João Dimas Ribeiro, Jose Humberto dos Santos, José Roberto Floriano, Klecius Albert Neves Balbino, Nestor de Oliveira e Raimundo Correia Pereira. A autoridade coatora, num ato

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ilegal e inconstitucional, recebeu dito projeto e convocou quatro reuniões extraordinárias, para discussão e votação do mesmo, conforme convocação em anexo (o.)", em substituição a anterior, sobre a mesma matéria, que fora rejeitado pelo Plenário.Ocorre que, a respeito de tal irregularidade, fora interposto o competente remédio heróico (Proc. n° 9520-6/03 ) para sanar a inconstitucionalidade/ilegalidade, de após a concessão de liminar obstativa ao trâmite do referido projeto, a autoridade-impetrada, após a Última reunião ordinária, ocorrida no dia 27/03/2003, retirou de discussão o Projeto de Lei n° 3.162/03, requerendo, a posteriori, a extinção do mandamus, por desfalque de objeto, pensando-se assim ter-se colocado uma pá-de-cal no affaire.Informam, ainda, que o prefeito municipal, no entanto, fez nova reapresentação desse projeto, em 26/03/2 002, repetindo aquele de n° 3.120/02, que fora rejeitado anteriormente pela Câmara, o que não poderia fazê-lo, na mesma sessão legislativa, vez que a referida proposta tem por fim autorizar o Poder Executivo à abertura de créditos, infringindo, pois, o art. 67, da Carta Excelsa, e o artigo 54, da Lei Orgânica do Município de Itajubá.E Esclarecem que "no dia seguinte, sem aguardar a manifestação dos impetrantes no processo, bem como a decisão do Magistrado, convocou quatro reuniões extraordinárias todas para apresentação, discussão e votação do Projeto de Lei n° 3.166 de 26 de março de 2003".Vislumbram que este novel P.L., em pauta de votação, "vem a ser exatamente o mesmo Projeto de Lei n° 3.162 questionado no Mandado de Segurança já citado, com a única diferença de que agora por iniciativa do Chefe do Executivo. Valer dizer, está o Prefeito do Município REAPRESENTANDO um projeto de lei que já fora rejeitado pela Câmara nesta mesma sessão legislativa, contrariando o art. 67 da Constituição Federal/88, e art. 54 da LOM I (...) além de ferir de morte o art. 118 do Regimento interno da Câmara Municipal... ".Entendendo que têm direito líquido e certo em ver a tramitação regular de projeto de lei, na Câmara local, onde são vereadores, pedem a segurança mediata, e, imediatamente, a liminar, a fim de que se suspenda o andamento legislativo do P.L. n° 3.166/03, até a decisão final do mandam us. Juntam documentos.Prestando informações, fls. 127/132, a autoridade-impetrada, em preliminar, diz da falta de interesse dos Suplicantes, fazendo, ainda, considerações sobre o incabimento do mandado de segurança, e, no mérito, sustenta a regularidade da apresentação do projeto. o Ministério Público, fls.144/148, por seu Ilustre Representante, opinou pela concessão da segurança. O processo fora, originariamente, distribuído à 2ª Vara Cível desta comarca, cujo Juiz-Titular o fez remeter a esta 1ª Vara, ao entendimento de ocorrer uma conexão, fls. 74/75. É o relatório.DECIDO:Trata-se de pedido mandamental que os impetrantes formulam em face do Sr. Presidente da Câmara de Vereadores do município de Itajubá-MG, objetivando o impedimento da tramitação do Projeto de Lei n° 3.166/03 que dispõe sobre operações de crédito da municipalidade com o BDMG, visando ao "Programa de Modernização Institucional e Ampliação da Infra-Estrutura com Municípios do Estado de Minas Gerais - Novo SOMMA ", por ofensa ao comando constitucional, previsto no art. 67, da Lei Maior.Preambularmente, entendo que é possível ajuizamento de mandado de segurança, durante o processo legislativo, para garantir o respeito às normas constitucionais, de "cumprimento obrigatório pelos Estados-membros e municípios, conforme entendimento consagrado do S.T.F., e repisadas na legislação local.Segundo o magistério de ALEXANDRE DE MORAES, "o respeito ao devido processo legislativo, na elaboração das diversas espécies normativas, é um dogma corolário à observância do princípio da legalidade, pelo que sua observância deve, se necessário for, ser garantida jurisdicionalmente. Dessa forma, indiscutível a realização de controle de constitucionalidade difuso ou concentrado em relação a normas elaboradas em desrespeito ao devido processo legislativo, por flagrante inconstitucionalidade formal. Importante, porém, analisar-se a possibilidade de o controle jurisdicional incidir sobre o processo legislativo em trâmite, uma vez que ainda não existiria lei ou ato normativo passível de controle concentrado de constitucionalidade. Assim, o controle jurisdicional sobre a elaboração legiferante, inclusive sobre propostas de emendas constitucionais, sempre será feito de forma difitsa, por meio do ajuizamento de mandado de segurança por parte de parlamentares que se sentirem prejudicados durante o processo legislativo.

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Reitere-se que os únicos legitimados à propositura de mandado de segurança para defesa do direito liquido e certo de somente participarem de um processo legislativo conforme as normas constitucionais e legais são os próprios parlamentares. Os parlamentares, portanto, poderão propiciar ao Poder Judiciário a análise difusa de eventuais inconstitucionalidades ou ilegalidades que estiverem ocorrendo durante o trâmite de projetos ou proposições por meio de ajuizamento de mandados de segurança contra atos concretos da autoridade coatora (Presidente da Mesa da Casa Legislativa, por exemplo), de maneira a impedir o flagrante, desrespeito às normas regimentais ao ordenamento jurídico e coação aos próprios parlamentares, consistente na obrigatoriedade de participação e votação em um procedimento inconstitucional ou ilegal" ( in, Direito Constitucional Administrativo, Editora Atlas, Edição 2002 - págs. 274/275).Esse mesmo autor, na obra em referência, disseca a matéria sobre essa faculdade, transcrevendo as várias decisões do Supremo Tribunal Federal que acabaram por proclamar da possibilidade do ajuizamento do mandamus, por parlamentares, à vista de seu direito público subjetivo de se oporem à reapresentação de proposta rejeitada, à luz do art. 60, § 5°, da Constituição Federal, isto é, "para que não sejam obrigados a participar de processo legislativo vedado pela Constituição... " ( págs. 276/282 ). A própria Excelsa Corte, no M.S. n° 22.503/DF, pela relatoria, para o acórdão, do Ministro MAURÍCIO CORRÊA, aliás referido pelo doutrinador citado, acabou por entender do cabimento da ação mandamental, verbis:"Entretanto, ainda que a inicial não se refira ao § 5° do artigo 60, da Constituição, ela menciona dispositivo regimental com a mesma regra; assim interpretada, chega-se à conclusão que nela há insita um questão constitucional, esta, sim, sujeita ao controle jurisdicional. Mandado de Segurança conhecido quanto à alegação de impossibilidade de matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa" ( DJ 06/06/1997, pág. 24872 ).Ora, ao contrário do afirmado pela autoridade impetrada, não se está diante de uma resistência contra lei em tese, mas sim opondo-se à tramitação de projeto de lei viciado, por desrespeito à regra constitucional prevista no art. 67, ainda que a lei orgânica do município de Itajubá trate da mesma matéria. É também o entendimento da jurisprudência:"MANDADO DE SEGURANÇA – PROJETO DE LEI - IRREGULARIDADE NA TRAMITAÇÃO PERANTE A CÂMARA MUNICIPAL – ILEGALIDADE CONFIGURADA - Violaçãode direito líquido e certo - "Sentença confirmada em reexame necessário"(TJPR- RN 0083872-2 - (6302) - 5ª C.Cív. - ReI. Des. Conv. Lauro Laertes de Oliveira- DJPR 05.02.2001)."MANDADO DE SEGURANÇA – CÂMARA DE VEREADORES - APROVAÇÃO DE PROJETO DE LEI – QUORUM INSUFICIENTE - DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO - CUSTAS - ISENÇÃO - 1. é o mandado de segurança instrumento hábil para anular deliberação ilegal de Câmara Municipal, aprobatória de projeto de Lei com infração de dispositivo de regimento interno da câmara e da Lei orgânica dos municípios, uma vez que o vício de tramitação do processo legislativo é suscetível de ferir direito líquido e certo, não obstante a não aplicação em concreto da regra editada"(TJSC - AC-MS 99.008617-8 - 1ª C.Cív. - ReI. Des. Newton Trisotto - 1.24.02.2000)."MANDADO DE SEGURANÇA - Torna-se desnecessário o exame da inconstitucionalidade, se a de liberação impugnada se mostra incompatível com o ordenamento jurídico já sob o ângulo puramente legal ou regimental. E 0 Mandado de Segurança idôneo para anular de , deliberação ilegal de câmara Municipal que aprova projeto de lei inobservando normas legais e regimentais. Concessão do mandamus para anular a Lei n° 88/96, do município de Simões Dias. Decisão unânime"(TJSE - MS 081/96 - Ac.0036/97 - Aracaju - ReI. Des. Manoel Pascoal Nabuco D'Avila - DJSE 19.02.1997)."MANDADO DE SEGURANÇA – PROJETO DE LEI - IRREGULARIDADE NA TRAMITAÇÃO PERANTE A CÂMARA MUNICIPAL – ILEGALIDADE CONFIGURADA - Violaçãode direito líquido e certo - "Sentença confirmada em reexamenecessário "(TJPR - RN 0083872-2 - (6302) – 53 C.Cív. - ReI. Des. Conv. Lauro Laertes de Oliveira, DJPR 05.02.2001)."MANDADO DE SEGURANÇA – CÂMARA DE VEREADORES - APROVAÇÃO DE

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PROJETO DE LEI – QUORUM INSUFICIENTE - DIREITO LÍQUIDO E CERTO VIOLADO - CUSTAS - ISENÇÃO - 1. é o mandado de segurança instrumento hábil para anular deliberação ilegal de Câmara Municipal, aprobatória de projeto de Lei cominfração de dispositivo de regimento interno da câmara e da Lei orgânica dos municípios, uma vez que o vício de tramitação do processo legislativo é suscetível de ferir direito líquido e certo, não obstante a não aplicação em concreto da regra editada"(TJSC - AC-MS 99.008617-8 - P C.Cív. - ReI. Des. Newton Trisotto - 24.02.2000)."MANDADO DE SEGURANÇA - Torna-se desnecessário o exame da inconstitucionalidade, se a de liberação impugnada se mostra incompatível com o ordenamento jurídico já sob o ângulo puramente legal ou regimental. Mandado de Segurança idôneo para anular deliberação ilegal de Câmara Municipal que aprova projeto de lei inobservando normas legais e regimentais. Concessão do mandamus para anular a Lei n° 88/96, do município de Simões Dias. Decisão unânime "(TJSE - MS 081/96 - Ac. 0036/97 - Aracaju - ReI. Des. Manoel Pascoal Nabuco D'Avila - DJSE 19.02.1997).Por igual, não se pode reconhecer, como parece pretender a ilustre autoridade-impetrada, tratar-se de intervenção do Poder Judiciário na economia interna do Legislatlvo. Não se perquire, na hipótese, a valoração da conveniência e/ou da oportunidade do projeto de lei, menos ainda de se investigar questões interna- corporis. Trata-se, tão e somente, de vislumbrar a legalidade, ou não, de reapresentação de projeto de lei, pelo prefeito municipal, em substituição a outro, idêntico, rejeitado na presente sessão legislativa, o que a Excelsa Corte permite que o faça a Justiça, por qualquer de seus membros, pois no dizer do autor referenciado "a apreciação de lesão ou ameaça de direito jamais poderá ser afastada do Poder Judiciário" ( Obra citada, pág. 275 ), à luz do art. 5°, inciso XXXV, da C.F Portanto, cabível o writ para discussão do tema, e legítima a participação dos Impetrantes, vereadores paroquiais, que, sim, têm interesse na obtenção de uma decisão obstativa à pretensão do dirigente municipal itajubense.Rejeito a preliminar. No mérito, o pedido é procedente. Entende-se que a norma inserta no art. 67, da C.F., repetida no art. 60, § 5°, tem por fim evitar infindáveis reapresentações de projetos de lei rejeitados. Para tanto, a regra veda que matéria constante de projeto de lei rejeitado possa ser reapresentada na mesma sessão legislativa. A exceção ficará por conta da exigência de quorum diferenciado para a reapresentação -maioria absoluta-, que indicará a possibilidade de aprovação daquele projeto na respectiva casa legislativa, desde, é claro, que não se trate de matéria cuja iniciativa seja privativa do Poder Executivo. É o que se conhece por princípio da irrepetibilidade de projetos, no dizer de Pontes de Miranda. No caso em questão, o reapresentador do projeto foi o próprio prefeito municipal".. que procurou contornar a proibição do art. 67, da C.r, com a indicação dos senhores Edis, nada obstante infringindo a regra, posto que o advérbio somente, integrante de sua redação, quer dizer que a única exceção é aquela atribuída ao poder legislativo, mesmo assim se não se tratar de matéria cuja exclusividade de iniciativa pertença ao Executivo. É prescindível que haja vedação expressa, na Carta Maior, sobre reapresentação de projetos rejeitados, pelo Executivo, exatamente ante a redação de seu art. 67, que se utilizou, para esse fim, do advérbio somente. Em outras palavras: nunca o prefeito municipal poderá volver projeto que fora rejeitado pela Câmara Municipal, na mesma sessão legislativa. A fortiori, é o que vem, igualmente, previsto no art.60, § 5°, da Carta Federal, proclamando o mesmo princípio!!! Na Constituição anterior isso era possível, em face da redação do seu art. 58, § 3°, o que, hodiernamente, não mais poderá ocorrer, uma vez que o art. 67, da Carta atual, não manteve a ressalva! No caso dos autos, foi rejeitado o P.L. de número 3.120/02, na presente sessão legislativa, que tratou de autorização para abertura de crédito, com outorga de garantia, junto BDMG., tendo o Alcaide, contra legem, reapresentado o PL n° 3.166/03, que objetiva a mesmíssima matéria, o que reputo irregular, à luz do enunciado no art. 67, da Excelsa Carta. Aliás, ao depois de a maioria dos vereadores, por sua vez, tentar emplacar o P.L.n° 3.162/03, também sobre o mesmo assunto, o que foi obstado por liminar deste juízo, no M.S. n° 9520-6/03!!! Não pode!Pois bem! Em face disso, é obvio que surge cristalino direito líquido e certo dos Impetrantes, no sentido da regularidade e da legalidade/constitucionalidade na tramitação de projetos perante a Augusta Câmara Municipal de Itajubá, onde ocupam o cargo de Vereador, razão pela qual, repita-se, autoriza-se a concessão da segurança obstativa à

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tramitação do PL n° 3.166/03, o que se decide. Comentando a regra em discussão, CELSORIBEIRO BASTOS e lVES GANDRA MARTINS esclarecem que ela "segue o mesmo princípio da rejeição de emenda constitucional ( § 5°, do art. 60), com a diferença de que, para as emendas, a vedação de reapresentação é absoluta e, para os projetos de lei, é relativa, posto que se exige a maioria absoluta de uma das Casas do Congresso" (in Comentários à Constituição do Brasil, Ed. Saraiva, 4° Volume, Tomo I, pág. 515 ). Logo, sequer os doutrinadores mencionam da possibilidade de o Presidente da República, ou qualquer outro Chefe de Poder Executivo, volverem projetos que foram rejeitados na mesma sessão legislativa, como o fez o Prefeito de Itajubá, ferindo, por conseguinte, o preceito constitucional em tela. Do exposto, e do mais que dos autos consta, rejeitada a preliminar, julgo PROCEDENTE o pedido mandamental para OBSTAR, definitivamente, a tramitação do Projeto de Lei n° 3.166/03, na Câmara Municipal de Itajubá, em homenagem aos preceitos constitucionais previstos nos arts. 60, § 5°, e 67, da Carta Excelsa, c.c. com o art. 54, da LOM, e, por via de conseqüência, EXTINTO o processo, nos termos do art. 269, I, do C.P.C. Condeno o município, em cuja conceituação se insere a Câmara Municipal, no pagamento das custas e das despesas processuais suportadas pelos Impetrantes, ficando, todavia, isento do das supervenientes. Sem honorários (Súmula n° 105, do S.TJ. ).Oficie-se, para conhecimento e cumprimento.Oportunamente, com ou sem recurso voluntário, remetam-se os autos ao Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA, para reexame necessário.P.R.I..”.

Desta sentença, insurgiu o Município de Itajubá ao Tribunal de Justiça de Minas

Gerais, através de pedido de suspensão dos efeitos da decisão:

“Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas GeraisO MUNICÍPIO DE ITAJUBÁ, pessoa jurídica de direito público interno, devidamente representado por seu Prefeito Municipal José Francisco Marques Ribeiro, o qual pode ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal, situada à Praça Dona Amélia Braga, n° 45, Centro, Itajubá/MG, CEP 37.500-000, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., por seus procuradores subscreventes, mandato anexo - doe. n° 01 - (com endereço profissional na Av. Contorno, n° 8.000, 18° andar, Santo Agostinho, CEP 30.110-907, Belo Horizonte/MG, local onde recebem as intimações), tendo em vista decisão exarada nos autos do Mandado de Segurança n° 324.03.010.427-1, (processo em anexo - doe. n° 02), requerer a SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA SENTENÇA, na forma do art. 4° da Lei Federal n° 4.348/64, alhures proferida pelo MM Juiz de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Itajubá, Dr. José Sérgio Palmieri, consoante razões a seguir expostas:DOS FATOS1 - Trata-se de Mandado de Segurança impetrado pelo Dr. Ulisses Gomes de Oliveira Neto, Dr. Oscar Navarro Santos, Dr. José Luiz Augusto e Dr. Jorge Renó Mouallem, Vereadores da Câmara Municipal de Itajubá, contra ato do Presidente da Câmara Municipal, Vereador João Vitor da Costa, objetivando a concessão de lirninar para que a.Autoridade apontada como coatora se abstenha de realizar as reuniões extraordinárias convocadas para apreciação e votação do Projeto de Lei n° 3.166.1.1 - Nesse sentido, alegam, equivocadamente, que o indigitado Projeto de Lei constitui cópia do anterior Projeto de Lei n° 3.162, agora de iniciativa do Prefeito Municipal, o qual estaria reapresentando projeto de lei anteriormente rejeitado pelos Edis. Entendem, assim, estar configurada violação aos arts. 67 da CF/88, 54 da Lei Orgânica Municipal e 118 do Regimento Interno da Câmara.1.2 - Ao final, pleiteiam a concessão definitiva da segurança, impedindo-se, em caráter definitivo, a tramitação do Projeto de Lei n° 3.166, por entendê-Io ilegal e inconstitucional.2 - Referido Mandado de Segurança, após ser distribuído para a 2ª Vara Cível da Comarca de Itajubá, fora remetido e transferido para a 1ª Vara Cível, sob a alegação de conexão então verificada.

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2.1 - Baseou-se o MM Juiz, para tanto, em ação mandamental anteriormente proposta pelos ora Requeridos contra o Presidente da Edilidade, cujo objeto consiste na suspensão da tramitação do Projeto de Lei n° 3.162, contendo matéria idêntica ao Projeto n° 3.166, porém, de iniciativa da maioria absoluta dos Vereadores locais. Naquela oportunidade, fora concedida requerida liminar, porém o Projeto de Lei em tela (nº 3.162) apresentava flagrante vício de iniciativa, o que, incontroversamente, não ocorre no presente caso.Liminar constante deste segundo Mandado de Segurança, de n° 324.03.010.427-1, apesar da completa ausência de fumus boni juris e periculum in mora, houve por deferi-la, determinando a suspensão das reuniões extraordinárias da Câmara Municipal, nas quais seria votado o indigitado Projeto de Lei n° 3.166. Mencionada decisão viera escorada nos argumentos tecidos na inicial da ação em questão, precipuamente na impossibilidade de se reapresentar, na mesma sessão legislativa, matéria idêntica a projeto de lei anteriormente rejeitado, segundo art. 67 da CF/88.4 - Em seguida, proferindo decisão de mérito, o MM Juiz José Sérgio Palmieri, surpreendentemente, confirmou a liminar deferida, julgando procedente o pedido mandamental, no sentido de obstar, definitivamente, a tramitação do Projeto de Lei n° 3.166/03 na Câmara Municipal de Itajubá, "em homenagem aos preceitos constitucionais previstos nos arts. 60, § 5~ e 67, da Carta Excelsa, c.c. com o art. 54, da LOM".5 - Ocorre que tal decisão representa rútida lesão à ordem pública, jurídica e administrativa locais, implicando, ainda, grave lesão à economia pública itajubense, vez que o citado art. constitucional 67 não se aplica à espécie. Por tais razões, de relevante interesse público, ressalta-se, é que o Município de Itajubá vem requerer a imediata SUSPENSÃO da execução da sentença proferida nos autos do MS em comento, demonstrando que à mesma falece base legal para a sua manutenção. (...)3 - Assim, presente se encontra, também, grave lesão à economia e finanças municipais, estando a suspensão ora pleiteada a merecer o imediato deferimento, para fins de suspender os efeitos da sentença alhures proferida e por ora guerreada saciamente, responsável por suspender, em caráter definitivo, a tramitação do Projeto de Lei n° 3.166.E é exatamente o que se pretende com o presente pedido de suspensão de sentença, o qual, de acordo com a nova sistemática vigente, objetiva a suspensão da referida decisão de 1a instância, não podendo, pois, ser negada, haja vista a comprovação da existência dos pressupostos legais necessários para tal.3.1 - Vale dizer: são enérgicas as razões de fato e de direito apresentadas (lesão à ordem jurídica, pública, administrativa e econômica), aptas a ensejar a imediata suspensão, o que se impõe desde já, a fim de resguardar o INTERESSE PÚBLICO maior aqui tutelado.VI- DO PEDIDODiante do exposto, vem o Município de Itajubá requerer a suspensão da sentença proferida no MS n° 324.03.010.427-1, em trâmite na 1ª Vara Cível da Comarca de Itajubá, porque presentes os requisitos previstos no art. 40 da Lei Federal n° 4.348/64, para que o Projeto de Lei n° 3.166/03, de iniciativa do Prefeito Municipal, tenha sua tramitação regularizada na Edilidade local, podendo assim ser analisado e votado regularmente pelos Edis.Somente desta forma, repita-se, poderá ser autorizada a contratação com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG, atraindo para a Municipalidade os recursos necessitados.Nestes termos, com os documentos anexos,pede e espera deferimento.Belo Horizonte, 23 de abril de 2003.”.

No entanto, o TJMG – Tribunal de Justiça de Estado de Minas Gerais indeferiu a

requerida suspensão dos efeitos da sentença, na forma abaixo:

“SUSPENSÃO DE SENTENÇA N° 339.903-7.00COMARCADEITAJUBA.REQUERENTE: MUNiCíPIO DE ITAJUBÁREQUERIDO: JD 1ª V CV COMARCA ITAJUBÁ

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INTERESSADOS: ULlSSES GOMES DE OLIVEIRA NETO E OUTROSEMENTA: CÂMARA MUNICIPAL – PROCESSO LEGISLATIVO - PROJETO DE LEI DE INICIATIVA DO CHEFE DO EXECUTIVO QUE TRATA DE MATÉRIA IDÊNTICA A QUE FOI OBJETO DE PROJETO DE LEI REJEITADO ANTERIORMENTE - APRESENTAÇÃO NA MESMA SESSÃO LEGISLATIVA - IMPOSSIBILIDADE.- De acordo com o art. 67 da Constituição Federal, a matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional' . - Mostra-se de duvidosa densidade jurídica a tese segundo a qual há possibilidade de reapresentação, na mesma sessão legislativa, pelo Chefe do Executivo, de projeto de lei de sua iniciativa que trata de matéria que já foi objeto de outro projeto rejeitado anteriormente pela Câmara.- Não se revela, por outro lado, teratológica a tese segunda a qual, fora da exceção constante da parte final do art. 67 da Carta Magna, não há possibilidade de reapresentação, na mesma sessão legislativa, de projeto de lei rejeitado anteriormente.- Em sendo real a probabilidade de confirmação, em sede recursal, da sentença cujos efeitos se busca suspender, não se mostra viável o deferimento da contra-cautela, cabível tão-somente em situações verdadeiramente excepcionais cuja presença não se divisa na espécie.- Pedido que se indefere.”.

Desta forma, tendo-se em vista que, em recurso necessário, também fora

confirmada a Sentença, o projeto de lei que autorizava o prefeito a contrair empréstimo

com o BDMG ficou arquivado por mais seis meses, até que foi realizada nova tentativa

pelo Prefeito Municipal e Mesa da Câmara de Vereadores, como narrado abaixo:

3.3 – O Terceiro Mandado de Segurança3

Como se disse, o primeiro projeto apresentado, Projeto de Lei 3.120/2003, foi

rejeitado em 05 de março de 2003 e ficou arquivado, tendo tanto o Prefeito Municipal

como a maioria absoluta dos vereadores tentado apresentar novos projetos recebidos

com numeração distinta mas com o mesmo conteúdo. Tais projetos foram obstados em

sua tramitação pelas medidas judiciais acima narradas.

Acontece, que na reunião ordinária da Câmara Municipal de Itajubá, dia 09 de

outubro de 2003, o Vereador João Dimas apresentou requerimento ao Presidente da

Câmara para anulação daquela votação do Projeto 3.120/2003 realizada em março, por

erro, segundo o vereador, no processo de votação, que segundo o Regimento Interno

3 Os dois primeiros mandados de segurança foram impetrados através dos advogados Almir Fernandes e Edvaldo Luiz Rosa, este terceiro e a Ação Direta de Inconstitucionalidade pelo advogado Almir Fernandes.

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(ITAJUBÁ, 1999), deveria ser, a votação, por processo nominal e não simbólico como

foi realizado. O Presidente acatou o requerimento imediatamente, declarando nula a

votação, e ato contínuo, o Vereador Geraldo Canha, apresentou novo requerimento para

colocação em discussão e votação imediata do projeto, em regime de urgência, o que foi

aprovado pelo Plenário. Posto o Projeto 3.120 em votação, foi aprovado em dois turnos,

numa manobra visando burlar a súmula 266 do Supremo Tribunal Federal - STF4, que

prevê “não caber mandado de segurança contra lei em tese”.

Desta forma, os vereadores oposicionistas, estarrecidos, abandonaram o Plenário

da Câmara durante a votação e foram acionar novamente o Judiciário5, baseando-se na

exceção de que contra lei de efeito concreto, como a do presente caso que autorizava o

Prefeito Municipal a contrair empréstimo com o BDMG, cabe mandado de segurança,

além de fundamentarem a ação em inúmeros erros de procedimento, que impediram os

vereadores de discutirem o projeto, conforme narrativa abaixo:

“1 - DOS FATOSNo dia 05 de março de 2003, foi realizada a primeira Reunião

Extraordinária da Câmara Municipal de Itajubá do corrente ano, quando foi votado o substitutivo ao projeto de lei 3.120, que conforme ata da referida reunião (documento 02), foi rejeitado por nove votos, sendo que votaram contrários os vereadores João Dimas Ribeiro, Jorge Renó Mouallem, José Luiz Augusto e Ulysses Gomes de Oliveira Neto (contagem de votos, documento 03).

Conforme V. Exa. pode facilmente averiguar pela ata da 2ª Reunião Extraordinária (documento 04) a ata da primeira reunião extraordinária foi aprovada sem discussão neste aspecto.

Como era de se esperar, o referido projeto de lei, após regimentalmente reprovado, foi arquivado, e assim permaneceu até o dia 09 de outubro de 2003, sete meses depois, quando ocorreu na Augusta Câmara Municipal desta cidade, a 26ª (vigésima sexta) reunião ordinária (ata anexa, documento 05).

Durante esta reunião, o vereador João Dimas Ribeiro requereu verbalmente à Presidência que tornasse nula a votação do substitutivo ao projeto de lei 3.120, uma vez que a votação não teria obedecido ao disposto no art. 173, inciso II, do Regimento Interno da Câmara Municipal. De imediato, o Presidente da Câmara suspendeu a reunião por cinco minutos, e, após isto, acatou o requerimento e declarou nula a votação do substitutivo ao projeto 3.120. Antes, entretanto, os vereadores, ora impetrantes, manifestaram contrariamente a tal declaração de nulidade, haja vista que a vontade soberana do plenário havia sido obedecida e tal nulidade deveria ter sido alegada até a aprovação da ata da Primeira Reunião Extraordinária.

Após esta declaração de nulidade, prosseguiu-se normalmente a reunião, inclusive com a votação do projeto de lei 3.194 e retirada pelo Vereador Geraldo Canha, lider do Sr. Prefeito Municipal, do projeto de lei 3.196.

Prosseguindo a reunião, o Vereador Geraldo Canha requereu verbalmente à Presidência que incluísse na ordem do dia, ouvido o plenário, o substitutivo ao projeto 3.120 para votação nominal em primeiro turno.

Após nova manifestação de repúdio ao desrespeito e atropelamento do Regimento Interno da casa, pelos impetrantes, inclusive por não

4 As Súmulas do STF podem ser encontradas no sítio da Internet: <www.stf.gov.br>5 Mandado de Segurança, processo 0324 03 014873, 1ªVara Cível da Comarca de Itajubá, Minas Gerais.

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poderem apresentar emendas ao projeto num prazo de cinco minutos, o Sr. Presidente coloca em votação simbólica a colocação em votação em primeiro turno do substitutivo ao projeto 3.120, o que tem o apoio e aprovação de dez vereadores.

Em seguida, pela Presidência, é colocado para votação em primeiro turno o substitutivo ao projeto 3.120, ocasião em que os vereadores impetrantes fazem nova manifestação de repudio ao desrespeito do Regimento Interno e se retiram do plenário por não concordarem com a votação neste dia.

Submetido ao plenário por votação nominal, tal projeto foi aprovado por dez votos favoráveis, com a ausência dos impetrantes.

Novamente o vereador Geraldo Canha solicita a colocação em segundo turno de votação o projeto 3.120, o que é aprovado pelo plenário em votação simbólica e, colocado em votação nominal, é aprovado com dez votos favoráveis com a ausência dos impetrantes.

Cumpre esclarecer que no dia da 26ª Reunião Ordinária, foram publicadas pela presidência da Mesa, três Ordens do Dia (documentos 06, 07 e 08), sendo que a segunda e terceira ordem do dia foram publicadas no decorrer da 26ª Reunião Ordinária.

Conforme já narrado, a 26ª Reunião Ordinária ocorreu no dia 09/10/2003, sendo que no dia seguinte, às 7:38 horas da manhã (ofício 195/2003, documento 09), mais uma vez ao arrepio do Regimento Interno da Câmara Municipal desta cidade, foi remetido ao Sr. Prefeito Municipal o projeto de lei aprovado pela Câmara, sem sequer cogitar-se da sua redação final e respeitar o prazo legal para emendas à redação final.

Tal projeto foi publicado no Jornal Bandeirante (documento 10), já na forma de lei 2.478/2003, no mesmo dia 10/10/2003.

Cumpre esclarecer, finalmente, que a Mesa da Câmara Municipal somente publicou a ata da 26ª Reunião Ordinária, com a assinatura de seu presidente no dia de hoje, razão porque somente agora está sendo ajuizada a presente ação. Além do mais, a Mesa da Câmara, recusou-se a autenticar os documentos referidos neste tópico, motivo pelo qual, requerem os impetrantes, desde que V. Exa. entenda necessário, que se ordene a exibição dos documentos não autenticados, ou seja, ata da Primeira e Segunda Reuniões Extraordinárias, ata da 26ª Reunião Ordinária e ofício 195/03 da Câmara Municipal.2 – DO DIREITO

Através dos fatos narrados acima, V. Exa. pode facilmente concluir que o processo legislativo que originou a lei 2.478/2.003 está eivado de nulidades em vários atos praticados pelo Sr. Presidente da Câmara, como ficará demonstrado abaixo, fundamentado no Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, estando também eivada de nulidade a promulgação e publicação pelo Sr. Prefeito Municipal de uma lei originada por um projeto tramitado de forma ilegal.

Conforme nosso ordenamento jurídico, o Plenário da Câmara Municipal é soberano para tomar suas decisões, compor sua Mesa diretora, elaborar seu regimento, entre outras prerrogativas, sem qualquer interferência do Poder Judiciário ou Executivo. Mas é de se advertir que a Câmara não tem o privilégio de desatender impunemente à Constituição, às leis ordinárias e nem ao seu regimento interno, sob pena de tais atos serem anulados pelo judiciário.

Por outro lado, temos a intenção de demonstrar também à V. Exa., que os impetrantes, vereadores deste Município, têm legitimidade para questionar a legalidade/constitucionalidade do processo legislativo do qual fazem parte por decisão soberana dos eleitores.

Finalmente, sustentaremos que é cabível a presente ação mandamental, uma vez que a norma questionada é uma lei de efeitos concretos, não tendo o sentido de abstração e generalidade das leis, como acontece ordinariamente, sendo lei apenas em sentido formal, e, em sentido material, sendo equiparada a qualquer ato administrativo, pois apenas autoriza o Município a contrair empréstimo com uma instituição financeira específica.

2.1 - DO CABIMENTO DO MANDAMUS2.1.1 – DA LEGITIMIDADE DAS PARTESOs requerentes são todos Vereadores eleitos nas últimas eleições, o que,

por si só lhes dá a condição de legitimados ativos para a propositura do presente Mandado

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de Segurança, já que têm o direito líquido e certo de participar na discussão e votação de projetos de lei que obedeçam, na sua tramitação, o processo legislativo estabelecido na Lei Orgânica Municipal e no Regimento Interno da Câmara Municipal, o que não ocorreu no presente caso, como adiante restará demonstrado.

Neste sentido a doutrina de Alexandre de Morais, abaixo:“Os parlamentares, portanto, poderão propiciar ao Poder Judiciário a análise difusa de eventuais inconstitucionalidades ou ilegalidades que estiverem ocorrendo durante o trâmite de projetos ou proposições por meio de ajuizamento de mandados de segurança contra atos concretos da autoridade coatora (Presidente ou Mesa da Casa Legislativa, por exemplo), de maneira a impedir o flagrante desrespeito às normas regimentais ao ordenamento jurídico e coação aos próprios parlamentares, consistente na obrigatoriedade de participação e votação em um procedimento inconstitucional ou ilegal.

Não raro o Poder Judiciário deverá analisar a constitucionalidade, ou não, de determinada seqüência de atos durante certo processo legislativo tendente à elaboração de uma das espécies normativas, uma vez que é a própria Constituição Federal que, com riqueza de detalhes, prevê as normas básicas e obrigatórias de devido processo legislativo (CF, ARTS. 59 A 69). Quando assim atuar, o Judiciário estará realizando controle difuso de constitucionalidade, para poder – no mérito – garantir aos parlamentares o exercício de seu direito líquido e certo a somente participarem da atividade legiferante realizada de acordo com as normas constitucionais.” (Direito Constitucional, 11ª Edição, 2002, p. 597).

E é lógico que assim o seja, pois, caso contrário, estaríamos sob o império da arbitrariedade. O vereador foi eleito como representante da sociedade no intuito votar as leis que são o anseio desta mesma sociedade. Em não havendo um remédio jurisdicional para impedir que ele seja obrigado a participar de um processo legislativo viciado, a coação, na realidade, estará afetando a própria sociedade que ele representa.

O Superior tribunal de Justiça já decidiu neste mesmo sentido, conforme transcrição abaixo:Processual - Mandado de Segurança - Lei de Efeitos Concretos Declaração incidente de inconstitucionalidade - Lei 1.965/93do municipio de aracaju.I - se a lei estabelece, com eficacia plena, vedações ouobrigações, e possivel mandado de segurança, para que o agenteda administração deixe de executar os preceitos legais;II - e possivel, no processo de mandado de segurança, adeclaração incidente de inconstitucionalidade de lei;III - a lei 1.965/93, do municipio de aracaju produziu efeitosconcretos e imediatos;IV - constatada a viabilidade do pedido de mandado de segurança,da-se provimento ao recurso, para que o tribunal a quo prossigano julgamento. (Recurso Ordinario em Mandado de Segurança Nº 1994/0028653-8, Órgão julgador 1º turma, decisão: por unanimidade dar provimento ao recurso)

Também o Tribunal de Justiça de Minas entende pelo cabimento do Writ para impugnar processo legislativo:MANDADO DE SEGURANÇA – CABIMENTO QUANDO HOUVER VÍCIO DE TRAMITAÇÃO DE PROCESSO LEGISLATIVO – PRECEDENTES DO STF – VEREADORES – Legitimidade ativa para o manejo do writ. Direito líquido e certo de poderem opinar, votar e defender a legalidade do processo legislativo municipal. Provimento do apelo, reformando-se a decisão singular, para determinar o retorno dos autos ao juízo originário, para que, em tal sítio, outra sentença se faça por concreta, sob enfrentamento meritório. (TJMG – AC 144.962/8.00 – 3ª C.Cív. – Rel. Des. Isalino Lisbôa – J. 09.09.1999).

“O vereador tem direito líquido e certo de votar projeto de lei devidamente submetido à tramitação regimentalmente prevista. Hipótese em que flagrantes são as ilegalidades do processo legislativo. Lei de efeito concreto é impugnável pela via estreita do Mandado de Segurança. Ordem concedida para anular a aprovação do projeto de lei e a sanção da respectiva lei.” (TJMG – AC 000.195.305-8/00 – 1ª C. Cív. – Rel Des. Páris Peixoto Pena)

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Ementa: Processo Legislativo. Vício de tramitação. Projeto de lei, posteriormente convertido em lei municipal. Nulidade. Lesão a direito líquido e certo dos edis que pretendem fazer cumprir as normas pertinentes. Sentença confirmada, em reexame necessário. (TJMG - Apelação Cível Nº 000.212.285-1/000, REL. ISALINO LISBOA.).

Em suas razões de voto, o relator do acórdão acima, em decisão por unanimidade, sustenta:Escorreitamente reconhecida pelo MM Juiz a quo a legitimidade passiva da autoridade impetrada, em seara de preliminar, novamente com acerto laborou Sua Exa., em cenário meritório. Com efeito, nulo se revela o ato emanado do impetrado, que, ao arrepio do Regimento Interno da Câmara Municipal de Tiradentes e da Lei Orgânica do Município, fez tramitar pela citada Casa Legislativa um Projeto de Lei, permitindo sua aprovação e posterior conversão em Lei pelo Prefeito Municipal, sem a observância de prazos, quorum e resultado de votação, fatos estes, que culminaram por viciar todo o Processo Legislativo.

Desta forma, fica constatada a legitimidade dos vereadores para questionarem as ilegalidades do processo legislativo perante o Poder judiciário, via Mandado de segurança.

De outro lado, as autoridades apontadas como coatoras, são também, partes legítimas para figurarem no polo passivo da presente demanda, uma vez que a primeira autoridade, Presidente da Câmara, foi quem conduziu todo o processo legislativo repleto de irregularidades e ilegalidades, como será adiante demonstrado; sendo também autoridade coatora, o Prefeito do Município, uma vez que sancionou e promulgou a lei aprovada por processo legislativo irregular.2.1.2 – DA LEI DE EFEITO CONCRETO

Conforme já alegado, o projeto de lei 3.120/03 ora questionado, que originou a lei 2.478/2003, tem por objeto a autorização do Município de Itajubá a contrair empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A – BDMG, outorgando garantias. Trata-se, portanto, de uma lei municipal de efeitos concretos, ou seja, apenas autoriza o município a realizar uma operação financeira específica, não gerando efeitos genéricos ou abstratos, como ordinariamente acontece.

Portanto, em que pese a súmula 266 do Colendo Supremo Tribunal Federal – STF, que conclui por não caber Mandado de Segurança contra lei em tese, no presente caso, conforme orientação doutrinária e jurisprudencial, é perfeitamente cabível o presente mandamus, pois a lei questionada é de efeito concreto.

Neste sentido a elucidativa lição da Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em Direito administrativo, Editora Atlas jurídica, abaixo:

“No entanto, o rigor desse entendimento foi aos poucos abrandado pela jurisprudência, que passou a admitir o mandado de segurança contra lei em duas hipóteses: na lei de efeitos concretos e na lei auto – executória, o que se aplica também aos decretos de efeito concreto e auto – executórios.

Lei de efeito concreto é a emanada do poder legislativo, segundo o processo de elaboração das leis, mas sem o caráter de generalidade e abstração próprios dos atos normativos. Ela é lei em sentido formal, mas é ato administrativo em sentido material (quanto ao conteúdo), já que atinge pessoas determinadas. Por exemplo uma lei que desaproprie determinado imóvel ou que defina uma área como sendo sujeita a restrições para proteção do meio ambiente. Leis dessa natureza produzem efeitos no caso concreto, independentemente da edição de ato administrativo; na falta deste, o mandado deve ser impetrado diretamente contra a lei. (Grifo da autora).

Neste mesmo diapasão a lição do saudoso Hely Lopes Meireles em Mandado de segurança, Ação Popular, etc., Editora Malheiros, abaixo:Somente as leis e decretos de efeitos concretos tornam-se passíveis de mandado de segurança, por equivalentes a atos administrativos nos seus resultados imediatos.[....]Tais leis ou decretos nada têm de normativos; são atos de efeitos concretos, revestindo a forma imprópria de lei ou decreto por exigências administrativas. Não contém

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mandamentos genéricos, nem apresentam qualquer regra abstrata de conduta; atuam concreta imediatamente como qualquer ato administrativo de efeitos individuais e específicos, razão pela qual se expõem ao ataque do mandado de segurança”.

O mesmo autor no livro Direito Administrativo Brasileiro, Editora Malheiros, também preleciona:“As leis e decretos de efeitos concretos, entretanto, podem ser invalidados em procedimentos comuns, em mandado de segurança ou ação popular, porque já trazem em si os resultados administrativos objetivados. Não são atos administrativos gerais, mas, sim, deliberações individualizadas revestindo a forma anômala de lei ou decreto”.

No mesmo sentido é o breve comentário de José Afonso da Silva, em Curso de Direito Constitucional Positivo, Editora Malheiros:“Não tem cabimento contra lei em tese, salvo se se tratar de lei de efeito concreto”.

O Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, acompanhando a melhor doutrina, têm decidido pelo cabimento de mandado de segurança para impugnar a eficácia de lei de efeitos concretos, como a do presente processo:PROCESSO CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA – DECADÊNCIA – PRAZO: CONTAGEM – 1. Em se tratando de Lei de efeito concreto, a ponto de ser possível atacá-la por via mandamental, o prazo decadencial tem início com a publicação da norma ilegal. 2. Recurso especial não conhecido. (STJ – RESP 260633 – SP – 2ª T. – Relª Minª Eliana Calmon – DJU 27.08.2001 – p. 00301).EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA – VEREADOR - PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL E PREFEITO - PROCESSO LEGISLATIVO – VIOLAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO - SANÇÃO - LEI DE EFEITOS CONCRETOS – ADMISSIBILIDADE DO MANDAMUS - CONCESSÃO DA SEGURANÇA. O vereador tem direito líquido e certo de votar projeto de lei devidamente submetido à tramitação regimentalmente prevista. Hipótese em que flagrantes são as ilegalidades do processo legislativo. Lei de efeito concreto é impugnável pela via estreita do mandado de segurança. Ordem concedida para anular a aprovação do projeto de lei e a sanção da respectiva lei. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 000.195.305-8/00 – COMARCA DE CAMANDUCAIA - APELANTE(S): 1º) JD COMARCA CAMANDUCAIA; 2º) PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE CAMANDUCAIS, 3º) PREFEITO DO MUNICÍPIO DE CAMANDUCAIA - APELADO(S): RUBENS MUNGIOLI - RELATOR: EXMO. SR. DES. PÁRIS PEIXOTO PENA).EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. LEI DE EFEITO CONCRETO. LEGITIMIDADE "AD CAUSAM". DIREITO DE PROPRIEDADE. CONDOMÍNIO. Cabível mandado de segurança contra norma de efeito concreto, entendida como tal aquela que não é dotada dos atributos de generalidade e abstração próprios da lei em sentido material. Ao condomínio, representado por seu síndico, é admitido postular em juízo, ainda que não registrado no Cartório de Imóveis. A passagem comum, interna de condomínio de fato, a qual dá acesso às vias públicas, constitui objeto de propriedade particular do condomínio e, não logradouro público, não podendo o administrador nela intervir sem que esteja respaldado por norma legal, visando atender interesse público.(APELAÇÃO CÍVEL Nº 000.264.914-3/00 - COMARCA DE PARAOPEBA - APELANTE(S): JD COMARCA PARAOPEBA PELO PRESID CÂMARA MUN PARAOPEBA - APELADO(S): RESIDENCIAL CHAMP'S ELISEES - RELATOR: EXMO. SR. DES. SILAS VIEIRA Data do acordão: 09/09/2002 Data da publicação: 20/12/2002).

Desta forma, salvo melhor juízo, fica demonstrada a possibilidade jurídica do presente mandado de segurança, sendo que as ilegalidades do processo legislativo serão abaixo demonstradas.

2.2 – DAS ILEGALIDADES DO PROCESSO LEGISLATIVOConforme narrado, várias foram as ilegalidades do processo

legislativo de

formação da lei 2.478/2003, como passamos a demonstrar:

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Primeiramente questionamos o ato de anulação da votação que reprovou o substitutivo ao projeto 3.120 na Primeira Reunião Extraordinária do corrente ano.

É sabido que o Presidente da Câmara, quando pratica atos administrativos como este de anulação de uma votação, deve se submeter às regras do Direito Administrativo, em que pese ser do Poder Legislativo.

Assim sendo, para declarar a nulidade de tal ato, deveria ter realizado o devido Processo Administrativo afim de assegurar a regularidade da invalidação, bem como os motivos determinantes, além de assegurar o direito de defesa dos interessados. Neste sentido os ensinamentos abaixo, o primeiro de Hely Lopes Meireles, no citado Direito Administrativo Brasileiro e o segundo da Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em Direito Administrativo:“Pacífica é hoje, a tese de que se a Administração praticou ato ilegal, pode anulá-lo por seus próprios meios (súmula 473, STF). Para a anulação do ato ilegal não se exigem formalidades especiais, nem há prazo determinado para a invalidação, salvo quando norma legal fixá-lo expressamente. O essencial é que a autoridade que o invalidar demonstre, no devido processo legal, a nulidade com que foi praticado. Evidenciada a infração à lei, fica justificada a anulação administrativa”. (Grifo nosso). Hely Lopes.“A anulação feita pela própria administração independe de provocação do interessado uma vez que, estando vinculada ao princípio da legalidade, ela tem o poder-dever de zelar pela sua observância. No entanto, vai-se firmando o entendimento de que a anulação do ato administrativo, quando afete direitos ou interesses de terceiros, deve ser precedida do contraditório, por força do artigo 5º, LV da Constituição”. (Grifo nosso). Maria Sylvia.

Por outro lado, ainda que se ultrapasse esta questão formal, consideramos que não havia motivos determinantes para a invalidação do processo de votação do substitutivo ao projeto 3.120. Em nenhum momento foi questionada a vontade dos edis durante o procedimento de votação. Seja durante a reunião extraordinária em que ocorreu, seja durante a aprovação da ata na reunião seguinte.

Ora Nobre Julgador, é princípio do nosso ordenamento jurídico que não se declara nulidades salvo quando ocorre prejuízo. No caso em questão não houve qualquer prejuízo para quem quer que seja, em razão da votação simbólica, uma vez que a vontade dos vereadores foi respeitada. Assim sendo, com a devida vênia, a declaração de nulidade realizada pelo Sr. Presidente da Câmara é nula, uma vez que não há motivo determinante para que ocorresse. Além do mais, ninguém pode alegar o próprio erro para tirar proveito próprio como ocorreu neste ato do Sr. Presidente da Câmara. O que deveria ter ocorrido então, seria apenas uma ratificação do processo de votação para corrigir a irregularidade formal.

Prosseguindo a narração das irregularidades que viciaram a declaração de nulidade da referida votação e posterior votação em dois turnos do projeto em análise, não podemos deixar de considerar a seqüência que deveria ser obedecida na Ordem do Dia da 26ª Reunião Ordinária.

De acordo com o art. 87 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, abaixo;“As sessões ordinárias terão duração de quatro horas, iniciando-se às vinte horas e constarão de:I – Pequeno expediente, com duração de duas horas, destinado a:a) leitura, discussão e votação da ata da reunião anterior;b) leitura de correspondências e comunicações já visadas pelo presidente;c) apresentação, sem ou com discussão, de proposições.

II – Ordem do dia a iniciar-se depois de esgotada a matéria destinada ao pequeno expediente, ou findo o prazo de sua duração, destinado a:a) leitura de pareceres;b) discussão e votação dos projetos e emendas;III – Grande expediente , a iniciar-se logo após o término da ordem do dia, destinado a fala dos oradores inscritos”.

Ora MM. Juiz, conforme se observa pela ata da 26ª reunião Ordinária, a reunião vinha seguindo a seqüência do Regimento Interno, com exceção da anulação da votação que não era prevista. Sendo que após o término do pequeno expediente, foi iniciada a ordem do dia, votado o projeto de lei 3.194 e retirado o projeto

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3.196. Sendo, apenas neste momento que o vereador Geraldo Canha faz requerimento verbal para incluir na ordem do dia o projeto 3.120.

Segundo o art. 120 do mesmo Regimento Interno, requerimento é a proposição dirigida por qualquer vereador ou comissão ao Presidente da Mesa, sobre matéria de competência da Câmara. Não poderia, portanto, o Sr. Presidente receber uma proposição (requerimento para colocar em votação o substitutivo ao projeto 3.120), e muito menos acatá-la, tendo-se em vista que foi apresentada quando já havia iniciado a Ordem do Dia, estando preclusa a fase de apresentação de proposição. Com a devida vênia MM. Juiz, só por este fato, todo o processo legislativo já estaria viciado.

Além do mais, estipula o parágrafo único do art. 87 do Regimento Interno que:“A ordem do dia deverá ser elaborada com antecedência mínima de 12 horas do início das reuniões, disponível para os vereadores e afixada no saguão da Câmara”.

Também este dispositivo do Regimento Interno não foi obedecido, tendo-se em vista que 12 horas antes do início da reunião sequer a votação havia sido anulada, não podendo estar tal matéria prevista na Ordem do Dia, que foi duas vezes alteradas e distribuídas durante a reunião.

Por outro lado, conforme estipula o art. 71, II do Regimento Interno, é direito do vereador apresentar emendas e discutir projetos. Tais emendas são apresentadas na forma dos artigos 139 e seguintes do mesmo regimento.

Ora Nobre Julgador, como os impetrantes ou qualquer outro edil poderiam apresentar emendas e discutir o projeto 3.120, se o mesmo estava arquivado há sete meses e foi votado em dois turnos atropelando todo o regimento da casa, sem possibilidade para os impetrantes sequer de ler o referido projeto, uma vez que foi distribuído minutos antes da votação, ao arrepio do art. 231 do Regimento Interno que prevê:“Distribuídas a cópias, o projeto ficará na Secretaria durante sete dias para receber emendas e, findo o prazo, será encaminhado à Comissão Especial designada para seu estudo e parecer, no prazo de quinze dias”.

Cumpre ainda esclarecer outra nulidade do processo legislativo. Segundo os artigos 184 e seguintes do Regimento Interno, o projeto aprovado deverá passar pela comissão de Constituição e Justiça para Redação Final. Especificamente, o art. 186 prevê o prazo de três dias para receber emendas de redação. Ora MM. Juiz, o projeto 3.120 foi votado na noite de 09/10/2003 e na manhã de 10/10/2003, conforme documentação anexa, já havia sido remetido ao Sr. Prefeito Municipal para promulgação, mais uma vez sem obedecer o prazo legal.

Finalmente, ainda que V. Exa. considere correto o mérito da anulação da primeira votação do substitutivo ao projeto 3.120, uma vez que foi submetido a votação simbólica, o que estamos a admitir por hipótese, perguntaremos então, por que o requerimento de inclusão do projeto em pauta foi também submetido a votação simbólica (ata anexa), se o art. 173, V do Regimento Interno prevê também a votação nominal?? Desta forma, esta votação também é nula, não podendo produzir efeitos.

Para encerrar este tópico, requerem os impetrantes que V. Exa. considere nulo o processo legislativo que originou a lei 2.478/2003, ainda que V. Exa. não considere todas as nulidades apontadas, basta que considere uma delas para considerar viciado todo o processo de formação da lei e por conseqüência a lei também.3 - DA URGÊNCIA

Segundo o art. 7º, II, da lei 1.533/1951, lei que altera disposições do Código de Processo Civil relativas ao Mandado de Segurança, o Juiz, ao despachar a inicial ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando for relevante o fundamento e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida.

Ora MM. Juiz, com a devida vênia, consideramos que está demonstrado acima o fumus boni iuris, ou seja, que são relevantes os fundamentos do presente pedido. Por outro lado, o periculum in mora se dá no fato de que liberado o empréstimo, o Município ficaria impossibilitado de devolver o dinheiro sem prejuízo à instituição financeira e ao próprio Município.

Além do mais, um futuro pronunciamento favorável ao impetrante ficaria sem efeito, acaso o Município já houvesse investido o dinheiro conseguido com o

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empréstimo autorizado pela lei ora fustigada, o que tornaria ineficaz a medida, acaso deferida somente ao final da tramitação do presente mandamus.Por estes motivos, está sendo requerida abaixo medida liminar, para sustar os efeitos da lei 2.478/2003 até final pronunciamento de V. Exa.

4 – DO PEDIDOFace a todo o acima exposto requer:

1-seja concedida, inaudita altera pars, LIMINAR para que as autoridades apontadas como coatoras sustem os efeitos da aprovação, sanção e promulgação da lei 2.478/2003, até decisão final da presente ação;2-sejam intimadas as Autoridades apontadas como coatoras para prestarem as informações no prazo legal e, querendo, juntar documentos, sob pena de revelia, além de apresentarem os documentos autenticados referidos abaixo;3-seja, em decisão final, julgada procedente a presente ação, com a concessão definitiva do writ, para anular a aprovação, sanção e promulgação da lei 2.478/2003;4-seja ouvido o DD. Órgão do Ministério Público.

Protestam os impetrantes por prova documental, especialmente pela exibição dos originais ou autenticados, acaso V. Exa. entenda necessário, dos seguintes documentos em poder do Presidente da Câmara (primeira autoridade coatora): ata da Primeira e Segunda Reuniões Extraordinárias, ata da 26ª Reunião Ordinária e ofício 195/03 da Câmara Municipal, tudo nos termos do § único do art. 6º da lei 1.533/51.”.

Distribuído ao Juízo da 1ª Vara Civel da Comarca de Itajubá, o MM Juiz

concedeu mais uma liminar, desta vez para sustar a eficácia da lei municipal, que fora

promulgada sob o nº 2.408/03, assim:

“Vistos, etc..ULYSSES GOMES DE OLIVEIRA NETO, e outros, Vereadores de Itajubá-MG, por seu Advogado, impetram o presenteMANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de liminar, em Iface do Sr. Presidente da Câmara de Vereadores desta Urbe, Sr. João Vitor da Costa, e do Sr. Prefeito Municipal, Engº. José Francisco Marcos Ribeiro, aduzindo, emresumo, que o legislativo municipal aprovou o Projeto de Lei n.o 3.120, que foi convertido na Lei n 2.408/23, fls. 44, fazendo-o de forma a desrespeitar o Regimento Interno da Edilidade.Esclarecem que esse projeto já havia sido rejeitado no dia 05/0312.003, e, surpreendentemente, no dia 09/1012003,foi recolocado em votação, ao argumento de que a anterior, quando fora rejeitado, não obedecera aodisposto no art. 173, inciso 11,do Regimento Interno.Informam que o presidente do legislativo local, a despeito dos protestos, anulou a votação do dia 05/0312.003, e imediatamente e colocou esse projeto em votação nominal, em 1° turno, sem que desse oportunidade aos Impetrantes de apresentarem eventuais emendas, já que tudo aconteceu em 05 ( cinco) minutos. Submetido o projeto à votação, agora com a adesão do vereador João Dimas Ribeiro, ele foi aprovado. Imediatamente o presidente do Sodalício itajubense o colocou novamente em votação, desta feita em 2° turno, igualmente obtendo aprovação.Dizendo-se legitimados à ora impetração, inclusive com espeque em precedentes do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que citam às fls. 07, rogam a concessão da segurança, com a respectiva liminar, para ANULAR o ato emanado das autoridades-impetradas, em face do vício nele existente, pois entendem com direito legítimo de participar do processo legislativo, o que não ocorreu, segundo sustentam, no caso da lei nº 2478/03, e de seu respectivo projeto.DECIDO o pedido de liminar."Para a concessão da liminar devem concorrer os dois requisitos legais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ho direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na decisão de mérito -fumus boni iuris e periculum in mora."A medida liminar não é

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concedida como antecipação dos efeitos da sentença final; é procedimento acautelador do possível direito doimpetrante,justificado pela iminência de dano irreversível de ordem patrimonial, funcional ou moral, se mantido o ato coator até a apreciação definitiva da causa.Por isso mesmo, não importa em prejulgamento,' não afirma direitos; nem nega poderes à Administração. Preserva, apenas, o impetrante de lesão irreparável, sustando provisoriamente os efeitos do ato impugnado" ( Mandado de Segurança, 133ed., Ed. Rev. dos Tribunais,pág. 51 ). Pois bem! Em face disso, é obvio que surge, desde logo, cristalino direito líquido e certo dos Impetrantes, autorizando-se a concessão de liminar para SUSTAR a eficácia da Lei n.o 2.478/03, na medida em que, ao que consta, não tiveram oportunidade de participar efetivamente do processo legislativo do projeto correspondente, n.o 3.120. Ademais, se não obstada agora, poderá trazer prejuízos de difícil ou impossível reparação. Reforça-se, ainda, a concessão da medida, pois como está na inicial é facilmente verificável que a aprovação desse projeto teria sido bastante afoita, senão apressada, tirando a oportunidade dos Impetrantes, como Edis locais, de opinar, discutir e votar sobre ele, ofendendo, assim, seu direito líquido e certo de legisladores paroquiais. Do exposto, e por tudo o mais que dos autos se puder inferir, DEFIRO a liminar para SUSTAR a eficácia da lei fi.o 2.408/03, até o julgamento final do mandamus.Oficie-se às autoridades-impetradas, dando-lhes conhecimento desta decisão, para cumprirem-na integralmente, tal como nela se contém, requisitando-se-lhes, na oportunidade, que prestem informações, no prazo de dez ( 10) dias.Se com as informações forem juntados novos documentos, dê-se vista aos Impetrantes, para se manifestarem sobre eles, em cinco ( 05 ) dias.Após, ao Ministério Público, por cinco ( 05 ) dias. Cls., a final. Int.”.

Após a intimação, as autoridades ditas coatoras prestaram informações de forma

similares, transcrevo apenas aquelas prestadas pelo Presidente da Câmara:

“No presente Mandado de Segurança, os impetrantes se insurgem contra a votação, em regime de urgência, em dois turnos de votação, do projeto de lei 3.120102, que, em 05/03/03, havia sido votado em primeiro turno e rejeitado.O retomo desse projeto de lei à ordem do dia de votação, na reunião do dia 09/01/03, se prende ao fato, como relatado na inicial e constante da data, nos autos, de o vereador João Dimas Ribeiro ter questionado a validade de sua primeira votação, por ter sido simbólica, quando, de acordo com o Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, deveria ter sido nominal aquela votação.Diante desse questionamento, o impetrado, após analisar o caso, entendeu pela nulidade daquela votação e a declarou nula.Em requerimento verbal do vereador Geraldo José Canha de inclusão do projeto de lei 3.120/02, na ordem do dia dessa reunião de 09/10/03, em regime de urgência, o impetrado submeteu esse requerimento à deliberação do Plenário, que o acatou por dez votos favoráveis, tendo o projeto de lei sido incluído na ordem do dia e votado, fato que se repetiu, em 20 turno, após outro requerimento de sua votação em segundo turno. Esses, em síntese, os fatos.Inicialmente, entende o impetrado que falta aos impetrantes interesse para agir. a Mandado de Segurança não é a via própria e adequada para atender à pretensão dos impetrantes de ver considerado nulo o procedimento legislativo, de que originou a lei municipal 2478/2003. Seria próprio para suspender a tramitação do procedimento legislativo, não, porém, para declarar nulidade de um procedimento que já se esgotara, com a aprovação do projeto de lei e sua conversão na lei 2478/03, já publicada, como se vê, nos autos. as autores são, pois, carecedores de ação, o que deve ser declarado, extinguindo-se o processo, sem julgamento do mérito. No mérito, os impetrantes, ao se insurgirem contra o pedido de declaração de nulidade da votação aconteci da em 05/03/03, alegam, entre outras coisas, que a nulidade deveria ter sido denunciada, na ocasião, ou até a aprovação da ata da reunião. Em verdade, o ato da Mesa Diretora da Câmara Municipal, em 05/03/03, ao colocar em votação em 1º turno o projeto de Lei

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3120/02, em votação de modo simbólico, afrontou o artigo 173, lI, do Regimento Interno (cópia nos autos), que determina votação nominal, nesses casos. A maneira, pois, como se votou, naquela ocasião, o projeto, em 1º turno, fez com que o atingisse a nulidade, por vício de forma, fazendo com que o ato se eivasse de nulidade, desde o início, sem condições de produzir efeitos sem poder se convalidar. a fato de não se ter alegado a nulidade, à época ou até a aprovação da ata daquela reunião, em que o projeto foi votado de modo viciado, não implica em que o ato estaria convalidado. Sua nulidade permaneceu, até que, percebido o equívoco, que o viciou, buscou-se sua repetição, o que se fez, na reunião do dia 09/10/03. Durante o transcorrer dessa última reunião, o vereador João Dimas Ribeiro levantou a questão de ordem, mostrando a nulidade da primeira votação do referido projeto de lei e requerendo assim fosse declarado pela Mesa Diretora, através de sua Presidência. Suspensa à reunião, constatado o equívoco daquela votação, o impetrado entendeu de realmente considerar nula a votação do projeto de lei 3120/02, pela forma simbólica. O reconhecimento do equívoco, quando da 1ª votação do projeto de lei, em 05/03/03, não trouxe nenhum proveito ao impetrado, como querem os impetrantes, mas se impôs, como uma obrigação, no momento em que lhe foi mostrado o vício de forma de que se revestiu o ato. Estribado nos artigos 121 e 122 do Regimento Interno da Câmara Municipal (cópia j.), o vereador Geraldo José Canha, líder do Prefeito, requereu verbalmente, fosse, então, o projeto de lei 3120/02, incluído na ordem do dia da reunião do dia 09/1 0/2003, em regime de urgência. O requerimento do vereador Geraldo José Canha teve amparo legal. Está, no artigo 121 do Regimento Interno da Câmara Municipal (cópia j.) que os requerimentos podem ser verbais ou por escrito. E o inciso 11do mesmo artigo estabelece a competência para decidir sobre os requerimentos, sejam eles verbais ou escritos. E, ali, está que há requerimentos sujeitos a despacho do Presidente e outros que se sujeitam à deliberação do Plenário. Entre esses últimos está o requerimento de inclusão de projeto na ordem do dia, em regime de urgência, como se acha no artigo 124, I do Regimento Interno (cópiaj.). Ao que se vê da ata dessa reunião (folha 153)nos autos), o impetrado dentre as atribuições que lhe confere o artigo 18 do Regimento Interno (cópia j.), houve por bem deferir o requerimento do vereador Geraldo José Canha ( art. 18,111,alínea "a") e de, acordo com a alínea "e" do mesmo inciso 111do artigo 18, determinou o desarquivamento do projeto de lei 3120/02, submetendo à deliberação do Plenário sua inclusão na ordem do dia daquela reunião. De se ver que, ao ser requeri da a inclusão do projeto de lei, na ordem do dia, em regime de urgência, o impetrado não tinha outra alternativa senão submeter o requerimento à deliberação do Plenário, consoante determina o artigo 124, parágrafos 10e 20 do Regimento Interno. Está no artigo 124 desse Regimento: "Dependerá de deliberação do Plenário o requerimento que solicitar: 1.- inclusão de projeto na pauta, em regime de urgência.[...]§ 10 - os requerimentos mencionados no presente artigo nãoadmitem discussão, encaminhamento de votação ou declaração de voto.§ 20 - O requerimento mencionado no inciso I deste artigo nãoadmite adiamento de votação.Ainda, pois, que os impetrantes tivessem protestado contra o fato de submeter-se o requerimento do vereador Geraldo José Canha à deliberação do Plenário, o impetrado não poderia deixar de fazê-lo, naquela ocasião, nos precisos termos do parágrafo segundo do artigo 124 do Regimento Interno (cópia j.). O requerimento de inclusão do projeto de lei, na ordem do dia, em regime de urgência, não feriu o artigo 87 do Regimento Interno, como entendem os impetrantes.Ao. que se constata da ata, no momento do requerimento do vereador Geraldo José Canha, ainda se estava na ordem do dia, pois que não se iniciara, ainda o grande expediente. Tivesse tido início o grande expediente, então, sim, não poderia mais ser atendido o pedido do vereador e o projeto não poderia ser incluído na ordem do dia. Não se iniciara, ainda, o grande expediente destinado à fala dos oradores inscritos. Está, na ata, esclarecimento do impetrado (fls.15 5 da ata, nos autos) de que as votações dos projetos que estavam incluídos na ordem do dia haviam terminado e que ainda não se alcançara a fase seguinte do grande expediente, entendendo oportuno o requerimento do vereador Geraldo José Canha, naquele momento. Alegam os impetrantes, que como se estava procedendo, entendiam cerceado o direito de apresentação de emendas e que, no curto espaço de tempo, entre a inclusão do projeto na ordem do dia e sua votação, não teriam como fazê-lo. Primeiro, de se considerar que a fase de apresentação de emendas, em 1º

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turno de discussão e votação, há muito já se escoara. Diz o artigo 141 do Regimento Interno cópia nos autos) que a apresentação de emenda, em 1º turno, pode ser feita por qualquer vereador. Já em segundo turno só podem ser apresentadas, se coletivas, subscritas por bancada de partido, de situação ou de oposição, de maioria ou minoria, contanto que institucionalizadas, através de eleição de um líder, ou subscritas por um quinto dos vereadores. O direito de apresentação de emenda ao projeto de lei 3120/02, em primeiro turno, já se escoara, quando de sua votação, ainda que irregular, em 05/03/2003. Naquela reunião, o projeto de lei 3120/02 já havia recebido parecer das comissões, às quais competia se manifestar e, ao ser colocado em votação, naquela oportunidade, é porque já se escoara o prazo para emendas em 1º turno. Caso contrário, não poderia o projeto ter sido votado, ainda que de forma equivocada. A votação, a que se procedeu, agora, em 09/1 0/03, em 1ºturno, para correção da votação equivocada e nula da primeira vez, não teria o condão de reabertura do prazo para apresentação de emendas, em 1º turno. O projeto, desde 05/03/03, já estava pronto e em condições de votação, tanto que foi submetido, naquela oportunidade, à discussão e votação. Naquela ocasião, já não havia mais oportunidade de oferecimento de emendas, em 1º turno.A nova votação se deu para corrigir o vício de forma de que padeceu a votação anterior. Já no que se refere a emendas, em 20 turno, de se considerar, de acordo com o inciso II do artigo 141 do Regimento Interno (cópia nos autos), que teriam que ser coletivas, isto é, subscritas por bancada de partido, desde que institucionalizadas através da eleição de um líder ou então se subscritas por um quinto dos vereadores. Os impetrantes invocam o artigo 231 do Regimento Interno,argumentando que o projeto de lei deveria ter permanecido na Secretaria por sete dias para receber emendas e isso não teria ocorrido. Com certeza que, aqui, os impetrantes se equivocam na interpretação da norma regimental, esquecendo-se do artigo 230 do mesmo Regimento, a que se prende o artigo 231 (cópia nos autos). Os projetos de alteração do Regimento Interno é que, após sua distribuição, devem permanecer por sete dias na Secretaria e, após, serem encaminhados a uma Comissão Especial para parecer. As Comissões Especiais, conforme artigo 38 do Regimento Interno (cópia j.), são nomeadas para oferecer parecer sobre matérias específicas, previstas no artigo 38 citado, entre os quais não se encontra a matéria do projeto de lei 3120/02. Uma dessas matérias, enumerada no inciso III do artigo 38, trata de modificação ou reforma do Regimento Interno. O projeto de lei 3120/02, pois, não precisava se submeter a esse procedimento de aguardar por sete dias na Secretaria. Outro equívoco, em que incorrem os impetrante~ é a interpretação que emprestam ao artigo 186 do mesmo Regimento (cópia nos autos).Na elaboração da redação final do projeto de lei aprovado, poderá haver correção de seu texto, se for constatada incorreção ou impropriedade de linguagem ou outro erro existente na matéria aprovada, competindo, nesse caso, à Comissão de Constituição, Legislação e Redação proceder a essa correção (art. 184 R.I., nos autos). Os três dias para o projeto aprovado permanecer na Secretaria, para receber emendas de redação (artigo 186 R.I., nos autos), são previstos no caso indicado no artigo 185 do Regimento Interno (cópia j.), isto é, se houver dúvida qualquer quanto à vontade legislativa, em decorrência de incoerência notória, contradição evidente ou manifesto absurdo. Nesses casos, a Comissão de Constituição, Legislação e Redação exime-se de oferecer redação final e propõe parecer pela apresentação de emendas corretivas. Aí, então, é que o projeto deve permanecer por três dias, na Secretaria. Não foi, porém, o caso. Não há, no projeto de lei aprovado, incoerência, contradição evidente ou manifesto absurdo, para que devesse permanecer na Secretaria, o que fez com que se elaborasse sua redação final, para encaminhamento à sanção ou veto do Executivo. Em verdade, ao invocarem os impetrantes direito deapresentação de emendas, mostram que, mais uma vez,estavam é discordando do projeto de lei 3.120102. Se pretendessem, realmente, apresentar emendas, tê-la-iamapresentado, logo após o projeto de lei ter recebido parecer das Comissões competentes, quando de sua tramitação da outra vez, pois essa prerrogativa lhes estava assegurada, até o momento de inclusão do projeto, na ordem do dia, para discussão e votação, o que se deu em 05/03/03. Ao incluir o projeto de lei 3120102, na ordem do dia, em regime de urgência, no dia 09/10103, o impetrado nada mais fez do que considera-lo no mesmo ponto, em que se encontrava, no dia 05/03/03, quando já não cabiam emendas, em 1º turno. A nova votação do projeto de lei nada mais foi do que uma repetição da anterior, para correção do vício de forma, com que se maculara. Naturalmente que esses fatos

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teriam que ser do conhecimento dos impetrantes, pois que previstos no Regimento Interno da Câmara Municipal. Se é verdade que o Regimento Interno assegura a apresentação de emendas, em segundo turno também, deve-se considerar que essas devem ser coletivas, como se acha previsto no artigo 141 do regimento Interno. No entanto, se é que os impetrantes poderiam solicitar prazo para apresentação de emendas coletivas, em 20 turno de votação, abriram mão desse direito, ao se retirarem do Plenário, antes mesmo da votação do projeto lei, em 1º turno, como se acha anotado, na ata da reunião, nos autos.(fls. 157 da ata). Permanecessem em Plenário, poderiam ter solicitado prazo para apresentação de emendas, em segundo turno de votação. Sabiam o que estava sucedendo, durante a reunião e, ao se retirarem do Plenário, abriram mão do direito de requerer o que quer que fosse, até mesmo recurso contra a decisão da Mesa Diretora. Aprovado o projeto de lei, em 10turno, ausentes já do Plenário os impetrantes, foi requerida a votação em 2º turno também. Esse requerimento foi submetido à deliberação do Plenário (fls. 159 da ata, nos autos) e ficou aprovada a votação em segundo turno, por dez votos favoráveis, número suficiente para deliberação e aprovação, representando dois terços dos vereadores à Câmara Municipal de Itajubá. Os impetrantes, ao se retirarem do Plenário, antes mesmo da votação em 1º turno de votação, abriram mão do direito de apresentação de emendas, em 2º turno. Tivessem permanecido em Plenário e manifestado a intençãode apresentar emendas, em 2º turno, e se esse direito lhes tivesse sido negado, então, sim, haveria motivo para se invocar direito afrontado. Na verdade, não tinham motivos para, em protesto, retirar-se do Plenário. Tivessem permanecido, a situação poderia ser outra. Nessas circunstâncias, não se pode aceitar tenham tido direito líquido e certo afrontado, a ser amparado por Mandado de Segurança, devendo ser revogada a liminar e, no mérito, denegada a ordem. Essas, MM. Juiz, as informações que nos compete oferecer, esperando pela denegação do pedido.”.

Após isto, o representante do Ministério Público opinou pela procedência do

pedido, assim:

“Autos n° 14873-2 - Mandado de Segurança -1ª Secretaria Cível - Parecer FinalULYSSES GOMES DE OLIVEIRA NETO e outros, qualificados aos autos, impetraram o presente Mandado de Segurança em face de ato do senhor Presidente da Câmara Municipal de Itajubá o senhor, com pedido de liminar, eis que no dia 05 de março de 2003 foi a primeira reunião Extraordinária da Câmara Municipal de Itajubá quando foi votado o substitutivo ao projeto 3120, sendo rejeitado por nove votos a favor e cinco contrários. O projeto foi arquivado e assim teria permanecido até a 26a reunião Extraordinária momento em que teria sido declarada nula a votação do projeto retrocitado pela autoridade coatora e imediatamente colocou esse projeto em votação nominal, sendo o mesmo aprovado em primeiro e segundo turnos. Dizendo-se sentidos no seu direito líquido e certo, requereu a concessão da liminar para sustar a eficácia da lei n° 2478/03 e após pela notificação da autoridade coatora e afinal pela procedência do pedido, com a concessão da segurança para que se tomar em definitivo os dispositivos da lei acima citada, fIs. 02/15 e Foi ainda atribuído valor a causa e juntado documentos fls. 16/58; em r. decisão de fls. 60/62, o MM:.Juiz de 1a Instância concedeu a liminar conforme requerido na peça inicial; a autoridade coatora foi notificada e apresentou informações fls. 66/72, com documentos, tendo ainda o chefe do poder executivo se manifestado e Foi aberto vista ao Representantedo Ministério Público. É o relatório. Fundamentação.Versam os autos Mandado de Segurança. No nosso entender, as partes são legítimas, devidamente representadas e há interesse no julgamento da causa por este juizo. Preliminarmente, o RMP entende que não há necessidade de se abrir vista a parte contrária, eis que os documentos juntados se referem a resolução n° 826 que é de conhecimento de todos. Quanto ao mérito da questão, tenho que um ato de ordem pública só deve ser declarado nulo se for eivado de vícios, principalmente se ocorrer coação ou erro, o que não é o que ocorreu neste feito. Na época o projeto foi rejeitado eis que não foi atingida a maioria qualificada e, não havia motivo para a sua anulação da referida votação. Preliminarmente, não deve ser aplicada a súmula 206 do STF, na qual não aplica o mandado de segurança contra lei em tese, pois o que se discute é se o edis da Câmara

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dos Vereadores de Itajubá tem legitimidade para apresentarem o projeto descrito na peça inicial e não sobre o conteúdo da norma em si. Quanto ao mérito, em que pese o artigo 68 da CF rezar que o projeto de lei, rejeitado, poderá ser proposto novamente, na mesma legislatura, desde que seja feito pela maioria absoluta dos seus componentes, tenho que, em abstração com o artigo 54 da lei municipal. O grande mestre e professor de Direito Constitucional, o saudoso Dr. Wilson Acioli em sua majestosa obra Instituições de Direito Constitucional, ed.1981, pgs. 317, nos relata que" Diversas são as atribuições do Congresso Nacional. Hámatérias que lhe pertencem, mas com a sanção do presidente da República; outras, ao contrário, incumbem-lhe de maneira exclusiva. No caso da competência, com o assentimento do presidente da República, as matérias arroladas na Constituição só se transformarão em lei depois que o projeto, adotado numa das Câmaras, for submetido a outra e nesta aprovado, e o Presidente da República adotando, sancioná-lo e promulgá-lo. Ao Congresso Nacional, caberá, nessa modalidade de atribuição, dispor sobre todas as matérias de competência da União de forma genérica (art. 49)". Já às pgs. 329, o nobre doutrinador nos informa que" Mas, não obstante ser natural conseqüência da atribuição legislativa da Assembléia Geral, conforme salienta Rodrigues de Souza, Análise e Comentário da Constituição Política do Império do Brasil, Maranhão, 1867, v. I, pgs. 246, também o Poder Executivo podia Ter por intermédio de qualquer dos seus ministros de Estado, a iniciativa de formação das leis. Nesse sentido, dispunha o artigo 53, da Constituição do Império: "O Poder Executivo exerce por qualquer dos ministros a proposição, que lhe compete na formação das leis; e só depois de examinada por uma Comissão da Câmara dos Deputados, onde deve Ter princípio, poderá ser convertida em projeto de lei". Por sua vez, pre1eciona o grande doutrinador Manoel Gonçalves Ferreira Filho em sua obra Curso de Direito Constitucional, ed.1990, pgs. 164, nsº 9 e 10:A iniciativa não é propriamente uma fase do processo legislativo, mas sim ato que se desencadeia.Em verdade,juridicamente,a iniciativa é o ato porque se propõe a adoção de um direito novo. Tal ato é a declaração de vontade, que deve ser formulada por escrito e articulada; ato que se manifesta pelo depósito de um instrumento, do projeto, em mãos da autoridade compete. É em nosso Direito, um ato simples, uma regra geral. Como exceção,tem a estrutura de ato coletivo, quando serve para apresentar projeto que reitera disposições constantes de outro que, na mesma sessão legislativa, ou foi rejeitado em deliberação, ou foi vetado ( obviamente tendo sido mantido o veto). Nessa hipótese, exige o artigo 67 da Constituição que a proposta seja subscrita pela maioria absoluta dos membros de qualquer das Câmaras. Dessa forma, a iniciativa resulta aí da soma, sem fusão, de vontades de conteúdo e finalidades iguais, que continuam autônomas, pertencentes a titulares de iniciativa individual. Em face da Constituição de 1988, importa distinguir, quanto ao poder de iniciativa, o que é geral do que é reservado. A iniciativa geral - regra de que a iniciativa reservada é a exceção - compete concorrentemente ao Presidente da República, a qualquer deputado ou senador, a comissão de qualquer das Casas do Congresso, ao Supremo Tribunal Federal, aos tribunais superiores, ao procurador-geral da República e aos cidadãos (artigo 61). Nota-se, nesse passo, uma ampliação com referência ao Direito anterior. Reserva, todavia a Constituição a iniciativa de certas matérias, excluindo-as, pois, da regra geral acima. Assim, o artigo 61, § 1°, da Constituição reserva ao Presidente da República a iniciativa das leis que criem cargos, funções ou empregos públicos ou aumentem a sua remuneração, fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas, disponham sobre organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios, organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e as normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, sobre os servidores da União, regime jurídico, provimentos de cargos públicos, etc". O aspecto fundamental da iniciativa reservada está em resguardar a seu titular a decisão de propor direito novo em matérias confiadas à sua especial atenção, ou seu interesse preponderante. Cogitação oposta inspira à vinculação ou iniciativa. A iniciativa é dita vinculada quando longe de Ter caráter facultativo e apresentação de projeto de lei sobre dada questão é imposta pela Constituição". Tratando-se de norma imperativa, não há como os edis desta localidade apresentar ou reapresentar o projeto, por eles mesmos rejeitados e de competência e iniciativa privativa do chefe do poder executivo local. É importante também lembrar a

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lição de Sylvio Motta " Iniciativa das Leis - Preliminarmente, convém estabelecer, que nãoobstante a estrutura bicameral do Poder Legislativo da União, nem todas as espécies normativas têm tramitação nas duas Casas. Apenas os projetos de emenda à Constituição, de leis complementares e de leis ordinárias tramitam primeiro em uma Casa, denominada Iniciadora e, se nela aprovado, passará à outra, que recebe, por isso, o nome de Casa Revisora. A doutrina não chegou a um acordo sobre a natureza jurídica da iniciativa. Para Michel Temer, não é ato de processo legislativo mas, apenas, seu deflagramento. O fato é que a partir da iniciativa começa a tramitação do projeto de lei apresentado, A Constituição admite a iniciativa privativa e a iniciativa concorrente. Na primeira, que é a regra geral, permite-se a qualquer pessoa ou órgão o início dos projetos de lei sobre as demais matérias ( art. 61, caput), inclusive o povo na chamada iniciativa popular, conforme dispõe o artigo 61 § 2°, que é dispositivo auto-aplicável. Na segunda, apenas um órgão ou uma única pessoa pode apresentar a Casa Iniciadora o projeto de lei que trate de determinada matéria. São exemplos da iniciativa reservada os artigos 61, § 1°, I e 11 e o 93, caput. A não observância desses dispositivos constitucionais implicaria inconstitucionalidade formal subjetiva, ou seja, vício de iniciativa ou de competência, levando, necessariamente, à inconstitucionalidade toda lei, caso fosse promulgada dessa maneira. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que o vício da iniciativa do projeto da lei, cuja matéria é de iniciativa privada do Chefe do Executivo não é sanada por simples sanção ( os grifos são do autor). O pedido inicial, portanto, deve proceder, eis que ferido o direito líquido e certo dos requerentes. Conclusão. Diante do exposto, o RMP opina pela confirmação da liminar e pela Procedência do pedido, com a concessão da liminar para que fique sustado os efeitos da lei acima citada. É o parecer.”.

Ao final, o Juiz de Direito da 1ª Vara Cível prolatou sentença anulando a nova

aprovação do projeto 3.120/03, apenas por um motivo, qual seja, a votação do

requerimento do Vereador Geraldo Canha, solicitando votação em regime de urgência,

fora apreciado pelo Plenário em votação simbólica, quando deveria ser nominal:

“Vistos etc. ULISSES GOMES DE OLI\'EIRA e outros, Vereadores de Itajubá - MG, por seu Advogado, impetram o presente MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de liminar em face do Sr. Presidente da Câmara de Vereadores desta Urbe. Sr. João Vitor da Costa, e do Sr. Prefeito Municipal, Engº. José Francisco Marques Ribeiro, aduzindo, em resumo, que o legislativo municipal aprovou o Projeto de Lei nº 3.120, que foi convertido na Lei n.o 2.478/03, fazendo-o de forma a desrespeitar o Regimento Interno da Edilídade. Esclarecem que esse projeto já havia sido rejeitado no dia 05/03/2.003, e, surpreendentemente, no dia 09/10/2.003.foi recolocado em votação, ao argumento de que a anterior, quando fora rejeitado, não obedecera ao disposto no art. 173, inciso 11,do Regimento Interno.Informam que o presidente do legislativo local, a despeito dos protestos, anulou a votação do dia 05/03/2.003. imediatamente colocou esse projeto em votação nominal. em votação sem que desse oportunidade aos Impetrantes de apresentarem emendas, já que tudo aconteceu em 05 ( cinco) minutos. Submetido o projeto à votação, agora com a adesão do vereador João Dimas Ribeiro. Ele foi aprovado. Imediatamente o presidente do Sodalício itajubense, colocou novamente em votação. Desta feita em 2º turno, obtendo aprovação.”[...]“Pois bem! Em face disso, é obvio que surge interesse dos Impetrantes, como vereadores à Augusta Câmara Municipa1 de ITAJUBÁ, no sentido da regularidade e da legalidade na tramitação de projetos perante essa Casa de Leis, razão pela qual possuem legitimidade para o 'writ´. Rejeito. No mérito, o pedido é procedente. Com efeito, poderia, sem dúvida. o Sr. Presidente do Legislativo Municipal anular a votação do Projeto de Lei nº 3.120/03, por ofensa ao que prevê o art. 173, 11,do Regimento Interno. tanto que poderia fazê-lo até mesmo de ofício, sem requerimento de quem quer que fosse, uma vez que, para a espécie, a votação deveria ser nominal e não simbólica. Ora, diante disso ficou manifesto o vício

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de forma. Fazendo com que o ato se revestisse de eiva insanável, e, por conseguinte, incapaz de produzir qualquer efeito. Pouco importa se o ato da autoridade impetrada, anulando aquela votação, decorreu mais de 07 ( sete) meses depois, na medida em que o vício estava latente e era imprescindível que fosse extirpado dos anais daquela Casa de Leis. como o foi Nada a corrigir, no detalhe, por este mandamus. Também correta foi a intervenção do Vereador Geraldo José Canha ao requerer, verbalmente, em plenário, em regime de urgência, a inclusão, naquela sessão, do Projeto de Lei n.o 3.120. pois a tanto o autoriza o artigo 124, I, do Regimento. Lado outro, também andou com acerto o Sr. Presidente da Câmara Municipal em não permitir novas discussões a respeito, depois de aprovada pelo Plenário sua inclusão. Por duas razões: primeiro, porque os §§1° e 2° do art. 124, do Regimento. Não permitem discussão, encaminhamento de votação, declaração de voto ou adiamento, e. também, porque tudo isso já tinha sido objeto de deliberação no dia 05/03/2003, quando foi votado e rejeitado pelo sufrágio simbólico, quando deveria sê-lo pelo nominal. Também não há se falar em Irregularidade quando essa autoridade-impetrada, nessa mesma sessão de 10/09/2003, considerando o regime de urgência deliberado pelo Plenário da Câmara. A pedido do Vereador Geraldo José Canha, novamente o colocou em votação em segundo turno, na medida em que o Projeto não poderia receber emendas, exceto coletivas, subscritas por bancada de partido de situação ali de oposição, de maioria ou de minoria, contando que institucionalizada; através de um lider, ou subscritas por um quinto ( l/5) dos Vereadores (art. 141, II) Ora! Os 04 (quatro) Vereadores-impetrantes não lograriam obter um quinto ( 1/5) dos membros da Câmara, sendo que cada um deles pertence a partido diferente, de maneira que jamais poderiam preencher os requisitos à apresentação de emenda. Demais, e isso consta da ata de fls. :27/36. resolveram, sponte-sua abandonar o Plenário da Augusta Câmara Municipal, dando, pois, ensejo a que não acompanhassem votação do 2º turno do referido projeto. Quem dá causa a eventual nulidade não pode argui-la. Mas, e aqui o cerne da questão, tropeçaram o Sr. Presidente da Câmara Municipal e os 10 ( dez) Vereadores presentes a sessão quando se olvidaram de um pequeno detalhe previsto no art. 177, parágrafo único, V, c/c o art. 124, 1, ambos do Regimento Interno, por ocasião dos requerimentos de inclusão do projeto na pauta, em regime de urgência, pleiteado pelo nobre Vereador Geraldo José Canha. Deveriam tais requerimentos ser votados pelo sistema nominal, mas o foram pelo simbólico, fulminando incontroversamente incontroversamente, todo o trabalho legislativo daquela noite, deitando por terra o esforço honesto e sincero de todos os que pretendiam a aprovação do Projeto nº 3.120, que acabou sendo sancionado pela segunda autoridade-impetrada, dando lugar à Lei n.o 2.478/03, sem que fosse necessária qualquer emenda de redação ou de correção. uma vez que o seu autógrafo não se ressentia de qualquer providência reparadora. Se o Presidente do Legislativo ltajubense entendeu por bem anular a votação do Projeto de Lei n. 3.120, ocorrida em 05/03/2003 porque ela fora simbólica e não nominal, não pode. por igual o Juiz ignorar essa mesma eiva na votação dos requerimentos do Vereador Geraldo José Canha que incluíram o projeto na pauta do dia 09/1º/2003, em regime de urgência.Pois bem! Em face disso, é obvio que surge cristalino direito líquido e certo dos Impetrantes no sentido da regularidade e da legalidade na tramitação de projetos perante a Augusta Câmara Municipal de ltajubá, onde ocupam o cargo de Vereador, razão pela qual, repita-se, autoriza-se a concessão da segurança para anular a aprovação.”[...]“Do exposto, e do mais que dos autos consta, rejeitada a preliminar, julgo PROCEDENTE o pedido mandamental paraAnular definitivamente a tramitação do Projeto de Lei 3.120/03 e a sanção da lei nº 2.478/2003, por ofensa ao processo legislativo correspondente, na Câmara Municipal de Itajubá, principalmente ao seu Regimento Interno, e, por via de consequência, EXTINTO o processo. nos, termos do art. 269, 1,do c.P.c., confirmada a liminar. Sem custas, por isentos. Sem honorários (Súmula 105, do S.1.1. ).Oficie-se para conhecimento e cumprimento. Oportunamente, com ou sem recursovoluntário, remetam-se os autos ao Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA, para reexame necessário. P. R. I. C..”.

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3.4 – A Ação Direta de Inconstitucionalidade

Muito bem! Anulada a votação desta maneira, apenas por causa do processo de

votação simbólico ao invés de nominal, bastou a próxima sessão ordinária para que

novo requerimento de urgência fosse aprovado e nova votação do Projeto de Lei

3.120/2003, o aprovasse e transformasse agora em Lei Municipal nº 2.486/2003.

Desta vez, os vereadores oposicioniostas, já sabedouros do entendimento do

Magistrado local, que o processo estava regular, manifestado na sentença anterior,

uniram os partidos de oposição e, em nome destes, ajuizaram Ação Direta de

Inconstitucionalidade6 junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais - TJMG, na forma

abaixo:

“EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), diretório municipal de Itajubá, situado na Rua Tupi, 07, Bairro São Sebastião, Itajubá-MG, inscrito no CNPJ sob o nº 19017672/0001-38, representado por sua presidente em exercício Sra. Walkíria Donizete Lino, brasileira, solteira, metalúrgica, inscrita no CPF sob o nº 471.535.716-04, residente e domiciliada na Rua Tupi, 07, Bairro São Sebastião, Itajubá-MG; PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), diretório municipal de Itajubá-MG, situado na Rua São José do Alegre, 90, Bairro Boa Vista, Itajubá-MG, inscrito no CNPJ sob o nº 02271928/0001-36, representado por seu presidente Sr. Élcio Ferreira da Silva, brasileiro, casado, comerciante, inscrito no CPF sob o nº 471.535.716-04, residente e domiciliado na Rua São José do Alegre, 90, Bairro Boa Vista, Itajubá-MG; PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), diretório municipal de Itajubá-MG, situado na Rua Francisco Masseli, 1050, Itajubá-MG, inscrito no CNPJ sob o nº 19072990/0001-00, representado por seu presidente Sr. Benedito Pereira dos Santos, brasileiro, casado, empresário comercial, inscrito no CPF sob o nº 044.304.176-87, residente e domiciliado na Av. BPS, 1077, Bairro BPS, Itajubá-MG; PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB), diretório municipal de Itajubá-MG, situado na Rua Major Belo Lisboa, 22, sala 51, Itajubá-MG, representado por seu presidente Sr. Rodrigo Imar Martinez Riêra, brasileiro, solteiro, comerciante, inscrito no CPF sob o nº 906.814.606-81, residente e domiciliado na Av. BPS, 493, Bairro BPS, Itajubá-MG, vêm respeitosamente perante Vossa Excelência, pelo advogado abaixo assinado Almir Fernandes, com escritório na Rua Comendador João Carneiro, 02, Cristina – MG, ajuizar

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR

em face da lei municipal nº 2.486/2003, aprovada de forma irregular pela Câmara Municipal de Itajubá, desrespeitando assim, o art. 13 e art. 13, § 1º, da Constituição do Estado de Minas Gerais, pelos motivos que passa a expor:

CONSIDERAÇÕES INICIAIS No dia 25 de novembro deste ano de 2003, foi aprovado pela Câmara

Municipal de Itajubá, o substitutivo ao projeto de lei 3.120/2003, que originou a lei municipal 2.486/2003, que autoriza o Município de Itajubá a contrair empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais - BNDS. Tal projeto,

6 Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.0000.03.404.637-5/000, Relator: Des. José Antônio Baia Borges.

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conforme será melhor demonstrado abaixo, foi aprovado em processo legislativo totalmente viciado, não sendo respeitados os prazos previstos no Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, bem como não sendo respeitada a convocação para a Reunião Extraordinária, inclusive com mudança na pauta da mesma, impossibilitando assim, a perfeita discussão do projeto pelos vereadores do município de Itajubá, sendo desrespeitado o princípio da legalidade insculpido no art. 13, da Constituição Estadual.

A inconstitucionalidade ora alegada, é a inconstitucionalidade formal. Não macula a lei fustigada por seu conteúdo, mas pelas irregularidades do seu processo de formação, isto, porque confronta com o princípio constitucional da legalidade. Acerca de tal espécie de inconstitucionalidade, releva trazer à colação o ensinamento do Prof. José Joaquim Gomes Canotilho, assim posto:

"A desconformidade dos atos normativos com o parâmetro constitucional dá origem ao vício de inconstitucionalidade. Esse vício será formal quando incidir sobre o ato normativo enquanto tal, independentemente do seu conteúdo e tendo em conta apenas a forma de sua exteriorização. Na hipótese de inconstitucionalidade formal, viciado é o ato, nos seus pressupostos, no seu procedimento de formação, na sua forma final. Os vícios formais são, conseqüentemente, vícios do ato, enquanto os vícios materiais são vícios das disposições, constantes do ato. Daqui se conclui que, havendo um vício formal, em regra fica afetado o texto em sua integralidade, pois o ato é considerado formalmente como uma unidade" (in Direito Constitucional, 5ª edição - Coimbra: Almedina, 1992, p. 1024).

Neste mesmo diapasão já decidiu o Colendo TJRJ, julgando improcedente ação mandamental, indicando que após a aprovação e sanção da lei, aprovada de forma irregular, somente por ação direta de inconstitucionalidade a lei pode ser questionada. Transcrevemos abaixo decisão que pedimos vênia para grifar:

LEGITIMIDADE PARA RECORRER – INTERESSE DA MUNICIPALIDADE – PROCESSO LEGISLATIVO – IRREGULARIDADE – DESCABIMENTO – ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI MUNICIPAL – RECURSO PROVIDO – I – Mandado de segurança. Legitimidade recursal da pessoa jurídica de direito público. Legitimado passivo na ação mandamental é a pessoa jurídica de direito público a cujos quadros pertence a autoridade coatora, sendo esta representante judicial daquela para fins de defender o ato impugnado. Destarte, é também parte legítima para recorrer contra a concessão do writ. II – Processo legislativo. Irregularidades na Convocação Extraordinária de Vereadores. Nulidade argüida só depois de aprovada e sancionada a lei. Impossibilidade na via mandamental. As irregularidades ocorridas no processo legislativo devem ser argüidas antes ou durante as sessões de votação, com vistas a impedir que se realizem ou a sanar os vícios. Depois de aprovada e sancionada a lei, qualquer alegação de vício formal ou substancial, visando nulificar a lei, direta ou indiretamente, só pode ser argüida pela via da inconstitucionalidade direta. Ocorre aqui algo semelhante aquilo que tem lugar com os vícios do processo: após o trânsito em julgado da sentença eles se tornam relativos, só podendo ser argüidos no juízo rescisório. Provimento do recurso. (TJRJ – AC 7022/95 – (Reg. 080496) – Cód. 95.001.07022 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Sérgio Cavalieri Filho – J. 12.12.1995).

Assim sendo, com a devida vênia, é cabível a presente ação para questionar a validade do texto integral da lei municipal 2.486/2003, do Município de Itajubá, uma vez que, conforme será demonstrado, tal lei foi aprovada de forma irregular, contrariando o princípio da legalidade, previsto na Constituição de Minas Gerais.

DA COMPETÊNCIAA competência para ação direta de inconstitucionalidade de lei

municipal face a Constituição do Estado membro é do Tribunal de Justiça local, conforme previsto no art. 125, § 2º da Constituição Federal, abaixo:

“Cabe aos estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão”.

Por outro lado, o art. 106, I, “h”, Da Constituição Estadual prevê:

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“Compete ao Tribunal de Justiça, além das atribuições previstas nesta Constituição:

I – processar e julgar originariamente, ressalvada a competência das justiças especializadas:[...]h – ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estaduais em face desta Constituição, ou municipais, em face desta e da Constituição da República”.

No presente caso, o procedimento irregular e ilegal adotado para a aprovação da lei ora fustigada, feriu o princípio da legalidade insculpido tanto na Constituição do Estado, como na Constituição Federal. Mesmo assim, já decidiu o Colendo Supremo Tribunal Federal pela competência do Tribunal de Justiça, como demonstramos abaixo:EMENTA- Reclamação. Ação direta de inconstitucionalidade proposta perante Tribunal estadual, com base em afronta a dispositivo constitucional estadual e a dispositivo constitucional federal. Reclamação julgada procedente, em parte, para trancar a ação direta de inconstitucionalidade quanto à "causa petendi" relativa à afronta à Constituição Federal, devendo, pois, o Tribunal reclamado julgá-la apenas no tocante à "causa petendi" referente à alegada violação à Constituição Estadual, "causa petendi" esta para a qual é ele competente (artigo 125, par. 2o, da Constituição Federal). (RCL-374/SC, Ministro Moreira Alves, julgamento 09.03.94, Pleno, DJ 17.06.94, pp. 15707, ement. Vol.. 01749-01, pp. 00082).EMENTA- Reclamação. Inexistência de atentado à autoridade do julgado desta Corte na ADIN 347, porquanto, no caso, a ação direta de inconstitucionalidade foi proposta com a argüição de ofensa à Constituição Estadual, e não à Federal, e julgada procedente por ofensa ao art. 180, VII, da Carta Magna do Estado de São Paulo. Não ocorrência de usurpação da competência desta Corte por ter o Tribunal de Justiça rejeitado a alegação incidente de que o citado artigo da Constituição do Estado de São Paulo seria inconstitucional em face da Carta Magna Federal. Controle difuso de constitucionalidade em ação direta de inconstitucionalidade. Competência do Tribunal de Justiça. Reclamação improcedente. (RCL-526/SP, Relator Min. Moreira Alves, Pleno, j. 11.11.96, unânime).

Inquestionável, portanto, a competência desse Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais para apreciar a inconstitucionalidade formal de lei municipal de Itajubá-MG, face a Constituição Estadual.

DA LEGITIMIDADE DAS PARTESPrevê o art. 118 da Constituição Estadual:

“São partes legítimas para propor ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal, em face desta Constituição:

[...]VI – partido político legalmente instituído”.

Por outro lado, ficou pacificado nesse e. TJMG, a legitimação ativa de diretórios municipais de partidos políticos com representação no Congresso Nacional para questionar a constitucionalidade de lei ou ato normativo municipal face a Constituição do Estado, como demonstramos abaixo: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – EMENDA N.º 02/94 À LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA, LIMITADORA DO MANDATO DA MESA DIRETORA DA CÂMARA A 01 (UM) ANO, SEM DIREITO À RECONDUÇÃO – INFRINGÊNCIA DOS ARTIGOS 53, § 3º, II, E 172 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE MINAS GERAIS – INCONSTITUCIONALIDADE – Legitimidade de Diretório Municipal de Partido Político, organizado nacionalmente, para propor Ação Direta de inconstitucionalidade de lei municipal em face da Constituição Estadual. (TJMG – AIn 110.135/1 – C.Sup. – Rel. Des. Rubens Xavier Ferreira – J. 25.11.1998). (grifei).EMENTA: TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA. FALTA DE ESPECIFICIDADE E DIVISIBILIDADE. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEGISLAÇÃO MUNICIPAL INSTITUIDORA DA TAXA REFERIDA, FRENTE AO DISPOSTO NO ART. 144, II, DA CONSTITUIÇÃO MINEIRA. ADIN. PROCEDÊNCIA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 000.257.977-9/00 - COMARCA DE BARBACENA - REQUERENTE(S): PSD - PARTIDO SOCIAL

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DEMOCRÁTICO DO MUN DE BARBACENA - REQUERIDO(S): MUNICÍPIO DE BARBACENA E OUTRA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ISALINO LISBÔA ACÓRDÃO Vistos etc., acorda a CORTE SUPERIOR do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM REJEITAR AS PRELIMINARES, À UNANIMIDADE, E ACOLHER A REPRESENTAÇÃO, VENCIDOS OS DES. ZULMAN GALDINO, LUIZ CARLOS BIASUTTI, LÚCIO URBANO, CORRÊA DE MARINS E HUGO BENGTSSON. Belo Horizonte, 27 de novembro de 2002.ISALINO LISBÔA Data do acordão: 27/11/2002 Data da publicação: 19/02/2003. (grifei).

Por outro lado, a legitimidade passiva para a presente demanda, seguindo lição do constitucionalista Alexandre Morais, Constituição do Brasil Interpretada:

“A legitimidade processual passiva é atribuída, formalmente, ao órgão que editou ou aprovou a norma impugnada”.

Neste caso, a lei foi aprovada de forma irregular pela Câmara Municipal de Itajubá e sancionada e publicada pelo Prefeito Municipal, também de forma irregular, razão pela qual, estamos requerendo a citação tanto do Prefeito Municipal quanto do Presidente da Câmara de Vereadores para prestarem as informações que entenderem cabíveis e impugnarem a presente ação.DOS VÍCIOS DO PROCESSO LEGISLATIVO

Conforme passaremos a demonstrar, há nulidades fundamentais maculando a aprovação do substitutivo ao projeto de lei 3.120/2003, causando prejuízo aos vereadores que eram contrários à aprovação do projeto, e, em conseqüência à sociedade que tem direito ao respeito do princípio da legalidade, razão pela qual os diretórios municipais dos partidos políticos, ora autores, resolveram ajuizar a presente ação de inconstitucionalidade.

A realidade é que este projeto já havia sido rejeitado na sessão legislativa de 2003, tendo sido por um vício formal, anulada tal votação, e recolocada de surpresa na reunião ordinária do dia 20 de novembro de 2003, achando-se assim, uma maneira de burlar o art. 67 da Constituição Federal, bem como o art. 118 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, que prevêem a impossibilidade de reapresentação de projetos rejeitados na mesma sessão legislativa, salvo por maioria dos membros da casa legislativa, o que estava impossibilitado neste caso, eis que trata-se de projeto de iniciativa do Sr. Prefeito Municipal.

A realidade é que o ver. João Dimas Ribeiro mudou de idéia e resolveu votar favorável à aprovação do substitutivo ao projeto 3.120, requerendo também a anulação do mesmo pelo próprio Presidente da Câmara de Itajubá, o que foi deferido, e, após isto, o ver. João Aparecido, lider do Sr. Prefeito Municipal, requereu a inclusão do projeto, de surpresa, na ordem do dia da 32ª Reunião Ordinária, sendo impossibilitada a discussão do referido projeto, sob o argumento de que já havia sido discutido, num ato anti democrático de imoralidade e ilegalidade.

Afim de demostrar estes fatos, transcrevemos trechos da ata daquela reunião (documento anexo):“O Senhor Presidente informa que o referido projeto, por já ter sido discutido em primeiro turno anteriormente, será votado, não cabendo discussão novamente da mesma matéria. Ver. Ulysses esclarece que, se a votação foi nula, começa tudo novamente. O Senhor Presidente reafirma que não há necessidade de discussão” .... “Ver. Ulysses solicita que conste em ata a sua discordância quanto à forma de tramitação do referido projeto, pois alega que, tornando-se nulo o processo, teria que ser discutido em primeiro turno. Ver. josé Humberto solicita que conste em ata que o substitutivo ao projeto de lei 3.120 já foi discutido quando o mesmo recebeu nove votos favoráveis e cinco contrários, sendo este o motivo pelo qual o Sr. Presidente não colocou em discussão.

Além do mais, de acordo com o art. 87 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, abaixo;“As sessões ordinárias terão duração de quatro horas, iniciando-se às vinte horas e constarão de:I – Pequeno expediente, com duração de duas horas, destinado a:

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d) leitura, discussão e votação da ata da reunião anterior;e) leitura de correspondências e comunicações já visadas pelo presidente;f) apresentação, sem ou com discussão, de proposições.II – Ordem do dia a iniciar-se depois de esgotada a matéria destinada ao pequeno expediente, ou findo o prazo de sua duração, destinado a:c) leitura de pareceres;d) discussão e votação dos projetos e emendas;

III – Grande expediente , a iniciar-se logo após o término da ordem do dia, destinado a fala dos oradores inscritos”.

Ora, Nobres Julgadores, conforme se observa pela ata da 32º Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Itajubá, bem como pela ordem do dia inicial, a fase de apresentação de requerimentos já estava preclusa quando foi solicitada de forma verbal pelo lider do Sr. Prefeito, a inclusão de tal projeto de lei na ordem do dia. Não poderia, portanto, o Sr. Presidente receber uma proposição (requerimento para colocar em votação o substitutivo ao projeto 3.120), e muito menos acatá-la, tendo-se em vista que foi apresentada quando já havia iniciado a Ordem do Dia, estando preclusa a fase de apresentação de proposição. Com a devida vênia MM. Juiz, só por este fato, todo o processo legislativo já estaria viciado.

Transcrevemos parte da ata da 32ª Reunião Ordinária que demonstra esta irregularidade:

“Receberam pareceres a emenda 003 ao projeto de lei 3.123 e os projetos de lei 3.204, 3.205 e 3.206. Ver. João Aparecido apresenta requerimento verbal solicitando ao Senhor Presidente que submeta ao plenário a aprovação para colocação em primeiro turno de discussão e votação nominal, o substitutivo ao projeto de lei 3.120. O Senhor Presidente informa que, em virtude da nulidade da votação referente a este projeto, submete ao plenário a solicitação do Ver. João Aparecido sobre a colocação do mesmo na ordem do dia “Facilmente se percebe a nulidade ora apontada, uma vez que a fase prevista para apresentação de requerimentos é o pequeno expediente (art. 87 do Regimento Interno). Conforme transcrição acima, outros projetos já haviam recebido pareceres (segunda fase da reunião, ordem do dia) e ainda assim, um requerimento apresentado preclusamente foi acatado e submetido a apreciação pelo Plenário da Casa.

Na ânsia de aprovar rapidamente o substitutivo ao projeto de lei 3.120, foi convocada uma reunião extraordinária (15ª) para o dia 25 de novembro de 2003.

Acontece que nesta reunião extraordinária, foi apresentada em segundo turno de votação, a emenda 009 ao substitutivo ao projeto de lei 3.120, que foi irregularmente colocada na ordem do dia (alterada para este fim), contrariando mais uma vez o regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, art. 88, abaixo:

“A sessão extraordinária, com duração de quatro horas, será destinada exclusivamente à discussão e votação das matérias constantes da Ordem do Dia”.

Para demonstrar mais este atropelamento ao Regimento Interno, transcrevemos trecho da ata da 15ª Reunião Extraordinária:

“Em segundo turno de discussão e votação nominal: Substitutivo ao projeto de lei 3.120. Em discussão, vers. Oscar Navarro, Jorge Renó, Ulysses Gomes e José Luiz, apresentam a emenda 009 ao referido substitutivo – Dá nova redação ao art. 8º, baixada às comissões. O lider do Prefeito, ver. João Aparecido, diz que, em virtude da urgência para a votação do substitutivo, solicita ao Senhor Presidente, através de requerimento verbal, que submeta ao plenário a autorização para que seja dado parecer verbal à referida emenda, bem como sua inclusão na ordem do dia para conseqüente votação” ... “sendo aprovada a autorização para a inclusão da emenda 009 ao substitutivo ao projeto 3.120 na Ordem do Dia” ... “sendo, portanto, rejeitada a emenda 009 ao substitutivo ao prejeto de lei 3.120 por dez votos contrários”.

Assim sendo, fica esclarecida esta ilegalidade na aprovação do substitutivo ao projeto de lei 3.120, que por si só já macula todo o processo legislativo.

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Terminada a 15ª Reunião Extraordinária, ato contínuo, no mesmo dia 25 de novembro da realização da extraordinária, foi oficiado o Sr. Prefeito Municipal (ofício CMI 243/2003, anexo), desatendendo mais uma vez ao disposto no regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, art. 184 e seguintes, que prevêem que o projeto aprovado deverá passar pela comissão de Constituição e Justiça para Redação Final. Especificamente, o art. 186 prevê o prazo de três dias para receber emendas de redação, o que foi desrespeitado uma vez que foi remetido imediatamente ao Sr. Prefeito Municipal.

Com a devida vênia, nobres julgadores, apenas uma das nulidades acima apontadas já teria o condão de anular todo o processo legislativo que aprovou a lei municipal 2.486/2003, sendo certo, que todas as nulidades apontadas o anulariam com mais vigor ainda. É o que será ao final requerido.

DA MEDIDA CAUTELAR No que diz respeito à necessidade de concessão de medida cautelar na

hipótese vertente, releva notar que está plenamente demonstrado o fumus boni iuris no caso presente, sendo mesmo patente a inconstitucionalidade ora em tela, tratando-se de inconstitucionalidade formal. Quanto ao periculum in mora, também se encontra presente, pois a Lei ora impugnada permite ao Poder Executivo que realize operação financeira (empréstimo) junto ao Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais – BDMG, afim de realizar obras de pavimentação de ruas e avenidas. Assim sendo, liberado o empréstimo, o Município ficaria impossibilitado de devolver o dinheiro sem prejuízo à instituição financeira e ao próprio Município.Além do mais, um futuro pronunciamento favorável aos autores, ficaria sem efeito, acaso o Município já houvesse investido o dinheiro conseguido com o empréstimo autorizado pela lei ora fustigada, o que tornaria ineficaz a medida, acaso deferida somente ao final da tramitação da presente ação.

Tudo isso caracteriza situação que tipicamente justifica e exige, data vênia, do alto espírito de justiça dessa Egrégia Corte, e pelo próprio caráter urgente da medida, autoriza a outorga antecipada da tutela jurisdicional, prevista no art. 273 do Código de Processo Civil, abaixo:

“Art. 273- O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; [...]§ 7º - se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado”.

Por estes motivos, está sendo requerida abaixo medida liminar, para sustar os efeitos da lei 2.478/2003 até final pronunciamento deste Egrégio Tribunal.

DAS PROVAS E DO VALOR DA CAUSAPretende-se provar o alegado por todos os meios de provas admitidos

em direito, em especial a juntada de documentos e requisição de informações ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Itajubá e ao Sr. Prefeito Municipal de Itajubá.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).DO PEDIDO

PELO EXPOSTO, os autores requerem a essa Egrégia Corte: a) o conhecimento e processamento da presente Ação Direta de Inconstitucionalidade;b) a urgente concessão da medida cautelar, para que seja imediatamente suspensa a aplicação, pelo Município de Itajubá, do texto integral da lei municipal 2.486/2003 ; c) no mérito, a declaração de inconstitucionalidade, com efeito erga omnes, da lei 2.486/2003, em decorrência da ilegalidade do processo legislativo de sua aprovação, por ferir o princípio da legalidade previsto no art. 13 da Constituição do Estado de Minas Gerais;

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d) a citação do i. Prefeito Municipal de Itajubá, Sr. JOSÉ FRANCISCO MARQUES RIBEIRO, que pode ser encontrado na Prefeitura Municipal, Praça Amélia Braga nº 45, Centro, Itajubá – MG; e do Presidente da CÂMARA MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, Sr. JOÃO VITOR DA COSTA que pode ser encontrado na Praça Amélia Braga nº 45, Centro, Itajubá-MG, para prestarem as informações que julgarem convenientes.”.

Despachando a inicial, o Relator Desembargador José Antônio Baia Borges

deferiu a medida liminar na seguinte forma:

“ADIN nº 1.0000.03.404.637-5/000- ITAJUBÁ, requerente: PT – PARTIDO DOS TRABALHADORES E OUTROSRequerida: Prefeito e Câmara Municipal de ItajubáRelator: Dês. José Antônio Baía BorgesVistos.Entendo de conceder a liminar, “ad referendum” da Corte Superior, por entender que se mostra prudente o devido e acurado exame da lei cuja inconstitucionalidade se invoca. S.m.j., tendo que a suspensão da eficácia da norma legal se recomenda, visando a que evite lesão maior ao interesse da Municipalidade.Assim, em caráter provisório, fica suspensa a eficácia do texto legal aqui acoimado de inconstitucional.Comunique-se, para os devidos fins, aos Suplicante e aos Suplicados, que deverão apresentar suas informações e defesa no prazo de 30 dias.Oportunamente, à Procuradoria de Justiça.Des. José Antônio Baía Borges, relator”.

Prosseguindo o processo e baseando-se no entendimento que lei de efeito

concreto não tem a constitucionalidade controlada por meio de Ações Diretas, O

Ministério Público deu parecer contrário ao provimento da ação, na forma abaixo:

“Ementa - adin – Lei Municipal – Processo LegislativoInconstitucionalidade formal – Regimento Interno – Câmara Municipal – Merece ser julgado improcedente o pedido formulado pelos Requerentes pelo fato que não possuem as formas regimentais força para acoimar lei municipal do vício de inconstitucionalidade, sendo, outrossim, vedado ao Poder Judiciário interferir em questões Interna corporis.Egrégia Corte SuperiorEminente Dês. Relator José Antônio Baía Borges,Trata-se de Ação Direta de inconstitucionalidade com pedido de medida cautelar ajuizada pelo PARTIDO DOS TRABALHADORES E OUTROS em face da lei municipal nº2.486/2003Que autoriza o Município de Itajubá a contrair empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais.Em suma, aduzem as Requerentes que no dia 25 de novembro de 2003 foi aprovado pela Câmara Municipal de Itajubá o substitutivo ao projeto de lei 3.120/2003 que originou a lei municipal 2.486/2003, que referido projeto foi aprovado em projeto legislativo totalmente viciado, não sendo respeitado as prazos previstos no Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, bem como não sendo respeitada a convocação para a Reunião Extraordinária, que o projeto de lei 3.120/2003 já havia sido rejeitado na sessão legislativa de 2003, tendo sido, por um vício formal anulada tal votação; que, no entanto, a votação fora recolocada de surpresa na reunião ordinária do dia 20 de Novembro de 2003, contrariando assim o artigo 67 da CF/88 e art. 118 do regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá; que o projeto foi incluído de surpresa na ordem do dia da 32a

Reunião Ordinária, impossibilitando assim sua discussão sob o argumento que já havia sido discutido; que “a fase de apresentação de requerimentos já estava preclusa quando foi solicitada de forma verbal pelo líder Sr. Prefeito, a inclusão de tal projeto de lei na

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ordem do dia”, que na ânsia de aprovar rapidamente o substitutivo ao projeto de lei 3.120 foi convocada uma reunião extraordinária para o dia 25 de novembro de 2003, na qual foi apresentada em segundo turno de votação a emenda 009; que a emenda 009 foi irregularmente colocada na ordem do dia, contrariando assim o art. 88 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá e que terminada a 15a Reunião Extraordinária, ato contínuo, o Sr. Prefeito Municipal foi oficiado, desatendendo mais uma vez o disposto no artigos 184 e seguintes do regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá que prevêem que o projeto aprovado deverá passar pela comissão de Constituição e justiça para Redação Final.Ao final, ressaltando a presença dos requisitos necessários para a concessão da medida cautelar, pgnou o Requerente pela sua concessão para que fosse imediatamente suspensa a aplicação da lei municipal 2.486/2003, declarando-se, após sua inconstitucionalidade a decorrência da ilegalidade do processo legislativo de sua aprovação.Às fls.151-TJ.V Exa. Concedeu a liminar postulada na inicialAs Informações vieram aos autos às fls.175/181 e 234/240-TJÀs fls.231/232-TJ.V Exa. Houve por bem revogar a medida liminar inicialmente deferida.Em seguida, vieram ao autos a esta Procuradoria de Justiça para fins de emissão de parecer.Esta, a síntese do que reputamos essencial.Como relatado, trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade com pedido de medida cautelar ajuizada pelo PARTIDO DOS TRABALHADORES E OUTROS em face da lei municipal nº 2.486/2003 que autoriza o Município de Itajubá a contrair empréstimo junto ao Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais.In casu, insurgem-se os Requerentes contra a Lei Municipal nº2.486/2003, argumentando que a mesma estaria acoimada do vício de inconstitucionalidade formal pelo fato que no mesmo processo legislativo contidas no regimento interno da Câmara Municipal de Itajubá.Como cediço, no âmbito municipal taxada de inconstitucional necessariamente deverá conter preceitos que se afiguram contrários às normas contidas na Constituição Estadual, cabendo àqueles que requerem a declaração de inconstitucionalidade demonstrar vídeos efetivamente existentes.Ocorre que, na hipótese dos autos, que na realidade alegam os Requerentes é a violação de normas regimentais durante o processo legislativo, não demonstrando, outrossim, em que efetivamente consistiu a suposta ofensa ao texto constitucional.Neste sentido, salvo melhor juízo desta Egrégia Corte, tenho pra mim que não se afigura possível a declaração de inconstitucionalidade de norma municipal por inobservância a norma meramente regimentais durante o processo legislativo.Aliás, a respeito do tema, Oswaldo Luiz Palu, com bastante propriedade assinalada que “A desconfiança dos atos normativos com seu parâmetros pode ocorrer em decorrência de vícios materiais, que incidem sobre o conteúdo normativo do ato. Terá reflexos tal distinção na questão da inconstitucionalidade parcial, sendo que os vícios formais tornam inconstitucional toda a disposição, enquanto quês os vícios matérias podem deixar válidas partes não afetada do texto. A inconstitucionalidade é o vicio, pressuposto da sanção, que será a nulidade. Por vezes não admite o Supremo Tribunal ação direta de inconstitucionalidade em face de inconstitucionalidade formal, se advinda de irregularidade interna, regimental, das câmaras legislativas. Sobremais “o fundamento da inconstitucionalidade formal da lei atacada por não ter sido observada norma do regimento Interno da Assembléia legislativa estadual, segundo a qual seria obrigatório o encaminhamento do projeto de lei à Comissão de Saúde, é assunto interna corporis, não sujeitando à apreciação pelo Poder Judiciário. (Adin. 2.338-BA, rel. Min. Marco Aurélio, red. P/ acórdão Min. Nelson Jobim j. 18.08.1999 Informativo STF 158).Entende-se, por outro lado, que, se o vício do processo legislativo se der cm a inobservância de preceitos constantes da própria constituição, será então o ato final possível de controle jurisdicial. E na Adin 374-0/DF, declarou-se a inconstitucionalidade de norma federal, sem que o projeto houvesse retornado à Câmara dos Deputados para apreciação, indo diretamente à sanção presidencial.” (In Controle de constitucionalidade: conceitos, sistemas. 2a ed. Ver., ampl. E atual. De acordo com as Leis 9.868 e 9.882/99, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001 pág. 217.218). (grifamos)Neste diapasão, vale a transcrição do seguinte julgado:

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TJMG-027996) TRANSPORTE COLETIVO TRATADO COMO “ALTERNATIVO” – VEDAÇÂO POR LEI MUNICIPAL – CONSTITUCIONALIDADE. 1. Não cabe Judiciário declarar inconstitucionalidade de Lei por suposta afronta ao regimento interno de Casa Legislativa, porque o regimento não tem força constitucional, mas natureza de resolução, configurando ato “interna corporis”, insidicável pelos outros Poderes; e aprovação da Lei Municipal 7907/99 pelos vereadores belo-horizontinos convalidou qualquer irregularidade regimental. 2. Em se tratando coletivo de serviço publico de interesse local, cuja competência é atribuída ao Município, que se deve presta-lo diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, não há que se falar que, ao veda-lo por lei a quem não disponha de permissão pra tanto, estaria legislando sobre trânsito, já que, na verdade tais dispositivos se referem a normas para prestação de serviço público, e que apenas reiteram em âmbito municipal aquilo já previsto na carta Magna. 3. Sentença reformada, para denegar a segurança. (Apelação Cível nº 00.236.447-9/00, 2a Câmara Cível do TJMG, Belo Horizonte, Rel. Dês. Nilson Reis. J. 24.07.2002, maioria)Compulsando os autos, pode-se notar que as teses aventadas pelos Requerentes a fim de demonstrar a desconformidade do processo legislativo deflagrado com as normas inseridas no Regimento Interno daquela Casa Legislativa dizem respeito a uma determinada interpretação dada a estas normas.Tal assertiva pode ser comprovada mediante a análise das próprias informações colacionadas aos autos, nas quais são sustentadas teses diversas daquelas que os Requerentes expuseram na peça inicial.Ocorre que, não bastasse o fato de não possuir o Regimento Interno força para acoimar um norma do vício de inconstitucionalidade, o certo é que o Poder Judiciário não compete interpretar as normas regimentais do Poder Legislativo, posto que estas estão relacionadas diretamente a questões interna corporis.Assim, suscitando as Requerentes tão somente a violação de normas regimentais e não propriamente a violação de preceitos inseridos na Constituição Estadual, ao Poder Judiciário não cabe substituir os edis na aplicação e interpretação do regimento interno, normente para fins de declaração de inconstitucionalidade de norma municipal.Neste mesmo sentido, inclusive, já se decidiu:(TJRS-165110) ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL COMPETÊNCIA DO ESTADO E DO MUNICÍPIO PARA LEGISLAR SOBRE SEUS SERVIDORES. IMPROBIDADE ADMINSTRATIVA. INTERPRETAÇÂO CONFORME A CONSTIUIÇÂO. 1. Compete ao Estado-Membro e ao Município legislar sobre o regime jurídico dos meus servidores, não se lhes aplicando, destarte, as normas estatutárias federais. Entretanto, leis nacionais, calçadas em dispositivo constitucional, a exemplo da lei da improbidade administrativa, derivada do art. 37, ss 4º, Se aplicam aos servidores Estaduais e Municípios nos capítulos que não respeitam aquelas normas. O controle da constitucionalidade, do ponto de vista formal, só terá lugar quando o processo legislativo infringiu, diretamente, o texto da Constituição, não sendo o caso de realizá-lo por supostos ofensa a normas regimentais. 2. Agravo de Instrumento desprovido (Agravo de Instrumento nº 70001381839, 4a Câmara Cível do TJRS, Ijuí, Rel. Dês. Araken de Assis. J. 22.11.2000)TJRS-126285) MANDADO DE SEGURANÇA. SESSÃO DA CÂMARA DE VEREADORES. ANÁLISE PELO PODE JUDICIÁRIO. Não se refere a matéria veiculada em lei ou na Constituição, caberá ao Judiciário efetuar o controle, não se configurando, aí, a “questão política”, de apreciação exclusivamente “interna corporis”. De outra banda, quando a matéria for questionada face às normas regimentais, não se tem presente a questão jurídica, sendo defeso ao Juiz substituir o parlamento na aplicação do regimento interno de sua casa legislativa. Recursos desprovidos. Sentença confirmada. (Apelação Cível do TJRS, Osório, Rel. Dês. Amo Werlang.j. 29.03.200)Diante de tais considerações e por tudo mais que dos autos consta somos pela IMPROCEDENCIA do pedido formulado inicialmente pelos Requerentes.Belo Horizonte, 02 de Julho de 2004.ADÉLIA LAGE DE OLIVEIRAProcuradora de Justiça, por delegação de competência do EXECELENTISSIMO SR. PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA”.

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Desta forma, após a revogação da liminar retro-concedida, o Tribunal julgou

improcedente a Ação, na forma abaixo:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LEI - VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVOS REGIMENTAIS DA CÂMARA MUNICIPAL DURANTE A TRAMITAÇÃO DO PROJETO - INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL - NÃO OCORRÊNCIA - REPRESENTAÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. - Não cabe examinar a inconstitucionalidade de lei municipal ao argumento de violação de normas regimentais específicas. - A norma do art. 71 da Constituição Estadual não é de aplicação obrigatória pelos municípios. - A colocação em pauta, na mesma sessão legislativa, de projeto de lei que não chegou a ser rejeitado, mas que apenas teve a sua votação anulada, não fere a norma do art. 71 da Constituição Estadual. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.0000.03.404637-5/000 - COMARCA DE ITAJUBÁ - REQUERENTE(S): PT PARTIDO TRABALHADORES E OUTRO(A)(S) - REQUERIDO(S): PREFEITO MUN ITAJUBÁ E OUTRO(A)(S) - RELATOR: EXMO. SR. DES. JOSÉ ANTONINO BAÍA BORGES ACÓRDÃO Vistos etc., acorda a CORTE SUPERIOR do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DESACOLHER A REPRESENTAÇÃO. Belo Horizonte, 08 de junho de 2005. DES. JOSÉ ANTONINO BAÍA BORGES - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. JOSÉ ANTONINO BAÍA BORGES: VOTO O Partido dos Trabalhadores, o Partido Socialista Brasileiro, o Partido da Frente Liberal e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro propuseram ação direta de inconstitucionalidade, com pedido liminar, visando à declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 2.486/2003, do Município de Itajubá, ao fundamento de que há nulidades fundamentais maculando a aprovação do projeto que a ela deu origem, causando prejuízo aos vereadores que eram contrários à aprovação do projeto e, por conseguinte, à sociedade. Em suma, alega-se na inicial que tal nulidade estaria a consistir no fato de que o projeto que deu origem à lei aqui questionada foi rejeitado em sessão legislativa de 2003, mas tal votação foi anulada e o referido projeto foi recolocado de surpresa na reunião ordinária do dia 20 de novembro de 2003, burlando, assim, a norma do art. 67 da Constituição Federal bem como o art. 118 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, que vedam a reapresentação de projetos rejeitados na mesma sessão legislativa, salvo por maioria de votos dos membros da Casa Legislativa, o que, no caso, seria de todo incabível, uma vez que se trata de projeto de iniciativa do Prefeito Municipal. Alega-se, ainda, inúmeras violações de normas regimentais bem como do princípio da legalidade, previsto no art. 13 da Constituição Estadual. A inicial veio acompanhada de documentos (fls. 15/138). Indeferi a liminar (fl. 151). O MM. Juiz de Direito da Comarca encaminhou sentença proferida em mandado de segurança impetrado contra o Presidente da Câmara Municipal de Itajubá versando, segundo diz, sobre a aprovação da Lei nº 2.478/2003 (fls. 157/165). O Senhor Prefeito Municipal requereu a revogação da liminar (fls. 167/169). O Presidente da Câmara Municipal manifestou-se às fls. 175/229 e o Senhor Prefeito Municipal manifestou-se às fls. 234/396, ambos trazendo documentos aos autos. A liminar foi revogada (fls. 231/232). A d. Procuradoria concluiu pela procedência do pedido (fls. 416/426). De início, registro que a cópia de sentença proferida em mandado de segurança, juntada às fls. 157/165, segundo informa o douto Magistrado que a encaminhou a este Tribunal, diz respeito à aprovação do Projeto de Lei nº 3.120/2003, que deu origem à Lei nº 2.478/2003.

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Não obstante o referido Projeto de Lei ser o que deu origem à Lei de que cuida a presente representação, esta Lei não é a mesma que é referida naquela sentença (Lei nº 2.478/2003), mas a Lei nº 2.486/2003. Ainda que, do exame daquela sentença, se possa inferir que houve erro material quanto ao número da Lei nela indicada - que, na verdade, seria mesmo a Lei objeto da presente ADIn -, tenho que não se deva considerar o fato de ter a respeitável sentença anulado o ato de aprovação que lhe deu origem, mesmo porque não consta dos autos se essa sentença foi confirmada por este Tribunal. Sendo assim, tenho que se deva passar à apreciação do caso de que cuidam os autos. Do exame da inicial, verifica-se que os requerentes afirmam que a tramitação do Projeto de Lei nº 3.120/2003, que deu origem à Lei nº 2.486/2003, teria violado o art. 67 da Constituição Federal bem como o art. 118 do Regimento Interno da Câmara Municipal de Itajubá, além de outras disposições regimentais. Como sabido, o controle de constitucionalidade se faz em confronto com normas constitucionais, e não com dispositivos regimentais, de tal sorte que não cabe examinar, aqui, se houve a violação ou não de normas do Regimento Interno da Câmara de Vereadores quando da tramitação do Projeto de Lei nº 3.120/2003, que deu origem à questionada Lei nº 2.486/2003. Como bem salientou o em. Des. Almeida Melo, quando do julgamento da ADIn nº 1.0000.00.277158-2/000, "o desrespeito a normas regimentais equivale a ilegalidade, e não a inconstitucionalidade que possa ser vista em ação direta" (julgamento em 29/10/2003, publicação em 20/11/2003). E não cabe, aqui, o argumento dos representantes de que, com a não observância do Regimento Interno houve violação do princípio da legalidade, previsto no art. 13 da Constituição Estadual. É que esse princípio é amplo e inespecífico, não se prestando a mera referência a ele, no caso, como fundamento de inconstitucionalidade de lei, uma vez que, de qualquer forma, a ilegalidade continuaria a se assentar na violação de normas específicas do Regimento Interno da Edilidade, de tal sorte que, quando muito, se inconstitucionalidade houvesse, seria de forma reflexa, o que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite no âmbito do controle concentrado. Nesse sentido, o julgamento da já citada ADIn nº 1.0000.00.277158-2/000, relatada pelo em. Des. Pinheiro Lago. De outro lado, é também sabido que o controle de constitucionalidade das leis municipais se faz em confronto com a Constituição Estadual apenas (art. 125, § 2º, da CF). Sendo assim, não cabe examinar a constitucionalidade da Lei nº 2.486/2003 em face do art. 67 da Constituição Federal, invocado na inicial. Todavia, esse artigo 67 é reproduzido no art. 71 da Constituição Mineira. Ora, conforme leciona Alexandre de Moraes, "se a lei ou ato normativo municipal, além de contrariar dispositivos da Constituição Federal, contrariar, da mesma forma, previsões expressas do texto da Constituição Estadual, mesmo que de repetição obrigatória e redação idêntica, teremos a aplicação do citado art. 125, § 2º, da CF, ou seja, competência do Tribunal de Justiça do respectivo Estado- membro" (in "Direito Constitucional", Atlas, 15ª ed., 2004, p. 631). Diante disso, em face do art. 71 da Constituição Mineira, caberia examinar a questionada Lei nº 2.486/2003 no ponto que se refere ao fato de o Projeto de Lei nº 3.120/2003, que a ela deu origem, ter sido rejeitado na sessão legislativa de 2003 e, segundo se alega, recolocado em votação nessa mesma sessão. Todavia, essa norma do art. 71 da Constituição Estadual não é de aplicação obrigatória nos municípios. Com efeito, conforme leciona Hely Lopes Meirelles, "o processo legislativo instituído para a União era extensivo e impositivo, nos seus princípios, aos Estados e Municípios, por expressa determinação da anterior Constituição da República (cf. Arts. 13, III, e 200), o que não subsiste no ordenamento constitucional vigente. Pela Constituição da República de 1988, as unidades federadas - Estados, Municípios e Distrito Federal - reger-se-ão por Constituições e leis que adotarem, devendo observar os princípios da Constituição da República (cf. Arts. 25, 29 e 32). Notadamente em relação ao Município, cabe agora à Câmara de Vereadores, ao elaborar a sua lei orgânica local, definir, dentre as disposições relativas ao processo legislativo federal, as que serão adotadas pelo Município"(in "Direito Municipal Brasileiro", Malheiros, 10ª ed., 1998, p. 501).

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No mesmo sentido é o magistério do eminente Des. Kildare Carvalho ao afirmar, se referindo aos Estados, que "a Constituição de 1988 não reproduziu cláusula anterior, segundo a qual os Estados federados sujeitavam-se à observância de princípios relativos ao processo legislativo (art. 13, III, da Emenda Constitucional n. 1/69)" (in "Direito Constitucional Didático", Editora Del Rey, 8ª ed., 2002, p. 480). É de se notar que a Lei Orgânica do Município de Itajubá, juntada às fls. 66/138 dos autos, não contém dispositivo similar ao do art. 71 da Constituição Estadual. De outro lado, ainda que se entendesse aplicável a norma desse dispositivo constitucional - segundo o qual "a matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto na mesma sessão legislativa por proposta da maioria dos membros da Assembléia Legislativa" - tenho que, no caso dos autos, não restou demonstrado que o projeto de lei em questão tenha de fato sido rejeitado e novamente colocado em pauta na mesma sessão legislativa. O que ocorreu é que a primeira votação do projeto foi anulada (fl. 202). A votação e apenas ela é que padeceu de vício de forma. Os atos anteriores a ela foram válidos. Sendo assim, não se pode falar que houve rejeição do projeto propriamente dita. E se não houve rejeição do projeto, não houve violação do disposto no art. 71 da Constituição Estadual ao se votá-lo novamente na mesma sessão legislativa, após a aprovação da maioria do Plenário da Câmara que assim decidiu, interpretando o Regimento Interno daquela Casa Legislativa. Do exposto, julgo improcedente a representação. Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): JOSÉ FRANCISCO BUENO, CÉLIO CÉSAR PADUANI, HYPARCO IMMESI, KILDARE CARVALHO, DORIVAL GUIMARÃES PEREIRA, JARBAS LADEIRA, FRANCISCO FIGUEIREDO, GUDESTEU BIBER, EDELBERTO SANTIAGO, HUGO BENGTSSON, ORLANDO CARVALHO, CLÁUDIO COSTA, KELSEN CARNEIRO, ISALINO LISBÔA, SÉRGIO RESENDE, PINHEIRO LAGO, SCHALCHER VENTURA, REYNALDO XIMENES CARNEIRO, HERCULANO RODRIGUES, CARREIRA MACHADO, ALMEIDA MELO, BRANDÃO TEIXEIRA e JOSÉ DOMINGUES FERREIRA ESTEVES. SÚMULA : DESACOLHERAM A REPRESENTAÇÃO.”.

Desta forma, mesmo tendo lutado até as últimas conseqüências, os

oposicionistas viram, após a decisão acima, o Município contrair o empréstimo com o

BDMG e fazer as novas obras de infra-estrutura, mas, desta vez, após tanta polêmica,

sem os erros do contrato anterior.

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5 - CONCLUSÃO

Após analisarmos a doutrina jurídica e as decisões, principalmente do Supremo

Tribunal Federal, sobre ação direta de inconstitucionalidade e mandado de segurança

para o controle de constitucionalidade formal e estudarmos as quatro ações em que o

Poder Judiciário interveio em processos de votação de leis e, quando a lei sancionada e

promulgada, suspendeu sua eficácia, concluímos que é possível, e algumas vezes

necessária, a intervenção judicial no curso e após o processo legislativo para corrigir

seus erros e vícios.

Isto não quer dizer que o Poder Judiciário possa adentrar no mérito das questões

discutidas pelo Poder Legislativo. Não pode um juiz substituir o legislador em suas

decisões políticas, pois isso, seria intervenção de um poder no outro, quebrando a

hegemonia constitucional entre os poderes, o que não é admitido pela Constituição.

No entanto, para averiguar a constitucionalidade e legalidade de um

procedimento legislativo, é cabível a intervenção judicial. Negar isso, seria autorizar o

arbítrio da ilegalidade, onde qualquer Presidente de Casa Legislativa, poderia sobrepor-

se, quando a lei não autoriza, sobre os outros parlamentares, e, conseqüentemente, sobre

a representatividade que estes detêm.

Desta forma, como nenhuma lesão a direito pode ser subtraída a apreciação do

Poder Judiciário, os parlamentares têm, portanto, direito a se socorrerem ao Poder

Judiciário para impedir lesões a seus direitos, o que, em última análise, é um direito da

sociedade que os elegeu.

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5 - REFERÊNCIAS

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SILVA, José Afonso da, Processo Constitucional de Formação das Leis, 2ª edição,

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