conhecimento e gestão

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1

Siderly do Carmo Dahle de Almeida

Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano

Fabricio Ricardo Lazilha

Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva

Marcelo Cristian Vieira

(Organizadores)

Conhecimento e Gestão

Volume 1

Maringá – PR

2016

2

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

3

UNICESUMAR – CENTRO UNIVERSITÁRIO CESUMAR

PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO

MODALIDADE EAD

Siderly do Carmo Dahle de Almeida

Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano

Fabricio Ricardo Lazilha

Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva

Marcelo Cristian Vieira

(Organizadores)

Conhecimento e Gestão

Volume 1

Maringá – PR

2016

4

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

EXPEDIENTE

Reitor

Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor

Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Educação a Distância

Willian Victor Kendrick de Matos Silva

Diretora de Pesquisa

Ludhiana Ethel Kendrick de Matos Silva

Diretor de Planejamento de Ensino

Fabrício Ricardo Lazilha

Diretora Operacional de Ensino

Katia Solange Coelho

Head de Projetos Educacionais e Inovação

Camilla Barreto R. Cochia Caetano

Gerente de pós-graduação - EAD

Marcelo Cristian Vieira

Coordenação de pós-graduação - EAD

Siderly do Carmo Dahle de Almeida

Professoras líderes de pós-graduação

Andréia M. Zuliani Santos

Sibele de Oliveira Pirasol

Organizadores

Siderly do Carmo Dahle de Almeida

Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano

Fabricio Ricardo Lazilha

Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva

Marcelo Cristian Vieira

Conselho Editorial

Andréia dos Santos Gallo; Fabricia Souto Cruz;

Milene Harumi Tomoike; Nayara Emi Shimada;

Patricia Parra; Valdelice dos A. Rasimaviko

Rejani; Soraia Alves Feitoza da Silva

Capa

Alvaro Martins Fernandes Junior

Autores

Adriana Q. Palmieri Ferreira e Ana Carolina R.

Prigol; Andréia M. Z. Santos; Josimara Kellen de

Camargo e Emerson Roger Zuliani; Camila

Chirnev Caobianco e Amanda Cordeiro; Camila

Machado Raimundo e Henrique F. Araujo;

Guilherme Cassarotti Ferigato e Jerônimo Antero

Alves; Gustavo Feitoza da Silva e Maria Victoria

Borghetti Barros; Islayla Paloma N. Simas e

Beatriz Ribeiro; Jefferson Alencar da Silva e

Anderson S. Pereira; Liana Gomes Netto e

Josineia R.dos Santos; Marcio Pedro Cabral e

Fernando F.dos Santos; Maria Regina Barion

Colombari e Roberta Cristina Maini; Milene

Harumi Tomoike e Patrícia Paula Ribeiro;

Marivaldo da Silva Oliveira e Cristine Cançado V.

Ribeiro; Nayara Emi Shimada e Lucia Maria F.

Lacerda; Patrícia Parra e Márcia D. Ferreira

Leandro; Paulo Henrique Franzão Silva e Rita T.

Netzel; Thais Liliane dos Santos e Leandro Mitsuo

Azuma; Yony Brugnolo Alves e Francisco

Fernandes Júnior; Soraia Alves Feitoza da Silva e

Priscila Aline de Melo

Comissão Científica

Prof. Dra. Leocilea A. Vieira – UNESPAR - PR

Prof. Dra. Dinamara P. Machado – UNINTER - PR

Prof. Dra. Andrea G. Marques – UNICESUMAR - PR

Prof. Dra. Rejane Sartori – UEM – PR.

Revisão textual

Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

João Vivaldo de Souza – Bibliotecário – CRB-9 – 1807

Biblioteca Central Cesumar

A447c

ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de

Conhecimento e Gestão. ALMEIDA, Siderly do Carmo Dahle de; CAETANO, Camilla Barreto Rodrigues Cochia;

LAZILHA, Fabricio Ricardo; SILVA, Ludhiana Ethel Kendrick Matos; VIEIRA, Marcelo C. (Orgs.) Maringá-Pr.:

CESUMAR, 2016. 204 p.

Contém Ilustrações e figuras

Pós Graduação em Gestão na modalidade EAD

ISBN 978-85-459-0400-7

1. Gestão do Conhecimento. 2. Gestão nas Organizações.

3. Administração. I. Título. CESUMAR.

CDD 22ª. 658

NBR 12899 – AACR/2

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer

forma e ou quaisquer meios ou arquivada em qualquer sistema sem permissão escrita da Unicesumar.

CONHECIMENTO E GESTÃO

5

SUMÁRIO

AUDITORIA E GESTÃO: O USO DA AUDITORIA COMO FERRAMENTA NO

PROCESSO DECISÓRIO NOS ANOS DE 2014 E 2015

Adriana Queiroz Palmieri Ferreira e Ana Carolina Rodrigues Prigol ................... 9

ANALISE DE VIABILIDADE E PLANEJAMENTO PARA IMPLANTAÇÃO NA

PRODUÇÃO DE MORANGOS

Josimara Kellen de Camargo; Emerson R. Zuliani; Andreia M. Zuliani Santos .. 20

ESTUDO DA IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO E DA CRIATIVIDADE NAS

ORGANIZAÇÕES

Camila Chirnev Caobianco e Amanda Cordeiro .............................................. 32

CRM: O CLIENTE EM FOCO

Camila Machado Raimundo e Henrique Figueiredo Araújo ............................... 43

ORÇAMENTO EMPRESARIAL

Guilherme Cassarotti Ferigato e Jerônimo Antero Alves ................................... 53

PRIMEIRA INFÂNCIA NO ESTADO DO PARANÁ E SEUS DESAFIOS

Gustavo Feitoza da Silva e Maria Victoria Borghetti Barros .............................. 64

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO CENTRO DE ESPORTES E LAZER MONTEIRO

LOBATO, NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA, PARANÁ

Islayla Paloma Nunes Simas e Beatriz Ribeiro ................................................. 71

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O GERENCIAMENTO DE TRÂNSITO

NO BRASIL

Jefferson Alencar da Silva e Anderson Souza Pereira ...................................... 81

O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Liana Gomes Netto e Josineia Ribeiro dos Santos .......................................... 87

ANÁLISE DA OFERTA DE IMÓVEIS ADAPTADOS PARA IDOSOS COM

LIMITAÇÕES

Marcio Pedro Cabral e Fernando Ferreira dos Santos ...................................... 96

6

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA IMPLEMENTAÇÃO DE

ÁREAS PROTEGIDAS: EXPERIÊNCIAS DO CORREDOR ECOLÓGICO SOSSEGO-

CARATINGA, EM MINAS GERAIS

Maria Regina Barion Colombari e Roberta Cristina Maini ............................ 102

A IMPORTÂNCIA DO CRÉDITO RURAL PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Marivaldo da Silva Oliveira e Cristine Cançado Vasconcelos Ribeiro ........... 114

RECUPERAÇÃO E PROTEÇÃO DE NASCENTES EM ÁREA URBANA NO

MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA-PR

Milene Harumi Tomoike e Patrícia Paula Ribeiro ....................................... 123

CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

SOBRE SUAS INTERFERÊNCIAS NA MOTIVAÇÃO DO COLABORADOR DO

SERVIÇO PÚBLICO

Nayara Emi Shimada e Lucia Maria Ferreira Lacerda .................................. 132

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO: LIMITES E

POSSIBILIDADES

Patrícia Parra e Márcia Donegá Ferreira Leandro ........................................ 143

LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PÓS-CONSUMO: COMPETITIVIDADE E

SUSTENTABILIDADE

Paulo Henrique Franzão Silva e Rita Torrecilia Netzel .................................. 154

ARBITRAGEM COMO ALTERNATIVA À MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO

Thais Liliane Dos Santos e Leandro Mitsuo Azuma .................................... 166

ESTUDO SOBRE O CONSUMO DA CARNE OVINA NA REGIÃO DE LONDRINA-PR

Yony Brugnolo Alves e Francisco Fernandes Júnior .................................... 175

GESTÃO POR COMPETÊNCIAS: UM ENFOQUE SOBRE A ATITUDE NO

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

Soraia Alves Feitoza da Silva e Priscila Aline de Melo ................................. 186

SOBRE OS ORGANIZADORES ................................................................... 199

SOBRE AS MADRINHAS ........................................................................... 201

CONHECIMENTO E GESTÃO

7

APRESENTAÇÃO

“Conhecimento e Gestão” é uma obra coletiva que apresenta os melhores artigos

produzidos pelos alunos dos cursos de pós-graduação em gestão na modalidade

a distância do Centro Universitário Cesumar – Unicesumar, no primeiro ciclo de

orientações de 2016.

Esta obra representa o trabalho de alunos que buscaram traduzir em poucas

páginas tudo aquilo que aprenderam no decorrer de seus cursos e o esforço de

orientadores que visaram extrair de seus orientandos o seu melhor desempenho.

Representa também a dedicação de uma equipe de “madrinhas” de cursos

(professoras que compõe o conselho editorial desta obra) que foram incansáveis

na busca por garantir a qualidade e o melhor atendimento aos professores e

alunos envolvidos no processo de orientação.

Para que esta obra se efetivasse, importante salientar a contribuição dos Polos

de apoio presencial, assim como a ajuda dos professores formadores;

professores mediadores e tutores dos cursos de pós-graduação em educação na

modalidade a distância da Unicesumar e, ainda, a colaboração de uma comissão

científica que avalizou todo o processo.

Os temas eleitos por seus autores são atuais, de relevância e prioritários no

contexto educacional e perpassam por todos os cursos de educação oferecidos

pela Unicesumar: Administração Pública; Agronegócio; Auditoria e Controladoria;

Empreendimentos e Negócios Imobiliários; Gestão Ambiental e Desenvolvimento

Sustentável, Gestão com Pessoas; Gestão de Projetos; Gestão Comercial;

Gestão Empresarial; Logística e Distribuição; Planejamento e Gestão de Trânsito.

Os alunos autores destes textos pertencem aos polos de Ponta Grossa – PR,

Campo Mourão – PR; União da Vitória – PR; Campo Grande - MS; Contagem -

MG; Ubá – MG; Belo Horizonte – MG; Salvador – BA; Brasília – DF; Patrocínio –

MG; Presidente Prudente – SP; Curitiba – PR; Londrina – PR e Poços de Caldas -

MG.

Boa leitura!

Os organizadores

8

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

9

AUDITORIA E GESTÃO:

O USO DA AUDITORIA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO

DECISÓRIO NOS ANOS DE 2014 E 2015

ADRIANA QUEIROZ PALMIERI FERREIRA1

ANA CAROLINA RODRIGUES PRIGOL2

RESUMO

Através do presente trabalho procurou-se conhecer como a auditoria é vista

pelas empresas em que é realizada, ou seja, se estas a utiliza como ferramenta

gerencial. Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico para se definir,

classificar e apontar as finalidades de uma auditoria, depois fez uma pesquisa de

campo, onde foram aplicados questionários a algumas empresas da cidade de

Ponta Grossa - PR. Por meio desta pesquisa, constatou-se que, na maioria dos

casos, a auditoria ainda é vista como uma tarefa obrigatória e quando não, é

vista apenas como ferramenta de verificação e análise. Acredita-se, com isso,

que cabe aos auditores conscientizarem os gestores de que a auditoria pode

gerar informações úteis, pertinentes e tempestivas no processo decisório das

empresas, o que levaria a mesma ao patamar de ferramenta gerencial.

Palavras-chave: Auditoria. Gestão. Processo decisório.

1 INTRODUÇÃO

A auditoria é uma ferramenta muito utilizada pelas empresas, seja ela

realizada de forma interna ou externa. Acredita-se que muitas empresas, ao

procurarem realizar auditoria, a faz somente para cumprir com as obrigações

impostas com o Fisco, desconhecendo suas outras finalidades.

Muito se fala em auditoria, mas apesar de ser um tema complexo

existem poucos estudos que a tenham como ferramenta no processo de tomada

de decisões.

Desta maneira, buscou-se neste estudo conhecer a auditoria como

ferramenta gerencial e, para tanto, foi definido o seguinte tema: "Auditoria e

1 Bacharel em ciências contábeis pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduada em

consultoria organizacional com ênfase em reestruturação de empresas pela Unifamma. 2 Bacharel em ciências contábeis pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pós-graduanda em

auditoria e controladoria pela Unicesumar

10

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

gestão: O uso da auditoria como ferramenta no processo decisório nos anos de

2014 e 2015.

Neste estudo foi definida a seguinte pergunta de pesquisa: Quais as

principais causas de procura de auditoria pelas empresas nos anos de 2014 e

2015, e quais utilizam seus resultados para o processo decisório?

Para atender ao problema de pesquisa foi definido o seguinte objetivo

geral: identificar as principais causas que levam as empresas a realizarem

auditoria, e destas, quais utilizam seus resultados para tomar decisões, durante o

período de 2014 e 2015.

Em consequência ao objetivo geral foram definidos os seguintes

objetivos específicos: (a) efetuar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema para

apurar os principais objetivos de uma auditoria; (b) elaborar e aplicar

questionários para identificar algumas empresas que realizaram auditoria interna

e/ou externa nos anos de 2014 e 2015; e (c) verificar os motivos da realização

de auditoria pelas empresas e como foram utilizados os resultados encontrados.

A realização do presente trabalho se deve a grande relevância científica

que o mesmo possui, pois a auditoria é uma ferramenta extremamente

importante para as organizações, mas acredita-se que poucos a utilizem como

ferramenta gerencial.

Pretende-se, com este trabalho, conhecer na prática como a auditoria é

vista pelas empresas e como seus resultados são utilizados.

2 AUDITORIA

A auditoria é uma ferramenta de extrema importância para as

organizações. Pode-se defini-la sucintamente como "o processo de confrontação

entre uma situação encontrada e um determinado critério, ou, em outras

palavras, é a comparação entre o fato efetivamente ocorrido e o que deveria

ocorrer" (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 1). De forma mais abrangente,

o Report of Commitee on Basic Auditing Concepts of the American Accouting

Association, apud Boynton, Johnson e Kell (2002, p. 31) define auditoria como:

[...] um processo sistemático de obtenção e avaliação objetivas de

evidências sobre afirmações a respeito de ações e eventos

econômicos, para aquilatação do grau de correspondência entre as

afirmações e critérios estabelecidos, e de comunicação dos

resultados a usuários interessados.

CONHECIMENTO E GESTÃO

11

Embora descritos de forma diferente, ambas as definições tratam da

Auditoria como uma ferramenta de verificação e análise de documentos, com

vistas a detectar possíveis erros e/ou fraudes no objeto de estudo.

Ainda neste contexto, pode-se dizer que a auditoria verifica se as

normas, orçamentos, regras e objetivos estão compatíveis com as atividades

desempenhadas por determinada organização (Organização Internacional de

Entidades Fiscalizadoras Superiores, apud ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008).

São diversas as áreas em que pode ocorrer auditoria, principalmente no

âmbito contábil. A esse respeito, Boynton, Johnson e Kell (2002, p. 31) afirmam

que auditoria contábil "[...] envolve obtenção e avaliação de evidências a respeito

das demonstrações contábeis de uma entidade, para emissão de parecer se sua

apresentação está adequada, de acordo com Princípios Contábeis geralmente

Aceitos". Entende-se por Princípios Contábeis Geralmente Aceitos, os princípios

aprovados pelo Conselho Federal de Contabilidade, entre os quais: Princípio da

Entidade; da Continuidade; da Oportunidade; do Registro pelo Valor Original; da

Atualização Monetária; da Competência e da Prudência (ARAÚJO; ARRUDA;

BARRETO, 2008). A auditoria contábil é a "técnica que visa, após aplicação de

procedimentos específicos, com base em normas profissionais e de forma

independente, à emissão de opinião sobre a adequação das demonstrações

contábeis ou financeiras" (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 4).

Além de atingir seus objetivos de verificação, a auditoria deve também

servir como ferramenta de gestão para as organizações, proporcionando, às

mesmas, relatos sobre as operações da empresa auditada, ou seja, a chamada

auditoria operacional, que nada mais é do que

O exame sistemático e independente, pautado em normas

profissionais, de programas, projetos, atividades ou ações

executadas por uma entidade, objetivando verificar se foram

observados, de forma conjunta ou isolada, os critérios de

economicidade, eficiência, eficácia e efetividade, contribuindo,

assim, para melhorar o desempenho operacional e a accountability

da entidade sob auditoria (ARAÚJO et al, 2008, p. 53).

Ainda neste sentido, pode-se dizer que a auditoria contábil é que

comprovará se as demonstrações patrimoniais e financeiras representam, ou

não, a situação real da empresa e se estão de acordo com os Princípios

Contábeis.

12

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

2.1 CLASSIFICAÇÃO DE AUDITORIA

A auditoria pode ser classificada em dois tipos principais. São eles:

Auditoria Interna e Auditoria Externa. Basicamente, pode-se dizer que a diferença

entre as auditorias internas e externas depende do grau de envolvimento do

auditor com a empresa auditada.

No primeiro caso, trata-se de auditor com vínculo empregatício com a

empresa, ou seja, um funcionário exerce a função de verificação e análise das

contas, que geralmente engloba a empresa como um todo e tem periodicidade

permanente. Araújo, Arruda e Barreto (2008, p. 29) afirmam que auditoria interna

"é realizada por profissionais empregados da própria entidade auditada, portanto

parcialmente independente, que, além das informações contábeis e financeiras,

se preocupa também com os aspectos operacionais".

De acordo com Santos e Bravosi (2013) o auditor interno atua como um

consultor para a empresa que trabalha, sugerindo medidas de desempenho e

aperfeiçoamento das rotinas organizacionais, não devendo ficar somente na

verificação e análise dos documentos.

Ao contrário, a auditoria externa é realizada por profissional externo a

organização auditada. Em regra ocorre por profissionais contratados de

empresas especializadas em auditoria e o trabalho é realizado em determinadas

áreas da empresa e por um tempo pré-determinado.

Assim sendo, a auditoria externa "é a auditoria sobre a área contábil e

outras, realizada por profissionais independentes da entidade auditada"

(ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 31).

Santos e Bravosi (2013) alegam que a auditoria externa, a qual é

realizada por profissionais sem subordinação à empresa auditada, tem por

objetivo principal emitir uma opinião independente sobre a situação patrimonial e

financeira da entidade.

2.2 FINALIDADES DA AUDITORIA

A auditoria, embora vista por muitos como apenas ferramenta de

verificação de erros e/ou fraudes, serve, acima de tudo, para possibilitar aos

gestores informações úteis acerca do desenvolvimento da organização.

Além do aspecto legal, a auditoria pode ser utilizada como ferramenta de

controle dos proprietários, como determinação dos credores para concessão de

CONHECIMENTO E GESTÃO

13

empréstimos, ou como exigências da própria empresa (SANTOS; BRAVOSI,

2013).

Entre as principais finalidades da auditoria interna estão as informações

geradas sobre economicidade, eficácia e eficiência dos procedimentos de gestão

adotados pelos gestores no desenvolvimento das atividades da empresa

(ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008), também possibilita "agregar valor ao

resultado da organização, apresentando subsídios para o aperfeiçoamento dos

processos, da gestão e dos controles internos, por meio da recomendação de

soluções para as não-conformidades apontadas nos relatórios". (Resolução nº.

986/2003 do CFC, apud, ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008, p. 30).

Ainda neste contexto Araújo, Arruda e Barreto (2008, p. 33) concluem

que a auditoria interna "objetiva atender às necessidades e aos interesses da

administração. Logo, a extensão (escopo) dos seus trabalhos será sempre

definida em função dos anseios da alta direção".

Sobre o trabalho do auditor externo, Trevisan Auditores e Consultores

(1996, p. 37) alegam que o mesmo:

[...] acompanha a abertura de capital das empresas, examina a

aplicação de recursos de fundos nacionais e internacionais e dá ao

detentor do capital, por mais distante que ele esteja do seu negócio,

as indicações de como caminham suas aplicações e se os balanços

apresentados estão adequadamente demonstrados.

A auditoria externa tem por finalidade garantir aos seus interessados se

as demonstrações contábeis representam adequadamente a posição patrimonial

e financeira da companhia auditada e, consequentemente, sobre a situação do

seu capital investido (ARAÚJO; ARRUDA; BARRETO, 2008).

A auditoria, seja ela interna ou externa, gera alguns benefícios

econômicos para a entidade auditada. De acordo com Boynton, Johnson e Kell

(2002), estes benefícios são: (a) acesso ao mercado de capitais: qualquer

empresa que deseje negociar seu capital em bolsa de valores deve,

necessariamente, ter suas demonstrações contábeis auditadas; (b) menor custo

de capital: a auditoria pode auxiliar pequenas empresas a passar uma boa

imagem a credores, o que pode levar a menores taxas de juros em empréstimos;

(c) desincentivo a ineficiência e a fraudes: quando os funcionários sabem que

ocorrerá auditoria na empresa em que trabalham, executam com mais zelo a

tarefa do dia a dia, o que acarreta menos erros e fraudes por parte dos mesmos;

e (d) melhores controles e operações mais eficientes: o auditor externo pode dar

14

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

sugestões de melhoria nos controles internos e aumentar a eficiência das

operações na empresa auditada.

Outro benefício causado pela auditoria é a veracidade que o mesmo

impõe as demonstrações contábeis. Sabe-se que em um ambiente de gestão as

informações contábeis tornam-se primordiais no processo de tomada de

decisões, ou seja, são estas informações que irão pautar as escolhas dos

gestores. Sobre isto, Trevisan (1996, p. 65) alega que "os executivos de uma

entidade, tenha ela fins lucrativos ou não, precisam de informações oportunas e

confiáveis para a tomada de decisões rotineiras e estratégicas. A contabilidade

pode atender a essa demanda com qualidade [...]".

A má interpretação das demonstrações contábeis ou das notas

explicativas juntamente com o balanço e, principalmente, não considerar o

parecer de uma auditoria, pode acarretar sérios problemas e prejuízos para os

usuários das informações contábeis, o que se agrava ainda mais em uma

economia em processo de estabilização (TREVISAN, 1996).

Assim, pode-se dizer que a auditoria por si só não garantirá a resolução

ou redução de problemas existentes no meio empresarial, mas será quem

possibilitará informações mais pertinentes para que as decisões sejam tomadas.

Desta maneira, Trevisan, et al (1996, p. 38) alegam que:

Ao auditor cabe analisar criteriosamente suas operações, examinar

as contas de acordo com os padrões estabelecidos pelos órgãos

que regulam a profissão e emitir seu parecer. À administração da

empresa compete adotar as recomendações feitas e fica a cargo

dos acionistas e demais interessados ler esse relatório para decidir

se modificam a empresa ou se mudam de empresa.

A auditoria, desde que realizada de forma idônea e real, trará inúmeros

benefícios para diversos usuários, sejam eles a empresa auditada, acionistas,

governo, funcionários, sociedade como um todo. Cabe a cada um retirar as

informações que necessita do parecer do auditor e usá-la da melhor maneira.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho classifica-se como pesquisa exploratória, pois é o

tipo de pesquisa em que se busca maior familiaridade com o tema estudado,

com objetivo de torná-lo mais explícito (GIL; 2002).

CONHECIMENTO E GESTÃO

15

A pesquisa de campo ocorreu pela técnica de observação indireta, ou

seja, por meio de aplicação de questionários, composto por seis questões

fechadas, enviados por e-mail a 15 empresários da cidade de Ponta Grossa -

PR, de diversos setores da economia, escolhidos ao acaso dentro do rol de

clientes de um escritório de serviços de auditoria da mesma cidade.

Nestes termos, a pesquisa de campo assumiu a forma de pesquisa

qualitativo-descritiva, pois segundo Gil (2002, p.133) adotou o "processo como

uma sequência de atividades, que envolve a redução dos dados, a categorização

desses dados, sua interpretação e a redação do relatório".

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Nesta etapa serão apresentados os resultados obtidos com esta

pesquisa. Dos questionários enviados às 15 empresas da cidade de Ponta

Grossa - PR, somente 12 retornaram suas respostas. Apesar de ser

selecionada uma pequena população para aplicação dos questionários, buscou-

se incorporar os diferentes setores da economia, conforme pode ser visualizado

no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Ramo de atividade das empresas pesquisadas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Questionou-se também sobre o porte das empresas, ou seja, sobre a

faixa de faturamento bruto anual que estavam enquadradas atualmente. Para

isso, foram delimitadas as seguintes definições, de acordo com o Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 2016):

Microempresa, Pequena Empresa, Média empresa, Média-grande empresa e

Grande empresa. Os resultados são mostrados na Tabela 1.

16

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Tabela 1 - Porte das empresas pesquisas, de acordo com o BNDES.

Denominação Faturamento bruto anual

Quantidade

de

empresas

Microempresa < ou = R$ 2,4 milhões 0

Pequena Empresa > R$ 2,4 milhões e < ou = a

R$ 16 milhões 1

Média Empresa > R$ 16 milhões e < ou = a

R$ 90 milhões 10

Média-Grande

Empresa

> R$ 90 milhões e < ou = a

R$ 300 milhões 1

Grande Empresa > R$ 300 milhões 0

Fonte: Elaborado pela autora, adaptado do BNDES (2016).

De todos os respondentes, 91,67% afirmaram ter realizado algum tipo

de auditoria nos anos de 2014 e 2015, como pode ser visualizado no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Empresas que realizaram auditoria nos anos de 2014 e/ou 2015.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Nesta amostragem pode-se constatar que, das auditorias realizadas,

63,64% foram auditorias externas, 27,27% de auditorias internas e apenas

9,09% das empresas pesquisadas realizaram auditoria interna e externa nos

últimos dois anos (Gráfico 3). O elevado índice de auditorias externas se deve ao

fato de a pesquisa ter sido realizada com alguns dos clientes de um escritório

que presta tão exclusivamente serviços de auditoria externa.

CONHECIMENTO E GESTÃO

17

Gráfico 3 - Tipos de auditorias efetuadas pelas empresas em 2014 e/ou 2015.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

No que tange aos objetivos de procura destas empresas para a

realização das auditorias, aproximadamente 82% dos respondentes afirmaram

que foi apenas para detectar erros e/ou falhas, e um número bem menor (cerca

de 18%) alegou que foi apenas para cumprir com as obrigações Legais (Gráfico

4). Vale ressaltar que nenhum dos pesquisados respondeu ter feito auditoria com

finalidade de conseguir um planejamento estratégico, nem mesmo para obter um

feedback das operações desenvolvidas pelas suas empresas, ou até o para

alguma outra finalidade com intuito gerencial.

Gráfico 4 - Causas de procura de auditoria pelas empresas.

Fonte: Elaborado pela autora

Sobre os resultados das auditorias realizadas, 81,82% das empresas

alegaram que corrigiram erros e/ou falhas apontadas pelos auditores, 9,09%

alegaram que não usaram com nenhuma finalidade os resultados da auditoria, e

também 9,09% afirmaram usar os resultados para outra finalidade, que

justificaram ser para publicação nos meios de comunicação, conforme imposto

pela Lei (Gráfico 5). Conforme assegurado anteriormente, constata-se que

nenhum dos pesquisados utilizou a auditoria com fins gerenciais.

18

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

GRÁFICO 5 - Como as empresas utilizaram os resultados da auditoria

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Constata-se, com estes dados, que nenhuma das empresas

pesquisadas utilizou a auditoria para fins gerenciais, embora esta seja uma

ferramenta de grande respaldo para isso. Utilizaram-na tão somente para

detectar erros e falhas ou para cumprir com as obrigações Legais.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral deste estudo consistiu em identificar as principais

causas que levam as empresas a realizarem auditoria, e destas quais utilizam

seus resultados para tomar decisões, durante o período de 2014 e 2015, sendo

que foram identificadas as principais causas de procura de auditoria pelas

empresas, constatando-se que nenhuma delas utilizou-a com fins gerenciais.

Em cumprimento ao objetivo específico "a", efetuar pesquisa

bibliográfica sobre o tema para apurar os principais objetivos de uma auditoria,

este foi realizado através de apontamento teórico realizado por meio de livros e

sites específicos, identificando as principais finalidades de uma auditoria.

Quanto ao objetivo específico "b", elaborar e aplicar questionários para

identificar algumas empresas que realizaram auditoria interna e/ou externa nos

anos de 2014 e 2015, foram aplicados questionários encaminhados via e-mail a

diversas empresas da cidade, possibilitando também o cumprimento do objetivo

específico "c", que era o de verificar os motivos da realização de auditoria pelas

empresas e como foram utilizados os resultados encontrados.

Por meio da tabulação das respostas dos questionários, pode-se chegar

à resposta do problema de pesquisa, ou seja, identificar quais as principais

causas de procura de auditoria pelas empresas nos anos de 2014 e 2015, e

quais utilizam seus resultados para o processo decisório. Assim, verificou-se

que as principais causas que levaram as empresas a realizar auditoria nos

CONHECIMENTO E GESTÃO

19

últimos dois anos na cidade de Ponta Grossa - PR foram para detectar erros e/ou

fraudes e também para cumprir com as obrigações legais, somente. Acredita-se

que a nulidade das respostas em utilizar a auditoria como ferramenta gerencial

se deve ao fato dos gestores das empresas ainda possuírem um pensamento

retórico e obsoleto a respeito da auditoria, pois ainda a veem como opção para

detectar erros e falhas em eventos já ocorridos. E é justamente neste ponto que

a auditoria torna-se ainda mais eficaz, pois como analisa eventos ocorridos,

pode trazer informações úteis sobre os processos e apontar em que etapas

ocorreram os melhores resultados dando um feedback aos gestores.

Cabe aos auditores orientarem seus clientes a criar uma visão mais

abrangente acerca da realização de uma auditoria, retirando o pensamento de

ferramenta que deve agir após operações, para um pensamento de ferramenta

que pode trazer informações úteis no processo de tomada de decisões.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Inaldo da Paixão Santos; ARRUDA, Daniel Gomes; BARRETTO, Pedro

Humberto Teixeira. Auditoria contábil: enfoque teórico, normativo e prático. São

Paulo: Saraiva, 2008.

BOYNTON, William C.; JOHNSON, Raymond N.; KELL, Walter G.. Auditoria. São

Paulo: Atlas, 2002. Tradução José Evaristo dos Santos.

BRASIL, BNDES. Porte de empresa. 2016. Disponível em:

<http://www.bndes.gov.br/BNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/ApoioFinanceiro

/porte.html>. Acesso em: 10 abr. 2016.

GIL, A. Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

SANTOS, Silvana; BRAVOSI, Jessica. Breves considerações acerca da auditoria

interna e externa. 2013. Disponível em: <http://www.portalcfc.org.br/noticia

.php?new=8435>. Acesso 05 maio 2016.

TREVISAN AUDITORES E CONSULTORES. Auditoria: suas áreas de atuação. São

Paulo: Atlas, 1996.

20

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

ANALISE DE VIABILIDADE E PLANEJAMENTO PARA IMPLANTAÇÃO NA

PRODUÇÃO DE MORANGOS

EMERSON ROGER ZULIANI1

JOSIMARA KELLEN DE CAMARGO2

ANDREIA M. ZULIANI SANTOS3

RESUMO

A aplicação de custos é fornecer ao planejamento e controle da produção os

dados que serão utilizados para o planejamento econômico do processo, como

por exemplo, custos unitários da produção, da compra, e os investimentos em

estoque. Assim, a partir de um levantamento rigoroso dos custos envolvidos na

produção, a empresa será capaz de maximizar lucros e minimizar seus custos. É

fácil compreender a relação existente entre custos e produtividade; ambos

necessitam de medidas reais para que se possa chegar a resultados próximos

dos objetivos esperados. Não há como medir a capacidade produtiva de uma

empresa sem antes conhecer os custos envolvidos no processo. Por isso deve

se preparar administrativamente, compreender todos os custos, conhecer o seu

fluxo de caixa e as suas despesas operacionais, e conhecer todas as variáveis

envolvidas desde a produção até a venda. O planejamento se torna fundamental

em um novo investimento, uma vez que o mesmo mensura a rentabilidade e os

custos que a empresa e o empreendedor irá adquirir ao longo do tempo, fazendo

com que se obtenha os lucros esperados sem uma inesperada surpresa futura.

Palavras-chave: Custo, controle, planejamento.

1 INTRODUÇÃO

Antes de abrir qualquer negócio, o planejamento inicial é fundamental. É

fato que a maioria das empresas que encerram suas atividades de forma

prematura, não fizeram um planejamento adequado. Todo empreendedor, deve

antes de investir em uma nova empresa analisar o mercado, buscar mais

1Graduado em Processamento de Dados, Especialista em Gestão de Projetos, Engenharia de

Software e em Gerenciamento de Projetos.

2 Graduada em Ciências Econômicas.

3Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UNICESUMAR, Especialista em

Administração Industrial pela UEL, Especialista em Docência no Ensino Superior, Ead e Novas

Tecnologias pela UNICESUMAR, Especialista em Administração Industrial pela UEL.

CONHECIMENTO E GESTÃO

21

informações sobre o ramo do negócio pretendido e preparar-se da melhor

maneira possível para enfrentar cenários positivos e negativos.

Antes de iniciar o novo negócio, todos os custos devem ser estimados e

colocados no papel, para que seja possível se realizar uma análise da viabilidade

financeira do novo empreendimento. O objetivo deste trabalho é analisar a

viabilidade para a produção de morangos. Mas para isso é necessário estudar o

investimento proposto e conhecer os métodos de avaliação de investimento

como a TIR e o VPL, assim como o orçamento de capital que é o processo que

envolve a seleção de projetos de investimento e a quantificação dos recursos a

serem empregados e sua eficiência econômica que é a relação entre o valor de

venda de um produto e seu custo de produção. Conhecendo essas variáveis será

possível diminuir os riscos do investimento.

2 ESTUDO DE INVESTIMENTO

No Brasil, a cultura do morango desempenha um importante papel sócio

econômico. Além de estar presente em vários estados, geralmente é

desenvolvida em pequenas propriedades, com a necessidade de grande

quantidade de mão-de-obra em todo o seu ciclo (GOUVEA et al., 2009).

A incorporação de novas tecnologias, visando à elevação da

produtividade e qualidade da fruta, é uma preocupação permanente para os

produtores, independentemente do sistema produtivo adotado. No entanto, além

de se produzir morango com qualidade e em quantidade, é fundamental avaliar a

eficiência econômica e a viabilidade financeira da exploração. No sistema de

cultivo semi-hidropônico, em estufa plástica e com ferti-irrigação, o investimento

inicial tende a ser elevado, as avaliações dessa natureza são extremamente

relevantes.

A obtenção de indicadores econômicos e financeiros, em condições

determinísticas e de incertezas, fornece os elementos que permitem mensurar,

por exemplo, a probabilidade de determinado investimento resultar em retornos

positivos, subsidiando, assim, o processo de tomada de decisão por parte do

agricultor.

A partir dessas inferências e considerando que ainda é escassa a

literatura brasileira a respeito de estudos econômico-financeiros do cultivo de

morango, buscou-se avaliar, sob as referidas condições, os níveis de eficiência

22

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

econômica e de viabilidade financeira da produção da fruta em sistema semi-

hidropônico, para venda in natura.

2.1 ANÁLISE DE INVESTIMENTO

Toda empresa tem necessidade de obter procedimentos para avaliar

seus investimentos, principalmente aqueles de longo prazo. Com o decorrer dos

anos as empresas são obrigadas a tomar decisões de investimentos sejam ela

por causa de reformas, ou porque seus ativos estão desgastados, e o orçamento

de capital avalia e escolhe os investimentos de longo prazo de acordo com os

objetivos da organização (GITMAN, 2000)

Etapas do orçamento de capital:

Gestão de propostas- a propostas são feitas por todos os segmentos da

empresa.

Revisão e análise- nesta etapa é feita uma revisão da proposta e verifica

sua viabilidade.

Tomada de decisão- consiste em dizer se o projeto vai ser feito ou não.

Implantação- em caso de aprovação, o projeto é implantado.

Acompanhamento- processo no qual se compara se o que está

acontecendo foi aquilo proposto.

Existem situações em que o gestor se depara com dois ou mais

projetos, e tem que avaliar e verificar sua viabilidade, em algumas situações

esses projetos possuem o mesmo objetivo, porém de maneiras diferentes, então

em caso de escolha de um projeto o outro não vai ser implantado esses casos

são chamados de projetos mutuamente exclusivos eles competem entre si, e

possuem também os projetos independentes, ou seja, mesmo que um dos

projetos seja implantado o outro não vai ser eliminado necessariamente.

(ARAUJO, 2010). Por isso tente-se a necessidade de conhecer as etapas do

orçamento, e escolher os melhores investimentos de acordo com as prioridades

e capacidade da empresa.

2.2 EFICIÊNCIA ECONÔMICA

Em relação à eficiência econômica de um empreendimento,

inicialmente, deve-se destacar que ela pode ser dividida em dois componentes:

técnico e alocativo. Enquanto a eficiência técnica refere-se à capacidade da

CONHECIMENTO E GESTÃO

23

empresa de obter o máximo de produto, dada a quantidade disponível de fatores,

a eficiência alocativa diz respeito à capacidade de se utilizar os fatores

produtivos na proporção ótima, minimizando os custos de produção (FARRELL,

1957 e SHIROTA, 1995, citados por OHIRA; SHIROTA, 2005).

Operacionalmente, a análise de eficiência econômica pode ser feita a

partir do cálculo das receitas e dos custos de produção. Segundo Debertin

(1986), no curto prazo, existem importantes agrupamentos de custos, entre os

quais se destacam três: variáveis, fixos e totais. No primeiro agrupamento, estão

os custos que variam em função do nível de produção da empresa.

Considerando-se uma propriedade rural como exemplo, itens como mão-de-obra

temporária e gastos associados com sementes, fertilizantes e defensivos fazem

parte desses custos. Nos custos fixos, que são aqueles que independem do nível

de produção, estão incluídas as despesas associadas com mão-de-obra

permanente, seguros, depreciações de bens de capital e pagamento de aluguéis.

Por fim, a soma dos custos fixos e variáveis resulta nos custos totais.

2.3 VIABILIDADE FINANCEIRA

Estudos de viabilidade financeira, que envolvem horizontes de

planejamento de longo prazo, estão relacionados a avaliações da viabilidade de

se realizar determinados investimentos. Para isso, partindo-se de fluxos físicos

(insumos e produtos) e preços de mercado, são calculadas as entradas e saídas

de caixa. As entradas correspondem às receitas, que se dividem em diretas

(vendas de produtos) e indiretas (soma do valor residual dos bens de capital). As

saídas são constituídas pelas despesas fixas e variáveis e pelos investimentos de

capital de longo prazo. A partir do cálculo dessas variáveis, são obtidos os fluxos

anuais de caixa, que são a base para o desenvolvimento das referidas avaliações

(LAZZAROTTO et al., 2010).

Com esses fluxos e utilizando-se a noção da taxa mínima de atratividade

(TMA), que representa o retorno mínimo que a empresa deve obter em

determinado projeto para que seu valor de mercado permaneça inalterado,

podem ser gerados indicadores financeiros importantes, como valor presente

líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR), razão benefício/ custo (B/C) e

período de payback descontado (PPD).

24

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

2.4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTO

Para que seja determinado o investimento que vai ser realizado é

necessária uma demonstração, através de ferramentas financeiras, que

comprovem o que o administrador está dizendo, não basta somente afirmar que

o investimento é viável ou não, tem que mostrar através da matemática. Os

instrumentos que vão ser abordados são o VPL, a TIR e o payback, todos os

instrumentos possuem suas vantagens e suas desvantagens que são

demonstradas, casos em que não podem ser utilizados e casos em que a

utilização de um é mais recomendada do que a do outro. Mas antes de abordá-

los é preciso conhecer, além dos conceitos falados anteriormente, a TMA (taxa

de atratividade mínima).

2.5 VALOR PRESENTE LIQUIDO

Método de análise que consiste em calcular o valor presente de uma

série de pagamentos, iguais ou diferentes, a uma taxa conhecida (VERAS, 1999;

GITMAN, 2004). Três são os resultados possíveis:

a) VPL maior do que zero, que indica que o projeto é financeiramente viável;

b) VPL igual a zero, indicando que é indiferente entre investir no projeto ou na

melhor alternativa considerada, pois os retornos serão iguais;

c) VPL menor do que zero, que significa que o projeto é inviável financeiramente.

2.6 TAXA INTERNA DE RETORNO

Outro critério muito utilizado, se não o mais utilizado para se determinar

a viabilidade econômica de um projeto é a TIR, que possui cálculos mais

sofisticados. A taxa interna de retorno consiste na taxa de desconto que faz com

que o VPL seja zero, essa taxa faz com que as entradas futuras de caixa se

igualem ao desembolso inicial do projeto.

Utilizando a TIR como critério de se determinar a escolha do projeto, vai

ser viável quando a taxa interna do projeto for maior do que TMA (taxa mínima de

atratividade), se a TIR for menor do que a TMA o projeto não é viável, não deve

ser realizado. Isso assegura à empresa que o retorno do investimento tem que

ser igual ou maior do que o retorno mínimo exigido por ela, considerando, por

CONHECIMENTO E GESTÃO

25

exemplo, a uma taxa mínima de atratividade como sendo o custo do capital de

uma determinada empresa.

Na prática, devido ao fato de os resultados econômicos e financeiros da

maioria das empresas tenderem a não ocorrer de forma determinística, a maior

parte das decisões deve ser tomada com considerável grau de incerteza.

Diante disso, para conseguir maior confiabilidade nos resultados, torna-

se fundamental o uso de abordagens que consideram os riscos nas avaliações

de eficiência econômica e de viabilidade financeira.

Entre essas abordagens, destacam-se a análise de sensibilidade e a

simulação. Na análise de sensibilidade, usa-se um número de valores possíveis

para uma dada variável visando avaliar o seu impacto sobre os resultados da

empresa (GITMAN, 2004).

Apesar da grande utilidade, a análise de sensibilidade não incorpora a

probabilidade de ocorrência de um valor dentro de determinados intervalos

possíveis (ODA et al., 2007).

Para a solução desse problema, podem ser utilizados métodos

relacionados com simulação, em que as formas de investigação estão baseadas

na percepção do risco a partir do emprego de distribuições de probabilidades

predeterminadas e números aleatórios, que possibilitam projetar, ao longo do

tempo, o comportamento de certos indicadores (GITMAN, 2004). Com o

emprego da simulação, podem ser obtidos importantes parâmetros, como o

lucro total e o valor presente líquido esperado e os seus respectivos desvios

padrão.

2.7 PAYBACK

É um dos mais utilizados critérios para se avaliar um investimento. O

período de payback é o tempo necessário para se obter o dinheiro investido de

volta, ou seja, o tempo em que o investimento feito inicialmente, vai ser

recuperado. Nas palavras de Antonio Zoratto(1990, p.44): Sendo talvez o método

mais simples de avaliação, o período de “payback" é definido como sendo

aquele número de anos ou meses, dependendo da escala utilizada, necessária

para que o desembolso correspondente ao investimento inicial seja recuperado,

ou ainda, igualado e superado pelas entradas líquidas acumuladas. Quando um

investidor está preocupado em saber quando vai ter o seu capital investido de

volta, o melhor critério é payback, pois apesar de ser um critério muito simples e

26

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

que apresenta alguns pontos “fracos”, acaba atraindo o administrador devido

sua facilidade no cálculo e a segurança que oferece ao informar o período em

que o dinheiro aplicado no investimento vai ser devolvido.

Ao utilizar o payback, para aceitar ou não o projeto observa-se o

seguinte: se o payback do projeto for inferior ao payback máximo aceitável o

projeto é realizado, agora se o projeto apresentar um payback superior ao

máximo aceitável, o projeto não deve ser realizado.

Utilizando corretamente as ferramentas de analise citadas acima é

possível identificar se é vantajoso ou não abrir um novo empreendimento, e qual

o tempo necessário para que esse empreendimento possa gerar receitas

positivas.

3 METODOLOGIA

O presente trabalho constitui um estudo de caso resultante de

experimento de pesquisa com morango em sistema semi-hidropônico. Para a

produção do morango, adotou-se o sistema de irrigação/ferti-irrigação por

gotejamento. A adubação (ferti-irrigação) foi feita a partir de ajustes nas

recomendações de Melo e Bortolozzo (2006), utilizando-se as soluções

nutritivas recomendadas para as fases vegetativa e reprodutiva.

Para esse estudo foram realizados analises de viabilidade econômica e

financeira como a VPL e PAYBACK para verificar a viabilidade para a iniciação do

projeto e a sua rentabilidade.

Esse sistema de produção permite a produzir as frutas com maior

qualidade e menor perda podendo triplicar o aproveitamento do uso da terra, o

sistema protege as plantas do efeito da chuva e promove a circulação de ar,

provocando condições que impedem o estabelecimento de doenças, gerando

receitas maiores em um período de tempo menor.

4 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

O sistema semi-hidropônico é bastante utilizado na Europa, onde é

preferido por possibilitar a melhor utilização do espaço na pequena propriedade.

No Brasil, porém, é necessário definir alguns componentes tecnológicos para

otimizar o retorno ao produtor e à sociedade. Entretanto, já apresenta vantagens

claras frente ao sistema convencional, tais como:

CONHECIMENTO E GESTÃO

27

O produtor não necessita fazer rotação das áreas de produção, prática

necessária para reduzir a podridão de raízes no sistema convencional de

túneis baixos.

O sistema protege as plantas do efeito da chuva e facilita a ventilação,

condições que impedem o estabelecimento de doenças;

O período da colheita pode ser estendido em, pelo menos, dois meses;

O sistema facilita a adoção de princípios de segurança dos alimentos,

possibilitando a maior aceitação dos morangos pelo consumidor.

No entanto, não se pode pensar somente em como estará à fruta depois

de produzida, mas também, na lucratividade em que essa produção trará ao

produtor futuramente. E, para que se possa analisar os lucros, despesas e

retorno deste investimento será preciso que se faça uma analise do projeto para

que assim o produtor obtenha uma visão a longo prazo de seu empreendimento.

A adoção de um sistema de produção de morangos semi-hidropônico

requer a realização de investimentos de capital em produtos duráveis. Na tabela

1, são listados os produtos necessários para o sistema estudado, agregados em

quatro itens de investimento. Nota-se que, para produzir morangos em uma

estufa de 384 m², o montante de capital investido foi de R$ 18.622,50. As

inversões de capital mais expressivas foram associadas a instalação do sistema

de ferti-irrigação e a estufa que representam 32,6% e 30,4% do total. A

construção de uma adição para uso geral, e a compra de maquinas e

equipamentos corresponderam a 18,8% e 18,1%.

Tabela 1. Investimentos de capital produtivo para se produzir morango semi-

hidropônico.

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

A tabela 2, são apresentados os fluxos de caixa anuais da produção do

morango semi-hidroponico em uma estufa de 384m². Estes fluxos, são a base

para as analises de viabilidade financeira, são importantes para o produtor avaliar

o volume dos recursos financeiros próprios ou de terceiros que deve dispor em

28

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

determinados anos de maneira a não comprometer o funcionamento do

empreendimento.

Tabela 2. Fluxos de caixa para a produção de morango semi-hidropônico (estufa

de 384m².

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

Analisando as receitas e despesas operacionais é possível observar que

a partir do segundo ano, já se recupera o valor inicial investido pela relação

benefício/custo e que as operações manuais tem pouca variância no decorrer

dos anos. As implicações desta tabela mostram que, ao serem descartadas as

depreciações em todos os anos da produção, os fluxos de caixa esperados se

tornam positivos.

Na tabela 3 pode-se observar que o sistema apresenta bons resultados

em relação ao seus níveis de eficiência econômica e de viabilidade financeira.

Isso porque enquanto no curto prazo a lucro total produtivo foi de 12,6%, no

longo prazo, a taxa interna de retorno foi de 20,3%, o que é muito acima da taxa

mínima de atratividade, definida como 6,0% a.a.

CONHECIMENTO E GESTÃO

29

Tabela 3-Indicadores de eficiência econômica e viabilidade financeira sob

condições determinísticas.

Fonte: estudo de produção de morangos 2014.

Sobre as análises de curto prazo, é necessário observar o lucro médio

devido aos fatores de produção no primeiro ano é negativo, por isso um ciclo

produtivo de dois anos é fundamental, pois, gera condições mais favoráveis para

otimizar o seu uso. Já a margem de contribuição média é positiva na análise de

curto prazo o que é importantíssimo já que esta variável é utilizada para verificar

e garantir o pagamento das obrigações efetivas de curto prazo.

Já em relação aos indicadores financeiros em relação ao longo prazo. O

resultado do VPL indica que o investimento financeiramente é viável.

Adicionalmente, demonstra também que, após o planejamento de dez anos,

mantiveram-se constantes os preços e as produções esperadas, o montante

total de recursos financeiros aplicados no sistema produtivo em avaliação, além

de propiciar retornos que superam o custo de oportunidade do capital,

representado pela taxa mínima de atratividade de 6,0% a.a., seria ampliado em

30

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

R$18.412,3, ou seja, o investimento feito na produção de morangos superaria as

expectativas de seus produtores e, teria um retorno esperado previsto.

Assim, quanto ao indicador de benefício/custo, ele evidencia que, para

cada unidade de custo, é obtida 1,13 unidade de benefício. Por sua vez, o

indicador de período de payback descontado mostra que, em termos

determinísticos, o tempo necessário para recuperar o capital inicial investido na

atividade agrícola em questão é de 5 anos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cultivo de morango assim como qualquer outro empreendimento deve

ser estudado e avaliado, buscando sempre compreender quais os custos e quais

serão as dificuldades que irão ser encontradas, além disso, é imprescindível

conhecer os custos iniciais e os custos de manutenção do empreendimento e ter

um controle sobre o fluxo de caixa além de conhecer as perspectivas de

mercado.

Para ter o controle administrativo da empresa, o empreendedor neste o

caso o produtor deve estar ciente de quanto vai investir inicialmente e em quanto

tempo vai recuperar este investimento, por isso ferramentas como VPL, TIR,

PAYBACK se tornam fundamentais para o início do projeto. Essas ferramentas

auxiliam na busca por um projeto mais rentável ao produtor, e ao mesmo tempo

um investimento solido. Pode-se notar que, ao decorrer deste trabalho, analisou-

se as questões financeiras quanto naturais do investimento em questão.

Observa-se que, o retorno deste investimento foi previsto em 60 meses,

o que não faz com que as expectativas possam ser superadas ao decorrer deste

tempo, levando em consideração o alto nível de alimentos e frutos que estão

sendo introduzidos no mercado atualmente.

De forma geral, pode-se concluir que o sistema de produção de

morango semi-hidropônico avaliado neste trabalho apresentou níveis de

eficiência econômica e de viabilidade financeira aceitáveis, o que significa que a

sua produção é viável.

CONHECIMENTO E GESTÃO

31

REFERENCIAS

GOUVEA, A.; KUHN, O. J.; MAZARO, S. M; MIO, L. L. M.; DESCHAMPS, C.;

BIASI, L. A.; FONSECA, V. C. Controle de doenças foliares e de flores e qualidade

pós-colheita do morangueiro tratado com Saccharomyces cerevisiae.

Horticultura Brasileira, Brasília, v. 27, n. 4, p. 527-533, 2009.

LAZZAROTTO, J.J.; SANTOS, M.L. dos; LIMA, J.E. de. Viabilidade financeira e

riscos associados à integração lavoura-pecuária no Estado do Paraná.

Organizações Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 12, n. 1, p.113-130. Jan./Abr.

2010.

ODA, A.L.; GRAÇA, C.T.; LEME, M.F.P. Análise de riscos de projetos

agropecuários: um exemplo de como fundamentar a escolha entre projetos

alternativos e excludentes. Disponível em:

http://www.fearp.usp.br/egna/resumos/Oda&Graca.pdf. Acesso em: 13 de maio

de 2016

OHIRA, T.H.; SHIROTA, R. Eficiência econômica: uma aplicação do modelo de

fronteira estocástica em empresas de saneamento. In: ENCONTRO NACIONAL

DE ECONOMIA,33., 2005, Natal. Anais..., Natal: ANPEC, 2005. Disponível

em:http://www.anpec.org.br/encontro2005/artigos/A05A142.pdf. Acesso em: 28

de agosto de 2016.

VERAS, L.L. Matemática financeira. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. 259p

GITMAN, L.J. Princípios de administração financeira. 10.ed. São Paulo: Pearson

Addison Wesley, 2004. 745p.

32

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

ESTUDO DA IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO E

DA CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

CAMILA CHIRNEV CAOBIANCO 1

AMANDA CORDEIRO2

RESUMO

Sabe-se que os clientes são a chave da existência das organizações e que o

sucesso de uma empresa dependente de como ela gerencia as suas atividades

através da utilização de ferramentas administrativas. Contudo, além dessas

ferramentas, a organização também pode buscar desenvolver a inovação e a

criatividade com o intuito de cada vez mais criar meios que visem satisfazer o

cliente, atendendo as suas necessidades e desejos. Desta forma, o presente

trabalho tem como objetivo evidenciar a importância do gerenciamento de novas

ideias e mostrar como isso pode contribuir para o sucesso das organizações.

Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, pautada em materiais já

elaborados por outros autores. Os resultados revelam que inovação e criatividade

são fatores primordiais para o sucesso das empresas, sendo que ambas

necessitam de etapas e processos para serem desenvolvidas, ao mesmo tempo

em que permeiam fatores que podem influenciar e estimular o comportamento

dos seus colaboradores, evidenciando-se assim que partirá do conhecimento da

organização e de sua cultura criar condições que favoreçam um ambiente de

trabalho mais criativo e inovador.

Palavras-chave: Gerenciamento de ideais. Criatividade. Inovação.

1 INTRODUÇÃO

Torna-se cada vez mais perceptível a importância da geração de novas

ideias que possam trazer grandes benefícios a toda sociedade. Em um cenário

onde as pessoas vivem a era da Gestão do Conhecimento e da Inovação é

possível compreender o impacto que isso pode trazer às organizações, por isso,

devem estar mais atentas à criação de novas tendências que possam diferenciá-

las no mercado competitivo.

1 Mestranda em Gestão do Conhecimento nas Organizações (CESUMAR), Graduada em

Administração com ênfase em Comércio Exterior (CESUMAR 2004), Especialista em Gestão

da Produção e em EAD e as Tecnologias Educacionais. 2 Graduada em Administração (UNIGUAÇU). Atualmente realizando Pós- Graduação em MBA -

Gestão Empresarial (CESUMAR).

CONHECIMENTO E GESTÃO

33

No mundo contemporâneo algumas ideias podem demorar certo tempo

para serem amadurecidas nas organizações e isso se deve ao fato, muitas

vezes, de haver resistência por parte dos colaboradores, ou até mesmo da

cultura empresarial, em relação à clareza do entendimento do benefício e

necessidade de execução desta mudança, entre outros fatores. Tendo em vista

que até as ideias mais importantes da sociedade demoraram a ter seu efeito

desejado, nem toda ideia será revolucionária no momento em que nascer, então,

é preciso que as organizações saibam lidar com os obstáculos encontrados,

havendo necessidade de focar em processos que possam alimentar ainda mais a

motivação para a criatividade.

Diante dessas dificuldades surgem alguns pontos que devem ser

levados em conta ao elaborar o desenvolvimento de novas ideias, e um desses

pontos é saber por onde começar e, em seguida, saber como manter e até

mesmo aprimorar estas mesmas atividades em busca da inovação. Sendo

assim, como as organizações podem inovar na hora de gerir novas ideias e

como devem lidar com os obstáculos encontrados durante o amadurecimento

destas mesmas ideias?

Em resposta a esta problemática será possível evidenciar a importância

da inovação e da criatividade e mostrar como pode contribuir para o sucesso da

organização, buscando ao mesmo tempo entender como funciona o processo de

inovação, além de identificar os principais fatores que influenciam a criatividade

na organização. Este estudo foi realizado tendo por metodologia a pesquisa

bibliográfica.

Desta maneira, este artigo está dividido em duas seções. Num primeiro

momento foram abordados os conceitos e definições extraídos de livros e

artigos, além da utilização de material disponível na internet, em relação aos

temas ligados à inovação e à criatividade. O texto encerra-se com as

considerações finais, onde espera levar ao entendimento do estudo proposto,

além de somar conhecimento àqueles existentes e contribuir para o

aprofundamento de estudos posteriores.

2 INOVAÇÃO

A inovação está presente em tudo e faz parte de um todo, ela inicia-se

com a criatividade e imaginação do ser humano. Atualmente, a inovação é vista

34

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

como um importante fator de sucesso dentro das organizações e para entender

melhor este tema foram abordados alguns conceitos a seguir.

Segundo Sbragia, Marcovitch e Vasconcellos (1996 apud REIS, 2003),

a inovação está relacionada às mudanças do mundo atual, sendo o resultado

obtido por meio da eficiência e da eficácia com que os conhecimentos técnico-

científicos são produzidos, transferidos, difundidos e incorporados aos produtos

e serviços. Ou seja, depende exclusivamente de como a organização dá ênfase

ao seu processo de produção e engloba em cada etapa sua demasiada

importância. Assim, conforme a empresa evolui surge a necessidade de um

aperfeiçoamento de processos tecnológicos que acelerem descobertas cada vez

mais inovadoras.

Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço)

novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um

novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas

práticas de negócios, na organização do local de trabalho, ou nas

relações externas (OCDE, 1997, p.55).

Julien (2010, p. 242) conceitua inovação como “resultado do trabalho

de controle e reorganização que a organização efetua sobre os saberes e

competências para explorar uma oportunidade de mercado ou abrir um novo

domínio de atividade”. Sendo assim, é preciso que sejam aliados ao

conhecimento habilidades para que se possa aproveitar uma oportunidade como

ponto de partida para a inovação.

Por meio dos conceitos dos autores é possível entender que a inovação

é um resultado de um processo já realizado dentro da organização e para que a

inovação seja reforçada é necessário aperfeiçoar seu ambiente de trabalho.

Sobre a gestão da inovação, Roberts (1984, p. 53) comenta:

[...] é a organização e a direção dos recursos, tanto humanos como

econômicos, com a finalidade de aumentar a criação de novos

conhecimentos; a geração de ideias técnicas que permitam obter

novos produtos, processos e serviços, e melhorar os já existentes;

o desenvolvimento de ideias e protótipos de trabalho; e a

transferência destas mesmas ideias para as fases de fabricação,

distribuição e uso.

O mesmo autor ainda desenvolveu um modelo para o processo de

inovação que envolve informações vindas do ambiente interno ou externo da

organização. A unificação dessas informações é que de fato irá gerar resultados,

CONHECIMENTO E GESTÃO

35

tratando de informações que se enquadram com as estratégias tecnológicas e as

principais necessidades dos clientes. O autor divide o processo de inovação em

seis etapas, sendo que cada uma delas busca respostas para diferentes

situações que surgem durante o processo. São elas:

1. Pré-Projeto;

2. Possibilidades do Projeto;

3. Início do Projeto;

4. Execução do Projeto;

5. Avaliação dos Resultados;

6. Transferência do Projeto.

Olea (2001, p.13) afirma que apesar de existirem vários modelos para o

processo de inovação, não existe um padrão a ser seguido por se tratar de um

processo complexo dentro da organização.

Durante os últimos trinta anos há se tentado desenhar um modelo

que explicasse satisfatoriamente a função da inovação tecnológica,

de maneira a incorporar os diferentes fatores ou variáveis que

intervêm. Todavia hoje, independente de numerosos modelos

existentes, não se dispõe de um modelo geral que se possa aceitar

como razoavelmente explicativo, coisa que seguramente confirma a

complexidade do processo de inovação (OLEA, 2001, p.13).

Giget (1997) argumenta que o processo inovativo não segue fórmula

pronta, e sim, é construído pelos membros envolvidos ou interessados na

geração da inovação, portanto, deve ser entendido como uma série de interações

que forma a rede de inovação. Desta forma, de acordo com os autores, para

obter a concretização da inovação dentro da organização é necessário que haja a

gerenciamento para integrar a inovação como atividade e, assim, unir a

organização com recursos tanto humanos como financeiros para cada etapa do

processo de inovação, definindo a melhor forma de elaborar o processo de

inovação e adaptando cada etapa sempre que necessário.

2.1 TIPOS DE INOVAÇÃO

A inovação pode acontecer sob a influência de vários aspectos que

podem estar ou não ligados diretamente a sua concepção. Naturalmente, para

36

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

entender melhor seu desenvolvimento alguns autores classificam a inovação em

processos distintos, mencionados a seguir.

De acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 1997), existem quatro tipos de

inovação: de produto, de processo, de marketing e organizacional.

Inovação de produto: é aquela que condiz com a introdução de um bem

ou serviço novo ou melhorado. Inclui melhoramentos significativos em

especificações técnicas, componentes e materiais, softwares

incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.

Inovação de processo: condiz com a introdução de um método de

produção novo ou melhorado. Inclui mudanças significativas técnicas,

em equipamentos área produtiva etc.

Inovação de marketing: refere-se à introdução de um novo método de

marketing com mudanças significativas na concepção do produto,

embalagem, posicionamento do produto, promoção ou fixação de

preços.

Inovação organizacional: tem relação com a implantação de um novo

método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na

organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas.

Ainda sobre os diferentes tipos de inovação, Schumpeter (1968) caracteriza

a inovação de produto, inovação de processo e inovação nos equipamentos,

além de acrescentar a inovação em marketing, distribuição de produtos no

mercado e inovação organizacional, que afeta a alocação da equipe.

3 CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

A criatividade é um processo importantíssimo no desenvolvimento de

toda e qualquer empresa. Duailibi e Simonsen (1971, p. 14) consideram que

Toda empresa é a solução criativa para uma angustia gerada por um

problema. Um homem de negócios identifica uma oportunidade e vê

nela, através da produção e distribuição de bens e serviços, a

possibilidade de satisfazer uma necessidade qualquer.

Para entender toda sua dimensão, Duailibi e Simonsen (1971) afirmam

que a criatividade não está concentrada em um pequeno grupo de pessoas, mas,

sim, em sua disseminação em forma de reação em cadeia. Isso quer dizer que

CONHECIMENTO E GESTÃO

37

qualquer ato criativo implantando na empresa pode modificar toda uma estrutura

de atividades, influenciando diretamente nos resultados da organização.

No dicionário de Psicologia, criatividade é a capacidade para

criação, para auto realização, existente em todas as pessoas, mas

que depende de condições ambientais para se desenvolver.

Criatividade também pode ser explicada como a habilidade de

encontrar novas soluções para um problema ou novos modos de

expressão artística, ou melhor, de trazer a existência um produto

novo para o indivíduo, mesmo que apenas para ele (DORIN, 1978,

apud ANGELONI, 2002, p, 123).

Nonaka e Takeuchi (1997, p. 27 apud ANGELONI, 2002) ressaltam que

a “única fonte de vantagem competitiva duradoura é o conhecimento”. Assim a

criação do conhecimento não é só uma questão de processar informações, mas

também de aproveitar as percepções, intuições e deduções das pessoas que

movem a organização.

Para os autores, antes de tudo é preciso buscar compreender o

significado da criatividade para então abordar a dimensão do conhecimento, uma

vez que a criatividade acompanha a trajetória do homem na história, sendo,

portanto, tão antiga quanto se imagina.

Na antiguidade, duas teorias de criatividade se destacaram: a

criatividade como origem divina e a criatividade como loucura. Os

antigos acreditavam que a criatividade era concedida somente a

alguns seres humanos “escolhidos por Deus”, principalmente ao

que trabalhavam com artes. [...] Os antigos gregos acreditavam que

a pessoa criativa era caracteriza por alguns traços especiais de

personalidade e que tais traços eram vistos como loucura

(EYSENCK, 1999 apud ANGELONI, 2002, p. 121).

Angeloni (2002) argumenta que várias teorias foram levantadas por

diversos autores até que se chegasse ao conceito mais conhecido atualmente de

criatividade, que pode ser vista como um processo em que as ideias são

geradas, desenvolvidas e logo transformadas em valor útil para as empresas,

permitindo que elas possam desenvolver produtos e serviços, processos e

práticas novos como fontes importantíssimas para sua estratégia empresarial.

Por lógica, percebe-se que a criatividade está inserida no processo de inovação,

não havendo, segundo a autora, qualquer separação ou distinção entre os dois

termos.

38

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

3.1 PROCESSO CRIATIVO E BLOQUEADORES DA CRIATIVIDADE

Sabe-se que a criatividade é um processo individual que acontece na

sua maior parte ao se tentar encontrar soluções ou de trazer em mente a ideia de

algo novo. Para tanto, é preciso que haja preparação e organização para colocar

as ideias no papel, pois do contrário, sua concepção não passará para o

processo de concretização e obtenção de resultados. Para melhor entendimento

do tema serão abordados dois tópicos, um referente ao processo criativo e outro

sobre os fatores que influenciam a criatividade.

3.1.1 Processo Criativo

O indivíduo criativo geralmente não acompanha a conformidade e o

padrão estabelecido na sociedade, possui ideias divergentes e mente flexível.

Amabile (1989) afirma que a criatividade se manifesta apenas em produções

artísticas. Porém, Alencar e Fleith (2003) complementam dizendo que em

contraposição a isso, diversos estudos têm investigado o processo criativo nas

mais diversas áreas do conhecimento.

Nesta linha, Torrance (1965 apud ALENCAR; FLEITH, 2003, p. 14)

define criatividade como

[...] um processo de se tornar sensível a problemas, deficiências e

lacunas no conhecimento; identificar a dificuldade; buscar soluções,

formulando hipóteses acerca das deficiências; testar e retestar

essas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados.

Já para Brown (1989) a criatividade é composta por quatro

componentes, sendo eles: produto, processo, pessoa ou entidade e situação, no

qual o produto criativo é o componente principal e sem ele a criatividade não faz

sentido. A criatividade precisa de um motivo para acontecer e é com o produto

que o indivíduo estará se preocupando inicialmente.

No que diz a respeito à pessoa ou entidade, Kneller (1978) afirma que a

inteligência é a força maior da criatividade, pois ela norteia a originalidade,

capacidade de elaborar e concretizar ideias com a flexibilidade de pensamento,

onde há o senso de humor, a persistência e a autoconfiança como

características que fazem parte da personalidade criativa. Robbins (1995)

complementa afirmando que a personalidade criativa aceita a si mesma, sem ter

CONHECIMENTO E GESTÃO

39

medo do próprio medo, cultiva a mentalidade de aprendiz, a habilidade como

observador perspicaz, cultiva também o bom humor, assuntos diferentes e evita

os padrões estabelecidos e maneiras inflexíveis de agir.

Já Jackson e Messick (1965 apud DACEY, 1989) destacam quatro

características básicas na personalidade criativa:

1. Tolerância para incongruências, tendência por fazer coisas não-usuais;

2. Capacidade de análise objetiva e subjetiva (intuitiva) na geração de

ideias funcionais e criativas;

3. Capacidade de manter a mente livre de preconceitos e aberta a novas

experiências e informações;

4. Combinação de pensamento reflexivo e intuição “espontânea” na

produção de soluções complexas de uma forma simples.

Dacey (1989) ainda complementa dizendo que outras características

como liberdade para não seguir regras, capacidade de utilizar objetos em

situações que não convencionais, aceitação de riscos, entre outros, também

fazem parte da personalidade criativa.

Contudo, para que haja o desenvolvimento correto da criatividade,

Duailibi e Simonsen (1971, p. 38) citam em sua obra que dentre as várias etapas

dos processos criativos já abordados por tantos outros autores, Don Fabun os

dividiu de maneira semelhante da seguinte forma:

Desejo - A pessoa deve, por qualquer razão, querer criar algo

original. Isso é o que ele chama de atitude de trabalho.

Preparação - Ou acumulação de dados, visa “tornar o familiar o

estranho”.

Manipulação - É uma tentativa de síntese, de juntar conceitos

aparentemente não relacionados ou tornar “estranho o familiar”.

Incubação - O componente inconsciente do processo criativo;

acontece na mente, no plano inconsciente, onde começa a trabalhar

praticamente sozinha.

Antecipação - Há um sentimento de premonição, algo nos diz que o

problema está prestes a ser resolvido.

Iluminação - A solução esperada.

Verificação - A confirmação da viabilidade da solução.

Desta forma, aliando as definições dos autores, pode-se concluir que a

criatividade não segue nenhum padrão para existir, pois ser criativo envolve

habilidades contrárias à conformidade, regras e padrões já estabelecidos na

sociedade, e a inteligência é a força maior para dar propulsão à originalidade.

40

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

3.1.2 Fatores que influenciam a Criatividade

Em termos gerais, existem várias técnicas que ajudam a estimular a

criatividade, mas não existe um modelo padrão a ser seguido, uma vez que a

criatividade faz parte de um processo comportamental, e isso significa dizer que

é diferente de pessoa para pessoa. No entanto, Mañas (1993) relata que as

pessoas deixam de usar o seu lado criativo e acabam se adaptando à rotina,

muitas vezes por obterem um retorno positivo pela empresa nas atividades que

desempenham além de desconhecerem os principais objetivos da organização.

Mota (1995) complementa que é imprescindível a existência de

estímulos à criatividade, uma vez que a própria complexidade e dimensão da

organização fazem com que os seus colaboradores fiquem na conformidade e

proteção das condições já existentes ao invés de buscarem novas fontes

criativas para o trabalho. Berg (2014) aponta oito principais fatores que

influenciam a criatividade, são eles:

Raciocínio lógico/objetividade;

Acomodação/passividade;

Medo de crítica;

Ameaça à segurança e ao status;

Falta de autodisciplina e perseverança;

Apego a normas e padrões;

Paradigmas e pressupostos rígidos;

Presunção ou falta de humildade.

Já Mañas (1993) destaca os seguintes bloqueadores da criatividade

individual: excesso de vigilância, avaliações e recompensas, além da

competição, controle excessivo, restrição de escolhas e a pressão dada pelas

expectativas de sucesso e alto desempenho. Ainda nesse contexto, Novaes

(1980) acrescenta como bloqueadores da criatividade individual o

condicionamento social e educacional, a falta de conhecimento e de

informações, os hábitos pessoais negativos e a atitude de pessimismo e

conformismo. Desta forma, a criatividade requer uma organização disposta a

investir no seu ambiente organizacional ao ponto que também busca quebrar os

bloqueios criativos existentes, ao mesmo tempo em que promove a valorização e

reconhecimento dos seus colaboradores, abrindo assim portas a novas

oportunidades com uma estrutura administrativa mais inovadora e criativa.

CONHECIMENTO E GESTÃO

41

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente artigo conclui-se que a inovação é a chave para o

sucesso das organizações. Independentemente do seu ramo de atividade, a

inovação é necessária uma vez que as organizações necessitam dela para serem

competitivas no mercado. Porém, atrelada à inovação há a criatividade que

envolve o indivíduo como peça fundamental, visto que seu comportamento pode

ser influenciado através de estímulos motivacionais perpetuados pela própria

organização. Por outro lado, apenas tomar a motivação como instrumento da

criatividade é inviável uma vez que a criatividade é um processo individual e

envolve diversos fatores comportamentais que se distinguem de pessoa para

pessoa. As organizações, portanto, precisam conhecer estes fatores que

influenciam a criatividade para então proporcionarem condições que favoreçam

um ambiente de trabalho criativo para o seu desenvolvimento.

Assim, ao conhecer estes fatores também, será possível evitar

obstáculos, e mesmo na presença deles, durante o amadurecimento das ideias,

ainda é possível buscar ferramentas auxiliares, que uma vez implantadas, caberá

à empresa adaptá-las conforme suas necessidades.

Vale ressaltar ainda que, já que a criatividade se manifesta de diversas

maneiras, não se pode considerar que exista uma compreensão total e ampla do

processo criativo, motivo pelo qual, ainda hoje, existem controvérsias. Além

disso, seria relevante estudar com mais profundidade a utilização de ferramentas

específicas de gestão da inovação para averiguar seus verdadeiros benefícios e

se elas apresentam obstáculos que impedem seu desenvolvimento no ambiente

empresarial.

REFERÊNCIAS

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Brasília : Editora Universidade de Brasília, 2003.

AMABILE, T. A. Growing up creative. Buffalo, NY: The Creative Education

Foundation Press. 1989

ANGELONI, M. T. Coord. Organizações do Conhecimento. Infraestrutura, Pessoas

e Tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002.

42

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

BERG, E. Os 8 maiores bloqueadores da criatividade. Ago, 2014. Disponível em:

<http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/os-8-maiores-

bloqueadores-da-criatividade/80077/> Acesso em: 21 de maio de 2016.

BROWN, R. T. Creativity: What to measure? Em: J. A. Glover, R. R. Ronning & C.

R. Reynolds (Eds.), Handbook of Creativity. New York: Plenum Press, 1989.

DACEY, J. S. Fundamentals of Creative Thinking. Lexington, MA: Lexington

Books, 1989.

DUAILIBI, R. e SIMONSEN, H. Jr. Criatividade: a Formulação de Alternativas em

Marketing. São Paulo: Editora Abril e McGraw Hill do Brasil, 1971.

GIGET, M. Technology, Innovation and Strategy. International Journal of

Technology Managament. Vol. 14, nº 6-7-8, 1997.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

JULIEN, Pierre-André. Empreendedorismo regional e a economia do

conhecimento. São Paulo: Saraiva, 2010.

KNELLER, G. F. Arte e ciência da criatividade. Tradução V. Reis. São Paulo:

Ibrasa, 1978.

MAÑAS, A. Vico. Gestão de tecnologia e inovação. São Paulo: Érica, 1993.

OLEA, Pelayo Munhoz. Aproximación conceptual al proceso de la innovación

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REIS, D. R. Gestão da Inovação Tecnológica: As relações Universidade-Empresa.

São Paulo: Manole, 2003.

ROBERTS, E. B. Gestión de la innovación tecnológica. Madrid: Fundación Cotec

para La Innovación Tecnológica, 1984.

ROBBINS, L. B. O despertar na era da criatividade: passos e desenvolvimento do

potencial criativo para a realização profissional e pessoal. São Paulo: Gente,

1995.

SCHUMPETER, J. Can capitalism survive. New York: Harper & Row, 1968.

CONHECIMENTO E GESTÃO

43

CRM: O CLIENTE EM FOCO

CAMILA MACHADO RAIMUNDO1

HENRIQUE FIGUEIREDO ARAÚJO2

RESUMO

Este projeto propõe através de uma pesquisa de campo, apresentar as vantagens

que a ferramenta de Gestão do Relacionamento com clientes (CRM) tem gerado

em uma rede de concessionárias automotiva, a Ribeiro Veículos S/A, filial, em

Dourados-MS. Foi realizado um trabalho de levantamento de informações

disponibilizadas pela Ribeiro Veículos. As informações obtidas demonstraram as

boas práticas e as estratégias utilizadas pela organização que tem o intuito de

elevar a fidelização de seus clientes e a prospecção de novos negócios com

base nas informações obtidas pelo seu sistema de CRM. Este projeto tem como

objetivo, apresentar quais são os fatores importantes para que o CRM possa

contribuir na prospecção de novos negócios e quais práticas que são essenciais

para fidelização dos clientes dentro da Ribeiro Veículos S/A.

Palavras-chave: CRM; fidelização de clientes; prospecção de novos negócios;

cliente em foco.

1 INTRODUÇÃO

Com base nas tendências atuais e um mercado cada vez mais

competitivo, tem surgido um aspecto cada vez mais presente dentro das

organizações, o cliente em foco, ou seja, o cliente como o centro de todos os

negócios da empresa. Para isso, as empresas têm se reinventado e buscado

diversas alternativas como meio de conseguir uma vantagem competitiva. Dentro

dessa busca, surge o CRM, criado não apenas para auxiliar no simples contato

com o cliente, mais sim, contribuir na criação de um relacionamento duradouro e

que de fato agregue algum valor a empresa e ao sucesso e satisfação dos

clientes.

O CRM dentro de uma organização tem como foco principal, diminuir a

distância entre a empresa e o cliente. Um bom relacionamento entre empresa e

cliente é vista como uma maneira de facilitar a identificação das necessidades do

1 Graduação em Administração pela UEL, Pós-graduação em Administração de Marketing e

Propaganda pela Universidade Estadual de Londrina, Pós-graduação em Ensino a Distancia e as

Tecnologias Educacionais pela UniCesumar, 2 Bacharel em Administração de Empresas.

44

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

mesmo e consequentemente obter mais sucesso em supri-las, já que o CRM

contribui no levantamento de informações e fornece detalhes baseado no perfil

do cliente.

A importância desse tema se dá justamente pela dificuldade que as

empresas têm enfrentado para manter um cliente fiel e também em como

conquistar novos parceiros para um relacionamento comercial. O foco das ações

comerciais voltadas ao cliente tem sido uma tarefa primordial para o sucesso

das organizações.

Esse artigo tem como objetivo, apresentar quais são os fatores

importantes para que o CRM possa contribuir na prospecção de novos negócios

e quais práticas que são essenciais para fidelização dos clientes dentro da

Ribeiro Veículos, os resultados obtidos nesse estudo, levam a comprovação de

que ter o foco dos negócios voltado ao cliente, tem sido de fato uma vantagem

diante de todas as dificuldades presentes no mercado.

Este artigo está assim subdividido: no primeiro capítulo será abordado o

histórico de tal coisa, no segundo capítulo será apresentada (inserir o nome do

tópico que será abordado), posteriormente a metodologia será evidenciada

apresentando os principais autores escolhidos para fundamentar o trabalho,

encerrando com as considerações finais.

2 CRM CRIANDO LAÇOS

Por se entender mais sobre o conceito de CRM, Araújo

define que:

CRM é uma expressão que pode ser traduzida para a língua

portuguesa como Gestão de Relação com o Cliente. O conceito de

CRM define toda uma classe de instrumentos que facilitam o

contato com o cliente, sendo que serve de elo entre a empresa e o

cliente. A adoção do CRM implica na mudança de atitude da

empresa, uma vez que pretende aprimorar o relacionamento com

os seus clientes, facilitando e inter-relacionando de forma

perspicaz e o desenvolvimento de informações sobre suas ações e

interações com a empresa. (ARAUJO, 2009)

O CRM é uma ferramenta de suma importância para todas as

organizações que desejam encontrar informações diferenciadas de seus clientes,

pois através dela são possíveis inúmeras possibilidades de extrair

particularidades, como análise de perfil de compra. Utilizando essa ferramenta

como instrumento que vise a melhora da gestão de relacionamento com os

CONHECIMENTO E GESTÃO

45

clientes, o CRM será mais eficaz gerando muitos benefícios para a organização

(SOHRAB, 2010).

Entender o grau de importância em dar o devido enfoque ao cliente, é

necessário fazer uma verdadeira gestão que mantenha um relacionamento direto

com eles, fazendo campanhas personalizadas que superem as expectativas dos

clientes, que todo produto e serviço ofertado sejam ricos em qualidade, logo,

ações como essas contribuirão para que a empresa consiga manter o cliente fiel,

satisfeito e é claro rentável (ARAÚJO, 2009; SOHRABI, 2010).

Segundo Kotler e Fox (1998):

Conquistar clientes novos custa entre 5 a 7 vezes mais caro do

que manter os mesmos clientes que já possui. Por isso, utilizar

ferramentas como o CRM, que permitam a fidelização de um

cliente, são estratégias corporativas a definir e implementar.

Tendo em mente esses conceitos e fazer com que o CRM torne uma

ferramenta de uso dentro da organização, os planos de ações voltados a

prospecção de novos negócios terão mais eficácia, pois a partir do levantamento

dos dados de cada cliente será possível realizar um trabalho personalizado para

cada situação e isso poderá trazer uma vantagem competitiva perante a

concorrência, pois a chance de ofertar com assertividade os produtos ou

serviços que o cliente realmente precisa serão bem maiores, pois, a oferta será

baseada no perfil, característica e necessidades apontadas de cada cliente

(KOTLER; FOX, 1998; OLIVEIRA, 2000).

Comercializar um produto ou serviço que seja realmente o que o cliente

necessita, é uma das poucas formas de manter a satisfação de um cliente

elevada, ter sucesso e garantir a fidelização é um trabalho constante que não

finaliza no momento da venda, mas sim nas atitudes e relacionamento que

empresa conseguirá manter com seus clientes ao longo dos anos (OLIVEIRA,

2000; MEDEIROS, 2002).

2.1 AS VANTAGENS DO CRM

É possível apresentar algumas vantagens que o sistema CRM pode

trazer para a organização, e uma das principais vantagens é a interação existente

entre empresa e cliente. Como já citado anteriormente manter um cliente custa

bem menos do que buscar novas parcerias, para manter um cliente fiel é

necessário conhecê-lo a fundo e compreender as suas necessidades e

46

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

consequentemente atender suas expectativas e é exatamente isso que a

ferramenta CRM pode contribuir nesse relacionamento, pois um sistema de CRM

abastecido com informações, perfil e qualquer outra informação extra,

contribuem para uma venda ou formação de parcerias com mais assertividade

gerando uma melhor satisfação nas negociações (NOVELLO, 2013).

Com a grande concorrência existente no mercado e diversas opções é

preciso que as organizações busquem meios de dar um atendimento

personalizado em cada novo negocio, pois, cada cliente e cada organização

possuem diferentes características e peculiaridades, portanto entender as reais

necessidades dos clientes e registrar cada hábito e novas informações obtidas

através de um bom atendimento irá contribuir em uma parceria bem sucedida,

provando que a gestão de relacionamento com o cliente é muito além do que

pensar simplesmente na venda de um produto ou serviço (NOVELLO, 2013).

O CRM é visto dentro das organizações como uma solução completa de

negócio, pois é possível poupar tempo e dinheiro aumentando as possibilidades

de novas oportunidades, pois o CRM não é apenas um sistema que guarda

informações de clientes, mas também é uma estratégia de negócio

(FERNANDES, et al. 2015).

Sobre sistema CRM e estratégia de negócios andarem juntas Bretzke

(1998) completa:

Todas as ações de uma empresa são suportadas por um banco de

dados de marketing. Por meio desses dados foi possível:

armazenar as informações necessárias para um relacionamento

produtivo com os clientes; maior pertinência nas ações, uma vez

que auxiliou na identificação das oportunidades, buscando

informações na base de clientes, tais como: os clientes com maior

potencial para determinadas ações, que tinham um

comportamento de compra interessante para aquele tipo de

produto etc; sistematizar as ações, controlando o fluxo de

respostas, pedidos, agendamentos.

Com sistema de CRM implantado, os clientes podem ser tratados de

forma personalizada e estarão divididos por segmentação, isso trará rapidez e

enfoque para cada atendimento. Dessa forma, os gestores responsáveis pela

negociação tomarão decisões em um menor tempo, com menores custos,

aumentando a rentabilidade da organização e entregando apenas as quantidades

suficientes no tempo certo. Essa atitude consequentemente trará uma

CONHECIMENTO E GESTÃO

47

visibilidade e uma imagem fortificada perante o mercado e seus concorrentes

(FERNANDES, et al. 2015).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, com delineamento

descritivo, através de um estudo de caso preservando as características e

acontecimentos nos processos comerciais da organização. Através do estudo de

caso foi levantado os dados para a apresentação dos resultados obtidos. As

técnicas de coletas de dados foram realizadas de forma observacional,

documentais cedidas pela organização e entrevista com gestor de

relacionamento onde foram observadas as técnicas utilizadas para a prospecção

de novos negócios e práticas essenciais para fidelização dos clientes dentro da

organização em questão.

3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Em 1947 iniciou a trajetória da Ribeiro Veículos S.A. na cidade de

Maringá-PR, inspirada na visão de seu fundador Francisco Feio Ribeiro, o

progresso rápido e planejado, aliado às oportunidades trazidas pelos investidores

que acreditavam na região de Maringá, proporcionaram os fundamentos

necessários que contribuiriam no desenvolvimento de uma grande cidade e uma

grande e sólida empresa comercial.

Maringá e a Ribeiro Veículos S.A. possuem suas raízes no árduo

trabalho de agricultores e empreendedores europeus, asiáticos e brasileiros

vindos de todas as regiões do país que fundaram aqui uma próspera

comunidade. Graças à consolidação de suas iniciativas e um sucesso em

administração, em 1981, a família Ribeiro recebeu o convite da Volvo, que havia

acabado de chegar ao Brasil, para representá-la. A partir desse convite, surgiu

assim, a primeira concessionária de caminhões e ônibus Volvo em Maringá –

PR.

Dez anos depois, em 1991, acreditando na prosperidade da região do

Mato Grosso do Sul, devido ao crescimento na agricultura e a necessidade que o

Estado possuía em se desenvolver na área de transporte, surgiu então a Ribeiro

Veículos em Dourados-MS, inscrita no CNPJ: 75.642.256/0004-44, na Rua

Marginal Leste, nº 915 – Chácara Castelo I, onde está instalada até hoje. Iniciou

48

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

suas atividades no ramo de comércio de veículos automotores, peças para

veículos automotores assistência e reparo para os mesmos e segue na mesma

atividade nos dias atuais. No início de suas atividades a empresa contava com

um quadro de 11 colaboradores e ao longo dos anos conquistou um constante

crescimento, hoje o quadro da filial é de 48 colaboradores.

Seus objetivos vão de encontro com sua missão e visão

respectivamente, que são, comercializar produtos e serviços de qualidade

superior, proporcionando pleno retorno e satisfação a clientes, parceiros,

colaboradores e acionistas. Ser reconhecida como parceira preferencial por seus

clientes, fornecedores, colaboradores, e ser líder comercial da região.

Através do seu foco em encontrar soluções para o transporte de acordo

com a necessidade de cada cliente, a Ribeiro Veículos tem o papel de

representar a marca sueca Volvo e tem obtido grande sucesso e evolução,

conquistando vários parceiros como, transportadoras de cargas, agricultores, e

fornecedores de peças e materiais que confiaram sempre em seu negócio,

criando várias alianças comerciais. Os resultados obtidos desde a sua fundação

e hoje já é considerada uma organização modelo na região e líder comercial no

segmento de caminhões pesados.

Em 2015 a Ribeiro Veículos em Dourados-MS, passou por um processo

de ampliação estrutural para atender e demanda de produtos e serviços que a

região tem exigido, a prosperidade e transparência nos negócios continuam

sendo seu principal diferencial no mercado e até hoje a empresa continua com a

ideologia de seu fundador Francisco Ribeiro “É preciso acreditar”.

Há mais de trinta anos representando a marca Volvo, hoje a Ribeiro

Veículos é uma das mais sólidas concessionárias Volvo do País, com cinco filiais

– três no Paraná (Maringá, Londrina e Cruzeiro do Oeste) e duas no Mato Grosso

do Sul (Campo Grande e Dourados), além de um posto de atendimento avançado

localizado na cidade de Angélica - MS – a Ribeiro Veículos S.A. segue primando

por honestidade, competência, responsabilidade e transparência perante seus

clientes, colaboradores e fornecedores.

3.2 TÉCNICA A SER UTILIZADA

Além do levantamento de dados com embasamento documental e

observacional, foi realizada uma entrevista com duração de uma hora e 30

minutos no dia 20/04/2016 com o Gestor comercial da Ribeiro Veículos, que

CONHECIMENTO E GESTÃO

49

respondeu cinco perguntas abertas onde foram questionados e discutidos os

objetivos desta pesquisa, que serão apresentadas de forma transcrita na análise

dos dados.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Para o atingimento dos seus objetivos através da Gestão do

relacionamento com clientes, a Ribeiro Veículos S/A estrutura suas ações em

alguns pilares na prospecção de novos negócios e algumas práticas essenciais

na contribuição da satisfação e fidelização dos seus clientes. Esses pilares estão

divididos em duas fases, que são a fase da venda e do pós-venda. A fase de

venda, que é a fase de prospecção de novos negócios, é subdividida em quatro

etapas, que são respectivamente a etapa de Prospecção, visitas e ofertas,

eventos e negociação.

Na primeira etapa de venda que é a prospecção, existem quatro pontos

essenciais para o sucesso de todas as outras etapas, que são as atividades, a

identificação das necessidades, a interpretação do perfil do cliente e a

identificação do produto ou serviço que será ofertado conforme a seguir:

Atividades: Levantamento de dados existentes no sistema CRM,

onde o gestor irá definir as ações iniciais para atendimento.

Necessidades: Identificar a necessidade dos clientes baseado em

compras anteriores, ramo de atividade no qual o cliente está

inserido, entrevista realizada com o mesmo e etc.

Perfil do cliente: Análise da sua situação financeira, poder de

compra e pagamento, crédito e dados de compras anteriores.

Configurações: Identificar o produto ou serviço a ser ofertado de

acordo com todos os levantamentos de dados apurados nos pontos

anteriores.

Na segunda etapa, é a etapa em que o gestor define as visitas e ofertas,

ou seja, a maneira, momento e a forma que elas serão estruturadas e realizadas.

Todas as visitas são planejadas de acordo com cada particularidade do cliente,

levando em consideração todos os dados e características apontadas na

primeira etapa, pois com informações detalhadas sobre o cliente, a chance de

assertividade no primeiro contato com o cliente são maiores. Assim como as

visitas, as ofertas serão determinadas de acordo com o perfil do cliente, dessa

maneira os riscos de ofertar um produto ou serviço que o cliente não precisa

50

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

são bem menores do que em casos em que existe apenas uma oferta a ser

realizada.

Na terceira etapa, a partir do sucesso e interesse despertado pelo

cliente, é dado início na etapa chamada de eventos, onde todo o trabalho é

voltado para o encantamento e identificação do cliente com a marca e com a

empresa é a etapa onde são realizados os pontos a seguir:

Feiras: O primeiro contato do cliente com o que está sendo ofertado,

onde é dada as primeiras explicações da funcionalidade e aplicação do

produto ou serviço. Onde é dada a oportunidade ao cliente expor todas

as outras necessidades ainda não apontadas e o que ele espera. Após a

identificação do interesse despertado pelo cliente é startado o convite de

visita a fábrica.

Fábrica: O cliente é levado a montadora da marca situada na cidade de

Curitiba-PR onde terá a oportunidade de experimentar o que está sendo

ofertado. No caso do produto principal da marca que é o caminhão, será

o momento em que ele fará testes e acompanhará todo o processo de

produção do veículo. Nessa fase é definido exatamente qual o segmento

do cliente e a definição exata do produto, ou seja, de acordo com sua

necessidade, perfil e principalmente o chamado produto ideal dentro de

sua atividade de negócio.

Na quarta e última etapa de venda, é onde se encerra o processo de

negociação, nessa etapa todas as necessidades e dúvidas dos clientes já foram

esclarecidas, então é o momento em que são definidos os seguintes pontos:

Preço: o valor do produto ou serviço em negociação.

Crédito: a forma de pagamento, necessidades de financiamento e

solicitações de créditos as instituições financeiras.

Encomenda: definido os itens acima, por fim é realizada a encomenda

do produto ou serviço em questão e realizado o faturamento.

Na segunda fase da gestão do relacionamento com o cliente, é onde se

inicia a fase do Pós-venda, que tem papel fundamental no processo de

satisfação e fidelização dos clientes. O papel do pós-venda também é

estruturado em algumas etapas definidas pela organização, nessas etapas

envolvem os pontos a seguir:

Planejamento da entrega: é o ponto em que será definido o dia, local e

pessoa que receberá a aquisição do bem negociado.

CONHECIMENTO E GESTÃO

51

Evento da entrega: depois de realizado o planejamento, é organizado um

evento de entrega do produto, onde serão dadas novas explicações e

treinamentos. Além disso, fotos e brindes são entregues.

Apresentação: o pós-venda apresenta as garantias, planos de

manutenção e acompanhamento em relação a conservação do produto.

Após esse contato inicial realizado pelo pós-venda, várias ações são

traçadas pelo departamento, pois a Ribeiro Veículos S/A acredita que todos

esses processos são essenciais para atingir seu objetivo quanto a satisfação e

fidelização de seus clientes. Além do contato inicial o pós-venda realiza

pesquisas de satisfação após a entrega do bem e entrega uma carta de

agradecimento da compra acompanhada de brindes. Após esse processo de

entrega e agradecimento, o Pós-venda fica responsável em manter uma rotina de

visitas de acompanhamento a cada 90 dias, essas visitas tem o intuito de

resolver algum tipo de reclamação ou esclarecer dúvidas que o cliente possui

quanto ao produto ou atendimento.

Para medir suas ações de todo o processo que envolve vendas e pós-

venda, a organização possui um programa de qualidade chamado 100% Volvo, e

é auditada anualmente em vários pontos como: sustentabilidade, processos de

vendas, serviços, estoque de peças, 5s, satisfação de clientes e satisfação dos

funcionários. No ano de 2013 a Ribeiro Veículos S/A conquistou pela primeira

vez a certificação OURO do programa 100% Volvo de qualidade, no qual é

certificada até hoje. Em 2015 foi eleita através da pesquisa CSS realizada pela

Volvo do Brasil como top 3 de melhores concessionárias do Brasil no que tange

a satisfação de seus clientes, a neste mesmo ano, através de uma pesquisa

realizada pela Gazeta do Povo (Paraná) a Ribeiro recebeu o prêmio Great Place

To Work e foi qualificada entre as 10 melhores empresas para se trabalhar no

Estado, provando ainda seu sucesso e evolução no mercado e mais, foi também

eleita top 5 pela Revista IstoÉ Dinheiro no quesito objetivo financeiro realizado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises de dados obtidos nesse estudo, através de todo o processo

de planejamento de vendas e pós-venda da Ribeiro Veículos S/A, teve como foco

principal observar as boas práticas e métodos utilizados pela organização em

como ela prospecta novos negócios e trabalha para atingir um nível de

52

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

satisfação de seus clientes, que levem a fidelização dos mesmos. Os resultados

do estudo mostram que ter o cliente como foco das ações comerciais e ter um

planejamento de atendimento bem definido desde o primeiro contato, tornando

um processo contínuo, têm sido de fato uma grande vantagem diante de todas

as dificuldades presentes no mercado.

Fazer um bom uso da ferramenta CRM, e utiliza lá como base para

levantamento de dados e análises de perfil de cada cliente, ajuda em uma maior

assertividade das negociações e contribui para um relacionamento duradouro.

As conquistas e premiações que a Ribeiro Veículo tem alcançado em indicadores

que medem à satisfação de seus clientes e o sucesso que tem sido em

resultados, levam a comprovação de que suas práticas tem a tornado um

modelo de sucesso e gestão.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, H. C. de. Sinergia no Atendimento. Cliente nossa razão de ser. BELO

HORIZONTE. Editora: Clube dos autores, 2009.

BRETZKE, Miriam. Marketing de Relacionamento: oportunidade para

desenvolvimento e crescimento continuo no setor financeiro. Balas Conference

the University of Texas, 1998.

FERNANDES, G.R. et al. CRM – Uma ferramenta fundamental para a captação e

manutenção de clientes. Revista Pensar Tecnologia, v.4, n.2, jul. 2015.

KOTLER, P.; FOX, K. "Marketing Estratégico para Instituições Educacionais".

Atlas, 1ª edição 1998.

MEDEIROS, S.T. CRM – Estratégia Para Aproveitamento de Conhecimento.

Developers Magazine, ano VI 2002.

NOVELLO, A.P.; Os Benefícios Proporcionados pelo CRM Projeto de Graduação

Esamc. Piraciaba, 2013.

OLIVEIRA, W. J. de. CRM & E-BUSINESS. Florianópolis: Visual Books, 2000.

SOHRABI, B.; HAGHIGHI, M.; KHANLARI, A. Customer relationship management

maturity model A model for stepwise implementation. International Journal of

Human Sciences, Volume 7. 2010.

CONHECIMENTO E GESTÃO

53

ORÇAMENTO EMPRESARIAL

GUILHERME CASSAROTTI FERIGATO1

JERÔNIMO ANTERO ALVES2

RESUMO

O presente artigo teve como objetivo analisar a utilização do orçamento

empresarial como ferramenta para o planejamento e o controle de uma empresa.

Tendo como base o favorecimento da eficiência operacional diante da

concorrência e das exigências do mercado, uma vez que a empresa que não

elabora um orçamento com todas as suas previsões de lucros e quedas de

produção corre o risco de estar fadada ao encerramento de suas atividades. No

intuito de esclarecer os pontos principais do orçamento empresarial, esta

pesquisa classifica-se como qualitativa e bibliográfica, sendo que esta foi

realizada tendo por base autores que tratam dessa temática, apresentando-se os

principais conceitos sobre planejamento, controle e orçamento empresarial. A

coleta de dados se deu por meio de entrevista realizada em uma empresa

familiar que produz componentes plásticos para peças automotivas e

eletrodomésticas. Os resultados mostram a relevância do orçamento empresarial

para o bom desempenho da empresa.

Palavras-chave: Orçamento empresarial. Planejamentos. Controle. Tomada de

decisões.

1 INTRODUÇÃO

Orçamento Empresarial refere-se a um dos instrumentos utilizados pelos

gestores de uma empresa. Apresenta fundamental importância para alicerçar o

planejamento e o controle da mesma.

Geralmente é utilizado como uma ferramenta de controle, onde propõe

os limites orçamentários para os gastos empresariais, o que favorece a

eficiência operacional uma vez que a empresa, ao fazer uso dessa ferramenta

em todos os seus setores, pode prever as despesas e as receitas e assim

auxiliar na sua sobrevivência.

1 Mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações, Especialista em Auditoria e

Controladoria, em EAD e Tecnologias Educacionais, Bacharel em Administração de Empresas

formação realizada no Centro Universitário de Maringá Unicesumar. 2 Tecnólogo em Processos Gerenciais pelo Centro Universitário de Maringá e pós-graduando do

Curso de Especialização de MBA em Gestão Empresarial.

54

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Nos dias atuais exige-se que a empresa faça um planejamento

orçamentário, tendo em vista que a concorrência está cada vez mais acirrada

diante das exigências do mercado. O orçamento é considerado de tal

importância que deve ser usado para as tomadas de decisões, evitando-se

transtornos para a empresa, principalmente os de ordem financeira.

Diante deste contexto, todo orçamento empresarial deve ser elaborado

de acordo com alguns critérios, obedecendo a certo rigor e, ao mesmo tempo,

deve estar aberto as novas ideias e soluções para problemas que eventualmente

surjam durante a sua aplicação.

Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa foi estudar e apresentar o

uso do orçamento empresarial como ferramenta contábil para o planejamento e

o controle de uma empresa familiar que produz componentes plásticos para

peças automotivas e eletrodomésticas.

Para tanto, os procedimentos metodológicos compreendem a pesquisa

bibliográfica, contemplando conceitos sobre planejamento, planejamento

estratégico, planejamento tático e operacional, controle, orçamento empresarial,

seus objetivos e características, efetuada a partir de consulta a livros de vários

autores que tratam desse tema. A coleta de dados se deu por meio de entrevista

realizada com o proprietário de uma empresa e com o responsável pela

elaboração do orçamento empresarial.

Com os resultados deste estudo espera-se contribuir para a

compreensão do tema proposto, haja vista tratar-se de uma importante

ferramenta contábil para o desenvolvimento financeiro das empresas e se tratar

de um grande aliado de gestores para a tomada de decisões.

2 PLANEJAMENTO

O planejamento deve ser elaborado pelas empresas, assim como todo o

processo orçamentário deve estar devidamente estruturado. Durante a

elaboração dos mesmos serão estabelecidas as diretrizes e as metas que serão

determinadas pelo orçamento.

Desta forma, o orçamento coloca o planejamento dentro de uma

empresa em destaque, isto é, para todo administrador é uma ação que deve vir

em primeiro plano. Afirma-se isto porque os gestores e/ou administradores,

quando atingem suas metas orçamentárias estão praticamente cumprindo aquilo

que foi planejado, já que o orçamento é uma das maneiras mais objetivas de

CONHECIMENTO E GESTÃO

55

executar o planejamento. Como se observa, o orçamento deve sempre interagir

com o planejamento para se obtenha sucesso na administração de uma

empresa, fazendo com que a mesma se mantenha no mercado de maneira

saudável, isto é, com lucros significativos e perdas mínimas.

Portanto, o planejamento é uma ferramenta da administração que

estipula as metas a serem seguidas e os objetivos que devem ser atingidos.

De acordo com Ishizaki (apud ROBBINS 2001, p. 116), planejamento é:

A definição das metas de uma organização, o estabelecimento de

uma estratégia global para alcançar essas metas e o

desenvolvimento de uma hierarquia de planos abrangente para

integrar e coordenar atividades empresariais.

Uma vez definidas as metas, as empresas almejam permanecer no

mercado através das estratégias que foram traçadas no presente, objetivando

ainda verificar quais são os pontos positivos e quais os pontos negativos do

planejamento.

2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O planejamento estratégico tem como característica ser realizado a

longo prazo, pois é de responsabilidade da administração principal da empresa.

Neste planejamento serão estipuladas as metas e as estratégias a serem

seguidas e como deverão ser colocadas em prática, o que poderá modificar o

perfil ou redirecionar o futuro do empreendimento.

O planejamento estratégico é um planejamento de longo prazo, de

responsabilidade dos níveis mais altos da Administração, que

procuram se antecipar a fatores exógenos e internos à empresa,

geralmente relacionados com as linhas de produtos ou mercados.

Implica tomada de decisões complexas, pois envolve grande

volume de recursos. As decisões estratégicas tomadas são de

difícil reversibilidade e geralmente apresentam nível de risco

expressivo (ISHIZAKI apud HOJI, 2003, p. 361).

Como se observa este tipo de planejamento deve ser realizado com

cuidado e atenção ao mercado financeiro, à política, ao câmbio, aos métodos

tecnológicos, de conformidade com os fornecedores, os fatores externos, que de

modo geral podem afetar a empresa, tendo como objetivo específico o de

prevenir e evitar maiores prejuízos.

56

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

2.2 PLANEJAMENTO TÁTICO

O planejamento tático deve ser executado pela administração

intermediária da empresa, que obrigatoriamente seguirá as metas que foram

estabelecidas pelo Planejamento Estratégico. Portanto, é desenvolvido para ser

aplicado somente em alguns setores da empresa.

O planejamento tático tem por objetivo otimizar determinada área de

resultado e não a empresa como um todo. Portanto, trabalha com

decomposições dos objetivos, estratégias e políticas estabelecidos

no planejamento tático. [...] O planejamento tático é desenvolvido a

níveis organizacionais inferiores, tendo como principal finalidade a

utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução dos

objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia pré-

determinada bem como as políticas orientativas para o processo

decisório da empresa (CABRAL; TONCOVITCH, 2006, p. 48).

Pode-se observar que o planejamento tático tem como foco determinada

parte da empresa, avaliando e analisando uma área específica de resultado.

Portanto, se encarrega de analisar os objetivos, as estratégias que estão sendo

aplicadas na empresa, além das políticas que foram por ele estabelecidas.

2.3 PLANEJAMENTO OPERACIONAL

O planejamento operacional deve ser realizado a curto prazo e deve

definir as atividades e os serviços a serem realizados dentro da empresa.

Segundo Hong (2006, p.162), o plano operacional é “a pormenorização dos

objetivos e das estratégias do planejamento tático em cada área da organização,

visando especificar as metas traçadas”.

Assim, nota-se que existe certa dificuldade para que o planejamento seja

cumprido pela empresa, pois pode-se correr o risco de que o mesmo não

chegue com clareza em todos os setores, isto é, as suas informações podem

não terem sido repassadas de maneira a serem entendidas por aqueles que irão

executá-lo. Se estas informações não forem encaminhadas corretamente a todos

os setores empresariais é provável que em algum deles algumas de suas metas

deixem de ser cumpridas. Por esta razão é que o planejamento deve ser

elaborado na forma hierarquizada, de acordo com o acima mencionado.

CONHECIMENTO E GESTÃO

57

3 CONTROLE

Parte-se do princípio que toda empresa deve ter um setor de controle.

Esta atividade, dentro de uma organização, tem o objetivo de identificar se os

planos que foram traçados estão sendo devidamente cumpridos e se os

mesmos são atingidos por todos os seus setores. Sua característica primordial é

fazer com que os resultados daquilo que foi planejado e direcionado estejam de

acordo com os objetivos que foram previamente estabelecidos.

Pode-se entender que o Controle é um processo que ocorre após o

planejamento. Para Frezatti (1999, p. 40), “[...] deve ser um instrumento que

permita à organização entender o quão próximos estão seus resultados em

relação ao que planejou para dado período”.

O Controle, seja muito ou pouco formalizado, é fundamental para

assegurar que as atividades de uma empresa se realizem de forma

desejada pelos membros da organização e contribuam para a

manutenção e melhoria da posição competitiva e a consecução das

estratégias, planos, programas e operações, consentâneos com as

necessidades identificadas pelos clientes (GOMES, 2001, p. 22).

Em suma, a base do controle da empresa reside nas informações que

devem ser rotineiramente averiguadas dentro da empresa, em todos os setores,

e de acordo com as informações obtidas a administração deverá avaliar se há ou

não a necessidade de modificar ou manter as suas atividades organizacionais.

Portanto, o controle tem como objetivo garantir que os resultados

daquilo que foi previamente planejado, organizado e dirigido estejam de acordo o

mais próximo possível dos objetivos que foram definidos inicialmente para cada

setor da empresa.

A controladoria pode ser entendida como um processo de averiguação

dos Planos Orçamentários que foram estipulados e se estão sendo realizados

observando-se a margem de acerto orçamentária prevista pelos administradores.

Quando se fala em resultados desejados, pressupõe-se que eles

sejam conhecidos e previstos. Isso significa que o conceito de

controle não pode existir sem o conceito de planejamento. Aliás, os

controles requerem planos. Assim, o controle é a função

administrativa que monitora e avalia as atividades e resultados

alcançados para assegurar que o planejamento, a organização e a

direção sejam bem-sucedidos (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p.

277).

58

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Deste modo, o controle orçamentário permite verificar a oscilação dos

recursos que foram previstos para serem gastos em certo período e identificar se

houve gasto excessivo ou aquém do que foi anteriormente planejado.

O controle possui algumas finalidades importantes sendo suas

características, tais como: - Identificar problemas e erros que se

transformam em desvios do planejado, com a finalidade de corrigi-

los e de evitar sua reincidência; - Fazer com que os resultados

obtidos com a realização das operações se aproximem o máximo

possível dos resultados esperados, possibilitando alcançar as metas

e os objetivos traçados; - Verificar se as estratégias e políticas estão

proporcionando os resultados esperados dentro das situações

existentes e previstas; - Proporcionar informações gerenciais

periódicas, possibilitando rápida intervenção do desempenho do

processo (SANVICENTE; SANTOS, 2000, p. 207-219).

O controle é uma ferramenta importante, sendo que sua finalidade

consiste em verificar se os objetivos propostos foram cumpridos de acordo com

o planejamento e dentro do orçamento previsto.

[...] o controle orçamentário pode ser efetuado numa empresa, na

sua missão específica de permitir, mediante a comparação entre o

desempenho efetivamente atingido e o que tiver sido planejado, a

verificação da maneira pela qual os objetivos e as metas da

empresa e de suas unidades estão sendo alcançados ou deixando

de ser cumpridos. Na medida do possível, esse controle deverá [...]

fornecer indicações oportunas e rápidas para a tomada das medidas

corretivas cabíveis, e aponte os indivíduos e setores responsáveis

pelo desempenho alcançado, seja ele bom ou mau (SANVICENTE;

SANTOS, 2000, p. 207).

Assim, o Controle consiste em verificar se as normas e os parâmetros

que foram estabelecidos e utilizados encontram-se de acordo com o que foi

planejado e o que está sendo executado, pretendendo-se sempre obter o

sucesso da empresa dentro do orçamento empresarial previsto.

4 ORÇAMENTO EMPRESARIAL

Orçamento Empresarial é o instrumento contábil pelo qual o

administrador da empresa se baseia para as suas tomadas de decisões. Sua

principal característica é estabelecer as metas operacionais de investimentos, ou

seja, avaliar as despesas e as receitas que a empresa fez uso durante

determinado período.

CONHECIMENTO E GESTÃO

59

O gestor utiliza-se do orçamento empresarial não somente para

mensurar os gastos que a empresa teve durante determinado período, mas,

também, para orientá-lo no controle desses gastos nos setores da empresa para

que possa atingir corretamente os objetivos e as metas que foram traçadas

anteriormente.

Um orçamento bem elaborado e executado de maneira adequada

viabiliza a verificação, pelos administradores, de quais serão as estratégias

necessárias para a produção e escoamento de seus produtos ou serviços

diretamente onde a demanda dos mesmos seja necessária e de acordo com as

exigências do mercado.

Um orçamento é uma expressão quantitativa formal de planos da

administração. O orçamento geral resume os objetivos de todas as

subunidades de uma organização – vendas, produção, distribuição

e finanças. Quantifica metas para vendas, produção, lucro líquido e

posição de caixa e para qualquer outro objetivo especificado pela

administração (HORNGREN, 1981, p. 117).

O orçamento deve sempre interagir com o planejamento para que se

obtenha sucesso em toda administração, fazendo com que a empresa se

mantenha no mercado de maneira saudável, isto é, com lucros máximos e

perdas mínimas.

Toda administração tem como base principal o levantamento de suas

provisões financeiras que venham a exigir que, em determinadas situações, o

administrador seja orientado a se adaptar ou inovar as programações que foram

feitas no decorrer da existência da empresa, devendo ser realizado anualmente

com a finalidade de adequar o orçamento.

Nestas programações ou planejamentos encontram-se incluídos os

recursos financeiros e os recursos humanos especializados. Deste modo, a

administração precisa estar atenta e sempre procurar por novas alternativas que

possam melhorar o desempenho da empresa em todos os seus setores, tais

como novas atividades, métodos mais adequados, mas, sobretudo, outras

fontes de recursos, além de avaliar os rendimentos dos diversos setores.

Planejamento e Controle, assim como o Orçamento Empresarial, são

elementos que compõem toda a administração. Existe uma relação direta entre

estes elementos. O estudo e a avaliação dos mesmos são importantes. O

orçamento engloba todos os setores da atividade da empresa, sendo uma tarefa

que deve ser desempenhada com cuidado e objetividade, pois é a base da

60

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

administração. Os objetivos do orçamento são as políticas, os programas e os

métodos que devem ser desenvolvidos, e não menos importantes são as

maneiras pelas quais serão realizados e aplicados em cada setor empresarial.

O mais importante dos requisitos do orçamento é que o seu elaborador

tenha o exato conhecimento da realidade administrativa. Portanto, é

imprescindível diagnosticar o problema, buscar por alternativas eficientes,

avaliando-se cada uma delas para somente após realizar a tomada de decisão.

Devem ser lembrados alguns aspectos no planejamento no que se refere

à elaboração do orçamento empresarial. É preciso avaliar os benefícios e

dificuldades provenientes da divisão do trabalho, assim como deve ser feito o

mesmo com os principais serviços que a instituição ou empresa presta a

terceiros. Deve ainda verificar se a empresa apresenta condições financeiras

para realizá-la, avaliando também o estabelecimento dos cronogramas para a

execução das tarefas.

Outro fator importante é o estabelecimento dos objetivos e sub objetivos

determinados hierarquicamente com a finalidade de proporcionar mais eficiência

nas ações a serem desempenhadas por todos os funcionários e pelos setores da

empresa. Torna-se necessário realizar um levantamento dos recursos e da

previsão do tempo que será gasto para a execução de cada uma destas tarefas,

devendo, para tanto, ser elaborado um cronograma orçamentário específico.

O orçamento, de acordo com Padoveze (2007, p.189),

Nada mais é do que colocar na frente aquilo que está acontecendo

hoje. Orçar significa processar todos os dados constantes do

sistema de informação contábil de hoje, introduzindo os dados

previstos para o próximo exercício, considerando as alterações já

definidas para o próximo exercício.

Já segundo o dicionário Michaelis (2009, p. 624), “orçamento é a ação

ou efeito de orçar; cálculo dos gastos com a realização de qualquer obra; cálculo

prévio da quantia que se tem e do quanto se vai gastar”.

O sistema orçamentário global corresponde à projeção e à

operacionalização das ações descritas nas etapas de planejamento

financeiro, [...]. A proposta orçamentária deve contemplar as

estimativas de receitas, custos, despesas e investimentos

necessários para a consecução das atividades econômicas

projetadas, a partir da definição dos objetivos, das metas e das

estratégias da empresa (ZDANOWICZ, 2003, p. 135).

CONHECIMENTO E GESTÃO

61

Observa-se que o orçamento é uma ferramenta que faz parte do

processo de planejamento e controle operacionais da empresa, seja ela pequena

ou grande e independente do trabalho que desempenha no ramo econômico. De

modo geral, as empresas tendem a planejar e controlar as suas atividades por

intermédio de técnicas orçamentárias.

O orçamento está fundamentado na confecção de um plano geral de

ação de toda empresa, de acordo com os objetivos, as suas metas

e as políticas de ação a curto e longo prazos. O sistema

orçamentário fornece a direção às instruções para a execução dos

planos, enquanto a avaliação e o controle permitem a comparação

dos valores realizados pela empresa, aos projetados para um

determinado período (ZDANOWICZ, 2003, p. 198).

O orçamento empresarial é parte integrante do planejamento geral da

empresa e deve atender aos objetivos do mesmo de forma que venha a

possibilitar a concretização de suas metas e políticas de ação que foram

previamente estabelecidas. É com base neste orçamento que serão tomadas as

decisões para a execução do planejamento que foi elaborado.

5 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

A empresa objeto de estudo é de médio porte, situada na cidade de

Pitangui, em Minas Gerais, e está há mais de vinte anos no mercado, atuando

em atividades voltadas para a produção de peças de polietileno, tais como tampa

para máquinas de lavar roupas, máquinas de lavar pratos e, copos, botões para

fogão e retrovisores automotivos, dentre outros. Está assegurada a privacidade

da empresa, a pedido do proprietário, utilizando-se o nome Plástil Ltda. O seu

principal fornecedor de materiais é uma grande empresa de Belo Horizonte.

A empresa preocupa-se com a prevenção diária contra acidentes do

trabalho, sendo observadas todas as determinações legais no que se refere à

sustentabilidade, medicina e segurança do trabalho, com a presença de técnicos

especializados nestas áreas, comprometidos com a segurança dos funcionários,

evitando-se a ocorrência de acidentes.

Quanto à visão, a empresa é referência na oferta dos seus produtos

dentro dos padrões exigidos na cidade de Belo Horizonte.

Em entrevista realizada com o proprietário da empresa, este relatou que

sua preocupação pauta-se em questões relacionadas ao Orçamento Empresarial,

62

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Planejamento e Controle dos gastos da empresa, com vistas a estabelecer suas

metas de produção e qualidade dos produtos repassados para empresas

situadas em Belo Horizonte.

Na Plástil Ltda. existe um setor específico responsável por elaborar o

orçamento, o planejamento e o controle das atividades da empresa. Desta forma,

as entrevistas realizadas com os responsáveis pela elaboração do orçamento

relataram que há a mesma preocupação do proprietário da empresa em relação

ao orçamento empresarial, bem como informaram que o orçamento é

constantemente revisto por ambos para prevenir gastos excessivos e desperdício

de material.

Quando indagados acerca da confecção dos relatórios gerenciais, que

são preparados para sustentar a tomada de decisões orçamentárias, o

proprietário e o responsável pela elaboração do Orçamento Empresarial

responderam que se utilizam desses relatórios para efetuar a base do

Orçamento, e que se trata de importante documento para a tomada de decisões

da empresa.

O proprietário é pessoa com experiência no seu empreendimento, tem

60 anos de idade e se declarou satisfeito com o responsável pela elaboração do

Orçamento Empresarial e com o Planejamento da Empresa. A empresa segue

corretamente os relatórios gerenciais e as práticas da elaboração do orçamento,

do planejamento e do controle.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O orçamento empresarial fornece instrumentos que facilitam a aplicação

do planejamento e do controle da empresa, assegurando a correlação entre

custos e gastos administrativos.

O orçamento empresarial, o controle e o planejamento da empresa é o

resultado da prática, o que favorece a quantificação dos recursos empenhados

durante um período, permite identificar os motivos que levaram à ocorrência de

alguma defasagem nos setores da empresa, podendo apurar as

responsabilidades e evitá-las no futuro.

O orçamento é eficaz quanto à identificação de problemas quando se

desviam do planejado, a fim de corrigi-los, evitando-se assim a reincidência e

aprimorando a sua execução. Outra vantagem do orçamento é fazer com que os

resultados obtidos durante a realização das operações se apresentem muito

CONHECIMENTO E GESTÃO

63

próximos dos esperados, já que o mesmo serve de parâmetro para o

planejamento.

Vê-se, então, que o processo orçamentário da empresa deve fornecer

informações gerenciais que serão o suporte para a tomada das decisões, sendo

clara a sua importância dentro da administração. Assim, o orçamento

empresarial somente poderá ser executado se for objetivo e claro e obtiver o

resultado que se espera diante do empenho de todos os colaboradores da

organização.

Portanto, o administrador deve estar atento a todos os segmentos da

empresa, ao orçamento empresarial, ao planejamento e ao controle para obter o

sucesso desejado com a confecção de seus produtos e seu direcionamento ao

mercado.

REFERÊNCIAS

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aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

FREZATTI, Fábio. Orçamento Empresarial: planejamento e controle gerencial. São

Paulo: Atlas, 1999.

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abordagem contextual e organizacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

HONG, Iuh Ching. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Pearson Prentice Hall,

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proposta orçamentária global como requisito para o sucesso na administração

das empresas coureiro-calçadistas do Rio Grande do Sul. 1. ed. Porto Alegre:

Novak, 2003.

64

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

PRIMEIRA INFÂNCIA NO ESTADO DO PARANÁ E SEUS DESAFIOS

GUSTAVO FEITOZA DA SILVA1

MARIA VICTORIA BORGHETTI BARROS2

RESUMO

O presente artigo apresenta o tema Primeira Infância, sua atual situação no Brasil

e, principalmente, no Estado do Paraná. É importante ressaltar que o país precisa

avançar com maior velocidade já que se trata das crianças e do futuro do Brasil.

A metodologia utilizada baseou-se em pesquisas realizadas em artigos

científicos referentes ao assunto. Foi possível concluir que as políticas públicas

relacionadas à Primeira Infância devem envolver todos os setores e estruturas do

Estado, como Saúde, Educação, Esporte, Lazer, Assistência Social, Nutrição,

Artes, devendo ainda o tema ser discutido amplamente com a sociedade e os

atores nela inseridos. Constatou-se que a resistência à mudança por parte dos

educadores e os entraves burocráticos dos poderes legislativos e executivos são

os principais desafios a serem enfrentados quando se trata deste importante

tema.

Palavras-chave: Primeira Infância. Políticas Públicas. Sociedade. Desafios na

educação.

1 INTRODUÇÃO

No presente artigo foram apresentados estudos sobre as políticas

públicas e programas relacionados ao desenvolvimento da Primeira Infância,

bem como os desafios de implementação no Estado do Paraná. A importância

reside no fato de diversas pesquisas internacionais revelarem o potencial do

retorno dos investimentos realizados na Primeira Infância e que contribuem para

a construção de sociedades mais humanas e desenvolvidas.

Espera-se, que ao concluir este trabalho, algumas ações já estejam em

andamento junto ao Governo do Estado do Paraná e, assim, a construção do

conhecimento possa ser enriquecida.

Este artigo, baseado em pesquisa bibliográfica realizada em artigos

científicos, está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, o

1 Bacharel em Ciências Econômicas e Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de

Maringá (UEM). 2 Formada em Hotelaria e Gestão de Eventos pela Swiss Hotel Management School na Suíça, Eleita

Deputada Estadual pelo Estado do Paraná em 2014.

CONHECIMENTO E GESTÃO

65

segundo item apresenta um breve histórico sobre a Primeira Infância e seu

significado de maneira ampla. Por fim, no quinto item são relatadas as

considerações finais, seguida das referências.

2 PRIMEIRA INFÂNCIA

O Estado do Paraná, assim como em todas as regiões do país, precisa

estar atento a uma questão muito importante e que afeta a vida e o futuro das

próximas gerações: a Primeira Infância e os direitos das crianças como dever do

Estado. O que significa Primeira Infância?

Muitos estudiosos apresentaram ideias com diferentes perspectivas

sobre o conceito de Infância. De acordo com o Ariès (1981), até o século XII ou

XIII inexistia na Europa o conceito de Infância tal como veio a ser mais tarde,

especialmente a partir do Iluminismo. Criança não era sinônimo de fragilidade da

forma como se conhece hoje, sendo uma invenção da modernidade concebida

através de uma evolução cultural e histórica. A partir do século XVII foi admitido

que a criança não era preparada por si própria para enfrentar a vida adulta e

deveria receber um tratamento diferenciado.

Jean Jacques Rousseau (1768) defendeu a noção de que a criança não

podia ser entendida como um adulto em miniatura, afirmando que elas tinham

características próprias e individualidade. Acreditou que era preciso educar as

crianças de acordo com sua natureza, desenvolvendo progressivamente seus

sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar, sempre

destacando a mãe como a educadora natural da criança.

Segundo a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (2016), este é o

“período que vai desde a concepção do bebê até o momento em que a criança

ingressa na educação formal”. Considera-se que, no Brasil, a Primeira infância

se encerra aos seis anos completos da criança.

É nesta fase que as atividades cerebrais da criança se desenvolvem, e

conforme diversos estudos científicos, é nela que se pode atuar para ter

melhores cidadãos no futuro.

Segundo Heckman (2014), que realizou diversos estudos do impacto de

investimentos em primeira infância, não há ação de maior retorno em educação

do que a voltada para as crianças e também não existe melhor estratégia para

diminuir a desigualdade de origem socioeconômica no desempenho escolar. Em

países em desenvolvimento como o Brasil se faz necessário o investimento em

66

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Primeira Infância não só pelo fator econômico, mas também por ser um direito

da criança.

Os investimentos em educação na primeira infância reforçam o

desenvolvimento cerebral e são extremamente importantes para a melhoria da

saúde e do bem-estar das próximas gerações. Assim, indivíduos com maior

escolaridade atingem melhores níveis socioeconômicos e de qualidade de vida,

reduzindo os índices de violência e criminalidade (SANTOS; KASSOUF, 2008).

Este período que compreende a fase de 0 a 6 anos é crucial para a

criança, é nele que ocorre o desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais,

bem como a aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o

aprimoramento de habilidades futuras mais complexas. E mais, crianças com

desenvolvimento integral saudável durante os primeiros anos de vida têm maior

facilidade de se adaptarem aos diferentes ambientes e de construírem novos

conhecimentos, contribuindo para que posteriormente obtenham um bom

desempenho escolar e alcancem realização pessoal, vocacional e econômica e

se tornem cidadãos responsáveis e preparados para encarar os desafios da vida

(FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL, 2016).

É possível destacar também que a aprendizagem das crianças inicia-se

desde o começo de sua vida, muito antes de entrar na escola, do pré-natal à fase

final da gestação e durante todo o período até os três anos e se desenvolve em

todos os domínios: físico, cognitivo e socioemocional. Sabe-se hoje que, além

da contribuição da herança genética, ela aprende nos contextos de seus

relacionamentos afetivos e, principalmente, é na primeira infância que a

aprendizagem é fortemente influenciada por todos os locais interagidos pelas

crianças (BOYD; BEE, 2011).

No Brasil, a Primeira Declaração dos Direitos da Criança – “Declaração

de Genebra de 1923” - serviu de base para a criação da “Convenção dos Direitos

da Criança de 1989”, criado logo após a Constituição da República Federativa do

Brasil, em 1988. O Congresso Nacional aprovou e promoveu avanços com o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e no mesmo ano ratificou

a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos da

criança (BRASIL,1990).

Já em 2009 foi promulgada a Emenda Constitucional que tornou

obrigatória, para as crianças de 4 e 5 anos de idade, a frequência à pré-escola.

Em 2010, foi publicado o Plano Nacional pela Primeira Infância, realizado a partir

de ampla participação da sociedade civil organizada e instituições e que tem

CONHECIMENTO E GESTÃO

67

como propostas ações de articulação, promoção e realização de políticas

públicas a partir dos direitos das crianças de 0 a 6 anos e válido até 2022

(CONAE, 2010).

Diante do exposto, é preciso destacar que o país tem avançado no tema,

conforme aprovação na câmara federal após longo período de discussões do

Marco Legal da Primeira Infância, Lei 13.257/2016, cujo objetivo é criar políticas

públicas voltadas para o desenvolvimento de crianças da faixa etária de 0 a 6

anos (BRASIL, 2016).

Disponível no Portal da Saúde do Estado de São Paulo, o Programa

Primeiríssima Infância, criado pelo Governo Estadual de São Paulo em conjunto

com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e também com parcerias de

diversos municípios paulistas e ONG´s e é um exemplo da promoção e incentivo

ao desenvolvimento infantil. Entre os objetivos estão melhorias no atendimento

de qualidade às gestantes do Estado de São Paulo, promoção de trabalhos

integrados e envolvimento com os mais variados setores, mobilização e

conscientização da sociedade para esta importante fase da vida. Atualmente, o

Programa atende 41 municípios e a próxima fase de expansão pretende atingir

mais 60 municípios paulistas.

Amparado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

(2016), o programa voltado para o público da Primeira Infância é o Brasil

Carinhoso, de caráter federal e que atinge diversas vertentes, entre elas a

expansão de matrículas de crianças de 0 e 4 anos em creches públicas ou

conveniadas de famílias em situações de vulnerabilidade e beneficiárias do

Programa Bolsa Família a partir de repasses financeiros aos municípios

cadastrados para custear despesas com manutenção e desenvolvimento da

educação infantil, ações de cuidado integral, segurança alimentar e nutricional e,

principalmente, a garantia de acesso e permanência da criança na educação

infantil.

Existem algumas iniciativas em curso no Estado do Paraná, disponível

no Portal da Saúde do Estado do Paraná, como o Programa Mãe Paranaense,

que propõe a organização da atenção materno-infantil nas ações do pré-natal,

puerpério e o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças,

em especial no seu primeiro ano de vida. É um conjunto de ações que envolve a

captação precoce da gestante, o seu acompanhamento no pré-natal, com no

mínimo 7 consultas, a realização de 17 exames, a classificação de risco das

gestantes e das crianças, a garantia de ambulatório especializado para as

68

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

gestantes e crianças de risco, a garantia do parto por meio de um sistema de

vinculação ao hospital conforme o risco gestacional. O público alvo são as

mulheres em idade fértil e crianças menores de 1 ano de idade.

Além deste, existe também o Programa Família Paranaense,

estabelecido pela Lei Estadual nº.17.734/2013, que tem por objetivo principal

ações intersetoriais para superação da extrema pobreza e demais

vulnerabilidades vivenciadas pelas famílias em todo Estado.

Assim, pode observar que o Programa Mãe Paranaense tem como foco

principal a saúde e o Programa Família Paranaense o desenvolvimento social.

Desta forma, se faz necessário o atendimento à Educação como ferramenta para

construção do conhecimento e do desenvolvimento da primeira infância,

possibilitando resultados futuros concretos para a vida e o bem-estar das

crianças e de suas famílias por meio de atividades educativas e ações com a

comunidade em sua volta.

No Estado do Paraná foi proposta pela Deputada Estadual Maria Victoria

a emenda parlamentar ao Plano Plurianual, exercício 2016, cujo objeto é apoiar a

implantação do CIC Família – Centro Integrado de Atenção à Criança e à Família.

O CIC Família é um Programa idealizado pela Vice-Governadora do

Estado do Paraná e tem como objetivo principal o desenvolvimento das crianças

de 0 a 6 anos em um centro integrado completo, que atenda todas as áreas que

envolvam saúde, educação, desenvolvimento social, trabalho, esporte, lazer,

nutrição, artes e música em benefício das crianças, bem como de toda a

comunidade em seu entorno. Estes centros serão construídos ou adaptados nas

creches já existentes em todos os municípios do Paraná que atenderem

determinados requisitos para oferecer completa infraestrutura de atendimento às

pequenas crianças do Paraná, bem como formatar parceria com universidades

estaduais e federais para contribuição em capacitação, serviços e

monitoramento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A resistência à mudança por parte dos educadores e os entraves

burocráticos dos poderes legislativos e executivos são os principais desafios a

serem enfrentados quando se trata o assunto Primeira Infância, bem como o

respeito aos direitos e deveres das Constituições, o Marco Legal da Primeira

Infância e o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), a partir da nova Lei de

Diretrizes e Bases.

CONHECIMENTO E GESTÃO

69

As creches são etapa fundamental na educação das crianças, porém, é

de conhecimento público que faltam milhões de vagas em creches e pré-escolas

públicas para alunos até os 5 anos de idade, e o pior, muitos pais deixam de

trabalhar porque não tem onde deixar seus filhos.

É comum os governantes entenderem que o investimento em Primeira

Infância não dá retorno no curto prazo, já que os reflexos dos investimentos só

poderão ser sentidos após 10 ou 15 anos e estes não estarão mais à frente do

governo. É importante que o Poder Legislativo, em conjunto com o Poder

Executivo, crie e regulamente leis que tornem obrigatório o investimento em

Primeira Infância.

De acordo com Hofstede (2011), o Brasil é categorizado como um país

culturalmente imediatista, quando comparado a países desenvolvidos. Portanto,

pode-se observar que os mesmos pensam e agem a longo prazo quando

planejam o desenvolvimento de suas nações.

São enormes os desafios que o Brasil e seus estados têm pela frente,

mas as crianças não podem esperar. Para chegar a qualquer lugar é necessário

dar o primeiro passo e o primeiro passo é investir na Primeira Infância.

REFERÊNCIAS

ARIÈS, P. L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime. Paris: Plon, Point

Seuil, 1960.

ARIÈS, P. A história social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BOYD, D.; BEE, H. A criança em crescimento. 12.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei no. 8069/1990. Brasília, DF:

1990.

BRASIL. Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Lei no.

9.394/1996. Brasília, DF: 1996.

BRASIL. Princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas

públicas para a primeira infância. Lei no. 13257/2016. Brasília, DF: 2016.

CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO (CONAE). Construindo o Sistema

Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação, diretrizes e

estratégias; Documento Final. Brasília, DF: MEC, 2010.

70

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL. Primeira Infância. Disponível em:

< http://www.fmcsv.org.br/pt-br/Paginas/primeira-infancia.aspx>. Acesso em:

25 mai. 2016.

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Brasil Carinhoso.

Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/brasil-carinhoso. Acesso em:

19 mai. 2016.

HECKMANN, J. O Bom de Educar desde cedo. Revista VEJA. Rio de Janeiro,

Abril, 2014.

HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software of the mind. McGraw-Hill.

New York, 1991.

PARANÁ. Programa Família Paranaense. Lei no. 17.734/2013. Curitiba, PR,

2013.

PORTAL DA SAÚDE DO GOVERNO ESTADUAL DO PARANÁ. Rede Mãe

Paranaense. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo

/conteudo.php ?conteudo=2892. Acesso em: 28 abr. 2016.

PORTAL DA SAÚDE DO GOVERNO ESTADUAL DE SÃO PAULO. Primeiríssima

Infância. Disponível em: http://portal.saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-

saude/areas-tecnicas-da-sessp/saude-da-crianca/sao-paulo-pela-primeirissima-

infancia. Acesso em: 19 mai. 2016.

SANTOS, M. J., KASSOUF, A. L. (2008), Estudos econômicos das causas da

criminalidade no Brasil: Evidências e controvérsias, Technical report, ANPEC.

CONHECIMENTO E GESTÃO

71

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DO CENTRO DE ESPORTES E LAZER MONTEIRO

LOBATO, NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA, PARANÁ

ISLAYLA PALOMA NUNES SIMAS1

BEATRIZ RIBEIRO2

RESUMO

Este artigo discutiu a importância dos espaços verdes em áreas urbanas e a

percepção que os frequentadores desses locais têm sobre os mesmos. A

expansão das cidades faz com que cada vez haja menos espaços livres e

verdes. Por isso, pesquisar qual é o perfil e quais são as percepções dos

visitantes do Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato, um parque localizado

em área residencial na cidade de Ponta Grossa, Paraná, é importante para saber

quais são as carências desses locais e qual é a relação que os frequentadores

têm com o mesmo. Foi aplicado um questionário a 65 pessoas, 50 delas

frequentadoras do parque, com questões abertas e fechadas. Homens e

mulheres visitam o parque em proporção semelhante, destacando-se as faixas

etárias de 14 a 34 anos. A maioria dos visitantes possui terceiro grau completo.

Moradores do bairro onde fica o parque representam a maioria dos

entrevistados, que o frequentam principalmente semanalmente ou diariamente,

tendo preferência pelos finais de semana. Os frequentadores estão cientes da

importância de um parque na área urbana, citando a melhoria na qualidade de

vida, prática de esportes, fuga do stress da cidade e democratização do lazer, já

que é um espaço gratuito. Foram sugeridas inúmeras melhorias no parque,

demonstrando que os visitantes prestam atenção ao local que utilizam, sentindo-

se responsáveis pelos mesmos, mas acreditando que a maior responsável é a

Prefeitura Municipal.

Palavras-chave: Parques urbanos. Percepção ambiental. Espaços livres.

1 INTRODUÇÃO

Os espaços livres urbanos tornam-se cada vez mais escassos com o

crescimento das cidades, já que muitas vezes áreas verdes são devastadas para

que haja a expansão de áreas residenciais ou industriais. A presença de parques

e praças no meio urbano possibilita uma fuga do barulho e correria das cidades,

possibilitando aos seus frequentadores não somente a oportunidade de lazer,

1 Graduada em Ciências Biológicas pela Uningá. Mestre em Biotecnologia Ambiental pela

Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2 Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

72

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

mas também uma melhoria na sua qualidade de vida pela prática de esportes ou

por simples contemplação da natureza. A criação de parques e praças deve levar

em consideração a opinião pública, também importante para sua manutenção e

melhorias. Diferentes pessoas possuem diferentes personalidades e histórias de

vida, os que influenciam na sua percepção dos locais que as rodeiam.

O Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato está localizado em área

residencial, tendo assim impacto sobre a vida dos moradores da região. Saber

qual é o perfil dos usuários e quais suas ideias em relação ao parque pode

contribuir enormemente para a melhoria do mesmo, já que os dados coletados

podem ser utilizados como referência para futuras benfeitorias no parque,

tornando este um lugar mais atrativo para a população.

Assim sendo, os principais objetivos deste estudo são:

a) Descobrir qual é o perfil dos frequentadores do parque;

b) Conhecer as diferentes percepções de diferentes pessoas sobre o

parque;

c) Levantar quais são as possíveis melhorias que podem ser feitas nos

Centros de Esportes e Lazer da cidade de acordo com a opinião

pública.

Foi apresentada, inicialmente, nesse artigo a fundamentação teórica para

o estudo, trazendo tópicos sobre os parques urbanos e a percepção ambiental.

Posteriormente foi exposto como a pesquisa de campo foi desenvolvida e, na

sequência, mostrados e discutidos os resultados, finalizando com as

considerações finais.

2 ÁREAS VERDES E A PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Na literatura é possível encontrar diversas definições para área livre ou

espaço livre no meio urbano. Para Cavalheiro, et al. (1999), a zona urbana é

composta por três sistemas: sistemas de espaços com construções, ou seja,

espaços onde houve a intervenção humana na construção de edifícios, como

casas, indústrias, comércios; sistemas de espaços livres de construção, sendo

estes espaços ao ar livre, como lagos, parques, praças; e sistema de espaços de

integração urbana, como rodovias e ferrovias.

Segundo Souza (2010), Milano (1993) definem área livre como uma

área com características predominantemente naturais, independente do porte da

CONHECIMENTO E GESTÃO

73

vegetação. Hardt (2000, p. 14) classificou as áreas verdes urbanas em duas

categorias:

a) públicas, sujeitas a enfoque mais técnico da administração

municipal, comportando tanto os espaços verdes com funções

relacionadas ao lazer e à recreação (e.g.: parques, praças), à

conservação ambiental (e.g.: áreas de preservação permanente,

unidades de conservação) ou especiais (e.g.: cemitérios-parque),

quanto a arborização de ruas;

b) privadas, subordinadas a enfoque mais político e legal (devido à

inacessibilidade pública e à facilidade de supressão da cobertura

vegetal), enquadrando espaços verdes voltados ao lazer (e.g.:

jardins, quintais), à conservação ambiental (e.g.: áreas de

preservação permanente, unidades de conservação) ou a funções

especiais (e.g.: cemitérios-parque).

Essas áreas desempenham papéis importantes nas cidades, sendo que

Guzzo (1999, apud GELINSKI; SANTOS, 2014) destaca três deles: papel

ecológico, estético e social. Como função ecológica podemos citar a purificação

do ar, abrigo da fauna, manutenção da permeabilidade do solo e aumento da

umidade do ar. As áreas verdes também trazem benefício estético, já que

destoam dos prédios cinzas e do asfalto, trazendo beleza para os centros

urbanos. Socialmente, os parques e praças servem como ponto de encontro e

lazer para os cidadãos, suavizando o stress do dia a dia e trazendo bem estar

para seus frequentadores.

Para Richter (2008), o ato de perceber consiste em uma troca do

indivíduo com o meio exterior. “O estudo dos processos mentais relativos à

percepção ambiental é fundamental para compreendermos melhor as inter-

relações entre o homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamentos e

condutas” (DEL RIO, et al., 1996). Fruto de instrumentos perceptuais de

identidade particular para cada observador, a percepção torna diferenciada a

interpretação de uma única paisagem, de modo que várias pessoas podem

contemplá-la ao mesmo tempo, mas cada um a percebe de formas diferentes

(HARDT, 2004). Segundo Canteras Jordana (1992, apud HARDT, 2000, p. 41), a

percepção da paisagem é condicionada por duas tipologias de filtros:

a) Biofísico, determinado pelas condições de visibilidade do

observador (intrínsecas: acuidade visual e outras condições

sensitivas; extrínsecas: limitações espaciais - posição do

observador, condições atmosféricas, iluminação e barreiras visuais;

74

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

limitações fisiográficas - distância do observador, compartimento

visual); o filtro biofísico estimula a percepção visual da paisagem;

b) Condutual, relativo às reações sensitivas, cognitivas (culturais,

sociais e econômicas) e psicológicas (emocionais e afetivas), além

de outros fatores abstratos; o filtro condutual determina a percepção

psíquica da paisagem.

Guimarães e Dacanal (2006, p. 27) afirmam que:

Os processos de cognição, percepção, interpretação e a

representação do meio ambiente são elaborados a partir de

múltiplas variáveis, levando-se em conta as características

individuais [gênero, faixa etária, etc], herança cultural e classe

socioeconômica de cada ser humano, de maneira que o fenômeno

observado se diferencia e é qualificado de acordo com um certo

olhar em um dado momento.

Tuan (1980, apud RICHTER, 1998) afirma que cada imagem e ideia

sobre o mundo é composta de experiência pessoal, aprendizado, imaginação e

memória. Segundo Richter (1998), uma das dificuldades para a proteção de

ambientes naturais está na existência de diferenças nas percepções dos valores

e da sua importância entre os indivíduos de culturas diferentes ou de grupos

socioeconômicos que desempenham funções distintas, no plano social, nesses

ambientes. Isso acontece porque cada indivíduo está inserido em um contexto

diferente, tendo suas características específicas e vivências diferenciadas com

relação ao meio.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foi escolhido como local para realização da pesquisa de campo o

Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato. O centro foi inaugurado pela

Prefeitura Municipal, em 2012, e está localizado na quadra entre a Avenida

Ernani Batista Rosas e a Rua João Schaia, em frente ao Conjunto Habitacional

Monteiro Lobato, no Bairro Jardim Carvalho, em Ponta Grossa, Paraná.

Possui uma área de aproximadamente 47.600 m². O parque conta com

pista de caminhada, parque infantil, Academia da Terceira Idade, uma quadra

poliesportiva com piso de concreto, quatro quadras de areia, sendo duas delas

grandes e duas pequenas, uma quadra de tênis e uma quadra de bocha. Os

frequentadores do parque também podem usufruir de churrasqueiras e mesas à

sombra. Ao longo do parque há ainda bancos para descanso, postes de

CONHECIMENTO E GESTÃO

75

iluminação e banheiro público (um masculino e um feminino). Todo o parque é

entremeado por áreas gramadas e árvores, principalmente eucaliptos.

Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa foi elaborado um

questionário para ser respondido pelos frequentadores do parque e moradores

do entorno. O questionário aplicado é composto por questões abertas e

fechadas. A pesquisa é composta por perguntas referentes aos dois tópicos

principais:

a) Perfil dos usuários: questões referentes ao sexo, faixa etária,

endereço e nível de escolaridade;

b) Percepção do parque: questões referentes à frequência de uso do

parque, hábitos de utilização do espaço, importância dos parques

urbanos, responsabilidade pela manutenção e melhorias

necessárias no parque.

Além desses tópicos, há também uma pergunta destinada aos

moradores do entorno que não frequentam o parque. O objetivo dessa questão é

descobrir quais são os motivos que os levam a isso.

A aplicação do questionário foi realizada tanto com a presença da

pesquisadora no local quanto através da internet. A aplicação in loco foi realizada

em diferentes dias da semana. O questionário também foi disponibilizado online

em grupos de redes sociais a fim de divulgar o mesmo e alcançar um maior

número de respostas. Tanto a aplicação dos questionários no parque quanto a

disponibilização do mesmo na internet foi feita no mês de maio de 2016.

3.1 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Durante a pesquisa foi entrevistado um total de 65 pessoas. Dessas 65,

15 não frequentam o parque. Sendo assim, os dados discutidos se referem aos

50 frequentadores do parque que responderam ao questionário, posteriormente,

sendo discutido sobre os não frequentadores.

3.1.1 Perfil dos usuários do Centro de Esporte e Lazer Monteiro Lobato

Analisando os dados obtidos através da aplicação de questionário,

podeobservar que 52% dos entrevistados são do sexo masculino e 48% do sexo

feminino. A diferença entre os dois sexos foi pequena, mostrando um equilíbrio

de gênero entre os frequentadores. Quanto à faixa etária, o maior número de

76

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

entrevistados pertence à faixa dos 21 aos 27 anos (24%), seguido pela faixa

etária de 14 aos 20 anos (20%) e depois pela de 28 aos 34 anos (16%). Tem a

mesma porcentagem (14%) para as faixas de 35 aos 41 e 49 aos 60 anos, e

para as faixas de 42 aos 48 e acima de 60 anos, com 6% cada.

Além da idade, também foi questionado o grau de escolaridade. A

maioria dos entrevistados possui curso de pós-graduação completo,

representando 28%, seguido pelos indivíduos que estão com a graduação em

curso (26%). Os entrevistados que possuem nível superior completo

representam 14%, seguidos por 10% que possuem Ensino Médio completo. A

porcentagem de pessoas que possuem nível fundamental incompleto e de

pessoas que possuem pós-graduação incompleta é a mesma, ambos com o

percentual de 8%. As outras faixas são menos representativas, apresentando

apenas um indivíduo (2%) com nível fundamental completo e dois indivíduos

(4%) com Ensino Médio incompleto. Isso indica um alto nível de instrução dos

entrevistados, 50% deles tendo concluído o nível superior.

A maioria dos entrevistados (52%) reside no mesmo bairro em que fica

localizado o Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato, o Jardim Carvalho. Os

residentes dos bairros de Uvaranas (26%) e Órfãs (10%) vêm a seguir, o que

pode ser justificado pelo fato de que ambos fazem limite com o bairro Jardim

Carvalho. Com apenas dois indivíduos (4%), temos o Centro, seguido com o

mesmo percentual (2%), com apenas um representante cada, os bairros Neves,

Nossa Senhora das Graças, Ronda e Vila Liane.

3.1.2 Hábitos e percepção dos usuários

Os hábitos dos frequentadores foram analisados quanto à frequência de

visitas, quais dias da semana em que frequentam e o que costumam fazer no

parque. Há uma frequência maior de visitas semanalmente (30%), seguida por

26% que frequentam diariamente. Essa alta taxa de visitação provavelmente está

relacionada ao fato de que a maioria dos frequentadores mora no mesmo bairro

em que fica o parque, facilitando assim seu acesso. Mensalmente, 24% dos

entrevistados visitam o parque, seguido pelos que frequentam quinzenalmente e

anualmente, com 10% cada. Os finais de semana são os dias mais frequentados

do parque, os sábados tendo 20,9% e os domingos 19%, sendo estes os dias

em que a maioria dos usuários costuma possuir um tempo livre maior. Os outros

dias da semana possuem número de visitas parecido, tendo as segundas-feiras

CONHECIMENTO E GESTÃO

77

um percentual de 13,1%, terças-feiras 12,4%, quartas e quintas-feiras com

11,8% cada e a sexta-feira com 11%.

A atividade mais realizada pelos frequentadores do parque é a prática de

caminhada ou corrida, sendo esta realizada por 45% dos usuários. A prática de

esportes como futebol, basquete, vôlei e tênis exibe um percentual de 14%,

sendo seguida pela realização de piqueniques, com uma porcentagem de 12%.

Dos entrevistados, 7% vão ao parque para levar crianças para brincar, 6% levam

animal de estimação para passear e com a mesma porcentagem, os

entrevistados utilizam o parque para andar de bicicleta ou de patins. A Academia

da Terceira Idade é utilizada por 5% dos entrevistados, e 4% costuma ir ao

parque para passear com amigos. Apenas um dos entrevistados citou a

utilização das churrasqueiras para realização de almoço.

A percepção dos frequentadores sobre o parque foi analisada através de

três questões:

1) A presença de parques em meio urbano é importante? Por quê?

2) Você melhoraria algo no parque? O que?

3) De quem você acredita que seja a responsabilidade de cuidar de

parques e praças?

Todos os entrevistados afirmaram que a presença de parques em meios

urbanos é importante. Foram citados principalmente motivos como a promoção

da melhoria da qualidade de vida, contato com a natureza e fuga do concreto das

cidades, o local como incentivo à prática esportiva e a democratização do lazer,

já que estes espaços são públicos e gratuitos, acessíveis para toda a população.

Muitos comentaram sobre a falta de opções de áreas verdes de lazer na cidade.

Além de citarem todos esses benefícios que os parques urbanos nos trazem, os

entrevistados também demonstraram um apego afetivo ao parque. Citando um

dos entrevistados, “(o parque) faz parte da minha história, há toda uma

identificação, uma noção de pertencimento. Aquele parque é meu”. Isso mostra

um vínculo entre os frequentadores e o parque, que reagem ao mesmo de forma

positiva.

Quanto às melhorias no parque, 36% dos entrevistados acreditam que o

parque está bom e não realizariam nenhuma melhoria no local. Os outros 64%

afirmaram que realizariam melhorias no parque, principalmente quanto à

manutenção do mesmo. A iluminação é considerada boa, mas muitos acreditam

que o local é pouco seguro à noite, sendo necessária uma melhoria na

segurança. A falta de bebedouros parece ser um grande incômodo para os

78

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

frequentadores, além da manutenção e limpeza dos banheiros. Muitos

melhorariam a estrutura dos parquinhos infantis e da Academia da Terceira

Idade, além de acharem necessária a melhoria das quadras de esportes já

existentes e a criação de novas. Alguns citam a falta de lixeiras adequadas com

separação para reciclados e afirmam ser necessário o plantio de mais árvores e

flores, para embelezar o parque. Foi sugerida também a construção de uma pista

de skate, além de área coberta onde seja possível praticar esportes em dias

chuvosos. Os entrevistados acreditam ser necessária a realização de atividades

culturais no local, além de outras que promovam a prática de esportes e a

interação da comunidade. Muitos questionaram a localização das

churrasqueiras, que ficam em área descoberta e muito próximas umas das

outras, ficando longe das mesas que existem no parque, o que justifica o fato de

apenas um entrevistado ter respondido que utiliza as churrasqueiras.

Quando perguntados sobre quem era o responsável por cuidar de

parques e praças, a maioria (62%) disse que a responsabilidade é da Prefeitura

Municipal de Ponta Grossa e também dos frequentadores do parque. Um

percentual de 24% respondeu que acredita que a responsabilidade é apenas da

Prefeitura, 14% afirmaram que a responsabilidade é somente daqueles que

frequentam o parque.

Tendo o questionário sido disponibilizado para que fosse respondido

também através da internet, o mesmo alcançou pessoas que não frequentam o

parque. Isso é importante para levantar quais são os motivos principais para que

alguém não o frequente. Foram citados como motivos a falta de interesse por

parques e também a falta de tempo livre. A falta de segurança no local afasta

algumas pessoas do parque, mas muitos entrevistados dizem que não o

frequentam principalmente porque fica longe de suas residências.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É inegável a importância dos espaços livres e verdes no meio urbano. O

parque cumpre seu dever ao proporcionar um espaço livre para a prática de

esportes, apreciação da natureza e fuga do stress da cidade, sendo também

local de encontro para amigos e famílias.

Os frequentadores do Centro de Esportes e Lazer Monteiro Lobato que

foram entrevistados demonstraram estarem cientes da importância dos parques

em áreas urbanas em seus diferentes níveis como ecológico, estético e social.

CONHECIMENTO E GESTÃO

79

Demonstraram preocupação com a manutenção do mesmo, dando várias

sugestões de melhorias que podem ser utilizadas pelo poder público para que o

parque se torne melhor e mais atrativo.

Isso mostra a importância de levar em conta a opinião dos

frequentadores na hora de realizar benfeitorias nos locais públicos. Além disso,

alguns entrevistados demonstraram apego emocional ao local, tendo o

sentimento de pertencimento ao mesmo. A maioria dos visitantes se sente

responsável por manter o parque, mas acredita que a responsabilidade maior

cabe à Prefeitura Municipal.

Com isso, pode verificar que apesar das diferenças no perfil dos

usuários, como idade, escolaridade e história de vida, a preocupação e cuidado

com o parque está presente em todos, demonstrando seu apreço pelas áreas

verdes públicas.

REFERÊNCIAS

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metodologias de valoración, 1992. In: HARDT, Letícia Peret Antunes. Subsídios à

gestão da qualidade da paisagem urbana: aplicação a Curitiba – Paraná. 2000.

323f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) – Setor de Ciências Agrárias,

Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2000.

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Federal de São Carlos – UFSCAR, 265 p., 1999.

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Alegre-RS, Brasil. 109 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) -

Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa,

Portugal, 2009.

GUIMARÃES, Solange T. de Lima; DACANAL, Cristiane. Arquitetar para viver,

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conservação do meio ambiente. Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro,

v. 1, p 20-38, 2006.

GUZZO, Perci. Estudos dos espaços livres de uso público e da cobertura vegetal

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80

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

HARDT, Letícia Peret Antunes. Subsídios à gestão da qualidade da paisagem

urbana: aplicação a Curitiba – Paraná. 2000. 323f. Tese (Doutorado em

Engenharia Florestal) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do

Paraná – UFPR, 2000.

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146 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) - Centro de Ciências Exatas e

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gerais de planejamento, manejo e administração, 1993. In: SOUZA, Paulo Cezar

Alves de. Funções sociais e ambientais de parque urbano instituído como

unidade de conservação: percepção dos usuários do Parque Natural Municipal

Barigui em Curitiba, Paraná. 146 f. Dissertação (Mestrado em Gestão Urbana) -

Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do

Paraná, Curitiba, 2010.

RICHTER, Elenir Maria. Percepção ambiental do parque urbano integrado Elso

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Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

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SANTOS, Edvanderson Ramalho dos. Áreas verdes e conceito de lugar: Parque

Bela Vista no município de Ponta Grossa (PR). OKARA: Geografia em debate,

João Pessoa, v. 8, n. 2, p. 213-223, 2014.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência, 1980. In: RICHTER,

Elenir Maria. Percepção ambiental do parque urbano integrado Elso Pilau,

município de Giruá-RS. 174 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de

Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

CONHECIMENTO E GESTÃO

81

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA O GERENCIAMENTO

DE TRÂNSITO NO BRASIL

JEFFERSON ALENCAR DA SILVA1

ANDERSON SOUZA PEREIRA2

RESUMO

As inúmeras demandas geradas pelo crescimento da frota de veículos dos

diversos portes fez emergir novas estratégias para a gestão do trânsito brasileiro.

Os indivíduos residentes em cidades de médio e grande porte, e em especial, os

que moram grandes centros urbanos gastam horas em seu deslocamento de

casa para o trabalho, ou para outros compromissos. Tal situação vem exigindo

uma série de procedimentos especiais, fundamentados em aplicação técnica e

organização de recursos disponíveis. Assim, os gestores de trânsito devem

possuir competências relacionadas ao planejamento urbano que se desdobra em

três subfatores: planejamento dos transportes urbanos, infraestrutura viária e

circulação urbana. Esse artigo teve como objetivo apresentar algumas das

principais questões que devem ser consideradas no planejamento do trânsito

nacional. Planejar o trânsito é buscar melhorias para eventos futuros que podem

não estar desejáveis para o uso da sociedade, sendo relevante para os diversos

setores da sociedade por promover melhor uso da malha viária, harmonia entre

os diversos meios utilizados para transporte e para segurança dos cidadãos.

Palavras-chave: Gestão do trânsito. Planejamento do trânsito. Gestão urbana.

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento dos centros urbanos, em especial nos países em

desenvolvimento, percebe-se um aumento da frota de veículos, o que resulta em

problemas diários como congestionamento, acidentes no trânsito entre

diferentes tipos e portes de automóveis.

Transformações sociais, econômicas e políticas, aliadas à recorrência

de críticas incisivas e de ineficiência crônica na gestão pública, acentuaram as

pressões para maior eficácia ou natureza diferente do setor público. Frente a

1 Pós-Graduado em Voleibol e em Treinamento Esportivo. Graduado em Processos Gerenciais pela

Faculdade de Tecnologia Internacional. Graduando licenciatura em Educação Física pela UNOPAR.

2º Sargento da policia Militar do Paraná - Secretaria Segurança Pública Paraná. 2 Pós-Graduando em Planejamento e Gestão de Trânsito. Graduado em Produção Industrial.

Professor da Controladoria de Transito na cidade de Sabará.

82

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

isso, observa-se a necessidade de um bom planejamento do solo, ou seja, da

ocupação territorial somada a um sistema de transporte eficiente. Planejar um

transporte eficiente e sustentável é uma obrigação do poder público e direito de

todos os cidadãos.

O gestor público tem sob sua responsabilidade, questões de relevância

pelo fato de ser o responsável por oferecer com eficiência, eficácia e

pontualidade aos cidadãos a disponibilidade dos serviços básicos

constitucionais e, ao mesmo tempo, a necessidade de garantir eficiência no uso

de seus recursos públicos. As políticas públicas têm grande significância para o

planejamento de propostas eficientes que promovam melhor qualidade de vida

aos cidadãos, maior segurança, principalmente quando se abordam questões

relacionadas ao trânsito. A tendência da urbanização e a utilização crescente do

automóvel constituem um dinamismo em demandas de planejamento e gestão

do trânsito.

Atualmente, os indivíduos residentes em cidades de médio e grande

porte, e em especial, os que moram em grandes centros urbanos, gastam horas

em seu deslocamento de casa para o trabalho, ou para outros compromissos.

Logo, compreender os principais pontos relevantes ao planejamento do trânsito

trará uma reflexão e discussão aprofundada sobre questões relevantes e atuais

para o planejamento do trânsito e para a formação de gestores do trânsito.

Neste sentido este artigo apresentou algumas das principais questões

que devem ser consideradas no planejamento do trânsito nacional e assim

contribuir para a formação dos gestores de trânsito em suas rotinas de trabalho

e para a literatura de planejamento de trânsito, auxiliando na formação de cursos

de planejamento voltados para o trânsito e suas particularidades.

Esse estudo tem natureza qualitativa por analisar e interpretar aspectos

profundos, descrevendo a complexidade do fenômeno pesquisado e por realizar

uma análise detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências do

objeto de estudo (LAKATOS; MARCONI, 2010). Assim, as investigações pautam-

se na análise qualitativa de situações complexas ou particulares, permitindo

interpretar dados, fatos ou hipóteses (RICHARDSON, 1999; SOARES, 2003).

Para realizar este artigo foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica,

o qual busca, a partir do exame da bibliografia existente, fazer o levantamento e

análise do que já foi produzido sobre o assunto que se pretende estudar. Tal

método foi realizado em duas fases: a coleta de fontes bibliográficas, na qual foi

feito o levantamento da bibliografia existente e, em seguida, a coleta de

CONHECIMENTO E GESTÃO

83

informações, na qual foi realizado o levantamento dos dados, fatos e

informações contidas na bibliografia escolhida. Foi realizada uma leitura

minuciosa e elaborado o presente artigo, a partir dos objetivos propostos.

Em relação aos objetivos, a pesquisa caracteriza-se como descritiva por

buscar conhecer e interpretar o fenômeno sem interferir ou modificar o objeto

estudado (CHURCHILL, 1987). Permite explicar as relações e feitos dos

contextos sociais (OLIVEIRA, 2002).

2 O SERVIÇO PÚBLICO E A GESTÃO DO TRÂNSITO

Frente as constantes mudanças políticas, sociais e econômicas emerge

a necessidade sobre a reflexão das necessidades da construção de uma

administração pública inovadora e de excelência para atender às demandas da

sociedade na prestação de serviços que exigem elevado desempenho (SIMIONE,

2014). O serviço público promove a qualidade de vida, o bem estar e a ordem na

sociedade. A partir das leis, normas e regimentos originados nas diversas

esferas do serviço público é possível determinar os direitos e deveres para os

cidadãos, o que acarreta uma grande responsabilidade aos gestores públicos.

Desta forma, Silva (2010) aponta que o administrador público deve ser um

profissional capacitado a gerenciar os bens públicos sob sua responsabilidade,

baseando-se em suas competências para alcançar os resultados positivos.

Em relação à gestão do trânsito pode-se afirmar que é uma atividade

complexa que exige diversas habilidades gerenciais. Desta forma, Bavoso (2014)

coloca que a gestão de trânsito deve proporcionar a possibilidade de satisfazer

as necessidades de circulação de forma rápida, segura, econômica e eficiente.

A gestão do trânsito nas cidades vem exigindo a adoção de uma série

de procedimentos especiais, fundamentados em aplicação técnica e organização

de recursos disponíveis (PORTES, 1998). Para tanto, a gestão do trânsito é

entendida como a intervenção do poder público que visa promover mobilidade,

segurança, fluidez, qualidade de vida e a satisfação dos interesses de toda a

sociedade no sentido de planejar, executar, operar, controlar, regulamentar,

educar e fiscalizar o trânsito (BAVOSO, 2014).

Os especialistas em trânsito, em seus diversos estudos, afirmam que

não basta regulamentar o estacionamento, implantar uma sinalização adequada,

ou definir o sentido de circulação das vias, deixando o trânsito fluir por si só,

pois ele passa a não andar (PORTES; 1998). O autor coloca que há a

84

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

necessidade de intervenções distintas no trânsito, em especial a partir de

atividades organizadas, buscando alcançar os níveis desejados de conforto,

segurança e fluidez, ou seja, atuar efetivamente no trânsito.

Cabe aos órgãos públicos desenvolver uma gestão de trânsito baseada

em conhecimentos gerenciais e operacionais, nos órgãos de trânsito da

administração pública, direta e indireta. O gestor tem a função de atender a

demanda definida pela linha de ação, cuja proposta foi referendada e do qual

partirá um novo programa a ser implementado (CAETANO, 2009).

3 A GESTÃO DO TRÂNSITO E O PLANEJAMENTO

A gestão do trânsito compõe-se da coleta de dados, planejamento, o

projeto, a operação, o controle, a fiscalização, arrecadação de tarifas e

informações aos cidadãos (MEIRRELES, 1999). Os responsáveis pela gestão

urbana têm que estar preparados frente a esta demanda com propostas que

tragam melhorias aos deslocamentos de todos os cidadãos (SIMÕES;

PETEROSSI; SIMÕES, 2014).

Frente a estas necessidades urge planejar o trânsito e as ações que

serão implantadas neste. O planejamento é um conjunto de procedimentos e

técnicas que permite avaliar as implicações futuras de decisões presentes sobre

uma determinada situação de transporte baseado em objetivos, custos,

qualidade e prazos determinados para tornar a tomada de decisão assertiva,

aumentando a eficiência e a eficácia (NTU, 2000).

O planejamento busca promover modificações nas pessoas, em ações

comportamentais e educacionais. Relacionado ao trânsito, o planejamento define

uma infraestrutura necessária para assegurar a circulação de pessoas,

mercadorias, e organiza os sistemas de transporte que estão sujeitos à

regulamentação pública (MANTOVANI, 2007).

Para Simões, Peterossi e Simões (2014), os gestores de trânsito devem

possuir competências relacionadas ao planejamento urbano que se desdobra em

três subfatores: planejamento dos transportes urbanos, infraestrutura viária e

circulação urbana.

O planejamento dos transportes urbanos deve abranger os modos de

atender as necessidades dos diversos tipos de transporte: motorizados e não

motorizados. Deve promover maior mobilidade e acessibilidade a partir de um

plano de mobilidade urbana, estudos de demandas, integração entre os modos

CONHECIMENTO E GESTÃO

85

de transporte público, privados e não motorizados, transporte coletivo, serviços

de táxi, transporte urbano de carga, assim como aos terminais de transportes

urbanos, polos geradores, instrumentos de financiamento de transportes. E

ainda, monitorar o processo de planejamento e execução das atividades de

transportes e desenvolver uma avaliação e atualização sistemática do plano de

mobilidade urbana (SIMÕES; PETEROSSI e SIMÕES, 2014).

O planejamento do trânsito abrange diversas áreas essenciais para

melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, para otimização do transporte de

bens e para prestação de serviços. Planejar o trânsito é buscar melhorias para

eventos futuros que podem não estar desejáveis para o uso da sociedade.

Assim, o planejamento do trânsito é relevante para os diversos setores da

sociedade por promover melhor uso da malha viária, harmonia entre os diversos

meios utilizados para transporte e para segurança dos cidadãos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As inúmeras demandas geradas pelo crescimento da frota de veículos

dos diversos portes fez emergir novas estratégias para gestão do trânsito

brasileiro. Existem muitas ações relacionadas à regulamentação do

estacionamento, sinalização e definição de sentido de circulação nas vias

públicas. No entanto, estas não conseguem solucionar os inúmeros problemas

apresentados diariamente nos trânsito.

Cabe à gestão pública promover ações efetivas que proporcione aos

cidadãos segurança, fluidez ao deslocar-se pelas vias urbanas. A gestão de

trânsito deve buscar conhecimento gerencial e operacional para desenvolver

ações de planejamento, controle, educação, dentre outras, a fim de atender os

interesses da sociedade como um todo.

Para tanto, o gestor de trânsito deve buscar desenvolver um

planejamento estratégico que atenda as necessidades dos diversos tipos de

transporte, motorizados e não motorizados, promovendo assim maior mobilidade

e acessibilidade a partir de um plano de mobilidade urbana, estudos de

demandas, integração entre os modos de transporte público, privados e não

motorizados, transporte coletivo, serviços de táxi, transporte urbano de carga,

dentre outros.

Assim, o planejamento do trânsito abarca mais que ações corretivas a

curto prazo, ele compreende ações preventivas, corretivas a curto e longo prazo,

86

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

que necessitam de avaliações e adaptações sistemáticas para cumprir

efetivamente seu papel de planejar, executar, operar, controlar, regulamentar,

educar e fiscalizar o trânsito.

REFERÊNCIAS

BAVOSO, Natália Couto. O sistema nacional de trânsito e os municípios de

pequeno porte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1998.

CAETANO, M. de. B., GESTOR PÚBLICO: uma análise das principais

competências requeridas nos dias atuais. Fundação Getúlio Vargas, 2009.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia Científica. 5

ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MANTOVANI, Vivian Ramirez. Proposta de Um Sistema Integrado de Gestão em

Segurança de Tráfego–SIG SET. 2004. Tese de Doutorado. Dissertação

(mestrado em Engenharia Urbana)–Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Urbana. Universidade Federal de São Carlos, São Paulo.

OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratamento de Metodologia Científica. Projetos de

Pesquisas, TGI, TCC, Monografia, Dissertações e Teses. 2 ed. São Paulo:

Pioneira Thomson, 2002.

RICHARDSON, Roberto Jarry – Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo.

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SIMIONE, Albino Alves. A modernização da gestão e a governança no setor

público em Moçambique. Revista de Administração Pública, v. 48, n. 3, p. 551-

570, 2014.

SIMÕES, Fernanda Antonio; PETEROSSI, Helena Gemignani; SIMÕES, Eliane

Antonio. Gestão sustentável do trânsito em cidades pequenas e médias: Uma

abordagem para cursos MBA/EAD. # Tear: Revista de Educação, Ciência e

Tecnologia, v. 3, n. 1, 2014.

SOARES, Edvaldo, Metodologia Científica: lógica, epistemologia e normas. São

Paulo: Atlas, 2003.

CONHECIMENTO E GESTÃO

87

O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE PARA

AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

LIANA GOMES NETTO1

JOSINEIA RIBEIRO DOS SANTOS2

RESUMO

Ao longo da história, o ser humano tem demonstrado uma preocupação

crescente com fatores econômicos ligados ao desenvolvimento. Porém, só

recentemente os fatores socioambientais se tornaram alvos de estudos. Essa

pesquisa apresentou um estudo teórico acerca da responsabilidade

socioambiental para as micro e pequenas empresas (MPEs) e a gestão

responsável. Assim, como outras empresas de maior porte, as MPEs são

instituições sociais que atuam no desenvolvimento de demandas sociais

importantes. Essa pesquisa foi desenvolvida através de estudos exploratórios

descritivos e qualitativos com base em jornais, revistas, artigos científicos, livros

e cyber espaços. Perceber que o papel das MPEs vai muito além da prestação

de serviços ou do fornecimento de bens de consumo foi um dos resultados

dessa pesquisa. Destaca-se, ainda, o crescente interesse em medidas voltadas

para a sustentabilidade, bem como a deficiência de material e estudos voltados

para as práticas ambientalmente corretas nas MPEs, razão pela qual percebemos

a necessidade de um estudo mais aprofundado, com o intuito de trazer à luz

algumas ações de sucesso nessa área tão pouco explorada.

Palavras-chave: Micro e pequenas empresas. Sustentabilidade.

Responsabilidade socioambiental. Sistemas de Gestão Ambiental.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo do século XX, com os avanços na produção do sistema

capitalista, a sociedade – iniciando-se nos Estados Unidos e se espalhando pelo

mundo – experimentou um apelo ao consumo, gerando mais lucros para as

grandes empresas e impulsionando, até certo ponto, a economia mundial. Nesse

momento, questões relativas ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável

ficaram em segundo plano.

1 Graduada em Tecnologia Ambiental (UTFPR); Especialização em Gestão, planejamento e

educação ambiental (UNESPAR); MBA em Gestão empresarial (UNICESUMAR); Mestrado em

Geografia com ênfase em análise ambiental e regional (UEM). 2 Bacharel em Turismo – Faculdade Helio Rocha.

88

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A globalização e o processo econômico, as transformações políticas e

sociais mundiais, inovações tecnológicas e científicas e os crescentes impactos

das mudanças climáticas, testemunham a necessidade de revisão dos padrões

atuais (que se mostraram insustentáveis) de produção e consumo e também dos

modelos econômicos adotados nos países desenvolvidos e em

desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

O movimento da responsabilidade socioambiental é um movimento

mundial. Trata-se de um processo contínuo e progressivo do desenvolvimento

de competências cidadãs, com a assunção de responsabilidades sobre questões

sociais e ambientais relacionadas a todos os públicos em interação na

sociedade: trabalhadores, consumidores, governo, empresas, investidores e

acionistas, organizações da sociedade civil, mercado e concorrentes,

comunidade e o próprio meio ambiente, conforme a Agenda Ambiental na

Administração Pública - A3P (BRASIL, 2009).

Investir em práticas de responsabilidade socioambiental eleva os níveis

de desenvolvimento social, protege o meio ambiente e promove o respeito aos

direitos humanos. Isso se evidencia numa gestão responsável. A empresa

responsável, em sua base de valores, potencializa uma cultura de cooperação

interna e externa e consegue conciliar os interesses dos variados agentes num

enfoque global de viabilidade e qualidade. De forma geral, uma empresa

sustentável tem uma visão sistêmica da sua atuação, analisando as

necessidades do cliente interno e externo, atentando-se aos efeitos gerados no

curto, médio e longo prazo, baseados em suas ações, produtos e processos.

Ações de responsabilidade socioambiental são, ainda, consideradas

iniciativas relativamente complexas, mesmo para as médias e grandes empresas

(MPEs). Esse fator pode ser facilmente identificado na sociedade civil e não

apenas no mundo dos negócios. A atuação das MPEs é bem efetiva junto à

comunidade, mesmo não possuindo muitos recursos e estrutura para tal. Isso

faz com que elas se tornem agentes importantes para a solução de problemas

sociais e ambientais.

Essa pesquisa apresentou um estudo teórico sobre responsabilidade

socioambiental nas MPEs. Alguns autores podem usar termos diferentes para se

referir a esse tema nas diversas fontes bibliográficas, mas neste estudo será

utilizado o termo “responsabilidade socioambiental”, respeitando, obviamente, as

especificidades estabelecidas por alguns autores.

CONHECIMENTO E GESTÃO

89

O caráter desse estudo é exploratório, procurando abordar as teorias a

respeito da prática de responsabilidade socioambiental nas MPEs, sendo

fundamentado em dados de fontes secundárias e trabalhos científicos.

Este trabalho foi elaborado com base em pesquisa bibliográfica efetuada

junto a artigos científicos publicados em anais de eventos, revistas, jornais,

livros e cyber espaços. Foi utilizada, ainda nessa pesquisa, a base de dados

Scopus, por ser uma das maiores bases de literatura científica. A base de dados

Scopus permite ter uma visão multidisciplinar da ciência e integra fontes

relevantes para a pesquisa básica e aplicada. Por meio da pesquisa nas fontes

consultadas foram identificadas lacunas de conhecimentos e foi possível apontar

estudos que poderão ser desenvolvidos no futuro.

Essa pesquisa se caracteriza ainda como descritiva e qualitativa.

Descritiva porque tem como o objetivo principal descrever as características de

determinado fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis (GIL,

1999). É qualitativa pois considera o ambiente como fonte direta dos dados e o

pesquisador como instrumento chave, e tem maior preocupação na interpretação

do objeto do estudo e a análise dos dados deve ser realizada de forma intuitiva

pelo pesquisador (GODOY, 1995).

2 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

APLICADO ÀS EMPRESAS

Segundo Brown (2003, p.6), “criamos uma economia que não pode

sustentar o progresso econômico, uma economia que não pode nos conduzir ao

destino desejado”. A evolução das teorias e práticas sustentáveis precisa incluir

a participação de todos os atores sociais e, fundamentalmente, das empresas. É

urgente a necessidade de reflexão do empresariado sobre qual o seu papel no

desenvolvimento social e qual seu impacto ambiental. Por isso, também é

preciso de uma mudança de paradigma, onde a sustentabilidade ganhe uma

nova dinâmica, nascida da interação e cooperação entre governos, empresas e

sociedade civil, todos voltados para a construção de uma sociedade mais justa e

sustentável.

Ao longo dos séculos e tendo como base a revolução industrial, alguns

setores da economia passaram a ser vistos como essencialmente negativos, que

visam tão somente o lucro, sem se importar com as consequências do consumo

e produção desenfreados e dos impactos que isso poderia e pode causar no

90

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

meio ambiente, o que tem feito com que as empresas adotem novas formas de

pensar e agir. Almeida (2002, p.53) apresenta essa situação da seguinte forma:

Acostumado a dividir o universo em compartimentos estanques

para poder entendê-lo – fruto de uma visão cartesiana, mecanicista,

reducionista, forjada em trezentos anos de Revolução Científica e

Industrial –, nos últimos anos do século XX o homem viu-se às

voltas com a constatação de que a natureza não se deixa apreender

completamente pelas ferramentas tradicionais de análise [...]. Para

ser compreendida, pede um novo: orgânico, holístico, integrador.

É cada vez mais necessário buscar novas formas que contribuam não

somente para os negócios, mas também para a construção de uma sociedade

sustentável. Assim, investir em sustentabilidade empresarial, além de contribuir

para o crescimento dos negócios devido ao impacto positivo que isso causará

na comunidade na qual a empresa está inserida, constitui-se num

comportamento ético e altruísta, beneficiando a sociedade e a própria empresa.

Uma sociedade é responsável “ao atender, simultaneamente, aos

critérios de relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica, os

três pilares do desenvolvimento sustentável” (SACHS, 2002, p.35). Para que

isso de fato aconteça é necessário que as empresas adotem políticas e práticas

sustentáveis no âmbito empresarial, buscando, a partir de então, incorporar

estrategicamente aos negócios o tripé do desenvolvimento sustentável.

A partir da década de 90 a importância da sustentabilidade empresarial

ganhou força. Com a criação do WBCSD – World Business Council for

Sustainable Development, em 1992, e em 1997 a fundação do CEBDS –

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e ainda, em

1998, a fundação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,

esse movimento definitivamente marca o surgimento de um novo pensamento

empresarial e coletivo. Um pensamento onde é possível se desenvolver de forma

sustentável, com lucratividade.

Tendo em vista o conceito atual, é perceptível que a adoção de práticas

empresariais sustentáveis é uma realidade possível, ao alcance de todos,

inclusive para as MPEs. Hoje, ser uma empresa sustentável está intimamente

relacionado a questões culturais, experiências acumuladas ao longo dos anos,

às práticas das vivências da empresa e da sua atuação no meio ao qual está

inserido. Incorporar o desenvolvimento sustentável no coração das organizações

é um processo lento e ainda em formação, visto que a construção do termo de

CONHECIMENTO E GESTÃO

91

sustentabilidade empresarial ainda é um movimento recente, pouco difundido e

pouco debatido. Assim, para fins desta pesquisa, foi analisado o conceito e a

prática da sustentabilidade empresarial, tomando duas áreas fundamentais e

substancialmente reconhecidas pela sociedade como novos comportamentos

éticos do setor empresarial: a responsabilidade social e a ecoeficiência.

2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Impulsionadas pelo novo contexto mundial, as empresas procuraram

adotar modelos de gestão mais sustentáveis. Partindo desse ponto, a

responsabilidade social empresarial surge como alternativa de se colocar em

prática a sustentabilidade empresarial. Ser socialmente responsável significa,

entre outras coisas, que o crescimento econômico é uma contribuição pequena,

diante daquilo que as empresas devem oferecer à nossa sociedade.

A responsabilidade social empresarial é a atuação social da empresa,

passando por todos os níveis organizacionais. Essa atuação responsável procura

dar à empresa um caráter mais humano, mostrando interesses maiores que

simplesmente o lucro. Ao adotar essa nova forma de pensar e agir, a

organização busca deixar sua contribuição para a sociedade como um todo

(ALESSIO, 2008).

Ser uma empresa que prima pela responsabilidade social empresarial

exige da organização um posicionamento estratégico, que considere em todo o

seu negócio os interesses e as necessidades de todos os públicos envolvidos e

que serão afetados, direta ou indiretamente, pelas atividades da empresa. Adotar

uma postura voltada para uma gestão sustentável constitui como um diferencial

e fator que impulsiona o crescimento, visto que a sociedade civil mundial tem

cobrado uma postura voltada para a preservação ambiental e qualidade de vida

dos indivíduos.

2.2 ECOEFICIÊNCIA

Outra forma atual e que demonstra responsabilidade social empresarial é

através da ecoeficiência. Ser ecoeficiente é oferecer bens e serviços que

satisfaçam as necessidades dos clientes, gerando impactos ambientais menores

e que possam ser absorvidos pela natureza. Segundo o WBCSD (apud, DIAS,

2000, p.130):

92

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A ecoeficiência atinge-se através da oferta de bens e serviços a

preços competitivos, que, por um lado, satisfaçam as necessidades

humanas e contribuam para a qualidade de vida e, por outro,

reduzam progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de

utilização de recursos ao longo do ciclo de vida, até atingirem um

nível, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação

estimada para o planeta Terra.

Claro que empresas ecoeficientes não surgirão do nada. Essa postura

voltada para a conservação dos ecossistemas requer muito empenho, requer

inovação e mudança. Independente do porte ou da área de atuação, nesse ponto,

a empresa precisa sair da sua zona de conforto, rever parceiros e modelos de

produção, buscando outras maneiras de constituir e de fazer negócios.

Há quem diga que este novo cenário de ecoeficiência seja, num futuro

próximo, fundamental para que as empresas sobrevivam em um mercado que,

além de competitivo, seja altamente sustentável. Isso só acontecerá quando

novas estratégias empresariais forem adotadas, conciliando crescimento

econômico com desenvolvimento social e preservação do meio ambiente. Pode-

se arriscar dizer que a ecoeficiência será uma grande vitrine para o

desenvolvimento dos mercados nas próximas décadas.

2.3 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL – SGA

Os Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) são formados pelas políticas,

pelos programas, metas e práticas que visam à preservação do meio ambiente

(de acordo com a legislação aplicável, tecnologias limpas, ajuste dos processos

internos, com o uso racional dos recursos naturais, por exemplo) e constante

monitoramento dos impactos ambientais nos processos da organização. Porém,

para que o SGA seja realmente eficiente, ele precisa promover a melhoria do

desempenho ambiental na organização e não somente seu monitoramento.

O SGA permite que a empresa aja em prol não apenas do seu

desempenho ambiental, mas também auxilia no desenvolvimento financeiro, isto

porque é possível obter redução de custos e, ainda, atingir outra fatia do

mercado com ações provenientes do SGA. Isso fica evidenciado quando o

cliente percebe a preocupação da empresa em gerar menos resíduos, o que

ajuda a promover uma consciência ambiental coletiva e fidelização dos clientes.

Os SGA são desenvolvidos a partir de diferentes metodologias, mas as

principais estão relacionadas à ISO 14001 (de abrangência internacional) e aos

CONHECIMENTO E GESTÃO

93

EMAS (que diz respeito à União Europeia e à economia da Europa). Ambos os

processos são instrumentos de autorregulação para a proteção do meio

ambiente e sua semelhança se dá na medida em que dizem respeito aos

sistemas de gestão ambiental, mas diferem no conteúdo e também no efeito.

As normas ISO 14000 descrevem os requisitos básicos internacionais

para um Sistema de Gestão Ambiental e encontram-se divididas em duas partes:

processos e produtos. No que se refere ao Sistema de Gestão Ambiental temos a

ISO 14001, que estabelece os requisitos fundamentais para o desenvolvimento

de um Sistema de Gestão Ambiental, e a ISO 14004, que serve como diretriz

para a implementação ou aprimoramento do SGA.

A proposta de SGA para MPEs é baseada na metodologia da ISO 14001.

É uma simplificação dos requisitos exigidos pela ISO 14001, tornando-a mais

acessível para as MPEs. Há outro modelo, proposto por Seiffert (2008), que faz

referência a uma nova forma de adoção do SGA, defendendo uma cooperação

entre MPEs semelhantes, o que é bem atrativo para as empresas franqueadas.

Segundo Seiffert (2008), um SGA - 14001 tem entre seus elementos integrantes:

Uma política ambiental, o estabelecimento de objetivos e metas, o

monitoramento e medição de sua eficácia, a correção de problemas

associados à implantação do sistema, além de sua análise e revisão

como forma de aperfeiçoá-lo, melhorando dessa forma o

desempenho ambiental geral. (SEIFFERT, 2008)

Assim, o sistema de gestão ambiental “apresenta-se como um processo

estruturado que possibilita a melhoria contínua, num ritmo estabelecido pela

organização de acordo com suas circunstâncias, inclusive econômicos”

(SEIFFERT, 2008)

2.4 PDCA

O PDCA (Plan, Do, Check e Act – Planejar, Executar, Checar e Agir) foi

concebido por Walter A. Shewhart e é uma ferramenta de controle de processos.

O PDCA é geralmente utilizado para as atividades de análise e solução de

problemas. Tornou-se conhecida e ganhou reconhecimento por meio dos

trabalhos executados por William Edward Deming, discípulo de Shewhart.

Deming também foi responsável pelo aperfeiçoamento do PDCA.

94

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

O ciclo PDCA é definido por Werkema (1995) como “um método

gerencial de tomada de decisões para garantir o alcance das metas necessárias

à sobrevivência de uma organização”. Werkema afirma ainda que o PDCA

representa o caminho a ser seguido para que as metas estabelecidas possam

ser atingidas, e há duas metas a serem atingidas: metas para manter e metas

para serem melhoradas. Para que isso aconteça as atividades de planejar,

executar, controlar e agir precisam acontecer sistematicamente para que as

mudanças realmente aconteçam e culminem nas melhorias dos processos

organizacionais. O PDCA não é um ciclo estático, precisa estar sempre

evoluindo, tendo seus efeitos medidos e observados, sabendo que o final de um

ciclo significa o início de outro processo, que visa uma melhoria paulatina no

sistema e uma evolução para a empresa.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Debater sobre o desenvolvimento sustentável do planeta cada vez mais

faz parte do quotidiano da população, e com o intuito de provocar uma reflexão

sobre o tema, especialmente sobre o modelo de desenvolvimento adotado pela

sociedade ao longo dos séculos é que foi realizada essa pesquisa.

Promover a sustentabilidade exige ação conjunta e coordenada. É

necessário um envolvimento dos cidadãos, das empresas e do governo a fim de

lançar luz sobre a atuação das MPEs e da sua responsabilidade socioambiental é

que essa pesquisa nasceu. Buscou avaliar a influência da inovação na

proposição e execução de ações empresarias mais sustentáveis, mostrando que

os investimentos em sustentabilidade também podem trazer vantagens

econômicas para as empresas, além de melhorar dessas perante a sociedade na

qual está inserida.

Ainda está muito presente a ideia de que ações de responsabilidade

socioambiental são iniciativas complexas no mundo dos negócios. As MPEs,

mesmo com poucos recursos e estrutura, conseguem atuar em uma relação

estreita com a comunidade onde estão inseridas. Algumas ações praticadas

pelas MPEs são descontínuas e não sistemáticas, assemelhando-se mais a uma

ação de filantropia do que de responsabilidade social. É comum que o

microempresário, por exemplo, não faça distinção entre as duas coisas.

Não há como passar despercebida a importância da responsabilidade

social para as organizações empresariais na atualidade, sejam de grande ou

CONHECIMENTO E GESTÃO

95

pequeno porte. Visto que as MPEs gozam de uma maior proximidade com a

população, é fundamental a capacitação e conscientização do empreendedor a

respeito da relevância de ações de responsabilidade socioambiental. Como

evidenciamos, todas as empresas, independente do porte, podem adotar

medidas socioambientais corretas. Partindo desse ponto é necessário que as

MPEs planejem e executem ações na busca da satisfação de seus

colaboradores, sem deixar de lado os interesses da comunidade e ainda a

preservação do meio ambiente.

Por sua vez, as instituições que apoiam as MPEs e a pesquisa

acadêmica precisam intensificar as investigações científicas, com o intuito de

oferecer incentivos e subsídios para que essas organizações sejam mais

competitivas por meio de ações de responsabilidade socioambiental.

REFERÊNCIAS

ALESSIO, Rosemeri. Responsabilidade social das empresas no Brasil:

reprodução de postura ou novos rumos? Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2002.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda Ambiental na Administração

Pública (A3P). Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2009. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/cartilha_a3p_36.pdf>.

Acesso em: 24 abr. 2016.

BROWN, Lester R. Eco-economia: construindo uma economia para a terra.

Salvador: UMA, 2003.

DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade.

São Paulo: Atlas, 2006.

SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. Environmental impact evaluation using a

cooperative model for implementing SEM (ISO14001) in small and medium-sized

enterprises. Journal of Cleaner Production, n. 16, 2008, p.1447-1461 Disponível

em: http://www.sciencedirect.com. Acesso em: 22/05/2016.

WERKEMA, M. C. C. Ferramentas estatísticas básicas para o gerenciamento de

processos. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1995.

ANÁLISE DA OFERTA DE IMÓVEIS ADAPTADOS

96

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

PARA IDOSOS COM LIMITAÇÕES

MARCIO PEDRO CABRAL1

FERNANDO FERREIRA DOS SANTOS2

RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi analisar, de forma concisa, a oferta de

imóveis adaptados para idosos com limitações temporárias ou permanentes no

Distrito federal. Para esta análise empreendeu uma pesquisa de revisão

bibliográfica e análise do conceito de longevidade, bem como levantamento do

contexto histórico e social dos mais longevos, efetuado em artigos científicos,

livros, legislações pertinentes, documentos e sites oficiais. Seu foco principal é a

questão imobiliária, envolvendo a oferta de imóveis adaptados para idosos com

limitações diante do quadro de aumento da longevidade populacional e suas

implicações nos diferentes setores da vida, primando pela qualidade de vida e

autonomia dos mesmos. Os resultados revelaram que há uma necessidade

latente de adequar os imóveis desta região para uma sociedade que está

envelhecendo, a fim de prepará-la para uma vida mais longa, com autonomia e

melhor qualidade de vida, proporcionando assim aos mais longevos uma melhor

forma de lidar com os desafios que envolvem a vida moderna. O aspecto

singular deste trabalho reside no fato do resgate do conceito de pessoa idosa

produtiva e autônoma com maior longevidade.

Palavras-chave: Oferta imobiliária. Idosos. Longevidade. Lei do idoso.

1 INTRODUÇÃO

A longevidade da população mundial é uma realidade cada vez mais

avassaladora e palpável. Realidade essa possível por diversos motivos, pelas

facilidades que a vida moderna trouxe para todos, diminuindo, assim, a carga de

trabalho, ou pelo poder aquisitivo adquirido ao longo da vida, tornando possíveis

melhores condições de atendimento médico hospitalar, maior acesso a

medicamentos e tratamentos.

1 Mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações - Unicesumar. Graduação em

Filosofia - PUCPR; Especialização em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar pela

Faculdade Dom Bosco; Especialização em Docência no Ensino Superior pela PUCPR. 2 Graduação em Negócios e Empreendimentos Imobiliários pela Unicesumar – Centro Universitário

de Maringá. Pós Graduação Latu-sensu em MBA em Negócios e Empreendimentos imobiliários.

(em curso).

CONHECIMENTO E GESTÃO

97

Tem, então, o seguinte cenário, uma população cada vez mais longeva,

com necessidades ou incapacidades a serem supridas de acordo com suas

especificidades. Nesse sentido, como gestores imobiliários não é possível

desprezar esta realidade, e urge pensar em como atender essa população.

Surgem então alguns questionamentos ligados ao tema, sendo que

particularmente, na região do Distrito Federal, é tratado com relevância. Os

empreendimentos estão sendo preparados para esta população? Pessoas idosas

e idosas com limitações estão sendo atendidas em suas necessidades quanto

aos imóveis ofertados? Que tipos de empreendimentos podem ser ofertados a

estes idosos com maior longevidade e com limitações temporárias ou não?

Desta forma, a pergunta que este trabalho tentará responder é: A oferta

de imóveis no Distrito Federal atende aos idosos em suas necessidades,

proporcionando maior autonomia, conforto e segurança, contribuindo para sua

melhor qualidade vida?

Este estudo foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica.

Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de material

já organizado, composto, sobretudo, de livros e artigos científicos, e é

importante para o levantamento de elementos fundamentais sobre os aspectos

direta e indiretamente relacionados ao tema de estudo.

2 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

Segundo Ferreira (1988) em seu conceito mais simples, longevidade

significa “qualidade do longevo, ou seja, qualidade daquele que tem muita

idade”. Conforme a Organização Mundial da Saúde (1988), alguns aspectos

devem ser considerados fatores para analisar a longevidade: hereditariedade,

climáticos, ambientais, alimentares, comportamentais e medicinais.

No Fifty Facts from The World Heath Report, 1998 (Cinquenta Fatos do

Relatório Mundial de Saúde 1998), divulgado pela Organização Mundial de

Saúde, consta um item relativo à população no mundo, caracterizando a

proporção entre a quantidade de pessoas idosas e a quantidade de pessoas

jovens. Esse relatório faz referência a dois grupos distintos: idosos acima de 65

anos e jovens com idade abaixo de 20 anos. A proporção é calculada na razão

de velhos divididos pelo número de jovens. É a partir desta fórmula que os

institutos de pesquisa fazem análises populacionais e estabelecem políticas

mundiais em prol da população idosa e jovem.

98

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Apesar dos dois processos serem responsáveis pelo aumento da

longevidade e terem sido resultado de políticas e incentivos promovidos pela

sociedade, pelo Estado e pelo progresso tecnológico, as suas consequências

têm sido vistas, em geral, com preocupação, por acarretarem pressões para

transferência de recursos na sociedade, colocando desafios para o Estado,

setores produtivos e famílias.

Em 1994, um documento do Banco Mundial afirmava que o aumento da

expectativa de vida ao nascer e o declínio da fecundidade nos países em

desenvolvimento estão provocando a “crise da velhice”. Segundo Simões (1997,

p. 169), “[...] esta crise é traduzida por uma pressão nos sistemas de

previdência social a ponto de pôr em risco não somente a segurança econômica

dos idosos, mas também o próprio crescimento econômico”.

O desenvolvimento socioeconômico vivido pela sociedade brasileira, a

partir da década de 40, proporcionou aumento na expectativa de vida dos

brasileiros. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no

site da instituição (IBGE, 2013), a partir dos resultados obtidos no Censo

Demográfico de 2010, que a tábua de mortalidade projetada para o ano de 2012

resultou em uma expectativa de vida de 74,6 anos para ambos os sexos, um

acréscimo de 5 meses e 12 dias em relação ao valor estimado para o ano de

2011 (SILVA, et al.,2016).

Diante desta realidade, com uma população mais longeva e a queda da

fecundidade, o Brasil será um país de idosos em pouco tempo. Isso acarreta

uma série de consequências sociais, culturais, econômicas, necessidade de

implementação de políticas públicas específicas nas áreas de saúde e

previdência social, a fim de fazer frente às demandas por mobilidade urbana,

dentre outras.

Segundo Schussel (2012), o Plano Internacional de Ação sobre o

Envelhecimento, adotado nas assembleias sobre envelhecimento populacional da

Organização das Nações Unidas, de Viena, em 1982, e de Madrid, em 2002,

estabeleceu três objetivos no que se refere à moradia e condições de vida:

Objetivo 1: Promover o envelhecimento na comunidade em que se viveu,

levando devidamente em conta as preferências pessoais e as possibilidades no

tocante à moradia acessível para idosos.

Objetivo 2: Melhoria do projeto ambiental e da moradia para promover a

independência de idosos considerando suas necessidades, particularmente dos

que apresentam incapacidades.

CONHECIMENTO E GESTÃO

99

Objetivo 3: Melhorar a disponibilidade de transporte acessível e

economicamente exequível, para os idosos (ONU, 2003).

Ainda de acordo com Silva, et al. (2016), do ponto de vista da

legislação, o Estatuto do Idoso, em seus artigos 37 e 38, estabelecem que:

Art. 37. O idoso tem direito à moradia digna junto à sua família de

origem, ou só, quando desejar, ou ainda em entidade pública ou

privada.

Art. 38. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com

recursos públicos, o idoso goza de prioridade na aquisição de

imóvel para moradia própria observada o seguinte:

I – reserva de 3% (três por cento) das unidades residenciais para

atendimento aos idosos;

II – implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao

idoso;

III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, para

garantia de acessibilidade ao idoso;

IV – critérios de financiamento compatíveis com os rendimentos de

aposentadoria e pensão.

No entanto, apesar da legislação estabelecer esses critérios e verificar

ações do Governo na tentativa de reduzir o déficit habitacional do país, ainda são

escassos os programas nesse sentido. O distanciamento entre a lei e a realidade

dos idosos no Brasil ainda é enorme.

[...] para que esta situação se modifique, é preciso que ela continue

a ser debatida e reivindicada em todos os espaços possíveis, pois

somente a mobilização permanente da sociedade é capaz de

configurar um novo olhar sobre o processo de envelhecimento dos

cidadãos brasileiros (ESTATUTO DO IDOSO, 2003)..

Com o processo de envelhecimento a pessoa idosa torna-se mais

vulnerável à incapacidade funcional, e esse processo pode levar às

incapacidades temporárias ou permanentes, podendo ainda apresentar

dificuldades em manter sua autonomia e independência, necessitando de

dispositivos que lhe garantam acessibilidade. Segundo a NBR 9050 da ABNT, a

acessibilidade é a possibilidade e a condição de alcance, percepção e

entendimento para a utilização com segurança e autonomia, de edificações,

espaço, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos.

Quanto à acessibilidade em imóveis para pessoas com deficiências ou

incapacidades, algumas legislações vigentes amparam e disciplinam esta

100

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

questão: A Constituição Federal de 2008, no capítulo que faz referência à família,

criança, adolescente e idoso, estabelece:

Artigo 227 - § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos

logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de

veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado

às pessoas portadoras de deficiência.

Artigo 224 – A lei disporá sobre adaptação dos logradouros, dos

edifícios de uso públicos e dos veículos de transporte coletivos

atualmente existentes, a fim de garantir aceso adequado às pessoas

portadoras de deficiência, conforme o disposto no artigo 227, § 2º.

Temos ainda algumas legislações mais específicas a respeito de

acessibilidade em imóveis, que tanto regem as construções quanto as

adaptações, contudo, o mais abrangente, em se tratando de imóveis, é o decreto

n. 5.296/2004, que em seu artigo 8º., inciso I, define acessibilidade como:

A condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou

assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das

edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas

e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de

deficiência ou com mobilidade reduzida.

No tocante ao imóvel acessível, este não deve conter barreiras que

possam constituir limitação ou obstáculos que impeçam o acesso, a liberdade

de movimento ou a circulação a e segurança da pessoa com deficiência.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que existe uma grande necessidade de adequação dos

imóveis para a sociedade que está envelhecendo, proporcionando uma vida mais

longa, com autonomia e melhora na qualidade de vida. Na bibliografia

pesquisada não foi evidenciado nenhum empreendimento voltado

exclusivamente para idosos, com foco em moradia individual e permanente.

Observa-se que este tipo de oferta se prende basicamente a convivência parcial

ou ao lazer de seus frequentadores, não possuindo a natureza de moradia,

assim, não caracterizando um empreendimento imobiliário de cunho particular.

Cabe ressaltar que estes empreendimentos oferecidos têm algumas

adaptações que se enquadram nas leis de amparo aos portadores de

necessidades especiais e contemplam também os idosos. No entanto, apesar de

CONHECIMENTO E GESTÃO

101

existir legislação que ampara esta população ainda há de se avançar muito nesta

questão, no tocante ao atendimento as necessidades específicas de moradia

para os mais longevos. Verificou-se, ainda, que apesar dos idosos do Distrito

Federal possuírem uma das maiores rendas per capita do país, não foi

evidenciada qualquer preocupação com a oferta de empreendimentos

imobiliários voltados exclusivamente para pessoas idosas. Assim, acredita-se

que este trabalho possa ser uma pequena luz de alerta para esta questão,

servindo como primeiro passo para o desenvolvimento de um trabalho voltado

para esta área, que se mostra muito promissora e em crescimento.

Por fim, deve-se ressaltar que um aspecto singular deste trabalho residiu

no resgate do conceito de pessoa idosa como alguém que ainda seja produtiva e

autônoma e que tem uma maior longevidade. Outro aspecto enfatizado neste

estudo é a função social do gestor imobiliário na condição de provedor de

imóveis mais eficientes e eficazes, visando atingir um nicho de mercado, como

visto que está em crescente aumento.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, J. A. M. de. Declínio da fecundidade no Brasil, ritmo de crescimento

demográfico e distribuição etária da população. Revista da ANPEC, economia.

Rio de Janeiro, v. 7, n. 8, p. 30-36, nov. 1984.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua

portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. P.687.

SCHUSSEL, Z. das G. L. Os idosos e a habitação. Revista Kairós Gerontologia,15

(8), pp.53-66, dez,2012. São Paulo (SP), Brasil: FACHS/NEPE/PEPGG/PUC-SP.

SILVA, Janaina et all. Eu sei, o bom mesmo é ter uma vida para viver: um olhar

autoperceptivo sobre a idade adulta avançada, Revista psicologias, Vol. 2, 2016.

SIMÕES, J. A. Solidariedade intergeracional e reforma da previdência. Dossiê

Gênero e Velhice, p. 169-181, 1997.

VERGARA, Sylvia C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3.ed.

Rio de Janeiro: Atlas, 2000.

102

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA IMPLEMENTAÇÃO DE

ÁREAS PROTEGIDAS: EXPERIÊNCIAS DO CORREDOR ECOLÓGICO

SOSSEGO-CARATINGA, EM MINAS GERAIS

MARIA REGINA BARION COLOMBARI 1

ROBERTA CRISTINA MAINI 2

RESUMO

Este artigo touxe uma discussão sobre a importância da participação das

comunidades nos processos de formação de áreas protegidas, à luz de

experiências atuais de implementação do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga

(CESC), localizado na região leste de Minas Gerais. Apresentou um breve

levantamento bibliográfico sobre conflitos gerados por processos de implantação

de Unidades de Conservação (UCs) nas regiões do Brasil, que não interagiram

com as comunidades locais, ou o fizeram de forma insuficiente, como

fundamentação teórica para corroborar a questão da importância da utilização de

metodologias participativas durante estes processos. Os projetos

socioambientais de conservação da biodiversidade, desenvolvidos pela

Fundação Biodiversitas na região do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga,

apresentados nesta pesquisa, são trazidos em sequência cronológica conforme

a época de execução, traçando uma linha de análise sobre a participação

comunitária em cada projeto. Tais ações são exemplos práticos da busca por um

processo que valorize a interatividade e o envolvimento das comunidades rurais

localizadas neste território, onde a participação se evidencia como a força motriz

da implementação desta área protegida.

Palavras-chave: Corredor ecológico. Participação comunitária. Áreas protegidas.

Biodiversidade. Gestão de território.

1 INTRODUÇÃO

A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego,

localizada no município de Simonésia, na região leste do Estado de Minas Gerais

foi instituída no ano 1998 pela Fundação Biodiversitas, importante organização

1 Graduação em Ciências Biológicas pela UEM. Especialização em Biologia: Bases Morfológicas e

Histológicas da Integração do Organismo com o Meio Ambiente pela UEM. 2 Bacharel licenciada em Geografia pela PUC Minas em 2012, concluindo Pós Graduação MBA em

Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pela Unicesumar. Atua como Analista Ambiental,

Assistente em Sistemas de Informação Geográfica e Coordenadora de Projetos na Fundação

Biodiversitas, desde 2013.

CONHECIMENTO E GESTÃO

103

não governamental conservacionista brasileira. Nesta região, esta ONG trabalha

para a proteção de uma das populações mais ameaçadas do macaco muriqui-

do-norte, que vive nos 271 hectares de Mata Atlântica da RPPN, cujo entorno se

caracteriza por fragmentação significativa da paisagem. Segundo esta instituição,

o Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (CESC) é uma área que pretende ser

constituída pela conectividade dos remanescentes florestais de Mata Atlântica

entre a RPPN Mata do Sossego e sua vizinha RPPN Feliciano Miguel Abdala,

localizada em Caratinga – que abriga outra população de muriqui-do-norte. Este

trabalho representa uma iniciativa pioneira em Minas Gerais, no contexto dos

esforços que visam reduzir o cenário de devastação da Mata Atlântica na região,

visando à ampliação da cobertura vegetal e, consequentemente, melhorias no

habitat do muriqui-do-norte, condição considerada imprescindível para a

sobrevivência desta espécie.

O histórico de ações da Fundação Biodiversitas na região subsidiaram a

promulgação do Decreto Estadual NE Nº 397/2014, criando oficialmente o

Corredor Ecológico Sossego-Caratinga – o primeiro reconhecido pelo Estado –

com o objetivo de colocar em prática a conservação da biodiversidade local, por

meio de fomento do desenvolvimento sustentável das comunidades rurais – tipo

de ocupação predominante no território do CESC e nas suas imediações -

utilizando como principal instrumento a construção da gestão participativa.

Para alcançar esses objetivos, a Fundação Biodiversitas ao longo dos

anos busca criar condições para promover ambientes que levem a relações de

confiança com os produtores rurais, com as escolas e com os moradores de

forma geral, por meio do incentivo de suas participações nas ações. Assim, o

objetivo principal deste trabalho foi compreender, de forma geral, a importância

da participação das comunidades que vivem nas imediações das Unidades de

Conservação (UCs) formadoras do CESC, no processo de implantação desta

área protegida, bem como trazer relatos de experiências recentes obtidas durante

a execução do Projeto Conexão: Implementando o Corredor Ecológico Sossego-

Caratinga. Avaliar as parcerias firmadas ou fortalecidas com as comunidades

rurais no Projeto Conexão, portanto, é fundamental para o aprimoramento de

próximas ações na região.

Nesse contexto, a motivação e o desenvolvimento desta pesquisa são

consequências da experiência direta da autora deste artigo na coordenação do

referido Projeto Conexão. Desta forma, para se compreender a importância da

participação popular nesse processo, este breve estudo foi construído através de

104

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

diálogos – formais e informais, ora como técnica ora, como pesquisadora – com

os atores sociais que vivenciaram as experiências dos Projetos Doces Matas,

Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (primeira fase) e do atual Projeto

Conexão: Implementando o Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (segunda

fase). O artigo se constrói em uma sequência, buscando refletir sobre o histórico

de implementação de áreas protegidas no Brasil e resgata, de forma geral e

breve, os resultados dos projetos já desenvolvidos pela Fundação Biodiversitas,

traçando uma linha evolutiva do perfil da participação comunitária no CESC.

Finalmente, há a análise dos resultados obtidos com esses diálogos no Projeto

Conexão, contribuindo assim para o debate da gestão ambiental participativa e

para as possibilidades do desenvolvimento de sociedades sustentáveis.

2 A FORMAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS E O DESAFIO DOS PROCESSOS

PATICIPATIVOS DAS COMUNIDADES LOCAIS

A participação das comunidades localizadas no interior e nos arredores

de UCs nos processos de formação de áreas protegidas ainda é um desafio para

à conservação da biodiversidade no Brasil. A lei do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC) tem assegurada em suas diretrizes a

“participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das

unidades de conservação” (SNUC, 2000). No entanto, a participação comunitária

no processo de criação de UCs e de gerenciamento de suas áreas de influência

direta constitui um dos mais polêmicos aspectos dos trabalhos voltados para a

conservação da biodiversidade, não apenas no Brasil, mas também em todo o

mundo. A implantação dessas áreas possui grande importância diante do uso

predatório dos recursos naturais que a humanidade vem protagonizando

(BENSUSAN, 2006).

Várias experiências em todas as regiões do Brasil podem ser aqui

mencionadas, tanto para evidenciar o problema da falta de participação

comunitária na gestão de áreas protegidas quanto para apontar iniciativas que

trazem novas perspectivas de envolvimento da sociedade. Essas experiências

são importantes para elevar o patamar do diálogo entre órgãos de governo,

empresas e sociedade civil, com o objetivo de transformar o desafio de

implementar e gerir as UCs e seus entornos por meio da conscientização da

responsabilidade compartilhada por toda a sociedade. A própria Constituição

Federal de 1988, em seu artigo 225, assegura a todos o direito ao meio ambiente

CONHECIMENTO E GESTÃO

105

ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lotanto para esta quanto às futuras gerações

(BRASIL, 1988). Além disso, neste marco político, buscou-se “legitimar as

formas coletivas de decisão das políticas públicas, preconizando a cooperação

das associações representativas nos planejamentos locais de interesse da

população, através dos conselhos gestores” (WSTANE, 2013, p.85).

Nas regiões norte e centro-oeste do Brasil, por exemplo, pode ser citado

o Seminário de Gestão Participativa de Unidades de Conservação no Sul do

Amazonas, Nordeste de Rondônia e Norte de Mato Grosso (IEB, 2013). No

nordeste, há o exemplo da Reserva Biológica Santa Isabel, em Sergipe, uma

região de restinga, cujos conflitos gerados permeiam uma série de impactos so-

cioambientais, acarretando perda dos recursos biológicos e culturais (ANDRADE,

et. al., 2013). Na região sul, o caso da Praia de Naufragados, no Parque Estadual

da Serra do Tabuleiro, no estado de Santa Catarina, a exclusão da comunidade

nativa promoveu grave conflito socioambiental (REIS, 2002). Na região sudeste,

as experiências do Comitê do rio das Velhas e seus Subcomitês, juntamente com

o Projeto Manuelzão e seus Núcleos, desenvolvem um movimento social muito

importante na luta pela qualidade ambiental dos rios em ambientes urbanos, para

o fortalecimento das questões ecológicas e participativas na Região

Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais (WSTANE, 2013).

É perceptível, portanto, certo amadurecimento dos processos

participativos em todo o Brasil, onde se acumulam histórias que vão tecendo as

tendências regionais, na construção das realidades socioambientais.

2.1 A PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS NOS PROCESSOS DE

GESTÃO DE PROJETOS AMBIENTAIS NO HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO

CESC

No caso do CESC, as dificuldades não se dão propriamente na

implantação das referidas UCs formadoras do território - mesmo porque se

tratam de áreas particulares (RPPNs) - mas sim, no envolvimento das

comunidades rurais do entorno. A área do CESC se caracteriza por uma região

que apresenta uma vegetação natural do Bioma Mata Atlântica, altamente

fragmentada sob uma matriz de uso antrópica, formada principalmente por

pastagens e agriculturas onde se destacam as lavouras de café. Nesse contexto,

tais comunidades apresentam alta produtividade agrícola, na maioria das vezes,

106

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

consolidada por práticas de uso da terra e dos recursos naturais prejudiciais à

sua conservação, mas que garantem suas rendas mensais e o sustento da

família.

Cerca de 20 anos após o início dos trabalhos ainda são perceptíveis

alguns sinais de resistências dos produtores rurais. Detectadas recentemente,

por meio de relatos dos técnicos da Biodiversitas, estas resistências aparecem

nas formas como são recebidas as visitas que eles realizam para apresentar as

ações de reflorestamento e manejo da terra. O desafio se configura, portanto, na

construção de formas de uso da terra que desenvolvam uma nova consciência

produtiva, superando a cultura de utilização da natureza com fins estritamente

lucrativos, e sem que isso implique em prejuízos econômicos para as

comunidades.

O projeto Conservação e Manejo dos Recursos Naturais na Mata

Atlântica de Minas Gerais, mais conhecido como Projeto Doces Matas, finalizado

em 2005, marcou o início das ações da Biodiversitas na região do entorno da

Mata do Sossego, que desde sempre investiu em ações com objetivos ligados à

experimentação participativa e de práticas agroambientais sustentáveis. Um dos

resultados deste projeto foi obtido por meio de estudos socioeconômicos

chamados de Diagnósticos Rurais Participativos (DRPs), e revelou que os

agricultores identificam a qualidade ambiental dos cursos d’água como uma das

vantagens em se ter uma UC na vizinhança. A qualidade das águas é a principal

referência da Mata do Sossego, abrigo de importantes nascentes de rios e

córregos que compõem a rede de drenagem do entorno, garantindo o

suprimento de água nas casas dos agricultores (BIODIVERSITAS, 2001).

Segundo Moisés Raposo (atualmente vereador do município de

Simonésia, em entrevista para esta pesquisa, em maio de 2016), que na época

era colaborador do projeto, a participação dos produtores rurais e das

comunidades era significativa, pois havia grandes grupos que desenvolviam

reuniões, oficinas e experimentos, além de uma rede de parcerias forte e

consolidada. Esta rede era formada principalmente pelas Comunidades Sossego,

Eliotas, Teixeiras, São Sebastião e Santa Efigênia (todas localizadas no entorno

da RPPN Mata do Sossego); pela Ampromatas (organização não governamental

local) e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Simonésia.

Tão logo tomamos conhecimento de desmatamentos ocorridos nas

imediações da Mata do Sossego, fizemos uma grande mobilização

envolvendo as escolas, e também algumas comunidades do

CONHECIMENTO E GESTÃO

107

entorno. Na época, éramos apenas voluntários dispersos, mas com

esta situação, tornou-se necessária a mobilização de forma mais

organizada. Daí, um grupo de pessoas aderiu a uma proposta que

eu fiz, de criação de uma associação para dar mais peso nas lutas

que viriam. Foi aí que surgiu a AMPROMATAS – Associação de

Amigos Protetores das Matas Simonesienses, que teve o seu

fortalecimento com o apoio do Projeto Doces Matas, tanto em

capacitação como também nas diversas ações que aconteceram a

partir de então (INFORMAÇÃO VERBAL).

É importante ressaltar que em vários roteiros de conversas emergiram

reflexões sobre a continuidade das ações, uma vez que o próximo projeto levou

muito tempo até ser iniciado: a primeira fase do Projeto Corredor Ecológico

Sossego-Caratinga, vigente entre os anos de 2011 e 2013. Este projeto foi

concebido com intuito de iniciar as ações efetivas de reflorestamento, marcando

o início do trabalho de conectividade dos fragmentos florestais entre as RPPNs

Mata do Sossego e Feliciano Miguel Abdala. Dessa forma, nesta primeira etapa

resgatou-se a estratégia de utilizar as Áreas de Preservação Permanente (APPs)

no entorno de nascentes iniciadas no Projeto Doces Matas como foco para a

recuperação florestal. Para tanto, retomou-se a aproximação com os

proprietários rurais e os cadastros dos interessados em participar do projeto

foram iniciados. Atividades de Educação Ambiental e difusão de técnicas

agroecológicas entre os produtores rurais complementaram as ações de

envolvimento e, dentre os resultados, destacam-se as 90 nascentes restauradas

em mais de 60 propriedades rurais, havendo participação significativa dos

produtores rurais nas oficinas de agroecologia e das crianças nas ações de

Educação Ambiental. É importante lembrar que, nesta etapa, a execução do

reflorestamento foi totalmente realizada pela equipe do projeto, sem o

envolvimento direto dos proprietários rurais.

Após a finalização deste projeto, houve o reconhecimento oficial do

Corredor Ecológico Sossego-Caratinga por parte do Governo do Estado de Minas

Gerais, entendido como a conquista mais expressiva do trabalho, fato que

promoveu fôlego também para a aprovação da segunda etapa do projeto. Entra

em cena então, em 2014, o Projeto Conexão, com vigência até 2016,

trabalhando com um diferencial na estratégia de execução do reflorestamento:

propor aos proprietários rurais a sua participação direta nos trabalhos naquelas

áreas disponibilizadas para a recuperação florestal. Dessa forma, foi firmada

uma parceria com 17 produtores rurais interessados em executar os trabalhos

108

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

nas suas APPs - e este envolvimento foi o principal enfoque ao avaliar a

evolução da participação social na formação do CESC durante o Projeto

Conexão, cujos resultados estão apresentados adiante. Além disso, outro

objetivo do Projeto Conexão foi instituir um Comitê Gestor, composto por

entidades da sociedade civil organizada e por órgãos públicos da região, no

intuito de apoiar a conservação do meio ambiente consonância com o

desenvolvimento econômico e social dos sete municípios abrangidos pelo

corredor ecológico.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho parte desta realidade local onde algumas propriedades rurais

ainda praticam técnicas degradantes de uso do solo, apesar do histórico de

execução de projetos ambientais na região. Este fato explica o caráter de longo

prazo para os resultados dos trabalhos iniciados em Simonésia, mas que nos

últimos tempos tem alcançado os outros municípios que compõem o corredor

ecológico. O envolvimento com as comunidades locais tem o objetivo de

incentivar gradativamente o abandono das práticas produtivas tradicionais,

baseadas no desmatamento e utilização descontrolada de agrotóxicos. A

Fundação Biodiversitas adota metodologias participativas, que envolvem

parcerias para o fortalecimento da conscientização da responsabilidade

compartilhada sobre o meio ambiente, com o fito de capacitar as comunidades

locais a absorverem os propósitos da formação do corredor ecológico e, ainda,

assumirem a sua gestão ao despertar o envolvimento sobre a causa.

Este estudo de caso foi realizado por meio de pesquisa de campo

utilizando a execução do Projeto Conexão como instrumento norteador. A

principal fonte do estudo foi o contato direto com 17 produtores rurais, que

firmaram parceria com a Biodiversitas por meio do referido projeto,

disponibilizando áreas em suas propriedades rurais para a recuperação florestal

e executando os trabalhos. O contato foi construído por meio de visitas a estas

propriedades rurais, realizadas periodicamente em cada etapa prevista no

projeto: cadastramento, confirmação da parceria e das áreas disponibilizadas,

entrega de documentações elaboradas sobre as técnicas de reflorestamentos

definidas para cada área, entrega de materiais, mudas nativas e insumos,

fornecimento de suporte técnico para o plantio, acompanhamento geral e

monitoramento pós-aplicação das técnicas. Desta forma, a cada encontro foi

CONHECIMENTO E GESTÃO

109

possível estreitar os laços com os proprietários e criar condições para que

roteiros de conversas fossem estruturados, ocorrendo como uma consequência

natural do trabalho e da relação de confiança que foi sendo conquistada.

3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

O CESC abrange parte dos territórios de sete municípios localizados na

região leste de Minas Gerais: Simonésia, Caratinga – que abrigam as reservas

florestais formadoras do referido corredor ecológico - Santa Bárbara do Leste,

Manhuaçu, Piedade de Caratinga, Santa Rita de Minas e Ipanema. Os

proprietários rurais que firmaram a parceria com o Projeto Conexão estão

distribuídos nestes municípios, exceto em Ipanema e Manhuaçu. Outras

personalidades importantes de Simonésia, envolvidos nos primeiros projetos,

tanto na execução quanto na participação das ações – agricultores das

comunidades, membros de associações e políticos - foram inseridas da

pesquisa, principalmente por apresentarem relatos que enriqueceram a

apresentação do histórico de trabalhos socioambientais no CESC. Fazer este

entrelaçamento de ações passadas com ações atuais traz uma capacidade de

avaliação importante para futuras tomadas de decisões.

3.2 TÉCNICA UTILIZADA

As técnicas utilizadas neste estudo têm característica exploratória, em

que as atividades em campo tiveram como principal ferramenta a observação

direta, seguida de roteiros de conversas, viabilizando acessos a algumas

histórias pessoais dos parceiros, contribuindo para a riqueza dos resultados.

Com o objetivo de obter um instrumento para promover a compreensão

sobre as técnicas de conscientização ambiental adotadas durante o Projeto

Conexão, a avaliação da participação dos proprietários rurais e/ou comunidades

foi baseada por questões construídas durante o contato com estes, em que a

maioria das perguntas é inserida num diálogo aberto, estimulando a “livre

expressão da pessoa com quem se conversa, tratada como perita na sua própria

cultura” (POSEY, 1986). No decorrer desses diálogos durante as visitas técnicas,

cada qual foi sendo constituído de acordo com o momento propício e

disponibilidade do produtor em se expressar. Citações diretas ou mesmo

transcrições de partes dos diálogos representam bem os resultados.

Investigações acerca do conhecimento dos parceiros sobre a Biodiversitas ou

110

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

sobre o CESC antes da participação no Projeto Conexão; explicação sobre os

motivos incentivaram pactuar a parceria com a instituição para o reflorestamento

de suas áreas; relatos sobre o que significa viver em uma área de proteção

ambiental como o CESC; grau de interesse em adequar as formas de produção

agrícola/agropecuária com a adoção de técnicas sustentáveis e o interesse em

participar de outros projetos ambientais que forem futuramente oferecidos na sua

região são temas que inspiraram tais conversas.

Seguindo a mesma metodologia utilizada na época do Projeto Doces

Matas, detectada por meio do levantamento bibliográfico realizado, o roteiro de

diálogo teve por objetivo obter informações descritivas gerais que promoveram a

abertura para uma conversa e, a partir de então, trouxeram depoimentos sobre o

desenvolvimento das experiências e possíveis resultados, além de uma avaliação

pessoal de cada participante, bem com suas expectativas sobre a possível

continuidade do trabalho (FRANCO, 2001).

3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

As conversas realizadas com os proprietários rurais parceiros do Projeto

Conexão promoveram condições de caracterizar as motivações, as expectativas

e o grau de envolvimento e entendimento acerca das questões ambientais. A

maioria deles ao responder sobre os motivos que incentivaram a participação no

projeto, buscou no trabalho que executou no passado a principal fonte de

embasamento para explicar o interesse nas ações de reflorestamento. Eles

relatam ter um passado de árduos trabalhos na agricultura e pecuária, em

épocas difíceis, quando ainda a força física era condição imprescindível para as

atividades do campo. Todos os entrevistados demonstraram entendimento de

que “este dia chegou” e que, quando vem a percepção de que as técnicas

adotadas por tanto tempo estavam causando enfraquecimento ambiental –

sinalizado principalmente pela diminuição da disponibilidade hídrica na

propriedade rural – vem também o discernimento de que alguma atitude precisa

ser tomada para que as próximas gerações possam usufruir de qualidade

ambiental semelhante a que foi usufruída por eles.

Durante as conversas a maioria dos produtores rurais parceiros

ressaltou uma preocupação sincera com relação à natureza da região, à

recuperação de suas nascentes e cursos d’água e às suas áreas de

remanescentes florestais de Mata Atlântica, independente do tamanho que

CONHECIMENTO E GESTÃO

111

represente no contexto regional. Segundo “Seu Zequinha”, morador da

Comunidade Córrego dos Eliotas, em Simonésia, a consciência foi se tornando

cada vez mais clara, à medida que precisou colaborar com a logística do

trabalho, com a mão de obra e, posteriormente ao plantio, com o

monitoramento. O “Seu Zequinha” também aprendeu mais sobre a forma correta

de promover a dessedentação de suas criações de gado nos cursos d’água,

demonstrando muita satisfação com a forma amigável que as orientações foram

repassadas e com o apoio prestado para a conclusão do trabalho.

Da mesma forma, relatos parecidos foram registrados nas entrevistas do

Sr. Carlos Antônio da Silva e do Sr. Geraldo Simplício, moradores das

comunidades Córrego do Laje, em Santa Bárbara do Leste, e São Simão do Rio

Preto, em Simonésia, respectivamente. Além de participarem do Projeto

Conexão, executando o trabalho com elevado zelo, ambos os produtores

relataram acima de tudo o desejo de conservar a natureza que ainda existe nas

suas propriedades rurais. Eles contribuíram fazendo a divulgação das ações, e

ainda sensibilizaram seus vizinhos para participarem também com a

disponibilização de áreas para a recuperação ecológica.

Hoje em dia, muita gente já vê e fica falando que eu sou um

exemplo para os outros, porque se muita gente fizesse o que eu

estou fazendo, de plantar nas nascentes, ao invés de cortar as

árvores, seria melhor. Acho que todo mundo tinha que fazer igual ao

beija-flor, que faz tudo aos poucos, mas faz. E assim, se todo

mundo fizesse sua parte, cuidasse do seu canto, teriam a ideia de

que estão cuidando de um grande patrimônio (INFORMAÇÃO

VERBAL).

Na maioria das áreas disponibilizadas pelos produtores rurais, durante

as visitas de monitoramento, detectou-se uma execução cuidadosa dos plantios

e demais técnicas. Nestes momentos foram reiteradas as questões acerca da

satisfação em participar do Projeto Conexão e, também, sobre a localização da

propriedade rural dentro do CESC ou em suas imediações. Os relatos foram

sempre positivos com relação a essas questões, o que traz um resultado muito

favorável para o crescimento da conscientização ambiental da população na

região.

112

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final de uma pesquisa como esta, a principal constatação é de que o

trabalho para conservação de uma espécie em extinção torna-se muito maior do

que se imagina durante a concepção das ideias. Aquilo que a princípio é um

trabalho de caráter biológico, apenas embasado no estudo de uma espécie,

visando o entendimento de suas necessidades que traçam as estratégias de

conservação, para ser de fato funcional requer a adoção de variadas ações

complementares de envolvimento das realidades socioculturais. Cresce cada vez

mais o reconhecimento de que áreas protegidas não apresentam eficácia de

conservação ao se manterem como ilhas, em meio a uma paisagem de

interferências variadas. As experiências com a formação de corredores

ecológicos reafirmam os benefícios que podem ser alcançados para toda uma

população. As pluralidades socioculturais são elementos indispensáveis para

nortear as ações que visam à conservação da biodiversidade de uma região e,

num primeiro momento, a interação com as comunidades pode ser um dos

maiores obstáculos. Porém, os investimentos nas parcerias com as mesmas

trazem resultados significativos para a implantação de áreas protegidas, no que

se refere aos processos de gestão participativa.

É fundamental também, para que não sejam enfraquecidos os

resultados, que as instituições mantenham a continuidade dos trabalhos

esforçando-se para que as pausas entre o fim de um projeto e o início do

próximo constituam curtos espaços de tempo. Esta questão é frequentemente

apontada pelas comunidades, que atribuem às ausências de atividades, a

explicação para fatos como a dispersão de grupos, dissolução de associações e

perda de motivação. Muitas vezes é preciso reiterar e manter as comunidades a

par de como funciona o processo de aprovação de um projeto dessas

proporções, esclarecendo que, quando há uma pausa entre os projetos, não se

trata de abandono ou esquecimento por parte da instituição executora, e sim,

trata-se do tempo necessário para a busca de mais financiamento de recursos

para a continuidade.

A participação das comunidades é, sem dúvida, a força motriz que leva

adiante a superação de uma região em termos de potencialidade de

desenvolvimento sustentável, e isso é o que torna o processo de formação de

áreas protegidas legítimo, verdadeiro e eficaz.

CONHECIMENTO E GESTÃO

113

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Ana Bárbara de; MELO, Edilaine Andrade; SANTANA, Marlucia Cruz

de. Proteção dos Recursos Naturais da Reserva Biológica Santa Isabel: o Papel

das Populações Locais. Revista do Grupo de Pesquisa Processos Identitários e

Poder - GEPPIP.V. 01, n. 1, jan-jun/2013. Disponível em

http://seer.ufs.br/index.php/Ambivalencias/article/view/1303/1153. Acesso em:

12 mar. 2016.

BENSUSAN, Nurit. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas –

reimpressão – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, 176p.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Brasília, DF: Senado Federal: 1988. 292 p.

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o artigo 225, § 1º,

incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Ministério do

Meio Ambiente, Brasília. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm. Acesso em: 12 mar. 2016.

FRANCO, Fernando Silveira. Avaliação Participativa de Técnicas Ambientais

Sustentáveis na Comunidade do Sossego – Simonésia – MG. Projeto Doces

Matas, 2001, 30p

PROJETO Doces Matas. O trabalho com comunidades rurais no entorno de

unidades de conservação. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2001. 64p.

Disponível

em:http://www.ief.mg.gov.br/index.php?Itemid=12&id=79&option=com_conte

nt&task=vie. Acesso em 19 abr. de 2016.

REIS, Georgia Maria Puluceno dos. De Náufragos a Excluídos: (des)caminhos da

preservação ambiental na Praia de Naufragados. Florianópolis: Programa de Pós-

graduação em Educação do Centro de Ciências da Educação da Universidade

Federal de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado, 2011. Disponível em

https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/103350/303442.pdf?seq

uence=1. Acesso em 19 abr. de 2016

SEMINÁRIO GESTÃO PARTICIPATIVA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO SUL

DO AMAZONAS, NORDESTE DE RONDÔNIA E MATO GROSSO, 9 a 11 de outubro

de 2012. – Brasília : IEB, 2013. 78 p. : il ; 27 cm.

WSTANE, Carla. Gestão de áreas urbanas: mobilização social em torno de rios

invisíveis. Belo Horizonte: Programa de Pós-graduação em Geografia,

Universidade Federal de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, 2013.

114

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A IMPORTÂNCIA DO CRÉDITO RURAL PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

MARIVALDO DA SILVA OLIVEIRA 1

CRISTINE CANÇADO VASCONCELOS RIBEIRO 2

RESUMO

O agronegócio é considerado o setor mais importante da economia nacional. O

setor tem sofrido drasticamente diante das incertezas políticas e econômicas que

assolam o Brasil, aliado à falta de planejamento e à escassez de recursos para

custear a produção. Com o objetivo de fazer uma abordagem geral sobre o tema,

este artigo discorreu sobre a importância do crédito rural para o desenvolvimento

da economia brasileira, a origem e aplicação dos recursos, beneficiários e fontes

de financiamento, concluindo-se ao final pela necessidade imediata de um

planejamento adequado, melhoria na infraestrutura e melhor distribuição do

crédito rural.

Palavras-chave: Agronegócio. Crédito Rural. Plano de Safra.

1 INTRODUÇÃO

O Agronegócio é uma das principais competências nacionais.

Desempenha papel estratégico na economia, responde por um quarto do PIB

brasileiro e tem expressiva participação na balança comercial. Sua evolução nos

últimos anos fez com que se transformasse em segmento com alto grau de

profissionalização e competitividade, tanto no mercado interno quanto no

mundial.

No início do segundo semestre civil de cada ano os governos preparam

as estratégias para a produção agropecuária, materializando-as nos chamados

“Planos de Safra”. Basicamente, os planos de safra contemplam as medidas de

incentivo à produção de determinados produtos e o volume de recursos

destinados à agropecuária, inclusive o montante de crédito a juros favorecidos a

1 Graduado em Medicina Veterinária pelo UniCesumar de Maringá; Especialista em Clínica e

Cirurgia de Grandes Animais pela UniCesumar; pós-graduado em Docência no Ensino Superior

UniCesumar; mestrando em Gestão do Conhecimento nas Organizações pela UniCesumar. 2 Graduada em Administração de Empresas pela Faculdade de Patos de Minas- UNIPAM e

Graduada em Direito pela Universidade do Distrito Federal -UDF.

CONHECIMENTO E GESTÃO

115

ser disponibilizado no ano-safra (período compreendido de julho do ano corrente

a junho do ano seguinte). Esse montante depende da disponibilidade

orçamentária do Tesouro Nacional.

Um dos principais pilares da política agrícola nacional é o crédito rural,

institucionalizado em 1965 pela Lei. 4.829.

No entanto, em função do cenário econômico atual, os bancos estão

cada vez mais exigentes na concessão do crédito. A liberação do recurso está

passando por uma seleção bem mais apurada e rigorosa, principalmente em

função das dívidas geradas na última safra, onde a alta do dólar fez com que

insumos e maquinários encarecessem fazendo com que muitos agricultores não

conseguissem honrar seus compromissos, tornando assim, a inadimplência a

grande vilã do crédito rural.

Este cenário tem provocado atraso na liberação do crédito, levando

produtores a negociarem seus financiamentos da safra com empresas privadas,

a taxas de juros muito acima daquela admissível para o crédito rural,

comprometendo a safra futura e atrasando o plantio. O resultado é a queda de

produtividade com quebra de safra chegando muitas vezes ao patamar de 15%.

Este artigo abordou o tema de forma a apresentar o crédito rural, suas

finalidades e beneficiários. Em seguida discorreu sobre a importância do crédito

rural para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, apresentando

alternativas para a sua utilização em épocas adequadas com vistas a evitar

quebra de safra e evitar inadimplência do crédito.

O artigo foi desenvolvido baseado em pesquisa bibliográfica com o

objetivo de conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre o

tema. Foram feitas ainda pesquisas em sites da Internet, revistas, leis, decretos e

vídeos sobre o tema.

2 O CRÉDITO RURAL

O crédito rural é definido como “o suprimento de recursos financeiros a

produtores rurais, ou as suas cooperativas para aplicação exclusiva em

atividades que se enquadrem nos objetivos indicados no referido regulamento ”

(Decreto nº 58.380, de 10 de maio de 1966).

Como objetivos do crédito rural pode-se destacar o estímulo ao

incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para o armazenamento,

beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários; favorecimento do

116

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização dos produtos

agropecuários; fortalecimento do setor rural; incentivo a introdução de métodos

racionais de produção, visando o aumento de produtividade, melhoria do padrão

de vida das populações rurais e a adequada defesa do solo.

Por outro lado, não constitui função do crédito rural – financiar

atividades deficitárias ou antieconômicas; financiar o pagamento de dívidas;

possibilitar a recuperação do capital investido; favorecer a retenção especulativa

de bens; antecipar a realização de lucros presumíveis; amparar atividades sem

caráter produtivo ou aplicações desnecessárias ou de mero lazer.

Assim, o Governo Federal divide sua política de atuação junto ao setor

rural em duas vertentes. Uma voltada para a agricultura familiar, sob o comando

do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e outra de responsabilidade do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), voltada para a

chamada agricultura patronal ou de mercado.

Na vertente agricultura Familiar, a política de crédito visa prestar

atendimento diferenciado aos mini e pequenos produtores rurais que

desenvolvem suas atividades mediante emprego direto da sua força de trabalho e

de sua família, a exemplo do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar), criado pelo Governo visando condições mais favorecidas,

principalmente em termos de taxa de juros e prazo de pagamento.

Na vertente agricultura de Mercado, o Governo tem procurado intervir o

mínimo possível sendo sua principal política de apoio ao setor, a de

regulamentar e oferecer mecanismos por meio dos quais o sistema bancário

possa conceder recursos com taxas prefixadas e favorecidas em relação ao

mercado financeiro. Nesse sentido, o segmento tem acesso a linhas de crédito

de custeio, comercialização e investimento, com taxas e prazos compatíveis

com as atividades agropecuárias.

Para a execução do crédito rural foi criado o Sistema Nacional de

Crédito Rural – SNCR. Cabe a ele conduzir os financiamentos, sob as diretrizes

da política creditícia formulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em

consonância com a política de desenvolvimento agropecuário.

O SNCR é constituído de órgãos básicos, tais como, o Banco Central do

Brasil, o Banco do Brasil S.A., o Banco da Amazônia S.A. e o Banco do Nordeste

do Brasil S.A e ainda por órgãos vinculados como o Banco Nacional do

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), agências de fomento, bancos

estaduais, inclusive de desenvolvimento, bancos privados, Caixa Econômica

CONHECIMENTO E GESTÃO

117

Federal (CEF), cooperativas autorizadas a operar em crédito rural e sociedades

de crédito, financiamento e investimento.

2.1 FINALIDADE DO CRÉDITO RURAL

O crédito rural é destinado ao financiamento das atividades de custeio

das despesas normais de cada ciclo produtivo, à comercialização da produção

ou, ainda, ao investimento de bens ou serviços cujo aproveitamento se estenda

por vários ciclos produtivos.

O crédito de custeio é destinado a cobrir as despesas da exploração das

atividades agrícolas e pecuárias em um ciclo produtivo e deve ser integralmente

pago com o resultado obtido na atividade financiada, sendo: - custeio agrícola

destinado ao financiamento de despesas normais do ciclo produtivo, com prazo

de financiamento de acordo com o ciclo da lavoura financiada, podendo chegar

ao máximo de dois anos. - Custeio pecuário, destinado a financiar despesas com

insumos e serviços das atividades pecuárias, como medicamentos, alimentação,

mão- de-obra e manejo dos animais, com prazo de financiamento de até um

ano.

O crédito de comercialização é destinado à aplicação de recursos no

setor agropecuário para permitir que a comercialização da produção rural ocorra

com normalidade e proporcione a justa remuneração aos produtores rurais. “[...]

Assegura ao produtor rural e a suas cooperativas os recursos necessários à

adoção de mecanismos que garantam o abastecimento e levem o

armazenamento da colheita nos períodos de queda de preço” (MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, 2016).

Por fim, o crédito de investimento agropecuário é um financiamento

destinado à aquisição de bens ou realização de serviços destinados à produção

agropecuária, cujo retorno financeiro ocorre em vários ciclos produtivos,

devendo o financiamento ser pago com o resultado dos diversos ciclos. Em

alguns casos há necessidade de carência para início de amortização, de acordo

com o tempo necessário para a realização das obras ou efetuadas as aquisições

programadas até o início da geração de resultados financeiros compatíveis com

os pagamentos previstos. Os investimentos podem destinar-se a atividades

agrícolas (investimento agrícola) ou pecuárias (investimento pecuário).

118

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

2.2 ORIGENS DOS RECURSOS

Como forma de assegurar atendimento ao setor rural, a legislação define

os recursos que devem ser obrigatoriamente direcionados por todos os bancos

ao crédito rural. São as chamadas exigibilidades bancárias de aplicação no

crédito rural, definidas pelo Conselho Monetário Nacional e normatizadas pelo

Manual de Crédito Rural, formadas por - percentual da captação de depósito à

vista, normatizado no capítulo 6, seção 2 do Manual de Crédito Rural (MCR 6-2);

percentual da captação da caderneta de poupança, normatizado no capítulo 6,

seção 4 do Manual de Crédito Rural (MCR 6-4). Além desses, existem ainda

outros recursos que podem se destinar ao financiamento de atividades rurais tais

como: Programas BNDES/FINAME; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT);

Orçamento da União – Operações Oficiais de Crédito (OOC); Fundo

Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO); Fundo de Defesa da

Economia Cafeeira (FUNCAFÉ); recursos livres dos bancos (captação de

diversas origens).

2.3 O CREDITO RURAL E A ECONOMIA BRASILEIRA

Responsável por um terço dos empregos e um quarto do PIB, o

agronegócio é alicerce e motor da economia brasileira. Sem ele, a balança

comercial brasileira seria negativa. O Brasil tem papel de destaque no suprimento

de alimentos para o mundo, pois conta com clima e solo adequado para

atividades agropecuárias e dispõe de imensas áreas ainda disponíveis para uso

agropecuário em especial na região do bioma cerrado.

A produção de grãos no país passou de 68,4 milhões de toneladas na

safra 91/92 para 207,7 milhões de toneladas na safra 14/15. Mesmo com

previsão de redução de 2,5% em relação à safra 14/15, a produção da safra

15/16 ainda será superior à safra 13/14 devendo atingir 202,39 toneladas.

(CONAB, 2016).

De acordo com a Organização das nações Unidas a população mundial

que atualmente é de 7,2 bilhões projeta crescimento de cerca de 1 bilhão nos

próximos 12 anos devendo alcançar 9,6 bilhões em 2050 (ONU, 2013).

Para suportar a crescente demanda mundial por alimento tem-se a

expectativa de que o Brasil deva contribuir com uma produção de 320 milhões

de toneladas. Isso representa um incremento aproximado de 54,6% sobre a

CONHECIMENTO E GESTÃO

119

produção observada na safra 14/15. No entanto, o setor de agronegócios é

extremamente dependente de financiamentos, seja ele para custeio, investimento

ou até mesmo comercialização, e para que o Brasil permaneça em posição de

destaque no mercado mundial, o crédito rural se torna um dos principais pilares

da política agrícola nacional. Por meio do plano safra o governo federal prepara

estratégias para a produção agropecuária, contemplando medidas de incentivo à

produção de determinadas produtos e o volume de recursos destinados à

agropecuária. Isso inclui montante de crédito a juros favorecidos a ser

disponibilizado no ano-safra (de julho do ano corrente a junho do ano seguinte),

sendo que o mesmo depende da disponibilidade orçamentária do tesouro

nacional.

Um país com clima, solo, produtores competentes e tecnologia

desenvolvida, tem tudo para ser a melhor agricultura do mundo. O Brasil já é

pioneiro em culturas como açúcar, café, suco de laranja, segundo em carne

bovina, soja, carne de frango, terceiro em milho e quarto em carne suína. E

mesmo, tendo fechado o ano de 2015 com PIB negativo, o agronegócio manteve

o seu PIB positivo em aproximadamente 2%, o que demonstra que o setor puxa a

economia, ou seja, o agronegócio é o instrumento de desenvolvimento do país.

2.4 INFRAESTRUTURA NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Em entrevista realizada junto aos Vice-presidentes de Agronegócios e

Infraestrutura do Banco do Brasil, Srs. Osmar Dias e César Borges, disponível no

site (www.unibb.com.br), Omar Dias destacou que não é possível promover

ainda mais o desenvolvimento do agronegócio sem o desenvolvimento da

infraestrutura.

Para Cesar Borges, a infraestrutura deficiente traz um custo adicional

para o agronegócio, que em seu entendimento vai muito bem na chamada

“porteira para dentro”, mas vai muito mal da “porteira para fora”. Isto porque o

custo para se levar o produto do agricultor brasileiro até os portos e chegar aos

mercados consumidores ainda é muito elevado, diante da deficiência de

infraestrutura apresentada atualmente no Brasil.

Na chamada “porteira para fora”, o Brasil possui novas regiões

produtoras e precisa escoar rapidamente para um porto próximo, visto que o

país escoa principalmente por rodovias quando deveria escoar por ferrovias e no

caso de portos, concentra escoar para portos como Santos e Paranaguá,

120

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

mesmo quando a produção se dá, por exemplo, no Centro Oeste, cuja produção

deveria ser conduzida para o Rio Amazonas e rapidamente com custo menor

chegar aos mercados Europeus e Costa Leste americana.

Para Osmar Dias, a infraestrutura pode trazer redução de custo para o

produtor brasileiro em torno de 30%, é o que se chama “custo Brasil” que onera

as exportações brasileiras tirando recursos que poderiam ficar no bolso no

produtor rural e melhorar cada vez mais o agronegócio no Brasil.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A economia brasileira está enfrentando uma de suas piores crises, em

consequência disso, o agronegócio tem sido cada vez mais atingido. As

instituições financeiras temendo o aumento da inadimplência dificultam ainda

mais este cenário, com processos de crédito mais rigorosos, exigência de

garantias mais robustas, sejam elas penhor de safra, hipotecas, seguro agrícola

além de maiores exigências cadastrais.

Para analistas de mercado, o momento é de se criar um ambiente de

negócios mais seguro e estruturado no setor, com sólidos investimentos em

políticas agrícolas, infraestrutura, logística e, principalmente, tecnologia, uma das

grandes responsáveis pelo aumento da produtividade brasileira. Precisa-se,

urgentemente, investir em políticas públicas voltadas ao agronegócio. Gargalos

como o crédito agrícola e a falta de uma infraestrutura logística que atenda com

maior eficiência o escoamento da produção interna e externa precisam ser

priorizados.

Para Roberto Simões, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária

do Estado de Minas Gerais, a palavra-chave é planejamento. As grandes

potências fazem planejamentos, a exemplo dos Estados Unidos que possuem a

Farm Bill (nome popular da legislação agrícola norte-americana), na qual os

agricultores e o governo americanos sabem, com clareza, os papéis que têm de

desempenhar na produção agropecuária do país, fazendo com que façam

investimentos seguros nas lavouras e aumentem a produção com adoção de

inovações técnicas. Também na Europa a política adotada privilegia os princípios

da unicidade de preços, solidariedade financeira e preferência comunitária, com

a finalidade de assegurar preços razoáveis aos consumidores e remuneração

estimulante aos agricultores, garantindo assim a autossuficiência alimentar da

Comunidade Europeia.

CONHECIMENTO E GESTÃO

121

Muito embora o agronegócio brasileiro já tenha demonstrado que

consegue acompanhar a evolução das grandes potências, seja em gestão,

produção e até mesmo em inovação, a Agricultura brasileira ainda é muito

carente de um planejamento adequado, com inserção de uma política agrícola de

médio e longo prazo.

O planejamento de longo prazo precisa imediatamente ser iniciado com

ações que viabilizem e assegurem estabilidade ao setor agropecuário. O Brasil

precisa de uma infraestrutura adequada, redução de cargas tributárias, política

de preços, programas eficientes, seguros agrícolas eficientes, créditos

compatíveis com a atividade, enfim, precisa de um programa nacional voltado

para o desenvolvimento agrário do país. Tem a terra, tem a mão de obra, o

homem do campo que conhece a terra, mas o agronegócio não tem o apoio e

planejamento necessário para seu desenvolvimento e sustentabilidade e o

sucesso do agronegócio é vital para o crescimento e prosperidade do país.

REFERÊNCIAS

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http://www3.bcb.gov.br/mcr > Acesso em: abril. 2016.

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Lei n º 4829, que institucionaliza o Crédito Rural. Disponível em: <https://

planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D58380.htm>. Acesso em: maio

2016.

BRASIL. Lei nº 4.829, de 05 de novembro de 1965. Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 nov. 1965b.

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<http://conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_05_10_09_03_26_boletim

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DIAS, Osmar; BORGES, César. Estratégias e Gestão. Reforço de Competências

Históricas. Direcionamentos BB para o Agronegócio – Agronegócios e

Infraestrutura. Desenvolvido pela Universidade Corporativa Banco do Brasil.

Disponível em: www.unibb.com.br. Acesso em: maio 2016.

122

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

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maio.2016.

ONUBR - Nações Unidas no Brasil. Disponível em

<https://nacoesunidas.org/populacao-mundial-deve-atingir-96-bilhoes-em-

2050-diz-novo-relatorio-da-onu/> . Acesso em: maio.2016.

SIMÕES, Roberto. Hora do Planejamento. Disponível em:

<http://www.canaldoprodutor.com.br/comunicação/artigos/hora-do-

planejamento>. Acesso em: maio.2016.

SIMÕES, Roberto - Presidente do SISTEMA FAEMG (Federação da Agricultura e

Pecuária do Estado de Minas Gerais). Hora do Planejamento. Artigo publicado

no Jornal: O Estado de Minas. Disponível em:

<http://www.canaldoprodutor.com.br/comunicacao/artigos/hora-do-

planejamento>. Acesso em: maio.2016.

CONHECIMENTO E GESTÃO

123

RECUPERAÇÃO E PROTEÇÃO DE NASCENTES EM ÁREA URBANA NO

MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA-PR

MILENE HARUMI TOMOIKE 1

PATRÍCIA PAULA RIBEIRO 2

RESUMO

A necessidade de preservação das nascentes frente a um desenvolvimento

urbano que confronta a legislação ambiental desafia a busca por soluções. No

município de Ponta Grossa, no Paraná, as diversas nascentes localizadas em

perímetro urbano prejudicam a infraestrutura de bairros e loteamentos, além de

estarem sujeitas à contaminação e ao assoreamento. No presente trabalho foram

mapeadas cinco nascentes que são alvo constante de reclamação pelos

moradores e estão localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás, em

Ponta Grossa. Como solução e forma de proteção dessas nascentes deverão ser

construídas caixas de solo-cimento. Já no bairro Ronda mapeou-se outra

nascente com parte da Área de Preservação Permanente conservada e sem

edificações em seu entorno, o que permitiu a elaboração de um plano de

arborização através do plantio de espécies nativas no local. A complexidade da

adoção de soluções para esse tipo de problema exige esforços para manter o

equilíbrio entre as esferas econômica, social e ambiental.

Palavras-chave: Nascentes. Legislação Ambiental. Mapeamento. Preservação.

1 INTRODUÇÃO

A relevância da preservação do meio ambiente e o estabelecimento de

legislação pertinente são recentes em relação ao desenvolvimento tecnológico e

crescimento urbano da sociedade.

As consequências dessa realidade comprometem a qualidade da água,

visto que o desrespeito generalizado às Áreas de Preservação Permanente se

reflete na destruição da mata ciliar em favorecimento da expansão urbana.

A situação se agrava quando se refere às nascentes, devido a sua

caracterização como elemento primordial da bacia hidrográfica e sendo,

portanto, foco de diversos estudos para sua proteção.

1 Graduada em Psicologia pela Unicesumar, Pós-Graduada em Gestão Estratégica de Empresas

(Instituto Paranaense de Ensino), e Mestranda em Tecnologias Limpas (Unicesumar). 2 Graduada em Agronomia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

124

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

No município de Ponta Grossa, no Paraná, em que há cerca de 170 km

de arroios e 12 bacias hidrográficas no perímetro urbano, há um grande número

de nascentes encontradas em áreas públicas.

Essa situação desencadeia reclamações de cidadãos que residem

próximos às nascentes, visto que água escoa e provoca voçorocas,

comprometendo a circulação de carros e pessoas. Além disso, o risco de

assoreamento e contaminação das nascentes é também uma preocupação.

Sendo assim, esse mapeou as nascentes localizadas em áreas públicas

urbanas na cidade de Ponta Grossa e estabelecer as medidas de recuperação e

proteção viáveis a serem aplicadas em cada uma delas.

2 AS NASCENTES E SUA IMPORTÂNCIA

A água é um recurso finito no planeta e se movimenta através de um

ciclo hidrológico em que, uma vez evaporada, precipita e escorre até retornar às

águas superficiais ou infiltra e abastece o lençol freático, acumulando-se sobre

uma camada impermeável (PARANÁ, 2010). Então, quando ocorre afloramento

do nível freático na superfície do solo, tem-se uma nascente (PEREIRA et al.,

2011).

Segundo Calheiros, et al (2004), as nascentes podem ser classificadas

em dois tipos quanto à sua formação: aquelas que não apresentam acumulo

d’água inicial por aflorarem em terreno declivoso e aquelas que acumulam água

pelo fato de a camada impermeável estar paralela a parte mais baixa do terreno.

Podem ainda ser classificadas em perene se o fluxo for contínuo, temporárias se

o fluxo depender da estação chuvosa e efêmera, se surgirem durante a chuva e

permanecerem por alguns dias ou horas.

Independentemente de sua classificação, as nascentes são

responsáveis pela manutenção dos sistemas fluviais e, se forem perenes,

conseguem desempenhar essa função mesmo em períodos secos. Sabendo-se

que as águas superficiais são de fácil acesso e, portanto, fontes principais de

abastecimento de água da população, as nascentes revelam-se de fundamental

importância para toda a sociedade (FELIPPE E MAGALHÃES-JUNIOR, 2009).

A Lei Federal 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação

nativa, define a área em torno das nascentes como de proteção permanente da

seguinte forma:

CONHECIMENTO E GESTÃO

125

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas

rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes,

qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50

(cinquenta) metros (BRASIL, 2012).

Ainda que prevista em lei, a proteção das nascentes está longe de

receber a devida importância e ser alvo de maiores estudos para sua

compreensão. Não obstante, há um desrespeito generalizado à legislação no que

se refere ao raio mínimo definido como Área de Preservação Permanente. Nas

áreas urbanas, a questão é ainda pior devido aos interesses especulativos e

imobiliários naquele espaço, o que resulta em drenagem e destruição das

nascentes em favorecimento da construção civil (FELIPPE E MAGALHÃES-

JUNIOR, 2009).

2.1 PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DE NASCENTES URBANAS

Apesar de sua importância existem poucos estudos a respeito das

nascentes, o que dificulta a elaboração de diagnósticos ambientais e planos de

ação que visem a proteção e recuperação das mesmas (LEAL E BAPTISTA,

2010). Em contrapartida, a alteração de vazão das nascentes que sofrem

intervenções urbanas pode refletir gravemente na sua dinâmica, causando até

mesmo seu desaparecimento e exigindo cada vez mais o desenvolvimento de

ações que revertam esse quadro (FELIPPE E MAGALHÃES-JUNIOR, 2009).

Em Belo Horizonte, MG, através do Projeto Hidroambiental: Valorização

das Nascentes Urbanas, o Comitê da Bacia do Rio das Velhas e Subcomitês de

Bacias Hidrográficas dos Ribeirões Arrudas e Onça realizaram um trabalho de

proteção das nascentes existentes nos bairros ao longo dos dois ribeirões e seus

afluentes, sensibilizando e mobilização a comunidade, e nomeando alguns

voluntários como “cuidadores de nascentes”. A retirada do lixo, a instalação de

rede de esgoto e a recomposição da vegetação de entorno são algumas das

ações realizadas nessas nascentes (CBH RIO DAS VELHAS, 2012).

Em São José dos Campos, SP, foi desenvolvido o Programa de

Revitalização das Nascentes Urbanas com o objetivo de preservar as nascentes

nessas áreas através de práticas conservacionistas. Em 2012, atingiu-se um

total de 230.000 m2

de APPs reflorestadas através do plantio de mais de 45.000

126

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

mudas de árvores nativas, revitalizando 33 nascentes e envolvendo escolas e

comunidades (PMSJC/SEMEA, 2012, p. 10-15, apud PENIDO, 2013).

Além da proteção das áreas ciliares às nascentes e da cobertura vegetal,

da diminuição da contaminação por esgoto e demais poluentes e da

conscientização da população, a recuperação de nascentes é realizada também

através da construção de estruturas de proteção.

A Cartilha “Nascentes Protegidas” desenvolvida pela Secretaria Estadual

do Meio Ambiente do Paraná, descreve a técnica para a construção de uma

estrutura de conservação da fonte, um tipo de ação protetora que evita o

assoreamento e a contaminação da nascente, sendo uma boa alternativa para os

meios urbanos em que nem sempre é possível reconstituir a mata ciliar e a

cobertura vegetal.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho foi realizado em parceria com a Agência Reguladora

de Águas e Saneamento de Ponta Grossa (ARAS) e através da coleta de dados

em campo.

3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

O município de Ponta Grossa se localiza no Segundo Planalto

Paranaense, na região dos Campos Gerais, e possui cerca de 340.000

habitantes, segundo estimativas do IBGE (2010).

Sendo banhada pelas bacias hidrográficas dos rios Ribeira e Tibagi, a

cidade possui 170 km de arroios no perímetro urbano decorrentes das

cabeceiras de drenagem de 12 bacias hidrográficas que divergem da região

central em direção aos bairros e vilas.

O crescimento urbano desordenado fez com que a população menos

favorecida ocupasse ilegalmente as Áreas de Preservação Permanente, até

mesmo no entorno de nascentes. Essa realidade não gera apenas problemas

socioeconômicos, mas também ambientais.

Para a realização deste trabalho e com o objetivo de proteger e

recuperar as nascentes localizadas em áreas públicas do espaço urbano de

Ponta Grossa, foram priorizadas aquelas que são alvos frequentes de

CONHECIMENTO E GESTÃO

127

reclamações pelos moradores. As localizações das nascentes foram fornecidas

por diversos setores da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa que possuem

contato com os moradores.

3.2 TÉCNICA UTILIZADA

O mapeamento das nascentes foi realizado através de um aparelho GPS

modelo Garmin 62 SX e a interface dos dados através do software de

geoprocessamento GPS Trackmaker® (GTM). Para o georreferenciamento,

utilizou-se o software Autocad 2013 e imagens obtidas pelo Google Earth.

O procedimento adotado para a proteção das nascentes foi baseado na

proposta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA)

do Paraná, através da Cartilha Nascentes Protegidas e Recuperadas, publicada

em 2010.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

3.3.1 Nascente jardim esperança

A primeira nascente mapeada se localiza no Jardim Esperança, a

sudeste do perímetro urbano de Ponta Grossa.

A água proveniente dessa nascente já invadiu a rua e está prejudicando

a circulação dos moradores do entorno. Além disso, as chuvas intensas

potencializam o escoamento da água também para os terrenos vizinhos.

Em relação à questão ambiental, a nascente está exposta ao lançamento

de lixo e efluentes pela própria população, situação comum em bairros precários

como este, o que compromete a qualidade da água.

3.3.2 Nascentes jardim manacás

No Jardim Manacás, ao noroeste do município foram mapeadas quatro

nascentes.

A reclamação dos moradores é constante em relação a essas

nascentes, pois a água que escoa pelas ruas causa voçorocas e compromete a

128

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

circulação de carros e pessoas. Há casos em que as nascentes apareceram em

terrenos particulares, estando sujeitas à contaminação.

3.3.3 Nascente ronda

No bairro da Ronda, região sudoeste do município, foi mapeada uma

nascente que, mesmo em perímetro urbano, ainda possui parte da Área de

Preservação Permanente conservada.

3.3.4 Projeto de recuperação

Para a recuperação das nascentes, um raio de cinquenta metros em

torno delas teria que ser desapropriado para reconstituição da Área de

Preservação Permanente, conforme determina a Lei Federal 12.651/2012.

Porém, devido a questões políticas e sociais, essa solução se torna inviável.

Nesse caso, a construção de estruturas protetoras é alternativa mais

apropriada para as nascentes que sofrem maior interferência urbana, ou seja,

aquelas localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás.

Sendo assim, baseado na Cartilha Nascentes Protegidas, realizar-se-á a limpeza

da nascente, tanto da água como de seu entorno para que seja construída uma

pequena barragem. O material utilizado para esse trabalho será uma mistura

solo-cimento de baixo custo e que permite a realização do trabalho dentro da

água.

Na barragem serão instalados canos de PVC para a limpeza da água,

coleta e escoamento do excesso de modo a evitar o rompimento. Após o término

da barragem, a caixa coletora será preenchida com pedras e o cano de

tratamento será instalado para que haja a desinfecção da nascente de tempos

em tempos. A água poderá ser redirecionada ao córrego ou coletada para uso

conforme a legislação e as características da nascente (PARANÁ, 2010).

Já para o caso da nascente localizada no Bairro Ronda, em que não há

edificações no entorno, uma área de 8296 m2

deverá ser restaurada, conforme

CONHECIMENTO E GESTÃO

129

Quadro 1: Relação da quantidade de mudas por espécie a serem plantadas na

área de entorno da nascente localizada no Bairro Ronda, em Ponta

Grossa-PR.

Nome Vulgar Nome Científico Quantidades de

mudas

Característica

1 Araça Psidium myrtoides 185 Pioneira

2 Araucária Araucária angustifolia 230 Secundária

4 Aroeira Schinus terebinthifolia 185 Pioneira

5 Bracatinga Mimosa scabrella 185 Pioneira

6 Branquinho Sebastiana commersoniana 185 Pioneira

7 Pitangueira Lithraea brasiliensis 185 Pioneira

8 Canela-imbuia Ocotea porosa 230 Secundária

Fonte: A autora, 2016.

O plantio será realizado manualmente, sendo que a cada três espécies

pioneiras será plantada uma espécie secundária, totalizando 925 e 460 mudas,

respectivamente. Considerando o ataque de formigas cortadeiras será realizado

o combate a formigas colocando iscas para formiga (blitz) a cada 10 m² no

local do plantio durante. Será realizado um coroamento em cada muda no

momento do plantio para minimizar a competição com espécies invasoras. Para

adubação, será utilizado, apenas no local da cova, 150g a base de fósforo (P).

Ainda deverá ser estabelecido o cronograma para o desenvolvimento do

projeto de acordo com a disponibilidade de recursos financeiros e mão-de-obra,

visto que o trabalho será realizado em parceria com a Agência Reguladora de

Águas e Saneamento, uma autarquia da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de controle e planejamento no desenvolvimento urbano do

município de Ponta Grossa e a preocupação tardia com a legislação ambiental

trouxe à realidade a existência de diversas nascentes em áreas públicas, que

interferem na infraestrutura dos bairros e ficam sujeitas ao assoreamento e a

contaminação.

130

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Para cumprir os objetivos deste trabalho foram mapeadas seis

nascentes localizadas no perímetro urbano do município de Ponta Grossa, das

quais cinco são alvo de reclamação pelos moradores e uma ainda conserva

parte da Área de Preservação Permanente em seu entorno.

Para as nascentes localizadas no Jardim Esperança e Jardim Manacás,

deverão ser construídas caixas de proteção, de forma que a água seja

redirecionada e a nascente protegida.

Já para a nascente localizada no bairro Ronda foi desenvolvido um plano

de arborização de seu entorno, com o plantio de espécies nativas para recompor

a Área de Preservação Permanente.

A complexidade da adoção de soluções para esse tipo de problema

exige esforços do Poder Público e Privado, dos estudiosos e Instituições, e de

toda a sociedade para manter o equilíbrio entre as esferas econômica, social e

ambiental.

REFERÊNCIAS

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vegetação nativa. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/

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2016.

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132

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: UM LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO

SOBRE SUAS INTERFERÊNCIAS NA MOTIVAÇÃO DO COLABORADOR DO

SERVIÇO PÚBLICO

NAYARA EMI SHIMADA 1

LUCIA MARIA FERREIRA LACERDA 2

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo identificar como se a relação do clima e da

cultura organizacional interfere na motivação do colaborador do serviço público.

O serviço público no Brasil exerce papel determinante em diferentes setores

centrais da vida coletiva. Entretanto, o serviço público é associado à imagem de

pouca efetividade e de colaboradores com baixa motivação no trabalho. Entende-

se que a cultura organizacional, enquanto conjunto de valores e pressupostos

construídos e compartilhados pelo grupo, interfere no clima organizacional. Por

conseguinte, o clima organizacional é fator determinante na motivação dos

colaboradores e, portanto, interfere nas atitudes adotadas pelos colaboradores

em relação à organização. Portanto, sugerem-se mudanças a fim de que se

altere a cultura organizacional e, por consequência, sejam alterados o clima

organizacional e a motivação do colaborador para o exercício de sua função.

Tais alterações são a nível: a) de gestão: reconhecimento do capital humano,

propiciar ambientes livres, remuneração justa, condições ergonômicas,

adequação dos interesses do colaborador à instituição e incentivar a capacitação

constante; b) chefia: conhecimento dos objetivos da organização, promoção de

relações assertivas, responsabilidade com o serviço e a equipe, reconhecer o

trabalho desenvolvido, aproveitar os talentos; e c) dos membros do grupo:

adotar práticas de ajuda mútua, comprometimento com a equipe, confiança entre

os membros do grupo, resolução de conflitos, comunicação assertiva e voltada

a um objetivo em comum. Tais alterações possibilitariam a obtenção de um

serviço público de qualidade e efetivo.

Palavras-chave: Cultura organizacional. Clima organizacional. Motivação. Serviço

Público.

1 Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2015).

2 Graduada em Gestão de Recursos Humanos - Tecnólogo, pela UniCesumar (2015). Graduando

no curso MBA em Gestão com Pessoas, pela UniCesumar.

CONHECIMENTO E GESTÃO

133

1 INTRODUÇÃO

O serviço público no Brasil exerce papel determinante em diferentes

setores centrais da vida coletiva, como saúde, educação, cultura, serviços

sociais, dentre outros. Entretanto, apesar de sua importância no funcionamento

da vida coletiva, muitas vezes, o serviço público é associado à imagem de pouca

efetividade e de colaboradores com baixa motivação no trabalho.

Esta pouca efetividade e a baixa motivação dos colaboradores afetam

diretamente a população que depende do serviço público, pois suas demandas

são solucionadas de maneira lenta e, muitas vezes, de maneira ineficaz. Além

disso, afeta também os próprios colaboradores, que veem pouca eficácia de

seus esforços e, como uma defesa psicológica, acaba por esforçar-se cada vez

menos no trabalho, ocasionando um ciclo: colaborador menos motivado, menor

será a efetividade do seu serviço, serviço menos efetivo desmotiva o

colaborador.

Diante desta problemática questiona-se como seria possível conduzir os

colaboradores de forma a influenciar positivamente na motivação, engajamento e

envolvimento com a organização, considerando-se que a motivação é de ordem

intrínseca, contudo sofre influências de elementos externos que compõem o

clima e a cultura organizacional.

Portanto, o presente estudo teve como objetivo identificar, por meio de

um levantamento bibliográfico, como a relação do clima e da cultura

organizacional interfere na motivação do colaborador do serviço público. Para

isso foi conduzida uma pesquisa bibliográfica a fim de identificar os aspectos do

clima e da cultura organizacional que interferem na motivação do colaborador

inserido no serviço público já apontado pela literatura, cujo levantamento foi

brevemente explanado. Em seguida, foram expostos os desafios encontrados no

serviço público e, por fim, foram apresentadas possíveis alternativas para a

melhoria do clima e da cultura organizacional, e como isso pode impactar na

motivação e engajamento do colaborador no serviço público.

2 CULTURA ORGANIZACIONAL, CLIMA ORGANIZACIONAL E MOTIVAÇÃO

Neste tópico são abordados, brevemente, os conceitos de cultura

organizacional, clima organizacional e motivação, observando a interligação

entre estes conceitos e sua interferência no ambiente de trabalho.

134

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL

Enquanto ser social, o homem necessita estar em grupo para o

desenvolvimento de determinadas tarefas. Uma vez que o grupo se inicia, inicia-

se, também, a construção de sua cultura, considerando-se que esta não é inata,

mas sim, é construída por seus membros (PIRES; MACÊDO, 2006).

A cultura pode ser entendida como o conjunto de valores e

pressupostos básicos compartilhados pelos membros de um determinado grupo

e expressa por meio de símbolos, como por exemplo: ações, mitos, rituais,

histórias, lendas, linguagem especializada, pensamento e tomada de decisão

(CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014).

Este conjunto de valores e pressupostos básicos foi inventado,

descoberto ou desenvolvido ao longo do tempo pelo grupo, portanto, reflete o

que o grupo aprendeu no decorrer de sua história, através da resolução de

problemas particulares. Além disso, é considerado bom o suficiente para ser

válido e transmitido aos novos membros do grupo e ganham estabilidade, uma

vez que fornecem significado, estrutura e previsibilidade aos membros do grupo

(CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006).

Nas organizações também ocorre a formação de uma cultura própria,

sendo esta a base da organização. As crenças comuns aos colaboradores são

refletidas nas tradições, hábitos, histórias, símbolos, ambiente e produtos,

genericamente aceitos por todos (CHIAVENATO, 1999; PIRES; MACÊDO, 2006).

A cultura organizacional é dividida em três diferentes níveis: artefatos

visíveis, valores que governam o comportamento das pessoas e pressupostos

básicos. Os artefatos visíveis se referem às coisas concretas da organização

visivelmente observadas, como por exemplo, móveis, uniformes, linguagem

utilizada (ARRUDA, 2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014).

Os valores que governam o comportamento dos membros do grupo se

referem aos ideais e expectativas que as pessoas assumem como essenciais na

organização. Tais valores justificam as ações e são aceitos pelos membros do

grupo (ARRUDA, 2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014).

Os pressupostos básicos são ensinados aos novos membros como

sendo a forma correta de perceber, pensar e sentir e não necessariamente

encontram-se documentados (CHIAVENATO, 1999; SOUZA, 2014).

Cada um desses níveis tem a sua particularidade e complexidade, porém

é no nível dos pressupostos básicos que está a maior dificuldade em administrar

CONHECIMENTO E GESTÃO

135

a cultura organizacional, uma vez que reflete as crenças inconscientes, os

valores, as percepções, os sentimentos, que se estabelecem no nível mais

profundo, que não sofrem mudanças ou transformam-se lentamente, contudo

direcionam o comportamento das pessoas dentro da organização (ARRUDA,

2006; PIRES; MACÊDO, 2006; SOUZA, 2014).

Por direcionar os comportamentos de cada indivíduo na organização,

faz-se necessário uma análise da cultura organizacional, observando como

foram construídos e como são mantidos os artefatos visíveis, os valores que

governam o comportamento das pessoas e, principalmente, os pressupostos

básicos. Apenas a partir do momento que se faz uma análise minuciosa da

história da cultura de determinada organização e dos mantenedores atuais desta

cultura que é possível uma intervenção efetiva.

2.2 CLIMA ORGANIZACIONAL

Segundo Brunelli (2008) e Souza (2014), o clima organizacional pode

ser compreendido como a atmosfera psicológica que envolve a organização.

Assim, diz respeito às percepções que o colaborador tem em relação ao seu

ambiente de trabalho. Tais percepções influenciam o bem-estar e satisfação do

colaborador e, consequentemente, influenciam seu comportamento.

Estas percepções são dinâmicas e resultantes da cultura organizacional:

dos aspectos positivos e negativos da organização, dos relacionamentos entre

pessoas ou grupos e de fatores externos (como, por exemplo, política, fatores

sociais, fatores econômicos), sendo que este último tem impacto menos durador

se comparado com os três primeiros (BRUNELLI, 2008).

Brunelli (2008) ainda destaca que há uma relação de causalidade entre

cultura e clima organizacional. Assim, as percepções dos colaboradores em

relação à organização serão favoráveis quando a cultura desta organização

atende às suas satisfações pessoais e desfavoráveis quando as frustram.

Uma vez que é de grande importância que os colaboradores sejam

comprometidos com as organizações nas quais atuam, faz-se necessária a

análise do clima organizacional, pois tal análise pode mensurar o grau de

colaboração e satisfação dos colaboradores (BRUNELLI, 2008).

Para se analisar o clima organizacional faz-se necessário observar

aspectos que demonstram o que os colaboradores sentem inconscientemente

em relação à organização e que direciona seus comportamentos (SOUZA, 2014).

136

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Dentre esses aspectos indicadores do clima organizacional pode-se

elencar: o turnover (ou rotatividade), o absenteísmo, as críticas anônimas nos

ambientes da organização, as greves, o desperdício de materiais, os conflitos

interpessoais e interdepartamentais, conteúdo das sugestões e queixas no

serviço médico (SOUZA, 2014).

Souza (2014) complementa afirmando que uma cultura organizacional

que favorece um bom clima organizacional e, consequentemente, seja favorável

ao pleno desenvolvimento humano seria aquela na qual os colaboradores são

direcionados a manter relacionamentos assertivos e as decisões organizacionais

são baseadas em critérios éticos e saudáveis.

Em última instância, um clima organizacional favorável que é mantido

por uma cultura organizacional assertiva e ética produzirá a satisfação dos

colaboradores e, consequentemente, os manterá motivados para o trabalho e

saudáveis emocionalmente.

2.3 MOTIVAÇÃO

A motivação pode ser considerada como a força interior que coloca um

indivíduo em movimento com o propósito de alcançar um determinado objetivo,

sendo essencialmente de ordem interna e varia conforme a percepção, o anseio

e a necessidade de cada pessoa (SOUZA, 2014).

Assim, na organização, a motivação é parte integrante no processo de

trabalho e pode ser considerada como fundamental e indispensável para o

alcance dos objetivos organizacionais (BRUNELLI, 2008).

Cabe ressaltar que a motivação não é sinônimo de felicidade constante,

mas sim é definida como uma inclinação para a ação, sendo que tal inclinação

tem sua origem em um motivo (ou necessidade). Por outro lado, atender à

necessidade produz satisfação.

Apesar de ser de ordem interna, o ambiente influencia no grau de

motivação das pessoas. Segundo Souza (2014, p. 82), “o extrínseco (ambiente

de trabalho, por exemplo) por si só não é motivador, porém, contribui

sobremaneira para a manutenção de condições saudáveis no ambiente de

trabalho”.

Desta forma, a função do gestor não é criar a motivação, já que este é

um fator de ordem interna, mas sim observar arranjos organizacionais que criem

CONHECIMENTO E GESTÃO

137

condições e ambiente favoráveis para que essa força interior possa se

desenvolver (BRUNELLI, 2008; SOUZA, 2014).

Neste sentido, é necessário que o gestor de pessoas, na busca em

manter a sua equipe motivada, tenha uma postura prática de: a) reconhecer os

colaboradores como indivíduos com desejos e necessidades diferentes; b)

valorizar os talentos de cada colaborador; c) auxiliar nas áreas onde apresentam

dificuldades; d) oferecer condições físicas, estruturais e psicológicas adequadas;

e) alinhar os objetivos da organização com os objetivos individuais; f) investir

para que a comunicação na organização seja um ponto forte e aconteça não

somente entre gestores e colaboradores, mas também entre os próprios

colaboradores; g) minimizar desgastes com conflitos (PEREIRA, 2012).

3 O SERVIÇO PÚBLICO E SUAS DIFICULDADES

O objetivo das organizações públicas é de prestar serviços para a

sociedade, sendo que tal objetivo deve ser alcançado visando uma maior

eficiência da máquina pública e um melhor atendimento à sociedade. As

diferentes organizações públicas são consideradas como sistemas dinâmicos,

complexos, interdependentes e interrelacionados, envolvendo informações e

seus fluxos, estruturas organizacionais, pessoas e tecnologias (PIRES e

MACEDO, 2006).

São encontradas nesse tipo de organização algumas dificuldades

específicas. Por exemplo, segundo Pires e Macedo (2006), uma das

características do trabalho nas organizações públicas no Brasil é que, de forma

geral, os colaboradores precisam possuir habilidades diplomáticas para lidar

com possíveis tensões políticas, pois, em muitos casos, a administração é

instituída não por sua competência, mas sim devido a relações de estima e jogos

de influência.

Neste sentido, outra dificuldade observada é que nas organizações

públicas uma maior dependência do ambiente sociopolítico, uma vez que, apesar

de ser possível haver autonomia na direção da organização, seu mandato e

objetivos são regulados externamente (PIRES; MACEDO, 2006).

Pires e Macedo (2006) ressaltam que as principais diferenças entre a

organização pública e as demais organizações são o apego às regras e rotinas,

supervalorização da hierarquia, paternalismo nas relações, apego ao poder. Tais

características acabam por interferir na definição dos processos internos, na

138

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

relação com inovações e mudança, na formação dos valores e crenças

organizacionais e políticas de recursos humanos.

Com relação aos recursos humanos, Gomes e Quelhas (2003, p. 2)

salientam que:

Parece continuar pautada nos princípios burocráticos da

impessoalidade, do tecnicismo e do mecanicismo e orientada por

uma ótica que importa em considerar os funcionários como

indivíduos incompletos, isto é, indivíduos que, em sua

personalidade, não possuem o componente emocional e cuja

capacidade mental não extrapola o estritamente requerido para o

exercício da sua atividade.

Os autores complementam, ainda, que provavelmente esta forma de

administrar é a principal causa da ineficiência e ineficácia no atendimento à

população dos serviços públicos, pois acaba por refletir na motivação do

colaborador. Portanto, é necessário observar com mais profundidade a questão

da cultura organizacional, clima organizacional e motivação no serviço público, a

fim de buscar alternativas para a produção de um clima organizacional saudável,

motivador, que mantém práticas culturais assertivas e éticas e que, como

resultado, o serviço oferecido seja eficiente e eficaz.

4 RELAÇÃO ENTRE CULTURA ORGANIZACIONAL, CLIMA ORGANIZACIONAL E

MOTIVAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO

Diante das dificuldades enfrentadas no serviço público, apontadas no

capítulo anterior, faz-se necessário verificar quais as alternativas para que se

construa um serviço público efetivo e eficaz. Neste sentido, Lopes e Regis Filho

(2004, p. 62) afirmam que é necessário:

Adotar uma prática gerencial apropriada capaz de alterar esse

quadro mórbido e preocupante, consequência da história do

desenvolvimento sócio-político-econômico do país, possibilitando,

assim, melhor desempenho com maiores produtividade e qualidade.

Para que se conseguir melhores resultados faz-se necessário atentar

para os seres humanos envolvidos no processo produtivo, pois são estes que

assumem papel fundamental no processo, sofrem o impacto do clima

CONHECIMENTO E GESTÃO

139

organizacional e mantém ou podem modificar a cultura organizacional (LOPES;

REGIS FILHO, 2004).

Diante disso, segundo Souza (2014), uma vez que há uma relação de

causalidade entre cultura e clima organizacional, faz-se necessário verificar

como foram estabelecidas e como são mantidas as regras e valores da

organização, bem como observar qual tem sido o impacto de tais práticas

culturais no clima organizacional e na motivação do colaborador.

Lopes e Regis Filho (2004) realizaram um estudo no qual verificaram os

fatores que interfeririam na motivação no trabalho em serviços de saúde pública.

Os resultados indicaram que os principais fatores que produziam a desmotivação

dos colaboradores foram: o não cumprimento de promessas, os salários

injustos, o não reconhecimento pelo trabalho realizado, o não incentivo à

especialização, a ausência de segurança física e a ausência de informações.

Por outro lado, os principais fatores que produziam a motivação dos

colaboradores foram: exercer uma tarefa gratificante, ter boas relações

interpessoais, realizar um trabalho útil para a sociedade, à colaboração entre

colegas, a confiança entre colegas, o bom relacionamento com a chefia, a

confiança na chefia, a disponibilidade da chefia, a competência da chefia e as

orientações da chefia (LOPES; REGIS FILHO, 2004).

A partir desse estudo é possível dividir as ações administrativas capazes

de resgatar os fatores de motivação e satisfação no trabalho em três níveis: a

nível de gestão, a nível de chefia e a nível de grupo.

A nível de gestão pública, um primeiro aspecto a ser observado é em

relação ao reconhecimento do capital humano enquanto central no processo

produtivo. Ao se reconhecer tal importância, o gestor poderá buscar práticas que

valorizem este aspecto e consiga, por consequência, um serviço ágil, de

qualidade e que atenda às demandas populacionais. Dentre as práticas

administrativas que valorizam o capital humano é de suma importância adotar

práticas que propiciem um ambiente livre de pressões políticas (LOPES; REGIS

FILHO, 2004).

Outro aspecto importante diz respeito à remuneração, esta deve ser

justa e compatível ao que é praticado pelo mercado para cada função. Além

disso, faz-se necessário manter ambientes e condições de trabalho ergonômicos

para que o colaborador tenha o conforto necessário ao desempenho de sua

função e para que se previna a ocorrência de acidentes, bem como o

aparecimento de patologias específicas para determinado tipo de trabalho.

140

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Faz-se necessária, também, a tentativa de conciliar os interesses e

capacitações do colaborador às necessidades dos serviços, a fim de obter

serviços com maior competência técnica. Então, por exemplo, é mais

recomendado que um Assistente Social, com formação direcionada ao setor de

saúde, seja alocado em serviços de saúde do que em serviços de prevenção à

violência.

Por fim, também com o objetivo de obter maior competência técnica

nos serviços públicos, é importante que a gestão elabore procedimentos que

incentivem o colaborador a buscar capacitação constante (como, por exemplo,

incentivo salarial e mudança na carga horária para a capacitação).

O segundo nível de ações administrativas capazes de resgatar os fatores

de motivação e satisfação é o de chefia. Como observado no estudo de Lopes e

Regis Filho (2004), o estilo de chefia assumiu papel fundamental na motivação

dos colaboradores.

Um dos aspectos fundamentais que a chefia deve estar atenta é na

promoção de relações assertivas com e entre os colaboradores, nas quais

consiga transmitir suas expectativas e posicionamentos de maneira objetiva,

clara, direta, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito

das outras pessoas, como também dar ouvidos as propostas dos colaboradores.

Para isso, faz-se necessário que a chefia tenha um profundo

conhecimento dos objetivos e diretrizes da organização, a fim de conduzir os

colaboradores de tal forma que os objetivos da organização sejam mantidos e

alcançados.

Tal conhecimento somado à uma postura assertiva e à responsabilidade

com o serviço e com a equipe, produz a confiança dos colaboradores, o que

gera uma motivação em relação ao trabalho, uma vez que estes têm a confiança

de qual caminho é esperado que se trilhe.

Outro aspecto importante e que interfere na motivação do servidor

público é o feedback positivo, no qual se reconhece o serviço desempenhado

pelo colaborador. Neste sentido, faz-se necessário estar atento para reconhecer

quando o colaborador, por exemplo, supera as barreiras ou reinventa a forma de

executar o serviço com o intuito de dar agilidade e efetividade ao serviço público.

Certamente quando há reconhecimento do seu trabalho, o colaborador

se sente gratificado e com o espírito aberto para investir ainda mais no seu

trabalho, tendo mais disposição em planejar, elaborar novas formas, mesmo

sabendo que isso demanda mais do seu tempo.

CONHECIMENTO E GESTÃO

141

Tal atenção, além de propiciar a possibilidade do reconhecimento, faz

com que a chefia conheça os membros de seu grupo, podendo, assim,

aproveitar melhor as qualidades de cada colaborador.

O terceiro nível de ações administrativas capazes de resgatar os fatores

de motivação e satisfação é o nível das relações entre os membros do grupo.

Segundo Souza (2014), para que o colaborador se sinta impulsionado a

desempenhar com primazia sua função faz-se necessário que se mantenha um

ambiente de trabalho saudável e satisfatório na perspectiva das relações

humanas.

Portanto, faz-se necessária a construção de uma cultura na qual se

adote a prática de ajuda mútua, comprometimento com a equipe, confiança entre

os membros do grupo, resolução de conflitos, comunicação assertiva e voltada

a um objetivo em comum.

Outro aspecto importante é quanto a necessidade de romper com a

visão do senso comum de inefetividade do serviço público, perpetuada pela

baixa qualidade dos serviços ofertados. Ao se romper com essa visão e ao ver

os resultados de uma atuação efetiva, que realiza um trabalho útil para a

sociedade, o colaborador sente-se motivado e com expectativas maiores do que

pode ser oferecido.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo identificar como a relação do

clima e da cultura organizacional interfere na motivação do colaborador do

serviço público. A cultura organizacional compreende o conjunto de valores e

pressupostos construídos e compartilhados pelo grupo. Enquanto construção,

esta não é estática, podendo ser alterada à medida que novas práticas são

incorporadas e outras práticas deixam de existir.

Ao se alterar as práticas adotadas pelo grupo pode-se,

consequentemente, alterar o clima organizacional, entendido como atmosfera

psicológica que envolve a organização. O clima organizacional é fator

determinante na motivação dos colaboradores e, portanto, interfere nas atitudes

adotadas pelos colaboradores em relação à organização. Considerando-se o

serviço público, em muitos casos estabeleceu-se um ciclo vicioso de

insatisfação e frustração entre gestores, colaboradores e usuários, uma vez que

a baixa qualidade dos serviços públicos gera e perpetua uma baixa expectativa

142

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

em relação ao que pode ser oferecido, tanto por usuários quanto por prestadores

de serviços. Nesse sentido, faz-se necessário romper com tal ciclo a fim de que

se tenham serviços públicos que de fato atendam às demandas da população.

Para tal, o presente estudo sugere mudanças a nível de gestão, chefia e

dos membros das organizações públicas, a fim de que se altere a cultura

organizacional e, por consequência, sejam alterados o clima organizacional e a

motivação do colaborador para o exercício de sua função.

Assim, quando o colaborador obtém satisfação em seu trabalho e

observa os impactos de sua atividade na sociedade, isto contribuirá para que ele

desenvolva uma vida social e interpessoal efetiva, fazendo com que o indivíduo

se ajuste ao seu meio, assumindo responsabilidades em relação ao grupo social

e familiar, adotando atitudes produtivas em relação à vida e com o domínio de

suas emoções.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, M F. Cultura Organizacional e Inovação: estudo de caso em um

hospital privado com características de inovação no município de São Paulo.

2006. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Escola de

Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, 2006.

BRUNELLI, M G M. Motivação no serviço público. 2008. 90 fls. Trabalho de

Conclusão de Curso (MBA em Gestão Pública) - IBGEN, Porto Alegre, 2008.

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas

organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

GOMES, A A P; QUELHAS, O L G. Motivação dos recursos humanos no serviço

público: um estudo de caso sob dois ângulos teóricos. Revista Eletrônica de

Administração, v. 9, n. 5, p. 1-18, 2003.

LOPES, M C; REGIS FILHO, G I. A motivação humana no trabalho: o desafio da

gestão em serviços de saúde pública. Revista de Administração, São Paulo, v.

39, n. 1, p. 62-75, 2004.

PEREIRA, Luciano Santana. Motivação de indivíduos e grupos de trabalho.

Maringá, PR: Centro Universitário de Maringá, 2012.

PIRES, J C S; MACÊDO, K B. Cultura organizacional nas organizações públicas.

Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 81-105, 2006.

CONHECIMENTO E GESTÃO

143

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO: LIMITES E

POSSIBILIDADES

PATRÍCIA PARRA 1

MÁRCIA DONEGÁ FERREIRA LEANDRO 2

RESUMO

O presente artigo, a partir de uma revisão da literatura, aponta possibilidades e

desafios ao se utilizar a educação a distância como estratégia de capacitação e

desenvolvimento de competências nas escolas de governo, cuja criação é

resultado de uma ampla reforma do aparelho de estado empreendida na década

de 1990, resposta à crise mundial provocada pela globalização dos mercados

internacionais. Ao final, delineiam-se breves alternativas para os desafios mais

restringentes.

Palavras-chave: Administração pública gerencial. Educação continuada.

Educação a distância. Limites e possibilidades.

1 INTRODUÇÃO

As recentes mudanças sociais, políticas e econômicas mundiais,

provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação, bem como

pela reorganização dos processos laborais e, consequentemente das relações

sociais, levaram muitos países a redefinir não somente os limites e alcances de

seus aparelhos estatais, mas a redefinir o próprio conceito de Estado e de

desenvolvimento. Esse movimento, no que concerne à reforma do aparelho

estatal, ficou conhecido como Nova Administração Pública (New Public

Management), e foi liderado especialmente pelo Reino Unido, na década de

1980. Reforma semelhante foi empreendida no Brasil, principalmente na década

de 1990, culminando na criação das escolas de governo: tornou-se imperativo

capacitar pessoas ligadas ao serviço público a fim de consolidar no país uma

1 Mestre em Ciências Jurídicas pelo UNICESUMAR. Pós-graduada em Ciências Penais pela

Universidade Anhanguera-Uniderp. Pós-Graduanda em Gestão e Planejamento de Trânsito pelo

UNICESUMAR. Graduada em Direito pela Universidade Paranaense. 2 Graduada em Matemática pela Unesp – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Graduada em Letras pela Unoeste – Universidade do Oeste Paulista. Pós-graduanda em

Administração Pública pelo Unicesumar, Oficiala de Justiça do Tribunal de Justiça de São Paulo.

144

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

administração pública flexível, gerencial e mais compatível com as demandas

sociais desse novo e dinâmico tecido social emergente.

Nesse contexto, o que se quer saber é: pode a educação a distância

(EaD), no que tange à capacitação de pessoas e desenvolvimento de

competências, contribuir para a consolidação de uma administração pública

gerencial, mais adequada às atuais demandas sociais? Em caso afirmativo, que

possibilidades e que desafios os profissionais ligados ao desenvolvimento de

pessoas devem se preparar para enfrentar?

Em vista disso, o presente artigo forneceu elementos, por meio de uma

revisão da literatura, que ajudem outros estudiosos a refletir sobre o assunto e a

criar soluções pertinentes ao tema. A justificativa do estudo é incontroversa: a

eficiência é preceito constitucional estabelecido caput do art. 37; e a previsão

legal de manter de escolas de governo encontra-se no art. 39, § 2º, ambos da

Constituição Federal de 1988.

Para alcançar o objetivo proposto, o artigo estrutura-se em três partes:

na primeira delas faz uma contextualização do tema, explicando as razões

históricas da Reforma de 1995 e da criação das escolas de governo. Na segunda

parte, discute-se a adoção da EaD como estratégia de desenvolvimento de

pessoas em geral, e no setor público em especial, delineando as suas

potencialidades e apontando os principais desafios a serem enfrentados.

Finalmente, faz-se uma análise no sentido de abstrair os estudos realizados pelo

artigo e propõe algumas alternativas e reflexões aos desafios mais limitadores.

2 ESCOLAS DE GOVERNO: CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO

O que são escolas de governo e por que foram criadas? Antes de dar

uma resposta a essa questão é necessário retomar a história recente do país e

seu contexto mundial para detalhar significativas mudanças ocorridas no âmbito

econômico, político e social, e que antecederam à criação das escolas de

governo.

2.1 CRISE DO ESTADO E A REFORMA DO APARELHO ESTATAL DE 1995: DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA À ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL

Dentre outros fatores, a Reforma do Estado de 1995 teve como

condição histórica anterior à sua implantação a crise que foi, ao mesmo tempo,

CONHECIMENTO E GESTÃO

145

política, econômica e administrativa, e que perdurou de 1979 até 1994, quando

finalmente houve no Brasil a estabilização da moeda e de preços através do

Plano Real.

A crise política, segundo Bresser-Pereira (1996), deu-se em três

momentos: uma crise de legitimidade com o regime militar, uma crise de

adaptação do regime democrático e uma crise moral que levou ao impeachment

de Fernando Collor de Melo. A crise econômica, também conforme Bresser-

Pereira (1990), teve como pano de fundo as sucessivas crises do petróleo, que

elevaram os preços no mercado internacional; a estagnação da renda per capta;

a redução na taxa de investimentos; os altíssimos índices inflacionários, a crise

fiscal cujo principal componente era a dívida externa pública e cuja origem

estava na política de crescimento com endividamento, adotada na década de

1970. Por sua vez, a crise da administração pública teve início no regime militar,

pois embora, ainda na década de 1930, tivesse havido a iniciativa de implantar a

reforma burocrática com a introdução de um serviço público profissional para

combater o patrimonialismo, essa reforma não logrou êxito, agravando-se após

1988, com a promulgação da Constituição Federal.

No Brasil, a primeira tentativa de flexibilização da administração pública

foi a promulgação do Decreto-Lei 200 de 1967, que dispõe sobre a organização

da Administração Federal. De acordo com Bresser-Pereira (1996), ele cria a

administração indireta e transfere as atividades de produção de bens e serviços

para as autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia

mista, além de instituir o planejamento e o orçamento, a descentralização e o

controle de resultados e permitir a contratação de empregados celetistas.

Com a Nova República, apesar do avanço da globalização e da evidente

perda da capacidade que os Estados tinham de proteger suas economias, não

houve qualquer iniciativa de reforma do aparelho do Estado, pelo contrário, havia

“no plano administrativo uma volta aos ideais burocráticos dos anos 30, e no

plano político, uma tentativa de volta ao populismo dos anos 50” (BRESSER-

PEREIRA, 1996, p. 8). Também o ajuste fiscal não logrou êxito e o Plano

Cruzado fracassou, jogando o país em uma grave crise econômica. Assim, o

capítulo que trata da administração pública na Constituição de 1988, reagindo ao

populismo e ao fisiologismo que cresceram sob o regime democrático recém

implantado, consolidou uma administração pública rígida, centralizada e

hierárquica, ignorando as reformas públicas nos demais países e os avanços

propostos pelo Decreto-Lei 200/67.

146

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

No entanto, a construção de um novo modelo de estado passou a ser

preponderante na década de 1990, momento em que os países, e em especial o

Brasil, viveram o “desafio histórico de criar um novo perfil para seus estados,

articulando um novo modelo de desenvolvimento, novas relações do público

com o privado e a necessidade de voltarem-se, cada vez mais, para o

atendimento das demandas sociais.” (SOUZA, 2002, p. 80). É nesse contexto, e

após tentativas sem êxito, que em 1995, foi criado o Ministério da Administração

Federal e Reforma do Estado (MARE) para dar início à reforma da gestão pública

no Brasil, com o intuito de transformá-la de uma cultura burocrática para uma

cultura gerencial, visando ao fortalecimento e à eficiência do aparelho de Estado.

Segundo Bresser-Pereira (2000), essa Reforma compreende três dimensões. A

dimensão institucional com foco na descentralização administrativa e que

resultou na criação das agências executivas, regulatórias e organizações sociais.

A dimensão de gestão, cujo alvo era a adoção de práticas de administração,

novas formas de responsabilização dos gestores (tal como a administração por

resultados), a competição administrada por excelência e o controle social, maior

autonomia, bem como serviços de qualidade, eficiência e custos menores. Já a

dimensão cultural visou a uma mudança de mentalidade, buscando superar o

clientelismo, o patrimonialismo e o fisiologismo tão característico no aparelho

estatal. De acordo com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado,

documento que definiu as instituições e estabeleceu as diretrizes para a

implantação de uma administração gerencial no país, trata-se de uma a reforma

do Estado

[...] que não se limita a propor descentralização para os estados e

municípios e desconcentração ou delegação de autoridade para os

dirigentes das agências estatais federais, estaduais ou municipais.

Em adição, propõe [...] uma nova classificação das atividades do

Estado e estabelece quais os tipos de propriedade e de

administração correspondentes. (BRESSER-PEREIRA, 2000, p.19,

grifos nossos).

Juntamente com a elaboração do Plano Diretor foi elaborada a emenda

constitucional da reforma administrativa que foi promulgada em 04 de junho de

1998, a EC 19/98, em que as principais mudanças pretendidas pelo governo

foram transformadas em lei conforme fora proposto. Sucintamente, as

mudanças tinham como propósito tornar mais ágil, mais flexível e menos

hierarquizado o aparelho de estado, enfocando a “descentralização e o

CONHECIMENTO E GESTÃO

147

redesenho das estruturas, a flexibilização organizacional, a criação de uma rede

de relações mais democráticas entre o Estado e a sociedade, a implantação de

um modelo contratual e competitivo de ação estatal [...] e a profissionalização”

(SOUZA, 2002, p. 81).

Desafiado a mudar e se adequar à economia globalizada, à abertura dos

mercados e às crescentes demandas sociais, o país deu início à reforma

administrativa em 1995 e vive esse processo ainda hoje, buscando a afirmação

da cidadania, a correta utilização da coisa pública e o fortalecimento da

democracia. Por não ser a reforma um fim em si mesmo, mas um processo, é

que as escolas de governo têm relevante papel, não apenas na formação do

núcleo estratégico de governo, mas na mudança de uma cultura burocrática para

a gerencial.

2.2 ESCOLAS DE GOVERNO E FORMAÇÃO POR COMPETÊNCIAS

A formação e o aperfeiçoamento de servidores públicos no Brasil são

anteriores à reforma do estado de 1995, tendo surgindo na década de 1940, em

especial com a criação da FGV - Fundação Getúlio Vargas em 1944, cujo

objetivo era qualificar pessoas do setor público e privado. Também a formação

de servidores da fazenda, consoante a Souza (2002), datam de 1945, com a

criação de cursos com o objetivo de habilitar pessoas para trabalhar junto ao

fisco que, nos anos 1970, transformou-se na ESAF – Escola Superior de

Administração Fazendária; também é dessa época o Instituto Rio Branco, criado

em 1945, para selecionar, formar e aperfeiçoar o corpo da diplomacia brasileira.

Na Nova República, segundo a autora, o governo Sarney cria a ENAP – Escola

Nacional de Administração Pública com o objetivo de formar altos funcionários

públicos, inspirada na École National d’Administration francesa e

subsidiariamente à alemã Bundesakademie fuer Öffentliche Verwaltung, que

sofreu descontinuidade em relação ao seu projeto inicial no início dos anos

1990, reduzindo-se a um centro de capacitação e treinamento para o setor

público.

Mais recentemente o tema ganhou novos contornos; isso porque a

profissionalização da burocracia, em especial do núcleo estratégico, é

pressuposto da administração gerencial, sobretudo no que concerne às políticas

públicas, seja na sua formulação, supervisão ou regulamentação. O que se

almeja é a concepção de “um corpo de funcionários tecnicamente preparados e

148

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

motivados, com competência para negociação e com responsabilidade junto ao

sistema político, diferenciando-os dos tecnocratas do antigo modelo

burocrático” (SOUZA, 2002, p. 82). Após a reforma de 1995 foram instituídas as

carreiras estratégicas do Estado, dentre elas a de especialista em políticas

públicas e governamental, cujos servidores são atualmente capacitados pela

ENAP, que por sua vez foi reformulada no governo de Fernando Henrique

Cardoso, cabendo a ela o papel de coordenar o concurso e a formação de

administradores dos mais altos níveis da administração federal.

Segundo Guimarães (2000), na perspectiva da administração gerencial,

o setor público tem como principal desafio transformar estruturas burocráticas,

hierarquizadas e isoladas em organizações flexíveis e empreendedoras, com

foco na eficiência e na qualidade dos serviços públicos para o cidadão: trata-se

de uma nova cultura de gestão. O que está “por trás dessa racionalização é uma

mudança paradigmática na qual o modelo de gestão, baseado na hierarquia,

cede lugar a um novo modelo fundamentado na flexibilidade, da qual a

abordagem por competência é um dos componentes” (GUIMARÃES, 2000, p.

130). O desenvolvimento de competências, por sua vez, tem sido utilizado tanto

por organizações públicas, privadas, bem como em escolas; tanto que, no Brasil,

“o Ministério da Educação vem conduzindo um projeto de mudanças do ensino

profissional, tomando como base o conceito de competência” (GUIMARÃES,

2000, p. 134). Ainda, segundo ele, é possível identificar pelo menos três

correntes que tratam dessa abordagem: a da administração estratégica, a da

gestão de recursos humanos e a da sociologia da educação e do trabalho, que

não serão detalhadas uma a uma, por estar além do escopo deste trabalho.

Para Abbad (2007), a qualificação atualmente exigida de grande parte

dos trabalhadores é abrangente: ele necessita saber trabalhar em equipe de

forma presencial ou à distância, interligado por redes de informação e

comunicação, dominar outras línguas e novas linguagens de comunicação e

interação, ser capaz de pesquisar e selecionar informações úteis e relevantes, ter

habilidade em administrar o tempo, conciliar responsabilidades relativas às

diferentes instâncias da vida, precisa ser criativo e solucionar problemas que

mudam de complexidade continuamente. “O perfil profissional do futuro

caracteriza-se por um conjunto de habilidades estratégicas metacognitivas,

bastante complexas” (Abbad, 2007, p. 361, grifo nosso) e ele terá que conduzir

seu desenvolvimento tendo como alvo quatro grandes conjuntos de

CONHECIMENTO E GESTÃO

149

competências: o aprender a conhecer, o aprender fazer, o aprender a viver junto

e o aprender a ser.

3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DE

PESSOAS

A educação a distância (EaD), entendida como estratégia de educação

onde professores e alunos não se encontram em um mesmo lugar e/ou tempo,

não é nova, tanto que alguns autores, de acordo com Alves (2011), citam as

cartas de São Paulo Apóstolo aos cristãos como origem histórica dessa

modalidade. Portanto, são inúmeras as iniciativas registradas ao longo da

história mundial, bem como no Brasil, com destaque para o surgimento, em

1941, do Instituto Universal Brasileiro que oferecia na época cursos

profissionalizantes por correspondência, o Telecurso 2º Grau, criado pela FIESP

– Federação das Indústrias do Estado de São Paulo em parceria com a Fundação

Roberto Marinho, em 1978, e veiculado por programas de televisão e a criação

da Universidade Aberta de Brasília, em 1992.

Recentemente ela ganhou mais relevância e novos contornos: houve,

nos últimos anos, um significativo aumento da oferta de cursos na modalidade à

distância dada às mudanças nas relações sociais e de trabalho que os avanços

tecnológicos provocaram e, ao mesmo tempo, facilitada pelo desenvolvimento

de novas ferramentas de informação e comunicação entre pessoas. Isso porque,

consoante a Abbad (2007), as recorrentes inovações tecnológicas e as rápidas

transformações na organização laboral exigem que a aprendizagem seja célere,

eficaz, constantemente atualizada, a fim de evitar a redução gradativa da

competência profissional. Nessa perspectiva, as instituições, sejam elas públicas

ou privadas, têm empreendido esforços para criar oportunidades de

aprendizagem contínua. “Isso também é uma realidade no serviço público.

Enquanto se enfrentam os desafios da inclusão digital, mesmo dentro do serviço

público, busca-se oferecer um serviço de qualidade, eficiente, mais barato e

mais rápido para o cidadão” (Abbad, 2007, p. 357). Segundo a autora, essa

modalidade educacional tem como alvo principal a aprendizagem de adultos e

são seus pressupostos a aprendizagem aberta, a aprendizagem ao longo da vida

e a educação continuada. Assim, favorecida pelas tecnologias de informação e

comunicação, a EaD tem tornado possível às pessoas o “acesso a um grande

número de informações, permitindo a interação e a colaboração entre pessoas

150

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

distantes geograficamente ou inseridas em contextos diferenciados” (Alves,

2011, p. 84). E embora existam críticas de que se trata de uma forma

massificada de ensinar e aprender, é inegável sua relevância social na medida

em que permite a muitos excluídos (ou não) o acesso à educação, seja ela

formal ou para aprimoramento profissional.

3.1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E ESCOLAS DE GOVERNO

De modo geral, a EaD encontra-se em fase de expansão e é recente em

muitas organizações, está em fase de consolidação e ainda é pouco difundida

em órgãos públicos. Nesse contexto,

a Enap tem envidado esforços para conscientizar os profissionais de

educação e gestão de pessoas sobre o importante papel da EaD na

promoção de oportunidades de aprendizagem contínua aos

servidores públicos e na ampliação do acesso ao estudo a qualquer

hora e em qualquer lugar (ABBAD, 2007, p. 355).

Ela tem promovido debates e desenvolvido cursos a distância para

destacar o importante papel da modalidade a distância na educação continuada

de servidores públicos: “engajada nesse processo de ampliação do acesso à

educação continuada e à aprendizagem ao longo da vida, oferece atualmente aos

servidores púbicos brasileiros mais de 20 cursos à distância através da sua

Escola Virtual” (ABBAD, 2007, p. 352).

Consoante a Abbad (2007), há poucas pesquisas sobre EaD no setor

público, porém, em 2006, a ENAP promoveu uma mesa-redonda de pesquisa-

ação para descrever as tendências dessa modalidade em algumas organizações,

dos quais destacam-se o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a ESAF, o Exército Brasileiro, o INSS

- Instituto Nacional do Seguro Social, o Instituto Sezerdello Correa, a FGV, a

Petrobras, a Universidade do Banco Central do Brasil, dentre outras. De modo

sucinto, as tendências observadas nesse estudo é que o público-alvo dessas

instituições se encontra disperso geograficamente, tem ampla faixa etária que

varia entre 18 e 60 anos e possui diferentes níveis de escolaridade. Nessas

organizações, as práticas de EaD ainda não estão institucionalizadas (exceto no

Exército Brasileiro e na ESAF), são adotadas para treinar e formar servidores,

bem como apoiar as mudanças tecnológicas no processo laboral.

CONHECIMENTO E GESTÃO

151

3.2 EDUCAÇÃOA DISTÂNCIA: LIMITES E POSSIBILIDADES

Como qualquer outra modalidade de desenvolvimento de pessoas, a

EaD oferece, aos que optam por ela, muitas possibilidades, ao mesmo tempo

que impõe limites e desafios.

No que concerne às possibilidades, de acordo com Abbad (2007),

Garcia (1994) e Ikeda e Constantino (2005), a EaD viabiliza o ensino permanente

visto que é acessível a qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Ela

amplia e democratiza o acesso de pessoas ao estudo, criando condições que

favorecem a aprendizagem contínua. E mais, favorece também, não somente a

capacitação de servidores públicos, mas de prestadores de serviços e de

cidadãos, já que permite a oferta de uma grande variedade de cursos para

diferentes perfis de interesses. Essa modalidade também estimula a formação de

comunidades de prática e de aprendizagem à medida que as pessoas se

familiarizam com as facilidades e potencialidades das ferramentas de

comunicação e das redes de interação. Outro grande potencial dessa modalidade

é que atinge diversos servidores dispersos geograficamente, ajuda a desenvolver

a proatividade nos estudos e a assumir certo grau de autodidatismo, além

respeitar um pouco mais os diferentes ritmos de aprendizagem. Quando

ampliado o número de alunos, os cursos à distância são escaláveis e repetíveis e

apresentam custos relativamente menores do que os presenciais, sem perda

significativa de qualidade. Além disso, existem facilidades no armazenamento e

recuperação das informações e o nível de adesão e satisfação de servidores

nesses cursos é considerado satisfatório.

Os limites dessa modalidade, para Abbad (2007), Garcia (1994) e Ikeda

e Constantino (2005), são desafiadores, tendo em vista que se trata de um

campo relativamente novo para os especialistas em educação, sobretudo no que

diz respeito às novas tecnologias de informação e comunicação. Isso porque

existe certa dificuldade em identificar e encontrar profissionais com preparo para

criar ambientes educacionais interativos, com dose adequada de encontros face-

to-face, em confeccionar materiais interativos capazes de explorar com eficiência

as tecnologias disponíveis. Também os modelos de avaliação deixam dúvidas

quanto à sua efetividade e nem sempre são compatíveis com os diferentes graus

de complexidade das competências almejadas. Esses autores destacam também

outros aspectos, tais como a limitação dessa modalidade quanto ao

desenvolvimento de habilidades sociais de convivência, afeto, empatia, etc; bem

152

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

como a dificuldade em fortalecer, em adultos, atitudes favoráveis à aceitação da

diversidade humana, além da dificuldade em criar condições mais adequadas a

diferentes pessoas com cultura, motivação, formação e repertório de vida,

singulares e distintos. Da mesma forma, esses autores ressaltam alguns

desafios no que concerne à falta de familiaridade e de preparo de alunos,

professores e tutores nessa modalidade, ainda certo descrédito dessa forma de

ensino pela sociedade, altos índices de evasão ainda pouco estudados e

solucionados pelas equipes pedagógicas, e também rigidez e obrigatoriedade em

excesso em alguns cursos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente demanda por competências profissionais mais complexas

impõe à sociedade em geral, e de modo especial para o setor público, a busca

por soluções mais condizentes com tais exigências no que tange ao

desenvolvimento de pessoas. É inegável, diante do estudo realizado, que a EaD

pode e já tem dado sua contribuição para o desenvolvimento de pessoas,

especialmente em um país com dimensões continentais como o Brasil, já que

ela alcança muitas pessoas em lugares longínquos e distantes dos habituais

centros de poder e de decisão.

O que se depreende neste estudo é que os limites mais restringentes

relacionam-se com os aspectos didáticos-metodológicos da EaD. Primeiro, será

necessário estudar e relacionar que competências profissionais se desenvolvem

junto aos diferentes órgãos públicos, separando aquelas específicas de uma

determinada “carreira” daquelas que são transversais e perpassam o trabalho de

qualquer servidor, tal como o trabalho em equipes multidisciplinares, a utilização

eficiente da língua e das linguagens próprias das novas tecnologias, o

comportamento ético, o discernimento e a probidade com a coisa pública, etc.

Uma vez conhecidas tais competências, seria razoável pensar em trajetórias de

desenvolvimento. Quanto ao ensino-aprendizagem, é imperativo a utilização de

metodologias ativas, de resolução de problemas, de conexão e integração de

conhecimentos (que na educação tradicional estão fragmentados), através da

utilização de mapas mentais e outras ferramentas semelhantes. Em relação aos

ambientes de aprendizagem, os especialistas em desenvolvimento de pessoas

terão que empreender esforços a fim de trabalhar juntamente com profissionais

das áreas de comunicação, linguagem, computação, conteudistas, verdadeiras

CONHECIMENTO E GESTÃO

153

equipes multidisciplinares capazes de abstrair todo o potencial educativo das

mídias para construir novos paradigmas de educação.

Por fim, o principal desafio aponta para o desenvolvimento de

profissionais com perfis muito distintos dos que atuam na educação presencial:

trata-se de uma revolução não somente no seio da administração pública que

almeja flexibilidade e eficiência, mas uma mudança nos paradigmas de

educação.

REFERÊNCIAS

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necessário. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 58, n. 3, p. 351-373, jul./set.

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mundo. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. São Paulo, v.

10, p.83-92, 2011.

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de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 7-26, jul./ago., 2000.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da administração pública burocrática à

gerencial. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 47, n. 1, p. 1-28, jan./abr.,

1996.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Da crise fiscal à redução da dívida. In:

VELLOSO, J. C. dos R. Dívida Externa e Desenvolvimento. Rio de Janeiro, RJ:

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GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a abordagem da

competência. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p.

125-140, mai./jun., 2000.

IKEDA, Ana Akemi; CAVALHEIRO, Constantino. Reflexões sobre as contribuições

do ensino à distância. eGesta – Revista Eletrônica de Gestão de Negócios,

Santos, v.1, n. 3, p. 55-75, out./dez., 2005.

SOUZA, Eda Castro Lucas de. A capacitação administrativa e a formação de

gestores governamentais. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.

36, n. 1, p. 73-88, jan./fev., 2002.

154

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PÓS-CONSUMO:

COMPETITIVIDADE E SUSTENTABILIDADE

PAULO HENRIQUE FRANZÃO SILVA 1

RITA TORRECILIA NETZEL 2

RESUMO

O presente artigo discorre sobre a logística reversa de lixo eletrônico, utilizando a

revisão bibliográfica e enfocando dois aspectos da sustentabilidade: o meio

ambiente e a lucratividade. A problemática deste trabalho foi evidenciar a

possibilidade de implementar, de maneira economicamente viável, a logística

reversa de lixo eletrônico no Brasil, visando a preservação do meio ambiente e

dos recursos naturais. Para contextualizar o tema, descrevem-se os conceitos

teóricos de logística e logística reversa, seguidos de uma apresentação da

legislação que regulamenta a logística reversa no Brasil. Também, destacam-se

os principais pontos abordados na Lei 12305/2010, que normatiza a Política

Nacional de Resíduos Sólidos. Diante desse cenário, vislumbra-se a contribuição

da logística reversa de lixo eletrônico para a preservação do meio ambiente, com

a redução da extração de recursos naturais, e discorre-se sobre possibilidades

de aproveitamento dos eletrônicos pós-consumo. No que diz respeito à

lucratividade, demonstra-se o valor econômico gerado a partir da logística

reversa de lixo eletrônico.

Palavras-chave: Logística reversa. Lixo eletrônico. Sustentabilidade. Resíduos

sólidos. Lucratividade.

1 INTRODUÇÃO

Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), as

empresas precisam repensar e replanejar suas formas de distribuição, os

materiais de que são feitas suas embalagens e a forma de transporte de seus

produtos até o consumidor. Mais que isso, é preciso pensar na logística reversa

pós-venda e pós-consumo, já que a destinação do resíduo produzido também é

responsabilidade do fabricante.

1 Graduado em Tecnologia em Agronegócio pela Unicesumar, Especialista em EAD e as

Tecnologias Educacionais e MBA em Agronegócio pela Unicesumar. Atua como tutor de cursos de

pós-graduação na Unicesumar modalidade a distância e pesquisador na área do agronegócio. 2 Bacharel em Administração pela UNOPAR – Universidade Norte do Paraná (2011).

CONHECIMENTO E GESTÃO

155

Por ser um tema de discussão recente no Brasil, pesquisar sobre a

logística reversa pós-consumo proporcionará o enriquecimento do material

disponível sobre o tema, incentivando novas e boas práticas a serem adotadas

pelas empresas.

Esse debate sobre a destinação correta dos resíduos eletrônicos,

gerados no pós-consumo, beneficiará a sociedade na medida em que intenta

apresentar soluções viáveis para que o consumo ocorra de maneira sustentável

sob os pontos de vista econômico, ambiental e social.

Neste trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica com a seleção de

textos relevantes sobre o assunto publicados por autores estudiosos da logística

e da logística reversa, bem como a Lei 12.305/2010, que aborda a Política

Nacional de Resíduos Sólidos brasileira.

2 LOGÍSTICA E LOGÍSTICA REVERSA

Ao analisar as condições que tornam uma empresa competitiva, deve-se

considerar a logística como aspecto fundamental e componente do planejamento

estratégico da organização.

Corrobora essa importância da logística empresarial, Ballou (2011), ao

afirmar que:

A logística empresarial estuda como a administração pode prover

melhor nível de rentabilidade nos serviços de distribuição aos

clientes e consumidores, através de planejamento, organização e

controle efetivos para as atividades de movimentação e

armazenagem que visam facilitar o fluxo de produtos (BALLOU,

2011, p. 17).

Conforme apresenta Pereira (2012), as organizações podem

desempenhar atividades nocivas ao ambiente, devendo, portanto, preocupar-se

com os impactos ambientais e sociais, além das questões econômicas,

decorrentes de seu modelo de negócio.

Assim, a logística reversa deve estar presente em todos os ciclos

produtivos, visando minimizar os maus efeitos ambientais, sociais e econômicos

produzidos pelas empresas no desempenho de suas atividades.

No inciso XII, artigo 3º, da Lei 12.305/2010, que institui a Política

Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa é definida como:

156

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

[...] instrumento de desenvolvimento econômico e social

caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios

destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos

ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em

outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente

adequada (BRASIL, 2010b).

O intuito da logística reversa é cuidar do fluxo de retorno dos materiais

ao longo da cadeia de abastecimento. Uma significação de logística reversa nos

é dada por Leite (2009) que a entende como

[...] a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o

fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos

bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao

ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos,

agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico,

legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros (LEITE, 2009,

p. 17).

A logística reversa se configura como fator de competitividade e

sustentabilidade para qualquer organização. Pereira (2012), completa dizendo

que o conceito de logística reversa engloba o conceito tradicional dado à

logística, já que agrega um conjunto de operações e ações interligadas,

proporcionando diversos benefícios, “[...] desde a redução de matérias-primas

primárias até a destinação final correta de produtos, materiais e embalagens com

o seu consecutivo reuso, reciclagem e/ou produção de energia” (PEREIRA,

2012, p. 14).

Ainda segundo Miguez (2012), enquanto a logística direta é um

processo divergente, já que o produto sai de um produtor para vários clientes, a

logística reversa pode ser entendida como um processo convergente, no qual os

produtos são direcionados de diversos clientes para uma ou poucas empresas.

2.1 LOGÍSTICA REVERSA E LEGISLAÇÃO

A instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil

aconteceu em 2 de agosto de 2010, com a publicação da Lei 12.305. Entre os

onze princípios dessa política listados no Artigo 6º, destacam-se a visão

sistêmica na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis: ambiental,

social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; o desenvolvimento

CONHECIMENTO E GESTÃO

157

sustentável; a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, do setor

empresarial e demais segmentos da sociedade; a responsabilidade

compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; e o reconhecimento do resíduo

sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social,

gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania.

O incentivo à reciclagem e à sustentabilidade é objetivo desta lei, que no

inciso II do artigo 7º, fortalece a necessidade de “não geração, redução,

reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como

disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (BRASIL, 2010b).

Os principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos são os

fechamentos de lixões, que era previsto até o ano de 2014, o encaminhamento

apenas de rejeitos aos aterros sanitários, e a elaboração de planos de resíduos

sólidos nos municípios.

A Lei 12.305/2010 já está em vigor e, no inciso XVII do artigo 3º,

estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos:

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos

fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos

consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza

urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume

de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os

impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental

decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei

(BRASIL, 2010b).

Isso incentiva as empresas à fabricação de produtos que deixem menos

resíduos e que sejam mais recicláveis, já que alguns produtos terão que ser

recolhidos após o consumo, para reciclagem. No artigo 33 da referida lei, está

disposto o seguinte:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de

logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo

consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza

urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes,

importadores, distribuidores e comerciantes de:

[...]

VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL,

2010b).

158

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Diante disso, a logística reversa é o principal instrumento para as

empresas que necessitam adequar-se a esta legislação, já que são responsáveis

pelos produtos que produzem ou revendem, compostos de materiais que podem

ser reciclados após o consumo. A responsabilidade pela reciclagem dos

produtos descartados utilizados e de suas respectivas embalagens é dos

fabricantes, que devem criar um sistema de reciclagem.

Sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos,

A PNRS dá destaque à logística reversa, afirmando que ela tem por

objetivo promover ações para garantir que o fluxo de resíduos

sólidos seja direcionado para a sua própria cadeia produtiva ou para

outras cadeias produtivas (de outros geradores). Além disso, a

logística reversa deve reduzir a poluição e desperdício de materiais,

incentivar a utilização de insumos que não degradem o meio

ambiente e desenvolver estratégias de sustentabilidade, que unam

os interesses econômicos, ambientais, sociais, culturais e políticos.

(MIGUEZ, 2012, p. 33).

Não obstante a importância e as vantagens geradas pelo exercício da

logística reversa de eletroeletrônicos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS) não estabelece prazo para a implantação de seus sistemas.

Em virtude disso, há grande quantidade de resíduos sólidos no Brasil

que não são destinados corretamente. Uma possível causa seria a insuficiência

de canais de distribuição reversa devidamente estruturado. De acordo com as

ideias expressas por Leite (2009):

O aumento da velocidade de descarte dos produtos de utilidade

após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da

descartabilidade dos produtos em geral, ao não encontrar canais de

distribuição reversos de pós-consumo devidamente estruturados e

organizados, provoca desequilíbrio entre as quantidades

descartadas e as reaproveitadas, gerando um enorme crescimento

de produtos de pós-consumo. Um dos mais graves problemas

ambientais urbanos da atualidade é a dificuldade de disposição do

lixo urbano. (...) As quantidades de produtos que se transformam

rapidamente em ‘lixo’ (nomenclatura usada de maneira imprópria) é

crescente na atualidade. Embalagens descartáveis e produtos de

informática geram preocupação em vista das quantidades e dos

custos envolvidos em sua logística reversa (LEITE, 2009, p. 21).

Diante dessa realidade e considerando o disposto na Lei nº

12.305/2010, torna-se emergente a discussão e implantação da logística reversa

CONHECIMENTO E GESTÃO

159

para destinação correta dos resíduos sólidos de pós-consumo, a fim de garantir

a sustentabilidade das empresas e da própria sociedade. Conforme relata Pereira

(2012),

[...] quando se fala em sustentabilidade e resíduos, os descartes

interferem em todas as perspectivas sustentáveis. Resíduos são

matérias-primas não aproveitadas, sendo um problema econômico.

Quando mal administrados, podem se converter em um problema

social ao causar danos à saúde coletiva. Do ponto de vista

ecológico, os resíduos podem ser fonte de poluição e contaminação

do meio ambiente (PEREIRA, 2012, p. 159).

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA DE ELETRÔNICOS PARA A

SUSTENTABILIDADE

Segundo Leite (2009), a velocidade de descarte dos produtos pós-

consumo cresce rapidamente, aumentando a quantidade de produtos que não

são reaproveitados em parte ou na sua totalidade. Entretanto, o crescimento da

preocupação da sociedade com as questões ambientais influencia governos e

empresas a agirem de modo a causar menores impactos danosos ao meio

ambiente, de modo que seja possível beneficiar a sociedade e a própria empresa.

Os resíduos eletroeletrônicos representam riscos ao meio ambiente ao

serem descartados de forma incorreta, pois contém elementos tóxicos como

metais pesados em sua composição.

Com a consolidação do marketing orientado para o consumidor, a

percepção dos clientes para produtos defeituosos tornou-se mais aguçada e,

com isso, surgiu a necessidade de estabelecer procedimentos para atender a

essa nova demanda de retorno dos produtos ao fabricante.

Ballou (2011) cita a sanção das Normas de Segurança de Produtos de

Consumo, pelo congresso americano, em 1972. Essas normas fixam padrões

obrigatórios de segurança dos produtos e, segundo o autor, tanto consumidores

quanto indústrias estão conscientizados sobre a necessidade desses padrões de

qualidade, já que o descumprimento das regras pode gerar penalidades civis ou

até mesmo prisão.

A preocupação com o meio ambiente passa a crescer junto com a

população e a industrialização. Uma das principais questões é a da reciclagem

de resíduos sólidos.

160

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

O mundo industrializado criou sofisticados canais e distribuição

para matérias-primas e produtos acabados, porém deu-se pouca

atenção para a reutilização desses materiais de produção. Com

exceção, temos a reciclagem das latas de alumínio e de sucata de

aço dos automóveis. O grande crescimento no emprego de

embalagens e produtos descartáveis evidencia a pouca

preocupação com a reciclagem. É geralmente mais barato usar

matéria-prima virgem do que material reciclado, em parte pelo

pouco desenvolvimento de canais de retorno, que ainda são menos

eficientes do que os canais de distribuição de produtos. Isso deve

mudar, pois (1) o público em geral está ficando mais consciente do

desperdício, (2) a quantidade de resíduo sólido tem aumentado e

(3) a matéria-prima original está ficando mais cara e menos

abundante (BALLOU, 2011, p. 384).

Também segundo Ballou (2011), os resíduos sólidos como fontes de

matéria-prima ainda são bastante desprezados nessa época. Isso se nota pela

menor atenção dada aos canais de distribuição reversos.

Há, em primeiro lugar, uma estrutura de intermediários no canal

reverso que ainda não é especialmente bem desenvolvida e

eficiente. Centros de reciclagem, depósitos para resíduos e rejeitos,

especialistas em coleta de lixo e centrais de reaproveitamento da

manufatura são apenas alguns dos pontos de entrada para o canal

de retromovimentação e que ainda devem ser desenvolvidos. Além

disso, deve existir uma estrutura de fretes mais favorável. É comum

que os fretes de matéria-prima virgem sejam menores do que para

materiais reciclados. Como esses fretes dependem de fatores como

volume movimentado, competição, facilidade de manuseio do

produto e poder de barganha de usuários e transportadores, os

custos de transporte deverão cair à medida que os canais de

reciclagem forem sendo mais utilizados (BALLOU, 2011, p. 385).

O aperfeiçoamento constante da tecnologia e a redução de custos de

produção, apoiada pelas modernas técnicas de gestão, permitiram a

disponibilização cada vez mais rápida de novos produtos e a maior

acessibilidade a estes, o que promove a descartabilidade dos bens. Leite (2009)

confirma esta ideia ao afirmar que:

Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o acelerado

desenvolvimento tecnológico experimentado pela humanidade

permitiu a introdução constante, e com velocidade crescente, de

novas tecnologias e de novos materiais que contribuem para a

melhoria do desempenho técnico, para a redução de preços e dos

CONHECIMENTO E GESTÃO

161

ciclos de vida útil de grande parcela dos bens de consumo duráveis

e semiduráveis. Esses materiais, essas tecnologias e a

obsolescência mercadológica planejada permitem a satisfação dos

conceitos de diferenciação entre as empresas no mercado. O

acelerado ímpeto de lançamento de inovações no mercado cria um

alto nível de obsolescência desses produtos e reduz seus ciclos de

vida, com clara tendência à descartabilidade (LEITE, 2009, p. 39).

O alto índice de obsolescência tratado acima ocasiona grande aumento

de descarte de produtos eletrônicos no meio ambiente. Miguez (2012) relata que

no mundo todo, a taxa de geração de lixo eletrônico é crescente. Dessa forma, o

autor defende que:

Prover vida extra aos produtos significa que, para qualquer período

de tempo, haverá menos produção, menos resíduos e, quando os

resíduos de pós-consumo forem perigosos, como é o caso de

produtos eletrônicos, haverá menos substâncias perigosas geradas.

Para o planeta, reuso significa que menos matérias-primas serão

usadas, menos energia consumida e menos poluição haverá nas

três fases do ciclo de vida, que são: extração de matérias-primas,

fabricação e descarte/reciclagem, na maioria dos casos (MIGUEZ,

2012, p. 24)

Em outro momento, Miguez (2012) acrescenta que a logística reversa

impacta diretamente na melhoria do ambiente, reduzindo a quantidade de

materiais perigosos em aterros, lixões e até córregos a céu aberto. Além disso,

destaca-se o efeito positivo da logística reversa para o meio ambiente ao

proporcionar o recolhimento e reaproveitamento de produtos, reduzindo o uso de

matéria-prima virgem. Isto reduz a extração de recursos minerais e energéticos.

2.3 A RIQUEZA ESCONDIDA NO LIXO

Miguez (2012) expõe que as empresas desenvolvem a logística reversa,

pautadas em diversos fatores como a conscientização dos consumidores, a

pressão do governo, a legislação, a responsabilidade ambiental e a geração de

lucro. Na maioria dos casos, a geração de lucro é um dos fatores que motivam

as empresas.

O artigo 42 da Lei 12.305/2010 trata dos instrumentos econômicos e

apresenta a possibilidade para o poder público de instituir medidas indutoras e

linhas de financiamento, para atender de modo prioritário, entre outras, iniciativas

de:

162

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

[...] I - prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no

processo produtivo;

II - desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde

humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida;

[...]

V - estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística

reversa;

[...]

VII - desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias

limpas aplicáveis aos resíduos sólidos;

VIII - desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e

empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao

reaproveitamento dos resíduos (BRASIL, 2010b).

Com a finalidade de fomentar essas iniciativas, o Decreto 7.404/2010,

que regulamenta a Lei 12.305/2010, apresenta as medidas a serem adotadas:

Art. 80. As iniciativas previstas no art. 42 da Lei nº 12.305, de

2010, serão fomentadas por meio das seguintes medidas indutoras:

I - incentivos fiscais, financeiros e creditícios;

II - cessão de terrenos públicos;

III - destinação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e

entidades da administração pública federal às associações e

cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, nos termos

do Decreto no

5.940, de 25 de outubro de 2006;

IV - subvenções econômicas;

V - fixação de critérios, metas, e outros dispositivos

complementares de sustentabilidade ambiental para as aquisições e

contratações públicas;

VI - pagamento por serviços ambientais, nos termos definidos na

legislação; e

VII - apoio à elaboração de projetos no âmbito do Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo - MDL ou quaisquer outros mecanismos

decorrentes da Convenção Quadro de Mudança do Clima das

Nações Unidas.

Parágrafo único. O Poder Público poderá estabelecer outras

medidas indutoras além das previstas no caput.

Art. 81. As instituições financeiras federais poderão também criar

linhas especiais de financiamento para:

I - cooperativas ou outras formas de associação de catadores de

materiais reutilizáveis e recicláveis, com o objetivo de aquisição de

máquinas e equipamentos utilizados na gestão de resíduos sólidos;

II - atividades destinadas à reciclagem e ao reaproveitamento de

resíduos sólidos, bem como atividades de inovação e

desenvolvimento relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos; e

III - atendimento a projetos de investimentos em gerenciamento de

resíduos sólidos (BRASIL, 2010a).

CONHECIMENTO E GESTÃO

163

Outra forma de reduzir custos da produção é apresentada por Miguez

(2012). Segundo o autor, um produto pode ser canibalizado, ou seja, ter “suas

peças e componentes inseridos no estoque de produção, servindo como

matéria-prima para novos produtos.” (MIGUEZ, 2012, p.20). Também é

reforçada pelo autor a importância de considerar no planejamento e controle da

produção a disponibilidade dessas peças e componentes. “Devemos fazer com

que os responsáveis pela ordem de produção contem com os produtos

retornados na hora de se calcular o material necessário para a fabricação de

determinado produto” (MIGUEZ, 2012, p.21).

A reutilização é vantajosa sob o ponto de vista financeiro, pois é um

processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação

biológica, física ou físico-química, dispendendo custo baixo, porquanto se

investe apenas na desmontagem do produto, para retirada das partes que serão

incluídas novamente no processo produtivo.

Leite (2009) comenta sobre o valor econômico em alguns canais

reversos de reciclagem. Para o autor

[...] tem-se a substituição de matérias-primas primárias por

secundárias em cadeias reversas de reciclagem, nas quais é

possível avaliar a parcela representada pelas matérias-primas

secundárias nas vendas totais do setor. Contrariamente à ideia de

valorizar esses retornos pelo valor dos bens de pós-consumo, em

geral muito baixos, nossa valorização é feita por meio do percentual

de utilização de matérias-primas secundárias no total da economia

do setor, avaliando, dessa maneira, o valor efetivo da economia da

cadeia produtiva direta (LEITE, 2009, p. 29).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o intento de subsidiar o leitor para análise e conclusões sobre a

importância da logística reversa de resíduos sólidos, sobretudo os

eletroeletrônicos, na produção desse artigo foi utilizado o tipo de pesquisa

bibliográfica, consistente no exame da bibliografia, para o levantamento e análise

do material que já foi produzido sobre o tema.

O objetivo de uma pesquisa bibliográfica, segundo Köche (2006, p. 122)

é “conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um

determinado tema ou problema, tornando-se instrumento indispensável a

qualquer tipo de pesquisa”.

164

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

É possível afirmar que há o levantamento bibliográfico, que será a

primeira etapa de qualquer pesquisa, e que se constitui na “base para as demais

pesquisas e pode-se dizer que é uma constante na vida de quem se propõe a

estudar.” (FACHIN, 2001, p. 125). Por outro lado, há a pesquisa bibliográfica,

que é uma pesquisa propriamente dita, a qual pode ser utilizada com diversas

finalidades.

Köche (2006) apresenta algumas finalidades da pesquisa bibliográfica:

a) Para ampliar o grau de conhecimentos em uma determinada área,

capacitando o investigador a compreender ou delimitar melhor um

problema de pesquisa; b) para dominar o conhecimento disponível e

utilizá-lo como base ou fundamentação na construção de um

modelo teórico explicativo de um problema, isto é, como

instrumento auxiliar para construção e fundamentação das

hipóteses; c) para descrever ou sistematizar o estado da arte,

daquele momento, pertinente a um determinado tema ou problema”

(KÖCHE, 2006, p. 122).

O presente artigo se propõe a conhecer e analisar o material teórico já

disponível sobre o tema, buscando contribuir e ampliar a discussão sobre

logística reversa de lixo eletrônico no Brasil.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A logística reversa discorre sobre o processo logístico que trata do

gerenciamento inteligente do recolhimento de produtos, com a finalidade de

descarte, recuperação ou reciclagem. É uma alternativa para as empresas

recobrarem os materiais e produtos descartados, sendo uma ferramenta

fundamental para as organizações que desejam atender seus clientes de maneira

sustentável, satisfazer os consumidores e manter um negócio econômica e

ambientalmente viável. Além disso, é uma necessidade prevista na legislação

nacional. Do mesmo modo é importante considerar que o processo reverso

logístico também atenua o problema de escassez de matéria-prima, barateando

o processo produtivo. Assim, os elos entre desempenho ambiental,

competitividade e resultados financeiros finais estão crescendo a cada dia.

Empresas fazem do desempenho ambiental superior, demonstrando

práticas denotativas de sua preocupação com a preservação do meio ambiente,

uma arma competitiva. Com o aumento da consciência ecológica, a sociedade

espera das empresas a redução dos impactos negativos de sua atividade ao

CONHECIMENTO E GESTÃO

165

meio ambiente, o que está induzindo o desenvolvimento de produtos

ecologicamente corretos e uma nova postura das empresas em relação aos

resíduos produzidos no seu negócio.

REFERÊNCIAS

BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transportes, administração de

materiais, distribuição física. 25. reimp. São Paulo: Atlas, 2011.

BRASIL. Decreto nº 7.404/2010, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a

Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos

Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística

Reversa, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2010/decreto/d7404.htm>. Acesso em: 22 mai. 2016.

BRASIL. Lei nº 12.305/2010, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional

de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>.

Acesso em: 01 mai. 2016.

FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e

prática da pesquisa. 23.ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

LAKATOS, Maria Eva. MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho

cientifico. 4 ed. São Paulo. Revista e Ampliada. Atlas, 1992.

LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. 2.

Ed. São Paulo: Pearson, 2009.

MIGUEZ, Eduardo Correia. Logística reversa como solução para o problema do

lixo eletrônico: benefícios ambientais e financeiros. Rio de Janeiro: Qualitymark

Editora, 2012.

PEREIRA, André Luiz. et. al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo:

Cengage Learning, 2012.

166

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

ARBITRAGEM COMO ALTERNATIVA À MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO

THAIS LILIANE DOS SANTOS1

LEANDRO MITSUO AZUMA2

RESUMO

O presente artigo conceituou o instituto da arbitragem, demonstrando os

benefícios de sua aplicabilidade na solução de conflitos, bem como sua

legalidade. Trata-se de instituto que tem crescido no Brasil, na medida em que o

Poder Judiciário encontra-se cada vez mais obstruído e abarrotado. Apesar das

constantes mudanças na legislação brasileira, o instituto da arbitragem

permanece regulamentado em lei, garantindo segurança para as partes

envolvidas em conflitos. Para a produção deste trabalho foi utilizada a pesquisa

bibliográfica, tendo como pretensão de resultado explorar brevemente o instituto

sem a intenção de esgotar o tema. Chegou-se à conclusão que a arbitragem

apresenta-se como alternativa viável e vantajosa em busca de solução de litígios.

Palavras-chave: Judiciário. Arbitragem. Conflito. Solução.

1 INTRODUÇÃO

No convívio social, naturalmente ocorrem conflitos de interesses, que

muitas vezes são resolvidos pelos próprios conflitantes. No entanto, quando não

é possível fazê-lo, comumente se recorre ao judiciário, compondo o que se

chama de litígio ou lide.

Ocorre que o Poder Judiciário passa por uma profunda crise estrutural.

Um exemplo da deficiência do sistema jurídico brasileiro é o quadro de juízes,

reduzido e insuficiente, ante o grande número de processos que são

protocolizados diariamente. Existe ainda, a possibilidade de interposição de

inúmeros recursos, que faz com que os processos judiciais se arrastem ao longo

de tempo. Sendo assim, o litigante, ao procurar a “justiça”, já sabe que seu

1 Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá; Pós-Graduação em

Auditoria e Controladoria pela Unifamma. 2 Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná; Graduação em Direito

pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

CONHECIMENTO E GESTÃO

167

problema não será resolvido com rapidez, frustrando sua expectativa de

resolução de conflitos.

O presente artigo vem justamente apresentar uma modalidade alternativa

de solução de conflitos que auxilia o sistema judiciário, que é a arbitragem. Esse

método extrajudicial tem como principais características a agilidade, economia e

eficácia na solução das controvérsias.

Para tanto, abordou neste referencial teórico a relação entre litígios e o

poder judiciário, o conceito de arbitragem, noções gerais da Lei nº 9.307/96, que

trata deste instituto, as vantagens da utilização da Arbitragem como método de

resolução de conflitos, a metodologia utilizada para criação deste artigo que será

uma pesquisa bibliográfica e, por fim, considerações finais sobre o tema.

2 ARBITRAGEM

2.1 LITÍGIO E O PODER JUDICIÁRIO

O litígio ocorre naturalmente devido a divergências de opiniões e

interesses. Havendo a discordâncias entre as partes envolvidas, historicamente,

o Estado toma para si a titularidade da solução de conflitos, por meio da via

judicial. Nesse sentido, segundo Bacellar (2012, p. 20):

No desiderato de assegurar acesso à justiça, quando houver

descumprimento da lei, abuso, desrespeito a convenções e quebra

de princípios, terá o Poder Judiciário de promover o ajuste de

interesses com a resolução da lide sempre descrita como – um

conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou

insatisfeita.

Ocorre que, hodiernamente, a prestação jurisdicional tem se mostrado

ineficiente ante a velocidade das demandas da sociedade. Conforme Bacellar

(2012, p. 30), “aumentam-se a população e o número de casos ajuizados (e por

consequência a morosidade) sem que os tribunais consigam atenuar ou resolver

o que se costumou denominar crise da justiça ou crise do Poder Judiciário”.

A estrutura judiciária já não comporta tantos processos, o que a tornou

sobrecarregada e morosa. Somem-se a isso normas ineficazes à realidade e um

excessivo leque de recursos e o resultado é um estrangulamento do sistema.

No entanto, algumas medidas podem ajudar a “desafogar” o judiciário.

Especialistas no assunto - Scavone, Bacellar e Carmona, por exemplo -

168

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

denominam tais medidas como métodos alternativos de solução de conflitos. Há

vários benefícios com a adoção dessas medidas, e focou em apresentar uma

delas, qual seja, a arbitragem.

2.2. CONCEITO DE ARBITRAGEM

O Instituto da arbitragem surgiu há muito tempo, antes mesmo de existir

um sistema jurídico como conhecemos hoje. Com o passar dos anos, esse

instituto foi sendo modificado, atualizado, para se adaptar as novas realidades e

necessidades da sociedade. Foi em 1939 que o instituto da arbitragem, através

de sua previsão no Código de Processo Civil (arts. 1031 à 1046 do CPC de

1939), foi trazido para dentro do ordenamento jurídico brasileiro com um

conceito mais parecido com o atual.

Alguns importantes doutrinadores, em tempos mais modernos,

estudaram o tema e o conceituaram de forma mais completa.

Para Scavone Jr (2014, p.15) “a arbitragem é um dos mais antigos

meios de composição de conflitos pela heterocomposição, ou seja, a solução do

conflito por um terceiro imparcial”. Diferentemente da autocomposição – que

também é conceituada pelo referido autor - em que as próprias partes põem fim

às suas pendências, a arbitragem necessita de uma terceira parte para que o

litígio seja resolvido.

Scavone Jr. ainda traz um conceito mais completo, definindo a

arbitragem como:

O meio privado e alternativo de solução de conflitos decorrentes de

direitos patrimoniais e disponíveis por meio do árbitro, normalmente

um especialista na matéria controvertida, que apresentará uma

sentença arbitral que constitui título executivo judicial (SCAVONE,

2014, p. 16).

No mesmo sentido Bacellar (2012, p. 121) assim ensina sobre o

instituto da arbitragem:

A arbitragem pode ainda ser definida (nossa posição) como a

convenção que defere a um terceiro, não integrante dos quadros da

magistratura oficial do Estado, a decisão a respeito de questão

conflituosa envolvendo duas ou mais pessoas. Para que se instaure

a arbitragem, é essencial o consentimento das partes: enquanto o

CONHECIMENTO E GESTÃO

169

juiz retira seu poder da vontade da lei, o árbitro só o conquista pela

submissão da vontade das partes.

Ambos os conceitos acima expostos, quando interpretados de forma

conjunta, ensinam que a arbitragem é uma opção das partes, que buscam a

solução de um conflito em um árbitro, um terceiro não envolvido no problema,

mas com conhecimento notável da matéria e que, tendo em vista a vontade

expressa das partes, decidirá sobre o assunto em uma sentença arbitral, que

nada mais é que um título executável judicialmente.

Portanto, é um mecanismo privado em que um terceiro profere uma

decisão acerca de um conflito. Tal decisão é destinada “a assumir a mesma

eficácia da sentença judicial” (CARMONA, 1993, p. 19), ou seja, não é uma

sentença proferida por um juiz, mas possui força de tal, e se não for cumprida,

poderá ser executada judicialmente pelas partes.

O instituto da arbitragem deve ter seu conceito atualizado e aprimorado

de acordo com as normas e termos do Novo Código de Processo Civil. Agora, a

arbitragem passa a ter mais força como um instituto jurisdicional reconhecido e

constitucionalmente aceito.

2.3. LEI 9.307/96

A lei 9.307/96, também conhecida como Lei da Arbitragem, surge em

face da indispensabilidade de regulamentação legal do instituto. Com sua

popularização, surgiu a necessidade de normatizar o instituto, para que houvesse

uma garantia maior de justiça na sua utilização.

Assim, o instituto da arbitragem passou a compor o ordenamento

jurídico brasileiro de forma integral, sem necessidade de outras normas

complementares para sua aplicação. Observando o panorama jurídico brasileiro

e tendo em vista a problemática do nosso sistema judiciário, a arbitragem surge

como uma opção célere e econômica na resolução de conflitos, conforme

ensina Helena Patrícia Freitas.

De acordo com Guilherme (2012, p. 66):

A lei de arbitragem é um diploma dinâmico, enxuto e atual, e surge

como ponto de partida para a prática da arbitragem no Brasil.

Ademais, a prática de arbitragem traz bons exemplos de justiça,

sigilo, celeridade e economia para as partes.

170

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Tal lei trouxe importantes mudanças ao instituto. Antes havia “dois

grandes empecilhos que atrasavam o desenvolvimento da arbitragem: a)

obrigatoriedade da homologação judicial das decisões arbitrais; b) falta de

obrigatoriedade e executividade da cláusula compromissória.” (BACELLAR,

2012, p. 122 -123). Atualmente não é mais necessária a atuação do juiz togado,

consolidando a competência do árbitro.

Segundo Scavone Jr (2014, p. 85), “se as partes convencionarem a

arbitragem, em razão da manifestação volitiva, livre e consciente, pelo princípio

da autonomia da vontade, o que foi estabelecido entre elas se torna obrigatório:

pacta sunt servanda”.

Além do mais, o legislador brasileiro apresentou três conceitos

interessantes na Lei nº 9.307/96 para o entendimento da arbitragem,

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus

litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim

entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as

partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem

os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

[...]

Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as

partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas,

podendo ser judicial ou extrajudicial.

Pois bem, a convenção de arbitragem vem a ser uma modalidade pela

qual as partes convencionam solucionar seus litígios em substituição à justiça

comum. Scavone Jr (2014, p. 89) ensina que “convenção de arbitragem é

gênero do qual são espécies a cláusula arbitral (ou cláusula compromissória) e o

compromisso arbitral”.

Guilherme (2012) diferencia superficialmente essas duas espécies

alegando que “a cláusula diz respeito a litígio futuro e incerto e o compromisso, a

litígio atual e específico”.

A Lei de arbitragem prevê, ainda, um procedimento arbitral

independente, mas com um rito muito parecido com o do processo judicial. As

partes são apresentadas a arbitragem e optam por ela. Embora caiba as partes

escolherem quem irá presidir o rito, o escolhido deverá se basear em princípios

constitucionais, como do contraditório, igualdade, imparcialidade, entre outros.

Tentativas de conciliação deverão ocorrer, sob pena de nulidade, e a

representação das partes por meio de advogados não é obrigatória, mas, tendo

CONHECIMENTO E GESTÃO

171

uma parte decidido por assim fazer, à outra deverá ser dado a mesma

oportunidade.

As partes podem, como no rito judicial, fazer arguições de

incompetência, suspeição, impedimento em relação ao próprio arbitro e de

questões prejudiciais, em relação a direitos indisponíveis.

O árbitro pode determinar a produção de provas, que poderão ser

depoimento de testemunhas, interrogatório das partes, confissão, documentais,

ou outras que lhe pareçam indispensáveis.

Finalmente, podem ainda ser analisados pedidos contrapostos, medidas

de urgências, revelia e intervenção de terceiros, tudo devidamente fundamentado

na Lei de Arbitragem, no Código de Processo Civil e na Constituição Federal.

A sentença arbitral deverá ser emitida no prazo de 6 meses, salvo se as

partes convencionarem de forma diferente, conforme dita o artigo 23 da Lei

9.307/96. Quanto às sentenças que forem proferidas, estas não estão sujeitas a

recursos ou a homologação pelo judiciário, a menos que a discussão se refira a

aspectos formais.

É importante frisar o enorme privilégio que a lei da arbitragem trouxe

para o sistema jurídico brasileiro e para o dia a dia das pessoas que se

beneficiam dela. A regulamentação do instituto trouxe segurança para os

envolvidos e apesar de existirem alterações no Novo Código de Processo Civil, a

lei ainda permanecerá como um marco e um norte para conduzir os

comprometidos com a justiça no Brasil.

2.4 VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM

Para apurar as vantagens da utilização da arbitragem é necessário

compará-la ao sistema judiciário. Segundo Lima (2008, p. 20), podem ser

citados os seguintes benefícios: eficiência, conveniência, custo e celeridade.

O poder judiciário encontra-se abarrotado de processos, e não há boa

expectativa de melhora em um curto prazo. De acordo com Lima (2008, p. 21) o

grande volume de trabalho “não permite um grau adequado de especialização de

parte do magistrado”. O mesmo autor, um pouco mais adiante, complementa

que:

Na arbitragem, as partes estão autorizadas a indicar árbitros

detentores de conhecimento técnico na matéria objeto do processo

arbitral, fazendo com que as perspectivas de decisões tecnicamente

172

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

acertadas sejam muito superiores àquelas das sentenças proferidas

pelo Judiciário (LIMA, 2008, p. 21).

No que diz respeito à conveniência, a vantagem da arbitragem para as

partes se dá pelo sigilo, pois não há a obrigatoriedade da publicidade. Bacellar

(2012, p. 134) ensina que, “enquanto a legislação processual é impositiva no

sistema judiciário, na arbitragem as partes decidem sobre as regras de

procedimento e critérios de julgamento, desde que não contrariem normas de

ordem pública e os bons costumes”.

O custo do procedimento arbitral possui relação com o tempo

despendido, já que é mais célere e menos burocrático, tendendo a ser mais

barato que outros meios de resolução de conflitos. O artigo 23 da Lei de

Arbitragem estipula que: “A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado

pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da

sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou da

substituição do árbitro.” Sobre o tempo despendido:

A tendência, portanto, é que o processo arbitral seja mais célere,

principalmente se considerarmos que a sentença arbitral é, pelo

menos em princípio, final, mas uma sentença do Poder Judiciário

[geralmente] pode ser objeto de recurso e de outro recurso para os

tribunais superiores e muito tempo pode passar até que a palavra

final seja dita (LIMA, 2008, p. 23).

Visto isso, observa-se que a utilização da arbitragem é benéfica em

várias situações conflituosas, tendendo a ser uma solução pacífica, com fins de

preservação de relações contratuais.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Através de bibliografia atualizada e especializada, artigos e pesquisas

feitos por meio de internet, atingiu-se o grau de profundidade necessário para a

produção deste trabalho, cujo objetivo era um estudo geral sobre o instituto da

arbitragem e algumas principais considerações sobre o tema.

Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 183):

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda

bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde

publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,

CONHECIMENTO E GESTÃO

173

monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de

comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e

audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o

pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou

filmado sobre determinado assunto, inclusive conferencias seguidas

de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer

publicadas, quer gravadas.

O tema é bastante discutido nas esferas jurídicas e com o advento do

novo CPC, trazendo novas considerações a serem somadas as preexistentes,

muito material bibliográfico de qualidade está sendo produzido pela comunidade

legal brasileira.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, resta clara a crise em que o judiciário se encontra,

principalmente quando analisamos o tamanho da demanda de litígios que a ele é

imposto diariamente.

Conforme se aprendeu ao produzir este trabalho, a arbitragem é uma

opção válida, eficaz e menos custosa para a solução de conflitos. Estando as

partes de acordo e manifestando sua vontade de utilizar esse método, ele deve

ser aplicado sem ressalvas.

Sua utilização está toda regulamentada em lei, o que traz segurança

para as partes que dele fazem uso e, com o advento do Novo Código de

Processo Civil e as mudanças que ele trouxe em relação ao tema, a prática da

arbitragem continua sendo um ótimo e seguro meio de convenção extrajudicial.

Assim, quando as partes não conseguem chegar a um consenso

sobre determinada pendência, e existe a possibilidade de resolução extrajudicial

do problema, deve-se incentivar a utilização da arbitragem para que a lide seja

solucionada de forma mais célere e eficaz.

REFERÊNCIAS

BACELLAR, Roberto Portugal. Mediação e arbitragem. São Paulo: Saraiva,

2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

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174

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

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São Paulo: Saraiva, 2012.

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metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

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Janeiro: Forense, 2008.

SCAVONE JUNIOR, Luiz Antônio. Manual de arbitragem. 5. ed. rev., atual. e ampl.

Rio de Janeiro: Forense, 2014.

CONHECIMENTO E GESTÃO

175

ESTUDO SOBRE O CONSUMO DA CARNE OVINA

NA REGIÃO DE LONDRINA-PR

YONY BRUGNOLO ALVES1

FRANCISCO FERNANDES JÚNIOR2

RESUMO

Durante muitos anos a comercialização da carne ovina foi desorganizada, com

abate de animais de baixa qualidade. Isto criou uma imagem desfavorável ao

produto. À medida que este cenário muda, a carne ovina recebe mais destaque,

principalmente a carne de cordeiros que atende a nichos de mercado nos

grandes centros urbanos. Objetivou-se com este trabalho mensurar o consumo e

aceitabilidade da carne ovina na região de Londrina - PR, de acordo com o

gênero, idade, nível de escolaridade e renda familiar das pessoas entrevistadas,

assim como avaliar os parâmetros sensoriais da carne ovina segundo

consumidores sem a informação da espécie animal, visando indicar ações

norteadoras para a cadeia produtiva de ovinos de corte. Foram entrevistadas um

total de 951 habitantes e realizado um estudo de consumidores com 134

habitantes, ambos de Londrina e região, durante a Exposição Agropecuária e

Industrial de Londrina, no ano de 2014. Os principais motivos de não consumir a

carne é a falta de costume 44,1% seguido do fato de não gostar 39,8%. O motivo

pelo qual não gostam da carne é o cheiro forte do animal 44,8% seguido pelo

sabor adocicado 20,2%. Quanto à aceitabilidade da amostra, 47,01% dos

consumidores marcaram a carne como gosto muito, seguido por 26,87% que

marcaram como gosto extremamente, apenas 2,25% dos consumidores

marcaram a carne como desagradável. Observa-se que a grande barreira para

aumentar o consumo da carne ovina é a falta de costume e experiências ruins

que levam ao não consumo.

Palavras-chave: Abate. Cordeiro. Comércio. Qualidade.

1 INTRODUÇÃO

O mercado consumidor busca a cada dia por diferentes alternativas de

fonte de proteína animal, e os ovinos são ruminantes com alta capacidade para

1 Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – UNIOESTE. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá –

UEM. 2 Zootecnista, Mestre em Ciência Animal, Doutorando em Ciência Animal pela Universidade

Estadual de Londrina - UEL.

176

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

se alimentarem exclusivamente de pastagem e produzirem proteína de alto valor

biológico (PACHECO; QUIRINO, 2008).

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e

Alimentação (FAO, 2015), a estimativa do rebanho ovino brasileiro no ano de

2013 era de cerca de 17,3 milhões de cabeças de ovinos, o que correspondia a

aproximadamente 1,5% do rebanho mundial. No ano de 2013 o Paraná possuía

737.392 cabeças de ovinos, que representava 4,3% do rebanho nacional (IBGE,

2013), em que o interesse principal era a criação de cordeiros para produção de

carne.

De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e abastecimento

(MAPA, 2015), estima-se que o consumo de carne ovina é de 0,7

kg/habitante/ano, muito abaixo do consumo de carne bovina, suína e de aves. O

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2005),

registra que o baixo consumo de carne ovina no Brasil se deve a falta de hábito

do consumidor, as irregularidades das ofertas, a qualidade inadequada do

produto colocado à venda e à má apresentação do produto oferecido no

mercado interno.

É possível que as estatísticas relativas ao consumo de carne ovina

sejam subestimadas, devido a grande maioria dos abates ainda acontecerem de

forma clandestina, sem qualquer tipo de inspeção, esse fato não permite que se

possa fazer estimativas confiáveis sobre o tamanho real do mercado brasileiro

para carne ovina.

Durante muitos anos a comercialização da carne ovina foi

desorganizada, com abate realizado de forma incorreta e abate de animais

velhos, levando a comercialização de carne com baixa qualidade, criando uma

imagem desfavorável ao produto. À medida que este cenário muda, a carne

ovina recebe mais destaque, principalmente a carne de cordeiros.

O conhecimento do comportamento das pessoas em relação à carne

ovina é um ponto crucial para o desenvolvimento dos sistemas produtivos, a fim

de fornecer informações aos produtores, cooperativas e associações, de quais

indivíduos são os potenciais consumidores desta carne, determinando os nichos

de mercado para distribuição dos produtos e orientando a ações de marketing.

Objetivou-se com este trabalho mensurar o consumo e aceitabilidade da

carne ovina na região de Londrina - PR, de acordo com o gênero, idade, nível de

escolaridade e renda familiar das pessoas entrevistadas, assim como avaliar os

parâmetros sensoriais da carne ovina segundo consumidores sem a informação

CONHECIMENTO E GESTÃO

177

da espécie animal, visando indicar ações norteadoras para a cadeia produtiva de

ovinos de corte.

2 COMERCIALIZAÇÃO DA CARNE OVINA

Os índices de informalidade na comercialização da carne ovina são

superiores ao abate oficializado, sendo estimulada por uma fiscalização

insuficiente. A informalidade no varejo traduz na aquisição de produtos sem

inspeção sanitária. Na indústria, implica na falta de comunicação da

movimentação de animais aos órgãos de defesa sanitária, aquisição de animais

doentes, ausência de inspeção durante o abate, transporte inadequado quanto

aos padrões de embalagem e de refrigeração de produto (SORIO; RASI, 2010).

Além do que, entregam ao mercado consumidor produtos despadronizados e

sem garantia de qualidade.

O produtor de ovinos geralmente trabalha com a criação em ciclo

completo, ou seja, faz cria, recria e engorda. Os acordos com as cooperativas

são de entrega de cordeiros, animais que vão para o abate com três a cinco

meses de idade, com carcaças bem acabadas. Garantindo desta forma carcaças

homogêneas e de qualidade garantida.

Entretanto, quando se trabalha com ciclo completo a cada estação de

nascimento são separados algumas borregas e borregos para reposição de

ovelhas e carneiros. Após a seleção dos melhores animais, ele acaba com

algumas borregas ou machos inteiros com dois anos. Outro ponto importante

são os animais de descarte, geralmente uma taxa de descarte de 15 a 20% ao

ano (CAVALCANTE; LÔBO, 2005). São matrizes no fim da sua vida produtiva.

Estas três classes geralmente não são aceitas pelas cooperativas, e o

produtor acaba por não ter escolha a não ser vender para um atravessador – a

preços muito baixos - que provavelmente irá realizar um abate clandestino e

distribuir nos centros de varejo a preço mais baixo do que a carne inspecionada.

Esta carne acaba prejudicando a imagem da carne ovina, influenciando

negativamente no aumento do consumo pela população e na competitividade

desta proteína em frente a outras proteínas de origem animal (BRESSAN, et al.,

2001).

Quando se avalia a carcaça de animais mais velhos, como ovelhas de

descarte, têm-se então vários problemas de qualidade. As carcaças apresentam

178

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

excesso de gordura, a cor da carne é mais escura, carne mais firme, e

apresentam um sabor e aroma mais acentuados (BESERRA, 1999).

O primeiro ponto negativo destas carcaças é o excesso de gordura

acumulada, que significa desperdício no toalet da carcaça e preparo dos cortes

para venda e consumo (FRANÇOIS, 2009). Outro ponto negativo é a tonalidade

da carne, que se apresenta mais escura do que a carne de cordeiro.

Como solução para agregar valor a esta carne e vendê-la como produto

de qualidade, pode-se ao invés de trabalhar com os cortes tradicionais, fazer

cortes diferenciados e temperados em porções menores para facilitar o preparo

desta carne pelo consumidor. Como, por exemplo, com os pernis e paletas

podem ser feitos discos temperados para grelha. O carré pode ser maturado, as

costelas também podem ser vendidas temperadas e cortadas em porções

menores e do pescoço pode fazer salames, linguiças, hambúrgueres, enfim

todas as formas de embutidos e defumados.

Na produção de ovinos não é prioritário a castração dos machos, já que

estes são abatidos antes do início da maturidade sexual. Entretanto deve-se ter

em mente que quando se trabalha com animais precoces como Texel, Dorper,

entre outros; a maturidade sexual pode ter início aos quatro ou cinco meses de

idade. E muitas vezes o confinamento pode não dar o ganho de peso esperado,

fazendo com que aumente o período de terminação destes animais, podendo,

desta forma, chegarem ao início da maturidade sexual.

Outro ponto importante e que pode ser confundido com o “odor de

macho” é a questão da suarda. A suarda é uma substância gordurosa semi-

fluída que é produzida pelas glândulas sebáceas e sudoríparas e fica aderida no

pelo ou lã dos ovinos. Na retirada da pele do animal no frigorífico a parte externa

da pele não deve entrar em contato com a carne dos animais; no caso do

funcionário que realiza a esfola, a mão que puxa a pele não deve ser encostada

na carcaça. Quando isto ocorre, a carcaça e carne deste animal acabam com um

odor que não sai no cozimento da carne e que novamente prejudica o paladar.

No frigorífico a esfola pode ser feita manual ou mecanicamente; na

maioria dos frigoríficos que abatem ovinos, por ser uma carcaça pequena e de

fácil manuseio a esfola é manual utilizando-se de facas tradicionais. Este tipo de

faca exige uma destreza muito grande do funcionário, para que a gordura não

seja retirada e os músculos não sejam danificados. Uma forma de facilitar o

trabalho, preservando a qualidade da carcaça e reduzindo a probabilidade de

contaminar a carcaça com a suarda é a utilização de facas elétricas ou

CONHECIMENTO E GESTÃO

179

pneumáticas. Lembrando que o DIPOA/DAS exige que entre cada animal as

facas sejam esterilizadas a 85°C, o que também retira qualquer sujidade das

facas (GOMIDE; RAMOS; FONTES, 2006).

3 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

3.1 TÉCNICA UTILIZADA

Foram entrevistadas 952 pessoas, que foram questionadas a respeito

do gênero, idade, renda familiar, nível de escolaridade (Tabela 1) e questões

relativas ao consumo de carne ovina. Com relação ao consumo da carne ovina,

a questão principal foi se o entrevistado consome ou não essa carne. No caso de

resposta positiva foi questionado o local onde adquire esse tipo carne. E no caso

de resposta negativa foi questionado o porquê não consome esse tipo carne. Foi

questionado se caso o entrevistado encontrasse a carne desta espécie no

mercado em cortes que facilitam o preparo e com preço acessível, ele compraria

ou não. E foi questionado também, sobre o termo pelo qual os entrevistados

conhecem a carne ovina, sendo esta uma questão de caráter educativo.

Tabela 1: Porcentagem de pessoas entrevistadas quanto ao gênero, idade, nível

de escolaridade e renda familiar.

Categoria Número de pessoas Porcentagem

Gênero

Masculino 471 49,5

Feminino 480 50,5

Idade

Menos que 19 anos 73 7,7

20 a 39 anos 478 50,3

40 a 59 anos 300 31,5

Maior que 60 anos 100 10,5

Grau de escolaridade

Sem instrução 8 0,8

Fundamental incompleto 92 9,7

Fundamental completo 107 11,3

180

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Ensino médio incompleto 52 5,5

Ensino médio completo 327 34,4

Ensino superior incompleto 103 10,8

Ensino superior completo 189 19,9

Pós-graduação 73 7,7

Renda familiar

Até 1 salário mínimo 58 6,6

De 1 a 3 salários mínimos 332 37,7

De 3 a 6 salários mínimos 260 29,5

De 6 a 9 salários mínimos 121 13,7

Mais do que 9 salários mínimos 110 12,5

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Foi realizado um estudo com 134 consumidores da região Norte do

Paraná, nos dias seis e oito de abril de 2014, durante a Exposição Agropecuária

e Industrial de Londrina. Cada consumidor recebeu uma porção (3 cm) de carré

ovino grelhado sem tempero. A carne foi proveniente de cordeiros confinados

Santa Inês abatidos com 35kg de peso vivo. Os provadores foram informados

que iriam provar carne (sem informação de que era carne ovina). A carne sem

tempero passou pelo processo de cocção em grill elétrico com temperatura

controlada, quando alcançaram 70°C as amostras foram retiradas e enviadas

para os provadores juntamente com um copo de água e uma bolacha de água e

sal para rinsagem da boca.

Após provarem a carne, eles respondiam um questionário avaliando a

carne quanto à qualidade da textura, qualidade do sabor e aceitabilidade global

da amostra. Os três atributos foram pontuados em uma escala de oito pontos

que variava entre: gosto extremamente e me desagrada extremamente.

Nas análises estatísticas foi utilizado um modelo de regressão

logística, sendo calculadas as razões de chance (odds ratio - OR). A variável

dependente foi consumo da carne ovina ('sim' ou 'não'), e as variáveis respostas

foram gênero ('feminino' ou 'masculino'), renda familiar ('menor que um salário

mínimo (<1)', 'de um a três salários mínimos (1 a 3)', 'de quatro a seis salários

mínimos (4 a 6)', 'de sete a nove salários mínimos (7 a 9)' ou 'maior que nove

salários mínimos (<9)'), idade ('menor que 19 anos', '20-39 anos', '40-59 anos'

CONHECIMENTO E GESTÃO

181

ou ' maior que 60 anos'), grau de escolaridade ('sem instrução', 'fundamental

incompleto', 'fundamental completo', 'médio incompleto', 'médio completo',

'superior incompleto', 'superior completo' ou 'pós graduação') e a possibilidade

de encontrar a carne ovina no mercado em porções menores que facilitam o

preparo e o consumos ('sim' ou 'não').

Foram realizadas análises descritivas dos dados por meio do software

R (R CORE TEAM, 2015).

3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Das mulheres entrevistadas, 62,9% não consomem a carne ovina,

contra 37,1% que consomem, para os homens foi 33,5% que não consomem

contra 66,5% que consomem. Dentro das faixas etárias, foi observado que com

o aumento da idade houve um aumento no consumo da carne, variando entre

45,2% (menor que 19 anos) e 53% (maior que 60 anos). Quanto ao consumo

segundo a escolaridade, ele aumentou com o grau de estudo, pessoas sem

instrução 87,5% não consomem a carne, e pessoas com ensino superior

completo 67,7% consomem a carne, conforme tabela 2.

Tabela 2: Avaliação do consumo da carne ovina de acordo com gênero, idade,

escolaridade e renda familiar.

Categoria

Número de pessoas Porcentagem

Consome Não consome Consome Não consome

Gênero

Masculino 313 158 32,9 16,6

Feminino 178 302 18,7 31,8

Idade

Menos que 19 anos 33 40 3,5 4,2

20 a 39 anos 252 226 26,5 23,8

40 a 59 anos 153 147 16,1 15,5

Maior que 60 anos 53 47 5,6 4,9

Grau de escolaridade

Sem instrução 1 7 0,1 0,7

182

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Fundamental incompleto 40 52 4,2 5,5

Fundamental completo 45 62 4,7 6,5

Ensino médio incompleto 24 28 2,5 2,9

Ensino médio completo 140 187 14,7 19,7

Ensino superior incompleto 67 36 7,0 3,8

Ensino superior completo 128 61 13,5 6,4

Pós-graduação 46 27 4,8 2,8

Renda familiar

Até 1 salário mínimo 16 42 1,8 4,8

De 1 a 3 salários mínimos 147 185 16,7 21,0

De 3 a 6 salários mínimos 142 118 16,1 13,4

De 6 a 9 salários mínimos 75 46 8,5 5,2

Mais do que 9 salários mínimos 81 29 9,2 3,3

Fonte: Dados da pesquisa (2014).

Quanto à renda familiar, pessoas que recebem até um salário mínimo,

72,4% não consomem a carne; e pessoas que recebem de sete a nove salários

mínimos, 73,6% consomem a carne. Em geral o consumo de carne ovina foi de

51,63%, dentre estas, 98,2% consomem esta carne de 1 a 60 dias no ano. Os

consumidores que adquirem a carne direto do produtor chegam a 34,0%,

seguido de consomem em restaurantes com 26,5%. Os principais motivos de

não consumir a carne é a falta de costume 44,1% seguido do fato de não gostar

39,8%. O motivo pelo qual não gostam da carne é o cheiro forte de animal 44,8%

seguido pelo sabor adocicado 20,2%. Os homens apresentaram maior chance

de consumir a carne ovina quando comparado ás mulheres (OR = 2,84). As

pessoas que responderam que comprariam a carne ovina no mercado em

porções menores que facilitam o preparo e o consumo apresentaram maior

possibilidade de consumir esse tipo de carne que as pessoas que responderam

que não comprariam (OR = 4,05). E quanto maior a renda familiar, maior foi

abertura para a pessoa consumir a carne ovina (OR (<1) - (1 a 3) = 2,23; OR

(<1) - (4 a 6) = 3,61; OR (<1) - (7 a 9) = 4,26 e OR (<1) - (>9) = 8,04).

Tabela 3: Avaliação da aceitabilidade da carne ovina.

CONHECIMENTO E GESTÃO

183

Parâmetros avaliados

Número

Pessoas Porcentagem

Número

pessoas Porcentagem

Aceitabilidade geral

Gosto extremamente 36 26.87

131 97.76

Gosto muito 63 47.01

Gosto moderadamente 29 21.64

Gosto ligeiramente 3 2.24

Desagrada ligeiramente 1 0.75

3 2.24

Desagrada moderadamente 1 0.75

Desagrada muito 1 0.75

Desagrada extremamente 0 0.00

Qualidade da textura

Gosto extremamente 52 38.81

130 97.01

Gosto muito 62 46.27

Gosto moderadamente 12 8.96

Gosto ligeiramente 4 2.99

Desagrada ligeiramente 1 0.75

4 2.99

Desagrada moderadamente 2 1.49

Desagrada muito 1 0.75

Desagrada extremamente 0 0.00

Qualidade do sabor

Gosto extremamente 41 30.60

130 97.01

Gosto muito 65 48.51

Gosto moderadamente 19 14.18

Gosto ligeiramente 5 3.73

Desagrada ligeiramente 2 1.49

4 2.99

Desagrada moderadamente 1 0.75

Desagrada muito 1 0.75

Desagrada extremamente 0 0.00

Fonte: Dados da Pesquisa (2014).

184

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Quanto à aceitabilidade da amostra (Tabela 3), 47,01% dos

consumidores marcaram a carne como gosto muito, seguido por 26,87% que

marcaram como gosto extremamente, apenas 2,25% dos consumidores

marcaram a carne como desagradável. Avaliando a aceitabilidade com o gênero

dos consumidores, em geral os homens avaliam a carne como agradável

98,41%, contra 1,59% como desagradável; já as mulheres – 98,08% avaliaram

como agradável contra 1,92% que avaliaram como desagradável. Quanto à

textura 46,27% marcaram a carne como gosto muito, seguido de 38,81% como

gosto extremamente, apenas 2,99% marcaram a carne como tendo textura

desagradável. Quanto ao sabor, 48,51% consideraram gosto muito, 30,60%

consideraram gosto extremamente, apenas 2,99% marcaram como

desagradável.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa pode-se observar que pelo preço da carne ovina ser

superior a outras carnes, o consumo desta aumenta de acordo com a renda

familiar, estando ligada a escolaridade. A grande barreira para aumentar o

consumo da carne ovina é a falta de costume e experiências ruins que levam ao

não consumo.

Dentro do exposto, observa-se que a ovinocultura do Paraná ainda que

em crescimento, sofre com alguns entraves que podem ser facilmente

resolvidos, necessitando de pesquisas voltadas a qualidade e comercialização da

carne ovina.

REFERÊNCIAS

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186

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

GESTÃO POR COMPETÊNCIAS: UM ENFOQUE SOBRE A ATITUDE NO

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

SORAIA ALVES FEITOZA DA SILVA1

PRISCILA ALINE DE MELO2

RESUMO

O presente trabalho discorre sobre a gestão por competências no objetivo de

analisar como a atitude está relacionada a mesma no ambiente organizacional.

Para isso buscou-se conceituar o C.H.A (Conhecimento, habilidade e atitude);

bem como a identificação de fatores relacionados à atitude no que tange a

gestão de competências. Entender a importância da gestão de pessoas nas

organizações, assim como, a cultura organizacional, o comportamento

organizacional, faz parte da compreensão da atitude como um aspecto da gestão

por competências, considerando o fator comportamental do colaborador na

organização. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. O tema possui

uma grande importância para as pessoas, instituições, organizações e gestores

de empresa para obter maior conhecimento sobre o tema abordado, visto que é

um assunto que pode ser mais explorado, podendo contribuir para a área de

gestão de pessoas.

Palavras-chave: Gestão por competências. Comportamento organizacional.

Atitude.

1 INTRODUÇÃO

A preocupação com as competências surge em resposta a um mercado

altamente competitivo, no qual as empresas buscam métodos alternativos de

gestão a fim de que seus colaboradores se adequem às suas estratégias. Um

dos objetivos nesse sentido é alinhar os objetivos pessoais do colaborador aos

objetivos organizacionais, tomando como base a cultura organizacional, a qual

1 Graduada em Administração de Empresas pela UNIFAMMA-PR, Pós-graduada em MBA em

Gestão com Pessoas pelo UNICESUMAR-PR e pós-graduanda em EAD e as tecnologias

Educacionais pelo UNICESUMAR-PR. 2 Graduada em Pedagogia pela PUC - Pontifícia Universidade Católica – MG. Pós-graduanda em

MBA em Gestão de Pessoas pelo UNICESUMAR-PR.

CONHECIMENTO E GESTÃO

187

engloba a missão, visão e valores que norteiam os passos da organização.

Nesse processo, destaca-se a gestão de pessoas que acompanha e permeia

toda essa questão que envolve a entrada e a permanência de colaboradores na

empresa. Desta forma, o estudo da gestão por competências possibilita

compreender este novo método de contratação com base na seleção por

competências, englobando as competências necessárias na atualidade ao

considerado “desejável perfil profissional”, enfatizando a questão do

comportamento organizacional mediante as atitudes do colaborador.

O fator central deste estudo se fundamenta à abordagem conhecida

como CHA, que se refere ao conjunto de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes

necessárias ao preenchimento de vagas. Assim, o presente artigo está dividido

em itens, sendo que no primeiro é apresentado sobre o fator atitude e sua

importância nas competências na organização, abordando a gestão de pessoas,

gestão e seleção por competências, na sequência é descrito sobre a cultura

organizacional e o comportamento organizacional. Após os itens do

embasamento teórico, o método utilizado e, por fim, as considerações finais

sobre o tema exposto.

2 A IMPORTÂNCIA DO FATOR ATITUDE DENTRO DA GESTÃO DE PESSOAS E

DE COMPETÊNCIAS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL

A gestão de pessoas é um assunto muito abordado em várias

organizações, principalmente no que tange à concorrência frente a um mercado

competitivo. Assim, as pessoas passaram a ser vistas não apenas como mão de

obra, mas como sendo essenciais nas organizações, pois é por meio delas que

se constrói conhecimento, tecnologia e o trabalho. As pessoas são recursos

humanos, um capital humano fundamental, pois como aborda Chiavenato

(2005): “são elas que fundam e iniciam as organizações, são elas que tocam e

impulsionam as organizações” (Chiavenato, 2005, pág. 187).

Por outro lado, sabe-se que essa relação estabelecida entre funcionário

e organização, é uma relação de dependência mútua. Desta forma:

O contexto da gestão de pessoas é formado por pessoas e

organizações. As pessoas passam boa parte de suas vidas

trabalhando dentro das organizações, e estas dependem daquelas

para poder funcionar e alcançar sucesso. De um lado o trabalho

torna considerável tempo e esforço das pessoas, que dele

dependem para sua subsistência e sucesso pessoal. Separar o

188

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

trabalho da existência das pessoas é muito difícil, quase impossível

em face da importância e impacto que nelas provoca. Assim, as

pessoas dependem da organização onde trabalham para atingir seus

objetivos pessoais e individuais (CHIAVENATO, 1999, p. 4 e 5).

As empresas de forma geral têm sofrido mudanças nas áreas

econômicas, de mercado e tecnológicas.

Vivemos um momento inusitado em nossa história. Organizações

que se comportavam como se tivessem talentos de sobra vêem-se

diante de um cenário novo: apresentam dificuldades para identificar,

em seus próprios quadros, profissionais que atendam à demanda de

competências exigida pelo mundo globalizado (GRAMIGNA, 2007,

p. 14 e 15).

Essas mudanças estão ocorrendo com grande velocidade. Mediante a

isto, para lidar com essas transformações, as organizações estão revendo seus

modelos e convicções, identificando pessoas com diferencial competitivo,

tornando a atitude do indivíduo, um fator essencial no diferencial do seu perfil

profissional.

2.1 GESTÃO POR COMPETÊNCIAS

Em épocas remotas, a competência técnica sempre foi crucial no

processo de seleção de pessoal. Os recrutadores sempre conduziam a entrevista

buscando saber se o candidato conseguia realizar algumas atividades e se tinha

conhecimento sobre determinada área. A análise comparativa de duas vertentes:

exigências do cargo e características do candidato, sempre foi presente no

processo seletivo.

Atualmente surge uma nova concepção que veio modificar a visão da

área de recursos humanos: a gestão por competências. A gestão por

competências está se tornando cada vez mais presente no ramo empresarial.

Embora ainda não tenha atingido a maioria das empresas, ela está ganhando

força, já que esta abrange todos os aspectos necessários a um profissional.

Rabaglio (2001, p.8), define o conceito de competência como “um conjunto de

conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos que permitem ao

indivíduo desempenhar com eficácia determinadas tarefas em qualquer

situação”.

CONHECIMENTO E GESTÃO

189

A Gestão por Competências surgiu para responder a questões

particulares do cenário empresarial. Essa metodologia de gestão

representa diversas tentativas de resposta: à necessidade de

superação da concorrência num mercado globalizado; às exigências

por agilidade, diferenciação e inovação contínua; às demandas de

aprendizagem e de criação do conhecimento, para lidar com

questões inéditas e surpreendentes que surgem a cada dia no

contexto organizacional. Seu foco principal está orientado para o

desenvolvimento de competências e novos conhecimentos, fontes

por excelência para a conquista de vantagem competitiva

sustentável. O modelo pressupõe que a posse de recursos raros,

valiosos e de difícil imitação confere à organização vantagem

competitiva. Tais recursos, por sua vez, são representados,

sobretudo pelos conhecimentos e pelas competências das pessoas

que trabalham na organização (CARBONE, 2005, online).

Nesse novo modelo, o principal foco são as competências do

funcionário, que são expressas pelo CHA (Conhecimento, habilidade e atitude),

utilizado como ferramenta para avaliação profissional na gestão por

competências.

Conhecimento é o saber teórico. Habilidade é o saber fazer, é o que a

pessoa produz com o conhecimento que possui. Atitude se refere à ação, desta

forma significa a pessoa querer fazer. Esses três aspectos formam o perfil

profissional e são indissociáveis. Em outras palavras, o conceito de C.H.A se

traduz em:

O conhecimento é um conjunto de informações articuladas e que

podem ser utilizadas quando necessário. A habilidade é entendida

como a capacidade de transformar o conhecimento em ação,

produzindo resultados que atendam ou superem uma expectativa.

As atitudes são determinadas por crenças, valores e princípios e

estão relacionados com o “querer ser” e o “querer agir (CARVALHO

et al 2008, p. 37).

Antes, a noção de competência era associada ao domínio de um

determinado assunto ou conhecimento. Assim, a pessoa que tivesse esse

domínio era denominada competente. Atualmente, este conceito passou por

mudanças, concebendo assim, o profissional nos três aspectos do C.H.A. Estes

aspectos são indissociáveis, pois, um colaborador pode ter bastante

conhecimento sobre determinado assunto, porém, se ele não tiver habilidade e

atitude, não produzirá resultados, sendo comparado àquelas pessoas que

possuem grande conhecimento, mas não conseguem colocar em prática no

190

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

trabalho. Há outra vertente, que é aquele profissional que tem muita atitude e

vontade, mas não possui o conhecimento necessário e consequentemente, não

tem a habilidade para realizar o trabalho.

Diante do exposto, é fato que o conhecimento e a habilidade sejam

fundamentais no perfil profissional, por outro lado, é possível observar com

clareza, como o comportamento (atitude) tem se tornado cada vez mais um

desafio difícil na gestão de pessoas, pois parte-se do pressuposto de que,

atitude não é algo que se ensina, mas que é característica da própria pessoa.

É importante neste contexto, salientar que o conhecimento e a habilidade

não são mais os únicos responsáveis pelo diferencial no mercado de trabalho,

mas a “atitude”, essa sim, pode ser o diferencial do profissional, mediante um

mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Conforme Robbins; Judge;

Sobral (2014, p. 69):

Cada um de nós tem milhares de atitudes, mas o estudo do

comportamento organizacional se concentra em um número

limitado delas, relacionadas ao trabalho. Essas atitudes revelam

avaliações positivas ou negativas que os trabalhadores têm com

relação a diversos aspectos de sem ambiente de trabalho. A maior

parte das pesquisas na área de comportamento organizacional tem

focalizado três tipos de atitudes: satisfação com o trabalho,

envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional.

É essencial abordar, que a atitude não se trata apenas do “querer fazer”

o trabalho, mas está diretamente envolvido ao conceito de comportamento

organizacional, que se traduz nas atitudes do colaborador dentro da empresa,

não apenas sobre o aspecto de trabalho e realização de tarefas em si, mas

também sobre o relacionamento interpessoal deste colaborador com os demais

membros, sua atitude perante situações-problema e o comportamento pessoal

no local de trabalho, entre outros.

2.1.1 Seleção por competências

Atualmente, a seleção por competências vem ganhando espaço nas

organizações. A razão disso é que através desse tipo de seleção, aumenta-se a

chance de uma seleção eficaz e correta e assim, mensurar as habilidades que os

candidatos possuem para o bom desempenho na função.

CONHECIMENTO E GESTÃO

191

Como mencionado anteriormente, o CHA é uma ferramenta utilizada na

seleção por competências. O objetivo é muito mais do que observar as

habilidades técnicas e o conhecimento teórico, mas valorizar e perceber as

características pessoais do indivíduo, visto que a questão comportamental reflete

os valores, organização, objetivos do colaborador, mas, principalmente, a sua

atitude.

Devido à competitividade presente no mercado as organizações estão

exigindo mais de seus funcionários, de forma que se adequem à cultura da

empresa, à função a ser exercida e também na forma como se relaciona com os

colegas de trabalho e clientes, salientando a importância do Relacionamento

Interpessoal.

No modelo de entrevista tradicional costuma-se usar perguntas

fechadas ou indutivas, nas quais é facilmente possível o candidato ocultar algum

aspecto importante ou até mesmo mentir, pois muitos candidatos já vão para a

entrevista com respostas prontas para alguns tipos de perguntas.

Na seleção de competências é interessante a forma com que ela é

realizada. Sua particularidade se baseia em fatos reais e mensuráveis. Assim,

não é possível que o candidato oculte informações ou até mesmo minta. São

realizadas perguntas investigativas e específicas no momento da entrevista,

observando suas habilidades, qualidades, atitudes e comportamentos em

situações já vivenciadas e até o olhar e o tom de voz ao responder as perguntas.

Essa é a característica principal da seleção por competências, não se basear em

intuição, mas sim em fatos reais, observando principalmente o aspecto

comportamental. Desta forma, há mais segurança e possibilidade de acerto na

contratação.

No processo de seleção por competências é necessário que seja feito

antes um mapeamento das competências, a fim de saber informações sobre o

candidato, seu perfil técnico e comportamental em relação à vaga oferecida.

Para este mapeamento existem duas vertentes das competências. São

elas:

Técnicas: São as que compõem o perfil profissional para ocupar

determinados cargos. Exemplo: um gestor financeiro deve possuir

competências relativas à gestão de finanças.

De suporte: São as que agregam valor às competências técnicas e

que fazem a diferença no perfil profissional das pessoas

(GRAMIGNA, 2007, p. 44 e 45).

192

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Essas competências de suporte são essenciais no processo de seleção.

No que tange a “atitude” na gestão por competências frente às competências de

suporte mencionadas acima, é interessante abordar ao menos três delas para

exemplificar a importância deste aspecto no perfil profissional de um

colaborador, cuja importância dentro do comportamento organizacional se torna

crucial. Segundo Gramigna (2007, p.44) “capacidade de negociação:

capacidade para se expressar e ouvir o outro buscando o equilíbrio e soluções

satisfatórias nas propostas apresentadas pelas partes”. O segundo fator é a

motivação, aspecto importante na atitude do colaborador: que ainda de acordo

ao mesmo autor “motivação: energia para o trabalho: capacidade de demonstrar

interesse pelas atividades que vai executar tomando iniciativas e mantendo

atitude de disponibilidade” (GRAMIGNA, 2007, p. 45).

Assim, organizações e pessoas estarão lado a lado, propiciando um

processo contínuo de desenvolvimento de competências, onde a

empresa transfere seu patrimônio para os indivíduos, enriquecendo-

os e preparando-os para enfrentarem novos desafios profissionais e

individuais. E as pessoas, por sua vez, desenvolverão suas

capacidades individuais, transferindo-as para a organização

(SOARES; ANDRADE, online).

Com essas competências de suporte presente no perfil profissional junto

aos valores e regras organizacionais, torna-se possível alcançar os objetivos de

ambos os lados.

2.2 CULTURA ORGANIZACIONAL

Sabe-se que há várias definições para o conceito de Cultura

Organizacional. Uma importante definição faz a abordagem que:

A cultura de uma organização pode ser entendida como um

conjunto de valores, de normas e princípios, já sedimentados na

vida organizacional, conjunto este que interage com a estrutura e os

comportamentos, criando de uma maneira peculiar e duradoura de

como se procede naquela organização, baseado em certos

fundamentos e almejando a consecução de determinados

resultados finais (LUZ, 2003, p. 15).

Em outras palavras, porém, com o mesmo sentido, Antonechen (2010,

p.12) diz:

CONHECIMENTO E GESTÃO

193

Enfim, podemos tentar resumir o conceito de cultura organizacional

como sendo aquele modo especial que um grupo encontrou de

realizar determinada ação, representando os seus valores e suas

crenças, e, tendo obtido resultado, consideram importante

reproduzir. Assim, acabam determinando um “jeito” de ser que a

distingue das outras organizações e fazem-na reconhecida na

sociedade.

Falar de cultura organizacional é falar também de atitudes e

comportamentos dos indivíduos que compõem este grupo ou organização. Desta

forma, de maneira prática, a missão, visão e valores da empresa regem as

regras e procedimentos da mesma, em postura da gestão, bem como, a

comunicação da empresa construindo o estilo da mesma, que no conceito

formal, é a cultura da organização.

[...] as variáveis organizacionais tais como: estrutura organizacional,

regras, políticas, objetivos, missão, descrições de cargos e

procedimentos operacionais padronizados são fatores que

delimitam e compõe a cultura de uma organização formal, como

também a percepção que os empregados têm sobre a mesma

(ARAÚJO; ARAÚJO, 2011, p. 5).

Existem elementos importantes na cultura organizacional. É importante

identificar quais as crenças e valores que caracterizam a cultura da empresa,

pois é por meio desta identificação que se observa e se atua em melhores

condições de relacionamento interpessoal no trabalho, bem como, se alcança

melhores resultados nos objetivos e na missão da empresa.

Crenças e valores: são as filosofias, estratégias e metas, ou seja,

são as regras, princípios, normas e valores éticos que direcionam o

comportamento de um grupo, seus objetivos e os meios utilizados

para atingí-los. Vale destacar que crenças é tudo aquilo que as

pessoas acreditam ser verdade dentro das suas metas e objetivos,

enquanto valores significam o que as pessoas acreditam ser

importante (ARAÚJO; ARAÚJO, 2011, p. 6).

Neste sentido, pode-se dizer o quão difícil é direcionar o comportamento

de um grupo, pois em cada âmbito há diversas histórias e experiências de vida,

com valores, culturas internas, e vivências diferentes. Assim, a empresa deve

possuir valores éticos prudentes e significativos para que essa condução,

principalmente, quando se fala em gestão de pessoas, seja eficiente e valorizada,

194

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

e as regras e normas sejam seguidas como uma cultura própria da empresa de

forma consciente. Como aponta Marras (2010, p. 442):

A cultura de uma organização, portanto, é a maneira informal e

compartilhada de perceber a vida e a participação na organização,

que mantém seus membros unidos e influencia o que pensam sobre

si mesmos e seu trabalho.

Devido à diversidade de pessoas, opiniões, valores e experiências

externas trazidas para dentro da empresa, é que se pode dizer que este nível, no

que se refere à gestão de pessoas, é o mais difícil de administrar, pois é preciso

uma construção de identidade da empresa, com uma visão ética, fortalecendo a

cultura organizacional. Por outro lado torna-se muito difícil que o colaborador

dissocie esses fatores ao que a empresa propõe e constrói. Desta forma, é

necessário que se alinhe os objetivos da empresa aos objetivos individuais dos

colaboradores que a compõe. Ou seja, se a cultura da empresa é baseada em

valores e crenças sólidos, éticos e sensatos, isto influenciará sobre como os

funcionários pensam sobre si mesmos e como agirão em seu trabalho.

Pelas questões mencionadas, observa-se que a cultura organizacional é

de fundamental importância, visto que, ela rege os comportamentos dentro da

organização e pode também influenciar no comportamento, na forma como o

colaborador percebe o seu trabalho. O papel da gestão de pessoas no que tange

à cultura organizacional é apresentar os valores, crenças e a missão da empresa,

de forma que o quanto antes seja possível o alinhamento de objetivos entre

empresa e colaborador. As empresas esperam um comportamento de seus

colaboradores que seja condizente com sua cultura organizacional.

2.3 COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

As atuais organizações têm percebido a importância do comportamento

organizacional. Observa-se que, nos últimos tempos, frente aos avanços da

tecnologia, as pessoas têm tido mais necessidade para se desenvolverem e

alcançar o mercado competitivo. A busca pelo conhecimento e tecnologia

propicia às pessoas serem diferenciais no mercado de trabalho, no que tange o

aspecto do conhecimento. Por outro lado, observa-se que a necessidade das

organizações atualmente não se limita mais ao conhecimento técnico, e que

este, já não é mais o único diferencial no mercado de trabalho. Ao contrário de

CONHECIMENTO E GESTÃO

195

épocas remotas, o diferencial hoje é ter o conhecimento sobre a área de

atuação, ter a habilidade para realizar, mas o principal é a atitude do colaborador,

o que não depende da empresa, mas sim do próprio funcionário ou candidato a

uma vaga.

Frente a essas mudanças surge a necessidade de estudar e abordar o

comportamento das organizações e dos colaboradores. Para esta questão, dá-se

o nome de comportamento organizacional. Wagner e Hollenbeck (2012, p. 5)

abordam que: “comportamento organizacional (CO) é um campo de estudo

voltado a prever, explicar, entender e modificar o comportamento humano no

contexto das empresas.”

Pensar em comportamento humano é muito mais amplo e complexo do

que se pode imaginar, pois são diversos fatores que permeiam a construção do

ser humano, no que se refere às suas características, suas necessidades, suas

escolhas e até suas capacidades, como aponta Chiavenato (2005, p. 191): “o

comportamento humano é motivado por uma variedade de necessidades.”, ou

ainda, o ser humano pode agir não só por necessidades, mas podem se

comportar de um modo que consigam obter algo que deseja, e tomar decisões

em sua racionalidade e percepção (CHIAVENATO, 2005). De acordo ainda o

mesmo autor:

O comportamento individual das pessoas é um aspecto importante

nas organizações. Ele se caracteriza por diferenças individuais e de

personalidade. As pessoas têm muitas coisas em comum - como

linguagem, comunicação, motivação – mas também têm muitas

coisas diferentes – como maneiras de pensar, agir e sentir. Apesar

de pertencerem ao mesmo gênero humano, as pessoas são

profundamente diferentes entre si (CHIAVENATO, 2005, p. 189).

Desta forma, observa-se que o ser humano apresenta comportamento

individual, pois também possui características individuais. No entanto, é

importante salientar que o comportamento individual não está ligado apenas aos

fatores de características individuais, mas pode estar também associado às

características organizacionais e à cultura das empresas.

É difícil definir quais as razões que induzem o comportamento individual

de cada pessoa, partindo do pressuposto de que, não apenas se age sobre as

situações, mas também que se reage a elas. Tanto as ações como as reações

dentro do ambiente organizacional, podem acontecer pelos motivos citados

anteriormente, mas também podem ser causados pelas ações de outras

196

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

pessoas, ou pela cultura da empresa que leva as pessoas a agirem de acordo

com seus valores, regras e ao próprio ambiente de trabalho.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo foi desenvolvido com o objetivo de compreender a gestão por

competências e a sua importância para a seleção de pessoas e permanência do

funcionário na empresa. Para chegar ao entendimento do objetivo proposto foi

necessária a orientação da metodologia da pesquisa científica. Conforme

Andrade (2010, p. 117), “metodologia é o conjunto de métodos ou caminhos

que são percorridos na busca do conhecimento”.

No desenvolvimento do artigo em questão foi utilizada a pesquisa

bibliográfica, realizada por meio do estudo e compreensão de diversos autores

que deu embasamento teórico sobre o assunto. Segundo Oliveira (1999, p. 118)

“pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de

contribuições científicas que se realizaram sobre determinado assunto ou

fenômeno”. Após compreender o estudo de alguns autores sobre o tema foi

possível apresentar a importância da gestão por competências no tempo atual,

dando ênfase ao conhecimento, às habilidades, mas principalmente às atitudes

do profissional para se manter no mercado de trabalho, cada vez mais

competitivo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apoiando na teoria estudada foi possível observar como este tema é

importante no cenário atual, em que o mercado de trabalho está cada vez mais

competitivo. Um cenário em que as empresas necessitam de profissionais que

tenham não apenas o conhecimento e a habilidade, exigidos exclusivamente em

outras épocas, mas que tenham “atitude” para agir em sua função.

Pelo referencial teórico e os conceitos apresentados observou-se que o

comportamento organizacional, no que se refere ao colaborador, deve ser o mais

próximo possível à cultura da empresa, com a finalidade de alcançar sucesso

para ambas as partes. Esse fator se deve ao fato já mencionado, da relação de

dependência existente entre organização e colaborador. A seleção por

competências se torna nessa atual conjuntura, uma ferramenta de inovação na

seleção de pessoal, identificando suas atitudes e comportamentos, perante

CONHECIMENTO E GESTÃO

197

perguntas investigativas, num diagnóstico meticuloso sob as competências,

fundamentado em situações reais já vivenciadas pelos candidatos.

Possuir candidatos que tenham bastantes atitudes positivas em seu

comportamento, principalmente organizacional, é o que toda e qualquer empresa

almeja. Assim, estas pessoas se tornam peças-chave para o crescimento das

organizações e o seu próprio sucesso.

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MARRAS, Jean Pierre. Gestão estratégica de Pessoas: conceitos e tendências.

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WAGNER, John A; HOLLENBECK, John R. Comportamento organizacional:

criando vantagem competitiva. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

CONHECIMENTO E GESTÃO

199

SOBRE OS ORGANIZADORES

A professora Siderly do Carmo Dahle de Almeida é Doutora em Educação e

Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012) é Mestre em

Educação pela PUCPR (2006). Especialista em Gestão da Informação pela

Fundação de Estudos Sociais do Paraná (1999) e em Educação a Distância pela

Faculdade Educacional da Lapa (2009). É graduada em biblioteconomia pela

Universidade Federal do Paraná (1988) e em Pedagogia pela Universidade

Castelo Branco (2010). Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de

Educação, com ênfase em tecnologias e mídias educacionais, formação de

professores, metodologia da pesquisa. Atuou na Prefeitura Municipal de Curitiba

com Educação básica por 15 anos, entre 1991 e 2006, implantou e coordenou

os Faróis do Saber - bibliotecas de bairro instaladas nas Escolas Municipais e

atuou na Coordenação Pedagógica das Usinas de Conhecimento, programa do

governo do Estado do Paraná. Coordenou por 6 anos o Núcleo de Aprendizagem

e Aprimoramento para a Amadurescência da PUCPR e foi coordenadora de

estúdio na EADCON, sendo responsável pela capacitação de docentes para atuar

na Educação a Distância. Atualmente trabalha na Unicesumar como

Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação na área de Educação na

modalidade a distância, é docente do Programa de Mestrado em Gestão do

Conhecimento nas Organizações e é pesquisadora do Instituto Cesumar de

Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI.

A professora Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano possui graduação em

Administração pela Universidade Estadual de Maringá (1999), mestrado em

Administração pela Universidade Federal do Paraná (2002). Especialização em

Educação a Distância pela Universidade Estadual de Maringá (2008) e Doutorado

em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (2016). Tem experiência na

área de Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: teorias da

administração, comportamento organizacional, estratégia e organizações,

comportamento do consumidor e pesquisa de marketing e na área de educação,

com foco em Educação a Distância. É Head de Projetos Educacionais e Inovação

no Núcleo de Educação a Distância da Unicesumar.

O professor Fabricio Ricardo Lazilha possui graduação em Tecnologia em

Processamento de Dados pela Universidade Estadual de Maringá (1995) e em

200

CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

Pedagogia (em andamento), Especialização em Análise de Sistemas pelo Centro

Universitário de Maringá (1998), Mestrado em Ciências da Computação pela

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002) e Especialização em

Educação a Distância pelo SENAC-PR (2007). Atualmente é Diretor de

Planejamento de Ensino do Núcleo de Educação a Distância do Centro

Universitário de Maringá - UniCesumar. Tem experiência na área de Educação,

com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes

temas: Educação e Novas Tecnologias, Ambientes Virtuais de Aprendizagem e

Objetos de Aprendizagem. Na área de computação pesquisou as seguintes sub-

áreas: desenvolvimento baseado em componentes, educação a distância,

workflow, linha de produto de software e reuso de software.

A professora Ludhiana Ethel Kendrick Matos Silva é doutoranda em Educação e

Currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui dois

Mestrados em Educação: um realizado na Pontifícia Universidade Católica do

Paraná - PUCPR, concluído em 2008, e o outro desenvolvido na Universidade

Paulista, concluído em 1996. É graduada em Licenciatura em Letras, desde

1992, pela Universidade Estadual de Maringá. Desenvolve pesquisas e tem

experiência na área de Educação, com ênfase em Tecnologias na Educação,

atuando principalmente nos seguintes temas: Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC) , EAD, ensino superior e inclusão digital. Coordena o Grupo

de Pesquisa em TIC e Educação - GPTICE, cadastrado no Diretório dos grupos

de Pesquisa do CNPq. Atualmente é Diretora de Pesquisa do Centro Universitário

de Maringá - CESUMAR, membro presidente do CAPEC - Comitê Assessor de

Pesquisa do CESUMAR e coordenadora Institucional do Programa de Bolsas de

Iniciação Científica do CNPq -PIBIC no Cesumar.

O professor Marcelo Cristian Vieira é bacharel em Administração (2007), com

Mestrado em Ciência Social pela (UEM) Universidade Estadual de Maringá

(2014). Pós-Graduado em Docência no Ensino Superior (2010), Pós-Graduado

em Educação a Distância e Tecnologias Educacionais (2013) e Pós-Graduado

em Auditoria e Controladoria (2012). Atua como Gerente de Pós-Graduação EaD

e como Professor Universitário nas modalidades a distância e presencial nos

cursos de Graduação e Pós-Graduação da UNICESUMAR - Centro Universitário

de Maringá.

CONHECIMENTO E GESTÃO

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SOBRE AS MADRINHAS DE CURSO

A Professora Fabrícia Souto Cruz é especialista em Língua Portuguesa: Teoria e

Prática, pelo Centro de Ensino Superior do Paraná. Pós-Graduada em EaD e as

Tecnologias Educacionais pelo UniCesumar. Graduada em Letras - Português e

Inglês, pela Universidade Estadual de Maringá. Orientadora nas áreas de Língua

Portuguesa, Docência e Tecnologias Educacionais.

A professora Nayara Emi Shimada é Mestre em Administração no Programa de

Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Maringá

(PPA/UEM), na linha de pesquisa de Organizações, Estratégia e Trabalho.

Graduada em Administração pela Universidade Estadual de Maringá - UEM

(2012). Experiência na área de Administração e Estudos Organizacionais.

Desenvolveu projetos de pesquisa como bolsista pelo Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) nos anos consecutivos de 2010-2012.

Desenvolve pesquisas e possui experiência na área de Gestão, com ênfase nas

seguintes temáticas: Gestão das organizações, Identidades, Simbolismo,

Discursos, Poder e Subjetividade nas organizações. Ministrou aulas nas

disciplinas de Gestão Estratégica e Modelos de Gestão. Orientadora nas áreas

de Administração Pública, Gestão de Projetos, Gestão de Pessoas e Gestão

Empresarial. Atualmente é Professora Mediadora de TCC-Pós-Graduação-EAD-

Unicesumar.

A Professora Patrícia Parra é Mestre em Ciências Jurídicas pelo UNICESUMAR.

Pós-Graduada em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera-Uniderp. Pós-

Graduanda em Planejamento e Gestão de Trânsito. Graduada em Direito pela

Universidade Paranaense, Advogada e Professora do UNICESUMAR. Autora na

área de Gestão. Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de Direito e

Gestão, com ênfase em Direito Penal, Direito Ambiental, Direito e Gestão de

Trânsito. Orientadora nas áreas de Direito, Administração Pública, Gestão de

Trânsito.

A professora Soraia Alves Feitoza da Silva é Especialista em MBA em Gestão

com Pessoas pelo UNICESUMAR. Pós-graduanda em EAD e as Tecnologias

Educacionais. Bacharel em Administração pela UNIFAMMA. Atua na área de

Gestão. Orientadora na área de Gestão com Pessoas.

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CONHECIMENTO E GESTÃO CONHECIMENTO E GESTÃO

CONHECIMENTO E GESTÃO

A Professora Valdelice dos Anjos Rasimaviko Rejani é Mestranda em Gestão do

Conhecimento nas Organizações - Unicesumar (2015-2017). Especialista em

Gestão Educacional: Administração, Supervisão e Orientação - Unicesumar

(2012). Graduada em Letras Português/Inglês - Unicesumar (2008). Foi

Secretária Executiva dos mestrados da Unicesumar. Atualmente é Professora

Mediadora de TCC-Pós-Graduação-EAD-Unicesumar. Atua como pesquisadora e

orientadora na área de educação.

A professora Andréia dos Santos Gallo é Mestranda em Gestão do Conhecimento

nas Organizações - Linha de Pesquisa - Educação - Unicesumar (2015-2017).

Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional – Universidade do Centro

do Paraná - UPC (2012). Graduada em Artes Visuais (PARFOR) pela

Universidade Estadual de Maringá (2013) e Graduada em Pedagogia com

Bacharelado em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica – Unicesumar

(2009). Atualmente é Professora Mediadora de TCC – Pós – Graduação – EAD –

Unicesumar e professora na rede Municipal de Marialva/Pr a 15 anos,

trabalhando com os anos iniciais do Ensino Fundamental. Atua como

pesquisadora e orientadora na área de educação.

A Professora Milene Harumi Tomoike é Mestranda em Tecnologias Limpas pelo

UNICESUMAR. Pós-Graduanda em Gestão Estratégica de Empresas pelo Instituto

Paranaense de Ensino. Graduada em Psicologia pelo UNICESUMAR. Psicóloga,

Consultora e Professora do UNICESUMAR. Autora na área de Gestão.

Desenvolve pesquisas e tem experiência na área de Psicologia e Gestão, com

ênfase em Ambiental, Social, Politicas Públicas e Ciências Politicas. Orientadora

nas áreas de Gestão Ambiental, Gestão de Pessoas e Politicas Públicas.