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Competitividade e suas métricas Bruno César Araújo Ipea Cuiabá, outubro de 2017

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Competitividade e suas métricas

Bruno César AraújoIpea

Cuiabá, outubro de 2017

Apresentação

Bruno César Araújo

- Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desde 2004

- Atualmente Diretor Adjunto de Estudos Setoriais, Inovação e Infraestrutura

- Analista de Comércio Exterior (MDIC) entre 2003-2004

- Doutor em Engenharia de Produção pela Poli/USP (2016)

- Mestre em Economia do Setor Público pela Esaf/UnB (2005)

- Economista pela UnB (2002)

- Linhas de pesquisa: inovação, comércio internacional, produtividade,

economia da defesa, economia criativa

Roteiro

O que é competitividade?

Como mensura-la?

Quais as principais críticas aos índices mais

populares?

Como aperfeiçoar esses índices?

Afinal, para que serve tudo isso?

O que é competitividade?

Primeiro dilema: competitividade de firmas ou

nações?

Primeiras definições de competitividade de nações:

Baseadas em saldos comerciais, market shares, relativos ou

não ao tamanho do país

Visão essencialmente mercantilista

Visão errada => decisões erradas: protecionismo, desvalorizações

Nações competem pelo que, enfim?

A abordagem de Michael Porter

“A competitividade de uma nação não pode ser medida como um

bloco, uma vez que nenhuma nação pode ser competitiva em todas

as indústrias. Assim, a única medida relevante (...) é o nível de

produtividade, que é determinado pela alocação de recursos,

acumulação de capital e avanço tecnológico.”

Neste sentido, "a prosperidade é criada, não herdada.”

A vantagem competitiva das empresas baseia-se na inovação,

em sentido mais amplo: novas formas de fazer as coisas

A ligação as estratégias empresariais baseada em inovação e a

vantagem competitiva das nações é o "Diamante do Porter".

O que é competitividade?

Indústrias

associadas e de

suporte

(sistema

produtivo)

Disponibilidade

e qualidade dos

fatores

Características

da demanda

Governo

Estratégias das

firmas, estrutura

da indústria e

rivalidade

Estágios de desenvolvimento de Porter

4 fases:

Factor Driven - base em recursos naturais ou mão-de-obra não

qualificada barata;

Investment-Driven - acumulação de capital através de poupança

doméstica e internacional e aumento de produtividade;

Innovation-Driven - inovação como estratégia competitiva. De

acordo com Porter, o estágio mais próspero;

Wealth-Driven - concorrência é menos intensa, manutenção de

posições, algum rente-seeking e aspirações não econômicas.

A controvérsia Krugman-Dunning

A crítica mais famosa: “Competitiveness: a

dangerous obsession”, de Paul Krugman.

Principais argumentos:

O conceito está errado: nações não competem, pelo menos

não como empresas, superávits não significam prosperidade

e o comércio internacional não é um jogo de soma zero;

O uso de conceitos dúbios como “setores de alto valor

agregado”, e confusão de vantagem absoluta com vantagem

comparativa.

Então, por que competitividade é tão popular?

É linguagem de negócios, tem apelo junto à opinião pública;

Alguns problemas domésticos são colocados em contexto

internacional.

A controvérsia Krugman-Dunning

Resposta do Prof. Dunning (3 pontos básicos):

Competitividade => benchmarking de políticas e produtividade.

Competitividade é importante na presença de falhas de

mercado, como externalidades de inovação, vantagens

proprietárias, imobilidade de capital e comércio intra-firma.

Competitividade só não importa no “mundo Heckscher-Ohlin”

(onde os diferenciais de produtividade são inevitáveis).

Krugman: “eu nunca disse que benchmarking não era

importante, e nunca reneguei falhas de mercado”.

A controvérsia Krugman-Dunning

Outras críticas teóricas

Porter não define o que ele significa exatamente por

competitividade e seu alcance:

Nível da indústria, nacional ou internacional?

Produtividade ou participação de mercado dos bens

nacionais? Afinal, o que é um “bem nacional”?

A metodologia é claramente indutiva, mas não

especifica quais os critérios para selecionar os casos.

Outras críticas teóricas

Hipótese de que sempre haverá mercado para produtos diferenciados

A teoria não se preocupa com escassez de fatores ou más alocações

na produção de produtos diferenciados.

A teoria deve ser seriamente modificada para lidar com empresas

transnacionais.

O comércio do "mundo real" e as exportações de commodities são

importantes para a sustentabilidade da estratégia de bens

diferenciados.

A validade empírica da teoria é altamente questionável (condições ex-

ante, explicações concorrentes etc).

Finalmente, como operacionalizar o conceito?

IMD

“[os analistas da] competitividade

avaliam como as nacoes e as

empresas administram a totalidade

de suas competências a fim de

atingir prosperidade e lucro”

WEF

“O conjunto de fatores, politicas e

instituicoes que determinam o nivel

de produtividade de um pais”.

“Made in Switzerland”

Índices ex-ante

“Pilares” e “sub-pilares”

“Hard Data” e “Soft Data”

Extraído de CHO, D. S. & MOON, H.C. (2010), A New Framework for Assessing National Competitiveness.

Como mensurar a competitividade?

Extraído de CHO, D. S. & MOON, H.C. (2010), A New Framework for Assessing National Competitiveness.

Extraído de CHO, D. S. & MOON, H.C. (2010), A New Framework for Assessing National Competitiveness.

Uma olhada nesses rankings...

http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-

2017-2018/competitiveness-rankings/#series=GCI

https://www.imd.org/globalassets/wcc/docs/release-2017/wcy-

2017-vs-2016---final.pdf

Alta correlação entre eles: 0,88 (Spearman)

Principais críticas a essas métricas

Fraquezas práticas dos índices:

Não há correlação entre a taxa de crescimento e a posiçãono Ranking. De fato, parece haver correlação com a rendaper capita (que pode ser proxy para vários “pilares”)

United StatesSingapore

Netherlands

Ireland

Finland

Canada

Hong Kong

United Kingdom

Switzerland

Taiwan

Australia

Sweden

DenmarkGermanyNorway

BelgiumAustria

Israel

New Zealand

Japan

France

Portugal

IcelandMalaysia

Hungary

SpainChile

Korea, Dem. Rep.Italy

Thailand

Czech RepublicSouth Africa

Greece

Poland

Mauritius

Philippines

Costa Rica

Slovak Republic

Turkey

China

Egypt

Mexico

Indonesia

Argentina

Brazil

Jordan

Peru

India

El Salvador

Bolivia

Colombia

Vietnam

Venezuela

Russia

Zimbabwe

Ukraine

Bulgaria

Ecuador

-40,00

-30,00

-20,00

-10,00

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

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United States

Singapore

Netherlands

Ireland

Finland

CanadaHong Kong

United Kingdom

Switzerland

Taiwan

AustraliaSweden

Denmark

Germany

Norway

Belgium

Austria

Israel

New Zealand

Japan

France

Portugal

Iceland

MalaysiaHungary

Spain

Chile

Korea, Dem. Rep.

Italy

Thailand

Czech Republic

South Africa

Greece

Poland

Mauritius

Philippines

Costa Rica

Slovak Republic

Turkey

ChinaEgypt

Mexico

Indonesia

Argentina

Brazil

JordanPeru

India

El Salvador

Bolivia

Colombia

Vietnam

Venezuela

Russia

Zimbabwe

Ukraine

Bulgaria

Ecuador

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

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Os países trocam de posição bastante de um ano para ooutro, o que é um problema se competitividade é entendidacomo algo mais estrutural

Conjuntura afeta muito o índice

Fraquezas teóricas:

Não há intertemporalidade na análise

Balanços fiscal e comercial devem ser analisados intertemporalmente

Há muitas variáveis que representam a mesma coisa (deforma que, na prática, aquela variável tem seu pesomultiplicado)

O mix entre hard e soft data e suas ponderações não é claro

O que significa a distância de um país “nota 5” para um país“nota 7” no caso do GCI, por exemplo?

Principais críticas a estas métricas

Global Federation of Competitiveness Councils(GFCC)

Definição: “Competitividade nacional é crescimento delongo prazo dos padrões de vida através de melhoriasna produtividade.”

Abordagem estrutural, com base em:

130 métricas, em 8 dimensões

100 países, durante 37 anos (62% de cobertura dos dados)

“Hard data” comparável, de fontes confiáveis

Agrupamento dos países em cada dimensão por fatorial/cluster,para comparabilidade

Uma proposta alternativa

Dimensões:

Performance geral

Complexidade econômica

Infraestrutura (transporte e TICs)

Talentos

Capital

Inovação

Qualidade de vida

Crescimento futuro (sustentabilidade e economia criativa)

Usos: fonte de dados, comparações entre clusters,comparações temporais

http://decoder.thegfcc.org/

Uma proposta alternativa

Afinal, pra que serve tudo isso?

“Não adianta tentar baixar a febre quebrando o termômetro”

(Anônimo)

+

“Não importa se um gato é preto ou branco, contanto que ele cace

ratos.”

(Deng Xiaoping)

=

Útil ferramenta retórica para atacar o grande problema brasileiro:

PRODUTIVIDADE!

O grande problema é a produtividade…

Os ganhos de produtividade obtidos no Brasil depois dos anos 70 foram

insuficientes, e a renda per capita cresceu pouco mais de 30% em 20 anos

0,2

6

3,3

0,8

-1,1

1,41,1

6,3

4,3 4,6

1,7 1,92,5

11

6,3

2,9

0,8

2,6

0,6

7,1

3,2

4,3

1,52

1,1

7,7

4,3

3

0,6

1,9

BRASIL CHINA ÍNDIA CHILE MÉXICO GLOBALAVERAGE

1981-90 1991 - 2000 2001-10 2011-13 1981-20013

Taxa de crescimento do PIB/Habitante

O grande problema é a produtividade…

E não adianta mudar de termômetro!

Trajetória da PTF no Brasil e no mundo,

com ajuste pelo capital humano, (1960=100)

Fonte: Mation (2014)

E o momento demográfico é desafiador

Evolução da taxa de dependência (pop. Idosa/pop. Jovem) 1950-2100

Fonte: Arbache (2012)

Renda per capita no momento do turning point

(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)

Fonte: Arbache (2012)

E o momento demográfico é desafiador

Taxa de investimento

(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)

Fonte: Arbache (2012)

E o momento demográfico é desafiador

Produtividade do trabalho (US$ de 2012)

(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)

Fonte: Arbache (2012)

E o momento demográfico é desafiador

Uma agenda ampla de reformas

Reforma fiscal: rever vinculações e processo orçamentário =>“orçamento de qualidade”

Abertura econômica: comércio e investimentos (interessante:https://goo.gl/xrez8S)

Focalizar os investimentos em inovação: P&D orientado àmissão

Financiar o desenvolvimento: reorientar os bancos públicos,desenvolver o mercado de seguros

Mercado de trabalho: processo contínuo de reforma, com vistas amelhorar as relações de trabalho e reduzir a rotatividade

Reforma previdenciária: garantir estabilidade do regime e justiçasocial

O que fazer então?

Uma agenda ampla de reformas

Reforma tributária: melhorias administrativas, busca de isonomiae adaptação aos “novos tempos”

Educação: combater a evasão, melhorar a qualidade, repensar omodelo de educação superior (interessante: https://goo.gl/Lz8gvT)

Saúde: aperfeiçoar o mix público-privado, fortalecer atençãobásica

Infraestrutura: rever modelos de concessões, mitigar riscosregulatórios, aperfeiçoamento institucional das Agências

Sustentabilidade: desenvolver o uso de energias renováveis efortalecer a governança pública

O que fazer então?

O que fazer então?

Cenário Hipóteses Resultados – PIB per capita

Taxa de

investimento

em 2041-50

(%PIB)

Investimento

infraestrutura

(% total)

Capital

humano

(%a.a.)

Produtividade

geral (%a.a.)

Crescimento

anual médio

(%a.a.)

Crescimento

acumulado

2016-2050 (%)

Básico 18,2 10,0 0,73 0,0 1,00 38,3

Reformas pró-

investimento

22,0 20,0 0,73 0,0 1,49 65,2

Aumento do

capital humano

18,2 10,0 1,48 0,0 1,42 61,4

Aumento da

produtividade

18,2 10,0 0,73 0,5 1,53 67,8

Reformas

amplas

22,0 20,0 0,73 0,5 2,08 101,5

O cenário de reformas amplas permite o maior crescimento da renda per capita a

partir de um melhor equilíbrio entre seus fatores

Competitividade e suas métricas

Muito [email protected]

(61) 2026-5341