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AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ESTUDO DE ALUNOS DE PEDAGOGIA E GESTÃO AMBIENTAL FRENTE AS QUESTÕES AMBIENTAIS Ana Cristina Siewert Garofolo Faculdade de Paulínia – SP Universidade Paulista -SP Tércia Zavaglia Torres Embrapa Informática Agropecuária - SP Faculdade de Paulínia – SP Universidade Paulista - SP Sandra Julia Gonçalves Albergaria Faculdade de Paulínia – SP Universidade de Guarulhos – SP Instituto de Geociências –UNICAMP/SP RESUMO: A formação ambiental deveria constar de um conjunto de dinâmicas e conteúdos a serem trabalhados totalmente voltados a abertura de horizontes reflexivos na linha de romper com as tradicionais cadeias discursivas verificadas nas práticas educativas Tal conhecimento exige pesquisa, que, de preferência, deve ser organicamente integrada ao processo de formação, para que técnicas que possam vir a serem usadas no processo pedagógico reflitam a ênfase que deve ser a capacitação para perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global. Nesse contexto a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos discentes. Objetivando avaliar técnicas possíveis de serem usadas em cursos de educação ambiental realizou-se junto aos discentes do curso de pedagogia e de gestão ambiental da Faculdade de Paulínia, uma pesquisa sobre o seu perfil de estudo frente as questões ambientais. PALAVRAS-CHAVE: técnicas de aprendizagem, pedagogia e gestão ambiental

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AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ESTUDO DE ALUNOS DE PEDAGOGIA E GESTÃO AMBIENTAL FRENTE AS QUESTÕES AMBIENTAIS

Ana Cristina Siewert Garofolo

Faculdade de Paulínia – SP

Universidade Paulista -SP

Tércia Zavaglia Torres

Embrapa Informática Agropecuária - SP

Faculdade de Paulínia – SP

Universidade Paulista - SP

Sandra Julia Gonçalves Albergaria

Faculdade de Paulínia – SP

Universidade de Guarulhos – SP

Instituto de Geociências –UNICAMP/SP

RESUMO:

A formação ambiental deveria constar de um conjunto de dinâmicas e conteúdos a serem

trabalhados totalmente voltados a abertura de horizontes reflexivos na linha de romper com as

tradicionais cadeias discursivas verificadas nas práticas educativas Tal conhecimento exige pesquisa,

que, de preferência, deve ser organicamente integrada ao processo de formação, para que técnicas que

possam vir a serem usadas no processo pedagógico reflitam a ênfase que deve ser a capacitação para

perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global. Nesse

contexto a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização,

mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e

participação dos discentes. Objetivando avaliar técnicas possíveis de serem usadas em cursos de

educação ambiental realizou-se junto aos discentes do curso de pedagogia e de gestão ambiental da

Faculdade de Paulínia, uma pesquisa sobre o seu perfil de estudo frente as questões ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: técnicas de aprendizagem, pedagogia e gestão ambiental

1. Introdução

Nos dias atuais muito é dito a respeito da gravidade dos problemas ambientais

que cercam a sociedade e que têm origem em fontes diversas, destacando-se aqueles advindos

das atividades industriais, agrícolas e urbanas as quais vêm colocando em xeque o futuro da

humanidade e do planeta. É notório o efeito da atividade antrópica nos ecossistemas naturais:

observa-se atualmente grande ameaça a vida biológica nos lagos, rios e oceanos, graças ao

impacto causado pelas atividades poluidoras em águas, bem como envenenamento da

atmosfera por poluentes gasosos e destruição do solo através de seu uso indivíduo causando

erosões e perda de solo fértil. A problemática ambiental tornou-se assim um sério desafio para

a comunidade mundial requerendo estudos cada vez mais profundos da causa destes impactos

e definição de respectivas medidas mitigadoras e corretivas. Neste cenário, a educação

assume um papel fundamental na formação de cada indivíduo, levando-o a reflexão de seus

comportamentos e valores pela aquisição do conhecimento, compromisso e responsabilidade

frente a sociedade no qual está inserido (REIGADA et al., 2004). Consequentemente faz-se

necessária uma abordagem educativa pautada em uma nova formação voltada para o estudo

do ambiente natural, a qual deverá levar o educando a posicionar-se e a agir em busca de

soluções coletivas e pessoais para a realidade que o cerca. Neste contexto uma educação

voltada para as questões ambientais deve buscar nos dias atuais a valorização da vida, sem

consumismo excessivo, sem desperdício de recursos naturais e sem a degradação ambiental,

sendo necessária uma mudança de paradigma que implica tanto uma revolução científica

quanto política, devendo ser acima de tudo voltada para a transformação social. (OLIVEIRA,

1998; JACOBI, 2003)

Deverá a formação ambiental estabelecer diálogos permanentes contextualizados,

tanto do ponto de vista pedagógico quanto dos conteúdos próprios de ensino, características

evidenciada tanto por pesquisadores quanto por documentos oficiais de orientação curricular

(SANTOS, 1997; BRASIL, 1999; BRASIL, 2002). Sendo assim, uma de suas características

mais marcantes é proporcionar a organização coletiva na busca de soluções para os problemas

ambientais atuais, visto as questões ambientais afetarem diretamente a qualidade de vida da

população e compõem um elenco de problemas e situações com enorme potencial para a

compreensão crítica da sociedade brasileira (MARTINEZ,2004). Considerando o quadro de

crise ambiental atual e a necessidade da implantação de currículos pertinentes, surge a figura

do professor como mediador oferecendo oportunidades para a construção e reconstrução de

representações do significado ambiental para o aluno. Ressalta-se aqui o papel do professor,

que por meio do currículo realiza em sala de aula a transposição didática do mesmo currículo,

visto que não poderá ocorrer ensino possível sem o reconhecimento e legitimação do objeto

ensinado pelo professor (FORQUIN, 1993). Neste contexto a escola, como espaço de

formação crítica, deve promover constantemente práticas educativas voltadas à

conscientização da problemática socioambiental e conseqüente busca de soluções. A

formação ambiental deverá por primicia constar de um conjunto de dinâmicas e conteúdos a

serem trabalhados por professores totalmente voltados a abertura de horizontes reflexivos na

linha de romper com as tradicionais cadeias discursivas verificadas nas práticas educativas

(CASCINO, 2003).

Para obter-se sucesso no processo educativo deve-se conseqüentemente, conhecer as

concepções e práticas dos professores e bem como a dinâmica de aprendizagem dos alunos

submetidos aos processos de formação, para que se possa adequar os programas e ações aos

seus perfis. Tal conhecimento exige pesquisa, que, de preferência, deve ser organicamente

integrada ao processo de formação, para que técnicas que possam vir a serem usadas no

processo pedagógico reflitam a ênfase que deve ser a capacitação para perceber as relações

entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global. A educação em seu

mais amplo aspecto necessita entender o processo de ensino-aprendizagem como meta para

conhecer como processa-se a aquisição do conhecimento e o saber. É necessária a

planificação e a operacionalização dos conhecimentos escolares por meio de uma dimensão

vertical, que implica a idéia de profundidade e em uma dimensão horizontal, que estabelece a

interação dos conhecimentos com as outras áreas/disciplinas (AZEVEDO, 2007). Desse modo

o currículo não se limita a fazer uma seleção entre os conteúdos disponíveis, mas deverá

torná-los objeto de ensino, de modo a serem perfeitamente transmissíveis ao educando.

Tradicionalmente nas escolas formais o ensino de conteúdos de ciências, na qual os

assuntos da área ambiental estão contemplados, são pautados na transmissão e memorização

de conhecimentos. Embora possamos considerar que a para uma ação educativa ambiental a

“aprendizagem significativa” é uma referência teórico-metodológica importante pois torna-se

uma alternativa à aprendizagem por memorização (MOREIRA, 1999a, 1999b). Nesse

contexto uma educação voltada para as questões ambientais aponta para propostas

pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de

competências, capacidade de avaliação e participação dos discentes. Nos dias atuais a

importância dada a educação, à ação dos professores bem como ao papel da escola em relação

a sociedade, mudaram muito acompanhando as mudanças da sociedade no qual estão

inseridas. Hoje o objetivo primeiro da ação docente deverá ser a construção do conhecimento

para que o discente desenvolva plenamente suas potencialidades sejam elas intelectuais,

afetivas, sociais, criativas ou morais, onde modelos prontos deverão ser abandonados a favor

da valorização do conhecimento prévio e experiência (PORTILHO et al., 2008). Ao encontro

de tal realidade, também as iniciativas pedagógicas, bem como as inúmeras praticas de ensino

procuram responder as novas demandas sociais, reorientando as praticas educacionais,

revendo seus conteúdos, metodologias e a formação de seus próprios professores

(MARTINEZ, 2004).

Com o objetivo de avaliar técnicas possíveis de serem usadas em cursos de Pedagogia

e Gestão Ambiental para aprendizagem de questões ambientais realizou-se durante o segundo

semestre letivo de 2009, junto aos discentes do segundo semestre do curso de Pedagogia e dos

discentes do segundo, terceiro e quarto semestres de Gestão Ambiental da Faculdade de

Paulínia situada na cidade de Paulínia, pólo petroquímico do Estado de São Paulo, uma

pesquisa sobre o seu perfil de estudo destes discentes frente as questões ambientais.

2. Desenvolvimento

A pesquisa exploratória realizada junto aos alunos foi dividida em duas etapas, ambas

elaboradas no segundo semestre de 2009. Os alunos entrevistados de Pedagogia foram

escolhidos por terem cursado a disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental e

elaborado durante o semestre letivo, projetos educativos na área ambiental junto a

comunidade escolar da cidade. Alunos de Gestão Ambiental foram escolhidos pelo fato de

terem como exigência profissional grande conhecimento ambiental e apresentarem como

competência profissional a gestão de atividades de Educação Ambiental. Em ambas as etapas

os alunos avaliados foram os mesmos, sendo estes convidados a participarem da pesquisa.

Foram considerados 29 alunos de Pedagogia concluintes da disciplina obrigatória de segundo

semestre de graduação e 48 alunos de Gestão Ambiental, pertencentes ao segundo, terceiro e

quarto semestres letivos. Durante o semestre letivo alunos de pedagogia tiveram como

exigência curricular a leitura de material previamente selecionado pelo docente,

correspondente a 20% da carga horária total da disciplina. Este material em questão constou

de uma série de dez artigos científicos publicados em revistas indexadas, onde os discentes

realizavam com uma semana de antecedência a leitura em classe e extra-classe. Após a leitura

e resumo do material em questão os discentes realizavam em sala discussões, discutiam casos

reais e ou propunham atividades práticas docentes pautadas nas referidas leituras. As leituras

propostas bem como as temáticas abordadas e uma breve descrição dos projetos constam na

tabelas 1 e quadro 2 a seguir. Alunos de gestão ambiental tiveram como exigência durante o

semestre, atividades de caráter interdisciplinar (tabela 2), com elaboração de trabalhos

voltados a área ambiental também pautados em leituras e discussões conduzidos por

professores responsáveis em cada semestre.

Tabela 1 – leituras propostas e temática envolvida utilizadas na disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental

Na primeira etapa objetivando conhecer o hábito de estudo dos entrevistados a

pesquisa foi dividida em duas partes. Em um primeiro momento objetivou-se avaliar o quanto

a técnica de leitura aliada a outras técnicas poderiam contribuir para um aprendizado mais

significativo. Foram elaboradas seis questões as quais aliavam a leitura a outras atividades

cognitivas. As questões Q1, Q2 e Q3 tinham por meta conhecer se técnicas como leitura

silenciosa, leitura em voz alta ou leitura em grupos questionadores contribuíam ou não para

LEITURA PROPOSTA TEMATICA ENVOLVIDA AUTOR (ANO)

Educação e meio ambiente: transformando as práticas.

Praticas pedagógicas JACOBI ( 2004)

Educação Ambiental: caminhos para reverter a crise ambiental?

Crise ambiental DIOGENES et al. (2009)

Educação ambiental: caminho para a sustentabilidade

Sustentabilidade TEIXEIRA ( 2007)

Educar, participar e transformar em Educação ambiental

Participação Social LOUREIRO (2004)

Educação Ambiental e a Educação Infantil: a criança e a percepção do espaço.

Educação infantil Ambiental UNGARO et Al. (2007)

Educação Ambiental: possibilidades e limitações

Fundamentos de Educação Ambiental

SAUVÉ (2005)

Saberes e fazeres da educação ambiental no cotidiano escolar

Fundamentação da prática ambiental

TRISTÂO (2005)

Rumos da formação de professores para a Educação Ambiental

Formação de professores GOUVÊA ( 2006)

As representações sociais do lixo: subsídeos para a Educação do Consumidor.

Resíduos Solidos DAMASIO et al. (2003)

Ecopedagogia Ecopedagogia AVANZI ( 2004)

uma maior motivação no estudo. As demais questões Q4, Q5 e Q6, procuraram aliar a leitura

a outras técnicas de estudo tais como grifar, resumir e explicar o entendido para o colega.

Quadro 1 – Caracterização dos Projetos da disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental

NOME DO PROJETO

NÚMERO DE DISCENTES

ENVOLVIDOS

TEMA CENTRAL DO PROJETO

BAIRRO DA COMUNIDADE

Disposição do Lixo e o problema social

5 Lixo e Reciclagem Centro

Meio Ambiente na Escola Semente da Mudança

6 Escola como meio de transformação

João Aranha

Docência consciente em ação

5 Reflexão do Professor em ação Jardim Calegari

Reaproveitamento de Alimentos

6 Beneficio dos Alimentos Betel

Construção de saberes

7 Práxis sustentável Jardim Aparecidinha

Quadro 2 – Caracterização dos Projetos Interdisciplinares do Curso de Gestão Ambiental – ano de 2009

NOME DO PROJETO

NÚMERO DE DISCENTES

ENVOLVIDOS

TEMA CENTRAL DO PROJETO NUMERO DE DOCENTES

ENVOLVIDOS

Relações Naturais e Atividade Antrópica: relações do solo disponibilidade hídrica e seus efeitos na vegetação de regiões brasileiras.

28 Interrrelações entre Meio Biótico e Abiotico e antrópico na

caracterização de paizagens brrasileiras

5

Disposição de resíduos, Ciclo de vida do produto e a possibilidade de geração de energia: solução viável?

30 Residuos e Poluentes: como administra-los no ambiente urbano

4

Manejo de Áreas Degradadas

25 Estudos de recuperação de áreas degradadas: correlação com

legislação ambiental e educação ambiental neste processo

4

Na segunda parte desta etapa buscou-se pesquisar com o mesmo grupo de alunos se a

técnica de escrita e pesquisa contribuía para um aprendizado mais eficiente. Foram elaboradas

quatro questões nos moldes das seis anteriores onde Q7 abordava a resolução de exercícios,

Q8 o passar de matéria a limpo. As questões Q9 e Q10 buscavam avaliar a ferramenta de

pesquisa em material de aula e a consulta prévia do assunto a ser trabalhado na aula. Para

cada questão o discente foi convidado a apontar se a técnica o motivava ou não no estudo e de

que maneira, pontuando como zero quando a técnica não o auxiliava e como quatro quando

ele a considerava excelente.

Na segunda etapa a pesquisa procurou avaliar a aluno frente as possíveis dinâmicas em

sala de aula. Foram apresentadas aos alunos técnicas de ensino tais como discussões em

grupo, atividades de escrita, estudos de casos reais, execução de projetos, uso de vídeos e

estudos do meio. Também foi solicitado nesta etapa ao entrevistado que para cada questão ele

apontasse se a técnica o motivava ou não no estudo e de que maneira, pontuando como zero

quando a técnica não o auxiliava e como quatro quando ele a considerava excelente.

3. Resultados e discussão

Resultados da pesquisa realizada com vinte e nove alunos recém-concluintes da

disciplina Fundamentos e Projetos em Educação ambiental eletiva do segundo semestre de

graduação em Pedagogia, e com 48 alunos concluintes da disciplina obrigatória Educação

Ambiental do terceiro semestre graduação do Curso de Gestão Ambiental, apontaram algumas

diferenças entre seus hábitos de estudo frente as questões ambientais. Pesquisa preliminar

revelou que aproximadamente 83% dos discentes do curso de Pedagogia com idade entre

dezoito e vinte e nove anos, terminaram o ensino médio nos últimos dez anos, indicando ser

esta uma geração pós-parâmetros curriculares nacionais, onde o meio ambiente apresentado

como tema transversal (BRASIL, 1988), passou a permear todos os conteúdos programáticos

curriculares. No tocante aos discentes de Gestão Ambiental, apenas 45% dos alunos estavam

na mesma faixa etária sendo que 55% apresentaram idade acima de 30 anos, com tempo de

conclusão do ensino médio acima de 10 anos.

No tocante a aprendizagem pautada em leituras ao considerarmos o hábito de estudo

em situações tais como ler e grifar textos, ler e questionar e ler em silencio a pesquisa revelou

não haver diferença entre os dois grupos de estudo, sendo que aproximadamente 65% dos

entrevistados consideravam-nas como sendo motivadoras. Acima de 79% dos alunos de

pedagogia pontuaram com sendo uma atividade considerada boa a ótima para aprendizagem a

execução de leitura atrelada ao feitio de resumos. Leituras quando realizadas em grupos de

partilha ou acompanhadas por questionamentos foram pontuadas por 65% dos alunos de

pedagogia como sendo uma atividade que auxilia em seus estudos, sendo que menos de 45%

dos alunos de Gestão Ambiental apresentaram esta técnica como eficiente (Quadro 3).

Independente da técnica pontuada é importante salientar que os alunos devem escolher seus

métodos próprios de estudo. Quanto mais autonomia o discente tiver em sua aprendizagem

mais esta contribuirá para uma aprendizagem significativa (CLOW, 1998).

De modo geral atividades de leitura foram apontadas pelos alunos de pedagogia como

geradoras de aprendizagem, o que não ocorreu com o grupo de alunos de gestão ambiental.

Esta possível predominância pode estar atrelada ao fato de que durante a disciplina de

Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental os discentes tiveram uma exigência de

leitura de material obrigatório em classe e extra-classe, correspondente a 20% da carga

horária total, conforme descrito anteriormente, neste artigo.

A pesquisa revelou que alunos dos dois grupos de estudo preparam-se para as aulas,

sendo que 88% dos alunos de Gestão ambiental e 96,6% dos alunos de Pedagogia tiveram por

habito consultar previamente o material pertinente ao curso antes do inicio das aulas.(quadro

4). Este dado nos reporta ao próprio papel da escola como mediadora do processo de

aprendizagem do educando: capacitá-lo a acessar, analisar e interpretar a informação em um

processo que jamais termina (MENEZES e FARIA, 2003).

Para 64,6% dos alunos de Gestão Ambiental a atividade de resolução de exercícios

práticos foi pontuada como fundamental no preparo pessoal para acompanhamento das aulas,

sendo que 62% dos alunos avaliados consideraram como boa a ótima esta técnica para estudo

e compreensão do trabalhado em sala de aula. No tocante aos alunos de Pedagogia apenas

58% tinham por habito esta prática. (Quadros 5 e 6, apresentados a seguir).

De modo geral observou-se que alunos do curso de pedagogia pontuaram que a

consulta prévia de materiais a serem utilizados em aula e sugeridos pelo docente favoreceu a

aprendizagem, sendo que 52% dos entrevistados reconheceram ser esta técnica como boa a

ótima para a motivação no estudo do discente. Neste caso, um fato interessante a considerar

reside na valorização da atividade intelectual em detrimento a simples memorização: ao

resolver exercícios práticos o aluno compreende, apropria e torna significativo o

conhecimento. Entretanto a consulta prévia a livros ou mesmo o fato de passar matéria “a

limpo” contribuiu com a aprendizagem em menos de 40% dos alunos avaliados nos dois

grupos de estudo. É importante observar que alunos de gestão ambiental pontuaram que

técnicas pautadas em escrita e em pesquisa facilitaram a aquisição do conhecimento sendo

pontuadas como boas a ótimas em valores porcentuais maiores que para os alunos de

pedagogia em todos os quesitos (quadro 6).

Quadro 3. Aprendizagem pautada em leituras

Quadro 4. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas em termos porcentuais.

Quadro 5: Aprendizagem relacionada a escrita e pesquisa.

Quadro 6. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas em termos porcentuais

No tocante as técnicas possíveis de serem desenvolvidas no cotidiano escolar,

constatou-se que atividades tais como discussões em grupo em sala de aula, estudos de cases

em educação ambiental, elaboração de projetos e visitas a locais onde projetos estão

implantados estimularam e motivaram a participação nas aulas segundo cerca de 70 % de

alunos entrevistados de ambos os cursos (Quadro 7). Discussões em grupo envolvem a prática

da persuasão e da instrução os quais em sua essência são muito parecidos. Ambos exigem a

atividade cognitiva consciente pois necessitam de argumentos e provas com o objetivo de

conseguir alguém para fazer algo ou a acreditar em algo (KOBALLA, 1992). O trabalho com

projetos apresenta como característica fundamental a renuncia do professor de sua atitude de

especialista, o qual passa a cooperar com os alunos ao problematizar a realidade de estudo,

passando a ser orientador e mediador do processo. Com isso o aprendizado não ocorre de

modo unidirecional, mas percorre caminhos alternativos, enriquecendo o aprendizado do

discente e do grupo no qual ele está inserido (MENEZES e FARIA, 2003). Entretanto cabe

aqui pontuar que trabalhos com projetos e estudos interdisciplinares levam a própria escola a

repensar suas ações, pois exigem integração e compreensão entre disciplinas envolvidas.

Estas práticas pedagógicas têm características que requer uma disposição curricular no qual

não só os docentes, mas os gestores no núcleo escolar também compreendam suas

singularidades; os aspectos que envolvem tais práticas necessitam ser articuladas em um

projeto maior de investigação (SUERTEGARAY,1996) o qual toca e transforma os currículos

dos cursos e transpira o plano político pedagógico do núcleo escolar.

Novamente nesta fase da pesquisa a discussão de assuntos ambientais em grupo foi

apontada como uma técnica que contribuiu para a aprendizagem sendo vista como uma boa a

ótima motivação para 82,7% dos alunos de pedagogia e 83,3 % dos alunos de gestão

ambiental (quadro 8). É importante observar que ao expor-se em um grupo, alunos

contribuem de muitas maneiras, permitindo que suas observações particulares sejam

compartilhadas pelo grupo, levando a uma evolução do próprio conhecimento. Sendo assim o

saber passa a ser compreendido não como um dado estanque que pode ser “apreendido”, mas

como algo que se constrói em comunidade (PORTILHO et al., 2008). Estudos tem

demonstrado que em ciências a discussão de assuntos previamente selecionados pelo

professor em um grupo de estudos constitui-se uma pratica de ensino com resultados positivos

de aquisição de conhecimento significativo pelo aluno (CHIN, 2007).

Aproximadamente 90% dos alunos de Gestão Ambiental e Pedagogia pontuaram que

estudos de casos reais (quadro 7) e elaboração de projetos ambientais, aliados as atividades

interdisciplinares preparatórias para estudos do meio são técnicas que motivam a

aprendizagem e justificam sua permanência no curso. Destas técnicas a participação em

atividades interdisciplinares foi classificada pelos discentes como boa (42%) a ótima (36%)

sendo interessante observar que quando consideramos estudos interdisciplinares na área

ambiental, necessariamente partimos do pressuposto de que os docentes deverão atuar em

conjunto com os alunos na mediação do conhecimento. Os docentes que se envolvem com as

práticas interdisciplinares e oferta aos seus discentes comprometem-se com o domínio das

técnicas de observação, da percepção e da aquisição de saberes integrados, compreendem o

domínio de técnicas adequadas que levam a compreensão conjunta dos “modos de ver” de

cada ciência assinalada nas diferentes disciplinas. Tais procedimentos exigem do docente

amadurecimento no que tange a sua formação pedagógica.

Quadro 7. Contribuição da tecnica apontada para a motivação pessoal no estudo

Vale pontuar que em temas presentes no cotidiano da comunidade local podem ser

tratados pelos docentes em sala de aula, a compreensão de aspectos tecnológicos e problemas

sócio-ambientais que tenham implicações diretas na vida local auxiliam o discente à cognição

de problemas enfrentados pela sociedade, indústria, por populações organizadas

(COMPIANI,2007) é justamente as técnicas de ensino interdisciplinar ,os projetos de estudo

do meio junto as comunidades não fazem parte do escopo dos livros e por conseguinte das

leituras em salas de aula. Percebe-se que o agrado pelos alunos em realizar atividades

interativas vivenciando situações contextualizadas no universo real/local se dá pelas

proposições pedagógicas destas atividades propiciarem a construção ativa de conhecimentos.

Quadro 8. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas

4. Conclusão

Ao termino desta pesquisa podemos concluir que técnicas válidas para um grupo de

graduação específico podem não ser viáveis para outro, bem como dinâmicas pedagógicas

com o objetivo de educar para as questões ambientais devem ser reavaliadas conforme o curso

em questão. Em um mesmo curso de graduação cada aluno vivencia e participa da aula de

modo diferenciado conforme sua história e conhecimentos prévios que ele traz para a sala de

aula. Sendo assim compreender como os alunos aprendem e o que gera a aprendizagem

significativa pode ajudar os professores a elaborarem estratégias cada vez mais eficazes de

ensino.

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