provas discursivas estratégias - redação aplicada

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Brasília/2015

João Dino dos Santos

Provas Discursivas: Estratégias

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Brasília/2015

João Dino dos Santos

Provas Discursivas: Estratégias

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – De acordo com a Lei n. 9.610, de 19/02/1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação de informações ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor dos direitos autorais e do editor.

SANTOS, João Dino dos.Provas Discursivas: Estratégias João Dino dos Santos. p. 103

ISBN: 978-85-69303-10-7

1. Brasil: Provas Discursivas: Estratégias. I. Título.CDD 469

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Agradeço à Força Maior do Universo pela energia inspiradora;

Agradeço à D. Emília (em memória) e ao Sr. Pereira, como pais e exemplos permanentes de caráter e retidão;

Agradeço à Anna Emília, à Johanna e ao Lucas pelo aprendizado permanente, como pai e amigo;

Agradeço à Neila pelo incentivo como esposa e companheira;

Agradeço ao Dr. Franklin pela preciosa homeopatia;

Agradeço aos inúmeros colegas e amigos, em especial ao Prof. Serra, Prof. Waldeck, Profª. Enilde, Prof. Jorge e

Prof. Granjeiro, pelas críticas e contribuições.

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Dedico este ensaio aos meus alunos pela motivação e pelos questionamentos.

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Sérgio Waldeck de CarvalhoDoutor em Línguística Aplicada à Língua Portuguesa, pela PUC/RJ;

Professor da Universidade Aberta – UnB/MEC e Consultor Legislativo aposentado do Senado Federal

Atendendo ao honroso convite do autor dessa obra de Língua Portuguesa, voltada à clientela de Concursos Públicos, para que redija o Prefácio da obra, faço-o com grande prazer, acompanhado de pequena preocupação.

Explico-a: após revisar modelos desse gênero textual, verifico que na Sociedade de Informação, cada vez mais competitiva, compacta e, não raro, anódina, o gênero prefácio está encolhendo.

Há sempre muito a dizer, porém o espaço reservado para isso, por razões óbvias, é pequeno. Contudo reflito, não é também a brevidade uma virtude na escrita? Aceito o desafio. Em consequência é melhor pôr mãos à obra, começando pelo mais importante neste gênero – o autor e a obra.

Conheço o professor Dino pelo menos há duas décadas e o considero um amigo. Ex-aluno da UnB, mestre em Linguística, é ainda vitorioso no acesso ao Serviço Público, mediante concurso. Carioca típico, operoso, comunicativo, sempre transparecendo bom humor em relação à vida; tem conseguido ampliar e especializar suas experiências profissionais, sem afastar-se do magistério, prova contundente de que se trata de um vocacionado, incurável.

É ele, tipicamente, um autor capacitado para a obra que escreve. Na rotineira literatura dos concursos públicos, soube pinçar e pesquisar um assunto bem específico, do qual tratou com o espírito de crítica construtiva. Penso ter ele alcançado tanto o interesse dos concursandos, quanto de docentes e de pesquisadores.

Ao refletir na atuação das Bancas de Concurso, não poderia eu omitir seu importante papel de renovação na avaliação didático-pedagógica do ensino de Língua. Elas acompanharam e divulgaram as mudanças de paradigmas no ensino de

Prefácio

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Português, ocorridas, principalmente, nas últimas décadas do século XX. Renovaram o sentido do estudo da gramática, não mais como um fim em si mesmo, mas como meio de se alcançar um fim, qual seja o domínio da leitura e da produção de texto como objetivo precípuo do ensino de Língua.

Também não se pode negar o aprimoramento de cuidados técnicos no output da avaliação nela incluída a divulgação de gabaritos e os critérios de correção. Nem poderia ser diferente, porque muitas instituições de realização de concursos em todas as etapas estão relacionadas à própria Universidade Pública e contam com a atuação de muitos de seus docentes como é o caso da UnB. Já temeroso em relação ao espaço gráfico que me foi destinado, apresso-me em situar agora a obra.

O autor dividiu-a em 4 partes: a primeira que dá título ao livro é, certamente, a de interesse mais atual, passível de análise dos últimos tipos de produção de textos, cobrados por determinadas Bancas já nesta primeira década do século XXI. As propostas, segundo minucioso trabalho de pesquisa do autor, apresentam como novidade a inserção de textos discursivos e não só de temas abertos como acontecia anteriormente. Segundo o autor, o quadro atual indica certa predominância da primeira tipologia sem que isso signifique o desaparecimento da proposta do tema aberto, principalmente no concurso de nível técnico. Há, em relação a essa parte, uma discussão rica com vários desdobramentos.

Não quero aqui me antecipar e cortar o prazer da surpresa e das reflexões que a leitura do livro trará em relação a essa questão.

A terceira e a quarta parte do livro focam assuntos indispensáveis à boa produção de texto: a necessidade do estudo da paragrafação e da prática de resumos. Tudo, de acordo com a expressão camoniana, “com engenho e arte”.

O ponto seminal de sua contribuição consiste em encaminhar uma discussão qualitativa sobre o tipo de tema redacional. Nas próprias palavras do autor: “passar do perfil mais geral para o mais técnico”.

Com a leitura, fica notório que essa mudança não está sendo feita ainda de forma taxativa, diria mesmo que ela parece ter uma intenção experimental, tentando ainda obter um quantum satis entre os dois polos. Daí a oportunidade de abrir-se essa discussão não só aos candidatos, mas também a docentes e pesquisadores.

De minha parte, além do evidente domínio da língua em sua estrutura formal, impõe-se levar em conta não só valores explícitos, mas também implícitos, contextualizações no tempo e no espaço; exposições e argumentações e intenções, refletindo o espírito crítico indispensável na produção do texto, sempre guiados por atitude ponderada.

Está aberta a questão.

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Prezado(a) aluno(a),A prova discursiva é ponto decisivo nos concursos públicos, no vestibular e no

PAS, o que torna a habilidade de redigir mais importante a cada ano. Só as pessoas capazes de expor pontos de vista e conceitos, com organização lógica e domínio da língua, conseguirão ingressar nas carreiras públicas e nas universidades.

Por isso, entendemos fundamental que, para confeccionarem as provas discursivas, os alunos precisam de estratégias em relação tanto à organização lógica do pensamento quanto ao uso adequado do idioma. Com estratégias bem definidas para decodificar o comando de prova e para construir os parágrafos e os períodos, a probabilidade de o candidato ser aprovado e classificado aumenta de forma substancial.

Este trabalho é um ensaio sobre estratégias de construção de textos, porque se baseia na experiência de mais de uma década ensinando Produção Textual e aprendendo com as dificuldades dos alunos. Se alguma valia há no presente trabalho, decorre da maravilhosa troca de ideias com os nossos alunos e da tentativa de oferecer-lhes respostas objetivas para as dúvidas apresentadas.

Nós partimos de lições colhidas em grandes mestres, tais como Othon Moacyr Garcia, que nos deu a primeira versão sistematizada da construção textual, com a apresentação de vários feitios de parágrafos e períodos. Do nosso ponto de vista, esse manual, editado pela primeira vez na década de sessenta, permanece como referência maior para quem deseje se aprofundar no tema dissertação.

Embora, no seu tempo, não se falasse da sintaxe gerativa, Othon demonstra como o Português, a exemplo de outras línguas, é sistêmico, e, para dominar a expressão escrita, o candidato precisa conhecer as estruturas frasais, os articuladores textuais e as concepções dos parágrafos.

Para nós, a percepção de Garcia foi de fundamental importância, porque reforça a ideia de que, na estrutura profunda, as línguas são semelhantes. Se o Português, assim como todos os idiomas, tem a finalidade de expressar o pensamento e, se este é atributo da mente humana, há forçosamente um ponto em comum entre todas as línguas, uma gramática universal, atributo da nossa espécie.

Apresentação

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Por isso, compartilhamos da convicção de que a competência linguística para expressar o pensamento na modalidade escrita decorre do conhecimento aprofundado dos recursos existentes na língua, do acervo de palavras e expressões, nas múltiplas categorias. Para dar vida às ideias, com segurança e destreza, o candidato deve aprender a desmontar textos, selecionar vocabulário, entender a articulação das frases, períodos e parágrafos.

A título de exemplo, vale refletir sobre quantas formas existem de expressar adversidade no Português: “mas”, “porém”, “todavia”, “entretanto”, “no entanto”. Poderíamos encontrar mais algumas expressões, que traduzem a noção de adversidade, mas estas não são infindas, porque o sistema lógico precisa ser fechado; caso contrário, o domínio coletivo do idioma seria impossível.

Por outras palavras, a língua pode ganhar vida por meio de infindas combinações resultantes da criatividade dos falantes, mas estas estarão limitadas pelas categorias lógicas do pensamento e pelas estruturas da língua, circunscritas a um domínio comum à coletividade dos falantes. Diferenças há entre o Português do Brasil e o de Portugal, sobretudo no vocabulário, mas as duas modalidades não se apartam, porque estão unidas pelo sistema lógico.

Se um falante produzir um enunciado fora das estruturas lógicas possíveis no idioma, estará potencialmente rompida a comunicação e colocado em risco o domínio comum da língua, que convalida o que se aceita, ou não, como pertencente ao sistema morfossintático e semântico.

Assim, escrever bem, no campo técnico e administrativo, decorre de muita transpiração, mais do que inspiração, no entanto o esforço não pode ser aleatório. Para atingir nível de excelência, o candidato precisa revisitar os bons textos de quem já obteve aprovação, para colher verbos, conectivos, expressões; enfim, ganhar trato com o idioma, conhecê-lo de forma sistêmica. Esse é o atalho para o sucesso.

Para ensinarmos nossos alunos a organizarem o pensamento, partimos de uma máxima de René Descartes: “duvido, logo penso; penso, logo existo”. Se refletirmos um pouco sobre a produção textual, veremos que sobretudo os textos técnicos, administrativos e acadêmicos são gerados a partir de dúvidas de inquietações, mesmo se o objetivo for estabelecer um conceito.

Para nós, o planejamento de qualquer texto começa por perguntas simples: o que desejamos informar ou conceituar? O que desejamos defender ou argumentar? Se lançarmos um olhar atento ao comando de provas em diversos concursos, veremos que os temas podem ser convertidos em perguntas, por meio de um pronome interrogativo ou o artifício da pergunta sim ou não.

Veremos também que os roteiros transformam-se facilmente em perguntas capazes de organizar o pensamento e garantir a sequência adequada da dissertação, argumentativa ou expositiva. O caminho para a coerência está nas respostas às perguntas formuladas direta ou indiretamente pela Banca.

No campo da organização lógica, também procuramos absorver, na medida do possível, outro livro bastante tradicional: Pensar com Conceitos, de John Wilson. As lições desse professor da Universidade de Oxford são primordiais para quem deseja conhecer o feitio do texto argumentativo, da arte de comparar ideias para se posicionar diante delas. A habilidade de criticar, em grande medida, resulta da comparação entre conceitos, do confronto entre argumentos.

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Temos de agradecer a duas pessoas que nos incentivaram muito e nos trouxeram importantes contribuições com seus respectivos livros: primeiro, a Professora Enilde Leite de Jesus Faulstich, que, em Como Ler, Entender e Redigir um Texto, traz uma contribuição primordial ao entendimento da lógica da construção textual ao comentar as Capacidades Cognitivas de Bloom; segundo, ao Professor Sérgio Waldeck, que, em Leitura e Produção de Textos, parte das funções da linguagem para nos ensinar os caminhos da dissertação e do resumo.

Precisamos agradecer, também, ao Professor Luiz Serra que, além de revisar o presente trabalho, tem sido um incentivador incansável e amigo de todas as horas. Queremos ver, em breve, o seu livro de Gramática Aplicada ao Texto, que, pela simplicidade e objetividade, terá grande acolhida. Mas o agradecimento maior é para os nossos alunos, que nos inquietaram com perguntas, que nos colocaram gentilmente contra a parede. Sem eles, nada seria possível, porque a dúvida indica a trilha do conhecimento.

Provas Discursivas: estratégias é um livro que deve provocar polêmicas e questionamentos; mas, como o maior legado do século XX foi a relatividade dos conceitos e teorias, nem de longe nos passa a pretensão de esgotar campo tão fértil como o da Produção Textual. A cada dia, alguém nos pergunta algo inusitado, e, no desejo de oferecer a resposta, continuamos a pesquisar e a trocar ideias com os alunos e candidatos. Estes, sem dúvida, têm sido a maior fonte de saber de que dispomos.

Você verá que o livro se divide em quatro partes, com absoluta independência de cada uma delas. Por outras palavras, é possível seguir a sequência natural, com a leitura da primeira à última parte. Mas é possível começar pela segunda parte ou pela terceira, de acordo com a dificuldade específica e o amadurecimento de cada candidato. O nosso compromisso foi o de apresentar, de forma franca e aberta, um conjunto de estratégias para a organização do pensamento, geração de parágrafos, enunciados e resumos.

Começamos por comentar as diferenças entre os editais de cada concurso no sentido de situar o candidato quanto à tipologia de prova a ser enfrentada. Na segunda parte, falamos de diversas estratégias de construção de parágrafo, para, na terceira parte, tratarmos da geração de enunciados. As estratégias para a construção de resumos constituem o último capítulo do livro.

Com os comentários sobre as provas discursivas em diversos concursos, compreenderemos melhor as características das redações argumentativas e expositivas conceituais. Embora tenhamos partido dessa divisão clássica, devemos ressaltar que as modalidades textuais não podem ser vistas como estanques.

A narrativa, por exemplo, pode ser ponto de partida para a análise e o posicionamento, e estes para se veicular uma informação ou formular um conceito. Embora o mais justo seja falar em tipologia preponderante no texto, conhecer as características das duas modalidades é fundamental para estabelecermos estratégias voltadas à organização lógica do pensamento e à expressão escrita em língua portuguesa.

No segundo momento, falamos das estratégias de construção de parágrafos. Partimos das sugestões de Francisco C. de Souza e Rubens Pantano Filho, em Vestibular da Unicamp, provas resolvidas, e nos baseamos na experiência acumulada pelas respostas a inúmeros questionamentos dos nossos alunos. Mais uma vez, assumimos o risco de oferecer uma resposta mais prática, que conduza o candidato no momento da prova.

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Ademais, queremos conversar com vocês sobre como gerar enunciados com base em 9 regras práticas para tornarmos os textos claros, objetivos e concisos. Sempre é válido lembrar que as dissertações são corrigidas quanto ao conteúdo e ao uso adequado do idioma. Em outras palavras, precisamos cuidar do conteúdo e do uso formal da língua, sobretudo se o desejo for tirar uma boa nota na prova discursiva.

Por fim, apresentamos um conjunto de estratégias para a confecção de resumos, uma modalidade que tem sido cobrada em alguns certames, no de Consultor Legislativo, por exemplo. Além disso, saber resumir é muito útil como ferramenta para estudarmos e retermos o conteúdo das diversas matérias.

Temos certeza de que você melhorará muito a capacidade de redigir com coerência e coesão, segurança e destreza, depois de percorrer as páginas deste livro e aplicar as estratégias propostas à produção de dissertações e resumos. Sempre é válido buscar, também, informações em outros autores para você chegar a um entendimento mais sedimentado sobre o assunto.

Todos podem redigir com segurança e destreza, inclusive você!

Visite nosso portal: redigirprofdino.com.brFale conosco: [email protected]

Boa sorte!

Prof. João Dino dos Santos

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Sumário

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18

1ª PARTE – ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO LÓGICA DO PENSAMENTOI – Diferenças entre Provas Argumentativas e Expositivas ................................... 22II – Exemplos de Provas Expositivas Conceituais ................................................. 27III – Provas de Natureza Argumentativa ................................................................ 30IV – Onde Colocar o Posicionamento no Texto Argumentativo? ........................... 39V – Exemplos de Dissertação Argumentativa de Natureza Técnica ..................... 40

2ª PARTE – ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO DE PARÁGRAFOSI – O Parágrafo ....................................................................................................... 50II – Estratégias de Construção de Parágrafos ........................................................51III – As Funções de Cada uma das Partes do Texto .............................................. 56

A Introdução ..................................................................................................... 56O Desenvolvimento .......................................................................................... 58A Conclusão ..................................................................................................... 61

3ª PARTE – ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO DE ENUNCIADOSI – Aspectos de Natureza Microestrutural .............................................................. 62II – Regras Práticas para Obtermos Clareza, Objetividade e Concisão ................ 63III – Comentários e Exercícios ............................................................................... 63Regras 1 e 2: Como Gerar Enunciados? ............................................................... 63

A Relação Lógica entre as Frases ................................................................... 66A Coordenação ............................................................................................. 66

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A Subordinação ............................................................................................. 68Outras Relações Lógicas ................................................................................. 70

IV – Texto Complementar ....................................................................................... 71Regras 3 a 7 ............................................................................................................74OUTRAS FORMAS DE CONECTIVIDADE ........................................................... 78

1. Expressões de Natureza Introdutória .......................................................... 782. Expressões de Comparação........................................................................ 793. Expressões de Contraste ............................................................................. 794. Expressões de Adição ................................................................................. 805. Expressões para Introduzir Exemplos ......................................................... 806. Expressões de Causa e Efeito ..................................................................... 807. Expressões de Generalização ..................................................................... 808. Expressões de Condição e Hipótese ........................................................... 809. Expressões de Sequência ........................................................................... 8010. Expressões de Certeza ou Dúvida ............................................................ 8111. Expressões de Conclusão .......................................................................... 81

Queísmo ................................................................................................................. 81Regra 8: Seu Sua / Advérbios terminados em MENTE / Um, Uma / Hipérboles ... 82Regra 9: Gerundismo ............................................................................................. 84

4ª PARTE – ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DE RESUMOSProva de Redação .................................................................................................. 91Texto I .................................................................................................................... 92Resumo .................................................................................................................. 93Texto II ................................................................................................................... 93Resumo .................................................................................................................. 95

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 98

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 100

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Ao longo da última década, temos percebido modificação substancial no feitio das provas discursivas dos concursos públicos. Quem prestava exames há dez anos, quase sempre, encontrava a tarefa de elaborar um texto argumentativo acerca de um tema da atualidade, correlacionado, ou não, à área de atuação do futuro servidor.

Em jogo estava a capacidade de o candidato defender posicionamento, com organização lógica do pensamento, coerência, domínio do idioma, e coesão, mas dificilmente se cobrava o conteúdo programático de algum item do edital, salvo em concursos mais específicos. Acrescente-se que os temas abertos sobre a atualidade tornavam possíveis diferentes recortes, um robô em Marte, por exemplo.

Hoje, parece-nos correto afirmar que a prova discursiva transitou do perfil mais geral para o técnico, porque há uma tendência de a Administração Pública buscar profissionais com domínio do conteúdo necessário ao desempenho das funções do cargo objeto do concurso. Assim, o domínio dos temas da atualidade persiste, mas tem sido cobrado em concursos de nível médio, mesmo assim com tendência a recorte técnico.

Temos visto também, como no caso do MPU e do STM, nova apresentação por parte das Bancas, em que os textos motivadores voltam a ter importância, porque delimitam a discussão do tema. A esse respeito, vale um alerta: mesmo quando a Banca diz para os candidatos considerarem os textos unicamente motivadores, isso não significa que estes possam ser ignorados.

A experiência tem mostrado que, além de instigarem a curiosidade e o interesse do candidato, os textos motivadores, no mais das vezes, servem como um ponto de partida para a dissertação. Isso porque delimitam o tema, encaminham a construção do texto, conquanto o candidato deva cuidar para não cair na tentação de fazer um exercício de cortar e colar.

Introdução

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I – A Prova Discursiva no Contexto Técnico-Administrativo

No novo contexto técnico-administrativo, as provas discursivas têm-se dividido em dois grupos: provas argumentativas e provas expositivas “conceituais”. Nestas, a Banca pretende aferir se o candidato tem domínio sobre o conteúdo de determinado item do edital, sem qualquer formulação crítica. Buscam-se o conceito, o objetivo, a finalidade de determinada lei ou medida, por exemplo.

A Banca poderia pedir, como ocorreu no concurso mais recente para o Senado, na primeira questão discursiva, para analista legislativo, que o candidato classificasse a Constituição Brasileira de acordo com os critérios de conteúdo, forma, modo de elaboração, origem, estabilidade e finalidade. Outro exemplo pode ser obtido em prova para a ANAC, em que a demanda era para discorrer sobre as características e objetivos dos mecanismos de planejamento orçamentário.

A vantagem nesse tipo de prova é que a probabilidade de o candidato ter estudado o conteúdo ao longo da preparação para o concurso revela-se bastante alta. Disso decorre a importância de se estudar fazendo resumos, apontamentos e mapas mentais, com o objetivo de reter as informações mais importantes sobre cada tópico do edital.

O ponto negativo é que, embora alguns alunos – e professores – insistam na possibilidade de se fazer um texto mais genérico, mesmo diante de uma demanda específica, no mais das vezes, não há muito o que fazer se não sabemos pelo menos uma boa parte do conteúdo da prova expositiva conceitual.

No campo das provas argumentativas, houve mudanças significativas, também, nos concursos não só para o Legislativo, mas também para o TCU e outros órgãos e tribunais. Seja por meio de questões-problema ou situações hipotéticas a serem analisadas pelo candidato, o desejo da Banca nas provas argumentativas é testar a capacidade de o concursando se posicionar diante de determinado problema, mas de forma vinculada à lei ou aos preceitos técnicos para a resolução do problema lançado.

No concurso mais recente do Senado, a segunda questão era de natureza argumentativa, porque perguntava se a tramitação de um projeto em regime de urgência estava correta e se havia ausência de algum ator. Ora, é evidente que o candidato deveria se posicionar, mas de acordo com o rito preconizado para o processo legislativo, no Regimento Interno. Não havia, portanto, liberdade de escolha, discricionariedade, mas decisão vinculada.

Além dos aspectos de conteúdo, o candidato precisa cuidar da forma. Ao longo dos últimos dez anos, temos visto inúmeros candidatos bem preparados perderem o concurso, porque, apesar de terem o conteúdo desejado pela Banca, cometeram toda sorte de erros, de acentuação e pontuação a períodos mal construídos. O fato é que muitos candidatos obtêm pontos máximos em conteúdo e perdem a classificação no domínio da língua.

Cabe quebrar, portanto, dois mitos: primeiro, o de que o mais importante é o conteúdo; segundo, o de que o mais importante é estar bem escrito. Na verdade, todas as dissertações expositivas ou argumentativas são costumeiramente

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avaliadas sobre dois ângulos, a saber: conteúdo e forma, coerência e coesão. Por isso, conhecer o programa do concurso revela-se tão importante quanto dominar os recursos de expressão escrita.

II – Pensando como o Examinador

Feitas as considerações acima, entendemos que o candidato deve procurar se aproximar ao máximo do modo de pensar do examinador e procurar levantar os modelos de prova adotados pela Banca que será responsável pela realização do concurso. É fundamental fazer provas discursivas com diferentes graus de dificuldade, tanto expositivas quanto argumentativas.

Os exercícios devem ser elaborados por conjunto de professores – ou por colegas de curso que, alternadamente, assumem a condição de examinadores e candidatos – e baseados nos seguintes critérios:

1) Estabilização do conteúdo: é fundamental que os professores cheguem a uma resposta homogênea, para evitar a possibilidade de se apresentarem diferentes recortes para um mesmo tema. Isso não significa, todavia, chegar ao ponto de exigir a mesma fraseologia e vocabulário de todos os alunos, conquanto a terminologia específica deva ser preservada.

A estabilização do conteúdo pode ser feita se forem adotados dois eixos para formular a questão; um, horizontal, com uma, duas ou três perguntas a serem respondidas em relação a todos os itens do segundo eixo, o vertical. Este deve conter um roteiro, na forma de itens ou de texto, que possa ser reduzido a itens. A combinação dos dois eixos resultará numa planilha de correção bastante estável e objetiva para a correção.

Para evitar a reprovação maciça, como ocorreu na prova discursiva do concurso do MPU, por exemplo, os simulados devem ser bem claros quanto à tarefa a ser feita, a correlação pretendida entre o eixo horizontal e vertical, porque, caso contrário, a resposta do candidato pode divergir da expectativa da Banca e resultar em reprovação de número significativo de candidatos.

Aqui vale o pressuposto que, se uma prova provoca a reprovação em massa de candidatos bem preparados, há provável erro de formulação quanto ao comando da questão discursiva, salvo quando o examinador direciona esta para uma discussão das exceções, com o nítido propósito de ser mais rigoroso com os candidatos.

Outro ponto importante é avaliar bem o papel do(s) texto(s) motivador(es), porque muitos candidatos têm ignorado esses textos, que servem para delimitar o tema, dar um norte para o desenvolvimento da dissertação, mesmo quando a Banca diz para os candidatos considerá-los unicamente motivadores.

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2) Gradação do nível de dificuldade da prova: se dividirmos uma questão em cinco segmentos, de dificuldade gradativamente maior, poderíamos dizer que os alunos que cumprirem os dois segmentos mais fáceis estariam na porção inferior; se acertassem mais, chegariam à porção intermediária; se chegassem a resolver dois dos itens mais difíceis, estariam na média superior; e, se acertassem todos itens, na porção superior.

É como se dividíssemos a nota de conteúdo em SRE (é difícil aplicar o zero absoluto, salvo fuga ao tema), MI, MM, MS e SS, como tem transparecido da análise de algumas provas aplicadas pelo CESPE, embora se adote a divisão baseada em números: 0.6; 1.20; 1.80; 2.40; por exemplo.

3) Definição de uma planilha de correção quanto à forma. Parece-nos fundamental apontar o local exato do erro cometido, bem como a perda de pontos para cada erro, ponderada pelo número de linhas efetivamente preenchidas.

4) Gradação do nível de dificuldade de cada exercício. Assim como nas provas objetivas, o aluno precisa ganhar confiança gradativamente. Se, de início, oferecemos exercícios mais fáceis, as pessoas vão ganhando destreza e perdendo a inibição.

5) Adoção de exercícios voltados à obtenção de clareza, objetividade e concisão. É fundamental cuidar dos recursos de expressão escrita e expor os alunos a exercícios permanentes de reescrita de períodos e parágrafos, para garantir a destreza necessária na hora da prova.

6) Reprogramação – escrever bem é um exercício de reprogramação neurolinguística, em que buscamos reconduzir o cérebro para o caminho da clareza e da objetividade. Isso, em grande parte, é obtido passando os trabalhos a limpo para sentirmos e absorvermos as correções. Mais importante que fazer uma nova redação é passar a limpo os trabalhos com as devidas correções.

Baseados nos parâmetros e diretrizes tratadas anteriormente, os candidatos terão um bom modelo de Oficina de Produção de Textos, capaz de garantir-lhes a aprovação nas provas discursivas dos diferentes certames. Os professores, por sua vez, poderão apresentar temas e montar planilhas de correção adequadas e coerentes, que podem partir de exemplos oferecidos ao longo do livro.

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I – Diferenças entre Provas Argumentativas e Expositivas

Você que acompanha os concursos públicos no Brasil já deve ter percebido que, com frequência, os candidatos têm um bom desempenho na parte objetiva, mas, às vezes, perdem o certame na prova discursiva ou caem muito na classificação. Como enfrentar a dissertação e garantir a aprovação é um ponto inquietante para os candidatos, que deve começar a ser vencido pela distinção entre textos dissertativos argumentativos e expositivos “conceituais”.

O termo “conceituais” parece-nos adequado para mostrar o escopo da prova discursiva em concursos nos quais a Banca estabelece como conteúdo itens específicos do edital em contraposição a um tema em que se pede o posicionamento do candidato sobre determinada situação hipotética, por exemplo. A interpretação do tema e a forma de a Banca apresentá-lo requerem tato e bom senso dos candidatos.

Quando a prova é de natureza conceitual, os examinadores têm em mente avaliar a capacidade de conhecimento do candidato acerca de conceitos e características de determinada matéria: Auditoria, Direito Administrativo ou Controle Externo, por exemplo. Mas é oportuno mencionar que não há uma fronteira absoluta entre a exposição e a argumentação, mas o predomínio de uma modalidade em relação à outra.

Nesses casos, quando os examinadores elaboram as questões discursivas, têm um raciocínio sistêmico e esperam que o candidato demonstre, na sequência de elaboração do texto, tudo que julgaram pertinente de acordo com a planilha de correção. Apresentada por ocasião da divulgação dos resultados, a planilha e as notas podem trazer algumas surpresas, sobretudo se o candidato não raciocinar de forma sistêmica na hora de elaborar a resposta.

Queremos facilitar o entendimento desse exercício de ajuste entre a percepção do candidato e a expectativa do examinador. Em alguns casos, isso pode transformar-se em verdadeiro exercício de clarividente, porque nem sempre o que o candidato pensa é o que o examinador quer. Com o perfil de provas mais técnicas, se o examinador não amarrar bem o comando geral da prova – eixo horizontal – com os itens a serem tratados no corpo do texto – eixo vertical –, o candidato terá uma margem de dúvida considerável, o que pode resultar em baixo desempenho.

1ª PartEESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO

LÓGICA DO PENSAMENTO

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Em casos recentes, como o da prova do MPU, por exemplo, elaborada pelo CESPE, parece-nos que foi exatamente isso que ocorreu. E a Banca pode ter errado duas vezes: primeiro, porque a delimitação da tarefa não foi capaz de conduzir os candidatos à expectativa dos examinadores; segundo, porque, diante de tal fato, a Banca não teve a percepção de reavaliar o comando e acolher outras abordagens igualmente válidas para o tema, conquanto diferentes da expectativa inicial.

Outro caso foi o da prova discursiva para analista judiciário, área administrativa, do concurso para o STM, também elaborado pelo CESPE, que reprovou número considerável de candidatos. A prova apresentava o seguinte texto motivador:

Em determinado município brasileiro, o prefeito assinou uma série de contratos com empresas fornecedoras sem a realização prévia de licitação. Ao final do exercício financeiro, as contas desse prefeito foram apresentadas no prazo legal, mas apenas ao tribunal de contas dos municípios de seu Estado, que, por excesso de trabalho, não chegou a emitir parecer prévio, e para a câmara de vereadores local, onde a maioria decidiu votar pela sua aprovação. Durante a votação, no entanto, alguns vereadores de oposição exigiram o cumprimento das regras sobre transparência da gestão fiscal.

O comando da questão, por sua vez, dizia:

Considerando que a situação hipotética descrita acima tem caráter motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema: TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO FISCAL.

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:• normas vigentes sobre a transparência da gestão fiscal;• empecilhos à consolidação de uma gestão transparente;• papel do planejamento no objetivo de transparência.”

No nosso entendimento, o texto motivador não poderia ter sido ignorado pelos candidatos, porque, embora a lei preveja situações em que a licitação possa ser dispensada, a compra sistemática sem licitação é um indício de o gestor ter faltado com transparência fiscal. A aprovação das contas do prefeito pela Câmara de Vereadores, por sua vez, é nítido empecilho à consolidação da gestão transparente, porque o Legislativo não exerceu o dever de fiscalizar.

Em provas como essas, entendemos que o candidato tende a conseguir melhores notas se partir da situação hipotética para cumprir o roteiro demandado pela Banca. Na prática, a prova se transforma em um exercício de escrita a partir de um exercício de leitura, em que o texto motivador delimita a discussão e conduz o candidato a aplicar o conhecimento adquirido à análise de um caso. Isso parece-nos ocorrer mesmo se a Banca disser que o texto é unicamente motivador.

Em provas com roteiros ou com textos motivadores que possam ser reduzidos a roteiro, o caminho para as notas mais altas é fazer do comando da prova uma espécie de questionário a ser rigorosamente respondido, como um velho e tradicional dever de casa. O candidato deve, em primeiro lugar, ver se existe uma pergunta de natureza geral a ser respondida ou se existem duas ou mais perguntas de natureza geral.

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No caso anterior, o candidato poderia organizar o pensamento com as seguintes perguntas:

• O que é transparência fiscal (conceito)?• Quais são as principais normas vigentes sobre a transparência da gestão fiscal?• Houve transparência fiscal no caso apresentado? Por quê?• Quais são os empecilhos à consolidação de uma gestão transparente?• O exemplo da aprovação das contas pela Câmara de Vereadores se insere nesse

contexto?• Qual o papel do planejamento no objetivo de transparência?• O Prefeito seguiu essa norma?

Veja que as respostas a essas perguntas entrelaçam o conhecimento do conteúdo com a discussão do exemplo hipotético, pois este delimita o tema, do nosso ponto de vista, conforme nos ensinam as “capacidades cognitivas de Bloom”.

No concurso mais recente do Senado, analista 2008, na primeira questão discursiva, de natureza expositiva, havia uma pergunta geral a ser respondida e diversos itens para conseguir cumprir a tarefa, porque a Constituição Brasileira é classificada sob diferentes aspectos. Havia uma pergunta maior, geral: como se classifica a Constituição? Mas havia outras de natureza específica, é formal ou material? É escrita ou não escrita? É dogmática ou histórica? É promulgada ou outorgada? É imutável, rígida, semirrígida, flexível ou super-rígida? É analítica ou sintética?

Não podemos nos esquecer de que é do cruzamento dessas perguntas que, na divulgação dos resultados e na concessão de vistas à prova, o candidato encontrará uma planilha de correção subdividida em itens, com determinado número de pontos para cada subitem. Isso torna a confecção da prova bastante delimitada e muito sistêmica, quase um roteiro preciso, do qual não nos afastaremos se estivermos focados em um conjunto de perguntas a serem respondidas.

Veja a prova a seguir. Perceba que ocorre a mesma coisa, ou seja, o examinador pergunta indiretamente ao candidato quais são os mecanismos de planejamento orçamentário e financeiro – pergunta geral –, mas também demanda duas perguntas específicas, ou seja, quais os objetivos e as características de cada um dos mecanismos de planejamento orçamentário e financeiro?

Ora, se o candidato discorre sobre os mecanismos de planejamento orçamentário e financeiro, mas se esquece de focar nos objetivos e características de cada um deles, terá cumprido apenas parte dos requisitos exigidos pela Banca. Por isso, é fundamental converter o enunciado da questão num conjunto de perguntas objetivas e verificar, a todo momento, se estas estão, ou não, sendo respondidas ao longo da dissertação.

Cabe ressaltar que o comando da prova tem implicações importantes na escolha do vocabulário e da fraseologia do texto – verbos e conectivos. Repare que, para denotar a ideia do objetivo de determinado mecanismo de planejamento orçamentário bem como a respectiva definição, o candidato terá uma escolha de vocabulário específico para tal.

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É fácil perceber no texto da página 24 como isso ocorre, embora, para boa parte dos leitores, isso não seja percebido na primeira leitura. Mas veja, por exemplo: o PPA é um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no primeiro ano de governo e que abrange os programas, planos, projetos e atividades a serem executados em um período de quatro anos.

Ora, a primeira parte do trecho caracteriza o que é o PPA. Por isso, o uso do verbo “ser”, de natureza conceitual, porque se o desejo for apresentar o conceito de determinada noção, nada mais razoável que dizer: “x” é...

Todavia, poderiam ter sido utilizados outros verbos capazes de denotar a mesma ideia, por exemplo:

• O PPA constitui-se num plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no primeiro ano de governo.

• O PPA revela-se como um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no primeiro ano de governo.

A segunda parte do parágrafo, por meio do verbo “abranger” e da locução “a serem executados”, denota os objetivos do Plano Plurianual. Tanto é que poderíamos dizer perfeitamente:

... cujo objetivo é abranger os programas, planos, projetos e atividades a serem executados em um período de quatro anos.

Ou

... que tem por finalidade abranger os programas, planos, projetos e atividades a serem executados em um período de quatro anos.

As questões aqui são: • De que verbos preciso para expressar o pensamento?• Quais conectivos são necessários à articulação das ideias?• Qual o vocabulário específico, a terminologia, da área?

Essa percepção quanto ao uso correto do vocabulário, dos substantivos e dos verbos, bem como da articulação fraseológica, dos conectivos e dos dêiticos, é de fundamental importância para os candidatos cumprirem os requisitos estabelecidos pela Banca e para obter nota alta. Procure desmontar o texto abaixo e outros que tenham obtido boas notas no sentido de construir um acervo de vocabulário de fundamental importância na hora da prova.

Lembre-se de que o tempo é muito limitado para se fazer a dissertação e, quanto mais estratégias você tiver, mais agilidade e capacidade de expressão serão obtidas. Em suma, reduza o comando da prova a um conjunto de perguntas e procure selecionar o vocabulário necessário para respondê-las de forma articulada, clara, objetiva e concisa.

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Vejamos estas transparências de apoio.

Argumentaçãoem defesa detese explícita

Apresentaçãode conjunto de

informações sem defesa de tese

Análise de situação hipotética

com posicionamento técnico / jurídico

Apresentação de um conjunto

de conceitos sobre determinado tópico

do edital

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II – Outros Exemplos de Provas Expositivas Conceituais

A título de exemplo, vejamos algumas provas, de natureza expositiva (com retoques), de candidatos e candidatas que obtiveram notas altas em diferentes concursos.

Concurso da Agência Nacional de Aviação Civil – Brasil – ANACConcurso Público – 2007, realizado pelo NCE – Núcleo de Computação EletrônicoUniversidade Federal do Rio de Janeiro

COMANDO DA PROVA DISCURSIVAA Lei de Responsabilidade Fiscal compreende um código de conduta para os

gestores públicos, impondo regras para a execução e controle do orçamento e das metas fiscais. Há medidas que estimulam os gestores a planejar melhor as ações orçamentárias e financeiras, há medidas de controle para as despesas e há procedimentos para dar transparência à gestão.

Apresente os principais instrumentos de planejamento orçamentário e financeiro, indicando suas principais características e objetivos.

Candidata 1

Os principais instrumentos de planejamento orçamentário e financeiro dispostos na Constituição Federal do Brasil de 1988 são: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, Lei Orçamentária Anual – LOA, e constituem-se em vigas mestras para a execução e controle do orçamento público, bem como para a transparência da gestão.

O PPA é um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no primeiro ano de governo, e abrange os programas, planos, projetos e atividades a serem executados em um período de quatro anos. Esse projeto é encaminhado ao Legislativo para a aprovação até o dia 31 de agosto. O primeiro exercício do Chefe do Executivo será pautado pelas programações feitas pelo antecessor.

A LDO é elaborada anualmente pelo Poder Executivo e encaminhada ao Poder Legislativo para a aprovação até o dia 15 de abril de cada ano. Essa lei mostrará como será a elaboração do orçamento, dando as diretrizes e metas, bem como os contingenciamentos necessários às despesas.

A LDO está presente na Lei Complementar n. 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal, como sendo obrigação a apresentação dos Anexos de Metas Fiscais e Anexos de Riscos Fiscais, os quais estimulam os gestores a melhor planejar as ações orçamentárias e financeiras.

A LOA é a Lei do Orçamento, elaborada e executada de forma anual. O projeto dessa Lei é encaminhado ao Legislativo para a aprovação até o dia 31 de agosto. Essa lei pormenoriza os projetos, planos e ações; é a execução do orçamento proposto ao País visando ao desenvolvimento.

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Em suma, o processo orçamentário e financeiro é constituído do PPA, o qual traça de forma macro como será a desenvoltura do País no período de quatro anos; a LDO, que demonstra por intermédio das diretrizes como será feito o projeto dessa execução, e a LOA, a qual estabelece de forma objetiva: como, quando, onde e quanto será gasto nessas execuções. A Lei de Responsabilidade, por sua vez, veio como instrumento fiscalizador de todas essas atividades, tendo em vista que todos esses procedimentos são considerados elementos de transparência fiscal e de fácil acesso aos cidadãos, visando ao melhor controle do orçamento e das metas fiscais.

COMANDO DA PROVAUma das discussões centrais na análise das políticas públicas refere-se aos desafios

para transformar as decisões tomadas em intervenção efetiva na realidade. Analise os desafios à implementação de políticas públicas no Brasil. Para isso:

1. Descreva rapidamente o modelo “top-down”;2. Descreva sucintamente o modelo “bottom-up”;3. Descreva o modelo interativo-iterativo e comente suas vantagens em relação

aos dois modelos anteriores;4. Descreva o papel da burocracia de nível de rua no processo de implementação.

Candidata 2Gestora

A Constituição Federal de 1988 deu maior poder descentralizado nas áreas fiscal e de prestação de serviços públicos aos Estados e Municípios. Nas divisões de arrecadação, o texto ficou claro, porém há muitas competências comuns e concorrentes na execução de políticas públicas entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Diferentes entes desempenham as mesmas atribuições de forma descoordenada. Isso gera superposição, desperdício de recursos e ineficácia na prestação dos serviços. As instituições com as mesmas competências poderiam colaborar para somar recursos e gerar serviços de melhor qualidade.

A União é o ente mais adequado para realizar políticas públicas de grande envergadura e em nível nacional, como a “Bolsa Família”, por exemplo. Esse tipo de política é relacionado ao modelo “top down” de implementação, decididos nos altos escalões do governo, com cadeia de comando hierárquica.

Na abordagem “top down”, quem formula não é quem implementa. A fase de implementação é vista como linear, não problemática. Os implementadores apenas seguiriam os passos já decididos anteriormente. Esse modelo, portanto, não leva em consideração o jogo político, o processo de barganha realizado, e isso gera déficit de implementação.

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Como os implementadores não possuem poder decisório para fazer ajustes, é necessário passar por níveis de comando para se chegar aos decisores. Quantos mais níveis, maior poderá ser o déficit de implementação e menor o controle dos decisores sobre os implementadores.

No programa “Bolsa Família”, por exemplo, há articulação entre os entes, mas é difícil controlar se os recursos repassados são aplicados de acordo com as diretrizes da União. No nível local, podem-se dar relações clientelistas, prejudiciais ao bom funcionamento do programa.

Assim, no modelo “top down”, os implementadores precisam estar de acordo ideologicamente com a política, o comando precisa de mecanismos para obter obediência. Do contrário, pode haver conflitos entre os implementadores e até mesmo entre os cidadãos a serem beneficiados.

É necessário, portanto, maior articulação com as esferas inferiores para a política poder ser implementada como foi concebida e ajustada de acordo com as reais necessidades da comunidade. Isso pode ser feito por meio de conselhos de políticas públicas, ouvidorias, orçamento participativo, entre outros.

Candidata 3Gestora

Política pública “top-down” é aquela cuja elaboração e formulação é realizada, de forma centralizada pelo topo da hierarquia administrativa. Assim, os responsáveis pela implementação não participam do processo de tomada de decisão. A centralização e o isolamento são os principais responsáveis pelos desafios enfrentados por esse tipo de política pública.

A implementação de política pública exige conhecimento, esse aspecto constitui-se em desafio devido à falta de capacitação e conhecimento por parte daqueles que irão implementar as políticas devidas pelas hierarquias superiores. Esse modelo pressupõe perfeita capacidade de comando da hierarquia superior, o que na maioria das vezes não ocorre, sendo esse mais um desafio ao modelo top-down.

Outra questão desafiadora diz respeito ao acompanhamento dessas políticas. Como nem sempre elas vêm com indicadores, meios de verificação, objetivos e metas claras, torna-se difícil o seu acompanhamento e a sua avaliação. A existência de grande número de instituições envolvidas na implementação dessas políticas conduz à fragmentação e à excessiva redundância das políticas públicas e dificulta o seu acompanhamento de política pública do tipo “top-down”. Associam-se às assimetrias de poder e informação entre os envolvidos e impedem a implementação adequada das políticas.

O modelo de política pública “top-down” é pouco eficiente. Para que a construção de políticas públicas seja efetiva, é necessário capacitar e treinar o pessoal da burocracia responsável por sua execução. É preciso adotar a

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avaliação como instrumento de gestão política e é ainda imprescindível coordenar todas as instituições envolvidas. Assim, seria possível reduzir a fragmentação e facilitar os processos de implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas.

Candidata 4Gestora

No modelo “top-down”, a formulação de políticas públicas é centralizada, realizada pela cúpula de administração e imposta aos níveis inferiores, responsáveis pela execução. Nesse modelo, quem decide a política não interage com quem vai executá-la.

Quanto ao modelo “bottom-up”, a política é formulada pela base de administração, pelos executores. Eles encaminham a política para a hierarquia responsável pela decisão política. Esse modelo também não prevê a interação entre executor e decisor.

O modelo interativo-iterativo pressupõe a existência de diálogo entre os decisores e os executores de políticas públicas. Nesse sentido, a política pública decidida seria resultado da conversa, da relação de troca de conhecimento e experiência entre esses atores. A vantagem desse modelo em relação aos dois modelos anteriores é a interação que ele promove entre gestor e executor. Ele permite alinhar a experiência prática do executor ao conhecimento e à capacidade decisória do gestor. Essa interação permite desenvolver políticas públicas mais democráticas e eficientes quando comparadas às políticas resultantes dos modelos anteriores.

Os executores das políticas públicas são os servidores responsáveis por lidar com o público de forma direta e contínua. Conhecida como burocracia de nível de rua, esses burocratas exercem papel decisivo no processo de política pública no momento de implementação. Isso ocorre porque as decisões tomadas por esse atores, as rotinas e os procedimentos por eles estipulados para lidar com o ambiente de incertezas e pressões no qual trabalham, é que serão as responsáveis pelas reais características das políticas públicas. Surge daí a necessidade de capacitar a burocracia de rua.

III – Provas de Natureza Argumentativa

Conforme comentamos na introdução, há uma tendência hoje de as Bancas aplicarem provas argumentativas com perfil técnico-administrativo, embora, em boa parte dos concursos de nível médio, continuem a cobrar temas da atualidade. O fato é que, neste início da segunda década do século XXI, o candidato pode enfrentar um tema aberto, de natureza geral e sem roteiro, mas pode encontrar o mesmo tema geral, delimitado por um conjunto de itens a serem transformados em perguntas rigorosamente respondidas ao longo do texto.

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Outra possibilidade muito frequente é a apresentação de questões-problema, em que a Banca demanda para o candidato uma série de perguntas correlacionadas a determinada situação apresentada, como ocorreu nos concursos mais recentes do TCU e do Senado. A expectativa do examinador é ver o candidato aplicar o conhecimento à resolução de uma situação concreta.

O mais importante, nesses casos, é perceber que, seja na forma de texto, seja na forma de itens, o candidato deve reduzir o enunciado apresentado pela Banca a um conjunto de perguntas. No caso de itens, a tarefa não é tão difícil de ser realizada, porque podemos transformá-los em perguntas: a) discorra sobre os diversos tipos de emendas; b) apresente as características de cada uma delas. Por conseguinte: Quantos tipos de emendas há? Quais são as características e aplicabilidade de cada uma delas.

Quando o enunciado é um texto, a tarefa requer mais atenção, porque não podemos deixar escapar os detalhes, as sutilezas, que, na maioria das vezes, fazem a diferença para obtermos os pontos necessários à classificação, não apenas à aprovação. Vejamos o enunciado do concurso mais recente do Senado:

FGV: ANALISTA LEGISLATIVO – PROCESSO LEGISLATIVO – SENADO 2008

O Presidente da República, no exercício de suas atribuições constitucionais, remete ao Congresso Nacional projeto de lei em regime de urgência, em tema educacional, tendo sido aprovado, no prazo legal, na Câmara dos Deputados. Ingressou o projeto no Senado Federal, aos 7 de agosto de 2008, tendo sido despachado pelo Presidente do Senado Federal e remetido à Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça, onde recebeu inúmeras emendas. A seguir foi remetido às demais Comissões competentes, tendo sido lido em plenário no dia 22 de agosto do corrente ano, submetido à discussão e à votação, também, sofrendo inúmeras emendas. Na votação em turno único, foram aprovadas emendas ao projeto, inclusive com aumentos de despesa não previstos no projeto original e também não incluídos na proposta orçamentária em vigor. Pela proposta governamental, o projeto transformado em lei passaria a vigorar imediatamente. Observadas tais premissas, indique se o andamento do projeto obedeceu às regras constitucionais e regimentais, bem como se os órgãos competentes que integraram o processo legislativo estão corretamente identificados ou há algum eventualmente ausente do processo. Justifique sua resposta.

Em primeiro lugar, há duas perguntas gerais que precisam ser respondidas: 1. O andamento do processo obedeceu às regras constitucionais e regimentais?2. Os órgãos competentes que integraram o processo estão corretamente

identificados ou há algum ausente do processo?

Se dividirmos o texto em duas partes, a tramitação na Câmara e a tramitação no Senado, vamos aplicar essas perguntas e chegar a outras como desdobramento delas. Façamos um exercício a título de exemplificação, em relação à Câmara:

• O Presidente da República é parte legitimada ou detém competência para propor projeto em matéria de educação?

• Ao encaminhar a proposição, esta deve iniciar a tramitação pela Câmara?

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• O Presidente da República pode pedir urgência na tramitação de projeto dessa natureza?

• Quais as implicações do pedido de urgência em relação à tramitação das duas Casas?

Parece-nos evidente que, ao contrário dos temas mais abertos, em que diferentes abordagens são permitidas, nesse tipo de questão do Senado, a tendência é haver apenas uma resposta conforme os conhecimentos técnicos de determinada área. Devemos lembrar, todavia, que, em concurso recente para a área de Direito, o examinador pediu um confronto entre a doutrina e a jurisprudência. Ainda assim, a liberdade do candidato – a discricionariedade – é bastante limitada, porquanto o posicionamento deve estar embasado em conhecimento técnico e/ou jurídico.

Vejamos dois exemplos de dissertação do Concurso para o TCU ACE 2008 – Gestão Governamental, realizado pelo CESPE/UnB:

QUESTÃO 1

Leia o texto abaixo, que se refere ao Tribunal de Contas de Portugal.

A Constituição da República Portuguesa de 1976 incluiu o Tribunal de Contas no elenco dos Tribunais, qualificando-o como órgão de soberania – a par do presidente da República, da Assembleia da República e do governo.

Definido como verdadeiro tribunal, a ele se aplicam os princípios gerais constitucionalmente estabelecidos para os tribunais, dos quais se destacam:

• O princípio da independência e da exclusiva sujeição à lei;• O direito à coadjuvação das outras entidades;• Os princípios da fundamentação, da obrigatoriedade e da prevalência das

decisões;• O princípio da publicidade.

Garantia essencial da independência do Tribunal de Contas é a independência do seu presidente e de seus juízes, que por isso está necessariamente abrangida pela proteção constitucional daquela.

O princípio da independência dos juízes determina não apenas a sua inamovibilidade e irresponsabilidade, mas, igualmente, a sua liberdade perante quaisquer ordens e instruções das demais autoridades e, bem assim, a definição de um regime adequado de designação, com garantias de isenção e imparcialidade que evitem o preenchimento do quadro da magistratura deste tribunal, tal como dos restantes, de acordo com os interesses do governo ou da administração.

Definido como “o órgão supremo de fiscalização da legalidade das despesas públicas e de julgamento das contas que a lei mandar submeter-lhe”, o legislador constituinte elegeu o Tribunal de Contas à categoria de tribunal especializado, de natureza financeira, profundamente diferente das demais categorias de tribunais em matéria de competências.

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Na verdade, a Constituição realça que o Tribunal de Contas não tem apenas funções jurisdicionais, mas igualmente funções de outra natureza, nomeadamente “dar parecer sobre a Conta Geral do Estado”. Além do mais, a sua competência constitucionalmente fixada pode ser ampliada por via de lei, dispondo expressamente a Constituição neste sentido.

Em conclusão, o Tribunal de Contas é, estrutural e funcionalmente, um tribunal, mais propriamente, um tribunal financeiro, um órgão de soberania, um órgão constitucional do Estado, independente, não inserido na administração pública, em particular, no Estado/Administração.

O Tribunal de Contas na Atualidade.Internet: <www.tcontas.pt> (com adaptações).

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, discorra, de forma fundamentada e de acordo com a Constituição Federal brasileira, sobre os seguintes aspectos:

• natureza jurídica do TCU; • relação entre o TCU e o Poder Legislativo; • eventual vinculação hierárquica da Corte de Contas com o Congresso Nacional.

QUESTÃO 1

O Tribunal de Contas da União é um órgão administrativo da União Federal, de estatura constitucional. Apesar de não se assemelhar aos tribunais do Poder Judiciário em uma série de aspectos, a Constituição o criou com traços que permitem sua comparação àqueles. O TCU não recebeu atribuições jurisdicionais em sentido estrito, e suas decisões não fazem coisa julgada em sua acepção tradicional. Entretanto, na sua esfera de atuação, pode apreciar a constitucionalidade de leis e atos, por meio do controle incidental, além de julgar as contas, a gestão e o uso do dinheiro público de origem federal por parte dos responsáveis.

O TCU não integra o Poder Legislativo. A Constituição indica, como órgão desse Poder, apenas as casas legislativas. E é a Constituição também que traça as relações entre o TCU e o Legislativo. Este é o titular do controle externo da administração, mas o TCU recebeu da Carta Maior uma série de atribuições no sentido de auxiliar o cumprimento dessa função de controle. Assim, qualquer relacionamento entre o Legislativo e o TCU passa pela divisão estabelecida constitucionalmente. Obviamente, não se desejou um total seccionamento entre as duas estruturas: por exemplo, a maioria dos integrantes do TCU é escolhida pelo Legislativo.

Deduz-se disso que não há relação hierárquica entre o TCU e o Congresso Nacional. Aquele cumpre uma função técnica-legal de suporte ao controle político-legal deste último. Exemplifica esse fato a impossibilidade de avocação de atribuições ou mesmo determinações simples, como assinar prazo para o TCU emitir algum ato.

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Aspectos Macroestruturais Valor Nota

1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens, paragrafação)

0,00 a 1,00 1,00

2. Desenvolvimento do tema

2.1. Natureza jurídica do TCU 0,00 a 3,00 3,00

2.2. Relação entre o TCU e o Poder Legislativo 0,00 a 3,00 3,00

2.3. Eventual vinculação hierárquica da Corte de Contas com o Congresso Nacional

0,00 a 3,00 3,00

Nota do conteúdo 10,00

Número de linhas efetivamente escritas no original 23

Número de erros 0

Nota na discursiva – Questão 1 10,00 QUESTÃO 2

Maria, servidora pública federal, requereu a concessão do benefício de aposentadoria pelo regime próprio, o qual lhe foi concedido por força da Portaria n. X, de 5 de março de 2003, pela autoridade competente do órgão no qual estava lotada. Remetido o processo administrativo para o Tribunal de Contas da União, este, sem intimar Maria a se manifestar, entendeu que ela não preenchia os requisitos para aposentar-se, pelo que negou o registro e determinou ao órgão, em 6 de maio de 2008, o retorno de Maria ao serviço.

Com base nessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às indagações a seguir:

• Houve nulidade na decisão proferida pelo TCU diante da inexistência de intimação para se promover a defesa de Maria?

• Qual seria o órgão judicial competente para julgar eventual mandado de segurança a ser impetrado por Maria?

• Há prazo decadencial para que a administração anule o ato contido na Portaria n. X?

Candidato 1

No caso em tela, que trata da concessão inicial de aposentadoria à servidora pública federal, não houve nulidade na decisão do TCU em negar o registro do ato em virtude da não intimação da servidora para que se manifestasse. O Supremo Tribunal Federal já pacificou a questão ao editar a Súmula Vinculante n. 3: nos casos de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, não se observam o contraditório e a ampla defesa nos processos perante o TCU.

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Caso a servidora não se resignasse com a decisão, o órgão competente para que a mesma impetrasse mandado de segurança seria o STF, por expressa disposição constitucional a respeito das decisões do TCU.

O ato que concede aposentadoria é complexo, o que significa a necessidade de mais que uma declaração de vontade, por órgãos distintos, para seu aperfeiçoamento. Na situação retratada, tais declarações de vontade são a portaria do órgão de lotação da servidora e o registro pelo TCU. Até a manifestação do TCU, não há que se falar em decadência, pois o ato não foi aperfeiçoado. O prazo decadencial para a anulação do ato complexo pela administração começa a correr após essa condição.

Aspectos Macroestruturais Valor Nota

1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens, paragrafação)

0,00 a 1,00 1,00

2. Desenvolvimento do tema

2.1. Existência, ou não, de nulidade na decisão proferida pelo TCU diante da inexistência de intimação para se promover a defesa de Maria

0,00 a 3,00 2,40

2.2. Órgão judicial competente para julgar eventual mandado de segurança a ser impetrado por Maria

0,00 a 3,00 2,40

2.3. Existência, ou não, de prazo decadencial para que a administração anule o ato contido na Portaria n. X

0,00 a 3,00 2,40

Nota do conteúdo 8,2

Número de linhas efetivamente escritas no original 15

Número de erros 3

Nota na discursiva – Questão 2 8,00

Além desses recortes, é importante assinalar que, na prova para o Ministério Público da União, em 2010, realizado pelo CESPE/UnB, houve uma inovação que merece atenção por parte dos candidatos. Na prova discursiva de nível médio, o tema apresentado é da atualidade, mas o recorte é técnico, conforme podemos ver a seguir.

Texto Motivador

Os atrasos na criação e na aprovação de projetos de infraestrutura e a falta de planejamento para a Copa do Mundo de 2014 estão preocupando os membros do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva. Segundo um dos representantes regionais dessa organização, esses atrasos podem gerar prejuízos de tempo e de dinheiro, visto que as obras e os serviços tenderão a ficar mais caros.

Internet: <www.atarde.com.br> (com adaptações).

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Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO (ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL) PARA O SUCESSO DA REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL

Ao ler o tema, é fácil constatar que, se o pano de fundo é a Copa do Mundo de 2014, o foco é o planejamento sob os três enfoques desejados pelo examinador. Ora, se o candidato não dominasse o conteúdo específico do item 16, do edital de abertura do concurso, dificilmente conseguiria fazer a prova.

Observa-se, portanto, que, mesmo em concursos de nível médio, o desenvolvimento do tema estaria vinculado ao recorte técnico e não ao de temas abertos, de natureza geral, como poderia ocorrer caso a Banca tivesse optado por, digamos, A Copa do Mundo: desafios e possibilidades.

Candidata 1 – Com retoques

O Brasil, como sede da copa do mundo de 2014, precisa planejar adequadamente a realização desse evento para que a infraestrutura necessária esteja disponível nos prazos determinados pela Federação Internacional de Futebol – FIFA. Além disso, o planejamento nos níveis estratégico, tático e operacional evita a ocorrência de problemas decorrentes de atrasos e garante o sucesso desse evento esportivo.

O planejamento estratégico deve ficar a cargo do governo federal, porque exige um plano traçado pela alta cúpula governamental, por meio de objetivos estratégicos e de execução em longo prazo. Com isso, poderão ser criados planos e programas de maior abrangência, como os referentes à segurança e estruturação dos sistemas de transportes.

Os Estados devem ser responsáveis pelo planejamento tático, cuja aplicação deve ser em médio prazo e pressupõe o desdobramento dos objetivos estratégicos. Um exemplo seria a elaboração de projetos de ampliação ou reformas dos aeroportos das cidades sedes. E, em nível operacional, em curto prazo, a execução específica de cada projeto.

Esse desdobramento do planejamento permite a prevenção ou correção de problemas durante a execução que podem ser tanto de ordem técnica quanto financeira. Ambos geram atrasos e prejuízos ao país, por isso devem ser evitados a fim de cumprir os prazos de entrega das obras e não causar gastos excessivos ou imprevistos, lesando o erário.

Assim, um adequado planejamento permitirá a disponibilização, nos prazos determinados, da infraestrutura exigida por esse grande evento esportivo. Isso consequentemente atrairá mais turistas e gerará maior crescimento ao país. Além disso, proporcionará maior credibilidade internacional ao Brasil e servirá, inclusive, como apoio para a realização de outro grande evento esportivo: as Olimpíadas de 2016.

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Provas Discursivas: Estratégias

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Aspectos Macroestruturais Valor Notas1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às

margens, paragrafação)0,00 a 1,00 1,00

2. Desenvolvimento do tema2.1. Importância do planejamento estratégico para o sucesso da

realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil0,00 a 3,00 3,00

2.2. Importância do planejamento tático para o sucesso do evento

0,00 a 3,00 2,40

2.3. Importância do planejamento operacional para o sucesso do evento

0,00 a 3,00 1,80

Nota do conteúdo 8,20Número de linhas efetivamente preenchidas no original 27Números de erros 3Nota final da prova discursiva 7,98

Candidata 2

A notícia de que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada no Brasil provocou muito alvoroço e entusiasmo entre os brasileiros. Mas muitos, ao pensar na alegria da festa, não se lembraram do enorme trabalho que o pa-ís terá para se colocar em condições para atender a tamanha demanda que esse evento traz com ele.

Considerando a grandiosidade de uma Copa do Mundo e as inúmeras áreas no país que precisam de investimentos, faz-se necessário um planejamento estratégico bem elaborado, que identifique os pontos fracos e os pontos fortes do país e possibilite que o direcionamento dos recursos seja feito de forma proporcional à real necessidade de cada região.

O planejamento é importante também para que o Governo possa priorizar o atendimento de causas mais urgentes, a exemplo da segurança, ou que precisem de mais tempo para serem executados, a exemplo das obras de infraestrutura.

Um planejamento bem feito minimiza os riscos, à medida que envolve ações de controle e avaliação contínua da execução, além de evitar desperdício de tempo e de dinheiro.

Ações planejadas têm muito mais chance de alcançarem o sucesso esperado. Então, para que a festa da Copa do Mundo de 2014 seja motivo de alegria e orgulho para o Brasil, todo o trabalho intenso que o país vai ter daqui até lá deve ser bem planejado e, com isso, executado com segurança.

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Aspectos Macroestruturais Valor Notas

1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens, paragrafação)

0,00 a 1,00 1,00

2. Desenvolvimento do tema

2.1. Importância do planejamento estratégico para o sucesso da realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil

0,00 a 3,00 1,80

2.2. Importância do planejamento tático para o sucesso do evento

0,00 a 3,00 3,00

2.3. Importância do planejamento operacional para o sucesso do evento

0,00 a 3,00 3,00

Nota do conteúdo 8,80

Número de linhas efetivamente preenchidas no original 24

Números de erros 1

Nota final da prova discursiva 8,72 É importante entender que, em última instância, esses novos feitios de prova

discursiva se reportam ao texto dissertativo argumentativo, que continua presente em muitos concursos e na maioria dos vestibulares realizados no Brasil. Por isso, precisamos responder a duas questões: o que caracteriza o texto dissertativo argumentativo? E como essas características se fazem presentes nos textos argumentativos de natureza técnico-administrativa.

Dissertar, em sentido amplo, significa discorrer sobre determinado tema, e, assim, engloba não só a modalidade da argumentação, mas também a exposição, a narração e a descrição. Ao contrário dos textos expositivos, que apresentam uma série de dados e informações para o leitor fazer juízo de valor, sem a influência do autor da matéria, o texto argumentativo defende ponto de vista explícito, uma tese ou posicionamento, acerca de determinado tema.

Tomando a imprensa como referência, podemos dizer que as notícias, de modo geral, estão no campo do texto expositivo, porque oferecem ao leitor diversas informações sobre determinado episódio ou acontecimento do cotidiano. Trata-se do texto jornalístico no sentido amplo, mas, se paginarmos os jornais e revistas ou até mesmo ouvirmos as redes de notícias e os telejornais, vamos ver os artigos de opiniões, em que um especialista oferece o seu ponto de vista acerca de determinado tema.

Nas provas de concursos públicos que pedem uma dissertação argumentativa – sobretudo nos vestibulares – a tarefa é semelhante: a Banca oferece um tema aos candidatos e espera que estes defendam um ponto de vista por meio de argumentos. Todavia, há uma diferença importante em relação às colunas de opinião dos jornais, porque, nos concursos, existem textos motivadores que delimitam o tema e precisam ser levados em consideração, mesmo se a Banca diz para o candidato considerá-los unicamente motivadores.

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Como já comentamos, quando há textos motivadores, as dissertações devem ser elaboradas como um exercício de escrita a partir de um exercício de leitura, porque os textos motivadores ou de apoio têm o papel de contextualizar o tema e não devem ser ignorados.

Compreendido esse contexto e o foco central do tema, devemos ter em mente que, ao elaborarmos as dissertações argumentativas em geral, deveremos defender um ponto de vista diante de determinado questionamento, ou seja, elaborar um texto opinativo.

IV – Onde colocar o posicionamento no texto argumentativo?

Com frequência, diversos candidatos perguntam se o posicionamento do texto dissertativo argumentativo deve ser colocado na introdução ou se pode vir na conclusão, ou seja, se tanto faz o texto ser dedutivo ou indutivo. Para responder a esse questionamento, devemos compreender a teoria, mas também adotar determinados procedimentos na prática.

Na escola, aprendemos, desde cedo, que há dois tipos básicos de raciocínio científico, quais sejam, o dedutivo e o indutivo. Este parte de elementos específicos para chegar a uma generalização – TESE – ao final, na conclusão; aquele apresenta uma generalização – TESE – na introdução, seguida de conjunto de argumentos, ou seja, o indutivo parte do específico para o geral, e o dedutivo do geral para o específico.

Se verificarmos nos jornais e revistas, vamos encontrar as duas modalidades, embora o texto dedutivo seja mais frequente que o indutivo, talvez em razão da forma como pensamos no mundo ocidental. Entretanto, em termos de concursos públicos, é melhor empregar apenas a modalidade dedutiva, isto é, o candidato deve apresentar posicionamento claro na introdução do texto.

Isso se justifica por duas razões, a saber: primeiro, algumas planilhas de correção costumam trazer, no primeiro item de Estrutura Textual Dissertativa, o critério Introdução Adequada ao Tema/Posicionamento. Ora, esse critério indica que a expectativa da Banca é pela apresentação da TESE logo de início, talvez porque haja o desejo de se verificar a capacidade crítica do candidato em relação ao tema proposto; segundo, a indução costuma ser mais difícil para se construir, porque o leitor/examinador tem mais probabilidade de discordar da argumentação apresentada.

Aos meus alunos digo sempre: EM CONCURSOS PÚBLICOS, PREFIRA UTILIZAR A MODALIDADE DEDUTIVA. Isso porque, ao longo de mais de dez anos acompanhando vestibulares e concursos, raras vezes, vi um texto indutivo ser bem acolhido pela Banca. Portanto, tese/posicionamento na introdução para tranquilizar o examinador e demonstrar a capacidade de o candidato emitir juízo de valor sobre o tema proposto.

Além disso, é uma boa estratégia pensar no que chamamos, à falta de melhor nome, tripé de argumentação. Por outras palavras, se o candidato se posiciona em favor da redução da idade penal, por exemplo, deve pensar em dois argumentos de sustentação da tese, que precisam ser ligados a esta por meio de conectivos lógicos, tais como porque, para que, de acordo com o que etc.

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Outra estratégia interessante, para facilitar a confecção do texto, como mencionamos anteriormente, é transformar o tema proposto pela Banca numa pergunta e pensar em como se posicionar para respondê-la, isso, é claro, se o tema já não for uma pergunta, o que facilita bastante a vida do candidato, sobretudo se a questão implicar em posicionamento favorável ou desfavorável.

A partir do momento em que temos o tema transformado em uma pergunta, podemos organizar o pensamento e construir parágrafos, com base em noções do que gostaríamos de dizer. Essa estratégia é fundamental quando transcendemos para os textos argumentativos de natureza técnico-administrativa, porque a resposta do candidato é praticamente vinculada ao entendimento predominante sobre a questão que lhe é apresentada pela Banca.

Ao contrário dos temas de sentido mais amplo, a redução da idade penal, a importância da Lei da Ficha Limpa, entre outros, os temas mais técnicos oferecem aos candidatos uma única forma de tratar a questão. São argumentativos, mas centrados no entendimento da doutrina, da jurisprudência, do conhecimento técnico e científico, dos quais o servidor não pode se arredar no trato da coisa pública.

V – Exemplos de Dissertação Argumentativa de Natureza Técnica

CESPE – MPU – ENGENHEIRO ELÉTRICO/PERITO

Nesta prova, faça o que se pede, usando o espaço para rascunho indicado no presente caderno. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não serão avaliados fragmentos de texto escritos em locais indevidos. Será desconsiderado, também, qualquer fragmento de texto que ultrapassar a extensão máxima de linhas disponibilizadas.

Na FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, único documento que servirá de base para a avaliação da Prova Discursiva, escreva com letra legível e respeite rigorosamente as margens. No caso de erro, risque, com um traço simples, a palavra, frase, trecho ou o sinal gráfico e escreva em seguida o respectivo substituto. Atenção: parênteses não podem ser usados para tal finalidade.

Uma empresa contratou determinado especialista para que, auxiliado por equipe técnica profissional, elaborasse laudo acerca das condições de temperatura e de volume de som de certo ambiente de trabalho nas instalações da empresa. A encomenda da avaliação foi motivada por reclamações dos funcionários que trabalham nesse ambiente, segundo os quais a temperatura e o volume de som no local estariam supostamente muito acima dos níveis permitidos em lei. Após prévia avaliação da área em questão, e preocupado em fundamentar seu laudo em dados técnicos suficientes, o especialista solicitou à equipe técnica que realizasse medidas da variação de temperatura e volume de som no ambiente ao longo de um dia de trabalho típico. Os dados resultantes dessas medidas, por recomendação do especialista, deveriam ser transpostos para formato digital e gravados em um computador para processamento e interpretação posteriores.

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O especialista dispunha de equipamentos adequados para efetuar essas medidas e a temperatura e o som eram disponibilizados por esses equipamentos na forma de sinal analógico, sendo a digitalização necessária para que o computador possa realizar a leitura desses dados. Havia, ainda, a placa com conversor analógico/digital, adequadamente conectada ao computador ou nele instalada.

Considerando a situação hipotética apresentada acima, redija um texto dissertativo acerca dos procedimentos que o especialista deve seguir para realizar a medição de temperatura e som como dados digitais e para gravar esses dados. Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

• a necessidade ou não de circuitos para a conversão do nível (por exemplo, necessidade de ganho ou compatibilização de nível DC) dos sinais analógicos nos equipamentos de medida para o nível de entrada adequado do conversor analógico/digital;

• as características relevantes do conversor analógico/digital utilizado, especialmente o número de bits e a taxa de amostragem, e os efeitos dessas características nas medidas, mencionando uma forma de se evitar o chamado aliasing;

• o tipo de software que pode ser usado para controlar o sistema de medição.

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO (MPU) 2010 — Concurso Público para provimento de cargos e formação de cadastro de reserva para as carreiras de Analista e de técnico do MPU

ESPELHO DA AVALIAÇÁO DA PROVA DISCURSIVA

Candidato XXXCargo: 16 – Analista de Engenharia Elétrica/Perito

DISCURSIVA – CARGO 16: ANALISTA DE ENGENHARIA ELÉTRICA/PERITO

ASPECTOS MACROESTRUTURAIS

Quesitos Avaliados Valor Nota1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade,

respeito às margens e indicação de parágrafos) 0,00 a 1,00 1,00

2. Desenvolvimento do tema2.1 Necessidade de circuitos para a conversão do nível

dos sinais analógicos nos equipamentos de medida para o nível de entrada adequado do conversor analógico/digital

0,00 a 4,00 4,00

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Quesitos Avaliados Valor Nota2.2 Características relevantes do conversor analógico/

digital utilizado como número de bits e taxa de amostragem, por exemplo, e os efeitos dessas características nas medidas, mencionando formas de se evitar o chamado aliasing

0,00 a 3,00 3,00

2.3 Tipo de software que pode ser usado para controlar o sistema de medição e algoritmo de controle apropriado, com descrição sucinta

0,00 a 2,00 1,60

ASPECTOS MICROESTRUTURAIS

Tipo deLinha→

0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3

Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0

Grafia / Acentuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Morfossintaxe . . . 1 . . . . . . . . . . . . . . . 1 . . . 1 . 1 . . . .

Propriedade vocabular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

RESULTADONota no conteúdo (NC = soma das notas obtidas em

cada quesito) 9,60

Número total de linhas efetivamente escritas (TL) 30Número de erros (NE) 4

NOTA NA DISCURSIVA – CARGO 16: ANALISTA DE ENGENHARIA ELÉTRICA/PERITO 9,33

NOTA FINAL NA PROVA DISCURSIVA 9,33

Candidato 1

Para realizar a medição de temperatura e de som como dados digitais e gravar esses dados, conforme a situação em questão, é necessário a utilização e o ajuste dos seguintes itens: sensores e transistores; filtros e amplificadores; conversor analógico/ digital; e o software no computador.

Primeiramente, os sensores e transistores têm que ser adequados para o pondo de operação, a amplitude e a frequência dos estímulos físicos que se quer medir – o som e a temperatura. Logo após, os sinais analógicos captados devem passar por filtros para retirar e atenuar ruídos e perturbações.

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Só então, usa-se amplificadores e outros dispositivos para deixar os sinais na faixa de operação (range), no intervalo de operação (“span”) e no nível DC compatíveis do conversor analógico/digital, que está na sequência.

Este conversor deve apresentar características suficientes para poder captar os sinais analógicos e transformá-los em bites, seja numa sequência serial ou em paralelo. Quanto maior o número bits para representar sinais digitais, melhor será a precisão da medição e menor a faixa de erro instrumental. Também é muito importante que a frequência de amostragem utilizada seja duas vezes maior do que a frequência mais alta dos sinais que se deseja converter para evitar o efeito de degradação conhecido como “aliaring”. Essa é a conhecida frequência de Nyguirt.

Por fim, o software que está instalado no computador que recebe os sinais digitais pode guardar os dados em tempo real ou armazenar temporariamente em um “buffer” para gravar em segmentos. Os dados recebidos dos sinais digitais podem ser armazenados em sua forma bruta para serem convertidos nas variáveis físicas desejadas posteriormente, ou já serem processados e convertidos antes de serem gravados. Deve-se garantir que a variável lógica do software que manipula os dados tenha precisão suficiente para não descaracterizar a medição captada em forma de sinal digital.

Esses são os procedimentos mínimos para que se possa realizar a medição da temperatura e do som sem erros e com qualidade suficiente para se atingir o objetivo proposto na situação hipotética.

CONCURSO PARA ANALISTA JUDICIÁRIO, ÁREA ADMINISTRATIVA, STJ – 2004

PROVA DISCURSIVA

“A resposta à criminalidade entre os adultos é dada pelo direito penal, que privilegia a aplicação de penas privativas de liberdade e prisão. Essa sistemática tem por resultado a superlotação carcerária, um saldo exorbitante de mandados de prisão não cumpridos e um índice de reincidência criminal de 65%. Isso leva a crer que o encarceramento é medida ineficaz, extremamente dispendiosa e pouco inteligente no combate à criminalidade.

Caso essa sistemática seja estendida aos adolescentes, em provável decorrência da redução da idade penal, haverá a ampliação do contingente de pessoas sujeitas ao sistema carcerário, provocando o consequente agravamento da carência de vagas e a superlotação nas prisões. Essa situação poderá incentivar ainda mais o avanço da criminalidade, pelo descrédito a que a Justiça está exposta.

Quando devidamente implementado, o sistema educativo proposto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, ao contrário do sistema prisional, dá ensejo à efetiva recuperação dos jovens infratores, inclusive daqueles, responsáveis por infrações gravíssimas – homicídio e latrocínio –, o que pode resultar em um índice de reincidência

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inferior a 10%. Isso porque se propõe a oferecer, durante o prazo em que o adolescente estiver internado, educação escolar e profissionalização, inseridas em um projeto de atendimento pedagógico e psicológico adequado à sua condição de pessoa em desenvolvimento e voltado à sua reinserção social.”

Cleide de Oliveira Lemos – “Reduzir a Idade Penal é a Solução”, in: UnB Revista dezembro 2003 – março de 2004, página 19, com adaptações.

Considerando o tema do texto acima e o do 1º texto da prova objetiva de Conhecimentos Básicos, redija um texto dissertativo posicionando-se acerca da seguinte questão:

A REDUÇÃO DA IDADE PENAL É A SOLUÇÃO PARA DESVIOS DE CONDUTA DE ADOLESCENTES INFRATORES?

Ao ler o texto motivador da prova discursiva – e o da prova objetiva também – , você vai perceber que a candidata tinha dois desafios ao elaborar a dissertação: as ideias apresentadas no motivador eram, de modo geral, contrárias à redução da idade penal e esgotavam quase todos os argumentos em relação ao tema, ou seja, era preciso cuidado redobrado para pensar algo de novo e evitar a paráfrase ampliada ou a mera repetição das ideias apresentadas no texto motivador, caso o desejo fosse se posicionar contra a redução.

Se desejasse falar em favor da redução da idade penal, o candidato deveria encontrar argumentos fortes o suficiente para se contraporem às inúmeras ideias desfavoráveis à redução da idade penal. Nesse sentido, poderia argumentar que, se o jovem de hoje é amadurecido para assumir a responsabilidade civil de votar, por exemplo, deveria ser consciente das responsabilidades no caso de cometer um crime.

Candidata 2 – com nota máxima – Redação com retoques

A redução da idade penal não é a solução para desvios de conduta de adolescentes infratores, uma vez que a ineficácia do encarceramento já restou comprovada. O problema será solucionado com a inclusão social do jovem por meio de acesso à educação, à cultura e ao lazer, o que lhe proporcionará, no futuro, trabalho digno e, no presente, distanciamento das drogas e do cometimento de atos infracionais.

O sistema penal, adotado no Brasil, não tem surtido efeitos positivos na redução da criminalidade dos adultos e a sua extensão aos jovens também não surtirá. Importa implementar políticas básicas que atenuem a exclusão social de crianças e jovens e não buscar a diminuição da idade penal, sob pena de os problemas atuais persistirem.

Haverá inserção social quando a sociedade brasileira se despir dos preconceitos existentes em relação às crianças e adolescentes menos favorecidos. A constatação de que o cometimento de atos infracionais por

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adolescentes reside na ausência de possibilidades melhores na infância, possibilitará a mudança desse quadro, com a tomada de medidas propiciadoras dos direitos básicos assegurados às crianças e adolescentes na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

A diminuição da exclusão social e o implemento das diretrizes existentes no Estatuto da Criança e do Adolescente trarão os resultados almejados pela coletividade sem que seja necessária a adoção de medidas drásticas, como a redução da maioridade penal. Assegurará, ainda, o desenvolvimento sadio de crianças e adolescentes, os quais, só então, estarão aptos a exercer a cidadania.

CESPE – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA – 2007

Nesta prova, que vale dez pontos, faça o que se pede, usando os espaços indicados no presente caderno para rascunho. Em seguida, transcreva o texto para a FOLHA DE TEXTO DEFINITIVO DA PROVA DISCURSIVA, no local apropriado, pois não será avaliado fragmento de texto escrito em local indevido.

• Qualquer fragmento de texto além da extensão máxima de trinta linhas será desconsiderado.

• Na folha de texto definitivo, identifique-se apenas no cabeçalho da primeira página, pois não será avaliado texto que tenha qualquer assinatura ou marca identificadora fora do local apropriado.

Diversos dispositivos da Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/1967) foram suspensos, em caráter liminar, pelo relator da ação de arguição de descumprimento de preceito fundamental ajuizada, no Supremo Tribunal Federal, pelo PDT. Na ação, o advogado e deputado Miro Teixeira pedia a revogação da lei, em sua totalidade, por ter sido “imposta à sociedade pela ditadura militar” e conter “dispositivos totalmente incompatíveis com o estado democrático de direito estabelecido pela atual Carta”. O ministro Ayres Britto deferiu parcialmente a liminar, para determinar que juízes e tribunais suspendam o andamento de processos e os efeitos de decisões judiciais ou de qualquer outra medida que versem sobre determinados artigos e incisos da Lei de Imprensa. Os mais importantes são os que se referem às penas nos crimes de calúnia, injúria e difamação, que são maiores, na lei de 1967, do que no Código Penal.

Jornal do Brasil, 22.02.2008, p. A6 (com adaptações).

Constituição Federal de 1988

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

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§1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5.º, IV, V, X, XIII e XIV.

Art. 5º[...]IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização

por dano material, moral ou à imagem.

Considerando que os textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo a respeito do tema a seguir.

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Em seu texto, aborde, sintética e necessariamente, os seguintes tópicos: • Carta de 1988 como marco jurídico-político da redemocratização brasileira;• Papel do Poder Judiciário em face das demandas da sociedade e dos demais

poderes;• Liberdade como fundamento da democracia.

Candidata 3

A Constituição Federal de 1988 traz garantia aos direitos individuais e coletivos da sociedade brasileira e destaca o princípio da proporcionalidade, em que é possível mostrar como por exemplo a liberdade de manifestação do pensamento e o dever de identificação do seu autor. Isso mostra a responsabilidade por eventuais danos que a divulgação de determinadas informações possa vir a causar a uma pessoa, seja ela natural ou jurídica.

Quando o poder constituinte originário, representante do povo brasileiro, elaborou a Constituição Federal de 1988, marcou-se a transição de um antigo regime político ditatorial para o estabelecimento do estado democrático de direito. As leis anteriores que não contrariassem a nova Carta poderiam ser recepcionadas por ela, contudo, normas contrárias deixariam de ser aplicadas.

Encontra-se em julgamento no Supremo Tribunal Federal uma ação de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona a incompatibilidade de dispositivos da Lei de Imprensa, de 1967, com o disposto na atual Constituição Federal. Alguns dispositivos da lei determinam penas maiores que o Código Penal aos crimes de calúnia, difamação e injúria. A ação não foi concluída, no entanto, foi deferida liminar para suspender a aplicação de alguns desses dispositivos. Isso porque

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o Judiciário tem o papel de solucionar os conflitos a ele apresentados, dentro dos parâmetros da razoabilidade, com o fim de preservar os direitos individuais e sociais sem invadir os poderes da esfera legislativa.

A liberdade de informação é um dos direitos garantidos constitucionalmente e não pode sofrer restrição. Se uma manifestação de pensamento causar dano a alguém, quem a produziu deverá responsabilizar-se por isso. Mas o direito de expressar ideias e informações não pode ser reprimido, pois é origem de conhecimento aos cidadãos e fruto da democracia.

Aspectos Macroestruturais Valor Nota

1. Apresentação e estrutura textual (legibilidade, respeito às margens, paragrafação)

0,00 a 2,00 2,00

2. Domínio do conteúdo

2.1. O contexto político em que a Lei de Imprensa entrou em vigor

0,00 a 2,00 1,60

2.2. A Carta de 1988 como marco jurídico-político da redemocratização brasileira pós-1985

0,00 a 2,00 1,60

2.3. O papel do Judiciário em face das demandas da sociedade e dos demais Poderes

0,00 a 2,00 1,60

2.4. A liberdade como fundamento da democracia 0,00 a 2,00 1,60

Nota do conteúdo 8,00

Número de linhas efetivamente preenchidas no original 30

Números de erros 00

Nota final da prova discursiva 8,00

Como você pode observar, o primeiro item da planilha de correção não aparecia no comando da prova, o que foi objeto de recursos, inclusive pela candidata em tela, porque não seria possível deduzir a intenção do examinador para que o candidato tratasse o contexto no qual fora aprovada a lei de imprensa.

Vale ressaltar, conforme observamos anteriormente, que os candidatos não podem ignorar os textos motivadores, porque estes têm o objetivo de delimitar o tema, direcionar a discussão. À época do concurso, ouvi muita gente dizendo que, como os textos deveriam ser considerados como unicamente motivadores, fizeram o tema centrado na liberdade e na responsabilidade no Estado Democrático de Direito, em sentido amplo.

Para nós, o caminho era outro, porquanto os textos motivadores direcionam a discussão para a liberdade e a responsabilidade da imprensa. Tanto é que o primeiro item da planilha de correção cobra essa percepção do candidato ao falar da Lei de Imprensa. Todavia, não entendemos justo cobrar do candidato que falasse do contexto político do surgimento dessa lei, porque não há elementos no comando da prova para se chegar a esse entendimento.

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PERITO CRIMINAL PF 2004 – CESPE/UNB

TEXTOS MOTIVADORES

As portas foram abertas e as invasões, os roubos e as agressões diminuíram. Pelo menos em educação, essa afirmação não soa contraditória. Números do governo do estado de São Paulo mostram que um programa que permite a utilização das escolas nos fins de semana pela comunidade fez cair os índices de violência.

As mais significativas reduções foram registradas nos meses de janeiro e fevereiro, período das férias escolares. Este ano, mesmo nessa época, havia atividades nos fins de semana em escolas estaduais. A diminuição nos casos de violência foi de 56% e de 33%, em cada mês. “Uma escola com pouco diálogo com a comunidade vira um símbolo de dominação. As depredações e invasões muitas vezes são motivadas por essa rejeição”, diz a educadora da Universidade de São Paulo, Silvia Colello.

Internet: www.jcsol.com.br (com adaptações)

Os aterradores números da violência no Rio entre 1983 e 1994, em pesquisa do ISER, são apontados como sendo resultantes de diversos fatores, tais como as perdas econômicas da década de 80, o agravamento das diferenças sociais no ambiente urbano (com a expansão das favelas), a crise dos serviços públicos e o início do aumento da população jovem que forma, justamente, o grupo mais exposto aos riscos da violência.

No entanto, houve uma queda de 35% nos últimos 6 anos. A partir da segunda metade dos anos noventa, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes declina ininterruptamente.

A pesquisa aponta, entre os fatores importantes que contribuíram na diminuição dessa taxa: o surgimento de movimentos sociais proativos, de grande escala, como a Campanha contra a Fome e o Viva Rio, que mobilizaram a cidade para o enfrentamento dos seus problemas; a multiplicação de projetos sociais nos bairros pobres, por ações governamentais e não governamentais, sobretudo para crianças e jovens, na área educacional; e a organização das comunidades por meio de associações de moradores, ONGs, entidades religiosas, beneficentes, culturais e recreativas.

Internet: www.fgvsp.br (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do tema a seguir.

O FORTALECIMENTO DAS REDES DE RELAÇÕES SOCIAIS COMO FORMA DE REDUÇÃO DA VIOLÊNCIA URBANA

Candidato 4

No contexto contemporâneo, a questão da violência urbana tem sido intensamente debatida por diversos setores da sociedade. A desigualdade

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social apontada como um dos principais problemas, além de acentuar os preconceitos sociais, favorece a desagregação dos núcleos familiares, primeira fonte de formação moral do cidadão.

Experiências comunitárias de caráter educacional, desenvolvidas nas periferias de grandes cidades brasileiras, têm contribuído de modo significativo para a redução dos índices de violência nessas áreas, pois, além de ocuparem e formarem jovens, fortalecem as relações sociais ao envolver as comunidades na busca por alternativas.

Os resultados mostram que a mobilização social é uma das maneiras mais efetivas para reduzir não só a desigualdade existente no Brasil, como, também, a violência urbana, cujo alvo principal é o jovem. Projetos comunitários que envolvem agentes locais e colaboradores externos com vistas à criação de espaços culturais e esportivos nas comunidades carentes contribuem para a redução dos índices de violência e ratificam a importância das redes sociais.

A participação comunitária promove também o resgate dos cidadãos desacreditados da existência de meios para viver em harmonia nas comunidades onde estão inseridos. A valorização da experiência individual de toda e qualquer pessoa humana é incentivo à elaboração de ferramenta essencial para o crescimento coletivo.

Desse contexto, pode-se inferir que o combate à violência urbana não é responsabilidade exclusiva de entidades governamentais, contudo essas precisam oferecer serviços de qualidade como forma de reduzir os problemas da desigualdade e proporcionar as mesmas condições de acesso. O desafio é mudar a relação de interesses e consolidar as redes de relações sociais de modo a promover o fim da violência.

Itens avaliados Valor Nota1. Apresentação textual (legibilidade, respeito às margens

e indicação de parágrafos) 0,00 a 0,50 0,50

2. Estrutura textual e desenvolvimento do tema2.1. Objetividade frente ao tema / posicionamento 0,00 a 1,25 1,252.2. Seleção/articulação dos argumentos 0,00 a 1,25 1,252.3. Progressividade textual / consistência da argumentação 0,00 a 1,00 0,752.4. Coesão e coerência 0,00 a 1,00 0,75Nota no conteúdo 4,50Número de linhas efetivamente preenchidas no original 27Total de erros 1Nota da prova discursiva 4,43

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I – O Parágrafo

O parágrafo deve ser visto como um texto breve, gerado a partir de uma ideia central, tópico-frasal, que se desenvolve por meio de relações lógicas pertencentes à coordenação e à subordinação, de forma semelhante ao que fazemos na geração de períodos. Ora, se numa dissertação para a área de urbanismo, para o Governo do Distrito Federal, por exemplo, determinado candidato lançasse a seguinte ideia como tópico-frasal:

Nas últimas duas décadas, o Distrito Federal teve uma expansão urbana sem o devido controle das autoridades públicas.

Nada mais natural que se explicasse como isso ocorreu e as implicações dessa expansão, mais ou menos, assim.

Apesar das flagrantes ocupações de áreas públicas pertencentes tanto à União quanto ao Distrito Federal, por grileiros que lançavam loteamentos e parcelamentos irregulares, nunca houve uma ação efetiva do Estado para frear esse processo de expansão. Hoje, centenas de famílias lutam pela regularização dos lotes e, sobretudo em áreas de proteção ambiental, correm o risco de verem os imóveis demolidos.

Observe que o parágrafo foi gerado a partir de uma indagação implícita, como se caracteriza o processo de expansão urbana no Distrito Federal nas últimas duas décadas? Como resposta, apresenta-se a descrição do processo de ocupação urbana, a postura do GDF e a consequência disso.

A estratégia básica para a construção de parágrafos é fazer uma afirmação ou negação logo no início e desenvolvê-la por meio de causa, efeito, finalidade, adversidade, entre outras categorias lógicas. Quando lançamos uma ideia para desenvolvê-la, em seguida, utilizamos a modalidade dedutiva de raciocínio, mas é possível proceder do particular para o geral, ou seja, construir o parágrafo de forma indutiva.

2ª PartEESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO

DE PARÁGRAFOS

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A título de exercício, poderíamos inverter o parágrafo apresentado como exemplo anteriormente:

Apesar das flagrantes ocupações de áreas públicas pertencentes tanto à União quanto ao Distrito Federal, por grileiros que lançavam loteamentos e parcelamentos irregulares, nunca houve uma ação efetiva do Estado para frear esse processo de expansão. Hoje, centenas de família lutam pela regularização dos lotes e, sobretudo em áreas de proteção ambiental, correm o risco de verem os imóveis demolidos. Nas últimas duas décadas, portanto, o Distrito Federal teve uma expansão urbana sem o devido controle das autoridades públicas.

Outros dois questionamentos importantes sobre o parágrafo são quanto ao número ideal de linhas e ao momento exato de mudar de parágrafo.

Como já dissemos, o parágrafo é um texto curto e, como tal, deve conter introdução, desenvolvimento e, se possível, uma conclusão. Portanto, salvo em casos específicos, como o do parágrafo acima, com duas linhas e de transição entre assuntos, fica difícil pensar em produzir um parágrafo com menos de quatro ou cinco linhas, porque, com número menor, teríamos apenas o tópico-frasal e nada mais.

É claro que, nas provas de natureza técnica, sobretudo quando o examinador pede um número considerável de itens, é possível ter parágrafos bem curtos, o tamanho suficiente para cumprir o item demandado pelo examinador. Mesmo assim, é válido, para evitar parágrafos curtos demais, agregar dois tópicos em parágrafo único.

Nós ouvimos, ao longo de nossas vidas, que mudamos de parágrafo quando mudamos de tópico, o que é verdade. Entretanto, quando temos um tópico longo demais, nada mais natural, do que dividi-lo em dois ou até três parágrafos, como forma de facilitar a leitura e não cansar o examinador.

Vale lembrar que, no contexto técnico de hoje, o número de linhas do parágrafo está diretamente relacionado com o conteúdo exigido pela Banca. Se há poucos itens, podemos ter menor número de parágrafos com maior número de linhas; se há muitos itens, tendemos a elaborar mais parágrafos com menos número de linhas.

De qualquer forma, o candidato deve procurar treinar bastante antes da prova para estabilizar o número de linhas dos parágrafos e evitar perda de tempo na hora do concurso. O segredo é ganhar em desempenho por meio de estratégias bem definidas e claras.

II – Estratégias de Construção de Parágrafos

Na verdade, assim como os textos, os parágrafos são gerados a partir de declarações que indiretamente respondem a indagações de natureza argumentativa ou expositiva. Por isso, com o intuito de treinar o raciocínio a ser utilizado na formulação lógica da principal unidade textual, trazemos abaixo uma série de parágrafos ilustrativos todos construídos a partir de estratégias de perguntas.

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Vale observar e fazer um acervo dos verbos e conectivos lógicos utilizados em cada parágrafo, porque essa percepção ajuda a entendermos como os períodos e parágrafos nascem no papel. Na verdade, os parágrafos a seguir poderiam ter a estrutura lógica de construção aproveitada em diferentes contextos, desde que o desejo fosse expressar algumas das relações exemplificadas.

Vejam que cada tipo de parágrafo é gerado a partir de uma noção, que, na essência, é genérica e aplicável a qualquer contexto em que seja possível duplicar a mesma estrutura lógica de pensamento. Afinal, nós podemos concordar com diversos pontos de vista e discordar de outros tantos, por exemplo, ou comentar determinado relato, ou, ainda, apresentar as condições para que determinado evento ocorra.

Se os alunos se exercitarem produzindo diferentes parágrafos baseados nas concepções exemplificadas, aumentarão muito a destreza na construção dos parágrafos, que devem servir como um ponto de partida. Com o tempo, a tendência é os alunos abandonarem os modelos, porque a destreza do pensamento já não torna estes necessários.

1. Concordar com um ponto de vista, explicando o porquê ou a possível consequência ou a causa

A redução da idade penal deve ser adotada no Brasil, porque é uma forma de coibir a delinquência juvenil e reduzir o crescente número de crimes cometidos por adolescente. Se isso não for feito, estes continuarão a matar sem piedade, porque não são alcançados pela lei como os adultos. Não importa a gravidade do crime, depois de, no máximo, três anos internados, de acordo com a legislação em vigor, estarão soltos para praticar novos crimes.

O sistema de cotas para negros e afrodescendentes para acesso ao ensino superior nas universidades públicas brasileiras deve ser adotado, porque se trata de uma forma de reparação dos prejuízos sofridos durante a escravidão. Depois de libertos, os escravos não desfrutaram de qualquer sistema de inclusão social e, ao longo da história, foram sempre forçados a aceitar trabalhos de menor qualificação, porque não tiveram a proteção do Estado para se desenvolverem intelectualmente em pé de igualdade com os demais segmentos da população.

Encontrar o amigo de todas as horas tem-se tornado cada vez mais difícil no mundo de hoje, porque a competitividade e a luta por um lugar ao sol fazem com que as pessoas sejam fechadas e, muitas vezes, individualistas. Por isso, é preciso avaliar bem a pessoa antes de se desabafar ou tê-la como verdadeira amiga.

A tramitação do projeto de lei em apreço iniciou-se de forma correta e conforme o processo legislativo assentado na Constituição Federal. De fato, o Presidente da

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República é parte legítima para não só apresentar projeto de lei em matéria educacional, mas também para solicitar a tramitação em urgência. Esta, de acordo com os dados apresentados ocorreu de acordo com os prazos previstos.

2. Discordar de um ponto de vista justificando ou apresentando argumento contrário

A redução da idade penal não deve ser adotada no Brasil, porque o sistema de encarceramento tem-se mostrado ineficaz na recuperação do detento e na reintegração deste à sociedade. Inserir os delinquentes no atual sistema prisional seria apenas introduzi-los na escola do crime em que se transformaram as penitenciárias brasileiras. Se agir dessa forma, o Estado apenas confirmará a incapacidade de acudir milhares de jovens que, na maioria das vezes, acabam por delinquir em razão da falta de oportunidades para o pleno desenvolvimento intelectual.

O mundo não conseguiu atingir o ideal da paz duradoura. No entanto, a ONU, os organismos internacionais e todas as nações devem continuar a lutar por esse objetivo, como forma de evitar outra guerra mundial e, ao menos, garantir a paz relativa no mundo. Esse esforço deve ser feito, também, para dirimir os conflitos regionais nos diversos continentes, que ceifam inúmeras vidas a cada ano.

A proposição em exame revela flagrantes vícios de inconstitucionalidade, de natureza tanto formal quanto material. De um lado, não poderia o nobre parlamentar oferecer à apreciação da Casa projeto aumentando o salário dos servidores da Câmara Legislativa, porque esta matéria é de iniciativa da Mesa Diretora. Ademais, de acordo com o ordenamento jurídico em vigor, ainda que fosse vencido o vício de iniciativa, a natureza da proposição, Projeto de Resolução, é inadequada ao escopo, porquanto deveria ser um Projeto de Lei.

3. Apresentar exemplo e discuti-lo demonstrando finalidade ou consequência

O conceito de saúde defendido pela OMS é um bom exemplo de que não adianta gastar horas em academias malhando o corpo se a mente não anda bem. Para estar saudável, o indivíduo precisa preocupar-se com a forma física e com a alimentação, mas é necessário, também, ampliar as relações interpessoais, cultivar uma atitude positiva em relação à vida.

O acidente com a plataforma “Deep Water Horizon” demonstrou que a tecnologia disponível hoje ainda não está preparada para lidar com um acidente em profundidade tão grande, como a em que a BP retirava petróleo no Golfo do México. Isso deve servir de exemplo para os técnicos da nova Petrosal, que pretende explorar a camada do Pré-Sal, bem mais profunda e com rochas cujo comportamento ainda é pouco conhecido.

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A proposta de aumento do IOF para as compras realizadas com cartão de crédito no exterior é um claro exemplo de que o governo está em busca de novas fontes de receitas para custear o Estado, pesado e faminto. No lugar de promover a melhoria dos gastos públicos e acabar com o aparelhamento político por meio da redução de comissionados, a Presidente da República mostra-se propensa a fazer cortes no orçamento e a criar novas fontes de receita. Nesse sentido, deve vir por aí a CPMF travestida de CSS ou outro nome que o valha.

4. Apresentar dados (estatísticos ou não) e comentá-los, tirando conclusões

Quando se verifica o número de crimes em Brasília, é fácil concluir que a cidade tem-se tornando cada vez mais violenta em razão do crescimento desordenado e de inúmeros bolsões de pobreza no Distrito Federal e no entorno. Hoje em dia, sair às ruas da Capital da Esperança, sobretudo à noite, pode significar risco de ser assaltado, sequestrado ou assassinado.

As pesquisas apresentadas recentemente pelo Ministério da Saúde demonstram que boa parte dos brasileiros continuam a não usar preservativos nas relações sexuais. Esse descuido coloca em xeque o resultado nas inúmeras campanhas publicitárias sobre o assunto e abre espaço para o aumento da contaminação pelo vírus HIV e para transmissão de outras DSTs.

A redução do crescimento da indústria no último semestre de 2010 pode ser um mau sinal, o de que o Brasil se encontra diante da ameaça da síndrome holandesa: a desindustrialização. Já passamos da hora de reduzir a carga tributária brasileira para diminuir o custo Brasil e tornar os nossos produtos mais competitivos. Além de enfrentar a baixa do dólar, os empresários precisam superar toda sorte de burocracia, taxas e imposto, que juntos chegam a 40%, a maior carga do planeta.

5. Apresentar um relato e lançar hipóteses para comentá-lo

É verdade que inúmeras pessoas dizem ter visto discos-voadores ou mantido contato com seres extraterrestres, mas ninguém, até hoje, conseguiu mostrar prova concreta desses episódios. Assim, a humanidade continua ansiosa para saber se está, ou não, sozinha no Universo.

Diversas pessoas obesas não conseguem vencer a balança mesmo quando submetidas a dietas restritivas. Isso demonstra que o aumento de peso, além de estar

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associado a fatores genéticos, depende do metabolismo de cada um, do quanto se gasta em termos de calorias por dia. Os homens levam vantagem na perda de peso, porque têm metabolismo basal mais alto que as mulheres.

6. Comentar um depoimento e lançar hipótese para explicá-lo ou refutá-lo

O pensamento de Cícero demonstra que sempre valerá a pena viver se houver felicidade. Isso não depende da idade de cada um, mas da atitude em relação à própria vida. Inúmeros idosos conservam a alegria de viver até o último momento enquanto alguns jovens se desesperam e perdem a alegria no submundo das drogas.

O relato do adolescente de 17 anos, apreendido após prestar um depoimento que mudou os rumos da investigação sobre o assassinato de Eliza Samúdio, ex-amante do goleiro Bruno do Flamengo, se confirmado, demonstra a que ponto pode chegar a crueldade e a torpeza humana. Nada poderá justificar a forma brutal como provavelmente a jovem foi morta.

7. Referir-se a exemplos e compará-los com outros

O acidente com o Airbus da TAM em Congonhas foi semelhante a outro ocorrido no aeroporto de Taipei, em Taiwan. Neste não houve perdas de vidas, porque a aeronave parou na área de escape, mas naquele o avião da TAM se choca contra edifícios do lado de fora do aeroporto e mata 199 pessoas, no pior desastre aéreo já registrado no Brasil.

A ofensiva terrestre da Otan contra a Iugoslávia não teria sido tão fácil quanto à da Guerra do Golfo contra o Iraque. Ao contrário do Deserto, que não oferece abrigos naturais ou esconderijos ao inimigo, os Bálcãs são montanhosos e favoreceriam à guerrilha e às emboscadas. Assim, no caso iugoslavo, a ofensiva poderia ter significado inúmeras baixas às forças aliadas.

8. Apresentar as condições para que determinado ponto de vista seja verdadeiro ou determinada ação ocorra

Se o desejo do Governo for acabar com a miséria que atinge milhares de brasileiros, será preciso investimento maciço na área social. A curto prazo, isso significa, criar frentes de trabalho urbanas e programas de cestas básicas; que garantam a sobrevivência com dignidade mínima. A médio e longo prazo, será preciso oferecer bolsas de estudo e auxílio para que as famílias mantenham os filhos na escola e vislumbrem a perspectiva de relativa ascensão social.

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Para alcançar a condição de país desenvolvido, o Brasil, a exemplo de outras nações, como a Irlanda e a Espanha, precisará fazer uma verdadeira revolução na área educacional e tratá-la como uma questão de Estado. A qualidade do ensino é baixa e sem qualquer condição de preparar os jovens para o competitivo mercado de trabalho na sociedade do conhecimento.

III – AS FUNÇÕES DE CADA UMA DAS PARTES DO TEXTO

A Introdução

Quase todos nós já ouvimos falar que um texto deve conter introdução, desenvolvimento e conclusão, mas a função de cada uma dessas partes nem sempre fica clara. Quando precisamos produzir um texto, muitas vezes, não sabemos por onde começar e como começar ou aonde queremos chegar e como terminar.

Observe os diversos textos em jornais e revistas e você vai ver que cada um deles se inicia de um modo diferente. Há um denominador comum entre eles, porque, independentemente do autor e da paragrafação adotada, as primeiras linhas dos textos destinam-se a situar o leitor em relação ao tema a ser tratado e a apresentar a informação principal, no caso da modalidade expositiva, ou a tese, na modalidade argumentativa. Além disso, costuma-se mostrar os eixos de construção do desenvolvimento do texto nessas primeiras linhas, que, na maioria dos textos, constituem um parágrafo: a introdução.

Há uma diferença, entretanto, ao se construir a introdução do texto argumentativo se comparada à do texto expositivo, embora não se possam separar as duas modalidades de forma absoluta. No texto expositivo, o candidato deve enumerar os aspectos principais a serem tratados no desenvolvimento, porque a Banca tem a expectativa de que, lançada uma pergunta, os candidatos tratem de cada um dos pontos selecionados, demonstrando conhecer o conteúdo.

No caso do TCU, por exemplo, se a pergunta versa sobre as diversas modalidades de licitação e as respectivas aplicações, espera-se que, na introdução, o candidato assinale quais são as modalidades, para, no desenvolvimento, mostrar a aplicabilidade de cada uma delas. Trata-se de um roteiro do texto, mas, dependendo do número de itens solicitados pela Banca e do número de linhas disponíveis, é possível que o primeiro item faça o papel de introdução; os seguintes, de desenvolvimento e o último, de conclusão; como se o candidato respondesse um questionário.

Na modalidade argumentativa, o procedimento é diferente, porque a introdução deverá demonstrar que o aluno foi capaz de compreender os textos motivadores escolhidos como pontos de referência para a análise e delimitação do tema. Assim, a introdução deve direcionar a tese para o contexto em análise, que emerge da síntese das ideias principais dos textos motivadores. Isso não significa transcrevê-las, mas retomar as palavras-chave para contextualizar o tema.

Em seguida, o candidato deve posicionar-se a respeito do assunto e apresentar dois argumentos de sustentação, ou seja, fazer um triângulo de argumentação. Essa

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percepção é fundamental, porque, se a introdução for bem produzida, ficará mais fácil fazer o desenvolvimento do texto, já que este retoma os argumentos de sustentação do posicionamento, para expandi-los por meio de novas relações lógicas.

Costumamos dizer aos nossos alunos que, diante de um tema sobre a eficácia da redução da idade penal como mecanismo eficaz para coibir a delinquência infantojuvenil, o candidato pode concordar e apresentar dois ou três argumentos de sustentação da sua tese. Todavia pode discordar e apresentar um argumento, para depois sugerir outra solução e sustentá-la com mais dois argumentos. O importante é criar um triângulo de argumentação, para expandi-lo no desenvolvimento.

Em concurso realizado em 2002, para os cargos de agente e escrivão de Polícia Federal, respectivamente, a Banca ofereceu dois temas sobre a violência, mas contextualizados de forma diferente. O primeiro era “o combate à violência deve ser feito com imparcialidade e respeito ao ser humano”. Nos textos motivadores, o candidato encontrava um comentário sobre o comportamento da sociedade em relação à figura do vagabundo... do trabalhador que não deu certo, do criminoso em potencial... pessoas... mais sujeitas à perseguição e à punição; e um excerto da Constituição sobre a igualdade de todos perante a lei e a vedação da tortura. Por outras palavras, era necessário discutir o tema considerando esse cotejo entre a lei e o comportamento social.

O segundo tema, para escrivão, era “a violência tem várias causas e modifica os costumes da sociedade”. Nos motivadores, o candidato encontrava dois comentários, um sobre a sociedade que estimula o desejo de ter por meio do consumo, mas, na qual, uma enorme massa de excluídos dribla a fome diariamente, e grades nas casas e policiais nas ruas não resolvem o problema da violência; e outro sobre o comportamento das últimas décadas nas grandes cidades, onde as pessoas abandonam a rua como espaço de convivência e lazer e se confinam em espaços fechados, privados e seguros. Embora a palavra-chave dos dois temas seja violência, a tese do candidato deve ser direcionada a contextos bem diferentes.

Além da tese, é importante para o candidato apresentar os dois argumentos principais de sustentação, a serem trabalhados no corpo do texto – triângulo de argumentação. Quando o candidato se lembra de um fato, um episódio ou uma citação adequada ao tema, pode empregá-la como forma de trazer o leitor para dentro do texto, antes de lançar a tese e os argumentos de sustentação. Para falar da miséria no Brasil, nada melhor que começar um texto descrevendo a vida de uma família que vive numa palafita, por exemplo.

Em diversas universidades e concursos, no lugar de apresentar o tema da redação por meio de textos motivadores, coloca-se apenas uma frase, “Um robô em Marte”, por exemplo. Assim, a introdução deverá delimitar o enfoque da redação, que pode variar bastante, de acordo com a bagagem intelectual de cada candidato. Uma vantagem do tema apresentado na forma de frase é que há pouca probabilidade de fuga ao assunto.

Outro ponto fundamental, no novo contexto das provas de natureza técnica, é compreender que nem sempre será possível fazer uma introdução formal do texto, sobretudo quando o examinador apresenta um número muito grande de itens a serem trabalhados, ou traz reduzido número de linhas para se elaborar respostas a três perguntas, por exemplo. Neste caso, entendemos melhor ir direto ao ponto, como se o candidato respondesse a um questionário, porque precisamos compatibilizar o espaço disponível com o conteúdo da questão.

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Todavia, se o número de linhas for suficiente, e a introdução não roubar espaço essencial ao desenvolvimento dos itens propostos pelo examinador, recomendamos a confecção de uma introdução formal, como fez a candidata à ANAC ao tratar dos mecanismos de planejamento orçamentário e financeiro.

O Desenvolvimento

O desenvolvimento é a parte mais importante do texto, porque, no seu bojo, o candidato vai expandir e explorar as ideias ou argumentos que dão sustentação à perspectiva adotada para a análise do tema, ou seja, vai retomar o triângulo de sustentação para expandi-lo com novas relações lógicas. Nesse sentido, deve-se lembrar que um texto bem desenvolvido – com a média de linhas a serem escritas nos vestibulares e concursos, entre 20 e 30 – apresenta dois ou três argumentos ou ideias sobre o tema. Os argumentos ou ideias devem ser desenvolvidos em dois ou três parágrafos, respectivamente, por meio de circunstâncias de causa, efeito, finalidade, como verificamos ao tratar das tipologias de parágrafos.

Na prática, pode-se dizer que cada ideia do triângulo de argumentação dará origem ao tópico-frasal de um parágrafo. Este, por sua vez, será desenvolvido com a apresentação de argumentos que deem sustentação à ideia apresentada. Por outras palavras, se o candidato declara algo no tópico-frasal de um determinado parágrafo, supõe-se que, a seguir, serão colocados diversos argumentos capazes de sustentar a declaração inicial. Supõe-se, também, que, ao final do parágrafo, o leitor terá compreendido o ponto de vista defendido, em razão dos desdobramentos lógicos, evidenciados pelas conjunções e outras formas de conectivos lógicos, capazes de desenvolver o pensamento.

O caminho para o desenvolvimento do texto expositivo e argumentativo é semelhante, porque, em ambos, o candidato se vale das relações lógicas do pensamento. Se, no texto expositivo, basta relatar e apresentar informações para o leitor, no argumentativo, trabalharemos mais no campo das hipóteses explicativas, da causa, do efeito, da finalidade, do juízo de valor acerca das ideias, validando ou refutando, ou, ainda, ponderando pontos de vista.

Se defendermos a tese de que a penitenciária não recupera o preso, porque não há infraestrutura, o que resulta em alto índice de reincidência, a expectativa do leitor é encontrar, no corpo do texto, o desenvolvimento desses dois aspectos, quais sejam, a falta de estrutura e a reincidência. Na prática, o desenvolvimento do tema, sobretudo em textos de 20 a 30 linhas, significa expandir os dois ou três argumentos de sustentação da tese, apresentados na introdução.

Vejamos os textos motivadores da prova elaborada pelo CESPE/UnB, em 2000, para Titular de Serviços Notariais e de Registros:

Texto 1

A etnologia leva o historiador a dar relevo a determinadas estruturas sociais mais ou menos obliteradas nas sociedades “históricas” e a complicar a sua visão da dinâmica social, da luta de classes. A família e as estruturas de parentesco podem, por exemplo,

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conduzir a uma nova periodização da História segundo a evolução das estruturas familiares. O estudo etnológico da linhagem e da comunidade, da família ampla e da família estrita, deve renovar as bases dos estudos comparativos entre ontem e hoje.

Na conversão ao interesse pelo homem cotidiano, a etnologia histórica conduz naturalmente ao estudo das mentalidades, consideradas como “aquilo que menos muda” na evolução histórica. Assim, no seio das sociedades industriais, o arcaísmo explode quando se perscruta a psicologia e o comportamento coletivo.

Essa nova visão propõe ao historiador uma nova documentação, diferente daquela a que está habituado. O etnólogo não despreza o documento escrito, pelo contrário. Mas ele encontra-o tão raramente que os seus métodos tendem a permitir que, na sua falta, passe sem ele.

Jacques Le Goff. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no ocidente.

Portugal: Editorial Estampa, p. 317 e 321.

Texto 2

As novas gerações de historiadores começaram a se deter sobre o particular, sobre o detalhe, procurando mostrar o significado de fenômenos aparentemente sem importância. A análise dos processos lentos e dos aspectos rituais da sociedade ganhou destaque: modos de pensar e de sentir, crenças, comportamentos cotidianos deixaram de ser vistos como curiosidades e passaram a ter ressaltado o seu poder explicativo.

Laura Mello e Souza. Texto introdutório a vida e morte do bandeirante, da Alcântara Machado. In: Intérpretes do Brasil,

volume 1, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, p. 1191-2 (com adaptações)

Texto 3

Reduzir o estudo do passado à biografia dos homens ilustres e à narrativa dos feitos retumbantes seria absurdo tão desmedido como circunscrever a Geografia ao estudo das montanhas. Conflitos externos, querelas de facções, atos de governo estão longe de constituir a verdadeira trama da vida nacional. Não passam de incidentes: e, o que é mais, são o produto de um sem-número de fatores ocultos que os condicionaram e explicam.

Não é frívola curiosidade que nos leva a inquirir onde moravam os nossos maiores, a maneira por que se alimentavam e vestiam, de que tiravam os meios de subsistência, a concepção que tinham do destino humano. Tudo isso facilita o entendimento do que fizeram ou deixaram de fazer.

Vazada nesses moldes, a História perderá talvez um pouco de seu aparato. Mas ganhará decerto em clareza e verdade. [...]

Só os linhagistas, gente de paciência e tenacidade insignes, se atreviam a exumar os inventários do limbo dos cartórios, afrontando a poeira e a fauna dos arquivos. Parecia mesmo que para outra coisa não serviam os autos centenários, senão para a formação das árvores genealógicas do nosso patriarcado.

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Redondo engano. A documentação encerra subsídios inestimáveis para a determinação da época, do roteiro e da composição de muitas “entradas”. Constitui também generoso manancial de notícias relativas à organização da família, vida íntima, economia e cultura dos povoadores e seus descendentes imediatos.

Alcântara Machado. Vida e morte do bandeirante. In: Intérpretes do Brasil, volume 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 1209-10 (com adaptações)

Considerando que as ideias apresentadas nos textos da prova objetiva de Língua Portuguesa e nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se a respeito do tema a seguir:

OS DOCUMENTOS OFICIAIS SÃO FONTES DE PESQUISA HISTÓRICA

Se pararmos para refletir sobre o tema e os textos motivadores apresentados no concurso para tabelião, em 2000, por exemplo, veremos que há uma relação dialética entre eles. O tema diz: “os documentos oficiais são fonte de pesquisa histórica”, mas os motivadores mostram diversas outras fontes, tais como a etnologia, os hábitos, os costumes, a família e os acervos dos cartórios, além de apontarem para o risco de se reduzir o estudo do passado à biografia dos homens ilustres.

Há, portanto, de forma implícita, um questionamento a ser respondido pelo candidato em relação às fontes a serem utilizadas na pesquisa histórica, o que permite diferentes posicionamentos. Podem-se oferecer explicações para os riscos de o pesquisador se ater apenas aos documentos oficiais, sobretudo quando se considera o poder do Estado; pode-se reconhecer o papel das novas fontes de pesquisa, mas ressaltar a importância dos documentos oficiais, em razão da forma como são preservados e da correlação com as ações do Estado.

É fundamental perceber que, apresentado o posicionamento e os argumentos de sustentação, na introdução, a tarefa do candidato será expandi-los no corpo da dissertação, por meio de relações de causa, efeito, finalidade, entre outras. O desenvolvimento do texto não é uma sucessão de ideias novas, mas um processo de desdobramento lógico, em que se conectam não só os períodos, mas os parágrafos entre si. De modo bastante prático, o desenvolvimento expande as ideias lançadas na introdução, em um processo de reforço sistemático do ponto de vista defendido pelo candidato.

A esse respeito, cabe lembrar a importância de vermos, em cada parágrafo do desenvolvimento, a conectividade dos argumentos lançados com a tese. Alguns candidatos fazem introduções boas, mas se esquecem de expandir os argumentos de sustentação e acabam por cometer grave erro de coerência. Portanto, tente se colocar na posição do examinador e veja como é fundamental perceber a capacidade de o candidato desdobrar os argumentos, como se criasse, em torno do posicionamento, uma rede que se abre gradativamente a cada parágrafo.

Mais uma vez, é preciso cautela diante dos textos de natureza técnica, porque o desenvolvimento emerge da proposta do examinador. O candidato não pode escrever sobre o conteúdo de forma livre, na expectativa de que a Banca encontre no texto apresentado cada um dos itens mencionados no comando da prova. O caminho, como já

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observamos anteriormente, é montar um questionário a partir do comando e respondê-lo na sequência proposta, de forma objetiva e sistêmica. Lembre-se de que o roteiro amarra o texto e vincula a dissertação aos aspectos de natureza técnica e jurídica.

Vejam a prova do concurso de Analista Legislativo do Senado, 2008. Em ambas as partes, tanto a que tratava da classificação da Carta de 1988 quanto a referente ao processo legislativo tinham um roteiro de desenvolvimento bastante amarrado às questões lançadas direta e indiretamente pelo examinador. Ou o candidato seguia de forma rigorosa a sequência proposta, ou perdia pontos preciosos no desenvolvimento do texto.

A Conclusão

A conclusão, por sua vez, funciona como arremate do texto. Nesse ponto, pode-se apresentar a solução para o problema analisado, compará-lo com problema semelhante ou reforçar os pontos de vista apresentados no desenvolvimento do texto. Comparando a revolução genética deste final de século com a revolução nuclear da primeira metade, por exemplo, poderíamos mostrar que elas guardam certa semelhança, pois ambas trouxeram esperanças e temores à humanidade e dependem da forma como o homem as utilizará.

Poderíamos dizer também: a clonagem pode significar a cura de diversas doenças genéticas e garantir ao homem longevidade maior, desde que a pesquisa se paute pela ética e respeito ao ser humano. Com a energia nuclear não é diferente, porque ela possibilitou a criação da terapia de radioisótopos, mas trouxe o pavor da guerra nuclear e, agora, de acidentes. Embora seja possível terminar o texto com uma indagação, como forma de manter a discussão em aberto, essa técnica não costuma ser bem acolhida pelas Bancas.

No texto expositivo, não há uma proposta de solução a ser ofertada e o texto termina à medida que o candidato cumpre a tarefa de tratar de cada um dos temas. Como arremate, no caso de uma prova para analista de controle externo, por exemplo, vale retomar a correlação entre as modalidades de licitação e a finalidade de cada uma delas ou reforçar as características de cada um dos itens abordados no desenvolvimento.

Mais uma vez, o candidato deve ter muito cuidado com o comando e o número de itens propostos pelo examinador, porque, numa prova de 30 linhas, se tirarmos 5 para a introdução e mais 5 para a conclusão, restam apenas 20 para o desenvolvimento. Assim, é possível nos vermos com uma bela conclusão, mas um desenvolvimento ruim diante da falta de espaço para descer aos pormenores exigidos pela Banca. Em provas de natureza técnica, é preciso bom senso para julgar se haverá, ou não, uma conclusão formal, ou se a resposta ao último item lançado pelo examinador fará esse papel, antecedido por uma expressão de natureza conclusiva: “por fim”; “finalmente”, “cabe tratar ainda da”.

Nos relatórios e pareceres, também é possível estabelecer um fluxo de construção textual em cada uma das partes, que pode servir para o candidato desenvolver espécie de máscara, muito útil em certames com esse tipo de texto. Por outras palavras, embora o conteúdo de cada relatório e parecer seja específico, a forma de montar o texto e desenvolvê-lo segue um padrão estabelecido, que deve ser respeitado pelo candidato, se o desejo for lograr aprovação.

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I – ASPECTOS DE NATUREZA MICROESTRUTURAL

Quem se prepara para a etapa discursiva dos concursos públicos, provavelmente, já deve ter ouvido falar nesta frase clássica: o texto precisa ter objetividade, clareza e concisão! Mas o que deve ser feito para obtermos esses três requisitos essenciais dos textos bem escritos permanece, para muitos, uma pergunta com resposta nem sempre clara e precisa, que, vez por outra, descamba para a subjetividade, pela própria dificuldade de explicá-los.

Para nós, a objetividade, a clareza e a concisão decorrem de algumas regras práticas na hora de se colocarem as ideias no papel, como, por exemplo, evitar uma sucessão de frases curtas ou de períodos longos demais, ou, ainda, cair no “queísmo” ou no “gerundismo”. O fato é que precisamos cuidar da forma com a mesma atenção que cuidamos do conteúdo.

É frequente alunos dizerem que sabiam o conteúdo, mas não dominavam a construção frasal de forma adequada e acabaram por perder pontos preciosos, que os retiraram da classificação dentro do número de vagas. Por isso, precisamos reforçar que as provas são corrigidas sobre duas perspectivas, conteúdo e forma, coerência e coesão.

Aliadas a bom conteúdo, balizado por bom plano de redação, as regras práticas podem trazer a satisfação de você conseguir não só passar em determinado concurso, mas também atingir notas acima do patamar médio superior. O objetivo é fazer o examinador ler o texto do princípio a fim sem solavancos ou a necessidade de voltar para entender determinado período ou oração.

As regras práticas são apresentadas e comentadas em textos complementares, com exemplos e exercícios capazes de proporcionar mais segurança e destreza aos alunos na hora de escrever. Mais uma vez, chamamos a atenção para a necessidade de os candidatos ficarem atentos aos verbos e conectivos lógicos, bem como para a lapidação de estilo.

3ª PartEESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO

DE ENUNCIADOS

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II – REGRAS PRÁTICAS PARA OBTERMOS CLAREZA, OBJETIVIDADE E CONCISÃO

1) Procure gerar enunciados de uma pergunta básica: o que desejo afirmar ou negar? Busque o verbo adequado;

2) Procure desenvolver os argumentos por meio dos conectivos lógicos e das conjunções coordenadas e subordinadas;

3) Verifique se o período tem mais de quatro ou cinco linhas. Se isso ocorrer, procure redimensioná-lo, dividindo-o em períodos mais curtos. A cada novo período, não se esqueça de criar a frase declaratória (oração principal ou absoluta, no caso de período simples);

4) Preserve a frase declaratória, ou seja, evite orações intercaladas ou invertidas com mais de dois argumentos, bem como desdobramentos excessivos, com mais de três argumentos;

5) Equilibre o uso de orações absolutas com o de períodos compostos por subordinação e coordenação. Estes, de preferência, devem ser empregados no desenvolvimento do parágrafo e aquelas como tópico-frasal ou conclusão;

6) Prefira a ordem direta (dedução), a frase afirmativa e a voz ativa;

7) Evite frases curtas e soltas no meio do parágrafo;

8) Livre o texto do excesso de que, seu, sua, um, uma, advérbios terminados em mente, e figuras hiperbólicas, tais como, “a mais profunda consciência”;

9) Livre o texto do excesso do uso do gerúndio, sobretudo do sendo que e tendo que. Veja se o gerúndio pode ser substituído por outra relação lógica da coordenação ou subordinação e prefira utilizá-lo na modalidade adverbial.

III – COMENTÁRIOS E EXERCÍCIOS

Regras 1 e 2: Como Gerar Enunciados?

A) Leia o comando abaixo, incluso em prova para a ANAC:

A Lei de Responsabilidade Fiscal compreende um código para os gestores públicos, impondo regras para a execução e o controle do orçamento e das metas fiscais. Há medidas que estimulam os gestores a planejar melhor as ações orçamentárias e financeiras, há medidas de controle para as despesas e há procedimentos para dar transparência à gestão.

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Apresente os principais instrumentos de planejamento orçamentário e financeiro, indicando suas principais características e objetivos.

O primeiro ponto de que gostamos de ensinar aos nossos alunos a respeito de como passar a ideia para o papel reside em raciocínio simples. Se verificarmos as gramáticas, de modo geral, veremos que há, na língua portuguesa – e cremos na maioria das línguas – quatro tipos de frases possíveis: a interrogativa, a imperativa, a exclamativa e a declaratória, ou seja, no processo de externar algum pensamento, o falante pode perguntar algo, dar uma ordem ou comando, exclamar em tom de surpresa ou espanto, e afirmar ou negar algo.

Assim, poderíamos dizer: por que você não veio à aula? (interrogativa); venha a aula de amanhã (imperativa); você não veio à aula ontem! (exclamativa); você não veio à aula ontem (declaratória). Embora as quatro possibilidades existam na língua portuguesa, parece-nos razoável dizer que, na maioria das vezes, empregamos a frase declaratória com mais frequência que as demais, sobretudo nos textos corridos. Se partirmos do pressuposto que a declaratória é uma afirmação ou negação que fazemos a respeito de algum tópico, poderemos dizer que, para começarmos a gerar nossos enunciados, precisamos responder a uma indagação de base: o que queremos afirmar ou negar a respeito de determinada realidade?

Para afirmarmos ou negarmos alguma coisa, será preciso construir um bom acervo verbal, porque apenas o verbo é capaz de nos permitir sair do plano do pensamento para o oracional. Se virmos uma moça, por exemplo, e a acharmos bonita, poderemos pensar: moça => bonita, mas, para externar essa ideia de forma clara para o interlocutor, deveremos encontrar um verbo, no caso de ligação, e produzir o enunciado: a moça é bonita ou aquela moça é bonita, embora o contexto nos permita dizer, sobretudo na modalidade oral: Bonita! Da mesma forma, poderíamos pensar: espécies de decisão do TCU nas prestações e tomadas de contas, mas, para começar a gerar o enunciado da questão, teríamos de dizer: são três as possibilidades de espécie de decisões na prestação e tomadas de contas do TCU, de acordo com a legislação em vigor.

Se você tiver um bom acervo verbal na hora de gerar as declarações de base, terá mais facilidade para escrever trabalhos de qualquer natureza. Procure conceber os enunciados a partir de duas perguntas: o que eu quero afirmar ou negar? Que verbo preciso para isso? Entretanto, todos nós sabemos que os textos não são uma sequência ininterrupta de declarações, porque estas precisam ser desenvolvidas para que os enunciados gerem períodos, e os períodos formem parágrafos e textos.

O passo seguinte, na hora de colocar as ideias no papel, é compreender a atribuição das conjunções no construir dos enunciados. De imediato, precisamos entender que o ser humano, para desenvolver o processo do pensamento, dispõe de uma série de categorias, ou seja, pode estabelecer causa, consequência, oposição, circunstância de tempo e espaço, condição, concessão, entre outras, e que essas categorias do pensamento revelam-se, sobretudo, por meio das conjunções coordenadas e subordinadas e pela construção de orações reduzidas de infinitivo, particípio ou gerúndio. Pegue um trecho qualquer de jornal ou revista e sublinhe os verbos e conjunções; depois, comece a reparar que os autores, em geral, afirmam ou negam alguma coisa, para, a seguir, desdobrar o pensamento por meio das conjunções, ou desdobram o pensamento e depois afirmam alguma coisa. É possível, igualmente, intercalar o desdobramento.

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A Frase Declaratória

Observe os fragmentos abaixo:

Nos comunicados divulgados nos últimos dias...

Há um mês, ...

Na linguagem falada pelo povo, ...

Para conseguir ser campeão, ...

... até que alguém chegasse a completar a volta ao mundo em um balão sem escalas.

... porque pode possibilitar a cura de doenças como o câncer.

Fugindo radicalmente dos padrões convencionais de Hollywood, ...

..., que foi responsável pelo Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial, ...

... de que eles são capazes de reproduzir seres vivos como máquinas xerox. Com medo de ser morto pelo governo norte-americano, ...

Nenhum dos fragmentos acima tem sentido completo, embora tragam importantes informações. Isso ocorre porque existe um requisito fundamental para que qualquer período faça sentido em língua portuguesa – e decerto em todas as línguas –, qual seja, a presença da frase declaratória, que pode ser definida como um enunciado de sentido completo, em que se afirma ou nega alguma coisa.

Cabe ressaltar que, no enunciado “o Governo deseja que a miséria seja erradicada do Brasil”, por exemplo, temos duas orações, mas apenas uma declaração de sentido completo. Adotamos a terminologia frase declaratória, uma vez que o conceito de frase engloba o sentido e o de declaração abrange a sintaxe.

Observe o que ocorre quando agregamos a frase declaratória aos fragmentos anteriores.

Nos comunicados divulgados nos últimos dias, o Governo japonês não tem admitido que o país venha sofrer um holocausto nuclear.

Há um mês, estivemos em Goianésia para dar um curso sobre redação parlamentar, no I Encontro de Assessores Parlamentares do Vale do São Patrício.

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Na linguagem falada pelo povo, é comum dizer que o verdadeiro pai é quem cria, acompanha o rebento desde a hora do nascimento até os primeiros passos.

Aurélio Miguel dedicou-se dia e noite à arte do judô, para conseguir ser campeão.

Foram inúmeras as tentativas até que alguém chegasse a completar a volta ao mundo em um balão sem escalas.

A clonagem é um importante avanço para a medicina, porque pode possibilitar a cura de doenças como o câncer.

Fugindo radicalmente dos padrões convencionais de Hollywood, o Carteiro e o Poeta conseguiu, com sua carga de simplicidade e emoção, transformar-se num dos grandes sucessos de crítica e bilheteria.

Adolf Hitler, ditador alemão, que foi responsável pelo Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial, acreditava na possibilidade de melhorar as raças por meio de cruza genética.

Foi Dolly, uma ovelha de sete meses, que deu aos cientistas a certeza de que eles são capazes de reproduzir seres vivos como máquinas xérox.

Com medo de ser morto pelo governo norte-americano, Saddam Hussein chegou a espalhar diversos sósias em todo o Iraque, mas isso não foi o suficiente para se livrar da morte.

Todos os períodos acima são compostos, ou seja, a frase declaratória combina-se com outras frases que lhe completam o sentido ou apresentam alguma circunstância de tempo, modo, lugar, finalidade, causa, efeito, condição, entre outras relações lógicas.

A Relação Lógica entre as Frases

A relação entre a frase declaratória com as demais frases do período pode ser dividida em duas categorias lógicas, quais sejam: a coordenação e a subordinação. A coordenação ocorre quando uma frase declaratória se agrega a outra frase declaratória. A subordinação ocorre quando o sentido da frase declaratória é completado pela frase a ela subordinada.

A Coordenação

Vamos examinar o período abaixo do ponto de vista lógico:O Brasil participou ativamente da Segunda Guerra Mundial, com efetivos da Força

Expedicionária Brasileira, mas não teve o mesmo envolvimento na Primeira Guerra Mundial.

No período existem duas frases declaratórias: a primeira vai de “O Brasil” até “Brasileira”; e a segunda de “não teve” até “Mundial”. As duas frases se opõem em sentido porque uma diz que o Brasil fez determinada coisa numa circunstância, mas não fez na outra.

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Essa oposição de sentido é que leva as frases a serem unidas pela conjunção adversativa “mas”. Isso quer dizer, também, que, quando desejarmos unir dois argumentos de sentido oposto, deveremos fazê-lo por meio de uma conjunção adversativa. Da mesma forma, quando tivermos dois argumentos que se somam, deveremos uni-los por meio de uma conjunção aditiva, “e”, por exemplo.

Vejamos alguns exemplos desses dois processos típicos da coordenação:

Ideia A – favorável à clonagem.A clonagem pode trazer a cura de diversas doenças.

Ideia B – favorável à clonagem.A clonagem pode possibilitar a geração de órgãos necessários a implantes.

Podemos agora juntar as duas frases em um período aditivo, empregando a conjunção. “e”:

A clonagem pode trazer a cura de diversas doenças e possibilitar a geração de órgãos necessários a implantes.

Mas é plenamente possível empregar outras conjunções ou locuções conjuntivas que desempenham o mesmo papel aditivo:

A clonagem pode não só trazer a cura de diversas doenças, mas também possibilitar a geração de órgãos para transplantes.

Ou ainda:A clonagem pode trazer a cura de diversas doenças. Além disso, pode possibilitar

a geração de órgãos para transplantes.

Agora vejamos alguns exemplos de períodos adversativos:

Ideia A – favorável à clonagem.A clonagem pode possibilitar a cura de diversas doenças.

Ideia B – desfavorável à clonagem.A clonagem pode servir a fins excusos. Podemos agora juntar as duas frases em um período adversativo, empregando a

conjunção “mas” ou outra conjunção adversativa, porém, todavia, contudo, entretanto, senão, no entanto.

A clonagem pode possibilitar a cura de diversas doenças, mas pode servir a fins excusos.

Podemos optar, igualmente, por colocar as duas ideias em períodos diferentes, ainda que mantendo a relação adversativa.

A clonagem pode possibilitar a cura de diversas doenças. No entanto, pode servir a fins excusos.

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Há outras relações lógicas possíveis no campo da coordenação, quais sejam:

a) Alternativa – ou (repetida ou não), ora...ora, quer.... quer, seja... seja, já...já:

Ou a ONU toma uma decisão definitiva em relação ao aquecimento global, ou, em breve, a Terra pode se tornar um planeta insustentável.

b) Conclusivas – logo, portanto, pois ( posposto ao verbo), assim:

A violência e a corrupção têm aumentado no Brasil, portanto é preciso combatê-las com a máxima urgência.

c) Explicativas – porque, que (= porque), pois (anteposto ao verbo), porquanto:

O escândalo da Caixa de Pandora abalou os alicerces da política no Distrito Federal, pois as revelações mostraram relações comprometedoras entre os Poderes Legislativo e Executivo.

A Subordinação

No campo da subordinação, também é possível estabelecer relações lógicas entre as frases, por meio de diversos articuladores. Uma relação muito comum entre duas ideias é a causal. Neste caso, para unir as ideias, deveremos empregar conjunções causais: porque, pois, como (= porque) , que (= porque), porquanto, já que, uma vez que, visto que.

O Brasil poderia ter um desastre de grandes proporções caso houvesse problemas com as usinas nucleares de Angra dos Reis, porque a população local não é costumeiramente treinada para um evento dessa natureza.

A taxa Selic tem aumentado de forma sistemática, já que o novo Governo deseja inibir o consumo para manter a inflação dentro da meta.

Vejamos outras relações lógicas no campo da subordinação:

a) Concessivas – embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, se bem que, por mais que, apesar de que:

Conquanto a energia nuclear seja livre de emissões, os países que a utilizam, inclusive o Brasil, deverão reestudar a implantação de novas usinas diante do acidente no Japão.

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b) Finais – para que, a fim de que:

Aurélio Miguel dedicou-se dia e noite à arte do judô, para conseguir ser campeão.A fim de que se tornassem vencedores numa eventual invasão da Iugoslávia, a

OTAN e os Estados Unidos teriam precisado de três soldados para cada um do exército de Milosevic.

c) Condicionais – se, caso:

Caso não se descubra uma vacina contra a AIDS, nos próximos anos, esta doença continuará avassaladora para a África.

d) Temporais – quando, mal, apenas:

Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, pensou tratar-se de uma ilha.Mal começou a corrida em Ímola, dois pilotos já estavam fora da prova.

e) Consecutivas – tal que, tanto que, tão ou tamanho, de modo que, de forma que, de sorte que:

A superioridade da armada inglesa na Guerra das Malvinas era grande em relação à da Argentina, de modo que, mais cedo ou mais tarde, o conflito teria desfecho favorável aos britânicos.

f) Proporcionais – à medida que, à proporção que, quanto mais ... mais, quanto mais... menos:

À medida que progredimos no curso, vamos ganhando mais segurança para a elaboração das redações.

g) Conformativas – conforme, como, segundo, consoante:

De acordo com a declaração feita pelo administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a eliminação da pobreza é uma proposta viável.

Da mesma forma que foi possível separar as frases coordenadas em períodos diferentes, podemos separar as frases subordinadas.

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Vejamos alguns exemplos:

O Brasil poderá ser campeão da Copa do Mundo de futebol mais uma vez. Isso ocorre porque reúne em seu time muitos dos melhores jogadores do planeta.

É preciso descobrir uma vacina para a AIDS. Caso isso não ocorra, a doença continuará a ser avassaladora para a África.

Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500. Quando isso ocorreu, pensou tratar-se de uma ilha.

Outras Relações Lógicas

Além das relações lógicas e dos articuladores de subordinação vistos acima, há uma categoria que tem papel importante, pois abre um leque de possibilidades para a organização do período. Trata-se da conjunção integrante “que”, empregada para introduzir uma frase subordinada que completa o sentido de um termo da frase declaratória.

Vejamos alguns exemplos:

Adolf Hitler, ditador alemão responsável pelo Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial, acreditava que era possível melhorar as raças por meio de cruza genética.

Quem acredita, acredita em alguma coisa; logo, a frase “que era possível melhorar as raças por meio de cruza genética” completa o sentido do verbo acreditar.

Grande parte dos brasilienses teme que o crescimento da Capital acabe por tornar a violência incontrolável.

Vale a pena consultar a gramática e verificar outras relações lógicas possíveis entre os períodos.

a) Apositiva:

Para quem utiliza a Internet diariamente, uma constatação salta aos olhos: têm aumentado os golpes e crimes praticados por meio da rede mundial.

Adverbial reduzida de gerúndio, infinitivo e particípio:

Fugindo radicalmente dos padrões convencionais de Hollywood, O Carteiro e o Poeta conseguiu, com sua carga de simplicidade e emoção, transformar-se num dos grandes sucessos de crítica e bilheteria dos últimos tempos.

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Adjetiva explicativa e restritiva:

As frases que empregamos foram retiradas de artigos de jornais e revistas.

Pedro Álvares Cabral, que pensava ser o Brasil uma ilha, batizou-o Ilha de Santa Cruz.

Quando conseguimos identificar as relações lógicas de coordenação e subordinação, passamos a ter um importante instrumento, tanto para a leitura e resumo quanto para a produção de textos.

A identificação das frases declaratórias nos textos tornará possível conhecer os principais pontos de vista lançados pelo autor, bem como os argumentos que os sustentam, ou seja, a malha argumentativa do texto. Com base nisso, poderemos construir os resumos, eliminando o que há de acessório e retendo o que há de principal.

No processo de produção textual, poderemos dar vida à nossa tese e argumentos principais construindo frases declaratórias, que se combinam com outras frases numa das relações lógicas acima e formam período e parágrafos. Por outras palavras, saberemos o que queremos dizer e como vamos dizer.

Reflita um pouco sobre os princípios comentados anteriormente e tente aplicá-los neste trecho da prova de uma candidata que obteve nota máxima no concurso da ANAC. Não se esqueça de fazer um acervo de verbos e conectivos, bem como de verificar se existem sinônimos para cada um deles.

Os principais instrumentos de planejamento orçamentários e financeiros dispostos na Constituição Federal do Brasil de 1988 são: Plano Plurianual – PPA; Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO; Lei Orçamentária Anual – LOA, e constituem-se em vigas mestras para a execução e controle do orçamento público, bem como para a transparência à gestão.

O PPA é um plano de execução de médio prazo, elaborado pelo Poder Executivo, no seu primeiro ano de governo, abrangendo os programas, planos, projetos e atividades a serem executadas em um período de quatro anos. Esse projeto é encaminhado ao Legislativo para a aprovação até o dia 31 de agosto. O primeiro exercício do Chefe do Executivo será pautado pelas programações feitas pelo seu antecessor.

A LDO é elaborada anualmente pelo Poder Executivo e encaminhada ao Poder Legislativo para a aprovação até o dia 15 de abril de cada ano. Essa lei mostrará como será a elaboração do orçamento, dando as diretrizes e metas, bem como os contingenciamentos necessários às despesas.

[...]

IV – Texto Complementar

A Musicalidade Textual

Muitos alunos questionam como organizar os períodos de cada parágrafo, ou seja, como obter a musicalidade do texto para que o leitor – e, sobretudo, o examinador – o leia sem solavancos. Um bom caminho, como sugere Othon Moacyr Garcia, em

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Comunicação e Prosa Moderna, é utilizar um período simples para construir o tópico--frasal de um parágrafo, por exemplo, e, em seguida, desenvolvê-lo por meio de dois ou três períodos compostos.

Na construção dos períodos e parágrafos, costumo dizer a meus alunos que, no tópico-frasal de um parágrafo, vale colocar uma oração absoluta: “Pelo menos cinquenta pessoas podem ter sido assassinadas pelas forças do ditador Muamar Kadafi, ontem” (dia 4 de março de 2011). Mas é possível começar e desenvolver o parágrafo com orações que se assemelham a três tipos de passos de dança, a saber: o período com apenas duas orações, que corresponde ao ritmo da dança dos agarradinhos – “cheek to cheek” –, com um passo para lá e outro para cá: “O líder líbio Muamar Kadafi demitiu o enviado do país na ONU, que se voltou contra o regime”.

Apesar de funcionar adequadamente, o período construído com apenas dois argumentos não dá ao texto a desenvoltura que obtemos quando vamos ao tradicional “são dois para lá, dois para cá”, ou à valsa vienense com “um para lá e dois para cá: “De acordo com Martin Nesirky, porta-voz da ONU, o ditador enviou uma carta a Nova Iorque afirmando que não reconhece mais o Embaixador e Ex-Chanceler Abdurrahman Shalgham e o Vice-Embaixador Ibrahim Dabbashi como representantes da Líbia (quatro argumentos – um principal e três secundários); ou “ Rebeldes tomaram importantes cidades no Leste da Líbia, enquanto forças aliadas ao ditador Muamar Kadafi avançaram para o oeste e causaram a morte de mais de sessenta pessoas durante violentos combates, explosões e execuções” (três argumentos – um principal e três secundários).

Se equilibrarmos bem o tamanho dos períodos em nossos textos, teremos mais facilidade de transmitir as ideias ao interlocutor ou ao examinador. Na prática, costumo orientar os alunos para não escreverem períodos com mais de quatro linhas, mas tomarem cuidado para não cair no outro extremo, ou seja, fazer uma sucessão de frases curtas, sem encadeamento ou sem conectivos lógicos.

Para melhorar nessa técnica, sugerimos que você comece a observar os textos de bons articulistas nos jornais de grande circulação ou de renomados escritores para selecionar as construções frasais e, à medida do possível, utilizá-las nos textos que produzimos. A título de exemplo, vamos fazer um exercício com o primeiro parágrafo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que diz:

Algum tempo hesitei se deveria abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria, assim, mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Agora vamos pegar uma ideia totalmente diferente e tentar expressá-la com os mesmos recursos do mestre Machado;

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Algum tempo hesitei se deveria comprar um carro zero ou um seminovo, isto é, se faria uma dívida de longo prazo ou juntaria algumas economias para comprar à vista. Suposto o mais comum neste mundo consumista fosse comprar o carro zero, duas considerações me fizeram tomar decisão diferente: a primeira é que o meu orçamento não comporta mais outra prestação, pois as despesas com escolas e cursos são altas; a segunda é a possibilidade de se comprar um carro seminovo, em boas condições e com baixa quilometragem, por até trinta por cento a menos que o novo. Minha irmã, que adora estar na onda, certamente compraria um carro zero: diferença clara entre mim e ela.

Procure fazer mais desses tipos de exercício e você verá como a sua capacidade de expressão escrita vai melhorar. Nós não podemos reinventar a língua portuguesa, porque o idioma é de domínio coletivo e tem regras de entendimento comum. Entretanto, nós podemos aumentar nossa capacidade de utilizar os recursos de expressão existentes na língua. Para isso, vale a pena visitar os grandes mestres e tentar perceber como eles articulam as ideias no papel.

LÓGICA DA CONSTRUÇÃO DAS FRASES E PERÍODOS

Observe os jornais e revistas e você perceberá que as informações principais

dos textos estão contidas em

QUE

OU

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A COMBINAÇÃO LÓGICA DAS FRASES

A frase declaratória, afirmação ou negação, precisa combinar-se com outras frases por meio de conectivos – argumentos – para ter força e

sustentação. Assim formam-se os períodos, que, por sua vez, formam os parágrafos.

Regras 3 a 7

a) Observe o trecho abaixo, extraído de uma dissertação que obteve nota máxima. Veja se você consegue entender o parágrafo e discuta com o colega ao lado se haveria algo para torná-lo mais claro.

Por serem os documentos oficiais e particulares concernentes às mais importantes relações sociais, como a família, a sucessão e os contratos elaborados em ofícios notariais, devem os tabeliães estar conscientes de que, além de se perfilarem como assessores jurídicos no cumprimento pacífico do direito e como eficazes guardiões da legalidade, cumprem o papel de produtores de valiosas fontes para o estudo e a compreensão futura da história da sociedade de seu tempo.

b) Observe este trecho adaptado com base em notícia publicada sobre a Líbia.

O líder líbio Muamar Kadafi demitiu o enviado da ONU no país. O enviado havia se voltado contra o regime. As Nações Unidas ainda não aceitaram a mudança. De acordo com Martin Nesirky, porta-voz da ONU, o ditador enviou uma carta

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a Nova Iorque. Na carta, afirmava que não reconhece mais o Embaixador e o Ex-Chanceler Adburrahman Shalgham e o Vice--Embaixador Ibrahim Dabbashi como representantes da Líbia. Shalgham e Dabbashi deram apaixonados discursos. Os discursos condenavam Kadafi como um tirano. Os discursos pediam, também, a aplicação de sanções ao regime. Para o lugar do embaixador, Kadafi nomeou Ali Triki. Ali Triki é Ex-Ministro das Relações Exteriores e Ex-Presidente da Assembleia Geral da ONU entre 2009 e 2010.

Comentário: Estilo em Língua Portuguesa

Não poderíamos dizer que há erro de estrutura frasal no primeiro parágrafo – tampouco no segundo –, mas, quando chegamos ao final da leitura de ambos, sentimos uma certa vontade de voltar ao início do texto e relê-los, porque, no primeiro, há muitas ideias em um único período e tendemos a perder o fio da meada.

No segundo parágrafo, por sua vez, há uma sucessão de frases curtas que acabam, também, por dificultar a leitura. Depois do quarto ou quinto período, tendemos a estar cansados da sequência de frases curtas, porque a falta de conectivo e encadeamento lógico das ideias são obstáculos para o entendimento do texto. Portanto, os dois parágrafos revelam dois extremos que precisam ser evitados, tanto o excesso de desdobramentos quanto o de frases curtas.

Mas o que poderia ser feito para equilibrarmos melhor os dois parágrafos? Em primeiro lugar, você deve entender que é plenamente possível transitar da subordinação para a coordenação e da coordenação para a subordinação quando desejamos expressar uma ideia. Assim, podemos reagrupar os períodos, sem perder o núcleo da mensagem. Repare que o primeiro parágrafo começa com uma longa oração invertida reduzida de infinitivo:

“Por serem os documentos oficiais e particulares concernentes às mais importantes relações sociais, como a família, a sucessão e os contratos elaborados em ofícios notariais...”

Não é possível isolar essa oração com um ponto, porque se trata de uma subordinada, mas nós podemos modificá-la retirando os elementos de subordinação e dizer:

“Os documentos oficiais e particulares são concernentes às mais importantes relações sociais, como a família, a sucessão e os contratos elaborados em ofícios notariais.”

Em seguida, podemos deslocar a oração intercalada no período seguinte para o final do parágrafo:

“além de se perfilarem como assessores jurídicos no cumprimento pacífico do direito e como eficazes guardiões da legalidade”;

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“Além disso, perfilam-se como assessores jurídicos no cumprimento pacífico do direito e como eficazes guardiões da legalidade.”

Assim, o parágrafo ficaria dividido em três períodos autônomos:

Os documentos oficiais e particulares são concernentes às mais importantes relações sociais, como a família, a sucessão e os contratos elaborados em ofícios notariais. Devem os tabeliães estar conscientes de que cumprem o papel de produtores de valiosas fontes para o estudo e a compreensão futura da história da sociedade de seu tempo. Além disso, perfilam-se como assessores jurídicos no cumprimento pacífico do direito e como eficazes guardiões da legalidade.

Como retoque final, devemos recuperar o nexo causal entre o primeiro e o segundo períodos e acrescentar a expressão “por isso, no início do segundo período. Para não ficarmos com dois demonstrativos em um único parágrafo, é importante substituir a expressão “além disso” por ademais. Teríamos então:

Os documentos oficiais e particulares são concernentes às mais importantes relações sociais, como a família, a sucessão e os contratos elaborados em ofícios notariais. Por isso, devem os tabeliães estar conscientes de que cumprem o papel de produtores de valiosas fontes para o estudo e a compreensão futura da história da sociedade de seu tempo. Ademais, perfilam-se como assessores jurídicos no cumprimento pacífico do direito e como eficazes guardiões da legalidade.

Entendemos que esse novo formato torna o texto mais fácil de ser lido, porque eliminamos o excesso de subordinação. No parágrafo sobre Kadafi, o problema é inverso, ou seja, a sucessão de frases curtas com informações correlacionadas ao mesmo assunto leva à repetição de palavras. Portanto, poderíamos agrupar melhor as ideias, por meio de conectivos, e dizer:

O líder líbio Muamar Kadafi demitiu o enviado da ONU no país, que havia se voltado contra o regime, mas as Nações Unidas ainda não aceitaram a mudança. De acordo com Martin Nesirky, porta-voz da ONU, o ditador enviou uma carta a Nova Iorque, em que afirmava não reconhecer mais o Embaixador e o Ex-Chanceler Adburrahman Shalgham e o Vice-Embaixador Ibrahim Dabbashi como representantes da Líbia. Shalgham e Dabbashi deram apaixonados discursos, condenando Kadafi como um tirano e pedindo, também, a aplicação de sanções ao regime. Para o lugar do embaixador, Kadafi nomeou Ali Triki, Ex-Ministro das Relações Exteriores e Ex-Presidente da Assembleia Geral da ONU entre 2009 e 2010.

Na verdade, se observarmos a evolução do estilo do português, sobretudo no concernente à construção de períodos, vamos perceber que, quanto mais recuamos no passado, mais tenderemos a encontrar períodos longos. Às vezes, são sete, oito e

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até dez linhas, num encadear de ideias e argumentos, em enunciados compostos por coordenação e/ou subordinação, como, por exemplo, o trecho inicial da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei, sobre o descobrimento do Brasil.

Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim, igualmente, os outros capitães escrevam a Vossa Alteza, dando notícias do achamento desta vossa terra nova, que agora nesta navegação se achou, não deixarei de também eu dar minha conta disso a Vossa Alteza, e creia que certamente nada porei aqui para embelezar e nem para enfeitar, mais do que vi e me pareceu. Portanto, Senhor, do que hei de falar começo o digo: [...]

Esse estilo predomina, também, em autores do início do século passado, tais como Ruy Barbosa, conforme podemos ver no parágrafo introdutório de Oração aos Moços:

Senhores:Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao direito viessem receber, no templo do seu ensino, em São Paulo, o selo de uma grande bênção, associando-se, hoje, com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos em que os ides esposar.

Não é difícil perceber que as construções longas são bem mais difíceis de serem compreendidas, porque existem inúmeros argumentos colocados ao redor de uma ideia principal, ou diversas frases declaratórias colocadas em uma sucessão de afirmações e negações, ou, ainda, vários argumentos colocados antes da oração principal. Hoje, à evidência, alguém que escreva dessa maneira encontrará certa dificuldade em transmitir as ideias, porque o mundo contemporâneo, ágil e marcado pela comunicação em tempo real, parece exigir pensamentos mais objetivos e concisos, que facilitem a compreensão entre emissor e receptor.

Isso não significa, entretanto, que devamos nos expressar numa sucessão de períodos simples, como ocorreu no parágrafo sobre Kadafi, sem o uso de conjunções e conectivos lógicos, porque isso quebraria o princípio de hierarquização das ideias, fundamental no processo de comunicação. Qual seria, então, o melhor caminho para encadear as ideias, garantindo-se o bom fluxo, associado à leveza e à musicalidade do texto?

De modo geral, entendemos que ainda predomina, no português moderno, o estilo machadiano, ou seja, o equilíbrio entre períodos simples, mais adequados ao início ou ao final do parágrafo, combinados com períodos compostos por coordenação e subordinação, mais próprios ao desenvolvimento. É possível, também, construir uma sequência de períodos, todos compostos por coordenação ou subordinação, mas sem exceder a quatro ou cinco argumentos em cada enunciado.

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Para transitar de um estilo ao outro, basta você entender que os períodos podem ser simples ou compostos e que estes se dividem em coordenados ou subordinados, mas as ideias, por si próprias podem ser expressas em qualquer modalidade de período, respeitadas as regras de construção frasal.

OUTRAS FORMAS DE CONECTIVIDADE

Além das conjunções e pronomes, existem diversas expressões que podem ser consideradas articuladores textuais, ou seja, constituem acervo de vocabulário capaz de nos ajudar a montar períodos, parágrafos e textos. Você encontra abaixo uma série desses mecanismos lógicos que facilitam a expressão do pensamento e demonstram que a língua portuguesa funciona de forma semelhante a qualquer outra língua moderna.

1. Expressões de Natureza Introdutória

a) Relacionadas a tempo

– Durante os últimos anos / as últimas décadas do século XX / os primeiros anos do século XX / as primeiras décadas do século XX;

– Através do século XX / das últimas décadas do século XX;– Desde a Segunda Guerra Mundial / a desintegração da União Soviética / o

fim da ditadura militar / o início do processo de globalização / a criação do Mercosul;

– Entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial / o fim da Guerra Fria e o início da globalização / o fim do Governo Vargas e a Ditadura Militar;

– No início da década de noventa / do processo de cassação / da Nova República;– Quando Pedro Álvares Cabral / o Brasil deu os primeiros passos rumo

à industrialização / se analisa o modo de vida moderno / a natureza da globalização;

– Nos próximos anos / Nas próximas décadas / No século que se inicia.

b) Relacionada a lugar

– Na maioria ou na minoria dos países europeus / das regiões do Brasil / das cidades / dos estados do Nordeste / dos países da América Latina / dos países em desenvolvimento/ dos países desenvolvidos;

– Em muitos(as) países / nações / estados / comunidades / sociedades / grupos sociais;

– Em todo(a) o mundo / a América Latina / todos os países em desenvolvimento;– No cenário mundial / no âmbito da América Latina.

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c) Relacionadas a tema específico

– A questão do(a) ... tem sido motivo de amplo(a) debate / discussão / polêmica no Brasil. Entretanto / contudo / no entanto;

– Um dos assuntos mais polêmicos no cenário mundial é a hegemonia norte--americana;– Existe consenso de que a liberdade de alguém começa onde a de outrem termina;

– Se o desejo for discutir a questão do preconceito no Brasil, é preciso reconhecer que...;

– Para analisar a questão do racionamento de energia, é necessário...;– Um dos assuntos mais complexos do mundo moderno é a violência contra

a mulher;– O princípio do estado de direito é amplamente reconhecido no mundo.

2. Expressões de Comparação

– A revolução genética de hoje pode ser comparada à / cotejada com a revolução nuclear da primeira metade do século XX;

– Se comparada / cotejada a ação americana com a soviética no contexto da guerra fria...;

– Se forem comparadas diversas campanhas publicitárias veiculadas na televisão...;

– Tanto a atitude de alguns políticos quanto a de boa parte da população é...;– Quando se compara / Do mesmo modo que / Da mesma maneira que / De

modo semelhante a / de modo diferente a / Comparando-se.

3. Expressões de Contraste

– Se, de um lado,...., de outro, ... / Por um lado... por outro;– Embora boa parte da população..., existem indivíduos / pessoas que...; – Num

primeiro momento..., entretanto... / Numa análise preliminar... , todavia...;– Ao contrário de / em contraste com outros países da América do Sul, o

Brasil...;– Contrariando a visão predominante em relação à globalização, os autores...;– A questão do preconceito no Brasil não se relaciona necessariamente à cor

da pele. Ao contrário... / O problema... não se vincula apenas a ....– Exceto por..., a verdade é que... / Apesar de... não se pode esquecer que...;

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4. Expressões de Adição

– Além disso / Afora / Ademais / Mais adiante / Outro exemplo a ser examinado é / Outro aspecto importante...

5. Expressões para Introduzir Exemplos

– Nesse contexto, pode-se referir... / Um exemplo pode ser dado com... / Pode-se considerar como exemplo...

6. Expressões de Causa e Efeito

– O problema de X relaciona-se a... / A origem do problema X está vinculada... / A consequência desse quadro é... / O efeito imediato desse quadro é / Por causa disso,... / Como consequência... / Isso é que leva a... / Se for considerado esse aspecto, pode-se dizer que...

7. Expressões de Generalização

– Em regra / Em geral, pode-se considerar que... / Na maioria das vezes, ocorre que...

– De modo geral, é princípio firmado que... / A maioria dos cientistas/estudiosos entendem que...

8. Expressões de Condição e Hipótese

Se isso for verdade, pode-se dizer que... / Considerando esse aspecto,... / Se a situação for alterada,... / Se o quadro for revertido... / Suponha-se que...

9. Expressões de Sequência

– Em primeiro lugar, deve-se observar que... Em segundo...– O primeiro aspecto a ser considerado na análise do problema X é... O

segundo... Por fim, deve-se considerar que...– Antes de se considerar qualquer aspecto da questão X, é preciso observar

que...– Ao mesmo tempo que se... também... / No mesmo período... / Ao mesmo

tempo...– No início do século XX / da década de... / Em meados... / Hoje... / A curto

prazo,... a médio prazo... a curto prazo...

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10. Expressões de Certeza ou Dúvida

– Decerto/ Não há dúvida de... / Fica claro que... / Há motivos incontestáveis para acreditar que...

– Não está claro, portanto, se...– Há dúvidas quanto... / Não parece razoável dizer, portanto que...

11. Expressões de Conclusão

– Considerados todos os aspectos da questão,...– Quando se avaliam os X aspectos levantados, pode-se...– A análise da questão leva a conclusão de que...– Com proposta para solucionar o problema... / Os diversos aspectos

levantados levam a crer que... Queísmo

Observe o trecho abaixo e verifique com o colega se há reparos a fazer e se a substituição de que por o qual ou a qual facilitaria a compreensão.

“Desejo que o senhor volte logo porque o prefeito quer que as obras recomecem num prazo que seja bastante curto a fim de que não haja mais prejuízos; queria que o senhor se lembrasse de trazer os documentos que estão na pasta vermelha que deixei na gaveta do quarto em que durmo.”

Comentário

O trecho que você leu acima fez parte de uma prova discursiva para o cargo de Agente de Polícia Civil. Era a terceira tarefa, que propunha a reescrita do texto de modo a se eliminar o excesso de quês. Se interpretarmos o comando, sobretudo a ideia de excesso, poderemos manter um ou outro dos quês se for necessário, para não fugirmos muito da estrutura original.

Antes de nos lançarmos à tarefa, vale tecer alguns comentários acerca do “queísmo”. Muitos alunos, quando instados a fazer correções, como a proposta na prova de Agente de Polícia Civil do DF, querem substituir “que” por “o qual” ou outro conectivo, mas essa estratégia não resolve o problema. A questão não é apenas relacionada à produtividade do “que” – com diversas funções na língua: pronome relativo e conjunção integrante, entre outras –, mas também ao excesso de desdobramentos que dificultam a leitura.

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Em português – e em outras línguas modernas –, é praticamente impossível escrevermos sem o uso do que – “that”, “que”, “qui”. Por isso mesmo, devemos evitá-lo quando for possível para não produzirmos o efeito de repetição da palavra e garantirmos a concisão. Para eliminar o que, há algumas estratégias, a saber: transformar a oração do subjuntivo para reduzida de infinitivo, ou seja, no lugar de dizer a fim de que não haja mais prejuízo, diríamos: a fim de não haver mais prejuízos; transformar a oração adjetiva numa locução adjetiva, ou seja, diga a mulher vestida de vermelho, e não a mulher que estava vestida de vermelho.

Da mesma forma, é melhor dizer na gaveta do meu quarto de dormir do que na gaveta do quarto em que durmo e o prefeito quer as obras recomeçadas num prazo bastante curto do que o prefeito quer que as obras recomecem num prazo que seja bastante curto. Em suma, costumo ensinar uma regra prática a meus alunos: se for possível eliminar o quê, elimine-o, pois, logo adiante ele será indispensável em determinada estrutura frasal.

Para o trecho em questão, entendemos ser possível adotar dois caminhos: um com a preservação de dois “quês”, pois eles desempenham papel de conjunção integrante; e outro mais criativo, com a eliminação de todos os “quês”. Assim, poderíamos dizer:

a) “Desejo que o senhor volte logo, porque o prefeito quer as obras recomeçadas num prazo bastante curto, a fim de não haver mais prejuízos. Queria que o senhor se lembrasse de trazer os documentos da pasta vermelha, guardada na gaveta do meu quarto de dormir”;

b) “Volte logo, porque o prefeito quer as obras recomeçadas num prazo bastante curto, a fim de não haver mais prejuízos. Por favor, lembre-se de trazer os documentos da pasta vermelha, guardada na gaveta do meu quarto de dormir”.

Na segunda versão, para evitar o tom muito incisivo, decidimos colocar a expressão “por favor” e resgatar o aspecto semântico do texto original, que nos parece ser de um subordinado ao superior. Nessa tarefa, também haverá variações de candidato para candidato, o que deve ser aceito pela Banca.

Regra 8: Seu Sua / Advérbios terminados em MENTE / Um, Uma / Hipérboles

Leia os textos abaixo e faça as críticas que julgar pertinentes.

a) Na sua segunda tentativa de quebrar o seu recorde no salto triplo, o atleta torceu o seu pé, porque o seu tênis escorregou na linha ao se lançar ao seu primeiro salto.

b) A redução da idade penal não é e nunca será inequivocamente a solução para os desvios de conduta de adolescentes infratores, uma vez que a ineficácia do encarceramento já restou inarredavelmente provada. O problema só será solucionado definitivamente com a inclusão social do jovem por meio de acesso à educação, à cultura e ao lazer, o que lhe proporcionará, indistintamente, no futuro, trabalho digno e, no presente, o distanciamento das drogas e do cometimento de atos infracionais.

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c) Uma melhor forma de promover uma distribuição de renda no Brasil é criar um programa que, além de garantir uma ajuda para as famílias manterem os filhos em uma escola, exija uma contrapartida, como uma participação em um curso de formação em agricultura familiar, por exemplo. Isso seria uma boa estratégia para romper o círculo vicioso de uma pobreza que atinge milhares de brasileiros.

d) Se você desejar passar no concurso, deverá ter o mais profundo e inequívoco conhecimento de todo o exaustivo conteúdo, sistematicamente apresentado pela Banca, além de buscar em cada segundo da vida hodierna a mais profunda consciência para a obtenção de inabalável equilíbrio mental, tão sistematicamente demandado nos certames em cada uma das diversas regiões em todo o Brasil.

Comentário: Mais sobre estilo

Vez por outra, temos alguns alunos que insistem em utilizar uma série de advérbios, com o intuito de reforçar determinado ponto de vista, sobretudo os advérbios terminados em “mente”. Empregam historicamente, cientificamente, obviamente, totalmente, atualmente e seguem pensando que, assim, terão mais condição de convencer o leitor acerca dos argumentos apresentados na dissertação.

Ledo engano, quem utiliza advérbios terminados em “mente” o tempo todo (pelo menos um a cada parágrafo) tem dois problemas: primeiro, a terminação “mente” cria uma sorte de eco no texto que parece repetir “meente”; segundo, na maioria das vezes, o sentido do advérbio não carreia em si informação verdadeira ou dá ao texto tom pedante.

“Historicamente, o Brasil tem sido um país sem guerras ou conflitos” é um enunciado que pode parecer forte, mas contém um erro factual, porque passa a impressão de não termos enfrentado guerras ou revoluções ao longo de nossa história. Com efeito, como qualquer outro povo, atravessamos os tempos com inúmeros conflitos: a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, Canudos e tantos outros episódios de confronto entre nossa gente.

Raciocínio semelhante aplica-se ao uso de “cientificamente”, com o intuito de provar determinada concepção: cientificamente, já restou comprovado que a penitenciária não recupera o preso. Será mesmo verdadeira essa ideia? Claro que não, pois é possível a reeducação do preso e a reinserção na sociedade, desde que haja mudança no sistema das prisões.

“Obviamente” apresenta certa dose de comportamento pedante, porque se determinada ideia pode ser óbvia para alguém, pode não o ser para outra pessoa, sobretudo no mundo de hoje, em que o conhecimento humano é tão vasto e amplo. Portanto, evite advérbios terminados em “mente”, porque você cansa o leitor e não o convence como pode parecer a princípio.

Outras palavras que tendem a se repetir no texto são o “que” e “seu, sua”. Há candidatos que usam tanto que no texto que fica difícil entender o que eles querem dizer com o que expressam. É tanto que que fica impossível entender o enunciado, mas não adianta fazer como já me disseram algumas vezes: vou trocar o “que” por “o qual” e, pronto, o problema estará resolvido.

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A pura substituição de “que” por “o qual” ou “a qual” não resolve o problema da repetição, porque não é apenas o som da palavra “que” o problema, mas o excesso de desdobramentos. Lá pelo terceiro que, já não sabemos onde estão a oração principal e a referência do que. Por outras palavras, o excesso de desdobramentos também dificulta o entendimento do texto.

Com seu e sua o problema é um pouco diferente. No português o pronome, ou o adjetivo possessivo, flexiona de acordo com o termo determinado, ou seja, sua filha, seu pai, suas motos etc. Assim, quando empregarmos seu ou sua, deveremos verificar para ver se não há duplo antecedente, capaz de gerar ambiguidade no texto. Carlos e Antônio olharam para o seu carro. De quem é o carro?

Na maioria das vezes, podemos eliminar seu e sua – que tendem a se repetir no texto – com a utilização de artigos definidos. Dizer: Maria é dedicada ao trabalho soa melhor que Maria é dedicada ao seu trabalho. Portanto, lembre: advérbios terminados em “mente”, “que”, “seu” e “sua” devem ser evitados como forma de melhorar o estilo do texto.

Regra 9: Gerundismo

Leia o texto abaixo e procure encontrar uma forma de expressar o pensamento sem a utilização do gerúndio.

As resistências podem ser combatidas através do aprendizado, ou seja, proporcionando oportunidades de crescimento e desafios às pessoas, com liberdade de atuação e fazendo com que elas se sintam pertencentes a uma equipe, compartilhando atitudes e crenças, gerando um relacionamento e espírito de equipe.

Comentário

Por que as pessoas utilizam tanto o gerúndio, mesmo na modalidade escrita?

Porque se esquecem das diversas conjunções que podem ser utilizadas no lugar do gerúndio e contribuem para a elaboração de enunciados com mais objetividade, clareza e concisão, atributos fundamentais na modalidade culta da língua.

O GERÚNDIO NO PADRÃO CULTO

O Gerúndio Adverbial

O gerúndio deve ser empregado – de preferência – com significado adverbial, por exemplo:

O pintor trabalha assobiando.O governo pretende combater a pobreza distribuindo cestas básicas.

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O Gerúndio Aditivo, que também é acolhido por boa parte dos gramáticos.

O foguete partiu do cabo Canaveral às 8h, entrando em órbita logo em seguida.

Enunciados Ambíguos

A crise política atingiu a Bolívia gerando sentimento de autonomia e emancipação na maioria das províncias.

A crise política atingiu a Bolívia e gerou sentimento de autonomia e emancipação na maioria das províncias.

Vamos reavaliar o parágrafo com excesso de gerúndio:

As resistências podem ser combatidas por meio do aprendizado, ou seja, ao...... (Ao proporcionar) proporcionando oportunidades de crescimento e desafios às

pessoas, com liberdade de atuação e fazer com que elas se sintam pertencentes a uma equipe, a fim de compartilhar atitudes e crenças, a fim de gerar um relacionamento e espírito de equipe.

As resistências podem ser combatidas por meio do aprendizado, para proporcionar oportunidades de crescimento e desafios às pessoas.As resistências podem ser combatidas por meio do aprendizado, porque isso proporciona oportunidades de crescimento e desafios às pessoas....com liberdade de atuação e fazendo com que elas se sintam pertencentes a uma

equipe, compartilhando atitudes e crenças, gerando um relacionamento e espírito de equipe.

Com liberdade de atuação, estas se sentem pertencentes à equipe, bem como compartilham atitudes e crenças. Geram-se, assim, relacionamento e espírito de equipe.

As resistências podem ser combatidas por meio do aprendizado, para proporcionar oportunidades de crescimento e desafios às pessoas. Com liberdade de atuação, estas se sentem pertencentes à equipe, bem como compartilham atitudes e crenças. Geram-se, assim, relacionamento e espírito de equipe.

Esperamos que todos, vocês, tenham aprendido as regras para obter clareza, objetividade e concisão e que, agora, consigam melhorar o desempenho na hora de organizar os textos e colocar as ideias no papel. Nós sabemos que a habilidade de gerar enunciados, requer tempo para ser desenvolvida, mas, com os exercícios, aumenta a possibilidade de você estar entre os nomeados no próximo concurso.

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A elaboração de resumos é uma modalidade que tem sido cobrada em alguns concursos, Consultor Legislativo, por exemplo, e exige do candidato a habilidade de sintetizar o conteúdo de determinado texto. Para muitos, essa é uma tarefa bastante difícil, porque, como temos ouvido ao longo dos anos, sempre há dúvida em relação ao que é, de fato, essencial num texto, e deve ser preservado no resumo; e o que é secundário, acessório, e, portanto, deve ficar fora do resumo.

Muitas vezes, os candidatos assumem a tarefa de resumir na base da intuição, o que, ao menos em certa medida, é de se esperar, porque são instados a encontrar a ideia central do texto, mas sem estratégia bem definida e objetiva. O resumo sai, mas a maioria dos candidatos não nos parece suficientemente segura a respeito de como chegou ao resultado final do processo de síntese.

Com o intuito de estabelecer estratégias de construção de resumos, entendemos fundamental explicar que, em primeiro lugar, todo texto pode ser resumido. Por quê? Porque, como produtos da mente humana, até mesmo os textos mais curtos são construídos em torno de um tópico principal, seja a resposta a determinada indagação, seja o posicionamento em defesa de determinado ponto de vista ou informação.

Da mesma forma, os textos constroem-se em torno de uma palavra-chave, que se relaciona a outras de igual importância para a compreensão das informações ou dos argumentos. Juntas, as palavras formam uma rede lexical, que não deve ser ignorada pelo candidato na elaboração de resumos. Se lermos os parágrafos com atenção, perceberemos que cada um deles está ou gira em torno de um conjunto de palavras, fundamental para retermos o conteúdo.

O fato é que, se lermos um texto bem escrito, encontraremos ou uma tese ou uma informação em torno da qual gravitam todas as demais ideias. Não se trata aqui de exercício de interpretação ou inferência em relação ao conteúdo, mas de detecção da declaração principal do texto, o período, em que o autor firma sua posição, ou apresenta a ideia central do texto.

A esse respeito, é fundamental explicar que existem textos dedutivos, ou seja, que apresentam posicionamento explícito no primeiro parágrafo – em textos longos, isso poder ocorrer no segundo ou terceiro parágrafo – com uma sequência de argumentos; e indutivo, ou seja, que apresenta um panorama sobre determinada questão para trazer posicionamento no final.

4ª PartEESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO

DE RESUMOS

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Por isso, quando instado a elaborar um resumo, a primeira tarefa do candidato é fazer uma leitura atenta do primeiro parágrafo e procurar o período: a declaração em que o autor se posiciona a respeito do tema. Se, no lugar do posicionamento explícito, encontrar uma exposição ou narração, vale a estratégia de ir aos últimos parágrafos para verificar se há posicionamento do autor.

Sem dúvida, o resumo de textos indutivos costuma ser mais difícil, sobretudo se o candidato não se der conta disso, porque, sem um posicionamento inicial, fica bem mais complicado distinguir o que é essencial ou secundário à malha argumentativa do texto. Portanto, localizar a tese do texto argumentativo ou a informação principal do texto expositivo é a primeira tarefa de quem deseja fazer um bom resumo.

Em alguns textos, essa tarefa é difícil. Por isso, responda sempre a seguinte pergunta: se tivesse de guardar um e tão somente um período do texto, qual seria o mais importante de todos, em torno do qual gravitam as demais ideias?

Detectada a ideia principal, ou a tese, o candidato deve fazer o mesmo exercício em cada um dos parágrafos, ou seja, localizar o período em que o autor declara – afirma ou nega – alguma coisa, e a relação lógica entre essa declaração e os demais argumentos do parágrafo, que se estabelece por meio das conjunções, dos pronomes e outros articuladores textuais.

A pergunta a cada parágrafo é semelhante à anterior: se tivesse de guardar um e tão somente um período do parágrafo, qual seria o mais importante de todos, em torno do qual gravitam as demais ideias?

É evidente que, em boa parte dos textos, se nos ativermos apenas à declaração principal, ao tópico-frasal, perderemos relações lógicas importantes expressas pelos argumentos de natureza secundária. Mas, se partirmos do princípio de que um bom resumo deva ter em torno de ¼ a ⅓ do texto original, veremos como é importante focar nas declarações principais, nos tópicos-frasais de cada parágrafo, para, a partir destes, construir o resumo.

Neste ponto, há sempre uma indagação: o resumo é um texto original, totalmente novo, que o candidato escreve com suas próprias palavras, ou seria possível usar as palavras do autor e fazer um exercício de cortar e colar as ideias principais?

Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, o resumo não deve se reduzir a um exercício de recortar as frases mais importantes do texto e colá-las, até porque o resumo pressupõe um rearranjo das ideias por meio de conectivos lógicos e novas hierarquizações. Se um parágrafo traz um tópico-frasal que sustenta a tese, parece-nos natural que seja reintroduzido no resumo por uma relação lógica de causa.

Mas, se, de um lado, buscamos originalidade na reorganização do resumo, de outro, não nos parece recomendável se afastar da rede lexical de base do texto original, numa tentativa – às vezes desesperada – de encontrar sinônimos ou criar sintagmas, que, na prática, distorcem a ideia central proposta pelo autor.

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Quanto mais o texto for técnico ou científico, mais atrelados ficaremos à rede lexical de base, à terminologia. Portanto, o candidato deve ser criativo ao captar as ideias principais do texto e ao reorganizá-las no novo texto mais sintético. Nada de piruetas e invencionices só para não usar os termos empregados pelo autor, mas vale empregar verbos com o mesmo sentido e preferir adjetivos em relação a orações adjetivas. Enfim, a tarefa do resumo é sintetizar e, para isso, o candidato precisa ter domínio do idioma.

Outra pergunta frequente é se o resumo deve ter apenas um parágrafo. A menos que o comando da prova determine a elaboração do texto em apenas um parágrafo, isso não é uma regra geral. Precisamos entender que, em razão do processo de síntese, a tendência é o resumo ter um número de parágrafos menor quando comparado ao original.

Se fizéssemos o resumo com o mesmo número de parágrafos, provavelmente teríamos uma sucessão de períodos com uma ou duas linhas, todos resultantes dos tópicos-frasais do texto original. Quebraríamos, assim, um dos princípios do resumo, que é o da reorganização sintética dos argumentos em torno da ideia principal, como dissemos, numa relação de ¼ a ⅓ do original.

Vale ressaltar, em termos da fraseologia, que, se um texto pode ser resumido, é porque a linguagem humana apresenta como uma das características principais a hierarquização das ideias. Quando falamos ou escrevemos, podemos perguntar, exclamar, dar uma ordem, mas, na maioria das vezes, declaramos alguma coisa, ou seja, afirmamos ou negamos, para, em seguida, desdobrar a ideia – é possível fazer o inverso também.

Se transferirmos essa noção para o período, vamos compreender melhor a gramática tradicional, porque as declarações que fazemos, na maioria das vezes, equivalem à oração principal. Isso quer dizer que, se nos mantivermos atentos às orações principais de um texto, provavelmente conseguiremos captar as ideias essenciais e fazer o resumo.

O processo de hierarquização da linguagem, também, permite-nos dizer que, em cada parágrafo, sempre encontraremos uma sentença – declaração – mais importante se comparada às demais orações, ou seja, o tópico-frasal, conforme ensina Othon Moacyr Garcia, em Comunicação em Prosa Moderna.

O renomado autor observa que, em boa parte dos parágrafos, a probabilidade é encontrar o tópico na primeira sentença, porque tendemos a empregar mais o raciocínio dedutivo que o indutivo. Por outras palavras, costumamos mais declarar algo e desdobrar essa ideia do que desdobrar a ideia para depois declarar. Antes de colocarmos a mão na massa, vale lembrar que os desdobramentos do texto costumam vir introduzidos pelos conectivos lógicos, sobretudo pelas conjunções.

Outra percepção dos textos, que ajuda muito na hora do resumo – e também para planejarmos as dissertações ou fazermos mapas mentais – é montar uma rede lexical com as palavras-chave, uma espécie de árvore, com as palavras que deram origem às ideias centrais do texto.

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Uma boa estratégia é se fazer algumas perguntas: 1. Se fosse necessário guardar uma e tão somente uma palavra do texto, qual

seria a mais importante? 2. Faça a mesma pergunta para cada parágrafo e, no final, provavelmente você

terá uma rede lexical bem feita do texto, além de compreensão mais clara.

A título de ilustração, fizemos uma rede lexical de um texto bastante simples, publicado em uma revista de TV. Veja se você consegue uma rede lexical do texto sobre Lucrécia Bórgia, também de uma revista de TV.

Lucrécia Bórgia

Ela era jovem, bela e rica. As qualidades de Lucrécia Bórgia, uma das damas mais famosas da Renascença italiana, não foram, no entanto, o motivo por seu nome ter ficado gravado na história. Isso é o que vai mostrar o documentário Lucrécia Bórgia, que o Mundo exibe este mês. Filha do papa Alexandre VI e irmã do sanguinário César, Lucrécia ganhou notoriedade por ter sido uma envenenadora contumaz. Diz a lenda que ela deixava cair de seu anel, em muitos copos inimigos, o veneno mortal cantarela, preparado especialmente para ela pelos alquimistas do Papa.

Temas de diversos livros e óperas, Lucrécia era de origem espanhola e teve uma vida marcada por assassinatos e intrigas familiares. As más-línguas dizem, ainda, que ela teria tido um relacionamento incestuoso e doentio com o pai e com o irmão. Casada três vezes em uniões arranjadas, Lucrécia terminou a vida ao lado de Alfonso d’Este, Duque de Ferrara. Embora a reputação dela esteja longe de ser positiva, alguns historiadores ressaltam seu esforço na tentativa de estimular as artes e as atividades filantrópicas. Tratava-se de uma personalidade e tanto.

Crocodilos à solta

De estuário de lama a paraísos de águas frescas, o Norte da Austrália é conhecido como o Território de Crocodilos, o nome da série que o canal Discovery exibe este mês. Ferozes como poucos animais, os crocodilos dessa região atacam outros animais que vivem perto das margens do rio e são capazes, inclusive, de matar outro crocodilo.

Além de explorar as técnicas mortais do “grande jacaré”, o programa revela que, quando se trata de cuidar dos filhotes, estas feras pré-históricas demonstram um comportamento muito gentil e delicado. Há cenas incríveis, como a da fêmea preparando seu ninho, chocando ovos e levando a ninhada para a água com as mesmas mandíbulas que podem estraçalhar o crânio de um javali em instantes.

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masferozes

comoutros

animais

gentiscomos

filhotes

Repare que a maioria das palavras são substantivos ou adjetivos, embora, aqui e acolá, possamos usar verbos, sobretudo no infinitivo. Isso ocorre porque a finalidade dos substantivos, no plano morfológico, é exatamente dar nome às realidades materiais e imateriais, concretas e abstratas, e a do adjetivo é qualificar, atribuir características a essas realidades. Se você tentar fazer esquemas lógicos dos textos, em geral, é bem provável que chegue a redes lexicais, marcadas pela presença maior de substantivos e adjetivos.

Quando os verbos aparecerem, haverá uma tendência a usarmos o infinitivo, que, no português, pode ser utilizado com valor nominal, assim como o gerúndio na língua inglesa. É interessante observar que os resumos e esquemas lógicos são relativamente fáceis de montar, mas, muitas vezes, não conseguimos fazer o percurso inverso, ou seja, sair do esquema, passar por um resumo ou visão sintética do assunto e chegar a um texto de vinte ou trinta linhas.

Agora, faça um resumo do texto Crocodilos à solta, e compare com as versões abaixo. O texto chega a 160 palavras aproximadamente, portanto, a síntese deve ter entre 40 e 50 palavras, ou seja, de ¼ a ⅓ do original e, com alguma variação, você chegará ao seguinte:

Versão I

Este mês, o canal Discovery apresenta o documentário Território de Crocodilos. Esses animais do Norte da Austrália são ferozes e chegam a liquidar até outros crocodilos, mas demonstram delicadeza no trato com os filhotes.

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Versão II

O Discovery exibe, este mês, Território de Crocodilos, documentário sobre esses animais do Norte da Austrália. Tomadas incríveis mostram a fêmea carregando os filhotes com delicadeza e com as mesmas mandíbulas capazes de atacar e estraçalhar animais e outros crocodilos em instantes.

Repare num aspecto e talvez essa tarefa comece a se tornar mais fácil. As palavras do esquema são substantivos e adjetivos, certo? Agora, veja quais os dois outros tipos de palavra que mais aparecem no resumo... Percebeu? São os verbos e os conectivos lógicos. Sabe por que isso ocorre? Porque os verbos nos permitem agregar os substantivos e adjetivos no plano oracional, ou seja, permitem construir as ideias no papel. Sem verbo adequado ao que desejarmos dizer, jamais sairemos da estaca zero. Ter um acervo verbal para expressar nossas ideias é, portanto, fundamental.

Se o verbo permite construir a oração, os conectivos lógicos constituem a principal ferramenta para desenvolvê-la em qualquer língua moderna. Não dá para desdobrar o pensamento sem compreendermos que o ser humano, ao raciocinar, pensa com causa – porque, consequência – assim, tempo – quando, finalidade – para, oposição – porém, e todas as demais categorias lógicas do pensamento. Assim, trabalhar no plano das conjunções é compreender como o cérebro funciona ao utilizar a língua como instrumento de expressão.

E a diferença do texto sintético para o integral? Você consegue perceber o que acontece? Acertou... o texto integral parte do mesmo esquema lógico, mas acrescenta mais desdobramentos às ideias de base. Se você perceber esses aspectos do pensamento e da utilização da linguagem humana, vai dar um salto qualitativo muito importante no processo de construção e intelecção dos textos. Tente fazer o mesmo exercício com o texto “Sagaz envenenadora”.

Entendemos que, agora, você dispõe de diversos elementos para compreender a técnica de resumo. Isso vai ajudá-lo(a) em provas e na hora de estudar e fazer mapas mentais. Vamos a algumas provas aplicadas em concursos públicos.

Vejamos um texto que foi objeto de concurso para Agente de Polícia Civil do Distrito Federal, realizado pelo NCE-UFRJ.

PROVA DE REDAÇÃO

ITEM A:

Temos, abaixo, um pequeno texto jornalístico. Por motivo de falta de espaço para publicação, o jornal é obrigado a reduzi-lo à extensão de cinco linhas, mantendo suas ideias essenciais. Você está encarregado de fazer essa tarefa, escrevendo o texto resumido nas linhas abaixo. Não esqueça de que o novo texto deve ocupar as cinco linhas e nada além disso.

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TEXTO I

Até os últimos tempos da história da Grécia e de Roma, vemos persistir entre o vulgo um conjunto de pensamentos e costumes que, certamente, datavam de época muito remota, pelos quais poderemos conhecer quais opiniões o homem tinha a princípio a respeito da própria natureza, da alma e sobre o mistério da morte.

Quanto mais nos aprofundamos na história da raça indo-europeia, na qual se ramificaram os povos gregos e itálicos, constatamos que essa raça sempre pensou que depois desta vida breve nem tudo acaba para o homem. As mais antigas gerações, muito antes que aparecessem os filósofos, acreditaram em uma segunda existência depois da atual. Encararam a morte não como uma dissolução do ser, mas como simples mudança de vida.

Mas em que lugar e de que maneira se desenrolava essa existência? Acreditavam que o espírito imortal, uma vez livre do corpo, ia animar a outro? Não; a crença na metempsicose jamais tomou raízes no espírito das populações greco-romanas; também não é a mais antiga opinião entre os árias do Oriente, pois os hinos dos vedas contrariam essa crença. Acreditava-se então que o espírito ia para o céu, para a região da luz? Nem isso; o pensamento segundo o qual as almas entravam em uma morada celeste é de época relativamente recente no Ocidente; a morada celeste era considerada apenas recompensa para alguns grandes homens e benfeitores da humanidade.

De acordo com as mais antigas crenças dos itálicos e dos gregos, a alma não passava sua segunda existência em um mundo diferente do em que vivemos; continuava junto dos homens, vivendo sobre a terra. Acreditou-se até por muito tempo que durante essa segunda existência a alma continuava unida ao corpo. Nascendo junto a ele, a alma não se separava, mas se fechava com ele na sepultura.

Vamos agora tentar aplicar os princípios do resumo ao texto ofertado pela Banca do NCE e ver até que ponto funcionam. Se contarmos o número de palavras por linha e multiplicarmos pelo total de linhas, veremos que o texto tem duzentos e setenta palavras aproximadamente.

Nosso resumo deverá conter, portanto, entre sessenta e cinco e noventa palavras, ou seja, a cada três linhas, reteremos em média de treze a dezoito palavras. Esses parâmetros são importantes, porque, muitas vezes, há determinada ideia que ficamos na dúvida de a incluir, ou não, por motivo de espaço. Ademais, a Banca estabeleceu o limite máximo de cinco linhas. Com essas diretrizes, procure elaborar o resumo e compará-lo com a nossa versão.

Vamos lá, então! No primeiro parágrafo, é fácil constatar que o autor construiu um período único, de “até” a “morte”, cuja declaração essencial está na oração principal: “até os últimos tempos da história da Grécia e de Roma, vemos persistir entre o vulgo um conjunto de pensamentos e costumes”. Ora, as perguntas imediatas que nos fazemos, para compreender o resumo, são: que costumes e pensamentos eram esses? E qual a finalidade deles? Se enxergarmos o texto dessa forma, poderemos chegar, grosso modo, à frase síntese seguinte: na Grécia e na Roma antiga, havia costumes e pensamentos que mostravam a opinião do homem sobre a natureza, a alma e a morte.

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No segundo parágrafo, encontramos três períodos e três declarações principais: “constatamos que essa raça (povos gregos e itálicos) sempre pensou que, depois da vida breve, nem tudo acaba para o homem”; “as mais antigas gerações acreditaram em uma segunda existência depois da atual”; e “encararam a morte não como uma dissolução do ser, mas como simples mudança de vida”. Uma vez que as ideias são bem próximas, parece-nos razoável fundi-las e chegar, mais ou menos, na seguinte oração: as antigas gerações acreditavam na vida após a morte e nesta como uma mudança.

O terceiro parágrafo talvez seja o mais difícil, porque, ao contrário dos anteriores, é indutivo, ou seja, traz a principal declaração ao final, no trecho de “a alma” até “sobre a terra”. Assim, precisamos de cautela para verificar o que reter da primeira parte, porque dispomos de poucas linhas.

Ora, até a expressão “nem isso”, o autor ocupou-se de falar sobre o que os gregos e itálicos não pensavam sobre a vida após a morte, e isso nos permite praticamente eliminar qualquer referência à primeira parte e dizer, para dar sequência ao resumo: Entretanto, ao morrer, somente os grandes homens e benfeitores da humanidade iam para a morada celeste, porque a outras almas permaneciam vivendo na terra, junto aos homens. Finalmente, poderíamos pinçar a ideia do último parágrafo e dizer: durante a segunda existência a alma ficava ao lado do corpo e fechava-se com este na sepultura.

Nosso resumo, que pode variar um pouco nas palavras e ideias e de candidato para candidato ficaria assim:

Resumo

Na Grécia e na Roma antiga, havia costumes e pensamentos que mostravam a opinião do homem sobre a natureza, a alma e a morte. As gerações remotas acreditavam na vida após a morte e nesta como uma mudança. Entretanto, somente os grandes homens e benfeitores da humanidade iam para a morada celeste, porque as outras almas permaneciam vivendo na terra, junto aos homens. Durante a segunda existência, a alma ficava ao lado do corpo e fechava-se com este na sepultura. Nosso resumo ficou com cinquenta e sete palavras, o que permitiria ao candidato cumprir a exigência da Banca e, salvo melhor juízo, obter boa nota.

Agora, vamos ver a mesma técnica aplicada a um texto da prova de 2002 para Consultor do Senado Federal, realizada pelo CESPE/UnB

Texto II

A sociedade só pode ser compreendida por meio de um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que se disponha; no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre homens e máquinas, máquinas e homens e máquinas e máquinas estão destinadas a desempenhar papel cada vez mais importante.

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Quando é dada uma ordem a uma máquina, a situação não difere essencialmente da que surge quando a mesma ordem é dada a uma pessoa. Naturalmente, há diferenças de detalhes nas mensagens e nos problemas de comando não apenas entre um organismo vivo e uma máquina, como dentro de cada classe de seres, quer animados, quer inanimados.

As ordens de comando, por via das quais exercemos controle sobre nosso ambiente, são uma espécie de informação que lhe transmitimos. Como qualquer outra espécie de informação, essas ordens estão sujeitas à certa desorganização em trânsito. Geralmente, chegam a seu destino de forma menos coerente — e, certamente, não de forma mais coerente — do que quando foram emitidas. Em comunicação e controle, estamos sempre em luta contra a tendência da natureza de degradar o orgânico e destruir o significativo; a tendência, conforme nos demonstra Willard Gibbs, de aumento da entropia.

Gibbs considera não um mundo, mas todos os mundos que sejam respostas possíveis a um grupo limitado de perguntas referentes ao nosso ambiente. Sua noção fundamental diz respeito à extensão em que as respostas que possamos dar a perguntas acerca de um grupo de mundos são prováveis em meio a um grupo maior de mundos; essa probabilidade tende a aumentar conforme o universo envelhece. A medida de tal probabilidade denominamos entropia, e sua tendência característica é de aumentar.

O homem está imerso em um mundo ao qual percebe por intermédio dos sentidos. A informação que recebe é coordenada por meio de seu cérebro e sistema nervoso até, após o devido processo de armazenagem, coleção e seleção, emergir através dos órgãos motores, geralmente os músculos. Esses, por sua vez, agem sobre o mundo exterior e reagem, outrossim, sobre o sistema nervoso central por vias de órgãos receptores, tais como os órgãos terminais da cinestesia; e a informação recebida pelos órgãos cinestésicos combina-se com o cabedal de informação já acumulada, para influenciar as futuras ações.

O funcionamento físico do indivíduo e o de algumas máquinas de comunicação são muito semelhantes no sentido de tentarem dominar a entropia, por meio de um mecanismo do tipo feedback. Tal realimentação ou autocorreção parece ter-se tornado norma tanto nos organismos inanimados como nos vivos. Em ambos, notamos a existência de um instrumento especial para coligir os elementos do mundo exterior e incorporá-los ao indivíduo ou à máquina. Em todos os casos, as mensagens externas são transformadas para a assimilação, de acordo com os aparelhos internos que os assimilam.

Tais transformações permitem à informação obtida uma integração no organismo assimilador, a ponto de passarem a ter uma influência imediata nos novos desempenhos do conjunto. Tal desempenho, quer na máquina, quer no animal, faz-se efetivo em relação ao mundo exterior, não se resumindo apenas em formulação do novo tipo de desempenho proporcionado, mas com um verdadeiro comando e registro do instrumento regulador central.

Nenhuma teoria da comunicação pode, evidentemente, evitar a discussão da linguagem. A linguagem é, em certo sentido, outro nome para a própria comunicação, assim como uma palavra usada para descrever os códigos por meio dos quais se

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processa a comunicação. O uso de mensagens codificadas e decifradas é importante, não apenas para os seres humanos, mas também para os outros organismos vivos e para as máquinas usadas pelos seres humanos.

M. C. d’Azevedo. Comunicação, linguagem, automação. Porto Alegre: UFRGS, 1970, p. 49-51 (com adaptações).

Redija um resumo das ideias do excerto acima, organizando-as em parágrafos sequenciais, de forma a manterem a estrutura dissertativa. O texto do resumo deve ser coerente, fiel ao original, evidenciar o entendimento da mensagem, sem marcas de subjetividade (extensão máxima: 30 linhas).

Ao fazer a leitura, o candidato deve ter percebido que o texto para resumo trata de assunto árido, a respeito da comunicação entre os homens e as máquinas, bem como da entropia, a tendência à desorganização nesse processo. Trata, também, do processo de assimilação da informação e da influência desta em novas ações no mundo exterior.

Para sermos francos, o exercício de resumo – salvo para especialistas no assunto – é penoso e não nos resta muitas alternativas a não ser nos concentrarmos nos tópicos--frasais de cada parágrafo, bem como nas redes lexicais, para selecionarmos as ideias centrais e agrupá-las de forma coerente e coesa. Assim é que propomos o texto a seguir, que poderá ser aperfeiçoado por meio de discussão com os alunos.

Vale ressaltar que, à época do concurso, diversos alunos confirmaram a dificuldade de compreender o texto, sobretudo no momento da prova. Confirmaram, também, a importância da técnica de resumo, sem a qual teria sido praticamente impossível desempenhar a tarefa a contento.

Resumo

A sociedade só pode ser compreendida por meio do estudo das mensagens e das facilidades de comunicação disponíveis. Quando se dá ordens a uma máquina ou a uma pessoa, a situação é semelhante, porque há uma tendência à entropia, a certa desorganização em trânsito, conforme demonstra Gibbs.

Gibbs considera todos os mundos possíveis como resposta a um número limitado de perguntas sobre o nosso ambiente e a entropia, como a tendência ao aumento do número de respostas à medida que o universo envelhece.

O homem percebe o próprio mundo pelos sentidos. A informação recebida é coordenada pelo cérebro e pelo sistema nervoso até, depois do processo de armazenagem, coleção e seleção, emergir pelos músculos. Estes agem sobre o mundo exterior e reagem sobre o sistema nervoso central pelos órgãos receptores, para combinarem a informação recebida com o cabedal já existente.

Ao tentar dominar a entropia por meio de feedback, o funcionamento físico do indivíduo e de algumas máquinas são semelhantes. Em ambos, nota-se instrumento especial para assimilar as mensagens externas de acordo com os aparelhos internos assimiladores.

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Essa assimilação permite à informação integrada influenciar imediatamente o desempenho do conjunto em relação ao mundo exterior. A teoria da comunicação não pode evitar a discussão da linguagem. Esta é importante tanto para os seres humanos e outros organismos vivos quanto para as máquinas.

Procure exercitar as técnicas de resumo, que são úteis não só quando essa tarefa faz parte de um concurso, mas também no cotidiano quando precisamos sintetizar o conteúdo de inúmeras disciplinas. Neste sentido, as redes lexicais são valorosas para montarmos mapas mentais, que nos estimulam a recuperar as matérias estudadas.

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Prezado(a) aluno(a), Ao terminarmos este livro – mais um ensaio pelos riscos de lançarmos

nossa ideias e pelas polêmicas a serem suscitadas – queremos apenas ter a certeza de que sinalizamos para os alunos com algumas estratégias, para a construção de textos, capazes de conduzi-los por um caminho mais firme e concreto. Cremos não faltar com a modéstia em dizer que, ao longo de mais de uma década, temos obtido muito sucesso com essa forma de preparar os alunos para as provas discursivas.

Em 1985, quando decidimos fazer novos concursos públicos para ascender profissionalmente, encontramos muitas barreiras, sobretudo na hora de escrever, de organizar as ideias e colocá-las no papel. Encontramos grande alento nas obras do Mestre Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, da Professora Enilde Leite de Jesus Faulstich, Como Ler, Entender e Redigir um Texto, do Professor Ségio Waldeck, Leitura e Produção de Textos, e, mais recentemente, do Professor Jorge Leite, Texto Acadêmico. Todos são livros que merecem, ainda hoje, a devida atenção dos candidatos desejosos por se refinarem na arte de escrever.

No Brasil afora, é provável que diversos outros professores estejam preparando livros e apostilas sobre a elaboração de textos tanto no meio acadêmico quanto na área de concursos públicos. Por isso, entendemos que os candidatos devam permanecer atentos às novas publicações para se manterem atualizados em relação às provas discursivas. As mudanças nas últimas duas décadas foram significativas, e esse ritmo deve continuar nos anos vindouros.

Conclusão

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Nosso desejo é que possamos atualizar o presente trabalho e seguir orientando nossos alunos a realizar o sonho de ingressar no serviço público ou de ascender profissionalmente, ou, ainda, de passar no vestibular. Que nós possamos nos reencontrar por meio das redes sociais e, juntos, aprimorar as estratégias de construção de textos. Não deixe de visitar a nossa página, redigirprofdino.com.br e de falar conosco [email protected].

Suas dúvidas e questionamentos serão bem-vindos e, à medida da nossa disponibilidade de tempo, respondidos com a devida atenção.

Forte abraço!Prof. João Dino dos Santos

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