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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 1 - ESTRATÉGIAS RETÓRICO-DISCURSIVAS DE ENVOLVIMENTO NO GÊNERO DISCURSIVO FÓRUM PERMANENTE: UMA ANÁLISE NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA) Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti 1 (IFAL/PPGLL- UFAL) Maria Inez Matoso Silveira 2 (UFAL) Resumo: Este trabalho visa a uma abordagem sobre as estratégias retórico- discursivas de envolvimento, despendidas por um professor-pesquisador, na disciplina Estágio Curricular Supervisionado em Língua Portuguesa, no Curso de Letras, na modalidade a distância. O corpus de análise para este estudo é formado a partir de perguntas e respostas dadas na interação entre professor e graduandos do mencionado Curso, com base em uma temática-chave, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Assim, o propósito deste estudo é perceber como essas estratégias de envolvimento proporcionam, nos interlocutores, respostas mais coerentes ao tema debatido; além de uma participação mais ativa no AVA. A discussão em tela certamente proporciona um olhar ampliado quanto aos aspectos inerentes à Argumentação Retórica; bem como à Teoria e Análise de Gêneros Textuais/Discursivos em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Palavras-chave: Estratégias retórico-discursivas – ensino-aprendizagem da Argumentação – interação virtual Abstract: This work aims to a discussion about the rhetorical-discursive engagement strategies, spent by a professor-researcher, in Supervised in Portuguese, at teachers’ formation in a Language Course, in a virtual context. The corpus of analysis for this study is formed from questions and answers in the interaction among professor and graduates of that Course, based on a key theme in the Virtual Learning Environment (VLE). Thus, the purpose of this study is to understand how these strategies provide involvement in interlocutors, more coherent responses to the topic discussed, and a more active participation in the VLE. The discussion, certainly, provides a larger screen on the aspects present in Rhetoric Argumentation, and the Analysis Theory of Textual/Discourse Genres in Virtual Learning Environments. Key words: rhetorical-discursive strategies – teaching and learning Argumentation – virtual interaction 1 Ricardo Jorge de Sousa CAVALCANTI. Doutorando em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professor e Pesquisador do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Campus Satuba. E- mail: [email protected] 2 Maria Inez Matoso SILVEIRA. Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora e Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: [email protected]

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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

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ESTRATÉGIAS RETÓRICO-DISCURSIVAS DE ENVOLVIMENTO NO GÊNERO DISCURSIVO FÓRUM PERMANENTE: UMA

ANÁLISE NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA)

Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti1 (IFAL/PPGLL- UFAL) Maria Inez Matoso Silveira2 (UFAL)

Resumo: Este trabalho visa a uma abordagem sobre as estratégias retórico-discursivas de envolvimento, despendidas por um professor-pesquisador, na disciplina Estágio Curricular Supervisionado em Língua Portuguesa, no Curso de Letras, na modalidade a distância. O corpus de análise para este estudo é formado a partir de perguntas e respostas dadas na interação

entre professor e graduandos do mencionado Curso, com base em uma temática-chave, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Assim, o propósito deste estudo é perceber como essas estratégias de envolvimento proporcionam, nos interlocutores, respostas mais coerentes ao tema debatido; além de uma participação mais ativa no AVA. A discussão em tela certamente proporciona um olhar ampliado quanto aos aspectos inerentes à Argumentação Retórica; bem como à Teoria e Análise de Gêneros Textuais/Discursivos em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Palavras-chave: Estratégias retórico-discursivas – ensino-aprendizagem da Argumentação – interação virtual Abstract: This work aims to a discussion about the rhetorical-discursive engagement strategies, spent by a professor-researcher, in Supervised in Portuguese, at teachers’ formation in a Language Course, in a virtual context. The corpus of analysis for this study is formed from questions and answers in the

interaction among professor and graduates of that Course, based on a key theme in the Virtual Learning Environment (VLE). Thus, the purpose of this study is to understand how these strategies provide involvement in interlocutors, more coherent responses to the topic discussed, and a more active participation in the VLE. The discussion, certainly, provides a larger screen on the aspects present in Rhetoric Argumentation, and the Analysis Theory of Textual/Discourse Genres in Virtual Learning Environments. Key words: rhetorical-discursive strategies – teaching and learning Argumentation – virtual interaction

1 Ricardo Jorge de Sousa CAVALCANTI. Doutorando em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Professor e Pesquisador do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Campus Satuba. E-mail: [email protected] 2 Maria Inez Matoso SILVEIRA. Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora e

Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). E-mail: [email protected]

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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

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Introdução

Esta discussão visa a uma análise sobre as estratégias retórico-discursivas

de envolvimento, despendidas por um professor-pesquisador, na disciplina Estágio

Curricular Supervisionado III em Língua Portuguesa, no Curso de Letras, na

modalidade a distância, em uma Instituição Pública de Ensino.

Nesse sentido, concebemos as interações dos cursistas como relevantes à

análise do princípio de interação verbal (Bakhtin, 1981) no Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA), em específico, no Gênero Discursivo/Textual Fórum

Permanente.

Assim, elevamos conceitos sobre textualidade e hipertextualidade na

atualidade, a partir de uma concepção retórico-discursiva e argumentativa das

estratégias utilizadas na elaboração ou na retomada discursiva, com base em um

tema proposto ao debate, a fim de se obter uma melhor participação dos cursistas

nesse contexto virtual de aprendizagem.

Acreditamos que o debate em tela possibilita uma melhor percepção acerca

da importância do uso metacognitivo3 da língua(gem) na plataforma MOODLE –

ambiente de hipertextualidade fechado – com o intuito de um melhor envolvimento

(participação) dos cursistas, tendo em vista o caráter assíncrono do Gênero Fórum

Permanente nesse Ambiente de aprendizagem. O debate em voga, certamente, é

de interesse dos pesquisadores e estudiosos da língua(gem); bem como das

tecnologias, já que os sujeitos, principalmente, no papel de mediadores da

aprendizagem, precisam pensar acerca das estratégias de envolvimento que

deverão ser despendidas em um contexto de ensino-aprendizagem que, a princípio,

não conta com a interação face a face.

3 O termo metacognitivo aqui deve ser compreendido como sinônimo de consciente, ou seja, na perspectiva linguístico-

discursiva se diz sobre o uso consciente da língua (gem) – a metalinguagem. Tal abordagem deve ser encarada numa perspectiva cognitivista.

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Para o estabelecimento da presente discussão, debruçamo-nos teórico-

metodologicamente na abordagem de Gêneros Discursivos de Bakhtin (2003); nos

aspectos da Textualidade, advindos da Linguística Textual, cunhados por Marcuschi

(1983; 2008); além das estratégias retórico-discursivas, alicerçadas na Nova

Retórica, consoante Perelman & Tyteca (2005); Reboul (1998); Plantin (2008);

dentre outros. Ademais, acreditamos que tal debate proporcionará aos professores

e pesquisadores inseridos na EaD uma incursão nos mecanismos retórico-discursivos

necessários às práticas linguageiras de aprendizagem na interação virtual.

Sobre Textualidade, Hipertextualidade e a noção de Gêneros

Discursivos com vistas aos Ambientes Virtuais de Aprendizagem

(AVA)

Reconhece-se que o conceito de Texto é bastante amplo e está subjulgado

a práticas linguageiras as mais diversas, desde aquelas que se aplicam ao texto

verbal, logo linguisticamente analisável, àquelas que tomam o texto como uma

unidade de sentido, e que não se restringem ao plano verbal. Tal conceito pode ser

representado por meio das várias linguagens, a exemplo da semiótica (gestual,

imagética, pictórica etc); não havendo, assim, certo consenso entre os próprios

linguistas.

No que diz respeito ao conceito de Hipertexto, segundo Gomes (2011), foi

utilizado, a princípio, na área da informática na década de 60, e se expandiu às

ciências da linguagem nos anos 90. Nesse tocante, podendo ser linguisticamente

conceituado como:

[...] um texto exclusivamente virtual que possui como elemento central a

presença de links. Esses links, que podem ser palavras, imagens, ícones, etc., remetem o leitor a outros textos, permitindo percursos diferentes de leitura e de construção de sentidos a partir do que for acessado e, consequentemente, pressupõe certa autonomia de escolha dos textos a serem alcançados através dos links. É um texto que se atualiza ou se

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realiza, se concretiza, quando clicado, isto é, quando percorrido pela seleção dos links . (GOMES, 2011, p.15).

Nessa perspectiva de hipertextualidade dos gêneros virtuais/digitais,

concebemos o Fórum Permanente como constitutivo de uma rede hipertextual

fechada, visto que os links dispostos para a realização da interação são entendidos

como artefatos linguístico-discursivos para acesso no próprio AVA, em corroboração

com Gomes (op.cit. p.55-56).

Hodiernamente, há de conceber, o surgimento de alguns gêneros

textuais/discursivos, sobretudo, em contextos virtuais/digitais. Nesse tocante,

trazemos à tona alguns conceitos sobre Gêneros do Discurso, numa perspectiva

bakhtiniana (2003). O propósito de continuidade dessa discussão não versa uma

visão taxionômica quanto ao estudo de novos gêneros na hipertextualidade, mas

para compreender o conceito linguístico-filosófico postulado por essa teoria para, a

partir disso, estabelecermos uma melhor apreciação do Gênero Fórum

Permanente.4

Reconhecemos o conceito sobre Gêneros Discursivos na obra Estética da

Criação Verbal (BAKHTIN, 2003, p.261-306). No entanto, já em Marxismo e

Filosofia da Linguagem (IDEM, 1981), especificamente no capítulo que trata sobre a

Interação Verbal, já nos é apresentada a noção de gêneros na Linguística, com base

na seguinte assertiva: “Só se pode falar de fórmulas específicas, de estereótipos no

discurso da vida cotidiana quando existem formas de vida em comum relativamente

regularizadas, reforçadas pelo uso e pelas circunstâncias.” (BAKHTIN, 1981, p.125)

Obviamente, o autor em debate trata sobre a regularidade das enunciações

em determinadas situações, que levaria a formas relativamente estereotipadas, e

realizadas, a partir de um auditório inscrito no social. A bem da verdade, o estudo

dos gêneros não é recente, mas esteve, por um tempo considerável, ligado à

Retórica e à Poética, estendo agora aos mais variados campo do saber, para além

4 - Tal terminologia está em consonância com a Plataforma Moodle/IFAL. Acesso por meio do link http://moodle.ifal.edu.br/

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dos estudos linguísticos. O que, a nosso ver, se torna diferencial é que Bakhtin

(op.cit) traz aos estudos linguísticos um legado para reflexão quanto às

características inerentes à constituição de um gênero, a exemplo de: estrutura

composicional (conteúdo), forma e estilo.

Com base nessa incursão discursiva, salientamos que na perspectiva

bakhtiniana os gêneros que circulam na atualidade se convencionalizaram como tal

a partir do seu uso recorrente; considerando o princípio bakhtiniano que todo

gênero secundário antes precisou ser primário.

Nesses termos, entendemos que o surgimento de novas aparições

discursivas pode ser encarado, do ponto de vista bakhtiniano, como uma certa

violação a um determinado estilo, por se considerar uma infração; ao tempo em

que pode se considerar essa transmutação de um enunciado a outro como uma nova

forma enunciativa que, com efeito, caracteriza a aparição de um novo gênero do

discurso.

Assim, sem a pretensão de buscar um conceito homogêneo e taxionômico

sobre o gênero Fórum, trazemos uma breve explanação, baseada em Costa (2008),

por meio de um verbete; a saber:

[...] A construção desses discursos argumentativos se dá na interação entre os interlocutores-usuários, mediada por turnos que se alternam em forma de debate, no que se assemelha ao fórum (v.) tradicional oral, quando a

discussão (v.) for síncrona, como nos chats (v.), ou por mensagens postadas, quando assíncrona. Neste caso, os usuários leem as opiniões dos outros e postam as suas próprias para que outros possam contestar ou não[...]. (COSTA, 2008, p.104-105).

Em nosso caso específico, adequamo-nos melhor a perspectiva conceitual

de mensagens postadas de forma assíncrona em que há necessidade de uma leitura

das opiniões dos participantes da interação em tela para, assim, emitir juízo de

valor com vistas à temática proposta. A nossa observação quanto a alguns gêneros

virtuais/digitais permite-nos abordar que, pela própria natureza do gênero Fórum,

as últimas mensagens postadas, comparadas às primeiras, demonstram certa

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mobilidade na discussão proposta; configurando, por vezes, o que é típico em

gêneros assíncronos, a exemplo do blog, cuja necessidade de recuperação das cinco

últimas interações, em média, são evidentes; enquanto que as demais não são

constantemente recuperadas pelos interlocutores nesse processo de interação. No

entanto, do ponto de vista da Linguística Textual, tal digressão não compromete a

chamada Coerência Textual com vistas ao tema proposto.

A ascensão dos estudos sobre Argumentação e as estratégias

retórico-discursivas de envolvimento

A atividade da argumentação se reveste de grande complexidade;

consequentemente, seu estudo tem se caracterizado como interdisciplinar. Os mais

antigos estudos da argumentação remontam aos gregos, através dos ensinamentos

da Retórica, disciplina destinada à preparação dos cidadãos para bem utilizarem os

discursos públicos. Essa disciplina, desde a antiga tradição greco-latina, sempre

teve vinculação com a Lógica e a Dialética. E assim, a argumentação se relaciona

ao raciocínio lógico, cujas regras tradicionalmente seguem a teoria do silogismo.

Mas argumentar também quer dizer dialogar. Nesse sentido, acrescenta

Plantin (2008, p.8-9) que, do ponto de vista da organização clássica das disciplinas,

a argumentação está vinculada à Lógica, “a arte de pensar corretamente”; à

Retórica , “a arte de bem falar” e à Dialética, “a arte de bem dialogar”.

Após um longo período milenar de vigência no ensino e na tradição escolar,

a Retórica sofreu uma espécie de deslegitimação por conta do pensamento

científico positivista no século XIX. Mas, em meados do século XX, a retórica teve o

seu revival através dos trabalhos de alguns estudiosos como Perelman & Tyteca

(1958) e Toulmin (1958), em que o caráter retórico da argumentação foi retomado.

Ao mesmo tempo, a argumentação também despertou o interesse de linguistas, a

exemplo de Anscombre & Ducrot (1983). Para esses autores, a argumentação é

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uma atividade inerente, constitutiva da linguagem humana e, no Brasil, a ideia de

operadores argumentativos passou a circular e a motivar trabalhos a respeito da

argumentação na língua, como, por exemplo, em Koch (1984).

No Brasil, recentemente tem havido um interesse crescente nos estudos

sobre a argumentação e suas aplicações no ensino da língua, principalmente na

língua escrita. Obras importantes de introdução à teoria retórica e argumentação,

como as de Reboul (1998) e Breton (1999) começaram a ser mais publicadas no

Brasil contribuindo para a divulgação de vários conceitos da área, como os lugares

e os tipos de argumentos, as noções de auditório, adequação dos discursos à

situação retórica, dentre muitos outros, que têm sido de grande valia para a

transposição didática.

Assim, a teoria da Argumentação, tanto a de cunho retórico quanto a que

se refere à teoria da argumentação na língua, certamente, traz uma vasta

contribuição para os estudos sobre língua(gem). É com esse intuito que trazemos à

baila para este trabalho tais conceitos a fim de percebermos que, por meio de

estratégias que julgamos ser retórico-discursivas de envolvimento, percebemos a

participação dos cursistas em um Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Com

efeito, seguramente, os sujeitos imersos em práticas de língua(gem), cuja

autonomia para acesso e participação se torna condição sine qua non à realização

das atividades propostas, tem um maior relevo quando o professor, nesse contexto

de aprendizagem, dispõe, de forma consciente, de mecanismos retórico-

discursivos de envolvimento (participação).

A argumentação está presente constantemente nesse contexto de ensino-

aprendizagem, tendo em vista a necessidade que todo sujeito tem de demonstrar

um ponto de vista – convencendo, persuadindo, ou ainda refutando. É importante

ressaltar que essa percepção argumentativa e de envolvimento deverão estar

presentes desde a elaboração de materiais didáticos, numa perspectiva

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sociointeracionista5 de ensino-aprendizagem de língua(gem), à análise das

interações dispostas nesse Ambiente.

A metodologia utilizada e a constituição do corpus para análise deste

trabalho

A análise realizada acerca das interações no AVA dar-se de forma

qualitativa, numa perspectiva linguístico-interpretativista, visto que intentamos

analisar o processamento discursivo, isento do viés da produção textual/discursiva

meramente como um produto.

Assim, para proceder a tal ação, escolhemos, com base em um recorte

sincrônico, um corpus constituído por interações entre o professor-pesquisador e

os cursistas do Curso de Letras, tendo em vista a discussão proposta como Tema I,

que foi Pesquisa Qualitativa Educacional – neste contexto de investigação.

A disciplina que serviu para esta pesquisa teve o seu início em 03/08/2013

e foi encerrada em 11/10/2013. No entanto, no caso do tema do Fórum

Permanente em análise, foi aberta a discussão em 20/08/2013 e estendida até

23/09/2013.

No período em foco, contamos com 64 (sessenta e quatro) interações entre

23 (vinte e três) cursistas, 01 (um) tutor e 01 (um) professor-pesquisador.

Há de salientar que um texto-base serviu para desencadear a discussão

proposta neste momento de formação acadêmico-profissional. (cf. PEREIRA

JUNIOR, R.R; CAVALCANTI, R.J.S. O Estágio nos Cursos de Licenciatura em Letras:

uma postura acadêmico-científica na perspectiva da pesquisa qualitativa

educacional. DEPEAD/IFAL: 2012).

5 - A visão sociointeracionista de língua(gem) considera o sujeito como socialmente situado e que, a partir disso, estabelece

interações verbais com vistas a um auditório - seja amplo ou restrito -, com o intuito de se estabelecer sempre uma interlocução/ uma dialogia.

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Em seguida, disponibilizaremos, por meio de figuras extraídas da

plataforma MOODLE, 07 (sete) interações realizadas entre o professor-pesquisador

e os alunos cursistas para, logo abaixo, estabelecer uma discussão com vistas às

categorias retórico-discursivas de envolvimento; além de alguns apontamentos no

que tange aos tipos de argumentos despendidos por algumas desses sujeitos

cursistas no processo de interação virtual.

Figura 1 – Interação 1 – Professor-pesquisador

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

A Figura 1 diz respeito à abertura do tópico proposto à discussão. Demos

relevo aos termos qualitativo e pesquisador, visto que a discussão proposta

vislumbrava tratar sobre o papel do professor, com vista à sua formação como

pesquisador, em contextos de pesquisa de caráter qualitativo. Observemos que o

professor-pesquisador já arrola no início de sua discussão com a turma uma

estratégia retórico-discursiva de envolvimento visando à interação virtual nesse

contexto de aprendizagem. Tal estratégia pode ser evidenciada nessa Figura 1 por

meio do não acham? (em destaque com a cor vermelha). Há de se salientar que tal

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estratégia retórico-discursiva pode ser considerada nos estudos da argumentação

como um questionamento oportuno na busca da adesão do auditório, o chamado

Pathos. O Pathos, do ponto de vista dos estudos retóricos, visa a uma apreciação

que o Ethos estabelece acerca do outro, noutros termos, é uma dimensão que o

locutor faz com vistas ao outro. Tal abordagem, numa perspectiva bakhtiniana, é

considerada do ponto de vista do princípio de alteridade, cuja interação verbal é

estabelecida com base nos dialogos estabelecidos entre sujeitos socialmente

situados.

Figura 2 – Interação 2 – Cursista Maria6

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

A Figura 2 diz respeito à interação realizada pela Aluna Maria (nome

fictício) com base na proposição lançada na interação anterior (Figura 1). Como

podemos perceber, a cursista inicia a sua interação saudando a todos presentes

naquele espaço discursivo. Ao longo do seu texto, podemos perceber a necessidade

do estabelecendo da Coerência com vista ao tema proposto para, após sua

explanação acerca do tema, posicionar-se com uma marca de subjetividade, a

6 - A partir da Figura 2, cujas análises dizem respeito às interações dos cursistas, salientamos que os nomes são de ordem

fictícia, a fim de se preservar a identidade dos sujeitos participantes desta Discussão.

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perceber: julgo (em destaque com cor verde). A bem da verdade, nos estudos

retórico-discursivos, reconhecemos quão positiva é o sujeito produtor do discurso

assumir-se por meio da demonstração do seu ponto de vista. Tal posicionamento,

certamente, demonstra a necessidade de que todos os sujeitos têm quando emitem

um ponto de vista, que é o de ser aceito. Essa passagem textual é relevante a fim

de se perceber que neste gênero textual/discursivo – o Fórum Permanente – deve-

se haver um constante trabalho para que os sujeitos integrantes desse contexto se

mostrem por meio de suas opiniões, suas subjetividades.

Figura 3 – Interação 3 – Cursista Pedro

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

A Figura 3 é pertencente ao cursista Pedro. Nela, podemos perceber

claramente a necessidade do estabelecimento da interação por meio da

explicitação do nome da cursista da Interação 2 (cuja demonstração se dá por meio

da tarjeta em azul em que consta a preservação da identicação da cursista). Há de

se considerar, mesmo com a ausência de marcadores de subjetividade, que essa

interlocução foi estabelecida a partir de uma adesão ao ponto de vista

demonstrado anteriormente.

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Figura 4– Interação 4 – Cursista Pedro

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

Nessa interação, representada pela Figura 4, há uma postagem em seguida

do mesmo cursista da Figura 3, o aluno Pedro. Nela, podemos perceber que há uma

continuidade na discussão por ele proposta, só que, nesse momento, utilizando-se

para iniciar a sua interlocução a expressão Bem sabemos (destacada em cor azul na

Figura). Entendemos que, além da necessidade de participar do processo

interlocutivo, esse cursista utiliza-se de um mecanismo retórico-discursivo bastante

eficaz, a nosso ver, que é o argumento baseado no senso comum.

Esse argumento, quando utilizado, como é o caso aqui apresentado,

representa que o interlocutor inicia a demonstração do seu ponto de vista com a

perspectiva de os outros interlocutores aderirem à sua opinião nesse processo

retórico-discursivo. Isso nos faz compreender que esse cursista, na emissão de seu

juízo de valor, faz uma projeção nítida do seu auditório social.

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Figura 5– Interação 5 – Cursista Bianca

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

A Figura 5 é representativa da interação da cursista Bianca. Nessa Figura,

podemos reconhecer algumas marcas já analisadas anteriormente nas postagens

dos cursistas. Acreditamos que pelo fato de o Fórum Permanente se enquadrar em

um gênero textual/discursivo assíncrono, cuja interação, majoritariamente, se dá a

partir de uma alusão a comentários anteriores, a fim de se estabelecer o que temos

defendido ao longo desta discussão que é a interação virtual/digital.

Percebemos, na Figura em tela, inicialmente a saudação Olá caríssimos

colegas (sublinhado com linha preta) como aspecto prototípico de contextos de

interação imediata ou mediata7; o uso do Bem sabemos (sublinhado na cor azul),

7 - Diz-se de interação imediata aquela que ocorre de forma síncrona, ou seja, ao tempo da interlocução, a exemplo da

interação face a face, do chat, do telefonema, dentre outras formas; enquanto que na interação mediata, há um tempo para se responder ao que foi “solicitado”; esse é o caso do gênero Fórum, dos comentários dos blogs etc. A de se considerar no

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reafirmando o argumento pautado no senso comum, com o intuito de refutar

opiniões que não se movam para essa fronteira de discussão.

Ademais, podemos perceber nessa postagem a necessidade de se enfatizar

um ponto de vista, por meio do marcador discursivo Vale ressaltar (destacado na

cor verde). Cabe salientar que não tão somente esse marcador discursivo se fez

presente, mas também o Dessa forma (destacado na cor verde); e sua presença

certamente visa à necessidade de explicitação do entendimento do cursista na

consideração do tema proposto à discussão. Corroboramos com Koch (1984), ao

tratar sobre a importância do uso dos marcadores lógicos e discursivos (grifo nosso)

em nossas práticas de produção escrita. Para essa autora, a primeira instância para

análise da argumentação se dá via dispositivos linguísticos que a língua

proporciona.

Figura 6– Interação 6 – Professor-pesquisador

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

tocante à interação mediata que o tempo para o estabelecimento da resposta, atualmente, se torna cada vez mais próximo da interação imediata, tendo em vista os dispositivos tecnológicos que estão presentes na sociedade, a exemplo das tecnologias Android e IOS disponíveis em aparelhos telefônicos móveis.

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A Figura 6 representa a interação, via feedback, do Professor-pesquisador,

considerando as interlocuções estabelecidas até aquele momento.

Nessa interação 6, fica mais nítida a presença de mecanismos de retomada

daquilo que foi exposto pelos cursistas, como ponto de vista, em suas interações. A

exemplo disso, temos a expressões Excelentes contribuições e como vocês bem

disseram (ambas destacadas em preto na Figura). Interações com esse teor, a nosso

ver, não podem ser consideradas meramente como mecanismos de retomada, mas,

sobretudo, como uma estratégia retórico-discursiva pertinente a fim de se

estabelecer a continuidade da discussão. Elevar as interações escritas dos cursistas,

em contextos virtuais/digitais de aprendizagem, possibilita uma melhor atitude

responsiva ativa – nos dizeres bakhtinianos – por parte dos cursistas na consideração

do princípio da interação.

As expressões circuladas na Figura 6 em vermelho, a exemplo de: não é

isso?! Já refletiram sobre isso? Vamos refletir nesse tocante? são consideradas,

nesse contexto de aprendizagem, como excelentes estratégias retórico-discursivas

de envolvimento visando a uma melhor participação dos cursistas. Entendemos

como estratégias retórico-discursivas de envolvimento todo mecanismo linguístico-

discursivo que tenha como premissa, principalmente em contextos assíncronos –

como é o nosso caso, fazer com que o sujeito leitor (interlocutor) seja instado a

participar, de forma ativa, do debate estabelecido.

Tal participação é bastante evidente, tendo em vista que o professor-

pesquisador, na construção das suas interações, considerou o auditório que estava

inserido, articulando os princípios da Retórica Clássica, que são: o Ethos, a imagem

que se apresenta ao outro; o Pathos, a imagem que se tem do outro; e o Logos, que

é o raciocínio que se estabelece acerca do discurso pertinente para envolver o

outro e levá-lo ao convimento, em nosso caso, no estabelecimento da interação.

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Figura 7– Interação 7 – Cursista Patrícia

Fonte: Plataforma Moodle/IFAL – Estágio Curricular III em Língua Portuguesa (2013.2)

Na Figura 7, que representa a interação da Cursista Patrícia; e que

trazemos neste artigo como a última para o estabelecimento da discussão proposta,

podemos perceber que a concordância com o ponto de vista demostrado pelo

professor, na interação 6, se deu pela expressão É verdade professor. Julgamos tal

atitude não apenas como uma forma de concordância passiva, mas de identificação

com o discurso que lhe foi apresentado. Tal assertiva é reforçada quando a cursista

estabelece um diálogo entre as interações por ela lidas e o material destinado à

leitura e interação virtual, por meio da expressão Uma passagem do capítulo que

me chamou atenção. Entendemos tal expressão não apenas na perspectiva de

estabelecimento de diálogo com aquilo que foi lido ou discutido no Fórum, mas

como uma forma de assegurar o seu ponto de vista por meio de um argumento de

autoridade. Esse argumento é reconhecido dessa forma porque na interação em

análise 0podemos perceber que o capítulo, para a cursista, é uma forma de

demostrar que o autor do texto lido é uma autoridade e, certamente, alicerça o

seu ponto de vista.

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Considerações finais

Como sinalizamos no início desta discussão, selecionamos um corpus

sequencial de 07 (sete) interações no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) –

Plataforma Moodle. O que pudemos observar, diante desses excertos analisados, é

que há uma evidência recorrente quanto à necessidade de se estabelecer a

Progressividade Textual (Coerência), por meio da rede de relações que são tecidas

com base no tema-chave.

Ademais, reconhecemos que a utilização de estratégias retórico-discursivas

de envolvimento, por parte do professor , a exemplo de: (...) não acham?!; não é

isso?!; Já refletiram sobre isso?; Vamos refletir nesse tocante? etc, são excelentes

mecanismos retórico-discursivos para a garantia da Interatividade Virtual no

contexto de ensino-aprendizagem em gêneros textuais/discursivos assíncronos.

Além disso, há de se enfatizar a necessidade de o professor, mediador da

aprendizagem em contextos virtuais/digitais, ter atitudes metacognitivas no que

diz respeito ao uso da língua(gem) em ambientes de aprendizagem.

Podemos concluir, com base neste recorte sincrônico analisado, que, em

contextos acadêmicos, os alunos, além de estabelecerem a interatividade por meio

de estratégias linguístico-anafóricas (coesão e coerência), utilizam também

argumentos de autoridade com o propósito de assegurar o seu ponto de vista. Há

de se perceber, bem como, alguns “deslizes” ortográficos, não comprometendo o

entendimento do sentido textual/discursivo como um todo enunciativo articulado.

O presente trabalho suscita discussões as mais diversas, tanto no âmbito

dos estudos da língua(gem), quanto nos de teor da Teoria da Comunicação.

Há de se conceber, a partir desta discussão, que princípio dialógico da

linguagem se expande a contextos diversos. Os meios virtuais/digitais são,

certamente, “novas” demandas sociais e carecem de estudos e pesquisas nos mais

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variados âmbitos e, em especial, naqueles cujo binômico ensino-aprendizagem seja

ressignificado constantemente.

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