artigo científico - síndrome de down modelo de configuração

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SÍNDROME DE DOWN - DESCOBRINDO E TRABALHANDO COM A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Resumo A inclusão de pessoas com necessidades especiais no sistema regular de ensino é um dos mais importantes desafios vivenciados, principalmente, por educadores, por isso, este artigo tem como base a interação entre alunos com e sem Síndrome de Down, objetivando também práticas pedagógicas, desde a sua Educação Infantil, pois as crianças podem evoluir tanto quanto as outras, a diferença é somente o tempo de aprendizado e os estímulos recebidos. O objetivo principal é realizar ações planejadas para a promoção de relacionamentos afetivos entre família, alunos, professor e escola, tendo como referência leis que garantem aos deficientes a inclusão, as adaptações curriculares e principalmente, a igualdade por todos. Palavras-chaves: Inclusão, educação e interação. 1

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Page 1: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

SÍNDROME DE DOWN - DESCOBRINDO E TRABALHANDO

COM A INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Resumo

A inclusão de pessoas com necessidades especiais no sistema regular de

ensino é um dos mais importantes desafios vivenciados, principalmente, por

educadores, por isso, este artigo tem como base a interação entre alunos com e

sem Síndrome de Down, objetivando também práticas pedagógicas, desde a sua

Educação Infantil, pois as crianças podem evoluir tanto quanto as outras, a diferença

é somente o tempo de aprendizado e os estímulos recebidos.

O objetivo principal é realizar ações planejadas para a promoção de

relacionamentos afetivos entre família, alunos, professor e escola, tendo como

referência leis que garantem aos deficientes a inclusão, as adaptações curriculares e

principalmente, a igualdade por todos.

Palavras-chaves: Inclusão, educação e interação.

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Page 2: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

1. INTRODUÇÃO

1.1 O que é Inclusão?

Entendemos por Inclusão o ato ou efeito de incluir. O conceito de educação

inclusiva ganhou maior notoriedade a partir de 1994, com a Declaração de

Salamanca. No que respeita às escolas, a idéia é de que as crianças com

necessidades educativas especiais sejam incluídas em escolas de ensino regular e

para isto todo o sistema regular de ensino precisa ser revisto, de modo a atender as

demandas individuais de todos os estudantes. O objetivo deste artigo é mostrar que

o processo de inclusão necessita de muitos ajustes para que possa demonstrar uma

evolução da cultura ocidental, defendendo que nenhuma criança deve ser separada

das outras por apresentar alguma diferença ou necessidade especial. Além disso,

esta integração assume a vantagem de existir interação entre crianças, procurando

um desenvolvimento conjunto, com igualdade de oportunidades para todos e

respeito à diversidade humana e cultural. No entanto, a inclusão tem encontrado

imensa dificuldade de avançar, especialmente devido a resistências por parte das

escolas regulares, em se adaptarem de modo a conseguirem integrar as crianças

com necessidades especiais, o convívio contínuo com a família dos Down e dos

alunos considerados “normais”, e principalmente aos altos custos para se criar as

condições adequadas. Além disto, alguns educadores resistem bastante a este novo

paradigma, que exige destes uma formação mais ampla e uma atuação profissional

diferente da que têm experiência.

“... o deficiente pode aprender”, tornou-se a palavra de ordem, resultando

numa mudança de paradigma do “modelo médico”, predominante até então,

para o “modelo educacional” GLAT (1995).

A ênfase não era mais a deficiência intrínseca do indivíduo, mas sim a falha

do meio em proporcionar condições adequadas que promovessem a aprendizagem

e o desenvolvimento

A linha do construtivismo é uma forma bastante rica e de fácil assimilação de

conteúdo. Piaget afirmava:

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Page 3: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

“... os indivíduos nascem apenas com potencialidades (capacidade inata) a

capacidade de aprender. Assim, todo conhecimento e todo o

desenvolvimento da criança depende de exposição ao meio e dos estímulos

advindos deste” PIAGET (1974).

Para Jean Piaget, a base do conhecimento é a transferência e assimilação

de "estruturas". Assim, um conhecimento, um estímulo do meio é encarado como

uma estrutura que será "assimilada" pelo indivíduo através de sua capacidade de

aprender.

1.2 Lei 9394/96

A aprovação da Lei de Diretrizes Educacionais - LDB (Lei 9394/96)

estabeleceu, entre outros princípios, o de "igualdade e condições para o acesso e

permanência na escola" e adotou nova modalidade de educação para "educandos

com necessidades especiais."

O que era para ser tratado como Inclusão vem gerando algumas

controvérsias, tanto no meio acadêmico quanto na própria sociedade, acarretando

sentidos distorcidos.

Pesquisa realizada no Brasil (ano 2006) comprova que 80% das pessoas

com síndrome de down freqüentavam a escola no momento da pesquisa, ficando

assim distribuído:

1.2.1 30% dos estudantes freqüentam escolas especiais públicas;

1.2.2 24% estão em escolas especiais privadas;

1.2.3 46% freqüentam cursos EJA (antigo supletivo), sem estrutura e capacidade

didática para o desenvolvimento do aluno, retardando o seu ano letivo,

onde encontramos alunos com 21 anos de idade, sem interrupção de

estudos, ainda cursando o Ensino Fundamental.

1.3 Pesquisas realizadas com profissionais na área pedagógica e

administrativa:

Muitas pessoas com Síndrome de Down são vistas de forma distorcida,

mesclando entre pena e resignação à sua limitação. Do ponto de vista da

“informação” conhecimentos específicos são escassos, em todas as categorias

profissionais.

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Page 4: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

Com base no estudo da pedagoga Rita de Cássia Pereira Lima (2000),

foram coletadas informações em relação à inteligência:

“... tem uns que tem... dificuldade e facilidade para aprender (...) tem os que

têm mais dificuldade e os que têm menos dificuldade...” (curso superior completo -

terapeuta ocupacional);

“... não sabe ler, não sabe nem escrever... porque a parte intelectual deles é

comprometida. É aquela parte do cérebro que não elabora. Aquela viscosidade (...)

Não tem como! Por mais técnica que você tenha de alfabetização, de técnica

pedagógica, não elabora...” (curso superior – pedagogia);

“...chorei muito de início, chorava o dia todo, todo dia chorava... vinha do

serviço, eu chorava, eu via uma deformidade, eu chorava, sabe?” (ensino

fundamental completo - cozinheira);

“... sempre serão ajudantes, né? Estão ajudando a fazer tapetes, ajudando

na dança, ajudando na música... Eles não são oficiais, mas sempre ajudantes... e

bons ajudantes...” (curso superior completo – pedagogia);

“... eles só podem realizar serviços de produção...” (curso superior completo

- terapeuta ocupacional);

“... o futuro deles... depende muito da família...” (ensino fundamental

completo – auxiliar de serviços).

Isso é completamente contrário à idéia da educação inclusiva.

O portador da síndrome de down é capaz de compreender suas limitações e

conviver com suas dificuldades, "73% deles tem autonomia para tomar iniciativas,

não precisando que os pais digam a todo momento o que deve ser feito.". Isso

demonstra a necessidade/possibilidade desses indivíduos de participar e interferir

com certa autonomia em um mundo onde "normais" e deficientes são semelhantes

em suas inúmeras diferenças.

Por outro lado, "...atualmente, no ensino regular, a criança deve adequar-se

à estrutura da escola para ser integrada com sucesso. O correto seria mudar o

sistema, mas não a criança. No ensino inclusivo, a estrutura escolar é que se deve

ajustar às necessidades de todos os alunos, favorecendo a integração e o

desenvolvimento de todos, que tenham ou não limitações" SCHWARTZMAN (1999,

p253).

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Page 5: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

“...a sociedade inclusiva é uma proposta que não está ligada a quem é

minoria, mas quem está em minoria.” WERNECK (1999).

1.4 Síndrome de Down

1.4.1 O que é?

A síndrome de Down é uma ocorrência genética natural e universal, estando

presente em todas as raças e classes sociais. É a alteração genética mais comum,

sendo registrada aproximadamente em 1 de cada 700 nascimentos. Não é uma

doença e, portanto, as pessoas com síndrome de Down não são doentes. Não é

correto dizer que uma pessoa sofre de, é vítima de, padece ou é acometida por

síndrome de Down. O correto seria dizer que a pessoa tem ou nasceu com a

síndrome de Down. A síndrome de Down também não é contagiosa.

1.4.2 Genética

Por motivos ainda desconhecidos, durante o desenvolvimento das células do

embrião são formados 47 cromossomos no lugar dos 46 que se formam

normalmente. O material genético em excesso altera o desenvolvimento regular da

criança. Este material extra se encontra localizado no par de cromossomos 21, daí o

outro nome pelo qual é conhecida, Trissomia do 21. Para confirmar o diagnóstico de

síndrome de Down é necessário fazer um exame genético chamado cariótipo.

Os efeitos do material genético adicional variam enormemente de indivíduo

para indivíduo. Não há exames que determinem, no nascimento, como a pessoa vai

se desenvolver. Para que ela tenha condições de desenvolver todo seu potencial é

importante que seja encaminhada, ainda bebê, a profissionais habilitados para um

programa de estimulação precoce.

Até os cinco anos o cérebro das crianças com síndrome de Down, encontra-

se anatomicamente similar ao de crianças normais, apresentando apenas alterações

de peso, que nestas crianças encontra-se inferior a faixa de normalidade, que ocorre

devido uma desaceleração do crescimento encefálico iniciado por volta dos três

meses de idade.

Esta desaceleração encontra-se de forma mais acentuadas em meninas,

onde observamos também, freqüentes alterações cardíacas e gastrintestinais.

SCHWARTZMAN, (1999, p.47), relata que há algumas evidencias de que durante o 5

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último trimestre de gestação existe uma lentificação no processo da neurogênese.

Apesar da afirmação as alterações de crescimentos e estruturação das redes

neurais após nascimento são mais evidentes e estas se acentuam com o passar do

tempo.

1.4.3 Incidências

Como a maioria das mulheres que têm filhos é jovem, cerca de 80% das

crianças com síndrome de Down nascem de mulheres com menos de 35 anos. Mas

a incidência da síndrome de Down em mulheres mais velhas é maior. De cada 400

bebês nascidos de mães com mais de 35 anos, um tem síndrome de Down.

1.4.4 Características da Síndrome de Down.

As três principais características da síndrome de Down são:

1.4.4.1 A hipotonia (flacidez muscular, o bebê é mais molinho);

1.4.4.2 O comprometimento intelectual (a pessoa aprende mais devagar);

1.4.4.3 O fenótipo (aparência física).

Algumas das características físicas são: olhos amendoados, uma linha única

na palma de uma ou das duas mãos, dedos curtinhos, entre outros. Mas apesar da

aparência por vezes comum entre pessoas com síndrome de Down, é preciso

lembrar que o que caracteriza mesmo o indivíduo é sua carga genética familiar, o

que faz com que seja parecido com seus pais e irmãos.

As crianças com síndrome de Down encontram-se em desvantagem em

níveis variáveis face a crianças sem a síndrome, já que a maioria dos indivíduos

com síndrome de Down possui retardo mental leve (QI 50-70) a moderado (QI 35-

50), com os escores do QI de crianças possuindo síndrome de Down do tipo

mosaico tipicamente 10-30 pontos maiores. Além disso, indivíduos com síndrome de

Down podem ter sérias anomalias afetando qualquer sistema corporal.

Outra característica freqüente é a microcefalia, um reduzido peso e tamanho

do cérebro. O progresso na aprendizagem é também tipicamente afetado por

doenças e deficiências motoras, como doenças infecciosas recorrentes, problemas

no coração, problemas na visão (miopia, astigmatismo ou estrabismo ou) e na

audição.

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Vários aspectos podem contribuir para um aumento do desenvolvimento da

criança com síndrome de Down: intervenção precoce na aprendizagem,

monitorização de problemas comuns como a tiróide, tratamento medicinal sempre

que relevante, um ambiente familiar estável e condutor, práticas vocacionais, são

alguns exemplos. Por um lado, a síndrome de Down salienta as limitações genéticas

e no pouco que se pode fazer para sobrepô-las; por outro, também salienta que a

educação pode produzir excelentes resultados independentemente do início. Assim,

o empenho individual dos pais, professores e terapeutas com estas crianças pode

produzir resultados positivos inesperados.

As crianças com Síndrome de Down freqüentemente apresentam redução

do tônus dos órgãos fonoarticulatórios e, conseqüentemente, falta de controle motor

para articulação dos sons da fala, além de um atraso no desenvolvimento da

linguagem. O fonoaudiólogo será o terapeuta responsável por adequar os órgãos

responsáveis pela articulação dos sons da fala além de contribuir no

desenvolvimento da linguagem.

1.4.5 Como se vive com a Síndrome de Down?

Hoje pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços

impressionantes e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, e também aqui no

Brasil, há pessoas com síndrome de Down estudando, trabalhando, vivendo

sozinhas, se casando e até chegando à universidade. A melhor forma de combater o

preconceito é através da informação e da inclusão de TODAS as pessoas, na

família, na escola, no mercado de trabalho e na comunidade.

2. DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE PEDAGÓGICA

2.1 Pensamento Pedagógico

Todo o conjunto pedagógico precisa ser levado em consideração:

2.1.1 Organização administrativa e disciplinar;

2.1.2 O currículo do período letivo;

2.1.3 Métodos pedagógicos;

2.1.4 Recursos humanos (professores habilitados para o desenvolvimento destes

alunos);

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Page 8: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

2.1.5 Materiais da escola.

A figura mais importante neste estudo é do professor. O professor é o

mentor, formador de opinião, e a pessoa que irá desenvolver ou não as habilidades

destes alunos.

A empatia deve prevalecer, conhecimento real da inclusão destes alunos,

quais sejam, lidar com as diferenças e preconceitos por parte de pais e alunos; com

as expectativas e possíveis frustrações dos familiares portadores da síndrome; com

as limitações e alcances dos próprios portadores, dentre outras.

O professor deve ser o detentor de conhecimentos teóricos específicos com

fundamentos médicos, psicológicos, pedagógicos e sociológicos.

Crianças especiais como as portadoras de síndrome de Down, não

desenvolvem estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado

em seu processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades

em resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.

As dificuldades ocorrem principalmente por que a imaturidade nervosa e não

mielinização das fibras pode dificultar funções mentais como: habilidade para usar

conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que incluam imaginação,

relações espaciais, esquema corporal, habilidade no raciocínio, estocagem do

material aprendido e transferência na aprendizagem. As deficiências e debilidades

destas funções dificultam principalmente as atividades escolares.

A educação da criança é uma atividade complexa, pois exige adaptações de

ordem curricular que requerem cuidadoso acompanhamento dos educadores e pais

SCHWARTZMAN (1999, p. 233).

E o ensino das crianças especiais deve ocorrer de forma sistemática e

organizada, seguindo passos previamente estabelecidos. O ensino não deve ser

teórico e metódico e sim deve ocorrer de forma agradável e que desperte interesse

na criança. Normalmente o lúdico atrai muito a criança, na primeira infância, e é um

recurso muito utilizado, pois permite o desenvolvimento global da criança através da

estimulação de diferentes áreas.

A fase da Educação Infantil tem por objetivo promover à criança maior

autonomia, experiências de interação social e adequação, permitindo que esta se

desenvolva em relação a aspectos afetivos, volitivos e cognitivos, que sejam

espontâneas e antes de tudo sejam "crianças".

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Page 9: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

2.2 Métodos pedagógicos aplicados aos Downs

2.2.1 Material Dourado - Montessori

O método multissensorial MONTESSORI (1948) busca combinar diferentes

modalidades sensoriais no ensino da linguagem escrita às crianças. Ao usar as

modalidades auditiva, visual, cinestésica e tátil, esse método facilita a leitura e a

escrita ao estabelecer a conexão entre aspectos visuais (a forma ortográfica da

palavra), auditivos (a forma fonológica) e cinestésicos (os movimentos necessários

para escrever aquela palavra).

Figura 1 – Material Dourado

2.2.2 Informática

Sabe-se que uma pessoa com Síndrome de Down tem limitações em sua

capacidade de abstração e velocidade com que aprende, principalmente comparada

com outras pessoas da sua idade.

Isso não faz com que essa pessoa possua uma estrutura mental diferente,

nem que aprenda a partir de um processo diferenciado em relação às outras

pessoas.

Sendo isso verdadeiro, não existe diferença entre software educacional

(“aberto” ou “fechado”) utilizado por uma criança com Síndrome de Down, na

Educação Infantil.9

Page 10: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

“...um software desenvolvido para uma criança com Síndrome de Down, vai

servir igualmente para outra criança sem Síndrome de Down, que esteja na

mesma etapa em seu processo de desenvolvimento cognitivo, ou vice-

versa” GALVÃO FILHO (2008).

2.2.3 Brincadeiras em grupo

Por meio das brincadeiras, as crianças podem manifestar certas habilidades

que não seriam esperadas para a sua idade. Segundo VYGOTSKY a partir dessa

manifestação de habilidades cria-se o conceito de “zona de desenvolvimento

proximal” que consiste na distância entre aquilo que a criança consegue e sabe

fazer sem o auxílio de um adulto e o que é capaz de realizar com ajuda de um adulto

ou uma criança mais velha, que depois realizará sozinha. É nesse contexto que o

jogo pode ser considerado um excelente recurso a ser usado quando a criança entra

na escola, já que é parte essencial de sua natureza, podendo favorecer tanto os

processos que estão em formação, como outros que serão completados. Em relação

à criança com deficiência intelectual, em especial a Síndrome de Down, o jogo vivido

pela criança permite a redução dessa distância KISHIMOTO (2007).

O jogo de faz-de-conta, “... recebe várias denominações: o jogo imaginativo,

jogo de faz-de-conta, jogo de papéis ou sociodramático. A ênfase é dada à

“simulação” ou faz-de-conta, cuja importância é ressaltada por pesquisas que

mostram sua eficácia para promover o desenvolvimento cognitivo e afetivo-social da

criança”.

Tabela 01

Temas AtividadesAtividades domésticas Brincar de casinha, cuidados com a prole, brincar de

famíliaAcontecimentos sociais

domésticos ou micro-sociaisCasamentos, batizados, aniversários, velórios, enterros, etc.

Acontecimentos sociais não domésticos ou macro-sociais

Missas, passeatas, festa junina, rodeios, etc.

Papéis sociais Profissões, médico, professora, etc.Aventura Brincadeiras de heróis, tesouro, monstros, guerra, polícia

e ladrão, etc.Transportes Dirigir carros, avião, ônibus, trem, etc.

Esportes Jogos como futebol, camping e pescariaEdificações Construção de casas, castelos, bolos, estradas

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Temas AtividadesManipulação de objeto/brinquedo

com indícios de faz-de-contaQuando a criança manipula o objeto ou brinquedo temáticos, utilizando as suas funções padronizadas socialmente, não se percebendo um tema explícito que indique a imersão dela em um episódio de faz-de-conta.

Representações apoiadas em imagens e letras

Inclui episódios de leitura simulada (revistas em quadrinhos e livros infantis) que têm imagens e letras, conversa com a imagem no espelho (quando não conseguimos deduzir qual papel está sendo representado pela imagem no espelho, apesar de notarmos pelo gestos e expressões faciais da criança-participante uma interação com a mesma) e conversa com gravuras e fotos das revistas (apenas imagens de objetos, animais, pessoas, etc.).

Ref.: COSTA (2008)

2.3 Ações a serem consideradas para a evolução e quebra de resistências

dos alunos com Síndrome de Down

2.3.1 As experiências devem ser adquiridas no ambiente próprio do aluno;

2.3.2 Situações que possam provocar estresse ou venham a ser traumatizantes

devem ser evitadas;

2.3.3 A criança deve ser respeitada em todos aspectos de sua personalidade;

2.3.4 A família da criança deve participar do processo intelectivo.

Os pais das crianças com Síndrome de Down se defrontam com dilemas

quando seus filhos atingem a idade de freqüentar a escola.

A entrada dos filhos, tanto na Educação Infantil, quanto no Ensino

Fundamental é um momento marcante para os pais pois carregam temores quanto à

adaptação e a integração.

Quando a inclusão é bem feita, a socialização começa a se dar de maneira

natural.

2.4 A Interação Professor x aluno

O atendimento por parte do profissional deve desta forma, ocorrer de forma

gradual no sentido de proporcionar uma experiência de aprendizado afetiva. Isto

porque, quando uma nova informação é bem assimilada, dificilmente uma criança

Down esquece o que aprendeu, fator este que compensa o processo muitas vezes

lento, da aprendizagem. Dentre as pessoas com deficiência mental, as com

síndrome de Down, de forma geral, apresentam mais habilidades que as demais

para executar atividades que já sejam de seu repertório, e este fator deve ser

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Page 12: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

sempre lembrado pelos educadores que poderão se utilizar de conhecimentos já

adquiridos para atingir novos objetivos.

O apoio a uma criança portadora da síndrome de Down requer além de

preparo intelectual, paciência e dedicação por parte do educador, para reconhecer

não somente suas dificuldades e limitações, mas principalmente suas habilidades e

potenciais. Assim, o trabalho de intervenção deve estar direcionado aos seus

talentos e capacidades, de forma que favoreça o real conhecimento de suas

possibilidades.

Para o professor que está na sala de aula, é importante que selecione um

material que não se diferencie muito daquele que usam o resto dos companheiros.

Deste modo, o aluno não se sente diferente e seus companheiros também o

percebem de outro modo.

Por outro lado, é importante ser criativo e não limitar o ensino à sala de aula,

ampliando os espaços (pomar, jardim, sala de psicomotricidade, visita a lugares fora

da escola, etc.) Um método muito eficaz é o de envolver um ou vários alunos no

processo de ensino, de maneira que uns alunos sejam tutores ou guias de outros.

Os alunos com síndrome de Down têm uma grande capacidade de imitação,

fato que os favorece estar em contato com alunos melhor dotados, que servem de

modelo adequado para eles.

2.5 A Interação da Família com a Escola

A relação escola x família deve ser estimulada, pois é muito importante que

seja “falada a mesma língua”.

O aluno precisa desenvolver segurança para tomar suas atitudes e aceitar

seus erros, além de críticas, por isso que o que ele desenvolve na escola deve ter

continuidade no seu lar.

O comprometimento da família deve ser constante para acompanhar o aluno

de forma sistemática em reuniões individuais e coletivas sempre que houver

necessidade. Deve ser esclarecida, também, a proposta pedagógica da Escola,

desde as regras coletivas até o processo de avaliação. Tudo deve ser esclarecido

para os pais e o aluno, desde a sala onde o aluno freqüentará as aulas, que passará

por uma análise realizada pela equipe pedagógica em articulação com os

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Page 13: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

professores, levando em consideração, entre outros fatores, a sua idade

cronológica.

Um cuidado muito grande deve ser direcionado aos pais da criança com

Down. Na visão da mãe, a criança aparece ora quase totalmente destituída de

potencialidades, ora enquanto ser superior. Há uma oscilação entre estes pontos

opostos (visão bipolar), impossibilitando situar a criança em algum lugar

intermediário SIGAUD (1997).

Sobre a questão maternalista ou paternalista, FÉDIDA (1984) afirma que "a

negação da deficiência, sob qualquer forma que seja, falsifica a relação com o outro,

induz patologias relacionais crônicas e, sobretudo, caminha no sentido de formações

relativas de caráter, que levam o Eu a suas próprias deformações".

A classe deverá ser informada, além dos pais dos outros alunos, sobre o

processo de inclusão, para que todos se sintam confortáveis, seguros, confiantes e

realistas diante das novas possibilidades que irão surgir.

A idéia é que sejam promovidos encontros, seminários e palestras que

visam gerar uma consciência crítica e cooperativa de todos envolvidos no cotidiano

escolar, envolvendo todos em uma única realidade, que é a inclusão.

A entrada da criança na pré-escola suscita nos pais temores ligados a sua

adaptação e proteção, visto que ela sairia do seu ambiente e teria que enfrentar a

"vida como ela é" do lado de fora. Em contrapartida, sabemos que a entrada, da

criança com síndrome de Down, na educação infantil regular é muito positiva,

principalmente quando a inclusão é bem feita, pois a sua socialização começa a se

dar de maneira muito fluida. Por exemplo, ela terá que brigar pelos brinquedos e

tentar se expressar, nas mesmas condições das crianças consideradas "normais" e

isto ajuda muito no seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à

cognição, a linguagem, as habilidades motoras e a socialização. Acreditamos que

colocar uma criança com síndrome de Down em uma escola regular é dar-lhe a

mesma chance que todas as crianças têm de desenvolver o seu potencial cognitivo

e sócio-afetivo.

O comportamento social da pessoa com Síndrome de Down é influenciado

pelo ambiente, onde os resultados dessa interação podem limitar ou ampliar as

oportunidades do seu desenvolvimento e de suas possibilidades de integração

social.

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Page 14: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

2.6 Estudo de Caso – Aluno Denis Feldman1

Aluno Denis Feldman é um jovem de 18 anos e tem o Ensino Fundamental II

completo no ano de 2008. O seu quadro foi diagnosticado como retardo mental

moderado.

2.6.1 Relação aluno x família

A família realiza todos os desejos do aluno, que gosta de ser tratado como o

“bebê” da casa. Pelo poder aquisitivo alto da família, ele faz fisioterapia três vezes

por semana para suprir as deficiências decorrentes da pessoa com down.

O aluno ainda possui todo acompanhamento médico necessários, além de

terapia para o aluno e para a família.

2.6.2 Relação aluno x escola regular

Os professores se dedicam ao aluno ao extremo, no ponto do mesmo

também obter todos os seus desejos satisfeitos, um exemplo disso foi quando ele

não quis fazer a prova de matemática. Ele falou que estava com dor de cabeça. Foi

levado para a diretoria e, além da diretora, a professora de matemática, a professora

de educação física e a inspetora de alunos, estavam conversando com ele,

cercando de cuidados com palavras amorosas e fizeram chá para ele melhorar da

dor de cabeça, até a sua mãe vir buscá-lo. A mãe viu isso como um carinho, e ri

quando conta.

A piedade não pode ser parte integrante da educação de um Down. Ele

precisa de incentivos e não “caridade”.

2.6.3 Relação aluno x Escola de Capacitação Profissional

Aluno foi matriculado em Escola de Capacitação onde são trabalhadas as

habilidades de convivência em grupo, preparação para o mercado de trabalho e

cursos de capacitação.

Quando os pais vieram conhecer a escola ficaram com medo de dar toda

essa “liberdade” para o filho. O mesmo não se alimentava na escola, trazia lanches

1 Foi colocado nome fictício neste caso, para preservação da identidade do aluno.14

Page 15: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

de casa dizendo: “... os nutrientes que tem aqui na escola não são suficientes para

mim...”

Ele começou fazendo curso de informática e apresentou vários problemas,

tais como, relacionamento com os colegas, sem controle de tom de voz para poder

chamar a atenção, dificuldade de trabalhar em equipe, ocorrendo em alguns casos,

quando o aluno não era atendido, descontrole emocional (choros) para poder ser

“notado” a sua maneira.

Com paciência e pedagogia direcionada, o professor impôs para o aluno as

regras a serem, respeitando as limitações e colocando acima de tudo que o aluno

precisa se desenvolver como cidadão e não como um ser dependente.

O seu desenvolvimento no curso foi feito com didática voltada a exemplos

simples e reais, para facilitar a fixação do conteúdo.

Em três semanas de curso o aluno já estava se adequando as regras da

Escola e os pais também notaram a diferença, com a seguinte observação: “... ele

mudou bastante em casa, esta até mais calmo...”, mas não pode continuar os

estudos, pois os pais não queriam ensinar o aluno a andar de ônibus sozinho, e

quando o aluno não queria ir à aula, para continuar dormindo, seus pais realizavam

sua vontade, com isso, prejudicando o comprometimento do aluno com o curso.

A mãe colocava sempre que ela tinha condições de trazer o filho à escola, e

faria isso sempre.

Os pais precisam estar em sintonia com a escola, caso contrário, o que ele

aprender na escola fará o inverso no seu lar, prejudicando a educação do aluno que

não terá um parâmetro único para seguir.

2.7 Estudo de Caso – Aluno Fábio Cavalcante2

Aluno Fábio Cavalcante é um jovem de 23 anos e tem o Ensino Médio

completo no ano de 2008. O seu quadro foi diagnosticado como retardo mental leve.

2.7.1 Relação aluno x família

A família é de classe média a baixa. Sem poder aquisitivo, a família tratou na

educação do filho na APAE e na escola de ensino regular da cidade de São

2 Foi colocado nome fictício neste caso, para preservação da identidade do aluno.15

Page 16: Artigo Científico - Síndrome de Down modelo de configuração

Bernardo do Campo. Para a conclusão do Ensino Médio, aluno foi matriculado no

EJA.

2.7.2 Relação aluno x escola regular

Os professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental tiveram

sucesso na educação do aluno, o mesmo não aconteceu no Ensino Médio, onde a

Diretoria indicou para a família que o aluno fosse matriculado no EJA.

O ensino foi precário, pois o EJA é realizado em tempo menor que o Ensino

Regular, e os professores não tiveram a mesma dedicação que poderiam ter, além

de limitações de materiais pedagógicos.

2.7.3 Relação aluno x Escola de Capacitação Profissional

Aluno foi matriculado em Escola de Capacitação onde são trabalhadas as

habilidades de convivência em grupo, preparação para o mercado de trabalho e

cursos de capacitação.

Os pais foram chamados para que fosse realizada uma identificação mais

especifica das limitações do aluno e também fizeram terapia para poder acompanhar

o ritmo da educação do mesmo.

Aluno toma condução sozinho e já trabalhou em várias etapas na escola de

capacitação, tais como, produção, administração e cozinha.

Realizou cursos de capacitação em informática, garçom e administração.

Tudo acompanhado com terapeutas da própria escola.

O maior problema que o aluno enfrentou, foi o curso de Excel, pois não

estava conseguindo assimilar o conteúdo direcionado à realidade, por isso, o aluno

foi indicado a refazer o módulo.

Aluno conseguiu ser encaminhado ao mercado de trabalho com três anos na

escola de capacitação.

Este período de três anos é considerado longo para um aluno com

deficiência intelectual leve, mesmo assim obteve sucesso.

3. CONSIDERAÇÕES GERAIS

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Os conhecimentos teóricos são muito importantes, mas ainda sim, deve ser

considerada a identificação de limites e alcances cognitivos, motores e afetivos,

ainda que para conhecer as dificuldades dos processos de ensino/aprendizagem

das pessoas com síndrome de down, necessitamos da ciência médica, psicológica,

sociológica e pedagógica.

Os conhecimentos teóricos trazem contribuições importantes e permitem ao

professor fundamentar suas ações. A ausência destes conhecimentos limita as

mudanças, restringindo também os papéis que a criança portadora da síndrome

pode representar tanto na escola como na sociedade.

Ter acesso aos outros profissionais, como fonoaudiólogos e fisioterapeutas

envolvidos no desenvolvimento deste indivíduo, com certeza trazem contribuições

significativas para as ações do professor em sala de aula.

O ponto importante deste artigo é a relação humana PROFESSOR X

FAMÍLIA X ESCOLA. Um melhor planejamento da formação de profissionais

envolvidos, com vistas a criar uma cultura de base a respeito da Síndrome e outros

tipos de deficiência e, também, dos referenciais teóricos tocantes à inclusão é a

chave para o sucesso da inclusão, com isso os professores alcançam novos

patamares de qualidade no decorrer do processo de inclusão.

É muito importante que conheçamos a família e a ligação da escola com a

mesma precisa ser direta e construtiva para a formação do aluno como cidadão

independente, além disso, devemos considerar as limitações deste aluno, suas

dificuldades, potencialidades e quais as expectativas com relação à Escola.

À medida que os profissionais convivem e adquirem maiores informações

sobre a condição especial do portador de síndrome de Down, maior é a tendência

em aceitá-los, por isso a inclusão é tão importante.

Pessoas com síndrome de Down têm apresentado avanços impressionantes

e rompido muitas barreiras. Em todo o mundo, há pessoas com síndrome de Down

estudando, trabalhando, vivendo sozinhas, se casando e chegando à universidade.

O esclarecimento é fundamental para que a população encare o indivíduo

com síndrome de Down como outro, um cidadão com limitações, mas com vontades

próprias que devem ser respeitadas. Os portadores não podem ser considerados

“anormais” ou “desviantes”, muito menos serem “dignos de piedade”. Não podem ser

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vistos como um conjunto de imagens negativas favorecendo a segregação, mas sim

como uma pessoa que tem capacidade de se tornar independente.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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