educação musical e síndrome de down

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  • 2009

    Verso On-lineISSN 1982-3061

  • IX Seminrio Nacional de Pesquisa em Msica da UFGRUMOS DA CRIAO, PERFORMANCE, PESQUISA E ENSINO MUSICAL

    13 a 16 de outubro de 2009

    Anais do IX Seminrio Nacional de Pesquisa em MsicaISSN 1982-3215

    Coordenao geral do IX SEMPEMProf. Dr. Anselmo Guerra

    Comisso CientficaProfa. Dra. Fernanda Albernaz

    Profa. Dra. Denise lvaresMagda de Miranda Clmaco

    Profa. Dra. Marlia LaboissiereProf. Dr. Werner Aguiar

    Comisso ArtsticaProf. Dr. Carlos Costa

    Profa. Ms. Gyovana Carneiro

    Comisso EditorialProf. Dr. Anselmo Guerra

    Profa. Dra. Ana Guiomar Rego

    Anais do IX SEMPEM - ISSN 1982-3215Anais On-line - ISSN 1982-3061

    http://www.musica.ufg.br/mestrado/anaissempem.html

    Corpo EditorialAccio Piedade - UDESC

    Adriana Giarola Kayama - UNICAMPAna Guiomar Rego Souza - UFGngelo de Oliveira Dias - UFG

    Anselmo Guerra de Almeida - UFGCristina Caparelli Gerling - UFRGS

    Diana Santiago - UFBAEliane Leo - UFG

    Fausto Borm de Oliveira - UFMGFernanda Albernaz do Nascimento - UFG

    Lucia Barrenechea - UNIRIOMagda de Miranda Clmaco - UFG

    Mrcio Pizarro Noronha - UFGMarco Antnio Carvalho Santos - CBM

    Maria Helena Jayme Borges - UFGMarisa Fonterrada - UNESP

    Rafael do Santos - UNICAMPRicardo Dourado Freire - UnB

    Rita de Cssia Fucci-Amato - Fac. Carlos Gomes-SPRogrio Budasz - UFPRSilvio Ferraz - UNICAMP

    Sonia Albano de Lima - Fac. Carlos Gomes/UNESPSnia Ray - UFG

    Werner Aguiar - UFG

    APOIO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOISProf. Dr. Edward Madureira Brasil

    (Reitor)

    Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-GraduaoProfa. Dra. Divina das Dores de Paula Cardoso

    (Pr-Reitora)

    Escola de Msica e Artes CnicasProf. Dr. Eduardo Meirinhos

    (Diretor)

    Programa de Ps-Graduao em MsicaProf. Dr. Anselmo Guerra

    (Coordenador)Profa. Dra. Fernanda Albernaz Nascimento

    (Sub-coordenadora)Anileide Barros

    (Secretria)

    COORDENAO DE APERFEIOAMENtO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR

    Capa / IlustraoAnselmo Guerra / Nautilus Shell

    Capa, Editorao GrficaFranco Jr.

    Acabamento e ImpressoGrfica e Editora Vieira

    Editor dos Anais do 9 SEMPEMProf. Dr. Anselmo Guerra

  • Apresentao 5

    Chegar nona edio do Seminrio Nacional de Pesquisa em Musica da UFG um indicativo da consolidao acadmica do Programa de Ps-Graduao da Escola de Msica e Artes Cnicas da UFG. significativo observarmos que, apesar das grandes aflies provocadas pela crise econmica mundial e pelas questes de sade pblica, contamos com um aumento significativo de propostas, a presena crescente de pesqui-sadores de vrios pontos do pas, e o envolvimento mais ativo de nossos alunos e cole-gas da universidade.

    Os Seminrios de Pesquisa em Msica da UFG tm como principais objetivos propor-cionar reflexes sobre msica na contemporaneidade, ampliar o intercmbio entre progra-mas de ps-graduao e incentivar a produo cientfica e artstica do corpo docente e dis-cente do Programa de Ps-graduao da Escola de Msica e Artes Cnicas da Universidade Federal de Gois, alm de promover a difuso de trabalhos cientficos e artsticos.

    Esta nona edio do SEMPEM prope dar continuidade s discusses dos semin-rios anteriores, contando com a participao de pesquisadores nas reas de performance musical, musicologia, educao musical, musicoterapia, composio e tecnologia aplica-da msica. As atividades consistem em palestras, concertos, mesas-redondas, comuni-caes e apresentao de psteres, mini-cursos e oficinas.

    Assim, nosso programa de ps graduao prossegue empenhado na consolida-o de suas reas de concentrao, bem como na ampliao de sua insero social, co-mo o caso da publicao destes Anais, tanto aqui na forma impressa, como na for-ma eletrnica, disponibilizada em nosso site. Esta inovao, aliada ao recente Banco de Dissertaes On-line certamente dar maior visibilidade e acessibilidade s nossas pes-quisas e aos demais trabalhos aqui apresentados.

    Este seminrio no seria possvel sem a valiosa colaborao de nossos colegas do Comit Cientfico, do Comit Artstico, pelos nossos mestrandos voluntrios e, sobretudo, pelo apoio irrestrito da direo da Escola de Msica e Artes Cnicas e da Pr-reitoria de Pesquisa e Ps-graduao da UFG. Agradecemos tambm CAPES pelo apoio financeiro.

    Goinia, 13 de outubro de 2009.

    Prof. Dr. Anselmo GuerraPPG Msica UFG

    Coordenador

    ApresentAo

  • Sumrio 7

    PROGRAMAO GERAL ....................................................................................13

    ARtIGOS: EDUCAO MUSICAL E PERFORMANCE

    O Ensino de trompete em Goinia: a Realidade do Discente em Bandas MarciaisAurlio Nogueira de Sousa; Snia Ray ............................................................................ 21

    O Que Fao Agora? O Incio da Carreira Docente em MsicaCludia Mara Costa Perfeito Gemesio ............................................................................. 26

    Desafios e Contribuies das Novas tecnologias Performance MusicalGabriel da Silva Vieira; Snia Ray .................................................................................. 31

    Estratgias de Estudo na Prtica InstrumentalThales Souza Silva; Leonardo Loureiro Winter ................................................................. 37

    Atuao do Docente em Diferentes Campos Profissionais: Reflexes Sobre os Desafios e Funes do Professor no Curso de Msica

    Levi Trindade Teixeira ................................................................................................... 43

    Expressividade e Preferncia: Um Estudo Sobre Performances com Estudantes de Licenciatura em Msica da FAMES

    Mikely Pereira Brito; Joo Fortunato Soares de Quadros Jnior; Ricieri Carlini Zorzal ........... 48

    A Composio na Educao Musical: Sentidos, Caminhos e DescobertasRoberto Stepheson Anchita Machado ........................................................................... 52

    Educao Musical e Educao Inclusiva: H Evidncias na Aprendizagem da Msica com Alunos Portadores da Sndrome de Down?

    Viviane Cristina Drogomirecki; Edna Aparecida Costa Vieira .............................................. 57

    sumrio

  • Anais do 9 Sempem8

    ARtIGOS: MSICA, CULtURA E SOCIEDADE

    Colocando um Projeto em Prtica: Os Procedimentos Composicionais na Msica de Edu Lobo (1960-1980)

    Everson Ribeiro Bastos; Adriana Fernandes ..................................................................... 63

    A Improvisao no Choro: Processos Harmnicos e Suas InflunciasEverton Luiz Loredo de Matos; Magda de Miranda Clmaco .............................................. 68

    O Samba Como um dos Ingredientes das Representaes Musicais Nacionalistas de Ary Barroso

    George Manoel Farias ................................................................................................... 73

    O Acompanhamento do Violo de Seis Cordas na Composio Saudosa Maloca de Adoniran Barbosa, Interpretada pelo Conjunto Demnios da Garoa: Aspectos Harmnicos e Contrapontsticos

    Julio Cesar Moreira Lemos ............................................................................................ 79

    Cavaco-Centro: A Harmonia Percutida dos Conjuntos de ChoroLeandro Gomes da Silva; Magda de Miranda Clmaco ...................................................... 87

    Aspectos do Movimento Hip-Hop: Matrizes Culturais e Elementos ConstitutivosMaria Cristina Prado Fleury; Ana Guiomar Rgo Souza ..................................................... 92

    Um Elo Perdido: Stanislavski, Msica e Musicalidade, teatro, Gesto e PalavrasMichel Mauch; Adriana Fernandes; Robson Corra de Camargo ........................................ 97

    A Paisagem Sonora Molda o ReceptorRosana Arajo Rodrigues ............................................................................................ 102

    ARtIGOS: MUSICOLOGIA

    Msica e Contemporaneidade: A Organizao da Produo Musical Soteropolitana

    Armando Alexandre Costa de Castro ............................................................................. 111

    Narrativas de um Acervo Musical do Sculo XXDisnio Machado Neto; Dario Rodrigues Silva; Fabola Rosa ........................................... 117

    John Eatons Concert Music For Solo Clarinet: New Directions in Clarinet Playing, With a Focus on Interpretation and Applied Contemporary techniques

    Johnson Machado ...................................................................................................... 123

    As Relaes Entre Msica e Emoo: Abordagens Sobre o FenmenoJordanna Vieira Duarte ............................................................................................... 128

    Breve Anlise Retrico-Musical da Cano Os Poderes Infernais deEdino Krieger

    Luana Ucha Torres ................................................................................................... 135

  • Sumrio 9

    O Neotonalismo na Appassionata de Ronaldo Miranda: O Uso de Harmonias Octatnicas

    Mrlou Peruzzolo Vieira .............................................................................................. 142

    Utilizao do Arco na Improvisao do Contrabaixo No Jazz: Uma Reviso de Literatura

    Paulo Dantas de Paiva Assis; Snia Ray ....................................................................... 148

    Alban Berg: Piano Sonata Op. 1 Perspectivas de Performance e AnliseThiago de Freitas Cmara Costa; Fernando Crespo Corvisier ............................................ 154

    ARtIGOS: MUSICOtERAPIA

    Musicoterapia e ComplexidadeAlexandre Ariza Gomes de Castro ................................................................................ 163

    Educadores Sociais Sob o Olhar da Musicoterapia: A Msica no Agenciamento de Subjetividades

    Fernanda Valentin; Leomara Craveiro de S .................................................................. 167

    Produo Sonora em Grupos Musicoterpicos na Sociedade Atual: Uma Possibilidade de Integrao da Identidade

    Hermes Soares dos Santos .......................................................................................... 172

    A Escuta Musicoteraputica no Contexto Escolar: Ouvir-Ver Uma Paisagem Sonora

    Sandra Rocha do Nascimento; Melina Helena Massarani ................................................ 176

    POStERES

    Sugesto para Interpretao da Obra Oriental, Op. 6 de Pattpio Silva(1880-1907)

    Adielson de Miranda Sousa ......................................................................................... 183

    A Obrigatoriedade do Ensino da Msica Lei 11.769/2008 Contribuies e Desafios

    Adriana dos Reis Martins ............................................................................................ 189

    Representaes de Brasilidade em Final Fantasy VIIAndr Luiz Monteiro de Almeida; Ana Guiomar Rgo Souza ............................................ 194

    Reviso da Literatura Brasileira para o Ensino e a Prtica na Regncia CoralVincius Incio Carneiro; Bianca Almeida e Silva; Angelo de Oliveira Dias ......................... 198

    A Insero do Musicoterapeuta em Equipe Multiprofissional de Acompanhamento s Unidades Escolares da Rede Pblica Estadual

    Carolina Gabriel Gomes; Leomara Craveiro de S .......................................................... 204

  • Anais do 9 Sempem10

    tradio e Hibridao na Msica Kalunga: A Folia de Santo Antnio e a Festa do Muleque

    Clnio Guimares Rodrigues ........................................................................................ 207

    A Utilizao do Rdio na Divulgao e Articulao Mercadolgica da Msica em Goinia

    Elza Oliveira de Souza Almeida; Edna Rosane de Souza Sampaio; Wolney Unes ............... 212

    Sonata para Violo e Sute para Guitarra de Guerra-Peixe: Um Estudo a Partir das Fontes Primrias

    Emanuel de Carvalho Nunes ....................................................................................... 216

    Anlise da Expresso Composicional na Atualidade PerspectivasJonatan Emanuel Guilharde Gonzalez; Eliane Leo Figueiredo ......................................... 220

    O Ps-Minimalismo na Msica de Henryk Grecki Uma Anlise do 2 Movimento de Sua Sinfonia N. 03

    Juliano Lima Lucas .................................................................................................... 223

    A Espacializao na Criao MusicalLaiana L. Oliveira; Paulo Guicheney ............................................................................. 227

    Percepo Crtica dos Jovens Sobre as Letras das Msicas a que Esto Expostos na Mdia Uma Avaliao

    Lorena Ferreira Alves; Eliane Leo Figueiredo ................................................................ 230

    Musicoterapia Comunitria: Uma Proposta de Reinsero Sociocultural de Moradores de um Bairro da Periferia de Goinia

    Maria da Conceio de Matos Peixoto; Clia Maria Ferreira ............................................. 233

    Estudo tcnico-Vocal e Definio de Repertrio Erudito para um Adolescente em Fase de Muda Vocal

    Rita Mendona .......................................................................................................... 234

    MESA REDONDA

    texto e Contexto: A Musicologia como Discurso da HistriaDisnio Machado Neto ............................................................................................... 241

    Por uma Musicologia tica, Moral, Profissional e Brasileiramente IntegradaPablo Sotuyo Blanco .................................................................................................. 255

  • ProgramaoGeral

  • Programao 13

    IX Seminrio Nacional de Pesquisa em Msica da UFG

    RUMOS DA CRIAO, PERFORMANCE, PESQUISA E ENSINO MUSICAL

    13 a 16 de outubro de 2009

    RECItAIS SEMPEM

    Propostas selecionadas e Artistas Convidados

    Dia 13 - tera

    Abertura s 9:00h: Antonio Cardoso

    Recital s 13:30h: Sabrina Schultz, Rael Bertareli, Eduardo Patrcio, Daniel Barreiro

    Dia 14 - Quarta

    Recital s 9:20h: Rodrigo Amorin e David Castelo, ngelo Dias

    Recital s 13:30h: Rita Mendona, Luiz Felipe e Johnson Machado, Fbio Oliveira

    Dia 15 - Quinta

    Recital s 9:20h: Vincius Linhares, Vanessa Bertolini e Franklin Muniz

    Recital s 13:30h: Bruno Rejan, Paulo Dantas e Clnio Rodrigues

    Dia 16 - Sexta

    Recital s 9:20h: Orquestra Goyazes: maestro Eliseu Ferreira

    Recital s 13:30h: Concerto de Lanamento da Coletnea de Msica Eletroacstica Brasileira: obras de Guilherme Carvalho, Igor Lintz, Jnatas Manzolli, Jorge Lisboa, Luiz Eduardo Casteles, Vanderlei Lucentini, Wilson Sukorski Curadoria: Anselmo Guerra

  • Anais do 9 Sempem14

    IX Seminrio Nacional de Pesquisa em Msica da UFG

    RUMOS DA CRIAO, PERFORMANCE, PESQUISA E ENSINO MUSICAL

    13 a 16 de outubro de 2009

    PROGRAMA

    tera - 13/10

    8:00 RECEPO Mini-auditrio

    9:15 ABERTURA Teatro EMAC Mini-recital Antonio Cardoso

    10:30 CONFERNCIA Mini-auditrio Denis Laborde (EHESS-Paris)

    12:00 Almoo

    13:30 RECITAL Teatro EMAC Sabrina Schultz, Rael Bertareli, Eduardo Patrcio, Daniel Barreiro

    14:30 MESA REDONDA Mini-auditrio Performance Musical Marcos Nogueira (UFRJ), Johnson Machado (UFG), Fbio Oliveira (UFG), Snia Ray (UFG)

    16:30 MINI-CURSOSs 1. Catalogao RISM 2. Catalogao RIdIM

    18:30 Pablo Sotuyo (UFBA)

    Quarta - 14/10

    8:00 COMUNICAES Mini-auditrio Mdulo Musicoterapia

    9:15 RECITAL Teatro EMAC Rodrigo Amorin e David Castelo, ngelo Dias

    10:30 PALESTRA Mini-auditrio Marcos Nogueira (UFRJ)

    12:00 Almoo

    13:30 RECITAL Mini-auditrio Rita Mendona, Luiz Felipe e Johnson Machado, Fbio Oliveira

    14:30 MESA REDONDA Mini-auditrio Musicologia Maria Alice Volpe (UFRJ), Disnio Machado Neto (USP), Pablo Sotuyo Blanco (UFBA),

    Magda Clmaco (UFG)

    16:30 MINI-CURSOSs 1. Catalogao RISM 2. Catalogao RIdIM

    18:30 Pablo Sotuyo (UFBA)

  • Programao 15

    Quinta - 15/10

    8:00 COMUNICAES Mini-auditrio Mdulo Musicologia

    9:15 RECITAL Teatro EMAC Vincius Linhares, Vanessa Bertolini e Franklin Muniz

    10:30 COMUNICAES Mdulo Musicologia + Sesso Pblica de Psteres

    12:00 Almoo

    13:30 RECITAL Teatro EMAC Bruno Rejan, Paulo Dantas e Clnio Rodrigues

    14:30 MESA REDONDA Mini-auditrio Msica, Cultura e Sociedade Denis Laborde (EHESS-Paris), Vanda Freire (UFRJ), Ana G. Souza (UFG), Magda Clmaco (UFG), Glacy Antunes (UFG)

    16:30 MINI-CURSOSs 1. Catalogao RISM 2. Catalogao RIdIM

    18:30 Pablo Sotuyo (UFBA)

    Sexta - 16/10

    8:00 COMUNICAES Mdulo Msica Cultura e Sociedade

    Auditrio FAV Mdulo Educao Musical e Performance Mini-auditrio

    9:15 RECITAL Teatro EMAC Orquestra Goyazes maestro Eliseu Ferreira

    10:30 COMUNICAES Mdulo Msica Cultura e Sociedade Auditrio FAV Mdulo Educao Musical e Performance Mini-auditrio

    12:00 Almoo

    13:30 RECITAL Mini-auditrio Concerto de Lanamento da Coletnea de Msica Eletroacstica Brasileira

    14:30 CONFERNCIA Mini-auditrio Jorge Antunes (UnB)

    15h30 OFICINA Mini-auditrios Psicomotricidade na educao musical para pessoas com e sem deficincias

    18h30 Viviane Louro

  • Anais do 9 Sempem16

    IX Seminrio Nacional de Pesquisa em Msica da UFG

    RUMOS DA CRIAO, PERFORMANCE, PESQUISA E ENSINO MUSICAL

    13 a 16 de outubro de 2009

    CONFERNCIAS

    Denis Labord (cole des Hautes tudes en Sciences Sociales EHESS-Paris; Centre Marc Bloch CNRS Berlim)

    Lascse du pianiste et la musique du monde. Dialogue entre les disciplines qui ont la musique pour objet

    (A ascese do pianista e msica do mundo. Dilogo entre as disciplinas que tm a msica por objeto)

    Marcos Nogueira (UFRJ)O Mapeamento da Metfora Conceitual e o Esquematismo

    Jorge Antunes (UnB)Bases tericas para uma Msica Eletroacstica Figural

    MESAS REDONDAS

    Musica, Cultura e SociedadeDenis Laborde (EHESS-Paris)Vanda Freire (UFRJ)Ana Guiomar Rego Souza (UFG)Magda de Miranda Clmaco (UFG)Glacy Antunes de Oliveira (UFG-Mediadora)

    Tema: Msica, Mdia e Ps-Modernidade

    MusicologiaMaria Alice Volpe (UFRJ)Disnio Machado Neto (USP)Pablo Sotuyo Blanco (UFBA)Magda de Miranda Clmaco (Mediadora)Tema: A Musicologia e os Modelos de Representao da Realidade Brasileira: Desafios

    e Propostas

    PerformanceMarcos Nogueira (UFRJ)Johnson Machado (UFG)Fbio Oliveira (UFG)Snia Ray (UFG-Mediadora)Tema: Pesquisas em Performance na Contemporaneidade e Colaboraes

  • Programao 17

    MINI-CURSOS E MAStER-CLASSES

    Mini-curso 1: Catalogao RISM de Documentos MusicaisHorrio: 2 a 5, 16h30 s 17h30Pblico alvo: Pesquisadores, professores e alunos de msica e musicologia, profissionais

    e alunos dos cursos de cincia da informao (biblioteconomia e arquivologia) assim como pblico geral interessado em conhecer e treinar na aplicao da normativa RISM no processo de catalogao de documentos musicais e partituras.

    Mini-curso 2: Catalogao RIdIM de Iconografias Relativas MsicaHorrio: 2 a 5, 17h30 s 18h30Pblico alvo: Pesquisadores, professores e alunos de msica e musicologia, profissionais

    e alunos dos cursos de artes visuais ou belas artes, museologia ou ligados ao patrimnio iconogrfico, cincia da informao (biblioteconomia e arquivologia), assim como pblico geral interessado em conhecer e treinar na aplicao da normativa RIdIM no processo de catalogao de iconografia musical.

    Ministrante: Pablo Sotuyo Blanco (UFBA)

    OFICINA

    Viviane Louro: Psicomotricidade na educao musical para pessoas com e sem deficincias

  • Artigos:Educao Musical e Performance

  • Educao Musical e Performance 21

    RESUMO: Este artigo trata do perfil dos discentes que atuam nas bandas marciais de Goinia. A realidade do discente destas bandas foi estudada a partir do cruzamento de dados obtidos em consultas aplicadas in loco e reviso bibliogrfica. A princi-pal concluso a que se chegou foi que a incluso pela internet uma realidade cada vez mais presente e tem servido de aces-so dos alunos com material pedaggico relevante. PALAVRAS-CHAVE: Trompete; Banda marcial; Pedagogia da performance; Ensino coletivo de instrumento musical.

    ABSTRACT: This paper addresses the profile of Goinia Marcial Band students. The reality of the students was studied by cross-ing references between interviews in loco and bibliographical research. The main conclusion was that students have been in-cluded into music programs and relevant pedagogical material through information available on internet. KEYWORDS: Trumpet; Martial band; Performance pedagogy; Group instrument teaching.

    introduo

    A pesquisa na rea de ensino coletivo de instrumentos musicais tem se amplia-do de uma maneira surpreendente no Brasil em funo de aes que propem a inte-grao social atravs da msica, bem como de iniciativas de pesquisadores da pedago-gia da performance musical com grupos especficos de instrumentos. Publicaes em livros, peridicos e anais de congressos evidenciam o crescimento do interesse de pes-quisadores pelo ensino coletivo e por estudos sobre pedagogia da performance, em par-ticular aqueles voltados para um aprendizado musical de qualidade e com respeito re-alidade do estudante.

    A preocupao com as condies em que o ensino-aprendizado de trompete se d nas bandas marciais de Goinia levou os pesquisadores a iniciar um trabalho que reu-nisse a literatura disponvel sobre ensino de trompete em lngua portuguesa e a associas-se aos crescentes trabalhos sobre ensino coletivo de instrumentos musicais, em particu-lar aqueles envolvendo instrumentos de sopros. Algumas das questes que nortearam a investigao foram: Como se d o ensino de trompete nas bandas marciais de Goinia? Com que objetivos as bandas so formadas? Como se d a capacitao dos docentes e discentes destas bandas?

    A realidade do discente dentro do ensino do trompete nas bandas marciais de Goinia um recorte deste cenrio que objeto de estudo destes pesquisadores h trs anos. O incio da investigao abordou o mapeamento do ensino do trompete em Goinia em suas caractersticas gerais. A segunda etapa abordou a formao e atuao do do-cente-trompetista na cidade. A presente etapa investiga a realidade do discente e apon-

    O ensinO de trOmpete em GOinia:a realidade dO discente em bandas marciais

    Aurlio Nogueira de Sousa (PIBIC - EMAC)[email protected]

    Snia Ray (PPG Msica UFG)[email protected]

  • Anais do 9 Sempem22

    tam possveis formas de se aperfeioar o atual caminho percorrido pelo estudante de trompete na cidade de Goinia, em particular aqueles atuantes em bandas marciais, em busca de um aprendizado de qualidade. A realidade do discente das bandas marciais de Goinia foi estudada atravs de aplicao de consultas integrantes das bandas e de cruzamento das informaes obtidas com a reviso da literatura disponvel em lngua portuguesa. O processo e seus resultados esto organizados a seguir em cinco partes.

    Breve reviso dA literAturA soBre ensino coletivo de sopros e trompete no BrAsil

    Uma investigao nos principais peridicos da rea de msica no Brasil bem co-mo anais dos congressos mais importantes da rea entre os anos de 2004 e 2009 permi-tiu-nos separar dez textos relacionados ao ensino coletivo de sopros. Destes, sete publi-caes referentes a pesquisas desenvolvidas no Centro Oeste (BERTUNES 2006; SOUSA e RAY, 2007 e 2008; SOUSA, 2008; PROTSIO, 2008, SILVA, 2003 e ETERNO 2003), trs trabalhos realizados no Sudeste e Nordeste (SCHWEBEL, 2004; SIMES, 1997 e BARBOSA, 2006) e um no Sul (KLEINHAMMER, 1963). Apesar de pouca quantidade, a concentrao de trabalhos sobre sopros no Centro-Oeste justificada em parte pela manuteno da tradio das bandas marciais tanto em instituies pblicas quanto pri-vadas. Em Goinia, Bandas Marciais parte da atividade cotidiana de escolas regula-res tanto quanto de corporaes como bombeiros e polcia militar, tornando-se tambm uma porta de entrada da comunidade ao estudo do instrumento de sopro. (ETERNO, 2003 p. 24).

    Parece-nos oportuno tentar situar o ensino de trompete em Goinia em um qua-dro mais amplo e levantar a atual situao do ensino deste instrumento. As pesquisas sobre trompete carecem de ampliao em particular sobre a preparao discente para o seu dia a dia (KLEINHAMMER, 1963, p. 23), pois a realidade profissional mostra m-sicos com formao defasada e pouco adequada s exigncias do atual mercado de tra-balho (SOUSA, 2008, p. 2).

    A falta de profissionais com formao superior em ensino de trompete em um fator que limita fortemente o desempenho dos msicos de banda que, por vezes se tor-nam profissionais com conhecimento limitado. Para (SCHWEBEL, 2004, p. 4) justa-mente na formao inadequada que reside o perigo do estudante de trompete adquirir vcios ou maus hbitos. Estudos na rea cognitiva tambm tm ajudado a compreender melhor o desempenho do trompetista. (SIMOES, 1997, p. 25) diz que, se o corpo e o crebro no so irrigados suficientemente, o processo de se fazer msica pode ser moti-vo de pnico. A falta de material criado para a realidade do msico de banda, est abor-dada por (SILVA, 2003, p. 127).

    A troca de informaes entre estudantes e profissionais da rea fundamental pa-ra que o crescimento dos estudantes e professores. Barbosa (2006, p. 1) acredita que bate papos informais entre os prprios alunos de nveis diferentes e docentes podem contribuir com a formao de educandos com conhecimento de assuntos gerais referen-tes a seu estudo. Como a banda um agente de socializao nas escolas estaduais de Goinia, a escolha de repertrio nas bandas e a didtica aplicada peos docentes auxiliam o trabalho destas bandas possibilitando uma melhor compreenso das diretrizes da esco-la onde funciona tal trabalho (BERTUNES, 2005, p. 25).

  • Educao Musical e Performance 23

    Para Protsio (2008, p. 110), a atividade dos professores muitas vezes carece de direcionamento pedaggico musical, sendo comum que ensaios ocorram sem nenhum ti-po de correo musical na execuo do repertrio trabalhado. Apesar das bandas de m-sica civis, militares e de igrejas, serem responsveis pela formao de um grande nmero de trompetistas margem do nosso sistema de ensino formal, esta formao no neces-sariamente acompanha os avanos tecnolgicos e sociais que predominam hoje no mer-cado musical (LUCIANO, 2002, p. 2). Estudos precisam ser desenvolvidos para apontar caminhos para este mercado crescente de formao de msicos em bandas marciais.

    elABorAo e AplicAo dA consultA

    O processo de elaborao do questionrio levou em considerao a necessidade de se conhecer formalmente como se d a formao dos trompetistas nas bandas mar-ciais de Goinia. A consulta visou responder algumas das perguntas iniciais deste traba-lho: como se d o ensino de trompete nas bandas marciais de Goinia? Como se d a ca-pacitao dos docentes e discentes destas bandas? Que material pedaggico utilizado hoje. Os questionrios foram aplicados em bandas de 10 instituies de ensino envolven-do a rede de escolas Estaduais e Municipais de Educao de Goinia. Foram entrevista-dos 54 alunos de trompete. Os resultados foram em suma: 70% dos alunos de trompete cursam o ensino mdio e os demais no concluram o ensino mdio; 95% dos alunos co-mearam a estudam trompete na banda local; somente apenas 20% participaram de al-gum festival de msica em Goinia ou em outros estados; 80% vo a concertos e shows na grande Goinia sendo que mais de 50% destes do preferncia a assistir as orquestras e bandas onde seus amigos atuam. 70% no seguem mtodo especfico de ensino por no ter recebido material ou orientao de seus professores. Ficou evidente nas respos-tas que as escolas no tm trompetes em quantidade suficiente para atender a deman-da e no possuem salas fixas para o estudo dos alunos das bandas. A consulta foi reali-zada em forma de questionrio com questes semi-abertas, tipo cafeteria (MUCCHIERI, 1979, p. 3). Foi aplicada in loco aps aprovado por comit de tica.

    A viso dos discentes de GoiniA versus A reAlidAde expressA em pesquisAs

    Quase todos os sujeitos da pesquisa (95%) afirmam ter iniciado seus estudos de trompete na prpria banda em que atuam. Isto nos leva a crer que as escolas de msi-ca em Goinia tm pouca atuao no processo de iniciao ao instrumento. Apesar des-te estudo no ter abordado trompetistas que no atuam em bandas marciais, a afirmati-va ainda relevante, considerando-se que o maior nmero dos trompetistas atua mesmo em bandas. As orquestras tm um nmero relativamente pequeno de executantes des-te instrumento, (as sinfnicas tm em mdia quatro trompetistas) enquanto bandas tm naipes completos que chegando a 12 ou mais instrumentistas por grupo.

    A consulta mostrou que as bandas marciais de Goinia atuam em instituies de poucos recursos, o que explica em parte a falta de espao e material adequado para uma formao slida dos trompetistas. Por outro lado, como afirma (LUCIANO, 2002, p. 2) a formao destes msicos no precisa estar unicamente vinculada ao que a instituio oferece. A questo, no entanto, agravada pela falta de formao de trompetistas em n-

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    vel superior na cidade. A nica universidade com curso superior em msica na cidade, a Universidade Federal de Gois abriu recentemente concurso para professor de trompete. A expectativa que um ciclo comece a se formar em 2010, com a abertura de vagas no vestibular para o instrumento. Espera-se que de professores sejam formados com a ca-pacitao adequada para fomentar a demanda de estudantes carentes de informao so-bre trompete e sua atuao em bandas marciais.

    Atualmente a formao dos docentes das bandas marciais em Goinia se d por iniciativas isoladas daqueles que viajam para participar dos festivais de msica pelo Brasil ou tm acesso aos cursos de formao em nvel bsico e tcnico oferecido por uma das trs instituies mais atuantes na cidade. A consulta revelou que os 30% dos entrevis-tados que receberam instruo musical formal, realizaram tais estudos no Conservatrio Estadual Gustavo Ritter, no Centro de Artes Veiga Valle ou na Escola Tcnica Federal (CEFET). Estas instituies, entretanto, no comportam a demanda da cidade, e neces-sitam urgentemente de uma ampliao significativa no corpo docente, nas condies f-sicas e no material pedaggico oferecido.

    Quanto ao material pedaggico que utilizado hoje nas bandas em Goinia, 70% dos entrevistados afirma que os professores no adotam mtodo especfico nem seguem um esquema pedaggico pr-determinado. Isto demonstra a falta de preparo destes do-centes, agravada pela formao incipiente oferecida na cidade de Goinia. Em locais on-de o ensino de trompete conta com profissionais qualificados, no s mtodos so ado-tados como tambm apostilas so criadas pelos professores para atender a necessidade especfica de grupos de estudantes de cada local (SOUSA e RAY, 2007, p. 4).

    Outro aspecto que chama a ateno a falta de estrutura das instituies que abrigam as bandas. Nelas no se detectou bibliotecas nem salas de estudo especficas para msica. A oferta de instrumentos para estudo, bem como o acesso a internet, so bastante limitados ou totalmente ausentes, reforando as idias de RAY (2001, p. 65) quando diz que a qualidade da formao do instrumentista e dos recursos disponveis es-to diretamente relacionadas.

    As perspectivAs de docentes e discentes e As fontes de informAo soBre ensino e AprendizAdo de trompete em GoiniA

    As perspectivas para os docentes e discentes em Goinia so promissoras, no s pela criao do curso superior em trompete na Universidade Federal de Gois, mas tambm pelas possibilidades cada vez maiores de acesso a informao pela internet. Em mdio prazo, o curso da UFG vai possibilitar o aperfeioamento dos profissionais que esto ativos em Goinia, porm com formao inadequada ou que no supre a demanda. Em longo prazo, a instituio deve formar no s professores, mas tambm gerar pesquisas que fomentem a criao de material pedaggico, trazendo para Goinia frutos das pesquisas na rea feitas no Brasil e no exterior. A incluso pela internet uma realidade cada vez mais presente. Mesmo em acesso precrios em lojas especializadas (lan houses) os alunos podem hoje em dia ter acesso a material pedaggico relevante. Tudo leva a crer que, com a otimizao dos estudos na rea, haver integrao dos cursos atuais em nvel tcnico com o novo curso superior da UFG. Est integrao, aliada ao acesso a fontes especficas on-line, poder levar o aluno a crescer, na medida em que encontre acesso ao contedo especfico nos stios digitais e espaos para discutir e elaborar as informaes obtidas.

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    considerAes finAis

    As referncias estudadas como ponto de partida para verificar como se d o estu-do de trompete em Goinia, concentrado na vida do discente nos levou a elaborar uma consulta in loco como os prprios alunos olham para seu aprendizado. Ao confrontar-mos a realidade do aluno com as referncias, verificou-se que os estudos, apesar de es-cassos, interpretam com eficincia no panorama atual do ensino e aprendizado de trom-pete em Goinia. Isto nos leva a crer que, com a ampliao das fontes de informao e divulgao das pesquisas existentes, o ensino de trompete deve crescer com qualidade nos prximos anos na cidade.

    Por fim, importante ressaltar que o trabalho que vem sendo feito pelos professo-res atuantes em Goinia de suma importncia e precisa ser melhorado e ampliado na forma de qualificao destes profissionais e atravs do incentivo a pesquisas sobre pe-dagogia do trompete. Igualmente importantes so estudos, como o presente, para a am-pliao das fontes de pesquisa sobre performance musical em geral no Brasil e, em par-ticular, sobre ensino de instrumentos de metais.

    refernciAs BiBlioGrficAs

    LUCIANO, ANOR. Educao musical distncia: capacitao de maestros e instrumentistas de bandas no estado de Minas Gerais. Belo Horizonte 2002. (Artigo no publicado).

    BERTUNES, C. Estudo de influncia das bandas na formao musical: dois estudos de caso em Goinia. Dissertao de Mestrado, 2005.

    DISSENHA, F. Day fundamentals for the trompet. New York: internacional music, 2004.

    ETERNO, M. Os instrumentos de metal no choro n 10 de Villa-Lobos uma viso analtico-interpretativa. Dissertao de Mestrado, Escola de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Gois, Goinia 2003.

    KLEINHAMMER E.; EDUARDO, C. the art of trombone playing., Princeton: Summy Birchar Music, 1963.

    MUCCHIELLI, Roger. O questionrio na pesquisa psicossocial. So Paulo: Martins Fontes, 1979.

    RAY, Sonia. Performance e pedagogia do instrumento musical. Relato do Grupo de Trabalho. ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 10, 2001, CD-ROM. Anais do... Uberlndia: UFU, 2001.

    SCHWEBER, K. H. Os 4 pilares do trompete. Apontamentos de Aurlio Souza durante a masterclass ministrada no Festival Internacional de Braslia, 2004.

    SIMES, NAILSON. A Escola de trompete de Boston: sua influncia no Brasil. 1997.

    SILVA, Caetana Juracy Rezende Silva. Duetos para obos como material pedaggico: arranjos e transcries de obras de compositores brasileiros. Dissertao de Mestrado, Escola de Msica e Artes Cnicas, Universidade Federal de Gois, Goinia 2003.

    SOUSA, A. Mapeamento do ensino de trompete em Goinia: Uma anlise a partir do perfil do discente. Projeto de pesquisa PIBIC, Goinia: UFG, 2008.

    SOUSA, A.; RAY, Sonia. Mapeamento do ensino de trompete em Goinia. Congresso da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao Em Msica 17, 2007, CD-ROM. Anais do... So Paulo: UNESP, 2007.

    Aurlio Nogueira de Sousa - Graduando em Educao Musical Ensino Musical Escolar, pesquisador de iniciao cientifica UFG EMAC, professor da rede Estadual de Educao de Gois, e da rede particular, trompetista da Banda Municipal de Goinia, e trompetista da banda marcial do inst. de educao Brasileu Frana.

    Snia Ray - Contrabaixista, professora e pesquisadora, doutora em Performance e Pedagogia do Contrabaixo pela Universidade de Iowa (EUA). Docente da EMAC-UFG desde 1998.

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    RESUMO: Este artigo de mestrado apresenta um recorte da reviso de literatura da pesquisa em andamento no programa de Ps-graduao - Msica em Contexto da Universidade de Braslia. Esta pesquisa tem como objetivo investigar que saberes os professores de msica em incio de carreira mobilizam na prtica docente. Esta reviso aborda as seguintes temticas: forma-o de professores e as demandas pedaggico-musicais; saberes e prticas docentes; o incio da carreira profissional e a so-cializao dos professores.PALAVRAS-CHAVE: Formao de professores; Saberes e prticas; Incio da carreira e Socializao profissional.

    ABSTRACT: This post-graduation article presents part of the literature revision of the process research in ps-graduation pro-gram- Music in Context from Braslia University. This research has the objective of investigating what kind of knowledge music teachers in the of their career, mobilize in their educational practice. That revision deals with the following categories: teach-ers formation and pedagogic-musical demands, knowledge and educational practices, the beginning of professional career and the teacherssocialization.KEYWORDS: Teachers formation; Knowledge and practices; Beginning of the career and Professional socialization.

    temticA

    O problema que norteia a pesquisa em andamento que saberes os professores de msica no incio de carreira mobilizam para resolver os problemas da prtica? Essa problemtica nasce de minha experincia como professora de piano do Conservatrio Estadual de Msica e Centro Interescolar de Artes Raul Belm. Essa experincia te-ve incio mesmo antes do trmino de minha formao inicial, onde atuei como leiga por um determinado tempo; no sentido de que eu detinha certo domnio do instrumen-to piano, mas no tinha a licena para atuao como professora. A partir do momen-to que conclu a formao universitria, comearam a surgir mudanas em minha pr-tica docente. Em determinados momentos, vrios problemas comearam a surgir e eu, mesmo formada no sabia como resolv-los. Comecei a buscar ferramentas que me aju-dassem a resolver ou amenizar essa situao-problema. Observei que a formao me instrumentalizou a lanar um novo olhar sobre minha prtica. O papel da formao ini-cial em minha experincia docente foi extremamente importante para que eu pudesse exercer a profisso de professora de piano. A formao me abriu caminhos para a re-flexo sobre os problemas que ocorriam durante a prtica. Consequentemente come-aram a surgir alguns questionamentos cerca da prtica profissional, tais como: que saberes os professores de msica em incio de carreira mobilizam na sua prtica docen-te? Quais so as origens sociais desses saberes? Que saberes e prticas compem o re-

    O que faO aGOra?O inciO da carreira dOcente em msica

    Cludia Mara Costa Perfeito Gemesio (UnB)[email protected]

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    pertrio de conhecimentos dos professores de msica em incio de carreira? Que sabe-res da formao inicial so mobilizados na prtica docente? Que saberes da experincia so mobilizados na prtica docente? Que saberes emergem da prtica? Esses questiona-mentos me instigaram a buscar respostas que pudessem auxiliar a formao do profes-sor de msica, bem como a formao do professor de msica no Brasil. A literatura tem apontado para estudos voltados para a relao entre a formao e a atuao; a forma-o e os saberes pedaggicos; a formao e os processos de aprender a ensinar, entre outros (AZEVEDO, ARAJO e HENTSCHKE, 2006; GARCIA, 1997; CERESER, 2003; XISTO, 2004). Se considerarmos os estudos relacionados aos saberes e prticas pedag-gicas, tem-se discutido a cerca desses saberes e sua utilizao na prtica docente; a re-lao entre os saberes mobilizados e socializados na prtica; bem como, sobre a nature-za desses saberes (BELLOCHIO, C. e BEINEKE, V., 2007; PIMENTA, 2008; GAUTHIER, 2006; FRANCISCO, 2006; ARAJO, 2005; SANTOS, 2007; AZEVEDO, 2007; TARDIF, 2006). Diante disso, v-se a necessidade de se discutir sobre que saberes os professores de msica no incio da carreira mobilizam na prtica.

    Tardif (2006) entende que so diversos os saberes mobilizados pelos professores. Para o autor, os saberes docentes compreendem diferentes saberes com os quais os pro-fessores mantm diferentes relaes. Nos dias de hoje, faz-se necessrio, quando se fala em formao de professores, levar em considerao que o professor no se forma apenas no contexto acadmico/universitrio, durante sua formao inicial, mas tambm nos v-rios contextos nos quais est inserido, tais como, a comunidade, a sala de aula, a insti-tuio de ensino, na relao com o aluno, entre outros. Esses saberes mobilizados pelos professores diariamente, tanto em sala de aula quanto na comunidade constituem-se em um saber social. Nesse sentido, compreende-se que os saberes musicais, assim como os demais saberes so construdos durante a vida; durante a formao inicial, na formao continuada, bem como na convivncia com os alunos. importante que se busque um equilbrio entre os diversos saberes e que se considerem os saberes e prticas docentes construdas durante a prtica profissional.

    Desta forma, essa pesquisa tem como objetivo geral investigar que saberes os pro-fessores de msica no incio de carreira mobilizam na prtica docente e como objetivos especficos conhecer que saberes e prticas que compem o repertrio de conhecimen-tos desses professores; conhecer quais so as fontes sociais desses saberes; identificar que saberes da formao inicial so mobilizados na prtica docente; identificar que sa-beres da experincia so mobilizados na prtica docente; identificar que saberes emer-gem da prtica.

    formAo do professor: entre sABeres e prticAs

    De acordo com o levantamento feito cerca da formao do professor de msi-ca, os discursos atualmente giram em torno da adequao da formao em relao s demandas pedaggico-musicais; a natureza dos saberes profissionais docentes na for-mao e atuao profissional dos professores de msica, bem como conhecer melhor a maneira como se desenvolve o processo de aprender a ensinar a partir de uma for-mao inicial (CERESER, 2003; AZEVEDO, ARAJO e HENTSCHKE, 2006; GARCIA, 1997, XISTO, 2004) entre outros. Essas pesquisas so referncias porque auxiliaro na identificao de perspectivas, modelos ou orientaes sobre a formao dos professores

  • Anais do 9 Sempem28

    de msica e refletem sobre o papel dos saberes docentes na formao e atuao des-ses profissionais, auxiliando nas reflexes a cerca da carreira profissional e da formao do professor em geral. Como resultados tm demonstrado que os professores de msica atuam em diferentes espaos e muitas vezes em mais de um, tais como bandas, conser-vatrios, escolas especficas de msica e aulas particulares em suas prprias residncias (XISTO, 2004, p. 177). Por meio da anlise dos depoimentos dos sujeitos envolvidos constatou-se que o saber docente composto por vrios saberes advindos de diferen-tes fontes. Alm desses dados, os conhecimentos que esses professores utilizam em sua prtica so advindos tanto da formao inicial quanto dos vrios contextos que os cer-cam. Esses dados confirmam que o saber docente composto de diferentes saberes ad-vindos de diferentes fontes. Esses saberes so: disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais (TARDIF, 2006, p. 33). Para Tardif (2006) a questo do saber tambm no pode ser analisada separadamente das demais dimenses do ensino, nem do estudo do trabalho dirio dos professores. Assim, considera a pluralidade dos saberes que com-pem a prtica profissional do professor.

    Em relao aos aspectos formao atuao profissional, Azevedo, Arajo e Hentschke (2006) desenvolveram estudos que abordaram a natureza dos saberes pro-fissionais na formao e atuao profissional dos professores de msica. Os resultados destacaram que em relao qualificao profissional do professor, esta temtica tem estimulado pesquisas do, sobre e com os professores, pois no podemos deixar de le-var em considerao o papel dos saberes da experincia, da temporalidade e da socia-lizao profissional na configurao desses saberes. As autoras concluram que os sa-beres so construdos, significados e transformados durante a prtica docente, seja na formao inicial ou continuada, no ensino musical coletivo ou individual. Alm disso, na prtica docente, saberes diversos so mobilizados durante todo o tempo de atuao do professor e essa prtica constituda pela articulao de saberes advindos das mais di-versas fontes e que esto interligados entre si de alguma forma, onde no se pode de-terminar com exatido onde termina um e nasce o outro. Tem a ver com as diferentes experincias vivenciadas pelo professor, tanto pessoais quanto profissionais, bem como com a concepo mais abrangente e complexa a respeito do papel do professor e da es-cola (NVOA, 1995; TARDIF et al. 1991; TARDIF & RAYMOND, 2000 apud COSTA e OLIVEIRA, 2007, p. 39).

    o incio dA cArreirA docente

    Em relao aos primeiros anos da profisso do professor, de acordo com Cavaco (1995, p. 162), trata-se de um perodo que descrito pelos professores com expressivi-dade, pormenores e proximidade emotiva. Se esse discurso no se aproxima da realidade vivida, pelo ao menos d conta do sentido e significado que essa vivncia assume no pre-sente e revela alguns traos da atuao profissional. O incio da prtica profissional um perodo contraditrio para os indivduos. Ao mesmo tempo em que o profissional encon-trou um lugar para que possa atuar; um espao de vida ativa, com perspectivas na cons-truo da autonomia, por outro lado as estruturas ocupacionais raramente correspondem identidade do profissional definida nos bancos da escola ou pela famlia ou por meio de diferentes atividades socioculturais. A partir disso, o jovem professor, na procura entre aspiraes, projetos e estruturas profissionais, tem de encontrar seu equilbrio, reajustar-

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    se ao novo contexto, adaptar-se nova situao. Para Huberman (1995, p. 37) as se-qncias ditas de explorao e de estabilizao, supostamente se verificam no incio de uma carreira profissional. A explorao caracteriza pelo experimento de um ou mais papis, uma opo provisria. Se esta fase for positiva, ento se passa para a estabili-zao ou compromisso. O que caracteriza a estabilizao ou compromisso, que a aten-o do indivduo se direciona para o domnio das diferentes caractersticas do trabalho; busca por um setor de focalizao ou especializao; centra-se na aquisio de encar-gos e condies de trabalho que o satisfaam e em vrios casos, tenta desempenhar fun-es que exigem responsabilidades maiores, ou mais lucrativas. As pesquisas tm apon-tado que tal seqncia equivale a um grande nmero, por vezes maioria dos elementos de uma populao estudada, mas nunca totalidade. Ento o desenvolvimento de uma carreira um processo e no acontecimentos em seqncia. O incio da carreira profis-sional tem se revelado como uma etapa importante em relao ao processo de aprender a ser professor. Diante de toda a complexidade que envolve essa etapa, muitas vezes o profissional se desestrutura, pensa em desistir da profisso, sente-se como um estranho no contexto escolar, chegando a duvidar de sua competncia e at mesmo da importn-cia da formao inicial (COSTA e OLIVEIRA, 2007, p. 28). De acordo com as autoras, na prtica, esses profissionais enfrentam situaes que reclamam uma formao inicial que privilegie uma maior articulao entre os desafios que o processo de escolarizao e as exigncias do exerccio da docncia impem. Torna-se relevante compreender como es-ses profissionais percebem, vivenciam as situaes ao longo de sua trajetria na carrei-ra e em especial os trs primeiros anos. Para autores como Burke, Fessler e Christensen (apud GARCIA, 1998) e Huberman (1995) a iniciao do professor define-se como os primeiros anos de atuao, quando o professor se socializa no sistema de ensino. O con-ceito de socializao tem se assemelhado ao de enculturao, se associado a um proces-so de aquisio de uma determinada cultura (BARFIELD, 1997 apud NUNES). Na viso de Nunes da mesma forma quando a criana comea a internalizar a realidade objeti-va, estaria adquirindo costumes, habilidades, enfim a cultura compartilhada. Assim, da mesma forma, quando um indivduo exerce uma profisso, ele necessitaria internalizar a cultura compartilhada com os demais membros mais experientes daquela determinada profisso. Desse modo, a socializao se transforma em um processo de transmisso de cultura de adultos para crianas ou dos mais experientes para os iniciantes. Esses e ou-tros estudos, de acordo com (COSTA e OLIVEIRA, 2007, p. 28) demonstram que a pr-tica vai se edificando como o local onde se aprende e se constroem saberes. Alm disso, os estudos sobre a socializao do professor se interagem com outros campos de pes-quisa sobre a profisso professor. Tais estudos so: formao docente e as polticas de formao; os saberes do professor; o desenvolvimento profissional e a profissionalizao (NUNES). Os primeiros anos da carreira profissional docente tm sido considerados co-mo um momento significativo devido s repercusses que podem causar ao longo da vida profissional do professor (GARCIA, 1998 apud NUNES). Segundo Ldke (1996, apud NUNES) no Brasil os trabalhos nesta rea ainda so recentes e insipientes.

    refernciAs BiBlioGrficAs

    ARAJO, Rosane Cardoso de. Um estudo sobre os saberes que norteiam a prtica pedaggica dos professores de piano. Tese de doutorado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2005.

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    AZEVEDO, Maria Cristina C. C. de, ARAJO, Rosane Cardoso de, HENTSCHKE, Liane. A natureza dos saberes profissionais de professores de msica: dois relatos de pesquisa em educao musical. In: XVI CONGRESSO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO EM MSICA, 2006, Braslia. Anais... Braslia: ANPPOM, 2006. p. 87-90.

    AZEVEDO, Maria Cristina C. C. de. Os saberes docentes na ao pedaggica dos estagirios de msica: dois estudos de caso. Tese de doutorado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2007.

    BELLOCHIO, Cludia R. e BEINEKE, Viviane. A mobilizao dos conhecimentos prticos no estgio supervisionado: um estudo com estagirios de msica da UFSM/RS e da UDESC/S. Msica Hodie, vol. 7, n. 2, p. 73-88, 2007.

    CAVACO, Maria Helena. Ofcio do professor: o tempo e as mudanas. In: NVOA, Antnio (Org.). Profisso professor. 2ed. Portugal: Porto editora, 1995. p. 155-191.

    CERESER, Cristina Mie Ito. A formao dos professores de msica sob a tica dos alunos de licenciatura. Dissertao de mestrado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2003.

    COSTA, Josilene Silva da e OLIVEIRA, Rosa Maria Moraes Anunciato de. Formao de professores: primeiras palavras. 2007, p. 23-46. Disponvel em: Acesso em 01 de julho de 2009.

    FRANCISCO, Maria Amlia Santos. Saberes pedaggicos e prtica docente. In: SILVA, Ainda Maria Monteiro (et.al.). Educao Formal e no formal, processos formativos, saberes pedaggicos: desafios para a incluso social. Ed. Bagao, 2006. p. 27-47.

    GARCIA, Carlos Marcelo. Pesquisa sobre a formao de professores: o conhecimento sobre aprender a ensinar. Traduo de Llio Loureno de Oliveira. In: ANPEd, XX, 1997, Caxambu. XX Reunio Anual da ANPEd. Revista Brasileira de Educao. 1998. p. 52-75.

    HUBERMAN, Michal.O ciclo de vida profissional dos professores. In: NVOA, Antnio (Org.) Vida de professores. 2. ed. Portugal: Porto editora, 1995. p. 31-61.

    NUNES, Joo Batista Carvalho. Aprendendo a ensinar: um estudo desde a perspectiva da socializao docente. Disponvel em: Acesso em 30 de junho de 2009.

    TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formao profissional. 8. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2007.

    XISTO, Caroline Pozzobon. A formao e a atuao profissional de licenciados em msica: um estudo na UFSM. Dissertao de mestrado. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria. 2004.

    Cludia Mara Costa Perfeito Gemesio - Professora efetiva do Conservatrio Estadual de Msica e Cinterartes - Raul Belm - Araguari / MG. Formada em Educao Artstica - Licenciatura plena - habilitao em Msica - piano, pela Universidade Federal de Uberlndia. Especialista em Msica do Sc. XX e em Performance Musical, pela mesma universidade. Atualmente, aluna do programa de Ps-graduao - Msica em Contexto da Universidade de Braslia.

  • Educao Musical e Performance 31

    RESUMO: O presente trabalho trata-se de uma pesquisa em andamento que objetiva discutir o uso dos aparatos tecnolgicos do home studio no ensino da performance musical. Apresenta-se neste trabalho uma discusso acerca dos desafios e contribui-es presentes no relacionamento entre performance musical e novas tecnologias. Para tanto, trabalhos especficos que abor-dam esta temtica so apresentados a fim de elucidar e apontar questes referentes aos problemas de pesquisa e uso de no-vas tecnologias na performance musical, bem como apontar aspectos positivos da relao msica-informtica. Conclui-se que aspectos positivos e negativos das novas tecnologias aplicadas a performance musical permeiam este relacionamento cabendo ao proponente do trabalho performtico (performer/msico/professor) observar e ter conscincia de suas implicaes.PALAVRAS-CHAVE: Performance musical; Novas tecnologias.

    ABSTRACT: This work is a result of a search in progress and it has the purpose of discuss the use of home studio in the mu-sical performance teaching. At this stage some challenges and contributions of the relationship between musical performance and new technologies are discuss. Specifics works that deal with this subject are showing with the aim of pointing out issues about research problems in the use of new technologies in the musical performance and point out positive aspects of relation-ship music and information technology. It concludes there are positive and negatives aspects of new technologies in the musi-cal performance as well as performer/musician/teacher should observe this implication.KEYWORDS: Musical performance; New technologies.

    introduo

    O presente trabalho trata-se de uma pesquisa em andamento que tem por objeti-vo discutir o uso das ferramentas do home studio na preparao da performance musi-cal. Nesta etapa em particular apresenta-se algumas das dificuldades e benefcios encon-tradas na relao performance musical e novas tecnologias. Desafios do uso de aparatos tecnolgicos em performances musicais e contribuies das mesmas ao ensino e prepa-rao do fazer msica so enfocados a fim de contextualizar o atual cenrio em que se encontra esta rea de pesquisa. Para tanto, buscou-se na literatura correspondente, tra-balhos que abordaram o relacionamento entre msica e tecnologia, performance musical e aparatos tecnolgicos, e aplicaes de recursos tecnolgicos a rea da msica.

    performAnce musicAl e novAs tecnoloGiAs: o proBlemA de pesquisA

    A performance musical tida como o ato da execuo de uma obra musical, envol-ve diversos aspectos, seja tcnicos, psicofsicos, gestuais, auditivos, emocionais e cor-preo vindos de um complexo processo de ensino/aprendizado e de uma preparao

    desafiOs e cOntribuies das nOvas tecnOlOGias perfOrmance musical

    Gabriel da Silva Vieira (PPG Msica UFG)[email protected]

    Snia Ray (PPG Msica UFG)[email protected]

  • Anais do 9 Sempem32

    performtica muita das vezes permeada pelo ensino de msica tradicional, pupilo e pro-fessor, numa diretiva no interativa, que vale exclusivamente das orientaes do profes-sor e da absoro do contedo pelo aluno. Uma aula eminentemente prtica, para um nmero restrito de alunos, que envolve quase que exclusivamente a execuo instrumen-tal. Neste sentido, essas duas prticas, a da docncia e a performtica, que tem no fa-zer musical seu ponto crucial, reportam-se a um trabalho de pesquisa sonora silencio-sa, que aparentemente parece estar despojado de um sentido interdisciplinar e analtico (LIMA, 2003. p. 26).

    Embora possua em muitos casos este carter, a performance musical uma das sub-reas da msica com maior potencial a interdisciplinaridade. Afinal ela se apropria de vrias outras reas de conhecimento, tais como, acstica, ergonomia, histria, litera-tura, psicologia, pedagogia, e tambm da rea tecnolgica para assim apresentar sua di-menso interpretativa, analtica e pedaggica. Entretanto, mesmo possuindo um carter multidisciplinar com potencialidade para pesquisas, a performance musical ainda care-ce de publicaes, que segundo Lima (2003), deve se ao fato da arte no poder ser ex-pressa mediante um raciocnio analtico, lgico e continuo, fazendo com que o perfor-mer tenha dificuldade de explicar de forma lgica a obteno de seus resultados. Harder (2003) complementa, afirmando que a carncia de material publicado no quer dizer que no exista pensamentos acerca da performance musical, mas sim, a constatao de uma dificuldade por parte dos performers em articular seus pensamentos. Neste senti-do, o uso da informtica na preparao e/ou na pedagogia da performance musical ain-da carece de investigao, desde formao at a utilizao dos aparatos tecnolgicos por parte do performer.

    novAs tecnoloGiAs AplicAdAs A performAnce musicAl: desAfios e contriBuies

    Segundo Traldi (2007), para que o performer possa interagir com novas tecnolo-gias faz-se necessrio uma busca de novas fontes de conhecimento musical, exigindo do intrprete conhecimentos que vo alm do padro curricular atual, ou seja, exige do in-terprete uma pesquisa e experimentao constante, que vai alm da forma tradicional de ensino de instrumento musical. A interao entre performer e o computador, por exem-plo, aponta a necessidade de um esforo de pesquisa que leve o intrprete a integrar a computao musical e o processo composicional voltado interatividade, ao seu conhe-cimento e a sua prtica musical.

    O computador, ferramenta bastante utilizada na msica, vem ganhando grada-tivamente espao no meio musical, no simplesmente como objeto tecnolgico, mas sim como instrumento musical. Figueiredo (2007) aps fazer anlise da questo, afir-ma que o computador um instrumento musical, pois sabe-se que ele um sistema de representao, utiliza de suas caractersticas especficas para criar produtos espec-ficos e partindo da representao de gestos para a obteno de resultados sonoros pre-cisos (p. 5).

    O uso do computador em composies musicais vem proporcionando diferentes pontos de observao no contexto de performances ao vivo, entre eles a interao ho-memmquina, a criao de novos timbres, ou mesmo a manipulao do som do instru-mento do performer pelo computador. Alm disso, acrescenta-se um dos maiores benef-cios das novas tecnologias a rea da msica que a interao entre instrumento e meios

  • Educao Musical e Performance 33

    eletrnicos ocorrendo em tempo real. Para Onofre (2009) a noo de tempo real um dos mais interessantes recursos advindos com as novas tecnologias, pois permite ao m-sico uma reproduo de sua obra ao mesmo instante em que composta. Nesta mesma perspectiva, Pereira (2006) aponta que as novas tecnologias permitiram que a criao musical fosse explorada de forma a derrubar barreiras fsicas, possibilitando experimen-tos com timbres e a audio imediata de criaes musicais.

    Embora a acessibilidade aos inmeros dispositivos eletrnicos ser hoje facilitada observa-se que a utilizao da tecnologia em performances ao vivo aponta dificuldades, que vo desde a pouca preparao do performer na utilizao dos aparatos tecnolgicos at a complexidade dos meios utilizados. Um exemplo desta problemtica apresentado por Traldi (2007) ao citar a pea Daydreams de Philippe Boesmans.

    Uma das primeiras obras que encontramos no repertrio para marimba e eletrnicos ao vi-vo Daydreams, composta em 1991 pelo compositor Philippe Boesmans. O percussionis-ta Robert Esler comenta as dificuldades de execuo dessa pea naquela poca e at mes-mo nos dias atuais principalmente por conta da complexidade da tecnologia utilizada atravs de inmeros dispositivos eletrnicos aplicados interao entre o intrprete e o computador (TRALDI, 2007. p. 22).

    Para Almeida e Batista (2007), h a necessidade de uma abordagem mais pro-funda em relao ao uso da tecnologia computacional dentro do contexto de ensino e de produo da msica, uma vez que a literatura que trata deste assunto segundo os auto-res escassa. Em relao performance musical dizem: a performance destas msicas so tecnicamente mais difceis que o repertrio tradicional. Envolve microfones, mesas de som e algumas vezes tocar com metrnomo, onde o prprio dedilhado mais com-plexo (p. 5).

    A gravao sonora e/ou udio-visual da performance, possibilitada pelo desenvol-vimento dos aparatos tecnolgicos, vm se mostrando uma importante ferramenta pa-ra preparao da performance. Pois ao assistir as gravaes os msicos podem atentar para detalhes no percebidos no momento do ensaio (CAZARIM e RAY, 2006. p. 243). Nesta perspectiva, os aparatos tecnolgicos, e em especial o desenvolvimento das tec-nologias de gravao, apontam recursos satisfatrios para a preparao de uma perfor-mance musical.

    Por outro lado, a gravao de msica tambm trouxe conseqncias para esta rea, segundo Gohn (2007) com ela diminuiu a flexibilidade na interpretao das figu-ras rtmicas, exigindo clareza e controle dos detalhes, e assim exigindo do instrumentis-ta muito mais preciso na execuo de uma obra musical, fazendo com que a prtica de ensaios contnuos se tornasse uma nova realidade.

    Hoje um instrumentista deve ensaiar e estudar regulamente, sempre procurando correo em seus movimentos e interpretaes rtmicas. Para o estudante moderno, a exigncia de perfei-o tcnica estabelece patamares mnimos, j que as platias tiveram acesso s gravaes de muitos outros instrumentistas e h uma expectativa de ouvir uma qualidade igual ou su-perior quelas referncias anteriores (GOHN, 2007. p. 18).

    Com a possibilidade de gravar e posteriormente com o aparecimento do videocas-sete, surgiu em 1980 a vdeo-aula. Bastante difundida no universo musical por propor-cionar ao estudante de instrumento um contato com grandes msicos, possibilitou ao mesmo observar a tcnica de seu instrumentista preferido e seguir suas sugestes. Ao proporcionar este contato a vdeo-aula possibilita de forma prtica e acessvel ao perfor-

  • Anais do 9 Sempem34

    mer um ambiente permeado por referncias mundiais no quesito interpretao, anlise e tcnica para a preparao de um trabalho performtico. Entretanto, cabe ressaltar a ob-servao de Gohn (2003):

    O ensino da msica pelo vdeo surge em um mundo de conforto tecnolgico, onde as pesso-as cada vez saem menos de casa e cada vez mais cumprem tarefas atravs de botes de con-trole remoto. Em certo aspecto ela representa um enquadramento da msica nesse ambiente de esforos mnimos, uma modelagem do processo de aprendizagem para o futuro (p. 111).

    O ensino de msica pelo vdeo ento abriu caminho para o que seria, alguns anos mais tarde, a chamada vdeo conferncia. Com o suporte tecnolgico da internet a vdeo conferncia, muito usada em projetos de ensino a distncia, vem se consolidando como uma importante ferramenta para o ensino/aprendizagem da performance musical. Com uma estrutura computacional adequada (computadores, internet e softwares) possvel com ela, e at em tempo real, que duas ou mais pessoas conversem, visualizem e tro-quem informaes independentemente da posio geogrfica que estejam o que vem diminuindo a distncia espao-fsico entre as pessoas. No caso do ensino de instrumen-to musical, na modalidade de ensino no-presencial, a vdeo conferncia vem possibili-tando o acompanhamento e desenvolvimento de alunos que j tenha uma prtica instru-mental razoavelmente solidificada (MENDES e BRAGA, 2007).

    O desenvolvimento de novas tecnologias na msica propiciou tambm a cons-truo de novos instrumentos, denominados instrumentos digitais. Ainda no muito ex-plorados em pesquisas de cunho acadmico, mas muito utilizado por diversos instru-mentistas, de estudantes a profissionais da rea. Em uma sociedade cada vez mais informacional, o desenvolvimento de instrumentos digitais vai de encontro com o prprio contexto da sociedade contempornea. Apesar desse tipo de instrumento existir desde a dcada de 1960 (no caso, os sintetizadores, que so em forma de teclado), atualmente possvel encontr-lo em forma de acordees, baterias e rgos, com entradas de fones, e em alguns casos, entradas para cartes de memria e USB (ALVES, 2006).

    Os pianos digitais, por exemplo, so de acordo com Alves (2006) muito procura-dos para uso caseiro como substituto do piano acstico. Os instrumentos virtuais, utiliza-dos em gravaes, em produes de CD, DVD, multimdia e internet, por outro lado, vm despertando interesse por parte dos desenvolvedores de softwares e usurios, possibili-tando uma grande diversidade de timbres para confeco de arranjos e composies mu-sicais. Os perifricos virtuais por sua vez, bastante utilizados em performances ao vivo, promovem atravs de equalizadores, compressores, reverbs, mesa de som digital, entre outros uma modificao sonora que consequentemente interfere numa dada performan-ce. Isto , a msica destinada a grandes platias ou mesmo pequenas, depender no s dos aspectos intrnsecos ao ambiente, mas tambm de aspectos tecnolgicos, devendo, portanto, serem levados em considerao.

    Os instrumentos e perifricos digitais ao interferirem na performance musical, oferecem novos pontos de pesquisa para o performer e para a rea do ensino da m-sica. Tocar com aparatos tecnolgicos requer conhecimento e vivncia que vai alm da rea musical, exigindo que o instrumentista recorra a tutoriais, revistas especializadas e a uma constante experimentao, verificando os recursos disponveis de seu uso. Nesta perspectiva, observa-se que a cada dia so mais visveis as inmeras modificaes pre-senciadas na esfera do fazer e ensinar msica, que tem seu dia-a-dia marcado cada vez mais pela forte presena das novas tecnologias.

  • Educao Musical e Performance 35

    concluso

    A performance musical, embora aparentemente despojada de um sentido inter-disciplinar e analtico, uma das reas da msica com maior potencial para se relacio-nar e utilizar de diferentes reas do conhecimento. Os aparatos tecnolgicos, por exem-plo, so utilizados a fim de solucionar problemas de performance ou mesmo introduzir novos pensamentos acerca da msica. Dessa forma, contribuindo com a dimenso arts-tica, interpretativa e pedaggica de um trabalho performtico. Entretanto, seu uso se tor-na um tanto complexo devido a carncia de material que aborda o assunto.

    Desafios do uso de novas tecnolgicas na performance musical so notrios, in-do da complexidade de diversos recursos tecnolgicos ou mesmo da falta de preparao do performer ou professor de msica em utilizar tais ferramentas. Neste sentido, uma tecnologia educacional que proporcione ao performer conhecimento acerca dos diferen-tes recursos advindos da informtica defendida por pesquisadores, tais como Traldi (2007) e Almeida e Batista(2007). E sua justificativa se encontra no fato das novas tec-nologias exigirem do interprete conhecimentos que vo alm do padro curricular atu-al, cabendo a ele orientar-se atravs de pesquisa e principalmente de experimentao constante.

    Contribuies significativas so encontradas no relacionamento performance mu-sical e novas tecnologias. A gravao sonora, a vdeo-aula e a vdeo conferncia so exemplos de aproveitamento de recursos tecnolgicos em favor da performance musical. Entretanto, uma mesma tecnologia pode inferir aspectos negativos num trabalho perfor-mtico, como o caso da gravao sonora que suscitou uma expectativa de ouvir uma qualidade igual ou superior quelas referncias anteriores (GOHN, 2007. p. 18) Neste sentido, o uso das novas tecnologias na performance musical mostra um relacionamen-to dualstico, ora evidenciando aspectos positivos ora negativos. Cabendo ao msico/per-former/professor observar as tecnologias empregadas, buscando informaes na rea da msica e na rea da informtica, para assim compreender seu uso.

    refernciAs BiBlioGrficAs

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  • Anais do 9 Sempem36

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    Gabriel da Silva Vieira - Mestrando em msica pela UFG e graduando em Engenharia de Software pela mesma instituio. Desenvolve servios de secretariado revista Msica Hodie da Escola de Msica e Artes Cnicas-UFG e Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Msica (ANPPOM). Tem experincia na rea de Artes, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologias na msica e iniciao ao violo.

    Snia Ray - Contrabaixista, professora e pesquisadora, doutora em Performance e Pedagogia do Contrabaixo pela Universidade de Iowa (EUA). Docente da EMAC-UFG desde 1998.

  • Educao Musical e Performance 37

    RESUMO: O presente trabalho uma pesquisa em andamento sobre a utilizao de estratgias de estudo na prtica instrumen-tal de alunos-flautistas de graduao na preparao de um trecho orquestral. O modelo de Jorgensen para estratgias de estu-do no estudo individual, que prope etapas de planejamento e preparao, realizao e avaliao, serve como ponto de partida para reflexes sobre decises tomadas na execuo. Em um momento posterior sero observados e coletados dados de estra-tgias adotadas pelos alunos e comparados com a bibliografia sobre o assunto. PALAVRAS-CHAVE: Estratgias de estudo; Prticas interpretativas.

    ABSTRACT: The survey aims to exam the use of strategies in musical performance of graduate students preparing a flute or-chestral solo. Jorgensens model of strategies on individual practice, which proposes preparing and planning, accomplishment and evaluation stages, is used as a starting point to reflections about performance decisions. At a subsequent moment the data and observations adopted by students about strategies will be compared with the bibliography on the subject. KEYWORDS: Practice strategies; Musical performance.

    introduo

    O trabalho aborda a utilizao de estratgias de estudo na prtica instrumental, segundo a perspectiva de Harald Jorgensen1, realizando uma reflexo sobre as estrat-gias apontadas pelo autor e sua relao com a subrea de prticas interpretativas. O pre-sente trabalho um relato de pesquisa em andamento que pretende investigar o uso de estratgias de aprendizado por estudantes de flauta transversal do curso de Graduao em Msica da UFRGS na preparao de um excerto orquestral para seu instrumento. A metodologia se processar atravs de coleta de dados realizada em trs sesses individu-ais de estudos filmados. Em cada sesso os alunos devero estudar o trecho seleciona-do durante 10 minutos fazendo comentrios em voz alta sobre as aes e atitudes ado-tadas durante o estudo. Aps a sesso de estudo individual sero coletados comentrios crticos dos alunos sobre a sesso, acompanhado de entrevista semi-estruturada onde se-ro levantados dados relativos formao musical individual. Logo aps os dados sero comparados com a bibliografia sobre estratgias de estudo na prtica individual buscan-do identificar possveis estratgias utilizadas pelos alunos na preparao do excerto.

    Diversas pesquisas2 vm sendo realizadas sobre a utilizao de estratgias no es-tudo instrumental. Essas pesquisas tm abordado desde aspectos ligados ao planeja-mento de ensaios, resoluo de problemas musicais, memorizao, auto-regulao das atividades e do tempo de estudo, preparao para apresentao pblica e suas impli-caes na educao musical entre outros temas.

    estratGias de estudO na prtica instrumental

    Thales Souza Silva (UFBA)[email protected]

    Leonardo Loureiro Winter (UFBA)[email protected]

  • Anais do 9 Sempem38

    Segundo Weinstein e Mayer (apud NIELSEN, 1997, p. 110) estratgias de estu-do podem ser definidas como:

    Comportamentos e pensamentos que um aprendiz aciona durante o aprendizado com a inten-o de influenciar o seu prprio processo de codificao. Dessa forma, o objetivo de qualquer estratgia de aprendizagem pode ser influenciar o estado emocional ou afetivo do aprendiz ou a maneira que o mesmo seleciona, adquire, organiza e inter-relaciona novos conhecimentos.

    Conforme Chaffin e Logan (2006, p. 115) a execuo instrumental uma ativida-de criativa e no uma simples repetio mecnica de movimentos aprendidos. Segundo os mesmos autores, durante o estudo msicos freqentemente iniciam, interrompem, re-tomam e repetem trechos adotando decises enquanto revisam cada aspecto envolvido com a tcnica ou a interpretao da obra. Nesse processo, o executante em seu estudo individual dirio costuma utilizar estratgias e procedimentos que possibilitem solucio-nar problemas tcnicos ou interpretativos na realizao do texto musical. As estratgias de estudo apresentam caractersticas como a individualidade pode variar de pessoa para pessoa o estgio ou nvel de aprendizado, o repertrio a ser executado, o pbli-co-alvo, o local e contexto a ser apresentada a obra, entre outros elementos. A resolu-o de problemas tcnicos ou interpretativos tem entre seus objetivos fazer com que a realizao do texto e a execuo musical sejam consistentes, coerentes e que apresen-tem desenvoltura.

    A propostA de JorGensen pArA estrAtGiAs de estudo

    Segundo Jorgensen (idem) estratgias de estudo so utilizadas pelos msicos com o objetivo de alcanar um estudo eficaz3. no estudo individual, uma atividade solit-ria onde o intrprete utiliza suas habilidades e conhecimentos para progredir ao longo da sesso com o intuito de alcanar objetivos definidos, que se revelam a importncia da utilizao e aplicao de estratgias eficazes. Nesse sentido Jorgensen sustenta que, ao selecionar e implementar estratgias de estudo apropriadas, o instrumentista adquire fer-ramentas que o auxiliam a obter um estudo eficaz, acentuando seus pontos fortes e elimi-nando seus pontos fracos. Jorgensen (ibid.) fornece exemplos dessas estratgias de estu-do conectadas prtica musical: ao planejar uma sesso de estudo o instrumentista se utiliza de uma estratgia de pensamento, j quando o mesmo gradativamente aumen-ta o andamento de uma execuo est utilizando uma estratgia de comportamento. A utilizao de estratgias consciente, mas pode tornar-se automtica com a repetio. Alm disso, segundo o mesmo autor, um bom nmero de professores de msica sugeriu ser conveniente que os alunos encarem o estudo como uma forma de auto-ensino em que, na falta de orientao, os mesmos faam o papel de assessores do professor, pres-crevendo-se tarefas definidas e supervisionando seu prprio trabalho (GALAMIAN, 1964 apud JORGENSEN, p. 85).

    Tendo como base esses princpios, Jorgensen (op. cit, p. 85) sugere trs fases de auto-ensino que o estudo eficaz, tanto numa nica sesso quanto ao longo de perodos mais extensos, deve incluir:

    planejamento e preparao do estudo; realizao do estudo; observao e avaliao do estudo.

  • Educao Musical e Performance 39

    Conforme Jorgensen as estratgias de planejamento e preparao do estudo se di-videm em estratgias para organizao e seleo de atividades, estratgias para estabele-cer metas e objetivos, estratgias para o gerenciamento do tempo. As estratgias de rea-lizao podem ser classificadas em estratgias de ensaio, estratgias para a distribuio do estudo no tempo, estratgias para o preparo de uma apresentao. As estratgias de avaliao estariam relacionadas avaliao crtica da sesso de estudo com estabeleci-mento de planejamento e metas futuras.

    Jorgensen ainda apresenta uma viso alternativa, oferecida por psiclogos edu-cacionais, que a metfora do aprendizado auto-regulado (i.e., como estudantes ad-quirem ferramentas necessrias para obter controle sobre seu prprio aprendizado e a aprender eficazmente) ou meta-estratgias (relacionadas ao conhecimento sobre estrat-gias e ao controle e regulao na utilizao de estratgias). Nessa abordagem, o instru-mentista deve se envolver em trs fases de auto-regulao:

    pr-pensamento: processos mentais e crenas pessoais que precedem as ten- tativas de se envolver na realizao de uma tarefa.controle volitivo/de execuo: processos que ocorrem durante o aprendizado que afetam a concentrao e a execuo.auto-reflexo: reao e subseqente resposta do aprendiz experincia.

    Jorgensen apresenta e classifica as estratgias de estudo com base nas fases do auto-ensino, quais sejam: planejamento, realizao e observao/avaliao, tendo como justificativa o fato de serem estes os termos mais freqentemente utilizados por instru-mentistas e professores. Assim sendo, apresenta um modelo de estratgias com

    base no auto-ensino:

    Figura 1: Estratgias de estudo (segundo Jorgensen).

  • Anais do 9 Sempem40

    Essas estratgias podem assim ser representadas e classificadas:

    1. Estratgias de Planejamento e Preparao

    1.1 Estratgias para organizao e seleo de atividades:

    1.2 Estratgias para estabelecer metas e objetivos:

    1.3 Estratgias para o gerenciamento do tempo:

    - Estudo ao tocar;- Estudo sem tocar (e.g. estudar

    a partitura, fazer marcao na partitura ou tomar notas em um caderno, dedilhar silencio-samente etc.).

    - Planejamento da execuo aps o domnio da maior parte dos desafios tcnicos de uma pea.

    - Gerenciamento da distribuio das sesses de estudo: ao longo da semana; ao longo de cada dia etc.

    2. Estratgias de Realizao

    2.1 Estratgias de ensino: 2.2 Estratgias para a distribuio do estudo no tempo:

    2.3 Estratgias para o preparo de uma apresentao:

    - Estratgias de ensaio mental versus estratgia ao tocas;

    - Estratgias para dominas a pea inteira versus sees menores;

    - Estratgias para sees difceis e desafiadoras:

    - Estratgias relacionadas ao andamento da execuo.

    - Abordagem distributiva;- Abordagem comprimida;

    - Observao dos movimentos;- observao de vdeos de con-

    certos anteriores, incluindo avaliaes escritas sobre seu comportamento no palco.

    3. Estratgias de Avaliao

    3.1 Modelos visuais e auditivos:

    3.2 Estratgias para detectar e corrigir erros:

    3.3 Estratgias de auto-direcionamento (self-guiding):

    - Mentalizao de uma execuo modelo durante o estudo;

    - Avaliao de vdeos de apre-sentao anteriores (auto-avaliaes escritas pelo instru-mentista.

    - Reconhecimento de erros no momento em que ocorrem, incluindo erro de acidentes (bemis e sustenidos), preciso rtmica, afinao, constncia do pulso e tonalidade;

    - Exame de partitura com o fim de identificas aspectos impor-tantes da msica (preveno de erros desnecessrios.

    - Estratgias de aviso;- Comentrios como estratgias.- Verbalizaes de apoio como

    estratgias.- Estratgias de lembretes.- Cantar ao tocar.

    Tabela 1: Estratgias de estudo (conforme Jorgensen).

    Jorgensen (idem) sugere que os instrumentistas observem suas sesses de estu-do regularmente e concentrem sua observao em um ou dois aspectos de cada vez. e que procurem registrar quanto tempo gastam em tarefas especficas durante uma ses-so de estudo, que tipos de erros produzem, e como incluir a repetio do repertrio pre-viamente ensaiado em sua rotina de estudo. O nmero e alcance de questes so ilimi-tados. O ponto principal a ser salientado que o estudo deve ser objetivo e focado e que o msico profissional depende de um nvel profissional de estudo.

    Quanto realidade dos estudantes de msica, Jorgensen diz que por mais que professores afirmem que ensinam seus alunos a estudar, os estudantes ou no absorvem ou no aplicam o conhecimento sobre estratgias de estudo, geralmente realizando a uti-lizao de estratgias de modo emprico ou de maneira no-sistemtica. Jorgensen afir-

  • Educao Musical e Performance 41

    ma ainda que essa discrepncia se apresenta como um desafio aos professores no senti-do de incluir o ensino de estratgias de estudo em suas aulas de uma forma que captem diretamente o interesse dos alunos e ento passem para o aprendizado e tarefas de exe-cuo apropriados.

    concluses

    A utilizao de estratgias de estudo uma importante ferramenta auxiliar no es-tudo instrumental fazendo com que o estudo individual torne-se mais objetivo e provei-toso. Atravs da utilizao de diferentes estratgias de estudo problemas de realizao do texto tanto tcnicos quanto interpretativos podem ser resolvidos, tornando a exe-cuo musical coerente e consistente. Poderamos tambm afirmar que a resoluo de problemas tcnicos e interpretativos j esto sendo construdos atravs da utilizao de estratgias adequadas de estudo (grifo nosso). Por outro lado o planejamento do tempo til faz com que a atividade do estudo individual - por vezes repetitiva e cansativa pos-sa se tornar mais produtiva.

    A perspectiva de Jorgensen para a utilizao de estratgias de estudo na prtica individual prev o planejamento e preparao, a realizao e a avaliao de estratgias, bem como o conhecimento sobre as mesmas e seu alcance. Essa compartimentao da sesso prtica de estudo proposta pelo autor permite um planejamento consciente das tarefas a serem realizadas, contribuindo na organizao do tempo da prtica instrumen-tal, na avaliao da sesso e no planejamento de objetivos a serem alcanados.

    A qualidade do estudo individual e do aproveitamento de uma sesso de estudo parece apresentar uma relao direta com a utilizao de estratgias adequadas ao re-pertrio e aos problemas a serem resolvidos. A utilizao de estratgias de estudo apre-senta caractersticas que variam de pessoa para pessoa, do nvel de conhecimento e expertise do instrumentista, do repertrio a ser executado e dos diferentes tipos de pro-blemas a serem resolvidos (tcnicos ou interpretativos).

    notAs

    1 Harald Jorgensen, Strategies for individual practice, In: AaronWilliamon, Musical Excellence. Strategies and techniques to enhance performance. Londres: Oxford University Press, 2004. p. 85-103.

    2 Como, e.g., CHAFFIN; IMREH; LEMIEUX; CHEN, 2003; CHAFFIN; LOGAN, 2006; ERICSSON, 1997; HALLAM, 1997; HOLMES, 2005; JORGENSEN, 1997, 2004; NIELSEN, 1997, 1999; SANTIAGO, 2007; WILLIAMON, 2004.

    3 Hallam (1997) define estudo musical eficaz como aquele que atinge o produto final desejado, dentro do menor perodo de tempo possvel, sem que interfira de maneira negativa em objetivos futuros (HALLAM, 1995c apud HALLAM, 1997, p. 89). A autora comenta ainda que a definio supe que o estudo eficaz pode tomar formas diversas dependendo da natu-reza da tarefa a ser cumprida, do nvel de excelncia j adquirido e de diferenas individuais.

    refernciAs BiBlioGrficAs

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    SANTIAGO, Patrcia Furst. Mapa e sntese do processo de pesquisa em performance e em pedagogia da performance musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 17, 17-27, set. 2007.

    WILLIAMON, Aaron. Musical Excellence. Strategies and techniques to enhance performance. Londres: OXFORD University Press, 2004.

    thales Souza Silva - Bacharel em msica com especializao em flauta transversal pela UnB (2005), sob orientao da Profa. Dra. Beatriz Magalhes-Castro. De Maro de 2007 a Abril de 2008 foi prof. substituto da disciplina Flauta Transversal na UFPel. Atualmente aluno do PPG-Mus da UFRGS, cursando o Mestrado em Msica, sob orientao do Prof. Dr. Leonardo L. Winter, onde desenvolve pesquisa no campo de estratgias de aprendizado no estudo da flauta transversal.

    Leonardo Loureiro Winter - Doutor em execuo musical (UFBA) e exerce as funes de Professor Adjunto de flauta transversal e coordenador da disciplina Tcnicas Interpretativas de Msica de Cmara na UFRGS, atuando tambm como docente do PPG. Vencedor de vrios concursos, atuou como solista junto a diversas orquestras do pas. Como camerista, tem atuado em recitais no Brasil, Buenos Aires e na Sua Integrante da OSPA desde 1990, tem atuado como msico convidado de diversas orquestras.

  • Educao Musical e Performance 43

    RESUMO: Atuar em um contexto dinmico, no qual a diversidade de fenmenos e de conhecimentos intrnseca numa socie-dade contempornea, torna especial o papel e a atuao do docente universitrio. O presente trabalho tem a proposta de re-fletir sobre a postura deste docente frente aos diferentes campos de produo presentes na universidade. Sendo assim, re-correremos definio de campos de produo postulado por Bourdieu e o reportaremos para a rea musical. Levantado a definio de campos de produo, refletiremos como o ensino precisa ser contextualizado segundo as exigncias de ca-da campo musical.PALAVRAS-CHAVE: Docncia universitria; Ensino superior; Campos de produo e educao musical.

    ABSTRACT: Performing in a dynamic context in which the diversity of occurrences and knowledge is intrinsic to a contemporary society, makes it special the role and the performance of the university teacher. The present work is aimed at proposing a reflec-tion is made about the posture of the teacher when he is faced to different production fields present in a university. Thus, we shall resort to the definition of production fields as put by Bourdieu transferring it to the musical area. Raising the definition of production fields, a thought is given on how learning needs to be contextualized under the demands of each musical field.KEYWORDS: University teaching; Higher learning; Production fields and musical education.

    A universidade surgiu quando se quis constituir um saber que abarc