apostila filosofia finalizada
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LAURA GIANINI
FILOSOFIA I
PASSOS
2013
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EAD FESP-UEMG
Fundao de Ensino Superior de Passos
Universidade do Estado de Minas Gerais
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EAD - FESPFundao de Ensino Superior de Passos
Fun dao d e Ens ino Sup erio r de Passos FESP
Presidente do Conselho Curador
Prof. Fabio Pimenta Esper Kallas
Diretor do Ncleo Acadmico de Educao
Prof. Anderson Jacob Rocha
Ncl eo de Educao a D is tnci a
Coordenao Geral
Ana Maria Abdul Ahad
Suporte Tcnico e Diagramao
Victor Faria Pereira Lima
Reviso de Texto
Ana Maria Abdul Ahad
Reviso de Metodologia
Edgar Rodrigues de Oliveira
Programador
Joo Paulo Silva Arajo
Depart amento d e Info rmtic a
Chefe de TI
Anderson de Souza
Depart amento de Comun ic ao
Chefe do Departamento de Comunicao
Selma Tom
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FILOSOFIA I
Educador virtual
Laura Gianini possui graduao em Cincias Sociais (1989), com especializaes em
Histria, Educao a Distncia e Arteterapia (lato sensu) e mestrado (strictu sensu) em
Filosofia pela PUC - So PauloPontifcia Universidade Catlica de So Paulo (2000).
Atualmente professora titular da Fundao de Ensino Superior de Passos. Tem
experincia na rea de Filosofia, Sociologia, Psicossociologia. co-criadora do projeto
de extenso cultural Universidade aberta para a Maturidade da Fundao de Ensino
Superior de Passos.
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LEGENDA
Atividades ComplementaresIndica que questescomplementares foram propostas ao longo do curso.
AtenoVoc deve ficar atento, pois tratam-se de avisos equestes importantes relacionadas ao curso.
Para RefletirIndica que voc deve refletir sobre o tema proposto.
Informaes e CuriosidadesIndica fatos interessantesrelacionados ao tema tratado.
InternetLinks da internet de apoio.
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DADOS GERAIS DA DISCIPLINA
CURSO PERODO SEMESTRE / ANO
PEDAGOGIA 1/2013
DISCIPLINA: Filosofia I 36 Horas /Aula
PROFESSOR: Laura Gianini
EMENTA
Conhecimentos bsicos de filosofia: a filosofia e o filosofar. Nascimento do
conhecimento filosfico ocidental. O ser humano e as questes existenciais. Temas
relevantes filosofia.
DIRETRIZES GERAIS DO CURSO
O curso foi planejado para uma carga horria de 36 horas/aula (30 horas relgio);
A participao efetiva do aluno s se complementa com o acesso sala virtual que
estar disponvel o tempo todo, no necessitando de dia ou hora especficos para o
acesso;
As atividades do curso podero ser executadas a qualquer hora, obedecendo os
prazos estipulados para postagem de atividades avaliativas;
Siga as orientaes para execuo das tarefas utilizando as ferramentas de
interao indicadas nas descries das mesmas;
O material didtico ser disponibilizado no incio do curso em forma virtual e liberado
parcialmente em forma de aulas. O mesmo material vai estar impresso e
disponibilizado tambm na biblioteca da FESP;
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O professor da disciplina entrar na sala de aula virtual semanalmente em dia a ser
estipulado para tecer comentrios, dar orientaes, responder a dvidas e manter a
dinmica do grupo.
PROMOTORES DA DISCIPLINA
A disciplina Filosofia I est alocada no centro de responsabilidade do Ncleo
Acadmico de Educao e no Curso de Histria da FESP.
PR REQUISITO
Estar matriculado na disciplina Filosofia I;
Estar de posse da senha de acesso Intranet FESP;
Saber fazer download de arquivos virtuais;
Saber abrir, postar e imprimir arquivos virtuais.
OBJETIVOS GERAIS
Desenvolver o senso crtico no sentido de criar no aluno a capacidade de questionar o
mundo e as ideias que foram sendo construdas sobre ele;
Fazer com que o aluno transcenda o seu presente imediato compreendendo as
diferenas fundamentais entre a simples absoro de conhecimento e a reflexo
filosfica.
OBJETIVOS ESPECFICOS
Entender as vrias formas de conhecimentos: senso comum, mitologia, cincia, arte e
filosofia;
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Compreender o mundo da filosofia e do filosofar;
Apreender sobre o nascimento da filosofia;
Ler e discutir textos que questionem as principais questes contemporneas;
Analisar a questo da falta de sentido no mundo ps-moderna;
PROCEDIMENTOS DIDTICOS:
Aulas ministradas em espao virtual pela metodologia de Ensino a Distncia;
Transmisso de contedos via aulas gravadas/filmadas e postadas na Intranet. Ser
utilizado o Ambiente Virtual de Aprendizado da FESP como sistema de
gerenciamento do curso;
Debates/discusso virtual sobre problemas inerentes disciplina em horrios pr-
estabelecidos;
Pesquisas bibliogrficas e de campo indicadas pelo professor da disciplina como
complemento da parte terica.
MATERIAL DIDTICO
Texto em PDF disponibilizado na sala de aula virtual;
Vdeo-aulas tambm disponibilizados semanalmente. Os vdeos esto relacionados
aos textos das aulas;
Ao final de cada aula tm indicativos de leituras relacionados aos contedos daquela
aula e que se encontram disponveis no acervo bibliogrfico na biblioteca da FESP.
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AVALIAO
A nota da avaliao P1 (10 pontos) ter uma parcela (40,0%) atribuda para
avaliaes virtuais e uma parcela (60,0%) atribuda por avaliao presencial de
acordo com o calendrio do curso;
A nota da avaliao P2 (10 pontos) tem a mesma metodologia de distribuio de
notas de P1;
A nota de avaliao PS ocorre somente de forma presencial;
As avaliaes P1, P2 e PS obedecero ao calendrio de avaliaes do curso a que o
aluno est vinculado;
Esto previstos exerccios virtuais a serem cumpridos pelos alunos periodicamente.
CONTEDO PROGRAMTICO
O contedo programtico para o Curso de Filosofia I est programado para ser
ministrado em 16 aulas/assuntos distribudos em 32 horas/aula. 4 horas/aula so
destinadas s avaliaes P1 e P2.
AULA INICIAL -Apresentao do Plano de Ensino da disciplina Filosofia I (O plano de
ensino ser distribudo de forma impressa aos alunos e disponibilizado na Intranet da
FESP).
AULA 1 -O QUE LEITURA DE MUNDO?
AULA 2 -O QUE CONHECIMENTO?
AULA 3 - CINCO TIPOS DE CONHECIMENTO
AULA 4 -INFORMAO, CONHECIMENTO E SABEDORIA
AULA 5 -ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIAAdmirao
AULA 6 -ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIA2 parte
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AULA 7 -O QUE ENTO A FILOSOFIA?
AULA 8-NASCIMENTO DA FILOSOFIA
AULA 9SCRATES
AULA 10 -PLATO E ARISTTELES
AULA 11 - O QUE INTELIGNCIA FILOSFICA?
AULA 12 - COMO DESENVOLVER A INTELIGNCIA FILOSFICA
AULA 13 -O QUE LIBERDADE?
AULA 14 -O QUE D SENTIDO EXISTNCIA
AULA 15 -TRABALHO E CIO
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SUMRIO
Aula 1
O QUE LEITURA DE MUNDO ....................................................... 12Aula 2O QUE CONHECIMENTO? ........................................................... 19
Aula 3CINCO TIPOS DE CONHECIMENTO ............................................... 28
Aula 4INFORMAO, CONHECIMENTO E SABEDORIA ......................... 37
Aula 5ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIA1 Parte ............ 44
Aula 6ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIA2 Parte ............ 52
Aula 7O QUE ENTO A FILOSOFIA? .................................................... 61
Aula 8NASCIMENTO DA FILOSOFIA ........................................................ 68
Aula 9SCRATES ....................................................................................... 77
Aula 10PLATO E ARISTTELES ............................................................ 87
Aula 11O QUE INTELIGNCIA FILOSFICA? ....................................... 96
Aula 12COMO DESENVOLVER A INTELIGNCIA FILOSFICA ........... 104
Aula 13O QUE LIBERDADE? ................................................................ 112
Aula 14O QUE D SENTIDO EXISTNCIA .......................................... 123
Aula 15TRABALHO E CIO ..................................................................... 134
REFERENCIAS E BIBLIOGRAFIAS ............................................................. 143
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AULA 1 - O QUE LEITURA DE MUNDO?
Ontem subitamente descobri que sou todos os desejos do mundo. Sabe por qu?
Quero fazer um blog, ter um home page. Desejo ser pintora e estudar Ingls! Roubo a
bala da mo da criana; Estudo para o Doutorado. Desespero-me por todos os livros
ainda no lidos em minha estante. Insisto no que pecado. Olho a casa que est uma
baguna! Queria tudo, milimetricamente, organizado. Tenho ideias para 5 livros, mas
nenhum dedo na hora de digitar a primeira frase. Corri mundos inimaginveis atrs de
saber quem eu sou. Descobri que vou morrer procurando e que o gostoso estar
sempre indo atrs. Mas tem hora que canso e da vontade de dormir. Deito no meio da
tarde e me esqueo de tudo que politicamente correto. Adoro pipoca, sorvete deameixa com Coca-Cola. Olhar pela janela ver que o mundo maior que meu umbigo.
Fico pensando porque no sou igualzinho a estas pessoas que tem s um desejo.
No estilo: O que mais quero ser mdico!; A nica coisa que quero ter algum! ou
Se tiver um carro vou ser feliz para o resto da vida!;Mas acho isso tudo um resumo de
felicidade!
Eu no! Tenho vontades de criana que olha o mundo grande e pensa quero tudo!
Tudo ao mesmo tempo. E tambm sinto a frustrao de no conseguir levar tudo nos
braos. s vezes rio de mim, outras tantas, choro. Talvez por isso goste tanto de ler.
Sou outras pessoas e vivo intensamente cada linha. No fundo sou uma ladra. Roubo as
histrias e as vivo como se fossem minhas.
Desculpe. Agora preciso ir. Tenho um monte de coisas para fazer.
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1Beijos!
Sem analisar muito, responda!
1) Qual a interpretao que voc faz deste texto?
2) O que ele diz para voc?
Toda vez que lemos um texto escrito temos vrios sentimentos em relao a ele.
Pensamos que entendemos ou simplesmente no compreendemos nada do que foi
dito. Muitos textos nos iluminam porque carregam um significado, uma compreenso
que no nos era clara; Outros parecem nos deixar mais confusos do que estvamos.
Porm ns no interpretamos somente textos escritos. Segundo Aranha e Martins(2005, p. 11), a palavra texto vem do latim tecido. Voc j viu algum tecendo as linhas
num tear? As tramas vo se construindo e se misturando. A vida faz o mesmo: convida-
nos, o tempo todo, a urdir, ou seja, passar fios em outros fios para formar algo visvel
(tecido). Tudo no mundo nos chama a buscar significados, como tramas no tear que
puxam nosso olhar. Uma pintura, um filme, uma imagem, um cheiro nos convida a
buscar uma leitura. Desde o momento que acordamos at nos deitarmos estamos
costurando sentidos, tecendo explicaes, bordando juzos ou tentando traduzir o que
est ao nosso redor. Para isso precisamos usar todos os nossos sentidos.
Usamos logo acima a palavra leitura. Como esse conceito cabe aqui? - Voc
deve estar se perguntando. Vejamos:
1http://quandoeutinha8anos.files.wordpress.com/2011/03/leitura.gif
http://quandoeutinha8anos.files.wordpress.com/2011/03/leitura.gifhttp://quandoeutinha8anos.files.wordpress.com/2011/03/leitura.gif -
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Uma leitura de mundo seria a interpretao que fazemos a partir da busca de
significados para tudo que nos rodeia. Ela diferente para cada pessoa. Ela est
vinculada a poca em que vivemos, ao nosso contexto histrico, as nossas
experincias conscientes e inconscientes. Por isso que sempre se diz: tudo dependedo ngulo.
Para se entender melhor, vejamos um exemplo que se relaciona com contexto
histrico2: Uma gravidez indesejada h 40 anos era motivo de expulso da mulher de
seu lar, pelos pais, principalmente o patriarca. A conduta que se esperava do sexo
feminino era de retido e pudor. Muitos relatos de mulheres que se tornaram prostitutas,
nesta poca, vm do fato de esta ser a nica alternativa que tinham, pois muitas vezes
o pai da criana no assumia nem a mulher e nem o filho.
Nos dias atuais, uma gravidez indesejada j no motivo para o extremo de uma
expulso. vista muitas vezes como uma mudana, outras vezes como um transtorno
e no como algo vergonhoso socialmente. A virgindade j no algo valorizado como
era algumas dcadas atrs. Os relatos colhidos, no nosso dia-a-dia, nos demonstram
que cada caso visto de uma forma e j no h mais tanta rigidez naquilo que se
espera que o patriarca da casa deva fazer.
Veja se voc identifica, ao seu redor, alguns dos relatos que propomos a seguir: A
filha diz que est grvida. O seu pai fica muito bravo no incio e depois que v a criana
nascer, modifica completamente sua postura; o pai da criana no casa com a me,
mas continua o namoro ou mesmo que no continue o namoro cuida da criana como
seu filho, no o abandona. Muitas vezes a criana criada pelos avs paternos ou
maternos, pois os filhos so muito novos e precisam sair para estudar, etc.
Voc consegue perceber como as coisas so diferentes agora? Como dissemos
anteriormente, nossa leitura de mundo depende do contexto histrico onde estamos
2Contexto histrico: Est relacionado com todos os aspectos que envolvem um determinado fato queest delimitado no tempo e no espao. Nunca podemos analisar um fato sem levar em conta o momentohistrico onde ele est inserido.
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inseridos. E para podermos entender isso preciso refletir sobre o que concebemos
tanto do ponto de vista externo (fora de ns pela sociedade) quando interno (o que
realmente sentimos).
Pensemos um pouco sobre o texto que inicia este captulo. Voc conseguiu
responder as perguntas feitas (Qual a interpretao que voc faz deste texto? O que
ele diz para voc?)?
Algumas indagaes podem ajudar na interpretao:
a) O que, quem escreveu, quis dizer com o texto?
b) O texto fala sobre valores?
c)Aparece nele alguma indicao do tempo em que foi escrito?
d) E o lugar?
e) Qual o tipo de pessoa escreveu o texto?
Vamos, agora, olh-lo sobre vrias perspectivas e possibilidades: (Tente se
lembrar se voc pensou em alguma delas ao ler o texto!)
a) um texto de um adolescente confuso, que no sabe o que quer da vida;
b)Diz de algum que j chegou vida adulta e sabe que o mudo muda o tempo
todo e que existem milhes de sentimentos dentro de uma mesma alma humana;
c)No entendo o que o texto quer dizer, odiei;
d)Identifiquei-me completamente com o texto, adorei;
e)O texto no me disse nada, indiferente.
Com certeza voc tem uma leitura a fazer sobre o texto. Qual ?
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Ento podemos dizer que uma leitura do mundo pode ser feita sobre um
acontecimento, uma atitude, um texto escrito, um comportamento, etc.
Indo alm, legtimo afirmar que o homem no consegue viver sem dar uma
explicao, um significado a sua vida e que, os conhecimentos mais elaborados que
vamos adquirindo, vo dando outros enfoques s nossas interpretaes. Por isso,
percebemos que a interpretao de um mesmo fato pode ser diferente para um filsofo,
um poltico, uma pessoa sem nenhum estudo, um poeta, etc.
Vamos destrinchar esses pontos a partir de agora.
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3http://3.bp.blogspot.com/-0m5iDrzSFGg/T94reI1tKMI/AAAAAAAAAbU/WtnUzw7QBy4/s1600/Foto+rosto+livros.png
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EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA4
Reflita sobre as seguintes questes:
Como medir a existncia? Com que instrumento? Segundo que unidade?Seguindo qual cdigo? Com que referncia?
Voc poderia dizer que sua existncia medida adequadamente em: metros
percorridos a p, em quilmetros percorridos de carro, em anos, em dias, em
horas em segundos, em batimentos cardacos, em litros de suor, de urina, de
sangue, em quilos de carne, de batatas, em litros de vinho, em pginas escritas,
em tempo perdido, em amor doado, em amor recebido?
A vida pode ser descrita por sries de equaes, uma trama cerrada dedimenses, de massas de foras. Isso, entretanto, no nos permite medir a
existncia. Ento como medi-la? (DROIT, 2002, pp. 30-31).
Para saber mais, ler:
a. O Prlogo - Instrumentos do filosofar p. 10 a 26 no livro:
ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de
Filosofia. 3. ed. So Paulo: Editora Moderna, 2005. Nmero de chamada na
Biblioteca da FESP: 101A662t
4Experincia de Filosofia Cotidiana uma adaptao de Droit (2002) e criao da autora.
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AULA 2 - O QUE CONHECIMENTO?
Os homens so diferentes dos animais. Por qu?
A primeira resposta que nos vem a mente : o homem racional e o animal
irracional. Mesmo quando achamos que um ser humano est sendo irracional no
acreditamos que ele seja um macaco, uma galinha, ou uma abelha. Porm, h algo
mais marcante nesta diferena. O homem no nasce pronto como os animais. Os
animais nascem com o instinto que lhes determina como comer, copular, comportar-se.
Quando menor a escala zoolgica, mais instintivo o animal.
Podemos dar como exemplo alguns tipos de insetos que botam seus ovinhos emorrem antes mesmo que suas crias nasam. Geralmente eles deixam um outro, inseto
como alimento para elas. Assim, quando nascem, e sem ningum que as ensine,
sabem o que fazer. Gerao aps gerao, o comportamento lhes passado
geneticamente. Mesmo os chipanzs que esto mais prximos do homem e tem um
comportamento social, afetivo e uma noo numrica rudimentar (por exemplo, tem
noo da quantidade de bananas que tem nas mos), no erigiram um mundo que
tenha qualquer semelhana com o nosso.
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O ser humano o nico animal, e dentre estes, o nico mamfero que se separou
da natureza instintiva e criou um mundo artificial: a cultura. A cultura tudo aquilo que
adquirimos atravs da aprendizagem, herdada das geraes anteriores e no pelos
instintos. transmitida atravs da linguagem e no existe um nico animal na naturezaque tenha feito esta criao. Por isso, consideramos a cultura um trao distintivo da
humanidade. Tudo que o homem criou e criar, quer seja material ou imaterial cultura.
Ela tem ao mesmo tempo estruturas permanentes (perduram) e impermanentes
(modificam-se com o tempo).
Nascemos folha em branco, como diz Jean-Paul Sartre (1970), diferentemente dos
animais irracionais, sem saber qual o nosso objetivo; como vamos nos comportar; o que
vamos fazer; Assim, quais sero nossos propsitos e valores de vida no nos so
estabelecidos geneticamente.
A cultura o instrumento que far esta adaptao nossa com o meio social onde
estamos. Um beb humano que seja abandonado num lugar onde nenhum ser cuide
dele, com certeza, morrer. At uma idade avanada precisamos de quem cuide de
ns. Se voc tem filhos pequenos sabe do que eu estou falando. Eles precisam de ns
o tempo todo e precisamos estar vigilantes para que eles no atentem contra a prpria
integridade fsica. Enquanto um bezerro j comea a andar assim que nasce a criana
s comea a ficar em p e caminhar, sem muita segurana, geralmente, aos nove
meses.
Apesar de termos a capacidade inata de aprender uma enormidade de coisas,
somente as desenvolvemos quando estamos no mundo humano. A fala demonstra isso
muito bem. Aprendemos a falar porque temos quem nos ensine. Assim poderamos
afirmar que o homem s se humaniza se estiver mergulhado na cultura, na sociedade,
junto com outros seres humanos.
Se somos uma bucha que suga tudo o que est ao nosso redor, no nascemos
com algumas caractersticas prprias como a capacidade de desenvolver um tipo
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determinado de inteligncia ou aptides? Sim, nascemos com inteligncia e aptides
potencializadas, mas precisamos do mundo humano para desenvolv-las.
Muitos conhecem a histria de Amala e Kamala6 e outras crianas que se
perderam em florestas e foram adotadas por animais e assimilaram os comportamentos
deles como se fossem os seus. Ou seja, comearam a se comportar como os animais
que as tomaram aos seus cuidados. Aprenderam com eles como deveriam se
comportar.
exatamente o conhecimento, o aprendizado que nos torna humanos. Muito
mais do que por uma questo de status intelectual ou de melhorar nosso saber para
podermos ganhar mais dinheiro, conhecer est intrinsecamente relacionado a umanecessidade de sobrevivncia. O conhecimento, ento, nossa chave de entrada para
sobreviver neste mundo.
Para aquilo a que nos propomos analisar, o conhecimento todo o arcabouo7de
idias, conceitos e vises de mundo que foram construdos pela humanidade ao longo
da sua histria.
O conhecimento pode designar o ato de conhecer, enquanto relao que se
estabelece entre a conscincia que conhece e o mundo conhecido [sujeito eobjeto]. Mas o conhecimento tambm se refere ao produto, ao resultado do
6 As meninas-lobo: Na ndia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos,descobriram-se, em 1920, duas crianas, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma famlia de lobos. Aprimeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveuat 1929. No tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante quele deseus irmos lobos. Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para ospequenos trajetos e sobre as mos e os ps para os trajetos longos e rpidos. Eram incapazes depermanecer de p. S se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais,lanando a cabea para a frente e lambendo os lquidos. Na instituio onde foram recolhidas, passavam
o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugire uivando como lobos. Nunca choraram ou riram. Kamala viveu durante oito anos na instituio que aacolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antesde morrer s tinha um vocabulrio de cinqenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aospoucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasio da morte de Amala e se apegou lentamente s pessoasque cuidaram dela e s outras crianas com as quais conviveu. A sua inteligncia permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras vocabulrio rudimentar, aprendendo aexecutar ordens simples.(ARANHA & MARTINS, 1993, p. 2)7Arcabouo: Num sentido figurativo significa um conjunto de coisas, ideais, pensamento, objetos, etc.
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Voc pode nunca ter feito estas perguntas de forma consciente, mas
inconscientemente voc com certeza j as fez, porque elas esto relacionadas quiloque denominamos como questes existenciais, ou seja, elas perseguem todo ser
humano que tenha passado por este planeta.
E isto tem uma razo de ser. Por no nascer pronto o homem no tem estas
respostas dentro de si. O conhecimento, ento, est relacionado com a nossa prpria
sobrevivncia. Sem receber este tesouro que nos transmitido do passado para o
presente no saberemos como sobreviver e o que fazer. Desde pequenos somos
ensinados a falar, comer, a entender as coisas como nossa famlia, comunidade e
sociedade percebem. O idioma que falamos, o tipo de roupas que vestimos, os
comportamentos que temos, nos so transmitidos, desde muito cedo de uma
determinada maneira. Com o tempo podemos tomar decises e fazer escolhas sobre o
que nos foi passado (e tambm existem muitas pessoas que morrem sem nunca terem
questionado abertamente aquilo que lhes foi transmitido), mas durante muito tempo,
seguimos os padres de comportamento do meio social e familiar. No difcil entender
porqu complexo para uma pessoa que sempre viveu numa cidade grande, conseguirsobreviver numa floresta selvagem sozinho e sem nenhuma aprendizagem bsica e
rudimentar de como caar, achar gua potvel, se defender de animais e insetos, etc,
10http://2.bp.blogspot.com/-ibZG6wSv8Kg/TW74TPb5vXI/AAAAAAAACVI/w2j4BJ_tYJQ/s1600/fim_da_filosofia.jpg
http://2.bp.blogspot.com/-ibZG6wSv8Kg/TW74TPb5vXI/AAAAAAAACVI/w2j4BJ_tYJQ/s1600/fim_da_filosofia.jpghttp://2.bp.blogspot.com/-ibZG6wSv8Kg/TW74TPb5vXI/AAAAAAAACVI/w2j4BJ_tYJQ/s1600/fim_da_filosofia.jpghttp://2.bp.blogspot.com/-ibZG6wSv8Kg/TW74TPb5vXI/AAAAAAAACVI/w2j4BJ_tYJQ/s1600/fim_da_filosofia.jpghttp://2.bp.blogspot.com/-ibZG6wSv8Kg/TW74TPb5vXI/AAAAAAAACVI/w2j4BJ_tYJQ/s1600/fim_da_filosofia.jpg -
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por exemplo. Um ndio j no encontra problema algum neste habitat, o que no
continua sendo verdadeiro se ele subitamente se encontrasse sozinho e sem
referncias no meio da Avenida Sumar, na grande cidade de So Paulo.
Se a cultura fundamental para nosso processo de humanizao, sem a
linguagem ela no se consolida, pois no conseguimos adentrar no mundo dos
smbolos e significados, dos valores e conceitos. Para ilustrar sua importncia vamos
nos remeter a histria de crianas que, durante muito tempo, foram consideradas
dbeis mentais, por serem cegas e/ou surdas/mudas, no conseguindo se comunicar e
se expressar de forma que fosse convencionalmente compreensvel. Um dos relatos
mais reveladores, que se tem a esse respeito, a histria de Helen Keller. Menina
nascida cega e surda, vivia em um mundo escuro e solitrio. Annie Sullivan foi
contratada como sua professora e durante muitas semanas tentou fazer Helen entender
que cada objeto que pegava tinha um nome. Fazia isso dando lhe algo e escrevendo as
palavras em sua mo. Deu lhe uma boneca e grafou as letras na pequenina mo da
garota de 7 anos. Mas apesar da insistncia seus esforos pareciam inteis. Um dia,
brincando com a gua, Annie, escreveu na mo de Helen bem devagar -g-u-a. Helen
teve neste momento um insight e finalmente fez a ligao entre a palavra (-g-u-a) e o
objeto (que escorria pelas suas mos). A partir da, Helen descobriu que o mundohumano era cheio de coisas que tinham nomes e que isso a trazia das sombras do
desconhecimento para a luz.11
Contar histrias para nossos filhos, fazer canes para aqueles que se foram,
escrever livros que se tornam imortais, preservar a memria das pessoas, famlias,
sociedades s possvel se utilizarmos a linguagem como mediadora. Sem a
linguagem no possvel para o homem conhecer. A linguagem , assim, a forma
propriamente humana da comunicao, da relao com o mundo e com os outros, davida social e poltica, do pensamento e das artes.(CHAU, 2001, p. 137).
11 Tambm trata deste assunto o filme Nell (1994, EUA,Michael Apted) que elucida a questo dalinguagem na construo da nossa humanidade.
http://pt.wikipedia.org/wiki/1994http://pt.wikipedia.org/wiki/Michael_Aptedhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Michael_Aptedhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1994 -
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A linguagem nasce da necessidade do homem de se expressar, de imitar os sons
da natureza, de emitir gestos que faam sentido, aparece quando o homem precisa
dizer das suas necessidades primrias: sede, fome, proteo, etc. Vem dos gritos de
emoo que manifestam todos os tipos de sentimentos. Como disse Aristteles, filsofogrego, o homem o nico animal capaz de construir um mundo de valores atravs de
uma linguagem. Todos os animais se comunicam, mas nenhum da mesma forma como
o homem.
A linguagem propriamente humana simblica. Smbolo significa signos
arbitrrios. Para entendermos o que isso significa precisamos definir o que um signo.
Signo algo que est no lugar de alguma coisa, ou seja, uma representao. No caso
da histria de Hellen a palavra gua, que a professora escreveu na sua mo, estava no
lugar do objeto gua. O cheiro de terra molhada (signo) sinal de chuva (a coisa). A
linguagem humana feita de signos arbitrrios, por isso dizemos que simblica.
Tornou-se conveno social que determinado signo representava determinada coisa. E
no existe semelhana entre o signo e o objeto, por isso dizemos que arbitrrio.
Cada vez que dizemos o nome de algo podemos pensar sobre isso: quando
escrevemos a palavra casa, a grafia da palavra no tem nada a ver com o objeto em si.
Fazemos essa relao porque desde criana nos ensinaram que tal palavra se
relaciona ao objeto.
Como citamos anteriormente, h muitos modos de se conhecer o mundo. Todos
eles so formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos
do mundo, respondendo a questes fundamentais para a humanidade e lhe atribuindo
um sentido. Cada um deles depende da postura do sujeito frente ao objeto de
conhecimento.
Quais so os conhecimentos que respondem a trs grandes questes
fundamentais?
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Existem cinco grandes conhecimentos que respondem a estas trs perguntas e
vamos falar sobre cada um deles na nossa prxima aula. At l!
EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA
Alguns dizem que s temos uma vida. Outros afirmam que retornamos vrias
vezes, em diversas existenciais.
Faa o exerccio de ser outra pessoa, ter outra vida. Escreva ou conte para
algum como era essa sua vida em detalhes. Faa isso como se fosse verdade.
Se quiser pode at escrever uma histria (quem sabe no vira um livro?). Agora
tente fazer isso com mais de uma vida, com vrias vidas diferentes. Se voc
contasse uma destas histrias para algum que no lhe conhece, provavelmente
essa pessoa contaria para outras e sua histria criaria uma existncia. E se voc
passasse a acreditar nas suas outras vidas, sua verdadeira vida seria apenas
mais uma fico como todas as outras? (DROIT, 2002, pp. 32-33).
Para saber mais, ler:
a. Unidade IO homem; A cultura pp. 2 a 8 no livro:
ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introduo Filosofia. 2. ed. So Paulo, Editora Moderna, 1993. Nmero de chamada
na Biblioteca da FESP: 101A662f
b. Unidade 4 - Captulo 5A Linguagem pp. 136 a 151 no livro:
CHAU, Marilena.Convite Filosofia. 7. ed. So Paulo: Editora tica, 2001.
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ANOTAES
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AULA 3 - CINCO TIPOS DE CONHECIMENTO
Todo o conhecimento uma resposta a uma pergunta.Gaston Bachelard
Vamos agora tentar elucidar, para voc, os cinco tipos de conhecimentos que
tentam responder a trs perguntas existenciais que consideremos norteadoras de todo
empenho explicativo do ser humano em relao ao mundo que o cerca. Gostaramos
de lembrar que as colocaes que vamos fazer nas prximas linhas, sobre os vrios
tipos de conhecimentos no tem carter de valorao, ou seja, no acreditamos que
haja um conhecimento melhor que outro e/ou um que responda as perguntas de onde
viemos, para onde vamos e o que estamos fazendo aqui de maneira absoluta edefinitiva. A separao inclusive tem fins didticos porque percebemos que, em nosso
cotidiano, utilizamos, muitas vezes no mesmo dia, vrios deles.
1) Um dos conhecimentos mais antigos que existe o mitolgico. Gerao aps
gerao, ao longo dos milnios as histrias dos deuses e deusas foram sendo
contadas. E a existncia de tudo o que existia e de todos acontecimentos eram
atribudos a eles. Na mitologia Grega, por exemplo, temos um panteo de deuses e
deusas: Zeus, Apolo, Dionsio, Afrodite, Eros, Hcate, Hades, etc.
12
12http://sala19.files.wordpress.com/2012/04/deuses-gregos.jpg
http://pensador.uol.com.br/autor/gaston_bachelard/http://sala19.files.wordpress.com/2012/04/deuses-gregos.jpghttp://sala19.files.wordpress.com/2012/04/deuses-gregos.jpghttp://pensador.uol.com.br/autor/gaston_bachelard/ -
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A palavra mito vem do grego Mthos, que significa palavra proferida. Se refere as
histrias que vo sendo contado de gerao a gerao de forma oral. Estas histrias
contam como foi a criao e o incio de tudo. Como era o mundo no comeo e como se
comportavam seus primeiros habitantes.
Muitas pessoas acreditam que o mito uma histria da carochinha, ou uma lenda
fantasiosa. Segundo Boff (2001, p. 56) as pessoas acreditam que o mito uma
maneira fantasiosa de explicar a realidade ainda no justificada pela razo. Quando
fazemos uma leitura muito rpida e racionalista buscando entend-lo, o mito pode nos
parecer algo mentiroso. Principalmente porque no se tem algo que comprove sua
veracidade no sentido cientfico.
Mas na verdade o mito uma maneira diferente da maneira racional e cientfica de
explicar a realidade. As narraes mitolgicas relacionam os deuses natureza. Um
exemplo a histria de Demter, a deusa da fertilidade Grega.
Assim, o mito no uma forma menor de explicao do mundo, mas apenas uma
maneira diferente de tentar entend-lo. Quando ainda no havia escrita dos relatos
mticos, esses tinham uma importncia muito grande na oralidade e memria das
pessoas, pois eram mantidos pela tradio e eram contados e recontados oralmentepelos cantores ambulantes que davam forma potica aos relatos populares e os
recitavam de cor em praa pblica.
Os mitos se traduzem nas religies que conhecemos, pois so uma maneira de
contar como tudo surgiu a partir de um Deus, nas religies monotestas e de Deuses e
Deusas nas religies politestas.
Os mitos podem parecer histrias antigas, mas so to atuais como qualqueroutro tipo de conhecimento:
Os mitos so to importantes por traduzirem em histrias exemplares o queest nas profundezas da alma humana, dando um significado, um sentido, umcaminho a seguir (...). Como falar do enamoramento, do amor, do cuidadoessencial, da traio da pessoa amada, das crises da vida, das doenas
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incurveis, do nascimento e da morte seno com emoo, contando estriaexemplares? (BOFF, 2011, p. 57).
Como diz Campbell (1990) os sonhos so mitos privados; os mitos so sonhos
compartilhados.
Como diz Boff (2001), os mitos tem tal intensidade signficativa em nossas vidas
que ainda hoje nos inspiramos em mitos-exemplares, ou seja, pessoas que tenham
vivido uma saga existencial com tal intensidade e que ficou para ns como uma
biografia onde nos econtramos e podemos tomar como espelho para realizar nossos
sonhos e ideais. O rei Pel, Charles Chaplin, Mahatma Gandhi, Luther King Jr, Madre
Tereza de Calcut, Jesus, etc. Estes so alguns exemplos de pessoas que se
tornaram mitos, ou seja, smbolos poderosos, capazes de dizer o que est noinconsciente coletivo, por isso conseguem ser ouvidas por multides e se
transformaram em exemplos a serem seguidos.
2) O senso comum quer dizer um conjunto de opinies e maneiras de sentir que
comum a todas as pessoas, uma noo na qual existe um consenso e todos acreditam.
Por isso, o senso comum um conhecimento emprico e prtico, ou seja, espontneo e
adquirido atravs da experincia cotidiana e da vida. O senso comum o
entendimento primeiro que temos do mundo. Ns o recebemos do grupo no qual
estamos inseridos como herana social, como um consciente coletivo. uma
compreenso de mundo que no tem profundidade e no explica como as coisas
acontecem, por isso acrtico, assistemtico e preconceituoso.
O senso comum tem dois lados, que so ambos importantes de serem analisados.
O primeiro se refere ao seu lado positivo. Ele nos d a noo de realidade e nos guia
no mundo em que vivemos. Sem o senso comum no saberamos se estamos
sonhando ou acordados; se o que nos est acontecendo faz parte da realidade. Todo
ser humano que convive conosco nos d o testemunho da nossa existncia e da
realidade em que estamos mergulhados juntos. E tambm o senso comum nos ajuda a
dar respostas simples aos nossos problemas cotidianos. Por exemplo: Todos ns
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corremos para tirar a roupa do varal quando comea a chover. Quem nos ensinou isso?
Aprendemos na prtica ou com algum que nos passou essa informao. Tambm
sabemos que leite deixado, sem um olhar vigilante, na leiteira ferve e derrama. E,
inclusive, sabemos, porque provavelmente aconteceu com a gente e voc se lembra,pois muito ruim de limpar. No ficamos parados nos sinais de trnsito perguntando o
porqu das cores serem distribudas como so num semforo e quais suas razes.
Sabemos que vermelho manda parar; amarelo pede ateno e verde caminho
liberado. Neste sentido, colocado logo acima, o senso comum de suma importncia
para nossa vida.
O segundo lado se relaciona com o aspecto negativo do senso comum. Ele no
aceitar anlises e crticas profundas e no quer saber os porqus das coisas, por isso
ele se torna uma concepo fragmentada, inquestionvel, preconceituosa e rgida.
Quantas coisas ns acreditamos ser verdades sem ao menos refletir ou questionar.
Aceitamos porque todo mundo aceita e nunca pensamos que poderia ser diferente.
Voc j pensou em quantos transtornos nos causamos a nos mesmos e aos outros por
fazermos as coisas como nos ensinaram sem ao menos questionar o porqu?
Alguns exemplos de preconceitos podem clarear um pouco o sentido negativo do
senso comum. senso comum dizer que mulher no volante perigo constante; ou
que o ndio preguioso; ou que os judeus so gananciosos; etc. Nenhumas destas
afirmaes so baseadas em estudos e comprovaes vlidas, apenas em opinies
que todos tm, mas no investigam. O senso comum sempre nos diz que tudo est
como deve estar e que as coisas so exatamente como deveriam ser.
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3) A cincia, diferentemente do senso comum, um conhecimento sistemtico,
rigoroso e utiliza um mtodo lgico e coerente. A cincia desconfia das certezas do
senso comum. Ela busca entender e explicitar como funciona a natureza, o homem e o
cosmos. Tentar estabelecer as relaes de causa e efeito de tudo o que existe de forma
objetiva, ou seja, sem interferncia de sentimentos, sensaes, opinies e julgamentos
do sujeito que investiga. A cincia busca as estruturas universais e necessrias das
coisas que investiga. Universais significa generalizaes que valem para todos oscasos. As teorias cientficas so um bom exemplo disto, pois uma teoria deve servir
para todos os fenmenos relacionados quela generalizao. Isto o mesmo que dizer
que a cincia no trabalha com excees, mas com as regras que ordenam tudo que
existe. Necessrio tambm vem confirmar o que acabamos de dizer.
Necessrio significa, no mbito do nosso estudo, que no pode deixar de ser tal como
, ou seja, se voc seguir um mtodo objetivo e que tenha coerncia lgica, chegar
certamente no mesmo resultado que qualquer cientista que tenha seguido o mesmomtodo. A cincia tambm demonstra que coisas que aparentemente so diferentes
fazem parte da mesma ordem lgica. Assim, por exemplo, a lei universal da gravitao
13http://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpg
http://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpghttp://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpghttp://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpghttp://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpghttp://1.bp.blogspot.com/-07ETC0YC2C4/TtPZOlb-eSI/AAAAAAAACIY/m-v4-9u8qBg/s1600/386341_291864890854356_100000925422359_880777_1613843450_n.jpg -
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demonstra que o cair de qualquer coisa (pedra, caneta, vaso, rvore) ou o flutuar de
algo muito leve (pena, saco de plstico vazio ao vento, folha de uma rvore) obedecem
mesma lei de atrao e repulso. Por isso a cincia no considera os milagres
(acaso) como eventos vlidos, pois eles s acontecem uma nica vez, no se repetindoda mesma maneira.
A aplicao da cincia resulta no conhecimento tecnolgico. Se olharmos ao
nosso redor, temos milhes de exemplos de bens tecnolgicos: ondas de rdio, micro-
ondas, eletricidade, computador, etc., porm isso no significa que a cincia se
preocupe em nos dar todos os bens tecnolgicos, eles so um substrato das pesquisas
cientficas e no o seu fim. Vou dar um exemplo para voc: em 1865 Maxwell previu as
ondas de rdio propondo equaes que as descreviam; em 1887 Hertz conseguiudemonstrar no seu laboratrio aquilo que Maxwell tinha previsto. Hertz no estava
preocupado com o uso posterior que esta demonstrao desencadearia, mas em
comprovar uma teoria. E por incrvel que parea muitas invenes foram feitas em cima
da sua descoberta.
14
Albert Einstein (1879-1955 ) foi o cientista que mais contribui nos diversos ramos
da fsica e das suas aplicaes tecnolgicas, energia nuclear, laser, satlites, aparelhosde GPS so alguns exemplos. Sua importncia para a fsica e tecnologia to patente
que ele foi eleito, pela revista Time, a personalidade do sculo 20.
14http://3.bp.blogspot.com/-pgNwsggC1qQ/Txj8cqp3StI/AAAAAAAAJ_c/AUJSQ2xGFOc/s1600/einsten.jpg
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4) A arte tambm expressa de uma forma pessoal, individual, singular, subjetiva a
viso de mundo de algum. uma interpretao interior feito pela sensibilidade do
artista e traduzido numa obra. Toda obra de arte guarda inconscientemente a resposta
existencial as trs questes fundamentais. Quem j criou alguma coisa sabe dasensao existencial de ter encontrado uma resposta, um significado, um sentido ao
final do trabalho artstico, mesmo que no consiga elaborar isso em palavras.
15
A Persistncia da Memria um dos quadros mais famosos de Salvador Dali
(1904 - 1989). Nele podemos ver a angustia diante do tempo e da impermanncia. O
tempo nos conta sempre que nascemos, vivemos e morremos e muitas vezes nos
damos conta que a vida vai se dissolvendo pelas mos.
5) A Filosofia tambm um conhecimento que responde as questes fundamentais.
Mas antes de refletir sobre a Filosofia e o filosofar vamos conversar um pouco sobre o
que seria informao, conhecimento e sabedoria.
15http://www.moma.org/collection/browse_results.php?object_id=790
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EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA
Reflita sobre as seguintes questes:
E se o passado nunca aconteceu e o futuro no existisse? Vamos acreditar que omundo vai durar apenas 20 minutos. H um minuto ele no existia e agora tudo
est com tudo que voc sempre conheceu. Daqui a 20 minutos ele vai
desaparecer. Ser como o desfazer de uma bolha de sabo, como o sbito
apagar de uma luz. Quanto mais voc perceber como efmero este mundo que
de repente surgiu e vai acabar agora mesmo, mais entendera como importante,
para ns, o futuro, o devir. Somos prisioneiros do tempo? (DROIT, 2002, pp. 39-
40).
Para saber mais, ler:
a. Unidade II O Conhecimento O que o conhecimento p. 21 a 27; A
conscincia mtica p. 54 a 61. Unidade III Cincia p. 127 a 134. Unidade VI
Esttica p. 337 a 370 no livro:
ARANHA, Maria Lcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introduo Filosofia. 2. ed. So Paulo: Editora Moderna, 1993. Nmero de chamada
na Biblioteca da FESP: 101A662f
b. Unidade 7 - Captulo 1O senso comum e Caractersticas do senso comum pp.
247 a 248. Unidade 8Captulo 3 - O universo das artes pp. 314 a 333 no livro:
CHAU, Marilena. Convite Filosofia. 7. ed. So Paulo: Editora tica, 2001. (pp.136 a
151 e 288 a 297). Nmero de chamada na Biblioteca da FESP: 101(091)C496c
c. Captulo V p. 53 a 68 no livro:
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: tica do humano compaixo pela terra. 7. ed.Petrpolis: Editora Vozes, 2001. Nmero de chamada na Biblioteca da FESP:
172B673s
d. CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito. 26. ed. So Paulo: Editora Palas Athena,
1990.
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AULA 4 - INFORMAO, CONHECIMENTO E SABEDORIA
Vamos tentar diferenciar o que seriam estes trs conceitos: informao,
conhecimento e sabedoria.
Na era dos computadores, da Internet, das comunicaes por satlites e fibras
ticas, h um fluxo de informao perpetuas em nosso cotidiano. Com um toque
possvel acessar mais de bilhes de bytes de informao, em qualquer parte da terra
instantaneamente. Este fluxo assumiu propores jamais vistas. Se voc, por exemplo,
vai a um site de busca na internet a procura de algo, provavelmente vai se espantar
com a quantidade de ocorrncias que aparecero. Trs perguntas emergem das
colocaes feitas, logo acima:
a.Para que tanta informao?
b. Como saber se as informaes so de qualidade?
c.As informaes tm nos dito o que precisamos saber?
A quantidade de informao tanta que h um movimento desesperado pela
constante atualizao que acaba causando uma ansiedade pelo excesso de
informao. H uma distncia cada vez maior entre as informaes que
compreendemos e aquelas que achamos que deveramos compreender. Lemos sem
compreender, vemos sem perceber, ouvimos sem escutar, diz Richard Saul Wurman
no seu livro Ansiedade de Informao.
Sabemos que estamos sofrendo de ansiedade de informao quando:
1. Falamos mais que ouvimos;
2. Nos sentimos culpados e envergonhados por no conseguir nos manter
atualizados com o que ocorre ao redor (livro, notcia, artista, etc.);
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3. Achamos que os outros tm mais capacidade de entendimento, percepo e
inteligncia que ns;
4. Temos vergonha de dizer que no entendemos um texto que tentamos ler com
afinco;
5. Ficamos meio receosos ou encabulados de dizer: "No sei".
A informao parece ser, para um olhar desatento, a vrtebra do mundo
contemporneo, mas qual sua real importncia?
Informaes so feitas de dados. Dados so smbolos sem nenhuma
significao. Os nmeros so um bom exemplo disto. A partir do momento quecomeam a dar um sentido a alguma coisa porque esto inseridos num contexto, eles
so informao.
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A tela que est, logo acima, simula a que aparece no filme Matrix. Ela mostra o
Cdigo-fonte que seria o cdigo de programao principal de um programa. Voc no
consegue entender porque no sabe nada sobre computadores, mas um programador
capaz de transformar estes cdigos em informao.
16http://images2.wikia.nocookie.net/__cb20110307094039/matrix/images/8/84/Matrix.png
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Vejamos um outro exemplo, quando medidos nossa temperatura atravs de um
termmetro vemos em primeiro lugar o dado. Dado o nmero que aparece no
aparelho de medir. Depois processamos o dado e o interpretamos, ele se torna uma
informao. Assim, a informao a interpretao que se faz a partir, neste caso,daquele nmero que se obteve: est com febre alta, est febril ou no est com febre.
importante salientar que muitas vezes precisamos de preparo, estudo, para
entendermos os dados. No caso de olhar a temperatura de um termmetro isso no
necessrio. Mas no caso de se saber o que fazer com os dados e informaes obtidos,
talvez seja necessrio um conhecimento.
O conhecimento seria a prxima etapa. Ele est na nossa capacidade detranscender, ir alm, da informao.
Quando temos conhecimento somos capazes de tomar atitudes em funo das
informaes que temos. O que fazer quando descobrimos que estamos como uma
febre muito alta? O conhecimento j pede de ns uma maior elaborao. No caso da
febre no sou mdica. Quem vai poder me dar um diagnstico e me transcrever uma
medicao um profissional que tem o conhecimento.
Conhecimento est nos livros, nas universidades, nos professores em todo
instrumento, local ou pessoa que possa nos ajudar a transformar informao em algo
mais elaborado. Isso no acontece da noite para o dia. Precisa de tempo e pacincia.
Metodologia e dedicao.
Conhecimento algo que temos em abundncia, mas seu acesso j um pouco
mais restrito s pessoas que podem obt-lo. Quantas pessoas no gostariam de estar
fazendo uma faculdade?
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Onde entra, ento, a sabedoria?
Marisa Monte diz numa msica lindssima dedicada ao poeta Gentiliza, o seguinte:
Apagaram tudo.
Pintaram tudo de cinza.
A palavra no muro ficou coberta de tinta.
Apagaram tudo.
Pintaram tudo de cinza.
S ficou no muro: Tristeza e tinta fresca.
Ns que passamos apressados pela rua da cidade, merecemos ver as letras
e as palavras de Gentileza.Por isso eu pergunto a voc no mundo se mais inteligente : o livro ou a
sabedoria.
O mundo uma escola, a vida o circo.
Amor, palavra que liberta, j dizia o profeta.
Gentileza foi um homem que abandonou tudo de material para denunciar,
anunciar e consolar. Este homem que Leonardo Boff chamou de profeta do princpio
Gentileza (no seu livro Saber Cuidar), um heri de carne e osso. Marisa Monte est,
em sua msica, fazendo um manifesto contra o fato de terem passado tinta, no viaduto
do Caju, na cidade do Rio de Janeiro, nos 55 pilastras que foram os locais usados por
17http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=1209714
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ele para inscrever seus ensinamentos: sabedoria que no se ensina nos livros do
conhecimento.
18
As escolas transformam, para ns, dados em informaes e informaes em
conhecimento. Isso j um passo importantssimo na nossa vida. Mas elas param por
a no conhecimento: informaes cientficas, dados enquadrados, manipulas,
especificados.
A informao est disponvel s acessar, buscar, ler e com um pouco de
conhecimento, filtrar.
Mas a sabedoria onde est?
Quem pode nos ajudar a ser sbios?
Sabedoria exige ateno amorosa, capacidade de aprender com os prprios erros,
de questionar nossos prprios questionamentos, dialogar conosco mesmo, pacincia,
bondade com nossas dificuldades e limites; tambm, cuidado e responsabilidade comas dificuldade e limites dos outros; muito tempo para caminhar e contemplar.
18http://3.bp.blogspot.com/-rH2IRSBTdtE/T6KX2k7zBNI/AAAAAAAACzk/6N0lZqj-0xY/s400/Profeta-Gentileza.jpg
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O Eclesiastes nos fala que h um tempo para tudo na vida, ensino Taoista que
demonstra que tudo tem dois lados que se complementam e que se soubermos esperar
podemos chegar ao conhecimento justo das coisas. No existem vias rpidas para a
sabedoria preciso trabalho, curiosidade e viver. Por isso, a leitura, a msica, a arte,enfim o conhecimento, podem nos ajudar, mas no so, por si s, sabedoria.
EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA
Quando for tomar um banho, faa uma experincia: feche seus olhos, sinta a
gua no seu corpo, os jatos, o fluxo. Tente se manter em uma sensao nica,
desprovida de imagens e pensamentos. Seja apenas sensao do peso da gua
sobre seu rosto e corpo. No se distraa, fique presente. Afinal de contas ns
temos algo mais verdadeiro do que estar aqui e agora? (DROIT, 2002, pp. 41-42).
Para saber mais, ler:
a. Captulo XI - p. 179 no livro:BOFF, Leonardo. Saber cuidar: tica do humano compaixo pela terra. 7. ed.
Petrpolis: Editora Vozes, 2001. Nmero de chamada na Biblioteca da FESP:
172B673s
b. WURMAN, Richard Saul. Ansiedade de Informao. 2. ed. So Paulo: Cultura
Editores Associados, 1999.
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AULA 5ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIA1 PARTE
Assim que voc pensar que sabe como so realmente as coisas, descubraoutra maneira de olhar para elas.
Robin Willians
Para comearmos a filosofar preciso que desenvolvamos trs atitudes:
1)Admirao;
2)Atitude filosfica;
3)Atituderadical, rigorosa, de conjunto.
ADMIRAO
A verdadeira filosofia reaprender a ver o mundo.Maurice Merleau-Ponty
Quando somos pequenos estamos sempre perguntando o porque das coisas
serem como so. No nos contentamos nunca com as respostas que os adultos nos
do. Queremos saber porque o cu azul, porque as rosas so vermelhas, porque
precisamos crescer. No nos contentamos com as respostas bvias e evidentes que
nos do. Voc tem filhos na idade do-porqu? Quando uma criana nesta idade vier
lhe investigar sobre as razes das coisas, pergunte o que ele acha. Suas respostas
geralmente nos fazem pensar muito.
Gleiser (1997 p. 359) conta uma passagem com seu filho que demonstra muito
bem o que foi colocado, logo acima.
- Andrew: Pai existe alguma coisa que possa viajar mais rpido do que a luz?
- Marcelo: No.
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-Andrew: E a escurido?
Cristina Mattoso (2003 p. 126) cita uma pequena pergunta que nos leva a um
espanto: Para onde vo os dias que passam?
Nada melhor que uma criana para nos tirar dos nossos padres de habituais
respostas bvias para tudo que nos cerca:
Amar: pensar no outro mesmo quando a gente nem est pensando.
Cor-de-rosa: vermelho...mas bem devagarzinho.
Esperana: um pedao da gente que sabe que vai dar certo.
Ns, adultos, precisamos o tempo todo de explicaes teorias e interpretaes
para organizar nosso pensamento. Aquilo que no incomoda a criana, por lhe parecer
natural, nos assusta e amedronta. O caos para criana criao, para ns um pedido
de organizao. Se os esquemas mentais de explicao nos fogem ao entendimento
nos sentimos como se o cho tivesse fugido aos nossos ps. Por isso, adoramos a
rotina.
Talvez esteja a nossa dificuldade de lidar com as mudanas. As mudanas nos
incomodam e nos desinstalam.
Pensemos em algumas situaes que nos deixam em um lugar desconfortvel:
divrcio; morte; doena grave; mudana de emprego, de cidade, de casa; namoro novo;
etc. Nestas situaes nossos esquemas de respostas no funcionam de imediato.
Um povo, um grupo, uma nao muitas vezes precisam de respostas novas para
velhas perguntas, precisam modificar a imagem de mundo que tm como absolutas e
verdadeiras.
Por mais ttulos que tenhamos (mestre, doutor, PhD) sempre existem momentos
em nossas vidas que nos fazem parar para refletir, sobre ns mesmos e o mundo.
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Quem sou eu?
O que o mundo?
O que o ser humano?
De onde tudo veio?
Por que existimos?
Por que somos todos diferentes?
Qual minha misso de vida?
No saber porque vivemos e quem somos algo que faz com que iniciemos uma
busca. Quando estas questes realmente nos incomodam comeamos a nos
desinstalar. Estamos nos fazendo perguntas que so consideradas importantes para a
Filosofia. Em toda a histria da humanidade homens e mulheres tentaram dar respostas
a estas perguntas.
Com certeza voc tem suas respostas a todas estas perguntas. Mesmo que seja
inconsciente.
O maravilhoso do ser humano que ele no nasce com estas respostas prontas
geneticamente. Nossa vida mental e reflexiva nos potencializa para este estar achandorespostas e depois estar tentando achar outras, pois as anteriores no nos
satisfazem mais. S vamos deixar de ter este potencial de buscar respostas e fazer
perguntas quando no mais existirmos.
O encanto da vida est em saber que h muito em aprender. As crianas sabem
disso de forma muito genuna. Elas se encantam com tudo o que existe. Tudo
novidade.
Mas nossa capacidade de criar rotinas e viver sistematicamente nelas, fazem-nos
ficar rgidos e inflexveis. E acabamos por fazer um movimento contra a prpria
natureza da vida: a mudana. Por isso, no questionamos nossas verdades
estabelecidas. No perguntamos se o que acreditamos realmente nosso ou se nos foi
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passado pelo senso comum. No questionamos nossas crenas e tambm nossos
prprios questionamentos.
No admiramos as coisas e nos espantamos com elas. No olhamos o mundo de
ngulos diferentes e at mesmo inusitados. Acabamos caindo na mesmice e no
conseguimos mudar nossa opinio sobre as coisas.
A primeira condio para comear a filosofar nos admirar das coisas. tentar
olhar tudo o que existe com outros olhos. Mudar um pouco o ngulo de viso.
Resumimos nossa vida a levantar, tomar caf, ir trabalhar e depois voltar para
casa ou ir fazer alguma coisa (estudar, ir para um bar, etc). Observar a lua, a natureza,
o sorriso de quem passa por ns, perceber que o mundo algo espantoso e inusitado
algo que deixamos como ltima prioridade.
Plato, um filsofo que viveu h 2500 anos, disse que o espanto de admirao
era o comeo e o fim de toda Filosofia.
Aristteles, discpulo de Plato, disse:
A admirao sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os homenscomearam a filosofar: a princpio, surpreendiam-se com as dificuldades maiscomuns; depois, avanando passo a passo, tentavam explicar fenmenosmaiores, como, por exemplo, as fases da lua, o curso do sol e dos astros e,finalmente, a formao do universo. Procurar uma explicao e admirar-se reconhecer-se ignorante. (GALLO, 2003, p.22).
O que admirao? A admirao um sentimento que mistura estranheza,
espanto, assombro e pasmo. , tambm, algo que nos leva a ter considerao,
respeito, estima, afeio, inclinao e simpatia.
Podemos olhar a lua cheia e ficar admirados com sua beleza e realeza ou
podemos ficar admirados com a violncia dos atos terroristas. De qualquer forma a
admiraonos leva a ter um choque diante tudo que existe. Sem ela no conseguimos
perceber o mundo de uma perspectiva diferente da que sempre adotamos.
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No h quem no se encante com a lua cheia. Sempre que estamos distrados e
somos pegos de surpresa pela sua imagem, levamos um choque de admirao.
20
19http://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpg20http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O_Grito.jpg.
http://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpghttp://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpghttp://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O_Grito.jpghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:O_Grito.jpghttp://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpghttp://3.bp.blogspot.com/-eHyQ1v_ofdI/Tkqj6K0ZxwI/AAAAAAAAEQc/VSLlHPQWZGM/s1600/lua_cheia.jpg -
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A admirao tambm pode surgir num momento de angustia existencial que o
caso do sentimento que tomou o autor deste quadro, O Grito (1893), Edward Munch21.
Quando, em nossa vida cotidiana, demoramos um pouco para ver ou
compreender algo, ao v-lo ou compreend-lo temos uma sensao de espanto e
admirao. Pensamos: Veja s! Estava ali e eu no tinha percebido.
A admirao fundamental para comearmos a filosofar. Sem admirao nos
acostumamos com o bvio e evidente, no mudamos nossos ngulos de viso e nem
samos do senso comum.
Este sentimento que nos possibilita observar o mundo de forma diferente. Como
se fosse a primeira vez. Sem essa mudana de viso podemos apreender Filosofia,
mas nunca a filosofar.
EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA
Deite-se num lugar bem escuro, numa noite estrela. De preferncia sem lua. Fixe
seu olhar no cu. Deixe-se ser tomado pela imensido do cu. Sinta-se preso ao
solo, grudado nele. Tente sentir como se as estrelas estivessem abaixo de voc,
perceba as sensaes que isso causa. No faa fora, apenas olhe e veja. Num
determinado momento voc vai ter a ntida sensao de que o cu est embaixo e
voc o olha de cima. No admirvel a sensao? (DROIT, 2002, pp. 37-38).
21O seu estado de esprito est bem patente nas linhas que escreveu no seu dirio: Passeava com doisamigos ao pr-do-solo cu ficou de sbito vermelho-sangueeu parei, exausto, e inclinei-me sobre amuretahavia sangue e lnguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidadeos meus amigoscontinuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedadee senti o grito infinito da Natureza. Disponvelem:http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura)
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura)http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura)http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura) -
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Para saber mais, ler:
a. A cartola p. 22 a 33 no livro:
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. So Paulo: Editora CIA das Letras, 1995.Nmero de chamada na Biblioteca da FESP: 821.113.5-31G111sPa
b. 1. Um olhar diferente5. Um olhar diferente p. 27 a 31
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.Nmero de chamada na Biblioteca da FESP: 101F311e
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AULA 6 - ENTENDENDO O FILOSOFAR E A FILOSOFIA2 PARTE
ATITUDE FILOSFICA
Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar mosca a sada do vidro.
Ludwig Wittgenstein
Vamos passar para o prximo passo no nosso caminho de filosofar.
Como dissemos anteriormente, nunca paramos para perguntar se o que
acreditamos mesmo verdade. Temos crenas que no questionamos exatamente
porque elas nos parecem naturais, bvias e evidentes. No perguntamos porque
pensamos o que pensamos ou porque fazemos as coisas como fazemos. Assim, nocolocamos nossas verdades e opinies sobre um olhar crtico. A partir do momento que
comeamos a nos perguntar o que so essas nossas crenas, verdades e opinies,
comeamos a ter uma atitude filosfica.
Quando dissemos que amamos algum. Estamos fazendo uma afirmao.
Comeamos a ter uma atitude filosficaquando nos perguntamos O que o amor?
O tempo todo em nossas vidas, usamos conceitos como coragem, amizade,bondade, violncia, Deus, liberdade. Ns dizemos:
Minha melhor amiga a Cludia.
A atitude filosficaseria perguntar: Como a amizade?
O bombeiro teve muita coragem ao enfrentar o fogo para salvar uma pessoa. Por
que existe coragem?
A liberdade no existe. O que liberdade?
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Assim, quando comeamos a perguntar o por que, o comoe o quede tudo o que
existe, estamos tendo uma atitude filosfica. Quando vamos atrs da essncia, do
significado, da estrutura, da origem das coisas.
(...) a atitude filosfica possui algumas caractersticas que so as mesmas,independente do contedo estudado investigado. Essas caractersticas so:perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a ideia, . A filosofia pergunta qual arealidade ou natureza e qual a significao de alguma coisa, no importaqual; perguntar como a coisa, a ideia ou o valor . A filosofia indaga qual aestrutura e quais so as relaes que constituem uma coisa, uma ideia ou umvalor; perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor existe e como . Afilosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, deum valor. (CHAUI, 2004, p. 12).
Indagar o significado primeiro e ltimo das coisas, dos fatos, do mundo, dos
sentimentos, da nossa vida, deixar de responder aos preconceitos e as verdades
inflexveis e absolutas do senso comum (ao que todo mundo pensa, fala e faz sem
questionar) ter uma atitude filosfica.
A atitude filosficanasce da inquietao, da decepo, da angstia, da busca de
respostas, da beleza, do maravilhamento e do espanto admirativo diante da existncia.
Muitas vezes situaes-limite nos fazem ter uma atitude filosfica. O que uma
situao-limite?
22
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A situao-limite se caracteriza pelo fato das respostas que damos as questes
existncias no mais se adequarem. um momento das nossas vidas onde tivemos
que pensar em coisas que nunca tnhamos pensado ou que tivemos que reavaliar (re-
pensar) aquilo que parecia j definido para ns mesmos; como por exemplo osconceitos de Deus, liberdade, morte, moral, beleza, verdade, virtude, bondade,
certeza, justia, etc. Situao-limite um momento de tenso, questionamento e
reflexo. Existem vrias ocasies em nossas vidas que nos encontramos em uma
situao-limite. Quando algum que amamos morre; No trmino de um relacionamento
ou quando comeamos um. No nascimento de um filho; Quando vemos um pr-do-sol
lindssimo; Em situaes de violncia; Quando temos que tomar decises morais, etc.
Nas situaes-limite somos obrigados a pensar filosoficamente sobre algumas
questes que at ento no nos incomodava.
Comeamos fazendo as perguntas filosficas para depois buscarmos as repostas.
Como dissemos anteriormente, estas perguntas buscam o que, o como e o porqu de
tudo que nos rodeia.
Fazer perguntas filosficas problematizar algo.
Problematizar retirar questes de algum contexto no qual estamos inseridos,
mas no esto colocados de forma explcita.
Podemos problematizar uma situao da nossa vida, um filme que estamos
assistindo, um livro que lemos e/ou uma atitude de uma pessoa. Para isso, precisamos
nos distanciar do texto, do filme, do fato e pensarmos em assuntos e problemas que
vo alm deles. Podem ser questes que so apontadas, mas no so definidas ou
explicadas.
Ao problematizar, tendo uma atitude filosfica, estamos indagando sobre outras
maneiras de enxergar o mundo e buscando novos significados.
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O que faz algum que filosofa? Busca um sentido mais profundo, tenta descobrir,
ou seja, tirar os vus da ignorncia que encobrem a realidade. Algum que filosofa
coloca seus questionamentos e pensamentos em questo, refletindo sobre eles.
O que refletir? A palavra refletir vem do latim reflectere que significa fazer
retroceder, voltar atrs. E se voc observar atentamente o sentido da palavra
"REFLEXO" vai perceber que ela quer dizer dobrar-se (flexo) de novo (re).
Filosofa quem consegue fazer com o pensamento o movimento do espelho: a
imagem bate e volta, desdobra-se e retorna at ns. A reflexo acontece quando
somos capazes de pensar o j pensado, retomar aquilo que j tnhamos como
conhecido: certo e verdadeiro.
A fbula de Esopo (ASH; HIGTON, 1994, p. 68), escrita no final do sculo V a.C.,
A Raposa e a Uva, exemplo caricato de reflexo:
Morta de fome, uma raposa foi at um vinhedo sabendo que ia encontrar muitauva. A safra havia sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachosenormes, a raposa lambeu os beios. S que sua alegria durou pouco: por maisque tentasse, no conseguia alcanar as uvas. Por fim, cansada de tantosesforos inteis, resolveu ir embora, dizendo:- Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Esto verdes, esto azedas,
no me servem. Se algum me desse essas uvas eu no comeria.
Antnio Xavier Teles (1985) acrescentou um outro final a esta fbula:
Depois de desprezar aquilo que no conseguiu (fcil, no!), a raposa sai andando.
Imediatamente depois que ela se vira, algo cai da parreira. Ela volta exuberante, na
crena que, milagrosamente, um cacho tivesse cado para ela. Mas para sua segunda
decepo era somente uma folha.
Com este comportamento, pode-se ver que a reflexo que a raposa fez das uvasno primeiro momento (esto verdes) no era realmente a sua crena.
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Como saber se no estamos fazendo o mesmo que a raposa? Achamos que
estamos refletindo filosoficamente sobre algo, mas na verdade estamos somente
utilizando o nosso senso comum. Muitas vezes somos chamados a refletir sobre vrias
coisas, como j vimos na situao-limite, mas podemos no sair dos esquemas prontos
que o cotidiano nos oferece. Chamamos a isso de Filosofia-do-achismo: crenas
infundadas e norteadoras de nossa conduta que so irrefletidas.
Tome uma atitude filosfica diante de alguma situao que voc vive todos os
dias. Veja a diferena entre o eu acho e o eu penso.
23A raposa e as uvas, ilustrado por Milo Winter, em uma antologia de Esopo. (1919). Disponvel em :http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_Fox_and_the_Grapes_-_Project_Gutenberg_etext_19994.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_Fox_and_the_Grapes_-_Project_Gutenberg_etext_19994.jpghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_Fox_and_the_Grapes_-_Project_Gutenberg_etext_19994.jpghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_Fox_and_the_Grapes_-_Project_Gutenberg_etext_19994.jpg -
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ATITUDE RADICAL, RIGOROSA, DE CONJUNTO
A filosofia a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos...O filsofo o amigo do conceito, ele conceito em potncia...
Criar conceitos sempre novos o objeto da filosofia.Gilles Deleuze e Flix Guattari
Saviani (2005) nos diz que para estarmos realmente filosofando, precisamos ter
diante do nosso pensamento e reflexo, trs atitudes:
a. Atitude Radical:nossa reflexo deve buscar o fundamento das coisas, da realidade,
dos acontecimentos, dos sentimentos, etc. Ir fundo em nossa busca. Aqui podemos
comear a responder as perguntas das nossas atitudes filosficas. Podemos, para
nos aprofundar, basear nossas respostas em livros, estudos, pessoas e profissionais
que elaboraram de forma consistente e sistemtica o seu pensar. A palavra radical vem
do latim radix, radicisque significa raiz.
b. Atitude Rigorosa: preciso um certo rigor, no no sentido de ser radical ou
extremista, mas para colocar em dvida as respostas mais fceis, rpidas, apressadas
e superficiais de qualquer rea do conhecimento (cincia, senso comum, religio).
O raciocnio filosfico deve ser claro, coerente e argumentativo. Dizer que as
coisas so assim por que so, no uma resposta que uma pessoa que filosofa, aceita.
Por isso, a reflexo filosfica crtica. No sa fazendo afirmaes de verdades
absolutas e inquestionveis.
c. Atitude de Conjunto: Quando filosofamos devemos compreender os eventos,
quaisquer que sejam eles, de uma maneira abrangente. Perceber a totalidade, o
conjunto. Olhar de forma holstica24. No fragmentar a realidade em pequenos pedaos
que no tenham relao, mas percebendo as interconexes do todo com as partes e
das partes com o todo. Por isso, a Filosofia interdisciplinar por vocao, por mais de
24Holismo: Vem do grego holos que significa todo, totalidade. Entende a realidade de forma sistmica,como teias de relaes, onde as partes se interligam entre si perfazendo uma totalidade que faz sentido.Para o holismo nada est separado de nada em nossa existncia.
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2.500 anos a Filosofia vem dedicando-se ao aprimoramento do pensar, mantendo um
dilogo constante com todas as reas de conhecimento da humanidade.
Para filosofar no podemos ver questes isoladas, mas sim fenmenos e valores
que estejam inter-relacionados.
Por exemplo, quando vemos um acontecimento, como um ato terrorista, devemos
buscar os princpios que orientaram o ato e no simplesmente julgar o ato como bom
ou ruim e depois no pensar mais sobre o assunto.
Qual a origem do terrorismo?
O terrorismo um ato poltico ou religioso?
Por que ele se tornou uma arma de manifestao?
Como o terrorismo fere a democracia?
Por que o terrorismo tem como alvo pessoas inocentes?
Um ato terrorista est relacionado com a histria da violncia humana e tambm
com o momento histrico onde est inserido (sculo XXI).
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EXPERINCIA DE FILOSOFIA COTIDIANA
Reflita sobre a questo:Podemos sentir a eternidade? Deite-se num lugar tranquilo. Imagine uma viagem
em direo a percepo do eterno como um percurso para dentro do seu corpo.
Dentro de voc existe um espao sem tempo. Dentro desse espao puro, atrs do
seu olhar, voc pode contemplar o descolamento da pelcula do tempo. Voc ver
como ela se solta de voc e das coisas como uma concha levada para longe.
Apenas observe o mover-se das coisas, o ritmo do seu corpo, mas sinta como se
voc fosse um observador olhando de fora, voc no est includo neles. dissoque voc tem que se convencer. S assim voc consegue escapar do tempo e
ficar na eternidade do presente.
(DROIT, 2002, p. 45-46).
Para saber mais, ler:
a. Unidade IIO ConhecimentoO que a filosofia? pp. 71 a 78 no livro:
ARANHA, Maria Lcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introduo Filosofia. 2. ed. So Paulo: Editora Moderna, 1993. Nmero de chamada
na Biblioteca da FESP: 101A662f
b. IntroduoPara que Filosofia? pp. 9 a 18. no livro:
CHAU, Marilena. Convite Filosofia. 7. ed. So Paulo: Editora tica, 2001. (pp.136 a151 e 288 a 297). Nmero de chamada na Biblioteca da FESP: 101(091)C496c
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