apostila filosofia politica

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    INTRODUO

    Na atualidade a compreenso da poltica como pertencente a existncia humana algo quese faz mais necessrio a cada instante, pois, no pode o homem habitar num mundo ao qual

    seja instrumento, mas sim construtor do processo social.Contudo o aprendizado necessrio para o exerccio da atividade poltica como prticacoletiva, se d mediante modelos que podem ser seguidos. Plato ao desenvolver sua teoriapoltica aliada vida prtica, possui como referncia o mundo ideal no qual a filosofia aliada para a compreenso das formas de governo.A possibilidade do Estado somente existe enquanto possibilidade de exerccio. Aconcepo do ateniense no se desvincula a poltica da filosofia, ao contrrio, ambas secomplementam quando apontam o filsofo como o mais indicado a assumir o posto degovernante.As contradies existentes no pensamento de democracia existentes devem ser vistas combase no contexto ao qual sua teoria foi concebida. Assim, o objeto central entender o

    termo cidado no seu sentido pleno. Mesmo que seja algo inalcanvel, isto , seja umautopia.Portanto, a discusso que ainda tem lugar em boa parte da doutrina, acerca de quaisfatores teriam levado o homem a viver em sociedade, tem de ser diferencivel daquelaque se preocupa com os fatores que teriam determinado a apario do Estado. Emoutras palavras, o Estado no seno uma forma muito recente na vida da humanidadede organizar-se politicamente. Antes do Estado o homem passou por formas bastantediferentes de organizao do poder poltico. Mas, j aqui, no h que se falar emformao da sociedade, uma vez que esta j estava formada e j trazia dentro de si oprprio fenmeno poltico. interessante notar, contudo, que a idia do poltico semantm relativamente imutvel atravs dos tempos. O poltico como prprio docoletivo, do geral, do comum a todos, presente at os nossos dias.

    Diante desse exposto, fazemos a seguinte pergunta, por que e para que existe opoder poltico? Por que encontramos em toda parte um Estado que comanda e um povoa ser comandado? Ser que sempre existiu o poder poltico do Estado? Como esse podersurgiu? Para essas perguntas, diversas respostas foram elaboradas no decorrer dahistria da filosofia poltica. Analisaremos, as respostas e influncias tiradas do estudode Plato e Aristteles.

    IPANORMICA DO PENSAMENTO PLATNICO

    Plato nasceu em Atenas, em 427 a.C. O seu verdadeiro nome era Aristocles (nome de seuav), e Plato era um apelido. Alguns afirmam que ele tomou esse nome pela modo amplode seu estilo ou ainda pela largura de sua fronte.Seu pai tinha orgulho de fazer parte da descendncia do rei Crodo, e sua me afirmava terparentesco com Slon. Era, portanto, bvio que Plato, desde a juventude, visse na polticao seu ideal: a famlia, a inteligncia e as atitudes pessoais, tudo movia naquela direo.Aristteles afirma que Plato foi o primeiro discpulo de Crtilo e, depois, de Scrates. provvel que Plato freqentou Scrates, no para fazer da filosofia o escopo da prpria

    vida, mas para preparar-se melhor, atravs da filosofia, para a vida poltica. Isso no fez,no entanto, que sua vida seguisse o rumo desejado.

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    Plato teve o primeiro contato com a vida poltica por volta de 404-403, momento deascenso da aristocracia e de seus parentes, Crmides e Crtias chegaram ao poder. Osmtodos usados por estes, no entanto, causaram em Plato uma experincia decepcionantee amarga.

    Em 360, aps a morte de Scrates e de se manter afastado da vida pblica, retorna a Atenasonde permanece na direo da Academia at 347, ano de sua morte.Seus escritos somam ao todo o nmero de 36 obras; as quais no decorrer nos deteremos emalguns deles, que consideramos relevantes para a efetivao de nossas pesquisas.

    1. A Filosofia PlatnicaAs doutrinas platnicas passaram por mltiplas evolues e transformaes de que osdilogos nos do testemunho. Os autores esto de acordo sobre a classificao dessesescritos em trs grupos:a) Dilogos da Juventude[1]de Plato, que se distingue por seu carter socrtico, isto ,preocupaes quase exclusivamente antropolgicas, ticas gnosiolgicas. Os da segunda

    categoria deste primeiro grupo mostram, j o esboo da teoria das Idias, por exemplo, obelo em si, as quais, porm, ainda no so concebidos como substncia reais eindependente, e sim como carter geral, comum a tudo o que , bom e belo, como tipo oque nos leva a uma analise fenomenolgica de casos concretos. Juntamente com apreocupao de reduzir a virtude e o seu objeto, o bom e o belo ao seu tipo, temos aquiainda a tendncia de sistematizar todas as virtudes entre si (ao contrrio do ensinamentosocrtico, que no era sistemtico).b) A segunda [2] nos d uma idia madura do pensamento platnico e manifesta umconsidervel aumento de problemas, tais como ontolgicos e psicolgicos. Aqui temos adoutrina das idias substantivas, que constituem o ser, o mundo real pura e simplesmenteem oposio ao mundo do devir, sendo o primeiro o objeto da inteligncia, ou da cinciapropriamente dita (dialtica), ao passo que o segundo, o mundo do devir pertence, comoobjeto, a sensao e a opinio, falha enganadora. Nestes dilogos, Plato estabelece a suadoutrina sobre imortalidade da alma; sobre a opinio verdadeira como transio a cincia,sobre a recordao que , em ultima anlise, a fonte para conhecermos as idias. aindanesse dilogos que Plato coloca as duas doutrinas em base mais larga, metafsica,antropologia - psicolgicas. Os dilogos dessa poca se caraterizam por uma formaliterria esmerada, ao mesmo tempo que manifesta em dogmatismo rigoroso. Apesar dessetom dogmtico, entretanto, mostra-nos tambm, o quanto Plato lutou pela certeza e pelaverdade. Finalmente, nesses dilogos tomou em considerao outros sistemas filosficos, oque lhe deu algo a precisar sempre mais o seu prprio pensamento.

    c) A ltima classe de escritos so os de Plato velho, como por exemplo, o livro das Leis.Aqui o filsofo desce das alturas de sua especulao metafsica, para se preocupar deproblemas do mundo concreto e da vida poltica e moral quotidiana. Em suma, umaocupao mais intensiva com a realidade terrestre. Nesse sentido Plato empreende umaespcie de harmonizao de seu prprio pensamento com os de outros, uma atitudeintermediria com relao aos diversos sistemas filosficos. As cincias naturais ocupammaior espao, principalmente a especulao matemtica dos pitagricos fascina o velhoPlato. O problema das idias se torna, grandemente, um problema de predicao lgica. Aforma geral desses dilogos , em geral, mais sbria que a dos escritos anteriores.Para compreender a filosofia de Plato, cumpre localiz-la em seu ambiente conatural:impasse da especulao filosfico-metafsico com os eleatas e Herclito (solues oposta

    insuficientes, por falta de distino, no prprio domnio do ser). Cumpre, ento, ligar todoeste impasse personalidade de Plato poeta. Da o carter dogmtico da metafsica

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    platnica; o menosprezo pela realidade material que se ope num dualismo, ao ser dasidias; da tambm a preocupao de uma fundamentao da mesma base slidainabalveis (contra o hedonismo dos sofistas); da a problemtica do conhecimento certo(contra cepticismo estril da sofstica); da a busca quase fantica da verdade como nico

    valor.2. O Mundo Material na Filosofia PlatnicaNo primeiro grupo de seus escritos Plato nem menciona a realidade material comoproblema, a no ser uma nica vez, no Crtilo, onde ele condena o Heraclitismo, dizendoque os criadores da linguagem deram nomes s coisas materiais e transpondo a sucesso deseus pensamentos e de suas imaginaes para a realidade material. De resto, Plato fala darealidade concreta, sempre num contesto antropolgico ou moral, para exemplificar oupara corroborar seu ponto de vista.Entretanto, nos seus escritos do perodo de transio j se prepara a oposio entreconcreto e idias, se bem que Plato, por enquanto, s se refere ao domnio moral ouesttico (o bom em si contra as coisas boas e o belo em si contra as coisas belas). A mesma

    oposio tambm j se desloca na distino entre saber e opinio (por exemplo, no Grgiase no Mnon), ainda que tambm aqui, Plato permanea no campo da antropologia e datica (virtude = saber).Nos escritos da idade madura, encontramos, com vrias mudanas, a teoria de doismundos, fundamentalmente diversos: o mundo das essncias ou das idias e o mundomaterial, mundo do devir.2.1. O Mundo das IdiasNo Banquete, Plato, indagando a natureza do amor, elabora uma concepo do mundoque culmina no belo em si. J no se trata apenas de um fenmeno geral, chamado belo(equivalente mais ou menos a um conceito abstrato), mas de um ser que sempre, nonasce nem perece, no aumenta nem diminui, no se chama belo apenas segundo algumaspecto ou em algum dado momento, ou em um determinado lugar somente; no consisteem determinada relao a certas pessoas, para as quais belo, sendo feio para outros; nopode ser representado pelos sentidos, nem existe apenas no pensamento ou nalgumacincia no se acha em nenhum outro, quer em algum vivente, quer na terra, quer no cu,ou em outro lugar qualquer; mas ele mesmo, segundo seu prprio modo estando sconsigo mesmo. Um ser que permanece idntico. O singular, concreto, a negao detodas as qualidades acima (embora Plato no diga to expressamente, limitando-se aafirmar que o mundo material imagem desse belo em si de que participa de tal maneira,que o belo em si no sofre aumento, nem diminuio, nem afastado de forma alguma poruma participao).

    Temos, portanto, aqui, o paralelismo. Para caracterizar o mundo material de Plato, bastaaplicar-lhe negativamente as qualidades do belo em si, as coisas deste mundo nascem eperecem, no so eternas, crescem e diminuem, so variveis, relativos com respeito aspessoas, lugar, tempo, objeto de sensao Plato o mantm atravs de todos os seusescritos e, na fase de que estamos falando, ele pouco se preocupa com o problema damatria primordial, como a de que todas as coisas materiais so constitudas, e que lhesconfere a materialidade; to pouco Plato indaga a respeito da estrutura interna dos seresmateriais, como por exemplo, o fizera Demcrito. A nica coisa que ele faz, determinarmais ou menos vagamente, o grau de ser que compete ao mundo material.Este trabalho de preciso feito, de maneira limitada (do ponto de vista da imortalidade daalma) no Fdon[3]. Plato excetua a alma humana do mundo material; ela tem mais

    afinidade com o mundo da idias do que com aquele. Existe antes do corpo, e depois dele. independente do fluxo perpetuo das coisas (contra Herclito, invocado, no entanto, como

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    autoridade no argumento de Plato; Herclito havia dito que a luta o pai de tudo e que ascoisas nascem sempre de seu contrrio. Ora, argumentos, Plato, onde h morte, devehaver vida! de notar, entretanto, que o princpio de Herclito da contrariedade corrigido, aqui, pela teoria pitagrica da metempsicose que inclui a preexistncia da alma,

    desta forma teramos o argumento: o corpo morre, a alma indivisvel e no dissolve,portanto, ela permanece. D a vida a um novo corpo. Logo, a vida nasce da morte), sendodo fluxo das coisas, tendo afinidade com o mundo ideal, a alma , portanto, mais se do queo corpo que material. importante verificar que, Plato insiste na indivisibilidade da alma. Ora, s o mundo dasidias indivisvel, e com isso imutvel. O mundo concreto, ao contrrio, composto,mutvel, perecvel, (temos aqui, por conseguinte, a generalizao explicita do que Plato jdissera, implicitamente, no banquete). Nesse argumento, Plato exclui do mundo das idiasa opinio dos atomistas e de todos os que afirmam que o ser resulta da composio departes materiais; Plato combate a opinio, como se a alma fosse apenas a harmonia doselementos que constituem o corpo. Heraclitismo, atomismo, teoria da harmonia, podem ter

    um valor relativo, com respeito ao mundo material, porm com as ressalvas que o mundomaterial no , propriamente ser.Esta idia claramente expressa na Republica[4]. Plato distingue aqui, dois reinos, umpertencente instituio intelectual. O outro a sensao. Em seguida ele descreve este doismundos, na sua clebre Alegoria da Caverna[5]. Os homens no fundo desta caverna novem, seno sombras (as coisas deste mundo). Nos trechos seguintes, Plato fala dahiptese de estes homens serem libertados de sua priso. Primeiramente eles se sentiramofuscados pelo sol, mas no obstante, eles j estariam no seu conhecimento, mais perto doverdadeiro Ser. Idias existem, assim nos explica Plato, de todas as coisas, dos seres vivosem torno de ns, das plantas, e das coisas feitas por mos humanas. Em outros termos, overdadeiro Ser, mesmo das coisas materiais, no se acha concretizado na matria e sim, noreino das idias, onde a multiplicidade do material est expressa em si. As coisas materiaisso, e no entanto no so. Estando no meio do ser puro e simples, e o No-Ser. V-se,portanto, como Plato abandona, aqui, o doutrina dos Eleatas sobre o No-Ser. Para ele, ono-ser de certa maneira , portanto h coisas materiais, mutveis.No Fedro, Plato discorre mais sobre Eros, o amor, e a idia de Belo que o condiciona.Nos escritos de Plato velho, esta doutrina continua ainda sendo a essncia do ensinamentoplatnico. No Teeteto[6], o filsofo examina, de um ponto de vista epistemolgico,(cincia-opinio) os dois mundos, determinando ainda mais o carter relativo do mundomaterial. Acentuando a diferena entre saber e opinar (= sensao), Plato acentua aomesmo tempo a profunda diferena entre mundo ideal e mundo do devir.

    O Parmnides examina a questo da multiplicidade dos seres materiais, e o problema, seexistem idias de todas as coisas. O interlocutor Scrates, parece admitir a multiplicidadedos entes materiais e afirma que h uma idia de cada classe (espcie) dos seres se bemque, de outro lado, ele parea hesitar em admitir idias de coisas vis, como cabelo, p,sujeira. O Parmnides , talvez, um dos dilogos mais difceis, portanto est cheio deaporias a respeito da Teoria das Idias, aporias que ficam sem soluo. de notar, queneste dialogo, no Scrates que est proferindo suas teses, e sim Parmnides, exortandoeste a levar a teoria das idias s ultimas conseqncias.No Sofista[7], no qual tambm o Eleata o personagem principal, h uma polmicaimplcita contra os materialistas. Embora estes possam ser induzidos a admitirem fora damatria, algo incorporal, seu conceito de ser insuficiente e est mesmo errado quando o

    definem como o que tem poder de agir, de qualquer maneira, sobre outro, ou dele padecer.

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    Em outras palavras, o ser corporal, enquanto movido por algo incorpreo, no serpropriamente dito.No mesmo dilogo (Sofista), Plato entende o no-ser das coisas materiais, no comrelao s idias, mas tambm enquanto cada ser diferente do outro; (no o outro,

    limitado).J no Filebo, que se caracteriza, de maneira geral, por um exame mais detalhado do mundomaterial, encontramos, enterrando, a mesma oposio entre idias e mundo. Igualmente,ainda no Timeu que divide claramente o que sempre e o que sempre devem. Corpreo vir-a-ser so sinnimos, assim como ideal e ser.O segundo passo dado por Plato, na sua problemtica a respeito do mundo material, odeterminar as relaes que existem entre este e o mundo das idias.Na primeira fase da Teoria das Idias, Plato explica o mundo material apenas por umaparticipao das respectivas idias, estando estes dois na relao realidade-imagem.H outras expresses que falam de uma presena da idia no objeto material. Mas tambmaqui Plato est longe de nos dar as causas dos seres materiais. Poderia se dizer, no

    mximo, que as idias so causas exemplares do mundo terrestre.Uma espcie de causalidade fsica mencionada na Republica[8], onde o filsofo comparaa idia do Bem com o sol. Assim como este no somente torna visveis todas as coisamateriais, mas tambm lhes d vida, assim tambm o Bem em si no somente causa detoda a inteleco, mas ainda confere bondade e ser a fundo. O sol (material) mesmo ofilho do Bem a cuja imagem e semelhana gerado. Tudo o que se pode conhecer recebe daidia do Bem no s a sua cognoscibilidade, mas tambm e sobre tudo, todo o ser, toda aentidade, vem dela; no entanto, este Bem mesmo no so esses seres, mas est alm daentidades, mais sublime e rico em dignidade e fora. Estes lugares parecem indicar que aprimeira causalidade de todo o ser vem do Bem (sendo este, inclusive, causa das idias), eque os seres materiais, em particular, tem como causa imediata, o sol. De fato, estconcepo no explica grande coisa acerca do mundo material e de seus princpios. Mascumpre no esquecer o seguinte, a Repblica no um tratado de filosofia natural; Plato,estuda aqui a organizao do Estado, que ele concebe como um organismo, anlogo aoorganismo humano com sua alma tripartida. Neste organismo, as partes so subordinadasao todo, e o movimento tem a sua finalidade no bem do todo. Pode ser que Plato tenhaconcebido o mundo tambm assim. Uma indicao temos no Filebo onde se estabelea oprincpio que o devir tem como fim o Ser que sob este ponto de vista se chama Bem. Emuma palavra, Plato na Repblica, atribui ao Bem uma causalidade final. Se alm disso, oBem exerce em causalidade fsica, eficiente, muito difcil explicar.Temos uma srie de passagens, em diversos dilogos[9], em que Plato d uma ateno

    especial ordem e harmonia do Cosmos (concepo pitagrica) o qual, por conseguinte,no pode ser obra do acaso mas deve ter uma alma. Esta alma move no universo e todas ascoisas em particular, movimento esse que tende ao Bem como a causa final.No Timeu ainda se descreve mais minuciosamente a alma do mundo e nas Leisencontramos at um a dupla alma, uma boa, que dirige ao Bem, pela razo, e outra m,aliada aos elementos irracionais. ( de notar que no incio de sua carreira, Plato concebiaa alma como algo absolutamente simples e imvel estranha ao organismo). Na Repblicaele abre um espao nesta concepo, rgida pela doutrina das trs partes da alma; dando-lheassim uma afinidade maior com o corpo. Se na Repblica ele fala apenas da alma humana,no entanto s lhe era necessrio generalizar esta doutrina aplicando-a , alma do mundo eter assim, uma explicao do mundo em movimento (mundo material).

    Todas essas tentativas, porm, no do conta, satisfatoriamente, da origem e damaterialidade das coisas, assim como tambm no explicam a multiplicidade dos seres e o

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    movimento, por mais que Plato se esforce de escapar s dificuldades (participao dosseres materiais em varias idias, mistura das idias, etc.).Plato estuda o problema da matria primordial, o do princpio de que as coisas so feitasassim como a questo de sua causa eficiente, mas f-lo, ainda assim, a seu modo.

    Fora de uma vaga indicao no sentido de que o Bem (e o sol) d o ser, a vida, ocrescimento, s coisas materiais, Plato se pe o problema da causalidade eficiente em umnico dilogo, no Timeu, que data de bem perto do fim da vida de Plato.Mantendo, todavia, o dualismo fundamental entre mundo material e mundo ideal, comseus, caracteres irredutveis, Plato empreende nesse dilogo, uma cosmogonia e umacosmologia, propriamente ditas.O mundo, diz ele, foi feito pelo demiurgo que, fixando o olhar sobre as idias comoprottipo, o produziu como um ser animado. isto, porque sempre o ser dotado de alma ede razo perfeito que um ser inanimado. O universo um s. Nele h seres diretamentecriados pelo demiurgo, os imortais deuses (espritos que presidem aos astros); estes, porsua vez, criam os seres mortais e perecveis.

    Tendo estabelecido o fato da criao do mundo (no no sentido cristo, evidentemente),era lgico que Plato previsse o problema daquilo que Aristteles chamaria matriaprimeira. De qu o demiurgo fez o mundo? Esta pergunta, para Plato, relacionada nosentido de um em que foi feito o mundo?O terceiro (fora dos idias como causa exemplar e o demiurgo como causa eficiente) oespao vazio. Nele, o demiurgo limitou as diversas parcelas, por diversas figurasgeomtricas (influncia dos pitagricos). Nesta fase de sua vida Plato parece considerar,definitivamente, o matemtico, como intermedirio entre o ideal e o material. Aristteles,nos diz mesmo que no fim de sua vida, Plato identificaria o matemtico e as idias. Oespao assim delimitado d origem aos elementos de que o Timeu conhece quatro: terra,gua, fogo e ar.Partindo desses quatro elementos, Plato em seguida, a origem dos seres mltiplos e de suaatividade, tendo a Razo (deuses, alma do mundo) a necessidade com outro fatorigualmente importante, pela tendncia natural com que cada elemento procura o seu lugarcorrespondente, e pelo predomnio de um outro desses elementos que se formam os corposmistos e que se explica a atividade desses corpos.Com isto, Plato, se achava em pleno problema da estrutura interna dos seres materiais.Antes ele no tinha se preocupado com este problema. Parece, apenas, ter rejeitado omaterialismo grosseiro do atomismo de Demcrito, que s reconhecia tomosquantitativamente diferentes, os quais se renem ou se separam sem interveno de algumprincpio imaterial. Aqui, no Timeu, Plato, parece adotar a teoria de Empdocles,

    substituindo o amor e o dio (as duas foras motoras) pela razo e a necessidade. Isto, aomenos, quanto a estrutura fsica das coisas materiais, no reconhecendo, entretanto queestas coisas sejam ser simplesmente.Num dilogo posterior ao Timeu (Epinomis), Plato conhece cinco elementos: ar, ter fogogua e terra.Estes cinco elementos do consistncia e visibilidade ao mundo. Para que as coisas sejamvisveis preciso palpveis, terra. Ambas nicas pelo ar e pela gua. Entre estes quatroexiste a proporo: fogo, gua = ar, gua, terra.Embora os corpos particulares sejam perecveis, o mundo como tal, enquanto um todo,hormnios, sujeito alma, no conhece doena, nem velhice, nem morte.Uma vez estabelecida esta tese dos quatro elementos que marcam a estrutura fundamental

    dos seres materiais, Plato tem como base slida para o estudo dos corpos em particular.Assim encontramos no Timeu uma srie de consideraes a respeito do organismo

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    humano, suas doena e a cura das mesmas. Em dilogos anteriores, Plato haviacompletamente negligenciado este ponto, com exceo, talvez, do Filebo, onde analisa osseres materiais, descobrindo-lhes vrios graus: o intermedirio ou sem limite; odeterminado ou que tem limites (o que est ordenado por nmeros e medidas).

    Dir-se -ia que Plato, com respeito composio dos seres materiais pelos 4 elementos,devia partir do mais simples at chegar ao organismos mais complicados. O contrrio,porm, se d. Plato defende (com respeito aos organismos) uma teoria de descendncia savessas: os organismos inferiores nascem, por uma espcie de degenerescncia, dosorganismos superiores.A situao da psicologia de Plato no conjunto de suas doutrinas: o mundo das idias e omundo fsico, to afastados um do outro que necessitam de um intermedirio. Esteintermedirio a alma. ela que d ser, movimento, vida, a este mundo material, e aalma que faz com que os viventes so o que so. A doutrina de Plato sobre a alma no uniforme. Acompanha a marca geral da evoluo da metafsica Platnica.3. A Concepo Platnica de Homem

    No dilogo intitulado Fdon, o filsofo estuda de modo extenso as relaes que existementre a alma e o corpo[10], no que ele tenha um interesse nestas relaes, mas sim com ofeito de provar a imortalidade da alma. Segundo, este dilogo, Plato expe que a alma destinada a dominar, e o corpo a servir. O corpo , alis, considerado, como algo de poucovalor, e se a alma lhe d a vida e o utiliza como instrumento, isto resulta, em ltimaanlise, em prejuzo desta mesma alma. Muitas vezes o corpo se revolta contra ahegemonia da alma, se bem que muitas vezes sem sucesso; os processos vitais no podemdeixar de serem governados pela alma.Plato ilustra, com um exemplo, como a alma preside vida orgnica: um tecelo durantea sua vida tece para o seu uso uma srie de roupas, as quais ele gosta, sucessivamente,sendo que ele mesmo permanece e sobrevive a todas elas. Assim a alma tece sempre denovo a veste corruptvel que o seu corpo.No Fdon, embora ele estabelea claramente uma relao entre alma (espiritual e imortal) eos processos biolgicos, procuramos em vo, no entanto, a tese da unio substancial entreela e o corpo. Apenas Plato nos diz que esta unio no como diziam os pitagricos, aharmonia do corpo. Alma e o corpo, segundo Plato, so duas coisas distintas epermanecem distintas; no se unem ao ponto de ficarem idnticas.Sendo a alma o que move o corpo ela ao mesmo tempo auto-movimento[11]. principalmente no Fedro, onde Plato expe esta idia do auto movimento (do qual ele tiraa concluso que a alma, sendo o princpio de todo outro movimento, deve ser imortal,sendo o seu movimento eminente desde a eternidade). Neste dilogo, Plato caracteriza a

    vida justamente como aquilo que movimento de dentro (pela alma)[12]. O fato de sermovido de fora o indcio mais seguro de que no possua alma. claro que o movimentode que fala Plato, no se deve entender somente do movimento local do corpo. A alma semove, vive por si; o corpo vive, e movido pela alma.Nas Leis, a alma chamada primeiro motor (analogia entre alma individual humana, ealma cosmos). Ele causa de tudo o que bom ou no, belo ou feio, justo ou injusto e detodos os outros contrrios.A questo das partes da alma como vimos no Fdon, Plato supunha ainda a alma comouma indivisvel. Mas como ele no admite uma unio substancial da alma como o corpo,e sim ao contrrio considera este como que a priso da mesma, o exerccio das funesmeramente biolgicas no se harmonizam bem com a natureza da alma tal que a define

    Plato como ser espiritual imortal. Da temos em outros dilogos (Repblica, Fedro eTimeu), a tricotomia, a diviso tripartida das almas. Esta possibilitava a Plato no

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    somente de salvaguardar o carter espiritual da parte racional, como tambm de explicarmais satisfatoriamente as funes no-intelectivas da alma. At ento, ele tinha afirmado,mais ou menos vagamente, que a alma dominava o corpo, movia-o. Agora ele podedeterminar como isso possvel, visto que as duas outras partes, segundo ele, bem numa

    unio mais estreita com a matria, de que a parte intelectiva (que participa do mundo dasidias), jamais poderia ter. Por outro, Plato, com esta doutrina, destri, logicamente, aunidade da pessoa.Plato, falando de partes da alma no as entende como faculdades distintas, nem comomais tarde Aristteles, no sentido das diversas funes que uma e a mesma alma capaz deexercer, mas praticamente Plato afirma trs almas.3.1. A Alma em PlatoNa Repblica, Plato estabelece uma analogia entre as trs href="#_ftn13"name="_ftnref13" title="">[13]. Aos prncipes, corresponde a alma intelectual, classemilitar corresponde o nimo, e classe agrcola (operria) a concupiscncia. Enquanto noFdon a alma (suposta uma), governa o corpo, e ele, na sua totalidade que o principio de

    todo o movimento (posto que o corpo pode antagoniza-la, at certo ponto), aqui naPolitia, a alma intelectual goza duma completa independncia, ou melhor, no temnenhuma relao direta com o corpo. Est diretamente orientado para o mundo das idias.Isto no impede, porm, que ela, ou a virtude que lhe caracterstica, isto , a sabedoriaexerce uma influncia sobre o nimo (principalmente atravs da opinio verdadeira, que um conhecimento intermedirio entre a contemplao pura e a empricia). Por sua vez, onimo est em relao com a parte inferior. Em uma palavra, o domnio do esprito sobre ocorpo apenas indireto. Por outro lado, o esprito ou a parte intelectiva pode serantagonizada no diretamente pelo corpo, e sim pelas partes inferiores da alma.Praticamente, esta nova posio de Plato implica no seguinte: como ele purointelectualista que quase no conhece a vontade mas para quem, antes, o conhece a virtudee o agir virtuosamente so uma s coisa, segundo a doutrina da Politia o defeito moraltem sua raiz nica e exclusivamente na parte inferior da alma, e no como em outrosdilogos, na alma (intelectiva na sua totalidade) como tal, que teria sido desviado do bem(=do conhecimento do bem pelo corpo). No Fedro, Plato compara a relao entre as trsalmas a um cocheiro que governa dois cavalos. O cocheiro o que h de mais tipicamentehumano, que ao dirigir seu carro, est com a cabea mais perto do cu (as idias). Doscavalos um, o nimo nobre, o outro, a alma conceptvel de baixos linhagem, tende adispersar, afastar-se da rota, desobedecer, estorvar o bom andamento do carro. A arte dococheiro governar a ambos de tal maneira que o carro alcance a meta.No Timeu, finalmente, Plato assinala um lugar especial s organismo par cada uma dessas

    alma: os Nous no crebro, o nimo entre o pescoo e o diafragma, e a alma concupiscvelentre diafragma e o umbigo. O corao concebido como medianeiro entre a parteintelectiva e o nimo, o fgado considerado intermedirio entre este e a parte mais baixa.Aqui, a concepo da alma como princpio de vida (biolgica) tem um sentido prprio, aomenos duas partes da alma esto intimamente ligados ao corpo. (o intelectivo emboraresida no crebro, sempre independente da matria; este pensamento Plato nuncaabandonara).No Fedro, que trata explicitamente desta questo, Plato usa como argumento principal, ofato de a alma ser princpio de vida. Ela participa das idias mais exatamente da idia davida em si. No comporta, portanto, um inicio no tempo, nem a morte. Em outra palavras aalma preexiste ao corpo e o sobrevive[14]. Plato admite a migrao das almas (

    duvidoso, porm se Plato admitia a possibilidade de uma alma humana entrar num corpoanimal). Com a mudana do ponto de vista, na Politia, Plato devia logicamente chegar

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    uma concluso que s o intelectivo imortal. Entretanto, neste dilogo, e no Fedro, eledeixa no escuro esse ponto. s no Timeu que ele afirma serem as duas almas inferiorescriadas com o corpo, sedo apenas a alma superior imortal.

    IIA CONCEPO POLTICA EM PLATOA,oral do homem platnico uma moral sobretudo poltica. Este tipo de concepo dePlato se deu devido o fato de sua juventude ter sido marcada pelo Fenmeno conhecidocomo "pols", ou seja, o homem para Plato o cidado, que vive e participa da sociedadepoltica.Portanto a poltica sempre ocupar[a um lugar de destaque na vida do filsofo: "... passeipor experincia comum a muitos e me decidi firmemente a uma coisa: apenas em condiode dispor da minha vontade, logo dedicar-me vida poltica"[15].O contexto em que viveu Plato foi um contexto onde a corrupo, no somente na cidadede Atenas, mas em todas as cidades do mundo grego. Este tipo de corrupo a liado a uma

    injustia crescente da vida poltica de Atenas, contriburam para que Plato fomentassedentro de si o desejo de propor uma nova forma e concepo poltica, onde a justa medida,governasse a vida de todos os cidado da plis.O estopim para o caminho do amadurecimento poltico da filosofia de Plato, se deu semdvida nenhuma, aps o episdio da morte de seu mestre Scrates. Este fato coloca Platodiante de um dilema, se os governantes mataram aquele que era o mais justo, ou pelomenos aquele que possua um diferencial significativa em relao aos outros cidado,quem ento poder ser considerado um administrador dignos e que no seja corrupto?Plato comea a pesquisar e observar as aes das pessoas no cenrio poltico,evidenciando assim, todo o quadro de complexidade que envolve a administrao da plis.O caminho que o filsofo encontra para mudana da concepo poltica de sua poca, areformulao de todas as constituies e legislaes que regiam a prpria plis. Destamaneira Plato no pretendia curar a doena da corrupo e da injustia, atravs demedicaes paliativas, mas pretendia solucionar o problema em sua origem, propondo umanova base para todo o assentamento poltico que os novos governadores teriam detrabalhar.O caminho que Plato colocar para um reta orientao da administrao da plis, atravsde um meio mais justo e que no exista a corrupo, o caminho da filosofia, isto , afilosofia possibilitar que o administrador pblico seja mais coerente com suas aes epossa se orientar por uma norma que o guie tranqilamente pela tumultuada vida poltica.Os nicos em condies para assumir o poder para Plato so os filsofos, pois estes, so

    os nicos capazes de entender e se guiar pela justa medida, desta maneira o que se colocapara o administrador acima de tudo a sapincia, este munido dos recursos que a filosofiaA nova poltica platnica e o novo Estado devero ter seu instrumento na filosofia, porqueela representa o nico caminho seguro de acesso aos valores de justia e de bem, que so ofundamento verdadeiro de toda poltica autntica e, portanto, do verdadeiro Estado.A teoria do Estado Platnico tem seguido ou o caminho utpico da descrio do Estadoperfeito, ou aquele mais realista das maneiras e dos caminhos para melhorar a forma doEstado.Plato por isso, em Grgias no hesita e pe na boca de Scrates este desafio:- "Eu creioque estou entre os poucos atenienses, para no dizer o nico, que tentam a verdadeira artepoltica, e o nico entre os que agora vivem, que a exercita"[16].

    1. A Poltica Ideal e a Realidade Histrica

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    Plato estava convicto de que o Verdadeiro e o Bem contemplados devessem descer realidade com o fim de torn-la melhor, devessem tornar-se politicamente efetiva.Para ele, toda forma de poltica que pretenda ser autntica deve ter em vista o bem docidado; mas, preciso saber que o verdadeiro bem do homem o BemEspiritual.

    Enquanto o corpo apenas seu casulo passageiro e fenomnico. nesta base que se diferencia a poltica verdadeira da falsa: a verdadeira poltica deve terem vista o cuidado da alma (verdadeiro homem), enquanto a falsa tem em vista o corpo, oprazer do corpo e tudo que relativo dimenso "inautntica do homem". E o meio paracurar a alma no seno a filosofia, e por conseqncia, a identificao com poltica e afilosofia. Isto no contexto platnico, de poltico e filsofo.Esta concepo da dicotomia de corpo e alma se evidencia atravs de sua teoria do mundodas idias, pois segundo ela o ideal perfeito esta num mundo inacessvel, devido alimitao que matria impe, enquanto que neste mundo a imperfeito, somente serve decrcere da alma. Desta maneira devemos buscar nos assemelhar ao mximo possvel destemundo de perfeio, que mundo das idias.

    Esta ilustrao serve a ns para entender o porque na concepo poltica de Plato ofilsofo ser o nico em condies de administrar bem a cidade, pois esmo que ele sejalimitado pela matria, que o seu corpo ele ser conduzido pela filosofia a umaaproximao mais efetiva da idia de justia, podendo desta maneira tratar mais justamenteos problemas de todos os cidado proporcionado assim, uma vida mais digna a todos osque habitam a plis.Estado e a lei do Estado, constitua todo o paradigma de toda forma de vida do indivduo,portanto o que era importante para o homem grego era ser um cidado, pois somente nestacondio a sua virtude de homem ser capaz de se manifestar, pois ser cidado implica naparticipao da plis, desde a tomada de decises at a forma pela qual eram estabelecidasas leis que regiam a mesma. Portando a participao da plis no era horizonte relativo,mas sim o horizonte absoluto da vida do homem.Transferindo para a nossa atualidade o realismo poltico de Plato vai colocar em destaquea inverso de um idealismo traado pelo filsofa ateniense, pois, inegvel de se descartarque diferentemente da concepo poltica platnica o indivduo e o cidado no mais amesma pessoa. Na Grcia o indivduo somente tinha razo de ser, caso ele fosse umcidado, pois desta maneira ele, se faria participante e integrante da vida da plis, ao passoque o indivduo de hoje, pode deixar de participar da vida poltica da cidade e no sercolocada para ele a questo da sua importncia no processo poltico. O Estado renunciouh muito apropriao das esferas da vida interior dos cidados que interessavam a Platoacima de tudo, deixando conscincia dos indivduos a livre deciso nesses assuntos.

    Pode-se percebem que o pensamento poltico no mudou pois ele requer para o seudinamismo uma participao seja de qualquer tipo de esfera, agora o modo de como se d aimportncia para o cidado que existia na plis grega e o indivduo que existe namodernidade so impares e no se encontra caminhos de restaurar novamente esta mesmadignidade a que o homem tem direito, ou seja no se pode deixar de levar em consideraoque a participao da vida da plis era o que dava significada a vida do homem nocoletivo, e hoje esta participao no coloca este mesmo significado ma vida do indivduomoderno.J no mbito da concepo histrica de Plato, este, estava condicionado em dois sentidos:pelos pressupostos do seu sistema e por determinada viso histricosocial - cultural doEstado, nenhuma nem outra podem repetir-se historicamente. Entretanto, Plato nos

    alertou quanto a verdade que hoje serve como advertncia: uma poltica que, ao regular avida em sociedade dos homens, abdique das dimenses do esprito e estruture-se

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    exclusivamente segundo as leis da dimenso material do homem, no poder subsistir; asexigncias do esprito, negadas ou reprimidas, cedo ou tarde, tornam-se a impor-seinexoravelmente.2. O "Justo Meio" e a Arte Poltica

    Como j nos referimos antes, a cincia do poltico coincidia com o conhecimento supremodo Bem e das Idias e, portanto, da filosofia.Segundo Plato h dois modos de proceder na medida, que so dois critrios diversos. "Ha medida que tem como base a relao recproca de grande -pequena, longo-curto, excesso-defeito, e uma medida de carter matemtico. H porm a medida segundo a essncia que necessria gerao" [17]. Ou seja, a medida que tem como base o justo meio ou amedida justa, a saber, as Idias ou essncias das coisas, e essa uma medida que podemoschamar Axiolgica, porque se refere a valores ideais (as qualidades) e no a purasquantidades. Este gnero de medida constitui, uma clara superao do pitagorismo,inteiramente anloga que foi levada a cabo com relao ao eleatismo, com a introduodo "no-ser" como "diverso".

    O justo meio para Plato, ou melhor dizendo, a justa medida, oque colocar naadministrao da plis a noo do que deve ser melhor oferecido para os cidado, isto ,ela dar ao filsofo administrador o conhecimento capaz de evitar a injustia e a corrupo,pois uma vez que o administrador, um filsofo, que possui o instrumental da filosofia,este ser guiado pela tica para o estabelecimento de valores que estaro dispostos damesma maneira que as idias em seu mundo, portanto estaro disposta segundo umahierarquia de valores dos mais elevados decrescendo at os menos elevados que poderoorientar o melhor caminho para a realizao plena da plis e dos cidados.Para se ter um conhecimento mais eficaz da justa medida que o administrador deve ter, Ofilsofo ateniense diz que a vida poltica uma arte e ara ento compreendemos melhor avida poltica, demos compreender melhor do que se trata esta arte. Plato coloca para ns oexemplo da arte, pode ser dividida em duas partes: de um lado colocando todas as Artesque medem o nmero, o comprimento, a largura, a profundidade, a espessura, com respeitoaos seus contrrios; do outro as que realizam essas medidas na sua relao com a medida

    justa, com o conveniente, com o que oportuno, com o que dever-ser, e com tudo quetende ao justo meio, fugindo dos extremos.A distino aplicada, em geral, a todas as artes e de modo especfico arte do poltico,diremos que ela tem como objeto o justo meio, o dever, o oportuno, o conveniente nasesferas mais importantes da vida da Cidade.A atividade do poltico distingue-se perfeitamente, desse modo, de uma srie de atividadesconexas com a poltica, mas que, na realidade, mostram-se subsidirias e subordinadas a

    ela. Assim a retrica se distingue da poltica porque, enquanto a primeira atividade depersuaso, a segunda atividade que decide se ou no conveniente persuadir (ou usar afora) e por isso diversa, mas superior.O raciocnio anlogo existe para a Arte da guerra, que se ocupa em fazer e vencer a guerra,mas no em decidir se ou no conveniente fazer a guerra de preferncia a manter a paz,deciso que depende justamente a poltica e tambm a atividade dos juizes diversa dapoltica e a ela subordinada, porque a primeira se limita a aplicar a lei, enquanto a atividadedo poltico estabelece a lei.Mas o poltico busca a medida justa ou o justo meio sobretudo na atuao de sua tarefafundamental que construir a unidade do Estado partindo de elementos heterogneosmesmo opostos, dando-lhes uma nica fora e impondo-lhes um nico selo. Com efeito, os

    homens podem ser divididos segundo dois temperamentos e duas virtudes opostas: de umlado os mansos e temperantes, de outro os audazes, valorosos e fortes.

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    O poltico deve justamente saber harmonizar esses temperamentos opostos como secompusesse uma tela e um tecido usando fios macios e duros. Ao tecer essa tela, ele fixara parte divina do homem (a alma) com um "n" divino e a parte animal (o corpo), comoum "n" humano. O n divino o conhecimento dos valores supremos, que amansa as

    almas audazes e torna sensatas as almas mansas e une as outras com relao ao belo e aobom numa s opinio.O n humano, por sua vez consiste em fazer com que, por meio de matrimniosoportunamente combinados, as naturezas opostas se conjuguem, de modo que ostemperamentos opostos venham a se equilibrar tambm do ponto de vista biolgico.Portanto, para Scrates e Plato, no h distino entre tica e poltica, porque evidente arelao entre a tica e a cincia do Estado. E o homem para Plato s pode explicar-semoralmente se explicar-se politicamente.Por fim, Plato quando se refere a justa medida, fala que ela domina as leis, revela seufundamento de carter "teolgico" afirmando que, a medida de todas as coisas Deus.IIIA CONCEPO FILOSFICA DE PLATO

    O poder poltico constitui a substncia da prpria Filosofia Platnica. Plato buscou desdecedo as causas da corrupo dos homens de governo, seus costumes e as leis. Percebeuassim que no s Atenas, mas todas as cidades sofriam em razo de maus governos. Comefeito, sentindo a necessidade de reformas, louvou a reta filosofia e constatou que somente luz dela possvel esperar ver justa a poltica das cidades e justa a vida dos cidados.As injustias e desventuras humanas no conhecero fim a no ser no dia em queverdadeiros e puros filsofos tero acesso ao poder, no dia em que por algum "dom deDeus", as classes dirigentes nas vrias cidades sejam inflamadas pelo verdadeiro amor dasapincia, e sejam formados por filsofos. Era o objetivo desejado por Plato.O novo Estado Platnico tem seu instrumento na Filosofia, porque ela representa o nicocaminho seguro de acesso aos valores de justia e de bem, fundamento verdadeiro de todapoltica autntica e, portanto, do verdadeiro Estado.No Estado idealizado por Plato, torna-se de mxima importncia a seleo de jovensdotados de autntica natureza filosfica (isto , de jovens nos quais a parte racional daalma domina sobre as outras duas) e a sua educao. Podemos dizer que a paideiaginstico-musical produz os efeitos do Bem, mas no o conhecimento do Bem. esta,portanto, a meta da educao filosfica: "alcanar o mximo", a posse do Bem em si naordem do conhecimento. Para chegar a este conhecimento, requer-se longo tempo parapercorrer o caminho do sensvel ao supra-sensvel, do corruptvel ao incorruptvel, do devirao ser. O trecho mais longo e rduo deste caminho constitudo pela dialtica, com a quala alma atinge o puro ser das Idias, e, atravs deste, chega viso do Bem, ao

    "conhecimento mximo".De fato, o mtodo e o contedo da paidia dos governantes e dirigentes do Estado soexatamente o mtodo e o contedo da filosofia platnica. Todos os outros meios deconhecimento e cincias sero "aplicados" de acordo com cada classe para a melhoreducao e ordenamento dos membros do Estado.Plato sabia que todo ensinamento e educao deve ser proposto, no imposto, pois naalma no poder existir nenhum ensinamento forado. Porque para ele os meninos nodeveriam ser educados com a violncia, mas com os jogos. A prova maior da aptido ouinaptido de um jovem dialtica se dava deste modo: quem sabe ver o conjunto dialtico, quem no sabe, no o . Esta sua natureza, ver o todo, o conjunto inteiro [18].Somente aos 50 anos, depois de ter passado por todas as provas na educao dialtica e

    emprica que termina, segundo Plato, a paidia dos governantes: depois disto o papel erase dedicar filosofia a maior parte do tempo, assumir o governo para o bem da

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    comunidade, pois necessrio, por ltimo, formar continuamente outros cidados a seuexemplo para governar e Estado.Quanto educao das mulheres e homens, bem como dos guardies e guerreiros, Platono faz distino, pois tendo dotes iguais, devem receber a mesma educao e exercer as

    mesmas funes no Estado. Isto tambm vlido para a classe dos governantes. A maiorvalorizao no que diz respeito a mulher da Antigidade foi feita por Plato.No Estado no pode haver privilgio de classes, mas deve-se fazer com que as classes seproporcionem vantagens recprocas segundo a sua capacidade. O supremo "poder poltico"na viso platnica torna-se, pois, o supremo e necessrio "servio" daquele que, tendocontemplado o Bem, o faz descer a realidade e, atravs da prxis poltica, o distribui aosoutros.1. O Estado IdealA obra Repblica pode estar na contribuio entre tica e poltica. Seu objetivo a 'justia'ou o 'Estado Ideal'? Do ponto de vista de Scrates e Plato, no h distino, a no ser porsimples convenincia, entre moral e poltica. As leis do direito so as mesmas para as

    classes e para os indivduos. Mas deve-se acrescentar que essas leis so, antes de tudo, leisde moral pessoal: assim se considera que a poltica est fundada sobre a tica, no a ticasobre a poltica.O Estado Ideal para Plato justamente como a ampliao da alma. Esse Estado platnicono seno a imagem aumentada do homem: formar o verdadeiro Estado significa, paraPlato, formar o verdadeiro homem. Isto poltica platnica[19].Para Karl Popper, em sua obra: A sociedade aberta e seus inimigos, o Estado Platnicoseria, em suma, a negao da liberdade. Plato seria o inimigo da sociedade democrtica eda democracia. Isto para salientar que a concepo de Estado Platnico, como afirmaPopper, qualificada como conservadora e reacionria, bem como acentuadamentetotalitria. Contudo, pode-se dizer que em funo das categorias prprias das ideologiaspolticas modernas atuais. Pois o discurso autntico poltico de Plato, sobretudo,Filosofia, metafsica e at escatologia do Estado. Embora alguns considerem ideologia. Defato, tais equvocos so relevantes no terreno da discusso filosfica, porm, o que Platopretendeu foi conhecer e formar o Estado perfeito (Ideal) para conhecer e formar o homemperfeito.Na Repblica, Plato leva o Estado s ltimas conseqncias: O Estado a alma ampliada,e entre a alma e o Estado h uma correlao recproca. A sede autntica do verdadeiroEstado e da verdadeira poltica justamente a alma.Segundo Plato, o Estado nasce de nossa necessidade. Como as necessidades somltiplas, cada pessoa necessita de muitos outros homens que atendam a essas

    necessidades. Tendo em vista a satisfao das necessidades essenciais da vida, temigualmente necessidade de uma classe de guardies e guerreiros. O Estado deve ter tudoque corresponde a sua formao e segurana. Os guardies deve ser dotados de mansido ede ousadia; devem ser fortes e geis no fsico, irascveis, valentes e amantes do saber naalma. Para estes necessria uma educao muito apurada. A cultura (poesia e msica) e aginstica sero os instrumentos mais idneos para educar o corpo e a alma do guardio.O pensamento platnico reformula a paidia helnica. A poesia da qual se alimentar aalma dos jovens no Estado perfeito dever ser purificada de tudo quanto moralmenteindecente e indecoroso, e de tudo quanto falso, sobretudo no que diz respeito snarraes em torno dos deuses. Tanto na questo da msica quanto da ginstica deve,assim, ser em ritmos apropriados e simples para a msica e apropriada e simples para a

    ginstica para no cair em nenhuma forma de excesso. Ela deve acompanhar a educao daalma, que voa pode tornar bom o corpo, mas no vice-versa. Toda educao deve,

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    portanto, servir para produzir no homem acordo e harmonia perfeita. Dentre os guardieshaver aqueles que devero "obedecer" e aqueles que devero "mandar". Estes ltimos, soos dirigentes do Estado, pois mais que os outros amam a Cidade, ao longo da vida,realizando com zelo o que til e bom (estes so os filsofos verdadeiros, terceira

    classe...). Entretanto, preciso ter em mente que em Plato a diviso de classe ainda noestava completa. As trs classes sociais constituem abertura moderada. No fundamento dasclasses est a ndole humana, cada classe com a ndole que melhor corresponde com a sua. primeira classe, formada por camponeses, artesos e comerciantes, concedida a possede bens e riquezas "moderadas". Aos defensores do Estado no ser concedida nenhumaposse de bens e riquezas; tero habitao e mesa comuns, e recebero vveres da parte dosoutros cidados como compensao pela sua atividade. Isto para a felicidade do Estado:entretanto no s uma classe que dever ser feliz no Estado perfeito j que, tendoequilibrada felicidade do Estado na sua integralidade, cada classe deve participar dafelicidade somente na medida em que a sua natureza permite.Os guardies devem, como definiu Plato, vigiar quanto ao equilbrio do Estado, para que

    na primeira classe no penetre nem demasiada riqueza nem demasiada pobreza, bem comopara que o Estado no se torne demasiado grande nem demasiado pequeno. Isto tem emvista o cuidado quanto a ndole e a natureza dos indivduos para que correspondam asfunes que exercem e que se proceda adequada educao dos melhores jovens. No sedevem mudar com isso as leis que as regem, nem o ordenamento do Estado.O Estado ideal delineado, mostrando a natureza e o valor da justia; para isto, Platodescreve as virtudes cardeais, isto , alm da justia, a sapincia, a fortaleza e atemperana. O Estado perfeito deve possuir as quatro virtudes fundamentais. O Estado sbio pela classe dos seus governantes. A fortaleza a virtude prpria sobretudo dosguerreiros e o Estado forte pela classe dos seus guerreiros. O Estado temperante aqueleno qual os mais fracos esto de acordo com os mais fortes e os inferiores em plenaharmonia com os superiores. Quanto a justia, percebe-se quando cada cidado e cadaclasse atende s prprias funes do melhor modo, ento a vida do Estado se desenrola demaneira perfeita e temos exatamente o Estado justo.Como foi dito anteriormente, o Estado no seno a ampliao do homem e da sua alma.Deste modo Plato diz: "- Penso que diremos tambm, Glauco, que o homem justo domesmo modo que a cidade justa"[20]. As trs classes sociais do Estado deverocorresponder a trs formas ou faculdades na alma: a racional, a irascvel e a apetitiva.Caber parte racional mandar. Assim, Estado feliz somente aquele que cumpreordenadamente as suas funes segundo a justia e as outras virtudes.O princpio de que a classe dos guardies do Estado deve ter todas as coisas em comum:

    alm da habitao e da mesa, tambm as mulheres, os filhos, a criao e a educao daprole, era mesmo revolucionrio para os padres do sistema da poca. Tanto no que tangeao papel da mulher como do homem, dentro e fora das funes do Estado. Para no dizerque a concepo de leis que regem o Estado platnico eram autoritria nos termos que sedefinem hoje em dia, penso que ao invs de autoritrio como diz Karl Popper, era maisuma forma rigorosa e nova de um novo Estado como queria Plato.No que se refere a famlia, posta tambm em comum, os guardies de nada mais poderodizer " meu", porque tudo absolutamente ser comum, exceo do corpo. nestadefinio que pode-se perceber o "comunismo platnico". Assim define Plato: "- Aocontrrio, no Estado em que o maior nmero de cidados, a respeito da mesma coisa esegundo o mesmo sentido diz justamente "meu" e "no meu", "no haver legtimo

    governo? - Sim, timo"[21]

    . Levando-se em conta estas afirmaes, evidente que o

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    "comunismo" platnico no se aplica ao "coletivismo moderno", seja em razes histricasou tericas.Quanto as disposies tericas, os guardies da cidade platnica, esto mais na posio deuma burocracia coletivista. O motivo da proibio de toda posse individual, mesmo da

    posse de uma mulher, combina-se com o princpio da seleo racial no conduzir teoria dacomunidade de mulheres e filhos para os guerreiros. No fundo Plato visava a uma grandefamlia, para unificar a Cidade, cortando pela raiz tudo o que fomenta os egosmoshumanos.Convm, no entanto, admitir que Plato no tinha "bem claro" o conceito de homem comoindivduo singular, nico e irrepetvel, usando termos atuais. Acima deste conceito, valiapara ele mais a raa que o indivduo, mais a coletividade que o sujeito singular.O Estado ideal descrito por Plato uma "aristocracia" no sentido mais forte e significativodo termo, vale dizer um Estado guardado e governado pelos "melhores" por natureza e poreducao, fundado sobre a virtude como valor supremo e caracterizado pela primazia, nosseus cidados, da parte racional da alma. O Estado ideal e o homem rgio ou aristocrata

    que lhe corresponde so caracterizados pelo domnio inconstante da racionalidade, virtudee liberdade, estes so os chefes do Estado. E igualmente na classe dos guardies-guerreiros, na medida em que regula a alma irascvel nela produzindo a virtude e coragem,e na classe inferior na medida em que regula a alma concupiscvel nela produzindotemperana. Esse o Estado so e, como tal feliz.A felicidade superior do homem que vive segundo a poltica do Estado perfeito, isto , vivea vida filosfica. A felicidade no pode consistir seno na forma mais alta do prazer, que o da parte racional da alma. o prazer mais verdadeiro. A vida poltica neste Estadogarante a felicidade no aqum como no alm, na vida depois da morte, para sempre. ParaPlato a "verdadeira poltica" aquela que no nos salva apenas no tempo, mas no eterno epara o eterno.A Repblica platnica exprime fundamentalmente um ideal realizvel (mesmohistoricamente o Estado perfeito no existe) no interior do homem, vale dizer, na sua alma.Se o Estado perfeito no existe fora de ns, podemos, no entanto, construi-lo em nsmesmos, seguindo a poltica verdadeira no nosso ntimo. Para Jaeger: "a essncia doEstado de Plato no est na estrutura externa - dado que possua uma - mas no seu ncleometafsico, na idia de realidade absoluta e de valor sobre o qual construdo. No possvel realizar a repblica de Plato imitando a sua organizao externa, mas somentecumprindo a lei do bem absoluto que constitui a sua alma" [22]. natural que, no Estado histrico, o cidado que vive a poltica da cidade ideal, tone-seestranho e tanto mais estranho quanto mais a sua vida se conforma com a poltica ideal.

    daqui que surge a idia, em Plato, do cidado das duas Cidades, a Terrestre e a Divina,portanto um dualismo.1.1. O Filsofo como Paradigma do Estado IdealSendo a Repblica voltada para o mundo 'ultraterreno', o homem tem uma alma e podealcanar a bem-aventurana eterna, e essa bem-aventurana que, acima de tudo, importaconquistar na vida. As instituies sociais e a educao que o pem em condies deconquist-la so instituies e educao justas; tudo o mais injusto. O filsofo, por suavez, o modelo do Estado ideal. Este o homem que encontrou o caminho para essa bem-aventurana. Todavia, deve-se ter em mente que o filsofo s pode ser justo consigo se forpara com a sociedade.A possibilidade do Estado ideal platnico ser possvel segundo a caracterizao especfica

    dos "governantes" ou "regentes" supremos do Estado e sua peculiar paideia ou educao.Alm do fundamento terico, a concepo da natureza dos governantes que vai tornar

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    possvel a realizao do Estado platnico. A principal condio para a sua realizao queos filsofos se tornem governantes e os governantes, filsofos. Portanto, o filsofo nosomente projeta teoricamente o Estado perfeito, mas tambm s o filsofo que poderealiz-lo e faz-lo entrar na histria. Eis o que diz o prprio Plato: "-..., os filsofos no

    sejam reis na sua cidade ou os que ora se dizem reis e soberanos no se entreguem honestae convenientemente a filosofar, e uma coisa e outra no coincidam na mesma pessoa, oumelhor, o poder poltico e a filosofia,..."[23].No que concerne possibilidade do Estado platnico encarnar-se historicamente, no s nopresente, mas tambm no passado e ao futuro, temos, a opinio do prprio Plato: "-Obrigados pela verdade, dizamos que nem Estado nem Governo, nem mesmo um homem,poderia tornar-se perfeito antes que a estes poucos filsofos, chamados agora no de maus,mas tidos como inteis; no acontea por uma sorte favorvel; queiram eles ou no, necessidade de assim o cuidado do Estado e, cidade obedecer-lhes; ou ento que aosfilhos dos poderosos ou reis de agora ou a esses mesmos alguma divina inspirao noinfunda o amor da verdadeira filosofia"[24].

    Colocar o filsofo como construtor e regente do Estado significa colocar o Divino e oAbsoluto como medida suprema e, portanto, fundamento do Estado.Por isso, Plato mostra o conceito de sua filosofia que acabamos de expor dizendo: "-Tenha pois acontecido ou no aos perfeitos filsofos essa necessidade de governar oEstado no tempo infinito que j passou, ou acontea agora em algum pas brbaro longedaqui e fora do nosso conhecimento, ou venha a acontecer no futuro, ao menos istoestamos prontos a sustentar, a saber, que o Estado que descrevemos foi, e ser tal, todasas vezes que esta Musa filosofia se tornar senhora da cidade. Com efeito, nem impossvelque tal acontea nem ns dizemos coisas impossveis; mas que sejam difceis somos osprimeiros a admiti-lo".[25]O filsofo para Plato, depois de ter alcanado o divino, contempla-o e o imita, plasma a simesmo de acordo com ele e, por conseguinte, posto frente do Estado, plasma e conformao Estado segundo a mesma medida. Este entendendo-se com o divino e ordenando, torna-se ele tambm divino e ordenado medida que possvel aos homens.Plato mostra a suprema Idia de Bem, dizendo que o bem em si esta como "modelo"supremo ou paradigma do qual o filsofo deve servir-se para regular a prpria vida e a vidado Estado. Portanto, o Estado platnico pode ser definido como a entrada do bem nacomunidade dos homens por meio daqueles poucos homens (justamente os filsofos) quesouberam elevar-se contemplao do Bem. E a Idia do Bem o divino no mais altograu, o Estado platnico torna-se, assim, a tentativa de organizar vida associada doshomens na base do mais elevado fundamento "teolgico". O Divino torna-se, por sua vez,

    o fundamento da vida dos homens na dimenso poltica, o eixo da verdadeira polis. Logo, aCidade Platnica Ideal encontra-se na base do estatuto verdadeiro, na qual os filsofosconstrem sua inteligncia indagadora para alcanar o conhecimento do Bem divino.2. O Homem de Estado e a LeiDepois de ter traado as linhas da construo do Estado Ideal, veremos que, uma dasfinalidades da Academia Platristocracia e a democracia" so formas de constituio

    justas, desde que quem governe respeite as leis e os costumes. Se, ao invs, a lei no respeitada, nascem trs formas correspondentes de constituio corrompida: monarquia(tirania), aristocracia (oligarquia) e democracia (torna-se democracia corrompida - hoje,'demagogia').Mesmo levando-se em conta toda forma de corrupo, a melhor forma de constituio,

    segundo Plato, , portanto, a monarquia, vinculada a boas leis, embora, sem lei m e a

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    mais insuportvel para viver nela. Esta forma deve ser separada de todas as outras formascomo um deus separado dos homens.2.1. A Finalidade das LeisNa ltima obra de Plato, Leis, est seu testamento poltico. Elas traam um desenho geral

    do Estado e adentram suas particularidades, fornecendo um modelo quase completo delegislao de uma Cidade. A Academia de Plato foi continuamente solicitada a prestarservio na (redao de leis), pois nela havia peritos em jurisprudncia. A exemplo, comodizem, que o prprio Plato pode ter sido solicitado a redigir leis para Megalpolis e,embora tivesse ele declinado do convite, muitos dos seus companheiros se prestaram a essatarefa para muitas novas cidades.Era desejvel que aqueles a quem acaso fosse dirigido o convite para fazer leis tivessemsob a mo um exemplo do modo de como essa tarefa devia ser levada a cabo. As Leispretendem justamente oferecer tal exemplo. So sem dvida obra de grande importncia,especialmente em razo da uma finalidade prtica, por serem a sntese daquilo que Plato

    julgava imediatamente realizvel dentre as instncias polticas.

    Por sua vez, a concepo do rei-filsofo e do Estado dirigido por tal homem permanece oideal expressamente reiterado, mesmo que se reconhea ao mesmo tempo, como j noPoltico, a necessidade de recuar para uma concepo mais realista, estabelecendo comosoberanas as leis: porque Plato no acreditava, nascer um dia um homem capaz, pela suanatureza, de satisfazer as condies de conhecer o que til convivncia poltica doshomens e de querer sempre da melhor forma quando o tenha conhecido, no sernecessrio que haja leis que exeram soberania sobre ele.Para o pensamento platnico, nem as leis nem ordenamento algum valem mais do que ainteligncia; nem corresponde ordem das coisas que a inteligncia seja sujeita ou escravade quem quer que seja, mas que governe sobre tudo, j que se apoia sobre a verdade e sejaefetivamente livre, conforme sua natureza. Pode-se dizer que hoje isto no se realiza, ano ser em medida bem reduzida; com isso, a necessidade de recorrer ordem e s leis,que vem e contemplam o que acontece mais freqentemente, porm no podem ver econtemplar tudo. Pois, se h, para Plato, leis que tornem o Estado uno na medida maiorque for possvel, ningum que queira atribuir um outro fim extraordinria virtude dessasleis poder atribuir-lhes outro melhor e mais justo.O Estado de Leis como que uma cpia do modelo original e, com efeito, vem como"Segundo Estado", depois do original que o "Primeiro Estado", modelo e extenso daalma racional.A constituio mais adequada que Plato prope nas Leis uma constituio mista que uneas vantagens da monarquia com as vantagens da democracia. Uma vez que, para ele, destas

    duas formas de governo derivam todas as outras. Mesmo por efeitos de combinaesvariadas.Plato tambm coloca, que para que haja liberdade e concrdia acompanhadas desabedoria num Estado, preciso que o governo participe de uma e de outra dessas duasformas.CONCLUSOPara Plato, a verdadeira poltica se encontra no mundo das idias (norma), lugar daessncia imutvel de todas as coisas, dos verdadeiros modelos. Todos os seres, inclusive ohomem, so apenas cpias imperfeitas de tais realidades e se aperfeioam medida que seaproximam do modelo ideal, uma vez que a plenitude humana coincide com oaperfeioamento da razo.

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    A base mais fundamental da poltica no seno a prpria filosofia. Por isso, Plato diz:"O homem s pode explicar-se moralmente se explicar-se politicamente". O homem ,assim, cidado por pertencer sociedade poltica.Compreendemos a poltica neste trabalho como a atividade que diz respeito vida pblica,

    de todos os (filhos da cidade). Etimologicamente,plis, em grego, significa "cidade".A poltica portanto, "A cincia do Estado", que capaz de gerir os destinos da cidade edos cidados. O homem poltico aquele que atua na vida pblica e investido de poderpara imprimir determinado rumo sociedade, tendo em vista o interesse comum, o bem docidado.Cada cidado deve ter espaos de efetiva participao poltica, pois ela est presente emtoda relao humana. Certamente, a apresentao da concepo platnica de poltica e dapossvel concretizao histrica desta apresenta dificuldades, mas se afigura sempre vivel.Como demostramos na obra de Plato, a cincia do poltico (a poltica) coincidia com oconhecimento supremo do Bem e das idias e, portanto, da filosofia, na qual se fundamentaa poltica platnica. De fato, a poltica verdadeira deve ter em vista o cuidado da alma

    (verdadeiro homem).O fim ltimo para a poltica se exprime pelo fato de que a justa medida que comada asaes do poltico, ainda so uma utopia, pois no se reflete em nosso dias uma forma retade se conduzir e administrar bem a cidade. O conceito de cidado to pouco tem a mesmaimportncia que possua na pols Grega, entendemos contudo que esta uma questo quedeve ser melhor estudada, a fim de que se tenha normas claras de conduta para averdadeira arte, que a poltica.Mesmo que Plato tenha considerado a sua cidade como uma utopia, devemos ao mesmonos orientar por seu pensamento a fim de teremos noes claras de que o fim ultimo dapoltica e a realizao dos cidado na plis e esta somente ser realizada caso os cidadostenham conscincia da sua importncia no desenrolar das decises que a sua cidade (plis)dever tomar, ou seja este a forma de pensamento que nos convida para a ao sobre odireito de ser cidado.BIBLIOGRAFIAABBAGNANO, Nicola. Histria da Filosofia, vol.I. Lisboa: Editorial Presena, 1969.CHTELET, Franois. Histria da Filosofia. Idias, Doutrinas; A Filosofia Pag. 1 ed.Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.HIRSCHBERGER, Johannes. Histria da Filosofia na Antigidade. 2 ed. So Paulo:Herder, 1965.JAEGER, Werner. Paidia, a formao do homem grego. 3 ed. So Paulo: Martins Fontes,1994.

    PLATO. O Poltico. So Paulo: Abril Cultural, 1973._______. Repblica. 2 ed. So Paulo: Difel, 1973.REALE, Giovanni. Histria da Filosofia Antiga, vol. II. So Paulo: Loyola, 1994.______________. Para uma nova interpretao de Plato. So Paulo: Loyola, 1997.

    [1] Cf. Werner JAEGER. Paidia, p. 592-619.[2] Idem.[3] PLATO. Fdon, 77c.[4] PLATO.Repblica, 510b.

    [5] PLATO.Repblica, Livro VII.[6] PLATO. Teeteto ou Da Cincia, 153d.

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    [7] PLATO. Sofista, 247d.[8] PLATO.Repblica, 514a1 - 517a8.[9] Cf. Filebo, 28c-29b.[10] Henrique Claudio de LIMA VAZ. Antroplogia Filosfica I, p. 37.

    [11] Henrique Claudio de LIMA VAZ. Antroplogia Filosfica I, p. 37.[12] PLATO. Fedro. 245 c-246.[13] PLATO.Repblica, 436a - 441c.[14]Giovanni REALE.Histria da Filosofia Antiga, vol.II, p.189[15]Giovanni REALE.Histria da Filosofia Antiga, p. 236.[16]Giovanni REALE.Histria da Filosofia Antiga, p.237.[17] PLATO. Poltico, (302 e 303-b).[18]PLATO.Repblica. (VII, 537 a.).[19]Werner JAEGER. Paidia, passim.[20]PLATO.A Repblica. (IV, 441 d-442 d.).[21]

    Idem. (VI, 462 a-e).[22]Werner JAEGER. Paidia, p.621.[23]PLATO. Repblica. (VI, 473 c-d.).[24]PLATO.Repblica.(VI, 499 b-d.).[25]Idem. (VI, 499 b-d.).

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    A Poltica de Aristteles

    Enquanto seu mestre Plato inclinou-se preferencialmente por fazer desenhos deconstrues sociais imaginrias, utpicas, por projees sobre qual o melhor futuro da

    humanidade, Aristteles, seu discpulo mais famoso, procurou tratar das coisas reais, dossistema polticos existentes na sua poca. Atentou por classific-los, definindo suascaractersticas mais proeminentes, separando-os em puros ou pervertidos. Desta forma,enquanto Plato inspirou revolucionrios e doutrinrios da sociedade perfeita, Aristtelesfoi o mentor dos grandes juristas e dos pensadores polticos mais inclinados cincia e aorealismo.

    Aristteles chegou a Atenas com 18 anos para estudar na Academia platnica. Era naturalda pequena cidade de Estagira, no norte da Grcia, onde nasceu em 384 a.C., filho de ummdico da corte macednica. Mais tarde, o rei Felipe II, provavelmente por indicao doseu doutor, solicitou-lhe que assumisse a funo de preceptor do jovem prncipe, o seu

    filho Alexandre. Aquele que se tornaria o conquistador do Imprio persa e um dos maioresgenerais da histria. Regressando a Atenas, aps ter cumprido a tarefa, decepcionou-se porPlato, seu mentor intelectual, no t-lo indicado como seu sucessor na Academia. Emvista disso, resolveu fundar uma escola anexa ao templo de Apolo Liceo, conhecida comoescola peripattica ou Liceo. Com a repentina morte de Alexandre o Grande nas terras doOriente em 323 a.C., Aristteles viu-se ameaado por uma agitao antimacednica, vistoque os atenienses o tinham no s como um estrangeiro, um meteco, mas tambm comoum provvel agente dos interesses do conquistador. Ameaado, o filsofo refugiou-se emClcis, evitando, como ele disse, que Atenas atentasse novamente contra a filosofia, talcomo ocorrera antes dele com Anaxgoras, com Digoras e Protgoras, e tambm comScrates. L, no exlio, ele faleceu em 322 a.C., com pouco mais de sessenta anos.

    A poltica

    Crebro prodigioso e de saber enciclopdico, Aristteles comps dois grandes trabalhossobre a cincia poltica: "Poltica" (Politia) que provavelmente eram lies dadas no Liceoe registradas por seus alunos, e a "Constituio de Atenas", obra que s se tornou maisconhecida, ainda que em fragmentos, no final do sculo XIX, mais precisamente em 1880-1, quando foi encontrada no Egito; registra as vrias formas e alteraes constitucionaisque ela passou por obra dos seus grandes legisladores, tais como Drcon, Slon, Pisstrato,Clstenes e Pricles e que tambm pode ser lida como uma histria poltica da cidade.

    A estrutura da obra

    A "Poltica" (Politia) divide-se em oito livros, que tratam: da composio da cidade, daescravido, da famlia, das riquezas, bem como de uma crtica s teorias de Plato. Analisatambm as constituies de outras cidades, num notvel exerccio comparativo,descrevendo-lhes os regimes polticos. Aristteles, por sua vez, no foge da tentao detambm idealizar qual o modo de vida mais desejvel para as cidades e os indivduos, masdedica a isso bem menos tempo do que seu mestre. Finaliza a obra com os objetivos daeducao e a importncia das matrias a serem ensinadas.

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    A poltica como cincia

    Aristteles utiliza-se do termo poltica para um assunto nico: a cincia da felicidadehumana. A felicidade consistiria numa certa maneira de viver, no meio que circunda ohomem, nos costumes e nas instituies adotadas pela comunidade qual pertence. Oobjetivo da poltica , primeiro, descobrir a maneira de viver que leva felicidade humana,isto , sua situao material, e, depois, a forma de governo e as instituies sociais capazesde a assegurarem. As relaes sociais e seus preceitos so tratados pela tica, enquanto quea forma de governo se obtm pelo estudo das constituies das cidades-estados, matriapertinente poltica.

    "Em todas as artes e cincias", disse ele, "o fim um bem, e o maior dos bens e bem emmais alto grau se acha principalmente na cincia todo-poderosa; esta cincia a poltica,

    e o bem em poltica a justia, ou seja, o interesse comum; todos os homens pensam, porisso, que a justia uma espcie de igualdade, e at certo ponto eles concordam de um

    modo geral com as distines de ordem filosfica estabelecidas por ns a propsito dos

    princpios ticos."

    Constituio e governo

    Segundo o estagirita, governo e constituio significam a mesma coisa, sendo que ogoverno pode ser exercido de trs maneiras diferentes; por um s, por poucos ou pormuitos. Se tais governos tm como objetivo o bem comum, podemos dizer que soconstituies retas, ou puras. Por outro lado, se os poderes forem exercidos para satisfazero interesse privado de um s, de um grupo ou de apenas uma classe social, essaconstituio est desvirtuada, depravou-se. Nota-se aqui o claro confronto ressaltado porele entre a busca do bem comum e o interesse privado ou de classe. Quando um regime seinclina para o ltimo, para algum tipo de exclusivismo, voltando as costas ao coletivo, porque perverteu-se.

    As formas de governo

    O exame do comportamento poltico dos homens, no importando a latitude, mostra queeles sempre se organizaram em trs formas de governo: a monrquica (governo de um s),

    a aristocrtica (governo dos melhores) e, finalmente, a democrtica (o governo da maioriaou do povo). Essas formas, no entanto, esto sujeitas, como vimos, a serem degradadaspelos interesses privados e pessoais dos homens, sofrendo alteraes na sua essncia. Atirania e a oligarquia, por exemplo, so deformaes da monarquia e da aristocracia queterminam por beneficiar interesses particulares, o do tirano e o do grupo que detm opoder, marginalizando o bem pblico. Quanto democracia, Aristteles lhe manifestamaior simpatia do que Plato, mas indica que ela est sujeita influncia dos demagogos,que constantemente incitam o povo contra os possuidores de bens, causando tentativasrevolucionrias. Essas so esmagadas por golpes dados em nome da ordem. A polarizaodas foras na vida da cidade estabelecida pelo conflito de interesses contrrios: o dospobres (pr-democrticos) e o dos ricos (a favor da oligarquia).

    O regime ideal

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    Para obter uma sociedade estvel, ele considera que o regime mais adequado o misto, queequilibre a fora dos ricos com o nmero dos pobres. Para ele a sociedade ideal seriaaquela baseada na mediania, que, ao mesmo tempo em que, graas presena de umapoderosa classe mdia, atenua os conflitos entre ricos e pobres, dando estabilidade

    organizao social. Esse governo, ele definia como timocracia (tim = honra), onde opoder poltico seria exercido pelos cidados proprietrios de algum patrimnio e quegovernariam para o bem comum. Em outros momentos este regime ideal chamado depolitia (governo da maioria, mas regido por homens selecionados segundo a sua renda),que ele classifica entre as constituies retas.

    Projeo e crticaA preocupao de Aristteles caracterizou-se por enfatizar os regimespolticos que existiam, que eram concretos, elaborando uma precisaclassificao deles, enquanto que Plato reservava seu interesse maior peloidealizado. O mtodo aristotlico, emprico e detalhista, influenciar a

    maioria dos grandes tericos da cincia poltica, como N. Maquiavel no OPrncipe, 1532; T. Hobbes no Leviat, 1651; e Montesquieu em O Espritodas Leis, 1748. Critica-se Aristteles por ele no ter vislumbrado osurgimento, em sua prpria poca, de uma forma poltica superior daplis, a emergncia de um estado-imperial, supranacional e multicultural,cujas sementes foram deixadas pelo seu discpulo, Alexandre o Grande.Sabe-se, inclusive, que ele se manifestou em carta ao conquistadornegando-lhe apoio a qualquer integrao maior com os asiticos,levantando contra eles argumentos preconceituosos e at racistas. Por maispoderoso que fosse o seu intelecto, ele continuo um homem limitado pelosmuros da cidade-estado.

    Formas de governo

    Formas puras Formas pervertidas

    Monarquia: governo de um shomem, de carter hereditrio ouperptuo, que visa o bem comum,como a obedincia as leis e stradies

    Tirania: governo de um s homem queascende ao poder por meios ilegais, violentose ilegtimos e que governa pela intimidao,manipulao ou pela aberta represso,infringindo constantemente as leis e a tradio

    Aristocracia: governo dos melhorhomens da repblica, selecionadospelo consenso dos seus cidados e quegoverna a cidade procurando obeneficio de toda a coletividade

    Oligarquia: governo de um grupoeconomicamente poderoso que rege osdestinos da cidade, procurando favorecer afaco que se encontra no poder emdetrimento dos demais

    Politia: governo do povo, da maioria,que exerce o respeito s leis e quebeneficia todos os cidadosindistintamente, sem fazer nenhumtipo de discriminao.

    Democracia: governo do povo, da maioria,que exerce o poder favorecendopreferencialmente os pobres, causandosistemtico constrangimento aos ricos.

    Bibliografia

    Aristtelesno apoiou apoltica deAlexandre de

    integraocom osasiticos

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    ARISTTELES. Obras. Madeira: 2. Ed. Aguilar, 1973.BARKER, Ernest. Teoria poltica grega, Braslia: UnB, 1978.FILLEUL, M.E. Histoire du siecle de Pricles. Paris. Didot Frres, 1873.FINLEY, M. I. A poltica do mundo antigo, Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1985.

    FINLEY, M.I. Democracia antiga e moderna, Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1988.GLOTZ, Gustave. La cit grecque, Paris: Albin Michel, 1968.GRUBE, G.M.A. El pensamiento de Platn, Madri: Gredos, 1987.HELLER, Agnes. Aristoteles y el mundo antiguo, Barcelona: Ed. Pennsula, 1983.JAEGER, Werner. Aristteles, Mxico: F.C.E., 1984.KITTO, H.D.F. Os gregos, Coimbra: Armenio Amado, 1970.LVY, E. La Grce au V siecle, Paris, ditions du Seuil, 1987.MAISCH, R. PHOLAMMER, F. Instituciones griegas, Barcelona: Labor, 1931.MANGAS, Jlio - Textos para la historia antigua de Grecia, Madri: Ctedra, 1978.MOSS, Claude. As instituies gregas, Lisboa: Edies 70, 1985.MOSS, Claude. Atenas: histria de uma democracia, Braslia: UnB, 1979.

    MORRALL, John B. Aristteles, 2 ed. Braslia, UnB, 1985.PLATO. Obras completas, Madri: Aguilar, 1974.STONE, I.F. O julgamento de Scrates, So Paulo: Cia. das Letras, 1988.

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    Sila, o patriarca dos ditadores

    Mrio e Sila

    "...faltava muito pouco para a cidade inteira arder quando ento a guerra social, h muitotempo anunciada, veio a levantar a chama que continha a sedio" - Plutarco - Sila (inVidas Paralelas, Livro III, VI)

    Uma das mais graves crises poltica e social que vitimou a Repblica Romana foi achamada Guerra Social travada por quase dez anos entre dois caudilhos militares, Mario eSila, nos comeos do sculo I a.C. . Caio Mrio era uma exceo no seu meio, era umsoldado-campons que atingira, por mrito guerreiro, o alto comando das legies romanas.Ele tornara-se clebre e chefe afamado quando da derrota que imps ao Rei Jugurta daNumdia, na frica, em 112-106 a.C. e depois detendo a invaso das duas tribos germanas,a dos teutnicos e a dos cmbrios, em 102-101 a.C. Essas faanhas militares, obtidas nos

    extremos do imprio, uma ao Sul outra ao Norte, tornaram o nome de Mrio irresistvelpara assumir o consulado da Repblica. Rompendo ento com a tradio da magistraturanua, Mario elegeu-se por seis vezes seguida como cnsul, de 107 a 100 a.C. Elerepresentava a ascenso do homo novus, do plebeu que comeava a galgar os postosmaiores e mais importantes numa Repblica eminentemente oligrquica.

    Lcio Cornlio Sila era de outra estirpe. Era de famlia patrcia empobrecida, masextremamente convicto da superioridade da sua casta (ele pertencia a Gens Cornelia, umadas mais ilustres de Roma) e que sempre sentiu-se um corpo estranho em meio ao estado-maior de Mrio, na frica do Norte, para onde o enviaram como questor na poca daGuerra contra Jugurta. Para piorar a sua relao com Mrio, alm de virem de berosopostos, coube a Sila, "um inacreditvel dissimulador, prdigo em todas as coisas",conseguir, pela astcia e a seduo de um colaboracionista, a priso do rei Jugurta (inGuerra de Jugurta de Sallustius, captulos XCV - CXIV). Mrio, apesar de ter capitalizadoa vitria, nunca aceitou bem que a guerra africana tenha se encerrado por causa dos ardisde Sila. E foi exatamente isso que fez com que a relao dos dois homens fortes darepblica degenerasse numa guerra social, numa guerra de classes, das piores que coubeRoma assistir em seus ento seis sculos e meio de histria.

    A tenso social e poltica

    Os confrontos entre patrcios - a velha nobreza romana que se considerava descendente dostroianos ou dos albanos, os antigos habitantes do Lcio -, e os plebeus, as classes ecamadas sociais no-nobres de Roma, arrastavam-se por sculos. Pode-se dizer que oponto de partida dessas lutas foi o clebre episdio da bem sucedida Greve do MonteSagrado, ocorrida em tempos muito remotos, ainda nos comeos da Repblica, supe-seque em 495 a.C., pela qual os plebeus conseguiram ter o direito a eleger um tribuno, comdireito ao veto, que lhes representasse os interesses junto ao Senado (Plutarco "CaioMrcio Coriolano",VI). Mais tarde, em 366 a.C. os plebeus puderam at eleger um cnsulda sua prpria classe. Mas as lutas por espao poltico nunca terminam. Intensas esangrentas foram tambm as reformas implantadas pelos irmos Gracco, Caio e Tlio,

    cnsules entre 123-121 a.C., que deram a vida para minorar os rigores em que estavamsubmetidos os plebeus e os mais pobres em geral. Nada porm at ento igualou-se ao

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    estrondoso choque que estendeu-se por dez anos (de 88 a 78 a.C.) entre os radicaispopulistas de Mrio e os ultraconservadores de Sila.

    Segundo alguns historiadores, a tenso criada pela luta social, derivava, no plano

    constitucional, de um problema no solucionado entre as reformas democrticas dosGraccos e o ncleo duro e inamovvel formado pelos privilgios das antigas castasgovernantes, dos Tcios, dos Pomplios, dos Hostlios, dos Mrcios, dos Curicios, dosEmilios, dos Cludios, e outros, num total de umas 200 famlias que formavam o Centumpatriae, e que geralmente controlavam as propriedades, as legies e as magistraturasmaiores. Os plebeus acreditavam que os avanos obtidos (tribunato da plebe com poder deveto, a eleio consular) eram conquistas muito modestas para a enorme contribuio queeles davam ao servir nas legies (a reforma militar de Mrio abriu as fileiras aos proletarii)e trabalhar nas atividades produtivas. Os oligarcas, por sua vez, do alto da sua soberba,consideravam-se destratados e ofendidos ao ter que fazer mais e mais concesses a quemeles consideravam cidados de segunda categoria. Foi em meio a isso que os dois tits da

    repblica, Mrio e Sila, declaram uma guerra de vida e morte.

    A caminho da ditadura

    O desacerto final entre os dois generais deu-se quando Mrio ficou sabendo que numafestividade, foram distribudas esttuas da vitria em que uma delas representava o reiJugurta sendo levado em cativeiro presena de Sila. Os partidrios de Mrio, acusando osadversrios de tentar "roubar a vitria" do seu chefe, impugnaram a comandncia militarque Sila exercia sobre as legies da sia. Por meio de um plebiscito (alis,inconstitucional) fizeram com que lhe retirassem o generalato e o entregassem a Mrio.Sila inconformado marchou para Roma em 88 a.C. e, depois de pr em fuga Mrio,recomps sua autoridade. Em seguida, entretanto, ao voltar para reiniciar a luta contra o reiMitrades, do Ponto, na sia Menor, o cnsul Cornlio Cina, um seguidor de Mrio,proclamou-o fora da lei, depois de ter feito um severo e sangrento expurgo no meiosenatorial e entre os partidrios dos optimates (os defensores da oligarquia). Sila enquantoisso decide-se ficar na sia at que Mitrades seja vencido.

    Alcanada a pacificao do Ponto, Sila volta para Roma com seus legionrios. Depois deleter desembarcado em Brundisium em 83 a.C., os partidrios dos populistas so vencidos.

    C. Cina, o desafeto de Sila, assassinado num motim por seus prprios soldados, enquantoque o filho de Mrio morto na refrega (Mrio, o pai, j havia falecido no ano de 86 a.C.).Um combate terrvel entre os soldados de Sila e os partidrios dos populistas ainda ocorrena Porta Collina, uma das entradas de Roma. Vencida esta batalha, Sila adentra na cidadecomo vencedor. Nenhuma outra fora poltica organizada existia entre ele e seu desejo deconcentrar o poder absoluto, ditatorial.

    Os poderes de Sila

    Atravs da Lex Valeria (Lei Valria), apresentada aos Comcios pelo prncipe senatorialLcio Valrio Flacco, em 82 a.C., Sila acumulou um poder indito at ento na histria

    poltica de Roma. Teria direito de dispor a sua vontade da vida e dos bens dos cidados,bem como ter um domnio pblico total, extensivo s fronteiras da Itlia e do Estado

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    Romano (abarcando o imprio inteiro). Poderia fundar ou destruir cidades (coisa que fez,ordenando o extermnio dos etruscos, samnitas e oscos, e de outros povos itlicos), deindicar comissrios com poder de imperium, de nomear cnsules e procnsules(governadores das provncias), de decretar novas leis e, inclusive, de fixar o prazo de

    durao dos seus poderes extraordinrios (a constituio determinava que a ditadura spodia durar 6 meses), e de prover ao seu gosto as demais vagas das magistraturas. Elemesmo fez questo de chamar-se de Dictator, expresso que cara em desuso havia mais deum sculo. Realizado o formalismo jurdico que dotou-o de plenos poderes, Sila deu incioao massacre sistemtico dos partidrios dos populistas e dos seguidores de Mrio.As Proscries

    Roma horrorizou-se com o desencadear do Terror Oligrquico. A listas dos procuradospela ditadura - as chamadas Proscries, as "tbuas de sangue" - foram afixadas nos murosda cidades. Os inimigos do regime discricionrio poderiam ser mortos por qualquer um,sendo que os assassinos ainda seriam financeiramente compensados se provassem as

    mortes feitas. s hordas de gauleses a servio do ditador, juntaram-se os cornelianos, dezmil ex-escravos dos seguidores de Mrio, que Sila resolvera emancipar para formar uma"base popular" que apoiasse os oligarcas. A funo deles seria afastar os seguidores de Silae os ricos em geral de possveis represlias desencadeadas pelos plebeus. Os cornelianos(assim chamados por terem a alforria garantida por um membro da Gens Cornelia, o nomematerno de Sila), foram uma antecipao histrica do papel que os lumpens vorepresentar, sculos depois, como tropa auxiliar da burguesia no combate corpo a corpotravado com sindicalistas, grevistas e revolucionrios nos sculos 19 e 20.

    Os adversrios de Sila eram mortos nas ruas mesmo. Os mtodos eram primitivos,brbaros. Matavam-nos pedradas e pauladas. Os corpos eram deixados estirados nassarjetas ou ento eram lanados nas guas do Rio Tibre. Aos senadores conscritos (que noeram de linhagem nobilirquica), reservaram uma especial hediondice, suas cabeasdecepadas foram publicamente expostas. At criminosos comuns foram estimulados aparticipar da caada. Roma, de fato, nunca vira nada igual. O dio de casta, acumulado poranos, explodiu numa orgia de sangue.

    Uma oligarquia minoritria, em franca decadncia, apoiada por um ditador, se socorria daescria social, de sicrios e de bandidos, para executar a grande vingana. Estima-se que osproscritos mortos chegassem a 4.700 (entre eles 40 senadores, 1.600 equites e uns 15 ex-cnsules). Dos partidrios de Mrio que escaparam da matanas safou-se o jovem JlioCsar, ento com vinte anos, graas a sua insignificncia poltica e a vida dissoluta quelevava. Ningum lhe deu importncia!A vingana de Sila

    O prprio ditador estabeleceu a sua cota. Sila ordenou que o tmulo de Mrio fosseprofanado e suas cinzas jogadas num riacho. Por no ter em que mais exercer a sua fria,ordenou que matassem, com torturas atrozes, um neto adotivo de Mrio, o jovem MarcoMrio Gratidiano, supliciado em frente a sepultura de Latitius Catulo (que fora levado aosuicdio pelos seguidores de Mrio). Mas Sila foi alm. Ao determinar o confisco dos bensdos perseguidos, ele mesmo, junto com sua esposa Metela, encarregou-se de arrebanhar

    boa parte do patrimnio posto em hasta pblica. Enriqueceu-se, adonando-se de milharesde sestrcios, s custas do esplio dos vencidos. Se o prprio ditador agiu deste modo,

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    imagina-se os que o seguiam. Os mais chegados abocanharam terras e outros bens a preosaviltadssimos. Calculou-se que o total da transferncia de dinheiros das vtimas para osopressores foi de 350 milhes de sestrcios. At capitalistas (em geral os que emprestavamdinheiro a juro), por terem ousado denunciar, em outros tempos, alguns senadores

    oligarcas aos tribunais por maus pagadores, foram executados por Sila. Todos osfuncionrios civis ou militares, bem como os demais partidrios de Mrio, alm doconfisco, foram impedidos de receberem qualquer tipo de auxilio. Ai de quem ousasse darabrigo a algum deles. Eles, seus filhos e at seus netos, foram excludos ou proibidos depertencerem ao Cursus Honorem (ao servio pblico).

    As ditaduras constitucional e soberana

    Sila desejava restaurar os antigos valoresde honra dos patrcios ("O juramento dos

    Horcios" de Louis David)A ditadura constitucional

    "Dictator est qui dictat"

    A constituio dos romanos era tida como sbia pela maioria dos humanistas devido aofato de, entre outras coisas, tornar uma ditadura algo legal, aceito constitucionalmente. Asua instituio nasceu logo aps a queda da Monarquia (provavelmente ocorrida em 510a.C.,) da necessidade de entregar o poder, ainda que s por seis meses, a um homem deconfiana do Senado e da sociedade em geral, para que, dotado de imperium, debelasse operigo, externo ou interno, que estivesse ameaando a segurana ou mesmo a

    sobrevivncia da sociedade num determinado momento. Nem a existncia dos cnsules(magistrados superiores), nem um colegiado, nem os vetos dos tribunos da plebe, poderiaoferecer obstculos a autoridade dele. Celebrado ditador foi Lcio Quinto Cincinato, umcidado comum, um rude fazendeiro respeitado por todos por sua integridade pessoal. Noano de 458 a.C., apesar do povo e das autoridades terem apelado para que ele continuasseno exerccio da excepcionalidade, bem antes de vencer o prazo constitucional, corridosapenas 16 dias, Cincinato renunciou ao cargo e as pompas do poder e voltou a arar suasterras. Essa ditadura com prazo era chamada de ditadura comissarial, para distinguir daoutra, implantada por Sila e tambm adotada por Csar.

    Em s