apostila de história do brasil

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2013 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor. Tropa de Elite - Polícia Militar de São Paulo História do Brasil Apostila Adeíldo Oliveira

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Page 1: Apostila de História Do Brasil

2013 Copyright. Curso Agora eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

Tropa de Elite - Polícia Militar de São Paulo História do Brasil

Apostila Adeíldo Oliveira

Page 2: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 2

Prof. Adeildo Oliveira

E-mail: [email protected]

Historiador licenciado pleno e bacharelando pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Bacharelando em Direito pelo Centro Universitário Christus (UniChristus). Professor de vários cursos preparatórios para concursos em Fortaleza. Monitor da disciplina de Ciência Política e Teoria do Estado no Centro Universitário Christus, além de autor de vários artigos científicos e de opinião.

PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)

A proclamação da República foi, em

grande parte, um projeto político

resultado da aliança dos cafeicultores

paulistas com o exército, visando

vencer o inimigo comum – o Império –

embora as duas forças fossem

portadoras de projetos políticos

republicanos distintos. Nos primeiros

dias após a instauração do novo regime

político, houve consenso de que os

militares deveriam exercer o poder

político durante o delicado período de

gestação e instalação das instituições

republicanas.

Esse primeiro período da história

republicana do Brasil – 1889-1894 –

ficou conhecido como República da

Espada, por ser marcado pelos

governos militares dos marechais

Deodoro da Fonseca (1889-91) e

Floriano Peixoto (1891-94). O grande

destaque deste primeiro período é a

redação de nossa primeira carta magna

(constituição) republicana em 1891.

Após os conturbados governos

militares do inicio de nossa republica,

temos a consolidação das oligarquias

paulistas e mineiras no poder, é o que

chamamos de política do café-com-

leite, dentro da chamada República

Velha, o primeiro presidente deste

período é o paulista Prudente de

Morais (1894-98), depois temos

Campos Sales (1898-1902), Rodrigues

Alves (1902-06), Afonso Pena (1906-

09), Nilo Peçanha (1909-10) e Hermes

da Fonseca (1910-14), Venceslau Brás

(1914-18), Delfim Moreira (1918-19),

Epitácio Pessoa (1919-22), Artur

Bernardes (1922-26) e Washington Luis

(1926-30).

As três primeiras décadas do século XX

no Brasil, marcam a força política do

coronelismo e do latifúndio, estruturas

herdadas do império e perpetuadas no

novo regime político. Vejamos agora

algumas das principais marcas ou

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 3

destaques do processo histórico da

república velha.

A REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894)

01. Deodoro da Fonseca (1899-1891)

É de suma importância termos em

mente que o governo de Deodoro da

Fonseca possui dois períodos: Governo

Provisório(1889-1891) e Governo

Constitucional (1891).

Com o advento da república, os

militares criaram um “novo” calendário

nacional, excluindo as datas religiosas,

a exceção do dia de finados, e incluindo

datas comemorativas republicanas,

assim buscando a “formação das

almas”, ou seja, a criação de um

espírito republicano, além, é claro, de

tentar construir uma identificação do

novo regime com a História do Brasil,

para isso alavancaram a figura de

Tiradentes, que passou a ser visto como

herói nacional, inclusive sendo pintado

o mais parecido possível com a imagem

que a maior parte da população possui

de Jesus.

Essa propaganda visava aproximar o

máximo possível a população desse

novo regime, sendo Tiradentes uma

espécie de “garoto propaganda”, pois

se ele morreu pela República é porque

ela supostamente seria mais justa.

Um dos elementos que muito

contribuiu pra a adesão de muitas

oligarquias estaduais ao sistema

republicano foi justamente a

possibilidade que esse dava ao

estabelecimento de uma federalização,

ou seja, os estados passariam a possuir

uma maior autonomia, o que muito

agradava aos grupos políticos

estaduais.

De grande significação para o novo

governo foi a criação da Constituição

de 1891, que possuía os seguintes

pontos:

•A forma de governo republicana

federalista e presidencialista (modelo

inspirado na constituição norte-

americana);

•A divisão dos três poderes instituídos

(legislativo, executivo e judiciário);

•Estabeleceu que o Brasil seria um

Estado laico (separação entre Igreja e

Estado);

•No artigo 3º foi estabelecido que a

União iria demarcar uma área no

Planalto Central no intuito de construir

uma nova Capital Federal;

•Foi implementado o instituo do

Habeas Corpus (Vale lembrar que ele

não estava presente na Constituição de

1824, mas sim no Código de Processo

Criminal de 1832);

• O voto era aberto, para homens

maiores de 21 anos e alfabetizados.

Estavam excluídos do voto as mulheres,

é claro, os praças de pré e os religiosos;

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 4

•Eleição Direta, entretanto a escolha

do primeiro presidente da República

seria efetivada pelo parlamento;

• Mandato do presidente de 4 anos;

•Transformação das províncias em

estados;

•A facilidade de naturalização aos

estrangeiros;

•O casamento civil.

Segundo o historiador Marco Antônio

Villa: “Na primeira eleição presidencial

direta, em 1894, sem a participação do

eleitorado do Rio Grande do Sul, de

Santa Catarina e do Paraná, por causa

dos combates da Revolução

Federalista, Prudente de Morais,

candidato único, recebeu apenas 290

mil votos, isso quando a população

brasileira alcançava 15 milhões de

habitantes.”

1.1. Economia

É bem claro que o sistema econômico

deixado pelo Império era bastante

caótico, na medida que possuíamos

uma divida interna e externa bastante

alta. O Brasil não possuía um sistema

industrial de significação, sendo a base

da economia o setor agrário, com

destaque para o café.

O presidente nomeou Rui Barbosa para

o cargo de ministro da Fazenda, tendo

como objetivo que esse intelectual

criasse um conjunto de medidas que

revertessem a situação precária de

nossa economia.

O novo ministro estabeleceu a elevação

das tarifas alfandegárias, pois assim os

produtos importados entrariam no

Brasil com preços mais elevados, o que

contribuiria para que a população

brasileira pudesse comprar mais os

produtos nacionais. Também foi feita

uma reforma bancária, sendo criados

vários bancos que passaram a possuir

autonomia para a emissão de papel-

moeda. Entretanto, o grande problema

é que essas emissões não possuíam

lastro em ouro, mas sim em títulos da

dívida pública. Mas o porquê dessa

política? É que o governo objetivava

incentivar a expansão do crédito, o que

muito contribuiria para o estimulo ao

processo de industrialização nacional.

Entretanto, para a infelicidade

brasileira tal projeto não deu certo,

pois a política de emissão desembocou

numa grave crise chamada de

encilhamento. Podemos apontar duas

razões para essa conjuntura, a imensa

quantidade de papel-moeda, não

ocorrendo um crescimento industrial

proporcional, o que gerou uma grande

inflação, e as imensas facilidades para

se adquirir crédito, o que muito

contribuiu para o surgimento de

empresas fantasmas, que contrariam

empréstimos do governo, mas não

produziam e ainda decretavam

falência, e assim, não pagavam o que

deviam ao governo.

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 5

O Final do governo de Deodoro foi

marcado negativamente, sendo crítica

a situação financeira, o que fez que o

Congresso fizessem várias críticas ao

presidente, que não as aceitou e,

inclusive, tentou fechar essa instituição,

o que não foi aceito pelo seu vice-

presidente (Floriano), muito menos

pelos cafeicultores. Dessa forma,

restou ao marechal a renuncia.

02. Floriano Peixoto (1891-1894)

2.1 A Subida ao Poder

Floriano Peixoto demonstrou ser bem

mais hábil do que o seu antecessor,

tomando decisões de cunho popular,

mas também, quando necessário,

agindo com firmeza. Vale lembrar que a

subida de Floriano Peixoto ao poder

deve ser creditada, também, ao apoio

que ele conseguiu dos cafeicultores,

pois constitucionalmente, o vice-

presidente só poderia assumir o cargo

se o presidente já tivesse governado

por dois anos, sendo que Deodoro só

tinha cumprido nove meses do seu

mandato.

Mas quais eram as razões para que os

cafeicultores, mesmo desrespeitando a

Constituição, apoiassem Floriano

Peixoto? Primeiro, os cafeicultores

tinham ficado assustados com as

medidas autoritárias de Deodoro, pois

achavam que elas prejudicavam o

Republicanismo federalista que tanto

eles almejavam. Segundo, mesmo

Floriano utilizando algumas vezes de

medidas autoritárias, estas eram feitas

dentro dos limites tolerados pelos

cafeicultores (pelo menos

inicialmente).

Logo após a subida de Floriano ao

poder, o Congresso foi restabelecido e

o estado de sítio foi retirado, tivemos a

volta da “normalidade”. Uma das

medidas iniciais – e autoritária – foi

justamente a retirada dos

Governadores que apoiaram Deodoro.

Outra ação do presidente, só que essa

de cunho popular e restrita ao Rio de

Janeiro, foi um decreto que estabelecia

a redução dos aluguéis de casas

populares e da suspensão da cobrança

do imposto sobre a carne, objetivando

com isso além de melhorar as

condições de vida da população mais

carente, também ganhar popularidade.

Destaque para o estímulo a indústria,

sendo autorizado ao Banco do Brasil a

abertura, em 1892, de uma linha de

crédito de 100 mil contos de réis, e

agregada à essa medida se pensava

numa política protecionista, ou seja, de

que forma se poderia criar taxas sobre

os produtos importados a fim de

ampliarem os seus preços. Entretanto,

o Brasil possuía muitas limitações, das

quais destaque para a necessidade de

combater a inflação, os limitados

recursos que possuíamos e o

descontrole financeiro do início da

República.

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História do Brasil

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2.2 Formação da Oposição

Um dos primeiros movimentos de

oposição à Floriano se deu no interior

do exército, quando treze generais

assinaram um manifesto que

contestava a legitimidade do governo e

exigiam o respeito a Constituição, ou

seja, queriam novas eleições. A ação do

presidente foi enérgica, mas dentro dos

limites da legalidade, pois utilizou o

Código Militar, que enquadrava a ação

dos generais como ato de

insubordinação, e assim, a penalidade

poderia ser a de afastamento e até

mesmo a prisão. Por essa ação Floriano

Peixoto passou a ser chamado de

Marechal de Ferro.

2.2.1 A Revolta Federalista

Uma explicação por demais valiosa é a

distinção entre Revolta e Revolução.

Perceba que constantemente na

História do Brasil é utilizado o termo

Revolução, mas deveria ser utilizado o

termo Revolta.

Basicamente falando, revolta é um

manifestado de descontentamento da

população em relação à alguma medida

tomada pelo governo, um imposto,

uma lei, etc. Nesse ato não há uma

contestação do sistema vigente, mas

sim a busca pela mudança de uma

parte dele. Já a Revolução é uma busca

por transformações mais drásticas

numa sociedade.

De grande dificuldade para o governo

foi contornar os problemas no Rio

Grande do Sul, a chamada “Revolução”

Federalista. Entre os fatores que

ocasionaram esse movimento,

podemos destacar o conflito entre o

PRR (Partido Republicano

Riograndense), liderado por Júlio de

Castilhos e do outro lado o PF (Partido

Federalista) que era liderado por

Silveira Martins.

Entre os fatores da discórdia estava

justamente a briga pelo poder no Rio

Grande do Sul, além do interesse dos

federalista em diminuírem o excessivo

centralismo.

Floriano Peixoto entrou na guerra ao

lado do governo de Júlio de Castilhos –

também chamados de “pica-paus”.

Uma nova conjuntura se formou

quando na Marinha brasileira eclodiu a

Revolta da Armada (1893), que se

expandiu para o Sul do Brasil, aliando-

se ao PF, mais conhecidos como

“maragatos”.

Quais as motivações para a Marinha se

rebelar contra o presidente, além de

participar da “Revolução” Federalista?

Primeiro, destaque para uma forte ala

da marinha que possuía tendências

monarquistas, tendo à frente o

almirante Custódio de Melo. Segundo,

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História do Brasil

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havia uma ala da marinha que era

republicana que apoiava os interesses

do Almirante Custódio de Melo, que

pretendia chegar à presidência.

Lembre-se que com a saída de

Deodoro, deveria ter ocorrido novas

eleições, mas de forma inconstitucional

Floriano subiu ao poder, o que frustrou

as pretensões de Custódio de Melo.

As batalhas não ficaram circunscritas ao

Rio Grande do Sul, ocorrendo combates

em terras catarinenses, destaque para

a vitória dos florianistas na famosa

Batalha de Desterro – que mudou de

nome para Florianópolis. Cada vez mais

os rebeldes iam perdendo terreno,

ficavam mais enfraquecidos, e

fragilizados só restavam a negociação,

que foi estabelecida no início do

próximo governo, com Prudente de

Morais.

2.3 Política Externa: O Rompimento

com Portugal

O estremecimento das relações

diplomáticos entre Brasil e Portugal

ocorreu devido à ação de duas corvetas

portuguesas que no ano de 1894

intervieram nas questões políticas

internas brasileiras, mais precisamente

nos assuntos relacionados a Revolta da

Armada. Navios de guerra portugueses

aceitaram transportar em segurança

para a Argentina cerca de 500

marinheiros brasileiros que tinham se

revelado contra o governo de Floriano,

o que gerou uma questão diplomático

muito séria, tendo como ápice o

rompimento diplomático.

03. Prudente de Morais (1894-1898)

3.1 Canudos (1893-1897):

Sem sombra de dúvida um grande

destaque do governo de Prudente de

Morais foi a Guerra de Canudos. Essa

comunidade chegou a preocupar parte

da igreja oficial, além de fazendeiros e

do próprio estado brasileiro.

Muitas foram e continuam a ser as

análises equivocadas acerca dessa

comunidade, pois já foi considerada

como um reduto de fanáticos

religiosos. Entretanto, devemos ter em

mente que religiosa ela era, mas

fanática não.

Analisando a Comunidade de Canudos

poderemos perceber que ela se formou

rapidamente, pois eram apenas

algumas dezenas no seu início (1893),

mas crescendo rapidamente para a

casa milhares, aproximadamente 25 mil

no ano de 1897.

Esse crescimento gigantesco ocorreu

por varias motivações, tais como:

1. O descaso das autoridades

governamentais em relação à situação

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das populações mais carentes do

nordeste brasileiro;

2. O aspecto excludente do novo

sistema (República) que dificultou a

vida das pessoas, haja vista que o

federalismo deu espaço para que os

estados pudessem criar seus impostos,

o que muito dificultou a vida das

populações mais pobres, pois passaram

a ter uma carga tributária mais pesada;

3. A opressão e a exploração exercida

por muitos latifundiários brasileiros,

nesse caso no Nordeste;

4. O afastamento Igreja Católica em

relação a muitos dos seus fiéis;

Em Canudos havia o trabalho coletivo,

sendo a produção dividida de acordo

com as necessidades de cada família.

Também eles eram messiânicos, ou

seja, acreditavam na volta do Messias,

que iria salvá-los, pois suas vidas eram

permeadas pelo trabalho e pela reza.

Outro ponto de destaque era a defesa

da Monarquia, que era feita por

Antônio Conselheiro. Entretanto, não

podemos ter em mente que esse líder

fosse um grande conhecedor das

teorias monarquistas e/ou

republicanas, mas sim que para ele a

vida durante a monarquia era difícil, e a

república só piorou as coisas. Outra

contestação de Antônio Conselheiro

era o casamento civil e o controle dos

cemitérios pelo estado republicano,

pois achava que esses assuntos

deveriam ser tratados pela Igreja.

Mas quais as motivações para que

fazendeiros, a Igreja(pelo menos parte)

e o estado brasileiro tiveram para

destruir Canudos? Para os fazendeiros

a formação dessa comunidade não era

vista com bons olhos pelo fato dos

habitantes dessa localidade saírem da

órbita de influência dos “coronéis”, ou

seja, não apenas os latifundiários

estavam perdendo mão-de-obra

barata, como também estavam

perdendo votos. Lembre-se bastava ao

eleitor saber assinar o próprio nome.

Já a Igreja via a comunidade de

Canudos como indesejada pelo fato de

considerá-los fanáticos, desprovidos da

verdadeira fé cristã, além de considerar

a liderança religiosa de Antônio

Conselheiro como inadequada, pois

não possuía uma preparação teológica.

O estado baiano nada ganhava com

Canudos, pois eles não pagavam

impostos. Já para o estado brasileiro

esse movimento era visto como

inadequado pois representava o

passado, ou seja, de nada ajudava na

formação da imagem de progresso que

tanto os republicanos queriam.

A Guerra

É bem claro que o governo esperava

apenas uma desculpa para justificar a

destruição da comunidade de Canudos,

o que ocorreu quando os canudenses

invadiram o armazém de onde

retiraram telhas, madeira e tijolos que

seriam utilizados para a construção de

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uma Igrejinha. Vale ressaltar que os

sertanejos já tinham pago por essa

mercadoria, mas não a recebiam.

Foram necessárias quatro expedições

ao logo dos anos de 1896-1897 para

que a Comunidade de Canudos fosse

destruída.

A primeira expedição delas foi liderada

pelo Tenente Manoel da Silva Pires

Ferreira. Entretanto, os canudenses,

bastante motivados pelas suas ideias,

alem de estarem armados de facões,

foices e velhas armas de fogo,

resistiram aos invasores, que partiram

em retirada.

A segunda expedição era composta de

seiscentos homens, por dois canhões e

duas metralhadoras, sendo comandada

pelo Major Febrônio de Brito.

Entretanto foram surpreendidos, pois

as táticas de guerrilhas empreendidas

pelos canudenses acabaram por

surpreender as tropas governistas.

A terceira expedição maior magnitude,

haja vista as repercussões negativas das

duas primeiras expedições, sendo assim

escolhido para a difícil tarefa de

destruir Canudos o Coronel Antônio

Moreira César, que ficou conhecido em

meio à Revolução Federalista como o

“corta-cabeças”. Vale ressaltar que essa

expedição possuiu um contigente de

mais de 1.000 homens e com uma vasta

munição, mas para surpresa do

governo essa expedição sofreu uma

derrota surpreendente, inclusive

morrendo Moreira César.

A quarta expedição demonstrou o

quanto era questão de honra para o

governo a destruição de Canudos, e

assim foram enviados cerca de 8 mil

homens, sob o comando do General

Artur Oscar. Foi empreendida a tática

do cerco, ou seja, Canudos foi cercada

e constantemente bombardeada,

sendo paulatinamente fragilizada, pois

mais cedo ou mais tarde iria faltar água

potável e comida, e foi o que ocorreu.

Para se ter ideia, Antônio Conselheiro

morreu de cólera. No final das batalhas,

as habitações foram queimadas e parte

da população transferida para outras

regiões. Um fato bastante chocante foi

o que ocorreu com os restos mortais de

Conselheiro, que teve o seu corpo

desenterrado, sendo a sua cabeça

cortada e levada para se fazer estudos.

Um episódio marcante pós-guerra de

Canudos ocorreu quando Prudente de

Morais, em solenidade pela vitoriosa

campanha de Canudos, sofreu um

atentado, quando Marcelino Bispo

atirou contra o presidente, mas não

obtendo êxito na sua tentativa, pois foi

atingido o Ministro da Guerra, o

Marechal Carlos Machado Bittencourt.

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3.3 Questões Externas

Impactante nas Relações Internacionais

foi o restabelecimento das Relações

Diplomáticas com Portugal e a Questão

da Ilha da Trindade (1895), envolvendo

o Brasil e a Inglaterra.

A Inglaterra acabou por invadir a Ilha

da Trindade (Litoral do Espírito Santo)

pois afirmava que essa localidade não

era habitava e/ou explorada pelo Brasil.

Dessa forma, nossa nação contestou

veementemente tal ação inglesa,

considerando-a como um ato de

imperialismo. Tal questão foi resolvia

quando as partes envolvidas

resolveram entregar o caso para uma

mediação internacional, sendo Portugal

escolhida para tal julgamento. Assim

sendo, vendo as argumentações de

ambos os lados, Portugal deu o ganho

de causa para o Brasil (1896).

04. Campos Sales (1898-1902)

Durante o governo de Campos Sales

três foram os pontos principais na sua

política interna, a Política dos

Governadores, a Política do Café com

Leite e o Fundin Loan.

4.1 Política dos Governadores ou

“Pacto Oligárquico”

A Política dos Governadores foi uma

tentativa do governo central de criar

uma rede de alianças em relação aos

grupos que governavam os estados,

buscando com essa aliança o apoio

necessário para colocar em prática os

seus projetos.

Funcionava da seguinte forma, as

“oligarquias” estaduais seriam

responsáveis pelo “arregimentamento”

de votos nos seus currais eleitorais –

haja vista ser tão comum na República

Velha o chamado voto de cabresto- no

intuito de eleger o candidato à

presidência indicado pelo governo,

além, é claro, de votarem nos

Deputados e Senadores estaduais que

apoiariam o governo federal.

Mas o que estas “oligarquias” estaduais

ganhariam em troca? Apoio político,

pois quando havia eleições o resultado

era conferido pelo órgão federal

chamado de Comissão Verificadora de

Poderes, que validaria ou não as

eleições. Dessa forma, se um candidato

opositor às oligarquias que apoiassem

o governo federal vencesse,

provavelmente, sua vitória seria

anulada.

Outro benefício ganho pelos grupos

estaduais era justamente as facilidades

para o recebimento de investimentos

federais.

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4.2 A Política do Café com Leite

Chamamos de Política do Café com

Leite o acordo estabelecido entre São

Paulo e Minas Gerais, que consistia no

apoio mútuo que deveria ser

estabelecido entre esses estados,

sendo central nesse debate a decisão

de se revezarem no poder federal, ou

seja, numa eleição deveria ser apoiado

o candidato de São Paulo, já na outra o

apoio deveria ser dada à Minas Gerais.

Qual era o peso político-econômico

desses dois estados? São Paulo era o

estado mais rico da federação e o

segundo em número de eleitores, já

Minas Gerais era o primeiro em

número de eleitores, e o segundo em

riqueza. Vale salientar que a Política do

Café com Leite e o Pacto Oligárquico

fazem parte de um mesmo contexto

político nacional.

Obs.: Deve ser observado que o “Pacto

Oligárquico” não pode ser visto como

absoluto, como totalizante nas

decisões, pois tinha três fatores de

instabilidade que variava conforme as

circunstâncias: Primeiro, nos choques

que muitas vezes iriam ocorrer entre os

grupos políticos mineiros e paulistas.

Segundo, a dificuldade de contornar as

ambições de estados “intermediários”

que possuíam poder político e/ou

econômicos, destaque para o Rio

Grande do Sul, Rio de Janeiro,

Pernambuco e Bahia. Terceiro, as

pressões que cada vez mais iriam ser

exercidas por grupos dissidentes de

intelectuais, jornalista e militares.

Tomando esses últimos como exemplo,

podemos citar o movimento tenentista

que tanto contestou o governo na

década de 1920.

4.3 Funding Loan

O funding loan consistiu num plano de

refinanciamento da dívida brasileira,

em troca o Brasil se comprometia a

praticar uma severas medidas de

saneamento monetário e fiscal.

O projeto ocorreu da seguinte forma, o

Brasil iria pagar no período de três anos

os juros dos empréstimos que foram

feitos anteriormente ao fundig loan. Os

antigos empréstimos, acrescido desse

novo seriam pagos futuramente, mais

precisamente, dentro de 13 anos.

Quais eram as garantias e exigências

dos nossos credores, a Casa Rothschild?

Eles tiveram como garantias a hipoteca

da Alfândega do Rio de Janeiro. Uma

exigência do funding loan foi

justamente que o governo amenizasse

a inflação diminuindo a grande

quantidade de papel moeda que estava

em circulação.

Page 12: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 12

4.4 Relações Internacionais: A Questão

do Amapá

Essa localidade de longa data gerou

problemas, primeiro entre Portugal e

França, depois entre Brasil e França.

Pelo Tratado de Utrech, de 1713, foi

estabelecido que o rio Oiapoque seria o

limite entre o Brasil e a Guiana

Francesa, o que foi aceito a contragosto

por parte desses últimos.

No final do século XIX, o governador da

Guiana Francesa quis se aproveitar do

momento delicado pelo qual passava o

Brasil, invadindo a região do Amapá.

Vale ressaltar que estávamos

envolvidos em duas questões litigiosas,

uma com a Argentina, a Questão das

Missões, e a outra com a Inglaterra, a

Questão da Ilha da Trindade.

Para resolver essa questão foi decidido

que esse episódio deveria ser

solucionado por uma arbitragem

internacional. Dessa forma, foi

escolhido o presidente da Suíça, Walter

Hauser, para ser o juiz dessa causa. O

Brasil venceu também essa causa muito

devido à argumentação feita pelo barão

do Rio Branco.

05. Rodrigues Alves (1902-1906)

5.1 A Regeneração

Grande destaque do governo de

Rodrigues Alves foi a “regeneração”, ou

seja, o processo de transformação pela

qual passou o Rio de Janeiro. A

Constituição de 1891 já estabelecia a

possibilidade da criação de uma nova

Capital Federal, mas mesmo que esse

novo centro administrativo fosse feito

ainda continuaria a existir uma grande

necessidade brasileira, uma cidade

portuária bem estruturada. Assim, o

presidente, sabendo que não havia

capital necessário para fazer as duas

coisas, resolveu por investir pesado na

transformação do Rio de Janeiro (que

era extremamente estratégica para

escoar a produção de café).

Ficou a cargo do prefeito Pereira Passos

– que era engenheiro de formação – a

parte relacionada à reforma do centro

da cidade e do porto. Já a parte

sanitária foi encabeçada pelo brilhante

sanitarista Oswaldo Cruz.

O Brasil estava adentrando o período

conhecido como a Belle Époque (Bela

Época). Nesse momento era visto com

bons olhos copiar as práticas europeias,

pois o velho continente era visto como

um exemplo a ser seguido, daí ser

civilizado para parte substancial de

nossas elites, era copiar padrões

europeus.

Page 13: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 13

Pereira Passos, inspirado nessas ideias,

tendo como padrão a reforma de Paris,

resolveu que as habitações

consideradas insalubres - que não

possuíam condições adequadas para a

saúde - o que era o caso dos cortiços,

deveriam ser derrubados. Ele achava

que poderia fazer do Rio de Janeiro

uma Paris brasileira, com avenidas

largas, que melhoravam a circulação de

pessoas e de produtos, além, é claro,

de facilitar para o governo o controle

das manifestações populares.

Grande parte da população pobre foi

obrigada a deixar os seus lares, e assim,

acabaram por se dirigir para os morros,

onde as condições de habitação

continuaram igual ou mais precárias do

que antes, eis um dos momentos

principais para o processo de

favelização do Rio de Janeiro.

Duas questões de grande importância

devem ser feitas: Primeiro, de onde

vieram os capitais para uma reforma

tão grande? Segundo, quais eram os

objetivos?

Para responder a primeira questão

devemos ter em mente que o Brasil

possuía capitais acumulados da

comercialização do café, sem falar, é

claro, que estávamos exportando

bastante borracha, e, por fim, devemos

saber que nossa nação estava

contraindo empréstimos de casas

bancárias internacionais.

Em relação à segunda questão,

devemos saber que o Brasil objetiva

com essas transformações fazer do Rio

de Janeiro um cartão postal, ou seja,

demonstrar internacionalmente que o

governo republicano estava fazendo a

nossa nação prosperar, e com essa

demonstração objetivava atrair mais

investidores.

Avenida Central do Rio de Janeiro pós-reforma A Reforma Sanitária Outro grande problema era a questão sanitária, pois uma enorme quantidade de pessoas estavam adoecendo e morrendo de doenças como a varíola, cólera e peste bubônica. A preocupação foi tanta que o governo chegou ao ponto de pagar para que os populares capturassem ratos, que eram vetores de doenças, mas isso não deu muito certo, pois parte da população começou a criar esses animais em cativeiro, para logo depois vendê-los ao governo. É bem claro que as inúmeras mortes causadas por essas doenças afetavam o andamento da cidade, inclusive prejudicando a produção realizada nas fábricas, e manchando a imagem do Brasil lá fora, daí a necessidade de uma reforma sanitária. Vale ressaltar que essa reforma ocorreu paralelamente à reforma urbana empreendida por Pereira Passos.

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Outra questão a ser lembrada é alguns cientistas de outras nações defendiam que o povo brasileiro era biologicamente fraco devido a miscigenação, e assim eram mais sensíveis em relação às doenças. Muitos cientistas brasileiros combateram veementemente essa teoria, a exemplo de Oswaldo Cruz. Ele afirmava que a miscigenação não poderia ser culpabilizada pela morte de tantas pessoas, mas sim as condições sanitárias precárias, alem da proliferação de ratos e mosquitos, que eram vetores de muitas doenças. Dessa forma, Oswaldo Cruz defendia a imunização das pessoas, através de uma campanha de vacinação, mas também a drenagem de pântanos e uma melhor limpeza da cidade. A campanha, pelo menos inicialmente, não obteve o êxito desejado, o que muito contribuiu para que Oswaldo Cruz pressionasse o governo para a aprovação da Lei de Vacinação Obrigatória, o que ocorreu em 1904. Ela dava o direito aos sanitaristas de vacinarem as pessoas à força, se necessário fosse. O que pode ser observado à partir dessa lei? Pode ser visto que o estado se sentia no direito de interferir diretamente nas escolhas das pessoas, ou seja, é claro que o objetivo era amenizar o número de pessoas mortas, mas os métodos violentos acabaram por deixar a população mais insatisfeita ainda em relação ao governo. Primeiro foram expulsas de suas casas no centro do Rio de Janeiro, e agora, mais umas vez, estão sofrendo com o autoritarismo do governo. Nesse contexto ocorreu a Revolta da Vacina (1904). Populares entraram em conflito com a polícia, que foi expulsa dos morros.

Ainda mais, o povo desceu o morro, fechou ruas, queimou bondes, e por alguns dias empreendeu uma forte resistência ao governo, que teve que negociar, e assim acabou por ser retirada a Lei de Vacinação Obrigatória. Seria muito simplificador afirmar que a Revolta da Vacina ocorreu pelo fato da população achar que a vacina iria matá-las, muito embora alguns, a minoria, pudesse acreditar em tal ideia. Também não podemos acreditar esse movimento tenha ocorrido devido apenas à questão moral, pois as mulheres eram vacinadas em locais tidos como inadequados (nádegas, por exemplo) para a moral da época. Correto é afirmar que essa revolta ocorreu devido à questão moral, o temor e, principalmente, por causa da arbitrariedade e autoritarismo do governo. 5.2 O Convênio de Taubaté No final do período administrativo de Rodrigues Alves foi criado um acordo entre os cafeicultores e o governo, estabelecendo políticas de incentivo e/ou proteção ao café, ou seja, o governo, se necessário fosse, deveria comprar o excedente da produção do café a fim de evitar a queda internacional do preço desse produto. Essa política foi muito utilizada durante a República Velha, acabando por gerar inúmeras contestações por parte de outros estados, como o Rio Grande do Sul. 5.3 Questões Externas Durante o governo de Rodrigues Alves assumiu o cargo de Ministro das Relações Exteriores José Maria Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco (1902-1912). Umas das características mais marcantes desse período foi o americanismo, ou seja, a aproximação

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diplomática em relação aos Estados Unidos, que era uma potência em ascensão. Essa aproximação de forma nenhuma pode ser vista como subalterna, subserviente, mas sim como uma estratégia muito bem criada por Rio Branco para que nossa nação pudesse agir de forma mais autônoma nos assuntos diplomáticos em relação às questões de fronteiras litigiosas. A Questão do Acre A região do Acre de longa data já era utilizado por seringueiros brasileiros, que não apenas buscaram explorar essa localidade, mas também buscaram fazer a sua independência em relação à Bolívia. Dessa forma, não tardou para que a Bolívia buscasse reaver o controle dessa região, o que ocorreu, não de forma direta, mas sim indireta, ou seja, arrendando essa região para um consórcio anglo-americano chamado The Bolivian Syndicate. Esse grupo estrangeiro reivindicava junto ao governo brasileiro uma maior possibilidade transitar pela região amazônica brasileira, o que muito preocupou o nosso governo. Desse modo, o presidente Rodrigues Alves, através do barão do Rio Branco, buscou o mais rápido possível solucionar essa questão. Dessa forma, em novembro de 1903, foi feito assinado entre o Brasil e a Bolívia o Tratado de Petrópolis. Nele ficava estabelecido que o Brasil deveria indenizar a Bolívia com 2 milhões de libras, além, é claro, de pagar uma multa de mil libras e 126 esterlinas ao The Bolivian Syndicate pela rompimento de contrato. Também, o nosso governo deveria construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para facilitar aos os bolivianos o acesso ao oceano Atlântico. Já o Brasil passaria a ser dono do Acre, de

onde ganhamos muito dinheiro com a borracha. 06. Afonso Pena (1906-1909) Afonso Moreira Pena foi o primeiro presidente mineiro eleito pela Política do Café com Leite, sendo escolhido como vice-presidente o carioca Nilo Peçanha. Vale lembrar que antes ser presidente fora governador de Minas Gerais, quando deu início as obras de Belo Horizonte. Uma das criticas ao seu governo foi o jovem gabinete nomeado por esse presidente, que era chamado pelos seus rivais de jardim-de-infância. Na presidência desse mineiro foi posto em ação o Convênio de Taubaté, pois o governo vai efetivar a compra de café no intuito de valorizar esse produto. Outro destaque foi a criação da Caixa de Conversão, que possuía como intuito fomentar as exportações do café. Mas como isso poderia ser feito? O governo poderia fazer a desvalorização artificial de nossa moeda, o que estimularia setores internacionais a comprar mais o nosso produto, pois ele estaria mais barato. Para compensar as perdas por parte dos cafeicultores, o governo iria recompensá-los com empréstimos. Outra medida de grande valia desse presidente foi justamente o estimulo que ele deu à imigração, inclusive falando que para ele “governar é

povoar”. Por isso mesmo em 1908, o

Navio Kasato Maru, desembarcou no porto de Santos 168 famílias japonesa, cerca de 781 famílias. O ano de 1909 marcou tragicamente o Brasil devido a morte de Afonso Pena, sendo sucedido por Nilo Peçanha. 07. Nilo Peçanha (1909-1910) Nilo Peçanha representava um grupo de certa importância no cenário nacional, os produtos de café e de

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açúcar do Rio de Janeiro. Durante o seu governo o Brasil passou por uma forte crise política, pois ocorreu o rompimento momentâneo da Política do Café com Leite. Dessa forma, em 1910, a campanha presidencial foi marcada pela luta entre a “farda e a

toga”, ou seja, entre o militar Hermes

da Fonseca, apoiado por Minas Gerais, e o jurista Rui Barbosa, que foi apoiado por São Paulo. Vale destacar que Rui Barbosa lançou a Campanha Civilista, transitando parte considerável do território nacional, objetivando não apenas dificultar a vitória eleitora de Hermes da Fonseca, tentado fortalecer a ideia de que era inadequado um militar governar o país. Entretanto, a vitória foi do Marechal Hermes que obteve 400 mil votos, contra 200 mil de Rui Barbosa. Personagem de importância significativa do governo de Nilo Peçanha foi o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que fez expedições de reconhecimento, demarcação e exploração da região amazônica. Um dos seus grandes objetivos foi justamente a integração nacional a partir das comunicações, daí a implantação de postes telegráficos. Outro ponto de relevância foi a criação da Secretaria de Proteção ao Índio (SPI), que serviu de base para que fosse criada a futura FUNAI. 08. Hermes da Fonseca (1910-1914) Política das Salvações A Política das Salvações foi um conjunto de medidas implementadas pelo Governo no intuito de fragilizar as “Oligarquias” estaduais que fizeram

oposição à sua campanha, apoiando Rui Barbosa. Assim, de salvação não tinha nada, de nobre só o nome, pois o intuito era colocar para governar os

estados os grupos ligados ao presidente Hermes da Fonseca. A Revolta da Chibata (1910) Logo no início do Governo de Hermes da Fonseca, eclodiu a Revolta da Chibata, sendo destaque a liderança o marinheiro João Cândido, apelidado pelos companheiros como “Almirante

Negro”. Entre as motivações para tal levante, destaque para os castigos físicos que sofriam, também a péssima alimentação, além dos baixos soldos e da ausência de um plano de carreira que realmente beneficiasse a meritocracia. Outro elemento de grande significação para o início da Revolta da Chibata foi justamente a mudança de mentalidade adquirida por alguns marinheiros, ou seja, ao terem um maior contato com os marujos ingleses (lembre-se que o Brasil comprou alguns navios que foram fabricados na Inglaterra), perceberam que a situação deles era bem melhor de que a dos brasileiros, e que os britânicos só conseguiram essa melhorias devido à organização deles. Dessa forma, no dia 24 de Novembro de 1910, quando iria começar a punição do marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, explodiu a revolta. João Cândido liderou a tomada dos navios Minas Gerais, São Paulo e Bahia, apontou os canhões para o Rio de Janeiro, e ameaçou bombardear a cidade caso o governo não quisesse negociar. Entre as reivindicações, destaque para o fim dos castigos físicos, da melhoria dos soldos, de um plano de carreira, de uma melhor alimentação e da anistia para os envolvidos. No Congresso Nacional, destaque para as manifestações de Rui Barbosa, que pressionou o governo de Hermes da Fonseca para que solucionasse o mais rápido possível tal

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problema. Assim, o Congresso Nacional aprovou a anistia aos rebeldes e o fim da chibata. O grande problema é que o acordo não foi cumprido pelo governo, sendo muitos marinheiros presos. Assim, não tardou para que ocorresse outra revolta, pois em Dezembro do mesmo ano um novo levante se fez, agora na ilha das cobras. Muitos foram os marinheiros presos, outros tantos foram mandados para a Amazônia. João Cândido, por exemplo, passou alguns anos na prisão, sendo depois liberto, sob alegação de que tinha enlouquecido. Entretanto, o próprio “Almirante Negro” afirmava que essa

acusação era infundada, pois o que a marinha não queria era que ele denunciasse os culpados pelas mortes dos presos que estavam detidos na ilha das cobras no momento da 2ª Revolta da Chibata. Vale salientar que após o levante de Dezembro o governo resolveu fazer algumas melhorias na Marinha para que não ocorresse novas revoltas. Guerra do Contestado (PR/SC – 1912-1916) Esse conflito ocorreu na fronteira entre Paraná e Santa Catarina. Várias foram as motivações para esse conflito, tais como: litígio entre Santa Catarina e Paraná por uma região de fronteira, a grande exclusão de grande parte da população camponesa, além dos interesses de companhias estrangeiras que ambicionavam ganhar muitos lucros naquela localidade, pois era muito rica em madeira. Como causa imediata dessa guerra foi a luta entre os habitantes dessa localidade contra a companhia a companhia norte-americana de Percival Farqhuar, a “Brazil Railway Company”,

que utilizaria parte daquele território

para a construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande. Mas também vale destacar que os estados que reivindicam o território do contestado não viam com bons olhos a população que vivia nessa localidade, pois não geravam impostos. Também a Igreja possuía as suas críticas em relação à comunidade do Contestado, pois os considerava fanáticos, seja pelo messianismo dessa comunidade, ou pela forma que eram regidos pelo seu líder religioso, o beato José Maria, que foi morto no combate dos Campos de Irani.

Mapa do Contestado No ano de 1914 o governo intensificou os ataques, e em 1915, o general Fernando Setembrino de Carvalho liderou um grupo de 8 mil soldados, que cercaram a área, tática similar a que foi feita em Canudos. Assim, os populares que combatiam o governo acabaram sendo vencidos pela fome e pela sede. Em 1916, o governo retomou a área e futuramente, no governo de Venceslau Brás, foi feita uma divisão da área, sendo entregue ao Paraná vinte mil quilômetros quadrados de área, e para Santa Catarina foi entregue vinte e oito mil quilômetros quadrados. E aos pobres? Alguns palmos de terras, mais precisamente, sete palmos, ou seja, uma cova bem rasa, como diria João Cabral de Melo Neto: “Eis a parte que

te cabe nesse latifúndio.”

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09. Venceslau Brás (1914-1918) Venceslau Brás Pereira Gomes, através do Pacto de Ouro Fino, marca o restabelecimentos da Política do Café com Leite. O período de governo desse presidente foi por demais conturbado, haja vista a eclosão da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Economicamente, essa guerra afetou fortemente a nossa economia, pois as exportações de café foram diminuídas drasticamente, também passamos a ter sérias dificuldades para importar produtos industrializados, primeiro pelo fato de boa parte da indústria européia ter se voltado para guerra, e segundo, pelo fato do Brasil não poder gastar tanto dinheiro nesse momento que pouco estava vendendo. Dessa forma, Venceslau Brás adotou a política de substituição de importações, que consistia em tentarmos fabricar parte dos produtos industriais que necessitávamos. Entre 1915 e 1919 foram criados cinco mil novecentos e trinta e seis estabelecimentos industriais, destacando-se os setores têxteis, alimentício, de bebidas, de calçados e de vestuário. Mas, de onde vinha o capital investido na indústria? Vinha do acúmulo efetivado pelo setor cafeicultor nos anteriores a guerra. Outro fator de destaque foi o processo de crescimento da influência econômica estadunidense sobre o Brasil, haja vista a instalação de um grande número de empresas dessa nação em nossas terras. Esse processo foi continuado e ampliado no período posterior a à 1ª Guerra Mundial, pois eles passaram a ser um mercado muito importante para o nosso café. Outro ponto de relevo foi o crescimento da influência cultural estadunidense em nossas terras, inclusive dividindo, e

posteriormente suplantando a influência francesa Outra questão econômica de relevo que ocorreu no governo de Venceslau Brás foi justamente o declínio do Ciclo da Borracha, que teve o seu esplendor entre 1900 e 1909, mas depois desse período passou a perder espaço para a Ásia, graças a biopirataria feita pelos ingleses, que retiraram a “hevea

brasilensis” daqui e passaram a plantá-la naquela localidade.

Período Brasil (t) Sudeste da Ásia (t)

1900-1904 146.758 4.572

1905-1909 184.076 23.876

1910-1914 187.141 193.040

1915-1919 156.52 1.046.480

1920-1924 100.463 1.761.236

1925-1929 111.649 3.144.012

Edgar Carone. In: A República Velha,

Difel.

Política Externa Marcou a Política Externa desse governo a participação do Brasil na 1ª Guerra Mundial, saindo da neutralidade em 1917. Vale ressaltar que o Brasil foi o único país da América do Sul a entrar nesse confronto. Antes da entrada do Brasil na guerra, as opiniões eram divididas em relação ao lado que deveríamos apoiar. De um lado os germanófilos, como Monteiro Lobato e Lima Barreto, já do outro os pró-aliados, como Rui Barbosa e Olavo Bilac. A razão imediata para a entrada do Brasil na Guerra foi justamente o ataque que os submarinos alemães

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fizeram aos navios brasileiros, sendo a declaração do estado de guerra contra a Alemanha ocorrido logo após o torpedeamento do vapor Macau, em outubro de 1917. O Brasil enviou oficiais aviadores que fizeram parte do 16º Grupo da RAF, além de enviar médicos e de forma a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG). Ela deveria atuar conjuntamente com a força naval britânica, porém quando atracou em Dakar, a tripulação foi assolada por uma epidemia de gripe espanhola, que fragilizou parte considerável da tripulação, assim acabou por chegar atrasada na guerra, pois entrou em Gibraltar um dia antes do tratado que deu “fim” a Primeira Guerra. Movimento Operário Destaque para a Greve Geral de 1917, quando os operários de uma tecelagem de São Paulo pararam os trabalhos por não aceitarem o decreto dos donos que estabelecia a ampliação do trabalho noturno. Também havia uma forte contestação por causa da forma extremada de repressão que sofriam os operários, não raro ocorrer mortes. Dessa forma, ocorreu a morte de um jovem operário anarquista, sendo o seu enterro comparecido por mais de 10 mil pessoas, ocorrendo protestos que se prolongaram, provocando a paralisação de várias fábricas, também paralisando os transportes rodoviário e ferroviário. Vale destacar que muitos dos operários eram imigrantes, sendo que muitos eram anarquistas e/ou socialistas, entre as suas reivindicações constava: a redução da jornada de trabalho, melhores salários e a proibição do trabalho feminino noturno.

Nas eleições de 1917 saiu vitorioso Rodrigues Alves, porém morreu devido a gripe espanhola, e o seu vice, Delfim Moreira, só poderia assumir provisoriamente, pois a Constituição estabelecia que o vice só poderia assumir de fato se tivesse passado dois anos de governo do presidente. Assim, tivemos novas eleições, de onde saiu vitorioso Epitácio Pessoa. 10. Epitácio Pessoa (1919-1922) Durante o governo de Epitácio Pessoa, foi ampliada a influência dos Estados Unidos, pois o dólar passou a ser o padrão internacional de conversão da nossa moeda. Outro ponto de destaque foi no que se refere o pedido de mais empréstimos por parte do governo para por em prática o que estava estabelecido pelo Convênio de Taubaté, mas também para combater o efeitos deletérios da seca nas terras nordestinas. Semana de Arte Moderna de 1922 Até as primeiras décadas do século XX, o modelo cultural a ser seguido no Brasil era o europeu, fundamentado nas idéias de civilização e progresso, bem como na corroboração da mentalidade eurocêntrica de que o branco do velho continente era superior as demais raças. Neste sentido, quando se pensava o Brasil, buscava-se negar o passado colonial e a herança negra e indígena. Aqui se encontra, no nosso entender particular, uma das mudanças essenciais promovidas pelos modernistas no pensamento da brasilidade. Pregando a crítica, a ruptura com os padrões tradicionais de arte e a criatividade, os modernistas passaram a defender a antropofagia da cultura externa e a sua, consequente,

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interpretação e transformação em algo que fosse tipicamente nacional. Ou seja, com os modernistas, a questão nacional vai passar a ser uma prioridade na construção de uma nação melhor e mais desenvolvida. O quadro de Tarsila do Amaral faz referência exatamente a essa antropofagia, pois quando buscamos a etimologia da palavra abaporu identificamos a artista em sua fase antropofágica.

Abaporu: Tarsila do Amaral Tenentismo Os tenentes propunham a montagem de um projeto de governo alternativo em relação à República Velha, chegaram a realizar contestações diretas e armadas contra o governo oligárquico da época. Em 1922, ocorreu no rio de Janeiro o Levante dos 18 do Forte de Copacabana, primeira ação efetiva da jovem oficialidade contra a eleição de Artur Bernardes. Neste levante, algumas centenas de baixas patentes do exército tomaram o forte de Copacabana e enfrentaram o governo entre os dias 5 e 6 de julho de 1922. Porém, no dia seguinte apenas 18 continuaram com a luta e saíram em confronto com as forças federais, de onde só sobreviveram apenas dois, Siqueira Campos e Eduardo Gomes. O governo de Epitácio Pessoa decretou estado de sítio, que foi prolongado até a Subida de Artur Bernardes, em 1926.

11. Artur Bernardes (1922-1926) O governo de Artur Bernardes foi fortemente marcado por uma grave crise social, destaque para o movimento tenentista e para o movimento operário, sendo constante o presidente decretar estado de sítio, ou melhor, a maior parte do seu governo ocorreu sob estado de sítio, daí a frase de ele “como presidente não passava de um chefe de policia.” Novos levantes Tenentistas Em 1924, mais uma vez os tenentes pegaram em armas, dessa vez a partir de São Paulo e Rio Grande do Sul. Nesses dois estados formaram-se colunas militares contra o governo Bernardes, que se juntaram e originou a chamada coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, mais conhecida como Coluna Prestes, representada na foto acima, que percorreu o país pregando os ideais tenentistas e a derrubada do governo Bernardes. Apesar de não conseguirem o seu principal objetivo (derrubada de Artur Bernardes), os tenentes promoveram grandes conturbações no governo de Bernardes, obrigando-o a governar a maior parte do tempo sob estado de Sítio. O tenentismo, sem dúvida alguma, está inserido, de forma marcante, no contexto que favoreceu o golpe de 1930. Grande destaque em meio ao movimento tenentista se dá à Coluna Prestes (1925-1927) que possuía como comandante principal Miguel Costa, mas mesmo assim recebeu o nome de Coluna Prestes, devido à grande importância dele. Vale salientar que Luis Carlos Prestes só viria a se tornar comunista futuramente, no período pós-coluna. Esse movimento se tornou épico, pois percorreu uma longa marcha de 25.000 quilômetros pelo

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país, do Rio Grande ao sul do Maranhão. Seu objetivo era obter apoio de vários quartéis para fortalecer a marcha. Sem atingir o objetivo, seus membros, já cansados, refugiaram-se na Bolívia. Em 1926, o presidente, com o apoio do Congresso Nacional, realizou uma reforma na Constituição de 1891, cujo objetivo principal era fortalecer o poder Executivo. Principais destaques da reforma •Regulamentação da expulsão de

estrangeiros considerados nocivos à ordem sócio-política; •Direito ao Executivo de vetar

parcialmente os projetos do Legislativo; •Ampliação dos limites de intervenção federal nos estados. 12. Washington Luís (1926-1930) Washington Luis foi o último presidente eleito pela Política do Café com Leite, sendo deposto no final do seu mandato. Durante sua permanecia no Palácio do Catete foi aprovada a Lei Celerada, que restringia a liberdade de imprensa. Outro ponto de bastante relevo foi a atenção que teve em relação à construção de estradas, inclusive tendo como lema: “Governar

é abrir estradas”. Construiu as rodovias

Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis. A Crise de 1929 e A Revolução de 1930 O ano de 1929 foi marcado pela Crise de 1929 ou Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ocorreu a crise da superprodução, ou seja, ocorreu uma grande produção industrial, mas o mercado acabou por não adquirir o que foi produzido, assim muitas empresas fecharam as portas, ampliando o desemprego, e, consequentemente, diminuindo o mercado consumidor. Os

efeitos dessa crise foram sentidos pela Europa, onde os Estados Unidos investiam capitais, além de toda a América do Sul, de uma forma geral, e do Brasil, de uma forma particular. Lembre-se que os estadunidenses eram grandes compradores do nosso café. O grande problema em 1929 é que o governo de Washington Luís não estava disposto a socorrer os cafeicultores como haviam feito governos passados. Naquele momento, Washington Luís estava realizando uma política de saneamento econômico no Brasil e, consequentemente, estava cortando gastos públicos e direcionando os investimentos para a construção de estradas, que era uma das principais metas de sua gestão. Ao negar ajuda aos cafeicultores, Washington Luís distanciava-se de uma das suas principais bases de apoio político. Para completar o quadro de equívocos políticos do então presidente, o governante ainda insistiu na indicação de um candidato paulista para a sucessão presidencial, Júlio Prestes, fato que rompia com o “casamento” político entre Minas e São

Paulo e, por sua vez, como foi visto anteriormente e nos é indicado na segunda imagem, proporcionava um novo “casamento” forçado entre minas e o Rio Grande do Sul. Esse casamento, fez surgir, junto com os paraibanos, a Aliança Liberal, chapa de oposição nas eleições de 1930 e que lançou a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas para presidente e do paraibano João Pessoa para vice. Assim, estava montado o quadro político e econômico que iria culminar no golpe de 1930. O movimento que ficou conhecido historicamente como “Revolução” de

1930, foi, na prática, um golpe de Estado articulado pela chamada Aliança

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Liberal – uma aliança política entre oligarquias dissidentes (Minas Gerais, Paraíba e, em especial, Rio Grande do Sul), tenentes e parte de setores médios urbanos – a partir do assassinato de João Pessoa em Pernambuco por motivações políticas da Paraíba. A morte de João Pessoa, vice de Vargas na chapa da Aliança Liberal, derrotada por Júlio Prestes nas eleições de 1930, foi apenas o estopim para o desenrolar do golpe de 30, que já vinha se materializando dentro das próprias contradições e crises político-econômicas pelas quais passava a “Velha” República brasileira. Na

política, as dissidências internas do PRP (Partido Republicano Paulista) originaram o PD (Partido Democrático). Com essa cisão as oligarquias paulistas se enfraqueceram enquanto as oligarquias do Rio Grande do Sul fortaleciam-se a partir do Pacto de Pedras Altas (1923) e da ascensão da liderança de jovens políticos como Getúlio Vargas. Também no âmbito da política, é importante ressaltar a cisão entre as oligarquias mineira e paulista com a indicação, por parte do presidente paulista Washington Luís, de um outro paulista (Júlio Prestes) para a sucessão presidencial, fato que rompia com a política do “café-com-leite” e levou a

maior parte da oligarquia mineira a aliar-se ao Rio Grande do Sul no golpe. Na economia, a crise de 1929 também ajudou no desgaste do governo de Washington Luís, pois este, negando-se a ajudar os cafeicultores paulistas nesse momento de baixa do café por causa dos efeitos da crise de 29, indispôs os últimos em relação ao governo. Segundo Boris Fausto, a grande característica da Revolução de 30 foi a sua heterogeneidade, pois como vimos

vários grupos políticos participaram do golpe. Para Boris Fausto era fácil identificar o perdedor (oligarquia cafeeira paulista) e difícil definir os vencedores (oligarquias dissidentes, tenentes, jovens políticos). É importante salientar que mesmo que a oligarquia cafeeira paulista tenha perdido a hegemonia na política federal, ela não perdeu seu poder e influência no Estado Federal, pois o Estado pós 30 ainda pôs em prática políticas de valorização do café, com a compra do excedente e sua incineração.

ERA VARGAS (1930-45)

1. Contexto nacional e internacional

O debate historiográfico sobre a

relevância da “Revolução” de 1930 na

formação do Brasil contemporâneo é

um dos mais prósperos na

historiografia brasileira. Inúmeras

foram às interpretações, apesar de

divergentes em vários pontos. No

entanto, é certo entre elas que o

Estado pós 1930 promoveu grandes

transformações de ordem política,

institucional, econômica, social e

cultural no país.

Na década de 1930 a situação política e

econômica do Brasil respirou

profundamente os ventos que o velho

continente (Europa) e os Estados

Unidos sopravam para o restante do

globo. As grandes transformações que

aqui aconteceram estiveram ligadas

direta e indiretamente ao quadro

político e econômico internacional.

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 23

O próprio Golpe de 1930, bem como o

quadro econômico brasileiro do início

desta década, estiveram relacionados à

Crise de 1929. Com a ascensão dos

Estados Totalitários na Europa,

vertentes tupiniquins desses

movimentos surgiram, como foi o caso

da Legião Cearense do Trabalho e da

Ação Integralista Brasileira. Além

desses movimentos políticos de

inspiração fascista, também surgiu um

com tendências de esquerda: a Aliança

Nacional Libertadora.

Esses são apenas alguns exemplos de

como contexto internacional afetou o

processo político e econômico nacional

entre as décadas de 1930 e 1940.

2. Fases da Era Vargas

A Era Vargas pode ser dividida em três

fases distintas e interligadas entre se. A

primeira fase corresponde ao Governo

Provisório (1930-34), onde Vargas

buscou consolidar o Golpe de 1930. A

segunda fase é marcada pela volta ao

regime constitucional – Governo

Constitucional (1934-37) - com a

promulgação da Constituição de 1934.

A terceira e última fase, o Estado Novo

(1937-45), representou o zênite das

transformações econômicas, sociais,

políticas, institucionais e culturais que

ocorreram na Era Vargas.

3. O Estado pós-1930

Apesar de o movimento de político-

militar de 1930 não representar de

forma ampla a denominação que

recebeu (Revolução), muitas

transformações ocorreram na

sociedade, política e economia

brasileira, que nos fazem refletir sobre

a profundidade das mudanças

decorrentes do Movimento de 1930.

Thomas Skidmore avalia o fato da

seguinte forma: “A mudança de

liderança política, resultante da

ascensão de Vargas à presidência,

tornou-se conhecida como Revolução

de 30. Os acontecimentos posteriores

confirmaram a precisão da

denominação, pelo menos na esfera

política”. (Thomas Skidmore. Brasil: de

Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1982, pág. 25).

Mesmo não se aprofundando em

reformas sociais mais consistentes e

transformadoras, não se pode negar

que o Golpe de 1930 trouxe mudanças

profundas nas relações entre Estado e

sociedade e, mormente, capital e

trabalho.

A partir de 1930, o modelo liberal

excludente foi abandonado e emergiu

um Estado forte e centralizado que,

pela primeira vez na história política do

país, se apresentava com características

nacionais. Vargas promoveu uma

reforma institucional profunda que

possibilitou a estruturação de uma

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Prof. Adeíldo Oliveira 24

hierarquia de governo nas diversas

instâncias (municipal, estadual e

federal).

No que se refere ao social, ocorreram

inúmeros avanços importantes.

Também pela primeira vez, o Estado

passou a regular as relações entre

capital e trabalho, concedendo uma

abrangente legislação trabalhista para

os operários urbanos. Aqui, vale frisar

que essas leis sociais já era bandeira do

movimento operário durante a

República Velha e que foram

concedidas com o intuito de conquistar

o apoio da classe trabalhadora para o

Estado. O que, durante a Primeira

República era um caso de polícia,

passou a ser uma questão de estado.

Na economia, o governo realizou

investimentos públicos que

beneficiaram os empresários

capitalistas brasileiros. Vargas foi o

responsável pela montagem das bases

da indústria nacional com seu

estatismo econômico.

Por essas razões, guardadas as devidas

limitações, 1930 pode ser considerado

um dos momentos fundantes do Brasil

atual.

4. Governo Provisório (1930-34)

Entre os anos de 1930-34, Vargas ficou

na presidência de forma temporária e

com amplos poderes, até que se

elaborasse a nova constituição que iria

reger o país. Por isso, esta fase é

chamada de Governo Provisório. Foi

neste momento que Vargas começou a

realizar suas primeiras reformas no

estado, economia e sociedade

brasileira.

No plano político, para poder

consolidar seus objetivos

centralizadores, implantou as

interventorias, substituindo os

governos estaduais que lhe fossem

contrários, por tenentes aliados.

Buscou combater todas as oligarquias

opositoras ao Golpe de 30, auxiliando,

porém, as que o apoiavam.

Foi durante o Governo Provisório que

Vargas criou o Ministério da Educação

(1930), o Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio (1930) e

implantou o Código Eleitoral de 1932,

que possibilitou o voto secreto e

feminino e criou a Justiça Eleitoral.

Devido a grande centralização de

poderes, a intervenção nos estados e a

demora na convocação da constituinte

que iria votar a nova constituição,

Vargas foi angariando cada vez mais

oposição, principalmente das

oligarquias paulistas, que eram as que

mais haviam perdido com o Golpe de

1930.

Page 25: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 25

4.1. “Revolução” Constitucionalista de

1932

Em 1932 ocorreu em São Paulo o

primeiro levante contestador do estado

pós 1930. Foi à chamada Revolução

Constitucionalista, que exigia a

convocação da Constituinte e a

nomeação de um interventor civil e

paulista em São Paulo, mas não era

separatista.

Desde a sua posse no governo em

1930, Vargas protelava a convocação

da constituinte e promovia uma política

interventora em vários estados com os

tenentes. São Paulo, por ser o principal

baluarte da República Velha, foi o

estado que mais sofreu com o

intervencionismo varguista. Entre 1930

e 1932, vários tenentes foram

colocados como interventores naquele

estado para neutralizar as oligarquias.

Essa política centralizadora foi

acirrando os ânimos entre os paulistas

e o governo central e acabou levando o

país a sua mais importante guerra civil

do século XX, entre julho e novembro

de 1932 em São Paulo. No decorrer

daquele ano, os paulistas formaram a

Frente Única, que exigia a

reconstitucionalização do país.

O estopim para o conflito foi o

confronto entre tenentes e estudantes

em maio de 1932, que acabou

resultando na morte de quatro jovens

(Martins, Miragaia, Dráusio e

Camargo). A partir de então, formou-se

um movimento cívico composto por

classes médias, militares descontentes

com Vargas, oligarquias e industriais

em crise, que levava o nome das letras

iniciais dos nomes desses estudantes

(MMDC).

Em julho começaram as hostilidades.

Toda cidade de São Paulo foi

mobilizada para o esforço de guerra e

os rebeldes tomaram o estado. As

indústrias foram adaptadas para a

produção de armamentos e promoveu-

se uma campanha entre as senhoras de

classe média (Campanha do Ouro), que

visava arrecadar ouro para o

financiamento do esforço de guerra e

estimulava o forte sentimento

regionalista dos paulistas.

A cidade de São Paulo foi cercada por

terra e mar pelas forças governistas.

Mesmo assim, suportou até novembro,

após sofrer vários bombardeios aéreos.

No final, o levante foi derrotado

materialmente, mas ganhou em sua

bandeira pela nova constituição. Em

1933 São Paulo ganhou um interventor

civil e paulista e a constituinte iniciou

seus trabalhos que iriam originar a

Constituição de 1934.

Page 26: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 26

4.2. Constituição de 1934

A convocação da Assembleia Nacional

Constituinte foi feita por Vargas ainda

em 1932. Em 1933 começaram os

trabalhos que foram concluídos em

1934.

A Constituição de 1934 era ambígua em

alguns aspectos. Defendia princípios

liberais e democráticos, ao mesmo

tempo em que possuía aspectos

conservadores e autoritários em seu

texto.

A nova constituição trazia disposições

inovadoras como o voto feminino,

secreto e obrigatório para homens

maiores de 18 anos; a representação

classista, com 18 representantes dos

sindicatos dos trabalhadores, 2

funcionários públicos, 17 empresários e

3 profissionais liberais; a nacionalização

das minas e riquezas do subsolo e das

quedas d’água; garantia proteção social

aos trabalhadores. Porém, ainda eram

limitados os direitos de cidadania, pois

analfabetos, mendigos, cabos e

soldados eram excluídos do processo

eleitoral.

No que se refere à administração, ela

mantinha a tripartição de poderes, a

forma presidencial com quatro anos de

mandato para o presidente e

deputados e oito para senadores.

5. Movimentos políticos e a “gestação”

do Estado Novo durante o Governo

Constitucional (1934-37):

A década de 1930 foi marcada por

movimentos políticos que tinham

inspiração no contexto internacional,

como foi o caso do Integralismo.

Também ocorreu um levante chamado

“Intentona Comunista” (1935), mas

que, na verdade, não era propriamente

comunista. A questão é que, a partir de

1935, o medo do comunismo acabou

legitimando golpes de estado em nosso

país, como foi o caso do Plano Cohen

(1937) e do suposto comunismo de

Jango (1964).

5.1. O Integralismo (1932-38)

A AIB (Ação Integralista Brasileira) foi a

mais importante organização fascista

do Brasil e o primeiro partido de

massas com implantação nacional.

Lançada em 1932, a partir do chamado

“Manifesto de outubro”, a AIB

estruturou-se a partir de pequenos

grupos e partidos de extrema direita

em diversas partes do país.

Composta essencialmente por pessoas

de classe média, a AIB tinha como

principais características:

• inspiração fascista e autoritarismo;

• nacionalismo exacerbado e

conservadorismo;

Page 27: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 27

• simbolismo e personalismo;

• antiliberal e antidemocrátio;

• paternalismo e corporativismo

Dentre as manifestações do simbolismo

da AIB, destacamos o Anauê

(cumprimento de guerra tupi), e o

Sigma - Σ - que da uma ideia de

somatório. O lema do movimento era

“Deus, Pátria e Família”.

O Anauê, cumprimento integralista Os camisas verdes, como também eram conhecidos, possuíam várias manifestações cívicas e educavam as suas crianças desde cedo para seguirem os ideias do movimento. 5.2. A Aliança Nacional Libertadora – ANL (1934-35) A ANL foi o movimento oposto ao Integralismo. Também composto essencialmente por setores médios urbanos e por “tenentes” de esquerda,

o movimento tinha como principais propostas: • constituição de um governo popular; • a nacionalização das empresas

estrangeiras; • a reforma agrária; • a suspensão da dívida externa; • garantia das liberdades populares.

Como se percebe, não havia uma proposta comunista no projeto político da ANL. Porém, em novembro de 1935, ligado ao contexto internacional de propagação do comunismo, ocorreu em Natal, Recife e Rio de Janeiro alguns levantes de aquartelados que levaram o nome de “Intentona” Comunista. Esses levantes foram tachados como comunistas porque houve a participação de alguns membros que eram do PCB (Partido Comunista Brasileiro), como foi o caso de Luís Carlos Prestes (um dos grandes expoentes do tenentismo), e a sua esposa Olga Benário. Após a repressão ao levante de 1935, Vargas passou a acumular mais poderes. A impossibilidade de uma reeleição de Vargas levou o mesmo à articulação de um golpe que teria como pretexto o combate ao comunismo. Esse pretexto levou o nome de Plano Cohen, que seria um suposto plano de invasão comunista no Brasil. 6. O Estado Novo (1937-45) Em 10 de novembro de 1937 começava o Estado Novo no Brasil, período que representou o auge do poder de Vargas. O Estado Novo pode ser dividido em duas fases: uma entre 1937 e 1942, onde ocorreram as reformas mais significativas; e outra entre 1942 e 1945, período de crise. Logo após a realização do golpe, Vargas outorgou uma nova constituição (1937), a nossa quarta Carta Magna. Por ser extremamente centralizadora, concentrando poderes no executivo, e com inspiração na constituição polonesa dos anos 1920, essa constituição ganhou o nome de “Polaca” brasileira. Seguindo a linha centralizadora que marcou o Estado Novo como uma ditadura, Vargas dissolveu o Congresso

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 28

Nacional e acabou com todos os partidos. Obs.: Em 1938 os integralistas, frustrados por não ter conseguido espaços de poder dentro do Estado Novo, tentaram matar Vargas no Palácio do Catete (RJ), então sede da presidência. 6.1 O discurso do Regime Na hora de buscar legitimidade para o novo regime, Vargas arregimentou vários intelectuais e movimentou a máquina pública no sentido de forjar uma unidade nacional. Uma das primeiras medidas simbólicas nesse sentido foi a realização de uma cerimônia de queima das bandeiras estaduais. A queima das bandeiras estaduais seria a “queima” do próprio

regionalismo. A partir de então “não

existiria mais o regional”, mas

“somente” o nacional. No discurso oficial do Estado Novo, como o próprio nome do regime sugere, falava-se na criação de um novo cidadão, de um novo país e se criticava as velhas elites. O Estado novo seria a expressão do bem e valorizaria os segmentos populares. 6.2 O duplo censura e propaganda Para viabilizar a difusão desse discurso para as diversas partes do país, Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939. O DIP era uma espécie de departamento responsável pela propagação da ideologia do Estado Novo. Na época, o rádio era o principal meio de comunicação, por isso o período também é conhecido com a “era do

rádio”. O DIP, inspirado na propaganda nazista, realizava a propaganda da ditadura varguista, da cultura e das belezas

naturais do país através de microfilmes antes das sessões de cinema (cinejornais), através do teatro e através da música popular. Para não haver uma distorção da imagem que se queria passar para os populares sobre o governo e as suas realizações, o DIP censurava aquilo que era prejudicial à essa imagem. Programas sobre criminalidade, por exemplo, comuns em nossos dias, não eram apresentados na época. Sem dúvida alguma o DIP foi fundamental na criação da imagem de Vargas como o “pai dos pobres”.

Entretanto, isso não seria possível se Vargas não promovesse a realização de uma ampla legislação trabalhista. 6.3 Política trabalhista A política trabalhista do governo varguista seguia a linha do populismo. O trabalhismo brasileiro, como é chamado o populismo varguista, era um acordo recíproco entre trabalhadores e chefe de estado. Para além das imagens de demagogia política e passividade dos trabalhadores brasileiros em relação a Vargas, devemos ter em mente que o que havia era um pacto social e político, onde cabia ao chefe conceder leis sociais, fruto de antigas reivindicações do nosso operariado, e, aos trabalhadores, dar apoio ao regime. O que não quer dizer que os trabalhadores apoiavam as arbitrariedades do governo Vargas. Durante o Estado Novo o primeiro de maio passou a ser uma das principais festividades cívicas. Era realizado em São Januário, estádio do Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Com seu típico jargão - “Trabalhadores do meu Brasil”- Vargas fazia do primeiro de maio uma oportunidade para a sua autopromoção.

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 29

A grande realização trabalhista de Vargas durante seu governo foi a elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Em relação às leis sociais de Vargas, vale frisar que havia um claro interesse político, pois o presidente buscava angariar apoio popular para o seu governo, que era ditatorial. Porém, apesar disso, não se pode negar o papel de relevo de Vargas no progresso das leis sociais brasileiras. Uma crítica importante de ser feita em relação à política trabalhista do presidente Vargas, é o fato de sua legislação social ter ficado restrita aos centros urbanos. Tais leis não chegaram ao campo brasileiro antes dos anos 1960. Além disso, só tinha acesso à legislação trabalhista aquelas pessoas sindicalizadas, sendo que os sindicatos eram atrelados ao Estado e corporativistas. Por isso, os dirigentes sindicais eram chamados de “pelegos”.

Vargas desfilando em carro aberto durante um comício de 1º de maio 6.4 Política econômica No que se refere a política econômica, Vargas segui uma linha nacionalista e montou as bases da indústria brasileira. Criou empresas estatais como a Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), essa última com apoio financeiro dos EUA. 6.5 Política educacional Seguindo as necessidades do crescimento econômico do país e as

diretrizes ideológicas do regime, Vargas também promoveu mudanças na estrutura educacional brasileira. Foi implantado o ensino técnico industrial, com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Também foram criadas as primeiras Universidades entre 1930 e 1940, como foi o caso da Universidade do Brasil e da USP. Além disso, no que se refere à escola primária, houve o reconhecimento da educação como um direito de todos os cidadãos e, consequentemente, a destinação de verbas fixas para a educação pública. 6.6 Reforma administrativa No campo da administração foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). O DASP estabeleceu a meritocracia para se engajar no serviço público com a obrigatoriedade do concurso público. Mas ainda deixou espaço para o clientelismo político com os chamados cargos comissionados. 6.7 O Brasil na Segunda Guerra A participação brasileira na Segunda Guerra mundial está diretamente ligada à política externa desenvolvida durante a Era Vargas. Nesse período, em especial entre fins dos anos trinta e início dos anos quarenta, a diplomacia brasileira praticou uma política externa marcada pelo pragmatismo. Vargas se aproximou política e economicamente da Alemanha entre 1936 e 1939, quando começou a guerra. De um lado, tínhamos os Aliados (Inglaterra, França etc.), patrocinados pelos EUA e, do outro, eixo totalitário (Alemanha, Itália e Japão). Vargas praticava uma política ambígua, pois seu governo tinha grande

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semelhança com o nazismo, mesmo sem sê-lo. Ao mesmo tempo em que, inicialmente, manteve neutralidade no conflito. A partir de 1939, devido ao bloqueio realizado pela Inglaterra no Atlântico, as relações comerciais e políticas com a Alemanha foram cortadas e se abriu espaço para a intensificação da aproximação econômica, política e cultural dos EUA, com aos países da América Latina e, em especial, com o Brasil, que levou o nome de “política da

boa vizinhança”. Após o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor (1941) e a consequente declaração de guerra oficial dos EUA aos países do Eixo, passou a ser questão de segurança nacional dos estadunidenses instalar bases militares no nordeste brasileiro, ponto mais próximo do norte da África, onde haviam tropas do eixo. Nesse contexto, Vargas soube se aproveitar dos anseios dos americanos do norte e barganhar os financiamentos que possibilitaram a construção da CSN, com a usina de Volta Redonda (RJ). Porém, teve que permitir a construção de bases dos EUA em território nacional, como foi o caso das bases em cidades como Fortaleza, Natal (chamada pelos estadunidenses de o trampolim para a vitória, por ser a parte mais próxima do Brasil em relação à África), Recife e no Arquipélago de Fernando de Noronha. No plano cultural, houve o início do processo de americanização dos costumes no Brasil, pois a aproximação cultural era muito mais no sentido de lá para cá. Porém, tentando minimizar a imagem negativa que os países da América Latina tinham em relação a eles, os EUA se utilizaram do cinema para difundir seus ideais e passar a imagem de amigos. Isso foi

demonstrado muito bem com a criação de personagens pela Walt Disney, como foi o caso do Zé carioca. Além disso, foi a época em que Carmem Miranda teve condições de fazer sucesso nos EUA, “mostrando o que a baiana tem”. Seria

ela uma “divulgadora da cultura

brasileira” nos EUA.

Cartaz dos anos 40 ligado à “política da

boa vizinhança”. Nele temos o Pato

Donald, representando os EUA, além do Zé Carioca e Carmem Miranda, fazendo alusão ao Brasil 6.7.1 O Brasil na Guerra O Brasil entrou na guerra ao lado dos aliados, oficialmente, em agosto de 1942, após bombardeios de navios mercantes brasileiro, que foram atribuídos aos alemães, e à forte pressão pública nacional para que o país decretasse guerra ao eixo. A participação brasileira no conflito se deu com o envio de soldados para as batalhas travadas na Itália, contra Mussolini. Para aquele país foram os “Pracinhas” da Força Expedicionária

Brasileira (FEB) e os soldados da Força Aérea Brasileira (FAB), os “Senta a Púa”.

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 31

“A cobra vai fumar” e “Senta a pua!”,

slogans que incentivaram os militares brasileiros na 2ª Guerra Mundial 6.7.2 A Guerra no Brasil Além de o Brasil ter ido à guerra, a guerra chegou ao Brasil, não apenas pelas aludidas bases estadunidenses em nosso litoral, mas com os chamados “Soldados da Borracha”. Esses soldados

não eram alistados, mas pessoas simples da região nordeste que foram convocados para a chamada “Batalha

da Borracha” na Amazônia, ou seja,

foram chamados para a ajudar o país na guerra, extraindo látex para mandar para a indústria aliada, pois os seringais asiáticos, históricos concorrentes dos seringais brasileiros, estavam sob o controle do eixo. Foi nesse momento que ocorreu o segundo boom da borracha no Brasil. Para que os nordestinos fossem para a Amazônia, foi preciso a realização de uma ampla propaganda pelo por parte do governo, pois a lembrança das explorações sofridas no contexto do primeiro boom da borracha (1890-1910), não eram nem um pouco atraentes para esses homens pobres. Tentando mudar tal imagem, o governo Vargas criou o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) e prometeu proteção do Estado contra a exploração dos seringalistas. Porém, tal reconhecimento pelos serviços prestados por esses “soldados da

borracha” só chegou com a

Constituição de 1988.

Cartaz do SEMTA

Cartaz do SEMTA 6.7.3 Efeitos da guerra para o Estado Novo: Ao entrar na guerra ao lado dos aliados, Vargas cometeu uma contradição básica, pois praticava um governo autoritário, ao mesmo tempo em que entrava em um conflito “defendendo as

democracias” ocidentais. Essa contradição Abriu margem para críticas ao governo de Vargas. Paulatinamente, a partir de 1943, começou a crescer a expressão das insatisfações dos vários setores da sociedade brasileira em relação à ditadura do Estado Novo, como foi o caso do Manifesto dos Mineiros (1943). Por esse manifesto, vários políticos influentes de minas exigiam a abertura política do país. Com o fim da guerra e o retorno dos pracinhas ao país, os anseios por democracia cresciam rapidamente, fato que levou Vargas a iniciar a abertura política no início do ano de 1945. As eleições para uma Constituinte foram marcadas e surgiram os novos partidos (PTB, PSD e UDN), bem como o PCB voltou à legalidade e Luís Carlos Prestes foi solto após 10 anos preso. Apesar de paradoxal, tal postura do governo Vargas tinha a ver com a aliança dos aliados contra o eixo totalitário, pois os soviéticos haviam lutado contra o eixo na guerra e Vargas

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 32

estava promovendo uma aproximação diplomática, pela primeira vez no Brasil, com a URSS. No contexto de transição para um novo governo democrático, formou-se, a partir do PTB e PCB, uma campanha com segmentos populares pedindo Vargas na presidência da nova Constituinte. Tal campanha levou o nome de “queremismo”. Ao perceberem as manifestações populares pró Vargas, os segmentos mais conservadores, a oposição liberal brasileiros, inclusive alguns velhos aliados de Vargas no meio militar, como Góes Monteiro, obrigaram Getúlio a renunciar em fins de 1945, pondo fim ao Estado Novo.

PERÍODO DEMOCRÁTICO OU REPÚBLICA POPULISTA (1946-64)

O período compreendido entre os anos

de 1946 e 1964, na prática, foi a

primeira experiência realmente

democrática no país. O que nos faz

perceber o quanto a democracia

brasileira é jovem.

No Período Colonial, quem exercia a

“cidadania” eram os chamados

“homens bons”; no Império o voto era

censitário e indireto; na República

Velha a cidadania era limitada pelo

coronelismo, pelo voto aberto e pelas

fraudes. Entre 1930 e 1934, Vargas

exerceu o poder de forma autoritária.

De 1934 a 1937, esboçou-se uma

democracia que foi derrubada neste

último ano, com o golpe que implantou

a ditadura do Estado Novo.

Como pode se perceber, não é à toa

que o período político que começamos

a estudar, a partir de agora, é chamado

de democrático.

7. O Populismo

Entre os anos de 1930 e 1964 o Brasil

passou por grandes transformações no

plano cultural, político, ideológico,

econômico e social. Principalmente, no

plano da economia e sociedade, o país

passou por um processo de

modernização, com a montagem de um

projeto de desenvolvimento urbano-

industrial.

Esse processo ocasionou mudanças

fundamentais na distribuição

geográfica da população brasileira. A

cidade, devido a ideologia

desenvolvimentista e o consequente

êxodo rural, foi se transformando no

polo irradiador das decisões políticas e

centro da economia nacional.

Essa mudança fundamental na

economia e sociedade ocasionou,

também, uma mudança nas estruturas

de poder em nosso país. O campo,

historicamente um espaço fundamental

de poder, devido à estrutura social e

econômica do país, essencialmente

rural, perdeu poder para as cidades.

Isso, devido às grandes migrações para

os centros urbanos que, na prática,

foram minando paulatinamente o

coronelismo.

Page 33: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 33

Agora a realidade era outra. O eleitor

controlado pelo “voto de cabresto” já

não mais era mais o fiel da balança nas

eleições. Nesse quadro, emergia um

novo tipo de eleitor que exigia dos

candidatos mais esforço e eficácia na

conquista do voto. É, nesse contexto,

que emergiu o fenômeno do Populismo

brasileiro, que teve em Vargas o seu

maior expoente. Porém, além de

Vargas, surgiram outras lideranças com

um perfil político similar ao de Getúlio.

Foram exemplos desse tipo de político:

Juscelino Kubitschek (JK), Jânio

Quadros e João Goulart (JANGO).

Esses líderes populistas possuíam as

seguintes características:

• líderes carismáticos e paternalistas;

• tinham boa parte do seu prestígio

baseado em políticas sociais;

• voltavam o estado para o

desenvolvimento do capitalismo

nacional (nacionalismo ou

desenvolvimentismo);

• buscavam negar a luta de classes;

• se utilizavam da estrutura sindical e

das políticas sociais para tentar

manipular os trabalhadores;

Esse último aspecto é um dos mais

controvertidos sobre o tema, pois, para

alguns estudiosos do tema, o

Populismo teria como principal

característica a demagogia. Para além

das análises mais supérfluas sobre o

populismo, novos estudos indicam que,

muito mais que manipulação das

massas, o que havia era uma troca

entre o líder populista (cedendo com

leis sociais) e as massas trabalhadoras

(apoiando o líder, pelo menos em

parte).

7.1 As eleições de 1945 e o Governo

Dutra (1946-51)

Após a derrubada de Vargas, o poder

foi entregue transitoriamente ao

presidente do Supremo Tribunal

Federal, José Linhares.

Nas eleições presidenciais de 1945,

despontaram as candidaturas de Eurico

Gaspar Dutra (PSD), Eduardo Gomes

(UDN) e Iedo Fiuza (PCB). Com o apoio

de Vargas às vésperas da eleição, o

General Dutra saiu vitorioso com 55%.

7.1.2 Características do Governo Dutra

O governo de Dutra pode ser marcado

por dois momentos distintos. Entre

1946 e 1947, foi claramente liberal,

tanto na economia como na política. A

partir de 1947, passou a ser mais

centralizador e intervencionista.

Esse governo também ficou marcado

por seu aspecto conservador, por ser

antidemocrático e por praticar um falso

Page 34: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 34

moralismo, proibindo jogos de azar e a

prostituição.

7.1.3 Política externa

No que se refere à diplomacia, Dutra

promoveu o alinhamento incondicional

aos EUA, no contexto da chamada

Guerra Fria. Começando oficialmente

em 1947, tal conflito perdurou até fins

dos anos 1980 e início dos nos 1990.

Foi uma disputa política, ideológica e

propagandística entre o bloco

capitalista (EUA) e o bloco socialista

(URSS).

Para além do senso comum, é preciso

ter em mente que a Guerra Fria não

ocasionou uma simples polarização

entre capitalistas e socialistas. Essa

ideia de bipolarização é contestada por

novos estudos que apresentam

contestações, tanto no mundo

capitalista (maio de 1968), como no

mundo socialista (Revolução Húngara,

Primavera de Praga etc.).

7.1.4 Política interna

A política externa do Governo Dutra

teve reflexos em sua política interna.

No plano econômico, com recursos

acumulados durante os anos de guerra,

Dutra promoveu a abertura da

economia brasileira para que vários

produtos estrangeiros entrassem no

país. No plano político, com a liberdade

de expressão assegurada pela

Constituição de 1946, o PCB pode ficar

na legalidade e chegou mesmo a ter

alguns de seus membros ocupando

importantes postos políticos, com foi o

caso de Luís Carlos Prestes, senador

mais votado nas eleições de 1945.

A partir de 1947, com o início de uma

crise na economia brasileira e com o

alinhamento aos EUA, no contexto da

Guerra Fria, Dutra começa um processo

de intervenção na política e na

economia.

Nesse mesmo ano começa a reduzir as

importações, comprando apenas

produtos realmente necessários à

economia e indústria nacionais, além

de lançar o Plano Salte, visando investir

em saúde, alimentação, transporte e

energia.

Na política, a partir de uma decisão do

STF, com base em denúncias não muito

esclarecidas, o PCB foi cassado. No ano

seguinte, em 1948, os parlamentares

do PCB também foram cassados. Isso

mostra a disposição do Governo Dutra

em combater os comunistas no Brasil.

7.1.5 A Constituição de 1946

Apesar de possuir um perfil

antidemocrático, foi no Governo Dutra

que se aprovou a Constituição de 1946,

uma das mais democráticas da História

do Brasil.

Page 35: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 35

Optando pelo modelo liberal-

democrático, o constituinte de 1946

estabeleceu várias diretrizes

democráticas para àquela Carta magna,

a saber:

• tripartição de poderes e mandato

presidencial único de cinco anos

• trazia uma Justiça Eleitoral e voto

direto secreto e universal para todos os

sexos;

• o voto seria para maiores de dezoito

anos, desde que alfabetizados;

• estabelecia a igualdade entre os

sexos;

• reconhecia algumas garantias sociais

aos trabalhadores;

7.1.6 A sucessão de Dutra e eleição de

Vargas

Apesar de ter saído do poder em 1945,

Vargas não havia perdido o mesmo.

Nas mesmas eleições que marcaram a

sua sucessão, Vargas foi eleito senador

por dois estados e deputado, em sete.

Em 1950 saiu candidato pelo PTB à

presidência da República defendendo

uma plataforma de governo de viés

nacionalista, com a sua adesão à

campanha do “Petróleo é Nosso”.

Concorrendo contra Eduardo Gomes

(UDN) e Cristiano Machado (PSD),

Vargas saiu vitorioso com 49% do

eleitorado nacional. Uma nota

interessante de se perceber em tal

eleição, é o fato de Vargas ter sido

eleito, pela primeira vez, a partir do

voto popular direto. Isso mostra o

prestígio que Vargas tinha perante os

setores mais humildes da sociedade

brasileira (“pai dos pobres”).

7.2 Segundo Governo Vargas (1951-54): Em seu segundo governo, Vargas deparou-se com uma nova realidade política, pois a máquina autoritária que havia montado, durante o Estado Novo, para dar suporte às suas decisões já não existia mais. O país vivia um momento realmente democrático e, nesse contexto, o presidente necessitava dialogar com o Congresso Nacional e com as oposições. No plano da economia, Vargas deu continuidade ao seu projeto de desenvolvimento econômico para o país, ou seja, pautado no nacionalismo. Nacionalismo esse que não era totalmente incompatível com o capital internacional, mas que foi angariando oposição do mesmo ao longo dos anos cinquenta. 7.2.1 Aspectos econômicos e sociais: No início dos anos cinquenta o Brasil enfrenta uma situação econômica marcada pela grande inflação. Tentado combater esse quadro inflacionário, Vargas nomeou Oswaldo Aranha para o Ministério da Fazenda. Esse ministro lançou um plano de combate inflacionário que levava seu nome, ou seja, Plano Aranha. Diante de um quadro inflacionário, é perceptível que quem mais sofre com tal situação são os segmentos populares. Nesse sentido, Vargas deu continuidade às suas políticas sociais, mas já não podia praticá-la como

Page 36: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 36

outrora, pois necessitava do apoio de opositores no Congresso, coisa extremamente complicada de acontecer. Tentando minimizar as diversas manifestações sociais contra seu governo, devido a alta no custo de vida (“Greve dos 300 mil” e “Greve dos

Marítimos” - 1953), Vargas nomeou para o Ministério do Trabalho um apadrinhado político seu chamado João Goulart (JANGO). De cara, Jango propôs aumento de 100% do salário mínimo para os trabalhadores, medida que colocou os setores mais conservadores nacionais contra a sua pessoa e atiçou as oposições contra o governo de Vargas. Seguindo sua política nacionalista, Vargas promoveu a criação de empresas estatais como a Petrobrás (1953) e a Eletrobrás (1954), ambas ligadas ao seu projeto industrial, pois daria continuidade ao mesmo, só que na parte de abastecimento energético. Também criou o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), hoje BNDES, e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), hoje Banco do Nordeste, no intuito de desenvolver políticas para o desenvolvimento nacional e regional, respectivamente. 7.2.2 Divergências políticas e ideológicas em torno dos projetos de modernização do país: Nesse mesmo contexto de crise econômica e social, as divergências ideológicas, em torno dos projetos de desenvolvimento nacional, ganhavam maiores dimensões. Permeando o meio militar, que desde a crise da Monarquia e a Proclamação da República era uma força política no país, tais divergências acentuaram a crise política e levaram a uma situação limite no ano de 1954.

Desde fins dos anos quarenta havia uma divergência fundamental na política brasileira: de um lado, tínhamos os defensores da linha de modernização adotada pelo governo Vargas, de viés nacionalista, que defendia o desenvolvimento do país sem nenhuma ou, pelo menos, com a mínima dependência em relação ao capital internacional (os Nacionalistas); de outro lado, a linha da oposição varguista, capitaneada pela UDN, que propunha a abertura da economia brasileira ao capital internacional como única forma de desenvolver o país (os “Entreguistas”). 7.2.3 As oposições ao governo de Vargas e a crise que levou ao suicídio: Esse conjunto de divergências político-ideológicas em torno dos projetos de desenvolvimento nacional, somado ao quadro econômico-social e a forte oposição da maior parte dos meios de comunicação do país, como o Estado de São Paulo, O Globo e os Diários e Associados, do magnata dos meios de comunicação Assis Chateubriand, foi se intensificando até chegarem ao seu auge, em agosto de 1954. Naquele ano, foi feito um atentado contra Carlos Lacerda (atentado da Rua Toneleros - agosto), maior opositor de Vargas através do seu jornal (Tribuna da Imprensa). Tal gesto radical e fracassado, pois acabou matando o Major Rubens Vaz, da Aeronáutica, e apenas ferindo Lacerda, fora organizado pelo chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato. Nunca se provou que fora Vargas o mandante, porém, mandante ou não, o atentado serviu para fundamentar os ataques ao presidente. Nesse contexto, as pessoas mais próximas de Getúlio se reúnem com o presidente e sugerem o seu

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 37

afastamento do poder, pois o mesmo já não tinha condições de governabilidade após o atentado da Rua Toneleros. Diante das pressões diversas e da iminência de sofrer um golpe de Estado, Vargas optou por uma saída radical que, como ele mesmo registrou em sua carta testamento, o retiraria da vida para entrar na história: “Serenamente dou o primeiro passo no

caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”. Após o suicídio do presidente, ocorreram várias manifestações populares contra todos aqueles que foram acusados da morte do presidente, pois, apesar de ditador, Vargas havia sido o primeiro presidente a por em prática uma ampla legislação social no país (“pai dos pobres”) e isso

estava na mente das classes trabalhadoras. 7.3 Governo Café Filho (1954-55): Após o suicídio de Vargas, o vice-presidente Café Filho assumiu o comando do país. De perfil conservador e ligado à UDN, Café Filho tomou medidas que abriram as portas da economia nacional ao capital estrangeiro. Em 1955 aconteceram a eleição presidencial que levou o país a mais uma crise política. Nessa eleição saiu vitorioso Juscelino Kubtschek (PDS), com 36% do eleitorado, contra 30% de Juarez Távora (UDN). Como havia acontecido com a eleição de Vargas em 1950, a UDN tentou um golpe de Estado mais uma vez. Reagindo contra esse golpe, o General Henrique Teixeira Lott realizou o chamado “golpe da legalidade”, garantindo assim a posse de JK.

7.4 Governo JK (1956-61) / “os anos

dourados”: A partir dos anos cinquenta a sociedade brasileira passou por inúmeras transformações no campo da política, cultura, economia e urbanização. Na política tivemos uma participação cada vez mais intensa do povo no processo eleitoral; com o desenvolvimento da TV, um novo hábito se enraizou na cultura do brasileiro; com a ideologia desenvolvimentista, temos um avanço considerável na industrialização do país, mesmo que cerceando a região sudeste, o que por sua vez, favoreceu o êxodo rural e as migrações regionais (principalmente do Nordeste para Sudeste), rompendo, assim, a hegemonia histórica do campo sobre a cidade e consolidando a última, como centro irradiador da economia e das decisões políticas a partir dos anos 1970. A década de 1950 também foi marcada pelas discussões ideológicas e políticas em torno dos projetos de desenvolvimento nacional. Foi uma época onde a busca pela modernidade e a luta contra o subdesenvolvimento ganhou grandes projeções. Foi nesse contexto de grandes transformações sócio-culturais, políticas e econômicas, marcado pelo grande otimismo (“anos dourados”) que JK governou o país. Típico líder populista, o presidente “Bossa Nova”,

como era conhecido, promoveu grandes investimentos na indústria nacional, levando-a a um crescimento nunca visto antes. 7.4.1 O nacional-desenvolvimentismo: A ideologia desenvolvimentista foi idealizada no Brasil, principalmente, pelo ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros); e foi materializada a partir

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História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 38

do Plano de Metas de JK, cujo lema era “50 anos em cinco”. Tal ideologia

econômica e política via na industrialização o caminho para o a modernização econômica do país. Isso, consequentemente, iria levar a uma ruptura com o nosso quadro de subdesenvolvimento. Porém, para os desenvolvimentistas, o Brasil só conseguiria romper com o subdesenvolvimento e se modernizar com a junção do capital público nacional com o capital privado nacional e internacional. Foi nesse quadro que houve uma grande abertura da economia brasileira para o capital estrangeiro. Empresas como a Volks Wagem, dentre outras, começaram a chegar ao mercado nacional. A partir do Plano de Metas, JK começou a realizar uma série de investimentos em energia elétrica, na mecanização da agricultura, na siderurgia, na construção naval, na qualificação de pessoal técnico e na indústria automobilística. A maioria das metas foram atingidas e até mesmo ultrapassadas. Porém, uma meta simbolizava e sintetizava muito bem os objetivos desenvolvimentistas desse período: essa meta era a nova capital.

7.4.2 A construção de Brasília

Brasília não é apenas uma cidade, é

muito mais do que isso. Brasília é a

materialização de idéias, sonhos e

interesses políticos e culturais. Enfim,

Brasília é um símbolo. E como tal, só

poderia ter saído do plano das ideias

em um determinado momento

histórico. Por isso, Enganam-se aqueles

que acreditam que a capital nacional

possui apenas metade de um século

(inaugurada em 21 de abril de 1960).

A proposta de uma capital no “coração”

do Brasil existe desde os tempos da

colonização; foi lembrada por Bonifácio

em suas Lembranças e Apontamentos,

enviada às Cortes portuguesas no

contexto da independência; foi prevista

nas Constituições de 1891, 1934 e 1946

até chegar à sua maturidade nos anos

JK.

Acreditamos que Brasília foi efetivada

por JK devido ao momento político,

econômico e cultural do país, pois, nos

processos históricos determinados

acontecimentos só se materializam

quando chegam à sua maturidade. No

caso de Brasília tal maturidade chegou

com os anos cinquenta do século XX.

Naquele momento o país vivia um

contexto histórico ímpar com o forte

otimismo propagandeado pelo

desenvolvimentismo, com o advento da

TV, com a Bossa Nova, com o Cinema

Novo. Tal clima colaborou para a

construção da nova capital. Mas quem

iria realizar o planejamento dessa nova

cidade? No concurso realizado pela

NOVACAP (Cia. Urbanizadora da Nova

Capital) saíram vitoriosos os adeptos

dos ideais modernistas Oscar Niemeyer

e Lúcio Costa.

Assim sendo, percebam que Brasília

simboliza também os ideais

Page 39: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 39

modernistas que estão presentes no

seu corpo material e abstrato de urbe

planejada para vender a idéia do

crescimento, da modernização e da

integração nacional. Aqui vale frisar

que, planejamento em sua construção

é algo que também diferencia Brasília

da maior parte das cidades brasileiras,

pois somente ela e algumas poucas

cidades como Belo Horizonte e Goiânia

tiveram tal privilégio. Portanto,

reafirmo que Brasília é muito mais que

uma cidade.

Além do exposto acima, não podemos

deixar de lado a importantíssima

atuação dos “candangos”: milhares de

nordestinos que laboraram para a

construção de Brasília. A atuação

desses “candangos” foi de suma

importância para a construção da nova

capital, pois foram eles a mão-de-obra

fundamental. No entanto, as condições

sociais a que foram submetidos esses

trabalhadores eram degradantes. Esses

trabalhadores enfrentaram uma

realidade de exploração do trabalho,

com o pagamento de péssimos salários

e com horríveis condições de vida. O

que nos faz pensar a outra face o

desenvolvimentismo.

7.4.3 Modernização conservadora

Sem dúvida alguma os anos JK

representaram um grande avanço na

modernização da economia nacional. O

PIB brasileiro chegou a crescer a uma

taxa média anual de 7,5%; a indústria

nacional crescia a passos largos e,

consequentemente, atraía pessoas para

os grandes centros industriais, fazendo

crescer a urbanização.

Porém, apesar da modernização

econômica nos centros urbanos, a

realidade social do país não teve

transformações estruturais profundas.

O trabalhador urbano continuava a

sofrer com a grande inflação que existia

no país, daí várias manifestações sociais

durante os anos JK.

No campo a situação era bem pior que

no meio urbano, em especial, na Região

Nordeste, uma das mais pobres do

mundo em fins dos anos 1950. Em

meados dessa década, tentando

combater a exploração dos

camponeses e a espoliação das terras

dos mesmos surgiu as Ligas

Camponesas.

Iniciando a partir do município de

Vitória do Santo Antão, no engenho

Galiléia (PE), essas associações civis

espalharam-se rapidamente por todo o

país levantando a bandeira da reforma

agrária e da extensão das leis sociais

para o campo, pois até então as

políticas trabalhistas havia ficado

restritas aos centros urbanos

brasileiros.

Tentando combater o avanço das Ligas

Camponesas, que eram comandadas

pelo advogado Francisco Julião, JK cria,

Page 40: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 40

em 1959, um órgão de

desenvolvimento regional chamado

SUDENE (Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste). Criada

no intuito de combater as secas e

promover o desenvolvimento da

região, a SUDENE, infelizmente, acabou

não efetivando seu papel como

deveria. Isso se deu devido a interesses

pessoais de políticos corruptos dos

estados que desviavam as verbas do

órgão para atender a demandas

políticas pessoais (Indústria da Seca).

7.4.4 A política externa de JK

Durante o fim dos anos quarenta e

decorrer dos anos cinquenta a política

externa brasileira foi marcada pelos

efeitos do contexto internacional da

guerra fria. No governo de JK, os países

do terceiro mundo, em especial da

África e Ásia, com a Conferência de

Bandung (1955), buscavam a

neutralidade em relação aos blocos

capitalista e socialista, o que nos faz

perceber que a bipolarização entre EUA

e URSS não era absoluta.

Nesse contexto, JK buscou barganhar

créditos junto aos EUA para seu projeto

desenvolvimentista. Ao invés da

simples neutralidade ou de apenas se

alinhar aos EUA, JK, com base no

sistema pan-americano montado pelos

próprios norte-americanos no pós

segunda guerra, lançou entre 1958 e

1959 a Operação pan-americana (OPA).

Como foi aludido acima, pela OPAN,

Kubitschek barganharia o apoio

brasileiro para o bloco capitalista

ocidental em troca de créditos para o

país buscar romper com seu quadro de

subdesenvolvimento.

Ainda no final de seu governo JK

rompeu formalmente com o FMI

(1959). Tal ruptura se deu devido à

oposição do FMI ao Plano de Metas. Na

época, a instituição financeira

internacional estava condicionando

empréstimos ao país à adoção de uma

política deflacionária que afetaria

diretamente os investimentos

governamentais na economia. Além

disso, segundo alguns analistas do

tema, JK pretendia, com tal ruptura,

ganhar prestígio político junto a

populares e deixar o mal estar para o

novo presidente. Esse quadro

prejudicaria a imagem do futuro

presidente e, com isso, Kubitschek

tentaria uma nova eleição no pleito de

1965.

7.4.5 Eleições de 1960

O pleito eleitoral de 1960 foi marcado

pelo uso de um importante meio de

comunicação que serviu e serve para

interesses políticos: a televisão. Tal

processo eleitoral foi vencido por

aquele que soube melhor se utilizar da

TV: Jânio da Silva Quadros.

Page 41: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 41

Nessas eleições formaram-se duas

chapas: a do Gal. Lott com Jango (PSD-

PTB) e a de Jânio Quadros e Milton

Campos (UDN, PL, PTN, PDC).

Informalmente foi formada a chapa

“Jan-Jan”, ou seja, Jânio para

presidente e Jango para vice.

Vendendo uma imagem popularesca

com a prática de hábitos simples

(comer pão com mortadela, caspa e

descuido com seus trajes) e

propagando um falso moralismo (seu

lema era “varrer a corrupção”) Jânio

venceu as eleições de 1960 com 48%

dos votos e foi seguido por Jango para

vice.

8. Governo Jânio (1961)

Investindo muito na imagem política e

se esquecendo dos projetos de

governo, Jânio começou a sua gestão

com medidas estapafúrdias (proibição

do uso de biquínis nas praias, do lança-

perfume no carnaval e das corridas de

cavalos em dias de semana) e com

medidas autoritárias, como o uso de

bilhetinhos escritos manualmente com

ordens para seus ministros.

Além de não ter um projeto clero de

governo, Jânio ainda promovia uma

política interna contraditória com suas

diretrizes externas. No plano interno,

abriu as portas do país ao capital

externo e retomou as negociações com

o FMI.

8.1 Política Externa Independente (PEI)

No plano externo Jânio buscou uma

linha independente em relação aos

EUA. Reatou relações com a URSS e

com a China e ainda não apoiou os EUA

na proposta de expulsar Cuba da OEA

(Organização dos Estados Americanos).

Além disso, Jânio ainda chegou a

condecorar Ernesto Che Guevara com a

ordem do cruzeiro do sul.

8.2 A renúncia de Jânio e a campanha

da legalidade

Em agosto de 1961, com apenas sete

meses de governo, Jânio renunciou à

presidência da República e deixou o

país mergulhado em mais uma grande

crise política. Segundo Jânio, “forças

ocultas” o haviam obrigado a renunciar.

No entanto, segundo estudos

posteriores, Jânio tinha intenções

políticas autoritárias com tal medida.

De acordo com tal interpretação da

renúncia de Jânio, o presidente queria

concentrar poderes em suas mãos, pois

os setores mais conservadores não

iriam aceitar a posse de Jango devido

ao fato de o mesmo ser associado ao

comunismo. Por isso mesmo, para

evitar a posse do suposto comunista

Jango, o povo iria pedir o retorno de

Jânio e, assim, o mesmo poderia

solicitar mais poderes em suas mãos. O

problema é que parte desse “plano”

deu certo mas a outra não.

Page 42: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 42

Realmente, os setores mais

conservadores do país não aceitaram a

posse de Jango de imediato, porém, a

renúncia de Jânio foi aceita com

tranquilidade. Na época da renúncia,

Jânio havia enviado Jango em uma

missão diplomática a China

“comunista”, fato que enfatizava ainda

mais as associações que existiam entre

o vice-presidente e o comunismo.

Nesse contexto tivemos um impasse.

A ala conservadora não queria a posse

de Jango. Porém, a partir do Rio Grande

do Sul, com o então governador

daquele estado e cunhado de Jango

(Leonel Brizola) e com o III exército, em

um dos quartéis mais importantes do

país, organizou-se a campanha da

legalidade. Tal campanha, como o

próprio nome sugere, buscava garantir

a posse legal do então presidente, de

acordo com a linha de sucessão.

Após duas semanas de deliberações

entre os legalistas e os contrários a

posse de Jango, optou-se por uma saída

de compromisso. Essa foi a saída

parlamentarista, onde Jango iria

governar com poderes limitados a um

primeiro ministro. Esse compromisso

político ainda previa um plebiscito para

1965 onde o povo brasileiro iria

escolher entre o presidencialismo e o

parlamentarismo.

9. Governo João Goulart (1961-64)

João Goulart assumiu a presidência em

7 de setembro de 1961. Seu governo

ficou marcado pela radicalização

política, tanto das esquerdas como dos

setores conservadores de nossa

sociedade.

Essa situação política estava ligada

diretamente ao contexto internacional

da guerra fria. No início dos anos

sessenta vivia-se o auge daquele

conflito. A Revolução Cubana e a

sequente adesão daquele país ao

socialismo, em 1961, levou o mundo a

uma situação limite, onde quase

ocorreu um novo conflito mundial. A

partir da crise dos mísseis, soviéticos e

estadunidenses adotaram a linha

política da coexistência pacífica.

Tentando combater o comunismo na

América Latina, os EUA lançaram, no

início dos anos 1960, a Aliança para o

Progresso (um programa de ajuda

econômica para os países latinos). Além

de buscar minimizar os problemas do

subdesenvolvimento nos demais países

do continente, os americanos do norte

ainda estavam financiando instituições

golpistas para evitar que setores de

esquerda tomassem o poder e

caminhassem para o socialismo, como

foi o caso de Cuba.

Foi nesse contexto turbulento que

Jango iniciou o seu governo, que iria

Page 43: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 43

terminar em 1964 com um golpe de

Estado promovido por setores

conservadores da sociedade brasileira e

militares, com o apoio dos EUA.

9.1 O Plano Trienal e a ideologia do

planejamento

Entre fins dos anos cinquenta e início

dos anos sessenta, quando Jango

assumiu o poder, o país estava

mergulhado em um caos político,

econômico, educacional e social. Daí a

necessidade de reformas nesses vários

setores. Tentando minimizar esses

problemas, não acabar com eles, Jango

buscou promover um amplo programa

de reformas que ganhou o nome de

Reformas de Base. No entanto, antes

de começar a realizar seu projeto de

Reformas de Base, Jango começou por

adotar uma política de reforma na

economia.

Seguindo uma linha nacionalista, Jango

adotou uma política que limitava a

remessa de lucros para o exterior e

nacionalizou algumas empresas no

setor de energia, favorecendo a

Eletrobrás e atingindo interesses do

capital internacional. Em sua

diplomacia internacional, deu

continuidade a Política Externa

Independente.

Porém, um dos grandes problemas de

nosso país naquele momento era a

inflação, em especial devido aos gastos

do governo anterior com o Plano de

Metas. No intuito de combatê-la, Jango

nomeou o economista Celso Furtado

para ser ministro do Planejamento. No

ano de 1962, Jango conseguiu a

aprovação do Plano Trienal de

desenvolvimento econômico e social,

articulado por Furtado. Tal plano tinha

como grande meta o combate à

inflação, com o corte de gastos e com o

aumento de impostos. Mas para que

esse plano conseguisse êxito, o governo

precisava de apoio dos diversos setores

da sociedade nacional, fato que não

ocorreu e que levou o plano ao

fracasso.

No campo educacional, foi aprovada a

Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da

educação brasileira e foi criada a

Universidade de Brasília, com a atuação

marcante de Darcy Ribeiro, seu

ministro da Educação. Nesse momento,

a educação passou a receber uma

renda mínima de 9% da Receita

Federal, com distribuição igual para os

três níveis (básico, médio e superior).

9.2 As Reformas de Base

A necessidade de reformas nos diversos

setores da economia, da sociedade e da

política nacional, levou Jango a lutar,

desde os primeiros instantes, para

efetivar as suas Reformas de Base. Seu

projeto não era radical, como os

conservadores de nosso país diziam,

longe disso. Com tais reformas Jango

Page 44: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 44

visava apenas reduzir as desigualdades,

sem mudar as estruturas.

As Reformas de Base previam:

• reforma urbana, com vistas a

melhorar a vida de quem pagava

aluguel;

• reforma político-eleitoral,

estabelecendo o voto para analfabetos;

• reforma educacional, no intuito de

ampliar a educação pública e laica;

• reforma administrativa, buscava

racionalizar a máquina pública;

• reforma bancária, visando ampliar os

créditos às forças produtivas e

controlar os juros;

• reforma militar, que almejava

permitir a participação de suboficiais na

política.

Além das reformas supracitadas,

existiam outras, mas nenhuma delas

era tão polêmica quanto à reforma

agrária, mesmo que limitada, pois

tocaria em interesses estabelecidos há

séculos em nosso país.

Em seu projeto, lançado oficialmente

no Comício da Central do Brasil (março

de 1964), Jango anunciava o decreto

SUPRA (Superintendência da Reforma

Agrária). Por esse decreto, previa-se a

desapropriação das terras devolutas de

latifúndios maiores de 500 hectares,

para fins de reforma agrária, que

ficassem no entorno das ferrovias e

rodovias federais, em uma faixa de até

10 km².

Com tal projeto, Jango apenas

redistribuiria terras para camponeses

sem tocar nas estruturas sociais do

país. No entanto, a elite latifundiária do

país via nas reformas de Jango indícios

de comunismo e não aceitava

negociações. Nesse contexto, tínhamos

setores sociais e políticos progressistas

que apoiavam o projeto de reformas de

bases de Jango de um lado e, do outro,

os seus opositores reacionários com o

apoio dos EUA. Assim, foi-se

articulando o golpe de 1964.

9.3 A radicalização política e o golpe

civil-militar de 1964

Entre 1963 e 1964 a situação política no

país se radicalizou, tanto nas esquerdas

como nos setores conservadores. O

projeto de reformas de Jango era

conservador demais para os

movimentos sociais, bem como radical

em demasia para os reacionários. O

país vivia um impasse.

Nas esquerdas não havia uma unidade,

nem mesmo dentro do governo. Tinha-

se a Frente Parlamentar Nacionalista

(FPN), inicialmente apoiadora de

Goulart e depois transformada em

Frente de Mobilização Popular, com

Brizola no comando. A FMP aglutinava

vários segmentos dos movimentos

populares, como a CGT (Comando Geral

Page 45: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 45

dos Trabalhadores) e a UNE (União

Nacional dos Estudantes).

No campo, a questão agrária se

agravava e as necessidades de reforma

eram entoadas a cada dia com mais

intensidade. As Ligas Camponesas

radicalizavam o seu discurso com o

lema “reforma agrária, na lei ou na

marra”. Tentando combater o avanço

das ligas, Jango colocou em prática o

Estatuto do Trabalhador Rural (1963),

que levava as leis trabalhistas da Era

Vargas para o campo brasileiro.

No campo da direita conservadora,

desde 1949, quando da criação da

Escola Superior de Guerra (ESG), a

ideologia anticomunista dos EUA vinha

sendo difundida no meio militar

brasileiro. Nesse contexto de guerra

fria, como foi visto anteriormente, os

EUA estavam financiando e apoiando

grupos conservadores dos diversos

países da América Latina na realização

de golpes políticos em governos de

tendências socialistas. No Brasil,

instituições como o IPES (Instituto de

Pesquisas e Estudos Sociais) o IBAD

(Instituto Brasileiro de Ação

Democrática) e a ESG vinham sendo

financiadas e apoiadas pelos norte-

americanos. Foram essas organizações

que estiveram presentes na realização

do golpe de 1964.

Em fins de março de 1964, após o

Comício da Central do Brasil, onde

Jango anunciava suas Reformas de Base

e, após as “marchas da família com

deus pela liberdade”, organizadas por

setores médios e conservadores da

sociedade civil brasileira, os setores

golpistas tomaram o poder sem

resistência ao golpe.

DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-85)

1. A ideologia do regime

O golpe civil-militar que ocorreu entre

31 de março e 1° de abril de 1964 teve

no binômio segurança e

desenvolvimento a base para

montagem da ideologia do novo

governo, que tinha no autoritarismo a

sua principal característica política.

A Escola Superior de Guerra foi o lugar

maior da montagem dessa ideologia,

com a atuação de destaque do grupo

comandado pelo militar

intelectualizado Golbery do Couto e

Silva, tido como o grande ideólogo do

regime junto com Castelo Branco.

O pretexto para o golpe foi o suposto

“combate” ao “comunismo” de Jango

que, na verdade, não tinha muita coisa

de comunista. Esse combate ao

comunismo é que garantiria a

“segurança” do país. Nesse sentido, o

nacionalismo de Golbery era pautado

no anticomunismo e na defesa dos

ideais liberais excludentes do mundo

judaico-cristão ocidental.

Page 46: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 46

O desenvolvimento seria garantido, em

seguida, com a adoção de uma política

de alinhamento aos EUA, com a

consequente abertura do país ao

capital externo e com uma série de

investimentos no setor industrial. Com

isso, os militares e civis que realizaram

o golpe de 1964 diziam que o país iria

romper seu quadro de

subdesenvolvimento e se tornaria uma

potência. Foi nessa época que surgiu

essa ideia de Brasil Potência

emergente.

No entanto, não havia uma unidade

absoluta entre os setores golpistas.

Pode-se dizer que haviam duas

tendências dentro das forças armadas.

Uma delas era a linha capitaneada por

Humberto Castello Branco, os da

“sorbone” ou castelistas, como eram

conhecidos, devido ao fato de serem

militares intelectualizados. Essa linha, a

dos castelistas, defendia que a

“revolução” deveria ser feita para

garantir o binômio segurança e

desenvolvimento e, depois, o poder

deveria ser devolvido aos civis. Ou seja,

os castelistas, em tese, não desejavam

permanecer muito tempo no poder.

Por outro lado, tinha-se a chamada

“linha dura”, que defendia que os

militares deveriam ficar no poder por

tempo indeterminado.

Para facilitar a análise daquele

momento político, utilizamos a divisão

do período adotada pelo grande mestre

José Murilo de Carvalho. Para o autor,

“(...) os governos militares podem ser

divididos em três fases. A primeira vai

de 1964 a 1968 e corresponde ao

governo do general Castelo Branco e o

primeiro ano do governo do general

Costa e Silva. (...) A segunda fase vai de

1968 a 1974 e compreende os anos

mais sombrios da história do país, do

ponto de vista dos direitos civis e

políticos (...) O período combinou a

repressão política mais violenta já vista

no país com índices também jamais

vistos de crescimento econômico. Em

contraste com as taxas de crescimento,

o salário mínimo continuou a

decrescer. A terceira fase começa em

1974, com a posse do general Ernesto

Geisel, e termina em 1985, com a

eleição indireta de Tancredo Neves”.

[José Murilo de Carvalho. Cidadania no

Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2008, pág.157-

158]

2. Governo Castello Branco e as

primeiras medidas do novo regime

Devido ao fato de ser um dos principais

mentores e uma das principais

lideranças do golpe de 1964, Castello

Branco foi o primeiro presidente

militar, entre 1964 e 1967. Apesar de

ser considerado intelectual, em seu

governo aconteceram episódios

lamentáveis como expurgos de vários

intelectuais de universidades e da vida

política do país, além de ser realizada a

queima de livros ditos subversivos em

algumas cidades brasileiras.

Page 47: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 47

Em seu governo, houve preocupação

de imediato com a crise econômica

pela qual passava o país. De imediato, o

Estado lançou um plano econômico que

visava o combate à inflação e a maior

abertura de nosso mercado ao capital

internacional. Esse plano foi o PAEG

(Plano de Ação Econômica do

Governo).

Através PAEG, impôs-se uma política

social que comprimia os salários e que

retirava subsídios do petróleo e do

trigo; com isso, o governo visava

reduzir o déficit fiscal.

No entanto, apesar de praticar uma

política muito mais voltada para

atender aos interesses do capital

internacional e nacional, no governo de

Castello foi criado o FGTS (Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço), o BNH

(Banco Nacional de Habitação), o PIS-

PASEP e foi posto em prática o Estatuto

da Terra. Essas eram políticas sociais de

alcance claramente limitado e que

serviam a interesses políticos do

governo. No entanto, o que é preciso,

quando se reflete sobre os processos

históricos, é mudar a mentalidade

maniqueísta que limita o intelecto

humano e a compreensão da realidade

histórica e social.

A reflexão crítica a respeito das

instituições militares no Brasil e sobre a

sua participação na política nacional,

obriga o historiador e pensador da

realidade nacional a lobrigar as

imagens mais recentes que colocam os

militares como algozes de nossa

sociedade. Não negando essa memória

mais recente que se tem da presença

militar na política brasileira, é preciso

salientar que, pelo menos desde a

Guerra do Paraguai, eles têm

desempenhado um papel de relevo na

política tupiniquim.

3. A repressão institucionalizada

A estruturação política e jurídica da

ditadura implantada em 1964 foi feita a

partir de decretos-lei chamados de Atos

Institucionais (AI), da Constituição de

1967 e da Emenda n° I, de 1969 que,

para alguns juristas, é tida como uma

nova constituição.

Ainda no governo de Castello Branco,

foram baixados quatro atos

institucionais que iniciaram a onda de

perseguições políticas aos opositores

do regime e começaram a montar o

arcabouço jurídico do regime. Esses

expurgos foram realizados em

Universidades, no movimento

estudantil, no judiciário, no legislativo,

na administração pública como um

todo e na sociedade civil. Qualquer

pessoa contrária ao golpe poderia ser

caçada e sofrer torturas, perseguições

políticas, exílio ou perder seu emprego.

Esse foi um dos lados negros da

ditadura.

Page 48: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 48

Em 9 de abril de 1964 foi editado o Ato

Institucional n° 1, que concedia plenos

poderes ao presidente Castello para

controlar a política e a sociedade

brasileira. Foi a partir desse ato que

começaram as perseguições aos

opositores do golpe.

Em 27 de outubro de 1965 foi editado o

AI-2, que estabelecia o fim do

pluripartidarismo, as eleições indiretas

para presidente da República e o

bipartidarismo. A partir de então só

existiria o partido da situação: a ARENA

(Aliança Renovadora Nacional; e o da

oposição formal e consentida: o MDB

(Movimento Democrático Brasileiro).

É interessante frisar que, de acordo

com José Murilo de Carvalho, a

ditadura civil-militar tinha uma

peculiaridade bem interessante, que

era o fato de buscar passar uma

imagem de democracia para o resto do

mundo. Mesmo com o país vivendo um

de seus momentos mais autoritários, os

militares procuraram mascarar o

autoritarismo com a permissão de uma

oposição formal, com o funcionamento

do Congresso na maior parte do

período e com a realização de eleições

para alguns cargos representativos.

Em fevereiro de 1966, devido à vitória

do MDB em algumas importantes

unidades da federação, Castello Branco

baixou o AI-3, que estabelecia eleições

indiretas para os governadores

estaduais.

Ainda no final de 1966 o governo

fechou o Congresso e baixou o AI-4,

que previa a reabertura do Congresso

no início do ano seguinte para eleger o

novo presidente e para aprovar a

Constituição de 1967, de perfil

centralizador e autoritário, pois

concentrava poderes nas mãos do

chefe do executivo.

3.1 Os órgãos da repressão

Fundamentando-se na Doutrina de

Segurança Nacional (DSN), Golbery do

Couto e Silva criou o Serviço Nacional

de Informações (SNI), que seria o

cérebro do regime. O SNI era o

instrumento maior de inteligência da

ditadura e o responsável por promover

inúmeras investigações secretas sobre

a vida de pessoas consideradas

suspeitas ou ameaçadoras do governo.

Além do SNI existia o DOPS, polícia

política, os DOI-CODI e o CENIMAR,

além de outros órgãos repressores. No

final dos anos sessenta ainda foi

lançada a OBAN, que era financiada por

empresários para combater a luta

armada no eixo Rio-São Paulo.

Page 49: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 49

4. Rearticulação das oposições e a

produção cultural e política nos anos

1960

A década de sessenta ficou marcada

por uma série de transformações no

campo cultural, social e político no

mundo ocidental. O ponto zênite da

década foi o ano de 1968, com as

greves gerais de trabalhadores e

estudantes no mês de maio, em Paris e

com as contestações ao domínio

soviético na República Tcheca, a

chamada Primavera de Praga.

No plano da sociedade e da cultura

tivemos uma década marcada pela

contestação dos valores moralistas,

patriarcais, racistas e consumistas da

“sociedade de massas”. Essas

contestações começaram a partir dos

EUA, com o movimento da Contra

Cultura. Foi nesse contexto que surgiu

o movimento Hippie, que buscava

promover uma crítica à sociedade de

massas através de um estilo alternativo

de encarar a vida.

Também se tinha, a partir dos EUA, a

contestação ao racismo com Martin

Luter King e a Revolução Sexual e a

progressiva liberalização da mulher

com a atuação do movimento

feminista. Enfim, vivia-se um momento

de grande efervescência cultural e

política no mundo ocidental.

Esse contexto influenciou diretamente

a sociedade civil brasileira que vivia sob

o signo de uma ditadura. Foi nesse

momento que surgiu ou se intensificou

a atuação de movimentos culturais

engajados na mudança social e política

como os Centros Populares de Cultura

(CPCs), o Cinema Novo e Teatro Oficina

e Arena, que buscavam promover a

criação cultural com crítica social. No

campo da política formou-se a Frente

Ampla, com Lacerda, JK e Jango

defendendo a democracia liberal.

No campo musical, destacaram-se

artistas como Geraldo Vandré, Chico

Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso,

Gal etc. Esses três últimos com o

movimento musical de inspiração

modernista chamado tropicalismo.

Esses artistas buscavam promover

críticas ao governo através de suas

canções, que traziam em suas letras

contestações à repressão e aos

autoritarismos. Várias músicas ficaram

famosíssimas, como “Cálice”, de Chico

Buarque e “Para não dizer que não falei

de flores”, de Vandré.

A oposição ao regime crescia

constantemente depois de 1965. Em

1968 ocorreram grandes manifestações

de trabalhadores em são Paulo e Minas

gerais, com as greves de Osasco e

contagem, nos respectivos estados. No

Rio de Janeiro foi organizada uma

enorme manifestação pública exigindo

abertura política, conhecida como

“passeata dos 100 mil”. O movimento

estudantil foi reprimido com violência

no Congresso de Ibiúna, em Minas.

Page 50: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 50

Além dessas manifestações pacíficas,

foram realizadas ações mais ousadas

contra o governo com a chamada Luta

Armada. Para alguns opositores da

ditadura a oposição pacífica não traria

grandes resultados. Nesse sentido,

guerrilheiros como Carlos Marighella e

Carlos Lamarca passaram a comandar

movimentos radicais de esquerda, nos

centros urbanos do sudeste, como a

Aliança de Libertação Nacional (ANL), a

Vanguarda Popular Revolucionária

(VPR), Ação Popular (AP), o Movimento

revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e,

no campo, a Guerrilha do Araguaia.

Esses movimentos, neste caso os

urbanos, praticavam ações ousadas

como os assaltos a bancos para

financiar a luta contra o governo, o

sequestro de embaixadores

estrangeiros para trocá-los por

prisioneiros políticos da ditadura e até

mesmo o “justiçamento” (assassinato

de militares).

Nesse clima crescente de oposição ao

governo os militares começaram a

endurecer ainda mais o regime. O

pretexto para o endurecimento foi o

discurso do Deputado Moreira Alves

contra o governo, que baixou o Ato

Institucional n° 5.

5. O golpe de 1968 - AI-5 e o auge da

repressão

O crescimento constante das oposições

ao governo levou os militares da linha

dura a promover o que alguns

chamaram de a revolução dentro da

revolução ou a contra-revolução. O

então presidente da linha dura, Costa e

Silva baixou o AI-5, que seria o principal

instrumento da repressão durante o

período.

Esse ato possibilitou a contenção das

oposições, pois enrijeceu a censura aos

meios de comunicação, suspendeu

direitos individuais de cidadãos, como o

habeas corpus para crimes contra a

“segurança nacional, possibilitou a

cassação de mandatos de

parlamentares, demissões do serviço

público e perseguições em empresas

particulares.

Com o AI-5 os militares deram um

golpe nas oposições e iniciaram um dos

períodos mais negros da história

política do país, com o governo de

aspectos fascistas do Gal. Emílio

Garrastazu Médici (1969-74).

Antes de Médici assumir a presidência,

ainda montou-se uma junta militar,

após uma trombose cerebral de Costa e

Silva, com a sua composição feita pelos

ministros das Forças Armadas, visando

evitar a posse do vice-presidente que

era civil.

Page 51: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 51

6. O “milagre” econômico e o duplo

censura/propaganda no Governo

Médici

O governo de Médici correspondeu ao

auge da repressão, ao mesmo tempo

em que ocorria o auge da popularidade

do regime. Esse paradoxo pode ser

entendido através da análise da

propaganda oficial promovida pelo

governo através da grande mídia, em

especial, a partir da rede Globo.

Com a censura prévia aos meios de

comunicação, os militares controlavam

jornais e a TV, só permitindo a

divulgação de notícias favoráveis ao

governo e censurando tudo aquilo que

destoava da ideologia do regime. A

propaganda oficial promovia a

divulgação de slogans ufanistas como

“Brasil: ame-o ou deixe-o” e “ninguém

mais segura esse país”.

Era a época do desenvolvimento da

ideia de Brasil potência, onde a

propaganda associava os grandes

índices de crescimento econômico com

as conquistas esportivas. Neste sentido,

o tricampeonato mundial de futebol foi

utilizado pela ditadura para desviar a

atenção do povo da política para os

“espetáculos” da seleção (“política de

pão e circo”).

Foi nesse mesmo contexto que ocorria

o “milagre” econômico brasileiro, uma

momento entre 1969 e 1973 aonde o

PIB nacional chegou a crescer entre 8 e

14% ao ano, aproximadamente.

Esse milagre, na realidade, tinha

explicações bem

mundanas.Comandado pelo poderoso

ministro Delfim Neto, o “mago da

economia” durante os governos

militares, o PIB nacional crescia de

forma excepcional, após anos de

recessão e grande inflação na década

anterior. Parecia um milagre, mas não

era. Segundo analistas do “milagre”,

esse crescimento dava-se devido à

grande oferta de créditos no mercado

mundial e, internamente, havia o

grande problema da concentração de

renda (“política do bolo”). Quem

realmente se beneficiou com o

“milagre” foram os empresários

nacionais e internacionais e as classes

médias, com a maior oferta de

empregos para profissionais

qualificados.

Já os segmentos populares, tiveram

seus salários comprimidos.

Toda essa política de propaganda das

“benesses” da ditadura associada aos

esportes omitia a grande violência e

corrupção praticada no governo, além

dos problemas sociais. Esses problemas

só iriam aparecer com mais ênfase na

transição para as décadas seguintes,

em especial, após a crise do petróleo

de 1973, momento onde o “milagre”

começou a desmoronar e mostrar a sua

real face.

Page 52: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 52

7. Política educacional

Como era de se esperar, a ditadura

também atuou no campo educacional.

No entanto, tal atuação ficou marcada

pelos acordos MEC-USAID (Ministérios

da Educação do Brasil e EUA), que,

dentre outras coisas, visava inserir o

ensino superior brasileiro de acordo

com os interesses internacionais de

privatização do ensino e com o

tecnicismo educacional.

Também foi intensificado a

Organização Social e Política do Brasil

(OSPB) e criou-se o MOBRAL

(Movimento Brasileiro de

Alfabetização). A OSPB, que deveria ser

uma disciplina voltada para a formação

cidadã, acabou servindo aos interesses

“morais e cívicos” passivos e apáticos

da ditadura.

Já o MOBRAL, que defendia a

alfabetização e melhor preparação

educacional do cidadão para integrá-lo

a sua sociedade e lhe proporcionar um

padrão de vida melhor, na verdade, não

trazia grandes transformações sociais.

8. Geisel e o início da abertura “lenta,

gradual e segura”

Após os anos truculentos do governo

de Médici, ascendeu ao poder a figura

de Ernesto Geisel, membro do grupo de

militares esclarecidos comandados por

Golbery do Couto e Silva. Em seu

mandato (1974-79), ligado ao contexto

nacional e internacional, Geisel iniciou

o processo de distensão do regime,

mas seria de forma “lenta, gradual e

segura” (Projeto Geisel-Golbery). Esse

processo só seria concluído no governo

seguinte, com J. B. Figueiredo (1979-

85).

No que se refere à conjuntura

internacional que facilitou a abertura

política, existiam pressões das grandes

potências, com a Comissão Trilateral

(EUA, Japão e Europa), na defesa dos

direitos humanos; e ainda havia a crise

do petróleo ligada a mais um episódio

dos conflitos árabe-israelense (Guerra

do Yom Kippur, com os países da OPEP

aumentando o preço daquele produto,

fato que afetou profundamente a

economia dependente do Brasil e fez

ruir o modelo de desenvolvimento

econômico adotado pelos militares,

que era uma de suas bases de

sustentação política.

À crise do modelo econômico

somaram-se as pressões internas da

sociedade civil brasileira, com a luta

pela anistia e pela revogação do AI-5.

Neste contexto, última metade dos

anos 1970 foi marcada pelo início da

abertura e com o avanço das oposições

ao governo. Instituições com a OAB,

ABI, SPBC e CNBB foram

importantíssimas na luta pela

distensão. Isso fez com que a abertura,

iniciada por Geisel, tivesse avanços e

Page 53: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 53

recuos, pois os militares não estavam

dispostos a perder o controle da

situação de imediato.

Como avanço importante teve-se a

redução da censura aos meios de

comunicação, a revogação do AI-5

entre fins de 1978 e início de 1979 e o

embate direto do governo com a linha

dura, que era a extrema direita do

regime e fazia oposição frontal ao

projeto Geisel-Golbery, inclusive com

atentados terroristas contra a abertura.

No entanto, apesar de iniciar a

abertura, havia um paradoxo no

governo de Geisel, pois, como informou

o jornalista e historiador Elio Gaspari,

“Geisel queria menos ditadura

tornando-se mais ditador”. O que o

autor queria dizer com isso é que a

abertura iria acontecer, mas do jeito e

no ritmo dos militares, inclusive, com

recuos autoritários.

Com o avanço do MDB nas eleições de

1974, Geisel recua com a Lei Falcão

(1976), que limitava o acesso da

oposição aos meios de comunicação e

tentava, com isso, conter tal avanço.

No entanto, mesmo assim, o MDB saiu

vitorioso nas eleições municipais de

1976. Isso nos mostra a crescente

insatisfação em relação ao governo e os

anseios de mudança existentes na

sociedade brasileira.

Como resposta a essa ascensão

constante das oposições aos cargos

políticos, Geisel recua ainda mais em

seu projeto de abertura com o

chamado “pacote de abril”, um

conjunto de medidas políticas e

institucionais que visava por limites ao

crescimento das oposições. Veja as

disposições do “pacote de abril”:

• recesso do Congresso Nacional e

plenos poderes ao presidente;

• imposição ao Senado de vários

senadores “biônicos” nomeados pelo

presidente;

• aumento da representação de

deputados para os estados onde o

governo elegia mais parlamentares;

• aumento do mandato presidencial

para 6 anos;

• as mensagens presidenciais enviadas

ao Congresso seriam aprovadas

automaticamente se não fossem

aprovadas pelos parlamentares em até

40 dias.

8.1 O II Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND)

Dando continuidade a política

econômica de desenvolvimento

industrial, o Governo Geisel lançou o II

PND, o primeiro havia sido lançado no

governo de Médici e buscava substituir

as importações na época do “milagre”.

O II PND tinha objetivos diferentes e

ligados ao novo contexto econômico

mundial.

Page 54: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 54

Devido à crise do petróleo, as

demandas do II PND estavam ligadas ao

problema energético. Dentre seus

vários objetivos destacamos os

investimentos na prospecção de

petróleo, desenvolvimento de um

programa de energia nuclear,

lançamento do Proálcool para tentar

uma substituição parcial da gasolina

pelo álcool e investimentos em energia

hidroelétrica, com as usinas de Itaipu e

Tucuruí.

9. João Batista Figueiredo e a transição

do poder para os civis

Dando continuidade ao projeto de

abertura iniciado por Geisel e Golbery,

J. B. Figueiredo promoveu a transição

do poder para os civis através de uma

“conciliação pelo alto”, como desejava

o projeto Geisel-Golbery. Seu governo

ficou marcado pela ampliação da

distensão e pelo aumento da crise

econômica, com um quadro de

“estagflação”.

Já no ano de 1979 Figueiredo avançou

no sentido da abertura política, com a

revogação do AI-2 e a consequente

aprovação no Congresso da Nova Lei

Orgânica de Partidos (Lei 6.767, de 20

de dezembro), bem como com a

aprovação no Congresso da Lei de

Anistia (Lei 6.683, de 28 de agosto de

1979), uma das principais bandeiras da

sociedade civil brasileira daqueles anos.

No que se refere à nova lei de partidos,

extingui-se o bipartidarismo e voltava-

se ao pluripartidarismo. Foi nesse

momento que surgiram Partidos como

o PMDB, antigo MDB; o PDS, antiga

ARENA; o PDT, formado por antigos

simpatizantes do varguismo e

comandado por Brizola; e o PT, ligado

ao chamado Novo Sindicalismo do ABC

paulista (atual ABCD), que teve seu

auge nas greves gerais entre os anos de

1978-79 e intelectuais da estirpe de

Florestan Fernandes. Vale frisar que

essas greves do ABC paulista mostram a

força de um emergente movimento

operário que teve origem no próprio

modelo de desenvolvimento

econômico do governo.

Já a Lei de Anistia promovia o perdão

geral para torturadores e para

opositores do regime, pois era uma lei

que concedia a “anistia ampla geral e

irrestrita”.

No entanto, mesmo com os avanços no

sentido de se abrir a política brasileira

ocorreram alguns contratempos com a

oposição ferrenha da linha dura ao

projeto de distensão. Essa oposição se

fez sentir com uma série de atentados

terroristas às entidades e pessoas

ligadas à abertura, como foi o caso do

famoso e fracassado atentado do

Riocentro em 1981.

No início dos anos 1980 o quadro

econômico brasileiro complicava-se e

as oposições articulavam-se cada vez

Page 55: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 55

mais no sentido da abertura. Em 1982

já ocorreram às primeiras eleições

diretas para os governadores de Estado

e, no ano seguinte, iniciou-se uma das

campanhas de maior mobilização de

civis que houve na história do Brasil: a

campanha das “Diretas já!”.

Tal campanha levantava a bandeira da

eleição direta para presidente com o

lema “eu quero votar para presidente”.

No entanto, para que pudesse ocorrer

eleição direta para presidente era

preciso se fazer aprovar uma Emenda

Constitucional. Quem propôs o projeto

de emenda foi o deputado do PMDB,

Dante de Oliveira. Porém, mesmo com

a realização de uma grande campanha

nacional com comícios e passeatas,

inclusive com a participação de artistas

e personalidades políticas públicas, a

emenda não foi aprovada.

NOVA REPÚBLICA (1985-...)

Um dia antes de tomar posse, o que

deveria ocorrer em 15 de março de

1985, Tancredo Neves foi hospitalizado.

Depois de ser submetido a seis

cirurgias, Tancredo Neves faleceu no

dia 21 de abril de 1985. Com a morte

de Tancredo, a presidência do Brasil foi

entregue ao então vice-presidente, José

Sarney.

1. O Governo de José Sarney (1985-

1990)

Em 1985 foi eleito vice-presidente de

Tancredo Neves, por um Colégio

Eleitoral. Diante da morte de Tancredo

Neves, assumiu oficialmente a

presidência.

Os planos econômicos e as tentativas

de conter a inflação

Em 1986, a inflação era extremamente

alta. Em 1986, o Ministro da Fazenda,

Dílson Funaro, apresentou à nação seu

plano de estabilização econômica, o

Plano Cruzado. Esse plano estabelecia

o congelamento dos preços e dos

salários, além do tabelamento de uma

série de produtos, principalmente

alimentícios. Foi lançada ainda uma

nova moeda, o Cruzado, em

substituição ao Cruzeiro; e instituiu-se

o “gatilho salarial”, que reajustava

automaticamente os salários, toda vez

que a inflação acumulasse 20%.

O uso político do plano pelo PMDB e

PFL impediu que o ministro Funaro

realizasse ajustes às medidas

estabelecidas pelo plano, contribuindo

para o seu fracasso. O boicote

praticado por empresários e grandes

comerciantes com a cobrança do ágio

(lucro sobre a diferença de valor da

moeda), provocou a crise do

desabastecimento. A liberação dos

saques na caderneta de poupança pelo

Page 56: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 56

governo despejou uma grande soma de

dinheiro no mercado, contribuindo

para a especulação e a volta da

inflação. Sem condições de salvar o

plano, Dílson Funaro pediu demissão

do cargo, e para seu lugar foi nomeado

o economista Luis Bresser Pereira. O

ministro Bresser Pereira tratou

imediatamente de elaborar um novo

plano econômico – o Plano Bresser.

O novo plano também estabeleceu o

congelamento de preços e salários, e

propôs reduzir gastos do governo. O

ministro Bresser Pereira não obteve

apoio substancial por parte do governo,

vindo a deixar o cargo. Com a saída de

Bresser Pereira, coube a Maílson da

Nóbrega assumir o Ministério da

Fazenda. Maílson elaborou o Plano

Verão, que também determinou o

congelamento de preços e salários. Foi

adotada uma nova forma de reajuste

salarial, os juros bancários foram

elevados para conter o consumo, e o

Cruzado foi substituído pelo Cruzado

Novo. O Plano Verão também resultou

em fracasso. De fevereiro de 1989 até

fevereiro de 1990, a inflação

acumulada atingiu 1.200%.

A Constituição de 1988

Em 5 de outubro de 1988, a

Constituição foi promulgada,

apresentando as seguintes

determinações:

•Direito de voto aos analfabetos

(facultativo);

•Voto facultativo dos 16 aos 18 anos, e

obrigatório dos 18 aos 70 anos;

•Licença paternidade de 5 dias;

•A prática do racismo constitui crime

inafiançável e imprescritível, sujeito à

pena de reclusão, nos termos da lei;

•Garantia aos índios a posse da terra

que já ocupam tradicionalmente,

competindo à União demarcá-las.

2. O Governo de Fernando Collor

(1990-1992)

Fernando Affonso Collor de Mello foi

eleito presidente 1989, vencendo o

candidato Luiz Inácio Lula da Silva no 2º

turno das eleições.

No início do seu governo foi elaborado

um novo plano econômico, o Plano

Collor. Esse plano foi acompanhado de

um programa de privatização das

empresas estatais e de grande abertura

do mercado brasileiro às importações e

à entrada do capital estrangeiro no

país. Essas medidas significaram o início

e a consolidação do neoliberalismo no

país.

O plano foi responsável ainda por uma

nova troca de moeda, com a

substituição do Cruzado Novo pelo

Cruzeiro Novo, e pelo confisco,

realizado pelo Banco Central, pelo

período de 18 meses, de todos os

Page 57: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 57

saldos depositados em conta corrente,

caderneta de poupança e outras

aplicações financeiras superiores a

cinqüenta cruzeiros novos.

Em 1991, a imprensa começou a

divulgar reportagens sobre atos de

corrupção envolvendo pessoas ligadas

ao governo, entre eles Paulo César

Farias, o tesoureiro da campanha

presidencial de Collor. Em pouco tempo

veio a público o esquema PC, cujas

investigações concluíram tratar-se de

uma empresa de Paulo César Farias

para a qual empresários pagavam

propinas, para ganhar as licitações de

obras públicas. O dinheiro arrecadado

pelo esquema PC era movimentado por

meios de contas fantasmas e servia

para pagar contas particulares do

presidente, de sua mulher, além de

rechear contas particulares no exterior.

Em dezembro de 1992, o Senado

Federal decidiu pelo impeachment do

presidente, que foi afastado do cargo e

teve seus direitos políticos cassados por

8 anos. Fernando Collor de Mello havia

renunciado em setembro, justamente

para escapar da cassação, mas de nada

adiantou.

Com afastamento de Collor da

presidência, o Congresso Nacional

empossou o vice, Itamar Franco, como

novo presidente do país.

3. O Governo de Itamar Franco (1992-

1994)

Itamar Franco é natural de Minas

Gerais. Assumiu a presidência da

República em caráter definitivo no dia

29 de dezembro de 1992, deixando-a

em 1º de janeiro de 1995.

No dia 21 de abril de 1993 foi realizado

um plebiscito nacional, já previsto pela

Constituição de 1988. Nele a sociedade

foi convocada a escolher a forma de

governo (República ou Monarquia) e o

regime de governo (Presidencialismo

ou Parlamentarismo). O povo optou

pela República Presidencialista.

Em maio de 1993, Fernando Henrique

Cardoso assumiu o Ministério da

Fazenda. O novo ministro da fazenda

elaborou um novo plano econômico, o

Plano Real, que foi introduzido

definitivamente em 1º de julho de

1994. Esse plano estabeleceu as

seguintes medidas:

•Continuidade de abertura do mercado

brasileiro às importações e ao capital

estrangeiro;

•Continuidade da política de

privatização de estatais;

•Elevação da taxa de juros;

•Criação de uma nova moeda, o Real.

Na eleição presidencial de 1994,

Fernando Henrique Cardoso foi eleito

Page 58: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 58

presidente no primeiro turno,

vencendo Luiz Inácio Lula da Silva.

4. O Governo de Fernando Henrique

Cardoso (1994-2002)

Fernando Henrique Cardoso é natural

do Rio de Janeiro (RJ). Foi eleito

presidente duas vezes, ambas no

primeiro turno, vencendo o candidato

da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva.

No governo FHC, Itamar Franco ocupou

o Ministério das Relações Exteriores e o

Ministério da Fazenda.

Fatos marcantes no período:

•Aprovação da Emenda Constitucional

que permitiu a reeleição para cargos do

Executivo – presidente da República,

governadores e prefeitos (1997);

•Privatização do sistema de

distribuição de energia, da Companhia

Vale do Rio Doce e da Telebrás;

•Aprovação da reforma da Previdência,

eliminando a estabilidade de emprego

de servidores, e da nova lei de

aposentadoria, que passou a ser por

tempo de contribuição – 35 anos para

homens e 30 anos para mulheres;

ANEXO PROVAS DE HISTÓRIA APLICADAS EM

CONCURSOS DA ÁREA MILITAR (PM/CBM)

POLÍCIA MILITAR – CEARÁ (2008)

A colonização do Brasil assentou-se,

fundamentalmente, no latifúndio, na

monocultura e no trabalho escravo.

Proclamada a independência, não

houve efetiva ruptura com o passado

colonial. A abolição da escravidão, por

exemplo, somente se deu em fins do

século XIX, ainda assim inconclusa. A

República Velha, nascida de um golpe

de Estado, representou o domínio das

oligarquias, com forte exclusão social e

processos políticos viciados. A

Revolução de 1930 inaugurou a Era

Vargas e o início da modernização do

país. Depois da ditadura do Estado

Novo, o país iniciou o processo de

aprendizado democrático em meio a

crises agudas, que culminaram com o

golpe de 1964. Após 21 anos de regime

militar, restaurou-se a democracia,

cujo grande marco definidor é a

Constituição de 1988.

Considerando as informações acima e

os aspectos significativos da História

do Brasil, julgue os itens a seguir. (PM-

CE / 2008)

1.(X)A pequena propriedade de terras

prevaleceu no Brasil colonial.

2.(X)O centro-oeste foi a primeira área

do território brasileiro a ser ocupada

pelos colonizadores.

Page 59: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 59

3.(X)A cana-de-açúcar sustentou, por

muito tempo, a economia colonial

brasileira.

4.(X)O trabalho escravo africano foi

largamente utilizado no Brasil Colônia e

até mesmo após a independência.

5.(X)A independência do Brasil foi um

ato de total rompimento com as

estruturas coloniais.

6.(X)No Império e durante boa parte da

República, o café foi o principal produto

brasileiro de exportação.

7.(X)Na República Velha, o voto secreto

garantia a lisura das eleições.

8.(X)A Revolução de 1930 foi

particularmente ativa no Ceará,

sepultando definitivamente as

oligarquias locais.

9.(X)Com Vargas, o Brasil iniciou sua

moderna industrialização, cujo símbolo

foi a Companhia Siderúrgica Nacional.

10.(X)A Era Vargas foi plenamente

democrática.

11.(X)A redemocratização, iniciada com

a queda do Estado Novo, foi marcada

por sucessivas crises.

12.(X)O regime militar iniciado em 1964

impediu que políticos nordestinos,

como os cearenses, assumissem cargos

de projeção nacional.

13.(X)Durante o regime militar, os

presidentes eram eleitos

indiretamente.

14.(X)Fernando Collor foi o primeiro

presidente civil eleito pelo voto direto

no Brasil após o fim do regime militar.

15.(X)A Constituição de 1988 enfatiza

os direitos e as garantias individuais e

sociais.

16.(X)Nas últimas décadas, a economia

cearense tem procurado acompanhar o

processo de modernização econômica

do país e se inserir na chamada

globalização.

17.(X)Embora o Brasil tenha avançado

bastante, ainda persistem no país

históricas desigualdades sociais e

regionais.

18.(X)A abolição da escravidão no Brasil

garantiu a efetiva inclusão social dos

antigos escravos e de seus

descendentes.

19.(X)Um dos marcos do governo

Juscelino Kubitschek foi a construção

de Brasília, com a transferência da

capital brasileira para o interior do país.

20.(X)Durante todo o regime militar, a

economia brasileira retrocedeu, não

chegando a conhecer momentos de

expansão considerável.

GABARITO

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

E E C C E C E E C E

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

C E C C C C C E C E

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR –

ESPÍRITO SANTO (2008)

A colonização do Brasil foi um

empreendimento estatal que contou

com a forte presença da iniciativa

privada. A divisão do território em

capitanias hereditárias, entre as quais

Page 60: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 60

a do Espírito Santo, foi o ponto de

partida para a concentração de terras

em mãos de poucos, questão que se

arrastou ao longo do tempo e chegou

à contemporaneidade. A

independência, em 1822, manteve a

estrutura colonial básica, a saber,

latifúndio, monocultura e escravidão.

A implantação da República, em 1889,

não democratizou o Estado. Com a Era

Vargas (1930-1945), o país começou a

se modernizar, mas sob regime

crescentemente centralizado e, no

Estado Novo, ditatorial. Entre 1945 e

1964, o Brasil conheceu inédita

experiência democrática, mas

assinalada por diversas crises. O

regime militar (1964-1985) avançou na

modernização econômica em meio ao

autoritarismo político. O poder civil

retornou em 1985 e, três anos depois,

a nova democracia foi sacramentada

com a Constituição Cidadã (1988).

Tendo o texto acima como referência

inicial, julgue os itens a seguir,

relativos à História do Brasil. (CBM-ES /

2008)

1.(X)Apesar de indireta, a eleição de

Tancredo Neves simbolizou o fim do

regime militar.

2.(X)À época absolutista, o Estado

português monopolizou o processo de

colonização do Brasil, o que afastou a

presença de particulares nas atividades

econômicas coloniais.

3.(X)A criação das capitanias

hereditárias foi uma medida de exceção

e territorialmente limitada, razão pela

qual não envolveu a porção litorânea

da colônia.

4.(X)A cana-de-açúcar teve no Nordeste

seu núcleo essencial e foi determinante

para a configuração colonial do Brasil,

inclusive quanto à sociedade patriarcal.

5.(X)Ao se tornar independente de

Portugal, o Brasil aboliu logo em

seguida o trabalho escravo, atitude que

também atendeu aos interesses

capitalistas britânicos.

6.(X)A República Velha (1889-1930) foi

essencialmente oligárquica, com

eleições fraudulentas, poucos eleitores

e voto a descoberto.

7.(X)Com Vargas, o Brasil incentivou a

indústria de base, que teve na

Companhia Siderúrgica Nacional seu

grande símbolo, além de ter editado

leis de proteção ao trabalho.

8.(X)O período democrático pós-Estado

Novo, vigente até o golpe militar de

1964, foi tranquilo, de grande

estabilidade política e sem incidentes

de maior gravidade.

9.(X)O regime militar instaurado em

1964 foi autoritário, mas não chegou a

fechar o Congresso Nacional nem fez

uso de medidas repressoras.

10.(X)A Carta de 1988 é conhecida pela

ênfase aos direitos individuais e sociais

e pelo comprometimento com a

expansão e a consolidação da

cidadania.

Page 61: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 61

GABARITO

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

C E E C E C C E E C

POLÍCIA MILITAR – ACRE (2008)

Pode-se dizer que, de fato, o século

XIX brasileiro teve início somente em

1808, com a chegada de D. João VI,

acompanhado da corte e da família

real portuguesa, fugindo das tropas de

Napoleão, sob escolta da Armada

inglesa. Abriram-se os portos “às

nações amigas”, dando-se estatuto

privilegiado à Inglaterra, sua

protetora. No longo processo que

levou à Independência, articulou-se o

complexo sistema oligárquico-imperial

escravista (1822-1889), cristalizando-

se em um modelo político burocrático,

já nacionalizado, de grande poder e

complexidade administrativa

asfixiante. Sob a estabilidade aparente

do Império brasileiro (uno e

indivisível), assistiu-se a uma longa

sucessão de lutas e conflitos. Ao final,

sob forte pressão Inglesa, deu-se a

Abolição da Escravatura(1888), logo

seguida da proclamação da República

(1889), acontecimentos decisivos para

a implantação de uma ordem

capitalista moderna. Concomitantes, a

imigração européia e a introdução do

trabalho assalariado, em substituição

ao trabalho escravo, acabariam por

mudar bastante a fisionomia do novo

Estado-nação. A Revolução do 1930,

em que assumiu a presidência da

República o gaúcho Getúlio Vargas,

inaugurou um longo e turbulento

período histórico de reformas,

levantes, repressões, contra-reformas

e tentativas de superação da condição

de país atrasado, subdesenvolvido,

periférico e dependente, termos que

se tornaram correntes em momentos

sucessivos. Período que se encerrou

com o golpe de 64, de caráter civil-

militar, instalando um regime

ditatorial que se prolongou pelos vinte

anos seguintes.

Adriana Lopez e Carlos Guilherme

Mota. História do Brasil: uma

interpretação. São Paulo: SENAC, 2008,

p. 305-306;639 (dom adaptações)

Tendo o texto acima como referência

inicial e considerando aspectos

marcantes da história brasileira, da

colônia aos dias de hoje, julgue os

itens. (PM-AC / 2008)

1.(X)Extração vegetal, cana-de-açúcar e

mineração foram importantes

atividades econômicas do período

colonial brasileiro, também marcado

pelo domínio das grandes propriedades

e pela larga utilização da mão-de-obra

escrava.

2.(X)A transferência do Estado

português para o Brasil, em princípios

do século XIX, deveu-se às

circunstancias da política européia

naquele período.

3.(X)A Abertura dos portos brasileiros,

determinada por D. João VI, manteve

inalterado o sistema colonial montado

por Portugal no Brasil.

Page 62: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 62

4.(X)A organização político-

administrativa do Império brasileiro

caracterizou-se pela simplicidade, com

pequena burocracia e reduzida

participação das elites nacionais.

5.(X)Primeiro país industrializado e

capitalista, a Inglaterra tinha interesse

no fim da escravidão.

6.(X)No Brasil, a abolição da

escravatura e a proclamação do regime

republicano pertencem ao mesmo

contexto histórico, em fins do século

XIX.

7.(X)A distância no tempo entre a

chegada dos imigrantes e o fim da

escravidão impediu que o Brasil

acompanhasse a evolução econômica e

social vivida pelo mundo na passagem

do século XIX ao XX.

8.(X)A Revolução de 1930 pôs fim à

Primeira República e fez o país avançar

no sentido da modernização,

particularmente na economia, que

começa a desenvolver uma indústria de

base.

9.(X)Embora tendo governado por

pouco tempo, Vargas tornou-se figura

central na política republicana

brasileira.

10.(X)Após a Ditadura do Estado Novo,

o Brasil viveu uma experiência

democrática entre 1946 e 1964, sem

crises políticas de maior intensidade.

11.(X)O desenvolvimento foi marca

registrada do governo Juscelino

Kubitschek, com muitas obras de

infraestrutura e a construção da nova

capital brasileira, situada no interior do

país.

12.(X)O golpe de 64 foi obra exclusiva

dos militares, que se revezaram no

poder por cerca de duas décadas.

13.(X)O texto deixa claro que não se

pode falar em autoritarismo como

característica do regime militar iniciado

em 1964.

14.(X)A participação popular, como na

luta pela anistia e pelas eleições

presidenciais diretas (Diretas Já), esteve

presente nos últimos anos do regime

militar.

15.(X)Mesmo sendo indireta, a eleição

de Tancredo Neves para a presidência

da República encerrou o ciclo do

autoritarismo militar no Brasil

Contemporâneo.

GABARITO

01 02 03 04 05 06 07 08

C C E E C C E C

09 10 11 12 13 14 15 16

E E C E E C C *

POLÍCIA MILITAR – ESPÍRITO SANTO

(2007)

A economia colonial brasileira gerou

uma divisão de classes muito

hierarquizada e bastante simples. No

topo da pirâmide, estavam os grandes

proprietários rurais e os 4 grandes

comerciantes das cidades do litoral.

No meio, localizavam-se os pequenos

proprietários rurais e urbanos, os

pequenos mineradores e

comerciantes, além dos funcionários 7

públicos. Mais abaixo, estavam os

artesãos, agregados das fazendas,

capangas e populações indígenas. Na

Page 63: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 63

base, mourejavam os escravos. As

relações entre essas classes 10 se

baseavam em combinação variada de

violência (relação senhor – escravo) e

paternalismo (entre ricos e pobres).

Vem da colônia um aspecto essencial

da política 13 brasileira: a mistura, o

conluio, entre o poder estatal e o

poder privado, que leva o nome de

patrimonialismo e que tem no

clientelismo um poderoso resíduo. Um

dos melhores 16 exemplos de como se

mesclaram entre nós o poder do

Estado e o dos particulares é o

coronelismo. A principal mudança

social ocorrida no Império foi 19 a

abolição do tráfico de escravos, em

1850, e da escravidão, em 1888. Na

República, o ano de 1930 foi um

divisor de águas, a partir do qual

houve grande aceleração nas 22

mudanças. A crise de 1929 e, dez anos

mais tarde, a Segunda Guerra Mundial

aceleraram o processo de

industrialização, que não mais se

interrompeu, avançando, na década

de 50, 25 com a indústria

automobilística e, na década de 70,

com a produção de máquinas e

equipamentos.

José Murilo de Carvalho. Fundamentos

da política e da sociedade brasileira. In:

Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra

(orgs.). Sistema político brasileiro: uma

introdução. Rio de Janeiro:Fundação

Konrad Adenaur-Stiftung; São Paulo:

UNESP, 2004, p. 24-9 (com

adaptações).

Tendo o texto como referência inicial e

considerando aspectos marcantes da

história do Brasil, julgue os itens

seguintes. (PM-ES / 2007)

1.(X)A sociedade colonial brasileira era

aberta, flexível e democrática.

2.(X)No período colonial, os

latifundiários concentravam poder

econômico, político e social.

3.(X)A ocupação do território brasileiro

ocorreu do interior para o litoral.

4.(X)A nítida separação entre o público

e o privado acompanha a trajetória

brasileira desde o início da colonização.

5.(X)O fenômeno do coronelismo no

Brasil é recente e surgiu com a

industrialização do país.

6.(X)Nos períodos colonial e imperial, a

escravidão estava largamente instalada

no Brasil.

7.(X)A Lei Áurea extinguiu o tráfico de

escravos africanos para o Brasil.

8.(X)A Segunda Guerra Mundial

impulsionou a industrialização

brasileira.

9.(X)A instalação da indústria

automobilística no Brasil ocorreu no

governo JK.

10.(X)No regime militar (1964-1985), a

produção de máquinas sofreu forte

redução.

11.(X)As crises econômicas mundiais

que marcaram o século XX não

atingiram o Brasil.

Page 64: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 64

12.(X)A chegada de Getúlio Vargas ao

poder ocorreu com a Revolução de

1930.

13.(X)A eleição indireta do presidente

Tancredo Neves assinalou o fim do

regime militar.

14.(X)Chamada de cidadã, a

Constituição de 1988 enfatiza direitos e

garantias individuais e coletivos.

GABARITO

01 02 03 04 05 06 07

E C E E E C E

08 09 10 11 12 13 14

C C E E C C C

PM-CE 2012 - CESPE No que se refere a períodos significativos da história do Brasil, julgue os itens subsequentes. 01. No governo federal, durante a chamada República Velha, predominou a defesa dos interesses da oligarquia agrária. 02. Durante o período colonial, predominou o trabalho escravo indígena nos engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro. 03. O parlamentarismo no Brasil foi instalado durante o Segundo Império, com a criação da função de presidente do Conselho de Ministros. 04. Durante a ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas enviou tropas brasileiras para lutarem ao lado dos alemães na II Guerra Mundial.

(PM-ES / 2007)

“E se a lição foi aprendida A vitória não

será vã. Neste Brasil holandês, Tem

lugar pra o português e para o banco

de Amsterdã”

(Francisco Buarque de Holanda e Rui Guerra, Calabar, O elogio da tradição, pág. 7, 1973) 01. Sobre a Invasão Holandesa em Pernambuco, analise as alternativas a seguir. I. Durante o Governo de João Maurício de Nassau, a Companhia das Índias Ocidentais concedeu crédito aos Senhores de Engenho, destinado ao reaparelhamento dos engenhos, à recuperação dos canaviais e à compra de escravos. II. O empenho da burguesia holandesa em romper o bloqueio econômico, imposto por Felipe II, tinha a finalidade de fundar, no Brasil, uma colônia de povoamento, para abrigar os calvinistas e interromper a produção de açúcar no Nordeste brasileiro. III. O Governo de Nassau urbanizou o Recife, providenciou a construção de pontes e de obras sanitárias, dotou a cidade de um jardim botânico, de um jardim zoológico e de um observatório astronômico. IV. O movimento denominado Batalha dos Guararapes teve início com a chegada ao Brasil do conde Maurício de Nassau, nomeado Governador–Geral do Brasil holandês. Estão corretas A) somente I, II e III. B) somente I, III e IV. C) somente I e III. D) somente II e IV. E) somente III e IV.

Page 65: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 65

02. Sobre a Revolução Pernambucana de 1817, considere as afirmativas a seguir. I. Tinha como objetivo proclamar uma República e abolir, imediatamente, a escravidão no Nordeste. II. Foi organizada, conforme os ideais da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que inspiravam a Revolução Francesa. III. Teve como principais causas o aumento dos impostos, a grande seca de 1816, que provocou muita fome no Nordeste, e a crise da agricultura, afetando a produção do açúcar e do algodão. IV. Foi a única rebelião anterior à independência política do Brasil que ultrapassou a fase da conspiração. Os rebeldes tomaram o poder e permaneceram no governo por mais de 70 dias. Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas. A) Somente I, II e III. B) Somente I, II e IV. D) Somente II, III e IV. C) Somente I, III e IV. E) I, II, III e IV. 03. Em 1964, os militares tomaram o poder e implantaram uma ditadura no Brasil. Durante os governos militares, podemos constatar: I. Os golpistas procuraram definir esse assalto à democracia como uma revolução; II. O golpe militar de 1964 representou a culminância do processo de crise do populismo, iniciado com a renúncia de Jânio Quadros em 1961; III. Uma das características dos governos militares foi o autoritarismo, visto que membros do governo não se

mostravam dispostos a dialogar com os diversos setores da sociedade; IV. Tortura, prisão e expulsão do país foram instrumentos utilizados pelos governos militares contra alguns cidadãos, para manterem seu poder inabalado. Os itens corretos são A) somente I, III e IV. B) somente II, III e IV. D) somente I, II e III. C) somente I, II e IV. E) I, II, III e IV. 04. Analise as afirmativas referentes à História do Brasil atual. I. Após o movimento “Diretas-já”, o

Brasil voltou a conviver com regras democráticas constitucionais. II. As medidas, adotadas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, determinaram o fim da inflação e praticamente extinguiram as desigualdades sociais no Brasil. III. Os últimos dez anos da história econômica brasileira foram marcados por intenso processo de privatização e de abertura do mercado ao capital estrangeiro. IV. Em janeiro de 1987, o Governo Sarney foi obrigado a decretar, unilateralmente, a moratória, deixando de pagar os juros da dívida externa. Dentre as afirmativas apresentadas, são verdadeiras A) somente I e IV. B) somente II e III. C) somente I, II e III. D) somente I, III e IV. E) I, II, III e IV.

Page 66: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 66

05. Sobre o Brasil Contemporâneo, considere as afirmações a seguir. I. Fernando Collor de Mello tinha como programa de Governo privatizar empresas estatais, combater os monopólios, abrir o país à concorrência internacional e desburocratizar as regulamentações econômicas. II. Em maio de 1993, o Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciou as primeiras medidas para estabilizar a economia. O novo plano econômico, o Plano Real, previa o congelamento dos preços e salários e confisco das contas bancárias. III. O modelo político brasileiro, em vigor desde o começo dos anos 90, é considerado por muitos como neoliberal, por pretender a valorização das organizações trabalhadoras, visando estabelecer alianças na luta contra o desemprego. IV. Com a saída de Fernando Collor do governo do país, o vice-presidente Itamar Franco foi empossado na presidência. Estão corretas A) somente I e II. B) somente I e III. C) somente II e III. D) somente I e IV. E) somente II e IV. GABARITO

01 02 03 04 05 06 07

C D E D D * *

(PM-DF / 2001) 01. Na ausência de poderosa classe burguesa capaz ela própria de regular as relações sociais por meio dos

mecanismos do mercado, caberia ao Estado, como coube nos primeiros passos das próprias sociedades burguesas de êxito, tomar a iniciativa de medidas de unificação de mercados, de destruição de privilégios feudais, de consolidação de um comando nacional, de protecionismo econômico. José Murilo de Carvalho. A construção da ordem. A elite política imperial. Brasília: EDUnB, 1980, p. 177 (com adaptações). No texto acima, o autor descreve o poder e a ordem no Império brasileiro, destacando a força do Estado. Com o auxílio do texto, julgue os itens abaixo. 1 No Brasil imperial, a Nação foi formada antes do Estado. 2 As instituições políticas do Império foram forjadas para proporcionar a formação de um Estado forte o suficiente para garantir a estabilidade. 3 A consolidação de um comando nacional unificado, na economia e na segurança, foi garantida, no Império, graças à existência de uma forte classe média. 4 A ordem imperial foi garantida sempre pela força militar do Estado. 5 O Império brasileiro foi dominado por uma burguesia mercantil que desejava implantar o modelo político britânico nos trópicos. QUESTÃO 27 02. A Revolução de 1930 foi um marco na história nacional. Criadora de um modelo econômico-social que perdurou até os anos 80, ela está quase sempre associada à figura emblemática de Getúlio Vargas.

Page 67: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 67

A respeito de Vargas e da Revolução de 1930, julgue os itens a seguir. 1 Vargas, às vésperas da Revolução de 1930, possuía sólida base partidária, de porte nacional, o que viria permitir sua rápida emergência ao poder. 2 A erupção política que levou Vargas à liderança da Revolução de 1930 esteve umbilicalmente ligada à cisão no poder das oligarquias da República Velha. 3 A política do café-com-leite, que prejudicava a inserção de outras elites políticas na vida nacional, foi uma das justificativas para a movimentação que levou Vargas ao processo revolucionário de 1930. 4 A herança de Vargas fez-se presente em vários momentos da história política pós-1930, particularmente na formatação do modelo econômico industrialista e nacional-desenvolvimentista. 5 Partidos políticos como o PTB e o PSD, matrizes do modelo populista de Estado, foram criados por Vargas ou sob sua tutela e orientação. QUESTÃO 28 03. Brasília é fruto de um sonho político: o da transferência da capital para o coração do país. Essa imaginação, cultivada pelas elites brasileiras, teve uma longa história, que culminou em 1960. A respeito dos fatos que antecederam a criação de Brasília bem como seus desdobramentos atuais, julgue os itens que se seguem. 1 O conhecido sonho de Dom Bosco permaneceu no imaginário dos inventores de Brasília como uma aspiração de ocupação do interior do país. 2 A proposta efetiva de transferência da capital, como já se fizera no período

colonial, de Salvador para o Rio de Janeiro, não alterou a dinâmica econômica da região em torno da qual a nova capital foi implantada. 3 Juscelino Kubitschek, ao encaminhar o projeto de construção de Brasília, enfrentou apenas pequenas resistências políticas internas diante da grandeza dos seus objetivos. 4 A organização social e política do atual Centro-Oeste brasileiro antes da transferência da capital para Brasília estava marcada pelo seu isolamento em relação ao próprio país. 5 A saga das famílias que vieram para a construção de Brasília, envolvendo migrações internas e o nascimento da figura do candango, traduz o alto impacto social gerado em regiões de imigrantes bem como permite a construção de certa dimensão épica atribuída à fundação da cidade. GABARITO

01. ECEEE 02. ECCCC 03. CEECC

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BIBLIOGRAFIA

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Page 68: Apostila de História Do Brasil

História do Brasil

Prof. Adeíldo Oliveira 68

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