apostila de história do brasil
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Tropa de Elite - Polícia Militar de São Paulo História do Brasil
Apostila Adeíldo Oliveira
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 2
Prof. Adeildo Oliveira
E-mail: [email protected]
Historiador licenciado pleno e bacharelando pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Bacharelando em Direito pelo Centro Universitário Christus (UniChristus). Professor de vários cursos preparatórios para concursos em Fortaleza. Monitor da disciplina de Ciência Política e Teoria do Estado no Centro Universitário Christus, além de autor de vários artigos científicos e de opinião.
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
A proclamação da República foi, em
grande parte, um projeto político
resultado da aliança dos cafeicultores
paulistas com o exército, visando
vencer o inimigo comum – o Império –
embora as duas forças fossem
portadoras de projetos políticos
republicanos distintos. Nos primeiros
dias após a instauração do novo regime
político, houve consenso de que os
militares deveriam exercer o poder
político durante o delicado período de
gestação e instalação das instituições
republicanas.
Esse primeiro período da história
republicana do Brasil – 1889-1894 –
ficou conhecido como República da
Espada, por ser marcado pelos
governos militares dos marechais
Deodoro da Fonseca (1889-91) e
Floriano Peixoto (1891-94). O grande
destaque deste primeiro período é a
redação de nossa primeira carta magna
(constituição) republicana em 1891.
Após os conturbados governos
militares do inicio de nossa republica,
temos a consolidação das oligarquias
paulistas e mineiras no poder, é o que
chamamos de política do café-com-
leite, dentro da chamada República
Velha, o primeiro presidente deste
período é o paulista Prudente de
Morais (1894-98), depois temos
Campos Sales (1898-1902), Rodrigues
Alves (1902-06), Afonso Pena (1906-
09), Nilo Peçanha (1909-10) e Hermes
da Fonseca (1910-14), Venceslau Brás
(1914-18), Delfim Moreira (1918-19),
Epitácio Pessoa (1919-22), Artur
Bernardes (1922-26) e Washington Luis
(1926-30).
As três primeiras décadas do século XX
no Brasil, marcam a força política do
coronelismo e do latifúndio, estruturas
herdadas do império e perpetuadas no
novo regime político. Vejamos agora
algumas das principais marcas ou
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destaques do processo histórico da
república velha.
A REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894)
01. Deodoro da Fonseca (1899-1891)
É de suma importância termos em
mente que o governo de Deodoro da
Fonseca possui dois períodos: Governo
Provisório(1889-1891) e Governo
Constitucional (1891).
Com o advento da república, os
militares criaram um “novo” calendário
nacional, excluindo as datas religiosas,
a exceção do dia de finados, e incluindo
datas comemorativas republicanas,
assim buscando a “formação das
almas”, ou seja, a criação de um
espírito republicano, além, é claro, de
tentar construir uma identificação do
novo regime com a História do Brasil,
para isso alavancaram a figura de
Tiradentes, que passou a ser visto como
herói nacional, inclusive sendo pintado
o mais parecido possível com a imagem
que a maior parte da população possui
de Jesus.
Essa propaganda visava aproximar o
máximo possível a população desse
novo regime, sendo Tiradentes uma
espécie de “garoto propaganda”, pois
se ele morreu pela República é porque
ela supostamente seria mais justa.
Um dos elementos que muito
contribuiu pra a adesão de muitas
oligarquias estaduais ao sistema
republicano foi justamente a
possibilidade que esse dava ao
estabelecimento de uma federalização,
ou seja, os estados passariam a possuir
uma maior autonomia, o que muito
agradava aos grupos políticos
estaduais.
De grande significação para o novo
governo foi a criação da Constituição
de 1891, que possuía os seguintes
pontos:
•A forma de governo republicana
federalista e presidencialista (modelo
inspirado na constituição norte-
americana);
•A divisão dos três poderes instituídos
(legislativo, executivo e judiciário);
•Estabeleceu que o Brasil seria um
Estado laico (separação entre Igreja e
Estado);
•No artigo 3º foi estabelecido que a
União iria demarcar uma área no
Planalto Central no intuito de construir
uma nova Capital Federal;
•Foi implementado o instituo do
Habeas Corpus (Vale lembrar que ele
não estava presente na Constituição de
1824, mas sim no Código de Processo
Criminal de 1832);
• O voto era aberto, para homens
maiores de 21 anos e alfabetizados.
Estavam excluídos do voto as mulheres,
é claro, os praças de pré e os religiosos;
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•Eleição Direta, entretanto a escolha
do primeiro presidente da República
seria efetivada pelo parlamento;
• Mandato do presidente de 4 anos;
•Transformação das províncias em
estados;
•A facilidade de naturalização aos
estrangeiros;
•O casamento civil.
Segundo o historiador Marco Antônio
Villa: “Na primeira eleição presidencial
direta, em 1894, sem a participação do
eleitorado do Rio Grande do Sul, de
Santa Catarina e do Paraná, por causa
dos combates da Revolução
Federalista, Prudente de Morais,
candidato único, recebeu apenas 290
mil votos, isso quando a população
brasileira alcançava 15 milhões de
habitantes.”
1.1. Economia
É bem claro que o sistema econômico
deixado pelo Império era bastante
caótico, na medida que possuíamos
uma divida interna e externa bastante
alta. O Brasil não possuía um sistema
industrial de significação, sendo a base
da economia o setor agrário, com
destaque para o café.
O presidente nomeou Rui Barbosa para
o cargo de ministro da Fazenda, tendo
como objetivo que esse intelectual
criasse um conjunto de medidas que
revertessem a situação precária de
nossa economia.
O novo ministro estabeleceu a elevação
das tarifas alfandegárias, pois assim os
produtos importados entrariam no
Brasil com preços mais elevados, o que
contribuiria para que a população
brasileira pudesse comprar mais os
produtos nacionais. Também foi feita
uma reforma bancária, sendo criados
vários bancos que passaram a possuir
autonomia para a emissão de papel-
moeda. Entretanto, o grande problema
é que essas emissões não possuíam
lastro em ouro, mas sim em títulos da
dívida pública. Mas o porquê dessa
política? É que o governo objetivava
incentivar a expansão do crédito, o que
muito contribuiria para o estimulo ao
processo de industrialização nacional.
Entretanto, para a infelicidade
brasileira tal projeto não deu certo,
pois a política de emissão desembocou
numa grave crise chamada de
encilhamento. Podemos apontar duas
razões para essa conjuntura, a imensa
quantidade de papel-moeda, não
ocorrendo um crescimento industrial
proporcional, o que gerou uma grande
inflação, e as imensas facilidades para
se adquirir crédito, o que muito
contribuiu para o surgimento de
empresas fantasmas, que contrariam
empréstimos do governo, mas não
produziam e ainda decretavam
falência, e assim, não pagavam o que
deviam ao governo.
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O Final do governo de Deodoro foi
marcado negativamente, sendo crítica
a situação financeira, o que fez que o
Congresso fizessem várias críticas ao
presidente, que não as aceitou e,
inclusive, tentou fechar essa instituição,
o que não foi aceito pelo seu vice-
presidente (Floriano), muito menos
pelos cafeicultores. Dessa forma,
restou ao marechal a renuncia.
02. Floriano Peixoto (1891-1894)
2.1 A Subida ao Poder
Floriano Peixoto demonstrou ser bem
mais hábil do que o seu antecessor,
tomando decisões de cunho popular,
mas também, quando necessário,
agindo com firmeza. Vale lembrar que a
subida de Floriano Peixoto ao poder
deve ser creditada, também, ao apoio
que ele conseguiu dos cafeicultores,
pois constitucionalmente, o vice-
presidente só poderia assumir o cargo
se o presidente já tivesse governado
por dois anos, sendo que Deodoro só
tinha cumprido nove meses do seu
mandato.
Mas quais eram as razões para que os
cafeicultores, mesmo desrespeitando a
Constituição, apoiassem Floriano
Peixoto? Primeiro, os cafeicultores
tinham ficado assustados com as
medidas autoritárias de Deodoro, pois
achavam que elas prejudicavam o
Republicanismo federalista que tanto
eles almejavam. Segundo, mesmo
Floriano utilizando algumas vezes de
medidas autoritárias, estas eram feitas
dentro dos limites tolerados pelos
cafeicultores (pelo menos
inicialmente).
Logo após a subida de Floriano ao
poder, o Congresso foi restabelecido e
o estado de sítio foi retirado, tivemos a
volta da “normalidade”. Uma das
medidas iniciais – e autoritária – foi
justamente a retirada dos
Governadores que apoiaram Deodoro.
Outra ação do presidente, só que essa
de cunho popular e restrita ao Rio de
Janeiro, foi um decreto que estabelecia
a redução dos aluguéis de casas
populares e da suspensão da cobrança
do imposto sobre a carne, objetivando
com isso além de melhorar as
condições de vida da população mais
carente, também ganhar popularidade.
Destaque para o estímulo a indústria,
sendo autorizado ao Banco do Brasil a
abertura, em 1892, de uma linha de
crédito de 100 mil contos de réis, e
agregada à essa medida se pensava
numa política protecionista, ou seja, de
que forma se poderia criar taxas sobre
os produtos importados a fim de
ampliarem os seus preços. Entretanto,
o Brasil possuía muitas limitações, das
quais destaque para a necessidade de
combater a inflação, os limitados
recursos que possuíamos e o
descontrole financeiro do início da
República.
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2.2 Formação da Oposição
Um dos primeiros movimentos de
oposição à Floriano se deu no interior
do exército, quando treze generais
assinaram um manifesto que
contestava a legitimidade do governo e
exigiam o respeito a Constituição, ou
seja, queriam novas eleições. A ação do
presidente foi enérgica, mas dentro dos
limites da legalidade, pois utilizou o
Código Militar, que enquadrava a ação
dos generais como ato de
insubordinação, e assim, a penalidade
poderia ser a de afastamento e até
mesmo a prisão. Por essa ação Floriano
Peixoto passou a ser chamado de
Marechal de Ferro.
2.2.1 A Revolta Federalista
Uma explicação por demais valiosa é a
distinção entre Revolta e Revolução.
Perceba que constantemente na
História do Brasil é utilizado o termo
Revolução, mas deveria ser utilizado o
termo Revolta.
Basicamente falando, revolta é um
manifestado de descontentamento da
população em relação à alguma medida
tomada pelo governo, um imposto,
uma lei, etc. Nesse ato não há uma
contestação do sistema vigente, mas
sim a busca pela mudança de uma
parte dele. Já a Revolução é uma busca
por transformações mais drásticas
numa sociedade.
De grande dificuldade para o governo
foi contornar os problemas no Rio
Grande do Sul, a chamada “Revolução”
Federalista. Entre os fatores que
ocasionaram esse movimento,
podemos destacar o conflito entre o
PRR (Partido Republicano
Riograndense), liderado por Júlio de
Castilhos e do outro lado o PF (Partido
Federalista) que era liderado por
Silveira Martins.
Entre os fatores da discórdia estava
justamente a briga pelo poder no Rio
Grande do Sul, além do interesse dos
federalista em diminuírem o excessivo
centralismo.
Floriano Peixoto entrou na guerra ao
lado do governo de Júlio de Castilhos –
também chamados de “pica-paus”.
Uma nova conjuntura se formou
quando na Marinha brasileira eclodiu a
Revolta da Armada (1893), que se
expandiu para o Sul do Brasil, aliando-
se ao PF, mais conhecidos como
“maragatos”.
Quais as motivações para a Marinha se
rebelar contra o presidente, além de
participar da “Revolução” Federalista?
Primeiro, destaque para uma forte ala
da marinha que possuía tendências
monarquistas, tendo à frente o
almirante Custódio de Melo. Segundo,
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havia uma ala da marinha que era
republicana que apoiava os interesses
do Almirante Custódio de Melo, que
pretendia chegar à presidência.
Lembre-se que com a saída de
Deodoro, deveria ter ocorrido novas
eleições, mas de forma inconstitucional
Floriano subiu ao poder, o que frustrou
as pretensões de Custódio de Melo.
As batalhas não ficaram circunscritas ao
Rio Grande do Sul, ocorrendo combates
em terras catarinenses, destaque para
a vitória dos florianistas na famosa
Batalha de Desterro – que mudou de
nome para Florianópolis. Cada vez mais
os rebeldes iam perdendo terreno,
ficavam mais enfraquecidos, e
fragilizados só restavam a negociação,
que foi estabelecida no início do
próximo governo, com Prudente de
Morais.
2.3 Política Externa: O Rompimento
com Portugal
O estremecimento das relações
diplomáticos entre Brasil e Portugal
ocorreu devido à ação de duas corvetas
portuguesas que no ano de 1894
intervieram nas questões políticas
internas brasileiras, mais precisamente
nos assuntos relacionados a Revolta da
Armada. Navios de guerra portugueses
aceitaram transportar em segurança
para a Argentina cerca de 500
marinheiros brasileiros que tinham se
revelado contra o governo de Floriano,
o que gerou uma questão diplomático
muito séria, tendo como ápice o
rompimento diplomático.
03. Prudente de Morais (1894-1898)
3.1 Canudos (1893-1897):
Sem sombra de dúvida um grande
destaque do governo de Prudente de
Morais foi a Guerra de Canudos. Essa
comunidade chegou a preocupar parte
da igreja oficial, além de fazendeiros e
do próprio estado brasileiro.
Muitas foram e continuam a ser as
análises equivocadas acerca dessa
comunidade, pois já foi considerada
como um reduto de fanáticos
religiosos. Entretanto, devemos ter em
mente que religiosa ela era, mas
fanática não.
Analisando a Comunidade de Canudos
poderemos perceber que ela se formou
rapidamente, pois eram apenas
algumas dezenas no seu início (1893),
mas crescendo rapidamente para a
casa milhares, aproximadamente 25 mil
no ano de 1897.
Esse crescimento gigantesco ocorreu
por varias motivações, tais como:
1. O descaso das autoridades
governamentais em relação à situação
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das populações mais carentes do
nordeste brasileiro;
2. O aspecto excludente do novo
sistema (República) que dificultou a
vida das pessoas, haja vista que o
federalismo deu espaço para que os
estados pudessem criar seus impostos,
o que muito dificultou a vida das
populações mais pobres, pois passaram
a ter uma carga tributária mais pesada;
3. A opressão e a exploração exercida
por muitos latifundiários brasileiros,
nesse caso no Nordeste;
4. O afastamento Igreja Católica em
relação a muitos dos seus fiéis;
Em Canudos havia o trabalho coletivo,
sendo a produção dividida de acordo
com as necessidades de cada família.
Também eles eram messiânicos, ou
seja, acreditavam na volta do Messias,
que iria salvá-los, pois suas vidas eram
permeadas pelo trabalho e pela reza.
Outro ponto de destaque era a defesa
da Monarquia, que era feita por
Antônio Conselheiro. Entretanto, não
podemos ter em mente que esse líder
fosse um grande conhecedor das
teorias monarquistas e/ou
republicanas, mas sim que para ele a
vida durante a monarquia era difícil, e a
república só piorou as coisas. Outra
contestação de Antônio Conselheiro
era o casamento civil e o controle dos
cemitérios pelo estado republicano,
pois achava que esses assuntos
deveriam ser tratados pela Igreja.
Mas quais as motivações para que
fazendeiros, a Igreja(pelo menos parte)
e o estado brasileiro tiveram para
destruir Canudos? Para os fazendeiros
a formação dessa comunidade não era
vista com bons olhos pelo fato dos
habitantes dessa localidade saírem da
órbita de influência dos “coronéis”, ou
seja, não apenas os latifundiários
estavam perdendo mão-de-obra
barata, como também estavam
perdendo votos. Lembre-se bastava ao
eleitor saber assinar o próprio nome.
Já a Igreja via a comunidade de
Canudos como indesejada pelo fato de
considerá-los fanáticos, desprovidos da
verdadeira fé cristã, além de considerar
a liderança religiosa de Antônio
Conselheiro como inadequada, pois
não possuía uma preparação teológica.
O estado baiano nada ganhava com
Canudos, pois eles não pagavam
impostos. Já para o estado brasileiro
esse movimento era visto como
inadequado pois representava o
passado, ou seja, de nada ajudava na
formação da imagem de progresso que
tanto os republicanos queriam.
A Guerra
É bem claro que o governo esperava
apenas uma desculpa para justificar a
destruição da comunidade de Canudos,
o que ocorreu quando os canudenses
invadiram o armazém de onde
retiraram telhas, madeira e tijolos que
seriam utilizados para a construção de
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uma Igrejinha. Vale ressaltar que os
sertanejos já tinham pago por essa
mercadoria, mas não a recebiam.
Foram necessárias quatro expedições
ao logo dos anos de 1896-1897 para
que a Comunidade de Canudos fosse
destruída.
A primeira expedição delas foi liderada
pelo Tenente Manoel da Silva Pires
Ferreira. Entretanto, os canudenses,
bastante motivados pelas suas ideias,
alem de estarem armados de facões,
foices e velhas armas de fogo,
resistiram aos invasores, que partiram
em retirada.
A segunda expedição era composta de
seiscentos homens, por dois canhões e
duas metralhadoras, sendo comandada
pelo Major Febrônio de Brito.
Entretanto foram surpreendidos, pois
as táticas de guerrilhas empreendidas
pelos canudenses acabaram por
surpreender as tropas governistas.
A terceira expedição maior magnitude,
haja vista as repercussões negativas das
duas primeiras expedições, sendo assim
escolhido para a difícil tarefa de
destruir Canudos o Coronel Antônio
Moreira César, que ficou conhecido em
meio à Revolução Federalista como o
“corta-cabeças”. Vale ressaltar que essa
expedição possuiu um contigente de
mais de 1.000 homens e com uma vasta
munição, mas para surpresa do
governo essa expedição sofreu uma
derrota surpreendente, inclusive
morrendo Moreira César.
A quarta expedição demonstrou o
quanto era questão de honra para o
governo a destruição de Canudos, e
assim foram enviados cerca de 8 mil
homens, sob o comando do General
Artur Oscar. Foi empreendida a tática
do cerco, ou seja, Canudos foi cercada
e constantemente bombardeada,
sendo paulatinamente fragilizada, pois
mais cedo ou mais tarde iria faltar água
potável e comida, e foi o que ocorreu.
Para se ter ideia, Antônio Conselheiro
morreu de cólera. No final das batalhas,
as habitações foram queimadas e parte
da população transferida para outras
regiões. Um fato bastante chocante foi
o que ocorreu com os restos mortais de
Conselheiro, que teve o seu corpo
desenterrado, sendo a sua cabeça
cortada e levada para se fazer estudos.
Um episódio marcante pós-guerra de
Canudos ocorreu quando Prudente de
Morais, em solenidade pela vitoriosa
campanha de Canudos, sofreu um
atentado, quando Marcelino Bispo
atirou contra o presidente, mas não
obtendo êxito na sua tentativa, pois foi
atingido o Ministro da Guerra, o
Marechal Carlos Machado Bittencourt.
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3.3 Questões Externas
Impactante nas Relações Internacionais
foi o restabelecimento das Relações
Diplomáticas com Portugal e a Questão
da Ilha da Trindade (1895), envolvendo
o Brasil e a Inglaterra.
A Inglaterra acabou por invadir a Ilha
da Trindade (Litoral do Espírito Santo)
pois afirmava que essa localidade não
era habitava e/ou explorada pelo Brasil.
Dessa forma, nossa nação contestou
veementemente tal ação inglesa,
considerando-a como um ato de
imperialismo. Tal questão foi resolvia
quando as partes envolvidas
resolveram entregar o caso para uma
mediação internacional, sendo Portugal
escolhida para tal julgamento. Assim
sendo, vendo as argumentações de
ambos os lados, Portugal deu o ganho
de causa para o Brasil (1896).
04. Campos Sales (1898-1902)
Durante o governo de Campos Sales
três foram os pontos principais na sua
política interna, a Política dos
Governadores, a Política do Café com
Leite e o Fundin Loan.
4.1 Política dos Governadores ou
“Pacto Oligárquico”
A Política dos Governadores foi uma
tentativa do governo central de criar
uma rede de alianças em relação aos
grupos que governavam os estados,
buscando com essa aliança o apoio
necessário para colocar em prática os
seus projetos.
Funcionava da seguinte forma, as
“oligarquias” estaduais seriam
responsáveis pelo “arregimentamento”
de votos nos seus currais eleitorais –
haja vista ser tão comum na República
Velha o chamado voto de cabresto- no
intuito de eleger o candidato à
presidência indicado pelo governo,
além, é claro, de votarem nos
Deputados e Senadores estaduais que
apoiariam o governo federal.
Mas o que estas “oligarquias” estaduais
ganhariam em troca? Apoio político,
pois quando havia eleições o resultado
era conferido pelo órgão federal
chamado de Comissão Verificadora de
Poderes, que validaria ou não as
eleições. Dessa forma, se um candidato
opositor às oligarquias que apoiassem
o governo federal vencesse,
provavelmente, sua vitória seria
anulada.
Outro benefício ganho pelos grupos
estaduais era justamente as facilidades
para o recebimento de investimentos
federais.
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4.2 A Política do Café com Leite
Chamamos de Política do Café com
Leite o acordo estabelecido entre São
Paulo e Minas Gerais, que consistia no
apoio mútuo que deveria ser
estabelecido entre esses estados,
sendo central nesse debate a decisão
de se revezarem no poder federal, ou
seja, numa eleição deveria ser apoiado
o candidato de São Paulo, já na outra o
apoio deveria ser dada à Minas Gerais.
Qual era o peso político-econômico
desses dois estados? São Paulo era o
estado mais rico da federação e o
segundo em número de eleitores, já
Minas Gerais era o primeiro em
número de eleitores, e o segundo em
riqueza. Vale salientar que a Política do
Café com Leite e o Pacto Oligárquico
fazem parte de um mesmo contexto
político nacional.
Obs.: Deve ser observado que o “Pacto
Oligárquico” não pode ser visto como
absoluto, como totalizante nas
decisões, pois tinha três fatores de
instabilidade que variava conforme as
circunstâncias: Primeiro, nos choques
que muitas vezes iriam ocorrer entre os
grupos políticos mineiros e paulistas.
Segundo, a dificuldade de contornar as
ambições de estados “intermediários”
que possuíam poder político e/ou
econômicos, destaque para o Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro,
Pernambuco e Bahia. Terceiro, as
pressões que cada vez mais iriam ser
exercidas por grupos dissidentes de
intelectuais, jornalista e militares.
Tomando esses últimos como exemplo,
podemos citar o movimento tenentista
que tanto contestou o governo na
década de 1920.
4.3 Funding Loan
O funding loan consistiu num plano de
refinanciamento da dívida brasileira,
em troca o Brasil se comprometia a
praticar uma severas medidas de
saneamento monetário e fiscal.
O projeto ocorreu da seguinte forma, o
Brasil iria pagar no período de três anos
os juros dos empréstimos que foram
feitos anteriormente ao fundig loan. Os
antigos empréstimos, acrescido desse
novo seriam pagos futuramente, mais
precisamente, dentro de 13 anos.
Quais eram as garantias e exigências
dos nossos credores, a Casa Rothschild?
Eles tiveram como garantias a hipoteca
da Alfândega do Rio de Janeiro. Uma
exigência do funding loan foi
justamente que o governo amenizasse
a inflação diminuindo a grande
quantidade de papel moeda que estava
em circulação.
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4.4 Relações Internacionais: A Questão
do Amapá
Essa localidade de longa data gerou
problemas, primeiro entre Portugal e
França, depois entre Brasil e França.
Pelo Tratado de Utrech, de 1713, foi
estabelecido que o rio Oiapoque seria o
limite entre o Brasil e a Guiana
Francesa, o que foi aceito a contragosto
por parte desses últimos.
No final do século XIX, o governador da
Guiana Francesa quis se aproveitar do
momento delicado pelo qual passava o
Brasil, invadindo a região do Amapá.
Vale ressaltar que estávamos
envolvidos em duas questões litigiosas,
uma com a Argentina, a Questão das
Missões, e a outra com a Inglaterra, a
Questão da Ilha da Trindade.
Para resolver essa questão foi decidido
que esse episódio deveria ser
solucionado por uma arbitragem
internacional. Dessa forma, foi
escolhido o presidente da Suíça, Walter
Hauser, para ser o juiz dessa causa. O
Brasil venceu também essa causa muito
devido à argumentação feita pelo barão
do Rio Branco.
05. Rodrigues Alves (1902-1906)
5.1 A Regeneração
Grande destaque do governo de
Rodrigues Alves foi a “regeneração”, ou
seja, o processo de transformação pela
qual passou o Rio de Janeiro. A
Constituição de 1891 já estabelecia a
possibilidade da criação de uma nova
Capital Federal, mas mesmo que esse
novo centro administrativo fosse feito
ainda continuaria a existir uma grande
necessidade brasileira, uma cidade
portuária bem estruturada. Assim, o
presidente, sabendo que não havia
capital necessário para fazer as duas
coisas, resolveu por investir pesado na
transformação do Rio de Janeiro (que
era extremamente estratégica para
escoar a produção de café).
Ficou a cargo do prefeito Pereira Passos
– que era engenheiro de formação – a
parte relacionada à reforma do centro
da cidade e do porto. Já a parte
sanitária foi encabeçada pelo brilhante
sanitarista Oswaldo Cruz.
O Brasil estava adentrando o período
conhecido como a Belle Époque (Bela
Época). Nesse momento era visto com
bons olhos copiar as práticas europeias,
pois o velho continente era visto como
um exemplo a ser seguido, daí ser
civilizado para parte substancial de
nossas elites, era copiar padrões
europeus.
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Pereira Passos, inspirado nessas ideias,
tendo como padrão a reforma de Paris,
resolveu que as habitações
consideradas insalubres - que não
possuíam condições adequadas para a
saúde - o que era o caso dos cortiços,
deveriam ser derrubados. Ele achava
que poderia fazer do Rio de Janeiro
uma Paris brasileira, com avenidas
largas, que melhoravam a circulação de
pessoas e de produtos, além, é claro,
de facilitar para o governo o controle
das manifestações populares.
Grande parte da população pobre foi
obrigada a deixar os seus lares, e assim,
acabaram por se dirigir para os morros,
onde as condições de habitação
continuaram igual ou mais precárias do
que antes, eis um dos momentos
principais para o processo de
favelização do Rio de Janeiro.
Duas questões de grande importância
devem ser feitas: Primeiro, de onde
vieram os capitais para uma reforma
tão grande? Segundo, quais eram os
objetivos?
Para responder a primeira questão
devemos ter em mente que o Brasil
possuía capitais acumulados da
comercialização do café, sem falar, é
claro, que estávamos exportando
bastante borracha, e, por fim, devemos
saber que nossa nação estava
contraindo empréstimos de casas
bancárias internacionais.
Em relação à segunda questão,
devemos saber que o Brasil objetiva
com essas transformações fazer do Rio
de Janeiro um cartão postal, ou seja,
demonstrar internacionalmente que o
governo republicano estava fazendo a
nossa nação prosperar, e com essa
demonstração objetivava atrair mais
investidores.
Avenida Central do Rio de Janeiro pós-reforma A Reforma Sanitária Outro grande problema era a questão sanitária, pois uma enorme quantidade de pessoas estavam adoecendo e morrendo de doenças como a varíola, cólera e peste bubônica. A preocupação foi tanta que o governo chegou ao ponto de pagar para que os populares capturassem ratos, que eram vetores de doenças, mas isso não deu muito certo, pois parte da população começou a criar esses animais em cativeiro, para logo depois vendê-los ao governo. É bem claro que as inúmeras mortes causadas por essas doenças afetavam o andamento da cidade, inclusive prejudicando a produção realizada nas fábricas, e manchando a imagem do Brasil lá fora, daí a necessidade de uma reforma sanitária. Vale ressaltar que essa reforma ocorreu paralelamente à reforma urbana empreendida por Pereira Passos.
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Outra questão a ser lembrada é alguns cientistas de outras nações defendiam que o povo brasileiro era biologicamente fraco devido a miscigenação, e assim eram mais sensíveis em relação às doenças. Muitos cientistas brasileiros combateram veementemente essa teoria, a exemplo de Oswaldo Cruz. Ele afirmava que a miscigenação não poderia ser culpabilizada pela morte de tantas pessoas, mas sim as condições sanitárias precárias, alem da proliferação de ratos e mosquitos, que eram vetores de muitas doenças. Dessa forma, Oswaldo Cruz defendia a imunização das pessoas, através de uma campanha de vacinação, mas também a drenagem de pântanos e uma melhor limpeza da cidade. A campanha, pelo menos inicialmente, não obteve o êxito desejado, o que muito contribuiu para que Oswaldo Cruz pressionasse o governo para a aprovação da Lei de Vacinação Obrigatória, o que ocorreu em 1904. Ela dava o direito aos sanitaristas de vacinarem as pessoas à força, se necessário fosse. O que pode ser observado à partir dessa lei? Pode ser visto que o estado se sentia no direito de interferir diretamente nas escolhas das pessoas, ou seja, é claro que o objetivo era amenizar o número de pessoas mortas, mas os métodos violentos acabaram por deixar a população mais insatisfeita ainda em relação ao governo. Primeiro foram expulsas de suas casas no centro do Rio de Janeiro, e agora, mais umas vez, estão sofrendo com o autoritarismo do governo. Nesse contexto ocorreu a Revolta da Vacina (1904). Populares entraram em conflito com a polícia, que foi expulsa dos morros.
Ainda mais, o povo desceu o morro, fechou ruas, queimou bondes, e por alguns dias empreendeu uma forte resistência ao governo, que teve que negociar, e assim acabou por ser retirada a Lei de Vacinação Obrigatória. Seria muito simplificador afirmar que a Revolta da Vacina ocorreu pelo fato da população achar que a vacina iria matá-las, muito embora alguns, a minoria, pudesse acreditar em tal ideia. Também não podemos acreditar esse movimento tenha ocorrido devido apenas à questão moral, pois as mulheres eram vacinadas em locais tidos como inadequados (nádegas, por exemplo) para a moral da época. Correto é afirmar que essa revolta ocorreu devido à questão moral, o temor e, principalmente, por causa da arbitrariedade e autoritarismo do governo. 5.2 O Convênio de Taubaté No final do período administrativo de Rodrigues Alves foi criado um acordo entre os cafeicultores e o governo, estabelecendo políticas de incentivo e/ou proteção ao café, ou seja, o governo, se necessário fosse, deveria comprar o excedente da produção do café a fim de evitar a queda internacional do preço desse produto. Essa política foi muito utilizada durante a República Velha, acabando por gerar inúmeras contestações por parte de outros estados, como o Rio Grande do Sul. 5.3 Questões Externas Durante o governo de Rodrigues Alves assumiu o cargo de Ministro das Relações Exteriores José Maria Paranhos Júnior, o barão do Rio Branco (1902-1912). Umas das características mais marcantes desse período foi o americanismo, ou seja, a aproximação
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diplomática em relação aos Estados Unidos, que era uma potência em ascensão. Essa aproximação de forma nenhuma pode ser vista como subalterna, subserviente, mas sim como uma estratégia muito bem criada por Rio Branco para que nossa nação pudesse agir de forma mais autônoma nos assuntos diplomáticos em relação às questões de fronteiras litigiosas. A Questão do Acre A região do Acre de longa data já era utilizado por seringueiros brasileiros, que não apenas buscaram explorar essa localidade, mas também buscaram fazer a sua independência em relação à Bolívia. Dessa forma, não tardou para que a Bolívia buscasse reaver o controle dessa região, o que ocorreu, não de forma direta, mas sim indireta, ou seja, arrendando essa região para um consórcio anglo-americano chamado The Bolivian Syndicate. Esse grupo estrangeiro reivindicava junto ao governo brasileiro uma maior possibilidade transitar pela região amazônica brasileira, o que muito preocupou o nosso governo. Desse modo, o presidente Rodrigues Alves, através do barão do Rio Branco, buscou o mais rápido possível solucionar essa questão. Dessa forma, em novembro de 1903, foi feito assinado entre o Brasil e a Bolívia o Tratado de Petrópolis. Nele ficava estabelecido que o Brasil deveria indenizar a Bolívia com 2 milhões de libras, além, é claro, de pagar uma multa de mil libras e 126 esterlinas ao The Bolivian Syndicate pela rompimento de contrato. Também, o nosso governo deveria construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para facilitar aos os bolivianos o acesso ao oceano Atlântico. Já o Brasil passaria a ser dono do Acre, de
onde ganhamos muito dinheiro com a borracha. 06. Afonso Pena (1906-1909) Afonso Moreira Pena foi o primeiro presidente mineiro eleito pela Política do Café com Leite, sendo escolhido como vice-presidente o carioca Nilo Peçanha. Vale lembrar que antes ser presidente fora governador de Minas Gerais, quando deu início as obras de Belo Horizonte. Uma das criticas ao seu governo foi o jovem gabinete nomeado por esse presidente, que era chamado pelos seus rivais de jardim-de-infância. Na presidência desse mineiro foi posto em ação o Convênio de Taubaté, pois o governo vai efetivar a compra de café no intuito de valorizar esse produto. Outro destaque foi a criação da Caixa de Conversão, que possuía como intuito fomentar as exportações do café. Mas como isso poderia ser feito? O governo poderia fazer a desvalorização artificial de nossa moeda, o que estimularia setores internacionais a comprar mais o nosso produto, pois ele estaria mais barato. Para compensar as perdas por parte dos cafeicultores, o governo iria recompensá-los com empréstimos. Outra medida de grande valia desse presidente foi justamente o estimulo que ele deu à imigração, inclusive falando que para ele “governar é
povoar”. Por isso mesmo em 1908, o
Navio Kasato Maru, desembarcou no porto de Santos 168 famílias japonesa, cerca de 781 famílias. O ano de 1909 marcou tragicamente o Brasil devido a morte de Afonso Pena, sendo sucedido por Nilo Peçanha. 07. Nilo Peçanha (1909-1910) Nilo Peçanha representava um grupo de certa importância no cenário nacional, os produtos de café e de
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açúcar do Rio de Janeiro. Durante o seu governo o Brasil passou por uma forte crise política, pois ocorreu o rompimento momentâneo da Política do Café com Leite. Dessa forma, em 1910, a campanha presidencial foi marcada pela luta entre a “farda e a
toga”, ou seja, entre o militar Hermes
da Fonseca, apoiado por Minas Gerais, e o jurista Rui Barbosa, que foi apoiado por São Paulo. Vale destacar que Rui Barbosa lançou a Campanha Civilista, transitando parte considerável do território nacional, objetivando não apenas dificultar a vitória eleitora de Hermes da Fonseca, tentado fortalecer a ideia de que era inadequado um militar governar o país. Entretanto, a vitória foi do Marechal Hermes que obteve 400 mil votos, contra 200 mil de Rui Barbosa. Personagem de importância significativa do governo de Nilo Peçanha foi o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que fez expedições de reconhecimento, demarcação e exploração da região amazônica. Um dos seus grandes objetivos foi justamente a integração nacional a partir das comunicações, daí a implantação de postes telegráficos. Outro ponto de relevância foi a criação da Secretaria de Proteção ao Índio (SPI), que serviu de base para que fosse criada a futura FUNAI. 08. Hermes da Fonseca (1910-1914) Política das Salvações A Política das Salvações foi um conjunto de medidas implementadas pelo Governo no intuito de fragilizar as “Oligarquias” estaduais que fizeram
oposição à sua campanha, apoiando Rui Barbosa. Assim, de salvação não tinha nada, de nobre só o nome, pois o intuito era colocar para governar os
estados os grupos ligados ao presidente Hermes da Fonseca. A Revolta da Chibata (1910) Logo no início do Governo de Hermes da Fonseca, eclodiu a Revolta da Chibata, sendo destaque a liderança o marinheiro João Cândido, apelidado pelos companheiros como “Almirante
Negro”. Entre as motivações para tal levante, destaque para os castigos físicos que sofriam, também a péssima alimentação, além dos baixos soldos e da ausência de um plano de carreira que realmente beneficiasse a meritocracia. Outro elemento de grande significação para o início da Revolta da Chibata foi justamente a mudança de mentalidade adquirida por alguns marinheiros, ou seja, ao terem um maior contato com os marujos ingleses (lembre-se que o Brasil comprou alguns navios que foram fabricados na Inglaterra), perceberam que a situação deles era bem melhor de que a dos brasileiros, e que os britânicos só conseguiram essa melhorias devido à organização deles. Dessa forma, no dia 24 de Novembro de 1910, quando iria começar a punição do marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes, explodiu a revolta. João Cândido liderou a tomada dos navios Minas Gerais, São Paulo e Bahia, apontou os canhões para o Rio de Janeiro, e ameaçou bombardear a cidade caso o governo não quisesse negociar. Entre as reivindicações, destaque para o fim dos castigos físicos, da melhoria dos soldos, de um plano de carreira, de uma melhor alimentação e da anistia para os envolvidos. No Congresso Nacional, destaque para as manifestações de Rui Barbosa, que pressionou o governo de Hermes da Fonseca para que solucionasse o mais rápido possível tal
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problema. Assim, o Congresso Nacional aprovou a anistia aos rebeldes e o fim da chibata. O grande problema é que o acordo não foi cumprido pelo governo, sendo muitos marinheiros presos. Assim, não tardou para que ocorresse outra revolta, pois em Dezembro do mesmo ano um novo levante se fez, agora na ilha das cobras. Muitos foram os marinheiros presos, outros tantos foram mandados para a Amazônia. João Cândido, por exemplo, passou alguns anos na prisão, sendo depois liberto, sob alegação de que tinha enlouquecido. Entretanto, o próprio “Almirante Negro” afirmava que essa
acusação era infundada, pois o que a marinha não queria era que ele denunciasse os culpados pelas mortes dos presos que estavam detidos na ilha das cobras no momento da 2ª Revolta da Chibata. Vale salientar que após o levante de Dezembro o governo resolveu fazer algumas melhorias na Marinha para que não ocorresse novas revoltas. Guerra do Contestado (PR/SC – 1912-1916) Esse conflito ocorreu na fronteira entre Paraná e Santa Catarina. Várias foram as motivações para esse conflito, tais como: litígio entre Santa Catarina e Paraná por uma região de fronteira, a grande exclusão de grande parte da população camponesa, além dos interesses de companhias estrangeiras que ambicionavam ganhar muitos lucros naquela localidade, pois era muito rica em madeira. Como causa imediata dessa guerra foi a luta entre os habitantes dessa localidade contra a companhia a companhia norte-americana de Percival Farqhuar, a “Brazil Railway Company”,
que utilizaria parte daquele território
para a construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande. Mas também vale destacar que os estados que reivindicam o território do contestado não viam com bons olhos a população que vivia nessa localidade, pois não geravam impostos. Também a Igreja possuía as suas críticas em relação à comunidade do Contestado, pois os considerava fanáticos, seja pelo messianismo dessa comunidade, ou pela forma que eram regidos pelo seu líder religioso, o beato José Maria, que foi morto no combate dos Campos de Irani.
Mapa do Contestado No ano de 1914 o governo intensificou os ataques, e em 1915, o general Fernando Setembrino de Carvalho liderou um grupo de 8 mil soldados, que cercaram a área, tática similar a que foi feita em Canudos. Assim, os populares que combatiam o governo acabaram sendo vencidos pela fome e pela sede. Em 1916, o governo retomou a área e futuramente, no governo de Venceslau Brás, foi feita uma divisão da área, sendo entregue ao Paraná vinte mil quilômetros quadrados de área, e para Santa Catarina foi entregue vinte e oito mil quilômetros quadrados. E aos pobres? Alguns palmos de terras, mais precisamente, sete palmos, ou seja, uma cova bem rasa, como diria João Cabral de Melo Neto: “Eis a parte que
te cabe nesse latifúndio.”
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09. Venceslau Brás (1914-1918) Venceslau Brás Pereira Gomes, através do Pacto de Ouro Fino, marca o restabelecimentos da Política do Café com Leite. O período de governo desse presidente foi por demais conturbado, haja vista a eclosão da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Economicamente, essa guerra afetou fortemente a nossa economia, pois as exportações de café foram diminuídas drasticamente, também passamos a ter sérias dificuldades para importar produtos industrializados, primeiro pelo fato de boa parte da indústria européia ter se voltado para guerra, e segundo, pelo fato do Brasil não poder gastar tanto dinheiro nesse momento que pouco estava vendendo. Dessa forma, Venceslau Brás adotou a política de substituição de importações, que consistia em tentarmos fabricar parte dos produtos industriais que necessitávamos. Entre 1915 e 1919 foram criados cinco mil novecentos e trinta e seis estabelecimentos industriais, destacando-se os setores têxteis, alimentício, de bebidas, de calçados e de vestuário. Mas, de onde vinha o capital investido na indústria? Vinha do acúmulo efetivado pelo setor cafeicultor nos anteriores a guerra. Outro fator de destaque foi o processo de crescimento da influência econômica estadunidense sobre o Brasil, haja vista a instalação de um grande número de empresas dessa nação em nossas terras. Esse processo foi continuado e ampliado no período posterior a à 1ª Guerra Mundial, pois eles passaram a ser um mercado muito importante para o nosso café. Outro ponto de relevo foi o crescimento da influência cultural estadunidense em nossas terras, inclusive dividindo, e
posteriormente suplantando a influência francesa Outra questão econômica de relevo que ocorreu no governo de Venceslau Brás foi justamente o declínio do Ciclo da Borracha, que teve o seu esplendor entre 1900 e 1909, mas depois desse período passou a perder espaço para a Ásia, graças a biopirataria feita pelos ingleses, que retiraram a “hevea
brasilensis” daqui e passaram a plantá-la naquela localidade.
Período Brasil (t) Sudeste da Ásia (t)
1900-1904 146.758 4.572
1905-1909 184.076 23.876
1910-1914 187.141 193.040
1915-1919 156.52 1.046.480
1920-1924 100.463 1.761.236
1925-1929 111.649 3.144.012
Edgar Carone. In: A República Velha,
Difel.
Política Externa Marcou a Política Externa desse governo a participação do Brasil na 1ª Guerra Mundial, saindo da neutralidade em 1917. Vale ressaltar que o Brasil foi o único país da América do Sul a entrar nesse confronto. Antes da entrada do Brasil na guerra, as opiniões eram divididas em relação ao lado que deveríamos apoiar. De um lado os germanófilos, como Monteiro Lobato e Lima Barreto, já do outro os pró-aliados, como Rui Barbosa e Olavo Bilac. A razão imediata para a entrada do Brasil na Guerra foi justamente o ataque que os submarinos alemães
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fizeram aos navios brasileiros, sendo a declaração do estado de guerra contra a Alemanha ocorrido logo após o torpedeamento do vapor Macau, em outubro de 1917. O Brasil enviou oficiais aviadores que fizeram parte do 16º Grupo da RAF, além de enviar médicos e de forma a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG). Ela deveria atuar conjuntamente com a força naval britânica, porém quando atracou em Dakar, a tripulação foi assolada por uma epidemia de gripe espanhola, que fragilizou parte considerável da tripulação, assim acabou por chegar atrasada na guerra, pois entrou em Gibraltar um dia antes do tratado que deu “fim” a Primeira Guerra. Movimento Operário Destaque para a Greve Geral de 1917, quando os operários de uma tecelagem de São Paulo pararam os trabalhos por não aceitarem o decreto dos donos que estabelecia a ampliação do trabalho noturno. Também havia uma forte contestação por causa da forma extremada de repressão que sofriam os operários, não raro ocorrer mortes. Dessa forma, ocorreu a morte de um jovem operário anarquista, sendo o seu enterro comparecido por mais de 10 mil pessoas, ocorrendo protestos que se prolongaram, provocando a paralisação de várias fábricas, também paralisando os transportes rodoviário e ferroviário. Vale destacar que muitos dos operários eram imigrantes, sendo que muitos eram anarquistas e/ou socialistas, entre as suas reivindicações constava: a redução da jornada de trabalho, melhores salários e a proibição do trabalho feminino noturno.
Nas eleições de 1917 saiu vitorioso Rodrigues Alves, porém morreu devido a gripe espanhola, e o seu vice, Delfim Moreira, só poderia assumir provisoriamente, pois a Constituição estabelecia que o vice só poderia assumir de fato se tivesse passado dois anos de governo do presidente. Assim, tivemos novas eleições, de onde saiu vitorioso Epitácio Pessoa. 10. Epitácio Pessoa (1919-1922) Durante o governo de Epitácio Pessoa, foi ampliada a influência dos Estados Unidos, pois o dólar passou a ser o padrão internacional de conversão da nossa moeda. Outro ponto de destaque foi no que se refere o pedido de mais empréstimos por parte do governo para por em prática o que estava estabelecido pelo Convênio de Taubaté, mas também para combater o efeitos deletérios da seca nas terras nordestinas. Semana de Arte Moderna de 1922 Até as primeiras décadas do século XX, o modelo cultural a ser seguido no Brasil era o europeu, fundamentado nas idéias de civilização e progresso, bem como na corroboração da mentalidade eurocêntrica de que o branco do velho continente era superior as demais raças. Neste sentido, quando se pensava o Brasil, buscava-se negar o passado colonial e a herança negra e indígena. Aqui se encontra, no nosso entender particular, uma das mudanças essenciais promovidas pelos modernistas no pensamento da brasilidade. Pregando a crítica, a ruptura com os padrões tradicionais de arte e a criatividade, os modernistas passaram a defender a antropofagia da cultura externa e a sua, consequente,
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interpretação e transformação em algo que fosse tipicamente nacional. Ou seja, com os modernistas, a questão nacional vai passar a ser uma prioridade na construção de uma nação melhor e mais desenvolvida. O quadro de Tarsila do Amaral faz referência exatamente a essa antropofagia, pois quando buscamos a etimologia da palavra abaporu identificamos a artista em sua fase antropofágica.
Abaporu: Tarsila do Amaral Tenentismo Os tenentes propunham a montagem de um projeto de governo alternativo em relação à República Velha, chegaram a realizar contestações diretas e armadas contra o governo oligárquico da época. Em 1922, ocorreu no rio de Janeiro o Levante dos 18 do Forte de Copacabana, primeira ação efetiva da jovem oficialidade contra a eleição de Artur Bernardes. Neste levante, algumas centenas de baixas patentes do exército tomaram o forte de Copacabana e enfrentaram o governo entre os dias 5 e 6 de julho de 1922. Porém, no dia seguinte apenas 18 continuaram com a luta e saíram em confronto com as forças federais, de onde só sobreviveram apenas dois, Siqueira Campos e Eduardo Gomes. O governo de Epitácio Pessoa decretou estado de sítio, que foi prolongado até a Subida de Artur Bernardes, em 1926.
11. Artur Bernardes (1922-1926) O governo de Artur Bernardes foi fortemente marcado por uma grave crise social, destaque para o movimento tenentista e para o movimento operário, sendo constante o presidente decretar estado de sítio, ou melhor, a maior parte do seu governo ocorreu sob estado de sítio, daí a frase de ele “como presidente não passava de um chefe de policia.” Novos levantes Tenentistas Em 1924, mais uma vez os tenentes pegaram em armas, dessa vez a partir de São Paulo e Rio Grande do Sul. Nesses dois estados formaram-se colunas militares contra o governo Bernardes, que se juntaram e originou a chamada coluna Miguel Costa-Luis Carlos Prestes, mais conhecida como Coluna Prestes, representada na foto acima, que percorreu o país pregando os ideais tenentistas e a derrubada do governo Bernardes. Apesar de não conseguirem o seu principal objetivo (derrubada de Artur Bernardes), os tenentes promoveram grandes conturbações no governo de Bernardes, obrigando-o a governar a maior parte do tempo sob estado de Sítio. O tenentismo, sem dúvida alguma, está inserido, de forma marcante, no contexto que favoreceu o golpe de 1930. Grande destaque em meio ao movimento tenentista se dá à Coluna Prestes (1925-1927) que possuía como comandante principal Miguel Costa, mas mesmo assim recebeu o nome de Coluna Prestes, devido à grande importância dele. Vale salientar que Luis Carlos Prestes só viria a se tornar comunista futuramente, no período pós-coluna. Esse movimento se tornou épico, pois percorreu uma longa marcha de 25.000 quilômetros pelo
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país, do Rio Grande ao sul do Maranhão. Seu objetivo era obter apoio de vários quartéis para fortalecer a marcha. Sem atingir o objetivo, seus membros, já cansados, refugiaram-se na Bolívia. Em 1926, o presidente, com o apoio do Congresso Nacional, realizou uma reforma na Constituição de 1891, cujo objetivo principal era fortalecer o poder Executivo. Principais destaques da reforma •Regulamentação da expulsão de
estrangeiros considerados nocivos à ordem sócio-política; •Direito ao Executivo de vetar
parcialmente os projetos do Legislativo; •Ampliação dos limites de intervenção federal nos estados. 12. Washington Luís (1926-1930) Washington Luis foi o último presidente eleito pela Política do Café com Leite, sendo deposto no final do seu mandato. Durante sua permanecia no Palácio do Catete foi aprovada a Lei Celerada, que restringia a liberdade de imprensa. Outro ponto de bastante relevo foi a atenção que teve em relação à construção de estradas, inclusive tendo como lema: “Governar
é abrir estradas”. Construiu as rodovias
Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis. A Crise de 1929 e A Revolução de 1930 O ano de 1929 foi marcado pela Crise de 1929 ou Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ocorreu a crise da superprodução, ou seja, ocorreu uma grande produção industrial, mas o mercado acabou por não adquirir o que foi produzido, assim muitas empresas fecharam as portas, ampliando o desemprego, e, consequentemente, diminuindo o mercado consumidor. Os
efeitos dessa crise foram sentidos pela Europa, onde os Estados Unidos investiam capitais, além de toda a América do Sul, de uma forma geral, e do Brasil, de uma forma particular. Lembre-se que os estadunidenses eram grandes compradores do nosso café. O grande problema em 1929 é que o governo de Washington Luís não estava disposto a socorrer os cafeicultores como haviam feito governos passados. Naquele momento, Washington Luís estava realizando uma política de saneamento econômico no Brasil e, consequentemente, estava cortando gastos públicos e direcionando os investimentos para a construção de estradas, que era uma das principais metas de sua gestão. Ao negar ajuda aos cafeicultores, Washington Luís distanciava-se de uma das suas principais bases de apoio político. Para completar o quadro de equívocos políticos do então presidente, o governante ainda insistiu na indicação de um candidato paulista para a sucessão presidencial, Júlio Prestes, fato que rompia com o “casamento” político entre Minas e São
Paulo e, por sua vez, como foi visto anteriormente e nos é indicado na segunda imagem, proporcionava um novo “casamento” forçado entre minas e o Rio Grande do Sul. Esse casamento, fez surgir, junto com os paraibanos, a Aliança Liberal, chapa de oposição nas eleições de 1930 e que lançou a candidatura do gaúcho Getúlio Vargas para presidente e do paraibano João Pessoa para vice. Assim, estava montado o quadro político e econômico que iria culminar no golpe de 1930. O movimento que ficou conhecido historicamente como “Revolução” de
1930, foi, na prática, um golpe de Estado articulado pela chamada Aliança
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Liberal – uma aliança política entre oligarquias dissidentes (Minas Gerais, Paraíba e, em especial, Rio Grande do Sul), tenentes e parte de setores médios urbanos – a partir do assassinato de João Pessoa em Pernambuco por motivações políticas da Paraíba. A morte de João Pessoa, vice de Vargas na chapa da Aliança Liberal, derrotada por Júlio Prestes nas eleições de 1930, foi apenas o estopim para o desenrolar do golpe de 30, que já vinha se materializando dentro das próprias contradições e crises político-econômicas pelas quais passava a “Velha” República brasileira. Na
política, as dissidências internas do PRP (Partido Republicano Paulista) originaram o PD (Partido Democrático). Com essa cisão as oligarquias paulistas se enfraqueceram enquanto as oligarquias do Rio Grande do Sul fortaleciam-se a partir do Pacto de Pedras Altas (1923) e da ascensão da liderança de jovens políticos como Getúlio Vargas. Também no âmbito da política, é importante ressaltar a cisão entre as oligarquias mineira e paulista com a indicação, por parte do presidente paulista Washington Luís, de um outro paulista (Júlio Prestes) para a sucessão presidencial, fato que rompia com a política do “café-com-leite” e levou a
maior parte da oligarquia mineira a aliar-se ao Rio Grande do Sul no golpe. Na economia, a crise de 1929 também ajudou no desgaste do governo de Washington Luís, pois este, negando-se a ajudar os cafeicultores paulistas nesse momento de baixa do café por causa dos efeitos da crise de 29, indispôs os últimos em relação ao governo. Segundo Boris Fausto, a grande característica da Revolução de 30 foi a sua heterogeneidade, pois como vimos
vários grupos políticos participaram do golpe. Para Boris Fausto era fácil identificar o perdedor (oligarquia cafeeira paulista) e difícil definir os vencedores (oligarquias dissidentes, tenentes, jovens políticos). É importante salientar que mesmo que a oligarquia cafeeira paulista tenha perdido a hegemonia na política federal, ela não perdeu seu poder e influência no Estado Federal, pois o Estado pós 30 ainda pôs em prática políticas de valorização do café, com a compra do excedente e sua incineração.
ERA VARGAS (1930-45)
1. Contexto nacional e internacional
O debate historiográfico sobre a
relevância da “Revolução” de 1930 na
formação do Brasil contemporâneo é
um dos mais prósperos na
historiografia brasileira. Inúmeras
foram às interpretações, apesar de
divergentes em vários pontos. No
entanto, é certo entre elas que o
Estado pós 1930 promoveu grandes
transformações de ordem política,
institucional, econômica, social e
cultural no país.
Na década de 1930 a situação política e
econômica do Brasil respirou
profundamente os ventos que o velho
continente (Europa) e os Estados
Unidos sopravam para o restante do
globo. As grandes transformações que
aqui aconteceram estiveram ligadas
direta e indiretamente ao quadro
político e econômico internacional.
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O próprio Golpe de 1930, bem como o
quadro econômico brasileiro do início
desta década, estiveram relacionados à
Crise de 1929. Com a ascensão dos
Estados Totalitários na Europa,
vertentes tupiniquins desses
movimentos surgiram, como foi o caso
da Legião Cearense do Trabalho e da
Ação Integralista Brasileira. Além
desses movimentos políticos de
inspiração fascista, também surgiu um
com tendências de esquerda: a Aliança
Nacional Libertadora.
Esses são apenas alguns exemplos de
como contexto internacional afetou o
processo político e econômico nacional
entre as décadas de 1930 e 1940.
2. Fases da Era Vargas
A Era Vargas pode ser dividida em três
fases distintas e interligadas entre se. A
primeira fase corresponde ao Governo
Provisório (1930-34), onde Vargas
buscou consolidar o Golpe de 1930. A
segunda fase é marcada pela volta ao
regime constitucional – Governo
Constitucional (1934-37) - com a
promulgação da Constituição de 1934.
A terceira e última fase, o Estado Novo
(1937-45), representou o zênite das
transformações econômicas, sociais,
políticas, institucionais e culturais que
ocorreram na Era Vargas.
3. O Estado pós-1930
Apesar de o movimento de político-
militar de 1930 não representar de
forma ampla a denominação que
recebeu (Revolução), muitas
transformações ocorreram na
sociedade, política e economia
brasileira, que nos fazem refletir sobre
a profundidade das mudanças
decorrentes do Movimento de 1930.
Thomas Skidmore avalia o fato da
seguinte forma: “A mudança de
liderança política, resultante da
ascensão de Vargas à presidência,
tornou-se conhecida como Revolução
de 30. Os acontecimentos posteriores
confirmaram a precisão da
denominação, pelo menos na esfera
política”. (Thomas Skidmore. Brasil: de
Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982, pág. 25).
Mesmo não se aprofundando em
reformas sociais mais consistentes e
transformadoras, não se pode negar
que o Golpe de 1930 trouxe mudanças
profundas nas relações entre Estado e
sociedade e, mormente, capital e
trabalho.
A partir de 1930, o modelo liberal
excludente foi abandonado e emergiu
um Estado forte e centralizado que,
pela primeira vez na história política do
país, se apresentava com características
nacionais. Vargas promoveu uma
reforma institucional profunda que
possibilitou a estruturação de uma
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hierarquia de governo nas diversas
instâncias (municipal, estadual e
federal).
No que se refere ao social, ocorreram
inúmeros avanços importantes.
Também pela primeira vez, o Estado
passou a regular as relações entre
capital e trabalho, concedendo uma
abrangente legislação trabalhista para
os operários urbanos. Aqui, vale frisar
que essas leis sociais já era bandeira do
movimento operário durante a
República Velha e que foram
concedidas com o intuito de conquistar
o apoio da classe trabalhadora para o
Estado. O que, durante a Primeira
República era um caso de polícia,
passou a ser uma questão de estado.
Na economia, o governo realizou
investimentos públicos que
beneficiaram os empresários
capitalistas brasileiros. Vargas foi o
responsável pela montagem das bases
da indústria nacional com seu
estatismo econômico.
Por essas razões, guardadas as devidas
limitações, 1930 pode ser considerado
um dos momentos fundantes do Brasil
atual.
4. Governo Provisório (1930-34)
Entre os anos de 1930-34, Vargas ficou
na presidência de forma temporária e
com amplos poderes, até que se
elaborasse a nova constituição que iria
reger o país. Por isso, esta fase é
chamada de Governo Provisório. Foi
neste momento que Vargas começou a
realizar suas primeiras reformas no
estado, economia e sociedade
brasileira.
No plano político, para poder
consolidar seus objetivos
centralizadores, implantou as
interventorias, substituindo os
governos estaduais que lhe fossem
contrários, por tenentes aliados.
Buscou combater todas as oligarquias
opositoras ao Golpe de 30, auxiliando,
porém, as que o apoiavam.
Foi durante o Governo Provisório que
Vargas criou o Ministério da Educação
(1930), o Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio (1930) e
implantou o Código Eleitoral de 1932,
que possibilitou o voto secreto e
feminino e criou a Justiça Eleitoral.
Devido a grande centralização de
poderes, a intervenção nos estados e a
demora na convocação da constituinte
que iria votar a nova constituição,
Vargas foi angariando cada vez mais
oposição, principalmente das
oligarquias paulistas, que eram as que
mais haviam perdido com o Golpe de
1930.
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4.1. “Revolução” Constitucionalista de
1932
Em 1932 ocorreu em São Paulo o
primeiro levante contestador do estado
pós 1930. Foi à chamada Revolução
Constitucionalista, que exigia a
convocação da Constituinte e a
nomeação de um interventor civil e
paulista em São Paulo, mas não era
separatista.
Desde a sua posse no governo em
1930, Vargas protelava a convocação
da constituinte e promovia uma política
interventora em vários estados com os
tenentes. São Paulo, por ser o principal
baluarte da República Velha, foi o
estado que mais sofreu com o
intervencionismo varguista. Entre 1930
e 1932, vários tenentes foram
colocados como interventores naquele
estado para neutralizar as oligarquias.
Essa política centralizadora foi
acirrando os ânimos entre os paulistas
e o governo central e acabou levando o
país a sua mais importante guerra civil
do século XX, entre julho e novembro
de 1932 em São Paulo. No decorrer
daquele ano, os paulistas formaram a
Frente Única, que exigia a
reconstitucionalização do país.
O estopim para o conflito foi o
confronto entre tenentes e estudantes
em maio de 1932, que acabou
resultando na morte de quatro jovens
(Martins, Miragaia, Dráusio e
Camargo). A partir de então, formou-se
um movimento cívico composto por
classes médias, militares descontentes
com Vargas, oligarquias e industriais
em crise, que levava o nome das letras
iniciais dos nomes desses estudantes
(MMDC).
Em julho começaram as hostilidades.
Toda cidade de São Paulo foi
mobilizada para o esforço de guerra e
os rebeldes tomaram o estado. As
indústrias foram adaptadas para a
produção de armamentos e promoveu-
se uma campanha entre as senhoras de
classe média (Campanha do Ouro), que
visava arrecadar ouro para o
financiamento do esforço de guerra e
estimulava o forte sentimento
regionalista dos paulistas.
A cidade de São Paulo foi cercada por
terra e mar pelas forças governistas.
Mesmo assim, suportou até novembro,
após sofrer vários bombardeios aéreos.
No final, o levante foi derrotado
materialmente, mas ganhou em sua
bandeira pela nova constituição. Em
1933 São Paulo ganhou um interventor
civil e paulista e a constituinte iniciou
seus trabalhos que iriam originar a
Constituição de 1934.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 26
4.2. Constituição de 1934
A convocação da Assembleia Nacional
Constituinte foi feita por Vargas ainda
em 1932. Em 1933 começaram os
trabalhos que foram concluídos em
1934.
A Constituição de 1934 era ambígua em
alguns aspectos. Defendia princípios
liberais e democráticos, ao mesmo
tempo em que possuía aspectos
conservadores e autoritários em seu
texto.
A nova constituição trazia disposições
inovadoras como o voto feminino,
secreto e obrigatório para homens
maiores de 18 anos; a representação
classista, com 18 representantes dos
sindicatos dos trabalhadores, 2
funcionários públicos, 17 empresários e
3 profissionais liberais; a nacionalização
das minas e riquezas do subsolo e das
quedas d’água; garantia proteção social
aos trabalhadores. Porém, ainda eram
limitados os direitos de cidadania, pois
analfabetos, mendigos, cabos e
soldados eram excluídos do processo
eleitoral.
No que se refere à administração, ela
mantinha a tripartição de poderes, a
forma presidencial com quatro anos de
mandato para o presidente e
deputados e oito para senadores.
5. Movimentos políticos e a “gestação”
do Estado Novo durante o Governo
Constitucional (1934-37):
A década de 1930 foi marcada por
movimentos políticos que tinham
inspiração no contexto internacional,
como foi o caso do Integralismo.
Também ocorreu um levante chamado
“Intentona Comunista” (1935), mas
que, na verdade, não era propriamente
comunista. A questão é que, a partir de
1935, o medo do comunismo acabou
legitimando golpes de estado em nosso
país, como foi o caso do Plano Cohen
(1937) e do suposto comunismo de
Jango (1964).
5.1. O Integralismo (1932-38)
A AIB (Ação Integralista Brasileira) foi a
mais importante organização fascista
do Brasil e o primeiro partido de
massas com implantação nacional.
Lançada em 1932, a partir do chamado
“Manifesto de outubro”, a AIB
estruturou-se a partir de pequenos
grupos e partidos de extrema direita
em diversas partes do país.
Composta essencialmente por pessoas
de classe média, a AIB tinha como
principais características:
• inspiração fascista e autoritarismo;
• nacionalismo exacerbado e
conservadorismo;
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 27
• simbolismo e personalismo;
• antiliberal e antidemocrátio;
• paternalismo e corporativismo
Dentre as manifestações do simbolismo
da AIB, destacamos o Anauê
(cumprimento de guerra tupi), e o
Sigma - Σ - que da uma ideia de
somatório. O lema do movimento era
“Deus, Pátria e Família”.
O Anauê, cumprimento integralista Os camisas verdes, como também eram conhecidos, possuíam várias manifestações cívicas e educavam as suas crianças desde cedo para seguirem os ideias do movimento. 5.2. A Aliança Nacional Libertadora – ANL (1934-35) A ANL foi o movimento oposto ao Integralismo. Também composto essencialmente por setores médios urbanos e por “tenentes” de esquerda,
o movimento tinha como principais propostas: • constituição de um governo popular; • a nacionalização das empresas
estrangeiras; • a reforma agrária; • a suspensão da dívida externa; • garantia das liberdades populares.
Como se percebe, não havia uma proposta comunista no projeto político da ANL. Porém, em novembro de 1935, ligado ao contexto internacional de propagação do comunismo, ocorreu em Natal, Recife e Rio de Janeiro alguns levantes de aquartelados que levaram o nome de “Intentona” Comunista. Esses levantes foram tachados como comunistas porque houve a participação de alguns membros que eram do PCB (Partido Comunista Brasileiro), como foi o caso de Luís Carlos Prestes (um dos grandes expoentes do tenentismo), e a sua esposa Olga Benário. Após a repressão ao levante de 1935, Vargas passou a acumular mais poderes. A impossibilidade de uma reeleição de Vargas levou o mesmo à articulação de um golpe que teria como pretexto o combate ao comunismo. Esse pretexto levou o nome de Plano Cohen, que seria um suposto plano de invasão comunista no Brasil. 6. O Estado Novo (1937-45) Em 10 de novembro de 1937 começava o Estado Novo no Brasil, período que representou o auge do poder de Vargas. O Estado Novo pode ser dividido em duas fases: uma entre 1937 e 1942, onde ocorreram as reformas mais significativas; e outra entre 1942 e 1945, período de crise. Logo após a realização do golpe, Vargas outorgou uma nova constituição (1937), a nossa quarta Carta Magna. Por ser extremamente centralizadora, concentrando poderes no executivo, e com inspiração na constituição polonesa dos anos 1920, essa constituição ganhou o nome de “Polaca” brasileira. Seguindo a linha centralizadora que marcou o Estado Novo como uma ditadura, Vargas dissolveu o Congresso
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 28
Nacional e acabou com todos os partidos. Obs.: Em 1938 os integralistas, frustrados por não ter conseguido espaços de poder dentro do Estado Novo, tentaram matar Vargas no Palácio do Catete (RJ), então sede da presidência. 6.1 O discurso do Regime Na hora de buscar legitimidade para o novo regime, Vargas arregimentou vários intelectuais e movimentou a máquina pública no sentido de forjar uma unidade nacional. Uma das primeiras medidas simbólicas nesse sentido foi a realização de uma cerimônia de queima das bandeiras estaduais. A queima das bandeiras estaduais seria a “queima” do próprio
regionalismo. A partir de então “não
existiria mais o regional”, mas
“somente” o nacional. No discurso oficial do Estado Novo, como o próprio nome do regime sugere, falava-se na criação de um novo cidadão, de um novo país e se criticava as velhas elites. O Estado novo seria a expressão do bem e valorizaria os segmentos populares. 6.2 O duplo censura e propaganda Para viabilizar a difusão desse discurso para as diversas partes do país, Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939. O DIP era uma espécie de departamento responsável pela propagação da ideologia do Estado Novo. Na época, o rádio era o principal meio de comunicação, por isso o período também é conhecido com a “era do
rádio”. O DIP, inspirado na propaganda nazista, realizava a propaganda da ditadura varguista, da cultura e das belezas
naturais do país através de microfilmes antes das sessões de cinema (cinejornais), através do teatro e através da música popular. Para não haver uma distorção da imagem que se queria passar para os populares sobre o governo e as suas realizações, o DIP censurava aquilo que era prejudicial à essa imagem. Programas sobre criminalidade, por exemplo, comuns em nossos dias, não eram apresentados na época. Sem dúvida alguma o DIP foi fundamental na criação da imagem de Vargas como o “pai dos pobres”.
Entretanto, isso não seria possível se Vargas não promovesse a realização de uma ampla legislação trabalhista. 6.3 Política trabalhista A política trabalhista do governo varguista seguia a linha do populismo. O trabalhismo brasileiro, como é chamado o populismo varguista, era um acordo recíproco entre trabalhadores e chefe de estado. Para além das imagens de demagogia política e passividade dos trabalhadores brasileiros em relação a Vargas, devemos ter em mente que o que havia era um pacto social e político, onde cabia ao chefe conceder leis sociais, fruto de antigas reivindicações do nosso operariado, e, aos trabalhadores, dar apoio ao regime. O que não quer dizer que os trabalhadores apoiavam as arbitrariedades do governo Vargas. Durante o Estado Novo o primeiro de maio passou a ser uma das principais festividades cívicas. Era realizado em São Januário, estádio do Vasco da Gama no Rio de Janeiro. Com seu típico jargão - “Trabalhadores do meu Brasil”- Vargas fazia do primeiro de maio uma oportunidade para a sua autopromoção.
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A grande realização trabalhista de Vargas durante seu governo foi a elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Em relação às leis sociais de Vargas, vale frisar que havia um claro interesse político, pois o presidente buscava angariar apoio popular para o seu governo, que era ditatorial. Porém, apesar disso, não se pode negar o papel de relevo de Vargas no progresso das leis sociais brasileiras. Uma crítica importante de ser feita em relação à política trabalhista do presidente Vargas, é o fato de sua legislação social ter ficado restrita aos centros urbanos. Tais leis não chegaram ao campo brasileiro antes dos anos 1960. Além disso, só tinha acesso à legislação trabalhista aquelas pessoas sindicalizadas, sendo que os sindicatos eram atrelados ao Estado e corporativistas. Por isso, os dirigentes sindicais eram chamados de “pelegos”.
Vargas desfilando em carro aberto durante um comício de 1º de maio 6.4 Política econômica No que se refere a política econômica, Vargas segui uma linha nacionalista e montou as bases da indústria brasileira. Criou empresas estatais como a Cia. Vale do Rio Doce (CVRD), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), essa última com apoio financeiro dos EUA. 6.5 Política educacional Seguindo as necessidades do crescimento econômico do país e as
diretrizes ideológicas do regime, Vargas também promoveu mudanças na estrutura educacional brasileira. Foi implantado o ensino técnico industrial, com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Também foram criadas as primeiras Universidades entre 1930 e 1940, como foi o caso da Universidade do Brasil e da USP. Além disso, no que se refere à escola primária, houve o reconhecimento da educação como um direito de todos os cidadãos e, consequentemente, a destinação de verbas fixas para a educação pública. 6.6 Reforma administrativa No campo da administração foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). O DASP estabeleceu a meritocracia para se engajar no serviço público com a obrigatoriedade do concurso público. Mas ainda deixou espaço para o clientelismo político com os chamados cargos comissionados. 6.7 O Brasil na Segunda Guerra A participação brasileira na Segunda Guerra mundial está diretamente ligada à política externa desenvolvida durante a Era Vargas. Nesse período, em especial entre fins dos anos trinta e início dos anos quarenta, a diplomacia brasileira praticou uma política externa marcada pelo pragmatismo. Vargas se aproximou política e economicamente da Alemanha entre 1936 e 1939, quando começou a guerra. De um lado, tínhamos os Aliados (Inglaterra, França etc.), patrocinados pelos EUA e, do outro, eixo totalitário (Alemanha, Itália e Japão). Vargas praticava uma política ambígua, pois seu governo tinha grande
História do Brasil
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semelhança com o nazismo, mesmo sem sê-lo. Ao mesmo tempo em que, inicialmente, manteve neutralidade no conflito. A partir de 1939, devido ao bloqueio realizado pela Inglaterra no Atlântico, as relações comerciais e políticas com a Alemanha foram cortadas e se abriu espaço para a intensificação da aproximação econômica, política e cultural dos EUA, com aos países da América Latina e, em especial, com o Brasil, que levou o nome de “política da
boa vizinhança”. Após o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor (1941) e a consequente declaração de guerra oficial dos EUA aos países do Eixo, passou a ser questão de segurança nacional dos estadunidenses instalar bases militares no nordeste brasileiro, ponto mais próximo do norte da África, onde haviam tropas do eixo. Nesse contexto, Vargas soube se aproveitar dos anseios dos americanos do norte e barganhar os financiamentos que possibilitaram a construção da CSN, com a usina de Volta Redonda (RJ). Porém, teve que permitir a construção de bases dos EUA em território nacional, como foi o caso das bases em cidades como Fortaleza, Natal (chamada pelos estadunidenses de o trampolim para a vitória, por ser a parte mais próxima do Brasil em relação à África), Recife e no Arquipélago de Fernando de Noronha. No plano cultural, houve o início do processo de americanização dos costumes no Brasil, pois a aproximação cultural era muito mais no sentido de lá para cá. Porém, tentando minimizar a imagem negativa que os países da América Latina tinham em relação a eles, os EUA se utilizaram do cinema para difundir seus ideais e passar a imagem de amigos. Isso foi
demonstrado muito bem com a criação de personagens pela Walt Disney, como foi o caso do Zé carioca. Além disso, foi a época em que Carmem Miranda teve condições de fazer sucesso nos EUA, “mostrando o que a baiana tem”. Seria
ela uma “divulgadora da cultura
brasileira” nos EUA.
Cartaz dos anos 40 ligado à “política da
boa vizinhança”. Nele temos o Pato
Donald, representando os EUA, além do Zé Carioca e Carmem Miranda, fazendo alusão ao Brasil 6.7.1 O Brasil na Guerra O Brasil entrou na guerra ao lado dos aliados, oficialmente, em agosto de 1942, após bombardeios de navios mercantes brasileiro, que foram atribuídos aos alemães, e à forte pressão pública nacional para que o país decretasse guerra ao eixo. A participação brasileira no conflito se deu com o envio de soldados para as batalhas travadas na Itália, contra Mussolini. Para aquele país foram os “Pracinhas” da Força Expedicionária
Brasileira (FEB) e os soldados da Força Aérea Brasileira (FAB), os “Senta a Púa”.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 31
“A cobra vai fumar” e “Senta a pua!”,
slogans que incentivaram os militares brasileiros na 2ª Guerra Mundial 6.7.2 A Guerra no Brasil Além de o Brasil ter ido à guerra, a guerra chegou ao Brasil, não apenas pelas aludidas bases estadunidenses em nosso litoral, mas com os chamados “Soldados da Borracha”. Esses soldados
não eram alistados, mas pessoas simples da região nordeste que foram convocados para a chamada “Batalha
da Borracha” na Amazônia, ou seja,
foram chamados para a ajudar o país na guerra, extraindo látex para mandar para a indústria aliada, pois os seringais asiáticos, históricos concorrentes dos seringais brasileiros, estavam sob o controle do eixo. Foi nesse momento que ocorreu o segundo boom da borracha no Brasil. Para que os nordestinos fossem para a Amazônia, foi preciso a realização de uma ampla propaganda pelo por parte do governo, pois a lembrança das explorações sofridas no contexto do primeiro boom da borracha (1890-1910), não eram nem um pouco atraentes para esses homens pobres. Tentando mudar tal imagem, o governo Vargas criou o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) e prometeu proteção do Estado contra a exploração dos seringalistas. Porém, tal reconhecimento pelos serviços prestados por esses “soldados da
borracha” só chegou com a
Constituição de 1988.
Cartaz do SEMTA
Cartaz do SEMTA 6.7.3 Efeitos da guerra para o Estado Novo: Ao entrar na guerra ao lado dos aliados, Vargas cometeu uma contradição básica, pois praticava um governo autoritário, ao mesmo tempo em que entrava em um conflito “defendendo as
democracias” ocidentais. Essa contradição Abriu margem para críticas ao governo de Vargas. Paulatinamente, a partir de 1943, começou a crescer a expressão das insatisfações dos vários setores da sociedade brasileira em relação à ditadura do Estado Novo, como foi o caso do Manifesto dos Mineiros (1943). Por esse manifesto, vários políticos influentes de minas exigiam a abertura política do país. Com o fim da guerra e o retorno dos pracinhas ao país, os anseios por democracia cresciam rapidamente, fato que levou Vargas a iniciar a abertura política no início do ano de 1945. As eleições para uma Constituinte foram marcadas e surgiram os novos partidos (PTB, PSD e UDN), bem como o PCB voltou à legalidade e Luís Carlos Prestes foi solto após 10 anos preso. Apesar de paradoxal, tal postura do governo Vargas tinha a ver com a aliança dos aliados contra o eixo totalitário, pois os soviéticos haviam lutado contra o eixo na guerra e Vargas
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 32
estava promovendo uma aproximação diplomática, pela primeira vez no Brasil, com a URSS. No contexto de transição para um novo governo democrático, formou-se, a partir do PTB e PCB, uma campanha com segmentos populares pedindo Vargas na presidência da nova Constituinte. Tal campanha levou o nome de “queremismo”. Ao perceberem as manifestações populares pró Vargas, os segmentos mais conservadores, a oposição liberal brasileiros, inclusive alguns velhos aliados de Vargas no meio militar, como Góes Monteiro, obrigaram Getúlio a renunciar em fins de 1945, pondo fim ao Estado Novo.
PERÍODO DEMOCRÁTICO OU REPÚBLICA POPULISTA (1946-64)
O período compreendido entre os anos
de 1946 e 1964, na prática, foi a
primeira experiência realmente
democrática no país. O que nos faz
perceber o quanto a democracia
brasileira é jovem.
No Período Colonial, quem exercia a
“cidadania” eram os chamados
“homens bons”; no Império o voto era
censitário e indireto; na República
Velha a cidadania era limitada pelo
coronelismo, pelo voto aberto e pelas
fraudes. Entre 1930 e 1934, Vargas
exerceu o poder de forma autoritária.
De 1934 a 1937, esboçou-se uma
democracia que foi derrubada neste
último ano, com o golpe que implantou
a ditadura do Estado Novo.
Como pode se perceber, não é à toa
que o período político que começamos
a estudar, a partir de agora, é chamado
de democrático.
7. O Populismo
Entre os anos de 1930 e 1964 o Brasil
passou por grandes transformações no
plano cultural, político, ideológico,
econômico e social. Principalmente, no
plano da economia e sociedade, o país
passou por um processo de
modernização, com a montagem de um
projeto de desenvolvimento urbano-
industrial.
Esse processo ocasionou mudanças
fundamentais na distribuição
geográfica da população brasileira. A
cidade, devido a ideologia
desenvolvimentista e o consequente
êxodo rural, foi se transformando no
polo irradiador das decisões políticas e
centro da economia nacional.
Essa mudança fundamental na
economia e sociedade ocasionou,
também, uma mudança nas estruturas
de poder em nosso país. O campo,
historicamente um espaço fundamental
de poder, devido à estrutura social e
econômica do país, essencialmente
rural, perdeu poder para as cidades.
Isso, devido às grandes migrações para
os centros urbanos que, na prática,
foram minando paulatinamente o
coronelismo.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 33
Agora a realidade era outra. O eleitor
controlado pelo “voto de cabresto” já
não mais era mais o fiel da balança nas
eleições. Nesse quadro, emergia um
novo tipo de eleitor que exigia dos
candidatos mais esforço e eficácia na
conquista do voto. É, nesse contexto,
que emergiu o fenômeno do Populismo
brasileiro, que teve em Vargas o seu
maior expoente. Porém, além de
Vargas, surgiram outras lideranças com
um perfil político similar ao de Getúlio.
Foram exemplos desse tipo de político:
Juscelino Kubitschek (JK), Jânio
Quadros e João Goulart (JANGO).
Esses líderes populistas possuíam as
seguintes características:
• líderes carismáticos e paternalistas;
• tinham boa parte do seu prestígio
baseado em políticas sociais;
• voltavam o estado para o
desenvolvimento do capitalismo
nacional (nacionalismo ou
desenvolvimentismo);
• buscavam negar a luta de classes;
• se utilizavam da estrutura sindical e
das políticas sociais para tentar
manipular os trabalhadores;
Esse último aspecto é um dos mais
controvertidos sobre o tema, pois, para
alguns estudiosos do tema, o
Populismo teria como principal
característica a demagogia. Para além
das análises mais supérfluas sobre o
populismo, novos estudos indicam que,
muito mais que manipulação das
massas, o que havia era uma troca
entre o líder populista (cedendo com
leis sociais) e as massas trabalhadoras
(apoiando o líder, pelo menos em
parte).
7.1 As eleições de 1945 e o Governo
Dutra (1946-51)
Após a derrubada de Vargas, o poder
foi entregue transitoriamente ao
presidente do Supremo Tribunal
Federal, José Linhares.
Nas eleições presidenciais de 1945,
despontaram as candidaturas de Eurico
Gaspar Dutra (PSD), Eduardo Gomes
(UDN) e Iedo Fiuza (PCB). Com o apoio
de Vargas às vésperas da eleição, o
General Dutra saiu vitorioso com 55%.
7.1.2 Características do Governo Dutra
O governo de Dutra pode ser marcado
por dois momentos distintos. Entre
1946 e 1947, foi claramente liberal,
tanto na economia como na política. A
partir de 1947, passou a ser mais
centralizador e intervencionista.
Esse governo também ficou marcado
por seu aspecto conservador, por ser
antidemocrático e por praticar um falso
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 34
moralismo, proibindo jogos de azar e a
prostituição.
7.1.3 Política externa
No que se refere à diplomacia, Dutra
promoveu o alinhamento incondicional
aos EUA, no contexto da chamada
Guerra Fria. Começando oficialmente
em 1947, tal conflito perdurou até fins
dos anos 1980 e início dos nos 1990.
Foi uma disputa política, ideológica e
propagandística entre o bloco
capitalista (EUA) e o bloco socialista
(URSS).
Para além do senso comum, é preciso
ter em mente que a Guerra Fria não
ocasionou uma simples polarização
entre capitalistas e socialistas. Essa
ideia de bipolarização é contestada por
novos estudos que apresentam
contestações, tanto no mundo
capitalista (maio de 1968), como no
mundo socialista (Revolução Húngara,
Primavera de Praga etc.).
7.1.4 Política interna
A política externa do Governo Dutra
teve reflexos em sua política interna.
No plano econômico, com recursos
acumulados durante os anos de guerra,
Dutra promoveu a abertura da
economia brasileira para que vários
produtos estrangeiros entrassem no
país. No plano político, com a liberdade
de expressão assegurada pela
Constituição de 1946, o PCB pode ficar
na legalidade e chegou mesmo a ter
alguns de seus membros ocupando
importantes postos políticos, com foi o
caso de Luís Carlos Prestes, senador
mais votado nas eleições de 1945.
A partir de 1947, com o início de uma
crise na economia brasileira e com o
alinhamento aos EUA, no contexto da
Guerra Fria, Dutra começa um processo
de intervenção na política e na
economia.
Nesse mesmo ano começa a reduzir as
importações, comprando apenas
produtos realmente necessários à
economia e indústria nacionais, além
de lançar o Plano Salte, visando investir
em saúde, alimentação, transporte e
energia.
Na política, a partir de uma decisão do
STF, com base em denúncias não muito
esclarecidas, o PCB foi cassado. No ano
seguinte, em 1948, os parlamentares
do PCB também foram cassados. Isso
mostra a disposição do Governo Dutra
em combater os comunistas no Brasil.
7.1.5 A Constituição de 1946
Apesar de possuir um perfil
antidemocrático, foi no Governo Dutra
que se aprovou a Constituição de 1946,
uma das mais democráticas da História
do Brasil.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 35
Optando pelo modelo liberal-
democrático, o constituinte de 1946
estabeleceu várias diretrizes
democráticas para àquela Carta magna,
a saber:
• tripartição de poderes e mandato
presidencial único de cinco anos
• trazia uma Justiça Eleitoral e voto
direto secreto e universal para todos os
sexos;
• o voto seria para maiores de dezoito
anos, desde que alfabetizados;
• estabelecia a igualdade entre os
sexos;
• reconhecia algumas garantias sociais
aos trabalhadores;
7.1.6 A sucessão de Dutra e eleição de
Vargas
Apesar de ter saído do poder em 1945,
Vargas não havia perdido o mesmo.
Nas mesmas eleições que marcaram a
sua sucessão, Vargas foi eleito senador
por dois estados e deputado, em sete.
Em 1950 saiu candidato pelo PTB à
presidência da República defendendo
uma plataforma de governo de viés
nacionalista, com a sua adesão à
campanha do “Petróleo é Nosso”.
Concorrendo contra Eduardo Gomes
(UDN) e Cristiano Machado (PSD),
Vargas saiu vitorioso com 49% do
eleitorado nacional. Uma nota
interessante de se perceber em tal
eleição, é o fato de Vargas ter sido
eleito, pela primeira vez, a partir do
voto popular direto. Isso mostra o
prestígio que Vargas tinha perante os
setores mais humildes da sociedade
brasileira (“pai dos pobres”).
7.2 Segundo Governo Vargas (1951-54): Em seu segundo governo, Vargas deparou-se com uma nova realidade política, pois a máquina autoritária que havia montado, durante o Estado Novo, para dar suporte às suas decisões já não existia mais. O país vivia um momento realmente democrático e, nesse contexto, o presidente necessitava dialogar com o Congresso Nacional e com as oposições. No plano da economia, Vargas deu continuidade ao seu projeto de desenvolvimento econômico para o país, ou seja, pautado no nacionalismo. Nacionalismo esse que não era totalmente incompatível com o capital internacional, mas que foi angariando oposição do mesmo ao longo dos anos cinquenta. 7.2.1 Aspectos econômicos e sociais: No início dos anos cinquenta o Brasil enfrenta uma situação econômica marcada pela grande inflação. Tentado combater esse quadro inflacionário, Vargas nomeou Oswaldo Aranha para o Ministério da Fazenda. Esse ministro lançou um plano de combate inflacionário que levava seu nome, ou seja, Plano Aranha. Diante de um quadro inflacionário, é perceptível que quem mais sofre com tal situação são os segmentos populares. Nesse sentido, Vargas deu continuidade às suas políticas sociais, mas já não podia praticá-la como
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 36
outrora, pois necessitava do apoio de opositores no Congresso, coisa extremamente complicada de acontecer. Tentando minimizar as diversas manifestações sociais contra seu governo, devido a alta no custo de vida (“Greve dos 300 mil” e “Greve dos
Marítimos” - 1953), Vargas nomeou para o Ministério do Trabalho um apadrinhado político seu chamado João Goulart (JANGO). De cara, Jango propôs aumento de 100% do salário mínimo para os trabalhadores, medida que colocou os setores mais conservadores nacionais contra a sua pessoa e atiçou as oposições contra o governo de Vargas. Seguindo sua política nacionalista, Vargas promoveu a criação de empresas estatais como a Petrobrás (1953) e a Eletrobrás (1954), ambas ligadas ao seu projeto industrial, pois daria continuidade ao mesmo, só que na parte de abastecimento energético. Também criou o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), hoje BNDES, e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), hoje Banco do Nordeste, no intuito de desenvolver políticas para o desenvolvimento nacional e regional, respectivamente. 7.2.2 Divergências políticas e ideológicas em torno dos projetos de modernização do país: Nesse mesmo contexto de crise econômica e social, as divergências ideológicas, em torno dos projetos de desenvolvimento nacional, ganhavam maiores dimensões. Permeando o meio militar, que desde a crise da Monarquia e a Proclamação da República era uma força política no país, tais divergências acentuaram a crise política e levaram a uma situação limite no ano de 1954.
Desde fins dos anos quarenta havia uma divergência fundamental na política brasileira: de um lado, tínhamos os defensores da linha de modernização adotada pelo governo Vargas, de viés nacionalista, que defendia o desenvolvimento do país sem nenhuma ou, pelo menos, com a mínima dependência em relação ao capital internacional (os Nacionalistas); de outro lado, a linha da oposição varguista, capitaneada pela UDN, que propunha a abertura da economia brasileira ao capital internacional como única forma de desenvolver o país (os “Entreguistas”). 7.2.3 As oposições ao governo de Vargas e a crise que levou ao suicídio: Esse conjunto de divergências político-ideológicas em torno dos projetos de desenvolvimento nacional, somado ao quadro econômico-social e a forte oposição da maior parte dos meios de comunicação do país, como o Estado de São Paulo, O Globo e os Diários e Associados, do magnata dos meios de comunicação Assis Chateubriand, foi se intensificando até chegarem ao seu auge, em agosto de 1954. Naquele ano, foi feito um atentado contra Carlos Lacerda (atentado da Rua Toneleros - agosto), maior opositor de Vargas através do seu jornal (Tribuna da Imprensa). Tal gesto radical e fracassado, pois acabou matando o Major Rubens Vaz, da Aeronáutica, e apenas ferindo Lacerda, fora organizado pelo chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato. Nunca se provou que fora Vargas o mandante, porém, mandante ou não, o atentado serviu para fundamentar os ataques ao presidente. Nesse contexto, as pessoas mais próximas de Getúlio se reúnem com o presidente e sugerem o seu
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afastamento do poder, pois o mesmo já não tinha condições de governabilidade após o atentado da Rua Toneleros. Diante das pressões diversas e da iminência de sofrer um golpe de Estado, Vargas optou por uma saída radical que, como ele mesmo registrou em sua carta testamento, o retiraria da vida para entrar na história: “Serenamente dou o primeiro passo no
caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”. Após o suicídio do presidente, ocorreram várias manifestações populares contra todos aqueles que foram acusados da morte do presidente, pois, apesar de ditador, Vargas havia sido o primeiro presidente a por em prática uma ampla legislação social no país (“pai dos pobres”) e isso
estava na mente das classes trabalhadoras. 7.3 Governo Café Filho (1954-55): Após o suicídio de Vargas, o vice-presidente Café Filho assumiu o comando do país. De perfil conservador e ligado à UDN, Café Filho tomou medidas que abriram as portas da economia nacional ao capital estrangeiro. Em 1955 aconteceram a eleição presidencial que levou o país a mais uma crise política. Nessa eleição saiu vitorioso Juscelino Kubtschek (PDS), com 36% do eleitorado, contra 30% de Juarez Távora (UDN). Como havia acontecido com a eleição de Vargas em 1950, a UDN tentou um golpe de Estado mais uma vez. Reagindo contra esse golpe, o General Henrique Teixeira Lott realizou o chamado “golpe da legalidade”, garantindo assim a posse de JK.
7.4 Governo JK (1956-61) / “os anos
dourados”: A partir dos anos cinquenta a sociedade brasileira passou por inúmeras transformações no campo da política, cultura, economia e urbanização. Na política tivemos uma participação cada vez mais intensa do povo no processo eleitoral; com o desenvolvimento da TV, um novo hábito se enraizou na cultura do brasileiro; com a ideologia desenvolvimentista, temos um avanço considerável na industrialização do país, mesmo que cerceando a região sudeste, o que por sua vez, favoreceu o êxodo rural e as migrações regionais (principalmente do Nordeste para Sudeste), rompendo, assim, a hegemonia histórica do campo sobre a cidade e consolidando a última, como centro irradiador da economia e das decisões políticas a partir dos anos 1970. A década de 1950 também foi marcada pelas discussões ideológicas e políticas em torno dos projetos de desenvolvimento nacional. Foi uma época onde a busca pela modernidade e a luta contra o subdesenvolvimento ganhou grandes projeções. Foi nesse contexto de grandes transformações sócio-culturais, políticas e econômicas, marcado pelo grande otimismo (“anos dourados”) que JK governou o país. Típico líder populista, o presidente “Bossa Nova”,
como era conhecido, promoveu grandes investimentos na indústria nacional, levando-a a um crescimento nunca visto antes. 7.4.1 O nacional-desenvolvimentismo: A ideologia desenvolvimentista foi idealizada no Brasil, principalmente, pelo ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros); e foi materializada a partir
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 38
do Plano de Metas de JK, cujo lema era “50 anos em cinco”. Tal ideologia
econômica e política via na industrialização o caminho para o a modernização econômica do país. Isso, consequentemente, iria levar a uma ruptura com o nosso quadro de subdesenvolvimento. Porém, para os desenvolvimentistas, o Brasil só conseguiria romper com o subdesenvolvimento e se modernizar com a junção do capital público nacional com o capital privado nacional e internacional. Foi nesse quadro que houve uma grande abertura da economia brasileira para o capital estrangeiro. Empresas como a Volks Wagem, dentre outras, começaram a chegar ao mercado nacional. A partir do Plano de Metas, JK começou a realizar uma série de investimentos em energia elétrica, na mecanização da agricultura, na siderurgia, na construção naval, na qualificação de pessoal técnico e na indústria automobilística. A maioria das metas foram atingidas e até mesmo ultrapassadas. Porém, uma meta simbolizava e sintetizava muito bem os objetivos desenvolvimentistas desse período: essa meta era a nova capital.
7.4.2 A construção de Brasília
Brasília não é apenas uma cidade, é
muito mais do que isso. Brasília é a
materialização de idéias, sonhos e
interesses políticos e culturais. Enfim,
Brasília é um símbolo. E como tal, só
poderia ter saído do plano das ideias
em um determinado momento
histórico. Por isso, Enganam-se aqueles
que acreditam que a capital nacional
possui apenas metade de um século
(inaugurada em 21 de abril de 1960).
A proposta de uma capital no “coração”
do Brasil existe desde os tempos da
colonização; foi lembrada por Bonifácio
em suas Lembranças e Apontamentos,
enviada às Cortes portuguesas no
contexto da independência; foi prevista
nas Constituições de 1891, 1934 e 1946
até chegar à sua maturidade nos anos
JK.
Acreditamos que Brasília foi efetivada
por JK devido ao momento político,
econômico e cultural do país, pois, nos
processos históricos determinados
acontecimentos só se materializam
quando chegam à sua maturidade. No
caso de Brasília tal maturidade chegou
com os anos cinquenta do século XX.
Naquele momento o país vivia um
contexto histórico ímpar com o forte
otimismo propagandeado pelo
desenvolvimentismo, com o advento da
TV, com a Bossa Nova, com o Cinema
Novo. Tal clima colaborou para a
construção da nova capital. Mas quem
iria realizar o planejamento dessa nova
cidade? No concurso realizado pela
NOVACAP (Cia. Urbanizadora da Nova
Capital) saíram vitoriosos os adeptos
dos ideais modernistas Oscar Niemeyer
e Lúcio Costa.
Assim sendo, percebam que Brasília
simboliza também os ideais
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 39
modernistas que estão presentes no
seu corpo material e abstrato de urbe
planejada para vender a idéia do
crescimento, da modernização e da
integração nacional. Aqui vale frisar
que, planejamento em sua construção
é algo que também diferencia Brasília
da maior parte das cidades brasileiras,
pois somente ela e algumas poucas
cidades como Belo Horizonte e Goiânia
tiveram tal privilégio. Portanto,
reafirmo que Brasília é muito mais que
uma cidade.
Além do exposto acima, não podemos
deixar de lado a importantíssima
atuação dos “candangos”: milhares de
nordestinos que laboraram para a
construção de Brasília. A atuação
desses “candangos” foi de suma
importância para a construção da nova
capital, pois foram eles a mão-de-obra
fundamental. No entanto, as condições
sociais a que foram submetidos esses
trabalhadores eram degradantes. Esses
trabalhadores enfrentaram uma
realidade de exploração do trabalho,
com o pagamento de péssimos salários
e com horríveis condições de vida. O
que nos faz pensar a outra face o
desenvolvimentismo.
7.4.3 Modernização conservadora
Sem dúvida alguma os anos JK
representaram um grande avanço na
modernização da economia nacional. O
PIB brasileiro chegou a crescer a uma
taxa média anual de 7,5%; a indústria
nacional crescia a passos largos e,
consequentemente, atraía pessoas para
os grandes centros industriais, fazendo
crescer a urbanização.
Porém, apesar da modernização
econômica nos centros urbanos, a
realidade social do país não teve
transformações estruturais profundas.
O trabalhador urbano continuava a
sofrer com a grande inflação que existia
no país, daí várias manifestações sociais
durante os anos JK.
No campo a situação era bem pior que
no meio urbano, em especial, na Região
Nordeste, uma das mais pobres do
mundo em fins dos anos 1950. Em
meados dessa década, tentando
combater a exploração dos
camponeses e a espoliação das terras
dos mesmos surgiu as Ligas
Camponesas.
Iniciando a partir do município de
Vitória do Santo Antão, no engenho
Galiléia (PE), essas associações civis
espalharam-se rapidamente por todo o
país levantando a bandeira da reforma
agrária e da extensão das leis sociais
para o campo, pois até então as
políticas trabalhistas havia ficado
restritas aos centros urbanos
brasileiros.
Tentando combater o avanço das Ligas
Camponesas, que eram comandadas
pelo advogado Francisco Julião, JK cria,
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 40
em 1959, um órgão de
desenvolvimento regional chamado
SUDENE (Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste). Criada
no intuito de combater as secas e
promover o desenvolvimento da
região, a SUDENE, infelizmente, acabou
não efetivando seu papel como
deveria. Isso se deu devido a interesses
pessoais de políticos corruptos dos
estados que desviavam as verbas do
órgão para atender a demandas
políticas pessoais (Indústria da Seca).
7.4.4 A política externa de JK
Durante o fim dos anos quarenta e
decorrer dos anos cinquenta a política
externa brasileira foi marcada pelos
efeitos do contexto internacional da
guerra fria. No governo de JK, os países
do terceiro mundo, em especial da
África e Ásia, com a Conferência de
Bandung (1955), buscavam a
neutralidade em relação aos blocos
capitalista e socialista, o que nos faz
perceber que a bipolarização entre EUA
e URSS não era absoluta.
Nesse contexto, JK buscou barganhar
créditos junto aos EUA para seu projeto
desenvolvimentista. Ao invés da
simples neutralidade ou de apenas se
alinhar aos EUA, JK, com base no
sistema pan-americano montado pelos
próprios norte-americanos no pós
segunda guerra, lançou entre 1958 e
1959 a Operação pan-americana (OPA).
Como foi aludido acima, pela OPAN,
Kubitschek barganharia o apoio
brasileiro para o bloco capitalista
ocidental em troca de créditos para o
país buscar romper com seu quadro de
subdesenvolvimento.
Ainda no final de seu governo JK
rompeu formalmente com o FMI
(1959). Tal ruptura se deu devido à
oposição do FMI ao Plano de Metas. Na
época, a instituição financeira
internacional estava condicionando
empréstimos ao país à adoção de uma
política deflacionária que afetaria
diretamente os investimentos
governamentais na economia. Além
disso, segundo alguns analistas do
tema, JK pretendia, com tal ruptura,
ganhar prestígio político junto a
populares e deixar o mal estar para o
novo presidente. Esse quadro
prejudicaria a imagem do futuro
presidente e, com isso, Kubitschek
tentaria uma nova eleição no pleito de
1965.
7.4.5 Eleições de 1960
O pleito eleitoral de 1960 foi marcado
pelo uso de um importante meio de
comunicação que serviu e serve para
interesses políticos: a televisão. Tal
processo eleitoral foi vencido por
aquele que soube melhor se utilizar da
TV: Jânio da Silva Quadros.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 41
Nessas eleições formaram-se duas
chapas: a do Gal. Lott com Jango (PSD-
PTB) e a de Jânio Quadros e Milton
Campos (UDN, PL, PTN, PDC).
Informalmente foi formada a chapa
“Jan-Jan”, ou seja, Jânio para
presidente e Jango para vice.
Vendendo uma imagem popularesca
com a prática de hábitos simples
(comer pão com mortadela, caspa e
descuido com seus trajes) e
propagando um falso moralismo (seu
lema era “varrer a corrupção”) Jânio
venceu as eleições de 1960 com 48%
dos votos e foi seguido por Jango para
vice.
8. Governo Jânio (1961)
Investindo muito na imagem política e
se esquecendo dos projetos de
governo, Jânio começou a sua gestão
com medidas estapafúrdias (proibição
do uso de biquínis nas praias, do lança-
perfume no carnaval e das corridas de
cavalos em dias de semana) e com
medidas autoritárias, como o uso de
bilhetinhos escritos manualmente com
ordens para seus ministros.
Além de não ter um projeto clero de
governo, Jânio ainda promovia uma
política interna contraditória com suas
diretrizes externas. No plano interno,
abriu as portas do país ao capital
externo e retomou as negociações com
o FMI.
8.1 Política Externa Independente (PEI)
No plano externo Jânio buscou uma
linha independente em relação aos
EUA. Reatou relações com a URSS e
com a China e ainda não apoiou os EUA
na proposta de expulsar Cuba da OEA
(Organização dos Estados Americanos).
Além disso, Jânio ainda chegou a
condecorar Ernesto Che Guevara com a
ordem do cruzeiro do sul.
8.2 A renúncia de Jânio e a campanha
da legalidade
Em agosto de 1961, com apenas sete
meses de governo, Jânio renunciou à
presidência da República e deixou o
país mergulhado em mais uma grande
crise política. Segundo Jânio, “forças
ocultas” o haviam obrigado a renunciar.
No entanto, segundo estudos
posteriores, Jânio tinha intenções
políticas autoritárias com tal medida.
De acordo com tal interpretação da
renúncia de Jânio, o presidente queria
concentrar poderes em suas mãos, pois
os setores mais conservadores não
iriam aceitar a posse de Jango devido
ao fato de o mesmo ser associado ao
comunismo. Por isso mesmo, para
evitar a posse do suposto comunista
Jango, o povo iria pedir o retorno de
Jânio e, assim, o mesmo poderia
solicitar mais poderes em suas mãos. O
problema é que parte desse “plano”
deu certo mas a outra não.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 42
Realmente, os setores mais
conservadores do país não aceitaram a
posse de Jango de imediato, porém, a
renúncia de Jânio foi aceita com
tranquilidade. Na época da renúncia,
Jânio havia enviado Jango em uma
missão diplomática a China
“comunista”, fato que enfatizava ainda
mais as associações que existiam entre
o vice-presidente e o comunismo.
Nesse contexto tivemos um impasse.
A ala conservadora não queria a posse
de Jango. Porém, a partir do Rio Grande
do Sul, com o então governador
daquele estado e cunhado de Jango
(Leonel Brizola) e com o III exército, em
um dos quartéis mais importantes do
país, organizou-se a campanha da
legalidade. Tal campanha, como o
próprio nome sugere, buscava garantir
a posse legal do então presidente, de
acordo com a linha de sucessão.
Após duas semanas de deliberações
entre os legalistas e os contrários a
posse de Jango, optou-se por uma saída
de compromisso. Essa foi a saída
parlamentarista, onde Jango iria
governar com poderes limitados a um
primeiro ministro. Esse compromisso
político ainda previa um plebiscito para
1965 onde o povo brasileiro iria
escolher entre o presidencialismo e o
parlamentarismo.
9. Governo João Goulart (1961-64)
João Goulart assumiu a presidência em
7 de setembro de 1961. Seu governo
ficou marcado pela radicalização
política, tanto das esquerdas como dos
setores conservadores de nossa
sociedade.
Essa situação política estava ligada
diretamente ao contexto internacional
da guerra fria. No início dos anos
sessenta vivia-se o auge daquele
conflito. A Revolução Cubana e a
sequente adesão daquele país ao
socialismo, em 1961, levou o mundo a
uma situação limite, onde quase
ocorreu um novo conflito mundial. A
partir da crise dos mísseis, soviéticos e
estadunidenses adotaram a linha
política da coexistência pacífica.
Tentando combater o comunismo na
América Latina, os EUA lançaram, no
início dos anos 1960, a Aliança para o
Progresso (um programa de ajuda
econômica para os países latinos). Além
de buscar minimizar os problemas do
subdesenvolvimento nos demais países
do continente, os americanos do norte
ainda estavam financiando instituições
golpistas para evitar que setores de
esquerda tomassem o poder e
caminhassem para o socialismo, como
foi o caso de Cuba.
Foi nesse contexto turbulento que
Jango iniciou o seu governo, que iria
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 43
terminar em 1964 com um golpe de
Estado promovido por setores
conservadores da sociedade brasileira e
militares, com o apoio dos EUA.
9.1 O Plano Trienal e a ideologia do
planejamento
Entre fins dos anos cinquenta e início
dos anos sessenta, quando Jango
assumiu o poder, o país estava
mergulhado em um caos político,
econômico, educacional e social. Daí a
necessidade de reformas nesses vários
setores. Tentando minimizar esses
problemas, não acabar com eles, Jango
buscou promover um amplo programa
de reformas que ganhou o nome de
Reformas de Base. No entanto, antes
de começar a realizar seu projeto de
Reformas de Base, Jango começou por
adotar uma política de reforma na
economia.
Seguindo uma linha nacionalista, Jango
adotou uma política que limitava a
remessa de lucros para o exterior e
nacionalizou algumas empresas no
setor de energia, favorecendo a
Eletrobrás e atingindo interesses do
capital internacional. Em sua
diplomacia internacional, deu
continuidade a Política Externa
Independente.
Porém, um dos grandes problemas de
nosso país naquele momento era a
inflação, em especial devido aos gastos
do governo anterior com o Plano de
Metas. No intuito de combatê-la, Jango
nomeou o economista Celso Furtado
para ser ministro do Planejamento. No
ano de 1962, Jango conseguiu a
aprovação do Plano Trienal de
desenvolvimento econômico e social,
articulado por Furtado. Tal plano tinha
como grande meta o combate à
inflação, com o corte de gastos e com o
aumento de impostos. Mas para que
esse plano conseguisse êxito, o governo
precisava de apoio dos diversos setores
da sociedade nacional, fato que não
ocorreu e que levou o plano ao
fracasso.
No campo educacional, foi aprovada a
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da
educação brasileira e foi criada a
Universidade de Brasília, com a atuação
marcante de Darcy Ribeiro, seu
ministro da Educação. Nesse momento,
a educação passou a receber uma
renda mínima de 9% da Receita
Federal, com distribuição igual para os
três níveis (básico, médio e superior).
9.2 As Reformas de Base
A necessidade de reformas nos diversos
setores da economia, da sociedade e da
política nacional, levou Jango a lutar,
desde os primeiros instantes, para
efetivar as suas Reformas de Base. Seu
projeto não era radical, como os
conservadores de nosso país diziam,
longe disso. Com tais reformas Jango
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 44
visava apenas reduzir as desigualdades,
sem mudar as estruturas.
As Reformas de Base previam:
• reforma urbana, com vistas a
melhorar a vida de quem pagava
aluguel;
• reforma político-eleitoral,
estabelecendo o voto para analfabetos;
• reforma educacional, no intuito de
ampliar a educação pública e laica;
• reforma administrativa, buscava
racionalizar a máquina pública;
• reforma bancária, visando ampliar os
créditos às forças produtivas e
controlar os juros;
• reforma militar, que almejava
permitir a participação de suboficiais na
política.
Além das reformas supracitadas,
existiam outras, mas nenhuma delas
era tão polêmica quanto à reforma
agrária, mesmo que limitada, pois
tocaria em interesses estabelecidos há
séculos em nosso país.
Em seu projeto, lançado oficialmente
no Comício da Central do Brasil (março
de 1964), Jango anunciava o decreto
SUPRA (Superintendência da Reforma
Agrária). Por esse decreto, previa-se a
desapropriação das terras devolutas de
latifúndios maiores de 500 hectares,
para fins de reforma agrária, que
ficassem no entorno das ferrovias e
rodovias federais, em uma faixa de até
10 km².
Com tal projeto, Jango apenas
redistribuiria terras para camponeses
sem tocar nas estruturas sociais do
país. No entanto, a elite latifundiária do
país via nas reformas de Jango indícios
de comunismo e não aceitava
negociações. Nesse contexto, tínhamos
setores sociais e políticos progressistas
que apoiavam o projeto de reformas de
bases de Jango de um lado e, do outro,
os seus opositores reacionários com o
apoio dos EUA. Assim, foi-se
articulando o golpe de 1964.
9.3 A radicalização política e o golpe
civil-militar de 1964
Entre 1963 e 1964 a situação política no
país se radicalizou, tanto nas esquerdas
como nos setores conservadores. O
projeto de reformas de Jango era
conservador demais para os
movimentos sociais, bem como radical
em demasia para os reacionários. O
país vivia um impasse.
Nas esquerdas não havia uma unidade,
nem mesmo dentro do governo. Tinha-
se a Frente Parlamentar Nacionalista
(FPN), inicialmente apoiadora de
Goulart e depois transformada em
Frente de Mobilização Popular, com
Brizola no comando. A FMP aglutinava
vários segmentos dos movimentos
populares, como a CGT (Comando Geral
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 45
dos Trabalhadores) e a UNE (União
Nacional dos Estudantes).
No campo, a questão agrária se
agravava e as necessidades de reforma
eram entoadas a cada dia com mais
intensidade. As Ligas Camponesas
radicalizavam o seu discurso com o
lema “reforma agrária, na lei ou na
marra”. Tentando combater o avanço
das ligas, Jango colocou em prática o
Estatuto do Trabalhador Rural (1963),
que levava as leis trabalhistas da Era
Vargas para o campo brasileiro.
No campo da direita conservadora,
desde 1949, quando da criação da
Escola Superior de Guerra (ESG), a
ideologia anticomunista dos EUA vinha
sendo difundida no meio militar
brasileiro. Nesse contexto de guerra
fria, como foi visto anteriormente, os
EUA estavam financiando e apoiando
grupos conservadores dos diversos
países da América Latina na realização
de golpes políticos em governos de
tendências socialistas. No Brasil,
instituições como o IPES (Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais) o IBAD
(Instituto Brasileiro de Ação
Democrática) e a ESG vinham sendo
financiadas e apoiadas pelos norte-
americanos. Foram essas organizações
que estiveram presentes na realização
do golpe de 1964.
Em fins de março de 1964, após o
Comício da Central do Brasil, onde
Jango anunciava suas Reformas de Base
e, após as “marchas da família com
deus pela liberdade”, organizadas por
setores médios e conservadores da
sociedade civil brasileira, os setores
golpistas tomaram o poder sem
resistência ao golpe.
DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-85)
1. A ideologia do regime
O golpe civil-militar que ocorreu entre
31 de março e 1° de abril de 1964 teve
no binômio segurança e
desenvolvimento a base para
montagem da ideologia do novo
governo, que tinha no autoritarismo a
sua principal característica política.
A Escola Superior de Guerra foi o lugar
maior da montagem dessa ideologia,
com a atuação de destaque do grupo
comandado pelo militar
intelectualizado Golbery do Couto e
Silva, tido como o grande ideólogo do
regime junto com Castelo Branco.
O pretexto para o golpe foi o suposto
“combate” ao “comunismo” de Jango
que, na verdade, não tinha muita coisa
de comunista. Esse combate ao
comunismo é que garantiria a
“segurança” do país. Nesse sentido, o
nacionalismo de Golbery era pautado
no anticomunismo e na defesa dos
ideais liberais excludentes do mundo
judaico-cristão ocidental.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 46
O desenvolvimento seria garantido, em
seguida, com a adoção de uma política
de alinhamento aos EUA, com a
consequente abertura do país ao
capital externo e com uma série de
investimentos no setor industrial. Com
isso, os militares e civis que realizaram
o golpe de 1964 diziam que o país iria
romper seu quadro de
subdesenvolvimento e se tornaria uma
potência. Foi nessa época que surgiu
essa ideia de Brasil Potência
emergente.
No entanto, não havia uma unidade
absoluta entre os setores golpistas.
Pode-se dizer que haviam duas
tendências dentro das forças armadas.
Uma delas era a linha capitaneada por
Humberto Castello Branco, os da
“sorbone” ou castelistas, como eram
conhecidos, devido ao fato de serem
militares intelectualizados. Essa linha, a
dos castelistas, defendia que a
“revolução” deveria ser feita para
garantir o binômio segurança e
desenvolvimento e, depois, o poder
deveria ser devolvido aos civis. Ou seja,
os castelistas, em tese, não desejavam
permanecer muito tempo no poder.
Por outro lado, tinha-se a chamada
“linha dura”, que defendia que os
militares deveriam ficar no poder por
tempo indeterminado.
Para facilitar a análise daquele
momento político, utilizamos a divisão
do período adotada pelo grande mestre
José Murilo de Carvalho. Para o autor,
“(...) os governos militares podem ser
divididos em três fases. A primeira vai
de 1964 a 1968 e corresponde ao
governo do general Castelo Branco e o
primeiro ano do governo do general
Costa e Silva. (...) A segunda fase vai de
1968 a 1974 e compreende os anos
mais sombrios da história do país, do
ponto de vista dos direitos civis e
políticos (...) O período combinou a
repressão política mais violenta já vista
no país com índices também jamais
vistos de crescimento econômico. Em
contraste com as taxas de crescimento,
o salário mínimo continuou a
decrescer. A terceira fase começa em
1974, com a posse do general Ernesto
Geisel, e termina em 1985, com a
eleição indireta de Tancredo Neves”.
[José Murilo de Carvalho. Cidadania no
Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008, pág.157-
158]
2. Governo Castello Branco e as
primeiras medidas do novo regime
Devido ao fato de ser um dos principais
mentores e uma das principais
lideranças do golpe de 1964, Castello
Branco foi o primeiro presidente
militar, entre 1964 e 1967. Apesar de
ser considerado intelectual, em seu
governo aconteceram episódios
lamentáveis como expurgos de vários
intelectuais de universidades e da vida
política do país, além de ser realizada a
queima de livros ditos subversivos em
algumas cidades brasileiras.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 47
Em seu governo, houve preocupação
de imediato com a crise econômica
pela qual passava o país. De imediato, o
Estado lançou um plano econômico que
visava o combate à inflação e a maior
abertura de nosso mercado ao capital
internacional. Esse plano foi o PAEG
(Plano de Ação Econômica do
Governo).
Através PAEG, impôs-se uma política
social que comprimia os salários e que
retirava subsídios do petróleo e do
trigo; com isso, o governo visava
reduzir o déficit fiscal.
No entanto, apesar de praticar uma
política muito mais voltada para
atender aos interesses do capital
internacional e nacional, no governo de
Castello foi criado o FGTS (Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço), o BNH
(Banco Nacional de Habitação), o PIS-
PASEP e foi posto em prática o Estatuto
da Terra. Essas eram políticas sociais de
alcance claramente limitado e que
serviam a interesses políticos do
governo. No entanto, o que é preciso,
quando se reflete sobre os processos
históricos, é mudar a mentalidade
maniqueísta que limita o intelecto
humano e a compreensão da realidade
histórica e social.
A reflexão crítica a respeito das
instituições militares no Brasil e sobre a
sua participação na política nacional,
obriga o historiador e pensador da
realidade nacional a lobrigar as
imagens mais recentes que colocam os
militares como algozes de nossa
sociedade. Não negando essa memória
mais recente que se tem da presença
militar na política brasileira, é preciso
salientar que, pelo menos desde a
Guerra do Paraguai, eles têm
desempenhado um papel de relevo na
política tupiniquim.
3. A repressão institucionalizada
A estruturação política e jurídica da
ditadura implantada em 1964 foi feita a
partir de decretos-lei chamados de Atos
Institucionais (AI), da Constituição de
1967 e da Emenda n° I, de 1969 que,
para alguns juristas, é tida como uma
nova constituição.
Ainda no governo de Castello Branco,
foram baixados quatro atos
institucionais que iniciaram a onda de
perseguições políticas aos opositores
do regime e começaram a montar o
arcabouço jurídico do regime. Esses
expurgos foram realizados em
Universidades, no movimento
estudantil, no judiciário, no legislativo,
na administração pública como um
todo e na sociedade civil. Qualquer
pessoa contrária ao golpe poderia ser
caçada e sofrer torturas, perseguições
políticas, exílio ou perder seu emprego.
Esse foi um dos lados negros da
ditadura.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 48
Em 9 de abril de 1964 foi editado o Ato
Institucional n° 1, que concedia plenos
poderes ao presidente Castello para
controlar a política e a sociedade
brasileira. Foi a partir desse ato que
começaram as perseguições aos
opositores do golpe.
Em 27 de outubro de 1965 foi editado o
AI-2, que estabelecia o fim do
pluripartidarismo, as eleições indiretas
para presidente da República e o
bipartidarismo. A partir de então só
existiria o partido da situação: a ARENA
(Aliança Renovadora Nacional; e o da
oposição formal e consentida: o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro).
É interessante frisar que, de acordo
com José Murilo de Carvalho, a
ditadura civil-militar tinha uma
peculiaridade bem interessante, que
era o fato de buscar passar uma
imagem de democracia para o resto do
mundo. Mesmo com o país vivendo um
de seus momentos mais autoritários, os
militares procuraram mascarar o
autoritarismo com a permissão de uma
oposição formal, com o funcionamento
do Congresso na maior parte do
período e com a realização de eleições
para alguns cargos representativos.
Em fevereiro de 1966, devido à vitória
do MDB em algumas importantes
unidades da federação, Castello Branco
baixou o AI-3, que estabelecia eleições
indiretas para os governadores
estaduais.
Ainda no final de 1966 o governo
fechou o Congresso e baixou o AI-4,
que previa a reabertura do Congresso
no início do ano seguinte para eleger o
novo presidente e para aprovar a
Constituição de 1967, de perfil
centralizador e autoritário, pois
concentrava poderes nas mãos do
chefe do executivo.
3.1 Os órgãos da repressão
Fundamentando-se na Doutrina de
Segurança Nacional (DSN), Golbery do
Couto e Silva criou o Serviço Nacional
de Informações (SNI), que seria o
cérebro do regime. O SNI era o
instrumento maior de inteligência da
ditadura e o responsável por promover
inúmeras investigações secretas sobre
a vida de pessoas consideradas
suspeitas ou ameaçadoras do governo.
Além do SNI existia o DOPS, polícia
política, os DOI-CODI e o CENIMAR,
além de outros órgãos repressores. No
final dos anos sessenta ainda foi
lançada a OBAN, que era financiada por
empresários para combater a luta
armada no eixo Rio-São Paulo.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 49
4. Rearticulação das oposições e a
produção cultural e política nos anos
1960
A década de sessenta ficou marcada
por uma série de transformações no
campo cultural, social e político no
mundo ocidental. O ponto zênite da
década foi o ano de 1968, com as
greves gerais de trabalhadores e
estudantes no mês de maio, em Paris e
com as contestações ao domínio
soviético na República Tcheca, a
chamada Primavera de Praga.
No plano da sociedade e da cultura
tivemos uma década marcada pela
contestação dos valores moralistas,
patriarcais, racistas e consumistas da
“sociedade de massas”. Essas
contestações começaram a partir dos
EUA, com o movimento da Contra
Cultura. Foi nesse contexto que surgiu
o movimento Hippie, que buscava
promover uma crítica à sociedade de
massas através de um estilo alternativo
de encarar a vida.
Também se tinha, a partir dos EUA, a
contestação ao racismo com Martin
Luter King e a Revolução Sexual e a
progressiva liberalização da mulher
com a atuação do movimento
feminista. Enfim, vivia-se um momento
de grande efervescência cultural e
política no mundo ocidental.
Esse contexto influenciou diretamente
a sociedade civil brasileira que vivia sob
o signo de uma ditadura. Foi nesse
momento que surgiu ou se intensificou
a atuação de movimentos culturais
engajados na mudança social e política
como os Centros Populares de Cultura
(CPCs), o Cinema Novo e Teatro Oficina
e Arena, que buscavam promover a
criação cultural com crítica social. No
campo da política formou-se a Frente
Ampla, com Lacerda, JK e Jango
defendendo a democracia liberal.
No campo musical, destacaram-se
artistas como Geraldo Vandré, Chico
Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso,
Gal etc. Esses três últimos com o
movimento musical de inspiração
modernista chamado tropicalismo.
Esses artistas buscavam promover
críticas ao governo através de suas
canções, que traziam em suas letras
contestações à repressão e aos
autoritarismos. Várias músicas ficaram
famosíssimas, como “Cálice”, de Chico
Buarque e “Para não dizer que não falei
de flores”, de Vandré.
A oposição ao regime crescia
constantemente depois de 1965. Em
1968 ocorreram grandes manifestações
de trabalhadores em são Paulo e Minas
gerais, com as greves de Osasco e
contagem, nos respectivos estados. No
Rio de Janeiro foi organizada uma
enorme manifestação pública exigindo
abertura política, conhecida como
“passeata dos 100 mil”. O movimento
estudantil foi reprimido com violência
no Congresso de Ibiúna, em Minas.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 50
Além dessas manifestações pacíficas,
foram realizadas ações mais ousadas
contra o governo com a chamada Luta
Armada. Para alguns opositores da
ditadura a oposição pacífica não traria
grandes resultados. Nesse sentido,
guerrilheiros como Carlos Marighella e
Carlos Lamarca passaram a comandar
movimentos radicais de esquerda, nos
centros urbanos do sudeste, como a
Aliança de Libertação Nacional (ANL), a
Vanguarda Popular Revolucionária
(VPR), Ação Popular (AP), o Movimento
revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e,
no campo, a Guerrilha do Araguaia.
Esses movimentos, neste caso os
urbanos, praticavam ações ousadas
como os assaltos a bancos para
financiar a luta contra o governo, o
sequestro de embaixadores
estrangeiros para trocá-los por
prisioneiros políticos da ditadura e até
mesmo o “justiçamento” (assassinato
de militares).
Nesse clima crescente de oposição ao
governo os militares começaram a
endurecer ainda mais o regime. O
pretexto para o endurecimento foi o
discurso do Deputado Moreira Alves
contra o governo, que baixou o Ato
Institucional n° 5.
5. O golpe de 1968 - AI-5 e o auge da
repressão
O crescimento constante das oposições
ao governo levou os militares da linha
dura a promover o que alguns
chamaram de a revolução dentro da
revolução ou a contra-revolução. O
então presidente da linha dura, Costa e
Silva baixou o AI-5, que seria o principal
instrumento da repressão durante o
período.
Esse ato possibilitou a contenção das
oposições, pois enrijeceu a censura aos
meios de comunicação, suspendeu
direitos individuais de cidadãos, como o
habeas corpus para crimes contra a
“segurança nacional, possibilitou a
cassação de mandatos de
parlamentares, demissões do serviço
público e perseguições em empresas
particulares.
Com o AI-5 os militares deram um
golpe nas oposições e iniciaram um dos
períodos mais negros da história
política do país, com o governo de
aspectos fascistas do Gal. Emílio
Garrastazu Médici (1969-74).
Antes de Médici assumir a presidência,
ainda montou-se uma junta militar,
após uma trombose cerebral de Costa e
Silva, com a sua composição feita pelos
ministros das Forças Armadas, visando
evitar a posse do vice-presidente que
era civil.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 51
6. O “milagre” econômico e o duplo
censura/propaganda no Governo
Médici
O governo de Médici correspondeu ao
auge da repressão, ao mesmo tempo
em que ocorria o auge da popularidade
do regime. Esse paradoxo pode ser
entendido através da análise da
propaganda oficial promovida pelo
governo através da grande mídia, em
especial, a partir da rede Globo.
Com a censura prévia aos meios de
comunicação, os militares controlavam
jornais e a TV, só permitindo a
divulgação de notícias favoráveis ao
governo e censurando tudo aquilo que
destoava da ideologia do regime. A
propaganda oficial promovia a
divulgação de slogans ufanistas como
“Brasil: ame-o ou deixe-o” e “ninguém
mais segura esse país”.
Era a época do desenvolvimento da
ideia de Brasil potência, onde a
propaganda associava os grandes
índices de crescimento econômico com
as conquistas esportivas. Neste sentido,
o tricampeonato mundial de futebol foi
utilizado pela ditadura para desviar a
atenção do povo da política para os
“espetáculos” da seleção (“política de
pão e circo”).
Foi nesse mesmo contexto que ocorria
o “milagre” econômico brasileiro, uma
momento entre 1969 e 1973 aonde o
PIB nacional chegou a crescer entre 8 e
14% ao ano, aproximadamente.
Esse milagre, na realidade, tinha
explicações bem
mundanas.Comandado pelo poderoso
ministro Delfim Neto, o “mago da
economia” durante os governos
militares, o PIB nacional crescia de
forma excepcional, após anos de
recessão e grande inflação na década
anterior. Parecia um milagre, mas não
era. Segundo analistas do “milagre”,
esse crescimento dava-se devido à
grande oferta de créditos no mercado
mundial e, internamente, havia o
grande problema da concentração de
renda (“política do bolo”). Quem
realmente se beneficiou com o
“milagre” foram os empresários
nacionais e internacionais e as classes
médias, com a maior oferta de
empregos para profissionais
qualificados.
Já os segmentos populares, tiveram
seus salários comprimidos.
Toda essa política de propaganda das
“benesses” da ditadura associada aos
esportes omitia a grande violência e
corrupção praticada no governo, além
dos problemas sociais. Esses problemas
só iriam aparecer com mais ênfase na
transição para as décadas seguintes,
em especial, após a crise do petróleo
de 1973, momento onde o “milagre”
começou a desmoronar e mostrar a sua
real face.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 52
7. Política educacional
Como era de se esperar, a ditadura
também atuou no campo educacional.
No entanto, tal atuação ficou marcada
pelos acordos MEC-USAID (Ministérios
da Educação do Brasil e EUA), que,
dentre outras coisas, visava inserir o
ensino superior brasileiro de acordo
com os interesses internacionais de
privatização do ensino e com o
tecnicismo educacional.
Também foi intensificado a
Organização Social e Política do Brasil
(OSPB) e criou-se o MOBRAL
(Movimento Brasileiro de
Alfabetização). A OSPB, que deveria ser
uma disciplina voltada para a formação
cidadã, acabou servindo aos interesses
“morais e cívicos” passivos e apáticos
da ditadura.
Já o MOBRAL, que defendia a
alfabetização e melhor preparação
educacional do cidadão para integrá-lo
a sua sociedade e lhe proporcionar um
padrão de vida melhor, na verdade, não
trazia grandes transformações sociais.
8. Geisel e o início da abertura “lenta,
gradual e segura”
Após os anos truculentos do governo
de Médici, ascendeu ao poder a figura
de Ernesto Geisel, membro do grupo de
militares esclarecidos comandados por
Golbery do Couto e Silva. Em seu
mandato (1974-79), ligado ao contexto
nacional e internacional, Geisel iniciou
o processo de distensão do regime,
mas seria de forma “lenta, gradual e
segura” (Projeto Geisel-Golbery). Esse
processo só seria concluído no governo
seguinte, com J. B. Figueiredo (1979-
85).
No que se refere à conjuntura
internacional que facilitou a abertura
política, existiam pressões das grandes
potências, com a Comissão Trilateral
(EUA, Japão e Europa), na defesa dos
direitos humanos; e ainda havia a crise
do petróleo ligada a mais um episódio
dos conflitos árabe-israelense (Guerra
do Yom Kippur, com os países da OPEP
aumentando o preço daquele produto,
fato que afetou profundamente a
economia dependente do Brasil e fez
ruir o modelo de desenvolvimento
econômico adotado pelos militares,
que era uma de suas bases de
sustentação política.
À crise do modelo econômico
somaram-se as pressões internas da
sociedade civil brasileira, com a luta
pela anistia e pela revogação do AI-5.
Neste contexto, última metade dos
anos 1970 foi marcada pelo início da
abertura e com o avanço das oposições
ao governo. Instituições com a OAB,
ABI, SPBC e CNBB foram
importantíssimas na luta pela
distensão. Isso fez com que a abertura,
iniciada por Geisel, tivesse avanços e
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 53
recuos, pois os militares não estavam
dispostos a perder o controle da
situação de imediato.
Como avanço importante teve-se a
redução da censura aos meios de
comunicação, a revogação do AI-5
entre fins de 1978 e início de 1979 e o
embate direto do governo com a linha
dura, que era a extrema direita do
regime e fazia oposição frontal ao
projeto Geisel-Golbery, inclusive com
atentados terroristas contra a abertura.
No entanto, apesar de iniciar a
abertura, havia um paradoxo no
governo de Geisel, pois, como informou
o jornalista e historiador Elio Gaspari,
“Geisel queria menos ditadura
tornando-se mais ditador”. O que o
autor queria dizer com isso é que a
abertura iria acontecer, mas do jeito e
no ritmo dos militares, inclusive, com
recuos autoritários.
Com o avanço do MDB nas eleições de
1974, Geisel recua com a Lei Falcão
(1976), que limitava o acesso da
oposição aos meios de comunicação e
tentava, com isso, conter tal avanço.
No entanto, mesmo assim, o MDB saiu
vitorioso nas eleições municipais de
1976. Isso nos mostra a crescente
insatisfação em relação ao governo e os
anseios de mudança existentes na
sociedade brasileira.
Como resposta a essa ascensão
constante das oposições aos cargos
políticos, Geisel recua ainda mais em
seu projeto de abertura com o
chamado “pacote de abril”, um
conjunto de medidas políticas e
institucionais que visava por limites ao
crescimento das oposições. Veja as
disposições do “pacote de abril”:
• recesso do Congresso Nacional e
plenos poderes ao presidente;
• imposição ao Senado de vários
senadores “biônicos” nomeados pelo
presidente;
• aumento da representação de
deputados para os estados onde o
governo elegia mais parlamentares;
• aumento do mandato presidencial
para 6 anos;
• as mensagens presidenciais enviadas
ao Congresso seriam aprovadas
automaticamente se não fossem
aprovadas pelos parlamentares em até
40 dias.
8.1 O II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND)
Dando continuidade a política
econômica de desenvolvimento
industrial, o Governo Geisel lançou o II
PND, o primeiro havia sido lançado no
governo de Médici e buscava substituir
as importações na época do “milagre”.
O II PND tinha objetivos diferentes e
ligados ao novo contexto econômico
mundial.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 54
Devido à crise do petróleo, as
demandas do II PND estavam ligadas ao
problema energético. Dentre seus
vários objetivos destacamos os
investimentos na prospecção de
petróleo, desenvolvimento de um
programa de energia nuclear,
lançamento do Proálcool para tentar
uma substituição parcial da gasolina
pelo álcool e investimentos em energia
hidroelétrica, com as usinas de Itaipu e
Tucuruí.
9. João Batista Figueiredo e a transição
do poder para os civis
Dando continuidade ao projeto de
abertura iniciado por Geisel e Golbery,
J. B. Figueiredo promoveu a transição
do poder para os civis através de uma
“conciliação pelo alto”, como desejava
o projeto Geisel-Golbery. Seu governo
ficou marcado pela ampliação da
distensão e pelo aumento da crise
econômica, com um quadro de
“estagflação”.
Já no ano de 1979 Figueiredo avançou
no sentido da abertura política, com a
revogação do AI-2 e a consequente
aprovação no Congresso da Nova Lei
Orgânica de Partidos (Lei 6.767, de 20
de dezembro), bem como com a
aprovação no Congresso da Lei de
Anistia (Lei 6.683, de 28 de agosto de
1979), uma das principais bandeiras da
sociedade civil brasileira daqueles anos.
No que se refere à nova lei de partidos,
extingui-se o bipartidarismo e voltava-
se ao pluripartidarismo. Foi nesse
momento que surgiram Partidos como
o PMDB, antigo MDB; o PDS, antiga
ARENA; o PDT, formado por antigos
simpatizantes do varguismo e
comandado por Brizola; e o PT, ligado
ao chamado Novo Sindicalismo do ABC
paulista (atual ABCD), que teve seu
auge nas greves gerais entre os anos de
1978-79 e intelectuais da estirpe de
Florestan Fernandes. Vale frisar que
essas greves do ABC paulista mostram a
força de um emergente movimento
operário que teve origem no próprio
modelo de desenvolvimento
econômico do governo.
Já a Lei de Anistia promovia o perdão
geral para torturadores e para
opositores do regime, pois era uma lei
que concedia a “anistia ampla geral e
irrestrita”.
No entanto, mesmo com os avanços no
sentido de se abrir a política brasileira
ocorreram alguns contratempos com a
oposição ferrenha da linha dura ao
projeto de distensão. Essa oposição se
fez sentir com uma série de atentados
terroristas às entidades e pessoas
ligadas à abertura, como foi o caso do
famoso e fracassado atentado do
Riocentro em 1981.
No início dos anos 1980 o quadro
econômico brasileiro complicava-se e
as oposições articulavam-se cada vez
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 55
mais no sentido da abertura. Em 1982
já ocorreram às primeiras eleições
diretas para os governadores de Estado
e, no ano seguinte, iniciou-se uma das
campanhas de maior mobilização de
civis que houve na história do Brasil: a
campanha das “Diretas já!”.
Tal campanha levantava a bandeira da
eleição direta para presidente com o
lema “eu quero votar para presidente”.
No entanto, para que pudesse ocorrer
eleição direta para presidente era
preciso se fazer aprovar uma Emenda
Constitucional. Quem propôs o projeto
de emenda foi o deputado do PMDB,
Dante de Oliveira. Porém, mesmo com
a realização de uma grande campanha
nacional com comícios e passeatas,
inclusive com a participação de artistas
e personalidades políticas públicas, a
emenda não foi aprovada.
NOVA REPÚBLICA (1985-...)
Um dia antes de tomar posse, o que
deveria ocorrer em 15 de março de
1985, Tancredo Neves foi hospitalizado.
Depois de ser submetido a seis
cirurgias, Tancredo Neves faleceu no
dia 21 de abril de 1985. Com a morte
de Tancredo, a presidência do Brasil foi
entregue ao então vice-presidente, José
Sarney.
1. O Governo de José Sarney (1985-
1990)
Em 1985 foi eleito vice-presidente de
Tancredo Neves, por um Colégio
Eleitoral. Diante da morte de Tancredo
Neves, assumiu oficialmente a
presidência.
Os planos econômicos e as tentativas
de conter a inflação
Em 1986, a inflação era extremamente
alta. Em 1986, o Ministro da Fazenda,
Dílson Funaro, apresentou à nação seu
plano de estabilização econômica, o
Plano Cruzado. Esse plano estabelecia
o congelamento dos preços e dos
salários, além do tabelamento de uma
série de produtos, principalmente
alimentícios. Foi lançada ainda uma
nova moeda, o Cruzado, em
substituição ao Cruzeiro; e instituiu-se
o “gatilho salarial”, que reajustava
automaticamente os salários, toda vez
que a inflação acumulasse 20%.
O uso político do plano pelo PMDB e
PFL impediu que o ministro Funaro
realizasse ajustes às medidas
estabelecidas pelo plano, contribuindo
para o seu fracasso. O boicote
praticado por empresários e grandes
comerciantes com a cobrança do ágio
(lucro sobre a diferença de valor da
moeda), provocou a crise do
desabastecimento. A liberação dos
saques na caderneta de poupança pelo
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 56
governo despejou uma grande soma de
dinheiro no mercado, contribuindo
para a especulação e a volta da
inflação. Sem condições de salvar o
plano, Dílson Funaro pediu demissão
do cargo, e para seu lugar foi nomeado
o economista Luis Bresser Pereira. O
ministro Bresser Pereira tratou
imediatamente de elaborar um novo
plano econômico – o Plano Bresser.
O novo plano também estabeleceu o
congelamento de preços e salários, e
propôs reduzir gastos do governo. O
ministro Bresser Pereira não obteve
apoio substancial por parte do governo,
vindo a deixar o cargo. Com a saída de
Bresser Pereira, coube a Maílson da
Nóbrega assumir o Ministério da
Fazenda. Maílson elaborou o Plano
Verão, que também determinou o
congelamento de preços e salários. Foi
adotada uma nova forma de reajuste
salarial, os juros bancários foram
elevados para conter o consumo, e o
Cruzado foi substituído pelo Cruzado
Novo. O Plano Verão também resultou
em fracasso. De fevereiro de 1989 até
fevereiro de 1990, a inflação
acumulada atingiu 1.200%.
A Constituição de 1988
Em 5 de outubro de 1988, a
Constituição foi promulgada,
apresentando as seguintes
determinações:
•Direito de voto aos analfabetos
(facultativo);
•Voto facultativo dos 16 aos 18 anos, e
obrigatório dos 18 aos 70 anos;
•Licença paternidade de 5 dias;
•A prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei;
•Garantia aos índios a posse da terra
que já ocupam tradicionalmente,
competindo à União demarcá-las.
2. O Governo de Fernando Collor
(1990-1992)
Fernando Affonso Collor de Mello foi
eleito presidente 1989, vencendo o
candidato Luiz Inácio Lula da Silva no 2º
turno das eleições.
No início do seu governo foi elaborado
um novo plano econômico, o Plano
Collor. Esse plano foi acompanhado de
um programa de privatização das
empresas estatais e de grande abertura
do mercado brasileiro às importações e
à entrada do capital estrangeiro no
país. Essas medidas significaram o início
e a consolidação do neoliberalismo no
país.
O plano foi responsável ainda por uma
nova troca de moeda, com a
substituição do Cruzado Novo pelo
Cruzeiro Novo, e pelo confisco,
realizado pelo Banco Central, pelo
período de 18 meses, de todos os
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 57
saldos depositados em conta corrente,
caderneta de poupança e outras
aplicações financeiras superiores a
cinqüenta cruzeiros novos.
Em 1991, a imprensa começou a
divulgar reportagens sobre atos de
corrupção envolvendo pessoas ligadas
ao governo, entre eles Paulo César
Farias, o tesoureiro da campanha
presidencial de Collor. Em pouco tempo
veio a público o esquema PC, cujas
investigações concluíram tratar-se de
uma empresa de Paulo César Farias
para a qual empresários pagavam
propinas, para ganhar as licitações de
obras públicas. O dinheiro arrecadado
pelo esquema PC era movimentado por
meios de contas fantasmas e servia
para pagar contas particulares do
presidente, de sua mulher, além de
rechear contas particulares no exterior.
Em dezembro de 1992, o Senado
Federal decidiu pelo impeachment do
presidente, que foi afastado do cargo e
teve seus direitos políticos cassados por
8 anos. Fernando Collor de Mello havia
renunciado em setembro, justamente
para escapar da cassação, mas de nada
adiantou.
Com afastamento de Collor da
presidência, o Congresso Nacional
empossou o vice, Itamar Franco, como
novo presidente do país.
3. O Governo de Itamar Franco (1992-
1994)
Itamar Franco é natural de Minas
Gerais. Assumiu a presidência da
República em caráter definitivo no dia
29 de dezembro de 1992, deixando-a
em 1º de janeiro de 1995.
No dia 21 de abril de 1993 foi realizado
um plebiscito nacional, já previsto pela
Constituição de 1988. Nele a sociedade
foi convocada a escolher a forma de
governo (República ou Monarquia) e o
regime de governo (Presidencialismo
ou Parlamentarismo). O povo optou
pela República Presidencialista.
Em maio de 1993, Fernando Henrique
Cardoso assumiu o Ministério da
Fazenda. O novo ministro da fazenda
elaborou um novo plano econômico, o
Plano Real, que foi introduzido
definitivamente em 1º de julho de
1994. Esse plano estabeleceu as
seguintes medidas:
•Continuidade de abertura do mercado
brasileiro às importações e ao capital
estrangeiro;
•Continuidade da política de
privatização de estatais;
•Elevação da taxa de juros;
•Criação de uma nova moeda, o Real.
Na eleição presidencial de 1994,
Fernando Henrique Cardoso foi eleito
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 58
presidente no primeiro turno,
vencendo Luiz Inácio Lula da Silva.
4. O Governo de Fernando Henrique
Cardoso (1994-2002)
Fernando Henrique Cardoso é natural
do Rio de Janeiro (RJ). Foi eleito
presidente duas vezes, ambas no
primeiro turno, vencendo o candidato
da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva.
No governo FHC, Itamar Franco ocupou
o Ministério das Relações Exteriores e o
Ministério da Fazenda.
Fatos marcantes no período:
•Aprovação da Emenda Constitucional
que permitiu a reeleição para cargos do
Executivo – presidente da República,
governadores e prefeitos (1997);
•Privatização do sistema de
distribuição de energia, da Companhia
Vale do Rio Doce e da Telebrás;
•Aprovação da reforma da Previdência,
eliminando a estabilidade de emprego
de servidores, e da nova lei de
aposentadoria, que passou a ser por
tempo de contribuição – 35 anos para
homens e 30 anos para mulheres;
ANEXO PROVAS DE HISTÓRIA APLICADAS EM
CONCURSOS DA ÁREA MILITAR (PM/CBM)
POLÍCIA MILITAR – CEARÁ (2008)
A colonização do Brasil assentou-se,
fundamentalmente, no latifúndio, na
monocultura e no trabalho escravo.
Proclamada a independência, não
houve efetiva ruptura com o passado
colonial. A abolição da escravidão, por
exemplo, somente se deu em fins do
século XIX, ainda assim inconclusa. A
República Velha, nascida de um golpe
de Estado, representou o domínio das
oligarquias, com forte exclusão social e
processos políticos viciados. A
Revolução de 1930 inaugurou a Era
Vargas e o início da modernização do
país. Depois da ditadura do Estado
Novo, o país iniciou o processo de
aprendizado democrático em meio a
crises agudas, que culminaram com o
golpe de 1964. Após 21 anos de regime
militar, restaurou-se a democracia,
cujo grande marco definidor é a
Constituição de 1988.
Considerando as informações acima e
os aspectos significativos da História
do Brasil, julgue os itens a seguir. (PM-
CE / 2008)
1.(X)A pequena propriedade de terras
prevaleceu no Brasil colonial.
2.(X)O centro-oeste foi a primeira área
do território brasileiro a ser ocupada
pelos colonizadores.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 59
3.(X)A cana-de-açúcar sustentou, por
muito tempo, a economia colonial
brasileira.
4.(X)O trabalho escravo africano foi
largamente utilizado no Brasil Colônia e
até mesmo após a independência.
5.(X)A independência do Brasil foi um
ato de total rompimento com as
estruturas coloniais.
6.(X)No Império e durante boa parte da
República, o café foi o principal produto
brasileiro de exportação.
7.(X)Na República Velha, o voto secreto
garantia a lisura das eleições.
8.(X)A Revolução de 1930 foi
particularmente ativa no Ceará,
sepultando definitivamente as
oligarquias locais.
9.(X)Com Vargas, o Brasil iniciou sua
moderna industrialização, cujo símbolo
foi a Companhia Siderúrgica Nacional.
10.(X)A Era Vargas foi plenamente
democrática.
11.(X)A redemocratização, iniciada com
a queda do Estado Novo, foi marcada
por sucessivas crises.
12.(X)O regime militar iniciado em 1964
impediu que políticos nordestinos,
como os cearenses, assumissem cargos
de projeção nacional.
13.(X)Durante o regime militar, os
presidentes eram eleitos
indiretamente.
14.(X)Fernando Collor foi o primeiro
presidente civil eleito pelo voto direto
no Brasil após o fim do regime militar.
15.(X)A Constituição de 1988 enfatiza
os direitos e as garantias individuais e
sociais.
16.(X)Nas últimas décadas, a economia
cearense tem procurado acompanhar o
processo de modernização econômica
do país e se inserir na chamada
globalização.
17.(X)Embora o Brasil tenha avançado
bastante, ainda persistem no país
históricas desigualdades sociais e
regionais.
18.(X)A abolição da escravidão no Brasil
garantiu a efetiva inclusão social dos
antigos escravos e de seus
descendentes.
19.(X)Um dos marcos do governo
Juscelino Kubitschek foi a construção
de Brasília, com a transferência da
capital brasileira para o interior do país.
20.(X)Durante todo o regime militar, a
economia brasileira retrocedeu, não
chegando a conhecer momentos de
expansão considerável.
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
E E C C E C E E C E
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
C E C C C C C E C E
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR –
ESPÍRITO SANTO (2008)
A colonização do Brasil foi um
empreendimento estatal que contou
com a forte presença da iniciativa
privada. A divisão do território em
capitanias hereditárias, entre as quais
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 60
a do Espírito Santo, foi o ponto de
partida para a concentração de terras
em mãos de poucos, questão que se
arrastou ao longo do tempo e chegou
à contemporaneidade. A
independência, em 1822, manteve a
estrutura colonial básica, a saber,
latifúndio, monocultura e escravidão.
A implantação da República, em 1889,
não democratizou o Estado. Com a Era
Vargas (1930-1945), o país começou a
se modernizar, mas sob regime
crescentemente centralizado e, no
Estado Novo, ditatorial. Entre 1945 e
1964, o Brasil conheceu inédita
experiência democrática, mas
assinalada por diversas crises. O
regime militar (1964-1985) avançou na
modernização econômica em meio ao
autoritarismo político. O poder civil
retornou em 1985 e, três anos depois,
a nova democracia foi sacramentada
com a Constituição Cidadã (1988).
Tendo o texto acima como referência
inicial, julgue os itens a seguir,
relativos à História do Brasil. (CBM-ES /
2008)
1.(X)Apesar de indireta, a eleição de
Tancredo Neves simbolizou o fim do
regime militar.
2.(X)À época absolutista, o Estado
português monopolizou o processo de
colonização do Brasil, o que afastou a
presença de particulares nas atividades
econômicas coloniais.
3.(X)A criação das capitanias
hereditárias foi uma medida de exceção
e territorialmente limitada, razão pela
qual não envolveu a porção litorânea
da colônia.
4.(X)A cana-de-açúcar teve no Nordeste
seu núcleo essencial e foi determinante
para a configuração colonial do Brasil,
inclusive quanto à sociedade patriarcal.
5.(X)Ao se tornar independente de
Portugal, o Brasil aboliu logo em
seguida o trabalho escravo, atitude que
também atendeu aos interesses
capitalistas britânicos.
6.(X)A República Velha (1889-1930) foi
essencialmente oligárquica, com
eleições fraudulentas, poucos eleitores
e voto a descoberto.
7.(X)Com Vargas, o Brasil incentivou a
indústria de base, que teve na
Companhia Siderúrgica Nacional seu
grande símbolo, além de ter editado
leis de proteção ao trabalho.
8.(X)O período democrático pós-Estado
Novo, vigente até o golpe militar de
1964, foi tranquilo, de grande
estabilidade política e sem incidentes
de maior gravidade.
9.(X)O regime militar instaurado em
1964 foi autoritário, mas não chegou a
fechar o Congresso Nacional nem fez
uso de medidas repressoras.
10.(X)A Carta de 1988 é conhecida pela
ênfase aos direitos individuais e sociais
e pelo comprometimento com a
expansão e a consolidação da
cidadania.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 61
GABARITO
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C E E C E C C E E C
POLÍCIA MILITAR – ACRE (2008)
Pode-se dizer que, de fato, o século
XIX brasileiro teve início somente em
1808, com a chegada de D. João VI,
acompanhado da corte e da família
real portuguesa, fugindo das tropas de
Napoleão, sob escolta da Armada
inglesa. Abriram-se os portos “às
nações amigas”, dando-se estatuto
privilegiado à Inglaterra, sua
protetora. No longo processo que
levou à Independência, articulou-se o
complexo sistema oligárquico-imperial
escravista (1822-1889), cristalizando-
se em um modelo político burocrático,
já nacionalizado, de grande poder e
complexidade administrativa
asfixiante. Sob a estabilidade aparente
do Império brasileiro (uno e
indivisível), assistiu-se a uma longa
sucessão de lutas e conflitos. Ao final,
sob forte pressão Inglesa, deu-se a
Abolição da Escravatura(1888), logo
seguida da proclamação da República
(1889), acontecimentos decisivos para
a implantação de uma ordem
capitalista moderna. Concomitantes, a
imigração européia e a introdução do
trabalho assalariado, em substituição
ao trabalho escravo, acabariam por
mudar bastante a fisionomia do novo
Estado-nação. A Revolução do 1930,
em que assumiu a presidência da
República o gaúcho Getúlio Vargas,
inaugurou um longo e turbulento
período histórico de reformas,
levantes, repressões, contra-reformas
e tentativas de superação da condição
de país atrasado, subdesenvolvido,
periférico e dependente, termos que
se tornaram correntes em momentos
sucessivos. Período que se encerrou
com o golpe de 64, de caráter civil-
militar, instalando um regime
ditatorial que se prolongou pelos vinte
anos seguintes.
Adriana Lopez e Carlos Guilherme
Mota. História do Brasil: uma
interpretação. São Paulo: SENAC, 2008,
p. 305-306;639 (dom adaptações)
Tendo o texto acima como referência
inicial e considerando aspectos
marcantes da história brasileira, da
colônia aos dias de hoje, julgue os
itens. (PM-AC / 2008)
1.(X)Extração vegetal, cana-de-açúcar e
mineração foram importantes
atividades econômicas do período
colonial brasileiro, também marcado
pelo domínio das grandes propriedades
e pela larga utilização da mão-de-obra
escrava.
2.(X)A transferência do Estado
português para o Brasil, em princípios
do século XIX, deveu-se às
circunstancias da política européia
naquele período.
3.(X)A Abertura dos portos brasileiros,
determinada por D. João VI, manteve
inalterado o sistema colonial montado
por Portugal no Brasil.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 62
4.(X)A organização político-
administrativa do Império brasileiro
caracterizou-se pela simplicidade, com
pequena burocracia e reduzida
participação das elites nacionais.
5.(X)Primeiro país industrializado e
capitalista, a Inglaterra tinha interesse
no fim da escravidão.
6.(X)No Brasil, a abolição da
escravatura e a proclamação do regime
republicano pertencem ao mesmo
contexto histórico, em fins do século
XIX.
7.(X)A distância no tempo entre a
chegada dos imigrantes e o fim da
escravidão impediu que o Brasil
acompanhasse a evolução econômica e
social vivida pelo mundo na passagem
do século XIX ao XX.
8.(X)A Revolução de 1930 pôs fim à
Primeira República e fez o país avançar
no sentido da modernização,
particularmente na economia, que
começa a desenvolver uma indústria de
base.
9.(X)Embora tendo governado por
pouco tempo, Vargas tornou-se figura
central na política republicana
brasileira.
10.(X)Após a Ditadura do Estado Novo,
o Brasil viveu uma experiência
democrática entre 1946 e 1964, sem
crises políticas de maior intensidade.
11.(X)O desenvolvimento foi marca
registrada do governo Juscelino
Kubitschek, com muitas obras de
infraestrutura e a construção da nova
capital brasileira, situada no interior do
país.
12.(X)O golpe de 64 foi obra exclusiva
dos militares, que se revezaram no
poder por cerca de duas décadas.
13.(X)O texto deixa claro que não se
pode falar em autoritarismo como
característica do regime militar iniciado
em 1964.
14.(X)A participação popular, como na
luta pela anistia e pelas eleições
presidenciais diretas (Diretas Já), esteve
presente nos últimos anos do regime
militar.
15.(X)Mesmo sendo indireta, a eleição
de Tancredo Neves para a presidência
da República encerrou o ciclo do
autoritarismo militar no Brasil
Contemporâneo.
GABARITO
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POLÍCIA MILITAR – ESPÍRITO SANTO
(2007)
A economia colonial brasileira gerou
uma divisão de classes muito
hierarquizada e bastante simples. No
topo da pirâmide, estavam os grandes
proprietários rurais e os 4 grandes
comerciantes das cidades do litoral.
No meio, localizavam-se os pequenos
proprietários rurais e urbanos, os
pequenos mineradores e
comerciantes, além dos funcionários 7
públicos. Mais abaixo, estavam os
artesãos, agregados das fazendas,
capangas e populações indígenas. Na
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 63
base, mourejavam os escravos. As
relações entre essas classes 10 se
baseavam em combinação variada de
violência (relação senhor – escravo) e
paternalismo (entre ricos e pobres).
Vem da colônia um aspecto essencial
da política 13 brasileira: a mistura, o
conluio, entre o poder estatal e o
poder privado, que leva o nome de
patrimonialismo e que tem no
clientelismo um poderoso resíduo. Um
dos melhores 16 exemplos de como se
mesclaram entre nós o poder do
Estado e o dos particulares é o
coronelismo. A principal mudança
social ocorrida no Império foi 19 a
abolição do tráfico de escravos, em
1850, e da escravidão, em 1888. Na
República, o ano de 1930 foi um
divisor de águas, a partir do qual
houve grande aceleração nas 22
mudanças. A crise de 1929 e, dez anos
mais tarde, a Segunda Guerra Mundial
aceleraram o processo de
industrialização, que não mais se
interrompeu, avançando, na década
de 50, 25 com a indústria
automobilística e, na década de 70,
com a produção de máquinas e
equipamentos.
José Murilo de Carvalho. Fundamentos
da política e da sociedade brasileira. In:
Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra
(orgs.). Sistema político brasileiro: uma
introdução. Rio de Janeiro:Fundação
Konrad Adenaur-Stiftung; São Paulo:
UNESP, 2004, p. 24-9 (com
adaptações).
Tendo o texto como referência inicial e
considerando aspectos marcantes da
história do Brasil, julgue os itens
seguintes. (PM-ES / 2007)
1.(X)A sociedade colonial brasileira era
aberta, flexível e democrática.
2.(X)No período colonial, os
latifundiários concentravam poder
econômico, político e social.
3.(X)A ocupação do território brasileiro
ocorreu do interior para o litoral.
4.(X)A nítida separação entre o público
e o privado acompanha a trajetória
brasileira desde o início da colonização.
5.(X)O fenômeno do coronelismo no
Brasil é recente e surgiu com a
industrialização do país.
6.(X)Nos períodos colonial e imperial, a
escravidão estava largamente instalada
no Brasil.
7.(X)A Lei Áurea extinguiu o tráfico de
escravos africanos para o Brasil.
8.(X)A Segunda Guerra Mundial
impulsionou a industrialização
brasileira.
9.(X)A instalação da indústria
automobilística no Brasil ocorreu no
governo JK.
10.(X)No regime militar (1964-1985), a
produção de máquinas sofreu forte
redução.
11.(X)As crises econômicas mundiais
que marcaram o século XX não
atingiram o Brasil.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 64
12.(X)A chegada de Getúlio Vargas ao
poder ocorreu com a Revolução de
1930.
13.(X)A eleição indireta do presidente
Tancredo Neves assinalou o fim do
regime militar.
14.(X)Chamada de cidadã, a
Constituição de 1988 enfatiza direitos e
garantias individuais e coletivos.
GABARITO
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PM-CE 2012 - CESPE No que se refere a períodos significativos da história do Brasil, julgue os itens subsequentes. 01. No governo federal, durante a chamada República Velha, predominou a defesa dos interesses da oligarquia agrária. 02. Durante o período colonial, predominou o trabalho escravo indígena nos engenhos de açúcar do Nordeste brasileiro. 03. O parlamentarismo no Brasil foi instalado durante o Segundo Império, com a criação da função de presidente do Conselho de Ministros. 04. Durante a ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas enviou tropas brasileiras para lutarem ao lado dos alemães na II Guerra Mundial.
(PM-ES / 2007)
“E se a lição foi aprendida A vitória não
será vã. Neste Brasil holandês, Tem
lugar pra o português e para o banco
de Amsterdã”
(Francisco Buarque de Holanda e Rui Guerra, Calabar, O elogio da tradição, pág. 7, 1973) 01. Sobre a Invasão Holandesa em Pernambuco, analise as alternativas a seguir. I. Durante o Governo de João Maurício de Nassau, a Companhia das Índias Ocidentais concedeu crédito aos Senhores de Engenho, destinado ao reaparelhamento dos engenhos, à recuperação dos canaviais e à compra de escravos. II. O empenho da burguesia holandesa em romper o bloqueio econômico, imposto por Felipe II, tinha a finalidade de fundar, no Brasil, uma colônia de povoamento, para abrigar os calvinistas e interromper a produção de açúcar no Nordeste brasileiro. III. O Governo de Nassau urbanizou o Recife, providenciou a construção de pontes e de obras sanitárias, dotou a cidade de um jardim botânico, de um jardim zoológico e de um observatório astronômico. IV. O movimento denominado Batalha dos Guararapes teve início com a chegada ao Brasil do conde Maurício de Nassau, nomeado Governador–Geral do Brasil holandês. Estão corretas A) somente I, II e III. B) somente I, III e IV. C) somente I e III. D) somente II e IV. E) somente III e IV.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 65
02. Sobre a Revolução Pernambucana de 1817, considere as afirmativas a seguir. I. Tinha como objetivo proclamar uma República e abolir, imediatamente, a escravidão no Nordeste. II. Foi organizada, conforme os ideais da Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que inspiravam a Revolução Francesa. III. Teve como principais causas o aumento dos impostos, a grande seca de 1816, que provocou muita fome no Nordeste, e a crise da agricultura, afetando a produção do açúcar e do algodão. IV. Foi a única rebelião anterior à independência política do Brasil que ultrapassou a fase da conspiração. Os rebeldes tomaram o poder e permaneceram no governo por mais de 70 dias. Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas. A) Somente I, II e III. B) Somente I, II e IV. D) Somente II, III e IV. C) Somente I, III e IV. E) I, II, III e IV. 03. Em 1964, os militares tomaram o poder e implantaram uma ditadura no Brasil. Durante os governos militares, podemos constatar: I. Os golpistas procuraram definir esse assalto à democracia como uma revolução; II. O golpe militar de 1964 representou a culminância do processo de crise do populismo, iniciado com a renúncia de Jânio Quadros em 1961; III. Uma das características dos governos militares foi o autoritarismo, visto que membros do governo não se
mostravam dispostos a dialogar com os diversos setores da sociedade; IV. Tortura, prisão e expulsão do país foram instrumentos utilizados pelos governos militares contra alguns cidadãos, para manterem seu poder inabalado. Os itens corretos são A) somente I, III e IV. B) somente II, III e IV. D) somente I, II e III. C) somente I, II e IV. E) I, II, III e IV. 04. Analise as afirmativas referentes à História do Brasil atual. I. Após o movimento “Diretas-já”, o
Brasil voltou a conviver com regras democráticas constitucionais. II. As medidas, adotadas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, determinaram o fim da inflação e praticamente extinguiram as desigualdades sociais no Brasil. III. Os últimos dez anos da história econômica brasileira foram marcados por intenso processo de privatização e de abertura do mercado ao capital estrangeiro. IV. Em janeiro de 1987, o Governo Sarney foi obrigado a decretar, unilateralmente, a moratória, deixando de pagar os juros da dívida externa. Dentre as afirmativas apresentadas, são verdadeiras A) somente I e IV. B) somente II e III. C) somente I, II e III. D) somente I, III e IV. E) I, II, III e IV.
História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 66
05. Sobre o Brasil Contemporâneo, considere as afirmações a seguir. I. Fernando Collor de Mello tinha como programa de Governo privatizar empresas estatais, combater os monopólios, abrir o país à concorrência internacional e desburocratizar as regulamentações econômicas. II. Em maio de 1993, o Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, anunciou as primeiras medidas para estabilizar a economia. O novo plano econômico, o Plano Real, previa o congelamento dos preços e salários e confisco das contas bancárias. III. O modelo político brasileiro, em vigor desde o começo dos anos 90, é considerado por muitos como neoliberal, por pretender a valorização das organizações trabalhadoras, visando estabelecer alianças na luta contra o desemprego. IV. Com a saída de Fernando Collor do governo do país, o vice-presidente Itamar Franco foi empossado na presidência. Estão corretas A) somente I e II. B) somente I e III. C) somente II e III. D) somente I e IV. E) somente II e IV. GABARITO
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C D E D D * *
(PM-DF / 2001) 01. Na ausência de poderosa classe burguesa capaz ela própria de regular as relações sociais por meio dos
mecanismos do mercado, caberia ao Estado, como coube nos primeiros passos das próprias sociedades burguesas de êxito, tomar a iniciativa de medidas de unificação de mercados, de destruição de privilégios feudais, de consolidação de um comando nacional, de protecionismo econômico. José Murilo de Carvalho. A construção da ordem. A elite política imperial. Brasília: EDUnB, 1980, p. 177 (com adaptações). No texto acima, o autor descreve o poder e a ordem no Império brasileiro, destacando a força do Estado. Com o auxílio do texto, julgue os itens abaixo. 1 No Brasil imperial, a Nação foi formada antes do Estado. 2 As instituições políticas do Império foram forjadas para proporcionar a formação de um Estado forte o suficiente para garantir a estabilidade. 3 A consolidação de um comando nacional unificado, na economia e na segurança, foi garantida, no Império, graças à existência de uma forte classe média. 4 A ordem imperial foi garantida sempre pela força militar do Estado. 5 O Império brasileiro foi dominado por uma burguesia mercantil que desejava implantar o modelo político britânico nos trópicos. QUESTÃO 27 02. A Revolução de 1930 foi um marco na história nacional. Criadora de um modelo econômico-social que perdurou até os anos 80, ela está quase sempre associada à figura emblemática de Getúlio Vargas.
História do Brasil
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A respeito de Vargas e da Revolução de 1930, julgue os itens a seguir. 1 Vargas, às vésperas da Revolução de 1930, possuía sólida base partidária, de porte nacional, o que viria permitir sua rápida emergência ao poder. 2 A erupção política que levou Vargas à liderança da Revolução de 1930 esteve umbilicalmente ligada à cisão no poder das oligarquias da República Velha. 3 A política do café-com-leite, que prejudicava a inserção de outras elites políticas na vida nacional, foi uma das justificativas para a movimentação que levou Vargas ao processo revolucionário de 1930. 4 A herança de Vargas fez-se presente em vários momentos da história política pós-1930, particularmente na formatação do modelo econômico industrialista e nacional-desenvolvimentista. 5 Partidos políticos como o PTB e o PSD, matrizes do modelo populista de Estado, foram criados por Vargas ou sob sua tutela e orientação. QUESTÃO 28 03. Brasília é fruto de um sonho político: o da transferência da capital para o coração do país. Essa imaginação, cultivada pelas elites brasileiras, teve uma longa história, que culminou em 1960. A respeito dos fatos que antecederam a criação de Brasília bem como seus desdobramentos atuais, julgue os itens que se seguem. 1 O conhecido sonho de Dom Bosco permaneceu no imaginário dos inventores de Brasília como uma aspiração de ocupação do interior do país. 2 A proposta efetiva de transferência da capital, como já se fizera no período
colonial, de Salvador para o Rio de Janeiro, não alterou a dinâmica econômica da região em torno da qual a nova capital foi implantada. 3 Juscelino Kubitschek, ao encaminhar o projeto de construção de Brasília, enfrentou apenas pequenas resistências políticas internas diante da grandeza dos seus objetivos. 4 A organização social e política do atual Centro-Oeste brasileiro antes da transferência da capital para Brasília estava marcada pelo seu isolamento em relação ao próprio país. 5 A saga das famílias que vieram para a construção de Brasília, envolvendo migrações internas e o nascimento da figura do candango, traduz o alto impacto social gerado em regiões de imigrantes bem como permite a construção de certa dimensão épica atribuída à fundação da cidade. GABARITO
01. ECEEE 02. ECCCC 03. CEECC
BIBLIOGRAFIA
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História do Brasil
Prof. Adeíldo Oliveira 68
· FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
· FOUCALT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979;
· HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil – 26ª edição. São Paulo: Cia. das Letras, 1995;
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· SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na primeira republica. 2 ed. São Paulo, Cia das Letras, 2003.
· SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, pág. 25
· VILLA, Marco Antônio. A história das constituições brasileiras. São Paulo: Leya, 2011.