leandro - história do brasil - apostila 2010

Upload: jorge-nairo-marques

Post on 19-Oct-2015

56 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Histria do Brasil

    Rio de Janeiro 2010

  • 1

    PR-VESTIBULAR COMUNITRIO VETOR

    Organizadora:

    Aldilene Marinho Csar

    Autores:

    Aldilene Marinho Csar

    Paula R. Albertini Tlio

    Rafaella Lcia de A. Ferreira Bettamio

    Revisora:

    Paula R. Albertini Tlio

  • 2

    Ter sucesso no vestibular no privilgio de uns

    poucos alunos brilhantes. Mas do que uma inteligncia fora do comum a dedicao, a maturidade

    intelectual e o equilbrio emocional que mais

    contribuem para essa vitria. E essa adquirida

    atravs das aulas; do contato com o mundo, da troca

    de experincias com outras pessoas; pelas leituras e

    atividades desenvolvidas no estudo.

    Boa sorte a todos!

    Equipe de Histria.

  • 3

    SUMRIO

    1 As grandes navegaes ................................................................4

    2 O descobrimento do Brasil e as primeiras dcadas da Colnia ......8 3 A implantao do colonialismo na Amrica portuguesa ..............14

    4 O Brasil e as relaes internacionais ..........................................19 5 A Economia mineradora .............................................................24 6 As reformas pombalinas e as conjuraes coloniais ...................31

    7 A poca joanina 1808-1821 .......................................................37 8 A Independncia e o Primeiro Reinado 1822-1831.......................42

    9 O perodo regencial 1831-1840 ..................................................47 10 A afirmao do Imprio 1840-1850 ..........................................53 11 O auge do Imprio 1850-1870 .................................................56

    12 Decadncia do Imprio 1870-1889 ..........................................60 13 O surgimento da Repblica ......................................................64

    14 A Repblica oligrquica 1894-1930 ..........................................67 15 Rebelies da Repblica Velha ...................................................70 16 A crise dos anos 20 ..................................................................73

    17 A Revoluo de 1930 ................................................................78 18 O governo constitucional e movimentos polticos .....................81

    19 O Estado Novo 1937-1945 ........................................................84 20 O Governo Dutra 1946-1951 ....................................................88 21 O Segundo Governo Vargas 1951-1954 ....................................90

    22 O Governo JK 1956-1960 .........................................................92 23 A crise da Repblica Populista 1960-1964 ................................98

    24 O golpe de 1964 .....................................................................102 25 Ditadura Militar: o panorama poltico e cultural 1964-1974 ....105

    26 Ditadura Militar: o panorama econmico ................................111 27 A Crise da Ditadura Militar e os primeiros sinais da abertura poltica ........................................................................................113

    28 O governo Figueiredo e a Redemocratizao 1979-1985 ........115 29 Planos econmicos e recesso ...............................................119

    30 A eleio e o Governo Fernando Collor 1989-1992 .................121 31 O neoliberalismo no Brasil .....................................................124 32 O governo Lula e o Brasil atual ...............................................126

    Gabaritos ....................................................................................128

  • 4

    Captulo 1. As Grandes Navegaes

    Apresentao - As grandes

    navegaes marcaram um perodo da

    Histria europia no qual os

    horizontes se alargaram

    enormemente. Dentre outros eventos,

    nessa poca, encontrou-se o fim do continente africano e entrou-se em

    contato com civilizaes do Oriente e

    do Extremo Oriente. No sculo XVI,

    uma expedio espanhola liderada

    pelo portugus Ferno de Magalhes

    comprovaria que a terra redonda,

    atravs da viagem de circunavegao.

    No entanto, no se deve perder de

    vista o sentido maior dessa expanso

    martima para os europeus: obter

    riquezas.

    Transio da Idade Mdia Idade Moderna

    A Idade Mdia espao temporal compreendido entre os sculos V ao

    XV , na Europa, foi marcada pelo sistema feudal de produo. O perodo

    dividido em Alta Idade Mdia e

    Baixa Idade Mdia.

    Alta Idade mdia (sc. V-XI).

    poca na qual a Europa ocidental

    sofreu sucessivas invases dos povos

    germnicos (tambm chamados

    brbaros). Essas invases, ocorridas entre os sculos IV e V, contriburam

    para a decadncia do antigo Imprio

    Romano e foram responsveis por

    profundas alteraes polticas, sociais,

    e culturais. Alm disso, durante o

    sculo VIII, houve tambm a

    dominao dos povos rabe-

    muulmanos, que ocuparam at o

    sculo XV a Pennsula Ibrica.

    Organizao poltica - Poder poltico

    descentralizado, distribudos entre o

    rei, os membros da nobreza e o alto

    clero. Cada feudo constitua uma

    unidade poltica autnoma baseada,

    governada pelo senhor feudal.

    Economia - Essencialmente agrria

    fundamentada na agricultura de

    subsistncia sem grandes excedentes

    para comercializao. A terra era

    considerada a principal fonte de

    riqueza. Em conseqncia das crises

    geradas pelas invases e pela

    ocupao do mar Mediterrneo pelos

    rabe-muulmanos, ocorreu no

    perodo o quase desaparecimento das

    atividades comerciais e do uso da

    moeda.

    Sociedade - Era basicamente rural e

    estamental com funes bem

    definidas para os seus trs principais

    grupos sociais. O clero, que cuidava

    da f; a nobreza, responsvel pela

    defesa do territrio; e os camponeses

    ou servos, que trabalhavam a terra.

    Cultura Pode dizer que a sociedade medieval era teocntrica, ou seja,

    essa sociedade concebia Deus como

    centro do universo e a razo de todas

    as coisas. Dessa forma, a Igreja

    determinava os modos de pensar e de

    viver das pessoas e os fenmenos

    naturais eram explicados pela f.

    A Baixa Idade Media (sc. XII-XV)

    - Resultado de diversos processos

    histricos, a partir do sculo XI,

    houve um reflorescimento do

    comrcio na Europa ocidental. Dentre

    esses, destacam-se a renovao das

    prticas agrcolas (o arado de ferro, a

    foice, a enxada, o aproveitamento da

    gua e do vento como fora motriz),

    que permitiram um aumento da

    produo, e consequentemente, o

    crescimento demogrfico. A expanso

    das reas produtivas gerou um

    excedente agrcola que estimulou o

    crescimento do comrcio. Aos poucos,

    a atividade comercial aumentou,

    tornando necessria a expanso da

    quantidade de moedas para facilitar

    as trocas. O antigo comrcio,

    realizado entre a Europa ocidental e o

    Oriente, foi aos poucos reativado com

    o movimento das Cruzadas

    (expedies religioso-militares crists

    contra os mulumanos do Oriente

    Mdio - sc. X-XIII), o que acabou por

    se constituir em uma via de acesso ao

    comrcio mediterrneo. Em seguida, a

    Pennsula Itlica passou a ter o

    monoplio desse comrcio. No sculo

    XV, os ltimos rabes-muulmanos

    foram expulsos da Europa e do mar

    Mediterrneo nas lutas da Guerra de

    Reconquista travadas na Pennsula

    Ibrica. Essa Guerra esteve

    diretamente ligada luta dos cristos

  • 5

    para recuperar os territrios ocupados

    pelos mouros (mulumanos), e s

    teve fim em 1492. No continente

    europeu, as feiras, antes provisrias,

    tornaram-se permanentes e algumas

    deram origem aos burgos (cidades),

    permitindo, alm disso, a emergncia

    de um novo grupo social, a burguesia

    mercantil. Tais acontecimentos

    passaram a constituir o chamado

    Renascimento comercial e urbano. A

    partir de ento, os servos passaram

    cada vez mais a abandonar as reas

    feudais e a se dedicar a novas

    atividades econmicas.

    Do feudalismo ao Antigo Regime Desde o sculo XIV, o feudalismo j

    apontava sinais de decadncia. Com o

    crescimento das cidades e do

    comrcio, a relao feudal entre

    senhor e servo comeou a perder

    fora. Ao mesmo tempo, os reis, que

    procuravam concentrar em suas mos

    o poder poltico, tambm comearam

    a entrar em choque com os senhores

    feudal. Seguiu-se um longo perodo

    de lutas e guerras entre os reis e a

    nobreza feudal. Os reis obtiveram o

    apoio financeiro da burguesia e

    conquistaram o monoplio do uso

    legtimo da fora. Centralizando o

    poder e transformando reinos

    politicamente fragmentados em

    naes unificadas, que assumiram as

    polticas de monarquias nacionais. Na

    Europa ocidental a sociedade feudal

    deu lugar sociedade do Antigo

    Regime. Nesse sistema de governo,

    os nobres e o alto clero perdem parte

    do poder, mas ainda assim,

    continuam como grupos dominantes

    na sociedade. As monarquias, agora

    centralizadas, passam a concentrar

    grande poder na mo dos reis.

    Portugal, do Surgimento

    Expanso Martima - O surgimento

    de Portugal se deu no contexto da

    Guerra de Reconquista. Das diversas

    casas nobres que tomaram parte

    nessa luta, uma delas foi a de

    Borgonha, que fundou o condado

    Portucalense. Em 1139, esse condado

    foi declarado emancipado de Castela

    sob o nome de Portugal. Os reis desta

    dinastia incentivaram a colonizao

    interna do pas, estimulando a

    libertao dos servos, transformando-

    os em trabalhadores assalariados, ou

    em pequenos proprietrios. As

    atividades comerciais tambm foram

    estimuladas. No reinado de Afonso IV

    (1325-1357) a pesca foi estimulada, e

    se transformou no setor mais

    dinmico da economia propiciando o

    desenvolvimento dos centros urbanos

    do litoral, onde surgiu uma poderosa

    burguesia. Alm disso, a casa de

    Borgonha limitou o poder da nobreza,

    com a Lei de Sesmarias e incorporou

    novas terras aos domnios do rei.

    Assim, no final do sculo XIV, s as

    propriedades da Igreja podiam se

    equiparar as da realeza. Dessa forma,

    Portugal se afirmava, antes da

    Espanha e de outras naes, como

    um dos primeiros Estados europeus a

    efetuar a centralizao administrativa

    e a unificao nacional.

    A vocao comercial - Logo, a

    regio ganharia importncia

    comercial, por ser entreposto

    martimo entre as duas principais

    regies mercantis da Europa: as

    cidades do Norte da Itlia e a regio

    de Flandres (atual Holanda, Blgica e

    parte do Norte da Frana).

    A Revoluo de Avis (1385) - O

    reino de Castela, no entanto,

    considerava Portugal como um

    condado vassalo. Uma disputa pelo

    trono portugus, colocou em luta dois

    grupos antagnicos: de um lado a

    grande nobreza portuguesa

    (almejando mais poder), que defendia

    a unio com Castela, de outro, a

    burguesia mercantil, a pequena

    nobreza, a populao urbana e do

    campo que defendiam que a Coroa

    fosse entregue a Dom Joo, mestre

    da ordem militar de Avis, irmo

    ilegtimo do rei. A luta foi decidida

    com a ajuda do dinheiro dos

    burgueses ricos de Lisboa e do Porto,

    tornando Dom Joo rei de Portugal.

    Essa resoluo deu a Portugal a

    consolidao de sua independncia e

    ps fim ao feudalismo no pas.

    Expanso Martima Com o incentivo da coroa, Portugal passou a

    ser a primeira nao moderna a

    expandir seus limites por meio das

    grandes navegaes. A expanso

    martima teve incio em 1415 com a

  • 6

    tomada de Ceuta (cidade muulmana

    no Norte da frica) e atendia aos

    interesses da nobreza e da burguesia.

    Em seguida, Portugal parte em

    direo s ilhas atlnticas e ao

    continente africano, em busca de

    riquezas, em especial, de metais

    preciosos.

    Tratado de Tordesilhas - O segundo

    pas europeu a se expandir para o

    Atlntico foi a Espanha (unificada em

    1469). Esse pas viria a descobrir a Amrica em 1492. Com a entrada dos

    espanhis no ciclo das grandes

    navegaes, criou-se um conflito

    diplomtico entre Espanha e Portugal

    pela posse das terras conquistadas e

    a conquistar. A questo foi resolvida

    com o Tratado de Tordesilhas, de

    1494, que estabelecia uma linha

    imaginria passando, a 370 lguas a

    Oeste das ilhas de Cabo Verde,

    divindindo o Novo Mundo em duas

    partes, uma para Portugal, outra para

    a Espanha. As terras ao leste desse

    meridiano seriam de Portugal; as

    restantes pertenciam Espanha.

    Pintura representando Vasco da Gama em sua

    chegada s Indias.

    O comrcio indiano. Desde o incio,

    Portugal conheceu grande sucesso na

    expanso martima. Encontrou minas

    de ouro e prata na frica,

    desenvolvendo ali um importante

    comrcio. Ainda, em 1498, descobriu

    o Caminho para as ndias, regio

    onde viriam a se localizar os principais

    entrepostos comerciais portugueses

    no ultramar. Esse foi o perodo de

    maior prosperidade na histria de

    Portugal. Como exemplo disso, de

    1500 a 1520, chegou por ano a

    Portugal, cerca de 200 kg de ouro

    africano, e, at 1530, esse pas teve o

    monoplio sobre a explorao do ouro

    africano e sobre o comrcio indiano.

    Questes de Vestibulares 1. UFRJ 2003. frente do projeto de expanso do lusocristianismo

    estavam os monarcas portugueses,

    aos quais, desde meados do sculo

    XV, os papas haviam concedido o

    direito do padroado (...) Quando se

    iniciou o ciclo das grandes

    navegaes, Roma decidiu confiar aos

    monarcas da Pennsula Ibrica o

    padroado sobre as novas terras

    descobertas. (AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: Mito e Ideologia. Petrpolis: Vozes, 1987, p. 64).

    As relaes entre os Estados

    nascentes e a Igreja Catlica

    constituram-se em um dos mais

    importantes eixos de conflito ao longo

    da etapa final da Idade Mdia. Ao

    contrrio de outras regies, na

    Pennsula Ibrica a resoluo do

    problema implicou o estreitamento

    das interaes entre uma e outra

    instituio.

    a) Cite duas das atribuies das

    Coroas Ibricas contidas na delegao

    papal do Padroado, cujo fim ltimo

    era a expanso do catolicismo nas

    terras recm-descobertas da Amrica.

    b) Indique a principal fonte de

    arregimentao de recursos para a

    realizao das tarefas que, por meio

    do Padroado, estavam a cargo das

    Coroas Ibricas na Amrica nos

    sculos XVI e XVII.

    2. UERJ 2006. As grandes

    navegaes dos sculos XV e XVI

    possibilitaram a explorao do Oceano

    Atlntico, conhecido, poca, como

    Mar Tenebroso. Como resultado, um

    novo movimento penetrava nesse

  • 7

    mundo de universos separados, dando

    incio a um processo que foi

    considerado por alguns historiadores

    uma primeira globalizao e no qual

    coube aos portugueses e espanhis

    um papel de vanguarda.

    A) Apresente o motivo que levou

    historiadores a considerarem as

    grandes navegaes uma primeira

    globalizao.

    B) Aponte dois fatores que

    contriburam para o pioneirismo de

    Portugal e Espanha nas grandes

    navegaes.

    3. ENEM 2007. A identidade negra

    no surge da tomada de conscincia

    de uma diferena de pigmentao ou

    de uma diferena biolgica entre

    populaes negras e brancas e/ou

    negras e amarelas. Ela resulta de um

    longo processo histrico que comea

    com o descobrimento, no sculo XV,

    do continente africano e de seus

    habitantes pelos navegadores

    portugueses, descobrimento esse que

    abriu o caminho s relaes

    mercantilistas com a frica, ao trfico

    negreiro, escravido e, enfim,

    colonizao do continente africano e

    de seus povos. K. Munanga. Algumas consideraes sobre a diversidade e a identidade negra no Brasil. In: Diversidade na educao: reflexes e experincias. Braslia: SEMTEC/MEC, 2003, p. 37.

    Com relao ao assunto tratado no

    texto acima, correto afirmar que

    a) a colonizao da frica pelos

    europeus foi simultnea ao

    descobrimento desse continente.

    b) a existncia de lucrativo comrcio

    na frica levou os portugueses a

    desenvolverem esse continente.

    c) o surgimento do trfico negreiro foi

    posterior ao incio da escravido no

    Brasil.

    d) a explorao da frica decorreu do

    movimento de expanso europia do

    incio da Idade Moderna.

    e) a colonizao da frica antecedeu

    as relaes comerciais entre esse continente e a Europa.

  • 8

    Captulo 2. O descobrimento do Brasil e as primeiras dcadas

    da colnia Apresentao No ano 2000, o governo brasileiro organizou uma

    ampla programao em comemorao

    aos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Contudo, preciso ressaltar que o termo descoberta do Brasil se

    aplica somente chegada, em 22 de

    abril de 1500, da frota comandada

    pelo navegador portugus Pedro

    lvares Cabral a uma parte da

    extenso de terra onde atualmente se

    localiza o territrio brasileiro. A

    palavra "descoberta" usada nesse

    sentido em uma perspectiva

    europocntrica, ou seja, referindo-se

    estritamente a um olhar europeu que

    descobre um Novo Mundo, deixando de considerar a presena de

    diversos grupos de povos amerndios

    que habitam a regio h muitos

    sculos.

    O perodo pr-colonial 1500-1530

    O descobrimento e o comrcio indiano Em 1500, as ndias, recm-descobertas por Portugal, supriam as necessidades comerciais

    do Reino, atravs do afluxo de

    especiarias. Neste momento, o Estado

    e a burguesia portuguesa estavam

    mais interessados na frica e na sia,

    pois os lucros oferecidos pelo

    comrcio com essas regies eram

    imediatos, com o comrcio das

    especiarias asiticas e dos produtos

    africanos, como o ouro, o marfim e o

    escravo negro. Em contrapartida, os

    lucros conseguidos com a extrao do

    pau-brasil eram insignificantes se

    comparados com aqueles adquiridos

    com os produtos afro-asiticos.

    O escambo de pau-brasil - Em

    1501 e 1502 foram feitas expedies

    pela costa brasileira. Aps os

    primeiros contatos com os indgenas,

    os portugueses comearam a explorar

    o pau-brasil da Mata Atlntica. O pau-

    brasil tinha grande valor no mercado

    europeu, j que sua seiva

    avermelhada era muito utilizada para

    tingir tecidos e para a fabricao de

    mveis e embarcaes. Como estas

    rvores no estavam concentradas

    em uma nica regio, mas espalhadas

    pela mata, passou-se a utilizar a mo

    de obra indgena para executar o

    corte. At esse momento, os ndios

    no eram escravizados, eram pagos

    na forma de escambo, ou seja,

    atravs da troca de produtos.

    Machados, apitos, chocalhos, espelhos

    e outros objetos utilitrios foram

    oferecidos aos nativos em troca de

    seu trabalho (cortar o pau-brasil e

    carreg-lo at s caravelas). Os

    portugueses continuaram a

    explorao da madeira, erguendo

    toscas feitorias no litoral, onde

    funcionavam armazns e postos de

    trocas com os indgenas.

    Motivaes para a colonizao -

    Nesse perodo, encontravam-se, alm

    dos portugueses, outros estrangeiros

    no territrio da Amrica portuguesa.

    Dentre estes, destacam-se os

    franceses, que eram os principais

    compradores do pau-brasil da costa

    brasileira. No final da dcada de 1520, Portugal via uma dupla

    necessidade de dar incio

    colonizao no Brasil. Pois, se por um

    lado, o Reino passava por srios

    problemas financeiros com a perda do

    monoplio do comrcio das

    especiarias asiticas, por outro, a

    crescente presena estrangeira,

    notadamente francesa, no litoral do

    Brasil, ameaava a posse portuguesa

    da sua parte nas terras do Novo

    Mundo. Outro fator relevante foi a

    descoberta de ouro e prata na

    Amrica espanhola. Em 1530, o

    governo portugus enviou ao Brasil a

    primeira expedio colonizadora, sob

    o comando de Martim Afonso de

    Sousa. Essa expedio visava o

  • 9

    povoamento e a defesa da nova terra,

    assim como, sua administrao e

    sistematizao da explorao

    econmica.

    A organizao da estrutura

    poltico-administrativa do Brasil colonial

    O sistema de Capitanias

    Hereditrias - Em 1532, tomou-se a

    deciso de dividir a colnia em 14

    Capitanias Hereditrias, doadas a

    nobres portugueses que teriam a

    obrigao de povoar, proteger e

    desenvolver economicamente seus

    territrios. Para estimular os

    donatrios a ocupar as novas terras, o

    rei lhes concedeu amplos poderes

    polticos, para governar suas terras.

    Dessa forma, os donatrios poderiam

    doar sesmarias, exercerem jurisdio

    civil na Capitania e obterem direitos

    comerciais. Em contrapartida, os

    donatrios deveriam arrecadar

    tributos para a Coroa. A nobreza e a

    burguesia portuguesa no se

    interessaram pelo empreendimento,

    pois no apresentavam atrativos

    visivelmente rentveis. Das Capitanias

    organizadas, poucas obtiveram xito.

    As que mais prosperaram foram as

    Capitanias de So Vicente e de

    Pernambuco. As outras fracassaram

    como empresa colonizadora, como foi

    o caso da Capitania de Ilhus, onde o

    donatrio Pereira Coutinho acabou

    sendo devorado pelos ndios

    antropfagos locais. Contudo, o

    sistema continuou a existir at finais

    do sculo XVIII.

    O Governo Geral - Com o risco

    sempre iminente da perda do

    territrio para os franceses e com a

    notcia da descoberta da mina de

    Potosi (na atual Bolvia) pelos

    espanhis, em 1545, (a maior mina

    de prata do mundo na poca), em

    1548, a Coroa portuguesa decidiu

    implantar um governo central na

    colnia. Esse sistema administrativo,

    introduzido em 1548, centralizava o

    poder poltico e administrativo da

    colnia nas mos de um

    representante do rei, o governador

    geral. Entre suas principais funes

    estavam: consolidar o poder poltico e

    religioso; incentivar o povoamento

    visando a defesa do territrio contra

    invases; auxiliar na administrao e

    proteger militarmente os donatrios,

    estabelecendo, assim, um maior

    controle social. A primeira sede do

    Governo Geral foi em Salvador.

    As Cmaras Municipais Eram rgos locais da administrao

    colonial portuguesa. Sua fundao

    data de 1549, na cidade de Salvador,

    por Tom de Souza. Suas funes

    eram bastante extensas e abarcavam

    diversos setores da vida econmica,

    social e poltica na colnia. As

    cmaras municipais prevaleceram em

    todo o perodo colonial, tornando-se a

    base da administrao. Seus

    membros eram constitudos pelos

    homens bons, grandes proprietrios

    de terras e escravos. Posteriormente,

    nas cidades que desenvolveram

    atividades mercantis, as cmaras

    municipais foram ocupadas por

    grandes comerciantes, como ocorreu

    em Olinda. As cmaras eram

    importantes centros de poder e de

    deciso na colnia e, algumas vezes,

    se confrontavam com a Coroa.

    Os cristo-novos O termo designa os judeus convertidos ao cristianismo

    catlico. A distino entre cristo-

    velho e crito-novo tornou-se

    corrente a partir de 1497, quando o

    rei portugus D. Manuel I ordenou a

    converso em massa dos judeus

    residentes em Portugal ao catolicismo.

    Muitos destes fugiram para o Brasil,

    com receio do Tribunal da Santa

    Inquisio instalado em Portugal,

    entre 1536 e 1540. Por essa poca

    consolidaram-se tambm as

    exigncias de pureza de sangue, em

    consequncia da considerao da

    impureza do sangue dos judeus,

    negros e mouros. Com base na

    pureza de sangue, a sociedade do

    Antigo Regime consolidava-se

    estabelecendo uma srie de

    obstculos ascenso social,

    exigindo-se, inclusive, o exame de

    origem dos candidatos aos cargos

    eclesisticos, polticos e

    administrativos. Apesar disso, a

    presena dos cristo-novos foi muito

    importante para a colonizao

    portuguesa na Amrica.

  • 10

    A questo indgena - A carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro

    documento em que relata os

    primeiros contatos dos portugueses

    com as populaes nativas do Brasil.

    Nesta carta, percebe-se o grande

    choque cultural provocado pelas

    enormes diferenas culturais entre os

    europeus e as populaes amerndias

    da Amrica portuguesa. Dessa forma,

    a nudez dos ndios foi relatada com

    perplexidade. Estima-se que, neste

    primeiro contato, os ndios no Brasil

    eram contados em cerca de 3 milhes

    ao todo, somando-se todas as

    diversas tribos. A partir do amplo

    contato com os colonizadores, o

    extermnio dos ndios gerou uma

    reduo quantitativa drstica, e, com

    o passar dos sculos, os avanos civilizatrios foram levando cada vez mais os ndios sua extino.

    Dezenas de milhares de ndios

    morreram em conseqncia do

    contato direto e/ou indireto com os

    europeus e pelas doenas por eles

    trazidas. A gripe, o sarampo, a

    coqueluche e outras doenas

    consideradas mais graves, como a

    tuberculose e a varola, vitimaram,

    muitas vezes, sociedades indgenas

    inteiras, pelo fato dessas populaes

    no possurem imunidade natural

    contra esses males. Alm da violncia

    contra os indgenas, que foram

    escravizados em muitas regies da

    colnia, durante o processo de

    colonizao, suas terras foram

    tomadas, seus meios de sobrevivncia

    destrudos e suas prticas religiosas

    proibidas. Durante o sculo XIX, com

    os avanos em epidemiologia,

    verificaram-se casos em que foram

    usadas epidemias de varola como

    arma biolgica contra os ndios. Esses

    casos se encontram amplamente

    documentados e sugerem que, com o

    objetivo de conseguir mais terras,

    homens brancos "presenteavam" os

    ndios com roupas infectadas pela

    doena, em seguida, aldeias inteiras

    eram dizimadas. Existem relatos de

    casos semelhantes por toda Amrica

    do Sul.

    Menino ndio de Mato Grosso (Brasil). Data:

    1896, Autor: Marc Ferrez.

    Um dos principais grupos indgenas do

    Brasil foi o dos tupinambs, e tambm

    um dos grandes inimigos da

    colonizao portuguesa. Espalhados

    pela costa brasileira, eram

    encontrados, sobretudo, na Bahia e

    no Rio de Janeiro. Povo de

    comportamento belicoso, a guerra

    desempenhava um papel de destaque na sua cultura como fator de conservao e aumento dos recursos

    naturais sujeitos ao domnio tribal.

    Aps o incio da colonizao efetiva do

    Brasil pelos portugueses (1530),

    foram empreendidas muitas guerras

    entre portugueses e tupinambs, em

    consequncia disso, estes ltimos

    foram expulsos de suas terras ou

    aniquilados. A Coroa portuguesa, logo

    no incio da colonizao, proibiu a

    escravido dos ndios, mas essa logo

    se tornou letra morta. Apesar das leis contra a escravido indgena,

    abria-se a exceo nas situaes

    consideradas como Guerra Justa,

    que consistia, segundo os

    portugueses, nas situaes em que

    homens brancos eram atacados pelos

    nativos. Alm disso, a escravido

    indgena era justificada pela f e

    camuflada sob o compromisso da

    evangelizao. Segundo a ideologia

    oficial da colonizao, a catequizao

    dos ndios compreendia o seu

    principal objetivo. Nos primeiros anos

    da empresa colonizadora, os

    portugueses fizeram comrcio

    (escambo) com os ndios, no entanto,

    com a implementao das plantations,

    comearam a utilizar a mo de obra

    indgena de forma compulsria. O

  • 11

    trabalho indgena conseguido pela

    fora, foi largamente utilizado em

    toda a colnia at cerca de 1600.

    A integrao com os indgenas -

    Uma das maneiras de viabilizar a

    conquista europia seria estabelecer

    relaes estveis com as comunidades

    indgenas. Com esse objetivo, muitos

    portugueses se uniram a mulheres

    ndias e, assim, mudaram sua

    condio de invasor para parente,

    passando a serem aceitos e

    integrados quelas sociedades. Dessa

    forma, muitos homens brancos

    passaram a usufruir no s do

    trabalho, mas tambm da proteo

    dos nativos. Os bandeirantes paulistas

    so um exemplo de indivduos que

    puseram em prtica essa ao.

    A resistncia Indgena Os povos indgenas, ao contrrio do que

    preconizava parte da historiografia

    tradicional, no aceitaram

    pacificamente a dominao dos no-

    ndios e, durante todo o processo

    colonizador, empreenderam uma forte

    resistncia. Dentre esses movimentos

    de resistncia indgena antiescravista,

    destaca-se a Confederao dos

    Tamoios, um movimento que reuniu

    diversos povos indgenas contra a

    dominao portuguesa. Ocorrida por

    volta de 1554-1563, colocou em

    perigo o domnio metropolitano no Rio

    de Janeiro e em So Vicente. Os

    ndios do tronco Tupi, de vrias

    regies do sudeste da colnia (Rio de

    Janeiro, Angra e Ubatuba) e os no

    Tupis, como os goitacs e os aimors,

    habitantes do interior, junto da Serra

    do Mar, aliaram-se para combater a

    escravido indgena. Os tamoios

    lutavam contra a escravido e pela

    posse de suas terras e, com esse

    intuito, se uniram aos Franceses.

    Aps a interferncia dos padres

    Manoel de Nbrega e Jos de

    Anchieta, foi estabelecida a paz

    atravs de um acordo, posteriormente

    desrespeitado pelos portugueses, que

    mataram cerca de 2.000 ndios e

    escravizaram aproximadamente

    outros 4.000. Os que conseguiram

    escapar acabaram por se refugiar no

    interior do territrio. Os Tamoios

    foram vencidos, em 1563,

    A Confederao dos Cariris -

    Iniciada em 1554, foi outro exemplo

    desses movimentos de resistncia

    indgena, e consistiu numa srie de

    confrontos ocorridos no Nordeste, nos

    quais se envolveram ndios Cariris,

    Caripus, Ics, Janduis e os

    bandeirantes. Os conflitos se

    intensificaram em 1622, e, sobretudo,

    em 1654, quando os holandeses

    deixaram a regio. Reagindo a

    ocupao de suas terras, cerca de

    14.000 ndios das capitanias de

    Pernambuco, Paraba, Cear e Rio

    Grande do Norte se rebelaram, mas

    foram vencidos pelas bandeiras

    paulistas, comandadas por Domingos

    Jorge Velho, em 1698.

    A Frana Antrtica - Os Franceses que se fixaram na costa brasileira,

    conseguiram conquistar, com um

    tratamento amistoso, a simpatia e o

    auxlio dos ndios tanto para o corte

    de pau-brasil, como na luta contra os

    portugueses. Liderados por Nicolau

    Duran de Villegaignom, os franceses

    invadiram e conquistaram parte da

    atual cidade do Rio de Janeiro, em

    1555, nela pretendiam fundar uma

    colnia de explorao econmica e, ao

    mesmo tempo, fugir das guerras

    religiosas da Europa. Se instalaram

    nas Vilas de Sergipe, Paranapu

    (atual Ilha do Governador), Uruu-

    mirim (Flamengo) e em Laje,

    denominando essa rea de Frana

    Antrtica. O inimigo comum

    (portugueses) aproximou os franceses

    dos ndios, que se agruparam e

    formando a Confederao dos

    Tamoios. Os Portugueses reagiram,

    sob as ordens do Governador Geral

    Mem de S, procurando o apoio dos

    Jesutas, dos colonos e do pedido de

    reforos a Portugal. Em 1563, foi

    enviada ao Brasil uma expedio

    comandada por Estcio de S,

    paralelamente, Mem de S conseguiu

    o apoio do Arariboia, chefe dos ndios

    Temimins. Finalmente, nesse mesmo

    ano, os Jesutas Manoel de Nbrega e

    Jos de Anchieta negociaram com os

    Tamoios, conseguindo uma trgua

    para o conflito, que ficou conhecido

  • 12

    como o Armistcio de Iperoig (atual

    Ubatuba, So Paulo). Em 1. de

    maro de 1565, Estcio de S fundou

    a cidade de So Sebastio do Rio de

    Janeiro, que serviria inicialmente de

    base na luta contra os franceses e

    seus aliados indgenas. Mesmo aps a

    fundao da cidade, os franceses

    insistiram em permanecer na regio.

    Em 1567, no dia 18 de janeiro, Mem

    de S mandou reforos para enfrent-

    los. A batalha final aconteceu em 20

    de janeiro, dia de So Sebastio, no

    Outeiro da Glria. Os portugueses

    venceram, mas Estcio de S foi

    ferido no rosto e morreu um ms

    depois. Assim nasceu a cidade, com

    cerca de 600 habitantes: os

    fundadores, que vieram com Estcio e

    Mem de S; os Jesutas; os ndios

    catequizados; alguns franceses e

    umas poucas mulheres. Esses

    pioneiros ocuparam os 184 mil metros

    quadrados da colina, com limites nas

    atuais Ruas So Jos, Santa Luzia,

    Mxico e Largo da Misericrdia.

    O ndio na atualidade - Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil ndios,

    distribudos entre 225 sociedades

    indgenas, que perfazem cerca de

    0,25% da populao brasileira. Cabe

    esclarecer que este dado populacional

    considera to somente aqueles que

    vivem em aldeias, havendo

    estimativas de que, alm destes, haja

    entre 100 e 190 mil vivendo fora das

    terras indgenas, inclusive em reas

    urbanas. H tambm 63 referncias

    de ndios ainda no contactados, alm

    de existirem grupos que esto

    requerendo o reconhecimento de sua

    condio indgena junto ao rgo

    federal indigenista.

    Questes de Vestibulares

    1. Puc-Rio 2005. A aventura da

    colonizao empreendida pela Coroa

    de Portugal, nas terras da Amrica,

    entre os sculos XVI e XVIII,

    expressou-se na constituio de

    diversas regies coloniais. Sobre

    essas regies coloniais, esto corretas

    as seguintes afirmativas COM

    EXCEO DE:

    (A) No vale do Rio Amazonas, a partir

    do sculo XVII, ordens missionrias

    exploraram as "drogas do serto",

    utilizando o trabalho de indgenas

    locais.

    (B) No vale do Rio So Francisco, a

    partir do final do sculo XVI, ocorreu

    a expanso de fazendas de criao de

    gado, voltadas para o abastecimento

    dos engenhos de acar do litoral.

    (C) Na Capitania de So Vicente, em

    especial por iniciativa dos habitantes

    da vila de So Paulo, organizaram-se

    expedies bandeirantes que, no

    decorrer do sculo XVII, abasteceram

    propriedades locais com a mo de

    obra escrava dos ndios apresados.

    (D) Nas Minas, durante o sculo

    XVIII, a extrao do ouro e de

    diamantes, empreendida por

    aventureiros e homens livres e

    pobres, propiciou o surgimento de

    cidades, onde o enriquecimento fcil

    estimulava a mobilidade social.

    (E) No litoral de Pernambuco, durante

    a segunda metade do sculo XVI, a

    lavoura de cana e a produo de

    acar expandiram-se rapidamente, o

    que foi acompanhado pela gradual

    substituio do uso da mo-de-obra

    escrava do nativo americano pelo

    negro africano.

    2. UERJ 2008.

    Capa de caderno escolar, 2000. In: GOMES,

    ngela et al. A Repblica no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

  • 13

    O ato de comemorar uma forma de

    reiterar lembranas e evitar

    esquecimentos. As comemoraes dos

    500 anos de histria do Brasil no

    fugiram a essa inteno. Em produtos

    variados, como a capa do caderno

    acima reproduzida, procurou-se

    enaltecer o que era caracterstico e

    particular da nao. Um dos valores

    da identidade nacional brasileira

    representado na imagem est

    diretamente associado :

    (A) riqueza mineral

    (B) unidade religiosa

    (C) extenso do territrio

    (D) miscigenao do povo

    3. UFRJ 2008. Em meados do sculo XVI, mais da metade das receitas

    ultramarinas da monarquia

    portuguesa vinham do Estado da

    ndia. Cem anos depois, esse cenrio

    mudava por completo. Em 1656,

    numa consulta ao Conselho da

    Fazenda da Coroa, lia-se a seguinte

    passagem: A ndia estava reduzida a seis praas sem proveito religioso ou

    econmico. (...) O Brasil era a

    principal substncia da coroa e

    Angola, os nervos das fbricas

    brasileiras. (Adaptado de HESPANHA, Antnio M. (coord). Histria de Portugal O Antigo Regime. Lisboa: Editora Estampa, s/d.)

    a) Identifique duas mudanas nas

    bases econmicas do imprio luso

    ocorridas aps as transformaes

    assinaladas no documento.

    4. UFRJ 2008. As Cmaras

    Municipais da Amrica portuguesa do

    sculo XVII tinham a responsabilidade

    de, juntamente com os Oficiais da

    monarquia, zelar pelo bem comum da

    populao. Para o exerccio de tais

    funes, a Cmara possua certas

    atribuies econmicas, polticas e

    jurdicas. Indique duas prerrogativas

    das Cmaras Municipais coloniais.

  • 14

    Captulo 3. A implantao do colonialismo na Amrica

    Portuguesa

    Apresentao - Somente a partir de

    1550, pode-se considerar que a

    estrutura colonial se imps de fato na

    Amrica portuguesa. Diferente da

    europeia, a sociedade colonial

    apresentou um novo modelo

    organizativo baseado no trabalho

    escravo (indgena e africano) e na

    produo fundamentalmente voltada

    para o mercado externo. Era a

    sociedade colonial, patriarcal,

    escravista e monocultora.

    A estrutura colonial

    O Pacto colonial - Foi um conjunto

    de normas que regulamentaram as

    relaes polticas e econmicas entre

    as metrpoles e suas respectivas

    colnias, na chamada Era

    Mercantilista. O pacto colonial atendia

    primordialmente s necessidades

    metropolitanas, atravs do

    monoplio (ou exclusivo)

    comercial, que garantia metrpole

    o comrcio exclusivo com sua rea

    colonial, excluindo desse comrcio

    qualquer outra nao. De acordo com

    esta prtica, eram os portugueses que

    determinavam os preos de venda dos

    produtos agrcolas da colnia, como

    tambm aqueles dos produtos

    manufaturados trazidos da metrpole

    para o Brasil. Outra restrio aos

    coloniais residia na proibio de

    produzir quaisquer artigos

    manufaturados que pudessem fazer

    concorrncia queles trazidos da

    metrpole.

    A explorao da cana-de-acar -

    O principal objetivo da coroa e dos

    comerciantes portugueses era extrair

    das colnias produtos de alto valor no

    mercado europeu, de preferncia

    metais, de acordo com os princpios

    mercantilistas. Nesse perodo,

    tambm o acar extrado da cana

    possua um alto valor nesse mercado

    e, como esse cultivo se adaptou muito

    bem ao clima e ao solo brasileiros (em

    especial ao nordestino, cuja terra de

    massap era ideal para a cultura da

    cana, onde passou a ser cultivada) foi

    o responsvel por tornar o litoral

    nordestino na regio colonizadora

    central dos sculos XVI e XVII. Nesse

    panorama, passou a ser chamado de

    engenho o conjunto formado pela

    grande propriedade rural aucareira,

    constitudo pela casa grande, por

    outras casas que compunham a

    propriedade, pelas senzalas e

    plantaes. O engenho de aucar

    constituiu a pea principal do sistema

    mercantilista portugus do perodo,

    sendo organizado na forma de

    latifndios, com tcnicas agrcolas

    complexas, mas apesar disso, com

    baixa produtividade. Esta unidade

    produtora de acar e de outros

    produtos para exportao era

    chamada de plantation. As platations

    foram um tipo de sistema agrcola

    baseado na grande propriedade,

    produtoras de um produto principal,

    com monocultura de exportao,

    regime de trabalho escravista e numa

    sociedade patriarcal.

    Navio negreiro ilustrando o livro Voyage

    pittoresque dans le Brsil, 1835, de Rugendas.

    A partir de meados do sculo XVI,

    para sustentar a produo de cana-

    de-acar, os portugueses

    comearam a importar africanos como

    mo de obra escrava. Esses africanos

    eram capturados entre as tribos das

    feitorias europias na frica (s

    vezes, com a conivncia de chefes

    locais de tribos rivais) e atravessados,

    via oceano Atlntico, em navios

    negreiros, em pssimas condies de

    higiene. Ao chegarem Amrica,

    eram comercializados como

    mercadoria e obrigados a trabalhar

    nas plantaes ou casas dos

    colonizadores. Dentro das fazendas,

    viviam aprisionados em galpes

    chamados de senzalas. Seus filhos

    tambm eram escravizados,

  • 15

    perpetuando, assim, a condio de

    escravos pelas geraes seguintes.

    A pecuria - a atividade criatria

    cumpriu um duplo papel no

    desenvolvimento colonial: primeiro, o

    de complementar a economia do

    acar; segundo, o de dar incio a

    penetrao, conquista e povoamento

    do interior do Brasil, principalmente

    do serto nordestino. Com o passar

    do tempo, a boiada ultrapassou os

    limites das reas agrcolas. Com

    produo destinada ao mercado

    interno, no sculo XVII a atividade

    criatria se tornou mais

    independente. Nesse momento, a

    atividade pecuarista foi fundamental

    como um fator de povoamento do

    interior. At meados do sculo XVIII,

    a pecuria ocupou diversas regies do

    interior do nordeste, tendo como

    centros de irradiao as capitanias da

    Bahia e de Pernambuco, sempre ao

    seguindo o curso dos rios, prximos

    aos quais se construam os currais,

    como ficaram famosos aqueles ao

    longo do Rio So Francisco. O nortista

    ia ocupando as terras marginais,

    garantindo seu avano com uma

    retaguarda reforada pelos currais e

    ranchos dos vaqueiros. J a expanso

    territorial baiana subiu o curso do Rio

    construindo bases em torno dos quais

    foram nascendo e se desenvolvendo

    os primeiros ncleos populacionais.

    Via de regra, os baianos e

    pernambucanos fizeram suas entradas

    guiados pelas boiadas, fixando currais

    pelo vale adentro; enquanto os

    bandeirantes do Norte avanaram

    lentamente, chegando a atingir, dessa

    forma, as regies mineiras. Ao mesmo tempo em que os baianos

    subiam o So Francisco, os paulistas o

    navegavam em sentido contrrio.

    O escravismo colonial At 1640, aproximadamente, o ndio constituiu a

    mo de obra bsica utilizada na

    colnia. Aos poucos, esses foram

    sendo substitudos devido,

    principalmente, disperso das

    populaes nativas do litoral; aos

    altos ndices de mortalidade indgena,

    a resistncia dos ndios ao trabalho

    compulsrio, e a aos lucros

    alcanados com o trfico negreiro. A

    partir do sculo XVII, a opo pelo

    escravo africano vai se difundir por

    toda a colnia, principalmente nas

    reas centrais, onde foram

    implantadas as principais estruturas

    coloniais. A continuidade do processo

    colonizador dependeu da reposio da

    mo de obra escrava, que foi

    assegurada pelo trfico negreiro, uma

    vez que, essa atividade era altamente

    rentvel tanto para os traficantes de

    escravos como para a Metrpole.

    Estima-se que foram trazidos cerca de

    3,6 milhes de africanos para

    trabalhar como escravos no Brasil, e

    aproximadamente 12 milhes como

    um todo para a Amrica. Os

    portugueses no capturavam os

    cativos na frica, mas compravam

    escravos de comerciantes africanos.

    As sociedades africanas possuam

    escravos antes mesmo da chegada

    dos europeus. Em virtude da grande

    demanda por escravos gerada pelo

    trfico atlntico, essas sociedades

    passam a multiplicar em vrias vezes

    o nmero de cativos, exportando

    escravos para todo o mundo. No

    Brasil, o escravo africano, chegou a

    constituir 50% da populao colonial

    em alguns perodos do sculo XVIII.

    A presena holandesa no comrcio

    Os Pases Baixos possuam relaes

    comercias com Portugal desde a Idade

    Mdia. Assim sendo, tornaram-se

    parceiros fundamentais para o

    sucesso da agromanufatura

    aucareira, participando do transporte

    da cana para a Europa e do refino do

    acar. Dessa forma, Holanda e

    Portugal tornaram-se scios no

    comrcio europeu do acar, havendo

    nessa sociedade certa desvantagem

    de Portugal.

    Os Jesutas - Desde a dcada de

    1550, a Companhia de Jesus estava

    presente no Brasil. Essa Ordem foi

    criada durante a Contra-Reforma

    catlica com o objetivo de promover a

    expanso da f catlica pelo mundo.

    Esses religiosos foram os mais

    presentes no Brasil at a sua

    expulso, em 1759, durante o

    governo do Marqus de Pombal. Na

  • 16

    colnia, possuam vrias propriedades

    e utilizaram largamente o trabalho

    compulsrio indgena. Estabeleceram

    as misses, nas quais catequizavam e

    usavam a fora de trabalho dos

    amerndios. Os Jesutas tambm

    desempenharam um importante papel

    na educao da colnia, eles

    educavam os filhos dos senhores de

    engenho, comerciantes e de outras

    famlias abastadas. Durante o perodo

    colonial, o direito educao, era

    restrito somente a esses grupos

    sociais.

    Questes de Vestibulares

    1. UFF 2003. Segundo o historiador

    Srgio Buarque de Holanda, vrios

    aspectos estabeleceram a diferena

    entre a colonizao portuguesa dos semeadores e a colonizao espanhola dos ladrilhadores. Identifique a opo que revela uma

    diferena observada no tocante

    construo das cidades no Novo

    Mundo.

    (A) As formas distintas de construo

    das cidades no Novo Mundo

    derivaram do modo como a Espanha

    concebeu a idia renascentista de

    homem, o que fez seus navegadores,

    ao contrrio dos portugueses,

    considerarem os indgenas

    americanos como seus pares.

    (B) As cidades portuguesas na Costa

    da Amrica tornaram-se feitorias por

    um acordo de no concorrncia

    firmado entre Espanha e Portugal,

    expresso no Tratado de Tordesilhas,

    pelo qual a Espanha ficou encarregada

    das reas de minerao.

    (C) As experincias comerciais na sia

    e na frica acentuaram o papel da

    circulao nas prticas mercantilistas

    de Portugal; por isso, as cidades

    portuguesas da Amrica eram

    feitorias, diferentemente das

    espanholas que combinavam comrcio

    e produo.

    (D) As cidades portuguesas na

    Amrica feitorias constituram-se centros comerciais por influncia

    direta do modelo de Veneza e

    Florena. As cidades espanholas, por

    outro lado, tiveram como modelo a

    experincia urbana manufatureira

    francesa.

    (E) As cidades portuguesas

    especializaram-se em organizar a

    entrada de produtos agrcolas no

    territrio colonizado, enquanto as

    espanholas atuaram como ncleos

    mercantis voltados para a criao de

    mercados consumidores de produtos

    manufaturados da metrpole.

    2. UFF 2004. (...) se a regio [colonial] possui uma localizao

    espacial, este espao j no se

    distingue tanto por suas

    caractersticas naturais, e sim por ser

    um espao socialmente construdo, da

    mesma forma que, se ela possui uma

    localizao temporal, este tempo no

    se distingue por sua localizao

    meramente cronolgica, e sim como

    um determinado tempo histrico, o

    tempo da relao colonial. Deste

    modo, a delimitao espcio-temporal

    de uma regio existe enquanto

    materializao de limites dados a

    partir das relaes que se

    estabelecem entre os agentes, isto ,

    a partir de relaes sociais. Ilmar Rohloff de Mattos. O Tempo

    Saquarema. So Paulo: Hucitec,

    Braslia: INL, 1987, p.24 A partir do

    texto, podemos entender que a

    empresa colonial produtora de uma

    regio e de um tempo coloniais,

    definidos pelas relaes sociais

    construdas por suas caractersticas

    internas e pela maneira como se

    relaciona com o que se situa fora

    dessa mesma regio colonial. A Afro-

    amrica, produto da ocupao do

    Novo Mundo, principalmente por

    portugueses, espanhis e ingleses,

    pode ser compreendida, nessa

    perspectiva, como um conjunto de:

    (A) economias subordinadas ao

    mercado mundial capitalista e lgica

    do capital industrial, garantindo a

    penetrao do capitalismo no

    continente americano, o que explica a

    rpida industrializao ocorrida no

    sculo XIX, como desdobramento da

    revoluo industrial;

    (B) sociedades que reproduziam as

    existentes nas metrpoles, podendo

    ser compreendidas a partir da

  • 17

    substituio do trabalho compulsrio

    das relaes feudais pelo trabalho livre; (C) economias surgidas na lgica do

    mercantilismo, no caso da Inglaterra,

    e do feudalismo, nas colnias ibricas,

    sendo o comrcio a principal

    preocupao dos britnicos, enquanto

    os governos de Portugal e Espanha

    privilegiavam a expanso do poder da

    Igreja;

    (D) sociedades com organizao

    socioeconmica diferente da existente

    nas metrpoles, tendo na explorao

    do trabalho escravo a base da

    produo da riqueza, que era, em

    grande parte, transferida para as

    metrpoles, segundo a lgica do

    capital comercial;

    (E) economias baseadas na

    monocultura de produtos de grande

    demanda na Europa, gerando uma

    sociedade polarizada entre Senhores e

    Escravos, no possibilitando a

    formao de um mercado interno e o

    surgimento de outras classes sociais.

    3. UFRJ 2009. A tabela a seguir

    mostra algumas das conseqncias

    econmicas e sociais da introduo do

    plantio da cana-de-acar em

    substituio ao de tabaco em

    Barbados (Caribe) no sculo XVII.

    Caracterst. scio-econmicas 1645 1680

    Cultivo exportvel dominante Tabaco Acar

    Nmero de fazendas 11.000 350

    Tamanho das fazenda 10 acres* +10acres*

    Nmero de escravos / 5.680 37.000 africanos e afro-descendentes

    * medida agrria adotada por alguns pases (Adaptado de KLEIN, Herbert S. A escravido africana (Amrica Latina e Caribe). So Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 64 e sgts)

    a) Relacionando as variveis

    presentes na tabela, explique como o

    exemplo de Barbados ilustra as

    transformaes fundirias e sociais

    prprias da maior insero das

    regies escravistas americanas no

    mercado internacional na poca

    colonial.

    b) Cite duas capitanias aucareiras da

    Amrica Portuguesa que

    apresentavam caractersticas

    fundirias e sociais semelhantes s de

    Barbados em fins do sculo XVII.

    4. PUC 2009. Sobre as

    caractersticas da sociedade escravista

    colonial da Amrica portuguesa esto

    corretas as afirmaes abaixo,

    EXCEO de uma. Indique-a.

    (A) O incio do processo de

    colonizao na Amrica portuguesa foi

    marcado pela utilizao dos ndios denominados negros da terra - como mo-de-obra.

    (B) Na Amrica portuguesa, ocorreu o

    predomnio da utilizao da mo-de-

    obra escrava africana seja em reas

    ligadas agroexportao, como o

    nordeste aucareiro a partir do final

    do sculo XVI, seja na regio

    mineradora a partir do sculo XVIII.

    (C) A partir do sculo XVI, com a

    introduo da mo-de-obra escrava

    africana, a escravido indgena

    acabou por completo em todas as

    regies da Amrica portuguesa.

    (D) Em algumas regies da Amrica

    portuguesa, os senhores permitiram

    que alguns de seus escravos

    pudessem realizar uma lavoura de

    subsistncia dentro dos latifndios

    agroexportadores, o que os

    historiadores denominam de brecha camponesa. (E) Nas cidades coloniais da Amrica

    portuguesa, escravos e escravas

    trabalharam vendendo mercadorias

    como doces, legumes e frutas, sendo

    conhecidos como escravos de ganho.

    5. UERJ 2009. O trabalho na colnia

    1. 1500-1532: perodo chamado pr-

    colonial, caracterizado por uma

    economia extrativa baseada no

    escambo com os ndios;

    2. 1532-1600: poca de predomnio

    da escravido indgena;

    3. 1600-1700: fase de instalao do

    escravismo colonial de plantation em

    sua forma clssica; 4. 1700-1822: anos de diversificao

    das atividades em funo da

    minerao, do surgimento de uma

    rede urbana, mais tarde de uma

    importncia maior da manufatura embora sempre sob o signo da

    escravido predominante. Ciro Flamarion Santana CARDOSO In: LINHARES, Maria Yedda (org.). Histria geral do Brasil. 9 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

  • 18

    A partir das informaes do texto,

    verificam-se alteraes ocorridas no

    sistema colonial em relao mo-

    de-obra. Apresente duas justificativas

    para o incentivo do Estado portugus

    importao de mo-de-obra escrava

    para sua colnia na Amrica.

  • 19

    Captulo 4. O Brasil e as relaes internacionais

    Apresentao - Se a primeira

    metade do sculo XVI foi de grande

    prosperidade para Portugal, o mesmo

    no se pode dizer para a primeira

    metade do sculo XVII. Entre 1580 e

    1640, Portugal foi anexado pela

    Espanha, o que acarretou, na colnia,

    na tomada do Nordeste brasileiro

    pelos holandeses. Em 1640, aps

    reconquistar a sua independncia da

    Espanha, Portugal teve ainda que

    travar outra batalha: expulsar os

    holandeses do Brasil. Com a sada dos

    batavos e a retomada do rgido

    controle colonial pelos portugueses,

    veio a reao dos colonos e a ecloso

    de uma srie de revoltas.

    Unio Ibrica e invaso holandesa

    A Unio Ibrica Foi o perodo em que Portugal permaneceu anexado

    Espanha entre 1580-1640. Com a

    morte do rei D. Sebastio (1557-

    1578), Portugal mergulhou num

    colapso poltico, visto que o monarca,

    epoca de sua morte, ainda era

    solteiro e tambm no possuia

    herdeiros. Na poca, muitos foram os

    relatos sobre as cirscuntncias da

    morte do rei. Para alguns, esse

    morrera ao lado de outros

    combatentes portugueses, outros

    mencionavam que o rei teria

    desaparecido em meio a batalha de

    Alccer-Quibir no Norte da frica,

    onde lutavam contra os mouros. Com

    a ausncia de D. Sebastio teve incio

    uma questo dinstica, que permitiu

    que o reino portugus caisse nas

    mos da Espanha de Felipe II. O

    mistrio envolvendo o

    desaparecimento do rei, gerou o

    sebastianismo, espcie de crena

    messinica no seu retorno a Portugal.

    Com a anexao Espanha, Portugal

    herdou tambm os inimigos dos

    espanhis, como os holandeses, que

    passaram a promover incurses em

    suas colnias. No Oriente, na frica e

    no Brasil os flamengos se instalaram

    em Pernambuco e ocuparam boa

    parte do Nordeste.

    A tomada do Nordeste 1630-1654

    - Em 1630, com 70 navios, os

    holandeses tomaram Pernambuco e

    depois todo o Nordeste, do Sergipe ao

    Maranho. Dominaram ainda portos

    escravistas na frica, dominando,

    portanto, a produo de quase todo o

    acar brasileiro e tambm o

    abastecimento de escravos para as

    plantagens. Era a Nova Holanda, a

    principal colnia holandesa na

    Amrica. Em linhas gerais, as

    invases holandesas do Brasil podem

    ser recortadas em dois grandes

    perodos:

    1624-1625 Invaso de Salvador,

    na Bahia.

    1630-1654 Invaso de Recife e

    Olinda, em Pernambuco.

    1630-1637 Fase de resistncia ao

    invasor.

    1637-1644 Administrao de

    Maurcio de Nassau

    1644-1654 Insurreio

    pernambucana

    O governo de Nassau 1637-1644 De todo o perodo holands destaca-

    se o governo de Maurcio de Nassau

    em Nova Holanda (atual Recife).

    Algumas medidas de destaque da sua

    administrao foram a aliana com a

    elite aucareira nordestina,

    fornecendo crdito aos fazendeiros e a

    concesso de liberdade religiosa na

    colnia, em lugar da obrigatoriedade

    de professar o credo catlico, imposto

    pelo governo portugus. Alm do

    interesse no domnio da produo

    aucareira, Nassau trouxe consigo

    uma equipe composta por pintores,

    arquitetos, escritores, naturistas,

    mdicos, astrlogos, e outros

    profissionais envolvidos nos projetos

    das misses artsticas e cientficas, as

    primeiras vindas ao Brasil. Durante

    seu governo, a cidade do Recife

    sofreu uma verdadeira reformulao

    urbana com a construo, dentre

    outras obras, de jardins, lagos

    artificiais e um palcio para sua

    acomodao.

    A sada dos holandeses - Mesmo

    com o fim da Unio Ibrica, os

    holandeses se recusaram a sair do

  • 20

    Nordeste. Portugal e Holanda

    entraram em guerra e a luta contra os

    holandeses no Nordeste brasileiro foi

    iniciada pelos prprios senhores de

    engenho da regio. A luta se

    arrastaria por cerca de dez anos. As

    batalhas mais importantes foram as

    de Guararapes (1648 e 1649) e a de

    Campina do Taborda (1654). Mas a

    expulso definitiva dos holandeses

    teve incio em junho de 1645, em

    Pernambuco, atravs da ecloso de

    uma insurreio popular liderada pelo

    paraibano Andr Vidal de Negreiros,

    pelo senhor de engenho Joo

    Fernandes Vieira, pelo ndio Felipe

    Camaro e pelo negro Henrique Dias.

    A chamada Insurreio

    Pernambucana chegou ao fim em

    1654, tendo libertado o Nordeste

    brasileiro do domnio holands.

    Porm, a expulso dos holandeses do

    territrio brasileiro teria um impacto

    negativo sobre a economia colonial.

    Durante o perodo em que estiveram

    no Nordeste, os holandeses tomaram

    conhecimento de todo o ciclo da

    produo do acar e conseguiram

    aprimorar os aspectos tcnicos e

    organizacionais do empreendimento.

    Quando foram expulsos do Brasil,

    instalaram-se nas Antilhas

    organizando nesse local uma prspera

    indstria aucareira.

    O acirramento do colonialismo A Restaurao portuguesa

    (independncia da Espanha) se deu

    em um pssimo momento financeiro:

    Portugal havia perdido algumas de

    suas colnias na frica e na sia;

    precisava combater a presena dos

    holandeses no Nordeste e ainda

    enfrentava uma forte queda no preo

    do acar no mercado internacional,

    devido ao surgimento de novas reas

    produtoras de cana na Amrica.

    Objetivando conseguir mais fundos e

    estabilizar as finanas, o rei D. Joo

    IV (1640-1656) decidiu criar a

    Companhia de Comrcio do Brasil

    (1647-1720) e a Cia de Comrcio do

    Maranho (1682-5). Estas deveriam,

    segundo os moldes ingleses e

    holandeses, monopolizar todo o

    comrcio com o Brasil. Em 1640 foi

    criado tambm o Conselho

    Ultramarino, rgo portugus

    responsvel pelas colnias.

    Implementando uma poltica de forte

    centralizao, foram criados tambm

    os cargos de juzes de fora, que

    seriam os presidentes das cmaras

    municipais, os juzes seriam todos

    nomeados pelo Rei.

    As Revoltas Coloniais

    A Revolta de Beckman (1684) Foi um movimento liderado pelos

    irmos de origem alem Manuel e

    Thomas Beckmam, no Estado Gro-

    Par e Maranho. Essa revolta revela

    a difcil relao entre colonos, jesutas

    e a Metrpole. A convivncia era

    conflituosa entre os senhores de

    engenho e os missionrios da

    Companhia de Jesus. Os primeiros

    queriam escravizar os ndios e os

    segundos eram contrrio

    escravizao indgena. O estopim do

    conflito foi a determinao real, em

    1680, que estabeleceu que todos os

    ndios do Maranho fossem declarados

    livres e com direito a uma poro de

    terra e criao da Companhia de

    Comrcio do Maranho, que passou

    a deter o monoplio do comrcio na

    capitania. Os revoltosos propunham o

    fim do monoplio e atacaram a

    Companhia de Comrcio e os Jesutas.

    Os Beckmam se rebelaram

    juntamente com boa parte do povo do

    maranho, destituindo a governana e

    assumindo o poder por cerca de um

    ano, aps esse perodo, a Revolta foi

    massacrada.

    O Quilombo dos Palmares (1630-

    1694) Dentre as diversas formas de resistncia escravido, a fuga foi

    a principal delas. No Brasil, durante o

    perodo colonial e o Imprio, houve

    centenas de quilombos. O mais

    emblemtico destes foi o quilombo de

    Palmares. Situado na Serra da

    Barriga, no atual limite entre os

    Estados de Alagoas e Pernambuco,

    ficou sendo o mais conhecido por sua

    longa durao, aproximadamente, 64

    anos; pelo nmero de seus habitantes

    (cerca de 18.000, embora haja

    autores que falem de 30.000

    pessoas), e por sua estrutura interna

    de organizao poltica e Militar. Os

  • 21

    escravos que fugiram para Palmares

    organizaram um verdadeiro Estado,

    nos moldes africanos, onde viviam

    sob o governo de um rei, o primeiro

    deles foi Ganga Zumba (governo

    entre 1670-1678), antecessor de seu

    sobrinho Zumbi. Palmares se tornou

    um reduto to bem organizado e

    poderoso que chegou a manter

    relaes diplomticas com as

    autoridades coloniais. Ganga Zumba,

    organizou tticas de guerrilha na

    defesa do territrio, nas quais eram

    armadas emboscadas para atrair o

    inimigo para lutar dentro das matas,

    ambiente que lhes era favorvel

    porque conheciam melhor. Em 1677,

    o governador de Pernambuco,

    ofereceu um tratado de paz com

    Palmares. O acordo reconhecia a

    liberdade dos nascidos no quilombo e

    daria a eles terras infrteis na regio.

    Grande parte dos quilombolas rejeitou

    o acordo. Ganga Zumba se

    comprometeu a no mais aceitar

    escravo fugido em Palmares e s

    concederia liberdade aos nascidos no

    quilombo, essa deciso culminou com

    a sua morte por envenenamento em

    1678. Em meados do sculo XVII,

    foram organizadas vrias expedies

    contra Palmares. Nesse contexto,

    Zumbi se tornou o lder da resistncia

    quilombola, substituindo a defensiva

    ttica de guerrilha por uma estratgia

    de ataques surpresa a engenhos,

    libertando escravos e se apoderando

    de armas. Com o tempo, foi

    crescendo at mesmo um tipo de

    comrcio entre quilombolas e colonos,

    de tal forma que estes ltimos

    chegavam a alugar terras para plantio

    e trocavam, com os negros, alimentos

    por munio. Diante de tal situao, a

    Coroa portuguesa precisava tomar

    medidas imediatas para reafirmar seu

    poder na regio. Foram organizados

    novos ataques e Palmares foi

    destrudo em 1694, aps 18

    expedies repressivas. A expedio

    vitoriosa foi comandada pelo

    bandeirante Domingos Jorge Velho,

    que comandou um exercito formado

    por brancos, ndios e mestios. Em 20

    de novembro de 1695, Zumbi foi

    assassinado em seu esconderijo e

    recebeu o castigo exemplar:

    decapitado, teve sua cabea exposta

    em praa pblica no Recife. Em

    homenagem a Zumbi, o dia 20 de

    novembro foi declarado no Brasil

    como o Dia Nacional da

    Conscincia Negra.

    A Guerra dos Mascates 1709-1711

    Foi o conflito ocorrido entre os proprietrios de terras e senhores de

    engenho de Olinda e a elite comercial

    de Recife, entre 1709 e 1711. Aps a

    expulso dos holandeses, em 1654,

    os senhores de engenho da regio,

    alm de perderem o mercado de

    acar para os antilhanos, tiveram

    que enfrentar os comerciantes

    portugueses (chamados de Mascates)

    que passaram a elevar taxas e a

    executar hipotecas. Dependentes

    economicamente desses

    comerciantes, junto a quem

    contraram dvidas e que foram

    agravadas pela queda internacional

    dos preos do acar, os latifundirios

    pernambucanos no aceitaram a

    emancipao poltico-administrativa

    da cidade do Recife, at ento

    subordinada a Olinda. A emancipao

    de Recife foi entendida como um

    agravante da situao dos

    latifundirios (devedores) diante da

    burguesia lusitana (credora), que por

    esse mecanismo passava a se colocar

    em patamar de igualdade poltica.

    Apesar da superioridade econmica

    dos chamados Mascates de Recife,

    estes no possuam autoridade

    poltica, pois a Cmara municipal

    ficava em Olinda. Os comerciantes de

    Recife no queriam mais se submeter

    a Olinda o que acarretou no conflito.

    Em 1710, a Coroa interferiu no

    confronto e logo aps receber a Carta Rgia que elevou o povoado

    condio de vila, os comerciantes

    inauguraram o Pelourinho e o prdio

    da Cmara Municipal, separando-se

    formalmente o Recife de Olinda.

    Questes de Vestibulares 1. UFRJ 2000. (...) Assim, antes de partir de Frana, Villegagnon

    prometeu a alguns honrados

    personagens que o acompanharam,

    fundar um puro servio de Deus no

  • 22

    lugar em que se estabelecesse. E

    depois de aliciar os marinheiros e

    artesos necessrios, partiu em maio

    de 1555, chegando ao Brasil em

    novembro, aps muitas tormentas e

    toda a espcie de dificuldades. A

    aportando, desembarcou e tratou

    imediatamente de alojar-se em um

    rochedo na embocadura de um brao

    de mar ou rio de gua salgada a que

    os indgenas chamavam Guanabara e

    que (como descreverei

    oportunamente) fica a 23 abaixo do

    equador, quase altura do Trpico de

    Capricrnio. Mas o mar da o

    expulsou. Constrangido a retirar-se

    avanou quase uma lgua em busca

    de terra e acabou por acomodar-se

    numa ilha antes deserta, onde, depois

    de desembarcar sua artilharia e

    demais bagagens, iniciou a construo

    de um forte, a fim de garantir-se

    tanto contra os selvagens como

    contra os portugueses que viajavam

    para o Brasil e a j possuem

    inmeras fortalezas. (IN: LRY, Jean. De Viagem Terra do Brasil. Rio de Janeiro, Bibliex, 1961, pp. 51).

    (...) Por esse tempo, agitava-se importante controvrsia entre os

    dirigentes da Companhia (Cia. Das

    ndias Ocidentais), a qual se travou

    principalmente entre as cmaras da

    Holanda e da Zelndia. Versava sobre

    se seria proveitoso Companhia

    franquear o Brasil ao comrcio

    privado, ou se devia competir a ela

    tudo o que se referisse ao comrcio e

    s necessidades dos habitantes

    daquela regio. Cada um dos dois

    partidos sustentava o seu parecer. Os

    propugnadores do monoplio

    escudavam-se com o exemplo da Cia.

    Oriental, usando o argumento de que

    se esperariam maiores lucros, se

    apenas a Cia. comerciasse, porque,

    com o trfico livre, dispersar-se-ia o

    ganho entre muitos, barateando as

    mercadorias pela concorrncia. (IN: BARLU, Gaspar. Histria dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. SP: Itatiaia, 1974, p.90)

    Ao longo dos sculos XVI, XVII e incio

    do XVIII, vrias potncias europias

    invadiram a Amrica Portuguesa.

    Houve breves invases e atos de

    pirataria ao longo do litoral no incio

    do sculo XVI. Posteriormente outras

    invases iriam adquirir caractersticas

    diferenciadas. As formas de invaso e

    ocupao, assim como estratgias e

    interesses econmicos seriam

    diversos.

    a) Aponte duas razes para a invaso

    e o estabelecimento colonial de

    franceses (a Frana Antrtica) no

    litoral do Rio de Janeiro entre 1555 e

    1567.

    b) Identifique o principal interesse da

    Cia. das ndias Ocidentais na invaso

    de Pernambuco, em 1634.

    2. UERJ 2008.

    Quilombo, o eldorado negro

    Existiu

    Um eldorado negro no Brasil

    Existiu

    Como o claro que o sol da liberdade

    produziu

    Refletiu

    A luz da divindade, o fogo santo de

    Olorum

    Reviveu

    A utopia um por todos e todos por um

    Quilombo

    Que todos fizeram com todos os

    santos zelando

    Quilombo

    Que todos regaram com todas as

    guas do pranto

    Quilombo

    Que todos tiveram de tombar amando

    e lutando

    Quilombo

    Que todos ns ainda hoje desejamos

    tanto

    Existiu

    Um eldorado negro no Brasil

    Existiu

    Viveu, lutou, tombou, morreu, de

    novo ressurgiu

    Ressurgiu

    Pavo de tantas cores, carnaval do

    sonho meu

    Renasceu

    Quilombo, agora, sim, voc e eu

    Quilombo

    Quilombo

    Quilombo

    Quilombo Gilberto Gil e Waly Salomo (1983).

  • 23

    A letra da msica acima faz referncia

    a uma das formas de resistncia

    escrava a criao de quilombos verificada tanto no Brasil colonial

    quanto aps a independncia.

    Explique por que os quilombos

    representaram um avano na luta dos

    cativos contra seus senhores, ao

    longo do sculo XIX, e indique duas

    outras formas de resistncia escrava.

  • 24

    Captulo 5. A economia mineradora

    Apresentao - O sculo XVIII

    marcou na colnia o desenvolvimento

    da economia mineradora. Os

    bandeirantes desempenharam papel

    de extrema importncia, rompendo as

    barreiras do serto na procura de

    ndios e de ouro. A princpio, o

    governo portugus no colocou

    empecilhos ao trnsito de pessoas

    para as Minas, ao contrrio, procurou

    facilitar o acesso s jazidas, j que,

    quanto maior o volume populacional

    diretamente ligado a extrao, mais

    quintos (imposto cobrado pela

    metrpole, que correspondia quinta

    parte das riquezas minerais extradas

    no Brasil, e sobretudo do ouro)

    entrariam para o errio real.

    Fonte: SCHMIDT, Mrio, Nova Histria Crtica do Brasil, Editora Nova Gerao.

    A notcia da descoberta dos veios

    aurferos causou um grande fluxo

    migratrio para a Capitania das Minas

    e trouxe um grande dinamismo

    econmico colnia. Logo, a Amrica

    portuguesa se tornaria a mais

    importante colnia portuguesa. Nas

    primeiras dcadas do sculo XVIII, o

    desenvolvimento da economia

    mineradora foi estabelecido graas s

    prospeces (em sua maioria

    executadas por bandeirantes) que

    permitiram a descoberta de vrias

    regies ricas em metais preciosos. O

    acmulo de ouro e prata servia como

    uma rpida alternativa para a

    resoluo dos problemas econmicos

    de Portugal.

    A economia mineradora

    O bandeirismo As Entradas e Bandeiras foram expedies

    organizadas para explorar o interior

    do Brasil. Foram quatro os principais

    fatores que contriburam com a

    interiorizao: a pecuria, a busca por

    drogas do serto, a procura por

    metais e o apresamento de ndios. Em

    So Paulo, seus habitantes se

    voltaram para o interior e adotaram

    maneiras prprias para viver nas

    matas. Devido intensa mestiagem,

    muitos paulistas falavam o tupi-

    guarani to bem, ou melhor, que os

    portugueses, alm disso, influenciados

    pelos costumes indgenas, andavam

    com destreza pelas matas. Em

    consequncia disso, tinham fama de

    desbravadores de fronteiras e de

    predadores de ndios. Diante das

    necessidades do governo colonial, a

    habilidade e a experincia dos

    paulistas foram mobilizadas, um

    exemplo disso foi a ao de Domingos

    Jorge Velho, bandeirante, que

    auxiliando o governo institudo,

    destruiu Palmares. Em 1695 deu-se a

    descoberta de ouro, a partir de ento,

    desde a grande bandeira de Ferno

    Dias Paes, organizada em 1674, at

    as primeiras dcadas do sculo XVIII,

    os paulistas definiriam os contornos

    das Minas Gerais.

    A descoberta Diamante - No ano de

    1721, o minerador Bernardo Fonseca

    Lobo noticiou a descoberta das

    primeiras pedras na regio do Serro

    Frio, no arraial do Tijuco, em Minas

    Gerais. Inicialmente, a descoberta foi

    mantida em sigilo pelo explorador e

    outras autoridades locais que

    realizavam a extrao ilegal,

    justificando terem dificuldades para

    identificar o valor comercial das

    pedras. Somente em 1730, o

    governador das Gerais, D. Loureno

    de Almeida, enviou algumas pedras

    para serem analisadas em Portugal.

    Imediatamente foi aprovado o

    primeiro regimento para os

    diamantes, estabelecendo a forma de

    cobrana dos impostos (quinto). O

    principal centro de extrao de

    diamantes foi o Arraial do Tijuco

    (atual cidade de Diamantina em Minas

  • 25

    Gerais) que logo foi elevado

    categoria de Distrito Diamantino, com

    fronteiras delimitadas e um

    intendente independente do

    governador da capitania, subordinado

    somente coroa portuguesa. A partir

    de 1734, visando um maior controle

    sobre a regio diamantina, foi

    estabelecido um sistema de

    exclusividade na explorao de

    diamantes para um nico contratador.

    O primeiro deles, em 1740, foi o

    milionrio Joo Fernandes de Oliveira,

    que se apaixonou pela escrava Chica

    da Silva. Devido ao intenso

    contrabando e a sonegao de

    impostos, assim como ao elevado

    valor dos diamantes, no final de 1771,

    sob influncia do Marqus de Pombal,

    o chamado Distrito Diamantino

    passou a ser controlado diretamente

    pela Coroa Portuguesa.

    A Guerra dos Emboabas 1707-

    1709 Foi o conflito entre paulistas e portugueses na regio central das

    Minas ocorrido entre 1707 e 1709. A

    descoberta de ouro, em fins do sculo

    XVII, atraiu milhares de homens e

    mulheres sados tanto de Portugal

    quanto de vrias regies da Amrica

    Portuguesa, com o objetivo de

    explorar o ouro e, principalmente, o

    lucrativo abastecimento da regio.

    Logo os paulistas e os recm-

    chegados passaram a se hostilizar,

    disputando a posse da regio, uma

    srie de pequenos incidentes foi o

    pretexto para o conflito armado entre

    paulistas e os emboabas

    portugueses1. Com o fim da Guerra

    dos Emboabas, a Coroa deu incio

    montagem do aparelho administrativo

    nas Minas, a fim de controlar a

    arrecadao dos quintos e para o

    controle poltico da Capitania.

    Os caminhos - Os caminhos que

    levavam regio mineradora partiam

    de So Paulo (cerca de 60 dias); do

    Rio de Janeiro e da Bahia (por volta

    1 O termo Emboaba de origem do Tupi, os

    ndios o empregavam para se referir as aves que tem penas at os ps, como os portugueses usavam polainas que lhes cobriam os ps, eram chamados de emboabas de forma

    pejorativa pelos paulistas. (Adriana Romeiro & ngela V. Botelho. Dicionrio Histrico da Minas Gerais. Ed. Autntica, 2003.)

    de 43 dias). Os acessos baianos

    ofereciam maiores facilidades e

    muitas vantagens com relao aos

    caminhos de So Paulo e do Rio de

    Janeiro, pois eram mais largos,

    possuam gua em abundncia, farinha, carnes de toda espcie,

    laticnios, pastos para as

    cavalgaduras, e casas para se

    recolherem sem risco de Tapuias2. Alm dos caminhos terrestres, a Bahia

    possua uma excelente via fluvial, o

    Rio So Francisco e seus afluentes.

    Devido ao intenso contrabando

    realizado por este caminho e as

    dificuldades no controle de tal rota, a

    Coroa proibiu o seu uso. J os

    caminhos do Rio de Janeiro para as

    Minas, em 1701, constituam apenas

    uma trilha de difcil acesso. Assim

    sendo, a Coroa Portuguesa cuidou de

    abrir um novo caminho que fizesse a

    ligao direta do Rio de Janeiro com

    as Minas. O caminho novo como ficou conhecido o trajeto, levava

    apenas de dez a doze dias. O

    encurtamento das distncias

    representou uma significativa

    economia de tempo para se chegar

    regio mineira, acarretando tambm

    numa melhoria no sistema de

    comunicao entre o Rio de Janeiro e

    as Gerais. Aps 1725, a abertura

    desse caminho extremamente mais

    curto fez com que se escoassem para

    o Rio de Janeiro os lucros e,

    conseqentemente, o contrabando do

    comrcio com as Minas.

    A nova invaso francesa no Rio de

    Janeiro - Entre 1710 e 1711 o Rio de Janeiro foi novamente invadido

    pelos corsrios Jean Franois Du Clerc

    e Duguay-Trouin. Em 1710, os

    franceses foram derrotados, mas

    retornando em 1711, sob o comando

    do corso francs Duguay-Trouin, 6000

    homens em 17 navios ocuparam e

    saquearam a cidade do Rio de

    Janeiro, onde permaneceram por dois

    meses, trazendo horror e pnico aos

    locais. Depois de pilhar a cidade e

    afugentar a populao para o interior,

    Duguay-Troin exigiu o pagamento de

    2 BNRJ, Autor annimo, Informaes sobre as Minas do

    Brasil. Anais da Biblioteca Nacional, vol. LVII, 1930, Rio

    de Janeiro p.180.

  • 26

    um resgate sob pena de destru-la. O

    governador de ento, Francisco de

    Castro, acabou pagando com seus

    prprios recursos parte do valor

    exigido, aconselhando o corso a levar

    todo ouro e riquezas que conseguisse

    amealhar, alegando que a populao

    levara consigo seus pertences de

    valor, tornando impossvel arrecadar o

    resgate exigido3. Em 1710, chegou a

    esquadra do francs Jean Franois

    Duclerc, mas foram repelidos pelos

    portugueses. Em 16 de agosto desse

    ano houve nova tentativa. A esquadra

    de Duclerc, depois de trocar tiros com

    a Fortaleza de Santa Cruz, desistiu de

    forar a entrada da barra e rumou

    para a Ilha Grande. Em 11 de

    setembro o capito Duclerc

    desembarcou com 1.050 homens em

    Guaratiba e tomou o caminho da

    cidade. Cruzou o que hoje so os

    bairros da Barra da Tijuca e

    Jacarepagu, atravessando

    montanhas e florestas. Aps invadir a

    cidade pelos lados do atual bairro de

    Santa Tereza, chegaram Praa do

    Carmo (atual Praa XV), em seguida,

    deu-se nova batalha e Duclerc, com

    seus 600 homens restantes,

    renderam-se encurralados no trapiche

    da cidade. Em maro de 1711, o

    capito Duclerc foi assassinado. A

    Frana, a pretexto de indignao com

    o ocorrido, enviou sob o comando do

    almirante Ren Duguay-Trouin, uma

    esquadra com 17 navios e 5.400

    homens, que chegaram ao Rio de

    Janeiro em setembro de 1711.

    Favorecida por forte nevoeiro, a

    esquadra penetrou na Baia da

    Guanabara sem ser vista e ocupou,

    com 500 homens, a Ilha das Cobras.

    Logo aps, desembarcaram cerca de

    3.800 homens na praia de So Diogo

    e ocuparam, sem resistncia, os

    morros de So Diogo, da Providncia,

    do Livramento e da Sade. Ainda em

    setembro, depois do bombardeio da

    cidade pelas foras de Duguay-Trouin,

    3 O Corsrio, ao contrrio do Pirata, do ponto de

    vista do direito internacional um combatente regular, a quem o governo dava uma carta de corso. Poderia ser mantido diretamente pelo governo ou por um particular. No h grande diferena dos piratas quanto aos mtodos, porm, o corso reservava de 1/3 a 1/5 do amealhado para o tesouro real.

    o governador Francisco de Castro

    Morais abandonou a cidade e fugiu

    para o interior. Em meio a trovoadas

    e chuvas, a populao tambm

    abandonou a cidade em pnico. A

    guarnio da Fortaleza de Santa Cruz

    se rendeu s foras francesas. Ocorre

    em seguida a assinatura da

    conveno para pagamento de grande

    soma em dinheiro pelo resgate da

    cidade. Em 11 de outubro, chegou

    cidade uma tropa de 6.000 homens

    chefiada por Antonio Albuquerque

    Coelho de Carvalho, governador da

    capitania de So Paulo e Minas, que

    nada pode fazer em funo do acordo

    assinado entre o governador Castro

    Morais e os invasores. Aps receber a

    ltima parcela do valor acordado,

    Duguay-Trouin abandonou a cidade.

    Em novembro, as tropas francesas

    partiram do Rio de Janeiro deixando

    para trs uma cidade totalmente

    devastada.

    Sobre as invases de 1710 e 1711, Brasil Gerson, em seu livro "Histria das Ruas do Rio", Editora Brasiliana, 1965, relata: "Rua

    da Quitanda - Porto de desembarque para Portugal do ouro que descia das

    montanhas mineiras, o Rio passou a despertar, no comeo do sculo XVIII, a cobia de muita gente vida de fcil enriquecimento. Esse foi o motivo que

    levou o Capito de Fragata Duclerc a atac-lo em setembro de 1710, com sua poderosa esquadra. Temeroso de forar as fortalezas costeiras contornou-as por Guaratiba, vindo dali a p. O ataque foi iniciado depois de um descanso no Engenho Velho dos Jesutas, e com inteiro

    xito, a princpio, para os invasores, s repelidos na Rua Direita (ou 1 de maro), em combates nos quais se destacaram os estudantes do Colgio da Sociedade de Jesus, do Morro do Castelo, os maiores

    dos quais eram organizados militarmente e, alm desses estudantes, os escravos e

    os homens brancos. Refugiados na Alfndega, acabaram por se render, e no dia 19 seu comandante Duclerc foi levado preso para o Forte de So Sebastio, tambm no Morro do Castelo, e por ltimo para a casa, na esquina da Rua da

    Quitanda e do Sabo, vista da Candelria - e nela sendo assassinado na noite de 18 de maro de 1711 por quatro encapuzados. Para ving-lo e ver se levava o que ele no levou, outra frota francesa apareceu no Rio a 12 de

  • 27

    setembro, ainda de 1711, dispondo de 750 peas de fogo, entrando a barra protegida por um grande nevoeiro, e sem que lhe pudesse oferecer maior resistncia. O saque foi espantoso. Tudo quanto havia de valioso ao alcance de

    suas mos eles transportaram para bordo: ouro da Casa dos Contos, acar e outras cargas dos trapiches, coisas belas das igrejas e das casas particulares. Arquivos foram remexidos e queimados. E para retirar-se, satisfeito e vingado, Duguay-

    Trouin, ainda exigiu que lhe dessem dinheiro, no valor de 616.000 cruzados - contados moeda por moeda. Com os homens que lhe restariam, Costa Atade se retirou para o Engenho Novo, e a

    encontraria com mais de 500 voluntrios, para a expulso do invasor. E a eles se

    juntando, por outro lado, o Governador Antnio de Albuquerque Coelho de Carvalho, com mais de mil paulistas e emboabas j apaziguado, numa marcha batida de 17 dias atravs do Caminho Novo, que Rodrigues Garcia Pais tinha aberto entre Minas e o Rio. E sabedor de

    que ele j se havia acampado em Iraj para recompor suas foras, o invasor saciado abandonaria seu plano de fixar a bandeira da Frana na terra carioca permanentemente, e zarparia, antes de ter de enfrent-los.

    O abastecimento - O abastecimento

    foi o nome dado a poltica da

    administrao colonial, preocupada

    com a subsistncia dos colonos e

    escravos dedicados minerao,

    assim como dos funcionrios

    administrativos dedicados ao seu

    controle. A Bahia foi um dos

    principais, seno o principal centro de

    abastecimento das Minas Gerais. A

    Coroa, buscando manter uma

    populao fixa e suprir as

    necessidades imediatas dos colonos,

    submetidos aos altos preos dos

    alimentos e s constantes carestias da

    regio mineira, passou a incentivar a

    produo ao longo dos caminhos e

    junto s minas. Essa produo,

    abastecia de suprimento os viajantes

    e ainda serviu de estmulo ao pequeno

    comrcio local, sobretudo, aquele

    efetuado pelos roceiros que traziam

    seus produtos para vender nas vilas e

    arraiais. O comrcio nas Minas Gerais

    ao longo do sculo XVIII foi uma das

    principais formas de descaminho do

    ouro. A minerao promoveu um

    dinamismo da economia colonial, com

    formao de um mercado interno,

    com certa especializao e integrao.

    A sociedade mineradora

    Ouro Preto, antiga Vila Rica

    A atividade mineradora foi

    responsvel por profundas mudanas

    na vida colonial. Em cem anos a

    populao cresceu de 300 mil para,

    aproximadamente, 3 milhes de

    pessoas, incluindo, um deslocamento

    de 800 mil portugueses para o Brasil.

    Paralelamente foi intensificado o

    comrcio interno de escravos,

    chegando do Nordeste para a regiao

    mineira cerca de 600 mil negros. Tais

    deslocamentos representam a

    transferncia do eixo social e

    econmico do litoral para o interior da

    colnia, o que acarretou na prpria

    mudana da capital de Salvador para

    o Rio de Janeiro, em 1763, pois essa

    era a cidade de mais fcil acesso

    regio mineradora. A vida urbana

    mais intensa viabilizou tambm,

    melhores oportunidades no mercado

    interno e a formao de uma

    sociedade mais flexvel, permitindo,

    por vezes, a mobilidade social.

    Embora mantivesse a base escravista,