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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NAS RELAÇÕES SOCIAIS
Um enfoque na Educação Infantil
Maria Alice Dutra Viestel
Orientadora: Maria Poppe
Niterói
2007
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NAS RELAÇÕES SOCIAIS
Um enfoque na Educação Infantil
Monografia apresentada ao Projeto A Vez
do Mestre – Universidade Candido Mendes
como parte dos requisitos para a obtenção
do Grau de Especialista em Arteterapia em
Educação e Saúde.
Por: Maria Alice Dutra Viestel
Niterói
2007
3
AGRADECIMENTOS
A todos os autores dos livros
pesquisados, que mesmo sem saber,
foram um grande contributo. A Fausto
Borem, professor da UFMG pela enorme
contribuição, à professora Maria Poppe,
professora orientadora, por sua
disponibilidade. À Mônica, minha mãe e
irmã, pela valiosíssima ajuda.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu esposo
Alexandre e minha filha Luisa que se
dispuseram a dividir o tempo que seria
para eles à realização deste trabalho.
5
RESUMO
Este trabalho apresenta a Música como ponto central de estudo. Percorrendo um caminho que inicia-se na pré-história, quando o homem
dispunha de elementos da natureza para auxiliá-lo na descoberta e construção
de meios sonoros para comunicar-se, a música na antiguidade, passando pelos
vários períodos até chegar a nossos dias. Em todo este percurso é importante
notar a presença da música como facilitadora do processo de vida em
comunidade. Em um outro momento, o trabalho volta-se para uma reflexão
sobre o que é a música - partindo do princípio que, não existe um conceito sobre
esta arte, e sim vários conceitos que absorvendo-se constituem um todo - e sua
influência na vida do homem. Apresenta também a importância da música na
socialização e formação infantil, reconhecendo sua aplicabilidade no
desenvolvimento geral da criança, em todos os aspectos: social, cognitivo,
afetivo e sensório-motor.
6
METODOLOGIA
Este estudo tem um enfoque teórico, elaborado através de levantamento
bibliográfico recolhido de livros, relatos científicos e revistas. A proposta do
mesmo é fazer a música mais conhecida e apresentá-la como facilitadora no
processo de socialização e aprendizagem de modo especial na idade infantil.
Como se trata de um assunto estudado por uma minoria, abrangendo
quase que apenas os profissionais da área, é importante que haja uma reflexão
paralela à conclusão deste trabalho para que o mesmo atinja seu objetivo que é
fazer reconhecer na linguagem musical um importante meio de expressão e
comunicação entre as pessoas e, no caso deste estudo, na infância.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 11
O SOPRO SONORO-RÍTMICO DO HOMEM 11
1.1 - A Música no decurso da história. 11 1.2 - A natureza como coadjuvante do homem na criação de instrumentos. 15 1.3 - O homem se comunica através do som e do ritmo – os primeiros indícios de sociabilidade através de elementos musicais. 16
CAPÍTULO II 19
A MÚSICA FAZ PARTE DO HOMEM 19
2.1 - O que vem a ser música? 19 2.2 - A influência da música na vida do homem. 23 2.3 - O ritmo de vida no séc. XXI e a música absorvendo novos elementos. 26
CAPÍTULO III 31
POR UMA SOCIEDADE MUSICAL 31
3.1 - A linguagem musical na formação e socialização infantil. 31 3.2 - A música enquanto meio para trabalhar memória, percepção, atenção e concentração infantil 35 3.3 - A importância da arte no desenvolvimento geral da criança. 38 3.3.1 - A Música 40
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
ÍNDICE 48
8
INTRODUÇÃO
“Tem sido fácil para o homem moderno, nascido e educado
numa sociedade impregnada da filosofia do materialismo e
do reducionismo, cair na armadilha e ter a música na conta
de um aspecto não-essencial e até periférico da vida
humana. E, no entanto, um ponto de vista dessa natureza
teria sido considerado pelos filósofos da antiguidade não só
irracional, mas também, fundamentalmente, suicida (Tame,
1984, p.13)
Este trabalho apresenta não só a importância da música, desde a pré-
história até nossos dias como fator de busca de comunicação entre os seres,
mas também, proporciona um questionamento crítico com relação à influência
da música, incidindo nas reações humanas, tendo em vista que o homem é um
ser essencialmente musical. E ainda procura demonstrar a viabilidade do
emprego das artes, e especificamente da música, enquanto linguagem corporal,
emocional e mental, apresentando-a como meio facilitador nas relações sociais,
no caso deste trabalho, mais especificamente na infância.
Sendo assim, este estudo apresenta-se de suma importância na área da
Arteterapia a partir do momento em que reforça a importância da utilização de
uma arte tão eficaz e importante como é a música, que, associada às outras
expressões artísticas, constituem-se ferramentas eficazes no auxílio da
formação integral do homem, ajudando-o a se descobrir enquanto ser criador e
renovador da sociedade, fazendo com que cresça a possibilidade de o indivíduo
aceitar suas fragilidades, limites, trazendo a possibilidade de crescimento, tendo
controle da própria vida, transformando o material artístico em instrumento
concreto para rever pontos de desencontros dentro de si e empregando
estratégias para descobrir o caminho da autoestima e integração do seu eu.
9
Ao expor sobre o tema Música, recai-se em três pólos: há aqueles que
são apaixonados por ela; os que a têm simplesmente como um instrumento para
os momentos de lazer e descontração e os que são indiferentes.
A monografia ora apresentada, não se prestará a fazer um paralelo sobre
estas opiniões, mas restringir-se-á ao primeiro aspecto: aos apaixonados pela
música.
Falar de música é percorrer um caminho longo que se inicia desde a pré-
história, passando por todos os períodos até chegar aos nossos dias,
conhecendo o seu desenvolvimento, que iniciou com a voz, alguns instrumentos
feitos de ossos, tronco de madeira e outros materiais que a natureza oferecia,
até o encontro fascinante de várias vozes, vários instrumentos numa orquestra
que, quando se faz soar, é capaz de nos fazer levitar o espírito;
Falar de música é reconhecer que ela está presente em nosso dia a dia, é
saber reverenciá-la como uma autoridade que é capaz de nos fazer sorrir e
chorar, sensibilizando-nos, sem nem mesmo existir concretamente;
Falar de música é repensar o emprego que fazemos dela na atual
sociedade, onde não impera mais o Ser Humano, mas o ter desumano, e tantas
vezes esta dádiva é empregada de forma a induzir para a destruição, a morte
dos sentidos;
Falar de música é ainda agradecer à magia sonoro-rítmica de todos os
seus elementos naturais, materiais, industrializados ou sucateados que ao
vibrarem são capazes de mexer com nossas mentes e corpos e influenciá-los;
Falar de música é cantar os cânticos dos anjos que não conhecem ocaso,
ultrapassam limites, voam a horizontes sem confins e fazem ecoar suas vozes
unindo-as ao eterno cantar cósmico, de um universo a ser construído e
modelado pelo Amor.
10
Música é tudo isto e, talvez, muito mais a partir do momento em que nos
deixamos envolver por ela.
11
CAPÍTULO I
O SOPRO SONORO-RÍTMICO DO HOMEM
Este capítulo nos convida a uma viagem na História da Música, desde o
homem pré-histórico, passando pela Antiguidade na era Antes e Depois de
Cristo, até nossos dias. Apresenta a beleza desta arte tão maravilhosa e
prazerosa. Em um segundo momento, contemplamos a Natureza, toda a sua
riqueza e como o homem soube usufruir desta fantástica “fábrica de sons e
ruídos” e dali tirar proveito reconhecendo-se a si mesmo como membro
integrante desta harmoniosa composição e descobrindo que através deste
grande artifício que a natureza lhe dava, poderia comunicar-se com os outros.
1.1 - A Música no decurso da história.
A música é a nossa mais antiga forma de expressão, mais antiga do que
a linguagem; começa com a necessidade de comunicação. Ela é parte intrínseca
do ser humano. Nosso coração pulsa num ritmo, nosso caminhar segue uma
cadência, emitimos sons musicais, enfim, somos seres musicais.
O homem faz música há muito tempo. Provas arqueológicas sugerem que
primitivos usavam ossos, tambores de pedra com peles esticadas, pedras
afiadas, tiras de madeira, metal e flautas muito antes da última era glacial,
devido a registros gráficos, supõe-se que tenham sido usados em cerimônias e
rituais sacros e profanos; usavam a audição para identificar cada rumor, o qual
continha uma mensagem, conheciam o ruído de cada uma das outras criaturas.
Estas mesmas provas, através de esqueletos humanos, mostram indícios de que
o uso da voz para produção da fala remonta a cerca de oitenta mil anos e
sugerem, ao mesmo tempo, que o canto tenha começado, talvez, meio milhão
de anos antes, considerando-se que para falar o homem usa mais elementos de
seu corpo do que para cantar.
12
A música sempre esteve presente na vida da humanidade. “Por volta de
3.000 a.C. a China desenvolvia teorias musicais complexas, no entanto não se
sabe de onde veio esse sistema musical.”(Menuhin, 1990, p.1). Segundo o ponto
de vista dos antigos chineses, as notas de toda música continham uma essência
de poder transcendente: “Um trecho de música era uma fórmula de energia.
Cada trecho distinto de música qualifica o sagrado poder do som de maneiras
diferentes” (Tame,1984, p.34) Sugere-se nesta cultura que cada composição
exercia influências específicas sobre o homem, a civilização e o mundo. Em
relatos históricos, conta-se que a música era a base de tudo neste país e para
passar revista ao seu reino e certificar-se de que tudo estava em ordem no
imenso território, o imperador chinês experimentava as alturas exatas das suas
notas musicais “Ouvia as canções populares locais e as árias cantadas na
própria corte, verificando se toda essa música estava em perfeita
correspondência com os cinco tons.” (Tame, 1984, p.36)
Também na India registram-se em vários escritos – os Vedas, as mais
antigas escrituras deste país, mais antigo do que o Antigo Testamento - a
importância do OM, onde “acredita-se ser este o Som Cósmico, quando se
imagina este som com o ouvido interior, afina-se a própria alma diretamente ao
universo, é a força natural básica inerente a todos os fenômenos da Natureza, e
da qual derivam todas as outras forças.” (Tame, 1984, p.185) Segundo os
hindus, através do poder vibratório OM, Deus criou e sustenta o universo inteiro.
Nós, ocidentais, temos dificuldades de perceber e reproduzir os microtons
presentes na música indiana.
No ocidente, com exceção da Grécia, a música não se tinha
desenvolvido quando entramos na Era Cristã. De acordo com pesquisas, Roma
copiou sua música dos territórios conquistados. Com a sua queda, houve um
declínio na música ocidental.
Caminhando até o Tibet, tem-se notícia de que os monges tibetanos,
cantam sons extremamente graves. Eles acreditam que quando emitem esses
sons, entram em sintonia com o som do universo.
13
No princípio da história, os homens tentavam compreender a ordem
mundial através da música, considerada um símbolo do céu e da terra e um
exemplo do princípio do equilíbrio e da harmonia. Em vários países,
equiparavam a música com moralidade. Confúcio, por volta do ano 500 a. C.
disse: “O caráter é a espinha dorsal da cultura humana. A música é o
florescimento do caráter” (Confúcio apud Tame, 1984, p.17). Na Grécia, milhares
de versos eram gravados na memória cada um cantando sua versão dos contos
de Ulisses, mantendo viva a memória de uma civilização; Pitágoras estabeleceu
a conexão entre a música e a matemática, seu trabalho deu uma base científica
à teoria musical. O papel principal da música na Grécia era formar o caráter e a
saúde. Foi no Templo de Apolo – líder das Musas – que a devoção à música
atingiu seu auge, em seu anfiteatro tiveram lugar as primeiras competições
musicais. Platão declarou que a música deveria ser mais importante do que a
ginástica, porque a alma deveria formar o corpo, e não vice-versa. É bom
lembrar que a palavra música vem do grego: musiki, que significa todas as artes
das nove Musas gregas.
Yehudi Menuhin, em seu livro “A Música do Homem” faz um elenco da
evolução dos vários instrumentos da antiguidade, instrumentos estes que ainda
são usados em nossos dias e representam a cultura de um povo, a validação de
seus rituais, a sua utilização como decoração de utensílios, a importância dos
mesmos nas comemorações dos povos e nações. Alguns destes instrumentos
são o Shofar, usado na cerimônia que comemora o Ano Novo judeu; o Narsing,
trompas usadas no Nepal para celebrar casamentos; o Lur, instrumentos
derivados do chifre de animais; A Harpa em arco, o Alaúde, o Oboé duplo e a
Lira, são instrumentos de que se têm notícias desde o Antigo Egito. (Menuhin,
1990, p.17-18)
Com o desenvolvimento da sociedade, também a música passou por
várias transformações desde o início até os nossos dias e estará sempre se
modificando de acordo com a época, cultura e sociedade.
O registro que se tem notícia sobre a música é de 600d.C. chamado de
Cantochão ou Canto Gregoriano, cântico melódico de textos sagrados, intenso
14
mas devoto e sereno, extraindo seu ritmo da acentuação natural da linguagem.
Nesta época os instrumentos eram pouco usados, serviam apenas para
acompanhar a voz. Na Idade Média surge então a arte popular com os
Trovadores que viajavam de corte para corte para levar a música ao povo.
Assim, o campo estava aberto para a música Renascentista, onde os
compositores tinham um interesse muito mais vivo pela música profana e
escreviam peças para instrumentos que, antes tinham a função de acompanhar
vozes.
Não há uma interrupção de um estilo para que outro apareça e sim uma
sobreposição de um estilo ao outro, e assim surge o período Barroco, com Bach,
Haendel e tantos outros que inovaram a música com a polifonia, característica
desta época.
No período Clássico, quando começou a despontar nos últimos anos do
período Barroco, por volta de 1750 a 1810, aparece a genialidade de Haydin,
Mozart, Beethoven e tantos outros que enriqueceram a Música de Concerto. O
termo Clássico, quer dizer: da mais alta classe, de extremo valor. Este termo,
muitas vezes, é empregado em dois sentidos, isto é, muitos chamam de música
clássica toda a Música de Concerto, em todos os períodos. No entanto Clássico
foi um período da música. Temos ainda o período Romântico, no séc. XIX e
tantos outros que constituem a música.
O Brasil teve seu grande apogeu na Música de Concerto no séc. XIX e
XX, com Pe. José Maurício, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Villa Lobos
e outros. Na música popular, temos uma grande riqueza nacional com João
Gilberto, Chico Buarque, Milton Nascimento e tantos outros que nos fazem sorrir
e chorar, nos alegrar e entristecer com suas composições de riquezas de
repertório e de linguagens musicais extremamente variadas.
A formação musical é de uma riqueza imensa, não sendo possível
aprofundar muito nestas breves páginas. Os que desejarem, fazê-lo, podem
recorrer à Bibliografia apresentada.
15
1.2 - A natureza como coadjuvante do homem na criação de
instrumentos
Do momento em que existe vibração, movimento, existe o som, e a
natureza é criadora em potencial desta “música” diária que temos ao nosso redor
e muitas vezes não captamos, pois, nossa audição não foi trabalhada para
percebermos tais manifestações. No entanto estar conscientes desta relação
homem x som x natureza, faz parte da nossa integração com o mundo em que
vivemos. Toda a natureza se manifesta em um canto universal, seja no vento, no
barulho do mar, as folhas balançando, a cachoeira, o canto dos pássaros, o som
emitido por cada animal ao redor ou nos animais que fazem ruídos para se
manifestarem e se atraírem para o acasalamento, para espantar o inimigo,
liderar rebanhos, etc. também no homem, este canto se faz presente através da
sua voz que é uma das ferramentas básicas da autopreservação. Cada ser
utiliza-se de um som para se fazer presente, é sua identidade. Do ritual da caça
surgia a música, o arco podia produzir uma vibração. Defende-se até que o arco
e flecha são ancestrais do violino. Ouvimos vozes e outros sons produzidos pelo
homem e ainda sons existentes provocados pelo trabalho humano ou pela
tecnologia desenvolvida por ele. Enfim, o nosso dia a dia está rodeado de sons.
Tudo o que soa, que vibra, é como se confirmasse a sua presença no mundo, a
relação com o homem. Neste contexto, pleno de sons e ruídos audíveis, é
importante ressaltar o contrário de toda esta gama de vibrações: o silêncio, não
como ausência de som, mas sim, como uma vibração que não podemos ouvir,
seja porque são muito lentas ou muito rápidas e nossos ouvidos não são
capazes de captá-las.
“Tudo vibra, em permanente movimento, mas nem toda
vibração transforma-se em som para os nossos ouvidos!
Com relação a este aspecto, é importante lembrar que
também a nossa escuta guia-se por limites impostos pela
cultura, ou seja, o território do ouvir tem relação direta com
16
os sons de nosso entorno, sejam eles musicais ou não”.
(Brito, 2003, p. 17).
Os antigos habitantes da terra só tinham a natureza como provedora de
suas necessidades e uma delas era justamente a comunicação. Utilizavam
assim aquilo que ela lhes concedia: ossos, troncos, pele de animais, etc. para
transformar tudo isso em matéria prima para ‘dialogarem” com seus supostos
vizinhos. A música ocidental é uma realização muito mais recente.
1.3 - O homem se comunica através do som e do ritmo - os
primeiros indícios de sociabilidade através de elementos
musicais.
É interessante imaginar a reação do homem pré-histórico quando
percebeu que poderia produzir sons com o percutir das mãos e dos pés, que
batendo em seu peito, o mesmo lhe “respondia” com um som grave e seco. Ele
poderia transformar-se em ritmo, naquilo que viria a ser música (ou poder-se-ia
dizer que já era música em potencial). Hoje, a música faz parte do dia a dia
das pessoas, no entanto, no princípio, ela era o início de um modo de se
comunicar. Os primeiros habitantes da terra, precisavam conhecer mais sobre o
lugar onde habitavam, quem estaria ali com eles e, como ainda não existia a
linguagem, eles precisavam “criar” uma forma de se fazer presente, de se
comunicar. E assim, começaram a produzir sons mais fortes, sem saber se
obteriam respostas daquela que seria uma “mensagem”. E assim se dava o
início da comunicação.
O ser humano é um ser musical, nele estão presentes elementos que
reportam à melodia, harmonia, som, ritmo, etc. elementos estes que fazem
música. Os seus membros lhe induzem a compor. A audição é fator primordial
para que o ser humano faça uma leitura das coisas deste mundo, pois, tanto os
sons como o silêncio nos trazem informações que significam alguma coisa para
nós e isto provoca sensações, emoções e reações. Sabemos que o universo
17
vibra em diferentes freqüências, amplitudes, durações, timbres e densidades,
que o ser humano percebe, identifica e atribui a todas estas manifestações
algum sentido, algum significado. A partir do momento que estamos todos numa
“aldeia global”, é importante estarmos em consonância uns com os outros,
perceber a “fala” dos sons que ouvimos e interpretá-la da melhor maneira
possível, para tirar proveito da música que fazemos, seja ela “formal” ou
“informal”, com regras ou simplesmente quando a fazemos juntos, para criar um
clima de amizade e descontração.
A musicalidade está presente em todas as pessoas, com mais ou menos
intensidade, seja no ato de escutar ou fazer música. Georg Simmel, em seu livro
Estúdios Psicológicos y etnológicos sobre Música, deixa clara a idéia de que “ser
é ser com os outros. A música surge naturalmente gerando sons, mas também
relações com outros. Através da música, exteriorizamos nossos sentimentos
internos, seja ouvindo, cantando ou compondo”(Simmel, 2003, p.8).
Yehudi Menuhin expõe muito bem o papel da música na sociedade
quando afirma que:
“...o papel do músico é manter nossa confiança no mundo e
a confiança do mundo em nós, e ajudar-nos a expressar
emoções autênticas. Quando a música assume esta
responsabilidade, ela traz à tona o melhor esforço humano
e é profundamente terapêutica, harmonizando o físico e o
espiritual, o intelectual e o emocional, juntando corpo e
alma.” (Menuhin, 1990, 19).
A música é invenção do homem, nenhum outro ser vivo faz música
conscientemente. Se é assim, cabe a ele a tarefa de fazer dela um instrumento
de vida, onde possamos experimentar uma unificação de sentimentos, prazeres,
encorajamentos e, porque não dizer, amizade frente à escuta, à dança, ao canto.
Não podemos imaginar quantas pessoas estão juntas escutando Bach,
Beethoven, ou mesmo uma canção popular, uma música folclórica e este
momento é ímpar para trazer ao mundo a idéia de unidade, de fraternidade, é
18
um momento mágico, onde as pessoas muitas vezes sem pensar nesta
dimensão, são uma coisa só, um mesmo sentimento, um mesmo coração.
19
CAPÍTULO II A MÚSICA PARA O HOMEM
Definir música hoje, é tarefa difícil e quase impossível, devido aos
inúmeros elementos que a compõem, às transformações que sofre de cultura
para cultura, de povo para povo, de geração para geração, de momento para
momento. Este capítulo procura refletir sobre seu significado, sua influência na
vida do homem e a música hoje , presente no dia a dia, a absorção de novos
elementos na sua constituição Ela é uma arte e como tal existirá enquanto o
homem existir para criá--la, transformá-la e fazê-la nascer como reflexo daquilo
que dentro de si não morre.
2.1 – O que vem a ser música? Se nos remetemos ao dicionário para sabermos a definição do que é a
música, ou mesmo recorremos a autores mais antigos e radiais, encontramos
definições que não absorvem toda a gama de fundamentos sobre o que é
realmente a música.
Partindo do princípio de que música é movimento e que toda vibração
produz som, podemos considerar que tudo o que existe é música: o pulsar
cadenciado dos corações, um grito, a emissão sonora.
Música é também a mudança de sentimento e pensamento, é a proposta
de novas maneiras de agir; Música é ainda, o barulho das ondas do mar, as
conversas corriqueiras, o sorriso, o choro.
Não se pode restringir o significado de música apenas àquilo que o hábito
convencionou chamar de música, mas, é tudo aquilo que o homem apossou num
determinado momento e transformou em movimento, vibração. Então, podemos
concluir que todos podemos ser músicos, a partir do momento que estamos
abertos a novas descobertas, à criatividade de transformarmos o que se nos
20
apresenta, quando somos capazes de dialogar com o que nos é apresentado,
vendo naquele momento um instante único de mudança e transformação, vendo
na música um instrumento, uma possibilidade para que isto ocorra.
A música transcende a toda organização, vai além da partitura, dos
compassos, da notação musical. Significa muito mais do que meras condutas
que se queira ter, ela vai além do concreto, para atingir o abstrato, os
sentimentos mais profundos, as emoções. Não se pode medir, nem calcular seu
efeito sobre os seres.
Baudelaire, poeta francês, em 1861, escrevia:
“Ouvi frequentemente dizer que a música não poderia
vangloriar-se de traduzir o que quer que fosse com
exatidão, como faz a palavra ou a pintura. Isso é verdade
em uma certa proporção, mas não é inteiramente verdade.
Ela traduz à sua maneira, e através dos meios que lhe são
próprios. Na música, como na pintura e como na palavra
escrita, que é entretanto a mais positiva das artes, há
sempre uma lacuna completada pela imaginação do
ouvinte.” (Baudelaire apud Moraes,1986, p. 09)
Várias são as opiniões sobre a música, desde a Idade Média, até nossos
dias. J. Jota de Moraes em seu livro “O que é música” traça um paralelo sobre
as idéias dos compositores: “Música é a ciência que pode fazer-nos rir, cantar e
dançar.” (Machaut apud Moraes, 1986, p. 43)
“Tão grande é a correspondência entre a música e a
nossa alma que muitos, procurando cuidadosamente a
essência desta, ajuizaram que ela está repleta de acordes
harmoniosos – pura harmonia na verdade. Toda a natureza, a
bem dizer, não é outra coisa senão uma perfeita música, que
o Criador faz ressoar nos ouvidos do entendimento do
21
homem, a fim de dar a ele prazer e atraí-lo docemente para
si.”(Sweelinck apud Moraes,1986,p. 44)
“Assim como as paixões, violentas ou não, jamais devem ser expressas
de forma a produzir asco, a música ainda que nas situações as mais terríveis,
nunca devem ofender o ouvido, mas agradar, continuar a ser música, enfim.”
(Mozart apud Moraes, 1986, p. 44)
“Quem uma vez compreendeu minha música, será livre da miséria em que
os outros se arrastam.” (Beethoven apud Moraes,1986, p.45)
“Nada é mais odioso que a música sem um significado escondido.” (Chopin
apud Moraes, 1986, p.46)
“Pretendem os aficcionados compreender de imediato um problema sobre
o qual os artistas pensaram durante dias meses ou anos?” (Schuman apud
Moraes, 1986, p.46)
“...Se eu quero a vida enquanto arte, corro o risco de cair
no estetismo, porque tenho o ar de pretender alguma coisa,
uma certa idéia da vida. Parece-me que a música – ao
menos tal como a encaro – não impõe nada. Ela pode ter
como efeito, mudar nossa maneira de ver, fazer-nos olhar
como sendo arte tudo o que nos cerca. Mas isso não é o
fim. Os sons não têm um fim! Eles são, simplesmente. Eles
vivem. A música é esta vida dos sons, esta participação
dos sons da vida, que pode tornar-se - mas não
voluntariamente - uma participação da vida nos sons. Nela
mesma a música não nos obriga a nada.”
(Cage apud Moraes, 1986, p.48)
Obter uma definição de música que se possa afirmar “música é isto” está
longe de ser algo exato e aceito. O fenômeno musical é extremamente complexo
22
de ser definido, muito variado ao ponto de rejeitar abordagens pequenas e que
queiram colocar-lhe numa forma, sem arestas e com margens delimitadas. A
música está em contínuo movimento, sofre transformações em seus mais
variados aspectos. É preciso que estejamos numa constante reciclagem, pois, a
cada instante surgem novos elementos, tanto em seus aspectos concretos,
como abstratos. Hoje, o conceito de música é tão vasto que conceituá-la como
‘algo agradável aos ouvidos’, é porque a estamos submetendo a um repertório
pessoal, para ser usado como critério geral de julgamento. Sua definição e
compreensão deve ir muito além de conceitos particulares, o que não impede
que cada um tenha seu gosto e preferência.
José Miguel Wisnik nos apresenta uma descrição maravilhosa
sobre a música, ele diz:
“...a música não refere nem nomeia coisas visíveis, como a
linguagem verbal faz, mas aponta com uma força toda sua
para o não-verbalizável; atravessa certas redes defensivas
que a consciência e a linguagem cristalizada opõem à sua
ação e toca em pontos de ligação efetivos do mental e do
corporal, do intelectual e do afetivo. Por isso mesmo é
capaz de provocar as mais apaixonadas adesões e as mais
violentas recusas.” (Wisnik, 1989, p. 27, 28)
Então, o que vem a ser Música? Sons que se organizam no vibrar de uma
corda ou no sopro de uma palheta? É o percutir de uma superfície sólida? Ou
acordes que se organizam em tensão e repouso seguindo a lei tonal? É o mundo
das dissonâncias? Música é ...?
É muito mais do que qualquer conceito que se queira dar, qualquer norma
que se queira seguir. A Música é senhora soberana, e ao mesmo tempo escrava
de todos aqueles que dela queiram tirar proveito, animar-se, acalentar-se ou
mesmo refugiar-se. Aparece como um oásis sempre presente, não apenas nos
desertos, mas em todos os lugares onde exista um ser humano capaz de sentir,
pensar, ouvir com os ouvidos do corpo, certamente, mas também com os
23
ouvidos da alma, aquele canto que paira no universo que só os afortunados, e
cada um de nós pode ser um deles, consegue escutar. “A música é uma
linguagem, posto que é um sistema de signos, na música se faz presente um
jogo dinâmico de relações que simbolizam, em microestruturas sonoras, a
macroestrutura do universo.” (Koellreutter apud Brito, 2003, p.26)
2.2 – A influência da música na vida do homem.
Os antigos, de uma maneira muito mais “séria” viam na música uma
“significação oculta que fazia dela uma das coisas mais importantes da vida, que
possuía tremenda energia em potencial para o bem ou para o mal”. (Tame,
1984, p. 17) A sua influência na era pré-cristã, era de suma importância, em
todos os campos da vida do povo: seja na economia, política, cultura, no lazer,
enfim em todos os âmbitos. Se a música era tocada de uma determinada
maneira, de acordo com os parâmetros exigidos pelos governantes, isto queria
dizer que tudo estava bem, caso contrário, logo se procurava discorrer para
descobrir onde se encontrava o ponto que causava aquela desarmonia que
gerava entre os membros da comunidade um mal estar, para recompô-lo,
através da música em um governo estável e harmonioso. Aristóteles, escreveu
que:
“... emoções de toda espécie são produzidas pela melodia
e pelo ritmo; através da música, por conseguinte, o homem
se acostuma a experimentar as emoções certas; tem a
música , portanto, o poder de formar o caráter como por
exemplo, operando na direção da melancolia, na da
efeminação, incentivando a renúncia, o domínio de si, o
entusiasmo, e assim por diante.” (Aristóteles apud Tame,
1984, pág.19)
Esta idéia de que a música exerce influência sobre o caráter do homem
persistiu na era Cristã, Idade Média, Renascença até o período Clássico e
Romântico. Muitas vezes as composições tinham o objetivo de servir e
24
espiritualizar a humanidade, viam na música um dos meios mais poderosos de
influir na consciência e na direção da raça humana.
A música percorre um caminho até que chegue a influenciar o nosso corpo,
mente e alma. Traçando um paralelo entre J. Jota de Moraes e Georg Simel
observa-se maneiras muito abrangentes e ricas de ver e perceber a influência
que a música exerce em nosso ser. Os autores comentam:
“São 03 maneiras dominantes de ouvir música: ouvir com o
corpo, ouvir emotivamente e ouvir intelectualmente. Ouvir com o
corpo, é empregar no ato de escuta, não apenas os ouvidos,
mas a pele toda, que também vibra ao contato com o dado
sonoro...é misturar o pulsar do som com as batidas do coração...
a música se plasma ao corpo. A segunda maneira de ouvir
música, sai-se da sensação bruta e entra-se no campo dos
sentimentos, da emotividade... Ouvir emotivamente, no fundo,
não deixa de ser ouvir mais a si mesmo do que propriamente a
música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce
algo já latente em nós mesmos. E ouvir música intelectualmente,
é dar-se conta de que ela tem, base, estrutura e forma... é,
talvez, a chamada emoção estética... Percebida por esse
prisma, a música é labirinto, enigma a ser decifrado a cada
instante.” (Moraes, 1986 p. 63, 65 e 68)
“Como a linguagem se associa com os pensamentos concretos,
a música se conecta com os ânimos mais fugazes: a música traz
ânimo à vida, porque os ânimos trarão a música à vida...na
música, no lugar da representação, se coloca em jogo, aos
poucos, sentimentos claros.” (Simmel, 2003, p.34)
Percebe-se nas duas descrições, os lados objetivos, concreto da música -
com toda a eficácia que ela tem, no nosso linguajar, na nossa escuta seja na
25
percepção dos timbres, altura sonora, como a intensidade e duração dos sons,
que produzem em nossos ouvidos uma sensação de conforto ou irritabilidade,
dependendo da maneira como estes elementos se manifestam - sem deixar de
lado uma preocupação em apresentar a música como agente de mudança. A
música, muito mais do que simples meio para deleite de nossos ouvidos, ou
dependendo do momento e da música que se nos apresentam, motivo de mexer
com o corpo, traz ao espírito, à alma, reações que são de suma importância para
a vida, naquilo que se tem de mais precioso que são os sentimentos. Até se
pode prescindir da música e muitos o fazem, e em alguns casos, a tomam como
mero veículo para mexer o corpo. Mas ela é muito mais do que simples
“balançador”, nos leva a refletir, mexe com nossas emoções mais profundas e
nos faz discorrer em pensamentos diversos, conduzindo-nos a mudanças. Não
poucas vezes, pode-se observar o quanto a música toca nossos sentimentos
mais profundamente do que as palavras e nos faz responder com todo o nosso
ser. Quando ouvimos verdadeiramente uma música, ela inicia seu processo
pelos canais auditivos, mas não termina aí, os sentimentos logo se manifestam,
seja de calma, irritabilidade, paz ou agitação, há sempre uma conseqüência
diante do ato de se deixar penetrar pela música, todo o corpo, mente e espírito
se rendem à atitude de escuta. Os ânimos se alteram e quando a música finda,
estamos ainda sob seus efeitos. Não se pode ver nela apenas um momento de
entretenimento, mesmo se muitas vezes a ouvimos com este objetivo, mas seu
papel vai muito além: ela traz vibração, energia.
Este é um campo novo, ainda há muito a ser explorado, descoberto, sobre
este fenômeno universal que preenche cada momento, mesmo quando
repousamos, pois, o coração continua a bater, continuamos a respirar, seus
elementos permanecem em nós, mesmo estando “em alfa”.
É importantíssimo fazermos uma escolha conscientes, sobre o tipo de
música que nos propomos ouvir, que nos deixamos envolver, pois, muito mais
do que meros ouvintes, nos colocamos como protagonistas de uma história
onde todas as influências são importantes para a formação de nosso ser.
26
2.3 – O Ritmo de vida no séc. XXI e a música absorvendo novos
elementos.
Revolução industrial, criação do rádio, televisão, “toca disco”, CD, MP3,
música computadorizada e tudo o que ainda virá... convivemos com
instrumentos de desenvolvida tecnologia que, no mínimo nos fazem estar
conectados com toda a sorte de informação e atualização tecnológica, trazendo
uma constante renovação na nossa percepção e escolha musical.
Hoje, conscientes ou não, o mundo sonoro, nos faz ter acesso a todos os
tipos de música, mesmo que haja em um segundo momento, uma seleção, uma
escolha:
“Hoje em dia os meios massivos permitem um aumento
considerável do consumo musical e a distinção de classe,
ainda que não inteiramente eliminada, começa a dar lugar
a um clima mais cosmopolita estimulando o convívio de
estilos musicais formalmente muito distintos entre si, mas
comensuráveis enquanto partes de um mesmo universo
midiático que homogeneíza o impacto sensorial da música.”
(Carvalho, 1999, p. 56-57)
Vivemos numa sociedade em que, com o aumento estrondoso da oferta
fonográfica, temos diante de nós, em um momento da vida um determinado
gênero musical, daí a pouco, outro estilo nos é apresentado e assim no dia a dia
temos contato com diversas culturas musicais, o que muitas vezes nos faz
acrescentar em nossos gostos, várias opções de escuta, mesmo que tenhamos
preferência por um determinado gênero, isso não nos impede de conhecermos e
gostarmos de um novo que surge. Com certeza isto é algo muito positivo,
“porque inspira criadores e ouvintes sensíveis a explorar dimensões e
linguagens sonoras há até pouco tempo praticamente desconhecidas.”
(Carvalho, 1999, p. 57)
27
Outro ponto importante no que diz respeito ao avanço fonográfico são as
tecnologias de gravação empregadas, que permitem a reprodução tímbrica de
instrumentos de orquestras e outros acústicos com muita semelhança e
originalidade. Isto faz com que os músicos sejam substituídos, muitas vezes,
pelas máquinas que hoje, são capazes até mesmo de expressar com mais ou
menos intensidade o volume sonoro, e algumas outras qualidades sonoras. Nos
nossos tempos é normal encontrarmos impressos a laser sons de Bach,
Beethoven, Guns’N Rose, Leandro e Leonardo. Apesar de, às vezes, estarem
próximos ao que seria o original, falta-lhes o coração que move os sentimentos
e transmitem aos ouvintes aquele “q” de emoção. No que diz respeito a esta
reprodução na Música de Concerto, esta “imitação” está longe de ser agradável
aos ouvidos mais apurados, no entanto, muitas vezes é usada pela sua
praticidade.
Numa sociedade onde o ritmo de vida se faz freneticamente, numa corrida
contra o tempo, o processo musical acompanha esta transformação e naquilo
que seria um momento para relaxar as tensões, muitas vezes, as pessoas,
buscam seus divertimentos na música, na dança, no rock pesado, funk, hip hop,
no mundo da amplificação elétrica. Sabemos, comprovadamente, que o efeito
físico da música no corpo humano, onde o som atinge um nível muito alto de
decibéis, é algo que modifica as funções orgânicas: altera a respiração, o ritmo
cardíaco, o deslocamento do equilíbrio labiríntico e outras conseqüências, sem
dizer das letras das músicas que tantas vezes incitam à violência, ao sexo
irresponsável, à agressividade, onde as pessoas, muitas vezes, parecem
entorpecidas, anestesiadas, não são senhoras de suas ações, quase sem
consciência de seu ser Homem, se deixam levar por uma atmosfera animalesca.
A existência acaba por ser uma roda viva, onde a agitação impera e em
conseqüência se vê pessoas estressadas que não conseguem se encontrar
consigo mesmas e muito menos com o outro.
28
No entanto, deve-se notar que em certos momentos, a ampliação sonora
atua como agente de unidade e cria na comunidade um ambiente de alegria e
diversão. São os casos em que se usa deste recurso em festas nos bairros,
feiras, em comunidades religiosas, onde seria imprescindível a utilização deste
recurso. O progresso se faz presente para agregar, uni-las, voltar sua atenção
para um único ponto e, com certeza, sem esta tecnologia, isto não seria
possível.
Vale discorrer um parágrafo sobre o modelo de gravação que toma conta
do mercado, onde as bandas, com vários músicos, não se encontram nos
estúdios, o que existe é uma individualização: cada um faz a sua parte,
gravando sua faixa separadamente, em canais independentes, se for necessário
no próprio estúdio se fazem os acertos, obtendo assim o resultado do produto,
numa colagem tridimensional. O produto final chega ao público em forma de CD,
com uma banda que na verdade não se encontrou em momento algum.
“O fato social total da performance parece ter sido
substituído pelo que poderíamos chamar de fator individual
total, na medida em que a interação não é mais de tipo
social, porém altamente mediada pela tecnologia... O
interessante é rebater essa realidade com as imagens de
integração que a atividade musical sempre carregou para o
interior da vida social” ( Carvalho, 1999,p. 64 – 65)
Em outro aspecto, pela facilidade que a tecnologia traz apresentando
aparelhos sofisticados, que “só faltam falar”, onde uma pequena inovação torna
o aparelho anterior obsoleto, encontramos performances de músicos que fazem
seu trabalho quase que “mecanicamente”, ligam seu teclado ou MD ou algo que
os possa acompanhar e cantam sem as inflexões de voz, sem as pausas
necessárias e expressões que fazem com que a música saia de si e penetre no
outro com uma carga de emoção, de vibração necessárias para tocar
verdadeiramente os sentimentos. É uma execução sem “interpretação, sem
29
presença, sem aura” (Carvalho, 1999, p.66). Discorrendo sobre o trajeto dos
megas shows, o que dizer quando a música torna-se apenas um dos recursos
para que o público vislumbre uma intensidade surpreendente de luzes, cores,
recursos visuais e até mesmo de performances atléticas dos músicos que muitas
vezes precisam mais de força física do que uma performance de emoções,
sentimentos, técnicas que farão de sua apresentação a reprodução de sua
vivência humana?
Muito se teria a falar sobre a tecnologia e a música, ou X a música. Sem
dúvida ela nos trouxe grandes desenvolvimentos, através dela conhecemos
quase imediatamente trabalhos maravilhosos que são produzidos em todo o
mundo. Poucos teriam a possibilidade de se deslocar até outros países para
ouvir a Prager Festival Orchester tocando a Sinfonia n. 9 de Beethoven, ou o
Coro e Orchestra del Teatro Alla Scala apresentando La Traviata, ou mesmo
nossos compositores e intérpretes como Milton Nascimento, Chico Buarque e
toda a riqueza de que é composta a nossa Música Popular. No Brasil, nas
cidades do interior do país, não se pode contar com programas onde se faça
chegar a cultura brasileira, representada por músicos, então, graças à tecnologia
tem-se acesso a todo o tipo de cultura, mesmo que não seja a mais fiel, pensada
e idealizada pelos músicos.
No entanto, esta mesma tecnologia, muitas vezes, estando imersa no
regime capitalista é capaz de tirar o lugar do músico e fazer com que ele seja
mero espectador de sua própria experiência. Muitas vezes é capaz de
entorpecer as consciências e devastar o senso crítico numa onda de
avassaladora massificação, fazendo perder a ritualidade e sacramentalidade da
música, visando como fim último o lucro. Conclui-se este capítulo com um escrito
muito pertinente de José Jorge de Carvalho . O autor comenta:
“Assim, a sensibilidade musical, mesmo havendo perdido
muito de sutileza e diversidade incomensurável, expandiu-
se enormemente, como nunca talvez em toda a história
conhecida e nos coloca grandes dilemas ao tentarmos
30
formular uma interpretação geral de como se sente e se
entende a atividade musical no presente século.”
(Carvalho, ano 5, n.11, 1999, p. 86)
31
CAPÍTULO III
POR UMA SOCIEDADE MUSICAL
Neste capítulo, discorre-se sobre a importância da música na socialização
da criança enquanto instrumento dinâmico e de fácil acesso ao cotidiano infantil.
A descoberta do som desde a mais tenra idade e sua importância no dia a dia.
São apresentados vários campos lúdicos onde a música se faz presente em
forma de jogos, brincadeiras, histórias, acalantos, parlendas, canções folclóricas,
que fazem parte da sua e de outras culturas como fonte de desenvolvimento
expressivo e musical.
Abordaremos a música enquanto recurso para trabalhar a percepção,
memória e atenção e finalizando apresenta-se a importância da arte no
desenvolvimento geral da criança. A dança, o teatro, o desenho e mais
especificamente a música como estimuladora e propiciadora no crescimento
infantil.
3.1 - A linguagem musical na formação e socialização da
criança.
Falar em linguagem hoje é descortinar um leque de métodos e recursos
didáticos que norteiam a pedagogia educacional, baseados em processos
psicopedagógicos capazes de enriquecer e facilitar o desenvolvimento infantil,
levando em conta as múltiplas inteligências, visando a valorização do educando,
naquilo que mais lhe agrada, mais lhe interessa. Não podemos, então, deixar de
lado uma linguagem com a qual a criança muito se identifica: a música.
Com meios e recursos que possibilitam a criação de inúmeras propostas,
valiosíssimas, em função de sua dinamicidade e prazerosas maneiras de
execução em todas as faixas etárias, mas principalmente na idade infantil, a
32
música nos traz a possibilidade de entrar no mundo da criança e estabelecer
com ela um relacionamento empático natural - que flui sem grandes esforços
pelo fato de ser extremamente musical - a criança encontra ali uma quase
continuação de seu ser.
Desde o útero materno, o bebê ouve sons provenientes deste primeiro
ambiente que o acolhe, já é sensível aos ritmos, aos sons, à música. Quando
nasce, gosta de ouvir seus chocalhos, o canto da mãe, o cair de um objeto no
chão, já fazendo as suas primeiras experiências sonoras. “Podemos dizer que o
processo de musicalização dos bebês e crianças começa espontaneamente, de
forma intuitiva, por meio do contato com toda a variedade de sons do cotidiano,
incluindo aí a presença da música.” (Brito, 2003, p.35) Muitas vezes chora
quando o som não lhe agrada, tapando seus ouvidos (este dado de desconforto
se observa em todas as pessoas quando o limite sonoro ultrapassa os
parâmetros suportáveis).
As cantigas de ninar, canções de roda, os jogos musicados são
fundamentais para o processo de socialização e formação. Através destes
artifícios, a criança interage com o meio desenvolvendo uma bagagem
considerável que lhe permitirá comunicar-se com outras crianças através do
som. Estes momentos são importantíssimos, proporcionam um constante
crescimento em relação a si mesma e com o outro; “momentos de troca e
comunicação sonoro-musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo,
bem como a criação de vínculos fortes tanto com os adultos quanto com a
música.” (Brito, 2003, p. 35)
A criança, se estimulada, é capaz de descobrir “música” em tudo o que
faz. É assim que se relaciona com o mundo. Cada descoberta é um novo
participar, uma nova interação e integração com o ambiente que a cerca. No
começo não se importa com o resultado sonoro, mas simplesmente em explorar
os sons e ritmos que o material lhe permite; em outra fase, já reproduz ritmos
sobre um pulso regular, conhece mais canções e já as canta com uma certa
33
métrica; assim, no decorrer de seu descobrir, reconhece que existem as notas
musicais e uma ordem a seguir caso queira tocar uma melodia. Aos poucos a
música ganha forma e conteúdo e assim se faz a “aprendizagem” musical.
É importante que se respeite seu processo, seu descobrir da linguagem
musical, no entanto, assim como ela deve ser estimulada para as descobertas
mais corriqueiras do dia a dia, assim também a estimulação no campo sonoro-
rítmico, vai proporcionar à criança vivência que além de enriquecer suas
experiências no campo musical, será instrumento para que cresça de forma
integral, de modo que consiga realizar aprendizagens significativas por si
mesma, que saiba dar respostas às suas perguntas e necessidades. Que
“aprenda a aprender.” A música então, deve tornar-se um processo contínuo de
construção no trabalho pedagógico-musical, envolvendo o sentir, perceber,
experimentar, criar e tudo isto levando a uma reflexão.
São vastíssimos os recursos em que se pode empregar a música no
trabalho de socialização infantil (ou mesmo em outra faixa etária). Vale ressaltar
neste parágrafo alguns deles:
Ø A Canção, única e simplesmente, que une música e poesia, é um
processo de escuta e interpretação de suma importância no
desenvolvimento infantil. As canções folclóricas, dão às crianças a
possibilidade de conhecerem mais sua terra, o povo de que faz parte,
como também a cultura de outros povos.
Ø Os Acalantos ou Cantigas de Ninar se fazem presentes desde cedo
na vida. O bebê já houve nos primeiros dias de vida o “Boi da cara preta”,
“Dorme Nenê” Esses instantes são muito importantes para o nenê, é a
sua primeira participação na sociedade e estas canções ficam marcadas
para o resto da vida.
34
Ø As Parlendas, que são as brincadeiras rítmico-musicais. As parlendas
que são brincadeiras rítmicas com rima e sem música
Ø Brincadeiras de Roda que integram poesia, música e dança, receberam
no Brasil influências de várias culturas. Desde muito cedo, na vizinhança,
ou nos primeiros anos escolares, as brincadeiras de roda são um meio
de socializar muito prazeroso. “O aprendizado das brincadeiras pela
criança propicia a liberação de energia, a expansão da criatividade,
fortalece a sociabilidade e estimula a liberdade de desempenho”. (Garcia
& Marques, 1992, p.11)
Ø Criação de Canções é uma outra atividade que traz muita alegria e faz
aflorar a espontaneidade infantil. Baseada em uma história criada pela
própria criança, a canção surge como meio de enriquecê-la ou mesmo
existir por ela. É um excelente exercício de criatividade.
Ø Som e Movimento – A música possibilita ainda atividades que envolvam
som e movimento corporal. O ser humano é um ser musical e dançante.
Move-se e muitas vezes este movimento se transforma em dança, tendo
a música como “pano de fundo”. São fascinantes as atividades que se faz
em grupo utilizando a dança. As crianças se vêem refletidas no outro,
seus gestos são por repetição em uma determinada idade e estar de
frente para o outro é como se vissem a si próprias.
Ø Sonorização de Histórias – é um outro momento de vivência grupal
muito participativo, onde cada criança usa sua voz e instrumentos de
percussão (que se toca percutindo, batendo) para sonoplastizar os
elementos da história. Neste momento cada uma deve respeitar a vez do
outro, cada criança faz a sua parte para uma maior harmonia do todo.
Todas essas brincadeiras musicadas, além de serem instrumentos de
grande prazer, existem para promover o ser humano. Do momento em que se
existe e o outro também existe, temos a possibilidade de cantar, brincar, dançar
35
juntos. Há um comprometimento do meu saber e fazer musical com o saber e
fazer musical do outro é o momento “de se sentir único e ao mesmo tempo parte
de um grupo, e de trabalhar com as estruturas e formas musicais que se
apresentam em cada canção e em cada brinquedo.” (Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil - RCNEI, vol. 3, 1998, p.71).
Desde cedo, a criança é envolvida por uma atmosfera prazerosa, mesmo
sem se dar conta de que o que faz é fundamental para seu desenvolvimento
psicomotor, afetivo e cognitivo, ela brinca. Melodia e ritmo se fazem presentes.
Tudo se transforma na mesma energia, se fundem os gestos, os sentimentos,
mesmo que cada pessoa seja única, com suas emoções e pensamentos,
naquele instante em que a música as envolve numa mesma ação, todas são
parte umas das outras, criando um momento de integração, de comunhão.
Hoje, que percebemos uma sociedade sempre mais voltada para si, num
individualismo que suprimiu a mais simples forma de se relacionar com o outro,
a música é instrumento ímpar para criar laços, romper barreiras e nas crianças
nota-se uma grande disponibilidade de vivenciar esta experiência, por sua
pureza de coração, sem preconceitos ulteriores. Talvez esteja aí o ponto de
partida para se criar uma cultura que tem como base o partilhar da escuta, da
comunicação, da emoção, dos sentimentos, numa busca de si mesmo e do outro
em interação com o mundo.
3.2 - A música enquanto meio para trabalhar a memória,
percepção, atenção e concentração infantil.
Desde o momento do nascimento, a criança deve ser estimulada com fontes sonoras variadas, de maneira constante, com chocalhos na cama, a voz
da mãe, o canto de um familiar, o móbile colorido e tantos outros recursos
utilizados neste processo de crescimento. Já nos primeiros anos de vida fatores
como atenção, memória e percepção são fundamentais para que ela se
36
desenvolva cognitivamente e a música pode ser utilizada como um meio eficaz
para que se atinja tais objetivos.
Por estudos realizados, pode-se comprovar que a exposição ao som
desperta os processos sensório-perceptivos do cérebro e este som quando se
torna música, intensifica a atenção, a capacidade de concentração e a memória.
Quando cantamos uma canção, nela está contida uma seqüência de
acontecimentos. Além de precisar ficar atento à melodia, precisa-se recordar a
letra, sua organização, sua simultaneidade utilizando a memória. Para isto é
necessário a repetição da peça musical. Neste processo, atividades e
impressões podem ser lembradas. E quando se repete uma peça musical,
facilita a lembrança, podendo haver uma associação de acontecimentos
ocorridos antes.
A estrutura musical forma uma base para a recordação, a prontidão em
executar a proposta para a participação ativa. Não há dúvidas de que a música é
uma das melhores maneiras de manter a atenção devido à possibilidade de
contar com estímulos novos e estímulos já conhecidos, além do fato de ser
associada, muitas vezes, ao movimento corporal, a jogos e brincadeiras.
Quando uma criança se dispõe a aprender um instrumento musical, por
exemplo, sua capacidade de concentração aumenta, fica mais autoconfiante,
pois, dentro de si já elaborou elementos novos, usa sua voz e é capaz de se
expressar através da linguagem musical.
O canto em grupo é um excelente meio de trabalhar a atenção e
concentração, pois é necessário além de ouvir a si mesmo, ouvir o outro que
deve estar no mesmo tom, na mesma freqüência, compartilhando da mesma
energia. Outros aspectos da personalidade são desenvolvidos como cooperação
e a socialização.
Quando a criança se musicaliza, é capaz de responder aos impulsos
sonoros com respostas que contenham tais elementos,ela se dispõe a deixar-se
37
tomar por sons, ritmos, silêncio, inicia a construção de seu saber musical. Ela se
torna mais sensível. Os jogos e brincadeiras musicadas oferecem uma gama
enorme de possibilidades no desenvolvimento da percepção e memória. Quando
a criança lida com sons e ritmos, precisa percebê-los, podendo trabalhar com
repetição e criação de novos, aprendendo assim a ampliar suas possibilidades
expressivas. No momento em que, em um jogo, uma criança bate palmas
fazendo uma seqüência rítmica e outras crianças devem repetir, é necessário
que haja muita concentração para que se perceba e reproduza o que foi
executado anteriormente. Em outra atividade, quando é proposta uma música,
com letra e melodia, e em um determinado momento é interrompida devendo a
criança continuá-la à frente, como se não tivesse havido a interrupção, é mais
um momento de atenção e percepção da parte, em um todo.
Nas propostas com as qualidades do som – altura: grave e agudo; timbre,
intensidade e duração – continuam as possibilidades de se trabalhar os aspectos
cognitivos. Quando ouvimos vários sons, são diferentes fatores sonoros que
incidem em uma atividade, – cadeira arrastando, ruídos externos, alguém que
chama, e ainda instrumentos diferentes – estamos em contato com uma gama
de sons aos quais devemos reconhecer e enumerar, utilizando da memória para
fazer o registro. Quando as propostas se voltam para poesia ritmada, as
crianças necessitam concentrar-se totalmente e isto as leva a um nível de
tranqüilidade, despertando-lhes o senso de ordem.
A criança deve ser sempre estimulada desde a 1ª infância a repetir sons e
ritmos, pois, nesta atividade já começa a memorizar “protótipos estéticos
universais e humanos sobre os quais a posterior expectativa cultural e, portanto,
a bagagem comportamental podem ser enriquecidas” ( Dissanayake apud
Ruud,1991, p.146).
Fez-se uma pesquisa na Hungria, onde se ministram aula de música todos
os dias, com relação ao desenvolvimento dos alunos e perceberam que os
alunos dessas escolas obtinham resultados superiores a de outros alunos com
38
relação ao cálculo mental, à leitura, à escrita, ao desenho, às atividades que
necessitam da memória e a imaginação, devido a uma soma de estímulos
auditivos, visuais e cinéticos. Tais estimulam desenvolvem na criança
disposições e aptidões que vão além do domínio da educação musical.
Quando as crianças cantam, fazem rimas, dançam, brincam com sons,
desenham cenas que foram cantadas, ao mesmo tempo que fazem uma
atividade prazerosa, são usados recursos que, sem que percebam, estão
trabalhando a percepção, memória, atenção e tantos outros fatores que
influenciarão suas condutas a curto, médio e longo prazo. Não é só o prazer que
conta. No momento, não estão preocupadas com nada, a não ser brincar, e
utilizando-se de meios lúdicos, chegam a pontos de reflexão, de crítica e
discussão a respeito da vida, a respeito delas mesmas enquanto seres
participantes de uma sociedade. A criança tem prazer e se anima em criar um
universo, ou melhor, de estruturar o universo segundo as possibilidades de sua
inteligência sensório-motora, de acordo com sua percepção da realidade. “Ajuda
muito um planejamento das aulas que inclua a preocupação constante com a
linguagem musical. A música não pode ficar restrita a eventos como festas e
datas marcantes, mas deve ser uma prática diária”. (Lima in Revista Nova
Escola,2004, p.57)
3.3 - A importância da arte no desenvolvimento geral da criança.
Em todo o seu desenvolvimento, a criança deve contar com estímulos os
mais ricos e variados para se desenvolver integralmente e isto acontece, muitas
vezes, no campo da tecnologia. As crianças são bombardeadas pelas mais
diversas propostas. A televisão propõe um modelo de capitalismo onde o ter
está muito além do ser e isto cria nas mentes, desde a infância, uma
mentalidade consumista baseada num determinado padrão social. Neste
emaranhado os incentivos às artes, ficam defasados, não valorizados.
39
Desde cedo a criança deveria estar em contato e ser sensibilizada pela
arte, é uma experiência básica à vida infantil, através dela, as crianças
constroem imagens pela imaginação. A arte propicia a matéria prima, por assim
dizer, para que a criança elabore conceitos, desenvolva o senso crítico, formule
opiniões, tenha a capacidade de criar. O ato de cantar, fazer rimas, dançar,
desenhar, jogar com os sons, faz com que as crianças possam expressar-se
corporal e emocionalmente, é uma forma de descobrir o espaço que ocupam,
desenvolver a imaginação, trabalhar com o simbólico, dando vida a todas as
atividades de forma expressiva.
Muitos desconhecem o valor das artes na formação intelectual da criança,
e este valor se amplia quando temos uma pedagogia onde os diversos tipos de
expressão corporal, expressão cênica, expressão vocal e instrumental,
expressão plástica “são permeáveis uma à outra, se provocam, se chamam, se
retomam reciprocamente, num movimento perpétuo de simbologia aberta e de
somatório expressivo”. (Porcher, 1982, p.30)
É de uma riqueza imensa quando conseguimos levar nossos alunos a
penetrar numa música, que depois se transforma em pintura e numa outra etapa
é traduzida em pantomima, em ritmo. Esta relação entre as artes só traz ganhos
intelectuais, cognitivos e afetivos. Seriam inúmeros os benefícios a descrever
sobre o valor das artes. Por exemplo, quando a criança desenha, trabalha aí a
apropriação do espaço e tantas outras funções necessárias ao intelecto. É
levada a reconhecer no seu desenho uma parte de si mesma, um produto que
nasceu dela. Aprecia sua obra, e transfere esta satisfação quando observa a
obra de outros;
As artes cênicas dão a livre auto-expressão, seguida de uma reflexão
sobre si mesmo, do mundo, da vida, o sujeito fica exposto a mudanças e a
críticas e tais “procedimentos” formam a personalidade, dão-lhe mais
flexibilidade, a tornam mais adaptáveis às mudanças da vida.
40
A dança já é inerente na criança. Ela dança quando está aguardando
alguma coisa, dança quando ouve uma canção, dança quando quer chamar
alguém, enfim o movimento está presente nela. “O corpo dança continuamente
ao compasso do que fazemos; por exemplo, ao falar, movemos as mãos, os
dedos, pestanejamos, balançamos a cabeça e criamos uma polifonia resultante.”
(Fregtman, 1987, p.24)
3.3.1 - A Música
No que diz respeito à música, que é nosso ponto central, precisa-se
colocá-la em um patamar e vislumbrar todos os benefícios que ela traz para o
desenvolvimento humano. Não se pode imaginar um mundo sem música. São
inúmeras as situações cotidianas nas quais a música, com seus elementos, se
fazem presentes. Como já vimos antes, o homem é um ser musical. Em seu
corpo existem elementos sonoros e rítmicos e em seu espírito algo que o faz
sentir, mesmo que na abstração, toda a potência da vida que se transforma em
música. E, se é assim, como prescindir de um elemento como este no
desenvolvimento integral da criança? Como não proporcionar a ela momentos
onde possa exprimir e deixar extravasar tudo o que existe de dinâmico e de
criativo em sua personalidade?
A música auxilia na construção da identidade, através dela a criança tem
contato com o abstrato, pois, a música não se apalpa, ela existe enquanto
vibração. É o momento de se ter acesso à simbologia, à conceitualização.
“Quando a criança sente a pulsação de uma música, seu
ritmo e acompanha, ela começa a construir seu mundo
interior e a entender o que são as coisas que não pode ver
ou tocar, mas mesmo assim tem prazer em sentir. Para ela
isso é uma conquista.” (Ziskind in Revista Família Cristã,
2003, p. 42)
41
Estímulos sonoros e rítmicos transformados em melodia, harmonia, em
música, fazem com que a criança adquira capacidades perceptivas, de
concentração, memória, abstração; benefícios para a sua formação e
desenvolvimento, concorrendo para o equilíbrio da personalidade; seja no ato de
criar, de interpretar ou apenas de ouvir, a criança se manifesta integralmente,
podendo tais aptidões serem provocadas, desenvolvidas e educadas quando
respondem musicalmente a estes estímulos.
“Ao pensar uma idéia e ao expressar verbalmente essa
idéia, a criança se encontra num processo de
representação. Quando canta, numa conceituação mais
ampla, ela está fazendo uma apresentação da
representação construída através de uma leitura de mundo.
Ao cantar, a criança utiliza ativamente a linguagem verbal e
representa modos próprios de perceber e assimilar o
ambiente ao redor.” (Santa Rosa, 1990, p.17)
As propostas musicais são fundamentais no trabalho com conflitos e
problemas emocionais. No dia a dia, com as canções entoadas em grupo,
dançadas, as histórias contadas e depois musicadas, todos estes recursos, além
de proporcionarem um enorme prazer pela magia que trazem, dão a
possibilidade às crianças, de relatarem sentimentos e informações entre elas,
com um significado especial além de sentirem que estão juntas de outras
pessoas utilizando uma linguagem comum.
Na atividade musical, a criança está se expondo sempre, seja cantando,
brincando ou jogando. Devido a uma necessidade natural de expressar o que
pensa, o que sente, tanto para si como para os outros, ela se mostra. Assim está
exteriorizando o que quer expressar no momento em que sente necessidade
disso, utiliza-se da música, da representação corporal como um meio para
chegar aonde deseja.
42
“Através da música é permitido à criança a integração do
seu esquema corporal, o domínio do gesto, a noção de
movimento, a intercomunicação entre os espaços interior e
exterior, a apropriação de si mesma, a adaptação ao que
está em volta.” (Forquin apud Porcher, 1982, p.71)
Um dado importante a salientar é que a música proporciona momentos de
adaptação da personalidade a situações novas. Em brincadeiras cantadas ou
jogos rítmicos, as crianças têm inúmeras oportunidades de vivenciar situações
em que precisam seguir as propostas e outras em que elas modificam a situação
inventando um agir novo, uma nova regra.
“A conquista de habilidades musicais no uso da voz, do
corpo e dos instrumentos deve ser observada,
acompanhada e estimulada tendo-se claro que não devem
se constituir em fins em si mesmas e que pouco valem se
não estiverem integradas a um contexto em que o valor da
música como forma de comunicação e representação do
mundo se faça presente.” (RCNEI, vol. 3, p.77)
Também na aprendizagem da escrita e da leitura, a música pode ser um
excelente recurso, melhora a capacidade de concentração e a memória,
facilitando no processo de alfabetização e ao raciocínio matemático. As letras
dramatizadas, musicadas e ritmadas facilitam a uma compreensão e
aprimoramento do pensamento lógico, visto que o processo se dá de forma
dinâmica e alegre quando se utiliza sons e ritmos associados ao próprio corpo.
“A música estimula áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens,
como a escrita e a oral. É como se tornássemos o nosso ‘hardware’ mais
poderoso. Essas áreas se interligam e se influenciam. Sem música, a chance é
desperdiçada” ((Suzigan in Revista Nova Escola, p 56)
43
“É de importância fundamental que em todos os países as autoridades
educacionais sejam suficientemente lúcidas para resgatar a música e colocá-la a
serviço da educação, ou seja, do desenvolvimento integral do homem.” (Gainza,
1982, p.17)
Estamos aqui diante de uma questão de valorização da arte, enquanto experiência fundamental para o ser humano, não apenas na sua utilização em
programas que auxiliem no crescimento e desenvolvimento de determinadas
habilidades e padrões sociais, seja na escola, ou na comunidade onde vivemos.
Mesmo tratando-se de algo positivo, os objetivos destes programas - que muitas
vezes é o relacionamento interpessoal e não a arte, e não a música em si -
podem ser alcançados através de outros meios. É de fundamental importância
que as artes sejam trabalhadas no sentido de despertar a sensibilidade da
criança. Não há a menor dúvida de que experiências estéticas na educação e no
desenvolvimento geral da criança seja de importância primordial.
44
CONCLUSÃO
Em todo o relato deste trabalho, pode-se descortinar os benefícios que a
música traz. Desde a era pré-histórica, até nossos dias, o homem sempre viveu
com ela e, porque não dizer, quase que “dependendo” dela. No processo de
civilização a música esteve presente nos momentos de alegria e tristeza, de
morte e nascimento. Hoje, devido à tecnologia, a música assume um papel a
mais, quando absorve novos elementos e traduz, muitas vezes, o estilo de vida
de uma sociedade. Recorre-se à música como facilitadora do processo de
aprendizagem, visto que é um recurso estimulante e atraente em diferentes
faixas etárias. Do bebê à 3ª idade, todos se deleitam e se apropriam da música
como fonte de alegria e emoção. A música contém em si toda a magia de
elementos que se unem para formar um todo que chega até nós em forma de
som, percorrendo um longo processo para chegar a um produto final.
Ainda há um grande caminho a percorrer no que diz respeito à
valorização de todos os aspectos importantes que a música, e por que não dizer,
que a arte traz. Estamos muito aquém de uma educação que vise a valorização
das artes, e de modo especial a da Educação Musical, pois, sua importância
está sendo descoberta. O caminho está sendo percorrido por aqueles que
acreditam verdadeiramente na eficácia da música, não só como veículo de
descontração e relaxamento, mas também como meio eficaz de melhorar a vida
do ser humano nos mais diferentes níveis de desenvolvimento da personalidade,
de forma integral, extraindo dela o sulco da vida interior e da vida em sociedade.
Partindo do princípio de que são inúmeras as situações cotidianas nas
quais a música, com seus atributos, se fazem presentes, a educação não pode
45
prescindir de um elemento de tal modo motivador e essencialmente dinâmico,
para transformar e “re-educar” a sociedade. Da arte, de um modo geral, se pode
extrair uma infinidade de recursos tanto no campo psicopedagógico - educando
as pessoas para elevar o nível de compreensão e discernimento, e aqui é bom
enfatizar a responsabilidade social daquele que faz arte, que a utiliza para este
fim - como simplesmente para alcançar instantes de serenidade, entretenimento,
descontração e encontro consigo mesmo e/ou com os outros. É preciso
descobrir esta realidade artístico-humana e acordar para a necessidade cada
vez mais iminente de a arte não ser privilégio de uma elite, mas sim um meio
para se chegar a uma realização pessoal e coletiva. E a música, que é o tema
central deste estudo, enquanto arte, nos apresenta portas que se abrem para
descobertas fascinantes, fazendo com que apuremos a percepção crítica do
mundo que nos rodeia, despertando a nossa sensibilidade para as realidades
existentes.
O homem ainda não se deu conta da forma como tem vivido. Concentra-
se em si mesmo e o direito do outro é negado numa atitude de total egoísmo. É
preciso redescobrir os meios que trarão a harmonia de volta. A música poderá
fazer muito por isso, visto que é um fenômeno universal, e mesmo que cada
povo tenha a sua linguagem musical, seus costumes, deveria fazer parte da
cultura da humanidade o saber “inculturar-se” para redimensionar a vida. No
momento em que o ódio muitas vezes impera, ela pode trazer a paz; quando a
pressa toma conta, ela pode proporcionar tranqüilidade; no lugar da indiferença,
ela pode apresentar a fraternidade como forma de vida. E num único canto, a
humanidade poderá reconhecer-se mais humana.
46
BIBLIOGRAFIA
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LTDA, 1986
• BRITO, Teça Alencar de – Música na Educação Infantil – propostas para
a formação integral da criança, SP:Editora Peirópolis, 2003
• CARVALHO, José Jorge de – Horizontes Antropológicos – Música e
Sociedade – Revista Temática, Porto Alegre Ano 5 número 11, 1999
• FISCHER, Ernst – A Necessidade da Arte, RJ:Editora Guanabara AS,
1987
• FREGTMAN, Carlos D. – O Tao da Música, SP:Editora Pensamento,
1986.
• GARCIA, Rose Marie Reis e MARQUES, Lílian Argentina – Brincadeiras
Cantadas, RS: Editora Kuarup LTDA, 1992)
• GAINZA, Violeta Hemsy de – Estudos de Psicopedagogia Musical,
SP:Summus Editorial, 1982
• HERZFELD, Friedrich – Nós e a Música, Lisboa: Livros do Brasil, 1984
• MENUHIN, Yehudi e DAVIS, Curtis W. – A Música do Homem, SP:Martins
Fortes, 1990
• MORAES, J, Jota de - O que é Música? SP:Nova Cultural:Brasiliense,
1986
• PORCHER, Louis – Educação Artística luxo ou necessidade?,
SP:Summus editorail, 1982
• RCNEI (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil), VOLUME
3, 1998.
• REVISTA Nova Escola SP:Editora Abril, junho/julho, 2004
• REVISTA Família Cristã, SP: Edições Paulinas, agosto, 2004.
• RODRIGUES, Adriana e FERNANDES, José Nunes e NOGUEIRA,
Marcos – Música na Escola – O uso da Voz, RJ:Prefeitura/ CBM, 2000
• RUUD, Even (organizador) – Música e Saúde – SP:Summus Edorial,
1991
47
• SÁ, Serginho – Fábrica de Sons, SP: Editora Globo, 1995
• SANTA ROSA, Nereide Schilaro – Educação Musical para 1ª a 4ª série,
SP:Editora Ática, 1990
• SIMMEL, Georg – Estúdios Psicológicos y Etnológicos sobre Música,
Argentina:Editorial Gorla, 2003
• TAME, David – O poder oculto da Música, SP:Editora Cultrix, 1984
• WISNIK, José Miguel – O Som e o Sentido – uma outra história das
músicas, SP: Editora Schwarcz LTDA, 1999
48
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 11
O SOPRO SONORO-RÍTMICO DO HOMEM 11
1.1 - A Música no decurso da história. 11 1.2 - A natureza como coadjuvante do homem na criação de instrumentos. 15 1.3 - O homem se comunica através do som e do ritmo – os primeiros indícios de sociabilidade através de elementos musicais. 16
CAPÍTULO II 19
A MÚSICA FAZ PARTE DO HOMEM 19
2.1 - O que vem a ser música? 19 2.2 - A influência da música na vida do homem. 23 2.3 - O ritmo de vida no séc. XXI e a música absorvendo novos elementos. 26
CAPÍTULO III 31
POR UMA SOCIEDADE MUSICAL 31
3.1 - A linguagem musical na formação e socialização infantil. 31 3.2 - A música enquanto meio para trabalhar memória, percepção, atenção e concentração infantil 35 3.3 - A importância da arte no desenvolvimento geral da criança. 38 3.3.1 - A Música 40
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
ÍNDICE 48
49
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I 12
O SOPRO SONORO-RÍTMICO DO HOMEM 12
1.1 - A Música no decurso da história. 12 1.2 - A natureza como coadjuvante do homem na criação de instrumentos. 16 1.3 - O homem se comunica através do som e do ritmo – os primeiros indícios de sociabilidade através de elementos musicais. 17
CAPÍTULO II 20
A MÚSICA FAZ PARTE DO HOMEM 20
2.1 - O que vem a ser música? 20 2.2 - A influência da música na vida do homem. 24 2.3 - O ritmo de vida no séc. XXI a e a música absorvendo novos elementos. 27
CAPÍTULO III 32
POR UMA SOCIEDADE MUSICAL 32
3.1 - A linguagem musical na formação e socialização infantil. 32 3.2 - A música enquanto meio para trabalhar a memória, percepção, atenção e concentração. 36 3.3 - A importância da arte no desenvolvimento geral da criança. 39 3.3.1 - A Música 41
CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA 47
51
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
Projeto A VEZ DO MESTRE
Projeto de Pesquisa
Nome do Aluno: Maria Alice Dutra Viestel
Curso: Arteterapia em Educação e Saúde
TEMA: A importância da Música nas relações sociais
TÍTULO: O Papel da Música para um arte educador
PROBLEMA: Efetivamente, exerce a música influência biopsicossocial no ser humano?
JUSTIFICATIVA:
Observando que:
a) a música incide nas reações humanas a ponto de modifica-las;
b) o homem desde que existe enquanto tal utiliza-se de sons diversos
para se expressar e comunicar;
c) a música apresenta-se como linguagem extremamente incisiva na
vida humana, sendo capaz de modificar ser comportamento;
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Procura-se neste trabalho relevar a música como fator importante e
presente na constituição da vida humana, partindo do princípio de que o homem traz em
si elementos sonoros e rítmicos que constituem seu ser.
OBJETIVO GERAL: Reconhecer na linguagem musical um importante meio de
expressão e comunicação entre as pessoas e de modo especial na infância.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1- Apresentar a importância da música desde a pré-história até nossos dias como
fator de comunicação;
2 – Reconhecer a importância dos elementos musicais constituintes do próprio
organismo humano: o homem enquanto ser essencialmente musical;
3 – Demonstrar a viabilidade do emprego da música enquanto linguagem corporal,
emocional e mental e como facilitadora das relações sociais na infância.
HIPÓTESE:
Acredita-se que o saber e fazer musical favoreçam as relações de socialização a
ponto de incidir nas reações humanas. Percebe-se que a criança, de modo especial, está
muito vulnerável a tais influências por estar ainda descobrindo o mundo, ficando
suscetível ao novo, absorvendo o mundo que a circunda, integrando-o a si, necessitando
apoderar-se de experiências várias e interferir sobre elas.
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DELIMITAÇÃO: A Música na Educação Infantil
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO:
O trabalho será desenvolvido através de pesquisas literárias, coleta de dados,
experiências vivenciadas no meu campo de trabalho e através de relatórios.
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