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1 Curso de Direito Unidade – Guará A REALIDADE JURÍDICA DAS MICRO EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROJETO DE LEI Nº 951/2011 Estudante: Jorge Luís Ferraz Orientador: Francisco Cabral Brasília 2013

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Curso de Direito Unidade – Guará

A REALIDADE JURÍDICA DAS MICRO EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROJETO DE LEI Nº 951/2011

Estudante: Jorge Luís Ferraz Orientador: Francisco Cabral

Brasília 2013

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Jorge Luís Ferraz

Curso de Direito

A REALIDADE JURÍDICA DAS MICRO EMPRESAS EM RELAÇÃO AO PROJETO DE LEI Nº 951/2011

Trabalho apresentado no âmbito das atividades de

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO do

Curso de Bacharelado em Direito das Faculdades

Integradas Promove de Brasília.

Professor orientador: Prof. Dr. Francisco Cabral

Brasília

2013

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RESUMO

O trabalho procura apresentar a relevância do Projeto de Lei nº 951/2011, conhecido como o Simples Trabalhista; uma análise contextual dos efeitos da modificação da legislação trabalhista e dos direitos do trabalhador, em especial nas micro empresas. O desafio é analisar o tema frente às necessidades e novas realidades trabalhistas no mundo moderno e nos princípios que norteiam o direito do trabalho no ordenamento jurídico Brasileiro.

"A nossa legislação trabalhista, que é do século passado, da Era Vargas, necessita de atualizações. O mundo de hoje é muito diferente do mundo da metade do século passado. Precisamos avançar", defendeu.

O Projeto de Lei tem é que ser analisado pelos legisladores seu conteúdo, pois contraria os legisladores envolvidos no projeto ignoram a finalidade do instituto do FGTS (substituiu a estabilidade decenal). Até quando os nossos legisladores servirão aos interesses das minorias, e de grandes grupos econômicos precarizando as condições de trabalho das micro empresas que estão fadadas a altos índices de mortalidade, instituições essas que são fontes e responsáveis por maior numero de geração de empregos no Brasil, e do crescimento da nossa economia e do bem estar social.

Palavras-chave: Simples Trabalhista; Sistema Trabalhista; Micro e Pequenas Empresas; Poder Judiciário.

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INTRODUÇÃO

O trabalho proposto investiga o Projeto de Lei (PL) nº 951/2011, conhecido também

como Simples Trabalhista, de autoria do deputado Júlio Delgado (PSB/MG) 1 que apresenta a

seguinte ementa:

[...] Institui o Programa de Inclusão Social do Trabalhador Informal para as microempresas e empresas de pequeno porte de que trata o art. 3º da Lei Complementar nº 123 (Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), de 14 de dezembro de 2006, na forma que especifica (BRASIL, 2013).

Para Rodrigues citado por Vieira (2006, p. 5), “no universo das empresas brasileiras, as

micro empresas representam uma grande parcela nas atividades de exploração econômica e

elevados números de mão de obra ocupada”. Sendo assim, a problemática traz a preocupação em

discorrer, perante o olhar da advocacia da justiça social, em benefício das micro empresas, na

observância de políticas públicas mais coerentes, conexas e razoáveis que correspondam com a

realidade contemporânea em termos de gestão micro empresarial, gerência de pessoas, com o

cabimento de um ajuste tributário e jurídico inerentes às suas particularidades.

É importante salientar distorções subjacentes, sob a luz do positivismo jurídico, que de

fato refletem-se no fenômeno da mortalidade, porém, muitas vezes imperceptíveis, devido à falta

de um tratamento diferenciado aos olhos do Judiciário e do Legislativo.

Para tanto, a investigação está disposta em capítulos. Os quais abordam a realidade

contextual atual das micro empresas, refletida na taxa do índice de sobrevivência, nos custos

trabalhistas diferenciados, nas causas trabalhistas, na questão do FGTS2: 8% por 2%.

Bem como nos motivos da informalidade e da legalidade, na colisão de princípios, dentre

outros pontos polêmicos. Em outras palavras, inquirir a relativização com embasamentos teóricos

que se relacionam ao tema e à distância destoantes entre a prática, a necessidade a realidade.

Portanto, espera-se promover resultados positivos e gerar elementos que contribuam para

o melhoramento e do progresso do homem e das micro empresas, observando-se aspectos

importantes como a geração de empregos em massa pelas empresas optantes, as quais vivenciam

1 PSB/MG – Partido Social Brasileiro/Minas Gerais. 2 FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

5

limitações não condizentes com as suas realidades, sem respaldo legal, tributário ou jurídico.

Assim, ficando excluídas do processo de desenvolvimento social e econômico brasileiro.

Vale reforçar que o assunto Micro Empresas (MPE) vem sendo discutido com grande

intensidade nos últimos anos e que elas desempenham um papel fundamental na economia

brasileira. E em função disso, estas empresas deixaram de ser vistas apenas como peças

importantes para gerar empregos e melhorar a distribuição da renda, para serem consideradas

instrumentos do próprio desenvolvimento nacional (RAMOS & FONSECA, 1995).

Outro fator motivador, segundoVieira (2007), sobre o papel de inclusão social promovido

pelas MPE, que emprega as classes sub-representadas no mercado de trabalho como mulheres,

negros e índios, fator de redução da pobreza. Pimentel acorda que:

[...] As MPE vão além da empregabilidade do fator trabalho e geração de renda, participam efetivamente da produção local, com oferta diversificada de produtos na complementaridade de bens e serviços demandados por nichos de mercados, importantes pela capilaridade na extensão territorial, rapidez de atendimento ofertante, pela flexibilidade de ações decisivas, capacidade de reestruturação interna e absorção da dinâmica inovativa. (PIMENTEL, 2008, p. 12).

E arrolado a essas ponderações sobre as questões da empregabilidade, geração de renda,

ofertas, reestruturação interna e absorção da dinâmica inovativa, cabe lembrar, da promoção do

bem-estar social, já que muitas vezes o que acontece, decorre da falta de preparo do empresário

para até tocar o seu próprio negócio.

2 ENTENDENDO O PL Nº 951/2011

Para Pastore (2012), o Simples Trabalhista é a simplificação da burocracia que cerca a

contratação do trabalho. Seu objetivo central é estimular a formalização de empregados de micro

empresas, cuja estimativa é de 20 milhões.

Faz-se, então, uma breve análise dos artigos principais que provocam pontos de

divergências, pela natureza polêmica que agrega o PL nº 951/20113, conforme segue:

[...] Art. 2º, § 2º O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) criará uma comissão tripartite com representantes governamentais, trabalhadores e empregadores para: a) elaborar o modelo de opção; b) estabelecer critérios de desenquadramento do Simples

3 Textos resumidos retirados de sua íntegra, conforme PL 951/2011.

6

Trabalhista c) propor normas regulamentadoras; e, d) acompanhar a execução dos acordos ou convenções coletivas de trabalhos específicos.4

Fica bem claro, neste diapasão, que a preocupação do referido § 2º incide sobre o combate

à informalidade das micro empresas que buscam reais garantias trabalhistas legais, formalizando

a validação dessas empresas e garantido os direitos trabalhistas, dando segurança jurídica e

contribuindo, ainda, para a Previdência Social. Objeta promover a garantia de direitos nas

negociações representativas nas comissões entre empregados, empregadores e governistas junto

às empresas credenciadas ao MTE o qual monitoraria os acordos, pelo fato da inviabilidade de se

organizar convenções coletivas para essa categoria por falta de contingente expressivo para a

formação de entidades classistas sindicais.

O artigo 3º enuncia normas que regulam as relações trabalhistas, a seguir:

[...] Art. 3º Às pessoas jurídicas optantes pelo Simples Trabalhista, aplicam-se as seguintes normas: I - acordos e convenções coletivas específicas (a. Fixar o REPIS, b. Dispensar ao empregado o acréscimo de salário de horas excedentes pela compensação respeitando o limite máximo de 10 h/d, c. Estabelecer ao empregado critérios, forma e pagamento nas participações dos lucros, d. Compensação de domingos e feriados trabalhados. II - acordo entre empregados e empregadores (a. Gozar o aviso prévio com horário normal; b. Parcelamento da gratificação salarial em até 6 parcelas, c. Fracionamento das férias no limite máximo de 3 períodos. III a VII - Dispositivos legais (assistência jurídica para micro e pequenas empresas; representação jurídicas por terceiros; Redução de 75% para micro e de 50% para as pequenas de depósito prévio para interposição de recursos junto à JT; conciliação de conflitos individuais; opção de contrato de trabalho por tempo determinado com presunção de aumento de contratações formais de empregados); VIII – Percentual de contratos previstos no art. 2º, II, da Lei 9.601/1998 (a. Contrato sem conta individualizada do FGTS ou inativa há mais de dois anos; b. O contratado aceite, mediante acordo firmado com o empregador, o percentual fixado neste inciso.5

Em outras palavras, o art. 3º prevê em seus incisos de I a VIII e seus 1º a 5º parágrafos os

seguintes benefícios: garantia à assistência jurídica, representação jurídica por terceiros em

audiências judiciais que conheçam a realidade das micro empresas, tais como: parentes, cônjuges,

contadores e outros redução nos depósitos em recursos de jurisdição trabalhista, utilização da

arbitragem – conciliação – para resolver conflitos individuais evitando custos onerosos de ações

prolongadas;

Contando, ainda, com a opção de contratação temporária condicionada à ampliação no

acréscimo de número de empregados na empresa; e especificadamente no inciso VIII (FGTS) –

4Ibdem. 5Ibdem.

7

redução da alíquota de 8% para 2% em conta desvinculada, no prazo de até cinco anos com

acréscimo gradativo de dois pontos percentuais ao ano na alíquota até atingir o percentual

original de 8%; co-responsabilidades entre o Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério do

Trabalho e do Emprego (MTE) e o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) em

oferecer os serviços necessários para o cumprimento dos programas de segurança e Medicina do

Trabalho.

Para o artigo 4º, que trata da intenção do processo de adesão ao Simples Trabalhista (ST)

para fins de regularização da situação de débitos das empresas com o Estado no prazo de um ano:

Art. 4º: Pagamento e extinção (de exigências legais pelo Estado) de débitos trabalhistas pregressos no prazo de 1 ano para empresas optantes pelo Simples Trabalhista.6

Extinguindo-se, assim, a presunção de punição pelo Estado em reclamar os débitos,

evitando multas de caráter financeiro ou administrativo. Percebe-se a configuração de

protecionismo ou de justiça social.

Para o artigo 5º, subentende-se que é preventivo para o caso de não ocorrer abusos na

contratação de empregados informais e tirar proveito da referida lei para benefícios próprios:

[...] Art. 5º prevê exclusão do programa empresas que mantiverem empregados informais em seu quadro ou que descumprirem as normas da lei, ficando sujeitos a pagarem multas de um mil reais por trabalhador em desacordo no cumprimento dos acordos e convenções coletivos de trabalhos específicos.7

Por fim, o artigo 6º vem beneficiar o trabalhador no sentido de investimento pessoal para

qualificação profissional, lançando mão dos recursos do FGTS para melhoria e especialização em

setores de sua preferência, estimulando a mão de obra especializada, com qualidade no

profissionalismo da mesma:

Art. 6º: Ressalvada a carência de um ano da data de admissão, poderá o empregado a

qualquer tempo sacar recursos do FGTS em seu nome depositados, desde que,

comprovado para custeio de sua qualificação profissional.

2.1 O Apoio ao Micro Empresário

6Ibdem. 7Ibdem.

8

Segundo Pastore (2012, p. 1), os dirigentes sindicais e os profissionais de Direito

simpáticos ao ST8 não desejam mexer na CLT9apesar de desatualizada, e enfatiza: “Enquanto

nossos concorrentes, grandes empresários e estrangeiros, modernizam as instituições para se

manterem competitivos, nós, no Brasil, temos de conviver com amarras que mantêm milhões de

trabalhadores no emprego informal e dificultam a vida dos empresários”.

Depreende-se, portanto, que não existe um pensamento pragmático de descaracterizar a

CLT, apenas atualizá-la ao novo perfil trabalhista emergente no país, que são benefícios para o

Micro Empresário.

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 170, inciso IX, prevê o tratamento

favorável e diferenciado as MPE10, com a seguinte redação:

[...] Artigo 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na

livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os seguintes princípios: [...] IX- tratamento favorecido para as

empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e

administração no País (CF, 1988).11

Isso leva o judiciário a lapidar sua leitura jurídica, em face das leis, na análise do direito

trabalhista, pois, o país cresce economicamente em ritmo acelerado. Como ajuíza Luiz Barreto:

No Brasil, são criados anualmente mais de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais. Desse total, mais de 99% são micro e pequenas empresas e Empreendedores Individuais (EI). As micro e pequenas empresas são responsáveis por mais da metade dos empregos com carteira assinada do Brasil. Se somarmos a isso a ocupação que os empreendedores geram para si mesmos, pode-se dizer que os empreendimentos de micro e pequeno porte são responsáveis por, pelo menos, dois terços do total das ocupações existentes no setor privado da economia. (BARRETO, 2011, p. 4).

8 ST – Simples Trabalhista. 9 CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas. 10 MPE – Micro e Pequena Empresa. 11Essa visão declara os novos rumos da economia brasileira, onde se faz necessária uma reconfiguração dos meios de produção e redistribuição da mão-de-obra. Ficando claro que o nicho está voltado para o mercado interno, carente e promissor para um país que busca equilibrar a economia e investir na distribuição de renda equitativa, mais justa e socialmente ativa.

9

3. PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

Para Machado (2009), os princípios tributários existem para protegerem o contribuinte

contra os abusos do Poder. Em face do elemento teleológico, portanto, o intérprete, que tem

consciência dessa finalidade, busca nesses princípios a efetiva proteção do contribuinte.

Nota-se nesse conceito de Machado, claramente, que os princípios tributários são

instrumentos constitucionais os quais funcionam para proteger o contribuinte da forte carga

tributária estatal.

Miranda entende o Direito Tributário como sendo:

[...] O conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos (taxas, impostos e contribuição de melhoria), bem como de sua fiscalização. Regula as relações jurídicas estabelecidas entre o Estado e o contribuinte no que se refere à arrecadação dos tributos. É o ramo do Direito Público que rege as relações jurídicas entre o Estado e os particulares, decorrentes da atividade financeira do Estado, no que se refere à obtenção de receitas, que correspondem ao conceito de tributos (MIRANDA, 2009, p. 1)

3.1 Princípio da Isonomia Tributária (Art. 150, II, CF/88)

Como pode ser observado no conceito de Miranda acima, a autora relaciona a arrecadação

de tributos ao Direito Tributário às relações jurídicas entre Estado e particulares, para consolidar

as normas vigentes e o fato gerador a ser cobrado do contribuinte.

A igualdade jurídica está consagrada no art. 5º, I da CF, que relata: "... todos são iguais

perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza...". “Nem pode o aplicador, diante da lei,

discriminar, nem se autoriza o legislador, ao ditar a lei a fazer discriminações. Visa o princípio à

garantia do indivíduo, evitando perseguições e favoritismos” (AMARO, 2007, p. 111),

Para Miranda (2009, p.6): A isonomia ou igualdade tributária não é nada mais que uma

confirmação de um princípio constitucional pétreo: a igualdade de todos perante a lei. E

prossegue:

[...] Os poderes tributantes não poderão tratar os iguais de forma desigual, independentemente do nome que tenham os rendimentos, títulos ou direitos dos indivíduos, a lei tributária não poderá ser imposta de forma diferenciada em função de

10

ocupação profissional ou função exercida. O princípio da igualdade tributária proíbe distinções arbitrárias, entre contribuintes que se encontrem em situações semelhantes.

No caso dos direitos das MPE, nas questões do Direito Tributário, é relevante o

tratamento tributário diferenciado, respeitando-se o direito da isonomia tributária, como arremata

Machado:

[...] Não fere o princípio da igualdade, antes o realiza com absoluta adequação, o imposto progressivo. Realmente, aquele que tem maior capacidade contributiva deve pagar imposto maior, pois só assim estará sendo igualmente tributado. A igualdade consiste, no caso, na proporcionalidade da incidência à capacidade contributiva, em função da utilidade marginal da riqueza (MACHADO, 2009, p. 58).

Em outras palavras, quer dizer que o princípio da isonomia tributária entende que todos

devam ser tributados indiscriminadamente, porém, na proporção conforme a capacidade de

contribuição, ou seja, deve ser igual para todos e proporcional a cada um.

3.2 Princípio da capacidade contributiva do contribuinte (Art. 145, § 1° da CF/88)

O art. 145 da CF (BRASIL, 1988) traz em seu § 1° a seguinte redação: "Sempre que

possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do

contribuinte". Miranda (2009, p.8) complementa que “a aplicação prática deste princípio

encontra-se na alíquota progressiva presente no imposto de renda, no imposto sobre a

propriedade territorial urbana, no imposto sobre a propriedade territorial rural, etc”.

Ou seja, se a lei diz claramente que cada um deve contribuir na medida em que permita a

sua capacidade econômica, como pode a micro pagar tanto quanto uma empresa de médio e

grande porte?

Segundo Amaral (2006):

[...] São cobrados pelas empresas, em média 61 tributos, entre impostos, taxas, contribuições e pelo menos 93 obrigações acessórias para estar em dia com o fisco, onde a carga tributária chega a carga tributária chega a 39,79% do PIB e que deixam de ser arrecadados mais 39,11% devido à informalidade e à sonegação.

Em face dos referidos dados fornecidos acima, percebe-se, claramente, que os pequenos

empreendedores, inseridos neste cenário, tendem a não prosperar perante as dificuldades

11

estruturais. Portanto, políticas públicas bem estruturadas e leis eficientes com impostos

diferenciados, de acordo com a capacidade econômica do contribuinte, tem sido a preocupação

do governo brasileiro que já tomou algumas medidas que garantam o lucro das micro e pequenas

empresas, que segundo Ortiz (2012, p. 26), podem elas optar pelo seguinte regime tributário:

[...] Simples - Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições. Exclusivo para micro empresas e empresas de pequeno porte, consiste em uma forma simplificada e unificada de recolhimento de tributos, incide sobre uma única base de cálculo, receita bruta. Fazem parte os seguintes tributos: IRPJ; PIS/PASEP; CSLL, COFINS; IPI. Os limites máximos de receita bruta anual para enquadramento no Simples Nacional estão previstos na LC nº. 123/2006.

Nota-se que fica clara a real função dos pequenos empreendimentos, que tem mais caráter

de papel socioeconômico do que exclusivamente de arrecadação tributária, o que demonstra a

intenção de servir de base estrutural econômica e de empregos.

4 COLISÃO DE INTERESSES

Sustentar as hipóteses defendidas no PL 951/2011 envolve as mais diversificadas

especulações por parte de três segmentos envolvidos: a defesa dos negócios dos grandes e mega

empresários, detentores culturalmente do mercado de trabalho privado como monopolizadores do

sistema trabalhista celetista; o pleito defendido pelos micros e pequenos empresários (maiores

beneficiários do Simples Trabalhista); e os interesses e direitos dos empregados, os quais

denotam maior fragilidade. Barros (2010, p. 63), dentro dessa perspectiva, esclarece: “Entre o

forte e o fraco, entre o rico e o pobre, é a liberdade que escraviza, é a lei que liberta.”

Para Cardoso (2003, p. 121): “ o mercado, deixado a si mesmo, o mercado sem o Estado, é

a guerra, a selva ou a máfia, ou tudo isso junto.” Assim, fica claro que cabe ao Estado regular

essas relações as quais estão implícitas, analogias sociais, políticas e trabalhistas reguladas pelas

questões morais, éticas, jurídicas, legislativas, tributárias e sociológicas.

Para tanto, faz-se necessário levantar reflexões aprofundadas, pois, parte-se do princípio

da visão jurídica investigar causas de mérito coletivo, na busca de valores sociais comuns como

fatores de democratização para promover o bem-estar coletivo. Como bem pondera Delgado:

12

[...] A função do ramo justrabalhista realiza, na verdade, o fundamental intento democrático e inclusivo de desmercantilização da força de trabalho no sistema socioeconômico capitalista, restringindo o livre império das forças de mercado na regência da oferta e da administração do labor humano (DELGADO, 2006, p. 240).

Consequentemente, dentro dessa ótica, cabe à matéria de Direito manter e preservar os

direitos individuais e coletivos, bem como cuidar das colisões de princípios e normas, mantendo

a mais elevada relevância e respeito aos princípios constitucionais sob a luz do princípio da

legalidade, como bem observa Gajardoni:

[...] Há dois sistemas que demonstram extremos dos posicionamentos. O primeiro deles é o sistema da legalidade das formas procedimentais, que prevê rigidamente na lei cada ato processual, podendo o seu descumprimento importar em invalidade do mesmo. Garante segurança jurídica às partes, mas tem como grande mal a existência da demasiada burocracia para resolução do litígio. O segundo é o sistema da liberdade de formas procedimentais no qual não há uma ordem legal preestabelecida para a pratica de atos processuais, competindo ao juiz, e às partes determinar a cada momento qual o ato a ser praticado. O feito fica mais adequado ao direito material e mais célere, mas gera uma certa dose de insegurança, pois a parte pode ser surpreendida com decisões inesperadas ou exigências formais desarrazoadas. (GAJARDONI, 2008, p.79).

Portanto, subentende-se tratar de assuntos polêmicos, mantendo os direitos individuais e

coletivos e cuidar das colisões de princípios e normas, é matéria de Direito, com a mais elevada

relevância e respeito aos princípios constitucionais, sob a luz do princípio da legalidade. Delgado

(Op.Cit.)12 destaca que é inegável que o Direito do Trabalho, em todo o mundo, confira

legitimidade política e cultural à relação de produção básica da sociedade contemporânea.

E dentro da ótica de colisão de princípios vale recordar Cadermatori:

[...] Ao considerar-se todo o novo contexto interpretativo constitucional que permeia o direito atual, entende-se que estaria a ele subjacente o que, segundo alguns autores, se configuraria como uma nova matriz epistemológica do direito, batizada como pós-positivismo ou neoconstitucionalismo a qual apresenta como principal desafio o equacionamento entre as dimensões do Direito, Moral e Política ao tentar estabelecer, de forma racional, as suas formas de entrelaçamento, o que pressupõe o desenvolvimento de padrões de racionalidade baseados mais na razoabilidade prudencial do que no cientificismo formal. (CADEMARTORI, 2012, P. 65).

12 Op. Cit. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho.10.ed. São Paulo: LTr., 2011. p. 60.

13

Desse pensamento entende-se logicamente que de fato o que existe em conflito entre

regras (de acordo com a pirâmide kelseniana)13 além da observância dos aspectos da

racionalidade baseadas no princípio da razoabilidade em relação ao positivismo jurídico, o que o

autor acima chama de cientificismo formal.

Não há como fugir das questões éticas defendidas pelo juspositivismo, dentro da

literatura jurídica na análise do direito trabalhista. Assim, defende Bobbio (1995), que de forma

"avalorativa", o cientista estuda e analisa a realidade natural, tratando-se de fonte preeminente do

Direito no qual abastem-se de pronunciar juízo de valor. Porque o Direito é um conjunto de fatos

e fenômenos sociais, em nada diferente dos fatos naturais da vida.

4.1 Interesses, Vantagens e Dificuldades dos Micro Empresários

O Micro Empresário, segundo Macedo (2009, p 24), “é uma forma inovadora e

desburocratizante da legislação de pequenos negócios e serviços e do pagamento de impostos e

contribuições, resultante em variadas vantagens de redução de custo e de obrigações acessórias”.

Entretanto, depois de entendido que além dos interesses, existem vantagens e dificuldades

observadas na nova legislação referentes aos Micro Empresários que não podem passar

despercebidas.

4.1.1 Interesses

Vale ressaltar os principais pontos que beneficiam e satisfazem os interesses dos micro

empresários baseados nos artigos constitucionais como também as garantias legítimas

consolidadas nas leis complementares, que corroboram com as políticas públicas a serem

adotadas pelos nossos governantes:

[...]Art.170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:IX - tratamento favorecido para as empresas

13Clássica formulação de Kelsen (2002), significando dizer que uma norma para ser legitimada é necessária que em seu fundamento de validade, exista uma norma superior, de modo que todas as normas retirem sua validade de uma mesma norma fundamental. Tomando-se a Constituição como o espelho do sistema aberto de princípios e regras que vão orientar todo um sistema.

14

de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (BRASIL, 1988). [...] Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei. (IBEDEM).

A interpretação que se faz, a partir da leitura desses artigos, é que a Constituição de 1988

já tratava de uma necessidade do tratamento jurídico diferenciado para as micro empresas,

valorizando o trabalho humano e a livre iniciativa, promovendo a justiça social como forma de

incentivar o desenvolvimento socioeconômico no território nacional.

4.1.2 Vantagens

Para legitimação dos artigos 170 e 179 da Constituição Federal, uma série de medidas

legais vem sido tomadas ao longo desse percurso, desde a promulgação da carta magna,

constituição cidadã de 1988, tais como a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006

que regula a microempresa e a empresa de pequeno porte; a Lei Complementar nº 128, de 19 de

dezembro de 2008, que de acordo com Macedo (2009, pp. 19-40), traz as seguintes vantagens

sistêmicas:

[...] Isenção das taxas de registros e alterações contratuais nas Juntas Comerciais e em outros órgãos públicos. [...] Emissão de notas fiscais somente para vendas de mercadorias e prestação de serviços a outras pessoas jurídicas. [...] Contabilidade e declaração de imposto de renda não obrigatórios. [...] Isenção de taxas de alvarás, além de outras. [...] Acesso às linhas de créditos para financiamento específicos com taxas serão reduzidas. [...] Acesso ao mercado para adquirir mercadorias de grandes empresas atacadistas por preços menores e acompanhadas de nota fiscal. [...] Cobertura de direitos previdenciários, tais como: auxílio-doença, salário maternidade, salário-reclusão, pensão por morte e aposentadoria por idade. [...] Pagamento único de contribuição que varia entre R$ 52,15 a R$ 57,15, incluindo todos os impostos, taxas e contribuições. [...] Regularidade fiscal, mediante comprovação das aquisições e vendas de mercadorias com notas fiscais, evitando perda de mercadorias por falta de documentação legal ou multa por inexistência de notas fiscais na saída das mercadorias. [...] Redução de risco nas reclamatórias trabalhistas, já que o dinheiro destinado a taxas e tributos será destinado a regular contratação dos empregados. [...] Comprovação de renda através da declaração extraída de sua renda devidamente regularizada. [...] Tranqüilidade de estar exercendo suas atividades de forma legal, sem a necessidade de burlar a fiscalização e com expectativa e apoio governamental e institucional e das instituições financeiras.

15

Portanto, o PL 951/2011 vem somente ampliar tais vantagens e reforçar as garantias

constitucionais previstas nos artigos 170 e 179, bem como às leis complementares 123/2006 e

128/2008, que prevê entre outros benefícios um tratamento justo e mais equânime com a

realidade fática e de Direito das micro empresas:

[...] a) Fixação de horário normal de trabalho no curso de aviso prévio., artigo 3º, II, “a”; b) Parcelamento do 13º salário em 6 parcelas, artigo 3º, II, “b”; c) Fracionamento das férias em 3 períodos, artigo 3º, II, “c”; d) Resolução de conflitos pela via arbitral, artigo 3º, VI; e) Fixação de contratação a termo sem motivação, artigo 3º, VII; f) Redução dos depósitos de FGTS, artigo 3º, VIII; dentre outros. (PL 951/2011).

Daí pressupõe-se que mesmo sendo uma questão transformadora, na quais muitos a

consideram inconstitucional, os interesses dos micro empresários têm respaldo legal, nos artigos

constitucionais 170 e 179, nas leis complementares 123/2006 e 128/2008, o que justifica o

projeto de lei 951/2011, o qual garante as vantagens requeridas.

4.1.3 Dificuldades

Em relação às dificuldades em geral, Oliveira (2006, p. 8) esclarece que:

[...] Um dos maiores obstáculos à competitividade das pequenas empresas brasileiras é a dificuldade de acesso às ferramentas de ponta da tecnologia de informação e às técnicas modernas de gestão. O atraso do ingresso do Brasil na chamada nova economia trouxe sérias conseqüências às empresas nacionais, sobretudo às de pequeno porte, para competir no mercado externo. Devido a isto, as pequenas empresas brasileiras, em função do despreparo tecnológico e de gestão, conforme acima mencionado, deixam de aproveitar inúmeras oportunidades e ainda são constantemente ameaçadas por organizações externas. O fato é que sobreviver neste cenário exige alto nível de competitividade. Em face disso, as pequenas empresas ainda sofrem com a inexistência de um tratamento mais adequado, apesar do que está previsto na Constituição brasileira, tanto das instâncias governamentais como da sociedade, de forma que seja possibilitado seu efetivo desenvolvimento e sua consolidação. O excesso de burocracia, a dificuldade na obtenção de crédito e a gestão empresarial ultrapassada fazem que sua sobrevivência seja cada vez mais difícil.

Esse pensamento confirma que a principal causa de mortalidade de muitas pequenas

empresas pode ser por diversos motivos, tais como: escassez de capital, impedimentos de

financiamento, mão de obra desqualificada, política econômica nacional desfavorável, além da

falta de planejamento. Em que as tomadas de decisões das organizações multinacionais

16

complicam mais ainda e acabam interferindo no progresso tanto das empresas de grande porte

como nas de pequeno (BARROS & MODENESI, 1993).

Os principais problemas enfrentados pelos pequenos empresários estão na gestão ineficaz,

além da falta de recursos para concorrer com o mercado que é difícil até para as grandes

empresas, restando-lhes a criatividade e persistência para atingirem seus objetivos (PEREIRA

JÚNIOR; GONÇALVES, 1995; VIEIRA, 2002).

Aliados a inadequadas informações financeiras, excessivos gastos administrativos

excessivos, inexistência de controle do inventário, insuficiência no volume de vendas, falhas de

marketing, inadequada política de preços, sistema de controle de custos ineficiente, mão de obra

desqualificada e falta de treinamento para chefias e gerências (SEGURA, SAKATA E RICCIO,

2003).

Uma série de problemas são elencados por Oliveira, os quais tipificam diversas

dificuldades na gestão das pequenas empresas, tais como:

[...]Falta na delegação: as decisões e a administração em uma só pessoa; indefinição de responsabilidade: não estão claramente estabelecidas; ceticismo e conservadorismo: a pequena empresa tende a ser conservadora em suas ações por não acreditar em algumas áreas de ação, como o marketing; falta de consultorias externas: desconhecem, desconsideram ou rejeitam a possibilidade de consultoria; senso de invulnerabilidade: acham que nada de desastroso pode acontecer-lhes; crença em que é “super-homem”: tentam provar que são melhores e que podem ter um desempenho melhor que o dos outros; senso de antiautoridade: esquivam-se do controle de suas ações que possa melhorar cada vez mais suas tarefas e seu negócio; impulsividade: sentem que devem fazer algo rapidamente e falham em explorar as implicações de suas ações e na revisão dos resultados após a ação; falta de autocontrole: sentem que podem fazer pouco, já que não conseguem controlar o que acontece a si próprios; perfeccionismo: grande inimigo do empreendedorismo, pois o tempo gasto na obtenção da perfeição muitas vezes inviabiliza os resultados; excesso de autoconfiança: pensam que têm todas as respostas e, usualmente, têm poucas; e senso de independência: pensa que é capaz de realizar todas as coisas por ele mesmo, sem a participação e ajuda de outras pessoas. (OLIVEIRA, 2006, pp. 9-10).

Diante desta perspectiva, percebe-se que tanto fatores externos, como política econômica

internacional que influenciam na economia nacional - levando-se em consideração a falta de

políticas públicas eficientes – quanto diversos erros internos de autogestão, são problemas

relevantes e diretamente responsáveis pelas principais dificuldades as quais determinam o

sucesso ou o fracasso das pequenas e microempresas.

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5 ANÁLISE JURÍDICA

É de suma importância justificar e reforçar o PL 951/2011, dentro da visão teórica do

juspositivismo, uma vez que não é fácil elaborar um projeto lei. Assim sendo, cabe referenciar

Bobbio que acerca do sentido formal, classifica o ordenamento jurídico em três características

fundamentais, da seguinte maneira:

[...] A teoria do ordenamento jurídico se baseia em três caracteres fundamentais a ela atribuídas: a unidade, a coerência, a completitude; são estas três características que fazem com que o direito no seu conjunto seja um ordenamento e, portanto, uma entidade nova, distinta das normas singulares que o constituem (BOBBIO, 1995, p. 198).

Portanto, para que o Simples Trabalhista tenha legalidade formal e material, vale apoiar-

se nas teorias do juspositivismo para que o projeto ganhe a força do ordenamento jurídico e faça

valer em sua essência como princípio constitucional, pois a ele é importante que haja a unidade –

sistema unitário de normas -, a coerência – evitar normas incompatíveis, e a completitude – a

certeza do direito.

Assim sendo, para que seja prevalecido como lei constitucional, no caso do ST, ainda tem

que ter valor de jurisdição constitucional, como bem afirma Sarmento:

[...] A jurisdição constitucional bem exercida é antes uma garantia para a democracia do que um risco. Impõe-se, todavia, uma observação final. A importância da Constituição – e do Judiciário como seu intérprete maior – não pode suprimir, por evidente, a política, o governo da maioria, nem o papel do Legislativo. A Constituição não pode ser ubíqua(SARMENTO, 2006, p. 10).

E essa garantia com fundamento do juspositivismo e da jurisdição constitucional encontra

respaldo nos seguintes artigos da Constituição Federal:

[...] Dos princípios fundamentais: Art. 1º, inciso IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; [...] e dos direitos e garantias fundamentais: Art. 3º, inciso II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais (CF, 1988, pp 11-13).

Fica claro que a Carta Magna já prevê em seus artigos a preservação dos valores sociais

do trabalho e da livre iniciativa, bem como a erradicação da pobreza e da marginalização. Pois

esses artigos, assim como tantos outros, apenas vêm corroborar o incentivo e apoio às

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microempresas, uma vez que o Estado abrange tais necessidades e muitas vezes não alcança ou

supri a contento. Papel esse encarado com responsabilidade cabível ao microempreendedores.

Em termos de valores jurídicos e tributários, a respeito das micro empresas Ministro do

STF Joaquim Barbosa é bem categórico ao ponderar:

[...] O fomento da micro e da pequena empresa foi elevado à condição de princípio constitucional, de modo a orientar todos os entes federados a conferir tratamento favorecido aos empreendedores que contam com menos recursos para fazer frente à concorrência. Por tal motivo, a literalidade da complexa legislação tributária deve ceder à interpretação mais adequada e harmônica com a finalidade de assegurar equivalência de condições para as empresas de menor porte (BARBOSA, 2010).

Ou seja, respaldo jurídico e ético o PL 951/2011 tem suficiente para a sua aprovação,

observando-se as peculiaridades da equivalência de condições que devem ser tratadas as

pequenas e microempresas.

Um fato importante é fazer uma leitura correta de uma lacuna deixada pelo art. 2º da CLT

onde se estabelece que: “Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,

assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de

serviço”.

Este artigo 2º deve receber uma ressalva, pois, quando se fala em assumir risco, põe em pé

de igualdade as pequenas e microempresas com as grandes empresas, pois, os riscos recaem

sobre as questões tributárias. Ou seja, há de se fazer essa diferenciação.

Portanto, para que o PL nº 951/2011após sua aprovação e para que seja legalmente

amparado, tem que passar pelo crivo do judiciário, com minuciosa cautela jurídica, observando-

se todas as suas nuances, além de colocá-lo em confronto com as garantias estabelecidas,

principalmente as da CLT e do Código Processo Civil (CPC), onde se divergem diversos

interesses.

Dessa forma, subentende-se que o PL nº 951/2011 atende às necessidades dos micro

empresários e ao mesmo tempo satisfaz a uma lacuna deixada pelas leis complementares

123/2006 e 128/2008. Deixando apenas a desejar a necessidade de uma entidade de classe que

represente os micro empresários, ou seja, a constituição de um sindicato para discutir de forma de

equidade os conflitos com os representantes sindicais dos trabalhadores, Governo Executivo e

Congresso nacional.

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Conforme palavra de Rui Barbosa proferida na Oração aos moços, pautada nos

ensinamentos de Aristóteles, observar a igualdade é tratar os iguais de maneira igual e os

desiguais de maneira desigual, na medida de suas desigualdades (PEREIRA Leone, Prática

Trabalhista 2ª Edição2013 p.42).

Parafraseando o professor Leone Pereira no quadro atual mundial, existe uma forte

corrente que busca a flexibilização, e desregulamentação das leis trabalhistas.

Flexibilizar significa amenizar o rigor da proteção das normas trabalhistas em prol de uma

respectiva adequação ás relações trabalhistas modernas e ao contexto atual da economia.

A desregulamentação significa a retirada da proteção trabalhista em normas jurídicas,

privilegiando a livre negociação entre as partes, princípio do negociado sobre o legislado

(PEREIRA Leone, Prática Trabalhista 2ª Edição2013 p.43).

Temos que modernizar nos campos das ideias políticas para as Micro empresas, há

flexibilização deve ser analisada com muito critério, haja vista que qualquer desregulamentação

deverá ser feita com muito cuidado. Os direitos trabalhistas foram conquistados para garantir os

Direitos dos trabalhadores, os direitos adquiridos são assegurados por lei, e esses direitos não

devem ser suprimidos por um Projeto Lei, a luz da constituição e as leis infraconstitucionais, as

mudanças que forem arguidas, devem ser feitas com um amplo debate acirrado entre ás micros

empresas, empregados, governo e a sociedade.

É importante listar os princípios regramentos básico do direito do trabalho e sua

importância na sociedade organizada:

Princípio da proteção

Princípio da norma mais favorável;

Princípio da condição mais benéfica;

Princípio da indisponibilidade;

Princípio da continuidade da relação de emprego;

Princípio da primazia da realidade.

Estes já consolidados nas normas de proteção dos trabalhadores, que dificilmente serão

mudados em detrimento de um projeto lei, em que conflita com o Direito Trabalhista, haja vista

que a representatividade das confederações e entidades sindicais, e a própria sociedade estão a

tento com qualquer tipo de perda de direitos já adquiridos.

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Em outro o giro o Princípio da Preservação da Empresa:

O princípio da preservação da empresa nasce exatamente da necessidade de lutar-se pela

preservação dessa peça fundamental de nossa economia hodierna. É princípio que se baseia em

garantias constitucionais e que se tornou um verdadeiro princípio fundamental do Direito

Empresarial a imperar sempre que necessário, sendo aplicado em prol da sobrevivência da

sociedade por cotas, de responsabilidade limitada e da empresa por ela exercida. Não há que se

discutir sobre sua prevalência ou não face á outras regras do Direito Empresarial tendente a um

objetivo contrário à manutenção da empresa (AndreLuis Saad De Oliveira).

Face à realidade econômica, o fenômeno empresarial encontra-se no centro dos interesses,

sejam particulares (dos sócios) ou públicos (de toda a coletividade). Entretanto, não se pode

aceitar que o interesse individual se sobreponha ao coletivo, por isso dissocia-se da ideia de

empresa a figura do empresário, tornando-a um ente personificado – ainda que diante de sua

noção como atividade econômica organizada de grande, médio ou pequeno porte –, sendo

considerada com muita freqüência pelos doutrinadores menos tradicionalistas como uma

instituição – restrita, porém, às grandes empresas constituídas principalmente com o intuito de

alcançar o bem comum realizando sua função social (AndreLuis Saad De Oliveira).

6 CONCLUSÃO

A elaboração de políticas públicas eficientes às que sensibilizam os legisladores para

respaldarem os interesses dos micro empresários os quais, de fato vem há anos sucumbindo, com

diversos problemas sistêmicos e econômicos de níveis nacionais e internacionais que afetam o

crescimento sócio econômico da sociedade como um todo, e que essa categoria tem um papel

importante para promover o bem-estar social de uma grande massa de brasileiros.

Pois, a economia brasileira mudou e cresceu muito a partir do início do século XXI e que

há uma necessidade de mudanças no tratamento com a categoria micro empresarial, tanto nas

questões legais – sem comprometer a nossa Constituição, muito pelo contrário, reforçando os

artigos 170 e 179 da carta magna, amparados pelas leis complementares 123/2006 e 128/2008,

quanto nas questões tributárias. E essa é a proposta do PL 951/2011: buscar equilíbrio econômico

e igualdade de competividade.

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Porque é notória a situação de nossos empreendedores que fomentam o seu pequeno

negócio familiar, muitas vezes desproporcional com a sua realidade factual, pelejando em uma

aventura cheia de riscos, responsabilidades e, acima de tudo, com a iminente probabilidade de

falecimento precoce, arrolados em dívidas cruéis decorrentes de pesados tributos e conflitos

trabalhistas, perdendo seu objetivo social e fatalmente enveredando para a clandestinidade.

E diante dessas perspectivas, o núcleo do projeto lei recai sobre a redução dos encargos

trabalhistas, e do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), a favor das micro empresas

brasileiras, objetivando incentivar a formalização dos contratos de vínculos empregatícios. Tal

alteração defendida pelo projeto Simples Trabalhista gera um paradoxo: Por um lado reduz

encargos aos olhos dos micro empresários; por outro, considerado por alguns doutrinadores como

inconstitucional fundamentada na precariedade de contratação de força produtiva.

Pelo fato de que há quem acredite que o PL nº 951/2011 fere garantias de direitos

individuais do empregado no tocante à definição do período de gozo de férias, formas de

utilização do aviso prévio e parcelamento do 13º salário, que normalmente são acertados entre

empregados e empregadores. No entanto, o projeto visa a desburocratizar os contratos da

formalização legal dos empregados das micro e pequenas empresas. Pois, o que se busca é uma

equidade socioeconômica gradativa com início e término.

Não existe um pensamento pragmático neste projeto de mudar a consolidação das leis

trabalhistas (CLT), apenas de atualizá-la com as realidades atuais do nosso país, e do micro

empresário. Garantindo, em longo prazo, sua consolidação por meio de políticas públicas as quais

apesar de emergentes, ainda são insuficientes, morosas e burocráticas em suas realizações e no

cumprimento de seus deveres.

Portanto, sustentar as hipóteses defendidas no PL 951/2011 envolve as mais diversificadas

especulações por parte de três segmentos envolvidos: a defesa dos negócios dos grandes e mega

empresários, detentores culturalmente do mercado de trabalho privado como monopolizadores do

sistema trabalhista celetista; o pleito defendido pelos micros e pequenos empresários (maiores

beneficiários do Simples Trabalhista); e os interesses e direitos dos empregados, os quais

denotam maior fragilidade e, consequentemente, merecem maiores cuidados nesse processo.

O que parece é que o Simples Trabalhista é uma tentativa para corrigir distorções da

injustiça social, não é perfeito, precisa de alguns ajustes, com ideias que não tirem direitos dos

trabalhadores já consolidados.

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A lei é sensata e muito bem fundamentada em querer fomentar os debates neste tema tão

conflitante e suas normas vigentes, está aberta ao diálogo, com fiscalização governamental,

cobertura jurídica e grande aceitação por parte do maior interessado que são as pequenas e

microempresas com uma representação legitima constituída junto ao governo e toda sociedade.

\Às micro empresas procuram trabalhar dentro da legalidade, e promover a saúde

financeira de sua instituição, além de promover o desenvolvimento social, cultural e educacional

sempre em função de uma melhor distribuição de renda mais equilibrada e correta,

principalmente, para os menos favorecidos que até então, encontram-se excluídos em um manto

de invisibilidade e sem respaldo legal adequado.

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