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Curso de Pedagogia Artigo Original A INTERAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS COMO RECURSO PEDAGÓGICO DA LITERATURA INFANTIL INTERACTION OF FAIRY TALES AS EDUCATIONAL RESOURCE OF CHILDREN'S LITERATURE Fernanda Oliveira Soares 1 , Veridiane Schulz 1 , Renata Silva Almendra 2 1 Aluna do Curso de Pedagogia 2 Professora Mestre do Curso de Pedagogia Resumo A interação dos contos de fadas permite estimular a criatividade, a imaginação e o hábito da leitura nas crianças. O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar a importância dos contos de fadas como recurso pedagógico e sua influência na construção da personalidade da criança, contribuindo com seu desenvolvimento de forma mais completa. Verifica-se a importância de sua inserção pelos professores e familiares no processo de ensino-aprendizagem. Os contos atuam no processo de gosto pela construção da leitura na formação da personalidade da criança de forma significativa, sendo indispensável para sua formação social. Palavras-Chave: contos de fadas; contação de histórias; literatura infantil; pedagogia. Abstract The interaction of fairy tales can stimulate creativity, imagination and the habit of reading in children. This study has the general objective of evaluating the importance of fairy tales as an educational resource and its influence on the child's personality building, contributing to its development more fully. There is the importance of their integration by teachers and family in the teaching-learning process. Tales like to work in the construction process of reading in the formation of active readers and the formation of significantly child's personality, it is essential to their social training. Keywords: fairy tales; storytelling; children's literature; pedagogy. Contato: [email protected] [email protected] Introdução Literatura Infantil é um segmento literário voltado especificamente para o universo das crianças. Para compreender a Literatura Infantil, é necessário primeiramente que se tenha exata noção do que entendemos como tal, porque tantas são as críticas, quanto são os conceitos. Há uma enorme discussão a respeito do que é bom e ruim, bem como para que serve a Literatura Infantil. A discussão passa pela conceituação, a concepção da infância e do leitor, a ligação da Literatura Infantil e a escola, até o caráter literário dessas obras para as crianças. Há aqueles que defendem que o livro literário é o objeto escolhido pelo seu próprio leitor, outros que é o objeto de formação de um agente transformador da sociedade e há até aqueles que questionam o fato de existir uma Literatura Infantil ou de ela ser uma questão de estilo. Este artigo procura abordar brevemente alguns apontamentos sobre a definição de Literatura Infantil, bem como o processo histórico de construção da mesma, observando a ordem cronológica a partir da sua origem no século XVIII e os contos de fadas como influência pedagógica. Desde a infância há o encanto com os contos de fadas por sua magia, que atrai a atenção ao viajar no mundo de fantasia utilizando a imaginação e criatividade. Os clássicos da literatura infantil como Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria e outros contos, instigam a curiosidade e hábito da leitura, o que faz as crianças se identificarem a partir das diversas representações. Dessa maneira o presente trabalho tem como objetivo compreender melhor a importância do uso da Literatura Infantil, em especial dos contos de fadas, como recurso pedagógico de interação em sala de aula no processo de construção do gosto pela leitura e da identidade da criança de forma significativa e prazerosa. Assim, ao ler uma história para a criança, o professor deve estimular o exercício da mente,

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Curso de Pedagogia Artigo Original

A INTERAÇÃO DOS CONTOS DE FADAS COMO RECURSO PEDAGÓGICO DA LITERATURA INFANTIL INTERACTION OF FAIRY TALES AS EDUCATIONAL RESOURCE OF CHILDREN'S LITERATURE

Fernanda Oliveira Soares

1, Veridiane Schulz

1, Renata Silva Almendra

2

1 Aluna do Curso de Pedagogia 2 Professora Mestre do Curso de Pedagogia

Resumo

A interação dos contos de fadas permite estimular a criatividade, a imaginação e o hábito da leitura nas crianças. O presente trabalho

tem como objetivo geral avaliar a importância dos contos de fadas como recurso pedagógico e sua influência na construção da

personalidade da criança, contribuindo com seu desenvolvimento de forma mais completa. Verifica-se a importância de sua inserção

pelos professores e familiares no processo de ensino-aprendizagem. Os contos atuam no processo de gosto pela construção da leitura

na formação da personalidade da criança de forma significativa, sendo indispensável para sua formação social.

Palavras-Chave: contos de fadas; contação de histórias; literatura infantil; pedagogia.

Abstract

The interaction of fairy tales can stimulate creativity, imagination and the habit of reading in children. This study has the general

objective of evaluating the importance of fairy tales as an educational resource and its influence on the child's personality building,

contributing to its development more fully. There is the importance of their integration by teachers and family in the teaching-learning

process. Tales like to work in the construction process of reading in the formation of active readers and the formation of significantly

child's personality, it is essential to their social training.

Keywords: fairy tales; storytelling; children's literature; pedagogy.

Contato: [email protected]

[email protected]

Introdução

Literatura Infantil é um segmento literário voltado especificamente para o universo das crianças. Para compreender a Literatura Infantil, é necessário primeiramente que se tenha exata noção do que entendemos como tal, porque tantas são as críticas, quanto são os conceitos.

Há uma enorme discussão a respeito do que é bom e ruim, bem como para que serve a Literatura Infantil. A discussão passa pela conceituação, a concepção da infância e do leitor, a ligação da Literatura Infantil e a escola, até o caráter literário dessas obras para as crianças.

Há aqueles que defendem que o livro literário é o objeto escolhido pelo seu próprio leitor, outros que é o objeto de formação de um agente transformador da sociedade e há até aqueles que questionam o fato de existir uma Literatura Infantil ou de ela ser uma questão de estilo.

Este artigo procura abordar brevemente

alguns apontamentos sobre a definição de Literatura Infantil, bem como o processo histórico de construção da mesma, observando a ordem cronológica a partir da sua origem no século XVIII e os contos de fadas como influência pedagógica. Desde a infância há o encanto com os contos de fadas por sua magia, que atrai a atenção ao viajar no mundo de fantasia utilizando a imaginação e criatividade. Os clássicos da literatura infantil como Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria e outros contos, instigam a curiosidade e hábito da leitura, o que faz as crianças se identificarem a partir das diversas representações.

Dessa maneira o presente trabalho tem como objetivo compreender melhor a importância do uso da Literatura Infantil, em especial dos contos de fadas, como recurso pedagógico de interação em sala de aula no processo de construção do gosto pela leitura e da identidade da criança de forma significativa e prazerosa. Assim, ao ler uma história para a criança, o professor deve estimular o exercício da mente,

despertar a criatividade com a vantagem de que o texto trabalha com a linguagem e produção literária e permite que a criança conheça o fascinante mundo da literatura infantil a fim de interagir com o prazer da leitura dos contos com as representações e correlações com o mundo real.

A escolha desse tema se deu pelo nosso interesse em saber como os contos de fadas interferem no aprendizado das crianças, bem como no incentivo à leitura e como isto influencia no descobrimento e exploração do que é real no mundo mediante a interação desta construção de conhecimento. Nos encantamos com os contos de fadas por sua magia desde a nossa infância, atraindo nossa atenção sobre como estes fazem o indivíduo criar imaginações e viajar no mundo da fantasia.

Realizamos uma pesquisa de campo, de cunho quantitativo e qualitativo na Escola Classe 05 que se localiza na QE 20, área especial K do Guará II, cujo Projeto Político Pedagógico tem como prática pedagógica o envolvimento da família, alunos, funcionários e comunidade no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa foi desenvolvida por meio de grupos focais organizado em uma roda de conversa onde os alunos do ciclo 1 (1º e 2º ano), expuseram suas opiniões acerca dos contos de fadas.

Para nos embasar teoricamente, lançamos mão de uma pesquisa bibliográfica, apresentando e dialogando com autores que tratam deste tema em suas respectivas obras, como Vygotsky, Bettelheim, Paulo Freire, Ambramovich, entre outros.

Para apresentar a pesquisa realizada, este artigo foi desenvolvido em 3 tópicos. O primeiro visa discorrer sobre os conceitos e uma breve história da literatura infantil. No segundo tópico refletimos sobre a literatura infantil como recurso pedagógico e sua utilização em sala de aula. Por fim, apresentamos os resultados da pesquisa de campo realizada in loco no ambiente de uma escola.

Assim, esperamos com este artigo, apresentar e discutir o sentido pedagógico atribuído aos contos de fadas da Literatura Infantil, levando em consideração os depoimentos dos alunos pesquisados, e a impressão que eles possuem sobre os contos e suas interpretações. Com o intuito de avaliar a importância dos contos de fadas e sua influência na construção da personalidade da criança, analisamos as possíveis evidências dos contos que incentivam o hábito da leitura ajudando os professores na formação de leitores ativos e na construção da identidade da criança de forma significativa

1. Literatura Infantil

De acordo com o dicionário Michaelis, segue o

conceito de Literatura:

1. Arte de compor escritos, em prosa ou em verso, de acordo com princípios teóricos ou práticos. 2. O exercício dessa arte ou da eloquência e poesia. 3. O conjunto das obras literárias de um agregado social, ou em dada linguagem, ou referidas a determinado assunto: Literatura infantil, literatura científica, literatura de propaganda ou publicitária. 4. A história das obras literárias do espírito humano. 5. O conjunto dos homens distintos nas letras. L. amena: literatura recreativa; beletrística. L. de cordel: a de pouco ou nenhum valor literário, como a das brochuras penduradas em cordel nas bancas dos jornaleiros. L. de ficção: o romance e o conto (também se diz simplesmente ficção). L. oral: todas as manifestações culturais (conto, lenda, mito, adivinhações, provérbios, cantos, orações etc.), de fundo literário, transmitidas por processos não gráficos; parte do folclore.

O termo literatura infantil não necessariamente é associado apenas para às crianças, sendo vinculado, de certa forma, para qualquer leitor que se reconhece dentro dela.

Antônio Cândido (1972), crítico literário e sociólogo, corrobora para esta discussão, apresentando o seu conceito de literatura:

A arte e, portanto, a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal de linguagem, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade. (p.53)

A Literatura Infantil, diferentemente da literatura em geral voltada para adultos, assume padrões específicos e contornos próprios. A criança inicia o conhecimento da realidade que a rodeia principalmente pelos contatos afetivos, por isso, esta começa a ser conquistada pela literatura, ou seja, sua própria linguagem e realidade à sua volta identificadas. Sendo assim, o livro de Literatura Infantil tem que ser de alguma forma atraente, tendo o humor, um certo clima de expectativa ou mistérios como elementos essenciais nos livros para a criança.

Leva-se em consideração que todo esse interesse por Literatura Infantil é uma experiência das crianças e o que as cercam, isto é, o mundo em que elas vivem, tanto quanto o mundo

fantasioso de suas imaginações.

Literatura Infantil é todo um planejamento literário para a criança desenvolver o gosto pela leitura. Nesse sentido, Faria (2008, p.19) nos aponta que: “Nos bons livros infantis ilustrados, o texto e a imagem se articulam de tal modo que ambos concorrem para a boa compreensão da narrativa e apreço e pela leitura”.

Segundo Bettelheim (2014), a Literatura Infantil é o que existe de mais real para as crianças, pois, por meio de uma linguagem acessível e mágica, os livros falam diretamente ao mundo interno da criança, ajudando-a a encontrar saídas para uma leitura interpretada, muitas vezes identificando os heróis e adquirindo conhecimentos para o seu mundo de imaginação. A partir do prazer e das emoções que as histórias proporcionam às crianças, o simbolismo implícito nas tramas e personagens atua aos poucos no inconsciente, contribuindo em termos emocionais, desenvolvendo a capacidade da fantasia infantil.

Faz-se necessário ter sempre presente o ato de ler como instrumento de transformação do indivíduo e de emancipação cultural. Desde muito cedo, a literatura pode e deve servir como um instrumento que estimula a construção de conceitos e valores, fortalecimento de identidades, etc. É por meio do fantasioso que a literatura proporciona emoções, sensações, sentimentos, prazer no que se sente e ouve. A Literatura Infantil possibilita à criança viver intensamente suas experiências e descobertas infantis.

Dessa forma, as diferentes maneiras que encontramos de contar histórias para crianças permitem que elas vivenciem ricas experiências, e quanto mais ricas forem estas experiências, a viagem ao seu mundo imaginário e à sua criatividade serão demonstradas em suas ações e interações com o mundo real.

Estudos apontam que a Literatura Infantil surgiu na Europa na primeira metade do século XVIII, simultaneamente na França e Inglaterra. Neste período, a forte urbanização e a consolidação da burguesia como classe social trouxe mudanças significativas na forma de ver a criança na sociedade. Assim, o surgimento da Literatura Infantil tem características próprias e específicas, pois nasce como consequência da ascensão da família burguesa e do novo “status” concedido à infância. A partir desse momento, a criança passa a ser vista como um ser diferente do adulto e merecedor de um espaço reservado para sua educação e cuidados. Nesse sentido, Cunha (2002) destaca que:

A literatura infantil tem relativamente poucos capítulos, começa a delinear-se no início do século XVIII, quando a criança passa a ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria se

distanciar da vida dos mais velhos e receber uma educação especial que a preparasse para a vida adulta. (p.22)

Desde o início a Literatura Infantil já nasceu associada à Pedagogia, afinal muitas histórias eram elaboradas como instrumentos pedagógicos e com o objetivo de propagar valores morais da sociedade da época. À medida que os anos se passavam, a fábula foi sendo definitivamente introduzida na literatura ocidental.

Este segmento da literatura voltado às crianças foi constituído como gênero durante o século XIX, época em que algumas mudanças que ocorreram na estrutura da sociedade desencadearam repercussões também no âmbito artístico e social.

Surge, aos poucos, a relevância da Literatura Infantil e de seu estudo. Outras características completam a definição da Literatura Infantil, impondo suas características e especificidades, deixando transparecer o modo como o adulto quer que a criança veja o mundo.

O século XIX inicia pela repetição dos caminhos bem-sucedidos que a Literatura Infantil já trilhava. Os irmãos Grimm, em 1812, editam a coleção de contos de fadas que, dado o sucesso obtido por suas histórias, converte-se de certo modo em sinônimo de literatura para crianças. A partir de então, define-se com maior segurança os tipos de livros que agradam mais aos pequenos leitores, determinando melhor as principais linhas de ações pedagógicas. Em primeiro lugar ocorreu a predileção por histórias fantásticas, modelo adotado sucessivamente pelos renomados autores Hans Christian Andersen, nos seus “Contos” (1833), Lewis Carroll, em “Alice no país das maravilhas” (1863), Collodi, em “Pinóquio” (1883), e James Barrie, em “Peter Pan” (1911).

Somente depois da mudança acerca da concepção sobre infância é que se começou a pensar numa literatura para crianças, pois, até então, elas eram vistas como “adultos em miniaturas”. Todavia, nessa época, a literatura baseava-se numa formação de cunho pedagógico, ou seja, estabelecia normas e valores morais a serem seguidos pelas pessoas para que pudessem viver de maneira correta no meio social em que se encontravam. Isso pode ser percebido pela posição que o adulto tomava frente às crianças, pois neste contexto social a criança é o reflexo do que o adulto e a sociedade querem que ela seja e se torne.

Assim, os primeiros escritos literários feitos para as crianças foram produzidos por educadores, tendo um forte caráter educativo, já que visavam a formação moral do indivíduo. No Brasil, a Literatura Infantil só chegou ao final do século XIX, com o advento da República. Na literatura formal, predominavam as traduções de clássicos estrangeiros. Mariza Lajolo e Regina

Zilberman (1984), ao estudarem a história da literatura brasileira, demonstram que o Brasil possui aproximadamente 100 anos de literatura com características bastante originais, que combinam as contribuições europeias (sobretudo portuguesa), africanas e indígenas. Segundo as autoras, a literatura oral trazida pelos primeiros colonizadores era narrada pelas avós, que entretinham as crianças com histórias infantis, a elas somaram-se as histórias das escravas negras, que andavam de engenho em engenho transmitindo-as às outras negras, amas dos meninos brancos.

As histórias e contos transmitidos pela oralidade prevaleceram por muitos anos, marcados pelo misticismo e o folclore das culturas indígenas e europeias. Vale ressaltar que o contato com a cultura indígena trouxe inúmeros elementos que vieram enriquecer esse imaginário - figuras com Iara, o Minhocão, a Matinta-Pereira e muitas outras.

No entanto, quando se começa a editar livros para a infância no Brasil, a literatura infantil europeia apresenta-se como um acervo sólido que se multiplica pela reprodução de características comuns.

Por outro lado, propagam-se no Brasil respostas às exigências locais emergindo, assim, a vertente brasileira do gênero, cujas histórias particulares possuíam elementos próprios, não desmentindo o roteiro geral imposto pelos estrangeiros (LAJOLO, 1991).

O primeiro gibi brasileiro, de sucesso literário entre os poucos leitores do país, é o Tico-Tico, surgido no Rio de Janeiro em 1905. Porém, muito antes, em 1869, o caricaturista Ângelo Agostini lança as aventuras de Nhô-quim na revista carioca Vida Fluminense. O Zé Carioca, personagem de Walt Disney, entra no Brasil após a Segunda Guerra Mundial a fim de substituir o Jeca Tatu, personagem criado por Monteiro Lobato para criticar o Brasil da época de Getúlio Vargas, atitude que lhe rendeu o exílio durante a ditadura desse Presidente da República.

Com os gibis, até as crianças que ainda não sabem ler diretamente, experimentam a sensação de serem leitores por meio das ilustrações, por deduzirem o significado da história, com relativa facilidade.

A partir da década de 1920 a situação começa a mudar. Em virtude das influências das vanguardas, em algumas regiões do Brasil inicia-se um processo de transformação, resultando em um maior desenvolvimento da leitura infantil.

Mas foi a partir das obras de Monteiro Lobato que a literatura infantil brasileira ganhou corpo e definição. Entre 1920 e 1930, Lobato criou não apenas uma história, mas todo um mundo povoado por criaturas em que misturam verdade e

fantasia. No Sitio do Pica-Pau Amarelo, o leitor participa de aventuras engraçadas com as crianças Pedrinho e Narizinho, a boneca falante Emília, além do Visconde de Sabugosa, sábio feito de sabugo de milho, do Marquês de Rabicó, um leitão humanizado, Dona Benta, a avó, Tia Anastácia, a cozinheira e outros. SANDRINI (1987) faz o seguinte comentário em relação à obra de Lobato:

Com Lobato, os pequenos leitores adquirem consciência crítica e conhecimento de inúmeros problemas concretos do País e da humanidade em geral. Ele desmistifica a moral tradicional e prega a verdade individual. Instaura, portanto, a liberdade. Sem coleiras, pensando por si mesma, a criança vê, num mundo onde não há limites entre realidade e fantasia, que ela pode ser agente de transformação. (p.53)

Observa-se que a Literatura Infantil assume desde o princípio a condição de uma mercadoria acessível somente à classe burguesa. A Literatura Infantil trabalha sobre a língua escrita, e depende da capacidade de leitura das crianças o que supõe estas terem passado pelo crivo da escola.

Acredita-se que por muito tempo, a literatura infantil foi considerada uma realização menor em função de estereótipos que hoje estão praticamente erradicados. Por seu crescente compromisso com a qualidade estética, a literatura voltada para crianças e jovens ocupou um espaço no conjunto de obras da literatura nacional. Destaca-se que a infância e juventude são períodos da vida que proporcionam devaneios fundamentais para a saúde mental do futuro adulto e sua capacidade de enfrentar desafios e resolver conflitos. Assim, a utilização da literatura no contexto escolar como instrumentos de aprendizagem, construção e aquisição de conhecimento no espaço infantil é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança.

2. Os contos de fadas como prática pedagógica

Os contos de fadas, surgidos no século XVII, possuem origem celta de natureza existenci-al, espiritual e ética. A palavra fada vem do latim e significa destino/fatalidade. Muitas histórias anti-gas e folclóricas são abordadas nos contos de fadas, que têm ampla aceitação no mundo inteiro e permeiam a vida de milhares de crianças ao longo dos séculos.

A título de exemplo, podemos citar alguns autores e seus contos de fadas mais famosos. Charles Perralt transformou a história do folclore europeu em contos de fadas ao escrever o célebre “Chapeuzinho Vermelho’’. Hans Christian Ander-

sen era um dinamarquês que escreveu vários contos, entre eles “O patinho feio”.

Nos dias de hoje, percebe-se que as crianças começam a formar sua visão de mundo, despertar para rabiscos, traços e desenhos desde muito pequenas, conforme as oportunidades que lhes são oferecidas. Geralmente os livros infantis são acompanhados de ilustrações que nos impulsionam para um universo mágico e fantasioso.

Então, cabe enfatizar a importância da ilustração como forma de despertar a imaginação, sendo que, os professores podem optar por trabalhar somente com as imagens, apresentando desenhos já prontos aos alunos ou podem possibilitar que as próprias crianças produzam as ilustrações dando a elas a oportunidade de criarem sua história.

Vale destacar que se faz necessário colocar as crianças em contato com a leitura e mundo de maneira agradável. De acordo com Ambramovich (2006):

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...]. (p.16)

Diversos processos mentais superiores, como a percepção, a memória e a atenção, iniciam-se com o aprendizado por meio da literatura infantil. Ela habilita a criança a criar instrumentos auxiliares e na solução de problemas, a superar a ação impulsiva e a controlar seu próprio comportamento.

Segundo Freire (2011), a linguagem e a realidade estão interligadas:

A literatura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não posso prescindir de continuidade da literatura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (p.11)

Vygotsky (2010) aponta para o fato de que “(...) a criança envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados” (p.106). Portanto, livros infantis são permeados de fantasias, onde animais e objetos falam, crianças protagonizam aventuras e todo um universo mítico e ilusório se faz presente por meio de alegorias à vida das crianças.

Ao ouvir um conto, as crianças se sentem atraídas e assim constroem o gosto pela leitura, envolvendo a imaginação, a reflexão e ainda a linguagem. Os contos de fadas então passam a ter influência na formação das crianças para que se tenha o entendimento dos valores humanos e sociais de forma mais descomplicada. Como cita Bettelheim (2014):

Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si própria e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis distintos de significado e enriquece a sua existência de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à profusão e diversidade das contribuições dadas por esses contos à vida da criança. (p.20)

As histórias colaboram com a solução de conflitos cotidianos típicos da primeira infância. Trazem um mundo de descobertas as envolvendo de tal maneira que as possibilitam formar sua iden-tidade, atribuindo valores sociais e princípios mo-rais através de seus personagens como rainhas, princesas, príncipes e fadas. Bettelheim (2014) relata sobre como os contos de fadas interferem nas escolhas das crianças e no desenvolvimento de sua personalidade:

Além disso, as escolhas das crianças são baseadas não tanto no certo versus o errado mas em quem desperta a sua simpatia e quem a sua antipatia. Quanto mais simples e direta é uma personagem boa, tanto mais fácil para a criança identificar-se com ela e rejeitar a outra má. Ela se identifica com o herói bom não por causa de sua bondade, mas porque a condição deste tem para ela um profundo apelo positivo. A questão para a criança não é: “Será que quero ser bom?’’, mas: “Com quem quero me parecer’’. [...] Se a personagem dos contos de fadas é uma pessoa muito boa, então ela decide que se quer ser boa também. (p. 17-18)

Coelho (2000, p. 19) diz que: “um importante caminho a ser seguido nesse aspecto é a exploração fruitiva entre locutor ou um escritor-adulto (emissor) e um destinatário-criança (receptor)”. Então, o professor que estimula o hábito da leitura, ajuda a formar leitores fluentes que tenham ânsia pelo conhecimento do novo com curiosidade pelo desconhecido. E os contos são o gênero com o qual as crianças mais se identificam, talvez pela sua simplicidade que ajuda a estimular nelas o hábito da leitura.

Ler uma história para uma criança é diferen-te de contar uma história, pois, ao ler, você tem que ser leal a ela, ou seja, não pode haver mu-danças e nem diferentes interpretações. Já ao contar uma história é possível alterá-la de acordo com suas peculiaridades, criatividade e imagina-ção. Ambramovich (2006) cita que:

Esses livros (feitos para crianças pequenas, mas que podem encantar aos de qualquer idade) são sobretudo experiências de olhar... De um olhar múltiplo, pois se vê com os olhos do autor e do olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e as personagens de modo diferente, conforme percebem o mundo [...] (p.33)

Por meio do contato com os livros desde pequenas, surge naturalmente o prazer pela leitu-ra. E a leitura dos contos liga o imaginário ao real, sendo despertado o interesse infantil através da magia que os envolve. Ao ter acesso ao hábito da leitura, as crianças se tornam mais críticas e refle-xivas. Ainda de acordo com Ambramovich (2006):

Ler histórias para crianças sempre, sempre... É poder sorrir, rir, gargalhar, com as situações vi-vidas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosi-dade respondida em relação a tantas pergun-tas, é encontrar outras ideias para solucionar questões. (p.17)

Ao ler ou ouvir um conto, a criança é capaz de se reconhecer através dos conflitos, medos, sonhos e situações familiares. Desta forma, os contos de fadas representam uma arte de suma importância na formação da identidade da criança. Deve-se destacar que o lúdico desperta o encan-tamento em um mundo de magia na qual a criança se reconhece dentro dela no seu íntimo que se torna indispensável na construção do conhecimen-to e desenvolvimento. Dessa forma Ambramovich (2006) também nos fala sobre as emoções que se podem sentir ao ouvir uma história:

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam e quem as ouve. (p.33)

Ao serem utilizados como recurso pedagógico nas escolas, os contos de fadas têm a capacidade de conduzir as crianças por meio do lúdico na formação de novos conhecimentos com um desenvolvimento que é capaz de atravessar todas as áreas do conhecimento.

Por meio da leitura se permite adquirir novos conhecimentos e diversas informações distintas, de forma ampliada e interdisciplinar. Ademais, a literatura também atua na inserção social da criança no mundo através do sentido, interpretação e compreensão de mundo.

Os contos devem ser utilizados como re-curso pedagógico dentro da sala de aula sendo um grande aliado dos professores no processo de

alfabetização por apresentarem uma sequência com início, meio e fim, que permite com que os alunos se identifiquem com os personagens, os despertando para o processo de aprendizado da leitura.

Os contos contribuem para a prática peda-gógica com o desenvolvimento das emoções, que são capazes de despertar alegrias e tristezas. A literatura pode ser incorporada ao processo de ensino e aprendizagem, contribuindo para o cres-cimento da criança e da compreensão que cada uma tem de si própria e do mundo que a envolve.

Desta forma os contos devem ser utilizados na prática pedagógica para ampliar o conhecimento dos alunos, auxiliando e facilitando os professores a mediar a construção de novos saberes.

3. Trabalhando os contos em sala de aula

3.1. Os sujeitos da pesquisa

A pesquisa foi feita com alunos do ciclo 1 (1º e 2º ano) da Escola Classe 05 que se localiza na QE 20 área especial K do Guará I, com o objetivo de analisar como as crianças expõem suas opiniões e concepções acerca dos contos de fadas.

3.2. Instrumentos da pesquisa

Foram selecionadas duas obras: Chapeuzinho Vermelho e Chapeuzinho Amarelo. A pesquisa foi desenvolvida por meio de grupos focais organizado em uma roda de conversa. Usamos um gravador de voz para registrar a coleta de dados na qual promovemos uma contação de história do Conto de Chapeuzinho Vermelho (Charles Perrault) e Chapeuzinho Amarelo (Chico Buarque de Holanda) para as crianças na qual foi aplicada em dois momentos, sendo uma história contada para a turma do 1º ano e a outra para a turma do 2º ano. Após ouvirem a história contada pela professora, foram feitas algumas perguntas relacionadas aos contos, dando-lhes a oportunidade de exporem suas opiniões.

3.3. As oficinas de contação de histórias

Inicialmente foi feita uma conversa com as professoras regentes das duas turmas, onde explicamos a proposta de trabalho a ser realizada e as convidamos para colaborar com essa importante etapa de nossa pesquisa. Elaboramos a metodologia a ser trabalhada em sala de aula, que compreendia a contação de um conto de fadas e uma posterior conversa com os alunos, visando trabalhar a interpretação e a compreensão das crianças em relação à história contada.

A turma do 1º ano é composta por 24 alunos, sendo 13 meninas e 11 meninos com idades que variam de 5 a 7 anos. A professora da turma realizou a atividade conforme elaboramos e nós pudemos observar também sua forma de trabalho e como é a sua relação com a turma.

Vale destacar que quando fomos até a professora pedir a autorização para fazermos a pesquisa na turma dela, perguntamos a ela se amava o que fazia. E ela com um sorriso no rosto respondeu: “eu amo o que faço porque estar aqui com essas crianças para mim é uma psicoterapia porque às vezes eu chego aqui chateada com alguma coisa e eles chegam dão bom dia e já te dá aquele abraço bem forte e você sabe que é um abraço verdadeiro. No momento em que a professora contava a história observamos a ligação que ela tem com as crianças, é uma ligação muito bonita, quando se faz o que se ama o retorno é muito gratificante.

Assim, a atividade foi realizada no dia 05/05/2015, às 10h00min horas da manhã, após as crianças voltarem do intervalo. A professora organizou a sala com muito carinho, colocou os alunos para sentarem no chão da sala um do lado do outro, montou a casinha dos fantoches e com os fantoches começou a contar a história do Chapeuzinho Vermelho. A linguagem foi muito clara, a professora conta história com muita dedicação e faz várias vozes diferentes para que as crianças possam saber diferenciar os personagens do conto.

Podemos perceber que as crianças gostam muito da contação de histórias, pois para elas não é uma obrigação, ao passo que também faz parte do plano de aula da professora. Com tanto carisma e dedicação da professora, elas acatam a história de uma forma muito produtiva e participam ativamente como se elas estivessem vivendo o conto de fadas. Essa atividade é bastante frequente nessa turma e as crianças estão habituadas a ouvir todos os dias várias histórias diferentes e são apaixonadas.

Sempre que conta uma história, a professora do 1º ano faz uma ligação pedagógica com o mundo real em que as crianças vivem, pois elas precisam ouvir histórias sem deixar de entender que elas vivem num mundo onde existem muitas coisas boas e ruins. Dessa forma, ela sempre explica os dois lados da história, sempre atentando para o bom desenvolvimento do conhecimento da criança.

Para continuarmos nossa pesquisa, partimos para a segunda etapa com a turma do 2º ano do ensino fundamental, para sabermos qual é percepção deles referente à história do Chapeuzinho Amarelo. Como são crianças um pouco mais elevadas na idade, achamos melhor fazer uma comparação com eles sobre a Chapeuzinho Vermelho e a Chapeuzinho Amarelo,

pois todos já ouviram a Chapeuzinho Vermelho e já sabiam toda a história, enquanto que a Chapeuzinho Amarelo apenas 4 crianças já tinham conhecimento.

Pedimos a autorização da professora do 2º ano que nos concebeu a oportunidade com muito carinho. A turma tem 25 alunos, sendo 13 meninos e 12 meninas. São crianças bem agitadas, e não foi fácil contar história para eles, porque não é um hábito da professora contar histórias todos os dias como na turma da professora do 1º ano.

A professora do 2º ano dá a oportunidade para eles pegarem um livro e ler nas horas vagas em que estão sem tarefas para fazer. Na escola tem uma biblioteca e cada dia da semana uma turma é escolhida e a escola disponibiliza para cada aluno levar um livro de história para casa para ler.

Nesta turma nós tivemos que contar a história e começamos as 10h30min, após o intervalo, no dia 12/05/2015. Para iniciar, os alunos ficaram sentados nas suas carteiras em filas bem organizadas, e a contação de história foi feita com muito sucesso, apesar da inquietação porque eles falavam ao mesmo tempo.

A ligação da professora do 2º ano é de muito carinho e dedicação também. São muitos alunos na mesma turma e tem um especial que está em processo de observação. Ele é muito hiperativo e não fica quieto nenhum momento. Porém na hora da história ele colaborou muito bem, prestou bastante atenção e ficou curioso para saber o fim da história.

3.4. Análise de dados

Ao final de cada história, fizemos algumas perguntas para a turma, no intuito de trabalhar a interpretação e o entendimento da história por parte das crianças. Segue abaixo algumas perguntas realizadas a turma do 1º ano e as respostas mais interessantes para análise desta pesquisa:

1) Se você fosse um personagem da história, qual você seria? E por quê?

Aluno 1: respondeu que queria ser a vovozinha. Porque ela era bem velhinha e ela gostava dos velhinhos.

Aluno 2: disse que queria ser o caçador, para proteger as pessoas que vivem na floresta.

Aluno 3: disse que queria ser a mamãe da Chapeuzinho porque ela estava certa, falou para Chapeuzinho não ir pela floresta e ela teimou e foi.

2) Se vocês se deparassem com o lobo mal na floresta o que vocês fariam?

Aluno 1: disse que dava um uma lição no

lobo que não pode ser mau.

Aluno 2: disse que saia correndo porque tinha medo do lobo mau come-lo.

Aluno 3: disse que ficava parado sem reação.

3) Vocês já ouviram a história antes? Gosta-ram?

Aluno 1: disse que já tinha ouvido, e que gostava muito por causa do lobo mau.

Aluno 2: ressaltou a mesma coisa que o aluno 1.

Aluno 3: disse que amava a Chapeuzinho Vermelho.

4) O que acontece com a criança quando ela desobedece ao papai e a mamãe?

Aluno 1: disse que o lobo mau come a criança.

Aluno 2: disse que papai do céu castiga.

Aluno 3: disse que desobedecer aos pais só acontece coisas ruins porque os pais sabem o que é melhor para eles.

5) Alguém sabe informar porque a Chapeu-zinho desobedeceu a mamãe?

Aluno 1: disse que ela desobedeceu porque era uma má menina.

Aluno 2: disse que ela era muito inocente por isso confiou no lobo disfarçado de anjo.

Aluno 3: disse que a Chapeuzinho não sabia que o lobo existia de verdade.

Achamos produtiva a história contada em sala. Observamos que as crianças se entregam totalmente no mundo da imaginação e as lições da história servem também para o mundo real, por exemplo: quando o aluno 3 da questão número 04 diz que não pode desobedecer aos pais porque acontece coisas ruins, e os pais sabem o que é melhor para os filhos. É onde entra o trabalho pedagógico e as possibilidades de um trabalho socioafetivo com as crianças.

Cada criança traz de casa uma educação conforme a estrutura da família. Claro que muitas famílias têm suas dificuldades e não podem acompanhar seus filhos nos deveres de casa, e com isso a criança perde um pouco a estrutura da aprendizagem porque a família é a base da criança em tudo. De forma geral, os alunos das turmas onde o projeto foi aplicado são muito doces, algumas um pouco carentes e muitas

bastante agitadas. Em sala de aula a professora tenta o máximo que pode para recuperar o atraso e também dar carinho a eles quando necessário.

Eles observam com muita atenção a história contada e não conseguem guardar a ansiedade de perguntar para a professora o que acontece com o personagem que faz o papel de bonzinho. Por este motivo notamos que as crianças sabem definir o lado bom e ruim da história. Há algumas crianças que, no momento da contação de história, quando tem algo que passa certo medo, ele fica encolhidinho, é a forma como ele consegue naquele momento se proteger do que sente. E esse medo também é trabalhado no fim da contação da história. A professora sempre observa seus alunos e quando isso ocorre, ela tenta passar para criança uma maneira de superar o que sente.

A história tem diversos fatores que podem ser trabalhados em sala de aula, por exemplo: se a história fala de amor, a professora pode ensinar para as crianças o amor ao próximo, à nossa família aos nossos colegas, entre outros. Se a história fala de maldade como a do Chapeuzinho Vermelho que foi contada, um fator importante para se trabalhar é a questão da confiança, que as crianças não podem confiar em todas as pessoas que se fazem de bonzinhos, e assim por diante.

Abaixo apresentamos as perguntas realizadas para a turma do 2º ano e as respostas mais interessantes para a análise:

1) Alguém da turma tem medo? Medo de que?

Aluno 1: respondeu que sim, que tinha medo de sonhar com monstros.

Aluno 2: disse que não tinha medo de nada porque era muito corajoso.

Aluno 3: disse que às vezes ele sentia medo, dai fazia uma oração e pedia papai do céu para tirar os pensamentos ruins.

2) Porque a Chapeuzinho Amarelo tinha tanto medo? E se você pudesse ajudar ela o que você faria?

Aluno 1: disse que ela imaginava que existia um lobo na Alemanha num buraco. Eu falaria para ela que não era para ter medo, porque ele era um personagem da historinha.

Aluno 2: disse que ela imaginava muita coisa ruim e nem dormia pra não sonhar com monstros. Ajudaria ela a dormir.

Aluno 3: disse que ela tinha muito medo porque respondia a mamãe, o papai e era desobediente. Falaria para ela obedecer aos pais.

3) Se você fosse um personagem da história qual você seria e por que?

Aluno 1: disse que seria o jacaré da história porque ele tinha um bocão.

Aluno 2: disse que queria ser a Chapeuzinho porque ela tinha muito medo e aprendeu a lidar com o medo dando apelidos para os monstros que ela via.

Aluno 3: disse que queria ser o dragão porque soltava fogo pela boca.

4) Qual era a diferença da Chapeuzinho Amarela para a Chapeuzinho Vermelho?

Aluno 1: disse que é porque a Chapeuzinho Amarelo tinha chapéu amarelo e o da Chapeuzinho Vermelho era vermelho.

Aluno 2: disse a Chapeuzinho Vermelho era muito inocente acreditava em todo mundo, e a Chapeuzinho Amarelo não se misturava com ninguém e tinha medo de tudo.

5) Qual história vocês gostaram mais? E porque?

Aluno 1: disse que gostou da Chapeuzinho Amarelo porque ela encarou o lobo e não teve medo dele porque o lobo era um bolo fofo.

Aluno 2: disse que as duas porque cada uma aprendeu que não precisa ter medo do lobo, e que não podemos desobedecer aos pais.

Aluno 3: disse que da Chapeuzinho Vermelho porque o lobo mau se deu mal. O caçador salvou a vovozinha e cortou a barriga dele.

As crianças com a idade entre 6 e 8 anos são crianças mais ativas, agitadas e muitas das vezes com o comportamento afetado, um dos fatores que pode prejudica-los é a falta de acompanhamento em casa.

Na hora da contação da história do Chapeuzinho Amarelo, eles ficaram bem agitados talvez porque já conheciam essa história e tentavam a todo instante fazer comparações entre as duas histórias. Isso fez com que ficassem um pouco ansiosos, porém, acompanharam todo o processo e cada um queria dar sua opinião referente aos medos da chapeuzinho Amarelo.

Muitas crianças diziam ter medos, uns com medo de dormir e sonhar com monstros, outros com medo de barata, de minhoca, entre outros. Uma forma que a professora pode trabalhar com eles para saber o que mais lhes chamou a atenção na história é ao termino da história a professora pedir a eles que em forma de desenhos coloquem no papel a parte que mais chamou a atenção deles. Com isso a professora pode saber um pouco de cada um e pode intervir

explicando a eles o que eles desenharam de uma forma diferente.

Depois das comparações das histórias na turma com perguntas no final da leitura, pedimos para eles ilustrarem em forma de desenhos o que eles mais gostaram da história do Chapeuzinho Amarelo e Chapeuzinho Vermelho. A Chapeuzinho Vermelho era uma menina inocente e não conhecia a maldade nem o medo até se deparar com o lobo mau, e a Chapeuzinho Amarelo tinha muito medo e teve que aprender a lidar com esse medo, pois ela nem dormia a noite e ficava sonhando com monstros. O resultado da história foi muito produtivo, ficamos muito felizes com os resultados e com os desenhos produzidos.

Abaixo segue as ilustrações que pedimos para que as crianças desenhassem o que mais tinham lhes chamado a atenção. Foram duas histórias contagiantes, e as crianças curtiram e aprenderam muito ao se identificarem com alguns personagens.

No desenho acima podemos observar como foi criativa a aluna, ela desenhou a Chapeuzinho deitada coberta até a cabeça sem fechar os olhos vendo bichos esquisitos, porque na história a Chapeuzinho via uma minhoca e imaginava uma cobra bem grande, tinha medo de tudo por isso não dormia. Perguntamos a aluna o porquê deste desenho, ela disse que também tinha medo de minhoca e outros bichos.

Neste desenho, o aluno queria retratar o lobo tomando uma grande chuva, foi a forma que ele achou que poderia expulsar o lobo e apaziguar seus próprios medos.

Neste terceiro desenho a imaginação da criança fluiu para os monstros da história, pois uma forma que a Chapeuzinho Amarelo achou para perder o medo era colocar apelidos em todos os monstros, então o dragão ficou “gãodra”, a bruxa ficou “xabru”, o tubarão ficou “rãobatu”, e por fim o lobisomem que ficou “somemlobi”. O aluno disse que fez este desenho porque gostou dos apelidos e que ia fazer isso também.

Este desenho ficou muito interessante, porque ele retratou que a Chapeuzinho não tinha medo do lobo e quando viu o lobo soltou aquele sorrisão.

A aluna retratou a forma que ela viu o lobo, um lobo fofo em forma de um belo bolo de aniversário. Aí já não há representação do medo e do temor trazido pelo lobo e outros monstros.

A criança que fez o desenho acima disse que não tem medo do lobo, porque ele existe só na imaginação da cabeça dela, que nunca viu um lobo de verdade. E também que sempre reza antes de dormir e Jesus não deixa ela sentir medo.

O conto de Chapeuzinho Vermelho é um

dos mais famosos que apresentam características educativas ao narrar o que se pode acontecer com crianças teimosas.

Já em Chapeuzinho Amarelo, o texto infantil não muda a característica educativa. Procura valorizar a autorreflexão da criança por meio do humor que traz esta paródia de Chico Buarque.

O medo que se tinha em Chapeuzinho Vermelho cede lugar ao não-medo em Chapeuzinho Amarelo, pois, ela passa a compreender que o medo só existe até enfrentá-lo.

Sendo assim percebe-se a grande importância de apresentar as duas histórias para os alunos, para que possam perceber a diferença entre ambas e assim formarem seu pensamento crítico.

Conclusão:

Por meio da pesquisa realizada podemos ver o sentido pedagógico atribuído à Literatura Infantil, principalmente ao conto que estimula o exercício da mente ao despertar a criatividade dos alunos. O que importa, entretanto, é ver que o livro pode ter um objetivo escolar pedagógico para que a criança reflita sua vida e a sociedade em que vive.

É certo que surgem grandes questionamentos sobre qual livro oferecer para as crianças e jovens atualmente. Com tantas opções no mercado editorial, pais e professores às vezes se sentem perdidos. Acabam, muitas vezes comprando ou indicando os últimos lançamentos para atrair a criança e o jovem para o universo literário. Será mesmo que essa é a melhor opção? Pois, como visto no presente artigo, trabalhou-se com dois contos - um bastante conhecido e comentado e outro já mais atual com inovações.

Ao ler uma história, o professor também deve proporcionar esta aproximação com a vantagem de que o texto que trabalha com a linguagem e produção literária permite à criança conhecer o fascinante mundo da literatura infantil. Por isso, o professor deve contar histórias, criando um clima afetivo e de aproximação entre as crianças, contribuindo assim, para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, sociais e educacionais do jovem leitor.

Ao questionar sobre a leitura do conto de Chapeuzinho Amarelo, debateu-se acerca do medo do lobo, e sua representação na história, verificando sempre sua conceitualização. E assim podemos concluir como as crianças se identificam com os personagens dentro de suas emoções e vivências.

Diante das respostas, verificamos que a maior parte dos alunos conhecia o conto de Chapeuzinho Vermelho e a maioria desconheciam

Chapeuzinho Amarelo, tendo em suas interpretações diversas respostas.

Com relação às perguntas acerca da comparação entre os dois contos, conseguimos perceber que os alunos possuem uma concepção literária infantil que abarca atualmente a ideia desta modalidade de leitura como algo que ultrapassa a leitura, o que é muito vantajoso. Porém, percebe-se que não foram apontadas outras habilidades a serem trabalhadas com os textos para crianças, somente o despertar da imaginação. Diante disso é inegável a importância que a literatura desempenha diante das crianças, que as obras literárias sejam mais divulgadas e que se valorizem os contos que fazem parte da vida destas crianças.

A questão da Literatura Infantil conforme foi frisada de início tornou-se inseparável da questão da educação. Conseqüentemente vincula-se a questão escolar, embora o livro infantil seja literário na medida em que se supere todo o interesse dessa e de outras instituições. Dentro do contexto da Literatura Infantil, a função pedagógica implica a ação educativa do livro sobre a criança.

Portanto, é extremamente importante saber selecionar os livros de acordo com a faixa etária e cognitiva, não pode ser naquilo que a mesma ainda não dá conta, mas sim naquilo que só ela é

capaz de fazer.

Como já foi dito, os primeiros livros infantis foram escritos por pedagogos e professores com objetivo de estabelecer padrões comportamentais exigidos pela sociedade burguesa que se estabelecia. Assim, hoje em dia a relação entre a literatura e a escola é bastante forte.

Destaca-se que a importância de que os professores saibam contar histórias, estimulando os alunos com técnicas e formas lúdicas como fantoches, teatros, para que os ouvintes se envolvam e sintam parte da história.

Podemos compreender que a atividade de contar histórias também é uma arte e como é a estrutura da Literatura Infantil contemporânea, além de aprendermos que a leitura tem uma função social.

Conclui-se que contar histórias é uma atividade lúdica, pois amplia os horizontes e as possibilidades de uma criança, e a interação que se estabelece cria um vínculo precioso entre narrador e ouvinte. Através das histórias, podemos construir o aprendizado, além de ajudar os pequeninos a resolverem conflitos no seu cotidiano.

Referências:

1 - AMBRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5. Ed. São Paulo: Scipione, 2006.

2 - BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 29. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

3 - CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. 4. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

4 - CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. 8. Ed. São Paulo: T. A. Queiroz; Publifolha, 2000.

5 - CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura infantil: teoria e prática. 18. Ed. São Paulo: Ática, 2006.

6 - FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 51. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

7 - HOLANDA, Chico Buarque. Chapeuzinho Amarelo.

Disponível em <http://teoriaecriticaliteraria.blogspot.com.br/2010/02/chapeuzinho-amarelo-de-chico-

buarque.html>. Acesso: 29/07/2014.

8 - LAJOLO, Maria; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história e histórias. São Paulo:

Ática, 1984.

9 - LINN, Susan. Em defesa do faz de conta. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010.

10 - Literatura. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso: 25 de abril de 2015.

11 - SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga. As reinações renovadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

2011.

12 - SANTOS, Fábio Cardoso dos; Moraes, Fabiano. Alfabetizar letrando com a literatura infantil. 1. Ed.

São Paulo: Cortez, 2013.

13 - VYGOSTKY, Levi Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem. 2. Ed. São Paulo:

Martins Fontes, 2010.

14 - _________________________. A formação social da mente. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

ANEXOS

Anexo 1

CONTO: CHAPEUZINHO VERMELHO (CHARLES PERRAULT)

Era uma vez, vivia em uma certa aldeia uma menina país pequeno, a mais bela criatura que nunca

foi vi. Sua mãe era excessivamente apaixonado por ela, e sua avó adorava-a ainda mais. Esta boa mulher tinha uma Chapeuzinho Vermelho feito para ela. É adequado para a menina muito bem que todo mundo chamava de Little RedRiding Hood.

Um dia sua mãe, tendo feito alguns bolos, disse a ela: "Vai, minha querida, e ver como o seu avó está fazendo, pois ouvi dizer que ela foi muito mal. Leve-a para um bolo, e este potinho de manteiga. "

Chapeuzinho Vermelho partiu imediatamente para ir para a avó, que morava em outra aldeia. Como ela estava atravessando a madeira, ela se encontrou com um lobo, que tinha uma mente

muito grande para comê-la, mas ele ousou não, por causa de alguns lenhadores trabalhando nas proximidades da floresta. Ele perguntou-lhe onde ia. Os pobres criança, que não sabia que era perigoso ficar e falar com um lobo, lhe disse: "Eu vou ver o meu avó e levá-la um bolo e um potinho de manteiga da minha mãe. "

"Ela mora muito longe?" disse o lobo "Oh, eu digo", respondeu Chapeuzinho Vermelho, "é que além do moinho que você vê lá, na

primeira casa em da aldeia. " "Bem", disse o lobo, "e eu vou vê-la também. Que eu vou para este lado e ir-lhe que, e vamos ver

quem vai estar lá em primeiro lugar. " O lobo correu o mais rápido que pôde, tomando o caminho mais curto, ea menina levou uma forma

indireta, entreter-se por reunir nozes, correndo atrás das borboletas, e coleta de buquês de flores pequenas. Foi não muito tempo antes que o lobo chegou à casa da velha. Ele bateu na porta: toque, toque.

"Quem está aí?" "Sua neta, Chapeuzinho Vermelho", respondeu o lobo falsificação, sua voz, "que trouxe lhe um bolo

e um potinho de manteiga enviada por mãe. " A boa avó, que estava na cama, porque ela foi um pouco doente, gritou: "Puxe a bobina e a trava

vai subir. " O lobo puxou a bobina, ea porta se abriu, e então ele imediatamente caiu sobre a boa mulher e

comeu-a em um momento, por isso foi mais do que três dias desde que ele tinha comido. Ele, então, fechou a porta e começou na cama da avó, esperando Chapeuzinho Vermelho, que veio algum tempo depois e bateu a porta: toque, toque.

"Quem está aí?" Little RedRiding Hood, ao ouvir a grande voz do lobo, estava em primeiro com medo, mas

acreditando que ela avó tinha um resfriado e estava rouca, respondeu: "É o seu neto Chapeuzinho Vermelho, que tem trouxe um bolo e um potinho de manteiga mãe lhe envia. "

O lobo gritou para ela, suavizando sua voz, tanto quanto podia, "Puxe a bobina, e a trava vontade ir para cima. "

Chapeuzinho Vermelho puxou a bobina, e a porta se abriu. O lobo, vendo-a entrar, disse-lhe, escondendo-se sob as cobertas: "Ponha o bolo e o potinho de

manteiga em cima do banco, e vir para a cama comigo. " Chapeuzinho Vermelho tirou a roupa e foi para a cama. Ela ficou muito impressionado ao ver como

ela avó olhei em seus pijamas, e disse a ela: "Vovó, que braços grandes você tem!" "Todo o melhor para abraçar você, minha querida." "Vovó, que pernas grandes você tem!" "Todo o melhor para correr com, meu filho." Vovó, que orelhas grandes você tem! " "Todo o melhor para ouvir, minha filha." "Vovó, que olhos grandes você tem!" "Todo o melhor para ver, meu filho." "Vovó, que dentes grandes você tem!" "Todo o melhor para te comer com ele." E, dizendo estas palavras, o lobo mau caiu sobre Chapeuzinho Vermelho, e comeu tudo.

Anexo 2

CONTO: CHAPEUZINHO AMARELO (CHICO BUARQUE DE HOLANDA)

“Era a Chapeuzinho Amarelo. Amarelada de medo. Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho. Já não ria. Em festa, não aparecia. Não subia escada, nem descia. Não estava resfriada, mas tossia. Ouvia conto de fada, e estremecia. Não brincava mais de nada, nem de amarelinha. Tinha medo de trovão. Minhoca, pra ela, era cobra. E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra. Não ia pra fora pra não se sujar. Não tomava sopa pra não ensopar. Não tomava banho pra não descolar. Não falava nada pra não engasgar. Não ficava em pé com medo de cair. Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo. Era a Chapeuzinho Amarelo… E de todos os medos que tinha O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia. Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Um LOBO que não existia. E Chapeuzinho amarelo, de tanto pensar no LOBO, de tanto sonhar com LOBO, de tanto esperar o LOBO, um dia topou com ele que era assim: carão de LOBO, olhão de LOBO, jeitão de LOBO, e principalmente um bocão tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz… E um chapéu de sobremesa. Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo: o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo. Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo. O lobo ficou chateado de ver aquela menina olhando pra cara dele, só que sem o medo dele. Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo, porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pêlo. Um lobo pelado.

O lobo ficou chateado. Ele gritou: sou um LOBO! Mas a Chapeuzinho, nada. E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!! E a Chapeuzinho deu risada. E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!! Chapeuzinho, já meio enjoada, com vontade de brincar de outra coisa. Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO umas vinte e cinco vezes, Que era pro medo ir voltando e a menininha saber com quem não estava falando: LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO Aí, Chapeuzinho encheu e disse: “Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!” E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO. Era um BO-LO. Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim. Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim. Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo, porque sempre preferiu de chocolate. Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato. Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato. Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato, Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha, Com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro, Com a sobrinha da madrinha E o neto do sapateiro. Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira. E transforma em companheiro cada medo que ela tinha: O raio virou orrái; barata é tabará; a bruxa virou xabru; e o dia bo é bodiá. ( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barão-tu, o Pão Bichôpa… E todos os tronsmons.)

Anexo 3

PROPOSTA DE REFLEXÃO SOBRE OS CONTOS

Chapeuzinho Vermelho:

1) Se você fosse um personagem da história, qual você seria? E por quê?

2) Se vocês se deparassem com o lobo mal na floresta o que vocês fariam?

3) Vocês já ouviram a história antes? Gostaram?

4) O que acontece com a criança quando ela desobedece ao papai e a mamãe?

5) Alguém sabe informar porque a Chapeuzinho desobedeceu a mamãe?

Chapeuzinho Amarelo:

1) Alguém da turma tem medo? Medo de que?

2) Por que a Chapeuzinho Amarelo tinha tanto medo? E se você pudesse ajudar ela o que você faria?

3) Se vocês fossem um personagem da história qual você seria e por que?

4) Qual era a diferença da Chapeuzinho Amarela para a Chapeuzinho Vermelho?

5) Qual história vocês gostaram mais? E porquê?