a importÂncia da alimentaÇÃo no manejo de doenÇas … · 2020-06-29 · 5 resumo batista, ar. a...

31
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS Alexandre Ravazi Batista Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof. Dr João Paulo Fabi São Paulo 2020

Upload: others

Post on 07-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS

INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS

Alexandre Ravazi Batista

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientador(a):

Prof. Dr João Paulo Fabi

São Paulo

2020

Page 2: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

SUMÁRIO

Pág.

Lista de Abreviaturas ....................................................................... 4

RESUMO ....................................................................................... 5

1. INTRODUÇÃO .............................................................................. 6

2. OBJETIVOS ................................................................................. 7

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................. 8

4. ETIOLOGIA DAS DIIs ...................................................................... 6

4.1. FATORES GENÉTICOS ..................................................................

4.2. FATORES AMBIENTAIS .................................................................

5. FISIOPATOLOGIA DAS DIIs ...............................................................

5.1. FISIOLOGIA DOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS INTESTINAIS ......................

5.2. FISIOPATOLOGIA DA DC E RCU .......................................................

6. MANEJO TERAPÊUTICO ..................................................................

6.1. AMINOSSALICILATOS ...................................................................

6.2. TIOPURINAS .............................................................................

9

9

10

15

15

15

16

16

Page 3: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

3

6.3. METOTREXATO .........................................................................

6.4. TERIAPIAS BIOLÓGICAS ................................................................

6.4.1. INFLIXIMABE ..........................................................................

6.4.2. ADALIMUMABE ........................................................................

6.4.3. CERTOLIZUMABE .....................................................................

6.5. USTEQUINUMABE .......................................................................

6.6. VEDOLIZUMABE .........................................................................

7. A RELAÇÃO ENTRE A NUTRIÇÃO E DIIs ................................................

7.1. A NUTRIÇÃO E O RISCO DE DESENVOLVIMENTO DE DIIs ..........................

7.2. REPOSIÇÃO NUTRICIONAL EM PACIENTES COM DIIs ...............................

7.3. NUTRIENTES E MACRONUTRIENTES NO COMBATE DAS DIIs ......................

17

17

17

18

18

19

19

20

21

8. CONCLUSÃO(ÕES) ........................................................................ 23

9. BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 25

Page 4: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

4

LISTA DE ABREVIATURAS

DII Doença Inflamatória Intestinal

DC Doença de Crohn

RCU Retocolite Ulcerativa

CEP

AINH

IL

GALT

HEV

ICAM-1

VCAM-1

MAdCAM-1

ASA

COX-1

COX-2

6-MP

AZA

IFX

MTX

ADA

CZP

UTQ

VDZ

Colangite Esclerose Primária

Anti-inflamatório não-hormonal

Interleucinas

Tecido linfoide associado ao intestino

Vênulas endoteliais

Molécula de adesão intercelular-1

Molécula de adesão vascular-1

Molécula de adesão celular adessina da mucosa-1

Aminossalicilato

Cicloxigenase-1

Cicloxigenase-2

6-Mercaptopurina

Azatioprina

Infliximabe

Metotrexato

Adalimumabe

Certolizumabe

Ustequinumabe

Vedolizumabe

Page 5: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

5

RESUMO

BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo Palavras-chave: Doença Inflamatória Intestinal, Doença de Chron, Retocolite Ulcerativa, Alimentação

INTRODUÇÃO: As doenças inflamatórias intestinais são um grupo de doenças

crônicas, idiopáticas e de patogênese não elucidada e que se diferem amplamente

na fisiopatologia e sintomatologia quando comparadas a processos inflamatórios no

trato digestório decorrente de infecções ou da ingestão de fármacos. O tratamento

dessas doenças é complexo e multifatorial, envolvendo parâmetros farmacológicos,

de estilo de vida e de hábitos alimentares tanto na fase de manutenção quanto na

fase de indução da remissão. Desse modo, os diferentes grupos alimentares

presentes na alimentação contemporânea afetam diretamente a sintomatologia do

paciente, além de influenciarem em sua etiologia. OBJETIVO: Discutir a importância

da alimentação adequada no manejo das doenças inflamatórias intestinais, de

modo a esclarecer aspectos em relação ao papel de cada nutriente e suas

respectivas propriedades fisiológicas capazes de promover saúde e contribuir com

o manejo dessas doenças. MATERIAL E MÉTODOS: revisão da literatura, por meio

da busca ativa de artigos científicos dos últimos 20 anos (de 1999 a 2019) em bases

de dados. As referências bibliográficas dos artigos científicos encontrados também

foram consultadas. RESULTADOS: as doenças inflamatórias intestinais,

representadas majoritariamente pela Doença de Crohn e pela Retocolite Ulcerativa

são doenças de patogênese não completamente elucidada, mas com hipóteses

bem aceitas nos meios científicos quanto à multifatoriedade envolvendo fatores

genéticos, ambientais e de perfil da dieta alimentar. Nesse contexto, a alimentação

é capaz de dialogar com todos esses fatores, sendo capaz de modular a expressão

genética, influenciar o ambiente intestinal através da atuação na microbiota

intestinal e conter elementos que podem dar início a processos inflamatórios. Além

Page 6: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

6

disso, pacientes com doenças inflamatórias intestinais frequentemente apresentam

deficiências nutricionais importantes que podem e devem ser repostas por meio da

alimentação ou da suplementação. Por fim, diversos estudos avaliaram a utilização

de estratégias nutricionais diferenciadas visando induzir a remissão ou auxiliar na

fase de manutenção dessas doenças. CONCLUSÃO: a alimentação é capaz de

atuar de maneira positiva na prevenção das doenças inflamatórias intestinais, bem

como na reposição nutricional. No manejo dessas doenças, sobretudo na indução

da remissão, a dieta enteral obteve resultados positivos e deve ser considerada

como uma estratégia aplicável por médicos e pacientes. Ademais, as tentativas de

utilização de simbióticos se mostraram sem grau de evidência robusto,

diferentemente da utilização de prebióticos e probióticos que apresentaram poucas

evidências científicas e que devem ser estudadas mais afundo antes de serem

amplamente consideradas na terapêutica dos pacientes com doenças inflamatórias

intestinais.

Page 7: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

7

1. INTRODUÇÃO

As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) são um grupo de doenças

crônicas, idiopáticas e de patogênese não elucidada. Dentro dessa classificação as

mais representativas são a Doença de Crohn (DC) e a Retocolite Ulcerativa (RCU)

e se diferem amplamente na fisiopatologia e sintomatologia quando comparadas a

processos inflamatórios no trato digestório decorrente de infecções ou fármacos1.

A DC e RCU apresentam características epidemiológicas semelhantes,

sendo doenças com maior prevalência em países industrializados. Estima-se que

essas condições acometem cerca de 1,4 milhões de pessoas vivendo nos Estados

Unidos e 2,2 milhões de pessoas vivendo na Europa, afetando igualmente homens

e mulheres. Apesar de poder atingir indivíduos de todas as idades, as primeiras

manifestações ocorrem durante a fase adulta, sobretudo entre os 20 e 40 anos, com

um segundo pico menor de incidência em idosos entre 60 e 80 anos2-6.

Os sintomas mais comuns das doenças inflamatórias intestinais são a dor

abdominal, diarreia, sangramento retal, tenesmo, perda de peso, febre, dentre

outras. Ademais, pode-se observar um quadro de enfraquecimento devido à

dificuldade de absorver diversos nutrientes, o que pode dar origem a

comorbidades7.

Sendo assim, as abordagens nutricionais para os pacientes das doenças

inflamatórias intestinais podem ter tanto o viés de evitar que a doença evolua de

uma fase de manutenção para a fase aguda, fazendo com que o paciente

permaneça no estado da doença que influencie menos na sua qualidade de vida ou

ainda ter um papel imunomodulador, podendo ser peça fundamental no tratamento

da fase aguda dessas doenças8.

Page 8: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

8

2. OBJETIVO(S)

Este trabalho tem como objetivo discutir a importância da alimentação

adequada no manejo das doenças inflamatórias intestinais, de modo a esclarecer

aspectos em relação ao papel de cada nutriente e suas respectivas propriedades

fisiológicas capazes de promover saúde e contribuir com o manejo dessas doenças.

Para tanto, devemos aprofundar na fisiopatologia e terapêutica das DIIs para que

sejamos capazes de entender qual alimentação é a mais adequada para auxiliar no

tratamento, de que modo cada nutriente é capaz de atuar nos diferentes estágios

das doenças e quais são os impactos na qualidade de vida dos pacientes

decorrentes do não controle dessa importante variável.

Page 9: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

9

3. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia deste trabalho consistiu na revisão da literatura, por meio da

busca ativa de artigos científicos dos últimos 20 anos (de 1999 a 2019) nas bases

de dados PubMed, SciFinder, Web of Science e outras que viessem a apresentar

dados relevantes. Para isso foram utilizadas as seguintes palavras-chave e suas

associações: doença inflamatória intestinal, doença de Crohn, retocolite ulcerativas,

nutrição, alimentação, microbiota e seus correspondentes em inglês. Outras fontes

confiáveis também foram consultadas, incluindo-se os websites de sociedades

médicas e fundações internacionais, como a European Crohn´s and Colitis

Organisation - ECCO.

A literatura selecionada obedeceu aos seguintes critérios:

• Publicações em português ou inglês;

• Publicações cujo conteúdo estivesse em conformidade aos objetivos deste

trabalho;

• Publicações a partir de 1999, ou anteriores caso fossem de grande relevância

ao trabalho.

Page 10: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

10

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Etiologia da DII

O agente desencadeador das DIIs ainda é desconhecido e atualmente

trabalha-se com a hipótese de que seja multifatorial, envolvendo fatores genéticos

e ambientais que desencadeiam uma função imunológica descontrolada6.

Os indícios que sugerem fatores genéticos como significativos na etiologia

das DIIs são diversos. Primeiramente, há um crescente reconhecimento nos

pacientes de uma série de 30 genes associados à resposta inflamatória. Isso reflete-

se na maior prevalência em famílias em que pelo haja pelo menos um membro

afetado, podendo ser observado um risco de ocorrência em um 2º membro da

família de até 20%. Se ambos os pais apresentarem DIIs, o risco de a geração

seguinte ser acometida por essas doenças é de aproximadamente 50%. Há também

aumento no risco de ocorrência quando se trata de gêmeos idênticos. Tudo isso

sugere a existência de uma causa poligênica9-11.

Em relação aos fatores ambientais, diversos estudos foram conduzidos para

traçar uma correlação entre o hábito de fumar e as DIIs. Sabe-se que apesar desse

hábito estar associado com DC mais agressiva, com mais cirurgias e maior

recorrência após as ressecções, o tabagismo também apresentou característica

protetiva frente ao desenvolvimento de colangite esclerose primária (CEP), comum

após realizações de colectomias em pacientes com RCU. Sendo assim, não há

nenhuma hipótese referendada em estudos clínicos sobre a correlação do

tabagismo e DIIs12,13. Em relação à microbiota intestinal, estudos demonstraram que

a exposição precoce a animais de estimação, grande número de irmãos e ainda o

aleitamento materno têm grande influência na menor incidência de DIIs, sendo

todos esses fatores diretamente ligados ao desenvolvimento da microbiota intestinal

adulta e a teoria da higienização. Pacientes com DII apresentam redução na

variabilidade de microrganismos que compõe a microbiota intestinal, sendo essa

característica ainda mais marcante na DC, aumento na expressão de genes

Page 11: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

11

envolvidos no transporte de membrana e diminuição das funções de defesa ligadas

ao estresse oxidátivo14-17. Há também diversos outros fatores ambientais que foram

correlacionados positivamente com as DIIs, como a higiene elevada, agentes

infecciosos, uso de antibióticos e de outros medicamentos como anti-inflamatórios

não hormonais (AINHs), contraceptivos e repositórios hormonais para a

menopausa18-32.

5. Fisiopatologia das DIIs

Uma vez discutido quais os fatores que estão envolvidos na origem de uma

resposta imune descontrolada e crônica que dá origem às DIIs, é necessário

resgatarmos a fisiologia envolvida em uma resposta inflamatória fisiológica para

avançarmos quanto às diferenças e consequentemente as oportunidades

terapêuticas que envolvem essas doenças.

5.1. Fisiologia dos Processos Inflamatórios Intestinais

Na mucosa intestinal normal identificamos uma interação dinâmica entre a

resposta inflamatória na mucosa e todos os seus mecanismos reguladores, de

modo a garantir que não haja danos teciduais, como aqueles observados nas DIIs.

Sendo o intestino um dos órgãos de maior importância e extensão no organismo,

sua atuação na defesa é sabidamente essencial e envolve diversos grupos celulares

durante uma resposta inflamatória fisiológica. Vale ressaltar que é exatamente a

sua grande área de contato com o meio externo e a natural presença da microbiota

intestinal que fazem com que haja uma constante exposição aos mais variados

antígenos, desencadeando os mais variados tipos de resposta de defesa e de

reconhecimento33-35.

Dada essa complexidade, é natural que a própria estrutura do epitélio seja

evolutivamente adaptada para o desafio de controlar quaisquer agressões do meio

externo e garantir a homeostase durante a interação contínua com a microbiota

intestinal. Esse extrato da derme é composto por uma fina camada que contém

Page 12: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

12

células epiteliais e estruturas especializadas responsáveis pela resposta imune

local a patógenos intestinais. Há presença de células imunológicas como linfócitos,

macrófagos e células dendríticas tanto no epitélio quanto nas demais camadas do

tecido intestinal36.

Além disso, essa camada epitelial apresenta, portanto, uma função de

barreira que pode ser considerada como a primeira linha de defesa intestinal,

ressaltando-se especificamente o papel das tight junctions, proteínas que se

localizam entre as células epiteliais garantindo uma maior adesão das células

epiteliais e diminuindo a permeabilidade de patógenos36-37.

A liberação de quimiocinas pelas células epiteliais é dada pela interação do

antígeno com diversos receptores e proteínas que por sua vez ativam diversas vias

de expressão de vários mediadores pró-inflamatórios. Essas quimiocinas são

responsáveis pelo recrutamento de células imunológicas para os sítios

inflamatórios. Os macrófagos presentes no tecido epitelial intestinal também têm a

capacidade de liberar quimiocinas, bem como têm a capacidade de liberar citocinas

pró-inflamatórias como as interleucinas (ILs) e TNFα, fundamentais na patogênese

das DIIs38,39.

Ademais, o TNFα foi o alvo dos primeiros tratamentos medicamentosos

contra DIIs como infliximabe e adalimumabe, biológicos da classe dos anti-TNFα.

Isso ocorreu uma vez que essa citocina é responsável pela regulação da variedade

da resposta inflamatória, atuando também no aumento da permeabilidade das tight

junctions que aumenta o influxo de patógenos no epitélio37,39.

Associado ao epitélio intestinal, temos diversas estruturas linfoides

organizadas que dão origem ao tecido linfoide associado ao intestino (GALT) que

são também revestidos por uma camada epitelial composta por células intestinais

convencionais e por células intestinais especializadas conhecidas como células M.

Com a liberação de quimiocinas pelas próprias células epiteliais, há recrutamento

de células dendríticas para a região. As células M atuam capturando, transportando

e liberando os antígenos do lúmen para a região basal, onde serão processados

pelas células dendríticas que então migram para a área de linfócitos T e apresentam

esse antígeno para os mesmos40.

Page 13: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

13

Os linfócitos T podem ser subdivididos em duas famílias: os linfócitos T CD4

Helper e os linfócitos CD8 citotóxicos. Entre os primeiros, existem diversos subtipos,

dos quais vale salientar o subtipo Th17, presente em abundância no intestino e

tendo um papel fundamental na maquinaria envolvida na defesa intestinal41,42.

A absorção dos linfócitos pela parede celular vascular, após sua migração,

até os gânglios linfáticos ou para regiões específicas de focos inflamatórios

teciduais é essencial para compreendermos a dinâmica das DIIs, sobretudo a

cascata de adesão que envolve diversas estruturas como as selectinas, integrinas,

quimiocinas e receptores das quimiocinas41-43.

O processo da cascata de adesão se inicia com a expressão de selectina

pelas células endoteliais vasculares que se ligam a receptores específicos na

parede celular dos linfócitos. A adesão oriunda desse fenômeno é fraca, mas

suficiente para ocasionar uma desaceleração dos linfócitos que estão sendo

carreados pelo fluxo sanguíneo e permitir que outras estruturas da parede celular e

do linfócito envolvidas no processo de adesão interajam41-43.

É o caso de quimiocinas produzidas pelas células endoteliais dos vasos

sanguíneos que interagem com ligantes específicos dos linfócitos. Essa nova

interação altera a conformação de moléculas secundárias de adesão denominadas

integrinas, ativando-as. Com isso, as integrinas agora ativadas se conectam às

adressinas, receptores específicos localizados nas células endoteliais e que

consequentemente causam uma adesão mais firme que possibilita o influxo dos

linfócitos ao sítio inflamatório38,39,41.

Os linfócitos T naive que circulam na corrente sanguínea penetram no

intestino através de vênulas endoteliais (HEVs) e em sua superfície carregam L-

sectina, um receptor migratório ligante a adressinas vasculares presentes na

superfície dos HEVs. As HEVs expressam adressinas ao longo de todo o intestino

delgado e grosso, além de outras estruturas moleculares como a molécula de

adesão intercelular-1 (ICAM-1), molécula de adesão celular vascular-1 (VCAM-1) e

a molécula de adesão celular adressina da mucosa-1 (MAdCAM-1). A VCAM-1

também é expressa por órgãos fora do intestino, como no cérebro, enquanto a

MAdCAM-1 é expressa em tecidos intestinais e atua como o ligante que interage

Page 14: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

14

com a L-sectina, assim como a integrina α4β7, presente na parede dos linfócitos

ativados44.

Quando no intestino, o linfócito T naive encontra a célula dendrítica carreando

o antígeno e se torna ativado, o que altera a maquinaria migratória associada ao

intestino e a partir desse momento, o linfócito T passa a expressar a integrina α4β7

e interrompe a expressão de L-sectina. Esse linfócito T agora ativado e sem a

presença de L-sectina retorna à corrente sanguínea e através de um processo

conhecido como “homing” é preparado para entrar novamente no tecido, mas agora

como um linfócito T efetor. Na corrente sanguínea, a integrina α4β7 que é encontrada

no linfócito T efetor se liga à MAdCAM-1 expressa em HEVs no tecido mucoso

intestinal, acarretando no recrutamento de linfócitos T ao local da inflamação44.

5.2. Fisiopatologia da DC e RCU

A diferença entre os pacientes com DIIs e um processo inflamatório

fisiológico está compreendida na capacidade de inibição da resposta inflamatória

na mucosa intestinal. Dada a exposição alta a antígenos característica do intestino,

temos um processo inflamatório decorrente do constante alerta imunológico que é

considerado normal à fisiologia intestinal. Na DII, os elementos como macrófagos

teciduais e células T presentes nas mucosas geram uma resposta exagerada ao

entrar em contato com um antígeno qualquer1,44.

Tanto a DC quanto a RCU usualmente apresentam flutuações na intensidade

e gravidade dos sintomas, com períodos alternados de melhora. Quanto o paciente

apresenta sintomas, seu quadro fisiológico indica uma inflamação significativa e seu

quadro clínico é considerado com a doença ativa. Quando essa inflamação

exacerbada é menor ou ausente, o quadro clínico é considerado como remissão. É

comum estabelecer uma relação entra o grau de severidade dos sintomas e da

inflamação intestinal1,2.

Muitas características da RCU e DC se assemelham entre si, chegando a

impossibilidade da diferenciação em uma parcela dos casos. O diagnóstico

diferencial pode ser dado pela região, onde na DC a inflamação pode acometer todo

Page 15: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

15

o trato gastrointestinal e na RCU somente no cólon. Testes são efetuados para

detectar a presença de anticorpos específicos (na DC com testagem positiva para

o anticorpo anticitoplasma de neutrófilos [pANCA] e na RCU com testagem positiva

para o anticorpo anti-Saccharomyces cervisae [ASCA]) e também na verificação do

aspecto da biopsia, onde ocasionalmente essas inflamações são encontradas em

um aspecto de pedras de calçamento na DC e nunca com esse aspecto na RCU1,2.

Os sintomas variam com a o grau de inflamação, sendo que na RCU os

principais são diarreia, sangramento retal, tenesmo e dor abdominal, além de

manifestações extra intestinais como problemas hepáticos, megacólon tóxico,

problemas oculares e artrites. Na DC ainda podemos ter desnutrição, dor

musculoesquelética, lesões cutâneas e doenças cardíacas1,2.

Vale ressaltar que o processo inflamatório ocorre no organismo inteiro e a

sua especificidade em acontecer no tecido alvo e não nos demais tecidos está

associado à presença de diferentes combinações de selectinas e receptores de

integrinas. Somado a isso, cada tecido é responsável por expressar diferentes

quimioatrativos, majoritariamente da família das quimiocinas, ativando de maneira

específica os linfócitos e possibilitando a entrada apenas no tecido-alvo. Portanto,

os anticorpos contra MAdCAM-1 ou ao seu ligante integrina α4β7 previnem o

recrutamento linfocitário e reduz a severidade da inflamação intestinal e serão

explorados a seguir como parte do tratamento medicamentoso nas DIIs1,44.

6. Manejo terapêutico

A escolha da terapia adequada deve ser compartilhada com o paciente e

levar em consideração diversos fatores como a fase da alternância entre o estado

de não surgimento dos sintomas e da fase aguda em que o paciente se encontra.

Além disso, deve-se levar em consideração a região do intestino que está acometida

pela inflamação, o fenótipo associado, quais medicamentos já foram utilizados na

terapêutica do paciente e os efeitos adversos associados a cada medicamento. Os

principais medicamentos com elevado grau de recomendação baseado em diversos

estudos científicos serão brevemente discutidos a seguir45.

Page 16: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

16

6.1 Aminossalicilatos

São drogas derivadas dos sais dos ácidos aminossalicilatos (ASA), que são

majoritariamente representados pela sulfasalazina e derivados do 5-ASA. Atuam

como anti-inflamatórios não esteroidais que inibem as enzimas cicloxigenases-1

(COX-1) e cicloxigenases-2 (COX-2), reduzindo a produção de prostaglandinas

presentes na cascata inflamatória. A ação é tópica e, portanto, suas formulações

são elaboradas para liberação do princípio ativo em regiões intestinais específicas

através da utilização de protetores pH-dependentes45-47.

O grau de recomendação dos aminossalicilatos nas fases de manutenção e

remissão é referendado por diversos estudos e essas drogas normalmente são

utilizados nas RCUs leves e moderadas, uma vez que se trata de doença com

regiões definidas e que é possível optar por uma formulação tópica com local de

ação bem definido45-47.

6.2 Tiopurinas

Tanto a 6-mercaptopurina (6-MP) quanto sua pró-droga azatioprina (AZA)

são análogos de purinas que atuam no metabolismo de ácidos nucleicos

competindo com as purinas pelos sítios ativos enzimáticos e tendo ação

imunomoduladora pois atua na proliferação celular. Além disso, a inibição de

antimetabólitos da purina também atua na indução da apoptose de células T45,48.

A terapia combinada entre AZA e infliximabe (IFX) tem maior eficácia do que

a monoterapia de cada uma dessas drogas em pacientes que não fizeram uso de

terapias biológicas ou de imunossupressores anteriormente48.

Uma questão relevante a essas drogas é que o tratamento com as tiopurinas

é associado ao aumento no risco de desenvolvimento de linfoma e câncer de pele

não-melanoma. Apesar dos riscos aumentados a esses efeitos adversos, o

tratamento com AZA deve compor as possibilidades medicamentosas e sua opção

deve ser levada em consideração pelos médicos e pacientes48,49.

Page 17: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

17

6.3 Metotrexato

O metotrexato (MTX) atua na proliferação celular inibindo a diidrofolato

redutase e interferindo na síntese de pirimidinas e purinas e consequentemente na

síntese de DNA. Além disso, dada sua característica citotóxica, é possível que o

MTX seja capaz de também inibir a síntese de citocinas45,49.

A terapia semanal com MTX oral ou subcutâneo é efetiva na indução da

remissão em adultos com DC refratária. Além disso a combinação de MTX com

prednisona permite substancial melhora clínica, reduzindo a necessidade da

utilização de corticoides no controle da inflamação50.

6.4 Terapias biológicas anti-TNFα

Com elevado grau de evidência científica, as terapias biológicas anti-TNFα

possuem como principal efeito adverso o surgimento de infecções severas uma vez

que seus alvos não são específicos ao trato digestório, atuando, portanto, em todo

o organismo45,51.

6.4.1 Infliximabe

O infliximabe (IFX) foi o primeiro medicamento biológico anti-TNFα aprovado

para o tratamento das DIIs. Consiste na união do anticorpo monoclonal murino com

atuação específica no fator de necrose tumoral humana (A2) com a imunoglobulina

IgG1 humana45,52.

No seu lançamento, revolucionou o tratamento das DIIs por apresentar bons

resultados na indução da remissão e na manutenção da DC moderada e severa.

Como supracitado no tópico das tiopurinas, a terapia combinada com essa classe

demonstrou resultados superiores aos obtidos com a monoterapia utilizando IFX ou

AZA. São registradas perdas de eficácia a longo prazo, o que fora traduzido em uma

Page 18: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

18

necessidade não atendida, sendo necessário a busca por novas terapias

biológicas52-54.

6.4.2 Adalimumabe

Adalimumabe (ADA) é um anticorpo monoclonal recombinante IgG1 humano

inteiramente combinado com TNF-α solúvel com atuação anti-TNFα. Assim como o

IFX, apresentou bons resultados na indução da remissão e na manutenção da DC

moderada e severa, tornando-se uma opção terapêutica interessante a posteriori da

perda de eficácia do IFX45,55,56.

6.4.3 Certolizumabe

O certulizumabe (CZP) é um fragmento de anticorpo monoclonal expresso

por Escherichia coli conjugado a duas moléculas de polietileno glicol (PEG) e que

atua ligando-se ao TNF-α, inibindo-o45.

Diferentemente dos biológicos supracitados que também atuam como anti-

TNFα, o CZP não possui a porção Fc da imunoglobulina, não induzindo a apoptose

celular, além de não atravessar a barreira placentária, se mostrando uma opção

terapêutica em pacientes grávidas57-59.

6.5 Ustequinumabe

O ustequinumabe (UTQ) é um anticorpo monoclonal humano específico para

as interleucinas 12 (IL-12) e 23 (IL-23), que são duas citocinas inflamatórias

importantes e presentes na fisiopatologia da DC45,60.

Esse fármaco biológico é efetivo na indução da remissão e na manutenção

dos pacientes com DC moderada e severa, incluindo aqueles que não respondem

aos tratamentos com anti-TNFα45,60.

Page 19: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

19

6.6 Vedolizumabe

O vedolizumabe (VDZ) é um anticorpo monoclonal recombinante

humanizado específico para a integrina α4β7 presente na superfície dos linfócitos,

como supracitado45,61.

Com isso, é capaz de inibir a adesão dessas células presentes na corrente

sanguínea com a mucosa intestinal, sendo um tratamento específico para o trato

gastrointestinal. Com isso, VDZ é efetivo na indução da remissão e manutenção de

pacientes com DC moderada e severa, DC refratária e como terapia prévia aos

biológicos anti-TNFα. Além disso, há indícios de que VDZ possa ser efetivo no

tratamento de fistulas anais decorrentes da DC45,61-64.

7. A relação entre a nutrição e as DIIs

Como discutido na seção sobre etiologia, existe uma relação entre o

desenvolvimento inicial da doença e fatores ambientais associados ao trato

gastrointestinal. Ademais, por conta do processo inflamatório exacerbado, o

paciente provavelmente terá sua capacidade absortiva de nutrientes negativamente

impactada por conta da inflamação atípica que ocorre na mucosa intestinal65.

Devido ao fato da temática “nutrição em doenças inflamatórias intestinais” ser

atualmente incipiente, o foco deste trabalho foi analisar a nutrição como adjuvante

ao tratamento, seja pela reposição de nutrientes que não estão sendo absorvidos

nas quantidades preconizadas pelo organismo, ou como atuante no combate à

inflamação intestinal em associação com as medidas farmacológicas já discutidas,

bem como sua relação com o surgimento das DIIs.

7.1 A nutrição e o risco de desenvolvimento das DIIs

Como discutido anteriormente, é possível inferir que exista correlação entre

o surgimento de DIIs e fatores genéticos. Sendo assim, identificar a correlação entre

Page 20: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

20

hábitos alimentares pré-DIIs e seu desenvolvimento em um paciente antes sadio

pode criar uma janela de oportunidade para a atuação frente às DIIs, possibilitando

uma atuação na prevenção de seu desenvolvimento15.

Em uma revisão sistemática, Hou et al. (2011)66 analisaram 19 estudos entre

1976 e 2010 que relacionaram a dieta e o risco do desenvolvimento de DIIs. Como

achado, ficou evidente que há relação entre o risco do desenvolvimento de RCU e

altas taxas de ingestão de gorduras, em especial a ingestão de ácidos graxos

insaturados e alta ingestão de carnes. Para DC há a mesma relação, com a

diferença de que também fora observada a relação entre risco de desenvolvimento

da doença e a elevada ingestão de gorduras saturadas. Em contrapartida,

identificou-se a relação entre o decréscimo do risco de desenvolvimento de DC com

o elevado consumo de fibras alimentares. Curiosamente não fora estabelecida

nenhuma relação com altos níveis de consumo de carboidratos, incluindo estudos

com consumo duas vezes maior do que a recomendação diária, o que talvez fosse

esperado ao analisarmos que a prevalência das DIIs é maior em países cujo

consumo diário desse nutriente é elevado66.

7.2 Reposição nutricional em pacientes com DIIs

Não são observadas diferenças significativas nas demandas energéticas

entre pacientes com DIIs e controles saudáveis, exceto pacientes, no repouso, que

estejam na fase de remissão e fazendo uso de corticosteroides67-69.

Diversos estudos com os mais variados desenhos chegaram a conclusões

semelhantes relacionadas a deficiência de nutrientes como cálcio, riboflavina,

vitamina C, piridoxina, ácido fólico, ácido ascórbico, colecalciferol, tocoferol, zinco,

tiaminas, retinol, folatos e ferro. A falta desses nutrientes pode estar associada à

ingestão diária abaixo daquelas recomendadas pelo Ministério da Saúde, além da

perda de parte da capacidade absortiva por conta da inflamação intestinal

patológica67,68,70.

No cerne dessa ingestão diária reduzida há fatores comportamentais

envolvidos, como fica evidente ao analisarmos a ingestão de fibras por parte dos

Page 21: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

21

pacientes com DIIs. Quando em indução da remissão, as fibras alimentares são

contraindicadas pois estimulam a motilidade intestinal e a fermentação bacteriana,

que podem somar-se aos sintomas gastrointestinais, os agravando ainda mais. Em

contrapartida, não há contraindicação durante a fase de manutenção da doença,

sendo indicado ao paciente o consumo da dose diária recomendada pelos órgãos

de saúde o que não é observado pois a associação entre a ingestão de fibras e o

agravamento sintomático durante a fase aguda da doença pode levar o paciente a

evitar a ingestão das fibras durante a fase de manutenção das DIIs67,71.

7.3 Diferentes nutrientes no controle das DIIs

Os alimentos ingeridos e a microbiota são os antígenos mais comuns no trato

intestinal e consequentemente podem influenciar no curso das inflamações

intestinais através de diversos mecanismos como alteração da expressão gênica,

modulação de mediadores intestinais, mudança na composição da microbiota

intestinal e alteração na permeabilidade da mucosa66,72,73.

No passado, os consensos médicos indicavam que a melhor alternativa para

um paciente em fase de indução da remissão era uma dieta baseada no conceito

de “descanso intestinal”, fazendo uso de alimentos que não estimulassem a

motilidade intestinal. Atualmente esse conceito fora abandonado e os pacientes são

orientados a tentar se alimentar da maneira mais completa possível, salvo casos

específicos de intolerâncias alimentares ou ainda a situação da ingestão das fibras

em pacientes com DC durante a fase de indução da remissão que já fora

abordada66,72,73.

Estudos avaliaram a oferta de dieta líquida por meio de uma sonda e

colocada diretamente no estômago, duodeno ou jejuno, chamada de dieta enteral,

como primeira linha terapêutica na indução da remissão das DIIs. Apesar de uma

resposta eficiente versus placebo o que indica que essa pode ser uma estratégia

adotada para esses pacientes, a dieta enteral ainda obteve resultados menos

significativos do que aqueles obtidos com manejo farmacológico e com isso diversas

Page 22: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

22

composições da dieta enteral foram avaliadas para identificar as melhores

oportunidades de atuação na terapêutica74-76.

Tratando-se dessas composições, parece que não há diferença significativa

quando comparamos dietas enterais a base de micronutrientes versus

macronutrientes. Além disso, dietas com índices baixos de gordura são mais

eficientes, trazendo a indicação de que a utilização de óleos naturais na composição

dessa dieta possa obter ainda melhores resultados72,74-76.

Ademais, não é apenas da dieta enteral que a nutrição é capaz de auxiliar no

manejo das DIIs. Como supracitado a microbiota fora apontada não só como um

fator ambiental capaz de desencadear a doença como um todo, mas como também

um fator indutor de inflamações intestinais pontuais que possam desencadear a fase

ativa da doença. Sendo assim, a ingestão de alimentos que atuem na microbiota

intestinal, como probióticos, prebióticos e simbióticos podem ser outra estratégia

relevante45,77-81.

De acordo com a definição da Food and Agriculture Organization of the

United Nations, probióticos são “microrganismos vivos ou atenuados que são

administrados em quantidades específicas e suficientes para promover benefícios

à saúde do hospedeiro”. Estudos com diferentes cepas (Lactobacillus rhamnosus

GG e Escherichia coli Nissle 1917) não identificaram capacidade de indução da

remissão em pacientes com DC em estudos versus placebo. A mesma ineficácia

fora observada em outros estudos que avaliaram a capacidade de probióticos em

auxiliar na fase de manutenção. Ademais, probióticos não preveniram a recorrência

de endoscopias e não trouxeram nenhum benefício nos sintomas pós-operatórios

em pacientes com DC45,82-84.

Os prebióticos são compostos alimentares presentes nos alimentos que não

são absorvidos e que permanecem no intestino, estimulando a atividade e o

crescimento dos microrganismos da microbiota intestinal. Sob esse aspecto,

Benjamin et al. (2011)85 avaliaram que a ingestão diária de 15g de

frutooligossacarídeos (FOS) por 4 semanas era incapaz de induzir a remissão em

pacientes com DC85.

Page 23: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

23

Os simbióticos são formulações que trazem a combinação de prebióticos e

probióticos e apresentaram evidências fracas de que talvez possam ter atuação

auxiliando a indução da remissão em pacientes com DC86. Isso porque um estudo

duplo cego, randomizado e controlado com placebo, avaliou a melhora dos sintomas

em pacientes com DC após 6 meses da ingestão de Bifidobacterium longum, inulina

e FOS antes da primeira refeição do dia e após a última refeição do dia. Os horários

foram escolhidos visando a diminuição da atividade antibacteriana do ácido

gástrico. Houve melhora nos escores dos sintomas, mas a quantidade elevada de

pacientes que abandonaram o estudo e a significância estatística dos resultados

não possibilita a afirmação de que os simbióticos são uma alternativa terapêutica86.

Apesar de necessitar de estudos mais aprofundados, os resultados

apontados acima demonstram haver uma janela de oportunidades quanto a

identificação do papel da microbiota intestinal. Isso possibilitaria não apenas cruzar

padrões de variabilidade dos microrganismos e a incidência de DIIs para se obter

grupos de risco de desenvolvimento da doença de modo mais assertivo, mas

também como evidenciariam que o manejo da variabilidade dos microrganismos por

meio da utilização de simbióticos poderia ser uma estratégia que auxiliaria no

tratamento dessas doenças87.

8. CONCLUSÕES

A alimentação tem várias interfaces com as doenças inflamatórias intestinais,

seja como um dos gatilhos no desenvolvimento dessas patologias, como repositório

nutricional daqueles nutrientes que se encontram suprimidos ou como adjuvante

terapêutico ao manejo da doença, sobretudo nas fases de indução da remissão.

Neste contexto, o presente trabalho procurou discutir de que maneira uma

alimentação adequada deve ser aplicada em cada uma dessas etapas da jornada

do paciente.

Devido ao elevado grau de evidência quanto à correlação da patogenia e

fatores genéticos, a orientação quanto ao perfil dietético deve ser conduzida em

potenciais pacientes que tenham histórico de doenças inflamatórias intestinais nos

Page 24: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

24

familiares diretos, afim de se evitar a ingestão de elevados níveis de gorduras

saturadas e insaturadas e elevada ingestão de carnes. Ademais, um elevado nível

de ingestão de fibras pode atuar na prevenção do desenvolvimento dessas

patologias.

Sob a égide da reposição nutricional, vale ressaltar que pacientes com

doenças inflamatórias intestinais apresentam frequentemente a deficiência de

nutrientes importantes para o organismo como cálcio, ácido fólico, ácido ascórbico

e outros. Desse modo, o paciente deve ser frequentemente avaliado quanto às

concentrações desses nutrientes no organismo e as informações obtidas devem

orientar um plano alimentar visando correção dos índices defasados para os níveis

recomendados de cada nutriente.

Por fim, sob o aspecto da atuação da alimentação como terapia única na

indução da remissão e na manutenção da doença, fora observada que a dieta

enteral apresenta evidências científicas positivas quando comparadas com placebo,

mas ainda inferiores do que os índices obtidos pelas mais diversas intervenções

farmacológicas. Dada a complexidade das doenças inflamatórias intestinais, a

associação dessas estratégias deve ser uma opção a ser avaliada pelo médico e

paciente. Quanto à utilização de probióticos, prebióticos e simbióticos visando atuar

na microbiota intestinal, apenas o último apresenta evidências positivas na indução

da remissão, embora essas evidências ainda sejam pouco consistentes.

9. BIBLIOGRAFIA

1. HANAUER SB. Inflammatory bowel diseases. ACP Medicine. 2009;131.

2. XAVIER RJ, PODOLSKI DK. Unravelling the pathogenesis of inflammatory bowel

disease. Nature 2007;448:427–34.

3. ANANTHAKRISHNAN AN. Epidemiology and risk factors for IBD. Nat Ver

Gastroenterol Hepatol. 2015;12:205–1

4. LOFTUS EV Jr. Clinical epidemiology of inflammatory bowel disease: incidence,

prevalence, and environmental influences. Gastroenterology. 2004;126:1504–17.

Page 25: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

25

5. MOLODECKY NA, et al. Increasing incidence and prevalence of the inflammatory

bowel diseases with time, based on systematic review. Gastroenterology.

2011;142:46–54.

6. STROBER W, et al. The fundamental basis of inflammatory bowel disease. J Clin

Invest. 2007;117: 514–21.

7. ORDAS I, et al. Ulcerative colitis. Lancenet 2012,380-1606-19

8. SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO PARENTERAL E ENTERAL,

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA. Terapia Nutricional na Doença de

Crohn. Projeto Diretrizes [Internet]. 2011; [cited 2017 dec 18]. Disponível em:

https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/terapia_nutricional_na_doenca_de_

crohn

9. BARRET JC, et al. Genome-wide association defines more than 30 distinct

susceptibility loci for Crohn’s disease. Nat Genet. 2008;40:955–62.

10. CHO JH. The genetics and immunopathogenesis of inflammatory bowel disease.

Nat Rev Immunol 2008;8: 458–66.

11. BONEN DK, CHO JH. The genetics of inflammatory bowel disease.

Gastroenterology. 2003;124:521–536.

12. BERNSTEIN CN, et al. A population-based case control study of potential risk

factors for IBD. Am J Gastroenterol 2006;101:993–1002.

13. PINHO, M. Molecular Biology of Inflammatory Bowel Diseases. Rev bras

Coloproct. 2008;28(1):119-123

14. ROOK GA, et al. Microbes, immunoregulation, and the gut. Gut 2005;54:317–

20.

15. VAN LIMBERGEN J, et al. Advances in IBD genetics. Nat Rev Gastroenterol

Hepatol. 2014;11:372–85.

16. GEVERS D, et al. The treatment-naive microbiome in new-onset Crohn’s

disease. Cell Host Microbe. 2014;15(3):382-92.

17. KOSTIC AD, et al. The microbiome in inflammatory bowel disease: current status

and the future ahead. Gastroenterology. 2014 May;146(6):1489-99.

Page 26: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

26

18. CASTIGLIONE F, et al. Risk factors for inflammatory bowel diseases according

to the “hygiene hypothesis”: a case-control, multi-centre, prospective study in

Southern Italy. J Crohns Colitis. 2012 Apr;6(3):324-9.

19. DARFEUILLE-MICHAUD A, et al. High prevalence of adherent-invasive

Escherichia coli associated with ileal mucosa in Crohn’s disease. Gastroenterology.

2004 Aug;127(2):412-21.

20. NORMAN JM, et al. Disease-specific alterations in the enteric virome in

inflammatory bowel disease. Cell. 2015 Jan 29;160(3):447-60.

21. VAN KRUININGEN HJ HJ, et al. Environmental factors in familial Crohn’s

disease in Belgium. Inflamm Bowel Dis. 2005 Apr;11(4):360-5.

22. TIMM S, et al. Place of upbringing in early childhood as related to inflammatory

bowel diseases in adulthood: a population-based cohort study in Northern Europe.

Eur J Epidemiol. 2014 Jun;29(6):429-37.

23. SOOD A, et al. Low hygiene and exposure to infections may be associated with

increased risk for ulcerative colitis in a North Indian population. Ann Gastroenterol.

2014;27(3):219-223.

24. PORTER CK, et al. Infectious gastroenteritis and risk of developing inflammatory

bowel disease. Gastroenterology. 2008 Sep;135(3):781-6.

25. RODRÍGUEZ LAG, et al. Acute gastroenteritis is followed by an increased risk

of inflammatory bowel disease. Gastroenterology. 2006 May;130(6):1588-94.

26. SINGH S, et al. Do NSAIDs, antibiotics, infections, or stress trigger flares in IBD?

Am J Gastroenterol. 2009;104(5):1298-314.

27. SHAW SY, et al. Association between the use of antibiotics in the first year of life

and pediatric inflammatory bowel disease. Am J Gastroenterol. 2010

Dec;105(12):2687-92.

28. VIRTA L, et al. Association of repeated exposure to antibiotics with the

development of pediatric Crohn’s disease--a nationwide, register-based finnish

case-control study Am J Epidemiol. 2012 Apr 15;175(8):775-84.

29. SHAW SY, et al. Association between the use of antibiotics and new diagnoses

of Crohn’s disease and ulcerative colitis. Am J Gastroenterol. 2011

Dec;106(12):2133-42.

Page 27: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

27

30. ANANTHAKRISHNAN AN, et al. Aspirin, nonsteroidal anti-inflammatory drug

use, and risk for Crohn disease and ulcerative colitis: a cohort study. Ann Intern Med.

2012 Mar 6;156(5):350-9.

31. KHALILI H, et al Oral contraceptives, reproductive factors and risk of

inflammatory bowel disease. Gut. 2013 Aug;62(8):1153-9.

32. KHALILI H, et al. Hormone therapy increases risk of ulcerative colitis but not

Crohn’s disease. Gastroenterology. 2012 Nov;143(5):1199-206.

33. ABBAS, et al. Basic Immunology. Functions and Disorders of the Immune

System. 4th ed. Philadelphia: Elsevier; 2012.

34. DANESE S. Immune and nonimmune components orchestrate the pathogenesis

of inflammatory bowel disease. Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. 2011

May;300(5):G716-22.

35. SHIH DQ, TARGAN SR. Immunopathogenesis of inflammatory bowel disease.

World J Gastroenterol 2008;14:390–400.

36. BRISKIN M, et al. Human mucosal addressin cell adhesion molecule-1 is

preferentially expressed in intestinal tract and associated lymphoid tissue. Am J

Pathol. 1997 Jul;151(1):97-110.

37. HELLER F, et al. Interleukin-13 is the key effector Th2 cytokine in ulcerative

colitis that affects epithelial tight junctions, apoptosis, and cell restitution.

Gastroenterology. 2005;129:550–64.

38. NEURATH MF. Cytokines in inflammatory bowel disease. Nat Rev Immunol.

2014 May;14(5):329-42.

39. COMINELLI F, et al. Cytokines and inflammatory mediators. In: Sartor R,

Sandborn WS, editors. Kirsner’s Inflammatory Bowel Diseases. 6th ed. Edinburgh:

Saunders; 2004. p. 179–198.

40. ROBERTS CL, et al. Translocation of Crohn’s disease Escherichia coli across

M-cells: contrasting effects of soluble plant fibres and emulsifiers. Gut. 2010

Oct;59(10):1331-9.

Page 28: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

28

41. GUY-GRAND D, et al. Small bowel enteropathy: role of intraepithelial

lymphocytes and of cytokines (IL-12, IFN-gamma,TNF) in the induction of epithelial

cell death and renewal. Eur J Immunol.1998;28:730–744.

42. SCHIMT A, et al. Diversion of intestinal flow decreases the numbers of interleukin

4 secreting and interferon gamma secreting T lymphocytes in small bowel mucosa.

Gut 2000;46:40–45.

43. STEFANICH EG, et al. A humanized monoclonal antibody targeting the β7

integrin selectively blocks intestinal homing of T lymphocytes. Br J Pharmacol.

2011;162(8):1855-70.

44. HYNES RO. Integrins: versatility, modulation, and signaling in cell adhesion. Cell

1992;69:11– 25

45. BRAZILIAN STUDY GROUP OF INFLAMMATORY BOWEL DISEASE

(GEDIIB). Crohn´s disease Guidelines. International Journal of Inflammatory Bowel

Disease. 2018; 4(1): 40-1.

46. PEPPERCORN MA, GOLDMAN P. The role of intestinal bacteria in the

metabolism of salicylazosulfapyridine. J Pharmacol Exp Ther. 1972;181:555.

47. INTERNATIONAL MESALAZINE STUDY GROUP. Coated oral 5-

aminosalicyclic acid versus placebo in maintaining remission of inative Crohn’s

disease. AlimentPharmacol Ther. 1990;4:55-64.

48. LENNARD L. The clinical pharmacology of 6-mercaptopurine. Eur J Clin

Pharmacol. 1992;43:329-39.

49. MATE-JIMENEZ J, et al. 6-mercaptopurine or methotrexate added to prednisone

induces and maintains remission in steroid-dependent inflammatory bowel disease.

Eur J Gastroenterol Hepatol. 2000;12(11):1227-33.

50. ARORA S, et al. Methotrexate in Crohn’s disease: results of a randomized,

double-blind, placebo-controlled trial. Hepatogastroenterology. 1999;46(27):1724-9.

51. TARGAN SR, et al. A short-term study of chimeric monoclonal antibody cA2 to

tumor necrosis factor alpha for Crohn’s disease. Crohn’s Disease cA2 Study Group.

N Engl J Med. 1997;337:1029-35.

52. PRESENT DH, et al. Infliximab for the treatment of fistulas in patients with

Crohn’s disease. N Engl J Med. 1999;340:1398-405.

Page 29: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

29

53. SANDS BE, et al. Infliximab maintenance therapy for fistulising Crohn’s disease.

N Engl J Med. 2004;350:876-85.

54. COLOMBEL JF, et al. Infliximab, azathioprine, or combination therapy for

Crohn’s disease. N Engl J Med. 2010;362:1383-95.

55. SANDBORN WJ, et al. Adalimumab induction therapy for Crohn disease

previously treated with infliximab: a randomized trial. Ann Intern Med. 2007;146:829-

38.

56. SANDBORN WJ, et al. Adalimumab for maintenance treatment of Crohn’s

disease: results of the CLASSIC II trial. Gut. 2007;56:1232-9.

57. SANDBORN WJ, et al. Certolizumab pegol for the treatment of Crohns disease.

N Engl J Med. 2007;357:228-38.

58. SCHREIBER S, et al. Maintenance therapy with certolizumab pegol for Crohn’s

disease. N Engl J Med. 2007;357:239-50.

59. Lichtenstein GR, et al. Continuous therapy with certolizumab pegol maintains

remission of patients with Crohn’s disease for up to 18 months. Clin Gastroenterol

Hepatol. 2010;8:600-9. 40.

60. Feagan BG, et al. Ustekinumab as Induction and Maintenance Therapy for

Crohn’s Disease. N Engl J Med. 2016;375:1946-60.

61. SANDBORN WJ, et al. Vedolizumab as induction and maintenance therapy for

Crohn’s disease. N Engl J Med. 2013;369:711-21.

62. SANDS BE, et al. Effects of vedolizumab induction therapy for patients with

Crohn’s disease in whom tumor necrosis factor antagonist treatment failed.

Gastroenterology. 2014;147:618-27.e3.

63. SANDS BE, et al Vedolizumab as Induction and Maintenance Therapy for

Crohn’s Disease in Patients Naive to or Who Have Failed Tumor Necrosis Factor

Antagonist Therapy. Inflamm Bowel Dis. 2017;23:97-106.

64. VERMEIRE S, et al. Long-term Efficacy of Vedolizumab for Crohn’s Disease. J

Crohns Colitis. 2017 1;11:412-24.

65. SILVA AFD, et al. Food intake in patients with inflammatory bowel disease.

ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva. 2011;24(3): 204-209.

Page 30: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

30

66. HOU JK, et al. Dietary intake and risk of developing inflammatory bowel disease:

a systematic review of the literature. Am J Gastroenterol. 2011 Apr;106(4):563-73.

67. HART AR, et al. Diet in the aetiology of ulcerative colitis: a European prospective

cohort study. Digestion. 2008;77(1):57-64.

68. FILLIPI J, et al. Nutritional Deficiencies in Patients with Crohn’s Disease in

Remission. Inflamm Bowel Dis. 2006; 12(3):185-191.

69. AL-JAOUNI R, et al. Energy metabolism and substrate oxidation in patients with

Crohn´s disease. Nutrition. 2000, 16:173-178.

70. AGDASSI E, et al. Adequacy of Nutritional Intake in a Canadian Population of

Patients With Crohn’s Disease. J Am Diet Assoc. 2007; 107(9):1575-1580.

71. FOOD AND NUTRITION BOARD – INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary

Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol,

Protein, and Amino Acids (Macronutrients). Washington DC: National Academy

Press; 2005.

72. CABRÉ E, DOMÈNECH E. Impact of environmental and dietary factors on the

course of inflammatory bowel disease. World J Gastroenterol. 2012 Aug

7;18(29):3814-22.

73. CHAPMAN-KIDDELL CA, et al. Role of diet in the development of inflammatory

bowel disease. Inflamm Bowel Dis 2010; 16: 137-151

74. McINTYRE PB, et al. Controlled trial of bowel rest in the treatment of severe

acute colitis. Gut 1986; 27: 481-48

75. GREENBERG GR, et al. Controlled trial of bowel rest and nutritional support in

the management of Crohn’s disease. Gut 1988; 29: 1309-1315

76. GONZÁLEZ-HUIX F, et al. Enteral versus parenteral nutrition as adjunct therapy

in acute ulcerative colitis. Am J Gastroenterol 1993; 88: 227-232

77. KIM YI. Short-chain fatty acids in ulcerative colitis. Nutr Rev 1998; 56: 17-24

78. DEN HOND E, et al. In vivo butyrate metabolism and colonic permeability in

extensive ulcerative colitis. Gastroenterology 1998; 115: 584-590

79. SIMPSON EJ, et al. In vivo measurement of colonic butyrate metabolism in

patients with quiescent ulcerative colitis. Gut 2000; 46: 73-77

Page 31: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO MANEJO DE DOENÇAS … · 2020-06-29 · 5 RESUMO BATISTA, AR. A Importância da Alimentação no Manejo das Doenças Inflamatórias Intestinais

31

80. SCHEPPACH W, et al. Anti-inflammatory and anticarcinogenic effects of dietary

fibre. Clin Nutr Suppl 2004; 1 Suppl 2: 51-58

81. KHANNA S, RAFFALS LE. The Microbiome in Crohn’s Disease: Role in

Pathogenesis and Role of Microbiome Replacement Therapies. Gastroenterol Clin

North Am. 2017;46:481-492.

82. DERWA Y, et al. Systematic review with meta-analysis: the efficacy of probiotics

in inflammatory bowel disease. Aliment Pharmacol Ther. 2017;46:389-400.

83. SCHULTZ M, et al. Lactobacillus GG in inducing and maintaining remission of

Crohn’s disease. BMC Gastroenterol. 2004;4:5.

84. MALCHOW HA. Crohn’s disease and Escherichia coli. A new approach in

therapy to maintain remission of colonic Crohn’s disease? J Clin Gastroenterol.

1997;25:653-8.

85. BENJAMIN JL, et al. Randomised, double-blind, placebo-controlled trial of fructo-

oligosaccharides in active Crohn’s disease. Gut. 2011;60:923-9.

86. STEED H, et al. Clinical trial: the microbiological and immunological effects of

symbiotic consumption - a randomized double-blind placebo-controlled study in

active Crohn’s disease. Aliment Pharmacol Ther. 2010;32:872-83.

87. NAGALINGAM NA, et al. Role of the microbiota in inflammatory bowel diseases.

Inflamm Bowel Dis. 2012 May;18(5):968-84.

____________________________ ____________________________

Data e assinatura do aluno(a) Data e assinatura do orientador(a)

São Paulo, 27 de junho de 2020