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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

Alexandre M. Pedroso,

Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP., Ph.D. em Ciência Animal e Pastagens, com Pós-Doutorado em Nutrição de Ruminantes. Foi pesquisador da EMBRAPA Pecuária Sudeste e atualmente é consultor associado da Cowtech Consultoria e Planejamento, prestando serviços para empresas do mercado de nutrição de bovinos e para fazendas produtoras de leite.

Rodrigo de Almeida,

Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, responsável pelas disciplinas de Produção de Bovinos de Leite e Corte e Técnicas Avançadas em Formulação de Rações. É Médico Veterinário formado pela UFPR, realizou mestrado em melhoramento animal pela McGill University, Montreal, Canadá e doutorado em nutrição de ruminantes pela ESALQ/USP. Atua também como consultor na área de nutrição de bovinos em propriedades leiteiras do Paraná e em confinamentos de bovinos de corte no Centro-Oeste.

Introdução

O chamado Período de Transição, que compreende as 3-4 semanas antes do parto e as 3-4 semanas pós-parto, é a fase mais estressante da vida produtiva de uma vaca leiteira. O correto manejo do rebanho nesse período é fundamental para que as vacas possam ter uma vida produtiva longa e eficiente. Erros de manejo nessa fase além de comprometerem a produção de leite, contribuem para piorar os índices reprodutivos e aumentar o índice de descarte de vacas no início da lactação. É imprescindível que nessa fase as vacas recebam toda atenção para que possam ter um parto tranquilo e um início de lactação isento de problemas, com boa produção de leite e bom desempenho reprodutivo.

Na primeira edição do Curso Online “Manejo e alimentação de vacas em transição”, os mais de 100 alunos participantes tiveram a oportunidade de tirar todas as suas dúvidas sobre o assunto, através do fórum.

Fizemos uma seleção de 20 perguntas e respostas do fórum para este e-book informativo.

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

Professor: Alexandre M. Pedroso

Você deve simular quanto a vaca produziria a mais se você retardar a secagem e contabilizar o quanto isso significaria em receita, versus o custo de alimentação e manejo dessa vaca nesse período.

Professor: Rodrigo de Almeida

Vou sugerir uma conta simplista que alguns produtores que atendo usam com frequência...

Vamos dizer que o custo alimentar de uma vaca em lactação é de R$14,00.vaca.dia e de R$4,00.vaca.dia é o custo alimentar de uma vaca seca. A diferença entre os dois custos é de R$10,00.vaca.dia. Se o preço líquido do litro de leite que recebe é por exemplo de R$1,00 por L, isto significa que se a vaca prestes a secar está produzindo acima de 10L, vale a pena mantê-la em lactação por mais alguns dias ou semanas (desde que um período seco mínimo de 45 dias seja respeitado).

1- Gostaria que explicassem melhor a questão de estudar a viabilidade econômica de se manter uma vaca produzindo ao invés de secá-la?

Professor: Alexandre M. Pedroso

O ideal é que as vacas não ganhem e nem percam peso durante o período seco. A meta é restabelecer o ECC (Escore de Condição Corporal) durante a lactação, para que a vaca chegue à secagem com o escore adequado para a parição.

Professor: Rodrigo de Almeida

Perfeito Alexandre, concordo integralmente com sua resposta! As vacas já deveriam secar com o mesmo ECC que devem apresentar ao parto; 3,0 a 3,5, numa escala de 1 a 5 pontos.

2- O que podemos esperar em ganho de peso corporal em vacas no período seco? E em que condições nutricionais há maior facilidade para este ganho satisfatório?

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

Professor: Alexandre M. Pedroso

Sim, da mesma forma que para vacas. A redução de consumo e o aumento na demanda por nutrientes se dá da mesma forma que para vacas, possivelmente numa intensidade menor, mas se a novilha se mostrar uma boa produtora de leite, pode haver tantos problemas quanto em uma vaca adulta.

Professor: Rodrigo de Almeida

Concordo que há necessidade de fazer um manejo pré-parto também para as novilhas, mas se a sua pergunta fosse se há ou não necessidade de fornecer dietas aniônicas para novilhas, não temos um consenso na literatura. Muitos afirmam que as novilhas pouco se beneficiam das dietas aniônicas, mesmo porque dificilmente uma primípara terá hipocalcemia. Além disso, dietas aniônicas deprimem o consumo e isto é ainda mais prejudicial para fêmeas jovens. Mas geralmente como acabamos mantendo as novilhas e as vacas no mesmo lote pré-parto acabamos fornecendo dietas aniônicas para todos os animais.

3- Há necessidade de fazer manejo pré-parto em novilhas?

Professor: Alexandre M. Pedroso

Mais importante do que os valores absolutos é acompanhar a variação do ECC. É preciso ter um treinamento básico na técnica de avaliação do ECC, mas é relativamente simples. Eu vou disponibilizar um material adicional para ajuda-lo com isso.

Professor: Rodrigo de Almeida

Concordo com o Alexandre, um material de apoio como texto complementar pode ajudar, mas, 20 anos atrás quando comecei a fazer avaliações de ECC, o que mais me ajudou foi fazer avaliações com profissionais de maior experiência, ex-professores, etc. O ideal neste caso é fazer a avaliação estando sozinho e depois comparar seus escores com as avaliações do seu colega de maior experiência. É assim que tento ensinar meus alunos hoje!

E uma última dica: sempre contenham as vacas nos canzis e toquem nas vacas (principalmente íleo, ísquio e inserção da cauda). Nunca façam ECC a distância ou usando fotos!

4- Qual é a dica para uma boa avaliação do Escore de Condição Corporal (ECC)? Como eu posso ter a segurança que na minha avaliação as vacas estão com o ECC correto?

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

5- Professores, vivendo com muitos casos de animais ao extremo, com escores corporais tanto altos, perto de 4 quanto muito baixos 2,5; 2,8 etc. Sempre tive alguns problemas com esses animais como por exemplo retenção de placenta, parto distócico, entre outros. Sempre observei maiores problemas em animais com escore alto demais ou baixo demais. Há correlação desses casos com o escore corporal?

6- Tratando dos cuidados que devemos ter com os animais recém-paridos, criamos lotes pós-parto imediato em práticas rotineiras nas propriedades assistidas. Na opinião e conhecimento de ambos qual seria o período recomendado para que os animais fiquem nesse lote tendo mais atenção (CMS, temperatura corporal...)?

Professor: Alexandre M. Pedroso

A relação é direta. Animais com ECC muito elevado apresentarão consumo ainda mais deprimido no final da gestação e início da lactação, o que dentre outros problemas prejudica o sistema imune, abrindo as portas para essas ocorrências que você citou. As vacas com ECC muito baixo não possuem reservas suficientes para sustentar a demanda, e também ficarão mais sujeitas aos distúrbios metabólicos pós-parto. Pela minha experiência, os problemas de vacas com ECC excessivo são maiores.

Professor: Rodrigo de Almeida

Concordo 100% com as palavras do Alexandre e não tenho mais nada a acrescentar.

Professor: Alexandre M. Pedroso

Eu costumo recomendar lotes pós-parto de 3-4 semanas. É uma estratégia que produz benefícios inestimáveis.

Professor: Rodrigo de Almeida

Sua pergunta é relevante e acho que depende da época do ano e do número de partos previstos. Ou seja, quando há muitos partos concentrados numa determinada época, não adianta manter 3-4 semanas de permanência dos animais neste lote de recém-paridas e sacrificar o conforto dos animais por conta da sobrepopulação. Acho que é crítico manter os animais neste lote e monitorá-los de perto por no mínimo 10 a 14 dias. Estender este período de 2 para 3-4 semanas somente se a propriedade tiver instalações confortáveis para todos os animais. Outro ponto relevante é que normalmente esta dieta das recém-paridas é menos energética e se mantivemos os animais neste lote por até 30 dias, poderemos estar ”segurando” a produção destas vacas. Esta é a minha opinião, mas reconheço que este assunto é polêmico e que há técnicos que pensam diferente de mim.

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

7- Professores, em relação à quantidade de ureia utilizada na dieta, podemos nos basear em 1% da matéria-prima seca total? Poderia comentar alguma coisa sobre a quantidade adequada de ureia a ser utilizada sem causar danos à saúde animal.

Professor: Rodrigo de Almeida

Dietas com adição de ureia pecuária não necessariamente causarão piora no desempenho reprodutivo. Se a dieta for bem equilibrada, com os níveis adequados de carboidratos não estruturais (amido), a ureia chegará ao rúmen, será convertida em amônia (NH3), e este NH3 será utilizada pela microbiota para a síntese de proteína microbiana. O que está comprovado é que níveis excessivos de ureia no leite causam sim um prejuízo reprodutivo, pois provocam uma ligeira redução do pH uterino, diminuindo as chances do embrião recém-formado se fixar à parede uterina.

Professor: Alexandre M. Pedroso

Esse valor de 1% da MS (matéria seca) total, via de regra, é seguro. Mas é fundamental adaptar corretamente os animais, fazendo a introdução gradual da ureia - começar com 50g ao dia e aumentar um pouco por dia até atingir a dose final, depois de 7-10 dias. Eu já trabalhei até com 250g/vaca/dia, sem problemas. O fundamental é o manejo da alimentação, essa quantidade tem que ser fracionada e muito bem misturada à dieta total ou ao concentrado. E para não haver problemas, é imprescindível que a dieta tenha níveis adequados de CNF (carboidratos não fibrosos) para que os microrganismos ruminais tenham energia suficiente para utilizar adequadamente a ureia.

Professor: Rodrigo de Almeida

De início, ressalto que concordo integralmente com a resposta do Alexandre. Na minha experiência em rebanhos leiteiros aqui no PR, dificilmente trabalho com inclusões superiores a 100 g/vaca/dia, porque há uma precaução generalizada entre os produtores que trabalho, já que a inclusão de ureia na dieta pode aumentar as concentrações de nitrogênio ureico no plasma e no leite, o que pode por sua vez trazer prejuízos à fertilidade, como já discutimos em outras discussões deste fórum. Outra razão é que boa parte das gramíneas usadas aqui no sul já possuem alta degradabilidade ruminal e a ureia pecuária é 100% degradável. Ou seja, as dietas aqui do sul já apresentam um alto teor de PDR (proteína degradável no rúmen) e o que precisamos são fontes de PNDR (proteína não degradável no rúmen).

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

8- No caso de encontrarmos um rebanho leiteiro onde 40% vacas em lactação estejam em BEN (balanço energético negativo) e com os ECC em torno de 2,5, qual seriam as medidas mais eficientes a serem tomadas, visando diminuir os problemas recentes e futuros? Como deveria ser administrada esta situação?

Professor: Rodrigo de Almeida

Teríamos algumas opções; por exemplo, primeiro eu checaria o nível de energia da dieta e possivelmente aumentaria a inclusão de concentrado na dieta. Segundo: se a quantidade de concentrado já for alta, pensaria na inclusão de alguma fonte lipídica, como caroço de algodão, grão de soja integral ou gordura protegida. Terceiro: se for o caso, eu retardaria a aplicação de bST nestas vacas. E por fim, eu manteria estas vacas por mais tempo no Lote 1 de vacas de mais alta produção, para que elas possam recuperar seu escore antes de migrarem para um lote de menos leite. Talvez eu tenha me esquecido de alguma alternativa, mas no momento estas parecem ser as melhores opções.

9- Prezados professores, pensando em ECC de animais em lactação, qual seria o ideal pensando em animais em pastejo? Mesmo melhorando a suplementação energética da dieta, observo que o escore dos animais fica mais baixo, até onde podemos chegar e quais os impactos possíveis?

Professor: Alexandre M. Pedroso

Os parâmetros de ECC abordados aqui no curso valem também para vacas em pastejo. O principal limitante ao desempenho geral das vacas nesses sistemas é o consumo de pasto, e se você relata que mesmo aumentando a suplementação energética (imagino que via concentrado) não observa melhora no ECC, isso é sinal de que as vacas não estão consumindo todo o pasto de que precisam. Esse é um grande desafio do manejo de sistemas de produção em pastagens, e tudo passa pelo manejo do processo de pastejo de forma a oferecer às vacas a melhor forragem possível. Se as vacas não conseguirem repor adequadamente o ECC ao longo da lactação e chegarem à secagem e ao parto com poucas reservas corporais certamente terão seu desempenho comprometido na lactação seguinte.

Professor: Rodrigo de Almeida

Sobre sua pergunta dos parâmetros de ECC para vacas em pastejo, concordo 100% com a resposta do Alexandre e não tenho mais nada a acrescentar.

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

10- Caros professores, ouvimos muito sobre o uso de produtos que julgam ter ”bons” resultados em nossos animais, mas pouco é falado sobre esses produtos. A monensina sódica é um deles, dizem que melhora a eficiência alimentar dos animais, etc. Gostaria de saber se isso é mito ou verdade e quais são os principais benefícios do uso da monensina que podemos observar? Posso usar monensina em qualquer animal?

Professor: Rodrigo de Almeida

Você tem razão em afirmar que, há muitos aditivos no mercado de nutrição de bovinos leiteiros, muitos deles sem eficácia comprovada. A monensina por outro lado, é provavelmente o aditivo com maior volume de dados comprovando sua eficácia e sua alta relação benefício: custo. No texto complementar disponibilizado no módulo 5 deste curso, o mecanismo de ação é detalhado; peço que dê uma olhada. Sim, a monensina melhora a eficiência alimentar de bovinos leiteiros, tanto de novilhas em crescimento, quanto de vacas em lactação ou secas. Não, não é um mito atribuir a monensina tais benefícios. Sim, podemos usar monensina em todas as categorias animais. Por último, quero voltara salientar que minha única restrição do uso da monensina é evitar altas dosagens, pois neste caso o consumo de MS será muito deprimido.

11- Gostaria de saber o posicionamento de vocês, quanto ao agrupamento de lotes pré e pós-parto, para melhor desempenho no início da lactação? Com intuito de diminuir a hierarquia e competição por alimentação e camas.

Professor: Rodrigo de Almeida

Logicamente o número exato de lotes vai depender do tamanho do rebanho, mas idealmente para rebanhos de tamanho mediano a grande, minha sugestão seria agrupar as vacas em lactação em pelo menos 4 lotes:-Lote de Vacas Recém-Paridas (do dia do parto até 2-3 semanas pós-parto)

-Lote de Vacas de Alta Produção

-Lote de Vacas de Média e Baixa Produção

-Lote de Primíparas

Idealmente neste caso eu formularia uma dieta para cada lote, mas para facilitar o manejo não considero um absurdo fornecer a mesma dieta das vacas de alta produção para as primíparas, já que basicamente elas comem menos.

Para as vacas secas, bastariam 2 lotes:

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

-Lote 1 de vacas secas (da secagem até 21 dias antes do parto)

-Lote 2 de vacas secas (últimas 3 semanas pré-parto)

Professor: Alexandre M. Pedroso

Concordo 100% com as recomendações do Prof. Rodrigo. Costumo trabalhar seguindo os mesmos critérios.

Professor: Alexandre M. Pedroso

É isso mesmo. O uso das dietas aniônicas deve ser restrito às 3- 4 semanas antes do parto. Esse tema será discutido em maior profundidade ao longo do curso.

Professor: Rodrigo de Almeida

Sobre seu questionamento que o uso de sal aniônico acima de 4 semanas pode já não fazer mais efeito, francamente nunca li nada a respeito. Reiterando o que respondi anteriormente, acho que a suplementação de dietas aniônicas deve ser limitada às últimas 3 semanas pré-parto por uma questão econômica e por uma questão de eficácia.

12- Parece que o uso de sais aniônicos acima de 4 semanas pode não fazer mais efeito. Isto é verdade?

Professor: Alexandre M. Pedroso

Para os rebanhos com os quais trabalho, costumamos fazer as dietas de novilhas em final de gestação com cerca de 13-13,5%PB. Via de regra, trabalhamos com animais bem menores que as novilhas típicas dos EUA e Canadá, desta forma é preciso ajustar as dietas. Outro ponto a pensar, é que o interesse é pela quantidade total de proteína metabolizável (PM) disponível para os animais e, não há um teor fixo de PB (proteína bruta) que proporcione uma determinada disponibilidade de PM. Minha preocupação sempre é em atender os requerimentos por PM. O Prof. Rodrigo trabalha

13- No módulo 1, existe uma recomendação genérica de 12,5 - 13,5% de PB na dieta do início do período seco. Esta recomendação condiz com as recomendações do NRC (2001), contudo o livro recomenda para novilhas um teor mais elevado nas dietas variando de 14-15% de PB devido ao menor consumo em relação às vacas multíparas e, ao crescimento mais pronunciado da glândula mamária. Esta recomendação do livro é aceitável atualmente?

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

com rebanhos no sul e talvez possa trazer mais elementos para essa discussão.

Professor: Rodrigo de Almeida

Embora eu concorde com o Alexandre que devemos evitar a ”tentação” de apresentar números em PB e devemos discutir em PM, aqui no PR eu tendo a usar valores de PB um pouco mais altos do que os mencionados pelo Alexandre, algo mais próximo a 14%PB na dieta de novilhas prenhas, principalmente quando elas têm idade prevista ao 1º parto aos 23-24 meses e particularmente no caso de rebanhos que usam mais intensivamente as genéticas americana e canadense, onde o tamanho dos animais é de fato maior (exatamente como mencionou o Alexandre).

Você tem razão em nos alertar que novilhas faltando 60 dias para parir têm exigências nutricionais um pouco diferentes do que vacas faltando 60 dias para parir, mas na prática, em rebanhos pequenos e médios, e impraticável separar os 2 lotes. Por fim, também sou um pouco descrente quanto à eficácia da suplementação de fontes de PNDR e aminoácidos protegidos para vacas no período seco. Talvez seja ignorância minha, mas acredito que raríssimos rebanhos brasileiros poderiam se beneficiar deste tipo de suplementação! Temos muitas outras coisas mais prioritárias nesta fase.

14- Qual é necessidade de ingestão diária de proteína e NDT (nutrientes digestíveis totais) para novilhas no pré-parto? O que posso interpretar quando as glândulas mamárias e umbigo ficam extremamente inflamados no parto?

Professor: Alexandre M. Pedroso

As dietas no pré-parto vão conter cerca de 65-70% NDT e 13-14% PB, destacando que o importante é atender os requerimentos dos animais por proteína metabolizável. Com relação à sua outra questão, temo que não possa ajudar muito. Talvez o Prof. Rodrigo, que é Médico Veterinário, possa dar maiores informações.

Professor: Rodrigo de Almeida

A primeira parte da pergunta já foi respondida pelo Alexandre. Quando a glândula mamária e o umbigo ficam muito inflamados no parto chamamos esta ocorrência de edema puerperal ou simplesmente edema pré-parto. A ocorrência é muito maior nas novilhas do que nas vacas adultas, mas em ambos os casos sua ocorrência pode ser minimizada com a suplementação de dietas aniônicas (mais uma vantagem deste tipo de suplementação).

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

15- Na maioria das propriedades do interior do estado de Goiás, o trato é feito em cocho coletivo, onde se trata de um número elevado de vacas, no espaço físico pequeno, ocasionando uma competição na alimentação, stress, além de fraturas, lesões, ferimentos. O que é recomendado nesse caso para eliminar esses problemas. Cocho individual, lotes de tratamento?

16- Com base nesses conceitos que vocês citaram o que me dizem de pastagem rotacionada para vacas no pré-parto, tenho capins com teores de proteína acima de 15%, o que poderia faltar para esses animais poderia ser composto por um concentrado de menor valor comercial? Como seria esse concentrado?

Professor: Rodrigo de Almeida

Se estas condições que você relatou são para vacas no início do período seco, definitivamente você tem um problema, mas se são para vacas no período pré-parto, você tem um GRANDE problema. Para espaçamento de cocho para vacas em lactação ou para vacas secas recomendamos 70 cm/vaca, mas para vacas no período periparto (lotes pré-parto e recém-paridas) as recomendações mais atuais são de 1,0 m/vaca. Vacas neste período não podem ter absolutamente nenhuma limitação de consumo! Não acho necessário, termos cochos individuais; basta seguir estas recomendações.

Professor: Alexandre M. Pedroso

Nada a acrescentar, concordo 100% com as colocações do Prof. Rodrigo.

Professor: Alexandre M. Pedroso

É possível manejar as vacas em sistema rotacionado, mas o módulo de pastejo tem que proporcionar ótimas condições de conforto para as vacas em pré-parto. Topografia deve ser plana, deve haver grande disponibilidade de sombras, em locais secos e limpos, deve haver água disponível nos piquetes, áreas de descanso e corredores, boa oferta de forragem. Além disso, nos dias que antecedem o parto as vacas devem permanecer em local que facilite o monitoramento e permita um parto tranquilo. O ideal é ter um piquete maternidade. Particularmente, eu prefiro manejar as vacas no pré-parto oferecendo dieta total no cocho, o que permite um controle muito melhor do consumo, de forma que é possível identificar rapidamente possíveis problemas e fazer intervenções mais precisas.

Com relação à qualidade da forragem, num pasto com 15% PB a única necessidade de suplementação será alguma fonte de energia para atender os requerimentos, além dos minerais, é claro. O ideal é ter laudo de análise dessa forragem para poder formular corretamente a dieta dessas vacas.

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

Professor: Rodrigo de Almeida

O Alexandre é a pessoa mais indicada para responder sua pergunta sobre pastagem rotacionada para vacas no pré-parto; concordo integralmente com a resposta dele. Só gostaria de adicionar ao comentário que muitas pastagens novas e cheias de brotos e de áreas fortemente adubadas certamente têm altíssimas concentrações de potássio na sua composição, o que pode anular por completo qualquer possível ação do sal aniônico. É só um alerta e algo para pensar, ok?

17- Após a secagem dos animais, por quanto tempo ainda tenho que passá-las na sala de ordenha para monitorar a saúde do úbere?

Professor: Alexandre M. Pedroso

Passar as vacas secas pela sala de ordenha é uma questão de manejo de cada fazenda, não uma necessidade. Esse monitoramento da sanidade do úbere deve ser feito constantemente. Após a secagem, a glândula mamária acumula até 75-80% de sua produção diária, atingindo o acúmulo máximo de leite entre 2 a 3 dias após a secagem. Depois disso, a tendência é que o volume do úbere comece a diminuir. Se o manejo e o tratamento dos quartos funcionais com antibiótico intramamário forem adequados, a incidência de problemas será bem reduzida, mas é preciso ficar atento ao comportamento das vacas, como: ocorrência de febre, inchaço anormal e prolongado do úbere, etc.

Professor: Rodrigo de Almeida

Para me auxiliar na sua resposta, pedi auxílio ao médico veterinário Sandro Viechnieski, gerente e um dos sócios proprietários da Fazenda Iguaçu - StarMilk, no sudoeste do PR. Segue sua resposta: “O ideal e correto é NÃO passar a vaca na sala de ordenha pois isto estimula a produção de leite. O correto é observar o animal por mais 5 dias no próprio lote de vacas secas. Por isto uma boa alternativa é o uso de selante de tetos junto com o antibiótico na secagem. Precisamos observar neste animal apenas se está tendo um aumento no volume do úbere em algum dos quartos.” Espero que a resposta do Sandro tenha atendido suas expectativas.

18- Professores, eu não compreendi o fato de ter como forma de prevenir a hipocalcemia a redução nos níveis dietéticos de (cálcio) Ca no pré-parto, sendo que, como tratamento suporte para vacas já caídas seria a aplicação de cálcio injetável IV. Como se explica isso?

Professor: Alexandre M. Pedroso

O processo parece complexo, mas na verdade é simples. Vou tentar resumir aqui.

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

O metabolismo de Ca é regulado por diferentes fatores. As vacas não conseguem ingerir a quantidade de Ca necessária para atender à demanda no início da lactação, nem que o teor desse elemento seja elevado na dieta. A saída é estimular a mobilização de Ca nas reservas ósseas, para que esse elemento esteja disponível para as vacas quando a demanda surgir. Isso se faz causando uma leve acidose metabólica – com o uso das dietas aniônicas - ou reduzindo a oferta de Ca no pré-parto, de forma que o organismo da vaca seja obrigado a mobilizar o Ca dos ossos para atender a demanda. No início da lactação, quando esse processo de mobilização já estiver em pleno funcionamento, volta-se a elevar os teores de Ca na dieta, de forma que as vacas possam ter o suprimento adequado desse elemento no sangue.

19- Prezados professores, muitos nutricionistas usam como ferramenta o adensamento energético da dieta logo no pós-parto com a inclusão de gordura protegida que é composta basicamente pelos ácidos graxos essenciais (linolênico e linoleico), porém, a resposta produtiva à suplementação com fontes lipídicas é bastante variável, com relação à produção. No entanto, a utilização desta fonte alternativa de energia vem aumentando e trazendo bons resultados com relação a características reprodutivas no pós-parto. Gostaria de saber seus posicionamentos ou ideias sobre o adensamento energético?

Professor: Rodrigo de Almeida

Sobre a suplementação de gordura protegida (na verdade, sais cálcicos de ácidos graxos) no período pós-parto, percebo que há duas correntes distintas; um primeiro grupo que recomenda a suplementação destas gorduras protegidas, por conta do suposto benefício na reprodução e, um segundo grupo que não recomenda este tipo de suplementação, por conta do decréscimo no consumo de MS tipicamente observado quando suplementamos fontes de gordura. Não sei qual é a opinião do colega Alexandre, mas eu sou mais simpático ao segundo grupo, ou seja, tipicamente não recomendo a suplementação de gordura protegida logo no início da lactação. Quero deixar claro que acredito nos benefícios da suplementação com gordura protegida, mas prefiro iniciar a suplementação após 3-4 semanas pós-parto, quando o consumo de MS já é um pouco mais alto.

Por fim quero frisar um ponto básico, mas, importante; se o objetivo na suplementação de gordura é a melhoria na reprodução, devemos usar sais cálcicos de ácidos graxos de óleo de soja e não de óleo de palma, porque afinal o nosso interesse é aumentar o aporte dos ácidos graxos linoleico e linolênico, que são encontrados em satisfatórias concentrações somente na gordura protegida produzida com óleo de soja.

Professor: Alexandre M. Pedroso

Conceitualmente eu concordo com o Prof. Rodrigo, é preferível não arriscar comprometer o consumo de matéria seca fornecendo gordura para as recém-paridas. Há dados recentes de pesquisa da ESALQ mostrando um grande benefício do fornecimento de sais de cálcio a partir

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20 perguntas sobre: Manejo e alimentação de vacas em transição

de 15 dias de lactação, e eu pretendo testar esse manejo em breve aqui na EMBRAPA e numa fazenda comercial. A princípio os produtos à base de gordura de palma devem interferir menos com consumo e digestibilidade de fibras por apresentarem perfil de ácidos graxos mais saturados, mas temos que testar isso mais vezes.

20- Gostaria de saber quais seriam as recomendações para o uso de colina protegida? Começaria no pré-parto (21 antes da parição prevista) e iria até quantos dias pós-parto?

Professor: Alexandre M. Pedroso

Se for usar a colina protegida a recomendação é por todo o período de transição - 3 semanas antes até 3 semanas após o parto. Para vacas de alta produção, pode ser interessante prolongar o fornecimento um pouco mais para minimizar os efeitos da mobilização excessiva de gordura no início da lactação

Professor: Rodrigo de Almeida

Mais uma vez concordo 100% com a resposta do Alexandre. Para a colina funcionar ela dever ser suplementada no pré e no pós-parto! É importante chamar a atenção deste ponto porque a suplementação com colina é cara e por isso na maioria dos rebanhos que visito, a colina somente é suplementada em um dos dois períodos! Custa a metade, mas muitas vezes o benefício desaparece!