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82 Manejo de doenças de fruteiras tropicais Doenças da mangueira CULTURA, 2015). Os municípios de Pe- trolina, PE e Juazeiro, BA, localizadosna região do Submédio do Vale do São Fran- cisco, destacam-se no cenário nacional, pois são responsáveis por mais de 90%de toda a exportação nacional de manga para a Europa e Estados Unidos da América. A expansão da mangicultura e a ex- ploração intensiva da cultura ao longo Diógenes da Cruz Batista'; Pedro Martins Ribeiro [únior", Maria Angélica Guimarães Barbosa', Juliana Nunes de Andrade", Daniel Terno" Resumo - A mangueira é uma das principais frutíferas tropicais cultivadas em todo o mundo. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais dessa fruta e está entre os maiores exportadores. Grande parte da manga produzida no País tem como destino o mercado europeu e o norte-americano. Todavia, a exportação da fruta exige um controle de qualidade física, química e biológica, pelos compromissos firmados com os importadores quanto às exigências de normas de Boas Práticas Agrícolas (BPA). A ocorrênciade problemas fitossanitários, a exemplo das doenças, é um dos principais entraves relacionados com a produção e a comercialização da fruta, uma vez que tanto a planta quanto a fruta podem ser afetadas por diferentes patógenos. As doenças que incidem no pomar na fase de produção, normalmente reduzem a produtividade, enquanto aquelas que incidem em pós-colheita afetam diretamente a aparênciaea qualidade do produto, prejudicando a comercialização da fruta. As doenças importantes que incidem na mangueira são, principalmente, causadas por fungos, sendo apenas uma de origem bacteriana e nenhuma de importância causada por nematoides e vírus. Palavras-chave: Mangifera indica. Manga. Fungos. Bactéria. Manejo de doença. Mango diseases Abstract - Mango is a major tropical fruit produced around the world. Brazil is one of the largest producers and exporters of this fruit. Much of mango produced in Brazil is destined for the European and US market. However, the fruit importers demand the implementation of physical, chemical and biological control measures according to the requirements of the "Cood Agricultural Practices". The occurrence of phytosanitary problems, like diseases, is one of the main barriers for the mango production and ma- rketing, since both plant and fruits can be infected by different pathogens. Diseases that affect the trees usually reduce the yield.On the other hand, the post-harvest diseases directly affect the appearance and quality of the fruits and restrict the fruit marketing. The most important mango diseases are mainly caused by fungi. Only one is caused by a bacteria. No major mango disease is caused by viruses ar nematodes. Keywords: Mangifera indica. Mango. Fungi. Bacterium. Disease management. INTRODUÇÃO A mangueira (Mangifera indica L.) é uma das principais espécies frutíferas tropicais cultivadas em todo o mundo. Os principais produtores mundiais são a Índia, China, Tailândia, lndonésia, Paquistão, Mé- xico e o Brasil. A área comercial plantada com essa frutífera, no Brasil, é estimada em 70.688 ha, sendo 49.845 ha no Nordeste, e 19.754 ha no Sudeste (IBGE, 2014). Atualmente, a cultura da mangueira tem importante papel no agronegócio brasileiro, ocupando, em 2014, a segunda colocação em volume exportado entre as frutas, e a primeira em maior receita de exportação, com US$ 163,727 milhões (ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTI- "Eng. Agrônomo, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected] 2Eng.Agrônomo, D.Se., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected] 3Eng.Agrônoma, D.Se., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected] 4Bióloga, Estagiária EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected] 5Eng.Agrônomo, D.Se., Pesq. EMBRAPAMeio Ambiente, Jaguariúna, SP, [email protected] Informe Agropecuário, 8elo Horizonte, v.37, n.290, p.82·91, 2016

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Doenças da mangueira

CULTURA, 2015). Os municípios de Pe-trolina, PE e Juazeiro, BA, localizadosnaregião do Submédio do Vale do São Fran-cisco, destacam-se no cenário nacional,pois são responsáveis por mais de 90%detoda a exportação nacional de manga paraa Europa e Estados Unidos da América.

A expansão da mangicultura e a ex-ploração intensiva da cultura ao longo

Diógenes da Cruz Batista'; Pedro Martins Ribeiro [únior", Maria Angélica Guimarães Barbosa',Juliana Nunes de Andrade", Daniel Terno"

Resumo - A mangueira é uma das principais frutíferas tropicais cultivadas em todo o mundo. O Brasil é um dos maioresprodutores mundiais dessa fruta e está entre os maiores exportadores. Grande parte da manga produzida no País tem como destinoo mercado europeu e o norte-americano. Todavia, a exportação da fruta exige um controle de qualidade física, química e biológica,pelos compromissos firmados com os importadores quanto às exigências de normas de Boas Práticas Agrícolas (BPA). A ocorrênciadeproblemas fitossanitários, a exemplo das doenças, é um dos principais entraves relacionados com a produção e a comercialização dafruta, uma vez que tanto a planta quanto a fruta podem ser afetadas por diferentes patógenos. As doenças que incidem no pomar na fasede produção, normalmente reduzem a produtividade, enquanto aquelas que incidem em pós-colheita afetam diretamente a aparênciaeaqualidade do produto, prejudicando a comercialização da fruta. As doenças importantes que incidem na mangueira são, principalmente,causadas por fungos, sendo apenas uma de origem bacteriana e nenhuma de importância causada por nematoides e vírus.

Palavras-chave: Mangifera indica. Manga. Fungos. Bactéria. Manejo de doença.

Mango diseases

Abstract - Mango is a major tropical fruit produced around the world. Brazil is one of the largest producers and exporters of thisfruit. Much of mango produced in Brazil is destined for the European and US market. However, the fruit importers demand theimplementation of physical, chemical and biological control measures according to the requirements of the "Cood AgriculturalPractices". The occurrence of phytosanitary problems, like diseases, is one of the main barriers for the mango production and ma-rketing, since both plant and fruits can be infected by different pathogens. Diseases that affect the trees usually reduce the yield.Onthe other hand, the post-harvest diseases directly affect the appearance and quality of the fruits and restrict the fruit marketing. Themost important mango diseases are mainly caused by fungi. Only one is caused by a bacteria. No major mango disease is causedby viruses ar nematodes.

Keywords: Mangifera indica. Mango. Fungi. Bacterium. Disease management.

INTRODUÇÃO

A mangueira (Mangifera indica L.)

é uma das principais espécies frutíferastropicais cultivadas em todo o mundo. Os

principais produtores mundiais são a Índia,China, Tailândia, lndonésia, Paquistão, Mé-xico e o Brasil. A área comercial plantadacom essa frutífera, no Brasil, é estimada em

70.688 ha, sendo 49.845 ha no Nordeste, e19.754 ha no Sudeste (IBGE, 2014).

Atualmente, a cultura da mangueiratem importante papel no agronegóciobrasileiro, ocupando, em 2014, a segundacolocação em volume exportado entre asfrutas, e a primeira em maior receita deexportação, com US$ 163,727 milhões(ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTI-

"Eng. Agrônomo, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected]ônomo, D.Se., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected]

3Eng.Agrônoma, D.Se., Pesq. EMBRAPA Semiárido, Petrolina, PE, [email protected]óloga,Estagiária EMBRAPASemiárido, Petrolina, PE, [email protected]

5Eng.Agrônomo, D.Se., Pesq. EMBRAPAMeio Ambiente, Jaguariúna, SP,[email protected]

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dos anos, aliadas à adoção de tecnologiasde indução floral para a produção na en-tressafra pelo uso de reguladores vegetaise estresse hídrico, além de um manejofitossanitário inadequado, têm favorecidoo estabelecimento de doenças que podemprejudicar tanto a produtividade como aqualidade das mangas produzidas.

Dentre essas doenças, destacam-seoídio, mal formação floral e vegetativa,seca-da-mangueira, antracnose, mancha-angular ou cancro-bacteriano, morte-descendente e podridão-peduncular. Oestabelecimento das citadas doenças eo seu potencial em causar prejuízos aosprodutores vão depender das condiçõesclimáticas onde o pomar está implantadoe do manejo adotado pelos produtores.

A seguir serão abordados aspectossintomatológicos, etiológicos, epidemio-lógicos e de manejo dessas doenças.

ANTRACNOSE

A antracnose é a principal doença damangueira em regiões produtoras que apre-sentam altos índices pluviométricos, ondepredominam elevada umidade relativa(UR) e temperaturas próximas aos 28°C.Nesses locais, essa doença causa severosprejuízos aos produtores (ESTRADA;DODD; JEFFRIES, 2000). Na região Se-miárida do Brasil, pela baixa precipitação eUR do ar, a antracnose não apresenta muitaimportância, limitando as ocorrências aoperíodo de dezembro a março, quando asprecipitações são mais comuns.

A antracnose tem como agentes etio-lógicos fungos do gênero Colletotrichum,sendo o Colletotrichum gloeosporioides(Penz) (teleomorfo: Glomerella cingulata(Stoneman) Spauld. & Schrenk) mais ci-tado na literatura. Todavia, também podeser causada por C. acutatum, C. dianesei,C. fructicola, C. Karstii, C. asianum e C.tropicale, causando sintomas semelhantes.

Essa doença pode afetar diferentes ór-gãos da mangueira, como ramos novos, fo-lhas, inflorescências e frutos. Entretanto, éna pós-colheita que a antracnose apresentamaior importância, principalmente quando

os frutos são destinados à exportação paramercados exigentes, onerando mais o custode produção para esses mercados, porcausa do manejo pré e pós-colheita para ocontrole dessa doença.

Nas folhas, os sintomas da antracnosesão manchas marrons, de contorno arredon-dado ou irregular, com cerca de 1,0 a 10 mmde diâmetro, que podem aparecer tantonas margens, como no centro do limbofoliar e, ainda, em ambos os lados da folha(Fig. 1). Em ambiente com alta umidade,essas manchas aumentam de tamanho,podendo coalescer e causar o rompimentodo limbo. Os sintomas causados por C.gloeosporioides nas folhas diferem dosda mancha-angular (Xanthomonas citripv. mangiferaeindicae), por essas manchasnão serem tão escuras ou salientes.

Nas brotações e ramos novos, os sinto-mas são manchas necróticas e escuras, quepodem causar secamento descendente edesfolha. Nas inflorescências, os sintomasiniciam-se pelo aparecimento e progressãode pequenas pontuações escuras sobreas flores, as quais se tornam alongadas eprofundas, provocando a morte de florese queda de frutos juvenis. Ataque severoda doença pode causar a queima de toda ainflorescência, tornando-a seca e de colo-ração que varia de marrom a preta.

Os frutos podem ser infectados emqualquer estádio de desenvolvimento, po-rém, é comum o patógeno ficar quiescentee os sintomas da doença surgirem duranteo processo de amadurecimento na pós-colheita. Nos frutos maduros, os sintomasapresentam-se sob a forma de manchasou lesões marrom-escuras a pretas, combordas definidas, levemente deprimidaspodendo-se desenvolver em qualquer partedo fruto (Fig. 1).É comum, em regiões comalto índice pluviométrico, os frutos apre-sentarem um padrão de escorrimento (oumancha em lágrima), por causa da infecçãode esporos produzidos e disseminados apartir da panícula doente. Com a evoluçãoda doença, as manchas podem coalescer eenvolver todo o fruto, com possibilidadede causar também rachaduras, levando aoapodrecimento. Em condições de alta UR,é possível observar, no centro das lesões,pontuações de aspecto alaranjado, que sãoas frutificações do fungo.

O fungo é disperso no pomar por res-pingos de água (chuva, orvalho ou irriga-ção), o que é necessário para a remoção damassa mucilaginosa que envolve os espo-ros. A infecção é favorecida pela presençade água livre ou de alta UR (acima de 90%)e temperaturas em torno de 28°C a 30°C(ESTRADA; DODD; JEFFRIES, 2000).

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Figura 1 - Sintomas da antracnose em folhas e em mangas na pós-colheita

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Portanto, o florescimento, coincidindo comperíodo de alta UR e temperatura, é con-dição ideal para epidemias de antracnose.

Para o manejo da antracnose, faz-senecessário realizar, periodicamente, ainspeção do pomar quanto à ocorrênciada doença e monitorar as condições me-teorológicas, principalmente nas fases defloração e de frutificação, que são as maissensíveis da mangueira. Como medidacultural, recomenda-se:

a) instalar pomares em regiões combaixa umidade;

b) realizar adubações adequadas, paramanter as plantas nutridas;

c) realizar a poda de formação da copa,para propiciar maior arejamento edesfavorecer a infecção do patógeno;

d) fazer o escoramento da copa, paraevitar que a lâmina de irrigação domicroaspersor molhe os frutos loca-lizados na parte mais baixa;

e) realizar poda de limpeza das plantas,eliminando os ramos com sintomasda doença;

f) fazer a indução da floração emépocas que não coincidam comchuvas prolongadas;

g) não deixar frutos maduros nasplantas;

h) fazer a limpeza do pomar, com aretirada e a queimada de restos decultura contaminados.

Em pré-colheita, quando a estaçãochuvosa coincide com o florescimento, eem pomares com alto potencial de inócu-10, pulverizações preventivas devem seriniciadas após o surgimento das gemasflorais, ou a partir do florescimento, empomares com bom nível de controle daantracnose. Para evitar o surgimento deestirpes resistentes do fungo, recomenda-se a altemância de princípios ativos e defungicidas de contato e sistêmicos.

Já em pós-colheita, pode-se fazer o tra-tamento químico e fisico com o fungicidaprocloraz e hidrotérmico por imersão, comtemperatura de 52°C, durante 5 minutos, res-pectivamente. O tratamento quarentenário

realizado para moscas-das- frutas em mangasdestinadas aos Estados Unidos da América,pela imersão dos frutos em água aquecida a46, 1°C, durante 75 a 90 minutos, também éeficiente para o controle da doença.

Para o controle químico da antracnoseda mangueira, existem no mercado 42 pro-dutos registrados, que podem apresentarem sua formulação os princípios ativosazoxistrobina; tiofanato-metílico; oxiclo-reto de cobre; óxido cuproso; piraclos-trobina; tebuconazol; hidróxido de cobre;mancozebe; tetraconazol; difenoconazol;imazalil; procloraz e tiabendazol. Estes trêsúltimos fungicidas podem ser empregadosno tratamento pós-colheita dos frutos.

A doença pode afetar várias outras es-pécies, desde plantas cultivadas (goiabeira,abacateiro, morangueiro, maracujazeiro,mamoeiro, dentre outras) a plantas silves-tres, que devem ser controladas ou evitadasno pomar.

MALFORMAÇÁO FLORAL EVEGETATIVA

A malformação floral e vegetativa,também chamada embonecamento no casoda floral, é uma das principais doençasda mangueira no mundo, podendo causarperdas significativas de produção.

Inicialmente, foi descrito como agenteetiológico da mal formação floral e vege-tativa da mangueira o fungo Fusariumsubglutinans Wollenw. & Reink. Coma evolução dos estudos moleculares efilo genéticos, atualmente estão descritasseis espécies de Fusarium como agentesetiológicos dessa doença, que incluem Fmangiferae; F mexicanum; F proliferatum;F sterilihyphosum; F subglutinans e Ftupiense, cujos teleomorfos agrupam-se em Gibberella fujikuroi (NOR et aI.,2013). As espécies F sterilihyphosum, Fsubglutinans e F tupiense já foram relata-das como agentes causais da malformaçãono Brasil (TERAO et aI., 2001; LIMAet aI., 2012; NOR; SALLEH; LESLIE,2013).

A malformação, como o próprio nomesugere, está ligada ao crescimento anormal

de inflorescências e de ramos vegetativosprovocado pelo desequilíbrio hormonalcausado pela infecção do fungo. Na malfor-mação floral, as inflorescências adquirema aparência de um cacho compacto, sema formação de frutos (Fig. 2A), causandoredução da produtividade do pomar. Araque da inflorescência e as ramificaçõessecundárias tornam-se mais curtas, oque dá à panícula aparência compacta ecom flores inférteis (KUMAR; MISRA;MODI, 2011; FREEMAN et aI., 2014). Amal formação vegetativa, muito comum emviveiros, pelo uso de material propagativoinfectado, ocorre também em plantas adul-tas no campo. Esta doença caracteriza-sepelo superbrotamento das gemas apicais eaxilares do ramo principal. Nesses ramos,aparecem brotações com intemódios maiscurtos, folhas rudimentares e grande núme-ro de gemas intumescidas, que não chegama brotar, dando um aspecto compacto eenvassourado (Fig. 2B).

O fungo infecta a gema apical dasplantas em época de alta umidade e per-manece no tecido do ramo terminal até aemissão de nova brotação ou inflorescên-cia (KUMAR; MISRA; MODI, 2011). Operíodo de incubação da malformação émuito variável, podendo compreendersemanas e até meses. As inflorescênciase ramos mal formados mantidos no pomarsão fontes de inóculo para a geração denovas infecções.

A disseminação da doença ocorreprincipalmente pela prática da enxertia epelo uso de material propagativo infectado.Os esporos podem ser disseminados pelovento, principalmente em pomares onde asinflorescências ou os ramos malforrnadosnão são retirados do pomar e destruídos. Adoença é intensificada quando associada àpresença do microácaro Aceria mangiferae(GAMLIEL-ATINSKY et a!., 2009). Essemicroácaro causa lesões, que facilitam apenetração e a infecção das gemas pelofungo, entretanto, não é determinante paraque a doença ocorra, pois o patógeno podeinfectar as gemas da planta independente-mente da presença desse microácaro.

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Figura 2 - Sintomas da malformação floral e vegetativa em mangueira

NOTA: Figura 2A - Floral. Figura 28 - Vegetativa.

Para o manejo da mal formação floral evegetativa são necessárias práticas, como:usar porta-enxertos, borbulhas ou garfosde plantas sadias para a produção de mu-das; eliminar mudas que apresentaremsintomas da doença; em plantas adultas,fazer vistorias periódicas do pomar e, naverificação dos sintomas, podar os ramossintomáticos e retirá-Ios da área; no casode reincidência e de intensificação dossintomas, fazer uma poda drástica, elimi-nando inflorescências e ramos com mal-formação, com um corte realizado 80 emabaixo do seu ponto de inserção; apóscada poda, devem-se desinfetar os instru-mentos utilizados (hipoclorito de sódio a2%) e aplicar, na área podada da planta,pasta cúprica; controlar o microácaroA. mangiferae com produtos acaricidas,como enxofre e hexitiazoxi. As inflores-cências infectadas que forem retiradasdas plantas devem ser queimadas. Asvariedades de mangueira Tommy Atkins,Van Dyke, Palmer e Haden são suscetíveisà mal formação, enquanto que a Bourbon émoderadamente resistente, e a variedadeRosa é resistente (DIAS et aI., 2003).

MANCHA-ANGULAR OUCANCRO-BACTERIANO

Causada pela bactéria Xanthomonascitri pv. mangiferaeindicae, a mancha-angular ou cancro-bacteriano é uma doençaque afeta ramos, folhas novas, inflores-cências e frutos de diversas cultivares demanga. Esta doença é muito importantenos trópicos e subtrópicos, onde podecausar severa queda de frutos, ocorrendo,principalmente, durante períodos quandoaltas temperaturas coincidem com chuvasou períodos úmidos prolongados acompa-nhados de ventos.

No Brasil, prejuízo semelhante ocorreno estado de São Paulo, onde a doença émais severa. Em regiões com predominân-cia de baixa umidade e pouca precipitaçãopluviométrica, a exemplo das condiçõessemiáridas do Submédio do Vale SãoFrancisco, a ocorrência da mancha-angularé baixa, não causando prejuízos.

Os sintomas em folhas têm início como encharcamento do tecido, seguido do de-senvolvimento de lesões angulares escurase limitadas pelas nervuras, com a presen-ça ou não de halo amarelado (Fig. 3A)

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Geralmente, as lesões são menores que0,5 em", e podem coalescer e formargrandes áreas necróticas, causando a des-folha. Podem surgir lesões nas nervuras,pecíolos de folhas, panículas e ramos emforma de manchas escuras, irregulares ealongadas, onde, futuramente, se formamcancros.

Nos frutos, as lesões surgem comopequenas manchas encharcadas (aspectoúmido) ao redor das lenticelas, que servemcomo ponto de entrada da bactéria. Asmanchas são de coloração verde-escuraque, posteriormente, tornam-se enegre-cidas. Essas manchas tomam um aspectode estrela, rompem-se e exsudam uma

j goma bacteriana infecciosa, com padrãode mancha em lágrima (Fig. 3B). Altataxa de infecção na região do pedúnculofrequentemente causa queda prematura oumumificação de frutos jovens.

Semelhante ao fungo C.gloeosporioides,as células bacterianas de X. citri pv.

mangiferaeindicae são dispersas porrespingos de água, que podem ser oriun-dos da chuva ou da irrigação. A doençapode ser disseminada também por insetos,como moscas-das-frutas, mosquinha-da-mangueira e por sementes contaminadas.A penetração da bactéria no hospedeiroocorre por meio de ferimentos ou aber-turas naturais (lenticelas e estômatos).Condições ambientais de temperatura eumidade altas são favoráveis à severidadeda doe ça; ventos fortes ou granizos, porcausar ferimentos e danificar a superficiede vários órgãos da planta, também sãofavoráveis à doença, sendo a chuva o fatorclimático com o qual mais se correlaciona(GAGNEVIN; PRUVOST, 2001).

Além das práticas culturais menciona-das, mudas isentas da doença são essen-ciais para o manejo integrado. Medidascomo o uso de quebra- vento para evitarferimentos em folhas e frutos, remoçãode órgãos infectados e restos de cultura,que servem como fontes de inóculo, eaplicações de produtos à base de cobre sãoigualmente importantes. O uso de cúpricospode auxiliar na supressão da população

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Figura 3 - Sintomas de mancha-angular e cancros em fruto

NOTA: Figura 3A - Mancha-angular em folha. Figura 3B - Cancros em fruto.

epifítica residente, principalmente nasuperfície de folhas juvenis (PRUVOSTet aI., 2009).

MORTE-DESCENDENTE EPODRIDÃO-PEDUNCULAR

A morte-descendente e a podridão-peduncular estão dentre as principaisdoenças da mangueira no Semiárido doNordeste brasileiro. A morte-descendente,quando não manejada adequadamente,pode evoluir para o quadro de declínio, re-duzindo a produção, a vida útil e até matara planta. Já a podridão-peduncular, uma dasdoenças mais limitantes da mangiculturano Vale do São Francisco, causa danos aolongo de toda cadeia de produção, sendoresponsável por perdas econômicas durantea produção, armazenamento, transporte ecomercialização da fruta.

A morte-descendente e a podridão-peduncular foram inicialmente associadas aLasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon &Maubl, fungo da família Botryosphaeriaceae.Embora nos plantios comerciais haja pre-dominância desta espécie, outras dessegênero, como L. crassispora; L. egyptiaceae;L. hormozganensis; L. iranienses e L.pseudotheobromae; (MARQUES et aI.,2013b), além das espécies Fusicoccum

aesculis (Botryosphaeria dothidea);B. mamane; Neofusicoccum parvum;Pseudofusicoccum stromaticum; Ffabicercianum, N. brasiliense eNeoscytalidium dimidiatum, também fo-ram associadas a essas doenças no Brasil(MARQUES et aI., 20 13a). As espéciesNeofosicoccum mangiferae; Neoscytalidiumnovaehollandiae; Pseudofusicoccumadansonia e P kimberleyense já foram re-latadas no mundo causando os mesmos da-nos em mangueira. Um ponto em comum,além dos danos, é que todos esses fungosfazem parte de um complexo de fungos dafamília Botryosphaeriaceae.

A morte-descendente, geralmente,ocorre na fase de maturação de ramos eindução floral, podendo desenvolver-se emmudas ainda no viveiro (Fig. 4A) e durantea floração (Fig. 48), principalmente emcondições de estresse hídrico e nutricional.Quando o patógeno infecta o ramo verde,ocorrem lesões escuras irregulares e nãodeprimidas que avançam para o pecíolo eo limbo foliar (Fig. 4C), causando o seca-mento de todo o ramo (Fig. 4D). Quando osramos infectados não são retirados da plan-ta, a infecção pode progredir lentamente decima para baixo, podendo avançar para osramos mais velhos e para o tronco, causan-

do, em consequência, a morte de parte dacopa ou da planta. Nas infecções a partir debifurcações ou nas rachaduras naturais, aslesões podem progredir internamente paraum anelamento do ramo ou tronco. Geral-mente, quando esse tipo de sintoma é detec-tado, a planta já está debilitada e de difícilrecuperação. Quando a morte-descendenteincide sobre as panículas, ocorrem lesõesescuras, abortamento de flores (Fig. 4B) ede frutos jovens. Em mudas, a doença ocorrepelo uso de enxerto com gema infectada decampo ou, raramente, quando a infecçãoocorre na região da enxertia, por causa dadisseminação de material contaminadono viveiro, a exemplo de mudas doentesou restos culturais mantidos sobre o solo(Fig.4A).

Quando a infecção ocorre no fruto,causa uma podridão de aspecto bastantemole e aquoso (Fig. 4E), deixando-o comodor desagradável, imprestável para oconsumo, principalmente quando infec-tado por L. theobromae. Com o progressoda infecção, o tecido toma-se amolecidoe a lesão avança rapidamente, tomandotoda a polpa do fruto. Geralmente, quan-do a podridão-peduncular é causada porFusicoccum aesculis ou Neofusicoccumspp., as lesões próximas ao pedúnculosão mais enegrecidas e de contorno irre-gular. Após a infecção, o fungo tambémpode permanecer quiescente em frutos,manifestando sintomas na pós-colheita,durante a comercialização, como ocorrecom a antracnose. Nos órgãos afetados,como frutos, ramos, folhas e panículas,podem ser observados picnídios, pequenaspontuações escuras que correspondem àsestruturas reprodutivas do patógeno.

As condições favoráveis ao desenvol-vimento de L. theobromae; N. parvume F aesculis são temperaturas em tornodos 25°C, sendo que L. theobromae podesuportar temperaturas mais elevadas, como35°C, a qual é limitante para N. parvume F aesculis.

Fungos da família Botryosphaeriaceaepodem sobreviver em material conta-minado, como saprófitos, reproduzindo

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Figura 4 - Sintomas de morte-descendente em mangueira e podridão-penduncular em frutos

NOTA: Figura 4A - Na muda. Figura 4B - Na panícula. Figura 4C - No ramo. Figura 4D - Na mangueira severamente afetada.

Figura 4E - No fruto na pós-colheita.

abundantemente quando em condições dealta umidade, que pode ser propiciada pelosistema de irrigação da cultura, servidocomo fonte de inóculo. Os esporos dofungo podem ser dispersos por respingosde água de chuvas e da própria irrigação,associados à ocorrência de ventos, ou pormeio de ferramentas de poda e mudascontaminadas. Esses patógenos podeminfectar as plantas por aberturas natu-rais, ferimentos provocados pela poda epor danos causados por pragas, como amesquinha-da-mangueira (Procontariniamangiferae).

O monitoramento do pomar, princi-palmente nas épocas de estresse hídrico,floração e frutificação, é importante para o

manejo dessas doenças. Diversas práticaspodem ser adotadas para prevenir e reduziros danos causados pelos patógenos dessasdoenças como:

a) podar e fazer a limpeza após a co-lheita, eliminando os ponteiros oupanículas da produção anterior;

b) proteger as áreas podadas com pastacúprica e tiabendazole, para evitarnovas infecções;

c) desinfestar as ferramentas de podacom uma solução de hipoclorito desódio a 2%;

d) eliminar plantas mortas ou queapresentem sintomas em estádioavançado da doença;

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e) remover material infectado;

f) adubar e irrigar adequadamente opomar, conforme exigência nutri-cional da cultura;

g) evitar estresse hídrico e nutricionalprolongado e molhamento do troncodas plantas;

h) controlar arnosquinha-da-mangueira,prevenindo ferimentos que servemcomo porta de entrada para patógenos;

i) eliminar frutos, folhas, panículase ramos infectados ou manter osrestos de cultura, triturados comroçadeira, nas entrelinhas de plan-tio, fora do alcance da lâmina deirrigação do microaspersor.

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88 Manejo de doenças de fruteiras tropicais

Para o controle da podridão-pedun-cular, medidas preventivas devem sertomadas antes que as infecções ocorramnas gemas vegetativas e florais e durantea floração. Pulverização com fungicidassistêmicos à base de difenoconazol podeser adotada para a proteção desses órgãos.

oíOIO

o oídio, também conhecido por cinza-da-mangueira é uma doença comum empomares onde se cultiva a mangueira que,se não manejada corretamente, pode causarperdas expressivas na produção.

O fungo Oidium mangiferae Berthet(forma sexuada Erysiphe polygoni DC.),agente causal desta doença, é um parasitaobrigatório, pois infecta apenas tecidos vi-vos de órgãos suscetíveis da mangueira. Osórgãos infectados ficam recobertos por umpó branco-acinzentado, que corresponde àsestruturas produzidas pelo patógeno (hifas,conidióforos e conídios) (RIBEIRO, 2005).

Os órgãos da mangueira mais susce-tíveis ao patógeno são as folhas, frutosjovens e inflorescências (Fig. 5). Infecçõesseveras nas folhas podem causar desfolha naplanta. O pedúnculo e pedicelos dos frutosjovens também podem ficar recobertos comas estruturas do patógeno. A colonizaçãodo fungo danifica as inflorescências, cau-sando a queda das flores, comprometendodiretamente a qualidade e a produção dosfrutos. Além disso, o pedúnculo afetado peladoença fica mais frágil, podendo resultar emqueda dos frutos. Com o desenvolvimentodestes, ocorre maior resistência ao ataquedo fungo (resistência ontogência ou rela-cionada com a idade). Os frutos atacadosque persistem na planta podem apresentarlesões e rachaduras, que servem como portade entrada para outros patógenos.

A ocorrência do oídio da mangueiraé favorecida por temperaturas amenas(24°C a 26°C) e ambiente seco (UR de45% a 60%), condições que tornam estadoença mais danosa em algumas regiõesprodutoras, como no Semiárido brasileiro.

No Submédio do Vale São Francisco,região Semiárida, o oídio pode ocorrer

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Figura 5 - Sintomas de oídio em folhas jovens e em panícula de mangueira

durante todo o ano e com maior inten-sidade entre maio e agosto, quando astemperaturas são mais amenas e comescassa ocorrência de chuvas. Nessesmeses, também a velocidade do ventoaumenta, favorecendo a dispersão deesporos. A ocorrência de chuvas, alta URe temperaturas abaixo de 9°C e acima de32°C desfavorecem o desenvolvimentode epidemias da doença.

Por ser um parasita obrigatório, o fungoo. mangiferae sobrevive em órgãos vivosda mangueira, como folhas, ramos, inflo-rescências, frutos e gemas, constituindo-se na principal fonte de inóculo para aocorrência de epidemias no campo, quandoem condições ambientais favoráveis. Alémdo vento, o fungo pode ser disseminadotambém por insetos visitantes florais damangueira.

Para o manejo adequado do oídio damangueira, é necessário o monitoramentoda doença durante os estádios de desenvol-vimento de folhas novas (fase vegetativa),de inflorescências (fase de floração) e defrutos (fase inicial de frutificação). Essesestádios fenológicos apresentam maior sus-cetibilidade à doença. Após a detecção dosprimeiros focos, a primeira aplicação de

fungicidas registrados para a cultura deveser realizada alguns dias antes da aberturadas flores e, se necessário, estendida atéo início da frutificação. É recomendadaa alternância de princípios ativos, paraevitar a seleção de estirpes resistentes dofungo a esses compostos e, quando as floresestiverem abertas, as aplicações devemser evitadas, pois podem reduzir visitasde insetos polinizadores (SIQUEIRA etal.,2008).

Estão registrados no Brasil 22 fungici-das para o controle do oídio da mangueiracom os princípios ativos: bicarbonatode potássio; enxofre; os triazóis bromu-conazol, difenoconazol e tebuconazol;triflumizol (imidazol); piraclostrobina(estrobilurina); as formulações boscalida(anilida) + cresoxim-metílico (estrobiluri-na) e fluxapiroxade (carboxamida) + pira-clostrobina. Pulverizações com fungicidasà base de enxofre devem ser realizadas noshorários mais frescos do dia, para evitarfitotoxidez às plantas.

As cultivares de manga Tommy Atkins,Keitt, Sensation, Brasil, Carlota, Espada,Imperial, Oliveira Neto e Coquinho sãoconsideradas resistentes ao oídio (RIBEI-RO,2005).

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Manejo de doenças de fruteiras tropicais 89

SECA-DA-MANGUEIRA

A seca-da-mangueira está dentre asmais importantes doenças que afetam amangueira, pois pode causar a morte dasplantas. No Brasil, diversas regiões de pro-dução comercial sofreram consequênciasdesta doença, causando a morte de milha-res de plantas em pomares (BATISTA etaI., 2008). O fungo causador dessa doençaé Ceratocystisjimbriata Ellis & Halsted,

Em mangueiras atacadas pelo fungo,quando a infecção ocorre nos ramos, ini-cialmente surge amarelecimento, murchade folhas e seca de galhos mais finos, ondeas folhas secas, de coloração palha, ficampresas (BATISTA et aI., 2008). Com a evo-lução da doença, os sintomas progridemlentamente em direção a outros galhos, cau-sando morte de setores da planta (Fig. 6A),posteriormente até o tronco, e, por fim,a morte da planta (Fig. 6B). Em cortetransversal de ramos e troncos afetados,é possível observar lesões na forma deestrias (Fig. 6C e 6D), partindo da medulaem direção ao exterior do lenho e/ou daperiferia do lenho para a medula. Quandoo fungo infecta a planta pelas raízes, ossintomas da seca-da-mangueira podem seriniciados sem deixar sinais perceptíveis atéa morte da planta.

O fungo C jimbriata não é capaz depenetrar diretamente nos ramos sem apresença de ferimentos. Para o estabele-cimento e a disseminação da doença, éfundamental a participação de coleobrocas,que, atraídas pelo odor do fungo, atuamperfurando galerias nos galhos e troncos(Fig. 6C), inoculando e dispersando opatógeno na própria planta ou para outrasdo pomar, pois podem carregar esporosdo fungo aderidos em seu corpo, além deserragens contaminadas das perfurações.A coleobroca Hypocryphalus mangiferae,conhecida como broca-da-mangueira, é oprincipal vetor de Cjimbriata em pomaresde manga (IQBAL; SAEED, 2012). Nosramos e troncos afetados, podem ser obseva-dos orifícios de, aproximadamente, 1,0 mm,feitos pelas coleobrocas, com liberaçãode serragem e exsudação de uma resina

de consistência gomosa, que é sinal doataque do inseto. Em cortes longitudinaisou transversais nos ramos e troncos afeta-dos, podem ser observadas estrias de cormarrom (Fig. 6D). A dispersão do fungopode ocorrer também pelo solo contami-nado aderido aos implementos agrícolas,pela água de irrigação e, a longa distância,por mudas infectadas. Altas temperaturas eprolongados períodos de chuvas favorecema infecção e o desenvolvimento da doença.

O fungo pode sobreviver em ramossecos da mangueira afetados pela doença,como habitante do solo, por meio de ela-midósporos, e infectando diversas plantashospedeiras, como acácia-negra, alface,

batata-doce, cacau, café, cenoura, citrus,eucalipto, figo, pinha e seringueira.

Como tática de manejo da doença,deve-se evitar sua entrada no pomar pelouso de mudas sadias oriundas de viveirosidôneos e registradas no Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA). No pomar onde a doençajá ocor-re, devem-se realizar inspeções periódicas,para a identificação e a eliminação de plan-tas doentes e, dessa forma, reduzir o inócu-10 e a disseminação da doença. Assim quea seca-da-mangueira for detectada, deve-sedar início à erradicação, eliminando-se osramos afetados por meio de corte a 40 emde distância da região entre o tecido sadio e

Figura 6 - Seca-do-mangueira causada por Ceratocystis fimbriataNOTA: Figura 6A - Seca em setor da mangueira. Figura 6B - Planta morta. Figura 60 -

Galerias provocados pela broca-do-mangueira com lesões no tronco. Figura 6C -

Lesões no tranco.

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90 Manejo de doenças de fruteiras tropicais

o doente, queimando-se o material podadoposteriormente. De uma poda para a outra,é importante desinfetar a ferramenta comhipoclorito de sódio a 2%. As regiões quesofreram podas devem ser protegidas compasta cúprica (acrescida ou não de carbarila 0,2%), para impedir a entrada de patóge-nos. A medida de controle mais indicadapara a seca-da-mangueira é a resistênciavarietal, pois não há fungicidas registradospara o controle dessa doença. Variedadesde mangueira, como Manila, Dura, Boca-do, Ubá, Carabao, Manga d'água, Pico,IAC 101 Coquinho, lAC 102 Touro, IAC103 Espada Vermelha, lAC 104 Dura,Rosa, Sabina, Oliveira Neto, São Quirino,Van Dyke, Keitt, Espada, Sensation, Kent,lrwin e Tommy Atkins são citadas comoresistentes ou moderadamente resistentes(RIBEIRO, 2005; ARAUJO et al., 2014).Aplicações de Acibenzolar-S-Methyl efosfito de potássio aumentaram a resistên-cia da planta à colonização do patógeno(ARAUJO et al., 2015).

OUTRAS DOENÇAS

Outros patógenos de menor impor-tância também podem afetar a cultura damangueira e são considerados secundários.Geralmente, práticas de manejo utilizadaspara o controle de outras doenças de maiorimportância também têm efeito sobre essespatógenos. Alternaria alternata, ao infectarfolhas, induz a formação de manchas escu-ras e arredondadas a ovaladas, perceptíveismais facilmente na parte inferior. No fruto,lesão similar desenvolve-se ao redor daslenticelas, tendo a lesão uma profundi-dade inicial de apenas 1 mm a 2 mm semapresentar amolecimento. Sob condiçõesde umidade, a lesão desenvolve-se,tomando-se deprimida, com reproduçãodo patógeno no centro da lesão. Sintomasde mancha de Alternaria são mais restritosque os da antracnose.

Na mancha-cinza-da-folha (Pestalotiopsismangiferae), o sintoma inicial é uma peque-na mancha irregular amarelo-amarronzada,tomando-se maior e adquirindo coloraçãobranco-acinzentada, com margens escu-

raso Nessas áreas necróticas e cinzentas,desenvolvem-se numerosos acérvulospretos. Além de afetar as folhas, o fungoP mangiferae pode causar podridão emfrutos maduros.

A verrugose (Elsinoe mangiferae) cau-sa pequenas manchas circulares e escurasnas folhas, e pode também ocasionar, emataque severo, encarquilhamento e quedade folhas. Nas folhas velhas, o tecido daslesões pode-se desintegrar e causar furos.O fungo pode atacar os ramos, causandomanchas acinzentadas, e os frutos, comlesões de margens irregulares e lesõesmarrons que, com a evolução da doença,crescem, e seus centros podem-se tomarcorticosos e fissurados. As medidas decontrole adotadas para a antracnose sãoeficientes para o controle da verrugose.

Outra doença secundária, a rubelose(Corticium salmonicolor) causa um cres-cimento cotonoso branco, que se toma rosanos ramos sob sombra. A mancha-de-alga(Cephaleuros mycoidea) forma pequenascrostas amareladas ou esverdeadas naspartes sombreadas das folhas, quando emalta umidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entendimento da relação ecológica epermanente entre os diferentes patógenose a mangueira é necessário na obtençãode produtividade e qualidade da fruta nomercado cada vez mais competitivo. As-sim, o Brasil tem concorrido com outrosmercados próximos, a exemplo do México,Peru e Equador. Conforme a lei da oferta eda procura, quando há grande disponibili-dade do produto no mercado, a garantia desucesso na comercialização recai, em parte,sobre a qualidade dos frutos direcionadospara o mercado.

O Brasil é um país de grande extensãoterritorial e, concomitantemente, de con-dições ambientais. Doença importante emdeterminada região não representa essen-cialmente o mesmo risco em outros locais,necessitando do conhecimento da dinâmicade cada doença, da suscetibilidade da cul-tivar, de condições ambientais favoráveis,

e de manejo cultural e químico. O corretomanejo da planta, também é fundamental,pois a prática excessiva de produção, comintenso gasto energético da planta sem re-pouso e nutrição adequada de reposição, de-bilita e causa estresse, predispondo a plantaaos patógenos. Além disso, a cultura temuma grade limitada de fungicidas, quandorelaciona o produto com o patógeno-alvoque abrange apenas a antracnose e o oí-dio. Entretanto, o uso intensivo apenas defungicidas não é adequado e eficiente emculturas permanentes, devendo-se adotarmedidas culturais, tendo em vista os fatoresrelacionados com a persistência do inóculona planta e com o ambiente de cultivo.

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