manejo integrado de doenÇas de plantas

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CAMPUS DE PARAGOMINAS MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS PARAGOMINAS-PA 2012

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Page 1: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

CAMPUS DE PARAGOMINAS

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

PARAGOMINAS-PA 2012

Page 2: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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SAMARA DA SILVA SOUZA

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

Trabalho apresentado a disciplina de

Fitopatologia Agrícola, do Curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, como parte das exigências de avaliação, Área de Concentração: Manejo integrado de doenças de plantas.

Orientador: Prof. Dr. Gustavo Ruffeil

PARAGOMINAS-PA 2012

Page 3: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ...............................................................................................04

2.CONTROLE E MANEJO.................................................................................06

2.1.Conceitos de controle..................................................................................06

2.2 Como controlar doenças?............................................................................06

2.3 Princípios gerais de controle........................................................................08

3. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS E DOENÇAS.....................................12

3.1. Controle biológico.......................................................................................15

3.2 Controle Cultural..........................................................................................16

3.3 Controle Físico.............................................................................................17

3.3.1 Termoterapia.............................................................................................17

3.3.2 Tratamento Térmico do solo.....................................................................18

3.3.3 Solarização...............................................................................................18

3.3.4 Refrigeração.............................................................................................21

3.3.5 Comprimentos de onda.............................................................................21

3.3.6 Radiação...................................................................................................22

3.4 Controle Químico.........................................................................................23

7.CONTROLE INTEGRADO VERSUS MANEJO INTEGRADO.......................23

8.CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................26

9.REFERÊNCIAS..............................................................................................27

Page 4: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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1. INTRODUÇÃO

A agricultura começou há cerca de 10.000 anos. Inicialmente os alimentos

eram obtidos de forma extrativa; porém, com o cultivo das plantas, foi possível

produzir alimentos em maior quantidade. O crescimento populacional somente foi

possível como o desenvolvimento da agricultura. Para que haja aumento da

população, há que se aumentar a produção mundial de alimentos. Assim, têm-se

utilizado todos os métodos possíveis que incluem o aumento da área de plantio, a

melhoria dos métodos de cultivo, o aumento do uso de fertilizantes, o uso de

variedades melhoradas, a irrigação controlada e a melhoria dos métodos

fitossanitários, para evitar as perdas severas ocasionadas por insetos-praga, plantas

invasoras e doenças. (MIZUBUTI; MAFFIA, 2009). As quatro primeiras abordagens,

sem duvida, serão responsáveis pela maior parte do sucesso a ser obtido.

A proteção de plantas, aqui incluindo-se o controle de insetos, patógenos e

plantas daninhas, caberá unicamente o objetivo de reduzir os danos após o

potencial de aumento de produção ter sido alcançado com o emprego dos outros

métodos citados anteriormente. Mesmo assim, sua importância é enorme. Nunca é

demais lembrar que a proteção vegetal torna-se cada vez mais fundamental à

medida que a agricultura deixa de ser de subsistência para tornar-se intensiva, com

o uso abundante de fertilizantes, variedades geneticamente uniformes e de alto

rendimento, irrigação, menor espaçamento, etc. Além disto, os danos causados por

patógenos, plantas daninhas e insetos são mais importantes nas regiões em

desenvolvimento que nas regiões desenvolvidas (Figura).

Fonte: Kimati & Bergamin Filho, 1995

Page 5: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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Para a FAO, o conceito de praga inclui patógenos, insetos e plantas

invasoras. O manejo integrado de pragas e doenças (MIP), no qual se integram

vários métodos de controle, figura como o principal componente do sistema de

produção integrada no caso de fruteiras. No entanto para se fazer o manejo

integrado de pragas ou doenças, o produtor deve tomar conhecimento de vários

fatores inerentes ao ambiente e ao seu sistema de produção. No caso, de doenças,

para que elas ocorram, é necessária a presença da planta suscetível, do patógeno

ou agente causador da doença e de um ambiente ou condições climáticas

adequadas para o desenvolvimento da doença. Essas três fatores podem ser

influenciados pela ação homem e de insetos vetores. O homem atua como um dos

principais disseminadores de doenças. Desde que engajou no sistema produtivo, o

homem vem transportando sementes e mudas contaminadas com insetos-pragas e

doenças e utilizando sistemas de manejo que favorecem a proliferação e

disseminação de patógenos e desenvolvimento de estirpes mais agressivas.

(POLTRONIERI; TRINDADE, 2002)

Figura: Interação ambiente, patógeno hospedeiro

A arquitetura de algumas plantas favorece a recepção do inoculo, como por

exemplo, a do abacaxizeiro em que os conídios do agente causal da fusariose

(Fusarium subglutinans f. sp ananas), que estão no ar, são depositados na roseta

foliar, podendo ocorrer a infecção das inflorescências e das mudas, que se

desenvolvem na base do fruto.

Figura Exsudação Gomosa no Fruto. Fusariose (Fusarium subglutinans f. sp ananas).

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Nenhuma medida de controle apresenta sucesso total quando adotada

isoladamente por muito tempo. Os patógenos podem adquirir resistência aos

fungicidas, a resistência da planta pode ser “quebrada” e os métodos culturais

dependem das condições ambientais. Consequentemente a integração de diferentes

práticas de manejo é o melhor caminho para o controle das doenças. Daí a

importância do manejo integrado de doenças. (POLTRONIERI; TRINDADE, 2002)

2. CONTROLE E MANEJO

2.1 Conceitos de controle

O controle foi definido como “prevenção dos prejuízos de uma doença”

(WHETZEL et al., 1925), sendo admitido em graus variáveis (parciais, lucrativo,

completo, absoluto, etc.) mas “aceito como válido, para fins práticos, somente

quando lucrativo” (WHETZEL et al., 1929). Este ponto de vista é aceito e

compartilhado generalizadamente pelos fitopatologistas. Fawcetti & Lee (1926)

citados por Martins (2007), por exemplo, já naquela época afirmavam que “na

prevenção e no tratamento de doenças deviam ser sempre considerados a eficiência

dos métodos e o custo dos tratamentos, sendo óbvio que os métodos empregados

deveriam custar menos que os prejuízos ocasionados”. Entretanto, o controle de

doenças de plantas só passou a ser racionalmente cogitado a partir dos

conhecimentos gerados pelo desenvolvimento da fitopatologia como ciência

biológica. Subtende, portanto, uma concepção biológica, podendo nesse sentido, ser

definido como “redução na incidência ou severidade da doença”. Essa conotação

biológica é de fundamental importância, pois dificilmente doenças podem ser

controladas com eficiência sem o conhecimento adequado de sua etiologia, das

condições climáticas e culturais que as favorecem e das características das relações

patógeno-hospedeiro, além da eficiência dos métodos de controle disponíveis.

2.2 Como controlar doenças?

Inserido no amplo contexto da produtividade, o controle de doenças de

plantas não pode ser abordado isoladamente, mas integrado a todos os outros

fatores que compõem a equação da produção: clima, variedade, adubação, tratos

culturais, plantas daninhas e pragas, entre outros. Na equação da produtividade

Page 7: MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DE PLANTAS

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cujos fatores de produção constituem as variáveis independentes, também se aplica

a lei do mínimo ou de Liebig, segundo a qual o máximo de produção depende do

fator de crescimento que se encontra à disposição da planta em menor quantidade,

pois cada variável pode agir como fator limitante. Daí a necessidade de se procurar

a otimização de todos, dentro no manejo racional da cultura. Gastos no controle de

doenças, mesmo de importância limitante, não se justificam caso outros fatores de

produção, também limitantes, não forem controlados. (KIMATI & BERGAMIN FILHO,

1995).

Fonte: Kimati & Bergamin Filho, 1995

Uma ampliação do escopo do manejo integrado proposta, é o manejo

integrado da cultura (MIC). O “manejo integrado da cultura envolve todas as

atividades do sistema de produção e é composto por diversas atividades de manejo,

cada uma focalizando um aspecto particular do sistema, como manejo integrado de

pragas, manejo integrado de nutrientes, manejo integrado de água, etc. O manejo

integrado da cultura trata do manejo do sistema de produção e visa otimizar o uso

dos recursos naturais, reduzir o risco para o ambiente e maximizar a produção. Os

objetivos de um determinado sistema de manejo são dependentes dos recursos

naturais, socioeconômicos e tecnológicos e de suas inter-relações”. (POLTRONIERI;

TRINDADE, 2002)

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2.3 Princípios gerais de controle

O controle de doenças de plantas pode ser agrupado em sete princípios

biológicos gerais: evasão - prevenção da doença pelo plantio em épocas ou áreas

quando ou onde o inoculo é ineficiente, raro ou ausente; exclusão - prevenção da

entrada de um patógeno numa área ainda não infestada; erradicação - eliminação

do patógeno de uma área em que foi introduzido; proteção - interposição de uma

barreira protetora entre as partes suscetíveis da planta e o inoculo do patógeno,

antes de ocorrer a deposição; imunização - desenvolvimento de plantas resistentes

ou imunes ou, ainda, desenvolvimento, por meios naturais ou artificiais, de uma

população de plantas imunes ou altamente resistentes, em uma área infestada com

o patógeno; terapia – restabelecimento da sanidade de uma planta com a qual o

patógeno já estabelecera uma íntima relação parasítica; regulação - modificações do

ambiente, tornando-o desfavorável ao patógeno ou ao desenvolvimento da doença

(KIMATI & BERGAMIN FILHO, 1995). Esses princípios de controle fundamentam-se,

essencialmente, em conhecimentos epidemiológicos, pois atuam no triângulo

hospedeiro-patógeno-ambiente, impedindo ou retardando o desenvolvimento

sequencial dos eventos do ciclo das relações patógeno hospedeiro.

Fonte: Kimati & Bergamin Filho, 1995

Entretanto, o fator tempo, essencial para a compreensão de epidemias, só foi

explicitamente considerado a partir de 1963, pelas análises epidemiológicas

baseadas na taxa de infecção e na quantidade de inoculo inicial (VANDERPLANK,

1963). Essa relação aparece simplificada na equação:

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y = y0 exp

r.t

Onde a proporção y de doença em um tempo t qualquer é determinada pelo

inoculo inicial y0, pela taxa média de infecção r e pelo tempo t durante o qual o

hospedeiro esteve exposto ao patógeno. Baseado nessa abordagem, três

estratégias epidemiológicas podem ser utilizadas para minimizar os prejuízos de

uma doença:

a) Eliminar ou reduzir o inoculo inicial (y0) ou atrasar o seu aparecimento

b) Diminuir a taxa de desenvolvimento da doença (r)

c) Encurtar o período de exposição (t) da cultura ao patógeno

Os princípios de controle sob os pontos de vista biológico e epidemiológico,

atuando nos mesmos fatores que compõem a doença, estão intimamente

relacionados:

Figura – Estratégias e princípios de controle de doenças de plantas, com indicação

do modo de atuação de cada princípio no ciclo das relações patógeno-hospedeiro

[adaptado de Roberts & Boothroyd (1984)].

Nesse contexto, “manejo integrado de doenças de plantas” pode ser

conceituado como o "conjunto de princípios e medidas que se aplica visando o

patógeno, o hospedeiro e o ambiente, pela redução ou eliminação do inoculo inicial,

redução da taxa de progresso da doença e manipulação do período de tempo em

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que a cultura permanece exposta ao patógeno em condições de campo" (BERGER,

1977).

Dentro do princípio fitopatológico da proteção merecem destaque algumas

medidas de controle para o manejo integrado de doenças de plantas como:

tratamento biológico de sementes e mudas, pulverização de agente de controle

biológico, pulverização de calda sulfocálcica, bordaleza e viçosa, cultivos

consorciados, controle de insetos vetores, nutrição do hospedeiro e tratamento pós-

colheita (MIZUBUTI E MAFFIA, 2001). Segue abaixo alguns exemplos:

- Tratamento biológico de sementes

O tratamento biológico, especialmente em sementes de florestais, é uma

alternativa extremamente desejável, pois é um método não poluente, não agride o

meio ambiente, exerce controle por meio do desequilíbrio ecológico nos patógenos

alvo, e oferece uma ação mais duradoura que os controles químicos e físicos.

Algumas formulações como de Trichoderma harzianum (óleo emusionável e solução

de esporos puros) têm se mostrado promissoras no controle biológico de fungos no

caso de sementes de florestais.

O tratamento de sementes, mudas ou outros órgãos de propagação com

antagonistas pode promover a proteção durante a germinação, emergência, emissão

de raízes e brotos.

Existem indicações que os antagonistas protegem as sementes, mas não o

sistema radicular. O maior sucesso com a microbiolização de órgãos de propagação,

sem dúvida, é o controle da galha bacteriana (Agrobacterium tumefaciens) das

rosáceas com a estirpe K84 de Agrobacterium radiobacter.

O tratamento de sementes com microrganismos antagônicos, denominado

microbiolização de sementes, pode proporcionar o controle de patógenos habitantes

da superfície das sementes e de patógenos veiculados pelo solo.

Os principais organismos utilizados para tratamento de sementes são fungos

(Aspergillus spp., Chaetomium spp, Gliocladium spp. e Trichoderma spp.) e

bactérias (Agrobacterium radiobacter, Bacillus spp. e Pseudomonas spp.).

A nível mundial, são registrados e utilizados para tratamento de sementes:

Agrobacterium radiobacter, para o controle da galha da coroa das rosáceas,

causada por Agrobacterium tumefaciens; Pseudomonas fluorescens, para o controle

de Rhizoctonia e Pythium do algodoeiro; Bacillus subtilis, para o controle de

Rhizoctonia solani em amendoim.

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- Calda sulfocálcica

É resultante de uma reação corretamente balanceada entre o cálcio e o

enxofre, dissolvidos em água e submetidos à fervura, constituindo uma mistura de

polissulfetos de cálcio.

Além do seu efeito fungicida, exerce ação sobre ácaros, cochonilhas e outros

insetos sugadores, além de ter ação repelente sobre "brocas" que atacam tecidos

lenhosos.

Antes da aplicação sobre as plantas, através de pulverizações foliares, a

calda concentrada deve ser diluída. Para controlar essa diluição, determina-se a

densidade através de um densímetro ou aerômetro de Baumé, com graduação de 0

a 50º Bé (graus de Baumé), sendo considerada boa a calda que apresentar

densidade entre 28 e 32º Bé.

O uso rotineiro da calda sulfocálcica requer certos cuidados, a seguir listados:

1. a qualidade e a pureza dos componentes da calda determinam sua eficácia,

sendo que a cal não deve ter menos que 95% de CaO;

2. a calda é alcalina e altamente corrosiva, danifica recipientes de metal, as roupas e

a pele. Após manuseá-la, é necessário lavar bem os recipientes e as mãos com uma

solução a 10% de suco de limão ou de vinagre em água;

3. a calda pode ser fitotóxica para muitas plantas, principalmente quando a

temperatura ambiente é elevada, sendo conveniente testá-la antes de emprego em

maior escala e sempre preferir efetuar os tratamentos à tardinha;

4. utilizar equipamento de proteção individual (EPI) quando da realização das

pulverizações;

5. não descartar os excedentes em nascentes, cursos d"água, açudes ou poços;

6. após aplicação de caldas à base de cobre (bordalesa e viçosa), deve-se respeitar

o intervalo mínimo de 20 dias para tratamento com sulfocálcica.

- Calda bordalesa

É uma suspensão coloidal, de cor azul celeste, obtida pela mistura de uma

solução de sulfato de cobre com uma suspensão de cal virgem ou hidratada.

O uso rotineiro da calda bordalesa deve obedecer a certos requisitos, a seguir

relacionados:

1. sulfato de cobre deve possuir, no mínimo, 98% de pureza e a cal não deve conter

menos que 95% de CaO;

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2. a calda deve ser empregada logo após o seu preparo ou no máximo dentro de 24

horas; quando estocada pronta, perde eficácia com rapidez;

3. Aplicar a calda somente com tempo claro e seco;

4. Os recipientes de plástico, madeira ou alvenaria são os mais indicados, porque

não são atacados pelo cobre e pela cal;

5. Utilizar equipamento de proteção individual quando da realização das

pulverizações;

6. Não descartar excedentes em nascentes, cursos d'água, açudes ou poços;

7. Obedecer a intervalos de 15 a 25 dias entre aplicações de calda sulfocálcica e de

calda bordalesa

- Calda Viçosa

Foi desenvolvida a partir da calda bordalesa pela Universidade Federal de

Viçosa. É recomendada para controle de diversos fitopatógenos, dentre os quais o

agente da cercosporiose do cafeeiro; por ser complementada com sais minerais

(cobre, zinco, magnésio e boro) também funciona como adubo foliar.

Devem ser tomados os mesmos cuidados indicados para as caldas bordalesa

e sulfocálcica. A uréia, que faz parte da formulação original, não pode ser

acrescentada à receita por que seu uso não está permitido pelas normas vigentes da

agricultura orgânica.

3. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS E DOENÇAS

Assim como citado anteriormente o manejo integrado de pragas, passou a

abranger, plantas daninhas, insetos e doenças, desta forma alguns conceitos do MIP

(Manejo Integrado de Pragas) serão utilizados no MID (Manejo Integrado de

doenças). Para isto torna-se necessário o conhecimento da definição de MIP

“utilização de todas as técnicas disponíveis, dentro de um programa unificado, de tal

modo a manter a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano

econômico e minimizar os efeitos colaterais deletérios ao meio ambiente”.

Ao final da década de 60 foi emitido o conceito de limiar econômico de dano

(LED) como sendo “a menor densidade populacional que causa dano econômico”

(STERN et al., 1959.; ZADOCKS, 1985). Na década de 80 o LED foi refinado por

vários autores nas ultimas décadas inclusive por Mumford & Norton (1984), que o

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definem como “o nível de ataque do organismo nocivo no qual o benefício do

controle iguala seu custo.

Para se estudar o manejo adequado das doenças, torna-se necessário o

conhecimento do limiar econômico de dano (LED) e o período crítico de infecção

(PCI) para orientar o produtor na tomada decisão. LED relaciona-se melhor com o

conceito de manejo integrado de doença, pois envolve o conhecimento detalhado da

função de dano. O LED exige monitoramento constante da cultura e da severidade

da doença. A determinação do PCI não implica no monitoramento da severidade da

doença: por isso está mais próxima do calendário fixo de pulverizações, porém

necessita para sua implementação informações sobre a fenologia do hospedeiro,

condições climáticas e, até mesmo conhecimento da população do patógeno.

Entretanto, o LED e o PCI dificilmente se aplica a certos grupos de doenças como a

mal formação floral da mangueira, devido ao fato de se tornar difícil o conhecimento

do período mais favorável à infecção. (POLTRONIERI; TRINDADE, 2002)

Limiar de Dano Econômico

O LA é definido como “a severidade de patógenos na qual medidas de

controle necessitam ser tomadas para impedir que o limiar de dano econômico seja

excedido” (BACKMAN & EJACOB, 1996). O Limiar de aviso tem por objetivo dar

tempo ao agricultor para que o produto a ser aplicado seja comprado e as máquinas

preparadas, no caso específico de uma ação de controle químico (ZADOKS &

SCHEIN, 1979).

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Fonte: Bergamim-filho (2002)

Sabe-se que as doenças de plantas podem ser de origem biótica, quando

causada por patógenos, como fungos, bactérias, nematóides, vírus, viróides,

fitoplasmas ou de origem abiótica, quando a causa é deficiência de nutrientes,

excesso de umidade e outros fatores ambientais. Para ocorrer uma doença é

necessário a interação de um patógeno, um hospedeiro suscetível e condições

ambientais favoráveis para ocorrer os processos de infecção, colonização e

reprodução. Após isto, visualiza-se os sintomas da doença nas plantas, identifica-se

o agente causal e é adotada a estratégia mais adequada ao seu controle. Mesmo

hoje em dia, com o conhecimento que se tem sobre os patógenos e os métodos de

controle ocorrem perdas significativas no campo em função da ocorrência de

doenças. Isto reflete em aumento do custo de produção, menor oferta e baixa

qualidade dos produtos. Manejo integrado de doenças foi definido a partir da década

de 70 como sendo a utilização de todas as técnicas disponíveis para manter a

população de patógenos abaixo do limiar de dano econômico e minimizar os efeitos

deletérios ao meio ambiente. Essa nova filosofia surgiu após verificação de

frequentes contaminações e desequilíbrios ambientais, presença de resíduos nos

produtos e intoxicação de aplicadores. Isto em consequência do uso indiscriminado

de defensivos agrícolas como única opção no controle de doenças. Neste contexto o

livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson publicado em 1962 é considerado um

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marco divisório de postura de vários países em relação ao uso de defensivos e

liberação de poluentes na natureza. O manejo integrado de doenças preconiza

epidemias de doenças controladas, maior estabilidade da produção, qualidade dos

produtos agrícolas, menor agressão ao meio ambiente e conservação de áreas

agricultáveis. As estratégias de controle que podem ser utilizadas incluem o controle

biológico, cultural, físico, químico, legislação fitossanitária, resistência genética e

pré-imunização. Cada estratégia tem suas peculiaridades e podem ser utilizadas

isoladamente ou em combinação para o controle de uma doença de planta. Para

esta escolha é necessário primeiramente identificar o agente causal, conhecer suas

características e as condições ambientais que favorecem seu desenvolvimento.

Apesar de existirem várias opções de controle, a maioria dos produtores tem o

hábito de perguntar “que veneno eu uso para esta doença?”. Existem mais de 100

princípios ativos de fungicidas registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e

Abastecimento, porém não há registro para todas as doenças e nem todas as

culturas.

3.1 Controle biológico

O controle biológico visa manter, através de certas práticas, um equilíbrio no

agroecossistema, de modo que o hospedeiro, na presença do patógeno, não sofra

danos significativos, em função da ação controladora dos organismos não

patogênicos do sistema.

Na abordagem de controle biológico, doença é mais do que uma íntima

interação do patógeno com o hospedeiro influenciada pelo ambiente. É o resultado

de uma interação entre hospedeiro, patógeno e uma variedade de não-patógenos

que também repousam no sítio de infecção e que apresentam potencial para limitar

ou aumentar a atividade do patógeno, ou a resistência do hospedeiro. Portanto,

patógeno, hospedeiro e antagonistas, interagindo num sistema biológico, são os

fatores componentes do controle biológico. (BETTIOL, 1991)

O controle biológico é a “redução da densidade de inoculo ou das atividades

determinantes da doença provocada por um patógeno ou parasita nos seus estados

de atividade ou dormência, por um ou mais organismos, realizado naturalmente ou

através da manipulação do ambiente, hospedeiro ou antagonista, ou pela introdução

em massa de um ou mais antagonistas”.

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Outra definição de controle biológico é, “Controle de um microrganismo por outro

microrganismo”. (BETTIOL, 1991)

Por esses conceitos, o controle biológico inclui práticas culturais para criar um

ambiente favorável aos antagonistas e à resistência da planta hospedeira ou ambas;

melhoramento da planta para aumentar a resistência ao patógeno ou adequar o

hospedeiro para as atividades antagônicas de microrganismos; introdução em

massa de antagonistas, linhagens não patogênicas ou outros organismos ou

agentes benéficos. (MELO; AZEVEDO, 1998)

3.2 Controle cultural

O controle cultural das doenças consiste basicamente na manipulação das

condições de pré-plantio e durante o desenvolvimento do hospedeiro em detrimento

ao patógeno, objetivando a prevenção ou a intercepção da epidemia por outros

meios que não sejam a resistência genética e o uso de pesticidas. O objetivo

primário do controle cultural é reduzir o contato entre o hospedeiro suscetível e o

inoculo viável de maneira a reduzir a taxa de infecção e o subsequente progresso da

doença. De um modo geral pode considerar-se que as medidas de controle culturais

visam evitar a doenças ou suprimir o agente causal objetivando, portanto, a

obtenção de plantas sadias mais do que controlar o agente causal. Os princípios que

fundamentam o controle cultural são:

a) supressão do aumento e/ou a destruição do inoculo existente;

b) escape das culturas ao ataque potencial do patógeno;

c) regulação do crescimento da planta direcionado a menor suscetibilidade.

A maioria dos fitopatógenos apresenta uma fase em seu ciclo vital

caracterizada pelo parasitismo, na qual ocorre a exploração nutricional do

hospedeiro pelo parasita. Em consequência, são observados os sintomas e os

danos correspondentes, através da diminuição no rendimento da cultura. Alguns

parasitas, denominados necrotróficos, têm a faculdade de, após a senescência da

planta cultivada, continuar a nutrir-se dos tecidos mortos. Esta fase do ciclo biológico

é caracterizada pelo saprofitismo. Nos intervalos entre períodos de parasitismo, os

patógenos encontram-se em um ambiente menos favorável e, provavelmente, mais

vulnerável às práticas de controle cultural.

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3.3 Controle Físico

O controle físico é a utilização de agentes como a temperatura, radiação,

ventilação e a luz, visando o manejo das doenças (Ghini e Bettiol, 1995). Esse

método, segundo Ghini e Bettiol (1995), vem crescendo devido ao interesse na

redução dos impactos negativos da agricultura ao meio ambiente.

O uso do controle físico tem sido incentivado, ultimamente, devido a busca de

métodos alternativos ao uso de agroquímicos, visando a redução dos impactos

ambientais e contaminação da população. Embora o início do uso do controle físico

de doenças de plantas como a termoterapia, tenha sido contemporâneo à

descoberta da calda bordalesa, nota-se que os métodos químicos tiveram

desenvolvimento expressivo quando comparados aos modestos avanços

conseguidos com os métodos físicos. A acentuada evolução dos fungicidas, entre

outros fatores, deve-se principalmente ao fato de o controle químico estar baseado

num produto que pode ser comercializado, despertando interesses econômicos.

3.3.1 Termoterapia

O principal objetivo da termoterapia é a obtenção de material de

propagação vegetal livre de patógenos. Com tal propósito, a termoterapia é um

método eficiente, que consegue eliminar os patógenos, tanto interna quanto

externamente, dos tecidos do hospedeiro.

O principio básico da termoterapia reside no fato de que o patógeno é

eliminado por tratamentos em determinadas relações tempo-temperatura que

produzem poucos efeitos deletérios no material vegetal. Neste caso, quanto maior

for a diferença entre a sensibilidade térmica do hospedeiro e do patógeno, maiores

serão as chances de sucesso da termoterapia.

Vários fatores podem afetar a sensibilidade térmica, como o teor de umidade

do material vegetal; o nível de dormência; a idade e o vigor especialmente das

sementes; a condição das camadas externas do material devido ao efeito de

diversas variáveis. A relação tempo-temperatura não pode ser reduzida na fórmula

geral aplicável a todos os casos. Ela deve ser determinada experimentalmente,

sendo que, de modo geral, é escolhida a menor temperatura letal ao patógeno, no

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18

menor tempo, resultando em um tratamento uniforme e com um menor gasto de

energia.

3.3.2 Tratamento Térmico do solo

Um método físico utilizado para a desinfestação de solo é a aplicação de

vapor, porém, está restrito a pequenas áreas devido ao custo do equipamento

necessário. Dessa forma, tem sido praticado em estufas, canteiros para produção de

mudas ou campos de culturas altamente rendosas. O solo é coberto por uma lona e

o vapor, produzido por uma caldeira, é injetado, promovendo o controle de

patógenos, plantas daninhas e pragas, por meio da elevação da temperatura do

solo.

O tratamento com vapor é feito por pelo menos 30 minutos, sendo que o solo

deve atingir a temperatura mínima de 80°C. Esse aquecimento durante a

desinfestação pode causar diversas reações químicas. A decomposição da matéria

orgânica é acelerada, causando a liberação de amônia, dióxido de carbono e

produtos orgânicos. Os materiais inorgânicos são degradados ou alterados; os

nitratos e nitritos são reduzidos a amônia e a solubilidade ou disponibilidade dos

nutrientes é modificada, podendo haver o acúmulo em nível tóxico, como o de

manganês, por exemplo. Uma das vantagens do tratamento com vapor é a

inespecificidade, mas também é um de seus maiores problemas. De modo geral, as

altas temperaturas atingidas, que tornam o tratamento não seletivo, resultam na

erradicação da microbiota, criando espaços estéreis denominados “vácuos

biológicos”.

O equilíbrio da comunidade microbiana do solo é destruído ou

profundamente modificado. A recolonização é feita, basicamente, por

microrganismos termotolerantes sobreviventes, microrganismos do solo adjacente

não tratado, do ar, da água ou aqueles introduzidos com material vegetal. Esse pode

ser um sério risco do tratamento, já que a redução da população de antagonistas

geralmente significa uma rápida disseminação do patógeno reintroduzido.

3.3.3 Solarização

A solarização é um método que utiliza a energia solar para a desinfestação do

solo, resultando no controle de fitopatógenos, plantas invasoras e pragas do solo. O

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método consiste na cobertura do solo, preferencialmente úmido e em pré-plantio,

com um filme plástico transparente (Figura ), durante o período de maior radiação

solar.

O controle é resultado de diversos mecanismos. O controle físico promovido

pela elevação da temperatura é responsável pela eliminação dos patógenos nas

camadas superficiais do solo. Em maiores profundidades, somente temperaturas

subletais são obtidas.

Os processos microbianos induzidos pela solarização contribuem para o

controle biológico dos patógenos, pois o aquecimento atua sobre toda a microbiota

do solo. Os propágulos do patógeno, enfraquecidos pelas temperaturas subletais,

dão condições e estimulam a atuação de antagonistas.

A duração do tratamento deve ser a maior possível, isto é, o plástico deve

permanecer no solo durante o maior período de tempo, até a data do plantio. De

modo geral, recomenda-se a permanência do plástico por 1 a 2 meses, em

condições de campo. Em cultivo protegido, o tratamento pode ser reduzido se as

paredes laterais da estufa permanecerem fechadas durante a solarização.

Para a colocação do plástico, o solo deve ser preparado de forma usual, por

meio de aração e gradagem, eliminando-se os objetos pontiagudos que possam

perfurar o plástico. O solo deve estar úmido antes do início da solarização, pois a

umidade estimula a germinação de propágulos dos patógenos, tornando-os mais

sensíveis aos mecanismos de controle. Assim, após uma chuva ou uma irrigação, o

plástico é colocado manualmente ou com auxílio de máquinas, enterrando-se as

bordas em sulcos com terra. O plástico recomendado é o transparente, sendo que a

sua espessura não tem efeito na eficiência do tratamento, mas sim, no custo do

material.

Plásticos mais espessos são mais caros, porém, podem ser reaproveitados,

especialmente se forem usados dentro de estufas, onde o plástico se estraga com

menor facilidade. A área tratada com a solarização deve ser contínua e a maior

possível. A solarização do solo em faixas ou canteiros não é recomendada devido à

possibilidade de reinfestação do solo solarizado com o inoculo presente na área não

tratada e devido ao “efeito de borda”. Esse efeito é causado pelas menores

temperaturas atingidas pelo solo nas bordas da área solarizada, devido às perdas de

calor para a área sem o plástico, resultando na sobrevivência de patógenos nesse

local. Estima-se que em uma faixa de 40 cm nas bordas, aproximadamente, as

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temperaturas atingidas não são suficientes para um controle satisfatório. Mesmo

para o tratamento de canteiros, sugere-se que a solarização seja realizada em área

contínua e os canteiros sejam construídos posteriormente.

A lista de fungos controlados através de solarização é longa, incluindo os

seguintes: Rhizoctonia, Verticillium, Fusarium, Pythium, Sclerotium, Sclerotinia,

Pyrenochaeta, Phytophthora, Thielaviopsis, Rosellinia e Macrophomina. A

solarização controla também bactérias (Pseudomonas) e nematoides (Meloidogyne,

Heterodera, Globodera, Platylenchus, Ditylenchus, Paratrichodorus, Criconemella,

Xiphinema, Helicotylenchus e Paratylenchus).

Maior crescimento de plantas frequentemente é observado nos solos

solarizados, assim como maior produtividade. Esse efeito, que pode ocorrer mesmo

na ausência de patógenos, deve-se a diversos processos desenvolvidos durante a

solarização, que envolvem mudanças nos componentes bióticos e abióticos do solo.

Solarização

Solarização

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3.3.4 Refrigeração

O método físico mais conhecido e largamente utilizado para controlar doenças

de produtos frescos é a refrigeração. Entretanto, apesar de ser comum e de fácil

utilização, muitas vezes é mal empregado. As baixas temperaturas não destroem os

patógenos que estão dentro ou fora dos tecidos vegetais frescos. Elas apenas

retardam ou inibem o crescimento e as atividades dos patógenos. Dessa forma, há

redução do desenvolvimento das infecções existentes e evita-se o início de novas

infecções. A temperatura adequada para ser utilizada é aquela que mantêm as

qualidades dos frutos e das hortaliças, sendo geralmente apropriada para um

controle adequado das doenças, havendo necessidade do emprego de métodos

suplementares

3.3.5 Comprimentos de onda

As diversas doenças que ocorrem nas plantas cultivadas sob condições de

cultivo protegido são geralmente controladas com o uso de fungicidas. Entretanto, a

aplicação de pesticidas nesse ambiente merece atenção especial devido aos

inúmeros problemas que podem ocorrer, tais como fitotoxicidade, resíduos, seleção

de estirpes resistentes e outros.

Filmes plásticos com capacidade de absorver luz ultravioleta podem ser

utilizados para reduzir a incidência de doenças fúngicas de plantas cultivadas em

casa de vegetação. Filtros que limitam a passagem dos comprimentos de ondas

menores do que 390 nm têm sido eficientes no controle do mofo cinzento (Botrytis

cinerea Pers.:Fr) do tomateiro, da podridão do caule (Sclerotinia sclerotiorum(Lib.)

de Bary] do pepino e da berinjela, da queima das folhas [Alternaria dauci (Kühn)

Groves & Skolko] da cenoura, da queima das pontas das folhas (Alternaria porri) da

cebola e da mancha foliar de estenfílio (Stemphylium botryosum Wallr.) em aspargo.

SASAKI et al. (1985) verificaram que a produção média por planta de tomate,

cultivada sob plástico que absorve a luz ultravioleta, foi de 3,3 kg, contra 2,5 kg por

planta cultivada sob plástico de uso comum na agricultura. A diferença na produção

foi devida ao controle da mancha de alternaria. Similarmente, devido ao controle da

Alternaria, o pimentão vermelho cultivado sob esse plástico especial produziu 1.098

g/planta, contra 545 g/planta, quando cultivado sob plástico comum. O efeito desses

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plásticos com capacidade de absorver luz ultravioleta (abaixo de 390 nm) está

relacionado com a necessidade desses comprimentos de onda para a esporulação

de determinados fungos fitopatogênicos. A baixa ou nenhuma produção de esporos

nessas condições leva a uma acentuada redução do potencial de inoculo.

A utilização da técnica depende exclusivamente da disponibilidade desse

plástico no comércio e da relação custo-benefício. Entretanto, como o cultivo

protegido vem ganhando muito espaço, é uma técnica com alto potencial de uso.

3.3.6 Radiação

Em processamento de alimentos, a energia ionizante é utilizada,

principalmente, para eliminar ou reduzir a população de microrganismos e de

insetos, para inibir a germinação de bulbos e tubérculos assim como retardar a

maturação e senescência das frutas. O cobalto60 e o césio137, geradores de feixes de

elétrons e de raio X, são as fontes de energia ionizante aprovadas para uso em

processamento de alimentos. O Co60 e o Ce137 emitem raios gama. Essas fontes,

com certas limitações quanto ao máximo de energia para feixes de elétrons e raios

X, foram selecionadas, em parte, por não produzirem radioatividade residual

mensurável nos alimentos.

Doses elevadas de energia ionizante matam todos os organismos, desde as

formas mais simples até as mais complexas, sendo a danificação do DNA a causa

principal da morte das células. Determinada dose pode ser fatal para certas células

enquanto somente causa injúria em outras similares, que sob certas condições são

reparadas.

O potencial de uso de energia ionizante para o controle de doenças de pós-

colheita depende da sensibilidade do microrganismo e da relativa capacidade do

produto para suportar a dose requerida. A eficácia da energia ionizante no controle

de microrganismos depende da especificidade do organismo, do seu estádio de

crescimento e do número de células viáveis no tecido. Geralmente, a dose mínima

requerida para inibição efetiva de fungos em pós-colheita é de 175 krad, sendo que

muitos produtos frescos toleram até, aproximadamente, 225 krad, sem sofrer sérios

danos. O uso combinado de radiação ionizante com água quente é benéfico devido

ao efeito sinergístico. Na África do Sul, é utilizada comercialmente a combinação

água quente (55°C por 5 min) com radiação (75 krad) para o tratamento de mangas,

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sendo relatada a ação sinergística para o controle da antracnose (Colletotrichum

gloeosporioides) e da podridão mole (Hendersonia creberuma).

Apesar dos resultados positivos, especialistas estão convencidos de que, até

hoje, um emprego mais intenso das radiações não ocorreu devido ao preconceito

generalizado contra qualquer tipo de técnica nuclear. Entretanto, alimentos

submetidos a essas radiações não apresentam contaminação, sendo mais seguros

do que o emprego de muitos pesticidas.

3.4 Controle químico

O controle químico de doenças de plantas é feito através de vários tipos de

produtos, comumente denominados agroquímicos, incluindo fertilizantes e

pesticidas. Fertilizantes, quando utilizados no controle de doenças fisiogênicas

(aquelas devidas a desequilíbrios nutricionais), como deficiência de boro em

crucíferas ou podridão estilar do tomateiro, atuam pelo princípio da regulação;

quando utilizados no controle de doenças infecciosas, podem envolver o princípio da

regulação, como no caso da diminuição do pH para o controle da sarna da batata.

Também se pode citar a ação erradicante da ureia aplicada a 5% em pomar de

macieira, no início da queda natural das folhas, após a colheita, visando sua rápida

degradação e consequente diminuição na formação de peritécios e liberação de

ascósporos de Venturia inaequalis, agente da sarna, no início da primavera. Apesar

da importância de fertilizantes no controle de algumas doenças, eles geralmente não

desempenham papel decisivo para a maioria das doenças infecciosas.

Os pesticidas utilizados no controle de doenças incluem: inseticidas e

acaricidas, para controlar insetos e ácaros vetores de patógenos; fungicidas,

bactericidas e nematicidas, para controle dos fungos, bactérias e nematoides

fitopatogênicos; e herbicidas, para controlar plantas hospedeiras alternativas de

patógenos que afetam culturas específicas.

4. CONTROLE INTEGRADO VERSUS MANEJO INTEGRADO

De acordo com Stern et al. (1959), entende-se por controle integrado, como “o

controle aplicado de pragas que combina e integra os controles químico e biológico”.

Com o passar dos tempos, esse conceito tornou-se mais abrangente, até chegar à

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definição adotada pela FAO (1968): “Controle integrado é definido como um sistema

de manejo de organismos nocivos que utiliza todas as técnicas e métodos

apropriados da maneira mais compatível possível para manter as populações de

organismos nocivos em níveis abaixo daqueles que causam injúria econômica” Por

esta definição, o controle integrado visa a integração de todas as técnicas

apropriadas de manejo com os elementos naturais imitantes e reguladores do

ambiente.

Kogan (1984) e Luckmann & Metcalf (1994) definiram Manejo Integrado como

sendo: “a escolha e o uso inteligente de táticas de controle que produzirão

consequências favoráveis dos pontos de vista econômico, ecológico e sociológico”.

Portanto, o Manejo Integrado é a otimização do controle de pragas de maneira

lógica, tanto econômica quanto ecologicamente. Isso é conseguido por meio do uso

compatível de diversas táticas, de modo a manter a redução da produção abaixo do

limiar de dano econômico (LED), sem, ao mesmo tempo, prejudicar o homem, os

animais, as plantas e o ambiente. Na produção vegetal, o Manejo Integrado deve

assegurar uma agricultura forte e um ambiente viável. Portanto, o controle integrado

se diferencia do manejo integrado, devido ao fato de que no primeiro o LED ser

função apenas de considerações econômicas e o segundo não só de considerações

econômicas, mas também de aspectos ecológicos, de difícil quantificação.

A integração de medidas de controle é premissa básica dos princípios de

Whetzel. O seu simples enunciado leva à conclusão de que as medidas de controle

visam interromper ou desacelerar, integradamente, o ciclo das relações patógeno-

hospedeiro, interferindo no triangulo da doença. Dentro da fitopatologia, portanto,

não houve necessidade de adjetivar “controle” com o termo “integrado”. Essa prática

originou-se dentro da entomologia aplicada, na década 1950, devido ao fracasso do

uni-direcionamento do controle químico de pragas, com sérias repercussões nos

ecossistemas: emergência de linhagens resistentes, a ressurgência de populações

tratadas, surtos de pragas antes secundárias, desequilíbrio biológico e

contaminação ambiente (KIMATI & BERGAMIN FILHO, 1995).

Embora controle de doença seja uma terminologia bem estabelecida e

amplamente compreendida, há base lógica convincente para substitui-la por manejo

de doença porque, entre outras razões, 1) controle implica num grau impossível de

dominância pelo homem; 2) controle dá ao agricultor uma visão de falha do sistema

de controle, quando a doença volta ao nível de dano; 3) o agricultor esquece que

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medidas de controle são aplicadas para reduzir o dano e não para destruir os

organismos causais; 4) manejo conduz ao conceito de que doenças são

componentes inerentes do agroecossistema, devendo ser tratadas numa base

racional contínua; 5) manejo baseia-se no princípio de manter o dano ou prejuízo

abaixo de nível de injúria econômica ou de, pelo menos, minimizar ocorrências

acima daquele nível sugerindo necessidade de contínuo ajuste do sistema; 6)

manejo, baseado no conceito de limiar econômico, enfatiza a minimização do dano,

estando, assim, menos sujeito a mal-entendidos. (KIMATI & BERGAMIN FILHO,

1995)

Controle e manejo são, portanto, termos com significados confundíveis, até

mesmo quando se envolve o conceito de limiar econômico. Segundo Palti (1981), o

objetivo do controle integrado de doenças é a prevenção dos danos que excedam os

limiares econômicos e conforme Lester (1988), o controle manejado é o controle

químico que raramente erradica a doença, mas frequentemente é o mais lucrativo,

em termos de margens líquidas em vez de produção máximas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo integrado de doenças requer um conjunto de princípios e medidas

para que se alcance níveis satisfatórios de produção, assim para diminuir e até

mesmo erradicar doenças de plantas, torna-se necessário a utilização de princípios

e medidas que visem patógeno, hospedeiro e ambiente, como também, a

determinação do ciclo de vida de um patógeno, para combinar conhecimento

biológico com a tecnologia disponível e alcançar a modificação necessária, assim

como desenvolver métodos de controle adaptados às tecnologias disponíveis e

compatíveis com aspectos econômicos e ecológicos-ambientais, ou seja, conseguir

aceitação econômica e social. Sabe-se que para alcançar isto são necessárias

práticas integradas como forma de impedir que a incidência desses patógenos

alcance o Limiar de dano econômico, diminuindo a produção e comprometendo o

sistema como um todo.

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27

6. REFERÊNCIAS

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