a históra na cibermídia - práticas discursivas indentitárias e representativas

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    A HISTRIA NA CIBERMDIA: PRTICAS DISCURSIVAS,

    IDENTITRIAS E REPRESENTATIVAS.

    Mauricio Junior Rodrigues da Silva (UNESP)

    1. INTRODUO

    O presente trabalho busca apresentar uma breve anlise das prticas

    discursivas que se faz da Histria em stios virtuais, ou seja, busca perceber quais

    so as tcnicas de produo de discurso que so utilizadas quando o assunto

    Histria. As referidas prticas ho de ser investigadas em um campo de pesquisa

    altamente frtil, e de considervel importncia ao mundo contemporneo: a

    cibermdia.

    Para a realizao de tal objetivo optou-se por eleger como corpus do referido

    trabalho e-textos de sites que contemplam ampla popularidade no campo virtual, em

    especial trs foram os escolhidos: a enciclopdia livre Wikipdia, cingindo-se aoconceito que esta d ao termo Histria, perscrutado no idioma portugus; o site

    Historianet, investigando artigos e descries acerca da disciplina; e o site Uol

    Histria, buscando perceber como um dos mais influentes provedores da Internet

    trata discursivamente a Histria.

    Em sntese, buscar-se- verificar quais so as prticas discursivas acerca da

    Histria atinentes a tais meios para caracterizar o usurio que engendrado nesse

    processo.Fundado no desgnio de pesquisa citado, parte-se da hiptese de que a

    cibermdia, esse conjunto de mdias digitais em ambientes hbridos fixos ou mveis,

    por mais voltil, incuo e anrquico que parea, traz consigo - por meio dos stios

    virtuais - inmeros dispositivos de natureza estratgica determinantes produo ou

    reproduo de saberes nesses ambientes. Em outras palavras, os stios virtuais

    aqui examinados no se apresentam como meros depsitos de informao, isentos

    de intencionalidade, mas antes como campos portadores de certas estratgiasdiscursivas que corroboram para a construo dos sujeitos que os utilizam.

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    [...] Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, asinterdies que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligao com odesejo e com o poder. Nisto no h nada de espantoso, visto que o discurso[...] no simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; ,tambm, aquilo que objeto do desejo; e visto que isto a histria no

    cessa de nos ensinar o discurso no simplesmente aquilo que traduz aslutas ou os sistemas de dominao, mas aquilo por que, pelo que se luta, opoder do qual nos queremos apoderar.(FOUCAULT, 2008, p. 9-10).

    O excerto acima representa o arcabouo terico a ser utilizado neste artigo,

    ou seja, optou-se como aporte terico pela perspectiva da Anlise do Discurso, de

    linha francesa, em especfico, pelas idias do pensador Michel Foucault, sobretudo

    centradas na proposta de que o sujeito constitui-se por meio das prticas discursivas.

    Segundo o prprio autor:

    [...] o discurso no uma estreita superfcie de contato, ou de confronto,entre uma realidade e uma lngua, o intrincamento entre um lxico e umaexperincia [...] analisando os prprios discursos, vemos se desfazerem oslaos aparentemente to fortes entre as palavras e as coisas, e destacar-seum conjunto de regras, prprias da prtica discursiva (FOUCAULT, 2000, p.56).

    pertinente mencionar que para Anlise do Discurso Francesa (AD), o sujeito

    encontra-se subsumido pela lngua, pela ideologia, pela Histria e pelo inconsciente.

    Nesse horizonte terico, e de acordo com Foucault, o sujeito no nada mais que

    um construto histrico, ou ainda o produto de um entrecruzamento entre discurso,

    sociedade e histria.

    Tal premissa terica completamente adequada para a anlise do referido

    objeto de estudo em meio to varivel e de difcil categorizao como a o da

    cibermdia. E poder investigar as dimenses conceituais da Histria nesse campo se

    apresenta no s como um desafio terico, como tambm uma possibilidade de

    contribuir para a problematizao de um meio que ganha cada vez mais relevncia

    na vida hodierna.

    Nesse sentido, observa-se a importncia trabalhos como este no s em

    razo da existncia de poucos estudos sobre o tema, mas principalmente por ser um

    assunto adstrito contemporaneidade, e como parte desta, apresenta um

    entrecruzamento multidisciplinar de distintas e relevantes reas do saber como a

    lingstica, a histria, o jornalismo, a filosofia, etc.

    Assim, a esperana deste artigo percorrer satisfatoriamente todas as idiaspropostas para poder abordar este complexo e substancioso tema.

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    2. A CIBERMIDIA E A HISTRIA

    De acordo com McAdams (2008), possvel entender a cibermdia como um

    conjunto de mdias digitais em ambientes hbridos, fixos ou mveis. Segundo o

    autor, essas mdias no se restringem ao plano virtual e imiscuem-se intefaces

    externas como a telefonia celular mvel, as tecnologias wireless, os ciber centers, e

    as lan houses.

    A cibermdia engendrada a partir da cibercultura. De acordo com Pierre

    Levy (1999, p. 247) a cibercultura expressa uma mutao fundamental da prpria

    essncia da cultura. Ainda de acordo com o autor:

    O ciberespao o novo meio de comunicao que surge da interconexomundial dos computadores. O termo especifica no apenas a infra-estruturamaterial da comunicao digital, mas tambm o universo ocenico deinformaes que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam ealimentam esse universo. Quanto ao neologismo cibercultura, especificaaqui o conjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), de prticas, deatitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvemjuntamente com o crescimento do ciberespao. (LEVY, 1999, p. 17).

    Para aclarar e diferenciar o termo cibermdia da noo de ciberespao, preponderante citar as palavras de Maria Regina Momesso de Oliveira e Maria Silvia

    Olivi Louzada, segundo as quais:

    [ possvel] afirmar que a cibermdia diferente de ciberespao, na medidaem que no tem necessidade, especificamente, da imerso em umarealidade virtual. Ao contrrio de ciberespao, a experincia com acibermdia permite ao usurio distinguir a realidade fsica da digital, ou seja,o ciberespao constitudo de um espao imaterial por onde trafega ainformao e independente da conexo de sentidos, enquanto cibermdiaprecisa, obrigatoriamente, fazer um uso efetivo da informao vinda do

    mundo real/material. (2008, p. 202).

    Pelo excerto plausvel perceber que o termo cibermdia pressupe um

    imanente contato com o real enquanto ciberespao se restringe ao universo digital.

    Malgrado tal distino ainda seja possvel no mundo contemporneo, com o avano

    da tecnologia sintomtico que definies que abarcam a termologia realidade em

    contraposio a uma virtualidade sejam cada vez menos plausveis em um mundo

    onde o virtual tende a subsumir cada vez mais o real.

    Tal presuno coaduna ao carter hbrido que Adriana de Souza e Silva d ao

    termo cibermdia. Para ela, eliminando a distino tradicional entre espaos fsicos

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    e digitais, um espao hbrido ocorre quando no mais se precisa sair do espao

    fsico pra entrar em contato com ambientes digitais. (2006, p.28). Nesse sentido,

    Cndida de Oliveira e Lara Nasi afirmam que:

    [...] um espao hbrido no se trata apenas dessa pretensa unio entre ofsico e o digital. Prticas culturais que surgem nessa nova possibilidade deespao, que agrega o fsico e o digital, produzem tambm uma mudanacultural, e a os sujeitos passam a perceber de maneira diferente tanto o quej conheciam como fsico e tambm aquilo que conheciam como digital. i

    Essa alterao de percepo pode ser estendida ao entendimento que se tem

    da Histria na cibermdia. Se outrora a Histria s poderia ser pensada dentro de

    campos estritamente representacionistas e materialistas, com o avano da

    tecnologia e a formao dos citados ambientes hbridos, essa perspectiva ortodoxa

    de entendimento da Histria se encontra cada vez mais em descompasso com a

    hodiernidade.

    Nesse sentido, instaura-se a problemtica de se inquirir acerca das

    dimenses e possibilidades de entendimento da Histria nesses novos e fluidos

    ambientes, ou seja, como possvel perceber e entender essa disciplina que muitas

    vezes foi pensada e associada a uma idia de reconstruo ou ao menos de

    representao de uma premissa de realidade e verdade, em um meio onde essas

    caractersticas se encontra cada vez menos evidentes.

    Mesmo antes da maturao desse novo ambiente hbrido, a Histria j no

    partilhava mais de uma onipotncia representacionista como ocorria no sculo XIX.

    No ltimo quarto do sculo XX, quando alguns autores sinalizam para o surgimento

    da ps-modernidade, inicia-se um perodo de constante enfraquecimento dos

    grandes paradigmas tericos que at ento norteavam o pensamento historiogrfico.

    Segundo Marco Antunes de Lima:

    A ps-modernidade gerou uma dvida na cabea dos pensadores, a de quale como ser o nosso futuro, gerando crises historiogrficas e de paradigmas.O homem possui a necessidade de conhecer o seu futuro, e as ltimasdcadas mostraram que ele imprevisvel. (LIMA, p. 7).

    Observando essa perspectiva de crise de paradigmas, vlido citar o filsofo

    Zygmunt Bauman (2005, p.57-58) para o qual o termo crise ganha a rubrica de

    liquefao. Segundo ele:

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    A principal fora motora por trs desse processo tem sido desde o princpioa acelerada liquefao das estruturas e instituies sociais. Estamos agorapassando da fase slida da modernidade para a fase fluida. E os fluidosso assim chamados porque no conseguem manter a forma por muitotempo e, ao menos que sejam derramados em um recipiente apertado,

    continuam mudando de forma sob a influncia de at mesmo das menoresforas. (BAUMAN, 2005, p.57).

    Essa liquefao como j descrita no excerto se entende ao conceito de

    Histria, e coaduna crise de paradigmas citados anteriormente. Tal liquidez incide

    ainda sobre a prpria identidade e sobre as prticas do historiador e do leigo que

    partilha os mltiplos conceitos possveis acerca da Histria.

    Essa variabilidade de conceitos quanto posta em anlise frente a um meio

    voltil como o da cibermdia permite observar uma srie multifacetada de prticasque parecem solapar com um sujeito especificado, abrindo caminho para se

    apreender uma grande possibilidade de discursos que permeiam os indivduos.

    Esses discursos sero apresentados e analisados a seguir.

    3. UOL HISTRIA: ENTRE O DISCURSO PUBLICITRIO E A PRTICA

    INFORMATIVA

    Em 28 de Abril de 1996, instalou-se no Brasil, promovido pelo Grupo Folha,

    um dos maiores portais de contedo da Internet brasileira: o Universo On-line.

    Segundo dados do prprio portal o UOL teve mdia mensal de 1,704 bilho de

    pginas vistas em 2008. Novo recorde em maro de 2009: 1,96 bilho.

    Desprendendo-se do carter publicitrio de tal notcia, e observando somente o

    aspecto tcnico, coerente afirmar que tal portal angaria grande relevncia no

    mbito da popularidade na Internet brasileira. Nesse sentido, esses dadoscoadunam justificativa de se tomar e-textos do presente portal, em sua rea

    dedicada Histria o Uol Histria -, como corpus do presente trabalho.

    Quando o assunto a Histria, o referido portal traz duas possibilidades

    fundamentais de investigao: o Uol Histria, um dos presentes objetos deste estudo,

    que um usurio desavisado pensaria ser um stio virtual de apresentaes

    historiogrficas leigos; e o Uol Educao, em suas reas Histria do Brasil e

    Histria Geral, que apresenta contedos estritamente formalizados no trato com a

    Histria, dirigido a um discurso calcado na prtica do vestibular.

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    O Uol Histria, um stio virtual do portal Uol dedicado apresentaes de

    cunho publicitrio, com a premissa de descrever a histria do prprio portal e da

    tecnologia de um modo geral. O referido stio traz escassas apresentaes

    historiogrficas, que se resumem a duas linhas do tempo: uma de carter

    estritamente publicitrio, que descreve os feitos econmicos e tcnicos do portal; e

    outra dedicada a descrever os avanos da mdia, da tecnologia e o surgimento da

    Internet, trazendo dados esparsos e lacnicos que vo desde a impresso da bblia

    por Gutenberg em 1445 at a informao de dezembro de 2008 de que a populao

    mundial usa 30% do tempo livre na Internet.

    Alm das linhas do tempo, o stio traz as sees de Home Pages, com

    imagens de sites relacionados ao Universo On-line - como uma imagem de 1995quando entrou no ar a Folha Web, site da Folha de S.Paulo na Internet e imagens

    do prprio portal do Universo On-line com suas melhorias tcnicas. Existem tambm

    as sees: Acervo de Pginas, que apresenta a evoluo e alterao nos padres

    grficos dos stios virtuais do portal; a seo Memria, a qual expe vdeos, fotos e

    udios referentes importantes ocorrncias j tratadas pelo portal; a seo

    Campanhas, que mostra as principais propagandas publicitrias realizadas pelo

    Universo On-line, seja em vdeo, foto ou udio; a seo Audincia, que por meio dedados estatsticos demonstra a popularidade e a pretensa superioridade do Uol

    frente a outros portais; a seo Prmios, que descreve os vrios prmios ganhados

    pelo portal ao longo de sua existncia; para finalizar o stio do Uol Histria apresenta

    as linhas do tempo como as j comentadas ferramentas de uso da Histria.

    Essas caractersticas revelam um discurso amplamente empobrecedor no

    trato com Histria, calcado em uma abordagem linear do tempo histrico

    representado pelas linhas do tempo, que responde a uma tcnica de saber de cunhopublicitrio e economicista dirigida a persuaso de usurios leigos. Ou seja, tal

    abordagem representa a Histria de forma simplista porque responde a um discurso

    publicitrio calcado pela premissa de que para se atrair mais usurios preciso

    convenc-los acerca da importncia do produto vendido o portal do Universo On-

    line por meio de um discurso direto com esses usurios, que possibilite uma

    resposta de saber-poder mais precisa e direcionada.

    Em suma, a abordagem histrica apresentada pelo portal que se explicita de

    maneira pretensamente tcnica e informativa, contudo traz consigo um discurso

    estratgico que objetiva a reproduo de um saber-poder que associa a imagem do

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    portal Uol idia de avano tecnolgico, premissa fulcral para se atrair novos

    usurios.

    4. HISTORIANET: DIDATISMO E INFORMAO

    Diferente do Uol Histria, que empreende abordagem discursiva da Histria

    adstrita interesses meramente publicitrios e tcnicos, o stio Historianet-A Nossa

    Histria tem como objeto de seu trato a disciplina da Histria propriamente dita.

    O stio virtual apresenta em sua pgina introdutria notcias esparsas e

    variadas concernentes disciplina; atualidades e mapas que de alguma maneira se

    relacionam com o Histria; notcias direcionadas a educadores e professores; e aindicao de livros de Histria.

    interessante ressaltar que o stio abre espao para que colaboradores

    enviem seus e-textos para serem publicados. Na rea do stio responsvel pelas

    instrues do envio de e-textos, o sitediz que Todos que fazem a histria podem e

    devem colaborar com textos para o HISTORIANET.ii

    Ainda nessa seo, ao destacar a responsabilidade do colaborador frente aos

    e-textos enviados, o stio informa que O HISTORIANET tem como preocupaoessencial o didatismo, uma vez que o site foi criado para contribuir com estudantes e

    professores, na organizao de trabalhos e na preparao de aulas.iii

    No que concerne as sees dividas pelo site, alm da j referida seo de

    Colaboradores existe uma separao entre dez sees fundamentais, sendo

    respectivamente: Da Arte, Temtica, Atualidades, Vestibulares, Notcias, Livros,

    Filmes, Mapas, Biografias e Ilustraes.

    Na seo Da Arte, o sitio expe textos e artigos variados que comentam aarte atravs sendo, abordando desde A Antigidade da culinria do Oriente Mdio

    at o Romantismo e os Jogos Olmpicos da Grcia Antiga. Os textos em geral no

    apresentam fontes, tem um contedo didtico e ilustraes como complemento ao

    descrito. Exposto de maneira anloga, tem-se a rea Temtica, que traz uma

    abordagem discursiva semelhante seo anteriormente citada, mas ao invs de

    tratar sobre elementos da arte, apresenta assuntos diversos sobre questes

    histricas. Nessa seo, possvel perceber uma existncia maior de textos autorais,

    como os escritos de Cristiano Catarin, inclusive com certa reflexo histogrfica.

    pertinente apresentar abaixo um trecho do e-texto Progressos e Retrocessos da

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    Historiografia, na seo Temtica, subseo Historiografia, no qual Cristiano Catarin

    apresenta uma viso positiva acerca dos avanos da Historiografia:

    Os rumos anunciados pela historiografia contempornea esto gerandoexpectativas consistentes para historiadores favorveis as abordagensestabelecidas pelo gnero, por exemplo, da histria cultural. Algunsestudiosos mencionam um retorno da narrativa. Para o historiador RonaldoVainfas a histria sempre foi uma narrativa, independente das opiniesrecentes de pesquisadores acadmicos. O fato que a histria estacumulando, com o passar do tempo, maior credibilidade e estruturametodolgica.iv

    O excerto demonstra que apesar da preocupao estrita do stio com o

    didatismo, j citado anteriormente, o mesmo ainda traz em sua estrutura a

    possibilidade de se apresentar textos mais complexos e com a citao de autoresimportantes como Marc Bloch, Eric Hobsbawm, dentre outros.

    As sees Atualidades e Vestibular apresentam respectivamente questes

    histricas relevantes na hodiernidade e informaes para o usurio interessado em

    prestar o Vestibular, enumerando uma lista de vestibulares para o que usurio fique

    atento e dicas de como se preparar bem para o vestibular. Tais sees ressaltam o

    discurso didtico e at utilitarista que o sitepartilha.

    Nas reas Livros e Filmes, so abordados obras importantes referentes Histria, e assuntos pertinentes ao internauta interessado em conhecer obras sobre

    a Histria; na parte dos Filmes, so elencados uma sries de produes

    cinematogrficos que tem na Histria o pano de fundo para o desenvolvimento do

    roteiro, tais filmes variam de 1492 A Conquista do Paraso, de Ridley Scott at

    Xica da Silva, de Carlos Diegues.

    A seo mapas traz imagens que ilustram de forma ainda mais didtica

    alguns temas e contextos historiogrficos. Os mapas so acompanhados de textosque corroboram para que o usurio possa situar melhor seu entendimento acerca de

    determinado contexto.

    Apresentando uma qualidade inclusive cmica, a seo Ilustraesapresenta

    diversas figuras, em geral em formato de tiras cmicas que satirizam e de forma

    irnica apresentam determinados contextos histricos.

    As sees Biografia e Notcias, apresentam respectivamente dados

    particulares da vida de grandes figuras histricas, como Alexandre o Grande e

    Toussaint Louverture, e informaes variadas relacionadas ao interesse histrico e

    sobre educao, que vo desde aspectos polticos como textos sobre Geraldo

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    Alckimin, sobre a UNE at informaes sobre a marcha contra o racismo de nome

    Zumbi + 10.

    Como fora exposto, possvel perceber que o site Historianet traz consigo um

    discurso iminentemente didtico, com uma verve utilitarista que partilha de uma de

    tcnica de saber direcionada a dialogar e a construir sujeitos que tenham interesses

    em saberes prolixos e objetivos acerca da disciplina. Em resumo, o siteapresenta

    um misto de didatismo com informao em sua abordagem discursiva.

    5. WIKIPDIA E A ADORDAGEM ACACHAPADA DA HISTRIA

    A Wikipdia uma enciclopdia livre que se compe e se completa porinformaes postadas por seus usurios. "O projeto Wikipdia foi iniciado em 15 de

    janeiro de 2001, na verso em lngua inglesa. Em apenas um ano de existncia essa

    verso j possua quase 10 mil artigos. At hoje j foram criados mais de 5 milhes

    de artigos em dezenas de lnguas [...]".vDe acordo com o prprio site, o mesmo se

    baseia em um sistema de Wiki, no qual, "qualquer internauta [...] pode editar o

    contedo de quase TODOS [sic] os artigos [...] ". vi

    Essa caracterstica se constitui enquanto um dos traos mais interessantes daenciclopdia, uma vez que propicia ao usurio que contribui com o site a ilusria

    pretenso de atuar ativamente na construo dos sentidos partilhados pelo citado

    ambiente virtual. Nesse sentido, possvel citar o conceito de poder disciplinar

    empreendido por Foucault, que embora no seja to clarividente no mbito da

    cibermdia, existe, sobretudo, pautado nas padronizaes que o ambiente virtual

    engendra, sendo estas, mascaradas pela falsa idia de contribuio, de

    complementao no contedo do referido ambiente. Segundo Michel Foucault:

    O poder disciplinar com efeito um poder que, em vez de se apropriar e deretirar,tem a funo maior de adestrar; ou sem dvida adestrar para retirare se apropriar ainda mais e melhor. Ele no amarra as foras para reduzi-las; procura lig-las para multiplic-las e utiliz-las num todo. [...] Adestraas multides confusas, mveis, inteis de corpos e foras para umamultiplicidade de elementos individuais pequenas clulas separadas,autonomias orgnicas, identidades e continuidades genticas, segmentoscombinatrios. A disciplina fabrica indivduos; ela a tcnica especfica deum poder que toma os indivduos ao mesmo tempo como objetos e comoinstrumentos de seu exerccio. (FOUCAULT, 2002, p. 143, grifo nosso)

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    Outro fator que deve ser observado ao se abordar as caractersticas do site,

    a falta de confiabilidade do usurio frente aos verbetes apresentados, ou seja, uma

    vez que o usurio pode criar, completar e editar verbetes, por vezes, difcil

    precisar se as informaes contidas no mesmo so efetivamente verossmeis ou se

    foram inventadas ao bel-prazer do usurio que contribui com os verbetes.

    Partindo de tais perspectivas, possvel estender a premissa de anlise do

    presente trabalho a esse campo frtil e varivel, em outras palavras, factvel

    perquirir a respeito do modo como a Histria abordada no stio da Wikipdia.

    Assim, ao se buscar pelo verbete "Histria" no referido site, tem-se acesso a

    um conceito de Histria que embora editado por algum usurio, enquadra-se em um

    padro enciclopdico, no apresentando assim grandes aprofundamentosconceituais acerca do verbete. Segundo o site:

    Histria (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentidodaquele que v) a cincia que estuda o Homem e sua ao no tempo e noespao, concomitante anlise de processos e eventos ocorridos nopassado. Por metonmia, o conjunto destes processos e eventos. A palavrahistria tem sua origem nas investigaes de Herdoto, cujo termo emgrego antigo (Historai). Todavia, ser Tucdides o primeiro aaplicar mtodos crticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes.vii

    Pelo excerto possvel perceber a relao da Histria com o estudo cientfico,

    criando uma definio completamente acachapada e limitada do conceito de Histria,

    definio prpria de uma enciclopdia, mas limitada quando se pensa em um site

    onde usurios de diversos nveis de cultura e de intelectualidade podem contribuir

    possibilitando uma pretensa variabilidade de conceitos.

    Alm de apresentar esse conceito limitado de Histria, o site menciona de

    forma ainda mais lacnica quatro concepes formais de Histria, sendo

    respectivamente: A Histria Narrativa, A Pragmtica, a Cientfica e a dos Annales.

    Ademais estas, o stio ainda apresenta quatro concepes filosficas de Histria: a

    Providencialista, a Materialista, a Idealista e a Psico-Social.

    Quando trata dos documentos, o stio estabelece a importncia destes a

    Histria, ressaltando uma premissa de Histria-cincia apresentada no incio do

    verbete. Segundo o stio, no se passa pela vida sem deixar marcas. Um objeto,

    uma obra, um desenho, uma cano, uma carta, uma hiptese formulada... so

    traos da passagem do homem. viii

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    Para finalizar a apresentao do verbete, o usurio ainda pode encontrar

    frases sobre a Histria de Jacques Le Goff e Henry Steele Commager, inseridas em

    um tpico chamado Vises da Histria. H ainda, uma indicao bibliogrfica que se

    limita a Carlos Aguirre Rojas, Ricardo da Costa e Franois.

    Em suma, ao abordar o conceito Histria, a Wikipdia cumpre seu papel

    enciclopdico de apresentar conceitos lacnicos e objetivos acerca dos verbetes

    procurados. Contudo, quando se pensa na potencialidade de um instrumento como

    este, capaz de contribuir com diversos conceitos de Histria provenientes de

    colaboradores advindos de culturas e padres intelectuais distintos, percebe-se o

    quanto existe por trs de uma ferramenta como esta, uma tcnica de saber-poder

    que acaba por padronizar e acachapar certos conceitos, como fora possvel observarcom o conceito de Histria.

    6. CONCLUSO

    Conclumos este artigo ressaltando a importncia do tema analisado, tanto

    por este perpassar quase um campo de crescente influncia na hodiernidade, tanto

    pela pouca quantidade de estudos sobre o mesmo.Assim, o objetivo do presente trabalho foi demonstrar como a Histria pode

    partilhar no cenrio da cibermdia abordagens discursivas distintas que corroboram

    para uma inconstncia identitria dos sujeitos que transitam nesses meios hbridos

    abordados.

    A partir do exposto foi possvel observar essas distintas estratgias

    discursivas de saber-poder como: o Uol Histria, partilhando de um discurso

    publicitrio com a premissa de conduzir o usurio a relacionar avano tcnolgicocom um portal da Internet; o Historianet, com uma estratgia discursiva de se

    apresentar de forma essencialmente didtica e utilitarista, com o bojo de angariar

    usurios interessados em tais qualidades; e o Wikipdia, no verbete Histria

    cumprindo com uma finalidade enciclopdica, mas acabando por padronizar

    conceitos e instituir estratgias de saber em um meio com um potencial de saber

    amplamente iconoclasta.

    Destarte, pode-se observar que diante da variabilidade de discursos acerca

    da Histria no campo de cibermdia, seria incoerente pensar em sujeito definido e

    atuando dentro deste ambiente. Ao contrrio, tal mutabilidade de discursos engendra

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    inmeras possibilidades de constituio identitria dos sujeitos em contato com tais

    meios. Tal pressuposto abre a possibilidade de se pensar em consonncia com o

    pensamento foucaultiano e afirmar a cibermdia mais um meio onde h um

    continuo deslocamento de subjetividades, que possibilitam ao homem um mltiplo

    contato com subjetividades distintas, e que o fazem cada vez mais ser um produto

    de construes histricas.

    Finalizando, espera-se que o presente artigo tenha traado satisfatoriamente

    as bases para o entendimento do tema abordado, e desta forma, possibilitado uma

    macroviso exemplificativa de como a cibermdia atua na abordagem da Histria.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BAUMAN, Identidade. Traduo de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge

    Zahar, 2005.

    FOUCAULT, Michel. A arqueologia do Saber. 6.ed. Traduo de Luiz Felipe Baeta

    Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2000.

    ________________.A ordem do discurso. 16.ed. So Paulo: Loyola, 2008.

    ________________. Vigiar e Punir: histria da violncia nas prises. Traduo de

    Raquel Ramalhete. 26a edio. Petrpolis: Vozes, 2002.

    LEVY, P. Cibercultura. So Paulo: Editora 34, 1999.

    LIMA, Marcos Antunes de. Ps-Modernidade e Teoria da Histria. Disponvel em:Acesso em: 15 mai. 2009.

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    OLIVEIRA, Candida de; NASI, Lara. Ciber-cultura: uma discusso sobre as

    implicaes culturais da cibermdia e do ciberespao. Acesso em: 15 mai. 2009.

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    ciberespaco/>.

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    8. WEBIBLIOGRAFIA

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    NOTAS BIBLIOGRFICAS

    i OLIVEIRA, Candida de; NASI, Lara. Ciber-cultura: uma discusso sobre as implicaes culturais dacibermdia e do ciberespao. Acesso em: 15 mai. 2009. Disponvel em: .ii HISTORIANET, A Nossa Histria, Colaboradores. Acesso em: 15 mai. 2009. Disponvel em:iiiIdem.iv HISTORIANET, A Nossa Histria. Contedo. Acesso em: 15 mai. 2009. Disponvel em:.v WIKIPDIA, A enciclopdia livre. Sobre a Wikipdia. Acesso em: 15 mai. 2009. Disponvel em:viIdem.vii WIKIPDIA, A enciclopdia livre. Histria. Acesso em: 15 mai. 2009. Disponvel em:viiiWIKIPDIA, A enciclopdia livre. Histria. Idem.