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A ESCOLA É REALMENTE UM ESPAÇO DE DESMOTIVAÇÃO AOS ALUNOS? Fernanda Ferrarini 1 Nilda Stecanela - Orientadora 2 Lisandra Pacheco da Silva - Coorientadora 3 Resumo Há tempos está em voga uma tendência que preocupa o meio educacional. Uma espécie de mal-estar que permeia e envolve o “fazer pedagógico” dos docentes, como um entrave, que angustia a maioria dos profissionais da Educação, em especial, a equipe da Escola São Rafael. Revela-se sutilmente como um esmorecer do interesse dos alunos. Depois, transforma-se e cresce, aos poucos, como um sentimento de desmotivação, de acordo com as conclusões dos professores. Então, o questionamento crucial surge: de quem é a culpa? Será mesmo que a desmotivação é oriunda do ambiente escolar e/ou da prática docente, da estrutura das escolas e/ou da carência tecnológica? Assim, as angústias dos professores desvendam a preocupação em verificar, realmente, se a Escola transformou-se em um ambiente hostil aos estudantes. Entretanto, não basta apenas identificar os problemas ou motivos endógenos e exógenos da provável desmotivação, mas principalmente apontar caminhos que levem à motivação, por exemplo, a utilização da metodologia de pesquisa em sala de aula, a partir do interesse dos alunos. E, a motivação, ainda existe no âmbito escolar? No caso específico, os alunos do noturno da Escola São Rafael, revelam que a Escola é um espaço de socialização, no sentido da troca de experiências, de aprendizado, de “Ser Alguém na Vida”... Portanto, as motivações são constantes, pois afirmam que gostam do cotidiano escolar. No entanto, a realidade desses estudantes demonstra que a jornada de trabalho interfere diretamente no aprendizado. Isso, pois o cansaço afeta a produtividade e o próprio interesse em acompanhar o desenvolvimento das aulas. Segundo dados da pesquisa empírica realizada pelos professores com os alunos da escola, percebe-se que há a perda da “vontade” em acompanhar as explicações, as atividades, enfim, o processo da aprendizagem. É comum atualmente perceber-se uma espécie de universalização do uso das tecnologias como solução para todos os problemas, inclusive na Educação. Contudo, pela visão dos discentes existem algumas restrições a esta tendência. Para eles, o professor ainda é importante e fundamental para orientá-los, inclusive nos valores pertinentes ao crescimento pessoal. Sentem a necessidade da presença concreta do “mestre”, a fim de indicar os melhores caminhos a percorrer, em busca do sucesso escolar, da realização profissional e pessoal. Palavras-chave: Escola. Ensino Médio Noturno. (Des)motivação do aluno. Expectativas em relação a escola. INTRODUÇÃO Desafiados a explicitar as inquietações sobre as problemáticas da docência na Educação Básica, considerando o cotidiano da escola contemporânea, nós, professores devemos voltar nossa reflexão para os aspectos que transversalizam as nossas práticas, 1 Licenciada em História pela Universidade de Caxias do Sul. Pós-graduada no curso de Especialização em História, Cultura e Região pela Universidade de Caxias do Sul. Professora e vice-diretora da Rede Estadual de Ensino no município de Flores da Cunha/RS. 2 Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Diretora do Centro de Filosofia e Educação e docente do programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul. 3 Mestre em Educação pela UFRGS. Especialista em Educação a Distância pela UCS e Licenciada em Pedagogia pela UCS.

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A ESCOLA É REALMENTE UM ESPAÇO DE DESMOTIVAÇÃO AOS

ALUNOS?

Fernanda Ferrarini1

Nilda Stecanela - Orientadora2

Lisandra Pacheco da Silva - Coorientadora3

Resumo

Há tempos está em voga uma tendência que preocupa o meio educacional. Uma espécie de mal-estar que

permeia e envolve o “fazer pedagógico” dos docentes, como um entrave, que angustia a maioria dos

profissionais da Educação, em especial, a equipe da Escola São Rafael. Revela-se sutilmente como um

esmorecer do interesse dos alunos. Depois, transforma-se e cresce, aos poucos, como um sentimento de

desmotivação, de acordo com as conclusões dos professores. Então, o questionamento crucial surge: de

quem é a culpa? Será mesmo que a desmotivação é oriunda do ambiente escolar e/ou da prática docente,

da estrutura das escolas e/ou da carência tecnológica? Assim, as angústias dos professores desvendam a

preocupação em verificar, realmente, se a Escola transformou-se em um ambiente hostil aos estudantes.

Entretanto, não basta apenas identificar os problemas ou motivos endógenos e exógenos da provável

desmotivação, mas principalmente apontar caminhos que levem à motivação, por exemplo, a utilização da

metodologia de pesquisa em sala de aula, a partir do interesse dos alunos. E, a motivação, ainda existe no

âmbito escolar? No caso específico, os alunos do noturno da Escola São Rafael, revelam que a Escola é

um espaço de socialização, no sentido da troca de experiências, de aprendizado, de “Ser Alguém na

Vida”... Portanto, as motivações são constantes, pois afirmam que gostam do cotidiano escolar. No

entanto, a realidade desses estudantes demonstra que a jornada de trabalho interfere diretamente no

aprendizado. Isso, pois o cansaço afeta a produtividade e o próprio interesse em acompanhar o

desenvolvimento das aulas. Segundo dados da pesquisa empírica realizada pelos professores com os

alunos da escola, percebe-se que há a perda da “vontade” em acompanhar as explicações, as atividades,

enfim, o processo da aprendizagem. É comum atualmente perceber-se uma espécie de universalização do

uso das tecnologias como solução para todos os problemas, inclusive na Educação. Contudo, pela visão

dos discentes existem algumas restrições a esta tendência. Para eles, o professor ainda é importante e

fundamental para orientá-los, inclusive nos valores pertinentes ao crescimento pessoal. Sentem a

necessidade da presença concreta do “mestre”, a fim de indicar os melhores caminhos a percorrer, em

busca do sucesso escolar, da realização profissional e pessoal.

Palavras-chave: Escola. Ensino Médio Noturno. (Des)motivação do aluno. Expectativas em relação a

escola.

INTRODUÇÃO

Desafiados a explicitar as inquietações sobre as problemáticas da docência na

Educação Básica, considerando o cotidiano da escola contemporânea, nós, professores

devemos voltar nossa reflexão para os aspectos que transversalizam as nossas práticas,

1 Licenciada em História pela Universidade de Caxias do Sul. Pós-graduada no curso de Especialização

em História, Cultura e Região pela Universidade de Caxias do Sul. Professora e vice-diretora da Rede

Estadual de Ensino no município de Flores da Cunha/RS. 2 Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Diretora do Centro de

Filosofia e Educação e docente do programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias

do Sul (UCS). Professora da Rede Municipal de Ensino de Caxias do Sul. 3 Mestre em Educação pela UFRGS. Especialista em Educação a Distância pela UCS e Licenciada em

Pedagogia pela UCS.

2

como docentes, os quais tanto dificultam quanto potencializam a relação pedagógica.

Deste modo, buscamos saber o motivo pelo qual alguns alunos estão (des)motivados, e

as reais causas disso. Por isso, torna-se fundamental escutar o que os alunos esperam da

escola e o que consideram interessante para uma aula. Será que as manifestações de

apatia e/ou de rebeldia em relação à escola são elementos que caracterizam motivação

ou desmotivação dos alunos pela escola?

No entanto, diz-se que se há desmotivação, talvez, seja necessário descobrir

quais são as causas e/ou motivos que levam os alunos, com o passar dos anos, a se

desmotivarem em relação à escola. Neste sentido, quais seriam os fatores (internos ou

externos) que levariam os jovens a se distanciar ou se aproximar daquilo que a escola

quer ensinar?

Em relação específica ao uso da pesquisa em sala de aula, acredito ser um

aprendizado concreto e pode criar um grande interesse e motivação nos alunos.

Sempre é valido aprender algo novo, como trabalhar com a pesquisa, construção de

projetos, levantamento bibliográfico e das produções dos discentes, não apenas uma

mera reprodução de conhecimentos.

Torna-se fundamental reviver as situações de aprendizagem para a

elaboração passo a passo de um projeto de pesquisa e também da própria pesquisa.

Obviamente, dificuldades, dúvidas e até surpresas, com os resultados, surgem no

momento da elaboração e aplicação das etapas da pesquisa. Vislumbrar como os

alunos vão reagir diante da proposta do uso pedagógico da pesquisa em sala de aula

parece uma incógnita, mas bem orientados haverá una compreensão da importância

dessa atividade. Assim, relega-se aos professores um compromisso e, com certeza,

um sentimento de “mais uma etapa vencida”.

Na organização dos dados recolhidos nas entrevistas de campo, realizadas com

16 alunos do Ensino Médio Noturno, algumas informações são de extrema importância

para se conhecer os alunos da Escola São Rafael, especialmente aqueles que compõem o

Ensino Médio Noturno, bem como sua realidade de mundo. Além disso, são relevantes

também as expectativas quanto à escola, aulas e até do próprio futuro, enquanto

educandos e profissionais, já inseridos no mercado de trabalho.

Dessa forma, os dados decodificados a partir de gráficos e as referências das

respostas abertas da pesquisa empírica, conduzem a buscar compreender as situações

que motivam ou desmotivam os discentes. Diante da quantidade de alunos do Ensino

3

Médio Noturno da escola (aproximadamente 160), optou-se por uma amostra de dez por

cento (10%) do total dos alunos, portanto uma análise por amostragem.

1. Pesquisa na Escola: estratégia de motivação

Vivemos numa época em que as atividades de pesquisa na escola têm sido

valorizadas, mas, surgem questionamentos: Como tornar a pesquisa atrativa? Será que a

pesquisa seria capaz de inverter a falta de interesse do aluno na sua própria

aprendizagem?

Para Moraes (2007, p.01), o trabalho com pesquisa em sala de aula permite ao

aluno um maior envolvimento no jogo da aprendizagem. Jogar este jogo é fazer

perguntas e respondê-las, enfrentar desafios e resolvê-los. O estudioso ainda destaca

que, nesse processo, os alunos são os próprios sujeitos das transformações sociais dos

contextos em que vivem e, dessa forma, constroem conhecimento de forma mais

significativa.

Humberto Santos4 afirma que a pesquisa é uma excelente estratégia para a

autoconstrução da aprendizagem do aluno. Com isso, surge a oportunidade de

desenvolver a autonomia na construção da aprendizagem. Sabemos que é impossível à

Escola fornecer todo o conhecimento necessário. É por isso que hoje, as escolas do

século XXI, estão mais preocupadas em desenvolver nos alunos a capacidade de

aprender por si próprios, ao longo da vida, do que encher a sua cabeça com muita

informação teórica. A pesquisa também fortalece a responsabilidade do aluno para com

a sua aprendizagem.

Seria possível motivar os alunos, despertando-lhes o interesse pelo ambiente

escolar, bem como comprometê-los em alcançar bons resultados. Ainda, de acordo com

Santos (2009), a escola deve habituar os alunos, desde cedo, a pesquisar porque afinal o

mundo depende da investigação. Os avanços que alcançamos na nossa sociedade são

graças ao trabalho de pesquisa dos cientistas e investigadores. A escola não deve apenas

proporcionar a pesquisa, mas deve acima de tudo explicar a sua importância para a

aprendizagem, para a humanidade, e desenvolver o gosto pela investigação.

4

SANTOS, Humberto. A importância da pesquisa na escola. Cogito, 2009.

<http://betossanto.blogspot.com.br/2009/08/importancia-da-pesquisa-na-escola.html>. Acesso em 15

outubro 2013.

4

De outro lado, também há um descompasso entre aluno/professor/escola causado

pela relação das novas tecnologias com os envolvidos. Por isso, é necessário identificar

os problemas que circundam as dificuldades de aprendizagem. Por exemplo, no caso da

pesquisa científica,

(...) sabemos que os alunos têm a tendência de simplesmente copiar das fontes o

assunto da pesquisa e não se interessam por fazer um trabalho de tratamento da

informação. Nós os professores devemos ajudar os alunos a tirar esta ideia da

cabeça. E temos que não só ensiná-los a pesquisar, como também a selecionar as

informações mais importantes, a analisar, sintetizar e produzir um conteúdo novo a

partir das fontes originais, capaz de sentirem-se dono da sua aprendizagem, capazes

de produzir os seus próprios raciocínios. O professor deve orientar minimamente os

alunos na pesquisa, disponibilizando informações sobre o que devem pesquisar e

alguma pista bibliográfica. Hoje em dia as pesquisas se fazem principalmente

através da Internet utilizando motores de busca como o Google, ou a “Universidade

Google” como alguém já o chamou. Mas não se deve dispensar os alunos de

pesquisar nas bibliotecas, usando livros, revistas, artigos científicos, enciclopédias,

documentários e entrevistas.5

De certa forma, o professor Eduardo de Freitas6, também compartilha com a

teoria da (des)motivação. Para ele, a etapa técnico-científica informacional, que a

humanidade está atravessando, e a ascensão dos meios de comunicação têm facilitado o

acesso às informações. Entretanto, devem ser usados, como base de pesquisas, os livros,

as revistas, os artigos científicos, as enciclopédias, os documentários, as entrevistas, a

internet, entre outros materiais. A pesquisa na escola não pode ter apenas o objetivo de

ocupar o aluno, de modo que o mesmo não fique sem fazer nada em casa. Sua finalidade

é de formar pessoas curiosas acerca do que se passa no mundo, assim, por meio dessa

busca, o conhecimento será construído pelo próprio educando.

Mas, ao mesmo tempo, sabemos que os alunos têm outros interesses, mais

prioritários que os estudos como, por exemplo, as redes sociais, o trabalho, a diversão.

Nesse sentido, a escola hoje,

(...) concorre em larga desvantagem com os meios de comunicação de massa. Esses

lançam mão de recursos audiovisuais potentes para penetrar na subjetividade de seus

consumidores, atraindo a atenção em crescentes processos de adesão. Com a

televisão participando da socialização primária de crianças e jovens e, por que não

dizer, dos próprios pais, não há como negar que a escola vê-se diante de uma

imobilidade para superar o desafio da „mediatização da vida social‟ e para recuperar

seu papel socializador e legitimador. (STECANELA, 2009. p. 110).

5

SANTOS, Humberto. A importância da pesquisa na escola. Cogito, 2009.

<http://betossanto.blogspot.com.br/2009/08/importancia-da-pesquisa-na-escola.html>. Acesso em 15

outubro 2013. 6

FREITAS, Eduardo de. A importância da pesquisa na escola. Canal do Educador, s/d.

<http://educador.brasilescola.com/orientacoes/a-importancia-pesquisa-na-escola.htm>. Acesso em 15

outubro 2013.

5

Assim, despertar a motivação dos alunos é imprescindível. No cotidiano escolar,

conclui-se que a desmotivação leva à falta de interesse, à desatenção, à inquietação e à

frustração por grande parte dos alunos.

Talvez, para uma aproximação mais estreita com a realidade vivenciada em

nossa escola, e com os nossos alunos, seria interessante ter também o olhar dos próprios

alunos e escutá-los. Conforme Moraes (2007, p. 02), quando se consegue fazer com que

os próprios alunos assumam a função de perguntar, o aprender adquire novo sentido.

Desse modo, pesquisar em sala de aula é envolver-se na formulação e resolução de

problemas dos grupos envolvidos, o que se torna uma estratégia de aprendizagem

interessante e eficaz na produção de resultados significativos e duradouros.

A partir da escuta dos alunos e de nós mesmos, professores, podemos descobrir

os elementos que mobilizam a aprendizagem e o estar na escola. Sendo assim,

precisamos descobrir estratégias de ensino que os motivem para a aprendizagem e,

quem sabe, nos mantenha motivados também. Para isso, Klebis (2010) destaca que

a relação professor-aluno é o grande motivador do professor. Se ele sente prazer

nessa relação, vai ser um professor motivado, porque vai se comprometer com

aquela criança, aquele jovem. (...) o professor tem que “vestir a camiseta” do aluno,

tem que estar do lado dele, entendê-lo (...). E o aluno percebe isso. Quando o

professor gosta do que está fazendo, ele se torna extremamente fascinante aos olhos

dos alunos. A relação “apaixonada” do professor com o que ele trabalha e a forma

generosa com que ele trabalha (...)7.

Nossas metodologias de ensino precisam ser revistas e atualizadas de modo a

atender às demandas dos novos cenários da educação contemporânea. Nessa

perspectiva, novamente Moraes (2007, p. 03) afirma que, no educar pela pesquisa, o

professor passa a ser mediador e provocador das aprendizagens e crescimentos dos

alunos. Além disso, a pesquisa em sala de aula multiplica as possibilidades de

aprendizagem quando os alunos integram-se através de grupos de Internet. Nesse

sentido, os espaços virtuais não apenas oferecem acesso a uma infinidade de

informações e dados para solucionar os problemas propostos, como também constituem

7 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,

2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-

vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.

6

espaço de intensas interações onde as produções individuais e coletivas podem ser

gradativamente aperfeiçoadas.

A exemplo do que nos diz Roque Moraes (2007, p. 03-04): ao trabalhar com a

pesquisa em aula o professor e o aluno participam de um jogo de linguagens, através do

qual, ensinamos até mesmo o que não sabemos, invertendo as regras do jogo, nas quais

entram em cena a fala, a leitura e a escrita. De acordo com o estudioso, as

aprendizagens vão se constituindo na medida em que a fala qualifica e, através da

leitura de outros autores, conseguimos expressar nossas ideias em textos cada vez mais

qualificados. Para Amaral,

(...) fazer educação é, sobretudo, fazer escolhas, fazer opções: educar é, pela própria

natureza, uma seleção de valores, (...); e pra isso se necessita de pesquisa, da busca

por novos olhares, percepções. A pesquisa elimina o conceito de educação

dominadora/tradicional, ela abre espaço para argumentação, levantamento de

hipóteses, questionamentos, enfim a pesquisa é um meio muito rico de construir

conhecimento. Portanto, entende-se como pesquisa a busca de novas ideias,

palavras, pensamentos, atitudes, ver mais além, ver com outros olhos, uma busca

para solucionar problemas e situações que ocorrem em sala de aula. Assim, a

educação, sendo um processo contínuo, deve procurar o conhecimento no íntimo de

cada ser, deve olhar por todos os ângulos, o real das coisas não pode ser captado

pelo senso comum, sem questionamentos, aceitando só um tipo de resposta. A

pesquisa envolve todos os conteúdos contribuindo na construção de uma

aprendizagem significativa, criando uma oportunidade de autoconhecimento, autoaprendizagem, de reflexão, expressão e crescimento pessoal

8.

Moraes (2004, p. 02) também afirma que o professor que assume os riscos de

utilizar a pesquisa em suas aulas se propõe a ensinar o que não sabe. A partir daquilo

que ele e seus alunos já sabem. Com isso torna-se mediador e provocador dos seus

alunos, superando o papel transmissivo e desafiando-se constantemente a utilizar as

contribuições e conhecimentos dos alunos, para encaminhar sua reconstrução e

superação.

Os resultados da pesquisa sobre nossos próprios contextos de atuação docente

podem contribuir para modificar nossas práticas de sala de aula e/ou refletir sobre as

mesmas. Ao escutar os alunos, poderemos compreender a situação, as causas da

(des)motivação e mudar a forma de ensino, confrontando e discutindo as informações

com o grande grupo.

8 AMARAL, Ana Lúcia. A importância da pesquisa na escola. In: Caderno do Professor CERP/SEE.

Belo Horizonte, n. 6. Ago/2000, <luciene-educadora.blogspot.com.br/2012/01/importancia-da-pesquisa-

na-escola.html>. Acesso em 15 outubro 2013.

7

2. Conhecer o aluno para compreender a (des)motivação

A fim de conhecer melhor os estudantes da Escola São Rafael, especialmente

das turmas do Ensino Médio Noturno, foram estabelecidos alguns percentuais para a

realização da análise do cotidiano escolar, por meio empírico. A começar, pela

quantidade determinada (10%) de entrevistas realizadas com os alunos. Sendo seis

turmas no total (duas de cada nível ou série do Ensino Médio), através dos cálculos,

obtemos a quantidade exata de 16 entrevistas. Em seguida, foi importante verificar o

total dos 160 alunos, para dividi-los por sexo. Por coincidência, obteve-se uma paridade,

conforme demonstra o gráfico.

Gráfico 01 – Divisão Sexual

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Em seguida, foi dividido o número de entrevistas que seriam realizadas em cada

turma, tomando cuidado também com a quantidade, conforme a divisão sexual.

Portanto, foram oito entrevistas com alunos e oito, com alunas, distribuídas nas seis

turmas do Ensino Médio.

O Ensino Médio noturno possui uma tradição de agregar alunos que já trabalham

fora de casa, 50% dos entrevistados possuem essa atribuição, inclusive com regime de

trabalho de mais de 40h e com carteira assinada. Aqueles que não se enquadram na

legislação dos direitos trabalhistas, alegam que ainda são menores de idade, trabalham

com familiares ou na propriedade rural da família, portanto fora dos padrões legais

(legislação trabalhista). E, por tudo isso, constatou-se que a faixa etária é maior,

percebendo-se facilmente que são mais velhos do que os que estudam no diurno. Assim,

a maioria dos alunos possui no mínimo 16 anos, lembrando que alguns deles estão

apenas no 1° ano. Mas, também, enquadram-se nesse modelo, os que já completaram a

maioridade (18 anos), conforme demonstra o gráfico a seguir.

Masculino 50%

Feminino 50%

Sexo

8

Gráfico 02 – Faixa Etária

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Nas questões específicas sobre Educação, Escola, formação e estudo,

percebemos que 36% dos alunos entrevistados estudam na Escola São Rafael há, pelo

menos, três anos. Já, 19% há um ano e outros 19%, menos de um ano, ou seja, esse

índice é gerado pelas constantes transferências que recebemos de outras escolas do

estado ou do país.

Gráfico 03 – Tempo na Escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Como já foi mencionado anteriormente, conhecer a realidade, o cotidiano dos

discentes pode revelar muito da personalidade, da estrutura familiar e formação dos

mesmos. Apesar, de a faixa etária ser maior, de trabalharem fora, enfim, sustentarem-se,

Entre 13 e 15 anos 0%

Entre 16 e 17 anos 87%

Entre 18 e 20 anos 13%

Entre 21 e 25 anos 0%

Entre 26 e 30

anos 0%

Entre 31 e 35 anos 0%

Entre 36 e 40 anos 0%

Mais de 41 anos 0%

IDADE DOS ALUNOS

19%

19%

6% 38%

0% 6% 0%

6%

0% 0% 0%

6%

0% 0%

Tempo de Escola São Rafael Menos de 1 ano 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos

5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos

10 anos 11 anos 12 anos mais de 12 anos

9

a maioria ainda vive com os pais e o estado civil é de solteiros(as). Essa tendência foi

verificada em praticamente a totalidade de entrevistados (quinze entre os dezesseis).

Acredito que a convivência com a família, mesmo por objetivo econômico,

(“rachar” despesas), explica o fator de renda familiar ultrapassar o valor de dois mil

reais mensais. Porém, chama a atenção que existem famílias ainda que vivem com

menos de quinhentos reais, o que implica uma situação de pobreza. Surge dessa forma a

comprovação que a Região Colonial Italiana, historicamente considerada rica ou de

padrão superior às demais regiões do estado, também possui uma parcela da população

que passa por dificuldades econômicas. Esta informação serve para a nossa Escola,

demonstrando, assim, que a realidade é mais alarmante daquilo que o Grupo Discente e

Gestor, da nossa instituição de ensino, imaginava ser.

Gráfico 04 – Renda Familiar

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

No entanto, na estrutura familiar existe uma relação de convívio que foge da

considerada padrão, ou seja, existem aqueles que vivem apenas com a mãe ou em uma

união matrimonial. Entretanto é comum aos jovens dividirem a moradia com outras

pessoas, como amigos, conhecidos e até companheiros(as), de acordo com o dado do

gráfico, em que esta informação se refere a “outros”.

6%

12%

19%

19%

44% 0%

Renda Familiar

Menos de 500,00 reais De 500,00 a 999,00

De 1.000,00 a 1. 499,00 reais De 1.500,00 a 2.000,00 reais

Mais de 2.000,00 reais Não sei

10

Gráfico 05 – Estrutura Familiar

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Conforme Stecanela (2009, p.102), a reconfiguração das famílias, organizadas

na sua grande maioria tendo as mães como as provedoras da casa, exige a participação

dos filhos na economia doméstica. Isso dá-se quase sempre através do trabalho precário,

requerendo dificuldades de adaptação na escola ou, em casos mais críticos, provocando

o seu abandono.

3. A origem da (des)motivação: a escola ou o cotidiano profissional?

Sabe-se que a motivação é interna, desencadeada pelo professor como agente de

mediação, na busca do conhecimento. E é corrente a opinião entre os professores que o

meio social, familiar, cultural determinam a motivação. Desta forma, a realidade

vivenciada pelos alunos é um dos fatores que os distanciam do mundo da escola ou o

contrário, encontrando na escola um espaço acolhedor? E, os alunos, em especial, do

Ensino Médio Noturno da Escola São Rafael, afinal gostam ou não do ambiente

escolar?

Seriam as (des)motivações em níveis diferentes, consoante as características das

idades, dos níveis, dos turnos da escola? Antes de qualquer hipótese, Klebis (2010)

acredita que uma pergunta deve ser respondida pelas escolas, com sinceridade e clareza:

“Quem é o aluno"? Esta deve ser feita não só de forma genérica, mas em cada sala de

aula, em cada região do país, em cada realidade social diferente, pois essas pessoas são

diferentes. Às vezes, os próprios materiais didáticos de ensino não se questionam sobre

isso. Muitas vezes percebe-se que há um descompasso entre o que a escola oferece e o

que de fato é a cultura, com a qual esses jovens estão mais em contato. Não se pergunta

do que ele gosta, o que ele escuta, enfim, quem ele é.

50%

37%

0% 0% 0% 0%

0%

13%

Convívio Familiar

com os pais com a mãe

com tios com pais e irmãos

com a família com pais , irmãos e vó

com pais , irmãos e sobrinho outros

11

De acordo com Dayrell (2003, p. 44), existe, a necessidade de analisarmos o

ambiente onde o jovem vive, sua diversidade, suas condições sociais (classes sociais),

culturais (etnias religiosas, valores), de gênero e também das regiões geográficas em

que vive. Dentre outros aspectos, estes, implicam diretamente no comportamento social

de cada estudante. Para Stecanela (2009, p. 107), o modelo de socialização com

centralidade nos processos educativos escolares pode ser um dos elementos

responsáveis, entre tantos outros, pelos fatores endógenos (internos) da exclusão

escolar. Pela sua incapacidade ou até intolerância às novas configurações sociais da

contemporaneidade, a escola passa a ter suas estruturas e certezas abaladas ou, melhor

dizendo, a assistir à instalação daquilo que muitos autores denominaram de “crise da

escola”. Assim,

(...) existem certos problemas no ambiente escolar que são praticamente impossíveis

de não ocorrer, sendo a desmotivação do aluno um dos mais preocupantes, fato

rotineiro que ocorre com profissionais de todas as áreas da educação e em diferentes

níveis de ensino. Ressalta-se que os pais, os colegas e o grupo social no qual este

jovem se relaciona, também contribuem para a sua desmotivação. Determinados

alunos apresentam grande dificuldade em interagir com certas atividades, outros

apresentam resistência total no sentido de adquirir conhecimentos, se isolando dos

demais colegas, negando-se a participar das atividades propostas, bem como não

apresentando interesse qualquer em realizar algo que se refere à aprendizagem.9

Ainda, conforme os estudos da pedagoga Elen Campos Caiado10

, o professor

deve ficar atento ao comportamento de seus alunos. Tanto daqueles mais agitados,

quanto dos desligados e inquietos. No sentido de ajudar o aluno desmotivado, o

professor deve se preocupar com o ambiente escolar, em especial a sala de aula, mas

também com o desenvolvimento das atividades e o próprio processo avaliativo, além da

relação professor/aluno.

Em relação ao noturno, ainda é notável que uma parcela dos alunos justifica a

falta de motivação pelo cansaço e pelo desinteresse em prosseguir com seus estudos. O

aluno vive, em conflito, entre o tempo de estudar e trabalhar, conforme destaca Dayrell

(2003, p.50), em sua pesquisa. Ainda, em muitos, prevalece o mito da ascensão social

em convivência com a necessidade de certificação imposta pela concorrência no

mercado de trabalho.

9

CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.

<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.

htm>. Acesso em 15 outubro 2013. 10

Idem, Ibidem.

12

Outro grupo de alunos questionado, porém da mesma região do estado,

acreditava que “(...) para ser alguém na vida, tem que estudar, mas é também frequente

o reconhecimento de que é difícil trabalhar o dia inteiro no pesado, puxando concreto, e

depois ir pra escola estudar, de noite.” (STECANELA, 2009, p. 106-107). Os fatores

exógenos relacionados à estrutura social de uma cidade, que vê seu cinturão de pobreza

aumentar cotidianamente, em virtude de seu potencial polo gerador de empregos, e

elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), provocam o insucesso escolar e o

ingresso precoce no mundo de trabalho. Este, quase sempre em caráter precário, como

estratégia de sobrevivência adotada para a ampliação da renda familiar. Portanto, esses

são elementos que nos levam a concluir que, de certa forma, a escola não atende às

expectativas dos alunos.

Associado a isso, práticas de avaliações antiquadas tem provocado

desmotivações, mágoas pelas constantes reprovações e conflitos com professores. Se a

escola não consegue envolver o aluno, o estudo acaba tornando-se uma obrigação

necessária, que ele apenas suporta. Além disso, a escola mostra-se insensível à realidade

vivenciada pelos alunos fora da escola. Um segundo ponto é destacado por Stecanela:

(...) as mudanças transcorridas no mundo do trabalho estão na raiz dos fenômenos de

exclusão social e afetam profundamente a instituição escolar, promotora, nas últimas

décadas, de aceso massivo à escolarização, como forma de oportunizar a igualdade

(...): por um lado, ocorre um acesso mais democrático a níveis cada vez mais

elevados de escolarização, mas, por outro, acontecem desigualdades sociais cada vez

mais acentuadas. Tais fatores, entre outros, resultam na necessidade de

reequacionamento do papel da educação e da escola, diante de um quadro que é

produto da modernização, do progresso e de novas formas de regulação social.

(STECANELA, 2009. p. 104).

Contudo, os índices de reprovação e abandono (94%) na Escola São Rafael, no

turno da noite, em alguma etapa da vida escolar revelam as barreiras existentes no

estudo noturno. Estas preocupam, bem como, a diversos autores e pesquisadores da

educação, que se mostram perplexos com essa triste realidade.

13

Gráfico 06 – Percentual de Reprovações

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Assim, cabe a nós educadores, avaliar os motivos para os elevados índices de

reprovação. Um dos mais observados, através da análise empírica, é a quantidade

excessiva das faltas. Dos dezesseis entrevistados, 14 deles costuma faltar às aulas,

principalmente nas sextas-feiras. Apesar, de todos concordarem que as faltas prejudicam

a aprendizagem. Estas são frequentes, pois alegam que estão muito cansados para vir à

escola ou acompanhar o andamento das aulas e atividades propostas.

Com efeito, é importante frisar que muito da desmotivação ocorre devido à falta

de perspectivas de futuro, o cansaço advindo da longa jornada de trabalho, além do

sistema de avaliação classificatória. Dessa forma, “nem sempre as motivações para estar

ou retornar à escola são de ordem interna ou por escolha própria. Os sentidos da escola,

são um misto de obrigação – por vezes sofrimento e invasão cultural(...)”.

(STECANELLA, 2009, p.106).

Desse modo, percebe-se, de um lado, que a cada ano existe uma falta de

interesse dos alunos pela escola e que muitos apenas frequentam por obrigação. Assim,

na maioria dos casos, isso é considerado como um problema de difícil resolução. Logo,

para Caiado,

(...) é fundamental que o professor compreenda o que vem a ser a motivação e como

ela se constrói. Geralmente a falta de motivação é originada das características

próprias do aluno e do ambiente escolar como um todo, fazendo com que o aluno

passe a ter medo do próprio fracasso escolar e de como lidar com ele11

.

Já, para Stecanela, o insucesso escolar é provocado tanto por fatores externos, ou

exógenos, como por fatores internos ou endógenos, à escola. No conjunto dos fatores

11

CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.

<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.

htm>. Acesso em 15 outubro 2013.

56% 13%

25%

6% Quantidade de reprovações

Apenas uma vez Duas vezes Três vezes

Mais de três vezes Nunca reprovei

14

exógenos, destacam-se “(...) o abandono da escola pela necessidade de colaborar com a

família no cuidado dos irmãos menores ou nas tarefas domésticas (...); a conjugalidade;

a impossibilidade de conciliar a trajetória escolar com o início da trajetória profissional”

(STECANELA, 2009, p.102). Estes são verdadeiramente os fatores que conduzem aos

altos índices de reprovações e evasões escolares. Os dados construídos no campo de sua

pesquisa indicam que muitos jovens fizeram suas transições para a vida adulta pela

profissionalização precoce, interrompendo a escolarização ao ingressar no mundo do

trabalho. Ainda, de acordo com a pesquisadora, o sonho de concluir a escolarização

obrigatória ou avançar em direção ao Ensino Superior foi abandonado e retomado por

várias vezes, porém nunca realizado.

Obviamente, sempre encontraremos, ao longo da vida escolar, aqueles alunos

que não traçaram seus objetivos ou ainda não amadureceram. Dificilmente

compreendem que a escola é um espaço de socialização, mas não de simples ou mero

encontro com os amigos.

Os espaços de lazer devem ser diferentes do espaço escolar, pois este último,

sempre permeia situações de aprendizagem. Nesse ponto, os dados empíricos, nos

relevam que, muitas vezes, o próprio ambiente de sala de aula, no sentido de interação

entre os colegas, ou seja, nas relações entre os alunos, causam alguns pontos de atrito (e

talvez desmotivação?).

Fora do ambiente escolar, alguns de nossos estudantes dedicam-se a atividades

esportivas, físicas e/ou de expressão corporal, como danças. Contudo, 57% não se

envolvem com a participação extraclasse, em nenhuma outra atividade. Dessa forma, a

escola passa a ser seu espaço de socialização.

Gráfico 07 – Atividades fora da Escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

57%

0%

31%

6%

6%

Participação em atividades extraclasse

Não participo. Grupo cultural Grupo social

Grupo esportivo Grupo de dança Grupo de jovens

Grupo comunitário Grupo religioso Trabalho voluntário

Clube de mães Outro Comentários

academia

15

Em especial, os nossos alunos da Escola São Rafael, revelaram que gostam do

ambiente escolar, de acordo com a visão empírica da pesquisa, principalmente quanto à

estrutura (a biblioteca), bem como a organização da Escola e do corpo discente. Os

dezesseis entrevistados confirmam essa posição.

A partir das informações obtidas através das entrevistas, existe motivação de

nossos alunos em vir à Escola. Sendo que a maioria concorda que a missão

fundamental, como estudantes, é a de adquirir conhecimentos e/ou aprender (36%),

seguida do interesse em obter uma certificação (25%) e, subsequentemente, “Ser

Alguém na Vida” (22%). Lembrando que, são objetivos de alunos do noturno, o que

confronta com uma visão geral e simplista de que estudar a noite é “apenas um faz de

conta”, que não há o desejo de aprender, mas apenas fingir que se aprende.

Gráfico 08 – Motivação para ir à Escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Com o objetivo de auxiliar os professores, que muitas vezes, no exercício da

profissão apresentam um verdadeiro interesse em ajudar o aluno desmotivado, existem

algumas sugestões, baseadas em estudos da área. Estas sugestões sempre são bem-

vindas e aceitas pela maioria dos docentes da Escola São Rafael, que buscam construir

“o seu fazer pedagógico”, de forma diversificada e diferenciada. Os próprios alunos

reconhecem essa postura em seus professores. Das dezesseis entrevistas, onze

confirmam que as aulas na turma são regulares. Porém, quando questionados a respeito

da condução das aulas, das explicações, ou seja, o fazer pedagógico dos professores,

eles revelam que estas ações correspondem às suas expectativas.

5% 25%

36% 6%

6%

22%

Motivação Escolar

Melhorar meu salário Ter o diploma

Adquirir conhecimentos/aprender Realização pessoal

Pressão da família Conselho tutelar

Ser alguém na vida Outros.

16

Grata surpresa que os dados pesquisados revelam uma importância fundamental

dada pela maioria dos entrevistados, que concordam que a escola é importante (69%).

Além disso, que contribui para melhorar a qualidade de vida e expectativa para o futuro

(81%).

Dez entrevistados definem que adquiriram conhecimentos, as notas são altas e os

conceitos são bons (Ensino Médio Politécnico). Ainda, afirmaram que a maioria deles

participa das discussões em aula e, por consequência, tornam-se focados nos objetivos.

Por consequência, utilizam os aprendizados vivenciados na escola, transferindo-os para

o cotidiano, para o trabalho e nas suas vivências pessoais e/ou familiares.

Mas, então qual será o grande problema que afeta nossos alunos, quanto às

constantes faltas e sucessivas reprovações? Nesse ponto residem muitas das angústias

dos professores que acreditam ser sua prática, a origem da desmotivação dos discentes.

Gráfico 09– Qualidade e expectativa de vida por causa da Escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Nesse sentido, Caiado12

afirma que motivar o aluno independente da disciplina

ou série em que se encontra, abrange algumas táticas como aplicar o conteúdo com

entusiasmo, evitando aulas “mecânicas”, fazendo com que o aluno compreenda o que

está sendo ensinado, ao invés de apenas memorizar. Também se deve buscar sempre

relacionar os conteúdos com fatos da atualidade e elaborar atividades que possam

detectar a evolução do aluno. Além de estabelecer um ritmo de aula, de forma que todos

possam acompanhar o que exige o conteúdo, e quando o aluno apresentar dificuldades,

12 CAIADO, Elen Campos. Como proceder com alunos desmotivados. Canal do Educador, s/d.

<http://educador.brasilescola.com/sugestoes-pais-professores/como-proceder-com-alunos-desmotivados.

htm>. Acesso em 15 outubro 2013.

0%

2000%

ConcordaConcordaem parte

Discorda

59% 14% 0%

13

3

Melhoria da qualidade e expectativa de vida pela escola

Freq. Relativa Freq. Absoluta

17

criar pistas proporcionando oportunidades para superá-las, fazendo com que ele exerça

seu próprio raciocínio.

Enfim, ao iniciar a aula, se deve esclarecer metas e objetivos, porém, baseados

no ritmo da turma. Deve-se ainda, combinar regras para que não seja desviado o

objetivo da aula. E, no momento da avaliação, o ideal é que o professor evite

comparações, ameaças, ou seja, adote condutas negativas que possam vir a refletir

maleficamente na autoestima dos alunos.

O professor deve compreender que é necessário saber o que pretende do aluno,

as habilidades que devem ser adquiridas, os valores e as competências que pretende

desenvolver. Em suma, é nossa missão buscar compreender qual o grande empecilho

para que os alunos frequentem a escola, já que gostam de ler e escrever, assistir às aulas,

participar dos projetos.

Gráfico 10 – Interesses dos alunos na escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Na realidade, as nossas dúvidas quanto à desmotivação, acabaram sendo

reveladas pelos próprios alunos, nas entrevistas. O grande problema que origina as

faltas, as evasões, reprovações é o cansaço e, por consequência, a falta de vontade. A

jornada de trabalho da maioria é de quarenta horas ou mais. Por isso, chegam à escola,

cansados demais, para acompanhar os estudos, e desanimam.

22%

21%

11%

21%

4% 21%

Interesses dos alunos

Ler e escrever Fazer atividades artísticas

Praticar esportes Assistir a vídeos ou a filmes

Participar de passeios Participar de projetos

18

Gráfico 11 – Formas como o aluno se sente durante a aula

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Portanto, não seria exatamente uma desmotivação causada pelas aulas ou

propostas e sistemas de avaliação dos professores, ou pela estrutura da escola. Isso, pois

a maioria, treze (59%) dos dezesseis entrevistados consideram boas as suas aulas.

Expuseram que estas são planejadas e as explicações dos professores, condizentes com

aquilo que esperam. Afirmaram que os discentes são motivados e com propostas

diversificadas e criativas.

Gráfico 12 – Desenvolvimento das aulas pelos professores

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Ainda, 62% dos entrevistados relatam que participam das atividades em sala de

aula, realizam as atividades extraclasse, questionam e são comprometidos/as com a

própria aprendizagem. Aliás, onze, dos dezesseis alunos questionados, revelam que

frequentam a escola para aprender e adquirir conhecimentos. De acordo com eles

mesmos, as melhores formas para conquistarem esses objetivos são copiando a matéria

50%

19%

25% 6%

Como se sente durante a aula

Cansado (a) Aceito(a) pelo grupo Motivado(a) Discriminado(a) Outro.

13

59%

3

14%

Freq. Absoluta Freq. Relativa

Concorda com a forma dos professores desenvolverem a aula

Sim. Não.

19

e ouvindo as explicações dos professores. Ou seja, as “antiquadas” aulas expositivas,

consideradas ultrapassadas por muitos.

Muitas vezes, acredita-se que o simples uso das tecnologias ou as “aulas

diferentes”, sejam o desejo dos nossos jovens e “tecnológicos” discentes. No entanto,

pela visão empírica, observa-se que o professor e suas aulas “expositivas”, pelo menos

na nossa Escola, no Ensino Médio Noturno, não se tornaram obsoletos e as tecnologias

não se transformaram nas únicas fontes de aprendizado.

Gráfico 13 – Formas de aprender na escola

Fonte: Alunos do noturno da EEEM São Rafael

Apesar de tudo o que foi exposto acima, as tecnologias são consideradas

importantes, pelos alunos, diante da realidade vivenciada no cotidiano, no mercado de

trabalho e até nas relações pessoais (Facebook). Porém, o professor não é considerado

descartável.

No entanto, o uso da tecnologia no espaço escolar deve ser considerado, mesmo

porque, não deixaria de ser uma atribuição ou função da escola. Isso significa que,

enquanto profissionais da educação, devemos também auxiliá-los na compreensão,

quanto há melhor forma, para a utilização consciente e correta dos equipamentos e

meios tecnológicos.

Assim, conforme Nilda Stecanela, dá-se o “ponto de partida, considerando a

realidade concreta, tanto dos sujeitos quanto do objeto de conhecimento e do contexto

em que se dá a ação pedagógica” (STECANELA, 2004, p. 183). Então, a aproximação

entre esta realidade e a escola é importante. Dessa forma, Klebis13

afirma que a

singularidade do ser humano está expressa em qualquer faixa etária. É preciso que

professores e escolas procurem definir melhor de que maneira abordar a cultura desse

13 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,

2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-

vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.

69% 31%

Melhor forma de aprender na escola

Copiando Ouvindo No Datashow Cantando, dançando Outra.

20

jovem e como usar isso para construir pontes entre aquilo que a escola pretende e aquilo

que o sujeito deseja ou espera da escola.

Ainda, segundo o mesmo estudioso, na maioria das vezes, no Ensino Médio,

temos uma sensação de que é possível aprender quase tudo, e o jovem se percebe como

alguém que ainda não sabe muita coisa, mas que é capaz de aprender, desde que tenha

acesso a isso e se interesse. Mas os interesses são muitos. E quando a escola "descola",

quando ela se separa da vida cultural dessas pessoas, ela se torna um espaço artificial. A

ideia insere-se em trabalhar conhecimentos que são percebidos pelos jovens como

conhecimentos que se conectam com a sua vida cotidiana ou com o seu universo de

interesses, de expectativas.

As percepções como docentes, embora vinculadas ao fazer pedagógico e à

experiência, refletem a parcialidade do olhar, do lugar do professor. Dessa forma,

Klebis14

declara que se a Educação é decisiva para os rumos de qualquer sociedade, o

seu agente principal, o(a) professor(a), merece atenção especial. Com apoio, valorização

e infraestrutura seria bem mais fácil enfrentar os desafios que batem à porta dos

mestres, numa sociedade em constantes e aceleradas mudanças.

Nesse conjunto de reflexões, percebe-se que a escola faz uma leitura superficial

das motivações e delega aos fatores externos, as causas dos problemas, pois os alunos

têm preferências por determinada disciplina ou professor e agem de modos diferentes,

com motivações diferentes. Nesta linha de raciocínio, o autor acima citado, sugere que

se a equipe de professores se fortalece, num comportamento acomodado ou insatisfeito,

quando aparece um professor que mantém o entusiasmo e começa a puxar um e outro,

isso começa a se tornar positivo e contagia os demais. Em qualquer relação social,

quando encontramos uma pessoa que produz ideias, que se envolve com as coisas, que

“faz e acontece”, nos empolgamos também e procuramos assumir uma postura de apoiar

e de ajudar. Dessa forma, a prática docente se fortalece e perpassa aos alunos, a união e

o desejo dos seus professores de que haja o sucesso escolar e a realização pessoal e

profissional. Embora, a realidade seja dura, o trabalho árduo, o senso e a ética do “dever

cumprido”, devem prevalecer sempre no “sagrado” ambiente da Educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

14 KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Escola conectada com a vida do aluno. Revista Mundo Jovem,

2010. <http://www.mundojovem.com.br/entrevistas/edicao-411-entrevista-a-escola-conectada-com-a-

vida-do-aluno>. Acesso em 15 outubro 2013.

21

Por fim, percebe-se que, em muitas situações vivenciadas no cotidiano escolar,

os docentes e equipes diretivas e pedagógicas preocupam-se com a infrequência, a

evasão escolar e com os elevados índices de reprovação, principalmente dos alunos do

noturno. Dessa visão, também compartilham muitos pesquisadores da Educação. Todos

envolvidos com as angustias de se imaginarem impotentes diante de desmotivação dos

discentes.

Na maioria dos casos, os profissionais da Educação acreditam que agregam, ao

seu fazer pedagógico, muitas barreiras, que impedem o avanço ou sucesso dos alunos.

Porém, verificamos, através do estudo empírico que nem sempre a culpa (se existe

algum culpado) é dos professores ou da Escola. Ou ainda, do próprio aluno, que adentra

o espaço escolar com uma carga, muitas vezes, extenuante de um dia de trabalho

exaustivo ou de problemas familiares e/ou pessoais. Para muitos deles, às vezes, o único

ambiente que percebem que há alguém que se preocupa, é a Escola, através da equipe

de gestores, pedagogos e professores. Uma forma de tornar a aprendizagem mais

atrativa pode ser a introdução de temáticas para pesquisas, de acordo com o interesse

dos alunos, desde que, bem orientados e conscientes da relevância do assunto

escolhido.

Acredito que, a partir da pesquisa empírica com os alunos do noturno da

Escola São Rafael, muitas dificuldades e problemas podem e devem ser superados.

Ou então, ao menos, tornar as relações, entre alunos e professores, amistosas e

produtivas.

Surpreende a importância das informações contidas nas entrevistas, da

sinceridade com que as respostas foram escritas. Assim, através desses

instrumentos pode-se conhecer a realidade dos nossos alunos, bem como, suas

expectativas em relação à escola e ao próprio futuro.

Enfim, os alunos do noturno da Escola São Rafael revelaram, através das

entrevistas, que gostam do ambiente escolar, da maneira como é organizada a estrutura

das aulas, do cotidiano escolar. Bem como, do encontrar-se com os colegas e

professores, da troca de experiência, do aprender...

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