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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Inveja nas Organizações – Um mal invisível Por: Nilza Maria Barros de Queiróz Gobetti Orientador Prof. Antonio Fernando Vieira Ney Niterói 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Inveja nas Organizações – Um mal invisível

Por: Nilza Maria Barros de Queiróz Gobetti

Orientador

Prof. Antonio Fernando Vieira Ney

Niterói

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INVEJA NAS ORGANIZAÇÕES – UM MAL INVISÍVEL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão de

Recursos Humanos.

Por: Nilza Maria Barros de Queiróz Gobetti

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EPÍGRAFE

“A inveja habita no fundo de um vale onde

jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali

reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo,

há sempre trevas espessas [...]. a palidez cobre

seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se

fixa em parte alguma. Tem os dentes manchados

de tártaro, o seio esverdeado pela bile, a língua

úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo

aquele que é excitado pela visão da dor [...].

assiste com despeito o sucesso dos homens e esse

espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se

dilacera a si mesmo, e este é seu suplício”.

Ovídio.

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AGRADECIMENTOS

Para não correr o risco da injustiça, agradeço de antemão a todos que,

de alguma forma, passaram pela minha vida e contribuíram para a construção

do quem sou hoje.

Agradeço à Deus, por tornar possível mais um sonho realizado e sempre

estar presente na minha vida..

À minha querida mãe e irmãos, por estarem sempre me incentivando em

minha caminhada.

Aos amigos de curso, especialmente minha querida amiga Izabela, por

sempre me apoiar e, também, fazer parte de mais essa realização.

Aos professores do curso de Gestão em RH, especialmente ao meu

orientador, Antonio Ney, com os quais muito pude aprender e obter elementos

para esta monografia.

E, especialmente, agradecer ao Ricardo, meu amado esposo, por

sempre acreditar em meus sonhos e ajudar a torná-los reais.

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RESUMO

Existe um sentido no qual a inveja pode ser benigna ou construtiva. Essa

situação acontece quando a visão ou o reconhecimento dos bens, posses e

qualidades de uma pessoa ou grupo desperta no outro o desejo de adquirir o

mesmo para si por meio de um esforço baseado em seu próprio mérito. A partir

da utilização das estratégias de idealização e desvalorização no combate à

síndrome da inveja organizacional, pode-se observar que as organizações que

perpetuarem seus comportamentos valorizando apenas a criação de mitos e

heróis provavelmente terão dificuldade em desenvolver programas formadores

de fortes equipes, capazes de proporcionar à empresa uma liderança eficaz,

que seja um instrumento de vantagem competitiva

O primeiro passo para a resolução de qualquer sentimento negativo é a

compreensão dele. Nesse contexto, o presente trabalho procura entender a

inveja no ambiente organizacional. Procura entender, ainda, que a inveja pode

ser fator de desmotivação no ambiente de trabalho e.

Para entendermos a inveja, temos de descobrir a estrutura básica que a

antecede. Serão abordadas a evolução histórica da inveja, bem como suas

características. Com se apresenta na sociedade e nas organizações e como

ela se desenvolve no indivíduo e suas consequencias no trabalho em equipe.

E, finalmente, que estratégias podem ser utilizadas para a gerência desse mal

em nível de indivíduo e organização.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta investigação foi necessário adotar alguns

critérios metodológicos quais sejam: pesquisa bibliográfica, de conteúdo

programático-teórico. Foram abordados temas como Inveja nas organizações e

motivação. Foram consultados livros de Patricia Tomei, Nicole Puzzi, Eduardo

Rosa Pedreira, Carlos Byington, Textos de Zuenir Ventura, e outros que

abordaram o tema em questão, bem como sites da internet e artigos de

revistas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8

CAPÍTULO I - INVEJA ...................................................................................................... 9

CAPÍTULO II - A INVEJA NA SOCIEDADE E NAS ORGANIZAÇÕES ......................... 23

CAPÍTULO III - GERENCIANDO A INVEJA NAS ORGANIZAÇÕES ............................ 38

CONCLUSÃO ................................................................................................................. 44

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 45

ÍNDICE ............................................................................................................................ 46

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INTRODUÇÃO

Hoje a inveja surge tanto em organizações de pequeno, médio e grande

porte e, acredita-se que, muito provavelmente, esse sentimento tenha sido

atenuado pela competitividade e pelo formato do mercado atual

Este trabalho buscou explicitar alguns pontos que refletem o tema inveja

e entendê-la no ambiente organizacional. Buscou reconhecer alguns fatores

que propiciam o surgimento deste sentimento e de como a inveja pode ser uma

fonte de desmotivação no trabalho e apresentar algumas estratégias para a

gerência desse mal em nível de indivíduo e organização. Como isso pode

prejudicar a organização e quando pode ser construtivo.

Porém essa realidade do comportamento humano no trabalho é poucas

vezes comentada ou discutida no ambiente de trabalho, mas o tipo invejoso é

uma presença permanente nas organizações. Embora, para o dirigente, seja

difícil admitir, o comportamento de inveja é um fenômeno real no

relacionamento entre as pessoas nas organizações.

O objetivo de fazermos uma análise e, com isso, planejar formas de

utilizar a inveja em favor das organizações e abordar alguns aspectos

relevantes do comportamento da inveja nas organizações é de grande

importância para o administrador, que quer ter conhecimento desse fenômeno

para o gerenciamento de pessoas e de grupos de trabalho no ambiente

organizacional.

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Capítulo I - INVEJA

“Os que sabem mais do que nós não devem ser vistos

com olhos de inveja, e sim de admiração. Já os que

sabem menos não devem ser vistos com olhos de

repugnação e sim de motivação.”

(Renato Bedani)

Provavelmente muitas pessoas devem ter admitido praticar, mas

também quase ninguém assume ter, nem mesmo para si próprio. É o

sentimento que nos faz enxergar o que o outro tem de bom, mas com maus

olhos. Ele pode até nos despertar a querer possuir o que é dos outros.

Qualquer um pode saber que estamos falando da INVEJA.

Para esclarecer esse sentimento que desde os tempos antigos até os

dias atuais vem assombrando a nossa sociedade, partimos da principal idéia

de que a inveja é um sentimento destrutivo. Podemos citar Caim e Abel.

Caim é um personagem do Antigo Testamento da Bíblia, sendo o filho

primogênito de Adão e Eva. Era um lavrador. “Em determinada ocasião, Caim

e o seu irmão mais novo Abel apresentaram ofertas a Deus. Caim apresentou

frutas do solo e Abel ofereceu primícias do seu rebanho.” (Gênesis 4:3, 4). A

oferta de Abel teria agradado a Deus, enquanto que a de Caim não. Tudo

indica que o sacrifício de Abel foi oferecido com fé, em face da declaração

bíblica de que "pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício de maior valor do

que Caim." (Hebreus 11:4 - Tradução do Novo Mundo), um sacrifício total.

A inveja está presente também em outras narrativas e contos infantis,

como Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel entre tantos outros contos.

Em um dos contos de fadas mais populares da humanidade, Cinderela

foi então criada por sua madrasta malvada, que junto de suas duas filhas,

transformaram-na em sua serviçal. Cinderela tinha de fazer todos os serviços

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domésticos – lavar, varrer, cozinha – e ainda era alvo de deboches e

malvadezas. Seu refúgio era o quarto no sótão da casa e seus únicos amigos,

os animais da floresta.

Um belo dia é anunciado que o Rei iria realizar um baile no Castelo, para

que o príncipe escolhesse sua esposa dentre todas as moças do reino. A

madrasta de Cinderela sabia que ela era a mais bonita da região, então disse

que ela não poderia ir, pois não tinha um vestido apropriado para a ocasião.

Cinderela, com a ajuda da fada madrinha, foi ao baile e dançou com o príncipe,

que se apaixonou por ela. Porém, Cinderela teria de voltar para casa antes da

meia noite. Quando o relógio badalou as doze batidas, Cinderela teve de sair

correndo pela escadaria do castelo. Foi quando deixou cair um dos pés de seu

sapatinho de cristal.

O príncipe, muito preocupado por não saber o nome da moça ou como

reencontrá-la, pegou o pequeno sapatinho e saiu em sua busca no reino e em

outras cidades. Muitas moças disseram ser a dona do sapatinho, mas o pé de

nenhuma delas se encaixava no objeto. Quando o príncipe bateu à porta da

casa de Cinderela, a madrasta trancou a moça no sótão e deixou apenas que

suas filhas feias experimentassem o sapatinho. Apesar das feiosas se

esforçarem, encolherem os dedos, passarem óleo e farinha nos pés, nada do

sapatinho de cristal servir. Foi quando um ajudante do príncipe viu que havia

uma moça na janela do sótão da casa. Sob as ordens do príncipe, a madrasta

teve de deixar Cinderela descer. A moça então experimentou o sapatinho e o

final da estória, todos conhecem.

A inveja é, sem dúvida, o mais antigo sentimento que se tem notícia,

depois do amor. Pela inveja o mal entrou no mundo, pela inveja Caim matou

Abel, pela inveja sofremos diariamente.

Os gregos representavam a inveja como um velho espectro feminino, a

cabeça cercada de cobras, os olhos vesgos e fundos, a pele pálida. Um ser de

magreza extrema, com uma serpente nas mãos e outra roendo-lhe o coração

e, às vezes, acompanhado da Hidra de Lerna – monstro mitológico de sete

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cabeças. A imagem é terrível, mas não se poderia haver mais perfeita

representação de um sentimento tão ruim como a inveja.

Podemos definir a inveja, segundo o dicionário Aurélio, como "desgosto

ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem, desejo violento de possuir o bem

alheio". Muitas vezes as pessoas não tem bem definido o que é a inveja,

confundindo-a com o desejo de ser feliz tanto quanto o outro o é. Ou seja,

ambicionamos conseguir as mesmas coisas de alguém e isto não é inveja,

desde que por meios justos trabalhemos para tal, e além de tudo esse desejo é

reconhecer em si próprio a capacidade da conquista. Podemos definir este

sentimento como cobiça que, pelo dicionário Aurélio significa: o desejo sôfrego,

veemente, de possuir bens materiais; é avidez, é cupidez, é ambição

desmedida de riqueza. Sendo a inveja o desejo violento de se possuir o bem

alheio, sempre que há a inveja ela vem acompanhada da maldade. E se

sentimos tristeza pela felicidade alheia, esse sentimento é desprovido de amor,

portanto só pode haver ódio, e onde há o ódio há também o mal. Se assim não

fosse, a inveja não seria considerada um pecado. Independente da religião,

sabemos que a inveja nasce no mal e se torna um vício e fonte de muitos

outros males.

Notamos que há uma grande semelhança nas características dessas

duas terríveis deficiências. Uma se identifica muito com a outra e isto ocorre

de tal maneira que a cobiça sempre se inicia com uma pitada de inveja. Ou,

vice-versa.

Ressaltamos que a inveja é o desejo de ser o outro, ocupar o seu lugar.

É o desejo de desfrutar o ser da mesma maneira que o outro desfruta em

relação a status, bens materiais, personalidade, aparência, humor,

comportamento, conquistas, etc.

No cotidiano, usamos a palavra inveja num sentido que não seria o

adequado, como por exemplo: “Eu tenho inveja da sua pele”. Quando, na

verdade, deveríamos dizer: “Eu admiro a sua pele e gostaria que a minha fosse

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assim”. Nesse caso, o objeto da inveja é o ser em si e não o objeto que a

pessoa invejada possui.

A inveja está associada à história da humanidade. No Gênesis surge

como pecado; na tradição cristã, como um dos pecados capitais, como um

vício que se opõe à virtude. São Tomás de Aquino destaca que o sentimento

de entristecer-se por não ter o que o outro tem não é reprovável, é

incontrolável. O reprovável vício se manifesta quando os indivíduos são

forçados a agir para compensar essa tristeza. Essa ação é livre, consentida e

negativa. Na verdade, ele diz que o que invejamos mesmo é a alegria do outro.

1.1 - O que é inveja?

A inveja vem do substantivo latino Invidia e do verbo invidere que

significa não ver, olhar malicioso, olhar enviesado. Inveja é “o desejo por

atributos, posses, status, habilidades de outras pessoas. Não é

necessariamente ligada a um objeto: sua característica mais típica é a

comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra.”

É uma negação da visão da bondade, beleza e verdade. Negamos o que

é bom para nós e do que dependemos para sermos felizes e realizados.

Devido à inveja, passamos a negar as virtudes e qualidades dos outros, o que

reverte em nosso próprio prejuízo.

A inveja, na tradição católica, é um dos “Sete Pecados Capitais”. Ela é

considerada um pecado porque a inveja faz com que as pessoas ignorem suas

próprias bênçãos e priorizem o status de outra pessoa no lugar do próprio

crescimento espiritual.

A inveja é conhecida, também, como “olho gordo”. Desde crianças

ouvimos falar que não se deve contar algo de bom que está para acontecer

para as outras pessoas, pois elas podem por o “olho gordo” (olho que faz mal,

atrapalha, prejudica). Esse “olho gordo” é a inveja das pessoas que, ao

saberem que o outro vai conquistar algo de bom e por não terem esse

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privilégio, acabam invejando e transmitindo vibrações negativas. Muitas

pessoas acreditam que essas vibrações e essa inveja podem fazer com que

aquilo que estava para acontecer não se realize.

No livro “A inveja nas organizações”, a autora Patrícia Tomei cita alguns

provérbios que associam a inveja a crendices e superstições, como por

exemplo estes: “...a expressão búlgara que diz que “os ovos do vizinho têm

sempre duas gemas” ou o provérbio dinamarquês: “se a inveja fosse febre, o

mundo inteiro estaria doente”, ou a utilização do termo “real inveja sueca” como

encorajamento para não sair da linha e não provocar gestos vingativos ” .

Não raramente, o sentimento da inveja nasce não só pelo desejo de ter

o que a outra pessoa possui, mas sim, pela necessidade de ter o mesmo

prazer que se acredita que o outro tenha, alcançar o mesmo nível de felicidade

que o outro conseguiu atingir. Vejamos um exemplo no relato que se segue:

Um dia meu marido comprou uma máquina fotográfica digital nos

Estados Unidos, na época, de última geração, mas não tinha revelado essa

informação aos meus amigos. Levei para o trabalho, pois queria experimentá-la

antes de viajarmos e resolvi tirar fotos com os amigos do meu setor. Todos

gostaram muito das fotos, pois nenhum deles ainda tinha tido acesso a tal

tecnologia. Um “amigo” do setor, que eu levei para trabalhar comigo, começou

a me perguntar coisas sobre a minha máquina, quanto custou, onde tinha

comprado etc. Respondi a todas as perguntas dele com boa vontade. Daí, falei

com ele: porque você não compra uma máquina igual a minha, ela é muito boa.

Então ele falou: Eu não posso ter uma máquina que seja inferior à sua! Isso foi

ouvido por outra colega do setor. Um mês depois viajei com meu marido para a

França, na volta trouxe muitas fotos, que todos queriam ver. Esse “amigo” viu

as fotos e falou o seguinte: Você tem como copiar algumas fotos pra eu pedir

para o meu pai pintar um quadro pra mim? Na hora disse que copiaria, mas

acabei não fazendo isso.

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14 Esses e outros episódios, que serão relatados mais à frente,

aconteceram e tiveram testemunhas. Fomos analisando esse comportamento e

tivermos a certeza que nosso “amigo” sofria e, ainda hoje, sofre de inveja.

Todos os seres humanos sofrem ou já sofreram de inveja. As pessoas

dificilmente assumem sua inveja por considerar um sentimento ruim que, em

sua maioria, pode acabar causando prejuízos aos outros e principalmente às

próprias pessoas que nutrem esse sentimento. Os invejosos têm vergonha de

assumir esse sentimento porque invejar alguém significa o mesmo que assumir

o seu fracasso, a sua incapacidade de possuir o que outro conquistou por

méritos próprios. E como as pessoas em geral não assumem os seus

fracassos, acabam também por não assumir a inveja, que tantos males traz.

O conceito de inveja deve ser bem definido e distinguir-se de voracidade

e ciúme. Melanie Klein foi a primeira analista a considerar a inveja um conceito

central em sua teoria psicanalítica. “Em seus trabalhos, Melanie Klein distingue

cuidadosamente inveja, voracidade e ciúme. Inveja, ela descreve, é “... o

sentimento de ira por outra pessoa possuir ou usufruir de algo desejável, sendo

o impulso invejoso de retirá-lo ou estragá-lo”.”

A voracidade, segundo ela, é: “..uma ânsia impetuosa e insaciável, que

excede o que o sujeito necessita e o que o objeto tem vontade e capacidade de

dar... seu propósito é a introjeção destrutiva”.

E o ciúme, segundo Klein, é saciável enquanto que a inveja não: “a

atitude geral para com o ciúme difere da que se tem para com a inveja. Dir-se-

ia que a pessoa muito invejosa é insaciável, que nunca pode ser satisfeita

porque sua inveja se origina de dentro...” Não podemos confundir ciúme com

inveja, ainda que sejam semelhantes. O ciumento crê que uma relação pode

ser uma possessão e que uma terceira pessoa pode deteriorar essa sensação

de posse. Quando os bebês tomam consciência de que a mãe é a provedora

de muitas experiências agradáveis e de gratificações, ao mesmo tempo em que

eles tentam proteger essa fonte manifestam um desejo invejoso de ser

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também, fonte de tal perfeição. A chegada de outro bebê desperta mais

sentimentos de inveja que se transformam em ciúme, e aí começam a surgir

sentimentos de competição e rivalidade. Aspectos presentes na vida de

qualquer um. Não é ruim competir, desde que ninguém se prejudique, competir

é até saudável.

São poucos os que tomam alguma atitude concreta em relação à inveja

e, normalmente, essas atitudes não passam de intenções. A maior

preocupação está naqueles que externam a inveja que sentem pelo outro.

Dentro de uma organização essas atitudes podem ser muito prejudiciais,

como, por exemplo, quando uma pessoa resolve sabotar, ou se vingar de outra

por invejá-la, por não possuir o cargo que o outro tem ou por ganhar menos do

que o outro. Dessa forma, a organização se prejudica porque ela passa a ter

menor rendimento de seus funcionários, começam as intrigas e o mal-estar

toma conta do ambiente de trabalho, e assim, o trabalho rende menos.

O sociólogo Helmut Schoeck “... argumentou que o conceito de inveja foi

muito reprimido nas Ciências Sociais e na filosofia moral desde o começo deste

século, provavelmente pela dificuldade de admitir sua existência nas

sociedades. Segundo a tese de Schoeck, a inveja exerce um papel muito

importante em todas as sociedades, já que podemos observar crimes ocorridos

devido à inveja, políticas baseadas em inveja, instituições designadas para

regulamentar a inveja e argumentos fortes no sentido de motivar os indivíduos

a fazer o possível e o impossível para evitar ser invejados. ”

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Emoções e sentimentos que diferenciam ciúme de inveja:

Inveja Ciúme

Sentimento de inferioridade Medo de perda possível

Vergonha íntima de si próprio Ameaça

Sentimento de destino injusto Rejeição

Frustração Preocupação

Amargura Suspeita

Sentimento de desejo Traição ou denúncia

Desejo por algo de terceiros Dúvida

Terceiros desaprovariam se soubessem do meu sentimento Solidão

Vergonha de admitir Incerteza

Sentimento de culpa por desejar o mal para alguma pessoa Sentimento desagradável

Sentimento de pecado Consciência

Negar a si mesmo esse tipo de sentimento Insegurança

Motivação para melhorar a si próprio Sentimento profundo

Fonte: PARROT, W. G., “The Emotional Experience of Envy and Jealousy!, Capítulo 1 do livro The psychology of

jealousy and envy, editado por Peter Salovey, Nova Iorque, 1992.

Para alguns especialistas, quem sofre do mal da inveja é capaz de

caluniar, perseguir, e, em casos mais extremos, até desejar a morte do

invejado. E pode até apresentar quadro depressivo, autodestrutivo,

agressividade e tendências suicidas.

Essa dificuldade de assumir a existência da inveja na sociedade acabou

reprimindo o conceito de inveja nas Ciências Sociais, o que é ruim por ela

exercer um papel de extrema importância na sociedade.

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1.2 - fatores ligados a esse sentimento

A inveja está associada à história da humanidade, surge na tradição

cristã como um dos sete pecados capitais, como um vício que se opõe à

virtude. A inveja foi tida como "pecado capital" graças a São Tomás de Aquino.

Ele fez uma análise profunda da inveja. Entretanto, é interessante notar que a

inveja é uma ilusão, visto que quando sentimos inveja, estamos obcecados e

centrados a uma determinada coisa de uma pessoa.

Para Aristóteles, a inveja é conseqüência da semelhança e da

proximidade dos indivíduos. Ela está relacionada à ambição e surge da

comparação. Já Freud aponta a inveja como a origem da justiça que gera a

necessidade de igualdade e de tratamento.

Além de não ser benéfica, a inveja deixa as pessoas com baixa auto-

estima, pois passam a se comparar com os outros. Comparar pode ser uma

capacidade da mente muito saudável, mas o invejoso sempre faz uma

comparação muito arrogante e malvada entre ele e o invejado: ele sempre se

vê abaixo do invejado, sempre se vê menos. A inveja é prima do complexo de

inferioridade. E às vezes da raiva, para os invejosos menos lúcidos.

Todas as manifestações invejosas partem da percepção

necessariamente visual do objeto invejado quando os olhos descobrem que

existe outro ser que tem alguma coisa desejada intensamente. A inveja entre

pelos olhos. Uma vez que está dentro do sujeito, dá origem a sentimentos

hostis e excita a destruir a quem a despertou tais sentimentos.

Algumas vezes, os indivíduos que “sofrem desse mal” sequer percebem o

que está acontecendo ou o que estão provocando. Para eles, é tudo natural,

como se fosse uma segunda natureza ou uma segunda pele.

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18 De acordo com Melanie Klein, a inveja está intimamente ligada à

voracidade, e esta é colocada como uma manifestação das pulsões

destrutivas.

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Ao mesmo tempo em que o ciúme é querer manter o que se tem e a

cobiça é desejar aquilo que não lhe pertence, a inveja é não querer que o outro

tenha. O mais renegado dos sete pecados capitais é uma emoção inerente à

condição humana, por mais difícil que seja confessá-la. Afinal, todo mundo, em

algum momento da vida, já sentiu vontade de ser como alguém. Há até um

lugar no cérebro reservado para a inveja. É o shadenfreude - palavra alemã

que dá nome ao sentimento de prazer que o invejoso experimenta ao

presenciar o infortúnio do invejado. Além de sofrer com a alegria do invejado,

quando uma pessoa sente inveja, a região do cérebro ativada é a mesma da

dor física.

Certa vez, um homem, extremamente invejoso de seu vizinho, recebeu a

visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um desejo. "Você

pode pedir o que quiser desde que seu vizinho receba o mesmo e em dobro",

sentenciou. O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe arrancasse

um olho. Moral da história: o prazer de ver o outro se prejudicar prevaleceu

sobre qualquer vontade.

Melanie Klein diz que até mesmo os bebês nutrem esse sentimento.

Eles invejam o seio materno, capaz de alimentá-los e confortá-los. A emoção,

no entanto, começa a se tornar mais visível na primeira infância e se manifesta

na forma de cobiça. O sofrimento do bebê pressupõe o prazer alheio, neste

caso, o prazer da mãe. Todo o prazer alheio faz sofrer, desse sofrimento nasce

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a inveja. A inveja é universal, porém somente em alguns poucos tal sentimento

se converte em atos agressivos, capazes de levar o sentimento à ação. A

inveja é uma doença:

“... um mal que dói por dentro como um fogo frio e cortante e

que aos poucos corrói nossas entranhas, deixando-nos

ressequidos, cheios de feridas abertas e mal cicatrizadas, que

ao primeiro esbarrão abrem-se mais virulentas que antes. Tão

perniciosa que expele um gás venenoso contaminando

multidões despreparadas ou com a imunidade muito em baixa.”

Nicole Puzzi, 1999, p. 9

Não podemos evitar que as pessoas invejem, porque seria uma

intervenção contra a condição humana. O que podemos fazer é operar com

aquela porção de indivíduos em quem esse sentimento converte-se em ações

concretas capazes de prejudicar outras pessoas que, mesmo inocentes, são

culpados de disparar essas emoções malignas no invejado.

A inveja pode ser classificada em três categorias:

Inveja Sublimada: inclui indivíduos que sentem inveja, mas conseguem

superar esse sentimento, utilizando-o para o seu próprio crescimento. Tais

indivíduos admitem as qualidades do seu objeto de inveja e buscam se superar

para alcançar os seus próprios objetivos.

Inveja Neurótica: inclui indivíduos que sentem inveja e sofrem com isso, sem

fazer nada para mudar suas atitudes, mas que não são necessariamente

pessoas más. Podemos dizer que ele é a principal vítima da sua inveja.

Normalmente são deprimidos, amargos e ansiosos. São facilmente

identificáveis dentro de qualquer empresa. Os invejosos neuróticos quando

pressionados, ou quando passam por crises e condições não-favoráveis, tem

alta probabilidade de apresentar um comportamento do terceiro tipo de inveja,

com as características apresentadas a seguir.

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Inveja Perversa: Esse tipo se mostra ostensivamente invejoso. Ele vive para

bloquear todas as expressões de criatividade, de beleza ou de talento que

apareçam em sua frente. Felizmente não se trata de um tipo tão comum.

Sobretudo nas empresas, porque sendo um sentimento muito intenso, acaba

bloqueando o próprio caminho do invejoso, pela quantidade de inimigos que

reúne durante a vida.

Esses excertos mostram a diversidade de ação do vírus da inveja.

Podemos observar uma grande quantidade de sentimentos envolvidos, ora em

conjunto, ora em alternância - senso de justiça, inferioridade, admiração, ódio,

raiva, exibicionismo, desdém, desconfiança, soberba, superioridade, dor... A

inveja tem muitas faces.

Portanto, podemos perceber que “a inveja é um sentimento raivoso de

que outra pessoa possui e desfruta algo desejável – sendo o impulso invejoso

o de tirar este algo ou de estragá-lo”. (KLEIN, 1991:212).

1.3 – A inveja como fruto de comparações

Sua origem está no mecanismo da comparação. É um sentimento que

mistura raiva e tristeza. A inveja não é só tristeza pelo bem alheio, mas alegria

pelo mal do outro. É um sentimento de inferioridade, fruto da comparação que

fazemos entre nós e o outro em algum aspecto específico: ou nas posses

materiais, na casa, no carro, na roupa, no dinheiro ou nas suas qualidades

psicológicas, morais, físicas, sociais ou espirituais.

Nossa sociedade é baseada na comparação, na escola somos medidos

em provas, comparando nossas respostas com as já obtidas por alguém.

Quando se trata de algo como matemática tudo bem, pois as respostas são

exatas (embora exista mais de uma forma para chegar a um resultado), mas

quando se julga a compreensão de um texto, ou quando se falam paralelos

entre socialismo e comunismo, podemos discordar e entender de outra forma,

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mas nos obrigamos a pensar como nossos professores, pois eles nos

compararão com eles mesmos para aprovar ou não nossa passagem.

"Partir do princípio de que os homens são diferentes entre

si: uns mais fortes que outros, uns mais jovens que outros, uns mais

inteligentes que outros, uns mais bonitos que outros, uns mais bons

que outros; nunca é idêntica a medida do mais ou do menos. Há

entre eles, ainda nas sociedades primitivas, indivíduos privilegiados

que exercem naturalmente sobre os outros a função de chefe ou

cabeça”.

Francesco Carnelutti, 2004, p.18-19.

Como vivemos numa sociedade comparativa, frequentemente nos

deparamos perdendo a capacidade de ver as coisas em si mesmas e só

conseguimos entender as pessoas e as coisas em comparação umas com as

outras.

Há cerca de 100 anos, um mestre idoso e coberto de honrarias estava à

morte. Seus discípulos perguntaram: "Mestre, você está com medo de morrer?"

"Estou", respondeu ele. "Estou com medo de me encontrar com o Criador".

"Mas, como?", perguntou um discípulo. "Você teve uma vida exemplar. Assim

como Moisés, tirou-nos das trevas da ignorância!". "Você fez julgamentos

justos como Salomão", disse outro discípulo. O Mestre respondeu: "Quando eu

me encontrar com Deus, Ele não vai me perguntar se eu fui Moisés ou se eu fui

Salomão. Ele apenas vai me perguntar se eu fui eu mesmo".

Quando uma pessoa se compara a outra e se sente inferior, em algum

aspecto está com inveja. Não estamos dizendo que toda vez que nos

comparamos com alguém estamos com inveja. Estamos dizendo que nunca

poderá haver o sentimento de inveja se não houver a comparação.

A inveja é a vivência de um sentimento interior sob a forma de

frustração, de tristeza, de mal-estar, por nos sentirmos menos do que os

outros, por não sermos o que os outros são. É o desequilibro íntimo oriundo de

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um sentimento de inferioridade, fruto da comparação que se faz em relação à

outra pessoa em algum aspecto específico.

De sorte, mesmo em organizações primitivas, ou, grupo de animais, há

aqueles que se destacam, que sobressaem aos demais, são estas as

diferenças que nos individualizam sob a ordem da comparação, são as

distinções que nos diferenciam, são questões de natureza imutável. Jamais

poderemos todos ser os mesmos, este é um ponto incontestável.

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Capítulo II

A INVEJA NA SOCIEDADE E NAS ORGANIZAÇÕES

“há no invejoso uma compulsão de que se uma pessoa se

destaca em alguma atividade, por mais simples que

possa parecer, ele está sempre pronto para criticar

e tentar minimizar o sucesso de seu próximo”.

Roque Theófhilo

Inspirados pela tradição cristã adotamos o amor e a fraternidade como

universal padrão de medida para nossas atividades, pois, no mesmo ambiente

social podemos ter as mais contraditórias filosofias de vida. Segundo Tomei

(1994):

“As mudanças da sociedade vêm transformando

as questões éticas e morais e criando novas

necessidades de se especificar valores amplos, que

alcancem as diversidades culturais e específicas e

atendam à pluralidade de interesses dos indivíduos.”

(p.54)

Na sociedade contemporânea, toda propaganda em nossa cultura é

baseada no processo comparativo, entre nós e os modelos que nos são

apresentados. A trama-base de qualquer propaganda consiste em que olhemos

alguém na tv, por exemplo, com todas as qualidades de riqueza, poder,

prestígio, inteligência, dinamismo, beleza, força e magnetismo pessoal, que

nos comparemos com os ambientes e pessoas apresentadas, que nos

sintamos inferiores, magoados e diminuídos e, em seguida, nos é apresentada

a solução para resolver aquele mal-estar: a compra de alguns produtos que

nos farão iguais aos padrões apresentados.

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24 A sociedade em que vivemos é baseada na comparação, na competição

e, portanto, na inveja. Por exemplo, a criança vai à escola não apenas com o

intuito de ser educada, mas também, para competir na vida. É o modo da

escola lidar com a competição, considerando-se que as escolas estimulam a

competição, nem sempre salutar, não preparando os alunos para a grande

realidade da vida, que é o fato de sempre, numa luta, deve haver um vencedor

e um perdedor, e o ser humano deve ter no seu arsenal psíquico instrumentos

compatíveis para se reestruturar, por ocasião de uma derrota, e não armazenar

requintes de ódio, que é o primata da inveja, um dos sentimentos que pode

causar grandes malefícios ao ser humano, e destes instrumentos

desconhecemos as produções, estudos e idéias.

Era uma vez, um sapo barrigudo, de pele enrugada, olhos esbugalhados

e garras afiadas. Passava os dias coaxando no pântano. Um dia, de repente,

viu resplandecer no ponto alto de uma rocha, um lindo vaga-lume. Mortificado

pela inveja e impotência diante de tanta beleza, saltou até o local onde estava

o vaga-lume, e o cobriu com o seu ventre gelado. Estupefato o vaga-lume

perguntou-lhe: Por que me cobres? E o sapo inflado pela inveja, respondeu-

lhe: “Por que brilhas”.

A aversão à inveja, sentimento que acreditamos estar ligado ao do

ciúme, é milenar. Ela sempre foi desdenhada entre todos os sentimentos

humanos. É a vilã costumaz das histórias, trazendo consigo a devastação e a

catástrofe.

Entre os sete pecados capitais, muitos a citam como a mais complexa

das manifestações. É por causa da inveja que surgiram os amuletos, frases,

rezas e outros “procedimentos mágicos”, de forma explícita, ou por meio de

racionalizações sutis. Ao longo da história da humanidade o ser humano

aprendeu a se precaver contra ela. Cada cultura desenvolveu recursos na

forma de amuletos, já que ela está associada ao “mau olhado”, à má

sorte. Esses sistemas de defesa são tão velhos quanto a humanidade. Os

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romanos de antigamente já fechavam a mão e enfiavam o dedo polegar entre o

indicador e o médio para fazerem a figa.

Mesmo assim, qualquer pessoa é capaz de admitir com pudor, ter

alojado sentimentos claramente invejosos em determinadas situações da vida,

principalmente quando hostiliza e se entristece com o sucesso do outro,

lamentando a vitória de um rival. Basta sentirmos uma alegria singela, um

progresso discreto, uma vitória modesta, e lá vem o descrédito de nossa

capacidade, por julgar injusto ou insuficiente o nosso sucesso, e temer que ele

desencadeie alguma desgraça pela inveja dos outros.

Se a pessoa melhora, vem a inveja e estraga, conforme a superstição.

Ela zomba do nosso mérito, desdenha nossa virtude, desvaloriza nossas

qualidades, exulta com nossos defeitos, corrói nossa bondade. Sob sua

influência, deixamos de combater as ilustrações para atacarmos justamente as

fontes de satisfação e prazer.

Ao pagar o bem recebido com o mal venenoso, ficamos à beira da

ingratidão, da injustiça e da traição. Por onde a inveja passa, não cresce nada.

Com um currículo desses, ninguém se dispõe a defendê-la, nem tampouco a

conhecer seus métodos e suas tramóias, como faríamos como um vírus mortal.

.

Nas organizações, encontramos pessoas que ficam o tempo todo

prestando atenção e vivendo o que as outras fazem ou deixam de fazer. Esse

tipo de pessoa quer para si o que as outras têm, quer ser o que as outras são,

quer ter o que as outras possuem, quer viver o que as outras vivem, quer ter o

sucesso e as vantagens que as outras têm, são pessoas que fazem da inveja o

seu padrão de relacionamento humano, de comportamento, de trabalho nas

organizações. E as organizações, com seus instrumentos comparativos,

alimentam e disseminam a inveja entre os seus empregados, sem se

aperceberem disto.

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26 Segundo Tomei:

“a discussão democrática dos valores sociais, e

das questões éticas e morais, tem sido o caminho que as

sociedades e as organizações têm tomado para negociar

essas diferenças”. (p.55)

Como não é novidade para ninguém, o ambiente nas empresas está

cada vez mais competitivo. Por um lado, isso é bom para quem for bom. Por

outro lado, pode gerar atritos.

2.1 – A inveja pode prejudicar a produtividade?

Dentre todos os pecados capitais estipulados pelo catolicismo,

a Inveja é o mais difícil de ser identificado nas corporações. Não que

ele apareça em poucas situações; muito pelo contrário. A questão é

que este sentimento é normalmente camuflado. Justamente por ser

condenado pela sociedade, pouquíssimas pessoas admitem ter inveja

de um colega de trabalho.

Como a inveja pode influenciar nos relacionamentos, na

qualidade de vida e no sucesso pessoal e profissional de cada um de

nós? Para compreender como esse sentimento pode prejudicar a

produtividade profissional, é preciso distingui-la de outros

sentimentos. O ciúme, por exemplo, consiste em querer manter o que

se tem. Já a cobiça é o desejo de adquirir algo que não se possui. A

inveja, por sua vez, é não querer que o outro tenha. Por esse motivo

ela é considerada tão nociva.

O jornalista e escritor Zuenir Ventura publicou em seu livro “Mal

secreto”, uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião

Pública e Estatística (Ibope), encomendada e divulgada por ele.

Nessa pesquisa, o popular “olho gordo” é o pecado mais conhecido

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pela população brasileira, sendo citado por 73% dos entrevistados

como o primeiro que lhes vêm à mente.

No entanto, 84% afirmam categoricamente nunca ter sentido

inveja, enquanto 7% disseram cometer esse pecado “de vez em

quando” e outros 7%, “raramente”. Admitir ter inveja significa que

estamos em condição inferior ao ser invejado. Por isso é algo que

procuramos guardar para nós mesmos.

O invejoso é o maior prejudicado, pois deixa de se empenhar no

próprio trabalho para concentrar-se em difamar o colega. Ele se sente

injustiçado, humilhado com o sucesso alheio, então passa a culpar a

empresa, os procedimentos e, principalmente, a outra pessoa pelo

seu fracasso. Dessa forma, ele acaba tendo o desempenho

prejudicado, revolta-se ainda mais e gera um círculo vicioso.

Para fugir da inveja no ambiente corporativo, antes de tomar

qualquer atitude, cabe entender o porquê de sua existência.

Determinadas pessoas costumam comprometer-se mais na busca por

resultados e, como consequência, destacam-se mais que outras. Isso

gera inveja em profissionais com baixa autoconfiança e autoestima

deficiente.

Esta é a base da inveja: supervalorizar os outros (que podem,

segundo a fantasia do invejoso, fazer tudo) e esvaziar a si mesmo

(que é inferior porque não pode fazer nada). Assim, nasce o desejo

de esvaziar o outro para que tudo fique igual e ele não fique só.

Segundo o psicanalista Mário Quilici, a inveja dá-se em quatro fases

especificas:

1- Primeiramente, o indivíduo olha um objeto, situação ou um

traço de alguém que imediatamente admira. Compreende a

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28 importância daquele traço para ele. Ou seja, vê, admira e

deseja.

2- No momento seguinte, faz uma comparação entre o que o outro

tem e o que o indivíduo não tem. Ele toma consciência de uma

falta sua porque já discrimina. Aqui o processo cognitivo é

importante.

3- Aí se dá o terceiro momento da inveja, que é a percepção - e

ao mesmo tempo a vergonha - de uma falta nele do que foi

admirado (e valorizado) no outro. Surge aí, também, a

constatação de que aquilo que desejou, é impossível de ser

obtido por ele.

4- Logo estamos na quarta e última fase: A inveja é disparada

pela percepção de uma falta no indivíduo. Essa insuficiência faz

com que ataque e conseqüentemente espolie o objeto invejado

para fazer desaparecer a diferença que foi percebida.

Para isso, é necessário identificar indivíduos com essas

características. Os invejosos possuem comportamentos padrões. Os

mais fáceis de serem encontrados são o desprezo pela outra pessoa,

a falta de interesse pela vida dela e a tentativa de ofuscar o talento

dos outros com comentários maldosos.

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No entanto, o “olho gordo” é inevitável. Se a pessoa quiser fugir

desse pecado, só há uma solução: não realizar nada na vida. Para

evitar problemas, seria melhor as pessoas não confiarem inteiramente

naqueles que não conhecem e não exponham suas vidas para os

companheiros. É melhor ser reservado, realizar o próprio trabalho da

melhor forma e jamais deixar de brilhar por medo da inveja alheia.

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2.2 – As reações da Inveja nas organizações

O sentimento de inveja aparece no comportamento das pessoas, sendo

possível entender um pouco mais desse fenômeno através das classificações

realizadas por Tomei, que são: desvalorização, negação e bajulação, projeção,

idealização e retirada.

2.2.1- Desvalorização

É a depreciação das boas qualidades do objeto, o que provocará menos

admiração e dependência. Nessa forma de comportamento, a pessoa é movida

pelo desejo de vingança. Para provar que o seu comportamento é melhor que o

de outrem, a do invejado, a pessoa passa a usar de atitudes manifestas de

maledicências, de fofocas, de críticas negativas e humilhação para fazer aflorar

o seu sentimento de inveja e, assim, desvalorizar o sucesso do outro. Esse

desejo de vingança é manifestado de forma agressiva através de

comportamentos subversivos e indiretos, onde a ação fica inibida. Nesse caso,

o invejoso desempenha, na maioria das vezes, o papel de vítima, pois a atitude

de sofrimento se torna uma maneira inconsciente de provocar no outro um

sentimento de culpa pelo sucesso obtido.

2.2.2 - Negação e bajulação

Negação e bajulação são a dificuldade de aceitar conscientemente o

sentimento de inveja. A pessoa nega a inveja e, para camuflar esse

sentimento, passa a utilizar a bajulação como mecanismo de justificativa para

as suas atitudes, que podem ser traduzidas como típicas de pessoas

conhecidas na organização como “puxa-saco”. Elas usam a forma de agradar a

pessoa que invejam, elogiando-a na frente, mas, na ausência dessas,

criticando-as e depreciando-as.

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2.2.3 – Projeção

Projeção é o tipo de indivíduo que se percebe como uma pessoa não

invejosa, ou seja, somente as outras pessoas que o cercam são pessoas que

possuem o sentimento da inveja. Dessa forma, procura colocar a inveja nas

costas de seus colegas, pois se considera uma pessoa isenta.

2.2.4 - Idealização

Nessa forma, o indivíduo procura colocar o objeto invejado fora do seu

alcance. A pessoa pode usar esse mecanismo para fazer frente à inveja como

uma das formas de idealizar pessoas, grupos ou organizações. Essa forma de

comportamento se encontra nos administradores quando idealizam os seus

superiores, criam os chefes super-homens. Estes elogios excessivos e esta

admiração desmedida para com os seus superiores podem conceber-se como

véus transparentes, tentando mascarar sentimentos de inveja. Os

observadores atentos à vida organizacional sabem que esse superchefe possui

pés de argila. É preciso muito pouco para que o invejoso que agora idealiza o

seu chefe passe o pêndulo em direção contrária, difamando-o então.

2.2.5 - Retirada

Caracteriza o indivíduo que se sente incapaz de tolerar o sentimento de

inveja, que nem tenta entrar em competição, mas procura desvalorizar-se a si

mesmo. É conhecida como síndrome do medo de sucesso para não causar

inveja. Esse tipo possui presença nas organizações que o define como

mendigos, ou seja, pessoas que sempre se encontram em situações infelizes,

assim representadas por aqueles que estão em conflito com seus superiores,

os que deixam a tarefa para a última hora e se queixam que não tiveram

tempo, ou produzem uma tarefa de forma negligente. São pessoas que criam

situações de vida depressiva como forma de defesa contra o sucesso, pois

temem que o sucesso provoque a inveja nos outros.

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31 De maneira mais simples, é possível dizer que a pessoa invejosa tenta

estragar ou destruir o objeto desejado, enquanto que a pessoa ciumenta

apresenta mais uma reação de conservação, uma reação de proteção. Talvez,

por isso, o ciumento seja mais aceito socialmente que o tipo invejoso, pois esse

procura prejudicar as pessoas que convivem com ele, enquanto que aquele

procura proteger os que estão próximos dele.

Assim, percebe-se que é duro admitir a presença da inveja entre as

pessoas que trabalham no mesmo local de trabalho e, de certa forma,

competem entre si, pois a organização torna-se um local fértil para que o

sentimento da inveja se estabeleça nas relações de trabalho. É difícil admitir a

inveja, por ser considerada pelos autores como um sentimento vergonhoso,

enquanto que o ciúme é um sentimento mais aceito pela sociedade; basta

comprovar os casos nos jornais, nos romances, nas canções. Já, em relação à

inveja, é difícil encontrar algum caso divulgado em jornais ou outros meios de

comunicação, evidenciando a dificuldade que as próprias ciências do

comportamento possuem em discutir tal sentimento e suas implicações nas

relações das pessoas de trabalho e no seu dia-a-dia.

3 - Comportamentos de inveja na organização

Alguns comportamentos de inveja são mais comuns e perceptíveis na

organização, como a ascensão e queda de um mito, de um líder; o crescimento

do prestígio de um jovem gerente numa estrutura centralizada e o que isso

provoca no comportamento dos demais integrantes, dos executivos mais

velhos ou do mesmo nível hierárquico. São comportamentos do cotidiano com

que o administrador se defronta e que necessitam ser observados e

compreendidos.

3.1 - Os mitos e os heróis da organização

Uma das formas de estabelecer um clima de inveja na organização é a

valorização e tratamento dos seus líderes como mitos ou heróis. Nesse

sentido, Tomei (1994) esclarece:

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“Se as organizações continuarem a incentivar seus

membros a visualizar os líderes como heróis e mitos, será

instaurado o clima da inveja, com todos os seus

comportamentos destrutivos.” (p. 73)

Para combater tal clima, é necessário desenvolver lideranças eficazes,

programas administrativos que fortaleçam a formação de equipe de pessoas

capazes e não somente buscar a cultura do herói organizacional.

3.2 - O sucesso empresarial

Em relação ao sucesso empresarial, ou até em relação ao sucesso

pessoal, percebe-se muitas vezes a estratégia de desvalorização, quando se

identifica o “contar ou não” o sucesso obtido para que não desperte o invejoso.

Nessa perspectiva, Tomei (1994) refere que o sucesso pode provocar a inveja:

“é fácil perceber o medo dos efeitos da inveja pela necessidade que as

pessoas têm de não mencionar as conquistas pessoais.” Assim, pode-se

entender o porquê de muitos empresários ou comerciantes bem-sucedidos

estarem quase sempre dizendo que as coisas e os negócios não vão bem, ou

se queixarem e falarem da crise como uma forma de esconder o seu sucesso e

mascarar o medo da inveja.

Esse receio também aparece quando se comenta ou se ouve o

comentário, de certa maneira freqüente, “o fulano tem é sorte”. Nota-se que a

expressão vem carregada de inveja e também, por outro lado, serve de

denúncia de uma força superior ou da estrutura de poder da organização

(formal e informal) que favorece a determinado indivíduo.

Quando o sucesso ocorre, de uma ou de outra forma, ele catalisa a

inveja nas organizações. Isso é mais marcante na organização que valoriza o

comportamento do exibicionismo como forma do marketing pessoal, de busca

do sucesso a qualquer preço ou da total retirada da competição, a incorporação

da ética do fracasso.

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33 Conforme Tomei (1994), no cenário organizacional, a inveja é percebida

quando as pessoas se destacam em seus postos de trabalho, despertando,

com isso, sentimentos negativos em outros que se sentem inferiorizados. Os

gerentes que têm suas ações traduzidas em brilho profissional, respeito,

sucesso, ou um maior status podem expor-se ao julgamento de seus pares e,

não raro, passam a receber pedradas de todos os lados como uma forma de

delação.

A inveja é explicitada principalmente na hora de um fracasso pessoal.

Para ilustrar melhor a relação do sucesso com a inveja, não é possível deixar

de lado a história de Nicolas Fouquet, descrita de forma reduzida em Tomei

(1994, p.16). “Nicolas Fouquet, ministro das Finanças nos primeiros anos do

reinado de Luís XIV, amava a beleza em todas as formas. Em 17 de agosto de

l661, deu uma festa deslumbrante em homenagem ao rei, a fim de ostentar sua

visão muito original da arquitetura, da decoração e dos arranjos dos jardins de

sua propriedade Vaux-le-Viconte - na época considerado o castelo mais

suntuoso da França. Os hóspedes foram convidados para uma festa com os

mais espetaculares divertimentos, espetáculos de teatro, fogos de artifício e

muita comida. O luxo aparatoso provocou, no entanto, a inveja de Luís XIV,

bem como de outros personagens, e isso contribuiu para a desgraça de

Fouquet. Um inquérito foi instaurado sobre as irregularidades financeiras que

haviam permitido a Fouquet acumular tal riqueza. Ele foi preso por ordem do rei

e condenado à prisão perpétua, tendo passado o resto de seus dias na

fortaleza de Savoie, onde morreu dezenove anos mais tarde.”

Nesse sentido, pode-se dizer que a ostentação e os marcos visíveis da

suntuosidade contribuíram para gerar a inveja na história de Fouquet, o que o

levou à desgraça.

4 – Fatores que podem induzir a inveja nas organizações

A presença de lideranças que representem papéis de heróis ou até de

mitos podem induzir a inveja nas organizações. A existência de mitos ou heróis

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nas organizações já levam a um modelo de organização centralizado se

opondo à uma gestão eficaz. Com isso o líder passa a ser uma figura quase

mítica e que propicia atitudes invejosas.

Mas o mais comum nas organizações é a manifestação da inveja entre

as relações interpessoais que vão se estabelecendo com o poder formal, com a

formação de grupos de trabalho, equipes dentro das empresas, enfim, entre

pessoas que possuem bastante contato diariamente.

“Minha chefe me pediu, certa vez, um relatório das atividades do nosso

setor. Cada um, em sua área faria seu relatório para, ao final, juntarmos tudo

em um único documento. Ela determinou que, quem faria esse trabalho final

seria o meu “amigo” de trabalho. Todos fizeram como solicitado, inclusive eu.

Entreguei o meu resultado para que fosse compilado com os outros, porém, ao

receber o relatório final, minha chefe veio informar que a minha parte não

estava lá. Perguntou se eu havia feito e eu respondi que sim e que havia

entregue à pessoa que ela havia escalado para a tarefa. Ela me olhou meio

desconfiada e foi perguntar à pessoa se eu havia feito o trabalho. Ele disse que

eu não havia entregue nada a ele. Eu fui na mesa dele e mostrei a minha chefe

onde estava a minha parte. O rapaz ficou desconcertado e tentou consertar a

situação, dizendo que ele não havia visto, mas eu disse que havia entregado o

relatório em suas mãos.”

A inveja se dá pela comparação que fazemos de nós mesmos com os

outros, dessa maneira ela pode surgir também nas organizações. A partir do

momento em que começamos a nos comparar com os nossos colegas de

trabalho, com os nossos chefes e percebemos que determinada pessoa tem

um salário melhor que o seu, ou é mais querida pelas outras pessoas do que

você, ou que o trabalho do outro é mais elogiado que o seu, surge o sentimento

da inveja. Quando esse sentimento começa a tomar conta dos trabalhadores

eles passam a render menos dentro da organização e acabam por prejudicá-la.

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35 Existem métodos de motivação que são freqüentemente utilizados pelas

empresas, mas que não atingem os seus objetivos por acabarem causando

inveja em seus empregados. Por exemplo, quando a empresa resolve premiar

os funcionários por atingir metas de produção. Os trabalhadores que

conseguem atingir as metas passam a ser invejados pelos demais que não

conseguiram atingir o prêmio e esses acabam se desmotivando e se sentindo

incapazes e inferiores do que os outros.

O mesmo sentimento de desmotivação acontece quando o funcionário

que conseguiu atingir a meta e receber o prêmio em determinado mês e no

mês seguinte não consegue, ele acaba invejando os que conseguiram atingi-la

por meses consecutivos e se sentindo inferior a eles, contaminando os outros

servidores com sua inveja e causando sérios prejuízos às organizações. O que

era pra ser um método de motivação de funcionários acabou se tornando um

transtorno para a mesma.

4.1 – A inveja pode ser considerada um sentimento construtivo

A inveja pode ser considerada construtiva ou benigna quando a visão ou

o reconhecimento dos bens, posses e qualidades de outra pessoa ou grupo

desperta no outro o desejo de adquirir o mesmo para si por meio de um esforço

baseado em seu próprio mérito.

Essa identificação com as conquistas de seus semelhantes desperta a

chamada “face oculta da competitividade”, isto é, o desejo de excelência em

relação aos outros, de provar aos outros (e a nós mesmos) que também somos

capazes.

Numa sociedade de bases amplas e justas, a percepção das

desigualdades sociais estimula a competição para obtenção do que se deseja.

No entanto, esse estímulo para se chegar ao melhor só deve ser encorajado se

ele ocorrer sem violência, de forma ético-moral e não perturbadora da ordem

social.

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36 A inveja construtiva acontece quando a direção do sentimento não se

orienta mais como um pecado e sim uma virtude individualista que é a

ambição. As manifestações desse sentimento fazem com que o invejado seja

um modelo a admirar, diferente da inveja destrutiva, que deseja o mal ao

invejado mesmo que nada ganhe com isso.

Há uma diferença entre a Inveja destrutiva e a Inveja construtiva. A

primeira é a arma dos incompetentes, está ligada ao prazer pelo insucesso do

outro; é um sentimento que provoca conflitos internos e corrosivos, cuja única

ocupação é maldizer o sucesso do outro, que se torna refém da nossa raiva, do

nosso ódio. O segundo tipo é a inveja bem gerenciada, que consegue nos tirar

do comodismo e nos impulsionar para uma competição mais saudável e a

enfrentar desafios.

4.1.1 - A Inveja Destrutiva

• Achar que só o outro tem qualidades a serem admiradas;

• Ser um espectador passivo do sucesso alheio e refém da própria inveja;

• Canalizar a energia para destruir quem possui aquilo que ambicionamos;

• Perder tempo, deixando de viver plenamente e bloqueando os próprios

talentos;

• Ter desejos e nada fazer para realizá-los;

• Destruir os próprios sonhos por impedir que eles se realizem.

4.1.2 - A Inveja Construtiva

• Servir de espelho para a auto-análise sem correr o risco de se enganar em

relação a si mesmo;

• Não sofrer pelo sucesso do outro:

• Ser um elemento propulsor da mudança;

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• Estimular o crescimento pessoal através do autoconhecimento;

• Equilibrar as relações interpessoais;

• Nos aproximar de quem admiramos;

• Incitar à luta para conseguir aquilo que se quer.

É certo que nada que resulte do progresso humano é conseguido com o

consentimento unânime e aqueles que são mais iluminados são condenados a

perseguir esta vida apesar dos outros. Parece não ser incomum, no meio

corporativo, a sina de se conviver com a inveja, a ingratidão e a ambição de

pessoas despreparadas, sem visão futura e que por isso agem nas sombras.

Pessoas que passam pelo bosque e só vêem lenhas. Pessoas que carregam

as características de perdedoras, que só pensam em minimizar o risco,

respeitar a cadeia de comando e não exceder ao orçamento.

Somente o exercício de autocomparação nos levará à auto-aceitação, à

realização do nosso próprio tamanho. Portanto, quando se deparar com este

tipo de sentimento ao longo de sua jornada, temos de sermos nós mesmos.

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CAPÍTULO III

GERENCIANDO A INVEJA NAS ORGANIZAÇÕES

Para abordar o aspecto da gerência da inveja, parte-se do pressuposto

de que é possível gerenciar a inveja organizacional. Embora o tema apresente

seu grau de dificuldade e limitações, adota-se o quadro analítico proposto por

Tomei (1994), para que se compreenda e trabalhe a inveja.

Quadro 1 - Estratégias de gerenciamento da inveja

Fatores que podem induzir a inveja em nível organizacional

Fatores que podem reduzir a indução da inveja em nível

organizacional O individualismo Cooperação e trabalho em equipes

As estruturas fechadas Gestão participativa Os modelos autoritários Flexibilidade e autonomia Os privilégios e ostentações Programa de salários redondos A polarização Participação de lucros A politização Negociação de conflitos As mentiras e boatos Avaliação de méritos e potenciais Fatores que podem induzir a inveja

em nível individual (entre os empregados)

Fatores que podem reduzir a indução da inveja em nível

individual (entre os empregados) A busca do sucesso a qualquer preço A busca do autoconhecimento As estratégias de desvalorização A busca da autovalorização As projeções A busca da excelência A busca de ostentações A busca de lideranças As estratégias de negação A busca do senso de

responsabilidade As estratégias de idealização A busca da reciprocidade Fonte: Tomei 1994 (modificada)

O quadro acima apresenta os principais fatores que podem induzir ou

reduzir o comportamento de inveja dos empregados no local de trabalho, bem

como fazer parte dos rituais de manifestação cultural da organização. Nesse

sentido, Tomei utiliza dois enfoques distintos como metodologia para gerenciar

a inveja: em nível de indivíduos e em nível organizacional.

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39 Esses dois enfoques dão suporte para entender e procurar isolar o lado

destrutivo da inveja nas organizações, pois se entende a necessidade de

gerenciar o fenômeno da inveja como forma de o indivíduo e a própria

organização trabalharem os seus conflitos e buscarem os respectivos

ajustamentos individuais e organizacionais, conforme a visão de Tomei (1994):

“somente se conscientizando da inveja e do seu processo

construtivo/destrutivo, é possível a operacionalização, em nível de indivíduos,

grupos e organizações, de estratégias que gerenciem a inveja para a melhoria

da qualidade, produtividade, e do desempenho das empresas”. Assim, é

necessário que o sentimento da inveja seja gerenciado e não reprimido ou

empurrado com a barriga, tentando ganhar tempo para ver se o conflito se

resolve por si mesmo.

3.1 - Gerência da inveja – Nível Individual

No nível individual, são utilizadas como indicadores de inveja as opiniões

e percepções dos indivíduos que representam o espírito da organização, isto é,

o clima organizacional. Ao enfocar o aspecto da inveja no indivíduo, na

organização, é preciso perceber a dificuldade que a própria pessoa tem em

reconhecer a sua inveja, principalmente no próprio local de trabalho. A

tendência das pessoas é de negar os sentimentos desagradáveis e, dentre eles

negar o sentimento da inveja. Para gerenciar a inveja, é vital responder a

algumas questões propostas por Tomei (1994) com o objetivo de formar um

pequeno diagnóstico preliminar:

• Você freqüentemente se compara com os outros?

• Já menosprezou suas competências ou talentos?

• Você se sente irritado quando alguém ganha uma promoção ou

consegue novas mudanças?

• Já se sentiu tentado a falar mal ou sabotar alguém?

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40 Tomei (1994) afirma que, se a pessoa responder a todas as questões

com sim, é bem provável que esteja encobrindo o sentimento da inveja. Além

disso, as pessoas que sentem um nível muito elevado de inveja no trabalho

são normalmente insatisfeitas com os resultados obtidos. Ao não conseguirem

realizar as suas ambições, pode ser invadida pelo sentimento do fracasso e,

por isso, algumas usam o mecanismo de projetar a culpa dos fracassos no

outro, como forma de aliviar a sua angústia.

Para enfrentar esse quadro o primeiro passo é encarar os resultados

pessoais não contemplados e, a partir dessa análise, desenvolver um plano de

ação que busque reforçar os pontos de excelência. Isso é possível quando a

pessoa consegue buscar o autoconhecimento e, junto a esse processo, a

revalorização de suas qualidades pessoais e profissionais. Igualmente,

desenvolve a ética da responsabilidade e da sensibilidade para consigo mesma

como pessoa dotada de capacidade para ir além das preocupações puramente

egoístas.

Para isso, é necessário parar de desejar aquilo que é impossível obter,

admitindo que algumas realidades da vida não podem ser mudadas, mas

devem ser aceitas como tais. Essa limitação da vida real pode ser aliviada

quando acompanhada do desejo de procurar gratificações de substituição

como alternativa para minimizar os efeitos destrutivos da inveja.

Já, em relação ao gerenciamento de casos de inveja que ocorram em

locais de trabalho, é necessário que a gerência não ignore os casos de ciúme e

inveja, pois, quando não trabalhados, esses sentimentos podem provocar

muitos problemas. Da mesma forma, é recomendável a adoção de algumas

medidas, tais como: evitar situações de injustiça no tratamento aos

subordinados; evitar favoritismos; tomar decisões que aliviem os sintomas de

inveja e ciúme; se o empregado manifestar em seu comportamento ações de

inveja em relação ao seu colega, é necessário resolver o mais rápido possível

a situação.

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3.2 - Gerência da inveja – Nível Organizacional

Nas organizações, são utilizados como indicadores a cultura

organizacional através de suas manifestações de ritos, mitos, histórias, gestos

e artefatos. No tocante à gerência da inveja em seu nível organizacional,

percebe-se um grau maior de dificuldade, pois as ações vão de encontro à

cultura da organização. Mas, mesmo diante do desafio, é importante que sejam

implementadas algumas ações estratégicas para fazer frente ao clima

destrutivo da inveja.

Nesse sentido, Tomei (1994) propõem algumas ações organizacionais

para combater climas destrutivos da inveja como:

• Desenvolver estratégias que evitem ostentações, mentiras, boatos e

indutores de inveja;

• Evitar a polarização nas relações de trabalho, a qual transforma tudo em

extremos que criam clima nocivo, afetando o desempenho dos próprios

colegas de trabalho e da empresa como um todo;

• Desenvolver estratégias que evitem a politização, pois se os membros

da organização percebem que as recompensas organizacionais são

distribuídas de acordo com critérios políticos em vez de produtivos,

dedicarão os seus esforços na tentativa de acumular poder; desenvolver

ações que buscam a redução das distinções hierárquicas;

• Implementar a promoção e a equalização do poder ou da gestão

participativa, as pesquisas de clima e cultura organizacionais, programas

de mudança organizacional por meio da eliminação de privilégios;

• Conceber programas de participação nos lucros ou reduzir as diferenças

extremas nas escalas de salários e,

• se possível, eliminar a falta de critérios para estabelecer os diferentes

níveis salariais.

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42 Essas estratégias são, sem dúvida, instrumentos legítimos para

mudança do clima e uma das formas de influenciar a cultura institucional da

empresa, que podem conduzir a um contexto no qual os comportamentos

indutores da inveja sejam inibidos.

Dentro do nível organizacional, na gerência da inveja, é importante

destacar o papel que as práticas de recursos humanos, na visão de Tomei

(1994), ocupam para a definição de políticas organizacionais, que incluem, por

exemplo:

• As definições de planos de carreira e políticas salariais, nos quais se

busca a substituição da noção de igualdade pela noção de equidade

por meio de salários, flexíveis, segundo mérito e carreiras

individualizadas;

• A implementação de programas de treinamento e desenvolvimento,

não apenas direcionados para o aumento de produção por ocupante de

cargo, mas como instrumentos de responsabilidade social da empresa

na construção de valores de competência gerencial

• E condutas norteadas pela ética da responsabilidade.

3.3 - Como trabalhar a inveja e evitar danos às organizações

Dos sete pecados capitais, certamente a inveja é um dos mais presentes

no mundo corporativo. Em maior ou menor intensidade, de maneira explícita ou

camuflada, a inveja permeia grande parte das relações de trabalho.

A sociedade em que vivemos é baseada na comparação, na competição

e, portanto, na inveja, As organizações empresariais, com seus instrumentos

comparativos, alimentam-na e disseminam-na entre os seus empregados, sem

se aperceberem disto. Sabe-se hoje, que a inveja ocorre principalmente em

cargos no nível de média gerência, isso porque nos níveis mais baixos há

menor competição e maior companheirismo, e no topo da hierarquia a

competição é mais consigo mesmo do que com os outros.

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43 A cultura do sucesso, o reforço ao reconhecimento individual, o incentivo

à competição interna, instrumentos até agora tidos como excelentes para um

bom gerenciamento, têm trazido quase sempre um ambiente desmotivador e

um moral baixo para as equipes. A inveja traz prejuízos para a empresa. A

produtividade cai e a guerra interna acaba sendo mais importante do que os

resultados.

A inveja é fruto da comparação, então é a partir daí que devemos

trabalhar esse sentimento, um bom começo é desenvolvermos a prática da

autocomparação, a comparação conosco mesmos, hábito já utilizado pelos

ocupantes de cargos de alto nível dentro das organizações, como citado acima.

Isso estimula dentro da organização a ambição e a competição

saudável, os indivíduos observam nos outros algo capaz de despertar seu

interesse, mas não são tomados pelo sentimento da inveja, mas sim, por uma

admiração capaz de impulsionar-lhes na busca do mesmo, o crescimento

pessoal, muitas vezes, se reflete em um crescimento profissional que,

conseqüentemente beneficia a organização

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Conclusão

Após a discussão das idéias sobre o tema da inveja, é possível perceber

que o fenômeno é uma realidade presente na pessoa humana e também

presente na cultura das organizações. Talvez por ser um sentimento

vergonhoso e de tendência destrutiva, seja difícil admiti-lo, mas não é

impossível gerenciar o comportamento da inveja em nível individual e

organizacional.

Também se percebe que muitas organizações utilizam-se de ações sutis

de conteúdo invejoso como uma forma de controle sobre os membros da

organização, por exemplo: estruturas organizacionais fechadas; uso de

modelos autoritários; facilidade de privilégios para poucos; politização na

distribuição de recursos e, muitas vezes, o uso de mentiras e boatos.

Percebe-se, em oposição, que a organização que possui uma gestão

competente e que permeia as suas ações apoiada numa ética de

responsabilidade é capaz de reduzir os fatores de indução da inveja através de

estratégias como: mudança nos modelos de gestão, diminuição dos níveis

hierárquicos, programas de recursos humanos que instrumentalizem práticas

de valores éticos, de responsabilidade social. Esses fatores, colocados em

prática, podem facilitar um clima de excelência pessoal e organizacional, no

qual os comportamentos de inveja sejam controlados e gerenciados.

Cabe às organizações, representadas por suas lideranças, conduzir as

equipes de forma a estimular o crescimento, a corrida saudável pelo melhor, e

não estimular um clima de competição destrutiva que acabará por comprometer

os próprios resultados esperado pela organização. Isso sem falar do mal que

faz à saúde organizacional.

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Bibliografia

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15/07/2009

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 8

CAPÍTULO I - INVEJA ..................................................................................................... 9

1.1 - O QUE É INVEJA? ................................................................................................... 12

1.2 - FATORES LIGADOS A ESSE SENTIMENTO .................................................................. 17

1.3 – A INVEJA COMO FRUTO DE COMPARAÇÕES ............................................................. 20

CAPÍTULO II - A INVEJA NA SOCIEDADE E NAS ORGANIZAÇÕES ....................... 23

2.1 – A INVEJA PODE PREJUDICAR A PRODUTIVIDADE? .................................................... 26

2.2 – AS REAÇÕES DA INVEJA NAS ORGANIZAÇÕES ......................................................... 29

2.2.1- Desvalorização ............................................................................................. 29

2.2.2 - Negação e bajulação ................................................................................... 29

2.2.3 – Projeção ...................................................................................................... 30

2.2.4 - Idealização ................................................................................................... 30

2.2.5 - Retirada ....................................................................................................... 30

3.1 - OS MITOS E OS HERÓIS DA ORGANIZAÇÃO ............................................................... 31

3.2 - O SUCESSO EMPRESARIAL ..................................................................................... 32

CAPÍTULO III - GERENCIANDO A INVEJA NAS ORGANIZAÇÕES .......................... 38

3.1 - GERÊNCIA DA INVEJA – NÍVEL INDIVIDUAL ............................................................... 39

3.2 - GERÊNCIA DA INVEJA – NÍVEL ORGANIZACIONAL ..................................................... 41

3.3 - COMO TRABALHAR A INVEJA E EVITAR DANOS ÀS ORGANIZAÇÕES ............................. 42

CONCLUSÃO ................................................................................................................. 44

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 45

ÍNDICE ............................................................................................................................ 46