a agroecologia em iporá-go um estudo necessário
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A AGROECOLOGIA EM IPORÁ-GO um estudo necessárioTRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS
UNIDADE UNIVERSITARIA DE IPOR
LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA
A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio
Ipor-GO
2013
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LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA
A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio
Monografia apresentada Coordenao Adjunta de
Pesquisa e Coordenao Adjunta de TCC em Geografia da
Universidade Estadual de Gois Unidade Universitria de
Ipor, como requisito parcial para obteno do grau de
Licenciatura em Geografia.
Orientadora: Profa. Esp. Josilene Goulart Pereira.
Ipor-GO
2013
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao ( CIP )
________________________________________________________________________________
S586a Silva, Leidiane Cristina Monteiro
A agroecologia em Ipor GO: um estudo necessrio / Leidiane
Cristina Monteiro Silva. - 2013.
66 f.: il.
Monografia (Licenciatura em Geografia) Universidade Estadual
de Gois, Unidade Universitria de Ipor. Ipor, 2013.
Orientadora: Prof. Esp. Josilene Goulart Pereira.
1. Geografia. 2. Agronegcio. 3. Meio
ambiente. I. Ttulo.
CDU: 911
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LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA
A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio
Monografia defendida no curso de Geografia da UEG de Ipor, para obteno do
grau de Licenciatura em Geografia, aprovada em ________/___________de _________, pela
Banca Examinadora constituda pelos seguintes professores:
__________________________________________
Profa. Esp. Josilene Goulart Pereira UEG-Ipor
Presidente da Banca
_________________________________________
Prof. Esp. Washington Silva Alves UEG-Ipor
(Membro)
_______________________________________
Profa .Ms. Franciane Arajo de Oliveira IFG-Jata
(Membro)
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Ningum ignora tudo. Ningum sabe tudo.
Todos ns sabemos alguma coisa. Todos ns
ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos
sempre.
Paulo Freire
http://pensador.uol.com.br/autor/paulo_freire/
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Dedico este trabalho a minha famlia, que sempre
me apoiou e me incentivou a lutar pela realizao
de meus sonhos.
Aos camponeses e lderes de movimentos de luta
pela terra.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a Deus, que sempre esteve ao meu lado, me dando fora e
sabedoria para enfrentar todos os obstculos.
A minha famlia, que acreditou em mim, e me incentivou a lutar pelos meus sonhos.
A minha Professora Orientadora Josilene Goulart Pereira que com muita pacincia e
dedicao, tem me orientado e possibilitado a realizao deste trabalho.
A Professora Franciane Arajo de Oliveira, que tem sido parceira, auxiliando e
contribuindo para o enriquecimento da pesquisa.
A todos os Professores do Curso, que com sua sabedoria tem possibilitado o meu
crescimento dentro a universidade.
E a todos os colegas de sala que estiveram ao meu lado nesta jornada.
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LISTA DE SIGLAS
COMAFIR Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Ipor e Regio
COMIGO Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil
COOPERCOISAS Cooperativa dos Produtores Rurais de Ipor
CPT - Comisso Pastoral da Terra
EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
FETRAF - Federao dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
NEAF Ncleo de Estudos, Pesquisa e Extenso em Agricultura Familiar
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas
SEGPLAN Secretaria de Estado Gesto e Planejamento
SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar
STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais
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SUMRIO
1. INTRODUO ............................................................................................... 09
2. Agroecologia .................................................................................................... 12
2.1 Apropriao do Cerrado Goiano: predominncia do agronegcio em
desfavor da agroecologia .......................................................................................18
2.2 Agroecologia: resistncia ao agronegcio ...................................................... 23
2.3 Agroecologia: campesinar a produo .......................................................... 28
2.4 Algumas prticas agroecolgicas no Estado de Gois .................................. 33
2.5 Agroecologia em municpios prximos a Ipor ............................................ 36
3. A ausncia da produo agroecolgica em Ipor: resultados e discusses .. 44
4. Consideraes Finais ........................................................................................ 51
5. Referncias ........................................................................................................ 54
6. Anexos ................................................................................................................ 59
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir a agroecologia como estratgia de produo
em que so considerados elementos importantes como relao com a natureza, a produo
de alimentos mais saudveis, a gerao de renda para os camponeses, a valorizao dos
saberes tradicionais e a resistncia ativa ao modelo predominante de produo - o
agronegcio. A discusso se deu a partir de uma pesquisa bibliogrfica capaz de fornecer a
base terica de discusso da agroecologia selecionando as principais contribuies conceituais
a cerca da temtica que permitiu a fundamentao terica da pesquisa. A pesquisa campo
tambm foi realizada, como instrumento metodolgico cientfico importante na busca de
respostas s questes estudadas. Foram realizadas entrevistas com lderes de cooperativas, de
sindicatos e profissionais ligados produo no campo de Ipor-GO, buscando verificar o
conhecimento que estes tm a respeito de agroecologia, bem como a presena ou ausncia de
prticas agroecolgicas nas propriedades rurais. Em meio destruio que a natureza tem
sofrido e a grande desigualdade social provocados pelo sistema capitalista no campo, faz-se
necessrio questionar o uso de insumos e tecnologias que degradam o meio ambiente e a sua
consequente substituio por tcnicas de menor interveno no meio natural, alm de gerar
alternativas de desenvolvimento local. Este estudo levantou os desafios que a agroecologia,
tem encontrado frente ao modelo predominante de ocupao rural, o agronegcio. E partiu da
hiptese de que esta alternativa de produo esteja presente em Ipor-GO, atravs de
pequenas produes. Tais produtores estariam ligados cooperativas, sindicatos rurais e/ou
movimentos sociais de luta pela terra. Concluiu-se que, migrar da agricultura convencional
para a de base agroecolgica um dos maiores desafios, pois depende da conscientizao dos
pequenos produtores, que preferencialmente optam por modelos de produo com resultados
mais rpidos, significando assim uma intensa explorao dos recursos naturais. A cultura
exploratria acredita que os recursos naturais sempre estaro disponveis para atender as suas
necessidades. Em Ipor a atuao de movimentos sociais de luta pela terra tem ocorrido no
sentido de apoiar os trabalhadores rurais e agricultores familiares na permanncia em suas
terras, porm tal apoio no tem garantido, ainda que aconteam prticas agroecolgicas,
faltando o incentivo e a orientao que entidades como a CPT Comisso Pastoral da Terra
promovem, para que os produtores rurais Iporaenses conheam e utilizem as tcnicas
empregadas pela agroecologia. H necessidade de apoio institucional de crdito, pesquisas,
assistncia tcnica, redes de comercializao e orientao aos camponeses para a adeso
estratgia da agroecologia, produzindo em prol do meio ambiente e da melhoria de vida da
populao local.
Palavras-chave: Agroecologia; Ipor; Agronegcio; Natureza.
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1.INTRODUO
Sendo o ser humano o principal agente transformador dos ambientes preciso levar
em considerao as potencialidades humanas e as necessidades individuais e coletivas no
processo de produo do espao. Alm disso, preciso refletir sobre a natureza e seu uso
intensivo, conseqncia de um estgio de desenvolvimento e crescimento econmico.
Com a globalizao, cada vez mais tecnologias passaram a ser utilizadas nas
atividades produtivas, e com isso houve no somente aspectos positivos como o aumento da
produtividade, mas tambm aspectos negativos como o uso intensivo dos recursos naturais
resultando em impactos ambientais. E os efeitos dessa modernidade se destacam quando
analisamos a forma de reproduo capitalista no campo. Deve-se ressaltar que o incremento
deste novo modelo de produo contribuiu para uma maior desigualdade social, j que o
acesso a tais inovaes no foi igualitrio, sendo prioritariamente direcionado aos grandes
capitalistas do campo, fazendo com que os pequenos agricultores tivessem menos condies
de competir no mercado.
A agricultura, como forte atividade econmica responsvel por graves problemas
scio-ambientais, pois alm dos impactos causados pelo incremento de mquinas e uso intensivo
de agrotxicos e diversos tipos de fertilizantes, houve tambm a acentuao das desigualdades
entre os pequenos e os grandes produtores.
Nesse sentido, a agroecologia apresenta-se como alternativa para uma produo com
a menor interferncia possvel ao meio, oferecendo oportunidade para o pequeno agricultor
em sua permanncia no campo. Segundo Altiere (2004, p. 23) esta uma estratgia que
trata-se de uma nova abordagem que integra os princpios agronmicos, ecolgicos e
socioeconmicos compreenso e avaliao do efeito das tecnologias sobre os sistemas
agrcolas e a sociedade como um todo.
Desta forma, preciso buscar o equilbrio entre o uso dos recursos naturais e o
desenvolvimento, onde, o ser humano utilize aquilo que a natureza oferece, mas tendo a
conscincia de que sua existncia est condicionada a preservao destes recursos.
Faz-se necessrio debater sobre o uso de insumos e tecnologias que degradam o
meio ambiente e a sua consequente substituio por tcnicas de menor interveno no meio,
alm de gerar alternativas de desenvolvimento local.
Este estudo prope pesquisar a presena da agroecologia no municpio de Ipor-GO,
entendendo sua contribuio social, ambiental e econmica, alm dos desafios que essa
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alternativa de produo no campo encontra frente ao modelo predominante de ocupao rural,
o agronegcio.
A pesquisa tem como ponto de partida, a hiptese de que a agroecologia esteja
presente em Ipor-GO, atravs de pequenas produes. Tais produtores estariam ligados
cooperativas, sindicatos rurais e/ou movimentos sociais de luta pela terra.
Nesse sentido o trabalho buscou informaes junto a entidades representativas dos
pequenos produtores (COOPERCOISAS Cooperativa dos Produtores Rurais de Ipor,
COMAFIR Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Ipor e Regio, SINTRAF
Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar, STR Sindicato dos
Trabalhadores Rurais), levantando informaes sobre a existncia de prticas agroecolgicas
no municpio de Ipor-GO. Se constatada a existncia da agroecologia no municpio
pesquisado, a pesquisa visitar as propriedades, a fim de vivenciar como ocorrem para discutir
os resultados desse modelo de produo, no fortalecimento das comunidades campesinas e
consequentemente suas contribuies sociais e econmicas para o municpio estudado.
Com o propsito de discutir a agroecologia no contexto da produo em Ipor,
optou-se por realizar uma pesquisa bibliogrfica, selecionando as principais contribuies
tericas a cerca da temtica que contriburam para a fundamentao terica da pesquisa.
A pesquisa de campo, como um instrumento metodolgico cientfico importante na
busca de respostas s questes da pesquisa, se faz necessria para encontrar prticas da
agroecologia, confirmando ou refutando sua existncia.
Foram realizadas entrevistas com lderes de cooperativas como a COMAFIR, de
sindicatos como o SINTRAF e STR e profissionais ligados produo no campo de Ipor,
buscando verificar o conhecimento que estes tm a respeito de agroecologia, bem como a
existncia de prticas agroecolgicas nas propriedades rurais.
Torna-se necessrio o debate sobre a agroecologia, partindo da reflexo terica que
possibilita o entendimento do conceito de agroecologia, confrontando com a realidade de
agricultores que tenham esta prtica em suas propriedades, levantando sua existncia e
importncia para Ipor e regio.
Para que a agroecologia seja identificada nesta pesquisa, houve a busca em
compreender sua concepo, realizando uma discusso terica com autores que debatem o
tema. Essa reflexo faz-se necessria tambm para questionarmos a aplicao prtica da
agroecologia, pois a busca pelo desenvolvimento tem ocorrido de forma pouco preocupada
com o meio ambiente e com a igualdade de condies de vida das populaes. Isso pode estar
ocorrendo devido falta de ateno da populao e das universidades sobre a importncia da
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agroecologia, a falta de apoio institucional de crdito, pesquisas, assistncia tcnica, redes de
comercializao e orientao aos camponeses para a adeso estratgia da agroecologia,
produzindo em prol do meio ambiente e da melhoria de vida da populao local.
Desta forma, a agroecologia visa resgatar alternativas tradicionais agrcolas, no
sentido de valorizar o ser humano e sua cultura historicamente adquirida, como parte
integrante da natureza, numa perspectiva de respeito aos recursos naturais e menor destruio
possvel no meio ambiente, comprometendo-se assim com a produo ecolgica e com o
desenvolvimento dos pequenos agricultores.
Portanto, para que uma regio seja desenvolvida, preciso buscar a equidade nas
condies de vida da populao, em que as atividades econmicas levem tambm em
considerao as relaes humanas.
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2. Agroecologia
Com a globalizao, o desenvolvimento de novas tecnologias e a forma como estas
vem sendo utilizadas para atender a transformao no modo de vida da populao, a natureza
e os recursos naturais so explorados de forma muito intensa, e o ser humano tem se
importado cada vez menos com os impactos ambientais causados por este processo.
A agricultura reflete bem essa situao de uso intensivo dos recursos naturais, da
insero de insumos qumicos, dentre outras agresses, em prol do cumprimento dos lucros e
da produtividade. Confirma-se esse pensamento em Mendona (2010, p. 03) Na sociedade
capitalista contempornea, permeada pela velocidade crescente na busca permanente das
condies de produo do lucro, a natureza exteriorizada vista apenas como produtora de
mercadorias.
Assim, o modo de produo capitalista que impera na sociedade, visa utilizao e
explorao dos recursos naturais para se obter lucro. O ser humano passa a se sentir superior
a natureza, e a acreditar que ela sempre disponibilizar estes recursos para a sobrevivncia da
humanidade.
Pdua (2001, p. 01) aborda que essa postura adotada pelo ser humano em relao
natureza pode ser compreendida atravs do enfoque flutuante.
[...] enfoque abstrato e flutuante que domina o pensamento poltico e econmico
contemporneo, por meio do qual as sociedades tendem a ser vistas como flutuando
acima do planeta Terra e dos seus ecossistemas. A dinmica da vida social humana,
nessa viso, entendida como sendo um universo auto-explicativo, que depende do
planeta apenas na medida em que dele retira recursos naturais.
Desta forma houve uma separao equivocada entre o ser humano e natureza, na
qual a humanidade passa a assumir uma postura consumista, exploratria em relao aos
recursos naturais e consequentemente pouco preocupada com as questes ambientais.
O ser humano sempre precisou da natureza para retirar dela o seu sustento, porm em
tempos remotos isso era feito de forma artesanal e que no danificava o meio ambiente, tanto
quanto na atualidade.
Com o passar dos anos, as descobertas cientficas e o surgimento das tecnologias, a
relao homem/natureza foi totalmente transformada, provocando alteraes nas paisagens:
concreto no lugar de rvores, asfalto onde havia campos, monoculturas substituindo a
biodiversidade (GUIMARES E MESQUITA, 2010, p. 04).
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A agricultura que antes era uma atividade camponesa, e seu principal objetivo era o
de fornecer alimentos para as famlias dos produtores, se tornou alvo do capitalismo, onde a
produo diversificada deu lugar s monoculturas e apenas aqueles que tinham capital para
investir em tecnologias no se viram excludos desse novo modelo econmico.
Assim, o agronegcio ganha fora, e as produes agrcolas passam a ser destinadas
para as exportaes e tem como principal objetivo o lucro e a concentrao de renda nas mos
apenas dos grandes produtores.
Silva e Martins (2006, p. 91) afirmam que:
A partir da dcada de 1990, foi sendo gestada a ideologia do agronegcio, no Brasil,
que consiste em demonstrar que a aplicabilidade da cincia na agricultura, por meio
de tecnologias cada vez mais sofisticadas, por grandes empresas nacionais e
internacionais, o modelo de progresso associado ao desenvolvimento econmico.
No entanto, essa nova forma de produo, traz consigo muitas conseqncias, como
a elevao dos ndices de desemprego no campo, onde muitos trabalhadores so substitudos
por mquinas, alm dos impactos ambientais em decorrncia da grande quantidade de
produtos qumicos lanados nas produes, e da destruio de grandes reas naturais para a
implantao de monoculturas degradando muito os ecossistemas.
So muitos os impactos socioambientais que as novas tecnologias e o estilo atual de
produo tm causado ao meio, mas muito desses problemas no recebem a ateno que
deveriam, pois a preocupao com o lucro torna-se maior.
Como impacto ambiental recorre-se neste estudo, definio do artigo 1 da
Resoluo n. 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que conceitua
impacto ambiental como:
qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas, biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das
atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a sade, a segurana,
e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies
estticas e sanitrias ambientais; a qualidade dos recursos ambientais"
Ento, a ao do homem fator fundamental para a gerao de impacto ambiental. Na
agricultura, ressalta-se que, tais efeitos negativos se do no conjunto de problemas tanto de
ordem natural - a biota, as condies ambientais, etc. - quanto social - a sade, a economia, a
segurana da populao, etc.
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Silva e Martins (2006) destacam como exemplo desses impactos, a eutrofizao de
rios e lagos, a acidificao de solos e contaminao de aqferos, decorrente do uso
intensivo de fertilizantes, perdas e infertilidade dos solos devido ao manejo inadequado e a
prtica da monocultura, ocorrncia de processos erosivos pela movimentao do solo com
maquinrio pesado, e contaminao dos recursos hdricos atravs do carreamento dos resduos
de agroqumicos para as guas.
A acentuao das diferenas sociais no campo tambm um dos problemas
ocasionados pelo modelo de produo vigente, pois a concentrao de terras hoje maior que
no quando aboliu-se a escravatura, onde os pequenos produtores por no terem condies de
competir com os grandes produtores, muitas vezes so expulsos de suas terras, ou seja, por
no terem outra opo saem do campo e vo para a cidade em busca de sua sobrevivncia.
A ao intensiva do homem sobre os recursos naturais, em prol da reproduo do
capital, altera a paisagem e a organizao do espao e, essa modificao privilegia apenas a
classe portadora do capital. E para mudar essa realidade, preciso, segundo Pdua (2001, p.
12), promover mudanas radicais, que necessariamente incluem transformaes na estrutura
social e nos padres de produo e consumo. Dentre uma possvel proposta est a de
Mendona (2010, p.08):
necessrio assegurar formas de manejar os recursos naturais que permitem a
reproduo do homem e da natureza (que so um todo) conservando a
biodiversidade ecolgica e scio-cultural. A agroecologia uma forma de entender e
atuar para campenisar a agricultura, a pecuria, o florestamento e o agroextrativismo
a partir de uma conscincia intergeneracional. Para isso h que ter e respeitar o
conhecimento oriundo das experincias, das vivncias, os saberes-fazeres numa
relao simbitica com a Natureza.
Assim, buscar nas formas de produo tradicional, nos saberes e vivncias dos
produtores rurais, meios para uma produo mais correta do ponto de vista ambiental e social,
uma alternativa de confronto com a lgica capitalista, na atenuao dos impactos ambientais
e valorizao do homem enquanto elemento integrante da natureza.
Quando o autor trata da agroecologia enquanto forma de o modo como o campons
trata terra, a pecuria, o florestamento e o agroextrativismo percebe-se a inteno de destacar
o campons, que uma classe historicamente dominada e excluda do desenvolvimento
socioeconmico, como sujeito importante no processo de produo no campo, que conhece e
que respeita a terra como meio de produo igualitria.
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Trata-se aqui, no da extino da grande produo capitalista e suas tecnologias, mas
de que a preservao ambiental e a valorizao do homem como ser natural e social sejam
levados em considerao no processo produtivo, e que se faa um uso adequado das
tecnologias que vieram para aumentar a produo mas que consequentemente provocam
impactos ambientais e sociais, o que sem dvida um desafio, porm essencial para que haja
as transformaes necessrias de que o mundo tanto precisa.
A partir do momento em que os pequenos produtores conseguirem, atravs de meios
como a agroecologia, ter uma produo de alimentos mais saudvel e condies de competir
com os seus produtos no mercado, as desigualdades sociais sero amenizadas. Isso acarretar
melhora na renda destes e consequentemente permitir sua permanncia no campo.
Segundo Altiere (2004, p. 21) para serem eficazes, as estratgias de desenvolvimento
devem incorporar no somente dimenses tecnolgicas, mas tambm questes sociais e
econmicas.
Desta forma, a agroecologia vem sendo considerada como uma alternativa para este
desenvolvimento, pois se trata de estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente,
que promovem a incluso social e proporcionam melhores condies econmicas aos
agricultores (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 06).
A preocupao da agroecologia, no somente com a produo, mas tambm com a
forma como esta ir ocorrer, implantando tcnicas que prejudiquem o menos possvel o meio
ambiente e que tragam melhores condies de vida aos agentes envolvidos.
Deixar de utilizar agrotxicos e outros produtos qumicos na agricultura, no quer
dizer que o produtor esteja aderindo a agroecologia, pois essa no visa somente uma
preocupao ambiental, objetiva tambm mudanas que atendam as necessidades econmicas
do produtor e dos demais envolvidos no processo. Assim podem e devem ser utilizados
recursos que melhorem a produo, porm escolhem-se aqueles que prejudiquem menos o
meio ambiente. Esse pensamento confirmado em Caporal e Costabeber (2004, p. 10):
...Na realidade, uma agricultura que trata apenas de substituir insumos qumicos
convencionais por insumos alternativos, ecolgicos ou orgnicos no
necessariamente ser uma agricultura ecolgica em sentido mais amplo. preciso
ter presente que a simples substituio de agroqumicos por adubos orgnicos mal
manejados pode no ser soluo, podendo inclusive causar outro tipo de
contaminao.
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Desta forma, preciso que haja uma maior disseminao do que verdadeiramente
seja a agroecologia e de como ela pode cumprir com os objetivos de melhorar a produo bem
como as necessidades econmicas dos produtores.
A agroecologia se diferencia da agricultura orgnica. Temos a agricultura como uma
atividade econmica que tem bastante ligao com o meio ambiente, em que o homem
necessita entender dos fatores naturais, clima, solo, vegetao, etc., para conseguir xito em
suas plantaes.
Com o surgimento do capitalismo e a insero das monoculturas como forte
atividade agrcola, os impactos ambientais comearam a ser vistos como o preo a ter que se
pagar pelo progresso.
Mas com o aumento da degradao ambiental advindos do uso inadequado das
tecnologias, comearam a surgir movimentos que buscavam uma agricultura mais alternativa,
que dispensasse o uso de insumos qumicos, e tecnologias que so altamente prejudiciais ao
meio ambiente, e que produzisse um alimento mais saudvel, a exemplo da agricultura
orgnica.
Segundo Assis e Romero (2002), a agricultura orgnica utiliza uma srie de
procedimentos envolvendo a planta, o solo e as condies climticas, produzindo um alimento
sadio e com suas caractersticas e sabor originais, que atenda s expectativas do consumidor.
Alm disso, a agroecologia se preocupa com as questes sociais tambm, pois visa
inserir os pequenos produtores no mercado, vinculando a um desenvolvimento social e
econmico sustentvel, ou seja, a agricultura deve ser entendida como uma atividade
econmica que permita suprir as necessidades presentes dos seres humanos, respeitando os
limites ambientais de forma a no restringir as opes futuras (ASSIS e ROMEIRO, 2002, p.
73).
Desta forma, a agricultura orgnica tem uma preocupao maior em atender ao
mercado consumidor, ou seja, visa-se o aumento da produtividade, mas utilizando insumos
alternativos, para atender consumidores mais exigentes com relao a sade dos alimentos,
adquirindo aqueles que se encontravam livres de agrotxicos. H uma preocupao maior
com a questo econmica, visando o lucro.
A agroecologia uma necessidade da humanidade, pois o atual modelo de produo
capitalista tem destrudo a tudo e a todos. E a agroecologia objetiva no s diminuir os
impactos ambientais, produzir alimentos mais saudveis, como tambm diminuir as
desigualdades entre as classes de produtores, oferecendo-se como alternativa de resistncia do
pequeno produtor no campo, tendo uma funo social importante.
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No processo de introduo de prticas agroecolgicas no campo, extremamente
importante levar em considerao a cultura da populao local. Pois, sua base econmica deve
surgir de seus conhecimentos do espao que habitam, propiciando assim relacionar os saberes
locais a cincia e atingir um melhor resultado na produo. Desta forma, Miranda e Teixeira
(2011, p.04) defendem que os princpios da agroecologia reconhecem, nos saberes locais os
valores e as representaes culturais que o sujeito do campo carrega em seu cotidiano.
Assim, na agroecologia, utilizam-se prticas convencionais na produo, com o
objetivo de minimizar o uso de insumos qumicos, que prejudicam o meio ambiente e de
valorizar a cultura do homem do campo:
...como resultado da aplicao dos princpios da Agroecologia, pode-se alcanar
estilos de agriculturas de base ecolgica e, assim, obter produtos de qualidade
biolgica superior. Mas, para respeitar aqueles princpios, esta agricultura deve
atender requisitos sociais, considerar aspectos culturais, preservar recursos
ambientais, considerar a participao poltica e o empoderamento dos seus atores,
alm de permitir a obteno de resultados econmicos favorveis ao conjunto da
sociedade, com uma perspectiva temporal de longo prazo, ou seja, uma agricultura
sustentvel. (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 15).
Para que uma produo seja pautada em princpios agroecolgicos, deve-se haver
tambm o respeito ao ser humano, ou seja, as condies de trabalho da mo-de-obra devem
ser adequadas, ocorrendo a no explorao de trabalhadores.
Os desafios enfrentados para que haja uma produo sustentvel so muitos, e por
isso torna-se extremamente importante, a unio de todos os envolvidos, bem como a
participao de governantes, que devem ver neste estilo de produo, uma alternativa para
melhorar a qualidade de vida da populao local, preservando os recursos que a natureza
oferece:
...a socializao de conhecimentos e saberes agroecolgicos entre agricultores,
pesquisadores, estudantes, extensionistas, professores, polticos e tcnicos em geral
respeitadas as especificidades de suas reas de atuao , , e seguir sendo, uma
tarefa imperativa neste incio de milnio, o que determina a necessidade de
participao ativa do Estado. (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 19).
As propriedades rurais so palco das relaes de trabalho, de produo, culturais e
sociais. E a introduo de tcnicas agroecolgicas neste espao promove um estilo de
produo que leva em considerao os indivduos, seus costumes, tradies e o respeito ao
meio ambiente, visando a melhoria na qualidade de vida da sociedade como um todo.
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No entanto, o modelo de produo no campo que predomina agroexportador,
baseado na acumulao de terras para a produo de monoculturas, cujos produtos so
destinados exportao, gerando srias complicaes sociais como a concentrao de renda
nas mos dos grandes produtores e ambientais, como a degradao dos solos, e a poluio dos
recursos naturais atravs do uso intensivo de insumos qumicos.
A apropriao das terras sob o modelo de produo capitalista no campo fruto
histrico da ocupao capitalista do campo brasileiro e se posiciona como desafio para
alternativas de igualdade social no campo, como a agroecologia.
2.1 Apropriao do Cerrado Goiano: predominncia do agronegcio em desfavor da
agroecologia.
No perodo em que o Brasil era colnia de Portugal, havia uma grande explorao
das riquezas existentes no pas em prol do enriquecimento dos Portugueses. A descoberta do
territrio goiano tambm ocorreu por conta dessa explorao. Anteriormente ao sculo XVI,
o espao goiano foi palco de expedies que visavam busca de riquezas minerais ou mo de
obra indgena (CASTRO, 2004, p. 69).
Com a minerao comearam a surgir os arraiais. Muitas pessoas migravam para o
territrio goiano em busca de ouro e outros metais preciosos. Porm, com a grande explorao
e o aumento da populao em Gois, a minerao entrou em decadncia, ocasionando o
surgimento de outras atividades como forma de sobrevivncia da populao, sendo elas, a
agricultura e a pecuria.
Castro (2004), afirma que a posse foi uma importante forma de apropriao de terras
em Gois, pois como a populao no dispunha de condies materiais para manter uma
sesmaria1, ocupavam as terras que j tinham donos e que no eram aproveitadas, passando
ento a utiliz-las. Em 1850, o Governo determinou que as posses precisassem de demarcao
para serem legalizadas, o que afirmado por Castro (2004, p. 75)
...o governo institui, em 1850, a Lei de Terras, com vistas a regular o acesso s terras
e evitar a posse. Essa lei foi regulamentada em 1854, quando o governo imperial
baixou o Decreto n 1.318, de 30 de janeiro, que criava os mecanismos necessrios
sua execuo. Um dos itens desses regulamento determinava que as posses, para
serem legalizadas, deveriam ser medidas e demarcadas.
1 Sesmaria: Os colonos ao receberem as terras, deveriam cultiv-las num prazo de cinco anos e, se no
procedessem assim, elas poderiam ser doadas para outras pessoas.
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Mas, ainda segundo este autor, essa demarcao era feita pelo Juiz Comissionrio,
mediante o requerimento do proprietrio, e como os proprietrios dos grandes latifndios
tinham muita influncia sobre o governo, as demarcaes destas terras no eram feitas de
forma justa, mas sim em benefcios destes latifundirios. Os grandes proprietrios, ligados
exportao ou pecuria, controlavam a vida econmica e poltica dos novos estados e as
pequenas propriedades espalhavam-se pelo territrio, em reas mal servidas de meios de
comunicao, dedicando-se produo para o mercado interno, que estava em expanso
(CASTRO, 2004, p. 79).
Castro (2004) aborda que a propriedade da terra, tanto com a Lei de Sesmaria quanto
com a Lei de Terras era estrategicamente voltada para quem tinha condies de manter o
projeto do Governo para o campo, sendo esse o modelo gerador da atual situao da
acumulao latifundiria no campo brasileiro. Ao pequeno produtor, j que no tinha
condies de aquisio por sesmarias ou, posteriormente pela compra, cabia-lhe a ocupao
de terras pelo sistema de posse, sendo excludo do processo legal de ocupao das terras. O
sistema latifundirio garantiu a implantao do capitalismo no campo, voltado ao projeto de
industrializao e transformao das fazendas em empresas rurais altamente produtivas. Essa
produo precisava ser escoada e exportada para gerao, acumulao e reproduo
capitalista.
Ainda segundo Castro (2004) com a chegada das ferrovias no tringulo mineiro, a
exportao de gados e produtos agrcolas em Gois, especialmente no sul do estado tornou-se
mais fcil, proporcionado uma maior expanso nestes setores. A chegada da estrada de ferro
em Gois possibilitou ao Estado expandir ainda mais suas exportaes. Com toda essa
expanso da agricultura e da pecuria, o cerrado hoje um dos biomas que mais sofre para
atender a estas produes.
Castro (2004) afirma ainda que por volta da dcada de 60, o Estado de Gois tinha
como principal atividade econmica a produo de produtos de necessidades bsicas, que
atendia a todo o pas. Mas, com o surgimento da revoluo verde na dcada de 60, o Estado
de Gois passou a receber incentivos do governo para se industrializar, motivando o
surgimento de agroindstrias, com destaque para a regio sudoeste.
Os avanos cientficos e tecnolgicos possibilitaram a descoberta de formas de
manejo dos solos do Cerrado, para que este pudesse produzir culturas que fossem lucrativas e
propcias exportao.
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Com a incorporao das reas de cerrado na expanso da fronteira agrcola, e com o
novo padro tecnolgico da Revoluo Verde, culturas que at ento no eram
comuns nesta regio, como o caso da soja, foram introduzidas substituindo o
antigo padro praticado nas reas de cerrado: pecuria extensiva e produo de
alimentos bsicos. (PEDROSO E SILVA, 2005, p. 04).
Assim, o Estado passou a deixar de lado culturas tradicionais como arroz e feijo e a
produzir muita soja, sorgo, milho, entre outros. Alm disso, a criao de gado tanto leiteiro
quanto de corte tambm e tornou bastante expressiva, e a regio sudoeste mais uma vez saiu
na frente.
A estrutura de produo existente foi drasticamente afetada, ocorrendo uma reduo
da participao relativa das tradicionais culturas, principalmente arroz e feijo, e
aumento da importncia de culturas voltadas exportao, gerao de energia e
utilizao como matria-prima das agroindstrias. (PEDROSO E SILVA, 2005, p.
05).
Rio verde uma cidade que se destaca na introduo de agroindstrias, recebendo
primeiramente a COMIGO Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste
Goiano e posteriormente atraindo vrias outras. O governo de Gois contribuiu com
implementao de programas de incentivos ficais.
Segundo Pedroso e Silva (2005), por no fazer parte do ciclo mineratrio atividade
econmica que se desenvolveu no sudoeste goiano por volta do sculo XIX foi a pecuria, e
com a forte migrao de mineiros forma-se o ncleos de Rio Verde e Jata.
Com o surgimento das tecnologias, estas cidades concentram hoje vrias
agroindstrias e so grandes produtoras de gros.
A microrregio tem na agricultura a sua crescente base de sustentao econmica,
sendo a produo de gros e de gado de corte os itens de maior destaque... o Estado
de Gois est atraindo as indstrias, especialmente agroindstrias. Se esta a
vocao goiana, importante analisar melhor as suas dinmicas e estratgias
produtivas, para avaliar os impactos que esse processo de agroindustrializao
poder causar na regio. (PEDROSO E SILVA, 2005, p. 05).
Esse breve levantamento dos aspectos histricos da apropriao do Cerrado goiano
pelo modelo da agroindstria permite entender que o desenvolvimento da agropecuria em
Gois foi alvo de um projeto capitalista que priorizou a monocultura e a apropriao
latifundiria da terra, mantendo excludos do processo produtivo do campo, os pequenos
produtores.
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Alm dos aspectos sociais, h destaque na destruio natural: o meio ambiente tem
sido prejudicado, atravs de aes como o uso intensivo de insumos qumicos nas plantaes,
a perda da diversidade das culturas dando lugar s monoculturas, a destruio do cerrado para
o plantio, entre outros, sendo importante a discusso sobre a temtica e conseqentemente a
busca por solues.
A estrutura agrria no Brasil h tempos que vem sendo alvo de debates e discusses,
pois a forma em que as terras so distribudas no pas, sempre objetivaram beneficiar apenas
uma camada da sociedade. Mas com o processo de industrializao essas discusses se
tornaram ainda mais fortes, pois como havia uma grande concentrao de terras, os
agricultores cujas fazendas eram maiores produziam em suas prprias propriedades o
necessrio a sua sobrevivncia.
Como a grande maioria da populao ainda vivia na agricultura, esta deveria ser
responsvel por uma parcela substancial do mercado. Mas a estrutura agrria
extremamente concentrada permitia que as grandes fazendas continuassem
praticamente auto-suficiente, ou seja, no conectadas economia como um todo.
(SILVA, 1993, p. 30).
Ainda segundo o autor, as pequenas propriedades perdem terreno para as grandes, e a
natureza passa a dar lugar as grandes produes agrcolas.
Mas o processo de urbanizao, fez com que as pessoas passassem a ter a
necessidade de consumir aquilo que era comercializado nos centros urbanos, e assim as
fazendas deixavam de ser auto-suficientes.
Segundo Silva (1993) estas fazendas no mais tinham uma produo diversificada, e
nem produziam mais os seus instrumentos de trabalho, onde essa produo passou a ser
substituda por mquinas e equipamentos agrcolas, transformando assim a agricultura em
indstria.
Vale destacar que as produes que agora so mais voltadas para culturas de
exportao, ou seja, as monoculturas, s conseguem ser realmente produtivas se forem
inseridas modernas tecnologias em seu processo produtivo.
O autor ainda afirma que essa modernizao da agricultura s se tornou possvel
graas aos investimentos do governo que subsidiou aquisio de insumos, mquinas e
equipamentos. E os pequenos produtores que antes produziam para a subsistncia e
comercializam o excedente, passam a produzir somente para o mercado, e para isso, eles
tambm aderem a insumos qumicos e industriais.
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O aumento da populao e a intensificao da urbanizao fizeram com que a
agricultura tivesse que aumentar sua produtividade para atender a demanda da populao. E
por isso que terras que no eram produtivas tiveram que ser trabalhadas e atravs de insumos
qumicos e tecnolgicos se tornarem produtivas.
Mas certamente esses aumentos de produtividade viro acompanhados de uma
presena cada vez maior de capitais monopolizados controlando tanto a venda dos
insumos bsicos como a comercializao e o processamento dos produtos
agrcolas...A ento a produo agropecuria deixar de ser uma esperana ao sabor
das foras da Natureza, para ser uma certeza sob o comando do Capital. (SILVA,
1993, p. 64 e 65).
Desta forma, v se que o discurso de que preciso utilizar cada vez mais tecnologias
e insumos qumicos para aumentar a produtividade e assim atender a demanda da sociedade
por alimentos no verdadeiro, pois tanto as terras quanto o que produzido nelas est
concentrado nas mos dos detentores do capital.
E por isso que a luta dos pequenos produtores pela reconquista de seu espao se torna
to importante, pois so eles que atravs de seus mtodos e conhecimentos se relacionados as
tecnologias e aos avanos advindos das cincias, tero produes mais saudveis e
conseguiro no s produzir para a subsistncia como tambm abastecer o mercado local.
No se fala aqui no fim das grandes produes e do agronegcio, mas em se buscar
tambm outras alternativas que possam dar a sua contribuio para a produo local e ainda
ser menos impactante ao meio ambiente, como o caso da agroecologia.
Segundo Silva (1993) por muito tempo discutiu-se qual era a verdadeira
reivindicao dos trabalhadores rurais, onde muitos at afirmaram que o que eles queriam
eram melhores salrios e no terra. No fundo o que os trabalhadores rurais querem como
todos os trabalhadores em geral so melhores condies de vida e de trabalho. (SILVA,
1993, p. 92).
Desta forma, a reforma agrria pela qual lutam os pequenos produtores, no
apenas para que estes possam adquirir seu pedao de terra, mas sim para que se mude a
estrutura de poder que se tem no campo.
Reforma Agrria um programa de governo que busca democratizar a propriedade
da terra na sociedade e garantir o seu acesso, distribuindo-a a todos que a quiserem
fazer produzir e dela usufruir. Para alcanar esse objetivo, o principal instrumento
jurdico utilizado em praticamente todas as experincias existentes a
desapropriao, pelo Estado, das grandes fazendas, os Latifndio, e sua
redistribuio entre camponeses sem-terra, pequenos agricultores com pouca terra e
assalariados rurais em geral. (STEDILE, 2012, p. 659).
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E para que as terras adquiridas possam lhes gerar frutos, preciso que seja
concedido segundo Silva (1993), crditos, assistncia tcnica, e polticas que no estejam
voltadas apenas para os grandes produtores....no sistema capitalista, pouco importa que um
pedao de cho produza soja, ou cana de acar ou feijo. O que interessa que produza
lucros. Nem mesmo interessa se esse lucro advm da utilizao produtiva do solo ou no ...
(SILVA, 1993, p. 104).
O autor ainda afirma que milhes de hectares de terra frteis so retidas
improdutivamente, e ouras so adquiridas por meios desonestos por grandes empresas
capitalistas, o que gera a expulso do pequeno produtor que acaba indo morar na periferia das
grandes cidades.
por este e outros motivos que a reforma agrria, onde as terras sejam distribudas
de forma correta e onde estas terras conquistadas pelos pequenos produtores sejam produtivas,
torna-se uma questo muito importante e uma soluo para o problema da distribuio de
terras no pas.
2.2 Agroecologia: resistncia ao agronegcio
Segundo Souza e Conceio (2008) o agronegcio utilizado no Brasil, quando se
refere s plantaes agrcolas de grande escala ou a criao de rebanhos em grandes extenses
de terras. Leite e Medeiros (2012, p. 81) afirmam que:
O termo foi criado para expressar as relaes econmicas (mercantis, financeiras e
tecnolgicas) entre o setor agropecurio e aqueles situados na esfera industrial (tanto
de produtos destinados agricultura quanto de processamento daqueles com origem
no setor), comercial e de servios.
Assim, o agronegcio visa primordialmente a produo do capital, onde essas
grandes produes geraro riquezas somente para aqueles que se encontram inseridos
diretamente no processo. No h uma preocupao em utilizar de forma adequada os recursos
naturais e nem em distribuir igualitariamente essas riquezas, possibilitando melhores
condies de vida tambm para os pequenos produtores rurais e camponeses.
Desta forma, busca-se dar nfase ao agronegcio enquanto a grande possibilidade
para o campo brasileiro, onde o discurso ideolgico se faz, exatamente, no sentido
de demonstrar que os problemas do campo brasileiro encontram-se superados, tendo
em vista as perspectivas de aumento da produo e da produtividade, e no as
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condies de vida daqueles que vivem no campo os trabalhadores rurais e
camponeses. (SOUZA E CONCEIO, 2008, p. 103)
Segundo Souza e Conceio (2008) os grandes produtores afirmam que no Brasil h
muito mais reas propcias a explorao do agronegcio, e que, portanto devem ser
aproveitadas, mesmo que para isso as populaes nelas residentes tenham que ser
desapropriadas.
Outra forma que o agronegcio tem encontrado para se expandir atravs da
subordinao do pequeno produtor, onde este passa a trabalhar para as agroindstrias, e se v
obrigado a produzir somente o que for imposto por elas. O campons vende sua fora de
trabalho, e passa a compor o quadro da agricultura familiar, que para o agronegcio uma
soluo ao atraso das produes realizadas nas pequenas propriedades. Assim, so os
grandes produtores que concentram maiores extenses de terras, mas as produes que
abastecem o mercado interno so oriundas das pequenas propriedades. Isto quer dizer que, a
produo agrcola que o agronegcio diz ser sua, na realidade produto das pequenas e
mdias propriedades rurais (SOUZA E CONCEIO, 2008. p.113).
O agronegcio tende a um aumento nas produes e na qualidade dos produtos para
que estes possam ser exportados, gerando assim mais capital para os grandes produtores.
Nesse sentido passa-se a investir naqueles produtos que so mais rentveis, fortalecendo a
monocultura. Para combater as doenas que atacam as plantaes so utilizadas grandes
quantidades de produtos qumicos, tornando os solos cada vez menos frteis.
Por outro lado as tcnicas adotadas pela agroecologia, so pautadas nos
conhecimentos de manejo do solo passado de gerao a gerao e que levam em considerao
o respeito a natureza e a conscientizao de que preciso preserv-la.
Segundo Guimares e Mesquita (2010, p. 11).
Nesse sentido o trabalho campons se torna uma forma de resistncia ao modelo
imposto pelo agronegcio, ou seja, as populaes locais, dentro de suas
especificidades, possuem tcnicas ao manejar o solo, as culturas e a criao de
animais, produzindo para a autossuficincia/auto-consumo, valor de uso e no de
troca, na diversificao dos sistemas produtivos, em oposio s monoculturas,
explorando de forma eficiente os diferentes agroambientes...
As questes fundirias comearam a aparecer, desde a invaso dos portugueses no
Brasil. E que se acentuaram no perodo de introduo do agronegcio, onde o governo passou
a oferecer subsdios para os grandes produtores.
Segundo Silva e Martins (2006, p. 97)
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Isso, obviamente, contribuiu de maneira decisiva para o comprometimento das
condies de reproduo social dos pequenos produtores agrcolas; muitos, no bojo
deste processo, acabaram abandonando a condio de lavradores autnomos,
desfazendo-se de suas propriedades e se transformaram em proletrios rurais.
Desta forma, a classe camponesa, passa a sofrer grandes transformaes no seu modo
de vida, tendo que se desfazer de suas propriedades e vender sua fora de trabalho. E na
maioria das vezes sendo submetidos a condies precrias de trabalho e explorao da mo de
obra. Segundo Souza e Conceio (2008), nos grandes projetos do agronegcio tm se
encontrando formas de trabalho escravo e semi escravo.
Os valores dos camponeses, os saberes locais, e a forma de produo agropecuria
praticada h anos pelas comunidades rurais, passaram a ser deixadas totalmente de lado, para
dar lugar as tecnologias, e a produo voltada somente para o ganho do capital.
Com isso, as questes agrrias ganham fora, e as lutas dos camponeses abrangem
vrias temticas,
Abre-se com uma ampla agenda poltica e cientfica, que vem resultando em
processos de contestao social, poltica, tecnolgica e ambiental que se traduzem
em um heterogneo conjunto de prticas voltadas para a reconstituio do trabalho
rural e dos recursos naturais. (NORDER, 2006, pg. 117).
Segundo Guimares e Mesquita (2010) os conflitos fundirios no Brasil ocorrem
principalmente em reas de expanso do agronegcio, local em que h a concentrao de
terras e de renda.
Ainda segundo estes autores a populao rural tem diminudo devido a essa
concentrao de terras, onde muitos tiveram que abandonar o campo e ir para as cidades, ou
continuarem vivendo no campo, porm no mais como produtores e donos de terras e sim,
como trabalhadores que vendem a sua fora de trabalho.
Desta forma, a agricultura camponesa, pautada em princpios agroecolgicos, pode
contribuir muito para o desenvolvimento do local, gerando renda, emprego e ainda
preservando os recursos naturais.
Os camponeses buscam sobreviver no mundo capitalista, mas utilizando de formas
de produo diferentes das impostas por este processo.
Enquanto o capitalismo exclui aqueles que no possuem recursos financeiros para
obterem produes cada vez mais competitivas no mercado e devasta a natureza para atingir
este objetivo, o modo de produo campons busca nos conhecimentos locais, no respeito ao
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meio ambiente e na unio das comunidades campesinas, as alternativas para produzirem e se
desenvolverem.
A distribuio e acumulao de riquezas tm acontecido, cada vez de forma mais
desigual, onde uma pequena minoria tem acesso a condies dignas de vida. Diante destas
desigualdades to acentuadas, a classe campesina tem buscado enfrentar o desafio, de
promover a igualdade atravs de produes menos capitalistas e competitivas.
Enquanto grandes produtores rurais focam na monocultura, ou seja, no plantio de
produtos mais rentveis e fceis de serem exportados, visando primordialmente o ganho de
capital, ...pequenas unidades de produo demonstram que a economia de escopo,
viabilizada pela diversidade produtiva e pela integrao de atividades, uma estratgia
consistente para conviver com ambientes econmicos cada vez mais errticos e opressores
(PETERSEN, 2009, p. 06).
Os camponeses lutam pela continuidade de seus modos de produo e de vida, onde
a agricultura industrial no impere, e onde haja democracia, igualdade e sustentabilidade.
As formas de produzir, hoje em dia, assim como o agronegcio, no tm
demonstrado uma preocupao com o social, ou seja, com o retorno de forma igualitria a
todas as pessoas, e sim com o ganho para aqueles que tm condies de investir e de serem
competitivos no mercado.
O mesmo tem ocorrido com o meio ambiente, onde a busca pela maximizao das
produes degradam e exploram constantemente a natureza, sem se importar com as futuras
geraes e com a capacidade de preservao dos recursos naturais.
Com isso tem ocorrido a busca pela recampesinazao, por parte da agricultura
familiar camponesa, que segundo Petersen (2009, p. 07)
...ao contrrio dos modos de produo capitalista e empresarial, a agricultura
familiar camponesa constri o seu progresso a partir do emprego de seu trabalho e
de seus conhecimentos na valorizao dos potenciais ecolgicos e socioculturais
locais. Assim construdo, o progresso do campons contribui diretamente para o
progresso da sociedade em que ele est inserido. Para usar o jargo corrente das
cincias sociais, trata-se de um modo de produo multifuncional: alm da funo
essencial de produzir alimentos em quantidade, qualidade e diversidade, ele molda
estilos de desenvolvimento rural que mantm relaes positivas com os
ecossistemas, criando empregos estveis e dignos, dinamizando as economias
regionais por meio da diversificao de atividades e se adaptando com flexibilidade
a mudanas de contextos climticos, econmicos e socioculturais.
Mas para isso, os camponeses precisam reconquistar seu espao, mostrando
inclusive aos governantes que seu modo de produo pode sobreviver a este mundo to
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capitalista, sendo uma alternativa de desenvolvimento capaz de promover a equidade e de
assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais.
Surge ento, a necessidade de os governantes olharem para estes pequenos
produtores, reconhecendo neles a importncia para um desenvolvimento voltado no s para o
crescimento das produes, mas tambm para a distribuio igualitria da renda e
conseqentemente por melhores condies de vida a toda a populao.
Com a introduo da agricultura industrial, o Estado comeou a ver a agricultura
camponesa como um atraso ao desenvolvimento do pas, dando aos grandes produtores e as
indstrias todo o crdito necessrio para realizarem suas produes e se estabelecerem como
modelo de desenvolvimento econmico, mesmo estas formas de produo sendo destruidoras
dos recursos naturais e intensificadoras das desigualdades sociais. A agricultura camponesa
permanece sendo frequentemente considerada por parcela significativa de estudiosos do
mundo rural e tomadores de decises como um resduo histrico em vias de extino
(PETERSEN, 2009, p 08).
Como a prpria populao tem acreditado que a modernidade a forma de
desenvolvimento mais importante e que sem isso o pas ser tido como atrasado, as indstrias
ganham cada vez mais fora, porm no levando em considerao que desenvolvimento no
quer dizer gerao de riquezas concentrada nas mos de poucos, mas sim a equidade social,
promovendo a melhora nas condies de vida da populao como um todo e respeito ao meio
ambiente.
A partir do momento em que os camponeses forem vistos como agentes capazes de
contribuir para o desenvolvimento do local haver transformaes significativas para todos,
construindo-se um mundo mais justo e solidrio, preocupado com questes sociais,
ambientais e culturais.
Segundo Petersen (2009, p. 09).
...em vez de continuar se fiando na crescente capacidade humana de controlar a
Natureza por meio do aporte intensivo de energia e insumos industriais, as cincias
agrrias comeam a compreender que a agricultura a arte da co-produo entre o
ser humano e a Natureza e que os camponeses so os grandes mestres dessa arte.
Mas essa conscincia de que as formas de desenvolvimento vigentes tem sido
prejudiciais ao meio ambiente e tambm, geradoras de desigualdades sociais, no surgir de
um dia para o outro, por isso extremamente importante o apoio e o incentivo dos
governantes locais s formas de produo camponesa.
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Alm disso, levar at estes pequenos produtores, mais conhecimentos a respeito de
agroecologia, far com que eles aprimorem suas produes, melhorando a qualidade, mas
sempre com o enfoque na preservao ambiental e na igualdade da distribuio de riquezas.
Neste sentido, o Estado deve ser o agente responsvel em disseminar a agroecologia
como uma das formas de desenvolvimento de um local, e de oferecer recursos e incentivos
para que os pequenos produtores possam pratic-la verdadeiramente.
Porm, no se deve ficar esperando somente por iniciativas do Estado, preciso que
a luta por transformaes sociais e polticas ganhem fora, e que novos meios de produo
como a agroecologia sejam reconhecidas como formas de desenvolvimento do local.
Neste contexto, camponeses, sindicalistas, estudiosos e todos os que lutam pela
reforma agrria, podem se unir na implantao de alternativas de produo como a
agroecologia.
2.3 Agroecologia: campesinar a produo
Apesar das dificuldades que os camponeses ou agricultores familiares encontram
para sobreviverem neste mundo to capitalista e preocupado com a gerao e acumulao de
riquezas, ainda possuem um papel fundamental na sociedade. Pois so eles que possuem
produes mais diversificadas, capazes de abastecer no s o mercado interno, como tambm
as indstrias e consequentemente oferecer melhores condies de vida a sociedade, atravs de
alimentos mais saudveis e da gerao de empregos para a populao camponesa ali presente.
Campesinato o conjunto de famlias camponesas existentes em um territrio. As
famlias camponesas existem em territrios, isto , no contexto de relaes sociais
que se expressam em regras de uso (instituies) das disponibilidades naturais
(biomas e ecossistemas) e culturais (capacidades difusas internalizadas nas pessoas e
aparatos infraestruturais tangveis e intangveis) de um dado espao geogrfico
politicamente delimitado. (COSTA e CARVALHO, 2012, p.115).
Segundo Felcio (2006), o capitalismo v o campons como um atraso ao
desenvolvimento de um local, e para que este possa continuar suas atividades deve se
transformar em um agricultor familiar, que atravs de suas produes tambm acaba servindo
ao agronegcio. J os defensores da reforma agrria no vem diferena entre o campesinato e
a agricultura familiar, pois em ambos as produes realizadas no campo contam com o
trabalho do grupo familiar para atingirem seus objetivos.
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Felcio (2006) afirma que para Maquiavel as pessoas s seriam livres se
conquistassem poder. O capitalismo um exemplo visvel disso, pois no campo, por exemplo,
aqueles produtores que conseguem acompanhar as inovaes tecnolgicas e tem condies de
investir nas suas propriedades acabam por dominar o mercado, em contrapartida os pequenos
produtores que no conseguem essas transformaes, muitas vezes acabam entrando em
decadncia. a partir da que surgem os movimentos de reivindicao dos camponeses, que
buscam ter o direito de produzirem, contribuindo com a melhoria da economia, mas de forma
a no perder seus valores, e a no serem obrigados a servirem aos grandes capitalistas.
Para Marques (2008) o conceito de campons est ligado a classe social
Entendemos o campesinato como uma classe social e no apenas como um setor da
economia, uma forma de organizao da produo ou um modo de vida (MARQUES, 2008,
p. 58).
Para esta autora o campons tanto pode servir ao capitalismo como tambm ser
contrrio a ele. E as ralaes de trabalho so baseadas na famlia, ou seja, a produo
realizada pelos prprios membros da famlia.
Os camponeses carregam consigo, valores e culturas, e por isso algumas vezes se
mostram contrrios ao capitalismo que quer lhes impor uma forma de produzir voltada para
outros princpios.
O campesinato se refere a uma diversidade de formas sociais baseadas na relao de
trabalho familiar e formas distintas de acesso terra como o posseiro, o parceiro, o
foreiro, o arrendatrio, o pequeno proprietrio etc. A centralidade do papel da
famlia na organizao da produo e na constituio de seu modo de vida,
juntamente com o trabalho na terra, constituem os elementos comuns a todas essas
formas sociais. (MARQUES, 2008, p. 60).
Com o aumento das desigualdades sociais e a concentrao de terra nas mos dos
detentores do capital, o conceito de campons passa a ganhar maior evidencia. Pois se inicia
os debates acerca do papel do pequeno produtor nesta nova sociedade, onde o campo ganha
modernas tecnologias e o aumento das produes, para atender a uma demanda de indstrias,
inclusive internacionais, e no mais atender as necessidades da sociedade local.
Muitos estudiosos defendiam que o campons seria extinto, porm outros afirmavam
que a classe camponesa ainda se manteria forte, mesmo tendo que enfrentar desafios frente a
essa nova realidade.
Os movimentos sociais comeam a aparecer devido a muitas pessoas serem atingidas
de forma negativa pelo desenvolvimento tcnico-cientfico. Neste contexto, os camponeses
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tambm comeam a reivindicar seus direitos de permanecerem produzindo em suas
propriedades vivendo de forma digna, sem precisar deixar suas terras para que sejam
ocupadas pelas grandes empresas ou agroindstrias.
A condio camponesa consiste na luta por autonomia e por progresso, como uma
forma de construo e reproduo de um meio de vida rural em um contexto adverso
caracterizado por relaes de dependncia, marginalizao e privao (PLOEG, 2009, p. 18).
O modo de produo campons visa se tornar uma ferramenta no desenvolvimento
de um local, mas no custa de marginalizao daqueles que no conseguem se inserir no
contexto e nem custa da destruio dos recursos naturais, como acontece no capitalismo.
O processo de produo campons visa atender as necessidades da famlia
camponesa e tambm do comrcio, onde h uma busca constante por melhorias na produo
onde segundo Ploeg (2009, p. 19).
Esse processo se d por meio de melhorias qualitativas: tornando a terra mais frtil,
cruzando vacas mais produtivas, selecionando as melhores mudas, construindo
melhores instalaes de armazenagem, ampliando o conhecimento, tornando a
forragem compatvel com as necessidades do rebanho, etc.
Assim, o modo de produo campons se baseia em relaes do ser humano com a
natureza, onde h um aproveitamento equilibrado dos recursos que a natureza oferece, e
tambm nas relaes sociais justas, onde o que produzido atende ao mercado consumidor e
o lucro volta para os produtores, atendendo consequentemente as necessidades das famlias
produtoras.
Os camponeses enfrentam algumas situaes adversas, como o clima, ou a presso
por parte de investidores que querem comprar suas terras, porm mesmo nestas situaes
muitos no recorrem a mecanismos que criem uma dependncia com o mercado para
melhorarem sua produo, pois isso os impede de continuarem tendo sua autonomia, o que
tem um grande valor para esta classe.
A industrializao da agricultura um processo que tem em vista especialmente os
modos empresarial e capitalista de produo agrcola. Ela envolve diversas
dimenses, muitas das quais se relacionam com as explicaes para a crise atual. A
industrializao da agricultura implica uma desconexo frequentemente extrema
da agricultura com a natureza e com as localidades: fatores naturais (tais como
fertilidade do solo, bom esterco, variedades cuidadosamente selecionadas e raas
localmente adaptadas) tm sido progressivamente substitudos por fatores artificiais
que se expressam na forma de insumos externos e novos equipamentos tecnolgicos.
(PLOEG, 2009, p.23).
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Os camponeses evitam buscar investimentos externos, passando a ter mais
dependncia financeira, como fazem os grandes empresrios capitalistas, mas segundo Ploeg
(2009) eles aumentam a quantidade do trabalho, que por sua vez familiar, procuram reduzir
seus custos e buscar alternativas na prpria natureza para melhorarem a produo, e buscam
tambm na produo diversificada a respostas para o momento de crise.
Com a industrializao, a agricultura tornou-se mais uma atividade econmica
extremamente voltada para o capitalismo, esquecendo-se de sua origem camponesa e familiar,
onde a produo tinha uma preocupao ecologia e social, e objetivava o desenvolvimento da
produo de forma a no devastar os recursos naturais e da populao como um todo.
Surgiram grandes indstrias alimentares, tornando cada vez mais difcil aos pequenos
produtores comercializarem seus produtos.
O desenvolvimento dos meios de transporte possibilitou s agroindstrias exportarem
seus produtos com uma grande facilidade, e consequentemente houve uma concentrao de
renda nas mos dos grandes empresrios
O discurso de que necessrio aumentar a produo no campo sob o modelo do
agronegcio, para sanar problemas sociais como a fome antiga. Os objetivos humanitrios
escondem, na verdade a intencionalidade de reproduo capitalista utilizando a terra e a
sociedade como recursos e ferramentas de acumulao.
Segundo dados da UNU Organizao das Naes Unidas, mais de 100 milhes de
crianas menores de cinco anos esto abaixo do peso, e 870 milhes de pessoas sofrem de
desnutrio crnica em todo o mundo. Toda noite 870 milhes de pessoas dormem com fome.
Isso corresponde a uma pessoa a cada sete no mundo.
Aps a Segunda Guerra Mundial o governo comea a investir em pesquisas,
tecnologias e insumos que melhorassem a produo, surgindo assim a Revoluo Verde.
Pregavam um falso discurso de que era preciso aumentar a produo para atender as novas
demandas da sociedade. Mas na verdade o principal objetivo da Revoluo Verde no era
acabar com a fome no mundo, e sim atender aos interesses das grandes corporaes,
aumentando a produo, mas no a dividindo igualitariamente.
...os pases que aderiam a Revoluo Verde eram orientados e induzidos a usar
novas tcnicas de correo do solo, fertilizao, combate s doenas e pragas, bem
como a utilizar maquinaria e equipamentos modernos. A esse conjunto de tcnicas
inovadoras se deu o nome de pacote tecnolgico. E a toda essa estratgia de
comrcio se chamou de modernizao tecnolgica (BRUM, 1985, p. 45).
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O novo padro de desenvolvimento da agricultura gerava custos altos e s os
agricultores que dispunham de recursos financeiros poderiam usufruir dele. O que acarretou
uma crise para os pequenos produtores, e at mesmo aos pases perifricos, que se
encontravam mais atrasados em relao s pesquisas agrcolas.
Em pases onde no houve uma distribuio de terras, a vinda da Revoluo Verde s
aumentou as desigualdades, pois as grandes corporaes e os grandes produtores adquiriram
extensas pores de terra, prejudicando as demais classes sociais de terem acesso a elas.
Alm disso, os recursos naturais eram usados de forma exploratria, gerando tambm
muitos impactos ao meio ambiente.
Mas em contrapartida, os camponeses tem se manifestado e resistem a esse modelo
econmico, e o surgimento da agroecologia um exemplo dessa resistncia, onde segundo
Ploeg (2009) a adoo de meios de produo mais ecolgicos nas propriedades campesinas
conduzem busca e construo de solues locais para problemas globais.
A agricultura camponesa pode ser uma resposta para o combate a fome no pas e para
a preservao do meio ambiente, bastando apenas ser reconhecida pela populao e pelos
governantes como essa resposta, e tendo seu espao poltico, econmico e social conquistado.
A modernizao agrcola, que tem sido vista como sinnimo de desenvolvimento do pas tem
gerado muitas desigualdades, onde a renda est concentrada apenas nas mos dos grandes
produtores.
Os grandes produtores rurais passaram a ter acesso os recursos oferecidos pelo
governo, para que pudessem investir em suas produes, enquanto que os pequenos
agricultores se tornaram excludos do processo de desenvolvimento. Porm, ainda h uma
diversidade de povos residindo no campo e tendo como meio de sobrevivncia, as formas
mais tradicionais de produo, por isso a luta pelo seu reconhecimento enquanto atores no
desenvolvimento do pas atravs de alternativas como a agroecologia tem sido foco para
debates e reflexes.
Como as formas atuais de produo pautadas no capitalismo tem sido destruidoras
dos recursos naturais e tm acentuado as desigualdades sociais, os camponeses ganham fora
na agroecologia, para continuarem a sua luta e segundo Wanderley (2009, p.440)
O grande desafio consiste na busca de outras maneiras de produzir, que no agridam
nem destruam a natureza, que valorizem o trabalho humano e contribuam
efetivamente para o bem-estar das populaes dos campos e das cidades. Os
agricultores familiares, em sua grande diversidade, tm feito sua parte: acumularam
em sua histria experincias virtuosas com o trato da terra e da gua, foram capazes
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de se organizar e de expressar seus pontos de vista, conquistaram aliados para suas
causas e aprenderam a dialogar com instituies as mais diversas.
Ainda h um longo caminho para ser percorrido em busca do reconhecimento e da
valorizao que os produtores do campo merecem, onde a conscientizao da populao e dos
governantes essencial neste processo.
2.4 Algumas prticas agroecolgicas no Estado de Gois
A agroecologia surgiu como uma proposta de produo de alimentos de qualidade,
de forma sustentvel e que atenda as demandas da sociedade.
Em Gois, o NEAF (Ncleo de Estudos, Pesquisa e Extenso em Agricultura
Familiar), situado junto da Universidade Federal de Gois/Unidade Jata, tem realizado
projetos para implantar a agroecologia no Sudoeste do Estado. Atravs do projeto
Experimentao de redesenho de agroecossistemas e de processos agroecolgicos em
unidades produtivas familiares no Sudoeste de Gois, foram realizadas visitas a fazendas que
so Unidade de Experimentao Agroecolgica da EMBRAPA Arroz e Feijo.
Em uma fazenda em Santo Antnio do Descoberto, os pesquisadores do Ncleo
visualizaram o emprego de sistema agroflorestal, onde, so consorciadas diversas espcies
arbreas (frutferas e espcies nativas do cerrado) e plantas anuais como: feijo, milho,
gergelim, arroz e girassol. (JESUS et al 2010, p. 366). Estas culturas so muito pesquisadas,
uma vez que possuem vrias possibilidades de uso, pois podem alimentar a famlia, os
animais e ainda gerar energia.
Ainda segundo os autores, neste sistema de plantao, so plantadas nas curvas de
nveis as espcies perenes de porte arbreo e lenhoso, portanto as frutferas e rvores do
cerrado e entre estas so cultivadas as culturas anuais sob rotao de cultura. Introduzindo
algumas leguminosas, chamadas de adubo verde, e que so fixadoras de nitrognio, paralelas
as fileiras de plantas arbreas.
Para combater as doenas que atacam as plantaes so utilizados preparados a base
de Nim indiano (Azadirachta indica), pimenta malagueta (Capsicum frutensens. L), controle
biolgico com liberaes do parasitide Trichogramma e inseticida natural a base de Bacillus
thuringiensis (JESUS et al 2010, p. 368).
Os pesquisadores do NEAF tambm visitaram o Assentamento Cunha localizado na
Cidade Ocidental-GO, que com a coordenao da Embrapa Hortalias desenvolvem prticas
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agroecolgicas, como a produo coletiva e sustentvel. Tambm utilizam o Nim indiano,
para combater as doenas que atacam as plantaes nas plantaes. Alm disso, utilizam o
sistema de mandala. Esse sistema integra a horta, com canteiros circulares e a criao das
galinhas no centro. Os canteiros so dispostos em crculos, pois oferecem maior rea interna
til em relao ao menor permetro... as bananeiras so utilizadas entre outras culturas como
quebra vento. (JESUS et al, p. 369).
Dentre outras prticas agroecolgicas presenciadas pelos pesquisadores do NEAF,
est a adubao natural, onde segundo Jesus et al (2010) as prprias fezes e urinas dos
animais so depositadas nos piquetes ao longo do dia, favorecendo o aparecimento de micro-
condies.
Os autores afirmaram que estas prticas favorecem uma produo de maior
qualidade, melhorando no s a qualidade de vida das pessoas que ingerirem estes alimentos,
mas tambm trazendo um retorno financeiro positivo para os produtores.
Alm da experincia citada pelos pesquisadores do NEAF, estas prticas
agroecolgias tambm ocorrem em outros Estados, como na Paraba e se chegassem ao
conhecimento dos produtores rurais de Ipor e de outros municpios, poderiam contribuir
muito para o crescimento dos mesmos, como por exemplo, a criao da horta em forma de
mandala (Fig. 1 e 2), que segundo Marcos (2007, p. 196) a mandala ... tem uma forma
circular, com um tanque central de onde partem as mangueiras que irrigaro os nove canteiros
dispostos em crculos concntricos, inspirados no sistema solar, com o sol no centro e os
planetas ao redor.
Os trs primeiros canteiros da mandala servem para subsistncia, enquanto que os
demais so para comercializao, garantindo a renda da famlia. Ainda segundo a autora no
tanque que fica no meio de onde partem as mangueiras para a irrigao da horta, podem ser
criados peixes, marrecos e patos. A horta em forma de mandala possibilita tambm uma
plantao diversificada.
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Figura 1: Mandala Desenho.
Fonte: MARCOS (2007).
Figura 2: Tanque para irrigao. Mandala em assentamento no Esprito Santo - PB.
Fonte: MARCOS (2007).
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2.5 Agroecologia em municpios prximos Ipor
Identificaram-se prticas agroecolgicas importantes em municpios vizinhos Ipor.
Tais municpios so Caiapnia, Bom Jardim de Gois, Doverlndia e Palestina de Gois.
Nessas localidades algumas comunidades rurais compartilham experincias agroecolgicas e
esto lideradas pela CPT (Comisso Pastoral da Terra), um rgo da Igreja Catlica,
vinculado CNBB (Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil).
Representantes das comunidades motivadas pela CPT demonstraram como tm
ocorrido a agroecologia nos referidos municpios durante o Encontro de Comunidades
Tecendo a rede de agroecologia no cerrado (Fig. 3), que aconteceu em Caiapnia-GO, nos
dias 24 e 25 de outubro de 2013.
O encontro reuniu vinte pequenos agricultores, representantes de Projetos de
Assentamentos Rurais, alm de lideranas da CPT e da FETRAF (Federao dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar) e serviu para motivar os que j praticam a
agroecologia, alm de divulgar tais prticas.
Figura 3: Encontro de Comunidades Tecendo a rede de agroecologia no Cerrado, em
Caiapnia-GO.
Fonte: SILVA (2013).
Esta pesquisa acompanhou o encontro, entrevistando os lderes que incentivam a
agroecologia, alm dos agricultores. Tal participao no Encontro de Comunidades
Tecendo a rede de agroecologia no Cerrado, possibilitou elementos para discutir as
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experincias agroecolgicas em seu contexto de desafios e incentivos na regio oeste de
Gois, fornecendo possibilidades para entendermos o porqu da inexistncia de tais prticas
no municpio de Ipor-GO.
Identificou-se a agroecologia sendo praticada no Assentamento Pe. Ilgo Shineider,
no municpio de Caiapnia-GO (distante aproximadamente 60km de Ipor-GO). Um dos
representantes entrevistado desse assentamento Gerailton Ferreira dos Santos, que pratica a
agroecologia em sua parcela e um incentivador dessa alternativa de produo. Ele define a
agroecologia como:
um novo modelo de produo. Na verdade, se produzir sem usar qumicos, sem
usar agrotxicos, na verdade voc produzir os seus produtos todo ele com matrias
orgnicas, isso agroecologia. Alm disso, a relao da famlia com a terra, com
os vizinhos, com o ser humano... um processo de produo e de desenvolvimento
de relao humana... Agroecologia faz parte de uma cultura dos antepassados que
produziam de maneira natural. (SANTOS, 2013).
Na fala do assentado, a agroecologia trata-se de uma nova alternativa de cultivo cujo
sentido mais amplo do que a produo substituindo insumos qumicos por orgnicos.
Confirma-se que a agroecologia no se preocupa somente com os fatores ambientais na
produo, como tambm com as relaes do homem com a terra, sejam elas econmicas,
sociais, polticas e culturais.
A agricultura uma prtica que depende da natureza para a produo de alimentos.
Apesar dessa relao de dependncia, homem e meio ambiente so colocados em segundo
plano, visto que a intencionalidade da reproduo capitalista dominante. De acordo com o
discurso do assentado, a agroecologia se faz importante nesse contexto para garantir
alimentao saudvel, primeiramente s famlias produtoras e depois sociedade em geral
atravs da comercializao do excedente, sendo tambm uma fonte de renda para os pequenos
produtores e de respeito ao meio ambiente.
A comercializao dos alimentos oriundos da agroecologia um dos desafios,
segundo Santos. Para ele necessrio conscientizar a sociedade de que no s a produo
para a exportao importante para garantir a economia, mas sim a produo para suprir as
necessidades locais, com alimentos de qualidade. Os benefcios seriam tambm para a sade
de quem se alimenta com os frutos da agroecologia.
A certificao dos produtos da agroecologia, documentados por selo, comprovando
que so produzidos naturalmente uma exigncia para a comercializao. Para obter o selo h
dependncia de estruturas tcnicas, das quais os pequenos produtores no dispem. Tal
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certificao necessria, inclusive para a realizao de feiras agroecolgicas e servem para
que o consumidor tenha certeza de estar adquirindo produtos mais saudveis, com tcnicas
naturais. Porm, a certificao serve tambm como empecilho para os agricultores, que no
conseguem implantar as exigncias para tal certificao. O assentado garantiu que a
comercializao dos produtos agroecolgicos pouca e serve apenas para divulgao, com o
objetivo de expor sociedade que h novas alternativas de produo, a fim de um
reconhecimento das prticas, para fortalecer as reivindicaes por polticas pblicas em
agroecologia.
O assentado destacou que, dentre os enfrentamentos para a implantao da
agroecologia em Gois esto a falta de incentivo do poder pblico, que prioriza a produo
para a exportao. Para ele precisa-se discutir a relao entre agroecologia e agronegcio, pois
no s produzir para exportar, mas sim alimentar a sociedade brasileira. (SANTOS,
2013).
Ainda representante do mesmo assentamento, participou do encontro a assentada
Agajoeme Alves Barreto. Ela exps as prticas que ocorrem no assentamento onde mora (Fig.
4) compartilhando experincias importantes aos agricultores que se fizeram presente. Ela
citou que seu maior desafio a produo de morangos para comercializao, feita com o uso
de biofertilizantes. A produo tem se desenvolvido. Ela tambm falou que, para o combate a
braquiara tem utilizado o Feijo de Porco, pois este impede a braquiara de crescer. A
braquiara, por ser uma espcie extica de gramnea introduzida no Cerrado, representa um
problema ecolgico, que pode ser enfrentado atravs da agroecologia.
Porm, para a assentada tem sido difcil conscientizar os demais assentados de que as
tcnicas agroecolgicas precisam ser utilizadas, pois estes preferem tcnicas e formas de
produo que sejam menos trabalhosas e que tragam resultados mais imediatos, mesmo que
isso contribua para a degradao do meio ambiente e para a produo de alimentos menos
saudveis.
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Figura 4: Plantio de hortalias no Assentamento Pe. Ilgo Shineider. Caiapnia-GO
Fonte: SANTOS (2013).
Tambm foi ouvido o Agente da Coordenao Executiva da Comisso Pastoral da
Terra CPT da Regional Gois, Fbio Jos da Silva, que afirmou que a CPT tem lutado junto
aos movimentos sociais por polticas que dem condies aos agricultores de produzirem em
suas terras e assim poder permanecer nelas. Pois no preciso apenas conquistar terras, mas
sim faz-las produtivas, o que envolve polticas de incentivo a produo.
Assim o trabalho da CPT, assessorar esses produtores e desenvolver junto a eles
modelos de produo que no prejudiquem tanto o meio ambiente.
Neste contexto, ele afirmou que esto desenvolvendo experincias agroecolgicas no
Estado de Gois,
...entendo que no basta apenas produzir, preciso produzir de forma que seja
adequada a realidade desse campo com tecnologias apropriadas a agricultura
familiar, para que esses agricultores tenham, sobretudo, autonomia do processo
produtivo, ou seja, um sistema de produo em que ele tenha ali na propriedade
todas as condies de desenvolver o seu sistema de produo sem necessidade de
insumos externos na propriedade... (SILVA, 2013)
Uma dessas experincias que esto sendo desenvolvidas so os quintais
agroecolgicos (Fig. 5) que visam produo de alimentos em um pequeno espao. E atravs
das oficinas e dos cursos de formao, os agricultores compartilham suas experincias, pois
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eles detm formas antigas de produo que no impactam o meio ambiente, mas que devido
ao modelo de produo vigente muitos desses agricultores abandonaram essas formas.
Figura 5: Mutiro para construo de quintais agroecolgicos no Assentamento Pe. Ilgo
Shineider, em formato de crculo (mandala). Caiapnia-GO.
Fonte: SANTOS (2013).
Segundo Silva, essas experincias so desenvolvidas na zona rural de alguns
municpios da Diocese2 de So Lus de Montes Belos-GO, tais municpios so Caiapnia,
Doverlndia, Bom Jardim de Gois e Palestina de Gois, envolvendo como parceiros os
Movimentos Sociais como a FETRAF Federao Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras na Agricultura Familiar. Essas experincias tm incentivado a agroecologia
no s como modo de produo, mas tambm como modo de vida do campo, em que os
agricultores vo desenvolvendo tcnicas que sejam mais adequadas s suas necessidades, o
2 Diocese: Circunscrio territorial sujeita administrao eclesistica de um Bispo, Arcebispo ou Patriarca.
(FERNANDES, 1996). Na citao, a Diocese de So Luis de Montes Belos, a qual est subordinada as parquias
dos municpios de Acrena, Adelndia, Americano do Brasil, Amorinpolis, Anicuns, Aragaras, Arenpolis,
Aurilndia, Avelinpolis, Baliza, Bom Jardim de Gois, Cachoeira de Gois, Caiapnia, Cezarina, Crrego do
Ouro, Diorama, Doverlndia, Firminpolis, Indiara, Ipor, Israelndia, Ivolndia, Jandaia, Jaupaci, Moipor,
Montes Claros de Gois, Nazrio, Palestina de Gois, Palmeiras de Gois, Palminpolis, Parana, Piranhas, So
Joo da Parana, So Luis de Montes Belos, Turvnia e Turvelndia.
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que tem dado resultado, porque as pessoas percebem que, alm de acessveis as tcnicas
empregadas pela agroecologia do certo.
A CPT tambm tem incentivado o sistema de produo mandala que feito em
formato circular tendo ao centro a criao de peixes, onde so empregadas tcnicas criadas
pelos prprios produtores da regio, o que tem barateado o custo da produo. (SILVA,
2013).
O movimento social ligado aos agricultores familiares, a FETRAF, se fez presente no
encontro atravs de Antnio Pereira Chagas, que agricultor familiar, residente em Palestina
de Gois, e Coordenador Geral da FETRAF Gois. Segundo ele o papel da FETRAF na
articulao da agroecologia orientar as famlias do campo sobre a importncia da
agroecologia para que se possa garantir a sustentabilidade do campo, a conservao das guas,
do meio ambiente e a produo de alimentos saudveis primeiramente para atender as
prprias famlias e o excedente para ser comercializado na cidade.
Ele abordou que em Ipor-GO a FETRAF ainda no tem trabalhado diretamente com
as comunidades, mas que pretendem trabalhar com esse municpio, que tem vrias
comunidades pertencentes agricultura familiar.
Chagas afirmou que o cultivo da monocultura da soja pelo agronegcio na regio tem
sido um desafio para a implantao da agroecologia ..e a iluso que o agronegcio passa para
os proprietrios, para os nossos agricultores familiares que se voc arrendar a terra ou se
voc plantar nesse modelo do agronegcio voc vai ter muito mais dinheiro (CHAGAS,
2013).
Para ele a falta de apoio do governo nas pesquisas para a agricultura familiar uma
barreira que tem impedido a luta contra o modelo de produo do agronegcio, que tem como
objetivo o lucro, a produo para exportao, no se importando com a degradao ambiental.
E j a agricultura familiar pensa primeiramente na produo de alimentos para as famlias e
para as comunidades que residem na cidade, produzindo alimentos saudveis e que respeitam
o meio ambiente.
As prticas agroecolgicas que ocorrem nos municpios vizinhos a Ipor-GO so
lideradas pela CPT, com o apoio da FETRAF, como movimento social de luta e resistncia no
campo. Tais experincias so diretamente acompanhadas por duas lideranas principais que
atuam diretamente na formao de multiplicadores, com a funo de divulgar conhecimentos
sobre a agroecologia. So eles, a religiosa Irm Dirlene da Glria Rodrigues e o assessor da
CPT e agricultor familiar Douneto Ribeiro da Costa, que fazem o trabalho de base nas
comunidades rurais.
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Em entrevista a esta pesquisa Costa afirmou que a agroecologia uma cincia que
estuda as questes ambientais, uma cincia que envolve as questes sociais e sustentveis e
Rodrigues completa ainda que agroecologia envolve relaes, envolve produtividade,
envolve sustentabilidade, em fim, envolve a vida.
Neste contexto eles abordam que a agroecologia importante, pois diferente do
agro