a agroecologia em iporá-go um estudo necessário

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITARIA DE IPORÁ LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA A AGROECOLOGIA EM IPORÁ-GO: um estudo necessário Iporá-GO 2013

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A AGROECOLOGIA EM IPORÁ-GO um estudo necessário

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITARIA DE IPOR

    LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA

    A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio

    Ipor-GO

    2013

  • 1

    LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA

    A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio

    Monografia apresentada Coordenao Adjunta de

    Pesquisa e Coordenao Adjunta de TCC em Geografia da

    Universidade Estadual de Gois Unidade Universitria de

    Ipor, como requisito parcial para obteno do grau de

    Licenciatura em Geografia.

    Orientadora: Profa. Esp. Josilene Goulart Pereira.

    Ipor-GO

    2013

  • 2

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao ( CIP )

    ________________________________________________________________________________

    S586a Silva, Leidiane Cristina Monteiro

    A agroecologia em Ipor GO: um estudo necessrio / Leidiane

    Cristina Monteiro Silva. - 2013.

    66 f.: il.

    Monografia (Licenciatura em Geografia) Universidade Estadual

    de Gois, Unidade Universitria de Ipor. Ipor, 2013.

    Orientadora: Prof. Esp. Josilene Goulart Pereira.

    1. Geografia. 2. Agronegcio. 3. Meio

    ambiente. I. Ttulo.

    CDU: 911

    ________________________________________________________________________________

  • 3

    LEIDIANE CRISTINA MONTEIRO SILVA

    A AGROECOLOGIA EM IPOR-GO: um estudo necessrio

    Monografia defendida no curso de Geografia da UEG de Ipor, para obteno do

    grau de Licenciatura em Geografia, aprovada em ________/___________de _________, pela

    Banca Examinadora constituda pelos seguintes professores:

    __________________________________________

    Profa. Esp. Josilene Goulart Pereira UEG-Ipor

    Presidente da Banca

    _________________________________________

    Prof. Esp. Washington Silva Alves UEG-Ipor

    (Membro)

    _______________________________________

    Profa .Ms. Franciane Arajo de Oliveira IFG-Jata

    (Membro)

  • 4

    Ningum ignora tudo. Ningum sabe tudo.

    Todos ns sabemos alguma coisa. Todos ns

    ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos

    sempre.

    Paulo Freire

    http://pensador.uol.com.br/autor/paulo_freire/

  • 5

    Dedico este trabalho a minha famlia, que sempre

    me apoiou e me incentivou a lutar pela realizao

    de meus sonhos.

    Aos camponeses e lderes de movimentos de luta

    pela terra.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus, que sempre esteve ao meu lado, me dando fora e

    sabedoria para enfrentar todos os obstculos.

    A minha famlia, que acreditou em mim, e me incentivou a lutar pelos meus sonhos.

    A minha Professora Orientadora Josilene Goulart Pereira que com muita pacincia e

    dedicao, tem me orientado e possibilitado a realizao deste trabalho.

    A Professora Franciane Arajo de Oliveira, que tem sido parceira, auxiliando e

    contribuindo para o enriquecimento da pesquisa.

    A todos os Professores do Curso, que com sua sabedoria tem possibilitado o meu

    crescimento dentro a universidade.

    E a todos os colegas de sala que estiveram ao meu lado nesta jornada.

  • 7

    LISTA DE SIGLAS

    COMAFIR Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Ipor e Regio

    COMIGO Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil

    COOPERCOISAS Cooperativa dos Produtores Rurais de Ipor

    CPT - Comisso Pastoral da Terra

    EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    FETRAF - Federao dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

    NEAF Ncleo de Estudos, Pesquisa e Extenso em Agricultura Familiar

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SEGPLAN Secretaria de Estado Gesto e Planejamento

    SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar

    STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais

  • 8

    SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................... 09

    2. Agroecologia .................................................................................................... 12

    2.1 Apropriao do Cerrado Goiano: predominncia do agronegcio em

    desfavor da agroecologia .......................................................................................18

    2.2 Agroecologia: resistncia ao agronegcio ...................................................... 23

    2.3 Agroecologia: campesinar a produo .......................................................... 28

    2.4 Algumas prticas agroecolgicas no Estado de Gois .................................. 33

    2.5 Agroecologia em municpios prximos a Ipor ............................................ 36

    3. A ausncia da produo agroecolgica em Ipor: resultados e discusses .. 44

    4. Consideraes Finais ........................................................................................ 51

    5. Referncias ........................................................................................................ 54

    6. Anexos ................................................................................................................ 59

  • 9

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo discutir a agroecologia como estratgia de produo

    em que so considerados elementos importantes como relao com a natureza, a produo

    de alimentos mais saudveis, a gerao de renda para os camponeses, a valorizao dos

    saberes tradicionais e a resistncia ativa ao modelo predominante de produo - o

    agronegcio. A discusso se deu a partir de uma pesquisa bibliogrfica capaz de fornecer a

    base terica de discusso da agroecologia selecionando as principais contribuies conceituais

    a cerca da temtica que permitiu a fundamentao terica da pesquisa. A pesquisa campo

    tambm foi realizada, como instrumento metodolgico cientfico importante na busca de

    respostas s questes estudadas. Foram realizadas entrevistas com lderes de cooperativas, de

    sindicatos e profissionais ligados produo no campo de Ipor-GO, buscando verificar o

    conhecimento que estes tm a respeito de agroecologia, bem como a presena ou ausncia de

    prticas agroecolgicas nas propriedades rurais. Em meio destruio que a natureza tem

    sofrido e a grande desigualdade social provocados pelo sistema capitalista no campo, faz-se

    necessrio questionar o uso de insumos e tecnologias que degradam o meio ambiente e a sua

    consequente substituio por tcnicas de menor interveno no meio natural, alm de gerar

    alternativas de desenvolvimento local. Este estudo levantou os desafios que a agroecologia,

    tem encontrado frente ao modelo predominante de ocupao rural, o agronegcio. E partiu da

    hiptese de que esta alternativa de produo esteja presente em Ipor-GO, atravs de

    pequenas produes. Tais produtores estariam ligados cooperativas, sindicatos rurais e/ou

    movimentos sociais de luta pela terra. Concluiu-se que, migrar da agricultura convencional

    para a de base agroecolgica um dos maiores desafios, pois depende da conscientizao dos

    pequenos produtores, que preferencialmente optam por modelos de produo com resultados

    mais rpidos, significando assim uma intensa explorao dos recursos naturais. A cultura

    exploratria acredita que os recursos naturais sempre estaro disponveis para atender as suas

    necessidades. Em Ipor a atuao de movimentos sociais de luta pela terra tem ocorrido no

    sentido de apoiar os trabalhadores rurais e agricultores familiares na permanncia em suas

    terras, porm tal apoio no tem garantido, ainda que aconteam prticas agroecolgicas,

    faltando o incentivo e a orientao que entidades como a CPT Comisso Pastoral da Terra

    promovem, para que os produtores rurais Iporaenses conheam e utilizem as tcnicas

    empregadas pela agroecologia. H necessidade de apoio institucional de crdito, pesquisas,

    assistncia tcnica, redes de comercializao e orientao aos camponeses para a adeso

    estratgia da agroecologia, produzindo em prol do meio ambiente e da melhoria de vida da

    populao local.

    Palavras-chave: Agroecologia; Ipor; Agronegcio; Natureza.

  • 10

    1.INTRODUO

    Sendo o ser humano o principal agente transformador dos ambientes preciso levar

    em considerao as potencialidades humanas e as necessidades individuais e coletivas no

    processo de produo do espao. Alm disso, preciso refletir sobre a natureza e seu uso

    intensivo, conseqncia de um estgio de desenvolvimento e crescimento econmico.

    Com a globalizao, cada vez mais tecnologias passaram a ser utilizadas nas

    atividades produtivas, e com isso houve no somente aspectos positivos como o aumento da

    produtividade, mas tambm aspectos negativos como o uso intensivo dos recursos naturais

    resultando em impactos ambientais. E os efeitos dessa modernidade se destacam quando

    analisamos a forma de reproduo capitalista no campo. Deve-se ressaltar que o incremento

    deste novo modelo de produo contribuiu para uma maior desigualdade social, j que o

    acesso a tais inovaes no foi igualitrio, sendo prioritariamente direcionado aos grandes

    capitalistas do campo, fazendo com que os pequenos agricultores tivessem menos condies

    de competir no mercado.

    A agricultura, como forte atividade econmica responsvel por graves problemas

    scio-ambientais, pois alm dos impactos causados pelo incremento de mquinas e uso intensivo

    de agrotxicos e diversos tipos de fertilizantes, houve tambm a acentuao das desigualdades

    entre os pequenos e os grandes produtores.

    Nesse sentido, a agroecologia apresenta-se como alternativa para uma produo com

    a menor interferncia possvel ao meio, oferecendo oportunidade para o pequeno agricultor

    em sua permanncia no campo. Segundo Altiere (2004, p. 23) esta uma estratgia que

    trata-se de uma nova abordagem que integra os princpios agronmicos, ecolgicos e

    socioeconmicos compreenso e avaliao do efeito das tecnologias sobre os sistemas

    agrcolas e a sociedade como um todo.

    Desta forma, preciso buscar o equilbrio entre o uso dos recursos naturais e o

    desenvolvimento, onde, o ser humano utilize aquilo que a natureza oferece, mas tendo a

    conscincia de que sua existncia est condicionada a preservao destes recursos.

    Faz-se necessrio debater sobre o uso de insumos e tecnologias que degradam o

    meio ambiente e a sua consequente substituio por tcnicas de menor interveno no meio,

    alm de gerar alternativas de desenvolvimento local.

    Este estudo prope pesquisar a presena da agroecologia no municpio de Ipor-GO,

    entendendo sua contribuio social, ambiental e econmica, alm dos desafios que essa

    09

  • 11

    alternativa de produo no campo encontra frente ao modelo predominante de ocupao rural,

    o agronegcio.

    A pesquisa tem como ponto de partida, a hiptese de que a agroecologia esteja

    presente em Ipor-GO, atravs de pequenas produes. Tais produtores estariam ligados

    cooperativas, sindicatos rurais e/ou movimentos sociais de luta pela terra.

    Nesse sentido o trabalho buscou informaes junto a entidades representativas dos

    pequenos produtores (COOPERCOISAS Cooperativa dos Produtores Rurais de Ipor,

    COMAFIR Cooperativa Mista da Agricultura Familiar de Ipor e Regio, SINTRAF

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar, STR Sindicato dos

    Trabalhadores Rurais), levantando informaes sobre a existncia de prticas agroecolgicas

    no municpio de Ipor-GO. Se constatada a existncia da agroecologia no municpio

    pesquisado, a pesquisa visitar as propriedades, a fim de vivenciar como ocorrem para discutir

    os resultados desse modelo de produo, no fortalecimento das comunidades campesinas e

    consequentemente suas contribuies sociais e econmicas para o municpio estudado.

    Com o propsito de discutir a agroecologia no contexto da produo em Ipor,

    optou-se por realizar uma pesquisa bibliogrfica, selecionando as principais contribuies

    tericas a cerca da temtica que contriburam para a fundamentao terica da pesquisa.

    A pesquisa de campo, como um instrumento metodolgico cientfico importante na

    busca de respostas s questes da pesquisa, se faz necessria para encontrar prticas da

    agroecologia, confirmando ou refutando sua existncia.

    Foram realizadas entrevistas com lderes de cooperativas como a COMAFIR, de

    sindicatos como o SINTRAF e STR e profissionais ligados produo no campo de Ipor,

    buscando verificar o conhecimento que estes tm a respeito de agroecologia, bem como a

    existncia de prticas agroecolgicas nas propriedades rurais.

    Torna-se necessrio o debate sobre a agroecologia, partindo da reflexo terica que

    possibilita o entendimento do conceito de agroecologia, confrontando com a realidade de

    agricultores que tenham esta prtica em suas propriedades, levantando sua existncia e

    importncia para Ipor e regio.

    Para que a agroecologia seja identificada nesta pesquisa, houve a busca em

    compreender sua concepo, realizando uma discusso terica com autores que debatem o

    tema. Essa reflexo faz-se necessria tambm para questionarmos a aplicao prtica da

    agroecologia, pois a busca pelo desenvolvimento tem ocorrido de forma pouco preocupada

    com o meio ambiente e com a igualdade de condies de vida das populaes. Isso pode estar

    ocorrendo devido falta de ateno da populao e das universidades sobre a importncia da

    10

  • 12

    agroecologia, a falta de apoio institucional de crdito, pesquisas, assistncia tcnica, redes de

    comercializao e orientao aos camponeses para a adeso estratgia da agroecologia,

    produzindo em prol do meio ambiente e da melhoria de vida da populao local.

    Desta forma, a agroecologia visa resgatar alternativas tradicionais agrcolas, no

    sentido de valorizar o ser humano e sua cultura historicamente adquirida, como parte

    integrante da natureza, numa perspectiva de respeito aos recursos naturais e menor destruio

    possvel no meio ambiente, comprometendo-se assim com a produo ecolgica e com o

    desenvolvimento dos pequenos agricultores.

    Portanto, para que uma regio seja desenvolvida, preciso buscar a equidade nas

    condies de vida da populao, em que as atividades econmicas levem tambm em

    considerao as relaes humanas.

    11

  • 13

    2. Agroecologia

    Com a globalizao, o desenvolvimento de novas tecnologias e a forma como estas

    vem sendo utilizadas para atender a transformao no modo de vida da populao, a natureza

    e os recursos naturais so explorados de forma muito intensa, e o ser humano tem se

    importado cada vez menos com os impactos ambientais causados por este processo.

    A agricultura reflete bem essa situao de uso intensivo dos recursos naturais, da

    insero de insumos qumicos, dentre outras agresses, em prol do cumprimento dos lucros e

    da produtividade. Confirma-se esse pensamento em Mendona (2010, p. 03) Na sociedade

    capitalista contempornea, permeada pela velocidade crescente na busca permanente das

    condies de produo do lucro, a natureza exteriorizada vista apenas como produtora de

    mercadorias.

    Assim, o modo de produo capitalista que impera na sociedade, visa utilizao e

    explorao dos recursos naturais para se obter lucro. O ser humano passa a se sentir superior

    a natureza, e a acreditar que ela sempre disponibilizar estes recursos para a sobrevivncia da

    humanidade.

    Pdua (2001, p. 01) aborda que essa postura adotada pelo ser humano em relao

    natureza pode ser compreendida atravs do enfoque flutuante.

    [...] enfoque abstrato e flutuante que domina o pensamento poltico e econmico

    contemporneo, por meio do qual as sociedades tendem a ser vistas como flutuando

    acima do planeta Terra e dos seus ecossistemas. A dinmica da vida social humana,

    nessa viso, entendida como sendo um universo auto-explicativo, que depende do

    planeta apenas na medida em que dele retira recursos naturais.

    Desta forma houve uma separao equivocada entre o ser humano e natureza, na

    qual a humanidade passa a assumir uma postura consumista, exploratria em relao aos

    recursos naturais e consequentemente pouco preocupada com as questes ambientais.

    O ser humano sempre precisou da natureza para retirar dela o seu sustento, porm em

    tempos remotos isso era feito de forma artesanal e que no danificava o meio ambiente, tanto

    quanto na atualidade.

    Com o passar dos anos, as descobertas cientficas e o surgimento das tecnologias, a

    relao homem/natureza foi totalmente transformada, provocando alteraes nas paisagens:

    concreto no lugar de rvores, asfalto onde havia campos, monoculturas substituindo a

    biodiversidade (GUIMARES E MESQUITA, 2010, p. 04).

    12

  • 14

    A agricultura que antes era uma atividade camponesa, e seu principal objetivo era o

    de fornecer alimentos para as famlias dos produtores, se tornou alvo do capitalismo, onde a

    produo diversificada deu lugar s monoculturas e apenas aqueles que tinham capital para

    investir em tecnologias no se viram excludos desse novo modelo econmico.

    Assim, o agronegcio ganha fora, e as produes agrcolas passam a ser destinadas

    para as exportaes e tem como principal objetivo o lucro e a concentrao de renda nas mos

    apenas dos grandes produtores.

    Silva e Martins (2006, p. 91) afirmam que:

    A partir da dcada de 1990, foi sendo gestada a ideologia do agronegcio, no Brasil,

    que consiste em demonstrar que a aplicabilidade da cincia na agricultura, por meio

    de tecnologias cada vez mais sofisticadas, por grandes empresas nacionais e

    internacionais, o modelo de progresso associado ao desenvolvimento econmico.

    No entanto, essa nova forma de produo, traz consigo muitas conseqncias, como

    a elevao dos ndices de desemprego no campo, onde muitos trabalhadores so substitudos

    por mquinas, alm dos impactos ambientais em decorrncia da grande quantidade de

    produtos qumicos lanados nas produes, e da destruio de grandes reas naturais para a

    implantao de monoculturas degradando muito os ecossistemas.

    So muitos os impactos socioambientais que as novas tecnologias e o estilo atual de

    produo tm causado ao meio, mas muito desses problemas no recebem a ateno que

    deveriam, pois a preocupao com o lucro torna-se maior.

    Como impacto ambiental recorre-se neste estudo, definio do artigo 1 da

    Resoluo n. 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que conceitua

    impacto ambiental como:

    qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas, biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das

    atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a sade, a segurana,

    e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies

    estticas e sanitrias ambientais; a qualidade dos recursos ambientais"

    Ento, a ao do homem fator fundamental para a gerao de impacto ambiental. Na

    agricultura, ressalta-se que, tais efeitos negativos se do no conjunto de problemas tanto de

    ordem natural - a biota, as condies ambientais, etc. - quanto social - a sade, a economia, a

    segurana da populao, etc.

    13

  • 15

    Silva e Martins (2006) destacam como exemplo desses impactos, a eutrofizao de

    rios e lagos, a acidificao de solos e contaminao de aqferos, decorrente do uso

    intensivo de fertilizantes, perdas e infertilidade dos solos devido ao manejo inadequado e a

    prtica da monocultura, ocorrncia de processos erosivos pela movimentao do solo com

    maquinrio pesado, e contaminao dos recursos hdricos atravs do carreamento dos resduos

    de agroqumicos para as guas.

    A acentuao das diferenas sociais no campo tambm um dos problemas

    ocasionados pelo modelo de produo vigente, pois a concentrao de terras hoje maior que

    no quando aboliu-se a escravatura, onde os pequenos produtores por no terem condies de

    competir com os grandes produtores, muitas vezes so expulsos de suas terras, ou seja, por

    no terem outra opo saem do campo e vo para a cidade em busca de sua sobrevivncia.

    A ao intensiva do homem sobre os recursos naturais, em prol da reproduo do

    capital, altera a paisagem e a organizao do espao e, essa modificao privilegia apenas a

    classe portadora do capital. E para mudar essa realidade, preciso, segundo Pdua (2001, p.

    12), promover mudanas radicais, que necessariamente incluem transformaes na estrutura

    social e nos padres de produo e consumo. Dentre uma possvel proposta est a de

    Mendona (2010, p.08):

    necessrio assegurar formas de manejar os recursos naturais que permitem a

    reproduo do homem e da natureza (que so um todo) conservando a

    biodiversidade ecolgica e scio-cultural. A agroecologia uma forma de entender e

    atuar para campenisar a agricultura, a pecuria, o florestamento e o agroextrativismo

    a partir de uma conscincia intergeneracional. Para isso h que ter e respeitar o

    conhecimento oriundo das experincias, das vivncias, os saberes-fazeres numa

    relao simbitica com a Natureza.

    Assim, buscar nas formas de produo tradicional, nos saberes e vivncias dos

    produtores rurais, meios para uma produo mais correta do ponto de vista ambiental e social,

    uma alternativa de confronto com a lgica capitalista, na atenuao dos impactos ambientais

    e valorizao do homem enquanto elemento integrante da natureza.

    Quando o autor trata da agroecologia enquanto forma de o modo como o campons

    trata terra, a pecuria, o florestamento e o agroextrativismo percebe-se a inteno de destacar

    o campons, que uma classe historicamente dominada e excluda do desenvolvimento

    socioeconmico, como sujeito importante no processo de produo no campo, que conhece e

    que respeita a terra como meio de produo igualitria.

    14

  • 16

    Trata-se aqui, no da extino da grande produo capitalista e suas tecnologias, mas

    de que a preservao ambiental e a valorizao do homem como ser natural e social sejam

    levados em considerao no processo produtivo, e que se faa um uso adequado das

    tecnologias que vieram para aumentar a produo mas que consequentemente provocam

    impactos ambientais e sociais, o que sem dvida um desafio, porm essencial para que haja

    as transformaes necessrias de que o mundo tanto precisa.

    A partir do momento em que os pequenos produtores conseguirem, atravs de meios

    como a agroecologia, ter uma produo de alimentos mais saudvel e condies de competir

    com os seus produtos no mercado, as desigualdades sociais sero amenizadas. Isso acarretar

    melhora na renda destes e consequentemente permitir sua permanncia no campo.

    Segundo Altiere (2004, p. 21) para serem eficazes, as estratgias de desenvolvimento

    devem incorporar no somente dimenses tecnolgicas, mas tambm questes sociais e

    econmicas.

    Desta forma, a agroecologia vem sendo considerada como uma alternativa para este

    desenvolvimento, pois se trata de estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente,

    que promovem a incluso social e proporcionam melhores condies econmicas aos

    agricultores (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 06).

    A preocupao da agroecologia, no somente com a produo, mas tambm com a

    forma como esta ir ocorrer, implantando tcnicas que prejudiquem o menos possvel o meio

    ambiente e que tragam melhores condies de vida aos agentes envolvidos.

    Deixar de utilizar agrotxicos e outros produtos qumicos na agricultura, no quer

    dizer que o produtor esteja aderindo a agroecologia, pois essa no visa somente uma

    preocupao ambiental, objetiva tambm mudanas que atendam as necessidades econmicas

    do produtor e dos demais envolvidos no processo. Assim podem e devem ser utilizados

    recursos que melhorem a produo, porm escolhem-se aqueles que prejudiquem menos o

    meio ambiente. Esse pensamento confirmado em Caporal e Costabeber (2004, p. 10):

    ...Na realidade, uma agricultura que trata apenas de substituir insumos qumicos

    convencionais por insumos alternativos, ecolgicos ou orgnicos no

    necessariamente ser uma agricultura ecolgica em sentido mais amplo. preciso

    ter presente que a simples substituio de agroqumicos por adubos orgnicos mal

    manejados pode no ser soluo, podendo inclusive causar outro tipo de

    contaminao.

    15

  • 17

    Desta forma, preciso que haja uma maior disseminao do que verdadeiramente

    seja a agroecologia e de como ela pode cumprir com os objetivos de melhorar a produo bem

    como as necessidades econmicas dos produtores.

    A agroecologia se diferencia da agricultura orgnica. Temos a agricultura como uma

    atividade econmica que tem bastante ligao com o meio ambiente, em que o homem

    necessita entender dos fatores naturais, clima, solo, vegetao, etc., para conseguir xito em

    suas plantaes.

    Com o surgimento do capitalismo e a insero das monoculturas como forte

    atividade agrcola, os impactos ambientais comearam a ser vistos como o preo a ter que se

    pagar pelo progresso.

    Mas com o aumento da degradao ambiental advindos do uso inadequado das

    tecnologias, comearam a surgir movimentos que buscavam uma agricultura mais alternativa,

    que dispensasse o uso de insumos qumicos, e tecnologias que so altamente prejudiciais ao

    meio ambiente, e que produzisse um alimento mais saudvel, a exemplo da agricultura

    orgnica.

    Segundo Assis e Romero (2002), a agricultura orgnica utiliza uma srie de

    procedimentos envolvendo a planta, o solo e as condies climticas, produzindo um alimento

    sadio e com suas caractersticas e sabor originais, que atenda s expectativas do consumidor.

    Alm disso, a agroecologia se preocupa com as questes sociais tambm, pois visa

    inserir os pequenos produtores no mercado, vinculando a um desenvolvimento social e

    econmico sustentvel, ou seja, a agricultura deve ser entendida como uma atividade

    econmica que permita suprir as necessidades presentes dos seres humanos, respeitando os

    limites ambientais de forma a no restringir as opes futuras (ASSIS e ROMEIRO, 2002, p.

    73).

    Desta forma, a agricultura orgnica tem uma preocupao maior em atender ao

    mercado consumidor, ou seja, visa-se o aumento da produtividade, mas utilizando insumos

    alternativos, para atender consumidores mais exigentes com relao a sade dos alimentos,

    adquirindo aqueles que se encontravam livres de agrotxicos. H uma preocupao maior

    com a questo econmica, visando o lucro.

    A agroecologia uma necessidade da humanidade, pois o atual modelo de produo

    capitalista tem destrudo a tudo e a todos. E a agroecologia objetiva no s diminuir os

    impactos ambientais, produzir alimentos mais saudveis, como tambm diminuir as

    desigualdades entre as classes de produtores, oferecendo-se como alternativa de resistncia do

    pequeno produtor no campo, tendo uma funo social importante.

    16

  • 18

    No processo de introduo de prticas agroecolgicas no campo, extremamente

    importante levar em considerao a cultura da populao local. Pois, sua base econmica deve

    surgir de seus conhecimentos do espao que habitam, propiciando assim relacionar os saberes

    locais a cincia e atingir um melhor resultado na produo. Desta forma, Miranda e Teixeira

    (2011, p.04) defendem que os princpios da agroecologia reconhecem, nos saberes locais os

    valores e as representaes culturais que o sujeito do campo carrega em seu cotidiano.

    Assim, na agroecologia, utilizam-se prticas convencionais na produo, com o

    objetivo de minimizar o uso de insumos qumicos, que prejudicam o meio ambiente e de

    valorizar a cultura do homem do campo:

    ...como resultado da aplicao dos princpios da Agroecologia, pode-se alcanar

    estilos de agriculturas de base ecolgica e, assim, obter produtos de qualidade

    biolgica superior. Mas, para respeitar aqueles princpios, esta agricultura deve

    atender requisitos sociais, considerar aspectos culturais, preservar recursos

    ambientais, considerar a participao poltica e o empoderamento dos seus atores,

    alm de permitir a obteno de resultados econmicos favorveis ao conjunto da

    sociedade, com uma perspectiva temporal de longo prazo, ou seja, uma agricultura

    sustentvel. (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 15).

    Para que uma produo seja pautada em princpios agroecolgicos, deve-se haver

    tambm o respeito ao ser humano, ou seja, as condies de trabalho da mo-de-obra devem

    ser adequadas, ocorrendo a no explorao de trabalhadores.

    Os desafios enfrentados para que haja uma produo sustentvel so muitos, e por

    isso torna-se extremamente importante, a unio de todos os envolvidos, bem como a

    participao de governantes, que devem ver neste estilo de produo, uma alternativa para

    melhorar a qualidade de vida da populao local, preservando os recursos que a natureza

    oferece:

    ...a socializao de conhecimentos e saberes agroecolgicos entre agricultores,

    pesquisadores, estudantes, extensionistas, professores, polticos e tcnicos em geral

    respeitadas as especificidades de suas reas de atuao , , e seguir sendo, uma

    tarefa imperativa neste incio de milnio, o que determina a necessidade de

    participao ativa do Estado. (CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 19).

    As propriedades rurais so palco das relaes de trabalho, de produo, culturais e

    sociais. E a introduo de tcnicas agroecolgicas neste espao promove um estilo de

    produo que leva em considerao os indivduos, seus costumes, tradies e o respeito ao

    meio ambiente, visando a melhoria na qualidade de vida da sociedade como um todo.

    17

  • 19

    No entanto, o modelo de produo no campo que predomina agroexportador,

    baseado na acumulao de terras para a produo de monoculturas, cujos produtos so

    destinados exportao, gerando srias complicaes sociais como a concentrao de renda

    nas mos dos grandes produtores e ambientais, como a degradao dos solos, e a poluio dos

    recursos naturais atravs do uso intensivo de insumos qumicos.

    A apropriao das terras sob o modelo de produo capitalista no campo fruto

    histrico da ocupao capitalista do campo brasileiro e se posiciona como desafio para

    alternativas de igualdade social no campo, como a agroecologia.

    2.1 Apropriao do Cerrado Goiano: predominncia do agronegcio em desfavor da

    agroecologia.

    No perodo em que o Brasil era colnia de Portugal, havia uma grande explorao

    das riquezas existentes no pas em prol do enriquecimento dos Portugueses. A descoberta do

    territrio goiano tambm ocorreu por conta dessa explorao. Anteriormente ao sculo XVI,

    o espao goiano foi palco de expedies que visavam busca de riquezas minerais ou mo de

    obra indgena (CASTRO, 2004, p. 69).

    Com a minerao comearam a surgir os arraiais. Muitas pessoas migravam para o

    territrio goiano em busca de ouro e outros metais preciosos. Porm, com a grande explorao

    e o aumento da populao em Gois, a minerao entrou em decadncia, ocasionando o

    surgimento de outras atividades como forma de sobrevivncia da populao, sendo elas, a

    agricultura e a pecuria.

    Castro (2004), afirma que a posse foi uma importante forma de apropriao de terras

    em Gois, pois como a populao no dispunha de condies materiais para manter uma

    sesmaria1, ocupavam as terras que j tinham donos e que no eram aproveitadas, passando

    ento a utiliz-las. Em 1850, o Governo determinou que as posses precisassem de demarcao

    para serem legalizadas, o que afirmado por Castro (2004, p. 75)

    ...o governo institui, em 1850, a Lei de Terras, com vistas a regular o acesso s terras

    e evitar a posse. Essa lei foi regulamentada em 1854, quando o governo imperial

    baixou o Decreto n 1.318, de 30 de janeiro, que criava os mecanismos necessrios

    sua execuo. Um dos itens desses regulamento determinava que as posses, para

    serem legalizadas, deveriam ser medidas e demarcadas.

    1 Sesmaria: Os colonos ao receberem as terras, deveriam cultiv-las num prazo de cinco anos e, se no

    procedessem assim, elas poderiam ser doadas para outras pessoas.

    18

  • 20

    Mas, ainda segundo este autor, essa demarcao era feita pelo Juiz Comissionrio,

    mediante o requerimento do proprietrio, e como os proprietrios dos grandes latifndios

    tinham muita influncia sobre o governo, as demarcaes destas terras no eram feitas de

    forma justa, mas sim em benefcios destes latifundirios. Os grandes proprietrios, ligados

    exportao ou pecuria, controlavam a vida econmica e poltica dos novos estados e as

    pequenas propriedades espalhavam-se pelo territrio, em reas mal servidas de meios de

    comunicao, dedicando-se produo para o mercado interno, que estava em expanso

    (CASTRO, 2004, p. 79).

    Castro (2004) aborda que a propriedade da terra, tanto com a Lei de Sesmaria quanto

    com a Lei de Terras era estrategicamente voltada para quem tinha condies de manter o

    projeto do Governo para o campo, sendo esse o modelo gerador da atual situao da

    acumulao latifundiria no campo brasileiro. Ao pequeno produtor, j que no tinha

    condies de aquisio por sesmarias ou, posteriormente pela compra, cabia-lhe a ocupao

    de terras pelo sistema de posse, sendo excludo do processo legal de ocupao das terras. O

    sistema latifundirio garantiu a implantao do capitalismo no campo, voltado ao projeto de

    industrializao e transformao das fazendas em empresas rurais altamente produtivas. Essa

    produo precisava ser escoada e exportada para gerao, acumulao e reproduo

    capitalista.

    Ainda segundo Castro (2004) com a chegada das ferrovias no tringulo mineiro, a

    exportao de gados e produtos agrcolas em Gois, especialmente no sul do estado tornou-se

    mais fcil, proporcionado uma maior expanso nestes setores. A chegada da estrada de ferro

    em Gois possibilitou ao Estado expandir ainda mais suas exportaes. Com toda essa

    expanso da agricultura e da pecuria, o cerrado hoje um dos biomas que mais sofre para

    atender a estas produes.

    Castro (2004) afirma ainda que por volta da dcada de 60, o Estado de Gois tinha

    como principal atividade econmica a produo de produtos de necessidades bsicas, que

    atendia a todo o pas. Mas, com o surgimento da revoluo verde na dcada de 60, o Estado

    de Gois passou a receber incentivos do governo para se industrializar, motivando o

    surgimento de agroindstrias, com destaque para a regio sudoeste.

    Os avanos cientficos e tecnolgicos possibilitaram a descoberta de formas de

    manejo dos solos do Cerrado, para que este pudesse produzir culturas que fossem lucrativas e

    propcias exportao.

    19

  • 21

    Com a incorporao das reas de cerrado na expanso da fronteira agrcola, e com o

    novo padro tecnolgico da Revoluo Verde, culturas que at ento no eram

    comuns nesta regio, como o caso da soja, foram introduzidas substituindo o

    antigo padro praticado nas reas de cerrado: pecuria extensiva e produo de

    alimentos bsicos. (PEDROSO E SILVA, 2005, p. 04).

    Assim, o Estado passou a deixar de lado culturas tradicionais como arroz e feijo e a

    produzir muita soja, sorgo, milho, entre outros. Alm disso, a criao de gado tanto leiteiro

    quanto de corte tambm e tornou bastante expressiva, e a regio sudoeste mais uma vez saiu

    na frente.

    A estrutura de produo existente foi drasticamente afetada, ocorrendo uma reduo

    da participao relativa das tradicionais culturas, principalmente arroz e feijo, e

    aumento da importncia de culturas voltadas exportao, gerao de energia e

    utilizao como matria-prima das agroindstrias. (PEDROSO E SILVA, 2005, p.

    05).

    Rio verde uma cidade que se destaca na introduo de agroindstrias, recebendo

    primeiramente a COMIGO Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste

    Goiano e posteriormente atraindo vrias outras. O governo de Gois contribuiu com

    implementao de programas de incentivos ficais.

    Segundo Pedroso e Silva (2005), por no fazer parte do ciclo mineratrio atividade

    econmica que se desenvolveu no sudoeste goiano por volta do sculo XIX foi a pecuria, e

    com a forte migrao de mineiros forma-se o ncleos de Rio Verde e Jata.

    Com o surgimento das tecnologias, estas cidades concentram hoje vrias

    agroindstrias e so grandes produtoras de gros.

    A microrregio tem na agricultura a sua crescente base de sustentao econmica,

    sendo a produo de gros e de gado de corte os itens de maior destaque... o Estado

    de Gois est atraindo as indstrias, especialmente agroindstrias. Se esta a

    vocao goiana, importante analisar melhor as suas dinmicas e estratgias

    produtivas, para avaliar os impactos que esse processo de agroindustrializao

    poder causar na regio. (PEDROSO E SILVA, 2005, p. 05).

    Esse breve levantamento dos aspectos histricos da apropriao do Cerrado goiano

    pelo modelo da agroindstria permite entender que o desenvolvimento da agropecuria em

    Gois foi alvo de um projeto capitalista que priorizou a monocultura e a apropriao

    latifundiria da terra, mantendo excludos do processo produtivo do campo, os pequenos

    produtores.

    20

  • 22

    Alm dos aspectos sociais, h destaque na destruio natural: o meio ambiente tem

    sido prejudicado, atravs de aes como o uso intensivo de insumos qumicos nas plantaes,

    a perda da diversidade das culturas dando lugar s monoculturas, a destruio do cerrado para

    o plantio, entre outros, sendo importante a discusso sobre a temtica e conseqentemente a

    busca por solues.

    A estrutura agrria no Brasil h tempos que vem sendo alvo de debates e discusses,

    pois a forma em que as terras so distribudas no pas, sempre objetivaram beneficiar apenas

    uma camada da sociedade. Mas com o processo de industrializao essas discusses se

    tornaram ainda mais fortes, pois como havia uma grande concentrao de terras, os

    agricultores cujas fazendas eram maiores produziam em suas prprias propriedades o

    necessrio a sua sobrevivncia.

    Como a grande maioria da populao ainda vivia na agricultura, esta deveria ser

    responsvel por uma parcela substancial do mercado. Mas a estrutura agrria

    extremamente concentrada permitia que as grandes fazendas continuassem

    praticamente auto-suficiente, ou seja, no conectadas economia como um todo.

    (SILVA, 1993, p. 30).

    Ainda segundo o autor, as pequenas propriedades perdem terreno para as grandes, e a

    natureza passa a dar lugar as grandes produes agrcolas.

    Mas o processo de urbanizao, fez com que as pessoas passassem a ter a

    necessidade de consumir aquilo que era comercializado nos centros urbanos, e assim as

    fazendas deixavam de ser auto-suficientes.

    Segundo Silva (1993) estas fazendas no mais tinham uma produo diversificada, e

    nem produziam mais os seus instrumentos de trabalho, onde essa produo passou a ser

    substituda por mquinas e equipamentos agrcolas, transformando assim a agricultura em

    indstria.

    Vale destacar que as produes que agora so mais voltadas para culturas de

    exportao, ou seja, as monoculturas, s conseguem ser realmente produtivas se forem

    inseridas modernas tecnologias em seu processo produtivo.

    O autor ainda afirma que essa modernizao da agricultura s se tornou possvel

    graas aos investimentos do governo que subsidiou aquisio de insumos, mquinas e

    equipamentos. E os pequenos produtores que antes produziam para a subsistncia e

    comercializam o excedente, passam a produzir somente para o mercado, e para isso, eles

    tambm aderem a insumos qumicos e industriais.

    21

  • 23

    O aumento da populao e a intensificao da urbanizao fizeram com que a

    agricultura tivesse que aumentar sua produtividade para atender a demanda da populao. E

    por isso que terras que no eram produtivas tiveram que ser trabalhadas e atravs de insumos

    qumicos e tecnolgicos se tornarem produtivas.

    Mas certamente esses aumentos de produtividade viro acompanhados de uma

    presena cada vez maior de capitais monopolizados controlando tanto a venda dos

    insumos bsicos como a comercializao e o processamento dos produtos

    agrcolas...A ento a produo agropecuria deixar de ser uma esperana ao sabor

    das foras da Natureza, para ser uma certeza sob o comando do Capital. (SILVA,

    1993, p. 64 e 65).

    Desta forma, v se que o discurso de que preciso utilizar cada vez mais tecnologias

    e insumos qumicos para aumentar a produtividade e assim atender a demanda da sociedade

    por alimentos no verdadeiro, pois tanto as terras quanto o que produzido nelas est

    concentrado nas mos dos detentores do capital.

    E por isso que a luta dos pequenos produtores pela reconquista de seu espao se torna

    to importante, pois so eles que atravs de seus mtodos e conhecimentos se relacionados as

    tecnologias e aos avanos advindos das cincias, tero produes mais saudveis e

    conseguiro no s produzir para a subsistncia como tambm abastecer o mercado local.

    No se fala aqui no fim das grandes produes e do agronegcio, mas em se buscar

    tambm outras alternativas que possam dar a sua contribuio para a produo local e ainda

    ser menos impactante ao meio ambiente, como o caso da agroecologia.

    Segundo Silva (1993) por muito tempo discutiu-se qual era a verdadeira

    reivindicao dos trabalhadores rurais, onde muitos at afirmaram que o que eles queriam

    eram melhores salrios e no terra. No fundo o que os trabalhadores rurais querem como

    todos os trabalhadores em geral so melhores condies de vida e de trabalho. (SILVA,

    1993, p. 92).

    Desta forma, a reforma agrria pela qual lutam os pequenos produtores, no

    apenas para que estes possam adquirir seu pedao de terra, mas sim para que se mude a

    estrutura de poder que se tem no campo.

    Reforma Agrria um programa de governo que busca democratizar a propriedade

    da terra na sociedade e garantir o seu acesso, distribuindo-a a todos que a quiserem

    fazer produzir e dela usufruir. Para alcanar esse objetivo, o principal instrumento

    jurdico utilizado em praticamente todas as experincias existentes a

    desapropriao, pelo Estado, das grandes fazendas, os Latifndio, e sua

    redistribuio entre camponeses sem-terra, pequenos agricultores com pouca terra e

    assalariados rurais em geral. (STEDILE, 2012, p. 659).

    22

  • 24

    E para que as terras adquiridas possam lhes gerar frutos, preciso que seja

    concedido segundo Silva (1993), crditos, assistncia tcnica, e polticas que no estejam

    voltadas apenas para os grandes produtores....no sistema capitalista, pouco importa que um

    pedao de cho produza soja, ou cana de acar ou feijo. O que interessa que produza

    lucros. Nem mesmo interessa se esse lucro advm da utilizao produtiva do solo ou no ...

    (SILVA, 1993, p. 104).

    O autor ainda afirma que milhes de hectares de terra frteis so retidas

    improdutivamente, e ouras so adquiridas por meios desonestos por grandes empresas

    capitalistas, o que gera a expulso do pequeno produtor que acaba indo morar na periferia das

    grandes cidades.

    por este e outros motivos que a reforma agrria, onde as terras sejam distribudas

    de forma correta e onde estas terras conquistadas pelos pequenos produtores sejam produtivas,

    torna-se uma questo muito importante e uma soluo para o problema da distribuio de

    terras no pas.

    2.2 Agroecologia: resistncia ao agronegcio

    Segundo Souza e Conceio (2008) o agronegcio utilizado no Brasil, quando se

    refere s plantaes agrcolas de grande escala ou a criao de rebanhos em grandes extenses

    de terras. Leite e Medeiros (2012, p. 81) afirmam que:

    O termo foi criado para expressar as relaes econmicas (mercantis, financeiras e

    tecnolgicas) entre o setor agropecurio e aqueles situados na esfera industrial (tanto

    de produtos destinados agricultura quanto de processamento daqueles com origem

    no setor), comercial e de servios.

    Assim, o agronegcio visa primordialmente a produo do capital, onde essas

    grandes produes geraro riquezas somente para aqueles que se encontram inseridos

    diretamente no processo. No h uma preocupao em utilizar de forma adequada os recursos

    naturais e nem em distribuir igualitariamente essas riquezas, possibilitando melhores

    condies de vida tambm para os pequenos produtores rurais e camponeses.

    Desta forma, busca-se dar nfase ao agronegcio enquanto a grande possibilidade

    para o campo brasileiro, onde o discurso ideolgico se faz, exatamente, no sentido

    de demonstrar que os problemas do campo brasileiro encontram-se superados, tendo

    em vista as perspectivas de aumento da produo e da produtividade, e no as

    23

  • 25

    condies de vida daqueles que vivem no campo os trabalhadores rurais e

    camponeses. (SOUZA E CONCEIO, 2008, p. 103)

    Segundo Souza e Conceio (2008) os grandes produtores afirmam que no Brasil h

    muito mais reas propcias a explorao do agronegcio, e que, portanto devem ser

    aproveitadas, mesmo que para isso as populaes nelas residentes tenham que ser

    desapropriadas.

    Outra forma que o agronegcio tem encontrado para se expandir atravs da

    subordinao do pequeno produtor, onde este passa a trabalhar para as agroindstrias, e se v

    obrigado a produzir somente o que for imposto por elas. O campons vende sua fora de

    trabalho, e passa a compor o quadro da agricultura familiar, que para o agronegcio uma

    soluo ao atraso das produes realizadas nas pequenas propriedades. Assim, so os

    grandes produtores que concentram maiores extenses de terras, mas as produes que

    abastecem o mercado interno so oriundas das pequenas propriedades. Isto quer dizer que, a

    produo agrcola que o agronegcio diz ser sua, na realidade produto das pequenas e

    mdias propriedades rurais (SOUZA E CONCEIO, 2008. p.113).

    O agronegcio tende a um aumento nas produes e na qualidade dos produtos para

    que estes possam ser exportados, gerando assim mais capital para os grandes produtores.

    Nesse sentido passa-se a investir naqueles produtos que so mais rentveis, fortalecendo a

    monocultura. Para combater as doenas que atacam as plantaes so utilizadas grandes

    quantidades de produtos qumicos, tornando os solos cada vez menos frteis.

    Por outro lado as tcnicas adotadas pela agroecologia, so pautadas nos

    conhecimentos de manejo do solo passado de gerao a gerao e que levam em considerao

    o respeito a natureza e a conscientizao de que preciso preserv-la.

    Segundo Guimares e Mesquita (2010, p. 11).

    Nesse sentido o trabalho campons se torna uma forma de resistncia ao modelo

    imposto pelo agronegcio, ou seja, as populaes locais, dentro de suas

    especificidades, possuem tcnicas ao manejar o solo, as culturas e a criao de

    animais, produzindo para a autossuficincia/auto-consumo, valor de uso e no de

    troca, na diversificao dos sistemas produtivos, em oposio s monoculturas,

    explorando de forma eficiente os diferentes agroambientes...

    As questes fundirias comearam a aparecer, desde a invaso dos portugueses no

    Brasil. E que se acentuaram no perodo de introduo do agronegcio, onde o governo passou

    a oferecer subsdios para os grandes produtores.

    Segundo Silva e Martins (2006, p. 97)

    24

  • 26

    Isso, obviamente, contribuiu de maneira decisiva para o comprometimento das

    condies de reproduo social dos pequenos produtores agrcolas; muitos, no bojo

    deste processo, acabaram abandonando a condio de lavradores autnomos,

    desfazendo-se de suas propriedades e se transformaram em proletrios rurais.

    Desta forma, a classe camponesa, passa a sofrer grandes transformaes no seu modo

    de vida, tendo que se desfazer de suas propriedades e vender sua fora de trabalho. E na

    maioria das vezes sendo submetidos a condies precrias de trabalho e explorao da mo de

    obra. Segundo Souza e Conceio (2008), nos grandes projetos do agronegcio tm se

    encontrando formas de trabalho escravo e semi escravo.

    Os valores dos camponeses, os saberes locais, e a forma de produo agropecuria

    praticada h anos pelas comunidades rurais, passaram a ser deixadas totalmente de lado, para

    dar lugar as tecnologias, e a produo voltada somente para o ganho do capital.

    Com isso, as questes agrrias ganham fora, e as lutas dos camponeses abrangem

    vrias temticas,

    Abre-se com uma ampla agenda poltica e cientfica, que vem resultando em

    processos de contestao social, poltica, tecnolgica e ambiental que se traduzem

    em um heterogneo conjunto de prticas voltadas para a reconstituio do trabalho

    rural e dos recursos naturais. (NORDER, 2006, pg. 117).

    Segundo Guimares e Mesquita (2010) os conflitos fundirios no Brasil ocorrem

    principalmente em reas de expanso do agronegcio, local em que h a concentrao de

    terras e de renda.

    Ainda segundo estes autores a populao rural tem diminudo devido a essa

    concentrao de terras, onde muitos tiveram que abandonar o campo e ir para as cidades, ou

    continuarem vivendo no campo, porm no mais como produtores e donos de terras e sim,

    como trabalhadores que vendem a sua fora de trabalho.

    Desta forma, a agricultura camponesa, pautada em princpios agroecolgicos, pode

    contribuir muito para o desenvolvimento do local, gerando renda, emprego e ainda

    preservando os recursos naturais.

    Os camponeses buscam sobreviver no mundo capitalista, mas utilizando de formas

    de produo diferentes das impostas por este processo.

    Enquanto o capitalismo exclui aqueles que no possuem recursos financeiros para

    obterem produes cada vez mais competitivas no mercado e devasta a natureza para atingir

    este objetivo, o modo de produo campons busca nos conhecimentos locais, no respeito ao

    25

  • 27

    meio ambiente e na unio das comunidades campesinas, as alternativas para produzirem e se

    desenvolverem.

    A distribuio e acumulao de riquezas tm acontecido, cada vez de forma mais

    desigual, onde uma pequena minoria tem acesso a condies dignas de vida. Diante destas

    desigualdades to acentuadas, a classe campesina tem buscado enfrentar o desafio, de

    promover a igualdade atravs de produes menos capitalistas e competitivas.

    Enquanto grandes produtores rurais focam na monocultura, ou seja, no plantio de

    produtos mais rentveis e fceis de serem exportados, visando primordialmente o ganho de

    capital, ...pequenas unidades de produo demonstram que a economia de escopo,

    viabilizada pela diversidade produtiva e pela integrao de atividades, uma estratgia

    consistente para conviver com ambientes econmicos cada vez mais errticos e opressores

    (PETERSEN, 2009, p. 06).

    Os camponeses lutam pela continuidade de seus modos de produo e de vida, onde

    a agricultura industrial no impere, e onde haja democracia, igualdade e sustentabilidade.

    As formas de produzir, hoje em dia, assim como o agronegcio, no tm

    demonstrado uma preocupao com o social, ou seja, com o retorno de forma igualitria a

    todas as pessoas, e sim com o ganho para aqueles que tm condies de investir e de serem

    competitivos no mercado.

    O mesmo tem ocorrido com o meio ambiente, onde a busca pela maximizao das

    produes degradam e exploram constantemente a natureza, sem se importar com as futuras

    geraes e com a capacidade de preservao dos recursos naturais.

    Com isso tem ocorrido a busca pela recampesinazao, por parte da agricultura

    familiar camponesa, que segundo Petersen (2009, p. 07)

    ...ao contrrio dos modos de produo capitalista e empresarial, a agricultura

    familiar camponesa constri o seu progresso a partir do emprego de seu trabalho e

    de seus conhecimentos na valorizao dos potenciais ecolgicos e socioculturais

    locais. Assim construdo, o progresso do campons contribui diretamente para o

    progresso da sociedade em que ele est inserido. Para usar o jargo corrente das

    cincias sociais, trata-se de um modo de produo multifuncional: alm da funo

    essencial de produzir alimentos em quantidade, qualidade e diversidade, ele molda

    estilos de desenvolvimento rural que mantm relaes positivas com os

    ecossistemas, criando empregos estveis e dignos, dinamizando as economias

    regionais por meio da diversificao de atividades e se adaptando com flexibilidade

    a mudanas de contextos climticos, econmicos e socioculturais.

    Mas para isso, os camponeses precisam reconquistar seu espao, mostrando

    inclusive aos governantes que seu modo de produo pode sobreviver a este mundo to

    26

  • 28

    capitalista, sendo uma alternativa de desenvolvimento capaz de promover a equidade e de

    assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais.

    Surge ento, a necessidade de os governantes olharem para estes pequenos

    produtores, reconhecendo neles a importncia para um desenvolvimento voltado no s para o

    crescimento das produes, mas tambm para a distribuio igualitria da renda e

    conseqentemente por melhores condies de vida a toda a populao.

    Com a introduo da agricultura industrial, o Estado comeou a ver a agricultura

    camponesa como um atraso ao desenvolvimento do pas, dando aos grandes produtores e as

    indstrias todo o crdito necessrio para realizarem suas produes e se estabelecerem como

    modelo de desenvolvimento econmico, mesmo estas formas de produo sendo destruidoras

    dos recursos naturais e intensificadoras das desigualdades sociais. A agricultura camponesa

    permanece sendo frequentemente considerada por parcela significativa de estudiosos do

    mundo rural e tomadores de decises como um resduo histrico em vias de extino

    (PETERSEN, 2009, p 08).

    Como a prpria populao tem acreditado que a modernidade a forma de

    desenvolvimento mais importante e que sem isso o pas ser tido como atrasado, as indstrias

    ganham cada vez mais fora, porm no levando em considerao que desenvolvimento no

    quer dizer gerao de riquezas concentrada nas mos de poucos, mas sim a equidade social,

    promovendo a melhora nas condies de vida da populao como um todo e respeito ao meio

    ambiente.

    A partir do momento em que os camponeses forem vistos como agentes capazes de

    contribuir para o desenvolvimento do local haver transformaes significativas para todos,

    construindo-se um mundo mais justo e solidrio, preocupado com questes sociais,

    ambientais e culturais.

    Segundo Petersen (2009, p. 09).

    ...em vez de continuar se fiando na crescente capacidade humana de controlar a

    Natureza por meio do aporte intensivo de energia e insumos industriais, as cincias

    agrrias comeam a compreender que a agricultura a arte da co-produo entre o

    ser humano e a Natureza e que os camponeses so os grandes mestres dessa arte.

    Mas essa conscincia de que as formas de desenvolvimento vigentes tem sido

    prejudiciais ao meio ambiente e tambm, geradoras de desigualdades sociais, no surgir de

    um dia para o outro, por isso extremamente importante o apoio e o incentivo dos

    governantes locais s formas de produo camponesa.

    27

  • 29

    Alm disso, levar at estes pequenos produtores, mais conhecimentos a respeito de

    agroecologia, far com que eles aprimorem suas produes, melhorando a qualidade, mas

    sempre com o enfoque na preservao ambiental e na igualdade da distribuio de riquezas.

    Neste sentido, o Estado deve ser o agente responsvel em disseminar a agroecologia

    como uma das formas de desenvolvimento de um local, e de oferecer recursos e incentivos

    para que os pequenos produtores possam pratic-la verdadeiramente.

    Porm, no se deve ficar esperando somente por iniciativas do Estado, preciso que

    a luta por transformaes sociais e polticas ganhem fora, e que novos meios de produo

    como a agroecologia sejam reconhecidas como formas de desenvolvimento do local.

    Neste contexto, camponeses, sindicalistas, estudiosos e todos os que lutam pela

    reforma agrria, podem se unir na implantao de alternativas de produo como a

    agroecologia.

    2.3 Agroecologia: campesinar a produo

    Apesar das dificuldades que os camponeses ou agricultores familiares encontram

    para sobreviverem neste mundo to capitalista e preocupado com a gerao e acumulao de

    riquezas, ainda possuem um papel fundamental na sociedade. Pois so eles que possuem

    produes mais diversificadas, capazes de abastecer no s o mercado interno, como tambm

    as indstrias e consequentemente oferecer melhores condies de vida a sociedade, atravs de

    alimentos mais saudveis e da gerao de empregos para a populao camponesa ali presente.

    Campesinato o conjunto de famlias camponesas existentes em um territrio. As

    famlias camponesas existem em territrios, isto , no contexto de relaes sociais

    que se expressam em regras de uso (instituies) das disponibilidades naturais

    (biomas e ecossistemas) e culturais (capacidades difusas internalizadas nas pessoas e

    aparatos infraestruturais tangveis e intangveis) de um dado espao geogrfico

    politicamente delimitado. (COSTA e CARVALHO, 2012, p.115).

    Segundo Felcio (2006), o capitalismo v o campons como um atraso ao

    desenvolvimento de um local, e para que este possa continuar suas atividades deve se

    transformar em um agricultor familiar, que atravs de suas produes tambm acaba servindo

    ao agronegcio. J os defensores da reforma agrria no vem diferena entre o campesinato e

    a agricultura familiar, pois em ambos as produes realizadas no campo contam com o

    trabalho do grupo familiar para atingirem seus objetivos.

    28

  • 30

    Felcio (2006) afirma que para Maquiavel as pessoas s seriam livres se

    conquistassem poder. O capitalismo um exemplo visvel disso, pois no campo, por exemplo,

    aqueles produtores que conseguem acompanhar as inovaes tecnolgicas e tem condies de

    investir nas suas propriedades acabam por dominar o mercado, em contrapartida os pequenos

    produtores que no conseguem essas transformaes, muitas vezes acabam entrando em

    decadncia. a partir da que surgem os movimentos de reivindicao dos camponeses, que

    buscam ter o direito de produzirem, contribuindo com a melhoria da economia, mas de forma

    a no perder seus valores, e a no serem obrigados a servirem aos grandes capitalistas.

    Para Marques (2008) o conceito de campons est ligado a classe social

    Entendemos o campesinato como uma classe social e no apenas como um setor da

    economia, uma forma de organizao da produo ou um modo de vida (MARQUES, 2008,

    p. 58).

    Para esta autora o campons tanto pode servir ao capitalismo como tambm ser

    contrrio a ele. E as ralaes de trabalho so baseadas na famlia, ou seja, a produo

    realizada pelos prprios membros da famlia.

    Os camponeses carregam consigo, valores e culturas, e por isso algumas vezes se

    mostram contrrios ao capitalismo que quer lhes impor uma forma de produzir voltada para

    outros princpios.

    O campesinato se refere a uma diversidade de formas sociais baseadas na relao de

    trabalho familiar e formas distintas de acesso terra como o posseiro, o parceiro, o

    foreiro, o arrendatrio, o pequeno proprietrio etc. A centralidade do papel da

    famlia na organizao da produo e na constituio de seu modo de vida,

    juntamente com o trabalho na terra, constituem os elementos comuns a todas essas

    formas sociais. (MARQUES, 2008, p. 60).

    Com o aumento das desigualdades sociais e a concentrao de terra nas mos dos

    detentores do capital, o conceito de campons passa a ganhar maior evidencia. Pois se inicia

    os debates acerca do papel do pequeno produtor nesta nova sociedade, onde o campo ganha

    modernas tecnologias e o aumento das produes, para atender a uma demanda de indstrias,

    inclusive internacionais, e no mais atender as necessidades da sociedade local.

    Muitos estudiosos defendiam que o campons seria extinto, porm outros afirmavam

    que a classe camponesa ainda se manteria forte, mesmo tendo que enfrentar desafios frente a

    essa nova realidade.

    Os movimentos sociais comeam a aparecer devido a muitas pessoas serem atingidas

    de forma negativa pelo desenvolvimento tcnico-cientfico. Neste contexto, os camponeses

    29

  • 31

    tambm comeam a reivindicar seus direitos de permanecerem produzindo em suas

    propriedades vivendo de forma digna, sem precisar deixar suas terras para que sejam

    ocupadas pelas grandes empresas ou agroindstrias.

    A condio camponesa consiste na luta por autonomia e por progresso, como uma

    forma de construo e reproduo de um meio de vida rural em um contexto adverso

    caracterizado por relaes de dependncia, marginalizao e privao (PLOEG, 2009, p. 18).

    O modo de produo campons visa se tornar uma ferramenta no desenvolvimento

    de um local, mas no custa de marginalizao daqueles que no conseguem se inserir no

    contexto e nem custa da destruio dos recursos naturais, como acontece no capitalismo.

    O processo de produo campons visa atender as necessidades da famlia

    camponesa e tambm do comrcio, onde h uma busca constante por melhorias na produo

    onde segundo Ploeg (2009, p. 19).

    Esse processo se d por meio de melhorias qualitativas: tornando a terra mais frtil,

    cruzando vacas mais produtivas, selecionando as melhores mudas, construindo

    melhores instalaes de armazenagem, ampliando o conhecimento, tornando a

    forragem compatvel com as necessidades do rebanho, etc.

    Assim, o modo de produo campons se baseia em relaes do ser humano com a

    natureza, onde h um aproveitamento equilibrado dos recursos que a natureza oferece, e

    tambm nas relaes sociais justas, onde o que produzido atende ao mercado consumidor e

    o lucro volta para os produtores, atendendo consequentemente as necessidades das famlias

    produtoras.

    Os camponeses enfrentam algumas situaes adversas, como o clima, ou a presso

    por parte de investidores que querem comprar suas terras, porm mesmo nestas situaes

    muitos no recorrem a mecanismos que criem uma dependncia com o mercado para

    melhorarem sua produo, pois isso os impede de continuarem tendo sua autonomia, o que

    tem um grande valor para esta classe.

    A industrializao da agricultura um processo que tem em vista especialmente os

    modos empresarial e capitalista de produo agrcola. Ela envolve diversas

    dimenses, muitas das quais se relacionam com as explicaes para a crise atual. A

    industrializao da agricultura implica uma desconexo frequentemente extrema

    da agricultura com a natureza e com as localidades: fatores naturais (tais como

    fertilidade do solo, bom esterco, variedades cuidadosamente selecionadas e raas

    localmente adaptadas) tm sido progressivamente substitudos por fatores artificiais

    que se expressam na forma de insumos externos e novos equipamentos tecnolgicos.

    (PLOEG, 2009, p.23).

    30

  • 32

    Os camponeses evitam buscar investimentos externos, passando a ter mais

    dependncia financeira, como fazem os grandes empresrios capitalistas, mas segundo Ploeg

    (2009) eles aumentam a quantidade do trabalho, que por sua vez familiar, procuram reduzir

    seus custos e buscar alternativas na prpria natureza para melhorarem a produo, e buscam

    tambm na produo diversificada a respostas para o momento de crise.

    Com a industrializao, a agricultura tornou-se mais uma atividade econmica

    extremamente voltada para o capitalismo, esquecendo-se de sua origem camponesa e familiar,

    onde a produo tinha uma preocupao ecologia e social, e objetivava o desenvolvimento da

    produo de forma a no devastar os recursos naturais e da populao como um todo.

    Surgiram grandes indstrias alimentares, tornando cada vez mais difcil aos pequenos

    produtores comercializarem seus produtos.

    O desenvolvimento dos meios de transporte possibilitou s agroindstrias exportarem

    seus produtos com uma grande facilidade, e consequentemente houve uma concentrao de

    renda nas mos dos grandes empresrios

    O discurso de que necessrio aumentar a produo no campo sob o modelo do

    agronegcio, para sanar problemas sociais como a fome antiga. Os objetivos humanitrios

    escondem, na verdade a intencionalidade de reproduo capitalista utilizando a terra e a

    sociedade como recursos e ferramentas de acumulao.

    Segundo dados da UNU Organizao das Naes Unidas, mais de 100 milhes de

    crianas menores de cinco anos esto abaixo do peso, e 870 milhes de pessoas sofrem de

    desnutrio crnica em todo o mundo. Toda noite 870 milhes de pessoas dormem com fome.

    Isso corresponde a uma pessoa a cada sete no mundo.

    Aps a Segunda Guerra Mundial o governo comea a investir em pesquisas,

    tecnologias e insumos que melhorassem a produo, surgindo assim a Revoluo Verde.

    Pregavam um falso discurso de que era preciso aumentar a produo para atender as novas

    demandas da sociedade. Mas na verdade o principal objetivo da Revoluo Verde no era

    acabar com a fome no mundo, e sim atender aos interesses das grandes corporaes,

    aumentando a produo, mas no a dividindo igualitariamente.

    ...os pases que aderiam a Revoluo Verde eram orientados e induzidos a usar

    novas tcnicas de correo do solo, fertilizao, combate s doenas e pragas, bem

    como a utilizar maquinaria e equipamentos modernos. A esse conjunto de tcnicas

    inovadoras se deu o nome de pacote tecnolgico. E a toda essa estratgia de

    comrcio se chamou de modernizao tecnolgica (BRUM, 1985, p. 45).

    31

  • 33

    O novo padro de desenvolvimento da agricultura gerava custos altos e s os

    agricultores que dispunham de recursos financeiros poderiam usufruir dele. O que acarretou

    uma crise para os pequenos produtores, e at mesmo aos pases perifricos, que se

    encontravam mais atrasados em relao s pesquisas agrcolas.

    Em pases onde no houve uma distribuio de terras, a vinda da Revoluo Verde s

    aumentou as desigualdades, pois as grandes corporaes e os grandes produtores adquiriram

    extensas pores de terra, prejudicando as demais classes sociais de terem acesso a elas.

    Alm disso, os recursos naturais eram usados de forma exploratria, gerando tambm

    muitos impactos ao meio ambiente.

    Mas em contrapartida, os camponeses tem se manifestado e resistem a esse modelo

    econmico, e o surgimento da agroecologia um exemplo dessa resistncia, onde segundo

    Ploeg (2009) a adoo de meios de produo mais ecolgicos nas propriedades campesinas

    conduzem busca e construo de solues locais para problemas globais.

    A agricultura camponesa pode ser uma resposta para o combate a fome no pas e para

    a preservao do meio ambiente, bastando apenas ser reconhecida pela populao e pelos

    governantes como essa resposta, e tendo seu espao poltico, econmico e social conquistado.

    A modernizao agrcola, que tem sido vista como sinnimo de desenvolvimento do pas tem

    gerado muitas desigualdades, onde a renda est concentrada apenas nas mos dos grandes

    produtores.

    Os grandes produtores rurais passaram a ter acesso os recursos oferecidos pelo

    governo, para que pudessem investir em suas produes, enquanto que os pequenos

    agricultores se tornaram excludos do processo de desenvolvimento. Porm, ainda h uma

    diversidade de povos residindo no campo e tendo como meio de sobrevivncia, as formas

    mais tradicionais de produo, por isso a luta pelo seu reconhecimento enquanto atores no

    desenvolvimento do pas atravs de alternativas como a agroecologia tem sido foco para

    debates e reflexes.

    Como as formas atuais de produo pautadas no capitalismo tem sido destruidoras

    dos recursos naturais e tm acentuado as desigualdades sociais, os camponeses ganham fora

    na agroecologia, para continuarem a sua luta e segundo Wanderley (2009, p.440)

    O grande desafio consiste na busca de outras maneiras de produzir, que no agridam

    nem destruam a natureza, que valorizem o trabalho humano e contribuam

    efetivamente para o bem-estar das populaes dos campos e das cidades. Os

    agricultores familiares, em sua grande diversidade, tm feito sua parte: acumularam

    em sua histria experincias virtuosas com o trato da terra e da gua, foram capazes

    32

  • 34

    de se organizar e de expressar seus pontos de vista, conquistaram aliados para suas

    causas e aprenderam a dialogar com instituies as mais diversas.

    Ainda h um longo caminho para ser percorrido em busca do reconhecimento e da

    valorizao que os produtores do campo merecem, onde a conscientizao da populao e dos

    governantes essencial neste processo.

    2.4 Algumas prticas agroecolgicas no Estado de Gois

    A agroecologia surgiu como uma proposta de produo de alimentos de qualidade,

    de forma sustentvel e que atenda as demandas da sociedade.

    Em Gois, o NEAF (Ncleo de Estudos, Pesquisa e Extenso em Agricultura

    Familiar), situado junto da Universidade Federal de Gois/Unidade Jata, tem realizado

    projetos para implantar a agroecologia no Sudoeste do Estado. Atravs do projeto

    Experimentao de redesenho de agroecossistemas e de processos agroecolgicos em

    unidades produtivas familiares no Sudoeste de Gois, foram realizadas visitas a fazendas que

    so Unidade de Experimentao Agroecolgica da EMBRAPA Arroz e Feijo.

    Em uma fazenda em Santo Antnio do Descoberto, os pesquisadores do Ncleo

    visualizaram o emprego de sistema agroflorestal, onde, so consorciadas diversas espcies

    arbreas (frutferas e espcies nativas do cerrado) e plantas anuais como: feijo, milho,

    gergelim, arroz e girassol. (JESUS et al 2010, p. 366). Estas culturas so muito pesquisadas,

    uma vez que possuem vrias possibilidades de uso, pois podem alimentar a famlia, os

    animais e ainda gerar energia.

    Ainda segundo os autores, neste sistema de plantao, so plantadas nas curvas de

    nveis as espcies perenes de porte arbreo e lenhoso, portanto as frutferas e rvores do

    cerrado e entre estas so cultivadas as culturas anuais sob rotao de cultura. Introduzindo

    algumas leguminosas, chamadas de adubo verde, e que so fixadoras de nitrognio, paralelas

    as fileiras de plantas arbreas.

    Para combater as doenas que atacam as plantaes so utilizados preparados a base

    de Nim indiano (Azadirachta indica), pimenta malagueta (Capsicum frutensens. L), controle

    biolgico com liberaes do parasitide Trichogramma e inseticida natural a base de Bacillus

    thuringiensis (JESUS et al 2010, p. 368).

    Os pesquisadores do NEAF tambm visitaram o Assentamento Cunha localizado na

    Cidade Ocidental-GO, que com a coordenao da Embrapa Hortalias desenvolvem prticas

    33

  • 35

    agroecolgicas, como a produo coletiva e sustentvel. Tambm utilizam o Nim indiano,

    para combater as doenas que atacam as plantaes nas plantaes. Alm disso, utilizam o

    sistema de mandala. Esse sistema integra a horta, com canteiros circulares e a criao das

    galinhas no centro. Os canteiros so dispostos em crculos, pois oferecem maior rea interna

    til em relao ao menor permetro... as bananeiras so utilizadas entre outras culturas como

    quebra vento. (JESUS et al, p. 369).

    Dentre outras prticas agroecolgicas presenciadas pelos pesquisadores do NEAF,

    est a adubao natural, onde segundo Jesus et al (2010) as prprias fezes e urinas dos

    animais so depositadas nos piquetes ao longo do dia, favorecendo o aparecimento de micro-

    condies.

    Os autores afirmaram que estas prticas favorecem uma produo de maior

    qualidade, melhorando no s a qualidade de vida das pessoas que ingerirem estes alimentos,

    mas tambm trazendo um retorno financeiro positivo para os produtores.

    Alm da experincia citada pelos pesquisadores do NEAF, estas prticas

    agroecolgias tambm ocorrem em outros Estados, como na Paraba e se chegassem ao

    conhecimento dos produtores rurais de Ipor e de outros municpios, poderiam contribuir

    muito para o crescimento dos mesmos, como por exemplo, a criao da horta em forma de

    mandala (Fig. 1 e 2), que segundo Marcos (2007, p. 196) a mandala ... tem uma forma

    circular, com um tanque central de onde partem as mangueiras que irrigaro os nove canteiros

    dispostos em crculos concntricos, inspirados no sistema solar, com o sol no centro e os

    planetas ao redor.

    Os trs primeiros canteiros da mandala servem para subsistncia, enquanto que os

    demais so para comercializao, garantindo a renda da famlia. Ainda segundo a autora no

    tanque que fica no meio de onde partem as mangueiras para a irrigao da horta, podem ser

    criados peixes, marrecos e patos. A horta em forma de mandala possibilita tambm uma

    plantao diversificada.

    34

  • 36

    Figura 1: Mandala Desenho.

    Fonte: MARCOS (2007).

    Figura 2: Tanque para irrigao. Mandala em assentamento no Esprito Santo - PB.

    Fonte: MARCOS (2007).

    35

  • 37

    2.5 Agroecologia em municpios prximos Ipor

    Identificaram-se prticas agroecolgicas importantes em municpios vizinhos Ipor.

    Tais municpios so Caiapnia, Bom Jardim de Gois, Doverlndia e Palestina de Gois.

    Nessas localidades algumas comunidades rurais compartilham experincias agroecolgicas e

    esto lideradas pela CPT (Comisso Pastoral da Terra), um rgo da Igreja Catlica,

    vinculado CNBB (Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil).

    Representantes das comunidades motivadas pela CPT demonstraram como tm

    ocorrido a agroecologia nos referidos municpios durante o Encontro de Comunidades

    Tecendo a rede de agroecologia no cerrado (Fig. 3), que aconteceu em Caiapnia-GO, nos

    dias 24 e 25 de outubro de 2013.

    O encontro reuniu vinte pequenos agricultores, representantes de Projetos de

    Assentamentos Rurais, alm de lideranas da CPT e da FETRAF (Federao dos

    Trabalhadores na Agricultura Familiar) e serviu para motivar os que j praticam a

    agroecologia, alm de divulgar tais prticas.

    Figura 3: Encontro de Comunidades Tecendo a rede de agroecologia no Cerrado, em

    Caiapnia-GO.

    Fonte: SILVA (2013).

    Esta pesquisa acompanhou o encontro, entrevistando os lderes que incentivam a

    agroecologia, alm dos agricultores. Tal participao no Encontro de Comunidades

    Tecendo a rede de agroecologia no Cerrado, possibilitou elementos para discutir as

    36

  • 38

    experincias agroecolgicas em seu contexto de desafios e incentivos na regio oeste de

    Gois, fornecendo possibilidades para entendermos o porqu da inexistncia de tais prticas

    no municpio de Ipor-GO.

    Identificou-se a agroecologia sendo praticada no Assentamento Pe. Ilgo Shineider,

    no municpio de Caiapnia-GO (distante aproximadamente 60km de Ipor-GO). Um dos

    representantes entrevistado desse assentamento Gerailton Ferreira dos Santos, que pratica a

    agroecologia em sua parcela e um incentivador dessa alternativa de produo. Ele define a

    agroecologia como:

    um novo modelo de produo. Na verdade, se produzir sem usar qumicos, sem

    usar agrotxicos, na verdade voc produzir os seus produtos todo ele com matrias

    orgnicas, isso agroecologia. Alm disso, a relao da famlia com a terra, com

    os vizinhos, com o ser humano... um processo de produo e de desenvolvimento

    de relao humana... Agroecologia faz parte de uma cultura dos antepassados que

    produziam de maneira natural. (SANTOS, 2013).

    Na fala do assentado, a agroecologia trata-se de uma nova alternativa de cultivo cujo

    sentido mais amplo do que a produo substituindo insumos qumicos por orgnicos.

    Confirma-se que a agroecologia no se preocupa somente com os fatores ambientais na

    produo, como tambm com as relaes do homem com a terra, sejam elas econmicas,

    sociais, polticas e culturais.

    A agricultura uma prtica que depende da natureza para a produo de alimentos.

    Apesar dessa relao de dependncia, homem e meio ambiente so colocados em segundo

    plano, visto que a intencionalidade da reproduo capitalista dominante. De acordo com o

    discurso do assentado, a agroecologia se faz importante nesse contexto para garantir

    alimentao saudvel, primeiramente s famlias produtoras e depois sociedade em geral

    atravs da comercializao do excedente, sendo tambm uma fonte de renda para os pequenos

    produtores e de respeito ao meio ambiente.

    A comercializao dos alimentos oriundos da agroecologia um dos desafios,

    segundo Santos. Para ele necessrio conscientizar a sociedade de que no s a produo

    para a exportao importante para garantir a economia, mas sim a produo para suprir as

    necessidades locais, com alimentos de qualidade. Os benefcios seriam tambm para a sade

    de quem se alimenta com os frutos da agroecologia.

    A certificao dos produtos da agroecologia, documentados por selo, comprovando

    que so produzidos naturalmente uma exigncia para a comercializao. Para obter o selo h

    dependncia de estruturas tcnicas, das quais os pequenos produtores no dispem. Tal

    37

  • 39

    certificao necessria, inclusive para a realizao de feiras agroecolgicas e servem para

    que o consumidor tenha certeza de estar adquirindo produtos mais saudveis, com tcnicas

    naturais. Porm, a certificao serve tambm como empecilho para os agricultores, que no

    conseguem implantar as exigncias para tal certificao. O assentado garantiu que a

    comercializao dos produtos agroecolgicos pouca e serve apenas para divulgao, com o

    objetivo de expor sociedade que h novas alternativas de produo, a fim de um

    reconhecimento das prticas, para fortalecer as reivindicaes por polticas pblicas em

    agroecologia.

    O assentado destacou que, dentre os enfrentamentos para a implantao da

    agroecologia em Gois esto a falta de incentivo do poder pblico, que prioriza a produo

    para a exportao. Para ele precisa-se discutir a relao entre agroecologia e agronegcio, pois

    no s produzir para exportar, mas sim alimentar a sociedade brasileira. (SANTOS,

    2013).

    Ainda representante do mesmo assentamento, participou do encontro a assentada

    Agajoeme Alves Barreto. Ela exps as prticas que ocorrem no assentamento onde mora (Fig.

    4) compartilhando experincias importantes aos agricultores que se fizeram presente. Ela

    citou que seu maior desafio a produo de morangos para comercializao, feita com o uso

    de biofertilizantes. A produo tem se desenvolvido. Ela tambm falou que, para o combate a

    braquiara tem utilizado o Feijo de Porco, pois este impede a braquiara de crescer. A

    braquiara, por ser uma espcie extica de gramnea introduzida no Cerrado, representa um

    problema ecolgico, que pode ser enfrentado atravs da agroecologia.

    Porm, para a assentada tem sido difcil conscientizar os demais assentados de que as

    tcnicas agroecolgicas precisam ser utilizadas, pois estes preferem tcnicas e formas de

    produo que sejam menos trabalhosas e que tragam resultados mais imediatos, mesmo que

    isso contribua para a degradao do meio ambiente e para a produo de alimentos menos

    saudveis.

    38

  • 40

    Figura 4: Plantio de hortalias no Assentamento Pe. Ilgo Shineider. Caiapnia-GO

    Fonte: SANTOS (2013).

    Tambm foi ouvido o Agente da Coordenao Executiva da Comisso Pastoral da

    Terra CPT da Regional Gois, Fbio Jos da Silva, que afirmou que a CPT tem lutado junto

    aos movimentos sociais por polticas que dem condies aos agricultores de produzirem em

    suas terras e assim poder permanecer nelas. Pois no preciso apenas conquistar terras, mas

    sim faz-las produtivas, o que envolve polticas de incentivo a produo.

    Assim o trabalho da CPT, assessorar esses produtores e desenvolver junto a eles

    modelos de produo que no prejudiquem tanto o meio ambiente.

    Neste contexto, ele afirmou que esto desenvolvendo experincias agroecolgicas no

    Estado de Gois,

    ...entendo que no basta apenas produzir, preciso produzir de forma que seja

    adequada a realidade desse campo com tecnologias apropriadas a agricultura

    familiar, para que esses agricultores tenham, sobretudo, autonomia do processo

    produtivo, ou seja, um sistema de produo em que ele tenha ali na propriedade

    todas as condies de desenvolver o seu sistema de produo sem necessidade de

    insumos externos na propriedade... (SILVA, 2013)

    Uma dessas experincias que esto sendo desenvolvidas so os quintais

    agroecolgicos (Fig. 5) que visam produo de alimentos em um pequeno espao. E atravs

    das oficinas e dos cursos de formao, os agricultores compartilham suas experincias, pois

    39

  • 41

    eles detm formas antigas de produo que no impactam o meio ambiente, mas que devido

    ao modelo de produo vigente muitos desses agricultores abandonaram essas formas.

    Figura 5: Mutiro para construo de quintais agroecolgicos no Assentamento Pe. Ilgo

    Shineider, em formato de crculo (mandala). Caiapnia-GO.

    Fonte: SANTOS (2013).

    Segundo Silva, essas experincias so desenvolvidas na zona rural de alguns

    municpios da Diocese2 de So Lus de Montes Belos-GO, tais municpios so Caiapnia,

    Doverlndia, Bom Jardim de Gois e Palestina de Gois, envolvendo como parceiros os

    Movimentos Sociais como a FETRAF Federao Nacional dos Trabalhadores e

    Trabalhadoras na Agricultura Familiar. Essas experincias tm incentivado a agroecologia

    no s como modo de produo, mas tambm como modo de vida do campo, em que os

    agricultores vo desenvolvendo tcnicas que sejam mais adequadas s suas necessidades, o

    2 Diocese: Circunscrio territorial sujeita administrao eclesistica de um Bispo, Arcebispo ou Patriarca.

    (FERNANDES, 1996). Na citao, a Diocese de So Luis de Montes Belos, a qual est subordinada as parquias

    dos municpios de Acrena, Adelndia, Americano do Brasil, Amorinpolis, Anicuns, Aragaras, Arenpolis,

    Aurilndia, Avelinpolis, Baliza, Bom Jardim de Gois, Cachoeira de Gois, Caiapnia, Cezarina, Crrego do

    Ouro, Diorama, Doverlndia, Firminpolis, Indiara, Ipor, Israelndia, Ivolndia, Jandaia, Jaupaci, Moipor,

    Montes Claros de Gois, Nazrio, Palestina de Gois, Palmeiras de Gois, Palminpolis, Parana, Piranhas, So

    Joo da Parana, So Luis de Montes Belos, Turvnia e Turvelndia.

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    que tem dado resultado, porque as pessoas percebem que, alm de acessveis as tcnicas

    empregadas pela agroecologia do certo.

    A CPT tambm tem incentivado o sistema de produo mandala que feito em

    formato circular tendo ao centro a criao de peixes, onde so empregadas tcnicas criadas

    pelos prprios produtores da regio, o que tem barateado o custo da produo. (SILVA,

    2013).

    O movimento social ligado aos agricultores familiares, a FETRAF, se fez presente no

    encontro atravs de Antnio Pereira Chagas, que agricultor familiar, residente em Palestina

    de Gois, e Coordenador Geral da FETRAF Gois. Segundo ele o papel da FETRAF na

    articulao da agroecologia orientar as famlias do campo sobre a importncia da

    agroecologia para que se possa garantir a sustentabilidade do campo, a conservao das guas,

    do meio ambiente e a produo de alimentos saudveis primeiramente para atender as

    prprias famlias e o excedente para ser comercializado na cidade.

    Ele abordou que em Ipor-GO a FETRAF ainda no tem trabalhado diretamente com

    as comunidades, mas que pretendem trabalhar com esse municpio, que tem vrias

    comunidades pertencentes agricultura familiar.

    Chagas afirmou que o cultivo da monocultura da soja pelo agronegcio na regio tem

    sido um desafio para a implantao da agroecologia ..e a iluso que o agronegcio passa para

    os proprietrios, para os nossos agricultores familiares que se voc arrendar a terra ou se

    voc plantar nesse modelo do agronegcio voc vai ter muito mais dinheiro (CHAGAS,

    2013).

    Para ele a falta de apoio do governo nas pesquisas para a agricultura familiar uma

    barreira que tem impedido a luta contra o modelo de produo do agronegcio, que tem como

    objetivo o lucro, a produo para exportao, no se importando com a degradao ambiental.

    E j a agricultura familiar pensa primeiramente na produo de alimentos para as famlias e

    para as comunidades que residem na cidade, produzindo alimentos saudveis e que respeitam

    o meio ambiente.

    As prticas agroecolgicas que ocorrem nos municpios vizinhos a Ipor-GO so

    lideradas pela CPT, com o apoio da FETRAF, como movimento social de luta e resistncia no

    campo. Tais experincias so diretamente acompanhadas por duas lideranas principais que

    atuam diretamente na formao de multiplicadores, com a funo de divulgar conhecimentos

    sobre a agroecologia. So eles, a religiosa Irm Dirlene da Glria Rodrigues e o assessor da

    CPT e agricultor familiar Douneto Ribeiro da Costa, que fazem o trabalho de base nas

    comunidades rurais.

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    Em entrevista a esta pesquisa Costa afirmou que a agroecologia uma cincia que

    estuda as questes ambientais, uma cincia que envolve as questes sociais e sustentveis e

    Rodrigues completa ainda que agroecologia envolve relaes, envolve produtividade,

    envolve sustentabilidade, em fim, envolve a vida.

    Neste contexto eles abordam que a agroecologia importante, pois diferente do

    agro