a segregaçao urbana em iporá-go o caso bairro jardim dos passarinhos

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ CURSO DE GEOGRAFIA A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS LILIANE ALVES VIEIRA Iporá – GO Ano 2009

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Page 1: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ

CURSO DE GEOGRAFIA

A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO

BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS

LILIANE ALVES VIEIRA

Iporá – GO

Ano 2009

Page 2: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

LILIANE ALVES VIEIRA

A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO

BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS

Monografia apresentada como exigência para obtenção do grau de licenciada no Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Iporá sob a orientação do Orientador: Ms Júlio César Pereira Borges

Iporá - GO

2009.

Page 3: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁSUNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ

COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DOCURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO

BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS

Liliane Alves Vieira

Monografia submetida à Banca Examinadora designada pela Coordenação de Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Goiás, UnU- Iporá como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciada em Geografia, sob orientação do profo . Ms Júlio César Pereira Borges

Iporá, ....... de ............... de ...........Banca examinadora:

____________________________________________Prof. Ms. Júlio César Pereira Borges – UEG - Iporá

________________________________________________Prof. .......... – UEG - Iporá

________________________________________________Prof. ...... – UEG - Iporá

Page 4: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

Dedico a Deus...

À minha família...

Aos meus colegas...

Aos professores e orientador...

A todos que colaboraram!

Liliane Alves Vieira

Page 5: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus,

por ser tudo em minha vida...

À minha família,...

Aos meus colegas...

Ao meu orientador pela paciência, respeito e competência...

A todos que facilitaram a realização do trabalho em questão.

Page 6: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

“O espaço é objeto de múltiplas estratégias,

nele e por ele se travam conflitos, defrontam-

se estratégias do Estado, dos moradores da

cidade, dos trabalhadores do campo, entidades

da vida civil, usuários e usuadores do espaço,

inscrevendo suas múltiplas territorialidades”.

HABERMAS

Page 7: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

RESUMO

Este trabalho, tem como objetivo promover uma discussão sobre o processo de

segregação espacial urbana na cidade de Iporá Goiás, através da análise do caso do Bairro Jardim dos

passarinhos, que apresenta características do processo supracitado. Para dar plausividade a esse

objetivo tem-se como direcionador pesquisas de estudiosos do assunto acompanhada de um

levantamento de fontes documentais qualitativas e quantitativas. Ainda como complemento

metodológico faz-se uso de entrevistas com moradores do lugar pesquisado, buscando entender o

objeto através da ótica de quem vive o mesmo. Alguns estudiosos do assunto fundamentaram

teoricamente este trabalho, tais como Carlos (1995) e Chaveiro (2005), fundamentais para a discussão

do processo de urbanização no Brasil; Coelho e Terra (2002) e Villaça (2001) essenciais para o debate

sobre a segregação espacial urbana e outros que contribuíram significativamente da o desenvolvimento

do assunto. Outra fonte de grande valia foi o Estatuto da Cidade, principalmente no que se refere às

transformações recentes da gestão da questão urbana, avançando a discussão para a proposta de

democratização da cidade, regimentada na constituição de 1988. A mesma importância pode ser dada

as fontes quantitativas, que possibilitou estatisticamente a compreensão do objeto pesquisado.

Palavras Chaves: Urbanização, Desenvolvimento Desigual e Segregação Espacial.

Page 8: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

ABSTRACT

This work aims to promote a discussion on the process of urban spatial segregation in

the city of Goiás Iporá, by examining the case of the Garden District of birds, that features the

above procedure. To plausible that goal has been as director of research scholars of the subject

accompanied by a survey of documentary sources qualitative and quantitative. Also as a

methodological supplement makes use of interviews with residents of the place searched, seeking to

understand the object through the lens of those living it. Some scholars have substantiated this

theory work, such as Carlos (1995) and Key Ring (2005), fundamental for the discussion of the

urbanization process in Brazil, Coelho and Earth (2002) and Villaça (2001) essential to the debate

on segregation urban space and others who have contributed significantly to the development of the

subject. Another source of great value was the Statute of the City, especially with regard to recent

changes in the management of urban issues, advancing the discussion to the proposed

democratization of the city, regimented in the constitution of 1988. The same importance can be

given quantitative sources, which allowed statistical understanding of the studied object.

Key words: Urbanization, Uneven Development and Spatial Segregation

Page 9: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 Mapa do município de Iporá-Go...............................................16

Ilustração 2 Imagem de uma invasão sem teto na cidade de São Paulo ......19

Ilustração 3 Bairro popular e de classe media da cidade de São Paulo........20

Ilustração 4 Condição de moradia na periferia de Recife............................21

Ilustração 5 Mapa do bairro da cidade Iporá...............................................29

Ilustração 6 Imagem 1 e 2: Esgoto a céu aberto no Bairro Jardim dos Passarinhos ..................................................................................................31Ilustração 7 Imagem 3: Lixo em lugar não apropriado ..............................32

Ilustração 8 Figura 4 local sem infra estrutura e simplicidade arquitetônica da

casa.............................................................................................................35

Page 10: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Taxa de urbanização de Iporá de 1970 ate 2007 .........................26

Gráfico 2 População Rural de Iporá de 1970 ate 2007 ...............................26

Gráfico 3 População total de Iporá de 1970 ate 2007 .................................27

Gráfico 4 Ramo de atividade dos moradores do bairro Jardim dos

Passarinhos....................................................................................................33

Gráfico 5 Renda familiar ...........................................................................33

Gráfico 6 Grau de escolaridade ................................................................34

Page 11: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12 E 13

CAPÍTULO I.PREMISSAS TEÓRICAS PARA COMPREENDER A SEGREGAÇÃO

ESPACIAL NO SETOR URBANO.................................................................................. 14

1.2 A SEGREGAÇÃO E A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ...............................................17

CAPÍTULO II O ESTATUTO DA CIDADE E A GESTÃO URBANA

DEMOCRATICA .............................................................................................................23

CAPITULO III O BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS COMO EXEMPLO DA

SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA EM IPORÁ....................................................28

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................36 E 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................38 E 39

ANEXO.......................................................................................................................40 E 41

Page 12: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho que se apresenta, tem como objetivo promover uma discussão sobre o

processo de segregação espacial urbana na cidade de Iporá Goiás, tendo como vértice o Bairro

Jardim dos passarinhos, que consiste em uma área caracterizada pela precária infra-estrutura e

pelas condições inadequadas para a sobrevivência humana.

Para atingir a objetividade proposta, tem-se como direcionador as pesquisas feitas

por estudiosos do assunto e ainda um levantamento de fontes documentais qualitativas e

quantitativas que vislumbre o pesquisado. Ainda como complemento metodológico faz-se uso

de entrevistas com moradores do lugar pesquisado, buscando entender o objeto através da

ótica de quem vive o mesmo.

Outra fonte de grande valia foi o Estatuto da Cidade, principalmente no que se

refere às transformações recentes da gestão da questão urbana, avançando a discussão para a

proposta de democratização da cidade, regimentada na constituição de 1988. A mesma

importância pode ser dada as fontes quantitativas, que possibilitou estatisticamente a

compreensão do objeto pesquisado.

No que se diz respeito à estrutura o presente trabalho está fundamentado em três

capítulos, nos quais buscou dar uma seqüência que possibilitasse a melhor compreensão do

assunto. No primeiro é feita uma discussão teórica sobre o processo de urbanização capitalista

e sua característica principal, que é a desigualdade socioespacial, fator preponderante para a

segregação espacial urbana.

No segundo capítulo é discutida a proposta de democratização da cidade na qual é

analisada o papel da constituição brasileira de 1988 e importância do Estatuto da Cidade e do

Plano Diretor para o sucesso da gestão democrática da cidade. Analisou-se ainda a segregação

espacial nas cidades médias, destacando o caso de Iporá que é entendida como pólo regional.

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No terceiro capítulo é discutido a segregação espacial urbana de Iporá através do

caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, onde foi feita uma análise da sua estrutura

socioeconômica, que revelou as características fundamentais do processo supracitado.

Assim buscou-se promover uma discussão na tentativa de contribuir para a

compreensão da questão de Iporá, na esperança que este trabalho sirva como mais uma fonte

para pesquisas que venham ser feitas sobre o assunto.

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1. PREMISSAS TEÓRICAS PARA COMPREENDER A SEGREGAÇÃO ESPACIAL NO SETOR URBANO

Apesar de a cidade ter surgido há mais de 3.500 anos a.C., só vem ganhar importância

início no século XVIII, através da Revolução Industrial, que foi responsável pela transição

econômica do campo para o setor urbano, onde encontrava-se as indústrias que comandava a

economia mundial a partir daquele momento. Este processo se originou na Europa e

rapidamente se espalhou pelo mundo.

Nos países subdesenvolvidos, a urbanização é um acontecimento mais recente, devido

a industrialização tardia, já que estes eram vistos como mercado consumidor e a sua

industrialização significa concorrência. No Brasil, como exemplo, esse processo somente

ocorreu após 1960 de uma forma intensa e desordenada, como esta exposto no texto

introdutório do Estatuto das Cidades (2001, p 26).

A imensa e rápida urbanização pela qual passou a sociedade brasileira foi certamente uma das principais questões sociais experimentadas no país no século XX. Enquanto em 1960, a população urbana representava 44,7% da população total – contra 55,3% de população rural – dez anos depois essa relação se invertera, com números quase idênticos: 55,9% de população urbana e 44,1% de população rural. No ano 2000, 81,2% da população brasileira vivia em cidades. Essa transformação, já imensa em números relativos, torna-se ainda mais assombrosa se pensarmos nos números absolutos, que revelam também o crescimento populacional do país como um todo: nos 36 anos entre 1960 e 1996, a população urbana aumenta de 31 milhões para 137 milhões, ou seja, as cidades recebem 106 milhões de novos moradores no período. A urbanização vertiginosa, coincidindo com o fim de um período de acelerada expansão da economia brasileira, introduziu no território das cidades um novo e dramático significado: mais do que evocar progresso ou desenvolvimento, elas passam a retratar – e reproduzir – de forma paradigmática as injustiças e desigualdades da sociedade.

Na atualidade cerca de 80% da população mundial vive nas cidades, e isso aumenta cada

dia mais, pois, o modo de produção concentra-se no setor urbano. O campo também é de

grande importância para economia mundial, porém a elevada técnicas de produção empregada

ao mesmo dispensa mão de obra, promovendo um esvaziamento demográfico do mesmo. No

Brasil esse processo foi intenso a partir de 1970, com a chamada modernização

Page 15: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

15

da agricultura, que por sua vez, promoveu uma rápida urbanização no estado de Goiás,

promovendo a transição demográfica do lugar.1

De acordo com Carlos (1995), o efeito urbanidade está associado à globalização e ao

agrupamento de muitas pessoas em um espaço limitado e na substituição das atividades

primárias por atividades secundárias e terciárias. Pode ser caracterizado ainda como o

aumento da população urbana em relação à população rural, mas só ocorre urbanização

quando a população urbana é superior a da população rural.

Na realidade a urbanidade é forma predominante da organização espacial

contemporânea, a qual promoveu profundas transformações na estrutura econômica, na

organização social e principalmente na vida do sujeito transitório. Tal transformação promove

um reordenamento espacial que é cruel e contraditória, entre uma minoria qualificada e uma

maioria com condições urbanísticas precárias, entendido como segregação espacial.

Neste contexto, a cidade é expressão da desigualdade de renda e das desigualdades

sociais e ainda pior, ela é agente de reprodução dessa desigualdade, como está disposto no

Estatuto das Cidades (2001, p 27):

Em uma cidade dividida entre a porção legal, rica e com infra-estrutura e a ilegal, pobre e precária, a população que está em situação desfavorável acaba tendo muito pouco acesso às oportunidades de trabalho, cultura ou lazer. Simetricamente, as oportunidades de crescimento circulam nos meios daqueles que já vivem melhor, pois a sobreposição das diversas dimensões da exclusão incidindo sobre a mesma população faz com que a permeabilidade entre as duas partes seja cada vez menor. Esse mecanismo é um dos fatores que acabam por estender a cidade indefinidamente: ela nunca pode crescer para dentro, aproveitando locais que podem ser adensados, é impossível para a maior parte das pessoas o pagamento, de uma vez só, pelo acesso a toda a infra-estrutura que já está instalada. Em geral, a população de baixa renda só tem a possibilidade de ocupar terras periféricas – muito mais baratas porque em geral não têm qualquer infra-estrutura – e construir aos poucos suas casas. Ou ocupar áreas ambientalmente frágeis, que teoricamente só poderiam ser urbanizadas sob condições muito mais rigorosas e adotando soluções geralmente dispendiosas, exatamente o inverso do que acaba acontecendo.

Pode-se então dizer que a cidade contemporânea se caracteriza pela sua diversidade e

complexidade, assim sendo, na análise da questão deve se voltar para sua grande

complexidade. Como afirma Chaveiro (2005, p. 172-173),

1 Sobre o assunto, consultar ESTEVAM (2002)

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16

Autores como Santos (1996), Melucci (2001) e Pelbart (2000) centram a sua análise espacial urbana referendando-o como um espaço complexo. A unicidade do mundo conformando uma territorialidade globalitária, engravidou o espaço de uma enormidade de variáveis. Essas variáveis provenientes da tradição convergindo com modernas, urbanas, tecnológicas, informacionais, científicas, imagéticas, de capitais financeiros, migratórias, pela via da circulação criam uma complexidade. Essa complexidade se redunda em fluidez, escapatórias, conflitos, desigualdades, violências, criminalidades e aberrações psíquicas. O fato é que o espaço contemporâneo diferentes do espaço da tradição é penetrado por vaiáveis estranhas à história local, à cultura local e às ações locais.

No contexto desta complexidade, esta pesquisa tem como finalidade promover uma

discussão sobre os fatores que levam a ocorrência da segregação espacial urbana. Para isso

tem-se como vértice o município de Iporá Goiás (mapa1).

Através do caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, que apresenta uma configuração

espacial de total falta de infrestrutura, dificultando consideravelmente a sobrevivência dos

seus moradores. Outro fator que chama a atenção neste bairro é o descaso do poder público

em relação às melhorias necessárias para melhorar a condição de vida dos moradores.

Page 17: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

17

1.2 A segregação e a organização social

Pode-se dizer que segregação é uma categoria de análise da cidade amplamente utilizada,

que vai desde as ciências sociais até as políticas públicas, e que, portanto, tem sido objeto de

definições muito diversas. A segregação é a condição do procedimento de apropriação e

integração dos grupos sociais à sociedade.

De acordo com COELHO e TERRA (2002), uma das principais causas da segregação

espacial, e que o poder público geralmente investe somente na cidade formal, ou seja, na

estética e na modernização da cidade, (shoppings-centers, parques, edifícios, viadutos). Sendo

ineficiente ou simplesmente ignorando a parte informal, que consisite no suprimento da

necessita de postos de saúde, escola, melhoria nas habitações, qualidade de vida e etc.

Isso gera a segregação (separação) espacial, que para Villaça (2001, p. 142) consiste

“no processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar

cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros de uma determinada

cidade..”

Em outras palavras a população sera absorvida e absorve a cidade de acordo com o seu

poder pagamento pela mesma. Esta condição revela a estruturação da cidade capitalista, que

leva ao processo de segregação espacial, pois as politicas públicas privilegia alguns setores da

camada social, pois em qualquer instância o modelo capitalista é excludente e concentrador.

Para Maricato (2001, p. 51) “É impossível esperar que uma sociedade como a nossa,

radicalmente desigual e autoritária, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade, possa

produzir cidades que não tenham essas características”.

Villaça (2001) argumenta que uma das características mais marcantes das cidades

brasileiras é a segregação espacial, pois as mesmas estão expressas na sua paisagem, pois

segundo o mesmo: “Basta uma volta pela cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para

constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população,

quanto às características urbanísticas e infra-estrutura”.

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18

De acordo com Villaça (2001, p. 85):

A segregação urbana traz inúmeros problemas às cidades. O primeiro é, obviamente, a desigualdade em si. Camadas mais pobres da população, com menos recursos, são justamente as que gastam mais com o transporte diário, que têm mais problemas de saúde por conta da falta de infra-estrutura, que são penalizadas por escolas de baixa qualidade, e assim por diante. A própria segregação é não apenas reflexo de uma condição social, mas um fator que contribui para tornar as diferenças ainda mais profundas.

Para Lojikine apud Villaça (2001): Existem vários tipos de segregação: etnias,

nacionalidades, classes sociais. Esta última é a que domina a estruturação das metrópoles

brasileiras que se divide em:

1. uma oposição entre o centro e a periferia;

2. uma separação cada vez mais acentuadas entre as áreas ocupadas pelas moradias

das classes mais populares e aquelas ocupadas pelas classes mais privilegiadas;

3. uma separação entre as funções urbanas, que ficam contidas em zonas destinadas a

funções específicas (comercial, industrial, resdencial, etc.)

Ainda de acordo com Villaça (2001, p. 89):

É possível distinguir ainda entre a segregação “voluntária” e a “involuntária”. A primeira refere-se àquela em que o indivíduo ou uma classe de indivíduos busca, por iniciativa própria, localizar-se próximo a outras pessoas de sua classe. A involuntária, ao contrário, é aquela em que as pessoas são segregadas contra a sua vontade, por falta de opção. Ambos os tipos são as duas faces de uma mesma moeda: à medida que uma acontece, a outra também acaba acontecendo.

Como foi dito anteriormente, a segregação espacial esta expressa na paisagem da

cidade, principalmente no que se refere a moradia, na qual a arquitetura revela a desigualdade

social representada pelas condições de sua moradia como demonstram as imagens 1 e 2:

Page 19: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

19

Foto 1. Imagem de Uma invasão de Sem Tetos na Cidade de São Paulo

Fonte: Google imagem . blogdowaldyr.blogspot.com

Foto 2: Contraste entre Bairro Popular e de Classe Média na Cidade de São Paulo.

Fonte : Google imagem. comunicacaojornal.jor.br

É possível dizer que uma cidade é um aglomerado de pessoas, e sua composição e

complexidade expressa na sua paisagem revela a condição de classe de quem a habita. Para

Oliveira (2002, p. 68)

A disposição espacial das pessoas na cidade reflete a condição de classe, de forma que os lugares ordenam-se representando em forma e conteúdo a situação sócio-econômica dos grupos que os ocupam. Este fator completa a gama de situações que podem resultar em conflitos sociais: produção material – desigualdades no trabalho, conflito entre capital e trabalho, mais-valia; formulação intelectual-ideológica –

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20

diferenças político-partidárias, fundamentalismo religioso etc.: ocupação espacial desigual – expressão de marginalidade, confinamento, destituição de infra-estrutura e serviços públicos.

Na maioria dos lugares que estão em desenvolvimento, em pleno crescimento,

intensica, a necessidade de recursos que forneçam espaços apropriados e adequados para que

assim as pessoas possam construir suas moradias, gozando de todos os benefícios que uma

cidade, na maioria das vezes dispõe como no caso de água tratada, energia, esgoto, escola,

transporte.

Infelizmente, quase sempre é possível se deparar com assuntos jornalísticos a respeito de

pessoas, que não têm o mesmo direito às benfeitorias que uma cidade oferece, se

estabelecendo em setores afastados, muitas vezes, impróprios, de se viver. O resultado disso é

a habitação em lugares inadequados, em um ambiente insalubre, ou mesmo, que agride a

saúde e a vida humana, acabando por serem intitulados, de acordo com cada caso, como

favelados, como demonstra a imagem 3.

Foto 1. Condições de Moradia na Periferia de Recife

Fonte: Google Imagem.

O fato é que aumento de pobres nas cidades, exige das autoridades mais

providências e cuidado, junto ao avanço de alta incidência de doenças que decorrem em sua

maioria de más condições ambientais e de moradia.

Page 21: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

21

Fato que ao longo da historia foi ignorado pelas políticas públicas brasileiras, tendo

em vista a dinâmica eleitoreira ao qual era vista a questão urbana, como pode ser visto no

Estatuto das Cidades (2001, p 28):

A despeito de sua aparente irracionalidade urbanística, esta dinâmica tem alta rentabilidade política. Separando interlocutores, o poder público pode ser, ao mesmo tempo, “sócio” de negócios imobiliários rentáveis e estabelecer uma base política popular nos assentamentos. A base popular, de natureza quase sempre clientelista, sustenta-se no princípio mesmo da contraposição entre cidade legal e ilegal. A condição de ilegalidade e informalidade dos assentamentos populares os converte em reféns de “favores” do poder público, a serem reconhecidos e incorporados à cidade, recebendo infra-estrutura, equipamentos, etc. Esta tem sido a grande moeda de troca nas contabilidades eleitorais, fonte da sustentação popular e governos e, o que é mais perverso, de manutenção de privilégios na cidade, definidos no marco da política urbana “dos planos”.

É bem verdade que esta realidade vem alterando nas ultimas décadas, tendo em vista a

política conhecida como reforma urbana, recomendada pela Constituição Federal de 1988, a

mesma implica uma idealização urbana que leve em conta aspectos sociais como, por

exemplo, o fato de o sistema de transporte coletivo assegurar ou não aos portadores de

deficiência condições de locomoção com dignidade, entre outros.

Essa idealização é implementada mediante a elaboração de normas legais e aspectos de

inclusão que garanta a participação e interferência da comunidade no processo de reflexão

sobre a cidade em si. Nesse sentido, o planejamento urbano deve ser capaz de pensar a cidade

estrategicamente, garantindo um processo permanente de discussão e análise das questões

urbanas e suas contradições essenciais, de forma a permitir o envolvimento de seus cidadãos.

De acordo com SCOTTO, CARVALHO e GUIMARÃES (2007, p 35):

O planejamento urbano deve proporcionar estruturas que estimulem o desenvolvimento, para assim promover iniciativas compartilhadas que intensifiquem as relações do Estado com a iniciativa privada direcionando para uma melhor qualidade de vida. Esse planejamento que foi proposto pela Constituição Federal de 1988 pretende que se desenvolva o crescimento econômico do município, não excluindo a importância da preservação do meio ambiente e a necessidade de assegurar dignidade às pessoas, bem como sua participação na comunidade.

Embora tenha sido prevista na constituição de 1988, apenas em 2001, mais

precisamente no dia 10 de outubro, entrou em vigor a Lei nº 10.2572, mais conhecida como

2 Em anexo.

Page 22: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

22

Estatuto da Cidade. A mesma estabelece as diretrizes gerais da política urbana

objetivando principalmente o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a

garantia ao direito a cidades sustentáveis. Esse assunto será discutido com detalhes no

segundo Capitulo.

Page 23: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

23

2. O ESTATUTO DA CIDADE E A GESTÃO URBANA DEMOCRÁTICA

De acordo com o disposto na apresentação do próprio estatuto, o presidente de então

da Caixa Econômica Federal Sr. Jorge Eduardo Levi Mattoso afirmou que a aprovação do

Estatuto da Cidade foi uma conquista dos movimentos populares, que se mobilizaram por

mais de uma década na luta por sua aprovação. Esta luta foi conduzida a partir da ativa

participação de entidades civis e de movimentos sociais em defesa do direito a cidade e a

habitação e de lutas cotidianas por melhores serviços públicos e oportunidades de uma vida

digna.

O objetivo principal do Estatuto das Cidades e promover “a função social da cidade e

da propriedade urbana”, que consiste na democratização do uso da cidade, ou seja, promover

uma urbanização mais igualitária. De acordo com o disposto no Estatuto (2001)

As inovações contidas no Estatuto situam-se em três campos: um conjunto de instrumentos de natureza urbanística, voltados para induzir – mais do que normatizar – as formas de uso e ocupação do solo; uma concepção de gestão democrática das cidades que incorpora a idéia de participação direta do cidadão(ã) nos processos decisórios sobre seus destinos; e a ampliação das possibilidades de regularização das posses urbanas, até hoje situadas na ambígua fronteira entre o legal e o ilegal.

O presidente da Caixa Econômica Federal reitera que, está absolutamente valorizado o

processo de planejamento para a ação pública. Um planejamento que deve contar

permanentemente com a participação da sociedade e buscar, constantemente, a melhoria do

desempenho e a valorização da capacidade técnico-administrativa das prefeituras. Este

planejamento deve ser integrado e integrador e ter como referência básica o Plano Diretor,

como diz no Estatuto da Cidade, Ministério das cidade. Brasil 2001.

Isso significa que os Planos Diretores devem resultar de um processo amplamente

participativo da população e de associações representativas dos vários segmentos econômicos

e sociais, não apenas durante o processo de elaboração e votação, mas, sobretudo, na

implementação e gestão de suas decisões. De acordo a Constituição de 1988 a obrigatoriedade

do Plano Diretor é para municípios com população acima de 20.000 habitantes; para aqueles

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24

situados em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; em áreas de interesse turístico;

ou em áreas sob influência de empreendimentos de grande impacto ambiental.

Os Municípios que não se incluem em qualquer destas categorias precisam dispor

obrigatoriamente de um Plano Diretor, se o poder público pretender aplicar os instrumentos

previstos no capítulo de Reforma Urbana da Constituição de 1988. Um dado interessante é

que a grande maioria desses municípios, a partir de 2008, vem implantando o Plano Diretor,

já que o mesmo facilita a liberação de verbas, por parte do ministério das cidades. Porém a

maioria destes são feitos de forma irregular, sem a participação da população.

No caso de Iporá, o Plano Diretor obedeceu em partes à exigência do Estatuto das

Cidades. Uma questão que se pode questionar é a não participação de cursos da Universidade

Estadual na equipe de implantação do mesmo, principalmente do curso de geografia que tem

grande conhecimento do assunto.

É bom ressaltar, que por iniciativa dos professores Marcos Antônio e Adjair

Maranhão, parte dos alunos do curso de Geografia da UEG de Iporá, participaram do debate

sobre o Plano Diretor da cidade, porém o envolvimento dos demais professores e alunos seria

de grande valia para o crescimento do curso, principalmente na luta pelo lugar do geógrafo no

processo.

Outro detalhe que pode ser levantado sobre o assunto, e a não participação da

população. O que justifica esse fato é o não conhecimento do assunto, em uma pesquisa feita

com moradores da cidade de cada 10 pessoas questionadas 7 não sabiam do que se trata o

assunto, 8 não sabiam que existia o Plano Diretor na cidade. No que se refere aos moradores

do Jardim dos Passarinhos, 10 em cada 10 moradores entrevistados não souberam do que se

tratava. Nesse caso é mais preocupante, pois são os que mais precisam de beneficiamento e de

um plano democrático de gestão.

Esses números revelam uma falha do processo de implementação do Plano Diretor em

Iporá, principalmente no que se refere à divulgação do mesmo, o que fere o seu princípio

maior, o da democracia da participação popular.

Page 25: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

25

O Plano Diretor é uma forma de resolver as desigualdades urbanas, como é o caso da

segregação espacial, que como foi dito anteriormente é resultado do processo de urbanização

no Brasil, assim como nos países subdesenvolvidos, devido à forma desordenada em que se

dá o mesmo. Geralmente esta condição é uma realidade das grandes cidades, mas com o

avanço do modo de produção capitalista pelo país as cidades brasileiras de porte médio estão

sendo inseridas nessa processualidade.

O debate sobre o termo cidades media tem sido intensificado nos últimos tempos e

vem ganhando várias definições, algumas sob a perspectiva quantitativa afirma que cidades

médias referem-se á aquelas que ultrapassam os 200 mil habitantes. Outras na perspectiva

qualitativa considera como cidades medias aquelas que se tornam pólo regional devido a sua

potencialidade socioeconômica superior as que ficam no seu raio de dependência. Como

afirma Silva (2007, p. 59):

(...) são nós, centros de região, conformando um sistema de cidades e atuam como concentradoras de atividades econômicas e sociais. Além disso, têm apresentado relativo protagonismo na participação do crescimento populacional urbano e portanto no processo de urbanização por que passa o mundo e também o Brasil. Diante das transformações ditadas pelo sistema econômico capitalista, tais cidades acumulam funções especiais e concentram atividades ligadas principalmente ao setor terciário.

É nesse contexto que se pensa a cidade de Iporá, a qual se comparada ao crescimento

das demais cidades de sua região encaixa-se no que é apontado pelas análises demográficas

mais recentes como sendo típico dessa conformação urbana, a qual oferece uma extensa rede

de serviços tais como saúde e educação, serviços bancários e de órgão público dentre outros.

São esses elementos associados é que dão a caracterização de cidade de porte médio, de

acordo com referenciais que articulam fatores de ordem demográfica, social e econômica,

como demonstram os gráficos 1 e 2:

Page 26: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

26

Gráfico 1: Taxa de Urbanização de Iporá de 1970 até 2007

56,80%

79,50%86,00% 91,20%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

1970198019912000 até 2007

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.

Os dados do gráfico 1, demonstram uma acelerada urbanização a partir dos anos de

1970, que se deu principalmente pela migração no sentido campo/cidade, o que promoveu um

esvaziamento do campo, (Gráfico 2) dada as condições precárias de subsistência nesse setor.

Gráfico 2: População Rural de Iporá de 1970 até 2007

7.433

5.595

4.148

2.744

01.0002.0003.0004.0005.0006.0007.0008.000

1970198019912000 até 2007

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.

A cidade de Iporá se torna um também num atrativo, para a população de cidades

vizinhas, intensificando o crescimento populacional (gráfico 3), ou seja, as pessoas enxergam

no lugar uma condição de melhoria de vida, o que nem sempre é uma realidade. O que define

a melhoria de vida da população é sua capacidade de adaptação ou de suprimento das

exigências da vida urbana, ou seja, aquele que está preparado para o mercado de trabalho

exigido pela cidade, o que não é a realidade da maioria das pessoas, as quais são submetidas a

condições sub-humanas como é a vida dos segregados.

Page 27: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

27Gráfico 3: População Total de Iporá de 1970 até 2007

17.199

27.24429.688 31.060

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

1970198019912000 até 2007

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.

Esta realidade se apresenta em Iporá através do processo de segregação urbana, como

é o caso do bairro Jardim dos Passarinhos, que possui um ordenamento espacial de precária

infrestrutura, dificultando consideravelmente a sobrevivência dos seus moradores. Outro fator

que chama a atenção neste bairro é o alijamento do poder público em relação às melhorias

necessárias para uma boa condição de vida dos moradores. Esta realidade não é a mesma de

setores que abrigam a classe mais abastada da cidade, por isso, a designação de segregação

urbana em Iporá. Assunto que será detalhado no terceiro capítulo.

Page 28: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

28

3. O BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS COMO EXEMPLO DA SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA EM IPORÁ

O Bairro Jardim dos Passarinhos foi escolhido pela sua representatividade em relação

à segregação urbana, pois o mesmo apresenta um baixo desenvolvimento socioeconômico.

Como foi dito anteriormente este bairro absorveu parte da população rural que migrou para a

cidade e não foram inseridos na dinâmica urbana mais desenvolvida, sendo obrigados a

residirem em condições precárias, como é a realidade do bairro em questão.

Para a obtenção de dados sobre a história do surgimento deste bairro, foi realizada

uma visita com questionário para ser respondido, junto aos moradores da área de pesquisa,

bem como a realização de conversa informal, para entendermos a verdadeira identidade do

bairro. As observações em campo responderam questões como à formação histórica,

socioeconômicas e políticas da área pesquisada.

O Bairro teve inicio com o registro do loteamento no dia 16 de outubro de 1980. As

formas de aquisição dos lotes foram por especulação imobiliária, no qual se chamava Terra

Boa Empreendimentos LTDA, de São Paulo, sendo o senhor José Lauriano (Mexicano) o

corretor de imóveis responsável. Os lotes eram vendidos mais baratos e com isso pessoas de

baixa renda que não tinham condições de adquirir lotes em áreas nobres aproveitou a

oportunidade para realizar o sonho da casa própria.

De acordo com a planta de urbanização do bairro Jardim dos Passarinhos e com os

dados obtidos durante trabalho de campo, foi possível averiguar que a situação atual da

formação arquitetônica do Bairro possui uma área 46.590.47 m² com 141. Lotes e 8 quadras

os quais a minoria estão habitados. A descrição da estrutura bairro é feita pala seguinte

divisão: três ruas latitudinais. (Rua dos Uirapurus, Rua dos Canarinhos e Rua das Alamedas

dos Pintassilgos) quatro ruas (Ruas das Patativas, Rua das Águias, Rua dos tordos e Rua das

Andorinhas).

Page 29: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

29

Mapa do bairro.

No entanto, seus moradores consideram-se esquecidos pelo poder público que nada

de benefícios oferece para o bairro. A diferença dos residentes nesse bairro periférico e em

qualquer outro é percebido em sua paisagem, com a forma da cultura, a expressão em seu

rosto e o ritmo de vida no cotidiano.

Em se tratando da infra-estrutura do bairro, possui água tratada, energia, telefone e

coleta de lixo. Ainda falta no local pavimentação adequada nas ruas, saneamento básico (rede

de esgoto domestico e galeria pluvial), creche, centro comunitário, escola, posto de saúde,

posto policial, praça.

Os moradores não contam com serviços de saúde, como o Programa da Saúde da

Família, (PSF), no qual é atendida pelo PSF da Vila Itajubá, segundo moradores do bairro em

questão reclamaram a falta de visitas de um agente de saúde, que são direito de todos os

cidadãos, no qual os moradores do bairro, Jardim dos Passarinhos, infelizmente são privados.

Page 30: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

30

Os moradores enfrentam outras dificuldades, pela coleta do lixo, não ser diária, o

lixo colocado nas portas para serem recolhidos, é espalhado pelos cães, ocasionando mau

cheiro no local. Na época da estiagem os residentes sofrem com a poeira, pois o bairro não

apresenta nenhuma rua pavimentada, acarretando problemas pulmonares nas crianças e nos

adultos.

Os moradores sentem-se abandonado pelo poder publico, o qual só aparece no bairro

na época de eleições, prometendo tudo que eles reivindicam. Portanto para alguns moradores

do bairro, o período eleitoral é a chance de melhorar a qualidade de vida. É o período em que

os candidatos para garantir seu voto, prestigiam os moradores locais, com doações de

materiais de construção o qual foi constatado na pesquisa de campo, onde pessoas são

beneficiadas com kit sanitário e outros.

Nesse sentido, a coação dos eleitores locais se faz a “doação voluntaria” dos

candidatos, que buscam seus votos com tais ações. Esta situação colabora com o pensamento

de Demo (1996) em seu livro. “Pobreza Política” o qual afirma que o estado tornou essa

sociedade politicamente pobre, com o chamado “voto cabresto”. No caso da referido, entende-

se por voto “de cabresto” o ato de privar as pessoas de sua cidadania, manipulando-a nas

decisões e a destituindo da consciência de sua opressão e / ou de sua coibição de organizar em

defesa de seus direitos.

Em visitas ao bairro observou-se que algumas residências não possuem se quer

fossas sépticas e seus resíduos são lançados no solo, juntamente observou-se que os

escoamentos de água são vistas a céu aberto, como demonstram as figuras 1 e 2. A ausência

de saneamento ocasiona várias incidências à saúde e ao meio ambiente. Tal impacto

provocado pela prática de deposição inadequada do destino desses resíduos traz como

conseqüência a contaminação da área levando o comprometimento do solo, da água, do ar e

da saúde em geral.

Page 31: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

31Imagem 1 e 2: Esgoto a céu aberto no Bairro Jardim dos Passarinhos

Figura 1 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves. Figura 2 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.

O Bairro Jardim dos Passarinhos esta localizado em um relevo irregular, não propício

para a construção de casas, por esse motivo os moradores enfrentam problemas com a erosão

que se agravam no período chuvoso, causando transtorno para população local. Por não

possuir rede de tratamento de esgoto, nem coleta de lixo regular, rejeitos são depositados

nesses locais, por alguns moradores o que contribui para o agravamento da degradação

ambiental, como mostra a figura 3.

Imagem 3: Lixo em lugar não apropriado

Figura 3 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.

Page 32: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

32

Em visita ao Departamento responsável pelo planejamento urbano na Prefeitura

Municipal de Iporá, não foi verificado a existência de um planejamento urbano para a

construção do lugar. De acordo com funcionários da prefeitura municipal existe uma proposta

de construção um bosque usando a recuperação do solo, pois os moradores sofrem com a

agressão e degradação do meio ambiente local. No entanto não se teve acesso a nenhum

documento que comprove o que foi dito. No entanto descobriu-se através do plano diretor,

que para construção do bosque a uma proposta de transferência do bairro para um lugar mais

plano, entendido pela prefeitura como menos problemático.

Na visita de campo foi realizada pesquisa através de um questionário3, que serviu

como roteiro de entrevistas, com alguns moradores do lugar. Com essa pesquisa foi possível

perceber que a população local exerce atividades, consideradas de baixo rendimento, como

demonstram os gráficos 4 e 5.

Gráfico 4

Ramo de Atividade dos Moradores do Bairro Jardim dos Passarinhos

30 3034

51

05

10152025303540

Qua

ntid

ade

em (%

) Serviços braçais

Empregadas domésticas

Aposentados

Autônomos

Carteira assinada

Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.

333 Em anexo.

Page 33: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

Gráfico 5.

Fonte: VIERA, Liliane Alves.

Um detalhe interessante que demonstra o gráfico 4 e o grande número de

aposentados, o que foi possível comprovar na visita a campo. O pior que o bairro não

apresenta nenhuma infrestrutura que possibilite uma boa qualidade de vida para essa terceira

idade.

Outro aspecto que faz necessário chamar a atenção é para o baixo número de

empregados com carteira assinada, o que levou a concluir a desqualificação da mão de obra,

que não são absorvidas por setores mais exigentes, que geralmente assinam carteiras. O que

comprova essa afirmação é o grande número de empregadas domésticas e de serviços braçais.

O que pode também ser constatado é os que se referem como autônomos, na verdade são

desempregados que vivem de bicos.

Para a complementação da renda, o que é essencial para o mínimo de dignidade, a

grande maioria das famílias recebem algum programa social do Governo Federal ou Estadual

como: Bolsa Família, Bolsa escola, Renda cidadã e outros.

Tendo em vista a condição social desta população, buscamos conhecer o grau de

escolaridade dos mesmos, afim de relacionar os baixos rendimentos dos mesmos, com sua

ocupação profissional, a realidade encontrada reforça hipóteses levantadas inicialmente, o não

34

Renda Familiar

75

25

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Qu

anti

dad

e em

(%

)

De um a um salário mínimoe meio

Menos de um saláriomínimo

Page 34: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

acesso da população a educação acaba por refletir em suas condições de existência. A

escolaridade é um ponto preocupante, que influencia na situação econômica dos moradores,

pois no mundo atual aqueles que têm maior grau de escolaridade sempre têm salários

melhores.

Gráfico 6.

Grau de Escolaridade

60

105

0

25

0

10

20

30

40

50

60

70

Qua

ntid

ade

em (%

) 1ª Fase do EnsinoFundamental2ª Fase do EnsinoFundamentalEnsino Médio

Superior

Analfabetos

Fonte: VIERA, Liliane Alves.

No caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, como demonstra o gráfico 6, 60% da

população do bairro tem o ensino fundamental, e 10% alcançaram o 2° fase do Ensino

Fundamenta, já 05 % tem o ensino médio e uma grande parte são analfabetos 25%, e nenhum

dos moradores chegaram a ter: curso superior, ou seja os moradores são de um nível muito

baixo de escolaridade.

Outro fator que merece destaque é a paisagem do lugar, que demonstra a

verdadeira realidade do lugar, como pode ser visto na simplicidade arquitetônica das casas,

assim como sua precária estrutura; a total infrestrutura, sem asfalto, local adequado para o

lazer, como as praças dentre outros fatores. As figuras 5 e 6 remetem a esta realidade.

35

Page 35: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

Figura5 Fonte: VIEIRA, LilianeAlves. Figura 6 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.

Diante de todo o exposto, pode-se dizer que o Bairro Jardim dos Passarinhos é

resultado de um modelo político e socioeconômico, do mundo atual, que produz lixo e luxo

sem preocupação com que verdadeiramente importa. O ser humano.

36

Page 36: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade de hoje vive em uma grande exclusão social, sendo que os mais ricos

podem desfrutar de uma qualidade de vida diferenciada das classes sociais mais baixas, pois o

capitalismo, sem duvida determina a fragmentação das classes sociais. A partir da pesquisa

realizada percebe-se que a condição de vida dos moradores do bairro dos Jardins dos

Passarinhos, é precária devido à falta de infra-estrutura do local.

De uma forma geral, deve-se considerar que a configuração espacial do bairro

Jardim dos Passarinhos é o resultado da inter-relação direta ou indireta dos agentes

modeladores do espaço urbano, o bairro é formado por uma população excluída dos serviços

urbanos, retrato da degradação social. Esta por sua vez, resultante do capitalismo, que nada

mais é que, uma forma de exclusão de indivíduos sem condições de se apropriarem de locais

de infra-estrutura e condições básica de moradia. Nesse sentido, a exclusão social é alarmante,

pois não há nenhuma preocupação com o bairro, por parte dos órgãos públicos competentes

(Prefeitura local, Secretaria de Planejamento Urbano e Estado).

Para melhoria na condição de vida da população, o bairro deve ser assistido com a

construção de rede de esgoto e outros benefícios, para que os indivíduos daquela localidade,

no mínimo possam ter uma morada digna, com o mínimo que o ser humano necessita para sua

sobrevivência.

Assim conclui-se, que a realidade do lugar em questão é a mesma da grande

maioria das cidades brasileiras, que exclui parte significativa da população que não tem

direito a modernidade, pois faz parte de uma classe social que não consegue pagar pela

mesma.

A melhoria nas condições de vida dos moradores do bairro Jardim dos

Passarinhos, assim como, de todos os segregados é responsabilidade do poder público que na

verdade não realizam seu dever, muito pelo contrario, o poder público é responsável pela

intensificação do processo, pois investe em regiões já com infra-estrutura de alto nível.

37

Page 37: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

Esta é a realidade de Iporá, através do bairro Jardim dos Passarinhos, que devido

ao descaso sucessivo da administração pública o lugar não passa por melhorias, submetendo

seus moradores a condições subumanas de sobrevivência.

Espera-se que essas discussões possam contribuir para possíveis soluções dos

problemas encontrados no bairro Jardim dos Passarinho no município de Iporá, suscitando o

compromisso individual e coletivo com mudanças estruturais que venha imprimir futuros

planejamentos, sobretudo estudos que orientem a elaboração de um projeto para a recuperação

da área estudada.

Page 38: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

38REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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socioespacial. Goiânia: Gráfica e Editora Modelo, 2005.

CORRÊA, Roberto L. Geografia: temas sobre cultura e espaço. Rio de Janeiro: Editora da

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COELHO, Marcos de Amorim; TERRA, Lygia. Geografia do Brasil, 5 ed. Reformulada e

Atual - São Paulo: Moderna 2002 (Série Sinopse).

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MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Page 39: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

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VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001.

Page 40: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

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ANEXO

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Local:

Data:

Entrevistado:

A- Informações socioeconômicas:

1- Sexo:

( ) masculino ( ) feminino

2- Idade:

( ) ate 15 anos ( ) 16 a 25 anos

( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos

( ) acima de 45de anos

3- Grau escolaridade:

( ) analfabeto

( ) de 1ª a 4ª ( ) completo

( ) 5ª a 8ª ( ) completo

( ) de 1° colegial a 3° ( ) completo

( ) superior

4- Renda familiar:

5- Quantas pessoas moram na casa? ________________________________________

6- Local de trabalho? ____________________________________________________

7- Se for empregado, quanto tempo? ________________________________________

Page 41: A Segregaçao Urbana Em Iporá-GO O Caso Bairro Jardim Dos Passarinhos

8- Contam com:

41

( ) água tratada ( ) rede de esgoto

( ) energia ( ) telefone

9- Contam com PSF (Programa de Saúde Familiar) ou outro de saúde.

____________________________________________________________________

B- Histórico da Área característica (origem e condições do loteamento):

1- Como surgiu o bairro?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

2- Por que escolheram esta área para construir suas casas?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

3- Como adquiriram o lote?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

4- Qual seu local de origem?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

5- Quais as dificuldades no período chuvoso?

a- Os resíduos (lixo) depositados no local causam odores?

_______________________________________________________________________

_________________________________________________________________

b- Como e feita a coleta do lixo?

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________