a segregaçao urbana em iporá-go o caso bairro jardim dos passarinhos
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ
CURSO DE GEOGRAFIA
A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO
BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS
LILIANE ALVES VIEIRA
Iporá – GO
Ano 2009
LILIANE ALVES VIEIRA
A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO
BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS
Monografia apresentada como exigência para obtenção do grau de licenciada no Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de Iporá sob a orientação do Orientador: Ms Júlio César Pereira Borges
Iporá - GO
2009.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁSUNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DOCURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
A SEGREGAÇÃO URBANA EM IPORÁ-GO: O CASO
BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS
Liliane Alves Vieira
Monografia submetida à Banca Examinadora designada pela Coordenação de Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Goiás, UnU- Iporá como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciada em Geografia, sob orientação do profo . Ms Júlio César Pereira Borges
Iporá, ....... de ............... de ...........Banca examinadora:
____________________________________________Prof. Ms. Júlio César Pereira Borges – UEG - Iporá
________________________________________________Prof. .......... – UEG - Iporá
________________________________________________Prof. ...... – UEG - Iporá
Dedico a Deus...
À minha família...
Aos meus colegas...
Aos professores e orientador...
A todos que colaboraram!
Liliane Alves Vieira
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus,
por ser tudo em minha vida...
À minha família,...
Aos meus colegas...
Ao meu orientador pela paciência, respeito e competência...
A todos que facilitaram a realização do trabalho em questão.
“O espaço é objeto de múltiplas estratégias,
nele e por ele se travam conflitos, defrontam-
se estratégias do Estado, dos moradores da
cidade, dos trabalhadores do campo, entidades
da vida civil, usuários e usuadores do espaço,
inscrevendo suas múltiplas territorialidades”.
HABERMAS
RESUMO
Este trabalho, tem como objetivo promover uma discussão sobre o processo de
segregação espacial urbana na cidade de Iporá Goiás, através da análise do caso do Bairro Jardim dos
passarinhos, que apresenta características do processo supracitado. Para dar plausividade a esse
objetivo tem-se como direcionador pesquisas de estudiosos do assunto acompanhada de um
levantamento de fontes documentais qualitativas e quantitativas. Ainda como complemento
metodológico faz-se uso de entrevistas com moradores do lugar pesquisado, buscando entender o
objeto através da ótica de quem vive o mesmo. Alguns estudiosos do assunto fundamentaram
teoricamente este trabalho, tais como Carlos (1995) e Chaveiro (2005), fundamentais para a discussão
do processo de urbanização no Brasil; Coelho e Terra (2002) e Villaça (2001) essenciais para o debate
sobre a segregação espacial urbana e outros que contribuíram significativamente da o desenvolvimento
do assunto. Outra fonte de grande valia foi o Estatuto da Cidade, principalmente no que se refere às
transformações recentes da gestão da questão urbana, avançando a discussão para a proposta de
democratização da cidade, regimentada na constituição de 1988. A mesma importância pode ser dada
as fontes quantitativas, que possibilitou estatisticamente a compreensão do objeto pesquisado.
Palavras Chaves: Urbanização, Desenvolvimento Desigual e Segregação Espacial.
ABSTRACT
This work aims to promote a discussion on the process of urban spatial segregation in
the city of Goiás Iporá, by examining the case of the Garden District of birds, that features the
above procedure. To plausible that goal has been as director of research scholars of the subject
accompanied by a survey of documentary sources qualitative and quantitative. Also as a
methodological supplement makes use of interviews with residents of the place searched, seeking to
understand the object through the lens of those living it. Some scholars have substantiated this
theory work, such as Carlos (1995) and Key Ring (2005), fundamental for the discussion of the
urbanization process in Brazil, Coelho and Earth (2002) and Villaça (2001) essential to the debate
on segregation urban space and others who have contributed significantly to the development of the
subject. Another source of great value was the Statute of the City, especially with regard to recent
changes in the management of urban issues, advancing the discussion to the proposed
democratization of the city, regimented in the constitution of 1988. The same importance can be
given quantitative sources, which allowed statistical understanding of the studied object.
Key words: Urbanization, Uneven Development and Spatial Segregation
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 Mapa do município de Iporá-Go...............................................16
Ilustração 2 Imagem de uma invasão sem teto na cidade de São Paulo ......19
Ilustração 3 Bairro popular e de classe media da cidade de São Paulo........20
Ilustração 4 Condição de moradia na periferia de Recife............................21
Ilustração 5 Mapa do bairro da cidade Iporá...............................................29
Ilustração 6 Imagem 1 e 2: Esgoto a céu aberto no Bairro Jardim dos Passarinhos ..................................................................................................31Ilustração 7 Imagem 3: Lixo em lugar não apropriado ..............................32
Ilustração 8 Figura 4 local sem infra estrutura e simplicidade arquitetônica da
casa.............................................................................................................35
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Taxa de urbanização de Iporá de 1970 ate 2007 .........................26
Gráfico 2 População Rural de Iporá de 1970 ate 2007 ...............................26
Gráfico 3 População total de Iporá de 1970 ate 2007 .................................27
Gráfico 4 Ramo de atividade dos moradores do bairro Jardim dos
Passarinhos....................................................................................................33
Gráfico 5 Renda familiar ...........................................................................33
Gráfico 6 Grau de escolaridade ................................................................34
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12 E 13
CAPÍTULO I.PREMISSAS TEÓRICAS PARA COMPREENDER A SEGREGAÇÃO
ESPACIAL NO SETOR URBANO.................................................................................. 14
1.2 A SEGREGAÇÃO E A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ...............................................17
CAPÍTULO II O ESTATUTO DA CIDADE E A GESTÃO URBANA
DEMOCRATICA .............................................................................................................23
CAPITULO III O BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS COMO EXEMPLO DA
SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA EM IPORÁ....................................................28
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................36 E 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ....................................................................38 E 39
ANEXO.......................................................................................................................40 E 41
12
1 INTRODUÇÃO
O trabalho que se apresenta, tem como objetivo promover uma discussão sobre o
processo de segregação espacial urbana na cidade de Iporá Goiás, tendo como vértice o Bairro
Jardim dos passarinhos, que consiste em uma área caracterizada pela precária infra-estrutura e
pelas condições inadequadas para a sobrevivência humana.
Para atingir a objetividade proposta, tem-se como direcionador as pesquisas feitas
por estudiosos do assunto e ainda um levantamento de fontes documentais qualitativas e
quantitativas que vislumbre o pesquisado. Ainda como complemento metodológico faz-se uso
de entrevistas com moradores do lugar pesquisado, buscando entender o objeto através da
ótica de quem vive o mesmo.
Outra fonte de grande valia foi o Estatuto da Cidade, principalmente no que se
refere às transformações recentes da gestão da questão urbana, avançando a discussão para a
proposta de democratização da cidade, regimentada na constituição de 1988. A mesma
importância pode ser dada as fontes quantitativas, que possibilitou estatisticamente a
compreensão do objeto pesquisado.
No que se diz respeito à estrutura o presente trabalho está fundamentado em três
capítulos, nos quais buscou dar uma seqüência que possibilitasse a melhor compreensão do
assunto. No primeiro é feita uma discussão teórica sobre o processo de urbanização capitalista
e sua característica principal, que é a desigualdade socioespacial, fator preponderante para a
segregação espacial urbana.
No segundo capítulo é discutida a proposta de democratização da cidade na qual é
analisada o papel da constituição brasileira de 1988 e importância do Estatuto da Cidade e do
Plano Diretor para o sucesso da gestão democrática da cidade. Analisou-se ainda a segregação
espacial nas cidades médias, destacando o caso de Iporá que é entendida como pólo regional.
13
No terceiro capítulo é discutido a segregação espacial urbana de Iporá através do
caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, onde foi feita uma análise da sua estrutura
socioeconômica, que revelou as características fundamentais do processo supracitado.
Assim buscou-se promover uma discussão na tentativa de contribuir para a
compreensão da questão de Iporá, na esperança que este trabalho sirva como mais uma fonte
para pesquisas que venham ser feitas sobre o assunto.
14
1. PREMISSAS TEÓRICAS PARA COMPREENDER A SEGREGAÇÃO ESPACIAL NO SETOR URBANO
Apesar de a cidade ter surgido há mais de 3.500 anos a.C., só vem ganhar importância
início no século XVIII, através da Revolução Industrial, que foi responsável pela transição
econômica do campo para o setor urbano, onde encontrava-se as indústrias que comandava a
economia mundial a partir daquele momento. Este processo se originou na Europa e
rapidamente se espalhou pelo mundo.
Nos países subdesenvolvidos, a urbanização é um acontecimento mais recente, devido
a industrialização tardia, já que estes eram vistos como mercado consumidor e a sua
industrialização significa concorrência. No Brasil, como exemplo, esse processo somente
ocorreu após 1960 de uma forma intensa e desordenada, como esta exposto no texto
introdutório do Estatuto das Cidades (2001, p 26).
A imensa e rápida urbanização pela qual passou a sociedade brasileira foi certamente uma das principais questões sociais experimentadas no país no século XX. Enquanto em 1960, a população urbana representava 44,7% da população total – contra 55,3% de população rural – dez anos depois essa relação se invertera, com números quase idênticos: 55,9% de população urbana e 44,1% de população rural. No ano 2000, 81,2% da população brasileira vivia em cidades. Essa transformação, já imensa em números relativos, torna-se ainda mais assombrosa se pensarmos nos números absolutos, que revelam também o crescimento populacional do país como um todo: nos 36 anos entre 1960 e 1996, a população urbana aumenta de 31 milhões para 137 milhões, ou seja, as cidades recebem 106 milhões de novos moradores no período. A urbanização vertiginosa, coincidindo com o fim de um período de acelerada expansão da economia brasileira, introduziu no território das cidades um novo e dramático significado: mais do que evocar progresso ou desenvolvimento, elas passam a retratar – e reproduzir – de forma paradigmática as injustiças e desigualdades da sociedade.
Na atualidade cerca de 80% da população mundial vive nas cidades, e isso aumenta cada
dia mais, pois, o modo de produção concentra-se no setor urbano. O campo também é de
grande importância para economia mundial, porém a elevada técnicas de produção empregada
ao mesmo dispensa mão de obra, promovendo um esvaziamento demográfico do mesmo. No
Brasil esse processo foi intenso a partir de 1970, com a chamada modernização
15
da agricultura, que por sua vez, promoveu uma rápida urbanização no estado de Goiás,
promovendo a transição demográfica do lugar.1
De acordo com Carlos (1995), o efeito urbanidade está associado à globalização e ao
agrupamento de muitas pessoas em um espaço limitado e na substituição das atividades
primárias por atividades secundárias e terciárias. Pode ser caracterizado ainda como o
aumento da população urbana em relação à população rural, mas só ocorre urbanização
quando a população urbana é superior a da população rural.
Na realidade a urbanidade é forma predominante da organização espacial
contemporânea, a qual promoveu profundas transformações na estrutura econômica, na
organização social e principalmente na vida do sujeito transitório. Tal transformação promove
um reordenamento espacial que é cruel e contraditória, entre uma minoria qualificada e uma
maioria com condições urbanísticas precárias, entendido como segregação espacial.
Neste contexto, a cidade é expressão da desigualdade de renda e das desigualdades
sociais e ainda pior, ela é agente de reprodução dessa desigualdade, como está disposto no
Estatuto das Cidades (2001, p 27):
Em uma cidade dividida entre a porção legal, rica e com infra-estrutura e a ilegal, pobre e precária, a população que está em situação desfavorável acaba tendo muito pouco acesso às oportunidades de trabalho, cultura ou lazer. Simetricamente, as oportunidades de crescimento circulam nos meios daqueles que já vivem melhor, pois a sobreposição das diversas dimensões da exclusão incidindo sobre a mesma população faz com que a permeabilidade entre as duas partes seja cada vez menor. Esse mecanismo é um dos fatores que acabam por estender a cidade indefinidamente: ela nunca pode crescer para dentro, aproveitando locais que podem ser adensados, é impossível para a maior parte das pessoas o pagamento, de uma vez só, pelo acesso a toda a infra-estrutura que já está instalada. Em geral, a população de baixa renda só tem a possibilidade de ocupar terras periféricas – muito mais baratas porque em geral não têm qualquer infra-estrutura – e construir aos poucos suas casas. Ou ocupar áreas ambientalmente frágeis, que teoricamente só poderiam ser urbanizadas sob condições muito mais rigorosas e adotando soluções geralmente dispendiosas, exatamente o inverso do que acaba acontecendo.
Pode-se então dizer que a cidade contemporânea se caracteriza pela sua diversidade e
complexidade, assim sendo, na análise da questão deve se voltar para sua grande
complexidade. Como afirma Chaveiro (2005, p. 172-173),
1 Sobre o assunto, consultar ESTEVAM (2002)
16
Autores como Santos (1996), Melucci (2001) e Pelbart (2000) centram a sua análise espacial urbana referendando-o como um espaço complexo. A unicidade do mundo conformando uma territorialidade globalitária, engravidou o espaço de uma enormidade de variáveis. Essas variáveis provenientes da tradição convergindo com modernas, urbanas, tecnológicas, informacionais, científicas, imagéticas, de capitais financeiros, migratórias, pela via da circulação criam uma complexidade. Essa complexidade se redunda em fluidez, escapatórias, conflitos, desigualdades, violências, criminalidades e aberrações psíquicas. O fato é que o espaço contemporâneo diferentes do espaço da tradição é penetrado por vaiáveis estranhas à história local, à cultura local e às ações locais.
No contexto desta complexidade, esta pesquisa tem como finalidade promover uma
discussão sobre os fatores que levam a ocorrência da segregação espacial urbana. Para isso
tem-se como vértice o município de Iporá Goiás (mapa1).
Através do caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, que apresenta uma configuração
espacial de total falta de infrestrutura, dificultando consideravelmente a sobrevivência dos
seus moradores. Outro fator que chama a atenção neste bairro é o descaso do poder público
em relação às melhorias necessárias para melhorar a condição de vida dos moradores.
17
1.2 A segregação e a organização social
Pode-se dizer que segregação é uma categoria de análise da cidade amplamente utilizada,
que vai desde as ciências sociais até as políticas públicas, e que, portanto, tem sido objeto de
definições muito diversas. A segregação é a condição do procedimento de apropriação e
integração dos grupos sociais à sociedade.
De acordo com COELHO e TERRA (2002), uma das principais causas da segregação
espacial, e que o poder público geralmente investe somente na cidade formal, ou seja, na
estética e na modernização da cidade, (shoppings-centers, parques, edifícios, viadutos). Sendo
ineficiente ou simplesmente ignorando a parte informal, que consisite no suprimento da
necessita de postos de saúde, escola, melhoria nas habitações, qualidade de vida e etc.
Isso gera a segregação (separação) espacial, que para Villaça (2001, p. 142) consiste
“no processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar
cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros de uma determinada
cidade..”
Em outras palavras a população sera absorvida e absorve a cidade de acordo com o seu
poder pagamento pela mesma. Esta condição revela a estruturação da cidade capitalista, que
leva ao processo de segregação espacial, pois as politicas públicas privilegia alguns setores da
camada social, pois em qualquer instância o modelo capitalista é excludente e concentrador.
Para Maricato (2001, p. 51) “É impossível esperar que uma sociedade como a nossa,
radicalmente desigual e autoritária, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade, possa
produzir cidades que não tenham essas características”.
Villaça (2001) argumenta que uma das características mais marcantes das cidades
brasileiras é a segregação espacial, pois as mesmas estão expressas na sua paisagem, pois
segundo o mesmo: “Basta uma volta pela cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para
constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população,
quanto às características urbanísticas e infra-estrutura”.
18
De acordo com Villaça (2001, p. 85):
A segregação urbana traz inúmeros problemas às cidades. O primeiro é, obviamente, a desigualdade em si. Camadas mais pobres da população, com menos recursos, são justamente as que gastam mais com o transporte diário, que têm mais problemas de saúde por conta da falta de infra-estrutura, que são penalizadas por escolas de baixa qualidade, e assim por diante. A própria segregação é não apenas reflexo de uma condição social, mas um fator que contribui para tornar as diferenças ainda mais profundas.
Para Lojikine apud Villaça (2001): Existem vários tipos de segregação: etnias,
nacionalidades, classes sociais. Esta última é a que domina a estruturação das metrópoles
brasileiras que se divide em:
1. uma oposição entre o centro e a periferia;
2. uma separação cada vez mais acentuadas entre as áreas ocupadas pelas moradias
das classes mais populares e aquelas ocupadas pelas classes mais privilegiadas;
3. uma separação entre as funções urbanas, que ficam contidas em zonas destinadas a
funções específicas (comercial, industrial, resdencial, etc.)
Ainda de acordo com Villaça (2001, p. 89):
É possível distinguir ainda entre a segregação “voluntária” e a “involuntária”. A primeira refere-se àquela em que o indivíduo ou uma classe de indivíduos busca, por iniciativa própria, localizar-se próximo a outras pessoas de sua classe. A involuntária, ao contrário, é aquela em que as pessoas são segregadas contra a sua vontade, por falta de opção. Ambos os tipos são as duas faces de uma mesma moeda: à medida que uma acontece, a outra também acaba acontecendo.
Como foi dito anteriormente, a segregação espacial esta expressa na paisagem da
cidade, principalmente no que se refere a moradia, na qual a arquitetura revela a desigualdade
social representada pelas condições de sua moradia como demonstram as imagens 1 e 2:
19
Foto 1. Imagem de Uma invasão de Sem Tetos na Cidade de São Paulo
Fonte: Google imagem . blogdowaldyr.blogspot.com
Foto 2: Contraste entre Bairro Popular e de Classe Média na Cidade de São Paulo.
Fonte : Google imagem. comunicacaojornal.jor.br
É possível dizer que uma cidade é um aglomerado de pessoas, e sua composição e
complexidade expressa na sua paisagem revela a condição de classe de quem a habita. Para
Oliveira (2002, p. 68)
A disposição espacial das pessoas na cidade reflete a condição de classe, de forma que os lugares ordenam-se representando em forma e conteúdo a situação sócio-econômica dos grupos que os ocupam. Este fator completa a gama de situações que podem resultar em conflitos sociais: produção material – desigualdades no trabalho, conflito entre capital e trabalho, mais-valia; formulação intelectual-ideológica –
20
diferenças político-partidárias, fundamentalismo religioso etc.: ocupação espacial desigual – expressão de marginalidade, confinamento, destituição de infra-estrutura e serviços públicos.
Na maioria dos lugares que estão em desenvolvimento, em pleno crescimento,
intensica, a necessidade de recursos que forneçam espaços apropriados e adequados para que
assim as pessoas possam construir suas moradias, gozando de todos os benefícios que uma
cidade, na maioria das vezes dispõe como no caso de água tratada, energia, esgoto, escola,
transporte.
Infelizmente, quase sempre é possível se deparar com assuntos jornalísticos a respeito de
pessoas, que não têm o mesmo direito às benfeitorias que uma cidade oferece, se
estabelecendo em setores afastados, muitas vezes, impróprios, de se viver. O resultado disso é
a habitação em lugares inadequados, em um ambiente insalubre, ou mesmo, que agride a
saúde e a vida humana, acabando por serem intitulados, de acordo com cada caso, como
favelados, como demonstra a imagem 3.
Foto 1. Condições de Moradia na Periferia de Recife
Fonte: Google Imagem.
O fato é que aumento de pobres nas cidades, exige das autoridades mais
providências e cuidado, junto ao avanço de alta incidência de doenças que decorrem em sua
maioria de más condições ambientais e de moradia.
21
Fato que ao longo da historia foi ignorado pelas políticas públicas brasileiras, tendo
em vista a dinâmica eleitoreira ao qual era vista a questão urbana, como pode ser visto no
Estatuto das Cidades (2001, p 28):
A despeito de sua aparente irracionalidade urbanística, esta dinâmica tem alta rentabilidade política. Separando interlocutores, o poder público pode ser, ao mesmo tempo, “sócio” de negócios imobiliários rentáveis e estabelecer uma base política popular nos assentamentos. A base popular, de natureza quase sempre clientelista, sustenta-se no princípio mesmo da contraposição entre cidade legal e ilegal. A condição de ilegalidade e informalidade dos assentamentos populares os converte em reféns de “favores” do poder público, a serem reconhecidos e incorporados à cidade, recebendo infra-estrutura, equipamentos, etc. Esta tem sido a grande moeda de troca nas contabilidades eleitorais, fonte da sustentação popular e governos e, o que é mais perverso, de manutenção de privilégios na cidade, definidos no marco da política urbana “dos planos”.
É bem verdade que esta realidade vem alterando nas ultimas décadas, tendo em vista a
política conhecida como reforma urbana, recomendada pela Constituição Federal de 1988, a
mesma implica uma idealização urbana que leve em conta aspectos sociais como, por
exemplo, o fato de o sistema de transporte coletivo assegurar ou não aos portadores de
deficiência condições de locomoção com dignidade, entre outros.
Essa idealização é implementada mediante a elaboração de normas legais e aspectos de
inclusão que garanta a participação e interferência da comunidade no processo de reflexão
sobre a cidade em si. Nesse sentido, o planejamento urbano deve ser capaz de pensar a cidade
estrategicamente, garantindo um processo permanente de discussão e análise das questões
urbanas e suas contradições essenciais, de forma a permitir o envolvimento de seus cidadãos.
De acordo com SCOTTO, CARVALHO e GUIMARÃES (2007, p 35):
O planejamento urbano deve proporcionar estruturas que estimulem o desenvolvimento, para assim promover iniciativas compartilhadas que intensifiquem as relações do Estado com a iniciativa privada direcionando para uma melhor qualidade de vida. Esse planejamento que foi proposto pela Constituição Federal de 1988 pretende que se desenvolva o crescimento econômico do município, não excluindo a importância da preservação do meio ambiente e a necessidade de assegurar dignidade às pessoas, bem como sua participação na comunidade.
Embora tenha sido prevista na constituição de 1988, apenas em 2001, mais
precisamente no dia 10 de outubro, entrou em vigor a Lei nº 10.2572, mais conhecida como
2 Em anexo.
22
Estatuto da Cidade. A mesma estabelece as diretrizes gerais da política urbana
objetivando principalmente o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a
garantia ao direito a cidades sustentáveis. Esse assunto será discutido com detalhes no
segundo Capitulo.
23
2. O ESTATUTO DA CIDADE E A GESTÃO URBANA DEMOCRÁTICA
De acordo com o disposto na apresentação do próprio estatuto, o presidente de então
da Caixa Econômica Federal Sr. Jorge Eduardo Levi Mattoso afirmou que a aprovação do
Estatuto da Cidade foi uma conquista dos movimentos populares, que se mobilizaram por
mais de uma década na luta por sua aprovação. Esta luta foi conduzida a partir da ativa
participação de entidades civis e de movimentos sociais em defesa do direito a cidade e a
habitação e de lutas cotidianas por melhores serviços públicos e oportunidades de uma vida
digna.
O objetivo principal do Estatuto das Cidades e promover “a função social da cidade e
da propriedade urbana”, que consiste na democratização do uso da cidade, ou seja, promover
uma urbanização mais igualitária. De acordo com o disposto no Estatuto (2001)
As inovações contidas no Estatuto situam-se em três campos: um conjunto de instrumentos de natureza urbanística, voltados para induzir – mais do que normatizar – as formas de uso e ocupação do solo; uma concepção de gestão democrática das cidades que incorpora a idéia de participação direta do cidadão(ã) nos processos decisórios sobre seus destinos; e a ampliação das possibilidades de regularização das posses urbanas, até hoje situadas na ambígua fronteira entre o legal e o ilegal.
O presidente da Caixa Econômica Federal reitera que, está absolutamente valorizado o
processo de planejamento para a ação pública. Um planejamento que deve contar
permanentemente com a participação da sociedade e buscar, constantemente, a melhoria do
desempenho e a valorização da capacidade técnico-administrativa das prefeituras. Este
planejamento deve ser integrado e integrador e ter como referência básica o Plano Diretor,
como diz no Estatuto da Cidade, Ministério das cidade. Brasil 2001.
Isso significa que os Planos Diretores devem resultar de um processo amplamente
participativo da população e de associações representativas dos vários segmentos econômicos
e sociais, não apenas durante o processo de elaboração e votação, mas, sobretudo, na
implementação e gestão de suas decisões. De acordo a Constituição de 1988 a obrigatoriedade
do Plano Diretor é para municípios com população acima de 20.000 habitantes; para aqueles
24
situados em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; em áreas de interesse turístico;
ou em áreas sob influência de empreendimentos de grande impacto ambiental.
Os Municípios que não se incluem em qualquer destas categorias precisam dispor
obrigatoriamente de um Plano Diretor, se o poder público pretender aplicar os instrumentos
previstos no capítulo de Reforma Urbana da Constituição de 1988. Um dado interessante é
que a grande maioria desses municípios, a partir de 2008, vem implantando o Plano Diretor,
já que o mesmo facilita a liberação de verbas, por parte do ministério das cidades. Porém a
maioria destes são feitos de forma irregular, sem a participação da população.
No caso de Iporá, o Plano Diretor obedeceu em partes à exigência do Estatuto das
Cidades. Uma questão que se pode questionar é a não participação de cursos da Universidade
Estadual na equipe de implantação do mesmo, principalmente do curso de geografia que tem
grande conhecimento do assunto.
É bom ressaltar, que por iniciativa dos professores Marcos Antônio e Adjair
Maranhão, parte dos alunos do curso de Geografia da UEG de Iporá, participaram do debate
sobre o Plano Diretor da cidade, porém o envolvimento dos demais professores e alunos seria
de grande valia para o crescimento do curso, principalmente na luta pelo lugar do geógrafo no
processo.
Outro detalhe que pode ser levantado sobre o assunto, e a não participação da
população. O que justifica esse fato é o não conhecimento do assunto, em uma pesquisa feita
com moradores da cidade de cada 10 pessoas questionadas 7 não sabiam do que se trata o
assunto, 8 não sabiam que existia o Plano Diretor na cidade. No que se refere aos moradores
do Jardim dos Passarinhos, 10 em cada 10 moradores entrevistados não souberam do que se
tratava. Nesse caso é mais preocupante, pois são os que mais precisam de beneficiamento e de
um plano democrático de gestão.
Esses números revelam uma falha do processo de implementação do Plano Diretor em
Iporá, principalmente no que se refere à divulgação do mesmo, o que fere o seu princípio
maior, o da democracia da participação popular.
25
O Plano Diretor é uma forma de resolver as desigualdades urbanas, como é o caso da
segregação espacial, que como foi dito anteriormente é resultado do processo de urbanização
no Brasil, assim como nos países subdesenvolvidos, devido à forma desordenada em que se
dá o mesmo. Geralmente esta condição é uma realidade das grandes cidades, mas com o
avanço do modo de produção capitalista pelo país as cidades brasileiras de porte médio estão
sendo inseridas nessa processualidade.
O debate sobre o termo cidades media tem sido intensificado nos últimos tempos e
vem ganhando várias definições, algumas sob a perspectiva quantitativa afirma que cidades
médias referem-se á aquelas que ultrapassam os 200 mil habitantes. Outras na perspectiva
qualitativa considera como cidades medias aquelas que se tornam pólo regional devido a sua
potencialidade socioeconômica superior as que ficam no seu raio de dependência. Como
afirma Silva (2007, p. 59):
(...) são nós, centros de região, conformando um sistema de cidades e atuam como concentradoras de atividades econômicas e sociais. Além disso, têm apresentado relativo protagonismo na participação do crescimento populacional urbano e portanto no processo de urbanização por que passa o mundo e também o Brasil. Diante das transformações ditadas pelo sistema econômico capitalista, tais cidades acumulam funções especiais e concentram atividades ligadas principalmente ao setor terciário.
É nesse contexto que se pensa a cidade de Iporá, a qual se comparada ao crescimento
das demais cidades de sua região encaixa-se no que é apontado pelas análises demográficas
mais recentes como sendo típico dessa conformação urbana, a qual oferece uma extensa rede
de serviços tais como saúde e educação, serviços bancários e de órgão público dentre outros.
São esses elementos associados é que dão a caracterização de cidade de porte médio, de
acordo com referenciais que articulam fatores de ordem demográfica, social e econômica,
como demonstram os gráficos 1 e 2:
26
Gráfico 1: Taxa de Urbanização de Iporá de 1970 até 2007
56,80%
79,50%86,00% 91,20%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
100,00%
1970198019912000 até 2007
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.
Os dados do gráfico 1, demonstram uma acelerada urbanização a partir dos anos de
1970, que se deu principalmente pela migração no sentido campo/cidade, o que promoveu um
esvaziamento do campo, (Gráfico 2) dada as condições precárias de subsistência nesse setor.
Gráfico 2: População Rural de Iporá de 1970 até 2007
7.433
5.595
4.148
2.744
01.0002.0003.0004.0005.0006.0007.0008.000
1970198019912000 até 2007
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.
A cidade de Iporá se torna um também num atrativo, para a população de cidades
vizinhas, intensificando o crescimento populacional (gráfico 3), ou seja, as pessoas enxergam
no lugar uma condição de melhoria de vida, o que nem sempre é uma realidade. O que define
a melhoria de vida da população é sua capacidade de adaptação ou de suprimento das
exigências da vida urbana, ou seja, aquele que está preparado para o mercado de trabalho
exigido pela cidade, o que não é a realidade da maioria das pessoas, as quais são submetidas a
condições sub-humanas como é a vida dos segregados.
27Gráfico 3: População Total de Iporá de 1970 até 2007
17.199
27.24429.688 31.060
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
1970198019912000 até 2007
Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos, 1970, 1980, 1991, 2000 e estimativas de 2007.
Esta realidade se apresenta em Iporá através do processo de segregação urbana, como
é o caso do bairro Jardim dos Passarinhos, que possui um ordenamento espacial de precária
infrestrutura, dificultando consideravelmente a sobrevivência dos seus moradores. Outro fator
que chama a atenção neste bairro é o alijamento do poder público em relação às melhorias
necessárias para uma boa condição de vida dos moradores. Esta realidade não é a mesma de
setores que abrigam a classe mais abastada da cidade, por isso, a designação de segregação
urbana em Iporá. Assunto que será detalhado no terceiro capítulo.
28
3. O BAIRRO JARDIM DOS PASSARINHOS COMO EXEMPLO DA SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA EM IPORÁ
O Bairro Jardim dos Passarinhos foi escolhido pela sua representatividade em relação
à segregação urbana, pois o mesmo apresenta um baixo desenvolvimento socioeconômico.
Como foi dito anteriormente este bairro absorveu parte da população rural que migrou para a
cidade e não foram inseridos na dinâmica urbana mais desenvolvida, sendo obrigados a
residirem em condições precárias, como é a realidade do bairro em questão.
Para a obtenção de dados sobre a história do surgimento deste bairro, foi realizada
uma visita com questionário para ser respondido, junto aos moradores da área de pesquisa,
bem como a realização de conversa informal, para entendermos a verdadeira identidade do
bairro. As observações em campo responderam questões como à formação histórica,
socioeconômicas e políticas da área pesquisada.
O Bairro teve inicio com o registro do loteamento no dia 16 de outubro de 1980. As
formas de aquisição dos lotes foram por especulação imobiliária, no qual se chamava Terra
Boa Empreendimentos LTDA, de São Paulo, sendo o senhor José Lauriano (Mexicano) o
corretor de imóveis responsável. Os lotes eram vendidos mais baratos e com isso pessoas de
baixa renda que não tinham condições de adquirir lotes em áreas nobres aproveitou a
oportunidade para realizar o sonho da casa própria.
De acordo com a planta de urbanização do bairro Jardim dos Passarinhos e com os
dados obtidos durante trabalho de campo, foi possível averiguar que a situação atual da
formação arquitetônica do Bairro possui uma área 46.590.47 m² com 141. Lotes e 8 quadras
os quais a minoria estão habitados. A descrição da estrutura bairro é feita pala seguinte
divisão: três ruas latitudinais. (Rua dos Uirapurus, Rua dos Canarinhos e Rua das Alamedas
dos Pintassilgos) quatro ruas (Ruas das Patativas, Rua das Águias, Rua dos tordos e Rua das
Andorinhas).
29
Mapa do bairro.
No entanto, seus moradores consideram-se esquecidos pelo poder público que nada
de benefícios oferece para o bairro. A diferença dos residentes nesse bairro periférico e em
qualquer outro é percebido em sua paisagem, com a forma da cultura, a expressão em seu
rosto e o ritmo de vida no cotidiano.
Em se tratando da infra-estrutura do bairro, possui água tratada, energia, telefone e
coleta de lixo. Ainda falta no local pavimentação adequada nas ruas, saneamento básico (rede
de esgoto domestico e galeria pluvial), creche, centro comunitário, escola, posto de saúde,
posto policial, praça.
Os moradores não contam com serviços de saúde, como o Programa da Saúde da
Família, (PSF), no qual é atendida pelo PSF da Vila Itajubá, segundo moradores do bairro em
questão reclamaram a falta de visitas de um agente de saúde, que são direito de todos os
cidadãos, no qual os moradores do bairro, Jardim dos Passarinhos, infelizmente são privados.
30
Os moradores enfrentam outras dificuldades, pela coleta do lixo, não ser diária, o
lixo colocado nas portas para serem recolhidos, é espalhado pelos cães, ocasionando mau
cheiro no local. Na época da estiagem os residentes sofrem com a poeira, pois o bairro não
apresenta nenhuma rua pavimentada, acarretando problemas pulmonares nas crianças e nos
adultos.
Os moradores sentem-se abandonado pelo poder publico, o qual só aparece no bairro
na época de eleições, prometendo tudo que eles reivindicam. Portanto para alguns moradores
do bairro, o período eleitoral é a chance de melhorar a qualidade de vida. É o período em que
os candidatos para garantir seu voto, prestigiam os moradores locais, com doações de
materiais de construção o qual foi constatado na pesquisa de campo, onde pessoas são
beneficiadas com kit sanitário e outros.
Nesse sentido, a coação dos eleitores locais se faz a “doação voluntaria” dos
candidatos, que buscam seus votos com tais ações. Esta situação colabora com o pensamento
de Demo (1996) em seu livro. “Pobreza Política” o qual afirma que o estado tornou essa
sociedade politicamente pobre, com o chamado “voto cabresto”. No caso da referido, entende-
se por voto “de cabresto” o ato de privar as pessoas de sua cidadania, manipulando-a nas
decisões e a destituindo da consciência de sua opressão e / ou de sua coibição de organizar em
defesa de seus direitos.
Em visitas ao bairro observou-se que algumas residências não possuem se quer
fossas sépticas e seus resíduos são lançados no solo, juntamente observou-se que os
escoamentos de água são vistas a céu aberto, como demonstram as figuras 1 e 2. A ausência
de saneamento ocasiona várias incidências à saúde e ao meio ambiente. Tal impacto
provocado pela prática de deposição inadequada do destino desses resíduos traz como
conseqüência a contaminação da área levando o comprometimento do solo, da água, do ar e
da saúde em geral.
31Imagem 1 e 2: Esgoto a céu aberto no Bairro Jardim dos Passarinhos
Figura 1 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves. Figura 2 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.
O Bairro Jardim dos Passarinhos esta localizado em um relevo irregular, não propício
para a construção de casas, por esse motivo os moradores enfrentam problemas com a erosão
que se agravam no período chuvoso, causando transtorno para população local. Por não
possuir rede de tratamento de esgoto, nem coleta de lixo regular, rejeitos são depositados
nesses locais, por alguns moradores o que contribui para o agravamento da degradação
ambiental, como mostra a figura 3.
Imagem 3: Lixo em lugar não apropriado
Figura 3 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.
32
Em visita ao Departamento responsável pelo planejamento urbano na Prefeitura
Municipal de Iporá, não foi verificado a existência de um planejamento urbano para a
construção do lugar. De acordo com funcionários da prefeitura municipal existe uma proposta
de construção um bosque usando a recuperação do solo, pois os moradores sofrem com a
agressão e degradação do meio ambiente local. No entanto não se teve acesso a nenhum
documento que comprove o que foi dito. No entanto descobriu-se através do plano diretor,
que para construção do bosque a uma proposta de transferência do bairro para um lugar mais
plano, entendido pela prefeitura como menos problemático.
Na visita de campo foi realizada pesquisa através de um questionário3, que serviu
como roteiro de entrevistas, com alguns moradores do lugar. Com essa pesquisa foi possível
perceber que a população local exerce atividades, consideradas de baixo rendimento, como
demonstram os gráficos 4 e 5.
Gráfico 4
Ramo de Atividade dos Moradores do Bairro Jardim dos Passarinhos
30 3034
51
05
10152025303540
Qua
ntid
ade
em (%
) Serviços braçais
Empregadas domésticas
Aposentados
Autônomos
Carteira assinada
Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.
333 Em anexo.
Gráfico 5.
Fonte: VIERA, Liliane Alves.
Um detalhe interessante que demonstra o gráfico 4 e o grande número de
aposentados, o que foi possível comprovar na visita a campo. O pior que o bairro não
apresenta nenhuma infrestrutura que possibilite uma boa qualidade de vida para essa terceira
idade.
Outro aspecto que faz necessário chamar a atenção é para o baixo número de
empregados com carteira assinada, o que levou a concluir a desqualificação da mão de obra,
que não são absorvidas por setores mais exigentes, que geralmente assinam carteiras. O que
comprova essa afirmação é o grande número de empregadas domésticas e de serviços braçais.
O que pode também ser constatado é os que se referem como autônomos, na verdade são
desempregados que vivem de bicos.
Para a complementação da renda, o que é essencial para o mínimo de dignidade, a
grande maioria das famílias recebem algum programa social do Governo Federal ou Estadual
como: Bolsa Família, Bolsa escola, Renda cidadã e outros.
Tendo em vista a condição social desta população, buscamos conhecer o grau de
escolaridade dos mesmos, afim de relacionar os baixos rendimentos dos mesmos, com sua
ocupação profissional, a realidade encontrada reforça hipóteses levantadas inicialmente, o não
34
Renda Familiar
75
25
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Qu
anti
dad
e em
(%
)
De um a um salário mínimoe meio
Menos de um saláriomínimo
acesso da população a educação acaba por refletir em suas condições de existência. A
escolaridade é um ponto preocupante, que influencia na situação econômica dos moradores,
pois no mundo atual aqueles que têm maior grau de escolaridade sempre têm salários
melhores.
Gráfico 6.
Grau de Escolaridade
60
105
0
25
0
10
20
30
40
50
60
70
Qua
ntid
ade
em (%
) 1ª Fase do EnsinoFundamental2ª Fase do EnsinoFundamentalEnsino Médio
Superior
Analfabetos
Fonte: VIERA, Liliane Alves.
No caso do Bairro Jardim dos Passarinhos, como demonstra o gráfico 6, 60% da
população do bairro tem o ensino fundamental, e 10% alcançaram o 2° fase do Ensino
Fundamenta, já 05 % tem o ensino médio e uma grande parte são analfabetos 25%, e nenhum
dos moradores chegaram a ter: curso superior, ou seja os moradores são de um nível muito
baixo de escolaridade.
Outro fator que merece destaque é a paisagem do lugar, que demonstra a
verdadeira realidade do lugar, como pode ser visto na simplicidade arquitetônica das casas,
assim como sua precária estrutura; a total infrestrutura, sem asfalto, local adequado para o
lazer, como as praças dentre outros fatores. As figuras 5 e 6 remetem a esta realidade.
35
Figura5 Fonte: VIEIRA, LilianeAlves. Figura 6 Fonte: VIEIRA, Liliane Alves.
Diante de todo o exposto, pode-se dizer que o Bairro Jardim dos Passarinhos é
resultado de um modelo político e socioeconômico, do mundo atual, que produz lixo e luxo
sem preocupação com que verdadeiramente importa. O ser humano.
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade de hoje vive em uma grande exclusão social, sendo que os mais ricos
podem desfrutar de uma qualidade de vida diferenciada das classes sociais mais baixas, pois o
capitalismo, sem duvida determina a fragmentação das classes sociais. A partir da pesquisa
realizada percebe-se que a condição de vida dos moradores do bairro dos Jardins dos
Passarinhos, é precária devido à falta de infra-estrutura do local.
De uma forma geral, deve-se considerar que a configuração espacial do bairro
Jardim dos Passarinhos é o resultado da inter-relação direta ou indireta dos agentes
modeladores do espaço urbano, o bairro é formado por uma população excluída dos serviços
urbanos, retrato da degradação social. Esta por sua vez, resultante do capitalismo, que nada
mais é que, uma forma de exclusão de indivíduos sem condições de se apropriarem de locais
de infra-estrutura e condições básica de moradia. Nesse sentido, a exclusão social é alarmante,
pois não há nenhuma preocupação com o bairro, por parte dos órgãos públicos competentes
(Prefeitura local, Secretaria de Planejamento Urbano e Estado).
Para melhoria na condição de vida da população, o bairro deve ser assistido com a
construção de rede de esgoto e outros benefícios, para que os indivíduos daquela localidade,
no mínimo possam ter uma morada digna, com o mínimo que o ser humano necessita para sua
sobrevivência.
Assim conclui-se, que a realidade do lugar em questão é a mesma da grande
maioria das cidades brasileiras, que exclui parte significativa da população que não tem
direito a modernidade, pois faz parte de uma classe social que não consegue pagar pela
mesma.
A melhoria nas condições de vida dos moradores do bairro Jardim dos
Passarinhos, assim como, de todos os segregados é responsabilidade do poder público que na
verdade não realizam seu dever, muito pelo contrario, o poder público é responsável pela
intensificação do processo, pois investe em regiões já com infra-estrutura de alto nível.
37
Esta é a realidade de Iporá, através do bairro Jardim dos Passarinhos, que devido
ao descaso sucessivo da administração pública o lugar não passa por melhorias, submetendo
seus moradores a condições subumanas de sobrevivência.
Espera-se que essas discussões possam contribuir para possíveis soluções dos
problemas encontrados no bairro Jardim dos Passarinho no município de Iporá, suscitando o
compromisso individual e coletivo com mudanças estruturais que venha imprimir futuros
planejamentos, sobretudo estudos que orientem a elaboração de um projeto para a recuperação
da área estudada.
38REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COELHO, Marcos de Amorim; TERRA, Lygia. Geografia do Brasil, 5 ed. Reformulada e
Atual - São Paulo: Moderna 2002 (Série Sinopse).
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RIBEIRO, Luiz C. de Q. (org.). Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e
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SANTOS, Milton. Por uma Economia Política da Cidade. São Paulo: Hucitec/Educação.
1994.
39
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Metrópole: governo, sociedade e território. Rio de Janeiro: DP&A, Coleção “Espaços do
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VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001.
40
ANEXO
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Local:
Data:
Entrevistado:
A- Informações socioeconômicas:
1- Sexo:
( ) masculino ( ) feminino
2- Idade:
( ) ate 15 anos ( ) 16 a 25 anos
( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos
( ) acima de 45de anos
3- Grau escolaridade:
( ) analfabeto
( ) de 1ª a 4ª ( ) completo
( ) 5ª a 8ª ( ) completo
( ) de 1° colegial a 3° ( ) completo
( ) superior
4- Renda familiar:
5- Quantas pessoas moram na casa? ________________________________________
6- Local de trabalho? ____________________________________________________
7- Se for empregado, quanto tempo? ________________________________________
8- Contam com:
41
( ) água tratada ( ) rede de esgoto
( ) energia ( ) telefone
9- Contam com PSF (Programa de Saúde Familiar) ou outro de saúde.
____________________________________________________________________
B- Histórico da Área característica (origem e condições do loteamento):
1- Como surgiu o bairro?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
2- Por que escolheram esta área para construir suas casas?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
3- Como adquiriram o lote?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
4- Qual seu local de origem?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
5- Quais as dificuldades no período chuvoso?
a- Os resíduos (lixo) depositados no local causam odores?
_______________________________________________________________________
_________________________________________________________________
b- Como e feita a coleta do lixo?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________