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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária LUANNA XAVIER ACCIOLY SALDANHA DA COSTA FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS CIRURGICA DE DDIV DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL TORACOLOMBAR CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

LUANNA XAVIER ACCIOLY SALDANHA DA COSTA

FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS

CIRURGICA DE DDIV – DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL

TORACOLOMBAR

CURITIBA

2016

LUANNA XAVIER ACCIOLY SALDANHA DA COSTA

FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS

CIRURGICA DE DDIV – DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL

TORACOLOMBAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito avaliativo para obtenção do título de Bacharel no curso de Medicina Veterinária. Orientador: Profa. Dra. Maria Aparecida de Alcântara Orientador Profissional: Dra. Mhayara Samile de Oliveira Reusing

CURITIBA

2016

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitora Promoção Humana

Profa. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitor

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Profa. Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Diretor de Graduação

Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral

Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Prof. Dr. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular

Profa. Msc Elza Maria Galvão Ciffoni Arns

Campus Barigui

Rua Sydnei A Rangel Santos, 238

CEP: 82010-330 – Curitiba – PR

Fone: (41) 3331-7958

TERMO DE APROVAÇÃO

LUANNA XAVIER ACCIOLY SALDANHA DA COSTA

FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS

CIRURGICA DE DDIV – DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médico Veterinário no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná.

Curitiba, ____ de _______ de 2016.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profa. Dra Maria Aparecida de Alcântara

Presidente - Orientadora

__________________________________________

Prof. Dr.

Dedico este Trabalho de Conclusão de

Curso à minha mãe, minha maior

motivação. Foi quem me ensinou o amor

e respeito aos animais. Que minhas

conquistas te encham de orgulho, onde

você estiver.

Dedico ao meu pai, quem anda de mãos

dadas comigo na vida e é meu maior

apoio em todos os momentos. Sem você

nada seria possível.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer a Deus por me permitir realizar meu sonho, e me

sustentar nesse propósito. A minha mãe e meu pai, agradeço por toda a dedicação e

amor com que me educaram e guiaram durante a vida. A minha família, que como

base, souberam entender quando estive ausente. Aos meus mestres, que me

ensinaram e guiaram durante minha trajetória para que pudesse chegar onde estou.

Ao Instituto de Reabilitação Animal, seu pessoal, e em especial a Dra. Mhayara, pela

recepção e aprendizado adquiridos durante meu tempo de estágio. A Animal Clinic

que disponibilizou as informações e dados do meu paciente. E ao César Lascoski,

tutor do meu paciente, e ao meu paciente, que pude acompanhar o caso e me

permitiram estudá-lo. Aos animais, por serem a grande razão do meu esforço. E a

todos que me ajudaram e que posso ter esquecido de mencionar. Saibam que sempre

lembrarei com muito carinho de vocês.

Muito Obrigada!

"No que diz respeito ao empenho, ao

compromisso, ao esforço, à dedicação,

não existe meio termo. Ou você faz uma

coisa bem feita, ou não faz".

(Ayrton Senna)

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo apresentar o tratamento de

reabilitação fisioterapêutica na recuperação pós cirúrgica de DDVI – Doença Do Disco

Intervertebral. Durante o estágio obrigatório foram atendidos diversos casos de

Reabilitação fisioterápica, porém um especial, que é o objetivo do estudo clinico

apresentado neste trabalho, que é de um cão com DDIV (Doença do Disco

Intervertebral) grau 5 na região Toracolombar (T12-T13) e com alterações

neurológicas, cão esse de nome Hot, com 2 anos de idade, da raça dachshund,

operado para descompressão medular, e que iniciou o tratamento fisioterápico na

clínica. O tratamento surtiu efeito, tanto que o paciente passou a poder sustentar o

próprio peso, ainda que apenas nas sessões de hidroterapia. Observou-se uma

grande evolução do quadro através do uso de técnicas fisioterápicas como forma de

reabilitação desse paciente. Estágio este realizado no período de Julho a Outubro de

2016, no IRA – Instituto de Reabilitação Animal de Curitiba.

Palavras-chave: Fisioterapia Veterinária; Hérnia de Disco; Reabilitação

Veterinária.

ABSTRACT

This Work of Course Completion aims to present physiotherapeutic rehabilitation

treatment in the recovery past surgical of IVDD - Intervertebral Disk Disease. During

the mandatory internship were seen several cases of physiotherapy rehabilitation, but

a special one that is the purpose of the clinical study presented in this work, which is a

dog with IVDD (Intervertebral Disc Disease) grade 5 in the thoracolumbar region (T12-

T13) and neurological disorders, this dog named Hot, at 2 years old, Dachshund race,

which was operated for spinal decompression, and began physiotherapy in the clinic.

The treatment was effective, so that the patient was able to sustain its own weight,

even if only in hydrotherapy sessions. There was a great evolution of the case using

physiotherapy techniques as a form of rehabilitation of patients. This internship was

done between July and October of 2016, at the Animal Rehabilitation Institute of

Curitiba.

Keywords: Herniated Disc; Veterinary Physiotherapy; Veterinary Rehabilitation.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA) .................................... 7

FIGURA 2 – CONSULTÓRIO DO INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL ............ 8

FIGURA 3 – ESTEIRA AQUÁTICA PARA REALIZAÇÃO DE HIDROTERAPIA DO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL .................................................................. 8

FIGURA 4 – EQUIPAMENTO PARA TRATAMENTO MAGNÉTICO DO INSTITUTO

DE REABILITAÇÃO ANIMAL ...................................................................................... 9

FIGURA 5 – EQUIPAMENTOS DE LASER E ELETROTERAPIA DO INSTITUTO DE

REABILITAÇÃO ANIMAL ............................................................................................ 9

FIGURA 6 – ANATOMIA DA COLUNA VERTEBRAL TORÁCICA DE CÃO. ............ 16

FIGURA 7 – DIVISÃO DA MEDULA ESPINHAL EM SEGMENTOS E TOPOGRAFIA

VÉRTEBRO MEDULAR ............................................................................................ 17

FIGURA 8 – MICROFOTOGRAFIA DE DISCO INTERVERTEBRAL (X10) .............. 18

FIGURA 9 – MEDULA ESPINHAL E MENINGES ..................................................... 19

FIGURA 10 – RAÇAS DE CÃES CONDRODISTRÓFICOS ...................................... 19

FIGURA 11 – COMPARAÇÃO ENTRE PROTUSÃO DE DISCO TIPO I (B) COM

DISCO INTERVERTEBRAL NORMAL (A) ................................................................ 20

FIGURA 12 – CORTE TRANSVERSAL DE DISCO INTERVERTEBRAL, (A) NORMAL

E (B) DEGENERADO ................................................................................................ 21

FIGURA 13 – COMPARAÇÃO ENTRE DEGENERAÇÃO DE DISCO TIPO II (B) COM

DISCO INTERVERTEBRAL NORMAL (A) ................................................................ 22

FIGURA 14 – FÊMEA DACHSHUND, COM 2 ANOS, COM DOENÇA DO DISCO

INTERVERTEBRAL TORACOLOMBAR ................................................................... 24

FIGURA 15 – RADIOGRAFIA SIMPLES DE CÃO COM A ÁREA RADIOLUSCENTE

ENTRE OS CORPOS DAS VÉRTEBRAS DE T10 A T13. ........................................ 25

FIGURA 16 – MIELOGRAFIA COM DESLOCAMENTO DORSAL DA COLUNA DE

CONTRASTE EM L2 (SETA). .................................................................................. 25

FIGURA 17 – TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA ALTURA DA L3, ONDE

OBSERVA-SE MATERIAL EXTRUSADO, CAUSANDO DEFORMAÇÃO INSTENSA

DA MEDULA ESPINHAL ........................................................................................... 26

FIGURA 18 - RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DA REGIÃO LOMBOSSACRAL DE UM

CÃO. A - DEGENERAÇÃO DOS DISCOS L6-L7 E L7 E S1. B - IMAGEM COM A

COLUNA EM FLEXÃO, DEMONSTRANDO UMA LESÃO DINÂMICA. .................... 27

FIGURA 19 – FENESTRAÇÃO DISCAL ................................................................... 30

FIGURA 20 - REGIÃO TORACOLOMBAR, APÓS HEMILAMINECTOMIA .............. 31

FIGURA 21 – ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA ................................................................ 33

FIGURA 22 – ELETROTERAPIA MUSCULAR DO QUADRICEPS EM CÃO ........... 33

FIGURA 23 – APLICAÇÃO DE LASER COM CABEÇOTE DE VARREDURA ......... 34

FIGURA 24 – APLICAÇÃO DE LUZ INFRAVERMELHA .......................................... 35

FIGURA 25 – APLICAÇÃO DE ULTRASSOM EM CAVALO .................................... 35

FIGURA 26 – CÃO NA HIDROTERAPIA EM IMERSÃO PARCIAL .......................... 36

FIGURA 27 – CÃO EM TRATAMENTO POR MAGNETISMO UTILIZANDO

APARELHO MAGNÉTICO ........................................................................................ 37

FIGURA 28 – ALONGAMENTO PASSIVO DO MÚSCULO QUADRÍCEPS.............. 37

FIGURA 29 – RAIO-X DA COLUNA VERTEBRAL, REGIÃO TORACOLOMBAR .... 38

FIGURA 30 – PÓS OPERATÓRIO DO PACIENTE APÓS PERÍODO DE

CICATRIZAÇÃO ........................................................................................................ 39

FIGURA 31 – ENCAMINHAMENTO DO PACIENTE ................................................ 40

FIGURA 32 – LASERTERAPIA SENDO REALIZADA NO PACIENTE ..................... 41

FIGURA 33 – HIDROTERAPIA SENDO REALIZADA NO PACIENTE ..................... 41

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – PACIENTES ATENDIDOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA) ....................................................... 11

QUADRO 2 – SISTEMA DE ESTADIAMENTO PARA DDIV..................................... 28

QUADRO 3 – TERAPIA RECOMENDADA PARA PACIENTES COM DISCOPATIA

TORACOLOMBAR BASEADA NOS SINAIS NEUROLÓGICOS. ............................. 29

QUADRO 4 – EVOLUÇÃO DA MEDIDA DO MEMBRO PÉLVICO ESQUERDO...... 42

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – CASOS ATENDIDOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA) ....................................................... 13

SUMÁRIO

1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO ..................................................... 7

1.1 ESTRUTURA DO INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA) ............... 7

1.2 PERÍODO DO ESTÁGIO ................................................................................ 9

1.3 ORIENTADOR PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELO ESTÁGIO ........... 10

1.4 PROFESSOR ORIENTADOR RESPONSÁVEL PELO ESTÁGIO ............... 10

2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................ 11

3 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

4 FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS

CIRÚRGICA DE DDIV TORACOLOMBAR .............................................................. 16

4.1 FISIOTERAPIA ............................................................................................. 16

4.2 COLUNA VERTEBRAL DO CÃO ................................................................. 16

4.2.1 Vértebras Toracolombares ........................................................................ 17

4.2.2 Discos Intervertebrais ................................................................................ 17

4.2.3 Medula espinhal .......................................................................................... 18

4.3 RAÇAS CONDRODISTRÓFICAS ................................................................ 19

4.4 DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL (DDIV) ....................................... 20

4.4.1 Degeneração Tipo I ou Degeneração Condróide ..................................... 20

4.4.2 Degeneração Tipo II ou Degeneração Fibróide ........................................ 21

4.4.3 Alterações intervertebrais ......................................................................... 22

4.4.4 Síndrome Toracolombar ............................................................................ 23

4.5 DIAGNÓSTICO DE DDIV ............................................................................. 24

4.5.1 Exame Radiológico Simples ...................................................................... 25

4.5.2 Exame Radiológico Contrastado – Mielografia ........................................ 25

4.5.3 Tomografia Computadorizada ................................................................... 26

4.5.4 Ressonância Magnética ............................................................................. 27

4.6 TRATAMENTO DA DDIV TORACOLOMBAR .............................................. 27

4.6.1 Tratamento Clínico ..................................................................................... 29

4.6.2 Tratamento Cirúrgico ................................................................................. 30

4.6.2.1 Fenestração Discal ....................................................................................... 30

4.6.2.2 Descompressão Medular e/ou de Raízes Nervosas ..................................... 31

4.6.3 Pós operatório ............................................................................................ 31

4.6.4 Reabilitação na Coluna Vertebral através da fisioterapia ....................... 32

4.6.4.1 Eletroterapia (TENS) .................................................................................... 32

4.6.4.2 Eletroterapia (FES) ....................................................................................... 33

4.6.4.3 Laserterapia .................................................................................................. 34

4.6.4.4 Infravermelho ................................................................................................ 34

4.6.4.5 Ultrassom ..................................................................................................... 35

4.6.4.6 Hidroterapia .................................................................................................. 36

4.6.4.7 Magnetoterapia ............................................................................................. 36

4.6.4.8 Alongamentos ............................................................................................... 37

4.7 RELATO DE CASO CLÍNICO ....................................................................... 38

4.7.1 Tratamento clínico na Animal Clinic ......................................................... 39

4.7.2 Pós-operatório ............................................................................................ 39

5 DISCUSSÕES .............................................................................................. 44

6 CONCLUSÃO............................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 46

7

1 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

O estágio foi realizado no IRA – Instituto de Reabilitação Animal (Figura 1),

situado a Rua Padre Germano Mayer, 1017, Alto da XV - Curitiba/ PR - CEP 80045-

310, Telefone 3154-0608 ou 99876.1486.

FIGURA 1 – INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA)

1.1 ESTRUTURA DO INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA)

O IRA busca a melhora e manutenção da saúde dos pacientes, através de

metodologias como Fisioterapia Veterinária, Acupuntura, utilizando-se de outras

especialidades correlacionadas, para que o tratamento seja o mais abrangente. O IRA

é a 10ª unidade associada a PetFisio instalada no Brasil (IRA - INSTITUTO DE

REABILITAÇÃO ANIMAL, 2016).

8

O IRA conta com consultórios para atendimento dos pacientes, além de

equipamentos para realização das sessões de tratamentos (FIGURAS 2, 3, 4 e 5),

para saber mais sobre o funcionamento destes no tratamento, ver as sessões

referentes a cada aparelho, constantes no tópico 4.5.4).

FIGURA 2 – CONSULTÓRIO DO INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL

FIGURA 3 – ESTEIRA AQUÁTICA PARA REALIZAÇÃO DE HIDROTERAPIA DO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL

9

FIGURA 4 – EQUIPAMENTO PARA TRATAMENTO MAGNÉTICO DO INSTITUTO

DE REABILITAÇÃO ANIMAL

FIGURA 5 – EQUIPAMENTOS DE LASER E ELETROTERAPIA DO INSTITUTO DE

REABILITAÇÃO ANIMAL

1.2 PERÍODO DO ESTÁGIO

O estágio foi realizado no período de 25/07/2016 a 10/10/2016, perfazendo um

total de 420 horas.

10

1.3 ORIENTADOR PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELO ESTÁGIO

A médica veterinária responsável pelo acompanhamento do estágio na Clínica

IRA foi a Dra. Mhayara Samile de Oliveira Reusing.

1.4 PROFESSOR ORIENTADOR RESPONSÁVEL PELO ESTÁGIO

A professora responsável pelo acompanhamento do estágio realizado na

Clínica IRA foi a Dra. Maria Aparecida de Alcântara.

11

2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas durante o estágio curricular foram,

acompanhamento de consultas e atendimentos de fisioterapia.

Na primeira consulta, de avaliação, monta-se o protocolo de acordo com a

queixa principal, os exames complementares e clínicos, histórico de neoplasias e

idade do paciente.

Os tratamentos realizados foram eletroterapia, laserterapia, magnetoterapia,

cinesioterapia, hidroterapia, alongamentos e ultrassom terapêutico, sempre

acompanhado e seguindo os protocolos do médico veterinário responsável.

Acompanhamento e atendimento de casos de hérnia de disco, luxação de

patela, displasia coxofemoral, sequela de cinomose, necrose asséptica da cabeça do

fêmur, avulsão de plexo braquial, fratura, controle de obesidade e pacientes em pós

operatório de cirurgias ortopédicas.

No quadro a seguir estão descritos os casos atendidos.

QUADRO 1 – PACIENTES ATENDIDOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA)

Nome Raça Idade Diagnóstico

Raika Akita 7 anos Síndrome da cauda equina

Puppy Beagle 2 anos Obesidade (controle de peso)

Vicky Beagle 8 anos Controle da obesidade

Fidel Border Colie 7 meses Encefalite idiopática

Mabi Border Colie 5 anos Displasia de cotovelo e coxofemoral

Urso Border Colie 7 meses Avulsão de plexo braquial (atropelamento)

Dodge Buldogue

Francês 1 ano Displasia coxofemoral

Ozzy Buldogue

Francês 7 anos DDIV

Tasco Buldogue

Francês 6 anos DDIV

Chico Bulldog 11 anos Displasia coxofemoral

Safira Chow-Chow 11 anos Displasia coxofemoral

12

Billy Daschshund 12 anos DDIV

Caju Daschshund 14 anos Síndrome da cauda equina

Hot Daschshund 2 anos DDIV

Meg Daschshund 3 anos DDIV

Meg Daschshund 7 anos DDIV

Preto Daschshund 6 anos DDIV

Shumba Daschshund 10 anos DDIV

Zara Daschshund 4 anos DDIV

Max

Golden retrieve

r 1 ano Displasia coxofemoral

Axel Labrador 13 anos Displasia coxofemoral

Brigit Labrador 4 anos Displasia coxofemoral

Cacau Labrador 10 anos Displasia coxofemoral e obesidade

(controle do peso)

Magic Labrador 13 anos Displasia coxofemoral

Bob Lhasa apso 4 anos Ruptura de ligamento cruzado caudal

Cindy Lhasa apso 8 anos Fratura (queda)

Cristal Lhasa apso 12 anos DDIV

Indy Lhasa apso 8 anos DDIV cervical

Miucho Lhasa apso 10 meses Necrose asséptica da cabeça do fêmur

Nanico Lhasa apso 2 anos Sequela de cinomose

Nina Lhasa apso 5 anos DDIV

Zara Lhasa apso 7 anos Obesidade (controle do peso)

Ikki Maltês 1 ano Displasia coxofemoral

Sugar Maltês 1 ano Sequela de cinomose

Draco Pastor Alemão 10 anos Displasia coxofemoral

Dicky Pequinês 5 anos DDIV

Pepeu Pinscher 5 anos Luxação de patela

Maru Pitbull 7 meses Luxação de patela

Lilica Poodle 12 anos Luxação de patela

Thor Poodle 3 anos Fratura (atropelamento)

Niko Pug 5 meses Fratura (queda)

Bob Sem raça

definida 3 anos Avulsão de plexo braquial (atropelamento)

Bonifácio Sem raça

definida 15 anos

Fratura (atropelamento) e displasia

coxofemoral

Charuto Sem raça

definida 8 anos Fratura (atropelamento)

Emma Sem raça

definida 8 anos Displasia coxofemoral

Estela Sem raça

definida 1 ano Necrose asséptica da cabeça do fêmur

Faísca Sem raça

definida 11 anos Sequela de cinomose

13

Frida Sem raça

definida 13 anos Displasia coxofemoral

Greice Sem raça

definida 14 anos Fratura (atropelamento)

Leonardo Sem raça

definida 4 anos Fratura (atropelamento)

Maya Sem raça

definida 11 meses Necrose asséptica da cabeça do fêmur

Mel Sem raça

definida 1 ano Luxação de patela

Negão Sem raça

definida 4 anos DDIV

Oliver Sem raça

definida 4 meses Sequela de cinomose

Raposinho Sem raça

definida 3 anos Lesão medular (atropelamento)

Tequila Sem raça

definida 2 anos Fratura (atropelamento)

Nicky Spitz Alemão 1 ano Subluxação quadril e luxação de patela

Bia Yorkshire 12 anos Luxação de patela

Frederico Yorkshire 13 anos Luxação de patela

Jasmin Yorkshire 10 anos Luxação de patela

Tiffany Yorkshire 5 anos Luxação de patela

Yari Yorkshire 11 anos Luxação de patela

No Gráfico a seguir aparece o número de atendimentos realizados durante o

período de estágio, por ordem de frequência.

GRÁFICO 1 – CASOS ATENDIDOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NO

INSTITUTO DE REABILITAÇÃO ANIMAL (IRA)

14

3 INTRODUÇÃO

A DDIV – Doença do Disco Intervertebral é uma doença degenerativa, que

acomete principalmente (mas não exclusivamente) os cães das raças

condrodistróficas, doença esta que possui aspecto secundário, em razão de estar

associada a uma lesão da medula espinhal, protusa ou extrusa do disco degenerado,

no interior do canal espinhal, fazendo com que seja relevante. É sinalizada

clinicamente por dor ou óbito dos animais acometidos, além de ser a causa mais

comum de paresia e paralisia em cães (CREED e YTURRASPE, 1996; MATERA e

PEDRO, 2006).

Nos casos de DDIV da coluna toracolombar, os sinais clínicos não são sempre

os mesmos, variando caso a caso, podendo os sinais serem acompanhados ou não

de dor profunda, resistência ao andar, ou até paralisia dos membros, acompanhados

de déficit neurológico (MATERA e PEDRO, 2006).

De acordo com Trapp et al. (2010), 36,84% dos óbitos de cães, registrados no

Hospital Universitário – UNOPAR, da cidade de Arapongas-PR são decorrentes da

DDIV, sendo esta a causa mais frequente de observação dentre outras doenças, tais

como cardíacas, hepáticas, renais e displasia coxofemoral. Considerando apenas os

casos de DDIV, 100% foram casos que levaram eutanásia, apesar de todos terem

indicação cirúrgica. Em parte pode-se atribuir esse número elevado à rejeição dos

tutores em arcar com custos cirúrgicos e pós cirúrgicos, e em outras partes ao

prognóstico reservado. Entretanto vislumbra-se um horizonte positivo, pois em casos

mais recentes pode-se observar recuperação de casos de DDIV que foram

submetidos a procedimentos cirúrgicos de descompressão. Com base nesses novos

casos, anseia-se por uma redução nos casos de eutanásia decorrentes do DDIV, por

conta do otimismo em relação ao tratamento.

O tratamento da DDIV pode ser clínico, com o uso de fármacos, nos casos em

que os sinais são leves, devendo o paciente permanecer com movimentação restrita,

15

entretanto há grande risco de agravamento no quadro se o tratamento não for

realizado corretamente. O tratamento pode ser cirúrgico, para casos em que os sinais

são moderados ou severos; nos casos cirúrgicos, como forma de alívio das dores e

reabilitação do paciente, podem, após o procedimento cirúrgico, ser utilizadas técnicas

fisioterápicas, com incrementação destas, conforme evolução do quadro do paciente

(MATERA e PEDRO, 2006).

A fisioterapia veterinária é indicada na recuperação pós cirúrgica, pois busca a

mitigação dos sinais, buscando a prevenção de recidivas no quadro, bem como novos

problemas no mesmo paciente (LEVINE, MILLIS, MARCELLIN-LITTLE, 2008).

16

4 FISIOTERAPIA COMO TRATAMENTO NA REABILITAÇÃO PÓS

CIRÚRGICA DE DDIV TORACOLOMBAR

4.1 FISIOTERAPIA

É indicada para pacientes que apresentem indicação de fisioterapia, sinais

neurológicos e ortopédicos, pacientes que necessitam de técnicas que evitem atrofia

muscular, que precisam tratar a obesidade. Pode ser utilizada como forma de auxiliar

tratamentos clínicos e/ou cirúrgicos (IRA, 2016).

4.2 COLUNA VERTEBRAL DO CÃO

A coluna vertebral do cão inicia-se do crânio até o final da cauda, sendo

composto por diversas vértebras (Figura 6), divididas em cervicais (7 vértebras),

torácicas (13 vértebras), lombares (7 vértebras), sacrais (3 vértebras) e caudais (20

vértebras), podendo variar o número de vértebras lombares para 6 (Figura 7). As

vértebras são ligadas de forma estável, porem possui certa flexibilidade. A coluna é

responsável pela manutenção postural, e através de sua flexibilidade, permite flexão

e extensão desta (DYCE, 2010).

FIGURA 6 – ANATOMIA DA COLUNA VERTEBRAL TORÁCICA DE CÃO.

FONTE: Modificado de WHEELER E SHARP, 1994.

(Seta) Corpo vertebral

(1) processo espinhoso

(2) processo articular

(3) processo transversal

caudal.

17

FIGURA 7 – DIVISÃO DA MEDULA ESPINHAL EM SEGMENTOS E TOPOGRAFIA

VÉRTEBRO MEDULAR

Segmentos

Medulares C1-C5 C6-T2 T3-L3 L4-S2 S3-Ca

Região Inervada Região

Cervical

Membros

Torácicos

Região

Toracolombar

Membros

Pélvicos

Região

Pélvica

FONTE: Adaptado por MORISHIN FILHO, 2012.

4.2.1 Vértebras Toracolombares

As vértebras toracolombares são as compreendidas entre as regiões torácicas

e lombares, contendo 13 e 7 vértebras respectivamente, são caracterizadas por serem

parte da região dorsal do tórax, e na região lombar por serem participantes da

sustentação muscular para os membros pélvicos (DYCE, 2010).

4.2.2 Discos Intervertebrais

Os discos intervertebrais são o meio de articulação de todos os discos

vertebrais (com exceção do C1 e C2), e são eles que conferem a flexibilidade a coluna

vertebral, e são responsáveis pela absorção de impacto. Existem 26 deles na coluna

vertebral dos cães (sem a região coccígea). Em sua composição, observa-se duas

regiões distintas, o núcleo pulposo (área gelatinosa) que fica envolto pelo anel fibroso

(área fibrosa), e entre eles situa-se a zona de transição (Figura 8). Os discos

intervertebrais são importantes do ponto de vista clínico, pela velocidade em que

18

incorrem em degeneração, podendo ser por idade do paciente quando as mudanças

são leves (DYCE, 2010; BRAUND, 1996).

FIGURA 8 – MICROFOTOGRAFIA DE DISCO INTERVERTEBRAL (X10)

Fonte: Modificado de BRAUND, 1996.

4.2.3 Medula espinhal

A medula espinhal é um longo tecido nervoso de forma tubular que através de

suas raízes é responsável por transmitir informações para o cérebro. É dividida em

segmentos, sendo 8 cervicais, 13 torácicos, 7 lombares, 3 sacrais e 5 caudais. Tanto

a medula espinhal quanto as raízes são envoltas por meninges. Existem 3 camadas

de meninges que envolvem a medula espinhal, conhecidas como: dura-máter,

aracnóide e pia-máter (Figura 9) (UNIVERSITY OF MINNESOTA COLLEGE OF

VETERINARY MEDICINE, 2016).

(NP) Núcleo Pulposo

(ZT) Zona de Transição

(AF) Anel Fibroso

19

FIGURA 9 – MEDULA ESPINHAL E MENINGES

FONTE: UNIVERSITY OF MINNESOTA COLLEGE OF VETERINARY MEDICINE, 2016,

http://vanat.cvm.umn.edu/neurLab2/pages/MeningDentRoots.html .

4.3 RAÇAS CONDRODISTRÓFICAS

É uma alusão a aparência e a ossificação (endocondral) encontrada nos cães

das raças daschshund, beagles, pequineses, poodles, buldogues franceses, cocker

spaniels, shihtzus, american spaniels, lhasa apsos e welsh corgis (Figura 10). Cães

dessas raças em geral distam-se do chão em aproximadamente 33% até sua altura

na cernelha (GREGORY, 1973; FOSSUM, 2008).

FIGURA 10 – RAÇAS DE CÃES CONDRODISTRÓFICOS

20

4.4 DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL (DDIV)

A DDIV está ligada à degeneração discal do paciente, produzindo extrusão ou

protusão (Hansen tipo I e II respectivamente), e posteriormente lesão medular.

Observa-se que de forma mais recorrente a intervenção cirúrgica vem sendo aplicada.

Porém a extensão dos danos e as sequelas que podem advir da lesão medular, ainda

são subjetivas, assim como as terapias usadas no tratamento e que por vezes são

conflitantes (BRAUND, 1996).

4.4.1 Degeneração Tipo I ou Degeneração Condróide

É a extrusão do disco intervertebral, quando houve ruptura fibrosa das camadas

exteriores e eliminação de material nuclear para dentro do canal vertebral (Figuras 11

e 12). É caracterizado pela metamorfose do disco intervertebral, que torna-se

cartilaginoso. Esse tipo de degeneração ocorre nas raças condrodistróficas, até o seu

segundo ano de vida (BRAUND, 1996; MATERA e PEDRO, 2006).

FIGURA 11 – COMPARAÇÃO ENTRE PROTUSÃO DE DISCO TIPO I (B) COM

DISCO INTERVERTEBRAL NORMAL (A)

FONTE: Modificado de MATERA e PEDRO, 2006.

A B

21

FIGURA 12 – CORTE TRANSVERSAL DE DISCO INTERVERTEBRAL, (A)

NORMAL E (B) DEGENERADO

FONTE: Modificado de BRISSON, 2010.

4.4.2 Degeneração Tipo II ou Degeneração Fibróide

É a protusão do disco intervertebral, quando o núcleo pulposo desloca-se em

sentido da região dorsal do Anel, por conta do rompimento, ainda que parcial,

encontrado nessa região, caracterizando-se pela sobressaída para o interior do canal

Núcleo Pulposo

substituído por

material mineralizado

Ligamento

Dorsal Núcleo

Pulposo

Ligamento

Ventral

A

B

22

vertebral (Figura 13). Esse tipo de degeneração ocorre nas raças não

condrodistróficas, a partir do oitavo ano de vida (BRAUND, 1996; MATERA e PEDRO,

2006).

FIGURA 13 – COMPARAÇÃO ENTRE DEGENERAÇÃO DE DISCO TIPO II (B)

COM DISCO INTERVERTEBRAL NORMAL (A)

FONTE: Modificado de MATERA e PEDRO, 2006.

4.4.3 Alterações intervertebrais

As alterações relevantes nos discos intervertebrais podem ser estruturais, ou

bioquímicas, a primeira sendo caracterizada pela maturação nuclear do disco,

tornando-o fibrocartilaginoso, processo que finaliza-se por volta dos 8 anos de idade

do cão, quando não há mais diferença entre anel fibroso e núcleo. Entretanto, nos

cães condrodistróficos, observa-se que essa alteração já ocorre bem mais cedo,

finalizando-se aproximadamente ao um ano e meio do cão; e a segunda forma de

alteração tem a ver com a quantidade de colágeno, glicoproteína entre outras

substâncias, presente no disco intervertebral que já no primeiro ano representam 50%

a menos do que em cães de outras raças. Sugere-se que essas alterações possam

ser as responsáveis pelas herniações discais, devido a sensível redução da

capacidade de absorção de impactos, por parte dos discos intervertebrais. Em

estudos recentes comprova-se a relação direta do tamanho da lesão, com o nível de

A B

23

degeneração encontrado nos discos, não há indícios de que a DDIV ocorra por

influências traumáticas externas. Observa-se que a mobilidade de certas regiões da

coluna do cão não tem relação direta com a DDIV, haja visto que os segmentos da

coluna que possuem maior flexibilidade e aceite de movimentos são os menos

prováveis a sofrerem com a doença (BRAUND, 1996).

Há estudos que indicam que a degeneração intervertebral está relacionada a

genética, sendo em algumas famílias, de raças condrodistróficas, ainda mais

frequente, que em outros na mesma raça, ainda observa-se que o sexo do paciente

influi na degeneração inter-discal, sendo maior em machos, do que em fêmeas

castradas, que em fêmeas não castradas, isso por conta do estrógeno presente, que

auxilia na proteção anti-degenerativa (BRAUND, 1996; TOOMBS e WATERS, 2007).

Ainda, a quantidade de material discal vazado para dentro do canal medular

importa, porém menos que a velocidade que o material está sendo extrusado do disco,

e do tempo que a medula está sendo comprimida, salvo pela dor que pode estar

presente em ambas (BRAUND, 1996).

4.4.4 Síndrome Toracolombar

A região toracolombar é considerada a mais atingida em cães com DDIV, sendo

observada em aproximadamente 85% dos casos, e os discos entre as vértebras mais

atingidas nessa região, 65 a 75% das observações, estão compreendidas entre as

vértebras T11 e L2, se formos considerar as vértebras T10 a L5 aí teremos 98% dos

casos abordados. É também de importância, pois a maior incidência de disfunção

neurológica é por lesão nessa região, isso considerando animais pequenos. Lesões

nessa região são responsáveis por paraparesia (perda parcial da capacidade motora

dos membros posteriores ou anteriores) (Figura 14) (FOSSUM, 2014; FOSSUM, 2008;

DYCE, 2010; CREED; YTURRASPE, 1996).

Segundo MATERA e PEDRO (2006),

24

Os sinais clínicos são altamente variáveis. Eles alternam de hiperestesia local somente na paralisia com ou sem dor profunda. Os primeiros sinais mais típicos incluem cifose da região toracolombar com presença de dor na palpação; déficit do reflexo de propriocepção até a sua ausência, levando à relutância para andar. Alguns cães apresentam progressão dos sintomas, alterações na função da bexiga e retenção urinária com ou sem resistência para o seu esvaziamento.

FIGURA 14 – FÊMEA DACHSHUND, COM 2 ANOS, COM DOENÇA DO DISCO

INTERVERTEBRAL TORACOLOMBAR

Fonte: LORENZ, COATES, KENT, 2011.

4.5 DIAGNÓSTICO DE DDIV

O diagnóstico de DDIV em cães deve ser realizado avaliando-se o histórico e

os sinais do paciente, que são variados, mas classicamente apresentam dor aguda

ou subaguda, e paraparesia (em graus variáveis), deve-se também realizar exame

neurológico para avaliar as condições do paciente. Porém para um diagnóstico preciso

recomenda-se a utilização de exames complementares, dentre eles as radiografias

simples e contrastada, tomografia computadorizada e ressonância magnética

(BRAUND, 1996; MATERA e PEDRO, 2006; FOSSUM, 2008).

25

4.5.1 Exame Radiológico Simples

É o exame radiológico tradicional (Figura 15), neste o paciente deve ser

sedado, para evitar agravamento de sua condição, o diagnóstico preditivo de DDIV se

dá pelo sinal mais proveitoso da radiografia simples, o estreitamento do espaço

intervertebral, pode aparecer um fenômeno raro nesse tipo de exame, que é o vácuo,

porém confirma o diagnóstico de DDIV (BRISSON, 2010).

FIGURA 15 – RADIOGRAFIA SIMPLES DE CÃO COM A ÁREA RADIOLUSCENTE

ENTRE OS CORPOS DAS VÉRTEBRAS DE T10 A T13.

FONTE: Modificado de FOSSUM, 2008.

4.5.2 Exame Radiológico Contrastado – Mielografia

É o exame caracterizado pela inserção de contraste (Iohexol ou Iopamidol) no

espaço subaracnóideo (em caso de convulsão ou espasmos musculares, controlar

com administração de diazepam), este exame é utilizado, em geral, quando outros

métodos diagnósticos não foram conclusivos, para o exame o paciente deve estar

anestesiado (geral), e deve ter realizado radiografia simples, o exame é contra

indicado em casos de inflamação confirmada. Esse tem sido o exame de imagem mais

utilizado para diagnósticos de DDIV (Figura 16) (STOLF, 2012; BRISSON, 2010).

FIGURA 16 – MIELOGRAFIA COM DESLOCAMENTO DORSAL DA COLUNA DE

CONTRASTE EM L2 (SETA).

T11 T12 T13

T10

26

FONTE: KEALY e MCALLISTER, 2005.

4.5.3 Tomografia Computadorizada

É uma ferramenta de diagnóstico não invasiva e a preferível a ser usada para

evitar efeitos secundários em pacientes com predisposição. É um exame que não

possui efeitos colaterais, salvo a exposição à radiação, comum a todos os exames de

imagem, fornece imagens mais precisas, permitindo inclusive a renderização em 3D

(Figura 17), porém não é a forma de exame mais indicada para tecidos moles. Esse

ainda é um exame de alto custo, e que não é facilmente encontrado em qualquer

clínica de imagens veterinárias (BRISSON, 2010; TOOMBS e BAUER, 1998).

FIGURA 17 – TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA ALTURA DA L3, ONDE

OBSERVA-SE MATERIAL EXTRUSADO, CAUSANDO DEFORMAÇÃO INSTENSA

DA MEDULA ESPINHAL

FONTE: FOSSUM, 2008.

27

4.5.4 Ressonância Magnética

A ressonância magnética possui alto poder de contraste dos tecidos moles,

permitindo uma ótima visualização dos tecidos que compõem a medula espinhal. É a

melhor forma de diagnóstico precoce de DDIV (Figura 18). Em estudos realizados

comparativamente entre a ressonância magnética e a mielografia, em cães com DDIV

(ambos exames realizados nos mesmos pacientes), o melhor exame para

determinação do local da lesão foi a ressonância magnética. Entretanto esse também

é um exame de alto custo, e que não é facilmente encontrado em qualquer clínica de

imagens veterinárias (FOSSUM, 2008; BRISSON, 2010; TOOMBS e BAUER, 1998).

FIGURA 18 - RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DA REGIÃO LOMBOSSACRAL DE UM

CÃO. A - DEGENERAÇÃO DOS DISCOS L6-L7 E L7 E S1. B - IMAGEM COM A

COLUNA EM FLEXÃO, DEMONSTRANDO UMA LESÃO DINÂMICA.

Fonte: LORENZ, COATES, KENT, 2011.

4.6 TRATAMENTO DA DDIV TORACOLOMBAR

O tratamento da DDIV toracolombar pode ser clínico ou cirúrgico, porém são

dependentes do grau da doença, urgência e condições financeiras do proprietário

(SIMPSON, 1992).

28

Para Fossum (2008) o quadro a seguir serve de exemplo de sistema de

estadiamento para auxiliar na determinação do melhor tratamento a ser seguido e

prognóstico para discopatia Toracolombar.

QUADRO 2 – SISTEMA DE ESTADIAMENTO PARA DDIV

ESTÁGIO SINAIS CLÍNICOS

RADIOGRAFIA/

LOCALIZAÇÃO

DA LESÃO

TRATAMENTO PROGNÓSTICO

I

Episódios únicos ou

ocasionais de dor nas

costas leve, moderada

ou intensa com ou sem

déficits de PC discretos,

sem fraqueza motora

Não foram feitas

radiografias Conservador Favorável

Achado incidental

de discos

degenerados

Conservador Com

ou sem

Fenestração

Favorável

II

Segundo episódio ou

dor nas costas

persistente e intensa

com ou sem déficits de

PC e com ou sem

paraparesia ambulatória

Não foram feitas

radiografias

Conservador

Com ou sem

Fenestração

Favorável /

Reservado

Descompressão Excelente

III

Dor nas costas intensa

e sem controle ou sem

déficits de PC e com ou

sem paraparesia

ambulatória

Disco que sofreu

extrusão está no

canal

Descompressão Excelente

Paraparesia fracamente

ambulatória† ou não-

ambulatória‡, com ou

sem dor nas costas

Disco que sofreu

extrusão está no

canal

Descompressão Excelente /

Favorável

IV

Paraplegia, § com ou

sem dor nas costas

Duração < 48h

Disco que sofreu

extrusão está no

canal

Descompressão Reservado /

Desfavorável

Duração > 48h

Disco que sofreu

extrusão está no

canal

Conservador ou

descompressão

Reservado /

Desfavorável

FONTE: Modificado de FOSSUM, 2008.

Segundo Fossum (2008), o quadro a seguir cita recomendações de terapias

para tratamentos a serem seguidos, dependendo do caso.

29

QUADRO 3 – TERAPIA RECOMENDADA PARA PACIENTES COM DISCOPATIA

TORACOLOMBAR BASEADA NOS SINAIS NEUROLÓGICOS.

APRESENTAÇÃO

CLÍNICA

TRATAMENTO

INICIAL RESULTADO

SEGUNDO

TRATAMENTO RESULTADO

TERCEIRO

TRATAMENTO

Dor nas costas

leve a moderada

somente; primeiro

episódio ou

múltiplos episódios

Não se faz

tratamento

médico; apenas

repouso em

gaiola

Não há

melhora em 5

a 7 dias

Relaxantes

musculares;

fazer controle

diário

Não há

melhora em 2

a 3 dias

Esteroides e

relaxantes

muscular;

controle diário

Dor nas costas

intensa apenas;

primeiro episódio

ou múltiplos

episódios

Relaxante

muscular;

controle diário

Não há

melhora em 2

a 3 dias

Esteroides e

relaxantes

muscular;

controle diário

Não há

melhora em 2

a 3 dias

Repetir

segundo

tratamento ou

pensar em

cirurgia

Dor presente ou

ausente e

paraparesia

ambulatória

Esteroides por 1

dia

Melhora

Continuar

esteroides por 6

dias

Melhora Observação

Estático Esteroides por

1 dia Melhora

Observação e

pensar em

cirurgia

Piora Pensar em

cirurgia

Dor presente ou

ausente e

paraparesia

fracamente

ambulatória ou

não-ambulatória

Recomendar

cirurgia

precoce;

administrar

esteroides no

pré-operatório

Dor leve,

moderada ou

intensa recorrente;

não-responsiva a

tratamento clínico

Recomendar

cirurgia

precoce;

administrar

esteroides no

pré-operatório

FONTE: Modificado de FOSSUM, 2008.

4.6.1 Tratamento Clínico

O Tratamento clínico é dito conservativo e pode ser utilizado em diversos casos

que possuem sinais de DDIV. O paciente deve ser mantido em repouso, com restrição

de movimentação, com a associação de corticosteróides, ou anti-inflamatórios não-

esteroides, bem como analgésicos. Deve ser aplicado apenas em casos com sintomas

considerados leves, e com muito cuidado dos tutores, para que o quadro não se

agrave. Para o tratamento clínico, considerar as observações constantes nos quadros

2 e 3 (MATERA e PEDRO, 2006; FOSSUM, 2008).

30

4.6.2 Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico é o indicado para os casos em que o tratamento clínico

não pode ser aplicado (conforme Quadros 2 e 3), foi aplicado e não surtiu efeito ou

após exames preliminares ficou constatada a urgência do caso (FOSSUM, 2008).

A cirurgia em pacientes com DDIV é bem difundida e pode ser dividida em duas

opções, com base nos objetivos, sendo elas a fenestração discal e a descompressão

da medula ou raízes nervosas (CREED e YTURRASPE, 1996).

4.6.2.1 Fenestração Discal

É recomendada em cães que apresentam sinais clínicos que vão de dor na

região lombar a paralisia dos membros pélvicos. Entretanto recomenda-se que o

paciente esteja em boas condições de saúde e dentro de seus 8 anos de idade, pois

em casos com idade superior o prognóstico não é favorável. Deve-se considerar esse

procedimento em pacientes em que os sinais da DDIV forem evidentes e deve ser

altamente indicado em casos de evolução do quadro ou primeira recidiva. A técnica

consiste na remoção do núcleo pulposo do disco intervertebral, prevenindo novas

extrusões (Figura 19) (CREED e YTURRASPE, 1996).

FIGURA 19 – FENESTRAÇÃO DISCAL

FONTE: CREED e YTURRASPE, 1996.

31

4.6.2.2 Descompressão Medular e/ou de Raízes Nervosas

Existem diversos procedimentos que podem ser usados para a descompressão

medular e/ou de raízes nervosas, dentre eles, os mais comuns, hemilaminectomia

(Figura 20), pediculectomia, laminectomia dorsal modificada, laminectomia dorsal

profunda, laminectomia funkquist A e laminectomia funkquist B (FOSSUM, 2008).

FIGURA 20 - REGIÃO TORACOLOMBAR, APÓS HEMILAMINECTOMIA

FONTE: FOSSUM, 2008

Nas protusões agudas de disco, removendo o material do disco extrusado,

ocorre completa descompressão. Nas protusões crônicas, que são normalmente

realizadas em pacientes que não se adequaram bem ao tratamento clínico, o material

discal encontrado estará firme, encapsulado e protuso, sendo de difícil remoção. Nas

extrusões laterais do disco não haverá material do disco no canal vertebral, devendo

o disco ser removido para que os fragmentos sejam expostos (FOSSUM, 2008).

4.6.3 Pós operatório

O tempo de recuperação do paciente está intimamente ligado ao tempo que a

medula ficou comprimida pelo material discal que foi extrusado (BRAUND, 1996).

32

O pós operatório para fenestração discal é acompanhado pela administração

de corticosteroides e/ou analgésicos, entre 1 e 3 dias. Em geral os pacientes recebem

alta entre 48 e 72h após o procedimento. A fenestração permite que pacientes com

paralisia caudal sejam submetidos a fisioterapia dentro de 1 dia após o procedimento

cirúrgico (CREED e YTURRASPE, 1996).

O pós operatório para os procedimentos de descompressão medular ou de

raízes nervosas é acompanhado pela administração de glicocorticosteroides por

período não superior a 6 dias, ainda associado ao uso de anti-inflamatórios esteroides,

após a interrupção do uso desses, passa-se à utilização de antibióticos de largo

espectro, por no mínimo 3 dias. Pacientes paralisados recebem alta assim que,

conscientemente, consigam realizar a micção (TROTTER, 1996).

Após esses procedimentos cirúrgicos, em geral, entre 24 e 48 horas, os

pacientes podem ser submetidos a tratamentos fisioterápicos (FOSSUM, 2008).

4.6.4 Reabilitação na Coluna Vertebral através da fisioterapia

Para que se inicie a fisioterapia, como tratamento pós operatório, os tutores

devem ser informados sobre as formas de manejo, pois mesmo casos com

prognósticos bons, se não forem cuidados adequadamente, poderão passar a

pacientes com complicações. O paciente deve ficar em repouso, confinado em espaço

reduzido, para que se movimente o mínimo possível. O tratamento inicia-se com

técnicas como eletroterapia e laser terapia, e passa a evoluir conforme o quadro do

paciente também evolui (MATERA e PEDRO, 2006).

4.6.4.1 Eletroterapia (TENS)

Para a utilização do TENS, o local da lesão deve ser conhecido, a aplicação

consiste no posicionamento de 2 ou 4 eletrodos de forma paralela para que a corrente

passe de forma cruzada pelo local. O TENS é indicado por sua função analgésica e

33

pode ser usado por tempo indeterminado, pois não há contra indicações. E pode ser

usado logo após o procedimento cirúrgico (Figura 21) (MATERA e PEDRO, 2006).

FIGURA 21 – ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA

FONTE: CLINICA SÓ BICHOS, 2015,

http://clinicasobichos.blogspot.com.br/2015_02_01_archive.html.

4.6.4.2 Eletroterapia (FES)

A eletroterapia do tipo FES implica na utilização da corrente elétrica externa de

forma controlada a ser aplicada através de eletrodos, objetivando atingir um músculo,

ou tecido nervoso, ocorrendo contratura muscular, sendo indicada para o retorno da

sensação de contração muscular, auxiliando no aumento de tônus muscular,

prevenindo atrofias (Figura 22) (NORONHA, 1997; MARTINS, 2004).

FIGURA 22 – ELETROTERAPIA MUSCULAR DO QUADRICEPS EM CÃO

FONTE: MIKAIL, 2006.

34

4.6.4.3 Laserterapia

Para a utilização do laser, o local da lesão deve ser conhecido, a aplicação

deve utilizar a técnica de varredura. O laser é indicado por sua função analgésica e

anti-inflamatória, auxilia ainda na cicatrização (Figura 23). Seu uso pode ser

simultâneo com o TENS logo após o procedimento cirúrgico (MATERA e PEDRO,

2006; MIKAIL, 2006).

FIGURA 23 – APLICAÇÃO DE LASER COM CABEÇOTE DE VARREDURA

FONTE: MIKAIL, 2006.

4.6.4.4 Infravermelho

O objetivo de utilização do infravermelho é o calor produzido por este, que

chega a aproximadamente 1cm de profundidade. O infravermelho é indicado por

promover relaxamento muscular e a vasodilatação da região em que foi aplicado

(Figura 24) (MATERA e PEDRO, 2006).

35

FIGURA 24 – APLICAÇÃO DE LUZ INFRAVERMELHA

FONTE: RAMALHO et al, 2014.

4.6.4.5 Ultrassom

O ultrassom pode ser utilizado no modo térmico (contínuo), e o calor produzido

por este aquece os tecidos moles, e é indicado por promover analgesia,

extensibilidade do colágeno. Se usado no modo pulsátil, não produzirá calor, em

compensação, atua auxiliando na regeneração dos tecidos moles (Figura 25).

(MATERA e PEDRO, 2006).

FIGURA 25 – APLICAÇÃO DE ULTRASSOM EM CAVALO

FONTE: PEDRO, 2006.

36

4.6.4.6 Hidroterapia

É a terapia por meio da água, em geral, pacientes em fase intermediária de

reabilitação podem apresentar atrofia, ou incapacidade de sustentar o próprio corpo,

porém quando parcialmente dentro da água, a força de flutuação exercida por esta

deixa o corpo com sensação de leveza, proporcionando ao paciente a movimentação,

ausente fora da água. Com a água aquecida, promove-se analgesia, e aumento dos

movimentos, flexibilidade e fortalecimento muscular. Com a água gelada, promove-se

a redução do metabolismo celular a diminuição da permeabilidade capilar e alívio da

dor (Figura 26) (MATERA e PEDRO, 2006; MIKAIL, 2006).

FIGURA 26 – CÃO NA HIDROTERAPIA EM IMERSÃO PARCIAL

FONTE: VERAS, 2006.

4.6.4.7 Magnetoterapia

É classificada em dois tipos, a com magnetos estáticos e a com campo

magnético pulsátil, a primeira utiliza de materiais que possuem magnetismo próprio,

entre 10 e 500 Gauss (medida de grandeza magnética), a ação esperada deste tipo

de magnetismo é o aumento da circulação, porém carece de comprovação científica;

no segundo tipo, o magnetismo é obtido por meio de corrente elétrica, passando por

uma bobina, criando o campo magnético, sendo assim, o resultado obtido também é

37

elétrico, os equipamentos que produzem esse campo são diversos, bem como sua

forma de construção, o que leva a diferença no pulso magnético, produzindo

alterações nos resultados dos tratamentos, a ação esperada para esse tipo de

tratamento é o alívio da dor (Figura 27) (MIKAIL, 2006).

FIGURA 27 – CÃO EM TRATAMENTO POR MAGNETISMO UTILIZANDO

APARELHO MAGNÉTICO

FONTE: IRA, 2006, http://www.iranimal.com.br/

4.6.4.8 Alongamentos

Recomenda-se o uso regular de alongamentos, de forma a fortalecer a

musculatura, deixá-la mais elástica e flexível, um fator de importância nessa forma

terapêutica é a temperatura, pois temperaturas frias tendem a causar efeitos inversos

aos supracitados (Figura 28) (AMARAL, 2006).

FIGURA 28 – ALONGAMENTO PASSIVO DO MÚSCULO QUADRÍCEPS

FONTE: AMARAL, 2006.

38

4.7 RELATO DE CASO CLÍNICO

Durante os atendimentos realizados durante o estágio, foi atendido um

paciente da espécie canina, macho, da raça Daschshund, 2 anos de idade, pesando

9,5kg, de nome Hot, que foi atendido na Animal Clinic no dia 29 de julho 2016 pela

madrugada apresentando dor na coluna vertebral. Ativo, responsivo a estímulos,

andar cambaleante, dificuldade de ficar em estação. Apresentava desconforto à

palpação da coluna e vocalização, alterações neurológicas, a saber, falta de

propriocepção, referentes à compressão medular.

De acordo com o histórico, o animal vivia em ambiente de piso liso, e tinha o

hábito de subir e descer do sofá e da cama.

O paciente foi diagnosticado com DDIV toracolombar grau 5, com compressão

de T12-T13 (Figura 29) e foi submetido a uma hemilaminectomia descompressiva

esquerda, em 24 horas após a crise, na Animal Clinic.

FIGURA 29 – RAIO-X DA COLUNA VERTEBRAL, REGIÃO TORACOLOMBAR

39

4.7.1 Tratamento clínico na Animal Clinic

No tratamento clínico foram utilizados os seguintes fármacos: Rymadyl 25mg,

Cronidor 40 mg, Dipirona gotas, Gaviz 10 mg, Rilexine 300 mg, Benazepril 5 mg, além

de alimentação de lata úmida gastrointestinal, dividida em 4 porções.

O paciente teve alta médica da Animal Clinic dia 03/08/2016.

4.7.2 Pós-operatório

No pós operatório (Figura 30) foi indicado repouso por 30 dias e a reabilitação

através da fisioterapia, com o objetivo de recuperar os tecidos nervosos lesionados,

promover analgesia, evitar atrofia e melhorar a função dos membros pélvicos, apesar

do prognóstico reservado. Sendo assim, o paciente foi encaminhado para tratamento

fisioterápico na IRA (Figura 31). Tendo início no dia 04/08/2016.

FIGURA 30 – PÓS OPERATÓRIO DO PACIENTE APÓS PERÍODO DE

CICATRIZAÇÃO

40

FIGURA 31 – ENCAMINHAMENTO DO PACIENTE

41

O paciente foi atendido no Instituto de Reabilitação Animal com dor controlada

e o protocolo fisioterápico foi 11 sessões de fisioterapia, utilizando as técnicas de

eletroterapia FES recíproco em extensores e flexores para fortalecimento de membro

pélvico. FES paravertebral para fortalecimento, laser terapia paravertebral para

analgesia (Figura 32), magneto terapia com protocolo de lesão SNC, hidroterapia com

treino de marcha e reflexo de cauda (Figura 33) e sessões de acupuntura. O Tutor

autorizou o registro (dados e fotos) do tratamento do paciente.

FIGURA 32 – LASERTERAPIA SENDO REALIZADA NO PACIENTE

FIGURA 33 – HIDROTERAPIA SENDO REALIZADA NO PACIENTE

42

Foram indicadas duas sessões semanais, e o tutor recebeu orientação de

movimentar as articulações do membro pélvico duas vezes ao dia, assim como reflexo

de retirada, restringir o espaço e evitar movimentação excessiva.

No início do tratamento, dia 04/08/2016, 4 dias após a cirurgia, o paciente

apresentava-se apático, com paraplegia de membros pélvicos, sem dor profunda e

propriocepção.

Nas primeiras 7 sessões de fisioterapia não foram observados sinais de

melhora em relação a locomoção, apenas analgesia eficiente.

A partir da 8º sessão o paciente começou a apresentar melhora visível nas

sessões de hidroterapia, com treino de marcha, reflexo de cauda e reflexo de retirada,

e início dos movimentos voluntários e do retorno da propriocepção. A partir da 8º

sessão, a melhora foi gradativa.

Apesar de a indicação ser de apenas 11 sessões, o paciente continuou

realizando novas sessões de fisioterapia, dada a melhora perceptível no quadro.

Na 14º sessão, os movimentos voluntários foram observados sem reflexo de

cauda, apenas com a sustentação do peso na hidroterapia. Notou-se também que o

membro pélvico direito possui maior tônus muscular e progride melhor que o membro

posterior esquerdo, lado este que ocorreu a compressão medular (Quadro 4).

QUADRO 4 – EVOLUÇÃO DA MEDIDA DO MEMBRO PÉLVICO ESQUERDO

Sessão Data Média (cm) Sessão Data Média (cm)

1 04/08/2016 18,0 9 02/09/2016 18,9

2 09/08/2016 18,1 10 06/09/2016 18,9

3 12/08/2016 18,1 11 13/09/2016 18,9

4 16/08/2016 18,2 12 16/09/2016 18,9

5 19/08/2016 18,2 13 20/09/2016 19,0

6 23/08/2016 18,3 14 27/09/2016 20,0

7 25/08/2016 18,4 15 04/10/2016 20,6

8 30/08/2016 18,5 16 06/10/2016 20,8

43

Ao fim do estágio, o paciente continuou em tratamento, entretanto não havia

retomado os movimentos voluntários e nem sustentava o peso no solo, conseguindo

este feito apenas nas sessões de hidroterapia. Os tratamentos fisioterápicos

realizados no paciente surtiram os efeitos desejados, conforme o que a literatura

disponível apresenta para cada tipo de tratamento.

Até o fechamento deste relatório de estágio o paciente continua sem sustentar

o peso no solo. Entretanto o paciente pode usufruir de uma melhoria em sua qualidade

de vida, além de um processo de cicatrização melhor, com retorno da propriocepção

e da dor profunda. Além de ganho de massa muscular, evitando atrofia.

44

5 DISCUSSÕES

Observa-se que a DDVI é uma causa frequente de óbito em cães acometidos

por essa doença, e que faz-se necessária a disseminação de técnicas que

proporcionem aos pacientes uma recuperação mais rápida, e que conceda a esses

maior qualidade de vida, além de proporcionar aos tutores a possibilidade de incorrer

em gastos menores com tratamentos, ou de poupar estes ter de decidir entre

eutanásia ou cirurgia sem vistas de melhora. ´

Apesar de Ramalho et al (2014), concluir que a reabilitação animal, através

de um programa customizado para o paciente, é fundamental para os com hérnia de

disco cervical, pode-se inferir ainda que é fundamental para outros tipos de

herniações, inclusive a toracolombar. Esse programa para ser efetivo deve considerar

uma avaliação criteriosa do paciente, bem como seu estado de saúde, sinais que

apresenta, estado neurológico, origem da doença e a participação do tutor e do

paciente no tratamento.

As técnicas a serem aplicadas devem ser analisadas quanto as suas

características particulares, e efeitos desejados. No estudo de caso foram utilizadas

técnicas fisioterápicas e de acupuntura, que os efeitos, que a literatura disponível

citava, puderam ser observados (TRAPP et al, 2010; MATERA e PEDRO, 2006).

45

6 CONCLUSÃO

Através do estágio desenvolvido e caso estudado, foi observado que com

sessões de fisioterapia, como tratamento na reabilitação pós cirúrgica de DDIV –

Doença Do Disco Intervertebral Toracolombar, o paciente tratado teve aumento de

massa muscular dos membros pélvicos, boa analgesia. Concluindo a fisioterapia

serve como forma de reabilitação de pacientes nessas condições.

Observou-se ainda que os tratamentos fisioterápicos realizados no paciente

surtiram os efeitos desejados para cada um, sendo na eletroterapia o aumento de

massa muscular. Na hidroterapia, a partir da 8º sessão, houve um aumento do tônus

muscular dos membros pélvicos, sendo maior no antímero direito, permitindo que o

paciente sustente o próprio corpo, ainda que apenas durante as sessões de

hidroterapia. A magneto terapia demonstrou ser eficaz no alívio da dor. O laser foi

eficiente principalmente no início do tratamento, por sua função analgésica e anti-

inflamatória, auxiliando também na cicatrização.

Apesar de não ter retornado completamente a função dos membros pélvicos

em relação a sustentação, a fisioterapia teve benefício em relação a qualidade de vida

do paciente, auxiliando na cicatrização, no retorno da propriocepção e da dor

profunda. Além de ganho de massa muscular, evitando atrofia.

46

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