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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ NÚCLEO DE PESQUISA EM SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA NPSPP O CAOS DO SISTEMA CARCERÁRIO CONTRIBUINDO PARA O PROBLEMA DA INSEGURANÇA PÚBLICA PONTA GROSSA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

NÚCLEO DE PESQUISA EM SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA

NPSPP

O CAOS DO SISTEMA CARCERÁRIO CONTRIBUINDO PARA O PROBLEMA DA

INSEGURANÇA PÚBLICA

PONTA GROSSA

2014

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ADRIANE APARECIDA BLANSKI PRESTES

O CAOS DO SISTEMA CARCERÁRIO CONTRIBUINDO PARA O PROBLEMA DA

INSEGURANÇA PÚBLICA

Artigo Científico apresentado como requisito paraaprovação na Disciplina de Metodologia daPesquisa Científica, do Curso de Especializaçãoem Direito Penal e Direito processual Penal paraAtividade Policial, do NPSPP, da UniversidadeTuiuti do Paraná, sob orientação do ProfessorDalton Gean Perovano.

PONTA GROSSA

2014

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“Do grego politeía para o latim politia, polícia tem a ver com

organização política, conjunto de regras para beneficiar e

proteger o cidadão. Temos que ser polícia, cívica e moral,

intolerante com tudo aquilo que pode incentivar a impunidade e

a corrupção. Quando a sociedade se assumir como guardiã

dela própria, os políticos farão questão de dizer que, sim, estão

integrados no conjunto de normas que se chama Justiça. Com

orgulho, dirão que todos somos polícia.”

Alberto Dines, jornalista

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SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................................5

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................6

2. REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................................7

2.1 A história..............................................................................................................7

2.2 Analisando dados................................................................................................8

2.3 Apontando soluções..........................................................................................13

3. CONCLUSÃO..........................................................................................................25

REFERÊNCIAS...........................................................................................................26

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O CAOS DO SISTEMA CARCERÁRIO CONTRIBUINDO PARA O PROBLEMA DA

INSEGURANÇA PÚBLICA

ADRIANE APARECIDA BLANSKI PRESTES1

Orientador: Jorge Sebastião Filho

Resumo: O texto busca explanar o caos do sistema carcerário e a sua contribuição para ainsegurança pública, relacionando os problemas que levam a insegurança pública como asuperpopulação do sistema carcerário, a morosidade do judiciário, a precariedade do SistemaPrisional, uma legislação arcaica e ultrapassada que contribui para o aumento do problema, sendoque a pesquisa foi realizada de forma exploratória, com levantamento bibliográfico e umacontextualização sobre os conceitos que envolvem o tema. No contexto busca-se soluções como umnovo Sistema Carcerário que seja capaz de ressocializar o preso para que este não volte ao mundoda criminalidade, a readequação da legislação a fim da descriminalização de delitos que são, ou pelomenos deveriam ser problemas de ordem administrativa ou social, e a revisão da lei de execuçõespenais no sentido de desafogar o sistema carcerário, o aumento do efetivo a fim de agilizar do poderjudiciário, estas soluções foram apontadas por pesquisadores, por sociólogos, entre outras pessoasque trabalham com a segurança pública e o sistema carcerário, e pela própria população. São fatospara serem pensados em caráter emergencial para tentar resolver o caos do sistema carcerário quevem gerando insegurança pública.

Palavras-chave: Segurança Pública. Sistema Carcerário. Legislação. Poder Judiciário.Ressocialização.

Zusamenfassung: Der Text versucht, das Chaos des Gefängnissystems und ihren Beitrag zuröffentlichen Unsicherheit, in dem die Probleme, die die öffentliche Unsicherheit und Überbelegung derHaftanstalten, die Langsamkeit der Justiz, die Unsicherheit des Gefängnissystems, eine archaischeund veraltete Gesetze führen zu erklären, dass trägt zur Erhöhung des Problems, und die Forschungwurde in einer explorativen Weise durchgeführt, mit bibliographischen und Kontextualisierung vonKonzepten mit diesem Thema. Im Zusammenhang suchen wir Lösungen als eine neueGefängnissystem, das in der Lage, neu zu knüpfen, den Gefangenen, so dass es nicht auf die Weltdes Verbrechens zurückzukehren ist, die Modernisierung der Gesetzgebung, um die Straftaten, diesind zu entkriminalisieren, oder zumindest sollte administrative Probleme oder soziale undÜberarbeitung des Gesetzes der kriminellen Hinrichtungen, um das Gefängnissystem, die Erhöhungder effektiven, um die Justiz zu rationalisieren zu entlasten, haben diese Lösungen von denForschern, Soziologen und andere Menschen, die mit der öffentlichen Sicherheit arbeiten identifiziertund das Gefängnissystem, und die Bevölkerung selbst. Fakten sind der als Sofortmaßnahme, um dasChaos des Gefängnissystems, die Erzeugung öffentlicher Unsicherheit bewältigen gedacht werden.

Schlüsselwörter:entliche Sicherheit. Gefängnissystem. Gesetzgebung. Justiz. Resozialisierung.

1 Graduada em Matemática, escrivã da Polícia Civil, com cursos: Análise Criminal, Busca eApreensão, Gerenciamento de Crises, Invetigação Criminal, Isolamento e Preservação de Local deCrime, Técnicas e Tecnologias não letais de atuação policial, Filosofia dos Direitos Humanosaplicados a atuação policial e Sistemas de Gestão em Segurança Pública, Crimes Cibernéticos,Polícia Comunitária, Tópicos de Psicologia relacionado a Segurança Pública e Defesa Civil. Email:[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo explanar a forma que o caos do sistema

carcerário vem contribuindo para a insegurança pública, numa contextualização

sobre conceitos que envolvem o sistema carcerário e seus problemas, reunindo as

respostas de sociólogos, pesquisadores e pessoas que trabalham com a segurança

pública, além de levantar possíveis soluções para o problema.

As rebeliões e fugas de presos são notícias que vemos diariamente, a falta

de segurança, o aumento gradativo da criminalidade e o sentimento de medo

aumentam. Mas onde está o problema do sistema carcerário? Qual a parte de

responsabilidade dos outros órgãos como as polícias e o judiciário, além da parcela

de contribuição da nossa legislação ultrapassada, neste caos do sistema carcerário?

Sociólogos, especialistas em segurança pública e outros pesquisadores tentam

achar respostas todos os dias para essas perguntas.

Pessoas que trabalham com ou pela segurança pública tentam justificar,

através de pesquisas e fatos concretos, a situação de calamidade em que nos

encontramos, analisando os fatores que levam ao caos do sistema carcerário. É

necessário uma definição do problema, para que assim possa ser encontrado

alternativas capazes de corrigir e melhorar o sistema carcerário, e por fim ao

problema.

Existem diversas soluções propostas para tentar reverter esse problema,

entre elas o aumento de efetivo do poder judiciário a fim de acabar com a

morosidade, alterações no código penal, que já está ultrapassado para a sociedade

atual, com o intuito de proporcionar a descriminalização de delitos que hoje são de

ordem social e administrativa, e mudanças na lei de execuções penais de forma que

possa desafogar o sistema penitenciário, e principalmente uma reformulação do

sistema carcerário para que este seja capaz de abrigar os privados de liberdade e

menores infratores com dignidade, fornecendo aos mesmos a tão sonhada

ressocialização, com oportunidades de estudo e trabalho.

Soluções essas que requerem esforços do Estado e de toda a sociedade,

lembrando que acima de tudo é necessário que todos caminhem juntos em busca

dos objetivos.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A história

Laurentino Gomes, autor do livro “1808”, relata um pouco da história da

polícia no Brasil, que teve início com a vinda da Família Real em 1808, Dom João VI

criou a Polícia Brasileira com características da Polícia Portuguesa, a qual

despertava medo e desconfiança, e tinha além da função de manter a ordem

pública, a responsabilidade de prover a limpeza, a salubridade, a iluminação, o

arruamento da cidade e o abastecimento de água, possuía também autoridade

judicial, julgando e punindo os desordeiros, desocupados e escravos fujões. Com o

tempo a função da polícia foi se reduzindo apenas a manter a ordem pública. A

polícia, mesmo que tenha cumprido outras funções desde a sua origem, e tenha

exercido de forma aterrorizante o controle da ordem pública contra as classes

populares, atualmente ela é a responsável pelo primado da lei, viabiliza-se também

como garantidora de direitos, proteção da sociedade e mediação de conflitos sociais.

O Sistema Carcerário passou a existir no Brasil em 1830 com a criação do

Código Criminal, antes disso, o país se submetia as Ordenações Filipinas, que

previa penas de humilhação pública, penas cruéis e desumanas com punição ao

corpo do condenado, como mutilações, açoite, queimaduras e até a pena de morte.

Com a instituição de penas privativas de liberdade previstas pelo Código Criminal,

se deu início ao Sistema Carcerário Brasileiro, e conforme os dados trazidos por

historiadores é onde se deu início ao problema da super população carcerária,

problema este que existe até os dias de hoje.

Os primeiros presídios criados, como a Penitenciária do Estado São Paulo

em 1906, já expressava em seus primeiros relatórios o problema da super lotação, o

qual trazia o número de 160 vagas, mas abrigava 976 presos, os primeiros presídios

criados tinham a função de mudar o caráter do delinquente com disciplinas severas,

alimentação grosseira e vestimentas humilhantes, excluindo o preso do mundo

externo.

Havia um grande abismo entre o previsto pela lei e a realidade carcerária,

não havia estabelecimentos suficientes para que os detentos cumprissem suas

penas, condenados ficavam junto com os que aguardavam o julgamento, os

espaços eram imundos, com acúmulo de lixo, falta de água, péssima alimentação,

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assistência médica precária.

Já o marco inicial do poder judiciário no Brasil é datado no ano de 1530,

quando Martim Afonso de Souza recebeu de D João III poderes de sentenciar à

morte autores de delitos graves. A estruturação do judiciário ocorre em 1549 com

juízes de direito em 1ª instância, Tribunais da Relação em 2ª instância e Supremo

Tribunal de Justiça na cúpula. Até o final do império não se ouviu falar em justiça

federal.

A Constituição de 1824 elevou a justiça brasileira a um dos Poderes do

Estado, e em 1828 foi criado o Supremo Tribunal de Justiça com 17 ministros. Com

a proclamação da República uma nova estrutura federativa é observada com juízes

e Tribunais Estaduais e uma Justiça Federal.

2.2 Analisando dados

A segurança é uma sensação subjetiva, abstrata, não pode ser medida.Tudo

o que é capaz de gerar conflito ou dificultar a proteção de um direito é razão para

gerar insegurança. Ela pode surgir da escassez de recursos e serviços essenciais

ao atendimento das necessidades básicas de uma população; da intervenção e

intromissão indevida de culturas externas que agridem a identidade de um grupo

social. Considerada pela população um dos serviços mais importantes e essenciais

prestados pelo Estado, devido a crescente criminalidade que é prova a ineficiência

do sistema e acaba por proporcionar uma sensação de insegurança.

A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

destinada a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio (art. 144 da Constituição Federal), um processo que se inicia pela

prevenção e se finda na reparação do dano, no tratamento das causas e na

reinclusão do autor do ato ilícito na sociedade. Nessa ótica, segurança pública é um

processo que engloba elementos preventivos, repressivos, judiciais e sociais em

geral.

Partindo do início quando a denúncia chega na delegacia, esse é o início

desse sentimento de impunidade, muitos crimes são esquecidos nos cartórios da

Polícia Civil, que por falta de efetivo, não consegue dar conta dos inquéritos

policiais, desta forma aquele criminoso não será punido, nem se quer irá a

julgamento, e quando o inquérito policial chega a ser concluído, se inicia uma nova

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espera, a do poder judiciário, que também é morosa por falta de efetivo, assim,

quando muitos crimes já estão prescritos quando o autor vai a julgamento, e qual a

resposta que é dada as vítimas destes delitos se não o sentimento de impunidade.

Um fator importante que contribui para a superlotação dos presídios

brasileiros é o confinamento de presos não condenados, como essas pessoas não

foram condenadas por crime algum são presumidos inocentes pela lei e uma porção

dela será de fato absolvida pelos crimes dos quais é acusada sem levar em

consideração o tempo que passaram em confinamento.

Segundo as normas internacionais de direitos humanos, acusados deveriam

ser soltos enquanto o julgamento estiver pendente. Seguindo esse princípio, do

Pacto Internacional dos Direitos Civil e Políticos reza que: "a prisão preventiva de

pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura

poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa

em questão à audiência e a todos os atos do processo, se necessário for, para a

execução da sentença".

Somando-se aos efeitos do uso excessivo da prisão preventiva ou

temporária estão os demorados processos criminais, durante os quais o acusado

permanece encarcerado, alguns presos não condenados estão confinados há anos,

está é uma prova da morosidade da justiça. Além de manifestarem sua preferência

pela liberdade sob fiança, as normas internacionais de direitos humanos

especificamente proíbem a detenção sem condenação por longos períodos de

tempo. Processos judiciais que duram vários anos foram considerados excessivos

pelo Comitê dos Direitos Humanos das Nações Unidas e outras autoridades

internacionais.

O sargento da Polícia Militar e mestre em Políticas Públicas e Sociedade,

Antonio Roberto Xavier atribui o aumento da criminalidade ao sistema carcerário. A

indistinção de infrações penais: a falta de distribuição equitativa e justa e a falta de

aproveitamento de infratores menos periculosos nas prisões brasileiras vêm, ao

longo do tempo, transformando o Sistema Penitenciário Brasileiro numa constante

escola de aperfeiçoamento para violência criminal em todos seus aspectos. Quando

não se compreende e não se segue as normas de como o poder deve ser operado

este pode causar grandes resistências, superiores e suportáveis, e aí o exercício do

poder não produz, mas provoca o caos.

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O Brasil possui um dos maiores sistemas penais do mundo, a população

carcerária está distribuída em vários estabelecimentos carcerários, penitenciárias

industriais terceirizadas, presídios e cadeias públicas, casas de detenção, distritos e

delegacias policiais, colônias agrícolas, centros de observação e recuperação, casas

de albergados, hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico e os núcleos para

menores.

Segundo estatísticas do ICPS (Centro Internacional para Estudos Prisionais)

referentes ao ano de 2013, a população carcerária brasileira é de 548 mil presos,

num universo de 190 milhões de pessoas, números que chegam ao resultado de

274 presos para cada 100 mil habitantes, o que é absolutamente alto, seguindo esse

ritmo, estima-se que em uma década dobre a população carcerária brasileira, o Brasil é

a terceira maior população carcerária do mundo, só fica atrás dos Estados Unidos (2,3

milhões de presos) e da China (1,7 milhões de presos). Dos 548 mil presos, 56% já

foram condenados e estão cumprindo pena e 44% são presos provisórios que aguardam

o julgamento de seus processos.

ICPS – Centro Internacional para Estudos Prisionais / 2013

Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional - Depen, um dos

fatores que causam a superpopulação carcerária é devido a boa parte dos

detentos serem réus provisórios, aguardando decisão judicial, o que deixa cadeias

e penitenciárias superlotadas, além de sobrecarregar as celas das delegacias.

A população carcerária brasileira compõe se de 93,4% de homens e 6,6% de

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mulheres. Em geral, são de jovens com idade entre 18 e 29 anos, afrodescendente, com

baixa escolaridade, sem profissão definida, baixa renda, muitos filhos e mãe solteira (no

caso das mulheres).

ICPS - Centro Internacional para Estudos Prisionais / 2013

Essa população carcerária se divide nos seguintes delitos: crimes contra o

patrimônio (70%) e tráfico de entorpecentes (22%).

ICPS - Centro Internacional para Estudos Prisionais / 2013

E se as polícias cumprissem todos os mandados de prisão em aberto, cerca

de 200 mil no Brasil, só no Paraná cerca de 30 mil, analisando ainda de que cerca

de 10mil pessoas são detidas mensalmente, onde seriam colocadas todas essas

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pessoas.

As prisões brasileiras tornaram-se um amontoado de pessoas sem

esperança de justiça e expectativas de ressocialização, de um recomeço. São

indivíduos ignorados pela sociedade, guardados em escaninhos escuros e

esquecido da consciência coletiva, relegados a prisões que em muitos casos mais

se aproximam de masmorras da idade média, se aprimorando para o retorno a

criminalidade. Pretender que essa população carcerária é somente um dado

estatístico pálido e distante da nossa realidade é inútil, perverso e ingênuo.

O sistema prisional brasileiro há muito deixou de ser um instrumento eficaz

de recuperação se é que um dia foi, o nosso atual sistema prisional é uma das

mais sérias dívidas sociais que o Estado brasileiro e a sociedade, como um todo,

tem. O sistema prisional brasileiro reflete a realidade social injusta do Brasil,

estimula e propicia ao crime, ou ainda leva mais necessitados a violência e ao

encarceramento.

Os condicionamentos do Sistema Penal no Brasil, além de promover a

destruição psíquica e física da pessoa humana, não somente sujeita-a a um

processo de criminalização, mas, submete-a a um processo de fossilização. Isto é

feito na medida em que esse sistema:

“se vale de uma seleção de pessoas dos setores mais humildes e, .... Estecondicionamento, ainda muito pouco estudado, é, todavia, gravíssimo.Utiliza-se de um grupo de pessoas de baixa condição social, que perde oseu grupo de identificação originário e o leva à adoção de permanentesatitudes de desconfiança, que se corrompa, e essa corrupção o obrigue auma solidariedade incondicional para com o grupo artificial e se vejasubmetido a um regime quase militar: e, consequentemente, àarbitrariedade em relação às condições e estabilidade laborativa, servecomo "bode expiatório" para os excessos do sistema, e, por fim, torna-semais exposto à violência física que esse mesmo sistema cria” (ZAFFARONI& PIRANGELI, 1997, p. 76).

A situação decorre do fato de ter o Brasil optado por uma política criminal

punitivista ultrapassada, típica do século 19, que ainda acredita que o direito penal e

a pena de prisão são instrumentos eficazes no combate à criminalidade, pois podem

ressocializar o criminoso condenado (ninguém se atenta ao paradoxo de se

pretender ressocializar alguém afastando-o da sociedade).

Assim, o Estado brasileiro prende um número enorme de pessoas, e não

investe nos estabelecimentos prisionais que deveriam promover a tão sonhada

ressocialização, sendo que as prisões acabam por tornar-se verdadeiros “espaços

de ninguém”, onde os condenados, ao arrepio da Lei de Execuções Penais, tem

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seus direitos sistematicamente desrespeitados pelo Estado, são subjugados por

facções criminosas e não desenvolvem nenhuma atividade útil.

Segundo o especialista em segurança pública Cláudio Beato, professor da

Universidade Federal de Minas Gerais, a violência dentro dos presídios está

diretamente relacionada com a insegurança nas ruas, a falha em garantir a

integridade dos presos em muitas unidades prisionais, segundo ele, para se

proteger, os detentos se organizam em facções criminosas. Porém, esses grupos

evoluem criando redes de advogados, formas de financiamento, obtenção de armas

e assim elevam o crime para um nível mais nocivo, que afeta toda a sociedade.

Sem mencionar que, na atual realidade, deixar o sistema penitenciário apos

ter cumprido sua dívida para com a sociedade e tentar nela se reinserir é, por

vezes, uma quimera. Mais certo é que a falta de apoio e suporte adequado do

Governo e a pouca informação e compreensão da sociedade em acolher esse

indivíduo e ressocializá-lo, o empurre novamente para uma vida de incertezas e

criminalidade.

No Brasil, a taxa de reincidência criminal é alta, se situa em torno de 70%, como

não há reeducação (aprimoramento humano e profissional), quando voltam ao convívio

social, geralmente retornam para o crime, o estigma de cometer um delito acompanha o

ex-detento por toda a vida e geralmente chega ao ouvido dos futuros patrões,

inviabilizando a possibilidade de trabalho. A falta de oportunidades reserva basicamente

uma única opção ao ex-presidiário: voltar a infringir a lei quando retorna ao convívio

social, é como se a sociedade o empurrasse novamente para o mundo do crime.

Dados ainda revelam que aproximadamente 76% dos presos ficam ociosos,

apenas 17% dos presos estudam na prisão ou participam de atividades educacionais de

alfabetização, trabalhar ou estudar na prisão diminui as chances de reincidência em até

40%. Dar um tratamento digno ao preso, propiciando-lhe trabalho e educação, além da

inserção no mercado de trabalho, é uma forma de combater o crime.

A morosidade do poder judiciário no que concerne ao meio processual é,

dentre outros fatores, uma das causas da superpopulação carcerária, aliado a uma

via recursal vasta confirma-se a lentidão da justiça, desta forma pessoas

permanecem presas mais do que deviam, esperam presas por penas que não

seriam restritivas de liberdade e sim alternativas, quando são julgadas já cumpriram

mais tempo do realmente receberiam como punição, e a falta de defensores públicos

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para os detentos, solicitando no tempo certo a progressão de regimes e penas.

O código penal vigente no Brasil foi criado pelo decreto-lei nº 2.848, de 7 de

dezembro de 1940, pelo então presidente Getúlio Vargas durante o período do

Estado Novo, tendo como ministro da justiça Francisco Campos, é o 3º da história

do Brasil e o mais longo em vigência, os anteriores foram os de 1830 e 1890. Apesar

da criação em 1940, o atual Código só entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942

e revela os seguintes princípios basilares: a legalidade, devido processo legal,

culpabilidade, lesividade, proporcionalidade, individualização, humanização e valor

social da pena, subsidiariedade, fragmentariedade, enfim, a lei penal brasileira é

uma barreira de defesa do indivíduo em face do poder punitivo do Estado.

O Código Penal é acompanhado de legislações complementares, súmulas e

índices, contendo entre outras leis a de Execução Penal, em 1940 estávamos no

meio de uma guerra mundial, portanto, temos um Código Penal super ultrapassado

e quem se beneficia é o criminoso, os assaltantes, os ladrões de todas as

qualidades de roubos, além, é claro, dos assassinos, sabendo evidentemente que

terão que cumprir uma leve pena de prisão, este se pode dizer que é o melhor país

do mundo para os criminosos e terrivelmente amargo para os honestos.

Os crimes contra a pessoa, como o homicídio simples (art. 12) o assassino

sofrerá uma pena de reclusão de seis a 20 vinte anos, mas continuado, “se o agente

comete o crime impelido por motivo de relevante valor moral, ou sob o domínio de

violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima”, o juiz pode

reduzir a pena de um sexto a um terço, ou seja, é aqui onde as sentenças são

banalizadas, o criminoso só tem uma condenação mais dura se não se arrepender

do que fez.

No Brasil ainda engatinha procurando leis num Código Penal ultrapassado, a

criminalidade avança sem receio e atinge as pessoas honestas e inocentes que

acreditam ainda em leis boas, mesmo sendo antigas. Estas, com as atuais

manipulações de antigas leis, sabem que as punições não são verdadeiramente

exemplares, são punições medíocres, sem aquele sentimento que a vítima sairá

com uma sensação de que houve justiça, o Código Penal protege bem mais o

criminoso do que a vítima. E pior ainda quando a vítima é assassinada e neste caso

é onde o criminoso acaba por não ter uma punição exemplar, visto que aos poucos a

vítima é esquecida para sempre e o criminoso preso acaba sendo solto, ou de um

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assalto onde houve reação por parte da vítima e novamente em liberdade o

assassino busca novos assaltos e roubos e com a pretensão de matar mais gente

inocente.

Para os menores a situação é ainda mais confortável, sabem que não serão

presos ao praticarem quaisquer crimes e então entram de peito aberto na

criminalidade, estupram, matam, roubam e são encaminhados para instituições

específicas, no Código Penal “ultrapassado” consta de medidas de proteção à

criança e ao adolescente “aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos na lei

forem ameaçados ou violados”.

A individualização e a progressão de pena de cada preso é um pilar

fundamental para vários dos elementos da Lei de Execução Penal. Isto significa,

primeiro, que o juiz deve considerar as circunstâncias individuais do acusado antes

de determinar a sentença. Assim, por exemplo, a questão sobre se o preso é um

reincidente ou um réu primário é relevante na determinação se ele será encarcerado

em uma prisão de regime fechado, regime aberto ou prestará serviço comunitário.

Em segundo, o juiz de execução penal deve fiscalizar continuamente seu caso

enquanto estiver encarcerado, ajustando os termos da sentença segundo sua

conduta. Normalmente, um preso que inicia o cumprimento de sua sentença em

regime fechado, após cumprir uma parte de sua pena deveria ser transferido para

um estabelecimento de regime semi-aberto e de lá, após mais um tempo, para um

de regime aberto e finalmente retornar à sociedade. Em síntese, a visão do

encarceramento é de um processo dinâmico e não simplesmente um prazo fixo de

determinados anos.

No entanto, as exigências da LEP com respeito à progressão de penas não

têm sido postas em prática, parte dos presos nunca vê um estabelecimento de

regimes aberto ou semi-aberto; ao invés disso, cumpre toda sua pena numa prisão

de regime fechado ou até mesmo em delegacias.

3. Apontando soluções

Basicamente chamamos de Lei hoje: um conjunto de normas criadas por

nós, que deve ser respeitada, para gerar um melhor convívio social. O objetivo é o

bem comum, quem quebra alguma dessas regras está causando um mal para a

sociedade, e deve ser punido, de acordo com o que foi estabelecido na Lei. Um

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exemplo simples pode ser o caso de um homicídio, quando uma pessoa mata outra,

deve receber uma determinada punição, preestabelecida pelas normas da Lei.

Essa mesma sociedade moderna inventou a penitenciária, mais

popularmente conhecida como cadeia ou presídio. Independente do nome a ela

atribuído, a definição e o objetivo são os mesmos: privar o criminoso do seu maior

direito, a liberdade de movimento, o direito de ir e vir como conhecemos, o sujeito

que comete um crime, perde a sua liberdade, pois não é considerado

suficientemente preparado para o convívio social.

O sistema carcerário ideal seria aquele que não somente prendesse o

indivíduo criminoso, mas que o devolvesse à sociedade preparado para um melhor

convívio, mas não é o que ocorre no Brasil, o indivíduo preso é um pequeno detrator,

que cometeu um delito pequeno, e dentro da penitenciária ele entra em contato com

grandes criminosos, traficantes, homicidas, e acaba por piorar o pequeno detrator,

transformando-o em um potencial grande criminoso.

O sistema carcerário brasileiro não está preocupado com os indivíduos que

estão presos, simplesmente recolhe os criminosos, joga-os dentro de uma cela

superlotada, e deixa-os apodrecendo até o fim de sua pena, se fosse possível

recobrar a sociabilidade desse indivíduo e transformá-lo num verdadeiro cidadão,

teríamos um aproveitamento muito melhor do nosso sistema carcerário.

O presídio de Joaçaba, em Santa Catarina, sob o comando do juiz Márcio

Umberto Bragaglia, desenvolveu um maravilhoso projeto chamado "Reeducação do

Imaginário". O objetivo do projeto é simples, incentivar a leitura de obras clássicas

do pensamento conservador através da redução de pena àqueles que apresentarem

boa interpretação daquilo que leram, ou seja, depois da leitura eles serão

entrevistados para uma avaliação do entendimento do livro, se o resultado for

positivo, o detento ganha uma redução de pena.

O projeto já teve seus primeiros resultados positivos, o primeiro livro

escolhido foi "Crime e Castigo", de Dostoiévski, este livro vai tocar diretamente na

ferida, vai mexer com a consciência dos presidiários e instigá-los a serem pessoas

melhores. O afinco e a dedicação foram tamanhos que os detentos conseguiram

encontrar até mesmo erros de ortografia que não foram encontrados pelos revisores

profissionais que trabalharam na edição do livro, um ganho que vem a longo prazo,

que é a melhora do caráter dos detentos.

Uma solução adotada em alguns países, como no Reino Unido (que representa

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um dos menores índices de presos no mundo), por exemplo, é reservar as prisões

somente para os criminosos considerados perigosos que oferecem risco à sociedade,

como o homicida ou quem comete crime sexual, ampliando, assim, a utilização de penas

e medidas alternativas à prisão, com acompanhamento e fiscalização dos condenados

pelo Estado e sociedade. Com certeza, as possibilidades de recuperação de quem

cometeu um delito considerado leve ou médio são comprovadamente muito maiores

quando o condenado não cumpre sua pena em regime fechado. Além disso, as chances

de a pessoa reincidir são menores, em torno de 12%. Outro fator positivo é que, embora

a aplicação de penas e medidas alternativas, de acordo com a legislação vigente, não

represente um esvaziamento imediato dos presídios, impede o agravamento da

superpopulação carcerária.

Já existe esforço para aplicar e conscientizar sobre a importância e necessidade

das penas alternativas, mas, ainda assim, continuam sendo a exceção. Os crimes de

menor gravidade, inclusive contra o patrimônio, são punidos com prisão, havendo

grande mistura entre os detentos. Com isso, as penitenciárias se tornam as verdadeiras

escolas do crime. Na verdade, quando os juízes justificam a não substituição em nome

do temor, gravidade do delito, risco à sociedade, etc. estão demonstrando a falta de

estrutura do Judiciário na fiscalização do cumprimento das penas alternativas. Sem

dúvida é mais cômodo e barato pagar um carcereiro para cuidar de um cadeado do que

investir nas centrais de atendimento, na capacitação de funcionários e no exercício da

cidadania. Como construir e manter cadeia não dá voto e prestígio aos governantes, eles

não estão nem aí com a desgraça prisional.

A aplicação da pena alternativa deve ser a regra, a prisão deve ficar no lugar

que lhe cabe: o de exceção. Acreditar que sanções mais rigorosas, menos benefícios,

ampliação do número de vagas prisionais, resolverá o problema, é exatamente isso que

está levando o sistema prisional ao colapso, ao caos total, a uma verdadeira bomba-

relógio prestes a explodir, pois há muito se chegou à conclusão de que o problema da

prisão é a própria prisão.

Pesquisadores se dividem na linha de pensamento, uns são adeptos do Direito

Penal Máximo, vêem na pena de prisão a solução para o problema do crime, e outros

são adeptos do Direito Penal Mínimo, cujos componentes entendem que a cadeia deve

servir somente para aqueles que cometem crimes de extrema gravidade, sendo a

liberdade a regra, admitindo-se excepcionalmente o cerceamento da liberdade individual.

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Dentro desse universo, existem opiniões extremadas para ambos os lados, o grupo dos

abolicionistas gostariam de ver a sociedade livre do Direito Penal, ou então os adeptos

do Direito Penal do Terror, simpáticos à pena de morte, regime disciplinar diferenciado e

à prisão perpétua, Apesar dos dois sistemas terem suas virtudes e imperfeições, o

Direito Penal Mínimo é a melhor solução, pelo menos a curto e médio prazo, a prisão só

deve se voltar para casos excepcionais, crimes mais graves e intoleráveis, não

solucionáveis por via distinta e o direito penal precisa se restringir e justificar ao máximo

sua intervenção.

Nessa linha de raciocínio, Juarez Cirino dos Santos, partidário do Direito Penal

Mínimo, afirma: o sitema penal precisa ser reduzido,

“[...] os objetivos do sistema prisional de ressocialização e correção estãofracassando há 200 anos, e muito pouco está sendo feito para mudar a situação.Prisão nenhuma cumpre estes objetivos, no mundo todo. O problema se somaao fato de que não há políticas efetivas de tratamento dos presos e dosegressos. Fora da prisão, o preso perde o emprego e os laços afetivos. Dentroda prisão, há a prisionalização, quando o sujeito, tratado como criminoso,aprende a agir como um. Ele desaprende as normas do convívio social paraaprender as regras da sobrevivência na prisão, ou seja, a violência e amalandragem. Sendo assim, quando retorna para a sociedade e encontra asmesmas condições anteriores, vem à reincidência.” (SANTOS, 2012)

O estado do Espírito Santo reformulou seu sistema prisional em dez anos,

as unidades prisionais do Estado do Espírito Santo viviam uma situação de caos,

com um cenário de superlotação, escassez de agentes penitenciários e falta de um

modelo de gestão. Os detentos chegaram a ser colocados em penitenciárias

provisórias, nas quais as celas eram feitas de contêineres O governo local então

decidiu investir mais de R$ 450 milhões em um processo de criação das atuais 26

unidades prisionais capixabas. A construção delas foi feita por empresas

estrangeiras e seguiu um modelo arquitetônico padronizado criado nos Estados

Unidos. Cada unidade abriga no máximo 600 detentos (Pedrinhas, por exemplo, tem

cerca de 2,2 mil presos). Eles ficam divididos em três galerias de celas e não se

comunicam. Os edifícios têm ainda salas específicas onde os detentos participam de

oficinas profissionalizantes ou recebem atendimento odontológico e psicológico.

Estados como Alagoas, Goiás e Mato Grosso do Sul, entre outros, estão

apostando em unidades prisionais de excelência que investem na ressocialização

dos presos, a experiência se baseia em um modelo espanhol e parte do princípio de

que um tratamento respeitoso é essencial para a ressocialização dos detentos.

Contudo, uma seleção rigorosa faz com que apenas presos com bom

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comportamento, que nunca tenham participado de motins e que aceitem participar

da experiência sejam selecionados. Eles só são transferidos do sistema carcerário

comum para a unidade depois de passar por uma avaliação psicológica onde devem

mostrar "vontade de mudar de vida", eles trabalham na manutenção da unidade e

em empresas conveniadas. Até presos que cumprem pena no regime fechado são

autorizados a sair desacompanhados para trabalhar. Ao acabarem de cumprir suas

penas, os detentos são encaminhados para convênios do governo com empresas,

para a colocação no mercado de trabalho.

Uma unidade prisional que aplica aspectos positivos no regime semiaberto é

o Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, no Mato Grosso do Sul. Sua principal

característica é a ênfase no trabalho, uma vez que a unidade possui nove oficinas

de trabalho remunerado – em áreas como tapeçaria, produção de contêineres e

portões e cozinha industrial. Muitos dos presos exercem essas atividades fora do

presídio e são as próprias empresas que se responsabilizam pelo seu transporte e

medidas de segurança. Em paralelo, os detentos participam de tratamento para se

livrar do vício em entorpecentes.

Ainda temos os menores infratores que de uma lista de 17 países, apenas

Brasil e Alemanha têm limite de restrição de liberdade de três anos para os

infratores, nos outros países há possibilidade de internações maiores, em especial,

para os jovens mais próximos dos 18 anos. É válido que ocorra um debate para

aperfeiçoar o ECA, e haja mais rigor na punição nos casos mais violentos, afirma

Theodomiro Dias Neto, professor de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e

membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas estabelece que os

menores de 18 anos devem ter tratamento diferenciado na lei. O ECA estabelece

que a partir dos 12 anos os adolescentes estão sujeitos a sanções, antes dessa

idade, não há punição.

A lei brasileira não estabelece punição aos adolescentes por tipo de crime,

diz apenas que a internação só deve ser adotada por “excepcionalidade” nos casos

de “ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa”, ou

“reiteração no cometimento de outras infrações graves”, ou ainda “por

descumprimento da medida anteriormente imposta”.

A Unicef leva em consideração três pontos para avaliar se o país cumpre a

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Convenção dos Direitos da Criança: os menores devem ser julgados por um sistema

jurídico diferente; as penas devem ser inferiores a dos adultos; e os adolescentes

não podem cumprir a punição em instituições que tenham maiores presos.

O ECA estabelece os critérios para que a criança e o adolescente tenham

seus direitos reconhecidos e respeitados, para adolescentes que cometem crimes e

que não podem ser “presos” tendo como punição máxima a chamada

ressocialização com medidas sócio educativas, e cuja “apreensão” pode ser no

máximo até que ele complete 18 anos ou seja atinja a maioridade penal.

Há a necessidade de mudança para que criminosos não aliciem crianças e

adolescentes para assumir as funções de protagonistas em delitos como tráfico de

drogas e matadores de aluguel, ou simplesmente para assumirem a culpa em

qualquer ocorrência.

A questão é que para se chegar a situação ideal é preciso que a sociedade

brasileira evolua em todos os sentidos, uma solução simples é aplicar a questão da

Igualdade também no código penal, penas e punições de acordo com a gravidade

dos crimes, agravantes e atenuantes conforme a situação do infrator acusado. Não

precisa diminuir a maioridade penal, é necessário apenas criar punições mais

severas para os menores que cometem crimes de acordo com a gravidade do delito.

Dentre os principais temas urgentes para as mudanças do Código Penal,

estão a definição de crime organizado (em substituição à formação de quadrilha),

definição de terrorismo, corrupção na esfera privada e a previsão de pena de prisão

em caso de enriquecimento ilícito, o aborto até a 12ª semana de gestação, a

descriminalização do porte e do plantio de drogas para uso próprio.

Para o jurista Luiz Flávio Gomes, não há motivo para alarde, a droga

continua ilícita, e só podendo ser comprada no paralelo, o que dificulta a venda e o

tráfico. Essa mudança apenas reflete que o uso de droga não é problema de polícia,

mas de saúde pública.

Entre outras mudanças previstas para o novo Código Penal prevê: que em

todos os crimes será possível acordo sobre o tempo de prisão, desde que vítima,

Ministério Público e criminoso concordem; apena para maus-tratos para animais

passa a ser de 1 ano a 4 anos de prisão, mesma punição prevista para o abandono,

que passa a ser crime; o bulling vira crime punido com prisão de 1 a 4 anos; passam

a ser crimes hediondos a redução à condição análoga de escravo, o financiamento

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ao tráfico de drogas, o racismo, o tráfico de pessoas e os crimes contra a

humanidade; a eutanásia em casos de laços de afeição com a vítima, pode deixar

de ser crime; a homofobia terá a mesma pena do racismo; a pena por homicídio,

lesão corporal, tortura e injúria seria aumentada, caso a motivação fosse o

preconceito; os condenados beneficiados pelo teto de 30 anos que voltem a cometer

crimes terão a pena somada à punição anterior, até o prazo máximo de 40 anos; a

prostituição será legalizada.

Na interpretação de Mariano Gomes, primeiramente é um absurdo querer

tipificar o terrorismo no Brasil, e que sob a ótica penal, as transformações de nossa

sociedade exigem a despenalização de uma série de condutas, a punição da

vadiagem, que é inadmissível, e acentua a criminalização da pobreza. Além disso,

ambos os projetos trabalham com a inclusão de causas de aumento de pena em

várias das alterações, sem grandes justificativas para tanto, seria necessário rever a

desproporcionalidade de penas, basta ver que o crime de extorsão mediante

sequestro tem pena maior do que o de genocídio. Não há como não pensar em uma

verdadeira reforma do Código Penal se não se enfrentar as duas questões:

proporcionalidade e dignidade da pessoa humana.

Há 28 anos em vigor, a LEP, que trata das regras para o cumprimento de

sentenças e dos direitos e deveres do condenado, a superlotação do sistema

prisional brasileiro e problemas como racionamento de água, comida estragada, falta

de medicamentos e humilhação na hora da visita, são reclamações comuns feitas

por detentos. A possibilidade de extinção do alvará de soltura; a duração da prisão

preventiva; a criação de um rol de medidas alternativas; e novas regras para as

saídas temporárias dos presos.

Maria Teresa Uille Gomes explica que para incentivar a reinserção social dos

condenados, propõe, entre outras mudanças, a substituição das casas de albergado

pela prisão domiciliar combinada com prestação de serviços comunitários. Para

evitar a permanência na cadeia depois do cumprimento da pena, o relatório cria um

sistema de advertência, que obriga o diretor do presídio a informar o juiz sobre o

benefício com 30 dias de antecedência.

O anteprojeto da nova Lei de Execução Penal também traz mais ferramentas

para a ressocialização dos presos, uma das novidades é a maior integração entre os

órgãos federais e estaduais.O texto proposto pelos juristas da comissão amplia a

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atuação das secretarias estaduais de saúde e de assistência social nos presídios e

inclui a representação de cada estado no conselho nacional que traça a política do

setor, além da ampliação das medidas de reinserção social dos presos.

A intenção é de ampliar os espaços de trabalho, como forma de

ressocialização, o investimento em educação pela secretaria estadual competente, o

atendimento da saúde do preso pelo Sistema Único de Saúde, garantindo a

universalidade de acesso à saúde, a assistência social também.

4. CONCLUSÃO

Através dos dados relatados por pesquisadores, sociólogos, pelos meios de

comunicação, não se pode negar que o sitema carcerário caminha para o caos,

trazendo a tona um sentimento de insegurança pública.

O Brasil é o terceiro no mundo em população carcerária, e no entanto isso

não nos torma um país com baixo índice de criminalidade, a maior parte das

cargeragens não tem condições para abrigar tantos detentos, com a superpopulação

vem a higiene precária, péssima alimentação, deficiência de atendimento médico, e

para que tudo isso para a perfeiçoar no crime as pessoas que ficam presas.

Seria muita hipocresia afirmar que o sistema carcerário ressocializa o preso,

sendo que dados apontam que a maioria retorna ao mundo do crime, seja por não

ter uma profissão, não ter oportunidades de voltar ao mercado de trabalho, e por não

ver nenhuma perspectiva de vida enquanto estava preso, esse seria um dos pontos

emergenciais, a ressocialização do preso.

Mas ainda precisa ir muito além, como uma cudança do código penal que já

está ultrapassado, descriminalizando delitos que são de ordem social ou

administrativa; e a lei de execussões penais a fim de que desafogue o sistema

carcerário, para que fiquem presas as pessoas que são realmente perigosas para a

sociedade.

Tudo isso aliado a um Poder Judiciário efetivo a fim de agilizar processos,

com uma defensoria pública capaz de aconpanhar o detendo nas suas progressões

de penas e regime, pode-se afirmar de que teríamos uma nova visão sobre a

segurança pública e o sistema prisional.

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