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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE EDISON MARCOS BARRETO FILHO OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE NITERÓI 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SADE

EDISON MARCOS BARRETO FILHO

OBESIDADE NA ADOLESCNCIA: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO

ESTRATGIA DE PROMOO DA SADE

NITERI

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SADE

EDISON MARCOS BARRETO FILHO

OBESIDADE NA ADOLESCNCIA: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO

ESTRATGIA DE PROMOO DA SADE

Dissertao de Mestrado apresentada ao Corpo Docente do Programa de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Ensino na Sade.

Linha de Pesquisa: Educao Permanente no SUS

Orientadora: Prof. Dr. Geilsa Soraia Cavalcanti Valente

NITERI

2016

B 273 Barreto Filho, Edison Marcos.

Obesidade na adolescncia: a interdisciplinaridade como estratgia de promoo da sade. / Edison Marcos Barreto Filho. Niteri: [s.n.], 2016.

133 f.

Dissertao (Mestrado Profissional de Ensino na

Sade) - Universidade Federal Fluminense, 2016.

Orientador: Prof. Geilsa Soraia Cavalcanti Valente.

1.Comunicao Interdisciplinar. 2. Obesidade. 3.

Adolescente. 4. Educao Fsica e Treinamento. I.

Ttulo.

CDD 616.398

EDISON MARCOS BARRETO FILHO

OBESIDADE NA ADOLESCNCIA: A INTERDISCIPLINARIDADE COMO

ESTRATGIA DE PROMOO DA SADE

Dissertao apresentada ao Corpo Docente do Programa de Ps-Graduao Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Ensino na Sade.

Linha de Pesquisa: Educao Permanente no SUS

Aprovado em 29 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Geilsa Soraia Cavalcanti Valente Orientadora

UFF

___________________________________________________________________ 1 Examinador: Prof. Dr. Gilmar Fabiano de Almeida

UNINORTE

___________________________________________________________________ 2 Examinadora: Prof. Dr. Vera Maria Sabia

UFF

___________________________________________________________________ Suplente: Prof. Dr. Maria Angela Moreira Dias

INCA

___________________________________________________________________ Suplente: Prof. Dr. Donizete Vago Daher

UFF

NITERI

2016

DEDICATRIA

A minha amada esposa, Tatiana Cordeiro

Matos Barreto, que me deu o maior dos

presentes que um homem possa ganhar:

nosso filho Emanuel, e que em toda a

caminhada no mediu esforos para me

apoiar, incentivar, levar e me buscar, com

o propsito de me ver seguindo para o

alcance do meu grande sonho profissional.

Aos meus pais, Edison Marcos e Snia,

por tudo que fizeram por mim.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar esta oportunidade de ter f, pelo amparo nos

momentos difceis, pela fora interior para superar as dificuldades, por

me mostrar o caminho nas horas incertas e por suprir todas as minhas

necessidades.

minha esposa Tatiana por tudo que faz por mim, ao meu filho

Emanuel, que mesmo eu estando ausente por motivos profissionais,

sempre me recebe sorrindo.

minha me Snia, meu pai Edison Marcos e s minhas irms

Danielle e Juliana, extensivos aos seus filhos, meus sobrinhos,

pessoas que amo, pelo carinho, pacincia e incentivo.

Ao meu amigo e irmo Prof. Dr. Alcyr Alves Viana Neto.

Aos meus sogros Tarcizo e Regina pela presena e apoio nas minhas

aes e ausncias.

minha orientadora e amiga, Prof. Dr. Geilsa Soraia Cavalcanti

Valente, por acreditar em mim, mostrar-me o caminho da cincia,

fazer parte da minha vida nos momentos bons e ruins de forma

incansvel, paciente e acolhedora, por ser exemplo de profissional e

de mulher. Influncias que sempre faro parte da minha vida. Deixo a

minha eterna gratido.

Aos professores que compuseram minha Banca, alm do Prof. Gilmar

Fabiano de Almeida, Prof. Dr. Donizete Vago Daher, a Prof. Dr.

Vera Maria Sabia, a Prof. Dr. Maria Angela Moreira Dias.

Aos amigos da Coordenao de Educao do IFF Campos Centro,

Carlos Augusto Sanguedo Boynard, Ricardo Reis e Luiz Contarini,

que durante estes dois ltimos anos viveram juntos comigo a

experincia de compartilhar sonhos, preocupaes e em transform-

los em momentos alegres e pelo convvio e aprendizado, por

compartilhar os momentos de alegria e de tristeza no decorrer do

curso.

Ao IF Fluminense, escola pela qual tenho um imenso carinho, que me

proporcionou a possibilidade de alcanar mais esta titulao, alm de

contribuir para o meu crescimento profissional.

UFF, em especial Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

pela acolhida.

A todos os meus alunos e ex-alunos pelo engrandecimento

profissional que sempre me proporcionaram nas nossas trocas de

experincias por meio do ensino.

No possvel refazer este pas, democratiz-lo, humaniz-lo, torn-lo srio, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida,

destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educao sozinha no transformar

a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.

Paulo Freire

RESUMO

A interdisciplinaridade o dilogo entre diferentes disciplinas (duas ou mais). de fundamental importncia em algumas reas de estudo, tais como a educao, e ocorre por meio de integrao, dilogos e contrapontos entre disciplinas. Compreende proximidade, convergncia, contato e interao, e em certos casos uma exigncia para realizao de pesquisa e para construo do conhecimento. Objetivo Geral: desenvolver um programa interdisciplinar participativo que venha a contribuir para a conscientizao dos estudantes do 1 ano do ensino mdio quanto reduo do sobrepeso. Objetivos Especficos: descrever as dvidas dos docentes sobre obesidade; analisar de que forma o trabalho interdisciplinar pode auxiliar os docentes na promoo e preveno da obesidade entre os estudantes; discutir como a educao permanente pode auxiliar os docentes e demais profissionais do Instituto Federal Fluminense- IFF, Centro, na abordagem dos alunos sobre a preveno da obesidade; e, elaborar um projeto de capacitao interdisciplinar, para contribuir na construo do programa. Metodologia: estudo de natureza qualitativa, do tipo descritivo e exploratrio. Os participantes foram 11 (onze) professores atuantes h, pelo menos, 10 anos nesta Instituio, que desenvolvem atividades regulares na disciplina Educao Fsica, do Ensino Mdio Integrado. Utilizou-se para a coleta de dados a entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados com base na anlise temtica de contedo, por meio de categorias temticas, e analisadas luz do referencial terico de Ivani Fazenda. Foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense sob o N 1.269.415. Resultados: obtiveram-se quatro categorias: a interdisciplinaridade segundo os docentes; obesidade e promoo da sade na escola: um olhar crtico reflexivo; estratgias de EPS, tendo em vista a preveno da obesidade; a interdisciplinaridade como fator de promoo e preveno da obesidade. Concluso: ficou evidenciado que no basta apenas educar o discente, mas, sim, fazer com que sua famlia faa parte deste processo. Por mais que a escola tenha o papel de educar sobre os hbitos alimentares, em casa que se comea esse trabalho. Para tanto, urge a necessidade de se desenvolver educao coletiva. Neste sentido foi apresentada uma proposta de construo de um programa interdisciplinar participativo, com o objetivo de prevenir a obesidade e promover a sade no IFF, contando com a presena dos pais, discentes, docentes e servidores.

Descritores: Comunicao Interdisciplinar; Obesidade; Adolescente; Educao Fsica e Treinamento.

ABSTRACT

It is of fundamental importance in some areas of study such as education and it takes place by means of integration, dialogue and counterpoints among the subjects. It comprehends proximity, convergence, contact and interaction, and in certain cases, a third millennium requirement for research realization and knowledge construction. General objective: to develop a participatory interdisciplinary program which might contribute to the adolescents awareness from the first year of high school in relation to overweight reduction; Specific objectives: to describe the students doubts in relation to obesity; to analyze in which way the interdisciplinary work could help the teachers in the promotion and prevention of obesity; to discuss how permanent education might help the educators and IFF-Center staff members in the pupils approach to obesity prevention; to elaborate an interdisciplinary capacity project in order to contribute to the program construction. Methodology: the study is of qualitative nature, descriptive and exploratory type. The participants were 11 (eleven) teachers that have been working for at least ten years in this institution. They have been performing regular activities in Physical Education in the integrated high school. The semi structured interview was used in collecting data. These pieces of information were studied on the grounds of analysis of thematic contents through thematic categories and analyzed in the light of Ivani Fazendas theoric referencial. It was approved by the Ethic Committee of Research in the Fluminese Federal University Medical School under the number of 1.269.415. Results: four categories were obtained: the interdisciplinarity according to the educators and staff members; obesity and health promotion in school; a reflexive and critical look; EPS (permanent education in health) strategies aiming at obesity prevention. Conclusion: it has been shown that only to educate the adolescent is not sufficient but it is necessary to include his/her family in the process. Although the school role is to teach and guide about eating habits it is at home where the work begins. Consequently, the need of a construction and collective education system is urgent. Having this is mind a construction proposal of a participative interdisciplinary program has been presented. Its objective is to prevent obesity and to promote health in school relying on the presence of parents, students, teachers and staff members.

Descriptors: Interdisciplinary Communication; Obesity; Adolescents; Physical Education and Training.

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1 Prevalncia de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em crianas, adolescentes e adultos. Brasil, 1989, 2003, 2009

23

Quadro 2 Resumo da dissertao de mestrado Motricidade humana e o ensino da Educao Fsica: estabelecendo relaes. Brasil, 2012

26

Quadro 3 Resumo da tese de doutorado Hbitos alimentar, intestinal, estado nutricional, atividade fsica, imagem corporal e subsdios para um programa de educao nutricional. Brasil, 2010

27

Quadro 4 Bibliografia potencial da Biblioteca Virtual em Sade encontrada com pesquisa por meio de descritores associados. Brasil, 2008-2016

28

Quadro 5 Maiores distines entre interdisciplinaridade cientfica e interdisciplinaridade escolar. Brasil, 2016

66

Quadro 6 Caractersticas dos participantes do estudo. Campos dos Goytacazes, 2015

76

Quadro 7 Construo das categorias de anlise. Campo dos Goytacazes, 2015

82

Figura 1 Campos de operacionalizao da interdisciplinaridade e seus ngulos de acesso.

65

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Pesquisa de descritores no banco de dados de Teses & Dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. Brasil, 2010-2016

24

Tabela 2 Pesquisa de descritores associados ao banco de dados de Teses & Dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. Brasil, 2010-2016

25

Tabela 3 Produo literria encontrada em pesquisa por meio de descritores no banco de dados da Biblioteca Virtual de Sade. Brasil, 2008-2016

27

Tabela 4 Produo literria encontrada em pesquisa por meio de descritores associados ao banco de dados da Biblioteca Virtual de Sade. Brasil, 2008-2016

28

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

EPS Educao Permanente em Sade

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatsticas

IFF Instituto Federal Fluminense

IMC ndice de Massa Corporal

MEC Ministrio da Educao

MS Ministrio da Sade

OMS Organizao Mundial da Sade

ONU Organizao das Naes Unidas

PCN Parmetros Curriculares Nacionais

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PNPS Poltica Nacional da Promoo da Sade

PPC Projeto Pedaggico do Curso

PPI Projeto Pedaggico Institucional

SUS Sistema nico de Sade

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFF Universidade Federal Fluminense

SUMRIO

RESUMO vii ABSTRACT viii LISTA DE TABELAS xi LISTA DE QUADROS E FIGURAS x LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS xi CAPITULO I 15 1 INTRODUO 16 1.1 QUESTES NORTEADORAS 22 1.2 OBJETIVOS 22 1.2.1 Geral 22 1.2.2 Especficos 22 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO 22 CAPITULO II 31 2 CONTEXTUALIZANDO A TEMTICA 32 2.1 A OBESIDADE NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA 32 2.2 OS RISCOS DA OBESIDADE NA ADOLESCNCIA 35 2.3 PROJETO PEDAGGICO INSTITUCIONAL (PPI) E O PROGRAMA

SADE NA ESCOLA (PSE) NO IF FLUMINENSE 40

2.4 EDUCAO FSICA E A PREVENO DA OBESIDADE. 45 2.5 A EDUCAO PERMANENTE COMO INSTRUMENTO DE

PREVENO DA OBESIDADE NA ADOLESCNCIA. 47

2.6 AES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA VISANDO PROMOO DA SADE E PREVENO DA OBESIDADE NA ADOLESCNCIA

51

CAPTULO III 55 3 REFERENCIAL TERICO 56 3.1 A INTERDISCLINARIDADE SEGUNDO IVANI FAZENDA 56 CAPITULO IV 70 4 METODOLOGIA 71 4.1 TIPO DE ESTUDO 71 4.2 CENRIO 73 4.2.1 O Instituto Federal Fluminense de Educao, Cincia e

Tecnologia: aspectos histricos 73

4.2.2 A mudana para Instituto Federal Fluminense 74 4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO 76 4.4 CRITRIOS DE INCLUSO 77 4.5 CRITRIOS DE EXCLUSO 77 4.6 INSTRUMENTOS DE COLETA 77 4.7 ASPECTOS TICOS 78 4.8 ANLISE DE DADOS 78 CAPITULO V 80 5 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS 81 5.1 A INTERDISCIPLINARIDADE NA PERCEPO DOS DOCENTES. 82 5.2 OBESIDADE E PROMOO DA SADE NA ESCOLA: UM OLHAR

CRITICO-REFLEXIVO 85

5.3 ESTRATGIAS DE EDUCAO PERMANENTE, TENDO EM VISTA A PREVENO DA OBESIDADE

90

5.4 A INTERDISCIPLINARIDADE COMO FATOR DE PROMOO DA SADE E PREVENO DA OBESIDADE NO IF FLUMINENSE

94

5.4.1 O Produto 99 5.4.2 A Seleo da Dinmica da Oficina 99 5.4.3 Realizao da Dinmica da Oficina 99 5.4.4 Objetivos 99 5.4.5 Participantes 100 5.4.6 Tempo de realizao 100 5.4.7 Dinmica da Oficina 100 5.4.8 Consideraes sobre a oficina 101 5.4.9 Produto Gerado 102 CAPTULO VI 104 6 CONSIDERAES FINAIS 105 REFERNCIAS 109 APNDICES 117 Apndice I. Termo de Autorizao Institucional - TAI 117 Apndice II. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 119 Apndice III. Questionrio para docentes 121 Apndice IV. Termo de autorizao de uso de depoimento, imagem e voz 124 Apndice V. Programao da oficina 126 ANEXO 130 Anexo I. Parecer consubstanciado CEP 130

CAPITULO I

16

1. INTRODUO

Este projeto faz parte de inquietaes vivenciadas ao longo do meu percurso

profissional, enquanto educador fsico, tendo em vista que a temtica abordada se

relaciona com o trabalho desenvolvido no Instituto Federal Fluminense (IFF)

Campos dos Goytacazes/RJ, campus centro, principalmente, no que se refere

mudana no perfil epidemiolgico, da populao brasileira, com o aumento das

doenas crnicas no transmissveis, com nfase no excesso de peso e obesidade,

que assume propores alarmantes, especialmente entre crianas e adolescentes.

Atuo na referida Instituio, como professor de Educao Fsica, desde o ano

de 2008, e trabalho diariamente com alunos do Ensino Mdio Integrado. Entre as

muitas experincias que vivenciei com estes alunos, durante as aulas de Educao

Fsica, o que me chamou mais a ateno foram as dvidas sobre obesidade. Percebi

as inquietaes que afligiam um determinado grupo, que se considerava acima do

peso. A partir de ento, tenho refletido acerca de estratgias de promoo da sade

escolar, de forma interdisciplinar e, principalmente, em relao aos hbitos

alimentares, a fim de proporcionar uma melhoria na qualidade de vida e preveno de

doenas crnicas no transmissveis.

Segundo Malik e Willett (2013, p. 27), a prevalncia de excesso de peso na

infncia e adolescncia tem aumentado em pases de baixa e mdia renda, sendo em

grande parte impulsionado pelo crescimento econmico e pela rpida urbanizao.

Para Craemer et al., (2012, p. 13): o processo de urbanizao pode estar associado

limitao da prtica de atividades fora de casa, visto que com o aumento da

violncia, crianas e adolescentes esto substituindo as atividades cotidianas e

brincadeiras de rua por atividades sedentrias.

De acordo com Silva et al. (2007, p.21), [...] os avanos tecnolgicos e as

facilidades obtidas decorrentes da modernizao parecem ter favorecido a

modificao de hbitos de vida dos indivduos, sobretudo no que se refere adoo

de estilo de vida sedentrio. Neste sentido, Mello, Luft e Meyer (2004, p. 80)

evidenciam que os comportamentos sedentrios envolvem atividades de baixa

intensidade com gasto energtico reduzido, tais como assistir televiso, jogar vdeo

games ou usar o computador.

Para Saffer (2002, p.81), estes comportamentos tm sido associados a outros

comportamentos prejudiciais sade das crianas e adolescentes, como

17

experimentao de bebidas alcolicas e tabagismo. Nesse contexto, vale ressaltar,

que o hbito de assistir televiso pode influenciar as escolhas alimentares dos

adolescentes, uma vez que a maioria dos alimentos veiculados pela mdia de alta

densidade energtica, contribuindo para o aumento da obesidade entre eles

(ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002, p. 36).

Nos dias atuais com o aumento da urbanizao e da violncia, fica evidente a

preocupao dos pais e responsveis em velar pela segurana dos filhos e, que na

tentativa de proteg-los, restringem a prtica de atividades externas recreativas e/ou

fsicas, como as brincadeiras de rua, muito comuns no passado, que exigem um

gasto calrico significativo. Em contrapartida a este fato, e em busca de suprir as

necessidades de interao dos filhos, aqueles, oferecem equipamentos tecnolgicos

e de fcil acesso mdia, que no contribuem de forma expressiva para aumentar o

gasto calrico.

Para Craemer et al. (2012, p. 13), a prtica regular de atividade fsica um dos

fatores que podem estar inversamente associados ao tempo de atividades

sedentrias. Entretanto, Estima et al. (2009, p. 52) ressaltam que as atividades

sedentrias independem da prtica de atividade fsica, sendo que o declnio de uma,

no promove a elevao da outra.

A reduo do sedentarismo, de forma isolada, no propicia uma vida saudvel.

Pois, a mudana do estado sedentrio para o ativo depende da atitude do prprio

indivduo, influenciado por uma orientao consciente, a partir de (re)educao no que

tange aos hbitos alimentares e da prtica regular de atividade fsica, sendo esta

ltima um fator importante para o aumento de gasto calrico.

A obesidade sempre foi alvo de muita discusso e ganha cada vez mais

destaque na mdia como fator responsvel pelo aumento no nmero de doenas como

o cncer, doenas crnicas como hipertenso e diabetes, depresso e reduo da

qualidade de vida. Neste sentido, questiono: de que maneira o trabalho interdisciplinar

no IF Fluminense pode contribuir na promoo da sade e preveno da obesidade

na adolescncia?

Buscando respostas para minhas inquietaes, por meio da leitura do

documento que rege a estrutura educacional do Instituto Federal Fluminense IFF,

observei que no Projeto Pedaggico Institucional 2010/2014 (PPI), um dos princpios

que norteiam as prticas acadmicas nessa instituio, encontra-se fundamentado

18

em uma das diretrizes que enfatiza a realizao de um trabalho trans e interdisciplinar,

que referendado por Gadotti (1996) e Santom (1998).

A interdisciplinaridade oportuniza a integrao e a articulao do currculo,

provocando intercmbios reais. E, sua abordagem, referenda uma prtica na qual o

sujeito percebe a necessidade de estabelecer relaes dentre os contedos

abordados nas ambincias dos discentes, na compreenso de um dado fenmeno ou

na resoluo de determinado problema (BRASIL, 2011).

Neste contexto, o Projeto Pedaggico Institucional (PPI) do IFF retrata uma das

ferramentas pedaggicas e enfatiza metas para com a prxis pedaggica da

comunidade acadmica, com a construo, (re) construo e produo do

conhecimento pelos sujeitos desse processo e, por conseguinte, com a qualidade do

ensino, assumindo a dialogicidade com seus pares em uma perspectiva pluralista,

integradora na sua operacionalizao visando contribuir para o desenvolvimento das

capacidades da comunidade acadmica nas suas dimenses afetivas, cognitivas,

emocionais, sociais, humansticas e tecnolgicas (BRASIL, 2011).

O referido PPI, prima pela interlocuo de trs eixos, Ensino, Pesquisa e

Extenso, como agente de desenvolvimento social, econmico e cultural, na rea de

abrangncia onde se encontra instalado. Estabelece como poltica para o

desenvolvimento de seus diferentes setores, tendo como diretivas bsicas as

seguintes premissas: desenvolver polticas no sentido da verticalizao do ensino e

elevao do nvel de escolaridade, atendendo desde o Ensino Mdio, a Educao de

Jovens e Adultos e Formao Inicial e Continuada do trabalhador, at a Ps-

Graduao; buscar a articulao entre ensino, pesquisa e extenso; desenvolver

polticas de valorizao da rede pblica de ensino e aes que a possibilitem; e,

promover avaliao permanente dos cursos e do corpo docente e tcnico-

administrativo em educao da instituio.

Nesse nterim, nota-se que os princpios norteadores das prticas acadmicas

nessa instituio encontram-se permeados pelas diretrizes estabelecidas, dando

nfase base desta pesquisa, que est voltada para a interdisciplinaridade, posto

que, retrata uma atitude dinmica do currculo no desenvolvimento da ao

pedaggica ou da abordagem aplicativa das reas do conhecimento, e implica

estabelecer articulaes e interaes que sejam pertinentes e adequadas ao

conhecimento dos sujeitos.

19

O Projeto Pedaggico Institucional tem como base os preceitos de Santom

(1998, p.55) e Gadotti (1996, p.102), os quais referem que a interdisciplinaridade tem

como fim: (a) o entendimento pelo sujeito da complexidade dos fenmenos humanos

e mundiais; (b) as explicaes cientficas pelo conjunto dos componentes curriculares

diante dos desafios; (c) o uso das tecnologias da comunicao e informao como

meio de sustentar e flexibilizar esse processo.

A transdisciplinaridade enfatiza a construo de um sistema total, sem

fronteiras slidas entre os componentes curriculares, e objetiva transitar nas reas de

conhecimento que compem o itinerrio curricular, indo para alm delas, sem se

preocupar com limites ou fronteiras, mas integrando em sua investigao outros

modos de conhecimento que permeiam a humanidade e agregam novos saberes

(GADOTTI, 1996).

Na perspectiva de corroborar com essa diretriz, reportamo-nos a Gadotti

quando menciona que:

A ao pedaggica atravs da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade aponta para a construo de uma escola participativa e decisiva na formao do sujeito social. O educador, sujeito de sua ao pedaggica, capaz de elaborar programas e mtodos de ensino-aprendizagem, sendo competente para inserir sua escola numa comunidade (GADOTTI, 1996, p. 102).

Atualmente na viso de Gadotti (2008), o pensamento de educar para outros

mundos possveis tambm educar para mudar radicalmente nossa maneira de

produzir e de reproduzir nossa existncia no planeta, portanto, uma educao para

a sustentabilidade. De acordo com o autor, no se pode mudar o mundo sem mudar

as pessoas: mudar o mundo e mudar as pessoas so processos interligados. Mudar

o mundo depende de todos ns: preciso que cada um tome conscincia e se

organize. Educar para outros mundos possveis educar para superar a lgica

desumanizadora do capital que tem no individualismo e no lucro seus fundamentos,

educar para transformar radicalmente o modelo econmico e poltico atual, para que

haja justia social e ambiental.

Neste contexto, Gadotti (2009) evidencia que a educao deve desempenhar

o papel de promover dilogo numa sociedade de conflito, oportunizando a

contraposio e contradio de ideias, que levem a outras, por meio da teoria dialtica,

com a prtica coletiva dos educadores dentro de uma perspectiva da prpria categoria

e da classe trabalhadora.

20

Refletindo luz do autor supracitado, e consciente do papel do professor como

um educador para a vida, ao analisar o plano de desenvolvimento institucional (PDI)

do Instituto Federal Fluminense, percebo que no contemplada como contedo

especfico, a temtica da obesidade, mas, no entanto, acredito que se faz

extremamente necessrio. Assim, percebe-se que deve partir do professor que

pretenda trabalhar com tal tema, o interesse e esforo de realizar pesquisas e/ou

ampliar estudos para poder realizar trabalhos em sala de aula, pois no contexto

educacional, a educao fsica precisa ser um agente de promoo da sade.

Neste sentido, a Educao Fsica, por meio da prtica docente dos professores,

deve assumir o papel de orientar, utilizando um trabalho interdisciplinar, com auxlio

dos demais profissionais, como: mdicos, enfermeiros, nutricionistas, pedagogos,

psiclogos, assistentes sociais, docentes, contando tambm com a participao dos

familiares e responsveis pelos alunos, no intuito de construir um programa

interdisciplinar participativo de preveno da obesidade na escola.

Dentro desse contexto, Nahas (2001, p.59) acredita que a Educao Fsica

Escolar deva servir de base educacional para uma vida mais ativa, utilizando

contedos crescentes e proporcionando o conhecimento dos conceitos em torno da

aptido fsica e da sade, considerando que o indivduo levar o entendimento dos

mesmos para o resto da vida.

Sallis e Mckenzie (apud GUEDES e GUEDES1, 1993, p. 18) levantam a

hiptese de que uma possvel modificao nos programas de Educao Fsica

Escolar poderia auxiliar na preveno do sedentarismo das prximas geraes de

adultos. Sabe-se que, na maioria das escolas, os adolescentes no recebem

informaes suficientes sobre a correlao entre aptido fsica e sade.

evidente que uma nutrio desequilibrada e a falta de exerccios fsicos,

ocasionadas pelo sedentarismo, so causas da obesidade na adolescncia. correto

dizer que se existir a alterao nos costumes alimentares e na maneira de vida

sedentria, criando-se hbitos salutares ao adolescente, prope-se uma vida mais

conveniente em termos de qualidade de vida.

1 GUEDES, Dartagnan Pinto; GUEDES, Joana Elisete Ribeiro Pinto. Prevalncia de sobrepeso e obesidade em crianas e adolescentes do municpio de Londrina (PR), Brasil. Motriz, v. 4, n. 1, p. 18-25, jun. 1998

21

Para Alves (2003, p. 5-6):

Ser fisicamente ativo desde a infncia apresenta muitos benefcios, no s na rea fsica, mas tambm nas esferas scio e emocional, e pode levar a um melhor controle das doenas crnicas da vida adulta. Alm disso, a atividade fsica melhora o desenvolvimento motor da criana, ajuda no seu crescimento e estimula a participao futura em programas de atividade fsica.

A educao fsica voltada preveno , sem dvida, a grande contribuio

que a educao nos dias atuais pode oferecer sociedade e aos jovens estudantes,

no que se refere preveno de enfermidades relacionadas obesidade. As

atividades fsicas so importantes na reduo do peso corporal, j que estabelece

diminuio do lipdio corporal. Para Mcardle e Col (2000), a conservao ou o aumento

do tecido magro mantm um alto nvel de metabolismo de repouso (basal), pois, o

peso isento de gordura, continua sendo metabolicamente mais ativo que a gordura

corporal. Isso reduz a tendncia do corpo em armazenar calorias, aumentando a

eficcia potencial do programa de reduo ponderal.

Assim, aconselha-se que a Educao Fsica tenha regularidade e sequncia, e

que no sofra interrupes, a fim de que o educando tenha um desenvolvimento

crescente em sua estrutura fsica, compatvel com sua idade, peso e altura.

Com base no exposto, o objeto deste estudo pauta-se na interdisciplinaridade

como estratgia para promoo da sade e preveno da obesidade na adolescncia.

Promover sade educar para a autonomia, como construdo por Paulo Freire

(2002); tocar nas diferentes dimenses humanas, considerar a afetividade, a

amorosidade e a capacidade criadora e a busca da felicidade como igualmente

relevantes, e indissociveis das demais dimenses. Por isso, a promoo da sade

vivencial e inerente ao sentido de viver e aos saberes acumulados, tanto pela cincia

quanto pelas tradies culturais locais e universais.

Vale salientar que para o desenvolvimento deste estudo, foram tomados como

base os contedos didtico-pedaggicos utilizados pelos educadores fsicos e pela

proposta pedaggica da referida instituio, considerando-se que as doenas crnicas

no transmissveis so passveis de serem prevenidas, a partir de mudanas nos

padres de alimentao, tabagismo e atividade fsica. Desta forma, tendo em vista a

importncia da temtica pesquisada, questiona-se:

22

1.1. QUESTES NORTEADORAS

Quais as dvidas dos docentes de Educao Fsica sobre obesidade?

Como o trabalho interdisciplinar poderia auxiliar os referidos docentes na

promoo e preveno da obesidade na adolescncia?

Como a Educao Permanente pode auxiliar os docentes e demais

profissionais do IFF Campos dos Goytacazes, Centro, na abordagem dos

alunos sobre preveno da obesidade?

1.2. OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Desenvolver um programa interdisciplinar participativo para a conscientizao

dos estudantes do 1 ano do ensino mdio quanto reduo do sobrepeso.

1.2.2 Especficos

Identificar as dvidas dos docentes sobre obesidade.

Analisar de que forma o trabalho interdisciplinar poderia auxiliar os docentes

na promoo e preveno da obesidade entre os estudantes.

Discutir como a educao permanente pode auxiliar os docentes e demais

profissionais do IFF - Centro, na abordagem dos alunos na preveno da

obesidade.

Elaborar um projeto de capacitao interdisciplinar participativo, para contribuir

com a preveno da obesidade.

1.3. JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO

A justificativa para realizao de uma pesquisa desta natureza, parte do fato de

que temticas referentes Sade da Criana e do Adolescente, bem como a Gesto

do Trabalho e Educao em Sade, encontram-se entre as prioridades da Agenda

Nacional de Pesquisas do Ministrio da Sade do Brasil.

Tomando como base as prioridades em pesquisa e a minha prtica profissional,

surgiu a motivao para realizar este estudo, pois compreendo que: a educao o

instrumento mais valioso e eficaz para que se impea o aumento na incidncia da

obesidade e de suas vrias complicaes. Por meio dela, pode-se evitar que se realize

23

a previso de que 35% da populao adulta brasileira estar obesa em duas dcadas

(BRASIL, 2007).

Em nmeros absolutos, estima-se que 74 milhes de brasileiros de diferentes

grupos etrios apresentam excesso de peso (IBGE - BRASIL, 2011), exigindo a pronta

ao do Estado na conduo de estratgias que modifiquem a atual tendncia.

Quadro 1. Prevalncia de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em crianas, adolescentes e adultos. Brasil, 1989, 2003, 2009 Grupo 1989 2003 2009

Crianas (5 a 9 anos) 13,5 - 33,5

Adolescentes (10 a 19 anos) 10,8 15,9 20,5

Adultos (20 anos ou mais) 37,7 40,6 49,0 Fonte: PNSN 1989, POF 2003, POF 2008/2009.

A determinao do sobrepeso e da obesidade compe um conjunto de fatores

que constitui o modo de vida das populaes modernas, que consomem cada vez

mais produtos processados e ultraprocessados, fabricados pela indstria com a

adio de substncias, como gordura e acar, para torn-los durveis, mais

palatveis e supostamente mais atraentes, e que acabam por alterar

significativamente a composio quantitativa e qualitativa dos nutrientes encontrados

nos alimentos. As substncias normalmente so derivadas de alimentos, tais como

leos, farinhas, amidos e acares, e muitas so obtidas por processamento adicional

de substncias extradas de alimentos.

O desequilbrio do balano energtico que determina o excesso de peso

(sobrepeso e obesidade) decorre, em parte, pelas mudanas do padro alimentar

aliados reduzida prtica de atividade fsica, tanto no perodo laboral como no lazer.

As causas no so apenas individuais, mas tambm ambientais e sociais sobre as

quais o indivduo, em muitas ocasies, tem pouca capacidade de interferncia

(BRASIL, 1998).

O sedentarismo e dieta equivocada so fatores da vida moderna que

contribuem para elevar os ndices de enfermidades geradas pela obesidade e isso

reflete diretamente na sade de criana e adolescente, as principais vtimas desse

processo, ocasionando uma gerao inteira de obesos.

No intuito de evidenciar o estado da arte sobre a temtica pesquisada, foi

realizado um levantamento com origem na Plataforma Sucupira, no Banco de teses &

dissertaes da CAPES Coordenao de Apoio Pesquisa no Ensino Superior,

24

buscando teses e dissertaes que abordassem a temtica desta pesquisa, com

recorte temporal entre os anos de 2010 a 2016. Nesta busca, foram utilizados os

seguintes descritores ou palavras-chave: interdisciplinaridade (interdisciplinarity),

obesidade (obesity), adolescente (adolescent) e Educao Fsica (Physical

Education) e, identificados 449 trabalhos de teses e ou dissertaes.

Percebeu-se a escassez de produes sobre a temtica da

interdisciplinaridade como estratgia da promoo da sade e preveno da

obesidade na adolescncia, no que diz respeito s Teses de Doutorado (01),

dissertaes de Mestrado Acadmico2 (01) e dissertaes de Mestrado Profissional3

(0). Vale destacar que os cursos de Mestrado Profissional surgiram em 1995, como

uma nova figura de curso de ps-graduao, os chamados Mestrados Profissionais,

Profissionalizantes ou Tcnicos.

Aps anlise e aprofundamento no assunto, destaca-se que em nenhuma das

buscas aparece o tema pesquisado de forma que possa intervir na preveno da

obesidade dentro do ambiente escolar, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1. Pesquisa de descritores no banco de dados de Teses & Dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. Brasil, 2010-2016

DESCRITORES Total de dissertaes

Interdisciplinaridade 126

Obesidade 203

Adolescente 78 Educao Fsica 42

Total individual 449

Fonte: Elaborada pelo autor.

2 Mestrado acadmico o primeiro nvel de um curso de ps-graduao stricto sensu, que tem como objetivo, alm de possibilitar uma formao mais profunda, preparar professores para lecionar em nvel superior, seja em faculdades ou nas universidades, e promover atividades de pesquisa. Um curso de ps-graduao se destina a formar pesquisadores em reas especficas do conhecimento. Seu passo seguinte ser o doutorado, em que se capacitar como um pesquisador, assim como as suas especializaes, o Ps-Doutorado e/ou a livre-docncia. Note-se, entretanto, que o mestrado no pr-condio obrigatria para o ingresso no doutorado, alunos com um desempenho muito bom na graduao podem ser aceitos diretamente no doutorado. Esta aceitao depende da legislao particular de cada Universidade. O Mestrado pode ser Acadmico ou Profissional, sendo este ltimo orientado pela Portaria Normativa 17 da CAPES. 3 Mestrado Profissional a designao do Mestrado que enfatiza estudos e tcnicas diretamente voltadas ao desempenho de um alto nvel de qualificao profissional. Esta nfase a nica diferena em relao ao acadmico. Confere, pois, idnticos graus e prerrogativas, inclusive para o exerccio da docncia, e, como todo programa de ps-graduao stricto sensu, tem a validade nacional do diploma condicionada ao reconhecimento prvio do curso (Parecer CNE/CES 0079/2002).

http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3s-gradua%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Stricto_sensuhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pesquisahttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3s-Doutoradohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-doc%C3%AAncia

25

Posteriormente, realizou-se a associao dos descritores citados a seguir, a fim

de realizar uma aproximao das produes que possivelmente iriam ao encontro da

temtica abordada nesta pesquisa. Observou-se que, neste cruzamento, no foi

identificado nenhum trabalho de dissertao de Mestrado Profissional vinculado

temtica desta, conforme Tabela 2.

Tabela 2. Pesquisa de descritores associados ao banco de dados de Teses & Dissertaes da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. Brasil, 2010-2016 DESCRITORES ASSOCIADOS

Doutorado Mestrado

Acadmico Mestrado

Profissional Total

Interdisciplinaridade + obesidade

00 00 00 00

Interdisciplinaridade + adolescente

00 00 00 00

Interdisciplinaridade + Educao Fsica

00 01 0 01

Obesidade + educao fsica 00 00 00 0 Adolescente + Educao Fsica

01 00 00 01

Obesidade + Adolescente + educao fsica

00 00 00 00

Interdisciplinaridade + educao fsica + obesidade

00 00 00 00

Interdisciplinaridade + obesidade + adolescente + educao fsica.

00 00 00 00

TOTAL 01 01 00 02

Fonte: Elaborada pelo autor.

Contudo, a pesquisa identificou, conforme apresentado anteriormente, dois

trabalhos que contriburam para orientao desta pesquisa. No primeiro ttulo, o autor

(SOUZA, 2012) apresenta como proposta, para a superao da crise epistemolgica

na Educao Fsica, estimular no meio acadmico um processo de autorreflexo e

autocrtica sobre seus resultados e sobre os processos e condies de sua produo.

A epistemologia amplia a possibilidade de identificao de problemas,

tendncias, perspectivas de um determinado campo cientfico. A atividade

epistemologia seria uma reflexo sobre a cincia, isto , conhecer a cincia em seus

processos de gnese, de formao e de estruturao (MOTTA, 2011).

Na escola, a Educao Fsica pretende superar a concepo de rea de

atividades e conquistar a legitimidade de uma rea de conhecimento. A Cincia da

Motricidade Humana no pode abdicar de toda a construo de conhecimentos

produzida pela Educao Fsica at ento, mas permite mudanas por meio da

ruptura epistemolgica: da Educao Fsica para a Cincia da Motricidade Humana.

26

A complexidade, interdisciplinaridade, pesquisa e problematizao no ensino,

contextualizao, reflexo crtica e formao continuada, princpios orientadores

desta formao docente, se relacionam com os princpios da Cincia da Motricidade

Humana que considera o ensino como processo complexo, o ser humano como

unidade complexa e multidimensional, o sentido e significado do que ensinado e o

ser humano prxico, isto aquele que faz movimentar a histria com sentido e

significado, ser humano tico e solidrio (Conforme Quadro 2).

Quadro 2. Resumo da dissertao de mestrado Motricidade humana e o ensino da Educao Fsica: estabelecendo relaes. Brasil, 2012 Ttulo 1 Motricidade humana e o ensino da Educao Fsica: estabelecendo

relaes

Publicao Biblioteca digital Universidade Estadual de Londrina. Data de Publicao: 2012 Local de Publicao: Londrina Orientador: ngela Pereira Teixeira Victoria Palma Instituio: Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educao, Comunicao e Artes.

Dissertao Nvel: Dissertao (Mestrado em Educao) Programa de Ps-Graduao em Educao.

Autor Christian Vieira de Souza

Objetivos Identificar se a Motricidade Humana influencia o ensino da Educao Fsica por meio dos professores formados neste currculo.

Concluses A complexidade, interdisciplinaridade, pesquisa e problematizao no ensino, contextualizao, reflexo crtica e formao continuada, princpios orientadores desta formao docente, se relacionam com os princpios da Cincia da Motricidade Humana que considera o ensino como processo complexo, o ser humano como unidade complexa e multidimensional, o sentido e significado do que ensinado e o ser humano prxico.

Fonte: Elaborada pelo autor.

No segundo ttulo, analisou-se a distoro relacionada entre o estado

nutricional e a imagem corporal do adolescente, e notou-se a importncia da

interveno multiprofissional, que contribui para a implantao de um programa multi

e interdisciplinar (Conforme Quadro 3).

27

Quadro 3. Resumo da tese de doutorado Hbitos alimentar, intestinal, estado nutricional, atividade fsica, imagem corporal e subsdios para um programa de educao nutricional. Brasil, 2010 Ttulo 2 Hbitos alimentar, intestinal, estado nutricional, atividade fsica, imagem

corporal e subsdios para um programa de educao nutricional

Publicao Biblioteca digital Universidade Estadual de Londrina. Data de Publicao: 2010 Local de Publicao: Campinas, SP Orientador: Elizete Aparecida Lomazi da Costa Pinto Instituio: Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas

Tese Nvel: Tese (doutorado) UNICAMP: Programa de Ps-Graduao em Sade da Criana e do Adolescente

Autor Ana Lucia Alves Caram

Objetivos Descrever os hbitos alimentar e intestinal, estado nutricional, atividade fsica e imagem corporal de adolescentes e verificar o efeito de um programa de educao nutricional.

Concluses O estado nutricional e a imagem corporal no apresentaram concordncia, segundo o teste estatstico de Kappa, necessitando assim uma interveno multiprofissional. O programa de educao nutricional em grupo apresentou aumento significativo do conhecimento sobre nutrio dos adolescentes. Concluso: A maioria dos adolescentes era eutrfica, com hbitos saudveis (alimentar, intestinal e atividade fsica), porm com distoro da imagem corporal. O programa de nutrio contribuiu para o aumento do conhecimento de nutrio e envolvimento multi e interdisciplinar.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para dar maior sustentao a esta pesquisa recorri tambm coleta de

informaes no acervo da Biblioteca Virtual em Sade (BVS), correspondente aos

anos de 2008 a 2016, na busca de produo literria por meio dos seguintes

descritores: interdisciplinaridade (interdisciplinarity), obesidade (obesity), adolescente

(adolescent), Educao Fsica (Physical Education) (Conforme Tabela 3).

Tabela 3. Produo literria encontrada em pesquisa por meio de descritores no banco de dados da Biblioteca Virtual de Sade. Brasil, 2008-2016

DESCRITORES MEDLINE SciELO LILACS

Interdisciplinaridade 17 459 519 Obesidade 154.028 2.710 7.486 Adolescente 1.712.664 2.423 70.079 Educao Fsica 00 2.230 3.536

Fonte: elaborada pelo autor.

Posteriormente, realizou-se a associao dos descritores, citados a seguir, a

fim de realizar uma aproximao das produes. E, no foi identificado nenhum artigo

da temtica abordada nesta pesquisa, conforme Tabela 4.

28

Tabela 4. Produo literria encontrada em pesquisa por meio de descritores associados ao banco de dados da Biblioteca Virtual de Sade. Brasil, 2008-2016

DESCRITORES ASSOCIADOS MEDLINE SciELO LILACS

Interdisciplinaridade + obesidade 00 23 04 Interdisciplinaridade + adolescente 00 04 24 Interdisciplinaridade + Educao Fsica 00 09 10 Obesidade + educao fsica 00 72 104 Adolescente + Educao Fsica 00 17 523 Obesidade + Adolescente + educao fsica 00 01 37 Interdisciplinaridade + educao fsica + obesidade

00 00 00

Interdisciplinaridade + obesidade + adolescente + educao fsica.

00 00 00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Os trabalhos que no colaboravam com informaes para este estudo, tais

como Artigos repetidos e os que no abordassem a temtica proposta, foram

excludos.

A fase seguinte, formada pela leitura minuciosa e exploratria dos artigos

selecionados por meio de descritores associados, permitiu a organizao para o

ltimo passo, que foi localizar o material para compor a bibliografia potencial,

conforme exposto no Quadro 4.

Quadro 4. Bibliografia potencial da Biblioteca Virtual em Sade encontrada com pesquisa por meio de descritores associados. Brasil, 2008-2016

Produo cientfica Ano Autor Base de dados- Revista com

volume e nmero

Interdisciplinaridade e a formao na rea de sade coletiva

2016 Velloso MP et al.

SciELO - Trab. Educ. sade volume 14 no. 1 Rio de Janeiro/Mar. ISSN 1981-7746

Efeito da interveno sobre a obesidade total e central em estudantes: o projeto Sade na Boa

2014 Sousa TF et al.

SciELO - Rev. bras. cineantropom. Desempenho hum. vol.16 supl.1 Florianpolis Julho. ISSN 1980-0037

Desnutrio e excesso de peso em crianas e adolescentes: uma reviso de estudos brasileiros

2012 Leal VS et al. LILACS - Rev. paul. pediatr. vol.30, no. 3, 30(3):415-422, Sept.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Nesta etapa, selecionaram-se os artigos que abordam a interdisciplinaridade e

evidenciam a importncia de se inserir no currculo aspectos relativos alimentao.

Vale destacar que em um dos artigos, os autores (SOUZA et al, 2014), destacam as

aes que foram implementadas, tais como: divulgao de informao educacional

por meio de um site; criao de cartazes temticos e boletins informativos para discutir

29

em sala de aula; a criao de estacionamentos de bicicletas; distribuio de frutas da

estao; distribuio de kits de atividade fsica; organizao de atividades de fim de

semana especiais (por exemplo, caminhadas, andar de bicicleta); e oferecendo

palestras para professores, funcionrios e alunos e seus responsveis legais. Tendo

sido observado que, alm do grau de instruo, a condio nutricional dos pais

tambm interfere diretamente no estado nutricional dos filhos.

De um modo geral, de acordo com os autores, a eficcia das intervenes

baseadas na escola para a preveno da obesidade satisfatria quando os

programas abordam vrias aes em combinaes. Intervenes escolares so de

suma importncia para a reduo da prevalncia da obesidade. Vrias estratgias

podem inserir programas que incluem a atividade fsica moderada vigorosa

juntamente com a Educao Fsica.

Observa-se, contudo, que nenhum estudo abordou a interdisciplinaridade para

promoo da sade do adolescente no que tange preveno da obesidade, o que

demonstra a importncia da proposta deste estudo. Desta forma, evidencia-se a

necessidade da construo de pesquisas voltadas para a preveno da obesidade em

escolares, e mais ainda, a implementao prtica de projetos interdisciplinares que

venham a contribuir para a promoo da sade, em um movimento participativo, no

qual todos os profissionais de sade inseridos na escola e os familiares possam estar

integrados em um objetivo comum que beneficiar as geraes futuras com

conscincia quanto aos cuidados inerentes prpria sade.

No entanto, acredito que construir, junto com o professor, diretrizes terico-

metodolgicas para a abordagem da sade no seu conceito mais amplo, favorea o

seu reconhecimento como ator fundamental nesse processo. Assim, pode ser que

esse educador se sinta mais seguro e competente para tratar dessas questes em

sua prtica pedaggica, dando suporte necessrio para criao de um programa

interdisciplinar participativo.

Atrelado a este contexto, vale ressaltar que os planos de atuao da

interdisciplinaridade escolar, apontam para trs segmentos: a interdisciplinaridade

curricular, a didtica e a pedaggica. Cada um com sua funo determinada e

organizada. Todavia, a prtica interdisciplinar segundo Fazenda encontra-se

atualmente com os mesmos dilemas, ainda no superados, pois est ligada a

problemtica da interveno educativa (FAZENDA, 2014, p. 17). O professor

pesquisador se v, em muitos casos, enrijecido pelo planejamento um tanto

30

conteudista que o impede de alar voos mais altos na construo do conhecimento.

Com isso, torna-se evidente a necessidade de integrao e a articulao do currculo

que sejam pertinentes e adequadas construo, reconstruo e produo do

conhecimento dos sujeitos.

Para Fazenda (2012, p 34), a interdisciplinaridade pode ser considerada como

atitude de ousadia e busca frente ao conhecimento, fundamentada na criatividade,

no dilogo, na superao das prticas tradicionais de ensino, na parceria com outros

professores e na compreenso do outro como um ser particular e com capacidade

de se modificar no contato com o outro e modificar o mundo que o rodeia (GODOY,

2014, p. 66).

Esta ousadia ocorre quando h quebra de paradigmas, buscando-se uma

reflexo dos docentes no intuito de estimular a criatividade, a fim de superar as

prticas tradicionais de ensino, demostrar para o colega docente um novo caminho,

uma nova proposta de trabalho, para que estas aes possam trazer benefcios para

a comunidade cientfica e escolar.

Ferreira (2013) defende sua compreenso sobre a ao interdisciplinar no

ensino como, [...] um movimento ininterrupto, criando ou recriando outros pontos para

a discusso. [...] No h interdisciplinaridade se no h inteno consciente, clara e

objetiva por parte daqueles que a praticam. [...] A apreenso de atitude interdisciplinar

garante, para aqueles que a praticam, um grau elevado de maturidade. Isso ocorre

devido ao exerccio de uma certa forma de encarar e pensar os acontecimentos.

Aprende-se com a interdisciplinaridade que um fato ou uma soluo nunca isolado,

mas sim consequncia da relao entre muitos outros (FERREIRA, 2013, p. 41).

Neste sentido a interdisciplinaridade no mbito escolar vem sendo sugerida,

por alguns estudiosos, em educao, como alternativa metodolgica a superar o

ensino fragmentado, sendo capaz de potencializar um maior significado aos

contedos escolares contribuindo para uma formao mais holstica que prepare para

a vida. Segundo Japiass (1976), caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os

especialistas e pelo grau de integrao real das disciplinas em um mesmo projeto de

pesquisa para interpretar as situaes de aprendizagem.

Assim, Fazenda (2011, p. 22) ressalta que a interdisciplinaridade na educao

vai alm do desenvolvimento de novos saberes, pois favorece novas formas de

aproximao da realidade, social e novas leituras das dimenses socioculturais das

comunidades humanas.

CAPITULO II

32

2. CONTEXTUALIZANDO A TEMTICA

2.1. A OBESIDADE NA INFNCIA E NA ADOLESCNCIA

Nas ltimas dcadas do sculo XX, o Brasil vem substituindo rapidamente o

problema de escassez de alimentos pelo de excesso. O Brasil experimentou uma

significativa mudana no seu perfil epidemiolgico, como uma progressiva queda na

morbimortalidade por doenas infecciosas transmissveis, bem como uma elevao

progressiva das doenas e agravos no transmissveis (TORRES et al., 2010).

A obesidade infantil , segundo a Organizao Mundial de Sade, um dos

problemas de sade pblica mais graves do sculo XXI, sobretudo nos chamados

pases em desenvolvimento. Em 2010, havia 42 milhes de crianas com sobrepeso

em todo o mundo, das quais 35 milhes viviam em pases em desenvolvimento.

A obesidade classificada como um transtorno de sade frequente e complexo,

provocado por um desequilbrio entre a ingesto de calorias e o dispndio de energia.

H uma diviso na classificao de obesidade: endgena ou sndromes genticas,

que representa 1% dos casos; e exgena ou simples, que pode ser modificvel, pois

seus principais fatores de desenvolvimento so obesos, na fase pr-pbere, se

tornaro adultos com obesidade e as chances de persistncia aumentam se pelo

menos um dos pais tem esse distrbio (CARVALHO et al., 2011, p. 29).

A obesidade tanto infantil quanto em adulto definida como uma doena

crnica causada por excesso de gordura no corpo, maior quantidade de tecido

adiposo que ocorre simultaneamente a partir de fatores de riscos genticos, endcrino

metablicos ambientais ou por alteraes nutricionais (SOTELO et al., 2004).

A prevalncia de obesidade na infncia e na adolescncia est aumentando de

forma alarmante. Em 2010, estimou-se que 43 milhes de crianas (35 milhes nos

pases em desenvolvimento) estivessem acima do peso e obesas, e 92 milhes

estivessem em risco de sobrepeso. A prevalncia mundial de sobrepeso e obesidade

infantil aumentou de 4,2% em 1990 para 6,7% em 2010. Esses nmeros devem

chegar a 9,1%, ou 60 milhes, em 2020 (ONIS, BLSSNER, BORGHI., 2010, p. 92).

A prevalncia da obesidade na populao brasileira vem aumentando

aproximadamente em 40% devido melhoria das condies de vida, em especial pela

reduo do gasto dirio de energia proporcionado muitas vezes pelos avanos

tecnolgicos (ARAJO et al, 2010).

33

A desnutrio, ainda relevante, vem diminuindo, e a obesidade e problemas a

ela relacionados vm aumentando. Isto corre em parte devido mudana nos padres

alimentares da populao (TORRES et al., 2010).

Em especial, a obesidade infantil um assunto que se destaca na rea

peditrica e na nutrio, chegando a ser considerado um grave problema de sade

pblica. Sua prevalncia est aumentando principalmente nos pases de primeiro

mundo devido inatividade fsica e por consumo excessivo de alimentos

industrializados e ricos em gorduras. No Brasil, o nmero de crianas obesas vem

tambm aumentando e a partir disso comeou a ganhar mais evidncia (MARA &

LUIZ, 2012).

Diante do exposto, necessrio o conhecimento da populao sobre o tema

abordado. Fica evidente, ento, a importncia de trabalhos interdisciplinares,

principalmente em escolas, que demonstrem a relevncia da obesidade e das

variveis nela inseridas, bem como da boa alimentao e do exerccio fsico. Este que

traz benefcios em relao a todas as comorbidades que perpassam a obesidade

(DAS & HORTON, 2010).

A obesidade na infncia e na adolescncia vem se desenvolvendo de forma

assustadora. Para Torriente & Cols. (2002, apud BORBA, 2006), a obesidade tem

aumentado de forma alarmante em pases desenvolvidos e em desenvolvimento.

Constitui o principal problema de m nutrio de adulto e uma enfermidade que se

tem visto aumentada notoriamente na populao infantil.

Com o aumento do poder aquisitivo dos habitantes de pases em

desenvolvimento, os hbitos alimentares tendem a se modificar e alimentos que antes

no se consumia passam a fazer parte do dia a dia da alimentao. Contudo, a

quantidade de opes e preos baixos no significa qualidade, isto , alimentos

saudveis.

Para Giugliano e Carneiro (2004, p.18), nas ltimas dcadas, as crianas

tornaram-se menos ativas, incentivadas pelos avanos tecnolgicos. Uma relao

positiva entre a inatividade, como o tempo gasto assistindo televiso, e o aumento da

adiposidade em escolares vem sendo observada. A atividade fsica, por outro lado,

diminui o risco de obesidade, atuando na regulao do balano energtico e

preservando ou mantendo a massa magra em detrimento da massa de gordura.

Na infncia, a obesidade pode ser ainda mais difcil do que na fase adulta pela

falta de entendimento da criana quanto aos danos causados pela obesidade. O

34

interesse na preveno da obesidade infantil se justifica pelo aumento de sua

prevalncia com permanncia na vida adulta e pela potencialidade enquanto fator de

risco para as doenas degenerativas (MELLO et al., 2004).

Desta maneira, destaca-se a importncia de se estudar o perfil de obesidade

nas crianas e adolescentes (BRENS., 2012, p.12), avaliando-se a magnitude desse

problema de sade pblica, obtendo a compreenso desse indivduo e da famlia ao

tratamento, deixando-se em primeiro plano a perspectiva da prpria criana e seus

inter-relacionamentos e entendendo que nela se inserem vrios fatores,

principalmente o estresse psicolgico ocasionado pelo estigma social a eles imposto

(HERNANDEZ., 2011 P.13).

Na infncia, percebemos tambm que os fatores etiolgicos determinantes

para o estabelecimento da obesidade so: o desmame precoce e a introduo de

alimentos inadequados, industrializados e a inatividade fsica. Outros fatores estariam

relacionados ao ambiente familiar, pois filhos de pais obesos tm grandes chances de

se tornarem crianas obesas.

Os principais riscos para a criana obesa so: o aumento do colesterol e

triglicrides, hipertenso, alteraes ortopdicas, problemas respiratrios e

dermatologias. H uma correlao entre a obesidade infantil e aspectos psicolgicos,

tais como depresso, ansiedade e dficit de competncia social.

Estes aspectos destacam-se a partir do momento em que a criana obesa

discriminada por colegas no obesos. importante ressaltar que o tratamento da

obesidade infantil deve ser multidisciplinar, envolvendo mdico, educador fsico,

nutricionistas, psiclogo e assistente social.

Dessa forma, a extenso populacional da obesidade causa impacto na infncia

e na adolescncia. O aumento nos ndices de sobrepeso e obesidade entre crianas

e adolescentes internacionalmente durante as ltimas dcadas indica que a

obesidade infantil uma epidemia global comeando a substituir a desnutrio e as

doenas infecciosas. Crianas obesas tendem a se tornar adultos obesos (SOTELO

et al., 2004).

A preveno o melhor caminho, comeando pela amamentao materna, a

reeducao alimentar que determine crescimento adequado e manuteno de peso,

exerccios fsicos controlados e diminuio do tempo de inatividade. A reeducao

alimentar e o aumento da atividade so essenciais, pois visam modificao e

melhorias dos hbitos dirios em longo prazo, e tornam-se elementos de

35

conscientizao e reformulao auxiliando a refletir sobre a sade e a qualidade de

vida.

Para melhores resultados nos tratamentos, importante a cooperao dos

pais, que devem estar conscientes de que a obesidade um risco e que gera graves

problemas na vida adulta. A escola tem papel fundamental ao modelar as atividades

e comportamentos das crianas sobre atividade fsica e nutrio.

2.2. OS RISCOS DA OBESIDADE NA ADOLESCNCIA

A obesidade pode ser conceituada, de maneira simplificada, como uma

condio de acmulo anormal ou excessivo de gordura no organismo, levando a um

comprometimento da sade. O grau de excesso de gordura, sua distribuio e

associao com consequncias para a sade variam, consideravelmente, entre os

indivduos obesos. importante identific-la, uma vez que os portadores dessa

condio apresentam risco aumentado de morbidade e mortalidade. Na atualidade, a

obesidade se coloca de maneira prioritria para interveno, em nvel individual e na

comunidade, como um problema de nutrio em sade pblica (BRASIL, 1998).

Mundialmente, a obesidade j vista como um problema de sade pblica.

Aes realizadas em pases desenvolvidos apontam para a preveno relacionada ao

risco que essa epidemia representa para a sade. A prevalncia de sobrepeso e

obesidade vm aumentando drasticamente a cada ano, variando com a idade, raa,

sexo, taxa metablica individual e classes socioeconmicas (BOUCHARD, 2003).

De acordo com Taddei (2000, p.111), a obesidade um distrbio nutricional

traduzido por um aumento de tecido adiposo, resultante de balano positivo de energia

na relao ingesto e gasto calrico, que frequentemente causa prejuzo sade.

Para o autor, o excesso de peso na criana predispe s mais variadas complicaes,

abrangendo as esferas psicossociais, visto que h o isolamento e afastamento das

atividades sociais em virtude da discriminao e da aceitao diminuda pela

sociedade.

Alm de problemas em nvel fsico, a obesidade causa nos portadores dessa

grave doena problemas em nvel psicolgico que podem ocasionar distrbios

emocionais que vo desde o afastamento da vida social ao completo abandono de

seus projetos de vida, como estudar e seguir em uma careira profissional, o que vai

gerar a sobrecarga em nvel de sade pblica e o mais grave, na escola, a criana e

36

o adolescente, que desenvolvem a obesidade e o sobrepeso, vo enfrentar diante da

turma (teoricamente no obesa) dificuldades em enfrentar todas essas alteraes

corporais.

Assim, segundo Ballone (2003), no que se refere ao grau de obesidade, caso

se deseje ressaltar apenas o tecido adiposo, existem meios variados de classificao.

Pode-se usar a relao do peso/altura, utilizando-se a tabela do Metropolitan Life

Insurance Company (www.metlife.com), ou as medidas de espessura de prega

cutnea ou, ainda, o ndice de Massa Corprea - IMC. Entre os fatores que

desencadeiam a obesidade, Leite (1996) define:

A obesidade um distrbio complexo relacionado com numerosos fatores que desequilibram o balano energtico e , em geral, doena. Esses numerosos fatores podem ser resumidos em externos e internos. Os primeiros so: a violncia excessiva cada vez mais frequente, a tecnologia que impede o gasto energtico no dia a dia, o capitalismo onde as pessoas esto muito preocupadas em trabalhar mais para ganhar dinheiro. Os segundos so aqueles fatores genticos, onde pai e me so obesos e o filho tambm herda esta caracterstica.

De acordo com Enes e Slater (2010, p.165), a obesidade tem sido descrita

como um importante problema de sade pblica da atualidade e vem ganhando

destaque no cenrio epidemiolgico mundial. Sua prevalncia aumentou nas ltimas

dcadas em todo o mundo, inclusive nos pases em desenvolvimento, como o Brasil,

onde anteriormente predominava os problemas relacionados desnutrio. O

aumento da prevalncia de sobrepeso e obesidade em idades cada vez mais

precoces tm despertado a preocupao de pesquisadores e profissionais da rea de

sade, em razo dos danos e agravos sade provocados pelo excesso de peso, tais

como hipertenso arterial, cardiopatias, diabetes, hiperlipidemias, esta causada por

ingesto excessiva de gorduras (ex: carne, queijo, creme, ovos, marisco, etc.), por

produo excessiva do prprio organismo ou por ambas, dentre outras (JOHNSON et

al., 2009).

A adolescncia consiste no perodo de transio entre a infncia e a vida adulta,

caracterizada por intensas mudanas somticas, psicolgicas e sociais,

compreendendo a faixa etria dos nove aos dezoito anos de idade. Na fase inicial da

adolescncia (9 a 13 anos), chamada de puberdade, ocorre o estiro de crescimento,

o aumento rpido das secrees de diversos hormnios e o aparecimento dos

caracteres sexuais secundrios (maturao sexual). A fase final (14 a 18 anos)

37

caracteriza-se pela desacelerao destes processos (WOLD HEALTH

ORGANIZATION, 1997).

Assim como a desnutrio, a obesidade especialmente na adolescncia pode

trazer srios danos sade global. Segundo Guimares et al. (2001), o Brasil vive um

momento de transio nutricional, ou seja, esto ocorrendo mudanas nos padres

alimentares dos indivduos em consequncia de modificaes em sua dieta

decorrentes de mudanas sociais, econmicas e influncia da mdia. Entre os

adolescentes, a alimentao inadequada, caracterizada pelo consumo excessivo de

acares simples e gorduras, associada ingesto insuficiente de frutas e hortalias,

contribui diretamente para o ganho de peso nesse grupo populacional.

J o Ministrio da Sade (2010) alerta que o padro alimentar do brasileiro

apresenta caractersticas do estilo da vida moderna, sendo que de acordo com o

estudo realizado, por meio de uma pesquisa telefnica feita com indivduos a partir de

18 anos, revelou-se um consumo regular de frutas e hortalias de cinco ou mais

pores na semana, resultado que fica aqum dos padres recomendados segundo

a Organizao Mundial de Sade, que de cinco ou mais pores ao dia. Em relao

s bebidas aucaradas, como refrigerantes, sucos artificiais, observou-se uma

ingesto regular excessiva de cinco vezes por semana.

A dieta dos adolescentes caracteriza-se pela preferncia por produtos

alimentcios com inadequado valor nutricional, ou seja, aqueles com elevado teor de

gordura saturada e colesterol, alm de grande quantidade de sal e acar. Os

adolescentes tendem a viver o momento atual, no dando importncia s

consequncias de seus hbitos alimentares, que podem ser prejudiciais. Porm, os

hbitos alimentares inadequados na infncia e adolescncia podem ser fatores de

risco para doenas crnicas e obesidade. Atualmente, os adolescentes esto

permanecendo cada vez mais tempo fora de casa e em companhia dos amigos, os

quais influenciam na mudana dos hbitos alimentares, promovendo a escolha de

alimentos que so socialmente aceitos. caracterstica da alimentao desses

jovens, e da vida moderna, o consumo de lanches e fast-food, entre as refeies

(GAMBARDELLA, 1999; MELLO et al., 2004; CLAUDINO; ZANELLA, 2005) ou como

uma refeio propriamente dita.

As sensaes de fome e saciedade e as diferenas entre apetite, gula e

voracidade podem servir para estimular a prpria curiosidade do adolescente a

38

respeito dos grupos de nutrientes e de como adequar sua rotina para conseguir uma

alimentao saudvel, balanceada e agradvel ao paladar (EISENSTEIN, 1998).

A obesidade deriva de um processo que abrange pontos que vo do ambiente

gentica do indivduo. O modo de vida dos indivduos em idade escolar pode

influenciar negativamente quando se aborda a obesidade e seus riscos, pois crianas

sedentrias que ficam muito em casa, dentro de seus quartos, sentadas ou deitadas

na cama, em jogos de videogame, navegam pela internet, assistem a vdeos ou esto

ligadas na TV e que nas refeies do dia a dia ingerem uma dieta inadequada esto

predispostas ao incremento da obesidade.

As consequncias da obesidade tm sido relatadas em diversos trabalhos. O

excesso de gordura sade de adultos tem-se associado maior ocorrncia de

Diabetes Mellitus, hipertenso, ao aumento do triglicerdeo e do colesterol

(FONSECA, 1998, pg. 32). Ainda em relao aos riscos da obesidade em crianas e

adolescentes, Visscher & Seidell (2001, p.365) afirmam tambm que esta patologia

predispe ao desenvolvimento de outras doenas, como diabetes, hipertenso

arterial, dislipidemias, doenas cardiovasculares, cancro, distrbios respiratrios

(entre elas a apneia do sono), colilitase, esteatosehepatica e afeces

osteoarticulares. Outra questo que crianas com problemas relacionados

obesidade podem vir a desenvolver doenas cardiovasculares na vida adulta

(BOUCHARD, 2000).

Logo, evidencia-se a seriedade da preveno da obesidade entre crianas e

adolescentes, pois grandes partes das doenas cardacas se desenvolvem nesse

perodo de vida e se agravam quando no h o trabalho de orientao quanto a

hbitos saudveis e principalmente quanto a atividades fsicas em combate ao

sedentarismo e alimentao inadequada que influi negativamente no sobrepeso.

No Brasil, este fato entre crianas e adolescentes constitui uma grande

preocupao entre os profissionais da rea da sade, uma vez que durante a infncia

e a adolescncia aproximadamente dois entre 10 jovens obesos j so portadores da

sndrome metablica (FERREIRA, 2007).

Assim:

o tratamento da obesidade costuma ser negligenciado pelos profissionais da sade e familiares, na expectativa de uma resoluo espontnea na adolescncia. A chance da criana e do adolescente obeso permanecer obesos na idade adulta muito grande, aumentando a morbimortalidade para diversas doenas (ESCRIVO e LOPEZ, 1995, p. 146).

39

Outras questes esto vinculadas ao psicolgico desses indivduos, pois se

torna conturbado, com reduo da autoestima, depresso e baixa autoimagem, que

tambm esto associadas obesidade infantil. Hoje o bullying um dos maiores

problemas sociais entre os escolares no Brasil e no mundo, e os escolares que

apresentam sobrepeso ou obesidade so as grandes vtimas desse preconceito, visto

que o agressor satiriza apontando caractersticas que acha negativas nas suas

vtimas, no caso a criana e o adolescente obeso, apelidando o companheiro com

palavras que fazem aluso ao excesso de peso. As escolas, por meio de projetos

pedaggicos, tm obrigao de desenvolver um trabalho preventivo com os alunos,

mostrando-lhes, no uma vez, mas constantemente, que deve haver respeito entre os

alunos.

A sociedade constantemente discrimina e estigmatiza as pessoas obesas e

com sobrepeso. Elas sofrem uma srie de preconceitos, sendo geralmente

consideradas indivduos fisicamente repugnantes e com uma srie de falhas de

carter. Frequentemente, so tambm tratadas por denominaes pejorativas que,

em geral, fazem referncia sua aparncia fsica (FISCHLER, 2005).

Nesse aspecto, alm do interesse dos profissionais de sade, outras reas

como a educao, representadas pela Educao Fsica Escolar, estabelecida dentro

dos PCNs, a preocupao em estabelecer contedos que envolvem o conhecimento

significativo para os educandos e assim poder contribuir na preveno de

enfermidades que possam afetar a qualidade de vida e a obesidade, certamente,

umas das grandes preocupaes hoje da Educao Fsica Escolar.

A Educao Fsica Escolar tem como um de seus objetivos principais fazer com

que o aluno conhea seu corpo, valorizando e adotando hbitos saudveis como um

dos aspectos bsicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relao

sua sade e sade coletiva (BRASIL, 2000).

Grande parte dos problemas de sade pblica, no que se refere a aspectos

relacionados obesidade em crianas e adolescentes e aos males que dela

decorrem, fruto de alimentao inadequada aliada ao sedentarismo a que crianas

e adolescentes esto predispostos, pois o tempo excessivo em frente a aparelhos

eletrnicos e a alimentao feita de forma rpida e sem balanceamento nutricional

correto, em muitos casos realizada em fast-food, so as grandes causas de

prevalncia da obesidade em crianas em fase escolar.

40

2.3. PROJETO PEDAGGICO INSTITUCIONAL (PPI) E O PROGRAMA SADE

NA ESCOLA (PSE) NO IF FLUMINENSE

O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense, instituio

que prima pela interlocuo dos trs eixos Ensino, Pesquisa e Extenso, como

agente de desenvolvimento social, econmico e cultural, na rea de abrangncia onde

se encontra instalada, estabelece como poltica para o desenvolvimento de seus

diferentes setores as seguintes diretivas bsicas: desenvolver polticas no sentido da

verticalizao do ensino e elevao do nvel de escolaridade, atendendo desde o

Ensino Mdio, a Educao de Jovens e Adultos e Formao Inicial e Continuada do

trabalhador at a Ps-Graduao e buscar a articulao entre ensino, pesquisa e

extenso; capacitar e valorizar o profissional da educao; desenvolver polticas de

valorizao da rede pblica de ensino e aes que a possibilitem; e promover

avaliao permanente dos cursos e do corpo docente e tcnico-administrativo em

educao da instituio.

Estas so algumas das diretivas bsicas que mais nos interessam. As

explicitadas se fazem norteadoras do trabalho educativo nos diferentes nveis e

modalidades de ensino, inclusive na pesquisa e inovao e na extenso, perpassam

por aes que explicitam polticas e programas institucionais, tendo no seu bojo a

concepo de gesto participativa.

O Projeto Pedaggico Institucional do IF Fluminense retrata uma das

ferramentas pedaggicas que enfatiza metas que possam contribuir com a prxis

pedaggica da comunidade acadmica, com a construo, (re)construo e produo

do conhecimento pelos sujeitos desse processo e, por conseguinte, com a qualidade

do ensino.

Para nos aprofundarmos mais nesta temtica, buscamos como base o projeto

Pedaggico Institucional - PPI do IFF. O Instituto Federal Fluminense menciona no

Estatuto, Ttulo III, Captulo I, Artigos 24 e 25, respectivamente, que: o currculo no

Instituto Federal Fluminense est fundamentado em bases filosficas,

epistemolgicas, metodolgicas, socioculturais e legais, expressas no seu projeto

poltico-institucional, sendo norteado pelos princpios da esttica, da sensibilidade, da

poltica da igualdade, da tica, da identidade, da interdisciplinaridade, da

contextualizao, da flexibilidade e da educao como processo de formao na vida

41

e para a vida, a partir de uma concepo de sociedade, trabalho, cultura, educao,

tecnologia e ser humano (IF FLUMINENSE, 2009, p. 11).

O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense atua (a) no

Ensino Mdio, (b) nos Cursos Tcnicos, (c) nas Licenciaturas, (d) nos Cursos

Superiores de Tecnologia, (e) nos Bacharelados, (f) nas Especializaes, (g) nos

Mestrados, (h) na Formao Inicial e Continuada, com perspectiva de implementao

de doutorado. Enfatiza-se a oferta de cursos na modalidade Educao de Jovens e

Adultos, desde a alfabetizao ao Ensino Mdio, bem como nos Cursos Tcnicos de

Nvel Mdio, sinalizando para Cursos de Nvel Superior. Os princpios da concepo

pedaggica que permeiam os cursos do IF Fluminense assim se apresentam:

I. Educao pautada na formao humana e no atendimento das necessidades

da sociedade, no que se refere exigncia de organizar o currculo com base

nas demandas socioeconmicas, cientficas e tecnolgicas da regio em que

cada curso se encontra inserido, assim como do processo de construo da

identidade racial em nosso pas.

II. Desenvolvimento de uma prtica educativa, forjadora de um projeto histrico,

que no se far to somente pelo educador, mas pelo educador,

conjuntamente, com o educando e outros sujeitos dos diversos setores da

sociedade.

III. Sistemtica nos fundamentos, nas condies e nas metodologias realizao

do ensino e do saber, associando-os extenso e pesquisa, e convertendo

os objetivos sociopolticos e pedaggicos em objetivos de ensino, ou seja,

selecionando contedos e mtodos em funo desses objetivos.

IV. Inter relacionamento de formas ao ensino individual e coletivo buscando

otimizar a relao do discente mediada pelo prprio trabalho docente.

V. Autonomia considerada um solo tico, em que se vislumbrem os exerccios do

ensinar e do aprender, em uma dimenso na qual o dilogo pedaggico

possibilite a comunicao do discente.

Nesse nterim, os princpios que norteiam as prticas acadmicas nessa

instituio encontram-se permeados nas diretrizes assim dispostas:

I. tica do cuidado - identifica-se com o modo de vida sustentvel, que supe

outra forma de conceber o futuro da Terra e da humanidade por meio de uma

nova maneira de ser no mundo e do desafio de combinar trabalho e cuidado.

Compreendendo que eles no se opem, mas se compem, limitam-se

42

mutuamente e ao mesmo tempo se completam. Juntos formam a integralidade

humana. Uma compreenso holstica, em totalidade, da realidade,

compreendendo quatro pontos gerais: respeito e cuidado pela comunidade da

vida; integridade ecolgica; justia social e econmica; democracia, no

violncia e paz.

II. Esttica da sensibilidade - atitude que qualifica o fazer humano quando

defende os eixos desenvolvidos no processo educacional permeados pela

ao-reflexo-ao. Valoriza-se, portanto, a sensibilidade aos valores que

fazem parte de uma identidade cultural e que devem ser dimensionados nas

ambincias de ensino e de aprendizagem; a leveza, a delicadeza e a sutileza,

estimulando o fazer social pela criatividade, pelo esprito inventivo, a

curiosidade pelo inusitado, a afetividade, para facilitar a constituio de

identidades capazes de entender o conceito de qualidade e respeito ao outro e

cultura do trabalho centrada no gosto pelo desempenho e produo eficaz da

atividade.

III. Poltica da igualdade - busca-se o sentido de atender aos atores sociais,

independentemente de origem socioeconmica, convico poltica, gnero,

orientao sexual, opo religiosa, etnia ou qualquer outro aspecto.

IV. tica da identidade - fundamenta-se na esttica da sensibilidade e na poltica

da igualdade, em respeito inter e multiculturalidade, contribuindo para a

formao de profissionais-cidados autnomos e produtivos.

V. Inter e transdisciplinaridade - retrata atitude dinmica do currculo no

desenvolvimento da ao pedaggica ou de abordagem aplicativa das reas

do conhecimento, a qual implica estabelecer articulaes e interaes que

sejam pertinentes e adequadas construo, reconstruo e produo do

conhecimento dos sujeitos.

A interdisciplinaridade oportuniza a integrao e a articulao do currculo,

provocando intercmbios reais. Ressalta-se, ento, que a abordagem interdisciplinar

referenda uma prtica em que o sujeito perceba a necessidade de estabelecer

relaes entre os contedos abordados nas ambincias dos discentes, na

compreenso de um dado fenmeno ou na resoluo de determinado problema.

Com base nos aportes de Santom (1998) e Gadotti (1996, p.102), a

interdisciplinaridade tem como fim: (a) o entendimento pelo sujeito da complexidade

dos fenmenos humanos e mundiais; (b) as explicaes cientficas pelo conjunto dos

43

componentes curriculares diante dos desafios; (c) o uso das tecnologias da

comunicao e informao como meio de sustentar e flexibilizar esse processo.

A transdisciplinaridade enfatiza a construo de um sistema total, sem

fronteiras slidas entre os componentes curriculares, e objetiva transitar nas reas de

conhecimento que compem o itinerrio curricular, indo para alm delas, sem se

preocupar com limites ou fronteiras, mas integrando em sua investigao outros

modos de conhecimento que permeiam a humanidade e agregam novos saberes. Na

perspectiva de corroborar com essa diretriz, reporta-se a Gadotti quando esse

menciona:

A ao pedaggica atravs da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade aponta para a construo de uma escola participativa e decisiva na formao do sujeito social. O educador, sujeito de sua ao pedaggica, capaz de elaborar programas e mtodos de ensino-aprendizagem, sendo competente para inserir sua escola numa comunidade (GADOTTI, 1996, p. 102).

VI. Contextualizao - refere-se ao conhecimento contextualizado, produzido e

utilizado em contextos especficos. Recurso que contribui para que os sujeitos

atuem sobre sua aprendizagem, uma vez que os provoca, os instiga a elaborar

hipteses, a buscar informaes, a confrontar diferentes ideias e diferentes

explicaes, a perceber os limites de cada explicao, inclusive daquelas que

eles j possuam, na perspectiva da construo de seu conhecimento. Neste

entendimento, o processo educacional, no que tange ao ato de constante

aprendizagem, deixa de ser concebido como mera transferncia de

informaes e passa a ser norteado pela contextualizao de conhecimentos

teis ao sujeito.

VII. Institucional Flexibilidade - necessidade crescente de uma postura flexvel,

aberta, plural, pois trata de uma das bases epistemolgicas relevantes do

currculo e um dos princpios que norteia a aprendizagem. Assim, cabe

instituio de ensino a tarefa de oportunizar formas mais dinmicas de

aprendizagem, visto que a sociedade do conhecimento no se fossiliza mais

em modelos, em paradigmas acabados, mas, sim, em paradigma novo, no qual

a ambincia acadmica concebe as prticas escolares como o devir, com a

possibilidade de mudana constante.

VIII. Intersubjetividade - significa relao entre sujeitos na compreenso do

relacionamento mtuo entre observador e objeto observado, na percepo de

44

que o ato de observao altera a natureza do objeto e proporciona as

inferncias possveis do sujeito na realidade local e regional.

Destarte, os princpios e valores filosficos sustentam-se na percepo e

compreenso de que o IF Fluminense se apresenta como instituio composta por

sujeitos histricos, sociais e polticos que integram um mundo em constante

movimento. E, alm disso, sujeitos reflexivos, pesquisadores, abertos aos debates

educacionais e que defendam a otimizao de um dilogo educativo acompanhado

de estrutura pedaggica, permeada pelo processo de comunicao sem fronteiras,

com metodologias bem definidas e que sistematizem o conhecimento significativo em

atendimento s especificidades da regio na busca pela efetiva democratizao de

saberes.

Assim, faz-se importante pensar propostas nos diversos nveis de ensino, que

superem a fragmentao, envolvam os vrios segmentos sociais e promovam uma

articulao entre ensino, pesquisa e extenso.

Dentre os compromissos e desafios do IF Fluminense, destacam-se:

Universalizao ao acesso dos alunos da Rede Pblica;

Estruturao sistmica de programas destinados melhoria de qualidade da

educao bsica;

Incentivo pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologias assistivas, com o

implemento do Ncleo de Inovao Tecnolgica (NIT).

A poltica institucional de apoio extenso estabelece, prioritariamente, os

seguintes temas cujo objetivo nortear as aes extensionistas deste Instituto:

Cultura: difuso, memria e produo; Educao e cidadania; Desenvolvimento

regional sustentvel; Responsabilidade social; Tecnologia, trabalho e incluso social.

Entre os diversos programas de responsabilidade social, podemos destacar o

Programa Educando para Sade que atende os alunos encaminhados pelo Servio

Mdico e Odontolgico do Instituto Federal Fluminense, as especialidades nas

Instituies de Sade conveniadas para aquisio de medicamentos e realizao de

trabalhos de preveno nesta rea. Com isso, atente ao decreto n. 6.286, de 05 de

dezembro de 2007, que institui o programa sade na escola como agente de

promoo da sade e sendo fundamental para o desenvolvimento de aes coletivas

de sade (BRASIL, 2007). E com a Poltica Nacional de Educao Permanente em

Sade, portaria N 198/GM, de 13 de fevereiro de 2004, e com a os princpios e

diretrizes do SUS, Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990.

45

Mais do que nunca, de acordo com o exposto, pode-se inferir que h a

necessidade de ampliar e dinamizar a promoo da sade de acordo com o que

sustenta o projeto pedaggico institucional alicerado no ensino pesquisa e extenso,

possibilitando uma dinamizao e aplicao de projetos e programas que possam ser

teis sociedade.

2.4. EDUCAO FSICA E A PREVENO DA OBESIDADE.

A atividade fsica, com exerccios simplesmente feitos em casa supervisionados

por profissionais de Educao Fsica, alimentao saudvel, adequao, exemplo dos

responsveis e motivao para que essa prtica seja de todo o contexto familiar, so

abordagens essenciais para que seja resolvido (BANKOFF, ZAMAI., 2015).

A ocorrncia de muitas doenas crnicas no transmissveis no adulto pode ter

incio na infncia. Sendo assim fundamental estimular precocemente a atividade

fsica nessa faixa etria para a promoo da sade e preveno dessas doenas.

Alm disso, estudos apontam que crianas e adolescentes que se mantm

fisicamente ativos apresentam probabilidade menor de se tornarem adultos

sedentrios, obtendo ento melhor qualidade de vida, visto que mudar hbitos e

atitudes j estabelecidos na fase adulta representa tarefa complexa e muitas vezes

resultados insatisfatrios (ALVES et al, 2005; BRACCO et al, 2003; BARUKI et al,

2006).

A Educao Fsica Escolar necessita continuamente encorajar os alunos a

desenvolverem costumes saudveis, como exerccios fsicos e alimentao saudvel,

alm de desenvolver posturas de uma vida em constante movimento motor.

Atualmente, a Educao Fsica Escolar apresenta um contedo, em sua maioria,

voltado para a cultura corporal de movimento, por exemplo, esportes, lutas, danas,

jogos e brincadeiras. Rosrio e Darido (2005, p.170) observaram que os professores

mantm uma viso esportivista e acabam limitando seus contedos aos esportes

tradicionais como voleibol, basquete e futebol.

A prtica de atividades fsicas esportivas de certa forma contribui para que

educandos que no tm habilidade para determinados esportes fiquem propensos

inatividade, ocasionando a obesidade em crianas e adolescentes. necessrio que

os professores de Educao Fsica passem a desenvolver, em paralelo com as

prticas esportivas, posturas que favoream a construo de seu conhecimento,

46

inclusive reconstruindo a atividade proposta pelo professor, mantendo a turma

motivada e em movimento, fugindo das prticas enfadonhas de cunho tradicional.

Assim, as aulas passam a ser significativas, nas quais assuntos como preveno e

alimentao saudvel passem a ser discutidos no mbito escolar e mais

especificamente nas aulas de Educao Fsica (BRASIL, 2011).

Dessa forma, esse educando passa a ser til dentro de sua comunidade e se

transforma em um porta voz da escola nas aes de sade preventiva estudadas,

contribuindo, assim, para que a preveno seja o grande fator na diminuio de

incidncias de doenas relacionadas obesidade.

Dentro desse contexto, destaca-se o papel da Educao Fsica Escolar na

ateno e co