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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – UCAM CAMPUS CENTRO
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DIREITO EMPRESARIAL E DOS NEGÓCIOS
TURMA K092 – Sexta-feira noite MATRÍCULA: K205831
RESPONSABILIDADE CIVIL NA RELAÇÃO DE TRABALHO
OBJETIVOS: Esta publicação é apresentada como requisito indispensável para Pós-graduação em Direito Empresarial e dos Negócios e tem como finalidade expor como o instituto da responsabilidade civil é abordado e entendido no âmbito da Justiça do Trabalho.
ALUNA: Renata Monteiro da Silva
RIO DE JANEIRO, ABRIL DE 2008
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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, a meu namorado e família o
auxílio para conclusão do curso.
3
DEDICATÓRIAS
Dedico este trabalho a Deus pela garra e
determinação que me transmite todos os dias ao
acordar.
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RESUMO
Com a evolução da sociedade e a ultrapassada legislação trabalhista foi
necessário inovar e ampliar a legislação que rege as relações de trabalho, o que foi
feito através da Emenda Constitucional 45/2004. Antes disso, as inovações realizadas
em 2002 no Código Civil modificaram o entendimento do instituto da
responsabilidade civil no âmbito da Justiça do Trabalho, visto que esse compêndio é
aplicado de forma subsidiária à esta justiça especializada. Ademais, tal modificação no
entendimento doutrinário foi realizada com o fito de equilibrar a relação processual, já
que o empregado é parte hipossuficente da relação jurídica, bem como, compelir os
empregadores a cumprirem a legislação trabalhista e a zelarem pela segurança dos
trabalhadores. O presente estudo, ainda, aborda as questões processuais que envolvem
o rito trabalhista e a responsabilidade civil do empregador por atos de seus
representantes legais.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
CAPITULO 1
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1.Breve Histórico 8
2.Pressupostos da responsabilidade civil 10
3.Responsabilidade civil e o direito do Trabalho 12
CAPITULO 2
ASPECTOS RELEVANTES
4.Competência da Justiça do Trabalho 13
5. Prazo prescricional 14
6. Dano moral e patrimonial 16
CAPITULO 3
TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL
7. Responsabilidade do empregador segundo o Código Civil 19
8. Responsabilidade do empregador por ato de preposto ou empregado 20
9. Responsabilidade civil do empregado em face do empregador 25
10. Responsabilidade do empregador em relações triangulares – terceirização 28
6
CAPITULO 4
ACIDENTE DE TRABALHO
11. Responsabilidade do empregador por acidente de trabalho 31
12. Excludente de responsabilidade civil do empregador 47
13. Jurisprudências 49
14. Conclusão 53
15. Referências Bibliográficas 55
16. Índice 57
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INTRODUÇÃO
Como é de sabença geral, no início, quando os homens passaram a viver em
grupos, formando uma comunidade, sentiram eles a necessidade de disciplinar a sua
própria conduta, traçando normas de respeito aos direitos de cada um, ensejando assim
a responsabilidade de obedecer a esse ordenamento para que se continuasse a
existência do grupo.
O instituto da responsabilidade civil é primordial para uma convívio social
pacífico pois é essa matéria que garante ao indivíduo o direito de ressarcimento dos
prejuízos causados por outrem, assim, extinguindo os conflitos internos da sociedade,
não sendo diferente no âmbito das relações de emprego, já que ela faz parte da
sociedade e é imprescindível para o desenvolvimento econômico da sociedade .
Na biografia em questão serão expostos as peculiaridades da responsabilidade
civil do empregador na relação de emprego, incluindo os atos praticados por seus
prepostos, danos decorrentes da relação laboral, acidente de trabalho, a competência
da Justiça do Trabalho para apreciar a questão, os prazos prescricionais, além das
hipóteses de excludente de ilicitude do empregador.
Citarei, ainda, a responsabilidade do empregado pelos próprios atos, já que este
assunto encontra-se implícito na questão ora abordada, bem como transcreverei
entendimentos majoritário dos Tribunais sobre o assunto.
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CAPITULO 1
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1.Breve Histórico
No passado quando a sociedade não era suficientemente estruturada, todo
acontecimento que gerava uma lesão para o cidadão, dava o surgimento de vingança
contra aquele que praticou tal prejuízo, essa satisfação de direito com as próprias mãos
foi conhecido como autotutela. Este pensamento ocorria, porque nesta época o Estado
não era poderoso para superar os ímpetos individualistas das pessoas em sociedade.
Com passar dos anos, num período mais avançado do Estado, a sociedade
passou a ter o seu fortalecimento sobre a população que nela habitavam, superando
todas manifestações individuais, prescrevendo o seu direito acima das vontades de
todos os particulares, conseguindo desta forma extinguir o uso da autotutela (salvo em
alguns casos em lei), ou seja, o Estado retirou da vítima a possibilidade de fazer justiça
com as próprias mãos, tomando para si este direito, tendo desta maneira uma função
pacificadora.
Durante um momento evolutivo da sociedade, o Estado consagrou um meio
legal para o controle social, sendo esta forma também não muito eficaz para a
reparação do dano, a sua função era punir aquele que tinha causado o prejuízo. Tal
regime foi conhecido como Talião, este tipo de sanção era uma pena antiga usada em
quase todas as legislações antigas. Esta norma trazia para aquele que houvesse
causado um mal ao seu semelhante, o idêntico mal, em forma de castigo, traduzida na
conhecida expressão: “olho por olho, dente por dente, vida por vida, etc”.
A utilização deste regime constituía uma finalidade extremamente maléfica,
visto que ensejava um novo dano ou lesão ao agente causador do prejuízo, isto porque
a sua condenação ficava a critério do prejudicado.
Como a utilização do regime Talião percebeu-se que o mal não era eliminado,
mas sim acabava por gerar um novo dano, o que na se pretendia.
Então, surgiu uma sanção menos gravosa para restituição do prejuízo causado,
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ou melhor, uma nova pena, qual seja, a transação entre a vítima e o agressor, sendo
conhecida como “indenização pecuniária”.
Esta modalidade tem como principal objetivo uma reparação do prejuízo
causado através de uma pecúnia ou pela entrega de bens a vítima, com o intuito
satisfazê-la totalmente, ou de pelo menos amenizar o sofrimento ocasionado por causa
do dano; assim conseguindo a pacificação social através de uma maneira mais justa e
mais humana para o agressor, sem a ocorrência de nenhum outro dano.
Nesse contexto, com a evolução da sociedade e das relações de trabalho, dentre
elas a de emprego, não se vislumbrou outra forma para a compensação dos danos e ou
atos ilícitos praticados pelo empregador ao empregado, qual seja, a indenização pelos
danos morais e materiais impingidos.
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2. Pressupostos da Responsabilidade Civil
Antes de abordar os efeitos da responsabilidade civil na relação de emprego é
imprescindível conhecer os pressupostos para caracterização do dever de indenizar.
A definição de pressuposto, conforme ensina Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira, consiste na "circunstância ou fato considerado como antecedente necessário
de outro".
Nesse diapasão, a responsabilidade civil, para ser caracterizada, impõe a
ocorrência de 03 (três) fatos ou circunstâncias, indispensáveis simultaneamente, sem
os quais não há como se falar na aplicação desta sanção.
Esses pressupostos são os seguintes:
a) ação ou omissão;
b) dano;
c) elo de causalidade entre ação/omissão e dano;
Para que alguém seja responsabilizado civilmente por um dano, é preciso que
algum ato tenha sido praticado ou deixado de praticar, seja pelo próprio agente ou por
pessoa ou animal de que ele seja responsável.
É necessário, portanto, a ocorrência de um ato humano do próprio responsável
ou de um terceiro, ou então o fato de um animal ou coisa inanimada, afastando-se, de
logo, a responsabilidade por danos causados em função de caso fortuito (algo que não
poderia ser previsto) ou força maior (algo que, mesmo que pudesse ser previsto, seria
inevitável).
Já o dano tem de ser efetivo, seja na esfera do patrimônio material, seja no
campo dos danos morais.
Não há como se responsabilizar civilmente uma pessoa, sem a prova real e
concreta de uma lesão certa a determinado bem ou interesse jurídico.
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Por fim, é imprescindível a prova do elo de causalidade entre o dano e a
ação/omissão, pois se há um dano, mas este se deu, por exemplo, em função de culpa
exclusiva da vítima, que agiu com dolo, ou então por motivo de força maior ou caso
fortuito, não há como se responsabilizar, via de regra, o réu/reclamado.
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3. Responsabilidade Civil e o Direito do Trabalho
A nova concepção da responsabilidade civil no Brasil é de que a regra geral, no
âmbito do direito do trabalho, continua sendo a responsabilidade subjetiva, conforme
previsto no artigo 7º, inciso XXVIII da Constituição Federal de 1988, mas que,
paralelamente, não mais como exceção, é possível haver hipóteses de responsabilidade
objetiva em função de previsão legal, ou em decorrência da atividade desenvolvida
pelo empregador. Resumindo, se esta for considerada de risco para os direitos de
outrem, como prevê, por exemplo, o artigo 927 do Código Civil, aplicado a justiça
especializada.
Essa nova regra se mostra de grande importância, em especial, para o Direito
do Trabalho, justamente porque a caracterização do dano moral no Direito do
Trabalho não era sequer admitida, bem como, diante da natureza do contrato de
emprego, de trato sucessivo, e das conjunturas sócio, econômicas e políticas atuais,
cresceram as incidências de danos praticados tanto pelo empregador como pelo
empregado, razão pela qual o Judiciário e o Legislador sentiram a necessidade de criar
substratos jurídicos no Direito do Trabalho e não somente no Direito Civil justamente
porque as atividades laborais e, às vezes, o próprio ambiente de trabalho tende a criar
para o empregado risco de lesões mais acentuados, que geram o direito à reparação
civil em benefício da vítima.
Nesse contexto, é importante repisar que a regra geral mantém-se com a noção
da responsabilidade subjetiva, mediante a aferição de culpa do autor do dano como
preconiza o artigo 186 do Código Civil Brasileiro.
Entretanto, se a atividade desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, ainda que em decorrência da dinâmica laborativa imposta por essa atividade,
incide a responsabilidade objetiva prevista no artigo 927 do CCB/2002.
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CAPITULO 2
ASPECTOS RELEVANTES
4. Competência da Justiça do Trabalho
A Emenda Constitucional nº 45 de 2004 introduziu imensa alteração no que
tange à competência do Judiciário, posto que ampliou a competência material da
Justiça do Trabalho prevista no artigo 114 da CF , desprezando a antiga terminologia –
competente para julgar dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores
empregadores, para adotar termo mais abrangente, qual seja, competente para julgar
ações oriundas da relação de trabalho.
A modificação da terminologia empregada pelo legislador constitucional
ampliou a natureza das ações no âmbito trabalhista, passando a englobar todo e
qualquer tipo de conflito resultante da relação pessoal de trabalho.
Nesse contexto, foi abrangido pela justiça do trabalho os pleitos de indenização
pelos danos morais e materiais decorrentes da relação de emprego, tema este tratado
nesse estudo.
Logo, a Justiça do Trabalho é competente e apta a apreciar questões
envolvendo danos morais e materiais no âmbito da relação de trabalho, desde que
tenham como sujeito ativo e passivo as figuras jurídicas de empregado e empregador,
oriundas da situação fática-jurídica empregatícia vivenciada por ambos, independente
da específica natureza dos pedidos vinculados.
Cumpre ressaltar que a Justiça do Trabalho é competente para apreciar
questões relativas a acidente de trabalho se decorrentes da relação de trabalho
empregado-empregador. Está excluído desta competência o caso previsto no artigo 95,
inciso I da CF/88 que envolve lides acidentárias entre segurados e INSS cuja
competência é da Justiça Federal.
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5. Prazo Prescricional
A questão prescricional envolve o marco inicial para propositura da ação
pretendendo indenização por danos morais e materiais decorrentes de danos ou
acidentes sofridos no decorrer da relação de trabalho.
Antes da Emenda Constitucional de 45/2004 a prescrição para o exercício da
ação pretendendo indenização por danos materiais ou morais resultantes de acidente
do trabalho e/ou ligado a personalidade ocorria em 10 anos, nos termos do artigo 205
do CC de 2002, ou em 20 anos, conforme o artigo 2.028 do mesmo compêndio.
Com a ampliação do direito material do Trabalho o prazo prescricional das
ações indenizatórias passaram a obedecer ao previsto no artigo 7º, XXIX, da CF e ao
artigo 11 da CLT, qual seja, prazo prescricional de 5 (cinco) anos com limite de 2
(dois) anos após a extinção do contrato de trabalho.
Contudo as divergências doutrinárias e jurisprudenciais imperam e por isso há
juizes que entendem que o marco prescricional em caso de acidente de trabalho passa
a contar do dia do acidente de trabalho com fulcro no artigo 7, inciso XXVIII da CF,
outros entendem, com fulcro nas Súmulas dos Tribunais Superiores que o termo inicial
do prazo prescricional, em caso de acidente de trabalho, passa a contar da data em que
o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral (Súmula 278 STJ) ou que
for comprovada a enfermidade ou verificada a natureza da incapacidade ( Súmula 230
STF), a terceira corrente obedecem os prazos previstos no artigo 7º, XXIX, da CF e no
artigo 11 da CLT, qual seja, prazo prescricional de 5 (cinco) anos com limite de 2
(dois) anos após a extinção do contrato de trabalho e a última corrente entende por
aplicar o disposto no artigo 206, parágrafo 3 inciso V o qual prevê a prescrição da
reparação civil em 3 anos.
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Abaixo, seguem jurisprudências da controvérsia supramencionadas:
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO. PRESCRIÇÃO. A prescrição aplicável, tratando-se de dano moral decorrente da relação de emprego, é a prevista no art. 7º, inc. XXIX, da Constituição da República; e não a estipulada no Código Civil. Recurso de Revista de que se conhece e a que se nega provimento. RR - 518/2004-002-03-00 Relator Ministro Brito Pereira DJ - 01/04/2005.
ACIDENTE DO TRABALHO. PRESCRIÇÃO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Pleito de reparação de natureza civil. Aplicação do disposto no art. 206, § 3º, V, e da parte final do art. 2.028, ambos do Novo Código Civil, com permissivo no parágrafo único do art. 8º da CLT. Direito de ação que não se encontra fulminado pela prescrição. Recurso provido” TRT- 4ª Região, RO 00396-2005-831-04-00-0, Relatora Cleusa Regina Halfen, decisão publicada no DJ/RS em 12/02/2007). Decisão N° 006176/2008-PATR . Faça uma cópia da Íntegra do Voto RECURSO ORDINÁRIO Juiz(a): JOSÉ PITAS EMENTA PRESCRIÇÃO - INDENIZAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO Nos casos de danos decorrentes de acidente do trabalho, as seguintes proposições deverão ser observadas: a) o respeito às decisões da Jurisprudência da Justiça Comum, vigente antes da EC/45, publicada em 31.12.04; b) a aplicação da prescrição prevista no artigo 11 da CLT, após a ocorrência do acidente típico, ou ajuizamento da ação, depois da EC/45.
Por tal razão, a sugestão do presente estudo é de que a prescrição para
ingressar com ação indenizatória proveniente da relação de emprego deve respeitar o
que preconiza o artigo 7º, XXIX da CF/88 e o artigo 11 da CLT.
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6. Dano moral e patrimonial
A importância da conceituação do dano moral e material/patrimonial é crucial
para a constatação dos requisitos do dever de indenizar e ter noção, aproximada, do
numerário suficiente para punir, em caráter pedagógico, quem praticou o ato ilícito e
evitar o enriquecimento sem causa da vítima.
Como é de sabença geral, o dano patrimonial atinge o patrimônio, implicando
na lesão aos bens materiais sujeitos à avaliação econômica, levando a redução em
valores econômicos e o dano moral atinge a intimidade, a honra, a imagem e dignidade
das pessoas.
Parte da doutrina distingue os danos materiais dos danos patrimoniais,
sustentando que este abrange tantos os bens corpóreos, com valor econômico
suscetível de apropriação, como os bens incorpóreos, entre os quais situa o direito
autoral, suscetível de valor econômico.
Por tal razão o artigo 114 da CF/88 utiliza a expressão patrimonial devido a sua
abrangência vez que o patrimônio de uma pessoa não é constituído apenas de bens
materiais.
O dano material ainda abrange os danos emergentes, aqueles que traduzem
pelso gastos feitos pela vítima que deverão ser ressarcidos pelo autor do dano e lucros
cessantes que constituem nas vantagens que a vítima deixou de auferir durante certo
período em virtude do dano.
Tem-se que ter em mente que, em determinadas situações, o dano moral ou o
estético tem conseqüências patrimoniais conexas à lesão principal, que é de natureza
moral, portanto é passível a cumulação de danos morais e materiais provenientes do
mesmo fato como pacificado pela Sumula 37 do STJ que admite tal cumulação.
O dano moral consiste em tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana,
ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou
reconhecidos pela sociedade em que está integrado, propiciando dor, angústia,
sofrimento, tristeza, em suma, causando desequilíbrio da normalidade psíquica,
traumas emocionais, depressão ou desgaste psicológico.
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Todavia devido a dificuldade na aferição do dano, durante muito tempo, houve
rejeição à idéia de reparação pecuniária do bem lesado, pois seria impossível, e mesmo
imoral, estipular o “preço da dor”, justamente porque o dinheiro não restabeleceria a
situação ao status quo ante, mas, também, não poderia restar impune.
Por tal razão, a fim de isentar indevidamente alguns atos lesivos, devem estar
presentes os requisitos para a concessão de indenização pelos danos morais e
materiais, quais sejam, o nexo de causa entre o ato, omissivo ou comissivo, e os danos
dele decorrentes.
As terríveis dificuldades para quantificação do dano moral, isto é, da
mensuração pecuniária da indenização respectiva, permanecem. O Código Civil de
2002 não trouxe soluções.
Opina YUSSEF SAID CAHALI1 que: “Inexistentes parâmetros legais para o
arbitramento do valor da reparação do dano moral, a sua fixação se faz mediante
arbitramento, nos termos do art. 1.553 do CC. À falta de indicação do legislador, os
elementos informativos a serem observados nesse arbitramento serão aqueles
enunciados a respeito da indenização do dano moral no caso de morte de pessoa da
família, de abalo da credibilidade e da ofensa à honra da pessoa, bem como do dote a
ser constituído em favor da mulher agravada em sua honra, e que se aproveitam para
os demais casos.”
Para CARLOS ALBERTO BITTAR2, “Diante da esquematização atual da
teoria em debate, são conferidos amplos poderes ao juiz para a definição da forma e da
extensão da reparação cabível, em consonância, aliás, com a própria natureza das
funções que exerce no processo civil (CPC, arts. 125 e 126). Com efeito, como
julgador e dirigente do processo, pode o magistrado ter conhecimento direto das
partes, dos fatos e das respectivas circunstâncias, habilitando-se, assim, à luz do direito
aplicável, a definir, de modo mais adequado, a reparação devida no caso concreto.”
Assim, antevendo dificuldade para mensurar o dano, o legislador, por exemplo,
1 SAID CAHALI, Yussef. Dano Moral, 3 Edição. São Paulo. Ed. Revista dos Tribunais, 2007, p.201. 2 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação por Danos Morais. 3 Ed. São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 1999, p.127.
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nos artigos 953 e 954 do Código Civil, determinou que o juiz fixasse equitativamente
a indenização, levando em conta às circunstâncias do caso, como a capacidade
econômica das partes, dimensionamento e repercussões da lesão moral, gravidade da
culpa, intenção de prejudicar, caráter irreversível da lesão etc.
Tal entendimento também abarca as questões trabalhistas, posto que, não
obstante inexistir previsão legal, os demais compêndios aplicam-se de forma
subsidiária a esta justiça especializada, devendo eventual condenação de cunho
indenizatório respeitar sempre os princípios constitucionais da proporcionalidade, da
razoabilidade e do juízo de equidade.
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CAPITULO 3
TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL
7. Responsabilidade do empregador segundo o Código Civil
De acordo com o novo ordenamento jurídico, a responsabilidade civil do
Empregador por ato causado por empregado, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele, deixou de ser uma hipótese de responsabilidade civil
subjetiva, com presunção de culpa (Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal), para se
transformar em uma hipótese legal de responsabilidade civil objetiva.
Isso porque, segundo Sérgio Cavalieri Filho3 o empregado seria apenas o
instrumento, um longa manus do patrão, alguém que o substitui no exercício de
múltiplas funções empresariais, por lhe ser impossível desincumbir-se pessoalmente
delas.”
A idéia de culpa, na modalidade in eligendo, tornou-se legalmente irrelevante
para se aferir a responsabilização civil do empregador, propugnando-se pela mais
ampla ressarcibilidade da vítima, o que se mostra perfeitamente compatível com a
vocação de que o empregador deve responder pelos riscos econômicos da atividade
exercida.
E essa responsabilidade é objetiva, independentemente de quem seja o sujeito
vitimado pela conduta do empregado, pouco importando que seja um outro empregado
ou um terceiro ao ambiente laboral.
Atualmente, vê-se que a responsabilidade do empregador é teoricamente
justificada pela teoria do risco-proveito ou do risco da empresa.
Por tal fato, o Código Civil de 2002, em seu artigo 927 do CC, optou pela
responsabilidade objetiva cujo fundamento é o dever de segurança do empregador ou
preponente em relação àqueles que lhe prestam serviços.
3 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p.209
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8. Responsabilidade do empregador por atos de seus prepostos ou empregado.
Uma das relações jurídicas mais complexas da sociedade moderna é, sem
sombra de qualquer dúvida, a relação de trabalho subordinado, tendo em vista que o
próprio ordenamento jurídico reconhece a desigualdade fática entre os sujeitos, em
uma situação em que um deles se subordina juridicamente, de forma absoluta,
independente da utilização ou não da energia colocada à disposição.
Por tal razão, o sistema normativo destina ao pólo hipossuficiente uma
proteção maior na relação jurídica de direito material trabalhista, concretizando, no
plano ideal, o princípio da isonomia, desigualando os desiguais na medida em que se
desigualem.
Nesse diapasão, a questão se torna ainda mais complexa, quando se trata da
aplicação das regras de responsabilidade civil nesse tipo de relação jurídica
especializada justamente porque tem-se que ter em mente os fatores que caracterizam
essa relação jurídica, qual seja, a relação de emprego que consiste no fato de um dos
contratantes aplicar sua atividade pessoal na consecução de um fim desejado pelo
outro, ou seja, há traços de subordinação de um contratante (o prestador da atividade)
ao outro (o apropriador do resultado).
Os elementos essenciais indispensáveis para a configuração da relação de
emprego são:
a) Pessoalidade: o contrato de emprego é estabelecido intuito personae,
havendo sua descaracterização quando o trabalhador (expressão aqui utilizada na sua
acepção mais genérica) puder se fazer substituir por outro, independentemente da
manifestação de vontade da parte contrária;
b) Onerosidade: o contrato de trabalho subordinado, definitivamente, não é
gratuito, devendo haver sempre uma contra-prestação pelo labor desenvolvido. A
ausência de tal retribuição, quando não for a hipótese de inadimplemento contratual,
inferirá algum outro tipo de avença, como, por exemplo, o trabalho voluntário;
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c) Permanência ou não-eventualidade: nesse requisito, entenda-se a idéia de
habitualidade na prestação laboral. Para a presença desse elemento, não se exige o
trabalho em todos os dias da semana, mas, sim, tão somente, com uma periodicidade
razoável;
d) Subordinação: trata-se do estado em que se coloca o empregado perante o
empregador, quando, por força do contrato individual, põe sua energia pessoal à
disposição da empresa para a execução dos serviços necessários aos seus fins. a
vinculação contratual da relação de emprego é absoluta. Exatamente porque
corresponde a um estado (status subjectionis) assumido pelo empregado, em razão da
celebração do contrato e independentemente de prestar ou não o trabalho, é que a
doutrina se fixou na qualificação de jurídica para explicar sua natureza, ressaltando-se
que a ausência de subordinação econômica ou técnica é irrelevante, por si só, para
afastar o vínculo empregatício. Como, por exemplo, no caso do professor
universitário, que não depende do salário da instituição de ensino para sobreviver, nem
precisa de seu empregador para aprender o seu ofício.
Além desses quatro elementos, há outros dois, acidentais, que, embora não
sejam imprescindíveis para a caracterização da relação de emprego, auxiliam na sua
diagnose, por permitir que se infira a presença dos elementos essenciais.
São eles:
a) Continuidade: trata-se da permanência levada a grau absoluto, ou seja, não
somente o trabalho com habitualidade, mas também em todos os dias da semana,
observados os repousos obrigatórios. Embora muitas vezes presente, não é essencial
para o reconhecimento da relação contratual prevista na Consolidação das Leis do
Trabalho, embora o seja, segundo parte da doutrina e jurisprudência, para o vínculo
empregatício doméstico;
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b) Exclusividade: embora nada impeça a existência de múltiplos e simultâneos
contratos de trabalho, não há como se negar que a prestação exclusive auxilia na
diagnose dos elementos pessoalidade e subordinação jurídica para a caracterização do
vínculo empregatício.
Os seus dois sujeitos fundamentais são Empregado e Empregador cujo os
respectivos conceitos têm previsão legal previstas nos artigos da CLT, quais sejam:
"Art. 3º. Considera-se empregado toda pessoa física que
prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a
dependência deste e mediante salário
Parágrafo único. Não haverá distinções relativas à
espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o
trabalhador intelectual, técnico e manual."
"Art. 2º. Considera-se empregador a empresa, individual
ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços
1º. Equiparam-se ao empregador, para os efeitos
exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as
instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras
instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores
como empregados.
2º. Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora,
cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a
direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo
industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica,
serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas".
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Da breve leitura percebe-se que a figura que deve assumir os riscos da
atividade econômica (ou mesmo os riscos econômicos da atividade) é o empregador, e
não o empregado, que se subordina juridicamente, de forma absoluta, ao poder
patronal de direção.
Nesse contexto, parte-se da premissa básica para entender a responsabilidade
civil nas relações de trabalho subordinado.
Atualmente sabe-se que de acordo com o novo ordenamento jurídico, a
responsabilidade civil do Empregador por ato causado por empregado, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele, deixou de ser uma hipótese de
responsabilidade civil subjetiva, com presunção de culpa (Súmula 341 do Supremo
Tribunal Federal), para se transformar em uma hipótese legal de responsabilidade civil
objetiva.
A idéia de culpa, na modalidade in eligendo, tornou-se legalmente irrelevante
para se aferir a responsabilização civil do empregador, propugnando-se pela mais
ampla ressarcibilidade da vítima, o que se mostra perfeitamente compatível com a
vocação de que o empregador deve responder pelos riscos econômicos da atividade
exercida.
E essa responsabilidade é objetiva, independentemente de quem seja o sujeito
vitimado pela conduta do empregado, pouco importando que seja um outro empregado
ou um terceiro ao ambiente laboral (fornecedor, cliente, transeunte etc).
Tem-se que ressaltar que a incidência da Responsabilidade civil nas relações
de trabalho se refere não aos danos causados pelo empregado, in casu, o sistema
positivado adotou a teoria da responsabilidade civil objetiva, mas sim aos danos
causados ao empregado, nesta hipótese, porém, não há uma norma expressa a
disciplinar o problema, pelo que a resposta deve ser encontrada dentro do sistema
normativo.
E, sendo assim, a resposta dependerá das circunstâncias em que esse dano for
causado. Se esse dano decorrer de ato de outro empregado, a responsabilização, como
já explicitado, será objetiva, cabendo ação regressiva contra o agente, nos casos de
dolo ou culpa.
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Já na hipótese de dano causado por um terceiro, ainda que no ambiente de
trabalho, pode-se afirmar que, na regra geral, a responsabilidade civil continua a ser
subjetiva, somente se não houver a quebra do nexo causal, excluindo, nesse caso
específico, a culpa do empregado somente se não tiver concorrido com o dano.
Isso porque a nova regra da parte final do parágrafo único do art. 927 do CC-
2002 estabelece uma responsabilidade civil objetiva, quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
Tal regra parece ser feita sob medida para relações empregatícias, pois, como
já exposto, é o empregador que deve assumir os riscos da atividade econômica,
devendo, portanto, assumir os ilícitos provocados por seus empregados e/ou prepostos,
sendo essencial, também, que haja prova dos três elementos caracterizadores da
responsabilidade civil. E, além da ausência de qualquer excludente de
responsabilidade, mesmo não tendo o empregado lesionado de provar a culpa do
empregador, quando aquele dano já era potencialmente esperado.
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9. Responsabilidade Civil do empregado em face do empregador
A redação do art.934 do Código Civil brasileiro de 2002 enseja o direito de
regresso daquele que ressarciu o dano causado por outrem.
No campo das relações de trabalho, contudo, o dispositivo deve ser
interpretado em consonância com o art.462 da Consolidação das Leis do Trabalho, que
dispõe, in verbis:
"Art. 462. Ao empregador é vedado efetuar qualquer
desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar
de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.
1º. Em caso de dano causado pelo empregado, o
desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido
acordada ou na ocorrência de dolo do empregado."
Assim, para que o empregador possa descontar valores referentes a danos
causados culposamente pelo empregado, será necessária a pactuação específica, seja
prévia, seja quando da ocorrência do evento danoso, o que é dispensável, por medida
da mais lidima justiça, no caso de dolo.
É óbvio que tal avença poderá ser objeto de controle judicial, em caso de
ocorrência de qualquer vício que leve à invalidade do negócio jurídico, como, por
exemplo, a coação psicológica para a obtenção de tal documento.
Da mesma forma, o elemento anímico deverá ser comprovado pelo
empregador, evitando abusos que importariam na transferência do risco da atividade
econômica para o empregado.
Mais importante, porém, é o fato de que essa regra compatibiliza o caráter
intuitivo que deve disciplinar toda norma trabalhista com a rígida regra de direito de
que a ninguém se deve lesar, não se chancelando, pela via estatal, a irresponsabilidade
de trabalhadores, enquanto cidadãos, pelos atos danosos eventualmente praticados.
26
Por tal razão, configurada a culpa exclusiva do empregado pela prática de ato
ilícito, este deve responder pelos atos por ele praticados, momento este que se enfoca a
responsabilidade subjetiva e não a responsabilidade objetiva do empregador.
Todavia, caso haja a hipótese de se admitir a novel regra legal que prevê a
responsabilidade objetiva do empregador pelos danos causados pelo empregado, não
há óbice para que a pretensão indenizatória seja direcionada em face do empregado,
fulcrada na idéia de responsabilidade civil subjetiva, ou, melhor ainda, diretamente
contra os dois sujeitos, propugnando por uma solução integral da lide.
Aplica-se nesta hipótese o instituto da Denunciação à lide ou do litisconsórcio,
medida esta em consonância ao princípio constitucional da economia processual e
admitida pela Justiça do Trabalho, após a Emenda Constitucional de 45/2004, pois
permite verificar, desde já, todos os campos de responsabilização em uma única lide,
evitando sentenças contraditórias.
No caso da denunciação da lide, conforme ensina Manoel Antonio Teixeira
Filho4, "traduz a ação incidental, ajuizada pelo autor ou pelo réu, em caráter
obrigatório, perante terceiro, com o objetivo de fazer com que este seja condenado a
ressarcir os prejuízos que o denunciante vier a sofrer, em decorrência da sentença, pela
evicção, ou para evitar posterior exercício da ação regressiva, que lhe assegura a
norma legal ou disposição do contrato".
Esta forma de intervenção de terceiros está prevista no art. 70 do vigente
Código de Processo Civil brasileiro, que dispõe, in verbis:
"Art. 70 - A denunciação da lide é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a
coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta
possa exercer o direito que da evicção lhe resulta;
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por
4 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Litisconsórcio, Assistência e Intervenção de Terceiros no Processo do Trabalho. 3 Ed. Ed. LTR. P.93.
27
força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário,
do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome
próprio, exerça a posse direta da coisa demandada;
III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo
contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que
perder a demanda."
A única hipótese que interessa ao campo das relações de trabalho é a terceira
hipótese (obrigação, pela lei ou pelo contrato, de indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda) pode ser perfeitamente aplicável em um litígio
dessa natureza.
Na prática, pode-se citar como o exemplo o fato do empregador ter sido
acionado sob a alegação de que uma empregada tenha sido assediada sexualmente por
um colega de trabalho.
Em função dos danos materiais e morais causados por tal empregado, na sua
atividade laboral, deve a empregadora responder objetivamente, se provados todos os
três elementos indispensáveis para a caracterização da responsabilidade civil, sem
quebra do nexo causal.
Nesse caso, baseando-se no já mencionado art. 462 da Consolidação das Leis
do Trabalho, é plenamente cabível a responsabilização regressiva do empregado.
Contudo, para que não haja demora no ressarcimento da vítima e que não
hajam decisões contraditórias sobre os mesmo fatos, faz-se necessário a denunciação a
lide, garantindo-se, assim, uma resolução integral da demanda, possibilitando uma
maior celeridade na efetiva solução do litígio e uma economia processual no sentido
macro da expressão.
Até mesmo se tal ação foi ajuizada na Justiça do Trabalho, não haverá motivo
razoável para se afastar a intervenção de terceiros, pois a regra de competência
material do art. 114 da Constituição Federal de 1988 estará sendo estritamente
observada, uma vez que teremos, sempre, demandas entre trabalhadores e
empregadores.
28
10. Responsabilidade civil do empregador em relações triangulares –
Terceirização.
O tema em questão é abordado por se tratar de um fenômeno da modernidade,
qual seja, a TERCEIRIZAÇÃO, razão pela qual é importante tecer algumas
considerações sobre a responsabilidade civil nas relações triangulares de trabalho.
Na prática, o instituto da terceirização trata-se de uma dúplice relação jurídica,
em que um sujeito contrata os serviços de outro, em um pacto de natureza civil, e este
último contrata empregados, que trabalham em atividades relacionadas com o tomador
de serviços.
A responsabilidade patrimonial para os créditos trabalhistas dos empregados é
de quem é o sujeito da relação obrigacional, qual seja, seu empregador, no caso, o
prestador de serviços.
Todavia, a jurisprudência trabalhista, consagrando uma hipótese didática de
obligatio sem debitum, construiu e acolheu a tese da responsabilidade civil subsidiária
do tomador de serviços pelos débitos trabalhistas do prestador, estando à matéria
sumulada através do Enunciado 331 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, que
taxativamente diz:
"Enunciado nº 331:
Contrato de Prestação de Serviços - Legalidade -
Revisão do Enunciado nº 256
I - A contratação de trabalhadores por empresa
interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o
tomador dos serviços, salvo nos casos de trabalho temporário
(Lei nº6019, de 03.01.1974).
II- A contratação irregular de trabalhador, através de
empresa interposta não gera vínculo de emprego com os órgãos
29
da Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional
(art.37, II, da Constituição da República).
III- Não forma vínculo de emprego com o tomador a
contratação de serviços de vigilância (Lei 7102 de 20.06.1983),
de conservação e limpeza, bem como a de serviços
especializados ligados a atividade meio do tomador, desde que
inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por
parte do empregador, implica na responsabilidade subsidiária do
tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive
quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das
fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de
economia mista, desde que hajam participado da relação
processual e constem também do título executivo judicial
(artigo 71 da lei nº 8.666/93)."
Diante do exposto, a incidência normativa a ser procedida é a do inciso IV do
Enunciado nº 331 do colendo Tribunal Superior do Trabalho, com a fixação da
responsabilidade patrimonial subsidiária da tomadora de serviços, caso não sejam
encontrados bens da prestadora demandada para responder aos créditos eventualmente
reconhecidos nesta decisão.
Assim sendo, mesmo atendidos os requisitos do regular procedimento
licitatório, a responsabilidade subsidiária da administração pública, pelos débitos
trabalhistas das empresas terceirizantes, deve prevalecer, o que ora se reconhece.
A idéia dessa responsabilização é com base em uma culpa in eligendo do
tomador de serviços, na escolha do prestador, bem como in vigilando da atividade
exercida, aplicando-se analogicamente outras disposições da legislação trabalhista,
como, por exemplo, o art. 455 da Consolidação das Leis do Trabalho.
30
E essa regra jurisprudencial, concebida para créditos trabalhistas stricto sensu,
certamente é aplicável para as regras de responsabilidade civil sob o fundamento do
mesmo dispositivo que alberga a regra de responsabilidade civil objetiva do
empregador por ato dos seus empregados, qual seja, o art. 932, III, do CC-2002:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
(...)
III - o empregador ou comitente, por seus empregados,
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele;
Ora, percebe-se que ao terceirizar a atividade antes destinada à tomadora,
elegeu esta um determinado sujeito - pessoa física ou jurídica – para exercer a
atividade em seu lugar, ou seja, aquela atividade-meio desempenhada realiza-se como
se feita pela tomadora.
Por tal razão, pode-se citar como exemplo, o fato de um determinado
restaurante terceirizar o serviço de manobrista de seus clientes. Nesta ocasião, o
restaurante deve responder, juntamente com o empregador do manobrista, pelos danos
causados ao consumidor, no exercício dessa função.
O importante é ter em mente que a novidade é legal, mas na prática não se trata
de uma novidade no sistema, mas, sim, da consagração da idéia de que se deve
propugnar sempre pela mais ampla reparabilidade dos danos causados, não permitindo
que aqueles que usufruem dos benefícios da atividade não respondem também pelos
danos causados por ela.
31
CAPITULO 4
ACIDENTE DE TRABALHO
11.Responsabilidade do empregador por acidente de trabalho.
O cumprimento do contrato de trabalho pode dar origem a lesões de segurança
ou saúde do trabalhador dentre elas a proveniente do acidente de trabalho.
O art. 19 da atual Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, conceitua acidente de
trabalho, o que ora se transcreve:
"Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo
exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do
trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11
desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho." (g.n)
Logo, pode-se afirmar que o acidente do trabalho é aquele acontecimento
mórbido, relacionado diretamente com o trabalho, capaz de determinar a morte do
obreiro ou a perda total ou parcial, seja por um determinado período de tempo, seja
definitiva, da capacidade laboral.
Ou seja, integram-se ao conceito jurídico de acidente do trabalho os seguintes
pressupostos:
a) a perda ou redução da capacidade laborativa;
b) o fato lesivo à saúde física ou mental do trabalhador;
c) o nexo etiológico entre o trabalho desenvolvido e o acidente, e entre este
último e a perda ou redução da capacidade laborativa.
32
Com a ocorrência do acidente de trabalho surgem três tipos de
responsabilização, quais sejam:
1) a primeira é uma responsabilização contratual, com a eventual suspensão do
contrato de trabalho e o reconhecimento da estabilidade acidentária prevista no art.
118 da Lei 8.213/91.
2) a segunda é o benefício previdenciário do seguro de acidente de trabalho,
financiado pelo empregador, mas adimplido pelo Estado.
3) a terceira e polêmica, tem natureza puramente civil, e consiste na reparação
dos danos prevista no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal de 1988, nos seguintes
termos, in verbis:
"Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado,
quando incorrer em dolo ou culpa."(g.n)
Ou seja, como já mencionado, o artigo constitucional supracitado exige a
comprovação de culpa ou dolo do empregador para impor-lhe a obrigação de
indenizar, fundado na responsabilidade subjetiva, do qual o legislador
infraconstitucional não se pode afastar.
Ademais, uma lei ordinária não poderia simplesmente desconsiderar requisitos
previamente delineados em norma constitucional, a qual, além de se situar em grau
superior, serve como o seu próprio fundamento de validade.
Assim, pode-se concluir que o artigo 927 do Código Civil não se sobrepõe ao
preceito constitucional previsto no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal de 1988,
até porque, se assim o constituinte quisesse, reconheceria a responsabilidade objetiva
33
de forma explícita. Portanto, remanesce o princípio da culpa.
Todavia, os entendimentos dos Tribunais não vislumbram a matéria de forma
tão simples, até porque, sabe-se que o empregado é parte hipossuficiente da relação de
emprego e, portanto, não subentendem-se que não possui condições de provar, em sua
integralidade, os fatos constitutivos do seu direito.
De fato, não há como negar que, como regra geral, indubitavelmente a
responsabilidade civil do empregador, por danos decorrentes de acidente de trabalho, é
subjetiva, devendo ser provada alguma conduta culposa de sua parte, em alguma das
modalidades possíveis, incidindo de forma independente do seguro acidentário, pago
pelo Estado.
Contudo, indaga-se como o empregador, pela atividade exercida e pela teoria
do risco do empreendimento/negócio, responde objetivamente pelos danos causados,
mas, em relação a seus empregados, por causa de danos causados justamente pelo
exercício da mesma atividade que atraiu a responsabilização objetiva, teria um direito
a responder subjetivamente?
Assim, devido a esta questão tão contraditória, o Poder Judiciário tem
concluído pela responsabilidade objetiva dos empregadores quando da ocorrência de
acidente de trabalho.
Contudo, antes de adentrarmos ao profundo mérito da questão, se faz
necessário transcorrer sobre a evolução do sistema indenizatório e de responsabilidade
pelo infortúnio laboral no Brasil.
11.1. DE 1822 ATÉ 1967
Segundo Maria Helena Diniz5, a responsabilidade é o "dever jurídico de
responder por atos que impliquem dano a terceiro ou violação de norma jurídica".
A teoria da culpa ou da responsabilidade subjetiva, segundo a qual o
5 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. vol. 4. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 170.
34
empregado deve provar que a culpa pelo acidente de trabalho é do empregador,
prevaleceu no Brasil desde a Proclamação da Independência (Ordenações Filipinas)
até 1919, já na vigência do Código Civil de 1916 (artigo 159).
Durante o período de vigência dessa teoria para os casos de acidente de
trabalho, muito raramente havia qualquer reparação ao trabalhador acidentado, que se
via diminuído em sua integridade física e também alijado do mercado de trabalho, sem
qualquer fonte de renda para si e para sua família.
Os motivos eram bastante simples, como bem relata Helder Martinez Dal Col6:
"Todos os documentos relacionados à empresa, aos
meios de produção, aos procedimentos operacionais e demais
registros encontravam-se em poder do empregador. As
testemunhas do fato quase sempre mantinham com aquele uma
vinculação de dependência econômica e subordinação, o que
possibilitava mecanismos de pressão psicológica para evitar que
qualquer pessoa depusesse em desfavor da empresa."
Desse cenário de absoluta injustiça para o trabalhador acidentado, evoluiu-se
no Brasil para a teoria do risco profissional, segundo a qual a responsabilidade pelo
acidente de trabalho é objetiva, isto é, independe da comprovação de culpa do
empregador. A reparação indenizatória passa a ser devida ao empregado em qualquer
circunstância em que o acidente tenha ocorrido. Tal se deu com a edição da Lei nº
3.724, de 1919.
Mister consignar que, antes do advento da adoção da teoria do risco
profissional, surgiu na França e na Bélgica, de autoria de Sauzet e Sainctelette,
respectivamente, a teoria do contrato. Segundo essa teoria, que não chegou a ser
instituída no ordenamento jurídico brasileiro, apesar de algumas inclinações
6 DAL COL, Helder Martinez. Responsabilidade civil do empregador: acidentes do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
35
jurisprudenciais, cabia ao empregador zelar pela segurança do empregado, por força
do vínculo laboral. A idéia era que o empregado deveria ser restituído, ao final da
jornada de trabalho, com as mesmas condições físicas que possuía antes de iniciá-la.
Assim, a ocorrência de acidente no local de trabalho importava na presunção relativa
da culpa do empregador.
Em 15.1.1919, portanto, é editada no Brasil a Lei nº 3.724, que, além de ser a
primeira legislação a tratar especificamente de acidente de trabalho no país, adotou a
teoria da responsabilidade objetiva do empregador.
A teoria fundamenta-se na circunstância de que o empregador beneficia-se do
trabalho do empregado, expondo-o a certos riscos. Nada mais justo, por conseguinte,
que, em contrapartida, o operário seja indenizado pelo empregador caso venha a sofrer
acidente de trabalho.
Desse modo, não era mais necessário discutir de quem foi a culpa pelo acidente
de trabalho. O dever de reparar passou a ser imposto ao empregador, tratando-se de
"responsabilidade fundada no risco, sendo irrelevante a conduta culposa ou dolosa do
causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo
sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar"7.
Logo os empregadores instituíram o seguro de acidentes de trabalho, de
natureza privada. As seguradoras, por sua vez, criaram uma tabela, onde foram
arbitrariamente estabelecidos os valores de indenização, a depender da gravidade do
acidente. Não importava se a reparação não fosse plena ou se a incapacidade fosse
permanente.
A teoria do risco profissional vigorou no Brasil até 1967. Entre 1919 e 1967
vigoraram ainda os Decretos-Lei 24.637/34, 7.036/44 e 293/67, que resultaram,
respectivamente, na ampliação dos beneficiários do seguro acidentário; na faculdade
de acumulação da indenização acidentária (cujo patamar era previsto no próprio
Decreto-Lei nº 7.036/44) com prestações da previdência social e indenização do
direito comum, na hipótese de dolo ou culpa grave do empregador (fundamento legal
da Súmula nº 229/STF, ainda vigente); e na faculdade de o Instituto Nacional da
7 DINIZ, Maria Helena. Op. cit.p.181.
36
Previdência Social – INPS operar na área de seguros acidentários, concorrentemente à
iniciativa privada.
Ainda nesse interregno, a Constituição de 1934 assegurou o direito à
previdência nos casos de acidente de trabalho (artigo 121, §1º, "h") e determinou a
instituição de seguro acidentário pelo empregador, imposição esta que foi mantida
pelas Cartas Magnas de 1946 e 1967.
11.2. DE 1967 ATÉ 2002
Em 14.9.1967, com o desenvolvimento da Seguridade Social no Brasil, é
editada a Lei nº 5.316, posteriormente regulamentada pelo Decreto nº 61.784/67. Essa
nova legislação retirou do empregador a responsabilidade pelo acidente do trabalho. O
fundamento da modificação foi o surgimento de uma nova teoria sobre
responsabilidade acidentária, intitulada teoria do risco social.
A idéia que permeia a teoria do risco social é a de que a responsabilidade pelos
riscos profissionais não é apenas do empregador, mas de toda a sociedade, que irá
contribuir coletivamente para seu custeio. Sustenta-se:
"Com efeito, não é apenas o empresário quem se
beneficia dos lucros e dos cômodos da atividade. A empresa
concorre para o desenvolvimento social coletivo. Gera
empregos, faz circular a produção, desenvolve novas técnicas e
produtos. É tributada e, de seu lucro, extrai-se significativa
parcela, na forma de impostos, que é direcionada ao custeio dos
serviços prestados pelo Estado a toda a população. Não pode,
portanto, o empregador, suportar sozinho todos os ônus da
atividade, simplesmente por ter objetivo de lucro. (...). A
empresa tem, portanto, uma função social e a sociedade financia
37
o seguro de acidentes, por intermédio da Previdência Social."8
Portanto, a partir da vigência da Lei nº 5.316/67, a responsabilidade objetiva
nos casos de acidente de trabalho passou a ser atribuída ao Estado, por intermédio da
Previdência Social, e não mais ao empregador. Um pouco mais tarde, a Emenda
Constitucional nº 1, de 1969, estabeleceu o direito ao seguro contra acidentes do
trabalho mediante contribuição da União, do empregador e do empregado (artigo 165,
XVI).
Entre as vantagens do sistema de indenização automática pelo Estado,
destacam-se a maior celeridade e a segurança de pagamento para a vítima, que não
mais precisa esperar anos na Justiça para receber a prestação mensal substitutiva de
sua remuneração.
Além disso, segundo a teoria do risco social, é irrelevante a culpa do
trabalhador, como já era na vigência da teoria do risco profissional. Quer isso dizer
que "mesmo em se tratando de culpa exclusiva do trabalhador, não ficará
desguarnecido de cobertura securitária, pois é beneficiário incondicional da
previdência social, cujo dever de indenização é objetivo. Nestes casos, o trabalhador
fica segurado contra sua própria conduta culposa".9
Sucederam-se as Leis 6.195/74 (que integrou o trabalhador rural ao regime da
Previdência Social - FUNRURAL) e 6.367/76 (regulação geral sobre acidentes do
trabalho), sem que houvesse inovação no sistema de responsabilidade acidentária no
Brasil.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, consagrou-se a
cumulatividade da reparação acidentária a cargo da Previdência Social
(responsabilidade objetiva) com a indenização devida pelo empregador nas hipóteses
de dolo ou culpa (responsabilidade subjetiva), como preconiza o artigo Art. 7º, inciso,
XXVIII da CF/88.
Outrossim, consoante o dispositivo supramencionado, a Lei Maior ainda
8 DAL COL, Helder Martinez. Responsabilidade Civil do empregador: acidente do trabalho, RJ, Forense, p.205. 9 DAL COL, Helder Martinez. Responsabilidade Civil do empregador: acidente do trabalho, RJ,
38
atribuiu ao empregador a exclusividade do financiamento do seguro acidentário e
eliminou a qualificação (grave) da culpa, prevista na Súmula nº 229 do Supremo
Tribunal Federal, no tocante à responsabilidade subjetiva.
Pouco tempo depois, as Leis 8.212/91 e 8.213/91 são editadas para estabelecer
as regras para o segurado ter direito aos benefícios da Previdência Social.
Frise-se que a Lei nº 8.213/91, que incorporou a legislação acidentária à
legislação de benefícios da Previdência Social, prevê em seu artigo 120 que, "nos
casos de negligência quanto às normas-padrão de segurança e higiene do trabalho
indicados para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação
regressiva contra os responsáveis".
Ademais, a referida Lei suso citada estabelece em seu artigo 86 o direito do
segurado ao auxílio-acidente mensal e vitalício (até a aposentadoria), correspondente a
50% (cinqüenta por cento) do salário-de-benefício, na hipótese de redução permanente
da capacidade de trabalho do segurado. Por seu turno, a Lei nº 8.212/91 fixou, entre
outros aspectos, os valores que são devidos pelo empregador para o financiamento dos
benefícios acidentários, o que ora é transcrito:
“Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à
Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: (...)
II - para o financiamento do benefício previsto nos arts.
57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles
concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade
laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o
total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês,
aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja
atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja
considerado leve;
Forense,p.173-174.
39
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja
atividade preponderante esse risco seja considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja
atividade preponderante esse risco seja considerado grave."
As legislações subseqüentes (Leis 9.032/95 e 9.528/97, Emenda Constitucional
nº 20/98 e Decreto-Lei nº 3.048/99), apesar de abordarem diversos aspectos
pertinentes à Previdência Social, mantiveram a sistemática de responsabilidade
acidentária prevista na Lei Maior, até o advento do Código Civil de 2002.
11.3. O ADVENTO DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
A controvérsia relativa à qualificação da responsabilidade do empregador pelo
acidente de trabalho ressurgiu recentemente, com a edição do Código Civil de 2002,
cuja vigência deu-se a partir de 10 de janeiro de 2003.
O dispositivo que resgatou a discussão em torno do tema consigna:
"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.”
Como mencionado anteriormente, diante da controvérsia existente, os
operadores jurídicos prontamente identificaram no parágrafo único do artigo 927 do
Código Civil de 2002 a solução para reverter esse cenário: a responsabilidade do
empregador, com a vigência do Novo Código Civil, teria se tornado objetiva, isto é,
independentemente da comprovação de culpa.
É desnecessário mencionar novamente o apuro do hipossuficiente na busca de
40
produzir as provas de culpa do seu empregador pelo acidente de trabalho sofrido.
Consoante registro anterior, tal aspecto culminou com a edição da Lei nº 3.724 em
1919.
As dificuldades dessa interpretação do ordenamento jurídico nacional,
contudo, já se iniciam a partir de uma leitura atenta do próprio parágrafo único do
artigo 927 do Código Civil de 2002, o qual prevê que a atividade criadora de risco
deve ser a preponderante do empregador, e não aquela realizada pelo empregado.
Assim, mesmo quando a função do empregado for perigosa, se a atividade
normalmente desenvolvida pelo empregador não for, não haverá que se falar em
responsabilização independentemente de culpa.
Se a intenção do legislador foi ou não essa, o fato é que, da forma como está
redigido o preceito legal, somente nas hipóteses de acidente sofrido no exercício de
atividade precípua e naturalmente perigosa do empregador haverá responsabilidade
objetiva.
Frise-se, outrossim, que o Código Civil de 2002 não especificou quais
atividades poderiam ser consideradas naturalmente perigosas. Portanto, esse aspecto
deverá ser estabelecido pela jurisprudência.
Apesar dessa primeira dificuldade em prol do reconhecimento da
responsabilidade objetiva do empregador na totalidade dos casos de acidente de
trabalho, é imprescindível ter ciência de que o parágrafo único do artigo 927 do
Código Civil não prevalece frente ao artigo 7º, XXVIII, da Constituição Federal haja
vista o princípio da supremacia da Constituição rígida frente às normas
infraconstitucionais, consagrada no ordenamento jurídico pátrio.
E mais, cumpre ressaltar que a doutrina defende, em sua maioria, pela
compatibilidade entre os artigos 927 do Código Civil e o artigo 7º, XXVIII, da CF/88
justamente porque o preceito constitucional está inserido no rol de garantias mínimas
do trabalhador e, por isso, não há impedimento constitucional a que determinada
legislação infraconstitucional consagre uma responsabilidade maior do empregador
nas hipóteses acidentárias. O que não poderia ocorrer seria o contrário, isto é,
autorizar-se que uma lei ordinária prevalecesse frente à Constituição, prejudicando
justamente os valores que a Carta Magna buscou preservar, qual seja, o valor social do
41
trabalho, da dignidade da pessoa humana etc.
Desta forma, com a evolução histórica do sistema de responsabilidade
acidentária no Brasil evidencia que a responsabilidade objetiva, vigente de 1919 até
1967, visou à proteção do trabalhador enquanto alijado completamente de qualquer
política pública que o protegesse na hipótese de incapacidade total ou parcial para o
trabalho.
De fato, nesse período, se algum acidente incapacitasse sua força laboral, o
trabalhador e sua família seriam relegados à fome e à rua. Não havia um regime de
Previdência Social que o albergasse na hipótese do infortúnio laboral, razão pela qual
era plenamente justificável a previsão legal da responsabilidade objetiva do
empregador.
Atualmente, porém, a Previdência Social assegura, entre outros, os seguintes
benefícios para o trabalhador acidentado: auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente
e aposentadoria por invalidez.
E não é só, tem-se que o sistema de responsabilidade acidentária vigente no
país ancora-se justamente na teoria do risco social, que considera de modo especial
essa vantagem coletiva.
Considere-se, ainda, que o modelo atual determina a responsabilidade objetiva
da Previdência Social nos casos de acidente de trabalho. Desse modo, mesmo se vier a
ser comprovada a culpa exclusiva do empregado, a Autarquia Federal deverá pagar o
benefício ao segurado acidentado.
Por tais motivos, conclui-se que a responsabilidade objetiva do empregador por
acidente de trabalho passou a ter força com a vigência do Código Civil de 2002, já
que, em regra, durante a evolução histórica, a responsabilidade era subjetiva.
Dizer que a responsabilidade do empregador nos acidentes de trabalho é
subjetiva, isto é, dependente da comprovação de culpa patronal, não significa que não
se possa presumir a culpa do empregador pelo infortúnio laboral. Ou seja, ao se
presumir a culpa do empregador, o que se faz é exigir dele, e não mais do subordinado
jurídico que se acidentou, a comprovação do cumprimento da legislação de saúde e
segurança no trabalho. Apenas isso. Não se trata de exigir do empregador a produção
de prova negativa, já que os cuidados com o ambiente de trabalho, a manutenção de
42
máquinas, o treinamento do empregado, a exigência de utilização de equipamentos de
proteção individual são fatos facilmente comprovados mediante documentos que são
especificamente produzidos para esses fins ou por intermédio da produção de prova
testemunhal facilmente obtida, considerando-se que as testemunhas serão os próprios
empregados da empresa-ré.
Sob outro prisma, quando não se adota o modelo da culpa presumida do
empregador, o trabalhador é quem deve produzir a prova testemunhal, pois não possui
acesso aos documentos da empresa. Essa exigência, com a máxima vênia, é
extremamente prejudicial ao hipossuficiente, já que as testemunhas, em geral, são
empregadas do Reclamado e, num contexto de desemprego alarmante, sentem-se
psicologicamente pressionadas a não depor em desfavor de seu empregador, o que
poderia prejudicar, senão seu emprego, sua carreira profissional.
Ademais, quando o trabalhador acidentado consegue uma testemunha
destemida para depor, na maioria das vezes ela desconhece os detalhes que a
legislação de saúde e segurança no trabalho exige do empregador, podendo relatar, no
máximo, o não-fornecimento ou a não-fiscalização da utilização de equipamentos de
proteção individual, ou ainda a ausência de treinamento.
De outro lado, a justificar o modelo da culpa presumida está a obrigatoriedade
legal que tem o empregador de evitar a ocorrência do acidente de trabalho. Tal o que
determina o artigo 157 da CLT, in verbis:
"Art. 157. Cabe às empresas:
I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e
medicina do trabalho;
II – instruir os empregados, através de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar
acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
III – adotar as medidas que lhes sejam determinadas
pelo órgão regional competente;
IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade
competente." (g.n)
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O simples fato de o empregador contribuir sozinho para o Seguro de Acidentes
de Trabalho – SAT, fonte do direito ao benefício previdenciário acidentário, não é
suficiente para reparar o acidente que, além de incapacitar, mutila o empregado física e
psicologicamente.
Outrossim, o empregado afastado pelo Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS em decorrência do acidente de trabalho percebe apenas 91% (noventa e um por
cento) de seu salário-de-contribuição, menos, portanto, que sua remuneração na
empresa, e ainda deverá desembolsar numerário com deslocamentos, medicamentos e
consultas médicas.
Com efeito, o intuito da legislação de segurança e saúde no trabalho, prevista
na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, nas Normas Regulamentares do
Ministério do Trabalho e Emprego e nas Convenções da Organização Internacional do
Trabalho adotadas pelo Brasil, é o de prevenir os acidentes de trabalho, preservando,
com isso, a saúde e a integridade física e psíquica do trabalhador.
Ao descumprir as referidas normas, o empregador incorre em contravenção
penal, devendo arcar com o pagamento de multa, prevista tanto no artigo 19, §2º, da
Lei nº 8.213/91, quanto no artigo 201 da CLT.
E mais, se ocorrer um acidente de trabalho por negligência do empregador,
caberá ao INSS promover ação regressiva relativa aos valores pagos em favor do
segurado acidentado, a título de auxílio-doença acidentário. Ainda, a depender da
gravidade do acidente, responderá o empregador por homicídio, tentativa de
homicídio, lesão corporal grave etc.
Ora, se a ocorrência de um acidente de trabalho tem reflexos tão graves para o
empregador na seara jurídica, nada mais natural que lhe exigir, em determinada ação
cujo objeto é a reparação de danos materiais e morais ao acidentado, a comprovação
de observância estrita da legislação preventiva constante do ordenamento jurídico
pátrio.
Nesse particular, é relevante relembrar que a competência do Direito Material
do Trabalho prevista no artigo 114, VI, da Lei Maior foi ampliada para julgar as ações
de reparação de danos moral e material, que envolvam empregado e empregador, por
44
acidente de trabalho.
Ora, o direito à indenização acidentária é um direito tipicamente trabalhista,
previsto na Lei Maior (artigo 7º, XXVIII) no capítulo II, intitulado "Dos direitos
sociais". Assim, o ônus da prova, nas causas acidentárias, deve ser regido pelo artigo
818 da CLT, que dispõe, in litteris: "A prova das alegações incumbe à parte que as
fizer".
Como bem observa Manoel Antônio Teixeira Filho10:
"A CLT ao estatuir, no art. 818, que ´´A prova das
alegações incumbe à parte que as fizer´´, demonstra, à evidência
plena, que possui dicção expressa e específica sobre a matéria,
desautorizando, desta maneira, que o intérprete – a pretexto de
que o art. 769 do mesmo texto o permite – incursione pelos
domínios do processo civil com a finalidade de perfilhar, em
caráter supletivo, o critério consubstanciado no art. 333 e
incisos. Não seria equivocado asseverar-se, portanto, que tais
incursões são irrefletidas, pois não se têm dado conta de que
lhes falece o requisito essencial da omissão da CLT."
Com efeito, devido a desigualdade entre empregado e empregador, à luz do
artigo 818 da CLT, não seria viável atribuir o ônus da prova ao empregado, justo pela
circunstância de o autor ser o hipossuficiente na relação jurídica trabalhista, mas
especialmente porque o empregador é muito mais apto a produzir as provas pertinentes
ao cumprimento da legislação de segurança e saúde no trabalho, que, por força de lei,
lhe compete observar.
Ou seja, o empregador é o detentor de toda a documentação pertinente ao meio
ambiente de trabalho, aos eventuais treinamentos e recibos de aquisição de
equipamentos de proteção individual, além de as testemunhas serem (maioria) ou
10 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. A prova no processo do trabalho. 8ª ed. São Paulo: Ltr, 2003, p. 121.
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terem sido (minoria) seus empregados, razão pela qual não se trata de inversão do
ônus da prova, trata-se apenas de facilitação da produção das provas, em busca da
verdade real.
Portanto, é absolutamente coerente o entendimento do professor Manoel
Antônio Teixeira Filho11, segundo o qual:
"Concluímos, portanto, que o art. 818 da CLT, desde
que o intérprete saiba captar, com fidelidade, o seu verdadeiro
conteúdo ontológico, deve ser o único dispositivo legal a ser
invocado para resolver os problemas relacionados ao ônus da
prova no processo do trabalho, vedando-se, desta forma,
qualquer invocação supletiva do art. 333, do CPC, seja porque a
CLT não é omissa, no particular, seja porque há manifesta
incompatibilidade com o processo do trabalho.
Discordamos, por essa razão, dos que sustentam ser o
art. 818 da CLT, insuficiente para disciplinar a distribuição da
carga probatória entre os litigantes (com o que se insinua a
necessidade de incidência complementar da norma processual
civil). Interessante é observar que essa insuficiência somente
passou a ser alegada após a vigência do atual CPC...
Admitamos, apenas ad argumentandum, que em
determinado caso o art. 818 da CLT, se revele, efetivamente,
insatisfatório para resolver a matéria; nem por isso, todavia,
deverá o intérprete, ato contínuo, arremessar-se aos braços do
CPC, buscando socorro no art. 333. Constatada que seja a
insuficiência do dispositivo processual trabalhista, competirá ao
julgador verificar, em concreto, quem estava apto a produzir a
prova, segundo os meios e condições de que realmente
dispunha, pouco importando que se trate de prova positiva ou
11 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. A prova no processo do trabalho. 8ª ed. São Paulo: Ltr, 2003, p. 121.
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negativa ou de que o interesse fosse desta ou daquela parte.
Assim, o princípio da aptidão da prova, a que já se
referira Porras López, deve ser eleito como o principal elemento
supletivo do processo do trabalho, em cujo âmbito permanecerá
em estado de latência, vindo a aflorar sempre que convocado
para dirimir eventuais dificuldades em matéria de ônus da
prova, proscrevendo-se, em definitivo, a presença incômoda do
art. 333 do CPC, que nada mais representa – em última análise –
do que uma abstração da realidade prática do processo do
trabalho."
Por oportuno, registre-se que o melhor sistema de distribuição do ônus da
prova, especialmente onde vige o princípio da busca da verdade real, como na Justiça
do Trabalho, seria aquele que atribuísse ao agente o ônus de provar a prática do ato.
Portanto, se não se prova culpa exclusiva do trabalhador (premissa menor),
presume-se o descumprimento da norma protetiva trabalhista pelo empregador
(ilação). Agora, se a premissa maior é equivocada, o Estado é que será responsável por
indenizar o trabalhador e, nesse caso, a responsabilidade será objetiva, à luz do artigo
37, §6º, da Carta Magna.
Em suma, cabe ao empregador comprovar que observou a totalidade da
legislação de segurança e saúde no trabalho, se for chamado a defender-se em eventual
ação acidentária, sob pena de ser condenado a indenizar o trabalhador vitimado.
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12. Excludentes de responsabilidade civil do empregador
Mesmo com o advento do artigo 927 do CCB, o qual prevê a responsabilidade
objetiva do empregador, ainda existem circunstâncias que atenuam e ou excluem a
responsabilidade civil do empregador pelos atos ocasionados por seus empregados
e/ou decorrem da relação de emprego.
Primeiramente, impende destacar que o art. 188 do Código Civil prevê as
hipóteses de exclusão da imputabilidade, ou exclusão de ilicitude, quais sejam: a
legítima defesa, exercício regular de um direito reconhecido e estado de necessidade.
Todavia, tais hipótese não se aplicam diretamente ao Direito do Trabalho pois,
nesse aspecto, são necessários outros requisitos dentre eles: a não consistente
demonstração do dano; a não comprovação do nexo causal entre o dano e o ambiente
laborativo ou entre aquele e atos ou omissões do empregador e seus prepostos e, por
fim, a comprovação, pela empresa, de culpa exclusiva do trabalhador no tocante ao
surgimento da lesão.
Impende, ainda, destacar que há diversos fatores excludentes do nexo causal e,
portanto, excludentes da própria responsabilidade, quais sejam:
a) Culpa da vítima. A culpa da vítima, exclusiva ou concorrente, afeta o liame
causal. Quando exclusiva, há simples transferência do nexo de conseqüência: a causa
do dano é da própria pessoa vitimada. Havendo concorrência, a causa se reparte,
respondendo ambos, autor e vítima (que concorreu para que o evento se consumasse),
pela indenização.
Salienta-se que a culpa concorrente do empregado não tem condão de excluir a
responsabilidade imputada ao empregador, mas pode, certamente, atenuá-la, no que
tange ao quantum indenizatório.
b) Fato de terceiro. O dano pode resultar da ação ou omissão de terceiro; nessa
hipótese, também há deslocamento do nexo de causa. Quando o terceiro concorre para
o evento, também se reparte a responsabilidade. Há, na verdade, responsabilidade
48
solidária, por força do disposto no art. 942 do Código Civil.
c) Caso fortuito ou força maior. Os conceitos da responsabilidade
extracontratual podem, mais uma vez, ser emprestados: “O caso fortuito, ou de força
maior, verifica-se no fato necessário, cujo efeito não era possível evitar ou impedir.” -
artigo 393 do CC/2002.
A inevitabilidade e imprevisibilidade (fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir) implicam no desaparecimento do nexo conseqüencial.
Desta forma, percebe-se que, em regra geral, é remota a possibilidade de
exclusão de responsabilidade do empregador. Contudo, caso a empresa consiga provar
os fatos constitutivos do seu direito, ou seja, que a culpa foi exclusiva da vítima ou de
terceiro e que a mesma não teve qualquer culpa ou dolo pelo evento danoso ocorrido,
existe, mesmo que remota, a possibilidade de ver excluída a responsabilidade civil que
se pretenda imputar a reclamada.
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13.Jurisprudências
"RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. EMPREGADOR. PERDA DO OLHO ESQUERDO. BRINCADEIRA DE ESTILINGUE DURANTE O ALMOCO. PENSIONAMENTO. DANO MORAL. 1) Ato Ilicito: Empregado Atingido No Olho Esquerdo, Durante O Horario Do Almoco No Estabelecimento Industrial, Por Bucha De Papelao Atirada Com Estilingue Feito Com A Borracha De Luva. Perda Da Visao Do Olho Esquerdo. 2) Culpa Da Empresa Demandada: Presenca Da Culpa Da Empresa Requerida "In Vigilando" (Falta De Controle Dos Funcionarios A Sua Disposicao) E "In Omittendo" (Omissao Nos Cuidados Devidos). 3) Culpa Concorrente Da Vitima: Nao Reconhecimento Da Culpa Concorrente Da Vitima No Caso Concreto. 4) Pensionamento: Reducao Da Capacidade Laborativa Caracterizada Pela Necessidade De Dispendio De Maior Esforco, Em Funcao Da Visao Monocular (Art-1539 Do Cc). Fixacao Do Percentual Da Pensao Com Base Na Pericia Do Dmj (30%) A Incidir Sobre A Remuneracao Do Empregado Acidentado Na Data Da Ocorrencia Do Acidente. Reducao Do Valor Arbitrado Na Sentenca. 5) Dano Moral: Caracterizacao Do Dano Moral Pela Grave Ofensa A Integridade Fisica Do Empregado Acidentado. Manutencao Do Valor Da Indenizacao Arbitrado Na Sentenca, Que Abrangeu Os Danos Morais E Esteticos. Sentenca De Procedencia Modificada. Apelacao Parcialmente Provida." (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 70003335924, NONA CÂMARA CÍVEL, RELATOR: DES. PAULO DE TARSO VIEIRA SANSEVERINO, JULGADO EM 12/12/01)
"RESPONSABILIDADE CIVIL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - DANO MORAL E MATERIAL - ACIDENTE NO TRABALHO - MORTE DA VÍTIMA ARRIMO DE FAMÍLIA - CULPA "IN ELIGENDO" E "IN VIGILANDO" - DIREITO RESSARCITÓRIO - RECURSOS CONHECIDOS, MAIORIA, E IMPROVIDOS, UNÂNIME. 1 - O PREPARO DE CUSTAS DA APELAÇÃO DEVE SER OBEDIENTE AO COMANDO DO ART. 511, DO CPC, I. É, SIMULTÂNEO COM A INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. A LIMITAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA, LEVADA A EFEITO PELO GOVERNO, FEZ MUDANÇA NO HÁBITO DE VIDA, INCLUSIVE, NO HORÁRIO DE EXPEDIENTE AO PÚBLICO NOS ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS, ASSIM, O "APAGÃO" É CAUSA QUE JUSTIFICA, EM PRINCÍPIO, O RETARDO PARA O DIA SEGUINTE DO PREPARO DE CUSTAS DO RECURSO. O APELO, PORTANTO, DEVE SER CONHECIDO. 2 - A MORTE DE FILHO DE 19 ANOS DE IDADE, VÍTIMA DE DESABAMENTO NA OBRA EM QUE TRABALHAVA, COMO OPERÁRIO, É CAUSA REMOTA PRÓXIMA A JUSTIFICAR O RESSARCIR PELO DANO MORAL E TAMBÉM O DANO MATERIAL, DESDE QUANDO ARRIMO DE FAMÍLIA. 3 - ESTÃO LEGITIMADOS SOLIDARIAMENTE NO PÓLO PASSIVO DA CAUSA O EMPREITEIRO RESPONSÁVEL PELA OBRA E, TAMBÉM, O PROPRIETÁRIO DA EDIFICAÇÃO, ESTE PELA CULPA "IN ELIGENDO" AO CONTRATAR COM QUEM DESCUMPRE AS LEIS DO TRABALHO, I. É, EMPRESA IRREGULAR. 4 - A DOR E O SOFRIMENTO PELA
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PERDA DE UM ENTE QUERIDO SÃO INIMAGINÁVEIS E ESTA REALIDADE É CONSIDERADA, A PAR DOUTROS PORMENORES, PELO JULGADOR; ASSIM, A DECISÃO CÔNSCIA NESSE SEGUIR, HÁ DE SER HOMENAGEADA. (TJDF, APELAÇÃO CÍVEL 19980910035585APC DF, Acordão Número : 151998, Data de Julgamento : 29/10/2001, Órgão Julgador : 1ª Turma Cível, Relator : EDUARDO DE MORAES OLIVEIRA, Publicação no DJU: 02/05/2002 Pág. : 100). CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. MENOR DE IDADE. O menor de idade que se acidenta no curso da jornada, manejando máquina em que não estava habilitado a trabalhar, tem direito à indenização dos danos morais e materiais sofridos; responsabilidade que resulta, no mínimo, da própria omissão do dever de vigilância, imputável ao empregador, que não se desobrigaria ainda quando o menor tivesse substituído espontaneamente o colega encarregado da tarefa perigosa. Recurso especial conhecido e provido." (Superior Tribunal de Justiça, Acórdão RESP 435394 / PR ; RECURSO ESPECIAL 2002/0059632-2 Fonte DJ DATA:16/12/2002 PG:00320 Relator Min. ARI PARGENDLER, Data da Decisão 12/11/2002 Orgão Julgador TERCEIRA TURMA) "ACIDENTE AÉREO. RESPONSABILIDADE. EMPREGADOR. Trata-se de indenização contra banco em razão da morte do empregado em acidente aéreo no desempenho de suas funções, fato que configurou acidente de trabalho. O banco contestou, argüiu sua ilegitimidade passiva e denunciou a lide à transportadora aérea. O Tribunal a quo negou provimento ao pedido. A Turma deu provimento ao recurso do banco, afirmando que o empregador pode ser responsabilizado pela indenização devida pela morte de seu empregado quando a serviço, porém desde que demonstrada a culpa do empregador pela ocorrência do evento, seja pela escolha do procedimento, da via, do meio de transporte, da empresa transportadora, da ocasião, etc." (STJ, REsp 443.359-PB, Rel. Min. Ruy Rosado, julgado em 3/10/2002). "CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE TERCEIRO - ATO ILÍCITO PRATICADO POR EMPREGADO PRESTADORA DE SERVIÇO DE ESTIVA, REQUISITADOS POR COMANDANTE OU ARMADOR - INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 15 DA LEI 8.630/93. 255 E 261 DA CLT. I - Da exegese das normas do art. 15 da Lei 8.630/93 (responsabilidade pela segurança do navio) e dos 255, 259 e 261 da CLT (normas de proteção ao trabalhador) não se dessume que ao dono do navio ou prepostos deste se atribua "culpa in vigilando" pelos serviços de estiva que se realizem à bordo da nave, imputando ao armador ou ao comandante responsabilidade (fato de terceiro) por ato ilícito, comprovadamente praticada por empregado de empresa prestadora requisitada para tais serviços, empresa essa cuja "culpa in vigilando" remanescem inconteste. II - Recurso conhecido e provido." (STJ, Acórdão RESP 67227 / SP ; RECURSO ESPECIAL 1995/0027272-5, Relator Min. WALDEMAR ZVEITER, Data da Decisão 05/05/1998 Orgão Julgador TERCEIRA TURMA). Decisão N° 006176/2008-PATR. RECURSO ORDINÁRIO
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Juiz(a): JOSÉ PITAS EMENTA PRESCRIÇÃO - INDENIZAÇÃO POR DANOS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO Nos casos de danos decorrentes de acidente do trabalho, as seguintes proposições deverão ser observadas: a) o respeito às decisões da Jurisprudência da Justiça Comum, vigente antes da EC/45, publicada em 31.12.04; b) a aplicação da prescrição prevista no artigo 11 da CLT, após a ocorrência do acidente típico, ou ajuizamento da ação, depois da EC/45. Decisão N° 006208/2008-PATR . RECURSO ORDINÁRIO Juiz(a): OLGA AIDA JOAQUIM GOMIERI EMENTA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTIGO 927 DO NOVO CÓDIGO CIVIL. APLICAÇÃO RESPONSÁVEL. A aplicação da responsabilidade objetiva nas ações de indenização por acidente de trabalho requer responsabilidade extrema por parte do profissional do Direito, pois, consoante brilhante fundamentação do Excelentíssimo Juiz Alexandre Vieira dos Anjos, a lei nova "não outorgou carta branca aos empregados para fazer uso da auto-lesão como fator apto para gerar o pagamento de indenização.” Decisão N° 006233/2008-PATR . RECURSO ORDINÁRIO Juiz(a): OLGA AIDA JOAQUIM GOMIERI EMENTA DANOS MORAL E MATERIAL. DOENÇA PROFISSIONAL. NEXO DE CAUSALIDADE: INDISPENSÁVEL. Indispensável à caracterização de responsabilidade do empregador por dano de alegada doença ocupacional ou acidente de trabalho, a comprovação robusta de nexo causal entre o trabalho desenvolvido e a moléstia contraída pelo empregado. Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira, in Indenizações Por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional, "a exigência do nexo causal como requisito para obter a eventual indenização. Decisão N° 006207/2008-PATR . RECURSO ORDINÁRIO EM PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO Juiz(a): OLGA AIDA JOAQUIM GOMIERI EMENTA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS. EMPRESA PRIVADA.: TOMADORA E REAL BENEFICIÁRIA DOS SERVIÇOS. INEXISTÊNCIA DE ILICITUDE. Na ocorrência da terceirização de serviços, exsurge a responsabilidade subsidiária da tomadora, por eventual culpa in vigilando e in eligendo, nos termos do inciso IV do Enunciado nº 331, do TST. Não há como se afastar da constatação de que era a real beneficiária dos serviços prestados pelo reclamante. Processo: Nº: 04494-2006-028-12-00-5 Ementa: DIREITO À INDENIZAÇÃO NÃO
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CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE PROVA DO PREJUÍZO. Não provado o prejuízo decorrente do ato ilícito praticado pelo empregador, não há falar em dever de indenizar. (inteligência do art. 927 do CC). Acórdão 9965/2007 - Juiz Gilmar Cavalheri - Publicado no TRTSC/DOE em 16-07-2007, página: Processo: Nº: 01165-2006-048-12-00-7 Ementa: DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. A condenação ao pagamento de indenização por dano moral está condicionada à coexistência de três elementos: a ação ilícita por parte do empregador, o dano sofrido pelo empregado e o nexo de causalidade entre ambos. Não logrando êxito a reclamante em provar ato ilícito praticado pela reclamada que tenha violado sua honra ou a imagem, não se pode imputar à ré responsabilidade indenizatória. Acórdão 10123/2007 - Juiz José Ernesto Manzi - Publicado no TRTSC/DOE em 16-07-2007. Processo: Nº: 01608-2006-041-12-00-5 Ementa: DANO MORAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Para que se impute a condenação ao pagamento de indenização por dano moral baseada na responsabilização subjetiva contemplada no art. 186 do Código Civil de 2002 (art. 159 do Código Civil de 1916), imperativa se torna a existência de ação ou omissão do agente ou de terceiro (responsabilidade "in eligendo"), dolo ou culpa dessas pessoas, nexo causal e lesão extrapatrimonial. Não comprovados esses requisitos, não há como deferir a indenização pleiteada. Acórdão 10007/2007 - Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no TRTSC/DOE em 16-07-2007.
53
14. Conclusão
Cotidianamente nos deparamos com aflições do empregador sobre suas
eventuais responsabilidades em relação a seus empregados e, consequentemente, a
conduta praticada por eles. Tal preocupação aumentou veemente com o advento da
responsabilidade objetiva posto que o empregador poderá ser responsabilizado por um
dano mesmo que ele não tenha atuado de forma culposa ou dolosa.
Todavia, tal modificação jurídica, não tem o escopo de prejudicar o
empregador, mas sim preservar a segurança jurídica e a ordem pública, bem como
preservar a vida, a saúde e o bem estar dos seus empregados.
Infelizmente, sabe-se que, devido à incidência exorbitante de impostos, muitos
empresários, na maioria de vezes, não cumprem a legislação trabalhista e por isso,
diante da relação de hipossuficiência entre as partes, o Poder Judiciário deve ser
acionado com o único fito de proteger os direitos constitucionalmente garantidos aos
trabalhadores, bem como a legislação trabalhista.
E não é só, antes da modificação da legislação, eram ínfimas as condenações
dos empregadores nas ações acidentárias e correlatas, fatores esses, também, que
desmotivavam as empresas à estrita observância da legislação protetiva laboral.
Diante de tais fatores, foi necessário acrescentar novas regras as legislações
existentes, inclusive, ampliando competências, a fim de, não só, acompanhar a
evolução da sociedade, como também garantir a observância das leis.
Nesse diapasão, impende ressaltar que eventuais indenizações reparatórias dos
danos causados pelo empregador devem ser fixadas com base no juízo de equidade
evitando-se, por conseguinte, o enriquecimento ilícito da vítima e/ou o
empobrecimento sem causa do causador do dano.
Deve ser observada, também, a produção das provas carreadas aos autos vez
que são imprescindíveis para caracterizar ou não à presença dos requisitos necessários
ao dever de indenizar, como também elidir eventuais responsabilidades do empregador
ou do empregado, caso tenha concorrido com culpa pelo ato culposo ou danoso.
Assim, após esta descrição percebe-se o quão é essencial o tema abordado,
bem como sua imprescindível importância no cotidiano das pessoas, uma vez que
54
envolve a relação de trabalho, relação esta fundamental para a subsistência da
população bem como para o crescimento da economia mundial.
55
15. Referências Bibliográficas
GAGLIANO, Pablo Stolze, e PAMPLONA FILHO, Rodolfo, Novo Curso de Direito Civil, vol. I, Parte Geral, 2a. ed., São Paulo: Saraiva, 2002. GOMES, Orlando, e GOTTSCHALK, Elson, Curso de Direito do Trabalho, 17ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001. MARINONI, Luiz Guilherme, Tutela específica, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Assédio Sexual na Relação de Emprego, São Paulo: LTr, 2001. PINTO, José Augusto Rodrigues, e PAMPLONA FILHO, Rodolfo, Repertório de Conceitos Trabalhistas, São Paulo, LTr, 2000. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio, Litisconsórcio, Assistência e Intervenção de Terceiros no Processo do Trabalho, 3ª ed., São Paulo: LTr. VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil, vol. II, 3a. ed., São Paulo, Atlas, 2002.
NETO, Jose Affonso Dallegrave, Direito do trabalho Contemporâneo – Flexibilização e Efetividade, São Paulo, LTr, 2007. STOCO, Rui, Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência, 7ª Ed, Editora Revista dos Tribunais, 2007. PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. 11ª Ed. São Paulo: LTR, 2007. SAAD, Eduardo. CLT comentada. Ed. LTr, 2007. SUSSEKIND, Arnaldo Lopes . Curso de direito do trabalho. 1ª Ed. LTr , 2002. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5ª Ed. LTr, 2007. MONTEIRO DE BARROS, Alice. Curso de Direito do Trabalho. 3ª Ed. LTr. 2007. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª Ed. Malheiros. 2006. BITTAR, Carlos Alberto. Reparação por Danos Morais. 3ª Ed. Revista dos Tribunais, 1999.
56
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DAL COL, Helder Martinez. Responsabilidade civil do empregador: acidentes do
trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. A prova no processo do trabalho. 8ª ed. São
Paulo: Ltr, 2003.
ABNT. Apresentação de relatórios técnicos-cientificos. 2007.
WWW.trtrio.gov.br, site Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, acesso em
01/04/2008.
WWW.trt15.jus.br, site do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, acesso em
01/04/2008.
WWW.stj.gov.br, site do Superior Tribunal de Justiça, acesso em 29/03/2008.
WWW.tj.rj.gov.br, site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, acesso em
29/03/2008.
57
INDICE
INTRODUÇÃO 6
CAPITULO 1
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1.Breve Histórico 8
2.Pressupostos da responsabilidade civil 10
3.Responsabilidade civil e o direito do Trabalho 12
CAPITULO 2
ASPECTOS RELEVANTES
4.Competência da Justiça do Trabalho 13
5. Prazo prescricional 14
6. Dano moral e patrimonial 16
CAPITULO 3
TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL
7. Responsabilidade do empregador segundo o Código Civil 19
8. Responsabilidade do empregador por ato de preposto ou empregado 20
9. Responsabilidade civil do empregado em face do empregador 25
10. Responsabilidade do empregador em relações triangulares – terceirização 28
58
CAPITULO 4
ACIDENTE DE TRABALHO
11. Responsabilidade do empregador por acidente de trabalho 31
11.1. De 1822 até 1967 33
11.2. De 1967 até 2002 36
11.3. O advento do Código Civil de 2002 39
12. Excludente de responsabilidade civil do empregador 47
13. Jurisprudências 49
14. Conclusão 53
15. Referências Bibliográficas 55
16. Índice 57