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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES UCAM PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” DISCIPLINA: COMO TRABALHAR LIMITES NA MEDIDA CERTA EUZÉLIA OLIVA DE SOUZA Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES UCAM

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

DISCIPLINA: COMO TRABALHAR LIMITES NA MEDIDA CERTA

EUZÉLIA OLIVA DE SOUZA

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES UCAM

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

DISCIPLINA: COMO TRABALHAR LIMITES NA MEDIDA CERTA

EUZÉLIA OLIVA DE SOUZA

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para conclusão do Curso de Pós-Graduação em Administração Escolar.

Orientador: Vilson Sérgio de Carvalho

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Rio de Janeiro, Fevereiro de 2004

SOUZA, Euzélia Oliva de.

Disciplina: como trabalhar limites na medida certa / EuzéliaOliva de Souza – Rio de Janeiro: UNIVERSIDADE CANDIDOMENDES - UCAM, 2004.

42 p., 30 cm. Monografia de Especialização. Pós-Graduação em

Administração Escolar - UNIVERSIDADE CANDIDOMENDES, 2004.

1. Disciplina: como trabalhar limites na medida certa. I.Título.

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Ao meu filho Rodrigo e ao meu marido Marcelo, que me deram tranqüilidade e incentivo no desempenho deste trabalho, buscando atividades que pudessem fazer sem a minha presença.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Orientador, Professor Vilson Sérgio de Carvalho, pelo incentivo e apoio dados, passo a passo, na execução deste trabalho;

A todos os educadores, heróis incompreendidos que crêem na educação.

Aos amigos e colegas de turma, pelo carinho e amizade prestados.

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“A sociedade praticamente não ensina, somente sinaliza as regras a serem obedecidas na esperança de que cada cidadão tenha suficiente preparo (familiar e escolar) para viver nelas”.

(Içami Tiba)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 08

1 - CONCEITOS DE DISCIPLINA ................................................................................. 10

1.1 O QUE É DISCIPLINA? ............................................................................................... 12

2 - DISCIPLINA NO ENSINO FUNDAMENTAL FORMAL X INFORMAL........... 16

2.1 DISCIPLINA FORMAL ................................................................................................ 17

2.2 DISCIPLINA INFORMAL............................................................................................ 18 2.3 RESPONSABILIDADE COLETIVA............................................................................ 19 3 - DIRETOR: MODELO DE AUTORIDADE .............................................................. 22

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4 - VENCENDO A INDISCIPLINA: LIMITES NO MOMENTO CERTO................ 25

4.1 NECESSIDADE DO ADOLESCENTE ........................................................................ 26

4.2 LIMITES E COMPREENSÃO: A DUPLA PERFEITA ............................................... 26 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 31 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 34 ANEXOS.............................................................................................................................. 36

RESUMO

O presente trabalho pretende abordar, sob os diversos pontos de vista, a questão da disciplina nas escolas, fazendo uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelos educadores e gestores em conciliar disciplina e democracia, limite e liberdade. A autoridade saudável, aquela que é capaz de respeitar a auto-estima, tem mais chances de levar à disciplina regida

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pela liberdade. É preciso que se leve em conta que a liberdade absoluta é uma utopia; ela só tem valor associado à responsabilidade. A questão do limite não depende exclusivamente de um indivíduo: pressupõe a existência do limitador e do limitado em função de um objetivo num contexto específico. Na medida em que se envolvem seres humanos, deve-se considerar também as diferentes personalidades e a relação estabelecida entre eles. É um assunto difícil de ser abordado porque está diretamente ligado à época, local e valores culturais vigentes. Assim sendo, disciplinar é um ato complementar, pois depende das características pessoais do disciplinador e do disciplinado. Com o passar do tempo a escola foi perdendo suas referências e se desequilibrando com as novidades do campo social e familiar; a primeira conseqüência direta disso é que os filhos passaram a ficar mais tempo na escola e, assim, muitos pais, começaram a pensar que a educação de seus filhos é obrigação desta, que está sendo chamada a cumprir papéis que antes eram desempenhados pela família. No entanto, a escola também não pode fugir a essa responsabilidade, pois ela ainda é um espaço privilegiado para que se experimentem e se desenvolvam as capacidades necessárias para a formação de verdadeiros cidadãos conscientes e solidários. Diante destas observações e da experiência profissional da autora é que este estudo se propõe repensar a importância da disciplina, estabelecendo limites necessários para o bom andamento das atividades escolares, pretendendo contribuir para a formação de um educando disciplinado, capaz de desempenhar seu papel, de forma dinâmica e consciente, no ambiente escolar e na sociedade.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, a questão de disciplina nas relações familiares e escolares está cada vez, mais difícil, devido ao “jogo de empurra-empurra” entre escola e família. A família não está conseguindo cumprir o seu papel de desenvolver hábitos básicos e estabelecer limites. E, uma vez que os pais não estão tendo tempo para acompanhar e educar seus filhos, a escola pode fugir a esta responsabilidade?

Assim sendo, hoje em dia a escola está sujeita a crise de identidade, pois o seu

papel não está mais socialmente bem definido. Soma-se a isso uma queda da idéia de

ascensão social através da escola. Até alguns anos atrás, os alunos não achavam a escola

um espaço tão agradável, mas tinham uma motivação extrínseca: “ser alguém na vida”.

Desta forma, hoje, com a queda deste mito, fica difícil para os educadores conseguirem

um comportamento adequado do aluno.

No entanto, sabe-se que não se pode fazer um trabalho pedagógico significativo

sem disciplina. Portanto, é preciso conseguir novos métodos que permitam oferecer

limites, mas também possibilidades.

A família e a escola são referências fundamentais para a formação,

desenvolvimento e aprendizagem de filhos e alunos, mas todos confessam suas

dificuldades em exercer autoridade com democracia. Os educadores e pais deveriam estar

sempre estudando e se aprimorando para poderem compreender melhor que a rebeldia,

afinal, faz parte do processo de autonomia, quer dizer, não é possível “SER” sem rebeldia.

O grande problema está em como dar sentido produtivo ao ato rebelde sem, no entanto,

acabar com a rebeldia.

Diante destas e de tantas outras situações que surgem no processo de aprendizagem, é que o presente trabalho

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pretende focalizar o tema da disciplina enfatizando a maneira mais conveniente e adequada de se trabalhar os limites necessários nas relações que envolvem não só a escola, educadores, educandos e pais, como também a própria sociedade que é parte integrante deste ambiente gerador de situações conflitantes no mundo atual.

Para tanto, o trabalho se desenvolve empregando uma metodologia de cunho

qualitativo, baseado em referencial teórico consistindo, especificamente, na leitura de

livros, dissertações, artigos publicados em revistas e jornais e pesquisas na internet, além

da análise de material obtido em diversos congressos, cujos participantes eram

professores, administradores escolares, psicólogos, terapeutas e jornalistas, todos voltados

para uma finalidade comum: o estudo dos problemas educacionais.

Para complementar, coloco também a minha própria vivência no ambiente escolar

como professora durante um período de 25 anos de trabalho, divididos entre sala de aula e

atividades extraclasse, interagindo com adolescentes, pais e colegas de profissão.

Desta forma, o capítulo 1 aborda os conceitos de disciplina e as diversas formas de

como se poderia abordar a questão. Por sua vez o capítulo 2, trata da disciplina no Ensino

Fundamental, sob dois aspectos: formal e informal, focalizando a responsabilidade

coletiva como condição favorável no processo educativo.

O capítulo seguinte enfatiza o valor a figura do diretor como modelo de autoridade

no processo educativo da escola.

Já o último trata dos limites necessários para se vencer a indisciplina no contexto

educacional, apresentando algumas sugestões neste sentido.

Finalmente, pretende-se concluir que a disciplina é de suma importância para a

educação de hoje, pois através dela é possível se fazer uma educação de qualidade

alcançando metas e propostas pré-estabelecidas por todo o conjunto de pessoas que fazem

parte do contexto escolar, ou seja, alunos, professores, diretores, funcionários, pais, a

sociedade na qual estão inseridos, na esperança de se fazer um país melhor.

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1 - CONCEITOS DE DISCIPLINA

O tema da disciplina é fundamental para problematizar conceitos como autoridade, liberdade e diálogo, bem como para localizar o projeto político defendido por Paulo Freire.

Para refletir sobre a questão, é preciso se retomar a apontamentos bibliográficos que registram concepções da problemática da autoridade e da liberdade, acreditando, assim, poder conceituar disciplina, a partir de movimentos identificáveis no presente, defendendo que refletir a prática é o processo de construção dos conceitos freireanos (Freire, 1999).

Neste sentido, Paulo Freire parte de uma constatação: nas escolas, não raras vezes, na ânsia de se superar o autoritarismo, adotam-se posturas não diretivas, ou seja, abandona-se a idéia da diretividade e da autoridade com receio do autoritarismo.

Buscando respostas ao problema exposto, elabora o seu texto a partir de experiências político-pedagógicas orientadas por um projeto político. O projeto parte de uma afirmação: “a sociedade brasileira é injusta e a classe dominante usa mecanismos repressivos e ideológicos para a sua manutenção”. (Id., 1999, p. 116)

O autor aponta caminhos de libertação, a partir do que defende a necessária autoridade político-pedagógica nos processos educacionais. A direção política assume um conceito de disciplina, condição principal à sua materialização. Lembra que “não há disciplina no imobilismo, na autoridade indiferente, distante, que entrega à liberdade os destinos de si mesma. Na autoridade que se demite em nome do respeito à liberdade.” Porém, de outra parte, também não disciplina “(...) no imobilismo da liberdade, à qual a autoridade impõe (...) suas preferências (...).” (Ibid., 1999, p.117).

Ele assume, na tensão histórica em que acontece, que “só há disciplina (...) no movimento contraditório entre coercibilidade necessária da autoridade e a busca desperta da liberdade (...). Por isso, é que a autoridade que se hipertrofia em autoritarismo ou se atrofia em licenciosidade, perdendo o sentido do movimento, se perde a si mesma e ameaça a liberdade.” Segundo ele, com opção de classe definida, lembra que “dominadas e exploradas no sistema capitalista, as classes populares precisam - ao mesmo tempo que se engajam no processo de formação de uma disciplina intelectual - ir criando

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uma disciplina social, cívica, política (...), indispensável à democracia (não identificada com a opção ‘burguesa e liberal’)”. A produção de condições de possibilidade para que a disciplina aconteça é tarefa docente “o professor deve ensinar. É preciso fazê-lo (...)”. (Id., 1999, p. 118)

Investigando a obra freireana e buscando identificar reflexões sobre autoridade e diretividade, o autor, ao responder à pergunta a respeito de sua história com a escola, com as professoras e com a disciplina, afirma: “tive uma professora brilhante (...), uma professora que me marcou enormemente. Não diria que ela era autoritária, de jeito nenhum, mas que se movia muito bem com a autoridade diante das liberdades das crianças.” Na avaliação de Freire, a professora, embora parecesse “ingênua” ou “autoritária”, “era democrática, mas tinha a consciência de sua autoridade, de que devia fazer funcionar a autoridade dela, sem a qual as liberdades não se constituiriam (...).” Freire afirma que sem disciplina externa é difícil elaborar a interna, quando esta “(...) é uma espécie de introjeção da necessidade da disciplina. Quer dizer, a criança entregue a ela mesma, dificilmente se disciplinará. (...)”. Freire reforça a afirmação em torno da importância da disciplina, enquanto tarefa da autoridade docente, quando escreve que há algo que é fundamental: “(...) a disciplina é uma das tarefas da autoridade, é trabalhar no sentido de a liberdade assumir a disciplina como necessidade e boniteza.” Há um imperativo ético em Freire quando é proposta a diretividade e a disciplina: “ (...) a autoridade tem que ser séria, coerente, não pode ser manhosa, nem safada, a liberdade precisa encontrar uma razão de ser de crença da palavra e do testemunho da autoridade (...)”. (D’Antola, 1987, p. 2-5).

Segundo D’Antola (1987), a disciplina é fundamental ao crescimento das pessoas. Mas adverte: “(...) isso exige da autoridade paterna e docente uma certa arte, uma sensibilidade, uma seriedade, uma capacidade de prever. Portanto, é necessário se conhecer o que realmente vem a ser disciplina”. (Id., 1987, p. 2) 1.1 O QUE É DISCIPLINA?

Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda

Ferreira (1998), disciplina é: “regime de ordem imposta ou mesmo consentida; ordem que

convém ao bom funcionamento de uma organização, relações de subordinação do aluno ao

mestre, submissão a um regulamento; matéria de ensino”.

Após esta observação, é possível compreender, outras conotações que podem ser

atribuídas ao vocábulo, como por exemplo: participação organizada, respeito,

responsabilidade consciente, construção do conhecimento, formação de caráter e da

cidadania.

Além disso, pela disciplina poderia se conseguir o autogoverno dos alunos que são

os participantes do trabalho coletivo em sala de aula, propiciando uma aprendizagem

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significativa, criativa, crítica e duradoura, pois se almeja sempre uma disciplina

consciente e interativa.

Segundo Vasconcellos (2000, p. 41), a disciplina, portanto, “deve apontar os

limites como normalmente se faz, mas também as possibilidades – geralmente

esquecidas”.

Na escola, o ideal é que a disciplina não tenha um fim em si mesma, mas que esteja

relacionada aos objetivos maiores desta, que resultam no surgimento de uma autonomia

progressiva da consciência e a cooperação que conduzirá a uma ética de solidariedade e de

reciprocidade nas relações dos alunos.

Neste contexto, a autonomia pode ser compreendida como “resultante do processo

de socialização que leva o indivíduo a sair do seu egocentrismo, característico dos estados

de heteromia, para cooperar com os outros e submeter-se conscientemente às regras

sociais” (Aquino, 1996, p. 108).

Todavia, o problema da disciplina será encarado sob uma perspectiva diferente

somente quando houver uma transformação no tipo das relações estabelecidas dentro das

escolas, família e da sociedade. (Aquino, 1997, p. 51)

É preciso frisar que as atividades escolares não deveriam se pautar apenas pela

estrita obediência a normas e preceitos, mas pelo respeito mútuo e consciência.

Neste contexto, Içami Tiba (1996) acredita que com relação aos problemas relacionados à falta de disciplina nas salas de aula, que os alunos deveriam ser avaliados constantemente, com diversos tipos de atividades, e não apenas com uma prova. Eles precisam de motivação. Em geral, a indisciplina surge, conseqüentemente porque os alunos não têm o que fazer.

Desta forma é que a escola assume um papel fundamental no processo de mudança. Segundo o autor é de suma importância também a atuação dos professores, pois “uma aula atrativa é uma grande arma para conquistar os alunos; hoje o professor precisa saber coordenar; ele não é mais dono do saber”. (Idi., 1996, p. 26)

Falar hoje em educação é muito mais que instrumentalizar o educando. Hoje educar encontra-se em um novo patamar, cujo âmago é o desenvolvimento e a realização integral da pessoa e do cidadão.

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Neste sentido, o conceituado educador Celso Antunes* assinala que nem só de

novidades é feita a Educação. Para o nomeado autor é preciso abordar os diferentes

aspectos da questão da disciplina, sendo necessário mostrar como transformar informação

em conhecimento; como manter a disciplina sem cair na armadilha de ser um “professor

bonzinho” ou de manter alunos quietos e calados.

Desta forma, é preciso observar também como a memória deixou de ser um valor

supremo, mas ainda pode servir de ferramenta de aprendizagem. E afirma ser de grande

importância avaliar competências e inteligências em vez de medir rendimentos e

desempenhos. Entretanto, o professor deve estar sempre predisposto a desenvolver

conteúdos, identificar e explorar inteligências múltiplas em seus alunos.

A sagacidade do autor está em mostrar que não é porque há conceitos inerentes à

escola de hoje que se deve jogar para escanteio princípios em que a “escola de ontem” foi

construída. Aponta que constantemente deve-se dar respostas sucintas a questões do dia-a-

dia da sala de aula. Por outro lado, afirma ser necessário despertar o apetite pela pesquisa

e o interesse de aprender um pouco a cada dia.

Em síntese, o autor contextualiza dizendo o nosso próprio conceito de indisciplina

está ultrapassado. Portanto, é importante o uso de novas estratégias para que desta forma o

professor consiga formar uma sala de aula motivada, participativa e disciplinada.

Para José Ernesto Bologna ** o erro do educador é “querer conceber uma juventude

sem transgressão. Sem sufocar, devemos estreitar os limites para que, uma vez

transgredidos, o jovem ainda caia numa área de segurança pessoal”. (Bologna, 2003, [s.

p.]).

Para o referido autor a disciplina se forma “a partir de pequenos detalhes.

Incentivar rituais simples, como a preparação cuidadosa do material escolar antes de uma

atividade escolar, é uma atitude profundamente educativa”. Não dá para resolver o

problema da falta de disciplina olhando somente para a sala de aula. É preciso perceber as

interações sociais e uma contextualização histórica.

* Celso Antunes é Professor e Psicopedagogo, Bacharel e Licenciado em Geografia, Mestre em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo, Especialista em Inteligência e Cognição. ** José Ernesto Bologna é psicólogo e administrador de empresas, consultor em desenvolvimento humano em grandes instituições educacionais.

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Vale ressaltar ainda que a disciplina e as regras são estruturantes e fundamentais no

desenvolvimento psíquico das crianças, logo essenciais numa escola. Todavia, algumas

pessoas desconhecem e fazem certa confusão em relação a autoridade e autoritarismo,

talvez por ser eles elementos legados pela herança dos anos sessenta, onde passamos de

uma escola sem liberdade, limitadora da criatividade e quase castradora - realmente

autoritária - para o extremo oposto da permissividade quase total e do laxismo.

Como conseqüência, nas últimas décadas tem-se assistido a uma desautorização da

escola e do papel dos professores e educadores que arrasta perversamente a desautorização

da família e mina os valores cívicos e de respeito pelo outro. Entretanto, a excessiva

contaminação ideológica desta questão produziu uma associação simplista e grosseira da

afirmação da autoridade e da disciplina com posições conservadoras. Neste sentido,

importa lembrar que está se tratando da compreensão do funcionamento psicológico das

crianças e adolescentes, da dinâmica dos grupos e das relações humanas e das exigências

da sociedade moderna.

As figuras de referência e os limites por estas, impostos são absolutamente

imprescindíveis à criança na construção da sua identidade. Em caso de ausência de

limites, a diferença do outro não é reconhecida, não é respeitada. Na escola, a autoridade e

a disciplina devem ser entendidas nesta perspectiva.

Atualmente, é possível observar que a escola atravessa sem dúvida uma crise, mas

que reside essencialmente na representação que tem de si própria. Isto é, a escola, de certa

maneira, interiorizou a desautorização que lhe é feita.

Hoje, é possível ainda se assistir a uma escalada de indisciplina e atos violentos nas escolas, como se os jovens necessitassem de transgredir sem cessar até que finalmente alguém os ouça. A ausência de resposta ao apelo contido neste tipo de comportamentos, isto é, a demissão da autoridade dos adultos, reforça o desespero, lançando os jovens numa fuga projetada para frente, traduzida em atos pré-delinqüentes que reforçam um sentimento falacioso de impunidade e onipotência.

Vale a pena falar em autoridade e disciplina na escola, para restituir aos educadores

a premência do seu papel formativo e educativo, revendo e avaliando a necessidade de se

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envolverem efetivamente, de exercerem verdadeiramente o exercício a sua autoridade,

numa linguagem partilhada de direitos e deveres com os pais e as famílias.

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2 - DISCIPLINA NO ENSINO FUNDAMENTAL FORMAL X INFORMAL

Pode-se dizer que discutir a disciplina e os limites, nos dias de hoje, pressupõe uma

concepção mais abrangente de mundo, livre dos receituários. Pode-se observar com

tristeza a postura daqueles que, não conseguindo dialogar nesse cenário múltiplo, aderem

à uma postura neoconservadora, afirmando que pretendem voltar à disciplina que era

mantida pela força. Todavia, isso consiste num grave retrocesso, assim como é

decepcionante observar aqueles educadores que afirmam ter perdido o controle de uma

turma, deixando que se fizesse o que bem entendessem.

O fato de não haver mais uma medida certa na disciplina, e nos limites, de modo

algum deve fazer com que os educadores percam suas expectativas no ato de educar. Ao

contrário, por saber que se está habitando num mundo marcado pela idéia de pluralidade,

deve-se buscar estabelecer novos diálogos com os alunos, que a cada dia estão mais

carentes. É preciso buscar novas atitudes, novos estudos e, desta forma, com uma visão

mais ampliada do mundo, se poderá pautar relações numa nova ética: a do reconhecimento

e respeito, pelo outro.

Essa sim, pode ensinar que disciplina não é algo ruim e pesado, mas é um elemento

que contribui para qualquer relação de convivência social. É claro que isso exige alguns

desvencilhamentos, mas sem desprendimento não há aprendizado.

Ao trabalhar com os limites, se está ensinando aos jovens como lidar com a

frustração das perdas, tornando-os assim capazes e amadurecidos para lidar

adequadamente como os “sins” e os “nãos” da vida. Segundo Rossini (2001, p. 19), “criar

um filho sem nunca dizer ‘não’ significa comprometer seu equilíbrio futuro: será um ser

humano com dificuldades de tomar conta do próprio destino”.

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Na concepção de Içami Tiba (1996), para haver disciplina “é necessária a presença

de uma autoridade saudável”. O segredo que difere o autoritarismo do comportamento

autoritário adotado para que outra pessoa (filho ou aluno) torne-se mais educado ou

disciplinado é o respeito à auto-estima.

Neste contexto, Içami Tiba (1996), assinala ainda que a autoridade é:

“algo natural que deve existir sem descargas de adrenalina, seja para se impor ou se submeter, pois é reconhecida espontaneamente por ambas as partes. Assim, o relacionamento se desenvolve sem atropelos. O autoritarismo, ao contrário é uma imposição que não respeita as características alheias, provando submissão e mal-estar, tanto na adrenalina do que impõe, quanto na depressão do que se submete” (Tiba, 1996, p. 13)

O educador, afinal, não pode se esquivar à tarefa de apontar limites necessários

para que os jovens se desenvolvam bem e consigam se situar no mundo. E por este motivo

deve ampliar seus conhecimentos e reflexões acerca dos modelos existentes e de novas

possibilidades mais vantajosas para todos.

Conforme assinala Celso Antunes (2004), “o professor é o único no mundo que

tem a argila com a qual se moldará o amanhã!” E por isso, precisa refletir sobre as

ferramentas e crenças que balizam suas ações, verificando melhores caminhos no processo

do “educar”. (Disponível em: http://[email protected])

Segundo John Locke (1632-1704), a disciplina individual é importante porque dela

depende o sucesso do indivíduo em sociedade. A luta pela sobrevivência, dado que todos

são livres, é de cada um. O mais competente vence, o que enfraquece e limita a teoria de

Locke sob critérios sociais universais. À ação da autoridade, política ou pedagógica, está

reservada a organizar a educação para que se cumpra a tarefa de formar o homem para

novos comportamentos: para a liberdade e a tolerância, na perspectiva da defesa dos

interesses da burguesia ascendente (Locke apud Ferreira, 1998, p. 77).

2.1 DISCIPLINA FORMAL

A escola precisa adotar uma linha de conduta que seja coerente com a educação

escolar. Assim, no caso de um mau comportamento, não cabe somente ao professor

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resolver tudo, pois esta é uma área para a qual ele não foi preparado. Deverá o aluno ser

encaminhado à coordenação disciplinar que tomará as medidas cabíveis fazendo, a

princípio, uma advertência oral ou escrita, quando o aluno omitir suas responsabilidades e

não cumprir seus deveres previstos no regimento da escola.

Quando a permanência do aluno em sala impedir o bom desempenho das atividades

propostas, este deve ser convidado a sair da sala de aula. Em caso de reincidência, o aluno

poderá até ser suspenso das aulas, o que acarretará na perda do direito de qualquer ato

escolar neste período de suspensão.

Em caso de inadaptação do aluno às normas da escola, poderá ser impedida a

renovação da sua matrícula no ano seguinte, tarefa que deverá ser executada pelo Diretor

ou Vice-Diretor da escola. No entanto, precisa-se deixar bem claro que para a recuperação

e bom aproveitamento do aluno, o melhor na maior parte das vezes é o tratamento, a

orientação de forma segura, e não a expulsão.

2.2 DISCIPLINA INFORMAL

Os educadores podem conseguir muito com seus alunos, na medida em que estes adquirem confiança e é propiciadas a eles participação e responsabilidade. É importante o aluno ter espaço de expressão para sentir que a escola é sua.

Segundo Vasconcellos (2000), “há necessidade do professor despir-se de eventuais

preconceitos em relação à classe ou determinado aluno... A rotulação do aluno ou classe

gera revolta e indisciplina”. (Vasconcellos, 2000, p. 84)

Assim, conseguirá lidar melhor com a questão disciplina, o professor que:

• se dirigir a todos na sala, sem demonstrar preferências, não perdendo de vista o

coletivo;

• combinar coletivamente normas que serão adotadas em suas aulas;

• esclarecer “os porquês” destas normas;

• não levar tão a sério as palavras agressivas e a displicência de alguns alunos,

uma vez que, geralmente, estes arrumam confusão simplesmente para chamar atenção dos

amigos e realçarem-se perante a turma, e não porque não goste do professor ou da aula.

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Para Steve Biddulph (2002, p. 131), estudos recentes apontaram que “os meninos que agem na escola como se não ligassem para nada, na verdade querem ser aceitos e bem-sucedidos”. Também constituirá um melhor relacionamento com a turma, o professor que for firme, equilibrado e afetivo, sabendo criar um clima de amizade e responsabilidade coletiva.

2.3 RESPONSABILIDADE COLETIVA

É um grande engano se pensar que todos os alunos de uma classe, mesmo que

tenham estudado juntos no ano anterior, se conhecem, partindo do pressuposto de que uma

classe é um coletivo. Isto é um equivoco, pois, os alunos, tendem a conhecer os seus

“grupinhos”, ou seja, aqueles que estão mais próximo deles. Nesse sentido, a sala de aula,

que deveria ser uma coletividade, é apenas um ajuntamento de pessoas.

Os próprios alunos percebem quando há calor humano, aceitação e respeito,

inclusive lidando melhor com seus defeitos, quando favorece o relacionamento

interpessoal e, para isso, são necessárias condições favoráveis construídas à participação

de todos no processo educativo.

Esperam do professor uma postura mais autoritária, achando que o diálogo é um

sinal de “frouxidão”.

Se não houver o coletivo, onde pelo menos um grupo assuma “o querer estudar”, o

professor fica sem apoio para exigir uma mudança de comportamento. O aluno não pode

fazer tudo que quer, uma vez que isso provavelmente afete os demais. Os professores, por

sua vez, precisam estabelecer limites de sua ação.

Neste sentido, Vasconcellos (2000) afirma que “os educadores podem conseguir

muito com os educandos na medida em que partem da confiança e propiciam sua

participação e responsabilidade na organização da coletividade”. (Vasconcellos, 2000,

p.83).

Desta forma, o professor precisa:

• dar atenção a todos procurando sem demonstrar preferências, não perdendo de

vista o trabalho coletivo e, partindo deste, dar respostas às diferentes necessidades,

inclusive fora da sala de aula;

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• combater as gozações, agressões e preconceitos do dia-a-dia, que separam as pessoas e bloqueiam os relacionamentos. Não rotular determinado aluno ou classe, pois isto mostraria que ele, como educador não acredita no próprio trabalho, na possibilidade de uma mudança positiva;

• trabalhar a afetividade, e uma maneira agradável de fazê-lo é conviver com os alunos além da sala de aula (e se a proximidade, ou intimidade, acabar virando promiscuidade? Há de se ter atenção para isso...).

Sabe-se da dificuldade de fazer isso, mas só se consegue quebrar a distância com o aluno quando nos lançamos em algum projeto junto com ele. Para tanto, pode-se organizar, por exemplo, excursões pedagógicas, manhãs de convivência, jogos esportivos, acampamentos, teatro, etc. Ou até mesmo ter a presença do professor algumas vezes na hora do recreio. Assim, ganhando o aluno pelo lado afetivo e companheiro, torna-se mais fácil a construção de normas comuns, que, mesmo que sejam rígidas, serão mais bem aceitas, pois foram os próprios alunos que as estabeleceram coletivamente.

É necessário entender que fazer um trabalho de conscientização dos alunos, em relação à disciplina na escola, não é perda de tempo e, sim, melhoria na qualidade de trabalho executado naquele cotidiano. Logo, no começo do ano é necessário trabalhar coletivamente na construção de normas, como já foi visto anteriormente, explicando os porquês, pois os problemas que não se resolvem, com o passar do tempo, só se avolumam e se agravam.

Vale ressaltar que quando o educador revela seu interesse e preocupação pelo aluno, este pode não se abrir, num primeiro momento, mas já sente que alguém se preocupa com ele, e isto, de alguma forma, já oferece uma certa credibilidade ao professor para desenvolver o seu trabalho. É importante criar espaço para este “particular” com o aluno, logo que aconteça um problema de disciplina.

Neste contexto, Celso dos Santos Vasconcellos assinala que:

“alguns professores não tomam as medidas cabíveis logo no início, vão contemporizando, depois se vêem desesperados, pois a situação se complica e já não tem mais moral de cobrar, uma vez que não cobrou antes (...). É preciso parar logo no começo para uma revisão geral do problema, dar atenção, investigar.” (Vasconcellos, 2000, p. 90).

Quando surge um problema de comportamento, criar um espaço para que o professor tenha um contato mais próximo com o aluno torna-se fundamental. Desde que

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sem prejuízo ao bom andamento ou quebra de continuidade das atividades levadas a cabo em sala de aula.

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3 – DIRETOR: MODELO DE AUTORIDADE

Para Domingues de Castro, a disciplina é o ponto em que convergem a autoridade e a liberdade. A criança disciplinada não é aquela que foi treinada para obedecer, mas sim aquela que sabe o porque de agir ou não de determinada maneira conforme com a situação, pautando suas ações em valores morais, independentemente da presença ou não do adulto.

No entanto, sabe-se que a palavra final, em relação a um grande problema indisciplinar, cabe ao diretor da escola, que precisa estar sempre atento aos acontecimentos apontados pela área disciplinar, ao serviço de orientação educacional, cabendo também a ele propiciar ao bom ambiente escolar, por meio de ações preventivas de forma a minimizar os problemas.

Os adolescentes, principalmente os do sexo masculino, se metem em confusão para

chamar atenção. Pesquisas apontam para o fato de que um menino com falta do pai

acabam acarretando, geralmente, problemas. É igual a problemas de disciplina na escola.

E como hoje em dia os pais, pelos mais diversos motivos, estão cada vez mais ausentes no

dia-a-dia do adolescente, os problemas acabam se agravando e aflorando na escola.

Neste contexto, Biddulph (2002, p. 130) assinala que “os meninos carentes de pai

inconscientemente querem um homem que se envolva e resolva os problemas de sua vida,

mas não sabem pedir. As meninas ‘pedem’ ajuda, mas os meninos geralmente ‘agem’ para

pedir ajuda”. Desta forma, muitas escolas, hoje, se transformam em verdadeiros campos

de batalha.

Os professores estão cansados, estressados e mal remunerados. Os alunos não

recebem mais, em casa, influências positivas como boas maneiras, sensação de que são

verdadeiramente amados a segurança.

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Neste sentido, a sala de aula “se transformou num campo de luta com apenas dois

objetivos: fazer as garotas, estudarem e os garotos se comportarem” (Biddulph, 2002, p.

128). A escola não conseguindo canalizar toda vitalidade do adolescente, deixa margem

para que ela se transforme em mau comportamento e desordem. Desse modo, esta energia,

é vista como uma ameaça a ser esmagada.

O ambiente escolar parece estar destinado a educar senhores experientes, e não

jovens esbanjando energia. A passividade exigida pela escola contradiz tudo que se sabe

sobre o adolescente.

Um diretor experiente e seguro, é uma figura importante e simbólica na mente do

aluno: algo entre um pai substituto e um deus substituto. Sabendo-se disto, ele deve se

esforçar ao máximo para conhecer sua clientela e conquistá-la, pois assim, quando houver

um problema, o relacionamento já estará estabelecido e será mais fácil buscar a solução.

O diretor também é importante para fazer com que o aluno aceite a autoridade, que

costuma ser rejeitada atualmente. Um diretor consciente da sua influência pode ser o

modelo quanto a autoridade em uma escola. Precisa ter uma postura altamente coerente

com suas ações, permitindo que os adolescentes tenham oportunidade de discutir e

expressar suas idéias, mas que também assumam as conseqüências de seus atos. Afinal, já

não são crianças, como eles mesmos afirmam.

Mesmo que os alunos não queiram e demonstrem até certa aversão ao contato

físico, não se deve acreditar nisso, pois eles precisam muito de amor. Nesta idade há

várias formas de expressar carinho: tapinha nas costas, elogiar a roupa, falar do corte de

cabelo, um sorriso... Entretanto, nem tudo que parece enfrentamento é realmente um

desafio. É necessário ter clareza sobre as características da idade para que se possa aceitar

melhor certas posturas e a capacidade inesgotável de se opor. Isto evitará discussões

desnecessárias, guardando paciência para coisas mais importantes.

Cabe lembrar que o diretor deve manter a calma. Especialmente em situações em

que os alunos demonstrem desequilíbrio ou são injustos. Depois de se acalmar torna-se

mais fácil a conversa, o diálogo. É preciso mostrar com argumentos e sentimentos a

necessidade dele ser coerente para que possa ser tratado com justiça. Assim, também ele

deverá tratar as outras pessoas da mesma forma que quer ser tratado.

Deixando claro o que é aceitável ou não sobre hábitos e atitudes éticas dentro da

escola, fica mais fácil para o adolescente achar o seu equilíbrio no ambiente escolar.

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Valorizando as conquistas e vitórias escolares dos alunos, o diretor fará com que

ele se sinta seguro quando houver necessidade de uma crítica ou impor algum limite, pois

os alunos os aceitarão com menor resistência.

Afinal sua auto-estima estará em alta devido, aos elogios anteriores e a confiança que despertaram. Cabe, portanto, ao diretor, autoridade máxima da escola, ter sensatez e coerência de ações para tomar grandes decisões com sabedoria na hora certa, relativas à indisciplina, trazendo tranqüilidade e segurança a todos que fazem parte da coletividade educativa. O importante é que ele não perca a oportunidade de demonstrar sua liderança justa e humana para que o adolescente possa ter nele um exemplo de seriedade com afetividade.

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4 - VENCENDO A INDISCIPLINA: LIMITES NO MOMENTO CERTO

Partindo do pressuposto de que as transformações pelas quais se está passando são frutos da história do homem, logo, da sua própria história, entende-se que a indisciplina é gerada em resposta às várias mudanças que são ou não bem quistas por ele; que a disciplina é resultado do processo educativo, o qual deve objetivar a formação integral do indivíduo, respeitando suas diferenças e, ao mesmo tempo, propiciando condições para integrá-las, adquirindo, assim, resultados positivos nas relações pessoais e no citado processo.

Vale ressaltar, portanto, que o papel mais importante do educador é criar meios para o fazer coletivo sem, contudo, eliminar as possibilidades de integração social, de forma que nessa ação conjunta sejam consideradas a autonomia e as diferenças desses indivíduos, promovendo com isso o desabrochar de uma nova ordem social, onde essas diferenças sejam articuladas e respeitadas.

Não se deve ensinar sem se pensar no aluno; é necessário conhecer o seu mundo, as suas diversas formas de comunicação, os seus interesses. A relação professor/aluno deve ser baseada no diálogo. E isto não é possível em turmas com um elevado número de alunos (Sampaio, 1996). Tudo isto vai contribuindo para o mal-estar dos alunos e, conseqüentemente, para a criação de condições favoráveis à indisciplina.

Neste capítulo, pretende-se de maneira prática, porém, com sensibilidade, oferecer

sugestões para se trabalhar nos jovens, os limites partindo de suas próprias necessidades.

Tendo na medida do possível, escola e pais trabalhando em conjunto.

4.1 NECESSIDADE DO ADOLESCENTE

Para a autora Tânia Zagury (2001), as necessidades do adolescente são:

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• Amor e afeto,

• Segurança,

• Ambiente familiar tranqüilo, que dê suporte às freqüentes crises de insegurança

e identidade,

• Pertencer a um grupo de amigos positivos e saudáveis,

• Privacidade e respeito,

• Projeto de vida e objetivos imediatos e claros,

• Respeito e compreensão em relação às dificuldades que atravessa,

• Liberdade para tomar decisões e agir nos aspectos para os quais já apresenta

maturidade e capacidade,

• Limites que o ajudam a se proteger da própria imaturidade e onipotência,

• Ter valores éticos, etc. (Zagury, 2001, p. 143).

4.2 LIMITES E COMPREENSÃO: A DUPLA PERFEITA

Determinar os limites, no sentido de explicitar as fronteiras entre direitos e deveres

ou entre o eu e o outro, pode se apresentar como uma prerrogativa legítima do educador

idôneo e cônscio de sua responsabilidade frente ao educando, mas não é a única

possibilidade de desenvolvimento das noções de disciplina e moralidade.

É necessário que, tanto pais quanto escola sejam claros e objetivos em regras e

atitudes, especialmente naquelas que dizem respeito à formação de hábitos relativos a uma

vida saudável, responsável e ética. Deve ser mostrado o que é considerado aceitável ou

não, deixando claro para o jovem os limites. Procurando da melhor maneira possível ser

equilibrado, compreensivo e justo.

Assim sendo:

• Responsabilize-os por seus atos inadequados; Aproveitando que já não são mais

crianças, como eles mesmos dizem.

• Recompense e elogie a conduta adequada, deixe-os dar suas opiniões e idéias;

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• Faça-os conhecer as regras vigentes e respeitá-las, um jovem não pode seguir

uma que não foi claramente enunciada;

• Seja coerente quanto às normas da disciplina. Não se deve estabelecer normas

que o jovem não seja capaz de cumprir: as melhores normas são aquelas passíveis de

serem cumpridas. Estabeleça horários, prioridades, atitudes de respeito pelos outros, etc...

• Diminua a insegurança do adolescente e sua baixa de auto-estima, estimule

positivamente, ressalte o que ele tem de bom e de bonito. Mostre que todos nós temos

pontos positivos e negativos.

• Não aceite que saiam sem autorização, sem dizer onde estão e com quem, e a

que horas pretendem voltar; mostre que isto é uma medida de segurança e carinho e não

de controle, estabeleça um clima de confiança, mas se necessários proíba sua saída, caso

comecem a mentir.

• Aceite sua necessidade de expressar sua independência; eles estão crescendo e

caminhando para a idade adulta. Uma coisa é orientar, proteger e dar limites, outra é

impedir que eles tomem decisões para as quais já são capazes. Valorize a independência

com responsabilidade.

• Busque dar oportunidades de diálogo, propicie clima agradável em casa e na

escola para as horas descontraídas, isso gera afetividade e carinho;

• Valorize suas vitórias escolares, esportivas e sociais, isto permite que aceitem

melhor uma crítica quando se torne necessário;

• Descubra os talentos artísticos que o jovem possa ter;

• Incentive-os a fazer cursos de instrumentos musicais, teatro, esportes, etc... Isto

melhora sua auto-estima, mesmo quando não consegue ter bom rendimento escolar, pois

poderá se sobressair junto aos colegas por outro meio saudável;

• Pondere na medida do possível seus momentos de mau humor desde que não

ultrapassem de forma alguma os limites do comportamento social. Quando ele estiver

bem, mostre que este tipo de atitude incomoda e magoa os outros;

• Não tenha medo de repreendê-lo e até de tomar atitudes mais duras, como não

deixá-lo fazer algo que goste, etc... Os adolescentes precisam da coerência de suas ações,

para poder se equilibrar e ter parâmetros para os seus erros e acertos;

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• Decida, quando necessário, alguma coisa por ele;

Pais e professores precisam muitas vezes, proteger o adolescente de sua

impulsividade e da própria audácia. Nada exclui a necessidade natural de uma hierarquia;

• Não use os limites para sua pouca paciência e tolerância;

Toda criança e jovem sabe quando uma medida não foi justa. Não deixe que

percam a confiança em você;

• Não espere que eles se comportem além do que a idade lhes permite;

Na vontade de se mostrarem “donos do seu nariz” até nos esquecemos de que estão

em fase de transição entre a infância e a idade adulta.

Todavia, lembre-se de que pais e educadores são modelo para a criança e o jovem.

Portanto, todo aquele indivíduo que representa o papel de pai, professor e gestor não

devem violar regras, pois a criança e o jovem são observadores, e assim, aprendem com os

mais velhos o tempo todo. Para alguns o pai e o professor, ou mesmo amigos mais

próximos são espelhos que refletem aquilo que eles deseja ser.

Seja coerente em suas ações e atitudes, preocupe-se em dar limites e não em

controlar o adolescente o tempo todo, pois isso são atitudes diferentes. Enquanto uma,

mostra afetividade e segurança, a outra gera irritação e revolta.

Neste sentido, Zagury (1996) afirma que “os próprios jovens sentem, têm

consciência do quanto é fundamental os pais terem diretrizes, objetivos e metas na

educação” (Id., 1996, p. 21).

De La Taille (1996), afirma que quando uma regra é sempre quebrada é porque ela

não tem a necessidade de existir e, por isso, não deve ser feita.

Neste sentido, o autor assinala que é preciso:

“haver um bom argumento para justificar uma norma, do contrário, é melhor que os adultos repensem sobre sua necessidade. O adulto precisa ter força moral suficiente para fazer com que as regras sejam cumpridas e, se for preciso, ter atitudes firmes (construtivas) para proteger os valores e revalidar as normas, senão estará se desrespeitando, caindo em descrédito aos olhos da criança”. (De La Taille, 1996, p. 36)

Entretanto, é viável elaborar apenas os limites necessários e justos, e quando

possível, combiná-los em conjunto com as crianças mais velhas, pois, a obediência a uma

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norma é maior quando as pessoas que estão vinculadas a ela, participam de sua

elaboração. Dizer “não” é permitido, mas guarde-o para quando for realmente necessário.

Nesse sentido, a família possui um papel definido no que tange a autoridade: os

pais e professores devem assumir que são – autoridade -, sem medo deste papel,

lembrando que são modelo de atuação, referência a ser seguida pela criança ou jovem.

Assim, sua ação vale muito mais que o seu discurso e é preferível errar, reconhecer que

errou e voltar atrás, do que se omitir.

Para Tânia Zagury, estabelecer limites significa:

“ensinar até onde se pode ir, o que pode ou não ser feito. É mostrar os direitos, sendo estes iguais para todos, o que implica, diretamente, na percepção das demais pessoas no mundo, oferecer situações que permitam a compreensão que seus direitos terminam onde os dos outros iniciam. É também saber dizer ‘sim’ e ‘não’ sempre que necessário. Explicitar que o coletivo é muito importante, de modo que não se torne individualista. Ensiná-la a suportar pequenas frustrações, mostrando-lhe que os desafios do mundo podem ser superados com maturidade e equilíbrio, capacitando-a a deixar para depois certas satisfações”. (Zagury, 1998, p. 11)

É preciso que a criança tenha a oportunidade de participar da elaboração das

regras, que possa discutir e estabelecer relações. Isto deve ocorrer com ela, desde

pequena, tendo a oportunidade de toma pequenas decisões e assumir pequenas

responsabilidades. Deve-se estabelecer “limites no momento certo e na hora certa”, para

que assim se possa alcançar os objetivos propostos.

Alguns professores compreendem limites como algo ligado a construção de

valores. Conseqüentemente, eles não foram desenvolvidos na escola, pois cada aluno vem

com a sua formação, trazida da família e do meio social onde nasceu e deu os seus

primeiros passos. Para Mosqueta, esses valores ou virtudes são forças humanas que “estão

implícitas na evolução psicossocial do homem que adquire a sua dinâmica através do ego

e que podem ser transmitidas às outras gerações” (Mosquera, 1997, p. 69).

Entretanto, há uma variação considerável no entendimento destes profissionais de

educação quando procuram explicar o significado da palavra “limite” em sala de aula.

Para alguns deles limite é algo que exige maturidade por parte do aluno, necessidades de

vivencias anteriores que o façam discernir entre o que pode e o que não pode fazer em

determinados momentos da vida em sociedade. Tais valores são construídos, a priori,

sendo a escola apenas o campo de aplicação dessa aprendizagem. Para outros, eles

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começam a ser desenvolvidos na família e devem ser trabalhados na escola através de um

processo contínuo. Cabe lembrar que existe aqui uma confusão conceitual entre o que é

falta de limites e indisciplina, bem como a negação de que o professor tem de seus

próprios limites.

Analisando a questão, observa-se que muitas vezes estes pressupostos apresentam

dificuldades em definir tais conceitos. Em outros momentos, acredita-se que indisciplina e

falta de limites são a mesma coisa. Já em outros, pensa-se que indisciplina é uma

expressão de maldade dos alunos e a falta de limites é o agir sem conhecimento do que

está sendo feito.

Há, portanto, aqueles professores que conseguem um maior desenvolvimento no

que tange a relação de limites e afetividade. Para eles, é necessário ter paciência, não pode

haver imediatismo, já que os valores são desenvolvidos aos poucos. Os valores não são

criados como uma lista de regras, mas são construídos na convivência, através do respeito

e no cotidiano.

Para este profissional, existe a individualidade de cada aluno, bem como a do

próprio professor, e essas individualidades, esses muitos valores devem ser respeitados

mutuamente. Somente assim, haverá uma troca relacional entre seres que estão em

crescimento, independente da posição que ocupam.

Conforme assinala Zagury, “dar limites é iniciar o processo de compreensão e

apreensão do outro, a criança interioriza a idéia de que pode fazer milhares de coisas, mas

sem tudo e nem sempre” (Zagury, 2001, p. 17).

Os limites precisam ser sempre colocados em função de algo e exercidos visando

ao bem-estar de toda a família. Eles necessitam estar a serviço da qualidade de vida e da

educação do filho. Nunca de um capricho.

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CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho pode-se concluir que atualmente, todos sabem da

importância da educação nas escolas e da necessidade de respeito pelos que nela

trabalham. Somente com o uso da disciplina, os educadores têm condições de fazer um

trabalho pedagógico significativo.

Entretanto, é na família que se começa a exercitar a democracia, isto é a criança

tem direitos, mas os outros também têm. Na realidade, a criança não deve ter mais, nem

menos, porém espaços iguais. Ela tem o dever, por exemplo, de deixar a mamãe descansar

ou o papai falar ao telefone, e depois receberá toda a atenção que merece. São nessas

situações em que vai aprendendo a dividir os espaços, que a criança vai adquirindo

respeito ao outro.

A educação democrática é aquela em que os pais dialogam, incentivam as crianças a expressarem suas opiniões sobre alguns aspectos que as afetam e demonstram um maior equilíbrio entre os limites, direitos e deveres, tentando chegar a um consenso do que é melhor para todos. As normas são justificadas e os pais mantêm a consistência no cumprimento das mesmas, ou seja, sua postura na cobrança destas é coerente e constante.

Na escola, quando o jovem sente que há diretrizes, ou que há uma linha educacional que lhes dê clareza e incentivo, sem, no entanto abrir mão de certos princípios, este tende a se sentir, mas seguro, querido e feliz no seu ambiente de estudo. Mesmo quando repreendido por suas ações, pois já sabia com antecedência que estava errado.

E mais ainda, quando as regras e normas disciplinares são criadas por eles mesmos,

eles se sentem impelidos a tentar acertar mais, pois, caso contrário, estaria violando suas

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próprias leis criadas coletivamente. Sabe-se que a instituição escola, mesmo com todos os

defeitos, é ainda um lugar em que novas gerações convivem com respeito e a orientação, é

ainda um lugar em que o saber é valorizado e no qual, apesar de seus erros e problemas, o

ser humano, se socializa e aprende a conviver, a tornar-se um cidadão. Todavia, nesta

visão educativa, visando formar cidadãos a escola enfrenta a questão do limite.

Vale lembrar também, que as crianças e os jovens estão sempre buscando seus

limites e exercitam isso tanto na relação com os pais quanto com os professores. Desta

feita, o papel da escola é facilitar para que os alunos enxerguem quais os objetivos

educacionais e pessoais que se quer alcançar e como chegar até eles com o mínimo de

disciplina.

Sabe-se que a questão do limite perpassa a família e a escola. É importante,

entretanto, que estas, enquanto formadoras de cidadãos, percebam o aluno real que se

esconde atrás daquele idealizado. Isto é, é necessário que haja um compromisso afetivo

para que aconteça o trabalho educacional, e, logicamente, para que os limites sejam

estabelecidos, com regras construídas coletivamente.

Cabe ao educador que além de dar vida e dinamismo ao conhecimento, ser capaz de lidar com a imprevisibilidade do ato educativo, absorvendo e canalizando para o campo do conhecimento, manifestações, que de outra forma seriam estigmatizadas como indisciplina.

É fundamental que o educador tenha internalizado a crença de que a disciplina

como conseqüência da aceitação dos limites, não é pressuposto básico para a educação e

sim resultado dela. Estará sempre diretamente ligada ao estilo da prática do educador, isto

é, à sua autoridade profissional, moral e técnica. Assim, se poderá dizer os “sins” e “nãos”

com o mesmo objetivo e os educandos os estarão recebendo na medida certa.

Nas escolas a relação entre o aluno e o professor chegou a uma condição muito

favorável, quando entendemos que a participação do aluno está maior, diferentemente de

outras épocas onde o papel se restringia apenas a ouvir e guardar as informações que

chegavam.

Outra condição a ser pensada é o exagero que os pais têm com relação aos traumas

que poderão causar, caso venham a ser mais enérgicos na educação dos seus filhos. Usar o

bom senso e algumas regras para estabelecer limites na educação infantil não arranca

pedaço de ninguém. Faz-se necessária à consciência de que para educar é preciso esforço,

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dedicação, perseverança e paciência; muita paciência, o que pode ser reafirmado através

do texto, em anexo 1.

O exercício do viver só é realizável vivendo, na prática, e o mesmo ocorre com a educação, portando, é preciso arregaçar as mangas e assumir o papel de orientador, de guia, de educador. Começar, “antes tarde do que nunca” a se envolver neste processo importante e determinador da vida do ser humano, cavando tempo e espaço para esta empreitada.

Mas é preciso começar, tentar, fazendo acontecer. Confie em si mesmo e mude o cenário, assumindo as responsabilidades e transmitindo muitos valores aos seus filhos, por via de uma educação que dá segurança e conforto, pois todos nós sempre desejamos isto.

Portanto, é importante determinar desde já os “limites e as regras”, existe a

necessidade de realizarmos mudanças na maneira em que estamos educando nossas

crianças, que estão se transformando em pequenos ditadores, voltados a satisfação de seus

egos individuais, conforme estão sendo constantemente veiculadas nos meios de

comunicação. É preciso que se faça alguma coisa para mudar rapidamente.

Não adianta simplesmente lamentar o ocorrido, ou culpar uns aos outros, buscando um “bode expiatório”, e não se extrair uma aprendizagem dos trágicos acontecimentos, vistos no dia-a-dia.

Cabe, portanto, aos educadores, analisar profundamente a sua contribuição na

construção dessas personalidades, rever o ambiente moral no qual elas estão interagindo e

aprimorar a maneira como estão educando os futuros cidadãos desse país.

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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 11. ed. São Paulo: Ed. Libertad, 2000.

ZAGURY, T. Limites sem Trauma – Construindo Cidadãos. 10. ed. Rio de Janeiro: Record; 2001.

______. É preciso dizer não. Nova escola. São Paulo: Abril Editora, março 2000.

______. Sem padecer no paraíso: em defesa dos pais ou sobre a tirania dos filhos. São Paulo: Record, 1998.

______. Encurtando a adolescência: orientação para pais e educadores: dúvidas que angustiam e reflexões que aliviam. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.

______. Educar sem culpa – a gênese da ética. São Paulo: Record, 1997.

______. Adolescente por ele mesmo. 5. ed. Rio de Janeiro: Record; 1996.

Sites da Internet

Disponível em: <http://[email protected]> Acesso em: 10 de fevereiro de 2004.

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ANEXOS

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO “A VEZ DO MESTRE” Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da Monografia: Disciplina: como trabalhar limites na medida certa Data da Entrega: _______________________ Aprovado por: ________________________________________ Grau: ______________

Rio de Janeiro, _____ de ___________________ de _______.

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