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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM Por: Jaqueline Marques Dreyfuss Orientador José Roberto Borges Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM

Por: Jaqueline Marques Dreyfuss

Orientador

José Roberto Borges

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Cândido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Processual Civil.

Por: Jaqueline Marques Dreyfuss

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter concedido-me forças e

saúde para alcançar mais essa

conquista em minha vida.

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DEDICATÓRIA

À minha amiga Maryana, que mesmo de

uma forma indireta, sugeriu o tema que se

tornou este trabalho monográfico.

Ao meu marido João Carlos pela

paciência e pela abdicação das nossas

horas de lazer.

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RESUMO

Buscou-se no presente trabalho, apresentar de forma sistemática os

institutos da evicção e da denunciação da lide, com vistas à alteração efetuada

no direito material, mais precisamente no art. 456 do Código Civil com grandes

reflexos no direito processual, em especial no art. 70, I do Código de Processo

Civil. Ficou constatado que o autor ou o réu poderá chamar para a demanda

terceiro, com o intuito de reaver os prejuízos decorrentes de uma possível

sucumbência, em caso de evicção. Verificou-se que quanto a obrigatoriedade

da denunciação da lide, existem várias correntes tratando do assunto, porém

predomina na doutrina e na jurisprudência o entendimento que no caso do

inciso I do art. 70 do CPC (evicção), a denunciação é obrigatória. Foi trazido

para o presente estudo as discussões em torno da denunciação da lide per

saltum com o posicionamento da doutrina e da pouca jurisprudência que trata

do tema. Objetivou-se com o presente tema levar ao conhecimento dos

operadores do direito mais uma possibilidade em torno da denunciação da lide,

visando a economia e a celeridade processuais.

Palavras-chave: Intervenção de terceiros, direito material, direito processual,

evicção, denunciação da lide per saltum.

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METODOLOGIA

O estudo que está se iniciando é classificado como pesquisa

bibliográfica, tendo por base o respaldo nas informações reunidas em fontes

escritas por muitos estudiosos do tema. A pesquisa foi efetuada em livros

doutrinários de conhecidos autores e em artigos disponíveis na internet.

Foi adotada uma metodologia com o objetivo de providenciar o

levantamento do material que tratava do tema em questão, bem como a leitura

crítico-reflexiva das obras selecionadas.

Grande parte dos livros doutrinários foram pesquisados e tomados por

empréstimos das bibliotecas do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos e

da Ordem dos Advogados do Brasil.

A internet foi uma grande ferramenta de apoio nesta pesquisa, o

material lá colhido foi analisado criticamente após investigação de sua

autenticidade.

Os sites oficiais dos Tribunais também foram grandes aliados na busca

pelas jurisprudências sobre o tema proposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 09

CAPÍTULO II

DENUNCIAÇÃO DA LIDE 15

CAPÍTULO III

DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM 25

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA 40

WEBGRAFIA 42

ÍNDICE 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

Com a alteração do Código Civil em 2002, importantes modificações

foram trazidas para o direito material, o que influenciou também, de uma certa

forma, o direito processual pátrio.

Com base nessa alteração, a presente monografia traz suas

implicações no âmbito do direito processual, em especial no instituto da

denunciação da lide, um dos mais polêmicos do nosso ordenamento jurídico.

No primeiro capítulo apresentamos, de forma conceitual e geral, a

Intervenção de Terceiros, apontando cada um dos seus institutos, visando à

compreensão das diferenças entre eles.

O segundo capítulo aborda, detalhadamente, o instituto da

denunciação da lide, apresentando suas hipóteses especiais, dentre elas a

denunciação da lide por saltos.

No terceiro e último capítulo abordamos de forma ampla a

“denunciação da lide per saltum”, instituto este, causador de muitas polêmicas,

mas que para alguns doutrinadores encontra-se autorizado pela nova redação

do art. 456 do CC/2002. Neste último capítulo estão sendo apresentadas as

opiniões de doutrinadores consagrados e sua repercussão nos tribunais

brasileiros.

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CAPÍTULO I

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

1 - Considerações Gerais

Com o objetivo de compreender melhor o instituto da Intervenção de

Terceiros, faz-se necessário distinguir o conceito de partes e de terceiros.

Para Dinamarco, são quatro as formas pelas quais é possível adquirir a

qualidade de parte: a) propondo uma demanda (autor); b) sendo demandado

(réu); c) através da sucessão processual e d) através da intervenção de

terceiros. (DINAMARCO, 2001, p. 22).

Segundo Liebman, “partes são aqueles sujeitos do contraditório

instituídos perante o juiz.” (LIEBMAN, 1984, p. 89).

Já terceiro na concepção de Wambier, é todo aquele que não é parte.

(WAMBIER, 2004, p. 262). Trata-se do chamado critério da exclusão ou

negação. Quem não é parte, é terceiro. Assim, quando ocorrer a hipótese de

terceiro ser atingido por decisão proferida em processo do qual não participa,

lhe é facultado defender seus interesses com o ingresso na relação processual

ora em curso.

A partir destas considerações, pode-se conceituar a intervenção de

terceiros como:

“um fenômeno processual através do qual um terceiro ingressa em

relação processual pendente, adquirindo a qualidade de parte

(principal ou acessória, dependendo da espécie de intervenção

realizada)”. (SILVA, 2007, p. 143).

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O que fundamenta a intervenção de terceiro, é a possibilidade do

mesmo ser atingido direta ou indiretamente por decisão proferida em processo

do qual não participou, assim surge para esse terceiro o interesse em intervir

para não ser atingido pela decisão.

As diversas modalidades de intervenção de terceiros em regra são

classificadas em dois grupos: voluntária (ou espontânea), quando é feita por

ato de vontade do interveniente, como se vê na assistência, na oposição, nos

embargos de terceiro e no recurso do terceiro prejudicado e forçada (ou

coacta), quando sua intervenção é provocada por uma das partes, nos casos

de nomeação à autoria, chamamento ao processo, denunciação da lide.

A intervenção pode ser ad coadjuvandum quando o terceiro auxilia

uma das partes ou ad excludendum quando ocorre a exclusão de uma ou

ambas as partes da relação processual.

Cabe ressaltar que só haverá intervenção de terceiros quando houver

previsão legal, não ficando a cargo do juiz a posição que as partes assumem

no processo.

1.1 – Espécies

A matéria é tratada nos artigos 56 a 80, do Código de Processo Civil,

onde são apresentadas quatro espécies de intervenção: oposição, nomeação à

autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo, sendo as demais

apresentadas no art. 280, do citado Código, a saber: a assistência e o recurso

de terceiro prejudicado, que apesar de estarem fora do capítulo dedicado à

intervenção de terceiros, sempre foram assim considerados pela doutrina.

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Adiante serão abordados os aspectos gerais de cada modalidade de

intervenção, porém sem adentrarmos em suas peculiaridades e controvérsias

por não fazer parte do tema proposto para o trabalho.

1.1.1 – Assistência

A assistência é tratada nos arts. 50 ao 55 do CPC e comporta duas

modalidades: a) a assistência simples, ou adesiva, ou coadjuvante e b) a

assistência qualificada ou litisconsorcial ou autônoma.

A assistência será simples quando o direito do assistente não estiver

diretamente envolvido no processo, aqui o assistente é mero coadjuvante do

assistido, como na hipótese de um fiador que intervenha em auxílio do

devedor.

Na assistência litisconsorcial o assistente tem interesse jurídico

próprio, uma vez que a sentença influenciará diretamente o direito material do

assistente. Aqui o assistente é considerado litigante distinto com a parte

adversa.

Essas duas modalidades são distinguidas por Luiz Fux, conforme

trecho abaixo:

“Na assistência simples, a decisão da causa atinge o assistente de

forma indireta ou reflexa. Na assistência litisconsorcial, porque a

relação deduzida também é do assistente ou só a ele pertence, o

decisum atinge-lhe diretamente, na sua esfera jurídica. No plano

material, é como se a sentença tivesse sido proferida em face do

assistente mesmo.” (FUX, 1990, p. 13).

Ambas são classificadas como intervenções voluntárias.

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1.1.2 – Oposição

É a intervenção voluntária de terceiro em demanda alheia, através de

uma ação, com o objetivo de pleitear para si o bem jurídico disputado pelas

partes originárias.

A oposição tem por finalidade abreviar a solução da pendência, visa

também a economia processual.

De acordo com o art. 56, do CPC, a oposição pode ser total ou parcial.

Tem-se oposição total quando o terceiro reivindica a integralidade do bem

jurídico disputado e oposição parcial quando a reivindicação é sobre parte da

coisa ou do direito sobre o qual as partes controvertem.

Athos Gusmão Carneiro entende que:

“a oposição é processualmente uma nova ação, em que é autor o

terceiro, como opoente, e são réus o autor e o réu da ação já

existente, como opostos.” (CARNEIRO, 2009, p. 82).

1.1.3 – Nomeação à Autoria

A nomeação à autoria encontra-se prevista nos arts. 62 ao 69, do CPC

e tem por finalidade a correção do pólo passivo da demanda.

O réu que se considera parte ilegítima é quem deverá nomear o

terceiro para que este venha substituí-lo no pólo passivo da demanda, porém,

para que o terceiro ingresse no processo e haja a substituição processual é

necessária a aceitação por parte do autor e do nomeado.

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Para o juiz Edward Carlyle Silva:

“A nomeação à autoria é uma questão de ilegitimidade ad causam. A

parte originária é parte ilegítima. Assim sendo, ela realizará a

nomeação à autoria do verdadeiro legitimado para que esse responda

pelo ato. Mas essa nomeação se dá em casos expressos na lei. Não

em qualquer caso.” (SILVA, 2007, p. 160).

A nomeação à autoria constitui forma de intervenção forçada.

1.1.4 – Denunciação da Lide

A denunciação da lide tem como característica o fato de ser uma ação

regressiva proposta no mesmo processo, pode ser proposta pelo autor ou pelo

réu em face de um terceiro chamado denunciado e tem por objetivo garantir a

indenização do denunciante caso perca a demanda.

É uma modalidade de intervenção de terceiros provocada.

Encontra-se prevista no art. 70 do CPC e tem por finalidade a

economia processual.

1.1.5 – Chamamento ao Processo

É forma de intervenção forçada e só pode ser utilizada pelo réu.

Encontra-se disciplinado nos arts. 77 ao 80, do CPC, e tem por objetivo

chamar os demais co-obrigados para integrarem a relação processual na

qualidade de litisconsortes passivos, com a finalidade de que o juiz declare, na

mesma sentença a responsabilidade de cada um.

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Segundo Athos Gusmão Carneiro,

“A sentença apresenta similitude com a proferida nos casos de

denunciação da lide. Mas com uma diferença. Na denunciação, a

sentença de procedência é título executivo, no que tange à ação

regressiva, em favor do denunciante e contra o denunciado. No

chamamento, nem sempre o título executivo será formado em favor

do chamante e contra o chamado; poderá sê-lo em favor do chamado

e contra o chamante, tudo dependendo de quem vier, ao final, a

satisfazer a dívida.” (CARNEIRO, 2009, p. 180).

1.1.6 – Recurso de Terceiro Prejudicado

O recurso de terceiro prejudicado encontra-se disciplinado no art. 499

do CPC.

É considerado terceiro prejudicado, para efeitos recursais, aquele que

possa ser afetado por decisão judicial proferida em processo pendente do qual

não atuou.

Para recorrer de decisão proferida em processo que não participou, o

terceiro deverá ter interesse jurídico.

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CAPÍTULO II

DENUNCIAÇÃO DA LIDE

2 – Conceito

Nos ensinamentos de Edward Carlyle Silva, denunciação da lide é a:

“Modalidade de intervenção de terceiros que se caracteriza por ser

uma ação regressiva proposta no mesmo processo pelo autor ou pelo

réu, em face de um terceiro chamado denunciado, contra o qual

algum deles possua pretensão de reembolso. Pretensão essa

indenizatória, caso venha a sucumbir na demanda principal.” (SILVA,

2007, p. 175).

Humberto Theodoro Júnior, resume o conceito e diz que a

denunciação da lide:

“Consiste em chamar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo

de direito com a parte (denunciante), para vir responder pela garantia

do negócio jurídico, caso o denunciante saia vencido no processo.”

(THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 141).

Segundo o art. 70 do Código de Processo Civil, a denunciação da lide

é cabível em três casos: a) garantia da evicção; b) posse direta e c) direito

regressivo de indenização.

Neste trabalho trataremos especificamente do caso de denunciação da

lide na garantia da evicção.

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2.1 – Finalidade

A denunciação da lide visa, em regra, duas finalidades: colaboração do

terceiro na defesa da parte que o convocou e caso a parte que o convocou

perca a demanda, sua indenização pelo terceiro demandado.

Para Dinamarco, a denunciação da lide:

“É a demanda com que a parte provoca a integração de um terceiro ao

processo pendente, para o duplo efeito de auxiliá-lo no litígio com o

adversário comum e de figurar como demandado em um segundo

litígio.” (DINAMARCO, 2001, Apud CARNEIRO, 2009, p. 105).

Além disso, a denunciação da lide visa atender aos princípios da

economia e celeridade processuais e tem também por escopo a redução dos

riscos de decisões conflitantes e assim, garantir a segurança jurídica das

decisões e a efetividade do processo.

2.2 – Obrigatoriedade

Encontramos quatro correntes que tratam da obrigatoriedade ou não

da denunciação da lide:

Filiado a 1ª corrente temos Moacyr Amaral dos Santos que entende

que as três hipóteses apresentadas nos incisos do art. 70, do CPC são casos

de denunciação da lide obrigatória e caso não seja realizada a denunciação a

parte perderá o direito de regresso. (SANTOS Apud SILVA, 2007, p. 180)

Na 2ª corrente encontramos Fredie Didier Jr. que entende que não se

deve considerar obrigatória a denunciação da lide, caso fosse assim,

favoreceria o enriquecimento ilícito do alienante do bem e além disso

descaracterizaria a finalidade do instituto que é o alcance da economia e da

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celeridade processuais. Entende o autor que uma norma de direito processual

não pode acarretar a perda de uma direito material. (DIDIER JR. Apud SILVA,

2007, p. 180)

A 3ª corrente é encabeçada por Athos Gusmão Carneiro que cita

Aroldo Plínio Gonçalves, esclarece que é obrigatória a denunciação da lide nos

casos dos incisos I, II e de alguns do inciso III do art. 70 do CPC, que tratam

de garantia própria também chamada de formal, neste caso o adquirente

perderia a garantia prometida pelo transmitente. Já nos casos de garantia

imprópria tratada nos demais casos (de responsabilidade civil) do inciso III, a

denunciação seria facultativa e estaria assegurado o direito de regresso em

face do responsável civil, em processo autônomo. (CARNEIRO, 2009, p. 107).

A 4º corrente apresenta a posição majoritária na doutrina e é adotada

por Barbosa Moreira, Cândido Dinamarco, Luiz Fux e Arruda Alvim. Para esses

autores a denunciação da lide seria obrigatória nos casos do inciso I do art. 70

do CPC e facultativa nos casos dos incisos II e III do mesmo artigo.

Esclarecem que no caso da denunciação facultativa, ocorreria a preclusão do

direito à denunciação da lide, porém a parte poderia exercer o direito de

regresso através de ação autônoma. (SILVA, 2007, p. 181)

Lopes da Costa citado por Humberto Theodoro Júnior acrescenta:

“quando à denúncia a lei substantiva atribuir direitos materiais (o caso

da evicção, por exemplo) é ela obrigatória. Se apenas se visa ao

efeito processual de estender a coisa julgada ao denunciado, é ela

facultativa (para o denunciante).” Para o denunciado, porém os

efeitos inerentes à intervenção são sempre obrigatórios. (THEODORO

JÚNIOR, 2006, p. 144)

E Humberto Theodoro conclui: a obrigatoriedade de que fala o art. 70

decorre do direito material e não da lei processual.” (THEODORO JÚNIOR,

2006, p. 145).

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2.3 – Procedimento

O Código de Processo Civil regula o procedimento da denunciação da

lide do seu artigo 71 ao artigo 76; sendo tratado também no Código Civil, mais

precisamente no seu art. 456.

Aqui trataremos do procedimento estabelecido pelo CPC.

Encontramos no art. 71 do CPC o momento em que deverá ser

proposta a denunciação da lide.

E assim determina o art. 71:

”A citação do denunciado será requerida, juntamente com a do réu, se

o denunciante for o autor; e, no prazo para contestar, se o denunciante

for o réu.”

De acordo com o artigo acima citado, o autor pedirá a citação do

denunciado e do réu, porém será feita em primeiro lugar a citação do

denunciado, para que o mesmo possa se defender quanto à ação regressiva e

também assumindo a condição de litisconsorte do ator, aditar a petição inicial,

conforme permissivo do art. 74 do CPC.

No caso do réu, Humberto Theodoro entende que o réu não está

obrigado a apresentar a contestação junto com a denunciação, e acrescenta:

“deverá ser reaberto ao denunciante o prazo para contestar, após a

solução do incidente, mesmo porque, as mais das vezes, dependerá

do comparecimento do denunciado para estruturar a resposta.”

(THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 147.)

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Já Athos Gusmão Carneiro entende que o réu deverá apresentar a

contestação e a denunciação da lide simultaneamente. (CARNEIRO, 2009, p.

133)

Mas uma coisa é certa, tanto no caso de denunciação pelo autor

quanto pelo réu, não basta apenas efetuar a denunciação da lide, deve-se

expor os fatos e os fundamentos jurídicos dela para que então o denunciado

possa se defender.

O art. 72 do CPC trata da suspensão do processo principal, até que se

proceda a citação do denunciado, caso a denunciação seja aceita. Tal

suspensão objetiva a efetiva participação do denunciado em todos os atos

instrutórios.

O parágrafo primeiro do citado artigo fixa o prazo para a citação e o

parágrafo segundo estabelece que caso não haja a citação, a ação

prosseguirá somente em relação ao denunciante, porém se o denunciante

adotou todas as providências para promover a citação, o mesmo não será

prejudicado por conta de erro ou demora dos serviços forenses.

Realizada a citação do denunciado, a demanda principal e a

secundária correrão simultaneamente e serão decididas em uma única

sentença.

O art. 73 do CPC prevê a possibilidade de denunciações sucessivas,

porém o magistrado não está obrigado a admiti-la nos casos em que possa

ocorrer demora no andamento do feito que traduza em prejuízos à parte

contrária.

Para Humberto Theodoro Júnior, “o que permite o art. 73 é a

acumulação sucessiva de várias denunciações da lide num só processo.”

(THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 151)

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O tema será melhor desenvolvido no próximo item.

O art. 74 trata da denunciação feita pelo autor, e segundo Humberto

Theodoro Júnior, o denunciado poderá adotar uma das três providências:

“1) simplesmente permanecer inerte, caso em que findo o prazo de

comparecimento o juiz determinará a citação do demandado,

prosseguindo a ação apenas entre autor e réu; ou

2) comparecer e assumir a posição de litisconsorte, caso em que

poderá aditar a petição inicial; ou, finalmente,

3) negar sua qualidade, quando, então o autor prosseguirá com a

ação contra o réu (..)” (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 146)

E o art. 75 trata da denunciação realizada pelo réu, quando o

denunciado poderá adotar uma das seguintes hipóteses previstas no citado

artigo:

“I - Se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processo

prosseguirá entre o autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes,

o denunciante e o denunciado;”

Aceitando o denunciado a sua denunciação, poderá contestar o pedido

no prazo de 15 dias (prazo de resposta), contados a partir do prazo para

responder à nomeação.

“II - Se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a

qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na

defesa até o final;”

Assim sendo, será reaberto o prazo para contestação após se resolver

o incidente, caso a defesa não tenha sido apresentada junto com o pedido de

denunciação da lide.

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“III - Se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poderá

o denunciante prosseguir na defesa.”

Neste caso será reaberto o prazo de resposta, nas condições

mencionadas no inciso anterior.

E finalmente, o art. 76 estabelece que o julgamento da ação principal,

em caso de deferimento da denunciação da lide, será feito em conjunto com a

ação regressiva (direito decorrente da evicção ou da responsabilidade por

perdas e danos), caso não seja assim, será considerada nula, conforme

acórdão abaixo:

“Havendo denunciação da lide, o juiz deve decidir, na mesma

sentença, o litígio entre autor e réu e aquele entre denunciante e

denunciado. A sentença que decida apenas a ação principal,

omitindo-se quanto à ação secundária de denunciação da lide, é

nula”. (STJ-3ª T., REsp 843.392, rel. Min. Ari Pargendler, j. 25.09.06,

DJU 23.10.06, p. 313).

2.4 – Hipóteses Especiais

Aqui vamos apresentar, mesmo que de forma superficial, as três

possíveis hipóteses de denunciação da lide defendidas por nossos

doutrinadores. Aqueles que abraçam uma determinada hipótese excluem

totalmente as outras e cada qual defende seu ponto de vista.

Não podemos esquecer que o foco principal deste trabalho é a

denunciação da lide per saltum, mas é importante abordar as outras duas

hipóteses, visto que, a indagação que leva às discussões doutrinárias é

sempre a mesma: a possibilidade da parte litigar em face do denunciado sem

haver vínculo jurídico de direito material entre eles.

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2.4.1 – Denunciação Sucessiva

Na denunciação sucessiva pode se estabelecer uma cadeia de

denunciações e cada uma delas deve ser provocada pelo respectivo titular do

direito de regresso, ou seja, o adquirente faz a denunciação ao seu alienante

imediato e este, denunciará a lide a quem lhe transferiu o bem, e assim por

diante.

Conforme previsão do art. 73 do CPC:

“Para fins do disposto no art. 70, o denunciado por sua vez, intimará

do litigio o alienante, o proprietário, o possuidor indireto ou o

responsável pela indenização e, assim, sucessivamente, observando-

se, quanto aos prazos, o disposto no artigo antecedente.”

E assim, o denunciado poderá ter com outrem a mesma posição

jurídica do denunciante perante ele, conforme analisa Humberto Theodoro

Júnior. (2006, p. 151).

Em síntese, o art. 73 permite várias denunciações da lide em um só

processo, porém, cada denunciado terá que providência-la de forma regressiva

a cada transmitente imediato.

Essa hipótese é defendida por aqueles que entendem não ser possível

a denunciação da lide por saltos, pois se assim fosse, estaria afirmando a

responsabilidade de uma pessoa perante outra que não possui nenhuma

relação jurídica.

Os doutrinadores que entendem que o art. 456 do CC permitiu as

denunciações sucessivas, destacam que, o vínculo existente na garantia

regressiva só pode acontecer entre o adquirente e seu antecessor imediato, e

sendo assim, cada adquirente, dentro da cadeia de várias e sucessivas

transmissões do mesmo bem, só poderá fazer a denunciação da lide ao

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alienante de quem houve a coisa litigiosa, não havendo lugar para a

denunciação direta de figurantes remotos na aludida cadeia dominial.

2.4.2 – Denunciação Coletiva

Esta hipótese é defendida por aqueles que rechaçam a denunciação

sucessiva e não aceitam a denunciação per saltum.

Aqui seria permitido àquele atingido pela evicção que promovesse de

uma só vez a denunciação de todos os integrantes da cadeia de transmissões

do mesmo bem, mas há de se entender que não estaria quebrando a cadeia

das sucessivas responsabilidades.

Rodrigo Salazar (2004) destaca que o art. 456 do CC não estaria

franqueando a escolha livre do denunciado pelo denunciante, mas permitindo

apenas a denunciação coletiva, feita sempre em respeito à corrente sucessiva

de alienações.

Para Gilberto e Adriana Ligero, que defendem a denunciação coletiva:

“A possibilidade de trazer para uma só relação jurídica processual

todos aqueles que participam da “cadeia dominial” (relação jurídica

material), possibilitando a ampla discussão sobre a responsabilidade

pela evicção (obrigação), não só evita a realização de infindáveis

denunciações sucessivas, que tumultuam o processo, bem como a

propositura de eventuais ações autônomas para recobrar o preço, que

podem gerar decisões conflitantes, afrontando o princípio da harmonia

dos julgados.” (LIGERO, p. 11)

Em resumo, “seria facultado, assim, o chamamento conjunto de todos

os anteriores proprietários, e não apenas o chamamento gradual previsto na

lei.” (CARNEIRO, 2009, p. 141).

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2.4.3 – Denunciação Per Saltum

Nesta hipótese temos os doutrinadores que entendem que a

modificação introduzida pelo Código Civil autorizou a denunciação por saltos.

Aqui o denunciante poderia “escolher” por qualquer daqueles que

fizeram parte na cadeia dominial para em face desse oferecer a denunciação,

independente de haver relação jurídica de direito material com o denunciado.

Assim esclarecem Guilherme Marinoni e Sérgio Arenhart:

“ O novo Código Civil tolhe as denunciações sucessivas, autorizando

apenas o adquirente a eleger aquele contra quem pretende exercer o

direito da evicção. Os demais terão de pedir o ressarcimento dos

prejuízos em outra sede.” (MARINONI e ARENHART, 2005, p. 187)

Esta hipótese de denunciação será amplamente desenvolvida no

próximo tópico, visto ser o assunto central deste trabalho monográfico.

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CAPÍTULO III

DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM

3 – Considerações Iniciais: Alteração do Direito Material

Com a entrada em vigor do novo Código Civil houve uma grande

remodelação no direito material, mas tais inovações não afetaram somente o

direito civil pátrio, mas trouxeram alterações também para o direito processual.

Dentre as inovações, uma das que encontra-se causando grandes

discussões refere-se ao instituto da denunciação da lide em caso de evicção.

No sistema do antigo Código Civil predominava o entendimento de que

a denunciação da lide somente era cabível contra aquele de quem o

denunciante tivesse havido o bem ou o direito ameaçado de evicção, podendo

ocorrer porém a chamada denunciações sucessivas, estabelecendo assim

uma cadeia de denunciações, mas não se permitia a denunciação por saltos.

Tal espécie de denunciação era regida pelo artigo 73 do Código de

Processo Civil, que estabelece o seguinte:

“Art. 73 – Para fins do disposto no art. 70, o denunciado, por sua vez,

intimará do litígio o alienante, o proprietário, o possuidor indireto ou o

responsável pela indenização e, assim, sucessivamente, observando-

se, quanto aos prazos, o disposto no artigo antecedente”.

O citado artigo ainda encontra-se em vigor, porém como dito linhas

acima, a alteração no direito material refletiu no direito processual e a partir daí

o que já não era pacífico passou a causar maiores polêmicas.

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O “vilão” dessa novela encontra-se no artigo 456 do novo Código Civil,

que assim preceitua:

“Art. 456 – Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o

adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos

anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo.”

A partir daí entrou na discussão: o novo Código Civil passou a permitir

ou não a denunciação da lide por saltos ou per saltum?

3.1 – Conceito

Como será notado mais a diante, somente em relação ao conceito que

não há maiores distorções.

Para Alexandre Câmara, um dos maiores críticos desta espécie de

denunciação, tratar-se-ia da permissão para que “o denunciante demandasse

não em face daquele com quem estabeleceu relação jurídica de direito

material, mas em face de sujeito de relação jurídica distinta, anterior à sua”.

(CÂMARA, 2002, p. 203).

Já para Cássio Scarpinella Bueno, um dos defensores da denunciação

por saltos, tratar-se-ia da utilização da denunciação da lide,

“não necessariamente e em qualquer caso, ao alienante imediato, de

quem o denunciante adquiriu o bem ou direito questionado em juízo,

mas a qualquer outro dos anteriores, independentemente da ordem

das alienações no plano do direito material”. (BUENO, 2003, p. 249).

Outro também defensor da denunciação por saltos, Humberto

Theodoro Júnior, acrescenta que:

“Com esta inovação, o direito de reclamar os efeitos da garantia da

evicção passou a ser exercitável, mediante a denunciação da lide, não

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só ao alienante imediato, mas também perante qualquer outro que

anteriormente tenha figurado na cadeia das transmissões do bem ou

do direito.” (THEODORO JR., 2006, p. 139).

Há de se deixar claro que está se tratando da hipótese de denunciação

da lide prevista no art. 70, I, do CPC, que trata do procedimento nos casos de

evicção, que segundo Gabriel de Rezende Filho, seria “a perda que o

possuidor da coisa adquirida sofre em virtude de uma sentença obtida por

terceiro que à mesma coisa tenha direito anterior à transferência.” (REZENDE

FILHO, Apud SANTOS, 2009, p. 28).

Sílvio de Salvo Venosa define evicção como “a perda em juízo da coisa

adquirida, isto é, a perda da coisa pelo adquirente em razão de uma decisão

judicial”. (VENOSA, 2003, p. 564).

Ressalte-se que para a jurisprudência, o direito de invocar a evicção

existe até mesmo nos casos em que não ocorra a perda da coisa por decisão

judicial.

Como se verifica das definições acima, denunciação da lide per saltum

seria a forma que o evicto teria de exercer seu direito resultante da evicção

contra qualquer um dos alienantes, independente de haver relação jurídica de

direito material com os mesmos.

3.2 – Denunciação da Lide em Caso de Evicção

Evicção define-se como a perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou

propriedade da coisa transferida, por força de uma sentença judicial ou ato

administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado

evictor.

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Do conceito extrai-se que o objetivo da evicção é, especialmente, a

necessidade de resguardar o adquirente de uma eventual alienação a non

domino, ou seja, alienação de coisa não pertencente ao alienante.

O evicto, ao exercer o seu direito, resultante da evicção, formulará, em

face do alienante, uma pretensão tipicamente indenizatória.

“O CPC, no inciso I do art. 70, autoriza a denunciação da lide ao

alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi

transferido à parte, a fim de que esta possa exercer os direitos que da

evicção lhe resultam.” (CARNEIRO, 2008, p. 118).

Para os defensores da denunciação da lide por saltos, o caput do art.

456 do CC, trouxe uma inovação ao regramento da denunciação da lide em

caso de evicção e assim o adquirente poderá denunciar a lide o alienante

imediato ou qualquer um dos anteriores, em outras palavras, poderá denunciar

a lide quem lhe vendeu ou quem vendeu a quem lhe vendeu.

3.3 – Posição Doutrinária

No meio doutrinário, predominante era o entendimento de que não era

possível exercer a denunciação da lide em face de participante da cadeia

sucessória, que não possuísse relação jurídica direta como o denunciante.

Porém com a alteração do Código Civil, mais precisamente no art. 456,

o legislador teria autorizado o adquirente a denunciar os alienantes anteriores

além daquele que lhe vendeu o bem.

Diante deste dispositivo legal, uma grande discussão está sendo

levantada entre os doutrinadores, sobre qual o sentido da inovação, hoje

temos três correntes doutrinárias se posicionando sobre o tema.

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3.3.1 – Corrente Favorável

Dentre os doutrinadores favoráveis à esta hipótese de denunciação

encontramos Cássio Scarpinella Bueno, para quem a lei material autorizou a

denunciação por saltos,

“criando a lei material a possibilidade de o adquirente litigar em juízo

diretamente com pessoas com quem não teve ou não tem qualquer

relação jurídica, mas que sejam, de uma forma ou de outra,

“responsáveis pela indenização” (ou , mais rigorosamente, pela

evicção), nos termos do art. 73 do Código de Processo Civil. É dizer

por outras palavras: o novo art. 456 do Código Civil admite que se

litigue com alguém em juízo independentemente de relação jurídica de

direito material.” (BUENO, 2003, p. 250).

Humberto Theodoro Júnior, outro doutrinador que engrossa a corrente

dos favoráveis à denunciação per saltum acrescenta:

“entendia-se que a denunciação sucessiva, nos termos do art. 73, não

se podia fazer per saltum (]) O tema foi enfocado de maneira

diferente pelo Novo Código Civil, ao tratar, no art. 456, da garantia da

evicção.” (THEODORO JR., 2006, p. 151)

Também posicionando-se favorável a esta corrente encontramos

Marcelo Abelha Rodrigues para quem

“o CC-2002 teria estabelecido um caso de solidariedade legal de

todos os alienantes que compõem a cadeia sucessória em face do

último adquirente: todos teriam a obrigação de responder pela

evicção, sendo permitido ao adquirente cobrar a indenização contra

qualquer dos alienantes. Seria permitida a denunciação per saltum,

não para que o “quarto” (“D”) venha defender interesses do “terceiro”

(“C”), mas em razão da existência de uma solidariedade passiva entre

eles em face de “B”, o último adquirente/evicto.” (RODRIGUES apud

DIDIER JR., 2008, p. 121).

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Fredie Didier Jr. acrescenta “pode o adquirente denunciar a lide a

quem lhe vendeu ou a quem vendeu a quem lhe vendeu etc. O tema é novo e

polêmico”. (DIDIER JR., 2008, p. 119).

Para os eminentes juristas que admitem a denunciação por saltos, o

entendimento majoritário que entendia inadmissível esta forma de

procedimento estaria superado, conforme aponta Marcus Vinícius Gonçalves

Rios:

“não se admitia, em nenhuma hipótese, que a denunciação se fizesse

por saltos. No entanto, o art. 456, do novo Código Civil não deixa

dúvidas, permitindo que a denunciação se faça ao alienante imediato

ou a qualquer dos anteriores, na forma das leis do processo.” (RIOS,

2004, p. 197).

O jurista Arruda Alvim que antes era contrário a admissão da

denunciação por saltos, argumentando que era indispensável a existência de

relação jurídica entre denunciante e denunciado, hoje diante da alteração

havida no direito material, revê seu posicionamento e se filia a corrente

majoritária por entender que o art. 456 do atual CC estaria “abrindo a

possibilidade para a chamada denunciação da lide per saltum até então

inadmitida.” (ALVIM, 2005, p.160).

Na defesa de seus posicionamentos alguns juristas se limitam a

invocar o art. 456 do CC enquanto outros vão além e fazem uma análise

minuciosa do assunto em tela.

Cássio Scarpinella Bueno se baseando na alteração da

regulamentação do instituto da evicção, sustenta a viabilidade da denunciação

per saltum quando combinar as regras do art. 456, do CC com as do art. 73

do CPC.

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Para o autor, procedendo desta forma o direito processual estaria

“alimentado pela nova regra de direito civil”, o qual teria regulado um caso de

substituição processual:

“a hipótese, posto que adstrita aos casos de evicção, afina-se a ideia

de legitimação extraordinária. Em juízo estará alguém (o alienante)

litigando, em nome próprio, por direito alheio (do adquirente ou, mais

amplamente, dos diversos componentes, senão de todos, da cadeia

dominial)”. (BUENO, 2003, p. 250).

Humberto Theodoro Jr. apesar de compactuar com a mesma corrente,

entende que a hipótese trata-se de solidariedade passiva:

“conferindo-se ao evicto direito de avançar na cadeia regressiva dos

sucessivos alienantes, a lei civil acabou por instituir uma solidariedade

passiva entre eles e perante aquele que sofre a evicção. O que afinal

suportar a garantia terá, naturalmente, direito de reembolso junto aos

alienantes que o precederam na cadeia.” (THEODORO JR., 2006, p.

151).

E acrescenta que o art. 456 do CC ao recomendar a necessidade de

observar o que dispõe as leis de processo, estaria apenas referindo-se “a

necessidade de observar o procedimento traçado pela lei processual para a

denunciação da lide.” Concluindo que: “não foi a legitimidade para exercer o

direito de garantia emanado da evicção, nem tampouco o seu alcance objetivo

e subjetivo.” (THEODORO JR., 2006, p. 139).

Os dois autores concordam que não fosse esta fundamentação não

teria propósito jurídico algum a inovação trazida pela lei civil.

Conforme se pode verificar, para estes ilustres juristas o art. 456 do CC

estaria viabilizando a denunciação da lide per saltum e além disso teria criado

uma nova situação de legitimação extraordinária ou de solidariedade passiva

entre o evicto e os alienantes do bem que está sendo reclamado.

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3.3.2 – Corrente Contrária

Alexandre Freitas Câmara, um dos juristas contrário a corrente

majoritária, entende que o art. 456 do CC não pode ser utilizado para autorizar

uma denunciação por saltos.

Para o ilustre jurista, se permitindo tal hipótese de denunciação, estar-

se-ia responsabilizando uma pessoa perante outra, sem haver entre elas

qualquer relação jurídica de direito material.

Ressalta que:

“é preciso observar que a lei civil afirma a possibilidade de se fazer a

denunciação da lide ao alienante imediato, ou a qualquer dos

anteriores, 'quando e como lhe determinarem as leis do processo'.

Esta cláusula final remete ao sistema do CPC, segundo o qual a

denunciação da lide é feita pelo adquirente ao seu alienante imediato e

este por sua vez, denunciará a lide a quem lhe transferiu o bem, e

assim por diante. (]) fazendo-se mister a realização de denunciações

da lide sucessivas.” (CÂMARA, 2002, p. 204).

Também filiado a esta corrente encontramos Cândido Rangel

Dinamarco, que entende que: “são inadmissíveis as denunciações per saltum:

cada sujeito processual só pode denunciar a lide ao seu próprio garante e

jamais aos garantes de seu garante.” (DINAMARCO, 2003, p. 406).

Para o ilustre jurista o evicto não teria legitimidade para demandar em

face daquele que não fosse o alienante imediato.

Um dos mais radicais dentre os autores citados encontramos Gustavo

Santana Nogueira, que não admite sequer a denunciação sucessiva. Ressalta

que: ''nossa opinião é a de que, apesar do Código Civil aparentemente permitir

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a denunciação per saltum, esta não será cabível por força das regras

processuais.” (NOGUEIRA, 2004, p. 202).

Fredie Didier Jr. destaca em sua obra o posicionamento de Flávio

Yarshell, para quem “a nova regra deve ser compreendida como a

consagração, na legislação civil, da possibilidade de denunciação sucessiva

prevista no art. 73 do CPC.” (YARSHELL apud DIDIER JR., 2008, p.120).

Continua:

“o autor não aceita o entendimento que reconhece a possibilidade de

uma denunciação da lide per saltum, que permitiria que um alienante,

provavelmente aquele que tivesse maior capacidade econômica,

pudesse responder por diferentes indenizações, de diferentes

adquirentes.” (DIDIER JR., 2008, p. 120).

3.3.3 – Corrente Intermediária

Esta terceira corrente propõe um ponto intermediário de equilíbrio.

Filiam-se a ela Sérgio Ricardo Fernandes, Moniz de Aragão e Rodrigo Salazar.

Para estes juristas o objetivo da inovação seria autorizar a chamada

'denunciação coletiva' e com ela alcançar de uma só vez, todos os integrantes

da cadeia de transmissão do mesmo bem.

Rodrigo Salazar defende a tese de que:

“a nova redação do art. 456 do CC, combinada com o quanto exposto

pelo art. 70, I do CPC, deve ser entendida como autorização para que

seja realizada a 'denunciação coletiva', evitando-se denunciações

sucessivas desnecessárias, e não como beneplácito à denunciação

per saltum.” Sua tese é respaldada ainda no posicionamento do STJ,

que em algumas decisões admitiu a denunciação da lide coletiva.

(SALAZAR, 2004, p. 944).

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Para Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes a intenção do legislador foi

de permitir a denunciação coletiva para abreviar assim a fase de citação dos

possíveis denunciados, pois “iria prolongar-se demasiado à medida que fosse

respeitada a ordem sucessiva de citação de cada um.” Entende que o

adquirente tem que denunciar a lide ao alienante e valer-se da faculdade de,

no mesmo momento , requerer a citação dos demais integrantes da cadeia

sucessória, e acrescenta: “uma vez citados todos, haverá para cada qual a

possibilidade de exercer sua ação regressiva em face do antecessor.”

(FERNANDES, 2004, p. 02).

Após a análise dessa última corrente pudemos ter uma visão

panorâmica do que vem sendo construído pela doutrina pátria em relação ao

tema proposto, que é revestido de uma importância prática de total relevância.

3.4 – Necessidade de Adequação do CPC ao CC?

Para aqueles que entendem que o novo Código Civil autorizou a

denunciação da lide per saltum, a resposta é sim, há necessidade de

adequação do Código de Processo Civil com as novidades introduzidas pela lei

material.

Diante dessa nova sistemática, Athos Gusmão Carneiro propõe a

reforma do texto dos arts. 70, I, e 73, caput, do CPC para colocá-lo em sintonia

com o art. 456 do Código Civil.

Para o autor da proposta, o fundamento da adequação está em que

“a lei material já agora em vigor dispõe que a denunciação não se fará

exclusivamente ao 'alienante' imediato da coisa à parte denunciante

(como estava no art. 1.116 do CC de 1916), mas sim poderá ser feita

a 'qualquer' anterior transmitente na cadeia dominial, tal como consta

do vigente Código Civil” (CARNEIRO, 2008, p. 15).

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Assim, propõe que o art. 70, I, do CPC, passe a ter a seguinte redação:

“Art. 70. Cabe a denunciação da lide: I – ao alienante imediato, ou a

qualquer dos anteriores na cadeia dominial, na ação relativa à coisa

cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que possa exercer o

direito que da evicção lhe resulta”. (CARNEIRO, 2008, p. 13).

E justifica, “assim, a proposta de alteração do art. 70, I, busca a

necessária harmonização entre a lei processual e o novo regramento trazido

pelo Código Civil vigente”. (CARNEIRO, 2008, p. 15).

Para o art. 73, caput, sugere a seguinte redação:

“Art. 73. Para os fins do disposto no art. 70, I, o denunciado, por sua

vez, requererá a citação do alienante anterior, ou de outro na cadeia

dominial, e assim sucessivamente, observando-se quanto aos prazos

o disposto no artigo antecedente (...)” (CARNEIRO, 2008, p. 16).

Verifica-se com esta proposta, que o objetivo do processualista é a

modernização dos textos processuais que para ele foram atingidos pelas

alterações insertas no novo Código Civil.

3.5 – Posição Jurisprudencial

Antes da alteração do direito material os tribunais brasileiros não

admitiam a denunciação per saltum.

Os Tribunais de Justiça estaduais firmavam entendimento contrário a

essa hipótese de denunciação, exigindo-se que toda a cadeia dominial fosse

percorrida através de denunciações sucessivas.

Tal entendimento encontrava-se amparo em posição pacífica do

Supremo Tribunal Federal, prevalecendo a tese de que:

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“a denunciação da lide, com base no inciso I do art. 70 do C.P.C., só é

possível ao alienante imediato, não "per saltum", como já decidiu o

S.T.F. em vários precedentes”. (ACO 301 QO / MT - MATO GROSSO,

Relator: Min. SYDNEY SANCHES, Julgamento: 01/02/1989, Órgão

Julgador: Tribunal Pleno, Publicação: DJ 10/03/1989).

Atualmente, após a alteração do Código Civil, ainda não houve

manifestação do STF sobre o assunto.

No STJ, também não houve manifestação sobre a denunciação da lide

por saltos, apesar de ser o Órgão com competência para apreciação da

matéria.

Em alguns Tribunais estaduais a questão começa a ser discutida,

como por exemplo no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que antes

seguia o entendimento do STF, em 2004 já alterou sua posição e parece ter

aceitado a denunciação por saltos:

“Ademais, defendem a possibilidade de acionar diretamente o Estado,

em atuação “per saltum”, o que hoje, encontra expresso respaldo no

art. 456, do novo Código Civil, por presente sub-rogação legal.”

(Agravo de Instrumento nº 700089311354,Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul, 5ª Câmara Cível, Relator: Des. Leo

Lima, Julgamento: 16/09/2004).

Por outro lado, o Tribunal de Justiça do Paraná, continua mantendo o

entendimento pela não aceitação da denunciação per saltum, conforme trecho

do julgamento da Apelação Cível nº 136.852-9:

“O autor pode denunciar à lide somente aquele de quem adquiriu o

imóvel, pois não tem relação jurídica com o alienante anterior.”

(Apelação Cível nº 136.852-9, Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná, 1ª Câmara Cível, Relator: Des. Péricles Bellusci de Batista

Pereira, Julgamento: 02/09/2003).

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Das jurisprudências pesquisadas, pode-se verificar que são poucos os

julgados tratando da matéria em questão, sendo assim, não se tem ainda uma

jurisprudência consolidada em nossos Tribunais, mas apesar da ínfima

quantidade de decisões, o tema promete ser motivo de calorosos debates

pelos conhecedores do assunto, o que poderá repercutir nas cortes do país.

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CONCLUSÃO

Conforme se verifica no trabalho ora apresentado, as inovações

trazidas pelo direito material afetou diretamente o direito processual pátrio e

com isso reacenderam as discussões em relação à intervenção de terceiros,

em especial à denunciação da lide no campo da evicção.

O entendimento, até então pacífico, em relação à inviabilidade do

denunciante oferecer a denunciação da lide por salto, ou seja, denunciar da

lide qualquer um da cadeia de alienações sem que haja entre eles qualquer

vínculo de direito material, agora encontra-se alquebrado.

Tal abalo se deve ao fato de o art. 456 do Código Civil prescrever que

o adquirente poderá notificar, tanto o alienante imediato como qualquer dos

anteriores, abrindo assim a discussão se estaria autorizando a denunciação da

lide per saltum ou não.

Na discussão do tema surgiram três correntes defendidas por

consagrados doutrinadores.

Na defesa da denunciação da lide por saltos encontramos nomes

como Humberto Theodoro Júnior e Cássio Scarpinella Bueno, para quem o art.

456 do CC estaria autorizando a denunciação per saltum.

Em lados opostos, que negam a possibilidade da denunciação da lide

per saltum estão Alexandre Câmara e Cândido Dinamarco.

Já a terceira corrente defende uma posição intermediária, entende

que o art. 456 do CC autoriza que seja realizada a denunciação coletiva, tem

como defensores Sérgio Ricardo Fernandes e Rodrigo Salazar.

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Enfim, como se observa, as inovações do Código Civil de 2002

trouxeram muitas soluções mas também muitos problemas para os

procedimentos estabelecidos no direito processual civil, e as discussões estão

longe de ter fim, mas todas tem um fim comum, se alcançar a efetividade do

processo. Portanto, resta pôr na prática do Tribunais os entendimentos

relacionados a aceitação ou não da denunciação da lide per saltum.

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BIBLIOGRAFIA

ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 9ª ed. vol. 2. São Paulo: RT,

2005.

BUENO, Cássio Scarpinella. Partes e terceiros no processo civil brasileiro. São

Paulo: Saraiva, 2003.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol. I. 8ª ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.

CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 18ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2009.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ]..................................................................................... 02

AGRADECIMENTOS ...................................................................................... 03

DEDICATÓRIA ]........................................................................................... 04

RESUMO ]..................................................................................................... 05

METODOLOGIA ].......................................................................................... 06

SUMÁRIO ].................................................................................................... 07

INTRODUÇÃO ]............................................................................................ 08

CAPÍTULO I ]................................................................................................. 09

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ]............................................................... 09

1– Considerações Gerais ]............................................................................ 09

1.1 – Espécies ]........................................................................................... 10

1.1.1 – Assistência ].............................................................................. 11

1.1.2 – Oposição ]................................................................................. 12

1.1.3 – Nomeação à Autoria ]................................................................ 12

1.1.4 – Denunciação da Lide ]............................................................... 13

1.1.5 – Chamamento ao Processo ]...................................................... 13

1.1.6 – Recurso de Terceiro Prejudicado ]............................................ 14

CAPÍTULO II ]................................................................................................ 15

DENUNCIAÇÃO DA LIDE ]........................................................................... 15

2 – Conceito ]................................................................................................ 15

2.1 - Finalidade ].......................................................................................... 16

2.2 – Obrigatoriedade ]................................................................................ 16

2.3 – Procedimento ]................................................................................... 18

2.4 – Hipóteses Especiais ]......................................................................... 21

2.4.1 – Denunciação Sucessiva ]........................................................... 22

2.4.2 – Denunciação Coletiva ]............................................................... 23

2.4.3 – Denunciação da lide Per Saltum #.............................................. 24

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CAPÍTULO III ]............................................................................................... 25

DENUNCIAÇÃO DA LIDE PER SALTUM ]................................................... 25

3 – Considerações Iniciais: Alteração do Direito Material ]........................... 25

3.1 – Conceito ]........................................................................................... 26

3.2 – Denunciação da Lide em Caso de Evicção ]...................................... 27

3.3 – Posição Doutrinária ].......................................................................... 28

3.3.1 – Corrente Favorável ]................................................................... 29

3.3.2 – Corrente Contrária ].................................................................... 32

3.3.3 – Corrente Intermediária ].............................................................. 33

3.4 – Necessidade de Adequação do CPC ao CC? ].................................. 34

3.5 – Posição Jurisprudencial ].................................................................... 35

CONCLUSÃO ].............................................................................................. 38

BIBLIOGRAFIA ]............................................................................................ 40

WEBGRAFIA ]............................................................................................... 42

ÍNDICE............................................................................................................. 43

FOLHA DE AVALIAÇÃO ]............................................................................. 45

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do

Mestre

Título da Monografia: Denunciação da Lide Per Saltum

Autor: Jaqueline Marques Dreyfuss

Data da entrega: 03/03/2010

Avaliado por: José Roberto Borges Conceito: