tese de doutorado estudo estrutural e Óptico do caf , srf ... · agradeço ao meu esposo marcos...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA TESE DE DOUTORADO Estudo Estrutural e Óptico do CaF 2 , SrF 2 e LiCaAlF 6 Produzidos pelo Método Hidrotermal Assistido por Micro-ondas. Claudiane dos Santos Bezerra São Cristóvão SE Outubro, 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

TESE DE DOUTORADO

Estudo Estrutural e Óptico do CaF2, SrF2 e LiCaAlF6 Produzidos pelo

Método Hidrotermal Assistido por Micro-ondas.

Claudiane dos Santos Bezerra

São Cristóvão – SE

Outubro, 2016

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Claudiane dos Santos Bezerra

Estudo Estrutural e Óptico do CaF2, SrF2 e LiCaAlF6 Produzidos

pelo Método Hidrotermal Assistido por Micro-ondas.

Orientador: Mário Ernesto Giroldo Valerio

São Cristóvão – SE

Outubro, 2016

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Física da Universidade Federal de

Sergipe, como requisito parcial para obtenção do

título de Doutor em Física.

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“O nosso destino está de

acordo com os nossos méritos.”

(Albert Einstein)

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Dedico este trabalho aos meus pais,

Marizete e Florival, aos meus irmãos, à

minha avó Josefa e ao meu esposo Marcos.

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Agradecimentos

Sou grata a Deus por sua graça e bondade, por me guiar em todos os momentos,

dando-me força, coragem e capacidade para superar todos os obstáculos e medos.

Agradeço ao meu orientador Dr. Mário Ernesto Giroldo Valerio, pela oportunidade de

realizar este trabalho, pela amizade, por acreditar em mim mesmo quando eu não acreditava.

Obrigada pela orientação paciência e conhecimentos transmitidos.

Obrigada aos meus pais, Florival e Marizete, pelo amor incondicional, pelas palavras

de sabedoria, apoio e incentivo. À minha avó Josefa, aos meus irmãos e irmãs pela

compreensão da minha ausência, pelo carinho e pela amizade. À minha família por

acreditarem em mim.

Agradeço ao meu esposo Marcos por sua confiança, pela força, pela compreensão,

paciência e conselhos. Além de esposo um grande amigo!

Não poderia esquecer da minha sogra Maria Auxiliadora, meu sogro Ademir e meus

cunhados Ademir Júnior, Alessandra, Liliane e Janaína. Obrigada a todos pelo apoio,

amizade, pelas risadas e momentos de descontração.

Agradeço aos colegas Adriano, Giordano, Manassés, Almeida, Benjamin, Tarsila,

Karol, Marluce, Bruno, Fernanda Fabian, Thiago Targino, Thiago Xavier, Yuri, João, David e

Jesse, pelo carinho e pela amizade. Agradeço também à Mislene que mesmo distante, sempre

me apoiou e incentivou muito. Obrigada de coração!

Aos professores e técnicos do Departamento de Física da UFS por todo conhecimento

e ajuda.

À Universidade Federal de Sergipe e ao Núcleo de Pós-Graduação em Física pela

oportunidade. À CAPES e CNPq pelo apoio financeiro. Ao LNLS e LNNano pela

infraestrutura dos laboratórios.

Agradeço também à todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o

desenvolvimento e realização desse trabalho.

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Resumo

Neste trabalho, CaF2, SrF2 e LiCaAlF6 puros e dopados com terras raras foram produzidos

pelo método hidrotermal assistido por micro-ondas, o qual é um método promissor para

produzir pós nanoestruturados de uma forma simples, com baixo custo e rápida. As amostras

foram produzidas com e sem agente quelante e sintetizadas em baixa temperatura, sob pressão

e curto período de tempo. As fases cristalinas das amostras foram identificadas por Difração

de Raios X (DRX) e a morfologia das partículas determinada por microscopia eletrônica de

varredura (MEV). As partículas apresentaram morfologias semelhantes para as amostras de

CaF2 e SrF2 produzidas com e sem o uso do agente quelante. Enquanto que as amostras de

LiCaAlF6 apresentaram uma morfologia diferente ao adicionar agente quelante. O estudo da

composição química do CaF2 foi realizado por espectroscopia de fotoelétrons excitados por

raios X (XPS) e os resultados indicaram a presença de uma quantidade razoável de grupos OH

e íons de oxigênio na amostra produzida com agente quelante. Os estudos ópticos foram

conduzidos por meio dos espectros de emissão e excitação para compreender a estrutura de

bandas e determinar o band gap dos materiais. Os espectros de emissão mostraram que o

CaF2 e o SrF2 apresentam luminescência intrínseca com uma banda em aproximadamente

300 nm associada a emissão do éxciton. A absorção fundamental associada ao band gap foi

estimada em 11,7 eV para o CaF2, 10,9 eV para o SrF2 e 12,1 para o LiCaAlF6. Os espectros

de emissão e excitação foram realizados na linha de luz TGM do Laboratório Nacional de Luz

Sincrotron (LNLS) e os resultados mostraram evidências de que a energia de formação do

éxciton e a energia do band gap são menores do que para o monocristal.

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Abstract

In this work, CaF2, SrF2 and LiCaAlF6 pure and doped with rare earths were produced by

microwave-assisted hydrothermal synthesis, which is a promising method to produce

nanostructured powders in a simple, low cost and fast way. The samples were produced with

or without using chelating agent and synthesized at low temperature, under pressure and a

short time period. The crystalline phases of the samples were identified by X-ray diffraction

(XRD) and the morphology of the particles was determined by scanning electron microscopy

(SEM). The particles present similar morphology to CaF2 and SrF2 samples produced with

and without using chelating agent. While the LiCaAlF6 samples presented a different

morphology when produced with EDTA. The study of the chemical composition of CaF2 was

performed by X-ray Photoelectron Spectroscopy (XPS) and the results indicated the presence

of reasonable amounts of hydroxyl groups and oxygen ions in the samples produced with

chelating agent. Optical study was conducted by emission and excitation spectra to understand

the band structure and to determine the band gap of the materials. The emission spectrum

showed that the CaF2 and SrF2 presents an intrinsic luminescence with an band at

approximately 300 nm associated with the exciton emission. The fundamental absorption

associated to the band gap was estimated at 11.7 eV for CaF2, 10.9 eV for SrF2 and 12.1 eV

for LiCaAlF6. The emission and excitation spectra were measured in the Toroidal Grating

Monochromator (TGM) beamline of the Brazilian Synchrotron Light Laboratory (LNLS) and

the results shown evidences that the formation energy of the exciton and band gap energy are

smaller than the ones for the single crystal.

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Lista de Figuras

Figura 1: Estrutura cristalina do MF2 (M=Ca, Sr) ......................................................................... 19

Figura 2: Estrutura cristalina do LiCaAlF6 com os átomos de Ca (azul), Al (vermelho), Li (amarelo) e

F (verde) ............................................................................................................................. 21

Figura 3: Comparação entre aquecimento (a) hidrotermal convencional e (b) hidrotermal por micro-

ondas. (c) Mecanismo de polarização dipolar: molécula dipolar tentando se alinhar ao campo

elétrico oscilante [37]. .......................................................................................................... 22

Figura 4: Estrutura molecular do (a) etilenodiamina e do (b) EDTA.2Na ....................................... 28

Figura 5: Diagrama esquemático do sistema hidrotermal assistido por micro-ondas. ....................... 30

Figura 6: Fluxograma de preparação da síntese dos pós ................................................................ 30

Figura 7: Esquema da Difração de Raios X por planos cristalinos, segundo a lei de Bragg. ............. 32

Figura 8: Fotografia do microscópio eletrônico de varredura ......................................................... 35

Figura 9: Diagrama ilustrativo da emissão do fotoelétron e do elétron Auger. ................................. 36

Figura 10: Fotografia do espectrômetro de fotoelétrons de raios X da Thermo Fisher Scientific ....... 36

Figura 11: Esquema ilustrativo da linha de luz TGM [68] ............................................................. 37

Figura 12: Esquema das medidas de Radioluminescência [71] ...................................................... 39

Figura 13: Difratograma do CaF2 com proporção EDA: Ca(NO3)2.4H2O de 3:1. ............................. 42

Figura 14: Difratograma do CaF2 sem adição de EDA e com proporção EDA: Ca(NO3)2.4H2O de

0,5:1. .................................................................................................................................. 42

Figura 15: Imagens de MEV e histogramas de distribuição do tamanho das partículas das amostras

com proporção EDA: Ca de 3:1 com tempo de reação de (a) 30 min, (b) 15 min e (c) 1 min. .... 44

Figura 16: Imagens de MEV e histogramas de distribuição do tamanho das partículas das amostras

produzidas com proporção EDA: Ca de 0,5:1 com tempo de reação de (a) 15 min e da amostra

produzida (b) sem agente quelante. ....................................................................................... 46

Figura 17: Difratograma do CaF2 dopado com íons terras raras. .................................................... 47

Figura 18: Espectro de XPS para a amostra de CaF2 produzida com proporção EDA: Ca (3:1) com

tempo de reação hidrotermal por micro-ondas de 15 min. Espectro de inspeção (survey) (a).

Espectro de alta resolução do Ca2p (b), F1s (c) e O1s (d). ...................................................... 49

Figura 19: Espectro de XPS para amostra produzida sem EDA com tempo de reação hidrotermal por

micro-ondas de 15 min. Espectro de inspeção (survey) (a). Espectro de alta resolução do Ca2p

(b), F1s (c) e O1s (d). ........................................................................................................... 51

Figura 20: Espectros de emissão RL para todas as amostras de CaF2 puras. .................................... 53

Figura 21: Espectro de emissão RL do CaF2 dopado com 1 % e 3 % de Er ..................................... 55

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Figura 22: Espectro de emissão RL das amostras dopadas: (a) CaF2: 1% Eu e (b) CaF2: 1% Tb No

detalhe a emissão do STE. .................................................................................................... 56

Figura 23: Espectro de excitação do CaF2 puro com diferentes concentrações de EDA ................... 58

Figura 24: Espectro de excitação e emissão simultânea para o CaF2 com proporção EDA:Ca(3:1)

produzido com tempo de reação de 15 min. (a) Energia de excitação entre 4,5 e 7 eV e (b) 7 e

14 eV. ................................................................................................................................. 60

Figura 25: Espectro de excitação e emissão simultânea para o CaF2 sem EDA. .............................. 61

Figura 26: Espectro de excitação e emissão simultânea do CaF2 dopado com európio. Energia de

excitação compreende a faixa entre 8,5 e 12,4 eV com (a) emissão entre 1,3 e 3,5 eV e (b)

emissão entre 3,5 e 6 eV. ...................................................................................................... 63

Figura 27: Espectro de emissão no ultravioleta e visível do CaF2 dopado com Eu. .......................... 63

Figura 28: Espectro de excitação integral na região do ultravioleta de vácuo (a) e espectro de emissão

no ultravioleta e visível (b) do CaF2 dopado com Tb. ............................................................. 64

Figura 29: Espectro de excitação integral na região do ultravioleta de vácuo (a) e espectro de emissão

no ultravioleta e visível (b) do CaF2 dopado com Er. .............................................................. 64

Figura 30: Difratograma de raios X do SrF2. ................................................................................ 65

Figura 31: Imagem de MEV do SrF2 (a) sem EDA e (b) com EDA. ............................................... 66

Figura 32: SrF2 produzido com e sem agente quelante. (a) espectro de excitação e (b) espectro de

emissão. .............................................................................................................................. 68

Figura 33: Difratograma do LiCaAlF6 puro. O * indica a fase do CaF2, # a fase do AlF3 e o + fase não

identificada. ......................................................................................................................... 69

Figura 34: Difratograma do LiCaAlF6:Er3+

produzido a partir de reagentes cloretos sem agente

quelante e produzido com reagentes nitratos com EDTA. ....................................................... 70

Figura 35: Imagem de MEV do LiCaAlF6 produzido sem EDTA .................................................. 71

Figura 36: Imagens de MEV do LiCaAlF6 produzido com EDTA .................................................. 72

Figura 37: Imagens de MEV do LiCaAlF6:Er produzido sem EDTA e partindo de reagentes cloretos.

........................................................................................................................................... 73

Figura 38: Imagens de MEV do LiCaAlF6:Er produzido Com EDTA ............................................ 74

Figura 39: Espectro de excitação do LiCaAlF6 puro e dopado com Er3+

. ........................................ 75

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Lista de Tabelas

Tabela 4.1: Parâmetros de rede do CaF2 calculado e fatores de confiança do refinamento Rietveld .. 43

Tabela 4.2: Tamanho médio das partículas ................................................................................... 46

Tabela 4.3: Proporção relativa dos elementos Ca, F e O na superfície do CaF2 produzido com EDA 49

Tabela 4.4: Proporção relativa dos elementos Ca, F e O na superfície do CaF2 produzido sem EDA 52

Tabela 4.5: Posição das bandas de emissão. ................................................................................. 53

Tabela 4.6: Transições do Er3+ .................................................................................................... 55

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Índice

Resumo ................................................................................................................................................... vii

Abstract ................................................................................................................................................. viii

Lista de Figuras ....................................................................................................................................... ix

Lista de Tabelas ....................................................................................................................................... xi

1. Introdução ......................................................................................................................................... 15

1.1. Considerações iniciais ............................................................................................................ 15

1.2 Objetivos ................................................................................................................................. 16

1.3 Organização da Tese ................................................................................................................ 17

2. Revisão da Literatura ........................................................................................................................ 19

2.1 MF2 (M = Ca, Sr) ..................................................................................................................... 19

2.2 LiCaAlF6.................................................................................................................................. 20

2.3 Método Hidrotermal Assistido por Micro-ondas ..................................................................... 21

2.4 Defeitos em Sólidos ................................................................................................................. 23

2.5 Luminescência ......................................................................................................................... 24

3. Procedimento Experimental .............................................................................................................. 28

3.1 Produção das amostras ............................................................................................................ 28

3.2 Difração de Raios X (DRX) .................................................................................................... 31

3.2.1 Refinamento Rietveld ...................................................................................................... 32

3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ......................................................................... 34

3.4 Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X .......................................................... 35

3.5 Medidas de Fotoluminescência ............................................................................................... 37

3.6 Radioluminescência ................................................................................................................. 38

4. Resultados e Discussões .................................................................................................................... 41

4.1 Fluoreto de Cálcio (CaF2) ........................................................................................................ 41

4.1.1 Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica de Varredura ......................................... 41

4.1.2 Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X .................................................. 48

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4.1.3 Radioluminescência ......................................................................................................... 52

4.1.4 Espectros de Excitação e emissão na região de Ultravioleta de Vácuo (UVV) .............. 57

4.2 Fluoreto de Estrôncio (SrF2) .................................................................................................... 65

4.2.1 Difração de Raios X e Microscopia eletrônica de Varredura .......................................... 65

4.2.2 Espectros de Excitação e Emissão na região de Ultravioleta de Vácuo (UVV) .............. 67

4.3 Fluoreto de Lítio, Cálcio e Alumínio (LiCaAlF6) ................................................................... 69

4.3.1 Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica de Varredura ......................................... 69

4.3.2 Espectros de Excitação na região de Ultravioleta de Vácuo (UVV) ............................... 75

5 Conclusões e Perspectivas .................................................................................................................. 77

5.1 Conclusões ............................................................................................................................... 77

5.1.1 CaF2 ................................................................................................................................. 77

5.1.2 SrF2 .................................................................................................................................. 78

5.1.3 LiCaAlF6 ......................................................................................................................... 79

5.2 Perspectivas ............................................................................................................................. 80

Produção científica no período: ............................................................................................................. 81

Referências Bibliográficas .................................................................................................................... 82

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Capítulo 1

Introdução e Objetivos

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15

1. Introdução

1.1. Considerações iniciais

A busca por novos materiais cintiladores e novas matrizes lasers estão crescendo no

ramo das pesquisas que visam uma solução ou melhoria de materiais já conhecidos. Um

exemplo desses materiais são os fluoretos, que embora conhecidos em sua forma bulk, têm

sido descoberto recentemente devido à possibilidade de prepará-los em escala nanométrica.

Fluoretos pertencem a uma classe importante de materiais cristalinos e têm sido alvo

de muitas pesquisas devido às suas propriedades e vantagens quando comparados com

matrizes óxidos. Dentre essas propriedades pode-se destacar o baixo índice de refração, a alta

transparência em uma ampla região de comprimento de onda, do UVV (Ultravioleta de

vácuo) até o IV (infravermelho), e baixa energia de fônon. Esta última diminui a

probabilidade de transições não radiativas dos íons ativos [1,2], e geralmente são na faixa de

400 a 500 cm-1

[3]. Dentre esses materiais, os fluoretos de alcalinos terrosos exibem

propriedades particulares que podem resultar em um aumento no número de aplicações em

óptica, fotônica e optoeletrônica [4].

Produzir fluoretos sempre foi um desafio para comunidade científica, devido à

necessidade de procedimentos específicos. A maioria dos compostos fluoretos é sensível à

umidade, o que exige condições de preparação e ambientes de trabalho adequados. Um dos

maiores problemas geralmente encontrados é a probabilidade de contaminação por íons de

oxigênio (𝑂2−) e grupos 𝑂𝐻−, em substituição ao íon de 𝐹− devido à similaridade do raio

iônico [5]. Dessa forma, a preparação de fluoretos por sínteses úmidas, como por exemplo, o

método de co-precipitação e hidrotermal, existe uma grande chance de contaminação já que

envolvem um meio aquoso. Essas impurezas podem ser bastante prejudiciais nos processos de

luminescência [5,6].

Em escala nanométrica, os fluoretos tem atraído bastante atenção e tem se tornado o

foco de muitos pesquisadores com crescente interesse nos últimos anos. Quando comparado

com sua forma bulk, nanofluoretos podem apresentar diferenças nas propriedades físicas [7].

A dependência de algumas propriedades ópticas com o tamanho de partículas vem sendo

estudadas recentemente [8,9]. Em escala nanométrica, o CaF2 é considerado como um dos

mais promissores candidatos a substituir a sílica fundida na fabricação de componentes

ópticos para técnicas de litografia a laser no ultravioleta profundo, pois exibe alto limite de

dano induzido por laser e alta transparência até o UVV [10].

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Devido ao crescente interesse em materiais nanométricos, uma variedade de métodos

para produção de nanofluoretos tem sido investigada, dentre eles o método hidrotermal

assistido por micro-ondas [11]. Como um método eficiente energeticamente, a radiação

micro-ondas tem sido amplamente usada na síntese de materiais devido à sua reação de efeito

de aquecimento rápido [12]. As micro-ondas induzem uma rotação e vibração nas moléculas

polares do solvente, produzindo intenso atrito entre as moléculas. Este processo gera

aquecimento que é transferido aos íons e moléculas dispersos na solução, permitindo uma

reação química rápida entre os precursores [13]. O método hidrotermal assistido por micro-

ondas tem sido empregado com sucesso na síntese de alguns fluoretos, por exemplo: KMF3

(M = Zn, Mn, Co e Fe) [13] e PrF3 [12].

No presente trabalho, os fluoretos estudados foram preparados pelo método

hidrotermal assistido por micro-ondas com e sem a presença de agente quelante. Um estudo

foi realizado utilizando técnicas de análise estrutural e óptica a fim de investigar possíveis

diferenças nas propriedades desses materiais devido à formação em escala nanométrica. A

análise estrutural, com o objetivo de investigar a formação das fases cristalinas, as

características morfológicas e a composição química, foi realizada com o auxílio das técnicas

de Difração de Raios X, Microscopia Eletrônica de Varredura e Espectroscopia de

Fotoelétrons Excitados por Raios X. O estudo das propriedades ópticas foi realizado por meio

de medidas de Radioluminescência e Fotoluminescência.

1.2 Objetivos

O objetivo deste trabalho é dividido em etapas para facilitar o desenvolvimento do

mesmo e segue abaixo especificadas:

1- Produzir fluoretos com tamanhos de partículas nanométricos de forma controlada

via método hidrotermal assistida por micro-ondas;

2- Verificar a influência do tamanho de partícula e do uso de agente quelante nas

propriedades ópticas;

3- Estudar as propriedades ópticas visando determinar o band gap e compreender a

formação da estrutura de bandas desses materiais.

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1.3 Organização da Tese

A Tese está organizada em 5 capítulos.

O capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica do trabalho de modo sucinto,

apresentando os sistemas CaF2, SrF2 e o LiCaAlF6 e informações essenciais para o

entendimento das discussões apresentadas nos resultados.

O capítulo 3 descreve a preparação das amostras e apresentam as técnicas empregadas

na caracterização e estudo das suas propriedades.

O capítulo 4 apresenta os resultados obtidos através das caracterizações dos materiais

produzidos, bem como é realizada uma discussão levando em conta os fenômenos físicos

observados.

No capítulo 5 são apresentas as conclusões obtidas a partir dos resultados e as

propostas de trabalhos futuros.

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Capítulo 2

Revisão da Literatura

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2. Revisão da Literatura

2.1 MF2 (M = Ca, Sr)

Os fluoretos de alcalinos terrosos são materiais formados por metais alcalinos terrosos

com o flúor na combinação MF2. O fluoreto de cálcio (CaF2) e o fluoreto de estrôncio (SrF2)

possuem estrutura cúbica de face centrada, ilustrada na Figura 1, com grupo espacial Fm3̅m

[14]. Os parâmetros de rede do CaF2 e do SrF2 são 5,46402(8) Å [15] e 5,794(2) Å [16],

respectivamente. Nos vértices, estão posicionados os íons de 𝐶𝑎2+/ 𝑆𝑟2+, enquanto que os

íons de 𝐹− estão localizados nos centros dos octantes [4]. A célula unitária é formada por um

pacote com oito átomos de flúor e quatro átomos de cálcio/estrôncio. De modo que cada

átomo de Ca/Sr é circundado por oito átomos de F, enquanto que cada átomo de F é

circundado por quatro átomos de Ca/Sr [14,17].

Figura 1: Estrutura cristalina do MF2 (M=Ca, Sr)

Os fluoretos de alcalinos terrosos são materiais bem interessantes por apresentarem

alta energia de gap (Eg), como exemplo, a Eg do cristal de CaF2 é 12,1 eV e a Eg do cristal de

SrF2 11,25 eV [18]. Esses materiais também possuem um baixo índice de refração e baixa

energia de fônon, de 300 a 500 cm-1

(por exemplo, CaF2 = 465 cm-1

) [3]. Devido a essas

propriedades, são bastante estudados para o desenvolvimento de janelas ópticas com alta

eficiência de transmitância na região do ultravioleta profundo [19,20]. Entre os compostos

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fluoretos de alcalinos terrosos, o CaF2 e o SrF2 são os mais atrativos por causa da sua

estabilidade e comportamento não higroscópico [1,21,22].

O CaF2 quando dopado com íons de terras raras, ganha interesse como material laser.

Um exemplo é o CaF2 dopado com Yb3+

(itérbio) que devido à sua banda de emissão larga,

apresentou um bom desempenho como laser sintonizável e gerador de pulsos lasers

ultrarrápidos [23,24]. Outro íon terra rara trivalente que pode ser utilizado para dopagem do

CaF2 para aplicação laser com emissão em torno de 2,8 µm é o érbio (Er) [20]. O CaF2

dopados com terras raras também se tornaram muito atrativos para aplicação como guia de

onda ativo para dispositivos ópticos integrados [20,25].

O SrF2 é um dos materiais fluoretos em que suas propriedades de cintilação foram

pouco estudadas [26]. O európio é um dos terras raras que podem ser inserido na matriz do

SrF2 para aplicação como um material cintilador [27]. Quando dopado com íons lantanídeos

(Ln3+

) exibe propriedades de luminescência por conversão ascendente de energia

(upconversion) decorrentes da configuração eletrônica 4f. Como exemplo, o SrF2:Yb3+

,Er3+

exibe luminescência por upconversion quando excitado com laser em 980 nm [28].

2.2 LiCaAlF6

O LiCaAlF6 é classificado como material do tipo colquerita [29] e apresenta estrutura

cristalina trigonal pertencente ao grupo espacial P3̅1c e parâmetros de rede a = 5,008 Å e

c =9,642 Å [30]. Todos os íons metálicos são coordenados por oito íons de flúor. Os

octaedros de AlF6 e LiF6 compartilham as arestas formando camadas discretas de anéis

hexagonais, cada um com uma cavidade em seu centro. Os átomos de Ca formam camadas

intermediárias de octaedros isolados de CaF6. Cada um é ligado as camadas de Li-Al via três

cones compartilhando os vértices do átomo de F (Figura 2) [29].

Os aluminofluoretos são utilizados em várias aplicações tecnológicas. O LiCaAlF6,

por exemplo, é um material que tem perspectiva de uso como material óptico transparente no

UVV devido ao seu band gap largo [6]. Esse material vem sendo muito estudado nos últimos

anos como material óptico para fotolitografia e tem sido considerado como um bom candidato

para substituir o CaF2 nessa aplicação [31].

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21

Figura 2: Estrutura cristalina do LiCaAlF6 com os átomos de Ca (azul), Al

(vermelho), Li (amarelo) e F (verde)

O LiCaAlF6 puro e dopado também tem atraído atenção dos pesquisadores devido ao

seu potencial como cintilador rápido, dosímetros termoluminescentes e matriz laser [32]. O

LiCaAlF6 dopado com Ce3+

é interessante para aplicação como laser emitindo na região do

ultravioleta [33] e dopado com Er3+

e Tm3+

pode ser usado como detectores de radiação [34].

LiCaAlF6:Eu apresenta luminescência com máximo em 370 nm e tempo de decaimento de

aproximadamente 1µs. Geralmente o európio entra em seu estado bivalente na maioria dos

cristais halogenetos alcalinos e alcalinos terrosos. Na matriz do LiCaAlF6, os íons de Eu2+

entram substituindo os sítios de Ca2+

sem necessidade de compensação de cargas [35].

2.3 Método Hidrotermal Assistido por Micro-ondas

O método utilizado para a produção das amostras foi o hidrotermal assistido por

micro-ondas (MH - Microwave Hydrothermal) [36]. As micro-ondas são radiações

eletromagnéticas com frequência entre 0,3 e 300 GHz, produzidas por um magnetron, que

consiste de um diodo termoiônico com anodo e catodo aquecidos diretamente. Os elétrons

ejetados pelo catodo interagem com campo magnético, devido à presença de dois imãs, e

alcança o anodo gerando um campo elétrico. Esse circuito ressonante é então ajustado para

aproximadamente 2,45 GHz [11], frequência usada em fornos domésticos.

A componente elétrica do campo eletromagnético causa o aquecimento por dois

principais mecanismos: polarização dipolar e condução iônica. A interação da componente do

campo elétrico com a matriz é chamado de mecanismo de polarização dipolar (Figura 3c).

Para uma substância ser capaz de gerar calor quando irradiada com micro-ondas ela deve

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possuir um momento de dipolo. Quando exposto às frenquências das micro-ondas, os dipolos

se alinham ao campo elétrico aplicado. Quando o campo elétrico oscila, o campo do dipolo

tenta se realinhar com a alternância do campo elétrico e, nesse processo, energia na forma de

calor é perdida através da fricção molecular e perda dielétrica [37]. A principal vantagem do

aquecimento por micro-ondas é sua eficiência energética devido à energia ser aplicada dentro

da mistura reativa [38]. Uma questão importante baseado no aquecimento eficiente por micro-

ondas é a capacidade específica do composto (por exemplo, solvente e/ou reagentes) em

absorver a energia da radiação de micro-ondas e convertê-la em calor [39][38].

Figura 3: Comparação entre aquecimento (a) hidrotermal convencional e (b)

hidrotermal por micro-ondas. (c) Mecanismo de polarização dipolar: molécula dipolar

tentando se alinhar ao campo elétrico oscilante [37].

Nos últimos anos este método de síntese tem despertado bastante interesse por ser um

método de síntese de baixas temperaturas e tempos curtos de reação [39]. No processo

hidrotérmico conhecido para síntese de muitos materiais as cinéticas são lentas, pois além das

baixas temperaturas usadas o aquecimento é realizado por uma fonte de aquecimento externo

e a transferência de energia para o sistema depende de correntes de convecção e da

condutividade térmica de muitos materiais que devem ser penetrados, resultando em

temperaturas do vaso reacional maiores do que na mistura (Figura 3a e 3b). Por esta razão,

introduziu-se o campo de micro-ondas para acelerar a cinética da reação [36]. A síntese por

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micro-ondas obteve sucesso na preparação de vários materiais incluindo óxidos, fosfatos,

materiais nanoporosos, no entanto, a preparação de nanofluoretos ainda é limitada [11].

Umas das vantagens em usar este método hidrotermal assistido por micro-ondas é o

rápido aquecimento para a temperatura de tratamento térmico, aumento da cinética de reação

até duas ordens de grandeza e a produção de partículas com tamanho um pouco menores

quando comparado com o método hidrotermal convencional [36].

2.4 Defeitos em Sólidos

Na Física do Estado Sólido, os sólidos cristalinos são idealmente formados por uma

rede tridimensional periódica perfeita. Quando qualquer alteração é gerada na estrutura dessa

rede periódica caracteriza-se como um defeito. Os defeitos são classificados como pontuais,

quando localizados em uma pequena região do cristal, e extensos, quando ocorre deslocação

no plano cristalino por exemplo. Os defeitos pontuais são subdivididos em defeitos

intrínsecos e defeitos extrínsecos. Os defeitos intrínsecos envolvem apenas átomos ou íons

que constituem o material, por exemplos, vacâncias, devido a ausência de íons em uma

posição regular na rede e intersticiais, o qual ocorre quando íons saem de sua posição normal

e vai para o interstício [40].

Os defeitos extrínsecos envolvem íons não constituintes do material, e também podem

ser chamados de dopantes ou de impurezas. Se a presença destes íons extrínsecos são

intencionais, esses são geralmente chamados de dopantes e quando são acidentais, são

chamados de impurezas. A dopagem pode ser isovalente, quando a substituição é feita por um

íon com a mesma valência, e aliovalente quando a substituição é feita por íons com carga

diferente, neste último caso, necessitando de mecanismos de compensação de cargas para

manter a neutralidade da rede cristalina.

Além destes defeitos pontuais, em sólidos iônicos é muito comum a presença dos

chamados centros de cor. Os centros de cor são defeitos na rede que modificam a forma dos

materiais absorverem luz. O centro de cor mais conhecido é o centro F, e seu nome é

originado da palavra em alemão Farber que significa cor. O centro F, nos halogenetos

alcalinos, refere-se a uma vacância de um íon negativo (aniônica) que captura um elétron, e é

um defeito neutro na rede cristalina [41,42]. Há também o centro 𝐹+ e 𝐹− que são centros F

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24

que perdeu e ganhou um elétron, respectivamente. Outros centros de cor podem existir nos

halogenetos alcalinos e são descritos abaixo [42]:

Centro 𝐹𝐴: refere-se a centro F com uma impureza catiônico como um dos

primeiros vizinhos.

Centro 𝐹2 (centro M) e 𝐹3 (centro R): são agregados de 2 e 3 centros F

próximos em uma mesma região.

Centros 𝑉𝐾: Um buraco armadilhado por dois íons halogenetos formando uma

“molécula” do tipo 𝑋2−.

Centro H: Uma “molécula” 𝑋2− que substitui um íon 𝑋−.

As propriedades ópticas dos centros de cor nos fluoretos de alcalinos terrosos têm

recebido atenção na literatura [43,44]. Em contraste com os centros de cor em halogenetos

alcalinos, uma variedade de espectros de absorção óptica podem ser obtidos, dependendo da

presença de impurezas, do tratamento térmico antes da coloração e da maneira da coloração

[45]. Smakula [46] estudou cristais de CaF2 irradiados com raios X e obteve um espectro de

absorção consistindo de quatro bandas em 580, 400, 335 e 200 nm. Enquanto que no CaF2

com coloração aditiva, Arends [45] mostrou um espectro de absorção óptica e atribuiu a

banda em 375 nm ao centro F, em que um elétron é armadilhado em uma vacância de ânion.

2.5 Luminescência

Luminescência é o fenômeno de emissão de luz por um material devido à absorção de

alguma forma de energia incidente sobre o mesmo. Um exemplo de materiais luminescentes

são os cintiladores, estes podem absorvem radiação ionizante e convertê-la eficientemente em

luz. A energia de excitação pode ser absorvida tanto pela matriz hospedeira quanto por

impurezas ou dopantes, também chamados de ativadores, inseridas na matriz [47].

O processo de cintilação em materiais inorgânicos acontece devido à estrutura de

bandas eletrônicas dos cristais. Nos semicondutores e isolantes as bandas de energias são

totalmente preenchidas ou totalmente vazias em temperaturas próximas de 0K [48] e esta

configuração muda muito pouco em temperaturas usuais, principalmente no caso dos isolantes

nos quais a energia de gap é usualmente muito maior do que a energia térmica disponível. A

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última banda de energia preenchida é denominada de banda de valência e a primeira banda

totalmente vazia é a banda de condução. A banda de valência é a banda preenchida pelos

elétrons que estão ligados à rede enquanto que a banda de condução é a banda de energia com

estados disponíveis para os elétrons [49]. O intervalo de energia entre o topo da banda de

valência e o fundo da banda de condução é chamado de banda proibida e esta região é

designada como energia de gap ou band gap (Eg) do material [50].

A absorção da radiação incidente pode resultar na migração de elétrons para a banda

de condução e buracos são deixados na banda de valência criando pares elétrons-buracos. O

par elétron-buraco permanece ligado devido atração colombiana e são chamados de éxcitons

[41]. A emissão de luz pode ocorrer devido à recombinação direta desses pares elétron-buraco

ou a aniquilação de éxcitons auto-armadilhados (STE- Self-trapped excitons) [50].

Éxcitons livres em halogenetos alcalinos podem ser criados devido à excitação óptica

e por irradiação com raios X [51]. A irradiação por raios X pode produzir defeitos que geram

luminescência. Nos halogenetos alcalinos são geralmente encontrados defeito do tipo centros

F, em que um elétron é armadilhado em uma vacância de flúor [52]. É possível também

encontrar defeitos do tipo centros Vk, em que um buraco é armadilhado por dois íons

halogenetos adjacentes em uma configuração do tipo “molécula de 𝑋2−”. A luminescência do

éxciton auto-armadilhado pode ser atribuída à captura de um elétron por centros Vk,

ocorrendo assim sua aniquilação [53,54].

Esses defeitos na matriz cristalina induzem a formação de níveis de energia,

denominados de níveis de defeitos ou níveis metaestáveis, que são localizados dentro do band

gap do cristal. Os defeitos podem ser responsáveis pela captura de um elétron da banda de

condução e ou pelo armadilhamento de buraco da banda de valência. Os defeitos nos quais

acontecem os processos de recombinação dos portadores são chamados de centros de

recombinação [55].

Além dos centros de cor e éxcitons, um material pode emitir luz devido à inserção em

pequenas quantidades de defeitos extrínsecos, geralmente conhecidas como dopantes ou íons

ativadores. Neste caso, a radiação incidente pode também ser absorvida pelo íon ativador que

vai para seu estado excitado e retorna ao estado fundamental por emissão de radiação. Em

geral, o processo que ocorre na emissão de luz por excitação com radiação ionizante passa

pela excitação primeiro da matriz cristalina com a geração de muitos pares elétron-buraco. A

recombinação dos portadores pode então transferir energia para o centro luminescente que é

excitado podendo, em seguida, decair para o estado fundamental por emissão de fótons.

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26

Geralmente os íons ativadores que formam os centros luminescentes são os metais de

transição e os íons terras raras [47].

As propriedades dos íons terras raras são atribuídas ao preenchimento incompleto da

camada 4𝑓, a qual é blindada pelos orbitais 5𝑠2 e 5𝑝6. Devido a essa característica, a

influência da matriz hospedeira nas transições ópticas dentro da configuração 4𝑓𝑛 é pequena.

Os estados eletrônicos são descritos pela notação 2S+1

LJ em que S é número quântico de spin

total, L é o momento angular orbital total representado por S (para L=0), P(L=1), D(L=2) e

assim sucessivamente. O J (com degenerescência 2J+1) representa o número quântico do

momento angular total [47,56].

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Capítulo 3

Procedimento experimental

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28

3. Procedimento Experimental

3.1 Produção das amostras

A primeira etapa deste trabalho consistiu em produzir o CaF2, o SrF2 e o LiCaAlF6

puros e dopados com metais de terras raras. Todas as amostras foram produzidas no

Laboratório de Preparação e Caracterização de Materiais (LPCM) do Departamento de Física

da Universidade Federal de Sergipe, utilizando como rota de síntese o método hidrotermal

assistido por micro-ondas.

Os precursores dos íons metálicos utilizados para a produção das amostras aqui

estudadas, foram: o nitrato de cálcio tetrahidratado (Ca(NO3)2.4H2O, Neon 99,9 %), nitrato de

estrôncio (Sr(NO3)2, Vetec 99,0 %), nitrato de alumínio nonahidratado (Al(NO3)3.9H2O,

Neon, 98,0 %) e nitrato de lítio (LiNO3, Fluka 99,9%). Os sais dos metais terras raras

utilizados foram nitrato de érbio pentahidratado (Er(NO3)3.5H2O, Sigma-Aldrich 99,99 %),

nitrato de európio (Eu(NO3)3, Sigma-Aldrich 99,99 %) e nitrato de térbio (Tb(NO3)3, Sigma-

Aldrich 99,99 %). Para todas as amostras o precursor utilizado como fonte de flúor foi o

fluoreto de amônio (NH4F, Neon 95,0 %). A água deionizada foi utilizada como solvente na

produção de todas amostras.

Além desses percussores, neste trabalho foram utilizados como agentes quelantes o

etilenodiamina - EDA (C2H8N2, Neon 99,0 %) e o ácido etilenodiamino tetra-acético sal

dissódico – EDTA.2Na (C10H14N2Na2O8.2H2O, Neon 99,0 %), a fim de se obter amostras

com baixo grau de aglomeração e partículas com tamanhos nanométricos. O etilenodiamina

possui em sua estrutura dois átomos de nitrogênio contento pares de elétrons não

compartilhados, ver estrutura na Figura 4a. Enquanto que o ácido etilenodiamina tetra-acético

sal dissódico (Figura 4b), têm seis átomos doadores: 4 átomos de oxigênio e 2 átomos de

nitrogênio.

Figura 4: Estrutura molecular do (a) etilenodiamina e do (b) EDTA.2Na

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29

Para produção do CaF2, uma quantidade estequiométrica de Ca(NO3)2.4H2O foi

diluída em 50 mL água deionizada em temperatura ambiente sob rigorosa agitação. Em

seguida 6 mmol de EDA foi adicionado à solução acima, que continuou sob agitação

mecânica durante 30 min, obtendo-se um precipitado branco. Uma outra solução com NH4F e

água deionizada (50 mL), foi adicionada gota a gota na solução contendo o Ca(NO3)2.4H2O e

EDA, e foi mantida sob agitação durante 30 min. A solução final foi transferida para um copo

de teflon e água deionizada foi adicionada até que a solução obtivesse 90% da capacidade do

recipiente, a fim de se obter uma maior eficiência na pressão do sistema. O copo de teflon foi

colocado dentro de uma cela reacional também de teflon e foi devidamente fechada e

acondicionada na cavidade de um micro-ondas doméstico adaptado (Figura 5), o qual opera

em 2,45 GHz com potência máxima de 800 W.

Após a síntese, o sistema foi naturalmente resfriado a temperatura ambiente de forma

que a pressão voltasse a pressão atmosférica, podendo assim a cela reacional ser aberta e o

copo de teflon retirado. O conteúdo foi centrifugado e lavado com água deionizada a

4000 rpm. Este processo foi repetido algumas vezes, de forma que o pH da água de lavagem

fosse neutro (pH = 7), a fim de eliminar os resíduos da reação. Um pó branco precipitado foi

então transferido para um recipiente de vidro para que secasse completamente.

As amostras dopadas foram produzidas seguindo o mesmo fluxograma (Figura 6),

adicionando o dopante na solução com cálcio. Para que a dopagem ocorre-se de forma

substitucional foi reduzida estequiometricamente a quantidade de nitrato de cálcio pelo

dopante que se desejava. As concentrações dos íons terras raras utilizados foram 1 e 3 mol %.

O SrF2 foi preparado da mesma forma que o CaF2, substituindo o nitrato de cálcio pelo

nitrato de estrôncio. O procedimento usado na preparação do LiCaAlF6 seguiu passos

similares aos descritos para os fluoretos simples. Inicialmente foi preparada uma solução

aquosa utilizando quantidades estequiométricas dos sais de LiNO3, Ca(NO3)2.4H2O e

Al(NO3)3.9H2O dissolvidos em 50 mL de água deionizada. Esta solução foi mantida sob

agitação mecânica para atingir maior grau de homogeneidade dos cátions metálicos. Uma

outra solução contendo 25 mL de água deionizada e 1,8612 g de EDTA foi preparada e em

seguida adicionada a solução dos sais metálicos, e também ficou sob agitação mecânica

durante 30 min. Por fim, a solução de NH4F e água deionizada (25 mL) foi gotejada

lentamente na solução contendo os nitratos e o EDTA, e ficou sob agitação por mais 30 min.

Em seguida, a solução foi levada ao forno micro-ondas adaptado seguindo os mesmos passos

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das amostras de CaF2 e SrF2. A utilização do EDTA como agente quelante para a produção do

LiCaAlF6 foi devido a não formação da fase quando o uso do EDA foi empregado.

Figura 5: Diagrama esquemático do sistema hidrotermal assistido por micro-ondas.

Figura 6: Fluxograma de preparação da síntese dos pós

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Todas as amostras foram produzidas à temperatura de 140 °C e taxa de aquecimento

de 10 °C/min. Esta é a temperatura de trabalho limite para evitar o rompimento da cela

reacional. As pressões obtidas foram de até 0,4 MPa e os tempos de reação utilizados foram 1,

15 e 30 min para o CaF2, 15 min para o SrF2 e 30 min para o LiCaAlF6. Temperaturas e

tempos menores não foram utilizadas para o LiCaAlF6 pois não foi possível a formação da

fase cristalina e para um possível efeito de comparação, a temperatura de 140 °C foi

padronizada. Uma representação esquemática simplificada da preparação das amostras pode

ser vista no fluxograma apresentado na Figura 6.

3.2 Difração de Raios X (DRX)

A difração de raios X (DRX) é uma das principais técnicas para determinar a estrutura

cristalina dos materiais. A difração depende da estrutura cristalina e do comprimento de onda

da radiação e baseia-se na interação da onda incidente com os planos cristalinos de um

material [41]. Átomos de diferentes planos cristalinos ao difratarem os raios X incidentes em

várias direções podem causar interferências construtivas e destrutivas [57]. Quando a

diferença entre o caminho percorrido pelos raios X difratados paralelamente, por átomos de

planos cristalinos adjacentes separados por uma distância (Figura 7) é igual ao múltiplo

inteiro do comprimento da radiação incidente produz interferência construtiva, formando

assim picos no padrão de difração [48]. Essa relação é conhecida como a lei de Bragg e é

representada pela equação:

2 sinhkln d (3.1)

Em que n é um número inteiro, λ é o comprimento de onda da radiação incidente, dhkl é

a distância entre os planos adjacentes da rede cristalina e θ é o ângulo em que ocorre

interferência construtiva, ou ângulo de Bragg.

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Figura 7: Esquema da Difração de Raios X por planos cristalinos, segundo a lei de

Bragg.

No presente trabalho, as medidas de difração por raios X foram realizadas em um

difratômetro da Rigaku RINT 2000/PC, à temperatura ambiente, com radiação Kα do cobalto,

operando com tensão 40 kV e corrente de 40 mA. Foram medidas no modo de varredura

contínua em passos de 0,02 ° e taxa de 1 °/min.

3.2.1 Refinamento Rietveld

O refinamento Rietveld foi utilizado com objetivo de analisar as estruturas cristalinas

dos pós produzidos. O método é reconhecido como uma importante forma de análise

estrutural de materiais cristalinos na forma de pó, e permite refinar os parâmetros de uma

estrutura cristalina a partir de dados obtidos do padrão de difração do material. O refinamento

baseia-se na construção de um padrão de difração calculado de acordo com o modelo

estrutural. Os parâmetros no modelo, tais como posições atômicas, parâmetros de rede, e os

fatores experimentais que afetam a forma do pico e o background são ajustados, utilizando o

método de mínimos quadrados, até que o ajuste entre os perfis de difração calculados e

experimentais sejam minimizados [58,59].

A qualidade do refinamento baseia-se em alguns fatores de confiança representados

por Rbragg, Rwp, Rexp e o χ2 (ou S), definidos pelas equações a seguir [59]. O Rbragg é descrito

como uma função da intensidade integrada dos picos. Como a intensidade integrada está

relacionada com a estrutura cristalina (tipos de átomos, posições e deslocamentos atômicos) é

utilizado para avaliar a qualidade do modelo refinado da estrutura cristalina [60].

o cbragg

o

Y YR

Y

(3.2)

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O Rwp é o índice que deve ser analisado para verificar se o refinamento está

convergindo e é considerado um bom fator de confiança quando converge para valores

pequenos.

1/22

2

( )

( )

o cwp

o

w Y YR

w Y

(3.3)

Rexp é o valor estatisticamente esperado do refinamento para o Rwp, ou seja, indica o

valor mínimo que o Rwp pode atingir. O Rexp é representado pela equação 3.4, em que N é o

número de pontos efetivamente sendo utilizados no refinamento e P o número de parâmetros

refinados [57,60].

1/2

2

( )R

( )exp

o

N P

w Y

(3.4)

O χ2, fator de confiança mais utilizado, é obtido através da razão Rwp/Rexp e deve ter

um valor próximo a 1 para que seja considerado um bom refinamento.

Para descrever o perfil dos picos, foi utilizada uma função do tipo Pseudo-Voig, que é

uma convolução de uma função de Gauss com Lorentz [60], como descritas abaixo:

Gaussiana (G):

𝐺(𝜃) = 𝐶0

1 2⁄

𝐻𝑘𝜋1 2⁄ exp [−𝐶0(2𝜃𝑖−2𝜃𝑘)2

𝐻𝑘2 ] (3.6)

Lorentziana (L):

𝐿(𝜃) = 𝐶1

1 2⁄

𝐻𝑘𝜋[1 + 𝐶1

(2𝜃𝑖−2𝜃𝑘)2

𝐻𝑘2 ]

−1

(3.7)

Onde 𝐶0 = 4𝑙𝑛2 e 𝐶1 = 4.

Pseudo-Voigt (PV):

𝑝𝑉 = 𝜂𝐿 + (𝜂 − 1)𝐺 (3.8)

Em que o parâmetro 𝜂 pode ser refinado como função linear de 2𝜃, sendo 𝜂 = 𝜂0 + 2𝜃𝑋.

Neste trabalho o software utilizado foi o FULLPROF na versão 2.05 [61]. Os dados

experimentais são alimentados no programa através de um arquivo do tipo .dat, criado a partir

do arquivo de saída (.txt) do difratômetro de raios X, e o padrão de referência deve está no

formato .pcr. A rotina utilizada para os ajustes foi: a posição da amostra, fator de escala,

fatores que descrevem o background e deslocamento da amostra em relação ao goniômetro, os

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parâmetros de rede (a, b, c), função perfil (U, V, W), orientação preferencial dos planos

cristalinos, fator de ocupação e o fator de temperatura.

3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é uma técnica de caracterização

microestrutural bastante utilizada para estudar a morfologia e a composição de materiais

sólidos. Similar ao microscópio eletrônico de transmissão (TEM - Transmission Electron

Microscopy), o MEV emprega um feixe de elétrons direcionado à amostra. Essa fonte de

elétrons utilizada, normalmente corresponde à emissão termiônica gerada a partir de um

filamento de tungstênio ou emissão por campo (Field Emission Gun - FEG), mais utilizada

para alta resolução [62].

A imagem é formada a partir da interação de um feixe de elétrons com a superfície da

amostra. Um feixe fino de elétrons focalizado passa através de uma coluna em vácuo e varre a

superfície da amostra produzindo sinais baseados nas interações entre o feixe e a amostra.

Dentre os sinais emitidos, os mais importantes são aqueles produzidos pelos elétrons

secundários e retroespalhados [63]. As imagens obtidas através do feixe de elétrons

secundários resultam das interações inelásticas entre os elétrons e a amostra e são mais

utilizados, pois geram imagens de alta resolução da superfície.

Neste trabalho, as imagens de microscopia foram realizadas com o objetivo de

verificar a morfologia e o tamanho médio das partículas das amostras produzidas via síntese

hidrotermal por micro-ondas. As amostras analisadas foram preparadas em suspensão de

álcool isopropílico, no equipamento Ultrasonic Processor Cole Parmer, por um período de 5

minutos e em seguida depositadas na superfície polida de um disco de grafite usado como

porta amostra. A solução foi gotejada com o auxílio de um micropipetador comercial. As

imagens foram adquiridas em um equipamento da marca JEOL, modelo JSM-7500F (Figura

8), que possui magnificação de 25 a um milhão de vezes, instalado no Centro Multiusuário de

Nanotecnologia (CMNano) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), através da proposta

#29.

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35

Figura 8: Fotografia do microscópio eletrônico de varredura

3.4 Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X

A Espectroscopia de Fotoelétrons de Raios X (XPS – X Ray Photoemission

Spectrocopy) também conhecida como ESCA (electron spectroscopy for chemical analysis) é

uma técnica bastante utilizada para estudar a composição química de camadas superficiais de

um material, com profundidade de até aproximadamente 10 nm [64]. O experimento é

baseado no efeito fotoelétrico e consiste na análise das energias de elétrons emitidos de uma

amostra devido à irradiação com raios X de baixa energia, geralmente raios X do AlKα

(1486,6 eV) e MgKα (1253,6 eV) [65].

A interação desses fótons com átomos da superfície causam a emissão de elétrons por

efeito fotoelétrico, com energia cinética determinada pela relação abaixo:

𝐸𝑘 = ℎ𝜐 − 𝐵𝐸 − 𝜙𝑠 (3.9)

em que 𝐸𝑘 é energia cinética do elétron, ℎ𝜐 é a energia do fóton, 𝐵𝐸 (Binding Energy) é a

energia de ligação do elétron e 𝜙𝑠 é a função trabalho do espectrômetro. Além da emissão de

elétrons pelo efeito fotoelétrico pode ocorrer também a emissão de elétrons Auger devido à

existência de elétrons excitados após o processo de fotoemissão. Na Figura 9 são ilustrados

ambos os processos [66].

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Figura 9: Diagrama ilustrativo da emissão do fotoelétron e do elétron Auger.

As medidas de XPS foram realizadas sob a proposta de número 17752 usando um

espectrômetro de fotoelétrons de raios X modelo K-Alpha (Thermo Fisher Scientific) com

fonte de radiação monocromática com energia AlKα (1486,6 eV). Este equipamento está

instalado no Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do CNPEM. Os espectros

gerais (survey) e de alta resolução foram medidos em ultra-alto vácuo (~ 2,9.10-7

mbar)

usando banda passante de energia de 200 e 50 eV, com resolução de 1 e 0,1 eV,

respectivamente. Possui um sistema totalmente integrado com um analisador hemisférico e

detector multi-canais que permitem uma excelente detecção e uma rápida aquisição de dados.

O software Avantage (Versão 5.921) foi utilizado tanto para o controle do equipamento

quanto para as análises e processamentos dos dados.

Figura 10: Fotografia do espectrômetro de fotoelétrons de raios X da Thermo Fisher

Scientific

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37

3.5 Medidas de Fotoluminescência

As medidas de fotoluminescência na região do ultravioleta de vácuo (UVV) foram

realizadas a fim de estudar as propriedades ópticas dos fluoretos puros e dopados produzidos

pelo método hidrotermal assistido por micro-ondas. Os espectros foram medidos na linha de

luz TGM - Toroidal Grating Monochromator (propostas TGM#16209, TGM#17070,

TGM#18991, TGM#20150249), no Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS),

localizado no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Atualmente, a linha de luz TGM compreende a faixa de energia espectral que vai de 3

a 330 eV, sendo até 15 eV uma região de bastante interesse, pois essa faixa de energia

corresponde ao intervalo espectral no qual se localiza o band gap de quase todos os materiais

fluoretos. O sistema óptico (Figura 11) dessa linha consiste de um monocromador de grade

toroidal, fendas e dois espelhos focalizadores. O primeiro espelho (I) colima a luz sincrotron

na fenda de entrada do monocromador (II), onde sofre uma dispersão espectral, e o segundo

espelho (III) colima o feixe sobre a amostra situada dentro da câmara experimental (IV) [67].

Os sinais emitidos pelas amostras são captados através de equipamentos acoplados à câmara

de amostras através de flanges posicionadas em determinados ângulos.

Figura 11: Esquema ilustrativo da linha de luz TGM [68]

A montagem na câmara de amostras foi feita de modo que pudesse realizar as medidas

do espectro de excitação e emissão. Em uma das flanges dispostas na câmara de amostra foi

posicionado um passador de vácuo para fibra óptica de forma que a fibra ficasse próxima a

amostra para assim captar a luz emitida por ela. Para obter os espectros de emissão, na outra

extremidade da fibra foi acoplado um espectrômetro (QE65000) da Ocean Optics. Enquanto

que para obter os espectros de excitação foi utilizada uma fotomultiplicadora (Hamamatsu

R928A), a qual era alimentada por uma fonte de alta tensão e conectada em um eletrômetro

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(Keithey 6514). Com este arranjo foi possível coletar a emissão integral da amostra como

função da energia de excitação.

As medidas foram realizadas compreendendo uma faixa de energia de excitação de 4,5

a 15 eV. Nesta região, os harmônicos gerados pelo monocromador de excitação são bastante

intensos, e a fim de eliminá-los, utilizamos filtros entre o monocromador e a amostra. Foram

utilizados filtros sólidos de quartzo na região entre 4,5 e 8 eV e fluoreto de magnésio (MgF2)

entre 5,6 e 11 eV. Para a faixa entre 8 e 15 eV foi colocado um filtro de gases composto por

uma mistura de 0,1 mbar de argônio e 0,6 mbar de neônio. A intensidade do feixe incidente

foi normalizada utilizando a absorção de uma folha de alumínio padrão colocada na mesma

posição das amostras. O alumínio foi escolhido porque nesta faixa de medida a curva de

reflectância é praticamente plana [69] indicando que a absorção é praticamente constante.

3.6 Radioluminescência

Radioluminescência (RL) é uma técnica que consiste na emissão de luz por um

material quando irradiado por fontes de altas energias como partículas α e β e raios X e γ.

Materiais que apresentam essa propriedade são chamados de radioluminescentes e o exemplo

mais importante são os cintiladores [70].

As medidas de RL foram realizadas utilizando como fonte de radiação o tubo do

difratômetro de raios X da Rigaku RINT 2000/PC, com radiação K do cobalto (λ= 1,789 Å)

operando em 40 kV/40 mA, com ângulo de incidência do tubo em relação a amostra

otimizado para a maior eficiência de detecção do sinal emitido e fixado em 90°.

Os pós do CaF2 puro e dopado com Er foram colocados em uma lâmina que encaixa

no porta amostras do difratômetro. Uma fibra óptica foi posicionada próxima à amostra, de

maneira que pudesse captar o sinal luminescente, a qual foi acoplada em um espectrômetro da

Ocean Optics HR2000. Esse espectrômetro possui detectores do tipo CCD com 2048 linhas,

num arranjo que permite em uma única medição registrar todo o espectro de 200 nm a

1100 nm. A leitura e conversão do sinal elétrico coletado pelo espectrômetro foram realizadas

através do software Spectra Suite possibilitando a análise do espectro em um computador. Na

Figura 12 podemos observar o esquema experimental.

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Figura 12: Esquema das medidas de Radioluminescência [71]

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Capítulo 4

Resultados e Discussões

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4. Resultados e Discussões

Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos através das

técnicas experimentais descritas no capítulo anterior. Para facilitar a compreensão das

discussões, os resultados serão exibidos para cada amostra separadamente, apresentando as

caracterizações estruturais e em seguida as análises ópticas. A produção das amostras foi

realizada no Laboratório de Preparação e Caracterização de Materiais (LPCM-DFI/UFS)

4.1 Fluoreto de Cálcio (CaF2)

4.1.1 Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica de Varredura

A difração de raios X foi utilizada com objetivo de estudar as amostras produzidas,

através da identificação das fases cristalinas. Os difratogramas foram comparados com a

estrutura padrão do banco de dados cristalográficos ICSD (Collection Code 60368) obtidos

por Batchelder e Simmons [15]. Todas as amostras foram produzidas à temperatura de 140 °C

com pressões de aproximadamente 0,4 MPa e taxa de aquecimento de 10 °C por minuto. Na

Figura 13, são apresentados os difratogramas das amostras de CaF2 que foram produzidas

com proporção de EDA e Ca(NO3)2.4H2O de 3:1, juntamente com os resultados de

refinamento Rietveld. Pode-se observar nos difratogramas que as amostras produzidas com

EDA e tempos de reação de 30 min, 15 min e 1 min apresentam a fase única do CaF2 de

estrutura cúbica Fm3m e nenhum pico relacionado à qualquer outra fase foi observado,

indicando que a síntese hidrotermal assistida por micro-ondas é adequada para produção do

CaF2.

Com objetivo de investigar o efeito do agente quelante (EDA) sobre a morfologia das

partículas de CaF2, produziu-se uma amostra sem a adição do EDA (SAQ – sem agente

quelante) e também variando a proporção de EDA: Ca(NO3)2.4H2O de 0,5:1 com tempo de

reação de 15 min. Os difratogramas de raios X apresentados na Figura 14 revelam a presença

da fase única do CaF2 de estrutura cúbica, indicando que o EDA tem pouca influência no que

se refere especificamente a formação da fase cristalina.

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30 min

Experimental Calculado Diferença

15 min

1 min

30 40 50 60 70 80 90

Inte

nsid

ad

e (

u.a

.)

2

ICSD: 60368

Figura 13: Difratograma do CaF2 com proporção EDA: Ca(NO3)2.4H2O de 3:1.

ICSD: 60368

SAQ

15 min

0.5 EDA : 1Ca

15 min

Experimental Calculado Diferença

30 40 50 60 70 80 90

Inte

nsid

ad

e (

u.a

.)

2

Figura 14: Difratograma do CaF2 sem adição de EDA e com proporção EDA:

Ca(NO3)2.4H2O de 0,5:1.

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O método de Rietveld, utilizado para refinar a estrutura cristalina, com base na

referência do banco de dados ICSD (Collection Code 60368), foi realizado através do

software FULLPROF na versão 2.05 [61]. Os fatores de qualidade bem como os parâmetros

de rede ajustados estão apresentados na Tabela 4.1. Os parâmetros de rede calculados para

todas as amostras possuem valores aproximados entre si e menor do que a estrutura bulk do

material obtida no banco de dados cristalográficos ICSD (a = 5,46402 Å). Essas diferenças

nos parâmetros de rede são pequenas, mas observa-se que há uma tendência de aumento dos

parâmetros quando o tempo de reação dimui. Além disso, se compararmos as amostras com as

diferentes concentrações de agente quelante, uma mudança nos parâmetros também

observada. Ainda não é possível afirmar se o efeito de tamanho das partículas influencia no

arranjo cristalino do material.

Tabela 4.1: Parâmetros de rede do CaF2 calculado e fatores de confiança do

refinamento Rietveld

EDA: Ca - (3:1) EDA: Ca (0,5:1) SAQ Ref.

ICSD 30 min 15 min 1 min 15 min 15 min

a (Å) 5,4574 5,4580 5,4597 5,4584 5,4575 5,46402(8)

RB 3,57 3,53 2,15 4,02 1,86

χ2 1,17 1,77 1,31 1,47 1,53

Para verificar a influência do etilenodiamina e do tempo de reação na morfologia e

tamanho médio das partículas, foram feitas imagens de MEV (Figuras 15 e 16) para todas as

amostras de CaF2. O tamanho médio das partículas (Tabela 4.2) foi estimado, com o auxílio

do software Image-Pro Plus (Versão 6.0), por contagem de partículas, em um conjunto de

imagens para cada amostra. Desde que as partículas não são perfeitamente arredondadas, o

tamanho médio das partículas foi estimado considerando dois eixos distintos, um com

dimensão maior e outro com dimensão menor da partícula (Dmaior x Dmenor). Para melhor

compreender e representar, as Figuras 15 e 16 também apresentam os histogramas da

distribuição do tamanho médio das partículas. A distribuição do tamanho pode ser descrita

por uma distribuição Log-Normal [72], representada pela equação:

𝐷(𝑥) = 𝑦𝑜 + ( A

√2𝜋 𝑊𝑥) exp [

−(𝑙𝑛𝑥

𝑥𝑐)

2

2𝑊2 ] (4.1)

Onde 𝑥𝑐 representa o tamanho médio e W a dispersão do tamanho.

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Figura 15: Imagens de MEV e histogramas de distribuição do tamanho das partículas

das amostras com proporção EDA: Ca de 3:1 com tempo de reação de (a) 30 min, (b) 15 min

e (c) 1 min.

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A Figura 15 apresenta as imagens de MEV para as amostras de CaF2 com proporção

EDA: Ca de 3:1 e variando os tempos de tratamento térmico. Pode-se notar que todas

amostras apresentam partículas com morfologia irregular. O tamanho médio para a amostra

produzida com tempo de reação de 30 min foi estimado em (114 ± 4 × 89 ± 2) nm2, para

amostra com tempo de reação de 15 min foi de (75,3 ± 2,8 × 55,9 ± 0,6) nm2 e a amostra

produzida com tempo de 1 min foi estimado em (56,6 ± 0,9 × 43,9 ± 0,3) nm2. Assim, é

possível afirmar que o tempo de reação para a produção das amostras é um parâmetro

importante para o tamanho médio das partículas. A razão de aspecto, por outro lado, apresenta

o valor de aproximadamente 1,3 para as três amostras. Este resultado indica que o

crescimento por efeito do aumento do tempo de reação foi aproximadamente isotrópico.

O efeito do crescimento das partículas pode ser entendido considerando o mecanismo

típico de coalescência (ver Figura 15a) dos grãos que é ativado pelo aumento do tempo de

reação. Assim, quando o tempo de tratamente térmico aumenta, a probabilidade de ocorrer

colisões entre as partículas também tendem a aumentar [73], tornando a distância entre elas

tão pequena que possam se unir através das forças de curto alcance, devido a tensão

superficial [74].

A amostra produzida com proporção de 0,5 EDA (Figura 16a) apresenta partículas

com morfologia semelhante as das amostras produzidas com proporção de 3 EDA, com um

formato irregular mas facetado. O tamanho médio das partículas, (181 ± 4 × 131 ± 2) nm2,

mostram que a quantidade de agente quelante utilizada para a síntese dos pós influencia no

tamanho médio. Essa afirmação torna-se mais evidente, quando comparamos com o tamanho

médio estimado para a amostra produzida sem agente quelante. Na imagem de MEV (Figura

16 b) mostra que o CaF2 produzido sem EDA apresenta morfologias irregulares não-

uniformes com faces mais definidas. O tamanho médio das partículas foi estimado em

(280 ± 11 × 252 ± 6) nm2, nitidamente maior do que para as amostras produzidas com EDA e

a razão de aspecto diminui para 1,1, indicando que a ausência de agente quelante muda o

processo termodinâmico que governa o crescimento dos grãos.

Uma possível explicação para o menor tamanho de partículas quando a proporção

EDA:Ca2+

é maior é o fato de que o EDA reagindo com os íons de Ca2+

formam um

complexo estável Ca2+

- EDA, devido a interação da constante do quelante com os íons de

Ca2+

[75]. Quando irradiado por micro-ondas, os íons de Ca2+

vão se dissociando

gradualmente do complexo Ca2+

- EDA e continuamente são fornecidos ao meio [25]. Assim,

quando a maioria dos íons de Ca2+

está complexada inicialmente ao EDA, o processo é mais

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lento porque os íons de Ca2+

primeiramente precisam ser liberados do quelato Ca - EDA para

reagirem com o 𝐹− para formar as nanopartículas de CaF2. Esse processo mais lento de

dissociação dos íons de Ca2+

, combinado com o curto tempo de reação pode ter sido útil para

evitar o crescimento das nanopartículas.

Figura 16: Imagens de MEV e histogramas de distribuição do tamanho das partículas

das amostras produzidas com proporção EDA: Ca de 0,5:1 com tempo de reação de (a) 15

min e da amostra produzida (b) sem agente quelante.

Tabela 4.2: Tamanho médio das partículas

Amostra N

partículas

Tamanho de partícula (nm) Razão de

Aspecto Dmaior Dmenor

CaF2-EDA-140°C-30 min 267 114±4 89±2 1,3

CaF2-EDA-140°C-15 min 212 75,3±2,8 55,9±0,6 1,3

CaF2-EDA-140°C-1 min 311 56,6±0,9 43,9±0,3 1,3

CaF2-0,5EDA-140°C-15 min 317 181 ± 4 131 ± 2 1,4

CaF2-SAQ-140°C-15 min 165 280±11 252±6 1,1

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Quando a razão EDA/Ca2+

diminui e na ausência do EDA, a solução de 𝐹− é

adicionada a solução com alta concentração de Ca2+

livres na solução, podendo se ligar

rapidamente e formar partículas maiores de CaF2 [76].

Este efeito também pode explicar a diminuição na razão de aspecto dos cristais que

tendem a razão 1 normalmente encontrada no hábito cúbico ou octaédrico de cristais de

tamanho micro e macrométricos de fluorita. A medida que mais íons de Ca2+

estão

disponíveis para reagir de imediato, assim que as soluções são misturadas, com os íons livres

de F-, formam-se núcleos cristalinos maiores de CaF2 que servem como centros nucleadores

dos cristais obtidos no final do processo de síntese, o que faz com que a razão de aspecto

decresça.

A Figura 17 apresenta os resultados de DRX para as amostras de CaF2 dopadas com

1 mol % de Érbio (Er3+

), Európio (Eu3+

) e Térbio (Tb3+

). Essas amostras foram produzidas

sem a presença do EDA, mesma temperatura das amostras não dopadas (140 °C) e tempo de

reação de 15 min. Pode-se observar que os difratogramas obtidos para todas as amostras

dopadas mostram que os picos de difração detectados são referentes ao padrão de difração do

banco de dados ICSD (Collection Code 60368) do CaF2. Nota-se que nenhum pico de DRX

referente aos íons terras raras é observado, indicando que não houve formação de fases

cristalinas adicionais, o que sugere que os íons dopantes foram incorporados com sucesso na

matriz do CaF2.

CaF2:1% Eu

Inte

sid

ad

e (

u.

a.)

CaF2:1% Tb

CaF2:1% Er

30 40 50 60 70 80 90

2

ICSD 60368

Figura 17: Difratograma do CaF2 dopado com íons terras raras.

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4.1.2 Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X

Nesta seção serão apresentados os resultados de XPS para duas amostras de fluoreto

de cálcio, uma produzida com etilenodiamina, na proporção 3:1 em relação ao precursor de

cálcio, e a amostra produzida sem agente quelante, ambas com tempo de reação de 15 min. As

medidas de XPS foram realizadas a fim de obter informações sobre possível contaminação na

superfície das amostras com oxigênio que pode ser tanto íons 𝑂2− ou 𝑂𝐻−, pois é conhecido

que íons 𝑂2− e grupos 𝑂𝐻− tem raio iônico similar ao íon de 𝐹− (1,38 Å, 1,35 Å e 1,31 Å,

respectivamente) [77].

No espectro de inspeção de XPS, chamado de espectro geral ou survey, apresentado na

Figura 18a, são observadas as linhas de fotoemissão características dos elementos do CaF2, do

carbono e oxigênio [66]. A fotoemissão de carbono é bastante comum em análise de XPS,

devido à exposição de muitas amostras em atmosfera e a forma de fixar as amostras no porta

amostras. Essa eventual contaminação com carbono em material bulk pode ser removida com

sputtering de argônio. No caso do presente trabalho, a quantidade de carbono presente no

espectro XPS, possivelmente, é devido ao sinal da fita de carbono utilizada para deposição da

amostra na forma de pó. A presença das linhas do carbono, no entanto, são úteis e a energia de

ligação do orbital 1s do carbono (284,8 eV) foi utilizada para corrigir possíveis deslocamentos

nas energias de ligação de todos os elementos presentes [78].

A Figura 18(b-d) ilustram os espectros XPS de alta resolução obtidos nas regiões das

energias de ligação dos orbitais 2p (Ca), 1s (F) e 1s (O), representados pelos pontos pretos,

bem como as componentes dos ajustes feitos para cada espectro (linhas coloridas). Na Figura

18 b observa-se dois picos referentes as componentes do dubleto j=1/2 e j=3/2 do orbital

2p do Ca, com energias de ligação 351,2 eV e 348,6 eV, respetivamente, ligeiramente

deslocadas ~ 0,8 eV de acordo com Moulder e colaboradores [66], que pode estar associada a

presença de ligações Ca-O e Ca-(OH) [79][80].

O espetro XPS de alta resolução para o orbital 1s do F é apresentado na Figura 18c.

Em um potencial químico uniforme, esperava-se obter para o orbital 1s do F apenas um pico

de XPS, no entanto, o perfil do pico foi decomposto em duas componentes com energias

685 eV e 685,8 eV [81]. Esse fato pode estar relacionado a presença de íons de flúor na

superfície ou localizados em profundidades diferentes nas nanopartículas [82]. Outra possível

explicação, é que ligações Ca-F sofram influência de distorções pontuais no campo cristalino

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da matriz do CaF2 devido a presença de 𝑂2− e/ou grupos 𝑂𝐻−, tornando assim o ambiente

químico dessas ligações Ca-F diferentes do restante da matriz cristalina.

Figura 18: Espectro de XPS para a amostra de CaF2 produzida com proporção

EDA: Ca (3:1) com tempo de reação hidrotermal por micro-ondas de 15 min. Espectro de

inspeção (survey) (a). Espectro de alta resolução do Ca2p (b), F1s (c) e O1s (d).

Tabela 4.3: Proporção relativa dos elementos Ca, F e O na superfície do CaF2

produzido com EDA

Elemento/ligação E (eV) FWHM (eV) % Atômica

F-Ca 685,0 1,89 20,6 54,5

F-Ca 685,8 1,89 33,9

O1s (O2-

) 531,9 2,02 8,3 12,7

O1s (OH) 533,2 2,02 4,4

Ca-F 348,6 2,13 32,8

A presença de oxigênio na composição não é desejada, no entanto, poderia ser

esperada dada a rota de produção utilizada que é em meio aquoso. A presença de espécies

associadas ao oxigênio podem influenciar negativamente na eficiência luminescente de

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matrizes fluoretos. O espetro na região do O (1s) foi ajustado com duas componentes que

apresentam energias de ligação de 531,9 eV e 533,2 eV (Figura 18d). O pico em mais alta

energia de ligação (~533,2 eV) é atribuído à espécies de OH− e o pico em mais baixa energia

(~531,9) atribui-se a espécies de O2− [83]. O que possivelmente pode estar acontecendo é que

os íons de H, provenientes do EDA (C2H8N2), se ligam aos íons de oxigênio adsorvidos do

meio e formam os grupos hidroxilas ou os íons de hidroxilas são oriundos das próprias

moléculas de água do meio reacional.

Uma estimativa da concentração relativa dos elementos da superfície é realizada a

partir dos ajustes feitos, com base no cálculo da área dos picos. Os picos utilizados na análise

correspondem às linhas Ca (2p), F (1s) e O (1s). A tabela 4.3 fornece os valores dsa energias

de ligação e a porcentagem atômica. Observa-se uma quantidade de 8,3 % para o pico O1s

relacionado a espécies de O2− com posição da linha de fotoemissão em 531,9 eV e 4,4 % para

o pico em energia de 533,2 eV atribuído à OH−.

Na Figura 19a é apresentado o espectro survey para amostra produzida sem adição do

agente quelante. São observadas as linhas de fotoemissão dos mesmos elementos da matriz

CaF2, do carbono e oxigênio, que foram observadas para a amostra produzida com

etilenodiamina. Os espectros de fotoemissão obtidos nas regiões das energias de ligação dos

orbitais 2p (Ca), 1s (F) e 1s (O) e as componentes dos ajustes feitos para cada espectro são

apresentados na Figura 19 (b-d) e os valores das energias de ligação e a porcentagem atômica

dos elementos são mostrados na Tabela 4.4.

O espetro XPS na região do 1s do F foi decomposto em três componentes com

energias de ligação em 683,6 eV, 685 eV e 687 eV. A componente com energia ligação em

685 eV está consistente com os valores encontrados na literatura para o CaF2 [66], assim

como foi encontrado para amostra com agente quelante. As componentes com energia de

ligação em 683,6 eV [84] e 687 eV [81] têm sido atribuídas a presença de ligações dos íons de

flúor e cabono. É possível que existam ligações C-F no material devido ao método utilizado

na deposição das amostras para as medidas de XPS, em que as amostras foram depositadas

em fita de carbono. A porcentagem atômica para as componentes em 683,6 eV e 687 eV (Ver

Tabela 4.4) é muito pequena em relação à componente atribuída à ligação F-Ca, a qual nota-se

apenas uma componente em energia 685 eV. A presença de apenas uma componente com

energia 685 eV (Figura 19c) pode ser devido à uma diminuição bastante acentuada na

proporção atômica da componente de O (1s) atribuída à grupos 𝑂𝐻−.

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51

Figura 19: Espectro de XPS para amostra produzida sem EDA com tempo de reação

hidrotermal por micro-ondas de 15 min. Espectro de inspeção (survey) (a). Espectro de alta

resolução do Ca2p (b), F1s (c) e O1s (d).

Na região do orbital 1s do O (Figura 19d), a porcentagem atômica relacionada a

espécies de O2−, em 531,9 eV, foi de 6,2 % enquanto que o pico em energia de 534 eV

atribuído à OH−, neste caso aproximadamente 0,8 eV deslocado do que a amostra com EDA,

foi de 0,5 %. A quantidade relativa em porcentagem atômica total de oxigênio foi de 6,7 %,

relativamente menor que para a amostra produzida com EDA. Isso pode ser um indício de que

o EDA influencia na formação de grupos OH−. Neste caso, o deslocamento na região de Ca

(2p) foi de 0,6 eV, ou seja, 0,2 eV menor do que para amostra produzida com EDA. De acordo

com Wu e colaboradores [85] para as espécies adsorvidas sobre a superfície, a energia de

ligação O 1s geralmente tem a seguinte ordem: oxigênio, hidroxila e molécula de água, no

entanto, o valor da energia de ligação varia com as diferentes superfícies do metal.

Embora o uso de etilenodiamina (EDA) como agente quelante é eficiente na redução

do tamanho de partícula do CaF2, as análises de XPS mostraram que o EDA leva a uma maior

contaminação com espécies de O2− e grupos OH−. Essas impurezas podem ser prejudiciais no

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processo luminescente de materiais fluoretos [5]. Para investigar os possíveis efeitos desses

contaminantes sobre as propriedades luminescentes do CaF2, os espectros de emissão

raioluminescente foram medidos e os resultados são apresentados e discutidos na próxima

seção.

Tabela 4.4: Proporção relativa dos elementos Ca, F e O na superfície do CaF2

produzido sem EDA

Elemento/ligação E (eV) FWHM (eV) % Atômica

O1s (O2-

) 531,9 2,04 6,2 6,7

O1s (OH) 534,0 2,04 0,5

F-C 683,6 1,45 2,2

59,6 F-Ca 685,0 1,45 55,5

F-C 687,0 1,45 1,9

Ca-F 348,2 1.49 33,7

4.1.3 Radioluminescência

Uma característica fundamental de materiais cintiladores é absorver radiação ionizante

e convertê-la em luz e uma das técnicas que permitem conhecer a resposta luminescente

desses materiais é a Radioluminescência. Na Figura 20 são apresentados os espectros de

emissão RL para todas as amostras de CaF2 puro. Observa-se a presença de duas bandas de

emissão e suas respectivas posições estão listadas na Tabela 4.5. A primeira banda de emissão

é atribuída à luminescência de éxcitons auto-armadilhados (STE – Self-Trapping Exciton)

[86], ou seja, está associada a emissão de luz que resulta da recombinação de elétrons e

buracos auto-armadilhados [87].

Ao comparar as amostras é evidente um aumento na intensidade luminescente da

banda de emissão em torno de 300 nm e há duas possíveis hipóteses para explicar: a primeira

é que essa tendência crescente da luminescência ocorre devido ao aumento no tamanho de

partícula, os quais foram estimados através das imagens de microscopia. Esta hipótese está de

acordo com Vistovskyy e colaboradores [88], o qual relata que o aumento na intensidade

luminescente, para partículas com tamanhos maiores que 50 nm, implica que o caminho livre

médio dos fotoelétrons torna-se comparável ou menor que o tamanho das nanopartículas,

favorecendo a recombinação do par elétron-buraco com a formação do STE. A segunda

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53

explicação está relacionada com os resultados de XPS, se compararmos as duas amostras

produzidas com e sem agente quelante com tempo de 15 min, nota-se que a amostra

produzida sem adição de agente quelante, apresenta uma menor quantidade de contaminantes

por oxigênio, o qual prejudica nas propriedades luminescentes dos fluoretos [5,6].

Figura 20: Espectros de emissão RL para todas as amostras de CaF2 puras.

Tabela 4.5: Posição das bandas de emissão.

CaF2 A (nm) B (nm)

SAQ – 15 min 292,91 428,16

0.5EDA-15 min 292,91 425,41

EDA-30 min 290,58 388,24

EDA-15 min 290,58 428,16

EDA-1 min 305,94 423,58

Na amostra produzida sem agente quelante, a segunda banda de emissão é muito mais

intensa do que a banda relacionada à emissão do STE. Essa banda em torno de 2,9 eV (428

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nm) e 3,2 eV (388 nm) é atribuída à centros F na matriz de CaF2 [52,53]. A incidência dos

raios X sobre a amostra pode produzir centros de cor do tipo centros F estáveis e íons de flúor

intersticiais [53]. A formação dos centros F pode se dar de formas diferentes. A primeira delas

é a interação dos raios X transferindo energia para um íon F− da rede que recebe esta energia

na forma de energia cinética e é espalhado dando origem a vacância de F e ao íon de F− em

posição intersticial. Elétrons livres gerados pela ionização do meio, ou seja, devido à criação

de pares elétron-buraco, podem ser capturados por estas vacâncias de flúor formando centros

F. O segundo processo é relacionado a captura de elétrons livres por vacância de flúor pré-

existentes no material. Assim, enquanto o primeiro processo depende fortemente da taxa de

dose de radiação e da energia cinética dos fótons incidentes, o segundo processo de criação de

centros F é menos sensível às duas características do feixe de raios X, desde que os fótons

incidentes tenham energia suficiente para gerar pares elétrons buraco [89].

Um outro efeito interessante que podemos observar nas medidas de RL (Figrura 20) é

o deslocamento na posição da banda de emissão do STE. Quando comparamos as amostras

produzidas com a mesma proporção de agente quelante e cálcio (3:1), observamos que há um

deslocamento para menor comprimento de onda quando aumenta o tamanho de partícula.

Outro comportamente também pode ser observado se compararmos as amostras produzidas

com diferentes proporções de agente quelante. Neste caso, o deslocamento acontece para

maior comprimento de onda para as amostras com partículas maiores. Este efeito pode ser

devido, além da grande diferença no aumento de partícula, a pequena mudança no formato

das partículas. A amostra produzida sem agente quelante e com uma baixa concentração do

mesmo apresentam um formato de partícula mais facetado, se aproximando do hábito cúbico

ou octaedrico dos cristais. Uma hipótese é que este deslocamento possivelmente está

relacionado com essa diferença no formato das partículas.

A Figura 21 apresenta os espectros de emissão radioluminescentes do CaF2 dopado

com 1% Er e 3% Er. As emissões observadas são características das transições 4f-4f do érbio

e estão listadas na Tabela 4.6. Embora os dois espectros apresentem uma emissão dominante

na região do verde, centrada em 540 nm, é perceptível a diferença na intensidade

luminescente entre as duas amostras.

Os íons de Er3+

quando inseridos na rede do CaF2, entram em substituição aos íons de

Ca divalente e o excesso de carga positiva é compensada por íons de flúor intersticial [7].

Uma concentração muito alta de érbio pode gerar clusters e então os íons vizinhos nos clusters

interagem uns com os outros e podem induzir à transferências de energia não-radiativas.

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55

Assim, quanto maior a concentração de defeitos na rede devido ao aumento na concentração

de Er3+

pode interferir na intensidade luminescente. Zhi e colaboradores [7] relataram que em

baixas concentrações, a emissão no verde é dominante devido aos níveis 2H11/2 ou

4S3/2

decaírem na maior parte radiativamente para o nível 4I15/2. De acordo com esses relatos,

acredita-se que a concentração de 3 mol % de Er seja alta para estas amostras.

350 400 450 500 550 600 650 700

0

50

100

150

200

250

300

f

e

d

c

b

In

ten

sid

ad

e

(nm)

CaF2_1% Er

CaF2_3% Er

a

Figura 21: Espectro de emissão RL do CaF2 dopado com 1 % e 3 % de Er

Tabela 4.6: Transições do Er3+

Uma das propriedades importantes em um material cintilador é que tanto a intensidade

quanto os espectros de emissões não variem sensivelmente enquanto o material está sob

irradiação, pois do ponto de vista de aplicação como detector, a estabilidade e a

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reprodutibilidade da luz emitida é uma condição fundamental. Um estudo sobre a dependência

da intensidade luminescente com a dose de radiação recebida e também do tempo de

fosforescência da mesma será realizado nos próximos passos deste trabalho.

Os espectros RL também foram medidos para as amostras de CaF2 dopadas com

európio e térbio e são apresentados na Figura 22 (a-b). É evidente que todos os espectros

apresentam emissões que são características dos íons dopantes. As emissões dos terras raras

são bastante intensas e torna a emissão do STE (~ 300 nm) quase que imperceptível. O

espectro de emissão do CaF2: 1% Eu (Figura 22 a) exibe uma banda de emissão intensa que

vai do violeta ao azul centrada em aproximadamente 426,8 nm. Na literatura, esta banda larga

tem sido relatada como emissão característica do íons de Eu2+

, resultante da transição do

estado excitado de configuração 4f65d

1 para a configuração 4f

7 do estado fundamental [90–

94].

Figura 22: Espectro de emissão RL das amostras dopadas: (a) CaF2: 1% Eu e

(b) CaF2: 1% Tb No detalhe a emissão do STE.

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Além da intensa banda de emissão do Eu2+

, pode-se observar também emissões

referentes as transições 4f-4f dos íons de Eu3+

e isto mostra que a resposta de emissão RL do

CaF2:Eu é composta das transições eletrônicas dos íons de Eu2+

e Eu3+

. Observa-se linhas de

emissão na faixa de 550 a 750 nm devido as transições do estado excitado 5D0 para o

7Fj. A

banda de emissão do Eu3+

, em 592,96 nm é atribuída à transição do nível 5D0 do estado

excitado para o nível 7F1 permitida por dipolo magnético [91,95]. Esta emissão é muito mais

intensa do que a banda em aproximadamente 614 nm referente a transição 5D0 →

7F2,

permitida por dipolo elétrico. Sabe-se que a transição por dipolo elétrico é mais sensível a

mudanças relativamente pequenas na vizinhança dos íons de Eu3+

. Então isso pode indicar

que o sítio ocupado pelos íons de Eu3+

possui simetria de inversão e esta conclusão está de

acordo com o reportado na literatura [96].

A Figura 4.22b apresenta o espectro de emissão radioluminescente do CaF2 dopado

com 1% Tb. As emissões observadas são características das transições 4f-4f do íon terra rara.

O espectro do CaF2:1% Tb (Figura 19 b) mostra as emissões típicas do térbio, no qual o pico

mais intenso, correspondente a transição 5D4 →

7F5, predomina a região do verde com

emissão em aproximadamente 544 nm [97,98].

4.1.4 Espectros de Excitação e emissão na região de Ultravioleta de

Vácuo (UVV)

Na Figura 23 são apresentados os espectros de excitação, medidos em temperatura

ambiente, monitorando a emissão integral das amostras de CaF2 puro com as diferentes

proporções de EDA, produzidos com a mesma temperatura e tempo de reação. Os espectros

compreendem a região do UVV entre 9 e 15 eV, pois esta é uma importante região para o

estudo de estruturas de bandas de materiais fluoretos. Pode-se observar em todas as amostras

duas bandas de excitação. A primeira e mais intensa é identificada como a energia de

formação do éxciton com máximo em 10,7 eV (CaF2 sem EDA), 10,8 eV (EDA:Ca - 0,5:1) e

10,85 eV (EDA:Ca-3:1), como pode ser visto no detalhe da Figura 23. Observa-se um

deslocamento em energia para o pico de formação do éxciton e embora seja uma diferença

pequena, foi facilmente detectável dentro da resolução do espectro de excitação. É possível

que este deslocamento na posição da banda de excitação do STE seja devido à redução do

tamanho de partícula, a qual muda a energia de superfície das partículas e este é um efeito

interessante das nanopartículas de CaF2 obtidas neste trabalho.

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O auto-armadilhamento de éxcitons pode ser devido à excitação com energia

ligeiramente menor do que a energia do gap ou devido à recombinação de portadores de carga

livres quando a energia de excitação é maior que a energia do gap [88]. Através de medida

experimental de reflectância, Rubloff [18] afirma que a energia de formação do éxciton e do

band gap do monocristal do CaF2 são 11,18 eV e 12,1 eV, respectivamente. Além disso, a

energia de ligação do éxciton foi estimada por Tsujibayashi e colaboradores [99] em torno de

0,8 eV acima da banda de éxciton. Dessa forma, considerando os valores encontrados na

literatura e nossos resultados experimentais, acreditamos que a segunda banda de excitação

em 11,7 eV é devido a formação de pares elétron-buraco livres devido absorção interbandas,

ou seja, a energia de band gap do CaF2 em nosso trabalho, cerca de 0,8 eV acima da banda de

excitação do STE e 3 % menor do que o valor de Eg para o monocristal CaF2.

9 10 11 12 13 14 150,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2 CaF

2/EDA (1:3)

CaF2/EDA (1:0.5)

CaF2 sem EDA

Inte

nsid

ad

e (

u. a

.)

Energia (eV)

Eex

10,4 10,6 10,8 11,0 11,2

10,70

10,80

10,85

Eg = 11,7 eV

Figura 23: Espectro de excitação do CaF2 puro com diferentes concentrações de EDA

Como foi mostrado nos resultados de RL, o CaF2 puro apresenta luminescência

intrínseca que compreende uma ampla banda de emissão em aproximadamente 300 nm [53].

Nas Figuras 24 e 25 são apresentados os espectros de emissão versus excitação versus

intensidade obtidos simultaneamente, junto com o mapa de contorno, do CaF2 com agente

quelante (EDA:CA- 3:1) e o CaF2 produzido sem agente quelante, respectivamente. As

medidas foram realizadas excitando as amostras com fótons de energia em três regiões

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espectrais (no intervalo de 4,5 a 14 eV), como visto no capítulo 3, variando a energia de

excitação em passos de 0,05 eV e para cada energia de excitação um espectro de emissão foi

registrado, na faixa de 1,3 a 6 eV. As intensidades de todos os espectros de emissão coletados

foram corrigidas pela corrente do anel e pela absorção de uma folha de alumínio padrão

disposta na mesma posição da amostra. A correção foi realizada energia por energia

possibilitando a construção dos gráficos tridimensionais. Os resultados PL foram construídos

combinando as medidas feitas com excitação nas 3 regiões espectrais (de 4,5 a 8 eV, de 5,6 a

11 eV e 8 a 15 eV).

Pode-se observar na amostra produzida com agente quelante (Figura 24) duas bandas

de emissão. Quando a energia de excitação tende a valores distantes da energia da banda de

formação do éxciton, entre 4,5 eV e 8 eV, observa-se uma banda de emissão larga entre 2,3 e

3 eV e centrada em aproximadamente 2,6 eV (476,9 nm), como pode ser visto na Figura 24a.

Essa banda de emissão em torno de 2,6 eV é atribuída a centros F [52,53] e tem máximo de

excitação em aproximadamente 5,2 eV. É provável que essa banda esteja relacionada à

excitação direta de centros F presentes na matriz do CaF2, já que quando o material é excitado

nesta faixa de energia, apresenta apenas a banda de emissão referente a centros F.

Quando, no entanto, a excitação é feita com energias mais próximas à formação do

éxciton, a emissão apresenta uma banda larga em cerca de 4,3 eV (288,3 nm), com um

máximo de excitação em 10,87 eV. Essa emissão em 288,3 nm é atribuída à luminescência de

éxcitons auto-armadilhados, ou seja, devido à recombinação de elétrons e buracos auto-

armadilhados, e está próximo dos valores obtidos na literatura [86,99].

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Figura 24: Espectro de excitação e emissão simultânea para o CaF2 com proporção

EDA:Ca(3:1) produzido com tempo de reação de 15 min. (a) Energia de excitação entre 4,5 e

7 eV e (b) 7 e 14 eV.

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Figura 25: Espectro de excitação e emissão simultânea para o CaF2 sem EDA.

O espectro de emissão do CaF2 produzido sem agente quelante (Figura 25) apresenta

um comportamento um pouco diferente quando a amostra é excitada com energias abaixo da

energia de criação do éxciton. Quando a amostra é excitada com valores de energia menores,

pode-se ver uma banda de emissão ampla e intensa em torno de 2,8 eV. No entanto quando a

faixa de energia de excitação tende a valores próximos a 7,0 eV (Figura 25b) pode-se ver com

mais detalhes três bandas de emissão menos intensa em torno de 1,7 eV, 2,8 eV e 3,95 eV, o

que não é observado na amostra produzida com agente quelante.

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De acordo com Kachan e colaboradores [100] a posição das bandas relacionadas a

centros H e 𝑉𝐾 no CaF2 tem máximos em 4,03 eV e 3,87 eV, respectivamente. Centros Vk não

são defeitos estáveis à temperaturas maiores que 140 K [101,102]. Em nosso trabalho a banda

de emissão em 3,95 eV provavelmente está relacionada à um desses dois defeitos, no entanto

os valores da posição do máximo dessas bandas são tão próximos que não permite concluir a

origem dessa emissão. Embora a posição dessa banda de emissão (3,95 eV) seja bem próxima

a emissão do STE (4.4 eV), a energia de excitação está longe da formação do éxciton auto

armadilhado, logo são emissões provenientes de canais de excitação diferentes. A banda em

2,8 eV já é conhecida ser devido a emissão de centro F, e a banda de emissão em 1,7 eV foi

citada no trabalho de Aoki e colaboradores [52]. Kamikawa e Ozawa [103] atribuíram essa

banda em 1,7 eV à agregados de centros F. Para energias de excitação próximas a excitação

do éxciton, com máximo em 10,7 eV, somente uma banda larga em aproximadamente 4.4 eV,

referente à emissão do éxciton auto-armadilhado é observada.

Uma diferença entre os espectros das amostras produzidas com e sem agente quelante

está no fato da posição da banda de excitação de éxciton para amostra com agente quelante

ser cerca de 1,5 eV deslocada para maiores energia (10,87 eV). De acordo com Vistovskyy e

colaboradores [8] esse deslocamento na energia de excitação do éxciton para amostras com

tamanhos médio de partícula acima de 140 nm pode ser explicado devido a razão entre o

tamanho das nanopartículas e a distância de separação do par elétron-buraco, a qual depende

essencialmente da energia cinética do elétron.

O espectro de excitação e emissão simultânea para a amostra de CaF2 dopada com

európio é apresentado na Figura 26. A medida foi realizada excitando a amostra na faixa de

energia entre 8,5 e 12,4 eV e energia de emissão registrada entre 1,3 e 6 eV. O espectro foi

normalizado e dividido em duas partes para melhor visualização. A Figura 26a mostra o

espectro que compreende a faixa de emissão entre 1,3 a 3,5 eV e a Figura 26b a faixa entre

3,5 a 6 eV. Na Figura 26b observa-se uma banda de emissão em torno de 4,4 eV com um

máximo de excitação em 10,8 eV atribuída a emissão do éxciton auto-armadilhado e está de

acordo com a literatura [86] bem como corresponde com os resultados obtidos neste trabalho

nas medidas de radioluminescência e fotoluminescência das amostras puras.

O espectro de emissão que compreende o range de energia entre 1,3 a 3,5 eV (Figura

26a) apresenta bandas que correspondem às emissões dos íons de európio. A banda larga

observada com máximo em 2,95 eV (420 nm) é devido a emissão característica dos íons de

Eu2+

na matriz do CaF2 [90–94] devido à transição permitida por dipolo elétrico do menor

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estado excitado de configuração 4f65d

1 para o nível

8S7/2 da configuração 4f

7 no estado

fundamental [90]. A Figura 26a mostra também emissões menos intensas na região do visível

em aproximadamente 588, 609, 650 e 688 nm. Essas bandas de emissão podem ser

observadas mais detalhadamente na Figura 27, a qual apresenta os espectros de emissão com

energias de excitação em 8,5 eV, 9,5 eV e 11,5 eV. Essas emissões são características dos

íons de Eu3+

e correspondem as transições do nível 5D0 do estado excitado para os níveis

7DJ

(J = 1, 2, 3 e 4) da configuração 4f6 [104].

Figura 26: Espectro de excitação e emissão simultânea do CaF2 dopado com európio.

Energia de excitação compreende a faixa entre 8,5 e 12,4 eV com (a) emissão entre 1,3 e

3,5 eV e (b) emissão entre 3,5 e 6 eV.

Figura 27: Espectro de emissão no ultravioleta e visível do CaF2 dopado com Eu.

(a)

(b)

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Nas Figuras 28 e 29 são apresentados os espectros de excitação integral (entre 9 e

15 eV) e emissão das amostras de CaF2 dopadas com Tb e Er, respectivamente. Nos espectros

de excitação (28a e 29a) das amostras dopadas foi possível identificar a energia de formação

do éxciton (Ee) em aproximadamente 10,8 eV e a energia de excitação devido à absorção do

band gap (Eg) em aproximadamente 11,7 eV, que estão de acordo com os valores encontrados

para a o CaF2 puro apresentados anteriormente [99].

Figura 28: Espectro de excitação integral na região do ultravioleta de vácuo (a) e

espectro de emissão no ultravioleta e visível (b) do CaF2 dopado com Tb.

Figura 29: Espectro de excitação integral na região do ultravioleta de vácuo (a) e

espectro de emissão no ultravioleta e visível (b) do CaF2 dopado com Er.

Os espectros de emissão do CaF2:Er3+

e CaF2:Tb3+

são característicos das transições

intraconfiguracionais do estados 4f dos íons terras raras. Os espectros de emissão

apresentados nas Figuras 28b e 29b foram excitados com energias próximas ao band gap do

CaF2. Quando excitado com energia abaixo da formação de éxciton (ℎ𝜈 < 𝐸𝑒), são

observadas somente as bandas de emissão características do érbio e do térbio, similar ao

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espectro de emissão da amostra dopada com európio (Figura 27). A banda de emissão

associada ao éxciton é observada apenas quando há energia de excitação suficiente para sua

criação.

4.2 Fluoreto de Estrôncio (SrF2)

4.2.1 Difração de Raios X e Microscopia eletrônica de Varredura

Na Figura 30 é mostrado o DRX da amostra de SrF2 produzido sem EDA e com

proporção EDA:Sr de 3:1, com tempo de reação de 15 min e temperatura de 140ºC, pelo

método hidrotermal micro-ondas. Todos os picos de difração da amostra podem ser indexados

à fase cúbica do SrF2 (grupo espacial Fm3m) de acordo com o banco de dados cristalográficos

collection code ICSD 40414. Os picos intensos e nítidos indicam que as amostras tem bom

grau de cristalinidade. Nenhum pico relacionado a fases adicionais foi observado.

20 30 40 50 60 70 80

SrF2-SAQ-140°C-15min

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

SrF2-EDA-140°C-15min

2

ICSD-40414

Figura 30: Difratograma de raios X do SrF2.

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Figura 31: Imagem de MEV do SrF2 (a) sem EDA e (b) com EDA.

A microscopia eletrônica de varredura foi utilizada para verificar a influência do EDA

na morfologia das partículas. Observa-se a imagem de MEV do SrF2 produzido sem EDA na

Figura 31a, em que as partículas apresentam formatos de poliedros. Enquanto que para a

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amostra produzida com EDA (Figura 31b), as partículas possuem morfologias mais

arredondadas. Essa diferença provavelmente é devido à influência do agente quelante na

formação das partículas.

Uma estimativa do tamanho de partícula foi feita para amostra produzida com EDA e

o histograma pode ser visto no detalhe da Figura 31b. Embora a estimativa não tenha sido

realizada para ambas as amostras, pode-se notar que com a adição do EDA, há uma

diminuição no tamanho das partículas, além de uma melhor homogeneidade na distribuição de

tamanhos. O tamanho médio para a amostra produzida com EDA foi estimado em

(107 ± 1 × 81,9 ± 0,6) nm2, um pouco maior do que para amostra de CaF2 produzida com a

mesma proporção de agente quelante, mesmo tempo e temperatura de reação.

4.2.2 Espectros de Excitação e Emissão na região de Ultravioleta de

Vácuo (UVV)

A Figura 32a mostra os espectros de excitação medidos em temperatura ambiente, na

faixa de energia que compreende o VUV, entre 9 e 15 eV. A medida foi realizada

monitorando a luminescência integral das amostras de SrF2 produzido com e sem agente

quelante (EDA). Pode-se notar a presença de uma intensa banda de excitação centrada em

aproximadamente 10,2 eV e outra banda em aproximadamente 10,9 eV. Os espectros

apresentam perfis similares e a posição das bandas de energia de formação do éxciton e da

absorção do band gap das amostras não sofre mudanças devido ao uso do agente quelante.

Na literatura alguns valores de Eg são relatados para o SrF2. O trabalho teórico

utilizando cálculos de Teoria do Funcional da Densidade (DFT) realizado por Soni e

colaboradores [14] aponta um valor de energia de band gap em 7,07 eV. Enquanto que o

trabalho experimental realizado por Rubloff [18] mostrou a banda de energia do éxciton e do

band gap do SrF2 em 10,60 eV e 11,25 eV respectivamente, ou seja, aproximadamente 35 %

maior do que o valor teórico.

Considerando os valores experimentais, estimado por Rubloff, pode-se calcular a

energia de ligação do éxciton em 0,6 eV, assim, a primeira banda é atribuída a formação do

éxciton auto-armadilhado e a segunda associada a Eg da amostra. Em comparação com o valor

obtido por Rubloff para o monocristal de SrF2, nota-se uma redução na Eg e no valor da

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energia de formação do éxciton de cerca de 3% que pode ser devido ao efeito de redução de

tamanho de partícula. Este resultado, no entanto, deve ainda ser investigado mais

detalhadamente e isto pode ser feito produzindo amostras com diferentes tamanhos de

partículas e observando se existe um comportamento sistemático de redução do valor de Eg e

no valor da energia de criação do éxciton.

O espectro de emissão (Figura 32b) do SrF2 assim como o espectro de excitação não

apresenta mudança significativa devido as condições de produção da amostra. Tanto o CaF2

quanto SrF2 apresentam uma banda de emissão intrínseca em aproximadamente 300 nm. Essa

luminescência é bem conhecida na literatura e é identificada como a emissão de éxcitons auto

armadilhados [53].

9 10 11 12 13 14 150,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Eg = 10,9 eV

Inte

nsid

ad

e (

u.

a.)

Energia (eV)

SrF2/EDA

SrF2 sem EDA

Ee = 10,2 eV(a)

200 300 400 500 600 700 8000,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Inte

nsid

ad

e (

u.

a.)

Comprimento de Onda (nm)

SrF2/EDA

SrF2 sem EDA

Exc.: 10,2 eV

(b)

Figura 32: SrF2 produzido com e sem agente quelante. (a) espectro de excitação e (b)

espectro de emissão.

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69

4.3 Fluoreto de Lítio, Cálcio e Alumínio (LiCaAlF6)

4.3.1 Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica de Varredura

Todas as amostras de LiCaAlF6 puras e dopadas foram produzidas à 140 °C, , pressão

de até 0,4 Mpa, com taxa de aquecimento de 10 °C por minuto e tempo de reação de 30 min.

Os difratogramas de raios X do LiCaAlF6 puro e dopado, com e sem agente quelante (EDTA),

serão comparados com o padrão do banco de dados cristalográficos ICSD (Collection Code

39700) [30].

A Figura 33 apresenta os difratogramas das amostras puras produzidas com e sem

EDTA. Pode-se observar, tanto para amostra pura produzida sem EDTA quanto para amostra

produzida com EDTA, a formação do LiCaAlF6 em sua estrutura trigonal e grupo espacial

P3̅1c. Na amostra produzida com EDTA foram identificados também a formação de picos

indexados a fase do CaF2, enquanto que na amostra produzida sem agente quelante foi

observado pico identificado como a fase do AlF3 e outros dois picos que não foram

identificados.

*

LiCaAlF6 - SAQ

#

*

Inte

sid

ad

e (

u.a

.)

LiCaAlF6 - EDTA

+

20 30 40 50 60 70 80 90

2

ICSD: 39700

+

Figura 33: Difratograma do LiCaAlF6 puro. O * indica a fase do CaF2, # a fase do

AlF3 e o + fase não identificada.

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70

Na Figura 34 são apresentados os resultados da difratometria de raios X das amostras

de LiCaAlF6 dopadas e produzidas a 140 C por 30 min, em pressões de até 0,4MPa. O

Er(NO3)3 foi adicionado na solução substituindo o Ca2+

em 3 mol%. Considerando o raio

iônico [77] do Ca2+

(1.00 Å), Li+ (0.76 Å) e Al

3+ (0.535 Å), é esperado que o Er

3+ (0.89 Å)

entre no sítio de Ca2+

na rede do LiCaAlF6. Os difratogramas obtidos mostram que para as

amostras dopadas com Er3+

não há presença de fases cristalinas adicionais relacionadas ao

ErF3, indicando que o érbio foi incorporado na matriz. Pode-se notar que os picos referentes

ao CaF2 praticamente desapareceram.

LiCaAlF6:Er

3+- SAQ

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

LiCaAlF6:Er

3+- EDTA

20 30 40 50 60 70 80 90

2

ICSD: 39700

Figura 34: Difratograma do LiCaAlF6:Er3+

produzido a partir de reagentes cloretos

sem agente quelante e produzido com reagentes nitratos com EDTA.

Na Figura 35 é apresentada a imagem obtida por MEV para amostra pura de LiCaAlF6

produzida sem adição de EDTA. Podemos observar que essa amostra apresenta um grande

aglomerado. O tempo de reação provavelmente favoreceu para que pequenas partículas se

fundissem e formassem aglomerados. As partículas aparentam ter morfologia do tipo

plaquetas irregulares.

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71

Figura 35: Imagem de MEV do LiCaAlF6 produzido sem EDTA

Na Figura 36a é mostrada a imagem de MEV da amostra de LiCaAlF6 produzida com

EDTA. A imagem apresenta basicamente dois tipos de estrutura: partículas com formato

hexagonal de tamanho micrométrico e partículas pequenas de formato indefinido e tamanho

nanométrico. A Figura 36b mostra uma imagem de MEV do LiCaAlF6 ampliada da superfície

de uma das partículas micrométricas e revela detalhes das partículas nanométricas que estão

sobre uma das estruturas hexagonais. Estas partículas menores tem formato irregular com

tamanhos médios inferiores a 100 nm. É possível que as nanopartículas tenham sido formadas

com poucos minutos em que a temperatura da reação tenha chegado ao patamar e assim, com

o aumento do tempo de tratamento hidrotérmico sob a ação das micro-ondas e do agente

quelante, essas nanopartículas foram coalescendo formando as micropartículas de morfologia

hexagonal, típicas dos cristais de LiCaAlF6.

Alguns trabalhos relatados na literatura [25,75] que usaram o EDTA para produção de

materiais fluoretos obtiveram morfologia das partículas com formatos diferenciados, desse

modo, para as amostras de LiCaAlF6 era esperado que com o uso do EDTA a morfologia das

partículas apresentassem também formatos diferentes quando comparado com a amostra sem

agente quelante. Na literatura é mostrado para o CaF2 que não somente o agente quelante

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escolhido influencia na morfologia das amostras produzidas, mas também outros fatores como

por exemplo, o tempo de reação e a fonte de flúor utilizada [75].

Figura 36: Imagens de MEV do LiCaAlF6 produzido com EDTA

Na Figura 37 é apresentada a imagem de MEV da amostra de LiCaAlF6 dopada com

Er3+

sem a presença de agente quelante. Foram observadas partículas grandes com formato

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esférico, provavelmente ainda em seu estágio intermediário, com tamanhos que variam

aproximadamente de 2,7 a 4,4 µm. Nota-se ainda que estas partículas esféricas grandes são

formadas por muitas pequenas partículas nanométricas o que pode ser o estágio inicial da

formação de um mesocristal. Notamos que, a morfologia das partículas apresentam mudanças

devido à adição de agente quelante assim como da dopagem. Segundo Jayanthi e

colaboradores [105] a inserção de um dopante pode influenciar tanto na morfologia quanto no

tamanho das partículas de um determinado material.

Figura 37: Imagens de MEV do LiCaAlF6:Er produzido sem EDTA e partindo de

reagentes cloretos.

Na Figura 38a é apresentada a imagem de MEV do LiCaAlF6 dopado com Er3+

produzido com agente quelante. É observado que a amostra possui morfologia hexagonal bem

definida assim como na amostra pura também produzida com EDTA. Segundo Lin e

colaboradores [106] o EDTA atua como agente quelante direcionando o crescimento das

partículas em determinadas direções. A Figura 38b mostra uma micrografia ampliada da

superfície de um dos hexágonos mostrando que, a exemplo da amostra pura, os hexágonos

parecem ser formados por muitas pequenas partículas nanométricas que se auto-organizam em

um mesocristal.

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74

Figura 38: Imagens de MEV do LiCaAlF6:Er produzido Com EDTA

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75

4.3.2 Espectros de Excitação na região de Ultravioleta de Vácuo

(UVV)

Os espectros de excitação na região do UVV entre 7,3 e 13,8 eV do LiCaAlF6 puro e

dopado com Er3+

, apresentado na Figura 39, mostram uma banda em 11,1 eV provavelmente

devido a formação de éxcitons auto-armadilhado. Esta alta energia coincide com o limite da

borda de transmissão (112 nm = 11,1 eV) do LiCaAlF6 relatado por Shimamura e

colaboradores [107], o que nos leva a atribuir esta excitação a luminescência de origem

intrínseca. Além disso, o espectro de excitação para amostra dopada é semelhante ao do

LiCaAlF6 puro. Kirm e colaboradores apresentam no espectro de excitação, obtido a partir da

emissão do LiCaAlF6 centrada em 4,37 eV, uma banda de excitação em 11,45 eV devido a

formação de éxcitons [32].Conciliando as medidas de emissão e excitação com espectros de

reflectância, Kirm e colaboradores estimaram a energia do band gap do LiCaAlF6 em

12,65 eV. Com base nesses resultados, pode-se calcular a energia de ligação do éxciton em

(1,0 ± 0,2) eV, que é um valor similar aos obtidos em outras matrizes. Usando então estes

dados é possível estimar a energia de gap das amostras de LiCaAlF6 produzidas neste trabalho

em torno de 12,1 eV.

8 9 10 11 12 13

Inte

ns

ida

de

(u

.a)

Energia (eV)

11,1 eV

LiCaAlF6

LiCaAlF6:Er

3+

Figura 39: Espectro de excitação do LiCaAlF6 puro e dopado com Er3+

.

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Capítulo 5

Conclusões e Perspectivas

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5 Conclusões e Perspectivas

5.1 Conclusões

As análises de difração de raios X realizadas para identificação das fases cristalinas

das amostras produzidas nos permitem concluir que o método hidrotermal assistido por

micro-ondas é um método eficiente e adequado para produção dos materiais fluoretos

estudados neste trabalho (CaF2, LiCaAlF6 e SrF2). Foram encontradas as melhores condições

de temperatura e tempo, assim como a escolha do agente quelante. Comparando os três

materiais foi possível concluir que quando as amostras são produzidas utilizando agente

quelante, muda a morfologia das partículas. No entanto, ainda não temos uma completa

compreensão da atuação de ambos os agentes quelante nos mecanismos de formação das

amostras. Na caracterização óptica, os espectros excitação mostram evidências de que a

energia de formação do éxciton e a energia do band gap doa materiais produzidos são

menores do que para o monocristal.

5.1.1 CaF2

A caracterização por DRX mostrou que as nanopartículas obtidas apresentam somente

a fase única do CaF2. Através das imagens de microscopia foi possível verificar que todas as

amostras puras de CaF2 apresentam partículas com formatos arredondados irregulares.

Verificou-se também que o tempo de reação é um parâmetro importante no tamanho médio

das partículas, no entanto, a razão de aspecto apresenta valores que, dentro da precisão da

medida, podem ser considerados iguais, e indica que o crescimento por efeito do aumento do

tempo de reação foi aproximadamente isotrópico. A estimativa do tamanho de partícula

realizada através de contagem de partícula, mostrou que as amostras produzidas com menor

quantidade de agente quelante ou sem a presença do mesmo apresentaram maior tamanho das

partículas.

Através da utilização do programa de refinamento FULLPROF e os dados obtidos na

difração de raios X foi possível determinar os parâmetros de rede das amostras de CaF2 puro.

Uma pequena diferença foi observada e pode estar relacionada com o tamanho médio das

partículas, no entanto, este comportamento ainda não é completamente conclusivo.

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A Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por raios X (XPS) indicou que a amostra

de CaF2 produzida com proporção de Ca:EDA (1:3) possui maior concentração de oxigênio

do que a amostra produzida sem a adição do mesmo.

As medidas de RL do CaF2 puro apresentaram luminescência intrínseca e aumento na

intensidade luminescente para amostras com tamanhos de partículas maiores. As amostras de

CaF2 dopadas com térbio e érbio apresentaram as transições 4f características dos íons terras

raras. O CaF2 dopado com európio apresentou as transições típicas do Eu2+

e Eu3+

, indicando

que os dois estados podem estar presentes no material.

O espectro de excitação integral para as amostras de CaF2 produzidas com tempo de

reação no micro-ondas de 15 min mostrou duas bandas de excitação e a literatura permite-nos

atribuí-las a banda de excitação do STE e ao band gap óptico do CaF2. A posição da banda

excitação do STE indica dependência com as condições de preparação da amostra. Para

amostra produzida sem EDA, com tamanho de partícula de (280±11 × 252±6) nm2, a posição

da banda de STE foi encontrada em 10,7 eV, para a amostra produzida com proporção

EDA:Ca - 0,5:1 e tamanho de partícula (181 ± 4 × 131 ± 2) nm2 a posição da banda de STE

foi identifica em 10,8 eV, e para amostra produzida com proporção EDA:Ca-3:1, com

tamanho de partícula de (75,3±2,8 × 55,9±0,6) nm2, em 10,85 eV.

O espectro de emissão e excitação simultânea da amostra com agente quelante

produzida com tempo de reação de 15 min, mostrou duas bandas de emissão: quando excitada

na região entre 4,5 e 8 eV, uma banda centrada em aproximadamente 2,6 eV, atribuídas à

centros F e outra banda de emissão em 4,3 eV, atribuída a emissão de éxciton auto-

armadilhado. Enquanto que a amostra produzida sem agente quelante apresentou 3 bandas de

emissão em 1,7 eV, 2,8 eV e 3,95 eV quando excitada em baixas energias e outra banda de

emissão em 4,4 eV atribuída a emissão do STE. A emissão em 1,7 eV e 2,8 eV, são atribuídas

a agregados de centros F e centros F e a emissão em 3,95 eV pode ser devido a centros Vk ou

centros H.

5.1.2 SrF2

Através da DRX foi possível verificar a formação da fase única da amostra de SrF2.

Na imagem de microscopia do SrF2 produzido sem EDA as partículas apresentaram formatos

semelhantes à poliedros, enquanto que para a amostra produzida com EDA as partículas

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79

possuem morfologias mais arredondadas. Essa diferença pode está relacionada com o uso do

agente quelante, no entanto, ainda será realizado um estudo mais aprofundado.

Os espectros de excitação não apresentaram diferenças significativas devido ao uso de

agente quelante. Através das medidas de excitação realizadas na região do VUV e a partir de

dados obtidos na literatura, foi possível identificar a banda em aproximadamente 10,2 eV

como a energia de formação de éxcitons e a segunda banda em aproximadamente em 10,9 eV,

foi atribuída a energia do band gap.

Nos espectros de emissão tanto da amostra produzida com e sem agente quelante foi

possível verificar a luminescência intrínseca atribuída a emissão do STE característica do

SrF2.

5.1.3 LiCaAlF6

A difração de raios X mostrou a formação da fase cristalina para as amostras de

LiCaAlF6 puro e dopado, produzidos com e sem o uso de EDTA como agente quelante, com a

presença de fases adicionais.

Para as amostras de LiCaAlF6 notou-se diferenças no formato das partículas para as

amostras puras e dopadas produzidas tanto com agente quelante quanto com a ausência do

mesmo. A amostra pura produzida sem EDTA apresenta um grande aglomerado formado por

partículas com formatos irregulares, com algumas mais arredondas e outras tipo placa.

Enquanto que a amostra dopada sem EDTA apresenta formatos esféricos, aparentemente em

estágio de formação, observada pela irregularidade da superfície, com tamanho médio que

variam aproximadamente de 2,7 a 4,4 µm. Um fato interessante está nas amostras tanto pura

quanto dopada produzidas com EDTA. Estas apresentaram morfologia hexagonal de

tamanhos micrométricos e que provavelmente são formadas pela aglomeração de

nanopartículas devido aos mecanismos de crescimento em determinadas direções do EDTA.

Através das análises das medidas do LiCaAlF6 puro e dopado com érbio realizadas na

região do VUV, foi possível identificar a banda em aproximadamente 11,1 eV como a energia

de formação de éxcitons e estimar a partir de dados obtidos na literatura, a energia do band

gap em 12,1 eV.

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80

5.2 Perspectivas

No desenvolver deste trabalho, algumas questões faltaram ser exploradas e estudadas

para aprofundar o entendimento das propriedades dos materiais estudados. Entre as atividades

que podem ser realizadas estão:

Explicar a atuação de ambos agentes quelantes nos mecanismos de formação das

amostras.

Realizar medidas de luminescência na região do ultravioleta e visível (entre

200 nm a 800 nm), a fim de compreender os mecanismos de luminescência,

medindo os espectros de emissão, excitação e a absorção óptica.

Fazer um estudo dos parâmetros cinéticos (E, τ, s) através da técnica de

termoluminescência (TL) em baixas e altas temperaturas irradiando com diferentes

fontes. O que permite localizar os diferentes níveis eletrônicos dos defeitos que

geralmente são localizados na região do band gap.

Criar um modelo, através da combinação de todas as informações obtidas, para

poder compreender os mecanismos envolvidos nos fenômenos luminescentes nos

diferentes níveis de energia dos estados opticamente ativos nos fluoretos

estudados.

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Produção científica no período:

C. dos S. BEZERRA, M.E.G. VALERIO, Structural and optical study of CaF2

nanoparticles produced by a microwave-assisted hydrothermal method, Phys. B Condens.

Matter. v. 501, p. 106–112, 2016.

G. F. C. BISPO; A. B. ANDRADE; C. dos S BEZERRA; V. C. TEIXEIRAB; D.

GALANTE; M.E. G. VALERIO. Luminescence in undoped CaYAl3O7 produced via the

Pechini Method. Physica b: Condenser Materials,v. 507 ,p. 119–130, 2016.

M.V. dos S. REZENDE, P.J.R. MONTES, F.M. dos S. SOARES, C. dos SANTOS,

M.E.G. VALERIO, Influence of co-dopant in the europium reduction in SrAl 2 O 4 host, J.

Synchrotron Radiat. v.21, p. 143–148, 2014.

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82

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