síndrome de down

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PROJETO INSTITUCIONAL UNESP / PEDAGOGIA CIDADÃ LUCIANA MARIA AGUIAR SANTOS SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA PORTADORA DA SÍNDROME DE DOWN I

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

PROJETO INSTITUCIONAL UNESP / PEDAGOGIA CIDAD

LUCIANA MARIA AGUIAR SANTOS

SOCIALIZAO DA CRIANA PORTADORA DA SNDROME DE DOWN

Sorocaba 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

PROJETO INSTITUCIONAL UNESP / PEDAGOGIA CIDAD

LUCIANA MARIA AGUIAR SANTOS

SOCIALIZAO DA CRIANA PORTADORA DA SNDROME DE DOWN

Trabalho apresentado como exigncia parcial para a Concluso do Curso de Pedagogia do Projeto Institucional UNESP/Pedagogia Cidad, sob a orientao do Prof. Manoel Antnio de Almeida Monteiro

Sorocaba 2005

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Dedicado minha filha Isabela, minha amiga, meu norte, meu maior apoio e minha maior fonte de nimo e, da mesma forma, ao fruto divino que ainda carrego dentro de mim, meu filho Joo Pedro, com muito amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradeo a todos os professores do Projeto Institucional UNESP/Pedagogia Cidad. Agradeo tambm aos colegas e amigos de curso. Agradeo, em especial, ao meu marido Jefferson pelo apoio incondicional e pelo companheirismo de todas as horas. Acima de tudo, agradeo a Deus pelo amor infinito, pela proteo constante e pela oportunidade de realizar mais esta etapa da vida.

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Uma escola no somente um local de conhecimento. No somente um local de aprendizagem, onde tem professores, paredes etc. Uma escola essencialmente um conjunto de relaes humanas. (Moacir Gadotti)

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RESUMO

Este estudo aborda a questo da socializao de crianas portadoras da Sndrome de Down, atravs de jogos e brincadeiras, trazendo grandes contribuies diante da incluso, que vem sendo implantada em escolas de Educao Infantil. Alem da linguagem do brincar que vai se desenvolvendo no campo do imaginrio em companhia da famlia, esse processo de socializao vai sendo enriquecido mais adiante pelos outros grupos sociais aos quais a criana integre. No entanto, crianas portadoras de necessidades especiais, s vezes, necessitam de ajuda especifica para desenvolver suas habilidades sociais. O estudo mostra como a famlia age e reage ao ter um filho com necessidades especiais e como sua ajuda primordial em seu desenvolvimento atravs da estimulao essencial ou precoce. A pesquisa contempla um levantamento bibliogrfico sobre o assunto e tambm uma pesquisa de campo, onde foi observando uma sala de aula com crianas de 4 a 6 anos na qual est incluindo; um portador da Sndrome de Down interagindo em situaes de jogos e brincadeiras. De modo geral pde-se verificar situaes ldicas desenvolvidas com as crianas, e uma socializao espontnea. No foi identificado bloqueios ou dificuldades, na classe observada, pois todos demonstram grande colaborao nas relaes sociais, onde professor e alunos eram muito solidrios com a criana portadora de necessidade especifica.

Palavras-chave: Sndrome de Down, socializao, estimulao essencial.

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SUMRIO

INTRODUO........................................................................................................................7 1. SNDROME DE DOWN: CONSIDERAES GERAIS....................................................10 2. O PROCESSO DE SOCIALIZAO DA CRIANA DE 4 A 6 ANOS..............................14 3. A FAMLIA DO PORTADOR DE SNDROME DE DOWN................................................17 3.1 A ESTIMULAO ESSENCIAL (PRECOCE) PELA FAMLIA ...............................................................19 4. A INCLUSO ESCOLAR E A SNDROME DE DOWN....................................................26 4.1 BRINCADEIRAS ESCOLARES COMO FATOR DE SOCIALIZAO.........................................................28 5. PESQUISA DE CAMPO...................................................................................................32 5.1 ANALISE DAS OBSERVAES.................................................................................................33 5.2 CONSIDERAES SOBRE AS OBSERVAES...............................................................................34 CONSIDERAES FINAIS..................................................................................................35 REFERNCIAS....................................................................................................................37 ANEXO I - ENTREVISTA.....................................................................................................39 ANEXO II JOGOS SOCIALIZADORES.............................................................................41 ANEXO III - DEPOIMENTO..................................................................................................43 ANEXO IV - CARTA DE UM BEB......................................................................................45

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INTRODUO

Como professora da rea de Educao Infantil, ainda foi possvel vivenciar situaes de praticas educativas com crianas portadoras de qualquer necessidade especial, mas uma me chama ateno: a Sndrome de Down, alterao gentica que ocorre na formao do beb no inicio da gravidez. A Sndrome de Down no doena, um acidente gentico que acarreta atraso no desenvolvimento da criana, necessitando de muitos estmulos apropriados. Isto me estimulou a estudar e pesquisar para verificar como se d o processo de socializao da criana portadora da Sndrome de Down. Fala-se muito sobre incluso, integrao da criana portadora de deficincias nas instituies educacionais. Os professores na realidade no esto preparados para atender crianas com algum tipo de necessidade especial, e com isso, tm surgido muitas duvidas de todos os lados, pais, escola e sociedade; pois a incluso se d atravs de um processo interativo onde a sociedade e portadores de necessidades especiais se reconheam e se desenvolvam, estabelecendo novas regras fundamentais no direito de cidadania plena para todos. A incluso de crianas portadoras de necessidades especiais junto sociedade se torna difcil para a compreenso da maioria das pessoas, muitas no

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aceitam a integrao no grupo social. Isso acontece porque as pessoas se chocam ao fato de que essas crianas so inadaptadas, o que significa que no podem ficar com as outras. Esses preconceitos so encontrados em todos os lugares, at mesmo dentro da prpria famlia, por no estarem preparados e verem seu filho to esperado com tais dificuldades. No Brasil, ainda pouco discutida a questo da famlia em questes acadmicas, tendo apenas depoimentos de mes, aos quais deveriam dar maior destaque, pois a famlia o grupo social primrio, onde o individuo j nasce com caractersticas prprias, determinada cultura e posio scio-econmica definida e a partir disso que a criana comea a aprender at que ponto ela um ser aceitvel no mundo. S ento vem a escola (socializao secundria) e com ela sua socializao, onde a criana ter novos ajustes a fazer para se adaptar. A passagem do nvel familiar ao escolar, como ocorre em todas as transies de um contexto de desenvolvimento para outros, a criana enfrenta novos desafios cognitivos e sociais. Tanto o desenvolvimento adequado da criana, como sua prpria atitude para com a escola dependem das relaes entre colegas. quando essas relaes so negativas, a criana pode apresentar dificuldades de ajustamento (FONSECA, 1995). Visto a importncia deste estudo, foi colocado como objetivo refletir sobre esse processo de socializao da criana de 4 a 6 anos portadora de Sndrome de Down. Tem objetivos especficos de analisar o papel da estimulao essencial (precoce) e do papel da famlia para que ocorra da melhor forma essa socializao, alem de tambm refletir sobre o papel das brincadeiras escolares nesse de socializao.

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Para atender estes objetivos, o estudo foi estruturado em captulos que contemplam as temticas: - O processo de socializao da criana portadora e no portadora da Sndrome de Down. A famlia e como acontece a estimulao essencial (precoce) da famlia com a criana portadora da Sndrome de Down. A incluso escolar e o papel das brincadeiras como fator de socializao da criana portadora da Sndrome de Down. Esse estudo tem proporcionado um acrscimo em minha vida pessoal e profissional. Espero poder dar uma valiosa contribuio para educandos e seus familiares, nesse processo de estimulao essencial (precoce) e socializao.

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1. SNDROME DE DOWN: CONSIDERAES GERAIS

Que me seja dada a serenidade de aceitar as coisas que no posso mudar, coragem de muda-las quando eu puder e a sabedoria de conhecer a diferena entre as duas situaes (Centro de informaes e Pesquisas de Sndrome de Down)

Para que possamos compreender a Sndrome de Down preciso algumas informaes bsicas. Sndrome de Down um atraso do desenvolvimento tanto das funes motoras do corpo, como das funes mentais, ou seja, alterao gentica que ocorre na formao do beb, no inicio da gravidez. Foi descoberta pelo medico ingls John Langdon Down, em 1966. Sndrome um conjunto de caractersticas que prejudica de algum modo o desenvolvimento da pessoa e Down o sobrenome do medico que descreveu1. Segundo o Projeto Down, normalmente se reconhece uma criana com Sndrome de Down atravs dos sinais fsicos que o recm-nascido apresenta, como o beb pouco ativo e molinho (hipotonia), os olhos bem puxados, lngua para fora da boca (protrusa), o nariz bem achatado e largo, prega nicas nas mos e os dedos1

Projeto Down. Voc sabe o que Sndrome de Down?

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do p so mais afastados, baixa estatura na primeira infncia, entre outros sinais fsicos que variam de beb para beb. De acordo com o manual para pais sobre a Sndrome de Down (Ministrio da Sade, 1994:2), a Sndrome Down no uma doena e sim um erro gentico, onde qualquer casa pode ter um filho com Sndrome de Down, no importando sua raa, credo ou condio social, a chance aumenta quando a me tem mais de 40 anos. A Sndrome de Down no adquirida por algum problema ocorrido durante a gravidez, ocasionado logo no inicio da gestao, devido um acidente um acidente gentico, que ocorre na diviso celular; possvel detectar se o beb ter ou no a Sndrome de Down, sendo assim, exclui-se qualquer hiptese da Sndrome de Down ser contagiosa. Passaremos a seguir para as causas da Sndrome de Down, de modo simples para melhor aproveitamento. Toda pessoa tem seu corpo formado por pequenas unidades chamadas clulas, que s podem ser vistas ao microscpio. Dentro de cada clula esto cromossomos, que so os responsveis pelo funcionamento do corao, estomago e crebro da pessoa, eles tambm determinam a cor dos olhos, cabelo, altura, sexo e etc. Cada clula possui 46 cromossomos que so iguais dois a dois (XX), existindo 23 pares ou duplas de cromossomos dentro de cada clula. Um desses pares chamado de par numero 21, e onde ocorre a alterao (Sndrome de Down), portanto, a criana com Sndrome de Down possui um cromossomo 21 a mais, ou seja, ela tem trs (3) cromossomos 21 em todas as clulas, ao invs de dois (2), chamado de Trissomia de 21 apresenta 47 cromossomos, causa real da Sndrome de Down (PUESCHEL, 1995: 54-58) De acordo com o projeto Down, 95% dos portadores de Sndrome de Down apresentam os cromossomos 21 separados uns outros encontrando assim 47 cromossomos (Trissomia Simples) e cerca de 2 % dos portadores de Trissomia

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simples possuem clulas com 46 cromossomos que so normais junto com 47 cromossomos, clulas com trissomia 21 (Mosaicismo), tambm encontrado um dos cromossomos 21 unido a outro cromossomo (Translocao), que cerca de 3% dos casos com Sndrome de Down. importante salientar que no existe diferenas entre crianas com Trissomia Simples ou Translocao, os sinais clnicos da Sndrome de Down so os mesmos para os dois tipos. Normalmente, a criana com Sndrome de Down apresenta alguns problemas de sade, m formao cardaca, do intestino, deficincia imunolgica, problemas respiratrios (bronquite e pneumonia), problemas dermatolgicos, odontolgicos, de viso e audio (Ministrio da Sade, 1994:3). Atualmente existem exames que podem detectar a Sndrome de Down durante a gravidez. Na ultra-sonografia, atravs das caractersticas do feto: altura, tamanho das pernas e braos, movimento, etc.; pode ocorrer a suspeita de algumas alteraes onde s confirmado pela anlise dos cromossomos do feto. Esta analise realizada pela amniocentese, em que retirada uma pequena quantidade do lquido que envolve o beb no tero durante a gravidez. Outro exame o da amostra do vilocorial, pouco realizado no Brasil, feito a 8 e a 11 semana de gestao. O projeto Down, refora que at o momento a deficincia mental acarretada pela Sndrome de Down no tem cura, pois se trar de uma alterao gentica das prprias clulas e no existem drogas, vacinas, remdios, escolas ou tcnicas milagrosas capazes de cur-la. Pesquisas tm sido desenvolvidas nesse sentido,

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mas nenhum resultado foi encontrado. preciso que as famlias estejam sempre alerta para que no sejam enganadas por charlates que encontram possibilidades de cura para Sndrome de Down. De acordo com FONSECA (1995), os programas de estimulao essencial (precoce) favorecem o desenvolvimento motor e intelectual das crianas com Sindrome de Down, o que indica a melhora no desempenho da criana durante os primeiros anos de vida, mas no sabemos com exatido qual sua verdadeira contribuio, portanto, a estimulao essencial (precoce) no a cura, um auxilio para o desenvolvimento do potencial da criana portadora da Sndrome de Down. Segundo WERNECK (2000:48), A maior limitao para que os portadores de Sndrome de Down se tornem adultos integrados, produtivos, felizes e

independentes no imposta pela gentica, mas sim pela sociedade.

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2. O PROCESSO DE SOCIALIZAO DA CRIANA DE 4 A 6 ANOS

Se a criana tem boa imagem de si mesma, ela poder se relacionar bem com os outros. A imagem que ela desenvolve de si mesma, est ligada imagem que os pais lhes transmitem (Projeto Down)

O comportamento da criana um reflexo de sua sade fsica e emocional. Durante muito tempo acreditou-se que a criana portadora da Sndrome de Down era incapaz de aprender a maioria das coisas a ser educada aprendendo a conviver num grupo, em conta disso, acreditava-se que a criana no tinha capacidade pra aprender, ento se exigia pouco. Atualmente, muitos profissionais se conscientizaram do potencial da criana com Sndrome de Down e sua condio de ser educada. A criana com Sndrome de Down possui limitaes principalmente no aspecto intelectual. Porm, bem orientada, pode vir a ter uma vida semi independente, participando das atividades do grupo em todos os aspectos, dentro de suas limitaes. A criana com Sndrome de Down deve ser educada como qualquer outra criana. Suas iniciativas devem ser valorizadas, mais necessrio que conhea as regras e limites. medida que ela se torna independente, voc deve ensinar-lhe o

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que permitido ou no. E fazer realmente com que ela entenda, conversando de forma clara e simples e corrigir, caso seja necessrio. Isso ajudar em sua adaptao social futura, que conseqentemente igual a todas as crianas com ou sem necessidades especiais.

Uma classe comum, onde esteja representada a diversidade da vida humana, os diferentes tipos de inteligncia, a riqueza das variadas habilidades e, at mesmo, o conflito de valores, certamente propicia a formao de alunos melhor preparados para aprimorar a democracia e contribuir para a formao de uma sociedade mais justa. (Reflexo da Silvia Figueiredo Gouva, diretora da Escola Loureno Castanho, que est na Pesquisa de Campo)

As capacidades de cada pessoa variam e tambm as capacidades de crianas com a Sndrome de Down. Apesar de que cada pessoa nasce com certo potencial, muito pode ser feito para auxiliar o desenvolvimento, e o meio em que a pessoa vive influi muito, quanto maior a estimulao que a criana recebe, maior ser sua possibilidade de usar suas capacidades e conseqentemente de se socializar com os outros. De acordo com o Projeto Down, nesta idade (4 a 6 anos), a criana com Sndrome de Down, muitas vezes, torna-se mais agitada, hiperativa pode continuar por alguns anos e algumas famlias consideram esse perodo muito desgastante. Com o desenvolvimento, a criana vai descobrindo outras partes do corpo e a masturbao pode aparecer aps os quatro anos. Trazendo apreenso na famlia, que interpreta como puberdade precoce. Porem a tendncia desaparecer a masturbao, voltando apenas na puberdade (11-12 anos)

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Muitos ainda acham que a incluso uma utopia, e que deve conduzir-nos a um compromisso em prol do surgimento de uma nova conscincia social, novas relaes entre os homens. (MENDONA, 1997:122-124) Assim destaco um trecho da obra de um importante escritor colombiano, Gabriel Garcia Mrquez:

Temos o direito de acreditar que ainda no tarde para empreender a criao da nova utopia da vida, onde ningum possa decidir, excluir nem decidir por outro, at a forma de morrer ou viver. Onde as estirpes condenadas a Cem Anos de Solido tenham, por fim e para sempre, uma Segunda oportunidade sobre a Terra.

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3. A FAMLIA DO PORTADOR DE SNDROME DE DOWN

Segundo a Declarao de Salamanca (1994:37): O papel das famlias e dos pais pode ser valorizado se lhes forem transmitidos os esclarecimentos necessrios de informao numa linguagem simples e clara...

H sempre uma expectativa quanto ao nascimento de um beb, e os pais esperam que seus filhos nasam sadios. Ao nascer uma criana com Sndrome de Down, os pais ficam chocados e o primeiro sentimento o de rejeio por no terem informaes suficientes, portanto o pnico toma conta, o medo de fazer algo errado, de no conseguir e mesmo tudo novo, diferente. A medida que a situao se torna mais clara e os pais tomam conhecimento de que a Sndrome de Down um acidente gentico e que ningum tem controle e culpa, esses sentimentos podero ser superados. A insegurana, incerteza e muitas dvidas com certeza iro surgir, como tratar e como ser seu futuro. preciso em primeiro lugar, para ter todas essa informao e ajuda necessria, procurar uma instituio onde tenha um grupo de apoio para trabalhar o que os psiclogos chamam sentimento de luto, a culpa propriamente dita. partir disto a famlia ir se preparando para aceitar essa criana e assim automaticamente a criana vai sendo trabalhada e estimulada. Este trabalho deve ser adequado para

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que tenha o amadurecimento neurolgico e se desenvolva tambm com sucesso em todas as etapas de sua vida, tendo o apoio de sua famlia, sendo aceito socialmente. (PUSCHEL, 1995:23-28) Segundo o relato da psicloga da Apae de Sorocaba, Maria Ceclia Dias Alcolia (ANEXO I), este trabalho surpreendente, pois ajuda os pais a compreenderem melhor seu filho e seus sentimentos em relao a ele, permitindo que dessa maneira mais natural, possam iniciar uma vida juntos e felizes. A chegada de uma criana portadora da Sndrome de Down famlia requer mudanas, mas com o apoio carinhoso que encontrado a cada etapa da criana, tudo se transformar em uma experincia bastante rica. A famlia possui responsabilidades de fazer com que seus filhos desenvolvam caractersticas de sua personalidade e comportamento para assim, situarem-se em grupos aos quais possuiro a mesma cultura. Portanto, a famlia como grupo fundamental no processo de socializao da criana. Os pais so os responsveis pela educao inicial, ou seja, aprender tudo em primeiro lugar em casa, cabe aos pais acompanharem o crescimento e desenvolvimento de seu filho com amor e compreenso no deixando de educar com disciplina, evitando os conflitos emocionais, s assim ambos tero uma relao saudvel entre si. De acordo com o Projeto Down, os bebs no so todos iguais. Cada um tem suas potencialidades e isto serve para crianas com Sndrome de Down tambm. Criana criana, independente de qualquer dificuldade ou necessidade especial que possa vir a ter, devemos trata-las como tais. Todos temos nossas virtudes e fraquezas, estamos sempre procurando um futuro promissor, portanto este sucesso

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depender da interao positiva entre as famlias, profissionais, crianas e sociedade. Os pais devem procurar no superproteger a criana com Sndrome de Down, interferindo o menos possvel na brincadeira e brigas entre irmos, permitindo que cada um tenha suas atividades e liberdade. Se os pais tratarem a criana com naturalidade os irmos tambm o faro. No se deve tratar a criana como se ela fosse mais fraca, indefesa ou diferente. Sem fazer restries aos irmos, pois assim, podero se sentir culpados com pena ou superprotegendo-os, tambm importante para que a criana com Sndrome de Down no se torne alvo das atenes exageradas da famlia para que os outros filhos no se sintam em segundo plano. A forma como a famlia poder ajudar os profissionais da educao o de estar orientando e dando o respaldo com relao ao comportamento da criana dentro do mbito familiar, agora com relao a educao, os pais devem tentar participar sempre da vida do seu filho, trocando experincias e buscando junto com os profissionais reforar esse trabalho da escola. trabalhar sempre em conjunto. Todos unidos sempre, e s assim o que parece impossvel tornar-se- mais ameno.

3.1 A ESTIMULAO ESSENCIAL (PRECOCE) PELA FAMLIA

A educao recebida pela criana reflete no seu futuro. (FIGUEIRA, 1993:22)

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O desenvolvimento da criana com Sndrome de Down, nos primeiros anos de vida, geralmente mais lento se comparado ao de outra criana. Isto pode ser observado em relao aos aspectos motor, cognitivo e da linguagem. H uma grande variao entre as crianas com Sndrome de Down, dependendo Sade,1994:6) Este desenvolvimento mais lento devido s caractersticas da Sndrome de Down, j descritas. Por isso, um trabalho dirio que ajude a criana a vencer as etapas pode ser bastante til e satisfatrio. Para que a criana possa atingir uma determinada fase do desenvolvimento, ela precisa ser estimulada. A estimulao procura dar-lhe condies para desenvolver suas capacidades desde o nascimento. Isto se aplica a todas as crianas com ou sem atraso. Segundo o Projeto Down, a estimulao essencial (precoce) uma srie de exerccios para desenvolver as capacidades da criana, de acordo com a fase do desenvolvimento em que ela se encontra. No complicado ou realizado com aparelhos sofisticados, mas atividades que toda pessoa faz com os bebs, e se pode aprender facilmente. A maior parte dos programas de estimulao acontece com crianas de 0 a 3 anos, onde apresentam atividades de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. No se deve fixar idades para a aquisio de habilidades, pois h grande variao no desenvolvimento das crianas, especialmente nas crianas com Sndrome de Down (PUESCHEL, 1995:37-38). dos fatores hereditrios, fsicos e ambientais (Ministrio da

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Com base no Projeto Down, a estimulao deve ser feita de acordo com as capacidades que cada criana apresenta. Para realizao da estimulao no preciso mudar o dia-a-dia da famlia, basta implantar as atividades na rotina, tornando agradveis para ambos, com isso a famlia estar dando carinho e ateno para seu filho, assim poder observ-lo compreendendo melhor suas dificuldades e qualidades. Cada criana tem seu prprio ritmo, que os aos poucos percebero e aprendero a respeitar. importante que a criana esteja calma, sem sono, seca e alimentada para desenvolver os exerccios e obter os resultados. O desenvolvimento geral da criana depende do ambiente em que vive. Devem ser oferecidos estmulos variados, brinquedos coloridos, musica, conversa ou o prprio movimento da casa, mas no bom oferecer vrios ao mesmo tempo. O excesso pode confundir a criana, pois no conseguir concentrar-se em um deles. O beb receber mais estmulos se for mudado sempre de posio, durante o tempo que estiver acordado, como de bruos, lado, cada nova posio far com que ele perceba as partes de seu corpo e o relacione com o ambiente, ajuda tambm a estimulao, deixando-o em vrios lugares da casa. A criana deve sempre ficar sempre perto de seus pais e irmos, enquanto estiver ocupado, manter a conversa ou brincar, assim tomando contato com o que acontece na casa ele comear a participar. A estimulao importante para que a criana atinja novas faces no seu desenvolvimento, ela necessita ser estimulada a experimentar coisas novas que esto a sua volta, conhecer e vivenciar situaes e objetos. Para isso so usados os sentidos (tato, audio, viso e paladar), as sensaes e os movimentos, portanto, a criana vai fazendo uma memria das suas vivencias, como se fosse um arquivo sendo formado.

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Ainda com base no Projeto Down, de acordo com a faixa etria, veremos as fases da estimulao essencial (precoce), simplificadamente. Desenvolvimento de 0 a 6 meses: A aquisio motora mais importante o controle da cabea, a criana deve manter a cabea alinhada com o resto do corpo, qualquer que seja sua posio: deitada, sentada e mais tarde em p. Nesta fase o beb ir fortalecer os msculos das costas, pescoo e at se apoiar nos cotovelos e mos. Aprender tambm a rolar, sentar com apoio e mais tarde sozinho. Devido hipotonia, preciso realizar os exerccios quando o beb estiver acordado. Exemplos: a) Segure-o no colo e balance-o de um lado para outro, para frente e para trs; b) Coloque-o sentado no colo, com as pernas sobre as suas e o corpo apoiado no seu e dar pequenos pulinhos como se fosse brincar de cavalinho; c) Coloque-o de bruos (de costas) sobre as suas pernas; d) A posio adequada para dormir de lado com travesseiros apoiando-o nas costas; e) Na hora do banho, massageie suavemente o corpo da criana (barriga, costa, sola dos ps e palma das mos) com esponja spera ou pano atoalhado para estimular a sensibilidade do beb.

Desenvolvimento de 6 a 12 meses:

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A criana torna-se mais ativa, ficando mais independente. a criana rola, rasteja, fica sentada por um bom tempo, engatinha e, s vezes fica em p. Explorando assim o ambiente e fazendo um arquivo de suas experincias. A memria se desenvolve, comunica-se com gestos e expresses prprias. As atividades dirias do beb devem ser diversificadas para ajudar a desenvolver suas habilidades fsicas e emocionais, incentivando assim, a participao na vida familiar e social. Exemplos: a) Como carregar: fazendo cadeirinha com os braos, e quando estiver com mais firmeza na cabea, abraar ao lado do seu corpo voltada para o ambiente, ficando assim com o brao livre; b) A cama deve ter espao para criana se movimentar com grandes mbiles coloridos e brinquedos ao redor da cama; c) A criana pode ficar deitada de bruos, lado ou de costas; d) Quando estiver deitada a criana dever as pernas e os ps unidos; e) Contar todo o que est sendo feito, para a criana uma boa maneira de se comunicar com ela; f) importante ensinar a criana a brincar junto, como passar a bola.

Desenvolvimento de 12 a 24 meses, a fase do desenvolvimento:

Com dois anos de vida, a criana mais ativa e participante, utiliza as mos para explorar o ambiente, e comea a construir uma memria sobre os acontecimentos e objetos.

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A criana comea a mostrar sua personalidade e tem grande desejo de explorar o mundo. Algumas crianas so mais ativas, outras mais observadoras. a fase do andar. A criana precisa ter equilbrio, coordenao e conhecer os movimentos de seu corpo para andar, mas precisa estar segura e confiante. J se entende a criana por sons, palavras, gestos ou olhares, Ea capaz de mostrar o que quer e o que no quer. Mostre o que pode e o que no pode fazer (limites). Os exerccios devem ser realizados em colcho ou no cho forrado. Exemplos: a) A criana deve ficar na posio de gato, coloque uma bola em sua frente para que ela empurre-a; b) Posio de joelhos, estimule-a com um brinquedo; c) Ajoelhado na frente da criana, segure suas mos na altura dos ombros, evitando levantar seus braos acima da cabea ou apie-a no quadril.

Desenvolvimento de 2 a 5 anos: caracterizado pela capacidade da criana de manter-se em p, explorando o mundo, assim tornando-se cada vez mais seguro e veloz. Como as capacidades motoras encontram-se numa fase de aperfeioamento (correr, subir escadas), a criana seguir ento para as atividades sociais e mentais (cognitivas). a) A criana j no tem tantos problemas de sade, como respiratrios e de intestino; b) O treino da higiene importante, embora no tenha uma idade fixa; c) A estimulao da linguagem nesta fase muito importante;

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d) A criana com Sndrome de Down deve ser educada como qualquer outra criana. Suas iniciativas devem ser valorizadas, mas necessrio que ela conhea regras e limites.

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4. A INCLUSO ESCOLAR E A SNDROME DE DOWN

Educao inclusiva uma atitude de aceitao das diferenas, no uma simples colocao em sala de aula. (Leituras sobre Incluso, 1994)

O movimento pela sociedade inclusiva internacional. Tem regras bem definidas. Foi explicada pela primeira vez em 90 pela resoluo 45/91, da Assemblia Geral das Naes Unidas. Esta resoluo defendia uma sociedade para todos. (WERNECK, 2000:21) O trabalho inclusivo prope amplas reformulaes que com certeza, detonaro mudanas benficas a todos que dele participarem. De fato, a excluso social uma realidade, mesmo quando as pessoas esto devidamente apoiadas nos avanos da tecnologia aplicada educao. Por outro lado, sabemos que incluir no simplesmente inserir uma pessoa na sua comunidade e nos ambientes destinados a sua educao, sade, lazer e trabalho. Incluir implica em acolher a todos os membros de um grupo, independentemente de suas peculiaridades; considerar que as pessoas sero seres nicos, diferentes um dos outros e, portanto, sem condies de serem categorizadas. J tempo de

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reconhecerem que todos estamos juntos e nascemos neste mundo e por isso mesmo no se pode aproximar os que esto a margem, pelos mais diferentes motivos, entre os quais as incapacidades fsicas, intelectuais, sensoriais e sociais. (MANTOAN, 1988:15) Quando a criana entra na escola, independente de ser portadora de necessidades especiais, conta com uma historia de experincias anteriores que lhe permitiram desenvolver uma viso de si mesma, seu autoconceito. Neste sentido, a escola significa para a criana um grande desenvolvimento de sua vida e estabelece importantes relaes com adultos, que no pertencem a sua famlia, nem as suas relaes mais prximas. Entendendo o autoconceito construindo na interao social, todas essas pessoas tm uma grande influncia na mudana do autoconceito da criana, ou seja, a escola ajuda a ampliar e desenvolve a convivncia social (socializao) da criana. O Projeto Down, refere-se incluso escolar da criana portadora da Sndrome de Down, como durante muito tempo acreditou-se que esta criana era incapaz de aprender a maioria das coisas e ser educada aprendendo a conviver num grupo. Se os pais, ao serem informados do diagnostico, receberem uma perspectiva negativa para seu filho, isso intervir em sua maneira de educ-lo, fazendo-os acreditar que a criana no tem capacidade para aprender (STAINBACK & STAINBACK , 1999). Atualmente, muitos profissionais se conscientizam do potencial da criana com Sndrome de Down e sua condio de ser educada. Portanto, os pais podem esperar mais de seu filho, apesar das limitaes que ele possa ter. A criana portadora da Sndrome de Down possui limitaes, principalmente no aspecto

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intelectual, mas, bem orientada, pode vir a ter uma vida semi-independente, participando das atividades do grupo em todos os aspectos, dentro de suas limitaes. Segundo MANTOAN (1991:47), toda criana precisa de escola para aprender e no para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimento parte. A trajetria escolar no pode ser comparada a um rio perigoso e ameaador, em cujas guas os alunos podem afundar.

4.1 BRINCADEIRAS ESCOLARES COMO FATOR DE SOCIALIZAO

Necessrio se faz discutir alguns aspectos fundamentais na estruturao do processo de socializao, tendo em vista, a construo do conhecimento e do saber por parte das crianas portadoras de Sndrome de Down na escola. Como j vimos anteriormente, a Sndrome de Down uma alterao gentica que ocorre na formao do beb no incio da gravidez, Ao nascer, a criana portadora da Sndrome de Down hipotnica e apresenta poucos movimentos. Porm, com estimulao apropriada, gradualmente ela ir conquistando as etapas de seu desenvolvimento. importante saber que essa criana demora mais tempo para manifestar as suas habilidades e para aprender, devido s suas caractersticas. Por isso que se diz que ela tem atraso no desenvolvimento global (FERREIRA, 1998:10). Os jogos se consistem num dom meios de socializao, ode se aprende a conviver em grupo e tornar mais independente. Esta convivncia traz o

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conhecimento e aprendizagem de regras sociais, como dividir suas coisas e respeitar o outro (ANTUNES, 2000). A escola que oferece brincadeiras no parque, na areia, na gua, faz com que a criana experimente vrios materiais, e dessa forma, trabalhe o equilbrio, a coordenao, a espontaneidade, a independncia motora e a sensibilidade, e alm disso, deve-se incentivar atividades que ajudem na integrao, desenvolvendo a comunicao. Portanto, a criana socializa-se com o meio ambiente. De acordo com ANTUNES (2000), quando a atividade se desenvolve em espaos estimulantes, as crianas portadoras de necessidades especiais, ou no, parecem caminhar por uma dimenso diferente da realidade de sua capacidade de criar e de comunicar-se. Os jogos possibilitam a produo de uma experincia significativa para as crianas tanto em termos de contedo escolar como no desenvolvimento de competncia e de responsabilidades. (MACEDO, 2000:37) Pode-se analisar a ampliao dos conhecimentos adquiridos num contexto de jogos e as contribuies do jogar sob diferentes perspectivas. Sabe-se que certas atitudes, como ser atento, organizado e coordenar diferentes pontos de vista so fundamentais para obter um bom desempenho ao jogar e tambm pode favorecer a aprendizagem na medida em que a criana passa a ser mais participativa, cooperativa e melhor observadora. (COLL et al, 1995:15) Piaget (apud KAMII, 1991) afirma que o conflito de diferentes pontos de vista, essencial ao desenvolvimento do pensamento lgico, est sempre presente no jogo, o que torna essa situao rica para estimular a vida social e a atitude construtiva da criana.

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O jogo ganha um espao como ferramenta ideal da aprendizagem na educao infantil, na medida em que se propem estmulos ao interesse do aluno e desenvolve nveis diferentes de sua experincia pessoal e social. O jogo ajuda a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedaggico. O desenvolvimento das crianas, evidente a transio de uma forma para outra por meio do jogo, que a imaginao em ao. A criana precisa de tempo e de espao para trabalhar a construo do real pelo exerccio da fantasia. Por isso, preciso resgatar o direito da criana a uma educao que respeite seu processo de construo do pensamento, que lhe permite desenvolver-se nas linguagens expressivas dos jogos e das brincadeiras. Segundo Piaget (apud KAMII, 1991), quando a criana brinca, assimila o mundo sua maneira, seu compromisso com a realidade, pois sua interao com o objeto no depende da natureza do objeto, mas da funo que a criana lhe atribui. Por meio do jogo, o professor tem a possibilidade de uma real interao afetiva com a criana portadora de necessidades especiais, que a permite conduzi-la autonomia intelectual e moral. Essa interao, til para a observao das dificuldades e as duvidas que a criana portadora de necessidades especiais apresenta permitindo ao professor reformular a programao da pratica dos jogos e brincadeiras infantis. Jogo simblico, o jogo de faz-de-conta tem uma natureza imitativa, onde a criana constri smbolos, transforma, inventa o real naquilo que deseja. Na brincadeira infantil a criana revive as suas alegrias, seus modos, seus conflitos,

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revelando-os sua maneira e transformando a sua realidade naquilo que quer, internalizando regras de conduta, desenvolvendo valores que orientaro seu comportamento. Na brincadeira livre, a criana d asas a sua imaginao, aprendendo a lidar com o mundo e a formar sua personalidade. A brincadeira a melhor forma da criana se comunicar, sendo um instrumento que ela possui para conviver com outras crianas. Brincando, ela aprende sobre o mundo que a cerca, integrando-se. Existem alguns jogos que so fundamentais para criana portadora da Sndrome de Down ou qualquer outra necessidade especial ou no, pois estimula a aprendizagem e favorece o desenvolvimento cognitivo. So os jogos de construo que ganham espao e ajudam na busca deste conhecimento fsico, pois desenvolve as habilidades manuais, a criatividade e enriquecem a experincia sensorial, alem de favorecerem a autonomia e a sociabilidade. Os jogos potencializam a explorao e a construo do conhecimento, introduzindo as propriedades do ldico, do prazer, da capacidade de iniciao e ao ativa a motivadora. Alm de facilitar e socializar a incluso da criana portadora de Sndrome de Down na escola.

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5. PESQUISA DE CAMPO

Objetivo: Verificar a socializao de uma criana portadora de Sndrome de Down em educao infantil. Sujeito: Uma menina portadora de Sndrome de Down com 5 anos. Local: Creche Municipal de Sorocaba. Procedimento: Foram observadas informaes em uma sala de aula de educao infantil com crianas de 4 a 5 anos e um portador de Sndrome de Down nas situaes de interao com jogos e brincadeiras. Foi realizada uma pesquisa de campo, observando uma sala de aula de educao infantil de 1 Fase, com 24 alunos, com idade de 4 a 5 anos, incluindo uma criana portadora de Sndrome de Down, na interao com jogos e brincadeiras, do tipo o coelho sai da toca, entre outros, onde se encontra em anexo. De modo geral, pode-se observar que as crianas tm uma socializao espontnea. No houve bloqueios, ou qualquer outro tipo de dificuldade para esta criana, pelo contrario, uma classe bem solidria e cooperam muito com esta criana, onde ela se sente bem vontade.

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O objetivo desta pesquisa foi conhecer as concepes da socializao e da incluso da criana portadora de Sndrome de Down num Centro de Educao Infantil da Rede Municipal de Sorocaba.

5.1 ANALISE DAS OBSERVAES

Esta pesquisa foi realizada no primeiro semestre do ano (maio/2004). Foram realizadas trs visitas num Centro de Educao Infantil de Sorocaba. Primeiramente, entrei em contato co a Diretora, pedindo permisso para que eu realizasse minha Pesquisa de Campo em sala de aula, com uma criana portadora de Sndrome de Down. Na primeira visita, fui conhecer o espao fsico da unidade escolar e a sala que seria observada. Pude conhecer todas as crianas, especialmente a Ana2, uma criana portadora da Sndrome de Down. Ana uma criana muito especial, no fala, apenas balbucia e quando quer alguma coisa, pede com gestos. Anda apenas com a ajuda das crianas da sala de aula e da professora. De acordo com a sua capacidade, uma criana que participa das atividades, das brincadeiras e dos jogos; gosta muito de brincar no parque e na areia. No uma criana agressiva, pelo contrario, muito carinhosa e alegre. Em entrevista com a professora, ela me relatou que a adaptao de Ana foi normal, pois ela j freqentava a creche desde os 3 anos de idade. No comeo no aceitava que a crianas e a professora a ajudassem a andar, mas aos poucos Ana foi se integrando junto turma e se tornou uma criana dcil, hoje, participa de tudo,

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Esse nome fictcio, apenas para facilitar o relato.

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de acordo com suas limitaes. A famlia de Ana bastante participativa, ajudam muito, diz a professora. J na segunda entrevista, pude acompanhar toda rotina das crianas e observ-los no parque, na areia e na sala de aula fazendo atividades. Quando a professora faz aplicaes de jogos e brincadeiras (O Rato e a Bola, Coelhinho sai da Toca), observei que Ana participou se saiu muito bem nas atividades. (ANEXO II) Segundo a professora, a utilizao da bola na aplicao de jogos faz com que desperte a ateno e favorea o controle do espao por onde a criana se desloca, mobilizando os sentidos, a afetividade e a inteligncia, alm de favorecer a socializao. Ajuda no desenvolvimento do ritmo, a ateno e a observao. Na terceira visita, atravs das observaes realizadas, conclui que os jogos e as brincadeiras infantis realmente facilitam e ajudam as crianas portadoras da Sndrome de Down na socializao com outras crianas, e tambm no desenvolvimento de sua interao e comunicao como um todo.

5.2 CONSIDERAES SOBRE AS OBSERVAES

No segundo semestre, tive a oportunidade de voltar creche e pude comprovar que Ana progrediu muito. Seu desenvolvimento est sendo muito progressivo, j pronuncia vrias palavras. Segundo a professora, os jogos e as brincadeiras foram fundamentais para o desenvolvimento e o entrosamento com as outras crianas. Tambm cita todos os da escola, juntamente com sua famlia, merecem o reconhecimento, pelo apoio e esforo para obter todo este sucesso.

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CONSIDERAES FINAIS

Nunca o tema da Incluso esteve to presente no cotidiano da educao e vem ganhando cada vez mais terreno, enquanto discute as necessidades educativas de todas as crianas nas escolas regulares e facultando-lhes maior autonomia, independentemente das suas condies fsicas, intelectuais, afetivas, sociais, lingsticas ou outras, para aquisio de maior qualidade de vida. Este estudo teve como objetivo investigar o processo de socializao da criana portadora da Sndrome de Down na educao Infantil. Mas foi possvel perceber que muito mais informaes e materiais devem ser buscados e pesquisados para que possam contribuir com os problemas sociais dos portadores de deficincia. Alm de discutir as contribuies das brincadeiras infantis e dos jogos na socializao de crianas portadoras de Sndrome de Down, a proposta deste estudo foi, especialmente, refletir sobre o que essas brincadeiras podem facilitar, ativar e despertar no desenvolvimento cognitivo e na sociabilidade dessas crianas. As contribuies que os pais podem dar educao de seu filho portador de Sndrome de Down, auxiliar, em parceria com especialistas, no desenvolvimento

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dessa criana, com o objetivo de torn-la cidad participativa, possibilitando seu enfrentamento e superao de situaes futuras, pois tendo uma famlia participativa e colaboradora, conseqentemente esta criana se desenvolver da mesma forma. No existe dor envolvida. Ao contrrio, elas so muito felizes, e s tem a nos ensinar. Tanto os pais como os educadores precisam do apoio mtuo para trabalhar em conjunto, e assim ajudar a criana portadora de necessidades especiais. Esta pesquisa demonstra que portadores de deficincia, principalmente da Sndrome de Down, podem e devem freqentar classes comuns junto com outras crianas, apesar de suas limitaes. O esforo dessa criana depende muito da colaborao de todos e cabe a ns professores, ajudarmos, pois a escola deve resgatar o seu papel de ensinar, considerando o seu potencial de aprendizagem, e no ficando restringida aos seus dficits. O acesso ao saber deve ser garantido a todos. A pesquisa de campo traz as situaes com jogos e brincadeiras, onde se pode observar e concluir que trazem grandes contribuies no sentido de facilitar e ajudar as crianas e no seu desenvolvimento como um todo. Foram efetuadas vrias visitas escola com a inteno de observar o processo de incluso e socializao da criana portadora da Sndrome de Down, com idade de 4 a 6 anos. Conclui-se que muito importante a presena dos profissionais e do ambiente em que est inserida a criana; alm de tudo preciso muito preparo, dedicao, uma unio entre a famlia/ escola/ professores, para acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criana, e poder assim, prosseguir com sucesso o trabalho.

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REFERNCIAS

ANTUNES, Celso. Jogos para Estimulao das Mltiplas Inteligncias. 8 ed. Petrpolis: Vozes,2000. COLL, Csar; PALCIOS, Jesus; MARCCHESI, lvaro. Desenvolvimento Psicolgico e Educao. So Paulo: Livraria Atheneu, 1995. DECLARAO de Salamanca e Enquadramento da Ao, necessidades educativas especiais, Espanha: Salamanca, UNESCO/ONU, 10 de junho de 1994. FERREIRA, Solange Leme. Aprendendo sobre a Deficincia Mental: Um programa para crianas. So Paulo: Mennon editora, 1998. FONSECA, Vitor da. Educao Especial: Programa de estimulao precoce. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995. KAMII, Constance. Jogos em Grupo na Educao Infantil: Implicaes da Teoria de Piaget. So Paulo: Trajetria Cultural, 1991. MANTOAN, Maria Teresa Egler. Compreendendo a Deficincia Mental: Novos Caminhos Educacionais. So Paulo: Sipione, 1988. MENDONA, Maria Madalena Nobre. Integrao X Incluso: Para todos. In: Congresso Brasileiro e Encontro Latino-Americano sobre Sndrome de Down, 2. Da Segregao Interao - Um processo para a construo da cidadania. Braslia (DF): Federao Brasileira das Associaes de Sndrome de Down,1997. P. 122-124.

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MINISTRIO DA SADE. Programa Nacional de Ateno pessoa portadora de deficincia. Informao sobre a Sndrome de Down: destinada a pais. Braslia: 1994. PUESCHEL, Siegfried. Sndrome de Down: Guia para pais e educadores. 2 ed. Campinas: Papirus, 1995. STAINBACK, Susan; STAINBACK, Willian. Incluso: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999. WERNECK, Cludia. Ningum mais vai ser Bonzinho na Sociedade Inclusiva. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora e Distribuidora, 2000.

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ANEXO I - ENTREVISTA

Entrevista Realizada na APAE de Sorocaba com a psicloga Maria Ceclia Dias Alcolia. A APAE uma instituio que j vem desenvolvendo um trabalho a mais de 20 anos com crianas com alguns tipos de deficincia fsica, hoje atende 256 alunos com Sndrome de Down e principalmente Deficincia Mental. um trabalho notvel, extremamente significativo para as crianas com tais dificuldades. A instituio composta por duas equipes, uma equipe educacional e a outra de estimulao. Cada profissional trabalha 20 horas semanais e o quadro composto por dois psiclogos, um fisioterapeuta, duas terapeutas ocupacionais, uma nutricionista, duas dentistas, um psiquiatra e um clnico geral. Os trabalhos com as crianas so feitos de acordo com a faixa etria, ou seja, a Estimulao Precoce, que segundo Maria Ceclia, hoje chamado de Estimulao Essencial, que atende crianas de 0 a 3 anos, com sesses de meia hora de acompanhamento, considerando a idade, pois se for demorado a criana perde a

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motivao. Este trabalho de estimulao existe h 19 anos e a sua fundadora a prpria Maria Ceclia. H tambm a Educao Precoce de 2 a 4 anos, sistema de escola com 4 horas de atividade preparando esta criana para integrar-se nas leis com outras crianas. O C.A.T. (Centro de Atendimento Teraputico), que atende crianas de 4 a 6 anos, um sistema teraputico, pois a criana com 4 anos passa para C.E.I. (Centro de Educao Infantil), onde ter sua incluso, ela ter um acompanhamento at aos 6 anos, pois a idade que dada alta do programa. partir dos 6 anos a criana vai para o ensino regular. Eles esto tentando mudar esta alta e ficar acompanhando esta criana independentemente da idade. Hoje isso necessrio, pois deve ser dada a oportunidade a novos bebs.

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ANEXO II JOGOS SOCIALIZADORES

Jogos utilizados pela professora de educao infantil:

O rato e a bola Material: Uma bola Preparao. As crianas fizeram um crculo e ficaram sentadas. Um delas foi para o meio do crculo e deveria imitar um rato. Desenvolvimento: As crianas rolaram rapidamente a bola no crculo. O rato tentaria pag-la e, quando conseguisse, trocaria de lugar com a criana que jogou a bola.

O coelho sai da toca Preparao: dispem-se as crianas em grande crculo e separadas em grupos de trs.

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Duas crianas de cada grupo, ficam de mos dadas formando a toca e dentro ficar a terceira criana: o coelho. No centro do crculo ficaro dois ou mais coelhos desalojados. Desenvolvimento: Dado o sinal de incio, todos os coelhos devem mudar de toca. Nesse momento, as crianas do centro procuraro tomar o lugar de um de seus companheiros. Os que ficaram sem toca passaro para o centro. Final: Terminar o jogo quando todos os jogadores tiverem representado o coelho.

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ANEXO III - DEPOIMENTO

Depoimento de Luiz, pai de Lucas3:

Aos 9 meses, Lucas Gabriel j manifesta algumas reaes de uma criana normal. Ao convid-lo para vir ao colo, ele joga o corpinho aceitando o convite. Quando se canta alguma cano para ele, sorri e manifesta entender que para ele. Esboa algumas slabas como d, te-t, di, no no sentido significativo destas slabas, mas somente esboo. Quando se fala para que ele pegue o p, algumas vezes ele pega e o leva boca. Pe-se uma fralda em seu rosto e pergunta-se onde est o Lucas? e ele retira a fralda, sorri e volta a colocar a fralda no rosto para continuar brincando. Quando repreendido por estar sendo muito chato, faz beicinho derrubando o lbio inferior e chora sentidamente entendendo a mensagem.

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S.O.S. Down (Centro de Informaes e Pesquisa da Sndrome de Down).

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Aps a ltima consulta, foram retomadas as atividades de estimulao precoce da fala do Lucas Gabriel de acordo com as instrues recebidas. Tem-se efetuado os exerccios faciais para a diminuio da hipotonia, tm-se utilizado brinquedos educativos que chamam a ateno, devido s suas cores, sons e formas; tem-se observado grande desenvolvimento nas reaes do Lucas. Utilizam-se os mtodos apreendidos de conversar com a criana enquanto se faz a troca de roupa ou fralda, de aliment-la ou a exercita nas funes motoras.

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ANEXO IV - CARTA DE UM BEB4

Mame e Papai. Hoje sou a sua surpresa e a sua dor, o filho no sonhado, nem sequer imaginado. Enquanto crescia na tua barriga temia os sonhos e projetos que faziam para mim e que no poderia realizar. Porm, se ao me olhar, conseguissem ver alm do quadro mdico, achariam em mim toda a beleza que meus olhos podem dar e a inteligncia que a sua confiana pode fazer crescer em mim. Posso ser o milagre de todos os dias, sou capaz de sentir, de entender, de ser... Porm preciso de vocs ao meu lado com a doura de um sorriso, cada vez que as minhas mozinhas se enganam, com a terna pacincia de esperar meu tempo, mais lento, com a sabedoria de guiar-me, sem querer me transformar, com a proteo de seu respeito, para que todos me respeitem como sou, com a alegria de desfrutar o simples fato de me amar e compartilhar a nossa vida, vencendo os preconceitos e desafiando as opinies adversas.

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S.O.S. Down (Centro de Informaes e Pesquisa da Sndrome de Down). Autoria de um pai annimo.

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Meu corpo pequenino, mas est cheio de amor e se vocs me abraarem forte, muito forte, poderei dar-lhe a fora e a coragem de lutar. S lhes peo a oportunidade de crescer com amor. Amo vocs.