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Em 2005, o Governo de São Paulo, por meio da Se-cretaria Estadual de Assistência e DesenvolvimentoSocial - SEADS, e o Banco Interamericano de Desen-volvimento – BID firmaram uma importante parceriapara a implantação do Projeto “Avaliação e Aprimora-mento da Política Social no Estado de São Paulo”, coma assessoria do Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento – PNUD. O então governador Ge-raldo Alckmin e a secretária Maria Helena Guimarãesde Castro, responsáveis por esta articulação, definiramdesde o início que o objetivo principal seria a melhora-ria da eficiência e efetividade da Política de AssistênciaSocial do Estado de São Paulo.

Nesses cinco anos de Projeto, enormes avanços foram contabilizados, consoli-dando o uso de novas tecnologias de gerenciamento dos programas, recursos ebeneficiários, tornando o controle social dos gastos mais transparente e efetivo.

Exemplos não faltam, como os dois importantes sistemas implantados que pro-porcionam à Seads maior eficiência e controle de informações, o Pró-Social e oPMAS–web, além do desenvolvimento do Plano Estadual para a Pessoa Idosa- Futuridade e de uma série de pesquisas e estudos que ajudaram a modelar osprogramas de transferência de renda. O legado deixado pelo Projeto já serviude modelo para outros estados e certamente será de grande utilidade para aspróximas gestões.

Esses e outros avanços da Política de Assistência Social do Estado de São Pauloestão detalhados na matéria da capa desta primeira edição da Revista Social SP.Queremos não apenas cumprir o contrato estabelecido pelo Projeto, que prevêa disseminação desses resultados, como também inaugurar, com esta publica-ção, um novo canal de comunicação da SEADS com todos aqueles que traba-lham ou se interessam pela área social. Aproveito também para manifestar omeu agradecimento ao excelente trabalho realizado pelos secretários que meantecederam e que, assim como em uma corrida de bastões, cumpriram comsua parte e permitiram que o projeto alcançasse seu objetivo. São eles: RogérioAmato, Rita Passos e Luiz Carlos Delben Leite.

Nas próximas páginas, o leitor desfrutará ainda de cinco ótimos artigos técnicosescritos por profissionais que integram o time da SEADS. Foram abordados te-mas relevantes como a evolução no processo de repasse de recursos entre o Esta-do e prefeituras para o cofinanciamento dos serviços socioassistenciais de prote-ção social; os avanços e desafios na implantação do Sistema Único de AssistênciaSocial – SUAS no Estado de São Paulo; a questão multidimensional da pobreza,a proteção social e os programas de transferência de renda; a experiência do Pro-jeto Envolver no aprimoramento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criançae do Adolescente e como a aliança entre os diversos setores da sociedade podecontribuir para o efetivo cumprimento do ECA; e a importância de incluir o as-pecto econômico no planejamento e na execução das políticas sociais.

Por fim, gostaria de agradecer aos integrantes do Conselho Editorial da RevistaSocial SP, que tanto têm a contribuir com suas experiências na área, auferindo,assim, mais credibilidade a esta publicação.

Deixo também aberto o espaço para sugestões, reclamações e observações quevenham aprimorar as próximas edições.

Desejo a todos uma excelente leitura.

José Carlos Tonin

Secretário Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social

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garante qualidade

de vida a idosos

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Projeto Quero Vida

Governo de SP investe R$ 12 mi para implantar os primeiros 41centros-dia que oferecem acolhimento, proteção e convivência a idosossemidependentes.

Aqui é muito bom. Quem não gosta?”,diz Terezinha Benta Gabriel, 82 anos,sobre o atendimento do Quero Vida. Aprimeira unidade do projeto, criado peloGoverno de São Paulo, por meio da Se-cretaria Estadual de Assistência e De-senvolvimento Social – SEADS, foi inau-gurada pelo governador AlbertoGoldman, pelo secretário estadual JoséCarlos Tonin e pelo prefeito Hercula-no Passos, no dia 15 de setembro, emItu, e está em funcionamento na RuaMairinque, nº 40, bairro Cidade Nova,desde o início de outubro de 2010.

Com capacidade para atender até 50 ido-sos, o Quero Vida é um centro-dia queproporciona acolhimento, proteção econvivência para pessoas com mais de 60anos de idade, semidependentes, de bai-xa renda e cujas famílias não têm condi-ções de prover cuidados e atenção du-rante o dia ou parte dele. O transportedos beneficiários também é garantidopelo projeto, que busca e leva diariamen-te os atendidos em suas casas.

“O Quero Vida vem pra auxiliar aquelesidosos que precisam de acompanhamen-to diário, mas que a família não tem con-dições de prestar, geralmente porque osmembros trabalham ou estudam, passan-do quase todo o dia fora. Além disso, ovínculo familiar permanece, já que o ido-so vai para o centro de manhã e, no finalda tarde, é levado de volta pra sua casa”,comenta o secretário Tonin.

Para garantir a infraestrutura adequada,o Governo do Estado investiu cerca deR$ 300 mil em cada unidade para obrasde ampliação, adaptação do prédio e aqui-sição de materiais como veículo para otransporte dos idosos, cadeiras de roda,computador, máquinas para artesanato,televisão, DVD, aparelhos de som e me-sas de pebolim e sinuca. As prefeiturasparceiras se comprometeram a financiaros profissionais e garantir seu funciona-mento com recursos próprios.

O projeto oferece atenção integral, com

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alimentação, higiene pessoal, cultura erecreação, em um espaço que respeitaas normas de acessibilidade, segurançae as necessidades básicas de cada ido-so. Além dos cuidadores capacitados,o serviço disponibiliza também atendi-mento especializado com médicosgeriatras, auxiliares de enfermagem,nutricionistas, professores de educaçãofísica e assistentes sociais.

De acordo com a Jacira Moraes Bourguignon,coordenadora do primeiro Quero Vidade Itu, o cadastro dos beneficiados e acontratação de todo quadro de profissio-nais deverão ser concluídos até o fim de2010. Em três semanas de funcionamen-to, dez mulheres e dois homens com maisde 60 anos foram os primeiros a frequen-tar a unidade.

Amara da Silva Fernandes, 69 anos, dizque o Quero Vida permite mais tranqui-lidade no seu dia-a-dia. “Antes tomava con-ta da casa, hoje não enxergo direito. Muitomelhor é ficar aqui, que não tem ninguémpedindo: Vó, me dá isso! Vó, me dá aqui-lo!”, conta em tom de brincadeira.

Além de Itu, estão previstos para o finalde 2010 e início de 2011 os términos dasobras das outras 40 unidades. As próxi-mas cidades a terem o Quero Vida são:Agudos, Americana, Apiaí, Barretos, Be-bedouro, Bocaina, Botucatu, BragançaPaulista, Capão Bonito, Capela do Alto,Capivari, Caraguatatuba, Dois Córregos,Dracena, Espírito Santo do Pinhal, Ibitinga,

Ilha Solteira, Ilhabela, Itapetininga, Itapeva,Itatiba, Itatinga, Jaguariúna, Jaú, Leme, Marília,Miguelópolis, Mogi Mirim, Monte Alto,Olímpia, Osvaldo Cruz, Paranapanema, Poá,Pompéia, Ribeirão Preto, Santo Antonio daAlegria, Socorro, Vinhedo, Votorantim eVotuporanga. O investimento total do Gover-no de São Paulo é de R$ 12 milhões.

Convivência e atenção especialO toca discos da coordenadora Jacira é oaparelho de som mais usado na unidadedo Quero Vida de Itu. Desde que foi le-vado para o centro-dia, LPs de NelsonGonçalves, Cascatinha e Inhana e outroscantores famosos da época são os mais ou-vidos, principalmente enquanto o grupotoma sol e conversa na área externa.

A seleção musical ganha o palpite de Vitorda Silva, 80 anos. “Adoro música. Nel-son Gonçalves me faz lembrar a juventu-de. Eu trabalhava o dia todo, 10 a 12 ho-ras por dia, e ia para o baile de terno en-gomado e sapato engraxado, dançava anoite toda”, conta orgulhoso da vitalida-de que ainda demonstra.

Além da seleção musical feita pelos pró-prios beneficiados, há o curso de pinturae desenho em papel. Lindinalva MariaAlves de Barros, 60 anos, é uma das maisinteressadas. Como um remédio terapêu-tico, todos os dias vai à aula. “O que maisgosto de fazer é pintar”.

Há cinco anos sofreu um acidente vascularcerebral e perdeu o movimento lateral

Quero VidaO projeto prevê o auxílio às cidades para a construção e reforma de centros queoferecerão ainda transporte para aqueles que não possam ir sozinhos e cuja famílianão tenha condições de levá-los por seus próprios meios. Ao oferecer melhorescondições de vida ao idoso, o Quero Vida evita abrigamentos desnecessários.

O Estado de São Paulo disponibiliza até R$ 300 mil por cidade para investimentocom obras (construção, reforma, adaptação ou ampliação), aquisição de equipa-mentos e materiais de natureza permanente (inclusive adequações necessárias paraidosos), para implantação da unidade de atendimento, ficando a cargo do municí-pio sua manutenção e o custeio e aos recursos humanos. O serviço é monitoradopela SEADS, por meio de suas Diretorias Regionais de Assistência e Desenvolvi-mento Social – Drads.

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esquerdo. Desde então, ela que já foi ar-tesã, nunca mais havia pintado. “Já fizmuita coisa de artesanato, principalmen-te panos de prato que vendia”. Pergunta-da sobre o Quero Vida, afirma: “Eu fica-va em casa sem fazer nada. Aqui a genteassiste TV, pinta um pouco, faz amiza-de, conversa. Não gosto de ficar parada,olhando para as paredes”.

Sebastião Silva Andrade, 60 anos, é ou-tro aluno aplicado nas aulas de pintura.Como também gosta de música, a maio-ria de seus desenhos são instrumentoscomo sanfona e violão. “Gosto daqui, ésossegado. Tem TV, mesa de bilhar...”.Hoje mora com o irmão em Itu, mas pas-sou praticamente metade da vida inter-nado em uma clínica psiquiátrica de Linse está voltando a se socializar aos poucosno Quero Vida, onde encontra atençãoespecial tanto dos profissionais como dosamigos que tem feito.

A coordenadora Jacira Bourguignon acre-dita que projetos como este geram gan-hos não apenas para os idosos e familia-res, mas para toda sociedade. “Aqui, res-gatamos a autoestima e a vontade de fa-zer um pouco mais até por eles mesmos.No âmbito social, o Quero Vida preten-de garantir uma longevidade dos idososcom mais qualidade de vida. Todo mu-nicípio deveria ter projetos com este tipode atendimento”.

Ela conta que nas visitas domiciliares feitasaos interessados em ingressar no projeto, écomum encontrar o idoso sozinho, isola-do. “Hoje, nos contam que levantam cedoe ficam prontos uma hora antes do carrobuscá-los. Antes, ficavam mais tempo nacama, eram menos ativos”.

FuturidadeO Quero Vida está inserido no Plano Es-tadual para a Pessoa Idosa – Futuridade,sob a coordenação da SEADS. Seu obje-tivo é criar instrumentos que possibiliteme incentivem a promoção de ações volta-das a este público e a sensibilização emrelação ao processo de envelhecimento noEstado de São Paulo, de forma a cumpriro Estatuto do Idoso e o Plano de Ação

Internacional para o Envelhecimento.

Diversas secretarias e órgãos do governoestadual promovem ações para o públi-co idoso, conforme as diretrizes do Fu-turidade.

Atuação da SEADSAlém do Quero Vida, a SEADS tem ou-tras duas ações de destaque. A primeira de-las é o Índice Futuridade, ferramenta cons-truída em parceria com a Fundação Seade,que permite aos municípios saberem quala real situação do seu idoso e o que precisaser feito para melhorá-la.

A outra é o Kit Futuridade - conjunto dedez publicações e um vídeo em DVD,elaborado em parceria com a FundaçãoPadre Anchieta, para utilização de prefei-tos, gestores, dirigentes de entidades, pro-fissionais da área e familiares de idosos.O material reúne conhecimento teóricosobre diversos temas do envelhecimento,abordando desde os marcos legais para aspolíticas públicas voltadas às pessoas commais de 60 anos até informações sobre asperspectivas social, biopsicológica e cul-tural do idoso.

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“Depois da minha primeira aula prática,comprei ingredientes e fiz meus primei-ros pães em casa. Vendi tudo para meusvizinhos. Sabedoria a gente nunca per-de”, conta Luciana de Brito Andrade, 26anos, mãe de uma menina e senhora deuma nova expectativa de futuro para suafamília. Ela faz parte de uma das mais de135 mil famílias inscritas no Renda Cida-dã (outubro 2010), coordenado pela Se-cretaria Estadual de Assistência e Desen-volvimento Social - SEADS.

O curso de qualificação profissional emGastronomia, com ênfase em Panificaçãoe Confeitaria, que Luciana participa emOurinhos, é gratuito. As aulas práticas sãodesenvolvidas na Cozinha de Referênciaem Segurança Alimentar e Nutricional, daPrefeitura. Para garantir uma boa forma-ção, o Senai-SP foi escolhido para dar acapacitação na cidade.

Durante três meses, a professora e chefede cozinha Karmel Bulhões ensinará os 15beneficiários do programa a preparar vári-os tipos de alimento como: pães, pizzas,bolos confeitados e salgados diversos. “Estaturma é diferente daquelas que costumoensinar, formada por donas de casa. Aqui,pretendemos prepará-los para o mercado,gerando renda para suas famílias”, afirma.

Maria Helena de Souza Silva, 41 anos, játrabalhou em restaurantes e padarias dacidade, mas viu no curso a oportunidadede aprimorar seu talento. “Quero apren-der coisas novas, usar o conhecimento

para vender os produtos em casa”. Elaconta que a profissão é hereditária: a mãeé cozinheira. E como sangue do mesmosangue, já identificou a mesma vocação nosdois filhos. O mais velho, de 11 anos, gos-ta das atividades na cozinha pedagógica daAPAE de Ourinhos, onde frequenta, en-quanto a menina faz questão de enrolarbrigadeiros e outros docinhos com a mãe.

Antonio Simões, 62 anos e pai de três fi-lhos, é o único homem da turma. Segun-do ele, a supremacia feminina não o inti-mida. “Sou muito curioso, aprendo rápi-do e gosto de criar em cima. Este curso decozinha é muito bom, não quero perder

Governo de São Paulo investe em qualificação profissional para famíliasbeneficiárias do programa Renda Cidadã

COMPLEMENTANDORENDA CIDADÃ

resgata sonhos e ajuda atransformar vidas

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nenhum dia de aula”. Seu objetivo é am-pliar as possibilidades de rendimento dafamília, sustentada com a venda de arte-sanatos que aprendeu a fazer nos cursosda prefeitura. “O Renda Cidadã tambémajuda muito”, completa.

“Se tivesse dinheiro, abriria uma padaria”,sonha Rosângela Francisco, 35 anos.Cozinheira registrada, há 5 anos tira dacozinha de casa o seu salário. Segundoela, a venda de bolos e salgados rendeR$ 700 a R$ 800 por mês, o que ajuda amanter três filhas e um sobrinho que criacom o esposo. “Nunca tirei isso no em-prego”. Entre tantos aprendizados, dizque o curso tem ensinado a misturar oseco e o molhado de forma correta. “Aquifazemos tudo certo, para não ter desper-dício. Sempre dá certo”.

Antes de colocarem literalmente a mão namassa, Karmel falou sobre postura, higie-ne, organização da cozinha, manipulaçãode alimentos, propriedades dos ingredien-tes, cálculo de rendimento, formação depreço e noções de empreendedorismo.

Para a secretária municipal de Assistên-cia Social e vice-prefeita de Ourinhos,Belkis Santos Fernandes, não apenas abolsa de R$ 80,00 mensais, mas as opor-tunidades que o Renda Cidadã promove

com as atividades socioeducativas sãofundamentais para o desenvolvimentosocial e pessoal dos beneficiários do pro-grama de transferência de renda. “Cur-sos como este resgatam o direito de so-nhar, de planejar a vida”.

Capacitação profissional favorece asuperação da vulnerabilidade socialBeneficiários do Renda Cidadã de Ouri-nhos são os primeiros a usufruir das insta-lações e dos conhecimentos dos professo-res do Senai-SP da cidade. Mesmo antesda inauguração oficial do prédio, a direçãoda unidade firmou convênio com a Prefei-tura local para ministrar três cursos do“Complementando Renda Cidadã”:Gastronomia, Auxiliar Administrativo eSolda. Este último ainda aguarda implanta-ção das máquinas para iniciar as aulas.

Na sala já finalizada, um grupo de 26 pes-soas – das 129 famílias ourinhenses cadas-tradas no programa – não se assusta com ascontas de matemática. No curso de Auxili-ar Administrativo, a lição já passada permi-te o cálculo de juros simples e composto,além do uso de calculadoras científicas. “Oprofissional precisa saber tudo isso para tra-balhar na gestão de empresas, na área co-mercial”, afirma o professor Silvio RobertoLovato. Noções de Auxiliar de Escritório eInformática Básica também fazem parte docurrículo. “Eles estão indo bem e sairãoprontos para os serviços burocráticos”.

A nova carreira não é exatamente um so-nho antigo entre a maioria dos participan-tes. Porém, muitos já vislumbram novasperspectivas de vida com a profissão, en-carada como trampolim para outros pla-nos. Para os alunos, a capacitação em Au-xiliar Administrativo possibilitará a conquis-ta de um bom emprego, e com ele a supe-ração da vulnerabilidade social com maisautonomia, qualidade de vida e realizaçãode novos objetivos.

Flávia Maria Soares, 21 anos e mãe deuma menina, sonha com a faculdade deAdministração de Empresas. “Já fiz umcurso de Organização Empresarial e es-tou agora fazendo este curso. Quem sabeabro minha própria empresa no futuro?”.

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Já Lucinéia Luiza Toloto, 33 anos, planejadeixar de trabalhar como doméstica, conse-guir emprego em um escritório e cursar afaculdade de Letras para se tornar professo-ra. “Acho que agora vai ser mais fácil”.

Outra beneficiária, Josimara Batista, 23anos, quer terminar o Ensino Médio em2011. “Estou pensando no futuro. Nãoadianta tirar certificado deste curso se nãotiver a escolaridade completa”. Para ela,esta é a chave para abandonar uma vidadifícil. Desempregada, diz que ganha di-nheiro fazendofaxinas, venden-do panos de pra-to e cosméticos.“Está ótimo ocurso. É umaoportunidade amais para a gente”.

A colega LucimaraAparecida Pereira,33 anos e cincofilhos, já pensagrande. Com abolsa do RendaCidadã paga aparcela do carro,que usa para le-var pães e artesa-natos para a fei-ra e entregar asencomendas nacidade. “Este curso vai ajudar muito.Terminei meus estudos e mereço umserviço melhor”. Ela conta que não fazcorpo mole para conseguir uma vida me-lhor para a família: “Se sei que vou ga-nhar dinheiro honesto, vou mesmo”.

Entre as mais experientes da turma estáMárcia Cristina Cristoni de Oliveira, de 43anos. “Meu sonho é fazer Enfermagem.Este curso caiu do céu”. Sem emprego fixo,ajuda nas despesas de casa trabalhandocomo manicure e usa os R$ 80,00 do Ren-da Cidadã para completar a prestação dacasa que a família está comprando.

Sobre o “ComplementandoRenda Cidadã”O projeto “Complementando RendaCidadã” visa apoiar municípios para que

eles ofereçam cursos de qualificação pro-fissional a membros das famílias atendi-das pelo Renda Cidadã. O objetivo é pro-porcionar aos beneficiários do programade transferência de renda o desenvolvi-mento de suas capacidades para que te-nham mais condições de se tornaremautossustentáveis.

Além de fazer o repasse da verba, cabe àSEADS a aprovação, o monitoramento ea avaliação dos projetos apresentados pe-los municípios, que devem oferecer cur-

sos em conformi-dade com as neces-sidades de trabalholocal. O recurso va-ria de R$ 10 mil aR$ 50 mil, confor-me tamanho da po-pulação de cada ci-dade, e é aplicadona contratação dosinstrutores, materi-al didático e trans-porte dos alunos.Os cursos têm du-ração de até trêsmeses.

Sobre o RendaCidadãRenda Cidadã éum programa de

transferência de renda que surgiu com opropósito de enfrentar o processo de em-pobrecimento de uma parcela significati-va da população. Seu objetivo é promo-ver ações complementares e concederapoio financeiro temporário direto à fa-mília, visando a autossustentação e amelhoria da qualidade de vida. Para fa-zer parte do programa, a famíliabeneficiária tem que possuir uma rendaper capita mensal que não ultrapasse meiosalário mínimo nacional e participar deatividades complementares. Além disso,filhos de 6 a 15 anos precisam frequentara escola e as crianças menores de 7 anosterem a carteira de vacinação em dia. Obenefício é válido por um ano, podendoser prorrogado em até 36 meses.

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Aprendizado, desenvolvimento huma-no e melhoria da qualidade devida são instâncias intrinseca-mente relacionadas e estãona base dos programas detransferência de renda doEstado de São Paulo.Por meio deles, grandeparte da população emvulnerabilidade socialtem conquistado suaautonomia e cidadaniade forma definitiva.

O Ação Jovem, coorde-nado pela Secretaria Esta-dual de Assistência e Desen-volvimento Social – SEADS,é um deles e atualmente execu-tado em 636 municípios paulistas. Naregião de Marília, dois deles se destacam- Tupã e Tarumã - totalizando 285 aten-dimentos. Cada beneficiário recebe umabolsa de R$ 80 mensais como incentivopela permanência na escola e investimen-tos em sua formação.

Para o secretário estadual José CarlosTonin, este programa garante o futurodestes jovens por exigir, como contrapar-tida, o investimento em educação, alémde permitir sua capacitação profissional.“Sabemos que o mercado de trabalho estáa cada dia mais exigente; e que o empregoé a via mais rápida para a autossustentaçãodas famílias”.

Há cerca de seis meses, Tarumã teve sua

meta ampliada, passando de 160 para 185jovens atendidos. Segundo a secretá-

ria municipal de Assistência Soci-al, Ana Luiza Yassuda, existe um

Em Tupã e Tarumã, 285 beneficiados buscam a conclusão dos estudos einvestimentos profissionalizantes

Futuro melhor

a jovens paulistas

AÇÃO JOVEMNOTÍCIAS

grande esforço e ações voltados a este pú-blico. Falando aos beneficiários durantepalestra, afirmou: “Muitos pais não tive-ram a oportunidade que vocês têm hoje.O estudo é capaz de promover umatransformação em nossas vidas que nemsempre imaginamos”.

Elisângela Ribeiro Mendes, coordenadora

Aulas acontecem numa olaria

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do programa na cidade, conta que as ativi-dades complementares com os jovens sãorealizadas de quatro a cinco vezes por mês,divididas em eixos temáticos – trabalho eempreendedorismo, esporte e lazer, saúde,educação, cidadania e meio ambiente – deacordo com pesquisa de opinião realizadaentre os integrantes. Palestras, visitas, enca-minhamentos para entrevistas de estágio sãoalgumas destas ações.

“Cinco adolescentes passaram no proces-so seletivo de uma usina da região, paraum estágio de seis meses, com bolsa deR$ 150 mensais. Outros 25 jovens tam-bém foram dispensados das atividadescomplementares porque têm vínculoempregatício”, afirma. Apontando outrodestaque, Elisângela cita o caso da ex-in-tegrante do Ação Jovem, Daniela Midena,17 anos. Ela conquistou vaga num inter-câmbio promovido pelo Rotary em umaseleção realizada na região, depois deenfrentar diversas provas.

Convidada pela coordenação do progra-ma para compartilhar a experiência de termorado um ano na cidade mexicanaEnsenada, Daniela falou como o Brasil évisto no exterior, além de costumes, cultu-ra, economia, moda, política, lazer, drogas,pobreza, serviços públicos, reciclagem, en-tre outros assuntos levantados pela plateia.A palestra foi realizada no auditório do Cen-tro Integrado de Educação e Cultura – Ciec,uma antiga olaria.

“Sempre gostei muito de estudar, inclusiveidiomas. Morar no México foi para mimuma grande oportunidade. Além de trei-nar o espanhol, este intercâmbio me fez gos-tar ainda mais de geopolítica e economia.Pretendo seguir uma carreira assim”.

Sementes do futuroO contato com diversos profissionais, vi-sitas a universidades e empresas, além deatividades multidisciplinares sensibilizamos jovens para o planejamento no futuro.A bolsa também serve para torná-los maisresponsáveis com o dinheiro que rece-bem, garante Gabriel Ferreira da Silva,15 anos, que entrou no programa há ape-nas cinco meses.

NOTÍCIAS

Para Loide Tixiliski, 15 anos, o Ação Jo-vem a motivou ser mais participativa, ven-cendo a timidez, sonhando com a faculda-de e buscando sua capacitação. Ela usa parteda bolsa para pagar o curso de informática.A respeito das atividades complementares,diz que sente a diferença. “Abriu a minhamente. Aprendi muitas coisas e tudo issoajuda a viver melhor”.

A história de Elza Aparecida Demaraújo,18 anos, é especial. Ela diz que conse-guiu retornar à escola depois de ingres-sar no programa. “O Ação Jovem me in-centivou a voltar. Fiquei dois anos fora.Saí por problemas pessoais”, citando ocaso de entorpecentes na família. “Apren-di muita coisa, principalmente sobre dro-

gas. Vivi essa experiência de perto, comminha irmã”, atualmente em tratamento.Com a oportunidade de concluir seus es-tudos, planeja: “Quero fazer Psicologia”.

O sucesso do programa está ligadoà parceria com os municípiosO preenchimento das vagas e a execuãodas ações complementares, de acordo comos critérios estabelecidos pela SEADS, sãode responsabilidade dos municípios. “Aparceria entre Governo do Estado e admi-nistrações municipais é fundamental parao sucesso do Ação Jovem. Está na educa-ção a semente do desenvolvimento social,com mais inclusão, maior renda e qualida-de de vida para todos”, afirma o secretárioJosé Carlos Tonin.

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Planejadas e executadas em cada cidade, asações complementares muitas vezes se des-tacam pela criatividade. Em Tupã, a equipeda Assistência Social desenvolveu até umacompetição, para testar os conhecimentosdos jovens beneficiados com o programa,frequentadores das atividades que totalizam120 horas por ano.

Com o tema “Pluralidade, Cultura, Es-porte e Lazer”, a gincana do Ação Jovem,realizada em julho, reuniu 85 participan-tes no Ginásio Nova Tupã. A competi-ção de conhecimento e habilidades foicoordenada pelas equipes dos dois Cen-tros de Referência de Assistência Social– Cras: Sul e Leste. Por meio de brinca-deiras como imagem e ação, jogo damemória e quebra-cabeça, os jovens pu-seram a prova tudo que aprenderam.

Segundo a assistente social GislaineRodrigues Treviso, o sucesso do progra-ma desenvolvido no município está rela-cionado a diversos fatores, entre eles otrabalho conjunto com diversas secreta-rias. “Essa integração é um ponto positi-vo. Aqui temos, por exemplo, a parceria

com Cultura e Meio Ambiente”.

“Além da intersetorialidade, trabalhamoscom uma equipe multidisciplinar e pro-fissional para desenvolver as ações”, com-pleta a coordenadora do Ação Jovem dacidade, Regina Piva. Ela explica que háintenção do município em aumentar de100 para 135 o número de vagas ofereci-das pelo programa, assistindo não ape-nas aos jovens, mas suas famílias.

A secretária de Assistência Social e pri-meira dama, Neusa Assad Gonçalves, ga-rante: “A bolsa que recebem faz a dife-rença, porque o jovem passa a ter o pró-prio dinheiro para gerenciar e a orienta-ção das atividades complementares, visan-do uma formação plena. Exigimos a fre-quência. Esta é a contrapartida e compro-misso que eles têm conosco”.

Lição aprendidaAlém do aprendizado sobre diversos te-mas, em especial aqueles que mais des-pertam a curiosidade do jovem (comogravidez na adolescência e drogas), éconsenso os vários benefícios promovi-dos pelo programa estadual. Grande par-

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te dos atendidos em Tupã conta que aoparticipar das atividades complementa-res, tornaram-se mais responsáveis e ma-duros, e consequentemente respeitadosna família. “Agora, eles acreditam emmim”, afirma Beatriz da Silva Freitas, 15anos. Adrielly Francisco dos Santos, 16,concorda: “Meus pais passaram a ter maisconfiança em mim”.

Alisson Luan Silva, 16 anos, reconhecemudanças no seu comportamento e nasrelações sociais. “As coisas que aprendo,tento levar adiante”. Ele afirma tambémque a bolsa possibilita sua capacitação. “Senão recebesse esse dinheiro, teria que tra-balhar para pagar o curso de Informática”.

Thaísa Mainara Moura garante: “O AçãoJovem mudou minha vida. Achava queestudar não era tão importante. Hojefaço um monte de cursos: Computação,Auxiliar Administrativo e até Inglês, tudocom o dinheiro que recebo do progra-ma”. Os planos futuros também estãotraçados: em 2011 quer entrar no Cen-tro Paula Souza e, depois, fazer faculda-de de Enfermagem.

Lais Francieli Batista da Silva, há 10 me-ses no Ação Jovem, já escolheu a área quepretende atuar: Direito. Já Amanda dosSantos Leme, 17, está em dúvida entre Ar-quitetura e Arquivologia. Independentedisso, conta que está guardando o dinhei-

ro da bolsa para custear as inscri-ções dos vestibulares e as

viagens. “A fa-

NOTÍCIAS

culdade é meu foco. Quero tentar umavaga nas universidades públicas”.

Ação JovemDesde julho de 2010, o programa AçãoJovem aumentou o valor da bolsa-auxí-lio, de R$ 60 para R$ 80 mensais. Obenefício é destinado a estudantes emsituação de vulnerabilidade social, de15 a 24 anos, com ensino fundamentale/ou médio incompleto. Como contra-partida, é exigida frequência mínima de75% e aprovação escolar. Além disso,o jovem também precisa participar deatividades socioeducativas, em períodoalternado ao escolar. O programa incen-tiva os beneficiários a concluírem osestudos, ampliando suas chances de de-senvolvimento humano por meio da in-serção no mercado do trabalho. O tem-po máximo de permanência no progra-ma é de até 36 meses.

A SEADS também firmou parceria comduas grandes instituições do Sistema “S”.A primeira foi com o Sesc-SP, em 2009,que passou a oferecer aos integrantes doprograma a carteirinha gratuita, garantin-do acesso a diversos serviços e ativida-des de esporte, lazer, cultura em suasunidades. Em 2010, o Senac-SP abriu,em várias cidades paulistas, turmas paraos bolsistas, oferecendo o curso gra-tuito de qualificação “Educaçãopara o Trabalho: novasconexões”.

Antiga olaria é utilizada para oferecer

atividades complementares do Ação Jovem

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Cerca de 2 mil pessoas participaram dossete encontros macrorregionais realizadospela Secretaria Estadual de Assistência eDesenvolvimento Social – SEADS, en-tre agosto e setembro, em São José doRio Preto, São José dos Campos,Piracicaba, Araçatuba, São Paulo, Baurue Ribeirão Preto. O objetivo dos eventosfoi fortalecer os vínculos com os municí-pios paulistas e receber as demandas lo-cais para a elaboração do Plano Estadualde Assistência Social – PEAS 2011.

“É importante ouvir e ver de perto as de-mandas de cada região, para enfrentarmosos problemas com maior propriedade e co-nhecimento. Queremos melhorar a quali-dade de vida da população vulnerabilizada,garantindo sua reinserção social e possibili-

Plano Estadual de AssistênciaSocial - PEAS 2011

é elaborado com a participaçãodos municípios paulistas

As demandas foram entregues nos sete encontros macrorregionais

realizados em São Paulo

tando que viva com dignidade”, afirma o se-cretário estadual José Carlos Tonin.

Entre os principais problemas apontados,estão: população de rua; gravidez na ado-lescência; consumo de drogas; falta decapacitação profissional; além da necessi-dade de fortalecimento da rede de Assis-tência Social nos municípios.

Segundo a prefeita de Ribeirão Preto,Dárcy Vera, é importante a atitude doGoverno de São Paulo de conhecer deperto os problemas dos municípios detodos os portes. “Grandes cidades costu-mam receber a população em situaçãode rua de cidades vizinhas. Para solucio-narmos uma situação como esta, porexemplo, precisamos fazer um trabalhointegrado, de forma regionalizada”.

Para o prefeito de Bauru, Rodrigo Agos-tinho, apesar de São Paulo ser um esta-do rico, ainda é grande a parcela da po-pulação vulnerável socialmente. “O Go-verno Estadual tem feito um trabalhocorreto e tratado o assunto com a máxi-ma seriedade. Os nossos esforços agorasão de ampliar e qualificar ainda mais arede de Proteção Social”.

João Cury Neto, prefeito de Botucatu,afirma: “É importante que cada prefeitoentenda e cumpra seu papel dentro daPolítica de Assistência Social. A SEADSatua integrada com outras secretarias ePolíticas Sociais. As prefeituras devemfazer o mesmo”.

NOTÍCIAS

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ExpedienteGoverno de SP liberaR$ 59,1 milhões para

entidades sociaisO Governo de São Paulo, por meio daSEADS, liberou, em 2010, R$ 59,1 mi-lhões para mais de mil entidades sociaisdo estado, considerando apenas recursosdestinados para a compra de equipamen-tos, como veículos, computadores, móveis,materiais diversos para as atividades, refor-mas e construção de novos espaços. Oobjetivo é melhorar e ampliar o atendimen-to feito por estas instituições à populaçãomais vulnerável socialmente.

Em dois eventos realizados no Palácio dosBandeirantes nos meses de setembro eoutubro, representantes de cerca de 800instituições compareceram para a assina-tura de parte dos convênios, com as pre-senças do governador Alberto Goldmane do secretário José Carlos Tonin. Entreas entidades beneficiadas, estão Apae’s,educandários, associações beneficentes,e demais instituições que oferecerematendimento gratuito a crianças, adoles-centes, pessoas com deficiência, idosos,dependentes químicos, população em si-tuação de rua e outros tantos em riscosocial. Antes de serem autorizados, todosos convênios foram analisados pelas Di-retorias Regionais de Assistência e De-

senvolvimento Social- Drads, órgãos vin-culados à Secretaria Estadual e respon-sáveis pelo monitoramento e avaliaçãodos atendimentos.

Em seu discurso, o governador lem-brou que o Estado de São Paulo temmantido apoio às entidades sociais nasúltimas gestões. “Desde o Mario Co-vas, as instituições filantrópicas têm sidoprestigiadas e contempladas com recur-sos estaduais. Isso não vem de agora enão olhamos para partidos quando fa-zemos os repasses”, e completou: “Nãohá como o Governo Estadual substituiro trabalho realizado por essas institui-ções, que são formadas por pessoas quese dedicam a atender às necessidadessociais da população”.

Para o secretário Tonin, estes convêniosrepresentam a atuação conjunta entre opoder público e instituições filantrópicas.Ele ressaltou o investimento feito pelo Go-verno do Estado na área da AssistênciaSocial. “São mais de R$ 450 milhões queestamos aplicando no desenvolvimentohumano e social, incluindo recursos re-passados aos municípios, valores transfe-ridos à população por meio dos progra-mas Ação Jovem e Renda Cidadã e recur-sos aplicados em entidades sociais”.

NOTÍCIAS

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HistóricoA evolução das políticas sociais tem rela-ção direta com o desenvolvimento políti-co da sociedade. A conquista dos direi-tos sociais e a construção das chamadaspolíticas de bem-estar fazem parte de umlongo processo histórico, que começacom a aquisição das liberdades individu-ais e culmina com a formação de todoum aparato estatal para garantir proteçãoe vida digna aos mais pobres, aos que vi-vem em situação de rua, aos excluídosdo mercado de trabalho, aos idosos, àscrianças e a outros grupos vulneráveis.Trata-se de estender a todos a cidadania,num processo que reflete e ao mesmotempo impulsiona a democracia.

No Brasil, a história das políticas sociaiscompõe uma trajetória de avanços e recu-

os que se confunde com a árdua caminha-da dos brasileiros em direção a uma socie-dade menos desigual e mais justa. Esse ca-minho ainda está sendo percorrido, mas éamplamente reconhecido que houve umponto de inflexão a partir da década de 90do século passado. Desde então, uma sériede programas, projetos, normas jurídicas edecisões administrativas, nas três esferas degoverno, vem acelerando o desenvolvimen-to das políticas sociais no país, tornando-ascada vez mais eficientes e abrangentes. Ain-da há muito por fazer para, pelo menos,reduzir a pobreza no Brasil a níveis compa-tíveis com o progresso econômico que opaís já alcançou. Mas, olhando em retros-pectiva, é inegável que a trajetória percorri-da desde os anos 90 colocou a política soci-al brasileira num novo patamar.

Avaliação eAprimoramento daPolítica Social no

Estado de São Paulo

CAPA

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Governo de SP assinou, em 2005, contrato de financiamento com o Banco Interamericano de

Desenvolvimento – BID e, assessorado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –

PNUD, desenvolveu o projeto para melhorar a eficiência e efetividade da Política de Assistência Social

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Esse desenvolvimento foi possível graçasprincipalmente a duas transformações quemarcaram a história brasileira recente: ademocratização do país e a estabilizaçãoda economia. A democratização se con-solidou com a promulgação da Constitui-ção de 1988, que trouxe profundas mu-danças para o tratamento da questão soci-al, ao lado de diversas garantias para a pre-servação dos direitos políticos e civis.

Em síntese, a nova Carta Constitucionalde 1988, com o artigo 194, introduziu oconceito de seguridade social (que abran-ge a previdência social, a assistência soci-al e a saúde pública) e abriu caminho paraa universalização do acesso a serviços ebenefícios que, antes, eram vinculados acontribuições prévias ou ao mercado for-mal de trabalho.

Em 1993, a aprovação da Lei Orgânicade Assistência Social (LOAS) - Lei Fede-ral nº 8.742 de 07 de dezembro de 1993- confirmou a orientação dada pela Cons-tituição e estabeleceu um reordenamen-to institucional dessa área nas três esferasda administração pública. A Lei descen-tralizou a gestão da assistência e estabele-ceu os mecanismos de controle social ede financiamento da política. Para isso,foram criados o Conselho Nacional deAssistência Social (CNAS) e o FundoNacional de Assistência Social (FNAS).Como condição para o repasse de recur-sos aos Estados e municípios, o Artigo30 da LOAS determinou que cada umadessas unidades da federação tambémdeveria criar um Conselho de Assistên-cia Social, de composição paritária entregoverno e sociedade civil, um Fundo deAssistência Social, com orientação e con-trole dos respectivos Conselhos, e umPlano de Assistência Social.

Além dessa reorganização, a década de90, especialmente a partir do lançamen-to do Plano Real, “é marcada por cres-cente preocupação com as questões rela-tivas à eficiência, efetividade e equidadedo gasto público”.1 Com a estabilizaçãoda economia, tornou-se cada vez maisnotório que os gastos sociais, ainda quecontinuassem escassos frente à dimensão

da pobreza no país, já eram suficientespara se conseguir resultados melhores doque os obtidos até então. Chegava-se aoconsenso de que, independentementede qualquer esforço para aumentar osrecursos disponíveis, era preciso fazercom que tais recursos de fato alcanças-sem a população pobre.

Já em meados da década, um númerocrescente de especialistas, acadêmicos erepresentantes de instituições multilate-rais de financiamento passou a defendera necessidade de focalização das políticassociais, como forma de aumentar suaefetividade e sua eficiência. A focalizaçãopode se dar tanto por segmentos da po-pulação a ser atendida (crianças, idosos,desempregados, etc.), como por área ge-ográfica, buscando-se atingir os chamadosbolsões de pobreza.

A nova política social do Estado de São PauloNessa época, o Governo do Estado deSão Paulo também havia começado umacompleta reformulação de sua política deassistência social. Em janeiro de 2003, aSecretaria Estadual de Assistência e De-senvolvimento Social - SEADS iniciouuma reavaliação de processos, rotinas esistemas de trabalho, a fim de aprimorarsua atuação. Foi detectada a fragmenta-ção das ações, não apenas da própriaSEADS, como também de outras secre-tarias que executavam alguma atividadenessa área. Dispersos pelos vários órgãosestaduais, havia uma infinidade de pro-gramas e projetos nem sempre significa-tivos em termos de recursos e abrangên-cia, mas que no conjunto formavam umapolítica social cujo alcance era desconhe-cido pelos gestores de cada iniciativa eaté pelo Governo do Estado.

Como no restante do país, a ação socialdo Governo paulista carecia de uma vi-são integrada. Programas e projetos de di-versos órgãos e secretarias muitas vezesbeneficiavam as mesmas famílias, mascom metas, objetivos e escalas diferen-tes, sem uma avaliação do resultado pro-duzido pelo conjunto dessas realizações.

1 Oliveira 1999.

CAPA

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Da distribuição de alimentos à transfe-rência de renda, passando pelo ofereci-mento de cursos e projetos socioeducati-vos, as iniciativas eram concebidas e reali-zadas no âmbito de cada setor, sem queos órgãos responsáveis sequer “conversas-sem” entre si.

A SEADS, percebendo a necessidadede articulação com os demais setores doEstado, realizou um levantamento dosprogramas sociais desenvolvidos peloGoverno Estadual, contemplando abran-gência territorial, objetivos, metas, nú-mero de beneficiários, quantidade deatendimentos realizados, critérios e for-mas de operacionalização. Com basenesse levantamento e no diagnóstico for-mulado pela Secretaria, o Estado de SãoPaulo definiu novas diretrizes para suapolítica social. Tais diretrizes estão ali-nhadas não apenas às tendências que jávinham sendo observadas na políticanacional, como também à experiênciainternacional. Em síntese, a estratégiaadotada determina o seguinte:

a) focalização das ações de combateà pobreza, tanto por segmentos aserem atendidos (idosos, gestantes,crianças, adolescentes, etc.), comopor áreas geográficas, visando prin-cipalmente os chamados bolsões depobreza;

b) descentralização das ações, trans-ferindo aos municípios mais podere responsabilidade na execução dapolítica social e na definição de suaspróprias prioridades; e

c) eliminação das redundâncias,sobreposições e duplicidades entre osprogramas e projetos, buscando suaarticulação com as iniciativas do go-verno federal, dos municípios e dasorganizações do terceiro setor.

Com base nessas diretrizes, a atuação daSEADS passou por uma reestruturaçãoconceitual e administrativa e seus proje-tos setoriais direcionados a assegurar aproteção social no Estado de São Paulo.Foram mantidos sob execução dire ta daSecretaria os dois programas de transfe-

rência de renda (Renda Cidadã e AçãoJovem), além de alguns projetos consi-derados prioritários.

Conforme as novas diretrizes, os progra-mas, projetos e serviços de Proteção Soci-al são hierarquizados conforme o grau decomplexidade, dividindo-se em ProteçãoSocial Básica e Proteção Social Especial.2

O serviço contempla os seguintes segmen-tos da população com renda mensal infe-rior a 1 salário mínimo: crianças e adoles-centes; famílias, idosos, pessoas com defi-ciência e migrantes.

A fim de apoiar a implantação donovo modelo de gestão, o Governodo Estado assinou em junho de 2005um contrato de financiamento como Banco Interamericano de Desen-volvimento (BID). Surgiu assim oProjeto Avaliação e Aprimoramentoda Política Social no Estado de SãoPaulo, que, além dos recursos doBID, conta também com a assesso-ria do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD).Seu principal objetivo é melhorar aeficiência e a efetividade da Políticade Assistência Social do Estado.

Entre outros itens, o contrato previu amodernização da SEADS (incluindo aqui-sição de equipamentos, sistemas informa-tizados e treinamento de pessoal), a cria-ção de um sistema de informações estra-tégicas, a implantação de um conjunto deinstrumentos para monitorar o impacto dapolítica social (como indicadores, levanta-mentos estatísticos, etc.), a realização deestudos e pesquisas para avaliar os pro-gramas sociais e, finalmente, a montagemde uma estratégia de comunicação e di-vulgação das mudanças implementadas ede seus resultados.

2 A Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS), de

julho de 2005, define a Proteção Social Básica como a que se

destina à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da

oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivídu-

os e famílias em situação de vulnerabilidade social, atendidos

nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). A

Proteção Social Especial destina-se a famílias e indivíduos que

já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direi-

tos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso

sexual, uso de drogas, etc. O atendimento é feito nos Centros

de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).

CAPA

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Sistema Pró-Social

O primeiro passo era integrar as infor-mações sobre as diversas ações e pro-gramas sociais do Governo do Estado edas demais esferas governamentais. Paraisso foi criado um grupo técnico, sob co-ordenação da SEADS, com a participa-ção de representantes da Casa Civil, daCompanhia de Processamento de Dadosdo Estado de São Paulo (Prodesp), daFundação para o Desenvolvimento daAdministração Pública (Fundap), daFundação Sistema Estadual de Análisede Dados e Estatística (Seade), e das Se-cretarias da Agricultura e Abastecimen-to, Emprego e Relações do Trabalho,Saúde e Economia e Planejamento.

Do trabalho desse grupo surgiu o Siste-ma Pró-Social, um sistema informatiza-do que centraliza os dados sobre as açõessociais realizadas no Estado de São Pau-lo, formando uma base única de infor-mações capaz de subsidiar a tomada dedecisões por parte dos gestores dos pro-gramas e projetos. Os principais objeti-vos do Sistema são:

· possibilitar que os gestores da as-sistência social no Estado de SãoPaulo conheçam o perfil dos bene-ficiários e dos executores de progra-mas e ações sociais;

· identificar a oferta de serviços e ademanda por ações sociais em todoo Estado;

· prover informações para melhorara focalização da política de assistên-cia, direcionando os recursos públi-cos para as famílias de baixa renda epara as áreas geográficas prioritárias,evitando a superposição e a pulveri-zação das ações;

· fornecer subsídios para a avaliaçãodos efeitos e dos impactos dos pro-gramas sociais;

· reforçar a transparência e o contro-le social.

Funcionando por meio da Internet, o Sis-tema inicialmente servia ao cadastramen-

to on line apenas dos beneficiários dosdois programas de transferência de ren-da da SEADS – Renda Cidadã e AçãoJovem, além de incluir os dados dos be-neficiários do Programa Bolsa Família,já que o Renda Cidadã também comple-mentava os benefícios pagos por esteprograma federal.

O cadastramento do Bolsa Família é exe-cutado pelas prefeituras e gerenciado peloMinistério do Desenvolvimento Social, combase no Cadastro Único para ProgramasSociais (CadÚnico). As informações sobreos beneficiários do Bolsa Família registra-das no CadÚnico são enviadas periodica-mente pelo Ministério à SEADS.

A integração entre os cadastros do Progra-ma Bolsa Família e os dos programas esta-duais e municipais exigiu que os técnicosda SEADS e os gestores da área social emcada município fizessem a complementa-ção dos dados que não constavam doCadÚnico e a depuração das informações,eliminando duplicidades e corrigindo asfalhas. Esse foi um trabalho árduo e mi-nucioso, mas indispensável para garantir aconfiabilidade das informações registradasno cadastro do Sistema Pró-Social. O pro-cesso de depuração transcorreu ao longode 2004 e 2005, enquanto eram cadastra-das novas famílias, mesmo as que aindanão haviam sido habilitadas para recebi-mento de benefícios.

Já em 2005, as prefeituras começaram amanifestar interesse em se integrar ao Pró-

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3 Decreto 52.803, de 13 de março de 2008.

Federal, para confirmar as informações dasinstituições no Cadastro Nacional de Pes-soas Jurídicas (CNPJ) e emitir a CertidãoNegativa de Débitos de Tributos e Con-tribuições Federais; e com o Cadastro In-formativo de Créditos não Quitados doSetor Público Federal (Cadin)

Tal integração entre as bases de dadosde diversos órgãos públicos oferece duasvantagens ao Sistema Pró-Social. Primei-ro, isso praticamente elimina a possibili-dade de erros de cadastramento. O usu-ário apenas digita um dos nomes da ruaou da escola nos campos específicos e oPró-Social faz a busca no cadastro asso-ciado, oferecendo as alternativas de pre-enchimento. Havendo inconsistência, ousuário é solicitado a efetuar a correção.Portanto, os dados inseridos somente se-rão aceitos e gravados depois decorrigidas as inconsistências apontadas.

Em segundo lugar, o compartilhamentodos dados facilita o trabalho de órgãospúblicos que utilizam o Sistema comofonte de informações estratégicas. Essetem sido o caso, por exemplo, da Coor-denadoria de Programas para a Juventu-de (ligada à Secretaria de Relações Insti-tucionais do Estado de São Paulo), doMinistério Público do Trabalho e de di-versos setores do Poder Judiciário.

A estrutura do Sistema possui trêsmódulos básicos – Famílias/Beneficiári-os, Programas e Instituições – e quatro

Magdalena Rodriguez,gestora do Programa Ação Jovem na Secretaria Municipal

de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo

O Sistema nos traz dados sobreescolaridade, saúde, questões demoradia, saneamento, acesso à

eletricidade, coleta de lixo, etc. Essesdados são fundamentais para

planejarmos possíveis intervençõesde políticas públicas que melhoremas condições de vida das famílias

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Social e utilizá-lo também como uma fer-ramenta para a gestão de seus programasmunicipais. Com a aquisição de novosequipamentos, a capacidade do sistemapara o armazenamento de dados aumen-tou, possibilitando que o cadastramentodas pessoas a serem atendidas pelas açõessociais fosse feito por todos os municípi-os do Estado, bem como pelos demais ór-gãos do Governo Estadual e pelas entida-des do terceiro setor.

Em março de 2008, um decreto do entãogovernador do Estado de São Paulo3, JoséSerra, determinou que todos os órgãosestaduais que executam, direta ou indire-tamente, ou que financiam ações sociaisdevem inserir no Sistema Pró-Social asinformações sobre seus programas, pro-jetos, ações, entidades executoras ou par-cerias e sobre as famílias dos beneficiári-os. Com isso, a utilização do Sistema aospoucos extrapolou os limites da Secreta-ria, a ponto de se disseminar por pratica-mente toda a administração estadual.

O Sistema está integrado a outras basesde dados estaduais e federais, como oCódigo de Endereçamento Postal (CEP)dos Correios e o código de municípiosdo IBGE. Foi feita ainda a integração como cadastro da Secretaria de Estado da Se-gurança Pública, a fim de possibilitar aconfirmação dos dados do registro geral(RG) dos beneficiários com o da Receita

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módulos auxiliares – Área de Downloads,Usuários, Convênios e Consulta de Da-dos e Georreferenciamento (este último,em fase final de desenvolvimento). A es-trutura modular constitui uma das princi-pais características do Sistema Pró-Social,pois é a partir dela que se obtém um ma-peamento da área social do Estado de SãoPaulo, permitindo que os gestoresvisualizem quem e quantos são os benefi-ciários dos programas e projetos, qual ademanda ainda não atendida (famílias habi-litadas, mas ainda não beneficiárias) e quemsão as instituições que executam esses pro-gramas e projetos, tanto nas três esferas degoverno como no terceiro setor.

Além disso, após finalizado o módulo au-xiliar de Consulta de Dados e Georrefe-renciamento será possível enxergar tam-bém, a partir das informações sobre a lo-calização das famílias cadastradas, regiõesde maior vulnerabilidade e exclusão so-cial do Estado e direcionar as ações con-forme a demanda dessas localidades. OSistema será capaz, ainda, de produzirinstantaneamente relatórios georreferen-ciados (a partir do módulo Consulta deDados e Georreferenciamento), tornan-do possível visualizar nos mapas do Esta-do de São Paulo o grau de vulnerabilida-de de cada região. Desta forma, com umasérie temporal de mapas, poder-se-áacompanhar o dinamismo desse quadroe verificar se as ações sociais estão obten-do os resultados esperados e se algumaregião passou a apresentar alguma carên-cia específica.

Uma rápida análise de cada um dosmódulos do Sistema Pró-Social permitevislumbrar as possibilidades que ele ofe-rece para a melhoria do gerenciamento apolítica social do Estado:

· O módulo de Instituições possibi-lita que se tenha um panorama dequem são os executores das açõessociais no Estado de São Paulo, tan-to na sociedade civil como na admi-nistração direta e indireta do Gover-no Estadual. A partir de um cadas-tro de instituições já existente naSEADS durante a implantação do Sis-tema, o módulo tem sido ampliado

desde 2007 com o autocadastramen-to de outras entidades, públicas e pri-vadas. Sem perder sua interface como Sistema Pró-Social, o módulo aca-bou se transformando em um website(www.instituicoes.sp.gov.br), integran-te do Sistema de Convênios da admi-nistração estadual. Em 2010, o cadas-tramento neste website tornou-se, pordeterminação do Governo Estadual,a única “porta de entrada” para qual-quer instituição que pretenda firmaralgum convênio com o Estado. Neleestão registrados, além das informa-ções básicas sobre cada instituição(endereço, CNPJ, etc.), o nome dapessoa responsável pela instituição,a área de atuação e a identificaçãodo público atendido.

· O módulo de Programas foi con-cebido para cadastrar todas as açõessociais desenvolvidas pelos órgãosestaduais - diretamente ou através deconvênios/parcerias - e pelas institui-ções e órgãos municipais (prefeitu-ras, entidades sociais) de forma in-dependente. Os órgãos e entidadescadastrados no módulo de Institui-ções podem incluir seus programassociais neste módulo e utilizá-locomo instrumento de gestão. Entreas informações reunidas aqui, a ins-tituição deve apontar primeiramen-te se a iniciativa constitui um servi-ço, um programa, um projeto, umaação ou o segmento de uma ação,conforme a complexidade do traba-lho (a definição de cada um dessestipos é apresentada no Manual deOrientação distribuído aos usuáriosdo Sistema). Se a iniciativa estiver li-gada aos programas da SEADS, deveser classificada em: Proteção Básica,Proteção Especial (que por sua vezse subdivide em Serviço de MédiaComplexidade ou de Alta Comple-xidade) ou Programa de Transferên-cia de Renda (Proteção Básica).Outros dados importantes que fazemparte do módulo de Programas di-zem respeito à abrangência do pro-jeto ou programa, objetivos, públicobeneficiado, parceiros, tempo de

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execução, orçamento, etc.

· Quem é atendido pelos programase projetos sociais executados no Es-tado de São Paulo? Quais são ascaracterísticas desse público? Taisinformações estão no módulo deFamílias/Beneficiários. Como opróprio nome diz, este módulo temcomo base o cadastramento das fa-mílias, sendo possível que umamesma família ou um de seus mem-bros esteja inscrito em mais de umprograma. Quando isso acontece,o Sistema apresenta todos os pro-gramas aos quais o beneficiário estavinculado. A opção por utilizar a fa-mília como unidade básica do ca-dastramento se deve ao fato de queum dos principais objetivos do Sis-tema é acompanhar a evolução dascondições de vida de cada grupo fa-miliar. Além de dados básicos so-bre identificação, localização, nú-mero de membros e perfil das fa-mílias atendidas, uma informaçãofundamental contemplada nestemódulo é o seu grau e tipo de vul-nerabilidade à pobreza, medidapelo Índice de Vulnerabilidade So-cial Familiar (IVSF).

Uma medida das condições de vida: o IVSFCom o desenvolvimento da AssistênciaSocial enquanto Política Pública, foramformulados estudos e pesquisas acadêmi-cas que permitem afirmar que a renda nãoé o único fator determinante do bem-es-tar. Desta maneira, até mesmo expressõesoriundas do senso comum - como a co-nhecida frase “dinheiro não é tudo navida”- demonstram que é preciso analisarmais informações para medir a vulnerabi-lidade em que as famílias se encontram.

As condições de saúde, a satisfação como trabalho, o acesso a bens e serviços, asegurança, a infraestrutura do lugar de mo-radia são algumas das variáveis que defi-nem a qualidade de vida das pessoas. Alémdisso, deve-se considerar que, se é verda-de que todos querem melhorar o própriostatus, também é verdade que cada umtem diferentes possibilidades e capacida-

des de realizar esse propósito.

Por exemplo: duas famílias que se en-contram abaixo da linha de pobreza,cujos membros têm diferentes níveis deinstrução, dispõem de chances distintasde deixar essa situação. Além da escola-ridade, muitos outros fatores, como aidade dos membros da família, o localde moradia e as relações de trabalho po-dem facilitar ou dificultar a superação dapobreza, independentemente das opor-tunidades oferecidas pelo Estado, pelasociedade ou pelo mercado. É a esseconjunto de fatores que se refere o con-ceito de vulnerabilidade social.

O Índice de Vulnerabilidade Social Fa-miliar (IVSF), criado pela Fundação Sis-tema Estadual de Análise de Dados(Seade) em parceria com a SEADS, é uti-lizado para captar essas diferentes dimen-sões da condição de vida e conhecer comprecisão as necessidades do público aten-dido pelas ações sociais. Ele consideranão apenas a renda das famílias, mas tam-bém as causas de vulnerabilidade ligadasàs relações de trabalho e às relações soci-ais de seus membros. No que diz respei-to ao mercado de trabalho, são contem-pladas questões referentes ao acesso, àqualidade e à forma de inserção dos mem-

Conceito Operacional de Vulnerabilidade Social

CAPA

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bros da família no mundo do trabalho,bem como ao recebimento de benefíciosprevidenciários. Em relação aos vínculossociais, o indicador leva em conta as ca-racterísticas que propiciam segurança eproteção aos membros da família, comoa escolaridade dos adultos, a posse e qua-lidade da moradia, a existência de servi-ços urbanos e a composição familiar.

Calculado com base nesse conjunto devariáveis, o IVSF possibilita a classificaçãodas famílias em seis grupos de vulnerabili-dade, conforme o quadro acima.

O fato de permitir que se visualize a si-tuação de cada família é a maior inova-ção trazida pelo IVSF para o universodos indicadores sociais, geralmente agre-gados por região, município, grupo dedomicílios, estratos sociais, etc. Ele nãotem abrangência suficiente para forne-cer um retrato das situações de vulnera-bilidade e das condições de vida dos mu-nicípios, mas ajuda a entender de formaquase imediata, em “tempo real”, as pos-sibilidades e dificuldades de cada umadas 1,5 milhão de famílias hoje cadas-tradas no Sistema Pró-Social. O indica-dor serve ainda como um critério técni-co para a seleção do público a ser aten-dido pelas ações sociais, o que contri-bui para afastar a interferência de rela-ções clientelistas e práticas de favoreci-mento. Para ser confiável, porém, o IVSF

depende do preenchimento correto docadastro das famílias e da atualização cons-tante dessa base de dados.

Esse é um tema sempre destacado nos trei-namentos que a SEADS oferece aos téc-nicos das suas Diretorias Regionais(Drads), das demais secretarias estaduaise dos municípios. Ao mostrar às equipescomo o IVSF pode contribuir para a ges-tão das ações, busca-se também destacar aimportância do cadastro para aconfiabilidade do indicador e para o fun-cionamento adequado de todo o SistemaPró-Social.

Outras aplicações do Sistema Pró-SocialDesenvolvido no âmbito da SEADS e uti-lizado por todos os municípios paulistas,o Sistema Pró-Social acabou por se inte-grar à rotina de muitos órgãos da adminis-tração estadual, direta e indireta. Institui-ções públicas tão diversas como o Centrode Educação Tecnológica Paula Souza, oInstituto de Terras do Estado de São Pau-lo (Itesp), a Fundação Centro de Atendi-mento Socioeducativo ao Adolescente(Fundação Casa) e a Secretaria de Admi-nistração Penitenciária trabalham em estreitaparceria com a SEADS para a execução deprogramas sociais, como o Programa Ren-da Cidadã e o Programa Ação Jovem, utili-zando o Sistema Pró-Social para selecionare cadastrar os beneficiários.

CAPA

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Outra parceria importante é a que se es-tabeleceu entre a SEADS e a Secretariada Fazenda (Sefaz), tendo em vista o com-partilhamento de informações do Siste-ma Pró-Social para o Programa Nota Fis-cal Paulista. Este Programa devolve aosconsumidores 30% do ICMS recolhidopelos estabelecimentos comerciais e ain-da sorteia prêmios em dinheiro. Trata-sede uma iniciativa que combate a sonega-ção, incentivando os consumidores a exi-girem a nota fiscal. Para ter direito à de-volução, as pessoas devem solicitar a notae informar seu número de CPF ou CNPJno momento da compra.

O Programa também oferece a opção dese destinar as notas fiscais sem identifica-ção para entidades de assistência socialcadastradas na SEADS. Dessa forma,essas entidades podem aumentarsua receita com os créditos e tam-bém participar dos sorteios.Para isso, porém, exige-seque a entidade socialesteja cadastradano Sistema Pró-Social e que seucadastro esteja na si-tuação “ativa”, isto é,que seus dados estejamatualizados no cadastro.Quinzenalmente, a SEADSenvia para a Sefaz a relação detodas as entidades sociais cadastra-das no Sistema em situação “ativa”.

No entanto, a demonstração de como oSistema Pró-Social tem assumido umpapel estratégico para a administraçãodo Estado é dada pelo Portal de Convê-nios. Com origem no módulo de Con-vênios do Sistema Pró-Social, o Portalatualmente possibilita o acesso ao Siste-ma Integrado de Convênios da Secreta-ria de Gestão Pública.

Convênios: menos burocracia, mais pla-nejamentoAntes da descentralização da Política deAssistência Social que, como vimos, acen-tuou-se no Brasil a partir de meados dadécada de 90, a SEADS administravauma série de equipamentos, como cre-

ches e abrigos, e executava diretamenteum grande número de programas e pro-jetos. Com o avanço da municipalização,a gestão desses equipamentos foitransferida para os municípios e para asentidades assistenciais.

A execução dos programas e projetos daSecretaria passou a ser feita por meio deconvênios: os municípios e as instituiçõesde assistência social selecionavam, den-tre o conjunto de programas da SEADS,os que atendiam às suas necessidades, ecelebravam um convênio para cada pro-grama. Assim, a SEADS administravacerca de 6 mil convênios com entida-des assistenciais e com os municípios.

No entanto, a Secretaria tinha poucas in-formações a respeito dos resultados des-ses convênios. Não havia um planeja-

mento estratégico das ações previstas,nem uma avaliação de seu impac-

to. A máquina administrativa daSEADS voltava-se quase

exclusivamente paraconferir a prestação

de contas das en-tidades e das pre-feituras. Comoos convênios

eram negociadoscaso a caso, o Esta-

do não dispunha deuma visão do conjunto da

Política Social que integras-se todas as suas ações e as ini-

ciativas municipais. Ao mesmotempo, faltava aos municípios o co-

nhecimento de suas necessidades, umlevantamento preciso das carências dapopulação.

Para cada município ou entidade assistenci-al, eram firmados até cinco convênios, con-forme os segmentos atendidos: crianças eadolescentes, famílias, idosos, pessoas comdeficiência e migrantes. Isso envolvia umagrande quantidade de papéis, porque a le-gislação federal e estadual exige que a pre-feitura ou entidade apresente pelo menossete documentos para a celebração de cadaconvênio, além de projeto básico, memorialdescritivo, plantas arquitetônicas, etc.

CAPA

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Na prática, muitos municípios limitavam-se a repetir o passado, renovando os con-vênios para desenvolver os mesmos pro-jetos ao longo dos anos. Por outro lado, asverbas que a SEADS repassava aos muni-cípios prendiam-se aos programas do Go-verno Estadual e destinavam-se apenas aossegmentos populacionais que esses progra-mas buscavam atender. Assim, por exem-plo, ao firmar um convênio para receberrecursos de um programa estadual volta-do aos idosos, o município não tinha au-tonomia para remanejar a verba e atenderaos migrantes, mesmo que posteriormen-te constatasse que esta seria a destinaçãomais adequada para o dinheiro, tendo emvista a realidade local. Faltavam, enfim, pla-nejamento e flexibilidade à execução dapolítica social.

A fim de simplificar os procedimentos, aSEADS permitiu que a série de documen-tos exigidos para a celebração dos convê-nios fosse apresentada uma única vez,compondo o que se chamou de “proces-so principal”. A partir de então, cada novoconvênio firmado com o município seriaapenas um apêndice desse processo.

Uma mudança ainda mais radical ocor-reu em 2004, quando a Secretaria pas-sou a firmar apenas um único convêniocom cada município do Estado, tendocomo referência os valores então repas-sados pelos diversos programas estadu-ais. Os milhares de convênios mantidoscom os municípios foram reordenados noConvênio Único de Proteção Social. Aomesmo tempo, os diversos projetossetoriais da Secretaria foram substituídospelo Serviço Socioassistencial de Prote-ção Social, que se divide em ProteçãoSocial Básica e Proteção Social Especial.

A nova sistemática ampliou a autonomiado âmbito local na definição de suas pri-oridades e na formulação dos projetos,além de simplificar e desburocratizar atransferência de recursos do GovernoEstadual para o financiamento de açõessociais nos municípios. Conforme vere-mos adiante, a continuidade desse pro-cesso de simplificação e desburocratiza-ção fez com que o Convênio Único des-

se lugar à chamada transferência “Fundoa Fundo”: hoje, os recursos vinculadosao Serviço de Proteção Social (que abran-ge a maior parte da política de assistênciasocial do Estado) são repassados direta-mente do Fundo Estadual de AssistênciaSocial (FEAS) para os Fundos Municipaisde Assistência Social (FMAS), sem que sejanecessário celebrar convênio, ajuste, acor-do ou contrato.

À parte a esse sistema Fundo a Fundo, aSEADS administra atualmente 25 convê-nios com entidades sociais. Isso ocorrequando, por algum impedimento legal oude gestão, o município não pode recebero recurso do Fundo Estadual. Para que oatendimento não seja paralisado, a SEADSfirma, então, convênio direto com as insti-tuições sociais da cidade. Outra situaçãoem que isto ocorre é no cofinanciamentode projetos regionalizados que, porextrapolarem os limites municipais, sãoexecutados diretamente por entidades as-sistenciais. Porém, apesar da racionaliza-ção e da redução do número de convêni-os, ainda havia a necessidade de se implan-tar uma forma unificada de administraçãodesses contratos e de informatizar o pro-cesso, a fim de diminuir ainda mais os trâ-mites burocráticos e gerar informaçõesconsolidadas sobre o relacionamento en-tre o Governo do Estado e as entidades emunicípios conveniados.

Quando o Governo do Estado se mobili-zou para criar esse sistema, por meio daSecretaria de Gestão Pública, encontrou naSEADS uma solução praticamente pronta,bastando estendê-la ao restante da adminis-tração estadual. Era o módulo de Convêni-os do Sistema Pró-Social, no qual eram re-gistrados todos os convênios firmados pelaSEADS. Esse módulo foi adaptado e am-pliado para receber o cadastramento dosconvênios assinados pelas demais secreta-rias e órgãos estaduais, dando origem aoSistema Integrado de Convênios do Esta-do de São Paulo e ao Portal de Convênios,cujo gerenciamento cabe à Secretaria deGestão Publica. O decreto que instituiu esseSistema determinou que o cadastramentoé obrigatório para qualquer município quepretenda conveniar com o Estado.

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A documentação que antes os municí-pios tinham de reapresentar a cada ce-lebração de convênio com o GovernoEstadual agora é exigida uma única vez,pela Secretaria de Economia e Planeja-mento, que emite o Certificado de Re-gularidade do Município para celebrarConvênios (CRMC). Este documentohabilita o município para celebrar con-vênios com qualquer uma das secretari-as estaduais, dispensando toda uma sé-rie de exigências e trâmites burocráticos.A Secretaria de Economia e Planeja-mento libera verbas apenas para muni-cípios que têm o CRMC.

Em breve, outro decreto estadual vai es-tender a mesma facilidade para as institui-ções, como entidades assistenciais, organi-zações não-governamentais, creches, etc.Para cadastrarem seus convênios com oEstado, porém, elas deverão fazer parte doCadastro Único de Instituições do Estadode São Paulo (www.instituicoes.sp.gov.br),outro website que se desenvolveu a partirde um módulo do Sistema Pró-Social.4

Esse conjunto de inovações e de medi-das administrativas possibilitou a simpli-ficação do processo, a desburocratizaçãodos procedimentos e a melhoria do con-trole e da gestão dos convênios celebra-dos entre o Governo Estadual e os mu-nicípios. Como resultado, o Estado pas-sou a dispor de uma visão mais abran-gente e integrada do seu relacionamentocom os municípios e com as instituiçõesconveniadas, a partir de uma base de da-dos unificada, disponível para todas assecretarias estaduais.

Sistema PMAS-web - Plano Municipalde Assistência SocialEstado e município: novos papéisPor mais profundas e inovadoras que te-nham sido as mudanças implementadasno âmbito interno da SEADS, a trans-formação não teria o alcance desejado senão se estendesse também à gestão da

Assistência Social nos municípios e aorelacionamento entre o Estado e os go-vernos municipais.

Desde o fim do regime autoritário noBrasil, as relações entre as instâncias go-vernamentais começaram a ser redese-nhadas, iniciando-se um processo de des-centralização que valorizou os municípi-os. Os governos municipais ganharammaior autonomia na aplicação dos recur-sos e na formulação de políticas públicasconforme suas necessidades.

Ao mesmo tempo, desenvolveram-se me-canismos que incentivam o envolvimen-to organizado da comunidade local na so-lução de seus problemas. Tais mecanis-mos – como os conselhos e as conferên-cias municipais e estaduais de Assistên-cia Social, de Educação, de Proteção aosDireitos das Crianças e Adolescentes, etc.- também significaram maior controle so-cial, aumentando a eficiência e a transpa-rência das políticas.

A redefinição do papel dos entes federati-vos tem permitido que tanto o governo fe-deral como os Estados e municípios parti-cipem da oferta de serviços. No entanto, opaís ainda não dispõe de um novo pactofederativo assentado em bases sólidas, istoé, em instituições e normas que organizema participação de cada nível de governo emtodas as políticas públicas. Em muitas de-las, há um quadro de indefinição que temlevado à inoperância estatal ou, pelo con-trário, à sobreposição de esforços e ao des-perdício de recursos.

Na medida em que se estreitaram as rela-ções administrativas entre o governo fe-deral e os governos municipais, inclusivecom o repasse de verbas diretamente daUnião para os municípios, os Estados tor-naram-se coadjuvantes ou até mesmo au-sentes de algumas políticas. Os municí-pios, por sua vez, viram-se sobrecarrega-dos por um conjunto de novas responsa-bilidades para as quais muitos ainda nãoestão preparados, faltando-lhes recursoshumanos e materiais para atender às de-mandas da população.

Neste cenário, o Governo Estadual preci-

4 Diferentemente dos convênios com municípios, no caso

das instituições não haverá um certificado de regularidade,

porque a documentação exigida das instituições varia con-

forme o tipo de convênio e a secretaria estadual com a qual

elas estão conveniando.

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sa redesenhar suas atribuições e ações, de-marcando seu espaço na Federação. Nocampo da Política Social – em que a açãona ponta é decisiva – o Governo do Esta-do deve se tornar uma organização geren-cial de formulação e articulação de políti-cas, indicando aos municípios as priorida-des e fornecendo-lhes informações sobreos problemas, além de sugerir alternativaspara o enfrentamento das questões soci-ais. Cabe à administração estadual umafunção estratégica na coordenação da Po-lítica Social, estabelecendo rumos e dire-trizes, e criando mecanismos de apoio às ins-tâncias municipais, do terceiro setor e da ini-ciativa privada.

Sem abandonar seu pa-pel no aporte financeiroaos municípios e às enti-dades, o Governo Esta-dual tem de focalizar suaatenção no apoio técnico,na capacitação, no moni-toramento e na avaliaçãodas ações. Deve aindaajudar e capacitar as se-cretarias municipais paraque adotem princípios degestão modernos, alémde monitorar e avaliar osresultados por meio deindicadores sociais.

Foi com base nesses pres-supostos que a SEADSsistematizou os PlanosMunicipais de Assistên-cia Social, colocando à disposição dosmunicípios um modelo padronizado einformatizado que transformou o queera apenas exigência legal e formalida-de burocrática num instrumento efeti-vo de planejamento.

Uma mudança culturalEmbora o artigo 30 da Lei Orgânica daAssistência Social já tivesse estabelecidoa obrigatoriedade de os municípios for-mularem um Plano de Assistência Socialcomo condição para o recebimento deverbas federais e estaduais, esse instrumen-to precisa ser utilizado em todo o seu po-tencial. Os planos encaminhados pelos

municípios à SEADS eram meramentedescritivos, com informações genéricas e im-precisas, além de extremamente heterogê-neos quanto ao seu formato e seu tamanhoe quanto à organização dos dados.

Conferindo efetividade ao que estabelecea Lei Orgânica, a SEADS criou um for-mulário-padrão para os Planos Munici-pais de Assistência Social (PMAS), ten-do a preocupação de definir um modeloque pudesse ser utilizado por todos osmunicípios, independentemente do por-te e das características de cada um deles.Esse modelo, que começou a ser utiliza-do em 2004, foi aprimorado em 2005,inclusive a partir das sugestões dos técni-

cos e gestores municipais. Aomesmo tempo, a Companhiade Processamento de Dadosdo Estado de São Paulo(Prodesp), desenvolveu oPMAS-web um sistema paraque o formulário pudesse serpreenchido pela Internet.

O sistema organiza o PlanoMunicipal em seis blocos:

I – Informações: com da-dos básicos sobre a prefei-tura, o órgão gestor, o fun-do municipal, conselhos erecursos financeiros domunicípio;

II - Rede de Proteção Social:que traz uma breve análise

diagnóstica do município e dados sobrea rede assistencial, pública e privada;

III – Programas: que apresenta a or-ganização da rede em programas eprojetos, além de informações espe-cíficas sobre programas de transfe-rência de renda e benefícios eventu-ais;

IV - Cronograma de Desembolso:que detalha a previsão de utilizaçãodos recursos financeiros repassadospelo Estado ao município;

V – Monitoramento: que ofereceuma visão geral sobre as ações de

CAPA

O PMAS traz

informações que

muitos municípios não

teriam como obter de

outra forma e que

contribuem para o

diagnóstico local e

vigilância social

Marlene Bueno Zola,

Coordenadora de Ação Social da SEADS

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monitoramento e avaliação realiza-das pelo município;

VI – CMAS: com dados cadastraisdo Conselho Municipal de Assistên-cia Social do município e o parecerdo Conselho sobre o Plano.

Uma facilidade proporcionada pelo sis-tema via web é que, a partir dessas infor-mações, o PMAS pode gerar relatóriosgerenciais em três níveis: municipal, re-gional (para as Drads, com informaçõessobre suas respectivas regiões) e estadu-al (para a SEADS, com a consolidaçãodas informações de todo o Estado). Atu-almente, o sistema é capaz de produzircerca de 25 tipos de relatórios, como: arelação das instituições que compõem arede de assistência social de um dadomunicípio ou região, a discriminação des-sa rede por público-alvo, a lista de priori-dades municipais e regionais, etc.

Ressalve-se que o formato dos PlanosMunicipais não é uma imposição daSEADS: o preenchimento do PMAS-web é obrigatório apenas para o repassedas verbas estaduais que ajudam a finan-ciar o Serviço de Proteção Social, pormeio das transferências Fundo a Fundo.Os municípios preservam sua autonomiapara elaborar os Planos no formato queconsiderarem mais conveniente. Nessecaso, o formulário do PMAS-web tam-bém é de grande utilidade, servindocomo um documento de orientação téc-nica para a elaboração do Plano.

Em muitos municípios, porém, o PMAS-web é o único instrumento de planeja-mento da Assistência Social. Ele sistema-tiza uma série de informações fundamen-tais não apenas para a atuação do gover-no municipal, mas também para os ór-gãos estaduais e federais, bem como paraoutras instituições que queiram se debru-çar sobre a realidade local. O conjuntodos Planos Municipais constitui um ma-peamento completo da rede de serviçosde todos os 645 municípios paulistas. OPMAS-web permite que a SEADS tam-bém visualize quais são as demandas de

cada município, num esforço coordena-do de melhoria das condições de vida noEstado de São Paulo.

Portanto, muito mais do que mera for-malidade para o recebimento dos recur-sos transferidos pelo Governo Estadualou de simples documento feito para seatender a exigências legais, o PMAS-webé a base de uma atuação planejada e deuma alocação mais eficiente das verbasna área social. Ele cumpre uma duplafunção: para os municípios, é um instru-mento de gestão da sua Política Social e,para a SEADS, é uma ferramenta para ocofinanciamento da rede socioassistenci-al no âmbito do território paulista.

Dessa forma, o Plano induz a uma mu-dança cultural, não apenas porque garanteaos gestores municipais mais autonomia epoder de decisão, como também porqueobriga a Assistência Social dos municípiosa incorporar padrões de gestão baseadosem planejamento, monitoramento e avali-ação dos programas e ações. O diagnósti-co dos problemas locais passa a se orien-tar por indicadores, que são acompanha-dos de perto e atualizados continuamen-te. Impulsionada por essa mudança, a áreasocial pode assumir uma posição mais ele-vada no interior da administração munici-pal e ganhar importância política, inclusi-ve na negociação do orçamento.

Ao mesmo tempo, o PMAS-web tende apropiciar ganhos em termos de integração,de qualidade e de ampliação dos serviçosprestados, ao dirigir o olhar dos gestores

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sobre a rede de instituições, sobre os recur-sos públicos e privados e sobre o conjuntode serviços e benefícios disponíveis no mu-nicípio. De fato, uma pesquisa realizada peloNúcleo de Estudos de Políticas Públi-cas da Universidade Estadual de Cam-pinas (NEPP-Unicamp) mostrou que, naopinião dos gestores municipais, a ela-boração do Plano representou umaoportunidade para mapear a rede sociale reorientar aos poucos os serviços, deacordo com as demandas locais.

Entretanto, para assegurar o funciona-mento adequado do sistema, a SEADSteve de lidar com três desafios. Primeiro,garantir que os técnicos e gestores muni-cipais tivessem conhecimento da literatu-ra e da legislação sobre Assistência Soci-al. Segundo, que esses atores fossem ca-pazes de realizar o diagnóstico dos pro-blemas sociais de sua cidade. Terceiro,que tivessem as habilidades necessáriaspara efetivamente utilizar o sistema onlinede preenchimento dos planos.

Tais desafios foram enfrentados, com umprograma intensivo de treinamento,direcionado a mais de 1.400 técnicos egestores da Assistência Social, distribuí-dos pelos 645 municípios do Estado epelas 26 Diretorias Regionais da SEADS,as Drads. O Programa de Capacitação,executado desde 2005 pela Coordenado-ria de Ação Social da SEADS (CAS), pro-cura manter os técnicos informados so-bre as atualizações implementadas no sis-tema PMAS-web, bem como apresentaro sistema aos servidores que ingressamno quadro de pessoal.

Como unidades descentralizadas daSEADS, as Drads desempenham um pa-pel fundamental no apoio aos municípi-os para a utilização do sistema. Desde aimplantação do PMAS-web, as Dradstambém passaram por uma grande trans-formação em suas rotinas e procedimen-tos, dedicando-se menos aos aspectos me-ramente administrativos para assumir umaposição mais destacada na supervisão dasações e na prestação de assistência técni-ca aos municípios.

As Drads prestam assistência aos técnicos

municipais antes, durante e depois do pre-enchimento do PMAS-web, cabendo-lhes,inclusive, ajudar os gestores municipais aidentificar as 10 maiores demandas soci-ais de cada cidade, além de analisar osPlanos e alertar sobre eventuais erros depreenchimento. Além desse apoio, osusuários do PMAS-web contam com oManual de Preenchimento preparadopela SEADS, um guia de orientação dis-ponível no próprio sistema e uma lista detelefones e e-mails disponíveis para ofe-recer auxílio aos usuários.

A importância desse trabalho é reconheci-da pelos técnicos e gestores municipais, poiseles sabem que o PMAS-web, além de seruma valiosa ferramenta de planejamento,representa também a garantia de que o re-passe de verbas da SEADS aos municípiosobedece a critérios técnicos, afastando qual-quer possibilidade de clientelismo oufavorecimento político.

Para definir o montante do Fundo Esta-dual de Assistência Social que cabe a cadamunicípio, a Secretaria considera as açõessociais definidas como prioritárias nosPlanos Municipais, juntamente com asprioridades estabelecidas em nível esta-dual no Programa de Proteção Social eas áreas geográficas onde se concentramas maiores carências, conforme sinaliza-do pelo Índice Paulista de Vulnerabilida-de Social (IPVS).

Um retrato social do Estado: o IPVSA desigualdade brasileira se reflete noterritório das cidades, segregando as fa-mílias de acordo com sua condição so-cial. As famílias mais vulneráveis à po-breza concentram-se em determinadasáreas urbanas – aspecto que é facilmen-te percebido por quem percorre as ci-dades do país, principalmente as metró-poles. Priorizar tais áreas para a execu-ção das ações sociais é a consequêncialógica dessa constatação.

O Índice Paulista de Vulnerabilidade So-cial (IPVS) permite classificar áreas geo-gráficas segundo os recursos da populaçãoresidente. Ao criar esse indicador, a Fun-dação Seade adotou como unidade o se-tor censitário, que abrange um território

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com 300 domicílios, em média, indepen-dentemente do porte do município. OIPVS utilizado atualmente baseia-se noCenso Demográfico 2000 e será atualiza-do em 2011, quando estiverem disponí-veis os dados do novo Censo.

O indicador combina duas dimensões davulnerabilidade social: a socioeconômicae a demográfica. A dimensão socioeconô-mica diz respeito não apenas à renda queas famílias já possuem, como também àssuas possibilidades de gerar renda. A di-mensão demográfica está relacionada aociclo de vida familiar, expresso pela idadedo responsável e pela presença de crian-ças com idade até quatro anos. A partirdessas duas dimensões, o IPVS classificao território do Estado de São Paulo emseis grupos ou tipos de áreas geográficas,conforme o grau de vulnerabilidade dasfamílias residentes em cada área.

A análise dos dados que compõem oIPVS, bem como da sua representaçãocartográfica, é um instrumento impor-tante para ajudar a definir as áreas quedevem merecer atenção prioritária daspolíticas públicas, particularmente da As-sistência Social. Grosso modo, pode-sedizer que, enquanto o IVSF revela queme quantas são as famílias em situação devulnerabilidade social5, o IPVS mostraonde elas estão.

Programas Renda Cidadã e Ação JovemEntre as muitas mudanças da Política deAssistência Social brasileira nos últimosanos, os programas de transferência de

renda constituem uma das principais ino-vações.6 O objetivo dessas iniciativas écriar uma rede de proteção social daspopulações mais pobres, a partir do pa-gamento mensal de uma complementa-ção da renda familiar. Em troca do paga-mento, exige-se que os beneficiários cum-pram algumas exigências – as chamadas“condicionalidades” – geralmente ligadasao cuidado com os filhos e a um esforçopara romper o ciclo da pobreza.

Um estudo do Banco Mundial mostrou quequando o governo federal começou a exe-cutar seu próprio programa de transferên-cia condicionada de renda, em 1998, já es-tavam em operação no país mais de 60 pro-gramas estaduais e municipais, cobrindoaproximadamente 200 mil famílias. A cria-ção do programa federal vinha sendo pro-posta reiteradas vezes ao Congresso Nacio-nal, a começar por um projeto de lei dosenador Eduardo Matarazzo Suplicy.

Finalmente aprovado em 1997, o Progra-ma de Garantia de Renda Mínima (PGRM)começou a funcionar no ano seguinte, sobresponsabilidade do Ministério da Educa-

5 Tomando por base as famílias cadastradas no sistema Pró-Social.6 Um dos primeiros programas de transferência de renda deque se tem notícia foi instituído pelo governo britânico em 1908.Muitos países europeus (Dinamarca, Alemanha, entre outros)já nos anos 30-40 passaram a adotar políticas com esse perfil.Atualmente, doze países na América Latina e no Caribe possu-em programas de transferência de renda, entre os quais se des-tacam Brasil (Bolsa Família), México (Progresa/Oportunidades),Argentina (Plan Família), Chile (Chile Solidario), Colômbia (Fa-mílias en Acción), Costa Rica (Superémonos), RepúblicaDominicana (Solidaridad), Peru (Juntos) e El Salvador (RedSolidaria).

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ção e tendo seus custos compartilhados en-tre o governo federal e os municípios. OPrograma pagava mensalmente às famíliascom renda per capita inferior a meio salá-rio mínimo um benefício no valor de atéR$ 15 por filho entre sete e quatorze anos,exigindo como contrapartida a frequênciaescolar das crianças.

Em 2001, o PGRM foi substituído peloPrograma Bolsa Escola, que tinha obje-tivos mais ambiciosos, uma coberturamais ampla e maior disponibilidade derecursos. A aprovação do Fundo deCombate à Pobreza permitiu que o go-verno federal passasse a financiar o cus-to total do Programa.

No entanto, como o próprio nome indi-ca, o Bolsa Escola manteve a fortevinculação com a área de Educação, ca-racterística que também havia marcado oPGRM. Essa orientação setorial não aju-dava a melhorar a articulação das açõessociais e até contribuía para aumentar afragmentação. Prova disso é que progra-mas semelhantes foram criados ou conti-nuaram a existir em outros Ministérios,como o Bolsa Alimentação, na área daSaúde (para famílias e crianças em risconutricional), o Bolsa Qualificação, ligadoao Ministério do Trabalho (para trabalha-dores desempregados) e o Programa deErradicação do Trabalho Infantil (PETI),coordenado pelo Ministério da Previdên-cia e Assistência Social.

O Programa Bolsa FamíliaBuscando aumentar a eficiência, a cober-tura e a integração dos programas de trans-ferência de renda, o governo federal deuinício, em outubro de 2003, ao ProgramaBolsa Família, que unificava três progra-mas criados no governo FernandoHenrique Cardoso (Bolsa Escola, BolsaAlimentação e Auxílio-Gás) e o CartãoAlimentação, criado no início do governoLula. Em dezembro de 2005, também foiintegrado ao Bolsa Família o Programa deErradicação do Trabalho Infantil.

Executado sob a responsabilidade do Mi-nistério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome (MDS), o Bolsa Famí-lia também reserva papeis importantes

aos Ministérios da Saúde e da Educação,encarregados de normatizar e verificar ocumprimento das condicionalidades queformam a contrapartida do Programa(como a frequência escolar e a vacinaçãodas crianças). A Caixa Econômica Fede-ral atua simultaneamente como agenteoperador do Cadastro Único de benefi-ciários (CadÚnico) e como agente paga-dor dos benefícios.

A descentralização da gestão, que carac-terizava o Bolsa Escola, foi mantida e atéreforçada em certos aspectos, com a de-finição de responsabilidades aos Estadose municípios.

São beneficiários do Bolsa Família:

•famílias com renda de até R$70,007 mensais por pessoa;

• famílias com renda entre R$ 70,01e R$ 140,00 mensais por pessoa eque tenham crianças e adolescentescom idade entre zero e 17 anos ougestantes;

As famílias inscritas em outros programasfederais também podem fazer parte doBolsa Família, desde que atendam a es-ses critérios.

Cabe às prefeituras incluir as famílias noCadÚnico e fazer a seleção dos benefici-ários, que recebem o recurso por meiobancário. Os valores pagos pelo progra-ma variam, atualmente, de R$ 22,00 a R$200,00, dependendo da renda mensal porpessoa e do número de crianças e adoles-centes até 17 anos existentes na família. Ascondicionalidades que devem ser cumpridaspelas famílias compreendem:

• comparecimento às consultas depré-natal, no caso de existência degestantes;

•participação em atividades educa-tivas sobre aleitamento materno e ali-mentação saudável, no caso de in-clusão de nutrizes;

7 Valores vigentes em setembro de 2010.

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• manutenção do cartão de vacina-ção das crianças de 0 a 6 anos emdia;

• frequência mínima de 85% na es-cola, para crianças e adolescentes de6 a 15 anos;

• frequência mínima de 75% na es-cola, para adolescentes de 16 e 17anos;

• participação, quando for o caso, emprogramas de alfabetização de adultos.

Com mais de 12 milhões de famílias be-neficiadas, o Bolsa Família teve impactodecisivo na redução da pobreza extremano Brasil, com resultados que levaramao desenvolvimento deoutros programas detransferência condicio-nada de renda, criadospelos governos estadu-ais e municipais. Asavaliações indicam queessas iniciativas contribu-em fortemente para me-lhorar também os indi-cadores de Educação ede Saúde, diminuindoinclusive a mortalidadee o trabalho infantis. Ou-tro aspecto ressaltado éque os custos operacio-nais da transferência derenda normalmente sãomenores do que os deoutros programas.

Além disso, ao substituir a antiga práticade distribuir cestas básicas pelo repassede dinheiro diretamente às famílias, pormeio de cartões magnéticos e acesso aosistema bancário, os programas puseramfim a um longo histórico de paternalismo,clientelismo e corrupção que marcou opassado da Assistência Social no Brasil.

O Programa Renda CidadãNo Estado de São Paulo, o principal pro-grama de transferência de renda às famíli-as em situação de vulnerabilidade socialfoi instituído em 2001, a partir da unifica-ção de dois programas da SEADS – Com-

plementando Renda e Fortalecendo a Fa-mília. O Programa Complementando Ren-da já fazia a concessão desse benefício, en-quanto o Fortalecendo a Família desenca-deava um conjunto de ações socioeduca-tivas, a fim de revigorar os laços familiaresque muitas vezes se esgarçam diante dasdificuldades financeiras – fragilizada emsuas emoções e em suas relações internas,a família tem ainda mais dificuldade parasuperar a pobreza.

No entanto, o Renda Cidadã represen-tou uma grande ampliação da iniciativa,no que se refere à abrangência geográficae ao número de famílias atendidas. Ten-do começado com a meta de atender 50mil famílias em seu primeiro ano de ope-

ração, o Programadeve atingir, em ju-nho de 2011, 187 milfamílias, em 644 mu-nicípios. Esse aumen-to foi possibilitadopela elevação do tetoda renda familiar per-mitida para a inscriçãodos beneficiários: noinício, o Renda Cida-dã visava as famíliascom renda mensal fa-miliar de até R$ 100per capita, mas agoraesse teto é de meiosalário mínimo percapita, o que significaum número muitomaior de possíveis be-

neficiários.8 O valor dos benefícios tam-bém aumentou, passando de R$ 60 noinício do Programa para os atuais R$ 80,pagos mensalmente por meio de um car-tão bancário9. Outra ampliação se deu no

CAPA

8 Um levantamento feito em 2006 pelo Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD), no âmbito doPrograma Bolsa Família, revelou que no Estado de São Paulohavia mais de 3 milhões de famílias com renda mensal inferiora meio salário mínimo per capita.9 Quando ainda pagava o benefício de R$ 60, o Programachegou a estabelecer uma diferenciação entre os municípiosdo interior do Estado e os da Região Metropolitana de SãoPaulo. Nestes, havia benefícios com valores maiores, sob opressuposto de que o custo de vida na região metropolitana dacapital é maior. Hoje, porém, essa diferenciação foi suprimidae o valor dos benefícios é o mesmo para todo o Estado.

Com o aumento darenda familiar máxima

para meio saláriomínimo per capita,

ficou muito mais fácilatingir a meta desteano, que é atender

162 mil famíliasFelicidade S. Pereira,

coordenadora estadual dos

Programas Renda Cidadã e Bolsa Família

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prazo máximo de permanência das famí-lias no Programa, que passou de dois paratrês anos, sendo que a cada ano elas pas-sam por uma reavaliação.

O Renda Cidadã prioriza as famílias che-fiadas por mulheres e todos os benefíci-os são creditados em nome delas. En-quanto recebem o benefício, as famíliascomprometem-se a manter na escola ascrianças e adolescentes, entre 6 e 15anos, com uma frequência mínima de75% das aulas. Também devem compro-var a vacinação das crianças de até 6 anose participar de ações com-plementares como ativida-des socioeducativas e degeração de renda.

Componente fundamentaldos programas de transfe-rência de renda, essasações complementares po-dem, no longo prazo, cau-sar um impacto maior doque o do simples repassede recursos financeiros,abrindo portas para que asfamílias saiam da pobrezaextrema. São desenvolvi-das pelos municípios e de-vem estar previstas no Pla-no Municipal de Assistên-cia Social (PMAS), comoparte da chamada ProteçãoSocial Básica. Mas o Governo Estadualcontribui para financiar a execução des-sas ações por meio dos recursos que sãotransferidos do Fundo Estadual de Assis-tência Social (FEAS) para os Fundos Mu-nicipais (FMAS) e que fazem parte daProteção Social Básica.

A fim de reforçar o apoio aos municípi-os na oferta de ações complementares,a SEADS criou o projeto Complemen-tando Renda Cidadã, por meio do qualsão financiados cursos de qualificaçãoprofissional, de até três meses de dura-ção, a serem oferecidos pelas prefeitu-ras e por entidades parceiras. É impor-tante ressaltar que os cursos podem serfrequentados por todos os membros da

10 O SUAS estabelece três níveis de habilitação da gestão

municipal: inicial, básica e plena. A gestão inicial fica por

conta dos municípios que atendam a requisitos mínimos,

como a existência e funcionamento de conselho, fundo e

planos municipais de assistência social, além da execução

das ações da Proteção Social Básica com recursos próprios.

No nível básico, o município assume, com autonomia, a ges-

tão da proteção social básica. No nível pleno, ele passa à ges-

tão total das ações socioassistenciais.

família e não apenas pelo titular do be-nefício do Renda Cidadã.

Com um orçamento de mais de R$ 2,6milhões em 2010, esse programa já aten-de 159 prefeituras e a perspectiva é quevenha a atender muito mais em 2011, jáque o volume de recursos deve dobrar.Para o financiamento do Complementan-do Renda Cidadã – CRC no exercício de2010, a SEADS utilizou-se dos critériosde execução de pelo menos 75% das me-tas do Programa Renda Cidadã e municí-pios nos níveis de Gestão Básica ou Ges-

tão Plena do SUAS10.Para 2011, a SEADS jáestuda novos critérioscom base na avaliação deresultados do CRC.

Outro requisito que foiconsiderado para seleçãodos municípios refere-se àutilização do diagnósticoelaborado pela Secretariade Emprego e Relações doTrabalho (Sert) para todasas regiões do Estado, dis-ponível no websitewww.emprego.sp.gov.br/diagnostico/menu.htm.Tal exigência reflete a pre-ocupação da SEADS emcriar condições para que

os beneficiários do Renda Cidadã consigam“andar com as próprias pernas”, isto é, gerara própria renda e sair do grupo de famíliasem situação de vulnerabilidade social. A fal-ta de qualificação profissional, hoje a princi-pal causa do desemprego no Brasil, é tam-bém o maior obstáculo nessa caminhada.

Não basta, porém, oferecer cursos profis-sionalizantes. Para que os alunos forma-

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“O Renda Cidadãprioriza as famílias

chefiadas pormulheres e todosos benefícios são

creditados emnome delas

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dos encontrem seu espaço como empre-endedores ou como empregados é preci-so assegurar que os cursos tenham ummínimo de qualidade e sejam compatíveiscom a realidade econômica de cada re-gião. Nesse sentido, tem sido fundamen-tal a parceria que algumas prefeituras es-tabeleceram com as instituições que fazemparte do Sistema “S” (Senai, Senac eSebrae) para conseguir oferecer bons cur-sos de qualificação profissional ao públi-co do Renda Cidadã.

Em que pese a relevância dessa iniciati-va, a avaliação preliminar da Coordena-doria de Desenvolvimento Social daSEADS (responsável pela gestão dos pro-gramas de transferência de renda na Se-cretaria) é que, no conjunto das prefeitu-ras que obtiveram o financiamento doPrograma Complementando Renda Ci-dadã, a oferta predominante ainda é decursos básicos e tradicionais, como arte-sanato, manicure, culinária, etc.

Faz parte dos planos da SEADS diversi-ficar e sofisticar a oferta de cursos, inclu-sive com uma possível parceria com aSert. De imediato, pode-se apontar algunspassos iniciais nessa direção, sendo oprincipal deles a recente criação de umsistema de controle e acompanhamentodos cursos oferecidos em todo o Estado.Integrado à base de dados do ProgramaComplementando Renda Cidadã, essesistema reúne informações como: a rela-ção dos cursos disponíveis em cada cida-de, a relação dos alunos, a data de inícioe de término do curso, o conteúdo daparte teórica e da parte prática e até osdesdobramentos que se seguiram à for-matura dos alunos (aproveitamento pelomercado de trabalho, criação de novosnegócios, etc.).

O sistema que auxilia a gestão do Renda Ci-dadã (website www.rendacidada.sp.gov.br)também foi incrementado para refletir aamplitude do Programa. Se antes esse sis-tema fazia apenas o cadastro dos benefi-ciários e o controle dos pagamentos, ago-ra ele acaba de ganhar um aplicativo parao registro das informações sobre as ativi-dades complementares, substituindo os

relatórios que antes eram encaminhadospelos municípios às Drads. Assim a Se-cretaria pode fazer um acompanhamen-to constante da execução de tais ativida-des, sem sobrecarregar a rotina dos téc-nicos municipais.

Tanta atenção dada às ações comple-mentares, principalmente aos cursosprofissionalizantes, faz com que o Ren-da Cidadã seja muito mais do que umprograma de transferência de renda. Seuobjetivo é iniciar uma transformação navida das pessoas em situação de vulne-rabilidade, abrir um caminho para queelas conquistem a autonomia. Mas o im-pacto pode ser ainda maior se esta foruma política focalizada, com enfoque es-pecial nos segmentos que mais sofrema exclusão social ou que apresentam ca-rências específicas.

Este é o caso, por exemplo, das comuni-dades quilombolas, das famílias que mo-ram em assentamentos rurais e das famí-lias de jovens que cumprem medidas so-cioeducativas – grupos atendidos peloRenda Cidadã por meio de parcerias daSEADS com o Instituto de Terras do Es-tado de São Paulo (Itesp) e com a Fun-dação Centro de Atendimento Socioedu-cativo ao Adolescente (Fundação Casa).Ambas as instituições se responsabilizampor toda a operação do Programa em suasunidades de atendimento, desde os pro-cessos de seleção, inscrição e cadastra-mento dos beneficiários até a verificaçãodo cumprimento das condicionalidadese a oferta de ações complementares, uti-lizando, inclusive, o Sistema Pró-Social.

No caso dos quilombolas, o Renda Ci-dadã faz parte de um conjunto de açõesintegradas do Governo Estadual voltadoespecificamente a esse público. Como asprefeituras tinham certa dificuldade parachegar às comunidades, a seleção e o ca-dastramento dos beneficiários do RendaCidadã ficou a cargo do Itesp, que já de-senvolvia um trabalho de regularizaçãofundiária e de apoio ao desenvolvimentosustentável nas áreas ocupadas pelos des-cendentes de escravos. A meta do Itesp

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para 2010 é levar o Renda Cidadã a cercade 500 famílias em assentamentos ruraise comunidades quilombolas.

Já as famílias dos jovens que cumprem me-didas socioeducativas são inscritas no Pro-grama Renda Cidadã pela Fundação Casa.A complementação da renda familiar e asdemais ações do Programa representam paraesses jovens um apoio valioso contra as fal-sas promessas do mundo da criminalidade edas drogas. Em 2010, a Fundação tambémdeve atender com o Renda Cidadã cerca de500 famílias de jovens.

Em relação ao público juvenil, aliás, háuma série de especificidades e questõescomplexas que justificaram a criação deum programa próprio de transferência derenda, voltado exclusivamente para essepúblico, sempre na perspectiva defocalização da política social.

Entre os jovens de 15 a 24 anos, a evasãoescolar tem sido elevada, as taxas de de-semprego superam a média da popula-ção e os salários geralmente são meno-res, devido à insuficiente capacitação pro-fissional. Também estão nesse grupo osmaiores índices de criminalidade, pois amaior parte das vítimas da violência ur-bana é formada por jovens, assim comoa maioria da população carcerária. No quese refere à saúde, eles são extremamentesuscetíveis a problemas como alcoolismo,uso de drogas e gravidez precoce.

O Programa Ação JovemEsse diagnóstico levou a Secretaria a criar,em junho de 2004,o Projeto AçãoJovem, destina-do a jovens de15 a 24 anosque haviamdeixado a es-cola sem con-

cluir o Ensino Fundamental, moradores deregiões com alta concentração de pobreza.A iniciativa busca promover a inclusão so-cial desse segmento da população median-te uma bolsa mensal de R$ 80,00, que épaga diretamente ao jovem, por até trêsanos, como apoio financeiro para estimu-lar a conclusão da escolaridade básica.

Pioneiro no país, o Ação Jovem tem sidopaulatinamente estendido e reformulado,a ponto de se tornar um Programa, comum público mais abrangente e um con-junto de medidas destinadas a ampliar asperspectivas de seus beneficiários. Passa-ram a ser atendidos também os jovens quenão concluíram o Ensino Médio, os queestão cursando a Educação de Jovens eAdultos (EJA). Considera-se que não bas-ta trazer de volta à escola quem abando-nou os estudos: é preciso garantir a per-manência dos que continuam estudando.Com essa perspectiva, já passaram peloPrograma mais de 261 mil jovens. Ou-tros 90 mil estão sendo atendidos em2010, em 641 municípios.

O valor da renda familiar máxima permi-tida para o ingresso no Ação Jovem, queera de R$ 200,00 nos primeiros anos doPrograma, aumentou para meio saláriomínimo per capita, possibilitando alcan-çar um número muito maior de jovens.Hoje, as condições para ser inserido noPrograma são:

• ter entre 15 anos completos e 24anos e 11 meses de idade,

• não ter completado o Ensino Fun-damental ou o Ensino Médio,

• ter renda familiar mensal de atémeio salário mínimo per capita,

• estar matriculado no ensino regu-lar de Educação Básica ou Ensinode Jovens e Adultos - EJA.

Os jovens de famílias atendidas pelo Pro-grama Renda Cidadã também podem serincluídos no Ação Jovem, assim como osque estão no mercado de trabalho, desdeque a renda familiar não ultrapasse meiosalário mínimo per capita. O pressuposto

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é que a bolsa mensal funciona como umacomplementação de renda, além de incen-tivo para a continuação dos estudos e aju-da para pagar o transporte, por exemplo.

O Programa compreende ainda uma sé-rie de ações complementares, como cur-sos profissionalizantes, atividades culturais,esportivas e de lazer, que são oferecidaspelas prefeituras no chamado “contraturnoescolar” (o período oposto ao das aulasdo ensino regular). Houve aí uma evolu-ção importante na trajetória do Programa:o oferecimento dessas atividades deixoude ser facultativo para as prefeituras e pas-sou a ser exigido como contrapartida domunicípio à iniciativa do Governo Esta-dual. A participação do jovem agora tam-bém é obrigatória, como um dos requisi-tos para que ele permaneça no Programa,assim como a aprovação na escola e a com-provação de pelo menos 75% de frequên-cia às aulas. Das gestantes, exige-se aindaque façam o pré-natal.

Como se pode perceber, portanto, aSEADS vem dando uma atenção especi-al às atividades complementares que fa-zem o Ação Jovem ir muito além da com-plementação de renda. Elas resultam deparcerias que a SEADS e as prefeiturasestabeleceram com outros órgãos estadu-ais, entidades sociais e empresas. De fato,o crescimento da oferta de atividades so-cioeducativas é uma das principais mu-danças pelas quais o Ação Jovem passounos últimos anos.

Entre as parcerias mais significativas estãoas que foram firmadas com o Serviço Na-cional de Aprendizagem Comercial (Senac)e com o Serviço Social do Comércio (Sesc-SP). O Programa de Educação para o Tra-balho (PET), do Senac-SP, oferece aosbeneficiários do Ação Jovem, gratuitamen-te, preparação para o ingresso na vida pro-fissional, com noções de informática, cida-dania, cultura empreendedora, dicas deapresentação pessoal e para entrevistas deemprego, entre outros temas. Em 2010,primeiro ano da parceria, o Senac-SP colo-cou à disposição do Ação Jovem 2.088 va-gas do PET. Em 2011, serão cerca de 10mil vagas, em vários cursos.

Esse mesmo curso é ministrado peloSenac-SP no Parque Estadual Fontes doIpiranga, com o patrocínio de outra par-ceira do Ação Jovem: a empresa Coca-Cola Femsa. No Parque, formam-se a cadasemestre 150 alunos e os melhores ganhamoportunidades de estágio na empresa e atébolsas para cursar a universidade.

Já a parceria com o Sesc-SP possibilitaque os beneficiários do Programa AçãoJovem e suas famílias tenham acesso gra-tuito ou subsidiado às atividades de es-porte, cultura e lazer oferecidas nas 32unidades da instituição espalhadas peloestado de São Paulo. Isso abrange aulasde natação, ginástica, dança, ioga, alémde oficinas culturais, shows, exposições,peças de teatro e toda uma gama de even-tos voltada especificamente para o públi-co juvenil, como o “Papo Pipoca” - sériede encontros de jovens com personali-dades culturais, realizada pelo SescPompeia, na capital paulista.11

Quando se examinam atentamente osdois programas de transferência de ren-da executados pela SEADS – Renda Ci-dadã e Ação Jovem –, logo vêm à tonacaracterísticas que tornam ambas as ini-ciativas muito mais complexas e inova-doras do que o repasse de recursos fi-nanceiros aos seus beneficiários. Em pri-meiro lugar, o simples acesso ao cartãomagnético do banco já representa umaporta de entrada para a inclusão social.Ao providenciar os documentos neces-sários para conseguir acesso ao cartão,muitas famílias têm seu primeiro contatocom os requisitos básicos de cidadania.

Posteriormente, a partir do momento emque passam a receber o benefício, essasfamílias começam a buscar e a serem pro-curadas por diversos serviços municipaise estaduais que elas nem sabiam existir. Édessa forma que se inicia, por exemplo, oacompanhamento da vacinação e das con-dições de saúde das crianças.

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11 Entre as personalidades que já participaram desses encontros

estão o cantor Arnaldo Antunes, os médicos Dráuzio Varella e

Jairo Bouer e um grupo de índios guaranis.

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Aos poucos, conforme os beneficiáriosparticipam das reuniões mensais com ostécnicos do Programa Renda Cidadã, ob-servam-se também conquistas importan-tes no campo das relações familiares ecomunitárias, na medida em que as pes-soas adquirem a noção de pertencimentoà comunidade. Trata-se, portanto, de umprocesso gradativo de inclusão e de de-senvolvimento daquelas capacidades in-dividuais que “ajudam a auferir rendasmais elevadas”, como destacou o india-no Amartya Sen12, Prêmio Nobel de Eco-nomia. Para isso, têm grande importân-cia também as ações socioeducativas, quebuscam ajudar os beneficiários a encon-trar um caminho para sua sustentaçãoapós o desligamento do programa.

Impacto de programas conjugadosà transferência de rendaA fim de avaliar o resultado dessas inter-venções sociais correlacionadas, aSEADS coordenou, entre 2008 e 2009,a pesquisa “Avaliação de Impacto do Efei-to Conjugado de Programas de Transfe-rência de Renda e Complementares naRegião Metropolitana de São Paulo”. Ela-borado pelo consórcio formado pelas fun-dações Instituto de Administração e Ins-tituto de Pesquisas Econômicas (FIA/FIPE), o levantamento foi uma das açõesfinanciadas pelo contrato entre a SEADSe o BID, como parte do Projeto Avalia-ção e Aprimoramento da Política Socialno Estado de São Paulo. 12 SEN, 2000.

Até que ponto os programas de transferên-cia de renda melhoraram a vida das famíli-as? As ações complementares aumentaramo impacto desses programas? Para respon-der a essas perguntas, o estudo se debru-çou sobre as mudanças na qualidade de vidadas famílias beneficiárias de um programafederal (Bolsa Família), um estadual (Ren-da Cidadã) e de um programa executadopela Prefeitura de São Paulo (Renda Míni-ma). A pesquisa foi realizada com três per-fis de famílias: as que não eram atendidaspelos programas de Assistência Social, asbeneficiárias apenas dos programas de trans-ferência de renda e as que participavam,além desses programas, de ações comple-mentares em diversas áreas, tais como edu-cação, saúde, habitação, capacitação profis-sional, nutrição e segurança alimentar.

A inclusão de um grupo de famílias nãocontempladas por nenhum programa –seja de transferência de renda ou com-plementar – não estava prevista na pro-posta da pesquisa e foi feita a pedido daprópria SEADS, interessada em conhe-cer mudanças na situação das famílias quenão resultassem de benefícios sociais.

Para verificar se a combinação de diver-sas ações aumentou o impacto dos pro-gramas, foram comparados os resultadosde duas pesquisas domiciliares por

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amostragem, realizadas em 2008 e em2009 na Região Metropolitana de SãoPaulo. A pesquisa selecionou, nos domi-cílios participantes, a mulher responsá-vel pela casa como a pessoa preferenci-almente a ser entrevistada. Os indicado-res foram agrupados em dez grandes di-mensões (renda domiciliar; trabalho/em-prego; consumo domiciliar; nutrição;educação; saúde; condições de moradia;condições de maior vulnerabilidade; con-dicionalidades; atitudes).

Os resultados da pesquisa mostraramque não pode ser rejeitada a hipótesede que a transferência de renda melho-ra as condições de vida das famílias emsituação de vulnerabilidade social. Damesma maneira, não é possível descar-tar a ideia de que, se esses programasforem incrementados com outras açõessociais, o impacto na vida das famíliaspode ser ainda maior.

Em linhas gerais, a pesquisa revelouque, entre 2008 e 2009, a situação dogrupo das famílias não beneficiadas porprogramas sociais melhorou mais doque os demais grupos apenas na dimen-são trabalho. Isso tem a ver com a com-posição dessas famílias, cujo perfil foimais beneficiado pela geração de em-pregos do crescimento econômico re-cente. Mas as famílias contempladaspor programas sociais tiveram cresci-mento mais forte de trabalhadores for-mais e apresentaram reduções nopercentual de crianças que trabalham.

A pesquisa concluiu, ainda, que as fa-mílias beneficiadas por programas soci-ais apresentaram, em 2009, um melhorestado nutricional em todas as faixasetárias. O núcleo que recebia açõescomplementares melhorou mais nesteaspecto, tendo maior percentual de mo-radores com peso normal.

Nos indicadores de educação, o núcleode famílias beneficiado somente por pro-gramas de transferência de renda apre-sentou melhorias que se refletiram noaumento do percentual de alunos em ida-de escolar que estavam estudando, na

redução do percentual de faltas à escola,na elevação do número de adultos cur-sando o Ensino Médio ou que o haviacompletado, no incremento de alunos emaulas de reforço e nas reduções dos ní-veis de reprovação.

No campo da saúde, o cartão do SUS es-tava mais presente entre as famílias bene-ficiadas por programas de transferência derenda e por ações complementares, mastambém havia nesse grupo uma propor-ção maior de moradores que necessitavamde medicamentos de uso contínuo. Emcontrapartida, entre 2008 e 2009 ocorreuforte redução no percentual dos que rela-tavam dificuldade de acesso a esses medi-camentos. A medicina preventiva cresceumais entre os grupos que recebiam pro-gramas sociais.

Quanto à questão da moradia, os benefi-ciários de programas sociais foram, entre2008 e 2009, os que mais melhoraram.Nesse grupo, aumentou mais a propor-ção de residências com acesso a luz, cole-ta de lixo, abastecimento de água, esgoto,pavimentação, etc. Também foi esse gru-po que mais aumentou os gastos com re-forma ou ampliação das casas.

Como era de se esperar, as famílias commaior vulnerabilidade eram as que rece-biam benefícios sociais – até porque foiessa a condição que as levou a serem in-cluídas nos programas. Mas, entre o le-vantamento de 2008 e o de 2009, as famí-lias que não recebiam tais benefícios tive-ram um aumento considerável da vulne-rabilidade, manifestada por situaçõescomo: famílias monoparentais, chefes defamília com baixa escolaridade e maior in-cidência de filhos menores de 15 anos.

Índice SEADSNo conjunto das inovações em políticasocial introduzidas pelo Governo do Es-tado de São Paulo nos últimos anos, umaparte importante tem sido a medição dosresultados dessa política e de seu impac-to na vida das famílias por meio de índi-ces e indicadores. Com o apoio da Fun-dação Seade, foram concebidos o Índicede Vulnerabilidade Social Familiar (IVSF),

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o Índice Paulista de Responsabilidade So-cial (IPRS, que indica as condições sociaisde cada município) e o Índice Paulista deVulnerabilidade Social (IPVS, agregadopor setor censitário e que contribui paradefinir os repasses dos recursos estaduaisdo Programa de Proteção Social para osmunicípios). Foram criados, ainda, o Ín-dice de Vulnerabilidade Juvenil e o Índi-ce Futuridade, que levam em considera-ção a disponibilidade de políticas públi-cas e a dimensão de riscos sociais, res-pectivamente, para os jovens e para osidosos – dois segmentos prioritários daAssistência Social.

Mais do que traduzir em números a con-juntura social do Estado de São Paulo,esse grupo de índices e indicadores pre-tende servir como ferramenta de gestão,auxiliando técnicos municipais e estadu-ais a perceber e diagnosticar, com maiorclareza, onde estão as principais carênci-as, onde as políticas públicas estão apre-sentando melhores resultados e quais gru-pos ou regiões geográficas ainda precisamde mais atenção. Além disso, ao usar taisíndices e indicadores dentre os critériospara definir a distribuição dos recursospúblicos entre municípios ou entre dife-rentes áreas da Política Social, o Estadobusca a imparcialidade, objetividade etransparência na aplicação das verbas.

Todos esses índices e indicadores forne-cem uma visão mais ampla da PolíticaSocial Paulista, a partir de seus resulta-dos, do impacto na vida das famílias, davulnerabilidade social de uma determina-da parte do território, das condições devida de um determinado segmento dapopulação e assim por diante. Esses efei-tos dependem diretamente da qualidadeda gestão da Assistência Social por partedos municípios. Mas como medir a qua-lidade da gestão? Haveria uma forma deexpressar em números o grau de eficiên-cia dos gestores municipais no cumpri-mento de suas atribuições? Seria possí-vel construir um indicador que mostras-se a cada município as tarefas que estãosendo bem executadas e as que precisamde maior dedicação?

Foi com esse objetivo que a SEADS ela-borou a proposta de instituição do Índi-ce SEADS, voltado à avaliação da gestãodos programas estaduais de transferênciade renda por parte dos municípios e dascondições que eles devem atender paraoferecer a Proteção Social Básica e a Es-pecial. Trata-se, por assim dizer, de umaferramenta que apresenta uma visão “pordentro” da Política Social do Estado, mos-trando como ela vem se desenvolvendoem cada município.

Sendo a Assistência Social uma área emque a qualidade da gestão municipal é de-cisiva para os resultados da política, oÍndice SEADS é mais um instrumentopara que os municípios possam aperfei-çoar continuamente sua atuação, combase em critérios técnicos e com a cons-tante colaboração da SEADS. Ao mes-mo tempo, é uma ferramenta para que aprópria Secretaria possa acompanhar aevolução e as necessidades de cada muni-cípio na gestão dos programas sociais.

A construção do Índice SEADS foi pre-cedida de uma discussão sobre seus obje-tivos e um grande debate conceitual quecontou com a participação, além de técni-cos da SEADS, de consultora contratadaespecialmente para auxiliar no desenvol-vimento do projeto, com experiência emavaliação de Políticas Públicas, elaboraçãode indicadores e construção de índices.

O índice proposto contempla trêssubíndices: “Elementos estruturantes daGestão”, que se refere essencialmente àscondições que os municípios devem atin-gir para administrar as Proteções SociaisBásica e Especial, conforme estabelece aNOB/SUAS 2005 (existência e funciona-mento adequado do Fundo, do Conselhoe do Plano Municipal de Assistência Soci-al), e os subíndices relativos aos Progra-mas Ação Jovem e Renda Cidadã, que in-dicam a execução das atribuições munici-pais em relação a esses programas (atuali-zação do cadastro, cumprimento das me-tas e fiscalização das condicionalidades).A estrutura básica do índice pode servisualizada no quadro a seguir:

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Cada componente dos subíndices, porsua vez, foi desdobrado em aspectos quepermitem avaliar a capacidade dos mu-nicípios para cumprir plenamente seu pa-pel na execução da Política Social. Porexemplo: no quesito “Fundo”, o ÍndiceSEADS mostra não apenas se existe ounão um Fundo Municipal de AssistênciaSocial como unidade orçamentária, ins-tituído por lei, conforme determina a LeiOrgênica de Assistência Social - LOAS.Verifica-se também a execução orçamen-tária dos recursos repassados pelo Fun-do Estadual e a prestação de contas doFundo Municipal.

A cada um desses itens foram atribuídosvalores numéricos conforme a situaçãodo município. Em relação à existência doFundo, por exemplo, o valor é 1 se omunicípio possuir Fundo de AssistênciaSocial e 0, em caso contrário. No que serefere à variável relativa à prestação decontas, a tempestividade das prestaçõesde contas dos recursos repassados Fun-do a Fundo foi dividida em duas partes:prestação de contas anual e prestação decontas mensal. Desta forma, a variável fi-nal é obtida pela média aritmética dasvariáveis representativas desses dois mo-mentos acompanhados. Para as variáveisescolhidas foi necessário, também, esta-belecer as respectivas fórmulas de cálcu-

lo e efetuar a atribuição dos pesos comque cada aspecto avaliado seria conside-rado no cálculo de cada subíndice. Porfim, o Índice SEADS é obtido pela mé-dia aritmética dos três subíndices: Ele-mentos Estruturantes da Gestão, Ação Jo-vem e Renda Cidadã.

O Índice SEADS utiliza dados que sãoatualizados com periodicidade máxima dedoze meses, o que lhe permite ser edita-do anualmente. Os dados utilizados paracompor as variáveis correspondentes aostrês subíndices têm origem em duas fon-tes primárias produzidas no âmbito daprópria SEADS: os sistemas Pró-Social ePMAS-web. A primeira apuração do ín-dice deve ocorrer em 2011, apósdisponibilização dos dados necessários edesenvolvimento de aplicativo para a re-alização dos cálculos.

FuturidadeEm quase todo o mundo, o envelhecimen-to populacional é um dos maiores desafi-os para as políticas públicas, principalmen-te para as de seguridade social – Saúde,Previdência e Assistência. Os progressosda medicina, a descoberta de remédios,os investimentos em campanhas de vaci-nação e em saneamento básico, a melhoriadas condições de moradia, entre outros fa-tores, aumentaram significativamente o nú-

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mero de anos vividos, ao passo que a taxade natalidade diminuiu.

Proporcionalmente, o número de pesso-as com 60 anos ou mais dobrará até ametade do século, passando de 11%, em2006, para 22% em 2050. Então, pela pri-meira vez na história da humanidade, ha-verá mais idosos do que crianças (de 0 a14 anos) na população. Essa alteração naforma da pirâmide etária é mais aceleradanos países em desenvolvimento. Entre osbrasileiros, a expectativa de vida dobrouno intervalo de um século, subindo de 34,7anos em 1900 para 68,5 em 2000 e paramais de 73 anos atualmente.

A composição demográfica do Estado deSão Paulo segue a mesma tendência. Se-gundo a Fundação Seade, o número deidosos no Estado já chega a 4,3 milhões(cerca de 11% da população), sendo 1,9milhão com idade a partir de 70 anos.Em 2020, serão 7,1 milhões de idososno Estado, e 2,9 milhões com pelo me-nos 70 anos. As ações e os serviços ofe-recidos a esse segmento populacional ain-da são desarticulados e, por vezes, precá-rios. O incremento de políticas mais qua-lificadas para a pessoa idosa requer dopoder público mais compreensão sobreenvelhecimento, suas complexidades e asmúltiplas dimensões que o envolvem,assim como sobre a influência de variá-veis socioeconômicas e de gênero.

Nos Planos Municipais de AssistênciaSocial (PMAS) de 2009, os problemassociais referentes a esse segmento maisrelatados foram a perda ou a fragilidadede vínculos afetivos (1.323 citações dototal de 1.600) e a exclusão social, causa-da pela pobreza e pela falta de acesso àsPolíticas Públicas (220 citações).

Em 2006, cerca de 9,6% das famílias compresença de idosos no Estado viviam comrenda per capita de até meio salário mí-nimo, e a contribuição média do mem-bro idoso na renda familiar alcançava61,7%, dos quais 77,6% por meio de pen-sões e aposentadorias (Fundação Seade,PCV, 2006). Esses números apontampara a existência de um imenso contin-

gente de idosos cuja renda pode ser insu-ficiente para manter boas condições desaúde, já que em muitos casos isso de-pende do acesso a tratamentos médicossofisticados e remédios caros. No que dizrespeito à Educação, muitos idosos são pre-judicados pelo baixo nível de escolaridade,outro fator a dificultar sua integração social,em plena era do computador e da Internet.Dificuldades adicionais nas áreas de trans-porte, habitação, etc., se somam para lan-çar os idosos num contexto de isolamentoe má qualidade de vida.

Esse quadro geral da situação da popu-lação idosa tem resultado no crescimen-to das demandas sociais e motivou a cri-ação do Plano Estadual para a PessoaIdosa, o Futuridade, lançado pelo Go-verno do Estado de São Paulo em no-vembro de 2008. O Plano envolve to-das as secretarias estaduais, sob coorde-nação da SEADS, e sua elaboração con-tou também com a participação de enti-dades da sociedade civil, como a seçãopaulista da Ordem dos Advogados doBrasil (OAB-SP), a Promotoria Pública,universidades, Conselhos Municipais doIdoso e organizações não-governamen-tais, além de lideranças idosas e profissi-onais com reconhecido saber teórico eprático em gerontologia e geriatria.

Pelo segundo ano consecutivo, após olançamento do Plano Estadual da PessoaIdos - Futuridade, vem ampliando o gru-po de parceiros na realização e participa-ção em campanhas educativas que deemvisibilidade às especificidades do segmen-to idoso. Entre elas destacamos a Cam-panha de Prevenção de Quedas de Ido-sos que teve grande repercussão na mídia.

Um novo olhar para o idosoO grande aumento da população idosanão foi acompanhado por uma mudan-ça na visão social depreciativa sobre avelhice, histórica e culturalmente cons-truída. Na nossa sociedade, a represen-tação social de velho é predominante-mente negativa. Segundo a antropólogaElisabeth Frohlich Mercadante, que vemestudando essa temática há alguns anos,

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o modelo social de velho é elaboradoem contraposição às qualidades atribuí-das ao jovem, como beleza, produtivi-dade e agilidade. Indo além das dimen-sões do corpo e da estética, esse mode-lo é transposto para a personalidade epara o papel social, econômico e cultu-ral do idoso.

Os reflexos desse modelo podem serobservados, por exemplo, nos muitosestereótipos sobre a velhice que circu-lam em nossa sociedade. A discrimina-ção dos idosos se manifesta no merca-do de trabalho, – onde se traduz em de-semprego, trabalhos precários e aposen-tadorias precoces –, nos lugares públi-cos e até no ambiente familiar, onde fre-quentemente eles são submetidos a vá-rios tipos de violência. É necessário,portanto, atuar sobre a dimensão cultu-ral, sobre a visão da velhice e dos ve-lhos em nossa sociedade.

O Plano Futuridade busca incentivarações que rompam tais estereótipos ebusquem dar novo significado ao enve-lhecimento, reconhecendo-o como umprocesso natural do organismo humanoe não como doença ou fatalidade. O en-velhecimento deve ser valorizado comoum processo de aprendizado permanentee não apenas de perdas, mas também depossíveis ganhos.

O Conceito de Envelhecimento AtivoA expressão “envelhecimento ativo” pas-sou a ser adotada pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS) no final dos anos90, na tentativa de transmitir uma noçãomais abrangente do que “envelhecimen-to saudável”. É uma forma de reconhe-cer que, além dos cuidados com a saú-de, outros fatores afetam o modo comoos indivíduos e as populações envelhe-cem. A OMS define o envelhecimentoativo como o processo de otimização dasoportunidades de saúde, participação esegurança, com o objetivo de melhorara qualidade de vida conforme as pessoasficam mais velhas.

A palavra “ativo” remete à participaçãocontínua nos diversos aspectos da soci-

edade, referindo-se a questões sociais,econômicas, culturais, espirituais e civis,não se limitando à capacidade de estarfisicamente ativo ou de fazer parte da for-ça de trabalho. Assim, as pessoas maisvelhas continuam a desempenhar um im-portante papel, contribuindo ativamentena família, com os companheiros, nas co-munidades e nas suas nações. O objeti-vo do envelhecimento ativo é aumentara expectativa de uma vida saudável e aqualidade de vida para todas as pessoasque estão envelhecendo, inclusive as quesão frágeis, incapacitadas fisicamente eque requerem cuidados.

O planejamento de políticas públicas, sobessa perspectiva, deve partir da conside-ração de que o envelhecimento é um fe-nômeno com múltiplas implicações nasvárias esferas da vida social. Ou seja: apromoção de melhor qualidade de vidapara o idoso exige a ação integrada dosdiversos atores públicos e da sociedadecivil, como a que o Futuridade se pro-põe a implementar.

A articulação dos vários atores em tornode um Plano com abrangência estadualpermite focalizar melhor as ações, racio-

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nalizar a aplicação dos recursos e melho-rar o atendimento à população idosa doEstado, notadamente a que se encontraem situação de vulnerabilidade social.

Objetivos e realizaçõesFundamentado em normas internacionaise nacionais que versam sobre os direitosdo idoso, o Futuridade tem entre seusprincipais objetivos:

• Promover campanhas educativasque deem visibilidade ao aceleradoprocesso de envelhecimento e às es-pecificidades e necessidades da po-pulação idosa;

• Articular a atuação de secretariasestaduais, governos municipais, ido-sos, família, mídia, universidades, con-selhos de cidadania, terceiro setor esociedade civil, tomando como me-tas o fortalecimento e a expansão deações direcionadas à promoção de di-reitos da pessoa idosa;

• Propiciar formação permanentede profissionais que trabalham coma população idosa enfocando as múl-tiplas dimensões do envelhecimen-to e os direitos do cidadão idoso;

• Estimular nas escolas a discussãosobre o envelhecimento e estender taldiscussão à família e à comunidade.

Os dois eixos principais de atuação doPlano são:

• o fortalecimento das estruturasmunicipais, incentivando a criaçãode uma rede de atenção à pessoa ido-sa, e desenvolvendo ações e servi-ços direcionados a esse público.

• a criação de projetos na área daEducação, incluindo o tema do en-velhecimento no currículo de todasas escolas do Estado e ampliando ainclusão digital dos idosos.

É importante mencionar que, antes doPlano Futuridade, várias secretarias esta-duais já executavam ações voltadas para apopulação idosa, embora nem sempreessas iniciativas tivessem o destaque e aarticulação com que agora se apresentam.O papel da SEADS é integrar, sistemati-zar e coordenar tal atuação, até para evi-tar a sobreposição de esforços que, nãoraras vezes, tem prejudicado o desempe-nho das políticas públicas. Além disso, aSEADS apoia o trabalho das demais se-cretarias e leva a todas elas a discussãosobre o que é envelhecer no século 21.

Entre as ações desenvolvidas pelas demaissecretarias e órgãos estaduais, algunsexemplos são:

- Praça de Exercício do Idoso: Ob-jetiva a prevenção de quedas pormeio da realização de exercícios fí-sicos sem acompanhamentos de es-pecialistas. A praça é composta decinco estações com placas autoexpli-cativa, sendo a primeira construídano Parque da Água Branca, na capi-tal paulista, pelo Fundo de Solidari-edade e Desenvolvimento Social eCultural do Estado de São Paulo -FUSSESP. Outros 180 munícipiostambém receberão o equipamento;

- Programa Experiente Cidadão: Ge-renciado pela Secretaria de Estado deTransportes Metropolitanos, ofereceao idoso atividades complementares,

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nas estações do Metrô e da Compa-nhia Paulista de Trens Metropolita-nos (CPTM), permitindo a reintegra-ção na dinâmica de suas famílias e dacomunidade;

- Programa Escola da Família: Ad-ministrado pela Secretaria de Esta-do Educação, leva o tema do enve-lhecimento às salas de aula por meiode atividades e da sensibilização dosprofissionais da rede com orienta-ções técnicas, videoconferências eseminários , além de aproximaçãodos alunos ao tema com concursosliterários;

- Projeto Terceira Idade: Parte dasOficinas Culturais da Secretaria deEstado da Cultura.

A lista de projetos é bem mais extensa,mas merece menção especial, pela de-manda e pelo interesse que tem desper-tado nos municípios, o Programa VilaDignidade, uma iniciativa da Secretariade Habitação para oferecer moradia comsuporte social a idosos com renda men-sal de até dois salários mínimos, prefe-rencialmente que morem sozinhos e comvínculos familiares fragilizados. O Progra-ma prevê a construção de condomínioshorizontais, com até 24 casas13 adaptadasàs condições de mobilidade e às necessi-dades de socialização desse público. Cadauma delas tem sala conjugada à cozinha,um dormitório, banheiro, área de servi-ço e uma pequena área externa nos fun-dos que pode ser utilizada como jardimou horta. Vários itens de segurança e aces-sibilidade foram introduzidos nos conjun-tos, como barras de apoio, pias e louçassanitárias em altura adequada, portas ecorredores mais largos, interruptores emquantidade e altura ideais, rampas e pi-sos antiderrapantes, entre outros, aten-dendo a tipologia do desenho universal.Nas áreas comuns também são instala-dos recursos para facilitar a locomoção edar segurança e conforto ao idoso. Alémde um projeto paisagístico cuidadosamen-te elaborado, cada conjunto inclui um cen-tro de convivência do idoso que atenderá

além dos moradores da vila os demais ido-sos do entorno, ofertando atividades socio-assistências e socioeducativas com o objeti-vo de promover o envelheciemnto saudá-vel, o desenvolviemento da autonomia ede sociabilidade no fortalecimento de vín-culos familiares e o convívio comunitário,prevenindo situações de risco social.

Os condomínios são construídos pelaCompanhia de Desenvolvimento Habi-tacional e Urbano do Estado de São Pau-lo (CDHU), órgão ligado à Secretaria deHabitação, em terrenos cedidos pelasprefeituras. Posteriormente, o equipa-mento é doado à prefeitura, que fica res-ponsável pela condução do projeto soci-al e articulação da rede local, por meiodo órgão gestor da Assistência Social.Cabe à SEADS orientar os municípiosquanto à elaboração do projeto social, àseleção dos beneficiários e às ações soci-ais a serem desenvolvidas com os mora-dores, bem como monitorar e avaliar taisserviços com apoio das suas DiretoriasRegionais de Assistência e Desenvolvi-mento Social. Já foi contemplado peloPrograma Vila Dignidade o município deAvaré. Os próximos serão Itapeva,Araraquara, Presidente Prudente, Ribei-rão Preto, São José do Rio Preto eCaraguatatuba. A previsão é que até ofinal de 2012 estejam construídos 30condomínios, num total de 678 casas.

No âmbito da própria SEADS, as dire-

13 A reedição do decreto, prevista para ser publica ainda em

2010, prevê que cada condomínio poderá disponibilizar até

28 unidades de moradia.

Ao se tornar acolhedor

para a população idosa, o

município acaba criando

também um ambiente

melhor para todos os

demais moradores

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trizes do Futuridade servem de orien-tação não apenas para o funcionamen-to de diversos projetos que a Secretariajá executava, como o Sistema Pró-Soci-al, o PMAS-web e o Programa RendaCidadã, como também deram origem aum significativo conjunto de novas ini-ciativas, voltadas especificamente paraa população idosa em situação de vul-nerabilidade social e para a orientaçãoaos municípios.

Uma das primeiras ações nesse sentidofoi o apoio ao projeto Bairro Amigo doIdoso, desenvolvido pela UniversidadeFederal de São Paulo (Unifesp) com fi-nanciamento da Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo(Fapesp), na Vila Clementino, bairro dacapital paulista. Trata-se de um projeto pi-loto de aplicação de uma metodologia de-senvolvida pela Organização Mundial deSaúde (OMS) e que resultou no Guia Glo-bal das Cidades Amigas do Idoso, publi-cado pela própria OMS. O projeto bus-ca detectar as necessidades dos idosos dobairro que não são atendidas pelosequipamentos e serviços existentes, a fimde subsidiar os gestores públicos na cria-ção de redes integradas de atenção à pes-soa idosa, abrangendo serviços de Assis-

tência Social, Saúde, Educação, Cultura,Esporte e Lazer.

O objetivo final do Bairro Amigo do Ido-so é encontrar soluções que contribuampara a implementação de MunicípiosAmigos do Idoso, colocando em práticaas ideias do Guia Global – um projeto pro-missor, pois diversos municípios já mani-festaram interesse em implementá-lo.

Outra iniciativa da SEADS é o projetoQuero Vida, destinado à implantação decentros-dia que proporcionem acolhi-mento, proteção e convivência para ido-sos semidependentes, de baixa renda ecujas famílias não tenham condições deprover cuidados e atenção durante o diaou parte dele. O projeto oferece atençãointegral, com alimentação, higiene pesso-al, cultura e recreação, em um espaço querespeita as normas de acessibilidade, se-gurança e as necessidades básicas de cadaidoso. Além dos cuidadores capacitados,o serviço também conta com médicosgeriatras, auxiliares de enfermagem,nutricionistas, professores de educaçãofísica e assistentes sociais.

Para a implantação das primeiras 41 uni-dades do Quero Vida, com capacidadepara até 50 idosos cada uma, a SEADS

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investe cerca de R$ 12 milhões destina-dos a obras (construção, reforma, adapta-ção ou ampliação), aquisição de equipa-mentos e materiais de natureza permanen-te, ficando a cargo do município sua ma-nutenção e o custeio dos recursos huma-nos. A primeira unidade foi inaugurada,em setembro, no município de Itu.

Finalmente, deve ser ressaltado o Kit Fu-turidade, fruto de uma parceria entreSEADS e Fundação Padre Anchieta,com o objetivo de conscientizar gestorese técnicos municipais sobre a problemá-tica do envelhecimento, além de mostrardidaticamente o embasamento teórico elegal que fundamenta o Plano Futurida-de. O kit é formado por 10 livros e 01DVD, que abordam o envelhecimentohumano nas suas múltiplas dimensões:biológica, psicológica, cultural e social; alegislação destinada ao público idoso; oenvelhecimento na perspectiva da cida-dania e como projeto educativo na esco-la; e reflexões sobre maus-tratos contraidosos. As publicações distribuídas aosmunicípios poderão subsidiá-los na ca-pacitação de profissionais da área socio-assistencial, ampliando o conhecimentosobre o envelhecimento e as demandasda população idosa.

Índice FuturidadeEsse amplo conjunto de iniciativas foi acom-panhado ainda pela organização de indica-dores que buscam focalizar o desempenhodos municípios na melhoria da qualidade devida do idoso. O grupo de indicadores cria-dos nos últimos anos pela Fundação Seade,por solicitação da SEADS ganhou, assim,mais um elemento: o Índice Futuridade.

Baseado no conceito de envelhecimen-to ativo da Organização Mundial da Saú-de - OMS, o índice é uma medida queinforma a respeito das condições de vidada população idosa em cada município,focalizando principalmente a populaçãosocialmente vulnerável. A concepção doÍndice Futuridade teve a consultoria dogerontólogo Luiz Roberto Ramos e re-cebeu a chancela do Fundo de Popula-ção das Nações Unidas (UNFPA).

O índice é composto por três dimensões,

sendo que cada uma delas é constituídapor diferentes variáveis, conforme des-crito a seguir:

Proteção Social: mensura ações deProteção Social Básica e Especial re-alizadas pelos municípios em benefí-cio de idosos que se encontram emsituação de vulnerabilidade social. Ouseja, se são oferecidos serviços que es-timulem o convívio familiar e comu-nitário, o acesso à renda, o atendimen-to a idosos com direitos violados e aproteção integral em casos de perdatotal do vínculo familiar.

Participação: trata da oferta, à popu-lação idosa, de atividades e/ou pro-gramas de cultura, esporte e turis-mo, e da existência ou não de umConselho Municipal do Idoso.

Saúde: analisa as condições de saú-de do idoso, baseado na taxa de mor-talidade de pessoas entre 60 e 69anos, considerada como precoce, ea proporção de óbitos, no total da-queles com 60 anos ou mais.

O cálculo do índice resulta da média pon-derada dessas três dimensões: proteção,com peso de 45%; participação, com pesode 10%; e saúde, com peso de 45%. Oresultado é um número que varia de 0 a100, sendo que, quanto mais próximo de100, melhor é a atuação do municípioem relação às políticas direcionadas à po-pulação idosa.

As informações utilizadas na construçãodesse índice, no que diz respeito à dimen-são da Proteção Social Básica e Especial,são provenientes do Plano Municipal deAssistência Social (PMAS), juntamentecom a informação da existência de Con-selho Municipal do Idoso. Os dados rela-tivos à dimensão Saúde são oriundos doMovimento do Registro Civil para o perí-odo 2005 a 2007 e projeções populacio-nais produzidas pela Fundação Seade. Asinformações sobre atividades sociocultu-rais, esportivas, de lazer ou turismo volta-das à população idosa provém da Pesqui-sa Municipal Unificada 2003, realizadapela Fundação Seade.

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Além de ser mais uma importante ferra-menta para a gestão da Política Social noEstado de São Paulo, o Índice Futurida-de permite que cada município acompa-nhe sua evolução ao longo do tempo ecompare seu desempenho com o de ou-tros municípios, de modo que o gestor ésensibilizado a melhorar a atenção ao ido-so em seu município.

Desafios e realizações: um balançoPassados sete anos desde a assinatura docontrato entre a SEADS e o BID, o Pro-grama de Avaliação e Aprimoramentocompleta um ciclo de grande transforma-ção na política social do Estado de SãoPaulo. Processos internos foram altera-dos, mudaram-se rotinas e procedimen-tos e foi implantado um conjunto signifi-cativo e articulado de sistemas, programase projetos. Ao longo desse período, a Se-cretaria investiu na aquisição de recursostecnológicos, na contratação de funcioná-rios e no treinamento de técnicos e ges-tores, não apenas da própria SEADS,como também de outras secretarias, ór-gãos estaduais e dos municípios.

mento, por definição, é um processocontínuo e interminável. Eis alguns itensdessa agenda:

• o desafio mais imediato é a implan-tação de alguns novos recursos doSistema Pró-Social, uma espécie de“versão 2.0” do Sistema, com desta-que para as possibilidades geradaspela ampliação do armazenamento dedados (data warehouse). Isso inclui,por exemplo, a produção de informa-ções georreferenciadas. Com essa fi-nalidade, foram feitos investimentosna aquisição de software e de hardwa-re e a implantação da nova versão en-contra-se em pleno desenvolvimen-to, em que pese a complexidade ine-rente a tal processo;

• a integração entre o Sistema Pró-Social e o CadÚnico ainda não foirealizada, até porque o sistema fe-deral vem passando por uma refor-mulação, que deve fazer com queseu funcionamento esteja baseado naInternet, como já ocorre com o Pró-Social. Quando essa reformulaçãoestiver concluída, será mais fácil in-tegrar os dois sistemas. Também estápendente a integração com a base dedados da Secretaria de Educação;

• o treinamento dos técnicos da Se-cretaria, das Drads, dos municípiose de outros órgãos estaduais é umtrabalho constante, realizado sempreque os sistemas (Pró-Social, PMAS-web, etc.), ou os programas (AçãoJovem, Renda Cidadã, Futuridade,etc.) sofrem atualizações. Indepen-dentemente dessas mudanças, aSEADS compreende que os treina-mentos devem ser repetidos perio-dicamente também devido à reno-vação do quadro de funcionários,nos municípios e no Estado;

• em relação ao PMAS-web, a fim desimplificar o trabalho dos técnicosmunicipais, pode ser necessário tornaresse sistema mais próximo das exigên-cias do Sistema Único de AssistênciaSocial (SUAS), notadamente no quese refere à tipificação dos serviços;

CAPA

É certo que o trabalho ainda não foi con-cluído, mas pode-se dizer que foram es-tabelecidas as bases de um novo modusoperandi da Política Social do Estado. Omomento é adequado, então, para umbalanço das realizações do Programa e dosdesafios que ainda estão por serem venci-dos. Felizmente, verifica-se que quase to-dos os objetivos foram alcançados e quealgumas metas até foram superadas. Nãoobstante existem aqui e ali questões a se-rem respondidas, ajustes a fazer, dificul-dades a resolver, até porque aprimora-

Embora seja difícil

separar o que é efeito

dos programas sociais,

há bons indícios de que

está sendo trilhado o

caminho correto

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• no Programa Renda Cidadã, umatarefa importante é a ampliação daoferta e a sofisticação dos cursos dequalificação profissional que fazemparte do subprograma Complemen-tando Renda Cidadã, bem como deoutras atividades socioeducativas ofe-recidas aos beneficiários;

• no Futuridade, um dos desafios éampliar a disseminação do Plano,tanto no Governo como na socieda-de civil e terceiro setor.

• implementar o Município Amigodo Idoso.

No campo das realizações e dos resulta-dos já obtidos, há duas maneiras de con-siderar o Programa de Avaliação e Apri-moramento: uma delas é verificar se eleatingiu os objetivos a que se propunhaquando começou a ser implementado; aoutra é indagar qual seu impacto na vidadas pessoas em situação de vulnerabili-dade social, que afinal são a razão de todoo trabalho aqui descrito.

No que se refere aos objetivos iniciais, osaldo é bastante positivo:

• de fato, a Política Social do Estadode São Paulo hoje é bem mais focali-zada do que antes da implementaçãodo Programa, o que significa que elabusca atingir efetivamente os bolsõesde pobreza e as famílias em situaçãosocialmente vulnerável;

• essa política também é mais des-centralizada, com maior poder degestão e execução por parte dos mu-nicípios, o que não dispensa um con-trole e um acompanhamento siste-mático, além de apoio e orientação,por parte do Governo Estadual;

• eliminaram-se duplicidades,sobreposições de projetos e cadaator municipal, estadual ou da soci-edade civil desempenha um papelbem definido, pondo fim ao desper-dício de recursos;

• o trabalho da SEADS, hoje, volta-se mais às suas atividades-fim e não

aos processos intermediários e bu-rocráticos;

• difundiu-se entre os gestores daPolítica Social do Estado e entre osmunicípios uma cultura de realiza-ção de projetos baseados em metas,indicadores e acompanhamento dosresultados;

• com a parceria da FundaçãoSeade, a Secretaria criou toda umafamília de indicadores sociais (IVSF,IPVS, IPRS, Índice SEADS e Índi-ce Futuridade) que por si só repre-sentam uma inovação;

• vários dos projetos implementadosserviram de modelo ou inspiraçãopara outros órgãos públicos. Atecnologia do Sistema Pró-Social,por exemplo, foi repassada ao Go-verno do Estado do Rio Grande doSul e a do PMAS-web, ao Governode Santa Catarina;

• o módulo de Convênios do Siste-ma Pró-Social deu origem a um sis-tema que hoje atende a toda a admi-nistração estadual.

Quanto à indagação sobre o impacto desseamplo conjunto de ações sobre a vida dapopulação em situação de vulnerabilidadesocial, a resposta depende de estudos maisaprofundados e talvez de maior horizontede tempo. Porém, a Avaliação de Impactosobre o Efeito Conjugado dos Programasde Transferência de Renda, bem como pes-quisas anteriores sobre a opinião dos bene-ficiários desses programas, dão fortes indi-cações de que há, sim, uma grande e positi-va mudança em curso na vida das famíliaspobres do Estado de São Paulo.

Embora na maioria das vezes seja difícilseparar o que é efeito dos programas so-ciais do que é resultado de outros fato-res, há bons indícios de que está sendotrilhado o caminho correto. De resto,quem lida com políticas sociais sabe quenunca se chega ao final dessa caminhada,pois a Política Social só atinge a perfei-ção quando deixa de ser necessária.

CAPA

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49

Marle Bueno Zola (*)

O Sistema Único de

Assistência Social - SUAS no

Estado de São Paulo

Marlene Bueno Zola

presente artigo tem por ob-jetivo registrar o panoramado Sistema Único de Assis-tência Social – SUAS no Es-

tado de São Paulo a partir da gestãodesenvolvida pela Coordenadoria deAção Social – CAS, vinculada a Secre-taria Estadual de Assistência e Desen-volvimento Social – SEADS.

Tem início com uma breve análise histó-rico-conceitual sobre a proteção socialrealizada pelo Estado brasileiro, as dire-trizes e proteções afiançadas a partir doreconhecimento da Assistência Social en-quanto Política Pública, pós Constituiçãoda República Federativa Brasileira - CF/1988. E avança para a apresentação daexperiência do Estado de São Paulo, comsua estrutura, diretrizes e panorama dagestão descentralizada da política de As-sistência Social desenvolvida. Tambémaponta ações prioritárias em desenvolvi-mento realizadas pela CAS, direcionadasao fortalecimento da gestão municipal edo SUAS no Estado de São Paulo.

O Estado de São Paulo, unidade admi-nistrativa mais populosa do Brasil, commais de 40 milhões de habitantes distri-buídos em 645 municípios, tem uma po-pulação majoritariamente urbana(93,76%) e economicamente represen-ta o 2º maior PIB per capita do país,atrás apenas da média verificada no Dis-trito Federal1.

Entretanto, sua pujança econômica não

é distribuída de forma homogênea pelo seuterritório. Em 2006, o estado apresentava acifra de 1.445.140 famílias pobres, poucomais de 11% do total apurado no país, fi-cando atrás apenas do Estado da Bahia, estecom 1.558.051 famílias 2.

Também, conforme análise de dados doIPVS - Índice Paulista de Vulnerabilida-de Social, as desigualdades sociais e regi-onais são reconhecidas. Na região admi-nistrativa de Ribeirão Preto e RegiãoMetropolitana de São Paulo estão os me-lhores índices de desenvolvimento do es-tado, qualificados como sendo de nenhu-ma vulnerabilidade pelo IPVS em 8,3%e 9,7%, respectivamente, comparado amédia estadual de 6,9%. Contraditoria-

1 Plano Estadual de Assistência Social - PEAS-2010.2 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/ apud .PEAS-2010.

Avanços e Desafios

ARTIGOS

O

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50

mente, essas mesmas regiões também sãoclassificadas nos indicadores de muito altavulnerabilidade, acima da média estadu-al. A porcentagem média das regiões ad-ministrativas do estado classificadas comode muito alta vulnerabilidade é 9,8%, ena região de Ribeirão Preto é de 10,6%.O mesmo se segue para a Região Metro-politana de São Paulo, que é classificadaem 11,5% de alta vulnerabilidade3.

Os contrastes sociais existentes evidenci-am que a questão social não é residual. Aeconomia de mercado e o crescimentoeconômico isoladamente foram, duranteestes anos, incapazes da redução da desi-gualdade social; e as mudanças tecnoló-gicas acompanhadas de mudanças domundo do trabalho na atualidade acen-tuaram as vulnerabilidades e os desafiosdo acesso à cidadania.

Os contornos da pobreza avançam dasdimensões econômicas para as de cará-ter social, cultural, psicológica, sendo queas sequelas da ausência ou insuficiênciada presença estatal vão se transmutandoe expõem a complexidade da questão so-cial na atualidade (CASTEL- 2007;MARTINS-2007/8; SAWAIA-2008).Além da pobreza decorrente da falta deacesso às necessidades básicas de alimen-tação ou renda, das desvantagens resul-tantes de deficiências, desqualificação oufalta de acesso ao trabalho, temos diver-

sas outras formas de sua reprodução. Sãoformas de expressões na atualidade queacabam por suscitar a violência no núcleofamiliar, o uso abusivo de drogas e mes-mo outras formas marginais de inclusãoeconômica4 que enfraquecem o tecido so-cial e exigem a primazia da ação regula-dora do Estado.

No que tange a efetivação da AssistênciaSocial, enquanto política pública de pro-teção social e direito de cidadania, a basesocial democrática da Constituição Fede-ral de 1988 que a insere no capítulo daseguridade social brasileira e regulamen-tações posteriores (LOAS/93; PNAS/2004; NOB/SUAS/2005) possibilitaramo marco legal e conceitual para a cons-trução do SUAS.

Dessa forma, com dados sobre a imple-mentação do SUAS no Estado de SãoPaulo, a partir da gestão desenvolvida pelaCoordenadoria de Ação Social – CAS, es-pera-se contribuir para um melhor enten-dimento dos avanços, limites e priorida-des para a evolução da proteção social pra-ticada no território paulista.

Breve Caracterização da Proteção SocialBrasileira: Conceitos e Base LegalA concepção de proteção social tem ori-gem com o processo de urbanização eindustrialização a partir de contradiçõesexistentes entre o capital e o trabalho nofinal do século XIX e diante do risco dostrabalhadores e suas famílias ao enfren-tar doenças, velhice, desemprego ou mor-te. Surge como um seguro social diantedos momentos de perda laboral.(JACCOUD–2009; SPOSATI–2009;ESPING-ANDERSEN-1991).

Fundamentada no questionamento da efi-cácia do estado liberal em promover aces-so a bens e serviços, por meio da regulaçãosocial exercida pelo livre mercado, a prote-ção social coloca-se como uma demanda a

3 O IPVS - Índice Paulista de Vulnerabilidade Social é umindicador da Fundação Sistema Estadual e Análise de Dados- SEADE a partir de dados do Censo Demográfico do IBGEde 2000. Poderá ser acessado: http://www.seade.gov.br/ comoo trabalho informal, o tráfico, a exploração sexual, dentreoutras questões que enfraquecem (CASTEL- 2007;MARTINS-2007/8; SAWAIA-2008).

4 Para melhor aprofundamento, consultar José de SouzaMartins (2007/8) sobre outras formas de inclusão marginalque possibilitam acesso a bens de consumo por vias marginaise mesmo ilegais. Vão do trabalho informal e avançam paraoutras formas de exploração, como a sexual, o tráfico, etc.

Os contrastes

sociais existentes

evidenciam que a

questão social não

é residual

ARTIGOS

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ser realizada pela ação do Estado. Seu pa-pel normatizador ou executor direcionadoao equilíbrio da dinâmica existente entresociedade, mercado e Estado (BEHRINGE BOSCHETTI–2009).

A proteção social, nominada Estado deBem Estar Social (Welfare State) na In-glaterra, Estado Providência na França,Seguridade Social no Brasil, tem base nateoria keynesiana que segue o princípiode que os governos são responsáveis pelagarantia de um padrão de vida mínimopara todos os cidadãos, cabendo ao Esta-do regular a economia de mercado, coma combinação de política salarial e con-trole de preços, para evitar e intervir emcrises, e desta for-ma, assegurar oemprego e o con-sumo, tambémacrescidos de ser-viços públicos vi-sando à reduçãoda pobreza.

Impulsionada quaseque simultanea-mente em diversospaíses europeus noséculo XX após a2ª Guerra Mundial, existem diferentes ar-ranjos dos considerados Estado de BemEstar Social. Na sua visão social demo-crata5, ao Estado atribui-se, diante dasameaças sociais, a função de criar meca-nismos que assegurem um padrão debem estar e isto ocorre por meio de trêseixos: regulação do trabalho e existênciade renda mínima, serviços públicos bási-cos como Educação, Saúde, Segurança eAssistência Social.

É reconhecida assim, a proteção social, apartir de um conjunto de iniciativas pú-blicas ou reguladas pelo Estado, para aprovisão de serviços e benefícios sociaisvisando enfrentar situações de risco oude contingências sociais.

No Brasil, os direitos sociais orientadospela regulação do Estado desenvolveram-se a partir da década de 1930, tendocomo base o seguro social e a garantia de

direitos trabalhistas. Em 1940 foi fixa-do o salário mínimo e estabelecida umarenda considerada mínima ao trabalha-dor, para garantia de um padrão básicode subsistência.

Com cobertura limitada ao trabalhadorcom contribuição previdenciária, ao lon-go de décadas os grupos sociais não par-ticipantes do mercado formal de traba-lho foram excluídos. O pensamentoeconômico prevalente no país dirigiu asexpectativas, durante anos, para o en-frentamento espontâneo dos problemassociais a serem resolvidos em decorrên-cia do crescimento e desenvolvimentodo país. Fato que não inseriu segmen-

tos sociais maisvulnerabilizados eapenas contribuiupara o acirramen-to das desigualda-des sociais.

Bernardo Kliksberg,assessor da ONU,descrevendo osprodutos concre-tos do que chama“a forma de fazereconomia que a

América Latina escolheu nos anos re-centes”, recorre a Ricardo FrenchDavis quando este afirma: “O resulta-do é uma forte instabilidade do empre-go e da produção, uma maior diferen-ciação entre ricos e pobres e um cres-cimento médio modesto: apenas 3%neste decênio, e com uma profunda de-sigualdade” (2001, p.22).

O processo lento e incompleto de im-plantação de políticas sociais no Brasil,com o acesso seletivo à Educação Pú-blica, com a Assistência Social realiza-da por intermédio de entidades religio-sas e da sociedade civil, os estudiososdo tema divergem sobre a existência, an-tes de 1988, de um sistema de proteçãosocial no Brasil.

5 Esping - Andersen (1991) classifica três tipos de Estadode Bem Estar Social (welfare state): o liberal, o conserva-dor-corporativista e o social democrata.

ARTIGOS

A seguridade social

compreende um

conjunto integrado de

ações de iniciativa dos

Poderes Públicos e da

sociedade

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A evolução legal da proteção social noBrasil, em sua dimensão contributiva enão contributiva, tem como marco aConstituição da República FederativaBrasileira - CF/1988, na qual os direitossociais redistributivos em relação a po-pulações pobres são reconhecidos. É as-sim previsto no texto constitucional: “Aseguridade social compreende um con-junto integrado de ações de iniciativa dosPoderes Públicos e da sociedade, desti-nadas a assegurar os direitos relativos àSaúde, à Previdência e à Assistência So-cial” (1988, art. 194)

A Assistência Social se insere no conjun-to integrado de ações da seguridade soci-al brasileira, compondo o tripé em con-junto com os direitos relativos à Saúde eà Previdência Social. A Seguridade soci-al brasileira fundamenta-se, desta forma,em três pilares: a Previdência Social, como objetivo de seguro social frente às situ-ações que impossibilitem a vida produti-va, como a invalidez, velhice, tempo de tra-balho e segurança para a família, no casode morte. A Saúde, com acesso público uni-versal, regida pelo SUS – Sistema Únicode Saúde; e a Assistência Social, de caráternão contributivo e acessível a todos os quedela necessitarem, normatizada e a seroperacionalizada pelo SUAS – SistemaÚnico de Assistência Social. Também é naCF/1988 que a Educação é prevista comacesso universalizado dos serviços públicosa toda população.

Enquanto o Brasil avança na construçãode direitos sociais, evidencia-se mundi-almente o colapso econômico, com mu-danças tecnológicas, reestruturação pro-dutiva, desemprego e crise no Estado deBem Estar Social, fundamentado na so-ciedade salarial. E é neste duplo movi-mento e com este agravo que a Assis-tência Social constitutiva da Política deProteção Social no Brasil se desenvol-ve, sendo consenso entre os estudiososdo tema o reconhecimento de seus avan-ços e os desafios para sua implementa-ção (SPOSATI, A. 2009).

Dessa forma, Aldaíza Sposati é assertiva aofundamentar o modelo de proteção social

brasileira e seu processo de implantaçãoenquanto política pública: “Ter um mode-lo brasileiro de proteção social não signifi-ca que ele já exista ou esteja pronto, masque é uma construção que exige muito es-forço de mudanças” (2009, p.17).

Descentralização Político-Adminis-trativa no Estado de São Paulo: Or-ganização e Gestão da Política deAssistência SocialA Política de Assistência Social, a partir dosmarcos legais da Constituição Federal de1988 e da Lei Orgânica de Assistência So-cial, tem as seguintes diretrizes para sua or-ganização e gestão:

I- descentralização político-administrativapara os Estados, o Distrito Federal e osMunicípios, e comando único das ações emcada esfera de governo;

II- participação da população, por meio deorganizações representativas, na formulaçãodas políticas e no controle das ações emtodos os níveis;

III- primazia da responsabilidade do Esta-do na condução da Política de AssistênciaSocial em cada esfera de governo.

As ações são organizadas em um sistemadescentralizado e a Política de Assistên-cia Social realiza-se de forma integrada emum conjunto de iniciativas com a prima-zia da responsabilidade pública, articula-da nas três esferas de governo da federa-ção brasileira, constituindo o SUAS.

Dentre as competências atribuídas aosentes federativos, cabe a coordenação eas normas gerais da Política de Assistên-cia Social à esfera da União. Aos Esta-

Aos Estados,

compete organizar,

coordenar e

monitorar a política

estadual

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dos, compete organizar, coordenar e mo-nitorar a política estadual. É tambémcompetência dos Estados a coordenaçãoda gestão pública nos espaços regionais,a execução de serviços de maior comple-xidade ou que não justifiquem pela de-manda a execução em âmbito municipal.E aos Municípios compete organizar,coordenar, executar e monitorar a políti-ca em sua esfera, sendo a execução dasPolíticas Públicas desempenhadas nestaesfera de governo, com o financiamentocompartilhado entre as três esferas degoverno. Também é atribuição dos Esta-dos a realização do apoio técnico e finan-ceiro aos Municípios.

A SEADS é o órgão gestor do Estado deSão Paulo responsável pela formulação,coordenação, articulação, monitoramen-to e a avaliação da Política de AssistênciaSocial. Tem como estrutura administrati-va quatro coordenadorias: Coordenado-ria de Ação Social - CAS, Coordenadoriade Desenvolvimento Social – CDS, Co-ordenadoria de Gestão Estratégica – CGE,

6 São apresentadas nesta publicação as DiretoriasRegionais de Assistência Social , com respectivascidades sede.

Coordenadoria de Administração de Fun-do e Convênios – CAF. Conta tambémem sua estrutura com 26 unidades des-centralizadas no território do Estado deSão Paulo, nominadas Diretorias Regio-nais de Assistência e DesenvolvimentoSocial - Drads, que estão vinculados à Co-ordenadoria de Ação Social – CAS.

Apresentamos acima o Mapa do Estadode São Paulo e as 26 divisões descentra-lizadas da Assistência Social6.

As Diretorias Regionais de Assistência eDesenvolvimento Social - Drads, por es-tarem localizadas em regiões diversas doEstado de São Paulo e serem responsá-veis por um determinado número demunicípios, viabilizam a ponte descen-tralizada da Secretaria de Estado de As-sistência e Desenvolvimento Social jun-to aos 645 municípios paulistas. Estadescentralização contribui de forma efi-

Mapa I – Mapa do Estado de São Paulo e Classificação das 26 RegiõesAdministrativas de Assistência Social

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Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social - SEADS

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caz para sua função de apoio técnico aosmunicípios, operacionalização do repas-se financeiro estadual e monitoramentoda execução da Política de AssistênciaSocial cofinanciada.

A base de critério para o pagamento derecursos financeiros aos municípios, den-tre outros, é de acordo com sua organiza-ção populacional e pelos serviços ofereci-dos à população, sendo dividida em trêsníveis de gestão: inicial, básica e plena.

Apresentamos na Tabela I, a classifica-ção territorial adotada para definição deporte de municípios7 e, em seguida, naTabela II, a classificação dos municípi-os do Estado de São Paulo por porte epor nível de gestão, segundo dados deoutubro de 20108.

Observa-se pela tabela acima que apenas 4municípios de Pequeno Porte I encontram-se em gestão estadualizada. Os demais, re-presentando 99,4% dos 645 municípios pau-listas, desenvolvem a gestão executiva da

Política Pública de forma direta, com recur-sos financeiros cofinaciados pela esfera fede-ral e estadual.

O Governo Estadual repassa, por intermé-dio da SEADS recursos financeiros a 636municípios, agilizados pela transferênciaFundo a Fundo e pelo sistema informati-zado denominado PMAS-web. Esses re-cursos são repassados diretamente do Fun-do Estadual de Assistência Social para oFundo Municipal de Assistência Social,destinados à execução descentralizada daPolítica Estadual de Assistência Social, con-soante a cada Plano Municipal de Assis-tência Social, devidamente aprovado pelorespectivo Conselho Municipal de Assis-

Tabela I – Classificação dos municípios por porte

Tabela II – Classificação por porte e gestão dos municípios paulistas

7 Critério adotado pela Política Nacional de AssistênciaSocial/2004, com base nas informações do IBGE.8 Fonte de informação da Comissão Intergestora Bipartite -CIB/SP, órgão deliberativo para habilitação da gestão dosmunicípios, constituído por representantes indicados peloórgão gestor estadual da Política de Assistência Social e porgestores municipais indicados pelo Colegiado Estadual deGestores Municipais de Assistência Social - COEGEMAS/Frente Paulista.Acesso: http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/portal.php/cib

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tência Social9.

Quanto ao sistema PMAS-web, é um ins-trumento de planejamento e de gestão.Possibilita retratar o Plano Municipal deAssistência Social, bem como a realidadede cada município, com informaçõescadastrais, diagnóstico, principais proble-mas sociais e sua rede socioassistencial.Também permite realizar a transferênciade recursos financeiros Fundo a Fundo,do Estado para os municípios.

Seu preenchimento é feito anualmentepelas prefeituras, sendo atualizado duran-te todo o decorrer do ano para que possarefletir a realidade da Assistência Socialdos municípios. Sua versão on-line foi de-senvolvida em 2004/2005 pela Prodesp –Companhia de Processamento de Dadosdo Estado de São Paulo sendo, desde en-tão, aprimorada para adequar-se a PolíticaEstadual de Assistência Social e ao SUAS.

A Tabela II possibilita também observarque, dos 645 municípios paulistas, apenas11,6% estão em gestão plena das Políticasde Assistência Social. Estas informaçõessinalizam a demanda por apoio técnico efinanceiro aos municípios e, para muitosdeles, o PMAS/web é a única ferramentagerencial de planejamento na área. Essabaixa porcentagem torna-se ainda maisacentuada quando se refere aos municípi-os de pequeno porte I (61,7%), pois ape-nas 1,5% se encontram em gestão plena.Isto decorre de fatores como insuficiên-cia de demanda individualizada ou impos-sibilidade de execução de serviços especi-alizados de maior complexidade, consta-tando a necessidade de CREAS regionais eserviços especializados referenciados territori-almente, ainda inexistentes no Estado.

As Diretrizes da Política de AssistênciaSocial e a Rede Socioassistencial noEstado de São PauloA Proteção Social direcionada a famílias,crianças, adolescentes, idosos, pessoas comdeficiências ou indivíduos em situação devulnerabilidade e risco social é hierarquizada

entre Proteção Básica e Proteção Especialde Média e Alta Complexidade e desenvol-vida por meio de uma Rede Socioassisten-cial, conforme diretrizes do SUAS. Tam-bém tem em suas diretrizes a articulação comoutras políticas sociais, realizadas por outrasSecretarias de Estado, visando reconheceras necessidades sociais das populações e suascapacidades geradoras de autonomia.

A Proteção Social Básica é de caráter pre-ventivo e inclusivo, sendo direcionada aoatendimento da população que vive emsituação de vulnerabilidade social decor-rente da pobreza, privação e ou fragiliza-ção dos vínculos afetivos – relacionais ede pertencimento social. A Proteção deMédia Complexidade é destinada as fa-mílias e indivíduos em situação de con-tingência com direitos violados, sem, en-tretanto, o rompimento dos vínculos fa-miliares e comunitários. E a ProteçãoSocial de Alta Complexidade é dirigida afamílias e indivíduos com vínculos fami-liares e comunitários fragilizados ou rom-pidos e que necessitam de atendimentofora do núcleo familiar.

A Rede de Proteção Socioassistencial éconcebida como um conjunto integradode ações de iniciativa pública e da socie-dade, configurada em quatro eixos: 1.Serviços, Programas, Projetos; 2. Bene-fícios; 3. Transferência de Renda; 4.Ações Intersetoriais de Desenvolvimen-to Humano e Social.

Os serviços, programas, projetos de Prote-ção Social Básica tem como unidade pú-blica os CRAS – Centros de Referência deAssistência Social e também conta comuma rede de retaguarda de serviços públi-cos e/ou privados.

O Estado de São Paulo possui atualmen-te 721 CRAS, com 941.840 mil atendi-dos e previsão de expansão de mais 236CRAS até março de 2011. Conta comuma Rede Socioassistencial de ProteçãoSocial Básica realizada por meio de 2.219serviços cofinanciados com atendimentode 460.358 usuários direcionados, den-tre outros, ao atendimento de famílias, ser-viços socioeducativos para crianças, ado-

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9 Decreto nº 48.309, de 10 de dezembro de 2003, do Gover-no do Estado de São Paulo.

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lescentes, jovens, centros de convivênciaao idoso, projetos de enfrentamento a po-breza e inclusão produtiva10.

Os benefícios, também classificados paraa garantia de Proteção Social Básica, sãodivididos em Benefícios de PrestaçãoContinuada – BPC e Benefícios Eventu-ais conforme diretrizes da Lei Orgânicade Assistência Social - LOAS. O BPC éa garantia de um salário mínimo mensalà pessoa com deficiência e ao idoso aci-ma de 65 anos que comprove não pos-suir meios de prover a própria manuten-ção e nem de tê-la provida por sua famí-lia. O número de beneficiários do BPCno Estado de São Paulo referente a pes-soa com deficiência é igual a 241.112 e aosidosos é igual a3 1 0 . 6 7 0 ,totalizando551.782 pes-soas benefi-ciárias, ten-do como re-ferência omês de agos-to de 2010.11

Quanto aosbenefícioseventuais ,direcionados ao pagamento de auxílio pornatalidade ou morte às famílias cuja ren-da mensal per capita é inferior a um quar-to do salário mínimo, ainda não foramregulamentados pelo Conselho Estadualde Assistência Social - Conseas - SP. Ob-serva-se, entretanto, pelo PMAS-web que202 (31%) municípios paulistas já possu-em lei regulamentadora e operacionali-zam o benefício.

Ainda, direcionados a garantia da ProteçãoSocial Básica e coordenados pela Coorde-nadoria de Desenvolvimento Social – CDSda SEADS, encontram-se os Programas de

Transferência de Renda à Famílias e o Pro-grama Ação Jovem destinado a jovens defaixa etária de 15 a 24 anos. Possibilitam acobertura de 1.288.179 famílias e 90.000 jo-vens no Estado de São Paulo, tendo comoobjetivos assegurar a proteção das necessi-dades básicas e também a emancipação apartir do estímulo e articulação com outraspolíticas setoriais, como Educação, Saúde epreparação para o trabalho12.

Os serviços, programas, projetos de Prote-ção Social Especial de Média Complexida-de tem como unidade pública os Creas –Centros de Referência Especializados deAssistência Social, e também conta comuma rede de retaguarda de serviços públi-cos e/ou privados.

Atualmente noEstado de SãoPaulo, existem113 Creas com68.159 mil aten-didos e umaRede de Prote-ção Social Espe-cial de MédiaComplexida-de para atendi-mento a 67.588usuários, por

intermédio de 682 serviços socioassisten-ciais direcionados a serviços de atenção àviolência intra familiar, ao abuso e à ex-ploração sexual de crianças e adolescen-tes, à medida socioeducativa em meioaberto do adolescente infrator, serviçosde apoio sociofamiliar, habilitação e rea-bilitação de pessoa com deficiência, den-tre outros. Os serviços precisam ser po-tencializados com a organização da refe-rência e contra referência junto aos Creas.

Quanto aos Serviços de Proteção SocialEspecial de Alta Complexidade, estes sãorealizados em espaços de acolhimento

10 Os dados quantitativos apresentados referentes aosserviços têm como fonte de informação o PMAS/web -2010,monitorados pela CAS/Drads.11 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combateà Fome – MDS. Informações disponíveis por meio doendereço:http://www.mds.gov.br/gestaodainformacao/ferramentas/tipos-de-ferramentas/matriz-de-informacao-social

12 A fonte de informação quantitativa dos programas detransferência de renda é a CDS – Coordenadoria deDesenvolvimento Social da Seads. O número de famíliasbeneficiadas é o somatório dos programas Bolsa família eRenda Cidadã. Para maior detalhamento sobre os programasestaduais acessar:www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/portal.

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A superação das

desigualdades sociais enfrenta

ainda a cultura assistencialista

e a ação residual da

Assistência Social

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institucional. São cofinanciados 687 ser-viços socioassistenciais com atendimentoa 71.727 usuários que se encontram emcasas lar, casas de passagem, albergues, re-públicas, etc. Cabe ressaltar a diretriz im-primida de estímulo à convivência famili-ar e comunitária, o que destacadamente,na área de atenção à infância e adolescên-cia, o Estado de São Paulo encontra-se emelaboração do Plano Estadual de Convi-vência Familiar e Comunitária.

Outros serviços estaduais ligados direta-mente ao gabinete da SEADS e desenvol-vidos em articulação com Políticas Sociaistais como: Educação, Saúde, Trabalho,Habitação, compõem a Política de Assis-tência e Desenvolvimento Social do Esta-do de São Paulo e são direcionados ao de-senvolvimento pessoal e social. Citamos osProgramas “Virada Social”, voltado ao de-senvolvimento de comunidades, e “Futu-ridade”, direcionado a população idosa.

Ações em Desenvolvimento pelaCAS para o Fortalecimento do SUASO fortalecimento do papel institucional dasDrads e sua capacidade técnico-adminis-trativa é tema prioritário da CAS para im-primir de forma descentralizada as diretri-zes políticas da SEADS e do SUAS, noâmbito do Estado de São Paulo. Destaca-mos as ações realizadas neste semestre e asprioridades elencadas em desenvolvimen-to, contributivas para melhoria da infraes-trutura operativa e da qualificação das equi-pes das Drads, bem como a definição dediretrizes para o fortalecimento técnico dasgestões municipais.

A CAS vem organizando encontros men-sais com as Drads, a partir de pautas pro-postas de forma integrada pelas Coorde-nadorias, possibilitando, além de melhorcomunicação e integração, a gestão maisparticipativa. Contam também estes en-contros com espaço para realização deformação continuada. São convidadosespecialistas ou parceiros estratégicos,tanto para afinação conceitual como paradefinição de competências e fluxos de par-ceria frente a políticas prioritárias. Estive-ram presentes, nos encontros, convidadosdiscorrendo sobre os temas: Medida

Socioeducativa para o Adolescente Infra-tor, Convivência Familiar e Comunitária deCrianças e Adolescentes, Tráfico de Pes-soas e Abuso e Exploração Sexual de Cri-anças e Adolescentes.

As Drads participaram do processo de ela-boração da proposta orçamentária para2011, contribuindo para formulação dedemandas e diretrizes de atividades meio etambém de prioridades para a Política deAssistência Social. Participaram da condu-ção, junto aos municípios da elaboração doPMAS 2011 e do processo consultivo paraa formulação do PEAS 2011.

O fortalecimento da gestão do SUAS temcomo prioridade estabelecida pela CAS aimplementação da Política de Proteção So-cial Especial de Média e Alta Complexida-de nos Creas. Tem como proposta a reali-zação de capacitação dos técnicos e gestoresmunicipais, a elaboração de um diagnósticoterritorial e a organização da referência econtra-referência dos serviços, junto aosCreas, o que possibilitará aos municípiosmaior organização e o atendimento qualifi-cado à população usuária.

A proposta de fortalecimento dos Creas noEstado de São Paulo é fundamentada na res-ponsabilidade do Estado de coordenaçãoda gestão da Política de Assistência Socialno seu âmbito territorial, assim como suacompetência de apoio técnico e financeiroaos municípios, para execução descentrali-zada da Política de Assistência Social.

Os conteúdos programáticos para a capacita-ção Creas decorrem de demandas sociaisprioritárias e de Planos Estaduais em fase deformulação pela CAS. São eles: Plano Esta-dual de Convivência Familiar e Comunitáriade Crianças e Adolescentes; Plano Estadualpara Pessoas em Situação de Rua; Plano parao Atendimento a Medidas Socioeducativasdo Adolescente Infrator e Plano de Enfren-tamento ao Abuso e Exploração Sexual deCrianças e Adolescentes.

A proposta de implementação Creas eviden-cia também a demanda de Centros regionali-zados e de organização de serviços de AltaComplexidade com abrangência regional. De-

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corrente do grande número de municípios depequeno porte, com gestão inicial ou com in-suficiência de demanda individualizada de ser-viços no âmbito de sua administração territorial.Questão esta remetida a responsabilização doente federativo estadual13.

Tomando como exemplo a Política de Saúde,os Ambulatórios Especializados no SistemaÚnico da Saúde – SUS são operacionalizadospelos Estados e possuem abrangência regio-nal. Também na área de Assistência Social, peloSUAS, são previstas ações executivasregionalizadas de Proteção Social de Média eAlta Complexidade, com a responsabilidadedos Estados e/ ou por intermédio de Consór-cios Intermunicipais.

A CAS vem realizando estudos consideran-do o porte e o nível de gestão dos municípiospaulistas e, em consonância orçamentária,prevê a implementação de 10 Creas Regio-nais. Preliminarmente, os estudos sinalizampara as regiões do Vale do Ribeira, Avaré,Itapeva e Fernandópolis.

A regulamentação dos benefícios even-tuais, atribuição do Conselho Estadual deAssistência Social - Conseas-SP, é umaprioridade para organização do SUAS eações articuladas com esta Coordenado-ria e a Frente Paulista de Municípios, oConseas-SP encontrando-se em desenvol-vimento, visando a operacionalização uni-versalizada deste benefício conforme pre-visto no artigo 22 da LOAS.

Considerações FinaisSão grandes os desafios para implementaçãoe operacionalização dos direitos sociais expres-sos na Política Pública de Assistência Social ena construção do SUAS. A superação das de-sigualdades sociais, arraigadas ao longo deséculos, enfrenta ainda a cultura assistencialistae a ação residual da Assistência Social, inca-pazes do provimento de condições para aten-der as contingências sociais, possibilitar aces-so a políticas sociais básicas e cidadania a vári-os segmentos sociais vulnerabilizados.

Entretanto, considerando os 17 anos da

LOAS e os 5 anos do SUAS, destacam-seavanços da Política de Assistência Social e daimplementação do SUAS no Estado de SãoPaulo, dentre eles a gestão direta em 641 dos645 municípios paulistas, a ação descentrali-zada da SEADS realizada por intermédio dasDrads e o cofinanciamento estadual para 636municípios, repassados Fundo a Fundo.

É um processo ainda em construção, dedefinição e fortalecimento do papelinstitucional do Estado no SUAS, que al-tera sua ação executiva direta ou realizadaem parceria com organizações filantrópi-cas da sociedade civil e, de forma descen-tralizada junto aos municípios, opera ser-viços e programas estratégicos à proteçãoe autonomia de famílias e indivíduos emvulnerabilidade social.

Avançar na capacidade coordenadora doEstado e de qualificação da Política deAssistência Social destaca a importânciada competência e instrumentação técni-ca de seus operadores.

A existência de uma política de recursoshumanos e capacitação técnica de sua estru-tura funcional potencializam as ações reali-zadas pela SEADS. E, acrescidos ao fortale-cimento da estrutura física da assistência so-cial, de sistemas de vigilância social e moni-toramento de indicadores e serviços, bemcomo o fomento financeiro a projetos estra-tégicos, possibilitarão maior efetividade naPolítica de Assistência e melhoria no desen-volvimento humano e social.

Contribuir para a qualificação das gestõesmunicipais em consonância à parceria fe-deral, integrando serviços e benefícios aoutras políticas básicas, como Saúde, Edu-cação e Trabalho, possibilitará a GestãoEstadual o desenvolvimento da Política deAssistência Social direcionada a avançosna autonomia de famílias e indivíduos, con-tribuindo para a redução dos contrastes so-ciais no território paulista.

(*) Coordenadora da CAS – Coordenado-ria de Ação Social da SEADS13 LOAS - Art.13. V; NOB/SUAS, 2005, p.108/9.

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Lei Federal n° 8.742, de 7 dedezembro de 1993 – Lei Or-gânica da Assistência Social -LOAS, dispõe sobre a organi-zação da Assistência Social,

como instrumento legal que regulamentaos pressupostos contidos na ConstituiçãoFederal, nos seus artigos 203 e 204, quedefinem e garantem os direitos à assistên-cia social, mediante a consolidação de umSistema Descentralizado e Participativo daAssistência Social, como responsabilida-de do Estado e da Sociedade Civil.

A LOAS instituiu benefícios, serviços, pro-gramas e projetos destinados ao enfrenta-mento da exclusão social dos segmentosmais vulnerabilizados. Os pressupostosconstitucionais de assistência social tambémse concretizam por intermédio da PolíticaNacional de Assistência Social.

A partir da Constituição Federal de 1988,novos conceitos e modelos de assistênciasocial passaram a vigorar no Brasil, paraser prestada a quem dela necessitar, inde-pendentemente de contribuição, sendo co-locada como “direito de cidadania, comvistas a garantir o atendimento às necessi-dades básicas dos segmentos populacio-nais vulnerabilizados pela pobreza e pelaexclusão social”. Hoje, a assistência socialé dever do Estado e direito do cidadão. Épolítica pública e, como tal, faz parte daSeguridade Social e sua organização temas seguintes diretrizes:

I - Descentralização político-administrati-va, cabendo a coordenação e as normas

Carlos Alberto Fachini

O Sistema Fundo a Fundo

Carlos Alberto Fachini (*)

Gestão Financeira da

Assistência Social

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gerais à esfera federal e a coordenação eexecução dos respectivos programas às es-feras estadual e municipal, bem como aentidades beneficentes e de assistência so-cial, garantindo o comando único das açõesem cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as característicassocioterritoriais locais;

II - Participação da população, por meiode organizações representativas, na for-mulação das políticas e no controle dasações em todos os níveis;

III - Primazia da responsabilidade do Es-tado na condução da política de assistên-cia social em cada esfera de governo;

IV - Centralidade na família para concep-ção e implementação dos benefícios, ser-viços, programas e projetos.

Na prática, a Assistência Social, dentrodo novo paradigma, traduz-se em garan-

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tir, por meio da rede de inclusão e darede de proteção social, os direitos dascrianças e adolescentes, dos idosos, alémdesses segmentos por faixa etária, as açõesde assistência social destinam-se tambéma grupos específicos de pessoas que seencontra em situação de fragilidade e vul-nerabilidade, que estão em desvantagempessoal, como os portadores de deficiên-cia ou incapacidade, ou ainda que se en-contre em situações circunstanciais ouconjunturais, tais como:

• Crianças e jovens submetidos aoabuso e exploração comercial sexual;

• Crianças obrigadas a trabalhar, como consequente abandono escolar;

• Crianças e adolescentes vítimas deabandono e desagregação familiar;

• Moradores de rua;

• Migrantes;

• Dependentes do uso e vítimas daexploração comercial das drogas;

• Crianças, idosos e mulheres víti-mas de maus-tratos.

A fim de propiciar atendimento dessessegmentos, a descentralização político-ad-ministrativa da Assistência Social possi-bilita a tomada de decisão mais próximado local onde os problemas acontecem,o que permite uma chance maior de res-posta imediata e concreta. Além disso, aproximidade proporciona uma participa-ção mais efetiva dos grupos que vivenciamo problema, em especial daqueles maisfragilizados, seja na tomada de decisão,seja na implantação das medidas.

Para isso, o prefeito e seu secretário, comoautoridades mais próximas da comunida-de e representantes de seus munícipes,devem conduzir o projeto político de de-senvolvimento local integrado, buscandopropiciar melhores condições e qualida-de de vida à população. Como prioridadedeve focalizar o atendimento às necessi-dades básicas dos segmentos vulnerabili-zados pela pobreza e pela exclusão social,no âmbito de suas responsabilidades.

Dessa forma, foi editada a Lei Federal nº.9.604/98 - que dispõe sobre a prestação decontas de aplicação de recursos a que serefere à Lei nº. 8.742/93 e autoriza o repas-se automático de recursos - e o DecretoFederal nº 2.529/98 - que dispõe sobre atransferência de recursos do Fundo Nacio-nal de Assistência Social (FNAS), para osfundos estaduais, do Distrito Federal e mu-nicipais, e sua respectiva prestação de con-tas, na forma estabelecida na Lei nº 9.604/98 visando garantir a transferência de re-cursos do Fundo Nacional para os Fundosde Assistência Social dos Estados, dos Mu-nicípios e do Distrito Federal, cofinancian-do ações socioassistenciais.

Buscou-se consolidar o repasse regular eautomático Fundo a Fundo, com o obje-tivo de apoiar técnica e financeiramenteos municípios, os estados e o Distrito Fe-deral nas despesas relativas aos serviçosde Assistência Social reconhecidamentede Proteção Social Básica e/ou Especial,prestados gratuitamente pelas entidadese organizações públicas ou privadas, comvistas a garantir a consolidação da Políti-ca de Assistência Social.

Essa providência alterou a gestão financeirada Assistência Social, garantindo a continui-dade dos atendimentos, agilizando os fluxosde transferência desses recursos, asseguran-do a regularidade nos repasses e continuida-de na prestação dos serviços em consonân-cia com a forma descentralizada preconiza-da no rol da legislação brasileira nesta área,dirimindo grande parte das questões buro-cráticas vigentes.

O Estado de São Paulo adequou-se àsregras estabelecidas no Parágrafo Únicodo Artigo 30 da LOAS, consignando re-cursos do Tesouro do Estado no FundoEstadual de Assistência Social – FEAS eclassificando-o como Unidade Orça-mentária a partir de dezembro de 2002,possibilitando o cofinanciamento dasações assistenciais prestadas no âmbitodo Sistema Único da Assistência Social– SUAS, mediante repasses aos FundosMunicipais de Assistência Social –FMAS, operacionalizados por intermé-dio do Convênio Único de Proteção So-cial, celebrado com os diversos muni-

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cípios do Estado de São Paulo.

Com a edição da Resolução SEADS-19,de 31 de outubro de 2003, foi criado o Pro-grama Estadual de Proteção Social Básicae Especial, adotando o Convênio Únicocomo instrumento jurídico e o Plano Mu-nicipal de Assistência Social – PMAS comocondição básica ao cofinanciamento dosprogramas e serviços socioassistenciais re-ferenciados na Política Estadual e Nacionalde Assistência Social, e constituindo oPMAS como meio para assegurarintencionalidade, direção e organicidade àsações da política no município.

Diante dessas condições e o necessárioaperfeiçoamento da gestão do SistemaÚnico de Assistência Social - SUAS, pro-pusemos a criação de idêntico mecanis-mo para transferência de recursos doFEAS aos FMAS, tendo como referên-cia o SUAS, cujo modelo de gestão é des-centralizado e participativo, constituindona regulação e organização, em todo oterritório nacional, das ações socioassis-tenciais e de caráter continuado.

Assim foi elaborado o anteprojeto de lei,autorizando a transferência de recursosfinanceiros em sistema Fundo a Fundo,visando à execução de serviços de Prote-ção Básica e Especial na área de Assis-tência Social, se constituindo no Projetode lei nº 339 de 2008.

Tal medida se viabilizou no Estado deSão Paulo com a edição da Lei nº 13.242,de 08/12/2008, alcançando também as di-retrizes do governo inseridas no Progra-ma Estadual de Desburocratização, bemcomo as reivindicações de gestores mu-nicipais, do Conselho Estadual e dos Con-selhos Municipais de Assistência Socialdo Estado de São Paulo.

Referida lei foi regulamentada pelo De-creto Estadual nº. 54.026, de 16/02/2009,sendo normatizado pela ResoluçãoSEADS-4, de 18/02/2009 e pela PortariaConjunta CAF-CAS 1/2009, qu’e instituiudiversos instrumentais para implantaçãodesse novo processo, com finalidade deestabelecer regras claras e objetivas, em re-

lação aos compromissos, responsabilida-des e obrigações assumidas pelo gestor mu-nicipal, quanto à aplicação dos recursos esua prestação de contas.

É importante salientar que a implanta-ção de mecanismo relativo ao repasse au-tomático Fundo a Fundo, excetuam-sedaqueles efetuados para apoio financei-ro a projetos e programas não continua-dos, para os quais permanece o termode convênio que detém sistemática pró-pria, coerente com os pressupostos ge-rais de financiamento do SUAS estabe-lecidos na Política Nacional da Assistên-cia Social - PNAS 2004.

A seguir apresento breve histórico de pro-cessos implantados no Estado de São Pau-lo, registrando todo percurso percorridoe os entraves encontrados para aperfei-çoar e implantar o Sistema de Transfe-rência Fundo a Fundo – STFF:

Situação diagnosticada à época• Multiplicidade de programas eações com objetivos e público-alvosimilares;

• Fragmentação e superposição de ações;

• Pulverização de recursos escassos;

• Baixos índices de cobertura;

• Ausência de visão estratégica so-bre os objetivos superiores da Polí-tica de Assistência e desenvolvimen-to social;

• Inexistência de mecanismos sistemá-ticos de monitoramento e avaliação dasações;

• Ausência de critérios e medidaspara a aferição da eficiência, da efi-cácia e da efetividade das ações;

• Baixa capacidade de geração e uti-lização de informações para fins dediagnóstico e correção de rumos;

• Predomínio, na cultura organizaci-onal da SEADS, de valores associa-dos ao modelo de gestão burocrática.

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A Situação Almejada para um NovoModelo de Gestão

• Gestão por resultados – do muni-cípio para o Estado e de volta;

• Supervisão, Monitoramento eAvaliação regulares;

• Envolvimento de todos os atoresinstitucionais: gestores municipais eestaduais, conselheiros municipais eestaduais, cidadania, empresas;

• Aprofundamento da descentrali-zação: PMAS;

• Qualificação dos atores envolvi-dos: municipais e estaduais;

• Ampliação do controle social;

• Identificação e aprimoramentodos padrões de qualidade do aten-dimento para os públicos-alvos;

• Melhoria do atendimento aos pú-blicos-alvos.

Os Primeiros Passos1) Consolidação dos Programas

• A antiga estrutura programáticaclassificava os programas por seg-mentos da população atendida.Exemplo: Atendimento a Criançase Adolescentes; à Pessoa Idosa;Migrante e População de Rua; Fa-mília; etc., fixando metas e atribuin-do valores per capita conforme atipologia de atendimento;

• Instituição do Programa Estadualde Proteção Social Básica e Especi-al em 2003, definindo o tipo de ser-viço e/ou classificação dos serviçose ações;

• Delegada prerrogativa ao municí-pio para definir metas, ações e ativi-dades.

• Construção de nova estrutura or-çamentária a partir da elaboração em2003 do Plano Plurianual 2004-2007.

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2) Articulação Política• Envolvimento de gestores dos municí-pios, agentes do Governo do Estado edos Conselhos Estadual e Municipais deAssistência Social.

3) Revisão do instrumento de Convênio• Trabalho conjunto de consultoriaespecializada e área jurídica da Pas-ta, Assembléia Legislativa e do Go-verno do Estado;

• A SEADS firmava um convêniopara cada programa/projeto – váriosprojetos por município mais proje-tos com entidades resultavam emmilhares de convênios, exigindo o de-senvolvimento de novo modelo;

• Assim, instituiu-se um novo mo-delo denominado “Convênio Úni-co” – Município define PMAS,aprovado pelo Conselho Municipale analisado pela Drads/SEADS. ASecretaria firma um só convênio erepassa os recursos. Dá-se início aotrio de sistemas: supervisão, moni-toramento e avaliação;

• Instrumento teve de ser revisto e re-formulado outras vezes para dar contadas necessidades dos sistemas de su-pervisão, monitoramento e avaliação.

4) Revisão do Instrumento do PlanoMunicipal de Assistência Social - PMASModelo Antigo - Instrumento burocrá-tico que não gerava dados confiáveis paraa alimentação de sistemas e o acompa-nhamento gerencial das ações.

Novo Modelo - Instrumento reformu-lado, totalmente informatizado (alimen-tação, envio e atualização) com campos,dados e variáveis que alimentam os siste-mas de supervisão e monitoramento, ser-vindo posteriormente para avaliações di-ferenciadas com dados confiáveis.

Principais Avanços• Municípios e Drads identificamganho de autonomia como princi-pal avanço do PMAS;

• Mapeamento da rede de prote-ção social;

• Diagnóstico realizado com baseem indicadores;

• Assimilação dos conceitos de Pro-teção Social Básica e Proteção Soci-al Especial.

Monitoramento e Avaliação• Sistemas desenvolvidos com recur-sos parciais de financiamento do Ban-co Interamericano de Desenvolvimen-to (BID);

• Parcela significativa dos dados einformações relevantes para a ali-mentação do componente informa-tizado do sistema de monitoramen-to virá do sistema de supervisão;

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(*) Gestor do Fundo Estadual de Assis-

tência Social

ARTIGOS

• Avaliações deverão ocorrer em diferen-tes momentos e ter metodologias e obje-tos distintos, buscando olhar para proces-sos, resultados e impacto (eficiência, eficá-cia e efetividade), bem como para benefi-ciários, executores, cofinanciadores etc.

Financiamento – Pontos Positivos• Diminuiu o tempo entre a chega-da e a aplicação dos recursos;

• Aumentou a regularidade dos re-passes;

• Simplificação do processo derealocação de recursos;

• Aumento da transparência quan-to aos fluxos financeiros.

Papéis a serem cumpridos peloPMAS

1. Funcionar como instrumento sobreo qual se firma parceria com cada muni-cípio;

2. Conter conjunto de informaçõessobre a rede municipal de Assistên-cia Social;

3. Avançar em diagnósticos basea-dos em indicadores;

4. Orientar a definição de priorida-des, com vistas ao exercício da auto-nomia;

5. Constituir-se em instrumento ge-rencial que propicie o acompanha-mento das ações executadas.

Plano Municipal de AssistênciaSocial - PMAS

• Elaboração do PMAS como formade planejamento da ação municipal;

• Entendimento dos conceitos deProteção Social Básica e Especial;

• Reorientação paulatina da redede serviços;

• Uso de indicadores para elabora-ção de diagnóstico;

• Sistema web;

• Aumento da autonomia dos mu-nicípios na definição da Política deAssistência Social;

• Desburocratização dos processos.

Finalizando, esperamos avançar aindamais no aperfeiçoamento do Sistema deTransferência Fundo a Fundo, raciona-lizando o processo de prestação de con-tas dos recursos repassados aos municí-pios, visto que os mesmos anualmentejá o fazem ao Tribunal de Contas do Es-tado de São Paulo, visando assim redu-zir gastos, evitando a duplicação de do-cumentos e a geração de retrabalho.

Page 65: Revista Social SP

65

o Brasil, a pobreza é resultan-te de um processo históricode construção das desigualda-des sociais. Se por um lado o

desenvolvimento da industrialização e aexpansão da urbanização nos grandescentros do país produziram riquezas, poroutro trouxeram uma diversidade de pro-blemas sociais, entre os quais desempre-go e miséria.

A desigualdade social é um dos grandesproblemas brasileiros, mas sua superaçãovem sendo relegada ao longo da história.A modernização do país foi incessante-mente buscada, mas, assim como o cres-cimento das riquezas, não tem garantidoa redução da pobreza.

Conforme dados do Banco Mundial(2008 apud O POVO, 2008), consideran-do a linha da pobreza como uma rendaindividual inferior a US$ 1,25 ao dia, em2005 existiam 1,4 bilhão de pessoas abai-xo da linha da pobreza, ou seja, 25% dapopulação mundial. Esse número se en-contra acima do previsto, indicando queo processo de eliminação da pobreza ocor-re de maneira lenta e não sugere otimis-mo. Com a atualização e revisão dos con-ceitos estipulados pela instituição para aobtenção das informações, que antes donovo método consideravam miseráveispessoas que vivem com menos de US$ 1ao dia, o número de homens e mulheresem extrema condição de pobreza em todoo mundo aumentou em 400 milhões.

Para alcançar a dimensão do que sejapobreza, é fundamental compreenderseus conceitos, quem são os pobres equais as várias definições que lhes sãoassociadas. No Brasil, quais as discussõesrelevantes sobre o tema e em que circuns-tâncias surgiram as primeiras medidaspara sua erradicação. Como fenômenosocial, o debate sobre a pobreza envolvequestões de natureza política, cultural,socioeconômica e condições históricas decada época.

Enquanto questão complexa, a definiçãode pobreza pode assumir várias configu-rações. De certa forma, esse fenômenopossui caráter multidimensional e vem setransformando conforme a sociedade emque se encontra inserido, sendo encara-do como uma das questões mais impor-tantes da atualidade.

Para países em fase de desenvolvimento

Isabel Cristina Martin eRosemare Silva Gonçalves

A questão multidimensional da pobreza

Rosemare Silva Gonçalves (**)

ARTIGOS

Isabel Cristina Martin (*) e

N

Pobreza, Proteção Social eTransferência de Renda

Page 66: Revista Social SP

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e com índices elevados de concentraçãode renda, como o Brasil, e por ser umpaís onde existe um grande número depessoas que não têm suas necessidadesbásicas atendidas, Rocha (2004) conside-ra que medidas de pobreza absoluta sãoas mais recomendadas para que se pos-sam estabelecer políticas públicas eficazes:

Trata-se, portanto, de definir parâme-tros de valor correspondente a umacesta de consumo mínima, seja ela ali-mentar (associada à linha de indigên-cia), seja considerando o custo de aten-dimento de todas as necessidades dealimentação, habitação, vestuárioetc.(associada à linha de pobreza) (RO-CHA, 2004, p. 43).

Um outro conceito que comumente temsido associado e tratado como sinônimode pobreza é o de exclusão social. ParaSposati (2004, p. 187), “exclusão social émais do que isso, indica a perversa deci-são histórica de uns pela apartação de ou-tros”. Acrescenta a autora que a exclusãosocial se refere também à discriminação ea estigmatização, enquanto a pobreza,como já foi referido neste trabalho, defi-ne uma situação absoluta ou relativa. Am-pliar a visão de exclusão a distancia danoção de pobreza, como reforça a autora:

“[...] pobre é o que não tem, enquantoo excluído pode ser o que tem sexofeminino, cor negra, opção homosse-xual, é velho etc. A exclusão alcançavalores culturais, discriminações. Istonão significa que o pobre não possaser discriminado por ser pobre, masque a exclusão inclui até mesmo oabandono, a perda de vínculos, o es-garçamento das relações de convívio,que necessariamente não passam pelapobreza” (SPOSATI, 2004, p. 4).

A proteção social no contextobrasileiroNo Brasil, a literatura enfatiza a monta-gem da proteção social com a participa-ção do Estado, a partir dos anos 1930. Noentanto, considera-se que as ações nessesentido caracterizaram-se como pontuaise descontinuadas, não refletindo um sis-tema institucionalizado de proteção soci-

al, o que viria a ocorrer somente com aConstituição de 1988.

A Constituição reformulou o sistema deproteção social e introduziu valores, cri-térios e conceitos como “direitos sociais”,“seguridade social”, “universalização”,“equidade”, “descentralização político-ad-ministrativa”, “controle democrático”,“mínimos sociais”, dentre outros (PEREI-RA, 2000, p. 152).

As principais orientações relacionadas àárea social, presentes na nova Constitui-ção, são:

a) maior responsabilidade do Estado naregulação, financiamento e provisão depolíticas sociais;

b) universalização do acesso a benefíciose serviços;

c) ampliação do caráter distributivo daseguridade social, como um contrapontoao seguro social, de caráter contributivo;

d) controle democrático exercido pela so-ciedade sobre atos e decisões estatais;

e) redefinição dos patamares mínimos dosvalores dos benefícios sociais e

f) adoção de uma concepção de “míni-mos sociais” como direito de todos(PEREIRA, 2000, p. 153).

Como Política de Proteção Social a Assis-tência Social deve atuar junto à populaçãovulnerabilizada pelo processo de produ-ção da pobreza e, portanto, junto aos cida-dãos e grupos que estão “fora dos meca-nismos e sistemas de segurança social ob-tidos pela via do trabalho, do usufruto daspolíticas públicas (saúde, educação, cultu-ra, habitação, saneamento, entre outras) eda inserção em sociabilidadessociofamiliares” (Carvalho,2003). Portan-to, a Assistência Social deve acolher os ci-dadãos não atendidos pelas redes de pro-teção e de inclusão social.

Seus beneficiários constituem hoje umgrupo heterogêneo de famílias ou pesso-as empobrecidas, em crise de sobrevivên-cia, vivendo sem renda ou com recursos

ARTIGOS

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67

insuficientes, em situação precária de mo-radia, crianças e adolescentes em riscosocial e pessoal, moradores de rua, pesso-as com deficiência sem apoio familiar evítimas de conjunturas ou eventos quecomprometem a sobrevivência digna.

O parágrafo único do artigo 2º da LOASassim expressa:

A assistência social realiza-se de formaintegrada às políticas setoriais, visandoao enfrentamento da pobreza, à garan-tia dos mínimos sociais, ao provimen-to de condições para atender contin-gências sociais e à universalização dosdireitos sociais.

A obtenção de mínimos sociais via acessoa uma renda mínima compatível com oatendimento às necessidades básicasdeverá ser conjugada, portanto, à ofertade serviços, programas e processos queassegurem segurança, sentido depertencimento social e a facilitação e apoiopara o acesso às demais políticas sociais(Isa Maria F. Rosa Guará).

O número de pessoas em situação depobreza e sem atendimento adequadoem Educação, Saúde, Saneamento eHabitação ainda é considerado muito alto,embora os números recentes divulgadospelo Instituto de Pesquisa Econômica eAplicada (IPEA) evidenciem umaalteração importante e constante nadesigualdade de renda familiar per capitano Brasil nos últimos anos.

Segundo essas pesquisas, os fatores quemais contribuíram para essa queda -numa proporção de 28% pelo coefici-ente de Gini - foram os programas detransferência de renda, como o BolsaFamília e o Benefício de PrestaçãoContinuada1. Seu efeito se faz sentirmais intensamente em regiões e cida-des com mais baixo IDH – Índice deDesenvolvimento Humano – onde aspossibilidades de emprego e renda sãoquase inexistentes no curto prazo. Cer-tamente, há peculiaridades da pobrezaurbana dos grandes centros que exigema conjugação de outros esforços e re-

cursos para que a condição de vida dapopulação atendida se altere mais sig-nificativamente.2

A situação de indigência e pobreza,segundo Peliano (2006) seria aindamaior no Brasil “não fossem os impactospositivos das políticas e programas decunho federal e estadual responsáveispela transferência de renda monetária àpopulação”. A certeza de uma rendabásica de subsistência das famíliaspossibilita, por vezes, a proteção social ea cooperação mútua na rede de proteçãofamiliar mais ampla, que incluemparentes e agregados, tendo claros efortes impactos sobre a organização e ascondições de vida das famílias.

É evidente que a parcela da populaçãomais pauperizada não pode prescindir doauxílio direto de programas detransferência de renda, mas é precisoconsiderar que a pobreza é hoje umfenômeno multidimensional e complexo,que não se resolve apenas com renda,como nos ensina Amartya Sen, ganhadordo Prêmio Nobel de Economia em 1998.Ele lembra que a pobreza é, de fato,privação de capacidades substantivas e daliberdade de escolher e usufruir a vidacom independência. Neste sentido, apobreza tem relação com a falta deoportunidades de desenvolvimento, ofrágil e irregular acesso a serviços públicosem todas as áreas, o que impede os maispobres de desenvolverem sua capacidadeplena. Na situação de exclusão socialtambém a participação encontra-selimitada (Carvalho, 2003).

1 Boletim de Políticas Sociais – IPEA – 2005 . Disponível

na internet : ht tp: / /www.ipea.gov.br/082/

08201002.jsp?ttCD_CHAVE=2403 . Acesso em 02 de

Maio de 20072 Além dos programas de Transferência de Renda, de

Assistência Social, de Segurança Alimentar e Nutricional, e

de Desenvolvimento Social que são da competência. do

MDS, o Governo Federal informa que , por meio de 17

ministérios e 4 secretarias especiais da Presidência da

República, executa outras ações de Transferência de Renda,

de Geração de Oportunidades de Trabalho e Renda e de

Desenvolvimento Local. No sitio www.mds.gov.br há um

link para o acesso ao Guia de Ações para Geração de

Trabalho e Renda no qual constam as ações, orçamentos e

requisitos necessários.

ARTIGOS

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Os Programas de Transferênciade RendaOs Programas de Transferência de Ren-da - PTR constituem componentes defundamental importância do sistema deproteção social do país para a redução dasdesigualdades e no combate à pobreza,tanto no curto como no longo prazo. Es-tes programas normalmente fornecemuma transferência de renda às famílias,que permite o alívio imediato da pobre-za; condicionalidades que, por meio doreforço do acesso aos serviços de Saúdee Educação, buscam contribuir para a rup-tura do ciclo intergeracional da pobrezae para a superação das vulnerabilidadesidentificadas; e os programas complemen-tares, que visam ao desenvolvimento daspotencialidades das famílias por meio daoferta de outros serviços, como Educa-ção de Jovens e Adultos, capacitação equalificação profissional e acesso amicrocrédito.

Os PTR são vistos como um instru-mento eficaz e de baixo custo para re-dução da pobreza e ampliação deoportunidades aos pobres, podendoter um expressivo impacto sobre apobreza e desigualdade.

Dos programas de transferência de ren-da em execução, o programa Bolsa Fa-mília representa o de maior abrangênciasocial do País. Criado em outubro de2003, por meio da Medida Provisória no.132, é um programa de transferência di-reta de renda com condicionalidades,que beneficia famílias em situação de po-

breza (com renda mensal per capita deR$ 70,01 a R$ 140,00) e extrema pobre-za (com renda mensal per capita de atéR$ 70,00), de acordo com a Lei 10.836,de 09 de janeiro de 2004 e o Decreto nº5.749, de 11 de abril de 2006.

O programa trouxe como principais ino-vações, em relação às experiências detransferência de renda implantadas nopaís durante a década de 1990, a possibi-lidade de estender o benefício para famí-lias pobres sem filhos ou indivíduos bio-logicamente vulneráveis, e a implantaçãodo mecanismo do Cadastro Único(CadÚnico) como forma de garantir mai-or controle e transparência na transferên-cia dos recursos.

O Programa Bolsa Família nasceu deexperiências anteriores dos programasde distribuição de renda e, atualmente,constitui-se em um componente funda-mental do sistema de proteção social dopaís, apesar das críticas e polêmicas en-volvendo o programa (LAVINAS,2007; ZIMMERMANN, 2007). Osprincípios norteadores do ProgramaBolsa Família são a intersetorialidade,a descentralização e o controle social etem como objetivos básicos combatera miséria e a exclusão social e promo-ver a emancipação das famílias pobres(BRASIL, 2004).

No Governo do Estado de São Paulo a,primeira iniciativa de transferência de ren-da data de 1984, quando o GovernadorFranco Montoro criou o Instituto de As-suntos da Família – IAFAM.

A atribuição do IAFAM era a de propor-cionar às crianças e adolescentes condiçõesfavoráveis ao pleno desenvolvimento físi-co e mental por intermédio de auxílio àprópria família, transferência a lar substi-tuto e a realização das atribuições do anti-go Serviço de Colocação Familiar.

A prestação de auxílio à família consistiaem repasse financeiro, por criança ou ado-lescente, ao seu responsável. O valor cor-respondente era de 1/10 (um décimo) a1/3 (um terço) do salário mínimo vigente,de acordo com o estudo social da família.

“O Renda Cidadã

atende 162 mil

famílias em 644

municípios

do Estado

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Em caso de moléstia grave ou de motivosjulgados excepcionais, o valor concedidopoderia ser acrescido de até 1/4 (um quar-to) do salário mínimo vigente, per capita.

Em 1997, a Secretaria de Assistência eDesenvolvimento Social - SEADS am-pliou o atendimento às famílias, agregan-do outros critérios de elegibilidade e ofe-recendo ações socioeducativas com oobjetivo de favorecer o fortalecimentodo grupo familiar. Foram instituidos en-tão os programas Complementando aRenda e Fortalecendo a Família. O sub-sídio financeiro repassado pelo Comple-mentando a Rendaera de R$ 50,00 porpessoa da família.

Em 2001, a Pasta ino-vou o modelo de trans-ferência de renda às fa-mílias e criou o Progra-ma Renda Cidadã.

O Renda Cidadã temcomo objetivo aten-der famílias em situa-ção de pobreza, comrenda mensal percapita de até meio sa-lário mínimo nacio-nal, mediante ações complementares etransferência direta de renda, como apoiofinanceiro temporário.

Valor do benefício: R$ 80,00 / mês.

São atendidas 162 mil famílias em 644municípios.

Acoplado ao Renda Cidadã, a SEADS fi-nancia ações de qualificação profissional pormeio do Complementando Renda Cida-dã, aos membros das famílias beneficiáriasdo programa, de modo a possibilitar suainserção econômica e social, a contribuirpara a superação da situação de extremapobreza e oferecer uma via capaz para aemancipação e autonomia. É necessárioacreditar em todas as pessoas, reconhecersuas capacidades, nelas investir e criar con-dições necessárias para que essas capacida-des sejam desenvolvidas através de consci-

entização, mobilização e capacitação, fazen-do emergir seu empreendedorismo no de-senvolvimento de atividades produtivas quepossam gerar renda, promoverem sua in-dependência e proporcionar melhores con-dições de vida para si, suas famílias e ascomunidades onde vivem.

Em 2004, considerando os jovens de 15a 24 anos como o segmento populacionalmais penalizado pela falta de oportuni-dade de trabalho e pela violência urba-na, o Governo do Estado de São Pauloinstituiu o Programa Ação Jovem.

O Ação Jovem tempor objetivo promovera inclusão social de jo-vens de 15 a 24 anosde idade, pertencentesa famílias com rendaper capita mensal deaté meio salário míni-mo nacional, median-te a transferência dire-ta de renda, comoapoio financeiro tem-porário para estimulara conclusão da escola-ridade básica, somadaa ações complementa-res e de apoio à inicia-

ção profissional.

Valor do benefício: R$ 80,00 / mês.

Atualmente atende cerca de 90 mil be-neficiários em 641 municípios do Esta-do de São Paulo.

São oferecidas ações socioeducativas pe-las prefeituras e a SEADS firmou parceriacom o Serviço Social do Comércio – Sesc-SP e com o Serviço Nacional de Aprendi-zagem Comercial - Senac-SP para que osbeneficiários tenham acesso a atividades decultura, esporte, lazer e cursos de prepara-ção para o mercado de trabalho.

(*) Coordenadora de DesenvolvimentoSocial(**) Coordenadora Estadual do Progra-ma Ação Jovem

ARTIGOS

O Ação Jovem

atende cerca de

90 mil beneficiários

em 641 municípios

do Estado

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presente artigo pretende ex-por algumas reflexões resul-tantes de uma pesquisa maisampla realizada para a mono-grafia apresentada como tra-

balho de final do Curso de Especializa-ção em Direitos Humanos da Escola Su-perior da Procuradoria Geral do Estadode São Paulo. Como indica o próprio tí-tulo da monografia, a saber “Rede SocialSão Paulo: a dimensão ético-política daimplementação do Estatuto da Criança edo Adolescente - ECA”, o tema da éticaem sua relação com a política encontra-se no fulcro da análise desenvolvida.

As considerações contidas na monografiae reproduzidas parcialmente neste texto sãofruto da análise de documentos da RedeSocial São Paulo: relatórios mensais e anu-ais do projeto, depoimentos dos participan-tes, atas das reuniões do Comitê Gestor,relatórios das avaliações realizadas, dentreoutras fontes documentadas. Outra estra-tégia de pesquisa foi a observação partici-pante, o acompanhamento presencial daexecução de todas as fases do projeto.

A Rede Social, através do Projeto Envol-ver, representa uma experiência significa-tiva no terreno de implementação do ECAe caracteriza-se por métodos inovadoresde gestão e capacitação de capital huma-no e social para a promoção da proteçãoe da garantia dos direitos das crianças eadolescentes no Estado de São Paulo.

Inicialmente a missão da Rede Social São

Paulo era definida como o enfrentamentoda pobreza e da desigualdade social pre-sente no Estado de São Paulo, a partir deuma abordagem territorial, oferecendoprojetos articulados que permitissem me-lhorar as condições de vida das famílias eaumentassem a capacidade de inserção so-cial e produtiva dos indivíduos.

No final do ano de 2006, a Rede SocialSão Paulo, ajustou sua missão que ficouassim definida: “Contribuir para a garan-tia dos direitos humanos no Estado deSão Paulo – articulando governos, em-presas e sociedade civil – visando apri-morar e fortalecer os sistemas e redesna construção do bem comum”.

Associando em um trabalho integradorepresentantes dos governos estadual emunicipal, da classe empresarial, de ins-titutos e fundações e de entidades semfins lucrativos e orientando as discussõese reflexões para o campo ético-político,

Marly Cortez (*)

Marly Cortez

Rede Social São Paulo

A dimensão ético-política daimplementação do ECA

ARTIGOS

O

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esta inovadora experiência revaloriza asatitudes de cooperação, de solidarieda-de e de corresponsabilidade. Os seusbons resultados, atestados em avaliaçõesexternas, apontam para a necessidade deanalisar os pressupostos e técnicas de suametodologia e de suas estratégias em vistade favorecer o aprimoramento de outrosprogramas e projetos atuantes na imple-mentação do ECA.

É esse o objetivo para o qual este artigopretende contribuir além de evidenciara forma pela qual a Rede Social São Pau-lo e o Projeto Envolver vêm contribuin-do para a organização da sociedade, paraa descentralização das ações sociais, qua-lificando a demanda e a formação de re-des locais e regionais com potência paraas necessárias alterações no cuidado enos impactos referentes à vida de crian-ças e adolescentes e suas famílias.

Por meio do Envolver, têm-se tambémprocurado alternativas ao modelo vigente,à judicialização excessiva de questões paraas quais há soluções, desde que haja com-partilhamento de responsabilidades, comotrata o artigo 227 da CF 1988.

Segundo diversos estudiosos desse tema,a sensação generalizada de vulnerabili-dade leva a sociedade atual a voltar-separa o Judiciário, exigindo também a apli-cação mais rigorosa das leis. Esses indiví-duos “fragilizados” buscam no Judiciáriouma saída para conflitos cotidianos banais,fato que tem alterado completamente aidéia de cidadania, que, cada vez mais dis-tante da idéia de liberdade, passa a incor-porar a possibilidade de intervenção doEstado em questões concernentes à vidaprivada, uma vez que o “outro” é perce-bido apenas como vítima ou como amea-ça. Esse transbordamento da judicializa-ção faz com que a sociedade deixe de con-siderar os aspectos estruturais dos proble-mas e lance sobre cada indivíduo em par-ticular todas as responsabilidades por eles.

Nesse sentido, nos encontros do projetoEnvolver são propostas alternativascomo, por exemplo, a mediação de con-flitos, a justiça restaurativa, enfim, a cul-tura da paz, pelo entendimento de que,como defende Augusto de Franco

(2008), as redes compõem-se de sereshumanos conectados entre si e o meta-bolismo correspondente dessas redes énecessariamente democrático, visandoatingir um conjunto de objetivos gene-rosos, na medida em que elas já fazemparte desses objetivos, estão coimplica-das em sua realização. Uma articulaçãoem rede é uma organização formada emtorno de uma identidade; não pode serum esquema urdido para se mandar empessoas. Forma-se em torno de um so-nho coletivo, de um desejo compartilha-do, de uma visão de futuro e, a partirdaí, formula sua missão ou propósito eelabora seus valores e ou princípios. Oque a caracteriza é uma causa e ummodo peculiar de ser e de agir.

Acredita-se que as características da RedeSocial São Paulo, como seu ineditismo, aintersetorialidade, o funcionamento emrede, o planejamento e a execução coleti-vos, a administração por indicadores, aimportância dada à atividade de comuni-cação são fatores importantes para seusbons resultados. No entanto, concomitantea todos esses fatores, é imprescindível umaatitude amorosa, virtuosa, com o máximode compreensão de todos os setores soci-ais para equacionar a difícil e perturbadorasituação de tantas crianças e adolescentesem nosso país que, por viverem em abso-luta condição de pobreza, veem suas vi-das e a das gerações que os sucedem com-prometidas de maneira irreversível. Esseciclo de pobreza e de privação de toda asorte que vem se perpetuando há gera-ções em nosso país e, por que não dizer,também em nosso estado, só pode serquebrado com a incitação à participaçãoda sociedade em cada localidade para aformação de “rodas de proteção”, de “re-des de segurança”, ou seja, com o desen-volvimento do protagonismo local.

A descentralização de recursos e pode-res facilita a participação na gestão dasPolíticas Sociais através de metodologiasque devem levar em conta as carências epotencialidades locais. A articulação en-tre a oferta governamental e não-gover-namental com as demandas comunitári-as implica um forte investimento na ca-pacitação dos atores públicos e privados

ARTIGOS

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para a gestão de programas, bem comoa implementação de mecanismos efici-entes e ágeis de monitoramento, avalia-ção e controle social dos gastos públicos.É essa a visão que permeia a Rede Soci-al e o Projeto Envolver. Esses programasbaseiam-se justamente na concepção deque, para combater todas as formas depobreza e todas as formas de exclusão, ecada uma delas em particular, é necessá-rio que as pessoas e grupos que se en-contram em tais situações sejamdemovidas da apatia por meio de açõesmobilizadoras que garantam suas efeti-vas participações e que possam gerar so-lidariedade social e processos sustentá-veis de desenvolvimento humano e soci-al. Isto não implica que o Estado deixede exercer suas funções de garantir a in-tegração, a regulação e o bom funciona-mento da sociedade. Mas, neste caso, aprópria sociedade gere meios de soluci-onar os problemas com os quais o Esta-do por si só não seja capaz de lidar.

Parte considerável dos 100 militantes his-tóricos dos direitos das crianças e ado-lescentes identificados pelo Projeto e quepassaram constituir os “pilares” da Redeno Estado desconhecia a importância demobilizar e sensibilizar a sociedade localpara o tema da infância como primeiraação de uma cadeia que se encerra coma execução da Política Pública e seu mo-nitoramento e avaliação. A carência dosdiagnósticos da situação da infância e ado-lescência em cada localidade do estadofaz com que, nas municipalidades, asescolhas das Políticas Públicas não si-gam uma ordem de prioridade. Há des-conhecimento generalizado por parte dapopulação sobre a existência dos Con-selhos de Direitos, dos Conselhos de Ci-dadania, dos Conselhos específicos deAssistência, Educação, Saúde etc., bemcomo de sua importância como instân-cias de representação, participação e decontrole social.

Durante as fases iniciais, o projeto bus-cou demonstrar que a Rede Social nãose constituía em uma nova estrutura, quenão dispunha de recursos financeiros aserem disponibilizados aos municípios,mas que seu intuito era o de promover

sinergias e potencializar iniciativas, recur-sos e estruturas já existentes.

Mobilizar pessoas no sentido decomovê-las, ganhar seu interesse, engajá-las na causa da infância têm sido umadas tarefas mais bem realizadas da RedeSocial São Paulo. Aproximadamente 13mil operadores de direitos voluntaria-mente compareceram aos encontros doProjeto Envolver, embora com um nú-mero bastante variável de horas de ca-pacitação identificadas no banco de da-dos do projeto.

A possibilidade da cooperação e da soli-dariedade, valores que marcaram as soci-edades humanas durante boa parte da his-tória, foi retomado nas diversas tradiçõessocialistas dos séculos XVIII ao XX e estáressurgindo sob a forma de diversos ex-perimentos de participação. Nas cidadesmédias e pequenas do estado de São Pau-lo, nas quais o poder está mais próximoda sociedade, frutificam, com rapidez, ini-ciativas para a garantia dos direitos das cri-anças e adolescentes através da colabora-ção e sinergia. O desafio é criar as condi-ções para que isso ocorra, tarefa que aRede vem procurando desempenhar.

Ao utilizar indicadores para medir a im-plementação do Sistema de Garantia deDireitos da Criança e do Adolescente -SGDCA, a Rede Social São Paulo sugereque a situação das crianças e adolescentesseja utilizada como indicador de sustenta-bilidade de uma sociedade, uma vez queconstitui fundamento para a construçãode um mundo mais sustentável. Apoia-seno argumento de que esse público nãoapenas reflete a qualidade atual da socie-dade como contém em si as possibilida-des de construção de um futuro melhorpara todos.

À medida que o Projeto Envolver foisendo executado, pôde-se observar quenos municípios onde as pessoas efetiva-mente se mobilizavam, alteravam suasrotinas, se constituíam em grupos e ado-tavam a prática de reunir-se para discu-tir os problemas das crianças e adoles-centes de sua comunidade, havia umapercepção coletiva de acerto, certo entu-siasmo, mesmo antes dos resultados se-

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rem visíveis. Nestas localidades geral-mente havia bons líderes, pessoas dife-renciadas, com capacidade convocatóriae que possuíam aprovação dos seus pa-res, pela sua trajetória pessoal, profissio-nal, enfim sua história de vida.

Parafraseando Bernardo Toro (2005), aselites dirigentes são fundamentais nos pro-cessos de mudança social, pois somenteelas podem criar as convergências de inte-resses. Elite, no entanto, diferentemente doque muitos entendem, não é sinônimo destatus econômico, mas de capacidade demodificar os modos de pensar, sentir ouagir de uma sociedade com sua atuação edecisão. Quando uma elite trabalha paraproduzir bens e serviços para o bem co-mum, é uma elite dirigente. Já quando elaprivatiza o público ou usa sua influência ecapacidade para produzir exclusão e desi-gualdade, é classe dominante.

Nas comunidades em que, com a media-ção do Envolver, essas lideranças aflora-ram e, por livre escolha e com assentimentode seus pares, assumiram como pilares darede local, as iniciativas multiplicaram-see, não raro, as soluções encontradas paramelhorar a vida das crianças e adolescen-tes foram singulares, apropriadas e efici-entes. No entanto, vale ressaltar que essaslideranças com perfis bastante diversificados,de ambos os sexos, com idades distintas, comalto ou baixo poder aquisitivo, com forma-ção diferenciada ou não, possuem algumascaracterísticas comuns. São pessoas genero-sas, compassivas, comunicativas, compreen-sivas consigo e com os demais, otimistas,resilientes, cooperativas, responsáveis, com-prometidas, reflexivas, enfim, poder-se-ia aquifazer um rol de suas virtudes que coincidemcom as já descritas e valorizadas desde a anti-guidade clássica. Essa constatação, fruto devivência e observações assistemáticas, inspi-rou este trabalho.

Pôde-se comprovar, ao longo dos qua-tro anos de execução do Projeto Envol-ver, o que já é consenso entre os opera-dores de direitos: que a forma como cadaum trabalha, produz, consome, investe,enfim, participa da sociedade acaba in-terligando-se e gerando impactos na vidada criança e do adolescente. Nesse sen-

tido, foi fundamental para o grupo de téc-nicos envolvidos perceber-se como agen-te de promoção dessa mudança, que ar-ticula as dimensões sociopolítica, econô-mica, ambiental, de qualidade de vida e,sobretudo, ético-política na busca de co-munidades mais desenvolvidas, equilibra-das, justas e democráticas.

A Rede Social São Paulo continuará aargumentar que a questão da infância eadolescência não é apenas um desafiopara todos os profissionais como requercompromisso e urgência. Não deve ha-ver a dissociação entre os que pensam eos que fazem, mas a consciência de quetodos são responsáveis e que devem servencidos preconceitos entre todos os en-volvidos, abrindo espaço para uma par-ticipação efetiva e global.

O desenvolvimento integral de uma pes-soa não se dá na vida privada, tampoucona vida pública. As famílias e cada um deseus membros devem ter oportunidadede fazer projetos de vida e a chance derealizá-los. Essa responsabilidade é de to-dos e deve ser compartilhada de maneiraa propiciar trocas por meio de aprendiza-gem horizontal. As práxis humanas devemser reconstruídas através de uma revisãoética, pedagógica e política, para que seja-mos capazes de enfrentar o desafio de re-cuperar tudo o que se perdeu em termosde identidade e solidariedade e de lutarpor uma utopia, ou seja, a proteção inte-gral de nossas crianças e adolescentes.

O que se propõe com essa ação é essen-cialmente estimular uma mudança dementalidade e de atitudes, hoje em ple-no curso, como de fato demandam osparadigmas atuais de cidadania e respei-to aos direitos humanos.

Nesse sentido, entende-se que a Rede Soci-al, com a execução do Envolver, exerce essafunção de possibilitar a ação virtuosa, amo-rosa, desde que visa a induzir uma mudan-ça de paradigma que remete ao seu lema“juntos fazemos mais e melhor”.

(*) Secretária Executiva da Rede SocialSão Paulo

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o nosso país, são dois osmarcos fundamentais da po-lítica de assistência social. Oprimeiro deles foi estabele-

cido pela Constituição de 1988 e o se-gundo, pela Lei no. 8.742/93, a chama-da Lei Orgânica da Assistência Social,que regulamenta o texto constitucionale fixa as normas e os critérios para or-ganização da assistência social. A partirdesses fundamentos, estrutura-se e apri-mora-se a rede de proteção e promo-ção social do país, que se estabelececom a Política Nacional de AssistênciaSocial e se consolidada com a criação,em 2005, do Sistema Único de Assis-tência Social – SUAS. Nas palavras doentão Ministro do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, PatrusAnanias, “o SUAS é o mecanismo quepermitiu interromper a fragmentaçãoque até então marcou os programas dosetor e instituiu, efetivamente, as polí-ticas públicas da área e a transforma-ção da assistência em direito”. No Es-tado de São Paulo, as preocupaçõescom as vulnerabilidades do cidadãochegaram antes, com a criação, aindana década de 60, da Secretaria de Pro-moção Social, antecessora da atual Se-cretaria Estadual de Assistência e De-senvolvimento Social – SEADS.

O contexto institucional da assistência edo desenvolvimento social no país é ra-cional e estruturado, mas é importanteassinalar que todo o esforço em prol dos

desvalidos – dada a própria natureza des-sa ação – fica limitado pelo volume derecursos que os entes governamentaisdestinam em seus respectivos orçamen-tos para tal fim. Nada mais, nada menos.De acordo com as normas do SUAS, jun-tam-se, nos municípios onde a ação deassistência ou de desenvolvimento éexercida, os recursos provenientes dosgovernos federal e estadual com os daspróprias cidades para a prestação da as-sistência ou para a promoção do desen-volvimento (ou resgate para a vida) doser considerado fragilizado ou vulnerá-vel. Há que se registrar o formalismo daproteção outorgada: básica, especial.

O que se pretende neste texto é analisare discutir duas questões e uma consequ-ência. Em primeiro lugar, o “burocratis-mo” e a limitação dos recursos destina-dos ao sistema de proteção social e, de-pois, a necessidade de articulação nesse

Vicente de Paula Oliveira (*)

Assistência e Desenvolvimento

Social, a Importância da Dimensão

Econômica no Processo

Vicente de Paula Oliveira

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N

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processo do social com o econômico, fatopouco lembrado pelos que militam na área,embora abranja tanto o universo institucionalcomo o pessoal-profissional.

O excesso de normas, muitas vezes mi-nuciosamente detalhadas, regulamentosem profusão, obrigatoriedades de inscri-ções (e de sua posterior comprovação)em diferentes órgãos ou entidades, aabundância de conselhos e órgãos afins,exigências próprias de lugares ou situa-ções onde a ética é rarefeita, caracteri-zam o sistema. É provável que ninguémtenha, ainda, pensado no custo econômi-co desses excessos burocráticos. A pro-pósito, aqui se coloca um questionamen-to interessante: os chamados municípiosde pequeno porte (no Estado de São Pau-lo, entre os 645, existem muitos deles)possuem – de fato — condições orçamen-tárias de suportar todo o aparato exigidopara a promoção da proteção social? Éimportante sublinhar, por outro lado, queum mínimo de estrutura organizacionalé necessário. O que se deplora na Assis-tência Social é o excesso, o que se lamentaé a inversão que se faz entre os meios eos fins. Aqueles parecem mais importan-tes do que estes e, no entanto, seria ade-quado que se tivesse, diante de tantas ne-cessidades, mais ação, menos normas,mais pragmatismo, menos relatórios, maisresultados concretos, menos órgãos, maisdesenvolvimento e sustentabilidade. Veja-se, por exemplo, que com todos os pro-tocolos assinados, com todas as recomen-

dações feitas, com todas as normas e osplanos formulados, a última PesquisaNacional por Amostra de Domicílios, aPNAD, assinalou aumento do trabalhoinfantil no Estado de São Paulo.

As chamadas organizações não governa-mentais constituem-se em excelentes exe-cutoras/parceiras das entidades governa-mentais. Mas, há nesse caso um peque-no senão: essas entidades – em condi-ções normais – funcionam à base de do-ações do setor privado e mesmo dosGovernos, com base no sistema de con-vênios. Louvável trabalho, mas limitadono seu alcance, dado o volume de recur-sos conseguidos sob a forma de doações.Sobretudo num país onde a cultura dafilantropia por parte das entidades priva-das, ao contrário do que ocorre nos paí-ses desenvolvidos, é quase inexistente.Seria interessante que essas organizaçõesfossem além do aporte da capacidadeorganizacional e do trabalho voluntáriode lideranças populares, e buscassem for-mas alternativas e sustentáveis de obten-ção de receitas para o desenvolvimentodos seus objetivos, na realização do seutrabalho.

Assim, dados os excessos da burocraciae a limitação dos recursos, é preciso eoportuno, em face do tempo decorridoem termos de experiência (já) vivida e dosdesafios do futuro que se tem pela fren-te, desbravar novos caminhos, capazes de,naturalmente, nos levar à ampliação dos

Articular a questão social

com a Economia, pois, é

nesta que se encontram as

outras veredas da salvação

das populações vulneráveis

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horizontes da assistência e do desen-volvimento social. Caminhos que redu-zam a distância entre o bem-estar e apobreza da maioria da população, pois,o Brasil ostenta, atualmente, o terceiropior índice de desigualdade no mundo(só perde para Bolívia e Haiti), de acor-do com o relatório das Nações Unidas/PNUD sobre a América Latina, mes-mo com o aumento dos gastos sociaisnos últimos dez anos.

É, então, que se conclui ser importan-te minimizar o “burocratismo”, ampli-ar os recursos e promover sua susten-tabilidade. E também articular a ques-tão social com a economia, pois, é nes-ta que se encontram as outras veredasda salvação das populações vulneráveis.As instituições e os técnicos que traba-lham na área da assistência e do desen-volvimento social poderiam ampliar acapacidade de atuação promovendo earticulando aquela junção.

A economia, na realidade, é um estu-do do método de alocação de recursos(físicos e humanos) escassos entre finsalternativos. A alocação desses recur-sos limitados se faz mediante propos-tas de gastos e, consequentemente, sur-ge a necessidade de avaliar – em ter-mos de oportunidade, conveniência ecustos — cada uma delas. Esta análiseprocura comprovar, por meio de dife-rentes algoritmos, a oportunidade e asvantagens de alocar recursos para a pro-dução de determinado bem (mercado-rias ou serviços). Esta é a análise priva-da, mas existe, igualmente, a análisesocial do investimento ou do gasto, cujapreocupação é verificar, com a utiliza-ção dos chamados custos de oportuni-dade ou sociais, se uma pretendida pro-dução de bens é vantajosa do ponto devista de toda a sociedade. Estes são osconceitos iniciais propostos pela Ciên-cia Econômica, mas existem outros,igualmente, importantes e estratégicos.

Investimento gera renda e cria empre-gos. E o corolário é imediato: é preci-so investir para desenvolver. Por outro

lado, mediante a melhoria (e da equi-dade) na distribuição da renda, da cria-ção de empregos, da preparação da mãode obra (treinamento, capacitação, aper-feiçoamento) para o trabalho, pode-seoferecer às famílias as condições para aampliação das habilidades e das compe-tências dos seus membros. Além disso,em termos organizacionais, do lado doEstado isso impõe um trabalho de inte-gração real e efetiva entre Ministérios, Se-cretarias Estaduais e Municipais e Depar-tamentos para uma ação capaz de juntarassistência, promoção do desenvolvimen-to, educação e saúde.

Em função dessa articulação do socialcom o econômico, devemos, todos osque atuam no setor da assistência e dodesenvolvimento social, ampliar o instru-mental de análise dos problemas e dassoluções propostas, utilizando (também)o ferramental da Economia, visando à efi-ciência na alocação dos recursos, ao au-mento do emprego, à consequente ob-tenção de renda pelo próprio esforço doser protegido e atendido (e não pela sim-ples oferta de benesses sujeitas a diferen-tes condicionalidades), à melhoria na dis-tribuição da renda, à desoneração da fo-lha de pagamento, à reforma do sistematributário capaz de baixar o “custo Bra-sil” e tornar os produtos consumidos pelamaioria da população mais baratos. E fi-nalmente, propugnar, igualmente, poruma educação fundamental e média (in-cluído o ensino técnico) de alta qualida-de, pois, todos sabemos que com maiortempo de escolaridade o emprego é con-seguido com maior facilidade.

Dessa forma, haverá menos assistencia-lismo e mais dignidade para a pessoa hu-mana. Menos paternalismo e mais esforço(próprio) de superação, mediante o empre-endedorismo. Menos dependência e maissustentabilidade.

(*) Economista e Secretário Adjunto

da SEADS

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“Gosto muito do que faço”, enfatiza com umsorriso a diretora do Centro de Formalização deConvênios – CEFC, Roseli Rocha da Cruz. Fun-cionária da SEADS desde 1998, diz que ao dei-xar de atuar como psicóloga (sua formação aca-dêmica), descobriu a verdadeira vocação.

“Eu trabalhava no Centro de Acompanha-mento e Desenvolvimento Infantil –CADI, da Secretaria de Saúde, quando foiterceirizado. Todos os funcionários foramincorporados pela Assistência Social. Foiaí que entrei na antiga Coordenadoria deFomento da Rede de Assistência Social, aCofras, para trabalhar na Macro Sudestedando suporte às Diretorias Regionais –Drads. Em 2005 houve a reestruturaçãoda Seads e foi criado o CEFC, pelo qualrespondo desde então.

O Centro de Formalização é responsávelpela instrução de todos os convênios. Ofe-rece também todo suporte às Drads, paraque cada processo seja devidamente instruí-do, possibilitando a transferência de recur-sos estaduais a prefeituras e entidades soci-ais de todo estado – sejam estas provenien-tes de indicações parlamentares ou de pro-gramas e projetos como o “Complementan-do Renda Cidadã” e “Quero Vida”.

“Cada processo, para mim, é uma históriadiferente e uma grande responsabilidade.Uma coisa que saia errada tem efeitodominó. Mas, apesar de cansativo, meidentifico muito com o trabalho”.

Roseli conta também que há uma grandeharmonia de esforços entre todos que es-tão relacionados a esta tarefa, a começarno próprio setor e passando pelas áreasda Coordenadoria de Administração deFundos e Convênios – CAFC, das equi-pes das Diretorias Regionais, daConsultoria Jurídica e pela equipe de ga-binete do Secretário ajunto.

Este ano, Roseli conta que a SEADS foirecordista em números de convênios fir-mados. “Chegamos a formalizar mais de

2.000 convênios. Tínhamos prazo aperta-do, razão pela qual tivemos que trabalharaos sábados para dar conta de tudo. Masera até divertido: trouxemos lanches, foiquase um piquenique”, brinca.

Em suas memórias, lembra de uma via-gem, em 2001, para Rio Claro, onde foirealizado evento de assinatura de convêni-os na antiga ferroviária. “Tínhamos quelevar os processos inteiros na mão paraserem assinados. O porta-malas do carroficou lotado. Hoje, felizmente, temos no-vos procedimentos, bastando apenas ostermos para assinatura”, conta Roseli.

Fazendo uma espécie de balanço, a dire-tora lembra que houve muitos avançosna área, principalmente em função daevolução tecnológica, a informatizaçãodos processos e a elaboração dos manu-ais de orientação, disponíveis no site daSeads. “O trabalho que eu demorava ho-ras, agora gasto poucos minutos. Além domais, na minha equipe, um ajuda o ou-tro. Quando alguém percebe que temmuito serviço, por iniciativa própria já sedispõe a ficar até mais tarde para concluiro trabalho. Existe um verdadeiro espíritode coleguismo”, finaliza Roseli.

Roseli Rocha da Cruz

Diretora do Centro de Formalização de Convênios - CEFC

POR DENTRO DA SEADS

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Galeria de

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Secretários

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