revista brasil social ii

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revista BRASIL social 25 anos de ASHOKA A ASHOKA reuniu na Argentina Fellows de 13 Países da América Latina BILL DRAYTON FORTALEZA Tem sol, mar E PROJETOS SOCIAIS Profissionalizar O 3º setor se organiza Entrevista com o americano que há 25 anos fundou a Ashoka, hoje presente em mais de 60 Países, N o 2 - 2007 Ação Saúde Médicos na guerra contra a desigualdade EXCLUSIVO

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Revista Brasil Social II

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Page 1: Revista Brasil Social II

r e v i s t a B R A S I L s o c i a l

25 anos de ASHOKAA A S H O K A r e u n i u n a A r g e n t i n a F e l l o w s d e 1 3 P a í s e s d a A m é r i c a L a t i n a

B I L L D R A Y T O NF O RTA L E Z AT e m s o l , m a rE P R O J E T O S S O C I A I S

P r o f i s s i o n a l i z a rO 3 º s e t o r s e o r g a n i z a

E n t r e v i s t a c o m o a m e r i c a n o q u e h á 2 5 a n o s f u n d o u a

A s h o k a , h o j e p r e s e n t e e m m a i s d e 6 0 P a í s e s ,

No 2

- 20

07

A ç ã o S a ú d eM é d i c o s n a g u e r r a

c o n t r a a d e s i g u a l d a d e

EXCLUSIVO

Page 2: Revista Brasil Social II

O Projeto CASA DA CRIANÇA é uma organização sem fins lucrativos com reconhecimento federal, classificada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).

Atua em rede nas diferentes regiões do País. As ações do Projeto promovem a união das classes dos arquitetos, construtores e empresários da construção, que desde 1999 vêm reformando e construindo espaços de atendimento a crianças e adolescentes socialmente desfavorecidos, como abrigos, creches, espaços de adolescentes, spaços de atendimento a crianças com câncer,

dentre outros. A iniciativa, que começou em Recife com a reforma de um abrigo público expandiu-se para mais de 30 instituições nas diversas regiões do País. Hoje, são mais de 2.000 arquitetos e decoradores, 1.000

construtores e mais de 20 mil empresas que doam seus serviços e produtos, acreditando queé reformando o presente que se constrói o futuro!

Abrangência NACIONAL do PROJETO CASA DA CRIANÇA:O Projeto CASA DA CRIANÇA desenvolve ações visando defender os direitos das crianças e adolescentes socialmente desfavoreci-das em território nacional através de:

√ Intervenções Físicas - Reformas e construções de unidades de atendimento a crianças e adolescentes a ações de interesse nacional que primam pela qualidade do atendimento, como o Pro-grama Cia dos Anjos;√ Intervenções Humanas - Programa CIA DOS ANJOS que forta-lece o atendimento nas unidades após as intervenções;√ Influência nas políticas públicas - Cobrando junto aos gover-nos suas responsabilidades para com a infância;√ Combate ao Câncer infanto-juvenil - Atuação na melhoria do atendimento ao câncer infanto-juvenil, junto com o Parceiro Insti-tuto Ronald McDonald;

√ Núcleo de Tecnologia do Projeto CASA DA CRIANÇA - Ela-bora tecnologias sociais que possibilitam disseminar ações e beneficiar milhares de crianças nas diferentes regiões do País;√ FNICS – Fórum Nacional da Indústria da Construção Social que mobiliza os setores da construção, Arquitetura e Urbanismo a favor da construção de um País mais justo e igualitário;√ Revista BRASIL SOCIAL que é distribuída em 15 estados de todas as regiões do País, e objetiva a divulgação das ações so-ciais do Brasil e do Projeto CASA DA CRIANÇA;√ Dentre outras atuações que primam pela conscientização da sociedade, através da união entre os diversos setores privados, governamentais e não-governamentais.

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Conheça mais sobre o Projeto CASA DA CRIANÇA acessando o site: www.projetocasadacrianca.com.br

O IMPACTO NA VIDA DAS CRIANÇAS

ÁREA DE SAÚDE Significativo aumento da imunidade das crianças e conseqüente diminuição de casos de asma e bronquite, além de quadros alérgicos após as intervenções físicas nas instituições. As unidades antes das reformas apresentavam inúmeras infiltrações, mofos e goteiras em ambientes onde as crianças passavam boa parte do tempo, a exemplo de muitos dormitórios e salas de aulas. Com as reformas, obteve-se a redução dos problemas de saúde das crianças atendidas.

ÁREA DE EDUCAÇÃO Melhor desempenho escolar, fruto do maior interesse nos

estudos, agora proporcionado em ambientes lúdicos e bem preparados.

AUT0-ESTIMA Apontada em 100% das unidades diagnosticadas,a elevada auto-estima das crianças e dos funcionários.

CONSUMO Economia no consumo de água e de energia elétrica em virtude da substituição do sistema hidráulico

e elétrico nas unidades atendidas.

ÁREA AMBULATORIAL “ Você não sabe como hoje me sinto forte para continuar a luta que venho enfrentando. Não é fácil ver minha filha sofrer, estar longe de casa, da família... Quando vi a quantidade de pessoas aqui, unidas para ajudar a gente, vi que não estou só e senti uma força muito grande para continuar. Se Deus quiser, tudo vai dar certo. Não vou dizer que estar num hospital, mesmo lindo assim, é bom, mas ao menos vamos esquecer um pouco a tristeza do hospital porque vocês deixaram tudo muito diferente, muito mais alegre, nem parece um hospital”.Depoimento da mãe de uma paciente

Dentre os resultados obtidos*, podemos destacar:

* Os resultados obtidos têm como base o Diagnóstico dos Resultados, fruto de um trabalho desenvolvido pelo Projeto CASA DA CRIANÇA com o apoio da AVINA (instituição suíça que apóia projetos sociais na América Latina), e a NASSAU (Patrocinador Nacional), no qual foram diagnosticados aspectos nas mudanças físicas e humanas das instituições atendidas de 1999 a 2004.

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e d i t o r i a l

NESTE EDITORIAL PEÇO PERDÃO A VO-CÊS, LEITORES, POR USAR ESTE ESPAÇO não para falar da revista, mas para falar de um momento de indignação nacional. Da revista, espero do fundo da alma que gostem, tirem algo de bom, e que sigam os tantos bons exemplos que aqui expressamos e que estes possam nos ajudar a construir o Brasil que queremos. É um prazer imensurá-vel contextualizar um material como este. Tomo aqui emprestado o hino nacional, em nome do povo brasileiro que se deparou com a crueldade, barbaridade, o impossí-vel de se imaginar que poderia acontecer, aconteceu ao pequeno João Hélio, da mes-ma idade do meu filho João. Tento traduzir a dor de tantas mães como eu indignadas, e pior, o sentimento que temos de impotência e medo devido ao estado de insegurança a que o Brasil chegou. Crianças socialmente desfavorecidas, entendendo o termo como “de baixa ren-da”, mas cabe aqui uma ratificação a po-pularização do termo, em nome das crian-ças como o João Hélio de 6 anos, o Vinícius

de 5 anos, que foi “queimado vivo”. Casos pesados? Realmente de embrulhar o estô-mago, ou melhor, a alma! Essas e tantas ou-tras crianças “socialmente desfavorecidas”, desfavorecidas pela sociedade que está em guerra, pela política que é de corrupções e não foca com veemência os problemas reais do País, pela justiça que não é justa! Des-favorecidas do DIREITO DE VIVER, desfa-vorecidas de brincar livres nas ruas, andar de bicicleta pelos quarteirões das cidades, jogar bola, sair de suas casas. Crianças das favelas com medo dos “tanques de guer-ra” que estão lá para “protegê-las”! Onde então chegamos? Onde está o nosso Brasil, de um povo heróico? Onde está o sol da liberdade? Onde está o brilho do céu da nossa pátria? Em teu seio, a falta de liber-dade e atos que nos desafiam até a morte! E nos fazem questionar indignados, abala-dos, incrédulos: dos filhos deste solo, és mãe gentil? Não é possível ficarmos a mercê de novas barbaridades, por isso expresso aqui, em nome da família Projeto CASA DA CRIANÇA e de todas as mães do Brasil, o

luto para não deixar calar a dor, para que se entenda que medidas precisam e devem ser tomadas imediatamente. Não se pode “esperar passar o momento de comoção em que o País se encontra” estamos no momento do Brasil de amor eterno, que João Hélio seja símbolo! Que se erga a justiça, se não pudemos ter glória no passado, que tenha-mos paz no futuro. A João Hélio, que a ima-gem do cruzeiro represente a sua cruz, que Deus o abençoe e a sua família, que tenham a luz mais forte do céu profundo, e que nós brasileiros possamos dizer BRASIL DE AMOR ETERNO SEJA SÍMBOLO. É preciso que se ouça a sociedade gritar: “Brasil, Pátria amada, SALVEM! SALVEM!

Patrícia ChalaçaPresidente Fundadora

Projeto CASA DA CRIANÇA

D O S F I L H O S D E S T E S O L OÉ S M Ã E G E N T I L ?

IRONICAMENTE: CRIANÇAS SOCIALMENTE DESFAVORECIDAS

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s u m á r i o

8 você sabia?PROFISSIONALIZAÇÃO DO 3º SETOR

O setor social vem ganhando espaço no mercado e no mundo moderno. Mas é

23 participaçãoEMPRESAS RESPONSÁVEIS SOCIALMENTEEmpresas como Havaianas, McDonald´s e Pizza Hut, entre outras, unem esforços com organizações sociais para melhorar o mundo

26 multiplicaçãoUNIDADES ATENDIDAS PELO PROJETO

Todos os espaços de atendimento que o Projeto CASA DA CRIANÇA reformou ou construiu nestes 7 anos de atuação no Brasil

32 ação fórumFÓRUM NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO SOCIALUm fórum que convoca o setor da construção civil para a construção de um Brasil melhor

15 enqueteDEPOIMENTO DOS FRANQUEADOS SOCIAIS DO PROJETO CASA DA CRIANÇAAs pessoas que fazem o CASA DA CRIANÇA em todas as regiões do Brasil falam do significado deste projeto em suas vidas

34 ação saúdeMÉDICOS QUE FAZEM SUA PARTE

Médicos que compraram a briga contra a doença da desigualdade:

Dra. Islane Verçosa, no Ceará, previne a cegueira infantil em crianças de

baixa renda; e os médicos do SOS Mão Criança, em Pernambuco, cuidam

de má-formações congênitas nos membros superiores e inferiores

40 um exemploEAPE - ESPAÇO DE ATENDIMENTO PROVISÓRIO ESPECIAL, EM BELÉM - PA

A Brasil Social mostra de perto mais uma unidade que recebeu a intervenção do Projeto CASA DA CRIANÇA

43 aconteceuÚLTIMAS NOVIDADES DO PROJETO, SEUS PARCEIROS E DAS UNIDADES ATENDIDAS

11 entrevistaBILL DRAYTON, FUNDADOR DA ASHOKAEm entrevista exclusiva para a Brasil Social, o americano Bill Drayton fala sobre a sua experiência no terceiro setor

A comemoração de 25 anos de fundação da Ashoka reuniu 224 líderes de 13 Países da América Latina

20 ESPECIAL25 ANOS DA ASHOKA - I ENCONTRO LATINOAMERICANO DE EMPREENDEDORES SOCIAIS & ASHOKA JOVEM

36 3º SetorAVINA

Uma organização suíça que incentiva o desenvolvimento

sustentável da América Latina

c a p a

19 artigoUMA REFLEXÃO SOBRE A DESIGUALDADE,por Marcelo Souza Leão

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e x p e d i e n t e

45 prêmios & homenagensPRÊMIOS DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL E NO MUNDOEmpreendedores que tiveram seus trabalhos reconhecidos

47 BrasilFORTALEZA: SOL, MAR E CAMPO FÉRTIL PARA PROJETOS SOCIAIS

Brasil Social mostra a cidade de Fortaleza em dois aspectos importantes: turística e socialmente

r e v i s t a B R A S I L s o c i a l é uma publicação semestral da Associação Projeto CASA DA CRIANÇA.Presidente: Patrícia Chalaça Vice-Presidente: Marcelo Souza LeãoRedação: Rua Dr. Raul Lafayette, 191 – Sl. 1401 – Boa Viagem – Recife – PE. Cep. 51021-220Tel: (81) 3467-9968 Site: www.projetocasadacrianca.com.br Email: [email protected]

EQUIPE REVISTA BRASIL SOCIAL

PATRICIA CHALAÇA MOREIRA, arquiteta e urbanista (FAUPE). Fundadora e presidente do Projeto CASA DA CRIANÇA.

CARLA CIBELE CAVALCANTI DE MELO, assistente social (UFPE). Arquiteta e urbanista (FAUPE). Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais do Projeto CASA DA CRIANÇA

REVISÃOBRUNA CABRAL, formada em Jornalismo pela UFPE, repórter do Jornal do Commercio há seis anos e repórter da Revista Engenho de Gastronomia

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:GEOVANA VIEIRA, designer gráfica e editorial. Suporte de design editorial do Projeto CASA DA CRIANÇA.

MARIA ISABELA ARAÚJO ANDRADE, Pedagoga (UNAMA / PA); Psicomotricista Relacional (CIAR / PR); Diretora do Centro de Desenvolvimento Psicomotor Peixinho Dourado.

TIBÉRIO PEDROSA MONTEIRO, Advogado e professor universitário. Presidente do Comitê Pernambuco - Georgia dos Companheiros das Américas (Partners of América – EUA). Assessor Jurídico de Organizações sem fins lucrativos em Pernambuco.

DANIEL RAVIOLO, formado em Sociologia com mestrado em Economia Política. Fundador e Coordenador Geral da ONG Comunicação e Cultura desde 1988. A instituição gerencia e dá apoio a 1.126 projetos de comunicação (jornais escolares e jornais estudantis) implantados em escolas públicas e

outros espaços de aprendizagem.

LAURA S. NOGUEIRA CAVALCANTI, publicitária (Universidade da Geórgia/EUA). Assessoria de Comu-nicação e Publicidade do Projeto CASA DA CRIANÇA.

TEXTOS:

EDITORA:

COLABORADORES

ROBSON HENRIQUE OLIVEIRA DA SILVA, graduando em Publicidade e Propaganda (Faculdade de Mercado Amplo - Recife-PE).

COMUNICAÇÃO VISUAL

JURÍDICODA FONTE ADVOGADOS

AGRADECIMENTO ESPECIAL: FOTOGRAFIASANDRÉ PORTO (SP - PRÊMIOS & HOMENAGENSMÁRIO ÁLVARES (Belém - PA)

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A PROFISSIONALIZAÇÃO

DO 3º SETORA PARTICIPAÇÃO DO TERCEIRO SETOR NO MUNDO MODERNO TEM SIDO EFETIVA, VINDO A CONTRIBUIR PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS NICHOS PROFISSIONAIS. ATUALMENTE, O CRESCIMENTO DA IMPORTÂNCIA DO TERCEIRO SETOR PARA A SOCIEDADE TEM FOMENTADO A NECESSIDADE DE MAIOR PROFISSIONALIZAÇÃO NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

v o c ê s a b i a ?

AS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR VÊM GANHANDO IMPORTÂNCIA EM TO-DAS AS PARTES DO MUNDO e vêm reali-zando ações com resultados bastante positivos frente às demandas sociais. Esses resultados demonstram que é possível agir e não apenas esperar por soluções que venham dos órgãos governamentais. Vê-se também que essas or-ganizações estão presentes em todas as áreas da sociedade: educação, meio ambiente, ha-bitação, saúde, esportes, lazer, arte-cultura, combate à violência, direitos humanos, etc. e em todas existem inúmeras pessoas com vastas e bem sucedidas atuações. A interlocução com o governo é um pa-pel que o terceiro setor tem exercido de forma bastante eficiente, emergindo como uma alter-nativa de fomento a iniciativas da sociedade civil frente à burocratização e lentidão do go-verno no tocante às demandas sociais. O avanço do mundo democrático, as mazelas sociais e a facilidade de acesso aos meios de comunicação foram alguns dos fato-res que fizeram com que a sociedade civil se tornasse mais fortalecida e engajada. As or-ganizações e grupos articulados de atuações sociais têm abandonado a postura passiva de espera pela intervenção estatal frente às ne-cessidades sociais. É neste cenário que o ter-ceiro setor toma forma e força. As ações e iniciativas das organizações do terceiro setor vêm despertando o reconhe-cimento desse meio participativo que cumpre com o papel social transformador das condi-ções reais de existência, nos diversos âmbitos de nossa sociedade. Segundo Ricardo de Almeida Prado Xa-vier, administrador de empresas e presidente

da Manager Assessoria em Recursos Humanos, temos visto também “a aprovação pública de instituições do terceiro setor de desempenho excelente, o crescimento do número de livros e artigos de jornais e revistas dedicados à profissionalização da área, a oferta crescente de cursos e serviços como consultoria, pesquisa etc. Assim, rapidamente o terceiro setor está deixando a era dos esforços baseados ape-nas na boa vontade para entrar na era da boa vontade com boa administração. Com isso a oferta de oportunidades para profissionais qualificados e vocacionados vem crescendo”. A participação do terceiro setor no mundo mo-derno tem sido efetiva contribuindo também para a criação de novos nichos profissionais. Atualmente, o crescimento da importân-cia do terceiro setor para a sociedade tem fomentado a necessidade de maior profissio-nalização na gestão das organizações, pois, apesar da capacidade de auto-gestão ser a base do terceiro setor, o avanço institucional no que diz respeito à sua profissionalização é ainda um dos grandes desafios dessas organi-zações. Setores empresariais e governamentais têm contribuído mais efetivamente com recur-sos financeiros, doações de produtos e serviços, que vêm ampliando o apoio para impulsionar as ações nesta área. Nesse aspecto, a profis-sionalização do terceiro setor pode ser alcan-çada não com uma perspectiva limitadora do seu quadro de idéias inovadoras e de experi-mentações intuitivas, mas sim através de orga-nizações preparadas para o aprimoramento de suas técnicas e metodologias, através de análise crítica e capacidade de avaliação con-tinuada.

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CENÁRIO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR*

Nos dias de hoje, observamos o que vem impulsionando a profissionalização do terceiro setor:

• Financiadores cada vez mais informados, conscientes e exigentes quanto ao retorno social de suas verbas

• Verbas cada vez mais vultosas à disposição das organizações, com a conseqüente necessidade de uso racional

• Desafios de sobrevivência e produtividade atrelados às expectativas de desempenho da sociedade como um todo

• Vigilância intensa da mídia e clamor por ética e lisura na condução do dinheiro público

• Entrada, no terceiro setor, de profissionais egressos da iniciativa privada ou do governo, com excelente nível de qualificação nas áreas de gestão, criando um novo paradigma profissional

Site: http://www.manager.com.br/reportagem/ - Ricardo de Almeida Prado Xavier: administrador de empresas,

presidente da Manager Assessoria em Recursos Humanos, expositor do Fórum Permanente do Terceiro Setor (2003).

EMPREGABILIDADE NO TERCEIRO SETORNo contexto econômico, o terceiro setor vem exercendo um papel quantitativamente sig-nificativo no que diz respeito à oferta de trabalho. No entanto, profissionais que al-mejam projetar-se e fazer carreira ainda não elegem esta área como primeira opção de emprego. Mas essa percepção vem mu-dando com o passar dos anos. Alguns pro-fissionais com o perfil empreendedor e em transição de carreira podem pensar nessa área como uma oportunidade de trabalho, pois muitas das organizações do terceiro se-tor possuem quadros de carreira bastante atrativos, funcionais e organizados. Tem-se observado também a crescente procura de profissionais jovens e com treina-mento técnico especializado que ingressam voluntariamente nas organizações do tercei-ro setor. Muitas vezes a procura se dá mo-tivada por características empreendedoras, valores e ideais pessoais buscando a rea-

O que são as organizações do terceiro setor? Indiscutivelmente a matemática da reabertura democrática, os ideais libertá-rios pós-ditadura e a proteção aos direitos individuais, coletivos e sociais previstos na constituição de 1988 escreveram uma nova página da sociedade brasileira. Somando-se à incapacidade do po-der público em atender a certas demandas sociais, em responder as novos desafios, e mesmo, o despertar da consciência coletiva sobre os rumos do País, seguramente rede-senharam o papel dos setores tradicionais da sociedade, o público e o privado. Iniciava-se um novo momento no Bra-sil, sobretudo para a sociedade organizada através de entidades sem fins lucrativos com o objetivo principal de servir à coletivida-de. Consolidava-se no País o debate sobre o terceiro setor, cujas organizações e ações, ao lado do poder público (primeiro setor) e da iniciativa privada com finalidade lucra-tiva (segundo setor) inaugurariam uma nova era. O Estado, ao observar esse novo con-texto, publicou em 1999 a Lei 9.790, conhe-cida como Lei das OSCIPs, considerada o marco legal do terceiro setor no Brasil, que, ao lado da lei que declara certas instituições de utilidade pública (Lei 91/1935) e da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, Lei 8742/1993), que prevê e regulamenta a concessão do certificado de fins filantrópicos para instituições beneficentes, são atualmen-te três importantes leis que norteiam as prin-cipais organizações sem fins lucrativos com finalidades de “interesse público”. O Projeto CASA DA CRIANÇA recebeu sua titularidade de OSCIP em 12 de Janei-ro de 2005, publicada no Diário Oficial da União.

lização profissional. No entanto, apesar de muitas dessas organizações possuírem vo-luntários em seu quadro funcional, a maioria dos funcionários é remunerada e, para tanto, faz-se necessária a mobilização de recursos e parcerias que possibilitem a manutenção destas organizações em funcionamento. No Brasil, o conceito e aceitação do terceiro setor vêm mudando gradati-vamente, o que tem levado ao crescimento do poder mobilizador e conseqüente au-mento de organizações nessa área. Segun-do Lester Salomon, Diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil da Universida-de John Hopkins, “aconteceu um aumento na aceitação tanto por parte do governo como pelo do setor privado, aumentando o sentimento de respeito pelo terceiro se-tor, em que há um senso de parceria alta-mente desenvolvido entre os três setores. Nesse assunto o Brasil foi bem mais longe do que muitos Países”.

Falando em números, segundo pesquisa comparativa para a América Latina - ISER (John Hopkins / 1999) “estima-se que, por ano, sejam movimentados mundialmente 1,1 trilhão de dólares, empregando aproximadamente 19 milhões de pessoas, excluindo-se os voluntários; só no Brasil, os registros chegam a 250.000 entidades, com 1,5 milhão de empregados e 12 milhões de voluntários, movimentando cerca de 12 bilhões de reais”.

Com aPALAVRA:TIBÉRIO MONTEIRO

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v o c ê s a b i a ?

O PROJETO CASA DA CRIANÇA VEM AO LONGO DOS ANOS aperfeiçoando sua me-todologia de aplicação e multiplicação das ações voltadas para o atendimento às crianças e adolescentes socialmente desfavorecidos em todo o Brasil, através de sua Franquia Social. A dedicação e o profissionalismo do Pro-jeto se fazem notar nos mínimos detalhes para a Coordenação Nacional e suas Franquias So-ciais desde 1999.

• Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologias So-ciais: Elaborando tecnologias sociais que possi-bilitam disseminar e multiplicar ações, divulgar atividades realizadas, no intuito de beneficiar milhares de crianças nas diferentes regiões do País. Alguns exemplos são a Franquia Social do Projeto, o Manual de Atendimento ao Câncer Infanto-Juvenil e o Manual do Programa Cia dos Anjos, que traduz o método de dissemina-

ção “mobilização de parcerias” e fortalece as instituições no atendimento nas áreas de edu-cação, saúde, esportes, lazer e arte-cultura.

• Tecnologia Communis: Disponibilizando às Franquias Sociais a sistematização das infor-mações do Projeto CASA DA CRIANÇA e a co-municação de rede, via informática, resultando em uma solução prática, precisa e com acesso rápido. Este serviço é realizado através da parceria do Projeto com a Facilit Tecnologia.

• Ferramenta de Gestão Administrativa - Siste-ma Financeiro Mega: Disponibilizando através do Sistema Mega, uma tecnologia organizada e precisa que engloba todo o sistema financei-ro do Projeto CASA DA CRIANÇA. Este serviço é realizado através da parceria do Projeto com a empresa Mega Sistemas.

Os Franqueados Sociais do Projeto CASA DA CRIANÇA são equipes voluntárias, formadas por 4 ou 5 profissionais por Estado, dos quais 2 são necessariamente arquitetos. A profissionalização do Projeto CASA DA CRIANÇA é observada pela riqueza das informações passadas através da Franquia So-cial, resultado de anos de experiência prática comprovada. É com a ajuda deste manual de aplicação que os Franqueados Sociais desenvol-vem todas as etapas da obra que vai desde a seleção da unidade, elaboração do programa, cronograma de atuação, solicitação de mate-riais, divulgação das ações através dos veículos de comunicação, captação de novas parcerias regionais e/ou locais, realização de eventos (lançamento, reuniões com profissionais de am-

PROFISSIONALIZAÇÃO DO PROJETO CASA DA CRIANÇA

COORDENAÇÃO NACIONAL A Coordenação Nacional do Projeto CASA DA CRIANÇA é com-posta por profissionais contratados das diversas áreas da Arquitetura e Urbanismo, Administração, Contabilidade, Assistência Social, Publicidade e Propaganda que trabalham no gerenciamento das Franquias Sociais presentes em 16 cidades brasileiras. A Coordenação Nacional recebe as-sessoria jurídica e contábil de profissionais que prestam serviços voluntários.

FAZEM PARTE DAS ATRIBUIÇÕES DA COORDENAÇÃO NACIONAL:

Apoio dos Patrocinadores Nacionais: Contribuindo para a captação de Patrocinadores

Nacionais para doação de materiais às obras realizadas pelas Franquias Sociais.

Escolha das unidades: Através da avaliação da documentação jurídica e

análise das unidades selecionadas pelas equipes dos Franqueados Sociais.

Supervisão de Franquias Sociais: Disponibilizando um profissional que supervisiona as Franquias

Sociais contribuindo com a aplicação da franquia, através da supervisão de todas as etapas inerentes

à realização do Projeto, desde os eventos, assuntos jurídicos e contábeis (específicos de

projetos), aprovação dos projetos de Arquitetura e complementares, obra e solicitações de materiais

aos Patrocinadores Nacionais, dentre outras.

Gerência de obras: Através de acompanhamento das obras, realizando visitas durante o período

efetivo das mesmas em todas as cidades.

Apoio mobilização e eventos: Fazendo-se presente nos Lançamentos com a responsabilidade de

contribuir com a mobilização do respectivo estado, assim como participando de eventos importantes realizados pela Franquia das cidades: reuniões

com arquitetos, construtoras, inaugurações.

Apoio de design gráfico: Disponibilizando um profissional (comunicador visual) que contribui

com o material de design e comunicação específico de cada Franquia Social.

Assessoria de comunicação: Disponibiliza um profissional (publicitário) que contribui

com a assessoria de comunicação específica de cada Franquia Social.

Assessoria jurídica: Disponibiliza assessoria jurídica para contribuir com ajustes contratuais

específicos de cada Franquia Social.

Influência nas políticas públicas: Através das solicitações junto aos governos acerca de suas responsabilidades frente às demandas

sociais para com a infância e juventude.

FNICS – Fórum Nacional da Indústria da Construção Social: Através da integração

e mobilização do setor da construção, Arquitetura e Urbanismo objetivando gerar uma

iniciativa organizada a favor da construção de um País mais justo e igualitário.

Revista Brasil Social – Através da realização da Revista BRASIL SOCIAL, que é distribuída

gratuitamente em 15 estados de todas as regiões do País e objetiva mutuamente a divulgação das ações sociais do Brasil

e do Projeto CASA DA CRIANÇA

DO PROJETO CASA DA CRIANÇAbiente, festa das crianças, inauguração, etc.), até a devolução da unidade, com assessoria em todas as etapas pela Coordenação Nacional, sediada na cidade do Recife. A rede dos Franqueados Sociais é hoje composta por mais de 50 profissionais ativos em 15 estados brasileiros. Caracterizados como Franqueados Permanentes, eles se reúnem a cada ano em uma convenção nacional para tro-ca de experiências, avaliação dos resultados e planejamento das ações a serem desenvolvidas pelo Projeto no Brasil. É através da profissionalização de todo este trabalho que as ações do Projeto CASA DA CRIANÇA são disseminadas com a mesma linguagem de Norte a Sul do Brasil. E, hoje, crianças e adolescentes em creches, abrigos, es-

paços educativos, espaços para portadores de necessidades especiais e em tratamento de cân-cer podem usufruir de ambientes mais aconche-gantes e humanos, e com atendimento de melhor qualidade em todas as regiões brasileiras onde o Projeto atua.

PROFISSIONALIZAÇÃO DAS FRANQUIAS SOCIAIS

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Bill Drayton é o presidente e fundador da Ashoka Empreendedores Sociais, organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no trabalho e apoio aos empreende-dores sociais - pessoas com idéias criativas e inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impac-to social. Graduado nas universidades de Harvard, Yale e Oxford, Drayton já trabalhou como consultor adminis-trativo da McKinsey & Company e para a EPA (Agên-

cia de Proteção Ambiental Americana). Hoje, viaja o mundo buscando empreendedores sociais com idéias inovadoras e palestrando em encontros mundiais e uni-versidades. Foi premiado em inúmeras ocasiões, sendo reco-nhecido como um dos 25 maiores líderes do mundo, um dos 100 mais influentes líderes sociais pela Universida-de de Harvard, além de ser membro da Academia de Artes e Ciências americana.

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1 1

PERMITA-SE MUDAR O MUNDO

e n t r e v i s t a

SEGUNDO DAVID BORNSTEIN, ESCRI-TOR DO LIVRO COMO MUDAR O MUN-DO, “TODA MUDANÇA COMEÇA COM UMA IDÉIA E A DECISÃO DE AGIR. Em 1978, um norte-americano chamado Bill Drayton, diretor-assistente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, decidiu fundar uma organização para apoiar empreendedores sociais em todo o mun-do. A idéia vinha amadurecendo em sua mente havia quinze anos.

A idéia de Drayton era procurar no mundo indivíduos com novas idéias de mudança social que aliassem habili-dades empresariais e sólidos princípios éticos.” Drayton, segundo Bornstein, é uma pessoa cujo olhar “transmite uma em-polgação em relação à vida, uma fas-cinação aparentemente inesgotável com o mundo que lembra a curiosidade de uma criança. Tem um intelecto notável e

uma capacidade extraordinária de ab-sorver informação.” Hoje, Bill Drayton viaja o mundo buscando empreendedores sociais com idéias inovadoras e palestrando em en-contros mundiais e universidades. Con-fira o que Bill Drayton, nesta entrevista à BRASIL SOCIAL, tem a dizer sobre o crescimento do terceiro setor, a atuação do Brasil no mundo social e sobre a ini-ciativa Ashoka Jovem.

Page 12: Revista Brasil Social II

e n t r e v i s t a

“Você tem que desenvolver estas características - empatia, capacidade de colaboração e liderança - se pretende usá-las quando adulto e o único modo de desenvolvê-las é usando-as, pondo isto em prática.

Seu maior desafio então será ignorar todas aquelas pessoas que vão dizer que você

não consegue, que você não é capaz. A única pessoa que pode quebrar este

ciclo vicioso é você mesmo.”

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BRASIL SOCIAL: Como você, o fun-dador da Ashoka, reconhece os fellows Ashoka?Drayton: Para mim é simplesmente um prazer e uma alegria poder fa-zer parte da comunidade de Fellows Ashoka. São pessoas que, guiadas por seus valores, permitiram-se ver o que realmente é importante e capaz de causar verdadeiras mudanças nos pa-drões da sociedade. Todos apresentam uma grande alegria em colaborar em grande escala. Ao procurar por estes raros (nos-sa média é de 1 em 10 milhões de pessoas no mundo por ano) empreendedores sociais, a Ashoka emprega os seguin-tes critérios de avaliação: - A idéia que o candidato a Fellow apresenta é de fato uma idéia que mudará atu-ais padrões da sociedade permanentemente?- O candidato a Fellow é uma pessoa criativa – tanto em estabelecimento de me-tas quanto em resolução de problemas?- Esta pessoa possui quali-dades de um empreendedor social excepcional? Quando digo isso não estou procu-rando por um grande líder ou gerente de pessoas, mas sim, por uma pessoa com uma paixão por mudar o mundo e a capacidade de também resolver os problemas cotidianos de administra-ção. - Esta pessoa tem forte fibra ética? - A idéia deste candidato tem poten-cial de atrair outros seguidores, e se é o caso, quantas pessoas poderão ser beneficiadas, com que intensidade e com que saldo positivo?

BS: Como você poderia descrever quão eficiente tem sido a seleção

tanto no aspecto dos seleciona-dos como no resultado das suas ações?Drayton: A Ashoka avalia formalmen-te os impactos que os Fellows estão causando em sua região cinco anos depois de terem sido eleitos Fellows. Alguns dos resultados que observamos repetidas vezes demonstram o impacto de nossos Fellows: - 97% dos Fellows continuam traba-lhando integralmente com seus proje-tos- 90% dos Fellows vêem que suas idéias são copiadas por instituições in-

dependentes- Mais de 50% (em apenas 5 anos) já causaram algum efeito na política pú-blica de seu País ou região. Este último dado é o mais impressionante pois a maioria dos Fellows não depende dos governos para estabelecer e crescer sua idéia.

BS: Que formação você acha impor-tante um empreendedor social ter? Drayton: Os Fellows Ashoka vêm de todo lugar, de todos os tipos de cultura e formação. Um de nossos Fellows mais brilhantes nasceu em uma zona rural

muito pobre e teve acesso a somente 7 anos de educação em escola. Contudo, no geral, uma educação que permita as pessoas a ver o mundo além de sua vizinhança e que proporcione um pen-samento analítico e crítico é importan-te. O fator mais importante contudo, é que o aluno se permita ver que pode quebrar as correntes mentais que nos tornam menores porque todos nos di-zem que não somos capazes. Quase todas as crianças são informadas logo cedo de que “os adultos controlam tudo – as escolas, locais de trabalho,

atividades extra-curriculares, esportes, etc. E além disso vocês (crianças) são muito irrespon-sáveis.” Estes pensamentos que guardamos enquanto crianças ditam nossa atitude perante a vida na idade adulta. Os alunos de hoje têm que nadar contra a corrente e os padrões preestabelecidos, se desejam se tornar verdadeiros agentes de mudanças.

BS: Os fellows o consideram o mestre do empreendedo-rismo social, aquele que teve como idéia inovadora “descobrir novas pessoas

com idéias inovadoras” capazes de melhorar o mundo. O que o le-vou ao empreendedorismo social? Acredita que sua formação acadê-mica contribuiu tanto quanto a sua sensibilidade ?Drayton: O motivo pelo qual somos capazes de nos dedicar tão inten-samente a nosso trabalho é que nós (Fellows Ashoka) estamos sempre em contato com os melhores líderes e em-preendedores sociais do mundo. Eles, individualmente e coletivamente, são nossos melhores professores. Eu tive a sorte de ter uma ótima

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formação acadêmica. História, como fonte de aprendizado foi a que mais me ensinou. As experiências que tive fora da sala de aula também foram muito importantes. Por exemplo, quan-do participei do movimento dos direitos civis nos EUA, quando fui exposto à Ín-dia e o movimento de Gandhi, quando trabalhei com a McKinsey&Company no U.S. Environmental Agency (agên-cia de proteção do meio ambiente Americana).

BS: Como foi a aceitação há 25 anos da ASHOKA nos EUA? Que comparação faria com os dias atuais?Drayton: Quando a Ashoka iniciou seus trabalhos, fomos encarados com um muro de incompreensão em todos os cantos dos EUA e do mundo. Nossa área de atuação nem tinha ainda um nome para descrevê-la. Quando faláva-mos em empreendedores so-ciais, a maioria das pessoas não nos entendia e hoje todo mundo quer se dizer empre-endedor social. Isto é um pouco confuso ainda para nós, mas com certeza um pas-so na direção certa.

BS: Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela ASHOKA em sua história?Drayton: Nossa maior dificuldade, no passado e hoje, é que estamos criando um movimento de mudança social que está evoluindo muito rapidamente e profundamente mudando a sociedade, mas que o público em geral tarda em compreender. Nós somos o setor da economia que mais cresce. Por exemplo, geramos três vezes mais empregos que qual-quer outro setor da economia. Mas as

pessoas só acreditam que existe este leque de oportunidades quando vêem a organização funcionando. No momento, a Ashoka em si, de-vido à evolução do terceiro setor, está formulando uma série de mudanças. Agora não apenas queremos ajudar empreendedores sociais isoladamente, e sim atingi-los como um grupo, inter-ligando suas ações e projetos, possi-bilitando colaborações mútuas. Outro

desafio que enfrentamos é como criar outro sistema de financiamento para este setor já que o financiamento vindo de governos e instituições tem sido len-to e não sabe reconhecer o verdadeiro potencial das organizações sociais. BS: Estando em mais de 60 Países em todos os continentes, qual a sua visão mundial do crescimento do terceiro setor? O Brasil é expressivo neste contexto?Drayton: Em 25 anos de atividade a Ashoka selecionou uma estimativa de 2.000 dos melhores líderes sociais e empreendedores, apoiou suas idéias e

instituições e os ajudou a formar uma poderosa comunidade presente no mundo todo. Esta comunidade está à frente des-ta rápida transformação do terceiro setor. Empreendedores do terceiro se-tor estão alcançando as grandes em-presas em termos de produtividade e rapidamente diminuindo a distância entre estes dois setores. Nós temos mais organizações, mais

empregados, mais voluntários e agora, estamos desenvolvendo sofisticadas organizações de segunda e terceira geração. O nível de competição está cada vez mais alto dentro e entre as organizações. Outro fator que contribui para o crescimento do terceiro setor é o fato da globalização possibilitar a in-terligação de idéias e colabo-rações entre comunidades do mundo todo. O Brasil surgiu como um ex-traordinário líder. Não há ou-tro País tão rico dentro da rede Ashoka. Anamaria Schindler é um exemplo disso, ajudando a firmar a Ashoka no Brasil, depois na América Latina e no mundo.

BS: A ASHOKA conseguiu reunir 223 fellows de 13 Países da Améri-ca Latina na comemoração dos seus 25 anos em Buenos Aires. Como você traduziria a importância deste encontro?Drayton: Os Fellows presentes no en-contro estavam se fazendo a seguinte pergunta: como impulsionar este conti-nente a atingir seu total potencial? O que podemos extrair do que aprende-mos e o que a rede tem demonstrado possível globalmente para desenvolver um programa coerente e objetivo que possamos aplicar onde moramos, seja

“Toda e qualquer pessoa presente no evento sabia que estava vendo o futuro de um continente (e

de uma parte importante do mundo) ser traçado. As idéias são extremamente impressionantes

e poderosas e os Fellows, mais ainda.”

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e n t r e v i s t a

“ O crescimento do Terceiro setor como um setor competitivo e de grande produtividade é

provavelmente a melhor coisa que ocorreu para os governos desde o alastramento da democracia”

em Pernambuco ou Equador. Toda e qualquer pessoa presente no evento sabia que estava vendo o futuro de um continente (e de uma parte importante do mundo) ser traçado. As idéias são extremamente impressionantes e poderosas e os Fellows, mais ainda. Fiquei profundamente emocionado, como creio que todos que estiveram lá também ficaram.

BS: Neste encontro de Buenos Aires também foi reunido um grupo de 16 jovens que integram a mais nova rede chamada “Ashoka Jovem” representada por filhos de fellows. Quais as suas expectati-vas para o ASHOKA Jo-vem? Drayton: O momento mais emocionante de todo o en-contro foi quando os filhos e filhas dos Fellows apre-sentaram suas idéias, inclu-sive o grupo Ashoka Jovem. As idéias eram ótimas, e os jovens e os Fellows logo se mexeram para implantar algumas delas. Por exemplo, hoje há um programa de es-tágio montado para os membros da rede Ashoka Jovem em diferentes Pa-íses. Mais importante que isso foi notar o quanto eles se dedicam, são compe-tentes e têm qualidades de liderança. Aqui está o futuro agindo para o fu-turo, hoje. Também foi bom ver o quanto esta iniciativa impactou todos nós. Pode-mos cuidar que nossos jovens cresçam acreditando que podem gerar mudan-ças. Ao longo da jornada da rede Ashoka Jovem vamos todos aprender algo, nem que somente como lidar com toda e qualquer pessoa de qualquer raça ou idade com igual respeito.

Ashoka já aprendemos e vamos certa-mente continuar aprendendo mais com vocês.

BS: Como você vê a atuação do ter-ceiro setor junto aos governos? Drayton: O papel do governo é de manter uma sociedade justa e eficiente. O crescimento do terceiro setor como um setor competitivo e de grande pro-dutividade é provavelmente a melhor coisa que ocorreu para os governos desde o alastramento da democracia. O terceiro setor é focado nos mesmo assuntos que o governo, contudo sua competitividade permite que ocorram

erros e novas tentativas, permi-te o emprego da criatividade e mudança constante. Além disso, o terceiro setor tem demonstra-do aos governos novas manei-ras de atender às necessidades da sociedade.

BS: Qual conselho você dei-xaria para os jovens que se

indignam com as injustiças socais?Drayton: “Permita-se! Permita-se en-carar um problema sabendo que você será capaz de resolvê-lo; permita-se mudar o mundo.” A maior barreira que enfrentamos é pensar que somos incapazes, e con-seqüentemente, não desenvolver carac-terísticas importantes para quem quer gerar mudanças: empatia, capacidade de colaboração e liderança. Você tem que desenvolver estas características se pretende usá-las quando adulto e o único modo de desenvolvê-las é usan-do-as, pondo isso em prática. Seu maior desafio então será ig-norar todas aquelas pessoas que vão dizer que você não consegue, que você não é capaz. A única pessoa que pode quebrar este ciclo vicioso é você mesmo.

e d i t o r i a l

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BS: Muitos dos integrantes da ASHOKA Jovem se inspiraram no exemplo dado pelos próprios pais Fellows. E você? Em quem se inspi-rou para criar a ASHOKA?Drayton: Tive a felicidade de ter mui-tas pessoas em quem me espelhar. Meus pais, que por trás da imagem reservada, quase conservadora, eram verdadeiramente livres e tiveram co-ragem de fazer coisas inesperadas; os líderes do movimento dos direitos civis dos EUA nos anos 60; os líderes do movimento de Gandhi, dentre outros líderes e empreendedores sociais que conheci antes mesmo de criar o termo.

BS: A ASHOKA Jovem inicialmente é formada por jovens latino-ameri-canos, como você acredita que eles vão vencer as barreiras geográfi-cas e culturais? Acredita que esta iniciativa pode tomar proporções mundiais? Drayton: A rede Ashoka Jovem já está no caminho certo para se tornar um movimento global. Há grupos de jovens afiliados com a Ashoka até na Ásia. Logicamente os dois primeiros Países a ter Fellows vão ter o maior número de jovens envolvidos, mas logo todos vão querer entrar no movimento. O fato da América Latina, e especifi-camente o Brasil, estar a frente desta rede não é surpreendente. Anna Mila-nez e seus colegas, os Fellows no Brasil (incluso Patrícia Chalaça do Projeto CASA DA CRIANÇA) estão lideran-do este caminho. Nós da comunidade

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e n q u e t e

O SENTIMENTO DOS QUE FAZEM O PROJETO CASA DA CRIANÇA TRADUZ A

FORÇA DA REDE DO PROJETO NO BRASIL

O Projeto Casa da Criança é para mim a concretização de

um sonho que eu já vinha formatando mesmo antes de co-

nhecê-lo. Encontrei neste projeto a oportunidade de poder

ajudar as pessoas, principalmente crianças desfavorecidas

socialmente, de forma voluntária e desinteressada e, desta

forma, poder materializar a vontade intensa que carrego no

meu coração de poder dividir com o próximo, tudo de bom

que a vida (DEUS) tem me proporcionado. Às vezes acho

que sou uma pessoa profundamente “egoísta”, pois todo o

meu esforço, compromisso e dedicação para tornar pessoas

mais felizes, ao final de cada etapa não há ninguém mais

feliz que eu. Não há coisa melhor no mundo do que poder

ajudar ao próximo.

Paulo PepinoAuditor Fiscal da Receita Federal

e Franqueado Social

Fortaleza - CEÉ ver os rostinhos das crianças na entrega da nova casa e saber que todo o trabalho, feito com todo o amor, valeu a pena. É saber que estas crianças, e as que vi-rão, terão novas oportunidades de vida. É viver o lado mágico da vida, o lado da transformação, da doação, da dedicação, do amor e da paz. É ter esperança de que um dia as desigualdades diminuam e tenhamos a tranqüilidade de ver todas as nossas crianças com um futuro. É fazer diferença. É se emocionar.

Luciana Dabdab CarneiroArquiteta e Franqueada SocialPoços de Caldas - MG

Fazer parte do Proje-to Casa da Criança é experimentar uma sen-sação de poder. Poder, no sentido de ter força para fazer algo que irá mudar a vida de muitas

crianças. Ter a verdadeira noção da palavra cidadania, saber que além da ajuda de todos os voluntários e empresas que apóiam o Projeto, você tem o olhar de Nosso Pai, que ilumina os caminhos que temos que percorrer para alcançar os objetivos propostos. Fazer parte do Projeto Casa da Criança é, sem dúvida, uma dádiva de Deus.

Emili Ayoub GiglioArquiteta, Empresária e Franqueada Social Cuiabá - MT

Fazer parte do Projeto CASA DA CRIANÇA é um complemento do meu existir, é tentar proteger quem precisa e de me sentir protegido. É uma maneira de antecipar em vida, a presença ao lado de Deus, atra-vés de anjos em forma de crianças. É um descobrimento pessoal que fortalece meu coração e minha alma e me faz mais forte. É ter a oportunidade de fazer parte de uma família que cresce a cada casa reformada, fortalecendo uma união geral que nos torna maiores diante do universo. É ser um correspondente volun-tário de uma idéia genial e abençoada de nome Patrícia, apeli-dado de PROJETO CASA DA CRIANÇA. MUITO OBRIGADO.

Mário César SperbArquiteto e Franqueado

Social Porto Alegre - RS

D E P O I M E N T O D O S F R A N Q U E A D O S S O C I A I S

Page 16: Revista Brasil Social II

Desde que “me entendi por gente”, quis ser mãe. Mas Pa-

pai do Céu parecia não querer. Os colegas arquitetos, a

família e amigos, vendo a necessidade de dedicação que

é coordenar o Projeto Casa da Criança, fazem sempre

perguntas do tipo: “você não acha que toma muito tempo

do seu escritório?” Aí, explico: se minhas colegas arqui-

tetas, casadas, com filhos, dão conta de seus escritórios,

parece que o tempo dos filhos eu tenho livre, não é?...

Então sabe o que me fez Papai do Céu? Não me deu dois,

três filhos, mas centenas, com a perspectiva de ter mais a

cada ano. Não posso abrir mão dessa graça...

PATRÍCIA RAMALHOArquiteta e Franqueada

Social - Maceió - AL

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1 6

“É como um sonho de criança, que

não acaba nunca. Quanto mais você

convive com o Projeto, mais vontade

você tem de ajudar estas crianças

desfavorecidas socialmente, pois to-

das merecem e têm o direito de viver

melhor. Está em nossas mãos reali-

zarmos este projeto para que este

Brasil cresça com igualdade para

todos!”

CARLOS ALBERTO PEIXOTOArquiteto e Franqueado Social Porto Alegre - RS

“Algo inusitado ocorreu na minha vida em 2005: a oportunidade do voluntariado, mesmo num mo-mento inesperado, mas nada é por acaso... O Projeto Casa da Criança faz com que valori-zemos a cada dia nossa vida, nossos familiares, amigos. Faz com que repensemos muitos de nos-sos valores. Faz com que não desistamos jamais, e não recuemos ante a uma negativa, mas vibremos muito e agradeçamos pelas coisas boas que ocor-reram. Não adianta, para alguns, o Projeto CASA DA CRIANÇA não tem vacina, penetra no sangue e pra sempre fica... Sempre digo que só quem o faz ou fez sabe o que é.”

“A vida é composta de momentos bons e ruins, tristes e alegres, ensola-rados e chuvosos, enfim, são contrastes que deve-mos saber levar. E o Projeto CASA DA CRIANÇA veio preencher a nossa vida de oportunidades de amar, de dar carinho e atenção a quem care-ce de tudo. É maravilhoso fazer parte desse projeto, transformar ambientes, modificá-los, restaurá-los, trazer para as crianças uma nova vida, incentivá-las a lutar e a conquistar espaços. Para nós é uma honra poder contribuir para o crescimento desse projeto. O Projeto CASA DA CRIANÇA é vida renovada e restaurada a cada dia!

É alegria! É sacrificar! É escolha! É amar! É fortaleza! É dedicação! É suti-leza! É atenção! É carinho! É respeito! É dinamismo! É esperança!”

“ Pa r a mim é uma grande alegria poder conquistar e reunir tantas pes-soas em torno de um objetivo maior, que vai muito além da obra. É também uma imensa responsabilidade, pois sei que do resultado de nossas ações dependerá o futuro de muitas crianças, adolescentes e suas famílias. Assim, estaremos todos contri-buindo também para o futuro de nossos filhos. E semeando, de forma prática, a conscientização de que todos podem e devem contribuir, não importa com quanto, mas unindo forças para que a meta seja atingi-da: CRIANÇAS CUIDADAS COM AMOR, NUM ESPAÇO ADEQUADO, COM ACESSO À CIDADANIA, SAÚDE, EDUCAÇÃO, ESPORTE , LA-ZER E UM FUTURO FELIZ.”

SÍLVIA MARQUESAdvogada e Franqueada Social

Recife - PE

e n q u e t e

SANDRA MOURAArquiteta e Franqueada Social João Pessoa - PB

ANA PAULA ISENSEEArquiteta e Franqueada SocialBlumenau - SC

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“Trabalhar no Projeto Casa da Criança é uma lição de vida. Durante toda a ação, a motiva-ção, o espírito de soli-dariedade e amor ao próximo nos especializa, mas não cientificamente, e sim humanamente pois nos tornamos mais solí-citos, humildes e tolerantes à medida em que transpo-mos barreiras que ultrapassam limites físicos e promo-vem dentro de nós mudança de atitude, valorizando mais a vida, a amizade e o amor.Estes sentimentos nos mostram que todos podemos, se crermos e colocarmos em prática os dons que Deus nos confiou. Principalmente porque passamos a ansiar, não só para nós, mas em especial para o próximo, tudo de bom que a vida pode oferecer. A partir daí experimentamos o verdadeiro sabor da felicidade.”

LEILA PIRESArquiteta e Franqueada

Social Aracaju - SE

“Fazer parte do Projeto Casa da Criança é um desafio e um privilégio, pois, mais do que uma ação de cidadania e de res-ponsabilidade social, é um exercício de doação genuína, de respeito e amor ao próximo e, sobretudo, de tolerância, pela compreensão de que é no ritmo e no potencial diferenciado entre as pessoas que conseguimos o equilíbrio e a complemen-tariedade necessários para atingir os nossos objetivos.Ao longo desse processo que escolhemos viver juntas, tivemos sim algumas dificuldades, mas o grande desafio de realização do sonho, de poder contribuir para alterar a realidade social e melhorar a qualidade de vida das crianças especiais do nosso Estado, se sobrepôs às nossas diferenças e podemos dizer que nossa maior conquista tem sido o fortalecimento dos nossos la-ços de amizade, de respeito e de parceria”.

BETH GRUNVALDEmpresária e Franqueada SocialBelém - PA

A forma que Patrícia e Marcelo en-contraram, dentro das suas forma-ções, de mudar este panorama de desigualdades é tão simples: cada um de nós participa com o melhor que tem dentro de si. Os resultados do Projeto estão comprovados: são milhares de crianças atendidas e milhares de empresas e profissionais que melhoraram suas vidas ao ver o sorriso das crianças que ajudaram.

LEDA OLIVEIRAArquiteta e Franqueada SocialSão Paulo - SP

Franquia Social, Rede de Franqueados So-ciais... Engana-se quem pensa, num primeiro mo-mento, que este é um trabalho voluntário pontual, sem critérios e normas. A rede voluntária constituída por 52 Franqueados permanentes do Projeto CASA DA CRIANÇA é formada por profissionais de diver-sas áreas que unidos e determinados pelo mesmo ideal de transformar vidas utilizam-se do Manual da Franquia Social do Projeto CASA DA CRIAN-ÇA** para implantar sonhos e concretizá-los. Gerenciar esta rede sólida e coesa é ter o privilégio de conviver diariamente com pessoas dedicadas à causa, extremamente profissionais, que na verdade se enganam quando afirmam que escolheram o momento certo de suas vidas para se dedicar a um trabalho social. Acredito que foi exatamente o inverso: apenas pessoas iluminadas têm o privilégio de serem escolhidas por Deus e sentirem que estão nesta vida para trazer luz a tantas outras vidas. Prova disso é a magia, o poder das mobilizações que acontecem cada vez mais fortemente em todas as regiões do País. O profissionalismo para concretizar os sonhos das 28 unidades inauguradas é inquestionável, mas o laço de amor e cumplicidade que une a família CASA DA CRIANÇA é que faz deste um projeto mais que especial em nossas vidas.

** Consiste na formação de um modelo de aplicação da metodologia desenvolvida pelo Projeto CASA DA CRIANÇA, com base nas experiências das intervenções já realizadas com

objetivo de replicar na íntegra seus preceitos.

LAVÍNIA MATAGerente Nacional de

Franquia Social do Projeto

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a r t i g o

POR ACOMPANHAR AS OBRAS REALIZADAS PELO PROJETO CASA DA CRIANÇA em terri-tório nacional, tenho tido o privilégio de conhe-cer a Arquitetura nas diferentes cidades, suas diferenças culturais e, sobretudo, as desigual-dades sociais tão marcantes em nosso País. As desigualdades tão expressivas nas re-giões Norte, Nordeste e Centro-Oeste não são diferentes daquelas que encontramos no Sudes-te e mesmo no Sul do Brasil. Em cada região, vivi momentos reflexivos, questionando as difi-culdades enfrentadas pelo povo brasileiro que sequer possui moradia digna, afinal a maioria da população dos pequenos ou grandes centros urbanos vive nas favelas. Em Florianópolis, numa comunidade a 20 minutos do centro, vimos pessoas maltratadas pela miséria, que, graças à ação de uma orga-nização social, tiveram sua vida transformada para melhor. Em São Paulo e no Rio de Janei-ro, encontramos talvez o mais gritante contras-te social, fruto do medo que acaba gerando um grande ‘apartheid’. A miséria é miserável! Afastam-se as pessoas como um problema ra-cial, neste caso os “ricos” dos “pobres”, gerando uma reação de individualidade incrível em to-dos. Poderia dar muitos outros exemplos, falar do atendimento hospitalar público, pela anes-tesia na alma quando vemos a falta de atendi-mento adequado a tantas pessoas para expli-car como entendemos que todos nós podemos e devemos fazer algo para mudar o mundo para melhor. É fato que visitamos alguns governos, de-fendendo nossas propostas arquitetônicas que têm sido um caminho para proporcionar vidas melhores ou tratamentos melhores nos hospitais. Mas em cada visita, se ampliarmos o diálogo para tratar dos problemas das periferias, sem-pre vem a enfática colocação do quão difícil é enfrentar os problemas das favelas, que este é um tema sem solução. Costumo fortalecer nossas equipes e franquias sociais em cada problema que enfrentamos, enfatizando que todo proble-ma tem uma solução e gostaria aqui de passar essa reflexão a todos que lêem esse artigo: é preciso focar as atenções. Como arquiteto, urbanista e, acima de tudo um amante do povo do Brasil, espero que haja um efetivo interesse do poder público, numa ação de união de forças com a iniciativa privada, como faz o Projeto CASA DA CRIAN-ÇA, podendo restaurar a dignidade do povo brasileiro, afinal, esse País é nosso!

Por Marcelo Souza Leão

U m a r e f l e x ã o

S O C I A L d o B r a s i l

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EM 2006, FOI REALIZADO O I ENCON-TRO LATINO-AMERICANO DE EMPRE-ENDEDORES SOCIAIS DA ASHOKA, EM SAN MIGUEL, ARGENTINA, que reuniu 224 participantes empreendedores sociais de 13 Países da América Latina - Argen-tina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e Brasil. Patrícia Chalaça, do Projeto CASA DA CRIANÇA, foi uma das participantes deste evento. Com o tema Todo Mundo Pode Mudar o Mundo, o encontro foi realizado como parte das co-memorações pelos 25 anos de fundação da organização. Foram 3 dias de debates sobre o futuro do continente que frutifica-ram em contatos para novas colaborações e intercâmbios. A presença dos diversos empre-endedores de variados Países reunidos por um mesmo objetivo foi representativa de um dos pilares fundamentais da ação ASHOKA: o Empreendedorismo de Grupo, que incentiva empreeendedores sociais e a própria ASHOKA a atuar coletivamente em busca de um maior impacto. Partindo desse princípio, outro fator que demonstra o con-ceito de atuação no evento foi o envolvi-mento voluntário de mais de 60 empreen-dedores sociais da ASHOKA de 11 Países no planejamento da agenda, produção de

no mundo e destacou os grandes desafios do futuro, abrindo assim o leque de temas a serem discutidos durante os três dias do evento. Brizio-Biondi Moura também esteve presente no encontro e apresentou sua vi-são de transformação social e a necessida-de de empoderar a maioria da população que não tem hoje o poder de decidir os destinos do mundo. Já no último dia, Oded Grajew foi aplaudido de pé ao discursar sobre as ca-racterísticas de um grande líder, o valor da ética e o valor da cidadania - todos veí-culos necessários para uma profunda trans-formação social na América Latina. O encerramento do encontro deu-se com a apresentação dos 25 novos empre-endedores sociais da ASHOKA na América Latina numa comemoração que contou com todos os participantes do evento, a equipe de organização e mais de 800 convida-dos. Vivianne Naigeborin, presidente da Ashoka no Brasil, resumiu em algumas pala-vras o impacto do encontro: “Acima de tudo, para todos os que estiveram presentes, o encontro foi um momento mágico de confra-ternização e de descoberta da nossa latini-dade. Um encontro para entrar na história e nos corações de todos nós.”

conteúdo e na organização de vários even-tos concomitantes naquela mesma semana, esforço que foi fruto de mais de dezenas de reuniões preparatórias. A abertura do evento foi realizada por Alberto Croce com uma apresentação da história geral da América Latina. A ori-ginalidade da apresentação ficou por con-ta do enfoque cultural (com direito a música, dança e artes) e não apenas cronológico da evolução das diversas culturas unifica-das sob o termo “identidade latina”. Durante o encontro, seis temas cen-trais foram abordados: empoderamento ci-dadão; influência em políticas públicas; uso sustentável dos recursos naturais; educação formal e não-formal; inclusão econômica e diversidade. Os debates incluíram ainda um tema comum: trabalho com outros setores (privado e governo). Em destaque, ficaram as palestras ministradas pelos maiores líderes sociais da atualidade, a exemplo de Bill Drayton, fundador da ASHOKA, Brizio-Biondi Mou-ra, presidente da AVINA, e Oded Grajew, fundador e presidente do Instituto Ethos de Responsabilidade Social – Empresarial. Na abertura do evento, Bill Drayton apresentou a visão da ASHOKA sobre empreendedorismo social, o processo de transformação sistêmica que está presente

E S P E C I A L

A s h o k a : 2 5 A N O S I Encontro Latino-Americano de Empreendedores Sociais ,

real izado em San Miguel , Argentina

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ÁLBUM I ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE EMPREENDEDORES SOCIAIS

DA ASHOKA BUENOS AIRES, 2006

1 Bill Drayton com Patrícia Chalaça; 2 Patrícia e Willy Pessoa; 3 Viviane Naigeborin (Ashoka) e Suzana Pádua (Instituto Ipê); 4 Gilberto de Palma (Instituto Agora), Patrícia e Marta Elisa Codas (Fundación APAMAP); 5 Abdu Ferraz (Liga dos Amigos e Estudantes Africanos), Edgard Gouveia (Instituto Elos) e Rebeca Duarte (Observatório Negro); 6 Adriana T. da Costa (Instituto Âmbar), Karen Worcman (Museu da Pessoa), Luciana Marinelli (ARACATI) e Patrícia; 7 Alemberg Quindins (Fundação Casa Grande) e Patrícia; 8 Edgard Gouveia e Patrícia; 9 Patrícia e Jorge Lyra (Instituto Papai); 10 Valdemar de Oliveira Neto (AVINA) e Patrícia; 11 Raquel Barros (Fundação Lua Nova) e Patrícia.

De Patrícia Chalaça

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1

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E S P E C I A L

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A ASHOKA JOVEM NASCEU DOS FILHOS DE FELLOWS ASHOKA QUE, INFLUENCIADOS PELOS PAIS, COMEÇARAM A

FORMAR UMA REDE DE CONSCIENTIZAÇÃO E COLABORAÇÃO ENTRE JOVENS DE TODA A AMÉRICA LATINA.

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Além do Encontro dos Fellows Ashoka (lí-deres sociais), marcou presença o grupo da Ashoka Jovem, que reuniu 14 filhos de empreendedores sociais de vários Países. A rede ASHOKA Jovem tem como objetivo expandir sua rede de comunica-ção e promover dois encontros anuais em diferentes cidades da América do Sul. Es-tes encontros não representam apenas um momento de confraternização, e sim uma oportunidade de troca de experiências, visões e planos de ação. O Encontro Latino-Americano de Em-preendedores Sociais da Ashoka, segundo Anna Milanez, (filha do Fellow José Francis-co Bernardes Milanez) foi “uma experiência incrível e inesquecível, que agora queremos proporcionar a outros jovens, através dos encontros da nossa Rede. Por maior que

seja a distância que nos separa, ainda hoje nos mantêm unidos neste sonho e projeto de Rede – articulação – troca – aprendizado – motivação – realização – transformação socioambiental.” A rede ASHOKA Jovem pretende atuar concretamente através do intercâm-bio de experiências, divulgação do con-ceito de empreendedorismo social, pro-moção de discussões temáticas, criação de estratégias de comunicação, apoio a efetivação da Rede de Fellows para que se torne um conselho consultivo para orga-nizações latino-americanas que trabalhem com jovens, promoção de intercâmbio de culturas e saberes e coordenação de um programa de estágio em organizações de Fellows (programa este já em atividade hoje).

Patrícia Chalaça apóia a Ashoka Jovem Bill Drayton e Anna Milanez

ASHOKA JOVEMO IMPACTO DA ASHOKA NOS

JOVENS DE HOJE E DO FUTURO

Clara Ferrari, brasileira, filha de Eugênio Alvarenga Ferrari, fundador da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA): “Quando era pequena as ausências do meu pai eram grandes problemas. Quando alguém me perguntava qual era a profissão do meu pai

eu respondia: ‘ele faz reunião’ e isso era tudo... mas com o tempo eu entendi seu trabalho, compreendi a sua importância e passei a admirar tudo que ele fazia.”

Daniela Nuñez Borda, boliviana, filha de José Luis Nuñez, fundador do Programa de Formación de Animadores Juveniles: “Para construir um

mundo melhor, há que dedicar tudo de si, de sua mente, alma e coração. Estou certa de que se algo bom se deseja de todo coração, o primeiro passo já foi dado para que o sonho se realize. Pois ao querer algo que nos apaixona e ao nos dedicarmos a isso estamos felizes. Esta felicidade contagia a todos e o resto acontece por si só.”

Paloma Roldán Ruiz, peruana, filha da Fellow Albina Ruiz Rios, fundadora da Organização Ciudad Saludable: “Os Fellows são como os super-heróis, só que melhor porque são de verdade. Têm sonhos enormes, mas seus poderes são mais terrenos, não voam pelos ares, e sim viajam de Kombi. Não podem ser Flash, mas parecem estar em vários lugares ao mesmo tempo, ter 100 pés e 1000 mãos. Conseguem sorrir em meio à tristeza, pois guardam o melhor segredo: juntos, sim, podemos.”

Há mais de uma década a ASHOKA vem apoiando iniciativas de jovens direcionadas para os jovens, a exemplo da Rede Ashoka Jovem.

Momentos do Encontro

E S P E C I A L ALGUNS DEPOIMENTOS

DE PARTICIPANTES DA

REDE ASHOKA JOVEM:

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p a r t i c i p a ç ã o

F O M E D E A G I REmpresas do ramo de al imentação cr iam ações e parcerias

que benef ic iam crianças e jovens desfavorecidos

GRUPO VISÃOO Grupo Visão é formado por uma rede de lojas de departamentos, do Estado do Pará. Entre as lojas e franquias, possuem lanchonete e parque de diversões. O Grupo Visão realiza todos os anos, no mês de outubro, uma ação social, “Lanche Feliz”, em que durante 15 dias tudo o que é arrecadado é repassado para uma obra social. Em 2005, o projeto social beneficiado foi o Projeto CASA DA CRIANÇA, que estava realizando a reforma e am-pliação do Abrigo EAPE – Espaço de Acolhimento Provisório Especial, instituição de atendimento a crianças especiais, em Belém. O total arrecadado foi de R$ 33.000,00 (trinta e três mil reais), a maior arrecadação dos últimos anos, valor que foi 100% revertido para esta obra, em que as Franqueadas Sociais Conceição Pinto, Elizabete Grunvald, Lílian Almeida, Maria de Fátima Petrola e Roberta Frigeri representam o Projeto.

VISÃO: Fátima Petrola,

Elizabeth Grunvald, Lílian Solheiro, Conceição Pinto e Roberta Frigeri, com

a Presidente da FUNCAP (Fundação da Criança e do Adolescente do

Pará), Ana Chamma, e Paloma Lobato, das Lojas Visão

PIZZA HUTA Franquia Pizza Hut está realizando em parceria com o Projeto CASA DA CRIANÇA, uma campanha social de arrecadação de recursos desti-nados às ações do Projeto. A campanha acontece nas lojas Pizzas Hut de Fortaleza e João Pessoa, onde será acrescido à conta um valor de R$

1,00. O valor arrecadado será para investimento nas ativi-dades do Projeto CASA DA CRIANÇA, dentre elas o

Programa CIA DOS ANJOS, que visa o fortale-cimento da manutenção física e do trabalho

nas instituições pós-intervenção, garan-tindo a qualidade do atendimento às

crianças e adolescentes das unidades nas áreas de educação, saúde, es-

portes, lazer, arte e cultura.

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Fundado em Abril de 1999, o Instituto Ronald McDonald é uma sociedade civil sem fins lu-crativos que desenvolve atividades ligadas ao

combate ao câncer infanto-juvenil em território na-cional.

O Superintendente do Instituto, Francisco Neves, nos fala sobre a importância da campanha McDia Feliz para arreca-dação de recursos destinados às ações de combate ao câncer infanto-juvenil. O McDia Feliz é a campanha coordenada nacio-nalmente pelo IRM que mais arrecada em todo o País, através das vendas dos sanduíches Big Mac (exceto impostos), vendidos

separadamente ou incluídos na promo-ção número 1. Em 2005, foram arrecadados R$8,6 mi-lhões com a campanha. Já em 2006, a arreca-dação foi de R$ 9,4 milhões, valor que será apli-cado na realização de projetos em benefício de crianças e adolescentes com câncer em 20 Estados, mais o Distrito Federal. O evento é sempre realizado no último sábado do mês de agosto, dia da semana de maior movimento nos restaurantes McDonald’s e conta com uma enorme mobilização voluntária.

Quando e onde nasceu a primeira campanha do McDia Feliz? Qual o im-pacto naquele primeiro ano?O McDia Feliz foi criado em 1977, quando um jogador de futebol americano, Fred Hill, junto com seus companheiros de time, o Phila-delphia Eagles, pediu ajuda a um restaurante McDonald’s da sua cidade para arrecadar fundos para o tratamento de sua filha Kim, que sofria de leucemia. A iniciativa foi tão bem recebida pela comunidade que dali em diante passou a ser realizada por outros Paí-ses. Kim hoje passa bem e é uma voluntária da Casa Ronald McDonald da Filadélfia.No Brasil, o primeiro McDia Feliz foi realiza-do em 1988, mas ainda não havia uma causa definida, até que o McDonald’s Brasil identifi-cou o grande impacto que poderia dar para aumentar os índices de cura do câncer infan-to-juvenil, além da divulgação e incentivo ao diagnóstico precoce.

Todos os Países onde há a rede McDonald´s há necessariamente o McDia Feliz? Quais os Países que se destacam nessa campanha?Faz parte da filosofia da empresa retribuir às comunidades onde está inserida tudo de posi-tivo que elas proporcionam, como bons vizi-nhos e líderes em iniciativas sociais. Este é um compromisso que foi definido pelo fundador do McDonald’s, Ray Kroc, e que a empresa segue até hoje. O McDia Feliz acontece em mais de 14 Países e os EUA e Canadá são alguns dos que mais se destacam na campanha, embora conside-rando-se o número de restaurantes existentes

em cada País, o Brasil é o que mais arrecada recursos com a realização da campanha, pro-porcionalmente.

Quando foi realizada a primeira cam-panha do McDia Feliz no Brasil e como foi a resposta da sociedade a essa ação social?A primeira edição da campanha foi em 1988, na cidade de São Paulo, e a resposta da co-munidade foi tão positiva que em 1989 es-tendeu-se para o Rio de Janeiro e, a partir de 1990, o McDia Feliz passou a ser realizado nacionalmente, envolvendo todos os restau-rantes da Rede McDonald’s do País.

O que mais chama a atenção no pro-gresso do primeiro ano do McDia Feliz no Brasil aos dias atuais?Desde a sua primeira realização, o McDia Fe-liz já arrecadou mais de R$ 68,4 milhões e mais de 100 instituições já receberam recur-sos provenientes da campanha. Ao longo de quase 18 anos, contribuímos para a expressiva evolução do índice de cura do câncer infanto-juvenil: de 35%, no final da década de 80, para os cerca de 70% atuais, índice comparável aos das nações do primeiro mundo.

Desde a primeira campanha até os dias de hoje, a arrecadação vem au-mentando gradativamente. A que se deve todo esse sucesso: ao marketing ou ao crescimento do sentimento de responsablidade social da sociedade?O sucesso do McDia Feliz deve-se a uma

combinação de fatores. Um dos fatores fun-damentais é o empenho de todo o sistema McDonald´s: funcionários, franqueados e fornecedores e à participação das instituições beneficiadas que realizam a campanha nas localidades. As ações de publicidade e imprensa sem dú-vida colaboram, pois reforçam a importância da participação do público em benefício da causa. Ainda mais que na atualidade, o inte-resse e a motivação de pessoas físicas e jurí-dicas, personalidades e anônimos em apoiar ações sociais é crescente.No entanto, considero que nenhum destes fa-tores anteriormente citados sustentaria o su-cesso da campanha sem a transparência que promovemos através da divulgação dos re-sultados financeiros e das realizações viabi-lizadas pelos recursos arrecadados no McDia Feliz, ou seja, credibilidade é fundamental.

Sendo o McDia Feliz uma ação que deu certo, o que você diria aos empre-sários do setor de alimentos que ainda não realizam ações sociais?O Instituto Ronald McDonald acredita que as empresas são importantes agentes de transformação social, através de uma ges-tão ética e socialmente responsável junto a seu público interno e stakeholders, e através de investimentos para a implementação de projetos em benefício da comunidade. O Instituto tem o apoio de diferentes empresas de diversos segmentos e pode afirmar que este fato tem contribuído significativamente para o combate ao câncer infanto-juvenil no Brasil.

MCDIA FELIZ

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MC IDÉIA FELIZ O Superintendente Francisco Neves, do Instituto Ronald McDonald

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SANDÁLIAS HAVAIANAS - LÍDER NO MER-CADO NACIONAL NO SEGMENTO EM QUE ATUA, A SÃO PAULO ALPARGATAS, que é uma empresa 100% brasileira, fabrica diversos pro-dutos, dentre os quais destacam-se calçados, ar-tigos e vestuários esportivos, entre outros, empre-gando diretamente 10 mil pessoas. As Sandálias Havaianas, uma de suas marcas mais conhecidas no mercado brasileiro, atua em 80 Países, possui o slogan “Havaianas - todo mundo usa”, tendo como diferencial o preço popular do produto.Segundo Paulo Lalli, ex-diretor de Negócios das Ha-vaianas, “às vezes, uma venda mais qualificada ajuda na imagem, então a associação com uma causa socio-ambiental já estava em estudo, mas não tínhamos ne-nhuma definição”. Mas ao conhecer o Instituto IPÊ, Paulo Lalli teve a idéia de associar a imagem das Havaianas a um projeto de responsabilidade social e ambiental, pois faz parte da missão da empresa atuar com res-ponsabilidade social.INSTITUTO DE PESQUISAS ECOLÓGICAS – IPÊ - Se-diado na cidade de Nazaré Paulista, interior de São Paulo, o Instituto IPÊ, fundado em 1992, é uma orga-nização da sociedade civil que tem como principal ob-jetivo garantir a conservação da biodiversidade da fauna brasileira, realizando pesquisas e projetos que englobam desde a formação profissional em educação ambiental até geração de renda através de práticas auto-sustentáveis, ecoturismo e restauração de habitats. Atualmente o Instituto realiza cerca de 30 projetos distribuídos pelas diferen-tes regiões do País, contando com mais de 90 profissionais das diversas áreas, a exemplo dos educadores ambien-tais e biólogos.A PARCERIA - Esta parceria entre Sandálias Havaia-nas e Instituto de Pesquisas Ecológicas – Ipê foi a pri-meira em que as Havaianas colocaram a logomarca de uma organização da sociedade civil ao lado da sua, para lançar uma coleção de sandálias estam-padas com animais em extinção, objeto de estudo do Instituto IPÊ, as Havaianas IPÊ. Em 2004, numa campanha inédita, os modelos desta coleção co-meçaram a ser comercializados em diversos Países, com o intuito de angariar recursos para ações de preservação da fauna brasileira. Esta parceria vem agregando valor às duas organizações e proporcio-nando ao Instituto IPÊ uma maior visibilidade a seus projetos, como afirma a coordenadora da Unidade de Negócios Sustentáveis do Instituto, Andréa Peçanha “O IPÊ sempre buscou visibilidade nacional e as Ha-vaianas são um produto democrático, que atinge vários segmentos. Com isso, pretendemos popularizar o nosso trabalho e conseguir recursos financeiros para o forta-lecimento institucional da organização”. Todos os anos a coleção é renovada com sandálias que retratam diferen-tes animais da fauna brasileira, a exemplo do mico-leão dourado, peixe-boi, araras, onças, dentre outros.

RESULTADOSPara Paulo Lalli, são muitos os benefícios gera-dos por esta parceria: “Foi um caso em que um mais um acabou sendo mais do que dois. É um exemplo de ganha-ganha-ganha. Ganham as Havaianas, com uma linha nova e atraente; ga-nha o IPÊ, com a divulgação e a possibilidade de conseguir mais recursos para investir na pesquisa e na conservação; ganha o consumidor, com um produto de apelo socioambiental e ganha até a

fauna, com os royalties que vão contribuir para o IPÊ promover a educação ambiental”. Para a marca Havaianas, essa parceria colabora agregando valor à marca, de modo que a expres-são de responsabilidade socioambiental embutida na coleção das sandálias Havaianas IPÊ possa fide-lizar e atrair nova clientela, além de estabelecer o compromisso corporativo das Havaianas com o meio ambiente.A venda das sandálias contribuem para a arreca-dação de recursos para a sustentabilidade e conti-nuidade dos projetos do Instituto. Os royalties pagos pelas Havaianas ao Instituto IPÊ são de 7% da venda líquida das sandálias estampadas com os animais em extinção. Esta parceria também contribui para que a população tome conhecimento das espécies brasilei-ras que se encontram ameaçadas de extinção, devido

à forte vendagem da marca Havaianas, que proporciona a sensibi-lização do público para a conservação dessas espécies. Se-

gundo Andréia Peçanha, “o IPÊ encara a parceria de forma estratégica. Esta doação cria uma expectativa de maior duração dos projetos de conservação, garante grande visibilidade para a organização, atrai a atenção de outras empresas com potencial para o desenvolvimento de parcerias e amplia a possibilidade de gerar renda para as comunidades assistidas pelo IPÊ, por meio da divulgação dos projetos.”

p a r t i c i p a ç ã o

Site: http://www.idis.org.br/biblioteca/casos/parceria-havaianas-e-ipe-2013-instituto-de-pesquisas-ecologicas

PRINCIPAIS RESULTADOS

De julho de 2004 até outubro de 2006, foram vendidos mais de 2,2 milhões de pares

De julho de 2004 até outubro de 2006, mais de R$ 1 milhão foi arrecadado para a causa

Maior credibilidade para ambas organizações: a Alpargatas chancela o IPÊ no que diz respeito à seriedade do trabalho da organização e, em contrapartida, o IPÊ chancela a Alpargatas com relação à preocupação com a educação ambiental para a conservação da biodiversidade

O nome IPÊ tem chegado à população no geral e tem se fixado como um instituto ligado à conservação ambiental, fortalecendo o posicionamento da marca

Divulgação na imprensa devido à parceria, incentivando as pessoas a conhecerem e se interessarem pelo trabalho do IPÊ e pela atuação socioambiental das Havaianas

Ampliação do conhecimento sobre as espécies brasileiras, transmitido por meio das sandálias, atuando como disseminadoras de conhecimento na sensibilização da sociedade para a causa

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A São Paulo Alpargatas, através de sua mais famosa marca, as Sandálias Havaianas, firmou

parceria desde 2004 com o Instituto Ipê, uma organização da sociedade civil que realiza

pesquisas ecológicas para conservar nossa biodiversidade

COM OS PÉSNA TERRA

Informações: Guia de MRC - Marketing Relacionado à

Causa - uma publicação do IDIS - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social.

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U N I D A D E S A T E N D I D A S P E L O

P R O J E T O C A S A D A C R I A N Ç AV I S I T E - A S • A J U D E - A S

Estas foram as unidades atendidas pelo Projeto CASA DA CRIANÇA até 2006/07 - sejam reformadas, construídas ou humanizadas - todas foram (re)erguidas com a melhor

matéria-prima que existe: a responsabilidade social de parceiros, franqueados, arquitetos, engenheiros, construtoras e voluntários. Se existe uma perto de você, vá até lá, conheça-a, ajude-a. O trabalho de melhorar o futuro destas crianças e jovens está apenas começando.

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2 0 0 1RECIFE – PECASA DE CAROLINATipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 100 crianças órfãs, vítimas do abandono e/ou maus tratosIdade: de 0 a 7 anosÁrea da unidade: 1.500 m²

BRASÍLIA - DFCASA DO CANDANGOTipo de atendimento: Creche Nº de atendidos: 300 crianças da população de baixa rendaIdade: de 0 a 7 anosÁrea da unidade: 2.000 m²

RECIFE - PEUNIDADE FERNANDES VIEIRATipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 100 crianças e adolescentes órfãos, vítimas do abandono e/ou maus tratosIdade: de 12 a 18 anosÁrea da unidade: 6.000 m²

* Esta unidade foi desativada. Atualmente o Juizado da Vara da Infância e Juventude do Estado de PE está pleiteando a ocupação da edificação para servir como sede do mesmo. O Projeto CASA DA CRIANÇA reivindica o espaço para abrigar organizações so-ciais sem fins lucrativos que preservem a finalidade da unidade, que é atender diretamente crianças e adolescentes socialmente desfavorecidos.

NATAL - RNCRECHE BEATRIZ DE

SOUZA ARANHATipo de atendimento: Creche

Nº de atendidos: 200 crianças da população de baixa renda

Idade: de 0 a 7 anosÁrea da unidade: 778 m²

MACEIÓ - ALAMAI

(Associação do Movimento de Amparo à Infância)

Tipo de atendimento: Quando foi reformada, atendia 360

crianças e adolescentes de baixa renda em sistema de abrigo. Atualmente atende

crianças e adolescentes de baixa renda (com família, não-residentes), atuando na área de educaçãoNº de atendidos: 360 crianças e adolescentes

Idade: de 7 a 18 anosÁrea da unidade: 1.535 m²

JUNDIAÍ - SPCASA TRANSITÓRIA

NOSSA SENHORA APARECIDA

Tipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 60 crianças

órfãs, vítimas do abandono e/ou maus tratos

Idade: de 0 a 7 anosÁrea da unidade: 1.500 m²

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FORTALEZA – CEABRIGO TIA JÚLIATipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 110 crianças onde 25 dessas crianças são portadoras de necessidades especiaisIdade: de 0 aos 6 anosÁrea da unidade: 3.500 m²

GOIÂNIA – GO LAR DAS MENINAS DE PAI JOAQUIMTipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 50 crianças do sexo feminino, órfãs, vítimas do abandono e/ou maus tratosIdade: de 4 a 17 anosÁrea da unidade: 1.500 m²

SÃO PAULO – SPRECANTO PRIMAVERATipo de atendimento: Creche para crianças e espaço de múltiplas atividades

para adolescentesNº de atendidos: 130 crianças

e adolescentes em atendimento posterior ao horário escolarIdade: de 6 a 14 anosÁrea da unidade: 1.000 m²

SÃO PAULO – SPCRECHE SANTO ANTÔNIOTipo de atendimento: CrecheNº de atendidos: 65 criançasIdade: de 0 a 4 anosÁrea da unidade: 1.400 m²

SÃO PAULO - SPABRIGO SANTANATipo de atendimento: Abrigo para crianças e liberdade assistida (LA) para adolescentesNº de atendidos: 65 crianças e 100 adolescentes

(adolescentes que cometeram pequenos atos infracionais e são assistidos por psicólogo e recebem monitoramento com atividades complementares, em horário oposto ao escolar)Idade: de 4 a 17 anosÁrea da unidade: 1.500 m²

SÃO PAULO – SPCENTRO EDUCACIONAL

INFANTIL BELÉMTipo de atendimento: Creche

Nº de atendidos: 160 criançasIdade: de zero a 5 anos

Área da unidade: 1.500 m²

MACEIÓ – ALAPALA

(ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS LEUCÊMICOS

DE ALAGOAS)Tipo de atendimento: Casa de

Apoio para crianças e adolescentes em tratamento de câncer

Nº de atendidos: 360 pacientes ao anoIdade: de 0 a 19 anos

Área da unidade: 914 m²

ARACAJU - SEABRIGO SORRISO

Tipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 65 crianças

Idade: de 0 a 6 anosÁrea da unidade: 900 m²

SALVADOR - BAAMAC - CRECHE

(ASSOCIAÇÃO MENSAGEIRA DO AMOR CRISTÃO)

Tipo de atendimento: CrecheNº de atendidos: 80 crianças

Idade: de 3 a 5 anosÁrea da unidade: 1.800 m²

SALVADOR - BAAMAC - ABRIGO

(ASSOCIAÇÃO MENSAGEIRA DO AMOR CRISTÃO)

Tipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 80 criançasIdade: de 5 anos a 12 anosÁrea da unidade: 1.800 m²

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CUIABÁ - MTFUNDAÇÃO ABRIGO BOM JESUSTipo de atendimento: Abrigo e semi-internatoNº de atendidos: 150 criançasIdade: de 2 a 14 anosÁrea da unidade: 1.200 m²

SÃO PAULO - SPCENTRO DE ASSISTÊNCIA E PROMOÇÃO SOCIAL NOSSO LARTipo de atendimento: Abrigo

Nº de atendidos: 65 criançasIdade: de 0 a 7 anos

Área da unidade: 1.000 m²

GOIANA - PENÚCLEO SOCIAL NASSAUTipo de atendimento: espaço para adolescentesNº de atendidos: 200 jovens ao ano da população de baixa renda da região, em sistema educativo em horário

posterior ao horário escolarIdade: de 12 aos 24 anosÁrea da unidade: 1.176 m²

POÇOS DE CALDAS - MGCENTRO EDUCACIONAL ROUXINOLTipo de atendimento: Creche

Nº de atendidos: 81 criançasIdade: de 0 a 6 anosÁrea da unidade: 1.165 m²

TERESINA-PILAR DA CRIANÇA MARIA JOÃO DE DEUSTipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 60 crianças

Idade: de 0 a 12 anosÁrea da unidade: 1.500 m²

2 0 0 4CUIABÁ - MT

SETOR DE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA DO HOSPITAL

DO CÂNCER DO MATOGROSSOTipo de atendimento: Atendimento hospitalar para

crianças e adolescentes em tratamento de câncerNº de atendidos: 112 crianças e adolescentes

Idade: de 0 a 17 anosÁrea da unidade: 656 m²

BLUMENAU - SCCENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTO-

JUVENIL PRIMEIRO SÃO JOÃOTipo de atendimento: Creche e espaço para adolescentes (em horário posterior à escola)

Nº de atendidos: 270 crianças e adolescentesIdade: de 0 a 16 anos

Área da unidade: 1.328 m²

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MACEIÓ – ALAMBULATÓRIO

DE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA DO HOSPITAL DO AÇÚCARTipo de atendimento: Atendimento

ambulatorial quimioterápico para crianças e adolescentes em tratamento de câncer

Nº de atendidos: 135 crianças e adolescentesÁrea da unidade: 448,20 m²

BELÉM – PAEAPE (ESPAÇO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO ESPECIAL)Tipo de atendimento: AbrigoNº de atendidos: 60 crianças portadoras de necessidades especiais. Atendimento externo de 200 criançasIdade: de 0 a 17 anosÁrea da unidade: 1.100 m²

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FLORIANÓPOLIS – SCSOCIEDADE JOÃO PAULO II

Tipo de atendimento: Creche e espaço para adolescentesNº de atendidos: 225 crianças e adolescentes

(em horário posterior à escola)Idade: de 3 a 17 anos

Área da unidade: 870 m²

ARACAJU - SESETOR DE ONCOLOGIA INFANTIL DO HOSPITAL GOVERNADOR JOÃO ALVES FILHOTipo de atendimento: Atendimento Hospitalar para crianças e adolescentes em tratamento de câncerIdade: de 0 a 19 anosÁrea da unidade: 200 m²

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Q U E R S A B E R M A I S ?ACESSE O SITE DO PROJETO CASA DA CRIANÇAwww.projeto casa da criança.com.br

Envie e-mail para [email protected] ligue (81)3467-9968

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FORTALEZA - CECASA DO MENINO JESUSTipo de atendimento: Casa de Apoio para crianças e adolescentes em tratamento de câncerNº de atendidos: 445 crianças e adolescentesIdade: de 0 a 17 anosÁrea da unidade: 1.618 m²

E M O B R A S : A I N A U G U R A R

RECIFE - PELAR DE CLARATipo de Atendimento: Creche e atendimento ao adolescente (em horário posterior à escola).Idade: de 2 a 7 anos em sis-tema de creche e atendi-mento ao adolescente.

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O I FNICS foi realizado na FEICON, maior feira da América Latina no segmento da indústria da construção, o que possibilitou a apresen-tação e troca de experiências entre os diversos ramos da construção, arquitetura e ações sociais de ONGs, OSCIPs e fundações. As apresentações de casos bem sucedidos e modelos multiplica-dores, a exemplo dos projetos sociais da Ação Moradia - SP, Mandalla – PB e PAP - RJ, bem como a participação de profissionais que atuam nos setores econômico e social nacional e internacional, entre os quais representantes da Ashoka (organização social presente em todos os continentes), do Banco Mundial e do IAB (Instituto de Arquitetos do Bra-sil), permitiram trocas de experiência que demonstram a importância de fortalecer ações como essas. Principalmente, por despertar na visão empresarial a responsabilidade social para com o seu País.

Atuação 2005

Com o objetivo de promover a integração das empresas do ramo da construção civil como indústrias da construção, decoração, home centers, sindicatos e associações das

construtoras, associações profissionais, objetivando gerar uma iniciativa organizada no setor para promover uma nova visão sobre as responsabilidades diante dos problemas sociais do Brasil, foi criado o FÓRUM NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO SOCIAL (FNICS).

FÓRUM NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO SOCIAL

Solenidade de abertura do I FNICS, em 2005. Estiveram presentes (em pé, da esq. para a dir.):Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão (Projeto

CASA DA CRIANÇA), Paulo Harry Schmalz (Amanco), Paulo Pepino (representando os Franqueados Sociais), Dorte Verner (Banco

Mundial), Mª Antônia Civita e João Armentano (representando arquitetos e decoradores), Viviane Naigeborin (Ashoka), Bruno Ferraz (IAB-PE), Diana

Servera (Fabrimar) e Cláudio Cons (ANAMACO)

F Ó R U M

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a ç ã o

UMA INICIATIVA DO PROJETO CASA DA CRIANÇA

O Fórum Nacional da Indústria da Construção Social nasceu da percep-ção do Projeto CASA DA CRIANÇA sobre o potencial transformador que a classe da construção tem em relação às ações sociais do País, a

partir de sua experiência bem sucedi-da neste segmento. O FNICS aspira uma ampliação da rede social, permi-tindo estreitar relações entre o setor e outras organiza-ções sociais sem fins lucrativos. A apresentação de ca-sos bem sucedidos na área da arquitetura e construção, que atuam na melhoria da estrutura física de instituições de atendimento à comunidade de baixa renda, tais como empresas que exercem atividades sociais, consti-tui um grande exemplo para influenciar o setor privado a investir no social.

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Participaram da mesa do FNICS: da esquerda para a direita, Renato Rocha, Rui Ohtake, Júlio Medeiros e Patrícia Chalaça.

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InscriçõesFichas de inscrição:

www.projetocasadacrianca.com.brInformações:

[email protected](81) 3467-9968 – Falar com Laura Cavalcanti

Patrícia Chalaça

a ç ã o

O FÓRUM E O IABXVIII CONGRESSO DE ARQUITETOS DO BRASIL

Em 2006, a convite do IAB, o FNICS teve participação no XVIII Congresso de Arquitetos do Brasil. A participação no congresso pro-movido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil e organizado pelo De-partamento do IAB de Goiânia (GO), cidade que acolheu o evento em 2006, gerou oportunidade de levar o conhecimento do fórum aos profissionais de todas as regiões do País. O tema do XVIII Congresso, Arquitetura e Urbanismo no con-texto do desenvolvimento sustentável, teve como principal objetivo con-tribuir para a compreensão dos problemas, identificando trabalhos inovadores e novas formas de enfrentamento das questões em seus vários aspectos: socioambientais, tecnológicos, políticos, econômicos, entre outros, através de experiências e idéias de todo o País.

Atuação 2006

“O Projeto CASA DA CRIANÇA se destaca por ser tão bem estruturado. Acredito que é uma semente importante para influenciar a participação social, seja localmente ou nacionalmente. Impressiona a clareza do Projeto e da sua expansão” comenta Ruy Othake.

PALESTRANTES DO FÓRUM

A mesa do FNICS foi composta por Patrícia Chalaça, arquiteta fundadora do Projeto CASA DA CRIANÇA; Renato Rocha, arquiteto e urbanista, vice-presidente do IAB (Institu-to de Arquitetos do Brasil); Rui Ohtake, arquiteto e urbanis-ta, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos – SP e Júlio Medeiros, arquiteto e urbanista, Fran-queado Social do Projeto CASA DA CRIANÇA. A participação do FNICS no XVIII Congresso de Ar-quitetos do Brasil foi de grande importância para a refle-xão do quão grande é a responsabilidade do arquiteto em permitir a sociedade “direitos iguais à Arquitetura”, in-dependentemente da classe social. Uma profissão tida como “de elite”, aprofunda suas raízes na essência do ser arquiteto, e neste cenário, a palestra de Patrícia Chalaça evidencia o que se vem fazendo no Brasil através do Projeto CASA DA CRIANÇA que é dar o direito e acesso à Arquitetura às crianças da população de baixa renda, numa ação que transforma vidas a partir do espaço físico. “O Projeto CASA DA CRIANÇA, graças a Deus, a muito trabalho e aos muitos parceiros, dentre os quais mais de 2 mil arquitetos, está impactando e influenciando as políticas públicas, não apenas na área da criança e do adolescente, mas também através do FNICS, que abre uma nova porta para disseminar este direito à Arquitetura de um modo geral. Por onde passamos deixamos um exemplo con-creto e mostramos aos governantes políticos a força da ação da própria sociedade, o que tem refletido em uma atuação mais competente por parte destes junto à comunidade de baixa renda” comenta Patrícia. O fórum agora tem o papel de unir essas corren-tes participativas e potencialmente transformadoras, como a classe dos arquitetos, empresários, associações das construtoras e organizações sociais, visando a cons-trução de um Brasil melhor. Ruy Othake considerou a iniciativa uma ação exemplar para a classe dos arquitetos.

Júlio Medeiros, arquiteto e franqueado social do Projeto, faz sua participação na mesa do FNICS 2006

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DOIS CASOS INSPIRADORES, DIGNOS DE RESPEITO DE TODOS NÓS CIDADÃOS BRA-SILEIROS são apresentados nesta seção Ação Saúde. Coincidentemente ambos de médicos nordestinos, sendo um caso no Estado do Cea-rá e outro em Pernambuco, que nos mostram o lado humanitário dos médicos, muitas vezes ti-dos como pessoa frias, devido a seu cotidiano. Dra. Islane Verçosa, uma mulher do Cea-rá, de uma sensibilidade implícita na sua causa, que basta falar das suas crianças para brilha-rem seus olhos, ora por gratidão em função dos resultados já alcançados, ora pela indignação e frustração diante da falta de atendimento que milhões de crianças da população de bai-xa renda enfrentam, chegando, às vezes, à ce-gueira. Conversar com Islane é aprender mais sobre os limites dos médicos, é perceber que se eles receberem o apoio necessário, muito pode

MÉDICOS QUE SÃO EXEMPLO PARA O BRASILser feito. De propostas simples, podemos ter grandes resultados! Islane transcende este con-ceito com a magnitude da paixão pela causa, pela vida, pelas crianças, pela certeza de que somos todos iguais, ricos ou pobres e de que, unidos, poderemos dar a qualidade na área de saúde a que toda a população de baixa renda tem direito, especialmente as crianças. Não menos envolvente foi conhecer Dr. Mauri Cortez, cirurgião pernambucano especializado em correção de má-formações congênitas, que tive o privilégio de conhecer sua causa social, o SOS Mão Criança. Por acaso, neste dia ele usava a camiseta da sua organização social... Acaso? Para alguns sim, para mim, a certeza de que Deus nos faz instrumentos para melhorar a vida de outros menos favorecidos. Dr. Mauri e seu sócio, Dr. Rui Ferreira, também parceiro na causa social, atuam com ações humanitárias e

realizam cirurgias por conta própria, não ape-nas como voluntários, mas ainda arcando com os custos necessários. Hoje contam com o apoio de alguns amigos e empresários a quem pedem contribuições com a certeza de estarem fazen-do o mínimo por essas crianças tão cheias de esperança de poder usar suas mãozinhas. Eles utilizam parte do seu tempo para fazer reuni-ões, contatos, análises das necessidades, levan-tamento das estatísticas e se deparam com da-dos assustadores sobre a carência enorme de cirurgias e fundamental acompanhamento com tratamento de fisioterapia para permitir que casos simples ou complexos possam resultar em uma vida digna para tantas crianças. Dr. Rui apontou com extremo descontentamento o fato de realizarem apenas uma vez por semana, em um turno da manhã, cirurgias em mãos em hos-pitais públicos. A demanda os fazia frustrados, apesar de tanta sapiência em suas especiali-dades. Soma-se a esta frustração a admiração ao trabalho realizado pelo médico francês Dr. Alain Gilbert, que lecionou a ambos quando estudaram na França. Ele faz parte da rede La Chaine de L’Espoir e atua voluntariamente, realizando cirurgias nos diferentes continentes e atendendo à população de baixa renda. A experiência junto ao Dr. Alain Gilbert poderia ser apenas mais uma oportunidade de conhe-cer ações sociais, mas eles foram além: inicia-ram missões, criaram uma organização sem fins lucrativos e estão sonhando com o atendimento de qualidade para nossas crianças do Nordes-te, quem sabe do Brasil... Os casos a seguir são exemplos para to-dos nós e principalmente para o poder público, que tem ao alcance profissionais competentes, comprometidos, e que provam que, quando se quer, é possível fazer. Este é o nosso BRASIL!

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a ç ã oS A Ú D E

GUERRA CONTRAa Cegueira Infanti l

Por Patrícia Chalaça

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HÁ 16 ANOS, DRA. ISLANE VERÇOSA, DE FORTALEZA-CE, VEM TRABALHANDO PARA DIMINUIR O ALASTRAMENTO DA CEGUEIRA INFANTIL ENTRE AS CRIANÇAS CARENTES do Estado do Ceará e do Brasil. Hoje, aliada à OMS (Organização Mundial de Saúde), à IAPB (Agência Internacional de Prevenção da Cegueira) e ao VIDI (Instituto da Visão e Desenvolvimento), e apoiada pela Cristoffel Blindness Mission, uma ONG Alemã, Dra. Islane pôde dar continuidade ao trabalho da CAVIVER, sua instituição de diagnóstico e tratamento no combate à cegueira infantil. Muitos não conhecem o impacto no de-senvolvimento de uma criança causado pelo glaucoma congênito, retinopatia da prematu-ridade, catarata congênita e por outros pro-blemas que acometem 100 mil das crianças nascidas na América Latina por ano. Caso a criança não receba tratamento entre a 4ª e 6ª semana de vida, o quadro evo-lui resultando em baixa visão ou cegueira. Com base neste dado, mais e mais pediatras têm sido treinados para poder chegar a este diag-nóstico rapidamente. A evolução do quadro no município de Fortaleza pode ser observado pelo aumento no número de atendimentos en-tre 2002 e 2006. No ano de 2002 nasceram 340 recém-nascidos de baixo peso, ou seja, menos de 1.500 gramas. Somente 40 (11,7%) tiveram a oportunidade de mapeamento da retina e, desses, 16 apresentavam ROP (re-tinopatia da prematuridade - uma doença vascular da retina de prematuros) em estágio grave. Desde 2004, 70% dos recém-nascidos de baixo peso estão sendo examinados. En-tre os anos de 2004 e 2006, 34 crianças com ROP grave foram tratadas com sucesso. Sendo tratada por meio de cirurgia, a

criança tem chances de se recuperar totalmen-te. Contudo, a cirurgia a laser não basta. Além da intervenção cirúrgica, deve haver acompa-nhamento e tratamento de reabilitação visual, tanto motora quanto cognitiva – habilidades que sofrem grande depreciação já que são diretamente relacionadas e dependentes da visão. Esse tratamento geralmente é multidis-ciplinar, envolvendo atividades que englobam as funções neuro e psicomotoras da criança. Hoje Dra. Islane atende a crianças gra-tuitamente no Hospital Geral de Fortaleza e na Clínica de Aperfeiçoamento Visual Islane Verçosa (CAVIV). No Hospital, são realizadas cirurgias às terças-feiras, com material pro-videnciado pela Dra. Islane e o espaço dis-ponibilizado pelo hospital gratuitamente. O acompanhamento e trabalho de reabilitação é dividido entre o Hospital Geral e a CAVIV. Além da colaboração do Hospital, o projeto CAVIVER recebe apoio financeiro de instituições internacionais para a compra de materiais necessários à realização dos proce-dimentos. Até 2004, Dra. Islane arcava com os custos de suas ações voluntárias até que teve a oportunidade de apresentar seu projeto formalmente para algumas instituições inter-nacionais. Após processos de seleção, dois en-contros com representantes de entidades inter-nacionais e análise da proposta, a Cristoffel Blindness Mission entre outras, resolveu apoiar o projeto CAVIVER e possibilitou a expansão de seu trabalho. Além de prover tratamento cirúrgico e acompanhamento às crianças, o programa visa educar e preparar pediatras do Brasil para combater a cegueira infantil. Quando não está operando ou atendendo, Dra. Islane se dedica a treinar pediatras em formação. Seu objetivo

é ajudá-los a reconhecer como a baixa visão pode afetar o desenvolvimento de uma criança e diag-nosticar corretamente

casos que às vezes são mais simples do que parecem. Segundo Dra. Isla-ne, “muitas vezes crianças são diagnosticadas com paralisia cerebral ou autismo, quando, na verdade, têm apenas um problema na visão o que afeta seu reconhecimento do mundo ao redor, sua habilidade motora, dentre outros sentidos e leva a diagnósticos equivocados.” Segundo relatório do projeto de preven-ção à cegueira infantil no Ceará, “foram trei-nados aproximadamente 250 pediatras para a realização do exame do reflexo vermelho, para detecção de leucocorias (pupila branca). Além disso foram realizados treinamentos na SOCEP (Sociedade Cearense de Pediatria) e nas unidades neonatais. Através do teste do olhinho, que é rea-lizado com oftlamoscópio direto em todos os recém-nascidos vivos é possível identificar as principais causas de baixa visão na infância, inclusive o retinoblastoma, que é o tumor ocu-lar mais freqüente. Com a presença de alguma anormalidade do reflexo vermelho, a criança é encaminhada para uma unidade de oftal-mologia para o diagnóstico e tratamento. Foi desenvolvida uma rotina de diagnós-tico e tratamento mais precoce da catarata congênita no ambulatório do HGF, sob a su-pervisão da Dra. Islane Verçosa e Dr. Carlos Afonso Silva, sendo tratados 3 a 4 casos por semana, totalizando119 cirurgias de catara-ta congênita entre abril de 2004 e junho de 2006.” Os Serviços de Estimulação Visual Pre-coce e Visão Subnormal no Hospital Geral de Fortaleza ficam por conta da terapeuta ocu-pacional especializada em atendimentos de crianças em baixa visão, Marisol de Araújo Cavalcante. O projeto CAVIVER da Dra. Islane Ver-çosa é um exemplo de resultado no seu estado e para todo o Brasil na redução da cegueira por retinopatia da prematuridade, a partir da implantação do exame de reflexo verme-lho com rotina nas unidades neonatais, e da implementação de uma rotina de tratamento clínico e cirúrgico às crianças com baixa visão, com prioridade à catarata congênita, e da implementação de um serviço de reabilitação das crianças com baixa visão.

Dra. Islane Verçosa e a CAVIVER: o

tratamento precoce de retinopatias aumenta as

chances da criança se recuperar totalmente

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OS MÉDICOS RUI FERREIRA E MAURI COR-TEZ SÃO SÓCIOS PROPRIETÁRIOS DO HOSPITAL SOS MÃO RECIFE, único hospital do Brasil especializado unicamente em cirur-gias de mão e pioneiro, no Norte e Nordeste, em intervenções cirúrgicas em nervos perifé-ricos com o uso de células tronco retiradas da medula óssea do paciente. Ambos cumpriram temporadas de estu-dos na França quando criaram ligação com um dos maiores especialistas em cirurgias de mão no mundo, Dr. Alain Gilbert. Esta liga-ção com Dr. Gilbert gerou a parceria com La Chaine de L’Espoir (ONG francesa que pro-move missões humanitárias no mundo inteiro) e a iniciativa de executar missões em Recife. Essas missões são direcionadas ao atendi-mento e tratamento cirúrgico de crianças com má-formações congênitas nos membros supe-riores e inferiores. Ainda não se sabe a verdadeira in-cidência de casos de crianças nascidas com má-formações. Estima-se que, por ano, 1% a 2% das crianças que nascem tem membros superiores ou inferiores defeituosos. A causa deste problema também não pode ser atri-buída a uma só fonte, dado que uma causa pode resultar em diferentes defeitos ou que um defeito pode ter uma miríade de causas.

EM 1998 FIRMOU-SE UMA SOCIEDADE ENTRE DOIS

ESPECIALISTAS EM CIRURGIA DE MÃO DO RECIFE QUE SE

MOSTRARIA MAIS PROVEITOSA DO QUE SE IMAGINAVA HÁ

QUASE UMA DÉCADA

SOS MÃO

CRIANÇA

a ç ã oS A Ú D E

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Crianças carentes nascidas com mãos, braços e pés defeituosos muitas vezes não se tratam por temor ou ignorância, mas princi-palmente por falta de condições financeiras. Uma intervenção cirúrgica para a correção de uma má-formação pode custar de R$3 mil a R$30 mil e a maioria dos convênios de saú-de não cobrem este tipo de procedimento. Soma-se a isso o fato de que apenas a cirurgia não soluciona por completo todos os problemas resultantes de uma má-formação. Acompanhamento com tratamento terapêuti-co e de fisioterapia é de suma importância para a recuperação dos movimentos, domínio motor e eliminação da estigma causada por tais deformações. Pensando nisso, os Drs. Rui e Mauri deci-diram criar o Instituto SOS Mão Criança que atende a crianças carentes entre 0 e 12 anos de idade. Hoje, o Instituto realiza em média 10 cirurgias por mês. Além de providenciar acompanhamento de fisioterapia no próprio Hospital SOS Mão Recife. Está em fase de negociação a compra de uma casa de apoio perto do hospital para que crianças em tra-tamento e sua família possam permanecer em Recife até o final do tratamento. Então poderão ser prestadas também aulas de ar-

tes e lazer para ajudar no desenvolvimento da mobilidade das mãos e pés das crianças. “Quando crianças, todos nós usamos as mãos como instrumento de aprendizado, para entrar em contato com o ambiente que nos cerca e descobrir o mundo. Entretanto muitas crianças, portadoras de deformida-des congênitas nas mãos, sentem-se desesti-muladas diante das dificuldades que a limi-tação física lhes impõe. A maioria abandona a escola antes mesmo da alfabetização por não conseguir segurar um lápis”, explica o Dr. Rui. Enquanto a casa de apoio não se es-tabelece, os médicos fundadores do Instituto SOS Mão Criança vão ajudando as crianças como podem, mobilizando e sensibilizando outros médicos para esta causa, buscando parcerias para o instituto e organizando mis-sões humanitárias nas suas horas vagas. A primeira missão ocorreu entre os dias 20 e 23 de dezembro de 2005, em comemo-ração às 10.000 cirurgias completadas em 2005 pelo Hospital SOS Mão Recife. Nesta primeira iniciativa foram examinadas 600 crianças, das quais 150 tinham má-forma-ções mais agravadas. Destas 150 crianças, 42 foram submetidas a procedimentos cirúr-

gicos corretivos. Desde então ocorreram duas outras missões, ambas no ano de 2006. Entre os dias 28 e 31 de agosto, 65 crianças foram ope-radas e continuam em tratamento no Hospital SOS Mão Recife. Pouco antes desta segunda missão ocorreu o “Concerto para 80 mãos”, quando o pianista Arthur Moreira Lima fez um espetáculo no Teatro Santa Isabel e toda a renda do concerto (e do jantar que ocorreu em seguida) foi revertida para custear a se-gunda missão do Instituto SOS Mão Criança. A mais recente missão aconteceu en-tre os dias 22 e 25 de novembro de 2006, quando foram atendidas 40 crianças. Desta vez, participaram os médicos de Recife (Dr. Rui Ferreira, Dr. Mauri Cortez, Dr. Guilherme Cerqueira e Dr. Marco Cortez), além do fran-cês Dr. Alain Gilbert. Segundo Dr. Rui Ferreira, as missões são extremamente produtivas nesta fase do projeto, pois servirão para equilibrar o nú-mero de crianças necessitadas urgentemen-te de intervenção cirúrgica e possibilitar um atendimento constante e melhor distribuído durante o ano no hospital em Recife. Desta forma, será mais fácil atrair outros médicos para doar seu tempo.

“Quando crianças todos nós usamos as mãos como instrumento de aprendizado, para entrar em contato com o ambiente que nos cerca

e descobrir o mundo. Entretanto muitas crianças com deformidades congênitas nas mãos sentem-se desestimuladas diante das dificuldades - a

maioria abandona a escola por não conseguir segurar um lápis.”

AÇÃO CONJUNTA Dr. Alain Gilbert (à esquerda); Ao centro, o maestro Arthur Moreira Lima entre o Dr. Maury Cortez e o Dr. Rui Ferreira, no concerto solidário promovido para custear uma missão do SOS Mão Criança.À direita, Dr. Mauri Cortez, ativos no atendimento e tratamento cirúrgico de crianças carentes no Recife

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3 º s e t o r

c o n h e c e n d o o t e r c e i r o s e t o r

AV I N AUNINDO A AMÉRICA LATINA, ESTA ORGANIZAÇÃO

SUÍÇA INCENTIVA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL INSPIRADO NA DIVERSIDADE

a inclusão social, a sustentabilidade ambien-tal, a responsabilidade social empresarial, o comércio justo e a cultura empreendedora. Com este enfoque, surgiu no Brasil o Movi-mento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, que visa diminuir o número de intermediários entre o catador e a empresa que é paga por coletar o lixo. A iniciativa vem contribuindo para a inclusão justa des-tes trabalhadores e a sustentabilidade am-biental do País.

2. Equidade: Promover a igualdade de oportunidades para o pleno desenvolvimen-to de indivíduos e comunidades, o acesso a formas dignas de trabalho e aos bens e ser-viços públicos de qualidade, dentro de um marco de promoção e respeito aos direitos humanos. A exemplo do trabalho realizado pelo Projeto CASA DA CRIANÇA, que vem lutando pelos direitos iguais à moradia para as crianças e adolescentes menos favoreci-das de nosso País. O Projeto, segundo sua fundadora, Patrícia Chalaça, “Quebra pa-radigmas culturais, a partir da mobilização da sociedade para atuar e transformar es-

paços de atendimento à criança socialmente des-favorecida em espaços com qualidade.”

3. Conservação e ad-ministração dos recur-sos naturais: Estimular a relação harmônica entre

o ser humano e a nature-za, contribuindo com a bio-

diversidade, o manejo inte-grado dos recursos naturais e

com a visão da água como um bem público, para que as atu-

ais e futuras gerações possam vi-ver dignamente. Este é o objetivo do

Peruano Joaquín Leguía, administrador do programa Terra das Crianças, que tem 300 hectares e 1.500 crianças inscritas em todo o Peru e parte do Brasil. O programa visa criar uma relação de harmonia entre as crianças e a terra, estabelecendo uma ati-tude de respeito aos recursos naturais que perdura até a idade adulta.

4. Governabilidade democrática e estado de direito: Fomentar a participação ati-va da sociedade organizada na busca de acordos entre a diversidade de atores para a melhoria dos sistemas políticos e públicos, a tomada de decisões, sua implementação e controle. Mais do que apoio financeiro a organizações que visam igualdade perante as políticas públicas, a AVINA vem ajudando a implementar e transferir planos de ação para diferentes organizações.

A AVINA reconhece que vivemos em sociedades muito fragmentadas e que nos tempos atuais existe uma tensão entre a agenda socioambiental e os desafios da responsabilidade empresarial. Por isso assu-mem como missão contribuir para o diálogo crítico, livre e construtivo entre estes setores.Em 1994 tornou-se parceira da ASHOKA, e permitiu que a Ashoka ampliasse e con-

ASPIRANDO A UMA AMÉRICA LATINA INTEGRADA, SOLI-DÁRIA E DEMOCRÁ-TICA, inspirada na sua diversidade e construí-da através de uma ci-dadania que se posicio-na globalmente a partir de seu modelo próprio de desenvolvimento inclusivo e sustentável é criada em 1994 a organização suíça AVINA. Fundada por Stephan Sch-midheiny, empresário suíço, a AVI-NA é uma organização internacional que aspira ao desenvolvimento sustentável da América Latina. Atualmente, são mais de 1.000 empreendedores sociais, deno-minados “Líderes-Parceiros” que atuam em diversos Países do continente. Os Líderes-Parceiros da AVINA demonstram visão trans-formadora, possuem histórias de dedicação, espírito cooperativo, criatividade e empre-endedorismo social. Devem ser articuladores de alianças inter-setoriais, locais, nacionais, continentais e globais: geradores de inicia-tivas com potencial de impacto e escala, e capazes de atuar em rede. A organização possibilita facilitar os vínculos entre pessoas comprometidas com o desenvolvimento sustentável das comuni-dades, para que se tornem cada vez mais construtivas e colaborativas, tendo como principal valor a ser buscado a plena reali-zação do ser humano, em contexto de har-monia individual, social e ambiental.

Os esforços da AVINA se concentram em quatro áreas principais:

1. Desenvolvimento econômico sustentá-vel: Estimular a adoção de padrões de pro-dução, comercialização e consumo que fa-voreçam a solidariedade, a reciprocidade,

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solidasse seu trabalho de identificação e apoio a empreendedores sociais na Améri-ca Latina. Outros parceiros da AVINA são a AGS, uma parceria multinacional de uni-versidades que promove a pesquisa multi-disciplinar e a educação universitária em desenvolvimento sustentável; o movimento Fé e Alegria; a organização Centro Magis; e a CLACDS, instituição acadêmica com foco prático, que promove pesquisas e iniciativas vinculadas ao desenvolvimento sustentável e à competitividade.

Os Líderes-Parceiros AVINA são empre-endedores sociais que recebem apoio e colaboração da organização para que os objetivos dos seus projetos sejam al-cançados.Com visão de longo prazo e objetivos bem definidos, os Líderes –Parceiros tra-balham de forma planejada, disciplina-da e realista frente aos problemas sociais que desejam combater, administrando to-das as etapas de seus projetos de forma realista e atuando nos diversos setores sociais: educação, direitos das crianças e adolescentes, meio ambiente, saúde, es-portes, arte-cultura, combate à violência, desenvolvimento sustentável, etc.

CESARE DE FLORIO LA ROCCACentro do Projeto AXÉ de Defesa e Proteção à Criança e ao AdolescenteEscritório AVINA: Salvador NordesteÁrea de Atuação: Participação cidadã[email protected]ÃO: Prestar serviços de educação e defesa dos direitos de crianças e adolescentes em circunstâncias especialmente difíceis.

CLAUDIA WERNECKEscola de GenteEscritório AVINA: Belo HorizonteÁrea de Atuação: Participação cidadã[email protected]ÃO: Despertar a sociedade para o exercício de valores inspirados na diversidade humana, por meio de ações de comunicação em inclusão, defendendo, prio-ritariamente, os direitos de crianças e jovens com defi-ciência previstos na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência e na Resolução 45/91 da ONU por um mundo inclusivo, para todos.

PATRÍCIA CHALAÇAProjeto CASA DA CRIANÇA Escritório AVINA: Salvador NordesteÁrea de Atuação: Educação, Participação cidadãpatricia@projetocasadacrianca.com.brwww.projetocasadacrianca.com.brMISSÃO: Proporcionar um futuro melhor para as crianças e adolescentes através do Projeto CASA DA CRIANÇA, que reforma e constrói creches, abri-gos, espaços para adolescentes e para crianças com necessidades especiais ou em tratamento de câncer, além de desenvolver outros programas, como o Cia dos Anjos, que fortalece o atendimento nas unidades após as intervenções.

BERTRAND SAMPAIO DE ALENCARAssociação Pernambucana de Defesa da NaturezaEscritório AVINA: Salvador NordesteÁrea de Atuação: Participação cidadã[email protected]ÃO: Promover a defesa da natureza, dos recursos naturais e da qualidade de vida das populações de um modo geral, em particular das mais pobres e des-protegidas, visando o despertar da consciência am-biental e o exercício pleno da cidadania para influir nas políticas públicas que afetem, direta ou indireta-mente, a saúde, a segurança e o bem estar social.

DENISE BOPPRÊMúsica e Dinâmica como Auxílio Socioeducativo – MUDICASEEscritório AVINA: CuritibaÁrea de Atuação: Participação cidadã[email protected]ÃO: Proporcionar às crianças, da educação infan-til ao ensino fundamental, a integração no processo de aprendizagem e socialização através da música e da vivência artística, auxiliando na descoberta das potencialidades inatas das crianças.

CARMEN LUZCompanhia Étnica de Dança e TeatroEscritório AVINA: Belo HorizonteÁrea: Promoção da [email protected]ÃO: Conceber, produzir e divulgar ações e produ-tos artísticos, culturais e educacionais com a finalida-de de valorizar afro-descendentes no Brasil/Exterior, construir auto-estima, identidade e promover inclusão social de jovens e crianças oriundos de famílias de baixa renda, especialmente moradores de favelas.

MARIA APARECIDA BENTOCentro de Estudos das Relações do Trabalho e DesigualdadesEscritório AVINA: Belo HorizonteÁrea de Atuação: Promoção da [email protected]ÃO: Conjugar produção de conhecimento com programas de intervenção no campo das relações raciais e de gênero, buscando a promoção da igual-dade de oportunidades e tratamento e o exercício efetivo da cidadania.

PHILIPPE WALDHOFFEscola Agrotécnica Federal de ManausEscritório AVINA: ManausÁrea de Atuação: Promoção da [email protected]ÃO: Formar técnicos voltados ao manejo do ecos-sistema florestal na Amazônia, considerando aspectos técnicos, ambientais, sociais e culturais; desenvolver e apoiar projetos que venham a promover o desenvolvi-mento sustentável por meio do manejo florestal, inte-grando o conhecimento técnico à formação humana.

HÉLIO MATTARInstituto AkatuEscritório AVINA: Belo HorizonteÁrea de Atuação: Eco-eficiê[email protected]ÃO: Educar para o consumo consciente, infor-mando, sensibilizando, instrumentando, mobilizando e animando cidadãos para assimilarem o conceito e a prática do consumo consciente em seus comportamen-tos e atitudes.

l í d e r e s - p a r c e i r o s A V I N A

INTERNACIONAISCHILEBARTOLOMÉ SILVAEl Circo del Mundo ChileEscritório AVINA: SantiagoÁrea de Atuação: Fortalecimento institucionalbartolo@elcircodelmundo.comwww.elcircodelmundo.clMISSÃO: Promover fatores protetores para crianças e jovens em risco social, utilizando a arte circense como ferramenta educati-va e de intervenção social.

ESPANHAANTONIO GARCÍA ALLUTFundación Lonxanet para la Pesca SostenibleEscritório AVINA: BarcelonaÁrea de Atuação: Gestão de recursos [email protected]ÃO: Promover a pesca sustentável, a divulgação dos valores da pesca artesa-nal e arqueológica, a preservação do am-biente marinho e o desenvolvimento de um turismo específico; tudo em colaboração com os agrupamentos de pescadores ou de instituições que as substituam.

l í d e r e s - p a r c e i r o s A V I N A

* Conheça outros Líderes-Parceiros AVINA em: www.avina.net

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e d i t o r i a l

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u m e x e m p l o

O PROJETO CASA DA CRIANÇA VEM ATUANDO DESDE 1999 aplicando sua me-todologia multiplicadora através da fran-quia social, que reforma e humaniza abri-gos, creches, espaços de atendimento ao adolescente e espaços de tratamento do câncer infanto-juvenil, objetivando propor-cionar melhor qualidade de vida às crianças e adolescentes socialmente desfavorecidos do Brasil. Em 2005, ampliando suas ações, o Projeto CASA DA CRIANÇA passa a atu-ar em unidades de atendimento a crian-ças portadoras de necessidades especiais, dando início às suas atividades também na região Norte do País, na cidade de Belém do Pará. A unidade beneficiada foi o EAPE (Espaço de Acolhimento Provisório Especial), instituição pública que abriga 60 crianças e adolescentes portadores de necessida-des especiais, com idades de 0 a 17 anos e presta atendimento externo a 300 crianças da comunidade. A intervenção realizada no EAPE, que tem como mantenedor responsável o Gover-no do Estado do Pará, demonstrou na prá-tica que é possível realizar uma parceria com resultados positivos entre o primeiro, segundo e terceiro setores. O Projeto CASA DA CRIANÇA firmou convênio com o poder público estadual para atuar no imóvel onde funciona o EAPE / Fundação da Criança e do Adolescente do Pará (FUNCAP) e, atra-vés da mobilização de parceiros solidários nacionais e locais, reformou, ampliou, equi-pou e mobiliou o prédio, que passou a con-tar com 1.100 metros quadrados, aliando o abrigo de crianças especiais a um centro de reabilitação. A união de forças em prol de uma causa nobre como a realizada no EAPE não beneficiou apenas as crianças e adoles-centes abrigadas na instituição, mas também ampliou o atendimento àquelas portadoras de necessidades especiais que há muito ne-cessitavam de um serviço de qualidade na região, mas não possuíam condições finan-ceiras para terem acesso a isso. A ampliação no atendimento às crian-ças e adolescentes portadores de necessi-dades especiais da comunidade foi possível devido à construção do Centro de Reabi-litação realizada pelo Projeto CASA DA CRIANÇA, que, através da atuação das

c o n h e c e n d o u m a u n i d a d e

E A P E Espaço de Acolhimento

Provisório Especial - PAO Projeto CASA DA CRIANÇA proporcionou

ao abrigo público EAPE, que atende a crianças portadoras de necessidades especiais em

Belém do Pará, ser referência nacional de atendimento - fruto da reforma realizada com contrapartida do Governo do Estado do Pará

FOTOS MÁRIO ÁLVARES

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A intervenção realizada no EAPE – que tem como mantenedor responsável o Governo do Estado do Pará – demonstrou na prática que é possível realizar uma parceria com resultados positivos entre o primeiro, segundo e terceiro setores.

SALA DE COMPUTAÇÃO SALA DE PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL E TERAPIA OCUPACIONAL

ATIVIDADE COM PINTURA

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franqueadas sociais da cidade e da cap-tação de parcerias com empresários do ramo da construção civil, arquitetura e de-coração, fizeram a doação de produtos e serviços que possibilitaram a realização de uma ação como essa. O governo do Esta-do, por sua vez, realizou a parceria deli-neada através da Secretaria Executiva de Saúde do Pará (SESPA) e da FUNCAP. Foi criado um novo modelo de gestão para o EAPE, em que a gerência administrativa e operacional fica sob a responsabilidade de uma entidade não-governamental sem fins lucrativos - o Instituto Pobres Servos da Di-vina Providência, especializado na área de saúde e assistência social, proporcionando melhor preparo para atender às novas de-mandas e realizar a manutenção adequada da instituição. Atualmente o abrigo trabalha com três modalidades de atendimento: espaço educativo, clinica interdisciplinar e terapia cognitiva. Segundo Cecília Soraya de Almeida, diretora em exercício do EAPE, “no espaço físico, além do abrigo, começou a funcionar ainda em 2006 uma unidade de referência especial em reabilitação infantil (URE-REI), para atendimento de 250 crianças por mês, menores de 12 anos, com deficiências neu-rológicas pela rede de serviço credenciado ao SUS”. A proposta é realizar um atendimento altamente especializado, respeitando o his-tórico familiar de cada criança. Está funcio-nando com equipe diariamente em sistema de plantões, composta por 6 fisioterapeutas, 2 fonoaudiólogos, 2 psicólogos, 2 pedago-gos, 3 terapeutas ocupacionais, 3 assistentes sociais, 1 neurologista infantil, 1pediatra, 1 médica clinica, 7 enfermeiras, 1 nutricionista, 36 técnicos de enfermagem e 26 monitores. O Projeto CASA DA CRIANÇA entre-gou o EAPE ao Governo do Estado do Pará em Junho de 2006, momento em que a nova equipe ingressou no abrigo e centro de re-abilitação, possibilitando um grande salto qualitativo e quantitativo no atendimento a crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais. Um atendimento di-ferenciado, completo, que além de dos tra-tamentos de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional, oferece ainda hidrote-

ATIVIDADE COM A TERAPEUTA OCUPACIONAL NA ÁGUA

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rapia, musicoterapia, psicoterapia e acom-panhamento médico pediátrico. O EAPE é hoje uma instituição de referência no atendimento a crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais não apenas para o Pará, mas para o Brasil, demonstrando concretamen-te que é possível disponibilizar ao porta-dor de necessidades especiais espaços lú-dicos, atendimento adequado e, sobretudo, humanizado, para que o público atendido possa se desenvolver de acordo com suas possibilidades exercendo seu direito a uma vida digna e com qualidade.

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u m e x e m p l o

UM NOVO OLHAR PARA A AÇÃO HUMANAMINHA EXPERIÊNCIA COM O EAPEPor Maria Isabela Araújo Andrade

Tive contato com o Projeto, através de uma grande amiga que é Franquea-da do Projeto Casa da Criança aqui em Belém, uma das cidades premiadas com essa belíssima obra. Como não acredito no acaso, sei que foi obra divina. Meu anjo da guarda me colocou em contato com essas pesso-as, me apaixonei de imediato! Já conhe-cia as crianças e os profissionais do abri-go, por ter desenvolvido um atendimento com a psicomotricidade relacional. A cada encontro, mostrava-lhes a importância do papel que assumem fren-te ao constante desafio de ser, além de profissionais, os substitutos das figuras parentais. Fez-se necessário, neste caso, desenvolver suas potencialidades, auto-estima e sensibilidade para a escuta do outro. Um outro que muitas vezes apre-senta inúmeras dificuldades como, por exemplo, não poder andar, falar e muito menos brincar, pois a única forma de se comunicar é com o olhar. A Constituição propõe que “toda criança tem direito à educação, saúde, a assistência social, a um lar e que seja assistida em sua infância e adolescên-cia.” O referido pressuposto garante a assistência em instituições e abrigos para crianças, que porventura sofram qual-quer tipo de abandono de suas famílias ou estejam em situação de risco e pre-cisando de um atendimento em suas es-pecificidades e necessidades especiais. No momento em que todos os caminhos buscam a inclusão social, tendo como foco principal o exercício pleno da cida-dania, a sociedade deveria estar se or-ganizando na construção de um NOVO

OLHAR PARA A AÇÃO HUMANA. A criança ou adolescente em situa-ção de abandono necessita de um lar, um espaço alegre, com muita cor, descontra-ído, onde ele possa desfrutar de um mí-nimo de conforto e segurança para que, a partir desta estabilidade ele adquira confiança no outro. Juntamente com o espaço, faz-se necessária uma equipe que cuide das crianças e tenha sensibilida-de, “um olhar diferenciado”. Segundo Ibrahim Danyal-gil Jr, “mascarar os conflitos, fazer de conta que eles não existem reforça o preconceito e contribui para a formação de patologias sociais”. O grande desafio do Projeto CASA DA CRIANÇA é criar espaços onde as ferramentas que compõem a estrutura física, tijolos, barro, areia e tinta, tornassem esses ambientes mais aconchegantes. Construindo, além de um espaço interior prazeroso, um espaço onde haja troca e crescimento pessoal. Um momento de compartilhar e AMAR. Isso só é possí-vel se o ambiente físico e humano for adequado, para que os estímulos ne-cessários em prol de seu crescimento de fato ocorram. E esta é a proposta do novo EAPE, após a intervenção do Projeto CASA DA CRIANÇA, onde foram criados ambientes físicos mais adequa-dos e lúdicos que contribuem para um atendimento de qualidade no espaço que abriga crianças com necessidades educativas especiais tendo um único propósito de “SER E FAZER FELIZ”.

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BELÉM-PA

INAUGURAÇÃO DOABRIGO EAPE BELÉM

As Franqueadas Sociais Belém: Fátima Petrola, Roberta Frigeri, Elizabete Grunvald e Lílian Almeida recebem para o evento de Inauguração: Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão (Fundadores do Projeto), Lavínia Mata (Coordenadora Nacional de Franquia), Paulo Pepino (Franqueado Fortaleza), Mário César Sperb (Franqueado Porto Alegre) e Rosana Cervo (Franqueada Florianópolis)

MACEIÓ-AL

INAUGURAÇÃO DA UNIDADE MACEIÓInaugurada em 19 de julho de 2006 a sede do Ambulatório de Oncologia Pediátrica do Hospi-tal do Açúcar, em Maceió, com 500 m² de área total. No local, as crianças e adolescentes re-cebem tratamento quimioterápico, atendimento médico, acompanhamento social e psicológico, e realizam atividades complementares na brin-quedoteca e recreação. Em 2003, o Projeto CASA DA CRIANÇA refor-mou a casa de apoio à criança e ao adoles-cente com câncer (APALA), que acolhe crianças e adolescentes vindos do interior do Estado de Alagoas.O segundo passo na área do câncer infantil, já em parceria com o Instituto Ronald McDonald, foi a construção do Ambulatório de Oncologia Pe-diátrica do Hospital do Açúcar, que contou com o significativo apoio da sociedade, em especial do Dr. Ronald de Vasco Júnior, a quem o Projeto CASA DA CRIANÇA fez homenagem, dando seu nome ao ambulatório.

Marcelo Souza Leão, Patrícia Chalaça (fundadores do Projeto CASA DA CRIANÇA) e Francisco

Neves (superintendente do Instituto Ronald McDonald)

Da esquerda para a direita: Acioly (empresário voluntário), Marcelo Souza Leão, Patrícia Chalaça, Francisco Neves, mãe de uma criança, Ana Nicollini e Roberto Mack (Instituto Ronald McDonald) e D. Rosa (diretora da Apala).

RECIFE – PE

I SEMINÁRIO NORTE-NORDESTE SOBRE GESTÃO CONTÁBIL E JURÍDICA NO TERCEIRO SETOR O Projeto CASA DA CRIANÇA, na pessoa do diretor administrativo-financeiro, Alberto Mo-reira, participou do I Seminário Norte-Nordeste sobre Gestão Contábil e Jurídica no Terceiro Setor, de 13 a 15 de setembro de 2006, no Hotel Best Western Manibu. O objetivo do seminário foi orientar os profissionais que atuam no terceiro setor para as novas exigências fiscais, jurídicas e de gestão estratégica e financeira dessas entidades, tendo como público alvo diretores, tesoureiros, conta-dores, advogados, dirigentes, administradores e demais profissionais que atuam em organiza-ções do terceiro setor. Participaram como pa-lestrantes importantes nomes das áreas jurídica e contábil, dentre eles: Dr. Sérgio Monello (com o tema “Organização jurídica das entidades be-neficentes – estatutos e regimentos”); Dra. Marli Borges (com o tema “Imunidade e isenções no ter-ceiro setor e captação de recursos para projetos sociais”); Ivan Pinto e Alexandre Chiaratti (com o tema “As obrigações contábeis das entidades sem fins lucrativos”).

RECIFE – PELAR DE CLARA PARTICIPA

DA 5ª FICONS 2006 Apoiado pelo SINDUSCON-PE (Sindicato da Indús-tria da Construção Civil de Pernambuco), o Lar de Clara e o Projeto CASA DA CRIANÇA participaram da 5ª FICONS 2006, feira internacional de mate-riais, equipamentos e serviços da construção civil, evento que aconteceu no Centro de Conven-ções de Pernambuco, entre os dias 12 e 16 de setembro. Nesta oportunidade, foi evi-denciado o projeto de reforma e ampliação da nova sede do Lar de Clara, através da ação do Proje-to CASA DA CRIANÇA, em Pernambuco, que terá inauguração em abril de 2007. Foi uma ótima oportunidade para divulgar o trabalho realizado no Lar de Clara, bem como de conquistar várias parcerias, recebendo o apoio das construtoras másters Queiroz Galvão, Moura Du-beux, Rio Ave, Vale do Ave, Santo Antônio, L.Priori e Pernambuco Construtora, além dos demais patroci-nadores nacionais e locais.

Em 29 de junho de 2006, foi inaugurado o Abrigo EAPE (Espaço de Acolhimento Provisório Especial) – Belém do Pará que atende a crianças portadoras de necessidades especiais. A unidade, que tem como mantenedora o Governo do Estado do Pará, é um exemplo con-creto de união entre primeiro, segundo e terceiro setor.

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FLORIANÓPOLIS – SC

INAUGURAÇÃO DA UNIDADE DE FLORIANÓPOLIS

A Creche Sociedade João Paulo II, obra com 750 m², foi devolvida à comunidade totalmente reformada em 19 de setembro. A obra ocorreu com apoio dos Franqueados Sociais: Cris-tina Piazza, Rosana Cervo e Juliano Amboni. Ana Paula Isensee, Franque-ada de Blumenau atuou diretamente contribuindo com a equipe de Floria-nópolis. Estiveram no evento arquitetos, decoradores, patrocinadores nacionais e locais, construtores e demais convi-dados. A mão-de-obra foi viabilizada pelo SINDUSCON-SC e o IAB-SC (Ins-tituto dos Arquitetos do Brasil) também teve grande participação nesta ação. Os fundadores do Projeto CASA DA CRIANÇA, Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão, também prestigiaram o evento. Nas fotos a seguir, momentos de muita emoção na inauguração da creche.

Grupo de arquitetos e Franqueados Sociais confraternizam

A Franqueada Social de Florianópolis, Cristina

ARACAJU – SE

INAUGURAÇÃO DA UNIDADE ARACAJUO Setor de Oncologia Pediátrica do Hospital João Alves Filho foi totalmente reformado e inaugurado em 29 de novembro pelo Pro-jeto CASA DA CRIANÇA, em parceria com o Instituto Ronald McDonald. Foram criados espaços bem planejados, equipados e con-fortáveis para o atendimento das crianças e adolescentes, transformando 20 ambientes graças ao empenho de cerca de 70 profis-sionais de Arquitetura e decoração, constru-tores e empresas da área, a exemplo das salas de quimioterapia, enfermarias, berçá-rios, banheiros, recepção, circulação, estar (sala de TV), sala de recreação, consultório, dentre outras, beneficiando cerca de 400 crianças e adolescentes com câncer de todo o Estado de Sergipe que são atendidas pelo hospital por mês. Essa atuação ocorreu com apoio dos franqueados sociais Káthia Fontes, Leila Pires, Mônica Dantas, Mônica Gusmão e Rui Almeida.A mão-de-obra foi viabilizada pelo Cosil e Sólida Engenharia. Estiveram presentes na inauguração ainda os fundadores do Pro-jeto CASA DA CRIANÇA, Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão.

a c o n t e c e u

FORTALEZA – CE

JANTAR BENEFICENTE A Casa Menino Jesus realizou, em 4 de outubro de 2006, um jantar beneficente no Buffet La Maison Dunas em prol da con-clusão das obras da nova sede. Essa ação do Projeto CASA DA CRIANÇA contempla a construção da Casa de Apoio Menino Jesus e envolve cerca de 100 profissionais da Arquitetura e decoração, bem como 50 construtoras, 10 patrocinadores nacionais e 40 patrocinadores oficiais. Esta obra é mais uma atuação do Projeto CASA DA CRIANÇA em parceria com o Instituto Ronald McDo-nald no atendimento a crianças e jovens em tratamento de câncer infanto-juvenil. A arrecadação foi integralmente doa-da à Irmã Conceição da Casa do Menino Je-sus, e destinada para a aquisição de alguns produtos necessários à obra que não havia sido doados.

Os Franqueados Sociais de Fortaleza, no jantar beneficente pela Casa de Apoio Menino Jesus. Acima, a Irmã Conceição.

Os Franqueados Sociais de Aracaju com Lavínia Mata, coordenadora de Franquia Social do Projeto CASA DA CRIANÇA.

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Patrícia Chalaça e Mário Montovani

PRÊMIO: Empreendedor Social do Ano – Fundação Schwab & Folha de São PauloFábio Bibancos

FÁBIO BIBANCOS – 1º LUGAR No Brasil, uma iniciativa do jornal Fo-lha de São Paulo em parceria com a Funda-ção Schwab premia empreendedores sociais cujos projetos se destacaram em abrangên-cia, alcance e impacto positivo. É o prêmio Empreendedor Social do Ano que acontece em mais de 30 Países no mundo inteiro. A intenção é dar reconheci-mento a empreendedores sociais de sucesso, disseminar a idéia de responsabilidade so-cial e possibilitar a interação entre os em-preendedores sociais participantes. Em 2006, o grande vencedor foi Fá-bio Bibancos de Rosa, dentista que coorde-na a Turma do Bem, grupo de 650 dentistas que já atenderam voluntariamente a 1.150 crianças até 18 anos com sérios problemas bucais. O diferencial do projeto da Turma do Bem é que o atendimento gratuito é rea-lizado nos consultórios particulares dos den-tistas e ortodontistas, com direito à utilização dos melhores materiais. Outro detalhe que o diferencia é o fato de atender apenas àquelas crianças com sérios problemas bu-cais, que o estado não cobre. Dessa forma, a Turma do Bem focaliza as crianças e ado-lescentes que não teriam chance de receber atendimento.

D E S TA Q U E S N O 3 º S E T O R

DADOS GERAIS - TURMA DO BEM

1.150 crianças atendidas desde 2002

650 dentistas voluntários

400 voluntários que se correspondem com as crianças e adolescentes carentes

FOTOS: ANDRÉ PORTO

Empreendedor Social do Ano:Patrícia Chalaça do Projeto CASA DA CRIANÇA selecionada entre finalistas do prêmio Este ano, dentre 153 empreendedores sociais inscritos, foram selecionados apenas 9 finalistas. Um deles foi a fundadora e pre-sidente do Projeto CASA DA CRIANÇA, Pa-trícia Chalaça. Patrícia, junto aos parceiros e patroci-nadores do Projeto CASA DA CRIANÇA, vem contribuindo para que as crianças menos fa-vorecidas de nosso País tenham um lar digno e estimulante. Inicialmente, o projeto atuava em ações isoladas, reformando abrigos e creches, mas com a expansão do Projeto em território nacional através da sua Franquia Social (processo pelo qual são treinados outros profissionais para liderar e coorde-nar reformas em outras cidades), o Projeto CASA DA CRIANÇA já atingiu e impactou de forma positiva mais de 10.000 crianças em apenas 7 anos, implantando e disseminando o Projeto em 15 estados de todas as regiões do Brasil.

Os Franqueados Sociais do Ceará recebem a homenagem “Mobilizadores do Ano” concedida pelo Projeto CASA DA CRIANÇA.

HOMENAGEM:Mobilizadores do Ano no

Projeto CASA DA CRIANÇA

O Projeto CASA DA CRIANÇA presta uma ho-menagem aos Franqueados Sociais do Estado do Ceará Paulo Pepino, Isabel Figueiredo, João Mendonça, André Verçosa e Augusto Souza, no momento da inauguração da Casa do Menino Jesus, obra totalmente construída através de do-ações de produtos e serviços. A Casa do Menino Jesus possui 1.800 m² com 73 ambientes, graças ao empenho de 94 profissionais de arquitetura, de mais de 50 construtoras e mais de 90 pa-trocinadores nacionais, oficiais e de ambientes, beneficiando cerca de 850 crianças e adoles-centes em tratamento ao ano.A inauguração, em dezembro de 2006, contou com a presença de 2.500 pessoas, entre elas os fundadores do Projeto CASA DA CRIANÇA Patrícia Chalaça e Marcelo Souza Leão e integrantes da Coorde-nação Nacional do Projeto, Lavínia Mata, Carla Melo e Ana Cicília Monteiro, o superintendente do Instituto Ronald McDonald, Francisco Neves, patrocinadores nacionais e locais, autoridades, arquitetos, artistas plásticos, decoradores, diri-gentes da Instituição e demais convidados.

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Responsabilidade Social 2006Fortaleza – CE

O SINDUSCON-CE (Sindicato da In-dústria da Construção Civil), patrocinador do Projeto CASA DA CRIANÇA desde a pri-meira unidade reformada em Fortaleza (em 2002) ganhou o prêmio de Responsabilida-de Social 2006 e esteve confraternizando com os construtores associados na obra do Menino Jesus em um café-da-manhã, mo-mento em que recebeu uma homenagem da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Acima: Os Franqueados Sociais do Projeto CASA DA CRIANÇA Fortaleza:Izabel Figueiredo, João Almeida, Paulo Pepino,

Augusto Souza, Carlos Fujita (Presidente do SINDUSCON-

CE), Roberto Sérgio (Vice Presidente do SINDUSCON)

e André Verçosa (franqueado do Projeto).

Ao lado, Fujita recebendo o prêmio concedido pela CBIC.

Muhammad Yunus PRÊMIO NOBEL Muhammad Yunus, membro da organização internacional Ashoka de investimento em empreendimentos sociais, foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006. Nascido em 1940, na Índia, Muhammad Yunus tornou-se membro fundador da Global Academy da Ashoka (um grupo de líderes sociais influentes que dão orientação e consul-toria para empreendedores sociais) e é co-fundador do Grameen Bank, com quem dividiu o prêmio. O programa de microcrédito que montou junto ao Grameen Bank permi-tiu que milhares de pessoas com baixa renda pudessem pegar empréstimos e assim criar seus pequenos negócios. Seu trabalho é dedicado à erradicação da pobreza no mundo através de oportu-nidades de trabalho e desenvolvimento econômico. O prêmio, conferido ao Sr. Yu-nus em 10 de novembro de 2006, in-clui US$1.4 milhões, que, segundo o Sr. Yunus, será direcionado em parte para a construção de hospitais de olhos em Bangladesh e à criação uma empresa de fabricação de comida de alta qua-lidade nutricional a preços accessíveis para a população de baixa renda.

Prêmio 40 AnosMH2O – Johnson Sales

Na noite de 29 de novembro, em Fortaleza, no Ceará, foi entregue o Prêmio 40 Anos da Secretaria Estadual da Cultura à ONG Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MH2O do Brasil) do fellow Ashoka e empreendedor social Johnson. A ONG MH2O do Brasil, fundada em 1989 e oficializada em 30 de novembro de 1990 no Estado do Ceará, trabalha através da consciência cultural, formando e implemen-tando projetos e programas que oferecem qualificação profissional e formação político-ci-dadã. Seu público alvo compreende jovens pobres da periferia entre 14 e 29 anos. O prêmio representa o reconhecimento pelos serviços e benefícios culturais trazidos pela ONG MH2O do Brasil. Além disso, premia a ONG pela gestão exemplar de Indústria Criativa e Empreendedorismo Cultural.

Empreendedor Ashoka-McKinsey 2006WILLY PESSOA O prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey 2006 ficou com Willy Pes-soa, da Agência Mandalla – DHSA. O prê-mio foi anunciado pela Ashoka e McKinsey & Company, consultoria em alta gestão em-presarial, no dia 6 de dezembro, em evento na Fundação Getulio Vargas em São Paulo. Willy Pessoa, criador da Agênica Mandalla, foi o responsável pelo Desen-volvimento Holístico e Sistêmico Ambiental (DHSA), metodologia que tem por objetivo promover a auto-sustentação das comunida-des com objetivo de garantir melhoria da qualidade de vida, maior produtividade econômica e equilíbrio ambiental. O prêmio Empreendedor Social Ashoka - McKinsey é um concurso que ca-pacita e apóia organizações da sociedade civil para planejar e implementar profissio-nalmente suas idéias, aliando sustentabilida-de, geração de recursos e impacto social. Página web: www.agenciamandalla.org.br

Objetivo de Desenvolvimento do MilênioBERENICE KIKUCHI

Ganhadora do prêmio Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 2005 oferecido pela Presidência da República, Berenice Kikuchi, fundadora da Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo. Berenice Kikuchi criou a AAFESP para combater essa doença genética incurável de alto índice de mortalidade. A anemia falciforme afeta um em cada 500 afro-descendentes (cerca de dez milhões de pessoas em todo o mundo) e no Brasil atinge de 6% a 10% da população, com tendência à disseminação devido à miscigenação racial. A doença causa deformidade nas células sangüíneas, com anemia, comprometimento do sistema circulatório e vulnerabilidade a infecções.

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SOL E MAR SÃO O GRANDE CHAMARIZ DESSA CAPITAL NORDESTINA, mas os atrativos de Fortaleza não se resumem a apenas isso. É fato que a beleza de suas praias e o clima aprazível contribui para seu crescimento turístico, mas as diversida-des culturais, religiosas e ecológicas dessa bela cidade vêm conquistando, cada vez mais, desde o turista local até internacional. A capital cearense é um dos mais im-portantes centros econômicos do Nordeste brasileiro. Com uma população de cerca de dois milhões de pessoas, Fortaleza mistura tradição e modernidade em sua arquitetu-ra. A beleza de suas praias e a infra-estru-tura acolhedora da cidade transformam-se no grande atrativo turístico local. No litoral, quiosques distribuídos por toda a avenida beira-mar oferecem inú-meras opções de comidas típicas, frutos do mar e bebidas geladas. Na praia do Futuro, uma das mais freqüentadas do litoral urba-no de Fortaleza, as barracas com decora-ções estilizadas ao longo da orla oferecem uma gama de serviços e estilos musicais que agradam a todos.

Na feira de artesanato, as barracas repletas de trabalhos da região, em renda, cerâmica, crochê, bordados, madeira, vime, bambu, peças de bijuterias e decorativas possuem opções de lembranças da viagem para todos os gostos e bolsos. O complexo gastronômico e de resorts da cidade oferece aos turistas uma grande diversidade de opções para quem quer di-versão ou descanso. A Ponte Metálica, na Praia de Irace-ma, também conhecida como Ponte dos In-gleses, possui uma visão de cartão postal do pôr-do-sol na cidade. A estátua de Iracema

homenageia a lenda da índia que deu nome à praia local, tão brilhantemente retratada por José de Alencar no seu famoso romance homônimo. O Mercado Central, no centro da ci-dade, possui cerca de 300 lojas de artesa-nato que funcionam durante toda a semana. No CEART, Centro de Artesanato do Ceará, o turista pode encontrar diversos artesãos produzindo suas peças no local. A programação noturna de Fortaleza também é intensa, com seus bares e restau-rantes abertos todos os dias, onde o turista pode desfrutar da alegria nordestina pre-

Monumento à Iracema – Praia de Iracema – Fortaleza Mercado Central

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sol, cultura e marEM FORTALEZA, CAPITAL DO ESTADO DO CEARÁ,

BELAS PRAIAS DE ÁGUAS VERDE-AZULADAS, POVO SIMPÁTICO E HOSPITALEIRO SÃO OS ATRATIVOS

TURÍSTICOS PARA QUEM QUISER CONHECER UMA DAS MAIS BELAS CIDADES LITORÂNEAS DE NOSSO PAÍS.

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Teatro José de Alencar

AS OPÇÕES DE TURISMO CULTURAL, ECOLÓGICO E RELIGIOSO TAMBÉM

SÃO ASPECTOS MARCANTES DA REGIÃO. FORTALEZA POSSUI MUITOS

MUSEUS E TEATROS EM ATIVIDADE

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VISITE O CEARÁ E CONHEÇA ORGANIZAÇÕES SOCIAIS QUE ESTÃO FAZENDO A DIFERENÇA E TRANSFORMANDO A VIDA DE MUITAS PESSOAS

PROJETOS SOCIAIS NO ESTADO DO CEARÁ

AMIGOS DA PRAINHA DO CANTO VERDEResponsável: René SchärerÁrea de Atuação: Meio Ambiente René Schärer desenvolve uma série de atividades no litoral do Ceará (a Prainha do Canto Verde localiza-se no litoral leste do Es-tado, a 120 km de Fortaleza) para garantir a sustentabilidade das comunidades litorâneas e o direito de acesso aos recursos do mar e à posse da terra. Entre as atividades desenvol-vidas, destacam-se o turismo comunitário, arte e artesanato, produtos naturais, piscicultura, comércio e serviços de informática e comunica-ção. Todas as atividades desenvolvidas estão ligadas ao movimento da economia solidária e visam a promoção do empreendedorismo para a geração de ocupação e renda. René

também busca estabelecer parcerias com co-munidades e outras entidades da sociedade civil no mundo, tirando proveito dos espaços criados pela globalização, sempre com o intui-to de melhorar a qualidade de vida nas comu-nidades do litoral do Ceará.Informações: Associação dos Morado-res de Prainha do Canto VerdeCaixa Postal 52722, CEP 60151-970 Fortaleza, Ceará, BrasilFone: 88 413 1164 / Fax: 88 413 1426 E-mail: [email protected]: www.fortalnet.com.br/~fishnet

MH2O (MOVIMENTO HIP-HOP ORGANIZADO)Responsável: Manoel Johnson Sales Área de Atuação: Participação cidadã Por meio da articulação de toda a cadeia produtiva do hip-hop, Manoel Johnson Sales criou um mercado alternativo que ajuda a desenvolver em todo o Brasil pequenas empresas baseadas nos elementos do gênero musical (dança, música e pintura), utilizando a produção e a comercialização para educar e incluir jovens de comunidades carentes. Segundo Johnson, articulador nacional do MH2O no

sente, em especial, nos famosos shows humo-rísticos que já revelaram artistas conhecidos em território nacional, a exemplo de Tom Cavalcanti. As opções de turismo cultural, ecoló-gico e religioso também são aspectos mar-cantes da região. Fortaleza possui museus e teatros como a Casa de José de Alencar, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (que abriga o Memorial da Cultura Cea-rense, o Museu da Arte Contemporânea e o Planetário Rubens de Azevedo, além de cinemas e teatros) e o Teatro José de Alen-car, que permite um regresso ao passado. Na praia de Mucuripe, o Museu do Farol, inaugurado em 1846, funcionou por 111 anos e foi desativado só em 1957. Uma vi-sita obrigatória para quem deseja conhecer a cultura local. A bela Catedral Metropolitana de Fortaleza configura um famoso cartão pos-tal da cidade, além de ser um marco repre-sentativo da religiosidade de seu povo.

Catedral Metropolitana de Fortaleza – CE

Para quem deseja ir mais longe, pode visitar praias e monumentos religiosos, tais como as praias de Canoa Quebrada e Jeri-coacoara. Ao optar pelo turismo religioso, a cidade de Juazeiro do Norte é famosa por sua romaria ao Padre Cícero. E em Canindé, foi inaugurada em 2005, em homenagem a São Francisco de Assis, uma estátua com 30 metros de altura, considerada a maior ima-gem do padroeiro na América Latina. Outra cidade que se destaca por seu forte teor religioso é Quixadá, destino bastante pro-curado para quem quer conhecer o Mosteiro

de São José e pelos devotos da Imaculada Rainha do Sertão. Na Serra do Urucum além do Santu-ário Mariano, famoso refúgio de oração para os devotos de Nossa Senhora, você pode desfrutar também da bela paisagem natural. Por tudo o que pode ser conferido nessa cidade de tão belas praias e forte cultura, Fortaleza se configura hoje como um importante pólo turístico, gastronômico e cul-tural de nosso País.Crédito das fotos: http://www.colorfotos.com.br

Brasil, “O Hip Hop é seguramente uma das mais importantes manifestações culturais da atualidade, primeiro por ser autenticamente gerado na periferia, o que faz dele o mais legítimo instrumento de comunicação da juventude pobre. Também se faz importante por conseguir elevar a auto-estima, canalizar a energia e força e materializar perspectivas para uma faixa da população esquecida por todos.” Todo o processo do mercado alternativo é feito de forma coletiva, debatido em fóruns e concretizado por meio da ação de organizações não-governamentais de hip-hop, criadas e dirigidas pelos próprios jovens. Além disso, os produtos gerados pelas empresas estão organizados em uma cadeia produtiva planejada e escoada por um sistema de vendas que tem como objetivo de médio prazo a abertura de uma rede de lojas, em forma de franquias sociais, espalhadas por todo o Brasil.Informações: MH2Owww.ashoka.org.brwww.terradasabedoria.org.br

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ABRIGO TIA JÚLIA - Reformado pelo Projeto CASA DA CRIANÇA em 2002

CASA DO MENINO JESUS - Totalmente construído pelo Projeto CASA DA CRIANÇA em 2006

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EDISCA – ESCOLA DE DANÇA E INTEGRAÇÃO SOCIAL PARA CRIANÇA E ADOLESCENTE.Responsável: Dora AndradeÁrea de Atuação: educação e cultura.Dora Andrade criou em 1991 a Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca) com o objetivo de elabo-rar e executar estratégias para promoção do desenvolvimento humano de crianças e ado-lescentes carentes. A Edisca atua com base em três estratégias: o atendimento direto aos educandos e seus familiares nas áreas de arte, educação, nutrição e saúde; a pesquisa, pro-dução e sistematização do conhecimento ge-rado a partir da observação de sua rotina; e a disseminação de sua tecnologia educacio-nal, estimulando e nutrindo outras organiza-ções que compartilham dos mesmos princípios. Através de seu trabalho, a Edisca visa promo-ver o desenvolvimento humano de crianças e adolescentes, para formar cidadãos sensíveis, criativos e éticos, através de uma pedagogia transformadora com foco na arte.Segundo Dora Andrade, em entrevista ao portal do vo-luntário, “A EDISCA, apesar de muito jovem, só tem 13 anos. É uma instituição que tem um componente que para mim é muito inspirador e, ao mesmo tempo, muito desafiador: ofere-cer, dentro da prática social, a qualidade má-xima possível para nossas crianças. Existe um conceito de que eu gosto muito e que acabou virando um princípio institucional nosso trazi-do pelo professor Antonio Carlos Gomes da Costa, que é o conceito da eqüidade social. Explico: para as crianças que nós atendemos, das quais foram tiradas muitas oportunidades e negadas perspectivas concretas, é necessá-rio que se dê na medida do que foi negado, oferecendo o melhor possível, educação de qualidade, vivências conseqüentes em arte, nutrição adequada e apoio às famílias.”Informações: Ediscawww.ashoka.org. brwww.edisca.org.brEmail: [email protected]

FUNDAÇÃO CASA GRANDE – MEMORIAL DO HOMEM DO KARIRIResponsável: Alemberg QuindinsÁrea de Atuação: Educação, trabalho e meio ambienteA Fundação Casa Grande é uma ONG que tem como missão educar crianças e jovens ser-tanejos em gestão cultural através de seus pro-gramas de memória, comunicação, artes e tu-rismo, envolvendo seus familiares pela criação da COOPAGRAN que administra o receptivo. As pousadas ficam nas residências dos pais das crianças e adolescentes de Nova Olinda e são administradas pela Cooperativa dos Pais

e Amigos da Casa Grande (COOPAGRAN). Todas as famílias participam da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri na cidade de Nova Olinda, interior do Sertão ce-arense, a 50 km de Juazeiro do Norte - CE e 560 km da capital do Estado, Fortaleza. Na Casa Grande o visitante vem conhecer os la-boratórios que são: Memorial do Homem do Kariri, que guarda em acervo, peças arqueo-lógicas e lendas da pré-história do homem do Kariri; Escola de Comunicação da Meninada do Sertão com rádio, TV e editora; e Teatro Violeta Arraes - Engenho de Artes Cênicas. O visitante pode interagir nas atividades com a criançada, além de visitar um sítio mitológico e arqueológico da pré-história do homem na região. Opções de excursão: Juazeiro do Nor-te, para visitar o fenômeno da religiosidade popular do “Padre Cícero”; Assaré, para co-nhecer o memorial do maior poeta popular do Sertão “Patativa do Assaré”; Exú, para conhe-cer o museu de Luiz Gonzaga, maior artista e compositor da musica do Sertão; Santana do Cariri, para visitar o museu de fósseis com seus pterossauros e fósseis de 150 milhões de anos na pedra calcárea. A Fundação Casa Gran-de e COPAGRAN são os órgãos responsáveis pela gestão das pousadas domiciliares e a produção de artesanato. Uma parte da renda é destinada ao projeto de formação escolar, cultural e artística das crianças.Informações: Fundação Casa GrandeRua Jeremias Pereira 444, CEP 63165-000 - Nova Olinda - CEFone/Fax: 88 5121225 / 88 521-813388 546-1333E-mail: [email protected]

PROJETO CASA DA CRIANÇAResponsável: Patrícia ChalaçaÁrea de Atuação: Participação cidadã, Direitos das crianças e adolescentesO Projeto CASA DA CRIANÇA é uma OSCIP (Or-ganização da Sociedade Civil de Interesse Públi-co) que atua através das suas Franquias Sociais distribuídas pelas diferentes regiões do País. As ações desse Projeto promovem a união das clas-ses dos arquitetos, construtores e empresários da construção, que reformam e constróem espaços de atendimento a crianças e adolescentes social-mente desfavorecidos em território nacional, como abrigos, creches, espaços de adolescentes, espa-ços de atendimento a crianças com câncer, dentre outros, através de transformações físicas (reformas e ampliações das instituições atendidas) e huma-nas (fortalecendo e ampliando o atendimento de qualidade nessas instituições pós-intervenção). No Estado do Ceará já são duas instituições beneficia-das com o Projeto, o Abrigo Tia Júlia (2002) que atende a 110 crianças de 0 a 6 anos, das quais 25 são portadoras de necessidades especiais e a Casa do Menino Jesus (2006), feita em parceria com o Instituto Ronald McDonald, que atende em sistema de casa de apoio à criança e ao adoles-cente em tratamento de câncer. São 445 crianças e adolescentes atendidos de 0 a 17 anos. Estão à frente das ações os Franqueados Sociais da cida-de Paulo Pepino, Isabel Figueiredo, André Verço-sa, João Mendonça e Augusto Souza. Informações: Projeto CASA DA CRIANÇARua Dr. Raul Lafayette, 191 Sl. 1401 – Ed. Universal Center - Boa Viagem, Recife - PE. CEP: 51021-220 Fone/fax: 81 3467-9968Email: [email protected]: www.projetocasadacrianca.com.br

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QUASE MIL ESCOLAS BRASILEIRAS DE ENSINO FUNDAMENTAL PARTICIPAM DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ATRAVÉS DA PUBLICAÇÃO DE JORNAIS ESCOLA-RES. Dezenas de milhares de crianças e adolescentes têm assim a possibilidade de participar da produção de comunicação, adquirir ferramenta de expressão nesse campo e, sobretudo, desmistificar o caráter de oráculo que atribuímos aos meios de co-municação, que parecem estar sempre des-tilando verdades. A ONG cearense Comu-nicação e Cultura criou o projeto Primeiras Letras (www.jornalescolar.org.br), que dá a essas escolas capacitação e apoio para a produção de seus jornais. A ONG realiza também a impressão na sua própria gráfi-ca, o que não só facilita a vida das escolas, como acaba viabilizando a iniciativa, pela redução de custos que proporciona. Cada escola publica seu próprio jor-nal, que está integrado a seu planejamento e a suas condições de produção. O conte-údo vem de sala de aula. A autoria dos textos e desenhos publicados é, portanto, dos alunos, mas a orientação pedagógica e metodológica é do professor, posto que as atividades estão integradas ao trabalho que realiza. Uma professora de matemáti-ca poderá, por exemplo, fazer com que sua aula sobre cálculo de percentuais produza uma pesquisa de opinião sobre um determi-nado assunto na escola ou na comunidade, com os resultados divulgados no jornal. Os

jornais são impressos em folhas duplo ofício em preto e bran-co. Tudo simples, mas digno. A escola pode imprimir todo mês, mas a recomendação do projeto é que publique 4 números por ano, considerando que o jornal tem um “ciclo de vida” que se estende por um par de semanas quando é distribuído em sala de aula, abrindo pos-sibilidades de releitura, reescrita, revisão e debate. O ciclo de vida do jornal (planeja-mento, produção, distribuição e uso em sala de aula) é, então, de aproximadamente dois meses. A orientação do projeto é fazer com que a escola leve valores e conhecimentos para a sua comunidade (82% dos alunos declaram que o jornal é lido nas suas fa-mílias) e aproveite a valorização social da escrita e da leitura que o jornal propicia para melhorar a qualidade do ensino (os professores são unânimes em afirmar que o fato de escrever para o jornal é um forte fator de motivação para os alunos). O jor-nal é ainda uma ferramenta da expressão de opiniões e idéias das crianças e ado-lescentes, promovendo a sua cidadania. E é por aí que o projeto resgata suas raízes freirianas. O “calor comunitário” do jornal, o fato de ser um veículo “quente”, com forte empatia entre o produtor, o leitor e a mí-dia, favorece essas possibilidades de utili-zação.

A maioria dos jornais escolares Pri-meiras Letras estão implantados no Ceará – Estado onde o projeto começou em 1998, mas ele já tem uma presença em Pernam-buco, Bahia e até na floresta amazônica, na região de Santarém. A disseminação nacional é, aliás, a tônica do projeto nes-te momento. A mesma acontece através da Rede Jornal Escola, uma articulação coope-rativa de ONG’s, escolas e secretarias de educação. A criação do portal do projeto (www.jornalescolar.org.br), com ferramen-tas de capacitação a distância, permitirá a partir de 2007, o ingresso de escolas de todo o País no projeto. Por outro lado, o apoio do BNDES permitirá implantar mais três pequenos centros de impressão nas re-giões Norte e Nordeste, que se somarão à que já existe em Fortaleza. O apoio das empresas de ônibus, que levam os jornais gratuitamente de volta às escolas, e o uso da internet, para as escolas enviarem seus jornais já editorados, faz o resto em termos de logística. Além deste, a Comunicação e Cultura desenvolve outro projeto de comunicação em escolas públicas, o Clube do Jornal, que

A ESCOLANA ERA DA

INFORMAÇÃOCONHECENDO O COMUNICAÇÃO E CULTURA, UMA

ORGANIZAÇÃO SOCIAL SEDIADA NO CEARÁPor Daniel Raviolo

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B r a s i l

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publica jornais estudantis e não mais esco-lares. Esse projeto é implantado em escolas de ensino fundamental e médio, ou apenas de ensino médio, já que o público do mesmo são adolescentes. O editor é o jovem sócio do Clube de sua escola (cujo acesso é livre e irrestrito); os professores não participam. Trata-se de uma proposta de protagonis-mo juvenil bastante radical, pois os jornais circulam na escola, sem que a direção ou os professores tenham direito à leitura pré-via (um caminho direto para a censura). A comunicação, como todos sabemos, é um tema sensível e muito vinculado com o po-der, o que faz com que o Clube do Jornal tenha que conviver com os conflitos e com o trabalho sobre os conflitos. A escola, evi-dentemente, tem tudo a ganhar com isso. O objetivo do projeto é justamente mobilizar o jovem para a melhoria da escola através do exercício da sua cidadania, que começa por um direito fundamental, que é o direi-to de expressão. O Comunicação e Cultura gosta de lembrar, aliás, que a transição do ab-solutismo para a democracia teve na liberdade de expres-são seu elemento articulador. O projeto trabalha com o público di-reto que são os jovens sócios dos clubes, mas com o intuito de atingir o chamado “público ampliado” que é toda a comunidade es-colar. A capacitação para os jovens reda-

tores dos jornais estudantis está focada na vida da escola e em temas sensíveis como a saúde sexual, uso de drogas, violência e outros. A idéia é promover a “educação entre pares” (de jovem para jovem) que é, segundo especialistas, a melhor maneira de provocar mudanças de comportamento. O projeto está implantado em 122 escolas do Ceará e, seguindo os passos do Primeiras Letras, já iniciou sua penetração em Per-nambuco, onde há 13 escolas beneficia-das. A orientação do trabalho da ONG está ditada pela convicção de que a comunicação é a dimensão mais importante da cultura contemporânea e que não é possível trabalhar para mudanças sem utilizar essa ferramenta. Essa concepção está inscrita no nome mesmo da Comunicação e Cultura,

que foi fundada em 1988, em Fortaleza. O surgimento da instituição foi quase uma feliz coincidência, quando pessoas que re-alizavam uma pesquisa de recuperação da memória histórica do Mucuripe, importante bairro popular de Fortaleza, receberam uma solicitação da associação de morado-res para ajudar a fazer o jornal comuni-tário. Daniel Raviolo, uma dessas pessoas, que coordena a instituição até hoje, já tinha feito isso na sua adolescência, daí a “quími-ca” com a idéia que levou o grupo a se en-gajar nessa via. Primeiro se encaminharam para a área comunitária, onde desenvol-veram seu trabalho até em 1994, quando deram uma virada estratégica e passaram a orientar a ação para as escolas públicas. O projeto Clube do Jornal surgiu em 1995 e o Primeiras Letras em 1998. A mudança de foco teve como intuito gerar uma “dupla ação”, continuar com o trabalho junto aos jovens, mas fazer com que eles ajudassem a mobilizar um grande patrimônio brasileiro que anda meio devagar: a escola pública. Há mais de 270 mil escolas no Brasil, uma formidável rede que pode fazer a “di-ferença”. A condição é que ela se adapte as exigências dos tempos que vivemos, par-ticularmente à necessidade de compreen-são que as crianças e jovens, com o advento da sociedade da informação e a explosão da comunicação, já não são mais aqueles que a instituição recebia até 10 ou 20 anos atrás.

COMUNICANDO De jovem para jovem, a idéia do projeto é promover a “educação entre pares”

JORNALISTAS O jornal é uma ferramenta da expressão de opiniões e idéias das crianças e

adolescentes, promovendo a sua cidadania

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Patrocinadores Nacionais

Os Patrocinadores Nacionais do Projeto CASA DA CRIANÇA atuam através da doação de produtos ou serviços (auxílio

nas obras) em uma média de 6 unidades por ano, em todo o Brasil. São responsáveis por prover 100% de seus

produtos e/ou serviços, específicos a todas as unidades reformadas e/ou construídas pelo Projeto CASA DA CRIANÇA

* Existe também a possibilidade de contribuir como Patrocinador Local, que apóia a unidade de sua cidade,

fornecendo produtos e/ou serviços, não tendo responsabilidade para com as demais unidades do País

Revista Brasil Social

A Revista Brasil Social visa levar o conhecimento das ações sociais do Projeto CASA DA CRIANÇA e ainda

informações diversas do setor social e de outros projetos e ações à sociedade. Representa ainda um

meio de custear as despesas anuais do Departamento de Comunicação do Projeto, através da compra de

anúncios na Brasil Social, ajudando também a divulgar essas empresas socialmente responsáveis.

Programa Cia dos AnjosAtravés do Programa Cia dos Anjos, além de contribuir doando produtos

(roupas, comida, etc.) para unidades específicas, é possível participar como parceiro específico do programa, que disponibiliza treinamento para os funcionários das instituições.

Custeio NacionalO Projeto CASA DA CRIANÇA recebe recursos de Colaboradores, Parceiros ou Parceiros Máster (as categorias são proporcionais à contribuição de cada empresa socialmente responsável) para o custeio das despesas administrativas da Coordenação Nacional localizada em Recife, Pernambuco.

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núcleo socia l nassau

o e i x o a r t e - e d u c a ç ã o n o a t e n d i m e n t o a j o v e n s d e s f a v o r e c i d o s

c o n s t r u ç ã o s o c i a l

c o n s t r u ç ã o s o c i a l

u m f ó r u m p a r a a i g u a l d a d e

f r a n c i s c o n e v e s

f r a n c i s c o n e v e s

e n t r e v i s t a c o m o s u p e r i n t e n d e n t e

d o I n s t i t u t o R o n a l d M c D o n a l d

e n t r e v i s t a c o m o s u p e r i n t e n d e n t e

d o I n s t i t u t o R o n a l d M c D o n a l d

p o l í t i c a s p ú b l i c a s

o B R A S I L r u m o à s p a r c e r i a s n a v i s ã o d e

V a l é r i a P i r e s , v i c e - g o v e r n a d o r a d o P a r á

f r a n q u i a s s o c i a i s

u m a f o r m a d e m u l t i p l i c a r

b o a s i d é i a s

c a p a :

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25 anos de ASHOKAA A S H O K A r e u n i u n a A r g e n t i n a F e l l o w s

d e 1 3 P a í s e s d a A m é r i c a L a t i n a

B I L L D R A Y T O NF O RTA L E Z AT e m s o l , m a r

E P R O j E T O S S O c I A I S

P r o f i s s i o n a l i z a r

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E n t r e v i s t a c o m o a m e r i c a n o

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A s h o k a , h o j e p r e s e n t e

e m m a i s d e 6 0 P a í s e s ,

No 2

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A ç ã o S a ú d eM é d i c o s n a g u e r r a

c o n t r a a d e s i g u a l d a d e

EXCLUSIVO

COMO PARTICIPAR?

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Produtos Socialmente Responsáveis: Para empresas que trabalham com produção e/ou vendas de produtos, uma possibilidade de participação é na elaboração de produtos socialmente responsáveis, a exemplo de roupas, materiais escolares, sandálias, acessórios, etc, onde se utilizaria a logomarca do Projeto CASA DA

CRIANÇA como um atrativo a mais para a compra do produto, além de associar a empresa com uma instituição filantrópica e onde parte da verba seria revertida para a expansão dos programas do Projeto CASA DA CRIANÇA.

Retorno de Imagem: Em retribuição às contribuições disponibilizadas para o funcionamento do

Projeto CASA DA CRIANÇA e a realização das reformas e/ou construções em todo o país, dispomos

de várias peças de comunicação que garantem a exposição de marcas devidamente proporcional à

contribuição de cada participante, a exemplo das placas de agradecimento afixadas permanentemente nas

recepções e ambientes das unidades reformadas; do selo de responsabilidade social disponibilizado pelo

Projeto; das demais peças de comunicação que divulgam as logomarcas das empresas patrocinadoras,

a exemplo dos convites de lançamento e inauguração das unidades, banners e produtos diversos.

Para informações sobre outros meios de participação, favor acessar:www.projetocasadacrianca.com.br

FNICS (Fórum Nacional da Indústria da Construção Social)O Fórum Nacional da Indústria da Construção Social (FNICS) é uma iniciativa do Projeto CASA DA CRIANÇA

que aspira estreitar relações entre o setor e outras organizações sociais sem fins lucrativos, a partir de casos

bem sucedidos na área da arquitetura e construção, que atuem na melhoria de estrutura física de atendimento

à comunidade de baixa renda, como também abrir espaço com dimensão nacional para que as empresas que

aplicam atividades sociais possam expor seus exemplos e influenciar o setor privado a investir no social.

Campanhas DiversasO Projeto CASA DA CRIANÇA criou o Programa CIA DOS ANJOS para treinar funcionários das instituições de atendimento a crianças e adolescentes. Para tanto, está lançando campanhas para a arrecadação de recursos que serão destinados ao CIA DOS ANJOS, a exemplo da campanha em conjunto com as Pizza Hut de Fortaleza e João Pessoa, da campanha Home Center, dentre outras iniciativas. Sua empresa pode contribuir, ajudando a viabilizar esses programas.

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