revista de conjuntura, n. 43

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1 julho / setembro / 2010 ISSN 1677-0668 ANO XI Nº 43 julho/setembro de 2010 Revista de Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal Dércio Munhoz comenta como se deu a formação econômica da cidade e as questões apontadas por ele de maior importância e urgência como a saúde, a problemática da expansão urbana e a questão do sistema de transportes. ARTIGOS ENTREVISTA Tempos Keynesianos Luiz Fernando de Paula e Fernando Ferrari Filho Real Forte: Benção ou Maldição? Carlos Eduardo de Freitas “Guerra Cambial”: Causas e Consequências Newton Marques A (incrível) rentabilidade dos bancos brasilieros Leda Maria Paulani Aspectos sobre a especulação Simone Maciel Cuiabano A intervenção do Estado na economia por meio das políticas públicas fiscal e monetária - Uma abordagem Keynesiana Carlos Frederico Alverga O Processo Legislativo Federal Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 CORECON-DF realiza XXII SINCE com grande participação dos CORECONs Foram aprovadas, durante o evento, inúmeras propostas que irão promover a evolução dos CORECONs e do exercício da profissão do economista, considerando as transformações aceleradas no mercado de trabalho.

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Matéria de Capa: CORECON-DF realiza XXII SINCE com grande participação dos CORECONs Entrevista: Economista Dércio Munhoz Artigos e autores: Tempos Keynesianos - Luiz Fernando de Paula e Fernando Ferrari Filho/ Real Forte: Benção ou Maldição? - Carlos Eduardo de Freitas/ "Guerra Cambial": Causas e Consequências - Newton Marques/ A (incrível) rentabilidade dos bancos brasileiros - Leda Maria Paulani/ Aspectos sobre a especulação - Simone Maciel Cuiabano/ A intervenção do Estado na economia por meio das políticas públicas fiscal e monetária - Uma abordagem Keynesiana - Carlos Frederico Alverga/ O Processo Legislativo Federal - Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto.

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Page 1: Revista de Conjuntura, n. 43

1

julho / setembro / 2010

ISSN

167

7-06

68AN

O XI

• Nº

43

• jul

ho/se

tem

bro

de 2

010

Revista de

Publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal

Dércio Munhoz comenta como se deu a formação econômica da cidade e as questões

apontadas por ele de maior importância e urgência como a saúde, a problemática da

expansão urbana e a questão do sistema de transportes.

ARTIGOS

ENTREVISTA

Tempos Keynesianos

Luiz Fernando de Paula e Fernando Ferrari Filho

Real Forte: Benção ou Maldição?

Carlos Eduardo de Freitas

“Guerra Cambial”: Causas e

Consequências

Newton Marques

A (incrível) rentabilidade dos

bancos brasilieros

Leda Maria Paulani

Aspectos sobre a especulação

Simone Maciel Cuiabano

A intervenção do Estado na

economia por meio das políticas

públicas fi scal e monetária - Uma

abordagem Keynesiana

Carlos Frederico Alverga

O Processo Legislativo Federal

Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto

11111111111111111111111111111111CORECON-DF realiza XXII

SINCE com grande

participação dos

CORECONs

Foram aprovadas, durante o evento, inúmeras propostas que irão promover a evolução dos

CORECONs e do exercício da pro% ssão do economista, considerando as transformações

aceleradas no mercado de trabalho.

Page 2: Revista de Conjuntura, n. 43

COMECE A FAZER PARTE DESDE JÁ DA SUA COMUNIDADE PROFISSIONAL!

Compareça ao Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e obtenha sua Carteira de Estudante de Ciências Econômicas.

O estudante credenciado terá os mesmos benefícios oferecidos aos economistas registrados, em igualdade de condições, exceto aqueles diretamente relacionados ao exercício profissional que sejam privativos dos profissionais registrados por determinação da lei.

Ao apresentar a credencial em qualquer Conselho Regional de Economia, o portador poderá consultar a legislação regulamentadora da profissão do economista, extrair cópias de artigos sobre temas de economia e ter acesso às publicações do Sistema COFECON/CORECONs, videotecas e bibliotecas, além de conseguir descontos nos eventos do Sistema COFECON/CORECONs.

Documentos necessários:

• Declaração de matrícula e frequência da Faculdade, mencionando data prevista de conclusão do curso (original e cópia);• Documento de identidade (original e cópia);• CPF;• 2 fotos 3x4 coloridas;• comprovante de residência (original e cópia);• preenchimento do requerimento da credencial.

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202 CEP 70300-907 – Brasília/DFTel: (61) 3225-9242 / 3223-1429 / 3964-8366 / 3964-8368Horário de funcionamento: das 8h às 18h (sem intervalo)E-mail: [email protected]

-8368ervalo)

Aluno e aluna de

de qualquer período ou sériede qualquer período ou sérieCiências Econômicas

Page 3: Revista de Conjuntura, n. 43

Tãmnia Tãmnia

A assinatura da Revista de Conjuntura pode ser efetuada contatando o Corecon/DF.

07 Tempos Keynesianos

Luiz Fernando de Paula e Fernando Ferrari Filho

11Real Forte: Benção ou Maldição?

Carlos Eduardo de Freitas

31“GUERRA CAMBIAL”: CAUSAS E

CONSEQUÊNCIASNewton Marques

37A (incrível) rentabilidade dos bancos

brasilieros Leda Maria Paulani

39Aspectos sobre a especulação

Simone Maciel Cuiabano

45A intervenção do Estado na economia

por meio das políticas públicas fi scal e monetária - Uma abordagem

KeynesianaCarlos Frederico Alverga

51O PROCESSO LEGISLATIVO FEDERAL

Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto

2 editorial3 entrevista

Dércio Munhoz

26 capaPropostas do CORECON-DF

apresentadas no XXII SINCE

ÍndicePublicação do Conselho Regional de

Economia do Distrito Federal

ANO XI • Nº 43 • julho/setembro de 2010

ConjunturaRevista de

Nesta edição

Page 4: Revista de Conjuntura, n. 43

Editor responsávelJosé Luiz Pagnussat

Conselho editorialCarlos Eduardo de FreitasElder Linton Alves de AtaújoJosé Fernando Cosentino TavaresJosé Roberto Novaes de AlmeidaHumberto Vendelino RichterMaurício Barata de Paula PintoNewton Ferreira da Silva MarquesOscar Henrinque Belo SantosTito Belchior Silva Moreira

Jornalista responsávelCamila Fiorese (Reg. DRT/DF: 7851)

Redação e Editoração eletrônicaCamila Fiorese

Tiragem: 4.000Periodicidade: trimestral

As matérias assinadas por colaboradores não refl etem, necessariamente, a posição da entidade. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.

CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA DA 11ª REGIÃO - DF

PresidenteJosé Luiz Pagnussat

Vice-presidenteJusçânio Umbelino de Souza

Conselheiros efetivosMônica Beraldo Fabrício da SilvaMaurício Barata de Paula PintoHomero Gustavo Reginaldo LimaJosé Luiz PagnussatJusçanio Umbelino de SouzaHumberto Vendelino RichterCarlos Eduardo de FreitasOscar Henrique Belo Santos Tito Belchior Silva Moreira

Conselheiros suplentesGuilherme Costa DelgadoNewton Ferreira da Silva MarquesVictor José HohlÉrton Birk TeixeiraDiones Alves CerqueiraRonalde Silva Lins Paulo Luiz Figueiredo de OliveiraMiguel RendyElder Linton Alves de Araujo

Gerente ExecutivoGeraldo Andrade da Silva

Equipe do CoreconAngeilton Francisco Lima Faleiro Camila FioreseIraci da Costa Lopes Jamildo Cezário Gomes Maria Aparecida Carneiro Michele Cantuária Soares

EstagiárioJosé Luiz Cordeiro Cruz

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília/DFTel: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de funcionamento:das 8h às 18h (sem intervalo)

O Conselho Regional de Economia do DF (CORECON/DF) realizou o XXII Simpósio

Nacional dos Conselhos de Economia – SINCE no período de 1º a 3 de setembro de

2010, com grande participação de delegados dos demais conselhos regionais.

O XXII SINCE foi organizado em três grupos de trabalho para debater, aprovar ou

rejeitar propostas recebidas, previamente, de todos os Conselhos Regionais. O grupo

1 debateu a formação profi ssional e o mercado de trabalho do economista. Neste

tema foram analisadas e aprovadas várias propostas que normatizam novos campos

de atuação dos economistas. As mudanças no mercado de trabalho e a invasão de

profi ssionais de outras áreas em atividades para as quais os economistas têm melhor

formação exigem dos conselhos a revisão e aperfeiçoamento da legislação específi ca,

no sentido de viabilizar a fi scalização do exercício profi ssional e permitir que os

conselhos cumpram sua função de defesa da sociedade frente aos maus profi ssionais

que oferecem os seus serviços sem a formação necessária.

Neste tema debateu-se também a formação do economista e a adequação dos

currículos frente às mudanças no mercado de trabalho. Observou-se que os cursos

de economia têm ajustado os seus currículos buscando defi nir o perfi l específi co de

cada curso ao mercado regional de trabalho. Entretanto, observa-se uma continua

queda na demanda pelos cursos de economia e o fechamento de muitos, ao mesmo

tempo em que proliferam cursos de mestrado e doutorado em economia. Este é o

caso de Brasília, que tem mais do dobro de instituições que oferecem pós-graduação

strictu sensu do que de graduação em economia. Tal tendência pode evidenciar

uma evolução na formação dos economistas, que no passado foi um curso técnico,

evoluiu para o bacharelato e hoje o mercado está demandando o profi ssional de

economia com formação mais apurada e/ou especializada. Constatou-se, também,

uma ampliação da demanda por profi ssionais de economia, a começar pela oferta de

estágios não preenchidos em várias áreas de atuação dos economistas. As demandas

por economistas não estão sendo atendidas plenamente não só nos estágios, mas

principalmente em níveis estratégicos de “economista sênior” e especializado, como

mercado de capitais e fi nanceiro, entre outros.

Neste sentido, o Conselho de Economia do DF propôs o reconhecimento de

especialistas em campos do saber específi co na área de economia para efeito de

registro de mestres e doutores e profi ssionais atuantes em áreas afi ns. As propostas

não foram aprovadas, mas o debate foi intenso e certamente fará parte da agenda

dos conselhos nos próximos SINCEs. Este é o tema da matéria da Revista para a qual

convido todos os economistas de Brasília a contribuírem para o aperfeiçoamento do

assunto.

O grupo 2 debateu o aperfeiçoamento dos sistema de Conselhos. Foram

aprovados propostas que ampliarão a articulação entre os conselhos regionais em

várias atividades como a fi scalização profi ssional, além da revisão da legislação básica

da profi ssão.

O grupo 3 debateu a conjuntura econômica e social do País, com quatro palestras

de grandes nomes nacionais que levantaram questões relacionadas com a política

econômica e social do País, cuja síntese está na “Carta de Brasília” aprovada na plenária

fi nal do SINCE e reproduzida na Revista.

EditorialEditorialPublicação do Conselho Regional

de Economia do Distrito Federal

ConjunturaRevista de

Page 5: Revista de Conjuntura, n. 43

Desenvolvimento econômico de

Brasília em 50 anos

ENTREVISTA

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julho / setembro / 2010

Dércio Munhoz

Ainda em comemoração ao cinquentenário de Brasília

a Revista de Conjuntura do CORECON-DF entrevista o

Professor Dércio Garcia Munhoz, “Cidadão Honorário de

Brasília” (1999) e um dos mais respeitados economistas

do País, que comenta entre outros pontos, como se deu a

formação econômica da cidade e as questões apontadas

por ele de maior importância e urgência como a saúde,

a problemática da expansão urbana e a questão do sis-

tema de transportes.

O Professor Dércio Munhoz graduou-se em economia

na Universidade de Brasília (UnB) em 1966, obteve o título

de Mestre em Economia pela Universidade de São Paulo

(USP) em 1971 e o Reconhecimento de Notório Saber,

pelo Conselho Federal de Educação, em 1980. Iniciou

suas atividades acadêmicas, ainda, na década de sessenta

na UnB, onde foi Professor Titular do Departamento de

Economia até 1996. Foi professor, também, de outras ins-

tituições de ensino do País, como a Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola de Administração Fazendária,

Escola Nacional de Administração Pública, Instituto Rio

Branco, entre outras.

Entre suas atividades fora da universidade se desta-

cam: a de funcionário concursado, em 1954, do Banco

do Brasil; presidente do Conselho Federal de Economia

(COFECON) em 1986 e presidente do Conselho Superior

da Previdência em 1988, dentre outras importantes fun-

ções públicas que o professor Dércio Munhoz exerceu.

Com aproximadamente 280 artigos publicados em

revistas especializadas e Séries Monográfi cas, desde 1971,

o Professor Dércio ainda tem em seu currículo quase

70 textos didáticos, centenas de artigos para jornais e

colunas na Internet e diversos livros como Economia

Agrícola – Agricultura: uma defesa dos subsídios (1982),

Divida Externa: a crise rediscutida e Economia Aplicada -

Técnicas de Pesquisa e Análise Econômica.

Conjuntura - Como se deu a formação econômi-

ca de Brasília? E também as tendências de expan-

são dos diversos setores econômicos?

Dércio Munhoz - A base econômica de Brasília nos

anos 60 se sustentava sobre dois eixos: grandes e peque-

nas construtoras e atividades afi ns (de instalações elé-

tricas, hidráulicas, de esquadrias metálicas e de madei-

ras, de impermeabilização, marmorarias, etc.), comércio

de materiais de construção produzidos em outras regi-

ões, indústria extrativa – todas voltadas predominante-

mente para o setor de construção civil – na construção

dos prédios públicos e na intensa atividade de edifi ca-

ções privadas que num primeiro momento preenche-

riam as duas asas do Plano Piloto – a Asa Norte num

ritmo mais moderado; restaurantes, mercados, lojas de

roupas e calçados, de móveis e de eletrodomésticos,

papelarias e as primeiras escolas privadas, além de um

diversifi cado e crescente setor de serviços – no aten-

dimento às necessidades das pessoas e das famílias.

Começam então a surgir grandes empresas locais

no setor de transformação, como serralherias e fábricas

de móveis e estofados. Aos poucos, nas décadas se-

guintes, a economia do Distrito Federal foi se asseme-

lhando às das regiões mais antigas, ainda que com des-

taque especial para a construção civil, pois longo seria

o caminho de ocupação do Plano Piloto e de expansão

e criação de novas cidades satélites, dentro de um fe-

nômeno migratório que faria a população do Distrito

Federal triplicar nos dez primeiros anos, ultrapassando

já em 1970 a meta fi nal de quinhentos mil habitantes.

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Conjuntura - Em sua opinião quais as vocações

econômicas de Brasília? Dentre elas, qual teria mais

destaque no ponto de vista econômico e por que?

Dércio Munhoz - Perdura ainda com grande

dinamismo o setor da construção civil, e consoli-

dou-se o grande comércio voltado para o abas-

tecimento da população. Tomou vulto, por outro

lado, um setor de serviços white collar (“colarinho

branco”) muito específi co, porque ligado à centrali-

zação administrativa dos poderes Executivo, Legis-

lativo e Judiciário, própria de uma capital federal.

É evidente, por outro lado, que a indústria jamais será

uma vocação local – salvo manufaturas leves na área de

alimentos, vestuário e calçados e mobiliário, voltados

para a demanda local, e que, aliás, já tem presença mar-

cante. Destacando-se o comércio – num mix de gran-

des e pequenos estabelecimentos – e serviços blue

collar, tais como o de manutenção e reparo de veículos,

cuja importância decorre do tamanho e crescimento

da frota de automóveis na região do Distrito Federal.

Fora disso Brasília oferece, dada a posição geográ-

fi ca, condições favoráveis para funcionar como centro

distribuidor de produtos transformados na direção de

uma ampla região compreendendo o Centro Oeste, o

Norte e parte do Nordeste. Mas nesse aspecto é forço-

so reconhecer a presença, como fortes concorrentes,

de alguns grandes centros urbanos do Estado de Goiás.

Conjuntura - Qual o impacto de Brasília na inte-

riorização do desenvolvimento do Brasil (Brasília

como pólo de desenvolvimento regional)?

Dércio Munhoz - Quando Carlos Lacerda, um feroz

crítico da construção de Brasília e de vias de integração

como a Belém, ainda nos anos 60, ao percorrer parte

da rodovia – até Ceres ao que parece – reconheceu o

papel integracionista da estrada e o seu impacto no de-

senvolvimento do Centro Oeste, indiretamente Brasília

e diretamente JK recebiam os louros pelo sucesso do

grande desafi o da interiorização do país. Não foi por

outra razão que, quando uma Junta Militar assumiu

o Governo em 1969, com a doença de Costa e Silva e

instalação do governo provisório no Rio de Janeiro,

logo foram afastados os temores de retorno defi ni-

tivo da Capital Federal, pois seria um contrasenso in-

terromper o processo histórico de interiorização admi-

nistrativa visando a tão ansiada integração territorial.

Conjuntura - Qual a sua opinião sobre a formação

de um novo grande eixo de desenvolvimento -

Brasília - Goiânia?

Dércio Munhoz - Brasília-Goiânia repete um pro-

cesso de conurbação que se desenvolve no Norte do

Paraná, na região Londrina-Maringá, e constitui extra-

ordinária experiência da integração de várias cidades –

incluindo, dentre elas, Rolândia, Arapongas, Mandaguari

e Sarandi - num eixo relativamente pequeno, em torno

de cem quilômetros, com Londrina e Maringá, nos ex-

tremos, funcionando como pólos mais dinâmicos. Aliás,

o desenvolvimento integrado das cidades do norte do

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a

6 ‘‘... a indústria jamais será uma vocação local – salvo manufaturas leves na área

de alimentos, vestuário e calçados e mobiliário,

voltados para a demanda local, e que, aliás, já tem

presença marcante.

‘‘

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Paraná, para o qual se analisa agora a viabilidade de im-

plantação de uma ferrovia - deveria ser estudado como

fenômeno raro que é visando o planejamento para o

desenvolvimento integrado futuro do eixo Brasília.

Afi nal é urgente o acúmulo de conhecimentos sobre

os problemas e soluções integradas entre várias cida-

des, mesmo porque o desenvolvimento econômico do

Vale do Paraíba, refl etindo em extensas áreas urbanas,

vem transformando o eixo Rio - São Paulo num mega

caso de conurbação. Requerendo uma presença mais

atuante e uma ação mais integrada dos municipais da

região com os governos estaduais e o Governo Federal.

Conjuntura - Que questões de maior importân-

cia e urgência se poderiam apontar como preocu-

pantes na fase atual de consolidação do complexo

urbano do Distrito Federal?

Dércio Munhoz - Além da questão da saúde, en-

volvendo graves defi ciências da rede pública no

atendimento ambulatorial e hospitalar, dois outros

são os pontos que me parecem essenciais: a pro-

blemática da expansão urbana e a questão do sis-

tema de transportes. E ambos são como irmãos

siameses, pois requerem encaminhamento conjun-

to, soluções harmônicas, coincidências temporais.

Quando no início dos anos 70 um grupo Francês pre-

sente no Brasil foi contatado pelo governo local visan-

do o planejamento do sistema de transportes no Distri-

to Federal, havia plena consciência de que a expansão

urbana deveria obedecer a uma lógica que permitisse a

implantação de eixos de transportes – condição primei-

ra para sistemas de transporte de massa. Assim se pen-

sava evitar que os caóticos sistemas de transporte do Rio

e São Paulo se reproduzissem no futuro na nova capital.

Quando Brasília completa 50 anos da fundação o

que se percebe é que sucessivos governos locais per-

deram a perspectiva do que representa o planejamen-

to urbano em microrregiões com as características do

Distrito Federal. E com isso permitiu-se um processo

anárquico de expansão urbana, onde até mesmo a

ocupação de áreas especiais setorizando atividades

econômicas foi tratada como mera moeda de troca de

interesses políticos. E, dada a ausência de instrumen-

tos de controle, coordenação e supervisão por parte

do Governo Federal – num inexplicável abandono da

Capital Federal a condenáveis conluios paroquiais - a

ação predatória tomou vulto, fortaleceu-se com alian-

ças sinistras entre o poder público e interesses volta-

dos para a mais abjeta especulação imobiliária. Daí

resultando um processo de rápida desfi guração ur-

bana do Distrito Federal, com a mutilação do modelo

de ocupação urbana da grande Brasília, que se traduz

na mudança de destinação de áreas nobres, de com-

prometimento de regras de preservação ambiental

ou de equilíbrio nas taxas de densidade demográfi ca,

tal como ocorreu com as áreas rurais de Vicente Pires

– protegidas deste a construção de Brasília para impe-

dir a contaminação da bacia do Paranoá; ou as faixas

de terras entre o Guará e a via EPIA, ou entre Guará/

Núcleo Bandeirantes e Guará/Via Estrutural, ou nas

áreas que circundam a região do Setor Policial Sul.

E isso se repete em todas as direções. Sem contar

a expansão desordenada dos condomínios, as inten-

ções mais recentes da CEB de alienar extensa área

em frente ao Carrefour Norte, para onde avançariam

novos edifícios residenciais, quando a destinação nor-

mal do lote e áreas próximas deveria ser a ampliação

do Parque Burle Max. Especialmente para impedir

que o avanço da especulação imobiliária mutile ain-

da mais as áreas verdes urbanas do Distrito Federal,

que constituem um patrimônio que não pode fi car

sujeito a decisões intempestivas de governantes.

‘‘ Quando Brasília completa

50 anos da fundação o que

se percebe é que sucessivos

governos locais perderam

a perspectiva do que

representa o planejamento

urbano em microrregiões

com as características do

Distrito Federal.

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Conjuntura - E quanto às cidades Satélites?

Dércio Munhoz - Após a criação do primeiro nú-

cleo habitacional permanente fora do Plano Piloto

– a cidade de Taguatinga se consolidou o modelo de

um conjunto de cidades satélites em torno de Brasília

para absorver o crescimento populacional. E a cria-

ção de novas cidades satélites procurava obedecer a

um ritmo que permitisse o desafogo diante das pres-

sões sobre as cidades-satélites já existentes. Com isso

se evitava um crescimento explosivo que pusesse a

expansão dos núcleos fora de controle das autorida-

des. Mas se algum sucesso foi alcançado – a despei-

to das distorções decorrentes do alargamento dos

perímetros urbanos para atender interesses políticos

dos mais rasteiros – hoje o modelo enfrenta novos

desafi os, diante da proliferação dos espigões, compro-

metendo, pelas mudanças na densidade demográfi ca,

os serviços de saúde e saneamento, e os sistemas de

abastecimento e transporte, dentre outras distorções.

Os critérios de ocupação territorial terão de ser revistos

– diante de um PDOT (Plano Diretor de Ordenamento

Territorial do DF) novíssimo e precocemente envelhe-

cido – com a criação de mecanismos, inclusive com a

participação do Governo Federal, para impedir que

questões de extrema importância muitas vezes sejam

decididas mais pelos interesses de construtoras e in-

corporadores, criando prejuízos irreparáveis para a po-

pulação. E o descontrole institucional sobre a questão

do uso das terras do Distrito Federal é tão grave que a

Terracap desde 2007 deixou de colocar em seus sites

os resultados das licitações de terrenos – o que é ex-

tremamente preocupante quando áreas nobres como

o Setor Noroeste entraram na “linha de produção”.

Conjuntura - Mas e a questão dos transportes urbanos?

Dércio Munhoz - E se na questão da expansão ur-

bana Brasília de há muito virou uma terra de ninguém

– do que se tem aproveitado sem pudor grande par-

te dos membros da Câmara Legislativa no aspecto

do transporte urbano o quadro não é menos desani-

mador. O metrô é antigo, mas funciona com inexpli-

cável defi ciência porque até hoje não houve interesse

na implantação do sistema de integração com ônibus,

que faria a alimentação nas cidades satélites, nem os

ganchos que fariam o metrô atender às áreas dos mi-

nistérios e todo o eixo monumental; e para essa dis-

sídia se alega a insufi ciência no número de vagões,

quando se descobre, surpreendentemente, que novos

trens não foram adquiridos em coordenação tempo-

ral com as novas linhas e estações. Por outro lado, no

eixo Brasília, de extraordinária demanda de transpor-

te, sucessivos governos do Distrito Federal jamais ti-

veram interesse em implantar sistemas de transporte

de massa, embora os custos minimizados com o apro-

veitando da linha férrea existente desde o inicio de

Brasília e que chega à antiga gare, hoje funcionando

precariamente como estação rodoviária interestadual.

Nos seus 50 anos Brasília traz, portanto, ao me-

nos aos que a viram nascer, a nostalgia de relembrar

com saudades um futuro que em grande parte fi cou

apenas como uma vã esperança. Às gerações mais

recentes fi ca o desafi o de, através de organizações

da sociedade civil ainda não submetidas aos pro-

jetos políticos de falsas lideranças, atuar coordena-

damente para resgatar o possível dos sonhos de JK.

Nos seus 50 anos Brasília traz, portanto, ao menos aos que a viram nascer, a nostalgia

de relembrar com saudades um futuro que em grande parte fi cou apenas como uma vã

esperança.

Dércio Munhoz‘‘8

Page 9: Revista de Conjuntura, n. 43

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Tempos Keynesianos*Luiz Fernando de Paula e Fernando Ferrari Filho

O processo de globalização fi nanceira, em que

os mercados fi nanceiros são integrados de tal forma

a criar um “único” mercado mundial de dinheiro e

crédito, diante de um quadro em que inexistem regras

monetário-fi nanceiras e cambiais estabilizantes e os

instrumentos tradicionais de política macroeconômica

tornam-se crescentemente insufi cientes para conter

os colapsos fi nanceiros (e cambiais) em nível mundial,

tem resultado em frequentes crises de demanda

efetiva, determinado fundamentalmente por “forças

fi nanceiras”.

De fato, a crise fi nanceira que emergiu em 2007-

2008, cujos desdobramentos ainda se fazem sentir

nos dias de hoje – exemplifi cando, os Estados

Unidos continuam enfrentando difi culdades para se

recuperar e o sistema fi nanceiro dos países da zona do

euro apresenta sérias instabilidades, principalmente

devido à crise fi scal dos chamados PIIGS (Portugal,

Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), é, sobretudo, a crise

da globalização fi nanceira, entendida como uma

tendência à criação de um mercado fi nanceiro global

e de intensifi cação no fl uxo de capitais entre países.

Esse processo remonta a crise do sistema de Bretton

Woods e a formação do mercado de eurodólares,

que, diga-se de passagem, acabou contribuindo

para a desregulamentação doméstica dos sistemas

fi nanceiros – com o fi m da segmentação entre

mercados – e a liberalização dos fl uxos de capitais.

Como resultado do processo de

desregulamentação fi nanceira, observou-se um

acirramento na concorrência entre instituições

bancárias e, por conseguinte, queda nas margens

de intermediação fi nanceira, tendo como resposta

uma tendência à conglomeração fi nanceira e um

aumento na escala de operação, via fusões e aquisições.

Assim, instituições fi nanceiras passaram a explorar

diferentes mercados, inclusive de mais baixa renda.

No mercado de títulos, desenvolveram-se mecanismos

de securitização, estimulados pelo crescimento de

investidores institucionais, em que fi rmas e bancos

se fi nanciam “empacotando” rendas a receber. Em

suma, uma vez que a securitização permitia a diluição

de riscos no mercado, as instituições fi nanceiras

passaram a aumentar sua alavancagem, supondo que

os mecanismos de auto-regulação do mercado seriam

capazes de continuar avaliando corretamente os riscos

inerentes às atividades fi nanceiras.

A crise do subprime – mercado de fi nanciamento

imobiliário de maior risco – acabou por expressar todas

as contradições deste processo. A necessidade de

ampliação de escala levou as instituições fi nanceiras a

incorporarem segmentos de baixa renda em condições

de “exploração fi nanceira” – no caso do subprime, com

taxas de juros variáveis (baixas no início e se elevando

ao longo do tempo) – que acabou resultando em um

processo de estrangulamento fi nanceiro do tomador de

crédito. A securitização, que serviria para diluir riscos, na

prática serviu para esconder riscos – títulos lastreados

em hipotecas eram emitidos por instituições fi nanceiras

de grande porte, sendo tais ativos classifi cados como

grau de investimento por uma agência de rating. Esses

ativos, como resultado da globalização fi nanceira,

passaram, por sua vez, a ser comprados por investidores

de diferentes nacionalidades. Criaram-se, assim, novos

instrumentos fi nanceiros que não foram devidamente

regulamentados pelas autoridades monetárias.

Mecanismos de auto-regulação mostraram-se falhos

devido ao caráter pró-cíclico da tomada de risco:

* Este artigo é uma adaptação da apresentação do Dossiê da Crise II editado pela Associação Keynesiana Brasileira (AKB) e disponível em http://

www.ppge.ufrgs.br/akb.

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a

projetos que eram considerados ruins na desaceleração

passaram a ser visto como bons no boom cíclico.

John Maynard Keynes, em sua Teoria Geral do

Emprego, do Juros e da Moeda (TG) de 1936, chamava a

atenção para o fato de que, em economias monetárias

da produção, a organização dos mercados fi nanceiros

enfrenta um trade-off entre liquidez e investimento:

por um lado, eles estimulam o desenvolvimento da

atividade produtiva ao tornar os ativos mais líquidos,

liberando, portanto, o investidor da irreversibilidade

do investimento; por outro, aumenta as possibilidades

de ganhos especulativos. Assim, ao estabelecer uma

conexão entre os mercados fi nanceiro e real da

economia, Keynes na TG (1964, p.159) escreve que

“a posição é séria quando o empreendimento torna-

se uma bolha sobre o redemoinho da especulação.

Quando o desenvolvimento das atividades de um país

torna-se o subproduto das atividades de um cassino, o

trabalho provavelmente será mal-feito”1.

Indo ao encontro de Keynes, nos dias de hoje,

a ação dos global players, em um mercado mais

liberalizado e integrado, faz com que os mercados

fi nanceiros convertam-se em uma espécie de grande

cassino global. Especulação, em uma economia global,

tem caráter disruptivo não somente em mercados

domésticos, mas sobre países como um todo, criando

uma espécie de cassino fi nanceiro ampliado. Na

perspectiva keynesiana, instabilidade fi nanceira não

é vista como “anomalia”, mas como resultante da

própria forma de operação dos mercados fi nanceiros

em um sistema no qual não existe uma estrutura de

salvaguarda que exerça o papel de um market marker

global. Assim, o formato institucional específi co dos

mercados fi nanceiros determina as possibilidades

de se ter um ambiente em que a especulação possa

fl orescer. Crises fi nanceiras não são apenas resultados

de comportamentos “irracionais” dos agentes, mas

resultam da própria forma de operação dos mercados

fi nanceiros globais liberalizados sem um sistema de

regulação adequado.

A crise fi nanceira internacional, cuja origem está

nas perdas causadas pelo crescente default dos

empréstimos das hipotecas de alto risco do mercado

subprime americano e que, devido ao fato de que

grande parte dessas hipotecas foram securitizadas e

distribuídas a investidores do mercado global, acabou

tornando-se global, nos induz a duas refl exões.

Em primeiro lugar, ela põe em xeque os benefícios

concretos da globalização fi nanceira, com mercados

fi nanceiros desregulados, inclusive nos países

desenvolvidos. Em segundo lugar, ela nos remete,

a partir das medidas de natureza fi scal e monetária

implementadas pelos países desenvolvidos e, em

menor grau, por países em desenvolvimento – tais

como injeção de liquidez e de capital nos sistemas

fi nanceiros por parte das autoridades econômicas

destes países e redução sincronizada da taxa

básica de juros dos principais bancos centrais

mundiais – para se evitar a repetição de uma grande

depressão, tanto a repensar o próprio papel do

Estado na economia, quanto à necessidade de re-

regulamentar os sistemas fi nanceiros domésticos

e reestruturar o sistema monetário internacional2.

Recentemente, um artigo escrito por economistas

do Fundo Monetário Internacional (Blanchard, O. et al,

“Rethinking macroeconomic policy”, fevereiro de 2010)

defende, em tempos pós-crise, uma nova agenda

de política econômica alternativa ao “consenso

macroeconômico” prevalecente até a crise econômica

de 20083. Segundo este trabalho, os fundamentos

desse consenso foram seriamente abalados com a

crise econômica. Em primeiro lugar, a crise mostrou aos

formuladores de política econômica que a manutenção

de uma taxa estável de infl ação não é condição

sufi ciente para a estabilidade macroeconômica. Isso

porque o comportamento dos preços dos ativos, dos

* ¹ Keynes, J.M. (1964). The General Theory of Employment, Interest and Money. New York, HBJ Book.

*² Nossa análise sobre a crise fi nanceira mundial está aprofundada em Ferrari Filho, F. e Paula, L.F. (2009). “Crise fi nanceira e reestruturação do

sistema monetário internacional”. Indicadores Econômicos, 37(1): 113-118.

*³ Para o referido consenso a política macroeconômica deveria ser conduzida com base nos seguintes princípios: 1) fi xação de um único objetivo

para a política monetária: obtenção de uma taxa de infl ação baixa e estável; 2) a política monetária, conduzida sob um regime de metas de infl a-

ção, deve ter como único instrumento a taxa de juros de curto prazo; 3) o único objetivo da política fi scal deve ser a estabilização da dívida bruta

do setor público como proporção do PIB; e 4) a regulação fi nanceira deve ser pensada de forma independente dos impactos macroeconômicos

da mesma.

10

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11

julho / setembro / 2010

agregados de crédito e, até mesmo, a composição da

produção podem criar forças desestabilizadoras dentro

do sistema econômico que levam, a médio e longo-

prazo, à ocorrência de uma crise fi nanceira de grandes

proporções. Em segundo lugar, a fi xação de uma meta

de infl ação muito baixa reduz consideravelmente

o espaço para a redução da taxa nominal de juros

quando a mesma for necessária para se lidar com os

efeitos de uma crise fi nanceira. Assim, os custos da

perda de fl exibilidade de uma meta de infl ação muito

baixa superam, em muito, os possíveis ganhos de

credibilidade que possam gerar. Em terceiro lugar, a

manutenção de um “espaço fi scal” – entendido como

uma relação dívida bruta/PIB entre baixa e moderada

– se mostrou de importância fundamental para uma

pronta e decisiva resposta da política fi scal à crise

fi nanceira. Por fi m, o escopo limitado da regulação

fi nanceira forneceu os incentivos necessários para

os bancos criarem operações “exóticas” fora do

seu balanço, de forma a contornar os limites de

alavancagem estabelecidos pelo Acordo da Basileia, o

que acabou por aumentar a fragilidade fi nanceira do

sistema como um todo4.

Enfi m, o próprio mainstream, ou parte dele,

questiona os fundamentos da política econômica

convencional e mesmo os próprios fundamentos

da teoria econômica ortodoxa, como a fé cega no

funcionamento do mercado, em que a ação de

agentes racionais conduziria a resultados “ótimos”

(ou próximos a esses) do ponto de vista econômico-

social. De fato, há muito economistas keynesianos

vêm questionando tais preceitos, chamando a

atenção que o modelo “neoliberal” não garante um

crescimento econômico robusto e fi nanceiramente

estável, além de gerar um crescimento incompatível

com a melhoria na distribuição de renda. Para esses

economistas, não só Keynes e seus seguidores têm

muito a dizer sobre a “economia da depressão”, como

também sobre caminhos possíveis para se alcançar

uma “economia da prosperidade”. Está claro que

vivemos “tempos keynesianos”, embora os contornos

da política econômica que assegure a saída defi nitiva

da crise e, sobretudo, para um mundo pós-crise não

estejam muito claros no debate econômico atual.

Afi nal, os sinais de recuperação econômica mundial

têm sido contrastados com sinais preocupantes,

como a crise européia dos PIIGS, e o fato de que a

moderada recuperação econômica no mundo tem

sido acompanhada de hesitante diminuição no

desemprego.

Diante desse contexto, a Associação Keynesiana

Brasileira (AKB) elaborou o Dossiê da Crise II, contendo

artigos de vários economistas brasileiros keynesianos

associados à referida Instituição, além de convidados

internacionais (Gary Dymski, Jan Kregel, Philip Arestis

e Thomas Palley) – todos conhecidos economistas

keynesianos que têm participado ativamente das

atividades da AKB –, cujo objetivo consiste em avaliar

os desdobramentos da crise fi nanceira internacional,

no mundo em geral e no Brasil, assim como avaliar

algumas alternativas de políticas. Nele, algumas

questões centrais são analisadas, tais como: a crise

fi nanceira internacional resulta de uma crise de um

paradigma econômico liberal? Quais os motivos da

hesitante recuperação econômica mundial? O que está

por detrás da crise na Europa? No caso do Brasil, quais

foram os fatores determinantes na superação da crise?

Passado o susto, quais problemas econômicos devem

ser enfrentados e quais devem ser as soluções para os

mesmos?

O Dossiê da Crise II está dividido em duas partes. Uma

primeira parte analisa a natureza e os desdobramentos

da crise fi nanceira no mundo. Uma segunda focaliza os

* 4 Veja a respeito., Oreiro, J.L. e Paula, L.F. “Um novo arcabouço de política econômica”, Valor 30/03/2010.

‘‘ ‘‘

Como resultado

do processo de

desregulamentação

fi nanceira, observou-

se um acirramento na

concorrência entre

instituições bancárias...

Page 12: Revista de Conjuntura, n. 43

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a

impactos da crise no Brasil e os caminhos de superação

para um novo ciclo de crescimento sustentado.

No que se refere à primeira parte, alguns questões

importantes são apresentadas. Em primeiro lugar,

sustenta-se que a crise da economia americana

signifi cou a exaustão de um modelo de ciclo

econômico baseado na combinação de infl ação de

ativos com elevações persistentes no endividamento.

A crise fi nanceira, de modo geral, revelou uma crise do

próprio modelo liberal, em que falharam os princípios

de efi ciência dos mercados e sua capacidade de auto-

regulação. Em segundo, aponta-se que as vacilações

nas políticas implementadas, como uma preocupação

possivelmente prematura com os défi cits públicos e

crescimento das dívidas públicas, acabam por gerar

incertezas ainda maiores em relação à recuperação

econômica mundial, podendo até mesmo levar a uma

nova contração econômica. Em terceiro lugar, a crise

dos PIIGS revela os problemas relacionados à rigidez

nas políticas macroeconômicas e às assimetrias nas

realidades econômicas na zona do euro, entre países

com condições estruturais bastantes diferenciadas,

gerando um problema crônico de competitividade

externa, uma vez que a adesão ao euro eliminou a

possibilidade de se usar a desvalorização do câmbio

como instrumento de política econômica. Saídas

para a crise são apontadas através da utilização de

diversos mecanismos de coordenação de políticas,

como adoção de uma política de juros baixos na zona

do euro, e países superavitários comprometendo-se

a adotar estímulos fi scais e aumentos salariais para

estimular o comércio intra-europeu. Não se descarta,

inclusive, a possibilidade de reestruturação de dívida

pública grega dentro do euro.

Na segundo parte deste Dossiê o foco é o Brasil.

Avalia-se, em particular, as condições que possibilitaram

a economia brasileira a superar o contágio da crise

mundial, onde se destaca a importância do papel anti-

cíclico dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e

Caixa Econômica Federal) que evitaram uma contração

mais signifi cativa do crédito global na economia

e, junto com a manutenção e aumento do nível do

investimento e do gasto público, foram determinantes

na rapidez da resposta à crise internacional. Aponta-

se, ainda, que se a política monetária tivesse sido

fl exibilizada prontamente aos efeitos da crise ainda em

2008, possivelmente a economia brasileira nem teria

sofrido uma recessão em 2009.

Ademais, algumas proposições de política

econômica são feitas no sentido de permitir que a

economia brasileira pós-crise entre em uma rota de

crescimento econômico sustentado e fi nanceiramente

estável, sem esbarrar em problemas crônicos de

restrição externa (leia-se sustentabilidade de longo

prazo do balanço de pagamentos) ao crescimento,

gerados tanto por défi cits crescentes na conta

comercial e de serviços, como também em função da

própria volatilidade nos fl uxos de capitais externos.

Neste sentido, avalia-se, entre outras proposições, o

uso de políticas de controle de demanda agregada

via coordenação de políticas monetária e fi scal

(com uso contra-cíclico), a criação de um Fundo de

Estabilização Cambial, com recursos fornecidos pelo

Tesouro Nacional na forma de títulos de dívida pública,

e a implementação de regulamentação sobre fl uxos

de capitais que permita reduzir a volatilidade na taxa

de câmbio e ajude e reduzir pressões advindas de

uma excessiva entrada de capitais externos. Enfi m,

abre-se a discussão para uma nova agenda de política

econômica, diga-se de passagem, importante de ser

avaliada no momento em que, no início de 2011, um

novo governo tomará posse.

Fernando Ferrari Filho [email protected]

Economista formado pela UERJ, com mestrado na UFRGs e Douto-

rado na USP em Economia. Pós-doutorado em Economia na Univer-

sity of Tennesse. Professor titular da UFRGS e pesquisador do CNPq.

Atuaelmente vice-presidente da Associação Keynesiana brasileira.

Luiz Fernando de Paula [email protected] formado pela UERJ e professor da mesma. Pesquisador

do CNPq, com doutorado pelo IE/UNICAMP e pós-doutorado pela

Universidade de Oxford. É autor do livro “Financial Liberalization

and Economic Performance: Brazil at the crossroads” (Routledge).

Presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB).

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julho / setembro / 2010

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julho / setembro / 2010

1. Introdução.

A partir de novembro de 2002, vencidos os piores

momentos das desconfi anças em relação ao futuro

Governo do Partido dos Trabalhadores, o real (R$) en-

trou numa trajetória sustentada de apreciação, como

resultado basicamente de superávits de balança co-

mercial que se traduziram em saldos signifi cativos no

Balanço de Pagamentos em Transações Correntes2.

Em 2006 a Conta de Capital e Financeira do Balan-

ço torna-se positiva com forte ingresso de capitais

estrangeiros, antecipando, inclusive, a promoção do

Brasil, em 2008, a grau de investimento pela Stan-

dard & Poor’s (S&P) e pela Fitch Ratings, duas das prin-

cipais agências de classifi cação de risco do mundo.

Real Forte: Benção ou Maldição?1

Carlos Eduardo de Freitas

2006 e 2007 tiveram superávits simultâneos na

Conta Financeira e na Conta Corrente, sendo que em

2006 superávits expressivos em ambas. Em 2007 o su-

perávit fi nanceiro foi extravagante (US$ 89,2 bilhões),

mas o saldo de Transações Correntes caiu a US$ 1,5 bi-

lhão na esteira da elevação do crescimento do PIB, pre-

nunciando os défi cits de 2008 em diante. Em setembro

de 2008 a crise fi nanceira internacional provocou um

colapso do crédito e da demanda mundiais. O R$ atra-

vessou um curto período de signifi cativa desvaloriza-

ção, de setembro a dezembro daquele ano. Contudo,

os fl uxos de capitais retornaram já em 2009 com a po-

lítica monetária e fi scal expansionista dos Estados Uni-

dos e de outras economias desenvolvidas, e o atrativo

* ¹ O autor agradece ao Ministro Odacir Klein a oportunidade de apresentar esse documento de trabalho ao Workshop por ele organizado em

Brasília, bem como a autorização para publicação do texto como artigo para a Revista de Conjuntura, nº 43 (julho-setembro de 2010) Ano XI,

publicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal – CORECON/DF.

* ² Ver Carlos Eduardo de Freitas, Grau de Investimento,in Revista de Conjuntura, Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (CORECON/

DF), Ano VIII, nº 34, abril/junho de 2008, pp.30-40.

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a

das oportunidades de investimento no Brasil. A preco-

ce recuperação econômica do País, em função, dentre

outros fatores, da sustentação do ritmo de atividade

econômica da China, foi instrumental nesse processo.

O Gráfi co 1 mostra a evolução do índice da

taxa de câmbio efetiva real da moeda brasileira de

dez/1998 a out/2010. O barateamento do dólar e

de um conjunto amplo de moedas frente ao R$ vem

sendo visto como fato negativo, que simplesmen-

te retira competitividade da indústria brasileira. Isto

não é verdade. O fortalecimento do Real refl ete, em

última análise, o enriquecimento brasileiro favoreci-

do pela mudança estrutural da economia mundial,

semeada desde o início da década de 80 do século

XX e que afl orou na primeira década do século XXI.

O R$ mais valorizado aumenta o poder

de compra da poupança brasileira, baratean-

do a formação de capital fi xo, um dos gargalos

mais importantes do desenvolvimento do País.

Vale notar, talvez para surpresa geral, que em ou-

tubro de 2010 o R$ encontrava-se mais valorizado

que em dezembro de 983, último mês do regime cam-

bial de bandas ajustáveis, com taxas semifi xas, que

caracterizou fase de notória sobrevalorização da mo-

eda nacional, entre julho de 1994 e janeiro de 1999.

Mas esse dado, embora até possa ter al-

gum impacto jornalístico, tem que ter seu signi-

fi cado econômico ponderado com mais cuida-

do, porque se está a comparar situações distintas.

Em dezembro de 1998 a taxa de câmbio era dita-

da pelo Banco Central. A sobrevalorização resultava

de uma política deliberada do governo, e a taxa de

R$ 1,2046/US$ era artifi cial. O mercado não acre-

ditava nela, e as reservas internacionais já estavam

esgotadas em janeiro de 1999, quando o governo

determinou ao Banco Central que abandonasse a

sustentação daquela taxa e daquele regime cambial.

Em 2010, ao contrário, a taxa de câmbio é fl utuante

e não há artifi cialismo na política cambial. A valoriza-

ção vem desde o início da década, é comum a vários

países, decorre de uma nova estrutura econômica in-

ternacional com signifi cativos ganhos para o Brasil

nos termos do intercâmbio, as reservas internacionais

encontram-se em nível recorde, e os ingressos de in-

vestimentos externos diretos e de investimentos em

ações também são recordes. Antes do baque provoca-

do pela crise do fi nal de 2008, as exportações de manu-

faturados se expandiam na contramão da valorização

cambial (Gráfi co 1-A), e, não obstante as reclamações

setoriais voltam a aumentar em 2010, com expansão

de 9,6% no quantum acumulado jan/set, ou de 3,5%

nos 12 meses terminados em setembro de 2010 (dados

da FUNCEX, Boletim de Comércio Exterior, out/2010).

*³ A valorização era de 13,1% de acordo com o cálculo da taxa real efetiva de câmbio do BIS.

14

Page 15: Revista de Conjuntura, n. 43

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julho / setembro / 2010

A primarização da pauta de exportações de fato

ocorreu, mas em intensidade menor que a indicada

pela simples comparação de valores correntes. E foi re-

sultante de sinais autênticos de preços. O parque pro-

dutivo brasileiro respondeu a esses estímulos seguindo

as práticas recomendadas pela literatura, isto é, inves-

tindo no agribusiness e em setores ligados à mineração,

segmentos onde, vale lembrar, o País detém óbvias

vantagens competitivas e robusta bagagem de pesqui-

sas acumuladas. Ainda assim, as exportações de manu-

faturados cresceram à taxa média anual de 7%, a preços

constantes, entre 1998 e 2010 (valores projetados pelo

autor), e continuam a representar em 2010 a catego-

ria mais importante da pauta se considerados os va-

lores defl acionados (49,3% contra 39,4% dos básicos).

Quadro 1-AParticipações Percentuais no Total das Exportações

Básicos Semimanufaturados Manufaturados

1998 25,40% 15,90% 57,50%

2010

(est)

Preços

correntes43,20% 14,20% 42,70%

2010

(est)

Preços

constantes39,40% 11,40% 49,30%

Evidentemente, há o fato novo, pós-crise fi nanceira,

representado pela resposta expansionista da política

monetária norte-americana à crise fi nanceira de 2008

que aumenta a oferta global de dólares, e, de outro lado,

a rígida posição chinesa de atrelar o renminbi ao dólar

– a chamada guerra cambial. É ponto relevante, porque

se trata de políticas que, combinadas, podem acabar

convergindo para ações classifi cadas como beggar my

neighbor, se não na intenção, mas nas conseqüências.

Esses fatores podem condicionar um excesso de va-

lorização do R$, além do que se justifi caria em decorrên-

cia dos novos fundamentos da economia mundial. Esse

excesso é que é preocupante porque, tendo caráter tran-

sitório e lastro numa guerra cambial, isto é, lastro arti-

fi cial, divorciado dos “fundamentals” , pode caracterizar

uma bolha, com possibilidade de evoluir para uma crise.

Colocada a questão, o texto divide-se em quatro

seções, a saber:

a) Seção 2: Análise do papel da taxa de juros e da guer-

ra cambial na apreciação do Real;

b) Seção 3: Uso do IOF para enfrentar pressões transi-

tórias sobre a taxa de câmbio decorrentes de fatores

externos, fora do controle do governo, ou que exijam

um prazo mais longo para terem suas causas corrigi-

das;

c) Seção 4: A questão do ajuste fi scal como remédio

para os juros altos;

d) Seção 5: Conclusões.

2. Juros, Guerra Cambial e Apreciação do Real.

O conventional wisdom hoje prevalecente no

Brasil é de que o afl uxo excessivo de capital estran-

geiro se deve à elevada taxa de juros interna. Por

conseguinte, a forma de resolver o problema se-

ria fazer com que os juros internos baixassem ao

nível internacional. O instrumento seria uma re-

estruturação fi scal que reduzisse a dívida pública.

Ninguém discute a relevância de um programa fi s-

cal de médio prazo, com metas claras e exeqüíveis, e

transparência dos instrumentos. O novo governo que

se inaugura em 1º/01/2011 sem dúvida apresentará um

plano desse tipo à sociedade. Não há descalabro fi scal,

como se verá adiante, e, portanto, não há necessidade de

ajustes fi scais draconianos, como, aliás, muito bem assi-

nalou o Ministro Delfi m Netto em artigo no jornal Valor4.

Mas também não há razão para duvidar que taxas

altas de juros atraiam capitais do exterior e que dívi-

das públicas percebidas como elevadas pelos inves-

tidores exijam juros mais elevados para sua rolagem.

Aceitas as hipóteses acima seria preciso estimar

a elasticidade dos ingressos de capitais em relação

à taxa de juros, e por aí avaliar o impacto da taxa de

juros sobre a apreciação cambial brasileira. Isso exigi-

ria exercícios econométricos complexos que fogem

ao escopo desse estudo. Nada obstante, o economista

Alexandre Schwartsman alerta5, em artigo a ser publi-

* 4 Antonio Delfi m Netto, “Voto de Confi ança”, Valor, 30/11/2010, p. A2. * 5 Conforme Ségio Leo, “Estratégias para a guerra cambial”, Valor, 29/11/2010, p. A2.

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a

cado no número do quarto trimestre de 2010 da Revis-

ta Brasileira de Comércio Exterior (RBCE)6, que a infl u-

ência dos juros pode não ser tão grande como alguns

poderiam esperar: “a queda de 4 pontos percentuais nos

juros elevaria o dólar a apenas R$ 1,75, exemplifi ca”7.

Esta conclusão é compatível com o que se pode

ver de um conjunto de dados aqui apresentados no

Quadro 1 e Gráfi co 2. A reta de tendência ajustada no

diagrama de dispersão do Gráfi co 2 construído com

os dados do Quadro 1 sugere uma relação positiva,

embora fraca, entre taxa de juros real e valorização da

taxa de câmbio. Um país pode apresentar valorizações

cambiais expressivas, caso da Coréia do Sul (14,52%) e

do Canadá (12,81%) e, ao mesmo tempo, ter taxas de

juros negativas ou extremamente reduzidas – exem-

plo do Chile, quarto colocado em valorização cam-

bial da amostra de 10 países do Quadro 1 (0,72%a.a.

de juros reais e 16,99% de valorização do peso).

Dos três líderes de apreciação da moeda, ape-

nas o Brasil tem juros elevados. África do Sul, pri-

meira colocada com 41,66% de valorização do

rand, tem juros reais de 1,39%a.a., e Austrália, se-

gunda colocada, com 34,47% de valorização do dó-

lar australiano, tem 1,62%a.a. de taxa de juros reais.

Isto posto, é importante ressalvar que o Quadro 1

pode encerrar alguns problemas de especifi cação de da-

dos, que não invalidam as conclusões acima, mas acon-

selham certa cautela. Por exemplo, os bancos centrais

de alguns países podem ter acumulado mais ou menos

reservas do que outros, intervindo com maior ou menor

intensidade nos mercados cambiários e, assim, infl uen-

ciando as tendências das respectivas taxas de câmbio.

A imposição de eventuais controles de entra-

da ou saída de capitais, de natureza tributária, ou

não, seriam outras variáveis a serem consideradas.

Por isso, um exercício de regressão múl-

tipla, envolvendo outras variáveis explicati-

vas dos movimentos das taxas de câmbio, além

das taxas de juros, daria uma idéia mais clara da

sua contribuição na determinação do câmbio.

A novidade do Quadro 2 em relação ao Quadro 1

é a informação das desvalorizações cambiais de Es-

tados Unidos, Reino Unido, Venezuela e Argentina,

ademais do Euro. Além disso, não traz a informação

das taxas de juros, embora certamente Estados Uni-

dos e Reino Unido tenham reduzido os juros nas suas

economias, o que reforçaria a hipótese de correlação

juros/valorização cambial. Aliás, em nenhum momen-

to refutamos tal hipótese, apenas registramos vários

indícios de que a relação pode ser fraca. Inclusive no

caso específi co do Brasil a taxa de juros parece expli-

car uma parcela bem menor da valorização cambial

do que a sabedoria convencional vem alardeando.

Chamam atenção o peso argentino e o Bolívar

venezuelano. Ambas as moedas seriam típicas com-

modity currencies, e os dois países deveriam estar em

um período de prosperidade e valorização cambial.

Ao contrário, apresentaram fortes desvalorizações –

18,52% do peso e 25,45% do bolívar – e o desempe-

nho das duas economias é sujeito a controvérsias.

Finalmente, a desvalorização do Dólar, 9,95%, asso-

ciada à do Renminbi, 3,89% como já visto no Quadro 1,

sugere, se não a existência de guerra cambial, ao menos

a constatação de movimentos de política econômica

das duas maiores economias do planeta que podem

ser danosos ao Brasil e a outras nações emergentes.

A política monetária expansionista dos Estados

Unidos inaugurada aos primeiros sinais da crise e

aprofundada no fi nal de 2008 vem produzindo efei-

tos de desvalorização do dólar. Este era um dos des-

dobramentos esperados e não deveria surpreender

ninguém que tivesse suas exportações concentradas

no mercado norte-americano. Nesse sentido, é sem-

pre aconselhável separar, nos casos de perdas com o

comércio exterior, empresas que estivessem com foco

no mercado americano e não redirecionaram suas

vendas em função da crise. Estas enfrentarão perí-

odo de difi culdades e a solução está nas mãos delas.

Não há nada que o governo possa ou deva fazer, ex-

ceto algumas medidas paliativas de crédito direcio-

nado para ajudar a fi nanciar mudanças de linhas de

produtos e/ou desenvolvimento de novos mercados.

* 6 Revista Brasileira de Comércio Exterior (RBCE), editada pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX).* 7 In Sérgio Leo, idem, idem.

16

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17

julho / setembro / 2010

O problema é que a China atrelou sua moeda ao

dólar e usa todo o seu poder de coação interna para

produzir a elevada taxa de poupança, que, associada a

um regime cambial controlado, viabiliza essa política.

Dessa forma, como os produtos americanos conti-

nuam caros na China, a pressão exportadora se faz so-

bre o resto do mundo, e o Brasil é um alvo privilegiado.

Assim, os Balanços de Pagamentos de Brasil, América do

Sul e Central, incluindo o México, Europa, África e outros

países da Ásia teriam que acomodar um volume muito

maior de exportações americanas, comparativamente a

uma situação onde a China estivesse expandindo sua-

absorção (consumo e investimento internos). E ao fi nal

responder pelo reequilíbrio dos Estados Unidos sem a

participação da segunda maior economia do planeta.

Ora, isto está acima das forças daqueles países e

poderia levá-los a uma crise fi nanceira semelhante à

de 1982, se houver fi nanciamento continuado a défi -

cits crescentes de Balanços de Pagamentos em Transa-

ções Correntes como na segunda metade dos anos 70

do século XX cuja resultante foi a crise referida acima.

A apreciação da moeda local em relação ao Dólar

é instrumental nesse processo. No caso brasileiro seria

de se esperar que a taxa de câmbio fl utuante reagis-

se em algum momento e o Real perdesse valor, esta-

bilizando o Balanço de Pagamentos em Conta Cor-

rente, e trazendo o ritmo de expansão do PIB a nível

consentâneo com os fundamentos econômicos do

País. Nessas condições os fl uxos de investimentos ex-

ternos também deveriam se reduzir pela queda na-

tural das taxas de retorno para as novas aplicações.

Quadro 1Taxas de Juros e Apreciação Cambial

Taxa de Juros

Nominal

Infl ação

Preços ao ConsumidorTaxa de Juros Real

Sinal (+) apreciação.

Sinal (-) desvalorização

%a.a. %a.a. %a.a. out/08 a out/10

África do Sul 7,24 5,77 1,39 41,66%

Austrália 4,02 2,36 1,62 34,47%

Brasil 9,82 4,89 4,70 33,33%

Chile 1,44 0,71 0,72 16,99%

Coréia do Sul 2,64 2,75 -0,11 14,52%

Canadá 0,69 0,96 -0,27 12,81%

Índia 7,5 11,99 -4,01 10,40%

Indonésia 8,14 4,56 3,43 8,48%

Rússia 9,26 9,05 0,19 -5,30%

China 1,92 1,71 0,21 -3,89%

Fontes e Observações:

(i) Exceto para o Brasil, os dados são da OECD.

(ii)Para taxas de juros e taxas de infl ação seguir o link abaixo e acessar, (1) Finance/Financial

Indicators/Interest Rates, (2) Prices and Purchasing Power Parities/Prices and Price Indices/

Price Indices/Consumer Prices Annual Infl ation.

http://stats.oecd.org/index.aspx

(iii) Conforme os metadados do site, as estatísticas são originárias dos bancos centrais

nacionais e se referem a taxas de juros ou yields de operações de 3 meses , CDB's,

títulos dos tesouros nacionais, transações interbancárias, etc. Foram usadas médias

2009/2010 (jan/out/ jan/set/jan/ago, jan/jun de acordo com a disponibiliade dos dados).

(iv) Para o Brasil, Website do Banco Central. Taxa de juros: Swap DI x Pré 90 dias. Infl ação:IPCA.

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a

Porém, a literatura das crises fi nanceiras sugere que

o mercado pode agir contra si próprio, e os investidores

prosseguirem colocando ativos líquidos em projetos cada

vez mais ilíquidos. Foi o que aconteceu de 1974 a 19828.

Se isso ocorrer, os controles cambiais devem ser

usados. A relação dos juros com o câmbio existe, mas os

dados sugerem que pode ser mais fraca do que a sabe-

doria convencional esperaria. Além disso, há as intercor-

rências decorrentes da ausência de coordenação entre

as políticas econômicas dos Estados Unidos e da China

que desequilibram o Balanço de Pagamentos brasileiro.

A redução da dívida pública dentro de um pro-

grama de médio prazo é bem vinda sob todos os

ângulos, porém insufi ciente e lenta para rever-

ter o presente processo de valorização cambial

* 8 Na verdade os mercados fi nanceiros internacionais já estavam ra-refeitos para o Brasil e América Latina em geral desde fi ns de 1979. No nosso caso, começava a fi car difícil apresentar projetos genui-namente interessantes à comunidade fi nanceira, e iniciamos um período de artifi cialismos com manobras táticas para estimular o interesse dos investidores. Internamente, o setor privado não tinha mais condições de suportar o risco cambial associado ao endivi-damento externo, de modo que o setor público assumiu o coman-do total das novas captações de recursos externos, num processo crescentemente desgastante até o colapso em fevereiro de 1983.

Quadro 2

Índice das Taxas de Câmbio Efetivas Reais

Unidades de moedas estrangeiras por moeda nacional

out/08 out/10 Variação Moeda

Países que valorizaram a moeda

África do Sul 69,56 98,54 41,66% Rand

Austrália 87,46 117,61 34,47% Dólar

Brasil 111,2 148,26 33,33% Real

Chile 94,34 110,37 16,99% Peso

Coréia do Sul 71,82 82,25 14,52% Won

Canadá 97,3 109,76 12,81% Dólar

Índia 95,77 105,73 10,40% Rupee

Nova Zelândia 85,01 92,75 9,10% Dólar

Japão 96,12 104,36 8,57% Yen

Indonésia 112,14 121,65 8,48% Rupiah

México 86,88 90,97 4,71% Peso

Países que desvalorizaram a moeda

Venezuela 163,89 122,18 -25,45% Bolívar

Argentina 99,96 81,45 -18,52% Peso

Estados Unidos 96,22 86,65 -9,95% Dólar

Reino Unido 87,7 79,2 -9,69% Pound

Rússia 127 120,27 -5,30% Rublo

China 122,99 118,2 -3,89% Yuan

Zona do Euro 99,35 97,42 -1,94% Euro

Fonte: BIS - Website - Real Effective Exchange Rates

18

Page 19: Revista de Conjuntura, n. 43

19

julho / setembro / 2010

3. Uso dos Controles Cambiais – O IOF

Assinalou-se acima, ao fi nal da Seção 2 que os contro-

les cambiais são o instrumento adequado para lidar com

as pressões de apreciação do Real decorrentes do derra-

me de Dólares nos mercados fi nanceiros internacionais.

O governo limitou-se até o momento9 a usar o IOF

- Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Se-

guro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários como

mecanismo de controle cambial com o objetivo bási-

co de aumentar o prazo dos investimentos em títulos

de renda fi xa (os investimentos diretos e em ações

já costumam ter horizontes de mais longo prazo).

Originalmente, e de acordo com o Decreto 6.306,

de 14/12/2007, não havia cobrança de IOF sobre os

ingressos de recursos externos. Com a abertura da

possibilidade de investimentos externos em títulos

da dívida mobiliária federal em Reais, e dada a isenção

do imposto de renda, houve uma avalanche de inves-

timentos externos com esse fi m, e em 12/05/2008 o

governo editou o Decreto 6.453, taxando em 1,5% to-

dos os investimentos em carteira, tanto de renda fi xa

como em ações. Com a eclosão da crise fi nanceira o

governo voltou atrás e isentou essas operações do tri-

buto, por intermédio do Decreto 6.613, de 2/10/2008.

Em 19/10/2009, recuperados os fl uxos de entradas de

capitais e com o R$ se valorizando 34% em relação ao

fundo do poço da crise, em dezembro de 2008, o go-

verno anuncia a volta da taxação dos ingressos para os

mercados fi nanceiros e de capitais (investimentos em

ações e de renda fi xa), à alíquota de 2%. Um ano depois,

em 4/10/2010, essa alíquota passa a 4%, apenas sobre

renda fi xa, permanecendo a de 2% nas aplicações em

renda variável. Note-se que a alíquota de 4% incide

também sobre Fundos de Ações, Fundos Multimerca-

do, porque misturam renda fi xa com renda variável, e

debêntures (Decreto 7.323). Logo em seguida, possivel-

mente achando que as entradas de recursos não esta-

vam reagindo como esperado, o governo aumentou a

alíquota da renda fi xa para 6%, com incidência esten-

dida às garantias exigidas em contratos de derivativos.

A rentabilidade das aplicações externas em renda

fi xa, também chamada de cupom cambial, depende

do diferencial dos juros internos e externos e da dife-

rença entre a taxa de câmbio de entrada e de saída.

Dessas quatro variáveis, três são conhecidas a priori:

juros internos e externos e taxa de câmbio de ingres-

so. A incógnita é a taxa de câmbio de saída. A BM&F

oferece cotações até 3 meses à frente com base em

contratos fechados e negócios efetivamente realiza-

dos. Daí em diante as cotações disponíveis são indi-

cativas, não estando lastreadas em contratos fi rmes.

Para esse prazo de 3 meses é fácil para os investi-

dores fazerem arbitragens, onde realizam lucro pratica-

mente sem risco. Por exemplo, entram com os dólares,

fazem a conversão em R$ e aplicam em LTN’s ou NTNF’s,

que são títulos da dívida mobiliária federal de juros pré-

fi xados e compram dólares no mercado futuro. A ope-

ração está toda fechada e o lucro determinado a priori.

A alternativa, que aparentemente é a mais usada,

consiste em especular com a taxa de câmbio futura.

Como o R$ vem se apreciando, o lucro do diferencial

de juros pode ser maior. Normalmente, quando uma

moeda paga juros signifi cativamente maiores que

outras moedas é porque representa um risco propor-

cionalmente maior que costuma se refl etir em taxas

de câmbio mais desvalorizadas à frente. Quando esse

quadro não se confi gura, o especulador eventual-

mente aposta que a taxa de câmbio irá se depreciar

pouco ou até se apreciar no futuro e fi ca com a po-

sição aberta. A especulação, ao contrário da arbitra-

gem, caracteriza uma transação com uma ponta aber-

ta, onde se concentra o risco, o lucro ou o prejuízo.

O Quadro 3 mostra duas simulações de investimen-

tos em títulos de renda fi xa – LTN’s e NTN-F’s – base-

adas em arbitragens para operações de até 3 meses,

e nas taxas de câmbio referenciais da BM&F para os

prazos mais largos, até 3 anos. Uma simulação com o

IOF à alíquota atual de 6%, e outra, considerando, ape-

nas para efeito ilustrativo, a alíquota máxima de 25%,

conforme art. 15 do Decreto 6.306, de 14/12/2007.

* 9 Novembro de 2010.

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À alíquota de 6%, a aplicação só se tornaria rentável

se o capital permanecesse mais de 3 anos no Brasil. Logo,

no pressuposto de que todos os ingressos de dólares, ou

pelo menos a maioria esmagadora fosse de capitais es-

peculativos de curto prazo, os fl uxos já teriam cessado.

Mas não pararam, embora tenham se reduzido

caindo de US$ 3,4 bilhões em setembro para US$

2,5 bilhões em outubro, representando queda de

26%. Mais importante até foi a ausência de investi-

dores estrangeiros que levou o Tesouro a cancelar

dois dos quatro leilões de títulos programados para

* 10 Valor, 10/11/2010, Finanças, reportagem de Claudia Safatle. * 11 Idem, idem.

novembro10, sendo que as taxas de juros subiram

nos que foram realizados. Os aplicadores do exte-

rior detêm 10% da dívida pública mobiliária federal e

50% da dívida prefi xada de prazos acima de 5 anos11.

Os dados sugerem que houve uma retração nas

aplicações de renda fi xa, provavelmente naquelas de

prazo mais curto, abaixo de três anos. Mas como os in-

gressos líquidos de capital fi nanceiro dirigidos a papéis

de renda fi xa ainda se mantiveram no patamar acima

de 70% do valor de setembro, quando a alíquota era

de 2%, aparentemente não se tratava simplesmente de

Quadro 3

O IOF e a Rentabilidade do Investº Externo em Títulos de Renda Fixa Data de referência: 30/11/2010

Simulação conforme expectativas apresentadas pela BM&FBovespa

(arbitragens apenas até 3 meses - março/2011)

Prazo em

Meses

Rendimento

Nominal LTN/

NTN-F

Taxa de Câmbio

Futura R$/US$

Custo do

dinheiro

externo

Rentabilidade IOF

6%

Rentabilidade

IOF 25%

LTN/NTN-F LTN/NTN-F

col. (1) col. (2) col. (3)

% a.a. R$ % a.a. % a.a. % a.a.

3 10,79% 1,752 0,16% -20,58% -67,83%

6 11,66% 1,7877922 0,21% -9,33% -42,31%

9 12,17% 1,8294921 0,21% -5,39% -30,03%

24 12,53% 2,0370713 0,51% -0,39% -11,14%

36 12,49% 2,2012002 1,51% -0,10% -7,70%

Fontes e Observações:

Col. (1) - Tesouro Nacional Tabela de Rentabilidade Rentabilidade do Tesouro Direto - Posição 30/11/2010. Taxa do Dia - Venda

Proxies utlizadas: 3 meses LTN 01/01/2011; 6 meses LTN 01/07/2011; 9 meses LTN 01/01/2012; 24 meses LTN 01/01/13;

36 meses NTN-F 01/01/2014.

Col. (2) - Para 3 meses: BM&FBOVESPA Mercados-Mercadorias e Futuros-Cotações e Volume-Cotações online-Boletim Online- Dólar

Comercial 3 meses Mar/2011. Para 6 meses inclusive, em diante - BM&F Taxas Referenciais Link abaixo 6 meses = taxa referencial 181 d; 9

meses = idem 272 d; 24 meses = idem 720 d; 36 meses = idem 1.080 d.

Col. (3) - Custo de oportunidade dos recursos externos - Proxies: 3 meses T-Bill (3 meses); 6 meses T-Bill (6 meses); 9 meses (idem);

24 meses T-Note (2 anos); 36 meses T-Note (5 anos). [cf. Valor econômico 30/11/2010 p. C-3].

Ptax 30/11/2010 (média de compra e venda) 1,7157

http://www.bmfbovespa.com.br/shared/iframeBoletim.aspx?altura=3000&idioma=pt-br&url=www2.bmf.com.br/pages/portal/bmfbo-

vespa/boletim1/TxRef1.asp

20

Page 21: Revista de Conjuntura, n. 43

21

julho / setembro / 2010

smart money, ou dinheiro especulativo de curto pra-

zo. Há recursos mais estáveis nesse capital fi nanceiro.

Fizemos ainda uma simulação – Quadro 4 – consi-

derando trajetória mais suave da taxa de câmbio, isto

é, supondo que as desvalorizações nominais seriam

menores do que as indicadas pela taxas referenciais

da BM&F. Para isso usamos a Pesquisa Focus do Ban-

co Central e associamos a expectativa de dezembro

de 2010, à taxa de 3 meses, a de dezembro de 2011,

à taxa de 9 meses, e a de dezembro de 2012, à taxa

de 24 meses. Feito isso, obtivemos a taxa de 6 meses

por interpolação e a de 36 meses, por extrapolação.

Se um investidor imaginasse que essa seria

uma trajetória esperada do câmbio, sua rentabi-

lidade em dois anos, em dólares, superaria 5%a.a.

já descontado o custo de oportunidade. Para neu-

tralizar uma expectativa dessa natureza seria ne-

cessária uma alíquota de 16% do IOF (Quadro 4).

E tal comportamento da taxa cambial pode não ser

conjectura absurda. Os ingressos de recursos externos

por conta de investimentos diretos e de renda variável

(ações) têm se mantido elevados. Por outro lado, as po-

líticas monetária e fi scal de 2011 deverão ser mais aus-

teras que as de 2009/2010, o que reduzirá o ritmo de

crescimento da absorção na economia brasileira, condi-

cionando uma pausa nos aumentos do défi cit em tran-

sações correntes. Contudo, é difícil prever o comporta-

mento das taxas de retorno dos novos investimentos.

Uma hipótese seria de que começassem a se reduzir, in-

clusive pelo volume maciço de capital que vem ingres-

sando no País desde 2007. Mas pode ocorrer o contrá-

rio, se a economia brasileira ganhar momentum e con-

tinuar avançando, com PIB crescendo entre 5 e 6%a.a.

E mais ainda, seja qual for o cenário de expan-

são da Renda Nacional e a evolução das taxas de

retorno esperadas dos novos projetos, os investi-

mentos externos diretos e por intermédio de apli-

cações em ações das empresas podem continuar

elevados, conforme salientado ao fi nal da Seção 2,

refl etindo comportamentos formadores de bolhas.

Quadro 4O IOF e a Rentabilidade do Investº Externo

em Títulos de Renda Fixa Data de referência: 30/11/2010

Simulação conforme expectativas expectativas

da Pesquisa Focus do Banco Central

Prazo em

Meses

Rendimento

Nominal LTN/

NTN-F

Taxa de

Câmbio

Futura R$/

US$

Custo do

dinheiro

externo

Rentabilidade

IOF 6%

Rentabilidade

IOF 16%

col. (1) col. (2) col. (3) LTN/NTN-F LTN/NTN-F

% a.a. R$ % a.a. % a.a. % a.a.

3 10,79% 1,7100 0,16% -12,49% -44,21%

6 11,66% 1,7199 0,21% -2,02% -21,78%

9 12,17% 1,7600 0,21% -0,37% -14,27%

24 12,53% 1,8200 0,51% 5,44% -0,38%

36 12,49% 1,9666 1,51% 3,89% -0,09%

Fontes e Observações: Col. (1) - Tesouro Nacional Tabela de

Rentabilidade Rentabilidade do Tesouro Direto - Posição

30/11/2010. Taxa do Dia - Venda Proxies utlizadas: 3 meses LTN

01/01/2011; 6 meses LTN 01/07/2011; 9 meses LTN 01/01/2012; 24

meses LTN 01/01/13; 36 meses NTN-F 01/01/2014.

Col. (2) - Pesquisa Focus com interpolação para 6 meses e extrapola-

ção para 36 meses.

Col. (3) - Custo de oportunidade dos recursos externos - Proxies: 3

meses T-Bill (3 meses); 6 meses T-Bill (6 meses); 9 meses (idem);

24 meses T-Note (2 anos); 36 meses T-Note (5 anos). [cf. Valor econô-

mico 30/11/2010 p. C-3].

Ptax 30/11/2010 (média de compra e venda) 1,7157

Portanto, é possível que o governo tenha que

considerar a hipótese de aumentar as alíquo-

tas do IOF sobre entradas de capital, ainda que

as taxas de juros internas sustentem a trajetó-

ria de queda consistente observada desde 2006.

4. Os Juros Altos e o Programa Fiscal

É intuitivo que o diagnóstico dos problemas

econômicos deve pautar as políticas voltadas à sua

solução. No caso do R$ a causa básica da aprecia-

ção reside na nova estrutura da economia mun-

dial, com o ingresso, ainda que paulatino, de 1/3 da

população mundial nos mercados de consumo. Se

considerássemos apenas os 13% mais ricos desse

contingente, tudo se passaria como se um novo Es-

tados Unidos estivesse desembarcando no planeta

Terra. O mundo enriquece, e o Brasil junto com ele.

Page 22: Revista de Conjuntura, n. 43

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É claro que também foi importante o equilíbrio

macroeconômico brasileiro para a atração dos gran-

des volumes de investimentos externos, principal-

mente investimentos diretos e em ações, e, portanto,

para que o máximo proveito pudesse ser extraído da

virada favorável da estrutura econômica mundial.

Mas pode estar ocorrendo overshooting (excesso)

de apreciação. Essa é nossa percepção. Dois fatores po-

dem estar concorrendo para esse plus de valorização.

A política monetária norte-americana associada ao

atrelamento do renminbi ao dólar, fenômeno descrito

na Seção 2, e as taxas de juros domésticas elevadas.

O Dólar depreciou-se internacionalmente em 10%

de outubro/2008 a outubro/2010 (Quadro 2). É fora de

dúvida, portanto, que a política monetária americana

expansionista explica alguma coisa da valorização do

Real. Entretanto, o Real vem ganhando poder de com-

pra internacional desde antes das reduções radicais

de taxa de juros nos Estados Unidos e dos programas

de expansão monetária, conhecidos como Quantita-

tive Easing. Aliás, o R$ inicia sua trajetória de valoriza-

ção numa fase em que a taxa de juros americana era

crescente (Gráfi co 3). Esse gráfi co sugere que a políti-

ca monetária americana explica parte da valorização

do R$, principalmente desde o fi nal de 2008, mas não

parece ser variável decisiva. A mesma coisa pode-

ria ser dita dos juros, como já examinado na Seção 2.

Aliás, caberia acrescentar dois aspectos impor-

tantes que reforçam a hipótese de que os juros in-

ternos não são protagonistas de primeira grande-

za na avalanche de dólares do triênio 2008/2010.

Fonte: Federal Reserve Bank link: http://www.federalreserve.gov/monetarypolicy/openmarket.htm

O primeiro ponto é que apenas 24% das entra-

das de capital de 2008 a 2010 (jan/set) se destina-

ram a investimentos de renda fi xa. As aplicações

de renda variável (ações) responderam por 32%

e os investimentos diretos por 46% (Quadro 5).

22

Page 23: Revista de Conjuntura, n. 43

23

julho / setembro / 2010

O segundo ponto refere-se à própria taxa de juros

interna que vem caindo na contramão da valoriza-

ção cambial. Senão, vejamos. O Gráfi co 1 demonstra

que a escalada do R$ começa em junho de 2004. O

Gráfi co 4 mostra inequivocamente a queda da SE-

LIC acumulada em cada ano defl acionada pelo IPCA

ponta-a-ponta. Registra-se uma forte queda dos juros

em 2004, coincidentemente o ano em que o câmbio

Quadro 5

Balanço de Pagamentos

Valores em US$ bilhões

2008 2008 2009 2009 2010 TOTAL

col. (1) col. (2) col. (3) col. (4) col. (5)Col.(6)=

(2)+(4)+(5)

col.7)=% s/

total Conta

Financeira

Transações Correntes (líquido) -22,9 -28,2 -12,1 -24,3 -35,1 -87,6

Conta Financeira 53,4 28,3 38,5 70,2 70,1 168,6 100,00%

Investimento Direto (líquido) 15,4 24,6 22,8 36 17 77,6 46,03%

Ações (2) 1,3 -7,3 16,9 39,7 21,1 53,5 31,73%

Renda Fixa (3) 15,8 8,4 4,7 10,6 21,9 40,9 24,26%

Outros Investimentos (1) 21,3 2,9 -6,1 -16,3 10,1 -3,3 -1,96%

Derivativos -0,4 -0,3 0,2 0,2 0 -0,1 -0,06%

Conta Capital + Erros e Omissões -6,6 2,9 2,7 0,8 -0,4 3,3

Resultado do Balanço 23,9 3 29,1 46,7 34,6 84,3

Variação de Reservas do Banco Central 13,5 44,7 36,7

Fonte: Website do Banco Central - Economia e Finanças - Indicadores Econômicos e Boletins do Banco Central.

Obs.: Pode haver diferenças mínimas em alguns valores em relação aos números do Banco Central devido a arredondamentos.

(1) Empréstimos, depósitos, créditos comerciais, etc. /(2) Inclui ações negociadas no exterior. /(3) Inclui títulos de renda fi xa negociados no

exterior, como bônus.

começa sua marcha de valorização. Mas eles sobem

em 2005 praticamente para o mesmo patamar de

2003 e o câmbio acelera a trajetória de apreciação.

Nesse ano específi co teríamos uma correlação posi-

tiva de juros e câmbio. Entretanto, de 2006, inclusive,

em diante, a redução da taxa de juros real é perma-

nente e signifi cativa, ano após ano, enquanto a taxa

de câmbio continua sua trajetória de valorização.

Page 24: Revista de Conjuntura, n. 43

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Os dados levantados, portanto, não confi rmam

a dominância, nem dos juros domésticos, nem da

guerra cambial, como variáveis explicativas do pro-

cesso de valorização do R$. Entretanto, trata-se de

coadjuvantes que não podem ser simplesmen-

te desprezados e precisam ser objeto de cuidados.

No que se refere à guerra cambial, já na Se-

ção 3 enfatizamos que os controles cambiais

são os instrumentos apropriados para neutra-

lização dos impactos sobre a moeda brasileira.

No que concerne aos juros elevados, também os

controles cambiais são indicados, porque não há como,

em prazos curtos, trazer as taxas de juros domésticas aos

patamares usuais internacionalmente. Isto nada obs-

tante, um programa fi scal de médio prazo, equilibrado

e sensato, é algo bem vindo por todas as razões e con-

tribuirá para que a taxa de juros interna continue a cair.

Não se está imaginando nenhum ajuste cava-

lar, até porque não se justifi caria uma vez que não

se registra qualquer iminência de crise fi scal. Nes-

se sentido, é importante passar em revista algumas

estatísticas fi scais básicas do Governo Federal, para

um melhor entendimento do que está ocorrendo

de fato nessa área, e compreensão do por que do

desconforto dos analistas e da própria opinião pú-

blica com o desempenho fi scal do Governo e suas

conseqüências sobre a infl ação e taxa de juros.

Não se vê indícios de “gastança”, no sentido de des-

perdício e desídia, como vem sendo propalado pela

mídia. Entretanto, houve um aumento considerável no

total das despesas não fi nanceiras do Governo Federal

(Quadro 6), principalmente em 2009 e 2010, se enten-

dermos os vultosos empréstimos do Tesouro ao BNDES

como capitalizações daquela instituição fi nanceira,

ainda que sob a forma de capital de segunda linha. O

Tesouro Nacional registrou essas operações como em-

préstimos simples. Assim, compensou o aumento de dí-

vida mobiliária destinado ao levantamento dos recur-

sos, com créditos junto ao banco, não impactando, des-

se modo, nem a dívida líquida do setor público, nem as

Necessidades de Financiamento Primárias do governo.

Contudo, essas operações embora de jure possam se

assemelhar a créditos da mesma natureza, por exem-

plo, que as reservas internacionais do Banco Central,

e com igual liquidez, de facto são completamente dis-

tintas e se identifi cam com os aportes de capital que o

Tesouro faz às empresas de sua propriedade e controle.

O Objetivo é proporcionar funding às instituições

fi nanceiras ofi ciais federais, basicamente ao BNDES

para impulsionar investimentos do setor privado,

do próprio setor público, de empresas estatais, etc..

Essas despesas estiveram ligadas ao conjunto

de medidas anticíclicas de enfrentamento da cri-

se fi nanceira internacional e são reversíveis, isto é,

podem ser estancadas e podem até reverter em

receitas extraordinárias no futuro, se e quando

os empréstimos forem amortizados pelo BNDES.

O problema é que as Necessidades de Financia-

mento foram afetadas, e em montantes signifi cativos,

a taxa de infl ação acabou subindo, forçou um aumen-

to de juros no Iº semestre de 2010, e possivelmente

também agora novamente no fi nal do ano ou no iní-

cio de 2011. De passagem assinale-se que as pressões

infl acionárias só não se fi zeram sentir de maneira

mais intensa até agora graças à valorização cambial.

* 12 Existem créditos também para a Caixa Econômica na forma de híbridos de capital e dívida (capital de segunda linha). Mas o grosso dos

recursos foi direcionado ao BNDES.

‘‘ ‘‘

Não se está

imaginando nenhum

ajuste cavalar, até porque

não se justifi caria uma

vez que não se registra

qualquer iminência de

crise fi scal.

24

Page 25: Revista de Conjuntura, n. 43

25

julho / setembro / 2010

O exercício consubstanciado no Quadro 6 consistiu

em acrescentar às despesas da rubrica Custeio & Capi-

tal as variações dos créditos do Tesouro junto ao BN-

DES e Caixa, implicitamente considerando-os como se

fossem capitalizações de empresas estatais, a exemplo

dos R$ 42,9 bilhões da subscrição e integralização do

aumento de capital de Petrobrás em setembro de 2010.

Se retirarmos da rubrica Custeio & Capital os re-

cursos aplicados junto ao BNDES e Caixa Econômica,

ademais do aumento de capital da Petrobrás de 2010,

o item fi ca, em 2010, somente 0,55 pontos de percenta-

gem do PIB acima da média do qüinqüênio 2004/2008

e o total das despesas não fi nanceiras do governo

central cai de 26,72% do PIB em 2010, para 22,42%,

uma redução de 4,3 pontos de percentagem do PIB.

Em resumo, em 2010, as despesas totais não fi nan-

ceiras do governo central em 2010 deverão alcançar,

computando-se os aportes às instituições fi nanceiras,

26,72% do PIB, registrando acréscimo equivalente a

6,11 pontos de percentagem do PIB na comparação

com o período 2004/2008. Esse crescimento de des-

pesas distribui-se da seguinte maneira, de acordo com

nossas estimativas: o direcionamento de capital para

as instituições fi nanceiras e Petrobrás responde por

4,29 pontos; em segundo lugar o próprio item Custeio

& Capital excluindo os aportes extraordinários com

0,55 pontos; em seguida, Seguridade Social, com au-

mento de 0,39 pontos; em quarto lugar, Pessoal, com

aumento de 0,31 pontos de percentagem; a rubrica In-

vestimentos cresceu bastante, projetando-se que atin-

ja 1,3% do PIB em 2010. Comparando-se com a média

do triênio 2006/2008 a expansão seria de 0,46 pontos,

equivalentes a 55% de crescimento o que é importante

para a infra-estrutura econômica (não estavam dispo-

níveis os dados de Investimentos para 2004 e 2005).

O Quadro 7 mostra o que teriam sido as Necessi-

dades de Financiamento Primárias do Setor Público

Federal, não fosse a contabilização dos aportes ao BN-

DES e Caixa Econômica como empréstimos, em vez de

na categoria de capital. Em 2009 teríamos registrado

Quadro 6

Despesas do Governo Federal

Em % do PIB

Ano Pessoal & Encargos Investimento Custeio & CapitalTransf.Estados

& Municípios

Seguridade

SocialTotal

2004 4,31% ... 4,69% 3,48% 6,48% 18,96%

2005 4,30% ... 5,18% 3,91% 6,80% 20,18%

2006 4,45% 0,74% 4,78% 3,92% 6,99% 20,87%

2007 4,37% 0,83% 5,05% 3,97% 6,96% 21,18%

2008 4,35% 0,94% 5,48% 4,43% 6,64% 21,85%

2009 4,83% 1,09% 8,25% 4,06% 7,15% 25,37%

2010 4,67% 1,30% 9,63% 3,95% 7,16% 26,72%

Média 04/08 4,36% 5,03% 3,94% 6,77% 20,61%

Fonte: Banco Central Website - Indicadores Econômicos - Tabelas IE-4-02, IE-4-04 e IE-1-51.

A rubrica Custeio & Capital inclui, em 2010, a capitalização da Petrobrás (R$ 42,9 bilhões), devidamente registrada na contabilidade ofi cial, mais

R$ 109,8 bilhões de capitalizações do BNDES não computados como investimento nas contas ofi ciais, mas como empréstimo.

Para 2010, estimativas com base nos dados observados até set. Os empréstimos ao BNDES e à Caixa Econômica, inaugurados em 2006, estão

devidamente acrescentados aos valores da contabilidade ofi cial desde aquele ano, pelos seguintes montantes: 2006, R$ 2,4 bilhões; 2007, R$

5,1 bilhões; 2008, R$ 28,9 bilhões; 2009, R$ 101,7 bilhões.

Não foram computadas as transferências do Tesouro ao BC, nem as suas respectivas despesas, por insignifi cantes e deixarem dúvidas quanto a

dupla contagem.

Page 26: Revista de Conjuntura, n. 43

Rev

ista

de C

onju

ntur

a

défi cit primário de 1,89% do PIB, em vez do superávit

de 1,35%, o que somado aos resultados primários dos

governos estaduais e municipais, além das estatais, to-

talizaria um défi cit primário de 1,18% do PIB, e adicio-

nando-se os juros, um défi cit nominal de 6,62% do PIB.

Fazendo os mesmos cálculos para 2010,

chegaríamos à projeção de um défi cit primá-

rio do setor público consolidado de 0,12%

do PIB e de défi cit nominal de 5,54% do PIB.

Ambos os resultados seriam sufi cientes para explicar

pressões infl acionárias até maiores do que as que esta-

mos assistindo nesse fi nal de 2010. Embora demandem

atenção das autoridades, o que se vê dos números fi s-

cais federais é resultado basicamente de medidas anti-

cíclicas, sendo os valores elevados dos défi cits nominais

reais de 2009 e 2010 reversíveis sem maiores problemas.

Fundamentalmente, esses empréstimos

ás instituições fi nanceiras devem ser estanca-

dos; não há razão alguma para continuarem.

Os 0,55 pontos de percentagem do PIB de aumento

nas demais despesas de Custeio & Capital, juntamente

com os 0,31 pontos dos gastos de pessoal poderiam ser

revertidos no bojo de um programa de dois a três anos

de duração. As despesas na área de Seguridade Social,

impropriamente chamada de Previdência poderiam

ser deixadas onde se encontram em 2010, isto é, na fai-

xa de 7,2% do PIB, embora para esse efeito fosse neces-

sária uma pausa nos aumentos reais do salário mínimo.

Um programa fi scal com esse feitio recuperaria a

credibilidade da política fi scal, a infl ação retornaria ao

centro da meta, que poderia eventualmente ser reduzi-

da, e a taxa de juros retornaria a sua trajetória de queda.

5. Conclusões

Adotou-se no presente trabalho um “enfoque socrá-

tico” colocando em dúvida a sabedoria convencional

sobre o tema. Fomos a campo, levantamos os dados e

apareceram alguns achados interessantes. Exemplos:

as exportações brasileiras de manufaturados vêm cres-

cendo na contramão do real mais forte; a primarização

da pauta das exportações realmente ocorreu, mas os

manufaturados continuam a dominar a pauta com

49,3% do total, se tomadas as variáveis a preços cons-

tantes; este número contrasta com os 42,7% apurados a

preços correntes, e que corresponderiam a uma segun-

da colocação, enganosa, comparativamente aos produ-

tos básicos; a política monetária americana sem dúvida

contribui para o fortalecimento do real, mas ele se valo-

rizou, e de forma expressiva, entre 2004 e 2007, período

que coincide com a subida da taxa de juros nos Estados

Unidos que antecedeu a eclosão da crise fi nanceira; o

nosso diferencial de juros explica alguma coisa da valo-

rização, mas uma amostra de países, principalmente do

G-20, mostra economias com baixas e baixíssimas taxas

de juros e valorizações cambiais expressivas, tais como

África do Sul e Austrália (ambas liderando o ranking

das valorizações, com o Brasil em 3º), ademais de Chile,

Canadá, etc.; além disso, 78% dos ingressos líquidos de

recursos do exterior no período 2008/2010 se referiram

a investimentos diretos (46%) e investimentos de ren-

da variável em ações (32%); somente 24% se destina-

ram a renda fi xa (“Outros Investimentos” contribuíram

negativamente com o equivalente a 2% das entradas

líquidas totais).; fi nalmente, no qüinqüênio 2006/2010,

a taxa Selic despencou de mais de 12%a.a. para menos

de 5%a.a., e o real não tomou conhecimento da que-

da, apreciando-se signifi cativamente nesse período.

Quadro 7

Governo Central

NFSP em % do PIB

Conceito Primário

Estimativa

Ofi cial

NFSP % do

PIB

Empréstimos do

Tesouro BNDES

e Caixa Econ.

Variação de

Saldos % do PIB

NFSP ajus-

tadas % do

PIB

col. (1) col. (2)col.(3)=col.

(1)+col.(2)

2006 -2,2 0,1 -2,1

2007 -2,32 0,19 -2,13

2008 -2,37 0,96 -1,41

2009 -1,35 3,24 1,89

2010 -2,13 3,11 0,98

Sinal (+) = défi cit. Sinal (-) = superávit

26

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27

julho / setembro / 2010

Conclusões básicas:

a) As razões fundamentais do processo de

apreciação cambial persistente que vem desde o

início da década não estão, nem no diferencial de

juros, embora ele tenha certa infl uência, nem na po-

lítica monetária americana (guerra cambial); mas

esta última, em relação à qual a infl uência brasileira

é praticamente nula, pode crescer de importância;

b) Até agora não são aparentes impactos ma-

croeconômicos negativos relevantes do processo de

valorização cambial; os efeitos positivos da aprecia-

ção podem estar compensando os malefícios; isto,

entretanto, não quer dizer que daqui para frente, se

persistir a valorização, as coisas continuem assim;

c) E a valorização pode persistir principal-

mente em função da guerra fi scal e das oportunida-

des de retornos atraentes no Brasil, seja diretamen-

te em empreendimentos comerciais e industriais,

seja por intermédio de investimentos em ações;

d) Se for assim, a recomendação, no mo-

mento, seria persistir no uso de controles cambiais

combinados com alguma acumulação de reservas,

para dosar o grau de valorização; uma maior fl exi-

bilização de investimentos no exterior de institui-

ções fi nanceiras, fundos de investimento e fundos de

pensão deveria ser avaliada (já houve liberalização

nesse campo e valeria a pena investigar qual o es-

paço que ainda existiria para medidas adicionais);

e) O diferencial de juros, embora não apare-

ça como variável dominante deve ter um tratamento

prioritário por intermédio de programa fi scal de médio

prazo (não confundir com ajustes fi scais cavalares su-

geridos por economistas de viés marcadamente con-

servador; não há necessidade disso, nem a sociedade

espera ou deseja algo assim no momento). Tal progra-

ma é fundamental não apenas por causa da proble-

mática cambial, mas em benefício do próprio desen-

volvimento econômico brasileiro com inclusão social;

f ) Entendemos desaconselhável o estabeleci-

mento de metas cambiais quantitativas. A conduta

que parece mais sensata seria o monitoramento dos

efeitos econômicos da volatilidade cambial, tratando

os sintomas, porque as causas fundamentais residem

não em aspectos negativos da economia brasileira,

mas em seus aspectos positivos. Quanto mais as políti-

cas econômicas fortalecerem esses aspectos positivos,

tanto do ponto de vista microeconômico como sob o

ângulo do equilíbrio macroeconômico, o câmbio pode

até se valorizar um pouco mais. Não necessariamente a

taxa de câmbio era “correta” em 2000, ou 2004, e agora

estaria “errada”. A hipótese fundamental do artigo é de

que aquela taxa estava correta para o Brasil do fi nal do

século XX, e a de agora, também está correta, só que para

o Brasil que se projeta na segunda década do século XXI.

Carlos Eduardo de [email protected]

Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

(1966) com mestrado em Economia pela EPGE/FGV (1970). Foi

Diretor do Banco Central (Área Externa - 1985 a 1988 / Área de

Liquidações e Desestatização - 1999 a 2003) e

Secretário de Política Econômica (1993).

Conselheiro do Corecon-DF

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Rev

ista

de C

onju

ntur

aR

evist

a de

Coonn

junt

urraa

Propostas apresentadas pelo CORECON/DF no SINCE1 Utilização obrigatória de 20% do orçamento (abatidos os 20% do COFECON) e do COFECON p/ subsidiar a formação / atualização dos economistas e divulgar a profi ssão junto aos possíveis tomadores de serviços da cate-goria. (CORECONs DF e SP)

2) Conceder o registro profi ssional de ECONOMISTA aos portadores de Diploma de Mestrado ou de Doutorado Acadêmico em Economia, do Brasil ou do exterior devidamente reconhecido nos foros competentes (MEC, CAPES).

3) Conceder o registro de Especialista em Campo de Saber aos portadores de Diploma de Mestrado Profi ssional no campo profi ssional do economista devidamente reconhecido nos foros competentes (MEC, CAPES)

4) Conceder o registro de Especialista em Campo de Saber aos portadores de Certifi cados de conclusão de Cursos de Pós-Graduação lato sensu vinculados ao campo profi ssional do Economista, com mínimo de 360 horas/aula, obedecidas as mesmas condições de registro dos egressos de cursos seqüenciais ou superiores de tecnólogos, tais como credenciamento do respectivo Curso junto ao COFECON, aprovação de grade curricular, emissão do Certifi cado por instituição de ensino credenciada junto ao MEC, e todas as demais normas, acrescentando-se a exigência de diploma de graduação em Curso de Bacharelado ofi cialmente reconhecido, em área afi m, emitido por instituição de ensino credenciada junto ao MEC.Referências: Capítulo VI, Seções 6.1.1.2 e 6.1.1.4 da Consolidação da Legislação da Profi ssão de Economista que tratam, respectivamente, do registro de egressos dos cursos seqüenciais e de cursos superiores de tecnólogos.

5) Conceder o registro de Especialista em Valores Mobiliários aos portadores de certifi cação de Analista de Valores Mobiliários, com o devido credenciamento junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O Diploma de curso superior já é uma exigência desta certifi cação. Verifi car-se-ia, por conseguinte, se o curso apresentado ostenta o devido reconhecimento ofi cial (MEC) e se a instituição de ensino estava ofi cialmente credenciada.

6) Conceder o registro de Analista Financeiro aos portadores de certifi cação CFA (Chartered Financial Analyst) Level I, II ou III (?), concedida pelo CFA Institute. Adicionar-se-ia a exigência de Diploma de Bacharelado em curso ofi cialmente reconhecido em área afi m, emitido por instituição de ensino credenciada junto ao MEC, admitindo-se o reconhecimento de cursos no exterior, na forma da legislação.

7) Conceder o registro de Especialista em Gestão de Ativos aos portadores do CGA � Certifi cação de Gestores ANBIMA. A CGA se destina a certifi car o profi ssional que desempenha atividade de gestão remunerada de recur-sos de terceiros, possuindo poderes para tomar decisões de investimento.O Diploma de curso superior já é uma exigência desta certifi cação. Verifi car-se-ia, por conseguinte, se o curso apresentado é contemplado com o devido reconhecimento ofi cial (MEC) e se a instituição de ensino estava ofi -cialmente credenciada, admitindo-se o reconhecimento de cursos no exterior, na forma da legislação.

8) Permitir que o TECNÓLOGO, o ANALISTA, ou o ESPECIALISTA avançasse para o título de Economista registrado nos CORECONs, independentemente de graduar-se num Curso Superior de Economia, ou da conclusão de um Mestrado ou Doutorado em Economia, mediante um Exame supervisionado pelo COFECON e aplicado pelos CORECONs.

9) Abrir uma janela de um ano de duração para registro profi ssional de ECONOMISTA:a) Para portadores de Diploma de Mestrado ou Doutorado no exterior, mediante apresentação direta dos referi-dos documentos ao COFECON; e, b) Para Economistas de notório saber no campo profi ssional mediante rito a ser estabelecido pelo COFECON.

untu

raa

formação / atualalalalalizizizizizizaçaçaçãoãoão d d d d dos economistas e divulgar a profi ssão junto aos possíveis tomadores de serviços goria.a.a.a.a. ( ( (CORECOCOCOCOCOCONsNsNsNsNs D D D DF F e e e e SPSPSPSPSPSPSPSP))))

2)2)2)2)2)2) C C Conononcececededededer r o registro profi fi fi ssssioioioionananal l dededede E E E E E E ECOCOCOCONOMISTA aos portadores de Diploma de Mestrado ou de DoAcAcAcAcAcAcAcAcAcAcAcadadadadadadadadadadadêmico emem Economia, do BrBrBrBrBrasasasasasasasasasasililililililililil o ou u dodododododododo exterior devidamemememememememememente reconhecido nos foros competentes (MEC

3)3)3)3)3)3)3)3)3)3)3) C C C C C C C C C C C C Cononononononononcecececececececededededededededededer r r r r r r o o o rereregigigigigigigigigigistststrororororororororororororororororo d d d d d d d d d d d d d d d d d d d de e e e e e e EsEsEsEsEsEsEsEsEspepepepecicialalalalalistata e e e em m m m m m Campmpmpmpmpmpmpmpmpo o o o o o o o o dedededede S S S S S S Sababababababererererer a a a a a aos portadores de Diploma de Mestrado Prononononono c c c c c c c c c c c c c camamamamamampopopopopopopopopopopopopopopopopopo p p p p p p p p p p p p p p prorororofi fi fi ssssssssssssssssssssioioioioioioioioioioionananananananananananal dodododo e e e ecocococononononononononononononononomimimimimimimimimimimimimimimista dedededevivivivivivivividadadadadadadadadadadadamemememememememente reconhecececececececececececidididididido nos foros competentes (MEC, CAPES)

4)4) C C C C C C C C C C C C C C C C C C C Conononononononononononononononononcecececececedededer r r r r r r o o o o o o o o o o o o o o o rerererererererereregigigigigigigiststststroro d d d d de e Especicicicialalalalalalalalisisisisisisisisisistatatatatatatatata em CaCaCaCampmpmpmpo o o o dededededede Saberererererererer a a a a a a a a a aosososososososos p p p p p p p p porororororortatatatatatadores de Certifi cados de conclusão ddedededededededede P P P P Pósósósósósósósósósósósósósós-G-G-G-G-G-Grararadudududududududududududuaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçaçãoãoãoão l l l l latatatatato o o o sesesensnsnsnsu u u u vivivivivivivivivivivincncncnculululululadadadadadadadadados ao o campmpmpmpmpmpmpmpmpmpmpo prprprprprprprprprofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofi s s s s s s s s s s s ssisisisisisisisisisisisiononononononononononononalalalalalalalalalalal d d d d d d d d d do o o o o o o o Econononononononomomomomomomomomista, com mínimo de 360 hoobobobobobobobobedededecececececececidididididididididasasasasasasasasasasas a as s memememesmasas c condididiçõçõçõçõçõçõçõçõçõçõçõçõçõeseses d de e e e e e registrorororororororo d d d dosososososososos e e e e e e e e e e egrgresessos s s dededededededededededededede c c c c c c cursos seqüqüenenenenenenenenenciais ou superiores de tectatatatatataisisisisis c c comomomomomomomomomomomomomomomomomomomomomo o crededededenenenenciciciamentototo d d d d d d d d do o o o o o o o o o o o o o o o o o o rererererererererererererererererespspspspspspspspecececececectitititititivo Curururururursosososososososososososo j junto ao COFECOCOCOCOCOCOCOCOCOCON,N,N,N,N,N,N,N,N, aprovaçaçaçaçaçaçaçaçãoãoão de grgradadadadadade e cucucucucucucucurricular, emCeCeCeCertrtrtrtifiifiifiifiifi c c c c c c c c c c c c c c cadadadadadadadado o o o o popopopor ininststititituição o o o dededededededededede e ensnsnsininininininininininininino o o crcrcrcrcrcrcredenciciciciciciciciciciadadadadadadada a a jujujujujujujuntntntntntntntntnto o o o o o o o o o o aoaoaoaoaoao M M M M M M M M M M MECECECECECECEC, , , , , e e totodadadadadadadadadas s s s s s s s s as demais normas, acacacacacacrererererererescentaexexexexexexexexexigigigigigênênênênênênênênênênênênênênêncicicia a a a dededede d d d diplomamamama d d d d d d de e e e e e e grgradaduaçãçãçãçãçãçãção o o o o emememememememem Cururursososo d d d d d de e e e e e e e BaBaBaBaBacharelado ofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofi c c c c c c c c c c c ciaiaiaiaiaiaiaialmlmlmlmentetetetetete r r r r r r r r rececececonhecido, em área afiafiafiafiafiafiafiafiafi m m m m m m m mpopopopopopopopopopopor r ininininststststitititituiçãçãçãção o o dedededede e e e e e e e e e e e e ensnsnsnsnsnsnsnsnsnsininininino o o o o o o o o crcrcrcredededededededenenenciciadadadadadadadadadadadadadadadadadadada a a a jujunto o o aoaoao M M M M M M M M M MECEC.ReReReReReReRefefefefefefefefefefefefefefefeferêrêrêrêrêrêrêrêrêncncncncncncncncncncncncncnciaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaias:s:s:s:s: C C C C C C C C C C Capapapítítítululululo o o VIVIVIVIVIVI, , , , SeSeSeSeSeSeçõçõeseseseseseses 6 6.1.1.1.1.1.1.1.1.1.2.2 e e 6 6 6 6 6 6.1.1.1.1.1.1.1.1.1.1.4.4.4.4.4.4.4.4.4.4.4 d d d d d d d d d d da Consolidação da Legigigigigigigigigigigigigigislslslslslslslaçação da PrPrPrPrPrPrPrPrProfiofiofiofiofiofiofiofiofiofi s s s s s s ssão de Econonomimimimitrtratatamamamamamamam, , , , , rerererererespspspspspspspspspspspspspspspspecectititivavamemementnte,e,e,e,e,e, do regigigigiststststststststststststrororororororo de e egegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegegrererererererererererererererererererereressssssssssssssssssssssssssssssssssososososososososososososos d d d d d d d d d d d d d dosososososososososososososos c c c c c c c c c c c cururururururururursososososososososososososososososososos s s s s s s s s s s s s seseseseseseseseseseseseseseseqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüqüenenenenenenenenenenenenenenenenciciciciciciciciciciciciciciciciais e e e e e e e dededededededededede cursos superiririririririririororororororororororororeseses de tecncncncncncncncncncnólólól

5)5)5)5)5)5)5)5) C Concededededededer r r r r r o o o o o o o o rerererererererererererererererereregigigigigigigigiststststro d d d de e e e e e e e Espepepepecialisisisisisisista e e e em m m m m m m m m m m m m m m m m m m VaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaVaValololololololololololololololololololorererererererereres s s s MoMoMoMoMoMoMoMobibibibibibilililililililililiárárárárárárárárárárioioioioioioioioioioioioioioioios s s s s s s s s s s s s aoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaoaos s s s s s s s s s s s s s s s popopopopopopopopopopopopopopopopopopopopoportrtrtrtrtrtrtrtrtadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadadorororororororororororororororororororororeseseseseseseseseseseseseseseseseseseses d d de certifi cação de AnAnAnAnAnAnAnAnAnAnalalalalalalalalalalalalalisisisisisisisisisisistatatatatatatatatatatata dMoMoMoMobibibililiárários, c comom o d devevevevevevevevididididididididido o o o o o o o o o o o o o o o crcredenciciciciciciciciciamamamamenenenenenenenenenenenenenentotototototototototo j j j j j j j j j j j jununto à Comissão de V V V V Valalalalalalalalalalalalalorororororororeseseseseseseseseseseseseseseseseseses M M M M M M M M M M M M M M M M M M M M Mobobobobobobobobobobobobobobobobobiliários (CVM). O O O O O DiDiDiDiplplplplplplplplomomomomomoma a a a a a a a a dededededededede c c curso supupupupuperererererererererererioioioioior r já é u u u u u u u u umamamamamamamamamama e e e e e e e e e e e e e exixigência d d d d d d d d d d d desesesesesestatatatatatata c c c c c c c c c c c c cerererererererererererertitifi cação.o. V V V V V V V V V V V Verererererererererererererifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifiifi c c c c c c car-se-ia, por coconsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsegegegegegegegegegegegegegegegegeguinte, se apresentado ososososostentnta o o o o o o o dededededededevivivividodo r receconononhehehecicicicicicicicicimememememememememementntntntntntntntntntntntntntntnto o o o o o o o o o ofi ciaial l l l l l l l (M(M(M(M(M(M(M(M(M(M(M(M(M(M(MECEC) e e sesesesesesesesesesesesese a a a a a a a a a a i i i i i i i i insnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnstititititituição de enenenenenenenenenensisisisisisisisisisinononononononononononono estava ofi ccredenciada.

6) Conceder o registro de Analistatatata F F F F F F F F F F F Fininininininanananananceiro aoaoaoaoaos s s s s s s s s s popopopopopopopopopopopoportrtrtrtrtrtrtadadadororororororeseseseseseseseseses d d d d d d d d d d d d d d de e e e e e e e cececertifi caçaçaçaçaçaçãoãoãoãoãoãoãoão C C C C C C C CFA (Chartetetetetetetered Financial Level I, II ou III (?), concedida pelo CFA Insnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnsnstititititititititititititititititututute. Adicionar-se-ia a exigênênênênênêncicicicicicicicicicia a a a de Diploma d de e e e e e e e e e Bacharelado emofi cialmente reconhecido em área afi m, e e e e e e emimimimimimimitititititititititidodododododododododo p por instituição de e e e enenenenenenenenenensisisino credenciada j j jununununununununununto ao MEC, admse o reconhecimento de cursos no exterioioioioioioior, na foformrmrmrmrmrmrmrmrmrma a a a a a a a dada legislalalalalalalaçãçãçãçãçãçãçãçãção.

7) Conceder o registro de Especialista em m m m m m m Gestão de AtAtAtAtAtAtAtAtAtAtivivivivivivivivivivos aos portadores do CGAGAGAGAGAGAGAGAGAGAGAGAGAGAGA � Certifi cação de GANBIMA. A CGA se destina a certifi car o prprprprprprprprofiofiofiofiofiofiofiofiofiofiofi s s s s s s s s ssisisisisisisional que desempenha atividade dededede g g g g g g g g g g gestão remunerada dsos de terceiros, possuindo poderes para tomarararararararar d d d d d dececisões de investimento.o.o.o.o.o.O Diploma de curso superior já é uma exigência d d d d d desta certifi caçãçãçãçãçãçãção.o.o.o.o.o.o.o.o.o.o.o.o. V V V V V V V V V V V Verererifi car-se-ia, por conseguinte, se apresentado é contemplado com o devido reconononhehehehehehehehehecimento ofiofiofiofiofiofiofiofiofi c c c c c c c c c c c ciaiaiaiaiaiaiaiaiaial (MEC) e se a instituição de ensino ecialmente credenciada, admitindo-se o reconhecimimimenenenenenenenenento de cursrsrsrsrsrsrsrsrsos no exterior, na forma da legislação.

8) Permitir que o TECNÓLOGO, o ANALISTA, ou o o o o o o ESESESPECIALISTATATATATATATATA a a a a a a a a avançasse para o título de Economista regnos CORECONs, independentemente de grarararararararadudududududududuar-se num CuCuCuCuCuCuCuCuCuCuCuCuCuCursrsrsrsrsrso Superior de Economia, ou da conclusãMestrado ou Doutorado em Economia, medededededededediaiaiaiaiaiaiaiaiantntntntntntntntnte um E E E E E E E E E Exaxaxaxaxaxaxame supervisionado pelo COFECON e aplicadCORECONs.

9) Abrir uma janela de um ano de duração para registststststststststrorororororororo profi ssional de ECONOMISTA:

Propostas do CORECON/DF apresentadas no

XXII SINCE

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Propostas do CORECON/DF apresentadas no

XXII SINCEpor Camila Fiorese

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Realizado no início do mês de setembro, em

Brasília, o XXII Simpósio dos Conselhos de Economia,

que teve como tema “Desenvolvimento Econômico

com Justiça Social”, foi a oportunidade dos CORECONs

debaterem diversas questões relevantes à formação

profi ssional dos economistas, mercado de trabalho,

aperfeiçoamento do Sistema COFECON/CORECONs e a

Estrutura e Conjuntura Econômica, Política e Social do

Brasil.

O Conselho Regional de Economia do Distrito

Federal (CORECON/DF) levou para o Grupo de Trabalho

que discutiu o a Formação Profi ssional e Mercado de

Trabalho do Economista, três propostas (a terceira era

desdobrada em 8 partes) sendo uma em conjunto com

o CORECON/SP. Uma foi aprovada e as outras rejeitadas

pelos delegados do GT.

Para o presidente do CORECON/DF, José Luiz

Pagnussat, a ideia das propostas foi a de ampliar a

atuação dos Conselhos e incorporar na fi scalização

todos os profi ssionais que tenham na sua formação um

perfi l próximo ao do economista ou que desenvolvam

atividades correlatas. “Já fi zemos isso nas relações

internacionais, pois os profi ssionais são registrados e

nos Corecons que fi scalizam o exercício profi ssional”

destacou.

José Luiz disse ainda aos economistas, em sua

apresentação no evento, que os Conselhos vivem no

momento uma encruzilhada. “Se não avançarmos, nos

ajustarmos às transformações do mercado de trabalho

e dar formação aos nossos profi ssionais, nós vamos

continuar minguando” disse.

A elaboração das propostas do CORECON/DF foi

coordenada pelo conselheiro Carlos Eduardo de Frei-

tas, além dele outros economistas que contribuíram

para a elaboração pensam que as situações existem

e estão em pleno crescimento. Para o vice-presidente

do CORECON/DF, Jusçanio de Souza, não reconhecer

as situações, é fechar os olhos para a realidade e dei-

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As matérias aprovadas na plenária fi nal do SINCE foram:

GT1: Formação,

aperfeiçoamento,

profi ssional, e

mercado de

trabalho do

economista:

1. Campanha Interna (para os economistas e professores de economia) e externa (para

tomadores de serviços dos economistas) quanto às qualifi cações e atribuições profi ssio-nais do economista.

2. Aproveitamento da marca “Economistas” em favor dos inscritos nos CORECONs e SINDECONs.

3. Instituição da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) para os economistas, a

exemplo do CREA, CRC e outros Conselhos Regionais Profi ssionais.

4. Campanha Institucional dos Corecons, Cofecon, procurando parcerias com Sindecons

e Fenecon com o objetivo de garantir o mercado de trabalho do economista:

a) na elaboração e análise de projetos de viabilidade econômico fi nanceira;

b) na atuação direta de elaboração de planejamento, orçamento e controle das fi nanças

públicas;

5. O COFECON deverá realizar pesquisa para conhecer a demanda por economistas, junto

aos principais demandantes e atualizar a pesquisa do perfi l dos economistas e conhecer

o perfi l dos bacharéis em economia.

6. Indução às faculdades de Economia para que incluam na grade curricular disciplinas

mais práticas e aplicadas, como Perícia, Auditoria, Finanças etc.

7. Parceria Ange/Anpec/Cofecon/Corecons, para atuação no sentido de fornecer apoio às

Instituições de Ensino, com o objetivo de elevar a qualidade da formação do Economista.

GT2:

Aperfeiçoamento

do Sistema

COFECON/

CORECONS

1. Estrutura mínima para CORECON’s e Delegacias como forma de atuar adequadamente,

tendo como foco principal a fi scalização e a recuperação do crédito.

2. Atualização e encaminhamento do Projeto de Lei (PL); com a seguinte estratégia: -

Procurar o parlamentar que apadrinhou o PL para que retire-o de pauta; - A Comissão

elabora a proposta de PL no COFECON. Desce para os Conselhos Regionais e outras enti-

dades, como Sindicatos, ANGE, etc., recolhe as contribuições, consolida-as e retorna as entidades para conhecimento e suporte ao processo de convencimento dos deputados de cada Estado, dando entrada no PL;

3. Premiação de boas práticas de gestão no Sistema COFECON/CORECON’s

mular a imigração de doutores estrangeiros para o Bra-

sil: o País precisa de mão-de-obra qualifi cada” ressalta.

O conselheiro Carlos Eduardo de Freitas destaca

que oito propostas representam desdobramentos e

subdivisões de uma única proposta fundamental bá-

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xar que ocorra uma invasão no campo de atuação

dos economistas sem que os conselhos possam, de

forma legal e fundamentada, exercer a devida fi sca-

lização do exercício profi ssional nessa área cinzenta.

Na visão do professor José Roberto Novaes a ten-

dência no mundo é o aumento de áreas interdisciplina-

res. Segundo ele, os Mestrados e Doutorados acadêmi-

cos brasileiros são duros e levam anos. “Não há dados

brasileiros, mas suspeito que o número de anos neces-

sário para se fazer um doutorado no Brasil, na área de

Ciências Humanas, deve ser próximo ao dos EUA, com

seis anos e meio na média. Há tempo nesse período

do profi ssional aprender a base da Economia, ou seja,

teoria macroeconômica e teoria microeconômica que

são ensinados na graduação. Devemos também esti-

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sica, que era a de alterar a Lei 1.411/51, e por via de

conseqüência, o Decreto 31.794, de 17/11/52 (Lei e

Decreto que regulamentaram a profi ssão de econo-

mista), ademais de ajustes em alguns regulamentos

do COFECON, de modo a adequar as idéias e conceitos

do que seriam as atribuições próprias dos economis-

tas agora no início da segunda década do século XXI.

Para ele, os quase 60 anos que se passaram, desde

a promulgação da Lei 1.411, assistiram a grandes trans-

formações econômicas no Brasil e no mundo em geral,

ademais de signifi cativo desenvolvimento nas técnicas

de análise econômica, inclusive com a utilização cada vez

mais intensa de modelos matemáticos e da econometria.

Carlos Eduardo lembra que a evolução da análise

econômica, enfatizando conhecimentos de matemática

e até de física, como embasamento para o estudo da eco-

nomia, terminou por privilegiar cursos de graduação em

engenharia, matemática etc., na marcha em direção aos

Mestrados e Doutorados em economia. Não de forma

excludente, mas de forma complementar e signifi cativa.

Com o objetivo de atualizar a visão do COFECON so-

bre o estado da profi ssão, o CORECON/DF apresentou

sua proposta de abertura da discussão sobre as forma-

ções acadêmicas compatíveis com o exercício das ativi-

dades profi ssionais do economista. De acordo com Car-

los Eduardo, o propósito do CORECON/DF não era de

colocar em prática imediatamente as propostas, mas

apenas e tão somente abrir uma discussão. “Os Conse-

lhos Regionais recusaram a idéia de discutir a profi ssão

60 anos depois da conceituação inicial, anos estes ca-

racterizados por grande ebulição intelectual e evolução

na estrutura metodológica da análise econômica, ade-

mais de expressiva sofi sticação no arcabouço institu-

cional da economia brasileira” lamenta Carlos Eduardo.

O que os CORECONs perdem

Diante da não aprovação das propostas, os

economistas destacam que os CORECONs per-

manecem ignorando a realidade profi ssio-

nal e com isso perdem prestígio, pois se isolam

no não reconhecimento desses profi ssionais.

Muitos nomes reconhecidos pela sociedade brasi-

leira como grandes economistas não tem a graduação

em economia, mas sim mestrado ou doutorado. Esse é o

caso, por exemplo, de Cristovão Buarque, Pedro Malan,

Bresser Pereira, José Serra e muitos outros professores

consagrados de economia. José Luiz Pagnussat desta-

ca que ignorar a realidade existente é excluir mestres e

doutores em economia do registro nos Corecons além

de contrariar a função básica dos conselhos que é a fi s-

calização do exercício profi ssional para a defesa da so-

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)ciedade contra maus profi ssionais que atuam na área

e, portanto, impede o cumprimento efetivo de sua mis-

são comprometendo fortemente a credibilidade dos

conselhos e fortalece a tese da desregulamentação do

exercício profi ssional e a extinção dos conselhos” diz.

Jusçanio de Souza, alerta ainda “o fato é que temos

pessoas ilustres e de notório saber e respeito profi ssio-

nal em economia, não registrados no CORECON, situa-

ção em que o não reconhecimento por parte dos con-

selhos profi ssionais só traz perdas aos conselhos” disse.

Para Carlos Eduardo o perigo está nos Conselhos

irem se tornando irrelevante do ponto de vista da pro-

fi ssão. “Continuamos convencidos que é fundamental

abrir-se a discussão do estado da profi ssão. Ainda que

a conclusão viesse a ser de que ainda não estivéssemos

maduros para mudanças. Veja-se o que ocorreu com os

jornalistas. A obrigatoriedade de formação acadêmica

específi ca de graduação em jornalismo para o registro

profi ssional acabou derrubada no Supremo” completa.

Jusçanio de Souza considerou ainda que o tempo

foi limitado para defesa das propostas e impossibilitou

melhor entendimento da situação contemporânea.

“Mas a decisão do SINCE é soberana e devemos res-

peitar. No entanto, acredito que esse assunto deverá

voltar a entrar na pauta do próximo SINCE, uma vez

que não foi apresentada alternativa para superar essa

situação de fato que vem ganhando proporções” disse.

Na opinião do professor José Roberto Novaes os

Conselhos perdem por não trazer gente muito compe-

tente, que são os expoentes da profi ssão. “Esses douto-

res muito trariam para oxigenar os conselhos” destaca.

Continuar com luta

Jusçanio ainda alerta que se for manti-

da o posicionamento do não reconhecimen-

to, que se venha então ampliar as discussões

visando encontrar alternativas satisfatórias.

Para José Roberto o CORECON/DF precisa continu-

ar tentando. “Nós economistas somos ideologicamente

e cientifi camente favoráveis à mobilidade de mão-de-

obra como forma de aumentar a produtividade. Só admi-

timos restrições em casos extremos, de natureza médi-

ca, por exemplo, onde o charlatanismo e a incompetên-

cia têm resultado imediato na morte dos pacientes” diz.

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Carta de Brasília

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO COM JUSTIÇA

SOCIAL

A divulgação da taxa de crescimento do PIB do se-

gundo trimestre de 2010 hoje pelo IBGE, reforça a per-

cepção geral de que o Brasil alcançará neste ano uma

expansão da ordem de 7% em seu produto interno

bruto, fortemente ancorado na expansão do mercado

interno, não obstante a crise econômica internacional.

Dessa forma, não há razão teórica ou política que

justifi que limitar o crescimento brasileiro a patamares

de no máximo 5% a.a., como querem alguns setores

desligados dos interesses maiores da sociedade, como

o mercado fi nanceiro. A infl ação não pode funcionar

como pretexto para a limitação da expansão do país,

seu controle é necessário, mas deve estar condiciona-

do a metas de crescimento econômico que pode per-

feitamente ser, e até ultrapassar, 7% a.a. e essa deve

ser a meta que condiciona todos os demais objetivos.

Importantes mudanças tem se processado na socie-

dade brasileira com progressos institucionais e econô-

micos de grande infl uência no seu horizonte de bem

estar: a estabilização dos preços e controle da infl ação; a

recuperação da confi ança externa na economia brasilei-

ra e um novo paradigma da política econômica com re-

gime de metas de infl ação, taxa de câmbio fl exível e con-

trole da dívida pública por meio de superávit primário.

Mas de todos os avanços, um dos mais importante

foi sem dúvida a adoção de mecanismos que visam a

redução da pobreza e da desigualdade: a instituição do

Bolsa Família; a forte geração de empregos formais; a

universalização da aposentadoria rural e os aumentos

reais do salário mínimo – que evoluiu do equivalente

a 70 dólares para algo em torno de US$ 300 – e que

têm sido fundamentais para a modernização do país.

Outros mecanismos, além da simples transferência de

renda, devem ser adotados, a exemplo da oferta de bens

públicos e semi-públicos à população, com efi ciência ca-

paz de concorrer com a oferta privada, em saúde, educa-

ção, por exemplo, dando oportunidade iguais para todos.

Deve ser ressaltado que, embora os gastos sociais,

como o Bolsa Família, devam ser mantidos nos primei-

ros anos do processo de desenvolvimento econômico e

social, em função de seu baixo custo comparativamente

ao bem que proporcionam, é por meio do emprego e

da justa remuneração que as pessoas serão plenamen-

te acolhidas no meio social. Em síntese, a avaliação do

sucesso das políticas sociais deve ser feita pela redução

do número de benefi ciários do Bolsa Família, na medi-

da em que sejam criados para eles postos de trabalho.

Daí ser prioridade máxima o crescimento econômico

A sociedade brasileira alcançou um pata-

mar de criticidade tal que não aceitará adiar a su-

peração do subdesenvolvimento. Por tal razão

acreditamos que o foco da política econômica

deve ser o desenvolvimento econômico e social.

Dessa forma, as “metas de superávit primário” não

podem travar as necessidades de ampliação dos inves-

timentos públicos, até mesmo porque as políticas de re-

distribuição de renda ocorrida no país ainda são insufi -

cientes e ainda foi pequena a redução da desigualdade.

Torna-se igualmente necessário a queda da taxa

de juros, vital para reduzir o elevado custo do capital,

o que concorre para o aumento da taxa de investimen-

to e para a redução dos gastos governamentais com

pagamento de juros da dívida pública, liberando re-

cursos para a ampliação dos gastos sociais e a expan-

são e melhoria da infra-estrutura econômica do país.

Essencial é que todo o processo de desenvolvi-

mento econômico se dè de forma sustentável, com

irrestrita obediência ao uso racional dos recursos na-

turais e à conservação e preservação ambiental. Do

mesmo modo, o país só estará rumando para o ple-

no desenvolvimento se reduzir de forma substan-

tiva as enormes desigualdades entre suas regiões.

Necessária também é a melhoria da qualidade dos

serviços de utilidade pública, que passa pelo fortaleci-

mento das agências reguladoras e de uma total trans-

parência nas suas atividades, assim como tornou-se

inadiável a aplicação pelas instituições fi nanceiras

de mecanismos de controle da concessão de crédito.

Por fi m, devemos também alertar para a ameaça

de retorno da vulnerabilidade em nossas contas ex-

ternas, decorrente da apreciação do real em relação às

demais moedas, o que, de um lado, restringe nossas

exportações e provoca a reprimarização da pauta, e,

de outro, geram elevados défi cits em conta corrente.

Essas são as contribuições dos economistas brasilei-

ros, que oferecem a força de sua ciência, não apenas para

a geração dos lucros das empresas, mas também, funda-

mentalmente, para os ganhos sociais, como agentes que

são do desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Brasília, 03 de setembro de 2010

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“GUERRA CAMBIAL”: CAUSAS E

CONSEQUÊNCIAS

1.Introdução

Entre 1970 e 2007, o mundo sofreu 127 crises

bancárias sistêmicas; 208 crises cambiais e 63

episódios de não pagamento de dívida soberana.

Esses indicadores representam três crises bancárias,

cinco crises cambiais e aproximadamente dois eventos

de não pagamento de dívida soberana por ano.

Vivemos a era das bolhas, o mais novo veneno

produzido pela fi nanceirização da economia. As bolhas

da chamada “nova economia” ou “ponto com”, nos anos

90, e a mais recente, a “bolha imobiliária”, nos Estados

Unidos, em 2008, levaram à ruína economias de

importantes nações em todo o mundo, com repercussão

avassaladora sobre países periféricos, dependentes de

fi nanciamento externo e do comércio internacional.

Vimos desmoronar nesta crise

sólidas instituições fi nanceiras e grandes

empresas industriais nos Estados Unidos.

Vimos o governo daquele país injetar na economia

trilhões de dólares dos cidadãos contribuintes

norte-americanos, na tentativa de salvá-las.

Praticamente todas as grandes empresas e grandes

bancos estão salvos, mas o problema não foi resolvido.

Os bancos anunciaram altos lucros, bônus foram

pagos e fraudes fi caram sem investigação. O Federal

Reserve injetou US$ 2,3 trilhões em ativos, em 2007,

e a economia ainda não reagiu convincentemente.

Recentemente injetou mais US$ 600 bilhões

na compra mensal de títulos públicos. Deixou

o mundo mais inseguro e apreensivo quanto

Newton Marques

ao impacto dessa medida na economia interna

dos Estados Unidos e no comércio internacional.

As empresas americanas estão com caixa de sobra,

da ordem de US$ 3 trilhões, e os bancos também estão

com reservas em níveis recordes, superiores a US$ 1

trilhão. Mas os bancos não estão emprestando dinheiro.

O problema do setor imobiliário nos Estados

Unidos, que levou as famílias a endividamento

estratosférico, com a especulação, não foi equacionado.

Persiste, os preços das casas voltaram a

subir, mas o problema não será resolvido tão

cedo. As famílias estão impedidas de consumir

devido ao alto nível de endividamento.

O Fed procura comprar os títulos da dívida do

setor imobiliário, e reestruturá-la, para evitar um

rombo maior no sistema fi nanceiro internacional.

O fato é que a crise leva de roldão países da União

Européia. Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, (agora

Itália e no futuro a Espanha), hoje submetidos a

drásticos regimes fi scais e a cortes de investimentos,

estão sem perspectiva de retomada do crescimento,

porque dependem da melhoria da economia

norte-americana e do apoio da Alemanha e França.

A dívida pública dos países ricos ainda está

em nível sustentável, mas o endividamento

aponta para um longo período de estagnação.

Nos anos 80 vivemos a crise da dívida dos países

periféricos, quando, sob o governo Reagan, as taxas

de juros nos Estados Unidos foram elevadas a níveis

inimagináveis, multiplicando as dívidas de todos eles.

34

Page 35: Revista de Conjuntura, n. 43

35

julho / setembro / 2010‘‘ ‘‘

Agora, diferentemente daquele período, a

crise fi nanceira se transformou em uma crise da

dívida dos países ricos. E não há defi nição como

será equacionado o crescente endividamento.

Governos e organismos internacionais pouco

avançaram na tomada de medidas capazes

de deter os danos que a crise cambial está

causando às economias em todo o mundo.

Não há convergência no debate. São fortes as

resistências, principalmente de organismos fi nanceiros

internacionais e governos de nações centrais, em adotar

medidas que benefi ciem o conjunto da economia global.

Preferem se autoproteger, para não contrariar os

princípios da globalização fi nanceira idealizada por

grandes grupos fi nanceiros internacionais. Sequer

avançaram no controle da volatilidade do capital.

Não obstante, a evolução da conjuntura

econômico-fi nanceira brasileira nos últimos dez anos,

alcançou fase madura na globalização comercial e

fi nanceira com a obtenção do “grau de investimento”

(investment grade), atribuído pelas Agências de Rating

de Risco de Crédito, auferindo vantagens na captação

de recursos do mercado fi nanceiro internacional.

Por um lado, reduz o custo do endividamento

externo dos empréstimos de dívida soberana, pois

não precisa pagar taxas de risco, conhecidas como

spreads, além das taxas de juros dos títulos do Tesouro

norte-americano, de dez anos. Por outro, atrai elevados

volumes de capitais estrangeiros, conhecidos como

Investimentos Diretos Estrangeiros-IDE, não só por

apresentar políticas consistentes de estabilidade

macroeconômica, como também os denominados

capitais especulativos, atraídos pela ainda elevada

taxa de juros das aplicações de renda fi xa, em relação

aos demais países, provocando apreciação da taxa de

câmbio, o que prejudica as exportações e estimula

as importações de bens e serviços, comprometendo

o resultado do balanço de pagamentos.

2. “GUERRA CAMBIAL” E REUNIÃO DOS PAÍSES DO

G-20

A “guerra cambial” é consequência de alguns

fatores, como o excesso de fl uxos de capitais externos

em dólares norte-americanos oriundos de superávits

da conta-corrente do balanço de pagamentos da

Alemanha, Japão e China; das operações de arbitragem

de capitais especulativos (operações denominadas de

“carry-trade”1), atraídos pelas elevadas taxas de juros

das aplicações de renda fi xa de países emergentes,

em relação aos demais países; e; pela própria

emissão desenfreada de dólares por parte dos EUA,

como estratégia de recuperação de sua combalida

economia, mesmo correndo o risco infl acionário.

Como resultado de tudo isso, provoca-

se desvalorização do dólar norte-americano e

apreciação da taxa de câmbio dos países emergentes,

prejudicando a competitividade das exportações

e estimulando as importações de bens e serviços,

comprometendo o resultado do balanço de

pagamentos. Como, também, desestabilizam-se

as políticas macroeconômicas de diversos países.

Alguns analistas também, consideram que é

consequência das políticas cambial e externa da

China, cujo câmbio fi xo (yuan/US$) está atrelado

à direção tomada pelo dólar norte-americano,

* 1 Caracterizam-se por operações por meio de empréstimos em países com baixas taxas de juros que são aplicadas em mercados de alta liqui-

dez onde existam elevadas taxas de juros, desde que se consiga especular quando a taxa de câmbio futura é menor do que a taxa de câmbio

presente.

A dívida pública dos

países ricos ainda está

em nível sustentável, mas

o endividamento aponta

para um longo período

de estagnação.

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a

resultando em elevados superávits comerciais

externos com aumento da competitividade,

sem contarmos as suas práticas de “dumping” 2.

Depois da negação do Estado nacional,

especialmente nos anos de 1980 e 1990, quando

ganharam força as idéias neoliberais, vimos em 2008,

no pico da crise, desmoronar sólidas instituições

fi nanceiras e grandes empresas industriais nos

Estados Unidos. E, no desespero, o Estado norte-

americano procurar salvá-las com trilhões de

dólares dos cidadãos contribuintes. Na mesma

linha, nações européias praticamente estatizaram

direta e indiretamente seus sistemas fi nanceiros.

Hoje, nos fóruns internacionais, são discutidas

medidas de controle da volatilidade do capital,

mas pouco se avançou. São fortes as resistências

às mudanças principalmente nas nações centrais,

por serem regras que contrariam os princípios

da globalização fi nanceira idealizada pelos

grandes grupos fi nanceiros internacionais.

Porém, cresce, entre lideranças das nações

em desenvolvimento, a convicção de que é

necessária a retomada da regulação. Ficou claro

nesta crise, para autoridades políticas e para

agentes econômicos, em sua maioria, que, se não

tomarmos providências estabelecendo medidas

perenes de proteção das economias, teremos outras

crises, certamente de maiores proporções com

consequências ainda mais danosas para todo o mundo.

O mundo quer estabilidade, segurança para os

investimentos e produção, bem como garantias

para o desenvolvimento econômico sustentável.

Mas, neste ano, foi atropelado pelo surgimento

desse fenômeno mundial conhecido como “guerra

cambial”, derivado do processo de desequilíbrio das

contas-correntes dos balanços de pagamento dos

países do G-20 e das políticas de ajuste das economias

americanas e européias. Enquanto uns apuravam

elevados superávits (Alemanha, Japão e China); outros,

imensos défi cits (EUA, países da Europa e emergentes).

Assim, a “guerra cambial” fi cou conhecida

como resultado do forte ingresso de dólares

norte-americanos nas economias emergentes

(notadamente os BRICS, exceto China), provocando a

valorização cambial de suas moedas, com repercussão

negativa nas exportações desses países, dado

que a desvalorização do dólar provoca perda de

competitividade dessas mercadorias exportadas.

Por outro lado, é consequência das políticas

cambial e externa da China, cujo câmbio fi xo (yuan/

US$) está atrelado à direção tomada pelo dólar

norte-americano, resultando em elevados superávits

comerciais externos com aumento da competitividade,

sem contarmos as suas práticas de “dumping” .

Como consequência dessa “guerra cambial”

existem estudos no Brasil que admitem que

está acontecendo a desindustrialização no país.

Argumenta-se ser evidente a “reprimarização”

da pauta de exportações (predomínio de bens

primários, como minério de ferro, soja e grãos).

A desindustrialização não se caracteriza pela queda

na produção física da indústria, que pode até aumentar,

mas sim pela perda relativa de dinamismo da indústria

na geração de renda e emprego na economia.

* 2 É entendida quando um bem ou mercadoria é vendido no exterior a preço inferior àquele praticado no mercado doméstico do país exporta-dor. Tanto serve para o “dumping” comercial (preço abaixo do praticado nos seus mercados); “dumping” cambial (taxa de câmbio excessivamen-te desvalorizada); como também para o “dumping” social (mão-de-obra semi-escravagista).* 3 Argentina, Australia, Brasil, Canada, China, França, Alemanha, India, Indonesia, Italia, Japão, Mexico, Coréia, Federação Russa, Arabia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido, EUA, e União Européia.

‘‘ ‘‘

O mundo quer

estabilidade, segurança

para os investimentos

e produção, bem

como garantias para

o desenvolvimento

econômico sustentável.

36

Page 37: Revista de Conjuntura, n. 43

37

julho / setembro / 2010

A “reprimarização” ameaça o país desde 2007. Isso

fi cou evidente no primeiro semestre de 2010, quando a

participação dos produtos manufaturados (máquinas,

veículos, eletrodomésticos) no total das exportações

foi de 40,5%, abaixo dos 43,4% da participação de

produtos básicos, retrocedendo ao patamar de 2008.

A questão cambial provocou, recentemente, reunião

dos líderes do G-203, em Seul, Coréia do Sul. Esses

países levaram suas propostas para serem discutidas

saídas para minimizar suas graves repercussões sobre o

comércio mundial. Entretanto, o resultado dessa reunião

por meio do comunicado THE G20 SEOUL SUMMIT

LEADERS’ DECLARA TION, NOVEMBER 11 – 12, 2010,

não surtiu efeitos desejados para resolver essa questão.

Ficou decidido que cada país tomaria internamente

as devidas providências para impedir a valorização

cambial, desde que evitassem a desvalorização

competitiva de moedas para aumentar as exportações

e fosse fortalecida a cooperação multilateral. O que

desagradou inúmeros países, principalmente o

Brasil que tinha sido um dos que exigiam rápida e

pronta decisão dos líderes do G-20 com medidas que

fossem adotadas para minimizar essa “guerra cambial”.

3. MEDIDAS DE POLÍTICA CAMBIAL TOMADAS PELO

GOVERNO E DESAFIOS PARA O FUTURO CAMBIAL

DO BRASIL

Segundo documento da Conferência das Nações

Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD),

Policy Briefs nº 17, nov/10, a correta abordagem para

os problemas gêmeos: desequilíbrios do comércio

global e fl uxos de capital desestabilizadores de

curto prazo, é adaptar o ajustamento das taxas de

câmbio nominal em linha com as regras de taxa de

câmbio real 4 . Essa regra seria adequada, por um

lado, para o acordo multilateral sobre o padrão das

taxas de câmbio ótimas ou razoáveis. Por outro, a

ação concertada dos bancos centrais manteria esse

padrão auxiliando a remover o incentivo para a

especulação de moedas estrangeiras no curto prazo.

O Brasil propôs na Reunião do G-20 que o

dólar deixasse de ser a moeda de referência dos

mercados, e que uma cesta de moedas ocupasse esse

lugar no comércio internacional. Com isso, evitar-

se-ia que os EUA, com a emissão descontrolada

de dólares, repassassem os custos dos seus

ajustes internos e externos aos demais países.

Recentemente, Taiwan impôs limites para a

aplicação de estrangeiros em títulos de dívida.

Em outubro, o Brasil e a Tailândia aumentaram

o imposto para investimentos estrangeiros em

títulos locais. Em junho, a Coréia do Sul restringiu as

operações com derivativos, enquanto a Indonésia

limitou que investidores vendessem alguns títulos

de curto prazo. Enquanto isso, os bancos centrais

de Israel e da África do Sul estão comprando

dólares para coibir a valorização de suas moedas.

As medidas sob análise nos países emergentes

que sofrem com a valorização cambial têm

sido conhecidas como controle de capitais

estrangeiros ou intervenção macroprudencial.

Não obstante todas essas medidas, existem

economistas que acreditam somente na combinação

* 4 Ver Trade and Development Report 2009 and UNCTAD Policy Brief 12, em w w w . u n c t a d . o r g.

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a

da diminuição dos gastos públicos e da carga

tributária, e até mesmo da reforma tributária, como

decisivo para permitir a baixa da taxa básica de

juros e aumentar a competitividade das exportações

brasileiras, evitando dessa forma o excesso

indesejável do forte ingresso de capitais estrangeiros.

Outros economistas sugerem que seja elevada a

alíquota do IOF de 6% para 8%; retornar a tributação

do imposto de renda sobre o lucros das operações do

capital estrangeiros em aplicações fi nanceiras; elevar

o IOF para os investimentos externos em ações, que

hoje está em 2%; restringir os limites de transações

com exposição a variação cambial dos bancos; e,

a utilização de linhas externas que dão suporte às

posições “vendidas” no mercado à vista cambial.

Recentemente, foi publicado na mídia, estudo do

professor José Luiz Conrado Vieira sugerindo que fosse

adotada medida de depósitos compulsórios junto ao

BC variando de 30% a 50% sobre os novos capitais

estrangeiros. Isto quer dizer que esses recursos fi cariam

no exterior em conta do BC e seriam devolvidos,

ao fi nal, na mesma moeda. Os seus rendimentos

aplicados pelo BC ajudariam a mitigar, indiretamente,

o custo de manutenção das reservas cambiais.

A Coréia do Sul decidiu que vai recolocar um

imposto de renda na fonte sobre os lucros de

investidores estrangeiros em títulos públicos da

dívida soberana, com alíquota de 14%, como controle

de capital estrangeiro. Esse imposto tinha sido

abandonado em 2009, após a decisão em manter o

won desvalorizado. Indonésia e Tailândia, também,

estão estudando medidas com o mesmo objetivo. A

Malásia, em 1998, para proteger sua moeda durante a

crise fi nanceira asiática, impôs controles sobre capitais.

Segundo informes do Programa da ONU para a Ásia

ao jornal Financial Times, admite-se que as economias

asiáticas recorrerão cada vez mais a controles de

capital para se protegerem das “guerras cambiais”.

Nos EUA, em setembro de 2010, o Comitê de Meios

e Recursos da Câmara de Representantes aprovou um

projeto de lei que considera a manipulação da taxa

de câmbio um subsídio acionável e que, portanto,

permite a imposição de medidas compensatórias

(taxação) nas importações vindas de países com

moedas “artifi cialmente” desvalorizadas. Parlamentares

norte-americanos afi rmam que essa nova legislação é

compatível com as normas da Organização Mundial do

Comércio (OMC). Ainda que a iniciativa não prospere, ela

contribuirá para estimular um debate em curso entre

especialistas em regulação do comércio internacional

sobre se as atuais normas da OMC são compatíveis

com a adoção de medidas unilaterais desse tipo.

Analistas defendem as regras da OMC em não

admitir que os países frustrem os compromissos

assumidos com a liberalização comercial, e que sua

manipulação pode ser considerada como subsídio

às exportações. Interpretação essa que está longe

de ser consensual. A hipótese de negociação de um

novo acordo no âmbito da OMC, que permitisse aos

países lidarem explicitamente com efeitos adversos

da manipulação cambial, parece pouco realista e

arriscada. A OMC já está pressionada pelas atuais

tensões protecionistas no comércio mundial e pelas

difi culdades em avançar na Rodada Doha, com temas

menos explosivos que esse conhecido como “guerra

cambial”. Assim, portanto, as chances de se obter acordo

num tema tão controverso e radicalmente novo na

agenda multilateral de comércio são muito reduzidas.

Entretanto, é do conhecimento de todos que existem

medidas compensatórias (tarifárias e não-tarifárias)5

que podem ser adotadas sem incorrer em sanções

da OMC, quando ocorrerem algumas situações que

provoquem desequilíbrios nos mercados internacionais.

Há dois tipos de práticas comerciais desleais. A

primeira é a utilização de preços com dumping, ou seja, a

colocação de mercadoria em outro país a preço inferior

ao praticado no mercado doméstico do país exportador.

A segunda modalidade é aplicação de subsídios à

produção ou à exportação, tornando irreal o preço

fi nal da mercadoria destinada ao mercado externo.

* 5 Por barreiras tarifárias entendem-se as tarifas incidentes sobre os produtos importados, ou seja, os impostos de importação. Já as barreiras não-tarifárias são restrições como regulamentos sanitários, de saúde, ambientais, normas técnicas e padrões de seguran-ça, isto é, práticas que discriminam o produto estrangeiro. São exemplos de barreiras não tarifárias: proibição a importações em ca-ráter geral ou seletivo, ou em função da origem; cotas de importação (em quantidade ou valor); exigência de depósitos compul-sórios; controles de preços; controles cambiais; exigências quanto a embalagem e marcas de origem; regulamentações sanitárias; normas de qualidade (aplicadas a produtos, serviços e meio ambiente); normas e especifi cações técnicas; regras de segurança industrial.

38

Page 39: Revista de Conjuntura, n. 43

39

julho / setembro / 2010

Todavia, a imposição de uma medida

compensatória não é imediata, ela só é permitida

se comprovado o dano ou ameaça de dano à

indústria local, em razão direta de sua ocorrência,

e seguindo-se as disposições legais pertinentes.

Os direitos compensatórios são utilizados para

neutralizar o efeito do dano ou ameaça de dano em

decorrência da prática de subsídios no mercado. Os

referidos direitos são aplicados às importações, sendo

adicionados ao imposto de importação já existente.

Isso resulta em um preço mais elevado de aquisição

da mercadoria estrangeira pelo importador. O pedido

de imposição de uma medida compensatória é feito

mediante ação administrativa. Essas ações possuem

trâmite próprio, com prazos específi cos para as

determinações, audiência entre as partes, e, fi nalmente,

uma decisão sobre a imposição ou não de uma medida.

O que poderia ainda ser feito pelo Governo

brasileiros com relação à “guerra cambial”? Muito

pouco. O Governo brasileiro aumentou a alíquota

de 4% para 6% do IOF sobre a entrada de capitais

estrangeiros para aplicações fi nanceiras. Também

foi decidido pelo Conselho Monetário Nacional-

CMN, em outubro, mudanças nas regras para

investidores não-residentes nas contratações de

câmbio para aplicação nos mercados fi nanceiros

e de capitais, tais como vedação de operações de

aluguel, troca, e empréstimo de títulos e valores

mobiliários(Resoluções nºs 3.911 a 3.915), entre outras.

Adicionalmente, o governo poderia retomar a

negociação de operações de swaps cambiais reversos,

que consistem na venda pelo BC de contratos

fi nanceiros para acertos diários de fl uxos de recursos

oferecendo ganhos para aqueles que tiverem títulos

públicos, desde que a taxa Selic fi que superior à variação

cambial, caso contrário quem ganha é o Banco Central.

Também, a autoridade monetária pode realizar

leilões de moeda estrangeira com mais freqüência e

atuar nos mercados futuros de câmbio. A valorização

cambial tem sido conseqüência de fortes movimentos

de ingressos de capital estrangeiro (alguns oriundos

de operações conhecidas no mercado fi nanceiro

internacional como “carry-trade”) atraídos basicamente

pelo elevado nível da taxa de juros das aplicações

fi nanceiras, bem como pelo atraente mercado de

capitais que possibilita ganhos no curto prazo.

CONCLUSÃO

Com vistas a resolver a “guerra cambial”, ou seja,

a desvalorização do dólar, que é oriunda da ação

deliberada das políticas econômicas dos EUA e

China, os países emergentes, como o Brasil, devem

tomar um conjunto de medidas que limitem as

posições especulativas associadas à taxa de câmbio.

Neste sentido, impõe-se urgentemente que seja

tomado um conjunto de medidas regulatórias, tributárias,

ao lado da intervenção do Banco Central no mercado

cambial, minimizando assim esses nocivos efeitos da

“guerra cambial”, mesmo com regime cambial fl utuante.

Enfi m, se não tomarmos providências estabelecendo

medidas perenes de proteção das economias, teremos

outras crises, certamente de maiores proporções

com consequências ainda mais danosas para todo o

mundo. O mundo quer estabilidade, segurança para

os investimentos e produção, bem como garantias

para o desenvolvimento econômico sustentável.

Newton Marques [email protected]

Economista formado pela Universidade de Brasília (UnB), com

mestrado e doutorado em economia pela Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE), membro do Corecon-DF e do COFECON.

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A (incrível) rentabilidade dos bancos brasileiros

Leda Maria Paulani

As considerações que se seguem foram escritas em

abril deste ano de 2010 para uma publicação do MST, a

revista bimensal �Sem Terra�, na qual eu orgulhosamente

tinha uma coluna. Não chegou, no entanto, a ser publicado,

pois o referido periódico teve sua vida precocemente

interrompida por absoluta (e previsível) falta de recursos.

Convidada mais uma vez pelo meu amigo de longa

data José Luiz Pagnussat para publicar nesta excelente

revista do Corecon do Distrito Federal, lembrei-me deste

defunto insepulto, talvez um pouco anacrônico, pois faz

referência a matérias que estavam saindo na imprensa

especializada há seis meses, mas cuja publicação

pareceu-me, de qualquer forma, pertinente, em tempos de

quebra de banco. Perdoem-me a linguagem mais simples,

pois foi escrito para leigos.

***

Estudo recente de uma renomada consultoria

econômica indica que, considerado o conjunto formado

pelos bancos dos Estados Unidos e os de todos os

países da América Latina, os brasileiros destacaram-se

como os mais rentáveis em 2009. O conceito utilizado

nesse ranking foi o de rentabilidade patrimonial, ou seja,

lucro dividido pelo patrimônio, ou, em outras palavras,

taxa de lucro. Mais ainda, bancos brasileiros ocupam,

segundo esse critério, as três primeiras posições da

tabela e são os únicos latinos no conjunto, uma vez que

o estudo só considerou as 20 instituições que possuem

ativos com valor superior a US$ 100 bilhões.

Como explicar tais resultados? Para encontrar as

respostas é preciso, em primeiro lugar, retroceder um

pouco no tempo. Na época das altas taxas de infl ação,

o lucro dos bancos devia-se em grande parte ao

imposto infl acionário – o ganho que existe por parte

de quem emite moeda, ou seja, o governo, que emite

a moeda manual ou corrente (as notas e moedinhas

que carregamos conosco), e os bancos comerciais, que

emitem a moeda escritural (os cheques e cartões de

débito com os quais também pagamos à vista nossas

despesas). Quem carrega moeda, não importa se

manual ou escritural, sofre a desvalorização desse ativo

quando ocorre infl ação, perda essa que é apropriada,

como se fosse um imposto, por quem emite a moeda.

Assim, quanto mais elevada a infl ação, maior o imposto

infl acionário e maior o ganho dos emissores de moeda.

Considerados os elevadíssimos níveis de infl ação

experimentados pela economia brasileira nos 15 anos

que antecederam a adoção do Plano Real, os bancos

praticamente não precisavam de outro tipo de ganho

que não fosse o imposto infl acionário para ter sua

lucratividade garantida. Assim, apesar de uma legislação

governamental bastante rígida, que restringia quase

completamente a cobrança de tarifas pelos serviços

bancários, os bancos viviam uma situação bastante

confortável. Por isso se especulava na época que,

quando a infl ação fosse debelada, o sistema bancário

brasileiro passaria por sérios problemas.

40

Page 41: Revista de Conjuntura, n. 43

41

julho / setembro / 2010

Mas tão logo o Plano Real surtiu efeito

estabilizando monetariamente a economia, o governo

de FHC resolveu a questão concedendo às instituições

bancárias a auto-regulamentação para tarifar, ou seja,

os bancos passaram a decidir de forma inteiramente

independente o que cobrar e quanto cobrar de seus

clientes. Em 2008, tentando conter um pouco esse

movimento, mudanças nas regras de tarifação dos

serviços foram impostas pelo Banco Central aos bancos,

mas os resultados não apareceram. Ao contrário,

estudo recente do Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor (IDEC) mostra que, de abril de 2008 até

fevereiro deste ano, os aumentos dos pacotes de

serviços bancários chegaram a alcançar até 65,8% e os

das tarifas avulsas até 328%, números evidentemente

muitíssimo superiores à infl ação do período, que não

chegou a somar 10%.

A outra razão que explica o desmesurado lucro dos

bancos brasileiros é o tamanho do spread, ou seja, a

diferença que existe entre o rendimento que eles pagam

a quem aplica seus recursos e o que eles recebem

daqueles que os tomam emprestados. Segundo estudo

do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento

Industrial) realizado o ano passado, o spread brasileiro

é o maior do planeta, em média 11 vezes o dos países

desenvolvidos e mais de 5 vezes o dos países em

desenvolvimento. A esse respeito é preciso lembrar que

uma das reformas neoliberais apoiadas, impulsionadas

e sancionadas pelo governo Lula foi a alteração da Lei

de Falências, sob o argumento de que ela era muito

condescendente com os devedores, enfraquecendo os

contratos e produzindo um ambiente de incerteza, que

acabava redundando nos elevados spreads bancários

verifi cados. Feita a reforma, em 2005, nada mudou

nessa situação e estudos do próprio Banco Central

realizados ao fi nal do ano passado mostram que a

participação do lucro dos bancos no tamanho desse

spread só tem feito crescer e encontra-se hoje em nível

recorde.

Bastaria vontade política para que o governo

barateasse tanto o crédito quanto os serviços bancários,

mas ele prefere se manter à distância, sob a alegação

de que a concorrência vai fazer seu papel e disciplinar

esses preços. Essa postura pode parecer irracional, já

que a realidade cansa de mostrar o contrário, mas é

absolutamente coerente com uma política econômica

que tem operado, há quase duas décadas, sob a batuta

do capital fi nanceiro e do grande capital em geral.

Leda Maria Paulani [email protected]

Economista professora titular do Departamento

de Economia da FEA-USP e da Pós-graduação em

Economia do IPE-USP. É bolsista de produtividade em

pesquisa do CNPq e publica regularmente em revistas

nacionais e estrangeiras. É autora, entre outros, de

Modernidade e Discurso Econômico, 2005 e Brasil

Delivery, 2008, ambos pela Boitempo Editorial. Foi vice-

presidente (1998-2000) e presidente (2004-2008) da

Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP).

‘‘ ‘‘Assim, quanto mais

elevada a infl ação,

maior o imposto

infl acionário e maior o

ganho dos emissores

de moeda.

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ASPECTOS SOBRE A

ESPECULAÇÃO1

Simone Maciel Cuiabano

Resumo: o objetivo desse trabalho é fazer uma análise

sucinta da especulação fi nanceira e como ela pode

afetar o lado real da economia. O aumento nos preços

do petróleo, em 2008, ilustra essa relação. A análise do

comportamento do preço do petróleo mostra como

é complicado atribuir somente à especulação a causa

para a elevação dos preços das commodities. Por fi m,

esse trabalho sugere algumas medidas para inibir o

lado negativo que a especulação pode causar.

1 – CONCEITUAÇÃO

Especulação é o processo de selecionar

investimentos mais arriscados, sejam eles ativos

móveis ou imóveis, de modo a obter maior retorno,

antecipando o movimento de preços. É baseado

em informações obtidas no mercado o qual se quer

investir e não são caracterizados como investimentos

convencionais porque o risco adquirido é maior que a

média.

Um conceito clássico de especulação é a compra

ou venda de mercadorias tendo em vista a revenda (ou

recompra) em data posterior quando o motivo de tal

ação é a antecipação de uma mudança nos preços em

vigor e não uma vantagem resultante de seu uso ou

uma transformação ou transferência de um mercado

para o outro. A base da especulação é, portanto, a

expectativa dos agentes quanto a mudanças nos níveis

de preços.

O desenvolvimento de atividades especulativas está

ligado ao desenvolvimento do mercado de derivativos.

É comum, nesse mercado, ações de hedge, ou cobertura

de risco, dos ativos negociados para reduzir o risco da

variação de preços, principalmente diante da incerteza

do mercado com o qual se trabalha. Contudo, atividades

especulativas utilizam-se do mercado de derivativos

para maximizar o retorno ou investimento, o que

termina por ocasionar aumentos nos preços dos ativos

reais sem que haja qualquer desequilíbrio entre oferta

e demanda dos mesmos no tempo presente.

2 – HISTÓRICO

O mercado de derivativos2, no mundo, tem sua

origem vinculada à necessidade de administração do

risco de alterações nos preços dos ativos, originalmente

produtos agrícolas (recentemente também ativos

fi nanceiros e imobiliários). As mercadorias eram

negociadas em um período t e deveriam ser entregues

em um período t+1, de modo que o contrato deve

refl etir os riscos de se conseguir entregar ou não a

mercadoria contratada e dar garantia ao comprador

de entrega, bem como antecipar ao produtor o crédito

necessário à produção. Esse tipo de negociação

tem registros históricos na Idade Média; contudo, o

mercado futuro organizado teve início em 1848, em

Chicago, quando contratos de milho foram negociados.

* 1 Este trabalho expressa a opinião da autora e não necessariamente refl ete as posições ofi ciais da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda– SEAE/MF.* 2 Derivativos são ativos fi nanceiros que derivam, integralmente ou não, do valor de outro ativo ou mercadoria, como os contratos futuros, a termo, opções e swaps.

42

Page 43: Revista de Conjuntura, n. 43

43

julho / setembro / 2010

Até a década de 70, a maior parte do mercado futuro

estava baseada em mercadorias, quando foi lançado o

primeiro contrato futuro de taxas de câmbio.

A busca de proteção contra a forte volatilidade das

taxas de câmbio e de juro registrada desde o fi m dos

acordos de Bretton Woods, na década de 40, está na

origem da criação e da enorme expansão de mercados

de derivativos fi nanceiros muito diversifi cados e amplos.

Essa volatilidade causou mudanças no comportamento

dos agentes econômicos, que passaram a formar

expectativas sobre a evolução de curto prazo das

principais variáveis fi nanceiras para a condução normal

das atividades econômicas. A existência dos mercados

de derivativos permitiu que os agentes cobrissem seus

riscos fi nanceiros ao transferi-los para outros.

Para a realização, numa escala signifi cativa,

das operações de hedge. foi indispensável o

desenvolvimento de mercados nos quais se negociem,

para entrega e liquidação futuras, os mesmos ativos que

nos mercados à vista. Antes da criação dos mercados de

derivativos fi nanceiros, era possível efetuar operações

de hedge, empregando-se os contratos a termo junto

às instituições bancárias. Mas sua importância era

limitada pela pequena variedade de ativos cobertos

por esses contratos (quase exclusivamente de taxas

de câmbio), pelo número reduzido de agentes que

a eles tinham acesso (clientes de primeira linha dos

bancos), pelo alto custo das operações e pela pouca

fl exibilidade do instrumento (a liquidação só é possível

no vencimento).

A criação da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F),

em 1986, deu início à negociação de derivativos em

balcão, principalmente para os contratos vinculados

ao comércio futuro do algodão. Contudo, somente em

2001, com a Lei 10.303, o conceito de valores mobiliários

passou a incluir os derivativos, permitindo a regulação

por parte da Câmara de Valores Mobiliários (CVM).

A partir de então, as operações de hedge puderam

emergir; paralelamente, ações especulativas puderam

emergir no Brasil, no qual se busca não proteger o ativo,

mas obter ganhos rápidos a curto prazo.

3 – FUNCIONAMENTO

A antecipação do especulador sobre a situação do

ativo determina o tipo de estratégia a ser tomada pelo

mesmo. Se ele acredita que o valor do ativo irá aumentar

no futuro, ele adquire o ativo, normalmente a um preço

inferior ao que ele imagina no futuro, objetivando a sua

venda em período posterior. Esse tipo de ação pode ser

encontrada em qualquer negociação de mercadorias,

sejam elas commodities, imóveis, moeda, ações, etc.

No mercado de derivativos, os contratos futuros e a

termo necessitam que o valor do ativo a ser entregue

esteja previamente determinado. Se o agente acredita

que esse valor pré-contratado estará abaixo do

esperado, há uma demanda maior por esses contratos

e vice-e-versa. Os contratos de compra e venda de

opções, que oferecem o direito de compra ou venda

de ativos, também permitem ao agente se precaver

da volatilidade dos preços dos ativos reais: se o agente

acredita que o preço do ativo irá aumentar, ele pode

adquirir a opção de compra cujo preço do ativo pré-

contratado seja inferior ao valor que ele espera. Caso o

preço não aumente, ele pode não exercer a opção de

compra. Se ao contrário, o esperado é uma queda nos

preços, ele pode adquirir uma opção de venda com o

preço mais alto a ser realizado no futuro.

Esse tipo de ação também pode ser feita com o

objetivo de especular sobre os valores futuros a fi m de

obter ganhos. Nos casos das opções, por exemplo, um

especulador pode, ao invés de realizar os direitos de

compra e venda, vender as opções por um preço cujo

valor seja o ganho a ser obtido pela diferença de preços

contratado e o de mercado.

‘‘ ‘‘A existência dos

mercados de derivativos

permitiu que os agentes

cobrissem seus riscos

fi nanceiros ao transferi-

los para outros.

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a

4 – IMPACTOS SOBRE O LADO REAL DA ECONOMIA

Ações que atinjam os preços futuros de ativos

tendem a modifi car o valor presente dos mesmos. No

mercado de commodities, por exemplo, a determinação

do preço das mercadorias adquiridas no balcão3 é

feita com base nos preços dos contratos futuros. Desse

modo, quando um grande volume de agentes passa

a demandar contratos futuros, o valor do ativo futuro

tende a se valorizar e, por conseguinte, aumentar o

preço presente do ativo.

Esse movimento de aumento de preços foge da

tradicional visão de que os preços são determinados

conforme a oferta e a demanda: pode haver um

perfeito equilíbrio no mercado, todavia, se houver a

especulação a respeito de uma provável queda ou

elevação de preço do bem que ocasione uma corrida

pela compra ou venda do ativo, o preço pode aumentar

ou cair, respectivamente, de forma substantiva. A

atual elevação dos preços das commodities está

sendo observada não somente como um choque de

demanda ocasionado pelo crescimento dos países

(principalmente China), mas também como um novo

tipo de choque de demanda, oriundo de investimentos

de grandes fundos de pensões e investidores

institucionais com grande volume de dinheiro que, na

busca por obter ganhos reais, passaram a investir no

mercado futuro de commodities. Ou seja, com objetivos

especulativos.

Uma vez que os preços futuros tendem a balizar o

preço atual, é necessário avaliar as conseqüências sobre

o mercado real. No Brasil, os principais índices de infl ação

possuem, na sua cesta de bens, commodities negociadas

no mercado internacional com peso relativamente alto.

Itens baseados nos derivados de petróleo (que, por

sua vez afetam uma variada gama de produtos, como

têxteis, fertilizantes, combustíveis, energia), alimentos,

metais, quando sofrem um aumento de preço no

mercado internacional, ocasionado por movimentos

especulativos, tendem a causar elevações nos índices

de infl ação. Mesmo se forem commodities produzidas e

comercializadas no país, se há um mercado futuro que

o baliza, os preços nacionais tendem a acompanhar os

preços comercializados no exterior.

Essa elevação nos índices de preços ocasiona o

aumento da infl ação que, diante do regime de metas

de infl ação estabelecido pelo Banco Central, tende a

elevar os juros básicos da economia para conter o lado

da demanda e evitar com que a infl ação ultrapasse os

limites da meta. A elevação dos juros nominais gera

um aumento dos juros reais, diminui o interesse por

investimentos em ativos reais e pode causar uma queda

geral no nível da atividade econômica de um país.

5 – ESPECULAÇÃO E O RECENTE COMPORTAMENTO

DOS PREÇOS DO PETRÓLEO: UM EXEMPLO

A notícia de que o barril de petróleo atingiu

preço nunca visto até então vinha se tornando

rotina. Quando foram feitas previsões de que o

barril atingiria US$ 200,00, alguns duvidaram. Os

recordes sucessivos observados nos meses de

junho e julho de 2008 evidenciaram a possível

confi rmação desta previsão. Embora os últimos

dez dias, tenham mostrado uma signifi cativa

redução do preço do barril, cujo preço voltou aos

patamares observados em maio (US$ 120,00), o fato

é que houve uma mudança estrutural no mercado de

commodities, onde o petróleo é o melhor exemplo.

Inicialmente, a elevação dos preços do petróleo foi

relacionada às tensões políticas nos países produtores.

Baixos estoques também eram responsabilizados

pelas elevações nos preços, assim como a

desvalorização do dólar frente a outras moedas.

Posteriormente, nova explicação foi adicionada: o

aumento da demanda mundial, provocada pelo

crescimento mundial e, sobretudo, de países como

a China e a Índia, não era compatível com a oferta,

que tinha difi culdades de ser elevada no curto prazo.

Recentemente, analistas de mercado e economistas

começaram a defender que o aumento dos preços

do petróleo poderia ser atribuído a outro fator: a

especulação. De fato, a constatação de que a elevação

dos preços não era capaz de reduzir os estoques

fez com que muitos economistas atribuíssem à

especulação fi nanceira a razão pelos constantes

aumentos. Declarações da Arábia Saudita de que não

haveria escassez de oferta reforçariam essa tese.

* 3 Para mercadorias negociadas via contratos, os preços podem ser negociados conforme volume e tempo de aquisição.

44

Page 45: Revista de Conjuntura, n. 43

45

julho / setembro / 2010

Nesse sentido, cabe citar estudo realizado pelo

Congresso dos Estados Unidos (2009). Esse documento

afi rmou que estaria ocorrendo um aumento dos

investimentos de fundos de pensão, fundos de

investimentos e bancos em contratos futuros de

petróleo. Segundo apurado, agentes especulativos

teriam aumentado suas participações em contratos

futuros de petróleo: de 37%, em 2000, para 71% em

2008. A contrapartida foi uma queda na participação

dos usuários tradicionais de petróleo. O estudo em

questão aponta que alguns especialistas chegaram a

atestar que a especulação com contratos responderia

por até 50% da elevação do preço do petróleo.

Diante dessas constatações, o estudo sugeriu a

adoção de medidas, legais ou meramente regulatórias,

que limitassem a operação de especuladores em

commodities. Os instrumentos para tal seriam o aumento

nos requerimentos de margens, adoção de limites à

exposição ou à posição bruta e maior transparência na

comercialização de contratos de balcão.

Contudo, deve ser mencionado que não está claro se

a especulação ou fuga para ativos reais se deve à baixa

taxa de juros nos EUA (fator conjuntural), à mudança

nos preços relativos diante do aumento na demanda

por parte de emergentes e no custo de extração de

petróleo (fator estrutural) ou ambos.

A perspectiva de que a elevação dos preços das

commodities, dentre as quais o petróleo, não está

relacionada à escassez de oferta é compartilhada por

analistas de mercado. Por exemplo, Michael Masters

(2008), em depoimento no Congresso dos EUA,

apontou o papel dos especuladores de índices (que

somente compram e vendem posições por meio de

calendar spreads), que teriam causado um choque de

demanda positivo no mercado futuro de commodities,

que se tornou atrativo após o colapso das bolsas e dos

imóveis. O aumento na demanda de “barris virtuais”

por parte desses agentes é aproximadamente igual

ao aumento na demanda de “barris reais” por parte da

China. Esses agentes teriam poderes para infl uenciar

preços porque o volume de recursos que movimentam

é grande comparado ao mercado de commodities.

Masters argumenta que os movimentos no mercado

futuro são imediatamente sentidos no mercado spot.

Jeffrey Frankel (2008) também aponta outro motivo

que não a escassez de oferta para a elevação dos

preços. Frankel argumenta que, embora o aumento da

demanda seja um elemento importante na elevação

dos preços das commodities, a causa principal seria a

baixa taxa de juros nos países centrais, sobretudo nos

EUA, e a desvalorização do dólar. A baixa taxa de juros

desestimula a extração de recursos não renováveis

e reduz o custo de carregamento de estoques. No

caso de minérios e petróleo, a “estocagem” pode ser

simplesmente não extrair o produto (deixar no solo).

Esse movimento de alta dos preços continuaria até

o ponto em que os preços chegassem a um patamar

que as expectativas se tornariam majoritariamente

“baixistas”, isto é, o mercado passaria a esperar uma

queda no preço.

Guillermo Calvo (2008) também tem posição similiar

a Frankel. A diferença é a ênfase na inelasticidade da

demanda por commodities. Calvo destaca que, embora

o movimento de elevação nos preços se refl ita no

aumento de contratos futuros negociados, a causa

principal não seria a especulação e sim a política

monetária. Para ele, as baixas taxas de juros reais

estariam causando uma fuga para os ativos reais (sejam

por causa das baixas taxas de juros nominais ou pela

aceleração da infl ação). O mercado spot sentiria o efeito

da elevação no mercado futuro porque a demanda por

commodities é inelástica no curto prazo.

Thomas Palley (1999) também defende que

especulação tem forte infl uência na elevação do preço

do petróleo pelo fato de o aumento no preço do

petróleo verifi cado ser desproporcional ao aumento

da demanda. Logo, como a demanda é inelástica no

curto prazo, a solução passa por retração do nível de

atividade econômica. Argumenta que, apesar de vários

economistas dizerem que não há aumento nos estoques

que confi rme a hipótese da bolha especulativa, o fato é

que os estoques deveriam ter caído diante de preços

tão elevados. Como isso não tem ocorrido, haveria sim

um aumento relativo nos estoques. Palley aponta como

solução a limitação da operação de especuladores de

índice nos mercados futuros de commodities.

Em que pese os entendimentos acima reproduzidos,

importa destacar que ainda não há consenso acerca

do papel da especulação na elevação dos preços

entre os economistas. Paul Krugman (2008), por

Page 46: Revista de Conjuntura, n. 43

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a

exemplo, argumenta que a especulação não seria o

fator determinante, pois não haveria evidência de

acumulação de estoques. Embora seja verdade que no

caso do petróleo e dos minérios, os estoques podem ser

deixados no solo, o fato de os preços futuros estarem

abaixo dos preços correntes não confi rmaria a hipótese

de bolha especulativa no mercado de petróleo. Nesse

sentido, para que o preço futuro infl uencie o preço

spot, alguém que tem petróleo deve sancionar a

“especulação”, o que somente aconteceria se houvesse

razões objetivas para tanto (fundamentos do mercado).

Como há uma mudança nos fundamentos devido a

maior demanda mundial e à elevação dos custos de

produção, poderia ser concluído que seriam esses

fatores que estariam empurrando os preços para cima

e não a especulação.

Recentemente, no Congresso Mundial de Petróleo,

ocorrido em Madri, vários agentes afi rmaram que

a especulação não seria a causa das elevações de

preços, endossando o posicionamento de Krugman.

6 – CONCLUSÃO

A análise do comportamento do preço do petróleo

mostra como é complicado atribuir somente à

especulação a causa para a elevação dos preços das

commodities. É preciso estar atento a isso para que não

sejam impostos remédios equivocados para conter

esse movimento ou contornar seus efeitos perversos.

Analisando o cenário mundial, consta-se que

houve uma mudança estrutural no mercado de

commodities devido a maior demanda por parte de

países emergentes, sobretudo na Ásia, e ao aumento

dos custos de produção, sobretudo do petróleo. Essa

mudança explica, em grande parte, a infl ação de

commodities até 2006. Porém, o recente aumento tem

mais relação com a conjuntura dos EUA, pois as baixas

taxas de juro e a ausência de ganhos nos mercados

de ações e de imóveis estão direcionando recursos

para os mercados de commodities. As baixas taxas de

juro estimulam a especulação ao provocar uma fuga

para ativos reais e ao baratear o carregamento (a

manutenção) de estoques de petróleo e minério “no

solo”.

Como a desregulamentação fi nanceira nos EUA

(desde os anos 90) contribuiu para aumentar o “poder

de fogo” dos fundos de investimento nos mercados de

derivativos, e diante do vultoso volume de recursos

desses fundos, o fato é que os fundos de investimento

têm poder de causar elevação substancial nos

preços das commodities. Há indícios de que é isso

que está ocorrendo desde o início da crise subprime

e a subseqüente acomodação monetária por parte

do FED (Federal Reserve System). Esse movimento

no mercado futuro é sancionado no mercado spot

porque a demanda por alimentos e por combustíveis é

altamente inelástica.

Alguns economistas entendem que a “solução” ou

o “estouro da bolha” acontecerá se e quando os EUA

resolverem estancar a perda de valor do dólar por

meio do aumento na taxa de juros. Isso derrubará os

preços das commodities, ainda que não para o nível dos

anos 90, pois os fundamentos do mercado mudaram.

Contudo, o ajuste monetário dos EUA poderá trazer

prejuízos ao Brasil no curto prazo, pois os preços das

exportações brasileiras cairão e a taxa de câmbio

irá se desvalorizar, causando pressão infl acionária e

conseqüente elevação nos juros.

Dado esse cenário, o que se pode fazer? Grosso

modo, duas ordens de medidas podem ser adotadas.

1 – Aumento do poder de supervisão governamental/

estatal:

- Aumentar a supervisão estatal mediante a adoção

de mecanismos que tornem obrigatório o registro dos

contratos futuros. É sabido que nos Estados Unidos

existem um número signifi cativo de contratos de

‘‘ ‘‘

A perspectiva de que a elevação dos preços

das commodities, dentre as quais o petróleo,

não está relacionada à escassez de oferta é compartilhada por analistas de mercado.

46

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julho / setembro / 2010

transações futuras de balcão que passam ao largo

do controle do órgão regulador (CFTC – Commodity

Futures Trading Comission). Trazer esses contratos para a

supervisão dos órgãos reguladores é imperativo como

forma de assegurar maior controle e transparência a

essas transações;

- Criação de uma bolsa específi ca para realização de

transações correntes e futuras para as commodities;

- Fixação de mecanismos que estimulem uma maior

cooperação internacional. A idéia, por exemplo, é que

a Bolsa de Valores de Nova Iorque conheça o volume

e perfi l das transações ocorridas na Bolsa de Londres e

vice-versa; e

2 – Introdução de mecanismos destinados à inibição

da especulação:

- Aumento da margem. A proposta aqui é a fi xação

de um limite à operação de especuladores em

commodities por intermédio do aumento nos

requerimentos de margens;

- Como conseqüência da primeira medida haverá um

limite à exposição, ou à posição bruta, do especulador,

o que conferirá maior transparência aos contratos de

balcão.

Por fi m, deve ser observado que medidas de

combate à especulação são normalmente inócuas,

pois os agentes encontram brechas para operar,

sobretudo em um ambiente de baixas taxas de juro

e alta de demanda mundial. No entanto, pode e deve

haver avanços em direção a maior transparência das

operações, de modo clarifi car as bases reais para

as apostas em andamento, sendo importante ser

ressaltado que o Estado brasileiro não tem instrumentos

para coibir a especulação internacional. É preciso que

as grandes economias em conjunto com os países

em desenvolvimento procurem soluções conjuntas

para que os países pobres não sejam prejudicados

ainda mais com a situação conjuntural atual.

REFERÊNCIAS

CALVO, G. (2008), Exploding commodity prices, lax

monetary policy, and sovereign wealth funds. Disponível em: http://www.voxeu.org/index.php?q=node/1244

CVM, (2004), O que é a CVM? Cadernos CVM.

FARHI, M., (1999), Derivativos Financeiros: hedge, especulação e arbitragem in: Economia e

Sociedade, Universidade de Campinas (Unicamp), nº 13.

FRANKEL, J. (2008), Commodity Prices, Again:

Are Speculators to Blame? Jeff Frankels Weblog. Disponível em:

http://content.ksg.harvard.edu/blog/jeff_frankels_weblog/2008/07/25/commodity-prices-again-are-speculators-to-blame/

KRUGMAN, P. (2008), Speculation and Signatures.

Disponível em:

http://www.princeton.edu/~pkrugman/Speculation%20and%20Signatures.pdf

MASTERS, M. (2008), Testimony before the

Committee on Homeland Security and Governmental

Affairs.

PALLEY, T. (1999), Speculation and Tobin Taxes: Why Sand in the Wheels can Increase

Economic Effi ciency in: Journal of Economics, 69, pp. 113-126.

SANTANA, P., (2007), Operações de Derivativos

na Perspectiva do Direito Comercial. Dissertação de Mestrado defendida na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp).

US Congress (2009), Text of S. 447: Prevent

Excessive Speculation Act.

Sites

Portal do Investidor http://www.portaldoinvestidor.gov.br

Investopedia http:// www.investopedia.com

Govtrack.us http://www.govtrack.us/congress/billtext.xpd?bill=s111-447

Simone Maciel [email protected]

Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), com mestado em

Economia pela UCB. Doutoranda em Economia pela UnB e Analista de Finanças e Controle .

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Con

junt

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[email protected]

A intervenção do Estado na economia por meio das políticas

públicas fi scal e monetária – Uma abordagem keynesiana.

Carlos Frederico Alverga

intervenção do Estado na

RESUMO

O artigo trata da intervenção do Estado na economia,

por meio da execução das políticas fi scal e monetária,

com a fi nalidade de atenuar distorções características

da economia capitalista e do livre funcionamento

do mercado. A principal dessas distorções é a

incompatibilidade entre a oferta e a demanda

agregadas, cujas conseqüências mais relevantes podem

ser os dois mais importantes problemas econômicos,

que são a infl ação e o desemprego. As referidas políticas

fi scal e monetária são mecanismos pelos quais o Estado,

por meio do Governo, tenta abrandar os efeitos dos

citados desequilíbrios. A primeira consiste na política

das receitas públicas, a política tributária, e na política

dos dispêndios públicos, a política orçamentária. A

segunda consiste no controle da oferta de moeda da

economia e da taxa de juros.

1 – Introdução:

A economia de mercado capitalista funciona

em ciclos econômicos de expansão e contração da

produção, da renda, do investimento e do emprego. A

intervenção do Estado na economia se faz necessária

para estabilizar os preços, o nível de emprego, a renda

e outras variáveis macroeconômicas relevantes. Porém,

até a crise de 1929, que foi uma crise de superprodução

do capitalismo, prevalecia a teoria neoclássica de

Marshall, a qual preconizava a tese do equilíbrio

automático do mercado, pela qual a “mão invisível”

deste último ajustaria os níveis de oferta e demanda

agregadas. A teoria neoclássica também se baseava na

lei de Say, pela qual a oferta cria a sua própria demanda,

o que teria por conseqüência a impossibilidade da

ocorrência de crises de superprodução.

É importante caracterizar a crise de 1.929. Foi uma

crise de superprodução, já que não havia demanda

sufi ciente para absorver toda a oferta, o que fez com que

sobrassem muitos produtos sem serem consumidos, o

que teve como conseqüência uma queda generalizada

dos preços (acentuada defl ação) que, por sua vez, teve

como decorrência uma redução expressiva da renda

dos empresários que, por causa do prejuízo que tiveram,

diminuíram substancialmente os investimentos, o que

fez decrescer signifi cativamente o nível de emprego.

Toda essa conjuntura depressiva da economia resultou

numa diminuição acentuada do valor das ações das

empresas, o que causou um movimento de venda

generalizada no mercado acionário, a Bolsa de Valores,

acarretando queda no valor das ações e alastrando, por

toda a economia, as conseqüências da depressão.

Pode-se considerar, então, que foi uma crise

de excesso de oferta, que teve como efeitos uma

signifi cativa queda dos preços, da renda e do emprego.

Os dogmas neoclássicos da “mão invisível”, do equilíbrio

automático dos mercados e da lei de Say perderam

48

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49

julho / setembro / 2010

quer diminuí-la; pelo segundo mecanismo, o Governo

obriga os bancos comerciais a manterem depositados,

no Banco Central, uma porcentagem maior ou menor

dos seus depósitos à vista, para assim aumentar

ou diminuir a oferta de moeda para empréstimos,

de acordo com as circunstâncias, e, fi nalmente, o

redesconto consiste num fi nanciamento que o Banco

Central concede às instituições fi nanceiras privadas

que estão com difi culdades de liquidez e de honrar

seus empréstimos de curto prazo. Em relação a esse

último ponto, o Banco Central atua como emprestador

de “última instância” dos bancos comerciais, como

um “banqueiro dos bancos”. Keynes enfatizava mais a

política fi scal do que a monetária, mas a existência de

uma autoridade monetária pública exercendo controle

sobre a oferta de moeda é tópico relevante na sua

teoria econômica. Para respaldar esta última assertiva,

cito Ferrari e Terra (2.010:3), que informam que Keynes

concedia “signifi cativa importância à condução da

política monetária”. Porém, segundo os mesmos

autores, “a intervenção estatal para Keynes, apresenta-

se, principalmente, na forma de política fi scal. Esta se

ancora tanto na administração dos gastos públicos

– algo completamente diverso de défi cit público –

quanto na política de tributação. Por conseguinte, a

política fi scal keynesiana recai, diretamente, sobre

a demanda agregada da sociedade, isto é, sobre o

investimento e o consumo, público e privado” (Ferrari

e Terra, 2.010:4).

‘‘ ‘‘

Pode-se considerar,

então, que foi uma crise

de excesso de oferta, que

teve como efeitos uma

signifi cativa queda dos

preços, da renda e do

emprego.

a credibilidade, e surgiu Keynes defendendo a

intervenção do Estado na economia para ajustar a oferta

à demanda, principalmente para aumentar a demanda

agregada na fase recessiva do ciclo econômico. Assim,

de acordo com Vieira e Campos (2.007:1), “Keynes

rejeita os preceitos de equilíbrio, com pleno emprego,

ajustável automaticamente (Lei de Say e lei da oferta

e da procura)”. No caso do início da década de 30, com

a economia atravessando uma depressão terrível,

era imperativo que houvesse incremento dos gastos

públicos para que a produção, a renda e o emprego

se recuperassem. Os instrumentos para concretizar a

intervenção do Estado na economia passaram a ser as

políticas fi scal e monetária.

2 – Defi nição dos conceitos de políticas fi scal e

monetária:

É conveniente defi nir os signifi cados das políticas

fi scal e monetária. A política fi scal é o componente

da política econômica que se refere, por um lado, às

receitas públicas, ou seja, à arrecadação dos tributos

do Estado sobre a renda, o patrimônio e o consumo

das pessoas físicas e jurídicas, e, por outro lado, aos

dispêndios do Governo, os quais estão explicitados

no orçamento público. Desta forma, a política fi scal

abrange dois componentes distintos, o relativo à

política tributária, concernente à receita pública, e a

política orçamentária, pertinente à despesa pública.

Pereira (2.006:52) defi ne a política fi scal keynesiana

como “o uso consciente dos meios fi scais do governo

– tributação, gastos e dívida pública, com o objetivo

de neutralizar as tendências cíclicas da economia,

traduzidas por infl ação e recessão”. Cardim (2.008:14)

afi rma que a política fi scal é aquela “em que o governo

age sobre a demanda diretamente através de seus

gastos, ou indiretamente, através de tributos sobre os

agentes privados”.

Com relação à política monetária, ela concerne ao

controle da oferta de moeda e da taxa de juros, o que

tem conseqüências para os níveis de investimento,

emprego e consumo da economia. O Governo

implementa a política monetária por meio de três

mecanismos principais: o mercado aberto, o depósito

compulsório e o redesconto. No caso do primeiro

instrumento, o Governo vende títulos da dívida pública

quando quer aumentar a taxa de juros e compra quando

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a

3 – Prescrições keynesianas de políticas fi scal e

monetária de acordo com a fase do ciclo econômico:

Na fase expansiva do ciclo econômico, segundo

a ortodoxia keynesiana, a política monetária deve

ser restritiva, com taxas de juros mais altas e redução

da quantidade de moeda na economia, o que é feito

mediante a venda, pelo Banco Central, de títulos

da dívida pública, e a política fi scal deve ser mais

austera, com redução dos gastos públicos, e aumento

da tributação, da carga tributária, sobre os fatores de

produção, como forma de combater a maior ameaça

da fase expansionista do ciclo econômico, que é a

infl ação. Ambas as políticas se direcionam para conter

a demanda agregada e evitar o aumento generalizado

dos preços. No que concerne à política fi scal, tal

combinação de maior tributação com menor despesa

pública contribui para a ocorrência de superávit fi scal

nas contas do Governo. Conforme nos informa Pereira

(2.006:49), Keynes propunha “a utilização da política

fi scal compensatória, na qual pregava (...) a geração de

superávits diante de ameaças de infl ação”.

Na fase recessiva do ciclo econômico, segundo

os keynesianos, a política monetária deve ser

expansionista, com taxas de juros mais baixas para

incentivar o investimento, e se caracterizar pelo

aumento da quantidade de moeda na economia,

o que é efetivado por meio da compra, pelo Banco

Central, de títulos da dívida pública, e a política fi scal

deve ser mais expansiva, com incremento dos gastos

públicos, como forma de combater a maior ameaça

da fase contracionista do ciclo econômico, que é o

desemprego. Além disso, nessas circunstâncias, o outro

componente da política fi scal, que é a tributação sobre

os fatores de produção, deveria ser implementado

no sentido da redução da carga tributária. Ambas as

políticas se direcionam para estimular a demanda

agregada e evitar o aumento generalizado do

desemprego. No que é pertinente à política fi scal, tal

combinação de menor tributação com maior despesa

pública contribui para a ocorrência de défi cit fi scal nas

contas do Governo. De acordo com Pereira (2.006:49),

Keynes propunha “a utilização da política fi scal

compensatória, na qual pregava o aumento do défi cit

público em épocas de recessão”. Ainda segundo o

mesmo autor, Keynes advogava que, “quando ocorresse

insufi ciência de demanda, o governo deveria assumir

um papel ativo de complementar os gastos privados,

ou reduzindo impostos ou realizando investimentos”

(Pereira, 2.006:51). A política fi scal expansionista na

fase de contração da produção, do emprego e da renda

da economia como remédio para a crise é também

apontada por Vieira e Campos (2.007:1), que afi rmam

que “Os gastos com obras públicas contribuiriam para

multiplicar a renda; gerando empregos para alguns,

criar-se-ia indiretamente empregos para uma grande

parcela da população”.

Os parágrafos precedentes referem-se à

instabilidade da oferta da economia capitalista (que

é, basicamente, o motivo da existência dos ciclos

econômicos), a qual é causada, fundamentalmente,

pelo descasamento existente entre a oferta e a

demanda agregadas, fenômeno denominado por

Marx como sendo a “anarquia da produção”, gerado

pela incerteza de que padece o empresário capitalista

ao tomar suas decisões sobre o quanto investir, as

quais são infl uenciadas signifi cativamente pelas

expectativas empresariais. Neste contexto é que surge

a necessidade de intervenção do Estado na economia,

por meio do exercício das políticas fi scal e monetária,

principalmente a primeira, para fazer o ajuste entre

a oferta e a demanda agregadas por intermédio do

desempenho da função estabilizadora do Governo –

Caracterização dos fundamentos da teoria econômica

keynesiana:

Segundo Dillard (1.989), para Keynes, os níveis de

renda, emprego e investimento eram funções de três

variáveis: a propensão marginal a consumir (c), a efi cácia

marginal do capital, que seria, aproximadamente,

correspondente à taxa de lucro, e a taxa de juros. Ou

seja, as variáveis dependentes ou explicadas seriam

a renda, o emprego e o investimento, e as variáveis

independentes ou explicativas do modelo seriam a

propensão marginal a consumir (c), a efi cácia marginal

do capital e a taxa de juros.

O investimento produtivo só seria racional se a

efi cácia marginal do capital fosse maior do que a

taxa de juros. Caso contrário, o empresário capitalista

preferiria investir em títulos da dívida pública do

Governo remunerados pela taxa de juros do que arriscar

50

Page 51: Revista de Conjuntura, n. 43

51

julho / setembro / 2010

seu capital no investimento produtivo. A efi cácia

marginal do capital seria a rentabilidade esperada

do investimento em bens de capital. A instabilidade

da efi cácia marginal do capital seria, também, uma

causa importante para a ocorrência das fl utuações do

investimento e dos ciclos econômicos.

Sendo assim, conforme Dillard (1.989), pode-se

perceber que as políticas monetária e fi scal agiriam

sobre as três variáveis independentes do modelo

keynesiano. A carga tributária do Governo infl uenciaria

o consumo, infl uindo, também, no investimento, o qual

seria também afetado pela taxa de juros da economia,

determinada pela política monetária do Governo, o

que também afetaria o nível de emprego. A política

fi scal, que envolve, simultaneamente, a receita e a

despesa públicas, também infl uenciaria a demanda,

o investimento e o nível de emprego. Um movimento

de política econômica que o Governo pode fazer é

o de aumentar a carga tributária sobre as camadas

mais abastadas da população e, com esses recursos,

conceder repasses destes últimos, por meio de políticas

sociais compensatórias, para as camadas mais pobres

da população, estimulando a demanda dos segmentos

de baixa renda. Seria o caso, no Brasil, do bolsa família,

pelo qual o Estado exerce sua função redistributiva

na economia. Por meio do incremento da renda das

camadas menos favorecidas da população, o Governo

estimula o consumo e contribui para aumentar o

investimento e o nível de emprego da economia. Um

simples aumento dos gastos públicos já contribuiria

para aquecer a demanda agregada e ajudar a economia

a sair da recessão, da mesma forma que uma redução

da carga tributária sobre o investimento privado

contribuiria para elevar o investimento e diminuir o

desemprego. Estes seriam dois exemplos de ação do

Governo via política fi scal, denominada anticíclica, por

se contrapor à ocorrência do ciclo econômico. Segundo

os economistas, a ação da política fi scal do Governo via

incremento dos gastos públicos é mais efi caz, ou seja,

acarreta maior aumento na renda da economia, do

que a ação da política fi scal do Governo via redução da

carga tributária.

Mas fi ca uma pergunta: de que maneira poderia

o aumento do investimento do Governo infl uenciar

no aumento da renda da economia? Respondendo

a essa indagação, Keynes descobriu o elemento que

denominou de efeito multiplicador, pelo qual um

aumento do investimento causaria um aumento

da renda correspondente a (k=1/s * o aumento do

investimento), sendo que k é o multiplicador e s é

a propensão marginal a poupar da economia. No

contexto de uma recessão econômica e do exercício,

pelo Governo, de uma política fi scal expansionista, o

multiplicador é assim explicado por Singer (1.996:46):

“As compras adicionais do governo proporcionam

receitas adicionais às empresas vendedoras, que as

usam para pagar matérias-primas e salários e distribuir

lucros; os agentes que obtêm estas rendas adicionais

usam ao menos parte delas para comprar bens de

produção (as empresas) e de consumo (os indivíduos).

Estas novas compras dão lugar a novas receitas e

ainda a novas compras, etc. Este é o mecanismo do

multiplicador da demanda”.

Por exemplo, vamos supor que a propensão marginal

a consumir (c) seja de 0,6, a renda da economia seja de

y=500, e o nível de investimento fosse de i=200. Caso

o investimento aumentasse em 70, de quanto seria a

nova renda de equilíbrio da economia?

Assim, se temos que c=0,6, s=0,4, pois c+s=1.

O multiplicador k=1/s seria k=1/0,4=2,5, ou seja, o

multiplicador dessa economia é de 2,5; assim, caso

‘‘

‘‘

O investimento produtivo

só seria racional se a efi cácia

marginal do capital fosse

maior do que a taxa de juros.

Caso contrário, o empresário

capitalista preferiria investir

em títulos da dívida pública

do Governo remunerados pela

taxa de juros do que arriscar

seu capital no investimento

produtivo.

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a

haja um aumento do investimento de 70, a renda da

economia aumentaria de 70*2,5=175. Logo a nova

renda de equilíbrio da economia seria aquela de antes

do aumento do investimento, 500 + 175 = 675.

Convém ressaltar que, no caso de haver uma

redução do montante do investimento também de 70, a

renda de equilíbrio da economia, ao invés de aumentar

em 175 unidades monetárias, iria diminuir em 175,

passando a ser de 500-175=325. Isto poderia ocorrer

no caso de, num momento de excessiva expansão

da oferta do ciclo econômico, em que exista risco de

infl ação, o Governo resolver combatê-la reduzindo os

gastos públicos e a demanda agregada, numa tentativa

de conter a escalada dos preços.

Tanto na fase expansionista quanto na contracionista

do ciclo econômico, o Governo pode atuar na política

fi scal aumentando ou reduzindo a carga tributária

sobre a economia e, também, fazendo o mesmo em

relação aos seus gastos. Na fase expansionista, na

qual pode ocorrer infl ação, o Governo pode aumentar

a carga tributária para conter o investimento e,

até, causar uma pequena recessão, para “esfriar” a

economia, além de reduzir os dispêndios públicos.

No período contracionista, pode fazer o contrário, ou

seja, reduzir a tributação para estimular o investimento

e aquecer a economia, além de aumentar os gastos

públicos. Essa combinação de redução da tributação,

com menor receita pública, e aumento das despesas

públicas, para combater a recessão, provoca elevação

da dívida e do défi cit públicos, e foi o que o Governo

brasileiro fez durante a crise de 2.008/2.009 para conter

o desemprego. Foi o caso da retirada da incidência

do IPI na fabricação dos automóveis, o que manteve

os empregos dos metalúrgicos trabalhadores das

indústrias automobilísticas montadoras multinacionais.

Um autor que faz referência aos instrumentos de

política econômica prescritos por Keynes para auxiliar

na reativação da economia quando da ocorrência de

depressão é Eaton (1.958:157), o qual nos informa que

“De um modo geral, são de quatro tipos os remédios

keynesianos: I – Aumento da capacidade do consumo

popular, para assim manter a procura de mercadoria; II

– Controle das inversões; III – Uso dos gastos públicos

para aumentar a atividade econômica; IV – Aumento

da propensão a consumir pela redistribuição da renda

em favor dos grupos de renda mais baixa.” Desta

forma, podemos sintetizar os remédios keynesianos

para combater a depressão econômica, como sendo

a recuperação da demanda agregada da economia

pela redistribuição, às camadas menos favorecidas da

população, dos recursos provenientes da tributação

progressiva dos ricos, e o incremento do investimento,

da renda e do nível de emprego por intermédio do

aumento das despesas do Governo.

Pela argumentação exposta, pode-se concluir que

a intervenção do Estado na economia de mercado

capitalista propugnada por Keynes não é no sentido de

o Estado atuar no sistema econômico como produtor

direto de bens e serviços, ou seja, como Estado

“empresário”, proprietário e administrador de empresas

produtoras dos mencionados bens e serviços, e sim

como regulador do investimento mediante o exercício

das políticas fi scal e monetária, com a fi nalidade de

tentar compatibilizar a demanda agregada com a

oferta agregada, de modo a atenuar os problemas mais

graves que ocorrem no sistema capitalista, que são a

infl ação e o desemprego. Caso o Estado negligencie o

desempenho da sua função reguladora, estabilizadora,

do sistema econômico capitalista, não exercendo, da

maneira apropriada, as políticas fi scal e monetária antes

mencionadas, as conseqüências serão deletérias para a

sociedade, assim como aconteceu na crise econômico-

fi nanceira ocorrida no ano de dois mil e oito, a qual

propagou seus efeitos para as principais economias do

mundo capitalista.

5 – Considerações Finais:

Por fi m, cabe destacar um importante aspecto

da teoria keynesiana levantado por Afonso (2.010),

e que constitui uma interpretação equivocada

dos postulados keynesianos, e que consiste no

juízo de que Keynes defende a política fi scal

expansionista e o incremento dos gastos públicos

em qualquer circunstância ou conjuntura econômica.

Sobre o assunto, o referido autor escreve que

“Para Keynes, a política fi scal deve assumir papéis

diversos em conjunturas diferentes, ao contrário do

senso comum que supõe que o economista defendeu

uma expansão permanente do gasto público em

52

Page 53: Revista de Conjuntura, n. 43

53

julho / setembro / 2010

qualquer contexto. Tal situação era recomendada

para uma situação bastante específi ca: o Estado tendo

que assumir o comando da decisão de investir e de

fomentar a demanda efetiva, depois que a economia

tivesse entrado em colapso e como reação à crise”

(Afonso, 2.010:2,3).

Outro trecho em que o autor supracitado faz

referência ao mesmo assunto é o a seguir transcrito:

“Entende-se que Keynes não pregou um aumento

do gasto público permanente, ou no longo prazo –

como muitos vieram a interpretar a partir de sua obra.

É correto, sim, atribuir a ele o ideal de uma política

fi scal anticíclica, em que acumula superávits na fase

de expansão do ciclo, para ampliar o gasto na fase da

depressão” (Afonso, 2.010:6).

Desta forma, pode-se concluir que, de acordo com

a fase do ciclo econômico, o caráter da política fi scal

vai variar; na fase recessiva do ciclo, será expansionista

para auxiliar a economia a sair da recessão, por meio do

incremento dos dispêndios do Governo e da redução

da tributação sobre o investimento privado, o que

vai aumentar o investimento, o nível de emprego e a

renda. Esta foi a característica que fi cou mais famosa

ou popular do receituário keynesiano. Mas este último

não se restringe a esse argumento, tanto que, na fase

expansiva do ciclo, ocorrerá o oposto: a política fi scal

será contracionista, com redução dos gastos públicos

e aumento da tributação sobre o investimento privado,

para combater a ameaça de alta generalizada dos

preços, a infl ação, a qual pode ocorrer na etapa de

expansão do ciclo econômico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AFONSO, José Roberto. “Keynes, Investimento e

Política Fiscal na crise”, artigo aceito para apresentação

no III Encontro da Associação Keynesiana Brasileira,

realizado entre 11 e 13 de agosto de 2.010;

CARVALHO, Fernando Cardim. “Equilíbrio Fiscal e

política econômica keynesiana”, artigo publicado na

Revista Análise Econômica, Porto Alegre, ano 26, n.50,

p.7-25, 2.008;

DILLARD, Dudley. “A Teoria Econômica de John

Maynard Keynes”, Editora Pioneira, São Paulo, 1.989;

EATON, John. “Marx contra Keynes”, Editora Fundo de

Cultura, Rio de Janeiro, 1.958;

FERRARI FILHO, Fernando e Fábio Henrique Bittes

Terra, “As políticas fi scal e monetária em Keynes:

refl exões para a economia brasileira no período pós-

Plano Real”, artigo aceito para apresentação no III

Encontro da Associação Keynesiana Brasileira, realizado

entre 11 e 13 de agosto de 2.010;

PEREIRA, José Matias, “Finanças Públicas: A política

orçamentária no Brasil”, 3ª edição, Editora Atlas, São

Paulo, 2.006;

SINGER, Paul, “O que é economia”, Editora Brasiliense,

São Paulo, 1.996;

VIEIRA FILHO, Francisco de Sousa; CAMPOS,

Teresinha de Jesus Moura Borges. Análise das teorias

keynesianas com ênfase no seu direcionamento

para o atual contexto sócio-econômico e jurídico

mundial. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1281, 3 jan.

2007. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/

texto/9355>. Acesso em: 13 dez. 2010.

Carlos Frederico [email protected]

Economista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília

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ura

O PROCESSO LEGISLATIVO

FEDERALMiguel Gerônimo da Nóbrega Netto

Doutrinados para reverenciar as normas legais

e constitucionais já prontas, os advogados, os

magistrados, os estudantes de Direito, economistas

e outros agentes vinculados à atividade jurídica,

fi nanceira e econômica dão pouca importância

ao papel desempenhado pelo Poder Legislativo,

principalmente em relação à produção e modifi cação

das normas jurídicas. Nestes termos, o presente artigo

se propõe a apresentar as fases e os procedimentos

pelos quais se submetem as proposições até

entrarem defi nitivamente no mundo jurídico, além de

dispor sobre outros institutos que compõem a função

legislativa, particularmente quanto à fi scalização

das ações das autoridades governamentais. A

importância desse assunto torna-se mais relevante

quando associado ao fato de que acabamos de

passar por um importante processo eleitoral

em que boa parte dos Deputados e Senadores

foram renovados e que eles têm a incumbência

de elaborarem as normas federais de nosso País.

A cada legislatura1, a sociedade transfere aos

novos representantes eleitos suas esperanças de

transformar o Brasil em uma Nação mais justa.

Assim, faz-se necessário compreender qual o papel

a ser desempenhado pelos congressistas, a partir

do entendimento de como se opera o sistema

legislativo. Nestes termos, ao Poder Legislativo federal

cabe elaborar as normas legais e constitucionais.

Essa importância se expande além das fronteiras da

União, uma vez que a norma federal sobrepõe-se às

estaduais e municipais no que lhe forem contrárias2.

Além disso, o Legislativo cumpre papel primordial ao

exercer a fi scalização fi nanceira, operacional, contábil,

orçamentária e patrimonial dos poderes da União.

Este estudo resumido concentra suas análises

no processo de elaboração dos diplomas jurídicos,

numa tentativa de mostrar as particularidades

desenvolvidas pelas duas Casas do Congresso

Nacional. Primeiramente, cabe defi nir em que

consiste o processo de formação do ordenamento,

entendendo-se como o conjunto de atos e regras

– iniciativa, emendamento, discussão, votação,

sanção, promulgação, publicação, veto etc –

praticados pela Câmara dos Deputados e pelo

Senado Federal, bem como com a participação,

no que couber, do Presidente da República.

Para que o leitor melhor se situe neste exame

e para permitir a obtenção de mais informações

sobre a matéria, ressalta-se que a base do processo

legislativo federal encontra-se na Constituição

Federal, principalmente nos arts. 44 a 75. Mais

precisamente, nos arts. 44 a 58, a Constituição dispõe

sobre os aspectos básicos do Congresso Nacional

– composição, atribuições, limites da atuação dos

parlamentares, reuniões etc. A partir do art. 59 até

* 1 A legislatura corresponde ao período de quatro anos. Art. 44, parágrafo único, da Constituição Federal.

* 2 Art. 24, § 4º, da Constituição Federal.

54

Page 55: Revista de Conjuntura, n. 43

55

julho / setembro / 2010

o 75, a Carta Magna estabelece as regras básicas

inerentes ao processo legislativo propriamente

dito, ao tratá-lo de forma genérica, remetendo aos

Regimentos Internos das duas Casas e do Congresso

Nacional, os detalhes sobre a tramitação das matérias3.

Além disso, em outros dispositivos, a Constituição

dispõe sobre importantes temas, como a competência

da União para legislar – arts. 22 e 24 -, e a elaboração

das leis que tratam sobre o processo orçamentário –

arts. 165 a 169 – consideradas estas, por especialistas,

como sendo as principais peças infraconstitucionais4.

O processo legislativo federal brasileiro é

organizado sob a égide de um sistema bicameral,

em que uma Casa Legislativa inicia o processo,

enquanto a outra o revisa, apresentando

também modifi cações, por meio de emendas5.

Preliminarmente, cabe apresentar aspectos

meritórios da Câmara dos Deputados e do Senado

Federal. Segundo o art. 45 da Carta Magna, a Câmara

dos Deputados compõe-se representantes do povo,

eleitos segundo o sistema proporcional, em cada

unidade de federação. Atualmente, esta Casa conta com

513 parlamentares, sendo que cada Estado e o Distrito

Federal terão no mínimo oito deputados e no máximo

setenta6, eleitos para um mandato de quatro anos.

Por sua vez o Senado Federal conta com 81

Senadores (três por cada unidade da federação),

eleitos segundo o princípio majoritário, por um

período de oito anos, renovado a cada quatro

anos, alternadamente, por um e dois terços.

O objetivo do processo legislativo é a produção

de emendas à Constituição, leis complementares,

leis ordinárias, leis delegadas, decretos legislativos

e resoluções, como resultado da aprovação das

proposições que tramitam nas diversas instâncias das

Casas legislativas. Segundo o art. 100, § 1º, do Regimento

da Câmara dos Deputados, constituem proposições

as propostas de emendas à Constituição - PECs, as

indicações, os requerimentos, os recursos, os pareceres,

as propostas de fi scalização e controle e os projetos.

Por sua vez, os projetos podem ser de lei ordinária, de

lei complementar, de decreto legislativo e de resolução.

Há distinções entre os diversos tipos de normas.

No caso das leis complementares e ordinárias,

destaca-se a característica de que as primeiras só

devem ser utilizadas como instrumento legislativo

quando a Constituição, expressamente, assim

determina. São exemplos desta particularidade

os arts. 59, parágrafo único e o art. 165, § 9º. Além

disso, os projetos de leis complementares devem

ser aprovados por maioria absoluta7 e, em regra, em

dois turnos8, ao passo que as ordinárias, por maioria

simples9 e em apenas uma rodada de discussão e

* 3 Os Regimentos Internos da Câmara dos Deputados, do Senado e o Regimento Comum foram aprovados, respectivamente, pelas Resoluções

nº 17, de 1989 - CD, nº 93, de 1970 – SF e nº 1, de 1970 – CN.

* 4 Sobre a matéria orçamentária, recomenda-se observar também os mandamentos contidos no art. 35, § 2º, I a III, dos Atos das Disposições

Constitucionais Transitorias – ADCT.

* 5 Emenda é a proposição apresentada como acessória de outra principal, podendo ser supressivas, aglutinativas, substitutivas, modifi cativas e

aditivas.

* 6 Por ser o Estado mais populoso do País, apenas São Paulo elege setenta deputados, por força da Lei Complementar nº 78, de 30 de dezem-

bro de 1993.

* 7 Na Câmara a maioria absoluta é representada por 257 deputados; no Senado, por 41 senadores.

* 8 Art. 148 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

* 9 Art. 47 da Constituição Federal.

‘‘ ‘‘

A cada legislatura, a

sociedade transfere aos

novos representantes

eleitos suas esperanças

de transformar o

Brasil em uma Nação

mais justa.

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a

votação. Uma vez rejeitadas, as matérias constantes

dos projetos não poderão ser reapresentadas na

mesma sessão legislativa, salvo manifestação de

apoio da maioria absoluta de qualquer das Casas.

Em geral, as matérias tramitam nas duas Casas

separadamente, mas há temas que devem ser

decididos em sessões ou em reuniões conjuntas, onde

se juntam os deputados e senadores em um mesmo

momento e lugar. São os casos das proposições que

tratam do orçamento federal, das delegações do

Congresso para permitir o Presidente da República

legislar10, da apreciação do veto presidencial aos

projetos de lei, da inauguração da sessão legislativa,

da posse do Presidente da República e de seu Vice,

da elaboração e modifi cação do Regimento Comum

e da promulgação das emendas à Constituição.

A primeira fase do processo legislativo

consubstancia-se com iniciativa de qualquer

parlamentar – individual ou coletivamente - ou

comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso

Nacional, do Presidente da República, do Supremo

Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores, do

Procurador-Geral da República e dos cidadãos, na

forma e nos casos previstos na Carta Magna11 - para

os projetos de lei ordinárias e complementares.

No caso das propostas de emenda à Constituição,

caberá ao Presidente da República, às Assembléias

Legislativas e a um terço de Deputados ou

Senadores12 darem partida ao processo.

Por força do art. 64, caput13, da Constituição,

a maioria dos projetos de lei14 iniciam-se pela

Câmara dos Deputados. Além disso, os projetos de

iniciativa popular e as medidas provisórias também

têm ingresso prioritário por esta Casa legislativa.

Ao receber as proposições, os Presidentes

da Câmara ou do Senado, interessados em dar

encaminhamento às matérias, fazem a distribuição às

Comissões – permanentes15 ou temporárias16 – para

que essas possam emitir suas avaliações mediante a

apresentação de um parecer17. Estas desempenham

papel primordial na tramitação, principalmente pela

inovação instituída pela Carta de 1988, ao estabelecer

poder conclusivo para os projetos de lei ordinária. Esta

prerrogativa trata da dispensa do pronunciamento

do Plenário das respectivas Casas legislativas, ao

* 10 Art. 68 da Constituição Federal.

* 11 Art. 61 da Constituição Federal.

* 12 Art. 60, I a III, da Constituição Federal.

* 13 A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores

terão início pela Câmara dos Deputados.

* 14 Os projetos de lei podem ser: ordinária e complementar. Art. 109 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

* 15 Comissões permanentes são as de caráter técnico-legislativo ou especializado integrantes da estrutura institucional da Casa a que pertença,

agentes do processo legislativo, com diversas competências constitucionais e regimentais. Art. 22, I, do Regimento da Câmara.

* 16 Entende-se por comissões temporárias as criadas para apreciar determinado assunto, que se extinguem ao término da legislatura, ou antes,

quando alcançado o fi m a que se destinam ou expirado seu prazo de duração. Art. 22, II, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

* 17 Parecer é a proposição com que uma Comissão se pronuncia sobre qualquer matéria sujeita a seu estudo. Art. 126, caput, do Regimento

Interno da Câmara dos Deputados.

‘‘

‘‘

O objetivo do processo

legislativo é a produção de

emendas à Constituição,

leis complementares, leis

ordinárias, leis delegadas,

decretos legislativos

e resoluções, como

resultado da aprovação das

proposições que tramitam

nas diversas instâncias das

Casas legislativas.

56

Page 57: Revista de Conjuntura, n. 43

57

julho / setembro / 2010

concentrar os debates e as deliberações no âmbito

das comissões, dando mais celeridade ao processo.

Após toda a tramitação no âmbito da Câmara e do

Senado, os projetos de lei ordinária e complementar

– estatisticamente, são os projetos mais utilizados

na práxis legislativa – seguem para avaliação do

Presidente da República. Cabe ao Chefe do Poder

Executivo sancionar, promulgar e publicar o

instrumento legislativo. Caso considere o projeto ou

parte dele inconstitucional ou contrário ao interesse

público, poderá vetá-lo total ou parcialmente,

conforme o caso, informando ao Presidente do

Senado Federal18 em que consiste as suas restrições.

O veto deverá ser apreciado pelos membros

do Congresso Nacional, em sessão conjunta, que

somente será rejeitado pela maioria absoluta

dos Deputados e Senadores, em votação secreta.

Para facilitar a visualização e o entendimento

de como se procede a tramitação legislativa

federal, apresenta-se, a seguir, um fl uxograma

constitucional com as diversas fases percorridas

pelos projetos de lei ordinária e complementar.

Além da criação de leis19, o Legislativo pode

modifi car as normas em vigor, com destaque para as

alterações na Lei Maior, devendo, para isso, observar

determinados procedimentos, sem os quais as

tentativas de mudanças no texto constitucional

tornam-se improdutivas. Segundo o art. 60 da própria

Constituição, além de dois turnos20, serão necessários

pelo menos três quintos de votos favoráveis dos

membros de ambas as Casas21 para a aprovação da

proposta. Além disso, a Constituição não poderá ser

emendada na vigência de intervenção federal, de

estado de defesa ou de sítio22. Também não serão

admitidas propostas tendentes a abolir a forma

federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal

e periódico, a separação dos poderes e os direitos

e garantias individuais23 - cláusulas pétreas. Caso a

proposição tenha sido rejeitada ou prejudicada, não

* 18 O Presidente do Senado Federal é também o Presidente da Mesa do Congresso Nacional.

* 19 Lei em sentido genérico, pois esse é um dos tipos de normas que formam o ordenamento jurídico nacional.

* 20 Cada turno é constituído de discussão e votação. Art. 149, caput, do Regimento da Câmara.

* 21 Na Câmara, 308 votos; no Senado 49.

* 22 Art. 60, § 1º, da Constituição.

* 23 Art. 60, § 4º, da Constituição.

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a

será admitida a apresentação de nova proposta na

mesma sessão legislativa24 . É de salientar que as PECs são

promulgadas pelas Mesas da Câmara dos Deputados

e do Senado Federal, em sessão conjunta e solene25.

Instrumento legislativo de grande utilidade para o

Presidente da República são as medidas provisórias,

recurso que deveria ser utilizado apenas em caso de

relevância e urgência. Meio de grandes controvérsias

e discussões, trata-se de uma proposição que, uma

vez adotada, passa a ter força de lei, até ser apreciada

defi nitivamente pelas Casas legislativas. Grande

avanço foi alcançado pelo advento da Emenda

Constitucional nº 32, de 2001, que apresentou

importantes modifi cações quanto a sua adoção,

como a observância do prazo de sua vigência -

sessenta dias, permitida apenas uma prorrogação

por igual período, eliminando de vez o artifício das

intermináveis reedições -, sem a qual a medida perde

a sua validade. Também as vedações para tratar

sobre determinados assuntos mostrou-se de grande

utilidade para inibir abusos no tratamento legislativo

de determinadas matérias. Dessa maneira, não mais

poderão ser reeditadas ilimitadamente, nem poderão

dispor, por exemplo, sobre a detenção ou seqüestro

de poupança popular. Após a aprovação da medida

provisória o instrumento tornar-se uma lei ordinária.

Em consonância com as regras democráticas

instituídas pela Carta promulgada em 5 de outubro

de 1988, possibilitou-se ao cidadão exercitar a

democracia direta26 mediante a apresentação de

projeto de lei ordinária. Infelizmente as barreiras

a serem transpostas para o efetivo exercício desta

prerrogativa têm tornado o instrumento pouco

prático, uma vez que é necessária a reunião de um

por cento de assinaturas do eleitorado nacional –

cerca de 1.350.00027 -, distribuídas em pelo menos

cinco unidades da federação, com não menos de

três milésimos de assinaturas em cada um deles.

Sensíveis a essa realidade, as Casas legislativas

têm colocado à disposição dos cidadãos outras

alternativas. Para isso, a Câmara dos Deputados

criou a Comissão de Legislação Participativa, bem

como a Ouvidoria Parlamentar com o objetivo de

receber propostas e sugestões que possam vir a

serem adotadas pela Casa representativa do povo.

Além da competência para legislar, o Parlamento

vale-se de poder para fi scalizar e investigar as ações

das autoridades públicas. Um dos instrumentos mais

conhecidos consiste na instituição de Comissões

Parlamentares de Inquérito, mais conhecidas como

CPIs. Elas podem ser criadas no âmbito da Câmara, do

Senado ou reunindo em uma só comissão deputados

e senadores – as mistas. Têm poderes próprios de

investigação das autoridades judiciais - somente de

investigação -, para apurarem fatos determinados em

prazos defi nidos – em regra por 120 dias, podendo

ser prorrogado por até mais sessenta28. Para que o

‘‘ ‘‘

Instrumento legislativo

de grande utilidade

para o Presidente

da República são as

medidas provisórias,

recurso que deveria ser

utilizado apenas em caso

de relevância e urgência.

* 24 As sessões legislativas podem ser ordinárias e extraordinárias. As primeiras compreendem o período de 15 de fevereiro a 30 de junho e 1º de agosto a 15 de dezembro. As extraordinárias, no intervalo desses períodos.* 25 Art. 60, § 3º, da Constituição, combinado com o art. 85 do Regimento Comum.* 26 Segundo o art. 14, I a III, a democracia direta pode ser exercida por meio de plebiscito, referendo e iniciativa popular.* 27 Para as eleições de 2010 estavam registrados junto ao Tribunal Superior Eleitoral 135.804.433 eleitores.* 28 A jurisprudência tem permitido o funcionamento das CPIs até o encerramento da legislatura.

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Page 59: Revista de Conjuntura, n. 43

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julho / setembro / 2010

Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto

[email protected].

Economista e Advogado. Servidor da Câmara dos Deputados,

ex-Chefe de Gabinete de Liderança partidária. Atual assessor da

Diretoria Legislativa, professor de processo legislativo em cursos

regulares e de pós-graduação junto do Centro de Formação,

Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara e em outras instituições

de ensino superior. É autor de cinco livros sobre o assunto e

elaborador e editor do Programa da Rádio Câmara intitulado

Conheça o Processo legislativo.

julho / setembro / 2010

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seu uso não seja banalizado, devem ser cumpridas

determinadas exigências para a sua instituição, como o

apoio de um terço dos parlamentares – 171 assinaturas

na Câmara ou 27 no Senado. Aprovam um relatório

fi nal que deverá ser encaminhado, conforme o caso, ao

Ministério Publico para promover a responsabilidade

civil ou criminal por infrações apuradas, bem como

outras, em função de sua competência institucional,

ao Poder Executivo para as providências saneadoras

de caráter disciplinar e administrativo, e aos

demais órgãos pertinentes do Congresso Nacional.

Ainda no âmbito da competência constitucional

de fi scalização, o art. 70 da Constituição Federal

dispõe que cabe ao Congresso Nacional a

incumbência da fi scalização contábil, fi nanceira,

orçamentária, operacional e patrimonial da União

e das entidades da administração direta e indireta,

quanto à legalidade, legitimidade e economicidade.

Para isso, o Poder Legislativo federal conta com

auxílio do Tribunal de Contas da União que pode

realizar por iniciativa própria ou das Casas do

Congresso Nacional, inspeções e auditorias em

qualquer órgão federal da Administração Pública.

É notória a grandeza, a importância e a

complexidade do processo legislativo federal.

Acima de tudo, viabiliza práticas democráticas

que levam ao exercício da cidadania mediante

um mosaico de medidas e possibilidades. Com o

esforço das autoridades, dos cidadãos e de seus

representantes, o aperfeiçoamento do Legislativo

deve ser perseguido para que este Poder possa

aprimorar, a cada dia, o seu papel institucional da

maneira mais transparente possível para satisfazer os

interesses dos cidadãos nas áreas social e econômica.

Page 60: Revista de Conjuntura, n. 43

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Conselho Regional de Economia da 11ª Região-DFSCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202

CEP 70300-907 - Brasília -DF Tels: (61) 3225-9242 / 3223-1429

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E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.br

O Corecon/DF defende os

interesses da categoria e

trabalha pela valorização dos

economistas.

Mas, para que esta luta seja

bem-sucedida, é importante

a participação de todos.

Visite o seu Conselho.

Critique. Dê sugestões.

Participe! A conquista é de todos.

Não quebre a corrente!

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