revista babel n.º 2

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babel REVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/ULBRA-CANOAS/RS JULHO DE 2007 ANO 1 NÚMERO 2 TORNADOS A CAMINHO DO SUL Fenômeno assusta cada vez mais países da América do Sul. A região Oeste do Estado é a mais vulnerável à ocorrência de ventos fortes. PÁGINA 12 Verdades e mitos sobre o aquecimento do planeta PÁGINA 16 O mundo no blog de Luiz Carlos Azenha PÁGINA 8 Deraldo Goulart, o repórter gaúcho na cena nacional PÁGINA 30 Maria do Carmo em horário nobre na UlbraTV PÁGINA 24

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Revista produzida pelos alunos da disciplina de Produção Jornalística II no primeiro semestre de 2007. Eduado Brancalion, Fernanda Rosito, Kamila Urbano, Marcelo de Oliveira, Pablo Rozados, Rafael dos Santos Munhos, Raoni Vasconcelos Avozani, Rodrigo Bitar Franskoviak, Vanessa Ciechowicz. Colaboração de Rita de Cássia da Silva. Fotografia: Leonardo Lenskij. Revisão: Astomiro Romais (RPMT/RS 7947). Diretor da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Sérgio Roberto Lima Lorenz (RPMT/RS 9250) Coordenador do curso de Jornalismo Douglas Flor (RPMT/RS 7384 ) Jornalista responsável Rosane Torres (RPMT/RS 5141) Projeto Gráfico Jorge Gallina (RPMT/RS 4043) Fale conosco: [email protected]

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babelREVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/ULBRA-CANOAS/RS

JULHO DE 2007 ANO 1 NÚMERO 2

TORNADOSA CAMINHODO SULFenômeno assustacada vez mais paísesda América do Sul.A região Oeste doEstado é a maisvulnerável àocorrência deventos fortes.PÁGINA 12

Verdades emitos sobreo aquecimentodo planetaPÁGINA 16

O mundono blog deLuiz Carlos AzenhaPÁGINA 8

Deraldo Goulart,o repórter gaúchona cena nacionalPÁGINA 30

Maria do Carmoem horário nobrena UlbraTVPÁGINA 24

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EDITORIAL2

REVISTA BABEL - JULHO DE 2007

O meio ambiente e oprofissional de comunicação

O planeta começou a ser degradado no momento emque a produção industrial acelerou os processos produtivos,de modo a não deixar tempo para os recursos naturais serecuperarem naquilo que vinha sendo tomado da naturezapara produzir mais e melhor. Mas, a tomada de consciênciademorou. Foi preciso que as conseqüências da exploraçãodespreocupada das águas e da madeira se mostrassem demaneira dramática. Foi necessário que o céu não aparecessemais azul e que a terra mostrasse suas entranhascomprometidas, sem energia, sem oferecer qualquerriqueza a mais para arrancar de lá. Foi preciso o homemadoecer, muito, de muitas doenças.

Mas, ainda bem, profissionais de comunicação têm feitosua parte para trazer consciência a todos sobre os riscos daexploração despreocupada dos recursos naturais. Jornalistasvêm reportando os abusos cometidos contra o meioambiente, assim como as ações que vão acontecendo paraminimizar seus efeitos. Profissionais de publicidade epropaganda usam seus recursos técnicos para mostrar o queempresas ambientalmente responsáveis estão fazendo e paracooptar o público para um comportamento compatível comesta responsabilidade. Relações-públicas trabalham com asaltas direções/gerências das organizações para que criemriqueza com responsabilidade ambiental. E com seuspúblicos, para que usem seus produtos/serviços da mesmaforma. Fotógrafos e cineastas registram e exibem tudo isto,com beleza, poesia, dramaticidade, cores e efeitos especiais.

Que bom que existem bons profissionais decomunicação. Porque, mesmo que alguns digam queseparar o lixo reciclável e realizar outras pequenas mudançasde atitude no nosso dia-a-dia – como escovar os dentes coma torneira fechada – são pouco, a soma dessas ações fazemdiferença. Fazem com que cada um pense na parte que lhecabe para a manutenção da vida no planeta em condiçõesde saúde e bem-estar. Das práticas individuais até asexigências sociais quanto a empresas e governosecologicamente responsáveis.

A presente edição da Babel, revista produzida nadisciplina de Produção Jornalística II e finalizada na AgênciaExperimental de Comunicação Integrada, traz matérias quepodem ser vistas com uma contribuição dos alunos do cursode Comunicação Social da ULBRA para o esforço racionalem prol da manutenção de uma vida mais saudável do e noplaneta terra. São parte do resultado do trabalho de alunose professores do curso para, na experiência de formaçãoprofissional, incluir a perspectiva da responsabilidade decada um na qualidade de vida de todos. Aproveite.

Reitor Ruben Eugen Becker

Vice-reitor Leandro Eugênio

Becker Pró-reitor de Administra-

ção Pedro Menegat Pró-reitor

de Graduação da Unidade

Canoas Nestor Luiz João Beck

Pró-reitor de Graduação das

Unidades Externas Osmar

Rufatto Pró-reitor de Pesquisa e

Pós-graduação Edmundo Kanan

Marques Capelão Geral Pastor

Gerhard Grasel Ouvidoria Geral

Eurilda Dias Roman Diretora de

Comunicação Social Sirlei Dias

Gomes Coordenador de Impren-

sa Rosa Ignácio Leite Diretor da

área de Ciências Humanas e

Sociais Aplicadas Sérgio

Roberto Lima Lorenz (RPMT/

RS 9250) Coordenador do curso

de Jornalismo Douglas Flor

(RPMT/RS 7384 ) Jornalista

responsável Rosane Torres

(RPMT/RS 5141) Projeto

Gráfico Jorge Gallina (RPMT/

RS 4043) Fale conosco:

[email protected]

Revista produzida pelos

alunos da disciplina de

Produção Jornalística II no

primeiro semestre de 2007.

Eduado Brancalion,

Fernanda Rosito, Kamila

Urbano, Marcelo de

Oliveira, Pablo Rozados,

Rafael dos Santos Munhos,

Raoni Vasconcelos Avozani,

Rodrigo Bitar Franskoviak,

Vanessa Ciechowicz.

Colaboração de Rita de

Cássia da Silva. Fotografia:

Leonardo Lenskij. Revisão:

Astomiro Romais (RPMT/RS

7947).

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2007

ÍNDICEÍNDICE

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O conjunto do Olariaperdeu o clima detranqüilidade e recebecentenas de pessoas,especialmente à noite

VIDA NOTURNA

A dura rotina dopapeleiro Silveira, 34anos, que sobrevivetrabalhando nas ruasde Porto Alegre

20

Prédios como o daPrefeitura da capitalestão no roteiro dequem quer conhecerbelezas da cidade

4

TURISMO

Uma das regiõesmais ricas do Estadoenfrenta o drama dapoluição do Rio dosSinos

14

MEIO AMBIENTE

URBANISMOPrédio históricodo MercadoPúblico é restauradona capital 10

ENSINOUm bom RP deve serum bom pesquisador,afirma professorespanhol 27

TECNOLOGIAMáquinas digitais sepopularizam e caemno gosto dosconsumidores

26

BAIRRORestinga vivenovos tempos eexperimentatranqüilidade 23

MUSEUMemória doesporte ganha salaem shopping dePorto Alegre 19

CIDADE GRANDE

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PORTO ALEGRE4

Pablo Rozados

Os roteiros turísticos disponíveis na internet, nasbancas de jornal e livrarias não incluem a capitalgaúcha. Mas Porto Alegre não é desprovida de pontosturísticos. Questionado sobre as belezas da cidade,qualquer morador indicaria, sem dúvida, a Usina doGasômetro, a Estátua do Laçador e o pôr-do-sol doGuaíba.

Para quem está chegando ou para quem mora emPorto Alegre, o guia especializado em turismo efuncionário da Secretaria de Turismo, FredericoMendes, tem um roteiro pronto. Segundo ele, o passeiocomeça pelo Monumento do Laçador, localizadopróximo ao Aeroporto Internacional Salgado Filho.

– Com 4m45cm de altura e pesando 3,8 toneladas, omonumento é a representação de um gaúcho e foiescolhido como símbolo da capital em 1991 pelamaioria dos votos populares – explica o guia.

O prédio do hotel Majestic, que teve seu auge entreos anos 30 e 50, e que hoje abriga a Casa de CulturaMário Quintana, localizado no centro da cidade, éum dos pontos que desperta interesse do turista.

– Uma das atrações é a reconstituição fiel do quartoonde o poeta morava, que é uma verdadeira viagemno tempo – diz Mendes.

Também chamam aatenção de quem passapor Porto Alegre ohistórico prédio do San-tander Cultural, queabriga exposições deobras de arte, e o do Mu-seu de Artes do Estado(Margs), ambos nocentro.

– As exposições doMargs mostram obrasde todos os períodos emovimentos culturaisque se desenvolveramna região. Do início doséculo XIX até obrascontemporâneas – in-forma o guia.

A cidade que não apa-rece nos guias de turismooferece outras belezasarquitetônicas aos visi-tantes, como os prédio doPalácio Piratini, TeatroSão Pedro e Palácio Far-roupilha (onde funciona aAssembléia gaúcha).

A cidade que oturista procura

Beleza do antigo prédio dos Correios e TBeleza do antigo prédio dos Correios e TBeleza do antigo prédio dos Correios e TBeleza do antigo prédio dos Correios e TBeleza do antigo prédio dos Correios e Telégrafelégrafelégrafelégrafelégrafos encanta visitantos encanta visitantos encanta visitantos encanta visitantos encanta visitanteseseseses

A Catedral Metropolitana é um dos pontos em destaque A Catedral Metropolitana é um dos pontos em destaque A Catedral Metropolitana é um dos pontos em destaque A Catedral Metropolitana é um dos pontos em destaque A Catedral Metropolitana é um dos pontos em destaque

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Belezas arquitetônicas e recantosainda não totalmente explorados fazem ocharme da capital dos gaúchos.

UUUUUma das jóias da cidade, o prédio do Tma das jóias da cidade, o prédio do Tma das jóias da cidade, o prédio do Tma das jóias da cidade, o prédio do Tma das jóias da cidade, o prédio do Teatreatreatreatreatro São Po São Po São Po São Po São Pedredredredredro fo fo fo fo foi toi toi toi toi toooootalmenttalmenttalmenttalmenttalmente restauradoe restauradoe restauradoe restauradoe restaurado

e no roteiro turístico; ao lado, o prédio do Margse no roteiro turístico; ao lado, o prédio do Margse no roteiro turístico; ao lado, o prédio do Margse no roteiro turístico; ao lado, o prédio do Margse no roteiro turístico; ao lado, o prédio do Margs

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COMPORTAMENTO6

Eduardo Brancalion

Mal a tarde começa a cair, aos domingos, e parte darua Lima e Silva se transforma. Vira uma praça deguerra. Aparece gente de todos os lados. O ponto deconvergência é o conjunto de cinema, restaurante,bares e livraria, conhecido como Shopping Guion.Adolescentes, homossexuais, punks, roqueiros ebaderneiros de todos os quadrantes da Capital e daRegião Metropolitana.

O conjunto do Olaria, que no passado foi um redutoalternativo para quem queria fugir do tumulto dosgrandes shoppings, perdeu o clima de tranqüilidade,que lembrava uma praça das pequenas cidades, comchafariz ao centro e bancos e mesas espalhados nacalçada da frente e em um pátio interno. Aos domingos,todos os espaços ficam lotados, principalmente ascalçadas do Guion e a rua diante do prédio. Asintenções da multidão são as mais diversas e vão desdeuma simples paquera até barulhentas confusõesmovidas a álcool. As desavenças envolvem tambémos moradores do próprio bairro, que se sentemincomodados, os comerciantes, que não suportammais os clientes indesejados e integrantes de tribosdiversas. Em meio às confusões, que não respeitamnem mesmo os motoristas que tentam trafegar pelolugar, é possível se ver manifestações exacerbadas decarinho público. Algo que beira o atentado ao pudor edeixa a todos, principalmente vizinhos do Guion,constrangidos.

O clima de baderna predomina. Se alguém de-sembarcar naquele espaço numa noite qualquer dedomingo, haverá de pensar que “caiu” numa terra deninguém, sem lei, sem policiamento, sem autoridade...Este é o aspecto da Lima e Silva na tarde-noite dedomingo: um salve-se quem puder. Se você não quiserse irritar, evite a área, transite por outro lugar, façavoltas com seu carro, mas não passe por ali. Nas tardes-noites de domingo, a Lima e Silva não é de ninguém, oumelhor, é dos baderneiros.

Mas o que quer esta multidão, afinal? Para a adoles-cente Lívia Antunes, 15 anos, residente na vilaLeopoldina, em Porto Alegre, este espaço é sua únicaalternativa de paquera:

– Venho aqui por que acho pessoas que pensam comoeu. Eu gosto de meninas e muita gente não aceita isso.Aqui me sinto bem.

A namorada de Lívia, Carla Schain,16 anos, deGravataí, também concorda que o espaço que se abreno Guion é sinônimo de liberdade.

– Não tenho liberdade em casa. Minha mãe não sabeda minha opção sexual. E onde eu moro não tem um

lugar para os homossexuais se encontrarem. Aqui nãotem problema. O que eu não gosto é da confusão que ficaa rua. E estão até falando que a culpa disso é dos homos-sexuais. Mas isto é mentira – afirma ela.

O conjunto do Olaria é, sim, um espaço de quem nãogosta dos grandes centros, mas é, também, um redutode homossexuais na capital. Os próprios lojistasgarantem que já estão acostumados com este público.Todos os comerciantes do lugar são unânimes emafirmar, no entanto, que os freqüentadores incomodamos donos de lojas, os moradores e os motoristas pelabaderna que promovem nas tardes-noites de domingo.

Uma comerciante que – por motivos óbvios – pediupara não ser identificada, disse que está pensando emnão abrir mais sua loja aos domingos.

– Muitos dos meus clientes não têm mais paciênciapara vir à loja. Eles se sentem desconfortáveis e muitasvezes são alvos de brincadeiras de mau gosto, de pessoasmal intencionadas – reclama ela.

O segurança do shopping Guion é instruído por seuschefes a não deixar os adolescentes usarem a parteinterna do local por que o histórico dos jovens é dedesrespeito aos padrões normais. Vandalismo, uso dedrogas e orgias já foram flagrados no banheiro e nasdependências do lugar. O que os lojistas pedem é respeito,sem esboçar críticas à opção sexual, um direito de todoo cidadão.

Minoriasdo Olaria

O Shopping Guion perO Shopping Guion perO Shopping Guion perO Shopping Guion perO Shopping Guion perdeu o clima de tranqüilidade, qdeu o clima de tranqüilidade, qdeu o clima de tranqüilidade, qdeu o clima de tranqüilidade, qdeu o clima de tranqüilidade, queueueueue

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“Muitos dos meus clientes não têm maispaciência para vir à loja.”

ue lembraue lembraue lembraue lembraue lembravvvvva uma praça das peqa uma praça das peqa uma praça das peqa uma praça das peqa uma praça das pequenas cidades do intuenas cidades do intuenas cidades do intuenas cidades do intuenas cidades do interioreriorerioreriorerior, e ganhou ares de espaço alt, e ganhou ares de espaço alt, e ganhou ares de espaço alt, e ganhou ares de espaço alt, e ganhou ares de espaço alternativernativernativernativernativooooo

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brasileira demonstra sinais pouco contundentes deevolução, mas que o primeiro passo já foi dado:

– Acho que o jornalismo brasileiro deu uma guinadabárbara desde a eleição de Lula. Passou a aplicar nopresidente todos os critérios que havia se negado a apli-car durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Issoficou mais claro ainda na véspera da reeleição, com otremendo esforço da mídia para levar a eleição para osegundo turno. Não se trata de apoiar ou não o Lula.Muita gente, com razão, rejeita ou critica o governo.

– Está claro que existem dois pesos e duas medidas.Todos os defeitos do governo são ressaltados e todas asvirtudes escondidas. Pior que isso só a coberturaabsolutamente distorcida do que acontece na Bolívia ena Venezuela – declara.

Apesar deste cenário obscuro do jornalismo, Azenhaacredita que existem saídas importantes e empolgantes.Para ele, a cada dia um novo desafio é traçado e se colocaà frente dos profissionais, fazendo com que ele tenha anecessidade de uma constante e qualificada atualização.A qualificação, alerta o jornalista, “é a saída para fugirdo comodismo”:

– Eu acho que é essencial desenvolver o espírito crítico.Por isso recomendo à minha filha, que estuda Jornalismo,que leia sobre Sociologia, História, Antropologia eFilosofia. As técnicas a gente vai aprendendo aos poucos,

na própria redação. Mas o espíritocrítico não. Se eu fosse sugerir técnicasa se aprender atualmente, neste pe-ríodo de grandes mudanças, seriam asvoltadas para o uso da Internet.

Embora entenda que alguns modelosestão se esgotando, Azenha diz acre-ditar nas possibilidades de cres-cimento do jornalismo, no sentido deexpandir suas áreas de atuação.

– Estão surgindo muitos canais, queprecisam de conteúdo. Portanto,precisam de gente capaz de produzirconteúdo – alerta.

Não deixa, contudo, de demonstrarpreocupação com uma possível aco-modação da categoria a um ambientede total dedicação às vontades dospatrões:

– Lembre-se que jornalismo é umserviço público. O interesse público émais importante do que o do patrão. Élógico que o patrão só deixa ir ao ar ousair escrito o que ele quiser. Mas ojornalista deve batalhar para publicaruma cobertura equilibrada e que não

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ENTREVISTA/Luiz Carlos Azenha8

O mundocabe num

Raoni Vasconcelos Avozani

Dizendo-se cansado do jornalismo que se faz natelevisão brasileira, o jornalista Luiz Carlos Azenha –formado pela Escola de Comunicações e Artes daUniversidade de São Paulo (USP) – trocou a todapoderosa Rede Globo por um site na Internet.

– Para mim, o formato da matéria curtinha estáesgotado. Quero buscar outra forma de fazer TV pelaInternet – diz ele, que agora produz sozinho “Vi oMundo”, que pode ser acessado no endereço http://viomundo.globo.com por quem estiver interessado emacompanhar o que “nunca pôde ver pela TV”.

Azenha tem mais de 30 anos de vida jornalística. Comocorrespondente internacional, passou por mais de 40países e cobriu fatos que marcaram o milênio. Além daGlobo, tem passagens pela Manchete e pelo SBT.

– Quem tem uma câmera e um computador como eupode fazer uma TV na Internet. Vou comandar inves-tigações jornalísticas com internautas – diz ele,referindo-se ao conteúdo do site.

Azenha conta que começou muito cedo no jornalismo:– No quarteirão em que morava, em Bauru, com meu

irmão José Carlos, fazíamos um jornal da vizinhança.Os primeiros sinais de um futuro de sucesso co-

meçaram a surgir em 1980, quando foi contratado pelaTV Bauru, então filiada à Rede Globo.Após cinco anos de experiência eaprendizado, tornou-se, em 1985,correspondente internacional da RedeManchete nos Estados Unidos. Tra-balhou como repórter para o SBTBrasil, juntamente com Boris Casoy efoi correspondente da Globo em NovaYork, entre 2001 e 2004, chegando a serrepórter especial da emissora.

Conhecedor de diferentes culturas,práticas e costumes dos mais im-portantes veículos do país, ele admiteque, das expectativas em relação àprofissão, algumas não se confir-maram.

– Para mim, o jornalismo represen-tava um serviço público. Minhasexpectativas foram parcialmentecorrespondidas, uma vez que, comoempregado, você nem sempre podeescrever tudo o que quer. Mas sempretentei prestar um serviço público eacho que consegui parcialmente –afirma.

Azenha acredita que a imprensa

BLOG

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Trechos do texto de apresentação do Vi o Mundo.

– A gente vê coisas que a câmeranão capta.

– Há sons, cheiros, expressõesfaciais – ou seja, a atmosfera todaem torno de um acontecimento. Édifícil reproduzi-los com exatidão natevê.

– Vi o colapso do muro de Berlime o do regime de Saddam Hussein.

– Dei uma breve caminhada com oBill Clinton e tomei cafezinho como Luciano Pavarotti.

– Mergulhei num lago de águasulfurosa na Islândia e explorei oúnico lugar do Japão que tem acara da Amazônia.

– Almocei com o Albert Sabin,jantei com o Émerson Fittipaldi etomei caipirinha com o GeorgeHarrison.

– Cenas da guerra civil de SerraLeoa ainda me assombram, assimcomo o dia em que quase morriespancado na Índia.

represente apenas um dos lados. Deve questionar. Develembrar-se sempre que as concessões de rádio e tevêsão concessões públicas e, portanto, os donos deemissoras devem satisfação, sim, à sociedade.

Profissional de TV por mais de duas décadas, Azenhacoleciona passagens curiosas, algumas arriscadas, quemarcaram sua vida de repórter. Talvez o momento demaior dificuldade, recorda ele, tenha sido durante umareportagem realizada na Índia. Na ocasião, fora inves-tigar uma denúncia de trabalho infantil e estava emum bairro popular de Jalandhar, lugar em que as famíliascosturavam bolas de futebol para intermediários degrandes empresas.

– As crianças eram colocadas no trabalho sem qualquerconstrangimento. O clima era pesado, já que as pessoaslogo perceberam o objetivo do nosso grupo – relata.

A equipe de reportagem, então, foi hostilizada pelostrabalhadores:

– Alguns intermediários se revoltaram com a nossapresença. Fomos cercados e espancados por umamultidão enlouquecida.

O repórter não esconde o medo que passou quandopercebeu o despreparo do guia contratado. Mas a ânsiade finalizar a matéria não o deixou desistir:

– Foi uma imprudência do nosso guia, um ativistalocal pelos direitos humanos. Quase morremos. Mas areportagem foi ao ar.

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“No quarteirão onde eu moravacom meu irmão, fazíamos o jornal

da vizinhança.”

AS FRASES DE AZENHA

Para Azenha (D e no detalhe na página ao lado),Para Azenha (D e no detalhe na página ao lado),Para Azenha (D e no detalhe na página ao lado),Para Azenha (D e no detalhe na página ao lado),Para Azenha (D e no detalhe na página ao lado),o jornalismo brasileiro deu uma guinadao jornalismo brasileiro deu uma guinadao jornalismo brasileiro deu uma guinadao jornalismo brasileiro deu uma guinadao jornalismo brasileiro deu uma guinada

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Mercado PúblicoMercado PúblicoMercado PúblicoMercado PúblicoMercado Públicorevitalizado

Rafael dos Santos Munhos

Patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre, oMercado Público está passando por um processo derecuperação e embelezamento. A revitalização incluireformas hidráulicas, elétricas, recuperação do telhado,pintura externa e interna, além da troca do piso e decalhas, a abertura de uma churrascaria no segundoandar e padronização de cadeiras e mesas para os barese restaurantes.

A Prefeitura investiu mais de R$ 1 milhão no novolayout do prédio com o objetivo de modernizar aestrutura física e os serviços oferecidos.

De acordo com o secretário da Produção, Indústria eComércio (Smic), Idenir Cecchim, há mais de 10 anosque não era feita uma grande reforma no prédio:

– Queremos dar mais conforto para quem freqüenta etrabalha no Mercado Público. Teremos o cuidado demanter as mesmas características, sem transformá-lonum shopping.

A revitalização do prédio conta com a aprovação dosfuncionários dos estabelecimentos comerciais espa-lhados pelos dois andares do Mercado Público. ValdirSauer, gerente de uma banca de carnes, acredita queum prédio mais cuidado vai ajudar a atrair novos con-sumidores:

– Estou adorando esta modificação no mercado. Asobras estão deixando-o mais claro e bonito. Trabalhohá três anos aqui e digo que tenho o prazer de ver issotudo novo e cada vez mais atraente. Para nós, feirantes,é um incentivo trabalhar com novidades.

O Mercado Público foi inaugurado em 1869 paraabrigar o comércio de abastecimento da cidade. Nadécada de 90, passou por um processo de restauração,que recuperou a concepção arquitetônica original deestilo neoclássico do responsável pela obra, o engenheiroFrederico Heydtmann. Com o desenvolvimento da cida-de, o prédio sofreu várias alterações, entre as quais estãoa construção de chalés de madeira. Em 1912, foi erguidoo segundo pavimento para abrigar escritórios comer-ciais e repartições públicas.

O Mercado Público passou por incontáveis mudançasarquitetônicas e sobreviveu a enchentes e incêndios.Também foi ameaçado de demolição para a construçãode uma avenida. A última reforma resgatou ascirculações internas do local e criou novos espaços deconvivência. Foi construída uma nova cobertura quepossibilitou a integração entre o térreo e o segundo pa-vimento. O prédio foi dotado de moderna infra-es-trutura, que qualificou seu espaço interno e externo,como duas escadas rolantes, dois elevadores, novesanitários, entre outras melhorias.

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URBANISMO10

Nos anos 90, Mercado sofreu reformas que recuperaramNos anos 90, Mercado sofreu reformas que recuperaramNos anos 90, Mercado sofreu reformas que recuperaramNos anos 90, Mercado sofreu reformas que recuperaramNos anos 90, Mercado sofreu reformas que recuperaram

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A Prefeitura da capital investeR$ 1 milhão na reforma de um dosprédios mais tradicionais da cidade.

a concepção arquitetônica original de estilo neoclássico do responsável pela obra, engenheiro Heydtmanna concepção arquitetônica original de estilo neoclássico do responsável pela obra, engenheiro Heydtmanna concepção arquitetônica original de estilo neoclássico do responsável pela obra, engenheiro Heydtmanna concepção arquitetônica original de estilo neoclássico do responsável pela obra, engenheiro Heydtmanna concepção arquitetônica original de estilo neoclássico do responsável pela obra, engenheiro Heydtmann

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Raoni Vasconcelos Avozani

O Rio Grande do Sul entrou para o corredor dostornados. Agora, juntamente com Argentina eParaguai, o Estado se insere na rota desse fenômenoque passa a assustar cada vez com mais freqüência aAmérica do Sul.

De acordo com especialistas, a região Oeste do Estadoé a mais vulnerável à ocorrência de tornados. O últimodeles ocorreu em Antônio Prado, em 11 de dezembrode 2003. Antes disso, em 8 de julho, os moradores deSão Francisco de Paula sentiram de perto os efeitos dasfortes rajadas de vento. Nesses dois municípios, seispessoas morreram, entre elas quatro crianças, durantea passagem de um tornado.

Mas foi no dia 28 de março de 2004 que aconteceu umadas maiores catástrofes naturais dos estados de SantaCatarina e do Rio Grande do Sul. Naquele dia,o litoral Sul do país foi devastado pelo furacão Catarina,que varreu a região com ventos de até 150 km/h.

A Defesa Civil gaúcha contabilizou 3 mil casasatingidas, sendo 436 destelhadas e 80 completamentedestruídas. Além disso, 70 dos cem postes de energiaelétrica de Torres foram derrubados. Na BR 101, otráfego de veículos foi interrompido em diversostrechos devido à queda de árvores. Um conges-tionamento de 35 quilômetros se formou rapidamente.

Dias após a catástrofe, que gerou um prejuízo de R$ 1bilhão aos dois estados, quase 2 mil famílias estavamcadastradas para receber telhas e alimentos na

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MEIO AMBIENTE12

Definitivamente na rota dosTORNADOS

prefeitura de Torres. Muitos ainda se perguntavam porque os órgãos de segurança do Estado não alertaram apopulação antes da tragédia.

De acordo com o pesquisador do Núcleo de PesquisasAntárticas e Climáticas do Departamento de Geografiada Universidade Federal do Rio Grande do Sul, FernandoPohlmann Livi, o tempo médio que se pode prever umfuracão varia entre três e quatro dias. Para ele, este foium fato isolado e em uma região tão desacostumadaque acabou pegando todos de surpresa.

Na época, não houve consenso entre os especialistasquanto à classificação do fenômeno, que logo foiidentificado por observadores do Centro Nacional deFuracões, de Miami, nos Estados Unidos, como umfuracão. Os técnicos americanos basearam-se em trêsrazões para categorizar o fenômeno: muita chuvaconcentrada numa pequena área, massa circular esimétrica em torno de um olho visivelmente claro emedições indicando que a temperatura no centro datempestade era maior do que nas bordas.

– Era tudo muito assustador, a gente não sabia o quefazer. Era um tumulto generalizado, pessoas correndode um lado para o outro tentando se proteger do vento– comenta Juliana D’ávila, moradora de Torres, que viude perto a passagem do Catarina.

O pânico relatado pela jovem foi compartilhado portodos os moradores da região. Ela conta ainda queninguém sabia exatamente o que fazer:

– Não adiantava procurar ajuda porque estávamostodos na mesma situação.

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2007

13

O medo era percebido também entre os pescadores,que assistiam desolados à destruição dos seus barcos.O único meio de sobrevivência para muitos deles eraarrasado pela força da natureza. A Marinharecomendou que embarcações de pequeno e médioporte saíssem das áreas de risco. As ondasalcançavam facilmente os cinco metros de altura eprovocaram o desaparecimento de vários barcos emalto-mar.

Nelma Happ, estudante que costuma passar asférias em Torres, diz que ficou impressionada quandoviu os estragos.

– Quando eu e meu pai fomos lá, Torres estava sendoreconstruída. A beira-mar estava horrível. Tinhaareia na cidade inteira. As dunas diminuíram e muitosbares e restaurantes que ficavam ali no centro, pertoda praia, desapareceram. Não sobrou nada. Apracinha foi destruída também e até as árvoresvoaram. Foi horrível, afirma.

Durante a década de 90, estima-se que 2 bilhões depessoas foram afetadas por catástrofes naturais nomundo, três vezes mais do que na década de 70. Nomesmo período, as perdas econômicas aumentaramquase cinco vezes: de US$ 138 bilhões para US$ 629bilhões.

A prevenção e a divulgação com antecedência dasocorrências desses fenômenos continua sendo umatarefa complicada e, de acordo com os centros depesquisas, é possível que novos Catarinas voltem arondar a região Sul do país.

A região Oeste do Estadoé mais vulnerável à ocorrênciade fortes rajadas de vento.

Em 11 de novembro de 2006, um furacão comdiâmetro equivalente a dois terços da Terra castigouo pólo Sul de Saturno, conforme imagens da naveCassini-Huygens (projetada por americanos eeuropeus). Com 8 mil quilômetros, foi a primeiratempestade já detectada em um planeta que nãoseja a Terra. Cientistas que analisaram as imagensperceberam que a tempestade tinha característicasde furacão e os ventos chegavam a 550km/h.Entretanto, diferentemente dos furacões vistos naTerra, a tempestade parecia estar fixa no pólo e nãoem movimento.

Primeiro furacão foiregistrado em Saturno

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TRAGÉDTRAGÉDTRAGÉDTRAGÉDTRAGÉDNAS ÁGUAS DOS NAS ÁGUAS DOS NAS ÁGUAS DOS NAS ÁGUAS DOS NAS ÁGUAS DOS

Fernanda Rosito

7 de outubro de 2006. Esta data vai ficar na memóriados gaúchos, especialmente dos moradores do Vale doRio dos Sinos.

Esta é a data da tragédia que se abateu sobre umadas regiões mais ricas do Rio Grande do Sul: o Rio dosSinos. Uma cena incomum chocou a população no Riodos Sinos, que é abastecido por mais de 3 milquilômetros de arroios e córregos. Em uma extensãode mais de 190 quilômetros, boiavam milhares depeixes, alguns mortos e outros agonizando pela faltade oxigênio. O saldo da tragédia mostra um númeroassustador: aproximadamente 85 toneladas de peixesmortos.

Os culpados? Algumas empresas e municípios daregião do Sinos que não investem em saneamentobásico, enfim, todos, de alguma forma colaboraram como acidente ecológico. Se não bastasse essa realidade, deacordo com ambientalistas, essa não foi a primeira e,tudo indica, não será a última vez que essa catástrofeambiental se repetirá.

– Nos próximos 10 anos vamos decidir asobrevivência de toda uma região. Se destruirmos orio, estaremos matando todo o Vale dos Sinos – alerta obiólogo e ambientalista Rafael Altenhofen, da UniãoProtetora do Ambiente Natural (Upan) – entidadesócio-ambiental de atuação regional, com sede em SãoLeopoldo – sobre uma região que responde por 30% doProduto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul,totalizando quase 1,5 milhão de pessoas em 32municípios.

Desde os anos de 50 e 60, ambientalistas, entre elesJosé Lutzemberger, alertavam para o perigo docrescimento descontrolado, que não respeitava asnascentes, as matas e os banhados. Desde aquela época,pouco ou nada foi feito, resultando na situação atual.

– São Leopoldo chegou a ter 80% do esgoto tratado nadécada de 1940. Só que a cidade cresceu e o saneamentonão – comenta Altenhofen.

Atualmente, São Leopoldo trata 20% do seu esgoto,enquanto outros municípios da região consideradosgrandes, como Canoas e Novo Hamburgo, praticamenteignoram o tratamento de seus resíduos. Toda a regiãoproduz cerca de 80 mil quilos de resíduos todos os dias,sendo que apenas 5% dele são tratados.

– Chega a dar pena de ver. Há 25, 30 anos, era possíveltomar banho no Rio dos Sinos. Hoje têm dias que nãodá para suportar o mau cheiro – lembra o agricultorSérgio da Silva Maciel, 72 anos, que vive há 53 nomunicípio de Nova Santa Rita, fronteira com o Sinos.

A situação, que parece estar atualmente tranqüiladevido à normalidade das chuvas, não passa deaparência. No período de excesso de chuvas o rio enche,aumentando, assim, o volume de água e favorecendo oaparecimento de mais peixes boiando.

– Nosso trabalho de conscientização é pequeno seolharmos a importância do assunto. Precisamos daajuda de todos, inclusive da mídia para alertar aspessoas sobre a importância de prevenir esses desastres– explica o secretário de Meio Ambiente de SãoLeopoldo, Darci Zanini.

A tragédia ecológica levou a Comissão Mista doOrçamento do Congresso Nacional a aprovar, porindicação do senador Paulo Paim (PT-RS), o envio de

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R$ 30 milhões para recuperação da Bacia Hidrográficado Sinos.

O recurso é pequeno perto da necessidade e, também,se comparado ao valor das multas que podem seraplicadas a empresas poluidoras, de até R$ 50 milhõesem nível estadual, e de R$ 400 mil pelos municípios.

– Infelizmente, a fiscalização é precária. Muitas vezesas próprias empresas enviam seus relatórios am-bientais. Para nossa sorte, hoje as empresas já estão setocando que investir em certificados ambientais éagregar valor a seus produtos e diminuir gastos comresíduos – comenta Altenhofen.

A água é fator determinante para a existência doser humano, e não há como lutar contra os fatos de que

Estima-se que 85 toneladas de peixes morreram em uma dEstima-se que 85 toneladas de peixes morreram em uma dEstima-se que 85 toneladas de peixes morreram em uma dEstima-se que 85 toneladas de peixes morreram em uma dEstima-se que 85 toneladas de peixes morreram em uma d

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DIAIADIAIAIA SINOS SINOS SINOS SINOS SINOS

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esponja e um filtro, acumulando água na época dascheias e largando de volta, de forma lenta e progressiva,para o rio em épocas de estiagem.

– Atualmente o Rio dos Sinos é praticamente umvalo, e sem os banhados e os arroios limpos é nissoque ele vai se transformar. A população deve serconscientizada que preservar o rio é um investimentoem qualidade de vida, e não um gasto – explicaAltenhofen, insistindo que o que está em jogo é asobrevivência da região.

Os governos municipais se defendem das acusaçõesde descaso por parte dos ecologistas, apresentandoplanos e ações a serem realizadas em médio e longoprazos. A partir de um acordo entre os municípios daregião, foi assinado o protocolo do Consórcio Públicode Saneamento Básico da Bacia do Rio dos Sinos (Prós-Sinos). O protocolo pretende fazer com que até 45% dosesgotos sejam tratados. Outros projetos, como a fase IIdo Projeto Pró-Guaíba, do governo estadual em parceriacom organismos internacionais – que destinaria grandeparte de seus recursos para a região dos Sinos – estãoparados.

– Parece que só agora está caindo a ficha de que asperdas ambientais também resultam em perdaseconômicas. Temos que estabelecer cada vez maisparcerias entre a população, o setor industrial e o setorpúblico para salvarmos o Rio dos Sinos – salientaZanini.

Acusado de grande poluidor, o setor de curtimentode couro também se defende, dizendo que as acusaçõesfeitas às empresas por danos ambientais devem-se aosenso comum e ao preconceito que ainda existe. Segundoo engenheiro químico Ubiratan Hack, diretor da HackConsultoria, com sede em Novo Hamburgo, os grandesproblemas dos curtumes são o estigma e a falta decomunicação.

– Todo o processo industrial gera resíduo. Algunssetores investem mais em pesquisa para tornar suaatividade mais limpa, outros não – afirma Hack.

Os dados da Fundação de Economia e Estatística doRio Grande do Sul (FEE-RS) mostram que, do total deresíduos orgânicos lançados no Sinos, 95,33% sãoprovenientes de esgoto sanitário, enquanto poucomais de 4% são de efluentes industriais tratados.Outro dado da mesma pesquisa da FEE mostra que oRio Grande do Sul está entre os cincos estadosbrasileiros com menores índices de esgoto tratado,aproximadamente 22%.

Mesmo com os dados, a Promotoria de Justiça deEstância Velha, cidade acusada de ter em seus limitesa maioria das empresas que causaram o acidente emoutubro de 2006, fez denúncia contra cinco razõessociais. Cinco empresas e uma estação de depósito deresíduos foram oficialmente considerados culpadospelo incidente. As empresas lançaram grande quan-tidade de poluentes no Arroio Portão, que desembocano Sinos.

– Como muitas empresas depositam seus resíduosnesse arroio, podemos dizer que cerca de 600 empresassão co-responsáveis pelo desastre – afirma Zanini, quetambém conta que o acidente ocorreu ironicamente nomesmo mês em que São Leopoldo recebeu o PrêmioNacional da Qualidade em Saneamento, promovido pelaAssociação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental.

Ambientalistasvinham alertando há

décadas para osperigos do

crescimentodescontrolado

com as mudanças climáticas, a população fará em 50anos aquilo que em cinco mil ninguém conseguiu fazer:destruir o Rio dos Sinos.

– Em 2005 e 2006 estivemos no limite da vazão dorio. Com a estiagem, chegamos a ter menos água doque o necessário. O que nos salvou do caos foram os30% de banhados restantes e a transposição do RioCaí, que poucas pessoas sabem que existe – alertaAltenhofen.

A demanda da população na região é de 4,4 metroscúbicos de água por segundo. Em alguns dias, durantea estiagem, o volume de água que poderia ser retiradofoi de 4,1 metros cúbicos por segundo. A UPAN defendea preservação dos banhados, que servem como uma

a das maiores tragédias ecológicas que já atingiu o Estado das maiores tragédias ecológicas que já atingiu o Estadoa das maiores tragédias ecológicas que já atingiu o Estado das maiores tragédias ecológicas que já atingiu o Estado das maiores tragédias ecológicas que já atingiu o Estado

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O planeta em AL

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Kamila UrbanoKamila UrbanoKamila UrbanoKamila UrbanoKamila Urbano

Nunca como agora tem se falado tanto no aquecimentoglobal. O assunto ganhou maior espaço na mídia esão publicadas diariamente matérias relacionadas aofenômeno e seus efeitos. A divulgação do PainelIntergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)das Nações Unidas foi um dos fatores principais para apermanência do tema em destaque.

Com o objetivo de fornecer dados científicos, técnicos esócio-econômicos, o painel apresenta informaçõesrelevantes para o entendimento das mudanças climáticas.

Salvar o planeta é a missão de muitas OrganizaçõesNão-Governamentais (ONGs) e também deautoridades mundiais que estão impondo cotas paraa redução da emissão de gases. Em palestrarealizada este ano na Universidade Luterana doBrasil (Ulbra), o pesquisador Jefferson Simõesmostrou as evidências físicas do aquecimentoglobal e os mitos e verdades sobre o tema.Simões, que é coordenador do Núcleo dePesquisas Antárticas e Climáticas da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul(Ufrgs), foi o primeiro glaciólogo (profissionalque estuda todo o gelo existente na natureza,como a neve e as formas da água em estadosólido) brasileiro a participar de umaexpedição à Antártida.

Para entender o aquecimento global épreciso retomar as aulas de biologia e buscarnum cantinho da memória os ensinamentosque explicam como se dá o efeito estufa. Estefenômeno é um processo natural para aexistência da vida na terra. O consumo exa-cerbado e a queima de energia descontrolada,porém, intensificam seus efeitos. Assim, o efeitoestufa, que serve para equilibrar a temperaturamédia do planeta, é bombardeado de gases que sãoabsorvidos pela superfície terrestre. O resultadodisso é que a temperatura da atmosfera próxima àsuperfície do planeta está realmente aumentando.Simões explica que o efeito estufa intensificado não éuma variação natural no sistema climático, e sim, umprocesso antrópico, ou seja, ocasionado pelo homem.

Pesquisador mostra as evidências doaquecimento global e fala dos mitos everdades sobre o tema.

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ERTA

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Saiba os mitos e verdades sobre e o temae quais atitudes evitam o agravo doproblema

O INÍCIO

A revolução industrial foi a causa de tudo. Os homensforam substituídos por máquinas e a poluiçãoaumentou. O surgimento das metrópoles e os distritosindustriais que geravam os empregos e garantiam osustento da população agravam o problema e o índicede emissão de gases hoje extrapola qualquer previsão.

– O problema da intensificação do efeito estufa e oconseqüente aquecimento global é muito sério e real –observa Simões.

O PROBLEMA

Fumaças dos carros, desmatamento e principalmenteo consumo de energia desnecessária contribuem paraos altos índices de gases estufas. O glaciólogoexemplifica o uso irracional do meio de transporte:

– Tudo isso tem um custo ambiental – destaca Simões.O Brasil é um dos países que segue o protocolo de

Kyoto, um tratado internacional com compromissospara a redução da emissão dos gases que provocam oefeito estufa, considerado, de acordo com a maioriadas investigações científicas, um dos causadores doaquecimento global.

O Protocolo de Kyoto foi o resultado da 3ªConferência das Partes da Convenção das NaçõesUnidas sobre Mudanças Climáticas, realizada no Japão,em 1997, após discussões que se estendiam desde 1990.A conferência reuniu representantes de 166 países paradiscutir providências em relação ao aquecimentoglobal. O documento estabelece a redução dasemissões de dióxido de carbono (CO2), que respondepor 76% do total das emissões relacionadas aoaquecimento global, e outros gases do efeito estufa,nos países industrializados. Os signatários secomprometeriam a reduzir a emissão de poluentes em5,2% em relação aos níveis de 1990. A redução seriafeita em cotas diferenciadas de até 8%, entre 2008 e2012.

Os EUA desistiram do tratado em 2001, alegando queo pacto era caro demais e excluía de maneira injusta ospaíses em desenvolvimento. O atual presidenteamericano, George W. Bush, alega ausência de provasde que o aquecimento global esteja relacionado àpoluição industrial. Ele também argumenta que oscortes prejudicariam a economia do país, altamentedependente de combustíveis fósseis. Em vez de reduziremissões, os EUA preferiram trilhar um caminhoalternativo e apostar no desenvolvimento detecnologias menos poluentes.

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As medidas recomendadas peloPainel Intergovernamental sobreMudança Climática (IPCC), da ONU,em seu terceiro relatório paraestabilizar os níveis de concentraçãode gases do efeito estufa naatmosfera:

ENERGIA• Aumentar o uso de energiasrenováveis para 30% a 35% da matrizenergética. Hoje, elas representamsomente 18%• Considerar um aumento de 2pontos porcentuais no uso deenergia nuclear, passando de 16% departicipação em 2005 para 18%• Avançar no uso de tecnologias decaptura e armazenamento de gasesdo efeito estufa nas usinas que

O Brasil

Na lista dos países que mais poluem o planeta, oBrasil aparece em quinto lugar, atrás de Estados Unidos,China, Japão e Índia. O desmatamento de florestas tempeso significativo nesta classificação.

O que fazer?

Poupar energia elétrica é fundamental nessasituação. Uma casa que gasta em média R$ 100,00 pormês de eletricidade emite 820 quilos de C0

2 na

atmosfera por ano. Plante árvores e evite queimadas.Cerca de 75% das emissões de gás carbônico e metanosão provenientes dos desmatamentos de florestastropicais.

Os ciclos naturais

Segundo Simões, a cada 25 anos o planeta passapor ciclos naturais de aquecimento e esfriamento.Atualmente o planeta passa pela fase doaquecimento, refletindo em altas temperaturas einvernos menos rigorosos. Simões observa que essasmudanças climáticas não têm relação com oaquecimento global e sim com atividade solar que

reduz e se intensifica conforme o período.

O histórico ambiental

Através do estudo do gelo é possível reconstruir ohistórico ambiental do planeta. Os testemunhos de gelo(coluna cilíndrica de gelo obtida pela perfuração dasgeleiras) contam uma história rica sobre a atividadevulcânica, extensão do mar congelado e principalmentea poluição global. Exemplificando, o aumento do C02desde o início da Revolução Industrial foi detectadoatravés do estudo das bolhas de gases retidos no gelo.Oscilações na temperatura atmosférica foram estimadaspara os últimos 400 mil anos a partir de variações nosisótopos também presentes no material coletado.

Os mitos e as verdades

Simões afirma que as catástrofes na grande maioriaainda são fenômenos naturais. Entretanto, se não houverconsciência, quem sofrerá com o aquecimento global sãoas próximas gerações. O pesquisador também mostrapreocupação com o uso indevido da água do planeta. Éindispensável racionar o uso, diz ele, lamentando queainda hoje muita gente lava carros e calçadas com águatratada.

FIQUE POR DENTRO....

UM GUIA PARADIMINUIR OS DANOS

utilizam combustíveis fósseis paraproduzir energia

PRÉDIOS• Adotar a construção de maisprédios “verdes”, que façam melhoruso de iluminação e ventilaçãonaturais. Até 2030, isso pode diminuirem 30% as emissões de gasesnocivos desse setor

INDÚSTRIA• Incentivar a substituição defábricas obsoletas e poluidoras porindústrias mais eficientes do pontode vista energético

TRANSPORTE• Expandir o uso de biocombustíveispara um percentual entre 5% e 10%

do combustível utilizado no planeta.Hoje, eles representam 1% doconsumo mundial• Estimular a adoção de tecnologiasmais eficientes, como carros híbridose bicombustíveis

AGRICULTURA• Diminuir as emissões de metano dealgumas culturas, como a de arroz edas criações de bovinos• Restaurar áreas degradadas

FLORESTAS• Combater o desmatamento.Metade do potencial de redução dasemissões nos trópicos está namanutenção das florestas

LIXO• Diminuir a produção de lixo e, aomesmo tempo, aumentar a reciclagem• Usar o lixo e seus subprodutos, comoo gás metano, na geração de energia

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Para reverenciaro ESPORTE

Marcelo de Oliveira

Luvas de Éder Jofre e Popó, quimono de JoãoDerly, camisa de Pelé, além de chuteiras, calções,medalhas e troféus de personalidades do esporte,como Falcão, Ronaldinho Gaúcho, Romário,Daiane dos Santos, Barrichelo, Robinho entreoutros. A lista de objetos que compõem o acervodo Museu do Esporte de Porto Alegre é imensa.

Inaugurado este ano, o museu era um sonhoacalentado há pelo menos 10 anos pelo vereadore secretário de Esportes, jornalista João BoscoVaz.

– A camisa do Pelé é de 1972 – conta ele, or-gulhoso, para logo emendar:

– Eu era guri em Bagé, com 17 anos, e ganheido Vicente, meu conterrâneo que jogava noSantos. A camisa era toda autografada, masminha mãe, Amélia, lavou e os autógrafossaíram. Mas guardei a camisa. Há três anos fuicom o Dunga encontrar o Pelé e ele autografoude novo para mim.

Histórias como esta fazem parte do dia a diado museu, localizado no Centro Cultural doShopping Total, onde também foi inauguradaa “calçada da fama”. Representantes de váriasgerações do futebol deixaram ali a sua marcados pés ou das mãos em placas de cimento. Avelha guarda do futebol gaúcho, técnicos re-nomados em nível nacional e internacional, re-presentantes da crônica esportiva, além de jo-gadores consagrados no futebol mundial forameternizados na homenagem de Bosco Vaz.

Apaixonado por esporte e autor dos livros Pisandona Bola, Causos e Gafes do Futebol e Causos e Gafes daPolítica, Bosco Vaz lembra que o projeto do Museu

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MUSEU

do Esporte começou a ganhar forma quando eleconheceu as instalações do All Star Café, uma espéciede museu do futebol americano.

O novo ponto turístico de Porto Alegre estáaberto diariamente das 10h às 19h, com ingresso aR$ 6,00 e R$ 3,00 para estudantes. O bar temáticofunciona das 19h às 24h. O local oferece ainda aosfreqüentadores três TVs de plasma de 42 polegadaspara acompanhar as competições esportivas,

computadores paraacesso à Internet e es-paço para jogos devideogame.

– Recebemos muitosestudantes e idososdurante o dia. Em diasde jogos importantes,o bar fica completa-mente lotado. O localestá sendo freqüenta-do também por diver-sos atletas profissio-nais, informa a guiaMárcia Silva.

Por dentro doMuseu do EsporteEstá localizado na AvenidaCristóvão Colombo, 545, emPorto Alegre,telefone (51) 3018-7765.

Você pode acessar a páginado museu no endereçowww.museudoesporte.esp.br

João Derli contribuiu com o acervo do MuseuJoão Derli contribuiu com o acervo do MuseuJoão Derli contribuiu com o acervo do MuseuJoão Derli contribuiu com o acervo do MuseuJoão Derli contribuiu com o acervo do Museu

Museu fMuseu fMuseu fMuseu fMuseu foi instalado no Shopping Toi instalado no Shopping Toi instalado no Shopping Toi instalado no Shopping Toi instalado no Shopping Toooootaltaltaltaltal

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CIDADE20

O lixo que não

é lixo

Quem se ocupa da garimpagem urbana, sai cedo de casa. O dia rende quando há faxina nos escritóriosQuem se ocupa da garimpagem urbana, sai cedo de casa. O dia rende quando há faxina nos escritóriosQuem se ocupa da garimpagem urbana, sai cedo de casa. O dia rende quando há faxina nos escritóriosQuem se ocupa da garimpagem urbana, sai cedo de casa. O dia rende quando há faxina nos escritóriosQuem se ocupa da garimpagem urbana, sai cedo de casa. O dia rende quando há faxina nos escritórios

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Pablo Rozados

O dia começa antes de o sol raiar para VanderleiSilveira. Como a maioria dos brasileiros que trabalhaduro para sobreviver, este gaúcho de 34 anos, que temcomo profissão o “garimpo” do lixo alheio, acorda antesdas 6h. Depois de tomar um copo de café preto compão, margarina e mortadela, deixa a casa onde mora,na Vila São Pedro, na Avenida Ipiranga, em PortoAlegre, para percorrer as ruas da capital à cata depapéis.

Antes, apronta o cavalo que comprou para ajudá-loa carregar o peso do material que recolhe nas ruas enos escritórios. Se a coleta é boa e o material é vendidoantes do meio-dia, Silveira faz uma pausa para oalmoço. Caso contrário, só pára mesmo à noite, quandochega em casa. A carga – caixas de papelão, material deescritório, jornais e revistas – é vendida na AvenidaFarrapos. No país que movimenta R$ 6,5 bilhões com osetor da reciclagem e que em 2005 reciclou 174 miltoneladas só de embalagens PET (polietilenotereftalato), como as garrafas de refrigerantesdescartáveis, Silveira comemora quando conseguevoltar para casa com R$ 20,00 no bolso.

– Já tirei mais, já tirei menos. Normalmente fecho omês com uns R$ 450,00 ou R$ 500,00. A sorte é que aminha mulher trabalha também, é manicure, então nãonos falta comida na mesa. A gente não tem muita coisa,mas o importante é sobreviver – consola-se.

Silveira reclama da “exploração” dos donos dedepósitos de reciclagem:

– Como tem muitos papeleiros trabalhando nas ruas,eles compram pelo preço que acham melhor, só quenem sempre o nosso esforço vale só R$ 0,15 centavos –desabafa ele, fazendo referência ao preço doquilo do lixo.

O dia rende mesmo quando as empresasfazem limpeza nos seus escritórios, afirmaSilveira.

– Algumas empresas têm dia certo para fazeristo e muitas já me conhecem e repassam todoo lixo seco quando eu chego – diz orgulhoso.

Mas os papeleiros também têm algumasestratégias para driblar a exploração. Silveiracita algumas, como molhar parte do papelãopara aumentar o peso do fardo, ou colocar umpouco de areia dentro das latinhas de alumínioantes de amassá-las.

O trabalho rende, eventualmente, algumas surpresas,confirmando a idéia de que o conceito de lixo não é omesmo para todos.

– O mais comum é encontrar um rádio. Já peguei unsquatro rádios funcionando. Está tudo lá em casa. Juntocom uma torradeira, cadeiras, armários. Às vezes, é sóarrumar uma coisinha e “tá” novo. As pessoas achamque só porque é velho, não funciona mais – ressaltaSilveira, revelando que mobiliou a casa com muitomaterial achado no lixo.

Certo dia, confidencia ele, encontrou um objeto “bemnovinho”:

– Achei um celular dentro de uma sacola plástica,junto com papéis de escritório. Pensei em devolver,mas não tinha condições nem de saber onde tinhaachado. Vendi para o dono da reciclagem. Com odinheiro, comprei uma cesta básica e ainda sobrouum dinheirinho.

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Silveira reclama da exploraçãodos donos de depósito dereciclagem e comemora quandoconsegue R$ 20,00 por dia.

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Solidariedadeincondicional

Fernanda Rosito

Bastam alguns novelos de lã e agulhas. O restante ficapor conta do carinho e da criatividade que seteaposentadas colocam nas mãos para tecer casacos, meiase sapatinhos para bebês carentes. Nos encontros, queocorrem há quase 10 anos regados a bolinhos e chá demaçã, comparecem Elisabete dos Santos, Doceli Elias,Adelaide Elias, Amélia Elias, Amélia Bastos, Sônia MariaElias e Adelaide Casa Nova. Além das agulhas e novelosde lã, elas sempre levam às reuniões de trabalho sorrisosestampados nos rostos. As dificuldades comuns à terceiraidade – como mãos trêmulas e pouca visão – nãoimpedem o exercício da solidariedade.

Os termômetros podem marcar 10ºC ou 30ºC. A chuvapode bater no telhado. O sol pode passar por entre asfrestas da janela do quarto pequeno, onde um sofá, duaspoltronas e várias sacolas de lã compõem o cenário ondeas amigas se encontram diariamente para fazer tricô. Aprodução sai direto da casa cor-de-rosa, no bairroSantana, em Porto Alegre, para o Hospital Santa Casa,onde é doada aos bebês carentes.

Adelaide, 75 anos, lembra como tudo começou:– Um dia encontramos uma mãe que estava sem ter o

que colocar em seu bebê. Ela usava as próprias mãospara aquecer os pés da criança.

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ESTILO DE VIDA22

Mas a confecção de roupinhas para doar começoumesmo como pagamento de uma promessa depois queAdelaide recebeu uma graça. A produção começou deforma solitária e, embora trabalhasse diariamente, elanão conseguia dar conta da demanda por casaquinhosde lã. A ajuda veio com a amiga Doceli, 81 anos, depois asoutras reforçaram o time das tricoteiras e hoje elas nemlembram mais qual foi a promessa que Adelaide fez háquase 10 anos. A causa é mais do que justa: suprir deroupinhas pessoas cujas famílias não têm recursos.

Esse grupo de mulheres que se reúne por amor aopróximo só tem uma preocupação: aumentar a produçãopara atender à demanda cada vez mais crescente. Entreum ponto e outro de tricô, elas vão fazendo as contas egarantem que a cada ano superam suas metas. No últimoinverno, doaram 13 enxovais (um casaco de lã, cobertor,camiseta, fralda, meias e sapatinhos).

– Usamos lã de qualidade e colocamos fita mimosa emtodos os casacos – revelam as irmãs Adelaide e Amélia.

Emocionadas, elas dizem que fazem questão de fazer aentrega pessoalmente a cada mãe.

– Essa é a melhor parte. Ver a alegria das mulheresquando entregamos agasalhos para seus filhos, não há oque pague – confessa Amélia.

– Tendo lã, a gente produz – completa Elisabete.A solidariedade do grupo vai mais além dos

casaquinhos e sapatinhos de lã para bebês. Como senão bastasse esse gesto de amor aos pequenos queenfrentam dificuldades logo ao nascer em uma famíliapobre, elas distribuem brinquedos no Lar de São José,instituição filantrópica que acolhe meninas grávidas,e no Lar Maria de Nazaré, casa que abriga idosos.

– A ajuda que recebemos delas contribuiu muito coma nossa instituição. Nossas crianças são carentes e nãotêm agasalhos suficientes para suportar o frio – conta,agradecida, Michele das Neves, pedagoga que trabalhano Lar de São José, referindo-se a solidariedade quecomeça a tecer seu caminho no bairro Santana, emPorto Alegre, numa modesta casa cor-de-rosa.

Amigas se reúnem há quase dez anos para confeccionar roupas; produção vai toda para bebês carentesAmigas se reúnem há quase dez anos para confeccionar roupas; produção vai toda para bebês carentesAmigas se reúnem há quase dez anos para confeccionar roupas; produção vai toda para bebês carentesAmigas se reúnem há quase dez anos para confeccionar roupas; produção vai toda para bebês carentesAmigas se reúnem há quase dez anos para confeccionar roupas; produção vai toda para bebês carentes

cortar matéria

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Restingase renova

Rodrigo Bitar Franskoviak

Freqüentador assíduo dos espaços dedicados aonoticiário do mundo do crimes, o bairro Restinga,de Porto Alegre, está conseguindo superar estaimagem negativa e forjar uma nova identidade.

A transformação do bairro é resultado de umasérie de iniciativas que visam ocupar o tempodaqueles que mais facilmente podem ser atraídospor atividades ilegais, como os jovens. Para tanto,foram criadas oficinas de música e grafite e ainauguração da Vila Olímpica, uma parceria entreo jogador de futebol Paulo César Tinga, o atualtécnico da seleção brasileira de futebol, Dunga, e aAssociação Cristã de Moços (ACM).

– Sem dúvida que estes exemplos de boa vontadedas pessoas em ajudar o bairro e seus moradoresinfluenciam as crianças e os jovens, pois, além desaírem das ruas, elas vêem que também está aoalcance delas o sucesso ou pelo menos uma vidamais digna longe das drogas e do crime – observa otécnico contábil Paulo Renato Longaray, 24 anos,morador da Restinga.

Orgulho do bairro, a escola de samba Estado

Maior da Restinga também trabalha duro na áreasocial para ajudar a comunidade. E o diretor deharmonia Jorge Alberto de Matos, o Mestre Kid, nãotem dúvida de que a escola influencia na reduçãodos índices de violência na região.

– Conseguimos tirar muita gente das ruas. Desdea sua fundação, em 1977, tiramos jovens, crianças,até mesmo adultos das ruas, fazendo com que elestenham uma atividade dentro da Tinga e não fiquemà toa pelas ruas, onde poderiam estar fazendobobagens – diz Mestre Kid, que também é um dosfundadores da escola.

Mas ele também atribui ao “progresso do bairro”a boa fase que a população vive:

– Eu moro aqui há 34 anos e posso dizer que aAvenida do Trabalhador deu espaço para ocomércio crescer. Temos um fórum dentro daRestinga, temos uma delegacia, postos de saúde,temos campos de futebol, parques de diversões quese instalam aqui de vez em quando. Resumindo, aspessoas têm onde se distrair.

O auxiliar de contabilidade, Fabiano Rebusti, 23anos, se junta às vozes daqueles que acham que aRestinga vive um bom momento e que a violênciatende a diminuir.

– O bairro está crescendo porque a cultura estáentrando na comunidade. As ONGs e o carnavaltambém estão mudando a cabeça das pessoas.

Para o estudante Pablo Gonçalves, 25 anos, ainauguração dos novos terminais de ônibus dobairro foi fundamental para construir uma imagempositiva da Restinga, bairro que abriga 51 milpessoas e está localizado a apenas 22 quilômetrosdo centro da capital.

O poder público também lançou seu olhar sobreo bairro e está fazendo a sua parte. Uma antigareivindicação dos moradores era o asfaltamento ea iluminação das ruas, que hoje já é uma realidade.

Iniciativas que visam à renovação do bairro têm foco especialmente nos jovens moradoresIniciativas que visam à renovação do bairro têm foco especialmente nos jovens moradoresIniciativas que visam à renovação do bairro têm foco especialmente nos jovens moradoresIniciativas que visam à renovação do bairro têm foco especialmente nos jovens moradoresIniciativas que visam à renovação do bairro têm foco especialmente nos jovens moradores

ANELISE LUZ

BAIRRO

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COMUNICAÇÃO24

Notíciaem horárionobre

Kamila Urbano

Os telespectadores gaúchos têm uma nova opçãode telejornal em seus vídeos: o Ulbra Notícias.Ancorado de segunda a sexta por Maria do CarmoBueno Garcia e aos sábados por Ricardo Azeredo, onovo programa da Ulbra TV vai ao ar às 19h15min.

Ainda que o telejornal seja transmitido somente ànoite, o dia começa agitado para a equipe doprograma.

– Às 8h30min, Azeredo se reúne com os produtores,repórteres e estagiários para pautar os acon-tecimentos do dia – diz Maria do Carmo, uma dasmais conhecidas apresentadoras de telejornal doEstado e que volta ao vídeo depois de um longoafastamento para, ao lado de Azeredo, comandar oprojeto de produzir e apresentar o telejornal daemissora universitária.

Nesta reunião, completa ela, são decididos os fatosque serão transmitidos durante os 20 minutos detelejornal. Enquanto a escuta segue acompanhandoos acontecimentos, os repórteres são liberados paracomeçarem a cumprir as pautas.

Por volta de 13h30min, os editores avaliam aprodução da manhã e orientam as equipes para asreportagens previstas para a tarde. O materialdisponível naquele momento (textos e imagens) sãorevisados. No final do dia, depois da avaliação detodo conteúdo que será veiculado, o programa estápronto para ir ao ar. Mudanças no roteiro tambémacontecem. Maria do Carmo afirma que desde aprimeira edição do noticiário, muitos scripts foramalterados, devido à ocorrência de algum fatorepentino.

Além de cobrir os últimos acontecimentosreferentes à política, economia, arte e segurançapública, o Ulbra Notícias dedica um amplo espaço àprevisão do tempo. Entre as coberturas realizadaspelo telejornal, destacam-se a dengue no Rio Grandedo Sul e a crise no setor calçadista.

O Ulbra Notícias, que tem Laura Rejane comodiretora-executiva, Maria do Carmo (editora-chefe) eAzeredo (editor), conta também com oito repórteres,três produtores (dois no turno da manhã e um à tarde)e quatro estagiários (dois em cada turno).

– A estréia foi realmente uma estréia – observaMaria do Carmo.

Depois de um longo período de afastamDepois de um longo período de afastamDepois de um longo período de afastamDepois de um longo período de afastamDepois de um longo período de afastam

O programa UlbraNotícias pode ser

assistido na Região

Metropolitana de Porto

Alegre pelo canal 48

(UHF) ou 21 da Net. Em

Santa Maria, está sendo

transmitido pelo canal 23

(UHF), Torres 43 (UHF),

Cachoeira do Sul 49

(UHF) e Jaguarão através

do canal 6 (VHF).

Maria do Carmo e Ricardo Azeredo, que respondeMaria do Carmo e Ricardo Azeredo, que respondeMaria do Carmo e Ricardo Azeredo, que respondeMaria do Carmo e Ricardo Azeredo, que respondeMaria do Carmo e Ricardo Azeredo, que responde

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Ela conta que não houve programas pilotose as falhas foram acertadas no ar.

– Hoje a equipe está ajustada. Os nossos errossão muito pequenos – acrescenta.

Maria do Carmo atribui à integração dogrupo os bons resultados obtidos peloprograma. A presença de Azeredo, afirma ela,“traz confiança e ritmo à equipe”.

– Ele é o nosso laboratório permanente –observa ela, referindo-se ao colega de bancada,que também é professor de Telejornalismo nocurso de Comunicação Social da Ulbra.

Maria do Carmo, Azeredo e Rejane apostamna atual equipe e acreditam que juntos poderãocrescer mais.

– O pessoal pegou com garra e vontade defazer direito. Felizmente tudo está dando certo– comemora Azeredo.

Segundo Azeredo, o programa tem umobjetivo bem claro desde a sua concepção, queé informar com imparcialidade e ética.

– Queremos que o telespectador pense anotícia após ela ser transmitida – enfatiza.

Os índices do Instituto Brasileiro de OpiniãoPública e Estatística (Ibope) apontam umaboa aceitação do público e a emissora já pensaem ampliar o espaço dedicado ao UlbraNotícias.

– Por enquanto são 20 minutos, mas isso deveser reformulado – afirma Azeredo.

amento, Maria do Carmo, uma das mais conhecidas apresentadoras de telejornais do Estado, está de volta ao vídeoamento, Maria do Carmo, uma das mais conhecidas apresentadoras de telejornais do Estado, está de volta ao vídeoamento, Maria do Carmo, uma das mais conhecidas apresentadoras de telejornais do Estado, está de volta ao vídeoamento, Maria do Carmo, uma das mais conhecidas apresentadoras de telejornais do Estado, está de volta ao vídeoamento, Maria do Carmo, uma das mais conhecidas apresentadoras de telejornais do Estado, está de volta ao vídeo

pela apresentação do telejornal nas noites de sábadopela apresentação do telejornal nas noites de sábadopela apresentação do telejornal nas noites de sábadopela apresentação do telejornal nas noites de sábadopela apresentação do telejornal nas noites de sábado

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Instantâneodigital

semi-profissionais e profissionais. Todas circulamno mercado e a escolha só depende do interesse dofotógrafo, ou aspirante a fotógrafo. Cada equi-pamento tem suas especificidades e vantagens.Geralmente as pessoas que não atuam profissio-nalmente com a fotografia buscam as câmeras maisfáceis de operar. Neste caso, a função “automático”é imprescindível. Nada de preocupação com o focoou ajuste de velocidade e diafragma.

Independente do equipamento que está sendoutilizado, no entanto, é preciso ter o maior cuidadocom a luz. O recurso automático não elimina o riscode fotos subexpostas (pouca luz) ou superexpostas(muita luz).

Para garantir registros bem elaborados, éessencial pensar sempre no local em que se vaifotografar. Ambientes que são iluminados porlâmpadas incandescentes ou fluorescentes podeminterferir no momento da captação da imagem.Nesse tipo de ocasião é bom carregar um flash,que irá neutralizar uma possível invasão de tonsverdes ou amarelados.

Antes de fotografar é importantecompor os elementos (pessoas,objetos, cenas) que serão registradosna imagem. Para que isso ocorra épreciso visualizar mentalmente umaidéia, e em seguida capturá-la. Énesta hora que contam os fatorescomo enquadramento, posição dafonte de luz e contraste de cores.Outra dica interessante é adquirirum tripé (apoio para câmeras foto-gráficas). Esse acessório será útilpara evitar fotografias tremidasquando há necessidade de maiorexposição.

Kamila Urbano

Negativos, nunca mais. Agora, as pessoas queremcapturar uma imagem e vê-la imediatamente. Ainvasão da fotografia digital está presente nocotidiano dos fotógrafos profissionais e dosamadores. Fazer uma viagem para um localdesconhecido era sinônimo de abastecer-se defilmes fotográficos. Clics que cortavam os pés ou ascabeças, isso quando era possível visualizar algumelemento na foto. Com o surgimento de equi-pamentos digitais, a fotografia ganha novos do-mínios: está presente em blogs e em sites de rela-cionamentos virtuais.

A fotografia digital trouxe muitas facilidades.Todo aquele processo de ir até uma loja especia-lizada em revelação de negativos e ampliação decópias está ficando para trás. Os recursos dainformática permitem que os fotógrafos armazenemsuas imagens no computador (e muitas vezes seesqueçam de revelá-las!). A oferta cada vez maiorde celulares com câmeras acopladas também temum peso no aumento da captação de imagens.Dificilmente o mercado oferece aparelhos que nãodisponham desse recurso muito procurado pelosconsumidores. Mesmo que a resolução das imagensobtidas pelo celular seja menor que as de umequipamento profissional, já servem para o arquivopessoal ou para veiculação na internet.

Além de permitir, logo depois de registrar aimagem, o indefectível “deixa ver como ficou”, oequipamento digital tem outros diferenciais. Nafotografia digital, por exemplo, é possível aplicarrecursos avançados através de programas como ophotoshop. Pode-se, ainda, adicionar às imagenselementos disponíveis no software, como reduzir otamanho e transformar o que écolorido em preto e branco. Ani-mações, tratamento e ajuste de corsão alguns exemplos de edição defotos digitais.

No quesito “vida útil”, atribui-seàs máquinas analógicas mais resis-tência. Em geral, as câmeras digitaisfuncionam normalmente até 50 milclics. Esse número varia conforme oscuidados com o manuseio e aqualidade do equipamento.Em setratando de fotografia digital, ascâmeras estão divididas emamadoras, amadoras-avançadas,

Equipamento digital conquista consumidoresEquipamento digital conquista consumidoresEquipamento digital conquista consumidoresEquipamento digital conquista consumidoresEquipamento digital conquista consumidores

Câmeras digitais invademcada vez mais o cotidianode profissionais eamadores

TECNOLOGIA26

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Uma visão européia dasRelações Públicas

Babel: Qual sua visão das Relações Públicas naAmérica Latina e, em especial, na América do Sul?

Antonio Castillo Esparcia: Bom, a comparaçãoentre o sistema europeu e o sistema da AméricaLatina de Relações Públicas não apresenta muitasdiferenças. Se fôssemos destacar alguma diferença,seria a favor do sistema da América Latina, porqueaqui existem “estudos” muito mais específicos emRelações Públicas, enquanto no caso europeu,muitos dos “estudos universitários” de RelaçõesPúblicas estão dentro das faculdades de jornalismo.Isto faz com que, às vezes, exista uma diferença doconceito entre Jornalismo e Relações Públicas,quando as Relações Públicas não são o mesmo queJornalismo. E creio que aqui na América Latina,inclusive, está muito mais clara esta diferença.

Babel: Entre as ações denominadas planejamento,estratégias, pesquisa, planos de ação e eventos, qualo senhor destacaria como de maior importância, ouque não se pode deixar de considerar no trabalho de

Realizado todos ossemestres, o RelaçõesPúblicas em Evidência,evento planejado eexecutado pelos alunosda disciplina deEventos, da habilitaçãoem Relações Públicas,do curso deComunicação Social daUlbra, trouxe aocampus Canoas, emsua terceira edição, em2007/1, o professordoutor AntonioCastillo Esparcia(foto), da Universidadede Málaga, Espanha.Para uma platéiacuriosa, formada emsua maioria por alunosda Comunicação, Castillo abordou o tema Umavisão européia das Relações Públicas. O eventocontou com a mediação da professora AndréiaAthaydes (*). Minutos antes da conferência,concedeu à aluna de Jornalismo Candice Feio aentrevista abaixo:

ALDRIN BOTTEGA – ACS/ULBRA

Relações Públicas?Castillo: Sem dúvida, a pesquisa. Creio que um

bom relações públicas, além de um bom comu-nicador e um bom estrategista, essencialmente, deveser um bom pesquisador para conhecer seuspúblicos e para pesquisar, em seguida, a eficácia daestratégia de comunicação que ele planejou.

Babel: A profissão de Relações Públicas no Brasil érecente. Foi legalizada há 40 anos e muitas pessoasainda desconhecem a abrangência da atividade. Quala orientação que o senhor daria para alunos que sepreparam para o mercado de trabalho?

Castillo: A questão da “intrusão” é generalizadaem todo o mundo. RP é uma profissão que não estáregulada sob o ponto de vista de que haja o exer-cício profissional obrigatório a partir dos estudosuniversitários, como ocorre, por exemplo, com osmédicos, os advogados e os engenheiros. E isto fazcom que a profissão tenha muita intrusão. Então,há muitas empresas que em muitas ocasiões estãotrabalhando com pessoas ou que se auto-denominam Relações Públicas e não têm emabsoluto a formação adequada na área ou, ainda,que não se definem como RP, mas estão exercendo afunção deste profissional. Ao final, quem saiprejudicado é a própria empresa. (Tradução: ProfªAndréia Athaydes)

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ENTREVISTA/Antonio Castillo Esparcia

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Quem mora em PortoAlegre desfruta todos osdomingos, das 9h às 17h,de um evento que é umadas marcas registradas dacapital gaúcha, o Brique daRedenção, na Avenida JoséBonifácio. Uma tradicional

O brique e seus artistasfeira onde o público encon-tra diversas antiguidades,ideal para colecionadoresque procuram peças eobjetos raros. No setor deartes plásticas, são comer-cializadas telas, caricatu-ras, xilogravuras e escultu-

ras. O artesanato é encon-trado em diversas maté-rias-primas, como couro,prata, fios, madeira, resina,ferro, gesso, vidro e porce-lana. E o segmento de gas-tronomia oferece lanchesrápidos e integrais.

Atualmente, segundo aSecretaria Municipal daProdução, Indústria e Co-mércio (Smic), órgão que co-ordena a feira, o Briqueconta com 180 expositoresde artesanato, 70 de antigüi-dades, 40 de artes plásticase 10 de gastronomia.

O Brique da Redenção éum espaço de lazer econvívio onde o visitanteenriquece seus conheci-mentos da cidade, costu-mes e sua cultura; é atra-ção turística, um local paraas mais livres expressões,desde as manifestaçõespolíticas e culturais. (Vanessa

Ciechowicz)

A serra gaúcha temmuito mais do que boacomida, frio e neve.Quem gosta de esportesradicais encontra nestaregião do Estado umleque de opções quepassa por cachoeiras,rios e cânions. As cidadesmais procuradas para aprática de atividadesjunto à natureza, comorafting, rapel, tirolesa,trecking, vôo livre epára-quedismo, são TrêsCoroas, Farroupilha, SãoFrancisco de Paula, SãoJosé dos Ausentes, Cam-bará do Sul, Canela eCaxias. (Eduardo Bran-

calion)

Aventuras naserra gaúcha

Os estados do Rio deJaneiro, São Paulo e oDistrito Federal sãopioneiros no trabalho deresgate e salvamento como auxílio de cães. No RioGrande do Sul, ogrupamento de busca esalvamento da BrigadaMilitar de Porto Alegre seutiliza desses animaisnas atividades de resgatee salvamento em matafechada, escombros, águae fogo. As raças que maisse adaptam a este tipo deatividade são LabradoresRetriever, Terra Nova o eBluehound. (Pablo

Rozados)

Amigo de todasas horas Pensando na dor dos donos de animais que se preocupam

em dar um enterro digno aos seus mascotes, o empresárioJosé Serra Pratz criou em São Leopoldo o cemitério deanimais Memorial Park. Inaugurado em 2004, o cemitérioconta com aproximadamente 300 sepulturas. (Rodrigo Bitar

Franskoviak)

Sepultamento digno

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LIVROSLIVROSLIVROSLIVROSLIVROS

GUSTAVO HASSE BECKER

dica demestre

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Em tempos de crises como as vividas pelascompanhias aéreas Gol e TAM, decorrentes dosacidentes que dizimaram centenas de passageiroshá não muito tempo, assim como a que recen-temente acometeu o Senado Federal, que teve seupresidente envolto em denúncias que resultaramna implantação de uma CPI para investigá-lo, nadamais oportuno que voltar nossas atenções ao temacrise de imagem. Neste sentido, um livro que podeem muito contribuir para esta reflexão é A síndromede Aquiles: como lidar com as crises de imagem, de MárioRosa (São Paulo: Gente, 2001, 249 páginas).

Com larga experiência em consultoria deimagem junto a empresas de grande porte, assimcomo com um significativo trânsito por campanhaspolíticas, o autor, que é jornalista, tem muito a dizere ensinar com esta obra. Trata-se de um livro defácil e convidativa leitura, que nos conduz a umareflexão sobre o que são crises de imagem, por queelas acontecem, quais são os seus alvos preferenciais,como agir para que elas não aconteçam ou, aomenos, para que seus efeitos sejam minimizados.

Tudo isso regado por uma gama de bonsexemplos que perpassam acontecimentosenvolvendo empresas, políticos, corporações oupersonalidades do mundo econômico e empresarial.

O autor é oportuno quando lembra que a crisebate indiscriminadamente à porta, seja deorganizações e personalidades sabidamente vilãs,seja daquelas sérias e respeitadas, cujo compor-tamento jamais daria margem a suspeitas. Partindodesta premissa, Rosa recomenda: “A melhor formade agir é incorporar os preceitos de administraçãode crises, montando um sistema capaz de detectarpreviamente focos desses eventos e trabalhar duropara que eles não aconteçam”. Em suma: “É melhorprevenir do que remediar!”. Este continua sendo,se não o melhor, o único caminho para queninguém seja apanhado desprevenido. Então, porque será que é tão difícil incorporar talprocedimento? O tema é complexo! Vale, realmente,a leitura da obra, para que compreendamos melhoro assunto.

Crise de imagem

A falta de conscientização e cuidados, como uso depreservativos e anticoncepcionais, justificam os altosnúmeros de gravidez na adolescência. Uma pesquisarealizada nas principais universidades do país revela que70% das meninas não usam métodos anticoncepcionaisna primeira relação, mas 95% delas conhecem pílulas epreservativos.

Segundo o vice-presidente da ONGBrasil sem Grades, Roberto Cohen, um dosidealizadores do Planejamento Familiarproposto em parceria com o governo doEstado, o problema está relacionado à falta

de informação dos pais:– O conhecimento sobre sexo começa

em casa desde a infância. Os pais devempassar informações aos filhos, casocontrário, fica difícil controlá-los quandochegam à adolescência.

No início de 2007, a ONG realizou,juntamente com o Ministério Público doEstado, o III Fórum Regional de Plane-

jamento Familiar, em uma tentativa demobilizar os municípios a adotarem aaplicação da política do Planejamento

Familiar e agregar as organizações envolvidas com aquestão do adolescente e fortalecer o conceito depaternidade consciente. (Rafael dos Santos Munhos)

Gravidez fora de hora

Vítimas da falta de informaçãoPesquisa realizada na União Européia com mais de 1,5

mil mulheres de 18 a 25 anos mostrou que apenas 5% delassabem o que é HPV e o que o provoca. Segundo aginecologista e obstetra do Hospital de Clínicas de PortoAlegre e do Hospital Mãe de Deus, Sabrina SoraiaSchroeder, no Brasil a situação não é muito diferente: – Todos os dias deparo comsituações graves, como faltade informação, mesmo a maissimples, como a necessidadede ter uma higiene íntimaadequada - afirma.

O HPV é um vírustransmitido pelo contatosexual, e que afeta a áreagenital tanto de homens comode mulheres, causando câncerde colo de útero. (VanessaCiechowicz)

Violência urbana

No Brasil, cerca deNo Brasil, cerca deNo Brasil, cerca deNo Brasil, cerca deNo Brasil, cerca de

7 milmulheres morrem

anualmente vítimas deHPV, conforme dados do

Ministério da Saúde.

OS NÚMEROS

A violência na capital gaúcha está assuntando osmoradores e deixando em alerta as autoridades. Segundorelatório do 9º Batalhão de Polícia Militar, responsável

por 16 bairros da capital, entre janeiro eabril foram registradas 829 ocorrências de

furtos, seguido de 590 assaltos à mão armada,84 furtos de veículos e de 113 prisões por posse de

drogas. (Vanessa Ciechowicz) Gustavo H. Becker é professor e coordenador do curso deComunicação Social, habilitação em Relações Públicas.

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ENTREVISTA/Deraldo Goulart30

Babel: Como o senhor vê a formação do jorna-lista atualmente?

Deraldo Goulart: Com preocupação e esperança.A Internet, ao mesmo tempo em que é uma po-derosa ferramenta, também pode representar umaacomodação, um lugar onde se acha tudo muitofácil. Não se pode abandonar os livros. Estes sãoas fontes do saber. Mas sempre haverá os que vãoexercer a profissão com dignidade e compromissocom os fatos.

Babel: O senhor daria uma dica para quem estácomeçando?

Goulart: Não perder o foco. Dar o melhor de sinas tarefas cotidianas. Preparar-se para enfrentarum mercado que, por mais competitivo que seja,não pode prescindir da boa formação e do talento.

Babel: Para ser um bom jornalista é preciso...Goulart: Vocação, estudo, leitura e persistência.

Ir além dos currículos universitários. Saber que anotícia não tem hora. Antever os fatos para estarno lugar certo na hora certa.

Repórter com trânsito no cenário político,Deraldo Goulart (foto) conseguiu projeçãorápida, mas ao custo de muito esforço edeterminação. Estudo, paixão pelo jornalismo evocação são aliados que ainda regem a carreira desucesso que começou no interior do Rio Grandedo Sul e conquistou Brasília.

O atual coordenador do Núcleo deDocumentários da TV Senado e apresentador doprograma Brasil Regional na Rádio Senado égaúcho de Linha Wink. Nesta pequenacomunidade rural do interior de Estrela, viveuaté os oito anos, quando a família se mudoupara a sede do município. Completou o primáriona Escola Rural Nicolau Müssnich, no bairroBoa União, passou ainda pelo Colégio MartinLuther e finalizou o Ensino Médio no ColégioSanto Antônio. Já nesta época gostava defreqüentar as bibliotecas das escolas.

– A do Martin Luther era a mais completa –lembra ele.

Rita de Cássia da Silva

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“Mercadoexige dedicaçãoe talento”

PROFISSÃO

A escolha da profissão aconteceu cedo, aos 12anos. No gravador do irmão, o jovem DeraldoGoulart lia e relia textos em voz alta. A aparentebrincadeira causou estranheza na avó, que certavez perguntou à mãe do garoto:

– O Deraldo está com algum problema? Elepassou a noite inteira falando sozinho.

O sonho infantil de se tornar locutor de rádiovirou realidade com grande esforço e dedicação.Goulart lembra que lia jornal todos os dias, ouviarádio e assistia televisão sempre.

– Eu tinha gana de saber as notícias, em especialde política e futebol – recorda.

Aos 15 anos soube que uma emissora, a RádioIndependente de Lajeado, estava selecionandocandidatos a repórter. Fez o teste e passou juntocom outro candidato. Perdeu a vaga por não tercurso de datilografia. A partir daquele dia decidiucursar jornalismo.

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Babel: Como é a sua rotina de trabalho?Goulart: Gravação, roteiro e edição das

produções do Núcleo. Pesquisa sobre temas dahistória para que acabem virando um belodocumentário. Reuniões administrativas por contado cargo que ocupo, o de Coordenador do Núcleode Documentários da TV Senado.

Babel: Como é a experiência de estar no centropolítico do país?

Goulart: No período em que fiquei na reportagemtinha contato mais constante com os senadores.Isso possibilitava um acompanhamento dasnotícias e também do estado de espírito dos par-lamentares com suas vitórias, angústias edecepções. A história acontecia diante dos meusolhos e eu ainda participava dela.

Babel: Esse segmento do jornalismo requer umpreparo diferenciado do jornalista?

Goulart: Com certeza a Internet está quebrandoparadigmas no jornalismo. Em todos os setoresdos meios de comunicação está em marcha umapoderosa revolução via Web que vai transformartodo o atual conceito de mídia.

Babel: Qual é o perfil ideal para um jornalistaatuar nessa área?

Goulart: É preciso encarar a profissão como umavocação. Interesse em aprender sempre mais, decorrer atrás da notícia e de achar o melhor texto.Saber que a presteza da informação é maisimportante que uma bela redação. Se o profissionalpuder aliar as duas coisas, melhor.

Babel: Como o senhor se descreveria?Goulart : Um apaixonado por jornalismo e

música (apresento o programa Brasil Regional naRádio Senado). Sonho em ver o Brasil ocupandoo lugar que merece, para que o povo tenha plenacidadania.

A cidade que não aparece nosguias de turismo oferece outrasbelezas arquitetônicas aosvisitantes

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A TRAJETÓRIA

Começou na Folha de Lajeado,mas gostava mesmo de rádio. Narádio Independente teve a oportu-nidade de exercer a profissão.Também foi editor da revista Stalo,publicação que era do mesmo grupolajeadense. Ainda abriu uma editoraque publicava uma revista própria, aVale Rural, jornais de sindicatos,associações e produziu matériaspara o Correio do Povo. Em seguidafez testes da RBS TV para repórterda Sucursal de Lajeado e passou afazer reportagens na região. Maistarde foi transferido para a RBS TVSucursal de Brasília. Em Brasília,também trabalhou na Rádio Gaúchae fez matérias para o jornal ZeroHora.

O COMEÇO

As primeiras matériasnão foram boas,conforme o própriojornalista hoje avalia.Depois melhorou,garante.

– Aprendi a lidar comquase todas as editoriasdo jornal. Isso amplioumeu campo de visão eapuro jornalístico. Osalário no começo dacarreira era baixo, masmesmo assim sobrevivi.

Para sua surpresa, tudoaconteceu muito rápido.Em apenas 48 meses saíados bancos universitáriose chegava a Brasília.

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