revista babel nº 4

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babel REVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO/ULBRA-CANOAS/RS JULHO DE 2008 ANO 2 NÚMERO 4 SEBOS A BOA OPÇÃO DE LIVROS NA MIRA DO OLHAR VIAJANTE PÁGINAS 6 e 7 SERIADO AMERICANO CONQUISTA O BRASIL PÁGINA 10 MENORES E MELHORES, DEZ ANOS DEPOIS PÁGINA 16 RIVAIS PARA TODA A VIDA PÁGINAS 18 e 19

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Revista produzida pelos alunos da disciplina de Produção Jornalística II em julho de 2008: Arnildo Munchow, Bianca Zuchetto, Daiane Morim Novo Wolk, Edson Vladimir Torres, Janaína Teixeira de Souza, Julia Leal da Veiga, Mariana Romais, Simone Bassani, Thiago Nery Pandolfo Fotografia: Leonardo Lenskij. Revisão: Carlos Nunes.

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Page 1: Revista Babel nº 4

babelREVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE JORNALISMO/ULBRA-CANOAS/RS

JULHO DE 2008 ANO 2 NÚMERO 4

SEBOSA BOA OPÇÃODE LIVROS

NA MIRA DO OLHAR VIAJANTEPÁGINAS 6 e 7

SERIADO AMERICANO CONQUISTA O BRASILPÁGINA 10

MENORES E MELHORES, DEZ ANOS DEPOISPÁGINA 16

RIVAIS PARA TODA A VIDAPÁGINAS 18 e 19

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EDITORIAL

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2 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Em boa companhia

Em um país como o Brasil, com desigualdades sociais aterra-doras, ler impressos – sejam jornais, revistas ou livros – é umluxo para muitas pessoas. Dados de pesquisa divulgada peloInstituto Pró-Livro sobre o comportamento do leitor no paísmostram que a média de livros lidos é de 4,7 por habitante/anoe apenas 1,2 livro por habitante/ano é comprado. Nos EUA, amédia de leitura é 10 por habitante/ano e em países como Suéciae Dinamarca, 15.

No que se refere a hábito de leitura, estamos longe de ser exem-plo. Embora o Brasil responda por 50% da produção de livrosda América Latina, 89% dos municípios brasileiros não têm li-vrarias. A rede de distribuição no país é péssima, os livros sãocaros e as pessoas alegam não ter motivação, paciência ou tem-po para ler. Por conta desses entraves, nas horas de lazer osbrasileiros preferem ficar diante da TV.

A falta de estímulo à leitura está sedimentada, também, poroutras circunstâncias, que certamente ajudam a explicar aperformance do brasileiro quando se avalia sua relação com oslivros. Muito além da falta de exemplo dentro de casa, da faltade dinheiro, da falta de tempo, há uma falta de vontade políticapor parte dos atores que deveriam cultivar junto à população ogosto pela leitura desde a fase da alfabetização, há uma culturade não valorização do livro e da função civilizadora da leitura.Com 190 milhões de habitantes, o Brasil conta somente com 2,7mil livrarias, uma para cada 70 mil habitantes. A Organizaçãodas Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(Unesco) recomenda que haja uma livraria para cada 10 milpessoas.

Acredito que não seja novidade para ninguém que o índice deleitura cresce na mesma proporção da renda familiar e do graude escolaridade. Em se tratando de Brasil, este dado ajuda aentender a preferência inabalável dos brasileiros pela televisão,uma vez que a renda do grosso da população é baixa e altíssimoo contingente de analfabetos. Não pense, no entanto, que so-mente as classes com baixas renda e escolaridade buscam canaisde entretenimento (e conhecimento) de fácil assimilação. Entreos 77,1 milhões de não leitores existentes hoje no Brasil, temos– acredite! – 1,3 milhão com formação superior.

Nesta edição da revista Babel, a matéria de capa trata de umdos canais de mercado para acesso a livros mais procurados noBrasil, os sebos. Aqueles locais onde estão os livros de segundamão colocados à venda por preços mais acessíveis. Na caracte-rística desordem dos balcões e das estantes dos sebos (a origemdo nome, dizem, é anterior à energia elétrica, quando se lia li-vros à luz de velas), sempre encontramos boa companhia: rari-dades, livros esgotados, clássicos ou best sellers. Para aquelesque achavam que os sebos tinham sucumbido frente ao avançoda internet e consequente facilidade de baixar conteúdos, Babelcumpre seu papel de informar que Porto Alegre mantem suaslojas de usados. No Brasil de leitores desmotivados por razõesdiversas, pode estar nas ofertas dos sebos o estímulo que falta-va para aproximar leitor e livro. Boa leitura.

Reitor Ruben Eugen Becker

Vice-reitor Leandro Eugênio

Becker Pró-reitor de Adminis-

tração Pedro Menegat Pró-

reitor de Graduação da Unidade

Canoas Nestor Luiz João

Beck Pró-reitor de Graduação

das Unidades Externas Osmar

Rufatto Pró-reitor de Pesquisa e

Pós-graduação Edmundo

Kanan Marques Capelão Geral

pastor Gerhard Grasel

Ouvidoria Geral Eurilda Dias

Roman Diretora de Comunica-

ção Social Sirlei Dias Gomes

Coordenador de Imprensa Rosa

Ignácio Leite Diretor da área

de Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas Sérgio Roberto

Lima Lorenz (RPMT/RS 9250)

Coordenador do curso de

Jornalismo Douglas Flor

(RPMT/RS 7384) Jornalista

responsável Rosane Torres

(RPMT/RS 5141) Projeto

Gráfico Jorge Gallina (RPMT/

RS 4043)

Revista produzida pelos

alunos da disciplina de

Produção Jornalística II:

Arnildo Munchow, Bianca

Zuchetto, Daiane Morim

Novo Wolk, Edson Vladimir

Torres, Janaína Teixeira de

Souza, Julia Leal da Veiga,

Mariana Romais, Simone

Bassani, Thiago Nery

Pandolfo

Fotografia: Leonardo

Lenskij. Revisão: Carlos

Nunes.

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 3

ÍNDICEÍNDICE

4 e 5

12 e 13

Ao contrário do que se

pensa, o brasileiro fala

bem o português

Scholz:

trabalhando

com as letras

22 e 23

Ração: cuidado

que não

pode faltar

15

Um sonho na

forma de um Chevrolet

Impala vermelho

20 e 21

Lanche de

primeira

na Capital

11

IDIOMA

Famílias de Guaranis e Caigangues se deslocam

para Porto Alegre todos os fins de semana para

expor seus produtos na Redenção

16

TRÂNSITO

Jovens são os que

mais se envolvem na

violência das estradas

17

LIÇÃO DE VIDA

História de força e

determinação para

ultrapassar obstáculos

23

PALESTRA

Os desafios da

comunicação

organizacional

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4 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Restou o asfalto paraguaranis e caigangues

COMPORTAMENTO

Arnildo Münchow

O ditado que afirma ser melhor prevenir do queremediar é bastante usado e por certo tem suasaplicações práticas em muitos casos. Mas nem sempreisso é possível, então uma alternativa é tentaramenizar os efeitos. O desenvolvimento industrial eeconômico, o avanço populacional ocupando regiõescada vez mais amplas trouxe consigo algumasconseqüências nem tão agradáveis. Povos foramextintos, outros espalhados devido ao progresso dahumanidade ao longo da história.

Quem chegar ao Parque Farroupilha aos sábados oudomingos vai encontrar, além deoutras tantas variedades ar-tesanais que o famoso Brique daRedenção oferece, aquele grupode vendedores ali perto doposto de combustíveis, naentrada pela Osvaldo Ara-nha. Entre balaios, colares,pulseiras e brincos; ouainda machadinhas e ou-tros artefatos e escul-turas em madeira, estãosentados, geralmenteem pequenos gruposfamiliares, índiosguaranis e caingan-gues. Eles chegam cedo,em conduções coletivas,de carro ou até mesmoa pé.

Para estes ocu-pantes histó-ricos do es-tado, o pro-gresso tal-

vez não tenha sido tão generoso assim. Desalojados deseu habitat ou espremidos em reservas cada vez maisrestritas e descaracterizadas, para muitos a alter-nativa foi tentar a sorte (ou o azar) na cidade grande.A história da maioria é parecida com a de AlípioMineiro, um dos índios vendedores do brique.

– Nós éramos de Nonoai, mas lá a agricultura nãodava direito, a venda do artesanato não rendia e adificuldade era grande. Aqui não iria ser pior, masmelhor, porque dava para vender artesanato mais fácil– relata.

Como Alípio e sua família, chegados há dois anos,outros vieram antes e foram parar nas ruas de PortoAlegre, espalhados de sua gente, isolados de seuscostumes e tradições. Em vista desse processo, quetrazia conseqüências para os índios e para a cidade, éque desde 2003 a Prefeitura Municipal, através daSecretaria Municipal de Direitos Humanos e SegurançaUrbana (SMDHSU), criou o Espaço de Sustentabilidade,

localizado na Lomba do Pinheiro. Ali em torno de 40famílias caingangues possuem um local de moradia,

com escola, posto de saúde e centro cultural.Naquele local a atividade artesanal e cultural dosindígenas pode ser mantida e passada adiante.

– O espaço ajudou a consolidar os laços deparentesco e a rearticular seus aspectos

sociais, religiosos e políticos – lembra acoordenadora de políticas públicas paraos povos indígenas da prefeitura, a antro-póloga Ana de Castro Freitas.

Tendo um local fixo de moradia econvivência, de fabricação do seu ar-tesanato, os índios precisavam de umespaço onde comercializar seus produtos.

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Índios são incentivadosa produzir artesanatoem cerâmica paradiversificar o trabalho

O Brique da Redenção é o principal ponto deO Brique da Redenção é o principal ponto deO Brique da Redenção é o principal ponto deO Brique da Redenção é o principal ponto deO Brique da Redenção é o principal ponto devenda do artesanato produzido pelos indígenasvenda do artesanato produzido pelos indígenasvenda do artesanato produzido pelos indígenasvenda do artesanato produzido pelos indígenasvenda do artesanato produzido pelos indígenas

Neste sentido, o Brique da Redenção é o pontoprincipal para esta atividade. O convívio entre si e aatenção aos visitantes do local mostram que, se nãoestão no lugar dos sonhos, pelo menos encontramuma forma de sobrevivência e manutenção de suacultura através dos produtos que ali expõem.

– Antes faltava dinheiro até para comer, mas agoraa coisa mudou. A vida ficou um pouco mais fácil –confessa a índia Rosa Ribeiro.

E eles são bons negociantes. Dispõem-se a falar oupermitem fotos, quase sempre com a condição de quese leve alguma coisa da banca. Incrementaram seuartesanato com produtos não só da sua cultura, masos que vendem mais, como miçangas, tiaras e outrosadornos da moda.

– Mudamos um pouco para ter o que os brancosgostam mais de comprar. Também variamos ascores, não só o verde e o vermelho que são as coresda mata, mas o azul, rosa, amarelo. Assim vendemais – conclui Dionélio Alves.

Em média o preço dos produtos varia entre três e10 reais, podendo haver aquela tradicional“choradinha” na hora de fechar o negócio. Ofaturamento por banca oscila bastante e dependeprincipalmente das condições do tempo, podendoficar entre 30 e 80 reais por final de semana.

O material usado para a confecção de artesanatosmenores e peças de adorno, é trazido do interior doestado, de reservas indígenas como a de Nonoai, Pla-nalto, Tenente Portela e outras. Já para fazer os ba-laios, o cipó é retirado das matas de preservação daPrefeitura e de municípios vizinhos como Viamão eGuaíba. Isso tem provocado alguma resistência degrupos preocupados com a preservação destasmatas próximas a capital. Por isso a prefeitura temincentivado, junto aos grupos indígenas, cursos deartesanato em cerâmica, resgatando técnicasancestrais de fabricação, tendo como matéria primao barro obtido na região do Lago Guaíba. O objetivoé diversificar o trabalho e reduzir o impactoambiental nas matas.

Segundo a prefeitura, as iniciativas desenvolvidasem benefício dos indígenas da capital visam tornaras famílias indígenas auto-sustentáveis,responsáveis pela coleta e comercialização das peçasartesanais. Conforme Ana, locais como o comérciono brique servem como oportunidade de promoveruma reflexão a respeito da sustentabilidadeindígena pelo artesanato.

Além da variedade de produtos em exposição, umpasseio pelo brique proporciona o contato compessoas que, como os indígenas, a seu modo econdições, amenizam as conseqüências do que asociedade ‘moderna’ lhes impõe.

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6 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Mariana Romais

Vontade de viajar e uma câmera na mão. É assim queapaixonados por fotografia descobrem novos lugares eregistram tudo o que vêem através de um projeto daescola de fotografia Câmera Viajante, de Porto Alegre.Com inspiração em Aristóteles, que dava aulas ao arlivre na Grécia Antiga, a escola começou aos poucos,realizando viagens com o objetivo de retratar umamesma paisagem através de diferentes olhares.

Se você se interessa por fotografia e não tem muitatécnica, não se preocupe. Segundo Gerson Turely,diretor administrativo da Câmera Viajante, qualquerpessoa que goste de fotografia, independente doconhecimento que tenha sobre o assunto, pode par-ticipar. Ele afirma que é nessas viagens que pessoasinexperientes têm oportunidade de aprender e desen-volver a apuração do olhar:

– Todos os passeios são acompanhados por umprofessor de fotografia e, na grande maioria, tambémpela psicóloga, com o objetivo de facilitar a relaçãoque vai se estabelecendo no grupo.

A escola cresceu e virou uma agência de fotografia.Segundo Rogério do Amaral Ribeiro, diretor de ensino ecomunicação da Câmera Viajante, a divulgação dotrabalho é tão ampla que já serviu para atender clientesde lugares como Paris e Zurique. Mas a essência da escola,de viajar e tirar fotos, permanece. Ribeiro afirma que oobjetivo dos passeios é a prática fotográfica, a integraçãodo grupo e a valorização do patrimônio histórico,cultural e do meio ambiente do local:

– É o prazer em fotografar como um meio de me-lhorar a qualidade de vida. Com o tempo percebemostambém a valorização dos lugares fotografados, tantopara a comunidade local como para o grupo de fotó-grafos.

FOTOGRAFIA

Imagens paradescansar o olhar

Os destinos escolhidos para as viagens são os maisvariados. Segundo Karla Nyland, diretora de projetos,as questões culturais e ambientais da cidade, a estru-tura para receber um grupo e o potencial fotográficodo lugar são levados em conta na hora de decidir opasseio. A maioria deles é realizada dentro do RioGrande do Sul, graças a seu potencial turístico, pelafacilidade de deslocamento e baixo custo. Outrosdestinos, entretanto, não estão fora da pauta da escola.

– Fazemos passeios para o Uruguai e, neste ano, foto-documentamos o Corpus Christi em Tiradentes, São

Objetivo dos passeios é desenvolver a prática fotográfica, integrar os grupos e valorizar o patrimônioObjetivo dos passeios é desenvolver a prática fotográfica, integrar os grupos e valorizar o patrimônioObjetivo dos passeios é desenvolver a prática fotográfica, integrar os grupos e valorizar o patrimônioObjetivo dos passeios é desenvolver a prática fotográfica, integrar os grupos e valorizar o patrimônioObjetivo dos passeios é desenvolver a prática fotográfica, integrar os grupos e valorizar o patrimônio

O programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicóloga

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Câmera Viajante desenvolveCâmera Viajante desenvolveCâmera Viajante desenvolveCâmera Viajante desenvolveCâmera Viajante desenvolveprojetosprojetosprojetosprojetosprojetosambientais e sociaisambientais e sociaisambientais e sociaisambientais e sociaisambientais e sociaiscom foco nacom foco nacom foco nacom foco nacom foco naeducação fotográficaeducação fotográficaeducação fotográficaeducação fotográficaeducação fotográfica

João Del Rei e Ouro Preto, em Minas Gerais. Para opróximo ano, estamos planejando uma viagem aoEquador – relata Karla.

Além dessas realizações, o Câmera Viajante desen-volve projetos ambientais e sociais. Turely explicaqual o papel ecológico da fotografia:

– O olhar de quem fotografa começa a perceber eselecionar vários ângulos ao seu entorno, denun-ciando ou valorizando o ambiente onde estáinserido. O fotógrafo, ao perceber o meio de outramaneira, sob outro ângulo, valoriza uma determi-nada imagem conforme sua percepção. Ela tantopode mostrar algo que colabore com um mundomelhor como denunciar a destruição do meioambiente.

Quanto ao projeto social, a idéia se baseia na educaçãofotográfica de crianças e adolescentes de comunidadescarentes. Parece estar dando tão certo que alguns jáplanejam seguir a carreira de fotógrafos, numaoportunidade única de ascensão social e profissional.

O programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicólogaO programa de passeios da Escola Viajante prevê que todas as saídas de grupo são acompanhadas por um professor de fotografia e, às vezes, até por uma psicóloga

Fiel a sua essência de viajar e fazer fotos, escola estimula pequenas incursões com destinos bem variadosFiel a sua essência de viajar e fazer fotos, escola estimula pequenas incursões com destinos bem variadosFiel a sua essência de viajar e fazer fotos, escola estimula pequenas incursões com destinos bem variadosFiel a sua essência de viajar e fazer fotos, escola estimula pequenas incursões com destinos bem variadosFiel a sua essência de viajar e fazer fotos, escola estimula pequenas incursões com destinos bem variados

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8 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Arnildo Münchow

Uma das dicas, frente à aflição de muitos na tarefade escrever ou interpretar um texto, é a de que nãoexiste receita, mas um ingrediente fundamental:leitura. Alguém disse certa vez que ler é evitar que aalma infarte. Para quem envereda pelos caminhosdo jornalismo, então, a leitura é simplesmenteindispensável.

Como se apropriar da arte de escrever um bomtexto? Ricardo Noblat afirma que escrever é“habilidade adquirida”, não é dom. E prossegue naresposta em como adquiri-la: “Lendo muito. Esempre. Lendo tudo – de bons a maus livros, de prosaa poesia, de receita de bolo a bula de remédio. Leiamo que lhes reforce as convicções. E não deixem de lertudo que as contrarie.”

O Brasil é considerado um país de poucos leitores.Uma das causas é a impossibilidade de comprarlivros, bons livros custam caro, face à situaçãoeconômica da maioria dos brasileiros. Diz-se que oBrasil é o país dos jeitinhos, dos atalhos diante dosobstáculos que por vezes a vida impõe. Se não forpossível comprar um carro novo, o jeito é dar umaolhada ali em Sapucaia, ou na Ipiranga onde as lojasde usados se concentram.

Sempre é possível encontrar um bom negócio. Como livro acontece algo parecido. Se os novos estão forado alcance do orçamento, a solução pode estar na RuaGeneral Câmara ou naRiachuelo, ou ainda noBom Fim, onde estágrande parte dos livrosusados da capital gaúcha.

Das mais de 700 livra-rias registradas em PortoAlegre, ao menos 30 sãocasas de venda, compra e troca. São os chamadossebos, que tem esse nome derivado de uma práticaantiga, antes da invenção das cópias atualmenteconhecidas, quando os alunos da Universidade deCoimbra reproduziam suas matérias em litografiasconhecidas como sebentas, devido ao processo queusava uma tinta graxenta.

Os sebos são uma alternativa cada vez maisutilizada por pessoas dos mais diferentes perfis,porque além da economia, que pode chegar a 70% emrelação ao livro novo, ainda é possível encontraraquele livro, revista ou gibi perseguido há tantotempo. Tudo indica que, depois de uma certaresistência, o público descobriu que vale a penacomprar, trocar e vender livros e revistas usadas.

Em Porto Alegre se pode encontrar desde lojas quetrabalham exclusivamente com pontas de estoque,até os sebos mais tradicionais como a livraria Aurora

SEBOS

Territóriodas letras

Nos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usados

Os sebos podem ser visitados pela internetem sites como wwww.estantevirtual.com.brou www.traca.com.br. Nas lojas virtuais, épossível pesquisar, comprar ou vender livrossem sair de casa

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 9

Detalhes como o autógrafodo autor, a edição ou o anopodem determinaro valor de um livro

e a Martins Livreiro, que têm mais de 50 anos detradição no ramo.

– O perfil dos clientes é eclético, desde o engraxateque vem comprar um gibi, até desembargadores,ministros de Estado, que já compraram aqui na loja– ressalta Ivo Alberto Almansa, proprietário daMartins Livreiro.

Almansa salienta que o mercado consumidor delivros usados aumentou nos últimos anos, mas aslojas que atuam no setor se multiplicaram aindamais. Isto criou, segundo ele, um problemarelacionado aos livros de mais valor, aspreciosidades, quando, por não identificar umararidade, os sebistas vendem a obra como outraqualquer. E ele exemplifica:

– Uma coleção sobre a Guerra do Paraguai, emtrês volumes, foi comprada por um conhecido meupor R$ 28 numa loja aqui na cidade. Ele conhecia aobra e logo veio aqui me oferecer os livros por R$1.000. Eu acabei negociando com ele por R$ 700. Dalia pouco tempo eu vendi os três volumes por R$ 1.500.

O valor de um livro usado pode variar muito,dependendo de alguns detalhes, como, o autógrafodo autor, a edição, o ano, enfim. Quem entrar numsebo disposto a gastar no máximo cinco reais, comcerteza não sairá de mãos vazias. Por outro ladotambém é possível investir as economias numararidade, como Dona Mystica, de AlphonsusGuimaraens, autografado, de 1889, ao preço de R$11.000. Ou quem sabe sair com uma bíblia ilustrada,pagando por ela R$ 40.000.

O estoque dos sebos é mantido pela aquisição depontas de estoque e principalmente pela aquisiçãode bibliotecas particulares. A compra de livrosavulsos também acontece, mas algumas livrariascompram somente a partir de um número mínimode volumes, tentando restringir a revenda de furtos,praticados em bibliotecas, bancas e livrarias.

Carlos Alberto Verri, da Livraria Nova Roma, relataque algumas raridades entram nos sebos de maneirainusitada, quase por acaso, como aconteceu com umaprimeira edição de Machado de Assis, que chegoupelas mãos de um catador de papel que, antes de levaro material para reciclagem, resolveu verificar se olivro poderia lhe render algum dinheiro. O livro estáavaliado em mais de dois mil reais.

Entre valiosas raridades e os mais diversosexemplares da atualidade, é possível encontrar detudo num sebo. O cheiro dos livros e os corredoresapertados parecem um refúgio nestes tempos pós-modernos. Uma espécie de volta ao passado. Masisto não significa que os sebos são coisa do passado.Cada vez mais organizados e atualizados, são umaalternativa muito eficaz contra um dos grandesmales da sociedade.

Nos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usadosNos corredores apertados da Aurora (acima), em Porto Alegre, é possível encontrar bons exemplares de usados

Almansa (E) afirmaAlmansa (E) afirmaAlmansa (E) afirmaAlmansa (E) afirmaAlmansa (E) afirmaque o público éque o público éque o público éque o público éque o público é

eclético e os seboseclético e os seboseclético e os seboseclético e os seboseclético e os sebosoferecem relíquiasoferecem relíquiasoferecem relíquiasoferecem relíquiasoferecem relíquias

como uma Bíbliacomo uma Bíbliacomo uma Bíbliacomo uma Bíbliacomo uma Bíbliailustrada, ao ladoilustrada, ao ladoilustrada, ao ladoilustrada, ao ladoilustrada, ao lado

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10 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Humor rápido, com tiradas inteligentes, conquista brasileirosHumor rápido, com tiradas inteligentes, conquista brasileirosHumor rápido, com tiradas inteligentes, conquista brasileirosHumor rápido, com tiradas inteligentes, conquista brasileirosHumor rápido, com tiradas inteligentes, conquista brasileiros

Mariana Romais

É cada vez maior o número de fãs brasileiros deseriados norte-americanos. No passado, somenteacessível a um grupo segmentado, através da TV acabo, os sitcoms (como são chamados nos EstadosUnidos) viraram febre tão grande que chegaram tam-bém à televisão aberta. A rede social mais conhecidano Brasil, o orkut, tem centenas de comunidades de-dicadas a séries de televisão, a personagens e até mes-mo determinados episódios ou piadas dos sitcoms.

A cada semestre, emissoras de televisão dos EUAlançam dezenas de novos seriados, já que a po-pularidade desse tipo de programa é equivalente aosucesso que as novelas fazem no Brasil. Alguns seperpetuam, podendo ficar anos no ar, e outros nãodão certo, devido à fraca recepção do público. Público,aliás, fiel e exigente: existem até mesmo pessoas quese denominam series addicted, viciados em séries de TV,que não perdem um episódio do seu programafavorito.

O que faz os seriados conquistarem cada vez maistelespectadores fanáticos no Brasil? A estudanteuniversitária Luana Limas, fã de carteirinha de maisde 15 séries, tem uma explicação:

– O humor nos Estados Unidos é muito diferente dohumor no Brasil. Lá ele é mais rápido, as tiradas sãomais inteligentes e sarcásticas. Aqui, geralmente, aspessoas precisam estar vestidas ou falar de um jeitobizarro para que arranque uma risada de alguém.

Outra diferença clara é o tipo de ambiente em quese faz humor: os seriados norte-americanos mostramo dia-a-dia, criando uma expectativa sobre o que vaiacontecer no futuro dos personagens. Aqui, o humorpode ser na rua, com a participaçãode pessoas comuns, ou numestúdio, com situações e cenáriosdiversificados.

Uma tentativa tupiniquim dessetipo de emissão foi realizada pelosescritores Fernanda Young eAlexandre Machado, através de OsNormais, que fez sucesso entre opúblico e mostrou forte influênciadas comédias americanas. Emis-soras brasileiras passaram a com-prar os direitos de exibição de al-guns sitcoms, mas com dublagem– ao contrário do que acontece naTV a cabo. Para Luana, as versõesem português perdem muito do ori-ginal:

– Não achei a mesma graça. Édifícil traduzir humor, as piadasnunca são iguais.

Os series addicted brasileiros afir-mam que assistir a seriados é mui-to mais que uma diversão. A pro-

TV

Viciados em... seriados!

fessora de inglês Carolina Pagani é testemunha dadiferença na fluência do idioma entre alunos queassistem seriados de TV dos que não acompanhameste tipo de programa.

– Como o contato com a língua é maior, as pessoasque assistem aos seriados têm mais facilidade deentender diálogos e de formular frases. Muitos dãoum salto no nível de inglês depois que começam aassistir os sitcoms norte-americanos – avalia ela.

Luana comprova essa teoria:– Aprendi inglês vendo Friends (seriado humo-

rístico considerado o mais bem-sucedido de todos ostempos da televisão norte-americana).

Além da parte lingüística, ossitcoms podem influenciar muitomais do que se imagina. Algunsnão saem de casa ou perdem partede suas vidas sociais para acom-panhar os episódios de suas sériespreferidas. Outros incorporam ohumor ou a personalidade dospersonagens:

– Como comecei a ver Friendsmuito nova, aprendi a fazer piadasrápidas, com muita ironia. Soumuito como o Chandler Bing(personagem mais humorístico doFriends, interpretado por Mat-thew Perry) e aplico várias frasesdo seriado no meu dia-a-dia. Só meentende quem sabe inglês ouassiste como eu – afirma Luana.

Se você ainda não conhece ne-nhum seriado, ligue a TV e divirta-se: o único problema que você podeter é não querer mais sair da frenteda tela!

Opções de seriados

na TV a cabo e aberta

Canal SonyThe Nanny – Segunda à sexta, 11h

Seinfeld – Segunda à sexta, 23h e terça

a sábado, 3h

Warner ChannelFriends – Segunda à Sexta, 20h

(exceto terça-feira, exibido às

23h30min)

Two and a Half Men – Segunda à sexta,

19h e 19h30min e terça-feira, 20h30min

Gilmore Girls – Segunda à sexta, 16h

The New Adventures of Old Christine –

Sexta, 20h30min (começou nova

temporada dia 9 de maio)

SBT (dublados)Eu, a Patroa e as Crianças – Segunda à

sexta, 13h45min e 18h25min (My Wife

and Kids, também apresentado no canal

Sony)

Um Maluco no Pedaço – Segunda a

sábado, 21h30min

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 11

LINGUAGEM

Português descomplicadoMariana Romais

Você acha que o brasileiro fala mal a sua língua?Quando ouve alguém menos instruído, pensa que ele“assassina” o português? Acredita que foi à escola paraaprender a Língua Portuguesa corretamente? Para oscientistas da linguagem, os lingüistas, você pode estarenganado. Os brasileiros aprendem desde cedo que falarcerto é falar como se escreve, falar como manda a gra-mática da época do colégio. A língua parece ser algocomplicado, com regras e exceções a serem cumpridaspara que se faça bom uso dela. É aí que a Lingüística – aciência da linguagem – entra em cena para desmistificaro senso comum de que só fala corretamente quemestudou, quem sabe a gramática dos livros.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer os tão recor-rentes “erros de português” cometidos pelos falantes dalíngua. Para lingüistas, não há certo ou errado do ponto devista da fala. O que existe são variações lingüísticas:maneiras diferentes de expressar a mesma coisa. Segundoo Luiz Carlos Schwindt, professor doutor do Departamen-to de Lingüística e Filologia da Ufrgs, a Lingüística nãoopera com parâmetros julgadores de correto ou incorreto:

– Não consideramos ‘feio’ ou ‘bonito’ dizer ‘tu fez’ emlugar de ‘tu fizeste’, por exemplo. O que importa é que, doponto de vista da competência lingüística, não se esperaque um falante nativo de português, rico ou pobre, es-colarizado ou não, diga algo como ‘tu fiz’. Se o fizer, estará‘errando’, mas, certamente, este erro de performance temuma motivação de natureza extralingüística (social, psi-cológica ou mesmo fisiológica).

Outra crença comum entre a população é a de quedevemos basear nosso jeito de falar de acordo com aescrita, que parece ser mais correto e mais respeitoso àsregras da língua. Segundo professorada UFRGS, doutora em Letras e pes-quisadora de Análise do Discurso,Solange Mittmann, tem uma explica-ção:

– Até hoje, apesar de toda evolu-ção pedagógica e de estudos lingüís-ticos, encontramos textos do século19 como exemplos/modelos de bemescrever. Não temos a fala como mo-delo para a fala, mas temos a escritacomo modelo para a escrita e, even-tualmente, também para a fala.

Basear a fala na escrita, em prin-cípio, não faz sentido, alerta Sch-windt:

– A fala é anterior à escrita tantona história quanto no desenvolvi-mento humano. Por outro lado, nãopodemos negar que falantes que vãoà escola, ao longo do tempo, mesmosem perceberem, mudam sua formade falar em alguns aspectos. É umefeito retroalimentador da escrita.

Para muitos, a Língua Portuguesa é um verdadeiropesadelo. Mas por que ela parece ser tão difícil se é nossalíngua materna? A escola pode estar desempenhando umimportante papel para que os falantes sintam-se insegurosquanto à proficiência do idioma. Uma possível ênfaseexcessiva nas regras e normas do português serviria comorepressor das idéias e pensamentos criativos dos alunos,desestimulados por verem apenas erros naquilo queproduzem.

O que tem sido tomado como difícil, diz Solange, não éa língua em si, mas algo disfarçado de língua, que éensinado na escola:

– Um objeto homogêneo, ‘quadraadinho’, passível dedissecação e cheio de etiquetas, quedevem ser decoradas e aplicadas à me-talinguagem.

Acrescenta que, além disso, há umterrorismo, patrocinado por umaparcela da mídia e alguns estudiososda linguagem, que é o da inacessibili-dade de um saber que é vital para al-cançar o sucesso profissional. Quer di-zer, há coisas que só alguns sabem, masque todos teriam obrigação de saber.

– Daí a multiplicidade de progra-mas de televisão, colunas em jornaise revistas, cursos, que prometemsalvar o cidadão das gafes lingüísticas.O que temos aí é uma imagem delíngua como algo apartado do sujeito,como um instrumento, com suas peçase engrenagens devidamente eti-quetadas e cada uma com sua funçãobem definida, num conjunto quefunciona sempre da mesma forma. – Qual é o cidadão que não vai achardifícil saber tudo isso? – pergunta.

Escola é responsável por mudanças, diz SchwindtEscola é responsável por mudanças, diz SchwindtEscola é responsável por mudanças, diz SchwindtEscola é responsável por mudanças, diz SchwindtEscola é responsável por mudanças, diz Schwindt

O brasileiro fala mal?

Ao contrário do que muitos pensam, não é

em Portugal que se fala corretamente o

português. O brasileiro usa bem a língua,

embora de forma diferente daquela

idealizada pelos livros. Ele consegue

comunicar-se através dela, e essa é função

básica e principal de uma língua. Segundo

Schwindt, os indivíduos têm capacidade

para falar sua língua, independentemente de

instrução ou escolaridade:

- Mesmo falantes analfabetos, se em

condições normais, serão proficientes no

seu idioma.

A hipótese equivocada, em termos

científicos, de que o brasileiro fala mal tem

origem numa concepção de prestígio:

- ‘Falar bem’, nessa concepção, é usar a

norma culta, que é o dialeto usado, em geral,

pela classe média urbana escolarizada. O

que acontece é que, em função das

diferenças sociais, menos pessoas têm

acesso à norma culta, e isso dá a impressão

de que muita gente fala mal o idioma. Em

outras palavras: pré-conceito!

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12 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

TRADUÇÃO

Alma de escritor

TTTTTeólogo e consulteólogo e consulteólogo e consulteólogo e consulteólogo e consultor da SBB, Sholz ressalta qor da SBB, Sholz ressalta qor da SBB, Sholz ressalta qor da SBB, Sholz ressalta qor da SBB, Sholz ressalta que as edições mais recentue as edições mais recentue as edições mais recentue as edições mais recentue as edições mais recentes da Bíblia são as mais confes da Bíblia são as mais confes da Bíblia são as mais confes da Bíblia são as mais confes da Bíblia são as mais confiáviáviáviáviáveiseiseiseiseis

Arnildo Münchow

Page 13: Revista Babel nº 4

REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 13

O livro mais traduzido e distribuído

no mundo é a Bíblia, com versões

em milhares de idiomas

Traduzir é uma arte. Arte que envolve, dentre outrascoisas, o risco de um equívoco, uma palavra malempregada que pode comprometer a credibilidade deum trabalho. Os italianos já diziam: tradutore, traditore;ou seja, tradutor, traidor. Invariavelmente, um traidorà medida que a tradução nunca substitui o original. Deuma ou de outra forma, alguém sai traído. Ou o autorque não vê todo seu texto reproduzido na tradução; ouo leitor que não tem toda informação e, ao ler, fica sementender alguma coisa.

O livro mais traduzido e distribuído no mundo é aBíblia. É possível encontrar versões completas ou porçõesdela em mais de 2,4 mil idiomas. Mas, onde estão osoriginais deste livro, ou coleção de livros como o nomesugere, escritos há dezenas de séculos? A resposta é quenão se tem mais estes manuscritos, elaborados pela penados autores. Todos se perderam. E, se ainda estivessemdisponíveis, não seria das tarefas mais gratas seaventurar na leitura dos textos, pois foram escritos,originalmente, em hebraico, aramaico e grego.

A primeira tradução da Bíblia foi feita entre 200 e 300anos antes de Cristo, quando os textos do AntigoTestamento foram vertidos do hebraico para o grego. Aprimeira tradução para a língua portuguesa ocorreu noséculo XVII quando, em 1681, foi publicado o NovoTestamento, traduzido por João Ferreira de Almeida.

Traduzir para comunicar melhor e com maior alcancepara os mais diferentes povos. Com este objetivo foifundada em 1804, na Inglaterra, a Sociedade BíblicaBritânica, a primeira das 141 que existem atualmente,formando as Sociedades Bíblicas Unidas (SBU). Em 1948nasceu a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), que desdeentão já produziu e distribuiu mais de 67 milhões deexemplares. O teólogo e Consultor de Tradução da SBB,Vilson Scholz, garante que traduzir é uma atividadedinâmica e desafiadora:

Babel: O que faz exatamente um profissional da suaárea?

Scholz: O consultor, como o nome diz, prestaconsultoria para os diferentes projetos, seja de revisãoou tradução, para o que se constitui uma comissãoprópria. No caso de línguas indígenas seriam os falantesdaquela língua, os próprios indígenas, assim também,no caso de línguas de imigrantes, seriam os falantes dessalíngua. E o consultor entra nesse grupo como um espe-cialista no texto bíblico. Então, se os tradutores têmdificuldades com o texto ou inclusive para seremtreinados ou terem alguma orientação sobre o trabalhode tradução, se faz uma oficina, uma semana de estudossobre aquele assunto para que os tradutores estejammais bem preparados para o trabalho.

Dentre a variedade de dialetos no Brasil, muitos delesnão têm escrita; qual o processo de tradução nessassituações?

Quando a língua ainda não tem registro, normalmenteo trabalho é iniciado por uma sociedade lingüística,formada por lingüistas profissionais. Estes entram emcontato, passam a morar na comunidade lingüística eaprendem a língua, registram, criam um dicionário,formam uma gramática e depois ensinam a escrita e aleitura para os falantes. Estes se tornam, potencialmente,

os melhores tradutores da língua. Antigamente as pessoasque vinham de fora, os especialistas, aprendiam a línguae faziam a tradução. Mas sempre era uma traduçãoesquisita, porque era feita por um estrangeiro. Hoje, oprocedimento é diferente. Na medida do possível, ospróprios falantes, os próprios indígenas, por exemplo,são os que fazem a tradução, porque são os que melhorconhecem a sua língua.

A SBB finalizou, em 2001, uma tradução para oportuguês, chamada Nova Tradução na Linguagem deHoje (NTLH). Quem fazia parte da comissão detradução neste projeto?

Era um grupo formado, dentre outros, por umespecialista em Novo Testamento, que era também oconsultor, havia um especialista em Antigo Testamento,um especialista em linguagem popular e um especialistaem lingüística, no caso a gramática da línguaportuguesa. O projeto da NTLH teve a duração de 20anos, que é o tempo ideal que se leva para fazer umatradução nova. São cinco anos para o Novo Testamentoe 15 anos para o Antigo Testamento.

Quais os textos que serviram de base para estatradução?

Dentro das Sociedades Bíblicas o procedimento é quese façam as traduções a partir das edições maisrecentes dos textos bíblicos, tanto do hebraico doAntigo Testamento, como do grego do Novo Testa-mento. As edições mais recentes são consideradas asmais confiáveis, porque estão baseadas nas últimaspesquisas, nos desenvolvimentos mais recentes daciência e da crítica textual, que têm acesso às últimasdescobertas arqueológicas referentes ao texto bíblico.

O senhor falou em equipe com habilidades diferentes.Para traduzir não basta saber o grego e ou o hebraico?Que habilidades são indispensáveis?

A língua escrita e mesmo falada é parte de um contextomaior de comunicação. O registro lingüístico que ficou éapenas uma fatia de um todo bem maior que é a cultura,a sociologia, a antropologia, enfim. Então conhecer, serespecializado, ter alguma noção nessas áreas, por partedos tradutores, especialmente em traduções para línguasmajoritárias, como o português, é muito importante.Muita gente acha que traduzir para outra língua é apenasuma questão de substituir palavras. Isso é uma visãototalmente ingênua, porque se tem todo um processomaior de comunicação envolvido. A tradução é fazer comque aquele texto antigo fale, praticamente, como se elefosse um texto de hoje.

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14 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

TTTTTeólogo e douteólogo e douteólogo e douteólogo e douteólogo e doutor em Noor em Noor em Noor em Noor em Novvvvvo To To To To Testamentestamentestamentestamentestamento, Scholz, 52 anos, é consulto, Scholz, 52 anos, é consulto, Scholz, 52 anos, é consulto, Scholz, 52 anos, é consulto, Scholz, 52 anos, é consultor de tradução desde 1or de tradução desde 1or de tradução desde 1or de tradução desde 1or de tradução desde 1996996996996996

TRADUÇÃO

Aos 52 anos, ele passa grande parte do tempo emfrente ao seu computador portátil, acompanhado deum chimarrão, em sua casa, num bairro tranqüilo deSão Leopoldo. Mas quem pensa que a tarefa é das maisfáceis ou descansadas, logo muda de opinião ao saberdas atividades que compõem a função de consultor detradução, exercida por Vilson Scholz desde 1996. Alémde prestar consultoria aos projetos de tradução emandamento na Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o queexige muitas viagens, envio e recebimento de textos eanotações, ele se dedica ao preparo demateriais de apoio, revisões e pesquisasrelacionadas ao texto bíblico. Aindaleciona no curso de Teologia da Ulbra ena Faculdade de Teologia do SeminárioConcórdia de São Leopoldo.

A rotina deste teólogo, mestrado edoutorado em Novo Testamento, com trei-namento especial na área de tradução,também envolve preparo de palestras,cursos de treinamento para os tradutores,além da necessidade de atualizaçãoconstante na área, através da participaçãoem congressos internacionais e encontrosde consultores das demais sociedadesbíblicas espalhadas pelo mundo.

O interesse pelo que faz é fruto de sua formaçãobiblista e da constante preocupação com a maneira decomunicar, de passar adiante este conteúdo, ou seja, a

questão da pregação moderna. Unindo estas duascoisas, chegou ao campo da tradução bíblica, onde atua.Poderíamos dizer que ele “se sente em casa” naquiloque faz.

A leitura é uma das principais ferramentas paradesenvolver sua tarefa e, para não restringí-la ao seucampo de trabalho, Scholz aproveita o tempo dasviagens, especialmente de avião, para outras leituras,saindo um pouco da rotina que o envolve. Ele nãodispensa estar informado sobre o cotidiano e, para isso,

um dos seus companheiros é o seuradinho, sempre ao alcance.

Scholz gosta de futebol e, vez poroutra, pode ser visto no campo doSeminário Concórdia, atuando pelolado direito da defesa. Não escondesua preferência pelo time do coração,o Grêmio, no que não encontra unani-midade na família. Ele tambémpratica tênis, outro esporte preferido.Casado e pai de três filhos, precisadosar o tempo com responsabilidade,pois, segundo ele, trabalhar em casatem suas vantagens, mas exigeorganização.

– Existe o risco, da parte de quemtrabalha em casa, de não conseguir distinguir o que étrabalho do que é lazer e, às vezes, o trabalho setransforma numa espécie de lazer – lembra.

Sholz afirma que ointeresse pelo que faz éfruto de sua formação

e da constantepreocupação com a

maneira decomunicar, com a

questão da pregaçãomoderna.

Trabalhando nos textos do Senhor

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 15

CARROS

Irresistível ImpalaThiago Pandolfo

“Apaixonado por carro, comotodos os brasileiros.” O sloganque a Ipiranga utiliza em seus co-merciais desde a década de 90 nãofoi escolhido em vão.

A paixão do povo brasileiro jáfoi tema de livros, novelas e mú-sicas. Falando em música, quemnão se lembra da Brasília Amarelados Mamonas Assassinas, ou docalhambeque de Roberto Carlos,sem falar do fuscão preto de AlmirRogério.

Alcemar da Silva, brasileirocomo o próprio sobrenome diz,também tem sua paixão: o Che-vrolet Impala vermelho 1960. Po-rém, diferente da grande maioria,para conseguir seu carro, Alcemarnão comprou em uma revenda oufoi contemplado em um consórcio,teve que ir além.

– Fui até visitar um presídio em Curitiba paratentar achar esse carro.

Em 1969, quando servia ao exército, apaixonou-se por um Impala marrom 1960 de um taxista emSanta Cruz do Sul e decidiu: aquele carro tinhaque ser seu.

Porém, o tal taxista foi preso e transferido parauma penitenciária no Paraná. Obcecado pela idéiade comprar o automóvel, em 1971 Alcemar juntoudinheiro e foi até Curitiba atrás do dono do veículo.

Sem conhecer a cidade e, apenas com o nomedo taxista preso, iniciou uma procura pelos pre-sídios da capital paranaense. Após percorrer trêspenitenciárias, foi informado de que o taxista podiaestar no presídio Piraquara, no interior do Paraná.

– Fui até o presídio e havia só um agentepenitenciário para 700 presos. Ele procurou e nãoachou o nome do taxista na lista, mas disse queaquela lista estava desatualizada e eu podia ir até opátio e ver se encontrava o preso. Eu aceitei apesarde não lembrar o rosto dele, sorri.

A sensação de estar no pátio de um presídio com700 presos e sem segurança nenhuma, não é umadas melhores lembranças de Alcemar.

– Eu acabei ficando muito nervoso quando ospresos começaram a pedir cigarros e me olhar deum jeito estranho, então disse para o agentepenitenciário que não conseguia identificar o presoque eu estava procurando porque todos estavammuito barbudos.

Desanimado por não ter conseguido o sonhadocarro, voltou para sua cidade. Mas não desistiu deseu sonho.

Assim, em 1980 conseguiu comprar seu tão

sonhado Chevrolet Impala. Não aquele marrom,mas um verde do mesmo ano e modelo queencontrou na cidade de Santa Cruz do Sul.

Alcemar conta que o seu sonho era levar noivaspara casamentos com o carrão.

– Uma vez eu levei uma até a igreja, mas nãoconsegui sair da igreja para a festa porque o carroenguiçou no meio do caminho.

Comprar o veículo foi apenas o primeiroproblema encontrado. Como o carro era antigo eestava com muitos defeitos, foram necessários váriosconsertos para deixá-lo funcionando. Desde quecomprou o Impala, Alcemar começou a reformá-lo.Sua primeira mudança foi pintar o veículo devermelho. Porém o seu maior problema sempre foio motor. Como o original estava irrecuperável, elejá tentou adaptar os mais diversos motores, só queaté agora não obteve sucesso.

– Eu até já mandei comprar o vidro dianteirono Uruguai, mas aí o cara me trouxe um traseiro,agora pelo menos tenho um sobressalente – lembra.

O filho mais velho, Jocelito, recorda das aven-turas que eram as viagens em família.

– Uma das minhas lembranças da infância erada gente indo pra praia, todo mundo dentrodaquele carro. O problema é que sempre ficávamosno meio do caminho porque o carro estragava.

Na família a opinião é unânime: o carro, quehoje está parado em uma garagem, já tinha que tersido vendido há muito tempo, mas seu Alcemarreluta.

– Eu já disse para o Jocelito escrever a históriapara aquele programa de TV. Quem sabe um diaeles vêm aqui e deixam o carro novinho em folha.

Viajar no automóvel antigo era uma aventura para a família SilvaViajar no automóvel antigo era uma aventura para a família SilvaViajar no automóvel antigo era uma aventura para a família SilvaViajar no automóvel antigo era uma aventura para a família SilvaViajar no automóvel antigo era uma aventura para a família Silva

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TRÂNSITO

O inferno é aquiDaiane Morim Novo Wolk

A violência no trânsito produz números as-sustadores. Por dia, mais de 100 pessoas morrem emacidentes, totalizando 36 mil vítimas por ano noBrasil, isso sem contar os milhares de feridos. Osjovens são os que mais se envolvem nessa violência.Transformam seus automóveis em armas.

A negligência e a imprudência são as principaiscaracterísticas desses motoristas. O que eles querem,na verdade, é mostrar que podem quebrar barreiras,ultrapassar limites, exibir-se para os amigos e,principalmente, se iludem, julgando-se imortais. Maso resultado dessa ousadia às vezes acaba de formatrágica.

O dia 20 de setembro de 1996 marcou para semprea vida de um jovem residente em Guaíba. Adão JoséRibeiro Neto, o Dango, retornava com amigos de umafesta, quando se envolveu em um acidente de trânsito.O jovem, que na época tinha 22 anos, estava no bancode trás sem o cinto de segurança, o motorista estavaalcoolizado e em alta velocidade.

– Só lembro de ter gritado e pedido para o meuamigo ir mais devagar. Quando acordei já estavahospitalizado – conta Dango, lembrando o acidente.

Dango reconhece que um dos momentos mais tristesde sua vida foi receber a notícia de que ficaria tetra-plégico.

– Apesar de precisar de ajuda para me locomover,descobri que a deficiência não é o fim da vida, pois aminha continua – afirma.

Aos 34 anos, Dango trabalha como voluntário naFundação Vida Urgente, contando um pouco de suahistória de vida para outros jovens, além de ministrar

palestras em transportadoras e hospitais.– Ainda tenho a esperança de um dia voltar a andar

– diz.Segundo a coordenadora de educação do Detran-

RS, Ana Bernardes, a solução para que se tenha umacultura de paz no trânsito é buscar um caminhotrilhado por um novo cidadão que manifeste tambémno trânsito valores e atitudes éticas como o respeito,a solidariedade, a tolerância, a prudência, a coope-ração e a responsabilidade. Isto se dará pela educação.

– A posição do Detran-RS é de buscar aparticipação e o envolvimento de órgãos do SistemaNacional de Trânsito, de instituições dos sistemas deensino e da sociedade em geral para que as ações deeducação para o trânsito surtam efeito na cons-cientização sobre a importância do papel de cada umpara que se tenha um trânsito mais seguro e huma-nizado – ressalta.

Já a presidente e criadora da fundação ThiagoGonzaga, Giza Gonzaga, acredita que sem amobilização da sociedade não será possível reduziresta estatística. A não ser que seja colocado um policiala cada quilômetro de estrada e um “azulzinho” emcada esquina da cidade. Segundo ela, a fiscalizaçãoeficiente das autoridades conta muito, mas o maisimportante que isso é a sociedade se mobilizar e seorganizar para mudar essa verdadeira guerra que é otrânsito no Brasil:

– É claro que isso gera alguns acidentes, mas 90%dos acidentes são por falha humana e das impru-dências que têm nome: bebida, velocidade e com-portamento humano. Por isso é que acredito que aquestão do trânsito é mais que uma questão de políciarodoviária, é uma questão de mudança de educação.

Grande parte dos acidentes de trânsito é resultado da imprudência do motorista aliada ao alcoolismoGrande parte dos acidentes de trânsito é resultado da imprudência do motorista aliada ao alcoolismoGrande parte dos acidentes de trânsito é resultado da imprudência do motorista aliada ao alcoolismoGrande parte dos acidentes de trânsito é resultado da imprudência do motorista aliada ao alcoolismoGrande parte dos acidentes de trânsito é resultado da imprudência do motorista aliada ao alcoolismo

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HISTÓRIA DE VIDA

Reaprendendo a viverThiago Pandolfo

Roque da Luz tem 33 anos e vive como qualqueroutra pessoa de sua idade. Faz faculdade de Química ànoite, trabalha com suporte por telefone durante o dia,joga basquete na quadra próxima a sua casa comfreqüência, pratica exercícios físicos todas as manhãs,dá aulas de química, física e matemática em escolastrês vezes por semana e aulas particulares nas horasvagas. Porém, ao contrário de que se pode imaginar,ele é um portador de deficiência física desde os 14 anosde idade. Sua história, como a de muitos outrosdeficientes, é marcada por tramas, superação e muitaforça de vontade.

Em 1989, após seis anos detreinamentos, o garoto descober-to nas competições municipaisentre centros comunitários edisputado por grandes clubes dePorto Alegre, como o GrêmioNáutico União e o Lindóia TênisClube, via o sonho de se tornarnadador profissional começar a seconcretizar.

– Eu tinha ganho as preli-minares do campeonato gaúchoe teria que fazer uma única provapara disputar o brasileiro denatação – comenta.

Para alguém que era acostu-mado a ganhar todas as compe-tições municipais, chegando aatropelar com mais de meia piscina o segundo colocado,aquela parecia uma prova fácil.

Eram seis meses de treinamento puxado, que davamao menino um porte avantajado de atleta. Mas paraele aquilo era motivo de diversão. Pular na piscinadiariamente para buscar o sonho de ser atletaprofissional era prazeroso. Faltavam poucos mesespara a prova decisiva e seu tempo estava dois centési-mos mais baixo que o primeiro colocado na sua cate-goria, o que garantia a certeza de participar do brasilei-ro de natação daquele ano.

Porém, o dia 25 de julho marcou sua vida para sempre.– Era uma tarde chuvosa de domingo, eu e meus

amigos fomos a um galpão do pai de um deles, próximoao depósito da Coca-Cola, na Av. Sertório. O pai de umde meus amigos era policial civil. Neste galpão eleguardava uma arma. Este meu amigo estava mexendona arma e, sem querer, puxou o gatilho. Eu estava a ummetro e meio dele e a bala me atingiu, perfurou meupulmão, meu fígado e ficou alojada na minha coluna.

O socorro precário por um carroceiro, a falta deassistência a sua família e a descrença dos médicoscom sua recuperação só aumentaram sua revolta coma paralisia de suas pernas.

– Aos 15 anos eu perdi o sentido da vida (...) ficavaindignado em pensar que tanta gente má viviacorrendo por ai, enquanto eu estava condenado a viverem uma cadeira de rodas. Eu fiquei durante muitotempo só me alimentando com água de arroz – lembra.

Devido ao bom condicionamento físico, Roqueresistiu à grave lesão no fígado, mas com a paradabrusca na intensa atividade física, acabou sofrendograves atrofias musculares.

O processo de reabilitação só obteve resultados,quando sua família decidiu levá-lo ao Hospital SarahKubitschek, em Brasília, um dos melhores centros dereabilitação do país. Devido à falta de recursos, foinecessário que seu pai dobrasse a carga de trabalhocomo motorista de ônibus, e sua mãe pedisse auxílioaos familiares para ficar perto do filho.

Durante os três meses e meio de tratamento, DonaMaria Salete, mãe de Roque, ia a Brasília com freqüên-

cia e hospedava-se em um colégiode freiras. Foi em uma destas vi-sitas da mãe que Roque conheceua mulher com quem se casaria.

– Minha mãe não sabia se lo-comover em Brasília, então umamenina sempre a acompanhavaao hospital. Um dia, antes de aminha mãe ir embora, eu me fizde coitadinho e pedi para a meni-na vir me visitar durante a sema-na. Para eu não ficar sozinho,entende. Aquela menina era aGlauci – relembra às gargalhadas.

Meses depois Glauci veio mo-rar com Roque em Porto Alegre.

– Foi um momento difícil, agente era muito novo e ela nãotinha ninguém aqui. Eu tinha que

trabalhar puxado para sustentar a casa.O relacionamento com Glauci foi importante, mas

não determinante para que Roque visse que seu esta-do físico não o impedia de ter uma vida normal. Aconvivência com outros deficientes com dependênciasmuito maiores do que a sua fizeram com que ele visseque sua condição era limitada, mas não o impedia defazer muita das atividades de uma pessoa sem defi-ciência física.

Hoje ele se considera independente, possui um carroadaptado e vê um vasto mercado de trabalho disponível.

– Eu sei que não posso ficar me locomovendo para todosos lados, mas nada impede que eu execute as mesmastarefas que sem deficiência. Hoje trabalho comatendimento por telefone. O que me impediria de executarminha atividade?

Apesar de estar adaptado a suas limitações, Roquenunca aceitou sua paralisia.

– Não posso ficar conformado. Se eu ficar, nunca voutentar mudar. Eu sonho em um dia voltar a andarnovamente, mas não é por isso que preciso ficar paradoesperando este dia chegar. Eu aprendi a conviver com aminha deficiência.

O próximo obstáculo será voltar às piscinas.– A Glauci sempre insistiu para que eu voltasse, mas

eu sempre relutei. Vai ser duro para mim porque muitacoisa vai “voltar ”, entende? Eu tenho que estarpreparado para lidar com o meu psicológico. Acho queno meio do ano talvez eu arrisque.

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18 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

TECNOLOGIA

Edson Torres

Há 10 anos, em Hanver, na Alemanha, surgia oprimeiro MP3 player no mercado. Ele não tinha asmesmas características e muito menos as utilidadesdos aparelhos que hoje disputam a preferênciapopular, mas ficou gravado na história por iniciaruma evolução tecnológica que não cessa de avançar,surpreender e conquistar consumidores.

Lançado durante a feira de tecnologia Cebit, emHanver, o MPMan F10, foi o primeiro equipamentoportátil capaz de rodar arquivos de MP3 (formatode compressão de áudio que gera arquivos até 12vezes menores do que no formato padrão do áudiodos computadores, o WAV). O protótipo, defabricação coreana, media 16,5 cm de altura e tinhaa capacidade de armazenamento de 32MB, osuficiente para comportar oito músicas.

Em apenas dez anos, os aparelhos deMP3 player mudaram considera-velmente. Hoje, eles diminuíram detamanho e ficaram mais potentes, comcapacidade de mais de 100 GB (giga-bytes) de memória.

Além de ter reduzido seu tamanho ecrescer em memória, os playersagregaram diversas funções ao longo dotempo como rádio e o acesso à internetsem fio. A evolução chegou a um níveltão avançado, que atualmente háaparelhos do tamanho de uma caixa defósforos.

O técnico de informática,Ronaldo Dornelles, de 21anos, acompanhou estaevolução. No início daadolescência, o jovem utili-zava o aparelho de toca-fi-tas da família para fazersuas próprias coletâneasde músicas, com can-ções gravadas dorádio. Não demo-rou muito, o jovemadquiriu um walk-man e conseguiuautonomia para escu-tar as bandas de rock pre-feridas sem incomodar afamília. Logo depois, com-prou um discman e apo-sentou o tocador de fitas.

Tocadores estãomenores e melhores

Hoje, além de não desgrudar do seu Foston Vídeode 1 GB de memória e capacidade para 350 músicas,não se imagina mais carregando estojos de CDs emuito menos fitas.

– Os tocadores de mp3 inovaram o modo deouvir música ao trazer praticidade às pessoas.Agora, ninguém mais precisa carregar na mochilainúmeros CDs para escutar seus artistas preferidos– conclui.

Mesmo após ter adquirido o seu primeiro MP3,em 2006, e baixar constantemente músicas da inter-net, Dorneles continua comprando CDs, mas nãocom a mesma proporção de antigamente. Na épocado seu discman, o jovem comprava pelo menos umpor mês. Atualmente, não passam de três ao ano.

Essa diminuição na compra deCDs não faz parte somente da

realidade do técnico eminformática e sim de toda

a indústria fonográfica.Com a popularização

do formato MP3, asgravadoras e os pro-dutores de músicasestão tendo que bus-car novas alterna-tivas para manterseu sustento, com aconstante queda davenda de CDs.

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 19

Os profissionais da indústria acusam a piratariacomo principal causa da crise, mas novasoportunidades de negócio despontam na internet,como é o caso da música digital.

Em 2007, as vendas de música digital cresceram40%, movimentando cerca de US$ 2,9 bilhões nomundo, ou seja, 15% das receitas totais da indústriafonográfica.

Para o produtor musical canoense, RicardoMedeiros, 35 anos, a indústria precisa rever seusconceitos e apostar em novas formas de trabalhar amúsica e não somente o CD. Para ele, a venda demúsica digital não pode ser ignorada e deve sermuito bem estudada, para sites, portais de internete gravadoras obterem cada vez mais lucro.

Medeiros destaca que atualmente as bandas e osartistas não estão se prendendo a grandesgravadoras e estão divulgando seu trabalho e atélançando seus álbuns diretos na internet, noformato Mp3.

– Hoje a internet proporciona às bandas umanova forma de divulgação de seus trabalhos, sejaatravés do e-mail, MSN ou pelo Orkut. Muitosartistas chegam a colocar suas músicas na WEBde forma gratuita, para conquistar o público e

lucrar a partir da vendade ingressos de showou de produtos comocamisetas, e não mais oCD como foco prin-cipal – explica o pro-dutor.

Quando o Mp3 co-meçou a se popularizar,

a primeira reação da indústria fonográfica foidenunciar o download de músicas como umprocesso ilegal e associá-lo à pirataria. Uma dasações da indústria foi em 1998, quando a RIAA(sigla, em inglês, da Associação Americana deIndústria de Gravação), conseguiu na Justiça aproibição da venda do Rio, tocador de Mp3 daDiamond, que começava a despontar nas vendas.O Naspster – programa que foi o pioneiro nocompartilhamento de MP3 – fechou em 2001,devido aos inúmeros processos das gravadoras.Hoje, os sites P2P(compartilhamentos entreusuários) e programas como Emule, Kazaa eDonkey são o alvo da vez.

Apesar do grande sucesso, o Mp3 não é o únicoformato de música presente nos players e nainternet. Em alguns modelos de Ipods, é usado oAAC e na rede há outros padrões de música, comoo próprio AAC (da Apple), o WMA (da Microsoft)e o OGG (não-proprietário). Atualmente, existetambém o formato denominado MP4, que ao invésde música é vídeo.

Apesar da concorrência, o MP3 mostra que nãoestá perdendo espaço e, se depender dos milhões deinternautas que utilizam diariamente o formato,ainda durará muito tempo e irá incentivar olançamento de novos modelos de tocadores.

MP3 não é o único

formato de música

presente nos players

e na internet

A EVOLUÇÃO DO MP3A EVOLUÇÃO DO MP3

19981998199819981998

O primeiro player de MP3 foio MPMan F10, e foi lançadoem março de 1998.Produzido pela Korea’sSaehan Information System,oMPMan F10 foi o primeirotocador portátil produzidocapaz de rodar músicas emformato MP3. O pai dos playersatuais possuía 32M de memória para gravação – osuficiente para suportar oito músicas que, para seremarmazenadas no seu interior, fazia uso de uma portaparalela a ser conectada em um computador.

19991999199919991999

Surge o Napster, programapara compartilhamento demúsica na rede quepopulariza o download deMP3. Através dele milhares deusuários trocaram seusarquivos pessoais, aumentandosuas discografias. Por causadisso, o software sofreu pressãoda indústria fonográfica e foi fechado doisanos depois

20012001200120012001

A Apple lança o Ipod, tocadorcom o disco rígido de 5GB,tornando-se o player commaior capacidade de memória.Outro destaque do aparelho foio seu design, moderno eatrativo ao público jovem.

20062006200620062006

A Microsoft entra nabriga dos players digitaise lança o Zune,tornando-se concorrentedireta da Apple.

20072007200720072007

A Apple sai nafrente maisuma vez ecoloca nomercado oIpod Touch,dotado detela sensívelao toque e comacesso à internet.

Page 20: Revista Babel nº 4

20 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

ALIMENTAÇÃO

Thiago Pandolfo

Comprar cachorro quente em carrocinhas é hábitode muitas pessoas, principalmente nas grandes cidades.Trabalhadores e estudantes apressados, e que procuramum alimento bom e barato, encontram no cachorro-quente uma solução para a sua fome.

Se esses “apressadinhos” são os maioresconsumidores deste tipo de fast food, como explicar,então, as enormes filas, especialmente aos domingos,diante de uma singela carrocinha, instalada em umaesquina de Porto Alegre? Quem mora na capital sabea resposta. O melhor lanche da cidade tem so-brenome e endereço: é o cachorro-quente do Rosário,na frente do colégio de mesmo nome, esquina daIndependência com a Praça São Sebastião.

Gerente há mais de 30 anos do ponto, seu Rúbiotem uma explicação singela para este fenômeno gas-tronômico que “atrai multidões”.

– Nosso sucesso é resultado do respeito que temospelos nossos clientes, utilizando apenas produtosde primeira qualidade, higiene impecável e um bomatendimento, além do nosso famoso molho especial– comenta.

A carrocinha, instalada em frente ao colégio em

Bom e barato1962, quando Osmar Ferreira Labres, vindo de BomRetiro do Sul, conseguiu um alvará da prefeitura paraexplorar o ponto, já foi matéria dos principais jornaisda capital e apontada pela revista Veja como aresponsável pelo “melhor cachorro-quente” da cidade.

Também é de Veja uma das mais felizes definiçõesdaquele pão com salsicha (ou lingüiça): “A fusão depão (com massa exclusiva), molho vermelho,mostarda, ketchup, salsa, queijo ralado, azeite de olivae maionese resulta em uma iguaria impossível de serapreciada sem que a pessoa se lambuze”.

A fama deste lanche não é exclusiva entre osanônimos. Famosos como Serginho Moah, da bandaPapas da Língua, e o ator global Tarcisio Meira Filhofreqüentam, ou já freqüentaram, o local. Embora onome “Cachorro-quente do Rosário” esteja na boca dopovo, Rúbio explica que, atualmente, o nome oficial domais famoso lanche da cidade é “Cachorro-quente doR”, em razão de uma pendenga judicial com outraempresa que utiliza o nome “Rosário” para vender seuproduto.

Para quem tem fome, pressa, ou simplesmente foiseduzido pelo lanche generoso produzido pela turmado seu Rúbio, o que importa mesmo é que aquelecachorro-quente continue bom como sempre foi.

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 21

Produtos de primeira qualidade,higiene impecável e bomatendimento são partedo segredo do sucesso

Por conta de uma pendenga judicial, o lanche mais famoso da capital se chama Cachorro-quente do RPor conta de uma pendenga judicial, o lanche mais famoso da capital se chama Cachorro-quente do RPor conta de uma pendenga judicial, o lanche mais famoso da capital se chama Cachorro-quente do RPor conta de uma pendenga judicial, o lanche mais famoso da capital se chama Cachorro-quente do RPor conta de uma pendenga judicial, o lanche mais famoso da capital se chama Cachorro-quente do R

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PETS

Edson Torres

Alimentar um bichinho de estimação parecetarefa fácil, mas com a variedade de raçõesdisponíveis no mercado, pode se tornar uma açãobem trabalhosa. Hoje, supermercados e petshops oferecem inúmeros produtos destinadosa cães e gatos das mais diferentes raças etamanhos. Há alimentos especialmente pro-duzidos para animais peludos, para os sem pêlo,para castrados, para os que precisam perder peso,para os vegetarianos, alérgicos, os de portepequeno e grande. Com tantas opções, muitosconsumidores acabam se precipitando e com-prando rações que não atendem às necessidadesde seu mascote, acarretando sérios problemas desaúde ao animal. Este foi o caso da estudante dePublicidade e Propaganda da Ulbra, Élen Pereira,que adquiriu um cachorro da raça Cocker comum mês de vida e o alimentou com a mesmaração de Billy, o cão adulto da família. Com o

Consumidores exigentes,cardápio caprichado

22 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Élen não levou em conta as idades dos cães na hora de alimentá-los e teve de consultar um veterinárioÉlen não levou em conta as idades dos cães na hora de alimentá-los e teve de consultar um veterinárioÉlen não levou em conta as idades dos cães na hora de alimentá-los e teve de consultar um veterinárioÉlen não levou em conta as idades dos cães na hora de alimentá-los e teve de consultar um veterinárioÉlen não levou em conta as idades dos cães na hora de alimentá-los e teve de consultar um veterinário

passar dos dias, o filhote acabou adoecendo eapresentando sinais de cansaço, fraqueza econstante falta de apetite. A primeira atitude daestudante, de 21 anos, foi levá-lo ao veterinário.

– Fiquei preocupada, pois não sabia o quetinha acontecido com ele. Até pensei que poderiaser a ração, mas ele sempre demonstrou gostardo alimento – analisa.

Para a veterinária e coordenadora clínica doHospital Veterinário da Ulbra, Carla Koeche, esteé um erro muito comum cometido pelos donosde animais, que acreditam que o seu cão ou gatopossam comer qualquer tipo de alimento. Elaexplica que neste caso, o filhote ficou doente porse alimentar de uma ração imprópria para a suaidade e seu porte, e por não conter a quantidadeideal de proteínas e nutrientes como cálcio e ferro,fundamentais para o desenvolvimento saudávelde qualquer animal em fase de crescimento.

Carla destaca ainda que antes de comprardeterminada ração, os consumidores devem estar

Page 23: Revista Babel nº 4

Donos de animais devemficar atentos à marca eà qualidadedas rações

REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 23

Está na mesa!RAÇÕES PARA CÃES

Alimento completo para cães adultos com pele sensível

1 kg R$ 27,00Pedigree Sensitive

Alimento completo para cães em crescimento

1 kg R$ 9,15Pedigree Júnior

Alimento completo para cães adultos

1 kg R$ 9,50Pedigree Adulto

Alimento completo para cães adultos e sênior

1 kg R$ 10,50Pedigree equilíbrio natural

Alimento completo para cães adultos que residem em ambientes

1 kg R$ 20,30Premier Ambiente Interno

Alimento completo para cães adultos e maduros da raça Poodle

1 kg R$ 25,30Royal Canin Poodle

RAÇÕES PARA GATOS

Alimento para gatos de baixa caloria

1kg R$ 18,25Whiskas light frango com legumes

Alimento completo para filhotes

500g R$ 8,31Whiskas carne e leite

Alimento especialmente produzido para adultos com pêlos longos

400g R$ 16,00Premier pêlos longos salmão

Alimento especial para gatos castrados de 7 até 12 anos

1,5kg R$ 43,90Premier gatos castrados

Alimento para gatos adultos acima do peso

3kg R$ 31,20Cat Chow Light Nestlé / Purina

atentos à marca e à qualidade do produto, alémdas características do animal. Procurar auxílioveterinário também é fundamental.

– O mais importante na escolha da ração éconsultar um bom veterinário, pois é ele quepoderá indicar, com precisão, o alimento queatenda de maneira ideal às necessidadesnutricionais, físicas e estéticas do animal – afirma.

Nas prateleiras dos supermercados e pet shopsde todo o país, rações são comercializadas emforma de alimentos secos (embalagens plásticas)ou úmidos (latas). A gama de produtos é tãonumerosa que somente em 2007, a indústriabrasileira do setor produziu 1,8 milhão detoneladas de alimentos para cães e gatos,segundo dados da Associação Nacional dosFabricantes de Alimentos para Animais deEstimação (Anfal-Pet).

Hoje, o Brasil é o principal produtor de raçõesna América Latina. Conforme a associação, opotencial do mercado brasileiro está muito alémdos resultados conquistados, pois há cerca de 31milhões de cães e 15 milhões de gatos em todo opaís, um consumo potencial de 3,96 milhões detoneladas/ano.

Se hoje a indústria de ração produz toneladase fabrica as mais diferentes composições dealimentos, há 20 anos a situação era bemdiferente. Somente a partir do início dos anos90, com a chegada de grandes empresasmultinacionais, como a Pedigree e a Whiskas, éque começava a ser introduzido no país, oconceito de alimentos completos para animaisdomésticos.

Com tanta abundância de alimentos nasprateleiras “caninas”, muitos consumidores,especialmente os mais jovens, esquecem oudesconhecem como era trabalhoso alimentar emanter seu animal saudável há cerca de duasdécadas, em uma época em que não existia raçãocom nutrientes e proteínas balanceadas.

Carla se lembra muito bem deste tempo. Naépoca, ela ainda estava na faculdade e para manterbem nutridos os seus dois cães pastores, tinhaque ir periodicamente ao veterinário e solicitaruma lista de alimentos que iriam compor asrefeições dos animais.

– Eu ainda me recordo quando comprei meuprimeiro pacote de ração. Foi um momentomaravilhoso, porque até então, tinha que gastar

muito dinheiro comprando os alimentosindicados, que na maioria das vezes, azedava nopote do cachorro – relembra a coordenadora.

Com a chegada da ração, os consumidores,além de economizarem, ganharam praticidade equalidade em um único produto. Mesmo comtantas facilidades, certas pessoas ainda insistemem alimentar seus bichinhos com restos decomida, o que acaba dificultando a digestão dosmesmos e interferindo no metabolismo do cão.Segundo especialistas, animais de raça estão maispropícios a ficarem doentes ao comerem sobrasde comida, porque possuem um organismo maissensível que os vira-latas. Caso fiquem doentes enão forem levados ao veterinário o mais breve, osanimais “refinados” podem piorar seu estado desaúde e morrer.

Portanto, uma coisa é certa: não importa a raça,idade, tamanho e nem mesmo a “classe social” dobicho. O importante é que o mascote recebaatenção especial e o cuidado de estar se alimentandode uma ração apropriada, tendo assim, garantiasde uma vida saudável e cheia de energia.

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24 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

Quem quiser saber um pouco (mais)da história do Rio Grande do Sul podesintonizar a rádio Guaíba, de segundaa sexta-feira. A trajetória de persona-lidades ou fatos que marcaram ocenário político-social dos gaúchossão condensados em cerca de trêsminutos. Rio Grande em Capítulos foiao ar pela primeira vez em 2007. Hoje,está sob o comando da dupla FabianeChristaldo, na produção, e de ViníciusSinott (foto), na apresentação.

Os temas abordados são: EricoVerissimo, Padre Roberto Landell deMoura, Mario Quintana, GetúlioVargas, José Lutzenberger, GiuseppeGaribaldi, Antônio Augusto Borges deMedeiros, Origens de Porto Alegre,

O Rio Grande em capítulos

O jornal Boca de Rua completou oitoanos em agosto. Produzido por pessoasque “vivem em situação de rua” emPorto Alegre, sob a coordenação dejornalistas profissionais, o jornalcircula a cada três meses e podeser comprado nos pontos degrande circulação de pedestres, nas

Jornal Boca de Rua

Estilo próprio

sinaleiras e na banca da República. OBoca é um dos tantos projetos

desenvolvidos pela ONG AgênciaLivre para Informação, Cidadania eEducação (Alice), com o objetivo dedar voz a quem não tem, discutir acomunicação e educar para a

comunicação. (Bianca Zuchetto)

– Estava em Minas, transmitindo um jogo. Na hora de

gritar gol, olhei para a torcida que estava tomada por

bandeiras. Daí saiu o “tremulando, tremulando,

tremulando”. Acabou pegando.

(Haroldo de Souza, 63 anos, narrador esportivo e vereador em Porto Alegre, explicando como surgiu

o bordão que tem marcado as transmissões de jogos da rádio Guaíba.)

Se não é o principal ponto de con-centração de crianças de rua, certa-mente a avenida Ipiranga, em PortoAlegre, é a via pública preferida dosmenores que passam horas sob assinaleiras à espera de uma moe-dinha. Em troca, muitos delesfazem malabarismo compedaços de pau, com bolasou aros de bicicleta. Outrosfazem pequenos serviços, comolimpar os vidros dos carros. Omenino M. F., 12 anos, conhecidocomo Chambinho, tem quatro irmãosmenores e há cinco complementa a

Dá uma moedinha....

Revolução Farroupilha, A enchente de1941, Sepé Tiarajú, Ramiro Barcelos,Josué Guimarães, Jacobina MendesMaurer, Imigração e Colonização doRio. (Bianca Zuchetto)

renda da família com seu “trabalho”de rua. Munido com cabos de vas-soura, faz malabares das 10h até de

madrugada, e ganha R$ 10 por dia.Segundo a conselheira tute-

lar da 8º Micro-região de PortoAlegre, Rose Walfrid, a rede deatendimento não está preparada

para dar conta desta reali-dade, pois faltam políticaspúblicas, investimentos na

educação fundamental quegarantam escolas de qualidade

para receber essas crianças. (DaianeMorim Novo Wolk)

Page 25: Revista Babel nº 4

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LIVROSLIVROSLIVROSLIVROSLIVROSdica de

mestre

REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 25

Em tempos de crises como as vividas pelascompanhias aéreas Gol e TAM, decorrentes dosacidentes que dizimaram centenas de passageiroshá não muito tempo, assim como a que recen-temente acometeu o Senado Federal, que teve seupresidente envolto em denúncias que resultaramna implantação de uma CPI para investigá-lo, nadamais oportuno que voltar nossas atenções ao temacrise de imagem. Neste sentido, um livro que podeem muito contribuir para esta reflexão é A síndromede Aquiles: como lidar com as crises de imagem, de MárioRosa (São Paulo: Gente, 2001, 249 páginas).

Com larga experiência em consultoria deimagem junto a empresas de grande porte, assimcomo com um significativo trânsito por campanhaspolíticas, o autor, que é jornalista, tem muito a dizere ensinar com esta obra. Trata-se de um livro defácil e convidativa leitura, que nos conduz a umareflexão sobre o que são crises de imagem, por queelas acontecem, quais são os seus alvos preferenciais,como agir para que elas não aconteçam ou, aomenos, para que seus efeitos sejam minimizados.

Tudo isso regado por uma gama de bonsexemplos que perpassam acontecimentosenvolvendo empresas, políticos, corporações oupersonalidades do mundo econômico e empresarial.

O autor é oportuno quando lembra que a crisebate indiscriminadamente à porta, seja deorganizações e personalidades sabidamente vilãs,seja daquelas sérias e respeitadas, cujo compor-tamento jamais daria margem a suspeitas. Partindodesta premissa, Rosa recomenda: “A melhor formade agir é incorporar os preceitos de administraçãode crises, montando um sistema capaz de detectarpreviamente focos desses eventos e trabalhar duropara que eles não aconteçam”. Em suma: “É melhorprevenir do que remediar!”. Este continua sendo,se não o melhor, o único caminho para queninguém seja apanhado desprevenido. Então, porque será que é tão difícil incorporar tal proce-dimento? O tema é complexo! Vale, realmente, aleitura da obra, para que compreendamos melhoro assunto.

Crise de imagem

Arnildo Münchow

Nada mais prático do que uma boa teoria. Em outraspalavras é o que acredita a coordenadora do curso deRelações Públicas da Escola de Comunicação daUniversidade de São Paulo ECA/USP, professora doutoraMargarida Maria Kunsch. Para ela, o momento atual daprofissão exige que se conheçam as perspectivas do públicoe como isso afeta a formação e a atuação do profissional derelações públicas. Presente no 4º RP em Evidência,promovido pela Ulbra, e que discutiu a comunicaçãoorganizacional no Brasil, a professora e pesquisadoradestaca que as exigências atuais remetem cada vez mais aofundamento teórico como base de legitimidade da função.

– O mercado exige profissionais pensantes e não simplestécnicos – afirma.

Com base num resgate histórico, ela verifica uma ne-cessidade cada vez maior do RP em proporcionar o encontroda organização/empresa com o seu público e o meio ondeestá inserida. Não se trata de uma relação simplesmentecomercial, mas precisa estar fundamentada no que elaconsidera um tripé, onde é preciso olhar para o de-senvolvimento econômico, social e ambiental.

– A atual complexidade e incerteza global, os processosde mediações políticas, econômicas, culturais e sociaisproporcionadas pela mídia, denotam o poder dos meios decomunicação. E isso exige das organizações uma adaptaçãoaos diferentes meios que existem hoje – completa aprofessora.

Diante dessa perspectiva, a professora considera que nãobastam ações individuais e isoladas dentro das organizaçõesem busca de um contato e integração com o público internoe externo, assim como não basta criatividade em proporsimples ‘tentativas’.

– Existe a necessidade do profissional de RP conhecer ospressupostos teóricos de Comunicação Organizacional eTeorias da Comunicação – afirma.

Para a professora da USP esta é a única forma de atuarno mercado de modo transparente e socialmente res-ponsável. E ela vai além quando afirma que é preciso, maisdo que nunca, haver da parte do profissional de RP, bemcomo de todos os que atuam na comunicação aquilo quechama de visão de mundo, visão estratégica de negócios.

– O que quero dizer é que se faz necessário saber planejartática e estrategicamente a comunicação, é imperativo tercapacitação teórica para poder sair da fragmentação e dovazio conceitual para uma base técnica, humanística econceitual – resume.

Margarida Kunsch faz questão de reafirmar aimportância do profissional em RP na empresa, seja elaqual for. O mercado de trabalho em grandes empresas estábastante saturado, mas segundo ela, é no setor público eno terceiro setor que estão os nichos ainda pouco exploradospela atividade de RP. No entanto, ela considera que às vezesocorre uma supervalorização do profissional de marketing,em detrimento do RP, por razões próprias da tendênciaeconomicista atual, onde quantidade está colocada acimada qualidade, e, onde os resultados objetivos e imediatosestão sobrepostos ao investimento mais amplo e a longoprazo.

Gustavo H. Becker é professor e coordenador do curso de

Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas.

GUSTAVO HASSE BECKER

Boa teoria,na prática

PALESTRA

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26 REVISTA BABEL - JULHO DE 2008

ESPORTE

Mariana Romais

Copa do Mundo, ranking da Fifa, qualidade dosjogadores... Qual o critério para definir o melhorfutebol do mundo? Quando o debate envolvebrasileiros e argentinos, a resposta ainda é maisdifícil de ser única e correta. O Brasil é penta-campeão do mundo; a Ar-gentina é bicampeã,mas muitas vezesultrapassa o Brasilcomo melhor equipedo mundo no rankingda Fifa. Afinal, o melhorfutebol do mundo joga aosom do tango ou do sam-ba?

Para o jornalista es-portivo argentino Fran-co Javier Rabaglio, daRádio Belgrano de Bue-nos Aires, definir queuma equipe é melhor queoutra é bastante relativo.Os brasileiros são melho-res no aspecto “seleção” ea Argentina nunca conse-guiu confirmar todo o bomdesempenho que obtém emcompetições menores, como aCopa Libertadores da América. Jáno desempenho dos atletas, afirmaque o Brasil, da metade do campopara frente, é mais explosivo e di-nâmico que a Argentina, priori-zando a individualidade em

Rivalidade e emoção

A discussão ganha mais fôlego quando o assunto é o

melhor jogador do mundo: Pelé ou Maradona? Para David

Coimbra, não há dúvidas:

– Pelé é melhor, é incontestável. O Pelé tem 1300 gols

marcados, por exemplo; o Maradona deve ter uns 500. O

Pelé é tricampeão do mundo, foi bicampeão pelo Santos,

construindo uma história de títulos, de números e de cartel

inigualável. Ele cabeceava muito bem e chutava com as

duas pernas. Maradona não cabeceava e

chutava apenas com a esquerda. Além disso,

Pelé era mais atleta. Maradona era um grande

jogador de futebol, mas não era um atleta.

Pelé era um caretão, não fumava, não bebia...

O único vício dele era mulher – brinca.

Alvarez diz que é lógico que cada país

defenda seu ídolo, mas o que diferencia ambos

é a época em que atuavam. Segundo ele, nos

tempos de Maradona, o futebol já era muito

mais rápido e violento. A diferença maior,

Uma discussão que nunca acaba

relação à coletividade. Os argentinos, em con-trapartida, são mais lentos e não se desesperam paraconseguir o objetivo. Profissional de ComércioExterior e Ciências Contábeis, Roberto Alexis Alvarez,também argentino, diz que os atletas de seu país sediferenciam dos brasileiros pela entrega e a menta-lidade de que o jogo nunca está perdido, inde-pendentemente de como está o placar.

Do lado tupiniquim, o editor de esportes do jornalZero Hora, David Coimbra, afirma que o futebol

daqui continua sendo um futebol em que oatacante tem muita criatividade e habi-

lidade. O argentino joga na marcação, émais catimbeiro, marca mais o jogo,

tem mais malícia para jogar e sabebater no adversário de um jeito que

não vai levar cartão amarelo.Refuta, entretanto, o mito de que

o time brasileiro é bomporque tem craques:

– O futebol argen-tino tem grandes es-trelas: Messi e Ri-quelme, por exemplo,

são jogadores quefazem diferença, sa-bemos que são cra-ques. Se pegarmos oscinco maiores joga-dores da história dofutebol do mundo,Pelé vai estar lá, Gar-

rincha talvez. Mas doisargentinos certamente fa-

rão parte da lista: Maradona e DiStefano – opina.

segundo ele, é que o argentino jogava sozinho, sem parcerias

à sua altura:

– Ele estava sempre rodeado de jogadores de menor

qualidade, enquanto Pelé jogava com atletas quase tão bons

quanto ele, como Garricha, por exemplo.

Afirma, ainda, que Maradona competia por

clubes pequenos, como o Napoli, e que sua

qualidade fez o time italiano vencer equipes

como Juventus, Milan, Inter de Milão e Roma.

Independente da opinião sobre quem é

mais eficiente no trato da esfera de couro, se

os verde-amarelos ou os alvi-azuis, a rixa entre

brasileiros e argentinos seguirá eterna.

Enquanto isso, os torcedores de ambos os

lados continuarão a apreciar o que há de

mais artístico, belo e criativo nesse esporte,

porque continua residindo entre o samba e

o tango a magia encantadora do melhor

futebol do mundo.

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REVISTA BABEL - JULHO DE 2008 27

FUTEBOL

O poderoso JavaliThiago Pandolfo

Apelido, todos temos. Alguns são carinhosos, íntimos, sigilosos, outros sãoextravagantes, exagerados, engraçados, marcantes. Faz parte da cultura brasileiraapelidar as pessoas. Aqui até o presidente da República, ao invés de ser chamado de Sr.Inácio da Silva, como naturalmente seria chamado se fosse presidente de qualqueroutro país do mundo, é simplesmente Lula.

Quando o assunto é futebol, então, nem se fala. Basta pensar nos maiores jogadoresdo mundo de todos os tempos que a gente já tem uma noção disto.

Ferenc Puskas, Hungria, ou simplesmente Puskas. Em Portugal Eusébio da Silva Ferreiraera chamado de Eusébio. Diego Armando Maradona, sempre foi Maradona.Já no Brasil temos Pelé, Garrincha, Tostão, Zico, e por aivai.

Nada contra os apelidos, bem pelo contrário, souna verdade um curioso. Adoro entender a origem deles.Acho que apelido conta um pouco da vida das pessoase, muitas vezes, se incorpora ao nome. É o caso daMaria das Graças Meneguel, a Xuxa, RenatoGaúcho, Jô Soares, Chico Anísio, e tantos outros.

Isso faz me lembrar a história de um ex-colegade serviço, o Javali. Ele era daqueles que se vocêchamasse pelo nome ninguém conhecia. Não por terum feio ou complicado, afinal tinha nascido Eduardodos Santos, mas se transformou em Javali antesdos 20 anos, mas o motivo ele escondia a setechaves.

Todos diziam que o apelido era pelo seuporte físico e pelo seu jeito de jogar futebol.Apesar de ser baixinho, tinha um corpoforte, pescoço largo, olhos avermelhados, carade bravo e um arranque que lembrava um animalenfurecido.

Nas peladas do final de semana era o camisa 9.Ficava enfiado no meio dos zagueiros esperandoa bola chegar. Não era de muita movimentação,mas quando recebia a bola era um abraço. Elegirava em cima do marcador e partia para cimada defesa adversária sem piedade, pareciamesmo um javali atrás de sua preza. O Jarbas,goleiro da equipe de desenvolvimento, nossosprincipais rivais, disse várias vezes que chegoua ter pesadelos com aquela cena.

Realmente tudo levava a crer que o apelido tinha mesmo esta origem, mas, comosempre me interessei pelo assunto, resolvi tirar a história a limpo

Certa vez, em um happy hour, daqueles que se estendem até a madrugada, não tivedúvida. Coloquei-o contra a parede e perguntei:

– Afinal, de onde vem esse apelido, Javali –?Para minha surpresa, aquele cara sisudo e mal encarado que metia medo em qualquer

zagueiro, desandou a chorar. Eu, meio sem jeito, tentei acalmar o rapaz. Disse para eleesquecer o assunto, afinal não era tão importante assim. Mas ai ele desabafou.

O tal apelido não tinha nada de glorioso, ou exaltava uma característica futebolística,mas sim era fruto de uma história triste e desesperadora.

O Javali me contou que quando tinha 17 anos era a grande promessa de um grandetime do futebol brasileiro. Naquela época todos o apontavam como uma pérola devalor incalculável. Acontece que toda aquela badalação mexeu com sua cabeça. Ai,como muitos outros diamantes do futebol brasileiro, ele jogou toda a sua carreira fora,graças ao álcool, as drogas e as más companhias.

Assim, quando deixou de ser uma pérola e passou a ter que trabalhar duro parasustentar a família, os amigos o apelidaram de Já Vali, ou seja, ele já havia validoalguma coisa, mas hoje não é mais ninguém.

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