revista babel n.º 5

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babel Revista laboratorial do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas Dezembro de 2008 Ano III - Nº 5 Aqui tem história Cruzar a porta de entrada do antigo Casarão dos Fonseca, em Gravataí, tem a dimensão de uma viagem ao passado arquitetônico da cidade. Prédio tombado pelo município, foi construído há 130 anos e hoje é parte do patrimônio do Estado CASA DOS AÇORES Na esquina, os filmes piratas se proliferam PÁGINAS 20 E 21 Na cidade, a praça vira campo de jogo PÁGINAS 4 E 5 PÁGINAS 14 E 15

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Revista produzida pelos alunos da disciplina de Produção Jornalística II - 2008/2, do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas; André Amaral Nottar, Andréia Oliveria Prestes, Cíntia Santana, Daniel Freitas de Freitas, Fernanda Rafaeli Gomes, Leonardo Silveira Leal, Luciano Breitsameter Demaman, Maressa Oliveira Sampaio, Marina Gabriela Meza Pinheiro, Matheus Mocelin Carvalho, Natacha Samara Teske, Raquel Gomes Carneiro, Simone Bassani e Stefano Antônio Pratti Lauria. Diretor da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Sérgio Roberto Lima Lorenz (RPMT/RS 9250) Coordenador do curso de Jornalismo Douglas Flor (RPMT/RS 7384) Jornalista responsável Rosane Torres (RPMT/RS 5141) Projeto Gráfico Jorge Gallina (RPMT/RS 4043)

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Page 1: Revista Babel n.º 5

babelRevista laboratorial do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas Dezembro de 2008 Ano III - Nº 5

Aqui tem históriaCruzar a porta de entrada do antigo Casarão dos Fonseca,em Gravataí, tem a dimensão de uma viagem ao passadoarquitetônico da cidade. Prédio tombado pelo município, foiconstruído há 130 anos e hoje é parte do patrimônio do Estado

CASA DOS AÇORES

Na esquina, os

filmes piratas

se proliferam

PÁGINAS 20 E 21

Na cidade,

a praça vira

campo de jogo

PÁGINAS 4 E 5

PÁGINAS 14 E 15

Page 2: Revista Babel n.º 5

Os bens de todos nósBoa parte da diversidade cultura do Brasil está alicerçada

em edificações e monumentos. Embora a Constituição Fe-deral de 1988 estabeleça os deveres do Estado e da socieda-de na preservação dos bens públicos, o que se vê nem sem-pre são ações que contam com o amparo da lei. Com fre-qüências os centros urbanos se vêem diante de situaçõesaparentemente incompatíveis: abrir espaços para o cresci-mento desenfreado das cidades ou preservar seu passadohistórico, garantindo a manutenção de antigos centros?

Claro que o olhar de quem administra não pode ser ape-nas nostálgico. É preciso pensar no crescimento das comu-nidades, na abertura de estradas, enfim, na expansão, queexige a mudança de traçado e pode comprometer este ouaquele monumento ou prédio. Por outro lado, a maioria dapopulação – envolvida na sua luta diária para sobrevivernum país marcado pela miséria, que inviabiliza acesso aosprincipais canais de conhecimento – sequer tem consciên-cia de seus deveres, sabe o que é patrimônio histórico ecultural* ou o que estabelece a Carta Magna com relação àpreservação de bens coletivos.

A despeito desta ou daquela ação, existe hoje em todo omundo, uma preocupação crescente em preservar os bensda humanidade, sejam eles material, natural ou imóvel, masque tenham significado e importância artística, cultural,religiosa, documental ou estética para a sociedade. Nestesentido, a criação de leis tem amparado aqueles que traba-lham para proteger e restaurar as características originaisde muitas relíquias espalhadas pelo planeta.

A Unesco é encarregada de definir regras que garantam apreservação do acervo histórico e cultural da humanidade.No Brasil, temos o Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional (IPHAN) e o país comemora o Dia doPatrimônio Histórico em 17 de agosto, dada de nascimentodo criador do IPHAN e seu presidente por três décadas, oadvogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco deAndrade (1898-1969).

No RS, são vários os exemplos de resgate da memória his-tórica. Nesta edição, Babel aborda, entre outros temas inte-ressantes, o processo de preservação do Casarão dos Fonse-ca, patrimônio histórico, tombado pelo município deGravataí e hoje sede da Casa dos Açores do Estado (Caergs).A Caergs faz parte do Conselho Mundial de Casas dos Aço-res, que congrega 11 casas em todo o mundo e atua junto acomunidades açorianas. Boa leitura.

Reitor Ruben Eugen BeckerVice-reitor Leandro EugênioBecker Pró-reitor de Adminis-

tração Pedro Menegat Pró-

reitor de Graduação da Unidade

Canoas Nestor Luiz JoãoBeck Pró-reitor de Graduação

das Unidades Externas OsmarRufatto Pró-reitor de Pesquisa e

Pós-graduação EdmundoKanan Marques Capelão Geral

pastor Gerhard GraselOuvidoria Geral Eurilda DiasRoman Diretora de Comunica-

ção Social Sirlei Dias GomesCoordenador de Imprensa RosaIgnácio Leite Diretor da área

de Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas Sérgio RobertoLima Lorenz (RPMT/RS 9250)

Coordenador do curso de

Jornalismo Douglas Flor(RPMT/RS 7384) Jornalista

responsável Rosane Torres(RPMT/RS 5141) Projeto

Gráfico Jorge Gallina (RPMT/

RS 4043)

Revista produzida pelos alunos

da disciplina de Produção

Jornalística II - 2008/2

André Amaral Nottar,Andréia Oliveria Prestes,Cíntia Santana, Daniel Freitasde Freitas, Fernanda RafaeliGomes, Leonardo SilveiraLeal, Luciano BreitsameterDemaman, Maressa OliveiraSampaio, Marina GabrielaMeza Pinheiro, MatheusMocelin Carvalho, NatachaSamara Teske, Raquel GomesCarneiro, Simone Bassani eStefano Antônio Pratti Lauria Fotografia: LeonardoLenskij. Revisão: CarlosNunes

2 REVISTA BABEL

ueditorial

u

*Alguns patrimônios históricos mundiais: Pirâmides de Gizé (Egito), MachuPicchu (Peru), Estátua da Liberdade (EUA), Muralha da China, Torre de Piza(Itália), Coliseu de Roma (Itália), Palácio de Versalhes e Torre Eiffel (França), eAcrópole de Atenas (Grécia).Alguns patrimônios históricos do Brasil: Cidade Histórica de Ouro Preto (MG),Centro Histórico de Olinda (PE), Pelourinho (BA), Estação da Luz (SP), Ruínasde São Miguel das Missões (RS), Cristo Redentor (RJ), Conjunto Urbanísticode Brasília e Palácio do Catetinho (Brasília).

Page 3: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 3

uíndice

Fundação abriga obras de Iberê e de outros artistasPÁGINAS 8 E 9

Jornalista fala para jovenssobre violênciaPÁGINAS 10 E 11

Moradores reclamam dodescaso das autoridadesPÁGINAS 12E 13

useções EDITORIAL: Os bens de todos nósPÁGINA 2

DICAS DE MESTRE: Tempos de fluidezPÁGINA 27

QUALQUER NOTÍCIA BOA: Estilo centenário. Fanáticos por Converse All Star. Use, mas não abuse!PÁGINA 27

umuseu

upersonagem ubelém velho

Page 4: Revista Babel n.º 5

André Nottar

Uma partida de futebol para atletas

amadores pode significar mais do que

um simples lazer. É uma terapia. Em

Porto Alegre e na Região Metropolita-

na, as áreas destinadas a este tipo de

lazer são escassas. São raros os campos

públicos e, nos últimos anos o cam-

pinho, onde amigos e conhecidos reu-

niam-se para uma pelada, mudou de

lugar. Hoje, os atletas de finais de se-

mana que gostam de bater uma bola são

obrigados a buscar áreas centrais, mui-

tas delas cercadas por edifícios e ruas de

intensa movimentação de veículos.

Saudoso dos velhos tempos da vár-

zea, o ex-jogador profissional do Aymoré

de São Leopoldo, onde jogava como za-

gueiro, Paulino Freitas, 56 anos, lamenta

a situação do momento atual. Olhando

para o chão do campo do antigo Força e

Luz, na zona leste de Porto Alegre, Freitas

– hoje aposentado e morando em Viamão

– diz acreditar que o “dinheiro das obras

fala mais alto” e por isto os campos estão

desaparecendo.

O estádio Timbaúva, campo do

Grêmio Esportivo Força e Luz, foi um

dos mais populares de todo o Estado.

Ali, foi disputado o primeiro jogo de

Campeonato Brasileiro de Seleções, em

1935. Desde então, o estádio recebeu

milhares de jogos e, nas últimas déca-

das, deu lugar ao futebol amador. Todo

o final de semana, dezenas de equipes

amadoras reservavam algumas horas

para jogar. Com dificuldades financei-

VárzeaSaudade da

ras, a diretoria do clube resolveu leiloar

o campo. Em 2006, o terreno passou

para uma rede de supermercados.

Além desse estádio, outros campos

foram dando lugar a prédios resi-

denciais e comerciais. Na zona sul de

Porto Alegre, a equipe de amigos do

Concórdia jogava no estádio da aveni-

da Otto Niemeyer, no entanto, o campo

foi terminado para a construção de um

prédio residencial. O edifício foi

embargado no início dos anos 90 e, des-

de então, está em ruínas.

– Nunca esqueço dos campeonatos

que joguei aqui de sol a sol – relembra

Enio Bacelos, 51 anos, ex-zagueiro do

Concórdia.

O jogador de “final de semana”, ho-

je veterano, conta que os campeonatos

amadores da capital tinham até duas di-

visões e, eram fortes porque cada bairro

tinha seu campo.

– Os maiores, como a Restinga, ti-

nham mais campos e mais times. Po-

rém hoje em dia, quase não tem campos

bons – reclama.

Atualmente, os estádios de várzea

da capital estão mal cuidados e pratica-

mente sem grama. A maioria deles é ad-

ministrada pela Prefeitura, que não con-

segue mantê-los em boas condições..

Outro estádio historicamente lembra-

do por quem viveu intensamente o fu-

tebol amador é o Campo do Chacrinha,

na avenida Campos Velho. A área foi

tomada por prédios residenciais.

As “arenas” de várzea também de-

ram lugar a obras de utilidade pública.

futebolu

4 REVISTA BABEL

Page 5: Revista Babel n.º 5

qEm Porto Alegre, uma variação do

atleta de fim de semana abre espaço nocentro da cidade, resgatando um pouco,o saudoso futebol de várzea. Todos osdias, cerca de 30 funcionários doDepartamento Municipal de LimpezaUrbana (DMLU) praticam seu esportepreferido na Praça dos Açorianos. Elesforma quatro ou cinco times que disputamjogos entre o meio dia e às 14h.

O atleta de “horário de almoço” IvanCastro, 35 anos, acredita que, aocontrário dos campos da Prefeitura, ocampo dos garis vai melhorando a cadaano.

– Começou com um pequeno grupo

que montava as goleiras com tênis, agora

temos até rede – comemora ele.

Juntando pequenas quantias dedinheiro por atletas e, pedindo ajuda paraa empresa, os servidores criaram umverdadeiro estádio. O campo tem goleirase redes, além de o gramado ser impecável.O futebol dos garis chama a atenção daspessoas que passam pelo centro da capitaldiariamente. Muitas param e olhamdeslumbradas a criatividade e o nível deorganização dos jogos.

Variação sobreo mesmo tema

O antigo estádio do Porto, no final da

Bento Gonçalves, quase com Azenha, foi

extinto para a construção de um terminal

de ônibus, por onde passam milhares de

usuários por dia.

Em Canoas, o drama dos amadores

se assemelha muito com o cenário da ca-

pital. Alguns estádios foram vendidos e

ocupados por estabelecimentos públicos

e privados. Mauro Rocha, ex-atleta, e atu-

almente bancário, 53 anos, diz que os clás-

sicos movimentavam bairros inteiros.

– No campo do Esperança, hoje área

construída, os clássicos eram assistidos

com arquibancadas lotadas – lembra ele.

Apesar da avassaladora força do pro-

gresso ter engolido os campos de várzea,

em Canoas o campeonato municipal re-

siste e é ativo. Equipes como o Oriente,

Estância Velha, Frigosul, Harmonia e Rio

Pardo mantêm campos e sedes, mesmo

enfrentando dificuldades para admi-

nistrá-los.

REVISTA BABEL 5

Page 6: Revista Babel n.º 5

Daniel Freitas

A recuperação paisagística e

arquitetônica dos grandes metrópoles

do Brasil já não faz parte somente dos

pedidos da população. A cada ano, as

três esferas da administração pública

(governos federal, estadual e munici-

pal) lançam novos projetos buscando,

principalmente na iniciativa privada,

subsídios para que a manutenção física

Vida novahistóriau

6 REVISTA BABEL

para o centro da capital

Porto Alegre mantém diversos projetos para

de prédios e o desenvolvimento susten-

tável das áreas centrais dos principais

centros urbanos do país possam reto-

mar o caminho do progresso.

Do governo federal, via Ministério

da Cultura, surge a principal iniciativa

de preservação do patrimônio histórico

e artístico urbano. É o Projeto Monu-

menta, que tem o objetivo de estabelecer

ações para a conscientização da popula-

ção sobre a importância de se preservar

o acervo existente ao ar livre nos chama-

dos “centros históricos”. O Monumenta,

que conta com ajuda de custo do Banco

Interamericano de Desenvolvimento

(BID) e apoio da Unesco, apresenta pro-

jetos de recuperação urbanística em 26

municípios de diversas regiões do país.

No Rio Grande do Sul, as cidades bene-

ficiadas são Pelotas e Porto Alegre.

A capital gaúcha, que para muitos

especialistas é considerada o pólo cul-

Biblioteca

Page 7: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 7

tural do Mercosul, concentra suas ações

de preservação no centro, que é o local

onde se encontra a maior parte dos pré-

dios e recantos históricos do municí-

pio. Casa de Cultura Mário Quintana,

Chalé da Praça XV, Praça da Alfânde-

ga, Praça da Matriz, Paço Municipal,

Mercado Público, Usina do Gasômetro,

Palácio Piratini, Comando Militar do

Sul, Teatro São Pedro, Teatro de Arena,

Rua da Praia, Biblioteca Pública, Via-

duto Borges de Medeiros, Catedral Me-

tropolitana, antiga e nova Assembléia

Legislativa do Estado entre outros, são

alguns dos locais considerados de fun-

damental importância para a identifi-

cação cultural e, ao mesmo tempo, que

resguardam boa parte da memória do

porto-alegrense.

Assim como o projeto Monumenta,

o “Viva o Centro” é considerado um

programa estratégico para a cidade. Ele

tem a gestão da Secretaria do Planeja-

mento Municipal (SPM), mas atua em

todos os setores da Prefeitura. Segundo

o secretário Ricardo Gothe, as ativida-

des que valorizam o desenvolvimento

da “consciência cidadã e participativa”

no processo de construção de uma ci-

dade moderna, mas sem esquecer do seu

passado, é a premissa básica de qual-

quer administração.

No momento, um dos principais

projetos em discussão em Porto Alegre

é o do “bonde histórico”. Integrante da

lista de ações do projeto Monumenta,

capitaneado pela Secretaria Municipal

da Cultura em parceria técnica com a

Trensurb, a idéia é implementar uma

linha turística de bonde, o chamado

projeto Bonde Histórico, ligando o

Mercado Público a Usina do Gasôme-

tro. Além de reintroduzir o tradicional

veículo na cidade, que teve suas ativida-

des paralisadas em 1970, o trajeto será

turístico, passando pelas avenidas Sete

de Setembro, João Manuel e a Rua dos

Andradas. Ao longo do percurso, ga-

nham destaque o Museu de Artes do Rio

Grande do Sul (Margs), a Igreja Nossa

Senhora das Dores, a Casa de Cultura

Mário Quintana entre outros atrativos.

Segundo o arquiteto Arnaldo Knijnik,

funcionário da Trensurb, um dos res-

ponsáveis pela elaboração técnica do

Bonde Histórico

– O projeto vai beneficiar todas as

áreas em que passar, pois prevê uma total

reformulação paisagística do entorno.

Outra obra que promete dar um

charme a mais no centro o antigo cine-

ma Imperial e a transformação dele em

um cine-teatro com aproximadamente

800 lugares. A obra será bancada pela

Caixa Econômica Federal, que terá o

a manutenção de prédios e monumentos

direito de utilizar por 30 anos o prédio

de oito andares. No local, será instala-

do o Centro Cultural Caixa que

disponibilizará para a comunidade di-

versas atividades como exposições, ofi-

cinas e seminários, danças entre outras

manifestações artísticas.

Tão importante quanto criar ou re-

formar centros culturais, é tirar das ruas

o comércio irregular e apoiar o micro e

pequeno empresário. Com esse intuito,

a Prefeitura de Porto Alegre criou o

Centro Popular de Compra (CPC), ou

camelódromo.

A Praça XV de Novembro também

será totalmente reformulada.

Detalhe do interior da biblioteca e cúpula do memorial (noalto).Palácio Piratini e entrada principal do porto (acima)

Page 8: Revista Babel n.º 5

q

Raquel Carneiro

O prédio branco, com chão de ma-

deira recém-instalado foi tomado por

visitantes curiosos. Era 10h30min da

manhã de uma quinta-feira. Pelo im-

ponente prédio às margens do Guaíba,

batizado de Fundação Ibera Camargo,

transitavam jovens com olhos curiosos

e falas que indagavam sobre a arte de

um dos maiores artistas brasileiros.

O prédio que encanta por dentro e

por fora foi idealizado pelo português

Álvaro Siza, um dos expoentes da ar-

quitetura contemporânea mais impor-

tante do mundo. Com traços futuristas,

a Fundação não tem semelhanças com

um museu, que para muitos é sinônimo

de prédio antigo, cheirando a naftalina,

e com perfil entediante. Partindo de

novos conceitos arquitetônicos visíveis

logo na sua entrada, não é difícil com-

preender os motivos que causam admi-

ração e satisfação em seus visitantes,

principalmente naqueles que se aven-

turam pela primeira vez no universo das

artes, como a estudante Patrícia Ribei-

ro, de 18 anos.

– Estou gostando muito, e é possí-

vel perceber as diferenças de uma pin-

tura para outra. Certamente voltarei

aqui – afirma.

A promoção do estudo sobre as

obras de Iberê, estimulando a educação

e cultura são as principais característi-

cas da Fundação, uma instituição pri-

vada sem fins lucrativos criada em 1995.

Diversos programas especiais e

museuu

8 REVISTA BABEL

às margens do Guaíbainterdisciplinares são oferecidos aos

seus visitantes, a maioria pertencente a

instituições de ensino. Com isso, a vi-

são da educação brasileira dá sinais de

que começa a transcender os muros da

escola, conforme a professora de His-

tória, Maria Zuleica Gomes:

– Proporcionar uma aula diferen-

ciada nesse ambiente contribui não só

para a aprendizagem do aluno, mas para

sua formação intelectual, e principal-

mente como cidadão, que valoriza e

conhece a arte de seu país.

A Fundação, além de acolher as

obras de Iberê, tem um acervo que con-

ta com um núcleo formado pela cole-

ção Maria Coussirat Camargo, mulher

do artista e obras que o casal Camargo

acumulou durante a vida produtiva de

Iberê, morto em 1994. São pinturas,

guaches, desenhos, estudos, documen-

tos e imagens pertencentes às três fases

artísticas mais conhecidas deste gaúcho

de Restinga Seca: Carretéis, Ciclistas e

Idiotas.

A infinidade de cores, combinação

dos mais variados traços e texturas com-

põem rostos, corpos, movimentos que

quebram o impacto da primeira impres-

são, aquela de que uma obra de arte não

pode ser compreendida, apenas admi-

rada. Ao contrário, Iberê externa com

tintas em punho seus desejos e anseios,

os mesmos que também acompanham

inúmeros expectadores que passam di-

ante de suas obras todos os dias. O sen-

timento de saudade da infância e o aban-

dono sofrido por amigos em um perío-

do de sua vida marcaram o artista de

modo especial. Morador do bairro Ci-

dade Baixa, Iberê convivia diariamente

com a Redenção, e observava, sobretu-

do, seus ciclistas: velozes e muitas vezes

sem metas, a não ser pedalar. Embora

gerada na década de 80, a concepção

dos quadros da fase Ciclistas permane-

cem com sua problemática viva hoje nas

cabeças de muitos. E o convívio com

essa arte faz com que um pequeno deta-

lhe seja visto sempre sob uma perspec-

tiva diferente, segundo a mediadora

Iliriana Fontoura Rodrigues.

– Essas manifestações artísticas são

uma surpresa cada vez que as observa-

mos, e me sinto muito bem envolvida

com este trabalho, ainda mais quando o

objetivo é formar opiniões e educar so-

bre a arte – conta.

A distância entre artista e admira-

dor torna-se inexistente dentro das pa-

redes do grandioso prédio branco, que

acorda e adormece admirando Porto

Alegre. No seu coração carrega triste-

zas, lembranças, solidão e desprezo de

um artista desta terra, que transformou

sua melancolia e saudade, em paixão

traduzida em quadros como se fossem

“últimos gestos”. Apesar dos dissabores

ao longo de sua trajetória, a arte sempre

se colocou como sua força motora. “A

arte para mim sempre foi uma obses-

são. Nunca toquei a vida com a ponta

dos dedos. Tudo o que fiz sempre foi

com paixão”. Palavra de pintor. Palavra

de poeta que aprendeu com a vida e fez

dela o seu quadro inspirador.

Arte

Page 9: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 9

A Fundação IberêCamargo mostra queé possível reunir arte,novas concepções arquitetônicase aproximar o artista e suas obrasdo grande público

Page 10: Revista Babel n.º 5

Raquel Carneiro

Com a tranqüilidade de quem já

percorreu uma longa estrada profissio-

nal, o jornalista Caco Barcellos, nasci-

do em Porto Alegre, sobe ao palco do

Salão de Atos da Ufrgs com uma certa

timidez e domina a cena. Ele participa

do projeto Diálogos Universitários. Os

aplausos dos estudantes que o aguardam

na platéia logo são interrompidos. O

silêncio toma conta do teatro. Todos

querem ouvi-lo.

jornalismou

10 REVISTA BABEL

Nos passosda cultura da violência

Embora com uma bagagem inesti-

mável, construída ao longo de 30 anos

de profissão, Caco confessa-se nervoso

pela responsabilidade de falar aos jo-

vens conterrâneos. Convocado para

abordar um tema polêmico, A violên-

cia faz parte da cultura do brasileiro, ele

começa o bate-papo sem fazer afirma-

ções, acusações ou questionamentos.

Mostra números com base em sua

vivência como jornalista investigativo.

– No Brasil, matamos no trânsi-

to, por ano, de 32 a 42 mil pessoas. So-

mente por arma de fogo, são 48 mil vi-

das – afirma ele.

A violência atinge o cidadão brasi-

leiro de diferentes formas e em todas as

camadas sociais. No entanto, ressaltou

o jornalista, o mundo sempre esteve

pouco preocupado com o levantamen-

to de vítimas do lado mais fraco, e esta é

uma característica fortíssima nos paí-

ses europeus. A sociedade discute pou-

co e aceita a violência que passa diante

de seus olhos passivamente. Não é à toa

que há anos o planeta assiste ao confli-

Jornalista investigativo,Caco Barcellos fala desua experiência e mostraos números alarmantesque colocam o Brasilno ranking das naçõesmais violentas do mundo

Jornalista investigativo,Caco Barcellos fala desua experiência e mostraos números alarmantesque colocam o Brasilno ranking das naçõesmais violentas do mundo

DIVULGAÇÃO/ JORNAL O GLOBO

Page 11: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 11

qEx-taxista na capital gaúcha, Caco

Barcellos teve sua primeiraoportunidade no meio jornalístico emmeados de 1970, como repórter dojornal Folha da Manhã, do grupoCaldas Júnior. Sua atuação destacadarendeu grandes oportunidades comorepórter nas revistas IstoÉ e Veja.Encerrada a sua fase em veículosimpressos, tornou-se correspondenteinternacional da TV Globo. Atualmente,está à frente do programa ProfissãoRepórter, da mesma emissora. Nele,comanda uma equipe de jovensjornalistas, que correm atrás de fatosinusitados pelo Brasil e mostram osbastidores das produções.

Por onde Cacoandou...

to entre Estados Unidos e Iraque. A

notícia da troca infinda de tiros e bom-

bas entre Ocidente e Oriente faz parte

do café da manhã de muitos e já não

causa espantos.

Embora a guerra por petróleo e

maior poder na indústria bélica no he-

misfério norte tenha retirado

incontáveis vidas, ainda assim, não se

compara ao número de pessoas que

morrem vítimas da violência no Brasil.

Conforme relatório da Anistia Interna-

cional, divulgado em 2007, a China,

considerada a nação mais intolerante

do mundo, matou 600 pessoas. Outros

países como Inglaterra, Alemanha e Itá-

lia, ao todo, fizeram cerca de 100 víti-

mas da violência urbana. No mesmo

ano, somente no Rio de Janeiro, o Ba-

talhão de Operações Especiais da Polí-

cia (BOPE) executou 1,3 mil pessoas,

um número superior se somado o nú-

mero de mortos dos 24 países citados

no documento. As práticas de repreen-

são adotadas pelo BOPE nada mais são

do que lições bem aprendidas em uma

escola chamada Rota, um grupo de po-

liciais paulistanos que tem a tortura

como principal método de sua cartilha.

– Estudei sete anos a Rota. Eu

queria saber quem eram as vítimas da

polícia. Nesse período, fiquei na porta

do Instituto Médico Legal (IML) e iden-

tifiquei 4,2 mil pessoas – relata o jorna-

lista.

O fato mais surpreendente, e que

emudece a platéia que, atenta, acompa-

nhava a fala de Caco, é que desse núme-

ro de vítimas, apenas 1,5 mil eram cri-

minosos. A maioria restante: jovens,

negros e trabalhadores de baixa renda.

Além disso, grande parte das vítimas foi

morta com tiros na nuca e no coração,

dois fortes indícios de que foram exe-

cutadas. Diariamente, diversos corpos

são deixados por policiais na porta de

hospitais de favelas cariocas, a fim de

não haver comprometimento com os

casos, completou o jornalista.

Em 2007, a agência de publicidade

Nova FC resolveu traçar o perfil do bra-

sileiro sobre a violência e chegou a qua-

tro conclusões importantes: o brasilei-

ro sempre acha que a culpa é do outro,

tem tendência a gostar do que é ilícito,

a maioria dos universitários apoiaria a

tortura, se fossem policiais, até mesmo

para crimes de furto e os pobres tam-

bém pensam da mesma maneira.

– Se a pena de morte fosse boa, o Rio

de Janeiro e São Paulo seriam o paraíso.

Mas se houvesse mesmo a pena, mataría-

mos quem rouba pouco ou muito? – ques-

tiona ele, alertando que a omissão e o

silêncio “tem um significado mais radi-

cal do que qualquer atitude ou crítica”.

qqqqqqqqqqq

Rota 66 (2003,editora Record) –Após oito anos depesquisa, CacoBarcellos relata sobrea polícia que mata deSão Paulo. Com essainvestigação o autorconsegue identificar

quem são as vítimas da Polícia Militarde São Paulo. Ao finalizar a o livro,Caco passou um período fora do Brasilpor correr risco de vida. Afinal, a obrairritou principalmente coronéis dapolícia militar.

Abusado (2003,editora Record) –Através da históriade Juliano VP, esselivro-reportagemconta desde ainfância à ascensãono tráfico de drogas

na favela Santa Marta e um retratoimportantíssimo da ocupação do morropelo Comando Vermelho, principalfacção criminosa do Rio de Janeiro esuas crueldades.

Dicas de Leitura

Caco encanta platéias contando histórias que testemunhou

DIVULGAÇÃO/ SITE DIÁLOGOS UNIVERSITÁRIOS

Page 12: Revista Babel n.º 5

Daniel Freitas

A organização de uma cidade se

inicia pela capacidade de gerir, de for-

ma ágil, pequenos problemas. Uma sim-

ples troca de lâmpada, o reparo de um

cano quebrado, a poda de uma árvore

entre diversos outros serviços básicos

são fundamentais para a manutenção

da qualidade de vida e, também, pro-

porciona uma boa aparência pai-

sagística.

Instigado pelas denúncias de des-

caso com a manutenção de ambien-

tes públicos vinda de diversos mora-

dores e da Associação Comunitária do

Bairro Belém Velho (Asscobev), nos-

sa reportagem fez contato com a Pre-

feitura de Porto Alegre, através do site

www.portoalegre.rs.gov.br, na seção

“Solicitações de Serviços”, evidenci-

ando alguns problemas estruturais do

local. Fotos foram feitas das regiões

onde se encontra problemas, como:

placas de sinalização enferrujadas,

acúmulo de lixo, boca de lobo entu-

pido, entre outros problemas.

Tudo isso para ilustrar e dar mais

subsídios para a identificação correta

dos locais de onde partiram os pedi-

dos dos serviços. Também foram de-

nunciados pontos da iluminação pú-

blica que não estavam funcionando

devidamente, além da falta de enca-

namento e meio-fio. Os contatos fo-

ram feitos com a Secretaria Munici-

pal de Obras e Viação (Smov), Em-

presa Pública de Transporte e Circu-

lação (EPTC), Atendimento 156 e

Departamento Municipal de Limpe-

za Urbana (DMLU).

belém velhou

14 REVISTA BABEL

Descaso eburocracia

Dentro de um prazo de três dias, as

denúncias da falta de manutenção foram

respondidas pela assessora de Relações

Públicas da Smov, Bruna Dias Simoni.

– Obrigado pela mensagem. Sua

participação é fundamental para o nos-

so trabalho. Dentro do menor prazo

possível estaremos respondendo a sua

solicitação.

Logo após, o atendimento 156 (o

chamado “Portal do Cidadão”) indicou

que a colocação de meio-fio para delimi-

tar o calçamento deve ser solicitada via

Orçamento Participativo (OP) e as recla-

mações para conservação de passeios pú-

blicos com o setor de fiscalização de pas-

seios da Smov. Isso evidencia o lado bu-

rocrático do sistema administrativo pú-

blico e as poucas ou ineficazes ferramen-

tas de interação e identificação de pro-

blemas comuns espalhados pelos bairros,

mas que exigem ações eficazes e rápidas.

Segundo a moradora da rua João

do Couto, Nilva Fonseca, entrar no OP

para brigar por um meio fio de calçada

é no, mínimo, “ridículo”.

– Não tem razão para levar 900 ou

1000 metros, ou um pouco mais, de cal-

çada para o Orçamento Participativo.

Ainda mais que Belém Velho é um bair-

ro que não possui um grande número

de moradores. Nossas propostas sem-

pre vão ser vencidas.

Nilva também ressalta que, quando

a sua rua foi asfaltada, já deveria ter sido

toda encanada e calçada. Michele

Beltran, também moradora da rua João

do Couto, diz que em dias de chuva a

falta de encanamento empurra lixo e

terra para a avenida Costa Gama, e aca-

ba entupindo os bueiros.

Calçadas irregulares e inalizaçãodeficiente são ameaça constanteà segurança do pedestre

Page 13: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 15

O Poder Executivo é lento eacaba desapontando apopulação, que cansa dever pedidos não atendidos

Moradores convivem com lixões a céu aberto

– Não adianta a gente reclamar. Eu

e minha mãe cansamos de fazer pedi-

dos para a troca de canos, para a poda

de árvores que atrapalham a ilumina-

ção, mas parece que só sabem que exis-

timos em dia de eleição. Aí sim, folheto

não falta, carro de som, distribuição de

bandeirinhas – comenta Michele.

Para um dos líderes comunitários

da zona Sul de Porto Alegre, Orion

Freitas, a saída seria criar núcleos ou

sub-prefeituras que tivessem o poder de

idenficar problemas mais simples e co-

muns ao dia-a-dia da população e, ao

mesmo tempo, como o poder de execu-

tar ações para sanar as necessidades.

– Com a adoção de sub-prefeituras

regionais, o poder público seria muni-

do de informações diárias de problemas

simplórios que, na maioria das vezes,

nem chegam aos ouvidos da Prefeitura.

A população também tem que ir atrás.

O Executivo é lento, mas não pode sa-

ber de tudo que ocorre numa cidade do

tamanho de Porto Alegre. Cabe a po-

pulação auxiliar – afirma.

Estamos nos aproximando do final

do mês. Trinta dias de espera já se fo-

ram para que os serviços solicitados fos-

sem atendidos. Até o momento somen-

te as luzes apagadas foram arrumadas,

sendo que estragou novamente. O re-

gistro dos protocolos das solicitações da

limpeza de boca-de-lobo (125658-08-

91), da implantação de canos (125655-

08-52) e do recolhimento de lixo

(125656-08-02), são só mais alguns

números esporádicos em meio aos di-

versos pedidos para solução de proble-

mas simples, mas de soluções compli-

cadas. Entramos em contato com a Pre-

feitura para saber o motivo da demora

para a realização dos trabalhos, mas não

houve resposta.

Em muitas áreas, as condições asruas e calçadas são péssimas, masPrefeitura não toma providências

Page 14: Revista Babel n.º 5

Raquel Carneiro

O cheiro da tinta fresca e o ranger da madeira sob a pressão da cami-

nhada no assoalho novo resgatam lembranças de uma casa que esteve

prestes a perder sua história. Cruzar a porta de entrada da antiga morada

da família Fonseca, é como viajar na história arquitetônica de Gravataí. É

preciso percorrer este trajeto para entender a riqueza deixada pela cultu-

ra açoriana. Nas paredes do imóvel de estrutura imponente estão as

marcas simbólicas de grandes mudanças desde 1877, o ano em que

foram erguidas.

Construída por neto de açorianos, e sete anos depois da

independência de Gravataí, a propriedade rural de

Manoel Fonseca não era diferente da casa de

um homem de posses e ficava

quase que embrenhada

preservaçãou

12REVISTA BABEL

A C

AS

A D

OS

em um matagal. Em suas salas amplas, acomodava uma família de tamanho médio.

No pátio, galpões e até um tambo de leite. O passar dos anos abriu novas perspecti-

vas para os Fonseca em outros horizontes.

Na década de 70, a família deixou a casa. Alugada pela Prefeitura com o

objetivo de fundar o primeiro museu municipal, logo a casa abrigaria uma

clínica de Fisioterapia, nos anos 80. O casarão, que um

dia foi o retrato de um povo e sua cultura, aos

poucos foi perdendo suas impressões

digitais pela ação

Açores

Doações feitas pelogoverno da Ilha dos Açoresajudaram a Caergs arestaurar o patrimônio devalor histórico imenso

Page 15: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 13

O casarão dos Fonsecarecebeu estruturas de açonas paredes. Durante trêsanos o prédio ganhou teto e

assoalho novos. Original mesmo, apenas asparedes.Depois de concluído o processo derestauração, faltava a pintura e a mobília.O grupo de dança açoriana da cidade,Rancho Folclórico, através de seu trabalhovoluntário, foi o responsável pelas cores doprédio. Parcerias com antiquários foramfirmadas para resgatar a identidade doimóvel.

– O trabalho não foi fácil, mas o resultado

não tem preço – garante a estudante e

integrante do grupo folclórico KarenMarques Gomes Pereira, 16 anos.Para o tesoureiro da CAERGS, Luiz CastilhosFlorêncio Albano, é uma emoção ver umaparte da história resgatada e se tornandoo mais novo espaço cultural da cidade.Em dezembro de 2007, o casarão dosFonseca ganhou novamente o direito decontar sua história através das suasjanelas, paredes, alicerces, do cheiro damadeira e do chão que grita de tão novo. Oespaço hoje é um reduto cultural commuseu repleto de objetos que contam umpouco da vida do povo açoriano, bibliotecae ambientes decorados tipicamente. E naúltima quinta-feira de cada mês é possívelescutar boa música ao vivo saboreandopratos da culinária de uma das ilhas maisbelas de Portugal.A morada dos Fonseca deixou para traz odescaso, o abandono e recuperou suaidentidade. Voltou a ser chamada pelonome: Casa dos Açores.

A REFORMAem um matagal. Em suas salas amplas, acomodava uma família de tamanho médio.

No pátio, galpões e até um tambo de leite. O passar dos anos abriu novas perspecti-

Na década de 70, a família deixou a casa. Alugada pela Prefeitura com o

de fundar o primeiro museu municipal, logo a casa abrigaria uma

nica de Fisioterapia, nos anos 80. O casarão, que um

dia foi o retrato de um povo e sua cultura, aos

poucos foi perdendo suas impressões

digitais pela ação trans-

formadora do

tempo. As salas foram reformadas, não havia mais galpões no pátio

e nem o tambo. Em condições precárias de conservação e pratica-

mente inabitável, a construção não despertava interesse e foi quase

abandonada. A clínica se transferiu na década de 90.

Os Fonseca decidiram, então, demolir o prédio. Pressionada pela

mobilização popular que queria manter aquela parte da história do

município, a Prefeitura assumiu em 2000 a responsabilidade de um

projeto de restauração. Até 2005, no entanto, nenhum tijolo fora

restaurado.

Neste mesmo ano, a Casa dos Açores do Estado do Rio

Grande do Sul (Caergs) procurava um lugar para a sua sede ofi-

cial e, embora quisesse ter sob sua responsabilidade a tarefa

de recuperar o casarão dos Fonseca, não ousou enca-

minhar o pedido à Prefeitura quando começou

a procurar um local para se instalar em

Gravataí. O prefeito na época, Daniel Bordignon,

no entanto, ofereceu justamente o casarão, conta

Célia Silva Jachemet, responsável pelo Departamento

Intercidades da Caergs.

– Foi a realização de um sonho. A casa foi cedida

por 99 anos, e foi o primeiro prédio tombado pelo

município – conta ela.

Ao receber aquela herança de valor histórico ines-

timável que ruía em ritmo acelerado, a própria Caergs

temeu pelo sucesso da restauração, pois não contava

com recursos para dar início à restauração. Porém,

através de doações feitas pelo governo da Ilha dos

Açores, em Portugal, e ações como festas e jantares,

a entidade conseguiu aos poucos devolver vida ao

casarão. Com a ajuda voluntária do curso de Arqui-

tetura da Universidade Federal do Rio Grande Sul,

o projeto de recuperação começou a tomar forma.

– Comecei a fazer parcerias e destinamos a ver-

ba que recebíamos do governo dos Açores para ati-

vidades culturais, totalmente para a reestruturação

da casa. Ao invés de gastarmos o dinheiro, nós guar-

dávamos – recorda o presidente da Caergs, Régis

Albino Marques Gomes.

es

Page 16: Revista Babel n.º 5

praçasu

16 REVISTA BABEL

Adote um

espaço verdeAdote um

espaço verde

Page 17: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 17

dedeCapital dosgaúchos mantémprogramade incentivoe manutençãode áreas verdes

Daniel Freitas

Porto Alegre é referência nacio-

nal pela valorização de espaços natu-

rais destinados ao lazer e a preservação

ambiental. Segundo a Secretaria Muni-

cipal do Meio Ambiente (Smam), a ci-

dade conta com cerca de 1,3 milhão de

árvores apenas em vias públicas. Além

disto, tem ambientes como: parques, sí-

tios e praças. Um dos temas que mais

interessa a população é a inclusão soci-

al dos porto-alegrenses através de espa-

ços públicos qualificados para o lazer e

o entretenimento em família.

Um dos desafios da Prefeitura é en-

contrar formas de amenizar os conflitos

gerados pelos anseios da população, que

deseja ver os espaços públicos bem cuida-

dos, em detrimento da falta de renda do

empobrecido poder público. Uma saída

encontrada pela Smam foi criar o projeto

“Adote uma Praça”. Trata-se de um pro-

grama de parcerias, entre o poder público

e privado, que visa colocar os espaços das

praças aos cuidados de pessoas interessa-

das em sua manutenção, desde que pos-

sua condições financeiras de fazê-lo.

Segundo o ex-secretário municipal

do Meio Ambiente de Porto Alegre, Beto

Moesch, Porto Alegre tem 571 praças

urbanizadas ocupando uma área superior

a 3 milhões de metros quadrados. Ao ano,

estima-se que a Smam invista cerca de R$

15 milhões na manutenção das áreas ver-

des da cidade. O atual secretário da Smam,

Miguel Wedy justifica o projeto:

– A prática da adoção de praças por

empresas é uma forma de desafogar as

contas da Prefeitura. Com isso, ela pode

voltar suas atenções para outras áreas

críticas como: saúde e educação.

Segundo a moradora do bairro

Belém Velho (na zona Sul de Porto Ale-

gre), Glede Maria Coimbra, 48, não há

melhor espaço para descansar e bater

um papo com os amigos do que a praça.

– Aqui a gente encontra todos os

amigos e amigas, falamos da família, po-

demos trazer as crianças. É um ótimo

ambiente!

Apesar aprovação da moradora, ao

visitar a Praça Nossa Senhora de

Belém, alguns problemas estruturais

são evidentes. Bancos quebrados e sem

pintura, brinquedos (balanços, escor-

regadores...) sem manutenção, tabela

da cesta de basquete da quadra espor-

tiva quebrada, entre outros. Isso por-

que, além de ser um lugar mais afasta-

do dos olhos da maioria da popula-

ção, segundo a moradora, o poder pú-

blico nunca se preocupou muito em

cuidar do local.

Segundo Wedy, o perfil de quem adota

uma praça é “geralmente” ligado ao siste-

ma empresarial, já que é um meio de alta

rotatividade financeira e possibilita que

projetos não parem no meio da im-

plementação, além de assegurar um bom

retorno no que diz respeito a “imagem e a

responsabilidade social”. Segundo a as-

sessoria de imprensa da Smam, não só

praças podem ser adotadas, mas parques,

canteiros e rótulas também. Podem parti-

cipar do projeto: empresas (indústria, co-

mércio, prestador de serviços), escolas, as-

sociações de bairro ou ONGs.

Page 18: Revista Babel n.º 5

Maressah Sampaio

Ele quer provar que nem todoterror é necessariamente trash. De-pois de mais de 40 anos de carreira,José Mojica Marins, o Zé do Caixão,traz de volta o personagem que po-pularizou o gênero no Brasil e atraiumilhares de seguidores. Se antes eleera apenas um ex-coveiro que mata-va pessoas por prazer, hoje é um per-sonagem complexo, que dialoga coma política e os problemas sociais dopaís. Zé do Caixão cresceu.

cinemau

18 REVISTA BABEL

Em uma fasemais madurae contextualizadacom o Brasilatual, Zé doCaixão voltacom filme maisviolentoda saga

Trashé a mãe!

A nova fase foi inauguradacom o lançamento do filmeEncarnação do Demônio, em agos-to de 2008. Na película, Zé sai da pri-são em busca de uma mulher quepossa lhe gerar um filho perfeito.Mas quase 40 anos se passaram, eele também tem de enfrentar a SãoPaulo contemporânea e a violênciadas favelas.

– O Zé do Caixão não é nadaperto dos traficantes que dominamas cidades grandes. Não dava paratrazer o personagem de volta sematualizá-lo – afirma Mojica.

Encarnação encerra umatrilogia iniciada em 1963 com ÀMeia-Noite Levarei sua Alma,complementada em 1967, com EstaNoite Encarnarei em Seu Cadáver.Encarnação é o filme é o mais violentoque Mojica já dirigiu. Há bocas costu-radas, pessoas penduradas como car-ne no açougue e mulheres mergulhan-do a cabeça em bacias com baratas. Aparte das baratas, aliás, é uma das maispolêmicas. Foram mais de 3 mil inse-tos utilizados, e quem protagonizou o“afogamento” foi a própria mulher dodiretor, Lenny Dark.

Page 19: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 19

– Eu fiquei seis anos sendo pre-parada para este filme. Seis anos conhe-cendo o cinema artesanal do Mojica. Foiisso que me deu coragem para fazer acena – explica Lenny, que conheceu o ma-rido aos 17 anos, na época em que tra-balhavam juntos nos pragramas CineTrash, da TV Bandeirantes.

Considerado marginal no Bra-sil (no sentido de permanecer à mar-gem do dito cinema nacional clássico) o personagem Zé do Caixão ganhoureconhecimento fora do país. Chama-do no exterior de Coffin Joe, Zé agoratambém faz parte da elite do cinemamundial. Bastou para que o Brasiltambém começasse a prestar atençãonele. O filme Encarnação do Demônioganhou uma exibição no último Fes-tival de Veneza. Foi aplaudido e apro-vado pela crítica.

– O Brasil tem que valorizarmais o seu folclore. Chega de ficar ven-do filme de Drácula e Frankstein – re-clama Mojica.A despeito do sucesso que tem feito, ofilme correu o risco de não sair do pa-pel. Foram três tentativas de produção,que sempre terminavam porque algum

dos produtores morria. Chegou-se a fa-lar em maldição. Foi quando Mojicaconheceu Paulo Sacramento eDennison Ramalho, que nem pensaramna tal maldição e ajudaram o cineasta aatualizar o roteiro e seguir em frente atrilogia. Sacramento e Ramalho são,antes de tudo, grandes fãs do trabalhode Mojica.É justamente Ramalho que mais refu-ta o termo “trash”, usado por muitoscríticos para definir o estilo de Zé doCaixão.

– Eu desafio qualquer uma des-sas pessoas a apresentar uma falha, umacoisa sem sentido nos filmes do Zé.Estamos falando de uma personagemque tem uma história, uma carga emo-cional e age de maneira pensada – argu-menta ele, que além de roteirista, foi di-retor assistente do filme.

– Trash é um gênero america-no, usado para filmes sem contexto,sem roteiro, em que nada tem sentido.Se o Mojica é trash, então RobertRodriguez, Quentin Tarantino, EliRoth e todos os diretores de horrorcontemporâneo também são – afirma.Zé do Caixão é cult.

A trilogia deZé do Caixão

À MEIA NOITELEVAREI SUA ALMA

O coveiro Zé do Caixão,temido pelos moradores deuma pequena cidadeinteriorana, tem como metagerar um filho perfeito,aquele que possa darcontinuidade ao seu sangue.Como sua mulher nãoconsegue engravidar, elepassa a crer que a namorada

escudeiro Bruno, rapta seismoças à procura daescolhida pra lhe dar o filhoperfeito. Uma delas, porém,jura que irá encarnar nocadáver do sádico.

ENCARNAÇÃODO DEMÔNIO

Após 40 anos divididosentre o manicômio e opresídio, Zé do Caixão é

do seu melhor amigo é amulher escolhida. Violadapor Zé, a moça planejasuicídio, para poder voltardo mundo dos mortos elevar a alma daquele que aviolou.

ESTA NOITE ENCARNAREINO SEU CADÁVER

Zé do Caixão, com a ajuda de seu fiel

finalmente libertado.Novamente em contatocom as ruas, o coveiroestá decidido a cumprir amesma meta que o levouà prisão: encontrar amulher que possa lhe darum filho perfeito. Em seucaminho pela cidade deSão Paulo, deixa umrastro de horror,enfrentando leis ecrendices populares.

Page 20: Revista Babel n.º 5

Matheus Mocelin Carvalho

Locadoras com longas e extensas

prateleiras comportam filmes dispostos à

escolha do cliente praticamente desapa-

receram. Hoje, os filmes são expostos

em saquinhos plásticos em qualquer

espaço público. Anunciados com

se fossem frutas em dia de feira,

as produções – algumas ain-

da sem nem terem estreado

nos cinemas nacionais –

disputam a atenção de pe-

destres com mínimo

tempo e interesse. Embo-

ra ainda não sejam totalmen-

te figuras do passado, as locadoras

de vídeo estão se tornando cada vez

menos relevantes para o consumidor ci-

nematográfico. Fragilizadas cada vez

mais pela ação da pirataria e da reprodu-

ção ilegal de filmes, elas passam por uma

morte lenta, não muito diferente do de-

saparecimento do studio system e dos gi-

gantes de Hollywood nos anos 60 e 70.

Depois do sucesso alcançado com a

popularização do VHS no final dos anos

80 e início dos anos 90, a locadora de

vídeo deixou de atender a um nicho de

consumidores com maior poder aquisi-

tivo e se tornou um programa familiar

para os finais de semana. Os felizes pro-

prietários de um aparelho de vídeo cas-

sete abasteciam suas necessidades de

entretenimento e cultura nas salas re-

pletas de filmes e cartazes grudados nas

paredes, onde gerações de cinéfilos cres-

ceram e se multiplicarem.

– Com o boom do VHS, as pesso-

as lotavam as lojas em busca de filmes.

filmesu

14 REVISTA BABEL

A indústria quese copiava

Isso só foi ocorrer novamente por volta

de 2003, com a popularização do DVD –

conta Julia Bertoglio, filha do dono da

maior rede de locadoras de Canoas.

Os primeiros lançamentos em DVD

no Brasil ocorreram em 1999, mas o

novo formato só ganhou a aceitação to-

tal do público três anos depois. Apresen-

tando inovações como qualidade digital

de áudio e vídeo e a possibilidade de as-

sistir ao filme acompanhado de extras, o

DVD criou uma sensação no mercado

audiovisual. A nova mídia alcançou uma

popularidade antes apenas almejada pelo

VHS, trazendo o público de volta às lo-

cadoras e estabelecendo a prática da

compra, antes apenas comum com títu-

los de apelo familiar.

A popularidade do DVD, no entan-

to, trouxe sua fatia de efeitos colaterais

que logo abalariam a relação com o con-

sumidor.

– Diversas locadoras novas começa-

ram a aparecer. Os donos das lojas com-

pravam seus títulos no mercado de vare-

jo por um preço muito abaixo do cobra-

do pelas distribuidoras e por isso conse-

guiam lucro – conta Tânia Zoldan, dona

de uma tradicional locadora em Canoas

há 11 anos.

O valor de um filme lançamento para

o mercado de locação costuma estar na

casa dos R$110,00 – valor que irá dimi-

nuir por mais da metade quando o mes-

mo produto for distribuído para o mer-

cado de venda ao consumidor cerca de

três meses depois.

Page 21: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 21

Locadoras terão de sereinventar para enfrentar afebre do download

– Como eles tinham dificuldade em

repor os títulos, logo começaram a fe-

char – relata Tânia, que calcula que é

necessário cerca de 30 locações com o

valor médio de R$4,00 cada para um

DVD se pagar.

O que os donos das locadoras não

contavam é que, muito maior do que a

competição, o principal perigo se en-

contrava ao lado – nas esquinas, nos

centros de venda populares e dentro das

próprias casas. Com a quebra do código

anti-cópia criado pela Microvision, o

DVD pirata foi adotado por vendedo-

res ambulantes como um modo de ge-

rar lucro fácil. Comercializados em

mídia de baixa qualidade e embalados

em saquinhos plásticos ou em papel, os

discos copiados logo ganharam espaço

entre o público de baixa renda como

um modo barato de ter acesso ao entre-

tenimento. Podendo ser reproduzidos

por qualquer pessoa com acesso a com-

putador, os filmes logo se propagaram

online através de programas de

download de vídeos como eMule e

µTorrent. A situação começou a cha-

mar a atenção dos grandes estúdios

quando produções que ainda nem ha-

viam estreado nos cinemas começaram

a vazar na Internet.

O golpe foi sentido pelas locadoras

de forma quase instantânea.

– Aqui no bairro, metade das pesso-

as que costumava alugar filmes não alu-

ga mais. Um colega me disse que atual-

mente aluga apenas 10% do que era acos-

tumado a fazer – diz Tânia.

O baque em grande escala, no en-

tanto, ocorreu quando as 127 lojas da

rede Blockbuster foram vendidas para as

Lojas Americanas. Agora, as prateleiras

de DVD dividem espaço com comida e

produtos de conveniência. Enquanto

diversas outras locadoras menores segui-

ram o mesmo caminho, algumas ainda

se mostram resistentes em adotar tais

artifícios para resgatar o público.

– Eu não vejo nenhuma vantagem –

admite Julia, que prefere manter o foco

no seu produto de origem.

DVD original comparado aDVD pirata de camelô

Já Carlos Carvalho decidiu que o

caminho estava na variedade quando

abriu sua locadora há dois anos.

– Sempre tivemos isso em mente,

mas na época não era por causa do re-

torno do mercado de locação – diz ele,

se referindo aos serviços de lanches e

lan house que agregou à locadora.

É inegável, no entanto, confessa

ele, que as locações tenham diminuído

consideravelmente nos últimos tempos,

forçando-o a vender alguns de seus tí-

tulos com menos retorno.

As táticas das locadoras de contra-

atacar variam de acordo com o tama-

nho e com sua localização.

– Algumas locadoras menores em

bairros pobres compram um título e fa-

zem cópias do mesmo – reporta Tânia,

que também acredita que baixar os pre-

ços não compensa devido aos gastos

com a aquisição de filmes. Uma das al-

ternativas para conter os custos tem sido

deixar de comprar certos títulos no mês

de lançamento para adquiri-los mais

tarde por um preço reduzido.

Apesar da drástica queda em locações,

o consumo de filmes se mantém mais alto

do que nunca.

– Hoje praticamente todos têm uma

coleção de DVDs, por menor que seja.

Mas colecionadores sérios mesmo são

aqueles que possuem um gosto especial

pelo conteúdo dos discos, seja música ou

cinema – relata Flávio Brun, dono de uma

coleção com mais de 600 títulos origi-

nais.

E é este público que as distribuidoras

visam atingir com o lançamento do blu-

ray, o novo formato de vídeo em alta defi-

nição. Com qualidade superior de áudio e

vídeo e formas inovadoras de interação,

os grandes estúdios o vêem como uma

alternativa de revitalizar o mercado e ti-

rar proveito da recente febre dos televiso-

res de plasma e LCD. Embora algumas

locadoras já estejam adquirindo títulos

em blu-ray, outras ainda se encontram

relutantes em ter que substituir todo seu

catálogo por uma segunda vez.

Quanto ao futuro da locação em si,

as previsões tendem ao lado apocalíptico.

– Já terminou. O futuro é o

download. Ainda existe o público que

gosta de pesquisar os títulos ou então

que não tem condições de ter um bom

computador em casa. Talvez as locado-

ras agradem mais os bairros pobres –

prevê Tânia.

Enquanto a indústria continua a se

copiar a um nível que escandalizaria até

Walter Benjamin, resta ao mercado de

locação encontrar novos modos de se

reinventar. Se o cinema conseguiu se er-

guer em frente à ameaça televisiva, ainda

existe uma chance de o velho hábito de

locação não partir para o movie heaven.

Page 22: Revista Babel n.º 5

qMaressah Sampaio

Você ouve a voz deles todos os dias,

mas provavelmente nunca vai conhe-

cer seus rostos. Os dubladores vivem

como seres sem imagem própria, sem-

pre à espera de um outro eu – o novo

personagem. O trabalho é o de atuar

sobre a atuação, capturar a personali-

dade de alguém que não existe no mun-

do real, mas que já existe na ficção. Tal-

vez não seja mais difícil do que ser um

ator tradicional. Porém, com toda a cer-

teza, é mais ingrato.

Miriam Ficher faz dublagens desde

os 13 anos. Já emprestou sua voz para

alguns dos personagens

mais conhecidos do públi-

co brasileiro, como a

Princesa Sara, do desenho

Cavalo de Fogo, a Char-

lene, de A Família Dinos-

sauro e a Piggy, de Mup-

pet Babies. Também du-

bla as atrizes hollywoo-

dianas como Meg Ryan,

Angelina Jolie e Nicole

u

22 REVISTA BABEL

Voz de um, focinho do outro

Os dubladores, contudo, concordamque há dublagens e dublagens. Elespreferem assistir filmes dublados, desdeque sejam versões bem-feitas, o que nemsempre acontece.

– Eu prefiro ver filme bem dublado. Se

não for assim, é melhor legendar mesmo, oque é uma pena, pois assim perdemos

muitos detalhes – entende Miriam.

– No caso do cinema, se eu leio, perco

os detalhes das cenas, já que não consigoprestar atenção em tudo ao mesmo tempo.Já os desenhos eu não suporto mesmoassistir legendados, já que é um costume

desde criança assistir em português –conta o promoter Émerson Vasconcellos,que sempre leva os dubladores paraconversar com o público em seus eventos.

Independente dos gostos, todo mundojá viu centenas de filmes dublados ecresceu assistindo a desenhos na língua-mãe. Se na infância, é por necessidade,depois, é por comodidade – ou por falta deopção, no caso da TV aberta. Mas, mesmoquem prefere os legendados, reconheceque Chaves e The Simpsons não são Chavese The Simpsons sem dublagem. É fato.

Dublado x legendadoKidman. São personagens muito diferen-

tes, unidos pela voz de uma mulher que

acha graça da imaginação do público.

– Nunca vão pensar que eu, baixi-

nha, 1,50m de altura, sou a Angelina Jolie

– diverte-se Miriam.

No Brasil, a unanimidade é que a pro-

fissão não tem o reconhecimento devido.

– Só os fãs valorizam – afirma Élcio

Sodré, foto abaixo, o Shiryu, de Cavaleiros

dos Zodíacos e o Pateta, em A Turma do

Pateta.

– Em termos financeiros, é uma car-

reira muito instável – completa Miriam.

Situação injusta para um país que fala uma

língua bem menos popular que o inglês e

o francês, por exemplo –

uma nação em que a maio-

ria convive com a dubla-

gem desde a infância. O

início das atividades da du-

blagem brasileira data de

1938, quando, no Rio de

Janeiro, nos estúdios da

CineLab, o filme Branca de

Neve e os Sete Anões ga-

nhou sua versão nacional.

Miriam Sodré,dubladora de

Angelina Jolie,diverte-se com asdiferenças físicas

entre ela e aspersonagens

filmes

Page 23: Revista Babel n.º 5

O jeito indie de serMaressah Sampaio

Seus cabelos são “bagunçados”, ves-tem roupas de brechó com bottons,calçam apenas tênis All Star e estãosempre baixando alguma música daúltima banda que surgiu em Lon-dres. Enfrentam qualquer tem-peratura com um cachecolem volta do pescoço,compram vinis sem tertoca-discos em casa emantêm palavras eminglês e francês no voca-bulário do dia a dia, ainda quenão dominem esses idiomas. Oque para alguns soa como umacontradição, para eles é moda.Eles são os indies, uma tribo ain-da em processo de interpretação.

Abreviado do inglês inde-pendent (independente em por-tuguês), o termo indie expandiu-se e invadiu o cenário pop, alcan-çando a moda e tornando-se

ucomportamento

para muitos um estilo de vida. Seus representantes estão ligados àmúsica, por causa das bandas de rock. Ainda assim, são poucos osassumidamente indies.

– Se o indie vem de independente, eu poderia me incluir no‘rótulo’, mas a partir do momento que vira um rótulo, passa a serum conjunto delimitado de atitudes e eu não me sinto limitada

nesse sentido – argumenta a jornalista Ana Bazerque que, apesarde gostar de bandas como Interpol, The Strokes, The Hives e Yeahyeah yeahs, símbolos do movimento, não se considera indie.

O indie transforma o alternativo em moda. Os terninhos à laBeatles para os meninos e as blusas xadrez aliadas a saias curtas ebotas pretas para as meninas são o mínimo que se pode esperarde alguém que serve à tribo. Na rua eles são cada vez maiscomuns, mesmo que isso signifique um contra-senso para ummovimento que se orgulha de servir ao underground.

– Alternativo quer dizer diferente. Mas deixou de ser

diferente há muito tempo – opina a estudante de rela-ções públicas Deisy Piaia, apreciadora da moda indie.Então, a solução, diz ela, “é encontrar maneiras não-con-vencionais para compor o próprio estilo”.Assumidos ou não, os indies estão aí, sem se importar

com o anacronismo de vestir roupas retrô, ao mesmo tem-po em que correm para o mundo cibernético para baixaro mais novo lançamento daquela banda que ninguémconhece ainda. Eles não estão preocupados se são con-traditórios ou não – e talvez resida neste ponto todo o

charme do jeito indie de viver.

REVISTA BABEL 23

ACESSÓRIOSPPPPPCachecol ou lençoPPPPP Tênis All StarPPPPPÓculos escuros de aro grosso

BANDASPPPPPThe StrokesPPPPPLast Shadow PuppetsPPPPPYeah yeah yeahs

MANIASPPPPPComprar vinisPPPPPNão gostar de solPPPPPOuvir bandas que ninguémconhece3

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Fernanda Rafaeli Gomes

Aqueles momentos de brincadeiras, pu-

los e mordidas agora são apenas lembran-

ças. O cachorro arteiro e o gato serelepe –

que são a maioria dos animais de estima-

ção nos lares brasileiros – também ficam

velhos. Para os proprietários, esta fase da

vida dos animais chega carregada de dúvi-

das para seus donos, e uma delas diz res-

peito a alimentação adequada.

Quase não há literatura específica so-

bre o assunto. Por isto, a solução é opi-

nião de pessoas que criam animais há

muito tempo e também de veterinários,

que tenham acompanhado o desenvol-

vimento e o amadurecimento saudável

de cães e gatos.

Muitos animais vivem saudáveis por

muitos anos, mas é preciso que o dono

fique atento

– Cães de grande porte, por exemplo,

envelhecem mais precocemente que os

vida de bichou

24 REVISTA BABEL

Ficar atento ao comportamento e oferecer mais amor e atenção é fundamental

Elestambém ficam velhos

qCaracterísticas alteradas

Os animais idosos já nãocuidam tanto do pêlo, têmmovimentos lentos e sua rotinaé pacata. As capacidadesauditivas, olfativas e visuaisdiminuem.

Mudanças nocomportamento

Em geral, os animais idososnão costumam gostar de

brincadeiras com o mesmovigor de antes. Essa situaçãoacontece, porque o envelheci-mento dos pets é parecido como dos humanos e, devido àidade, perdem a destreza e amobilidade. Mas os animais quesão acostumados a brincardesde pequenos respondemmelhor aos estímulos mesmoquando velhos.

O convívio comoutros animais

Deve-se levar um animalnovo para a casa onde vive umidoso aos poucos. No convívio

com animais mais vigorosos,o mais velho pode ficaragressivo, isolar-se, recusarcarinho, comida e brigarcom os demais pets da casa.

Alerta coma alimentação

A idéia principal é mantera saúde e evitar a obesidadedo animal idoso, a fim dediminuir o risco do desenvol-vimento de doenças crôni-cas, como a renal e acardíaca. Para isso sãonecessários os seguintescuidados:

– A obesidade pode e deve

ser controlada com o uso deuma ração light/diet (aalimentação caseira não é aideal), com exercícios leves eum aumento leve da ingestãode água;

– A alimentação deve ser

oferecida, se possível, cincovezes por dia ao invés de umaúnica porção. Assim, o animalcome menos quantidade, maisvezes, controlando melhor oapetite;

– Preferir rações do tipo

sênior para um animal idoso é omais indicado porque apresen-

Cuidados comos bichos

A veterinária Luísa Machado Moreira, de Uruguaiana

Page 25: Revista Babel n.º 5

REVISTA BABEL 25

tam teores ideais dos nutrien-tes adequados à idade.

Gravidez, um risco àsaúde

Na idade avançada, agravidez é muito arriscada,porque o organismo do animaljá passou por muitas transfor-mações.

Sem que o dono perceba,algumas doenças assintomá-ticas já podem estar afetandoo pet. A amamentaçãosobrecarrega a fêmea, expõea sua própria saúde e tambémdos filhotes. Além disso, a

qualidade dos óvulos tambémnão é mais a mesma, o quepode provocar uma má-formação das crias. Mas omais provável, se ocorrer agravidez, é que a fêmea nãoconsiga parar. A idade fértilideal não deve passar doscinco ou seis anos nas cadelasde grande porte, sete naspequenas e médias e de seisanos nas gatas.

O melhor momentopara castrar

A idade ideal para castraras fêmeas de grande porte é

em torno de seis anos, poisevita que o animal maisvelho corra riscos dereproduzir. No caso dosmachos, dá para castrarmais ou menos com oito ounove anos, se for um cão depequeno porte. Isto farácom que os animais tenhamuma expectativa de vidamaior e com mais conforto.A castração de animais quenão tem funçãoreprodutiva preserva a suasaúde, evita doençasvenéreas e o surgimento detumores de mama.

Conforto e tranqüilida-de são obrigatórios

Nesse ciclo da vida dospets, manter um ambienteseguro, tranqüilo e confor-tável é o ideal. O convíviocom ruídos altos ou comcrianças barulhentastambém deve ser evitado,pois isso pode estressar oanimal e até mesmo desenca-dear doenças.

Check-upsAs visitas ao veterinário

devem ocorrer pelo menosduas vezes ao ano.

cães menores. Aqueles que pesam entre

30 e 40 quilos começam a ser considera-

dos senis por volta dos seis ou sete anos,

enquanto um de pequeno porte começa

esse processo aos oito ou nove. Os felinos

apresentam sintomas da idade avançada

a partir dos seis ou sete anos, como os

cães de grande porte – explica o médico

veterinário Walter Francisco Guedes da

Silveira, proprietário de um consultório

veterinário no centro de Esteio.

Por outro lado, para Jair Bitencourt,

dono de um canil de pequineses e de

um gatil de persas e himalaias em Porto

Alegre, as fêmeas atingem a idade avan-

çada após os cinco anos de idade.

– Depois do quinto ano de vida, elas

estão velhas para dar cria, então não faço

mais cruzamento, pois receio que os fi-

lhotes comecem a ficar fracos e não re-

sistam – afirma o criador. Além disso,

Bitencourt conta que após essa idade,

oferece os animais já castrados para ado-

ção. Os gatos são castrados por volta dos

sete anos e as gatas, com cinco.

Expectativa de vida

A expectativa de vida para um ani-

mal de grande porte que vive dentro de

casa é de 15 a 16 anos.

– Há casos de cães da raça Fila que

mora dentro de casa, embora não seja

comum – declara a veterinária Luísa

Machado Moreira, que atende em

Uruguaiana.

Já para aqueles que vivem dentro e

fora de casa, se forem grandes, cerca de

oito ou nove anos; se forem pequenos

ou médios, 12 anos.

Os sinais de avanço da idade muitas

vezes passam despercebidos porque o

animal começa lentamente a parar de

comer, de brincar, de passear com a

mesma vontade de antes. Pode aconte-

cer de o dono não ser muito atento e

não se dar conta que qualquer alteração

física ou de comportamento, pode ser

um sinal do envelhecimento. Além dis-

so, a pelagem fica mais áspera e, se o

proprietário não tem o hábito de

escová-lo, não percebe nenhuma alte-

ração visual.

– Ainda que os animais de estimação

estejam vivendo muito próximos dos seus

donos, os sinais da idade avançada po-

dem passar despercebidos, pois quase

sempre eles não apresentam nenhuma

alteração ou mudança visível, à exceção

de uma maior lentidão e maior predis-

posição às doenças, portanto o proprie-

tário deve ficar atento – orienta Silveira.

Cães saudáveis gostam de brincadeira em qualquer idade

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Maressah Sampaio

Homens nem sempre se dão bem com

relacionamentos amorosos. O senso co-

mum diz que indivíduos do sexo mascu-

lino têm certa dificuldade em assumir

relações sérias. Por outro lado, existem

os que sofrem o efeito reverso, aqueles

que não conseguem terminar o relacio-

namento. Seja por medo de ficar sozi-

nho, seja por não querer magoar a outra

pessoa, ou por qualquer motivo

indecifrável, fato é que eles adiam muito

mais do que elas a hora de dizer adeus.

Segundo o psicólogo Edson Knob, a

razão é social:

– Até o início do século passado, o ho-

mem tinha duas, três mulheres, sem pre-

cisar terminar o casamento ou o namo-

ro. Mas, com o advento do feminismo,

de uma maior liberdade para o antigo

sexo frágil, essa situação mudou. Agora

ele tem que dar um fim em uma relação

para começar outra. Como ainda está se

acostumando com a nova realidade, não

sabe como agir.

O jornalista Rafael Terra é um exem-

plo de homem que não consegue colo-

car ponto final em uma relação. Mas, ao

contrário do

psicólogo, ele

acredita que a

razão de não

conseguir ter-

minar é senti-

mental.

–Alguém

entrou na tua

vida, se tornou

importante

para você,

conquistou o

seu amor...

Não dá para

um dia simplesmente eliminá-la da sua

vida. Mesmo que não haja mais amor,

ainda existe a consideração pelo outro, a

comportamentou

26 REVISTA BABEL

Não aprendi a dizer

adeus...

lembrança dos bons momentos – argu-

menta.

Mais do que o amor, as pessoas dividi-

ram horas, dias, espaço e uma vida.

– Existe uma relação de dependência

estabelecida. Estas relações podem ser

baseadas em questões financeiras,

afetivas ou mesmo em uma necessidade

de ter a companhia de outra pessoa –ex-

plica Knob.

Ainda assim, existem os que não têm

trava na hora de terminar. O estudante

de Direito Vinicius de Oliveira é um

deles.

– Sentimento é uma coisa única. Não

tenho culpa se alguém se apaixona por

mim ou se eu me apaixono por alguém.

Tampouco tenho culpa se eu me de-

sapaixono. É incontrolável – diz ele, que

não sente a mínima culpa em terminar

uma relação.

– Mas vejo amigos há meses tentando

encontrar uma forma de desfazer o na-

moro e não fazem por medo – observa.

Os homens, primeiros a fugir de re-

lacionamentos sérios, são também os

últimos a abrir mão deles, mesmo

quando não está mais tudo bem. Tal-

vez até uma coisa esteja relacionada

com a outra e eles digam não antes

para não ter que dizer adeus depois.

Vai ver tudo é um problema de conse-

guir escolher as palavras que não ma-

goem. Certo é que também devem exis-

tir muitas mulheres por aí sem cora-

gem, apenas esperando que eles ‘cum-

pram seu papel’. Se um não faz, o ou-

tro não paga para ver.

O psicólogo EdsonKnob entende que os

homens nãoconseguem terminarporque no passado

eles podiam viver comduas ou três mulheres,

sem ter que sepreocupar com isso

Page 27: Revista Babel n.º 5

dica demestre

Uma boa dica, ou melhor, boas dicas de leitura para osestudantes e profissionais da área de Comunicação Social

são os livros do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

Dos livros lançados no Brasil, indico dois: TemposLíquidos (Jorge Zahar Editora, 2007) e Identidade (Jorge

Zahar Editora, 2005). Existem 12 outras obras do mesmo

autor que também foram lançadas aqui no país, mas paracomeçar estes dois títulos resumem bem o pensamento do

sociólogo.

Como mencionado, Bauman é um e professor eméritode sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia e recebeu

os prêmios Amalfi (em 1989 pelo livro Modernidade e

Holocausto) e Adorno (pelo conjunto de sua obra).O interessante destes dois livros indicados está na clareza

de texto e de idéias apresentadas em relação às condições

sociológicas na qual nos encontramos hoje.O termo líquido é sistematicamente empregado por

Bauman nas suas obras e não é para menos. Através de suaexposição, ficam evidentes as condições de fluidez vividas

por nós hoje, principalmente na sociedade ocidental. No caso

de Tempos Líquidos, o autor se concentra na insegurança(principalmente nas grandes cidades) vivida hoje por todos

nós diante de um mundo que muda rapidamente e no qual a

perda de referência e segurança ajuda a constituir umaperspectiva não-sólida.

Já em Identidade, Bauman mostra como esta fluidez irá

atingir todos nós em uma sistematização do transitório quese torna uma constante. Assim, a liquidez da vida, da

sociedade, da política, da economia e de todas as perspectivas

sociais passam a ser a ordem do dia onde se torna necessáriorepensar e refletir sobre o que acontece na sociedade.

Embora não sejam obras pontuais do ponto de vista do

estudo da comunicação social, estes dois livros ajudam, emuito, para a compreensão do que acontece na sociedade na

qual estamos inseridos, contribuindo com uma apreciação

crítica de como pensamos, agimos e vivemos.Contrapondo com o pensar moderno onde a tendência

para o maniqueísmo ainda tem hoje as suas raízes fincadas, a

convergência para o pensamento líquido traz uma análiselúcida e explicativa para que se possa compreender como se

estabelece o homem pós-moderno hoje nas suas angústias,

anseios, medos, prazeres e vivências.

Tempos de fluidez

Alberto Raguenet é formado em jornalismo com mestrado em

Comunicação Social, trabalha na área publicitária há 20 anos e é

professor da Ulbra e da PUCRS.

REVISTA BABEL 27

livrou

ALBERTO RAGUENET

QUALQUER

NOTÍCIABOAç

Novos ou velhos, limpos ou sujos e de qualquer cor, elesempre estará em todos os ambientes que se possafreqüentar. Em 2008 ele completa 100 anos. Tão famosoquanto a Coca-Cola, o Converse All Star virou maniamundial. É difícil encontrar quem não tem ou nunca teveum. Em ruas, shoppings, escolas e festas, ou em qualquerlugar: sempre se acha pelo menos uma pessoa com ele no pé.O All Star nunca passa despercebido. São várias cores,modelitos, cano alto ou baixo ou o tradicional “botinha”.Ninguém sabe explicar como um tênis criado em 1908especialmente para a prática do basquete tomou conta domundo. Crianças, jovens e adultos – todos podem calçá-lo.

Quem tem, gosta, e sempre quer ter mais. (Natacha Teske)

Estilo centenário

Você acorda de madrugada para checar seu correioeletrônico? Sonha com linguagem HTML? Entra em crisequando não consegue acessar a Web? Se você respondeu“sim” a qualquer uma dessas perguntas, considere-se umviciado em internet. O uso exagerado, ou obsessivo, dainternet, pode provocar problemas psicológicos sérios aosusuários, além dos físicos já conhecidos, como tendinite(inflamação de um ou mais tendões), dores de cabeça, braçose pernas e de problemas oculares. Os efeitos colateraisresultantes do uso excessivo de computadores demoram aaparecer, e alguns afetam diretamente a saúde, comodepressão, ou transtorno obsessivo-compulsivo. (Fernanda

Rafaeli Gomes)

Use, mas não abuse!

Fanáticos por Converse All StarCom quase 160 mil membros, a

comunidade virtual noOrkut “Converse AllStar” abre espaço paraque os fanáticos (ousimples donos de All Star)discutam sobre suas preferências decores, estilos e formatos. Paramuitos, ele não é apenasum tênis, e sim uma idéiaou estilo de vida. Omodelo All Star ChuckTaylor surgiu em 1923,através de parceria com umjogador de basquete dos Estados Unidos,Charles “Chuck” Taylor. Hoje, ele já évendido em 144 países. Com seus 100anos de história, ele coloca nospés de pessoas de todo omundo originalidade,beleza e um cartão deidentificação em quem osusa: eu sou Converse All

Star. (Natacha Teske)

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