revista babel n.º 7

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REVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA ULBRA/CANOAS babel DEZEMBRO DE 2010 ANO IV NÚMERO 7 A Formatura chegou E AGORA? PÁGINA 12 PÁGINAS 8 E 9 JOVENS CONTINUAM LONGE DA POLÍTICA A TROCA DO CAMPO PELA CIDADE PÁGINAS 4 e 5 URBANIZAÇÃO SOCIEDADE

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Revista produzida pelos alunos da disciplina de Produção Jornalística II do curso de Comunicação Social/Jornalismo da Ulbra/Canoas – 2010/1: Adriana Barcelos, Airton Lemos, Cibele Avendano, Daiana Correia, Fernanda Menezes da Silva, Lucas André Albrecht, Luciana Oliveira de Azevedo, Luiz Gustavo Ferreira, Marco Bocardi, Mariani Ferreira, Roberta Padilha, Rosa Cristiane Elesbão e Thais Kasper. Fotografia Arquivo Babel e fotos de divulgação Revisão Carlos Nunes. Diretor da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Sérgio Roberto Lima Lorenz (RPMT/RS 9250) Coordenador do curso de Jornalismo Deivison Campos Professor responsável Carlos Alberto Nunes Projeto Gráfico Jorge Gallina (RPMT/RS 4043).

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REVISTA LABORATORIAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA ULBRA/CANOAS

babelDEZEMBRO DE 2010

ANO IV

NÚMERO

7

A Formatura chegou

E AGORA?PÁGINA 12

PÁGINAS 8 E 9

JOVENSCONTINUAMLONGE DAPOLÍTICA

A TROCADO CAMPO

PELACIDADE

PÁGINAS 4 e 5

URBANIZAÇÃO

SOCIEDADE

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REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010

EDITORIALEXPEDIENTE

Ver Ruy Carlos Ostermann e Alexandre Mota juntos, num con-domínio que fica ao lado de uma favela, na companhia de outrasfiguras ilustres e ilustres anônimos é algo um tanto inusitado,mas nas páginas a seguir é exatamente isso o que acontece.

Mais do que ser uma ferramenta para que estudantes deJornalismo exercitem a arte de escrever, a revista Babel trazuma visão crítica sobre assuntos não muito recorrentes den-tro da grande mídia. Isso porque é uma publicação produzidadentro de uma universidade e, como tal, propõe não só a prá-tica da teoria, mas principalmente a ampliação e difusão doconhecimento. Martinho Lutero disse que a verdade élibertadora, a verdade, nesse sentido, também é sinônimo deconhecimento. Ao adquirir, ampliar e gerar conhecimento, osujeito está livre para se tornar quem deseja ser e atuar comoum agente transformador da sociedade. E o que o mundo maisprecisa atualmente é de agentes transformadores.

A apatia política dos jovens, que é discutida numa das re-portagens a seguir, está ligada à falta de conhecimento e, conse-quentemente, de interesse pelo lugar onde moram. O conhe-cimento, então, compõe um ciclo no qual, ao ampliar-se, abran-ge mais pessoas que passam a ampliá-lo, fazendo com que elechegue a outras pessoas. O conhecimento, no final, só precisaestar em movimento. É isso o que a Babel faz: circula o conhe-cimento

“Que país é esse?”, perguntou Cazuza nos anos 80; a per-gunta continua sem uma resposta definitiva. Certamente oBrasil é um país de uma imensa diversidade cultural onde umgrande radialista é chamado de professor, um apresentadorconsiderado sensacionalista pelos críticos faz sucesso num dosestados mais politizados da federação. É o país que se pinta deverde-amarelo e canta o Hino Nacional, seguindo a legendada televisão durante uma Copa do Mundo, mas não se lembraem quem votou nas eleições passadas e não sabe em quemvotará nas próximas.

Nas próximas páginas, a pergunta não é respondida; con-tudo, nelas estão alguns elementos para se começar à respondê-la, pois cada reportagem é como uma janela onde é possívelver um pouco, e a partir daí, conhecer o todo sobre o lugaronde vivemos.

Que país é esse?

MARIANI FERREIRA

Reitor Marcos Fernando Ziemer

Vice-Reitor Valter Kuchenbecker

Pró-Reitor de

Administração Levi Schneider

Pró-Reitor de Graduação

Ricardo Prates Macedo

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-

Graduação Erwin Francisco

Tochtrop Júnior

Pró-Reitor de Extensão e

Assuntos Comunitários Ricardo

Willy Rieth Pró-Reitor Adjunto

de Graduação Pedro Antonio

Gonzàlez Hernàndez Capelão

Geral Pastor Gerhard Grasel

Coordenador de Imprensa Rosa

Ignácio Leite Diretor da área de

Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas Sérgio Roberto Lima

Lorenz (RPMT/RS 9250)

Coordenador do curso de

Jornalismo Deivison Campos

Professor responsável Carlos

Alberto Nunes Projeto Gráfico

Jorge Gallina (RPMT/RS 4043)

Revista produzida pelos alunos

da disciplina de Produção

Jornalística II – 2010/1

Adriana Barcelos, Airton Lemos,

Cibele Avendano, Daiana

Correia, Fernanda Menezes da

Silva, Lucas André Albrecht,

Luciana Oliveira de Azevedo,

Luiz Gustavo Ferreira, Marco

Bocardi, Mariani Ferreira,

Roberta Padilha, Rosa Cristiane

Elesbão e Thais Kasper

Fotografia Arquivo Babel e fotos

de divulgação Revisão Carlos

Nunes.

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ÍNDICEENTREVISTAS

Página 16

Futebol nãoFutebol nãoFutebol nãoFutebol nãoFutebol nãoé coisaé coisaé coisaé coisaé coisade mulher?de mulher?de mulher?de mulher?de mulher?

Página 6

VVVVVila Fila Fila Fila Fila Fiiiiigueirinhagueirinhagueirinhagueirinhagueirinha

conconconconconvivivivivivvvvve come come come come com

o luxo luxo luxo luxo luxo ao ladoo ao ladoo ao ladoo ao ladoo ao lado

Cézar Busatto/ Página 10

Luciano Lopes/ Página 14

Marcos Fernando Ziemer/ Página 20

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..... MARIANI FERREIRA

Quando Dionísio Ferreira acordou na-quela manhã de domingo, não estava maisno interior do Paraná. Após dez horas de vi-agem, ele passava pela marginal Pinheiros.O que mais o impressionou na primeira vi-são de São Paulo não foram os prédios, masos carros. Era 1961, o Brasil passava por umprocesso de urbanização acelerado estimu-lado pelo desenvolvimento da indústria.

Desde aquela época, segundo dados doInstituo Brasileiro de Geografia e Estatísti-ca (IBGE), mais da metade da população bra-sileira trocou o campo pela cidade, fazendocom que o índice de urbanização passassede 30% em 1940, para 84,6% em 2005. Deacordo com recente pesquisa da Organiza-ção das Nações Unidas, em 2050 237 mi-lhões de brasileiros viverão em cidades e ape-nas 16 milhões no campo. Conforme o soció-logo Ivaldo Gehlen, doutor na área pela Uni-versidade de Paris e professor da Ufrgs,

A saga debrasileiros que

trocaram o campopela cidade e são

estranhos nopróprio país

Estrangeirono próprio país

o êxodo rural no Brasil não é tão grande atu-almente como em outros períodos, mas é umfenômeno perene.

Gehlen explica que até a década de 70,os jovens eram os que mais saíam do cam-po. Hoje, são famílias inteiras. É o caso dolíder comunitário César Silveira que saiu deQuarai no interior do Estado e foi morar emPorto Alegre em 1993, e fez questão de tra-zer a esposa e os quatro filhos. “Conseguiconcluir meus estudos muito tarde, porqueno interior é mais difícil, então quando vimpara Porto Alegre buscando melhores opor-tunidades, trouxe meus filhos para que elestambém tivessem acesso a elas”, afirma.

Todos os dias, milhões de migrantes che-gam às grandes cidades em busca de umavida melhor. Segundo a ONU, em 2030, cer-ca de 4 bilhões de pessoas, ou seja, 80% dapopulação mundial, viverá em cidades. Omundo nunca assistiu a uma urbanizaçãotão rápida, e muito menos a um aumentotão vertiginoso, em termos absolutos, do

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número de pessoas migrantes. Ambos os fe-nômenos, as migrações e o crescimento ur-bano, estão intimamente ligados, sobretu-do pelo fato de as pessoas se deslocarem atra-ídas pelo brilho das luzes da cidade.

Praticamente em toda a parte, as cidadessão lugares de destino daqueles que fogemda pobreza, conflitos, violações de direitoshumanos ou dos que procuram simplesmen-te uma vida melhor. Grandes cidades comoSão Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre têmdificuldade em acolher novos migrantes,quando muitos dos seus habitantes, de lon-ga data, já vivem em condições precárias.Gehlen discorda, ele diz que no Rio Grandedo Sul o êxodo rural não é responsável peloaumento de pessoas vivendo em condiçõesprecárias nas grandes cidades, porque o ho-mem do campo é um profissional valoriza-do no mercado de trabalho devido ao seutemperamento e disciplina. César Silveiraconta que já possuía experiência profissio-nal na construção civil, quando chegou emPorto Alegre e, por isso, foi relativamentefácil conseguir uma colocação profissional.Ele acrescenta, no entanto, que conhecemuitas pessoas que ficarão desempregadase hoje vivem numa situação muito difícil.

Gehlen admite que a mecanização docampo diminuirá o mercado de trabalho ru-ral e fará com que muitos trabalhadores dointerior busquem novas oportunidades nacidade. A ONU alerta que se não houver pla-nejamento para receber essas pessoas, a si-tuação será desastrosa. Segundo a pesqui-sa intitulada “Perspectivas para a Urbani-zação no Mundo”, se nada for feito, em2030 cerca de 2,6 bilhões de pessoas vive-rão em favelas.

César e Dionísio têm sorte, os dois fa-zem parte da nova classe média brasilei-ra e conseguiram fugir dos índices demiserabilidade que afligem os migrantes.Pelo menos os dois sofrem apenas com asaudade do campo; o líder comunitáriolembra que conta os dias para a chegadado 20 de setembro, quando no acampa-mento farroupilha pode reviver sua épo-ca de estância. Dionísio também recordade cada detalhe da infância no campo,mesmo tendo passado mais de 50 anos daépoca em que subia em árvores, tomavabanho de rio e corria descalço. Para osdois sobram hoje a nostalgia e a saudadeda terra distante e o estranhamento nolugar em que, por mais tempo que pas-sem, nunca deixarão de ser estrangeiros.

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..... FERNANDA MENEZES DA SILVA

Nada pode ser mais clichê para um títulode uma matéria que retrata a desigualdadesocial do que o lixo do luxo, mas é literal-mente o que acontece no Litoral Norte, naEstrada do Mar, no acesso à praia deAtlântida. De um lado da RS 389 podem-seavistar condomínios luxuosos, com mansõesdignas de cinema, utilizadas apenas paralazer nas férias e finais de semana, enquan-to do outro lado da estrada, na Vila Figuei-rinha, vivem pessoas em condiçõessubumanas, sem serviços básicos comoágua, luz e saneamento. O contraste é cho-cante e cruel.

A crescente desigualdade social do Brasilé um problema antigo, pode-se dizer quedesde os tempos da escravidão o país sofrecom os contrastes extremos, onde os ricosficam cada vez mais ricos e os pobres cadavez mais pobres. O governo apresenta, nateoria, programas de assistência para as pes-soas mais necessitadas, mas nenhum proje-to para distribuir a renda de forma mais jus-

As gravesdiferenças sociais

que o paísapresenta estãoestampadas nocontraste entre

favelas econdomínios

de luxo

O lixo do luxo

ta é posto em prática. Bolsa Família e pro-gramas similares podem até ajudar no sus-tento de uma família, mas não está resolven-do o sério problema social de desigualdadeque ela enfrenta diariamente, onde muitaspessoas estão sendo consideradas o lixo deuma sociedade de luxo. A diferença da reali-dade na Estrada do Mar, no litoral norte doEstado, é apenas um dos exemplos de desi-gualdade, entre os contrates chocantes doBrasil.

Maria Dias, 49 anos, mora do lado daEstrada do Mar menos favorecido, mas tra-balha como faxineira contratada das zelado-rias dos condomínios de luxo. Morando emuma casa de madeira construída com entu-lhos de obra, com apenas três cômodos, semenergia elétrica nem água potável, donaMaria dorme vislumbrando as casas que elachama de palacetes e conta que seus filhos enetos brincam escolhendo a casa em que elesirão morar quando se tornarem adultos.“Um dia minha filha perguntou a um demeus netos, qual era seu sonho, e ele disseque era morar ali na frente (referindo-se ao

Aglomerados demoradores sem condições

mínimas têm aumentadona região litorânea

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condomínio do outro lado da estrada) e nóscomeçamos a rir da sua inocência, sabendoque será quase impossível realizar esse so-nho, pois com nossos salários, uma casa da-quelas só se a gente ganhasse ‘loto’”, brinca.Enquanto a renda da família de Dona Mariaé de R$ 800 reais para sustentar sete pesso-as, as casas mais modestas dos condomíni-os estão avaliadas em aproximadamente R$2 milhões de reais (conforme levantamentodas imobiliárias locais). A família Dias po-deria comprar uma casa no condomínio seeconomizasse sua renda por 208 anos e nãotivesse despesas com alimentação, vestuá-rio e remédios.

A Vila Figueirinha se formou na beirada estrada há mais de 15 anos, e desde en-tão sua população cresce a cada dia, massuas necessidades parecem que foram es-quecidas. É visível o lixo acumulado nomeio da rua, o esgoto a céu aberto e as pés-simas condições de habitação dos morado-res. Luz elétrica e água potável para a pri-meira rua da Vila são coisas inexistentes, efurtos de energia são comuns. Incêndios sãofrequentes nos “barracos”, destruindo opouco que os moradores adquiriram. Inun-dações e alagamentos viraram rotina emdias de chuva. Roedores estão por toda aparte.

Dona Maria diz que a vila se tornouinexistente para os políticos, que só apare-cem por lá em época de eleições, e que asações de solidariedade acontecem esporadi-camente, às vezes por zeladores dos condo-mínios, que entregam alimentos e roupasarrecadados entre os “vizinhos ricos queabriram os olhos e enxergaram outra reali-dade atrás dos muros altos. E explica: “Àsvezes achamos que não existimos, que des-de que esses condomínios se estabeleceramaqui, as pessoas só têm olhos para as belasmansões e os belos jardins, e olhar para nóscausa tristeza, então é melhor fechar osolhos”.

O sargento Odilon Bastos , do posto daPolícia Rodoviária da RS 389, localizado aolado da Vila Figueirinha, diz que uma partedo bairro começou a se tornar vila há unsdez anos, quando as obras dos condomíniosiniciaram e as invasões dos trabalhadoresdas obras ocorreram de forma instantânea.O sargento ainda relata que o bairro é nor-mal, como muitos outros, mas se diferencioue chamou a atenção grosseiramente por con-

trastar visivelmente com um luxo anormalpara a maioria das pessoas. “Parece que aspessoas que moram do outro lado vivem emum outro país, um outro mundo, onde apopulação do bairro Figueirinha não exis-te”, salienta.

A pedagoga Andréia Neto, pós-gradu-ada em psicopedagogia institucional, dizque a desigualdade social no litoral nor-te tem chamado a atenção das pessoas,e esse problema da região, descoberto re-centemente pela sociedade, pode serconsiderado um problema cultural. “Aspessoas que estão vivendo abaixo da li-nha da miséria estão cultural e politica-mente adaptados, pois elas se acomoda-ram a receber auxílio do governo e dei-xaram de buscar melhores condições devida. Em contrapartida, o governo fe-chou os olhos para essa parte da popu-lação e deixou de proporcionar a infra-estrutura necessária para a habitaçãodesses seres humanos, que devem serrespeitados tanto quantos os moradoresdos condomínios”.

Enquanto políticas governamentais epromessas para a Vila Figueirinha são ape-nas discutidas, milhares de pessoas conti-nuarão a reparar no enorme contraste quemarca a Estrada do Mar na entrada da praiade Atlântida, e o assunto se estenderá, con-tinuando o neto de Dona Maria a ser ape-nas um menino sonhador que faz parte dolixo que contrasta com o luxo.

Maria Dias conta queos moradores da vilaFigueirinha se tornaraminexistentes paraa sociedade

Mansões luxuosaslocalizadas no litoralparecem pertencer aoutro país

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..... DAIANA CORREIA

Aristóteles escreveu que “o fim da po-lítica será o bem supremo do homem”. Aideia de que os gregos tinham da liber-dade os levava a esta dignificação da ati-vidade política. Para eles, o ser humanolivre era o que participava ativamentedos assuntos da cidade e a cidade livreera aquela que não estava submetida anenhuma outra. Por isso, é tão importan-te que o jovem resgate esse vínculo coma política, pois ela é, e sempre foi, o ali-cerce da sociedade.

Quando, ao acordar pela manhã, o ci-dadão dá seu primeiro passo para a rua epercebe um buraco, já está fazendo polí-

Partidospreocupam-se como afastamento dos

jovens e tentamresgatar seu

interesse pelapolítica

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tica. O cidadão paga seus impostos parater uma rua limpa e em perfeitas condi-ções para exercer seu direito de ir e vir.Mas antes disso, acorda e deseja um caféda manhã com frutas e pães. E ao com-prar o seu pão, está fazendo política tam-bém, pois elegeu determinado candida-to para representá-lo e foi esse políticoquem decidiu o aumento do imposto econsequentemente o preço da farinha.Por isso, comprar pão também é fazerpolítica. Mas tudo isso começa na juven-tude, quando os primeiros passos na par-ticipação da política, primeiro local, sãoimportantíssimos.

A necessidade que os políticos têm detrazer de volta os jovens para dentro da

Jovens e distantesda política

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política é de suma importância para o ve-reador e presidente municipal do PT,Adeli Sell, pois ele acredita que com opassar dos anos o jovem vem se afastan-do dos interesses políticos. E afirma quepara haver um resgate é necessário umabusca diferente e impactante junto aosjovens. “Distribuir panfletos nas portasde faculdade não é uma boa. Acredito quedevemos inovar, do ponto de vista da pu-blicidade e da campanha. Seria muitomais interessante pegar uma faixa de 100metros com três frases de efeito e colocá-la na Av. Ipiranga (Porto Alegre)”, afir-ma. Para ele, essa atitude valeria muitomais do que distribuir panfletos, mesmoem grande quantidade. “Todos sabemosque a maioria joga esse material fora emuitas vezes nem lê”, desabafa.

Estar atento no que move a sociedadee interagir com a política local é a direçãode que o jovem necessita para poder en-tender as grandes decisões que ocorrem nasociedade. Mas nem todo jovem tem omesmo pensamento, alguns acreditamque a política brasileira já está desmorali-zada há muito tempo, como afirma o eco-nomista Fábio Peixoto, de 28 anos: “Nomeu ponto de vista o poder corrompe aspessoas; assim, mesmo que uma pessoaseja honesta, para que ela alcance o po-der, ela terá, obrigatoriamente, que sercorrompida.”

Porém há os que acreditam e aindaconfiam na política brasileira, como é ocaso da funcionária pública Melody

Claire, de 25 anos: “Acho importante ojovem se interessar e estar por dentro dapolítica. Para mim, serve como um nor-te de avaliação. E acredito que para aque-les que não gostam de política, a internetfacilita o acompanhamento e entendi-mento sobre o assunto para trazer devolta essa atividade tão importante paraos brasileiros”.

O resgate dos jovens para que voltem ase interessar pela política tem chamado aatenção de todos e principalmente daque-les que já estão ocupando algum cargo po-lítico. Os números apontam que a cada anoque passa esse interesse e participação dojovem tende a diminuir. “A cada nova elei-ção o partido percebe a necessidade de bus-car esses jovens. Mas, para sua rebeldia na-tural, que faz parte da idade, a política bra-sileira já está desmoralizada”, diz MarioManfro, presidente municipal do PSDB.

A liberdade de expressão sempre foiapontada como uma das grandes carac-terísticas e base de um regime democrá-tico. E é pensando e focando nessa liber-dade que os partidos querem que o jo-vem se inspire e volte a participar. “Hámuito tempo não se veem grandes ma-nifestações políticas como os ‘caras pin-tadas’ (referindo-se ao movimento estu-dantil de 1992, em que os jovens pinta-vam o rosto de verde e amarelo para pro-testar contra o então presidente Fernan-do Collor de Mello). O jovem precisaaprender a valorizar o seu direito de semanifestar”, completa Manfro.

Mario ManfroAdeli Sell

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“O modelo de financiamento decampanhas políticas está falido”

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Cézar Busatto, 56 anos,economista, tem mais de 40anos de militância política.Começou no movimentoestudantil nos anos 60, e noinício dos anos 70 ingressouna política partidária. Nosúltimos dez anos, dedicou-se a promover o paradigmada responsabilidade socialcomo compromisso detodas as pessoas,instituições, empresas epoder público em todos osníveis. Desse aprendizado,originou-se o conceito degovernança solidária local.Essas inovações políticasestão sendoexperimentadas desde2005 em Porto Alegre eorientaram seu trabalhocomo coordenador geral daConferência Mundial sobreo Desenvolvimento deCidades, que se realizouem fevereiro de 2008 nacapital dos gaúchos.Atualmente é o secretáriode Governança daprefeitura de Porto Alegre.

A eleição de 2010 para a presidência da Re-pública será a primeira, desde o início do re-torno da democracia no Brasil, sem a presen-ça de Lula como candidato. Como o Sr. avaliaeste quadro?Bem, eu acho que nós vamos ter uma eleiçãocompletamente nova, nas últimas duas elei-ções o presidente Lula se elegeu com um ex-pressivo número de votos. A situação comum novo quadro político sem a presença delecomo candidato abre uma perspectiva bas-tante incerta para o destino das eleições. Euacho que quem ganhar as eleições será comuma margem muito apertada de votos.

A eleição de 2010 pode ser considerada histó-rica no país, sendo Dilma a primeira mulher

A eleição de 2010 para a presidênciada República será a primeira, desdeo início do retorno da democracia noBrasil, sem a presença de Lula comocandidato. Como o Sr. avalia este qua-dro?Bem, eu acho que nós vamos teruma eleição completamente nova,nas últimas duas eleições o presi-dente Lula se elegeu com um ex-pressivo número de votos. A situ-ação com um novo quadro políti-co sem a presença dele como can-didato abre uma perspectiva bas-tante incerta para o destino daseleições. Eu acho que quem ganharas eleições será com uma margemmuito apertada de votos.

A eleição de 2010 pode ser considera-da histórica no país, sendo Dilma a pri-meira mulher com chances de ganharuma eleição presidencial?Eu creio que sim, creio que nósestamos também vivendo no Bra-sil aquilo que já ocorre em outrasnações do mundo, na Argentina, noChile, como também na Europa,onde o fato de uma mulher presi-dir um país já não é uma novidade.

O Sr. acompanhou de perto as eleiçõesnos EUA, considerada uma eleição his-tórica. O que o Sr. trouxe de positivodesta experiência?O que eu trouxe de mais positivofoi a força de inovação, de renova-

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ção da democracia norte-america-na, depois da experiência triste eextremamente negativa para osEUA por conta do governo Bush.Obama é um homem que veio deuma experiência de trabalho co-munitário nas regiões pobres deChicago, despertou novamente osonho americano e a expectativadas pessoas, sobretudo de classemais pobre, de ascender social-mente. Eu acho que representa omais positivo e o mais interessan-te dessa nova alternativa históri-ca, desse momento novo que osEUA vivem.

Com o resultado das eleições que leva-ram um negro à Presidência num dospaíses considerados mais racistas domundo, a humanidade pode estar cami-nhando para uma evolução na questãodo preconceito racial?Não tenho nenhuma dúvida.Obama é um candidato pós-raci-al, o discurso dele é um discursouniversal em favor da inclusão so-cial dos direitos humanos, das po-pulações mais empobrecidas. Elenão faz um discurso em favor deuma raça, ele faz um discurso emfavor de um país e do resgate dadignidade das populações menosprotegidas, da incorporação aoprocesso político das mulheres,dos jovens, dos imigrantes, já queestavam bastante desanimados ebastante distanciados da política.Ele faz um discurso de mudançasocial e de melhoria da nação ame-ricana, independente de classe, dereligião, de raça, ou de qualquerpreferência sexual.

As estratégias em relação à mídia ele-trônica que Obama utilizou contribuí-ram para que ele chegasse a este resul-tado?Eu não tenho dúvida de que o quefoi fundamental, foi a liderança deObama, o seu carisma, a sua coe-rência, a sua história e o seu poderde comunicação. Sem isso as redesnão teriam sido tocadas, não teri-am sido sensibilizadas. As redessociais já existiam, voltadas parasuas finalidades específicas, mas

através deste carisma e dessa lide-rança de Obama, ele realizou co-nexão com as redes de todos os ti-pos. Ele foi capaz de sensibilizá-lase finalmente unificá-las em mi-lhões e milhões de voluntários so-ciais, que viabilizaram a campanhae produziram a vitória.

A liberação do uso da internet para acampanha de 2010 demonstra queestamos avançando em relação a umacampanha eleitoral. Com o uso daInternet, os candidatos podem atrairmais os jovens, que são os que mais do-minam esta mídia eletrônica?Nós aqui ainda não usamos as re-des sociais com finalidade de cida-dania e de transformação social,mas acho que vamos evoluir paraisso cada vez mais, colocando ainternet a serviço da cidadania, dodesenvolvimento, coisa que aindafazemos pouco Eu creio tambémque é muito perigoso o uso das re-des pelos políticos de uma formainstrumental, quem quiser usar asredes instrumentalmente para seeleger, vai se quebrar, vai quebrara cara, porque as redes são autô-nomas, são soberanas, as pessoassão inteligentes e ninguém aceita

ser teleguiado, ser patrulhado ouser conduzido.

Como o Sr. svalia o atual sistema utili-zado na política brasileira, em que oscandidatos buscam recursos na inicia-tiva privada para suas campanhas? Issonão compromete a imparcialidade dosgovernantes?Com certeza eu tenho me batidocontra isso. Eu acho que esse fi-nanciamento de campanhas talcomo fazemos hoje, esse modeloestá falido, dá margem à cor-rupção. Aqui se discute financia-mento público de campanha, eucito financiamento pelo governo.Nos EUA se discute financiamen-to público, mas financiamento pelasociedade, público no sentido depovo, o povo financiando seus pró-prios candidatos, as pessoas esco-lhendo em quem vão votar e paraquem vão pagar, dar dinheiro parase eleger. Eu acho que isso é mui-to mais democrático, mais ético.Aqui no Brasil vamos começar esteano, também nesta direção, abrin-do a possibilidade de contribuiçõespor internet, mas eu creio que estaexperiência das redes a serviço decausas ainda é muito frágil no País.

Nós estamos também vivendo no Brasil aquilo que já ocorre

em outras nações do mundo, onde o fato de uma mulher

presidir um país já não é uma novidade.

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A Formatura chegou. E agora?

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..... LUCIANA OLIVEIRA DE AZEVEDO

Às vésperas de se formar, muitos alunosencontram-se em apuros: além de trabalhar,ainda contam com os desafios das discipli-nas de Estágio, a preparação para a forma-tura e o mais temido de todos: o desenvolvi-mento do artigo científico como trabalho deconclusão do curso. A rotina do fim da fa-culdade é um pouco tensa, pois o aluno asente como algo que está terminando, e to-dos a sua volta a expressam como um novo

começo.No curso de Comunicação Social da

ULBRA, Thais Kasper, 28 anos, aindaacumula mais uma tarefa: integrar a co-missão de formatura da sua turma.Thais e mais 26 colegas irão formar-se em agosto e em março iniciaram arotina do último semestre de facul-dade. O que a Thais tem de diferen-te da rotina dos outros alunos?Durante a semana de trabalhos eestudos, a acadêmica tem queachar um tempinho para visitarprodutoras de eventos, gráfi-cas e fotógrafos para realizaruma série de orçamentos.preocupada em encontrar osmelhores serviços combons preços.

Thais argumenta:“Uma dificuldade em

tomar as decisões,pois não é fácil agra-

dar a todos”; ela eo restante da co-

missão de formaturaestão só no começo dotrabalho, pois após a es-

colha da produtora, elesdevem agendar as provas detoga dos concluintes, as fo-tos para convites, sempresem perder os prazos.

A função da comissãode formatura envolve con-ferir as fotos, pedir aos

colegas que escolham uma foto da sessãopara ser impressa no convite, solicitar aoscolegas que entreguem um CD com a trilhasonora que desejam ouvir no momento deserem chamados, conferir esses CDs,entregá-los à produtora que deve preparar aordem de entrada dos alunos no dia da for-matura. Depois disso, vem o compromissocom a Universidade de entregar os convi-tes, a fim de que sejam providenciadas asdocumentações necessárias e para a impres-são do certificado de conclusão.

A comissão de formatura também se en-carrega de organizar uma votação com to-dos os formandos para a escolha dos home-nageados, e juntamente com a produtoracontratada, realizam uma “invasão”, quesignifica entrar na sala de aula do professorescolhido e, fazendo muito barulho, obrigá-lo a vestir um chapéu e uma fantasia e des-filar com uma faixa, mostrando o seu título,“Nesse dia esquecemos toda a pressão, poisver a alegria das pessoas é a melhor coisa.O nosso paraninfo, professor Deivison Cam-pos, que também é o coordenador do cursode Jornalismo, desfilou pelos corredores daUniversidade de peruca, faixa e óculos co-loridos, exibindo sua satisfação com o con-vite. Isso deixou a turma toda muitoempolgada e satisfeita com a escolha”,enfatiza Thais

Mas, voltando o foco para o trabalho, acomissão ainda precisa pensar na organiza-ção de festas para arrecadar fundos, na rea-lização de um baile, tem que providenciarbuffet, salão, som e telão.

Thais, paralelamente a todas essas fun-ções, ainda tem muitos desafios, como aapresentação final do seu artigo científico erealização das provas das disciplinas em queestá matriculada. Ela também encontra for-ças nos braços de Marina, a filhinha de cin-co anos que a acompanha no máximo de ati-vidades que pode. Thais espera conseguirvencer esta etapa da vida com sucesso: “Umcomeço, tenho toda uma vida profissionalpela frente e estou me esforçando muito paraque tudo dê certo”, finaliza.

O desgaste daformatura acaba

sendocompensado pela

satisfação pessoalde adquirir uma

profissão

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Na foto, Terezinha, IvonePacheco, Iara e Dacanal

Aula de culturacom Ruy Carlos Ostermann

..... MARCO BOCARDI e ROBERTA PADILHA

Ao chegar à frente do número 698 da ruaJosé do Patrocínio em Porto Alegre, as pessoasse deparam com um prédio histórico, o StudioClio, onde quinzenalmente acontecem os En-contros com o Professor. Construído no inícioda década de 1920 e totalmente reformado, oespaço continua oferecendo o mesmo requinteda época. Recepcionados com uma taça de vi-nho e envoltos num ambiente com iluminaçãosuave que lembra luz de velas, os convidadoscomeçam a entrar no clima para o início da aula.

A plateia é bem diversificada: estão presen-tes estudantes, professores, autoridades, homense mulheres de diferentes classes sociais com umúnico interesse, a busca por diferentes manifes-tações culturais. Terezinha Correa, frequenta-dora assídua dos Encontros com o Professor, ePaulo Eomczyk, marinheiro de primeira viagem,são exemplos de que o bate-papo do jornalista eprofessor Ruy Carlos Ostermann com seus con-vidados desperta o interesse do público de di-versas formas. Além do interesse pelos temasabordados, os encontros proporcionam uma reu-nião com um grupo de amigos, como salientaTerezinha:

“Depois a gente sai para jantar, fica discu-tindo o que ouviu aqui, pois geram muitos as-suntos. (...) O que o ser humano mais gosta defazer é trocar ideias”.

Já para Paulo, a experiência foi consequênciade uma reportagem vista em um programa detelevisão:

“Eu não conhecia, mas depois de hoje sem-pre vou verificar a programação”, comenta.

Os dois participantes demonstram exata-mente a intenção dessa reunião cultural, queé facilitar a aproximação dos diferentes pú-blicos com distintos interesses e ajudar a co-nhecer ou a se aprofundar em temas até en-tão privilégio de pessoas que normalmentecirculam em espaços restritos e elitizados.Ostermann cita que um dos vários pontos al-tos dos encontros aconteceu quando o convi-dado foi o doutor em Literatura JoséHildebrando Dacanal e, que é um dos inte-lectuais mais bem formados:

Os encontrosproporcionam umareunião com umgrupo de amigos

“Possui muita informação, experiência econsolidação de fatos, investindo contra a reali-dade aparente, considerado um dos últimos po-lêmicos”, enaltece Ostermam.

Da primeira frase que Dacanal proferiu atéo findar da conversa, ele sempre instigou a pla-téia a pensar em quebras de paradigmas, usan-do frases como “jornalismo sério, publicismosério é história on line, conhecimento é poder”“Marx enganou Jesus e Lula enganou os dois”.E para fechar a noite uma canja musical com agrande dama do jazz, dona Ivone Pacheco, quefez todos flutuarem enquanto deslizava seusdedos sobre o piano.

Este projeto é um dos vários exemplos de cul-tura gratuita na cidade de Porto Alegre, outrasiniciativas como os concertos comunitáriosZaffari, projeto que este ano completa 23 anos, jáfez mais de 200 apresentações por todo o RioGrande do Sul. Outro exemplo é o Usina na Pra-ça. Esse projeto ocorre todo o domingo até o fi-nal do ano. São apresentados shows musicais, deteatro, circo, dança e poesia. Todas as apresenta-ções acontecem na praça que fica ao lado da Usi-na do Gasômetro e sempre com entrada franca.

A capital gaúcha contempla a todos com asmais variadas opções de cultura, seja com o re-quinte de uma ambientação do inicio do séculopassado ou simplesmente com um poema ao arlivre.

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“Vou para a Copa,mas não vou jogar”

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Luciano Lopes éum dos

apresentadores doPatrola, programa

da RBSTV.Também integra oprograma Pretinho

Básico, da rádioAtlântida FM.Confira nesta

entrevista, feita porAdriana Barcellos,um pouco mais da

sua trajetória.

Como começaste tua carreira na tv, no GrupoRBS?Comecei com um estágio na Rádio Gaúcha, em2000. Depois do estágio, amarguei um desem-prego de cinco meses e, após isso, a entrada naAtlântida no final de 2002.

Antes da “fama” o que tu fazias?Fama é bom... Antes de trabalhar no que faço hoje,apenas estudei. Meu primeiro emprego é, tam-bém, meu atual.

Como tu lidas com o assédio das fãs?O assédio é normal. Nada demais. E é legal lidarcom isso quando ocorre, mas minha vida é abso-lutamente normal.

Como tu consegues conciliar o programaPatrola, que é de TV, com o Pretinho Básico,de rádio?

Na verdade, se organizar bem a semana, dá parafazer tudo numa boa. Sem problemas. Consigolidar bem com isso, sem maior estresse.

Se tu não fosses apresentador, o que serias?Jogador de futebol. Sempre guardei esse sonho.

Qual a dica que tu dás para quem quer seguiro teu exemplo na carreira?Mirar, trabalhar sério. O resto é consequência.Fama, dinheiro, mulheres, festas, bebidas, via-gens, tudo isso, se acontecer, rola naturalmente...

Fala um pouco sobre a tua rotina diária.Acordo tarde. Durmo tarde. No meio disso, tra-balho. rádio, TV e internet.

Ao longo desses anos de carreira, o que mais temarcou? Teve alguma entrevista inesquecívelcom algum ídolo ou personalidade?Uma entrevista com Mano Brown, dos Racionais,uma das figuras mais difíceis de se entrevistarnesse mundo artístico brasileiro.

De onde veio o apelido “Potter”?Luciano Cardoso, ex-colega da área de eventosda Atlântida, me achou parecido com o HarryPotter. Eu usava óculos e não gostei do apelido,mas acabou pegando.

Tu és natural de onde? Conta um pouco da tuahistória.Na verdade, nasci em território uruguaio, Rivera.Meu pai era funcionário do Banco do Brasil. Mo-ramos na Bahia, em Goiás, Canguçu e Alegrete.No Alegrete me formei no segundo grau. Fiz cur-sinho (pré-vestibular) em Santa Maria e voltei àcapital para estudar Jornalismo e Ciências Soci-ais. O primeiro curso acabei. O segundo interrom-pi por causa do estágio na Rádio Gaúcha.

Como surgiu o convite de ir para a primeiraCopa de 2010? É a primeira vez? Quais tuasexpectativas?Primeira Copa. Sonho realizado. Quem decidiuminha ida foi um grupo de pessoas da RBS. Nãopedi: fui convocado. E hoje, babo de felicidade!Que seja lindo!

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Doce nostalgianas tardes de domingo..... CIBELE AVENDANO

As pipas voando nos céus, os carrinhos com seusvendedores felizes, vendendo churros, algodão doce,pipoca e outras guloseimas. O vento faz com que osdiversos cheiros se misturem, parecendo uma dançacadenciada que envolve todos os sentidos, o doce en-canto de sentar na grama e ficar curtindo o sol irembora de mansinho e a brisa fresca de final de tar-de a se aproximar, fazendo um agradável movimentoquase que em sintonia com o rio. É assim que grandeparte da população porto-alegrense, que vive no cen-tro da cidade, aproveita as tardes de domingo.

Os moradores que vivem nos arredores da Usi-na do Gasômetro e que durante a semana estãoacostumados a uma vida quase de cidade do inte-rior, onde até mesmo os latidos dos cães se podemouvir, abrem exceções nos sábados e domingos,quando as ruas são tomadas por um movimentofrenético de pessoas que descem as ladeiras, prin-cipalmente das ruas Demétrio Ribeiro e Duque deCaxias, com suas cuias e térmicas em punho. Nãoexiste faixa etária específica, são idosos, criançasacompanhadas de seus pais, jovens de bicicleta,todos com apenas um intuito: aproveitar a tardede sol.

Na beira do rio os olhinhos das crianças quase supli-cam para que as deixem tocar a água, mas os pais fazemmenções negativas em virtude da poluição. Para eles pou-co importa se a água não é potável, o importante é tocar aágua que toca na pedra. Para muitos, prestar atenção nosdetalhes é o que faz com que a magia perdure no ar. Ad-mirar a paisagem sempre vale a pena.

Não se pode esquecer daqueles que vão munidos deviolão e ficam ali, muitas vezes sozinhos, tocando músi-cas que fazem lembrar talvez uma antiga namorada.Existem também os que cultuam o corpo e caminhamde um lado para o outro, mas, de todos os grupos, osque mais chamam a atenção são aqueles que ficam re-costados nos degraus da escadaria com um livro na mão,esperando o pôr-do-sol. Esses carregam os livros ape-nas para fazer com que as meninas não notem os furti-vos olhares. Os que se utilizam dessa prática para sedar bem, afirmam que a tática dá certo, pois algumasmeninas até vêm perguntar sobre o conteúdo do livro;a dica é realmente ler para poder ter assunto.

A tarde vai findando, as pessoas olham para seus reló-gios e ficam à espera do espetáculo da natureza, mesmopara quem mora no Gasômetro, esse momento nunca setorna rotineiro, todos querem um cantinho para poder apre-ciar a bela hora em que o sol tocará as águas do rio e farádaquele lugar um cenário especial.

lCRÔNICA

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Futebol não é coisa de mulher?

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. LUIZ GUSTAVO FERREIRA

Quem chega hoje ao “planetabola” fica espantado que alguémpossa pensar dessa forma. Em pleno2010, ano de Copa do Mundo naÁfrica, ainda tem quem sustenta opreconceito. Logo agora em plenoséculo 21 e na África, símbolo daluta contra a ideia de diferença quediminui, afasta e separa. O fato éque muitos afirmam que futebol nãoé objeto de estudo do público femi-nino.

Figuras que insistem em definir amulher como “sexo frágil” ficam seperguntando se é possível ver umamulher como dirigente, juiz, repór-ter e até mesmo jogadora de futebol.O Brasil dá exemplo com a melhorjogadora do mundo, a meio-campoda Seleção nacional, Marta. E o quedizer de recém eleita presidente doclube com a maior torcida do Brasil,o Flamengo, comandado agora pelaex-nadadora Patrícia Amorim? Naarbitragem, terreno sempre polêmi-co, há profissionais como a ex-bandeirinha e atual comentarista dearbitragem Ana Paula Oliveira.

No jornalismo esportivo doEstado, uma das pioneiras na repor-tagem nos estádios de futebol é ajornalista e estudante de PsicologiaDébora de Oliveira, que esbanjaconfiança na carreira e experiência.Aos 30 anos de idade e 14 de pro-fissão, a repórter da RBSTV provaque futebol é coisa de mulher sim, eque cada vez mais elas estarãopresentes na “área” em todos ossentidos.

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Doce nostalgianas tardes dedomingo

Quando surgiu teu interesse pelo jorna-lismo esportivo?

Surgiu quando eu era criança. Sou filhaúnica e meu pai, que jogava futebol emNovo Hamburgo, me levava para os jogos.Também sempre adorei esportes. Eu fiz gi-nástica olímpica, vôlei e também acompa-nhava os jogos da já extinta equipe de vôleiFrangosul. O que eu queria era estar pró-xima ao esporte, nunca pensei em fazerJornalismo. Quando pequena ganhei ummicrofone da Xuxa e brincava de ler tex-tos. Um dia ganhei um microfone de ver-dade e comecei a plugar no rádio para leras matérias dos jornais e a vizinhança in-teira ouvindo (risos). Daí comecei a gostardessa área, mas o negócio era estar pertodo esporte, do futebol, no caso.

Teu pai foi jogador de futebol, não é? Emque posição ele jogava?

Leonel, ele era centro-médio, agora afunção mudou de nome (risos), mas eracentro-médio. Ele jogou pelo Novo Ham-burgo e também na “várzea”, teve até pro-posta do Atlético Mineiro, mas meu avô nãoincentivava muito.

Futebol sempre foi teu foco profissional,ou existe outro esporte ou área no jorna-lismo que te interessa?

Nenhuma outra área. Na verdade eugosto de futebol. Eu faço outros esportes,o vôlei, por exemplo, eu gosto. Os outrosnem tanto. Mas eu não me imagino fazen-do política, policia ou comportamento. Euaté faço. Às vezes precisamos trabalharoutras áreas. Mas eu comecei não porquequeria ser jornalista. Eu fui porque queriatrabalhar com o futebol.

Qual é a tua opinião sobre a frase: “Fu-tebol não é coisa de mulher”?

O jogador Souza, do Grêmio, disseno ano passado que futebol não é coisa de“mulherzinha”. Às vezes quando estou nachuva, suja de barro ou num domingo quepasso o dia viajando pelo interior do Es-tado, eu penso que futebol não é coisa demulher (risos). Mesmo assim jamais voudeixar esta frase ser levada em considera-ção. Independente de ser homem ou mu-lher, tu és jornalista e todos buscam serrespeitados. Desde os 17 anos, quando co-mecei, sempre tive que provar minha com-petência. Tenho a mesma escala de horá-rios e funções que os homens, então en-

xergo o jornalismo esportivo como algopara homens e mulheres, ou melhor, parajornalistas.

Você ainda percebe preconceito com asmulheres trabalhando com futebol?

Sim. E acho que vai existir sempre. Es-tou há 14 anos na área e sempre enfrenteialgum tipo de preconceito. Quando eu erado interior, o preconcei-to era por esta razão.Uma vez fui afastada decampo num Grenal por-que eu era a única mu-lher em campo e do in-terior. Então eu não eraconhecida. A mesmapessoa que na época meretirou do campo, hojenem lembra da situaçãoe me trata bem. Às ve-zes um dirigente é per-guntado sobre um as-sunto e nega. Cinco mi-nutos depois ele está narádio confirmando ofato para um jornalistahomem. Alguns torce-

dores discordam deuma opinião e pensam“por que essa guria não está em casa la-vando louça”, ou seja, existe um precon-ceito na maneira de interpretar o que tuestás dizendo.

E qual a melhor forma de vencer este pre-conceito?

Trabalho. Eu tenho essa preocupação.Hoje em dia muitas meninas querem seguiressa profissão para estar perto dos jogado-res, seja pela paixão ou até mesmo encanta-mento e “tietagem”. E isso não sustenta umaprofissão.

Como a tua família recebeu a tua decisãode trabalhar com futebol?

Meu pai queria que eu fosse advogada.Quando comecei, não tinha nenhuma meni-na. Ele pensava que eu não ia conseguir.Achava que era um dinheiro colocado fora.Eu fui a primeira repórter de campo do Es-tado. Quando lembro os finais de semanatrabalhando sem folga, penso por que nãoouvi meu pai (risos). Mas hoje ele fica or-gulhoso.

E os jogadores? Como eles te tratam?

Um dia ganhei

um microfone de

verdade e comecei

a plugar no rádio

para ler as maté-

rias dos jornais e

a vizinhança

inteira ouvindo‘

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Trabalho mais no Grêmio e no Interna-cional e sou muito bem tratada, tanto pelosatletas quanto pelos dirigentes e funcionári-os. Há pouco estava num treino do timeequatoriano Deportivo Quito, que iria en-frentar o Inter na Libertadores 2010 e tivepressão baixa. Um funcionário perguntou se

eu estava bem. Logo chamouum médico que, curiosamen-te, era do time equatoriano.

A jornalista MarjanaVargas, quando jornalis-ta da RBS na área de es-portes, casou com o joga-dor Christian. O que tupensas sobre o assunto?

Acho natural. Tem oexemplo do goleiro Rafael,ex-Ulbra, atualmente noSão José de Porto Alegre.Quando jogava no RioGrande, conheceu uma re-pórter, na época da RBSRio Grande, e se casaram.Inclusive numa cerimôniaembaixo da goleira. Eu nãosou contra. É o nosso am-

biente. É possível encontrar uma pessoa ese apaixonar. Também encontro o pessoalde outras emissoras e pode acontecer. Possome apaixonar por ti que encontro em todosos jogos (risos).

Hoje não sou

mais a única. E

as mulheres estão

cada vez mais

indo aos estádios,

em grupos de

amigas, com ou

sem namorados.‘

Depois dessa revelação bombástica (risosdo repórter), pergunto: e quanto aos co-legas de profissão? Como é a relação?

É complicado. Muita competitividade.Eu tenho dificuldade em lidar com isso por-que não tenho maldade. Às vezes estou con-versando com alguém na boa, mas a pessoaestá com maldade. Rouba tua ideia. E rolamuita vaidade.

Existe alguma semelhança na situação dasmulheres hoje na arbitragem, direção oucoberturas jornalísticas do futebol?

Acho que tem sim. Por exemplo, a pre-sidente do Flamengo, Patrícia Amorin. Olhaa responsabilidade dela como dirigente doclube com a maior torcida do Brasil. Terque trabalhar com “feras” como o jogadorAdriano, bastante indisciplinado. Ela temque provar mais do que ninguém que pode.Quanto aos árbitros, conversei com a Tatique é do quadro da CBF e vai apitar o Cam-peonato Brasileiro. Disse para ela que o juizé o único que não tem torcida a favor; seacerta não faz mais nada que a obrigação e,se erra, tem um estádio inteiro contra. É pe-dir para se incomodar. Eu acho que o pre-conceito é igual até que pela competênciase prove o contrário.

Tu acreditas no aumento da participaçãodas mulheres no universo futebolístico?

Meu trabalho é um reflexo dessa situa-ção. Hoje temos meninas na reportagem parainternet, televisão e jornais. Hoje não soumais a única. E as mulheres estão cada vezmais indo aos estádios, em grupos de ami-gas, com ou sem namorados. Essa presençaestá se refletindo no mercado de trabalho.

Que dica tu darias para mulheres quequerem “entrar nesse campo”?

Tentar ser a melhor. Seja em qualquertrabalho ou lugar, ser a melhor vai des-pertar o interesse do mercado, da concor-rência. Tem que se dedicar! O torcedorpode não saber tudo de política, da cida-de ou até mesmo da própria família, masdo seu time ele sabe. Tens que surpreen-der o torcedor com o teu olhar sobre ofato; assim o mercado vai precisar de maismulheres. A dica é não se aproximar poruma paixão por um atleta ou coisa pare-cida e sim pelo desejo de buscar e passara informação. O tempo todo ouvindo, as-sistindo e lendo com o objetivo de perse-guir a informação.

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Quando trabalhoe prazer andam juntos

REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010

. THAIS KASPER

Descontração, coragem e persistên-cia. É um pouco do que se pode dizersobre a carreira de Oliver Weber, gaú-cho de Gravataí, radialista, locutor darádio Pop Rock.

Também DJ e músico, Oliver já re-cebia influência musical desde a sua in-fância. A partir dos oito anos de idade,com o entusiasmo da família, o meninocomeçou a cantar, tocar piano e violãoe, depois disso, mesmo não tendo enca-rado seu lado musical como profissão,nunca abandonou a música.

Foi tentando seguir carreira queOliver deu início a sua vida profissionalna área de eventos. “Quando completei15 anos de idade, comecei a trabalhar”,conta. E já que a vida de músico era com-plicada e sem garantias financeiras, op-tou pelos eventos. Foi DJ em festas par-ticulares, empresariais, animou bailes dedebutantes. Mas o sonho da música es-tava lá guardado, e o momento de esco-lher de fato uma profissão estava che-gando cada vez mais perto.

Foi quando decidiu prestar vestibu-lar na Universidade Luterana do Bra-sil em Gravataí. Obviamente sua pri-meira opção era a música, porém aUniversidade não oferecia este curso,então, decepcionado, Oliver escolheua sua segunda opção, a informática.Em 1998, ele deu início ao curso e láficou por quatro anos. Paralelamente,seguia o seu trabalho na área de even-tos, atividade esta que ao ser desco-berta pela universidade lhe rendeu aindicação para novas tarefas. A partirdaquele momento, além de aluno, tam-bém se tornaria um auxiliar deaudiovisual.

Trabalhando no setor administrativoda Universidade, Oliver era responsá-vel por várias tarefas, inclusive a desonorizar os auditórios. Além disso, che-gou a ser escalado para trabalhar como

DJ em algumas formaturas e outroseventos promovidos pela Ulbra.

Mas o sonho da música se mantinhaali, e por isso Oliver abriu mão do cursoe do trabalho na Universidade para sededicar às técnicas de áudio. Nessa áreatrabalhou em estúdios de gravação comomúsico, operador técnico e produtor. Suavontade de aprender mais a respeito dastécnicas de som foi crescendo a cada diae, como nunca lhe faltaram coragem nemdeterminação, Oliver descobriu que es-tavam inaugurando na Ulbra de Gravataíum curso chamado Tecnólogo em Rádio;estava ali a chance que faltava, unir aprática com a teoria. Sabendo disso, nãopensou duas vezes, tratou logo de fazera sua inscrição. “Comecei os estudos,mas estava apenas com o intuito de teruma formação na área com que sempresonhei, mas nunca me imaginei traba-lhando em uma rádio.”

Seu primeiro professor na Universi-dade foi Mauro Borba, na época locutorradialista da Pop Rock, que se tornouamigo de Oliver. Pouco tempo depoissurge uma oportunidade de estágio na

rádio e Mauro comentou com ele a res-peito, e foi assim que o rapaz deu o pon-tapé inicial na sua carreira.

Ele começou fazendo atendimento aoouvinte e auxílio ao locutor. Até que umdia o computador que tocava as músicasna madrugada estragou e seu chefe, naépoca Alexandre Fetter, pediu que Olivertomasse frente à situação e operasse arádio naquele momento. Três semanasdepois desse acontecimento, Oliver co-meça a anunciar a hora e a temperaturaaos ouvintes. Elogios começaram a sur-gir, o rapaz foi ganhando a simpatia dosouvintes e mais espaço na programaçãoda rádio.

Quando seu contrato de estágio che-gou ao final, ele recebeu a notícia do tãosonhado contrato, naquele momento pas-saria a ser mais um membro do cast delocutores da rádio Pop Rock. Hoje,Oliver tem um horário semanal próprio.Histórias como essa apenas demonstramque acreditar nos sonhos vale a pena,“mas para que eles se tornem realidade,é preciso muito esforço e dedicação sem-pre”, adverte.

Oliver: conciliando o sonho da músuca com o trabalho na rádio

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De carne, ossoe movido a desafios

REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010

Navegar nainternet, levar asfilhas ao estádio,fazer compras nosupermercado. A

vida do professor,marido e pai que é

o reitor da Ulbra.

. LUCAS ANDRÉ ALBRECHT

Tudo aconteceu num só dia. Ou melhor,numa noite. A assembléia de 17 de abril de2009, realizada às 20h pela ComunidadeEvangélica Luterana São Paulo (Celsp),mantenedora da Universidade Luterana doBrasil (Ulbra), elegeu o novo reitor da insti-tuição. E foi um divisor de águas na vida doprofessor e teólogo Marcos FernandoZiemer.

Nascido em Ijuí, RS, o ex-capelão daUlbra de Ji-Paraná (RO), e também diretordesta unidade e do campus de Palmas, noTocantins, foi eleito naquela noite para lide-rar a Ulbra em seu momento mais difícil.Após 37 anos à frente da instituição, o anti-go reitor, Ruben Becker, renunciara pelamanhã. Especulações sobre o novo líder mo-vimentavam não apenas os corredores daUlbra e as ruas de Canoas, mas todo o RioGrande do Sul. Ao final das duas horas de

encontro, o novo reitor concedia sua pri-meira entrevista coletiva, ainda dentro dotemplo da Comunidade. O primeiro dia deum novo começo.

Por trás da figura do reitor, estava a pes-soa. Algo que, até então, para centenas decolaboradores da Universidade era até umadúvida. A figura do comandante máximotinha se tornado tão misteriosa, que muitoschegavam a cogitar sua “não-existência”.A mudança começou pelas reuniões comdiversos grupos, declarações na imprensa ealmoços no refeitório dos funcionários.Tempo para conversar. O lado humano ereal do reitor que navega na internet e levaas filhas para a escola.

Casado, pai de duas filhas, a rotina se-manal do reitor Ziemer inclui reuniões,compromissos agendados, decisões e assi-naturas. O que não impede que o marido epai Marcos tire tempo para as coisas queconsidera fundamentais. “Sempre procu-

DOUGLAS BITTENCOURT

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REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010

Perfil

Nome: Marcos FernandoZiemerNascimento: 26.10.1966Graduação: Pedagogia,Especialização emAdministração e Planejamentopara Docentes, Doutorado emEducaçãoTime do coração: InternacionalCor preferida: “Vermelha,disparado”Comida preferida: ChurrascoLugar preferido: PraiaHobby: CozinharLugar para conhecer: Gréciae Terra SantaUm lugar para as férias: Portode GalinhasNas horas vagas: Internet elazerEsporte: FutebolUm sonho: Viajar pelo mundo.Sonho profissional: Ter umbom fluxo de caixa

Jogo do InterSorridente e sempre tranquilo nas res-

postas, Ziemer ri de piadas, encontra tem-po para a família, vai à academia, atuacomo pastor quando convidado, ajuda asfilhas nas tarefas escolares e utiliza a webpara lazer e trabalho. Quando possível,gosta de ir ao estádio Beira-Rio assistiraos jogos do Internacional, o time do co-

Um desafio de140 mil alunos

Diferente também foi o desafio assumidonaquela noite de abril. Uma instituição de 140mil alunos, com campi espalhados por seisestados brasileiros e presente em todos com oensino a distância, complexo de saúde, esporte,tecnologia. E à beira do caos. Uma dívidaconsiderada impagável. Na verdade, mais doque diferente: uma missão quase impossível.Fatos que, aparentemente, não tiram de Ziemerseu aspecto sereno e confiante. “Sou, sim, umapessoa tranquila. É claro que, às vezes, épreciso bater na mesa e agir diferente, mas namaioria do tempo sou calmo”, confirma. Hajacalma. Credores à porta, publicidade negativa,processos judiciais, dívidas com bancos egoverno, insatisfação dos colaboradores. Alição de casa que o professor recebeu eragrande e complicada.

Pouco mais de um ano depois da noiteque mudou sua vida, Ziemer olha comrealismo para o que já aconteceu e comconfiança para o que ainda está por vir.“Tem muito trabalho a ser feito, muitosajustes. Mas temos confiança de que épossível”, frisa. Os resultados que ainstituição tem mostrado indicam que aconfiança tem sua razão de existir. Com aretomada do foco na educação e com oslogan “Nova Ulbra”, a Universidadeconseguiu, em um ano, reverter a queda donúmero de alunos, tranquilizar oscolaboradores e ainda minimizar apublicidade negativa. A missão que pareciaimpossível parece agora ter um jeito de seresolver.

ração. Tudo isso, no entanto, com o celularsempre ligado. O dever de casa ainda estáem andamento. “É inevitável neste momentoque isso aconteça, mas sempre me esforçomuito para manter a privacidade”, ressal-ta. Aos 42 anos, à frente do maior desafiode sua vida, Ziemer permanece com a con-fiança de quem está enxergando algo quetalvez ninguém mais veja: “Tenho dito queo pior recém começou. Mas com trabalhoe dedicação, tenho certeza de que temos al-ternativas”.

E não só com trabalho. Conhecendo deperto a pessoa do reitor da Ulbra, este teó-logo e professor que aprecia churrasco, gos-ta de vermelho e sonha viajar pelo mundo,deixa transparecer os pilares da vida pes-soal que também dão suporte ao trabalhodo líder da Universidade. Pilares que pre-cisam sustentar. Pois, se a mudança em suavida aconteceu num só dia, muitos aindaserão necessários antes que ele possa, aosdomingos, desligar o celular.

E não só com trabalho. Conhecendo deperto a pessoa do reitor da Ulbra, este teó-logo e professor que aprecia churrasco, gos-ta de vermelho e sonha viajar pelo mundo,deixa transparecer os pilares da vida pes-soal que também dão suporte ao trabalhodo líder da Universidade. Pilares que pre-cisam sustentar. Pois, se a mudança em suavida aconteceu num só dia, muitos aindaserão necessários antes que ele possa, aosdomingos, desligar o celular.

ro almoçar com minha família, é muito im-portante”, destaca. Perguntado se um rei-tor tem tempo para fazer compras no su-permercado como uma pessoa normal, elesorri e confirma: “Eu até gosto de fazerisso. É mais uma oportunidade para fazeralgo diferente”.

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Em 2010 a África do Sul é o país da Copa do Mundo,isso todos sabem. O que nem todos recordam é que o conti-nente africano, pela ótica da teoria evolucionista, é o ber-ço, o ninho, a casa que gerou a espécie humana. Assim, amãe-África é o lugar onde inicia a história do gênero hu-mano há milhões de anos: a tua história e a minha históriae a história da Copa 2010.

Estudar a história do pensamento humano é uma viagemdas mais fantásticas. Esse roteiro, que inicia com o homemprimata e termina no período contemporâneo, encontra-seno livro “Uma breve história do mundo”. O autor GeoffreyBlainey, professor da Universidade de Harward, nos possi-bilita essa fantástica vigem pelos tempos. O ponto de parti-da dá-se em algum lugar da distante África há 2 milhões deanos e termina na atualidade, nesta sociedade mediada pe-las modernas tecnologias de comunicação que trazem o fu-tebol da Copa da terra de Mandela para as nossas casas.

A história do pensamento humano é “como ver a paisagempela janela de um trem em movimento”, descreve o autor. Defato, nas 342 páginas do livro temos uma descrição breve e

detalhada dos principais movimentosda história da humanidade. A narra-tiva é apresentada de forma vibrantee envolvente, com dados interessan-tes como “em 20000 a.C., a raça hu-mana estava confinada a um conti-nente maciço. Europa e África, Ásiae América não eram separadas pormares, e essa única massa de terra erapalco de todas as atividades humanas”(p.19).

No desenvolvimento das civili-zações, as mudanças na organiza-ção para a sobrevivência sofreramtransformações de toda espécie nes-

ses últimos 2 milhões de anos. O lazer encontra na atualida-de mais espaço que nos períodos anteriores, especialmenteos mais distantes. “Como reflexo da difusão extraordináriado lazer, o esporte para espectadores está quase se tornandoa linguagem internacional” (p.334). Em período de Copa doMundo facilmente se compreende como o esporte torna-seuma linguagem internacional.

Geoffrey Blainey encerra a sua “Uma breve história do mun-do” trazendo reflexões atuais sobre a importância das modernastecnologias de comunicação na construção das estruturas sociais.

Para quem gosta de uma imersão nos mares do pensamen-to humano a obra do professor de Harward é uma boa dica.Nada muito profundo e complexo, mas, mesmo assim, o livrotraz um panorama geral de onde viemos, quais os principaispassos que caminhamos até chegar aqui nessa sociedadefervilhante de informações e tecnologias.

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REVISTA BABEL 7 / JULHO DE 2010

Uma viagem pelos tempos

Cláudio

Schubert

BLAINEY, Geoffrey. Umabreve história do mundo. Ed.Fundamento. São Paulo: 2008

DICA

DE MESTREProfessor na

Universidade Luterana

do Brasil-Canoas-RS,

no Curso de

Comunicação Social.

notícia boa...

qu

alq

uer Da Ulbra para Michigan

Renata Licks, 30 anos, é a primeiraaluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Ulbra aparticipar de estudos no exterior comfinanciamento de bolsa fornecido pelaCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (Capes), A estudanteembarcou para os Estados Unidos rumo àUniversidade de Michigan. Durante um ano,Renata vai trabalhar nos laboratórios dainstituição estrangeira para identificarcélulas-tronco tumorais de boca. Ela integraa equipe do pesquisador brasileiro, professorJacques Nor, que atua na linha de estudos emcâncer de cabeça e pescoço.

Elas vão decidir

As mulheres já constituem a maioria doeleitorado brasileiro. Deacordo com o TribunalSuperior Eleitoral (TSE),as mulheres já são 51,8%dos eleitores, mais de 68milhões de pessoas.

Confiar é preciso

Uma pesquisa da Fundação GetúlioVargas (FGV) aponta Porto Alegre como acapital brasileira que mais confia na Justiça.Para os pesquisadores da FGV, a confiançaestá diretamente ligada ao desempenho dosjudiciários estaduais, diagnosticado peloConselho Nacional de Justiça. O levantamento foi feito em sete capitais:Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro,Brasília, Salvador, Recife e Belo Horizonte,que é a capital que menos acredita noJudiciário, conforme a mesma pesquisa.

Mais porcoA governadora Yeda Crusius sancionou

a lei que inclui a carne suína, produzidano Estado, no cardápio da merendaescolar da rede estadual de ensino.Absoluto nas gôndolas internacionais enas mesas das famílias chinesas,dinamarquesas, russas, entre outrospaíses, o produto é a carne mais

consumida do mundo.Em dados numéricos, osetor representa 39%de todo o consumo decarne mundial, seguido

pelos setores de aves ebovinos.

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