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NOTÍCIAS PORTUGAL 05 Publicação trimestral Série V P.V.P €1.75 DOSSIER DIA MUNDIAL DO HABITAT Entrevista com Raquel Rolnik, Relatora das Nações Unidas sobre Habitação Adequada ÁFRICA Os desalojamentos forçados nos países com baixo Índice de Desenvolvimento Humano Julho/Agosto/Setembro 2009 Reunião do Conselho Internacional O rumo da Amnistia Internacional para os próximos seis anos

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PORTUGALNOTÍCIAS05Julho/Agosto/Setembro 2009Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75DOSSIERReunião do Conselho Internacional O rumo da Amnistia Internacional para os próximos seis anosÁFRICAOs desalojamentos forçados nos países com baixo Índice de Desenvolvimento HumanoDIA MUNDIAL DO HABITATEntrevista com Raquel Rolnik, Relatora das Nações Unidas sobre Habitação AdequadaÍNDICE03. EDITORIAL 04. ENTREVISTAA brasileira Raquel Rolnik, Relatora Especial da Organização das N

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Page 1: Revista 5

NOTÍCIASPORTUGAL

05 Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER

DIA MUNDIAL DO HABITATEntrevista com Raquel Rolnik, Relatora das Nações Unidas sobre Habitação Adequada

ÁFRICA Os desalojamentos forçados nos países com baixo Índice de Desenvolvimento Humano

Julho/Agosto/Setembro 2009

Reunião do Conselho InternacionalO rumo da Amnistia Internacional para os próximos seis anos

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ÍNDICE03.EDITORIAL

04.ENTREVISTAA brasileira Raquel Rolnik, Relatora Especial da Organização das Nações Unidas sobre Habitação Adequada, fala deste direito no seguimento do Dia Mundial do Habitat

07.RETRATOVoluntária da Amnistia Internacional há muitos anos, Janet MacLean foi nomeada para presidir à reunião bienal do Conselho Internacional

09.EM FOCOComeça melhor o drama humanitário no Darfur, entre outros problemas de direitos humanos

12.DOSSIERAs conclusões da Reunião do Conselho Internacional e o Plano Estratégico Integrado que se inicia em 2010

FICHA TÉCNICA• Propriedade: Amnistia Internacional Portugal• Director: Presidente da Direcção, Lucília José Justino• Equipa Editorial e Redacção: Cátia Silva, Irene Rodrigues, Pedro Krupenski• Colaboram neste número: Daniela Jerónimo, Departamento de Angariação

de Fundos e Financeiro, Diana Silva Antão, Godelieve Meersschaert, Gonçalo Miguel Miranda Pedro, Lucília José Justino, Victor Nogueira• Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues, Luísa Marques, Pedro Krupenski• Concepção Gráfica e Paginação: Maria João Arnaud• Impressão: Torreana

Avenida Infante Santo, 42 – 2.º1350-179 LisboaTel.: 213 861 652Fax: 213 861 782Email: [email protected]

Os artigos assinados são da exclusiva responsa-bilidade dos seus signatários.

20.EM ACÇÃO INTERNACIONALVamos acabar com os desalojamentos forçados que continuam a minar o continente africano

22.EM ACÇÃO NACIONALSaiba como correu a participação da Amnistia Internacional Portugal nos festivais de Verão e conheça os vencedores do concurso “Arte para a Dignidade”

25.EM ACÇÃO JOVEMPor dentro do X Campo de Trabalho da Amnistia Internacional.

28.BOAS NOTÍCIAS

29.APELOS MUNDIAISInterceda em nome do moçambicano Julião Macule, do palestiniano Khaled Jaradat, da grega Konstantina Kuneva e do norte-coreano Kang Gun

32.PRESTAÇÃO DE CONTAS

33.AGENDA

33.CARTOONO Dia Mundial do Habitat e o Direito à Habitação

34.CRÓNICAGodelieve Meersschaert vive há 27 anos no bairro Alto da Cova da Moura, na Amadora, Lisboa, onde luta pelo fim da marginalização e da exclusão da população dos bairros sociais. Conheça melhor estas pessoas

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EDITORIALNotícias • Amnistia Internacional 03

Não há mudança sem riscoPor Lucília José Justino, Presidente da Direcção

O discurso e a prática dos direitos hu-manos levam-nos longe, cada vez mais longe do óbvio. Sabemos, teoricamente, que não se ficam pelos chamados direitos fundamentais, os direitos individuais, civis e políticos. Mas, na prática, quais os limites?

Tomemos como exemplo a comemoração do Dia Mundial do Habitat, que se assi-nala em Outubro e serve de pretexto ex-ploratório nesta revista: o direito à Habi-tação será apenas uma aspiração, e não um direito humano, como tantos dizem? Será um luxo de países ricos, impossível de garantir como direito? Ou haverá que aprofundar a nossa noção de direitos e de responsabilidades, especialmente num mundo em grande mudança?

A crise financeira do subprime teve início na especulação do mercado imobiliário, uma área particularmente sensível na sua dimensão social: afinal, a Habitação é uma preocupação de todos.

Milhões de pessoas vivem em movimento, em campos de refugiados sem quaisquer condições, sem água nem sanidade, fu-gindo de guerras, perseguições, desas-tres naturais e até de alterações climáti-cas que impedem a sua sobrevivência.

Muitos são escorraçados por ocuparem áreas economicamente valiosas para empresas transnacionais, mercenários ou forças armadas de oposição. Outros são expulsos porque vêem as suas casas derrubadas para a construção de con-domínios de luxo.

A deslocação forçada de populações, a mercantilização das terras, a urbaniza-ção selvagem nas grandes cidades cria, entretanto, novos dramas humanos, em bairros de lata, sem condições mínimas de vida, pasto de violência, crime, tráfico, desemprego. Como se pode comprovar, os direitos humanos são indivisíveis: a Habi-tação também toca a Dignidade Humana e os direitos civis, políticos, económicos, culturais, sociais.

A Habitação pode ser apenas uma aspira-ção para uns, mas para muitos mais ser também uma efectiva violação de direitos humanos, a que os governos devem dar resposta – é uma responsabilidade a que não se podem eximir.

Para a Amnistia Internacional, a res-ponsabilidade também é maior: já não nos podemos limitar a tratar apenas de dissidentes e de pessoas perseguidas a título individual. Não nos podemos ocu-par deles apenas como vítimas que nos são exteriores e que decidimos “adoptar”: o desafio é hoje maior.

O Conselho Internacional da Amnistia, realizado em Agosto passado, em Anta-lya, Turquia, discutiu profundamente os direitos humanos no actual contexto internacional e como One Amnesty pode aumentar o impacto da sua intervenção a nível mundial, como, e de que modo, vamos ter de mudar para continuarmos a ser a mais importante organização de

© Privado

direitos humanos.

Para, sem renegar os princípios e valores originais, continuarmos a ser os Cons-piradores da Esperança nestes novos tempos!

“A Habitação pode ser apenas uma aspiração para uns, mas para muitos mais ser também uma efectiva violação de direitos humanos, a que os governos devem dar resposta”

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Notícias • Amnistia Internacional 04

Amnistia Internacional (AI): A 5 de Ou-tubro assinalou-se o Dia Mundial do Habitat e este ano a Organização das Nações Unidas dedicou o dia ao tema: Planear o nosso futuro urbano, porque, segundo o seu Secretário-Geral, Ban Ki-moon, é preciso “sublinhar a urgên-cia de ir ao encontro das necessidades dos moradores das cidades, no mundo em rápida urbanização”. Em primeiro lugar, o que significa vivermos num mundo em rápida urbanização?Raquel Rolnik (RR): É importante reco-nhecer que está nesse momento a ocor-rer um processo de urbanização muito intenso nas regiões e continentes onde ainda havia (e há) uma predominância de moradores no meio rural. Falo de al-

ENTREVISTARaquel Rolnik, Relatora Especial para a Organização das Nações Unidas sobre Habitação AdequadaA propósito do Dia Mundial do Habitat, que se celebra na primeira segunda-feira de Outubro, o “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” falou com a brasileira Raquel Rolnik, que desde 1 de Maio de 2008 é a Relatora Especial para a Organização das Nações Unidas sobre Habitação Adequada. A arquitecta e urbanista, a viver em São Paulo, falou sobre o modelo de desenvolvimento actual e os problemas de direitos humanos que dele advêm

Por Cátia Silva

guns países de África e da Ásia, onde até há muito pouco tempo havia uma maio-ria de moradores na zona rural.

AI: Mas o que quer dizer exactamente com “processo de urbanização”?RR: São processos de reterritorialização das populações e de concentração des-tas pessoas nas cidades.

AI: Isto está a acontecer de forma natural ou é provocado pelos próprios Estados?RR: Se virmos bem, é um fenómeno histórico. É uma construção social. É um fenómeno que ocorreu, por exemplo, na Europa e na América Latina noutros momentos e que agora está a acontecer com mais intensidade nos continentes Africano e Asiático. E isto está directa-mente relacionado com um certo modelo de desenvolvimento económico e de or-ganização social. Há uma predominância de um modo de produção industrial e de uma economia de mercado.

AI: Esse modelo dificulta a vida nos meios rurais?RR: O que tem acontecido são, na ver-dade, dois fenómenos. Um de expulsão do meio rural e um de atracção do meio urbano. O primeiro tem muitas vezes si- gnificado uma expulsão concreta, ou seja, uma apropriação das áreas das co-munidades tradicionais e das áreas onde se pratica agricultura de subsistência pela produção agrícola do agro-negócio que, de um modo geral, exige muita terra

e pouca mão-de-obra. Além disso, as populações estão a ser empurradas ou expulsas por processos de instalação de outras actividades no seio de projectos de desenvolvimento, como a construção de barragens, acções relacionadas com minas, entre outras que entram em choque com a vida das comunidades tradicionais e com a agricultura familiar ou de subsistência.

AI: Muitas vezes esse “empurrar”, ou “expulsão”, é feito com recurso à força e às armas, como têm testemu-nhado os investigadores da Amnistia Internacional...RR: E parece até que os desalojamentos forçados estão cada vez mais intensos. O que aconteceu nesta era do neo-libe-ralismo e da globalização é que as ci-dades tradicionais sofreram um ataque por parte de investimentos financeiros ao nível do desenvolvimento imobiliário. Es-tes deslocaram, muitas vezes usando a força e a violência, antigas comunidades que sempre estiveram instaladas nesses locais. E a forma como tudo isto tem acontecido mostra que não se respeita o direito à habitação como um direito humano. Este é um problema sério, mas há ainda factores de expulsão da cidade

“O paradigma dominante é pensar que habitação é um problema de mercado e não de políticas públicas”

© Luiz Alonso

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Notícias • Amnistia Internacional 05

que estão ligados à problemática do cli-ma, ao facto da seca se estar a agravar em algumas regiões. A desertificação vai também impondo mais impossibilidades de sobrevivência nas zonas rurais.

AI: Por outro lado, referiu que há fac-tores de atracção nas cidades. São es-ses que estão ligados ao modelo de or-ganização da sociedade de que falava?RR: Sim. Assistimos à disseminação de uma cultura e de um modo de vida urba-no e as cidades oferecem oportunidades de desenvolvimento económico, cultural, etc., que as áreas rurais não oferecem. Por exemplo, a educação superior é pou-co acessível nas zonas rurais.

AI: Com tudo isto surge um segundo problema, que se prende com propor-cionar habitação adequada a todas es-tas pessoas. Antes de mais, esclareça--se, habitação adequada é muito mais do que quatro paredes e um tecto?RR: Exactamente. O conceito de habi-tação adequada, como está inscrito nos padrões internacionais na área dos direitos humanos, vai muito para além da ideia de abrigo, de um tecto, e inclui muitos outros elementos. A habitação deve ser um ponto de partida a partir do qual o morador, ou as pessoas que aí habitam, têm acesso a meios de sub-sistência dignos e aos meios de desen-volvimento humano, ou seja, a serviços e equipamentos de educação, de saúde, de desenvolvimento cultural, entre outros. Deve ainda implicar um meio ambiente digno e sadio, que não esteja exposto a riscos, que não seja vulnerável. Um con-ceito muito amplo, que se deve aplicar tanto no meio urbano, como no rural.

AI: Essa é uma abordagem ao problema da habitação segundo os padrões in-ternacionais de direitos humanos, mas, pelo que referiu, não é a que tem sido adoptada?RR: Não, muito pelo contrário. Assisti-mos, a partir dos anos 80 e com muito mais intensidade nos anos 90, à disse- minação de um paradigma de políticas habitacionais onde a ideia da habitação como um direito universal, para todos, foi sendo abandonada em detrimento de um conceito de habitação como mer-cadoria, como um bem que as pessoas devem comprar no mercado e, para tal,

aceder ao crédito e ao financiamento. É basicamente um paradigma neo-liberal da política pública, que entende que o Estado não deve ter responsabilidade, nem adoptar a habitação como uma política social. Os orçamentos públicos nessa área foram diminuindo.

AI: Assim, quem não tem dinheiro para comprar casa própria, que soluções terá?RR: Os pobres têm de construir as suas próprias habitações e nas piores condições, porque são os que têm me-nos recursos para o conseguirem fazer sozinhos e porque as políticas e o pla-neamento urbanos nunca reservam boa localização para esta produção popular. Isso levou à proliferação de favelas, de estabelecimentos informais precários. Além disso, assume-se que a única forma de ter habitação segura, de ter a segurança de que não se fica na rua amanhã, é comprar casa própria, quan-do não é só. Devia haver políticas de pro-tecção ao aluguer, de habitação coopera-tiva e associativa, entre outras opções. A obrigação do Estado não é dar uma casa própria a cada pessoa, mas garantir que todas as pessoas podem ter uma habita-ção adequada.

AI: Tudo isso devia ser, aliás, do inte- resse dos próprios Estados, uma vez que o problema da habitação não é iso-lado. Afecta muitas outras áreas... RR: Evidentemente. A questão da habita-ção é muito básica e afecta um conjunto múltiplo de direitos humanos. O direito à saúde, o direito ao trabalho, o direito à protecção da criança e do idoso,... Tudo isso é consequência da questão da habitação. A falta de habitação bloqueia o acesso a outros direitos. Em muitos países – e não me refiro só a um ou dois – viver em estabelecimentos informais significa não ter acesso a serviços e equi- pamentos sociais básicos.

AI: Isso acontece só em países em

desenvolvimento, como a Índia ou o Quénia? É nesses que nos habituámos a ver imagens de bairros degradados e de pessoas sem acesso a bens essen-ciais...RR: Acontece também nos países de-senvolvidos. Por exemplo, vou agora fazer uma missão aos Estados Unidos da América para perceber os efeitos, para a população, do fim da política habitacio-nal existente no país. Entender o efeito disso no aumento dos sem-abrigo. E isto numa altura em que houve uma crise financeira que ocorreu (praticamente) ao nível do imobiliário e que mostrou a falência do modelo do crédito para com-pra de habitação. Há pessoas nos Esta-dos Unidos que não podem ter uma pro-priedade privada e pagá-la. Hoje estão na rua, a viver em acampamentos. Uma situação que detectei não só aí, mas também em Espanha, por exemplo.

AI: Tudo isso por efeitos da actual crise ou este era já um problema nos países desenvolvidos?RR: Já existia, porque parte da imple-mentação do paradigma da habitação como mercadoria e do modelo único da compra da casa própria foi o desmoronar das políticas habitacionais. O orçamento do Ministério da Habitação nos Estados Unidos da América foi caindo ao longo dos anos 80. Isso já vinha a acontecer.

AI: O que também parece ser seme-lhante em todo o mundo é a discrimi-nação das populações dos estabe-lecimentos informais. Será porque se associa comummente estes locais à criminalidade?RR: Essa é uma questão bastante im-portante. Existe um estigma, uma asso-ciação perversa entre a informalidade, a irregularidade, os bairros onde moram as pessoas com menos dinheiro e a crimi-nalidade. Isso é muito complexo do ponto de vista da segregação social e do blo-queio do acesso às oportunidades que a cidade oferece, na medida em que essa associação criminaliza a população dos estabelecimentos informais como um todo. É uma questão complexa, porque é exactamente a posição de ambiguidade desses locais que abre espaço para que actividades ilegais aconteçam no seu in-terior... Mas o facto de haver actividades ilegais, como o comércio de drogas ou

“Existe uma associação perversa entre os bairros onde moram as pessoas com menos dinheiro e a criminalidade”

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Notícias • Amnistia Internacional 06

de armas, não quer dizer que todas as pessoas que ali vivem sejam bandidos e criminosos.

AI: Talvez tenha sido para tentar mudar essa realidade que em muitos países desenvolvidos se quis acabar com as “barracas”, criando bairros sociais que são verdadeiros guetos. Parece que acabou por ser a mesma coisa. Concorda?RR: Essa é também uma situação muito interessante. Podemos pensar, por exem-plo, no Chile, que durante 20 anos teve uma política muito forte para acabar com as favelas e construir habitação subsidiada. O resultado foi a produção de enormes guetos de pobres nas perife-rias, com muitos problemas sociais. No Brasil chamamos a isso “refavela”, pois são conjuntos habitacionais públicos, de péssima qualidade, que só são mono-funcionais, porque são só casas e mais casas, pobres e mais pobres,... E não são habitação adequada, porque estão na periferia, distantes dos empregos, do centro e da riqueza e da heterogeneidade que a cidade tem. Estão segregados.

AI: Então porque se terá optado por esta solução? Recorde-se que tal acon-teceu não só no Chile, mas em muitos países...RR: Quando há casas em estabelecimen-tos informais que são muito precárias, existem duas possibilidades. A primeira é uma intervenção no sentido da urba-nização desses locais, ou seja, da sua transformação, onde estão, em lugares adequados. Parece que essa é a melhor política, na medida em que os moradores já estão integrados na cidade, já há uma rede de trabalho, etc. O que acontece é que os Governos e as políticas sobrepõem a tudo isso a valorização do solo. Como

esses bairros são normalmente muito bem localizados do ponto de vista ur-banístico, o solo é caro e nesses lugares os pobres não podem ficar a morar.

AI: Mesmo urbanizando as favelas, con-tinuaria a ser pobre a viver com pobre... Não seria na mesma um gueto?RR: Depende das dimensões. Uma coisa é falar de um local colocado no meio de um bairro, com 200, 300 ou 500 casas, outra é uma comunidade com 20.000 casas. São situações diferentes. E o im-portante é também que as políticas se-jam mistas. É por isso que estou muito interessada em analisar a nova política norte-americana de produzir conjuntos habitacionais que misturam rendas, pois pode ser uma alternativa.

AI: Refere-se à política de repartição da renda das casas, em que o Estado paga uma parte e o arrendatário outra?RR: Exactamente.

AI: A vantagem seria as pessoas mais pobres estarem misturadas com a res-tante sociedade?RR: Exacto.

AI: É interessante que mencione a im-portância dessa mistura, pois até os ricos optaram, nas últimas décadas, por morar em “guetos”, pois é isso que são, no fundo, os famosos condomínios privados...RR: Essa é uma das medidas adopta-das que é muito mal vista, porque é uma espécie de feudalização dos ricos da cidade, retirando-os do espaço e da dimensão públicos. É muito grave, porque implica uma renúncia à ideia da República, de que há uma rede pública de todos e uma responsabilidade pública pela sobrevivência de todos.

AI: Por falar nessa ideia, uma das soluções que a Amnistia Internacional aponta para acabar com a pobreza e com a exclusão social é integrar os mais carenciados no processo de criação e adopção de políticas. Ou seja, dar-lhes

voz. Considera que é parte da solução para o problema da habitação?RR: É um elemento fundamental. É a ideia de que qualquer processo – seja de urbanização de um estabelecimento informal, de reinstalação ou de remoção ou desalojamento – tem de contar com a participação directa da população.

AI: Até porque é preciso ter em conta que há pessoas com culturas muito diferentes, como os imigrantes, as pes-soas de etnia cigana, entre outros. As necessidades em termos de habitação diferem muito...RR: Esse é um dos elementos da habi-tação adequada, que exige aquilo a que chamamos de “adequação cultural”. É um problema também bastante sério. Não adianta trabalhar desrespeitando as culturas das pessoas.

AI: Consegue, com tudo o que engloba o termo “habitação adequada”, apon-tar Estados que estejam a ir no bom caminho?RR: Tenho estado a procurar bons exem-plos, porque como Relatora Especial da Organização das Nações Unidas recebo denúncias e relatos das situações nega-tivas. Quero procurar os bons caminhos. Há, claro, aqui e ali coisas positivas. Por exemplo, no que diz respeito à legisla-ção, há países que adoptaram o direito à habitação nas suas Constituições, na legislação local. Mas o problema, mais do que a legislação, é a implementação.

AI: E pela negativa, destacaria algum país?RR: Não vou sequer começar a citar, porque recebo diariamente denúncias de muitos países do mundo.

Entrevista completa em: www.amnistia-internacional.pt (Aprender/Re-vista da Amnistia Internacional)

Para mais informações sobre o Direito à Habitação, não perca a reportagem dos desalojamentos forçados em África, na rubrica “Em Acção Internacional” desta revista, e a “Crónica” escrita por Godelieve Meersschaert.

“Há pessoas que não podem ter uma propriedade privada e pagá-la. Hoje estão na rua, a viver em acampamentos”

Raquel Rolnik durante o III Fórum Urbano Mundial, que decorreu em 2006 no Canadá.

© UN_HABITAT

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Notícias • Amnistia Internacional 07

Janet MacLean está a poucos dias de completar 47 anos de idade. Há duas décadas, quando era uma jovem de 26 anos, procurou trabalho na secção norte-americana da Amnistia Interna-cional (AI), uma organização da qual já tinha ouvido falar, mas que conhecia ainda mal. Hoje, divorciada e com um filho – Samora, de 14 anos –, podemos dizer que a Amnistia é a sua “segunda casa”, ou melhor, é uma das suas muitas “casas”, pois Janet consegue desdobrar--se em vários papéis: ser mãe; capelão num hospital pediátrico; formadora de Educação Pastoral Clínica; cantora em dois coros e voluntária na Amnistia In-ternacional, onde desde 2002 se dedica sobretudo à reunião bienal do Conselho Internacional1, que irá presidir em 2011.

Natural de Maine, uma das zonas mais orientais dos Estados Unidos da América (EUA), Janet viajou para o Minnesota, a quase dois mil quilómetros, onde fez o Bacharelato em Humanidades. Contudo, foi na cidade de Chicago (onde mora até hoje) que se lembra de ter começado a lu-tar pelos Direitos Humanos. “Era volun- tária num centro de estudantes cuja

missão era ‘construir cooperação in-ternacional’ através de relações pes-soais”, recorda, enquanto esclarece que acolhia e apoiava famílias que chega-vam a Chicago para estudar. Uma acção que, na verdade, não foi uma estreia no voluntariado para Janet, pois sempre pertenceu a comunidades relacionadas com a Igreja. “Tem feito parte do meu chamamento como pessoa de fé: en-contrar forma de viver numa relação harmoniosa com o mundo”, diz.

O ENCONTRO COM A AMNISTIA

Desde muito cedo Janet MacLean com-preendeu que o mundo é global e que, como tal, é fundamental ajudarmo-nos uns aos outros. Um sentimento que cer-tamente ajudou ao primeiro encontro com a Amnistia Internacional. Estava então na Faculdade, a fazer o bachare-lato, quando participou numa reunião para escrever apelos urgentes em nome de pessoas cujos Direitos Humanos esta-vam a ser violados. Uma iniciativa pro-movida pela secção norte-americana da Amnistia Internacional2, da qual Janet só voltaria a ouvir falar alguns anos mais tarde, já com o Mestrado em Religião terminado pela Universidade de Chicago. Tinha agora 26 anos e procurava um em-prego “que fosse significativo, que se focasse em construir um mundo me-lhor”, recorda.

Encontrou-o, nesse mesmo ano, no es-critório de Chicago da Amnistia Inter-nacional, onde durante cinco anos foi

Administrativa e Formadora. Em 1992, deixou o trabalho remunerado para con-tinuar no movimento de forma volun-tária, mantendo uma dedicação espe-cial à organização interna e ao processo deliberativo da Amnistia. Começou por ajudar a planear a Assembleia Geral da secção norte-americana3, tornou-se de-pois Presidente da mesa e relatora dos Grupos de Trabalho4 e apoiou ainda dois comités de planeamento estratégico da secção. Tarefas que para muitas pes-soas podem ser pouco interessantes e demasiado burocráticas, mas não para Janet MacLean. “Gosto de facilitar pro-cessos de tomada de decisão e estou habilitada a isso”.

DEDICAR A VIDA AOS OUTROS

Uma das grandes vantagens da Amnis-tia Internacional, segundo a voluntária, é permitir que os seus membros possam fazer parte do funcionamento interno da organização, “sem perder o enfoque nos direitos humanos”. Por isso Janet MacLean nunca pensou sequer em deixar o movimento. Entre 2000 e 2001 ainda voltou a trabalhar para a secção norte- -americana da AI, quando substituiu temporariamente o Vice-Director para o Activismo. Porém, Janet sabia que este não era o seu destino. “Fui chamada para o sacerdócio pela minha comu-nidade de fé, por oferendas e pelo Divino”, diz, ao explicar como se tornou capelão no Advocate Christ Medical Cen-tre.

RETRATOJanet MacLean, Presidente da Reunião do Conselho Internacional Uma mulher de féNa reunião bienal do Conselho Internacional da Amnistia, que decorreu no passado mês de Agosto, Janet MacLean foi chamada a presidir ao próximo encontro, que terá lugar dentro de dois anos. Antes de assumir mais este importante papel, a voluntária da Amnistia Internacional recordou, com o “Notícias da AI Portugal”, os vinte anos passados junto da organização e falou sobre os “bastidores” da reunião global do movimento

Por Cátia Silva

© Privado

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Notícias • Amnistia Internacional 08

Neste centro hospitalar para crianças com doenças graves, Janet MacLean di-vide o tempo entre a Educação Pastoral Clínica, ou seja, o acompanhamento do estágio de jovens sacerdotes que querem prestar cuidados pastorais e a efec-tiva realização desta tarefa. Para quem nunca ouviu falar em capelães hospita-lares, a voluntária explica: “é uma pes-soa de fé que oferece cuidados pasto-rais – apoio emocional e espiritual – a famílias e pacientes que enfrentam um tempo de crise”. Um trabalho que Janet MacLean define como “esgotante” e, ao mesmo tempo, “emocionante”, pois “a capacidade de uma criança de vencer o trauma e de ajudar os outros no meio da sua própria dor é impressionante”, enaltece.

POR DETRÁS DA REUNIÃO DO CONSELHO INTERNACIONAL

Nos dias de férias, que Janet MacLean podia aproveitar para aliviar a tensão refugiando-se nos romances de mistério de que tanto gosta e no tricô, a volun-tária optou por dedicar-se à Amnistia Internacional, tendo em 2002 voltado à parte organizativa e aos processos de tomada de decisão do movimento. Começou por manter-se ligada à secção norte-americana, tendo em 2003 sido uma das suas representantes na reunião do Conselho Internacional5. Dois anos depois foi recrutada para Relatora do encontro global e em 2007 foi chamada a presidir aos seus Grupos de Trabalho. Neste ano de 2009 Janet MacLean já se dirigiu à reunião como Vice-Presidente, tendo no final sido eleita para presidir ao

próximo encontro, em 20116.

Embora possa parecer que ainda falta muito tempo, a voluntária explica que são muitos os preparativos necessários para a reunião que junta mais de 400 pessoas e que visa decidir o futuro de uma das maiores organizações do mun-do. Um trabalho que é desenvolvido pelo chamado Comité Preparatório, que inclui o Presidente (neste caso Janet), o Vice- -Presidente, três presidentes de Grupos de Trabalho e um representante do Comité Executivo Internacional7. No ano anterior ao da reunião começam os preparativos, que só terminam quando ficam prontas: a agenda das temáticas em discussão, um rascunho das suas resoluções8 e a forma como estas irão ser debatidas9. A parte logística é depois deixada ao Secretari-ado Internacional. Para Janet MacLean, este é um trabalho muito gratificante, porque “além de ser um processo de facilitação, é algo muito tangível: orga-nizamos uma reunião”.

1. De dois em dois anos, a Amnistia Internacio-nal prova que é um movimento que quer falar a uma só voz e junta representantes das suas cerca de 50 secções, nove estruturas, alguns membros internacionais e funcionários, numa espécie de assembleia a que dá o nome de Reunião do Con-selho Internacional. Durante uma semana são discutidos os assuntos mais importantes para o movimento. De seis em seis anos o principal tema em cima da mesa é o Plano Estratégico Integrado, onde se definem os passos a serem dados pela Amnistia nos seis anos seguintes. Este ano de 2009 foi exactamente isso que aconteceu. Saiba mais no “Dossier” desta revista.

2. A Amnistia Internacional é uma organização não governamental com sede em Londres, a que se chama Secretariado Internacional. Neste es-

paço encontram-se mais de 500 profissionais, que, entre muitas outras funções, investigam as violações aos Direitos Humanos cometidas em todo o mundo e definem uma estratégia para as combater. Esta informação é depois passada às mais de 50 secções (ou delegações) da Amnistia Internacional em vários países, de que é exemplo Portugal. Nos Estados Unidos da América há uma delegação nacional da Amnistia e cinco escritórios regionais.

3. A Amnistia Internacional é, acima de tudo, um movimento de activistas e de pessoas volun-tárias. A provar isso mesmo estão, entre outros, os órgãos deliberativos da organização, constituídos unicamente por pessoas não remuneradas, e as Assembleias Gerais, órgãos soberanos de cada secção nacional da Amnistia que todos os anos se reúnem. O objectivo desta reunião de membros é torná-los parte dos processos de tomada de de-cisão do movimento, seja em relação às finanças, projectos ou planos estratégico e operacional. Pretende ainda poder responsabilizar a Direcção nacional por tudo o que fica acordado.

4. Nas Assembleias Gerais da Amnistia Interna-cional há, por vezes, temáticas importantes que são alvo de controvérsia. Para estes assuntos são normalmente constituídos, antes, os chamados Grupos de Trabalho, que durante alguns meses lêem documentação, consultam especialistas e preparam um conjunto de conclusões e propostas de acção a serem discutidas e aprovadas na As-sembleia Geral.

5. Cada uma das mais de 50 secções da Amnistia faz-se representar na reunião do Conselho Inter-nacional com, pelo menos, três elementos. Este número de delegados pode ser superior, caso a secção tenha direito a mais votos, uma vez que cada um só tem um voto. O número de votos é, por sua vez, determinado pela dimensão da secção, ou melhor, pelo número de grupos locais ou de membros e apoiantes.

6. Embora os estatutos da Amnistia Internacional não refiram limites temporais, o Presidente da Reunião do Conselho Internacional é tradicional-mente reeleito duas vezes, ou seja, preside a três assembleias.

7. O Comité Executivo Internacional é o organismo executivo da Amnistia no período de dois anos que medeia as reuniões do Conselho Internacional. É composto por nove elementos, todos voluntários e membros de diferentes secções do movimento.

8. As resoluções em discussão na reunião do Con-selho Internacional são preparadas, como o nome indica, pelo Comité Preparatório, que reúne as resoluções propostas pelas secções da Amnistia e pelo Comité Executivo Internacional.

9. A reunião do Conselho Internacional pretende ser o mais participativa possível e encontrar, idealmente, o consenso no seio do movimento. Para tal, há várias formas de discutir os temas em debate, como os chamados World Cafés, os Grupos de Trabalho e os Workshops. Esta troca de ideias culmina em resoluções finais que vão a votação em Plenário.

A voluntária da Amnistia Internacional e o seu filho, Samora, de 14 anos.

© Janet MacLean

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Notícias • Amnistia Internacional 09

EM FOCOHONDURASUMA CRISE POLÍTICA SEM FIM À VISTA

No dia 28 de Junho um golpe de Estado organizado por um grupo de políticos, liderado por Roberto Micheletti (ex-líder do Congresso Nacional) e apoiado pe-las forças militares, depôs o Presidente democraticamente eleito José Manuel Zelaya, expulsando-o do país. Têm iní-cio as violações de Direitos Humanos, o clima de insegurança e a repressão de manifestações pacíficas num país ex-tremamente polarizado. O regresso de Zelaya às Honduras foi diversas vezes impedido até 21 de Setembro, quando entrou clandestinamente no país refu-giando-se na Embaixada do Brasil na capital hondurenha, Tegucigalpa. Um acontecimento que gerou uma nova vaga de manifestações e o agravamento das violações aos Direitos Humanos por parte das forças policiais.

A Amnistia Internacional tem vindo a acompanhar a situação e considera-a alarmante. Mortes causadas pelo uso ex-cessivo de força, detenções arbitrárias, violência contra as mulheres, intimida-ção e agressão a activistas, jornalis-tas, advogados e juízes, maus tratos a detidos e o encerramento de meios de comunicação social são exemplos da política de repressão e do clima de medo e intimidação vivido nas Honduras. Uma situação que não parece vir a alterar-se com as eleições do passado dia 29 de

Novembro, que deram a vitória a Porfírio Lobo, uma vez que o Brasil, a Venezuela e a Argentina decidiram não reconhecer o acto eleitoral e pedir o regresso de Zelaya ao poder. Uma exigência feita também pelos apoiantes do dirigente.

A Amnistia Internacional visitou o país de 28 de Julho a 1 de Agosto e durante as últimas eleições presidenciais. Nesta visita desvendou problemas de direitos humanos que revelam uma crise maior nas Honduras, até hoje “escondida” e onde se contam, entre outros, a violência de género, a ausência de justiça para as centenas de pessoas mortas e desapare-cidas nas mãos das forças de segurança e a discriminação sofrida pela população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans-géneros). A Amnistia Internacional apela às autoridades do país que realizem uma investigação independente aos aconteci-mentos deste Verão e que seja criado um Plano Nacional de Protecção aos Direitos Humanos.

REPÚBLICA DOMINICANAMULHERES EM PERIGO DE VIDA

As notícias que todos os dias chegam até nós ocultam inúmeras realidades de países distantes. Sabia que as mu-lheres na República Dominicana enfren-tam perigo de vida? O Congresso deste país aprovou recentemente alterações à Constituição que colocam em risco a vida de mulheres grávidas e contribuem para o aumento da mortalidade mater-na. O Artigo 30.º proíbe o aborto desde a “concepção até à morte”, mesmo nos casos de violação, incesto ou quando os cuidados de saúde são de extrema necessidade, o que acontece quando a mãe tem malária, cancro ou SIDA. A nova lei limita cada vez mais as excepções à proibição do aborto e criminaliza quem o comete, mulheres ou profissionais de saúde, com prisão ou outras penas cri-

minais por prática de aborto. A Amnistia Internacional condena a decisão do Con-gresso da República Dominicana e já deu a conhecer às autoridades o desconten-tamento.

PORTUGALPERCEPÇÕES SOBRE A POBREZA

A Amnistia Internacional (AI) Portu-gal, em parceria com a Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN) e o Centro de In-vestigação em Sociologia Económica e das Organizações (SOCIUS/ISEG-UTL), lançou, no âmbito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, as con-clusões iniciais do estudo “Percepções da Pobreza em Portugal”. As primeiras conclusões apontam para uma visão pessimista sobre a pobreza no nosso país, com os inquiridos a sugerirem que mais de metade da população está em situação de pobreza (quando esta se situa nos 18%). Consideram ainda que é quase impossível sair da condição de pobre. Um pessimismo e um desco-nhecimento que a Amnistia Internacional pretende combater, continuando a apos-tar na investigação, promovendo a par-ticipação dos cidadãos e investindo na formação. Saiba mais sobre o estudo em: www.amnistia-internacional.pt (Apren-der/Revista da Amnistia Internacional)

© Privado

Um apoiante de Zelaya foge quando a polícia lança gás lacri-mogéneo para dispersar os manifestantes, no passado mês de Setembro.

© Privado

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“Hoje não diria que há uma guerra a acontecer no Darfur”, anunciou a 27 de Agosto Martin Luther Agwai, comandante da UNAMID (sigla inglesa), missão de manutenção da paz das Nações Unidas e da União Africana no Sudão. Para Feliz da Costa Martins, Missionário Combo-niano que chegou ao país há mais de 20 anos e que estava de férias em Portugal na altura das declarações, é verdade que “hoje a guerra não é a mesma, pois já não há aldeias para queimar”. No entanto, salienta, também não se pode dizer que há paz, pois na verdade “a guerra tomou um rumo diferente” e transformou-se numa “paz podre que está prestes a rebentar”.

“Os cidadãos, quaisquer que sejam, estão armados”, refere aquele que é conhecido como Padre Feliz, desde 2006 em missão em Nyala (Darfur). “Nin-guém pode dizer nada a ninguém” e “os ataques ocorrem a qualquer mo-mento”. Uma realidade a que se somam sequestros frequentes e roubos de bens materiais. “A guerra de hoje no Darfur é, numa só palavra, anarquia”, garante o missionário, e a situação pode piorar nos próximos tempos, com o aproximar das eleições presidenciais de 2010 e do referendo sobre a possível independência

do sul, em 2011. Fica o aviso: “estão a entrar armas no país e os rebeldes es-tão a preparar-se para uma previsível guerra”.

DUAS DÉCADAS DE CONFRONTOS

Para a Organização das Nações Unidas, a guerra que se vive no Darfur desde 2003 é das “piores crises humanitárias de todos os tempos”. Feliz da Costa Martins garante que “já houve crises piores” no Sudão, que desde a sua in-dependência, em 1956, viu acentuar os diferendos entre “árabes” e “africanos”. O missionário ajuda a explicar as especi-ficidades de um Estado que, na verdade, podia (ou devia) estar dividido em dois: o Norte é habitado sobretudo por árabes, muçulmanos, e o território é desertifica-do, com os típicos camelos e areia; a Sul estão os negros, não seguidores do Islão, e no terreno há uma verdadeira floresta verde.

Até aos anos 80, árabes e africanos con- viveram pacificamente apesar de ra-ramente se misturarem, explica o Mis-sionário, que acredita que “é o Governo que põe as pessoas umas contra as outras”. Alguns autores defendem que foram os escassos recursos, como a terra

DARFUR / SUDÃOUma crise humanitária longe do fimO ano de 2010 começa com o Darfur (Sudão) a desaparecer dos noticiários, à medida que surgem novos e mais visíveis conflitos. Porém, é preciso não esquecer que em Abril haverá eleições nacionais que, provavelmente, vão fazer reacender um conflito cujas cinzas estão ainda em brasa. Uma situação que fomos perceber melhor com Feliz da Costa Martins, missionário no país há mais de 20 anos

(leia-se, petróleo) e a água, os detona-dores do conflito. Seja como for, foi nesta altura que rebentou a guerra que até hoje opõe as forças governamentais, a Norte – ajudadas pela China e pelos Janjaweed – aos grupos rebeldes do sul (principal-mente o Movimento para a Justiça e a Igualdade, conhecido pela sigla inglesa JEM), cuja luta recebe o apoio da Europa e dos Estados Unidos da América.

Reclamando falta de representativi-dade política e negligência da região do Darfur pelo Governo, os rebeldes do sul foram ganhando força – com as armas que chegam do exterior –, até ao início de 2003, quando realizaram ataques à capital do país. O Presidente, al-Bashir, respondeu com um sangrento genocídio que colocou o conflito (até aqui esque-cido) nos noticiários de todo o mundo e levou o Tribunal Penal Internacional a emitir um mandato de captura ao líder, em Março deste ano. Segundo as esti-mativas das Nações Unidas, morreram até hoje no Darfur 300 mil pessoas e 2,7 milhões continuam deslocadas interna-mente, vivendo em campos totalmente dependentes da ajuda humanitária. Uma realidade que, em breve, pode vir a agravar-se.

Os sobreviventes dos massacres no Darfur têm de pela frente um território inóspito.

No Sudão há hoje 2,7 milhões de deslocados a viver em campos dependentes da ajuda humanitária.

© UNHCR/H. Caux © Evelyn Hockstein/Polaris

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SABIA QUE AO FAZER AS SUAS COMPRAS PODE DAR MAIS VIDA À

AMNISTIA INTERNACIONAL?

Até 28 de Fevereiro de 2010 a Amnistia Internacional irá receber donativos dos aderentes do Cartão de Crédito + Vida do Montepio*.

O CARTÃO + VIDA é um Cartão de Crédito dirigido a particulares, sejam ou não Clientes do Montepio, e que permite aos mesmos contribuir para diversas Associações de Solidariedade Social. Ao utilizar o Cartão estará a contribuir para a Amnistia Internacional. Desde o seu lançamento, em 2006, este cartão já apoiou onze in-stituições com mais de 79.000 Euros. Adira ao CARTÃO DE CRÉDITO + VIDA do Montepio e contribua para a Amnistia Internacional! *TAEG de 21.5% (em Setembro de 2009) Exemplo para utilização de 1.000€ , com reembolso em 12 meses e TAN de 19,520%, taxa fixa, na base de 360 dias, com arredondamento efectuada à 3ª casa decimal. Anuidade de 20€, acrescida de imposto de Selo.

MONTEPIO LANÇA PROGRAMA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA No âmbito da sua Política de Responsabilidade Social, o Montepio lançou um Programa de Educação Financeira que, através de acções de sensibilização, formação e aconselhamento, visa desenvolver competências na gestão do orçamento individual e familiar, na prevenção de riscos e na identificação de oportunidades, prevenindo o sobreendividamento, estimulando a poupança e promovendo a qualidade de vida. Para mais informações, contacte o Montepio através do Gabinete de Responsabilidade Social ([email protected]).

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Notícias • Amnistia Internacional 12

Reunião do Conselho Internacional da Amnistia, Turquia, Agosto de 2009.

DOSSIERREUNIÃO DO CONSELHO INTERNACIONALO rumo da Amnistia Internacional nos próximos seis anosQuando se inicia o novo ano, o “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” dá-lhe conta do caminho traçado para o movimento, para os anos 2010 a 2016, na reunião do Conselho Internacional que decorreu no passado mês de Agosto

Entre os dias 8 e 14 de Agosto de 2009 reuniu-se, em Antalya, Turquia, o Con-selho Internacional da Amnistia. Trata-se do órgão magno, uma assembleia geral global em que têm assento os represen-tantes do Comité Executivo Internacional e de todas as Secções e Estruturas do movimento. Reúne-se de dois em dois anos e em cada seis dessa sequência tem como ordem de trabalho a discussão e aprovação do Plano Estratégico Inte-grado para os seis anos seguintes, no caso: 2010-2016.

O trabalho preparatório deste Conselho e dos documentos que nele foram discuti-dos e aprovados levou mais de um ano. A versão de cada documento que chegou ao Conselho foi já produto de sucessivos processos de consulta, de modo a tor-nar a versão a discutir mais próxima de uma eventual versão final [ver “Retrato” desta revista]. Apesar disso, muitas das resoluções apresentadas a discussão no Conselho ficaram pelo caminho por não terem reunido consenso suficiente. Muitas das resoluções que foram apro-vadas foram-no numa versão significati-

vamente diferente daquela que era base inicial de discussão.

Estiveram presentes cerca de 400 dele-gados que, durante seis dias de trabalho intenso, concretizaram uma das facetas mais admiráveis da Amnistia Internacio-nal: a construção democrática de con-senso. Por pessoas de diferentes países, com diferentes culturas, interesses e agendas, as discussões redundaram num conjunto de 15 resoluções com que todos concordaram. A mais importante e marcante destas resoluções é o próximo Plano Estratégico Integrado (detalhes nas páginas seguintes). Trata-se do docu- mento que servirá de farol estratégico para todo o movimento. Todos os planos estratégicos nacionais terão que seguir as orientações deste documento. Este Plano Estratégico é também guião para a elaboração de um Plano Operacional para todo o movimento, o qual também será orientação para os planos de activi-dades de cada país.

O Plano Operacional para os dois primei- ros anos de vida do Plano Estratégico

© Amnistia Internacional

Integrado já foi entretanto preparado, tendo sido discutido e aprovado (para ser subsequentemente implementado) no Fórum de Directores que teve lugar em final de Novembro, na Dinamarca.

O Plano Estratégico Integrado deu passos significativos no enraizamento daquilo que no Conselho Internacional de 2007 se designou de “One Amnesty”. Cada vez mais uniremos esforços, recursos, prio-ridades, com vista a contribuir com im-pacto para as mudanças necessárias no mundo à luz dos Direitos Humanos. É, por isso, importante que todos os membros, apoiantes e interessados na Amnistia conheçam este documento orientador. Será para a sua implementação e con-cretização que, pelo menos nos próximos seis anos, trabalharemos.

Por Pedro Krupenski, Director-Executivo da Amnis-tia Internacional Portugal e um dos três delegados da secção portuguesa à Reunião do Conselho In-ternacional, juntamente com Lucília José Justino e Fernando Faria de Castro, respectivamente a Presidente e o Tesoureiro da Amnistia Internacio-nal Portugal.

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Notícias • Amnistia Internacional 13

Se pararmos por alguns minutos e pen-sarmos cautelosamente sobre o mundo percebemos que, nos últimos anos, muita coisa mudou. Há violações aos direitos humanos que se perpetuam, ou-tras que estão menos intensas e outras ainda que parecem “estar para chegar”. Realidades que obrigam a Amnistia In-ternacional a novos passos. Como disse Kate Gilmore, Secretária-Geral Adjunta do movimento, “o mundo à nossa volta mudou e nós estamos e somos deste mundo, por isso, temos também de mu-dar”. Nos próximos seis anos é isso que vamos fazer, com a definição de quatro grandes prioridades, duas relativamente recentes para a Amnistia e duas sobre as quais trabalhamos há quase 50 anos.

1. A ERRADICAÇÃO DA POBREZAEm Maio deste ano a Amnistia Interna-cional iniciou a campanha “Exija Digni-

dade”. Voltada para a erradicação da pobreza, aborda e congrega os vários problemas de direitos humanos, uma vez que tem como pilar a concepção de que ser pobre deriva de violações aos direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Para a Amnis-tia Internacional, acabar com a pobreza não se consegue apenas “dando o peixe” ou “ensinando a pescar”. É fundamental pôr fim às violações aos direitos huma-nos que a rodeiam e que impedem os mais pobres de saírem dessa condição. A recente campanha da Amnistia Interna-cional comprova, assim, que os direitos humanos são indissociáveis e, por isso, “exigir dignidade” será a grande aposta do movimento nos próximos seis anos. Até porque 1,2 mil milhões de pessoas continuam a passar fome todos os dias, 1.000 milhões a viver em bairros degra-dados e 2.500 milhões a não ter acesso a serviços sanitários adequados.

O PAPEL DA AMNISTIA INTERNACIONAL:

• Assegurar que as pessoas que vivem em situação de pobreza são ouvidas pe-los decisores políticos, o que implica dar- -lhes poder para que possam reclamar os seus direitos;

• Impedir a discriminação, seja com base no género, na raça ou em qualquer outro factor, uma vez que tal contribui para a pobreza e a privação;

• Apostar nas mulheres enquanto agen-tes de mudança e desenvolvimento;

• Proteger as populações mais pobres de abusos graves aos seus direitos, como a escravatura, a corrupção, os desaloja-mentos forçados, entre outros.

2. A CRISE DAS PESSOAS EM MOVIMENTONo rescaldo da Segunda Guerra Mundial surgiu um organismo internacional que visa proteger todas as pessoas aban-donadas pela sua Pátria, quando esta não quer (ou não pode) protegê-las. Hoje, quase 60 anos passados desde a criação do Alto Comissariado das Nações Uni-das para os Refugiados, estão sob a sua alçada mais de 30 milhões de pessoas, entre refugiados, deslocados internos, requerentes de asilo, retornados e apátri-das. Teme-se, porém, que o número real de seres humanos em movimento seja muito superior. São pessoas que ficam entregues ao seu próprio destino, vague-ando pelo mundo à procura de um lar digno e seguro. A isto se chama a crise das pessoas em movimento e esta tende a piorar, com a pobreza, os conflitos ar-mados e a galopante degradação am-biental. Para a Amnistia Internacional, este flagelo está apenas no início. É, por isso, essencial torná-lo uma prioridade nos próximos seis anos.

O PAPEL DA AMNISTIA INTERNACIONAL:

• Aumentar a protecção legal (e efectiva) dada às populações em movimento;

• Assegurar que todas as pessoas em movimento têm acesso à justiça (e a processos judiciais justos), à educação, à saúde e à habitação;

• Denunciar a discriminação contra os migrantes e as detenções de que são alvo;

• Dar-lhes poder para que ergam a sua voz e façam ouvir as suas reivindica-ções.

Delegados da Amnistia Internacional à Reunião do Conselho In-ternacional realizam uma acção pelo fim da repressão no Irão.

© Amnistia Internacional

Todos os arquitectos são com certeza unânimes em defender que antes de uma grande obra são precisos estudos cuida-dosos e um projecto bem concertado. A Amnistia Internacional é uma organiza-ção não governamental que se pauta por estes mesmos princípios e, neste

âmbito, de seis em seis anos define os próximos passos para o movimento, com a elaboração do chamado Plano Estraté-gico Integrado. Antes da sua criação, é feito um trabalho intenso de investiga-ção, reflexão, consulta e discussão. Tudo isto culminou na Reunião do Conselho

Internacional, que decorreu na Turquia no passado mês de Agosto. Em primeira- -mão, vamos apresentar-lhe as princi-pais conclusões para que saiba para onde caminha o movimento, porque este é um caminho que queremos continuar a percorrer juntos…

NOVOS E VELHOS DESAFIOS

PLANO ESTRATÉGICO INTEGRADO 2010-2016

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Notícias • Amnistia Internacional 14

3. AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIASe analisarmos as campanhas desen-volvidas pela Amnistia Internacional nos seus quase 50 anos facilmente per-cebemos que a temática da violência é transversal: quando defendemos o fim da violência de género e da discrimina-ção; quando pedimos uma moratória à pena de morte; quando exigimos controlo sobre o comércio de armas; ou quando denunciamos o uso de torturas e outros tratamentos desumanos. No entanto, apesar de todo o trabalho feito e de algu-mas conquistas, a violência continua a estar presente na nossa sociedade e tem revelado ser uma das violações aos direi-tos humanos mais difíceis de solucionar, seja porque assume diversas formas, ou porque é perpetuada por vários actores (Estados, grupos armados ou agentes do crime organizado). Nos próximos seis anos (pelo menos) não desistiremos des-ta luta! É preciso continuar a procurar novas “armas” para erradicar, de uma vez por todas, as diferentes formas de violência.

O PAPEL DA AMNISTIA INTERNACIONAL:

• Apostar na prevenção de conflitos, através de um maior controlo ao comér-cio de armas e do reforço dos sistemas de justiça, nacionais e internacionais, para acabar com a impunidade;

• Dar poder às mulheres para que par-ticipem na resolução de conflitos e na reconstrução pós-conflito, uma vez que sofrem de forma particular as conse-quências da guerra;

• Denunciar os “conflitos esquecidos” e todo o tipo de violência;

• Lutar contra a erosão dos direitos hu-manos, que se perpetua com as deten-ções arbitrárias, os desaparecimentos forçados, as execuções extrajudiciais, os julgamentos injustos, o uso da tortura e de outras formas de maus tratos e com a aplicação da pena de morte.

4. A REPRESSÃO AOS DISSIDENTESA 11 de Setembro de 2001 dois aviões embatiam nas Torres Gémeas de Nova Iorque, catapultando no mundo o sen-timento de insegurança face à ameaça

terrorista. Este receio (mesmo se fun-dado) tem levado muitos governos a legitimarem uma repressão cada vez mais forte às liberdades de expressão, de informação, de associação e de re-união. Em 2008, segundo o Relatório Anual da Amnistia Internacional, pelo menos 81 países reprimiram os defen-sores dos direitos humanos ou os dis-sidentes políticos. Se, por um lado, as novas tecnologias vieram trazer maiores facilidades ao exercício destes direitos, como o Irão tão bem testemunhou nas últimas eleições, por outro vieram facili-tar a vigilância e a censura. Mecanismos usados pelos governos para “calar” os seus opositores. Nos seis anos que se aproximam, a Amnistia Internacional vai continuar a proteger e defender o direito “à palavra”. Foi assim que o movimento começou e é assim que irá continuar!

O PAPEL DA AMNISTIA INTERNACIONAL:

• Exigir a libertação imediata de todos os prisioneiros de consciência;

• Defender o direito a um julgamento justo para todas as pessoas;

• Dar mais poder aos activistas e de-fensores dos direitos humanos, para que sejam ouvidos;

• Apelar aos Estados para que garantam o direito à discordância;

• Eliminar a discriminação com base na raça, etnia, religião, orientação sexual ou género, que muitas vezes está na origem da repressão às liberdades destas pes-soas.

A TRANSFORMAÇÃO NECESSÁRIA

Nova imagem do movimento de defesa e promoção dos direitos humanos.

Logótipo antigo da Amnistia Internacional

Seis palavras de ordem para os próximos seis anos ao nível dos “Novos e Velhos Desafios”.

© Amnistia Internacional© Amnistia Internacional

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Se o mundo nos apresenta novos e maiores desafios, é essencial procurar as oportunidades acopladas. Diz a sabedo-ria popular que quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. É nisso que acreditamos e é por elas que a Amnistia Internacional vai espreitar nos próximos seis anos, tendo como objectivo essen-cial o crescimento. Novas tecnologias, novos “líderes” mundiais e experiência acumulada são alguns dos trunfos que temos de agarrar. Sabemos, porém, que são precisas mudanças... E estamos preparados para elas. No contacto com o mundo que nos rodeia é importante apostar em três atitudes e a nível interno incorporar duas posturas essenciais...

A ATITUDE PERANTE O MUNDO

1. CRIAR PARCERIAS COM A SOCIEDADE CIVILNas últimas décadas, assistiu-se ao crescimento exponencial no número de Organizações Não Governamentais e de movimentos cívicos. Seja em nome de um ambiente menos poluído, do desenvolvi-mento humano ou da protecção de grupos específicos da população, um pouco por todo o mundo têm surgido cidadãos que se unem por uma determinada causa. Assim, a par do individualismo, da crise e das divisões culturais que os média no-ticiam, há hoje uma força maior a que se chama “sociedade civil”. Nos próximos seis anos a Amnistia Internacional não pode ficar indiferente a tudo isto e, em-bora seja um dos movimentos de direitos humanos mais antigos do mundo, sabe que pode aprender e crescer com par-cerias. Os direitos humanos são valores partilhados por muitos. É preciso unir experiências, esforços e recursos. Este é o momento-chave para criar bases mais sólidas, mais globais e mais diversas de luta pelos direitos humanos.

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Dar voz às pessoas cujos direitos hu-manos são violados, apoiando novos movimentos de direitos humanos e cami-nhando para um movimento global nesta área;

• Partilhar recursos e experiências, cri-

ando parcerias estratégicas com grupos da sociedade civil que sejam benéficas para todos;

• Educar para os direitos humanos, pro-curando qualificar e informar activistas e aumentar o número de defensores dos direitos humanos.

2. MAIOR PROACTIVIDADEHá quase meio século nascia a Amnistia Internacional. Tendo como logótipo uma vela, presa em arame farpado, “vestiu--se” originalmente de preto em sinal de luto pelas vítimas de violações aos direi- tos humanos e, mais concretamente, pelas pessoas que viviam no “escuro”, atrás das grades, por defenderem es-ses mesmos direitos. Com o passar dos anos o movimento percebeu que a ima-gem pesarosa que assumiu não reflectia o mundo de hoje, em que as violações aos direitos humanos continuam, é ver-dade, mas onde cidadãos comuns como todos nós têm muito mais poder para mudar esta realidade. Percebendo isso, a Amnistia assumiu o (mais optimista) amarelo e adoptou o famoso post it, que diariamente nos lembra que há seres humanos que precisam de nós... E nós podemos fazer a diferença! Uma ati-tude proactiva, prática e centrada em soluções que é preciso desenvolver nos próximos anos, mantendo os olhos pos-tos no futuro.

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Construir relações, ou parcerias, cons-trutivas e orientadas para objectivos concretos;

• Manter um relacionamento próximo e eficaz com governos, organizações inter-nacionais e intergovernamentais (como a Organização das Nações Unidas) e em-presas, de forma a conseguir influenciar as suas agendas;

• Propor soluções a cada denúncia feita e apostar em metodologias orientadas para a solução;

• Construir mecanismos de avaliação do impacto das parcerias e da actuação da Amnistia Internacional, para aprender com os erros, correr menos riscos e repe-tir as boas práticas.

3. APOSTA NOS “PODERES EMERGENTES”Até há bem pouco tempo era consen-sual que os Estados Unidos da América lideravam o mundo. Com o 11 de Se-tembro de 2001 o “gigante” abanou, defende o conceituado economista inglês Jim O’Neill. Para o autor, pai do conceito BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o ataque veio dar força à ideia da globali-zação e em Novembro de 2001 O’Neill defendia que os quatro referidos países iriam em breve liderar a economia mun-dial. No passado mês de Junho, aquelas que são (hoje mais consensualmente) as “novas potências mundiais” reuniram e prometeram revolucionar o mundo. A este grupo de Estados juntou-se ainda a África do Sul, enquanto país em ascen-são. Uma realidade que a Amnistia In-ternacional tem de acompanhar. A par do lobby feito junto da União Europeia (ver caixa no final) e dos Estados Unidos da América, é preciso olhar também para os “poderes emergentes”. Uma aposta a longo prazo que passa também por in-centivar novas gerações de activistas. Os BRICA (ou BRICS em inglês) e os jo-vens são o nosso futuro!

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Investir nos países onde os direitos humanos são mais fortemente violados, nomeadamente Estados do hemisfério Sul e países do Leste, bem como nas economias emergentes, que em inglês se denominam BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul);

• Envolver os jovens na promoção e de-fesa dos direitos humanos e apostar em novas formas de participação, como o e-membership e as comunidades online, mais atractivas para as novas gerações.

AS MUDANÇAS INTERNAS

1. FOMENTAR O ESPÍRITO ONE AMNESTY Há quase 50 anos que a Amnistia Inter-nacional sabe, melhor do que qualquer outra organização, que “a união faz a força”. Os apelos lançados ao longo dos anos provaram que se cada um de nós escrever um simples postal, este soma-

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Notícias • Amnistia Internacional 16

-se a outros milhares que, em conjunto, ganham peso no mundo das relações internacionais. Há anos que defendemos que juntos podemos fazer a diferença! Está agora na altura de transportar este espírito (mais fortemente) para o interior do movimento. A Amnistia Internacional conta hoje com uma sede em Londres, meia centenas de secções nacionais, milhares de estruturas locais e milhões de activistas, apoiantes e membros, espalhados por todo o mundo. Uma di-versidade que dificulta a unidade, mas engrandece o movimento. Assim, nos próximos seis anos é fundamental criar novas formas de participação e de in-clusão, para que sejamos sempre, e cada vez mais, uma (e só uma) Amnistia.

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Maior investimento nos membros e apoiantes, orientando-os para diferentes formas de participação no movimento;

• Apostar no activismo local, nas estru-turas locais da Amnistia Internacional, especialmente nos países onde haverá uma nova aposta: no hemisfério Sul, a Leste e nos BRICS;

• Investir na criação do espírito “One Amnesty”, fomentando a união entre membros, apoiantes, voluntários e fun-cionários, para que o trabalho seja feito a uma voz;

• Transmitir a unidade do movimento ao mundo exterior, através da adopção, por todos, de uma mesma imagem, priori-dades semelhantes, uma forma comum de as abordar e de as comunicar e pro-cedimentos financeiros uniformizados.

2. MAIOR EFICÁCIA E ACCOUNTABILITY No mundo de hoje, complexo e desafiante, a Amnistia Internacional quer manter o rigor e a qualidade que a caracterizam e que fizeram da organização uma refe-rência mundial. Para tal, sabemos que é essencial tornar o movimento mais accountable, ou seja, criar objectivos mais concretos, mensuráveis em termos de impacto e que permitam pedir respon-sabilidades pelo seu cumprimento, ou incumprimento. Isto exige, nos próximos seis anos, uma aposta a vários níveis,

A APOSTA NOS RECURSOS

investindo nas diferentes fases daque-le que deve ser um mesmo trabalho: primeiro, na investigação; depois, nas acções criadas para combater a situação analisada; em seguida, na forma como estas causas são comunicadas ao mun-do e, por último, na avaliação da eficácia do trabalho realizado face à situação que se pretendia solucionar. Apostas que exi-gem voluntários e funcionários capazes e com espírito de liderança, que sejam, ao mesmo tempo, mais accountable.

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Avaliação regular da investigação de-senvolvida, mantendo uma análise estra-tégica do mundo, de forma a identificar ameaças e oportunidades e a apresentar soluções;

• Utilização das novas tecnologias para dar voz aos mais necessitados, para que

as violações aos direitos humanos não fiquem obscuras e para que todos pos-sam participar no combate a estas reali-dades;

• Comunicar mais eficazmente, respon-dendo às exigências do imediatismo, que passará por criar “centros noticiosos” a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana;

• Apostar na formação dos voluntários e funcionários da Amnistia, para poder atribuir-lhes mais competências e po-deres, num movimento que quer con-tinuar democrático;

• Tornar o movimento mais global, apos-tando na diversidade de género e de cul-turas no seu interior.

Ao planear os próximos seis anos, a Am-nistia Internacional tem, pelo menos, duas grandes certezas: 1) há problemas de direitos humanos a que não podemos voltar as costas e 2) é preciso mudar, externa e internamente. Tudo isto, de-sengane-se quem acredita no contrário, é impossível conseguir só com “boas intenções”. Para crescer, o movimento precisa de recursos financeiros fortes. Só assim poderá manter a isenção e o rigor que lhe são característicos, rumando a

mais e melhor investigação, maior poder para exigir mudanças nos Estados (e noutros actores internacionais) e uma visibilidade mais global para as viola-ções aos direitos humanos. Para além disso, é preciso distribuir mais eficaz-mente esses recursos, evitando a dupli-cação de esforços e utilizando o dinheiro onde ele faz mais falta. Assim, a nível financeiro serão duas as apostas essen-ciais nos próximos seis anos...

Seis palavras de ordem para os próximos seis anos ao nível da “Transformação Necessária”.

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1. RUMO AO CRESCIMENTO Nos próximos seis anos a Amnistia Inter-nacional tem como grande meta o cresci-mento, ou melhor, “pensar grande”. Uma atitude que exige uma aposta forte na parte financeira. Temos esperança que, de futuro, todas as pessoas do mundo percebam a importância de defender os direitos dos outros, quando os nossos estão minimamente assegurados, e que, como tal, se juntem ao movimento. Num mundo que se estima ir entrar numa nova era, com a crise financeira que ainda es-tamos a sentir, é preciso fazer crescer a base de apoio da Amnistia Internacional e torná-la mais firme. Para tal, são essen-ciais pilares bem fortes e estes são, sem dúvida, os nossos membros e apoiantes. Para além de pedir que continuem a con-tribuir financeiramente, vamos apostar em novas formas de participação para quem queira mais activismo. Vamos in-vestir em si, pois é graças ao seu apoio que continuamos a promover e defender os direitos de todos!

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Diversificar os mecanismos de an-gariação de fundos, apostando em novas formas de inspirar para os direitos hu-manos, com o objectivo de aumentar as receitas do movimento;

• Envolver mais activamente os membros e apoiantes que assim o desejarem, ape-sar dos seus donativos serem, só por si, uma forma muito válida de activismo.

• Estabelecer uma Linha Global de An-gariação de Fundos para o movimento

como um todo, no espírito One Amnesty, adoptando objectivos financeiros e estra-tégias de aumento de receitas comuns;

• Apostar na especificidade de cada secção nacional, podendo estas con-tribuir com o seu know-how para o mo-vimento em termos globais.

2. DISTRIBUIÇÃO ESTRATÉGICA DOS RECURSOSQuando temos uma Amnistia Interna-cional que percebeu que só a união faz a força, é preciso transpor esse espírito “One Amnesty” para o plano financeiro. No movimento, há vários anos que a visão de futuro é a de um mundo mais justo, em que cada pessoa desfruta dos seus direitos consagrados na Declaração Universal do Direitos Humanos e noutros padrões internacionais. Hoje continua-mos a pressionar os governos “faltosos” para que caminhem para este objectivo.

Porém, chegou a hora de sermos nós a tomarmos as rédeas da situação, au-mentando a presença onde somos mais necessários. Se a nossa promessa é con-seguir um mundo onde os direitos huma-nos imperam, vamos ajudar a construir os seus alicerces onde estes não estão a ser erguidos - e não apenas fazendo lobby aos Estados mais desenvolvidos, onde, naturalmente, estão as secções da Amnistia Internacional com mais fortes recursos.

OS PRÓXIMOS PASSOS:

• Distribuição estratégica dos recursos da Amnistia, tendo em conta as novas prioridades;

• Garantir a sustentabilidade do movi-mento;

• Investir, significativamente, no cresci-mento dos movimentos de direitos hu-manos nos locais onde estes são mais necessários e onde a Amnistia Interna-cional tem presença reduzida, ou seja, no hemisfério Sul e a Leste;

• Reforçar a accountability das finanças do movimento, com relatórios de contas periódicos e pormenorizados e uma avali- ação constante das conquistas alcan-çadas face ao investimento planeado e exigido;

• Acabar com a duplicação de gastos nos diferentes países onde a Amnistia está presente, adoptando mais fortemente o espírito One Amnesty.

© Amnistia Internacional

Delegados da Amnistia Internacional à Reunião do Conselho Internacional realizam uma acção pelo fim da repressão no Irão.

Seis palavras de ordem para os próximos seis anos ao nível da “Aposta nos Recursos”.

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Notícias • Amnistia Internacional 18

Um dos momentos-chave para a Amnistia Internacional nos próximos tempos será o ano de 2011, quando passarem precisamente 50 anos da publicação do artigo “The Forgotten Prisoners”, de Peter Benenson, no jornal The Observer. O texto centrava-se em dois portugueses que em 1960 ousaram erguer os copos e brindar à liberdade em pleno regime de ditadura, tendo por isso sido presos. O artigo de Benenson dava início a uma campanha de um ano pela amnistia de todos os prisioneiros de consciência do mundo, detidos apenas por defenderem os seus ideais políticos. Nascia assim o movi-mento internacional. Em 2011 será tempo de recordar tudo isto e de mostrar que a vela da Amnistia emana hoje mais luz que nunca. Para celebrar a AI@50 haverá muitas surpresas e novidades! Continuem connosco!

O Comité Executivo Internacional (CEI) o órgão executivo da Amnistia, providenciando liderança em termos globais e definindo o caminho a seguir. Os elementos que com-põem o CEI, oito pessoas obrigatoriamente de diferentes países e um tesoureiro, são todos voluntários e até agora eram eleitos de dois em dois anos. Neste ano de 2009 resolveu estender-se o mandato de alguns elementos do CEI para quatro anos. Além disso, na passada reunião do Conselho Internacional houve eleições para o novo Co-mité Executivo, tendo sido eleitos: Christine Pamp (Suécia); Euntae Go (Coreia do Sul); Guadalupe Rivas (México); Julio Torales (Paraguai); Louis Mendy (Senegal), Peter Pack (Reino Unido); Pietro Antonioli (Itália) e Vanushi Walters (Nova Zelândia). O novo te-soureiro da Amnistia Internacional é Bernard Sintobin.

A definição do Espaço Regional Europeu (ERS, na sigla inglesa) da Amnistia Inter-nacional (AI) e consequentes alterações organizacionais constituem algumas das alterações decorrentes do desenvol-vimento de “One Amnesty”.

A Assembleia Geral da Associação da União Europeia (EUA, na sigla inglesa),

realizada no passado mês de Junho em Îttre, Bélgica, aprovou por unanimidade a mudança do seu nome, estatutos e atribuições, dando origem à nova As-sociação Europeia da Amnistia Interna-cional. O actual escritório de Bruxelas (denominado EU Office) terá as suas funções adaptadas à nova situação, res-

pondendo perante um novo tipo de Di-recção, ficando agora sob a dependência conjunta das secções/estruturas que a constituem e do Secretariado Internacio-nal (IS, na sigla inglesa).

A Assembleia da EUA culminou um longo, complexo e polarizado processo de dis-cussão de quatro anos, envolvendo os

AI@50

NOVOS MEMBROS DO COMITÉ EXECUTIVO INTERNACIONAL

ONE AMNESTY E O ESPAÇO REGIONAL EUROPEU

Os participantes na Assembleia Geral da Associação da União Europeia da Amnistia Internacional, que decorreu em Junho de 2009.

© Victor Nogueira

© Amnistia Internacional

O novo Comité Executivo Internacional.

Retrato do falecido fundador da Amnistia Internacional, Peter Benenson, tirado em 2002.

© Privado

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Notícias • Amnistia Internacional 19

seus membros, as secções, o Fórum de Presidentes (denominado Chairs Forum, em língua inglesa), o Fórum de Direc-tores, o Comité Executivo Internacional e o Conselho Internacional. Nas secções também foram efectuados debates e discussões, como aconteceu entre nós, nomeadamente em Conselho Geral.

A EUA nasceu da consolidação de um projecto desenvolvido autonomamente por secções europeias desde 1985, que pretendia introduzir os direitos huma-nos no coração das políticas da então Comunidade Económica Europeia (CEE), aproveitando, de forma coordenada, os calendários das instituições comuni-tárias e as acções e campanhas da AI. O escritório estabelecido em Bruxelas passou a coordenar e a promover uma rede especializada que inclui as secções europeias e as estruturas dos países em processo de integração, desenvolvendo acções de informação, aconselhamento, monitorização e lobby junto das insti-tuições e dos mais relevantes actores políticos, ONG e média europeus.

Apesar do seu mérito, é reconhecido que sempre houve algumas dificuldades e tensões, tanto na dimensão profissional (EU Office e o IS), como no trabalho vo- luntário desenvolvido nas secções. Profissionalmente, a distância, a dimen-são, a especialização, a flexibilidade, a sensibilidade para a importância da di-mensão europeia, constituíam algumas das razões de incompreensão entre Lon-dres e Bruxelas, a estrutura central e a

local. Nas secções, a especificidade das acções propostas geralmente não era adequada à participação do activista de base e a especialização exigível do tra-balho também não o tornava suficiente-mente conhecido dos membros e até de dirigentes, tornando difícil um pleno comprometimento com as responsabili-dades assumidas.

Em 2005, a Assembleia Geral da EUA propôs uma revisão do trabalho europeu da AI que o tornasse mais integrado e efectivo. Por iniciativa do Comité Execu-tivo Internacional foram criados grupos de trabalho que fizeram diagnósticos e apresentaram propostas, que susci-taram uma ampla discussão.

Foi consensual que a Amnistia Interna-cional deve passar a abordar de forma integrada e coerente todas as insti-tuições relevantes do Espaço Regional Europeu (sobretudo a União Europeia e Conselho da Europa, mas também a OSCE-Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), que as secções, estruturas e o Secretariado Internacional se comprometem num planeamento con-junto de acções que permita maximizar as oportunidades existentes e que o es-critório de Bruxelas deve alargar a sua intervenção, neste novo enquadramento. Para ultrapassar as últimas divergências e esclarecer o processo de transição foi preparado um documento de discussão (MoU, Memorandum of Understanding) que teve lugar na Reunião Geral Anual 2009 (AGM, na sigla inglesa) da EUA.

A Europa é um actor político funda-mental na cena internacional, com uma grande e diversa população, grande poder económico e capacidade de influ-enciar outros países. A democracia e os direitos humanos fazem parte integrante das constituições nacionais e dos valores de referência das instituições europeias. Mas a Europa dos bons princípios, que se toma como referência moral univer-sal, é politicamente frágil e ambivalente, incoerente e pouco credível, dividida por menoridades e rivalidades estreitas, vul-nerável aos grandes interesses económi-cos, cega ou distraída às violações de direitos humanos cometidas dentro das suas fronteiras – como as rendições, ou a violência xenófoba, comprovam.

Há muito a fazer para esbater a pretensa superioridade europeia em matéria de direitos humanos, especialmente no quadro da campanha “Exija Dignidade”, avaliando e combatendo as políticas da União com impacto negativo nos direitos humanos, a nível interno e externo, se-jam elas decorrentes da política externa, comercial, de cooperação, de segurança, ou outras. As vítimas podem ser defen-sores de direitos humanos, migrantes e requerentes de asilo, vítimas de conflitos e violências, marginalizados, pobres e ex-cluídos, membros de grupos minoritários ou marginalizados, detidos ou vítimas de maus tratos prisionais. Não os podemos esquecer.

O Espaço Regional Europeu deve reforçar, na Europa, esse trabalho fundamental, visando obter o máximo impacto, interno e em outras regiões, procurando desen-volver na AI mais solidariedade, diversi-dade, democracia e transparência, esta-belecendo internamente melhores pontes entre os responsáveis pela governança e a gestão, as direcções e os directores das secções, os profissionais do IS e do EU Office. É um desafio aliciante.

Por Victor Nogueira - Membro do EU Council (2004/09)

Os representantes das várias secções pertencentes à Associação da União Europeia e participantes na Assembleia Geral de 2009 assinaram o seu nome num quadro. Na imagem vê-se o delegado grego a cumprir o protocolo.

© Victor Nogueira

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Notícias • Amnistia Internacional 20

Imaginando que todos nós recebíamos o Salário Mínimo Nacional, teríamos de viver com 450 Euros mensais, ou 15 Eu-ros por dia nos meses com 30 dias. Ima-ginemos então o que seria ter de parti-lhar essa quantia com filhos e outros familiares a nosso cargo... Para dificultar ainda mais, pensemos agora por alguns minutos como seria viver com menos de 80 cêntimos por dia... Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano de 2007, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no Quénia esta é uma realidade para 19,7% da população, em

Desalojamentos forçados continuam em ÁfricaQuando a 5 de Outubro se assinalou o Dia Mundial do Habitat, a Amnistia Internacional lançou, no âmbito da campanha “Exija Dignidade”, uma acção global que visa erradicar aquela que continua a ser uma realidade em muitos países africanos: os desalojamentos forçados. Uma violação dos direitos humanos que muito contribui para as estimativas que apontam que em 2030 um terço da Humanidade estará a viver em bairros degradados

Angola 54,3% dos cidadãos sobrevivem com esta quantia e na Nigéria a situação é ainda pior (64,4%).

Números que nos ajudam a vislumbrar o que será a vida nestes países e a per-ceber a raiz das deploráveis condições de habitabilidade aí existentes. Condi-cionantes que muito contribuem para uma realidade para a qual a Amnistia Internacional tem vindo a alertar nos úl-timos anos e que são, ao mesmo tempo, sua consequência: os desalojamentos forçados. Demolições que atentam con-tra os tratados internacionais, uma vez que “as pessoas são retiradas contra a sua vontade das casas ou terras que ocupavam, sem protecção legal e sem que lhes sejam dadas quaisquer alter-nativas ou ressarcimento”, explica Lucy Freeman, da equipa da Nigéria da Am-nistia Internacional. Uma violação grave aos direitos humanos que não podíamos deixar de voltar a destacar quando a 5 de Outubro se assinalou o Dia Mundial do Habitat.

Para comemorar a data, a Amnistia lan-çou uma campanha internacional cen-trada nos desalojamentos forçados em

África, uma vez que o primeiro país deste continente a figurar no já referido Índice de Desenvolvimento Humano é o Gabão, que surge em 103º lugar entre os 182 Estados analisados. África é, por isso, o único continente que não tem um único país representado entre os considera-dos de desenvolvimento humano “alto” ou “muito alto”. Segundo a Amnistia Internacional, para isto contribuem for-temente os desalojamentos forçados que aí se perpetuam, como iremos ver nos quatro exemplos que aqui apresenta- mos. Uma realidade a que nós portu-gueses devíamos ser particularmente sensíveis, uma vez que África está cravada no coração de muitos e ficou gravada na nossa História, quando em Ceuta, em 1415, começou a incursão por-tuguesa por mares nunca dantes nave-gados. Hoje, quase 600 anos depois, é a nossa vez de fazermos História! Vamos acabar com os desalojamentos força-dos em África! Vamos impedir que em 2030 haja dois mil milhões de pessoas a viverem em bairros degradados e que a pobreza se multiplique ainda mais.

O QUE SÃO DESALOJAMENTOS FORÇADOS? Proibidos por tratados internacionais – como o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais – os desalojamentos forçados, ao contrário do que o nome indica, não são necessariamente os que ocorrem com recurso à força. Sendo comum esta ser usada, um desalojamento é forçado quando a lei internacional é violada, ou seja, quando este não é entendido como último recurso. Para que seja legal, um desalojamento só deve acontecer depois de terem sido exploradas todas as alternativas viáveis com as comunidades afectadas. Estas têm também de ser formalmente avisadas. Os Governos devem ainda, após o desalojamento, assegurar que ninguém fica sem abrigo e que as vítimas são devidamente compensadas pelas suas perdas.

Membros da Igreja procuram os seus bens entre os escombros da demolição que ocorreu no bairro degradado de Makoko, em Lagos, Nigéria, a 6 de Maio de 2005.

© George Osodi

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Notícias • Amnistia Internacional 21

ANGOLAUM PARAÍSO SÓ PARA ELITES

“Em 2001 começámos a registar os de-salojamentos forçados que provavel-mente já vinham a acontecer em An-gola”, refere Marise Castro, campaigner da Amnistia Internacional para o país. Desde então, pelo menos 10.000 famílias foram desalojadas só na capital, Luanda. Um problema que nos obriga a recordar os 27 anos de guerra civil no território, quando a destruição e o recrutamento de militares no meio rural levaram centenas de pessoas a procurar refúgio na capital. Cresceram assim os bairros degradados, que nunca chegaram a ser legalizados, seja porque muitos angolanos não têm sequer bilhete de identidade, ou porque na altura Angola era “terra de nin-guém”. Em 2002, a realidade passou a ser outra, quando o fim do conflito trouxe um grandioso investimento financeiro. Multiplicaram-se os projectos de recons-trução urbanística e a terra, que antes poucos queriam, passou a valer muito dinheiro. Hoje, muitos dos 4,5 milhões de habitantes de Luanda continuam em risco de perderem as suas casas.

NIGÉRIAUM DOS PRINCIPAIS VIOLADORES DO DIREITO À HABITAÇÃO

Em 2006 a Nigéria recebeu o “prémio” para principal violador do direito à habi-

tação, anualmente atribuído pelo Centro para o Direito à Habitação e Desaloja-mento (conhecido pela sigla COHRE). Para tal muito contribuíram os desa-lojamentos forçados autorizados pelo Governo, que continuam a acontecer quase todas as semanas desde 1999, quando a democracia voltou a imperar no país, denuncia Lucy Freeman, cam-paigner da Amnistia Internacional para a Nigéria. Os motivos anunciados têm variado, mas são quase sempre os mes-mos a que recorrem outros Governos: o desenvolvimento e o embelezamento das cidades. Em nome de estradas ou (até) de melhores condições de habitabilidade para as populações, são enviadas para os bairros degradados retroescavadoras que destroem tudo à sua passagem. Aos habitantes resta procurarem abrigo nas áreas circundantes, até serem no-vamente expulsos. Desde o ano 2000, a Amnistia registou mais de dois milhões de desalojamentos forçados na Nigéria.

QUÉNIAONDE OS DESALOJAMENTOS SÃO “NORMAIS”

Os últimos registos, de 2006, indicam que só em Nairobi, capital do Quénia, há 199 estabelecimentos informais que abrigam mais de dois milhões de pes-soas. Esta forma de vida, sem acesso a recursos essenciais, tornou-se “normal” no país antes ainda da sua independên-cia, em 1963. Segundo Amy Agnew, cam-paigner da Amnistia Internacional para o Quénia, estes bairros foram crescendo sob “a aprovação do próprio Governo, que os deixou serem construídos em terras que estavam reservadas a pro-jectos de infra-estruturas”. Sendo as-sim, os desalojamentos forçados têm sido uma constante no país e ocorrem à medida que os projectos vão sendo concretizados. Para tudo isto muito con-tribui o facto de as populações não terem

qualquer protecção legal no país, ficando até vulneráveis a aumentos arbitrários nas rendas das precárias habitações onde vivem. Pessoas sem qualquer voz, que o Governo parece ter esquecido.

ZIMBABUÉA SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS DOS DESALOJAMENTOS

Com poucos antecedentes no que diz respeito a desalojamentos forçados, o Zimbabué é um bom exemplo de quão duradouras podem ser as suas con-sequências. Tudo aconteceu a 19 de Maio de 2005, quando o Governo zim-babueano colocou em marcha a Ope-ração Murambatsvina, que literalmente significa “afastar o lixo”. O objectivo (anunciado) era a limpeza das cidades. Simeon Mawanza, campaigner da Am-nistia Internacional para o país, refere que “houve indícios de que o Governo queria dispersar as pessoas dos bair-ros onde pudessem ocorrer revoltas”. Seja qual for o motivo, cerca de 700.000 pessoas foram desalojadas. Uma peque-na minoria voltou a ter casa, embora sem título de propriedade, e a grande maioria ficou entregue à sua sorte, o que ajudou a sobrelotar os muito degradados bairros dos subúrbios do Zimbabué, onde faltam serviços tão básicos como a água canali-zada. Uma situação que muito contribui para a pobreza existente no país.

© Privado

Beatriz, habitante de um dos muitos bairros demolidos em Lu-anda, e o seu filho naquela que outrora foi a sua casa.

Um dos habitantes do bairro degradado de Makoko, em Lagos, carrega o que foi uma das cadeiras da sua casa, demolida em 2006.

Uma criança junto à água poluída que corre num dos maiores bairros degradados do mundo, em Kibera.

© George Osodi

© Amnistia Internacional

A polícia anti-motim patrulha um bairro de Harare enquanto as retroescavadoras cumprem a sua missão, em Junho de 2005.

© Tsvangirayi Mukwazhi

SAIBA MAIS:Leia os relatórios da Amnistia Internacional sobre cada um dos países e os vídeos realizados nesses locais em www.amnistia-internacional.pt (Aprender / Revista da Amnistia Internacional)

O QUE PODE FAZER:A Amnistia Internacional (AI) lançou a campanha “Casa das Assinaturas”. Sendo Angola o único país de língua portuguesa desta acção, a AI Portugal quer recolher, en-tre os portugueses, 10.000 assinaturas para enviar para o país. Tudo o que tem de fazer é assinar o postal que se encontra no interior da revista e enviar por correio para a sede da Amnistia Internacional Portugal.

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Notícias • Amnistia Internacional 22

O Verão é para muitos portugueses sinónimo de férias, praia e...festivais de música. Assim, se Maomé não vem à montanha, a montanha tem de ir a Maomé. Uma abordagem adoptada pela Amnistia Internacional (AI) Portugal já em 2004, quando marcou presença no primeiro Rock in Rio Lisboa. Este ano de 2009 a aposta foi ainda maior e falou- -se de direitos humanos em três festivais de Verão. O objectivo é estar mais perto dos activistas e falar-lhes, cara-a-cara, quando estão mais disponíveis.

Este ano de 2009, no âmbito da cam-panha “Exija Dignidade”, a presença nos festivais de Verão teve ainda um outro propósito: lembrar que todos podemos (e devemos) ter voz na resolução dos pro-blemas globais. Assim, num mural de seis por dois metros com uma imagem alusiva às violações aos direitos huma-nos, os festivaleiros foram convidados a deixar uma mensagem lembrando as suas preocupações ou sugerindo

Amnistia Internacional Portugal nos Festivais de VerãoNos meses quentes de Verão a secção portuguesa da Amnistia Internacional acompanhou milhares de portugueses e seguiu rumo aos festivais de música

Por Daniela Jerónimo e Cátia Silva

soluções. Ideias, desabafos e propos-tas que ficaram registados em mais de 1.500 post-it que serão entregues às au-toridades portuguesas.

FESTIVAL MÚSICAS DO MUNDODE 17 A 20 DE JULHO

A acção da Amnistia Internacional Por-tugal no Festival Músicas do Mundo, que decorreu em Sines, foi inaugurada pelo Presidente da Câmara Municipal, que num acto solene colocou o primeiro post-it no mural. Seguiram-se os vereadores e outros elementos da autarquia.

A equipa da AI esteve junto à entrada secundária do Castelo de Sines, com o mural e com uma banca de divulgação e venda de merchandising. Nos quatro dias de Músicas do Mundo a fotografia do mural ficou quase totalmente coberta. Um sucesso que não é comparável ao de Paredes de Coura, mas que se com-preende pela localização, longe da porta

principal do Castelo onde se vivia o fes-tival com euforia. O balanço final acabou por ser muito positivo, uma vez que a acção foi recebida com entusiasmo, cu-riosidade e admiração.

FESTIVAL DE PAREDES DE COURADE 29 DE JULHO A 1 DE AGOSTO

No recinto místico do Festival de Pare-des de Coura, a Amnistia ficou bem no centro dos acontecimentos, junto aos “comes e bebes” e ao palco principal. O solo acidentado e o tempo inconstante ameaçavam a presença da AI, mas ape-sar das intempéries o mural dos direitos humanos ergueu-se. Nada fazia prever o sucesso estrondoso que no primeiro dia deixou a equipa da Amnistia sem mãos a medir, face às filas duplas de festiva-leiros que queriam participar. Com tanta agitação, foi a uma velocidade estonte-ante que o mural se cobriu de post-it e as petições de assinaturas, enquanto o material para venda ia esgotando.

Os dias seguintes foram mais calmos, com o mau tempo e a mudança para junto do palco secundário do festival, de forma a proteger o mural dos excessos da noite. A lágrima colocada num post-it deu lugar a muitos comentários, con-versas e palavras de incentivo a acções como esta. Foram, por tudo isto, muitas as surpresas em Paredes de Coura, ten-do ficado provado que nos festivais nem tudo se resume a cerveja e rock and roll!

FESTIVAL JAZZ EM AGOSTODE 6 A 9 DE AGOSTO

Naquele que é tradicionalmente o último

© AI Portugal

O mural dos Direitos Humanos que percorreu os Festivais de Verão.

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Notícias • Amnistia Internacional 23

CONCURSO “ARTE PARA A DIGNIDADE”Em todo o mundo, o Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de Dezembro) é comemorado com pompa e circunstância. Em Portugal a Arte foi o seu anfitrião

mês de Verão, a Amnistia Internacional Portugal mudou radicalmente de registo ao participar no festival Jazz em Agos-to da Fundação Calouste Gulbenkian. Por motivos de agenda, não foi possível acompanhar o evento desde o início, mas

o mural dos direitos humanos esteve du-rante quatro dias bem na frente de uma das portas principais do recinto.

Apesar da localização privilegiada, a receptividade não foi tão massiva como

em Paredes de Coura, o que se deveu muito provavelmente a uma das princi-pais características do Jazz em Agosto: os concertos ocorrem à hora marcada, sendo a entrada feita apenas meia hora antes. Nestes minutos, portugueses e es-trangeiros entravam em massa e alguns passavam pelo mural com a mesma velocidade com que levam o dia-a-dia. Muitos, porém, pararam para deixar uma mensagem e para falar de direitos humanos. No final, ficou a sensação de missão cumprida, com o mural (quase) repleto de sugestões e ideias muito in-teressantes. É caso para dizer: foram poucos, mas bons!

Quando globalmente se assinalou o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a 10 de Dezembro, foram conhecidos os vencedores do concurso “Arte para a Dignidade”. Lançado em Maio deste ano, no âmbito da mais recente cam-panha da Amnistia Internacional “Exija Dignidade”, pretendeu, através da arte, sensibilizar os portugueses para a im-portância da Dignidade Humana, ao mesmo tempo que espera ser uma fonte de inspiração para que nos tornemos to-dos mais activos na luta pelos direitos que são de todos nós, Seres Humanos!

Das 34 obras a concurso, foram distin-guidos os três primeiros lugares de cada uma das quatro categorias do prémio: pintura, fotografia, escultura e conto. Uma escolha criteriosa que contou com um júri de peso: o ilustrador André Letria, o fotógrafo António Pedro Ferreira, a ar-

tista plástica Joana Vasconcelos e a jor-nalista Paula Moura Pinheiro, apoiados por Pedro Krupenski, Director-Executivo da secção portuguesa da Amnistia. Ao júri a Amnistia Internacional agradece a colaboração e a profunda dedicação.

CATEGORIA: PINTURA1.º LUGAR

“Pain Under Cover”, de Zfarrajota.

Uma pintura em acrílico sem tela onde a autora lança um desafio: “Se conseguir-mos Olhar através das nossas vendas, veremos a Dor invisível que se esconde atrás das mantas esfarrapadas, de cor-pos sujos marcados pela pobreza”.

O segundo lugar da categoria de “Pin-tura” foi entregue a José Assis, pela pin-tura sobre papel intitulada “Erguer”. Foi

ainda distinguida, com o terceiro lugar, a obra “Direito à Vida”, de Paulo Carnei-ro, que apela à liberdade e ao bem-estar da Humanidade.

© AI Portugal

As mensagens deixadas no mural da Amnistia, que serão enviadas aos governantes portugueses.

A Amnistia Internacional Portugal agradece à Câmara Municipal de Sines a possibili-dade de participar no Músicas do Mundo, à Ritmos e Blues por permitir a presença no Festival de Paredes de Coura e à Fundação Calouste Gulbenkian por tornar possível fa-lar de direitos humanos no Jazz em Agosto.

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Notícias • Amnistia Internacional 24

Saiba mais sobre os vencedores e as obras do concurso em www.amnistia-internacio-nal.pt (Aprender / Revista da Amnistia In-ternacional). Assista ainda à exposição dos trabalhos patente na livraria Ler Devagar, no espaço LX Factory, em Lisboa, até 30 de Dezembro.

CATEGORIA: FOTOGRAFIA1.º LUGAR

“Não é esta a luz que procuro”, de Tânia Espírito Santo

Num cenário que pode ser o caminho que qualquer um de nós percorre no seu dia- -a-dia, a autora apela a que não fique-mos indiferentes. “Todos os dias passa-mos por vultos, por corpos largados ao abandono da dignidade da vida que já tiveram e daquilo que outrora foram”.

No segundo lugar da categoria de “Fo-tografia” ficou uma imagem sem título, de Cláudia Morais. O terceiro lugar foi entregue a Marta Lopes Silva pela fo-tografia (ou postal) que visa aludir a uma das formas de violência sobre as mulheres: a mutilação genital feminina.

CATEGORIA: ESCULTURA1.º LUGAR

“Dignidade”, de Alberto Miranda

“A figura humana sobre a torre paralele-pípeda (os quatro cantos do mundo) simboliza a autoridade e superioridade moral do indivíduo sobre o meio agreste (...). O tapete de pedras brancas (símbolo de pureza) representa o árduo caminho para atingir e/ou manter a dignidade do Homem, como indivíduo, num mundo de exclusão, desigualdade, violência e ra-cismo”, esclarece o autor.

Nesta categoria do prémio “Arte para a Dignidade” houve apenas duas obras a concurso. O segundo lugar foi entregue a Graça Patrão pela obra “Mulher Ferida”,

que aborda o problema da violência de género e alerta para o facto da mulher ferida poder ser qualquer uma que passa por nós na rua.

CATEGORIA: CONTO1.º LUGAR

“Os Três Efes”, de João Manuel da Silva Rogaciano

Filomena chega a casa depois de um dia inteiro de trabalho árduo. Mas no lar es-peram-na muitos outros problemas... Se-gundo o autor, “dignidade é uma palavra cujo conceito é desconhecido naquela casa e é um direito sonegado (pelo filho e pelo marido) àquela mulher”. Para Paula Moura Pinheiro, o conto mereceu o primeiro lugar porque “consegue colo-car-nos na pele desta mulher, no centro das suas circunstâncias que são, como sabemos, as circunstâncias de muitos, de demasiados de nós”. Ao mesmo tem-po, “Os Três Efes ajuda a não nos deixar esquecê-lo”.

Os segundo e terceiro lugares da cate-goria “Conto” foram atribuídos pela Amnistia Internacional, enquanto júri complementar no concurso. O segundo lugar foi entregue a “Monocromia”, de Fernando Albino Guimarães Gonçalves, que retrata as memórias de um homem encarcerado, num qualquer país do mun-do. Em terceiro lugar ficou o conto “Os Sonhos” pagam-se caros, de Zina Maria Neves Gomes de Abreu, que através de um thriller desvenda as “indignidades” que podem ser cometidas em nome da ordem financeira dominante.

GRUPOS E NÚCLEOS DA AMNISTIA INTERNACIONAL(grupo, localidade, coordenador, email, blog)

GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)Coordenador a designar: [email protected]; http://grupo1aiportugal.blogspot.com/ GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)Lucília José Justino: [email protected] GRUPO LOCAL 06 (Porto)Virgínia Silva: [email protected]; http://aiporto.blogspot.com GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)Valdemar Mota: [email protected] LOCAL 16 (Ribatejo Norte)Yvonne Wolf: [email protected] LOCAL 18 (Braga)José Luís Gomes: [email protected] LOCAL 19 (Sintra)Fernando Sousa: [email protected]; http://blog-19.blogspot.com GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)Luís Braga: [email protected] GRUPO LOCAL 32 (Leiria)Maria Fernanda Ruivo: [email protected] GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)Joana Valente: [email protected]; http://amnistiaveiro.blogspot.com/ GRUPO LOCAL 34 (Matosinhos)Otília Gradim Reisinho: [email protected]; http://nucleodematosinhos.blogspot.com/

NÚCLEO DE ALMADAMarlene Oliveira da Conceição: [email protected]; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/ NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZRui Mendes: [email protected] NÚCLEO DE CASTELO BRANCO(a designar): [email protected]; http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/ NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)Vitória Triães: [email protected] NÚCLEO DE ESTREMOZMaria Céu Pires: [email protected]ÚCLEO DE GUIMARÃESCristina Lima: [email protected] NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA Teresa Mendes: [email protected]; http://aioeste.blogspot.com NÚCLEO DO PORTOAndré Rubim Rangel: [email protected] NÚCLEO DE TORRES VEDRASAna Lopes: [email protected];GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOSFernanda Sousa: [email protected] CO-GRUPO DA CHINAMaria Teresa Nogueira: [email protected] DA PENA DE MORTECoordenador a designar: [email protected] GRUPO DE JURISTASSónia Pires: [email protected]ÚCLEO LGBTManuel Magalhães: [email protected]

Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser pioneiro e começar o activismo na sua localidade. Fale connosco pelo [email protected] ou ligando 213 861 652.

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Notícias • Amnistia Internacional 25

JOVEMX Campo de Trabalho da Amnistia Internacional PortugalUma década a educar para os direitos humanosNo fim-de-semana que antecedeu o feriado de 1 de Dezembro muitos portugueses aproveitaram para tirar umas mini-férias. Mais de meia centena de jovens preferiram passar os quatro dias a falar de direitos humanos. Assim decorreu o X Campo de Trabalho da Amnistia Internacional Portugal

Realizou-se, pelo décimo ano consecu-tivo, o Campo de Trabalho da Amnistia Internacional (AI) Portugal. Na Colónia de Férias da Praia Azul, em Torres Vedras, 57 jovens com idades entre os 14 e os 18 anos estiveram quatro dias – entre 28 de Novembro e 1 de Dezembro – a falar so-bre direitos humanos e a aprender mais sobre os problemas do mundo cuja re-solução também depende deles...

SÁBADO, 28 DE NOVEMBRO

As boas-vindas ao X Campo de Trabalho da Amnistia Internacional Portugal foram dadas pelas 14 horas, quando mais de meia centena de jovens entraram de ma-las e bagagens na Colónia da Praia Azul. Distribuídas as camaratas, a AI Portugal e a Câmara Municipal de Torres Vedras, parceira no evento, deram início aos tra-balhos. Seguiu-se depois o lanche, para abrir o apetite para uma sessão sobre a Amnistia Internacional e o trabalho rea-lizado na promoção e defesa dos direi- tos humanos. Para organizar ideias, os participantes foram divididos em sete grupos e tiveram de criar um cartaz so-bre a organização, que depois foi apre-sentado a todos. À noite foram realizados jogos com o objectivo de “quebrar melhor o gelo” entre os participantes. E este foi totalmente quebrado!

DOMINGO, 29 DE NOVEMBRO

O dia começou com um assunto bem sério: a pena de morte. A forma adoptada para falar sobre o tema foi ainda mais formal: simular uma Assembleia Geral da Orga-nização das Nações Unidas onde estava a ser debatida uma Moratória à Pena de Morte. Para formar uma opinião, foram ouvidos dois representantes de cada um

dos lados da questão e os jovens, que falaram em nome de sete Estados: três retencionistas, um abolicionista para crimes comuns e três abolicionistas. Em voto secreto, os participantes expressa-ram a sua opinião sobre a pena de morte e, caso a Assembleia tivesse sido real, a pena capital teria sido abolida do mundo com 78% de votos a favor da moratória, 14% contra e 5% de abstenções.

À tarde falou-se de discriminação, que já tinha sido referida pelo facto de existirem mais negros que brancos no corredor da morte dos Estados Unidos da América. Para abordar a questão, os 57 jovens foram divididos em dois grupos. Foi através de exercícios práticos que o primeiro explorou a discriminação com base na orientação sexual e o segundo os diferentes tipos de discriminação, que originam exclusão social. Temáticas polémicas que os grupos apresentaram depois um ao outro. Para descompri-mir, a Colónia da Praia Azul recebeu o grupo “Ritmical: Da Rua”, constituído por jovens com idades semelhantes às dos participantes do Campo, mas com uma história de vida muito diferente, uma vez que todos vivem ou viveram na rua. A noite terminou em festa total com os bombos dos “Ribombar”, da Escola Básica Padre Vítor Melícias (Torres Ve-dras). Uma noite promovida pela Câmara Municipal.

SEGUNDA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO

A manhã do terceiro dia do Campo de Trabalho da Amnistia Internacional foi dedicada à pobreza, um dos assuntos que tem estado na ordem do dia um pou-co por todo o mundo e no qual muito pou-

cos jovens pensam. Em primeiro lugar foi apresentada a campanha “Exija Digni-dade”, da Amnistia Internacional, que pretende erradicar a pobreza do mundo através de três acções: 1) responsabili-zando os que assumiram o compromisso de erradicar a pobreza; 2) facilitando o acesso dos mais necessitados aos re-cursos necessários para que lutem pelos seus direitos e 3) encorajando a partici-pação das populações nos processos de decisão que lhes dizem respeito.

Logo depois os jovens falaram com Ta-tiana Moura, do Núcleo de Estudos para a Paz do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sobre bair-ros degradados. No centro do debate estiveram as favelas do Rio de Janeiro, onde a investigadora desenvolveu uma tese e tem um projecto ligado à violência armada. O mote foi dado por um episódio da série brasileira “Cidade dos Homens”. Depois da conversa, que serviu para des-fazer mitos, os jovens ganharam novo ânimo para a última tarde de trabalho, dedicada ao activismo. Perceberam en-tão como podem ajudar a salvar o mundo e em grupo programaram uma actividade para os 50 anos da Amnistia Internacio-nal, que se assinalam em 2011. A noite, à semelhança do que já vinha a acon-tecer, foi de verdadeira festa com uma sessão de karaoke que pôs os 57 jovens a cantar e a dançar.

TERÇA-FEIRA, 1 DE DEZEMBRO

O feriado da Restauração da Independên-cia portuguesa foi o dia do adeus para o Campo de Trabalho, que marcou uma década passada desde a criação deste projecto de educação para os direitos

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A MELHOR ACTIVIDADE: “A da pena de morte, porque é um problema global, que nos interessa a todos. E a do activismo, que é uma área muito importante.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O apoio das pessoas e a alegria. O sorriso que tiveram sempre para nós [participantes no Campo de Trabalho].”

O QUE APRENDI: “Não sabia que a Amnistia defendia tanto o Ser Humano. E discutimos vários assuntos. Nós estamos aqui, mas temos pessoas que estão do outro lado do mundo a sofrer. E não sabia, por exemplo, que havia casos como o daquela mulher que se divorciou e ia ser apedrejada [Amina Lawal] e que com a ajuda das pessoas conseguiu ser salva.”Lino Pereira, 15 anos, 10.º ano, Centro de Estudos de Fátima, em represen-tação do Grupo 1

A MELHOR ACTIVIDADE: “Pensando em termos de grupo, um dos trabalhos que ficou mais bem feito foi o do planeamento de uma actividade para o 50.º aniversário da Amnistia Interna-cional. Talvez porque era um trabalho mais prático, ou porque já estávamos habituados a trabalhar uns com os outros.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “A primeira noite, de jogos, apesar de eu ter um pouco de mau perder.”

O QUE APRENDI: “Já trazia ideias bem formadas em relação a vários temas, mas pensando, por exemplo, na pena de morte, comecei a ver os dois lados da questão. As pessoas normal-mente pensam sempre que ou é sim ou não, mas temos de ponderar vários factos.”Luís Miguel Dias, 15 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Bandeira (Santarém), em representação do Grupo 3

A MELHOR ACTIVIDADE: “A acção sobre a não discrimina-ção.Gostei porque era um grupo mais pequeno e podemos abrir-nos mais. Era uma espécie de brainstorming... “

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O espectáculo do grupo Rit-mical e os tambores dos Ribombar.”

O QUE APRENDI: “Havia coisas em que nunca tinha pen-sado, embora soubesse do assunto, como alguns dados so-bre a pena de morte. Nunca me tinha passado pela cabeça que no corredor da morte [nos Estados Unidos da América] há mais negros que brancos. Apercebi-me que não se trata só da questão de tirar o direito à vida, mas também de dis-criminação.”Sílvio Vieira, 15 anos, 10.º ano, Colégio de S. Miguel (Fátima), em repre-sentação do Grupo 2

A MELHOR ACTIVIDADE: “Todas as actividades obrigaram a trabalhar e a pensar muito, mas em termos de grupo a que funcionou melhor foi talvez a primeira, onde tivemos de fazer um cartaz de um Grupo de Estudantes da Amnistia.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “O convívio entre as pessoas, principalmente à noite.”

O QUE APRENDI: “Sobretudo sobre as favelas no Brasil. Não sabia quase nada sobre isso. Pensava que as favelas fos-sem um sítio onde não há dinheiro, nem comida e onde todos quisessem era ganhar dinheiro para conseguirem sair dali. Mas aquilo é um estilo de vida, as pessoas não querem sair de lá...”Beatriz Carvalhana, 15 anos, 10.º ano, Colégio de S. Miguel (Fátima), em representação do Grupo 4

GRUPO 1

GRUPO 3

GRUPO 2

GRUPO 4© AI Portugal © AI Portugal

© AI Portugal© AI Portugal

humanos pela secção portuguesa da AI. Antes do regresso a casa, houve ainda tempo para um último jogo, que tinha

como fundamento os Dias Internacionais relacionados com os direitos humanos. E foi com muitos abraços e promessas de

reencontro que terminou mais um Campo de Trabalho da Amnistia Internacional.

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GRUPOS DE ESTUDANTES DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL (Coordenadores e emails/blogs)

• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL (Fátima) Sónia Oliveira: [email protected] • GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)Jorge Carvalhais: [email protected]• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ALBUFEIRA Rosaria Rego: [email protected]; grupodaesaai.blogspot.com • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)Fernanda Vicente: [email protected] • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ERMESINDE Maria Arminda Sousa: [email protected]; www.ai-ese.pt.vu • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE FERNÃO MENDES PINTO (Almada)Marta Reis: [email protected] • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE VILHENA (Porto)Carla Ferreira: [email protected]• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA LAMAS (Torres Novas)Teresa Gomes: [email protected]• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA MARIA MAIOR (Viana do Castelo)Cristina Soares: [email protected]; amnistisiados.blogspot.com • GE DA FACULDADE DE DIREITO DE LISBOAAna Matos Ferreira: [email protected]• GE DO ISCTEAna Monteiro: [email protected]• ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEMGonçalo Marcelo: [email protected]; www.reajportugal.blogspot.com

Se ainda não existe um Grupo da Amnis-tia Internacional na tua escola, podes ser tu a criá-lo. Nós dizemos como... Escreve- -nos para [email protected] ou telefona para o 213 861 652.

A MELHOR ACTIVIDADE: “A da pena de morte, porque tivemos mais pos-sibilidade de interagir e de dar as nossas próprias opiniões... ao mes-mo tempo que tivemos de não dar as nossas próprias opiniões [quan-do representaram um país abolicio-nista ou retencionista]. Aumentou o nosso poder de argumentação.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “A festa com os Ritmical, que foi fantástico, e os Ribombar.”

O QUE APRENDI: “Primeiro aprendi o que é a Amnistia Internacional, que não sabia. E também não tinha bem a noção como estavam as coisas no mundo. Não sabia muito sobre a pena de morte, sobre a pobreza,... São coisas em que nunca pensei muito. Aqui fiquei com mais noção dos problemas actuais.”Michelle Tomás, 16 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Bandeira (Santarém), em representação do Grupo 5

A MELHOR ACTIVIDADE: “A da pena de morte, porque é um assunto polémico e obrigou a pensar noutras ideias. Tivemos de defender aquela que não é bem a nossa opinião [ao representar um país abolicio- nista ou retencionista]. Aprendemos a analisar vários pontos de vista.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “As pessoas... Na escola estou com muito trabalho e nem sempre sou muito sociável. Aqui fiz novos amigos, de todo o país.”

O QUE APRENDI: “Tudo o que falámos são coisas implícitas na vida, mas não pen-samos nelas porque temos uma vida boa. Não estamos nessas situações. Não so-mos discriminados. Eu nunca senti isso na pele.... Também gostei muito da sessão sobre as favelas.”Rita Constantino, 15 anos, 10.º ano, Escola Secundária com 3.º ciclo Sá da Bandeira (Santarém), em representação do Grupo 6

A MELHOR ACTIVIDADE: “O grupo trabalhou muito bem, mas tendo que escolher uma actividade talvez a do cartaz que tivemos de criar por causa do 50.º aniversário da Am-nistia. Era uma comemoração, uma assunto mais soft, por isso estáva-mos todos mais dinâmicos.”

O QUE NUNCA VOU ESQUECER: “As pessoas. Já fiz colónias de férias, mas nunca tinha vindo para um Campo de Tra-balho. É um contexto completamente diferente. Há uma maior seriedade e todos conseguiram aliar a diversão ao trabalho sério.”

O QUE APRENDI: “Não houve nada que me surpreendesse demasiado porque leio muito sobre direitos humanos, mas gostei particularmente da sessão sobre a pena de morte. As minhas expectativas foram superadas.”Ana Morais, 17 anos, 12.º ano, Escola Secundária 2+3 Filipa de Lencastre (Lisboa), em representação do Grupo 7

GRUPO 5

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© AI Portugal

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BOAS NOTÍCIASANGOLAJOSÉ FERNANDO LELO FOI LIBERTADO

No número 2 do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” foi lançado um apelo em nome de José Fernando Lelo, um angolano condenado a 12 anos de prisão num julgamento injusto que decorreu no Verão de 2008. A Amnistia Internacional considerou-o um prisioneiro de consciên-cia, uma vez que foi detido na sequência de artigos publicados nos quais criticava o governo angolano e os processos de paz.

Chegam agora boas notícias relativas a este caso: no dia 21 de Agosto Fernando Lelo foi libertado, após ter sido absolvido de todas as acusações pelo Supremo Tri-bunal Militar.

Recorde-se que o jornalista tinha sido preso em Novembro de 2007, no seu local de trabalho nos arredores de Cabinda, e mantido 90 dias numa prisão militar em Luanda, sem que fosse formalmente acusado. Alegadamente teria reunido com seis soldados, em Julho de 2007, com o objectivo de planear uma rebelião. Em Fevereiro de 2008, o jornalista e os soldados foram presentes a tribunal mili- tar em Cabinda. Uma vez que Fernando Lelo nunca pertenceu às Forças Arma-das, não deveria sequer ter sido julgado neste tipo de tribunal.

O tribunal não conseguiu fazer prova do suposto encontro e baseou a sua sentença em declarações dos militares obtidas sobre tortura. Em Setembro de 2008, Fernando Lelo foi condenado a 12 anos de prisão por “atentar contra a se-gurança nacional” e “incitar a rebelião”. A Amnistia Internacional considerou o julgamento injusto e incoerente com os padrões internacionais de Direitos Hu-manos.

Os nossos membros e apoiantes acredi-taram que era possível ajudar Fernando Lelo e juntos conseguimos. Após a liber-tação, o jornalista agradeceu à Amnistia Internacional e aos seus activistas.

A todos, obrigado!

IRÃOMULHER DE MANSOUR OSSANLU AGRADECE

PAQUISTÃOAUDIÊNCIAS SOBRE DESAPARECIMENTOS FORÇADOS REABERTAS

© Amnistia Internacional

Na última edição do “Notícias da Amnis-tia Internacional Portugal” demos-lhe a conhecer Mansour Ossanlu, líder do sindicato dos trabalhadores da Compa-nhia de Autocarros de Teerão e arredores detido em Julho de 2007. Este activista já tinha sido intimidado e perseguido pe-las autoridades iranianas, devido à sua ligação com sindicatos internacionais. Encontra-se agora a cumprir uma pena de prisão de cinco anos por “acções con-tra a segurança nacional” e por “difundir

propaganda contra o regime”. Parvaneh Ossanlu, mulher do activista, agradeceu à Amnistia Internacional o apelo lançado e informou que, graças aos mais de 9.000 postais enviados, Mansour Ossanlu pôde entrar em contacto com a família após 20 dias de detenção em regime de inco-municabilidade.

Obrigado a todos os que participaram. Sem a vossa ajuda não teria sido pos-sível!

No número 4 do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” divulgámos o caso de Atiq-ur Rehman, um cientista paquistanês da Comissão de Energia Atómica que desapareceu no dia do seu casamento, a 25 de Junho de 2004. Atiq-ur foi levado para parte incerta e a sua família interrogada e aconselhada a não divulgar o sucedido. Os desaparecimen-tos forçados têm sido uma constante no país, consequência da adesão do Paquistão à “Guerra ao Terror” e de ten-tativas de oposição interna. Recorde-se que a 3 de Novembro de 2007 o Presi-

dente Musharraf declarou o Estado de Emergência, suspendendo a Constitui-ção e o Estado de Direito. Desde 1 de Novembro desse ano que não se realiza-vam audiências sobre desaparecimentos forçados. Após os apelos lançados no passado mês de Setembro pela Amnis-tia Internacional em nome de Atiq-ur, as audiências foram retomadas pelo Su-premo Tribunal do Paquistão no passado dia 16 de Novembro. Um avanço muito importante.

Obrigado pela sua ajuda!

© Privado

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Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAISNa página anterior demos-lhe conta de casos que, graças à ajuda de centenas de pessoas conseguiram ser resolvidos ou estão no bom caminho... Se cada um de nós enviar um postal, serão milhares a chegar às autoridades. E esta é uma forma de pressão internacional que, muitas vezes, é eficaz!

Nesta revista, falamos-lhe de mais quatro pessoas que precisam desta mobilização mundial. Tudo o que tem de fazer é enviar um postal.

CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE! PARA TODAS ESTAS PESSOAS O ENVIO DE UM POSTAL PODE SIGNIFICAR O FIM DE UMA INJUSTIÇA E A SI CUSTA MUITO POUCO.

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ISRAEL/TERRITÓRIOS OCUPADOS DA PALESTINAInocente preso sem acusação ou julgamento

Khaled Jaradat foi detido no dia 3 de Março de 2008 pelas autoridades israelitas e le-vado para a prisão de Ketziot. O Governo de Israel decretou a sua detenção administra-tiva durante seis meses, mas esta foi renovada em Outubro de 2008 e em Abril de 2009. Casado e pai de seis filhos, Khaled é professor de inglês numa escola secundária da Cisjordânia, um dos Territórios Palestinianos Ocupados, e esteve envolvido em acções de caridade, como a angariação de fundos para um hospital local.

As autoridades israelitas acreditam que Khaled Jaradat é membro da organização pa-lestiniana radical Jihad Islâmica e é, por isso, considerado culpado de vários actos de violência contra cidadãos israelitas. No entanto, os Serviços de Segurança israelitas não apresentam provas da ligação de Khaled à Jihad Islâmica, o que impossibilita o seu advogado de contestar a legalidade da detenção. Refira-se que a prisão adminis-trativa é decretada pelo Governo e não pelo poder judiciário.

Na primeira revisão da ordem de detenção, o juiz ordenou que a acusação apresentasse uma queixa formal e decretou a libertação de Khaled. No entanto, o Exército recorreu e ganhou, tal como aconteceu na segunda revisão da detenção. Até hoje a pena continua a ser renovada.

Khaled já foi várias vezes detido por ordem do governo nos anos 80 e 90. Devido às constantes detenções, os seus filhos têm crescido sem uma presença paterna regular e mesmo as visitas ao estabelecimento prisional estão agora proibidas.

Ajude-nos a libertar Khaled Hussein para que possa voltar para a sua família. Participe! Precisamos de si!

Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por correio.)

© ITF

MOÇAMBIQUEHomem inocente morto pela polícia

Julião Naftal Macule era um homem de negócios, de 46 anos, quando depois de dar en-trada num hotel em Massinga, Moçambique, no dia 8 de Novembro de 2007, foi confun-dido por um empregado com Agostinho Chauque, o criminoso mais procurado do país. A polícia rodeou o hotel e 10 elementos da Polícia de Intervenção Rápida invadiram o quarto de Julião, atingindo-o mortalmente. A força policial começou por anunciar que tinha capturado e morto “o inimigo público número um”, mas quando os jornalistas pediram para ver o corpo a polícia reconheceu que não era Agostinho Chauque. Ainda assim considerou ter assassinado “um homem perigoso”.

No dia seguinte, a polícia contactou a família de Julião e deu-lhe conta do erro cometi-do. Os familiares exigiram que fosse realizada uma autópsia, onde se concluiu que Julião faleceu devido a uma hemorragia que teve origem no ferimento da perna es-querda. Nem a polícia, nem o Ministro do Interior, contactaram a família para pedir desculpa ou oferecer alguma compensação.

Em Junho de 2008 o advogado contratado pela família para procurar justiça foi informado pelo Procurador-Geral que estavam a decorrer processos criminais contra três polícias, sem esclarecer se estes estavam detidos ou suspensos das suas funções. Em Maio de 2009 a mesma fonte disse à Amnistia Internacional que sete polícias estavam acusados pelo homicídio de Julião Macule, no entanto, não houve mais informações.

Este crime deve ser investigado de forma completa e imparcial. Os culpados devem ser presentes a julgamento e a família informada de cada etapa do processo. Junte-se a nós neste apelo!

Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por correio.)

© Amnistia Internacional

© Javier Verdin/ LA

© Javier Verdin/ LA

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Notícias • Amnistia Internacional 31

COREIA DO NORTEEx-agente raptado e detido por forças norte-coreanas

Kang Gun, um ex-agente secreto da Coreia do Norte, foi detido na província de Jilin, na China, no dia 4 de Março de 2005, por agentes norte-coreanos. Tudo indica que terá sido traído por um dos seus contactos, uma vez que quando foi detido seguia uma pista. Kang Gun foi obrigado a atravessar a fronteira e ficou preso durante seis meses na Agência de Segurança do Estado, em Chongjin, onde foi interrogado e torturado. Posteriormente, foi levado para a prisão de Pyongyang, capital da Coreia do Norte.

O prisioneiro nasceu e cresceu na Coreia do Norte, onde entrou para a Agência Nacional de Segurança. No entanto, a grave escassez de alimentos que teve início em 1990 levou Kang Gun a emigrar para a China. Mais tarde, mudou-se para a Coreia do Sul, país do qual viria a tornar-se cidadão.

Em Fevereiro de 2004, Kang Gun entregou filmagens obtidas secretamente num esta-belecimento prisional político norte-coreano a uma estação de televisão japonesa. No mesmo ano, iniciou acções de sensibilização sobre as violações aos direitos humanos

cometidas na Coreia do Norte e ajudou norte-coreanos a abandonarem o país, refugiando-se na Coreia do Sul.

A última vez que foi conhecido o seu paradeiro, Kang Gun continuava detido na prisão de Pyongyang, onde pode enfrentar tortura e execução. Ajude-nos a libertar Kang Gun, para que possa voltar à Coreia do Sul, ou exigir que tenha um julgamento justo, segundo os padrões internacionais, e que seja formalmente acusado de crimes tipificados na lei.

Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por correio.)

GRÉCIAAtaque a líder sindical pode ficar impune

Konstantina Kuneva, de 45 anos, foi líder do sindicato das trabalhadoras dos serviços de limpeza, defensora dos seus direitos e lutou para acabar com problemas laborais resultantes da subcontratação de mulheres migrantes por parte de Empresas de Lim-pezas e da elevada competição nesta área.

Como consequência do seu envolvimento em actividades do sindicato, Konstantina Kuneva, também trabalhadora de limpeza e migrante oriunda da Bulgária, foi atacada e queimada na cara com ácido quando voltava do trabalho para casa, em Atenas, a 22 de Dezembro de 2008. Passou vários dias em coma, perdeu a visão de um olho e sofreu danos em vários órgãos vitais. Konstantina tem um filho a seu cargo e foi na tentativa de lhe proporcionar uma vida melhor que se mudaram para a Grécia.

A Amnistia Internacional lançou no Dia Internacional da Mulher, que se celebrou a 8 de Março, um apelo em seu nome para que fosse feita justiça. Foram entregues 22.000 assinaturas no dia 25 de Maio ao Ministro Adjunto do Interior grego, que prometeu investigar o caso e levar os responsáveis à justiça.

O juiz encarregue do caso de Konstantina Kuneva decidiu no passado mês de Junho encerrá-lo, mesmo não tendo sido identificados os agressores. A ordem foi enviada ao Procurador-Geral e este decidirá se o caso é encerrado ou se a investigação continua, com o mesmo ou com um novo juiz.

Junte-se a nós num apelo urgente ao Ministro da Justiça grego, para que o caso não seja encerrado até serem encontrados os culpa-dos. Não podemos deixar que este crime fique impune!

Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por correio.)

© Privado

© Javier Verdin/ LA

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Notícias • Amnistia Internacional 32

RECEITAS E DESPESAS 2009Apresentamos, mais uma vez, os valores totais de receita e despesa da Amnistia Internacional (AI), correspondentes aos primeiros dez meses de 2009, que reve-lam um saldo positivo no valor total de 99.046,09 euros. Fruto da boa situação financeira da Secção, permanecem em

Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” tornamos a apresentar uma análise da situação financeira da secção portuguesa da organização Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro

CONSIGO VAMOS MAIS LONGEUM PASSO IMPORTANTE PARA A SECÇÃO

Na sequência do empréstimo contraído pela AI Portugal ao Secretariado Inter-nacional (SI, sede da AI em Londres) em 2006, no valor total de 230.000 euros, foi efectuada em Junho a quarta amortiza-ção, desta vez no valor de 25.000 euros, e por fim em Agosto a última parcela, no valor de 50.000 euros.

EVOLUÇÃO DE MEMBROS E APOIANTESApresentamos no gráfico 1 o número de membros e apoiantes activos da secção portuguesa da Amnistia Internacional, ou seja, as pessoas que mantêm o seu donativo, com base nos registos à data de 31 de Outubro de 2009.

Para a AI Portugal, tão importante como inscrever novos apoiantes é continuar a informar e envolver as pessoas com quem contamos todos os dias. É nossa priori-dade valorizar quem nos apoia, transmi- tindo a credibilidade e eficácia do trabalho da AI em todo o mundo. Ao mesmo tempo, queremos saber a sua opinião. Envie-nos sugestões, ideias e comentários para [email protected] Queremos saber de si!

No gráfico 1 é apresentado o crescimento do número de membros e apoiantes da AI Portugal desde 2005. Entre as 12.167 pessoas que actualmente apoiam a Am-nistia, 10.083 inscreveram-se através

TABELA 1 - Receitas e Despesas

JANEIRO A OUTUBRO DE 2009 RECEITA € 588.696,07

DESPESA € 489.649,98

SALDO € 99.046,09

dia todos os pagamentos a fornecedores e ao Estado. As prioridades da AI nos próximos meses serão: a campanha “Exija Dignidade”; diversas acções de Educação para os Direitos Humanos e eventos de sensibilização relacionados com o tema da Violência sobre as Mulheres.

do projecto de rua “Face to Face”, con-tinuando a ser este a origem de 83% dos apoiantes e membros da secção portu-guesa do movimento.

Em 2009, as equipas de colaboradores do Projecto “Face to Face” inscreveram mais de 2.500 novos apoiantes. A todos eles, a Amnistia Internacional dá as boas-vindas e agradece a iniciativa e o interesse!

COM UM PRESENTE PODE MUDAR O FUTURO!O Natal não ocorre só a 25 de Dezembro mas é (e deve ser) quando um Homem quiser. Lembramos, por isso, que pode comprar os seus presentes na Amnistia Internacional e torná-los ainda mais es-peciais. Livros e Jogos Educativos, Mochilas, CDs, Postais, Canetas e muito, muito mais, estão à sua espera na Amnistia Internacional Portugal. Escre-va-nos para [email protected] ou venha visitar-nos!

O objectivo deste empréstimo, por parte do SI, foi apoiar o financiamento inicial do Projecto “Face to Face” (F2F), favorecendo o crescimento da secção e contribuindo para a sua autonomia financeira. O Secre-tariado Internacional considera a amor-tização do empréstimo um passo muito importante para a Secção Portuguesa, do qual estamos bastante orgulhosos, pois este representa uma grande estabilidade

no funcionamento da Amnistia Interna-cional Portugal.

Dada a situação financeira actual, a AI Portugal pretende, até ao final de 2009, liquidar a dívida congelada ainda exis-tente (29.467 euros). Ficando regulari-zada esta situação, a Secção Portuguesa tem os seus compromissos financeiros para com o Secretariado Internacional totalmente saldados.

Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 (até Junho)

1.777

4.101

8.132

11.37812.239

14.000

12.000

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

GRÁFICO 1: Número de membros e apoiantes activos, entre 2005 e Outubro de 2009.

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Notícias • Amnistia Internacional 33

Dia Mundial do Habitat e o Direito à HabitaçãoPor Gonçalo Miguel Miranda Pedro (FecoPortugal)

AGENDADIAS DO DESENVOLVIMENTOA 21 e 22 de Abril de 2010 realiza-se a terceira edição daquele que é o único evento em Portugal que reúne organiza-ções e entidades que trabalham, como o próprio nome indica, na área do desen-volvimento social. Intitulado “Os Dias do Desenvolvimento”, é uma iniciativa do IPAD-Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento que teve início em 2008 e todos os anos se dedica a uma deter-minada temática. Em 2010 a proposta é reflectir sobre “Cidadania e Desenvol-vimento” e mais concretamente sobre: 1) Comunicação e desenvolvimento; 2) Conhecimento, capacitação, transferên-cia de tecnologia e desenvolvimento e 3) Democracia, Estado de direito, segu-rança e desenvolvimento. Uma oportu-nidade única para pensar estas temáti-cas e trocar ideias com especialistas de todo o mundo. Mais informações em www.diasdodesenvolvimento.org

LEITURAS

THE UNHEARD TRUTH: POVERTY AND HUMAN RIGHTS

De Irene Khan, W.W.Norton 256 páginas PVP: 13,99£ ou 16,45€

No ano em que a Amnistia Internacional lan-çou a campanha “Exija Dignidade”, saiu para o mercado, em Outubro, o livro The Unheard Truth: Poverty and Human Rights, escrito pela Secretária-Geral Irene Khan. Baseado nas suas investigações e experiência pessoal, a obra refere o problema da pobreza como sendo uma das piores crises de direitos hu-manos no mundo. O livro está a venda no site internacional da Amnistia, em http://shop.amnesty.org/, ou nas livrarias Bulhosa.

TOME NOTA• 11 de JANEIRO

8.º Aniversário da Abertura do Campo de Detenção norte-americano de Guan-tánamo

• 27 de JANEIRO

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

• 6 de FEVEREIRO

Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina

• 20 de FEVEREIRO

Dia Mundial para a Justiça Social

• 8 de MARÇO

Dia Internacional da Mulher

• 21 de MARÇO

Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial

• 22 de MARÇO

Dia Mundial da Água

• 25 de MARÇO

Dia Internacional em Memória das Vítimas de Escravatura e do Comércio Transatlântico de Escravos

PENSAR A EUROPADesde o passado mês de Outubro que a Europa Viva-Associação Europeia para a Criatividade e Solidariedade Social está a promover o seminário “Saber Eu-ropa”, dividido em módulos. Para além dos dedicados à música e à literatura, destacamos a “História da Europa” e o módulo centrado na “União Europeia”, onde pode conhecer melhor a história da instituição e a sua estrutura e divisão interna. Em Maio, a Europa Viva convida, ainda no seio deste módulo, a reflectir sobre o multilinguismo e o pluralismo cultural europeu. Junho será dedicado aos cidadãos e à opinião pública da União Europeia. Cada módulo tem um custo de 45 Euros e inclui diferentes conferências. Programa e informações em www.europaviva.eu

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Notícias • Amnistia Internacional 34

Desde os anos ’80 estavam projectadas as escadinhas na Rua B da Cova da Moura. Mas no bairro há muito para fazer e as escadinhas iam ficando na gaveta da autarquia. As quedas frequentes, as horas e dias no hospital com braço ou perna magoada ou partida, proporcio-navam lamúrias e zangas fortes, outras mais contidas.

No quadro da “Cidadania Participativa”, projecto da Associação Cultural Moinho da Juventude com apoio financeiro do Governo Civil e da CIG, moradores da zona reuniram-se em Maio de 2009 para operacionalizar o seu SWOT. Por una-nimidade escolheram a feitura das es-cadinhas como prioridade para a zona. Fizeram cálculos de cimento, areia, brita, madeira. Desenharem escadinhas e uma rampa. Decidiram juntarem-se num fim--de-semana para a construír num “djun-ta mo” (juntar das mãos). Pediram apoio à Iniciativa Bairros Críticos, à Câmara Municipal de Amadora. Conseguiram, depois de diversas reuniões, a promessa do material para a construção da parte da Junta da Buraca.

No Sábado 3 de Outubro às 7h da ma-nhã, a ama Lucinda e a Beba puseram a grande panela na fogueira de lenha com o feijão pedra. Mais de 30 moradores

trabalharam no duro. Joaquim, pedreiro e morador na Rua B, foi orientando e coordenando os trabalhos. Foram cres-cendo os 22 degraus.

A areia, brita, cimento e madeiras foram escassos, mas o espanto perante tanta capacidade e trabalho de voluntariado dos moradores da Cova da Moura moveu telefonemas e respostas condignas da parte da Junta (chegou um pouco tarde: uma hora de espera de 30 pessoas...30 horas).

Foi um reviver da construção das ca-sas na Cova da Moura, melhorado com os conhecimentos e competências en-tretanto adquiridos! No “Djunta Mo” trabalharam idosos, jovens, pedreiros, carpinteiros, pintores, armadores de fer-ro, um fotógrafo, empregadas domésti-cas, cozinheiras, amas…

A estigmatização constante dos mora-dores dos subúrbios provoca uma inte-riorização do negativo, da rejeição, da

exclusão e promove um agir em confor-midade. A valorização da contribuição de cada um, o respeito pela especificidade de competências e do conhecimento de cada morador, o estímulo da cooperação proporciona uma sinergia que constrói uma comunidade.

Por volta das 19h a Dona Fernanda, com o pé ainda no gesso duma caída na Rua B, espreitou, aliviada, as obras: os mora-dores da Cova da Moura deram a prova que o “djunta mo” move montanhas e muda caminhos íngremes!

* Nascida na Bélgica, vive há 27 anos no bairro do Alto da Cova da Moura e participa na luta pela qualificação do bairro. Os moradores da Cova da Moura construíram nos anos 80 a Associação Cul-tural Moinho da Juventude, que tem como uma das suas traves mestras o empoderamento: o desenvolvimento das capacidades e do poder de participação activa nas decisões. Uma activi-dade essencial para pôr fim à marginalização e exclusão da população dos bairros sociais.

CRÓNICA“DJUNTA MO”, Juntar das Mãos na Cova da MouraPor Godelieve Meersschaert*

© Privado

© Privado

© Privado

Moradores do bairro da Cova da Mora planeiam a construção de umas escadinhas há muito necessárias.

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