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Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 1/21
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Perdas Não-Técnicas
Relatório de Trabalho
Projeto FEUP 2015/2016 -- Mestrado Integrado em
Engenharia Eletrotécnica e Computadores:
Prof. Armando Sousa Prof. José Nuno Fidalgo
Equipa MIEEC06 – Equipa 5:
Supervisor: Prof. José N. Fidalgo Monitor: Rúben Brito
Estudantes & Autores:
Diogo Jácome [email protected] Inês Malafaya [email protected]
José Gabriel [email protected] Mariana Assis [email protected]
Ricardo Sousa [email protected] Vasco Brandão [email protected]
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 2/21
Resumo
Este relatório abordará as perdas de energia, maioritariamente, as perdas não técnicas
(PNT) também denominadas como perdas comerciais. Estas perdas, no caso nacional, são
consideradas um tabu visto que não são conhecidos valores, em termos financeiros, que as
quantifiquem sendo que neste trabalho tentaremos clarificar este tema em particular. Para
além disto, encontram-se em constante crescimento causando milhões de prejuízos devido
ao facto de desde os grandes até ao pequenos consumidores ser possível verificar a
ocorrência de atos ilícitos no consumo de eletricidade. Deste modo, as grandes
distribuidoras e reguladoras de energia elétrica não são capazes de encontrar medidas
eficazes capazes de as reduzir significativamente e prevenir de novo a sua ocorrência.
Todos estes tópicos que foram enumerados e os demais serão abordados e aprofundados
ao longo do relatório.
Palavras-Chave
Perdas; perdas não técnicas; défice tarifário; tarifas energéticas.
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 3/21
Índice
Lista de figuras .................................................................................................................... 4
Lista de acrónimos .............................................................................................................. 5
1. Introdução – Conceito de Perdas ................................................................................... 6
2. Perdas Não Técnicas ...................................................................................................... 8
2.1 Causas e consequências .......................................................................................... 9
2.2 Redução das Perdas Não Técnicas........................................................................ 12
2.3 Perspetiva financeira ............................................................................................... 13
2.3.1 Tarifas ............................................................................................................... 13
2.3.2 Défice Tarifário .................................................................................................. 15
2.3.3 Custos ............................................................................................................... 16
3. Contexto Internacional .................................................................................................. 17
4. Discussão sobre o tema ................................................................................................ 18
5. Conclusões .................................................................................................................... 19
Referências bibliográficas ................................................................................................. 20
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 4/21
Lista de figuras
Figura 1 – Exemplo de Rede de Distribuição de Eletricidade .................................................. 6
Figura 2 – Exemplo de entidades reguladoras dos serviços energéticos (respetivamente o
português e brasileiro) ............................................................................................................... 8
Figura 3 – Contador de energia elétrica .................................................................................... 9
Figura 4 – “Ligações Clandestinas” ......................................................................................... 10
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 5/21
Lista de acrónimos
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil);
BTN – baixa tensão normal;
DT – défice tarifário;
EDP – Energias de Portugal;
EDP SU – Energias de Portugal Serviços Universais;
ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (Portugueses);
RAA – Região Autónoma dos Açores;
RAM – Região Autónoma da Madeira;
REN – Redes Energéticas Nacionais (Portugal).
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 6/21
1. Introdução – Conceito de Perdas
Em termos etimológicos, o termo perdas está associado ao “ato de perder”. Agora,
concentrando-nos mais na parte científico-técnica, “as perdas estão associadas ao
rendimento dos diversos processos físicos existentes na Natureza, ou seja, para uma dada
reação existem sempre outras reações adversas que não seriam desejadas para essa
situação” [1]. No processo de transformação de energia mecânica, ou outras, em elétrica, de
conversão de níveis de tensão e distribuição da mesma, existem perdas, mas estas são
remetentes ao facto de haver sempre um rendimento em cada processo no qual este nunca
é ideal (nunca é 100%) visto que existem outras reações, por exemplo, térmicas que faz
diminuir a eficiência deste sistema [1].
Com isto, o sistema elétrico é composto por três fases: geração, transmissão e
distribuição de energia. A estas estão intrínsecas as perdas, ou seja, nenhum destes
processos têm eficiência ideal. Por exemplo, na conversão de tensões, que acontecem de
alta para média potência, surgem um determinado tipo de perdas que ser [2].
Figura 1 – Exemplo de Rede de Distribuição de Eletricidade
(Fonte: UIPI – http://uipi.com.br/destaques/destaque-2/2015/08/24/acidentes-com-fios-da-rede-eletrica-
causaram-299-mortes-em-2014/)
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 7/21
Deste modo surgem dois tipos de perdas [2]:
Perdas técnicas – estão relacionadas com o transporte e transformação de
energia elétrica, como por exemplo, as perdas por efeito de Joule, as
eletromagnéticas relativas ao núcleo do transformador, entre outras;
Perdas não técnicas – são todas aquelas associadas à distribuição de
eletricidade. É de referir que estas têm como principal causa o Homem, isto é,
desde da gestão e regulação do consumo de eletricidade até aos furtos de
energia.
No entanto, o tema abordado neste relatório vai incidir-se sobre as perdas não técnicas
e as suas causas e consequências. Para além disso, inserimos o contexto social global para
que seja percetível o impacto destas não só em Portugal mas também no mundo.
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 8/21
2. Perdas Não Técnicas
As perdas não técnicas, também denominadas de perdas comerciais, estão intimamente
relacionadas com a distribuição de energia elétrica. Uma das principais causas é o furto de
energia. Deste modo, este tipo de perdas está diretamente associada ao consumidor, sendo
visíveis tanto nos grandes como nos pequenos consumidores.
Deste modo, as grandes empresas como a EDP, ERSE ou a ANEEL tentam encontrar
formas de reduzir as perdas comerciais, apesar de até hoje não ter sido encontrada
nenhuma maneira eficaz.
𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑁ã𝑜 𝑇é𝑐𝑛𝑖𝑐𝑎𝑠 = 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠 − 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑇é𝑐𝑛𝑖𝑐𝑎𝑠 [3]
Figura 2 – Exemplo de entidades reguladoras dos serviços energéticos (respetivamente o português e
brasileiro)
(Fonte: ERSE – www.erse.pt; ANEEL – www.aneel.gov.br)
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 9/21
2.1 Causas e consequências
Em seguida, apresentamos as causas mais contribuidoras para as perdas não técnicas
com uma breve explicação para cada uma delas.
a) Deterioração de equipamentos
Devido à deterioração dos materiais elétricos que constituem a rede de distribuição de
eletricidade é provocada uma evolução em relação à previsão das perdas que são
associadas às não técnicas. É de referir que no Brasil, por exemplo, ao porem as
gambiarras para o roubo de eletricidade fazem com que haja enormes perdas nessa
conexão contribuindo assim também para este tipo de perdas [3].
b) Avaria ou erros no contador (medição da eletricidade consumida)
Em termos de avaria do equipamento medidor deve-se ao seu deterioramento ou ainda
ao facto de ser o próprio utilizador a causar essa avaria.
Em relação aos erros a nível de leitura, neste pode estar intrínseco algum dispositivo
que provoque alterações na leitura de energia consumida ou o próprio leitor que faz uma
leitura incorreta provocando consequências positivas ou negativas a nível das perdas não
técnicas [3].
Figura 3 – Contador de energia elétrica
(Fonte: Diário Digital – http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=600712)
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 10/21
c) Falta de medição nas habitações
Este ponto está também ligado ao seguinte visto que, quando não existe equipamento
de medida, a nível de Portugal, está diretamente ligado com o roubo de energia elétrica dos
postos de eletricidade, todavia, como no caso brasileiro, existem algumas exceções que as
nas quais não é obrigatório o uso de material medidor (é efetuada uma estimativa entre a
carga instalada, seus fatores e o consumo).
Para além disso, existem também alguns casos que deve-se às habitações estarem em
recinto fechado tornando o acesso à leitura impossível [3].
d) Fraude e roubo de energia
Por último, a causa mais comum e contribuidora para as perdas não técnicas: o uso
impróprio/ilegal de eletricidade. Este divide-se em dois pontos: a fraude e o roubo de
energia. É de referir que se fez esta separação entre estes dois conceitos devido a serem
originados por diferentes ações [3].
Deste modo, a fraude é quando o contador é adulterado ou existe uma ligação direta,
sem passando por este, à alimentação de um edifício. É de evidenciar que existem diversos
tipos de irregularidades para além destes sendo que podemos enumerar alguns com base
nos mais comuns encontrados pela ANEEL [3]:
Ligação direta;
Desvio antes do contador;
Manipulação do contador de energia elétrica;
Ponteiros do contador deslocados;
Terminal de prova em vazio;
Entre outros (relacionado com a manipulação do medidor de eletricidade).
Figura 4 – “Ligações Clandestinas”
(Fonte: ImovelWeb – http://www.imovelweb.com.br/noticias/tag/eletricidade/feed/)
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 11/21
Para além deste, o roubo de energia elétrica também é um fator a ter em conta nas
perdas não técnicas. O modo mais comum é a ligação direta à rede distribuidora de
eletricidade chamadas também de “ligações clandestinas” (presente na Figura 4) [3]. É de
referir que também o roubo de material elétrico, como o cobre dos fios de eletricidade,
contribuí para as perdas comerciais.
Em relação às consequências deste tipo de perdas abordaremos três panoramas: o do
distribuidor, do consumidor e o de caráter excecional (abaixo será explicado este último).
Em primeiro lugar, a nível financeiro como prejudica o distribuidor de energia elétrica?
Baseando-nos também no exemplo do Brasil, origina um “gasto adicional para as
distribuidoras” [13] que, em 2010, as perdas comerciais estavam nos “R$ 7,8 milhões” [13],
inclusive com os encargos que provocam as perdas não técnicas. É de observar que estes
valores eram 5,9 % de toda a energia injetada em toda a rede elétrica brasileira. Nisto
concluímos que origina um prejuízo financeiro às empresas fornecedoras de eletricidade.
Em segundo lugar, em relação ao consumidor, é de verificar-se que, tal como foi dito
acima, as perdas originam imprevisibilidades financeiras que, como será explicado mais à
frente no relatório (nomeadamente no ponto 2.3.3 Custos), são os consumidores que as
pagam, todavia, devido aos critérios da entidade reguladora, no caso de Portugal, pode ser
adiado o pagamento dos custo mas sendo cobrados juros nas tarifas (2.3.2 Défice
Tarifário). Deste modo, as tarifas aumentariam assim.
Por último, a prática de atos ilícitos que tenham como objetivo a extorsão de eletricidade
da rede podem originar acidentes, tanto a nível humano como ambiental. Numa redação do
Meio Norte, do Brasil, é evidenciado o facto de as ligações diretas à rede, por exemplo, num
poste de eletricidade, pode originar danos físicos às pessoas que praticam estes atos. Para
além disso, como as ligações são precárias, devido ao facto de haver possibilidade de não
estarem bem isoladas as ligações pode também originar incêndios [14].
Com isto, conclui-se que, para além das perdas não técnicas provocarem prejuízos
financeiros tanto ao consumidor como ao distribuidor, em casos particulares pode originar
danos físicos às pessoas.
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2.2 Redução das Perdas Não Técnicas
Para reduzir este tipo de perdas existem dois modos: o de prevenção – pois assim
estamos a evitar o aumento das perdas comerciais –, e o de combate – pois ao enfrentar o
problema permite-nos diminuí-lo.
A nível de prevenção temos diversas maneiras de prevenir o problema, tais como:
ações na rede (fazendo a manutenção dos materiais elétricos, como anteriormente
verificamos, previne uma das causas destas perdas; para além de que possamos instalar
dispositivos capazes de detetar o furto ou fraude de energia elétrica), o envio dos dados
relativamente à medição da eletricidade consumida diretamente à concessionária, o
pagamento de uma pré-cláusula de consumo de eletricidade em vista a diminuir as dívidas
dos consumidores às empresas fornecedoras, e, por último, o incentivo a “programas
educacionais nas comunidades carentes sujeitas a elevados índices de perdas comerciais.”
[9].
Em relação ao combate, este é feito a partir de técnicas de programação para a deteção
de fraudes a partir da leitura de dados do contador ou com a realização de inspeções às
habitações em vista a diminuição das perdas não técnicas [9].
Na nossa opinião, esta é uma matéria urgente de ser tratada com o objetivo de
beneficiar os consumidores com a descida dos preços da eletricidade mas ao mesmo tempo
evitar prejuízos económico-financeiros nas entidades fornecedoras de energia elétrica, dado
que o não pagamento da eletricidade traz sempre custos inesperados para estas mesmas.
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2.3 Perspetiva financeira
Nesta parte vamos focar o lado financeiro das perdas não técnicas e onde se enquadra
sendo não só na parte económico-financeira das empresas distribuidoras mas também no
quotidiano.
2.3.1 Tarifas
O sistema tarifário em Portugal tem como objetivo "promover de forma transparente a
eficiência na afetação de recursos e a equidade e justiça das tarifas" em vista a preservar o
equilíbrio económico das entidades fornecedoras de energia elétrica, a sua qualidade e
também uma estabilização do seu desenvolvimento financeiro. Contudo, existem vários
parâmetros que integram estas, isto é, vários proveitos que são distribuídos de forma a
amortizar os diferentes custos inerentes à produção de energia e suas atividades originando
então o conceito de Aditividade Tarifária presente na Figura 5 [4].
Figura 5 – Tarifa de último recurso
(Fonte: http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/Paginas/default.aspx)
As tarifas de último recurso, sendo estas apresentadas na Figura 5, são referentes aos
consumidores que não quiseram mudar para os fornecedores do mercado liberalizado
mantendo-se na EDP SU. Estas são definidas pela entidade reguladora (ERSE) tentando
torná-las superiores às do mercado livre para apelar à mudança de mercado. É de referir
que a EDP SU, de acordo com um de decreto de lei aprovado em março de 2012, a partir de
1 de julho de 2012, estas tarifas acabaram para “consumidores com potências contratadas
iguais ou superiores a 10,35 kVA” [10] e, a 1 de janeiro de 2013, esta decisão afetou todos
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 14/21
os consumidores sendo que, durante três anos, são aplicadas as tarifas transitórias aos
clientes que não escolheram nenhum fornecedor de energia elétrica [10].
Figura 6 – Tarifas do mercado livre
(Fonte: http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/Paginas/default.aspx)
Contudo, com a introdução ao mercado livre em 2006 (para os consumidores de BTN,
visto que foram os últimos a terem acesso ao mercado liberalizado), os clientes começaram
a ter acesso a outros fornecedores de energia elétrica devido à abertura do mercado a
outros sem ser a EDP SU. Este mercado tornou os preços mais apelativos dando uma
liberdade de escolha ao consumidor conforme as suas necessidade. A verdade é que a
parte regulada nas tarifas por parte da entidade reguladora diminuiu conforme é visível na
Figura 6. Para além disso, nas suas tarifas ainda são incluídas as de acesso às redes que
"incluem as tarifas de Uso Global do Sistema, de Uso da Rede de Transporte e de Uso da
Rede de Distribuição" [4].
Em relação às perdas não técnicas, estas inserem-se nas tarifas na via em que são uma
parte do pagamento por parte dos clientes destas mesmas, ou seja, estão incluídas no
preço final da eletricidade.
Resumindo este tema, no ano presente de 2015 os consumidores têm à sua disposição
dois tipos de consumo de eletricidade: um regulado pela ERSE e o outro o mercado livre
definido pela entidade abastecedora de eletricidade.
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2.3.2 Défice Tarifário
No meio público “é considerado como mais uma 'renda' a alguns grupos de interesse.
Na realidade, o DT é justificado por uma acumulação sucessiva de diversos tipos de
sobrecustos do sistema elétrico que não foi considerada nas tarifas e preços da eletricidade
nos anos anteriores aos respetivos consumidores elétricos” [5].
A verdade é que o défice tarifário relaciona-se com o tema das perdas pois nele está
inerente o facto de estas contribuírem para um aumento do défice face aos preços
estipulados, isto é, quando a ERSE aprova as tarifas de último recurso (do mercado
regulado) prevê, com base em coeficientes de perdas e outras previsões, um valor para as
perdas. Todavia, se estas aumentarem num ano, os comercializadores não poderão abatê-
las pois não pode aumentar os preços, exceto no mercado livre.
As causas de este ter aumentado nos últimos anos são: a decisão política referente ao
facto de “não permitir que, num ano, os preços da eletricidade reflitam os seus custos,
limitando os aumentos de preço a um teto administrativo arbitrário e obrigando os
consumidores futuros a pagar, com juros, aquilo que consumimos nesse ano”; para além
disso, apesar de se integrar em parte com os custos de produção de eletricidade como outra
matéria-prima, a produção de energia elétrica por parte dos utilizadores e sua venda ao
operador contribuí esta também o aumento do custo ao consumidor na medida em que, por
causa do teto delimitador da tarifa elétrica, não permite que nessa mesma sejam
repercutidos os custos inerentes à compra desta energia [6].
Em termos da situação no quotidiano, nos anos precedentes a 2015, o DT tinha atingido
um valor não suportável financeiramente (visto que quanto maior for o défice tarifário, mais
juros serão cobrados nas faturas futuras da eletricidade), mais concretamente em finais de
2012 e 2013 que chegou perto dos 3 mil milhões de euros [5], não se deve só às alterações
legislativas mas também ao facto do país, nesse anos, estar mergulhado num clima
recessivo propício à prática de fraude. Para além disso, a própria União Europeia
responsabilizou o derrape do défice ao “consumo fraudulento de energia elétrica em anos
recentes” [7].
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2.3.3 Custos
A nível de custos, devido ao facto de não haver, em termos nacionais, valores em
concreto sobre quanto é que as perdas não técnicas significam no preço final da tarifa ou os
seus encargos respetivos a nível globais optamos, para além de dar uma exemplificação da
aplicação das perdas não técnicas nas tarifas, por dar um pequeno exemplo de como a
própria expansão da rede de distribuição, abrangindo mais casas, pode originar mais
encargos financeiros. É de referir que quem paga os consumos e as perdas de eletricidade,
apesar destas serem repartidas por todos, é o consumidor.
Relativamente ao segundo tópico, por exemplo, temos uma casa a ser fornecida por
uma determinada corrente de intensidade “I”. Visto que as perdas por efeito de Joule são
traduzidas na fórmula P = RI2, essa habitação tem perdas elétricas (devido ao rendimento
nunca ser cem por cento). Todavia, agora outra habitação juntou-se à rede consumindo
também uma corrente “I”. Nisto a P (perdas por efeito de Joule) = R.(2.I)2 = 4RI. Com isto,
percebemos que as perdas aumentam numa função exponencial f (x) = x2 sendo o número
de casas a variável independente.
Concluindo, é evidente que só o facto de estarem mais de uma casa liga à rede faz com
que as perdas evoluam ao quadrado fazendo com que os custos tornem-se algo
significativos.
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3. Contexto Internacional
Neste tópico o nosso objetivo é exibir alguns casos e também dados relativamente às
causas e também consequências das perdas não técnicas. No entanto, decidimos
concentrarmo-nos mais no panorama internacional, nomeadamente o Brasil, devido a ser o
local mais prejudicado com estas.
Mundialmente, o Brasil é um dos países mais afetados pelas perdas não técnicas, com
um prejuízo anual de cerca de 5 bilhões de reais. Sendo que "em determinadas regiões, o
índice de perdas chega a atingir 25%, fazendo algumas concessionárias terem prejuízo de
até R$ 500 milhões por ano" [8]. Isto é um problema que afeta tanto as distribuidoras, como
o estado e os consumidores.
Uma das maiores causas das perdas comerciais, tal como em Portugal, é o furto de
energia elétrica. Este ocorre maioritariamente em zonas com grandes problemas
económicos. Tal acontece porque "por questão cultural, dentro dessas comunidades, tal ato
não é considerado um delito e sim uma forma de administração de suas necessidades" [8].
Mas o furto de energia é considerado um crime, podendo levar até 4 anos de pena. Não só
é um crime como pode por em perigo a vida de quem o faz e a vida da população ao seu
redor, devido, por exemplo, a existência do risco de incêndio. Deste modo, um dos modos
de tentar reduzir as perdas, é reeducar a população brasileira sobre o furto e fraude de
energia. Sendo esta uma das medidas que esta a ser tomada pela ANNEL [8].
Todos os dias as grandes empresas reguladoras e distribuidoras de energias tentam
criar novas medidas de combate as perdas de energias técnicas que iram tanto beneficiar
tanto a elas como aos consumidores. Como, por exemplo, o uso de um sistema pré-pago de
pagamento de energia.
Apesar de todos os esforços, este problema ainda se encontra longe de ficar resolvido.
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 18/21
4. Discussão sobre o tema
Neste ponto temos o objetivo de discutir a forma como o problema é encarado, neste
caso, em Portugal visto que este tema é tratado como um “tabu”.
A situação atual em Portugal encontra-se numa situação difícil visto que o défice
tarifário, como já anteriormente referido no ponto 2.3.2, é incomportável a nível financeiro,
tanto para os consumidores como para os fornecedores. Nisto as perdas não técnicas
também contribuíram para este facto devido ao aumento da prática da fraude pelos
consumidores, isto é, como o Expresso noticiou em 2013, a situação vivida desde 2012
retrata uma situação problemática devido aos 90 milhões de euros relativos à fraude elétrica
causada, com base em estatísticas, pelos “56 novos furtos de eletricidade, 17 mil só em
2013” [11].
Com isto, a nossa opinião é que as entidades reguladores e fornecedores de energia
elétrica, como por exemplo a EDP e a ERSE, não estão a fazer o necessário para diminuir
estas perdas, ou seja, se estas diminuíssem o preço da eletricidade também diminuía
transformando-se num benefício para o consumidor. Contudo, o próprio investimento teria
de ser pago pelo mesmo cliente. Para além disso, as diversas medidas de prevenção que
apresentamos ao longo deste trabalho não são ideias ao ponto de não prejudicar ninguém
ou de ser benefício mútuo.
Além disso, as fraudes, que são o fator que é mais reportado em termos de predas
comerciais, são combatidas com cortes de eletricidade nas habitações em causa. Por
exemplo, em 2013, os bairros de Contumil e do Largateiro foram abordados pela EDP para
os cortes nas casas em infração. Como é reportado no Jornal de Notícias, “os bairros
sociais são os mais visados” sendo que, no caso do Largateiro, “houve quem se gabasse de
não pagar luz desde 1991” [12].
Em seguida, apresentaremos as conclusões que tiramos do trabalho.
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 19/21
5. Conclusões
Resumindo e concluindo, as perdas não técnicas são complicadas de contextualizar na
situação nacional. Contudo, este tema é necessário que se resolva pois, enquanto as
perdas técnicas devem-se a fatores técnico-científicos como as perdas por efeito de Joule
ou outras, as não técnicas são causadas pelo Homem ou devido a questões políticas e/ou
de legislação.
Nisto é necessário que estas diminuam, não só para benefício do consumidor, mas
também dos próprios fornecedores de eletricidade que, ao diminuí-las, a diferença entre a
energia inserida na rede com aquela que é consumida seja menor provocando menores
prejuízos a estes mesmos.
Por último, referimos também que a própria resolução é difícil devido a haver
discordâncias entre as várias empresas de como resolver o problema.
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 20/21
Referências bibliográficas
[1] PEDRO BERNARDES. 2011. “Caracterização das Perdas na Rede de Distribuição
de Alta Tensão”. FEUP. Disponível em:
https://paginas.fe.up.pt/~ee03264/documentos/Dissertacao.pdf
[2] ANEEL. 2014. “Perdas de Energia”. Disponível em:
http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=801
[3] CARLOS ALEXANDRE PENIN. 2008. “Combate, Prevenção e Otimização das
Perdas Comerciais de Energia Elétrica”. Páginas 11 a 15. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3143/tde-14082008-
092248/publico/DoctorPenin11.pdf
[4] ERSE. 2015. “Tarifas e preços”. Disponível em:
http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/Paginas/default.aspx
[5] MANUEL AZEVEDO. MANUEL FARIA. 2013. “A evolução do défice tarifário em
Portugal”. Disponível em:
http://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/3583/1/ART_ManuelAzevedo_2013_NAT.pdf
[6] JORGE VASCONCELOS. 2012. “O que é o défice tarifário da eletricidade”. Jornal
de Negócios. Disponível em:
http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/o_que_eacute_o_deacutefice_tarifaacuterio_
da_electricidade.html
[7] OBSERVADOR. 2014. “Relatório de Bruxelas responsabiliza fraude por
derrapagem no défice da eletricidade”. Disponível em:
http://observador.pt/2014/12/22/relatorio-de-bruxelas-responsabiliza-fraude-por-
derrapagem-no-defice-da-eletricidade/
[8] PORTAL O SETOR ELÉTRICO. 2010. “Combate às perdas comerciais”. Disponível
em:
http://www.osetoreletrico.com.br/web/a-revista/edicoes/111-combate-as-perdas-
comerciais.html
[9] CARLOS ALEXANDRE PENIN. 2008. “Combate, Prevenção e Otimização das
Perdas Comerciais de Energia Elétrica”. Páginas 17. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3143/tde-14082008-
092248/publico/DoctorPenin11.pdf
[10] EDP. 2012. “Liberalização do mercado de eletricidade e de gás". Disponível em:
https://www.edp.pt/pt/particulares/informacoesuteis/Pages/ALiberalizacao.aspx
Perdas Não Técnicas – Relatório de Trabalho para Projeto FEUP 21/21
[11] EXPRESSO. 2013. “Roubados 90 milhões de euros em eletricidade”. Disponível
em:
http://expresso.sapo.pt/sociedade/roubados-90-milhoes-de-euros-em-eletricidade=f844983
[12] DIÁRIO DE NOTÍCIAS. 2013. “Fraude leva a 1400 cortes de luz no Porto e em
Gaia”. Disponível em:
http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=3511424&especial=Revistas%20de%20
Imprensa&seccao=TV%20e%20MEDIA
[13] DAYANNE JADJISKI. 2010. “Perdas de energia: prejuízos bilionários para todos”.
Canal Energia. Disponível em:
http://www.canalenergia.com.br/zpublisher/materias/Retrospectiva.asp?id=75853&a=2010
[14] MEIO NORTE. “Gambiarras tão comuns na rede elétrica traz perigo à população”.
Disponível em:
http://www.meionorte.com/noticias/gambiarras-tao-comuns-na-rede-eletrica-traz-perigo-a-
populacao-184881