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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (2): 135-155, DEZ. 2008 135 Regiões culturais: a construção de identidades culturais no Rio Grande Do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha Helena Brum Neto, Meri Lourdes Bezzi REGIÕES CULTURAIS: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES CULTURAIS NO RIO GRANDE DO SUL E SUA MANIFESTAÇÃO NA PAISAGEM GAÚCHA 1 Cultural Region: the construction of cultural identities in Rio Grande do Sul and its manifestation in the regional landscape Helena Brum Neto Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Meri Lourdes Bezzi Profª. Drª. do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Artigo recebido para publicação em 20/05/08 e aceito para publicação em 01/10/08 RESUMO: A organização do espaço analisada pelo viés cultural permite visualizar uma gama de aspectos materiais e imateriais que perpassam o tempo e se materializam no espaço, como um legado cultural, que se manifesta através da descendência. Nessa perspectiva, essa pesquisa centra-se na análise da construção de identidades culturais no Rio Grande do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha, salientando as principais regiões culturais existentes no Estado atualmente. Teve-se como meta regionalizar o Estado mediante critérios culturais, ou seja, estabelecer recortes espaciais de acordo com a etnia predominante, tendo como base os limites municipais. Delineados os recortes regionais, fez-se a análise das regiões culturais, de acordo com a expressividade e a manifestação do sistema simbólico que acompanha cada sociedade em sua relação com o espaço e com os seus semelhantes. Salienta-se que, a identificação dos principais códigos culturais que emanam de cada grupo social, subsidiou a análise da contribuição de cada etnia para a construção da cultura gaúcha. Nesse contexto, pode-se considerar a complexidade da composição étno-cultural do território gaúcho, oriunda de fluxos populacionais, que se inseriram mediante processos controlados por políticas específicas de incentivo ao povoamento e a colonização. Tal situação originou porções do espaço dotadas de significados que, por sua vez formam uma pluralidade cultural, ou seja, atualmente, o Estado constitui-se em um mosaico étno-cultural, composto por etnias diversificadas, ao mesmo tempo em que se reconhecem como essencialmente gaúchas. Palavras-chave: cultura; identidade; região cultural; códigos culturais; Rio Grande do Sul. ABSTRACT: The organization of the space analyzed by a cultural view allows us to visualize a range of material and immaterial aspects that go by the time and they materialize in the space, as a cultural legacy, that shows itself through the descent. In that perspective, this research is centered in the analysis of the construction of cultural identities in Rio Grande do Sul and its manifestation in the ‘gaúcho’ landscape, pointing out 1 Dissertação de Mestrado defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia/CCNE/UFSM, em outubro de 2007, Recursos CAPES.

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REGIÕES CULTURAIS: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES CULTURAIS NO RIOGRANDE DO SUL E SUA MANIFESTAÇÃO NA PAISAGEM GAÚCHA1

Cultural Region: the construction of cultural identities in Rio Grande do Sul and itsmanifestation in the regional landscape

Helena Brum Neto

Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria

[email protected]

Meri Lourdes Bezzi

Profª. Drª. do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria

[email protected]

Artigo recebido para publicação em 20/05/08 e aceito para publicação em 01/10/08

RESUMO: A organização do espaço analisada pelo viés cultural permite visualizar uma gama de aspectos materiais

e imateriais que perpassam o tempo e se materializam no espaço, como um legado cultural, que se

manifesta através da descendência. Nessa perspectiva, essa pesquisa centra-se na análise da construção

de identidades culturais no Rio Grande do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha, salientando as

principais regiões culturais existentes no Estado atualmente. Teve-se como meta regionalizar o Estado

mediante critérios culturais, ou seja, estabelecer recortes espaciais de acordo com a etnia predominante,

tendo como base os limites municipais. Delineados os recortes regionais, fez-se a análise das regiões

culturais, de acordo com a expressividade e a manifestação do sistema simbólico que acompanha cada

sociedade em sua relação com o espaço e com os seus semelhantes. Salienta-se que, a identificação dos

principais códigos culturais que emanam de cada grupo social, subsidiou a análise da contribuição de

cada etnia para a construção da cultura gaúcha. Nesse contexto, pode-se considerar a complexidade da

composição étno-cultural do território gaúcho, oriunda de fluxos populacionais, que se inseriram mediante

processos controlados por políticas específicas de incentivo ao povoamento e a colonização. Tal situação

originou porções do espaço dotadas de significados que, por sua vez formam uma pluralidade cultural,

ou seja, atualmente, o Estado constitui-se em um mosaico étno-cultural, composto por etnias

diversificadas, ao mesmo tempo em que se reconhecem como essencialmente gaúchas.

Palavras-chave: cultura; identidade; região cultural; códigos culturais; Rio Grande do Sul.

ABSTRACT: The organization of the space analyzed by a cultural view allows us to visualize a range of material and

immaterial aspects that go by the time and they materialize in the space, as a cultural legacy, that shows

itself through the descent. In that perspective, this research is centered in the analysis of the construction

of cultural identities in Rio Grande do Sul and its manifestation in the ‘gaúcho’ landscape, pointing out

1 Dissertação de Mestrado defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia/CCNE/UFSM, em outubro de 2007, RecursosCAPES.

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the main existent cultural areas now in the State. Our main goal was to regionalize the State by cultural

criteria, in other words, to establish space cuttings in agreement with the predominant ethnic group,

having as base the municipal limits. Delineated the regional cuttings, it was made the analysis of the

cultural areas, in agreement with the expressiveness and the manifestation of the symbolic system that

accompanies each society in its relation with the space and people. It is pointed out that, the principal

cultural codes identification that emanate of each social group made the analysis of the contribution of

each ethnic group for the construction of the ‘gaúcho’ culture possible. In that context, it can be considered

the complexity of the ethnic-cultural composition of the ‘gaúcho’ territory, originating from the population

flows, which were inserted by processes controlled by specific politics of incentive to the settlement and

the colonization. Such situation originated portions of the space endowed with meanings that, in turn

form a cultural plurality, in other words, nowadays, the State is constituted in a ethnic-cultural mosaic,

composed by diversified ethnic groups, at the same time that are recognized as essentially ‘gaúchos’.

Keywords: culture; identity; cultural area; cultural codes; Rio Grande do Sul

1 INTRODUÇÃO

O homem como agente reorganizador doespaço, transforma a natureza de acordo com suasnecessidades, lhe imprimido as característicasmarcantes da sua cultura. Tem-se, então, umaconfiguração regional, onde um grupo social confereà sua base espacial uma identidade, que irá diferenciá-la das demais.

Na concepção de Bezzi (2002), analisar umaregião é entender a dialética do mundo, aceitando oconstante conflito entre o velho e o novo, naorganização e desorganização do espaço. Pode-seconsiderar, então, que a região é um foco deidentificação ou aproximação simbólica do lugar pordeterminado grupo, onde o espaço dá a sua identidade.

Desse modo, esse trabalho tem como objetivocentral analisar a construção de identidades culturaisno Rio Grande do Sul e sua manifestação na paisagemgaúcha, salientando as principais regiões culturaisexistentes no Estado atualmente. Como objetivosintrínsecos à pesquisa têm-se: (a) analisar o processode ocupação étnico-cultural ocorrido no Rio Grandedo Sul e, sua influência na formação da culturagaúcha; (b) verificar as transformações ocorridas noespaço geográfico gaúcho, expressas na paisagem,pelas distintas etnias que vieram compor o Estado,

mediante a inserção de novos códigos culturais e (c)regionalizar via geração de mapas, as principaisregiões culturais existentes no Rio Grande do Sulatualmente.

Ao se considerar o contexto sócio-cultural queconfigurou o Rio Grande do Sul, pode-se observarque a ação humana que ocupou e organizou o espaçogaúcho, até o século passado, fez deste território umaárea tipicamente imigratória. Desta forma, deve-seater ao se designar que o Rio Grande do Sul é umestado único, uma vez que essa abordagem é apenasforça de expressão, uma vez que, culturalmente, esteé bastante diversificado.

O gaúcho, como forma de expressividadecultural, em termos regionais, não é o único grupoétnico que o formou, uma vez que, devem-seconsiderar as variações regionais que o compõem eque contribuíram para sua constituição. Pode-seafirmar, então, que a partir das bases socioculturaisque configuraram o espaço riograndense o gaúchoapresenta particularidades intrínsecas ao contextoregional, ou seja, há “vários” gaúchos, diferenciadosna forma e no que se refere às peculiaridades, masque também mantém traços comuns, relativos aotradicionalismo e ao nativismo. Entretanto, cada etniase expressa com sua cultura, seus rostos e suas falas.São as diferentes faces que conquistaram e formaram

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o Estado. Portanto, foi neste mosaico étnico-cultural,fruto de costumes diversos, que neste recorte espacial,vieram somar-se, para originar a sociedaderiograndense, embora guardem suas particularidadesculturais originais.

Partiu-se, então, da concepção de que a culturasurge como uma forma de interpretar a organizaçãodo espaço, através das experiências de cada grupo,suas atitudes e valores, onde as singularidadesconferem caráter próprio a uma determinada região,ou seja, um recorte espacial com conotação cultural.Logo, numa região, os laços entre a sociedade e seuespaço, ora ampliam-se, ora estreitam-se, resultando,dessa forma, nas distintas expressões da paisagem.

Neste sentido, fez-se necessário um estudomais aprofundado sobre a ocupação do Estado,buscando entender o contexto do processo deformação das regiões culturais e, conseqüentemente,da cultura gaúcha. Considerou-se, também, questõesreferentes a representação cultural no contextoregional, através da figura do gaúcho, como habitantedo Rio Grande do Sul

Buscou-se, então, evidenciar as áreas maisexpressivas da “paisagem cultural” existentes noEstado atualmente. Estas foram definidas em funçãoda expressividade da “marca” cultural impressa napaisagem, a partir de códigos específicos inerentes acada grupo sociocultural. Dessa forma, verificaram-se as transformações do espaço geográfico gaúcho,expressas na paisagem, pelas distintas etnias quevieram compor o Estado e, como os seus descendentesmantêm as tradições e as materializam no espaçogaúcho.

Para tanto, resgatou-se a relação homem-meio, ou seja, como os povos que vieram ocupar oEstado modificaram a paisagem de acordo com assuas técnicas e necessidades, identificando asprincipais transformações espaciais ocorridas aolongo das fases de ocupação e povoamento do RioGrande do Sul. Tais estudos permitiram entender ainterface natureza-sociedade gaúcha e, identificar asprincipais “marcas culturais” expressas no espaço

gaúcho pelas distintas etnias, que possibilitam formare delimitar as regiões culturais, em virtude dascorrentes étnicas com maior expressividade doEstado.

A partir deste conhecimento, pode-seregionalizar, via geração de mapas, as regiõesculturais que compõem o Rio Grande do Sulatualmente, estabelecendo os recortes espaciais deacordo com as singularidades culturais impostas porum determinado grupo social. Paralelamente,procurou-se comparar, via mapeamento, a evoluçãoespacial da inserção de culturas no Rio Grande doSul de acordo com os períodos específicos relativosà sua inserção, os quais permitiram identificar asregiões culturais existentes no Estado.

2 METODOLOGIA

O estudo da temática cultural no Rio Grandedo Sul estruturou-se em etapas, procurando viabilizaro caminho investigativo que orientou a análise docontexto regional gaúcho, considerando o “todo”,pressupondo uma generalização. Paralelamente,procurou-se enfatizar as porções menores do espaçoregional, especificando algumas particularidadesintrínsecas ao processo de regionalização.

Inicialmente, fêz-se um amplo levantamentobibliográfico para estabelecer o referencial teórico-metodológico do trabalho, através de bibliografiasespecíficas sobre a temática em estudo.Estabeleceram-se, então, os conceitos orientadores,suportes teóricos, que fundamentaram a pesquisa, comênfase para o resgate da concepção de cultura em suagênese e evolução na ciência geográfica. Resgataram-se, também, outros conceitos pertinentes à temáticacultural, como identidade cultural, códigos culturaise migrações, além das categorias espaciais para aanálise da cultura no espaço via paisagem e regiãocultural.

Resgatadas e definidas as matrizes teóricas,a segunda etapa da pesquisa constituiu-se na coletade dados relativos à evolução sociocultural do espaçogaúcho, com informações coletadas junto a Fundação

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de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul(FEE), relativas à evolução populacional do Estado,dinâmica espacial, criação e limites municipais. Noque diz respeito aos dados referentes às etniasresponsáveis pela identidade cultural, ou seja, agênese de cada município, as mesmas foram aferidasjunto à FEE e na Fundação de Amparo aos Municípiosdo Rio Grande do Sul (FAMURS). Buscaram-se,também, informações, para subsidiar a pesquisa, nasPrefeituras Municipais e nas Secretarias de Cultura,através de trabalho de campo. Essa etapa foi realizadasomente quando necessário, ou seja, em caso deimprecisão ou dubialidade dos dados.

A terceira fase da pesquisa esteve relacionadaao trabalho de campo, com intuito de observar “inloco” a problemática em estudo, ou seja, verificar amaterialidade da cultura no espaço. Neste sentido,elaborou-se um questionário, instrumento de pesquisa,com questões específicas sobre a temática destainvestigação, direcionados as Secretarias de Culturadas Prefeituras Municipais a serem visitadas e,também, aos Centros de Pesquisa Culturais e aoMovimento Tradicionalista Gaúcho, que foram à basedas entrevistas realizadas.

Para realizar a proposta de regionalizaçãoteve-se como critério a cultura, isto é, a presença deum grupo como fundador do município ou grupomajoritário, considerando a composição étnicasuperior a 50% da população total. A formação dasregiões culturais teve como base os limitesmunicipais, uma vez que se consideraram as 496unidades territoriais que compõe o Rio Grande doSul para individualizar os recortes espaciais.Entretanto, nem todos os municípios do Rio Grandedo Sul compuseram regiões culturais. Tal fato deve-se, basicamente, aos diferentes níveis de relaçõessocioeconômicas estabelecidas nas distintas porçõesdo Estado. Tal situação evidencia-se, principalmente,nas cidades de médio e grande porte, nas quais não émais possível identificar um grupo cultural específicocomo principal agente organizador do espaço, emvirtude do nível de desenvolvimento socioeconômicodas mesmas.

Ressalta-se que, a partir da definição dacomposição étnico-cultural de cada município quecompõe o Rio Grande do Sul, via dados secundários,estruturou-se um banco de dados referente à principaletnia que formou os 496 municípios gaúchos. Essebanco de dados foi operacionalizado através daconfecção de uma tabela, previamente elaborada nosoftware Word, a qual permitiu estabelecer a relaçãoentre as unidades territoriais e a principal etnia,considerando-se a descendência, que os compõem.Os dados referentes a essa etapa têm como fontes aFEE (dados referentes à origem e criação dosmunicípios gaúchos), Fundação de Amparo aosmunicípios no Rio Grande do Sul (base de dadospopulacionais e históricos), Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE TEEN), bem comoatravés dos dados obtidos no trabalho de campo, emcentros de pesquisa culturais, museus e nas Secretariasde Culturas dos municípios visitados.

A operacionalização dos dados permitiudelinear um esboço das regiões culturais através daindividualização de quatro recortes espaciais, segundocritérios culturais no Estado gaúcho, originandorespectivamente: a região cultural 1 (nativa,portuguesa, espanhola, africana e açoriana), região

cultural 2 (alemã), região cultural 3 (italiana) e aregião cultural 4 (mista). O trabalho de campoprocurou evidenciar em como, quando e onde selocalizam as áreas mais expressivas da paisagem, asque contêm a “marca cultural”, expressas através doscódigos culturais das etnias que compõe o Estado.As entrevistas foram aplicadas a informantesqualificados (Secretarias de Cultura, Centros dePesquisa e MTG), procurando, viabilizar a pesquisaem campo e, desta forma, abranger as principaisregiões culturais que constituem o Rio Grande do Sul.

Tendo em vista que toda a regionalizaçãopressupõe uma generalização, foram visitados osmunicípios “pólo” (dentro de cada região), assimdenominados as unidades territoriais mais expressivasna paisagem cultural, ou seja, aqueles que contêm a“marca” cultural. Para tanto, selecionou-se: - região

cultural 1, os municípios de Júlio de Castilhos,Pelotas, Rio Grande, Rosário do Sul, Bagé, Piratini,

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São Gabriel, São Borja, Santiago, Santana doLivramento, Formigueiro, São Sepé, Caçapava.; -região cultural 2: Agudo, Candelária, Araricá, Estrela,Feliz, Gramado, Canela, Igrejinha, Nova Petrópolis,Novo Hamburgo, Paraíso do Sul, Santa Cruz do Sul,Santo Ângelo, Sapiranga, Taquara e Três Coroas; -região cultural 3: Bento Gonçalves, Caxias do Sul,Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Garibaldi, Ivorá,Jaguari, Nova Palma, São João do Polêsine, SilveiraMartins e Veranópolis; - região cultural 4: Entre-Ijuís,Ijuí, Itaara, Mata, Restinga Seca, São Luiz Gonzaga,São Miguel das Missões, São Pedro do Sul e Toropi.

A seleção desses municípios deve-se a suaexpressividade mediante o processo de povoamentoe colonização e a importância histórica para o Estado.Além disso, consideraram-se os dados coletados, adivisão municipal e o conhecimento empírico parasubsidiar as incursões a campo. Justifica-se, também,a seleção desses municípios pelos mesmos deteremmelhores condições de infra-estrutura no que se refereà compilação de dados e a expressividade dos mesmospara a região cultural que o compõe.

Para a confecção do mapa final, que resultouna individualização de quatro regiões culturais doEstado, utilizou-se o software Arc View GIS 3.2a. Osdados coletados foram tabulados em planilhaspreviamente elaboradas no Word as quais serviramde base para a inserção em tabelas existentes no ArcView, nas quais foram arrolados os dados referentesà principal etnia formadora da base municipal. Paratanto, criou-se uma simbologia para representar cadaetnia e permitir a regionalização pelo software.Paralelamente, foram sendo gerados os recortesespaciais responsáveis pela formação das quatroregiões culturais, mediante a criação de uma legenda,em que cada região cultural correspondeu a coresespecíficas, proporcionando a visibilidade dadistribuição cultural no espaço riograndense.Ressalta-se que, para realizar a arte final dos mapasutilizou-se o Corel Draw 12.

Como resultado tem-se: - Região Cultural 1:nativos, portugueses, africanos, espanhóis e açorianos;- Região Cultural 2: alemães; - Região Cultural 3:

italianos; - Região Cultural 4: misto (alemães,italianos, poloneses e japoneses). E como IlhasCulturais, individualizou: - Ilhas Culturais Polonesas;- Ilhas Culturais Açorianas; - Ilhas Culturais alemãs;- Ilhas Culturais italianas e - Ilhas Culturais mistas.

Ressalta-se que, a ordem das regiões culturaisestabeleceu-se de acordo com a cronologia históricada inserção étnica no Estado, obtida através do resgatehistórico da evolução sócio-cultural do espaçoriograndense. Desse modo, se individualizou quatroregiões culturais no espaço gaúcho, considerando adescendência como fator de manutenção dastradições. A geração do mapa que representa asregiões culturais do Rio Grande do Sul agregou ematerializou os dados que foram à base para as etapasde análise, interpretação e espacialização dos mesmos.

Nessa perspectiva, aliando os conceitos aosdados coletados e a observação “in loco”, pode-seinterpretar e analisar a gênese e evolução das regiõesculturais gaúchas, bem como regionalizar as mesmas,via geração de um mapa final que representou a atualconfiguração da cultura em território gaúcho.

3 CULTURA, IDENTIDADE E CÓDIGOSCULTURAIS: A MATERIALIZAÇÃO DACULTURA NO ESPAÇO

O conceito de cultura, atualmente, tem seevidenciado mediante os debates acerca do processode globalização, com ênfase para as suasconseqüências quanto à homogeneização doscostumes em detrimento da expressão dassingularidades culturais. No entanto, o resgate dasbases teóricas que norteiam a concepção de cultura éimprescindível para o entendimento desse conceito,considerado amplo e complexo, uma vez que, transitaem uma área fronteiriça entre a Geografia e asCiências Sociais, sendo abordado também, pelaAntropologia e História.

Na concepção de Claval (1999), a cultura éconcebida segundo alguns critérios, dentre os quaisse destacam: (a) É a mediação entre o homem e anatureza; (b) É a herança, resultado de um jogo de

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comunicação; (c) Permite aos indivíduos e aos gruposse projetarem no futuro; (d) É feita por palavras,articuladas por discursos e realizada na representação;(e) É um fator essencial de diferenciação social; (f) Apaisagem é o objeto de trabalho da Geografia cultural,através da marca cultural.

Assim, infere-se que a cultura permeia acomunidade étnica na qual foi concebida, orientandosuas ações e relações com o espaço, materializandoneste suas características distintivas. Salienta-se que,estas características pressupõem símbolos comuns,funcionando como mecanismos de reconhecimentoentre os membros de um mesmo grupo social, aomesmo tempo em que os diferenciam dos demais.

Estes símbolos segundo Claval (1999),denominam-se códigos culturais e, englobam desdea linguagem até as convenções mais particulares decada cultura. De certo modo, permitem asobrevivência de um grupo cultural e tem comoresultado a organização de um espaço o qual se tornacaracterístico via materialização dos códigos quecompõe esta cultura.

Pode-se dizer, então, que a cultura consiste,basicamente, num conjunto de crenças e valores queorientam as ações de um determinado grupo social, apartir de sistemas simbólicos que o tornam distintodos demais, conferindo-lhe características singulares.Estas, por sua vez, definem o grupo social através docontraste, originando a identidade cultural.

Para Silva (2000, p. 89), “A identidade é umsignificado cultural e socialmente atribuído”. Aidentificação pressupõe uma prévia caracterizaçãoque se atribui ao que é semelhante, ao mesmo tempoem que permite distinguir o que é diferente.

O vínculo estabelecido entre cultura eidentidade cultural permite relacionar estes doisconceitos, partindo do princípio que a cultura consistena “essência”, na “natureza” de um grupo social,enquanto que a identidade cultural pressupõe umaclassificação, um sentimento de pertencer ou não aum determinado grupo cultural.

Verifica-se, portanto, que embora estejamrelacionados, estes conceitos apresentam distinções,que na concepção de Cuche (2002, p. 176), referem-se ao fato de que

[...] a cultura pode existir sem consciência da

identidade, ao passo que as estratégias de

identidade podem manipular e até modificar uma

cultura que não terá então quase nada em comum

com o que ela era anteriormente. A cultura depende

em grande parte de processos inconscientes. A

identidade remete a uma norma de vinculação,

necessariamente consciente, baseada em oposições

simbólicas.

Nesse sentido, a identidade existe em funçãoda cultura, como um produto resultante, capaz deexprimir suas características distintivas maismarcantes, atribuindo “valores culturais”. A culturaexiste, a identidade classifica, pois a partir desta,ocorre à inclusão ou exclusão do grupo social.

Assim, a identidade cultural serve comodistinção entre os grupos, baseada na diferença. É oresultado da relação entre um grupo social e sua baseespacial, através do estabelecimento de vínculos. ParaCuche (2002), não existe identidade em si, nem parasi própria, mas sempre em relação à outra,acompanhando a diferença.

Identidade e diferença não são sinônimos,apenas mantém uma relação de dependência.Mediante essa contextualização a identidade define“o que se é” a partir de características comunspartilhadas por um mesmo grupo, ou seja, “nós somosassim”. Enquanto que, a diferença define “o que osoutros são” a partir de características totalmentedistintas.

No âmbito cultural, a identidade só existedevido a grande diversidade de culturas que compõeo globo, como forma de individualizá-las, isto é,identificar cada uma mediante códigos ou símbolosespecíficos. De modo geral, a identidade se origina apartir dos códigos que identificam a cultura e,portanto, são determinantes. Estabelecidos os códigos

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e construída a identidade, esta inicia um processo deconsolidação ao longo do tempo, onde seus códigosserão permanentemente testados. Assim, estes podempermanecer, caso sejam “sólidos” o suficiente, oudesaparecer, caso mostrem-se frágeis. Podem tambémserem substituídos por outros, ou mesmo agregaremnovos elementos e/ou sofrerem uma reformulação.

Nessa perspectiva, salienta-se que essênciacultural que orienta as atitudes e ações de um gruposocial materializa-se no espaço mediada por códigosespecíficos. Há toda uma simbologia representada nasformas, cada qual com significado próprio.

Observa-se, assim, que os códigos constituem-se na simbologia responsável pela visibilidade dacultura e, também, pela sua transmissão. Encontram-se impressos nas diferentes paisagens, através doestilo das casas, no vestuário típico, nas artes, nagastronomia, na música, na religiosidade e nasfestividades. Além desses, existem outros códigosque, embora não sejam visíveis, também sãoresponsáveis pela materialização da cultura no espaço,como aportes culturais, com destaque para os valores,as ideologias e as convenções. Neste processo decodificação cultural, salienta-se a comunicação, orale escrita, como um dos códigos essenciais paratransmissão e projeção da cultura no tempo e noespaço.

Tendo como base os códigos que compõe umgrupo cultural, percebe-se que cada aspecto deste estáatrelado a uma simbologia, dotada de significados,que se analisados em conjunto representam a culturacomo um todo, caracterizando-a e identificando-a.

Partilhar os mesmos códigos pressupõeassumir uma identidade comum, que segundo Claval(1999) orienta procedimentos de regulação social queasseguram a sobrevivência e reprodução do gruposocial.

Nesse sentido, os códigos culturaisconfiguram-se como convenções simbólicaspartilhadas por uma mesma comunidade social. Sãoresponsáveis pela sua identificação, salientando a

diferença, uma vez que cada grupo cultural épermeado por um sistema simbólico de representaçãoparticular, reconstruído no constante processoevolutivo das sociedades.

Nessa linha de pensamento Woodward (2000,p. 41), assinala que “[...] cultura consiste em umsistema partilhado de significações que permitem auma comunidade classificar e manter a ordem social”.

A cultura, mediada pelos códigos érepresentada e materializada no espaço, originandoformas típicas, passíveis de reconhecimento pelosdemais grupos sociais. Decifrar e interpretar oscódigos significa entender a dinâmica da cultura emquestão, os valores e as crenças que orientam asatitudes e ações. Estas, por sua vez, são repetidasmaquinalmente como um padrão orientador comum.

Relativo a este processo Claval (1999, p. 81)diz “[...] cada cultura caracteriza-se por um sistemaoriginal de representações e de construçõesintelectuais onde se recebe de nosso entorno umsistema hierarquizado de preferências e valores”.

Embora a percepção seja individual elamantém ligação com o contexto geral, ou seja, comoo comum age em relação às situações. Os códigossão passados de geração em geração comoensinamentos. Porém, estes não são fixos no tempo eno espaço, pois as formas e as funções podem mudarde acordo com a dinâmica cultural.

Qualquer alteração nos códigos demonstraque houve transferências de hábito e/oucomportamento e, por conseguinte, denota a evoluçãode um complexo sistema cultural composto porinúmeros códigos os quais se transformam para seadequar às novas realidades.

No caso específico das migrações, o novoambiente requer, do grupo social, algumas adaptações,as quais geram mudanças de hábito. A inovaçãoemerge, geralmente, diante das dificuldades, comomedida eficaz para resolução dos problemas. É comose fosse uma imposição natural para o ajuste cultural,

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para que o grupo social possa adaptar-se ao novoespaço.

Considerando o caráter dinâmico etransformador das culturas, Claval (1999, p. 87)afirma que “As culturas mostram-se freqüentementecom um nível elevado de plasticidade: nada pode freara incorporação de elementos novos quando sãoapresentados como substitutos ou complementaresdos já existentes”. De maneira geral, não hárompimentos bruscos e sim uma substituição dealguns códigos que permitem ao grupo social manter-se unido culturalmente ao longo do tempo e do espaço.

A dinâmica sócio-espacial exerce então, forteinfluência na construção e manutenção dos códigosculturais, acarretando transformações visando suareadaptação as novas realidades que se configuram.

Nesse contexto, percebe-se que há umaestreita inter-relação entre cultura-identidade-código,uma vez que esta associação permite ao grupo socialidentificar-se e ser identificado pelos demais,mediante a formação e materialização decaracterísticas culturais singulares, emanadas por umacultura.

4 AS REGIÕES CULTURAIS DO RIO GRANDEDO SUL

A cultura como mediadora das relaçõessociedade-natureza confere heterogeneidade aoespaço, o diferenciado através de sistemas simbólicosque se materializam na paisagem via códigosculturais, tornando-a repleta de significados inerentesa um determinado grupo social. Considerando aherança cultural mediada pela descendência e asrelações que se estabelecem entre cultura-códigos-identidade, essa proposta de regionalização recortouo Rio Grande do Sul em quatro regiões culturais deacordo com a principal etnia formadora dosmunicípios que o compõem:

-Região cultural 1: individualizada em funçãoda presença das etnias nativa, portuguesa, espanhola,africana e açoriana;

-Região cultural 2: estabelecida em virtudeda presença étnica alemã;

-Região cultural 3: individualizada pela etniaitaliana;

-Região cultural 4: estabelecida pela presençade etnias mistas.

Além das regiões culturais, individualizaram-se, também, ilhas culturais no território gaúcho, emvirtude da presença de uma unidade territorial comorigem étnica distinta das que se situam no seuentorno. Desse modo, tem-se:

-Ilha cultural alemã;-Ilha cultural italiana;-Ilha cultural mista;-Ilha cultural polonesa.

As regiões e ilhas culturais demonstram adiversidade étnica que compõem o Rio Grande doSul e as particularidades intrínsecas ao contextoregional. Considera-se cada grupo social em particulare, também, a sua representatividade para acomposição da cultura gaúcha, entendida como ummosaico etno-cultural, oriundo da relação entre todasas culturas que se inseriram no espaço riograndensepara formar o povo gaúcho. (Figura 1)

A região cultural 1 foi o primeiro recorteespacial estabelecido pelas etnias que se inseriraminicialmente no Rio Grande do Sul. Desse modo, têm-se os nativos, primeiros habitantes do Pampa, até osportugueses, espanhóis, africanos e açorianos,obedecendo à ordem cronológica e a relevância emtermos culturais para a formação dessa região, bemcomo a contribuição para a cultura gaúcha. (Figura 2)

Salienta-se que, a ocupação do sudoeste doterritório riograndense por portugueses permitiu aconsolidação do Rio Grande do Sul como Unidadeda Federação, muito próxima, do ponto de vistacultural, dos hermanos. A fronteira e as guerras pelaposse da terra não impediram a influência mútua entreas culturas portuguesa e espanhola que, por sua vez,agregaram códigos culturais dos nativos que jáhabitavam o Pampa. A relação entre essas três culturas

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originou o gaúcho do Rio Grande do Sul. Esseapresenta um tipo físico característico, que seconsolidou via costumes e tradições. Essas sesolidificaram, no decorrer do tempo, em virtude da

configuração das atividades realizadas no campo, umavez que, existem versões do gaúcho no Uruguai e naArgentina, apresentando peculiaridades que os tornamdistintos.

Figura 1: As regiões Culturais do Rio Grande do Sul

Fonte: FEE, 1997.

Org.: BRUM NETO, H.; GIORDANI, A, C., 2007.

A atividade econômica baseada na pecuáriabovina moldou o tipo regional, através da gênese decostumes que surgiram em função da disponibilidadede materiais, da miscigenação de tradições existentese da funcionalidade dos códigos para o cotidiano dasociedade, seja rural ou urbana. Desse modo, o gaúchotípico que caracteriza a região cultural 1 apresentatraços particulares, oriundos dos povos que o formoue se distingue dos demais através da apropriação dagastronomia nativa, com o churrasco e a infusão deerva-mate e água quente que originou o chimarrão.

Também adquire relevância o costume de fumarpalheiro e a habilidade com o cavalo, herdada donativo. Destacam-se, também, os códigos culturaisimateriais representados pela fala com a formação deum vocabulário regional, repleto de expressõestípicas, oriundo das línguas portuguesa e espanhola,agregando termos nativos e africanos.

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O uso do característico “tu”, de origemportuguesa e a ênfase na pronúncia do final daspalavras, principalmente do “e”; a culinária, com oarroz de carreteiro, o churrasco e os populares docesde Pelotas, a arquitetura materializada através doscasarões em estilo colonial, identificam-se entre oscódigos culturais materializados no espaço da regiãocultural 1. A religiosidade que se manifesta nasigrejas, capelas e santuários, expressa a fé católica,herdada dos portugueses e espanhóis, que convivecom as casas de religião do Batuque africano,solidificando crenças de origens distintas, mas quese sobressaem no âmbito cultural que permeia essaregião cultural. Não somente os afrodescendentescultuam o Batuque, assim, como o catolicismo nãose constitui na única forma de culto dos luso-gaúchos,pois a fé ultrapassou a barreira cultural que separaessas duas etnias, para compor uma unidade simbólicaque identifica a região cultural 1.

Outro código que se sobressai é a vestimentatípica, que torna a bombacha uma peça de uso comum,e pode ser vista, em virtude da sua popularização,

principalmente, nos pequenos municípios que tem suaeconomia centrada na atividade agropecuária. Amesma é utilizada como uma vestimenta comum queexerce função semelhante a da calça jeans, porém,com um estilo diferente. O uso do chapéu e do pala éfreqüente entre os mais velhos e, tornou-se comumem datas comemorativas entre elas a semanafarroupilha. Também é utilizado como uma forma deproteção contra o frio.

A visibilidade da cultura ocorre medianteinúmeros códigos, mas deve-se ater a imaterialidadeque se manifesta através das crenças e dos valoresmais significativos para a região cultural 1. Essesvalores e crenças referem-se a questões como respeitoao próximo, a família, o apego a terra, ou nalinguagem regional, ao pago e ao tradicionalismo,além do nativismo, como formas de preservar a culturagaúcha típica.

A música é um dos códigos culturais queexpressa de forma mais significativa à identificaçãodo gaúcho com as “coisas do pago”. As letras retratam

Figura 2: Região Cultural 1 a presença nativa, portuguesa, espanhola, africana e açoriana no RS.

Fonte: FEE, 1997.

Org.: BRUM NETO, H.; GIORDANI, A. C., 2007.

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o “Rio Grande”, enfatizando os aspectos físico-naturais e sociais no que se referem aos seus principaiscódigos culturais. Essa forma de expressividadecultural denota uma devoção, muitas vezesconsiderada como “idolatria” e, divide opiniões, vistoque, às vezes é considerada por um lado comobairrismo e, por outro, consiste em uma forma decultuar as tradições e expressar o sentimento deidentificação pela sua terra e pela cultura, ou seja,desenvolve-se um sentimento topofílico.

Ao transpor o tempo, os habitantes da regiãocultural 1 consolidaram os laços estabelecidos com afigura do gaúcho típico, acarretando mudança nasconcepções a respeito do trabalhador rural que seoriginou nas estâncias para a criação de gado, pois osseus costumes transpuseram a lacuna que separa avida no campo e na cidade, tornando as tradiçõesgaúchas um “modo de ser” que caracteriza um gruposocial, independente do meio em que se vive.Demonstra, principalmente, a valorização doscostumes e tradições que tornam essa porção doespaço riograndense singular.

Neste contexto, pode-se dizer que o gaúchoreconhece as suas origens nessa região, onde seformou a matriz cultural que o originou, atrelada atradições que se mantiveram ao longo do seu processoevolutivo socioespacial. A identidade cultural dessaporção do território riograndense, delineou-se emvirtude da atividade campeira e dos códigos culturaisque se desenvolveram mediante a fusão dos costumesdas etnias que a compõem.

O segundo recorte espacial estabelecidoconfigurou a região cultural 2, individualizadaatravés da predominância da cultura alemã nosmunicípios que a compõem. Até 1824, data que marcao início da imigração alemã no Rio Grande do Sulpredominava as etnias portuguesa, africana e açoriana,com a presença de nativos ao norte, pois à medidaque o povoamento se expandia do sul e oeste emdireção ao centro do Estado, as tribos nativasremanescentes recuavam no espaço riograndense nadireção norte, praticamente desabitada. (Figura 3)

As colônias alemãs foram implantadas,inicialmente, nas proximidades de Porto Alegre,ocupando as porções mais planas dos vales dos riosCaí e Sinos. Posteriormente, expandindo-se emdireção ao centro do Estado, no vale do Rio Pardo epara a Serra Gaúcha. De maneira geral, os alemãesconcentraram-se em uma faixa que se situa no centro-leste do Rio Grande do Sul, formando uma regiãocontínua da ex-colônia de Santo Ângelo, atual Agudoaté a ex-colônia do Mundo Novo, a qual abrange, naatualidade, o município de Taquara e seu entorno. Essacontigüidade espacial permitiu a formação de umaregião cultural com características singulares,centradas nos códigos culturais trazidos pelosimigrantes alemães e, perpetuados pelos seusdescendentes, abarcando algumas transformações quepermitiram sua adaptação no Estado, tornando-atipicamente teuto-gaúcha.

A distinção entre os códigos culturaisestabeleceu as fronteiras que individualizaram aregião cultural 2 em relação aos demais recortesespaciais e, ao observar sua localização, percebe-seque, o povoamento do território gaúcho seguiu umalógica espacial, visto que, a inserção de contingentespopulacionais ocorreu do sudoeste (estâncias echarqueadas), para o centro-leste (alemães), a porçãodo espaço mais próxima da região cultural 1. Acolonização alemã estabeleceu a fronteira da atividadepecuarista e, do ponto de vista cultural, damanifestação étnica do grupo cultural que compôs ametade sul do Estado.

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Posteriormente, outra fase da imigração,colonizou a Serra Gaúcha, em áreas mais declivosasdo Rebordo do Planalto da Bacia do Paraná, com ositalianos, que balizaram os limites da região cultural2 ao norte, pela presença e expressividade da culturaitaliana. E, na etapa da imigração, formaram-secolônias no norte gaúcho, caracterizadas peladiversidade étnica, delineando os fluxos migratóriosinternos no Rio Grande do Sul, mais do que pelainserção de novos contingentes populacionais. Osalemães expandiram-se na direção norte, compondo,além das colônias mistas, juntamente, com italianos,poloneses e outras etnias que vieram em menornúmero, municípios com predominância ética degermanos, constituindo ilhas culturais alemãs naregião cultural 4 (mista), além de alguns núcleos nosul, na região cultural 1, nas proximidades de Pelotas.

A cultura alemã, ao transpor o espaço, viamigrações, procurou reterritorializar os seus códigosno intuito de se reconhecer e ser reconhecida pelosdemais grupos sociais, reconstruindo sua base espacialpor meio de um processo de identificação em que

procura se afirmar. Os alemães, ao se instalarem emterritório gaúcho, imprimiram as suas característicasnorteadoras na paisagem, dotando-a de formas típicas,moldadas de acordo com suas crenças e valores. Aregião cultura 2 tem como marca a “germanidade”,ou seja, a materialização da simbologia que os teuto-gaúchos mantém como um legado, conservando etransformando as formas e funções para se adequarao tempo, em um processo natural de evoluçãocultural.

A expressividade germânica está implícita noscódigos culturais, com destaque para a linguagem quese formou da mistura entre o português e o alemão,característico das antigas colônias, além do dialétoque continua sendo praticado, principalmente, noâmbito familiar, como uma forma de preservá-la, nãopermitindo que a mesma desapareça com o tempo,conservando a herança que se aprende antes mesmodo português. Vem dessa mistura lingüística o sotaquecaracterístico falado na região cultural 2, oriundo danecessidade de se aprender duas línguas diferentes,primeiramente, para se comunicar em família e,

Figura 3: Região Cultural 2 a presença alemã no RS.

Fonte: FEE, 1997.

Org.: BRUM NETO, H.; GIORDANI, A. C., 2007.

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depois, o português, para se comunicar na sociedadede modo geral.

Além da linguagem, outros códigos como amúsica e as festividades já se tornaram conhecidasno Rio Grande do Sul, popularizando o vocabuláriotípico, com expressões como fest, kerb e octoberfest.

As comemorações que remetem à origem dacolonização germânica promovem a integração entreas distintas etnias que compõem o Estado, via atrativoturístico. Além do viés cultural e econômico, asfestividades realizadas direcionam ao conhecimentoe a difusão da diversidade étnica que formou o Estado,proporcionando a integração e a descoberta de novoshorizontes, delineados por outras crenças e valores.

A terceira região cultural individualizada noRio Grande do Sul tem os italianos como principaletnia formadora e, apresenta uma descontinuidadeespacial, uma vez que, apresenta dois recortesespaciais distintos, separados no espaço pela região

cultural 2, de predominância alemã. O maior númerode municípios que compõe está região situa-se naSerra Gaúcha, na porção nordeste do território gaúcho,com a paisagem marcada por vales e montanhas. Ooutro recorte espacial que compõe a região cultural 3situa-se nas proximidades de Santa Maria, no centrodo Estado, denominada de Quarta Colônia deImigração Italiana do Rio Grande do Sul. (Figura 4)

Assim como ocorreu no processo migratórioalemão, os italianos, ao se inserirem em terras gaúchasse dispersaram pelo território, formando algunsnúcleos populacionais distantes da região cultural 3,originando as ilhas culturais italianas, que se inseremnas regiões culturais 1 e 4. Essa descontiguidadeespacial não impediu a expressividade dos ítalo-gaúchos, visto que, na Serra Gaúcha, na QuartaColônia ou em ilhas culturais como Jaguari e NovaEsperança do Sul os seus códigos culturais sematerializam e identificam a “italianidade” dos seushabitantes.

Figura 4: Região Cultural 3 a presença italiana no RS.

Fonte: FEE, 1997.

Org.: BRUM NETO, H.; GIORDANI, A. C., 2007.

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A simbologia que caracteriza o descendentede italiano em solo riograndense permite salientaralguns códigos importantes na consolidação do seuprocesso de identificação cultural. Pelo senso comum,a uva está implícita na região cultural italiana, fatoque se afirma através da expressiva produção de uvasvoltadas a vitivinicultura na região cultural 3, maisespecificamente, na Serra Gaúcha, onde já étradicional e no município de Jaguari, que teminvestido nesse segmento econômico, procurandoviabilizar o seu desenvolvimento via tradição.

Considerado um povo alegre e festivo, o ítalo-gaúcho também tem nas festividades um códigoimportante no que se refere à expressividade cultural.De modo geral, o descendente de italiano “comemorade tudo um pouco”, sejam festas ligadas à imigração,ao município, aos santos ou mesmo a outros códigosculturais que o identificam, como a gastronomia, como queijo, o vinho e a polenta. As comemorações típicasitalianas caracterizam-se pela mesa farta, comprodutos característicos da sua culinária, como a cuca,o risoto, sopa de agnoline, salame, queijo, copa, dentreoutros produtos que tem o “selo” colonial, muitovalorizado atualmente.

Enquanto o alemão é considerado maiscomedido nos seus gestos, o italiano popularizou-sepela expansividade dos seus gestos, com linguagemprópria, caracterizada pelo tom elevado da voz,principalmente, quando se reúne em família, pois“todos falam ao mesmo tempo”. As palavras têm apronúncia marcada no final da frase, como se aprolongassem como sinal de interjeição, no qual seutiliza constantemente expressões de cunho religioso,como “sacramento” e “Madonna mia”.

Além de inúmeras características atreladasaos seus códigos culturais, os italianos incluíram umnovo “modo de vida” no Rio Grande do Sul,adequando-se as características do espaço regionalna qual estavam inseridos, contribuindo para aformação da sociedade gaúcha e da cultura regionalcomo um todo. Os ítalo-gaúchos compõem uma dasporções mais singulares do espaço riograndense, pelaexpressividade da sua cultura e pelos processos de

identificação em nível regional e nacional, quepopularizaram esse “pedacinho da Itália no extremosul do Brasil”.

O quarto recorte espacial com ênfase culturalestabelecido no Rio Grande do Sul constituiu a região

cultural 4, caracterizada pela inserção de etniasdiversas, principalmente, alemães, italianos,poloneses e japoneses, dentre outros gruposminoritários que também integram algumas unidadesterritoriais do Estado gaúcho. (Figura 5)

Embora o primeiro recorte espacialindividualizado no Estado tenha como matriz culturalquatro etnias básicas, do nativo ao açoriano, há certahomogeneidade nas formas e costumes, pois o sistemade codificação que identifica essa região culturalenglobou os aspectos mais significativos de cadagrupo social para originar o gaúcho típico. Porconseguinte, a região cultural 4, também caracteriza-se pela diversidade étnica, oriunda da implantaçãode colônias mistas, denominadas de Novas Colônias.Contudo, a individualização de pequenos núcleosculturais coesos, que se formaram em virtude daorigem étnica, possibilitou a preservação dos códigosculturais de cada grupo social, tornando esse recorteespacial um verdadeiro mosaico étno-cultural.

De maneira geral, a região cultural 4compõem-se através da combinação entre as suasprincipais etnias formadoras, que se organizam emuma mesma unidade territorial, porém, em algunsmunicípios há o predomínio de uma culturaespecífica, originando ilhas culturais de origem alemã,italiana e polonesa. Tal configuração do espaço denotaos fluxos migratórios internos ocorridos no RioGrande do Sul no decorrer do processo migratório,onde os descendentes de imigrantes alemães eitalianos das Velhas Colônias dirigiram-se para o nortedo Estado em busca de terras, formando novos núcleoscoloniais majoritários no que se refere a sua culturade origem. Desse modo, possibilitou aindividualização de recortes espaciais com certahomogeneidade étnica, embora também sejamcompostos por outras etnias, em menor proporção nototal da sua população.

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Salienta-se dentre as ilhas culturais que seformaram na região cultural 4, a presença significativade poloneses, como grupo majoritário na composiçãocultural desse recorte espacial gaúcho. Além das ilhasculturais, os poloneses compõem vários municípios,onde não formam a maioria étnica, mas “marcam”sua presença através da manutenção e materializaçãodos seus códigos culturais.

O sistema simbólico que permeia a regiãocultural 4, essencialmente mista, revela a diversidadede códigos culturais na formação da paisagem,compondo uma unidade na diversidade, pois aomesmo tempo em que se mantém na unidade culturaldos grupos étnicos que se formaram peladescendência, formam uma diversidade considerando-se o contexto regional.

Embora tenha sua gênese em grupos culturaisdiversificados, esse recorte espacial gaúcho mantémalgumas particularidades intrínsecas ao processocolonizador que o originou, principalmente, nasatividades econômicas, onde o incentivo

governamental influenciou significativamente para aconfiguração do espaço produtivo dessa porção doterritório riograndense, assentado em produtos comoa soja e o trigo, juntamente com a pecuária bovina e aavicultura.

A configuração econômica do espaço estáatrelada à questão cultural, pois, respeita aspreferências e habilidades que acompanham os gruposétnicos, uma vez que, as colônias, de maneira geral,caracterizam-se pela atividade agrícola diversificadae pelo desenvolvimento de uma pecuária bovina deleite, suína e avícola. Nas áreas fronteiriças, onde ocontato com as regiões culturais 1, 2 e 3 é maissignificativo ocorre uma espécie de transição,caracterizada pela interelação entre as atividadeseconômicas e, também, culturais.

A diversidade que caracteriza o norte do RioGrande do Sul molda paisagens distintas, repletas designificados particulares expressos através do sistemade codificação que orienta cada grupo étnico, aomesmo tempo em que integra e divulga suas culturas,

Figura 5: Região Cultural 4 a presença de culturas mistas no RS.

Fonte: FEE, 1997.

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principalmente, ao se considerar as festividades, amúsica, as danças típicas e a gastronomia. Essescódigos culturais têm se salientado atualmente, emvirtude da valorização da “marca” colonial, que servecomo atrativo turístico e, ao mesmo tempo em quepromove o desenvolvimento econômico, serve comodifusor cultural, tornando a simbologia culturalpopular.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática dessa pesquisa, tendo como baseas regiões culturais, direcionou o entendimento damesma, entendendo-a como um conceito que expressamovimento em direção a uma realidade. Escolheu-seo caminho da conceituação de região cultural, porentendê-lo como um conceito essencial para aapreensão das relações espaciais. Também se fizeramalgumas tentativas de materializá-lo através daregionalização das regiões culturais para o Rio Grandedo Sul. No entanto, o trabalho também aponta comoprimordial fornecer subsídios para estudos queproponham depreender o conceito de região culturalem um quadro espaço-temporal.

Ao se buscar a compreensão do conceito deregião, afirmou-se que é indispensável contextualizá-lo histórica e espacialmente. É necessário perceberque a região cultural é resultante de interaçõesdinâmicas que ocorrem no espaço geográfico. Nessaperspectiva, o conceito de região cultural é entendidocomo um quadro de referência fundamental, dasociedade, respaldada na identidade cultural.

Considerando a identidade cultural como umnovo paradigma, a região pode ser definida,representada e diferenciada. Dessa forma, a identidadecultural coloca novamente os seres humanos comoatores na produção e reprodução da vida social e doslugares. Valoriza-se a perspectiva humanística sobrea sociedade, passando essa a ser um conjunto designificados expressos em um determinado recorteespacial.

Entende-se que, a região cultural é umaapropriação simbólica do espaço por um determinado

grupo, o qual também é elemento constitutivo daidentidade regional. A região, sob o enfoque daidentidade cultural, passa novamente a ser entendidacomo um produto real, é concreta, existe. Ela éapropriada e vivida por seus habitantes,diferenciando-os dos demais, principalmente, pelaidentidade que lhe confere o grupo social.

Estudar a região sob a perspectiva daidentidade cultural é manipular o código de significa-ções nessa representado, ou seja, para compreenderuma região cultural, é preciso vivenciá-la.

Nesse contexto, a análise espacial viabilizadapelo viés cultural centra-se na relação sociedade-natureza, entendida como a transformação do meiopelo homem, enquanto membro de um grupo social,que tem suas atitudes guiadas por um sistema decódigos culturais. Para entender a organização doespaço por uma cultura específica, deve-se apreendera concepção de cultura, resgatando as matrizesteórico-metodológicas que guiam os estudos culturais,para que os mesmos não sejam consideradosdeterministas.

O entendimento do conceito de cultura écomplexo, mas essencial para reconstituir um gruposocial em todos os aspectos que orientam suas açõesem relação ao meio natural e aos seus semelhantes.Para tanto, tem-se a cultura como a “chave” paraentender a constante dinâmica social que sematerializa no espaço, reconstruindo-operiodicamente, uma vez que a mesma demarca ciclosimportantes para a humanidade.

Na atualidade, tem-se a cultura como um fatorde diferenciação mediante a iminência dahomogeneização imposta pelo processo deglobalização. Diante das bases teóricas revisitadas,entende-se a cultura como um conjunto de aspectosmateriais e imateriais, identificados através doscódigos culturais, que permeiam um determinadogrupo social, que partilham as mesmas crenças evalores. A cultura emana desse grupo e não ésimplesmente pré-existente ao mesmo, uma vez que,se origina de hábitos comuns de uma comunidade, de

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forma inconsciente, ou seja, não se “fabrica” umsistema de codificação intencionalmente. A culturapressupõe certo tempo de convivência mútua para quese originem e solidifiquem costumes em comum.Portanto, pode-se dizer que a cultura é “produto” deum grupo social e, resulta em diversas obrasresponsáveis pela materialidade dos seus códigosculturais no espaço.

O sistema simbólico que permeia umacomunidade étnica expressa o seu modo de vida “empartes”, ou seja, cada código cultural responde porum aspecto da cultura e se considerados em conjunto,esses códigos definem a cultura. Desse modo, decifraresse sistema simbólico significa entender “como” semanifesta e se materializa a cultura, permitindoobservar o que é mais importante no contextosociocultural.

A partir da relevância de alguns códigosculturais se estabelece o processo de identificação deum povo, pois o que é mais significativo é cultuado ese exterioriza na materialidade, permitindo avisibilidade da cultura, ao mesmo tempo em queesboça sua identidade. Esse processo de identificaçãopermite dizer “como a cultura é”, o que é análogo e oque é diferente, criando um sentimento depertencimento ou de exclusão, no sentido de seidentificar com determinadas crenças e valores.

A relação estabelecida entre código eidentidade está implícita na existência do grupocultural, como fatores que originam a sua “marca”,dotada de um poder descritivo, pois “falam” do seumodo de vida e da organização social mediada pelosaspectos imateriais mais significativos. No entanto,ressalta-se que a “marca” cultural não é permanente,pois a cultura como um produto do homem está sujeitaas constantes transformações que ocorrem na históriaevolutiva das sociedades que compõem o globoterrestre.

A dinâmica tempo-espaço-cultura é contínuae integra o cotidiano das sociedades, reconstruindo-os à medida que novas transformações se fazemnecessárias para se adequar à realidade proposta. As

mudanças ocorrem, num primeiro momento, nosaspectos imateriais, responsáveis pelos comandosmentais que guiam as atitudes e, posteriormente, sematerializam no espaço. A aceitação da mudança épré-existente a sua efetivação no contexto cultural,uma vez que, existem crenças seculares que envolvemestruturas complexas para se transformarem, já queestão arraigadas na cultura. Para que a mudança seefetive, torna-se imprescindível a “necessidade”, istoé, a inovação surge mediante uma dificuldade, comoinstrumento eficaz de ajuste social.

Quando se retrata a cultura de um determinadogrupo social deve-se ater a todo seu processoevolutivo, visto que, a atual configuraçãosocioespacial tem explicação nas formas e funçõespré-existentes e na dinâmica imposta pela relaçãosociedade-natureza no decorrer da história evolutivade uma comunidade étnica.

A partir dessas afirmações podem-se realizaralgumas conjecturas a respeito do gaúcho, comohabitante do Rio Grande do Sul, considerandoquestões pertinentes ao processo migratório e suainfluência na construção da cultura gaúcha, queacarretou profundas transformações no espaçogeográfico do Estado, mediante a inserção de novoscódigos culturais. Previamente, salienta-se que ogaúcho não foi avaliado mediante o tipo regionalcaracterístico que se identifica pelo senso comum,como “grosso”, ou seja, de modos rudes, de bota ebombacha, sorvendo chimarrão. Procurou-se evitaro estereotipo, já que o “gaúcho típico” constituiapenas uma das facetas do gaúcho, a mais primitiva,que se manteve via códigos culturais mais tradicionaise, de certa forma, influenciou as outras porções doEstado, compostas pela inserção étnica diversificada,distinta daquela que originou o gaúcho em seuprimeiro estágio evolutivo, na Campanha Gaúcha.

Para tanto, considerou-se a contribuição dasetnias inseridas no território gaúcho, para estabelecera regionalização que delineou as quatro regiõesculturais do Rio Grande do Sul. Os recortes espaciaisconstituíram-se com base na origem étnica dasunidades territoriais riograndenses, permitindo

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visualizar os fluxos migratórios internos e traçar ocaminho realizado mediante a dispersão dos gruposculturais no espaço gaúcho. A conjuntura de fatorespolíticos e culturais responsáveis pela formação dopovo gaúcho, configurou um mosaico etno-culturalno Estado, dotando-o de características singulares,que originaram as distintas regiões e paisagensculturais gaúchas.

Nesse sentido, recortou-se o espaço gaúchoem quatro regiões culturais, tendo como fio condutora principal etnia formadora dos municípios. Assim,os recortes espaciais originados apresentam umnúcleo central, aglutinador de municípios e, outrospequenos núcleos, considerando-se a composição pormais de um município. Paralelamente, geraram-se asilhas culturais, que se caracterizam pela inserção emuma região com matriz cultural diferente da suaorigem. Tal situação ocorre, principalmente, na regiãode colonização mista, que compreende várias ilhasculturais, como as alemãs, as italianas e as polonesas.A dispersão cultural nessa porção do espaçoriograndense deve-se a fatores históricos quecondicionaram a colonização das Novas Colônias nonorte gaúcho, através de migrações internas, bem maisdo que pela inserção de novos imigrantes. Devem-seconsiderar também o incentivo à diversidade culturalem detrimento da homogeneidade experimentada nasregiões alemãs e italianas, além da região portuguesa,que se constituiu com significativa coesãosociocultural, baseada em códigos comuns a suasculturas formadoras.

As particularidades da composição étnica doRio Grande do Sul devem-se a estruturação daocupação inicial do Estado pelas principais etnias quese instalaram nas terras sulinas, em virtude daatividade pecuarista, assentada nas estâncias echarqueadas e, a posterior inserção de grupos étnicosoriundos da Europa, mas não portugueses. Alocalização das regiões culturais deve-se as políticasde incentivo a ocupação do território riograndense,inicialmente, nas áreas fronteiriças, com osportugueses e, posteriormente, no centro e nordeste,com alemães e italianos e, por fim, no norte, comculturas diversificadas.

Assinala-se que a Serra Gaúcha não tem suaorigem italiana por escolha dos imigrantes que seinstalaram no território gaúcho. Essa porção do espaçolhes foi destinada e, coube a cada etnia desenvolverseus núcleos coloniais iniciais e, moldar a paisagemde acordo com suas preferências, expressas pelascrenças e valores que guiam suas ações.

A expressividade observada nas regiões quecompõem o Rio Grande do Sul, mediante o critériocultural, deve-se a necessidade de manutenção dosistema de codificação, que serve como um fator decoesão social, pois partilhar as mesmas práticassignifica estabelecer vínculos de união social,mediados pela herança simbólica que une umdeterminado grupo social. Os códigos maissignificativos se materializam no espaço e servemcomo “monumentos” a cultura, uma vez que,possibilitam sua identificação via formas típicas.Desse modo, as regiões culturais, de uma forma geral,apresentam paisagens dotadas de significadosparticulares a cada cultura, que denotam sua origemétnica. Destaca-se que, decifrar esses significadospermite entender o sistema simbólico intrínseco a cadagrupo social que partilha uma cultura em comum.

Por conseguinte, pode-se dizer que asimbologia das culturas que compõem o Rio Grandedo Sul agregou “valor” ao gaúcho ao longo do seuprocesso evolutivo sociocultural, pois, não se tratade uma “figura” histórica congelada no tempo, quese originou na Campanha Gaúcha mediada somentepela lida campeira, tendo como principal ícone as lutaspela defesa do território e das causas justas. ARevolução Farroupilha constitui-se em um marcohistórico para o gaúcho, dotando-o da característicaguerreira e repleto de virtudes, como honra e bravura.Após 1835 já se decorreram quase dois séculos emque a história do Rio Grande do Sul foi reescrita pordiversos povos que vieram compor não somente oterritório, mas também, a cultura gaúcha. Ao mesmotempo em que preservam as características atreladasa sua origem, os grupos culturais gaúchos, sereconhecem como tais, preservando as tradiçõesatreladas ao tipo regional que se formou no extremosul do Brasil.

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Pode-se dizer que, em cada região cultural doEstado há uma forma de “ser gaúcho”, que expressao nativismo de acordo com a sua concepção, mediadapor valores e crenças particulares, que guardamalguma homogeneidade em relação à questão culturalgaúcha, pois partilham códigos comuns. A relação quese estabelece entre o gaúcho, considerado o “todo” eos diversos grupos culturais que mantém suaspeculiaridades permite afirmar que o Rio Grande doSul compõe um mosaico étno-cultural, formado pelainserção de várias etnias que contribuíram de formasignificativa para a sua configuração sociocultural eeconômica, individualizando regiões específicasrepletas de particularidades, mas que guardam certahomogeneidade no que se refere a questão culturalque envolve o gaúcho.

Diante dessas reflexões e conjecturas arespeito da questão cultural que permeia o Rio Grandedo Sul, faz-se uma indagação. Mas, afinal, quem é o

gaúcho? De maneira geral, principalmente, seconsiderando o sendo comum, o gaúcho é uma figuraregional, que se identifica mediante alguns traçoscaracterísticos, que permitem traçar um perfil, muitasvezes demonstrado através de um estereótipo, que oveste com trajes típicos, fala “grosseira”, vocabulárioregional com termos como bah e tchê, além dotradicional chimarrão. Essa é uma visão geral,sobretudo, vinculada a mídia, que procura traçarcaricaturas que identifiquem traços regionaismarcantes, como o mineiro uai ou trem “bão”, oumesmo o nordestino, com o popular ó xente, so.Constitui-se, também, em uma concepção para quemnão conhece o Rio Grande do Sul e a diversidade queo compõe, pois se retrata o gaúcho via característicasque se popularizaram e o identificam em nívelnacional.

Entretanto, com base no conhecimentoempírico e teórico, adquiridos no decorrer dessapesquisa, fazem-se algumas considerações a respeitodo gaúcho, como o tipo regional do Rio Grande doSul, um ícone que representa a cultura gaúcha. Asrepresentações simbólicas que caracterizam a culturagaúcha de forma geral e que são representadas emCTGs e, principalmente, na Semana Farroupilha, são,

na verdade, costumes que estão arraigados nasdiversas porções do Estado, ou seja, os hábitos típicosconsiderados como originalmente gaúchos, sãocultuados, cotidianamente, em todas as regiõesculturais do Rio Grande do Sul.

No momento em que se partilha e cultiva asmesmas tradições, ocorre um processo deidentificação com a cultura, tornando-se parteintegrante da mesma, pois ao mesmo tempo em queinfluencia é influenciado pela imaterialidade que acompõe. No entanto, como podem duas concepçõesculturais coexistir em um mesmo grupo social, ou seja,como ser “alemão” e gaúcho ao mesmo tempo, ou“italiano” e gaúcho e, assim por diante?

O processo de identificação que associa asetnias formadoras do Rio Grande do Sul ao gaúchodeve-se ao fato que, as mesmas também se constituemem partes integrantes da cultura gaúcha, pois oscódigos culturais que identificam o tipo regionalforam construídos ao longo do tempo e, não estavamsimplesmente, prontos quando teve início o processomigratório no Estado. Pelo contrário, havia umapredominância portuguesa e africana, em número,mas somente, na porção sul e oeste, acompanhando aárea de fronteira com os espanhóis, obtendo,inclusive, influência desses últimos, além dos nativose açorianos. Desse modo, há que se considerar ainfluência alemã, italiana, polonesa e japonesa nosistema de codificação cultural do gaúcho, ostornando parte integrante da cultura gaúcha, devidoa expressividade da sua contribuição.

Portanto, o gaúcho é o habitante do RioGrande do Sul, que cultua traços característicos e,através desses, demonstra as particularidadesintrínsecas ao contexto regional, observadas viainserção de códigos culturais diferenciados de acordocom a etnia de origem. No entanto, considera-se que,no contexto geral, forma o povo gaúcho. Esse sereconhece e se identifica mediante simbologiascomuns, materializadas via costumes e tradições queoriginam formas e hábitos particulares, que remetema um modo de vida singular se comparados a outrasporções do País.

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