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PTDRS EXTREMO NORTE DO AMAPÁ Realização dos Trabalhos de Campo Bernadette M. Weiss e Odnélia Siqueira Amaral Elaboração do Plano Bernadette M. Weiss

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PTDRS EXTREMO NORTE DO AMAPÁ

Realização dos Trabalhos de Campo

Bernadette M. Weiss e Odnélia Siqueira Amaral

Elaboração do Plano

Bernadette M. Weiss

2

CONTEÚDO

íNDICE DE TABELAS.......................................................................................................... 4

íNDICE DE QUADRO .......................................................................................................... 5

ÍNDICE DE GRÁFICOS ....................................................................................................... 5

ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................... 6

íNDICE DE FOTOS ............................................................................................................. 6

Tabela de Abreviações e SIGLAS ....................................................................................... 7

Resumo executivo ............................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

HISTÓRICOS DOS MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE ........................ 12

O território do Extremo Norte – AP, localização e limites .................................................. 12

Grandes DISTÂNCIAS entre as sedes dos municípios e as comunidades rurais, situação DIFÍCIl DE COMPREENDER PARA QUEM NÃO CONVIVE NO CONTEXTO. ................ 14

DIMENSÃO AMBIENTAL .................................................................................................. 16

Áreas desmatadas ...................................................................................................... 16

Queimadas .................................................................................................................. 17

Desafios para as atividades previstas no PAC ............................................................ 17

Saneamento Básico .................................................................................................... 18

Coleta de lixo .............................................................................................................. 18

ÁREAS PROTEGIDAS NO TERRITÓRIO Extremo Norte ............................................. 18

Unidades de proteção integral ........................................................................................ 20

Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT) ............................................ 20

Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO) ................................................................. 20

TERRAS INDÍGENAS .................................................................................................... 21

Terra Indígena Uaçá ................................................................................................... 21

Terra Indígena Juminã ................................................................................................ 21

Terra Indígena Galibi do Oiapoque ............................................................................. 21

UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL ........................................................................... 21

Floresta Estadual do Amapá ....................................................................................... 21

RESUMO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DO TERRITÓRIO ............................................ 23

DIMENSão SOCIOCULTURAL EDUCACIONAL ............................................................... 25

POPULAÇÃO ................................................................................................................. 25

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) DO TERRITÓRIO ............................ 27

POBREZA E DESIGUALDADE NO TERRITÓRIO ............................................................ 28

TIPOLOGIAS PNDR NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE ...................................... 29

tabela de DEMANDA SOCIAL ........................................................................................... 31

3

Desempenho Escolar ..................................................................................................... 34

Taxa de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Finais (5ª a 8ª série) ....... 35

Taxa de Analfabetismo ................................................................................................ 35

NÚMEROS DE MATRÍCULAS NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE ...................... 36

análise da situação ATUAl dA EDUCAÇÃO dO TERRITÓRIO Extremo Norte .............. 37

SITUAÇÃO DA SÁUDE NO TERRITÓRIO ........................................................................ 38

Resumo sobre a situação da saúde no Território Extremo Norte ................................... 39

ESTRUTURA FUNDIÁRIA ................................................................................................. 43

Assentamentos ............................................................................................................... 43

ASPECTOS ECONÔMICOS ............................................................................................. 40

PIB .................................................................................................................................. 40

EMPREGOS GERADOS POR SETOR DA ECONOMIA ................................................... 42

BOLSA FAMÍLIA ................................................................................................................ 42

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA ........................................................................................ 44

Produção agrícola .......................................................................................................... 45

Lavoura Permanente ................................................................................................... 45

Lavouras temporárias .................................................................................................. 48

Extrativismo Vegetal .................................................................................................... 56

PECUÁRIA .................................................................................................................. 59

Pesca ............................................................................................................................. 61

matriz de pontos fortes, oportunidades, pontos fracos e ameaças da agricultura familiar E DA PESCA (FOFA) ............................................................................................................ 63

IBAMA/ICMBio ............................................................................................................ 64

PRONAF ........................................................................................................................ 65

Programa de Aquisição de Alimentos - PAA .................................................................. 67

Programa NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - PNAE ..................................... 68

O COLEGIADO DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE .................................................... 69

cONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA CONSTRUÇÃO DA VISÃO DO FUTURO ..................................................................................................................... 70

o nosso FUTURO .............................................................................................................. 72

VISÃO DO FUTURO ...................................................................................................... 72

Missão, OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E PRINCÍPIOS. ............................................... 73

Missão ......................................................................................................................... 73

Objetivos estratégicos ................................................................................................. 73

Princípios: ................................................................................................................... 73

PROGRAMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO ........................................................ 73

4

MATRIZ DE PRIORIDADES E DIRETRIZES PRINCIPAIS:Erro! Indicador não definido.

Programa Transversal: Fortalecimento Organizacional da Sociedade Civil com enfoque especial nos atores mais fragilizados ............................................................ 78

Programa Investimentos Maciços na Produção Familiar Agrícola .............................. 78

Programa de apoio à pesca artesanal familiar ............................................................ 80

Legalização das Terras e melhoria do acesso ............................................................ 80

Educação do Campo ................................................................................................... 81

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO .................................................................................. 82

matriz EDPO ................................................................................................................... 83

Referências bibliográficas: ................................................................................................. 85

Sites pesquisados .......................................................................................................... 85

Livros, revistas estudos e outras bibliografias ................................................................ 85

Outras fontes: ................................................................................................................. 86

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Áreas dos municípios do Território Extremo Norte ........................................... 13 Tabela 2 - Comunidades mais distantes das sedes dos respectivos municípios ............... 14 Tabela 3 - Informações sobre áreas desmatadas no Território Centro Oeste ................... 17

Tabela 4 – Análise de Taxa de crescimento populacional nos municípios do Território Extremo Norte entre 1996 e 2007 ...................................................................................... 25

Tabela 5 - População recenseada por situação de domicílio e sexo ................................. 26

Tabela 6 - População total, área e densidade populacional dos municípios do Território Extremo Norte .................................................................................................................... 26 Tabela 7 - Índices de pobreza e desigualdade no Território Extremo Norte ...................... 29

Tabela 8 - Tabela Oficial de Demanda Social do MDA para o Território Extremo Norte ... 31 Tabela 9 - Estimativas de Demanda Social do MDA para o Território Extremo Norte ....... 31 Tabela 10 - Taxas de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Iniciais .............. 35 Tabela 11 - Taxa de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Finais.................. 35

Tabela 12 – Taxa de Alfabetismo no Território, no Estado do Amapá e na Capital Macapá ........................................................................................................................................... 36 Tabela 13 – Número de matrículas no Território Extremo Norte ....................................... 36 Tabela 14 – Serviços de saúde disponibilizados no Território Extremo Norte ................... 38 Tabela 15 - Número de leitos no território .......................................................................... 39

Tabela 16 – Títulos Expedidos pelo Acordão TCU 753/2008 no Território Extremo Norte 44 Tabela 17 - PIB de 2007 nos municípios do Território Extremo Norte ............................... 40

Tabela 18 - Número de empregos gerados nos municípios do Território por setor da economia ........................................................................................................................... 42 Tabela 19 - Crescimento do programa Bolsa Família entre os anos de 2006 e 2008. ...... 42 Tabela 20 - Crescimento do percentual de pessoas alcançadas com o programa Bolsa Família ............................................................................................................................... 43 Tabela 21 - Dados de Produção de Banana em cacho em 2008 ...................................... 45 Tabela 22 - Evolução da produção de banana em cacho de 1996 a 2008 ....................... 45

5

Tabela 23 - Dados de Produção da Laranja em 2008 ...................................................... 46

Tabela 24 - Evolução da produção de laranja de 1996 – 2008 ......................................... 46 Tabela 25 – Evolução da produção de Mamão no município de Oiapoque entre 2003 e 2008 ................................................................................................................................... 46 Tabela 26 – Evolução da produção de maracujá no Território entre 2002 e 2008 ........... 47 Tabela 27 – Evolução das áreas Plantas por Cultivo entre 1996 e 2008 .......................... 48 Tabela 28 - Dados de Produção de Feijão em 2008 ......................................................... 49 Tabela 29 - Evolução da Produção de Feijão entre 1996 e 2008 ...................................... 49

Tabela 30 - Dados da produção de mandioca em 2008 ................................................... 50 Tabela 31 - Evolução da Produção de Mandioca entre 1996 e 2008 ............................... 50 Tabela 32 – Dados sobre a produção de Melancia em 2008 ............................................ 51 Tabela 33 – Evolução da Produção de Melancia entre 1996 e 2008 ................................ 51 Tabela 34 – Dados sobre a produção de Abacaxi no Território em 2008 ......................... 52

Tabela 35 - Evolução da produção de Abacaxi entre 1996 e 2008 .................................. 52 Tabela 36 – Dados sobre a produção de arroz em 2008 .................................................. 53

Tabela 37 - Evolução da produção de Arroz ..................................................................... 53 Tabela 38 – Dados sobre a Produção de Milho em 2008 ................................................. 54 Tabela 39 – Evolução da Produção de Milho entre 1996 e 2008 ..................................... 54 Tabela 40 – Evolução da Área Plantada com Culturas Temporárias entre 1996 e 2008 . 55

Tabela 41 – Evolução/Diminuição do Rendimento por Hectare dos Plantios Temporários ........................................................................................................................................... 56

Tabela 42 – Dados sobre Produção do Açaí em 2008 ..................................................... 57 Tabela 43 - Evolução da produção de Açaí em toneladas entre 1996 e 2008 .................. 57 Tabela 44 - Extrativismo de Carvão Vegetal, Lenha e Madeira em Tora ......................... 59

Tabela 45 – Rebanhos presentes no Território Extremo Norte .......................................... 59 Tabela 46 – Produção de Leite e Ovos............................................................................. 60

Tabela 47 - Números de contratos e valores desembolsados pelo PRONAF nos últimos 5 anos ................................................................................................................................... 65 Tabela 48 – Número de DAP expedidos até agosto de 2010 no Território Extremo Norte ........................................................................................................................................... 66

ÍNDICE DE QUADRO

Quadro 1 – Tipologia PNDR .............................................................................................. 30 Quadro 2 – Matriz FOFA da Agricultura e Pesca do Território Extremo Norte .................. 64

Quadro 3 – Composição do Colegiado Extremo Norte ...................................................... 69 Quadro 4 – Passo a passo do Monitoramento e Avaliação ............................................... 83

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Divisão da área total do Território Extremo Norte entre Unidades de Proteção Integral, Unidades de Uso Sustentável, Terras Indígenas e Área sem Unidade de Proteção onde ficam as áreas urbanas e agrícolas dos municípios. ................................. 22 Gráfico 2 - Evolução demográfica nos municípios e do Território Extremo Norte entre 1991 e 2007 ................................................................................................................................ 25 Gráfico 3 - População do Território por situação de domicílio ........................................... 26

6

Gráfico 4 - População do Território por sexo ..................................................................... 26

Gráfico 5 – Evolução da densidade populacional no Território Extremo Norte .................. 27 Gráfico 6 - Valores adicionados ao PIB por Setor e Município .......................................... 41

Gráfico 7 - Composição do PIB 2006 nos municípios do Território Extremo Norte ........... 41 Gráfico 8 - Ranking do PIB per capita no Estado do Amapá ............................................. 41 Gráfico 9 – Evolução das Culturas Permanentes no Território entre 1996 e 2008 ............ 47 Gráfico 10 – Ilustração da Evolução das Culturas Temporárias entre 1996 e 2008 .......... 55 Gráfico 11 – Evolução da Produção do Açaí entre 1996 e 2008 nos municípios do território. ............................................................................................................................. 57 Gráfico 12 - Comparação da verba PRONAF liberada entre Território e Estado ............... 66 Gráfico 13 - Evolução dos Valores de contratos PRONAF entre 2005 e 2009 no Território ........................................................................................................................................... 67 Gráfico 14 – Evolução dos Valores dos Contratos PRONAF entre 2005 e 2009 ............... 67

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa do Estado do Amapá, com destaque do Território Extremo Norte e Capital Macapá .............................................................................................................................. 13 Figura 2 - Mapa do Corredor da Biodiversidade do Amapá ............................................... 19 Figura 3 – Mapa do IDH Municipal .................................................................................... 27

Figura 4 – Imagem da base de sustentabilidade usada para construção da Visão do Futuro ................................................................................................................................ 71

Figura 5 – Organograma dos Programas Estratégicos do Território ................................. 77 Figura 6 – Figuras explicativas da ferramenta EDPO ........................................................ 84

ÍNDICE DE FOTOS

Foto 1 – A floresta intacta do Território Extremo Norte ........................................................ 8

Foto 2 – A natureza na beira do rio ..................................................................................... 8

Foto 3 – Situação atual ainda da BR 156 entre Calçoene e Oiapoque .............................. 18 Foto 4 – A estrada sendo asfaltada até Calçoene (em 2009) ............................................ 18

Foto 5 – Parque Nacional Montanha do Tumucumaque ................................................... 20 Foto 6- Paisagem do PNMT .............................................................................................. 20 Foto 7 – Paisagem da Terra Indígena ............................................................................... 21

Foto 8 – Arvore da floresta de terra inundável ................................................................... 24 Foto 9 – Árvore da floresta de terra firme .......................................................................... 24 Foto 10 – Menina Indígena na Aldeia Santa Izabel ........................................................... 34 Foto 11 – Mulheres indígenas descascando mandioca para o preparo da farinha ............ 34

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TABELA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ADAP Agência de Desenvolvimento do Amapá

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

PRONAT Programa Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais

FOFA Matriz sobre Pontos Fortes, Oportunidades, Pontos Fracos e Ameaças

PPI Projeto de Produção Integrada

PTDRS Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

RURAP Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ONU Organização das Nações Unidas

DIAGRO Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária

PESCAPE Agência de Pesca do Amapá

SDR Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural

UDL Unidade de Desenvolvimento Local

STTR Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

ASSATERRA Associação dos Produtores Rurais de Terra Preta

ASAC-BP Associação dos Produtores de Barro e Palha

AMPRANT Associação dos Produtores e Produtoras do Ramal do Triunfo

ASPROARI Associação dos Produtores Rurais da Comunidade de São Tomé do Rio Araguari

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

DAP Declaração de Aptidão ao PRONAF

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RESUMO EXECUTIVO

O Território Extremo Norte do Amapá é composto por apenas dois municípios: Calçoene e Oiapoque, no entanto sua área territorial é muito grande com 36.958 km², área esta que em outros locais do Brasil abriga entre 20 e 30 municípios. Segundo o IBGE, em 2007 o Território Extremo Norte do Amapá possuía um total de 27.837 habitantes, que representava 4,74% do total de habitantes do Estado do Amapá e sua população urbana representou 70,54% e a população rural, 29,46%. A análise de gênero mostrou que 52% da população do Território Extremo Norte eram homens e 48%, mulheres.

O colegiado do Território está ainda em uma fase muito inicial, pois o território Extremo Norte foi homologado como Território Rural somente em julho de 2007 e a primeira assessora territorial começou a sua atuação oficial somente no ano de 2009. Por isso foi de fundamental importância investir em conscientização e apoio na mobilização para permitir que a construção deste plano ocorresse de forma participativa, envolvendo não somente os integrantes do Colegiado Territorial, mas também parte da sociedade civil que ainda não está organizada, como por exemplo, os produtores familiares provenientes de comunidades muito distantes das respectivas sedes dos municípios.

O Território Extremo Norte do Amapá construiu, portanto, o seu PTDRS envolvendo o maior número possível de atores sociais e, em razão disso, expressa os anseios de grupos diversos da sociedade e delineia bem a realidade do território vista sob várias óticas.

Os participantes da construção deste PTDRS foram incentivados em debater e incluir todos os aspectos fundamentais – ambiental, econômico, sociocultural, de infraestrutura e educação – para viabilizar a sustentabilidade necessária para seus planos futuros.

Quanto ao aspecto ambiental, o Território do Extremo Norte está ciente de que hoje é um dos poucos atores no cenário nacional e internacional que contribuem para a preservação do meio-ambiente. Podem se orgulhar de possuir praticamente 52% de sua área total protegida por Unidades de Proteção Integral (Parques Nacionais Montanha do Tumucumaque e Cabo Orange), outros 30% protegidos por Unidades de Conservação Sustentável, 14% homologados como áreas indígenas e apenas 3,74% ocupados por centros urbanos e terras agrícolas. Assim, sem dúvida, o Território Extremo Norte dispõe de uma biodiversidade exuberante, que é de fundamental importância para todo o resto do mundo.

Foto 1 – A floresta intacta do Território Extremo Norte

Foto 2 – A natureza na beira do rio

Em contrapartida, o Território clama por novas políticas de incentivo que possam promover um desenvolvimento justo em outros aspectos. Eles possuem um sentimento de que os atores sociais pagam um preço muito alto por terem mantido a natureza intacta, pois em áreas protegidas a densidade populacional e extremamente baixa e as distâncias tornam-se maiores entre as diversas comunidades presentes no território, pois a infraestrutura e o acesso são precários. Esses fatores elevam sobremaneira os custos de manutenção dos sistemas educacionais, sociais e de saúde, pois os repasses financeiros são feitos considerando-se tão somente o número de habitantes. Em razão disso, o Território anseia hoje por políticas públicas adaptadas à sua realidade local, que viabilizem os mesmos direitos de vida digna, com acesso a serviços básicos de educação e saúde mais eficientes, bem como estradas com qualidade, a exemplo do que ocorre em regiões com densidade populacional bem mais alta e, em última análise, por não mais disporem de áreas protegidas.

Para que os habitantes do Território tenham o seu sonho concretizado no que tange a dimensão econômica, serão necessários grandes investimentos na área de produção para tornar o território mais independente de outras regiões do estado e até de outros estados no que se refere ao setor agrícola. Somente aumentando os rendimentos de produção por hectare, será possível reduzir o preço dos insumos, que atualmente são muito caros em razão dos custos com logística de transporte.

Nesse contexto, os habitantes do Território visualizam um futuro com a agricultura e pesca familiares fortalecidas tanto em termos de produção quanto no que se refere a organização dos atores e capazes de prover a subsistência do próprio território, viabilizadas pelo acesso a investimentos tecnológicos para melhorar a produtividade local, mudando por completo a realidade atual da dependência em importação de alimentos agrícolas básicos de outros e estados. Além disso, espera se no futuro poder trabalhar a agregação de valor em alguns produtos específicos gerando através deste processo aumento de renda e vida digna no campo e na cidade.

Na dimensão sociocultural, os habitantes do Território Extremo Norte querem que os atores sociais mais fragilizados hoje sejam fortalecidos no futuro de uma forma que possam integrar organizações - como cooperativas e associações - e iniciar a sua caminhada sustentável. Mas, inicialmente, e necessário trabalhar para o aumento da produção das culturas já existentes e, em seguida, agregar valor a alguns produtos específicos, envolvendo, o maior número possível de produtores familiares da agricultura e da pesca. Além do mais, o Território Extremo Norte almeja que estes atores sociais, hoje mais fragilizados, possam também contribuir cada vez mais ativamente com suas valiosas ideias para a implementação de novas políticas públicas voltadas para a realidade local.

No que se refere à infraestrutura, o Território Extremo Norte tem, hoje, duas claras prioridades: reforma agrária e implantação e recuperação de estradas e vias de acesso.

Para que se alcance a almejada autosuficiência em produção agrícola é imprescindível que as famílias assentadas há muitos anos tenham a sua situação de posse resolvida dando-lhes a segurança de possuidores e a decorrente liberação de créditos para investimento na produção agrícola.

Paralelamente a isso, também serão necessários grandes investimentos em implantação e recuperação de estradas para permitir o acesso a estes locais, que muitas vezes ficam muito distantes das sedes dos respectivos municípios, facilitando também o escoamento da produção. Os participantes da elaboração deste plano entendem que se esses investimentos forem feitos de forma participativa não trará danos ambientais maiores.

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Por fim, na dimensão educacional, a melhoria da educação no campo é vista como fator fundamental que contribuirá com a diminuição do êxodo rural. Entende-se que além de melhorias na escola básica (até o 3º ano do ensino médio) o território precisa dispor de cursos técnicos e superiores nas áreas agrícola, ambiental e florestal, pois somente desta forma será possível garantir uma autonomia ao território no futuro.

Resumidamente podemos afirmar que o sonho dos atores sociais e representantes do poder público presentes na construção deste PTDRS é o de que o Território Extremo Norte se torne autossuficiente na produção agrícola, anulando ou pelo menos reduzindo a dependência na importação de produtos de outras regiões do Estado do Amapá ou de outros Estados e ampliando o acesso da população a uma maior diversidade e melhor qualidade de produtos agrícolas e de pesca por um preço mais acessível.

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INTRODUÇÃO

O PTDRS (Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável) é o principal instrumento de apoio à gestão social dos colegiados territoriais. Sua função é estimular a construção de um novo modelo de desenvolvimento e preparar o terreno para a formulação do projeto de desenvolvimento do Território, com base na experiência de planejamento e na análise dos planos já elaborados e em implementação nos Territórios.

Para o PTDRS poder realmente se tornar um guia de planejamento sistemático que sirva como base para os futuros projetos de desenvolvimento do Território é de fundamental importância que sua construção aconteça com enfoque participativo, envolvendo o maior número possível de atores sociais, ou seja, produtores familiares e os atores do movimento social e os representantes do poder público local.

Espera-se que a construção conjunta de todos os atores que interagem em seu dia a dia no Território permita que projetos futuros de desenvolvimento baseados neste PTDRS possam ter cada vez mais os efeitos esperados, já que a construção conjunta tende a fortalecer o sentimento de inclusão e a consequente percepção da responsabilidade por todos os atores em contribuir para que o futuro sonhado realmente aconteça.

Para que fosse assegurado que, além dos integrantes do Colegiado Territorial participasse o maior número de atores sociais de todos os municípios componentes do Território elaborou-se este PTDRS da seguinte maneira: Inicialmente foi realizada em Macapá uma oficina de sensibilização dos atores do Colegiado, que contou com a participação de representantes do MDA de Brasília e dos consultores contratados para a elaboração do PTDRS. Posteriormente, a consultoria investiu em visitas aos municípios a fim de, juntamente com o assessor territorial e os integrantes do colegiado, preparar a mobilização para as oficinas municipais de diagnóstico. Nessas reuniões, com o apoio dos consultores, foi definido pelo Colegiado como proceder para incluir representantes de todas as comunidades rurais, considerando gênero, atividades produtivas, idade etc. Dessa forma, ficou assegurado que o PTDRS não seja somente um espelho de um setor mais organizado da sociedade ou dos gestores públicos, mas um documento/instrumento de negociação e concentração da diversidade de pensamentos, interesses, práticas e sonhos existentes no Território, conforme determina o guia para construção dos PTDRS.

Os próximos passos foram a realização das oficinas municipais de diagnóstico em cada um dos municípios do Território, com considerável participação do colegiado e dos atores sociais, bem como uma oficina de Planejamento do Futuro, utilizando ferramentas com enfoque participativo.

Para a elaboração do PTDRS, foram adotados procedimentos para identificar e incluir, na redação das sínteses do plano os produtos da análise desses públicos presentes nas oficinas.

Dessa forma, este PTDRS manifesta a realidade do Território Extremo Norte, apresentando o que foi diagnosticado sobre a situação atual, os eixos de desenvolvimento, os programas e projetos planejados para o futuro, envolvendo o maior número possível de atores sociais e levando em consideração idade, gênero, raça e atividades produtivas. O PTDRS será usado pelo Território Extremo Norte como instrumento que possibilita o acesso qualificado às políticas públicas.

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HISTÓRICOS DOS MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

Os municípios do Oiapoque e Calçoene foram, respectivamente, o quarto e o quinto municípios criados no Estado do Amapá. No entanto, a história de ambos os municípios começou muito antes de sua criação.

No caso do Oiapoque, sabe-se que durante o período colonial o município era parte da Capitania do Cabo Norte. Os habitantes da região são descendentes dos povos Wajãpi, que ocupavam a extensão territorial do rio Oiapoque e dos Galibi e Palikur, que se concentraram no vale do rio Uaçá e seus afluentes. A palavra Oiapoque tem origem tupi-guarani, sendo uma derivação do termo "oiap-oca", que significa "casa dos Wajãpi".

Oiapoque originou-se com a vinda de um mestiço chamado Emile Martinic, em data imprecisa. Ele foi o primeiro habitante não índio do município. A localidade passou a ser conhecida como "Martinica" e, ainda hoje, não é raro os habitantes mais antigos a chamarem assim. Em 1907, o Governo Federal criou o Primeiro Destacamento Militar do município, que servia de abrigo a presos políticos. Alguns anos depois, esse destacamento foi transferido para Santo Antônio, atual distrito de Clevelândia do Norte, com a denominação de Colônia Militar. Para consolidar a soberania nacional sobre as áreas limítrofes face ao contestado franco-brasileiro, foi então erguido um monumento à pátria, indicando o marco inicial do território brasileiro. O município do Oiapoque foi então finalmente criado pela Lei nº 7.578, em 23 de maio de 1945.

Calçoene originou-se em 1894, quando Germano Ribeiro e Firmino chegou ao município e descobriu ouro no distrito de Lourenço. Essa descoberta motivou a penetração de europeus e estadunidenses no local, colocando em situação de rivalidade brasileiros e franceses, que travaram lutas armadas e diplomáticas. Nessa disputa, o Brasil ganhou a posse de toda a área, com a assinatura do laudo suíço, em 13 de dezembro de 1900.

Quando os franceses quiseram tomar parte do Amapá, a área era considerada a mais importante do território, pois nela estava situada a Vila do Cunani, a qual os europeus invadiram e tornaram República. Cunani foi elevada à condição de República Independente, tendo sido governada pelo romancista Jules Gros, membro da Sociedade de Geografia Comercial de Paris. Foi a única unidade que possuiu moeda personalizada, emblemas e até Ordem de Cavalaria Estrela do Cunani, a mais alta condecoração desta república. Atualmente, Cunani é um pequeno distrito de Calçoene, onde a população vive exclusivamente da agricultura e da venda de madeira.

Alguns estudos não oficiais assinalam a existência de manganês na zona leste do município, entre Cunani e Cassiporé. Os garimpeiros negam que o minério exista, mas a permanência deles e a chegada de mais garimpeiros que se embrenham nas florestas evidenciam a presença do minério. Calçoene foi oficializado como distrito em 1903 e em 22 de dezembro de 1956 foi criado o município.

O TERRITÓRIO DO EXTREMO NORTE – AP, LOCALIZAÇÃO E LIMITES

O Território Extremo Norte faz parte da Mesorregião Norte do Amapá e da Microrregião Oiapoque. A área do Território Extremo Norte é a mesma área da Microrregião Oiapoque e é composta por dois municípios: Oiapoque e Calçoene. Os dois municípios juntos ocupam uma área de 36.958 km², o que representa 25,88% da área total do Estado.

13

Município Área km2

Calçoene 14.333

Oiapoque 22.625

ÁREA TOTAL DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE 36.958

Tabela 1 - Áreas dos municípios do Território Extremo Norte

Figura 1 - Mapa do Estado do Amapá, com destaque do Território Extremo Norte e Capital Macapá

O Território se limita ao Norte com a Guiana Francesa, ao Leste com o Oceano Atlântico, ao Sul com o Território dos Lagos, e a Oeste com o Território Centro Oeste e Território Sul do Amapá.

14

GRANDES DISTÂNCIAS ENTRE AS SEDES DOS MUNICÍPIOS E AS COMUNIDADES RURAIS, SITUAÇÃO DIFÍCIL DE COMPREENDER PARA QUEM NÃO CONVIVE NO CONTEXTO.

Algumas comunidades dos Municípios do Território estão situadas muito distantes da sede municipal, o que leva a muitos impasses e dificuldades, impossíveis de imaginar para quem não vive a situação.

Abaixo, um quadro das comunidades mais distantes das sedes dos respectivos municípios do Território Extremo Norte, com as informações sobre suas respectivas distâncias.

Comunidade Distância da sede do município1

Ca

lço

en

e

Assentamento Irineu e Felipe, 12 km Comunidade Água Verde 42 km Praia do Goiabal 14 km Distrito de Lourenço 110 km Quilombolas Cunani 53 km P.A Mutum 17 km

Distrito do Carnot 72 km

Oia

po

qu

e

Assentamento Igarapé Grande 13 km Vila Velha do Cassiporé 120 km terrestres 60 km fluvial Vila Vitória 19 km Aldeia do Manga 24 km Vila Brasil 100 km (fluvial)

No inverno, 6 horas de lancha, e no verão, mais de 1 dia

Vila Velha do Cassiporé 120 km terrestres mais 60 km via fluvial

Comunidade BR 156 56 km, sendo 9 km fora da BR para onde não tem ramal, num percurso de 3 horas a pé.

Aldeias indígenas Uçuá (área 470.000 ha): 24 km da sede a partir da entrada da área Galibi (área 6.000 ha): 20 km da sede a partir da entrada da área Juminã (40.000 ha): 60 km da sede a partir da entrada da área

Assentamento Igarapé Grande 13 km

Vila Vitória 19 km

Aldeia do Manga 24 km

Tabela 2 - Comunidades mais distantes das sedes dos respectivos municípios

Por estarem muito distantes das sedes dos Municípios, os habitantes dessas comunidades enfrentam muitas dificuldades de deslocamento e também alguns dilemas. Diante disso, durante as oficinas municipais de diagnóstico, decidiu-se que o quadro

1 As distâncias apresentadas na tabela foram informadas pelos participantes das oficinas municipais de diagnóstico e

baseadas no método de medição utilizado pela população civil, que mede as distâncias em tempo de barco ou lancha por se tratarem de comunidades ribeirinhas.

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acima deveria fazer parte deste PTDRS, pois as distâncias das comunidades rurais em relação aos municípios influenciam em questões importantes como educação, saúde, comunicação e produção, que envolvem vários fatores como a compra de insumos até o escoamento dos produtos. Além disso, as comunidades necessitam que sua situação seja compreendida com clareza, já que é realmente difícil para quem nunca esteve no local imaginar a situação que elas enfrentam cotidianamente.

No que se refere à educação, há casos em que estudantes dessas comunidades distantes precisam se deslocar diariamente por mais de seis horas de barco para chegarem às escolas. Além de ser extremamente cansativo para os alunos, é dispendioso para as prefeituras, pois são elas que custeiam esse transporte. Muitas dessas comunidades só possuem escola até a 4ª série do nível fundamental porque muitas vezes o número de estudantes que cursam a 5ª série é insuficiente para justificar economicamente a manutenção dos custos nas escolas a partir desta série. Assim, quando os estudantes passam da 4ª série, suas famílias enfrentam um dilema sobre qual a melhor decisão a tomar, isto é: ou a mãe e os estudantes se mudam para localidades mais próximas da sede do município, o que requereria maiores custos e o distanciamento dos outros membros da família que ficam na comunidade para tocar a roça, de onde tiram o sustento familiar; ou vendem o lote e toda a família se muda para a sede, onde geralmente não há oferta de emprego; ou os estudantes encaram a enorme distância até as escolas em outras localidades; ou, o que é pior, param de estudar. Uma opção possível para as famílias que têm parentes morando na sede municipal é mandar os filhos para suas casas, o que mais uma vez gera a separação da família. Não se trata, portanto, de uma decisão fácil!

Sob esse aspecto, há dificuldades também para o poder público municipal, que tem custos altíssimos de manutenção dos transportes escolares devido às enormes distâncias geralmente percorridas em vias e ramais extremamente precários. Ademais, o poder público muitas vezes tem que manter escolas nas comunidades mais distantes sem que essas tenham número suficiente de crianças para cada série, criando situações em que se acaba colocando um professor para atender mais de uma série concomitantemente. Isso ocorre porque a regra para liberação de verba para manutenção de escolas é calculada com base no número de alunos, não havendo previsão de exceção para essas situações adversas em que essas comunidades se enquadram.

Na área de saúde, o poder público enfrenta dificuldades em atender essas comunidades remotas, seja em razão das grandes distâncias, seja pela escassez de recursos - que se apequenam ainda mais diante dos altos custos de atendimento -, seja pela carência de profissionais especializados que aceitem o desafio de trabalhar em áreas tão distantes, e ainda, em algumas áreas mais remotas, que não possuem qualquer sistema de comunicação que possibilite a chamada por socorro. Assim, os moradores dessas comunidades estão totalmente desprovidos de atendimento de emergência.

Nas áreas de produção e comercialização, o problema gerado pelas grandes distâncias das comunidades produtivas é que os insumos tornam-se muito caros, além de os custos com logística de escoamento encarecer muito os produtos finais.

Existe ainda um fator econômico que até então não foi levado em consideração pela atual política do governo federal. É que os valores repassados para atendimentos de saúde, educacionais, sociais e outras áreas são iguais aos repassados a municípios de regiões cujas áreas territoriais estão, atualmente, em sua maior parte, antropizadas. E note-se que estes municípios possuem densidades populacionais muito mais altas por consequência direta do desmatamento que têm promovido. No caso do Território Extremo

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Norte, a existência de tantas áreas protegidas ocasiona uma densidade populacional baixa e custa caro aos habitantes do Território, pois não conseguem dividir custos de manutenção de escolas, de postos de saúde (em virtude do maior número de atendimentos), enfim, de todos os serviços sociais.

Nas oficinas foi citado que o atendimento social por programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, por exemplo, libera o mesmo valor para construção de uma casa em todo o Brasil, sendo que os altos custos de material de construção no Território Extremo Norte não permitem que os beneficiados pelo programa efetivamente construam uma casa com qualidade, conforme prevê o programa. Em primeiro lugar, a localização geográfica do estado já implica em custos mais altos de qualquer insumo importado de outros estados e, ainda, a logística complexa das comunidades distantes implica em um custo ainda maior.

Assim, tanto o poder público quanto os atores sociais do Território Extremo Norte entendem que há necessidade de rever os critérios para o repasse de verbas, adequando-as aos custos reais locais, que são muito mais altos do que em regiões com maior densidade populacional e que são influenciados por uma logística cara por causa da localização geográfica do Território.

DIMENSÃO AMBIENTAL

O Território Extremo Norte faz parte de um estado que ainda conserva 98% de sua cobertura florestal e cujos 62% de seu território compreendem áreas sob modalidades especiais de proteção. O Estado do Amapá possui 19 Unidades de Conservação que, juntas, ocupam 8.798.040,31 hectares e compreendem 12 federais, 5 estaduais e 2 municipais.

Em Calçoene, a fisiografia se destaca pela contribuição parcial das bacias hidrográficas dos rios Araguari, Calçoene, Novo, Lamute, Cunani, Cassiporé, Grande Crique e Marrecal e ainda pela presença de três domínios naturais: floresta densa de terra firme, áreas inundáveis e áreas savaníticas.

A floresta densa de terra firme ocupa uma área aproximada de 10.288,13 km2, que compreende a maior parte do município. Nesse domínio, a maior ocorrência é da tipologia floresta densa de baixos platôs, seguida da submontanha. As áreas inundáveis ocupam aproximadamente 2.808,56 km2, onde se destacam os ambientes litorâneos, representados pelos manguezais e os ambientes de várzea, com predomínio dos campos inundáveis. Por fim, as áreas savaníticas é a menor porção de Calçoene, com aproximadamente 1.236 km2.

No Oiapoque, a floresta densa de terra firme também ocupa a maior parte do município, 18.206,23 km2, e as tipologias florestais de maior ocorrência são a floresta densa de baixos platôs seguida da submontanha. A riqueza em essências madeiráveis inclui maçaranduba, acapu, angelins, louros etc. As áreas inundáveis ocupam uma área aproximada de 4.462,20 km2. Nesse domínio, destacam-se os ambientes litorâneos, representados pelos manguezais e os ambientes de várzea, com predomínio dos campos inundáveis.

Áreas desmatadas

Assim como todo o Estado do Amapá, o Território Extremo Norte possui um percentual muito baixo de área desmatada, conforme pode ser visto na tabela abaixo.

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Município Área (ha) Desmatamento acumulado até

2004 (ha)

Desmate Biênio 2005-

2006 (há)

Percentual em relação à área do município

(biênio 2005-2006)

Desmatamento total até 2006

Percentual desmatado

em relação à área do

município até 2006

Calçoene 1.426.825,80 14.839,57 874,65 0,06% 15.714,22 1,10%

Oiapoque 2.262.501,80 14.519,96 1685,66 0,07% 16.205,62 0,72%

Território 3.689.327,60 29.359,53 2.560,31 0,07% 31.919,84 0,87%

Tabela 3 - Informações sobre áreas desmatadas no Território Centro Oeste

O Território Extremo Norte teve uma média de 0, 87% de área desmatada até o ano de 2006, percentual bem menor do que a média do Estado do Amapá, que obteve 1,96%, e da média na Amazônia Brasileira, que no final de 2004 já atingira quase 20% de seu território.

Queimadas

Em agosto de 2010, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) declarou o estado livre do risco de queimada. Em anos anteriores, contudo, a prática agrícola da queima e coivara, até hoje em uso no território, acabou causando diversas queimadas no estado, tendo atingido, em algumas ocasiões, áreas do Território Extremo Norte.

Para evitar novas queimadas, o Estado do Amapá lançou, em julho de 2010, o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Estado do Amapá (PPCDAP). O Plano foi realizado pelo governo do Estado, por meio da Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em parceria com o WWF-Brasil e a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ). A elaboração do Plano contou ainda com o apoio do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério Público do Amapá. Ele é o resultado de uma série de estudos feitos por todos os órgãos envolvidos para a elaboração de uma matriz de programas e ações a serem realizados.

Desafios para as atividades previstas no PAC

Sem dúvida a manutenção de florestas e de toda a biodiversidade do Território Extremo Norte representa uma enorme contribuição para a Amazônia, para o Brasil e, por que não dizer, para o mundo inteiro. No entanto, isso tem um preço muito alto para os habitantes da área.

Os projetos previstos pelo PAC, por conta de toda a biodiversidade existente no Território, carecem de muito mais estudos e autorizações do que em regiões já quase totalmente antropizadas.

Mesmo assim, conforme o 10º balanço sobre o andamento do PAC no Estado do Amapá, até aquele momento a pavimentação da BR 156 havia sido concluída até Calçoene e a pavimentação do trecho Calçoene – Oiapoque ainda estava em fase de ação preparatória. Foi durante a Oficina de Validação deste Plano que o representante da SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) anunciou que um dia antes havia saído a última liberação ambiental necessária para dar continuidade às obras.

Assim, a população de Calçoene e Oiapoque está na expectativa de que a obra seja finalizada em breve e possibilite um melhor acesso entre os dois municípios, após décadas de espera. Caso o trecho entre Calçoene e Oiapoque não seja recuperado imediatamente antes do início das chuvas, se tornará mais uma vez intrafegável durante o inverno.

Foto 3 – Situação atual ainda da BR 156 entre Calçoene e Oiapoque

Foto 4 – A estrada sendo asfaltada até Calçoene (em 2009)

Segundo esse mesmo balanço sobre o andamento do PAC, obras de abastecimento de água e de drenagem que visam à diminuição da malária estão em fase preparatória e, em Calçoene, obras para suprir a falta de água nas escolas já estão em fase de contratação. Esse levantamento indica ainda que parte das obras de saneamento em áreas indígenas estava concluída, parte em fase preparatória e parte em fase de contratação.

Saneamento Básico

Um estudo efetuado pela Fundação Getúlio Vargas em 2007, mostrou que o Amapá é o Estado brasileiro com menor índice de esgoto tratado e que o percentual de acesso à rede geral de esgoto é de apenas 1,42%.

Os dados publicados pelo IBGE referentes ao ano de 2008, por sua vez, mostram o Estado do Amapá na terceira pior colocação entre todos os Estados brasileiros. Apenas 3,5% dos domicílios são servidos por rede de esgoto e menos de 60% das residências são ligadas à rede geral de abastecimento de água (a média nacional, que inclui todo o Nordeste, é de 78%).

A Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar – PNAD 2008 já demonstrava que apenas 4% dos domicílios no Amapá estavam em condições minimamente adequadas de saneamento, enquanto que a média na região Norte era de 16%, e do Brasil, de 62%. As condições consideradas na pesquisa foram: rede geral de água, canalização em pelo menos um cômodo, coleta de lixo e serviço de esgotamento sanitário.

Assim, o Território Extremo Norte encontra-se realmente em situação muito precária em relação ao saneamento básico, e os seus habitantes aguardam uma solução breve para o problema.

Coleta de lixo

A coleta e o aterro do lixo também são graves problemas tanto no Território Extremo Norte quanto no estado do Amapá. Esse tema foi discutido durante as oficinas de diagnóstico dos dois municípios e a coleta de lixo foi considerada como um ponto importante que precisa ser melhorado.

ÁREAS PROTEGIDAS NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

Em razão de áreas de ambos os municípios do Território Extremo Norte estarem protegidas quase que completamente por alguma Unidade de Conservação, essa

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temática foi ampla e constantemente abordada nas duas oficinas de diagnóstico municipal Os agricultores familiares expressaram que é um desafio conciliar a valorização da agricultura familiar tradicional com a proteção ambiental, pois o solo não é rico e as áreas de proteção ambiental reduzem cada vez mais as áreas disponíveis para agricultura familiar. Veja abaixo o mapa do Estado destacando as áreas protegidas (Figura 2).

Figura 2 - Mapa do Corredor da Biodiversidade do Amapá

Ressalta-se que os agricultores do Território Extremo Norte estão cientes sobre a importância da proteção ambiental hoje. Entendem inclusive que eles efetivamente contribuem para essa preservação, ao contrário, segundo eles, do resto do Brasil, que tem contribuído muito pouco na manutenção do meio ambiente e de sua biodiversidade. Argumentam, contudo, que o seu território já possui tantas áreas sob proteção constante que seria mais justo se a área de Reserva Legal em suas propriedades particulares de 80% (percentual atualmente exigido pela legislação vigente para toda a Amazônia Legal) fosse diminuída para 70%.

Alternativamente, poderiam ser oferecidas também outras formas de geração de renda ou apoio (subsídio) para aumentar a produtividade em suas áreas restritas. Os produtores familiares afirmaram que a legislação sobre benefícios pela manutenção da biodiversidade, que prevê pagamentos por serviços ambientais, está sendo elaborada de forma muito lenta e, que, até o momento, não lhes trouxeram avanços concretos. Eles entendem ser um dos grupos mais prejudicados uma vez que enfrentam as maiores dificuldades para produzir de acordo com as restrições impostas.

Os atores sociais entendem que o Território Extremo Norte contribui com o Brasil no que se refere a números positivos na área de meio ambiente e biodiversidade e estão cientes de que isso fortalece o país em negociações internacionais nesta área. Declaram, assim, que providências urgentes e concretas devem ser tomadas para que finalmente se estabeleça um equilíbrio entre esta contribuição ambiental dada ao país pelo Território Extremo Norte por meio de uma contribuição justa do Brasil ao Território com a manutenção de custos reais de atendimentos de saúde, educação, programas sociais e outras políticas públicas no território, que permitiriam o aumento da qualidade de vida desses atores.

Os produtores do Território Extremo Norte alegam que estão entre os mais atingidos pelas exigências ambientais rígidas e não conseguem aumentar a produção, nem tampouco manter os índices anteriores, pois as tramitações legais para obtenção de autorizações de produção ou extração em áreas de entorno de Unidades de Conservação são morosas demais.

Assim, o Território Extremo Norte solicita que os governos Federal e Estadual tomem providências imediatas para dar andamento aos processos de legalização na área ambiental, pois os produtores precisam produzir para o sustento de suas famílias e também para gerar renda e, dessa forma, melhorar sua qualidade de vida.

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Os atores sociais relataram ainda que a criação de Unidades de Proteção em algumas comunidades rurais ocorreu posteriormente à chegada de produtores e, que nesses casos, os órgãos responsáveis pela proteção se comprometeram a definir, juntamente com eles, qual cultura, em que quantidade e de que forma poderiam produzir em suas terras. Ocorre que esse processo está demorando em ser iniciado e enquanto isso não ocorre os produtores estão impossibilitados de trabalhar, uma vez que não sabem por certo se receberão autorização para produzir em suas áreas ou se serão reassentados em outros locais. Há a necessidade de uma solução imediata para esse problema, uma vez que a produção é uma questão de subsistência das famílias atingidas.

Segue abaixo um resumo sobre as Unidades de Conservação que estão totalmente situadas no Território Extremo Norte, bem como daquelas que possuem parte de suas áreas em municípios que compõem o Território.

UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL

Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PNMT)

O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque é considerado um dos maiores patrimônios da Amazônia, a maior Unidade de Conservação do Brasil e a maior área protegida de floresta tropical do mundo. Sua área é de 38.670 km2 ou 3.867.000 hectares.

Na região foram descobertas centenas de espécies da flora e da fauna. O relevo do parque é plano, mas existem duas montanhas rochosas: a Serra do Tumucumaque e a Serra Lombarda.

O PNMT foi criado por decreto em 22/08/2002 e abrange uma pequena parte do município de Almeirim, no estado do Pará, áreas de dois municípios do Território Centro Oeste do Amapá (Serra do Navio e Pedra Branca do Amaparí), grande parte da área inserida no Território Sul (município de Laranjal do Jarí) e também parte do Território Extremo Norte, ocupando 29% da área total do município de Calçoene (415.600 hectares) e 39% da área total do município de Oiapoque (886.300 hectares).

Foto 5 – Parque Nacional Montanha do Tumucumaque

Foto 6- Paisagem do PNMT

Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO)

O Parque Nacional do Cabo Orange é situado no Território Extremo Norte e protege uma área de 619 mil hectares de paisagens moldadas pelo contato dos ecossistemas amazônicos com as correntes do Oceano Atlântico, dos quais 205.600 hectares

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pertencem ao município do Oiapoque e os outros quase 67% (414.400 hectares), ao Município de Calçoene.

O parque possui mangues, campos inundáveis, campos limpos entrecortados por buritizais, cerrados, florestas inundáveis (também chamadas várzeas), florestas de terra firme, além de ecossistemas marinhos. Trata-se, portanto, ao mesmo tempo de um parque continental e marinho, com aproximadamente 200 mil hectares de sua área em águas oceânicas.

O parque do Cabo Orange se limita com a Guiana Francesa ao norte; com as terras indígenas Uaçá e Juminã e um pequeno trecho do Projeto de Assentamento de Vila Velha, a oeste; com o Oceano Atlântico a leste.

TERRAS INDÍGENAS

Foto 7 – Paisagem da Terra Indígena Uaçá

O Território do Extremo Norte, assim como o resto do Estado do Amapá, tem todas as terras indígenas demarcadas e homologadas. A área total de terras indígenas deste território se localiza no município do Oiapoque e perfaz um total de 518.654 hectares, que estão subdivididos em três áreas:

Terra Indígena Uaçá

A terra indígena Uaçá foi homologada em 1991 e possui uma área de 470.164 hectares, onde habitam povos das etnias Galibi Marworno, Karipuna e Palikur.

Terra Indígena Juminã

A terra indígena Juminã também foi homologada em 1991 e sua área ocupa 41.601 hectares. Seus habitantes pertencem às etnias Galibi Marworno e Karipuna.

Terra Indígena Galibi do Oiapoque

A terra indígena Galibi do Oiapoque foi homologada em 1982 com uma extensão de 6.889 hectares, e foi a primeira a ser homologada no Estado do Amapá. Em sua área habitam povos das etnias Galibi do Oiapoque (ou Galibi Kali’na) e Karipuna.

UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL

Floresta Estadual do Amapá

No final de dezembro de 2006 foi criada a Floresta Estadual (FLOTA) do Amapá, cuja área abrange partes dos municípios de Serra do Navio, Pedra Branca do Amaparí, Porto Grande, Mazagão, Ferreira Gomes, Tartarugalzinho, Pracuúba, Amapá, Calçoene e Oiapoque. Sua criação visou ao uso sustentável, mediante a exploração dos recursos naturais renováveis e não renováveis de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos de forma socialmente justa e economicamente viável. A FLOTA compreende uma área descontínua estimada em 2.369.400 hectares.

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O Módulo IV da FLOTA está localizado ao norte do estado e abrange áreas pertencentes aos municípios de Oiapoque e Calçoene, com superfície total de 9.739,7 km² e perímetro de 849,5 km.

O Território Extremo Norte ainda possui parte de sua floresta (11.178,39 km2) na área do Módulo III, perfazendo, assim, o total de área protegida pela FLOTA.

O Gráfico 1 abaixo mostra os percentuais de área correspondentes a Unidades de Proteção Integral, Unidades de Uso Sustentável, de Terras Indígenas e a Área sem proteção onde ficam os centros urbanos e terras agrícolas no Território.

Gráfico 1 - Divisão da área total do Território Extremo Norte entre Unidades de Proteção Integral, Unidades de Uso Sustentável, Terras Indígenas e Área sem Unidade de Proteção onde ficam as áreas urbanas e agrícolas dos municípios.

No gráfico acima observamos que o Território Extremo Norte do Amapá possui praticamente 52% de sua área total protegida por Unidades de Proteção Integral (Parques Nacionais Montanha do Tumucumaque e Cabo Orange), outros 30% protegidos por Unidades de Conservação Sustentável, 14% homologados como áreas indígenas e apenas 3,74% ocupados por centros urbanos e terras agrícolas.

Essa escassez de área para produzir, aliada a imensas distâncias dos locais provedores da produção alimentar encarecem os produtos agrícolas comparativamente a outras regiões do Brasil e até mesmo a outras regiões do próprio Estado do Amapá.

A criação dessas áreas protegidas em quase a totalidade do Território atinge fortemente a população. Considerando-se que se trata de uma situação nova para os habitantes da região, os agricultores requerem maior apoio nesse processo de mudança da informalidade total para alguma formalidade, para que possam realizar suas atividades agrícolas e extrativistas dentro da legalidade. Com base nisso, verifica-se uma extrema necessidade de investimentos maciços em ações de apoio a esses agricultores, como por exemplo, a organização de mutirões para facilitar o acesso a documentação necessária e/ou fornecimento de subsídios para possibilitar o aumento de produção em suas áreas restritas. Caso contrário, apenas extrativistas e agricultores não familiares poderão continuar produzindo e comercializando produtos agrícolas atendendo a todas as exigências formais. Isto porque, em geral, historicamente eles tiveram mais acesso a estudo e condições financeiras para custear as tramitações legais e/ou, no caso da necessidade de contratação de algum serviço especializado, para obtenção de autorizações de produção ou extração.

Unidade de Proteção Integral51,98%Terra

Indígena14,03%

Unidade de Uso

Sustentável30,25%

Área sem Unidade de

Conservação3,74%

Área Total do Território com os respectivos percentuais de Unidades de Conservação

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Os atores presentes nas oficinas também expressaram sua expectativa no que se refere ao andamento das negociações sobre as formas de compensação (sequestro (crédito) de carbono, a manutenção da biodiversidade etc.) pela criação das áreas protegidas situadas no Território Extremo Norte.

No Território Extremo Norte levantou-se sugestões entre os atores sobre como tais compensações poderiam ser implementadas pelo poder público, a saber:

i. Manejo florestal; ii. Ressarcimento por hectare protegido (sistema de remuneração) aos

produtores (PSA); iii. Inclusão das reservas legais dos terrenos de reforma agrária e

reservas extrativistas na área do parque; iv. Bolsas floresta (PSA); v. Promoção de cursos de qualificação sobre manejo de açaí pelos

órgãos públicos responsáveis pelas áreas de unidades de uso sustentável;

vi. Instalação de viveiros com hortaliças; vii. Cursos na área de artesanato para aproveitamento de semente, cipó

titica e outros; viii. Capacitação de agentes ambientais comunitários; ix. Capacitação para os técnicos municipais para que no futuro possam

assumir a fiscalização e o monitoramento de suas unidades; x. Implantação de energia solar em áreas onde não é possível ter

energia elétrica; e xi. Implantação de bibliotecas ambientais.

Espera-se que as discussões e negociações que estão em curso, de fato possam, em breve, ser traduzidas em ações reais, benéficas e necessárias para o Território.

RESUMO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DO TERRITÓRIO

Conforme pode ser observado no capítulo acima, a situação ambiental do Território Extremo Norte é muito positiva, mesmo se a compararmos às demais áreas do Estado do Amapá e principalmente ao restante da Amazônia Legal e do Brasil.

No entanto, a efetiva transformação das imensas possibilidades do Território Extremo Norte em reais oportunidades de negócios sustentáveis depende, fundamentalmente, da capacidade dos agentes públicos e privados que atuam no processo de desenvolvimento regional em construir arranjos institucionais fortes e capazes de mobilizar sinergias visando à superação dos desafios inerentes a região com tantas características e complexidades. Por exemplo, a realização de obras é extremamente necessária tanto para uma vida mais digna da população residente no Território Extremo Norte, quanto para dinamizar a economia da região, contudo, os impactos ambientais causados por essas obras não são baixos.

Trata-se de uma situação muito difícil, pois de um lado temos a extrema morosidade na liberação de toda e qualquer obra e, de outro, a ausência de uma infraestrutura mínima necessária para uma vida digna. É, sem dúvida, um preço altíssimo pago pela população do território até hoje.

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Em razão disso, entende-se que a partir de agora será um grande desafio realizar as obras previstas em programas governamentais para melhorias da infraestrutura, como o PAC e o PAC 2, e ao mesmo tempo continuar a preservar o meio-ambiente tão valioso existente no Território Extremo Norte.

Foto 8 – Arvore da floresta de terra inundável

.

Foto 9 – Árvore da floresta de terra firme

DIMENSÃO SOCIOCULTURAL EDUCACIONAL

POPULAÇÃO

Analisaremos logo abaixo os dados populacionais oficiais do IBGE, mas ressalta-se que esses números foram fortemente contestados pelos presentes na oficina municipal do Oiapoque, a qual fez parte da construção deste PTDRS. Tanto os representantes do poder público quanto da sociedade civil afirmaram estar cientes que estes eram os números oficiais, mas que definitivamente eles não correspondem à realidade.

Como não existem outros dados populacionais oficiais, optou-se por utilizar os do IBGE, ressaltando-se, contudo, que o município do Oiapoque vive a expectativa de que o Senso de 2010 mostre, de fato, a realidade populacional do município.

Assim, segundo os dados oficiais do último senso do IBGE em 2007, o Território do Extremo Norte possuía um total de 27.837 habitantes. Esse número representou um crescimento de 70,47% em relação a 2000 (momento em que o território possuía 19.616 habitantes) e de 118,64% em comparação a 1996.

Gráfico 2 - Evolução demográfica nos municípios e do Território Extremo Norte entre 1991 e 2007

O número total de habitantes no Território em 2007 representava 4,74% do total de habitantes do Estado do Amapá.

O crescimento demográfico do Território Extremo Norte do Amapá entre 1996 e 2007, segundo os dados oficiais, foi, portanto, mais de 4 vezes maior do que o projetado pelo IBGE em termos gerais de Brasil. Ou seja, enquanto, o Brasil teve um crescimento anual de aproximadamente 1,40% ao ano, o Território Extremo Norte teve um crescimento anual de 6,72% no mesmo período. Mesmo tendo havido declínio de 5,54% na taxa anual de crescimento demográfico no Território Extremo Norte entre 2000 e 2007, a mesma ainda representou um valor três vezes maior do que a taxa de crescimento do Brasil. Isso significa claramente que são necessários investimentos maciços para construir infraestrutura do Território, como saneamento básico, manejo de resíduos sólidos urbanos, energia, habitação, transporte, hospitais, escolas, segurança etc.

Município

População Variação Taxa anual

População Variação Taxa anual 1996 2007 Absoluta Relativa 2000 2007 Absoluta Relativa

Calçoene 5.678 8.656 2.978 52,45 4,77 6.730 8.656 1.926 28,62 4,09

Oiapoque 9.820 19.181 9.361 95,33 8,67 12.886 19.181 6.295 48,85 6,98

Território 15.498 27.837 12.339 73,89 6,72 19.616 27.837 8.221 38,74 5,54

Tabela 4 – Análise de Taxa de crescimento populacional nos municípios do Território Extremo Norte entre 1996 e 2007

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

1991 1996 2000 2007

Evolução demográfica dos municípios do Território Extremo Norte

CALÇOENE

OIAPOQUE

TOTAL TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

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Ainda em 2007, segundo os dados do IBGE, 52% da população do Território Extremo Norte eram homens e 48%, mulheres.

A população urbana representou 70,54% e a população rural, 29,46%. Assim, o grau de ruralidade no Território Extremo Norte estava bem acima da do Estado do Amapá, que em 2000 era apenas 11%.

Comparando-se o grau de urbanização do Estado do Amapá com o do Brasil, observamos que entre 1970 e 1980 o Brasil apresentou um grau de urbanização mais alto que o do Amapá. Essa situação, no entanto, começou a se inverter a partir de 1980, e em 2000 o grau de urbanização do Estado do Amapá já estava mais alto do que o do Brasil. Apesar de o Território ter aumentado o grau de urbanização nas últimas décadas, ainda não conseguiu se aproximar do grau de urbanização do Estado do Amapá.

Municípios

População recenseada, por situação de domicílio e sexo

Total Urbana Rural

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Calçoene 8 656 4 587 4 069 7 032 3 623 3 365 1 624 868 616

Oiapoque 19 181 9 760 9 421 12 603 6 315 5 940 6 578 3 445 3 019

TOTAIS 27.837 14.347 13.490 19.635 9.938 9.305 8.202 4.313 3.635

Tabela 5 - População recenseada por situação de domicílio e sexo

Gráfico 3 - População do Território por situação de domicílio

Gráfico 4 - População do Território por sexo

Em 2007, a densidade populacional do Território Extremo Norte do Amapá era de 0,75 habitantes por quilômetro quadrado, a do município do Oiapoque era de 0, 85 habitantes por km2 e a de Calçoene, 0,60 habitantes por km2. No mesmo ano a densidade populacional no Estado do Amapá era de 0,24 habitantes por km2.

População total (série histórica- últimos 4 anos)

1991 1996 2000 2007 Área do município Km

2

Den

sid

ad

e

po

pu

lacio

nal 1996 1996 2000 2007

Calçoene 5.177 5.492 6.730 8.656 22.625 0,36 0,38 0,47 0,60

Oiapoque 7.555 9.485 12.886 19.181 14.333 0,33 0,42 0,57 0,85

Total Território Extremo Norte 12.732 14.977 19.616 27.837 36.958 0,34 0,41 0,53 0,75

Tabela 6 - População total, área e densidade populacional dos municípios do Território Extremo Norte

14 347

13 490

13 000

13 200

13 400

13 600

13 800

14 000

14 200

14 400

14 600

HOMENS MULHERES

19 635

8 202

0

5 000

10 000

15 000

20 000

25 000

URBANO RURAL

27

Ressalte-se, porém, mais uma vez, que o município do Oiapoque discorda fortemente dos dados oficiais e fica na expectativa que o senso de 2010, em andamento durante a validação deste plano, possibilite que os dados sejam atualizados de acordo com a realidade atual.

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) DO TERRITÓRIO

Figura 3 – Mapa do IDH Municipal

Em 2000, o IDH-M médio dos dois municípios que fazem parte do Território Extremo Norte do Amapá foi de 0,713. No mesmo ano, o IDH médio do Estado do Amapá foi 0,698, portanto, o Território do Extremo Norte estava um pouco acima da média estadual. No entanto, tanto o estado do Amapá quanto o Território Extremo Norte tiveram índices abaixo do IDH geral do Brasil, que foi 0,75.

O IDH-M – Renda no Território Extremo Norte teve uma leve ascensão entre 1991 e 2000 e passou de 0,618 para 0,647. Em razão dessa ascensão, se posicionou bem acima da média do estado, que era de 0,578. No mesmo período o IDHM – Longevidade teve um aumento um pouco maior (de 0,616 para 0,765), ficando quase igual ao IDH – Longevidade médio do Estado, que estava em 0,658.

Finalmente, no mesmo período, o IDHM- Educação do Território Extremo Norte teve um aumento mais significativo (de 0,724 para 0,827) ficando também quase no mesmo patamar do IDH – Educação médio do estado (0,829).

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1991 1996 2000 2007

Evolução da densidade populacional

CALÇOENE

OIAPOQUE

TOTAL TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

Gráfico 5 – Evolução da densidade populacional no Território Extremo Norte

POBREZA E DESIGUALDADE NO TERRITÓRIO

Nos anos recentes, diversos estudiosos do tema tendem a concordar com uma definição abrangente considerando a pobreza como privação do bem-estar, pela ausência de elementos necessários que permitam às pessoas levarem uma vida digna em uma sociedade. Sob este aspecto, a ausência de bem-estar está associada à insuficiência de renda, à nutrição, à saúde, à educação, à moradia, aos bens de consumo e aos direitos de participação na vida social e política da comunidade em que vivem.

A pobreza também se distingue pela falta de oportunidades e poder e pela vulnerabilidade de grupos sociais com maior probabilidade de acirrarem a sua condição ou de sofrerem risco de entrar na pobreza. O crescimento econômico, por exemplo, é crucial para criar oportunidades. No entanto, o crescimento não será suficiente se os pobres não forem capazes de usufruir desses benefícios por falta de treinamento, saúde ou acesso à infraestrutura básica. Neste sentido, a mensuração da pobreza deve captar as suas distintas manifestações, muitas vezes, resultado de relações sociais mais abrangentes e complexas, em contraste com situações em que o tratamento da pobreza deve ser focalizado nos próprios grupos desfavorecidos. Trata-se, assim, de diferenciar aspectos individuais e estruturais de maneira a implementar políticas e programas que garantam a melhoria do bem-estar da população.

No âmbito das pesquisas quantitativas, várias metodologias se desenvolveram nas últimas décadas, mas destacam-se três práticas mais frequentes: as que medem a pobreza absoluta pela identificação de uma linha abaixo da qual as pessoas não teriam um padrão de vida considerado como um mínimo aceitável; as que medem a pobreza relativa por meio do reconhecimento de pessoas que tenham um nível de vida baixo em relação a outros grupos da sociedade; e as que medem a pobreza subjetiva (percepção dos próprios indivíduos sobre as suas condições mínimas necessárias de sobrevivência).

As três principais abordagens de mensuração da pobreza têm vários aspectos comuns, que devem ser avaliados antes de se decidir qual método utilizar para definir a linha de pobreza. São aspectos não consensuais, com prós e contras entre as opções disponíveis e que levam os pesquisadores a fazerem escolhas, muitas vezes com certo grau de arbitrariedade, seja por falta de informações estatísticas disponíveis ou mesmo por ausência de metodologias mais específicas. Entre estes aspectos destaca-se a escolha da unidade de análise (domicilio, família), dos métodos que tornem comparáveis domicílios de composições demográficas e tamanhos distintos (adulto equivalente, per capita, economia de escala) e a escolha de um indicador apropriado para medir o padrão de vida do domicílio (renda ou consumo).

Portanto, a escolha da abordagem e a avaliação dos aspectos a serem considerados na mensuração da pobreza dependem do objetivo que se quer atingir, uma vez que cada decisão tem impacto no resultado final da proporção de pobres encontrada. No estudo, cujo resultado será apresentado a seguir, o IBGE usou as abordagens de pobreza absoluta e de pobreza subjetiva.

Na tabela abaixo percebemos que a incidência da pobreza nos dois municípios do Território Extremo Norte é muito próxima da média do Estado, sendo que no

29

Oiapoque essa incidência é um pouco mais alta do que em Calçoene. Considerando-se como critério a Pobreza Subjetiva, o município do Oiapoque fica quase seis pontos percentuais acima da média do Estado, contudo como Calçoene obteve um valor mais próximo dessa média, consequentemente a média do Território como um todo ficou em pouco mais de 3,5 pontos acima da média estadual.

Município Incidência da Pobreza

Limite inferior da Incidência de Pobreza

Limite superior da Incidência de Pobreza

Incidência da Pobreza Subjetiva

Índice de Gini

% % % % Calçoene 49,67 41,26 58,08 52,76 0,40

Oiapoque 53,88 47,25 60,51 57,21 0,41

Média Território 51,775 44,255 59,295 54,985 0,405 Média do Estado 48,33 39,57 57,09 51,41 0,38

Tabela 7 - Índices de pobreza e desigualdade no Território Extremo Norte

O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, usada no Brasil para medir a desigualdade de distribuição de renda. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda e 1 corresponde à completa desigualdade. Ambos os municípios do Território ficaram acima da média do Estado, que era de 0,38, o que significa que em 2003 a desigualdade de renda no Extremo Norte era superior à média do Estado.

Porém, tanto o território quanto o estado do Amapá ficaram bem abaixo da média nacional que, em 2003, era de 0,581. Deve-se ressaltar, todavia, que em ambos os casos essa igualdade não pode ser considerada como positiva uma vez que mostra uma igualdade de falta de renda. Trata-se de um índice que acaba revelando a igualdade da baixa renda e não, como seria desejável, uma igualdade de renda que possibilitasse uma vida digna e justa.

TIPOLOGIAS PNDR NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

O Governo Federal está muito ciente de que as desigualdades regionais constituem um fator de entrave ao processo de desenvolvimento do Brasil. Prova disso é que o Ministério da Integração Nacional, depois de conceber que o caminho de redução das desigualdades passa pela valorização da magnífica diversidade regional do país, criou uma nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), com o objetivo geral de reduzir as desigualdades regionais e ativar os potenciais de desenvolvimento das regiões no País. Segundo o sumário executivo do PNDR, a questão regional ganha, com esta nova política, espaço prioritário na agenda do estado brasileiro, gerando propostas inovadoras e consistentes que buscam contribuir para o debate sobre a nova concepção de desenvolvimento includente e sustentável que a nação deseja, levando, dessa forma, à estruturação de uma sociedade mais justa.

Assim, o Ministério realizou uma pesquisa cruzando duas variáveis: rendimento domiciliar médio e crescimento do PIB per capita para chegar a um resultado de quatro situações que denominou de “idealtípicas” para cada município (microrregião) no Brasil. Os quatro grupos resultantes desta pesquisa são:

30

Grupo 1: Microrregiões de ALTA RENDA – compreendendo MRGs com alto rendimento domiciliar por habitante, independente do dinamismo observado. Essas regiões não são prioritárias para a PNDR, por disporem de recursos suficientes para reverter a concentrações de pobreza.

Grupo 2: Microrregiões DINÂMICAS – MRGs com rendimentos médios e baixos, mas com dinâmica econômica significativa, onde o grau de urbanização é baixo (57,9%) e, embora estas MRGs abriguem cerca de 9% da população nacional, elas são responsáveis por apenas cerca de 4% do PIB.

Grupo 3: Microrregiões ESTAGNADAS - MRGs com rendimento domiciliar médio, mas com baixo crescimento econômico. Trata-se de regiões que apresentam um grau de urbanização relativamente elevado (75,3%) e que são responsáveis por aproximadamente 18% do PIB nacional, residindo nelas por volta de 29% da população brasileira.

Grupo 4: Microrregiões de BAIXA RENDA - MRGs com baixo rendimento domiciliar e baixo dinamismo, onde o rendimento domiciliar médio é de apenas 27% da média nacional.

Assim, segundo os cartogramas do Ministério da Integração, o município de Calçoene foi inserido na tipologia Dinâmica e o do Oiapoque, na tipologia de Alta Renda. Esses dados provocaram surpresa nos atores sociais envolvidos na construção deste PTDRS, uma vez que eles não visualizam uma renda per capita alta, nem tampouco acreditam que o município disponha de verba suficiente para reverter as concentrações de pobreza. Ademais, como já citado anteriormente, o município do Oiapoque, considerando-se o critério de incidência da Pobreza Subjetiva, fica quase seis pontos percentuais acima da média do Estado (o que significa que a pobreza é maior no município do que no estado).

Município Descrição da PNDR

Calçoene DINÂMICA

Oiapoque ALTA RENDA

Quadro 1 – Tipologia PNDR

Oportuno, pois, registrar aqui, a dúvida sobre a fonte dos dados que possibilitaram a inserção do Oiapoque na PNDR de Alta Renda, uma vez que este enquadramento diverge totalmente das análises que constataram um alto índice de pobreza no mesmo município, ressaltando-se, ainda, que ambos os estudos se referem ao mesmo ano.

Os levantamentos com enfoque participativo feitos durante as oficinas municipais e a realidade local que pode ser vista por qualquer visitante do município do Oiapoque não deixam nenhuma dúvida de que ambos os municípios do Território Extremo Norte do Amapá devem estar entre os considerados como prioritários pelo Governo Federal no que se refere à Política Nacional de Desenvolvimento Regional.

31

TABELA DE DEMANDA SOCIAL

Abaixo a tabela oficial de demanda social do MDA, na qual constam os números de agricultores familiares, famílias assentadas, pescadores, terras indígenas e áreas quilombolas.

Tabela de Demanda Social do MDA Extremo Norte – AP

Município Agricultores Familiares

2

Famílias Assentadas

3 Pescadores

4 Terras Indígenas

5 Quilombolas

6

Calçoene 143 811 141

1

Oiapoque 201 185 151 3 1

Total Território 344 996 292 3 2

Tabela 8 - Tabela Oficial de Demanda Social do MDA para o Território Extremo Norte

O número de pescadores constante da tabela 8 acima foi extraído de dados da SEAP de 2004. Um indicativo do quanto esses números estão desatualizados, é observar que em 2006 a Colônia de Pescadores Z-9, de Calçoene, declarou ter 335 associados, sendo 276 homens e 59 mulheres. Note-se que há no município outra associação de pescadores além dessa, ou seja, o número de pescadores somente desse município, e já em 2006, era muito superior ao constante da tabela acima para todo o território. Como os dados sobre agricultores familiares e assentados são de fontes mais recentes, acredita-se que os números também aumentaram, porém não na mesma proporção que o dos pescadores.

Dessa maneira, nas oficinas de diagnósticos participativos nos respectivos municípios do Território Extremo Norte foi produzida a seguinte tabela de Estimativas de Demanda Social.

Tabela Estimada de Demanda Social do MDA Extremo Norte – AP

Município Agricultores Familiares

7

Famílias Assentadas

8 Pescadores

9 Terras Indígenas

10 Quilombolas

11

Calçoene 400 811 400

1

Oiapoque 500 185 320 3 1

Total Território 900 996 720 3 2

Tabela 9 - Estimativas de Demanda Social do MDA para o Território Extremo Norte

2 IBGE, Censo 2006

3 INCRA, 2009

4 SEAP, 2004

5 FUNAI, 2008

6 FCP, 2008

7 IBGE, Censo 2006

8 INCRA, 2009

9 SEAP, 2004

10 FUNAI, 2008

11 FCP, 2008

32

Quilombolas

No município de Calçoene existe a comunidade quilombola Cunani, que vive no Parque Nacional do Cabo Orange. São 32 famílias, com 92 pessoas, que requerem a titulação de 36.162,5832 hectares. Em 2008 o processo de titulação estava com prazo de contestação por terceiros expirado.

No município do Oiapoque, na Terra Kulumbú do Patualzinho, vive outra comunidade quilombola. No entanto, até 2008, segundo dados da CPI (Comissão Pró-Índio) não havia sido identificada a dimensão do território desta comunidade. A Kulumbú do Patualzinho naquela época estava com processo formalizado para regularização de suas terras perante o INCRA, órgão atualmente responsável por este processo.

Indígenas

Conforme já abordado no capítulo sobre Áreas de Proteção, o Território Extremo Norte possui três áreas indígenas homologadas no município do Oiapoque. Os seguintes povos indígenas podem ser encontrados nessas áreas:

Karipuna Os Karipuna são uma população heterogênea do ponto de vista étnico, prevalecendo famílias de origem brasileira provenientes do salgado paraense e ilhas do Amapá ou de lugares mais longínquos, que se misturaram a uma população local predominantemente indígena. Ocupam as margens do rio Curipi, em quadro aldeias maiores, e inúmeras localidades.

A partir dos anos 1980 formaram três aldeias menores ao longo da BR 156 nos quilômetros 40, 50 e 70, em locais de antigos postos de vigilância. Atualmente há cinco aldeias Karipuna às margens da rodovia. Uma aldeia mais antiga, no lado brasileiro do rio Oiapoque, acabou sendo incluída na Terra Indígena Galibi e há também uma aldeia na Terra Indígena Juminã. Os Karipuna falam o patoá francês, considerado língua nativa e usado juntamente com o português em todas as manifestações públicas. As crianças são alfabetizadas em patoá, apesar de muitas falarem português em casa. São católicos, praticam curas xamânicas e realizam com frequência o Turé em circunstâncias tradicionais e também em festas cívicas ou eventos culturais, como performance ou “demonstração” como costumam dizer.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário - CIMI12 em 2004, no Oiapoque, a população dos Karipuna era de 1.800 indígenas, que falam Kheuol (patoá) e português.

Palikur Os Palikur, do tronco lingüístico Aruak, falam língua própria, o parikwaki, e são habitantes originários de toda a região. Divididos em clãs, contam que antigamente falavam várias línguas, tendo prevalecido apenas a língua de um único clã, o Palikur (cuja família linguística é o Aruak). Vivem hoje na beira do rio Urukauá, em uma aldeia maior, Kumenê, e oito menores, uma delas situada na BR 156. Um grande contingente desta etnia vive na Guiana Francesa, mas a comunicação com as aldeias do lado brasileiro é contínua. Há mais de três

12

Fonte: http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=599&eid=292

33

décadas são adeptos da religião pentecostal. Os Palikur falam também o Kheuol (Patoá) e português, principalmente as gerações mais novas. O fato de falarem também o patoá os preocupa, pois dizem que isso pode tornar impuro o seu idioma. Segundo estimativas do CIMI sua população era de 866 pessoas em 2004.

Galibi Kali’na Os Galibi Kalin’na são oriundos de Mana da Guiana Francesa e migraram para o lado brasileiro do rio Oiapoque na década de 1950. Falam sua própria língua oriunda do tronco Karib. Os mais velhos falam também o Kheuol (Patoá) no contato com as outras etnias da região e um pouco de Taki-Taki, o patoá holandês. Eles também falam o português e usam esta língua principalmente para contatos externos. Embora sejam católicos e não pratiquem rituais indígenas, orgulham-se muito de sua cultura e história. Nunca aceitaram uma educação indígena diferenciada, nem mesmo o ensino bilíngue na escola, mas por causa da língua e de sua trajetória, continuam muito apegados a seus valores e tradições.

Desde sua instalação no Oiapoque a sua população tem decrescido e, segundo o CIMI, eles eram apenas 28 pessoas em 2004.

Galibi Marworno Apesar da semelhança de nomes, os Galibi Marworno não possuem parentesco com os Galibi Kalin’na. Descendem de vários grupos, dentre os quais o Karib, provenientes das Guianas em épocas remotas, além das etnias Marworno e Aruã, hoje extintas enquanto povos diferenciados. A língua dos Galibi-Maworno históricos entrou em desuso há pelo menos cem anos, mas um número expressivo de palavras, especialmente referentes à fauna e a flona continuam sendo utilizadas. Também em alguns cantos xamânicos, por exemplo, é possível verificar trechos em “língua antiga”. Assim, os Galibi-Maworno recordam apenas algumas dezenas de frases do “galibi antigo”, especialmente no vocabulário ritual. Mas hoje eles falam entre si Kheuol (Patoá), e com pessoas de fora, o português, principalmente as gerações mais novas.

Há diferenças lexicais e tonais entre o patoá Galibi-Maworno e o patoá Karipuna. Em Kumarumã as crianças recebem um ensino bilíngue e todas falam o patoá entre eles e em casa.

Vivem hoje às margens do rio Uaçá, concentrados desde a época do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em uma aldeia, Kumarumã. Há ainda duas aldeias Galibi-Maworno nos quilômetros 80 e 90 da BR 156, sendo esta última no local de um antigo posto de vigilância, e uma pequena aldeia aberta recentemente no quilômetro 102. Além disso, há Galibi-Maworno na aldeia Uahá, na Terra Indígena Juminã.

Eles são católicos há séculos, mas as crenças e a cosmologia são fortemente indígenas.

A população Galibi-Marworno tem aumentado significativamente nos últimos anos e segundo os dados do CIMI sua população era de 1.822 em 2004.

Foto 10 – Menina Indígena na Aldeia Santa Izabel

Foto 11 – Mulheres indígenas descascando mandioca para o preparo da farinha

DESEMPENHO ESCOLAR

Em 2005, o Estado do Amapá ocupava o sétimo lugar do Brasil com IDH de Educação, com 0,919. Dentre os Estados da região Norte, apenas o Amazonas obteve melhor desempenho.

Atualmente existem mais de 150 mil alunos matriculados na rede pública de ensino do Estado, dos quais 50 mil estão matriculados de 1ª a 4ª série e mais de 100 mil estão matriculados de 5ª a 8ª série. Considerando-se os acadêmicos das universidades públicas, 40% são afrodescendentes; 6% indígenas; e o restante se declara pardos ou brancos. Nas Universidades, 80% dos alunos são oriundos de escolas da rede pública de ensino.

Segundo os dados do INEP, o desempenho dos alunos do Ensino Fundamental Regular das séries iniciais no Território Extremo Norte retrocedeu um pouco. Em 2005 as taxas de aprovação do território ainda estavam bem acima das taxas gerais do Estado do Amapá; Na quarta série, inclusive, havia uma diferença positiva de quase dois pontos em relação à média estadual, tendo superando, neste ano, a média do Território também a do Brasil.

Em 2007, o Território perdeu parte da vantagem em relação à média do Estado. Na primeira, terceira e quarta séries posicionou-se pouco acima da média estadual, mas na segunda série, quase 3 pontos abaixo da média do Estado.

A exemplo do Estado, o Território Extremo Norte também não conseguiu acompanhar a evolução ocorrida nas outras regiões brasileiras e ambos ficaram consideravelmente abaixo da média nacional.

Considerando-se os dados de aprovação dos alunos do Ensino Fundamental Regular das séries finais, podemos observar que, em 2005, tanto o Território Extremo Norte quanto o Estado do Amapá obteve média maior que a nacional, sendo que na sétima e oitava séries a diferença foi considerável. Em 2007, o Território continuou tendo uma média melhor que a do Brasil em todas as séries.

35

Taxas de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Iniciais (Até a 4ª série)13

Município Rede

2005 2007

SI a 4ª SI 1ª 2ª 3ª 4ª I. de R.

14

(P) SI a 4ª SI 1ª 2ª 3ª 4ª

I. de R.

15

(P)

Calçoene Estadual 84,5 - 75,2 88,9 85,9 92,4 0,85 70,0 - 64,5 72,6 70,3 74,5 0,70

Calçoene Pública 75,5 - 70,8 75,5 74,8 90,4 0,77 70,3 - 64,9 68,4 76,9 74,0 0,71

Calçoene Estadual 80,7 - 73,1 83,0 81,3 91,7 0,82 70,1 - 64,7 70,9 72,6 74,3 0,70

Oiapoque Municipal 76,0 - 64,2 78,3 82,3 81,6 0,76 76,1 - 69,5 73,1 82,0 79,1 0,76

Oiapoque Pública 67,6 - 57,2 65,6 82,3 80,8 0,70 67,0 100,0 61,6 62,7 74,5 79,7 0,73

Oiapoque Municipal 73,5 - 61,6 74,4 82,2 81,4 0,74 72,6 100,0 65,6 68,8 79,9 79,3 0,77

Média do Território

Pública 76,3

67,0 77,6 81,5 86,4 0,8 71,0 100,0 65,1 69,4 76,0 76,8 0,7

Média do Estado Pública 75,1

65,2 75,6 80,0 84,8 0,8 70,0 - 64,5 72,6 70,3 74,5 0,70

Média do Brasil Pública 80,0

74,1 78,1 83,0 83,4 0,81 84,6 92,5 80,3 82,0 86,5 86,2 0,85

Tabela 10 - Taxas de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Iniciais

Taxa de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Finais (5ª a 8ª série)16

Nome do Município Rede

Taxa de Aprovação -2005 Taxa de Aprovação -2007

5ª a 8ª 5ª 6ª 7ª 8ª I. de

R. (P) 5ª a 8ª 5ª 6ª 7ª 8ª

I. de R. (P)

Calçoene Estadual 81,4 75,8 81,8 84,6 85,9 0,82 81,4 75,8 81,8 84,6 85,9 0,82

Oiapoque Estadual 81,9 79,4 75,5 89,1 87,0 0,82 81,9 79,4 75,5 89,1 87,0 0,82

Média Território Estadual 81,7 77,6 78,7 86,9 86,5 0,8 81,7 77,6 78,7 86,9 86,5 0,8

Média Estado Estadual 82,4 77,8 83,3 84,2 88,1 0,8 82,1 78,4 81,2 84,4 87,0 0,8

Média Brasil Estadual 77,0 72,9 77,1 79,5 79,7 0,77 79,8 76,2 80,0 82,4 81,5 0,80

Tabela 11 - Taxa de Aprovação Ensino Fundamental Regular - Séries Finais

Taxa de Analfabetismo

Mas se analisarmos as taxas de pessoas não alfabetizadas no Território Extremo Norte o desempenho do ensino, não se sai tão bem, quanto na análise do desempenho escolar.

A diferença entre a taxa de analfabetismo do Território do Extremo Norte e do Estado Amapá é superior a 5 pontos percentuais. Comparativamente à Capital, 13

Fonte: INEP 14

e 10

I. de R. está para Indicador de Rendimento

16

Fonte: INEP

36

esta diferença é ainda maior e o Município do Oiapoque tem praticamente o dobro de analfabetos.

Esses números expressam sem dúvida a dura realidade, exposta pelos participantes das oficinas de diagnóstico municipal, da falta de acesso das comunidades mais distantes das sedes dos respectivos municípios à escola, além das grandes dificuldades enfrentadas em razão do péssimo estado de estradas e ramais, fatores que contribuem para estudantes e pais desistirem da escola.

Município

População residente de 10 anos de idade ou mais

Total Alfabetizada Taxa de

alfabetização Taxa de

analfabetismo

Calçoene...................................... 4 740 4 038 85,19% 14,81%

Oiapoque..................................... 8 913 7 434 83,41% 16,59%

Território Extremo Norte ........ 13 653 11 472 84,30% 15,70%

Amapá.......................................... 347 992 309 099 88,80% 11,20%

Macapá........................................ 210 983 193 196 91,60% 8,40%

Tabela 12 – Taxa de Alfabetismo no Território, no Estado do Amapá e na Capital Macapá

NÚMEROS DE MATRÍCULAS NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

Segundo o INEP Censo Escolar os dados de matrículas no Território Extremo Norte são conforme seguem na tabela abaixo:

Município

ANO Dependência Ed.Infantil Ensino Fundamental Ensino Médio

EJA17

(presencial)

Creche

Pré-Escola

Total ensino inf.

Anos Iniciais

Anos Finais

Total ensino fund.

Fundamental

Calçoene

2008

Estadual 0 58 58 861 811 1.672 450 70

Municipal 73 582 655 432 0 432 84

Total 73 640 713 1.293 811 2.104 450 154

2009

Estadual 0 0 0 867 857 1.724 462 101

Municipal 67 649 716 396

396

52

Total 67 649 716 1.263 857 2.120 462 153

Oiapoque

2008

Estadual 0 591 591 1.956 1.813 3.769 1.101 463

Municipal 56 564 620 1.099 1.099 67

Total 56 1.155 1.211 3.055 1.813 4.868 1.101 530

2009

Estadual 0 413 413 1.721 1.974 3.695 1.137 473

Municipal 75 843 918 1.078

1.078

170

Total 75 1.256 1.331 2.799 1.974 4.773 1.137 643

Território Extremo

Norte

2008 Estadual 0 649 649 2.817 2.624 5.441 1.551 533

Municipal 129 1.146 1.275 1.531 0 1.531 0 151

Total 129 1.795 1.924 4.348 2.624 6.972 1.551 684

2009 Estadual 0 413

2.588 2.831

1.599 574

Municipal 142 1.492

1.474 0

0 222

Total 142 1.905 4.062 2.831 1.599 796

Tabela 13 – Número de matrículas no Território Extremo Norte

17

Educação de Jovens e Adultos

37

ANÁLISE DA SITUAÇÃO ATUAL DA EDUCAÇÃO DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

As grandes distâncias de algumas comunidades localizadas nos municípios que fazem parte do Território Extremo Norte dificultam muito os esforços por melhorias na área de educação. Essas comunidades distantes das sedes dos municípios muitas vezes têm apenas escolas até a 4ª série, levando, assim os pais a tirarem seus filhos da escola quando passariam para as séries finais do Ensino Fundamental. Apesar de nesses casos existir transporte escolar mantido pelas prefeituras, a realidade dos ramais praticamente intrafegáveis e extremamente perigosos fazem com que pais e alunos desistam desta aventura diária, e o resultado e o abandono dos estudos.

Em razão disso, não é raro encontrar no território produtores familiares cujos filhos adolescentes pararam de estudar na 4ª série. Outra situação bastante comum nos dois municípios do Território são famílias que passam por dificuldades extremas porque precisam manter duas casas, uma em sua comunidade, onde fica o pai para continuar produzindo, já que tiram seu sustento daí, e outra mais próxima da sede do município, onde fica a mãe ou um irmão ou irmã mais velha, para permitir que os filhos tenham acesso um pouco mais digno às escolas públicas do município ou do estado.

Os representantes dos indígenas relataram durante a oficina municipal do Oiapoque que nas aldeias indígenas tem pré-escola, ensino fundamental, médio e superior. Relataram ainda que uma grande conquista alcançada por eles no Amapá foi o compromisso do governo estadual em contratar para as escolas das aldeias exclusivamente professores indígenas, permitindo, assim, que parte das aulas seja em própria língua indígena, além da escola contribuir para a manutenção dos costumes indígenas.

Nas oficinas municipais, entre os pontos fracos na educação dos municípios do Extremo Norte mais mencionados estão: a) Falta de educação ambiental dentro da grade escolar; b) Falta de ensino adequado para a área rural (principalmente a partir da 5ª série), c) Algumas comunidades estão temporariamente sem transporte escolar ou com transporte escolar inadequado; d) Falta de ensino de informática em mais comunidades; e) Falta de um programa voltado para alfabetização do agricultor adulto; f) Falta de oferta do 3º grau no Território em universidades públicas; g) Deficiência do ensino modular no 2º grau em algumas comunidades é muito fraco.

Entende-se que apenas grandes investimentos públicos na área educacional darão a sustentabilidade necessária a todas as ações planejadas neste PTDRS uma vez que é extremamente precária a atual situação de acesso à educação.

Os atores decidiram que não analisariam de forma aprofundada o acesso a educação por gênero, raça e outras variáveis, já que este acesso, em geral, é visto como insuficiente.

Os atores sociais e os representantes do poder público municipal consideram extremamente importante que o Território Extremo Norte possa dispor o mais brevemente possível tanto de cursos técnicos quanto de cursos públicos de terceiro grau nas áreas ambiental, de pesca e agrícola, a fim de que, de fato, os atores sociais tenham condições de buscar conhecimentos no próprio território.

38

No entanto, o pedido mais urgente feito pelo Território Extremo Norte é o de que as crianças e jovens finalmente tenham direito de frequentar escolas de qualidade do primeiro ano do ensino fundamental até o último ano do ensino médio, independente de onde suas famílias morem e que, este acesso atenda condições sociais e físicas que possam ser consideradas saudáveis e normais.

SITUAÇÃO DA SÁUDE NO TERRITÓRIO

A tabela abaixo demonstra a situação atual da saúde no Território Extremo Norte, conforme os dados oficiais de 2008 do DATASUS18, os quais constam no Sistema de Informações Territoriais (SIT) do MDA:

Município

Nº de Centros de

Saúde

Nº de Postos de

Saúde

Nº de Unidades

Mista

Nº de Unidades Móveis

Terrestres

Calçoene 1 5 1 0

Oiapoque 25 1 1 0

Território Extremo Norte 26 6 2 0

Tabela 14 – Serviços de saúde disponibilizados no Território Extremo Norte

Segundo os dados oficiais acima, nenhum dos dois municípios pertencentes ao Território Extremo Norte dispõe de Unidade Móvel Terrestre.

Pelos relatos ouvidos nas oficinas municipais, têm algumas ambulâncias, mas o número é insuficiente, faltando também ambulanchas e UTI móvel. Pois UTI móvel permitiria um atendimento mais rápido e com os recursos certos em casos de emergência, já que o território não dispõe de um Pronto Socorro e ambos os municípios ficam muito distantes da capital Macapá, onde fica o Pronto Socorro mais próximo. Quando uma ambulância sai de um dos dois municípios para levar um doente normalmente demora 2 ou 3 dias para retornar, pois a trafegabilidade das estradas e ramais é muito ruim, principalmente no inverno. Pacientes graves de ambos os municípios têm que ser transportados de avião já que por via terrestre é impossível chegar a tempo para um atendimento adequado, mas o agendamento e operacionalização de um vôo nem sempre é possível.

Representantes do poder público explicaram durante a oficina municipal de diagnóstico que no ano de 2009 a prefeitura do Oiapoque teve muitos gastos extras na saúde por causa da necessidade de prestar socorro à população das aldeias indígenas em algumas ocasiões, principalmente por causa de surtos de malária. É que sem a devida presença da FUNASA os indígenas apelaram ao poder público municipal, uma vez que a situação não permitia espera. Estas informações foram confirmadas pelos produtores rurais que presenciaram esse esforço para a prestação de socorro e também pelos próprios representantes dos indígenas presentes na oficina. É claro que nenhum dos atores questiona o direito e a obrigação do poder público municipal de entrar com medidas de emergência em casos como estes, mas todos estão cientes que dessa forma as verbas repassadas para saúde ao município ficam ainda mais restritas.

Os produtores da Vila Brasil, localizada no Oiapoque, mas muito próxima da fronteira da Guiana Francesa (apenas separada pelo rio), relataram que eles e suas famílias sempre procuram atendimento em território francês, pois além de ser mais fácil de chegar lá, também existe um atendimento muito superior em termos de disponibilidade de recursos.

18

Informações obtidas no http://sit.mda.gov.br/avancada.php?menu=avancada em maio de 2010.

39

Município

Nº de Leitos Clínicos por

mil habitante

Nº de Leitos Obstétricos

por mil habitante

Nº de Leitos Pediátricos

por mil habitante

Nº de Leitos - Total por mil habitantes

Calçoene 0,742942051 0,742942051 0,742942051 2,377414562

Oiapoque 0,853639609 0,232810802 0,388018004 1,552072016

Território Extremo Norte 0,79829083 0,487876426 0,565480027 1,964743289

Tabela 15 - Número de leitos no território

RESUMO SOBRE A SITUAÇÃO DA SAÚDE NO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

Os atores sociais de ambos os municípios reconhecem que houve investimentos por parte do poder público na área da saúde. Durante os levantamentos, mencionaram que hoje existem em algumas comunidades estruturas físicas de unidades básicas de saúde e uma variedade maior de programas de atendimento à saúde nos municípios. No entanto, eles partilham da opinião de que há ainda um longo caminho a percorrer para que a saúde pública realmente atenda às necessidades existentes no território.

Os pontos fracos mais mencionados no território para área de saúde são a falta de: a) técnicos capacitados nas comunidades; b) unidades básicas de saúde em algumas comunidades ou, se existem, não estão em condições de uso; c) atendimento medico principalmente nas comunidades mais distantes das sedes dos municípios; d) mais ambulâncias; e) ambulanchas para atender as comunidades ribeirinhas; e f) saneamento básico principalmente nas áreas rurais dos dois municípios e o saneamento básico existente nas sedes já necessitam de grandes investimentos para atender as necessidades atuais.

A situação atual na saúde do Território Extremo Norte é agravada por fatores como a baixa densidade populacional e as grandes distâncias para atendimento. Em razão disso, precisa de uma atenção especial.

40

ASPECTOS ECONÔMICOS

O setor responsável pela principal geração de renda nos Municípios do Território Extremo Norte, bem como nos demais Municípios do Estado, é o funcionalismo público.

Segundo os dados oficiais de 2006, a economia do setor primário (pesca, agricultura e garimpo) no Território Extremo Norte foi responsável por apenas 16,32% do PIB municipal de Calçoene e por apenas 11,71% no Oiapoque.

A contribuição do setor secundário, que se refere à venda de produtos com valor agregado, como por exemplo, serrarias e artesanato foi de 8% em ambos os municípios.

O setor terciário representa a parte mais significativa do PIB do Território Extremo Norte com uma média de 78%, dos quais a grande maioria está inserida no funcionalismo público.

PIB19

Segundo os dados oficiais de 2007, os dois municípios do Território Extremo Norte tinham um PIB abaixo da média do Estado do Amapá, que na época era de 10.190 reais. No caso do Oiapoque, a diferença em relação à média estadual era pequena, uma vez que o PIB desse município era de 10.115 reais. No município de Calçoene, contudo, essa diferença era bem mais significativa, pois seu PIB era de apenas 8.743 reais.

Município Valor adicionado na agropecuária

Valor adicionado na Indústria

Valor adicionado no Serviço

PIB a Preço de mercado corrente PIB per capita

Calçoene 10.625.000 5.214.000 49.267.000 68.875.000 8.743

Oiapoque 18.500.000 12.493.000 126.926.000 170.197.000 10.115

TOTAL TERRITÓRIO 29.125.000 17.707.000 176.193.000 239.072.000 9.429

Tabela 16 - PIB de 2007 nos municípios do Território Extremo Norte

É importante ressaltar que alguns fatores impedem a contabilização de valores no PIB. No caso da pesca no Município do Oiapoque, conforme veremos mais adiante, é a falta de fiscalização da atividade que impossibilita que essa geração de renda seja inserida no PIB municipal, uma vez que esta produção sai do município sem os devidos registros. Paralelamente, grande parte da produção familiar nos dois municípios é comercializada na informalidade, o que faz com que esses números também não sejam computados no levantamento do PIB.

19

Informações obtidas em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/

41

Gráfico 6 - Valores adicionados ao PIB por Setor e Município

Gráfico 7 - Composição do PIB 2006 nos municípios do Território Extremo Norte

Gráfico 8 - Ranking do PIB per capita no Estado do Amapá

0

50.000.000

100.000.000

150.000.000

200.000.000

Calçoene Oiapoque TOTAL TERRITÓRIO

Valores adicionados ao PIB por Setor e Município

Valor adicionado na agropecuária

Valor adicionado na Industria

Valor adicionado na agropecuária

13%Valor

adicionado na Industria

8%

Valor adicionado no Serviço

79%

PIB

02.0004.0006.0008.000

10.00012.00014.00016.00018.00020.00022.00024.00026.00028.00030.00032.00034.00036.00038.000

42

EMPREGOS GERADOS POR SETOR DA ECONOMIA

O quadro existente em 2002 sobre empregos gerados por setor da economia traduz a situação que continua até hoje. Os setores de agropecuária e indústria, segundo esses dados, não geravam praticamente nenhum emprego.

Como já confirmado pelos números do PIB, até hoje a maior geração de renda do município provém do funcionalismo público, que emprega o maior número de população. No caso do setor agropecuário, como se trata da maioria de agricultores familiares e famílias assentadas, até hoje eles não entram nos dados oficiais sobre empregos gerados, pois estão no mercado informal.

O Comércio é um setor que gerava (em 2002) e permanece gerando um número considerável de empregos.

Empregos gerados em 2002 por setor de economia20

Município Agropecuária (IPEA 2002) Comércio (IPEA

2002) Indústria (IPEA

2002) Serviços (IPEA

2002)

Calçoene 0 23 0 117

Oiapoque 0 101 2 248

Território 0 124 2 365

Tabela 17 - Número de empregos gerados nos municípios do Território por setor da economia

BOLSA FAMÍLIA

O quadro abaixo mostra o crescimento do número de famílias beneficiadas e os valores de repasses efetuados pelo programa Bolsa Família21 no Território.

Ano 2006 2007 2008

Município

N.º de famílias benef.

Repasse médio

por família

Repasse total

N.º de famílias benef.

Repasse médio

por família

Repasse total

N.º de famílias benef.

Repasse médio

por família

Repasse total

Calçoene 647 416,79 269.664,00 930 857,34 797.323,00 941 1.167,91 1.099.004,00

Oiapoque 961 597,95 574.628,00 1.007 772,05 777.450,00 996 958,79 954.957,00

Território 1.608 507,37 844.292,00 1.937 814,70 1.574.773,00 1.937 1.063,35 2.053.961,00

Tabela 18 - Crescimento do programa Bolsa Família entre os anos de 2006 e 2008.

Na próxima tabela pode ser observado o percentual de pessoas que foram beneficiadas no território, por semestre, entre 2005 e 2009. Para calcular os percentuais foram usados os números de bolsa família divididos pelos números de estimativa, respectivamente contagem de cada município, chegando-se, assim, ao percentual de pessoas alcançadas pelo programa. Em 2005 o percentual de pessoas beneficiadas pelo programa no Território Extremo Norte era um pouco superior ao percentual estadual. Isto ocorreu devido aos repasses para o Município do Oiapoque. No município de Calçoene, até o primeiro semestre de 2006 um percentual muito baixo da população havia sido beneficiada. No entanto, este número melhorou significativamente no segundo semestre de 2006.

20

Fonte: SNIU. Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (2002) 21

Fonte: MS / SE / DATASUS

43

Assim, o percentual de famílias beneficiadas pelo programa no território em 2005 e no primeiro semestre de 2006 estava muito aquém do percentual de pessoas alcançadas na região Norte e no Brasil. Entre o segundo semestre de 2006 e primeiro semestre de 2007, contudo, esses percentuais se aproximaram aos da Região Norte e do Brasil e ultrapassaram os percentuais estaduais.

Desde o segundo semestre de 2007 o percentual de beneficiados, principalmente no município de Calçoene, supera consideravelmente os percentuais do estado, da região norte e do Brasil.

ANO 2005 2006 2007 2008 2009

L0CAL 1º sem. 2º sem. 1º sem. 2º sem. 1º sem. 2º sem. 1º sem. 2º sem. 1º sem. 2º sem.

Calçoene 0,64% 0,09% 0,34% 4,93% 7,27% 9,39% 9,37% 9,37% 8,92% 8,64%

Oiapoque 2,52% 2,39% 2,88% 5,65% 4,81% 5,15% 4,81% 4,81% 4,49% 4,51%

Território 1,91% 1,65% 2,07% 5,42% 5,58% 6,47% 6,22% 6,22% 5,85% 5,78%

Estado do AP 1,59% 1,40% 1,69% 2,97% 4,31% 5,20% 5,98% 5,86% 5,86% 5,94%

NORTE 3,15% 3,36% 3,90% 5,89% 6,79% 6,94% 7,41% 6,45% 6,48% 6,66%

BRASIL 3,01% 3,12% 3,93% 5,08% 5,75% 5,69% 5,56% 5,10% 5,06% 5,13%

Tabela 19 - Crescimento do percentual de pessoas alcançadas com o programa Bolsa Família

ESTRUTURA FUNDIÁRIA

ASSENTAMENTOS

Para criar a tabela a seguir sobre a estrutura fundiária nos assentamentos do Território Extremo Norte três fontes foram utilizadas. A primeira foi uma tabela elaborada por José Newton Costa da Universidade Federal do Amazonas, em sua dissertação de mestrado sobre os assentamentos no estado do Amapá em 2006. Esses dados foram então cruzados e completados pelo relatório Acordão TCU 753/2008, emitido em 18.08.2010 pelo INCRA. No caso dos PAs, a tabela foi complementada ainda com dados obtidos do Documento de Caracterização Regional do Programa de ATES (Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária) no Estado do Amapá, no qual constam dados levantados nos diagnósticos de ATES nos assentamentos.

O Número de títulos expedidos constantes na última coluna é referente a Contratos de Concessões de Uso ou Título de Domínio. O contrato de concessão de uso é o instrumento que transfere o imóvel rural ao beneficiário da reforma agrária em caráter provisório e assegura aos assentados o acesso a terra, aos créditos disponibilizados pelo INCRA e a outros programas do governo federal. O título de domínio é o instrumento que transfere o imóvel rural ao beneficiário da reforma agrária em caráter definitivo e é garantido pela Lei 8.629/1993 quando verificado que a unidade familiar cumpriu as cláusulas do contrato de concessão de uso e já tem condições de cultivar a terra e pagar o título de domínio em 20 (vinte) parcelas anuais.

Município Nome do Projeto Ano de Criação Área (Ha)

Capacidade de títulos

Títulos expedidos

ACORDÃO TCU 753/2008

Calçoene

CARNOT 1987 72.000,00 306 49

LOURENÇO 1999 26.600,00 226 45

PAE MUTUM 2002 7.000,00 90

44

PDS IRINEU E FELIPE 10.681,28 213 38

V.V.CASSIPORÉ 1999 28.000,00 170

Oiapoque FPF Tipo B Gleba Cassiporé 486,10

PAE IGARAPÉ GRANDE 1.770,43 35 9

TOTAIS DO TERRITÓRIO 146.537,81 1.040,00 141

Tabela 20 – Títulos Expedidos pelo Acordão TCU 753/2008 no Território Extremo Norte

Assim, na análise da tabela acima se pode observar que com a atividade do ACORDÃO TCU em 2008 a situação de famílias, que em alguns casos se arrasta desde 1987 foi pelo menos parcialmente resolvida. Conforme o quadro acima, com a realização do acórdão em 2008, apenas 13,56% da capacidade total de títulos estavam expedidos no Território Extremo Norte.

Segundo informações do próprio INCRA, por meio da Ação 8396 do PPA 2008 a 2001 (implantação e recuperação de infraestrutura básica em projetos de assentamento) – do Programa 0137 (desenvolvimento sustentável de projetos de assentamento) –, é concedida a infraestrutura básica rural necessária em seus assentamentos. As prioridades são a construção e/ou complementação de estradas vicinais, o saneamento básico, por meio da implantação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, além de construção de redes de eletrificação rural, visando proporcionar as condições físicas necessárias para o desenvolvimento sustentável dos assentamentos.

Ressalte-se, contudo, que o problema mais citado nas oficinas municipais foi justamente a ausência ou precariedade de infraestrutura básica nos assentamentos. Os participantes relataram que a falta dessa infraestrutura os impede de morarem em seus lotes com suas famílias, as quais ficam na sede do município enquanto eles viajam sozinhos até os lotes onde produzem. Alguns contaram ainda que no ano anterior haviam perdido boa parte da produção devido a essa falta de infraestrutura ou ao péssimo estado das estradas vicinais (chamadas de ramais no Amapá), que não permitem a passagem de nenhum tipo de veículo até as proximidades das plantações dos assentados, impossibilitando, dessa forma, o escoamento da produção.

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

A maior parte da agricultura amapaense desenvolve-se sob regime itinerante de “roças”, especialmente em áreas florestais, com área média plantada variando de um a dois hectares. Nesse sistema o plantio é realizado em uma determinada área por cerca de três anos consecutivos, a qual posteriormente é deixada em pousio por um período que pode variar de três a dez anos. Essa prática ocasiona constantes desmatamentos e queimadas, que são perniciosos ao ambiente. Esse revezamento sistemático de terras é responsável pela maior parte dos desmatamentos do Estado, num processo chamado “desmatamento silencioso”, dificilmente detectado pelas imagens de satélite convencionais e consequentemente difícil de ser mapeado.

A agricultura itinerante do Amapá caracteriza-se pelo uso de mão de obra familiar, baixo padrão tecnológico, pouca participação nos mecanismos de mercado e pouca disponibilidade de capital para exploração. Sua produção apresenta-se insuficiente para atender a demanda do Estado, grande importador de gêneros alimentícios, sobretudo do Pará, do Centro-Oeste e do Sul do Brasil. Ainda com relação à agricultura migratória,

45

apesar da sua importância para a economia amazônica, ela não assegura as bases fundamentais para o processo de consolidação e expansão do desenvolvimento rural e, diante das políticas de restrição aos desmatamentos, do aumento da densidade populacional, da demanda crescente por alimentos e da elevação dos preços da terra, em longo prazo será substituída por sistemas de uso da terra mais intensivos. Neste ponto insere-se a importância das instituições de pesquisa e de desenvolvimento rural na busca de conhecimento e tecnologias apropriadas aos ecossistemas amazônicos, capazes de gerar e distribuir riquezas, de reduzir a pobreza e a exclusão social.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Lavoura Permanente22

As principais lavouras permanentes do Território Extremo Norte, assim como ocorre no Estado do Amapá, são a laranja e a banana. No caso da banana, os agricultores familiares tem sentido muita dificuldade na produção em razão de uma doença fúngica denominada sigatoka negra. Apesar deste problema, os produtores a consideram uma “cultura importante”. Os dados oficiais do IBGE mostram que a produção continua crescendo razoavelmente ano a ano, superando inclusive a média de crescimento da produção de banana no Estado. O aumento da produção de banana nos últimos 13 anos no Território Extremo Norte foi de quase 1.116% comparado a um aumento de menos de 800% em todo o Amapá.

Banana (cacho):

Município

Banana (cacho) - Quantidade produzida (em ton.)

Banana (cacho) - Valor da produção

Banana (cacho) - Área plantada em há

Banana (cacho) - Área colhida em há

Banana (cacho) - Rendimento médio por há (em kg)

Calçoene 158 182.000,00 56 56 2.821

Oiapoque 864 1.080.000,00 240 240 3.600

TOTAIS 1.022 1.262.000,00 296 296 3.211

Tabela 21 - Dados de Produção de Banana em cacho em 2008

Município/Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 9 18 19 18 20 144 135 75 65 90 115 150 158

Oiapoque 75 48 51 60 60 384 320 540 510 650 720 840 864

Território 84 66 70 78 80 528 455 615 575 740 835 990 1.022

Estado do Amapá 465 425 450 496 480 2.808 2.460 2.275 2.072 2.635 3.250 4.100 4.364

Percentual contribuição do Território com a Produção Total do Estado 18% 16% 16% 16% 17% 19% 18% 27% 28% 28% 26% 24% 23%

Tabela 22 - Evolução da produção de banana em cacho de 1996 a 2008 23

Laranja:

Na tabela abaixo (tabela 24) podemos observar um aumento significativo na produção da laranja em todo o Território, mas em especial no município do Oiapoque. Embora menor do que a produção de banana, verifica-se que a produção de laranja aumentou 170%

22

Dados oficiais do IBGE Cid@des Lavoura Permanente 2008

23 Fonte: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ca/default.asp?o=2&i=P#5

46

entre os anos de 1996 e 2008 e, com isso, o Território Extremo Norte contribuiu com 34% da produção total de laranja no Estado do Amapá.

Município

Laranja - Quantidade produzida em toneladas

Laranja - Valor da produção

Laranja - Área plantada (em há)

Laranja - Área colhida (em há)

Laranja - Rendimento médio por há (em kg)

Calçoene 118 104.000,00 52 52 2.269

Oiapoque 3.195 3.355.000,00 360 360 8.875

TOTAIS 3.313 3.459.000,00 412 412 5.572

Tabela 23 - Dados de Produção da Laranja em 2008

Município/Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene

1.075 1.046 1.100 1.160 288 250 230 250 300 338 350 118

Oiapoque 1.200 720 701 950 900 2.100 2.300 2.100 2.300 2.750 2.890 3.050 3.195

Território 1.200 1.795 1.747 2.050 2.060 2.388 2.550 2.330 2.550 3.050 3.228 3.400 3.313

Estado do Amapá 22.600 24.657 24.000 25.575 26.750 7.868 8.070 7.363 7.810 8.300 8.720 9.400 9.623

Percentual contribuição do Território com a Produção Total do Estado 5% 7% 7% 8% 8% 30% 32% 32% 33% 37% 37% 36% 34%

Tabela 24 - Evolução da produção de laranja de 1996 – 2008

Nas oficinas de diagnósticos, ficou claro que os agricultores familiares desejam continuar a produzir laranja e banana, pelo fato de esses produtos fazerem parte de sua alimentação, mas não demonstraram interesse em investir no aumento da produção.

Mamão

Outra cultura permanente também produzida no Município do Oiapoque desde 2003 é o mamão, cuja produção aumentou 37,50% nesses seis anos. É de fundamental importância para o município que haja investimentos para assegurar a continuação desta produção e da oferta local, uma vez que Oiapoque fica extremamente distante da capital Amapaense e o transporte de insumos de outras regiões até lá o encarecem consideravelmente.

Município/Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Oiapoque 160 150 180 210 180 220

Tabela 25 – Evolução da produção de Mamão no município de Oiapoque entre 2003 e 2008

Maracujá

Há dados oficiais sobre a produção de maracujá entre os anos de 2002 e 2007 em Calçoene e entre 2003 e 2007 no Oiapoque. Pressupõe-se que a produção de Calçoene em 2008 foi abaixo do mínimo necessário para constar nos dados do IBGE. No entanto, se considerarmos os números do território podemos observar um crescimento de mais de 200% da cultura entre 2002 e 2008. Também no caso do maracujá é de suma importância que se continue o incentivo aos produtores familiares para assegurar a oferta a um preço mais acessível, já que a logística complexa das comunidades distantes implica em um custo ainda maior.

Município/Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 46 40 54 85 78 99 Oiapoque

65 78 105 98 110 145

47

Território 46 105 132 190 176 209 145

Tabela 26 – Evolução da produção de maracujá no Território entre 2002 e 2008

Gráfico 9 – Evolução das Culturas Permanentes no Território entre 1996 e 2008

O gráfico acima mostra de forma muito evidente o grande crescimento da produção de banana no território. Mostra ainda que a produção das demais culturas, com exceção do maracujá, também vem crescendo ao longo dos anos. Ressalta-se que a queda observada na cultura do maracujá entre 2007 e 2008 se deve a não inserção dos números sobre a sua produção no município de Calçoene nos dados do IBGE.

Outras duas culturas permanentes são consideradas muito importantes pelos agricultores familiares no Território Extremo Norte: cacau e cupuaçu. Apesar disso, não há dados do IBGE sobre a produção do cacau, fato que faz presumir que as quantidades não são altas o suficiente para serem inclusas.

O cupuaçu é uma fruta da região amazônica que está cada vez mais conquistando mercados em outras regiões do Brasil e até no exterior. Esta lavoura permanente também não consta nos dados do IBGE, mas, em entrevistas municipais em ambos os municípios, a cultura do cupuaçu foi citada como uma das cinco principais atividades produtivas integradoras aglutinadoras, portanto, não há como negar a importância da cultura para o território.

O cacau, no município do Oiapoque, também é considerado uma das principais atividades produtivas integradoras. No município de Calçoene, contudo, a cultura foi pouco citada. É que no município de Oiapoque existe uma grande demanda, principalmente do mercado externo (França). Trata-se de um nicho de mercado muito importante para região se for aproveitado da forma correta, haja vista que o mercado que está interessado na produção é a França e a logística é feita por meio das fronteiras da Guiana Francesa.

Área plantada com culturas permanentes

Na tabela abaixo podemos observar que entre 1996 e 2008 houve um aumento de 64% da área plantada de banana enquanto que no mesmo período a produção aumentou quase 1.200% (Tabela 27). Assim, podemos concluir que houve um substancial aumento do rendimento por hectare plantado.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Evolução das Culturas Permanentes

Banana

Laranja

Maracujá

Mamão

Evolução das áreas Plantadas por Cultivo entre 1996 e 2008

Ban

ana 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 30 30 30 30 40 45 40 25 20 25 30 40 56

48

Tabela 27 – Evolução das áreas Plantas por Cultivo entre 1996 e 2008

O inverso ocorreu com a laranja, em que a proporção de aumento da área plantada superou a proporção de aumento da produção, não se obtendo, portanto, um rendimento satisfatório por hectare. Isso nos leva a crer que investimentos futuros nesta produção podem ser pouco interessantes, a não ser que seja somente para fins de assegurar a segurança alimentar dos próprios produtores.

No caso do mamão e do maracujá, o aumento de produção aparentemente se deu sem aumento de área plantada, o que é um bom indício de que foi possível melhorar consideravelmente o rendimento das duas culturas por cada hectare de plantio.

Lavouras temporárias24

Conforme os dados do IBGE Cid@des, o número de culturas temporárias é bem maior que o de culturas permanentes tanto no Território Extremo Norte como no Estado do Amapá. Esses dados expressam claramente a realidade da agricultura no Território.

Nesses cultivos se continuam praticando a queima e a coivara, o sistema tradicional e artesanal de produção, contudo os produtores familiares estão na expectativa de o projeto PPI do Governo do Estado, que promove o incentivo da produção com apoio de mecanização das áreas, chegar também no Extremo Norte. Até o momento da realização das oficinas locais no território o programa ainda não havia chegado a nenhum produtor dos dois municípios.

Como provavelmente deve ser o caso de todo o resto do Estado do Amapá, os produtores dos dois municípios do Extremo Norte consideram a farinha de mandioca entre as principais atividades produtivas integradoras e aglutinadoras. A mandioca é cultivada pela maioria dos agricultores em decorrência do hábito alimentar da população amazônica, principalmente da proveniente do estado vizinho, o Pará, que é o caso de uma boa parte

24

Dados oficiais do IBGE Cid@des Lavoura Temporária 2008

Oiapoque 150 100 105 80 80 80 80 120 120 160 150 180 240

Território 180 130 135 110 120 125 120 145 140 185 180 220 296

Lara

nja

Calçoene 25 26 26 30 30 30 30 30 40 45 45 52

Oiapoque 25 20 20 30 30 300 300 300 300 350 350 320 360

Território 25 45 46 56 60 330 330 330 330 390 395 365 412

Ma

o Calçoene

Oiapoque 20 20 25 25 20 20

Território 0 0 0 0 0 0 0 20 20 25 25 20 20

Ma

racujá

Calçoene 10 10 12 18 18 20

Oiapoque 12 18 20 20 20 20

Território 0 0 0 0 0 0 10 22 30 38 38 40 20

Total de área plantada no Território 205 175 181 166 180 455 460 517 520 638 638 645 748

Total de área plantada no Estado 5.240 5.216 5.259 1.283 1.423 2.176 1.616 1.580 1.611 1.901 1.980 2.215 2.616

Participação % da produção do estado 3,91% 3,36% 3,44% 12,94% 12,65% 20,91% 28,47% 32,72% 32,28% 33,56% 32,22% 29,12% 28,59%

49

da população também do território Extremo Norte. Dessa forma, a produção é destinada à subsistência e a venda nas Feiras Municipais, sendo que os próprios produtores familiares e também o poder público local do território reconhecem que, apesar dos investimentos locais na cultura, a maior parte para venda nas feiras vem do estado do Pará .

Feijão

O feijão foi a cultura que obteve o maior crescimento de produção nos últimos anos no Território Extremo Norte. Os produtores familiares o cultivam para consumo próprio e eles o consideram muito importante por fazer parte de sua alimentação diária.

Não há dados sobre o plantio de Feijão no Território Extremo Norte em 1996, por isso pressupõe-se que a produção era menor do que o mínimo necessário para constar nos dados do IBGE. Em 1997 constou a primeira tonelada de feijão produzida no município de Calçoene, iniciando-se uma lenta evolução até 2003, a partir de quando começou um crescimento constante até 2008, ano dos últimos dados disponíveis. Assim, nesse intervalo, o crescimento da produção de feijão no Extremo Norte é de quase 600%, percentual que pode ser considerado muito positivo.

Município

Feijão (em grão) - Quantidade produzida (em ton.)

Feijão (em grão) - Valor da produção

Feijão (em grão) - Área plantada

Feijão (em grão) - Área colhida

Feijão (em grão) - Rendimento médio (kg por há)

Calçoene 68 57.000,00 80 80 850

Oiapoque 84 98.000,00 105 105 800

TOTAIS 152 155.000 185 185 825

Tabela 28 - Dados de Produção de Feijão em 2008

Evolução da produção de Feijão (em grão) (Toneladas)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene

1 1 18 15 15 13 8 20 35 50 60 68

Oiapoque

3 3 3 5 14 25 38 60 75 84

Território 0 1 1 21 18 18 18 22 45 73 110 135 152

Estado do Amapá

139 42 45 132 120 627 600 313 430 682 850 1100 1254

Contribuição com a produção do Estado

0,00% 2,38% 2,22% 15,91% 15,00% 2,87% 3,00% 7,03% 10,47% 10,70% 12,94% 12,27% 12,12%

Tabela 29 - Evolução da Produção de Feijão entre 1996 e 2008

Mandioca

A produção de lavoura temporária de mandioca aumentou consideravelmente no território, sendo o seu produto final, a farinha, citada nos levantamentos locais entre as principais atividades produtivas integradoras e aglutinadoras do território. No município do Oiapoque, a farinha encabeçou a lista e em Calçoene, ficou em segundo lugar.

Entre 1996 e 2008 a evolução da produção chegou a ultrapassar os 500%. E, segundo o IBGE25, a safra amapaense de mandioca de 2009 deve somar 126,6 mil toneladas de raiz,

25

Estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), de dezembro, pesquisa mensal de previsão safra

realizada pelo Grupo de Coordenação de Estatística Agropecuária - GCEA/AP do IBGE/AP

50

31,30 % a mais do que em 2008 (96,4 mil toneladas). Trata-se da maior produção de raiz de mandioca já obtida dentro de um ano civil na história do Amapá.

O aumento em relação ao ano anterior deve-se, especialmente, ao crescimento da produtividade obtida em localidades de diversos municípios do Estado onde foi implantado o Programa de Produção Integrada - PPI pela Secretária de Desenvolvimento Rural – SDR/AP com assistência Técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural – RURAP/AP.

Em 2009 o Estado obteve um rendimento de 12.356 kg/ha de raiz de mandioca contra 10.428 kg/ha em 2008, representando um crescimento de 18,5% por hectare, que proporcionou um aumento de 31% na produção total de mandioca no Estado.

Conforme já mencionado, o projeto PPI ainda não havia sido iniciado no Território Extremo Norte, mas a expectativa é de que o Extremo Norte do Estado possa estar em breve entre os municípios que obtiveram um considerável aumento de produção da mandioca por cada hectare, podendo aumentar, assim, ainda mais a sua produção.

Município

Mandioca - Quantidade produzida em ton.

Mandioca - Valor da produção

Mandioca - Área plantada em há

Mandioca - Área colhida em há

Mandioca - Rendimento médio (kg por há)

Calçoene 5.930,00 5.218.000,00 550,00 545,00 10.880,00

Oiapoque 13.249,00 13.249.000,00 1.430,00 1.430,00 9.265,00

TOTAIS 19.179,00 18.467.000,00 1.980,00 1.975,00 10.072,50

Tabela 30 - Dados da produção de mandioca em 2008

Evolução da Produção de Mandioca (Toneladas) entre 1996 e 2008

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 450 1750 1982 2000 2780 4553 4600 4200 4500 5200 5290 5800 5930

Oiapoque 2700 3000 3398 3200 3750 8730 9500 10500 10850 11200 12480 13150 13249

Território 3150 4750 5380 5200 6530 13283 14100 14700 15350 16400 17770 18950 19179

Estado do Amapá

23.305 31.340 35.500 40.141 47.500 65.279 74.700 67.166 70.703 80.060 85.500 92.500 96.457

Contribuição c. a produção do estado

13,52% 15,16% 15,15% 12,95% 13,75% 20,35% 18,88% 21,89% 21,71% 20,48% 20,78% 20,49% 19,88%

Tabela 31 - Evolução da Produção de Mandioca entre 1996 e 2008

Segundo informações obtidas ainda nas oficinas de validação deste plano, os números reais da produção familiar desta cultura estão muito abaixo dos constantes nos dados oficiais acima. O Sindicato do Oiapoque citou como fonte um estudo feito em 2009 sobre a venda de farinha de mandioca. Este estudo mostrou que até o final de 2009 foram trazidas somente 97 toneladas de farinha de mandioca pela agricultura familiar, excluindo-se, no entanto, nesse estudo, a produção proveniente dos indígenas. O levantamento de 2010 sobre a produção de farinha de mandioca, incluindo a produção dos indígenas, está sendo elaborado pelo Sindicato junto com o IBGE.

51

Segundo um cálculo aproximado, feito a partir da informação dos produtores familiares, de que cada tonelada da raiz gera em torno de 300 quilos de farinha, conclui-se que a produção familiar contribui com apenas de 350 a 400 toneladas.

Melancia

Assim como em outras localidades do Amapá, no Território Extremo Norte a melancia também teve um aumento significativo de produção desde 1996. No caso do Território Extremo Norte, apenas o município de Calçoene tem dados do IBGE sobre essa cultura, o que deve significar que no Oiapoque ou estes dados não foram divulgados ou não foram significativos o suficiente para entrar nos dados oficiais. Acredita-se que tenha ocorrido a primeira opção, haja vista que foi constatado nas visitas ao município do Oiapoque que a comercialização da melancia na feira municipal tem um valor significativo, portanto, imagina-se que as quantias produzidas inclusive devam ter ultrapassado as de Calçoene.

Como a partir de 2001 as quantidades produzidas de melancia passam a ser expressas nas bases de dados do IBGE em toneladas (ao invés de em mil frutos) parece fazer mais sentido comparar a evolução da produção entre 2001 e 2008. Nesse período, o crescimento de produção passou dos 250%, indicando também que a cultura produz bem nas terras do Extremo Norte. Assim, também se acredita que a contribuição com a produção do Estado de fato seria maior do que consta nos dados oficiais, já que o Oiapoque não tem os números referentes à melancia inclusos nos dados do IBGE.

Município

Melancia - Quantidade produzida (toneladas)

Melancia - Valor da produção

Melancia - Área plantada em há

Melancia-Área colhida

Melancia - Rendimento médio (por hectare)

Calçoene 125,00 139.000,00 30 30 4.166,67

Total Território 125,00 139.000,00 30 30 4.166,67

Tabela 32 – Dados sobre a produção de Melancia em 2008

Evolução da Produção de Melancia entre 1996 e 2008

1996 1997 1998 1999 2000 200126

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 15 14 15 28 36 35 42 35 65 70 85 110 125

Oiapoque 10 9

48 Território 25 23 15 28 36 35 42 35 65 118 85 110 125

Estado do Amapá 386 476 367 456 623 475 592 595 852 1145 1289 1568 2240

Contribuição c produção do estado 6,48% 4,83% 4,09% 6,14% 5,78% 7,37% 7,09% 5,88% 7,63% 10,31% 6,59% 7,02% 5,58%

Tabela 33 – Evolução da Produção de Melancia entre 1996 e 2008

Decidiu-se durante a oficina de validação que devem ficar registradas neste plano as informações do Sindicato Rural de Oiapoque, para mostrar que a produção de melancia neste município é muito alta e deve ultrapassar a produção de Calçoene. O Presidente do Sindicato informou que em 2010 as pesquisas sobre a produção familiar de melancia estão sendo feitas mais detalhadamente e incluindo a produção dos indígenas, já que cada vez mais produtores familiares investem na produção desta cultura. A cultura é

26

Segundo informado na base de dados do IBGE 2 – A, partir do ano de 2001 as quantidades produzidas de melancia e melão

passam a ser expressas em toneladas. Nos anos anteriores eram expressas em mil frutos

52

considerada um importante fator que contribui para geração de renda extra dos produtores familiares, já que a melancia, em sua maior parte, é vendida nas feiras, pois a produção supera em muito a necessidade alimentar das famílias. Assim, hoje a melancia é um produto importante, pois a venda ajuda as famílias a obter uma renda extra, e também complementa sua alimentação básica, já que a maioria dos produtos da produção familiar não é suficiente para própria subsistência.

Abacaxi

O cultivo do abacaxi, apesar de não ter historicamente a mesma importância que no Território Centro-Oeste, tem tido um crescimento considerável no Território Extremo-Norte. Este crescimento, contudo, tem apresentado muitas oscilações ao longo dos anos. Podemos observar na tabela abaixo que entre 2002 e 2005 parece ter ocorrido uma crise bastante severa no setor de produção de abacaxi, uma vez que nesse período os números são bem abaixo se comparados aos anos anteriores, em especial no Município de Calçoene. A partir de 2006 retomou o mesmo crescimento de produção. Na mesma época a produção do município do Oiapoque começou também a evoluir de uma forma bem mais significativa, tendo ficado praticamente estagnada nos anos anteriores. Apesar dessa instabilidade na produção do abacaxi, o crescimento no período entre 1996 e 2008 foi maior que 380%.

Os produtores familiares do Território Extremo Norte, a exemplo do que ocorreu em todo o Estado do Amapá, também contestaram os dados oficiais sobre a cultura do abacaxi no que diz respeito ao rendimento de fruto por hectare. A informação de que o rendimento médio de abacaxi por hectare no Território Extremo Norte está muito acima do valor informado nos dados oficiais foi confirmada pelos técnicos de assistência rural.

Abacaxi Quantidade produzida em frutos

Abacaxi – Valor da produção

Abacaxi - Área plantada em há

Abacaxi - Área colhida em há

Abacaxi – Rendimento médio (fruto por há)

Calçoene – AP 120000 121.000,00 40 40 3.000,00

Oiapoque – AP 119000 137.000,00 45 45 2.644,44

Território 239.000 258.000,00 85 85 2.822,22

Tabela 34 – Dados sobre a produção de Abacaxi no Território em 2008

Evolução da produção de Abacaxi entre 1996 e 2008

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene

200 246 210 150 120 80 52 40 61 82 115 123

Oiapoque 50 60 74 90 75 80 70 60 65 65 70 110 119

Território 50 260 320 300 225 200 150 112 105 126 152 225 242

Estado do Amapá 1.097 1.442 1.775 1.815 1.410 1.291 1.005 791 706 894 1.100 1.560 1.651

Contribuição c/ a produção do estado 4,56% 18,03% 18,03% 16,53% 15,96% 15,49% 14,93% 14,16% 14,87% 14,09% 13,82% 14,42% 14,66%

Tabela 35 - Evolução da produção de Abacaxi entre 1996 e 2008

53

Arroz

O plantio de arroz tem pouca tradição no estado do Amapá. Esta cultura é mais utilizada no sistema produtivo consorciado com a mandioca ou o milho e, em menor escala, como cultivo "solteiro".

Assim também no Território Extremo Norte o cultivo de arroz é mais para subsistência dos próprios agricultores e não visa geração de renda direta. Consequentemente, a evolução de produção entre 1996 e 2008 foi razoavelmente pequena.

Um dos pontos citados pelos produtores rurais no que se refere ao arroz é a falta de equipamento existente para beneficiar o produto. O produtor, hoje, está ciente que existem meios bem mais práticos do que o antigo pilão para beneficiamento do arroz, e seguindo a ordem do desenvolvimento normal, é compreensível que os produtores não mais se disponham a beneficiá-lo da forma artesanal. Assim, foi levantado localmente que a falta de acesso a máquinas de beneficiamento de arroz é um dos motivos principais de o produtor familiar não plantar mais esta cultura. No final das contas, para o produtor é mais viável comprar o arroz pronto do que investir tempo, terra e insumos na produção de um produto que, mesmo que seja para consumo próprio, acaba gerando custos de beneficiamento em beneficiadoras particulares.

Município

Arroz (em casca) - Quantidade produzida (em toneladas)

Arroz (em casca) - Valor da produção

Arroz (em casca) - Área plantada

Arroz (em casca) - Área colhida

Arroz (em casca) - Rendimento médio (kg por há)

Calçoene 24 21.000,00 120 120 200

Oiapoque 92 109.000,00 85 85 1.082

TOTAIS 116 130.000 205 205 641

Tabela 36 – Dados sobre a produção de arroz em 2008

Evolução da produção de Arroz (em casca) (Toneladas)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 28 40 38 60 90 97 100 70 55 90 60 75 24

Oiapoque 12 18 16 20 28 24 30 20 22 40 25 40 92

Território 40 58 54 80 118 121 130 90 77 130 85 115 116

Estado do Amapá 546 712 640 657 960 1816 2302 3085 3338 4006 1800 2184 3483

Arroz (em casca) (Toneladas) 7,33% 8,15% 8,44% 12,18% 12,29% 6,66% 5,65% 2,92% 2,31% 3,25% 4,72% 5,27% 3,33%

Tabela 37 - Evolução da produção de Arroz

Milho

O milho tem uma importância específica no Território Extremo Norte, já que o mesmo é à base da ração que os produtores familiares dão para suas criações de aves. Os agricultores relataram nas oficinas municipais, que encontram muita dificuldade para ter acesso a sementes de boa qualidade, além da cultura não ser tão fácil de se adaptar às condições da terra local. Estes devem ser os motivos principais pelos quais a produção do milho declinou 20% entre 1996 e 2008.

54

Observando a evolução de produção do milho, vê-se que entre 1996 e 1997 houve uma queda brusca de mais de 80% na quantidade produzida, iniciando-se, a partir de 1998 um aumento crescente, porém lento na produção.

Ressalta-se mais uma vez que o milho tem fundamental importância para os produtores familiares, pois ele compõe a ração para aves, cuja criação também faz parte da atividade produtiva das famílias e garante a sua segurança alimentar. E em ambos os municípios do território, a compra de ração está fora das possibilidades financeiras dos produtores, uma vez que o Estado não tem produção própria do produto e, portanto, precisa-se importar de outros Estados, o que aumenta muito o preço, dada a distância e os custos de transporte.

Município

Milho (em grão) - Quantidade produzida - em ton.

Milho (em grão) - Valor da produção

Milho (em grão) - Área plantada

Milho (em grão) - Área colhida

Milho (em grão) - Rendimento médio da produção (kg por ha)

Calçoene 148 104.000,00 157 150 986

Oiapoque 120 118.000,00 150 140 857

Território 268 222.000,00 307 290 921,5

Tabela 38 – Dados sobre a Produção de Milho em 2008

Evolução da Produção de Milho (tonelada) entre 1996 e 2008

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 8 30 28 96 110 162 150 122 70 105 115 148 183

Oiapoque 400 45 42 32 44 28 40 28 40 70 90 120 145

Território 408 75 70 128 154 190 190 150 110 175 205 268 328

Estado do Amapá

790 598 560 828 854 1465 1470 1059 926 1330 1530 1830 2406

Contribuição c produção do estado

51,65% 12,54% 12,50% 15,46% 18,03% 12,97% 12,93% 14,16% 11,88% 13,16% 13,40% 14,64% 13,63%

Tabela 39 – Evolução da Produção de Milho entre 1996 e 2008

Dados gerais sobre as culturas temporárias

Primeiro é preciso ressaltar que a figura abaixo não foi criada para ilustrar números de produção, mas sim exclusivamente para se ter uma imagem que ilustra se houve ou não crescimento nas diversas produções temporárias no território Extremo Norte entre 1996 e 2008. Assim, para possibilitar uma leitura melhor do gráfico, o ponto de partida tem que estar em um patamar parecido.

Assim, foram feitas as seguintes modificações nos dados originais: os números da produção da mandioca, que em 1996 tinham dois dígitos mais do que a produção de abacaxi, arroz, feijão e melancia, foram divididos por 100, levando assim a quantia da produção da mandioca a patamar aproximado das outras. No caso dos números da produção do milho, os mesmos foram divididos por 10, para o mesmo fim. E por fim, pelo motivo acima já explicado sobre a mudança de expressão de quantias no caso do produto melancia a partir de 2001, os dados do produto foram inclusos para o gráfico somente a partir deste ano.

Dessa forma, a evolução da produção nas culturas temporárias entre 1996 e 2008 pode ser retratada da seguinte maneira:

55

Gráfico 10 – Ilustração da Evolução das Culturas Temporárias entre 1996 e 2008

Área plantada com cultura temporária

No quadro abaixo pode ser observada a evolução de áreas plantadas no território com culturas temporárias entre 1996 e 2008.

Área plantada com cultura temporária entre 1996 e 2008

Município 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 105 337 344 518 760 825 805 708 720 830 805 882 1.035

Oiapoque 390 465 443 391 455 1.095 1.025 1.105 1.240 1.485 1.540 1.685 1.878

Território 495 802 787 909 1.215 1.920 1.830 1.813 1.960 2.315 2.345 2.567 2.913

Estado do AP 4.693 5.909 5.900 6.952 8.602 12.680 12.791 12.107 13.056 14.734 14.309 15.656 18.463

Participação % no Estado 10,55% 13,57% 13,34% 13,08% 14,12% 15,14% 14,31% 14,97% 15,01% 15,71% 16,39% 16,40% 15,78%

Tabela 40 – Evolução da Área Plantada com Culturas Temporárias entre 1996 e 2008

Comparado com a evolução de área plantada no Estado do Amapá em geral o aumento de áreas plantadas no Extremo Norte do Amapá foi maior, com quase 490% de crescimento contra os 293% do estado.

Evolução do Rendimento por Hectare dos Plantios Temporários

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Te

rrit

óri

o

Arroz kg 750 783 796 875 842 833 845 838 760 875 845 775 641

Feijão kg

500 500 488 514 550 529 550 750 769 792 845 825

Mandioca kg 9.000 9.549 9.885 9.879 9.015 9.770 10.754 10.705 10.557 10.444 10.848 11.099 10.073

Melancia kg 2.500 2.650 3.000 3.500 3.600 3.500 4.200 4.375 4.643 4.733 4.722 5.500 4.167

Milho kg

675 714 800 807 755 708 757 714 841 867 922 768

Esta

do

do

Am

ap

á Arroz kg 758,33 800,00 800,00 796,36 800,00 832,26 1.036,94 1.307,20 1.209,42 1.227,33 900,00 840,00 1.083,36

Feijão kg 487,72 311,11 300,00 444,44 400,00 635,26 611,62 498,41 536,16 636,19 680,00 774,65 770,27

Mandioca kg 9.378,27 9.657,94 10.000,00 10.035,25 9.500,00 9.521,44 10.641,03 10.535,84 10.351,83 10.625,08 10.961,54 11.212,12 10.427,78

Melancia kg 2.297,62 2.884,85 2.698,53 3.352,94 3.480,45 3.044,87 3.523,81 3.789,81 4.369,23 4.209,56 4.444,83 4.708,71 4.848,48

Milho kg 657,14 700,00 707,69 705,79 777,19 786,10 766,28 723,44 848,21 874,29 884,06 755,18

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Evolução das Culturas Temporárias entre 1996 e 2008

Abacaxi

Arroz

Feijão

Mandioca

Melancia

Milho

56

Tabela 41 – Evolução/Diminuição do Rendimento por Hectare dos Plantios Temporários

Ressalta-se em primeiro lugar que os dados de rendimento por hectare do abacaxi não constam no quadro pois, conforme já relatado anteriormente, os produtores do território discordaram enfaticamente dos dados apresentados pelo IBGE.

Comparando-se então o aumento, respectivamente a diminuição do rendimento por hectare entre 1996 e 2008 de cada cultura com e evolução ocorrida no mesmo período em nível de Estado, pode ser observado que no caso do arroz, em nível de território teve uma diminuição de quase 15% de rendimento por hectare, ao contrário do aumento de mais de 40% que ocorreu em nível de estado. A evolução do rendimento da cultura da mandioca foi praticamente a mesma no território e no estado. No caso do feijão, o território teve um desempenho de rendimento por hectare levemente melhor, comparado ao do estado.

No caso da melancia, os cálculos foram feitos de 2001 a 2008, já que neste ano o IBGE começou a medir o produto em toneladas e não mais em frutos, como era o caso antes. O quadro mostra que, apesar de o rendimento ter aumentado aproximadamente 20% por hectare no território, o mesmo ficou muito aquém do observado no estado, que foi de quase 60% no mesmo período.

Quanto ao milho, a comparação foi feita somente a partir de 1997 por indisponibilidade de dados. O desempenho no rendimento do milho observado no território e no estado foi também positivo e praticamente o mesmo.

Extrativismo Vegetal

Açaí

No extrativismo vegetal, a produção de açaí é a que mais está em ascensão, seguindo a tendência do estado. A população do Extremo Norte consome bastante este fruto e possui vasta experiência em seu manejo e, mais recentemente, em seu plantio. Bastante apreciado na região amazônica, o açaí atualmente ganha cada vez mais apreciadores fora da região, principalmente no sudeste, com perspectivas muito interessantes de conquista de novos mercados. A polpa do açaí é utilizada na Amazônia para o preparo tradicional do "vinho de açaí", um dos alimentos básicos da dieta alimentar da população do Território. Sua destinação industrial é a fabricação de sorvetes.

O açaizeiro é nativo da região e sua exploração é principalmente por extrativismo dada a sua abundância na floresta, principalmente nos Estados do Amapá e Pará. Em virtude de sua exploração predatória, que chegou a representar um risco considerável para a espécie até o início da década de 1990, algumas instituições competentes tomaram providências para racionar sua exploração tanto no extrativismo manejado sustentável quanto no plantio. Portanto, a abundância de açaizais nativos no Território Extremo Norte e a tecnologia gerada pela EMBRAPA para sua exploração racional proporciona uma posição privilegiada na oferta de matéria prima e indica o consequente investimento no segmento agroindustrial.

A produção do açaí do Território Extremo Norte, hoje, é destinada somente para subsistência e venda para as agroindústrias que ficam no município de Santana, na Grande Macapá. No entanto, é cada vez mais forte o desejo e a necessidade da população do Território em trabalhar esta cadeia produtiva no próprio Território e agregar valor ao produto para exportá-lo já processado para outros Estados e países.

57

No quadro abaixo se pode verificar que houve aumento constante no extrativismo de açaí no território Extremo Norte nos últimos 13 anos, diferentemente do que vem ocorrendo no Estado. Enquanto o Território aumentou em quase 1.675 % sua produção o Estado do Amapá teve uma queda de quase 30% no mesmo período.

A participação na extração de Açaí no Estado tem crescido constantemente. Em 1996 representava apenas 0,22%, chegando a 5,49% em 2008.

Os produtores familiares do Extremo Norte do Amapá querem investimentos na produção e principalmente conseguir apoio tanto no manejo do açaí nativo quanto para plantio de novas áreas. Nas entrevistas locais em Calçoene o açaí foi citado como uma das principais atividades produtivas integradoras e aglutinadoras.

Município Produtos Alimentícios - açaí - fruto - quantidade produzida em tonelada

Produtos Alimentícios - açaí - fruto - valor da produção

Calçoene 39 26.000,00

Oiapoque 32 27. 000,00

Território 71 53. 000,00

Tabela 42 – Dados sobre Produção do Açaí em 2008

Evolução da produção de Açaí entre 1996 e 2008

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene 4 2 4 4 4 4 4 4 4 6 9 9 39

Oiapoque

3 3 3 3 4 5 6 7 14 15 32

Território 4 2 7 7 7 7 8 9 10 13 23 24 71

Estado do Amapá 1.838 1.938 1.937 1.944 1.825 1.638 1.492 1.371 1.390 1.284 1.160 1.034 1.294

Participação % na produção do estado 0,22% 0,10% 0,36% 0,36% 0,38% 0,43% 0,54% 0,66% 0,72% 1,01% 1,98% 2,32% 5,49%

Tabela 43 - Evolução da produção de Açaí em toneladas entre 1996 e 2008

Gráfico 11 – Evolução da Produção do Açaí entre 1996 e 2008 nos municípios do território.

Durante a oficina de validação foi definido que neste plano deveria constar, como exemplo do quanto os dados oficiais não traduzem a realidade, os números da produção do Açaí na comunidade quilombola Cunani. Segundo os representantes de Cunani, a produção média diária proveniente apenas do maior ramal da comunidade é de 20 toneladas. Esta

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Evolução da Produção do Açai entre 1996 e 2008 (em toneladas)

Calçoene

Oiapoque

Território

58

produção ocorre entre os meses de fevereiro a junho, ou seja, durante aproximadamente 120 dias, o que significa uma produção anual total de aproximadamente 2.400 toneladas de açaí, dados confirmados pelos demais presentes na oficina. Portanto, a produção de apenas uma comunidade do Território já e infinitamente superior a que consta nos dados oficiais.

Assim, é importante ressaltar que para o Território Extremo Norte a produção de açaí é de suma importância e a venda desta produção é muito significativa para a renda familiar.

Outros produtos do extrativismo vegetal

Na produção de carvão, o território Extremo Norte contribuiu com apenas 5,06% da produção total do estado em 1996. Em 2008, contudo, sua contribuição havia aumentado em 8,60%. No entanto, os produtores que participaram das oficinas municipais em nenhum momento mencionaram a produção de carvão como fonte de renda e nem demonstraram interesse em torná-la uma.

Quanto à produção de lenha, a participação do território de1996 a 2008 variou entre 10% e 15% da produção total do estado.

A produção de madeira em tora no território em 1996 contribuiu com um pouco mais de 2% para a produção do estado. Contudo, segundo dados oficiais, em 2008 o Território Extremo Norte aumentou esta participação na produção estadual em 13,33%.

No entanto, deve-se ressaltar que os produtores familiares contribuem pouco ou nada com esta produção, uma vez que, segundo eles, não têm acesso às exigências formais para extração de madeira em suas terras.

Durante as oficinas locais, diversos participantes tanto do Oiapoque quanto de Calçoene, mencionaram o desejo de ter acesso ao manejo florestal madeireiro. Mas os produtores familiares entendem que o processo para legalização desta atividade é muito complexo e que será muito difícil eles conseguirem atender as exigências.

Local 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Carv

ão

veg

eta

l (T

on

ela

das) Calçoene AP 10 11 13 13 13 14 16 15 15 15 13 15 16

Oiapoque 12 13 14 14 14 15 15 15 18 18 22 24 25

Território 22 24 27 27 27 29 31 30 33 33 35 39 41

Estado do AP 435 421 403 414 399 372 387 369 436 451 463 435 477

Participação Percentual 5,06% 5,70% 6,70% 6,52% 6,77% 7,80% 8,01% 8,13% 7,57% 7,32% 7,56% 8,97% 8,60%

Le

nh

a (

Me

tro

s c

úb

ico

s)

Calçoene 1.650 1.792 2.490 3.115 2.180 2.375 2.515 2.678 2.678 3.241 6.175 6.890 8.795

Oiapoque 2.815 3.040 4.178 4.110 4.250 4.580 4.786 4.979 5.733 5.960 8.913 10.715 16.974

Território 4.465 4.832 6.668 7.225 6.430 6.955 7.301 7.657 8.411 9.201 15.088 17.605 25.769

Estado do AP 44.098 50.052 60.412 70.122 66.390 57.474 63.856 65.738 83.721 93.096 118.004 124.565 163.191

Participação Percentual 10,13% 9,65% 11,04% 10,30% 9,69% 12,10% 11,43% 11,65% 10,05% 9,88% 12,79% 14,13% 15,79%

59

Ma

deir

a e

m t

ora

(M

etr

os c

úb

ico

s) Calçoene 1.628 1.472 2.270 2.870 3.290 3.014 3.210 3.410 3.410 3.835 6.730 8.170 11.274

Oiapoque 130 175 3.113 3.120 4.270 4.638 5.715 5.891 7.830 8.710 15.198 17.418 22.741

Território 1.758 1.647 5.383 5.990 7.560 7.652 8.925 9.301 11.240 12.545 21.928 25.588 34.015

Estado do AP 75.726 57.349 73.077 82.782 84.410 71.367 78.493 76.574 94.777 106.114 149.930 154.407 255.106

Participação Percentual da produção do estado 2,32% 2,87% 7,37% 7,24% 8,96% 10,72% 11,37% 12,15% 11,86% 11,82% 14,63% 16,57% 13,33%

Tabela 44 - Extrativismo de Carvão Vegetal, Lenha e Madeira em Tora

PECUÁRIA

Rebanhos

O Território Extremo Norte, conforme mencionado anteriormente está com 66% de sua extensão total ocupada com áreas de proteção integral e terras indígenas e, portanto, não há muita criação de rebanhos nos dois municípios.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Calçoene

Bo

vin

o

2473 2620 2840 2970 3230 3658 1957 2077 4303 4720 5130 5462 5187

Oiapoque 1878 1987 2307 2210 2353 2587 2670 2132 2470 2815 4175 3987 3215

Território 4.351 4.607 5.147 5.180 5.583 6.245 4.627 4.209 6.773 7.535 9.305 9.449 8.402

Amapá 63.648 65.953 74.508 76.734 82.822 87.197 83.901 81.674 82.243 96.599 109.08

1 103.17

0 95.803

Participação % do Território 6,84% 6,99% 6,91% 6,75% 6,74% 7,16% 5,51% 5,15% 8,24% 7,80% 8,53% 9,16% 8,77%

Calçoene

Bu

bali

no

7830 8560 9160 9110 9550 9320 8668 8062 7670 8118 9790 8431 7147

Oiapoque 980 1310 1680 1815 1973 2115 1895 1695 2137 2918 3450 3264 2920

Território 8.810 9.870 10.840 10.925 11.523 11.435 10.563 9.757 9.807 11.036 13.240 11.695 10.067

Amapá 131.482 139.301 150.15

6 148.74

6 159.65

0 161.85

7 158.39

3 155.02

6 165.01

0 193.48

5 206.21

0 208.02

3 201.89

8

Participação % do Território 6,70% 7,09% 7,22% 7,34% 7,22% 7,06% 6,67% 6,29% 5,94% 5,70% 6,42% 5,62% 4,99%

Calçoene

Eq

uin

o

147 177 167 175 179 183 240 245 269 321 338 321 294

Oiapoque 24 32 35 42 55 59 65 58 69 89 110 124 118

Território 171 209 202 217 234 242 305 303 338 410 448 445 412

Amapá 3.167 3.275 3.190 3.045 3.057 2.953 3.045 3.462 3.706 4.662 5.422 5.021 4.858

Participação % do Território 5,40% 6,38% 6,33% 7,13% 7,65% 8,20% 10,02% 8,75% 9,12% 8,79% 8,26% 8,86% 8,48%

Calçoene

Galo

s,

fra

ng

as,

fran

go

s e

pin

tos

978 1.265 1.350 1.270 970 1.350 1.115 878 930 1.543 1.937 3.230 2.880

Oiapoque 4.101 4.614 3.420 2.750 1.350 1.890 1.243 927 1.304 1.719 2.357 4.479 4.043

Território 5.079 5.879 4.770 4.020 2.320 3.240 2.358 1.805 2.234 3.262 4.294 7.709 6.923

Amapá 87.728 88.747 78.760 65.953 51.858 49.308 36.367 36.795 36.612 49.737 55.877 70.866 56.167

Participação % do Território 5,79% 6,62% 6,06% 6,10% 4,47% 6,57% 6,48% 4,91% 6,10% 6,56% 7,68% 10,88% 12,33%

Calçoene

Su

íno

705 813 813 870 815 865 925 585 733 852 989 1240 1065

Oiapoque 447 485 550 617 585 664 935 769 1238 1488 2508 1947 1738

Território 1.152 1.298 1.363 1.487 1.400 1.529 1.860 1.354 1.971 2.340 3.497 3.187 2.803

Amapá 14.451 15.693 17.141 17.076 17.036 18.390 20.044 15.354 17.066 22.248 35.479 31.821 28.547

Participação % do Território 7,97% 8,27% 7,95% 8,71% 8,22% 8,31% 9,28% 8,82% 11,55% 10,52% 9,86% 10,02% 9,82%

Tabela 45 – Rebanhos presentes no Território Extremo Norte

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Durante as oficinas locais no Território Extremo Norte os produtores familiares não mencionaram a criação de bovinos e bubalinos em suas propriedades. Nesta região, o produtor familiar investe mais na criação de aves e suínos. Atualmente, na região, a criação de peixes em tanques esta despertando o interesse dos produtores rurais, que vêem nesta atividade uma importante fonte de proteínas e segurança alimentar para a família, bem como uma possível fonte de renda extra.

Assim, o número de bovinos e bubalinos no território é bastante baixo; em 2008 o rebanho bovino do território não representava nem 9% do rebanho total do estado e o bubalino representou menos de 5%. Pode-se observar pelos dados oficiais que desde 1996 o efetivo de rebanho bubalino aumentou muito pouco no Território Extremo Norte, enquanto o bovino teve um aumento bem maior. Isto leva a crer que a criação de bubalinos esta sendo substituída por bovinos pelos os criadores do território.

No caso das aves, ao contrário da média do estado na qual o número de cabeças está em declínio constante desde 1996, no Território Extremo Norte este efetivo tem crescido. Depois de cair bastante entre 1996 e 2004, o número de aves voltou a crescer significativamente a partir de 2005, e triplicou entre 2005 e 2008.

Quanto ao efetivo suíno, um número significativo de produtores familiares do Território Extremo Norte declarou nas oficinas locais que mantém uma pequena criação desses animais para consumo próprio.

Produção de Leite e Ovos

Seguindo a tendência do pequeno rebanho bovino e bubalino, o Território Extremo Norte produziu em 2008 apenas 8% do leite total do estado. Já a produção de ovos do território foi de 17,5% da produção total do estado.

Município Leite (Mil litros) Valor da produção (R$) Ovos de galinha (Mil dúzias) Valor da produção (R$)

Calçoene 151 181.000,00 1 3.000,00

Oiapoque 165 198.000,00 2 3.000,00

Território 316 379.000,00 8 16.000,00

Amapá 5.271 5.182.000,00 40 80.000,00

Tabela 46 – Produção de Leite e Ovos

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PESCA

O Território Extremo Norte, juntamente com o município de Amapá, que faz parte do Território dos Lagos, detém um dos maiores bancos pesqueiro do país, o que é um atrativo para as inúmeras embarcações do país e do exterior que transitam nestas áreas.

Ainda não existem dados estatísticos oficiais, mas moradores da região estimam que transitem mensalmente na área entre 500 e 700 embarcações em busca de pescado e de crustáceos abundantes.

Hoje ainda não há fiscalização eficiente por parte de nenhum órgão federal, e o estado do Amapá não consegue manter o controle, por sequer ter devida competência que a situação requer, já que se trata de área de fronteira e além mar.

Segundo Raimundo Nobre, presidente da Federação dos Pescadores do Amapá, essa e uma das áreas mais ricas em espécies pesqueiras. Esta opinião é compartilhada pelos pescadores do Oiapoque e Calçoene, conforme relataram nas oficinas de diagnóstico municipais.

Em 2005, com o advento do Convênio SEAP-PR/PROZEE/IBAMA – Monitoramento da Pesca no Litoral do Brasil foram coletados dados sobre o esforço de pesca e produção pesqueira desembarcada no estado do Amapá. Este levantamento mostrou que Calçoene foi o município com a maior produção desembarcada de espécies marinhas estuarinas naquele ano, num total de 2.980,2 toneladas, que representaram 60,3% do total do estado. No entanto, ressalta-se que se trata apenas de dados do peixe desembarcado no município. Ou seja, levando em consideração o que os pescadores nos dois municípios do território denunciaram durante as oficinas, de que a grande maioria dos barcos que retira peixes e crustáceos no litoral do Território Extremo Norte é de outros estados e até de outros países, imagina-se que a produção anual de peixe na região seja muito superior a esta registrada no levantamento. Vários estudos realizados sobre a pesca no Brasil confirmam que de fato há muito mais barcos pesqueiros provenientes de outros estados brasileiros e do exterior que pescam na região do Extremo Norte. Portanto, os pesqueiros amapaenses e os do próprio território só capturam uma pequena parte do total.

No Oiapoque, não há qualquer agregação de valor no peixe capturado e o mesmo é levado em caminhões de gelo até a capital onde é vendido ou então exportado para outros lugares. Segundo informações dos participantes da oficina de levantamento municipal no Oiapoque, pelo menos um caminhão de 15 toneladas de peixe sai semanalmente do município em direção a Calçoene, onde uma empresa particular agrega valor ao produto.

Na época da elaboração e validação deste plano, o Poder Público Municipal estava analisando a viabilidade legal de o município poder reter ao menos uma parte de impostos sobre o peixe que sai praticamente sem agregação de valor (apenas limpo e sem partes internas para diminuir desde lá o peso no transporte). Esta análise está sendo feita por solicitação dos próprios pescadores, uma vez que eles entendem que se houvesse uma retenção de impostos, teriam como solicitar que estas entradas fossem revertidas em benefício para sua classe.

Na época da validação do plano, os pescadores do Oiapoque estavam aguardando a emissão de um documento oficial pelo Poder Público Municipal confirmando a doação de um terreno, a fim de que pudesse ser instalada a Unidade de Produção de Gelo, financiada por um projeto já aprovado pelo Ministério da Pesca.

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Ambos os municípios do Território Extremo Norte citaram a Pesca como principal atividade produtiva integradora, portanto, trata-se de uma área muito importante para investimentos no Território Extremo Norte. Mas, além de recursos, será de fundamental importância investir no fortalecimento da organização dos pescadores.

No Oiapoque, a colônia de pescadores está, hoje, com uma diretoria bastante atuante, que tem lutado por melhorias para o grupo. No entanto, os associados carecem fortemente de um sentimento maior de pertencimento à associação e vontade de participar e dividir responsabilidades. Estes dois últimos aspectos, contudo, dependem muito de os associados se sentirem com no direito de codecisão e gestão na associação como parte de suas atribuições como membros que são.

No caso de Calçoene, no que diz respeito à organização e participação, apesar do município ter uma produção importante da pesca, apenas um pescador da colônia compareceu na oficina municipal. Segundo ele, a colônia estava passando por uma grande crise no que se refere a organização, inclusive com falta de liderança naquele momento. Esta crise da colônia foi confirmada por atores de poder público que afirmaram ter conhecimento do fato.

O município conta ainda com uma associação de pescadores, sendo que seus membros mostraram um grau de união maior, inclusive com mais representantes participando da oficina municipal. O grupo, também demonstrou que carece de fortalecimento organizacional além de investimentos em infraestrutura.

Em ambos os municípios existe uma clara demanda por parte dos pescadores por apoio tanto do poder público quanto dos agricultores familiares, uma vez que os pescadores entendem claramente que sua atividade e parte importante da segurança alimentar do Território Extremo Norte. Eles entendem ainda que se o seu seguimento tiver apoio para desenvolver, no final as famílias da produção agrícola também serão beneficiadas diretamente, já que os pescadores poderiam se tornar potenciais compradores de produtos agrícolas, além de obviamente o desenvolvimento do setor gerar empregos e fortalecer significativamente o setor econômico, o que, por sua vez, também beneficiaria diretamente as famílias agrícolas.

Essa demanda foi muito enfatizada durante as oficinas municipais e de validação, uma vez que os pescadores, se comparados aos produtores agrícolas, têm pouca representação no Colegiado do Território, até por suas entidades sociais serem em número consideravelmente inferior se comparadas as da produção agrícola. Esta situação, por sua vez, acaba fazendo com que nas reuniões do colegiado para tratar sobre investimentos para as diversas áreas de produção, a pesca seja pouco representada se comparada aos outros seguimentos e acaba não sendo priorizada com investimentos tão necessários.

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MATRIZ DE PONTOS FORTES, OPORTUNIDADES, PONTOS FRACOS E AMEAÇAS DA AGRICULTURA FAMILIAR E DA PESCA (FOFA)

O processo de diagnósticos municipais no Território Extremo Norte resultou em uma matriz FOFA, onde constam os principais pontos em comum em todo território. Certamente cada município tem, além dos pontos em comum da matriz, outras individualidades, mas entende-se que a matriz abaixo, contempla boa parte dos pontos mencionados pelos atores locais:

Pontos Fortes

Terras indígenas que são legalizadas

Existência de abundância de oleaginosas como buriti, Andiroba, copaíba, tucumã, pracaxi, jatobá

Terra (cheio de húmus, não se gasta dinheiro em insumo)

Clima

Produção orgânica de todos os produtos agrícolas

Laranja, Coco, Melancia, Mandioca, Banana, Arroz, Limão, Manga, Cajá, Cupuaçu

Proximidade da Guiana para comercializar

Produção agrícola sem emprego de fertilizantes

Produção de cacau

Tem Cipó Titica para extração

Tem muito açaí nativo

Tem muita água

Grande diversidade de produção

A realização do concurso público para Assistência Técnica Rural, que possibilitou a chegada de um número maior de técnicos para cada município

Pesca

Diversidade de espécies pesqueiras

Tem um grande mercado consumidor

Mão de obra pesqueira em abundância

Interesse atual do governo federal em regulamentar as atividades pesqueiras

Oportunidades

Melhorar as feiras municipais

Criar alternativas de acesso a novas tecnologias

Criar um centro de capacitação para agricultores

Investir mais na criação de suínos e aves

Criação de uma cooperativa agrícola

Aumento de 20 para 30% de aproveitamento legal das terras

Investir em hortifrutigranjeiro

Ter acesso a terra adubada (sendo este um desejo específico do município do Calçoene)

Facilitar transporte para escoamento da produção

Mecanização das áreas já desmatadas

Ter educação e saúde rural de qualidade

Implantar meios de comunicação nas comunidades rurais

Capacitar jovens para o campo em escolas técnicas

Investir na apicultura e melipolicultura

Investir na piscicultura e na aquicultura

Manejo dos açaizais

Capacitar mulheres em atividades para beneficiar produtos rurais: frutas: doces, biscoitos, geléias, artesanatos

Legalização das terras

A criação de um novo organograma para assistência técnica para resolver a falta de hierarquia dentro da instituição

Pesca

Fiscalização conjunta da pesca

Criação de parques aquáticos

Intercambio entre indígenas e não indígenas sobre a pesca

Criar um curso técnico no território para área da pesca

A classe pesqueira trabalhar em conjunto com o IBAMA

A chegada dos representantes do órgão estadual do setor pesqueiro (entre estes 2 engenheiros de pesca para o município do Oiapoque) deverá melhorar o acesso a assistência técnica por parte dos pescadores

Pontos Fracos

Falta de legalização das terras

Falta de ramais e vicinais e os que existem estão em péssimo estado

Sobreposição de terras indígenas com terras com terras não indígenas que dificultam a abertura de ramais

Falta de escola, postos de saúde, energia elétrica adequada nas áreas agrícolas

Assistência Técnica Rural insuficiente e com infra-estrutura inadequada a necessidade real

Problemas graves com o IBAMA

Ameaças

As multas pesadas por parte do IBAMA

Enrijecimento da legislação ambiental

O uso demasiado da técnica da queima para preparo dos terrenos de cultivo

Desmatamento agrícola

Aumentar mais ainda a rigidez das leis ambientais

Burocracia das leis ambientais para o campo (agricultor familiar)

Falta de educação no campo pode aumentar o êxodo rural

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Falta de compreensão sobre associativismo e cooperativismo por parte dos produtores (Falta de união entre os agricultores)

Falta acesso ao crédito rural

Existe grande insegurança sobre permanência na área por parte dos produtores

Falta permissão para aproveitamento de madeira quando se prepara a terra

Falta de acesso a sementes e mudas de boa qualidade

Falta de escola até o segundo grau na maioria das comunidades rurais

Legislação ambiental é muito rígida

Pesca:

A feira para venda do pescado está mal organizada

Não tem técnico especializado na área da pesca

Falta de estrutura pesqueira

A infra-estrutura do município é fraca para apoiar os pescadores

Não tem diagnóstico pesqueiro

A longa demora para se ter representação do órgão estadual de pesca nos respectivos municípios (na época da validação do presente plano havia sido feito o concurso e os municípios estavam na expectativa da chegada dos profissionais contratados)

Pesca:

Pesquisas sísmicas e outros grandes projetos

Introdução de espécies predatórias

A pesca predatória com timbó

Acordos bilaterais sobre pesca enfraquecendo a pesca brasileira

Agressão dos recursos hídricos (nascentes e afluentes)

Exploração desordenada por pescadores de outros estados e países

Quadro 2 – Matriz FOFA da Agricultura e Pesca do Território Extremo Norte

IBAMA/ICMBio

As reclamações sobre o IBAMA/ICMBio foram tão enfáticas, principalmente no Município do Oiapoque, que é inevitável deixar de mencioná-las neste PTDRS. As críticas não apareceram somente na oportunidade da elaboração da matriz FOFA, mas também foram citadas recorrentemente por representantes do poder público e pela sociedade civil.

Os órgãos IBAMA/ICMBio também são vistos como ameaça em Calçoene, que os citaram menos frequentemente, mas de forma grave – como um órgão que atrapalha a evolução da produção familiar. No Oiapoque os adjetivos atribuídos ao órgão foram inflexível e intransigente.

Durante a oficina de validação do presente plano, quando foi definido que deverá ser usado o termo IBAMA/IMCBio, uma vez que a criação do segundo é recente demais para os atores sociais do Território Extremo Norte conseguirem diferenciar um do outro, foi quase todos os presentes solicitaram de forma enfática que constasse no presente plano o sentimento negativo das comunidades em relação a estes dois órgãos.

Definitivamente não é saudável que um órgão continue sendo visto pelos produtores rurais como um grande inimigo da produção. Sugere-se, portanto, que o órgão busque o diálogo com os produtores para tentar convencê-los de que a atual legislação ambiental vigente é aliada de suas atividades produtivas e também de que a atuação do órgão pode ter grande valia na manutenção das áreas que os servem para produção e extrativismo.

Durante uma das manifestações sobre o IBAMA/ICMBio ocorridas no município do Oiapoque, o representante da colônia de pescadores relatou que a sua categoria, depois de muita relutância, tem hoje um diálogo que ele considera muito positivo com o órgão. Atualmente o setor pesqueiro consegue ver no IBAMA/ICMBio um grande aliado que os auxilia na instituição e implementação de regras discutidas por todos e que visam garantir a manutenção do recurso e da atividade pesqueira por muitas gerações. Ainda segundo ele, no entanto, mesmo existindo uma relação melhor, os órgãos continuam sendo vistos pelos pescadores como muito autoritários e inflexíveis. Ademais, os atores sociais da área

65

da pesca reclamam que não foram inclusos nas discussões e no planejamento na época da criação das áreas de proteção, e que até hoje não foi apresentada para os pescadores uma alternativa legal, nem dado o apoio real para poderem continuar a sua atividade produtiva dentro da legalidade.

Registre-se a esperança de todos do Território Extremo Norte de que um dia, com diálogo, será possível se construir uma relação mais produtiva e saudável entre IBAMA/ICMBio e os produtores familiares, tanto da área da pesca quanto da área agrícola.

PRONAF

O acesso ao crédito e à assistência técnica qualificada são importantes para o agricultor que precisa começar uma atividade no campo e agregar valor à sua propriedade por meio da implantação de melhorias na infraestrutura de apoio à produção e em todas as demais etapas até a comercialização dos produtos.

A reunião desses dois fatores possibilita tornar o produto agropecuário mais competitivo pela adoção de novas tecnologias, a fim de atender um mercado consumidor cada vez mais exigente.

No território Extremo Norte e em todo o Estado do Amapá os agricultores familiares se ressentem do pouco acesso ao crédito PRONAF e assistência técnica. Em 2005, segundo dados oficiais do MDA, o Estado do Amapá ficou apenas na frente do Distrito Federal em termos de números de operações por estado, com um total de 1.261 operações. Um número extremamente baixo se comparado aos da grande maioria dos outros estados brasileiros.

O número de contratos PRONAF fechados no Território Extremo Norte sequer chegou a 1% do total de 3.129 fechados em todo estado do Amapá entre 2005 e 2010 e representou 0,55% do valor total liberado pelo programa PRONAF no Estado no mesmo período.

Ano Município Contratos Valor

2005

Calçoene 7 46.104

Oiapoque 4 37.001

Território Extremo Norte 11 83.105,40

2006

Calçoene 6 30.364

Oiapoque 6 18.119

Território Extremo Norte 12 48.483,89

2007

Calçoene 1 2.366

Oiapoque

Território Extremo Norte 1 2.366,00

2008

Calçoene 1 2.366

Oiapoque 5 15.306

Território Extremo Norte 6 17.672,49

Território Extremo Norte 0 0,00

Total no Território do Extremo Norte nos últimos 5 anos 30 151.627,78

Total no Estado nos últimos 5 anos 3129 27.358.110,00

Tabela 47 - Números de contratos e valores desembolsados pelo PRONAF nos últimos 5 anos

66

Analisando-se a tabela acima podemos perceber que o Território Extremo Norte do Amapá comparativamente ao Estado recebeu poucos financiamentos e firmou poucos contratos durante os anos de 2005 a 2009.

Segundo os agricultores, entre os fatores que mais dificultam o acesso a qualquer linha de crédito está em primeiro lugar, a falta de regularização fundiária, isto é, ainda não terem recebido a documentação de suas terras e, em segundo lugar a grande dificuldade por parte deles em emitir a DAP - Declaração de Aptidão ao Pronaf, em virtude da falta de dinheiro e de transporte até os locais de emissão de documentos necessários para formalizarem suas atividades agrícolas.

Segundo dados oficiais no Território Extremo Norte de agosto do ano corrente, apenas 259 agricultores tinham a Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP

Município Número de agricultores com DAP

Calçoene 174

Oiapoque 85

Total Território Extremo Norte 259

Tabela 48 – Número de DAP expedidos até agosto de 2010 no Território Extremo Norte

Sem dúvida o baixo número de declarações expedidas no Território Extremo Norte até agosto de 2010, é um forte indício de que os índices de liberação de crédito pelo PRONAF continuarão baixos enquanto não se encontrar uma solução para apoiar os produtores familiares na obtenção desse documento.

Como ficou claro na análise da matriz FOFA do território que os produtores familiares do Extremo Norte entendem ser muito necessário o acesso a sistemas de crédito, deve se pensar em uma ação emergencial para facilitar o cadastro na DAP, e tentar mudar também a realidade de liberação de créditos daqui pra frente. Propõe se então uma ação conjunta de órgãos municipais e estaduais com o propósito de viabilizar o cadastro dos produtores em tempo razoável, permitindo, assim, o acesso deles ao crédito PRONAF.

Os atores sociais entendem que principalmente os órgãos INCRA e IMAP devem tomar providencias imediatas para ajudar aos produtores familiares a resolver esta situação insustentável da informalidade de suas terras.

Gráfico 12 - Comparação da verba PRONAF liberada entre Território e Estado

O gráfico ao lado tem a intenção de demonstrar o quão ínfimo foi o valor liberado via PRONAF para o Território Extremo Norte entre 2005 e 2009, comparando este percentual ao total liberado para o Estado do Amapá no mesmo período. Ressalta-se ainda que o valor de PRONAF liberado neste período para todo Estado do Amapá também é muito pequeno se comparado a outras regiões do Brasil.

0,55%

99,45%

Comparação Liberação de Verba PRONAF Território X Estado do AP

Total no Território do Extremo Norte nos últimos 5 anos

Total no Estado nos últimos 5 anos

Gráfico 13 - Evolução dos Valores de contratos PRONAF entre 2005 e 2009 no Território

Gráfico 14 – Evolução dos Valores dos Contratos PRONAF entre 2005 e 2009

PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS - PAA

O Artigo 19 da Lei n. 10.696, de 02 de julho de 2003 instituiu o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, que se constitui em mais um mecanismo de apoio à agricultura familiar, a exemplo do Programa Nacional de Agricultura Familiar – Pronaf. O PAA foi regulamentado somente em 2008 pelo Decreto n. 6.447 e tem como objetivo incentivar a agricultura familiar por meio de ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para pessoas em situação de insegurança alimentar e à formação de estoques estratégicos. Na proposta do programa, o PPA é para ser acionado após a colheita, no momento da comercialização, quando o esforço do pequeno produtor precisa ser recompensado com a venda da sua produção a preço justo, de forma a remunerar o investimento e o custeio da lavoura, incluindo a mão de obra, e lhe permita ter recursos financeiros suficientes para a sobrevivência de sua família com dignidade.

Os alimentos adquiridos diretamente dos agricultores familiares ou de suas associações e cooperativas são destinados à formação de estoques governamentais ou à doação para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, atendidas por programas sociais locais. Segundo a descrição da CONAB, responsável pela operacionalização do PAA, o funcionamento do programa é simples, pois a compra é feita diretamente pela companhia, por preço compensador, respeitando as peculiaridades e hábitos alimentares regionais e a situação do mercado local.

No estudo Políticas de Apoio à Agricultura Familiar: Uma Análise do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA de Kelliane da Consolação Fuscaldi consta que no ano da instituição do programa, Amapá e Roraima foram os únicos estados que não receberam nenhum tipo de apoio. Segundo a autora do estudo já em 2007, por meio desta modalidade Compra com Doação Simultânea foram atendidas 61.527 famílias de agricultores, em 750 municípios, distribuídos em todos os estados brasileiros, exceto o Estado do Amapá.

05.000

10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.00050.00055.00060.00065.00070.00075.00080.00085.00090.000

2005 2006 2007 2008 2009

Evolução dos Valores de contratos PRONAF entre 2005 e 2009 no

Território

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

9.000.000

10.000.000

2005 2006 2007 2008 2009

Evolução dos Valores de contratos PRONAF entre 2005 e 2009 no Estado

do Amapá

68

Somente em agosto de 2009 o PAA começou a funcionar no Estado do Amapá. Em razão disso, não foi possível incluir neste PTDRS dados oficiais sobre os efeitos do programa no Território Extremo Norte do Estado. Ressalta-se, porém, que durante as oficinas de diagnóstico municipal, participaram agricultores que estavam inscritos no programa e com a expectativa de fazer a primeira entrega de produtos. Agora em 2010, na oficina de validação do plano, foi confirmado que houve entrega de produtos agrícolas em todos os municípios do Território pelo PAA.

A demora para a instituição do PAA no estado evidencia mais uma vez a falta de organização associativa dos produtores rurais e a urgência em investimentos reais e constantes pelo poder público nesta área a fim de modificar esta situação. Por outro lado, o fato de o PAA ter sido aprovado pelo Conselho Estadual de Segurança Alimentar do Amapá (CONSEA-AP) somente em 17/05/2010 demonstra a grande necessidade de o poder público acelerar o processo de implantação de programas como estes no estado do Amapá.

Para sinalizar o quanto o Estado estava atrasado na implantação do programa, em agosto de 2006 foi realizada pela CONAB/MAPA a Oficina de Documentação Participativa do PAA – Região Norte/Amazônia Oriental, e o Estado do Amapá contou com apenas dois representantes de uma mesma organização, enquanto os outros estados estavam mais bem representados.

Nessa oportunidade, enquanto o Estado do Amapá apresentava propostas e recomendações para a disponibilização de técnicos da CONAB e a maior divulgação do PAA, os outros Estados da região Norte do Brasil já planejavam aumentar o valor mínimo de recursos por produtor, dar maior flexibilidade no prazo de pagamento da CPR, criar uma REDE para todos os envolvidos no PAA na Região Norte, enfim já trabalhavam em sua implementação.

Durante a oficina de validação no Território Extremo Norte foi informado que havia uma associação do município de Calçoene que havia fechado um contrato em 2009, já tendo sido entregue parte da produção contratada, e estavam naquele momento aguardando o primeiro pagamento.

PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR - PNAE

A Lei 11.947/2009, que estabelece que no mínimo 30% dos recursos do FNDE deverão ser utilizados para aquisição de merenda escolar junto a agricultores familiares, está sendo implantada bem mais rápido do que o PAA em todo o Estado do Amapá.

Este ano foi realizado em Macapá um seminário estadual com a presença dos secretários municipais de agricultura e educação de todos os municípios do Estado a fim de apresentar o programa e seus tramites administrativos para a aquisição da produção agrícola familiar.

Até agora já foram realizados três seminários; dois em municípios do Território Centro Oeste e em um terceiro no Território Sul. Ressalta-se que seminários nos demais municípios já estavam sendo planejados para logo depois da validação deste plano. A expectativa era que o programa já estivesse funcionando em todos os municípios do Estado do Amapá até no final de 2010.

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O COLEGIADO DO TERRITÓRIO EXTREMO NORTE

O colegiado do Extremo Norte é composto por 20 pessoas, sendo 10 de cada município. Desse total, 50% são representantes da sociedade civil organizada e 50%, representantes do poder público.

Quando este plano foi construído o colegiado do Território Extremo Norte estava composto da seguinte forma:

Município Sociedade Civil Organizada Instituições Governamentais

Ca

lço

en

e Associação dos Agricultores do

Carnot, Associação dos Agricultores de Calçoene, Cooperativa COOAGRO, STTR e Colônia de Pescadores

Estaduais: RURAP e SDR/UDL Municipais: Prefeitura Municipal, Coordenadoria das Mulheres e a Câmara de Vereadores

Oia

po

qu

e Associação Rural do Oiapoque,

Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque - APIO, Associação do 1º Caciporé, COLONIA Z-3, e STTR

Federais: FUNAI/IBAMA Estaduais: RURAP e SDR/UDL Municipais: Secretaria de Agricultura e Câmara de Vereadores

Quadro 3 – Composição do Colegiado Extremo Norte

O colegiado do Território está ainda em uma fase muito inicial, pois o território Extremo Norte foi homologado como Território Rural somente em julho de 2007 e a primeira assessora territorial começou a sua atuação oficial, segundo ela, somente no ano de 2009.

Ficou muito claro durante as oficinas municipais que os Municípios não possuem um de sentimento de pertencimento ao território. Os próprios representantes do Colegiado ainda demonstraram muito o pensamento como município, e não como território. O fato da criação do território ser recente é um dos motivos para esta falta de pertencimento, mas a distância geográfica existente entre os dois municípios também contribui para isso. Entre as sedes dos dois municípios são exatos 215 quilômetros ao longo da BR 156, correspondente a um trecho que ainda não foi pavimentado, o que sem dúvida aumentam as dificuldades. Em novembro de 2009 a pavimentação foi concluída até o município de Calçoene, mas ainda falta o trecho que interliga os dois municípios. Espera-se que depois da pavimentação deste trecho, que de fato fica totalmente intrafegável nos meses de inverno na região (chuvas intensas), o colegiado tenha melhores condições se reunir com mais freqüência e discutir as soluções conjuntamente. Outro fator que até então tem enfraquecido fortemente o Colegiado do Território Extremo Norte é que, devido a problemas com a prestação de contas de parcela anterior, as verbas do custeio do colegiado demoraram a ser liberadas. Esse fato ocorreu em todos os territórios do estado, mas devido ao pouco tempo de criação do Território Extremo Norte e a grande distância entre os Municípios que o integram, esse Colegiado sentiu fortemente a falta de verba de custeio, pois elas arcariam com os custos de transporte para as reuniões que seriam tão necessárias para o fortalecimento gradual do território. Assim, na ocasião da validação do presente plano, o próprio Colegiado do Território citou a grande necessidade de trabalhar o fortalecimento do órgão e estavam na expectativa da liberação da

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parcela de custeio (depois do período legal de espera em razão do período eleitoral) para tomarem as devidas providencias para começar a reunir e trabalhar de forma continua e ininterrupta a formação gradual do colegiado.

Indubitavelmente os dois municípios têm muitos pontos em comum, como a opinião sobre as principais atividades produtivas integradoras e aglutinadoras e concordância sobre os pontos fortes e fracos das áreas de agricultura, pesca, saúde e educação. Assim, passada essa fase de adaptação e alcançando-se a mudança de pensamento individualizado de município para pensamento conjunto de território, os dois municípios do Território Extremo Norte poderão se fortalecer mutuamente para crescer e fazer avanços bem maiores do que seria possível se fossem feitos de forma individualizada.

Deve-se ressaltar o grande empenho por parte da Delegacia do MDA do Amapá em acompanhar os eventos e apoiar este processo de amadurecimento por parte do colegiado do território.

O Colegiado Territorial do Extremo Norte está ciente de que a rede de Colegiados no Estado ainda está sendo formada e consideram que nesse momento, por ser os mais novos integrantes, necessitam de mais apoio do que pode oferecer para os demais colegiados do Estado.

CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA CONSTRUÇÃO DA VISÃO DO FUTURO

Ao longo das últimas décadas vários acontecimentos marcaram a evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, entre eles, o progresso tecnológico e o aumento da conscientização das populações para a importância da manutenção do meio ambiente.

Desenvolvimento sustentável é um conceito sistêmico que se traduz num modelo de desenvolvimento global que incorpora os aspectos de desenvolvimento ambiental.

A definição mais usada para o desenvolvimento sustentável é: “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.”27

O campo do desenvolvimento sustentável pode ser conceitualmente dividido em três componentes: a sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e sustentabilidade sociopolítica. Ou seja, o conceito de desenvolvimento sustentável abrange várias áreas, assentando essencialmente num ponto de equilíbrio entre o crescimento econômico, equidade social e a proteção do meio ambiente.

Assim, a definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a

27

Relatório Brundtland publicado em 1987

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capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, isto é, que não esgota os recursos para o futuro.

Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

Para o desenvolvimento sustentável ser alcançado depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente.

Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende.

Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, mas também o próprio crescimento econômico.

Quando tratamos hoje da Sustentabilidade Territorial estamos falando de uma equação correta que leve em conta o Meio Ambiente, a Economia e o lado Social de um Território. E no Território Extremo Norte, na dinâmica de sonhos futuros realizada com os atores sociais nas oficinas, foi ressaltado que em seus desenhos para este plano todos os três aspectos deveriam ser contemplados, conforme mostra a imagem abaixo:

Figura 4 – Imagem da base de sustentabilidade usada para construção da Visão do Futuro

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O NOSSO FUTURO

“Se nós não planejarmos nosso futuro, outros o farão para nós, por nós...

(ou contra nós!!)”

Prof. Dr. Eliezer Arantes Costa Gestão Estratégica (Ed. Saraiva)

Levando em consideração o conceito de sustentabilidade abordado no capitulo anterior, o desenvolvimento do Território Extremo Norte do Amapá deve ser construído com base na agricultura familiar, primando pelo crescimento econômico com distribuição de renda, pela descentralização das ações, pelo investimento no capital social, na educação, na saúde, no lazer e em outros aspectos fundamentais para a vida e para a evolução social e humana, sem, contudo, deixar de considerar a proteção e preservação dos recursos naturais existentes no Território para perpetuação das gerações futuras. Também será levado em consideração o trabalho cooperativo e solidário, que proporcione a um maior número possível de pessoas as garantias fundamentais para o desenvolvimento do Território. Dessa forma, os atores sociais e o poder público construíram, juntos, uma visão de futuro social, econômica e ecologicamente sustentável.

Durante a oficina da construção da Visão do Futuro apesar de ter sido muito enfatizado que os sonhos deveriam ser pensados tendo-se em vista um futuro conjunto dos Municípios que fazem parte do Território Extremo Norte, a falta de sentimento de pertencimento dos municípios ao Território formado, gerou a situação nada comum de cada município construir a sua visão de futuro individualmente. Posteriormente, com os levantamentos feitos para a construção dessa visão de futuro perceberam que os seus anseios se assemelham e que pode ser interessante buscar-se projetos conjuntos para o Território Extremo Norte.

É importante mencionar que os atores presentes na oficina entendiam que o tempo de análise e construção conjunta do plano também foi um instrumento muito importante para o Território conhecer os seus pontos fracos e saber que não será apenas a liberação de verbas que irá mudar a atual situação dos atores. Todos sabiam que teriam que participar e procurar aumentar o seu grau de organização nas comunidades e nas organizações sociais. O colegiado também estava ciente que além dos investimentos materiais, os atores sociais mais fragilizados do Território, como os pescadores e agricultores familiares, precisarão não somente de apoio e incentivo, mas também de vontade própria de trabalhar e de se organizar. Os agricultores familiares presentes na oficina reconheceram a boa vontade de todos os atores sociais.

VISÃO DO FUTURO

Os atores sociais do Território Extremo Norte resumem sua visão de futuro da seguinte maneira:

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“Promover o desenvolvimento nas dimensões, ambiental, social, cultural e econômica, dando continuidade à preservação ambiental, visando-se, o bem estar social através de um processo de formação permanente, tanto para as gerações atuais, bem como para conscientização das futuras gerações, viabilizando acesso à educação de qualidade que contribua tanto para a formação pessoal como para a qualificação das atividades produtivas.

Visualiza-se um futuro com a agricultura e pesca familiares fortalecidas tanto em termos de produção quanto no que se refere a organização dos atores e capazes de prover a subsistência do próprio território, viabilizadas pelo acesso a investimentos tecnológicos para melhorar a produtividade local, mudando por completo a realidade atual da dependência em importação de alimentos agrícolas básicos de outros e estados. Além disso, espera se no futuro poder trabalhar a agregação de valor em alguns produtos específicos gerando através deste processo aumento de renda e vida digna no campo e na cidade. ”

MISSÃO, OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E PRINCÍPIOS.

MISSÃO: “Desenvolvimento com igualdade e inclusão social para subsistência alimentar do Território”.

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS: Articular as demandas da agricultura e pesca familiar e gestores públicos municipais; organizar as propostas do território para o desenvolvimento, priorizando as ações estratégicas, e apresentar o planejamento integrado das ações visando o desenvolvimento sócio-econômico territorial sustentável. Estes objetivos procuram fortalecer a agricultura e pesca familiar, através da inclusão social, do fortalecimento organizacional e da geração de renda, dando continuidade a preservação ambiental.

PRINCÍPIOS: Maior participação social, valorização da agricultura e pesca familiar e inclusão social.

PROGRAMAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

A partir da qualificação do diagnóstico, da análise sistêmica territorial e da multidimensionalidade do desenvolvimento territorial, o território definiu os eixos estratégicos articulados com programas e projetos estratégicos para o desenvolvimento.

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EIXOS DE DESENVOLVIMENTO

Para o Território Extremo Norte alcançar o seu futuro almejado pretende se trabalhar os seguintes eixos de desenvolvimento:

Eixo Transversal de Desenvolvimento: Fortalecimento Organizacional da sociedade civil

Investir fortemente no eixo transversal de desenvolvimento que visa o fortalecimento da sociedade civil com enfoque especial nos atores mais fragilizados certamente será decisivo no alcance dos resultados em todos os outros eixos previstos. Observa-se que, historicamente, não somente no Território Extremo Norte, mas em toda região norte do Brasil, o fortalecimento organizacional tem sido trabalhado com enfoque prioritário nas lideranças. Em primeiro lugar se beneficiam as lideranças das organizações da sociedade civil organizada e, em segundo, lideranças comunitárias, nem sempre formalmente constituídas, porém reconhecidas nas comunidades como tais. Com o fortalecimento das lideranças, acabou se criando um distanciamento ainda maior entre elas e suas bases. Isso tem levado à perpetuação de algumas lideranças, uma vez que somente elas possuem acesso ao conhecimento, o que as torna mais empoderadas e, quando, por alguma razão precisam se afastar da atividade, repassam este poder a filhos. Essa situação provoca a insatisfação dos comunitários, que acabam se afastando e não se empenhando em projetos por não se sentirem parte do processo de decisão e por entenderem que determinado projeto pertence à liderança e não à comunidade.

Reconhece-se que essa situação não foi criada propositalmente pelas atuais lideranças e que a base teve sua contribuição nesse processo de distanciamento entre ela e as lideranças. Muitos atores da sociedade civil, principalmente os mais fragilizados, tendem a culpar as lideranças quando os projetos não são bem-sucedidos e não assumirem a sua responsabilidade por isso

No entanto, algumas iniciativas realizadas na região Norte, inclusive no estado do Amapá, que visam ao fortalecimento organizacional das bases das comunidades têm demonstrado que esses atores sociais inertes, diante de motivação e estímulos, mudam totalmente de atitude e passam a se empenhar nas atividades comuns, tornando-se atores importantes no crescimento e fortalecimento da comunidade como um todo.

Eixo Estratégico: Investimentos em infraestrutura e legalização de terra

O Território Extremo Norte está ciente que para permitir que no futuro a agricultura familiar possa suprir a maior parte para subsistência alimentar da população do território, em primeiro lugar precisa haver investimentos urgentes em legalização de terra. Sem a terra legalizada o agricultor não tem segurança, isso é um fato indiscutível. Portanto, prioridade absoluta para o Território Extremo Norte é que os seus produtores familiares tenham legalizadas suas terras, a fim de terem segurança para investir no aumento de produção. Sendo que além da legalização propriamente dita, que diz respeito aos trâmites legais de documentos, no caso do Território Extremo Norte, será fundamental que ao mesmo tempo ocorram as decisões, por parte das instituições governamentais

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responsáveis, envolvendo os produtores familiares, quanto a sua permanência ou remanejamento de áreas que foram colocadas sobre proteção, muito depois dos produtores estarem estabelecidos no local. Só fará sentido tanto para os produtores rurais, quanto para o poder público, em investir no aumento da produção, quando tiver determinado que os locais que estão dentro de áreas de proteção ou em áreas de entorno, de fato podem ser usados para produção agrícola ou quando estes produtores tiverem sido realocados em lugar onde possam reiniciar sua vida produtiva. Mas o Território Extremo Norte entende que não tem como continuar nesta espera e que as ações para resolução deste grave problema devem ocorrer já.

Para uma agricultura familiar em bases sustentáveis é preciso também que junto com a legalização da terra haja no Território Extremo Norte investimentos maciços para implantação de infra-estrutura básica e estruturação das unidades produtivas, que inclui, entre outros, casas, acesso a energia elétrica também nas áreas produtivas, abastecimento de água e, principalmente acesso a terra para permitir que os produtores possam levar os insumos para produção e depois, tenham certeza que a produção possa ser escoada, sem risco de plantar e perder por falta de condições de escoamento, como ocorre até então.

Eixo estratégico: Aumento da produção agrícola atual e introdução de novo leque de produtos, através de modelos de produção mais rentáveis e menos danosos ao meio ambiente

O Território Extremo Norte entende que deve ocorrer um aumento considerável de sua produção agrícola para no futuro o território poder se tornar grande parte autossuficiente no abastecimento alimentar.

Para isso serão necessários investimentos em projetos e programas de produção agrícola que permitam que haja aumento de produtividade nas culturas por hectare, pois somente desta forma será possível, tornar a agricultura familiar rentável sem devastar o meio ambiente que ao Território é tão valioso. É importante que seja levado em consideração que tratamos de um território que tem mais de 96% de sua área sob proteção, portanto, a pouca área que resta para produção agrícola precisa necessariamente render mais.

A meta principal deste eixo estratégico é garantir a segurança alimentar no Território Extremo Norte, que inclui além da necessidade em investimentos para o aumento da produtividade, também a diversificação da produção alimentar.

A segunda meta, não menos importante neste eixo estratégico, porém para um futuro um pouco mais distante, é o investimento na produção de horticultura, já que esta será uma forma real de geração extra de renda para os produtores familiares, que têm como alvo principal desta produção a Guiana Francesa que é vizinha do território.

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Eixo estratégico: Fomento da Pesca Artesanal visando o crescimento ordenado da produção pesqueira e incluindo a agregação de valor ao produto

A pesca que já é uma atividade importante no Território e um número grande de famílias depende dela para sua sobrevivência. Assim o Território Extremo Norte entende que no futuro a pesca familiar pode se destacar como um dos fatores econômicos mais importantes dentro do território, permitindo significativa geração de emprego e renda.

O Território Extremo Norte entende que a priori são necessários grandes investimentos em infra-estrutura para área pesqueira, para mudar a situação atual, onde o produto peixe proveniente das águas do Território Extremo Norte gera renda para outros estados e até para outros países, ficando pouco no próprio território. Além disso entende se que concomitantemente a estes investimentos, deve finalmente ser elaborado o inventário pesqueiro no território, envolvendo os pescadores com os órgãos responsáveis que deverão fazer os trabalhos, já que os pescadores são parte fundamental neste processo.

Este eixo visa no futuro que a pesca deixe de ser uma atividade apenas extrativista, como é o caso até então, para, através da agregação de valor no produto se tornar em um fator que há de alavancar de forma considerável a economia territorial, trazendo qualidade de vida para os atores sociais envolvidos e gerando empregos e renda indireta para outros setores, já que o Território está certo que a atividade da pesca tem um grande futuro no território.

Eixo estratégico: Educação no campo

Para permitir um crescimento futuro sustentável, o Território Extremo Norte entende que o quarto eixo estratégico deve ser no âmbito da educação no campo. Os atores sociais do território sabem que um dos fatores que até então tem sido muito fraco é o acesso a educação, fato este que eles querem mudar. Assim o Território anseia que em seu futuro as crianças tanto da área urbana quanto da área rural tenham acesso a escolas de boa qualidade, que incluam em sua grade escolar desde o primeiro grau os assuntos: agricultura, pesca, meio ambiente e floresta.

Ressalta-se que o acesso a escola, principalmente por parte de filhos de produtores rurais de áreas distantes das respectivas sedes dos municípios deve ser um dos principais pontos a ser mudado no futuro. O Território entende que o desafio de mudar o atual cenário será muito grande, uma vez que existem barreiras a serem vencidas, como a das grandes distâncias das comunidades rurais, entre outras.

Além da melhoria da qualidade e principalmente do acesso à escola fundamental (1º e 2º grau), o Território vê o seu desenvolvimento futuro estreitamente vinculado a criação de cursos técnicos e superiores nas áreas agrícola, ambiental e florestal. Isso permitiria que a população local que deseja se capacitar tenha também oferta de emprego no próprio Território, diminuindo, assim, o êxodo e a dependência dos municípios na contratação de pessoas de outros Estados. A criação de cursos técnicos está prevista no contexto da

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EFAPEN. Dessa forma, serão alcançados dois grandes objetivos: a população local e rural terá chances de melhorar profissionalmente sem ter que sair do Território; e também a diminuição das problemáticas hoje existentes por causa da não adaptação de pessoas especializadas que vem de fora para trabalhar. Espera -se melhorar assim, a oferta de serviços prestados para a população local.

PROGRAMAS ESTRATÉGICOS DENTRO DOS EIXOS DE DESENVOLVIMENTO

O organograma abaixo mostra os programas e projetos prioritários dentro dos eixos estratégicos para o desenvolvimento do Território Extremo Norte:

PTDRS

PRIORIDADE TRANSVERSAL Programa Transversal de Fortalecimento Organizacional da Sociedade Civil com enfoque especial nos atores mais

fragilizados

OS

PR

OG

RA

MA

S

QU

E P

RE

CIS

AM

OS

Programa de Legalização das Terras e melhoria do acesso

Programa de Aumento Maciço da Produção Agrícola Familiar já existente no Território, além da introdução de novo leque de produção e geração de renda

Programa de Apoio a Pesca Artesanal

Familiar para fomentar o seu crescimento da forma ordenada e

agregação de valor ao produto peixe

Programa Educação

do Campo

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DE

M G

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AR

, E

NT

RE

OU

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OS

E

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Projetos itinerantes de legalização das terras;

Projetos de aquisição de patrulhas mecanizadas e outros maquinários necessários para os trabalhos necessários para conserto e manutenção de ramais;

Projetos de trabalhos em mutirões (conserto e manutenção de ramais)

Projetos diversos de apoio e fomento maciço a produção familiar das culturas agrícolas de subsistência;

Projetos de manejo do açaí nativo e colheita do mesmo;

Projeto de apoio e fomento a introdução em escala maior da horticultura;

Projetos de manejo florestal comunitário

Projeto elaboração de diagnóstico pesqueiro no território;

Projetos de melhoras da infraestrutura da pesca;

Criação de entreposto pesqueiro em Oiapoque;

Projetos de agregação de valor ao pescado, viabilizando a geração de emprego e renda para as famílias pescadoras

Projetos de formação dos produtores e da assistência técnica, tanto para área agrícola como para área pesqueira

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AD

OS

:

A legalização de todas as propriedades familiares, visando permitir assim o acesso a créditos e a possibilidade de produção agrícola dentro da legalidade.

O acesso digno para os produtores familiares aos seus locais de produção diminuindo-se os esforços

Aumentar a produtividade na área agrícola para maior subsistência dos municípios nestes produtos além da introdução de novos produtos;

Divulgação e organização da produção de

A elaboração de diagnóstico pesqueiro com enfoque participativo;

Abertura de linhas de crédito para pescadores artesanais;

Investimentos em infraestrutura pesqueira;

A pesca familiar se

Criar um campo experimental para capacitação de produtores e técnicos (agricultura)

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e custos com logística para levar insumos, produzir e escoar a produção.

horticultura, visando a exportação da mesma

destacando como fator econômico importante dentro do território, permitindo a importante geração de emprego e renda

Escola Técnica com Cursos direcionados para Agricultura e Pesca

Abertura de Cursos Públicos de 3º Grau para as áreas de Pesca, Agrícola e Ambiental

Figura 5 – Organograma dos Programas Estratégicos do Território

Os programas estratégicos têm como resultado final conjunto: o aumento considerável de oferta de produtos locais nos mercados municipais para diminuir a dependência de logística cara para obtenção de produtos que fazem parte da segurança alimentar; criação de possibilidades de geração de renda extra para os produtores familiares, permitindo ao mesmo tempo a continuação de suas atividades produtivas.

Programa Transversal: Fortalecimento Organizacional da Sociedade Civil com enfoque especial nos atores mais fragilizados

Abaixo são apresentadas as ações e os projetos propostos para o fortalecimento da sociedade civil.

I. Ações a. Realização de cursos de metodologias com enfoque participativo,

visando o fortalecimento organizacional e o planejamento participativo para os quadros de funcionários da assistência técnica rural, órgãos municipais que interagem diretamente com as comunidades rurais e outros atores nas esferas municipal e estadual;

b. Realização de diagnósticos comunitários participativos, visando a elaboração participativa de um plano de ação para fortalecimento das comunidades; e

c. Promoção do fortalecimento organizacional das comunidades com enfoque especial nos atores sociais mais fragilizados.

II. Projetos a Realização de cursos de metodologias com enfoque participativo

visando o fortalecimento organizacional e o planejamento participativo, que gerará custos com contratação de instrutores/facilitadores, material didático, alimentação e logística para os participantes e instrutores, incluindo custos com a realização de diagnósticos comunitários participativos no contexto dos cursos, a serem realizados pelos participantes dos cursos com a devida supervisão pelos instrutores/facilitadores.

Programa Investimentos Maciços na Produção Familiar Agrícola

Para o eixo estratégico do aumento da produção agrícola atual e introdução de novo leque de produtos foram definidas subprogramas e projetos que por sua vez incluem ações e projetos conforme segue abaixo:

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Projeto Estratégico: aumento dos produtos agrícolas já existentes no Território e introdução de novos produtos

I. Ações Organização de mutirões por parte do poder público para cadastramento

dos produtores e legalização de sua situação produtiva (DAP) Instituição de programas de apoio à produção por parte do poder público

municipal e estadual (ex PRONAF); Elaboração de projetos de produção, permitindo aos produtores o

acesso a sementes e mudas de boa qualidade; Investir na assistência técnica para apoiar as ações produtivas Investir em novas áreas de produção agrícola, como granjeiro,

apicultura, etc. II. Projetos Aquisição de mudas e sementes de boa qualidade para distribuição

entre os produtores familiares Organização de cursos e capacitações para os produtores familiares,

visando melhor aproveitamento das terras para aumentar produtividade; Organização de intercâmbios e cursos para produtores sobre as áreas

granjeiro e apicultura Elaboração de projetos para introdução de granjeiro e apicultura

Projeto: Manejo do açaí nativo presente na região para geração extra de renda

III. Ações Buscar diálogo com os Poderes Público Federal, Estadual e Municipal

para criar estratégias de aproveitamento ambientalmente sustentável dos açaizais nativos;

Intercâmbio entre órgãos de pesquisa e assistência técnica para socialização do “know-how” existente sobre manejo do açaí nativo;

Por parte do Poder Público Municipal e Estadual investir em capacitação dos técnicos de ATER para adquirirem mais conhecimento sobre o manejo do açaí;

Organização de cursos para os produtores familiares sobre manejo de açaí nativo.

IV. Projetos Cursos para técnicos da assistência rural e organização de intercâmbios

(também com outros estados com açaí nativo) sobre o assunto; Cursos para produtores familiares sobre manejo de ação nativo.

Projeto: Fomento da horticultura, visando o mercado da Guiana Francesa

V. Ações Pesquisas sobre produtos da horticultura que melhor se adaptem as

condições climáticas e de solo; Intercâmbios entre comunidades rurais para troca de experiência sobre

cultivo de produtos da horticultura; Introdução em maior escala da produção da horticultura; Organização dos produtores de horticultura em cooperativa para venda

direta para o mercado externo (Guiana Francesa). VI. Projetos

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Aquisição de sementes de boa qualidade para produtos da horticultura indicados para região;

Financiamento dos intercâmbios entre comunidades rurais.

Projeto: Manejo Florestal comunitário

VII. Ações Buscar diálogo com os Poderes Públicos Federal, Estadual e municipal

para criar estratégias de manejo florestal comunitário; Trabalhar conscientização sobre responsabilidade ambiental para

atividade específica, depois da criação das estratégias e divulgar amplamente possibilidades, condições e estratégias;

Fazer inventários florestais; Apoiar legalização do processo de manejo.

VIII. Projetos Contratação de consultorias para elaboração dos inventários florestais; Elaboração de divulgação de materiais informativos.

Programa de apoio à pesca artesanal familiar

Outro Programa Estratégico deverá ser o apoio à pesca artesanal familiar para fomentar o seu crescimento de forma ordenada e agregar valor ao produto, o que deve acontecer através das seguintes ações e programas:

I. Ações Continuar diálogo entre poder público federal, estadual e municipal e

pescadores para traçar plano claro para a elaboração do diagnóstico pesqueiro no Território;

Elaboração de diagnóstico pesqueiro participativo no Território; Melhorias da infra-estrutura pesqueira existente no território; Aumento de fiscalização da saída do produto nos dois municípios; Organização dos pescadores do território em cooperativa para

comercialização conjunta; Criação de entreposto pesqueiro; Elaboração de projeto de agregação de valor ao produto.

II. Projetos Contratação de consultoria específica para elaboração do inventário

pesqueiro e financiamento da logística e outros custos dos pescadores familiares envolvidos no projeto de inventário;

Organização de cursos com enfoque participativo sobre cooperativismo para os atores sociais envolvidos na cadeia;

Construção do entreposto pesqueiro;

Legalização das Terras e melhoria do acesso

Para o eixo da legalização das terras e melhorias de acesso o Território prevê as seguintes ações e projetos:

I. Ações O poder público municipal do território irá se organizar e acionar os

órgãos competentes para apressarem o processo da legalização das terras dos assentados e outros agricultores familiares;

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Os agricultores familiares desenvolverão a união entre eles, a fim de em conjunto apoiar o poder público municipal do território no acionamento dos órgãos competentes;

Elaboração de projetos para aquisição de mais maquinários para manutenção dos ramais existentes (ressaltando-se que em alguns casos a situação dos ramais é tão precária que será necessário fazer uma re-abertura);

Elaboração de planos de trabalhos conjuntos entre o poder público de cada município com os respectivos atores envolvidos para organização de mutirões para apoiar e tornar mais eficaz e eficiente o uso de maquinários na manutenção dos ramais existentes.

II. Projetos Aquisição de patrulhas mecanizadas para os dois municípios, a fim de

iniciar os trabalhos de conserto e manutenção dos ramais existentes; Aquisição de outros tipos de maquinários necessários para os trabalhos

de conserto e manutenção dos ramais existentes; Projetos itinerantes de legalização das terras; Projetos de trabalhos em mutirões (conserto e manutenção de ramais)

Educação do Campo

A melhoria da educação no campo será um fator fundamental que contribuirá com a diminuição do êxodo rural nos Municípios que fazem parte do território. Para isso, devem-se fazer investimentos em cursos técnicos e em cursos superiores nas áreas agrícolas, ambiental e florestal. Isso permitiria que a população local que quer se capacitar tenha também oferta de emprego no próprio território, diminuindo assim ao mesmo tempo o êxodo e a dependência dos Municípios na contratação de pessoas de outros Estados. Se assim for feito, serão alcançados dois grandes objetivos: a população local e rural terá chances de melhorar profissionalmente sem ter que sair do território; e também a diminuição das problemáticas existentes por causa da não adaptação de pessoas especializadas que vem de fora para trabalhar melhorando, assim, a oferta de serviços prestados para a população local.

I. Ações Inclusão na grade curricular desde o primeiro grau as temáticas de

agricultura familiar, pesca e proteção ambiental, focando-se, assim, na realidade local;

Instituição por parte do poder público de cursos nas áreas técnica agrícola e pesca no Território Extremo Norte;

Acesso ao mundo digital em todas as comunidades rurais; Investimentos na área de alfabetização de jovens e adultos, visando

especificamente os atores sociais mais fragilizados; Viabilização da inclusão de oferta de curso de 3º grau nas áreas de

pesca e agrícola, visando como principal público alvo os atores sociais o próprio Território

II. Projetos

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Elaboração de projeto de lei para inclusão na educação infantil as temáticas agricultura familiar, proteção ambiental e pesca, focando-se na realidade local;

Construção de uma EFA no território para melhorar o acesso ao primeiro grau a partir da 4ª série e segundo grau por parte dos filhos de produtores rurais e pescadores que vivem em comunidades remotas;

Instituição de cursos técnicos nas áreas ambiental, pesca e agrícola na EFA com prioridade de acesso para os atores sociais do próprio território.

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Cada vez mais se espera que os projetos sejam administrados de forma participativa e que o seu gerenciamento seja totalmente transparente. Os financiadores, inclusive o setor público, exigem cada vez mais eficácia no planejamento e execução dos projetos financiados por eles. Nada mais justo que o Governo invista verba pública em projetos de desenvolvimento e exija transparência e eficácia de seus executores e, quando não se obtenham os resultados esperados, como nos casos dos Territórios Rurais e de Cidadania, se possa aprender com a experiência e não repetir os erros no futuro.

O Território Extremo Norte decidiu colocar em seu PTDRS os passos que o monitoramento e a avaliação devem seguir, visando desde já que os atores sociais que hoje não fazem parte do Colegiado, desde á publicação do presente plano possam se “empoderar” sempre que assim o desejem, ajudando aos atores do colegiado com estas atividades tão importantes que sem dúvida serão um fator preponderante para assegurar que o Plano possa de fato ter os efeitos desejados.

O Colegiado do Território entende que com a publicação da ferramenta de monitoramento e avaliação (abaixo), estará desde já contribuindo com a gestão transparente do futuro do território.

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PTDRS CONSISTEM EM:

CONTROLE

É uma função do gerenciamento e consiste no monitoramento e nas medidas corretivas.

Sua finalidade é manter a implementação/realização de atividades ou projetos em concordância com o que foi planejado pelo PTDRS.

MONITORAMENTO É a comparação do plano elaborado com o plano realizado É ainda a análise de desvios ocorridos durante a implementação/

realização de atividades ou projetos

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TAREFAS DO MONITORAMENTO

Estabelecer padrões de desenvolvimento/execução (indicadores, resultados e esquemas para monitorar os eventos ocorridos).

Projetar e operar um sistema de informações do ocorrido do período (documentado)

Medir o desempenho atual em relação aos padrões definidos. Verificar, nas datas previstas, o grau de realização das ações do

projeto a fim de identificar desvios entre o planejamento e o realizado

AÇÕES CORRETIVAS

Qualquer modificação nas atividades e/ou na alocação de recursos no âmbito da estratégia do projeto/plano em respostas a possíveis desvios do projeto/plano identificados é uma ação corretiva.

Também é fazer com que a implementação dos projetos volte a coincidir com PTDRS elaborado.

REPLANEJAMENTO

É uma tarefa dos dirigentes do projeto e dos tomadores de decisões

externos ao projeto (avaliadores externos, missão de avaliação, etc.). Consiste numa avaliação detalhada e revisão do plano original. Tem por finalidade fazer com que se aprenda a partir das experiências

passadas a fim de melhorar os planos futuros para assegurar o êxito final do projeto

AVALIAÇÃO

É o questionamento da validade da estratégia do projeto considerando o alcance das realizações previstas, os recursos despendidos e os efeitos positivos ou negativos inesperados. A avaliação usa tanto os dados da monitoria como informações adicionais.

REVISÃO DO PLANO

É a mudança de estratégias do projeto em resposta à avaliação dos resultados de forma a restaurar a consistência e realismo dos documentos do projeto.

Quadro 4 – Passo a passo do Monitoramento e Avaliação

O Território Extremo Norte do Amapá decidiu ainda que utilizará em suas reuniões futuras a ferramenta EDPO para efetuar o monitoramento e avaliação do próprio PTDRS, das ações e dos projetos planejados de forma constante e direcionada. O Colegiado optou pela inclusão da explicação da ferramenta no próprio Plano, objetivando o auto-empoderamento dos atores sociais, o que traduz a transparência na Gestão com a qual o Colegiado se compromete desde já.

MATRIZ EDPO

A matriz EDPO28 (Êxitos, Debilidades, Potencialidades e Oportunidades) poderá ser utilizada para monitorar e avaliar a eficácia das ações (projetos) nas reuniões regulares do colegiado. Sugere-se a sua adoção também para envolver periodicamente os atores sociais que os projetos pretendem beneficiar diretamente. Essa abordagem sistemática para mensuração de impactos contribuirá para incrementar não somente a prestação de contas das atividades que acontecerão daqui para frente perante os órgãos financiadores, mas também perante o público-alvo dos diversos projetos. Levantar juntamente com este público quais foram os avanços e onde houve problemas, aumenta a sua colaboração nas atividades.

28

Desenvolvida por KEK-CDC Consultants, (empresa de consultoria organizacional e avaliação com ampla

experiência em projetos de desenvolvimento na América do Sul), Zurique, Suíça.

84

A matriz EDPO foi construída para permitir a análise do passado de uma atividade ou de um projeto, tratando da experiência na linha do tempo.

← Olhar para o passado

Passado

Visão para o futuro →

Futuro

Agora

← Olhar para o passado Visão para o futuro →

1

ÊXITOS SUCESSOS

2

POTENCIALIDADES POSSIBILIDADES

3

DEBILIDADES FALHAS

4

OBSTÁCULOS BARREIRAS

Figura 6 – Figuras explicativas da ferramenta EDPO

Tanto o olhar para trás, quanto a visão para o futuro são complementados por um critério de avaliação simples (positivo/negativo).

É importante ressaltar que a diferença fundamental entre as matrizes EDPO e FOFA é que a primeira diferencia retrospectiva (ED) e prospectiva (PO) e a segunda diferencia interno da organização (pontos forte e fracos) e externo da organização (oportunidades e ameaças).

Assim, no caso da ferramenta EDPO, cada ação ou projeto pode ser avaliado nos quatro blocos:

Êxitos: Sucessos (qualitativos e quantitativos), metas alcançadas, fortalezas

Debilidades: Falhas, fraquezas, dificuldades e gargalos

Potencialidades: Possibilidades, idéias, desejos, tendências, habilidades inexploradas

Obstáculos: Barreiras, resistências, condições gerais desfavoráveis

A EDPO, portanto, é uma ferramenta de planejamento quando aplicada desde a elaboração de um projeto e de monitoramento quando usada regularmente nas reuniões de avaliação.

Positivo

Negativo

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SITES PESQUISADOS

http://portalideb.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=6&Itemid=6

http://sit.mda.gov.br/avancada.php?menu=avancada, acessado entre setembro de 2009 e agosto de 2010

http://www.amapadigital.net/noticias/2010/geral/08-01-10-geral7.html

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http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/ca/, acessado entre janeiro de agosto de 2010

http://www.conab.gov.br/conabweb/agriculturaFamiliar/paa_o_que_e.html em agosto de 2010

LIVROS, REVISTAS ESTUDOS E OUTRAS BIBLIOGRAFIAS

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Costa N. J., Estrutura Socioambiental do Assentamento Perimetral no Entorno do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque/AP

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KED – CDC Consultants, Ferramentas para DOP

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FUSCALDI, K. C. Políticas de apoio à agricultura familiar: uma análise do programa de aquisição de alimentos (PAA)

Agencia Suíça para o Desenvolvimento e a Cooperação, Guia da Autoavaliação

Estratégias e métodos de monitoramento em projeto s de proteção das florestas tropicais brasileiras, MMA

Estratégias e métodos de monitoramento em projeto s de proteção das florestas tropicais brasileiras, MMA, MANAUS, 27 A 29 DE JUNHO DE 2006 – PROMOÇÃO: CONAB/MAPA

Monitoramento da Atividade Pesqueira no Litoral do Brasil, Relatório Técnico Final, Convênio Seap/Prozee/IBAMA: 109/2004

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Planejando o Desenvolvimento Local, conceitos, metodologias e experiências, Projeto PRORENDA RURAL PA, GTZ

Plano de Vida dos Povos e Organizações Indígenas do Oiapoque, publicado pela APIO com os parceiros TNC, GTZ, Iepê, FUNAI e ELETRONORTE

Política Nacional de Desenvolvimento Regional, Sumário executivo publicado pelo Ministério de Integração Nacional com apoio do IICA

Relatório OFICINA DE DOCUMENTAÇÃO PARTICIPATIVA DO PAA – REGIÃO NORTE/AMAZÔNIA ORIENTAL- RELATÓRIO

Revista Açaí.com, Projeto PA/AP, GTZ

OUTRAS FONTES:

CD – The system of protected áreas in Amapá, divulgado pelo Governo do Estado do AP.