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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA 1 Prevenir para melhor gerir a indisciplina na sala de aula IV Jornadas da Educação do Município de S. João da Madeira 4 de setembro de 2013 LURDES VERÍSSIMO UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA LVERISSIMO@PORTO.UCP.PT O que é a INDISCIPLINA afinal?! 4 ideias essenciais: 1. A INDISCIPLINA depende da perspetiva do professor (exemplo: interromper o professor… falar para o lado…) 2. Tudo o que perturba o processo de ensino- aprendizagem deve ser prevenido ou gerido (independentemente da classificação de INDISCIPLINA) 3. As causas da indisciplina são diversas logo não há soluções mágicas (mudanças culturais e comportamentais) 4. Em geral, a indisciplina é um sintoma alguns exemplos: Imaturidade Perceção do Aluno Comportamento do Aluno Possíveis reações ajustadas Imaturidade emocional (egocentrismo) “Só tenho de fazer o que me apetece” O aluno adota comportamentos pouco assertivos, respeitando só os seus direitos Estimular a tomada de perspetiva do Outro Estimular a capacidade de lidar com a frustração …. Imaturidade Social (fraca integração de regras e normas sociais) “Não tenho de cumprir regras nenhumas; não sei que há regras para cumprir” O aluno não sabe cumprir normas e regras em contexto social Construir regras em conjunto Mostrar vantagens do cumprimento das regras e desvantagens do incumprimento …. Necessidade Perceção do Aluno Objetivo do Aluno Possíveis reações ajustadas do Professor Atenção “Só quando os outros me dão atenção é que me sinto integrado” Chamar à atenção (professor e/ou pares) Não dar atenção no momento em que o aluno a pretende Dar atenção quando o comportamento é adequado Poder “Só faço o que quero” Mostrar que faz o que quer e que ninguém manda nele Dar poder construtivo Transformar o aluno num aliado/auxiliar do professor

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UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

1

Prevenir para melhor gerir a indisciplina na sala de aula

IV Jornadas da Educação do Município de S. João da Madeira – 4 de setembro de 2013

LURDES VERÍSSIMO

UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA [email protected]

O que é a INDISCIPLINA afinal?!

4 ideias essenciais:

1. A INDISCIPLINA depende da perspetiva do professor (exemplo: interromper o professor… falar para o

lado…)

2. Tudo o que perturba o processo de ensino-aprendizagem deve ser prevenido ou gerido

(independentemente da classificação de INDISCIPLINA)

3. As causas da indisciplina são diversas logo não há soluções mágicas (mudanças culturais e

comportamentais)

4. Em geral, a indisciplina é um sintoma … alguns exemplos:

Imaturidade Perceção do

Aluno

Comportamento do

Aluno

Possíveis reações

ajustadas

Imaturidade

emocional (egocentrismo)

“Só tenho de

fazer o que me

apetece”

O aluno adota

comportamentos

pouco assertivos,

respeitando só os

seus direitos

Estimular a tomada de

perspetiva do Outro

Estimular a capacidade de lidar

com a frustração

….

Imaturidade

Social (fraca integração de

regras e normas

sociais)

“Não tenho de

cumprir regras

nenhumas; não

sei que há

regras para

cumprir”

O aluno não sabe

cumprir normas e

regras em

contexto social

Construir regras em conjunto

Mostrar vantagens do

cumprimento das regras e

desvantagens do incumprimento

….

Necessidade Perceção do

Aluno

Objetivo do

Aluno

Possíveis reações

ajustadas do Professor

Atenção

“Só quando os

outros me dão

atenção é que

me sinto

integrado”

Chamar à

atenção

(professor

e/ou pares)

Não dar atenção no momento

em que o aluno a pretende

Dar atenção quando o

comportamento é adequado

Poder “Só faço o que

quero”

Mostrar que

faz o que quer

e que ninguém

manda nele

Dar poder construtivo

Transformar o aluno num

aliado/auxiliar do professor

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

2

Necessidade Perceção do

Aluno

Objetivo do Aluno

Possíveis reações

ajustadas do

Professor

Externalização

“Vou fazer-lhes

o mesmo que

fazem comigo”

Reproduzir/

”vingar-se” no

professor e nos

seus colegas

Não reagir da mesma

maneira - controlar a

reprodução

Fazer com que o aluno se

sinta estimado/valorizado

Mostrar consequências

Estimular alternativas

Incapacidade

nas tarefas

académicas

“Não quero que

os outros me

chateiem porque

não sou tão bom

quanto eles”

“Ocultar” a

incapacidade

Intencionalizar a

estimulação da capacidade

académica do aluno

Estimulá-lo quando tenta

….

CONCLUSÃO?

1. Há diferentes causas (porque envolvem diferentes tipos de dificuldades/necessidades)

2. Logo, relativamente à intervenção remediativa deverão adotar-se diferentes estratégias

3. Relativamente à intervenção preventiva, existem dimensões que podem ser estimuladas/evitadas

Pressupostos prévios: a PI deverá ser…

• VALORIZADA

Importância no desenvolvimento psicológico e integral dos alunos…

O professor tem o papel principal.

• AJUSTADA

À idade, características do professor, do aluno, do tipo de aula, à causa do disrupção…… (mito da PHDA)

• REALISTA

Os professores não têm “culpa” de tudo nem “resolvem” tudo….

Nem tudo é “suposto”.

• NÃO-AMEAÇADA

A prevenção da indisciplina não é uma luta nem uma defesa.

Como?!

Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina (adaptado de A. Carita, 2002)

GSAPI

2. Organização

contexto educativo

Investir na tarefa

Investir na

relação

1. Relação pedagógica

Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina

1. Como promover uma relação

educativa ajustada?

2. Como organizar o contexto

educativo de forma mais ajustada?

INDISCIPLINA

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

3

Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina

1. Como promover

uma relação pedagógica

ajustada?

10 Princípios para uma Relação Pedagógica EFICAZ (adapt. De d’Orey da Cunha, 1996 por Alves, 2010):

1. Princípio da Fascinação

2. Princípio da Expectativa

3. Princípio do Respeito

4. Princípio do Encorajamento

5. Princípio da Compreensão

6. Princípio da Confrontação

7. Princípio das Consequências

8. Princípio da Negociação criativa

9. Princípio do Diálogo

10. Princípio da Exigência

10 Princípios RP:

1. Princípio da Fascinação – entusiasmo

2. Princípio da Expectativa – confiança nas possibilidades de aprendizagem

3. Princípio do Respeito – pelas características pessoais

4. Princípio do Encorajamento – reforço contínuo

5. Princípio da Compreensão – integradora dos obstáculos

10 Princípios RP:

6. Princípio da Confrontação – responsabilidade

7. Princípio das Consequências – dos comportamentos

8. Princípio da negociação criativa – soluções consistentes

9. Princípio do Diálogo – diálogo constante

10. Princípio da Exigência – exigência constante

10 Princípios RP:

1. Princípio da Fascinação

2. Princípio da Expectativa

3. Princípio do Respeito

4. Princípio do Encorajamento

5. Princípio da Compreensão

6. Princípio da Confrontação

7. Princípio das Consequências

8. Princípio da Negociação criativa

9. Princípio do Diálogo

10. Princípio da Exigência

Quais os 3 princípios que estão mais presentes na relação pedagógica que desenvolvo com os meus alunos? E os 3 menos presentes? Porquê?

Que tipo de relação estabeleço

com cada aluno?…

“Atraentes”

“Repelentes”

“Invisíveis”

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

4

Ser um

PROFESSOR

ORIENTADOR…

= 1.Atenção e interesse pelos

alunos

+

2. Regras e limites

(de relação e de trabalho)

(adaptado de Maccoby & Martin,

1983)

Atenção e interesse

+ -

Regras

e

Limites

+

ORIENTADOR

AUTORITÁRIO

-

PERMISSIVO

NEGLIGENTE

Que PROFESSOR é que eu sou?

Como ser um

PROFESSOR ORIENTADOR?…

1.Atenção &

interesse

2. Regras

&

limites

Conheça os seus alunos! HOJE

• Pontos fortes…Pontos fracos…

• Estilo de educação parental

• Modelos

• Nível de realização académica

• Adolescência?

• Em que ponto de desenvolvimento estão? …

• Capacidade de lidar com a frustração (calar, ouvir, cumprir, falhar, esforçar-me, refocar a atenção)?

Conheça o grupo-turma:

• Procure conhecer o que une a turma (valores,

normas, objetivos…)

• Procure entender a estrutura da turma (“quem é quem”)

• Todos os alunos estão “integrados

socialmente”?...

Seja espelho… Comportamentos ajustados e desejáveis?

Reforce!

Elogie

Sinalize

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

5

Seja espelho… Comportamentos desajustados e indesejáveis?

Oriente!

1. O que fez de desajustado?

2. Porquê?

3. Na próxima vez que alternativa ajustada pode adoptar?...

Use e abuse da comunicação não verbal

(piscar os olhos, palmadinha, olhar encorajador, olhar…)

Mantenha sempre o contacto

ocular!

FALAR MENOS E OLHAR/TOCAR MAIS

Interesse-se genuinamente e aproveite

as oportunidades para desenvolver

CPS nos seus alunos

Capacidade de lidar com a frustração

Capacidade de gostar de si próprio (auto-estima…)

Capacidade de resolver problemas/conflitos

Capacidade de ser assertivo (p.ex. pedir ajuda…)

Capacidade de pensar a longo prazo…

COM MUITOS EXEMPLOS!

Fundamental PCP!

• P

• C

• P

Fundamental PCP

• Persistência

• Consistência

• Previsibilidade

PCP

• Persistência

• Não desistir do aluno…

• Ser firme & tranquilo…

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

6

PCP

• Consistência

• Intrapessoal - Em diferentes momentos e dias…

• Interpessoal - Diferentes professores…

Seja COERENTE entre o que diz/exige e

faz!

• As crianças e jovens aprendem mais a ver do que a ouvir

Exemplo: Gritar para se mostrar que não se grita

COOPERAÇÃO, INTERAJUDA, ESCUTA ACTIVA…. MODELE

PCP

• Previsibilidade

• Rotinas

• Regras pré-definidas

• Consequências justas, esperadas e congruentes

Regras de

sala de aula

(e de relação)

• Formuladas pela positiva

• Demonstradas as razões ou vantagens do

cumprimento e as desvantagens do incumprimento

• Discutidas com os alunos

Escolha o tom de voz e as palavras Assim consegue marcar a diferença e obter a

cooperação do seu ALUNO…

- És sempre a mesma coisa… - Miúdos como tu…

- Ninguém aprende por tua causa… - Quantos anos tens afinal…

- Desisto. Já nem te estou a ouvir… - Assim nunca vais ser ninguém…

Utilize:

• Pausas

• Silêncio

• Humor

• Inversão de papeis

• Provocação emocional ….

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

7

Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina (adaptado de A. Carita, 2002)

GSAPI

2. Organização

Contexto educativo

Investir na tarefa

Investir na

relação

1. Relação educativa

Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina

2. Como organizar o

contexto educativo de forma

mais ajustada?

• ANTES

•DURANTE

• DEPOIS

GERIR A SALA DE AULA

• ANTES

GERIR A SALA DE AULA

O Professor deve relembrar quem é:

Figura da Autoridade/Líder

Organizador/Gestor

Adulto Orientador

Figura de Referência

Modelo

Isso influencia tudo!

…Implementar um ambiente harmonioso e

organizador… (Câmara de filmar)

Da própria sala de aula (espaço físico e social)…

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

8

•Planificar e organizar a aula

antecipando pormenores! (ex. os alunos desfocarem a atenção)

• Automotive-se

• DURANTE

GERIR A SALA DE AULA

• Apresente e clarifique os

objetivos e as tarefas da aula,

PROVOCANDO…

• Mantenha a atenção e a motivação dos alunos

(ESTRATEGICAMENTE. Nunca desista disso. COMO?)

Como? Varie as estratégias pedagógicas:

1. Desafiando-provocando curiosidade

2. Provocando Interação-participação

3. Recurso a materiais de apoio

4. Aprendizagem colaborativa

….

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

9

• Procure induzir ritmo à aula – mantenha a turma ativa - evite momentos mortos

• Antecipe a finalização das tarefas de forma não simultânea

• Concretize e exemplifique (quase) tudo

• Mantenha olho de lince (radar)

• Delegue nos alunos a responsabilidade de se autorregularem (rotativamente)

• Use a voz de forma eficaz (instrumento de trabalho)

• Seja claro nas instruções

Conclusão…

A importância de ser um Professor:

• Vigilante

• Ativador

• Positivo

• Organizado

• Criativo

• Tranquilo

• Envolvente de todos os alunos

• DEPOIS

GERIR A SALA DE AULA 1. Antecipe o fim da aula

2. Conclua a aula eficazmente

(perceção de controlo)

3. Avalie e Autoavalie (para ajustar ou auto reforçar-se)

UNIVERSIDADE CATÓLICA

PORTUGUESA

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Gestão de sala de aula e prevenção da indisciplina (adaptado de A. Carita, 2002)

GSAPI

2. Organização

Contexto educativo

Investir na tarefa

Investir na

relação

1. Relação pedagógica

O que já faço?

O que ainda posso fazer?

«Ela [a utopia] está no horizonte. Avanço dois passos e ela afasta-se dois

passos. Avanço dez passos e o horizonte

distancia-se de mim dez passos; Posso ir tão longe quanto quiser:

Nunca lá chegarei. Para que serve então a utopia?

Para isso mesmo: para avançarmos.»

Eduardo Galeano

Bibliografia

• Carita, A. e Fernandes, G. (2002). Indisciplina na Sala de Aula. Lisboa: Editorial Presença

• Manes, S. (2005). 83 Jogos Psicológicos para Dinâmicas de Grupos, Um Manual

para Psicólogos, Professores, Operadores Sociais, Animadores... Lisboa: PAULUS Editora

• Marques, R. (2001). Saber Educar – Guia do Professor. Lisboa: Editorial Presença

• Morgado, J. (2001). A Relação Pedagógica. Lisboa: Editorial Presença

• Revol, N (2000) Maldito Profe editora: campo de letras

• Torres, F. (2003). Indisciplina Escolar é a Maior Dificuldade da Educação Moderna. O Problema Encontra Raízes na Falta de Imposição de Limites. Revista Mídia Saúde, 55

• Veiga, F. H. (2001). Indisciplina e Violência na Escola, Práticas Comunicacionais

para Professores e Pais. Lisboa: Almedina

Bibliografia

Amado, J. e Freire, I. (2002). Indisciplina e Violência na Escola. Edições Asa.

Carita, A. e Fernandes, G. (1999). Indisciplina na Sala de Aula. Editorial Presença.

Moreira, P. (2001). Ser Professor: Competências Básicas. Porto Editora.

Sampaio, D. (1996). Indisciplina: Um signo geracional?. – (Cadernos de

Organização e Gestão Escolar; 6). Instituto de Inovação Educacional.

Sprinthall, A. e Sprinthall, R. (1993). Psicologia Educacional. Lisboa: McGraw- Hil.

pp. 527-553.