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Práticas seguras e riscos na administração de soluções por sondas enterais e cateteres vasculares Dr Dirceu Carrara

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Práticas seguras e riscos na

administração de soluções por sondas

enterais e cateteres vasculares

Dr Dirceu Carrara

Introdução

O conector luer – que foi a solução ―fits-all‖ –

agora representa riscos consideráveis.

Após mais de 115 anos, está chegando ao fim

sua hegemonia como o componente terminal

mais utilizado.

O conector luer datado de 1897 batizado com o

sobrenome de seu criador, Hermann Wülfing

Luer, que patenteou a primeira seringa de vidro

com uma ponta tipo macho, de conicidade 6%.

Koda, E. 2012

Introdução

Em 1898, a então recém-nascida Becton &

Dickinson (de Maxwell W. Becton e Fairleigh S.

Dickinson) comprou a metade dos direitos de

patente do projeto ―Seringa‖, da francesa H.

Wulfing Luer por US $40.

Em 1930, seu formato original – parte macho e

parte fêmea com conicidade 6% - foi aprimorado

para resistir a aplicações sob pressão e, assim,

deu-se origem ao conhecido conector luer-lock

ou conector terminal com travamento,

patenteado pelo co-fundador da Becton &

Dickinson, Sir. Feirleigh S. Dickinson. Koda, E. 2012

Produtos para a saúde com conector luer

Koda, E. 2012

Produtos para a saúde com conector luer

Koda, E. 2012

Introdução

Nos anos 60, o conector luer dominava o mercado, por causa da

liderança de companhias norte americanas, que fabricavam produtos

para a terapia infusional.

Muitos estudos em várias regiões do mundo evidenciam que o uso do

conector luer contribuem para a ocorrência de eventos adversos que

resultam em sérios danos aos pacientes, incluindo a morte.

Eventos adversos no mundo

No Reino Unido, entre 2001 e 2004, 3 mortes relacionadas a erro de conexão.

De 1997 a 2004, 4 notificações de eventos adversos ligadas a erro de via de

administração.

Em 2004, a United States Pharmacopeia (USP), revelou a existência de mais

de 300 casos documentados envolvendo erros de conexão.

De 1 de janeiro de 2005 a 31 de maio de 2006, o National Reporting and

Learning System identificou 32 casos de medicamento VO que foram

administrados EV, 7 eventos onde o medicamento epidural foi administrado EV

e 6 onde o medicamento EV foi administrado via epidural.

O Patient Safety News – FDA, de outubro de 2007 relatou a conexão

equivocada entre um tubo de medição de pressão com um cateter

intravenoso, que resultou em uma embolia gasosa fatal ao paciente.

Eventos adversos no Brasil

No Brasil, notícias relativas a eventos adversos também são frequentes.

Ocorrido em 2 de março de 2012, envolve um recém-nascido, com 1 mês de

vida, que recebeu leite materno EV, resultando em sua morte.

Com o mesmo infeliz desfecho, idosa de 88 anos faleceu em 8 de outubro de

2012, doze horas após ter recebido ―sopa na veia‖.

Vaselina EV

Oxigênio EV

Contraste

...

...

Desenho esquemático da relação de ocorrência de diferentes tipos de

erros e a notificação de erros que resultaram em evento adverso

Imagem adaptada da Figura ―The medication error iceberg”,do Building a Safer NHS:Improving Medication Safety

Riscos potenciais/iminentes

Erro humano decorrente de perspectiva sistêmica: pouca iluminação, falta de

treinamento, pressão para o cumprimento de horários ou fadiga;

Quadro de pessoal inadequado;

Pacientes de alta complexidade;

Improviso no uso de tubos ou cateteres;

Fixação de tubos ou cateteres, com finalidades diferentes, posicionados em

estreita proximidade;

Falta de padronização no uso de tubos, drenos e acessos do paciente;

Negligência, imperícia e imprudência.

Perspectiva do erro

A ocorrência de eventos adversos, mesmo que não relacionada ao erro

na administração de medicamentos, é, normalmente, resultado de uma

cascata de eventos envolvendo o ser humano e fatores externos, muitas

vezes complexos e integrados como uma cadeia.

Portanto, a possibilidade de uma atuação individual como causa raiz do

erro é pouco provável e, na maioria das vezes, equivocada. Isso

significa que ―Os seres humanos cometem erros porque trabalham em

sistemas, tarefas e processos mal concebidos‖

Lucian Leape. Médico e professor na Harvard School of Public Health

Histórico da normatização do uso de terminais

ANO RECOMENDAÇÃO

1986

ISO (International Standardization for Organization) 594-1:1986 Conical fittings with a 6 % (Luer) taper for

syringes, needles and certain other medical equipment -- Part 1: General requirements. Substituída por

ISO 80369.

1987

ISO 5356-1:1987. Anaesthetic and respiratory equipment -- Conical connectors -- Part 1: Cones and

sockets. Revisada em 1996.

ISO 5356-2:1987. Anaesthetic and respiratory equipment -- Conical connectors -- Part 2: Screwthreaded

weight-bearing connectors. Revisada em 2006.

1991

BS 3930-2:1991. Conical fittings with a 6% (Luer) taper for syringes, needles and other medical

equipment. Specification for lock fittings. Substituída pela BS EN 1707:1997

ISO 594-2:1991. Conical fittings with a 6% (Luer) taper for syringes, needles and other medical

equipment. Specification for lock fittings. Revisada em 1998 e será substituída por ISO 80369.

1994 BS 7711-1:1994. Respiratory therapy equipment. Specification for tubing and connectors. Substituída em

2002.

1996

―ANSI/AAMI ID54:1996. Enteral feeding set adapters and connectors‖, com o objetivo ―minimizar a

possibilidade da ocorrência de uma conexão potencialmente danosa entre dispositivos enterais e o

conector luer fêmea ou outros conectores intravenosos.‖

ISO 5356-1:1996. Anaesthetic and respiratory equipment -- Conical connectors -- Part 1: Cones and

sockets. Revisada em 2004.

1997

BS EN 1707:1997. Conical fittings with a 6 % (Luer) taper for syringes, needles and certain other medical

equipment. Lock fittings. Publicada em junho e ainda vigente. Em julho, foi publicada a norma ―BS EN

1060-3:1997 Non-invasive phygmomanometers. Supplementary requirements for electro-mechanical

blood pressure measuring systems‖, que continha a seguinte declaração: ―conectores luer não devem ser

utilizados com sistemas NIBP‖.

Histórico da normatização do uso de terminais

ANO RECOMENDAÇÃO

2000 De iniciativa européia, foi criada a força tarefa ―CEN/BT/TF 123‖ (Comité Europeén

Normalisation/Technical Board/Task Force), para tratar da questão ―erros de conexão‖.

2002 EN 13544-2:2002, Respiratory therapy equipment — Part 2: Tubing and connectors. Essa

Norma substituiu a BS 7711-1:1994.

2004 ISO 5356-1:2004, Anaesthetic and respiratory equipment — Conical connectors — Part 1:

Cones and sockets.

2006 ISO 5356-2:2006, Anaesthetic and respiratory equipment — Conical connectors — Part 2:

Screwthreaded weight-bearing connectors.

2007

foi formado o JWG4 (Joint Working Group), grupo de trabalho conjunto responsável

pelo desenvolvimento da série de normas ―ISO 80369 - Small bore connectors for liquids

and gases in healthcare applications‖ (Conectores de pequeno diâmetro para liquidos e

gases de aplicação na área da saúde)

2010

Foi publicada a primeira parte, de um total de sete, da série ISO 80369. Com a sua versão

―ABNT NBR ISO 80369-1. Conectores de pequeno diâmetro para líquidos e gases de

aplicação na área da saúde.

A previsão é que a Parte 3 (aplicação enteral) e a Parte 7 (aplicação intravascular ou

hipodérmica) sejam as próximas normas a serem publicadas.

No Brasil

RDC nº32, de 29 de maio de 2007, que dispõe sobre a certificação compulsória dos

Equipamentos Eletromédicos sob Regime de Vigilância Sanitária e dá outras

providências.

IN Nº 3, de 21 de junho de 2011, que estabelece as normas técnicas adotadas para fins

de certificação de conformidade dos Equipamentos Eletromédicos sob Regime de

Vigilância Sanitária.

Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor e

dá outras providências.

Portaria Interministerial MS/MDIC nº 692, de 8 de abril de 2009, que define a

operacionalização das ações de cooperação técnica para a Garantia da Qualidade e

Segurança de Dispositivos Médicos.

Portaria MDIC/INMETRO nº 350, de 6 de setembro de 2010, que trata dos Requisitos de

Avaliação da Conformidade - RAC que estabelecem os critérios para o Programa de

Avaliação da Conformidade - PAC para Equipamentos Elétricos sob regime de Vigilância

Sanitária.

RDC nº 3, de 4 de fevereiro de 2011, que estabelece os requisitos mínimos de identidade

e qualidade para seringas hipodérmicas estéreis de uso único.

Portaria MDIC/INMETRO n.º 501, de 29 de dezembro de 2011, que trata do RAC para

agulhas hipodérmicas estéreis para uso único e agulhas gengivais estéreis para uso

único.

RDC n° 4, de 4 de fevereiro de 2011, que estabelece os requisitos mínimos de identidade

e qualidade para os equipos de uso único de transfusão, de infusão gravitacional e de

infusão para uso com bomba de infusão.

Portaria MDIC/INMETRO n.º 502, de 29 de dezembro de 2011, que trata do RAC para

equipos.

RDC n° 5, de 4 de fevereiro de 2011, que estabelece os requisitos mínimos de identidade

e qualidade para as agulhas hipodérmicas e agulhas gengivais.

Portaria MDIC/INMETRO n.º 503, de 29 de dezembro de 2011, que trata do RAC para

seringas hipodérmicas estéreis de uso único.

No Brasil

No Brasil

TORNA OBRIGATÓRIA A UTILIZAÇÃO DE CATETERES

VENOSOS PERIFÉRICOS COM ENCAIXES DE

FORMATOS DIFERENCIADOS E CORES DISTINTAS

QUE NÃO PERMITAM O ENCAIXE COM OUTROS

DISPOSITIVOS OU SONDAS.

PROJETO DE LEI Nº 1819/2012

EMENTA: Autor(es): Deputado ÁTILA NUNES A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

No Brasil

Projeto de Lei Ordinária Nº

1201/2012

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

DO ESTADO DE

PERNAMBUCO

Ementa:

Torna obrigatória a utilização de

cateteres venosos periféricos

com encaixes de formatos

diferenciados e cores distintas,

que não permitam o encaixe

com outros dispositivos ou

sondas, nos estabelecimentos

que indica, no âmbito do estado

de Pernambuco, e dá outras

providências.

Projeto de Lei Ordinária Nº 1201/2012 (Concluída e Arquivada)

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Recomendações para a prevenção

• Identificar e enfatizar, por meio de treinamento, os riscos relacionados

aos erros de conexão e orientar as formas de prevení-los;

• Rastrear o tubo ou cateter do paciente, do conector terminal ao seu

ponto de origem, antes de realizar qualquer conexão ou infusão;

• Não modificar ou adaptar o conector na sua utilização. Isto pode

comprometer sua utilização segura;

Recomendações para a prevenção

• Tubos e cateteres que possuam finalidade de uso diferentes ou

são aplicados à sistemas diferentes, devem ser fixados em

posições opostas (exemplo: cateter venoso central posicionado

no sentido da cabeça do paciente e sonda nasoenteral

posicionada no sentido dos pés do paciente). Esta orientação é

especialmente importante no caso de unidades neonatais;

• Cateteres de alto-risco (exemplo: epidural, intratecal, arterial)

devem ser rotulados e não devem possuir entradas secundárias

para injeção;

• Não forçar nenhuma conexão. Se uma conexão está difícil de ser

feita – ela requer muito esforço – deve-se considerar a

possibilidade de erro de conexão. Da mesma forma, se uma

conexão parecer não segura, checar se os componentes estão

corretos;

• Executar conexões somente sob condições adequadas de

iluminação;

• Rechecar as conexões e rastrear todos os tubos e cateteres de um

novo paciente no setor;

Recomendações para a prevenção

• Informar colaboradores não-clínicos, pacientes e seus familiares

para solicitar auxílio do corpo de enfermagem ou médico, sempre

que houver a necessidade de conectar ou desconectar

dispositivos ou infusões;

• Identificar e gerenciar condições ambientais e práticas que podem

contribuir para a fadiga do profissional da saúde e tomar as ações

pertinentes para evitá-las;

• Notificar os eventos adversos decorrentes de erros de conexão

para a autoridade competente.

Recomendações para a prevenção

• Desenvolver políticas e procedimentos para alimentação por via oral ou enteral

que identifiquem, gerenciem e previnam os riscos de administração por via errada.

• Revisar, atualizar e auditar procedimentos e protocolos clínicos, incluindo nestes o

uso de dispositivos com conexões mais seguras.

• Comprar e utilizar sondas gastroenterais, seringas e cateteres vasculares

desenvolvidos para prevenir conexões incorretas.

• Promover a capacitação contínua dos profissionais para a utilização correta de

sondas, cateteres e seringas.

Recomendações para a prevenção

• Não utilizar sistemas de alimentação gastroenteral que contenham conexões que

se encaixam em vias parenterais.

• Não utilizar equipamento de extensão intravenosa, torneiras de três vias,

adaptadores e extensores de seringa em sistemas de administração por via

enteral.

• Assegurar boas condições de iluminação no ambiente antes de conectar ou

reconectar tubos ou dispositivos.

Recomendações para a prevenção

• Verificar todos os dispositivos desde a sua inserção no paciente até a conexão final, antes

de realizar as reconexões, desconexões ou administração de medicamentos e soluções.

• Realizar checagem independente (double check) antes de realizar as conexões,

reconexões, desconexões ou administração de medicamentos e soluções.

• Posicionar os sistemas de infusão em diferentes sentidos, como, por exemplo, os de

infusão intravenosa posicionados na porção superior do leito e os de infusão de dietas

enterais em direção à porção inferior do leito.

Recomendações para a prevenção

• Identificar diferentes sistemas de infusão com cores diferentes.

• Rotular os sistemas de alimentação entérica de modo a indicar a via de administração.

• Assegurar a identificação correta de seringas, utilizando etiquetas contendo nome da

solução e via de administração.

• Disponibilizar seringas específicas para diferentes tipos de vias de administração,

assegurando que seringas para administrar medicamentos orais líquidos ou sólidos

solubilizados sejam incompatíveis com cateteres intravenosos.

• Nunca utilizar seringas de uso intravenoso para administrar

medicamentos orais ou alimentações gastroenterais.

Recomendações para a prevenção

• Orientar pacientes e familiares sobre o procedimento de administração de dieta e o

risco no processo, e incentivar sua participação na confirmação da via, dos

medicamentos e soluções durante a administração.

• Orientar pacientes e familiares a não manusear os dispositivos e sempre solicitar a

presença de um profissional de saúde para verificar qualquer situação.

• Notificar os eventos adversos decorrentes de erros de conexão, fortalecendo uma

cultura de segurança na organização.

• Compartilhar experiências de erros, ou quase erros, de forma a permitir o treinamento

de outros profissionais e a redução de sua ocorrência.

Recomendações para a prevenção

• Desenvolver e acompanhar indicadores para o processo de administração de soluções

e dietas via sonda enteral.

• Desenvolver métodos de análise de risco como Análise de Modo e Efeito de Falha

(FMEA) e Análise de Causa Raiz (RCA) para identificar os pontos vulneráveis dos

processos de trabalho.

• Enfatizar o risco de erros de conexão de cateteres e sondas na formação acadêmica e

no treinamento de profissionais de saúde.

Recomendações para a prevenção

• Utilizar somente equipos de cor azul para infusão de

dietas enterais.

Recomendações para a prevenção

MEDIDA SIMPLES, PORÉM MUITO EFICAZ

OBRIGADO !!!

[email protected]